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passear sente a natureza

PORTUGAL
Visto por Luís Quinta
DESTAQUE
Rota Vicentina

Entrevistas
João Ministro
Paulo Santos
Ricardo Silva
Rui Barbosa

Ano I, Junho 2021

Percursos
Arrábida | Cheleiros | Corte de Ouro | Rota
do Ouro | Menires de Monsaraz | São Jorge
Serra da Estrela
2021
Proprietário e Editor: Editorial
NIPC 503341134
Morada: Rua Miguel Esteves Medeiros,
11- 1º dtº 2640-543 Mafra
Sede de Redação: Rua Miguel Esteves
Medeiros, 11- 1º dtº 2640-543 Mafra
Correspondência - P. O. Box 24
2656-909 Ericeira - Portugal

Gerente:
Maria Luisa Dias Mendes Gonçalves
Sócios:
Maria Luisa Dias Mendes Gonçalves e
Vasco Maria de Melo Gonçalves

Diretor:
Vasco de Melo Gonçalves
A Passear é que a
Responsável editorial:
Lobo do Mar gente se entende.
Fotografia: Viver Com Gosto

Periodicidade: Anual | Junho Foi há 12 anos que nasceu o projeto de revista Passear e,
Tiragem: 5000 exemplares
Edição E-paper disponível em Junho para comemorar, decidimos fazer uma edição impressa.
Pensamos que ainda é pertinente o que preconizámos na
Publicidade Lobo do Mar
Contactos +351 261 867 063 altura do lançamento da revista:
+ 351 965 510 041
e-mail geral@lobodomar.net
“Passear a pé num jardim de uma cidade ou em autonomia
Grafismo numa montanha, passando por uma jornada em bicicleta até
Santiago de Compostela ou a cavalo, culminando num trajeto
em kayak pelas águas calmas do rio Douro. Este é o espírito
email geral@lobodomar.net
da revista Passear!
Impressão e acabamento
Ligação Visual, Unipessoal, Lda.
Estamos perfeitamente conscientes que estes passeios deverão
www.ligacaovisual.com ser realizados em família e, como tal, deverão ser exequíveis
Distribuição por qualquer pessoa. Nos nossos passeios iremos privilegiar a
VASP, Lda.
Estatuto editorial
componente cultural e de imagem fugindo, de certa maneira,
Consultar em: ao conceito de caminhar por caminhar…”
www.passear.com
Nesta edição, que não pretende ser um roteiro de
Depósito Legal nº. 482264/21
Registada na Entidade Reguladora percursos, conversámos com profissionais do sector da
para a Comunicação Social Animação Turística, divulgamos projetos de referência e
sob o nº. 125987
Direitos Reservados de reprodução fo- apresentamos algumas sugestões de passeios (sempre
tográfica ou escrita para todos os países que possível com recurso a Guias Locais), para conhecer
um pouco de Portugal numa vertente slow travel, sem
baloiços ou outros artifícios.

Boas leituras!
FOTOGRAFIA DE CAPA
Aldeia da Mata Vasco de Melo Gonçalves
Pequena, Mafra vascogoncalves@lobodomar.net

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Sumário 14
06 Equipamentos
10 Livros
12 Destaque: Explore Mafra
14 Portugal: Visto por Luís Quinta
26 Destaque: Rota Vicentina
32 Passear Entrevista:

26
32 - Rui Barbosa
38 - Paulo Guerra Santos
44 - João Ministro
52 - Ricardo Silva
58 Cicloturismo:
100km na Serra da Estrela
70 Percurso Pedestre:
70 - Rota dos Menires
82 - PR Corte de Ouro

58
94 - Cheleiros
106 - Rota do Ouro
120 - Arrábida
134 Passeio: Um dia em Ponte de Lima
144 Percurso Pedestre:
Açores | Ilha de São Miguel
154 Plantas Silvestres
158 Onde Ficar

12 144

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Equipamentos

Steiner
Os novos binóculos SkyHawk 4.0
A STEINER DESENVOLVEU OS BINÓCULOS SKYHAWK 4.0 PARA OBSERVAR A NATUREZA DE FORMA
NÍTIDA E DISTINTA EM QUALQUER MOMENTO.

Os novos SkyHawk 4.0 vêm em quatro versões de longa distância que revelam uma
diferentes: fascinante amplitude de detalhes da natureza.
Oferece ampla potência e desempenho
10x42: de uma vista de perto a uma distante, ótico soberbo.
o SkyHawk 4.0 10x42 de dimensão média 8x32: este modelo é ideal para observadores
oferece imagens nítidas e claras com uma de aves e da natureza que necessitam
abertura de objetiva de 42mm. O poder de da versatilidade de um binóculo leve, boa
ampliação de 10x oferece detalhe em longo ampliação e amplo campo de visão, ideal
alcance, ideal para campo aberto e zonas também para observações longas.
montanhosas.
8x42: é um modelo favorito, sem peso CARACTERÍSTICAS
elevado ou grandes dimensões, sendo versátil Ótica de elevado contraste: oferece imagens
o suficiente para observação em condições brilhantes, cores precisas e definidas,
atmosféricas difíceis. Apresenta um campo imagens 3D brilhantes com elevada nitidez e
de visão amplo e um manuseamento contraste de contornos para um desempenho
confortável. excecional em atividades outdoor com
10x32: 10x de ampliação para observações alcances mínimos de 2 metros.

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8x42 10x32

Focagem Fast-Close-Focus: A roda central adversos. Resistente a condições difíceis para


de focagem Fast-Close-Focus requer uma uma utilização confiante durante gerações.
rotação mínima e contínua para uma rápida Design Ergonómico: oferece observações
nitidez absoluta de uma vista de perto até ao confortáveis de longa duração. As eyecups
infinito – confortável e fácil de usar maleáveis e ergonómicos, feitas de silicone
Sistema de controlo de distância: permite uma suave e não prejudicial para a pele, protegem
predefinição de distâncias de observação e de luz incidente e secura. Podem ser retraídas
foco nítido com uma simples rotação da roda para permitir uma utilização com óculos.
de foco XL anti deslizante Permite aperto excelente.
Robustez extraordinária: com um revestimento Binóculo leve: design com menos volume
de Makrolon policarbonato durável, proteção para caber na sua mochila.
à prova de água em imersões até 3 metros e
o enchimento de Nitrogénio pressurizado na Para mais informações sobre este produto
ótica para evitar embaciamento no interior da Steiner visite o site www.nautiradar.pt ou
em temperaturas que variam entre os -20°C contacte através do 21 300 50 50.
a +70°C. Proteção em borracha NBR-Longlife
resiste a óleos, ácido ou estados do tempo

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Equipamentos

Aquapac
Mochilas e bolsas à prova de água

Equipamento ideal para uma utilização em à prova de água assim como, bolsas extra
atividades de ar livre em terra e na água. no interior para uma melhor organização do
A gama de mochilas Toccoa da Aquapac é conteúdo e bolsas externas de rede. Estas
uma solução robusta que é em simultâneo mochilas têm também pontos de fixação
à prova de água e à prova dos elementos, para que possa prender a sua bolsa de
protegendo o seu conteúdo inclusive de mapas, garrafa de água, equipamento de
areia, poeiras e lama. Com uma capacidade segurança ou qualquer outro artigo que
de 28 litros e disponível em três cores (verde, considere conveniente transportar consigo.
azul e preto). Se procura versatilidade e capacidade de
A gama premium de mochilas – “Wet & Dry organização aliadas a proteção à prova de
Backpack”. Disponível com capacidades de água, poeiras, areia e outros elementos, então
25 litros e 35 litros, estas mochilas apresentam estas mochilas são a opção que procura!
um conforto e funcionalidade sem paralelo. Se na sua atividade não leva consigo muita
Possuem uma bolsa no interior completamente coisa, mas quer manter as suas mãos livres,

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então as bolsas de cintura Waterproof Waist smartphone da água e de outros elementos,
Pack são a solução perfeita. Robustas, à enquanto permite acesso ao seu smartphone
prova de água e oferecendo proteção e todas as suas funcionalidades, permitindo a
dos elementos e acesso fácil, estas bolsas utilização completa do ecrã tátil do seu seu
com uma capacidade de 3 litros permitem smartphone, a bolsa TrailProof Phone Case
um acesso rápido aos seus itens essenciais. oferece proteção, versatilidade e completa
Confortáveis, práticas e de fácil acesso, funcionalidade. Está disponível em duas cores
estas bolsas estão disponíveis em três cores – laranja ou preto, e possui um mosquetão
e vão facilmente tornar-se numa companhia para que possa fixá-la onde lhe for mais
frequente nas suas aventuras ou desportos ao conveniente para transporte e fácil acesso.
ar livre. A Aquapac é representada pela Nautiradar /
Independentemente do seu destino ou www.nautiradar.pt
atividade, há algo que nunca fica para trás –
o seu smartphone! Capaz de proteger o seu

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Livros

Sugestões

Flores da Arrábida página a par do nome científico e ao longo


Guia de campo de José Gomes Pedro e do texto são apresentados os restantes nomes
Isabel Silva Santos vulgares, obtidos a partir de bibliografia),
Editor: Assírio & Alvim distribuição em Portugal e no Mundo, utilização
Preço de referência: 14,40 Euros bem como o estatuto legal de protecção.

Cada página possui a descrição da espécie Orquídeas Silvestres Arrábida


ou subspécie em causa e respectiva fotografia. Guia de Campo de Armando Frazão
Para cada planta referimos a sua morfologia Editor: PrimeBooks
(características da planta que a distingue Preço de referência: 16,00 Euros
de outras espécies semelhantes), ecologia
(ambiente onde vive), fenologia (época de Desde sempre que as orquídeas fascinam
floração), nome(s) vulgar(es) sempre que é os seres humanos, seja pela sua beleza ou
conhecido (optámos por colocar o nome pelas suas estratégias de sobrevivência e
vulgar mais conhecido na região no topo da reprodução. No reino vegetal estão num

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patamar de evolução equivalente à espécie cada planta. Foi pensado para acompanhar
humana no reino animal. naturalistas ou curiosos, que durante os seus
A Arrábida tem a característica única de passeios desejam melhor compreender o que
concentrar cerca de metade de todas as os rodeia. Numa época em que tomamos
espécies de orquídeas silvestres portuguesas. consciência da importância da conservação
Neste livro encontrará fotografias fascinantes e das paisagens e da diversidade natural, este
muita outra informação sobre todas elas. Use-o livro pretende despertar o interesse para o
para admirar a beleza particular de cada flor fantástico universo das plantas.
ou para lhe servir de guia de identificação
quando passear por estes montes e vales. Por Este Reino Acima
A primeira parte do livro tem um enquadra- De Gonçalo Cadilhe
mento da área geográfica e uma introdução Edição: Clube do Autor / Preço de referência:
didáctica aos vários aspectos da biologia das 16,00 Euros
orquídeas, sempre acompanhados de fo-
tografias e ilustrações. A segunda, e a maior Uma viagem ao alcance de todos, para fazer
parte, é o guia de campo das orquídeas sil- sozinho, em família ou com amigos.
vestres da Arrábida, com cuidadas fotografias Na sua mais recente viagem, Gonçalo
de página inteira e outras que se ‘intrometem’ Cadilhe aventurou-se por percursos que todos
com o texto para ilustrar os diversos aspectos pensamos conhecer, mas ainda com muito
identificativos de cada planta. por explorar. Foram 8 dias de caminhada,
É um livro bilingue, em português e inglês, para 200 km de distância entre Lisboa e Coimbra,
responder também ao turismo da natureza 25 km por dia, deixando-se deslumbrar pelos
que existe na Arrábida. encantos do nosso país.
Ao percorrer trilhos de outros tempos, o autor
200 Plantas do SW Alentejano & evoca o período medieval, relembra como
Costa Vicentina se caminhava há mais de oitocentos anos e
De Ana Luísa Simões e Ana Carla Cabrita reitera como ainda temos tanto a descobrir
Edição em português e inglês em Portugal.
A caminhada de Gonçalo Cadilhe, inspirada
Este Guia apresenta 200 plantas que podem na viagem que o jovem Santo António terá
facilmente ser encontradas na região do feito no início do século XIII, por bosques
sudoeste, onde se integra o Parque Natural e planícies bem no coração de Portugal,
do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. atravessa várias dimensões da atividade física
Cada ficha contém uma imagem e um texto, à componente espiritual, da reconstrução
que apoia o(a) leitor(a) na identificação da histórica à (re)descoberta das belezas no
espécie e fornece algumas curiosidades sobre nosso país.

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Destaque

Explore Mafra
Um território de
experiências memoráveis!
Texto e Fotografia: C.M. de Mafra

ALIANDO A MONUMENTALIDADE DO PATRIMÓNIO EDIFICADO À DIVERSIDADE DE CENÁRIOS, COM


BELAS PRAIAS DE ARRIBA, VALES VERDEJANTES E VASTAS ZONAS ARBORIZADAS, O CONCELHO DE
MAFRA APRESENTA POTENCIALIDADES TURÍSTICAS ÚNICAS, COM MUITO PARA EXPLORAR.

V alorizando este território de experiências


memoráveis, que oferece condições de
excelência para a prática de desportos ao
mais magnificentes obras de D. João V. Com
uma área total de mais de 1200 hectares,
integra património natural e edificado. O
ar livre, não apenas de desportos de ondas e edifício tem uma área de 37.000 m2, tendo
atividades de lazer relacionadas com o mar, cerca de 880 salas e quartos. Como forma
mas também o BTT, pedestrianismo, passeios de criar uma envolvente adequada ao
a cavalo, geocaching e atividades de Monumento foi constituído um impressionante
aventura, a Autarquia tem desenvolvido um jardim barroco, dotado de diversas espécies
conjunto de iniciativas com vista à promoção arbóreas exóticas trazidas das várias
deste território, como a APP turística “Mafra possessões do Monarca, e um imponente
& Ericeira Experience”, ou o Guia “Mafra parque de lazer e de caça, com cerca de
Cycling”, que permitem descobrir o muito que 1200 hectares, que se tornou, atualmente,
este Concelho tem para oferecer. numa importante reserva natural e de
A costa da Ericeira foi a primeira na Europa, e biodiversidade.
a segunda no mundo, a receber a distinção A abundância de terrenos férteis e a riqueza
como Reserva Mundial de Surf pela Save the do extenso mar tornam o Concelho de Mafra
Waves Coalition. A qualidade e excelência numa experiência única no que toca à
das ondas, a importância do surf na história e gastronomia, oferecendo uma panóplia de
na comunidade e a riqueza ambiental foram iguarias, desde os pratos de peixe e marisco,
alguns dos motivos para esta distinção. aos sabores da terra e da caça, assim como
O Real Edifício de Mafra – Palácio, Basílica, os melhores doces tradicionais. A oferta
Convento, Jardim do Cerco e Tapada, vinícola local é marcante, acompanhando o
Património Mundial da UNESCO, é uma das melhor da gastronomia.

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PORTUGAL : Visto por Luís Quinta
FISGAS DO ERMELO | TRÁS-OS-MONTES

Situada no Parque Natural do Alvão é de fácil acesso através de um


passeio na natureza com direito a banhos fluviais!
O rio Olo nasce no coração do Parque Natural do Alvão, e faz um
percurso notável até à sua foz. Desde zonas planas e tranquilas a
locais escarpados, este curso de água tem um desnível em socalcos de
largas dezenas de metros conhecidas por Fisgas do Ermelo. Alguns
metros antes destas cascatas existem diversas piscinas naturais
batizadas localmente por “piocas” de cima. Mais a jusante das quedas
de água existem outras “piocas”, as de baixo.
Para chegar a este local, pode fazê-lo de diferentes formas, ou
estaciona perto das “Piocas de cima” e segue a pé pelo caminho de
terra batida, ou vem numa caminhada mais longa desde a aldeia
de Varzigueto. No Verão esta zona é muito procurada para banhos
fluviais. Existem trilhos e miradouros para contemplar todo este
cenário natural.

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LuisQuinta © 15
POÇO DAS ALAGOINHAS | ILHA
DAS FLORES – AÇORES

Local de fácil acesso através de um


passeio curto na natureza.
Na zona Ocidental da ilha das Flores, no
grupo ocidental dos Açores, existe uma
lagoa bem ornamentada e alimentada
por diversas cascatas com grande altura.
Para chegar a este local existe um trilho
bem sinalizado e mantido. Toda a zona
é coberta por uma floresta densa e
luxuriante. Esta lagoa não é um sitio de
banhos, mas oferece zonas tranquilas para
uma refeição ligeira. No Verão algumas
cascatas podem ter pouca água, mas fora
dos meses mais secos Julho/Agosto este
local está sempre bem apelativo.

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LuisQuinta © 17
FLORESTA DO FANAL | ILHA DA MADEIRA

No Parque Natural da Madeira, de acesso fácil e num passeio curto, a


floresta Laurissilva é um local “mágico”.
No topo da ilha da Madeira, existe uma floresta encantada conhecida
por Fanal. A Floresta Laurissilva de Tiis (árvores centenárias) é
um ex-libris da região autónoma da Madeira. Pela sua localização,
este local pode transfigurar-se em poucos minutos. Uma manhã
de denso nevoeiro, que imprime a este território uma ambiência
extraordinária, pode transformar-se num local luminoso de múltiplos
tons de verde e formas. A floresta do Fanal merece mais do que uma
visita, pois cada viagem pode revelar sentimentos bem distintos.
Após a chegada ao parque de estacionamento, é recomendável que
caminhe mais uns bons 300 a 400 metros para ver múltiplas formas
de árvores. É fácil ficar deslumbrado com as primeiras estruturas e
não sair quase da zona da casa florestal.

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LuisQuinta © 19
ARRÁBIDA | PARQUE NATURAL DA ARRÁBIDA

De fácil acesso através de uma passeio na natureza com banhos de


mar.
A Serra da Arrábida é conhecida por múltiplas maravilhas naturais,
desde as suas florestas antigas, às suas praias, às grutas, aos
animais, entre muitos outros atrativos.
Um passeio à Lapa de Stª Margarida está ao alcance da maioria
das pessoas, e vale bem a pena o circuito, pois as paredes e teto da
gruta são bonitos e de fácil visualização.
Quer esta gruta, quer outras nos arredores foram dos últimos
locais de “habitação” dos últimos Neandertais da Europa.
Desde tempos muito antigos que este local foi acarinhado e
assumido como um local de oração, de devoção, tendo sido
construída uma pequena capela no seu interior!
Se quiser dar um mergulho/banho com mais segurança pode
descer mais uns metros e visitar a praia do Portinho da Arrábida,
ou a Praia de Alpertuche nos arredores.

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LuisQuinta © 21
CABO SARDÃO | PARQUE NATURAL DO
SW ALENTEJANO E COSTA VICENTINA

No Alentejo um local de fácil acesso através de um passeio de


natureza.
O Cabo Sardão é um dos melhores locais de Portugal para se
observar uma diversificada avifauna e fazer uma caminhada com
cenários geológicos imponentes.
No anfiteatro natural da baía do Cabo Sardão, pode contemplar desde
grandes a pequenas aves. As mais fáceis de ver são naturalmente
as cegonhas brancas, as gaivotas e os corvos marinhos. Mas neste
local nidificam ainda falcões peregrinos, peneireiros, andorinhões,
gralhas de nuca cinzenta, pombos da rocha, entre outras pequenas
aves.
Para se ver muitas destas aves é necessário permanecer algum
tempo na zona, pois é o seu movimento de entrada e saída dos
ninhos que os localizam.
Ao longo da costa quer para Norte, mas principalmente para Sul
existem trilhos (Rota Vicentina) que vão bordejando as falésias e
permitem ver mais praias, geologia, aves, entre muita vegetação,
bem como alguns répteis.
Pode optar por, uma ida e volta ao ponto de partida, como um
trajeto numa só direção. Para sul pode ir até ao Porto da Zambujeira
do Mar ou descer mais um pouco e chegar mesmo à aldeia.

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LuisQuinta © 23
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MIRADOUROS | DOURO INTERNACIONAL

No Parque Natural do Douro Internacional um local de fácil acesso


para contemplar a Natureza.
A parte internacional do rio Douro está repleta de belos miradouros
em pleno Parque Natural do Douro Internacional.
Desde São João das Arribas até ao Penedo Durão existem vários
locais para contemplar as altas fragas e toda uma paisagem repleta
de animais alados.
Um dos mais espetacular de todos é o miradouro do Carrascalinho.
É necessário permanecer algum tempo para saborear o local, ver
as grandes aves e sentir os sons da natureza. Facilmente podem
ser observados, os grifos (abutre), britangos (abutre-do-Egipto,
símbolo do parque), cegonha-preta, milhafres, entre outras aves
de pequeno porte, como gralhas, ou pegas. Com sorte pode ver
alguma águia real, ou águia de bonelli.
O ideal é levar uns binóculos para ver muitas destas aves poisadas
nas escarpas.
Répteis também podem circular pelos arredores do miradouro.

LuisQuinta © 25
Destaque

Rota Vicentina

Um Destino de eleição...
NUMA REGIÃO DE GRANDE BELEZA NATURAL, A ROTA VICENTINA – ASSOCIAÇÃO PARA A PROMOÇÃO
DO TURISMO DE NATUREZA NA COSTA ALENTEJANA E VICENTINA TEM VINDO, AO LONGO DOS ANOS
A DESENVOLVER UM TRABALHO RELEVANTE NA PROTEÇÃO E VALORIZAÇÃO DO TERRITÓRIO ONDE
ESTÁ INSERIDA.

26
A Rota Vicentina – Associação para a
Promoção do Turismo de Natureza na
Costa Alentejana e Vicentina, é, desde
histórico e cultural, os recursos turísticos e a
natureza pública dos caminhos, foram os
principais critérios seguidos no processo de
2013, a entidade responsável pela gestão, escolha do traçado, composto por caminhos
integração, estímulo, desenvolvimento e existentes e formado pelo Caminho Histórico,
promoção dos trilhos pedestres da Rota Trilho dos Pescadores e vários Percursos
Vicentina, assim como da oferta turística Circulares, itinerários que se complementam
associada ao produto turístico que a Rota revelando a verdadeira essência do Sw de
Vicentina representa. Portugal.
Esta Associação Privada sem Fins Lucrativos, Em 2019, a Rota Vicentina expandiu a sua
pretende afirmar-se como um elemento oferta contando também com um sistema
definidor da região, viabilizando o seu usufruto de mais de 1000 km de percursos de BTT, um
através de uma das práticas mais naturais traçado de Touring Bike que une os aeroportos
à condição humana – a caminhada – e de Lisboa e Faro, e diversas atividades de
contribuindo de forma inequívoca para a Natureza, Cultura e Bem-Estar.
sustentabilidade do mundo rural, através Nada disto seria possível sem o apoio de
da dinamização da atividade económica, uma rede de parceiros públicos e privados,
estímulo das atividades e serviços já existentes, nomeadamente municípios e juntas de
manutenção e reforço das tradições e cultura freguesia, entidades regionais e nacionais de
locais, incentivo à criação de novos negócios turismo, ICNF, organismos locais, indivíduos e
e promoção do destino fora das épocas de sobretudo mais de 200 empresas associadas,
maior afluência. que têm apoiado e viabilizado o projeto a
A beleza da paisagem, o património natural, vários níveis.

27
Destaque

Trilhos Pedestres:
750 Km para caminhar
por toda a região
A rede de percursos pedestres da Rota
Vicentina tem evoluído gradualmente,
espalhando-se hoje por toda esta magnífica
região da Costa Alentejana e Vicentina. Se os
trilhos costeiros são realmente deslumbrantes,
muitos caminhos estendem-se por áreas
de campo e de serra mais a interior, áreas
ignoradas pelo turismo durante muito tempo,
mas que hoje merecem ser apreciadas ao
ritmo da caminhada.
As duas grandes rotas (Caminho Histórico
e Trilho dos Pescadores), com os Percursos
Circulares, oferecem uma malha cada vez
mais completa de percursos, com maior
variedade e flexibilidade, para ser ajustada às
necessidades e expectativas de qualquer um.

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“... TRABALHAR EM REDE PARA
DEFINIR CRITÉRIOS E TORNÁ-LOS
CLAROS...”

Percursos de bicicleta
Se até agora o Caminho Histórico constituía
uma boa oferta para praticantes de BTT, em
2019, a Rota Vicentina foi mais além e passou
a oferecer uma rede de percursos dedicada
às bicicletas, como resposta estruturada a
um mercado pulsante que procura natureza,
adrenalina e um contacto com o mundo
rural que é tão próprio dos montes e vales da
Costa Alentejana!
Atletas, principiantes, famílias, todos
encontrarão várias alternativas entre os mais
de 1000 km de trilhos cicláveis da Rota
Vicentina!
Para os viajantes em bicicleta híbrida, a
Associação disponibiliza também um percurso
de Touring Bike em GPS por caminhos mistos,
que liga os aeroportos de Lisboa e Faro, bem
como toda a oferta turística no território da
Rota Vicentina e as estruturas de apoio aos
ciclistas.
29
Destaque

À conversa com Marta Cabral, Presidente da


Direção da Associação Rota Vicentina

Passear (PA) - Como tem sido a evolução da nos ajudem a contar a história desta terra
Rota Vicentina ao longo dos últimos 7 anos? pela mão de quem melhor a sabe, que é a
Marta Cabral (MC) - Temos evoluído na comunidade local. E fazer a ponte com os
medida em que a região, o turismo e os produtos locais, o artesanato e a paisagem
desafios mudam também. Sentimos que rural. Trabalhar em rede para definir critérios e
os trilhos são uma ferramenta poderosa de torná-los claros. Comunicar o que realmente
atração de um mercado mais consciente e melhor nos representa!
focado nos valores naturais, de distribuição
dos fluxos ao longo do ano e por todo o PA – O documentário “A Costa das Cegonhas
território, mas percebemos que não chega. – Retrato Natural do Sudoeste”: Como surgiu
A sustentabilidade nesta região é um tema a ideia e com que objetivo.
complexo que sentimos necessidade MC - Sempre achámos que o PNSACV- Parque
de trabalhar ativamente, nas suas várias Natural do Sudoeste Alentejo e Costa Vicentina,
dimensões. era comunicado mais como uma limitação
Temos investido continuadamente numa rede administrativa do que um património em si
de trilhos não apenas pedestres mas também mesmo com o qual convivemos diariamente,
cicláveis, mas estamos a investir bastante e quisemos contribuir para esse caminho. Este
no incentivo às atividades, programas, documentário pretende divulgar e sensibilizar
experiências e eventos, que de alguma forma públicos e privados, residentes e visitantes,

30
para o incrível universo que está em causa culturais do território. Entender a identidade e
e que é impactado pelas nossa decisões, os a cultura deste lugar como a expressão das
nossos investimentos, o nosso dia-a-dia. pessoas que nele habitam e que oferecem
produtos e serviços que fazem dele o que
PA - Quais são os grandes desafios que se é. O papel da Rota Vicentina é dar voz e
colocam atualmente à Rota Vicentina? corpo a esta movimento, levá-lo para fora do
MC - Ter a capacidade de nos ajustarmos território e convidar os visitantes que melhor
aos desafios de cada momento, de se identificarem com ele a fazer parte deste
apoiarmos um movimento de aproximação sistema de troca justa, saudável e inspiradora
a um modelo de cooperação cada vez que é o turismo do futuro.
mais sustentável entre os agentes turísticos e

31
Passear entrevista

ENTREVISTA: Rui Barbosa

O que mais me marca todos os dias,


é viver no Parque Nacional
Rui Barbosa é alguém que tenta ir sobrevivendo Rui Barbosa
de uma paixão e que tem a coragem de
aceitar desafios. Nascido em Maio de 1971
e licenciado em Física Aplicada, decide
abandonar a profissão de optometrista
para se dedicar à “ocupação” de Guia de
Montanha, tirando partido da experiência
acumulada ao longo dos anos e da vivência
pelas serranias Geresianas.
Presentemente é criador e gere o blogue
“Carris” onde relata as suas experiências nas
montanhas do Parque Nacional da Peneda-
Gerês e noutras.

Minas dos Carris

32
Passear (P) - Como nasce esta sua relação/ como a praia nacional!). Porém, as serranias
admiração pela região do Gerês? do Parque Nacional (o Gerês, Amarela,
Rui Barbosa (RB) - Esta relação com a Serra Soajo e Peneda) incorporam o verdadeiro
do Gerês, com o Parque Nacional da Peneda- espírito das grandes montanhas mundiais e
Gerês e com a montanha, nasce durante o temos de ter orgulho naquilo que temos sem
meu tempo de serviço no Corpo Nacional comparações absurdas e redutoras.
de Escutas como membro do Agrupamento
XIX – S. Vicente, Braga. Em 1986 o meu grupo
organiza na altura um acampamento junto “...O PARQUE NACIONAL FUNCIONA
da Barragem da Caniçada e desde ali via COMO PODE. PODERIA FUNCIONAR
ao longe as serranias do Gerês. Pouco depois MELHOR? TALVEZ!...”
visitava pela primeira vez as Minas dos Carris
num fabuloso dia invernal em pleno mês de
Setembro e desde então a admiração pelas P - O Parque Nacional como está a funcionar?
montanhas em geral e pela Serra do Gerês RB - O Parque Nacional funciona como pode.
em particular foi aumentando… e aumenta a Poderia funcionar melhor? Talvez! A ideia
cada dia que passa! da criação do Parque Nacional é baseada
nas grandes áreas protegidas estrangeiras
P - Qual o potencial da região para o com grandes espaços onde a Natureza se
Turismo de Natureza e Cultural? Como desenvolveu quase sem intervenção humana.
caracteriza a região e quais são os elementos Na Peneda-Gerês isso não aconteceu. Ao
diferenciadores? longo de milhares de anos o Homem foi
RB - O Turismo de Natureza e Cultural, a par moldando as serranias - por vezes bem, outras
com a conservação ambiental, foi um dos nem por isso – tornando-as naquilo que são
pilares fundadores do Parque Nacional. Porém, hoje.
não o podemos ver como um elemento Porém, em determinada altura houve a
dissociado das pessoas que lá vivem e da sua necessidade de se criar uma área de
cultural que foi forjada ao longo de séculos intervenção para proteger a Natureza e isso
de isolamento relativo que, na verdade, só acontece muito antes da criação do Parque
começa a ser quebrado com a emergência Nacional em 1971, quando em 1888 os
do Parque Nacional. Na verdade, o potencial Serviços Florestais tomam posse de parte da
da região é enorme (e a Natureza “vende” Serra do Gerês e de outras áreas. No entanto, se
hoje em dia), mas o seu aproveitamento por um lado se conseguiu uma preservação,
deve ser equilibrado entre a preservação e as a intervenção dos Serviços Florestais trouxe
necessidades das populações. pragas que hoje atormentam o Parque
Os elementos diferenciadores são os Nacional, como é o caso da infestação
elementos que caracterizam uma região por mimosas. Da mesma forma, a relação
“protegida” como um Parque Nacional que entre os Serviços Florestais e as populações
é único em Portugal. No nosso país quando residentes nunca foi pacífica e isso foi algo
se fala em montanha aponta-se de imediato que se transmitiu ao Parque Nacional, herdeiro
à Serra da Estrela porque foi isso que nos foi por excelência dos Serviços Florestais nas
“vendido” ao longo de décadas (da mesma quatro serranias que o compõem.
forma como nos foi vendido um Algarve O Parque Nacional é um trabalho (ainda) em

33
Passear entrevista

Árvore Porta Ruivas

curso e há muito para fazer para o melhorar o Parque Transfronteiriço Gerês-Xurés (PTGX)
tanto no terreno de intervenção como na criado em 1997.
relação com as populações residentes. Sendo de facto um elemento comum, o
Parque Transfronteiriço sofre as consequências
P – A relação/colaboração com Espanha e as decisões de gestão de cada um dos
existe? Pontos positivos e negativos? dois parques. O que acontece a um, reflete-
RB - A Reserva da Biosfera Transfronteiriça se no outro como foi o caso dos incêndios
Gerês-Xurés (RBTGX) foi declarada a 27 de florestais ocorridos nos últimos anos ou as
Maio de 2009, pela UNESCO, e está localizada ações de repovoação de fauna encetadas
na Comunidade Autónoma da Galiza em conjunto.
(Espanha) e na Região Norte de Portugal,
“...GR E PR PROPORCIONAM
abrangendo uma área total de 267.958 ha. EXPERIÊNCIAS ÚNICAS E UMA VISÃO
Esta está distribuída por duas áreas protegidas MUITO MAIS APROFUNDADA DO
(Parque Nacional da Peneda-Gerês e pelo PARQUE NACIONAL...”
Parque Natural Baixa Limia-Serra do Xurés),
P - Pode referenciar alguns locais que, em
divididas por uma fronteira mas unidas pelo
seu entender, são de visita obrigatória?
continuo natural e pela cultura.
RB - Estes locais vão depender do tipo de
Assim, ocorre todo um esforço comum entre
visitante. Se visita o Parque Nacional e não
as entidades dos dois países na definição de
pretende embrenhar-se nas serranias, os
metas e de prioridades de ação, consolidando
locais de acesso via automóvel juntamente

34
com as Portas do Parque proporcionam uma me marca todos os dias, é viver no Parque
excelente experiência a quem o visita. Nacional.
Se por outro lado, pretende e está habituado
a caminhar na Natureza, então – por exemplo P - Que análise faz da relação do poder
– a Grande Rota da Peneda-Gerês ou mesmo político com a região em particular e a
a rede de percursos pedestres homologados, Natureza e Cultura em geral.
proporcionam experiências únicas e uma RB - Esta é uma resposta muito simples e
visão muito mais aprofundada do Parque rápida: ao poder político só interessa o Parque
Nacional, das suas paisagens e das suas Nacional, a proteção da Natureza e a Cultura,
gentes. de quatro em quatro anos…

P - Pode falar de momentos vividos na região


“... O LIVRO SURGIU PELA
NECESSIDADE DE CONTAR A HISTÓRIA
que o marcaram?
DE UMA ÉPOCA...”
RB - Não é nada fácil! De facto, são mesmo
muitas, mas destaco algumas visitas invernais P - O Livro “Minas dos Carris – Histórias
às Minas dos Carris e aos pontos mais Mineiras na Serra do Gerês”: Fale-me um
elevados da Serra do Gerês, bem como os pouco sobre este projeto, como surgiu e que
avistamentos da fauna selvagem existente no impacto teve?
Parque Nacional. São de facto experiências RB - O livro surgiu pela necessidade de contar
únicas e marcantes. Porém, o que mais a História de uma época que marcou não só

Campo Barragem Geira

35
Passear entrevista

36 Outono | Albergaria
a Serra do Gerês a todos os níveis, como faz
Senhor das Alturas
parte da História Mineira de Portugal. A total
ausência de informação e a inexistência de
uma vertente de Arqueologia Industrial no
Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG)
associada à ideia «poluição» daquela, fez
com as Minas dos Carris fossem esquecidas.
O livro veio trazer alguma luz à história
(incompleta) das Minas dos Carris e é quase
uma homenagem a quem lá trabalhou e
viveu durante vários anos.

P - A vertente de Guia de Montanha, como


nasce e com que finalidade?
RB - No meu caso nasce inicialmente como
uma sugestão e mais tarde como uma forma
de partilha de um conhecimento que fui
acumulando ao longo dos anos. Muito para
além de escrever sobre as caminhadas, achei
mais interessante partilhar esse conhecimento,
sensações e sentimentos no terreno e assim
decidi enveredar por esta vertente (ajudado
também pelo desalento da profissão de
Optometrista em Portugal!)

37
Passear entrevista

Baloiço de Colherinhas, Aguiar da Beira

ENTREVISTA: Paulo Guerra dos Santos

Mais de 5800 km de rotas identificadas


por todo o país!

Paulo Guerra dos Santos, o fundador das em simultâneo dei mais de 6000 horas de
Ecovias Portugal, define-se como “...um formação, também em Robótica Industrial.
rapazito de 48 anos, nascido numa pacata Estas duas áreas de formação e estas duas
aldeia da Beira Alta, mas que com um ano décadas de experiência profissional deram-
de idade veio recambiado para a grande me os conhecimentos necessários e a
cidade. Como a matemática e a física capacidade em utilizar as tecnologias atuais
sempre foram disciplinas em que tinha bons para desenvolver este projeto. Não trocava isto
resultados sem grande esforço, segui o curso para voltar a fazer engenharia. Mas continuo
de engenharia civil e ainda fiz um de Robótica a adorar dar formação.
Industrial. O meu sonho? Ser o primeiro Homem a
Trabalhei durante 20 anos em engenharia pedalar em Marte. Vá, se tal não for possível,
civil, no ramo de projeto de estradas, e contento-me com a Lua”.

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Foto Captada por Nuno Rebelo
Passear ( P) - Como nasceu este teu gosto mudaram profundamente na minha forma de
pelas bicicletas e pelo cicloturismo? ver e de estar na vida.
Paulo Guerra dos Santos (PGS) - Tal como
qualquer criança e adolescente, andei
“... NÃO EXISTEM POLÍTICAS
imenso de bicicleta até por volta dos 16-17
PÚBLICAS DE GOVERNO CENTRAL,
anos de idade. Depois veio a universidade
OU SEQUER REGIONAL, PARA A
e a vida profissional, que ditaram uma PROMOÇÃO DAS VIAGENS EM
paragem nas pedaladas de quase 20 anos. BICICLETA NO NOSSO PAÍS...”
Em 2008, por uma série de acontecimentos
causais, decidi fazer uma tese de mestrado P - Cicloturismo em Portugal como estamos?
dedicada à bicicleta, não enquanto veículo Relação com o resto da Europa.
de lazer ou desporto, mas enquanto meio de PGS - Infelizmente continuamos na cauda
deslocação. Dediquei todo esse ano à tese e da Europa. Não existem políticas públicas
a utilizar a bicicleta todos os dias pelas ruas da de governo central, ou sequer regional,
capital. O salto seguinte veio naturalmente: para a promoção das viagens em bicicleta
queria conhecer TODO o país, do ponto de no nosso país e muito menos projetos de
vista da mobilidade ciclável. Então em 2010 âmbito nacional como o da Rede Nacional
tirei uma espécie de sabática de 4 meses e de Cicloturismo. Existem, felizmente, cada vez
de 22 de Maio a 22 de Setembro dei uma mais infraestruturas cicláveis, nomeadamente
volta completa a Portugal Continental, ecovias (em regra junto aos rios) e ecopistas
exclusivamente em bicicleta. Tanto a tese (os antigos ramais ferroviários desativados)
como esta grande viagem foram “life mas estão totalmente desarticulados entre si. É
changers”. Literalmente, pois diversas coisas fundamental o Estado dar sinais (económicos

39
Passear entrevista

Rio Minho

e não só) de que as viagens em bicicleta em os-Montes, região onde nunca tinha estado.
Portugal Continental e Insular podem ser um Aquele ondular de serras e vales, num sobe
dos novos catalisadores do turismo nacional, e desce constante, permite visões soberbas e
nomeadamente para as regiões fora do litoral, dar largas à imaginação para tentar perceber
aproveitando as novas dinâmicas criadas que forças tectónicas gigantescas criaram
pela atual fase no controlo da liberdade de aquela orografia e que mãos humanas a
movimentos ao nível internacional. moldaram à sua imagem.
Da Rede Nacional de Cicloturismo fica a
P- Cinco percursos que te ficaram na memória! Ecovia 15, de Lisboa a Évora. Sair da capital
PGS - Pode parecer demasiado banal, mas pelo Montijo, deixando as zonas urbanas
o primeiro percurso (que ainda hoje adoro e peri-urbanas para trás, entrar no Alentejo
percorrer) é o da ciclovia ribeirinha do Cais- pelos seus longos estradões ladeados por
do-Sodré a Belém, apanhar o cacilheiro e montados de sobro e ainda percorrer duas
pedalar até à Costa da Caparica. Para além ecopistas são qualquer coisa digna de se
das envolventes cénicas únicas que a foz fazer. E em diferentes épocas do ano pode
do Tejo oferece (Cristo, Ponte, encostas da mesmo acontecer passar por um caminho já
margem sul, a vila da Trafaria e o seu belo percorrido noutra altura e a nossa memória
peixe, etc.) o passeio termina com vista para não o reconhecer, tal a diferença de tons,
o horizonte curvo do Atlântico. É um passeio sons e cheiros.
que recomendo. Recentemente percorri também a zona do
Da viagem de bicicleta em 2010 ficou a Parque Natural do Tejo Internacional, mesmo
estupefação que tive ao pedalar em Trás- nos últimos dias do ano, quando temos luz

40
Ovar

com tons mais alaranjados dado o ângulo Mas há um episódio que me ficou fortemente
zenital da nossa estrela, aliado a estradas marcado. Durante a viagem dos 100 dias
virtualmente sem tráfego automóvel, é de bicicleta em Portugal, passei por Santa
qualquer coisa que fica gravado na memória. Comba-Dão onde pernoitei no quartel de
E claro, o Rio Douro, em toda a região entre bombeiros, também comando operacional.
o Pocinho, Barca d’Álva e Miranda do Douro. Há lá de tudo, até helicópteros. O ambiente
Imperdível. que se sente num espaço destes é mesmo
de que aqueles homens e aquelas mulheres
“...ENTRAR NO ALENTEJO PELOS estão ali para arriscar a sua vida por nós, se
SEUS LONGOS ESTRADÕES tal for necessário. Há uma áurea de paz e
LADEADOS POR MONTADOS DE serenidade que se sente nestes espaços, para
SOBRO E AINDA PERCORRER DUAS além de terem sempre um sorriso para nós.
ECOPISTAS SÃO QUALQUER COISA Nesse dia, houve um terrível sinistro rodoviário
DIGNA DE SE FAZER...” em cadeia na A25, perto de Aveiro, com
dezenas de viaturas. Morrerem creio que 5
P - Histórias que jamais esquecerás. Podes pessoas, umas delas totalmente carbonizada.
falar de momentos vividos, nas tuas Foi de Santa Comba-Dão que saíram, via
andanças de bicicleta, que te marcaram. aérea, os primeiros bombeiros a chegar
PGS - Cada metro que se percorre em ao local. Eu não estive lá, nem sequer vi as
bicicleta em modo slow travel, durante uma imagens na TV, mas consegui sentir o que
viagem de dias ou semanas ou meses, são aqueles bombeiros viram e sofreram. Bastou-
inspiradores. me vê-los no regresso, ao quartel, e olhar

41
Passear entrevista

Aguda

42
para as suas expressões faciais e corporais, a Alemanha ou a Suíça) as têm. Têm sim é
incrivelmente carregadas de um peso de rotas identificadas, que incluem estradas com
morte e destruição. Um deles desabafou reduzido tráfego automóvel, estradões em
comigo, quase sem voz: “Era um cenário de macadame a até caminhos de pé posto,
guerra”. desde que em boas condições para pedalar
Infelizmente, as estradas em Portugal carregado com uns alforges. É esse modelo
continuam a sê-lo, onde em média morrem que aplico em Portugal.
2 pessoas todos os dias (cerca de 700 todos
os anos). “...E NEM SÃO PRECISAS CICLOVIAS
POR TODO O LADO, POIS NEM
P - Que análises fazes da relação do poder OS PAÍSES MAIS RICOS (COMO A
político com o Cicloturismo. ALEMANHA OU A SUÍÇA) AS TÊM...”
PGS - Nula! Desconheço um político de
governo central, regional ou mesmo local com P - O projeto Ecovias Portugal como está e
uma capacidade de visão para promover o para onde vai.
país ou a sua região atraindo, entre outros, PGS - Está bem e recomenda-se. Publiquei
viajantes em bicicleta. Até hoje não conheci já a 7ª edição, o Road Book 2021, com
um único. mais de 5800 km de rotas identificadas por
todo o país. Algumas das 19 rotas de longa
P - O Cicloturismo pode ser um fator de distância estão já mesmo concluídas, como
desenvolvimento do Turismo de Natureza é o caso das Ecovias 12, 14 e 15. Apesar de
em Portugal? em qualquer altura as poder alterar, melhorar
PGS - Já o é. Cada vez mais. Vejo-o pelos ou ampliar.
roteiros vendidos no último ano. 2020 foi o Para além disso são cada vez mais os
melhor ano na promoção da Rede Nacional portugueses e os estrangeiros (publico o roteiro
de Cicloturismo. Das vendas dos roteiros às também em inglês) que adquirem o guia e
descargas gratuitas que permito na página que com os tracks GPS se guiam pele rede.
das ecovias, às pessoas (portugueses e Há também um cada vez maior apoio da
estrangeiros) que me contactam antes e comunidade de viajantes em bicicleta, que
depois das suas viagens a pedalar pelo país, através de donativos contribuem para tornar
acredito serem largos os milhares de pessoas este projecto economicamente sustentável,
que têm cada vez mais a perceção de que sem qualquer dependência financeira de
viajar de bicicleta em Portugal é já uma entidades públicas ou mesmo das federações
espécie de dado adquirido, de possibilidade ligadas à bicicleta. A generalidade das
implantada no terreno em praticamente todo pessoas dá muito valor à autonomia e
o país. E nem são precisas ciclovias por todo independência de um projecto como este,
o lado, pois nem os países mais ricos (como pois é garantia da sua qualidade.

43
Passear entrevista

ENTREVISTA: João Ministro

Falar de turismo implica falar também


de sustentabilidade
João Ministro tem 46 anos, é natural de Loulé jovem nos territórios de baixa densidade.
e licenciado em engenharia do Ambiente Defensor acérrimo da necessidade em manter
pela Universidade do Algarve. Co-fundador a atividade humana no interior como forma de
da empresa Proactivetur, atual sócio-gerente garantir a sua viabilidade e a desejada gestão
e director. Apaixonado pelo Algarve e seu e preservação. Co-fundador da Cooperativa
património, especialmente o da Serra e QRER, na qual colabora em várias iniciativas.
Barrocal. Ativista pelas causas ambientais e do Entusiasta das caminhadas, da observação
desenvolvimento harmonioso da região, tendo de aves, do desporto e da leitura. Um simples
participado em numerosas ações e projetos apreciador da vida em harmonia com a
de conservação, proteção e sensibilização natureza e um convicto defensor de novas
aquando da sua atividade na Associação abordagens de desenvolvimento territorial,
Almargem. Autor e coordenador do Projecto mais respeitadoras dos recursos naturais e
Querença, com foco no empreendedorismo sociais, mais colaboradoras e cooperativas.

44
João Ministro

“...GARANTIR QUE
AS PAISAGENS
SE PRESERVEM
OU OS PRÓPRIOS
ECOSSISTEMAS,
IMPLICA QUE
EXISTAM PESSOAS A
TRABALHAR E A GERIR
O TERRITÓRIO...”

Passear (P) - Como nasceu este seu gosto da Ria Formosa, mostrou-me o mundo da
pela Natureza e a Cultura? observação e da anilharem cientifica de aves.
João Ministro (JM) - Parte importante da Com ele conheci o parque natural, comecei
minha infância e adolescência foi passada a interessar-me na identificação de espécies
em contacto permanente com o campo. e claro, pelas questões da conservação. Não
Tivemos uma quinta agrícola na família, menos importante foi o facto de nessa mesma
para produção de fruta e alguma pecuária, altura ter tido como professor na Escola
onde passei imenso tempo. O meu avô, por Secundária de Loulé, o João Santos, fundador
outro lado, levou-me com ele em inúmeras da Associação Almargem, hoje infelizmente
ocasiões ao campo quando era criança. falecido, que me levou para a associação
Diversas delas por motivos menos nobres (e e onde tive oportunidade de desenvolver
legais), como para apanhar pássaros! Com imensos projetos, desde início dos anos 90. A
o meu pai cheguei mesmo a participar em Almargem foi uma escola para mim e o João
jornadas de caça, com longas caminhadas Santos um mentor.
na serra algarvia e no Alentejo. Tudo isto Entre 2001 e 2004 trabalhei no ICNF, na Reserva
impregnou em mim um gosto especial pelo Natural do Estuário do Sado, num projeto Life
campo e natureza. Mas foi no secundário Natureza dedicado à conservação de aves
que mudei a perspectiva e o foco. Um aquáticas das salinas.
colega e grande amigo meu, o Nuno Lecoq, Finalmente em 2004 regresso ao Algarve
filho do então Diretor do Parque Natural para coordenar um projeto muito especial: a

45
Passear entrevista

Via Algarviana. Até 2010 orientei todo o meu pela Rede Natura 2000 já nos dá em parte essa
empenho na implementação do projeto e no resposta. Naturalmente que sim. O Algarve
desenvolvimento do interior do Algarve através tem imenso potencial. Mas precisa de saber
do ecoturismo. Esse projeto consolidou todo como alcança-lo e especialmente, como
um conhecimento que trazia de trás e deu- não o desperdiçar. Esta região tem valores
me oportunidade de trabalhar noutras áreas, e características especiais. Já o dizia Miguel
como a cultura, o mundo rural e florestal Torga ou a Sofia Melo Breyner. A conjunção
e conhecer imensa gente. Foram anos de de influências mediterrânicas e atlânticas,
grande enriquecimento pessoal. Também o relevo suave a sul e acentuado a norte, o
de desgaste. Em 2010 saí da Almargem e longo histórico de presenças de civilizações
decidi que iria continuar a trabalhar nestas antigas, cujos testemunhos ainda hoje se
temáticas, mas pessoalmente e através de podem ver, tocar e provar, são alicerces bem
iniciativa privada. Foi nessa altura que nasceu sólidos de uma riqueza que torna o Algarve
a Proactivetur. quase único. É verdade que não temos
Hoje continuo envolvido nas mesmas causas, grandes montanhas, como em Espanha ou
tendo como foco o de contribuir positivamente França. Também não temos monumentos
para o território. E este, para se manter vivo, imponentes, de grande dimensão, como
necessita da presença das pessoas É aqui que noutros países. Mas temos uma diversidade
a natureza e a cultura se interligam. Garantir paisagística enorme, facilmente visitável por
que as paisagens se preservem ou os próprios todos os públicos, temos um dos maiores
ecossistemas, implica que existam pessoas a índices de biodiversidades da Europa e um
trabalhar e a gerir o território. Para tal temos de património cultural imaterial riquíssimo, onde
contribuir para que essas pessoas, autênticos o artesanato, a gastronomia ou a arquitetura
agentes estruturais de dinamização territorial, tradicional são alguns exemplos. E claro,
tenham condições para aí se manterem ou um clima invejável que permite uma plena
fixarem. Essa é a raíz do conceito de Turismo fruição destes valores praticamente todo o
Responsável que queremos e procuramos ano. Saibamos trabalhar estes recursos, de
desenvolver atualmente, seja através dos forma equilibrada e responsável, e temos uma
programas de caminhada ou pelo Projecto oferta diferenciada altamente apetecível
TASA (Técnicas Ancestrais Soluções Actuais) em para o mercado internacional.
torno da valorização do artesanato algarvio.
P - O poder político acredita nesse potencial?
“...O ALGARVE TEM IMENSO O que está a ser feito pelas autarquias e
POTENCIAL. MAS PRECISA DE região de turismo.
SABER COMO ALCANÇÁ-LO E JM - Assistimos, felizmente, a uma mudança
ESPECIALMENTE, COMO NÃO O na forma como o poder político encara estas
DESPERDIÇAR...” novas realidades turísticas. Lembro-me, por
exemplo, em 2005, aquando do processo de
P - O potencial da região do Algarve para o implementação da Via Algarviana, a Região
Turismo de Natureza e Cultura existe? Como de Turismo do Algarve não estar minimamente
o caracteriza? interessada no projeto, nem sequer no turismo
JM - Uma região que tem cerca de 40% do de natureza. De tal forma que nessa altura não
seu território classificado internacionalmente apoiou o projeto Foi apenas com a mudança

46
na presidência daquele orgão que essa ou a Ria Formosa e a pressão urbanística e
visão mudou. Hoje, felizmente, é plenamente imobiliária.
reconhecido, tanto pelos municípios, como
pelas entidades regionais e nacionais, o “...O OBJETIVO ACABA POR SER O DE
interesse do Turismo de Natureza e Cultural. ESTIMULAR O TURISMO DE NATUREZA
Contudo, reconhecer não é suficiente. É um NESTE TERRITÓRIO, COM ESPECIAL
passo valioso, obviamente. Mas não chega. O ENFOQUE NA CAMINHADAS,
território tem de ser gerido em conformidade. A E CONTRIBUIR PARA O SEU
intervenção regional deve ter uma articulação DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO...”
intermunicipal eficiente e os projetos devem
ter resultados objetivos, mensuráveis e P - Esteve na génese do Festival de
não servirem apenas para operações de Caminhadas do Ameixial. Qual o papel
charme e de marketing. Apesar de claros dos Festivais de Caminhadas para o
progressos, ainda temos muita “publicidade” desenvolvimento económico e cultural das
de aparência, sem atuação efetiva no cerne regiões?
das questões. Não podemos, por exemplo, Fale-me um pouco sobre a evolução do
querer impulsionar um turismo sustentável em Festival do Ameixial e da criação de uma
torno dos valores naturais e culturais das áreas rede de festivais no Algarve.
protegidas e continuar a assistir ao “assalto” JM - O Festival de Caminhadas de Ameixial
a que continuam sujeitas. Veja-se o caso da (WFA) inspirou-se num conceito simples e
Costa Vicentina e o perímetro de rega de Mira informal praticado no Reino Unido cujo

47
Passear entrevista

Trabalho de Equipa

principal objetivo é o de juntar um grande fazer (excepto em 2020 devido à pandemia


grupo de amigos e proporcionar uns dias da COVID19). Em 2014, Alcoutim iniciou o
de caminhadas, num determinado local, seu festival, inspirado no nosso, e desde essa
dando a conhecer a natureza e a cultura altura mantivemos um contacto próximo
dessa região, e procurando sempre envolver no sentido de articular datas. Mais tarde,
de alguma forma as comunidades desses havendo possibilidade de iniciar outro evento
sítios. Foi com esse propósito que criámos o similar no barlavento algarvio, juntamos-nos
festival em Ameixial. Mostrar que este território com a Região de Turismo do Algarve (RTA)
tem muito para revelar, que as caminhadas e propusemos a criação de uma marca
podem ser um excelente motivo para lá ir e regional que fizesse a promoção conjunto
que a comunidade local pode beneficiar, dos vários festivais. A ideia foi - e continua a
não apenas do evento em si, mas do facto ser - a de articularmos e reforçar a divulgação
de ali existirem percursos pedestres que conjunta dos eventos. Desta junção, contando
são visitados ao longo do ano. No fundo, o com o apoio da RTA, nasceu a marca Algarve
objetivo acaba por ser o de estimular o turismo Walking Season que integrou um novo festival,
de natureza neste território, com especial o Walk&Art Fest em Barão de S. João (Lagos),
enfoque na caminhadas, e contribuir para o organizado pela Associação Almargem.
seu desenvolvimento sustentado. Temos assim, um festival de Inverno (Alcoutim),
Em 2013, aquando da preparação da 1ª um de Primavera (Ameixial) e outro de Outono
edição o envolvimento do município de Loulé (Barão S. João). Desta forma tentamos cobrir
e da respetiva junta de freguesia de Ameixial todo o ano, várias partes do Algarve e com
foram imediatos e os resultados obtidos temáticas âncora diferentes: o de Ameixial
foram bastante interessantes. De tal forma centra-se nos valores da Serra do Caldeirão
que desde então não temos parado de o e usa a Escrita do Sudoeste como elemento
48
identitário. O de Alcoutim recorre à temática sentido, posicionar uma região enquanto
do Contrabando e usa o Guadiana como destino turístico de qualidade, sustentável e
âncora. E por fim, o de Barão de S. João competitiva implica valorizar esses elementos
centra-se na divulgação dos valores da Mata culturais e tradicionais, não apenas como
Nacional do barão de S. João e na ligação parte da oferta, mas da identidade do
com a arte contemporânea. destino, conferindo-lhe autenticidade e em
ultima instância, um maior valor global.
P - A cultura e as tradições são fatores de
atração para as regiões? P - Fale-me dos projetos em que está
JM - São, obviamente. Como disse antes, envolvido.
são elementos diferenciadores da oferta JM - Enquanto operador turístico, continuamos
turística e do posicionamento de um destino. a solidificar o nosso posicionamento em
Além disso, hoje, como nunca antes, Turismo Responsável, procurando oferecer
falar de turismo implica falar também de cada vez mais experiências enriquecedoras
sustentabilidade, pelos motivos que são de usufruto do património e contacto com
amplamente conhecidos (ex. Combate às as comunidades locais, mantendo o apoio
alterações climáticas, o pacto ecológico a causas ambientais e culturais da região.
Europeu ou o novo Bauhaus Europeu). E essa Logo que esta fase pandémica passe, iremos
sustentabilidade deixou de ser aquela refletida retomar em força as nossas atividades, entre
apenas ao nível da eficiência energética ou as quais as caminhadas - que continuam a
hídrica num determinado empreendimento ser o principal produto -, a observação de
turístico. É cada vez mais a relação que a aves e as experiências culturais e criativas
industria turística estabelece com o território, as em espaço rural (ex. Workshops artesanato,
pessoas que aí vivem e o património. E nesse provas gastronómicas, entre outros). Iniciámos

49
Passear entrevista

50
Balsa

Duas Artesãs

em 2019 a nossa primeira experiência de Actividades Artesanais do Algarve”, o 1º do


operador outgoing, com um programa em género em Portugal, que à semelhança
São Nicolau, Cabo Verde, projeto que vamos do que acontece com o livro vermelho dos
reforçar no futuro (temos viagem marcada vertebrados, visa catalogar e classificar todas
para Novembro). Nesse país estamos as artes tradicionais do Algarve de acordo
precisamente a iniciar um novo projeto de com o seu grau de ameaça e risco de
estruturação de percursos pedestres na Ilha extinção. Ainda neste projeto continuamos a
de Santiago, num consórcio de parceria com valorizar as artes e ofícios da região. Apoiámos
outras empresas. Integramos recentemente a formação de jovens artesãos e em breve
uma rede europeia de turismo sustentável iremos desenvolver novas ações no sentido
(European Network for Sustainable Tourism), de garantir a transmissão de saberes a uma
que junta dezenas de outras agências de nova geração e dessa forma evitar a extinção
vários países e que vai trabalhar em ações dos mesmos.
colectivas de promoção deste turismo no No âmbito da nossa atividade na Cooperativa
espaço europeu, nomeadamente, por QRER (www.qrer.eu), da qual somos co-
exemplo, no fomento do uso do comboio fundadores, estamos igualmente bastante
em programas turísticos e na construção ativos. Não só com a organização do festival
de programas internacionais entre os países de caminhadas de Ameixial, mas igualmente
membros. com projetos regionais, nomeadamente
Através do Projecto TASA (www.projectotasa. o “Algarve Crafts&Food”, liderado pela
com), estamos a desenvolver para a CCDR Região de Turismo do Algarve, que visa a
Algarve, no âmbito de um projeto comunitário estruturação e promoção de turismo criativo
(projeto Magallanes), o “Livro Vermelho das e gastronómico no Algarve.

51
Passear entrevista

Abetarda ©Cavan

ENTREVISTA: Ricardo Silva

Portugal tem um excelente potencial


para a observação de aves!

Ricardo Silva é engenheiro de Produção Ia à caça com o meu pai e adorava aquela
Animal de formação, tem 46 anos, é guia e rotina matinal, passear no campo e ver as
empresário de animação turística na área do aves no seu habitat e, também as que eles
turismo de natureza e Birdwatching. Mais de matavam, vê-las na mão, apreciar as cores
25 anos dedicado à conservação das aves e e os padrões das suas penas. Mas depois
da natureza. tinha pena por estarem mortas. Ia também
aos ninhos e gostava de criar os pássaros à
Passear (P): Como nasceu este seu gosto mão que depois soltava quando se tornavam
pelas aves? voadores.
Ricardo Silva (RS) - Desde muito pequeno Mais tarde fui desenvolvendo mais a
que gosto de aves. Comecei, como muitos consciência conservacionista, deixei de ir
da minha idade, “do outro lado da barricada”. à caça (o meu pai também), devorava os

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Rabirruivo-preto | Joudrierd

53
Passear entrevista

episódios do Felix Rodrigues de La Fuente, P - Qual o Potencial da Observação de Aves


comprei uns binóculos e uns guias de aves em Portugal?
muito básicos, de fotografias (volumes da RS - Portugal tem um excelente potencial
Editorial Publica), mas que decorei de uma para a observação de aves. Apesar de termos
assentada. um território pequeno temos uma grande
Aos 19 anos, quando fui para a universidade diversidade de habitats, desde zonas costeiras,
em Castelo Branco e tive finalmente um a montanha, planícies semi-estepárias, floresta,
carro, foi quando me expandi neste vício da montados, lagoas de água doce, sapais, rios
observação de aves. Encontrei pela primeira (lóticos e lenticos), alcantilados rochosos etc.
vez um grupo de amigos que gostavam do Para além disso, estamos numa zona de
mesmo que eu e partimos procurando ver transição entre África e o Norte da Europa e
todas as espécies que existiam em Portugal, numa das principais rotas de migração entre
depois em Espanha e não parei mais. estes dois continentes. O que resulta num
Ao fim de pouco tempo estava a fazer estudos interessante fluxo de aves migradoras e uma
e monitorizações de avifauna para vários dicotomia entre o Inverno e a Primavera,
projetos e automaticamente percebi que permitindo observar uma diversidade
gostava de mostrar e ensinar a outros aquilo interessante de aves em qualquer período do
que ia vendo e aprendendo. Comecei a ano. Assim, ao longo de um ano poderão ser
fazer visitas guiadas para observação de aves observados 250 a 300 espécies de aves em
ainda como estudante na Escola Superior Portugal num total de mais de 400 já registadas.
Agrária de Castelo Branco.

54
Ricardo Silva “...ESTAMOS NUMA ZONA DE
TRANSIÇÃO ENTRE ÁFRICA E O
NORTE DA EUROPA E NUMA DAS
PRINCIPAIS ROTAS DE MIGRAÇÃO
ENTRE ESTES DOIS CONTINENTES...”

P - A Observação de Aves pode ser um factor


de desenvolvimento do Turismo de Natureza
em Portugal?
RS - Claro que sim. São milhares de pessoas,
principalmente de Inglaterra, Norte da Europa,
Estados Unidos e Canadá, mas também
do Brasil, Japão e China, que hoje em dia
percorrem o Mundo para observar aves. O
Birdwatching em muitos países, principalmente
com economias mais frágeis, é um dos
principais motores de desenvolvimento.
Porque associado ao Birdwatching está o
alojamento, a restauração, os operadores
turísticos, as lembranças, há toda uma
economia associada a esta atividade
Em Portugal, para além da diversidade de
espécies, temos espécies muito carismáticas
e especificas desta região mediterrânica
que é muito procurada pelos observadores
de aves quer do Norte da Europa quer dos
Estados Unidos e Canadá. Tal como disse
anteriormente neste pequeno território
podemos observar espécies típicas da
Europa mas também muitas cuja distribuição
é essencialmente africana mas estende-se
ligeiramente à península Ibérica.
Essa diversidade de espécies num território
Douro Internacional pequeno permite programas de Birdwatching
de 1 semana, cobrindo a maioria dos habitats
existentes.

P - Como está a ser aproveitado e em que se


baseia?
RS - Foi durante anos um pouco ignorado e
até ostracizado. Agora, de há uns anos para
cá começa a despertar essa consciência nas
pessoas em geral e nas instituições, mas já

55
Passear entrevista

Observação no Jamor

vamos com mais de 20 anos de atraso em desenvolvida. O Turismo de Portugal e as


relação por exemplo à nossa vizinha Espanha. Associações Regionais de Turismo têm feito
Ainda assim, finalmente o Turismo de Portugal, já algum esforço de divulgação desta
as autarquias e os empresários do turismo oferta junto do público estrangeiro, em feiras
começam a perceber essa potencialidade. internacionais, mas há que continuar e juntar
No entanto, o querer fazer rápido e sem os mais operadores nacionais, proprietários e
pareceres de técnicos com conhecimento agricultores que são quem tem a propriedade
de campo, está a criar-se em muitos locais e fazê-los acreditar que esta pode ser uma
do País estruturas desnecessárias e obsoletas realidade interessante para eles.
como passadiços, observatórios e rotas de
percursos que não cumprem os objetivos
“...O TURISMO DE PORTUGAL, AS
ou são sobre dimensionadas. Gastando-se AUTARQUIAS E OS EMPRESÁRIOS DO
milhares de euros em coisas que não vão TURISMO COMEÇAM A PERCEBER
funcionar. ESSA POTENCIALIDADE...”
Por outro lado, paralelamente ao desenvolvi-
mento desta oferta turística, tem de crescer
também a oferta em alojamentos, restaura- P - Cinco locais obrigatórios para quem
ção e outras estruturas de apoio. É difícil por gosta de observar aves.
vezes fazer pacotes turísticos em certas regi- RS - Em Portugal continental, o Algarve,
ões do interior do país sem ter uma oferta ra- principalmente a Ria Formosa/Ludo/Quinta do
zoável de onde dormir e comer. Lago, o Estuário do Tejo, Castro Verde e Mértola,
A promoção desta oferta tem de ser mais Tejo Internacional e Douro Internacional.

56
Projeto desenvolvido
em Castelo Branco
“...O MEIO RURAL PRECISA DE FAZER
CRESCER A COMPONENTE DO
TURISMO DE NATUREZA...”

P - Projeto Vanellus, como surge e com que


finalidade?
RS - A Vanellus surge na tentativa de fazer
acontecer um sonho antigo de tornar
esta paixão num negócio e criar oferta
turística ainda escassa, principalmente na
componente da fotografia de aves e de
fauna selvagem.
Sempre acreditei que a conservação
das espécies e dos habitats podem ser
compatíveis com este tipo de turismo e que
só assim se consegue valorizar estes recursos
e evitar que o território e as zonas rurais sejam
invadidas por culturas de rendimento mais
P - Três aves de eleição. rápido. O meio rural precisa de fazer crescer a
RS - Pensando apenas nas Europeias, os componente do turismo de natureza, onde se
grous (sem dúvida uma das espécies mais encaixa o Birdwatching, para complementar
fantásticas de se observar), o quebra-ossos a sua atividade agrícola.
(pela sua imponência, modo de vida e Assim, a Vanellus surge com o intuito de valorizar
beleza) e as abetardas pelo seu porte, as zonas rurais através da contemplação e
majestosidade e pelo acentuado declínio usufruto do seu património.
em que se encontram. Mas é uma pergunta
difícil visto que há imensas espécies com P - Ponto da situação e qual o rumo a curto
particularidades muito interessantes que e médio prazo?
mereciam estar nesta lista. RS - Neste momento, devido a todos os
Há ainda uma quarta se me permite, constrangimentos provocados pela pandemia
porque é mesmo uma das minhas favoritas; a situação está muito difícil e as perspetivas de
o Rabirruivo-preto, simpático, bonito, muito melhorar parecem estar ainda muito longe.
adaptável ao ser humano. A componente do mercado estrangeiro é
muito importante nesta atividade e essa está
P - Em seu entender que requisitos são parada há mais de 1 ano.
necessários para uma pessoa se tornar um O mercado nacional tem reagido, nos
observador de aves? intervalos dos confinamentos, mas é muito
RS - Algum poder de observação dos reduzido e sobretudo muito limitado no que
pormenores, paciência, um binóculo e um diz respeito ao seu poder de compra, pelo
guia de aves. que o futuro é muito incerto.

57
Cicloturismo

100 Km na Serra da Estrela


Em duas etapas, um grupo de amigos, foi conhecer a Serra da
Estrela através de dois percursos entre paisagens deslumbrantes.
O primeiro percurso é circular com início e fim em Manteigas,
extensão de 66,48 km. Piso misto de asfalto e terra. Pontos de
passagem: Viveiro das Trutas, Covão D’Ametade, Lagoa Comprida,
Albufeira do Covão do Forno, Albufeira do Lagoacho, Vale do Rossim.
O segundo percurso é linear, com início na Lagoa Comprida e a
terminar na Quinta do Crestelo - Seia, extensão de 44,02 km. Piso
misto de asfalto e terra. Pontos de passagem: Albufeira do Covão
do Forno, Albufeira do Lagoacho, Vale do Rossim, Albufeira do Vale
do Rossim, Sabugueiro, Senhora do Desterro e Lapa dos Dinheiros.

Texto e Fotografia: António José Soares

58
Pintarroxo | Linaria cannabina

59
Cicloturismo

Passagem sobre o rio Zêzere

A resposta ao desafio do amigo Salgado os concorrentes do “Trail de Manteigas” que


para de ir pedalar até à Serra da Estrela, pelo desciam o vale. A fim de permitir a passagem
Vale Glaciar, foi aceite de bom grado. Saí de de concorrentes em locais mais estreitos,
Coimbra acompanhado pelo meu filho TóPê, fomos forçados a efetuar algumas paragens,
que aproveitou para caminhar por Manteigas. aproveitando esses breves momentos de
Ao chegar à vila serrana já nos aguardavam pausa para admirar a cenografia envolvente,
os “judeus” dos nossos amigos, Salgado e que para além da beleza da paisagem,
Katu, apontando de forma reprovadora para também nos brindava com a felicidade de
os relógios, quiçá pelo rigoroso incumprimento respirar o maravilhoso ar fresco e puro da
do quarto de hora académico, da minha montanha.
responsabilidade. Após as saudações da O dia já se apresentava com um sol radioso
praxe e colocadas as rodas no quadro, lá e a temperatura com os valores um pouco
fomos os três na direção do vale. Na saída de elevados para este mês de Maio, no entanto
Manteigas, optámos por subir pela encosta, o nosso caminho prosseguia, com o claro
contrária à estrada nacional 338, um estradão propósito de chegarmos, o quanto antes, a
de terra que segue paralelo ao rio Zêzere, um dos locais mais interessantes do percurso,
até certo ponto, o qual atravessaríamos, e, sem dúvida, um dos sítios naturais mais
mais à frente, num local verdadeiramente deslumbrantes da Serra da Estrela, o Covão
deslumbrante, para alcançar a estrada, na d’Ametade. Local por onde se estende o leito
vertente oposta, e prosseguir no sentido das do rio Zêzere, logo após a sua nascente, junto
Penhas da Saúde. ao Cântaro Magro. O espaço convida-nos ao
Enquanto íamos subindo cruzámo-nos com lazer, seja a caminhar ou a desfrutar de um

60
Vale Glaciar

piquenique, contudo, após uma breve pausa, dispensar, assim, de bom grado, fizemos jus
continuámos a nossa subida em direção à à tradição. Prosseguimos a segunda parte do
Torre, sem dúvida o ponto mais alto da etapa. passeio em direção à Lagoa Comprida, onde
Há medida que nos aproximávamos do ponto abandonámos a EN339, e prosseguimos
mais alto, quer pelo número de quilómetros sob a levada que nos conduziria à pequena
que se acumulavam, quer pela dureza do albufeira do Covão do Forno, sobranceira à
declive, o cansaço ia tomando conta de albufeira do Covão do Curral que se situa
nós, embora continuássemos a resistir com num plano imediatamente inferior à estrada
estoicismo. Contemplar a Lagoa do Viriato nacional.
e a passagem pela Nave de Santo António Continuámos a pedalar sobre a levada
funcionou um pouco como um bálsamo, mas com uma vista impressionante sobre o vale,
rapidamente entrámos no modo de subida, e ladeando os Malhadais do Cavalo, onde um
assim foi, até à chegada à Torre. tapete de flores silvestres decorado com tons
Para o Katu, foi o batismo nas subidas à Torre, primaveris emprestava ao cenário envolvente
no caso do Salgado e do autor destas linhas foi tela verdadeiramente contagiante. Com fim
a segunda, e em conjunto, por coincidência. da continuidade da levada, junto a uma
A primeira tinha sido a épica subida do pequena moradia de montanha, descemos
Adamastor, a culminar a memorável tripla à EN339, prosseguindo não mais que duas
jornada, partindo da Lousã e passando pela centenas de metros, para enveredar, mais
Serra do Açor, no já longínquo 2015. à frente, novamente por um estradão de
No alto da Torre, como é da praxe, a tradicional terra paralelo a outra levada, proveniente da
sanduíche de queijo e presunto não se pode Albufeira do Lagoacho.

61
Cicloturismo

Covão d’Ametade

O percurso, um misto de terra e brita, paralelo solta, acabasse por contrariar as primeiras
à levada, é extraordinário pela impressionante expectativas de pedalada fácil.
panorâmica que se pode alcançar A segunda parte do percurso pode ser
sobre o vale, de onde se avista a aldeia cognominado como caminho das lagoas
do Sabugueiro, povoação com séculos e das levadas, uma vez que grande parte
de antiguidade, situada a uma altitude da sua extensão entre a Lagoa Comprida e
superior a 1000 metros, ocupando uma a represa do Vale do Rossim, se desenvolve
vertente soalheira, sobranceira ao rio Alva, precisamente entre represas ao longo das
beneficiando das condições de abrigo do levadas. O Vale do Rossim, situado a cerca
vale e da abundância de água. Distinguem- de 1 400 metros de altitude, é dominado pelo
se na paisagem os blocos graníticos de lençol de água criado pela represa e por uma
grandes dimensões, transportados pelos gelos envolvente paisagística de grandes blocos
do último período glaciário, de há mais de 10 graníticos ladeada por uma vegetação
mil anos. de bosques densos. A barragem do Vale
Após a primeira parte do dia dedicada ao vale do Rossim, existente desde 1956, faz parte
glaciar, onde o esforço da subida, mesmo que da rede de aproveitamentos hidroelétricos
mitigado pelo encanto do sinuoso percurso, construída em Portugal a partir da década de
deixou algumas marcas, provenientes 40 do século XX.
sobretudo, da fadiga acumulada, era agora A lagoa da albufeira do Vale do Rossim é
altura para usufruir de um passeio mais suave, aproveitada pelas gentes da serra, sobretudo
embora a dureza do trajeto, com muita pedra no Verão, que desfrutam de uma bela praia

62
Barragem do Covão do Forno

Levada do Covão do Forno

63
Cicloturismo

Trilho para barragem do Lagoacho

Albufeira do Lagoacho

64
Vale do Rossim

fluvial, agradável e de excelente envolvência. que as condições climatéricas, na encosta


Quase em fim do percurso, ainda haveríamos norte da serra, eram uma boa solução para
de subir até à cota dos 1500 metros, ponto o tratamento bem-sucedido às patologias
a partir do qual iniciámos finalmente a respiratórias, atraíram para aqui, no último
descida de regresso, em direção ao ponto quartel do século XIX, quem sofria de doenças
de partida. Porém, ainda haveria lugar pulmonares e foi, no decurso deste período,
para uma derradeira paragem, a fim de que, entretanto, foi construída a Casa da
conhecer e apreciar um exemplo sui-generis Fraga.
da arquitetura habitacional do século XIX, a O regresso à vila, que se pretendia fazer pelo
Casa da Fraga, erigida num lugar ermo da estradão, via Cruz das Jogadas, foi atraiçoado
serra, no passado século XIX, diz-se que foi por uma distração momentânea que nos
a sua edificação que esteve na génese do “empurrou” pela N232. Uma vez na estrada,
surgimento das Penhas Douradas, tal qual a aproveitámos o seu declive e ótimo piso,
conhecemos, estância turística de repouso para descer vertiginosamente até ao local de
procurada sobretudo pelos seus bons ares. partida. Fomos gozando o ventinho no rosto,
A visibilidade deste canto da Serra da Estrela agora a preocupação era apenas travar e
começou no último quartel do distante século controlar, seguindo com precaução. Já fazia
XIX e no importante papel que os sanatórios o rescaldo de uma jornada, tão extenuante
então desempenharam no tratamento das quanto sublime.
doenças de foro pulmonar. A convicção de

65
Cicloturismo

Albufeira do Vale do Rossim

Casa da Fraga

66
Rota das Levadas, Do Covão do Forno
aos Cornos do Diabo

Um mês após o percurso pelo Vale Glaciar, ao Sabugueiro, onde seria imperdível não
nova jornada pela Serra da Estrela, desta comer o famoso pão, com queijo e presunto,
vez com uma pequena alteração no elenco de primeiríssima qualidade.
dos protagonistas, e, com o Joparesi a viajar Reiniciámos o percurso em direção ao rio Alva,
também desde Coimbra, para nos juntarmos seguindo pela sua margem direita, durante
ao Salgado, que nos aguardava na Senhora umas duas centenas de metros, até atravessar
do Desterro. Juntos rumámos, naquela fresca para a margem oposta, subindo por um trilho
manhã, à albufeira da Lagoa Comprida. da encosta até ao encontro de um estradão
Algumas cortinas de neblina escapavam- que nos conduziria à levada paralela ao rio,
se para a atmosfera. Iniciámos o percurso por onde pedalámos usufruindo a magnífica
pedalando primeiro sob as levadas e depois panorâmica do vale. Continuámos pela
junto às mesmas, visitando as lagoas que nos levada que termina junto à estrada municipal
brindavam com um extraordinário espelho 513, junto à câmara de carga localizada
onde se esbatia o reflexo dos raios de sol. no topo da encosta. Prosseguimos por esta
A primeira parte do percurso, da Lagoa estrada descendo na direção da Senhora do
Comprida ao Vale do Rossim, via levada Desterro.
do Covão do Forno e levada da Barragem Efetuada a descida, foi altura para uma visita
do Lagoacho, foi uma reedição do troço ao Museu da Eletricidade, localizado junto
do percurso percorrido em Maio, ficando ao rio Alva. Após uma visita ao exterior da
o Joparesi encarregado de traçar a rota a antiga central elétrica, agora transformada
ligar o Vale do Rossim à Lapa dos Dinheiros. em museu, seguimos em direção a um zona
Assim, percorridas as levadas do Covão do balnear, nas margens do rio Alva, envolvida
Forno e a Levada da Albufeira do Lagoacho, pela Mata do Desterro a qual se pode usufruir
prosseguimos pelo estradão que liga para o exercício de um simples piquenique ou
esta última albufeira à do Vale do Rossim. de um salutar passeio.
Continuando para Norte, seguimos por um Saindo da Senhora do Desterro, pedalámos
estradão de terra que nos conduziu até ao por um trilho fantástico, paralelo à levada
Sabugueiro, curiosamente por parte do trajeto que segue até ao enorme rochedo dos
da Rota das Aldeias Históricas, assinalado “Cornos do Diabo”, que transporta a água
como GR22. da ribeira da Caniça, a partir da represa aqui
O trajeto, de início bastante rápido, embora construída, e que leva a água até à Câmara
com pouca aderência, foi-se tornando de Carga Ponte Jugais. A represa permite a
progressivamente mais duro, com algumas formação de uma piscina de água límpida
lombas de drenagem a atravessar a via, e cristalina, imponentemente vigiada pelo
e tornando-se ainda mais sinuoso na parte enorme “Diabo” de pedra que a erosão dotou
final, com imensa pedra solta e algumas lajes de dois harmoniosos chifres e que sabiamente
em granito a exigir perícia e atenção face à foi batizado de “Cornos do Diabo”.
perigosidade, sobretudo pelas dificuldades na Percorrer a levada, para além de um exercício
aderência. Depois de alguns minutos a descer de perícia sobre a bicicleta, foi uma forma
com alguma adrenalina à solta chegámos brutal e entusiasmante de poder apreciar a

67
Cicloturismo

Lagoa Comprida

Descida ao Sabugueiro

68
Levada Rio Alva

Rio Alva no Sabugueiro

panorâmica de um vale encantador que


Levada da Ribeira
merece ser visitado e revisitado. No regresso da Caniça
dos “Cornos do Diabo”, após percorrer parte
da levada, descemos da bicicleta para
rumar, descendo na direção da ribeira da
Caniça e da praia fluvial, por um caminho
ancestral, que a descer ou a subir necessita
de empenho e permanente atenção, face às
inúmeras pedras e enormes lajes em granito e
à fraca aderência.
No rio da Caniça encontramos um local
paradisíaco, dotado de infraestruturas que
permitem o seu pleno aproveitamento em
zona de lazer fluvial, com condições ímpares,
ao lado da aldeia serrana da Lapa dos
Dinheiros, que lhe dá o nome. A Lapa dos 1º Percurso
Dinheiros marca praticamente o términus Track de GPS:
do trajeto, uma vez que o percurso até Seia https://pt.wikiloc.com/trilhas-
acaba por ser apenas um troço de ligação mountain-bike/manteigas-
ao final. Houve, ainda, lugar a uma incursão torre-manteigas-43016987
à Central Hidroeléctrica Ponte Jugais, para
pedalar uma boa parte do percurso ao lado 2º Percurso
de uma levada, com início junto da central Track de GPS:
da ribeira da Caniça, e a terminar junto da https://pt.wikiloc.com/
estrada municipal 231, prosseguindo por São trilhas-mountain-bike/lagoa-
Romão, para terminar o nosso passeio em comprida-senhora-do-
Seia, na Quinta do Crestelo. desterro-43075886

69
Percurso Pedestre

Ficha do Percurso

LOCALIZAÇÃO:
MONSARAZ / ALENTEJO
TIPO: CIRCULAR
SINALIZADO: NÃO
EXTENSÃO: 12,9 KM
DIFICULDADE: FÁCIL
DURAÇÃO: +/- 3 HORAS

70
Rota dos Menires
Um regresso ao passado...
DAS ANTAS AOS CROMELEQUES, SEM ESQUECER OS MENIRES (ISOLADOS OU EM GRUPO), O
CONCELHO DE REGUENGOS DE MONSARAZ É O HERDEIRO PRIVILEGIADO DE MAIS DE 150 ACHADOS
ARQUEOLÓGICOS.
NUM PERCURSO CIRCULAR, COM BASE EM MONSARAZ E COM CERCA DE 13 KM, FOMOS
CONHECER PARTE DESSE FANTÁSTICO PATRIMÓNIO - CROMELEQUE DO XEREZ, MENIR DA BULHOA E
MENIR DO OUTEIRO - E TIVEMOS, COMO GUIA, LUÍS LOBATO DE FARIA, DA GO ALENTEJO, QUE SE TEM
DEDICADO AO ESTUDO DESTE PATRIMÓNIO.

Texto: Vasco de Melo Gonçalves Fotografia: V.M.G. / Luísa Dias Mendes

Cromeleque do Xerez

71
Percurso Pedestre

Ermida de São Lázaro

Convento da Orada Pedra Escorregadia da Barrada

A Caminhada
O nosso percurso dos Menires é uma viagem que nos alerta para a história e respetivo
no tempo e desenvolve-se numa região enquadramento, que nos aponta pormenores
cheia de história. Ao longo dos 13 km de importantes e acrescenta valor ao simples
caminhada, em terrenos de modelação track de GPS!
suave, podemos observar alguma falta de A região por onde caminhámos também é
cuidado na conservação de edificações muito interessante ao nível da flora silvestre
e de informação sobre as mesmas. Foram mas, essa abordagem, terá que ficar para
nestas situações que podemos constatar a uma outra edição!
importância da presença de um guia local
72
Ermida de Santa Catarina

Chafariz na povoação do Telheiro

73
Percurso Pedestre

Pontos de interesse

Cromeleque do Xerez Cronologia


Cromeleque singular no universo regional, 4000 a.C. - 3000 a.C. - provável época de
constituído por recinto quadrangular de edificação; 1969 - recomposição por José Pires
pequenos menires de granito envolvendo Gonçalves da qual resultou a disposição atual
monumental menir fálico central. do conjunto cujos elementos se encontravam
Recinto de planta quadrangular regular, então quase todos por terra; com critérios
centralizada, definida por 50 menires de c. pouco explícitos e muito duvidosos, e
120/150 cm de altura, alguns de configuração recomposição teve como referência um
fálica, outros almendrados, envolvendo aglomerado de «covinhas» que decoram a
gigantesco poste central com configuração face horizontal de um dos pequenos menires
fálica, de c. 4 m de altura. O menir central do envolvimento, que o arqueólogo entendeu
é corrido verticalmente, na face O., por fiada reproduzirem a planta original. Fonte: Direção-
de «covinhas». Geral do Património Cultural

74
Menir da Bulhoa
Elevado poste granítico de aspeto fálico, com
c. 4 m de altura e 1 m de diâmetro, com as
faces O. e E. exuberantemente esculpidas em
relevo com motivos solares e linhas quebradas,
figurando entre outros um sol radiado, um
bastão, ondulados, serpentinados, zig-zags,
etc..
Cronologia
4000 a.C. - 3000 a.C. - época provável
de construção; 1970 - encontrando-se
derrubado, tendo-se perdido a base utilizada
como peso de um lagar vizinho, é reconstruido
datando de então a metade inferior que
serve de embasamento; 1976, janeiro -
Despacho de classificação como Imóvel
de Interesse Público do menir designado
Menir situado na Herdade da Bulhoa. 1970 -
restauro, atribuindo base de feitura atual para
assentar o fragmento, que consistia apenas
na metade superior.
Fonte: Direção-Geral do Património Cultural

75
Percurso Pedestre

Menir do Outeiro
Realizado entre os inícios do 4.º e os
meados do 3.º milénio a. C., ou seja, a
baliza cronológica geralmente atribuída ao
denominado “universo megalítico eborense”,
este monumental monólito, afeiçoado e em
forma fálica, foi erguido numa planície junto
à colina de Monsaraz, de forma isolada, mas
harmoniosamente com o meio envolvente.
Com 5,6 m de altura e 1 de diâmetro, este
menir foi descoberto em 1969 por Henrique
Leonor Pina e José Pires Gonçalves, que o
encontraram derrubado no solo. Por sua
iniciativa, o menir seria restaurado e reerguido
ainda durante essa década.
Sem apresentar qualquer tipo de decoração
nas suas faces, tudo parece apontar no
sentido deste monumento megalítico
pertencer a um universo muito específico do
megalitismo, representado por outros menires
da região, como nos casos dos de Almendres
e do poste central do cromeleque de Xerês.
Fonte: Direção-Geral do Património Cultural

76
Monsaraz
A vila de Monsaraz é, hoje em dia, um local forma de serra”, nome que terá sobrevivido
já sem grande vida própria dependendo na sua forma “arábica” ou seja “Monsaraz”.
muito dos visitantes. Contudo é um local Uma hipótese que levantamos apoiada nos
deslumbrante e, para o nosso guia Luís Lobato vários “Montserrats” que encontramos por esse
de Faria “...Quando visitamos Monsaraz, A Vila mundo fora.
entre muralhas, acabamos por conhecer Do Islão, além do nome da Vila, encontramos
apenas um “momento” da sua longa História. também a Qubba de S. João Baptista e vários
No entanto esta Vila da raia alentejana elementos da fortificação medieval. Dos
é milenar e esconde muitos “segredos”. Judeus encontramos uma Mezuzah numa
Monsaraz é uma autêntica máquina do porta, vários registos da infame Inquisição e
tempo, um farol para toda a região, um uma Judiaria perdida. Debaixo dos nosso pés
exemplo de como a nossa Identidade temos a Vila da água e dos mortos. Grande
Cultural pode ser a base da Economia através parte da fortificação é efetivamente da Idade
do Turismo. Média. Envolvendo esta temos um imenso
Monsaraz é um povoado fortificado desde a complexo fortificado abaluartado do século
Proto-História como atestam vários artefactos XVII. Nos arrabalde de Monsaraz encontramos
que vão sendo encontrados nas escavações uma espetacular rede de caminhos
arqueológicas. Dos Romanos ficou o nome conhecidos localmente por ladeiras...”
em latim “Mons Serratus” ou o “monte em

77
Percurso Pedestre

Qubba de S. João Baptista

78
A visão de Luís Lobato de Faria

Os menires como parte desta Cultura do Megalitismo


“Uma zona autêntica da Raia e já não há muitos região.
sítios assim, na Europa, como Monsaraz!”. Para Luís Lobato de Faria a designação de
Esta é a visão de Luís Lobato de Faria que “Menir” “...nasce com a Cultura das “Grandes
trabalha como guia para poder financiar os Pedras”. Um período histórico bastante
estudos que desenvolve sobre o património estudado pela sua monumentalidade e
da região. Pega em temas que não estão tão riqueza de espólio das antas. Acabamos por
bem estudados ou que não são tão turísticos (re)conhecer os menires como parte desta
mas que têm grande relevo do ponto de vista Cultura do Megalitismo. Mas como temos
cultural e são únicos. É esta autenticidade vindo a perceber o culto das pedras é bem
que transmite aos seus “clientes” que com ele mais antigo e sobreviveu até hoje
percorrem esta paisagem humanizada há Os menires apresentam muitas formas, surgem
milhares de anos e por isso tão bonita. isolados, em grupo ou associados a variados
Nesta nossa caminhada pelo período tipos de estruturas. Podem ser profusamente
do Neolítico, há mais de 6 000 anos, decoradas ou não ter decoração nenhuma.
mergulhamos num mundo das pedras Tendo toda esta diversidade assumiram várias
(Menires e Cromeleque) cheias de significado, funções ao longo dos tempos...”.
nos relógios de pedra e dos seus rituais que No nosso percurso Luís Lobato de Faria
ainda hoje têm influência nas gentes da destaca dois dos locais visitados. “...No

79
Percurso Pedestre

Cromeleque do Xarez levantam-se algumas de jogo. Um preconceito que tentamos


dúvidas em relação à sua forma única e contrariar...”
às mós que o formam. No entanto a maior Na aldeia da Barrada “...encontramos mais
parte dos seus elementos são efetivamente uma interessante paisagem ritual. Perto da
Menires que fariam parte de um Cromeleque. Aldeia temos o Penedo Comprido ou Menir
Alguns destes Menires apresentam o topo do Outeiro. Menir de forma fálica com uma
plano onde encontramos algumas covinhas. covinha no topo. A 400 metros deste menir
Num deles as covinhas formam um padrão lá está mais uma Pedra Escorregadia. Esta
ou um Ideograma. Varela Gomes identifica pedra tem o “escorrega” picado no granito e
uma Espiral neste padrão mas dá-lhe uma ao lado dele um pequeno nicho ou altar. Uma
função de tabuleiro de jogo. Parece ser Rocha Sagrada bem humanizada...”.
realmente uma Espiral mas pensamos que Esta nossa curta estada no Alentejo, uma
seja um Ideograma Mágico Religioso. Na região com muita força e identidade cultural
Arte Rupestre Esquemática as covinhas que e na companhia de Luís Lobato de Faria,
formam padrões ou figuras geométricas são faz-nos querer voltar para mergulhar nesta
geralmente identificadas como tabuleiros realidade única.

80
Informações Úteis:
Localização: Monsaraz / Alentejo
Tipo: Circular
Sinalizado: Não
Extensão: 12,9 Km
Dificuldade: Fácil
Duração: +/- 3 horas

Track de GPS:
https://ridewithgps.com/
routes/35466134?privacy_
code=sKvUQknqz0dzNjgl

Para saber mais sobre a Região |


Blog com estudos de Luís Lobato de Faria
https://alentejoinportugal.blogspot.com/

Guia de Campo |
Orquídeas Silvestres na região do Alqueva
https://biblioteca.edia.pt/BiblioNET/Upload/
PDFS/M03323.pdf

81
Percurso Pedestre

Ficha do Percurso

NOME: PR CORTE DE OURO


LOCALIZAÇÃO: CONCELHO
DE LOULÉ / ALGARVE
TIPO: CIRCULAR
SINALIZADO: SIM
EXTENSÃO: 12 KM
DIFICULDADE: MÉDIO
DURAÇÃO: 3 A 4 HORAS

82
PR Corte de Ouro
O Algarve profundo
DURANTE A REALIZAÇÃO DO FESTIVAL DE CAMINHADAS DO AMEIXIAL TIVE A OPORTUNIDADE DE
EFETUAR O PR CORTE DE OURO. TRATA-SE DE UMA PEQUENA ROTA, COM CERCA DE 12 KM, MUITO
INTERESSANTE AO NÍVEL PAISAGÍSTICO, CULTURAL, FAUNA E DA FLORA.

Texto e Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

83
Percurso Pedestre

Os campos do Algarve interior, durante a de Ouro e Ameixial a agricultura tinha um peso


Primavera, são de uma beleza indescritível em muito forte na economia local mas, hoje em
virtude da abundante flora silvestre. dia, essa mesma agricultura desapareceu e
O percurso circular que tive a oportunidade de apenas restam alguns vestígios desse mesmo
efetuar, em plena Serra do Caldeirão, tem a passado!
virtude de misturar a beleza paisagística com
algum património edificado. Como a grande Jorge Duarte, um caminhante que também
maioria das regiões interiores, a desertificação já efetuou a caminhada de Corte de Ouro
é uma realidade e, nos 12 km de extensão refere,
do percurso apenas encontrei um pastor com
o seu rebanho e duas ou três pessoas na “...Mais um dos percursos sinalizados na
passagem por um monte. Na zona de Corte freguesia de Ameixial, município de Loulé, em

84
plena serra do Caldeirão. É um percurso muito de ovinos e caprinos é uma presença muito forte
bonito. Logo no início, em Corte de Ouro, pode nesta área”.
observar-se um palheiro tradicional desta área.
É um estrutura circular em xisto, com cobertura João Ministro, Diretor Geral da Proactivetur e
de palha. Os campos nesta altura do ano estão do Projeto TASA, apresenta diversos pontos de
muito bonitos, é possível observar e ouvir interesse neste percurso
algumas aves como rouxinóis, papa-figos, gaios,
trepadeiras-azuis, chapins, etc. Destacam-se “...A aldeia de Corte D’Ouro em si, em particular
ainda, algumas construções utilizando técnicas e a oportunidade de ver de perto um dos últimos
materiais desta região, bem como um moinho de palheiros centenários circulares de pedra
água, que apesar de estar em ruínas, apresenta com telhado de centeio do Algarve, que foi
características dignas de observar. A pastorícia recuperado em 2019 no âmbito do WFA. Nesta

85
Percurso Pedestre

aldeia pode ainda assistir-se um pouco da vida em ruínas, mas com uma estrutura interessante.
típica da serra, com presença de gado caprino e A Azenha do Pizão foi em tempos uma estrutura
vários campos agrícolas. impressionante com dois níveis de circulação de
Destaque também para a Anta do Beringel, água e três moendas a trabalhar. Embora seja
monumento arqueológico (hoje sob estudo claramente um moinho de água, esta estrutura
arqueológico a decorrer no local). tem algumas particularidades que a distingue
A Paisagem serrana é preenchida com extensos das outras existentes na freguesia, como o
campos de esteval, rosmaninhos, sobreiros, Moinho da Chavachã ou Cascalheira. Por um
medronheiros e em torno de Corte de Ouro a lado, a sua localização na encosta e não na
existência de campos abertos de cereais, algo zona mais baixa da margem da ribeira, sugere a
pouco comum na serra algarvia. existência de uma roda exterior de eixo vertical
Outro ponto importante é o Miradouro Eira da servida por açude e um conjunto de levadas para
Palha, onde se situa um marco geodésico (475m conduzir a água ao moinho permitindo o seu
altitude) e de onde temos uma bela vista. funcionamento. Do ponto de vista técnico, é esta
Sobre o Património construido chamamos roda vertical exterior ao edifício que define uma
a atenção para a fonte “Pé Corso”, montes azenha, diferenciando-a dos restantes moinhos.
abandonados (exemplo do Vale das Hortas), De acordo com uma inscrição que se encontra
onde podemos observar a arquitetura tradicional no edifício, parece ter funcionado entre 1830
com uso da pedra local na construção e ainda a e 1986, e seria uma das estruturas de maior
Azenha do Pizão (antigo moinho de Água), hoje dimensão da região”.

Ribeira da Corte

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Fonte do Pé Corso

87
Percurso Pedestre

Pontos de Interesse

Este percurso no Algarve profundo para além partir do período neolítico, época em que as
da forte componente paisagística é também, populações se sedentarizam, demonstrando a
uma viagem ao passado da região através grande importância que a morte assumia para
de várias estruturas edificadas. estas sociedades. Os monumentos pertencentes à
A Azenha do Pizão, pelas inscrições deverá Freguesia do Ameixial inserem-se num conjunto
ser do século XIX, faz parte desse passado mais vasto de monumentos deste tipo, que se
agrícola e está num elevado estado de estende aos concelhos de Tavira e Alcoutim. O
degradação. Junto à azenha temos um forno megalitismo pode assumir várias formas, desde
totalmente construido em pedra. o simples menir (podemos apreciar um exemplar
no Centro Interpretativo de Arqueologia de Salir)
De um passado mais longínquo temos a até formas mais complexas como antas (ou
Anta do Beringel. Segundo a informação da dólmen) e tholoi.
autarquia de Loulé, As antas caracterizam-se por possuir uma pedra
de grande dimensão (conhecida como chapéu)
“...não se trata de sepulcros individuais, mas sim colocada horizontalmente sobre um conjunto
coletivos, que se pensa servirem uma comunidade. de pedras colocadas na vertical (denominadas
Este tipo de monumentos generalizou-se a esteios), formando uma área fechada designada

88
Azenha do Pisão

por câmara funerária. Muitas vezes existe um cultural. Abrange a Anta do Beringel e a Anta da
corredor de acesso à câmara funerária, o qual Pedra do Alagar, monumentos megalíticos pré-
é formado por esteios de menor dimensão. históricos com cerca de 7000 anos, bem como
Originalmente esta estrutura seria coberta por os sítios arqueológicos onde foram encontrados
uma grande quantidade de terra e pedras, a qual alguns exemplares das estelas com escrita do
se designa por mamoa ou tumulus”. Sudoeste datadas da Idade do Ferro, com cerca
de 2500 anos. Entre outros aspetos, pretende-
A autarquia de Loulé lançou, já em 2021, um se investigar os monumentos e as estruturas
projeto de valorização das antas e os sítios ali existentes, conhecer a história desses sítios,
arqueológicos da freguesia do Ameixial. Para mas também compreender o modo de vida das
os responsáveis da autarquia: populações antigas que aqui viveram e com
quem tinham contactos culturais e comerciais.”
“Este projeto pretende reforçar a singularidade
da Serra e do interior do Algarve, e encontra- No final do percurso e junto à povoação
se integrado na estratégia da autarquia para a podemos observar diversos palheiros
valorização e divulgação dos recursos culturais tradicionais recuperados.
deste concelho, através do seu património

89
Percurso Pedestre

Anta do Beringel

90
Flora e Aves Erva-do-salepo (Orchis champagneuxii)
Ao nível da paisagem ela é deslumbrante
dominada pelo sobreiral (Quercus suber)
recheado de estevas (Cistus ladanifer),
sargaços (Cistus monspeliensis), rosmaninho
(Lavandula stoechas) e medronheiros (Arbutus
unedo) entre outras espécies.
No que diz respeito às aves, o percurso de
Corte de Ouro é interessante para quem
gosta de as observar. Na Serra do Caldei-
rão podemos observar as grandes aves ter-
restres nomeadamente, a águia-cobreira,
açor, gavião, águia-de-bonelli, pombo-tor-
caz, cuco-canoro, abelharuco, torcicolo, pi-
ca-pau-verde, pica-pau-malhado-grande,
pica-pau-malhado-pequeno. No que diz
respeito aos passeriformes temos a cotovia-
-arbórea, andorinha-dáurica, alvéola-cin-
zenta, rabirruivo-de-testa-branca, melro-azul,
toutinegra-carrasqueira, toutinegra-real, cha-
pim-de-poupa, trepadeira-azul, papa-figos,
picanço-barreteiro e o corvo.

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Percurso Pedestre

Esteva (Cistus ladanifer)

Rosmaninho (Lavandula stoechas)

Espadana-dos-Montes (Gladiolus communis)

Abelharuco (Merops apiaster) | Lubos Houska © Gaio (Garrulus glandarius) | Knud Erik Vinding ©

Papa-figos (Oriolus oriolus) | Hubert Ngo © Trepadeira-azul (Sitta europaea) | Wolfgang Vogt ©

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Palheiros Informações Úteis:
Nome: PR Corte de Ouro
Localização: Freguesia do Ameixial, concelho
de Loulé
Coordenadas de GPS: -7.93169 W 37.35101 W
Tipo: Circular
Sinalizado: Sim
Extensão: 12 km
Dificuldade: Médio
Duração: 3 a 4 horas
Descarregar ficheiro GPX:
https://ridewithgps.com/routes/35585422

Junta de Freguesia do Ameixial: 289647169


GNR de Loulé: 289410490

Ver | Consultar:
Geoparque Algarvensis:
https://geoparquealgarvensis.pt/
C.M. de Loulé:
http://www.cm-loule.pt/pt/menu/225/turismo-
natureza.aspx
Alojamento:
h t t p : / / w w w. c m - l o u l e. p t / p t / m e n u / 4 8 0 /
alojamento-local.aspx

93
Percurso Pedestre

Cheleiros
Uma região de encantos

A NOSSA PROPOSTA DE PERCURSO CIRCULAR QUE TEM COMO PONTO DE PARTIDA A POVOAÇÃO
DE CHELEIROS, NO CONCELHO DE MAFRA PASSANDO, PELO PENEDO DO LEXIM E PELA BELA
ALDEIA DA MATA PEQUENA.
TRATA-SE DE UM PERCURSO, NÃO SINALIZADO, COM A EXTENSÃO DE 7,8 KM QUE NOS PERMITE
CONHECER A REALIDADE DA ZONA SALOIA, CAMINHAR AO LONGO DO RIO LIZANDRO E
CONHECER A RIQUEZA DA FLORA SILVESTRE QUE SE FUNDE COM A TRADIÇÃO VINÍCOLA E ONDE
AS MEMÓRIAS DAS ATIVIDADES VULCÂNICAS SE REVELAM.
DE VISITA OBRIGATÓRIA É O COMPLEXO DE PRODUÇÃO DE VINHO DA MANZ WINE E O SEU
PEQUENO, MAS INTERESSANTE, MUSEU ETNOLÓGICO.

Texto: Vasco de Melo Gonçalves Fotografia: V.M.G. e Luísa Dias Mendes

Ficha do Percurso

LOCALIZAÇÃO:
CHELEIROS / MAFRA
TIPO: CIRCULAR
SINALIZADO: NÃO
EXTENSÃO: 7,8 KM
DIFICULDADE: FÁCIL
DURAÇÃO: +/- 3 HORAS

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95
Percurso Pedestre

Cheleiros já foi uma povoação importante, encontramos o que resta do Penedo do


em virtude da sua situação geográfica e Lexim (antiga chaminé vulcânica) que já foi
pelo seu vinho. Hoje em dia a terra perdeu a uma pedreira e que nos transporta a tempos
relevância de outros tempos mas, mantêm-se passados. Iniciamos a descida por estrada
o famoso vinho produzido, atualmente, pela (nas bermas encontrámos diferentes tipos
família Manz que se mudou para a vila no ano de orquídeas selvagens) e, o nosso próximo
de 2004. O rio Lizandro confere, a Cheleiros, destino, é a aldeia da Mata Pequena.
um visual mais atraente e cria, nas suas Algumas casas típicas recuperadas que se
margens abrigos para diversas espécies de desenvolvem ao longo de uma rua e que hoje
aves de onde se destaca a Galinhola d’Água se destinam, maioritariamente, a alojamento
(Gallinula galeata). A ponte Romana ou ponte temporário.
velha de Cheleiros é a sua principal referência Entramos na fase final do nosso percurso
monumental e identitária. que nos levará de regresso à povoação de
Entramos na estrada batida e, pouco depois, Cheleiros. Este troço é muito interessante pois
começamos a subir e atravessarmos terrenos caminhamos por caminhos de pé-posto ao
agrícolas, vinhas e campos repletos de longo da Ribeira da Mata (afluente do Lizandro)
plantas silvestres que conferem à paisagem e com uma vegetação densa e variada (em
uma paleta de cores e formas únicas. Já épocas de calor é muito refrescante).
numa zona mais plana, a 203 m de altitude,

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Percurso Pedestre

98
Flora
Ao nível das plantas silvestres este percurso é muito interessante pela abundância e pela
diversidade de espécies que podemos observar. Claro está que estamos sempre condicionados
pela época do ano em que o percorremos mas, aqui ficam algumas das espécies que
observámos durante a Primavera.

Anacamptis pyramidalis Serapias parviflora


Orquídea silvestre com o nome comum de Orquídea silvestre com o nome comum
Orquídea-piramidal tem a sua época de de Erva-língua-menor tem a sua época de
floração entre março a maio. floração entre abril a maio.

99
Percurso Pedestre

Papaver somniferum L.
Com o nome comum de Dormideira a sua
época de floração vai de março a agosto.

Ophrys fusca
Orquídea silvestre com o nome comum de
Moscardo-fusco tem a sua época de floração
entre fevereiro a abril.

Daucus carota L.
Com o nome comum de Cenoura-brava a
sua época de floração vai de abril a agosto.

Gladiolus communis
Com o nome comum de Espadana-dos-
montes a sua época de floração vai de
março a junho.

Rosa sempervirens L.
Com o nome comum de Roseira-brava a sua
época de floração vai de abril a agosto.

100
Cheleiros

Cheleiros é, atualmente, uma povoação um A importância de Cheleiros está também


pouco labiríntica o que nos leva à descoberta ligada à rede viária regional. Desde a Idade
de recantos de grande interesse. A arquitetura Média (e, muito possivelmente, desde tempos
tradicional é confrontada com edificações romanos), por aqui passava uma estrada,
que nada têm a ver com a tradição da região vencendo-se a ribeira de Cheleiros através da
mas, o diálogo permanente com o rio confere pequena, mas fundamental, ponte gótica de
à vila um aspeto atraente. pedra, hoje transformada em ponte pedonal.
Mas a história de Cheleiros é muito antiga, Na primeira metade do séc. XVIII, quando
“…O reguengo de Cheleiros recebeu Carta se realizou o monumental Palácio de Mafra,
de Foro de D. Sancho I em Fevereiro de a vila foi um fulcral ponto de passagem de
1195, confirmada por D. Dinis em 1305, e foi matérias-primas, integrando-se, então, numa
agraciado com foral manuelino datado de extensa rede de estradas devidamente
25 de Novembro de 1516. Sede de concelho calcetadas.
durante mais de seis séculos, passou a O núcleo histórico da vila formou-se na
freguesia do município de Sintra em 1836 e margem Norte, a poente da ponte medieval,
foi definitivamente integrado no de Mafra em no atual Largo da Praça, enquanto a Igreja
1855. A sua história ficou ligada à poderosa Matriz foi construída no sítio do arrabalde
família dos Ataíde, senhores da vila no início (como assim é designado ainda no séc. XIX).
do séc. XVI e que deixaram uma notável Finalmente, e como povoação medieval
marca nas duas igrejas manuelinas que relevante, Cheleiros tinha castelo, de que resta
ainda parcialmente se conservam no centro apenas o topónimo, num morro a Noroeste
histórico. da vila”.

Igreja Paroquial de Cheleiros Portal gótico, em arco quebrado, em alfiz, sobre


colunas de capitéis decorados, e com pia de
água benta esculpida encrustada.

101
Lagar da Manz Wine

Aspeto da casa típica

Ponte Romana

102
Penedo do Lexim

Nesta região observam-se diversas elevações


topográficas que se destacam na paisagem,
entre as quais podemos referir o Penedo do
Lexim. Esta elevação corresponde a uma
antiga chaminé vulcânica pertencente
ao Complexo Vulcânico de Lisboa, sendo
testemunhos de um importante episódio de
atividade magmática que ocorreu no final do
Mesozóico, há cerca de 72 Ma. A idade do
basalto do Penedo do Lexim foi determinada
por métodos isotópicos e é de 55 ± 18 Ma.
Um aspeto que se salienta quando se observa
este afloramento é a presença de prismas
de secção aproximadamente hexagonal,
aspeto este que é conhecido como disjunção
prismática ou colunar.
O Penedo do Lexim é atualmente um local
classificado como Imóvel de Interesse Público
e foi em tempos uma pedreira onde se
explorava o basalto que aqui aflora.

103
Percurso Pedestre

Aldeia da Mata Pequena

A presença humana na Mata Pequena


remonta ao período da ocupação romana,
como atestam os vestígios aí encontrados.
Contudo, das 70 pessoas que aí residiam no
século XIX, já só restam 12 que teimam em
manter vivas a vida de outros tempos.
Um projeto turístico muito interessante, ligado
ao alojamento, mantém viva esta aldeia e as
suas remotas tradições.

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Informação útil
Ficha do Percurso
Localização: Cheleiros / Mafra
Tipo: Circular
Sinalizado: Não
Extensão: 7,8 Km
Dificuldade: Fácil
Duração: +/- 3 horas
Track de GPS:
https://ridewithgps.com/routes/35679693

Restaurante Tasquinha Do Gil na Aldeia da


Mata Pequena
Contacto: 912 460 848 / Não tem Multibanco

Manz Wine (Vinho e Museu)


https://manzwine.com/

105
Percurso Pedestre

106
Rota do Ouro
Passeio inesquecível
A PRIMAVERA EM FORÇA, NUMA PAISAGEM DE PISO MISTO, COMO DIZ O NOSSO GUIA
BRUNO CARDOSO.
O OBJETIVO ERA UMA EXPERIÊNCIA DE MINERAÇÃO, MAIS ESPECIFICAMENTE DA TÉCNICA
DA BATEADA (AÇÃO QUE TEM NA BASE O NOME DO UTENSÍLIO USADO NA MINERAÇÃO
EM PEQUENA ESCALA – A BATEIA). COLOCA-SE ÁGUA DOCE NO RECIPIENTE PROCEDE-
SE À AGITAÇÃO NUM MOVIMENTO CIRCULAR QUE PERMITE A SEPARAÇÃO DOS MINÉRIOS
METÁLICOS DOS SEDIMENTOS. RECUANDO NO TEMPO ATÉ AOS CELTAS E ROMANOS E
LITERALMENTE COLOCANDO OS PÉS NA ÁGUA. A PRESENÇA ROMANA FOI A QUE MAIS SE
DESTACOU PELA EXPLORAÇÃO MINEIRA QUE DESENVOLVEU DURANTE QUASE UM SÉCULO, NA
REGIÃO. OS ESPÓLIOS GEOLÓGICOS EXISTENTES NA REGIÃO DE VILA DE REI, DESIGNADOS
POR CONHEIRAS, SÃO OS VESTÍGIOS DA EXPLORAÇÃO MINEIRA ROMANA, PARTICULARMENTE
JUNTO À RIBEIRA DE CODES.

Texto Passear | Fotografias: Vasco de Melo Gonçalves e Luísa Dias Mendes

107
Percurso Pedestre

A Caminhada o ensino das técnicas de garimpo do ouro.


O percurso que realizámos é uma variante No nosso percurso vislumbramos os vales que
mais curta e adaptada ao conhecimento foram escolhidos para a exploração mineira
geológico, natural e sobretudo histórico (o sobretudo os Conglomerados que contêm os
período romano), associado à exploração metais particulares do ouro. Numa vertente
mineira da região do Sardoal e de Vila de Rei, geológica é possível percecionar as estruturas
da Grande Rota da Prata e do Ouro (GR44). das Cristas Quartziticas e dos Afloramentos
O percurso inaugurado em 2015 tem uma Rochosos de origem xistosa. Se for leigo
extensão de 31 km, mas a versão mais curta na matéria a presença do guia faz toda a
que a ZêzereTrek realiza tem uma extensão de diferença.
8 km. Genericamente a rota caracteriza-se Mas a experiência como técnico florestal
como sendo um percurso linear, de piso misto e do ambiente de Bruno Cardoso também
e com um grau de dificuldade difícil (a rota proporcionou conversas interessantes sobre o
completa tem uma duração estimada de 7 que se estava a desenvolver à nossa volta.
horas). Como a floresta está sem a gestão correta e
Contudo o traçado proposto pela ZêzereTrek como o perigo de incêndios cíclicos não está
tem um grau de dificuldade mais baixo e erradicado, de todo.
tem associado um conjunto de atividades Enquanto a profusão da floração Primaveril
associadas à mineração, com destaque para nos encanta pelas cores, pela diversidade

108
Igreja de Santiago de Montalegre

Lavandula stoechas | Rosmanhinho

Erica australis | Urze

Lathyrus clymenum L.

109
Percurso Pedestre

e pelos perfumes Bruno comenta: “ Esta avifauna os milhafres e as águias de asa


é a paisagem do desastre quando as redonda são os mais comuns, mas um casal
temperaturas começarem a subir. Por outro de cegonhas pretas e duas águias de Bonelli
lado existir algum movimento de pessoas, seja já foram observadas.
a pé ou de bicicleta, também é benéfico, Quase no final do nosso passeio e depois de
acabam por ser os guardiões e protetores verificarmos sulcos de javali no chão eis que
deste interior que ainda poucos conhecem.” tivemos um encontro inesperado, mesmo no
Mas existem muitos outros motivos para fazer nosso caminho, uma mãe javali com as suas
este percurso e esta altura do ano e o Outono, crias.
são as ideais. A componente botânica é Segundo Bruno começam também a
riquissima e também aqui encontrámos aparecer alguns veados e corças que se
espécies de orquideas silvestres que ainda deslocam para aqui vindos da Serra da Lousã.
não tinhamos visto este ano. Quanto à

Demonstração da técnica
da bateada (ou garimpo)

Partícula de ouro encontrada


na actividade Quercus coccifera

110
“ ESTE PERCURSO PODE SER REALIZADO DURANTE
TODO O ANO, MAS PARA O CASO DAS NOSSAS
DEMONSTRAÇÕES DE MINERAÇÃO, FAZEMOS
ESTA ATIVIDADE SOBRETUDO NAS ÉPOCAS
MAIS QUENTES DO ANO, QUE CONVIDAM OS
PARTICIPANTES A ESTAREM COM OS PÉS DENTRO
DE ÁGUA DURANTE AS ATIVIDADES DE BATEADA.
COMO FOI MENCIONADO ANTERIORMENTE O
PERCURSO, APESAR DA TEMÁTICA ASSOCIADA
À MINERAÇÃO INICIADA PELOS ROMANOS
ATÉ MEADOS DO SÉCULO PASSADO, É UM
MOSTRUÁRIO DE FAUNA E FLORA LOCAL E DO
PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO TRADICIONAL.”

Orchis mascula var albiflora

111
Percurso Pedestre

Borago officinalis Sedum hirsutum | Uva de gato

Fritilária-dos-lameiros | Euphydryas aurina Ribeira de Codes

112
Moinho em ruínas na
Ribeira de Codes

113
Percurso Pedestre

À conversa com Bruno Cardoso da ZêzereTrek


BRUNO CARDOSO É UM LICENCIADO EM RECURSOS NATURAIS E AMBIENTE, EXERCE FUNÇÕES DE
TÉCNICO FLORESTAL E DE AMBIENTE NO MUNICÍPIO DE VILA DE REI, MAS QUE DIVIDE O RESTO DO SEU
TEMPO COM A ORGANIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE ANIMAÇÃO TURÍSTICA E O GOSTO PELA NATUREZA.
DESDE 2005, COLABOROU COM OUTRAS EMPRESAS DO TERRITÓRIO, ATÉ TOMAR A DECISÃO DE
CRIAR A ZÊZERETREK EM 2015.

A interpretação da
paisagem durante a
caminhada

Passear (PA) - Qual tem sido o trabalho pessoal e personalizado das nossas atividades
desenvolvido pela Zêzere Trek nesta região Por influência da minha formação académica
e para que mercados? e dos colaboradores que participam nas
Bruno Cardoso (BC) - O trabalho desenvolvido nossas ações, fomos aumentando o leque de
pela ZêzereTrek centrou-se na realização atividades e realizamos igualmente atividades
de passeios pedestres interpretativos marítimo-turisticas, com destaque para o SUP
e de trekking, mas sempre com uma e a canoagem e também dois conceitos de
componente pedagógica e de transmissão animação turística que designamos como
de conhecimentos muito marcada. Fomos expedições e aquatrails, onde unimos a
adicionando e incorporando experiências componente terrestre à aquática. Não fosse
locais, que vão desde a degustação de o guarda-rios a mascote da nossa empresa...
produtos tradicionais, visitas a ofícios locais, Temos direcionado os nossos produtos e
entre outras, no intuito de dar um cunho muito serviços para o mercado nacional, mas

114
que compõem os nossos lanches e reforços
alimentares, até às pequenas lembranças
que costumamos oferecer.

PA - Quais as grandes vantagens que


um visitante tem em fazer um Percurso
acompanhado por um Guia Local?
BC - As vantagens da contratação de um
Guia Local são sem sombra de dúvida de
poder usufruir de um acompanhamento
especializado com um conhecimento
profundo e abrangente do património local,
história, etnografia, fauna, flora e geologia da
região, entre outras áreas de interesse e de
contar também com um apoio e segurança
adicional, durante a visita a uma região.

PA - Quais os principais constrangimentos


para uma organização que trabalha nesta
região?
BC - O principal constrangimento com que
a ZêzereTrek se depara é a dificuldade da
diferenciação das nossas atividades nos
meios digitais, num mercado dominado por
empresas da Área Metropolitana de Lisboa.
Em grande medida julgamos também que
o facto da nossa Região ainda não ser um
destino de turismo de natureza como outras
Bruno Cardoso zonas do País, contribui para essa situação,
pois as outras empresas realizam atividades,
estamos a desenvolver esforços para atingir ainda que pontuais, em territórios mais
o mercado espanhol, mesmo aqui ao lado e atrativos ou mais divulgados.
que gosta deste tipo de atividades
PA - Momentos inesquecíveis passados em
PA - Quais são os elementos diferenciadores atividades ou na preparação das mesmas.
da ZêzereTrek? BC - O momento mais inesquecível, foi sem
BC - O principais elementos diferenciadores dúvida a organização do nosso primeiro
da ZêzereTrek são sem dúvida o de trabalhar passeio micológico, que deu a conhecer a
com grupos pequenos e o acompanhamento empresa no primeiro ano da sua constituição.
personalizado que fazemos aos nossos Ainda hoje os clientes falam e elogiam a
clientes. Quem já nos conhece também já ementa com os pratos confecionados com
sabe as pequenas atenções que temos com os cogumelos que foram apanhados nesse
os clientes, desde a seleção dos produtos dia.

115
Percurso Pedestre

Refeição elaborada com


os cogumelos recolhidos
durante o passeio

Primeira atividade da ZêzereTrek

116
Sardoal
A vila e o seu património
Nas minhas visitas de trabalho tenho o
costume de consultar, previamente, o site da
autarquia para recolha de informação e, no
local, visitar o posto de turismo para aferir o
grau de qualidade da informação fornecida.
O site da autarquia é funcional e fornece
informação mais do que suficiente para
preparar uma visita. Foi no site que descobri
que “...A vila de Sardoal é antiquíssima, sendo
que, provavelmente, a povoação foi formada
devido à excelência das águas e ao relevo
(monte), condições naturais para o homem
viver.
Ao contrário de outras terras que cresceram
em volta de um castelo ou lugar fortificado, a
vila de Sardoal cresceu de baixo para cima,
da confluência das ribeiras até ao ponto mais
alto onde se situa o Convento de Santa Maria
da Caridade (1571). Ter-se-á desenvolvido
em torno da antiga Igreja de S. Mateus, que
hoje já não existe, e que se situava próxima
da Igreja da Misericórdia, em torno do Paço”. Um recanto de grande beleza

Praça da República

117
Percurso Pedestre

A nossa impressão
A vila do Sardoal tem uma escala humana A Praça da República é um exemplo da
com edificado uniforme e sem grandes escala humana que referi e um dos principais
atentados arquitetónicos. Aquando da locais de socialização. O seu pelourinho,
minha visita tive a sorte de apanhar uma o painel de azulejos alusivos a Gil Vicente,
meteorologia muito favorável e, a luz intensa a Capela do Espírito Santo e o edifício da
do sol da Primavera, iluminou de uma forma Câmara Municipal são os grandes motivos
deslumbrante o centro histórico e as suas ruas de interesse. No seguimento temos a avenida
empedradas. Se por um lado, o edificado Luís de Camões com a Casa Grande ou dos
religioso é o que dá notoriedade à vila por Almeidas (em obras para ser transformada
outro, as estreitas ruelas conferem-lhe uma num hotel de charme) e a capela Nossa
entidade própria. Quando conversava com Senhora do Carmo.
as pessoas sobre esta minha opinião, todos Na minha opinião temos três locais que, pela
me disseram que tinha de voltar para as sua importância histórica e cultural, merecem
celebrações da Semana Santa pois, é nessa uma visita mais aprofundada. São eles, a
época do ano que o Sardoal se apresenta no Igreja Matriz, o Convento Santa Maria da
seu máximo esplendor! Caridade e o centro Cá da Terra.

Edifício senhorial

118
Igreja Paroquial do Sardoal

Rua com as tonalidades


características do Sardoal Igreja de Santa Maria da Caridade

119
Percurso Pedestre

Arrábida
A Arrábida em todo o seu esplendor
Texto: Passear Fotografias: Vasco de Melo Gonçalves e Luísa Dias Mendes

120
Ficha do Percurso

TIPO: CIRCULAR
SINALIZADO: NÃO
DISTÂNCIA: 5KM
GRAU DE DIFICULDADE: MÉDIO
ÉPOCA DO ANO: PRIMAVERA
GUIA: BIOTRAILS

121
Percurso Pedestre

A Caminhada
A natureza como fonte inesgotável da profusão incrível e cuja flor dura apenas um
sabedoria das plantas. A ligação à dia, reconhecer nesta planta os botões que
botânica sempre esteve na génese quando já fecharam e os que vão abrir, perceber o
começámos a pensar nos conteúdos desta revestimento viscoso que serve como defesa
edição da revista Passear. Fizemos um e para manter a humidade.
percurso na Serra da Arrábida com as plantas As cores Rosas, Amarelos, Azuis, Verdes e os
em mente e tivemos uma sorte imensa com o perfumes... Não é fácil descrever, pelo menos
dia de Abril que escolhemos. Cerca de 5 km uma vez, tem que vir experimentar e sentir
com uma paisagem de cortar a respiração, esta natureza tão rica.
a ligação ao Atlântico, as falésias Lapiás e o Quando pensamos na distância que fizemos
céu como limite. até parece um percurso que se faz numa
Optámos por ter um guia que enriqueceu, e hora, mas não, prepare-se para se deleitar,
muito, o nosso passeio. Foi uma oportunidade parar, contemplar e sobretudo demorar,
única para saber mais sobre as plantas da porque daqui não vai querer sair. Se juntar a
Serra, as endémicas, orquídeas silvestres, os tudo isto o prazer de fotografar, um dia não
carrascos, sobre as estratégias das plantas, é demais.
as colónias e como interagem entre si, A Chã dos Navegantes é um percurso
saber mais sobre líquenes... As estevas numa emblemático no Parque Natural da Arrábida.

122
Convolvulus fernandesii | Corriola-do-Espichel.
É um endemismo português e, para mais,
restrito à área do Cabo Espichel e ao litoral
da Serra da Arrábida. Pode encontrar-se em
escarpas e fendas de afloramentos rochosos,
em arribas litorais calcárias. Em locais com
elevada exposição solar e verticalidade.
Floração de Fevereiro a Junho.

Situado no concelho de Sesimbra, no imensa diversidade de plantas, fruto da


extremo ocidental da cadeia montanhosa influência de vários climas, algumas delas
da Arrábida, já perto do Cabo Espichel, endémicas, nomeadamente a Corriola do
o percurso estende-se ao longo de um Espichel (Convolvulus fernandesii) e o Trovisco
antigo terraço marinho que existiu há cerca do Espichel (Euphorbia pedroi).
de 100 000 anos. A Primavera é o período sugerido para a
Desde essa altura, estima-se que o nível do observação da flora neste percurso.
mar tenha descido cerca de 70m, devido
ao último período de glaciação, voltando a Horst da Baralha
subir até ao nível atual apenas nos últimos
20 000 anos.
Ao logo do percurso iremos encontrar o Arco
da Pombeira - uma imponente formação
geológica, um lapiás costeiro, o Forte de
São Domingos da Baralha e uma flora
mediterrânica exuberante.
Ao longo desta orla marinha, virada a sul,
encontramos condições naturais para uma

123
Percurso Pedestre

1 4

2 5

3 6

124
Campo de lapiás (formação geológica
característica dos calcários) costeiro
modelado pela erosão marinha, cerca de
7 m acima do nível do mar.

1-Halimium calycinum / Erva-sargacinha. Pequeno 4- Iberis procumbens / Assembleia. Planta endémica


arbusto (até 60 cm de altura), da família Cistaceae, de Portugal da família Brassicaceae que podemos
muito ramificado, com ramos erectos ou procum- encontrar em arribas e dunas litorais, em areias sili-
bentes; folhas sésseis, lineares, ou estreitamente ciosas ou calcícolas algo descarbonatadas. Flora-
lanceoladas nos ramos inférteis, ou ovado-oblon- ção de Abril a Julho.
gas, nos ramos férteis; flores solitárias (axilares ou
terminais) ou dispostas em cimeiras com 2 a 5 flo- 5-Iris xiphium / Maios. Planta herbácea, vivaz, bol-
res. Pétalas (4) coloridas de amarelo pálido.Flora- bosa, da família Iridaceae, com um caule que,
ção de Janeiro a Julho. raramente, ultrapassa meio metro de altura, apre-
sentando na extremidade, por via de regra, uma
2-Convolvulus althaeoides / Corriola-rosada. Erva vi- flor (ou, excepcionalmente, duas) de cor violácea
vaz, da família Convolvulaceae, volúvel ou prostra- “com manchas amarelas ou alaranjadas nas té-
da, pode atingir, em comprimento, mais de 2 m. É palas externas”. Floração de Abril a Junho.
originária da Região Mediterrânica e da Macaro-
nésia (Madeira e Canárias), mas cultivada como 6-Lavandula multifida / Alfazema-de-folha-recorta-
ornamental noutras paragens. Surge espontânea da. Pequeno arbusto, aromático, da família Lamia-
em sebes, à beira de caminhos e em terrenos culti- ceae, geralmente, com altura inferior a um metro.
vados e incultos. Floração de Março a Agosto. Distribui-se por vários países da Região Mediterrâ-
nica (Egipto, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos, no
3- Cistus monspeliensis / Sargação. Pequeno arbus- norte de África e Portugal, Espanha e Itália, no sul
to (altura até 1,2 m) da família Cistaceae, erecto, da Europa). Em Portugal está confinada à região
muito ramoso e viscoso, formando uma moita com- da Serra da Arrábida e a algumas zonas do leste
pacta. Pode ser encontrada em sargaçais e outros alentejano e algarvio. Tem o seu habitat preferen-
matos baixos xerofílicos, em clareiras de bosques cial em terrenos incultos, secos e pedregosos, com
ou matagais perenifólios esclerófilos. Em clima me- frequência, nas proximidades do mar. Floração de
diterrânico quente, em sítios secos, sobre granitos, Fevereiro a Junho.
xistos e calcários. Floração de Março a Junho.

125
Percurso Pedestre

7-Cistus ladanifer / Esteva. Arbusto que atinge cerca


7 de 2 m de altura, perene de crescimento rápido. As
folhas persistentes, lanceoladas, com comprimento
de 3 a 10 cm, de cor verde-escuro, realçadas por
um brilho existente, provenientes de uma resina pe-
gajosa, o ládano, que exala fortes aromas. As flores
com aproximadamente 10 cm de diâmetro, são
hermafroditas constituídas por 3 sépalas e 5 pétalas
de cor branca, amarrotadas com uma mancha ver-
melho-acastanhada na base de cada pétala, ro-
deando os estames e os pistilos amarelos e estamos
perante a subespécie Ladanifer.

8-Ophrys apifera / Erva-abelha. Orquídea silvestre


que tem uma distribuição na Europa Mediterrânica,
estendendo-se a N até ao Reino Unido e Alemanha
e a E até ao Cáucaso. Podemos encontrar em ma-
tagais e terrenos incultos sendo a época de flora-
ção de Março a Julho.

9-Erophaca baetica / Alfavaca-dos-montes. Planta


8 herbácea de caules erectos e robustos. Flores de
corolas brancas, com 2-3 cm; cálide avermelhado
com dentes mais curtos que o tubo. Folhas de 8-12
cm com 7-11 pares de folíolos ovais. Inflorescências
auxiliares multifloras. Integrou, no passado, a linha
defensiva do trecho do litoral que se estendia de Al-
barquel a Sesimbra, complementando a defesa da
importante povoação marítima de Setúbal. O fruto
é uma vagem até 8 cm, oblonga, intumescida. Flo-
ração de Fevereiro a Junho.

10- Lonicera implexa / Madressilva. Liana perenifólia,


com 1,5-2,5 m de altura, ramificada desde la base.
Flores com 2,3-4,7 cm, corola com 2 lábios amare-
lados, rosados ou purpúreos, com pelos glandulo-
sos, em grupos terminais de 2-9 flores, que nascem
diretamente na axila de 2 ou 3 folhas soldadas na
base. Fruto uma baga de 5-8 mm, ovoide, averme-
lhada. Floração de abril a agosto.

9 10

126
Forte de S. Domingos da Baralha. Fortificação
do séc. XVII de forma rectangular,
sobranceira ao mar, que apresenta uma
imponente muralha e cisterna integrada na
plataforma do edifício. Está em avançado
estado de ruína.

127
Percurso Pedestre

À conversa com José Cunha da Biotrails


Mais de 1400 espécies de plantas

Passear (P) - Arrábida é um Destino de maioritariamente a Norte; o Thymus


observação de plantas? mastichina, que encontra aqui o único reduto
José Cunha (JC) - Sim, sem dúvida! litoral; a Phlomis purpurea, que se encontra
No Parque Natural da Arrábida estão maioritariamente a Sul; um destaque especial
inventariadas mais de 1400 espécies de para a Lavandula multifida, que encontra aqui
plantas, correspondendo a quase 40% das a sua quase exclusiva presença em Portugal,
espécies em Portugal. Esta diversidade é fruto ou para a bela Arabis sadina, endémica de
das várias influência de Climas (Mediterrânico, Portugal tendo aqui o seu limite sul.
Continental, Atlântico, Macaronésia), Mas há outras, raras em Portugal, como e
bem como da sua posição geográfica e Fagonia cretica ou a Withania frutescens, com
características morfológicas e geológicas. estatuto de ameaça em perigo, para citar só
Na cadeia montanhosa da Arrábida, para duas.
além dos seus endemismos, encontramos
também limites de distribuição de várias P - Qual tem sido o trabalho desenvolvido
espécies, funcionando como uma fronteira pela Bitotrails nesta região e para que
de biodiversidade. mercados.
Exemplos disso, das mais comuns, podemos JC - A Biotrails nasce com o intuído de dar
destacar o Thymus zygis, que se encontra continuidade a um trabalho de sensibilização

128
que vem de trás, mas agora assumidamente sobre a região que não deve ser desprezado.
direcionado para o turismo de Natureza. Principalmente quem visita a região por pouco
A preocupação com a preservação é tanto tempo, dispensar uma boa incursão a pé no
maior quanto maior é a nossa consciência da Parque Natural da Arrábida é como ir a Roma
sensibilidade dos ecossistema. e não ver o papa. Aqui o guia pode fazer toda
Até agora, a maioria das pessoas que nos tem a diferença.
procurado são portuguesas, principalmente
nas nossas atividade regulares de agenda, P - Quais os principais constrangimentos
embora tenhamos também público de outros para uma organização que trabalha nesta
países, principalmente da europa central, região.
nomeadamente Países Baixos e Alemanha, JC - Bom, para a Biotrails, que se foca
que têm mostrado grande interesse em na observação da Natureza, o principal
conhecer a região através das caminhadas. constrangimento é chegar ao público que
tenha interesse na observação. A Arrábida,
P - Quais as grandes vantagens que creio eu, atrai mais visitantes pelas suas belas
um visitante tem em fazer um Percurso paisagens e praias que pelo interesse na
acompanhado por um Guia Local. descoberta, a pé, do seu Património Natural
JC - O guia local terá um conhecimento e Cultural. E foi esta a razão de termos

129
Percurso Pedestre

arrancado com o projeto do Arrábida Walking momentos de grande emoção.


Festival. Mas há outras quantas experiências que
me marcaram muito na Arrábida, com as
P - Momentos inesquecíveis passados na minhas primeiras incursões na escalada, na
Arrábida. espeleologia, na canoagem... É o desafio
JC - Estão essencialmente ligados ao associado à descoberta e à vivência em
sentimento de descoberta. plena Natureza que mais me fascina.
Recordo-me da primeira vez que cheguei ao
Fojo, ainda vivia em Lisboa, ia a caminhar P - Cinco plantas de eleição que podemos
sozinho e deparei-me com uma espetacular observar.
“janela com varanda” sobre o mar, imagem JC - A endémica do PNA Convolvulus
que me ficou bem vincada na memória. fernandesii, a bela Fritillaria lusitanica, a
Ou a primeira vez que encontrei a Arabis endémica de Portugal Iberis procumbens, a
sadina, por exemplo. Encontrar estas plantas perfumada Thymus zygis ou a mais exuberante
raras, na natureza mais selvagem, são das orquídeas a Orchis papilionace.

130
131
Percurso Pedestre

Blog: Flora da Serra da Arrábida


A partilha de conhecimento...
Fotografias de Francisco Clamote

Nas pesquisas que fiz, na Internet, sobre o tema da Arrábida encontrei um excelente Blog
dedicado à flora da Serra da Arrábida de autoria de Francisco Clamote.
Francisco Clamote é um jurista reformado, com 76 anos, nascido numa aldeia do concelho
do Sabugal. Por essa circunstância, beneficiou, desde novo, do contacto com a natureza que
muito apreciou desde sempre e que, depois de reformado, maior prazer lhe tem proporcionado.
O blogue “Flora da Arrábida” é, no fundo, uma extensão dum outro blogue intitulado “Plantas:
Beleza e Diversidade”, publicando naquele fotografias de plantas avistadas no P.N. Arrábida,
utilizando, por via de regra, textos publicados primeiramente neste outro. A ideia de criar um
blogue especialmente dedicado à flora da Arrábida, ficou em parte a dever-se ao facto de ter
tido contacto com o guia de campo “Flores da Arrábida” da autoria de José Gomes Pedro e
Isabel Silva Santos e ter achado que reunir num blogue dedicado à flora da Arrábida as muitas
fotos captadas si no P.N.A. poderia ter interesse para alunos dos 1ºs graus de ensino da região,
ideia que lhe surgiu dado que, na altura, era vulgar a existência de blogues escolares dedicados
à flora local e eram frequentes as visitas ao “Plantas: Beleza e Diversidade” com origem nesses
blogues.
Perguntámos quais as suas três plantas de eleição e porquê. Francisco Clamote escolheu a
Corriola-do-Espichel (Convolvulus fernandesii), a Euphorbia pedroi e a Withania frutescens. São
todas elas espécies emblemáticas do P.N.A. Com efeito, as duas primeiras são endémicas do
Cabo Espichel e, logo, do P.N. Arrábida, e a última só ocorre em território português no mesmo
local.

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Blog Flora da Serra da Arrábida
http://floradaserradaarrabida.blogspot.com/

133
Passeio

Um dia em Ponte de Lima


PONTE DE LIMA NÃO É UM LOCAL QUE SE VISITE APENAS EM UM DIA! O SEU PATRIMÓNIO EDIFICADO,
A SUA RIQUEZA CULTURAL E O SEU ELEVADO PATRIMÓNIO NATURAL OBRIGAM-NOS A UMA ESTADA
MAIS ALARGADA NA VILA MAS, A PROPOSTA DE APENAS UM DIA, É UM DESAFIO!

Texto e Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

A ligação ao rio Lima

134
O despertar na Quinta da Agra foi cedo e um turismo de habitação e um restaurante/
com um sol radioso. Apesar da aragem que café no seu piso térreo. A sua localização é
se fazia sentir, o sol estava forte e a perspetiva excecional, a qualidade dos produtos muito
de um dia quente era uma realidade. O boa, o serviço é bom e os preços praticados
centro de Ponte de Lima fica a cerca de 3,6 não são especulativos.
km da Quinta. A tarde foi passada na margem esquerda
A preparação da jornada foi efetuada do rio Lima e dedicada ao património
numa esplanada no Largo de Camões, edificado. O simples andar pelas ruas estreitas
um local de referência da vila e com uma de Ponte de Lima, só por si, é gratificante.
posição estratégica. Devido à posição do Sol Nota-se um cuidado na preservação da
decidimos começar o nosso dia na margem vila, não se vê lixo pelo chão e temos a
direita do rio Lima onde se encontra a Capela oportunidade de encontrar lojas que já não
do Anjo da Guarda, o Parque Temático do se veem noutros locais. Marcámos sítios a
Arnado e o Parque do Festival de Jardins. visitar, designadamente a Igreja Matriz e o
A Capela do Anjo da Guarda é uma edificação Convento de Terceiros. São dois exemplos
simples situada junto à extremidade da de preservação e espaços muito agradáveis
famosa ponte medieval. para estar, na igreja podemos observar o
O Parque Temático do Arnado insere-se no túmulo do Beato Francisco Pacheco (um dos
Projeto Global de Valorização das Margens quatro Gigantes) e, no convento o jardim de
do Rio Lima e é composto por diversos jardins: aromáticas. Merece também uma visita a
Romano, Labirinto, Renascença, Barroco e a antiga Torre da Cadeia que hoje funciona
Estufa. A sua visita foi um dos pontos altos do como posto turístico.
nosso dia. No final da visita espreitámos ainda, Ao final do dia voltámos ao Largo de Camões
o Museu do Brinquedo Nacional e o Albergue para retemperar as forças e preparar para o
de Peregrinos. jantar. Nunca tínhamos reparado mas existe
Caminhando sempre junto ao rio Lima na calçada desta praça uma representação
dirigimo-nos ao recinto do Festival de Jardins, da antiga muralha da vila…
uma zona de lazer composta por piscina, bar O jantar foi na companhia de um amigo
e jardim de conceção de Francisco Caldeira de Braga que se deslocou de propósito a
Cabral. Ponte de Lima para saborear a gastronomia
Nem demos pelo tempo passar e já local. Na esplanada da Taverna da Vaca
estávamos na hora do almoço. Regressámos das Cordas deliciamo-nos com entradinhas
à Vila com a intenção de comer algo num e costeletas acompanhados por um verde
estabelecimento reconvertido, a Mercearia branco de grande qualidade.
da Vila (agora só serve refeições às pessoas Afinal podemos conhecer um pouco de Ponte
que estão alojadas). Trata-se de um edifício de Lima em apenas um dia! Mas, pelo sim
onde antigamente funcionava uma pelo não, volto quase todos os anos a Ponte
mercearia mas que atualmente acolhe de Lima para a conhecer um pouco melhor.

135
Passeio

Jardim do Arnado: jardim romano

Jardim do Arnado

136
Museu do Vinho Verde

Ponte de Lima em poucas palavras


Não será por acaso que a Vila mais antiga de natural e revelada, de forma sublime, nas
Portugal é reconhecida como um património relações de proximidade e na arte do bem
universal, um território sem fronteiras mediador receber.
de um movimento que entende o nosso Ponte de Lima é berço do Turismo de
planeta como um lugar sagrado. Habitação, da casta Loureiro que distingue
Soube astuciosamente gerir um distancia- o Vinho Verde e do Arroz de Sarrabulho
mento sadio dos valores que regem a nossa apreciado nos mais recônditos lugares do
cultura atual e orientar o culto à ciência e ao mundo. É a Vila mais florida e mais antiga de
racionalismo para as áreas do Património, Portugal.
Ambiente e Ruralidade. O culto da terra e da Dignos de registo são a Área de Paisagem
tradição são os pilares basilares de desenvol- Protegida, o Festival Internacional de Jardins,
vimento, inscrito nas mais profundas raízes li- a Feira do Cavalo ou mesmo o Caminho
mianas e que traça o perfil marcadamente Português de Santiago, como polos de
rural. Esta matriz genuína evidencia a nobre atração turística cada vez mais internacional.
herança de outrora, gravada nas fachadas
imponentes que sobressaem da paisagem Fonte: C.M. de Ponte de Lima

137
Passeio

Ponte Medieval

Torre da Cadeia Velha

138
Capela do Anjo da Guarda

Património edificado em destaque


CAPELA DO ANJO DA GUARDA abrigo circunstancial para pessoas e bens”
Como foi comum na Baixa Idade Média, a (Almeida, 1987, p.103).
mobilidade dos homens e a consequente As características estilísticas do monumento
travessia de pontes impôs devoções inviabilizam uma aproximação cronológica
populares de grande impacto junto a essas mais rigorosa. De facto, estamos perante
estruturas. Rezava-se à partida, na perspetiva uma obra modesta e de recursos artísticos
de um boa viagem, e em agradecimento limitados, por muitos considerada tardo-
pela chegada sã e salva. Não espanta, românica, numa altura em que o Gótico
por isso, que numerosas capelas e ermidas já se havia afirmado nos mais dinâmicos
devocionais tenham pontuado a paisagem centros do país. De planta quadrangular, é
ribeirinha da nossa Idade Média, junto dos uma estrutura de tramo único assente sobre
principais pontos de travessia dos rios. colunas e coberta por abóbada de cruzaria
A pequena capela do Anjo da Guarda não de ogivas. Três faces são abertas ao exterior,
escapa a estas condicionantes e, apesar por arcadas de arco apontado, sendo a
de não se conhecer exatamente a sua quarta, a virada a Sul, fechada e servindo de
origem (nem a época específica em que parede fundeira (certamente já não a parede
foi levantada), não restam dúvidas sobre original), onde se adossa, pelo lado interior
a relação com a antiga ponte romana, e e ao centro, um altar sobre duas mísulas. A
depois medieval, de Ponte de Lima. Ela era decoração escultórica original resume-se aos
o primeiro ponto de passagem para quem capitéis, ornados com motivos vegetalistas
se dirigia a Norte e o último para quem sumariamente tratados, sem volume nem
regressava. Pela dinâmica da vila na época individualização das folhagens, a lembrar
medieval, é provável que tenha também realizações anteriores igualmente modestas.
participado do “trânsito fluvial, servindo para Fonte: PAF / IGESPAR

139
Passeio

Igreja Matriz

IGREJA MATRIZ faz supor que a construção do novo templo


Antes do atual edifício paroquial de Ponte Lima, se havia já iniciado. Os recursos financeiros
outro existiu, de prováveis raízes românicas foram proporcionados por D. João I e pelo
(edificado pelos séculos XII-XIII) e de estrutura regente D. Pedro e a empreitada prolongou-
modesta, com apenas uma nave, a que se até à década de 50.
Carlos Alberto Ferreira de Almeida atribuiu o Desconhecemos ainda como teria sido o
registo inferior da fachada principal, incluindo projeto quatrocentista do conjunto, uma vez
o portal (Almeida, 1978, vol. 2, p.253 e 1987, que foram muitos os acrescentos posteriores
p.102). É um facto que existem grandes verificados. Uma interpretação veiculada
diferenças estéticas entre os elementos que nos anos 70 do século XX dá conta da
compõem a fachada principal, mas não possibilidade de ter existido uma reformulação
estamos ainda em condições de atribuir o do projeto, sensivelmente um século depois
portal a essa época tão recuada, para mais de concluído. Segundo essa perspetiva, a
sabendo-se como o Gótico foi destituído de campanha quatrocentista havia edificado
rasgos monumentais no Norte do país, fazendo uma igreja de nave única - a que corresponde
da sobriedade e do arcaísmo estilístico um o portal -, e só a partir de meados do século
valor artístico de primeira importância. XVI se deu corpo à estrutura tripartida que
A igreja que hoje conhecemos data de ainda hoje existe (Inventário, 1974, p.2).
meados do século XV. Em 1444, nas Cortes Cedo a igreja despertou as atenções das
de Évora, os procuradores de Ponte de Lima classes elevadas da sociedade local, que
declararam que a “Igreja uelha era tam aqui procuraram estabelecer a sua última
pequena em que nom podiamos caber morada. De c. 1540 é a capela de Nossa
“(Andrade, 1990, p.59, nota 67). O facto de Senhora da Conceição, no extremo Sudoeste
aqui se utilizar uma forma verbal do passado, do conjunto, espaço de planta quadrangular,

140
coberto por abóbada polinervada, de enquadra o arco triunfal, a estrutura que ladeia
volumosos bocetes, que alberga os túmulos o arco do absidíolo Sul (datado de 1589) e a
da instituidora, D. Inês Pinto, e de seu marido, reformulação das naves (até c. 1590).
ambos em campa rasa. O século XVIII trouxe grande parte das obras
A grande transformação do interior teve de talha que ornamentam o interior. A principal
lugar a partir de 1567, ano em que está localiza-se na extremidade Sul do transepto
documentado um tal mestre Luís, oriundo e é um amplo retábulo de estilo nacional,
da cidade do Porto, à frente da campanha datado de 1729, dedicado a Nossa Senhora
maneirista (Ibidem, pp.3-4). das Dores. O coroamento da torre sineira
A atual estrutura é plenamente maneirista, foi intervencionado na segunda metade
com arcos formeiros moldurados e de volta do século XIX e, mais recentemente (1932)
perfeita, não restando quaisquer vestígios da realizou-se a rosácea neogótica, a partir do
presumível organização tardo-gótica anterior. modelo da igreja de São Francisco do Porto.
As obras continuaram nessa segunda metade Fonte: PAF / IGESPAR
do século XVI, com o pórtico erudito que

Igreja Matriz

141
Passeio

Museu dos Terceiros

MUSEU DOS TERCEIROS


O Museu dos Terceiros surgiu na década de ao século XX. Nos edifícios contrasta a arte
setenta do século passado após a realização medieval e a sobriedade monacal com o
de obras de restauro na Matriz de Ponte de barroco da Ordem Terceira de S. Francisco.
Lima e da consequente falta de espaço O acervo é constituído maioritariamente
para colocação do valioso espólio de arte por escultura, grande parte do século XVIII,
sacra. Foi então criado o Instituto Limiano, embora possam ser apreciadas peças do
associação cultural sem fins lucrativos, em período medievo. Destacamos igualmente
Janeiro de 1975, que viria a ter a sua sede no as coleções de pintura e de ourivesaria que
conjunto arquitetónico constituído pelo extinto decoram a exposição permanente.
convento de Santo António dos Frades e pela Em 2002, o Instituto Limiano e a Câmara
igreja e instalações anexas da Ordem Terceira Municipal decidiram celebrar um protocolo
de S. Francisco e designado por Museu dos de gestão conjunta do espaço, visando a sua
Terceiros. recuperação e reabertura com as valências
O valioso conjunto arquitetónico, constituído inicialmente previstas. Após 5 anos de restauro
por duas igrejas, alas de apoio (Ante Sacristias, o Museu dos Terceiros reabriu ao público
Sacristias, Salas de Lavabo), claustro, quintal e totalmente restaurado e com um programa
jardim, foi alvo de várias intervenções desde museológico que convida à visita.
a fundação do convento, no século XV, até Fonte: PAF / IGESPAR

142
INFORMAÇÕES ÚTEIS
LOCALIZAÇÃO DE PONTE DE LIMA:
Minho, Portugal / 41.765341, -8.582744

ONDE COMER
Ponte de Lima dispõe de um conjunto de restaurantes de grande qualidade
onde poderá experimentar as iguarias da região. Os diferentes restaurantes
que visitámos são bons por isso, não referimos nenhum em especial.

Mais informações:
https://www.visitepontedelima.pt/pt/turismo/onde-comer/

Comércio Museu do Brinquedo


Tradicional

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Percurso Pedestre

Açores | Ilha de São Jorge


Serra do Topo - Caldeira do Santo Cristo – Fajã dos Cubres
O PERCURSO PR1SJO, NA ILHA CASTANHA DE SÃO JORGE, FOI O QUE MAIS ME ENCANTOU NA
MINHA DESLOCAÇÃO AOS AÇORES. A BELEZA NATURAL, O CONTRASTE ENTRE A SERRA VERDEJANTE
E O ATLÂNTICO, SÃO ELEMENTOS DETERMINANTES.

Texto e Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

Ficha do Percurso

NOME: PR1SJO
TIPO: LINEAR
SINALIZADO: SIM
DIFICULDADE: MÉDIO
EXTENSÃO: 9,7 KM
TEMPO MÉDIO: 2H30M

144
145
Percurso Pedestre

Não conhecia a ilha mas, São Jorge Trata-se de um percurso com cerca de 10 km
encantou-me! Não sei se pela sua localização de extensão e com duas fases bem distintas
geográfica, se pelo seu queijo, se pela ao nível do impacto visual e das sensações.
simpatia das suas gentes ou por ter sido em A descida até sensivelmente ao nível do
São Jorge que efetuei o percurso que mais mar é fantástica pois é feita num ambiente
gostei nesta deslocação aos Açores (Topo_ quase indescritível. As colinas abruptas com
Fajã dos Cubres) ou se pelas maravilhosas vegetação densa iluminadas, por vezes,
piscinas naturais da Fajã do Ouvidor, São por um sol que joga às escondidas com
Jorge tem algo de especial…. o nevoeiro proporcionam uma paleta de
Elegi o percurso Topo / Fajã dos Cubres sob o cores variada. As mudanças de luzes dão
ponto de vista paisagístico, o mais cativante, características únicas ao percurso! O nível de
ao nível cultural e de relação com as dificuldade não é grande, basta estar atento
populações, o mais completo. às zonas de terreno mais escorregadio sendo
146
Piscinas naturais da Fajã do Ouvidor

A flor de Cubres, Solidago sempervirens L.

melhorar o seu nível de vida. Esta Fajã é


também muito procurada pelos peregrinos,
devotos do patrono Senhor de Santo Cristo,
que todos anos cumprem as suas promessas
que, o uso de bastão é útil. através de uma procissão. A capela merece
A chegada ao nível do mar faz-se pela Fajã uma visita mais atenta.
da Caldeira de Santo Cristo. Estamos num A ligação à Fajã dos Cubres, nosso destino,
lugar muito procurado pelos surfistas que não é feita através de um caminho largo e
só visitam o local como se estabeleceram ligeiramente ondulante situado ao nível do
em casas sem energia elétrica da rede. mar. Neste troço a paisagem é dominada
É interessante verificar a quantidade de pelo Atlântico e pelas suas ondas bem
estrangeiros e nacionais que optaram por formadas.
viver de uma forma extremamente simples, A Fajã dos Cubres é uma terra simples e com
construindo pequenas casas e num contacto poucos habitantes. Tudo se passa em redor
direto com a natureza. Esta comunidade da sua ermida onde fica situado o café,
acaba por ajudar a economia local que um ponto de convergência dos locais e dos
viu, nos praticantes de surf, uma forma de visitantes.

147
Percurso Pedestre

Rui Amen, foi o nosso guia Ao longo do percurso poderá encontrar


do percurso que saiu da
diversas espécies de aves como o tentilhão
Serra do Topo
(Fringilla coelebs moreletti), a estrelinha
(Regulus regulus), o melro-preto (Turdus merula
azorensis) ou o milhafre (Buteo buteo rothschildi).
Quanto à flora, são inúmeros os exemplares
de feto-pente (Blechnum spicant), malfurada
(Hipericum foliosum), tolpis (Tolpis azorica), uva-
da-serra (Vaccinium cylindraceum), urze (Erica
azorica), cedro-do-mato (Juniperus brevifolia),
sanguinho (Frangula azorica) e pau-branco
(Picconia azorica).

Paisagem de cortar a respiração!

Já na descida podemos ver, na linha


do horizonte, a ilha da Graciosa.

148
Os jogos de luzes são constantes e
proporcionam cenários de grande
beleza.

Mais tarde foi classificada como sítio de


Complexo Vulcânico do Topo
importância internacional ao abrigo da
O Complexo Vulcânico do Topo situa-se
Convenção de Ramsar (a Convenção
na parte oriental da ilha de São Jorge e é,
sobre as Zonas Húmidas de Importância
segundo a Revista de Estudos Açorianos, Vol.
Internacional ou Convention on Wetlands of
X, Fasc. 1, página. 64, de Dezembro de 2003
International Importance), dada a importância
(“ … Predominantemente constituído por lavas
como Habitat de Aves Aquáticas, graças à
basálticas, havaíticas e mugearíticas, do
sua lagoa.
tipo aa, estando os piroclastos praticamente
A bela Igreja de Santo Cristo, desta Fajã, cujo
circunscritos aos cones estrombolianos.”)
patrono é o Senhor Santo Cristo, foi benzida
no dia 10 de Novembro de 1835. Desde essa
Fajã da Caldeira de Santo Cristo altura que se transformou num local de culto
A Fajã da Caldeira de Santo Cristo é uma
onde vão devotos de toda a ilha. Vão para
Fajã localizada na freguesia da Ribeira Seca,
o pagamento de promessas e pedidos de
concelho da Calheta, ilha de São Jorge,
graças.
arquipélago dos Açores.
A festa do Padroeiro da ermida é no primeiro
Esta Fajã, possivelmente uma das mais bonitas
Domingo de Setembro, com Missa, Procissão
e sem dúvida a mais famosa Fajã da ilha de
e arrematações. Os peregrinos, praticamente
São Jorge. Foi 1984 classificada como Reserva
de toda a ilha, deslocam-se até aqui, tanto
Natural, pelo Governo Regional dos Açores,
pelo caminho da Fajã dos Cubres, como pela
especialmente por causa da existência de
vereda da Caldeira de Cima que começa a
amêijoas na sua lagoa denominada Lagoa
grande altitude, na Serra do Topo e que tem
da Fajã de Santo Cristo.
vistas de cortar a respiração.

149
Percurso Pedestre

Na descida encontramos gado a


pastar ou simplesmente a observar
quem passa!

Fajã dos Cubres Os momentos de descanso são


Esta Fajã está também classificada como aproveitados para apreciar as vistas.

Sítio de Importância Internacional ao abrigo


da Convenção de Ramsar também pelas
aves aquáticas que aqui encontramos.
O nome curioso desta Fajã provêm de
uma planta de pequenas flores amarelas,
os Cubres, que dá pelo nome científico
de Solidago sempervirens L.. Esta Fajã que
pertence à freguesia da Ribeira Seca, da
costa Norte da ilha embora bastante grande
não é habitada de forma permanente. O
caminho de acesso faz-se por uma estrada
aberta na rocha e asfaltada em 1993. É Durante o trajeto encon-
tramos diversas cancelas
por essa estrada que passam a maioria dos
que devemos manter
romeiros, visitantes e turistas que vão à Fajã da fechadas para o gado
não fugir.
Caldeira de Santo Cristo.
O pequeno povoado desta Fajã foi
completamente arrasado pelo terramoto de 9
de Julho de 1757. Reconstruida e repovoada
com o passar dos anos, voltou a sofrer grandes
estragos com o terramoto de 1980.

150
Conforme vamos
descendo o porte da
vegetação aumenta.

Ao longe podemos ver


a Fajã da Caldeira de
Santo Cristo.

151
Percurso Pedestre

As casas sem energia


pertencentes a surfistas
ou utilizadas por eles
através do
aluguer.

A Igreja de Santo Cristo.

Aspeto da Ermida
situada na Fajã de
Cubres.

152
Informações Úteis:
Nome - PR1SJO / Serra do Topo - Caldeira do
Santo Cristo – Fajã dos Cubres
Tipo – Linear
Sinalizado - Sim
Dificuldade - Médio
Extensão – 9,7 km
Tempo médio - 2h 30m
Descarregar ficheiro GPX:
http://ridewithgps.com/routes/6451946

Onde dormir
Quinta das Figueiras
Figueiras nº. 7, Rosais 9800 – 203 Velas
Email: quinta.das.figueiras@hotmail.com

Ter em atenção
Como o percurso é linear deverá ser
combinado, previamente, com um táxi o
regresso ao ponto de partida. A Fajã dos
Cubres é um local com pouco movimento e
onde existe um pequeno café situado junto
à Ermida.

153
Plantas

Plantas Silvestres

O meu Jardim é no campo...


TODOS NÓS SABEMOS QUE AS PLANTAS E A NATUREZA TÊM UM EFEITO MAGNÍFICO SOBRE O
SER HUMANO. NESTA EDIÇÃO APRESENTAMOS ALGUMAS DAS PLANTAS SILVESTRES QUE PODERÁ
ENCONTRAR DURANTE AS SUAS CAMINHADAS E QUE SÃO DE GRANDE BELEZA E SIMPLICIDADE.
NÃO SENDO UM ESPECIALISTA EM BOTÂNICA, QUANDO VOU PARA O CAMPO LEVO COMIGO PARA
IDENTIFICAÇÃO, OS SEGUINTES GUIAS “200 PLANTAS DO SW ALENTEJANO & COSTA VICENTINA”,
“ORQUÍDEAS SILVESTRES – ARRÁBIDA GUIA DE CAMPO”. EM CASA E COM MAIS CALMA O FANTÁSTICO
SITE FLORA-ON DESENVOLVIDO PELA SOCIEDADE PORTUGUESA DE BOTÂNICA É PRECIOSO.

Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

Ophrys tenthredinifera | Erva-vespa-rosada


O mundo das orquídeas silvestres é
maravilhoso e, nas caminhadas de fim de
Inverno e de início da Primavera, podemos
observá-las nos campos. O género Ophrys
é muito interessante devido à semelhança
que as plantas têm com insetos (abelhas,
vespas) e que faz parte de uma estratégia de
polinização.
A Ophrys tenthredinifera (Erva-vespa-rosada)
pode ser encontrada em prados e pastagens
algo húmidos, tomilhais e clareiras de matos.
Em locais expostos ou ensombrados, com
solos básicos ou ligeiramente ácidos. Possui
10 a 12 cm de altura.
Época de floração: Fevereiro – Julho

Romulea bulbocodium
Os campos, nesta época do ano, estão
repletos de plantas silvestres que criam
cenários muito interessantes e cheios de cor.
Uma das que podemos ver de Janeiro a Maio
é a Romulea bulbocodium da família Iridaceae
e que tem origem na Europa, região do
mediterrâneo e África do Sul. É uma planta
com uma altura de 0,15 a 0,25 cm e que
necessita de plena exposição ao sol.
154
É uma espécie geralmente encontrada em
solos rochosos e arenosos, uma planta muito
semelhante ao verdadeiro açafrão, que
parece pertencer à sua cadeia evolutiva. As
flores são pequenas e com seis tépalas, em
tons de lilás azulado com centro amarelo e
sombreadas em roxo.
A espécie possui excelente taxa germinativa e
é de fácil cultivo.
Época de floração: Janeiro – Maio

Cistus salviifolius L. | Sargaço-manso


Cistus salviifolius (Sargaço-manso) é uma
espécie de planta com flor pertencente à
família Cistaceae. A sua simplicidade e beleza
realçam-na nos campos.
É uma planta que podemos encontrar
em matos xerofílicos baixo e abertos, em
montados, bosques perenifólios, montados,
pinhais e outros povoamentos florestais. Com
preferência por substratos ácidos, ocorrendo
em areias dunares, argilas, xistos, granitos
e calcários descalcificados é também
produzida e comercializada.
Características Gerais: Arbusto ou subarbusto
mais ou menos lenhoso, de 20 a 100 cm de
altura, difuso ou prostrado-ascendente. As
folhas são simples, opostas, ovadas ou ovado-
oblongas, medíocres, as caulinares mais
ou menos pecioladas, um tanto espessas,
reticulado-rugosas, com pêlos estrelados
em ambas as páginas e sem estípulas. A
inflorescência é solitária, por vezes até 4
em cimeira, com pedúnculos de 2 a 8 cm.
Cálice com 5 sépalas, as externas cordiforme-
ovadas e as internas ovadas. As flores são
hermafroditas, com corola actinomórfica,
apresentando 5 pétalas brancas, rapidamente
caducas, com 3 a 5 cm de diâmetro.
Androceu com numerosos estames amarelos,
livres, e estilete simples ou nulo. O fruto é
uma cápsula globosa loculicida, deiscente globosas e reticuladas.
por 5 valvas, contendo numerosas sementes Época de floração: Maio – Junho

155
Plantas

Galactites tomentosus Moench |


Cardo-dos-picos
O Cardo-dos-picos é uma planta vulgar que
podemos encontrar, com frequência, nos
campos e terrenos em pousio. Tem um
aspeto “agressivo” mas, observada com mais
atenção verificamos que possui uma beleza
fora do vulgar. A flor varia de tonalidades
conforme exposta à luz solar direta ou na
sombra.
Herbácea anual ou bienal, com 15 a 70 cm
de altura, espinhosa e com indumento piloso
denso e esbranquiçado.
Folhas basilares com pecíolo curto, serradas,
secando cedo; as caulinares com 4-18 x 1-8
cm, muito recortadas, sésseis e curtamente
decorrentes, espinhosas na margem; página
superior verde-escura, mas com nervuras
brancas ou manchadas de branco e poucos
pêlos e página inferior densamente branco-
tomentosa. Flores pequenas, dispostas em
capítulos pedunculados, solitários ou reunidos
em ramalhetes, rodeados por um invólucro de
brácteas espinhosas e pilosas; flores centrais
lilacíneas a brancas e tubulosas; as periféricas
maiores, afuniladas e estéreis.
Fruto uma cipsela amarelada, subcilíndrica,
estriada, com 3-5 x 1-1.5 mm e com um
tufo de pêlos plumosos, brancos (papilho) na
extremidade, que facilita a dispersão pelo
vento. Época de floração: Abril – Julho

Anacamptis pyramidalis | Satirião-menor


Anacamptis pyramidalis é planta herbácea,
perene, pertencente ao género Anacamptis
da família Orchidaceae (orquídeas).
Esta planta atinge em média 10 a 25 cm
de altura, com um máximo de 60 cm. O
caule é erecto e não ramificado. As folhas
basais são linear-lanceoladas, com nervuras
paralelas, de até 25 cm de comprimento. As
folhas caulinares são mais pequenas e menos
visíveis.

156
Ecologia: Prados e pastagens em clareiras
de matos ou de bosques, preferentemente
calcários. Época de floração: Abril – Junho

Briza maxima L. | Abelhinhas


Briza maxima é uma espécie de planta com
flor pertencente à família Poaceae. Os seus
nomes comuns são abelhinhas, bole-bole-
maior, bole-bole, bule-bule, bule-bule-grado,
campainhas-do-diabo, chocalheira-maior,
quilhão-de-galo.
Ecologia: Prados, searas, campos agrícolas,
baldios, montados, olivais e pomares de
sequeiro, clareiras e orlas de matos, bosques
e pinhais. Grande amplitude ecológica, com
alguma preferência por locais secos.
Época de floração: Abril – Junho

Echium plantagineum | Chupa-mel


Echium plantagineum é uma espécie
pertencente ao género Echium nativa da
Europa ocidental (da Inglaterra ao sul da
Península Ibérica), leste da Crimeia, norte de
África, e sudeste da Ásia. Nomes comuns
Lingua-de-vaca, Soagem e Soagem-viperina
Ecologia: Em campos de cultivo, pousios,
pastagens, margens de caminhos e areias.
Espécie com grande amplitude ecológica,
ocorre em terrenos húmidos ou secos, em
locais geralmente ruderalizados. Indiferente
edáfica. Época de floração: Março – Julho

Papaver rhoeas L. | Papoila-brava


Papaver rhoeas ( nomes comuns incluem
papoila comum , papoila de milho , milho
aumentou , papoila campo , Flandres papoila
ou papoila vermelha ) é uma espécie de
planta herbácea floração anual na família de
papoila, Papaveraceae .
Ecologia: Searas, pousios, pastagens, prados,
montados, olivais e por vezes comportando-
se como ruderal em bermas de caminhos, nitrificados, associados ao pastoreio extensivo
baldios e entulhos. Em substratos algo de ovinos. Época de floração: Abril – Julho

157
Onde Ficar

Aldeia de Pedralva
Perto de Vila do Bispo, no Algarve, um novo conceito de Turismo de Natureza. Mais do que um
Hotel, uma experiência de Aldeia. Ir à mercearia e deixar anotado na folha de papel pardo
para pagar depois. Escrever um postal e coloca-lo no marco do correio. Fazer um passeio de
burro com as crianças. Uma vida em típicas casas de Campo, com serviço diário de limpeza,
incluindo cozinha/louça e arrumação de casas.
A Aldeia da Pedralva, que pretende ser um Turismo de Aldeia Activo, oferece ainda um centro
de Actividades com 32 bicicletas e mais de 300 km de trilhos de Mountain Bike, escola de surf,
material de caminhada, cursos de mergulho entre muitas outras actividades de natureza.
Para mais informações contacte www.center.pt ou visite www.solaresdeportugal.pt

158
Quinta do
Ameal
Um Enoturismo de eleição, onde são
produzidos os vinhos verdes da casta Loureiro
cem por cento biológicos e uma paisagem
deslumbrante, são a imagem de marca da
Quinta do Ameal situada em Refóios do Lima.
Com 8 hectares de mata, 800 m de margem
do rio Lima, 15 hectares de vinha elas
próprias fazem parte de toda a envolvência
A casta Loureiro
Originária do vale do rio Lima, local onde
compondo este magnifico quadro. As casas
atinge a plenitude. É uma variedade muito
recuperadas para turismo são abraçadas
fértil e produtiva. Propicia cachos compridos
pelos jardins naturalistas com vários recantos.
e medianamente compactos, com bagos
Visitámos este espaço, em Julho, quando as
médios de cor amarelada ou esverdeada.
Hortenses e Agapanthus nos devolvem o mais
Apropriadamente, a flor de Loureiro é um
belo azul. Mas a imagem de marca do espaço
dos seus principais descritores aromáticos,
são as glicínias e, na Primavera, a Quinta do
caracterizando-se ainda pela personalidade
Ameal reveste-se de um lilás maravilhoso que
floral particularmente cristalina, com ênfase
emoldura as janelas das casas, as pergolas e
na flor de laranjeira, acácia e tília, sendo as
os caminhos de acesso. A não perder...
notas de maçã e pêssego relativamente
Mas os pinheiros mansos, um deles com
comuns vinhos de acidez equilibrada e bem
mais de 200 anos, os carvalhos centenários,
proporcionada.
as nogueiras, os castanheiros, as aveleiras e
canaviais, todo um ecossistema que convida
Para mais informações contacte:
ao descanso e à contemplação.
www.center.pt ou visite www.solaresdeportugal.

159
Onde Ficar

Casa da Cumeada
Em pleno Alentejo, a cerca de 5 km de Reguengos de Monsaraz, a Casa da Cumeada é
mais de que um simples alojamento. É um local para se estar, a observar o jardim de plantas
comestíveis e aonde aprendemos a viver ao ritmo da natureza, onde a alimentação saudável
tem um sabor agradável e um visual irresistível!
Teresa Mizon é o rosto da Casa da Cumeada e tem como principal missão “...Regenerar e
reequilibrar a saúde e o bem estar à luz dos princípios milenares da Macrobiótica, através
da alimentação natural (de origem vegetal) aliada a terapias naturais. Gerar consciência e
alteração de estilos de vida de forma sustentável pelos caminhos de uma abordagem integrada
e pedagógica...”

Contactos: Largo da Nossa Senhora das Neves nº 11, 7200-071 Cumeada, Reguengos de
Monsaraz | +351 964 399 085 | info@casadacumeada.pt | https://casadacumeada.pt/

160
Quinta da Agra
Esta antiga propriedade agrícola localizada com a adega bem implantada, é que se
em pleno meio rural, situada a 1.8 Km do conseguia colmatar a falta de tecnologia na
centro de Ponte de Lima, está inserida na REN época e se conseguiam fazer bons produtos
(reserva ecológica nacional) e na RAN (reserva no final de cada colheita, conservando os
agrícola nacional), encontrando-se num vinhos até mais tarde. As uvas aqui produzidas
recanto da freguesia de Correlhã, encostada teriam forçosamente de ter qualidade para
ao rio Trovela, afluente do rio Lima. fazer os ditos vinhos, pois esta adega esteve
O conjunto edificado é constituído por duas sempre em atividade até à intervenção que
casas, a primeira a ser construída, teria sofreu para a reconversão em Agro-turismo.
tido início anterior ao séc. XVII. À época, Dispõe de 3 quartos duplos, 4 twin e 1
a edificação do assento de lavoura, foi apartamento para duas pessoas. Inserido no
para criar uma área de habitação na parte meio Rural e sempre pensando no conceito
superior e adega para fabrico do vinho no “Turismo e Natureza”, conseguiu-se preservar
piso inferior. Nessa altura para garantirem a e transformar com conforto e qualidade, o
estabilidade térmica na adega, aproveitaram património edificado há alguns séculos, altura
a inclinação do terreno, construindo de forma em que a exigência e a maneira de viver
a que a parte virada a poente e parte da eram totalmente diferentes. Tem ainda uma
fachada virada a sul, ficassem enterradas área nova destinada à atividade física, saúde
para as proteger do sol. Enquanto as frentes e bem estar, junto à piscina.
descobertas ficaram, a maior virada a norte Para mais informações: www.center.pt ou visite
e a outra a nascente, para assim garantir a www.solaresdeportugal.pt
frescura e o arejamento necessário. Só assim

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Onde Ficar

Palácio de Estoi
A Pousada de Faro, localizada na aldeia de Estoi, a 10 km de Faro, tem uma enorme riqueza
arquitetónica. A Pousada é um Small Luxury Hotel em Estoi situado num palácio que nasce a
partir da recuperação de um antigo Palácio do século XVIII com vários elementos originais.
A Pousada Palácio de Estoi apresenta diversos jardins com um desenho clássico e onde pode
mergulhar na piscina exterior e o descansar no deck.
Classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público em 1977, o Palácio de Estoi é considerado
um dos mais significativos testemunhos da arquitetura civil setecentista algarvia, apesar das
remodelações posteriores. Hoje em dia faz parte da rede hoteleira das Pousadas de Portugal.
O conjunto Palácio e Jardins de Estoi viveram, ao longo da sua história, tempos conturbados
onde a degradação e delapidação estiveram bem presentes. A última fase de abandono foi
estancada quando a autarquia de Faro adquiriu o imóvel e, posteriormente foi transformado
em unidade hoteleira.

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