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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA

MARIANA APARECIDA ARTHUR

DANÇA E PRODUÇÃO DE CUIDADO EM SAÚDE PARA


PESSOAS COM CONDIÇÕES CRÔNICAS

São Paulo
2018
MARIANA APARECIDA ARTHUR

DANÇA E PRODUÇÃO DE CUIDADO EM SAÚDE PARA


PESSOAS COM CONDIÇÕES CRÔNICAS

Projeto de pesquisa apresentado à


Disciplina: MFTO210 Iniciação à Pesquisa
I, da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, sob a orientação
da Professora Renata Monteiro Buelau e
Érika Alvarez Inforsato, como requisito
parcial para Graduação em Terapia
Ocupacional.

São Paulo
2018
RESUMO

Atualmente, as doenças crônicas constituem um grande desafio para a organização da


atenção e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), já que correspondem por mais de 70 %
das causas de morte no Brasil (PNS, 2013). Apesar de haver avanços nas diretrizes para o
cuidado de pessoas com doenças crônicas, ainda permeia nas práticas de saúde um caráter
imperativo, disciplinador, centrado em procedimentos. Partindo de uma concepção de saúde
ampliada, que não se restringe ao corpo biológico e considera o sofrimento como parte dos
processos vivos, este estudo quer observar as reverberações que encontros de dança e práticas
corporais podem produzir na forma como as pessoas com condições crônicas se relacionam
com o próprio corpo e com os processos saúde-doença. Pretende-se estudar e experimentar
uma forma de cuidado à saúde que acontece fora dos ambientes tradicionalmente destinados à
assistência a essas populações e acolhe outras dimensões da vida cotidiana. O estudo será uma
pesquisa exploratória que terá como método a cartografia. Esse tipo de pesquisa investe na
transdisciplinaridade e considera a complexidade da subjetividade e da realidade. Para tanto,
propõe-se a realização de uma oficina de dança e experimentação corporal no âmbito das
atividades de extensão do Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia
Ocupacional (PACTO) do Curso de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Através da experimentação em espaços de criação com a dança e
as práticas corporais, acredita-se ser possível construir novas relações e outros modos de
produzir saúde. O deslocamento de um cuidado que se dá apenas numa esfera dual e individual
pode construir aberturas, que favorecem um maior engajamento com o cuidado de si a partir
de uma conexão com o corpo e com os processos de adoecimento, do encontro com a diferença
e da invenção de outros modos de existência.

Palavras-Chave: Terapia Ocupacional; Dança; Práticas Corporais; Doença Crônica; Produção


de Cuidado.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA...................................................................................6
2. OBJETIVO..........................................................................................................................12
3. MÉTODO............................................................................................................................12
4. PROCEDIMETOS...............................................................................................................14
5. CRONOGRAMA................................................................................................................15
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................16
7. ANEXOS.............................................................................................................................18

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1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Atualmente, as doenças crônicas constituem um grande desafio para a organização da


atenção e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), já que correspondem por mais de 70 %
das causas de morte no Brasil (PNS, 2013). Apesar de haver avanços nas diretrizes para o
cuidado de pessoas com doenças crônicas, ainda permeia nas práticas de saúde um caráter
imperativo, disciplinador, centrado em procedimentos.

Este estudo quer construir contribuições para o incremento das estratégias da Terapia
Ocupacional na produção de cuidado em sua relação com as condições crônicas de sua
população atendida e em articulação com outros campos. A partir de uma concepção de saúde
ampliada, que não se restringe ao corpo biológico e considera o sofrimento como parte dos
processos vivos, serão observadas as reverberações que encontros de dança e práticas corporais
podem produzir na forma como as pessoas com condições crônicas se relacionam com o
próprio corpo e com os processos saúde-doença. Pretende-se estudar e experimentar uma forma
de cuidado à saúde que acontece fora dos ambientes tradicionalmente destinados à assistência
a essas populações, e acolhe outras dimensões da vida cotidiana.

Do ponto de vista médico, doenças crônicas são definidas como uma condição de longa
duração que pode causar inabilidade e incapacidade residual, necessita de monitoração
contínua e apresenta um caráter permanente com um processo de cura lento ou inexistente
(FREITAS, 2007). Segundo Canesqui (2007, p.19), “a cronicidade é um dispositivo conceitual
biomédico e, especialmente clínico, que se refere à impotência na ‘cura’ na orientação da
prática profissional do médico”. Os dispositivos biomédicos produzem discursos e tratamentos
para as pessoas com condições crônicas, mas isso não significa que todas as práticas de cuidado
devam pautar suas ações por esta compreensão. A noção de cronicidade, assim, pode ser
entendida como uma forma de compreender os processos saúde-doença vividos pelos corpos.
Em documento, o Ministério da Saúde propõe a noção de condição crônica como uma variação
terminológica que amplia o entendimento dessas situações e que, portanto, será adotada nesta
pesquisa. O documento afirma que as “doenças crônicas compõem o conjunto de condições
crônicas” que “incluem outras situações no campo da Saúde” (BRASIL, 2013).

Conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do total


da população residente no Brasil, 59,5 milhões de pessoas tem no mínimo uma das doze
doenças crônicas consideradas no levantamento, a saber: hipertensão; doença de coluna; artrite

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ou reumatismo; bronquite ou asma; depressão; doença do coração; diabetes; tendinite ou
tenossinovite; insuficiência renal crônica; câncer; cirrose; e tuberculose (IBGE, 2008). Essas
doenças correspondem a mais de 70% das causas de morte no Brasil (PNS, 2013), o que
evidencia a urgência das práticas de assistência à saúde inventarem estratégias de cuidado que
possam responder de maneira mais complexa à demanda da população brasileira, que se
intensifica com as dinâmicas sociais contemporâneas, o processo de transição demográfica e o
aumento do envelhecimento da população.
O Ministério da Saúde, em parceria com outros ministérios e diversas instituições de
ensino e pesquisa, preparou em 2011 o “Plano de Ações Estratégias para o Enfrentamento de
Doenças Crônicas Não Transmissíveis”, que tem como objetivo promover o desenvolvimento
e a implementação de políticas públicas para prevenção, controle e cuidado das doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) e seus fatores de risco, de forma mais efetiva e congruente
às necessidades dessas populações (BRASIL, 2008). Com a finalidade de enfrentar as
fragmentações entre os serviços já existentes, os programas e as ações profissionais, a
Secretaria de Atenção à Saúde propôs, em 2012, a Rede de Atenção às Pessoas com Doenças
Crônicas, que corresponde ao terceiro eixo estrutural do Plano DCNT – o cuidado integral, que
organiza diretrizes para reconhecer redes de cuidado às pessoas com doenças crônicas
(BRASIL, 2013).
Produzir um cuidado integral, conforme os princípios do SUS, é um grande desafio na
organização e gestão de ações que não se baseiem numa concepção de saúde como ausência de
doenças, pois isso necessariamente requer o deslocamento de ações médico-centradas para a
compreensão do ser humano em suas mais variadas formas de expressão, engendradas no
entrecruzamento de forças heterogêneas. Isso significa não objetificar a vida a um corpo
biológico, a um conjunto de órgãos ou, ainda, a um conjunto de sintomas que recebem como
principal assistência intervenções prescritivas (MERHY et al., 2019). Embora haja avanços
nesse sentido, as diretrizes para o cuidado em saúde de pessoas com condições crônicas ainda
são permeadas por um caráter imperativo, disciplinador e individualizante, centrado em
procedimentos nos quais são desconsideradas as subjetividades, os sofrimentos, a singularidade
de cada experiência e a processualidade da vida.

Em nome de uma suposta defesa da vida, retiram-se os sujeitos da cena de seu


tratamento, e/ou inundam-se os encontros com os sujeitos que procuram por
algum tipo de cuidado com protocolos prescritivos do bem viver. Sustentam suas
ações em ideais comportamentalistas, com base em dados científicos,
generalizáveis que independem dos aspectos psicossociais e culturais, e que não
passam de meras abstrações numéricas ao retirar das pessoas o direito de

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agenciar e protagonizar o cuidado com si mesmo e as escolhas de sua vida
(MERHY et al., 2019, p.5).

Abordagens unidirecionais não possibilitam diálogos e encontro de saberes e, portanto,


produzem assistência em saúde de forma normativa, sem conhecer as expectativas, medos,
limites e possibilidades da pessoa que procura cuidado (MERHY et al., 2019). Não abrangendo
a complexidade do ser humano e das necessidades de produção de saúde de um ponto de vista
coletivo, o acompanhamento torna-se frágil e os usuários não incorporam os cuidados
orientados pelos profissionais em seu cotidiano. Atualmente, segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS, 2003), a adesão de pessoas com doenças crônicas ao tratamento nos países
em desenvolvimento chega a ser de apenas 20%.
Diferentemente, pensar a atenção em saúde de modo inter e/ou transdisciplinar permite
agenciar diferentes saberes e afetos, que passam a operar como intercessores (DELEUZE,
1992) e, assim, abrem novos caminhos e perspectivas para as práticas de cuidado. Mais além,
considerar aquele que sofre como o protagonista do próprio cuidado é promover uma
reconfiguração das linhas de força, o que coloca os diferentes saberes lado a lado, sem sobrepor
o saber científico ao saber sobre si mesmo. Menos do que procurar referências absolutas,
predefinidas e generalizáveis, a operação neste campo se aproximaria mais de algo da ordem
do dissenso.

Dissenso quer dizer uma organização do sensível na qual não há realidade oculta
sob as aparências, nem regime único de apresentação e interpretação do dado que
imponha a todos sua evidência. É que toda situação é passível de ser fendida no
interior, reconfigurada sob outro regime de percepção e significação.
Reconfigurar a paisagem do perceptível e do pensável é modificar o território do
possível e a distribuição de capacidades e incapacidades (RANCIÈRE, 2012, p.
48-49).

Ainda que arrastados do campo da estética, ou de qualquer outra esfera do


conhecimento, agenciar diferentes conceitos ajuda a transpor as fronteiras entre as disciplinas
e os saberes e, no caso deste estudo, pode contribuir para tensionar as posições ocupadas por
profissionais como detentores do saber da cura que determinam condutas, e usuários dos
serviços de saúde como espectadores passivos de suas vidas. Deslocamentos assim instauram
novas possibilidades de percepção da realidade e, consequentemente, novas aberturas para a
vida de cada um. Para o filósofo Jacques Rancière, “a emancipação (...) começa quando se
questiona a oposição entre o olhar e o agir, quando se compreende que as evidências que assim

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estruturam as relações do dizer, do ver e do fazer pertencem à estrutura da dominação e da
sujeição (RANCIÈRE, 2014, p. 17).
Liliana Escóssia e Virgínia Kastrup (2005) consideram que seres, entidades e coisas
possuem geografias variáveis e se produzem no plano relacional: “a relação, entendida como
agenciamento, é o modo de funcionamento de um plano coletivo que surge como plano de
criação, de co-engendramento dos seres” (ibid., p.303). Dizer de um co-engendramento entre
indivíduo e sociedade, como fazem as autoras, é caminhar na direção de superação da lógica
dicotômica entre os termos, o que significa distingui-los sem separá-los. Coletivo, nesse
sentido, não seria o mesmo que social. O conceito de social trabalha com a noção de indivíduo,
esta que entende o ser pronto, fechado em si mesmo, sem levar em conta os processos que o
constituem. O feito mais visível desta abordagem é a “separação dos objetos e dos saberes”
(ibid., p.295), tal como frequentemente ocorre nas práticas de atenção à saúde. A produção de
cuidado no plano coletivo, por outro lado, pode ser compreendida como um processo inventivo
que se dá nos encontros, nas relações que produzem mundos e sentidos.
Na Terapia Ocupacional, diversas práticas que compreendem a relevância das ações
interdisciplinares e as implicações das relações que os seres humanos estabelecem a todo
momento nos processos de saúde e/ou adoecimento, buscam a interface entre as disciplinas,
numa abertura dessas linhas delimitadas que costumam cercear a vida em sua multiplicidade e
potência criativa. Neste contexto, os estudos sobre o corpo e as práticas corporais têm indicado
caminhos interessantes de acesso a este plano comum na construção do cuidado e na produção
de saúde para além da dimensão biológica.
Em uma breve análise na literatura sobre os estudos de terapia ocupacional no âmbito
das condições crônicas1, foram encontrados trinta (32) artigos no período de 2007 a 2018, nos
quais constam discussões em relação à atuação dos terapeutas ocupacionais com as pessoas
com doenças crônicas, além de estudos sobre os impactos no desempenho ocupacional,
alterações nos papéis ocupacionais e repercussões no cotidiano dessas populações.

No que tange à atuação dos terapeutas ocupacionais com práticas corporais e dança para
a produção de cuidado para pessoas com condições crônicas foram encontrados apenas três
artigos, apesar de existir uma vasta produção que enfatiza a importância das práticas corporais

1
O levantamento foi realizado nos seguintes periódicos nacionais indexados: Revista de Terapia Ocupacional da
Universidade de São Paulo, Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, Revista Interinstitucional Brasileira de
Terapia Ocupacional, Revista Ceto e na plataforma LILACS

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para promover apropriação e o cuidado de si, bem como produzir encontros que potencializam
a criação de corpos e de mundos (LIBERMAN, et al., 2017; SAITO, CASTRO, 2011).

Historicamente, o corpo é conceituado sob diferentes perspectivas, o que interfere


diretamente no modo como ele é cuidado, compreendido e vivenciado. Keleman (1992), em
seus estudos sobre a anatomia emocional, tencionou ultrapassar a compreensão do corpo
humano como um conjunto de músculos, ossos e sistemas que buscam a homeostase, para
entende-lo como um processo que apresenta formas variáveis e em estreita conexão com as
emoções e experiências. Para o autor, sem anatomia, não há emoções; e os sentimentos têm
uma “arquitetura somática”. Sob este ponto de vista, a vida seria “uma sucessão de formas”
que modulam e são moldadas pelas experiências numa relação bidirecional:

Alguns paradigmas concebem-no apenas em seu aspecto sensório-motor,


enquanto outros transitam prioritariamente por uma dimensão psicológica.
Procurando contribuir para a formulação de outras perspectivas no campo,
pensamos o corpo como pulso, multimídia, multifacetado, que se (des)constrói
permanentemente nos encontros entre corpos (LIBERMAN; LIMA, 2015,
p.186).

No contemporâneo, principalmente nos modos de vida urbana, os corpos são


atravessados por um excesso de informações, propagandas e imagens. Os ritmos impostos
socialmente aceleram a experiência cotidiana, a produção de trabalho, a preparação de
alimentos... e esta velocidade passa a determinar os processos de apreensão do mundo. O corpo
nesse contexto tende a apresentar modos automatizados e padronizados de agir, “o que nos
distancia dos ritmos biológicos e dos contatos com a natureza e com os outros seres humanos,
além de dificultar nossa comunicação e expressão no mundo e favorecer processos de
exclusão” (SAITO; CASTRO, 2011, p. 179). O afastamento do corpo do pulso do desejo, o
modo de vida solitário de uma sociedade que estimula o individualismo, o consumo e a
competição, geram sofrimentos e adoecimentos. Nesse sentido é necessário afirmar a
materialidade do corpo com as suas potencialidades e seus limites, já que os saberes
hegemônicos se direcionam para uma busca por um corpo com um ideal ascético, artificial,
virtual, imortal (GOMES, 2010, p.2).
Para as autoras Flavia Liberman e Elizabeth Lima o corpo é um sistema relacional em
estado de geração permanente, e os encontros potencializam a criação de corpos e de mundos
modificando relações e sentidos. Nessas relações, “desestabiliza[-se] um estado de coisas,
desterritorializa[-se] uma organização subjetiva, uma corporeidade, uma teia de sentidos”

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(LIBERMAN; LIMA, 2015, p.187), sendo necessárias aberturas para invenção constante de
corpos e mundos para lidar com os acontecimentos e experiências do contemporâneo.

Para que a subjetividade possa sustentar-se na tensão de sua desestabilização


entre as formas que produzem certa estabilidade e as forças que a atravessam, é
preciso a emergência de um processo de criação que converta as afetações em
imagens, palavras, gestos, modos de existência. No entanto, quando o desejo é
capturado pelo mercado e para a produção de capital, pode ser desviado de seu
destino criador e o corpo é anestesiado em sua potência de decifrar o mundo a
partir de sua condição vivente: o saber do corpo torna-se inacessível
(LIBERMAN et al., 2017, p. 119).

Na experiência do adoecimento, especialmente nas condições crônicas, é marcante a


ruptura com antigos hábitos e atividades cotidianas, o que promove uma desestabilização e a
consequente necessidade de se encontrar outras formas de realizá-las e de habitar a própria
vida. A dança e as práticas corporais podem colaborar com esse processo de transformação do
cotidiano, de criação e produção de subjetividades. Elas propiciam a invenção de outros ritmos
e outras formas de encontro, relação e construção dos corpos, que passam a ser tocados em
diferentes dimensões: emocionam-se, pensam, expressam-se e criam. O encontro entre corpos
que se movimentam com o fluir da música favorece o aprendizado inventivo, processo que
ultrapassa o processamento de informações e a reprodução de conhecimentos. (KASTRUP,
1997 p.3)

As práticas de consciência corporal, na terapia ocupacional, apresentam-se como


potente instrumento de transformação do cotidiano da população atendida, à
medida que se tornam experiências do próprio sujeito, propiciam a apropriação
de si e instauram uma condição de trabalho que promove a consciência e a
criação de um cotidiano e de uma saúde em constante cuidado e produção
(SAITO; CASTRO, 2011, p. 178).

Entender o corpo como um todo, um organismo vivo em constante mutação, e não como
um conjunto de sistemas isolados, modifica o modo como concebemos e o cuidamos. A dança
e as práticas corporais, nesse contexto, podem potencializar a produção de cuidado e saúde na
medida que agenciam momentos de encontros coletivos que acolham expressões singulares e
ampliem a percepção e sensibilidade, gerando passagens aos acontecimentos da vida.

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2. OBJETIVO

Este estudo quer construir contribuições para o campo da Terapia Ocupacional, em sua
relação com as condições crônicas da população atendida. Assim, pretende-se discutir
elementos do conceito hegemônico de cronicidade de forma a engajá-lo em uma concepção de
saúde ampliada, que valoriza o saber do sujeito sobre si mesmo, não se restringe ao corpo
biológico e considera o sofrimento como parte da processualidade da vida. Para tanto, serão
observadas as reverberações que encontros de dança e práticas corporais podem produzir na
forma como pessoas com condições crônicas se relacionam com o próprio corpo e com os
processos saúde-doença.

3. MÉTODO

O estudo se configurará como uma pesquisa exploratória (GIL, 2008) pautada pelo
método da cartografia. Este método – de modo congruente ao que se pretende exercitar no
desenvolvimento da pesquisa a partir do deslocamento de intervenções generalizáveis e
prescritivas que desconsideram o saber de cada um sobre o próprio corpo – propõe outros
modos de conhecer, nos quais a teoria não transcende a experiência e a ação de pesquisar está
inscrita num processo de construção histórica da realidade, “opondo-se frontalmente a um
conhecimento que se impõe como verdade, generalizante e simplificado, e que tem por objetivo
alcançar a previsibilidade a partir de um espaço inteligível de certezas” (MORIN apud
ROMAGNOLI, 2009, p. 168). A cartografia, desse modo, não busca desvendar uma suposta
realidade pré-existente, mas presume que conhecer é criar intervindo na realidade (PASSOS;
KASTRUP, 2013, p. 264) – o que não poderia ser feito através de etapas e procedimentos
metodológicos pré-fixados.
Este processo se dá pela implicação do pesquisador com o campo, num esforço de
conjugar todas as forças que atravessam e compõem o plano da pesquisa, agenciando “sujeito
e objeto, teoria e prática” (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015, p.17-18). Na intensidade dos
encontros e dos afetos a pesquisa cartográfica desenha mapas que contornam as produções
individuais e coletivas. Assim sendo, o pesquisador seria um cartógrafo, que traça os caminhos
de sua pesquisa conforme os percorre, com um corpo atento e sensível, “um corpo que se deixa
vibrar” (LIBERMAN; LIMA, 2015, p. 184).

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Para Rolnik, a matéria-prima da cartografia são as marcas feitas num corpo. A
violência vivida no encontro entre um corpo e outros desestabiliza-o, colocando
a exigência de invenção de algo que venha a dar sentido e corporificar essa
marca: um novo corpo, outro modo de sentir, pensar, um objeto estético ou
conceitual (ROLNIK apud LIBERMAN; LIMA, 2015, p. 184).

Este corpo exploratório e inventivo, aberto ao inesperado, sente os atravessamentos


daquilo que vê e vive e, portanto, não sabe de antemão por onde a exploração irá caminhar e
menos ainda aonde ela vai chegar. A aproximação e compreensão do problema da pesquisa se
dá de modo gradual. A cada etapa, o que se espera conseguir é fazer melhores perguntas, que
possam colocar a pesquisa em devir.
Este modo de conceber a pesquisa investe na transdisciplinaridade e considera a
complexidade da subjetividade e da realidade, articulando diferentes saberes, além dos
científicos, e superando perspectivas dicotômicas e reducionistas. Afirma-se, assim, a
necessidade de traçar um plano comum e heterogêneo, por meio de uma transversalização que
ultrapassa as fronteiras das disciplinas e a hierarquização de saberes para assegurar a
participação, o protagonismo e as singularidades no processo de pesquisa.
Tal plano é dito comum não por ser homogêneo ou por reunir atores (sujeitos e
objetos; humanos e não humanos) que manteriam entre si relações de identidade,
mas porque opera comunicação entre singularidades heterogêneas, num plano
que é pré-individual e coletivo (KASTRUP; PASSOS 2013, p. 265).

Se a pesquisa cartográfica não lida com a ideia de uma realidade preexistente, e sim
com a implicação do pesquisador no processo de produção da realidade, o termo coleta de
dados, frequentemente utilizado, deixa de fazer sentido. Não se trata de procurar dados que já
estariam ali antes da pesquisa e que comprovariam um determinado conjunto de hipóteses, mas
de produzi-los no próprio processo de pesquisar, de forma a acolher a experiência.
Desordenando aquilo que se apresenta como unidade (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015,
p.26), o trabalho de análise visa, num compromisso/esforço de problematização constante, dar
a ver as condições de emergência dos dados, aumentando o grau de transversalidade entre os
elementos que surgem ao longo da pesquisa, agenciando diferentes forças, desmanchando o
campo do já dado (BARROS; BARROS, 2013).

O que move a análise em cartografia, portanto, são problemas. É a um problema


que ela se volta e são também problemas o seu resultado. É preciso lembrar as
indicações de Bergson (1974), de que toda “solução” é coextensiva a um modo
de colocar o problema; o problema não é dado, ele depende da criação dos termos
nos quais ele vai se apresentar. Analisar é, assim, um procedimento de
multiplicação de sentidos e inaugurador de novos problemas (BARROS;
BARROS, 2013, p.375).

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4. PROCEDIMENTOS

Entendendo os procedimentos como traçados ou modos de se colocar em operação as


questões levantadas que se mantêm flexíveis e abertos para acolher o andamento da pesquisa,
propõe-se a realização de uma oficina de dança e experimentação corporal, coordenada pela
própria estudante-pesquisadora, a ser oferecida para um grupo de adultos. Será um grupo
desenvolvido no âmbito das atividades de extensão do Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte,
Corpo e Terapia Ocupacional (PACTO) do Curso de Terapia Ocupacional da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, aberto às pessoas interessadas, com um limite de 15
participantes.
A oferta desse espaço alternativo e complementar de pertencimento às pessoas com
condições crônicas será feita em grupo heterogêneo, através de oito encontros, realizados
semanalmente com duração de 1h30min, incluindo um momento de chegada e aquecimento, o
trabalho corporal e uma apreciação final do encontro. Para a constituição do grupo, será
realizada uma divulgação nos serviços e projetos parceiros do PACTO, além de contatos
diretos com profissionais das equipes para levantamento de possíveis interessados. Pretende-
se utilizar exercícios e práticas de dança, consciência corporal, relaxamento, alongamento,
coordenação motora e ritmo; bem como realizar dinâmicas para possibilitar encontros por meio
movimentos, toques e gestos, exploração do repertório musical, criações de movimentos e
posturas, num diálogo com outros modos de expressão, tais como desenho, fotografia, poema,
entre outros. O trabalho será supervisionado pela equipe de docentes e terapeuta ocupacional
do PACTO.
No decorrer da pesquisa será realizado um caderno de campo de registro desses
encontros, de modo que o mesmo possa funcionar como espaço de reflexão e como material
de consulta para as etapas de análise dos dados produzidos. Além disso, será feito um
levantamento bibliográfico e um estudo da literatura selecionada cruzando temas pertinentes à
pesquisa, tais como: terapia ocupacional, dança e as práticas corporais; doenças crônicas e
integralidade na atenção à saúde; dança e produção de cuidado; protagonismo e cuidado de si;
entre outros. Esses achados da pesquisa, tanto do ponto de vista da experiência nas oficinas
quanto do levantamento bibliográfico e dos conceitos colocados em operação, serão agenciados
de modo a dar consistência às reflexões e possibilitar o trabalho de análise, num exercício
constante de transversalização e problematização.
No processo de realização da pesquisa, o contato grupal, as práticas com o corpo, e as
demais proposições que podem ocorrer no desenvolvimento dos encontros, podem disparar
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processos que não serão abarcados pela experiência e que necessitem de uma atenção
continuada. A pesquisadora estará atenta e preparada para acolher esses momentos e, caso
necessário, conduzir encaminhamento a espaços de cuidado e atendimento com profissionais
que possam acompanhá-las de modo mais processual e longitudinal. As pessoas serão
informadas da proposta do estudo por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
e a participação será voluntária, sendo preservada a liberdade de desistência a qualquer
momento da pesquisa.

5. CRONOGRAMA

Etapas SET OUT NOV DEZ


Levantamento Início Término
Bibliográfico Dia Dia
23/09 07/10
Estudo da Início Término
Bibliografia Dia Dia
25/09 15/11
Trabalho de Início Término
Campo Dia Dia
(oficinas de 16/09 04/11
dança e
experimentaçã
o corporal)
Registro em Início Término
caderno de Dia Dia
campo 16/09 06/11
Análise dos Início Término
dados Dia Dia
produzidos 06/11 18/11
Redação da Início Término
pesquisa Dia Dia
19/11 16/12
Revisão do Início
texto e 17/12 e
conclusão da Término
pesquisa 20/12

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6. REFERÊNCIAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Rio de Janeiro, FIOCRUZ,
2014.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas
redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília, 2013, p. 5-14
BARROS, Letícia; BARROS, Elizabeth. O problema da análise em pesquisa cartográfica. In: Rev.
Psicol., Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 373-390, 2013.
CANESQUI AM. Olhares socioantropológicos sobre os adoecidos crônicos. São Paulo,
Hucitec/Fapesp, 2007. p.149
DELEUZE, Gilles. Conversações. (trad. Peter Pál Pelbart) São Paulo: 34, 1992, 232 p.
ESCÓSSIA, Lilian; KASTRUP Vírginia. O Conceito de Coletivo como superação da dicotomia
indivíduo-sociedade. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 2, p. 295-304, Aug. 2005.
KASTRUP, Vírginia. Agir, Aprender, Atuar. Texto apresentado no Congresso Internacional
Autopoiese – Univerdidade Federal Minas Gerais – nov, 1997.
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KELEMAN Stanley. Anatomia Emocional, Summus, São Paulo, 1992
MERHY, E. E.; FEUERWECKER, L.; GOMES, M. P. C.. Da repetição à diferença: construindo
sentidos com o outro no mundo do cuidado 2019, p.5 [acesso 2019 Março 11] Disponível em:
http://eps.otics.org/material/entrada-outras-ofertas/artigos/da-repeticao-a-diferenca-
construindo-sentidos-com-o-outro

16
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Cuidados inovadores para condições crônicas:
componentes estruturais de ação. Relatório Mundial. Brasília: OMS; 2003. [acesso 2019 Abril
15] Disponível em: https://www.who.int/chp/knowledge/publications/icccportuguese.pdf
PASSOS, Eduardo. KASTRUP, Virgínia. Cartografar é traçar um plano comum. In: Rev. Psicol., v. 25,
n. 2, p. 263-280, Maio/Ago. 2013
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana. Pistas do método da cartografia:
Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina. 2015, 207p.
ROMAGNOLI, R. A cartografia e a relação pesquisa e vida. Psicol. Soc., Florianópolis, v. 21, n. 2, p.
166-173, Aug. 2009.
RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
SAITO, Cinthia; CASTRO, Eliane. Práticas corporais como potência da vida. In: Cadernos Brasileiros
de Terapia Ocupacional UFSCar, São Carlos, v. 19, n.2, p 177-188, Mai/Ago 2011.

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DANÇA E PRODUÇÃO DE CUIDADO EM SAÚDE PARA PESSOAS COM CONDIÇÕES CRÔNICAS

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7. ANEXOS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

____________________________________________________________________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL


LEGAL

1. NOME: MARIANA APARECIDA ARTHUR

DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº: 43749624-7....................................SEXO : .M □ F X

DATA NASCIMENTO: 09/06/1988

ENDEREÇO RUA AMADOR DE BARROS JÚNIOR................................................ Nº 189, CASA

BAIRRO: FREGUESIA DO Ó ...............................................................CIDADE:...............SÃO PAULO..........

CEP:...........02967-110......................................TELEFONE: DDD (11)94013-6025

2.RESPONSÁVEL LEGAL: ERIKA ALVAREZ INFORSATO

NATUREZA …...orientadora.........................................................

DOCUMENTO DE IDENTIDADE: 23982566-4...............................SEXO: M □ F X

DATA NASCIMENTO.: ..19.07.1975.

ENDEREÇO: .R. IPEROIG......................................................................... Nº ....864.... APTO: .............................

BAIRRO: ................................PERDIZES................... CIDADE: ...............São Paulo.........................................

CEP: ........05016-000................................... TELEFONE: DDD (..11..)....981112537......................................

_____________________________________________________________________________________________

DADOS SOBRE A PESQUISA

1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: DANÇA E PRODUÇÃO DE CUIDADO


EM SAÚDE PARA PESSOAS COM CONDIÇÕES CRÔNICAS

PESQUISADOR : ERIKA ALVAREZ INFORSATO


CARGO/FUNÇÃO: médico (a) INSCRIÇÃO CONSELHO REGIONAL Nº: CREFITO3-4962-
TO
UNIDADE DO HCFMUSP: “Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo” /
Depto. Fisio, Fono e TO
Rubrica do participante Rubrica do pesquisador

Da pesquisa

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2. AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA:


RISCO MÍNIMO x RISCO MÉDIO □
RISCO BAIXO □ RISCO MAIOR □

3.DURAÇÃO DA PESQUISA: 4 meses

4 – Apresentação:

Convidamos o(a) senhor(a) a participar de uma pesquisa científica. Pesquisa


é um conjunto de procedimentos que procura criar ou aumentar o conhecimento sobre
um assunto. Estas descobertas embora frequentemente não tragam benefícios
diretos ao participante da pesquisa, podem no futuro ser úteis para muitas pessoas.

Para decidir se aceita ou não participar desta pesquisa, o(a) senhor(a) precisa
entender o suficiente sobre os riscos e benefícios, para que possa fazer um
julgamento consciente. Inicialmente explicaremos as razões da pesquisa. A seguir,
forneceremos um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), documento que
contém informações sobre a pesquisa, para que leia e discuta com familiares e ou
outras pessoas de sua confiança. Uma vez compreendido o objetivo da pesquisa e
havendo seu interesse em participar, será solicitada a sua rubrica em todas as
páginas do TCLE e sua assinatura na última página. Uma via assinada deste termo
deverá ser retida pelo senhor(a) ou por seu representante legal e uma cópia será
arquivada pelo pesquisador responsável.

Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), do estudo


chamado “Dança e produção de cuidado em saúde para pessoas com condições
crônicas”, conduzido por Mariana Aparecida Arthur, aluna do Curso de Graduação em
Terapia Ocupacional do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia
Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob
orientação da terapeuta ocupacional Profa. Dra. Erika Alvarez Inforsato e da terapeuta
ocupacional Renata Monteiro Buelau.

5A) Justificativa, objetivos e procedimentos:

O projeto pretende observar os efeitos que os encontros de dança e práticas


corporais podem produzir na forma como as pessoas com condições crônicas se
relacionam com o próprio corpo e com a sua saúde. Pensamos que frequentar outros

Rubrica do participante Rubrica do pesquisador

Da pesquisa

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espaços além daqueles específicos para o tratamento também pode contribuir para
melhorar a saúde, porque a convivência com outras pessoas, a realização de
atividades expressivas como a dança, as trocas de experiências também são formas
de cuidarmos do nosso corpo. Esta pesquisa visa construir contribuições para o
campo da Terapia Ocupacional, em sua relação com as condições crônicas da
população atendida.

A proposta desse estudo é criar um espaço de encontro para as pessoas que


têm alguma condição crônica, no qual elas possam dançar, se movimentar de outros
jeitos, conhecer o corpo, conversar, descansar, fazer as coisas mais devagar e se
divertir. Isso ajuda a enfrentar as dificuldades colocadas pela cultura e pela sociedade
que vivemos, que só olham para as doenças e receitam muitos remédios, e esquecem
da importância da prevenção.

Todos têm alguma noção do necessário para se sentir bem, mas às vezes não
existem possibilidades para desenvolvermos isso. Com essas oficinas, também
acreditamos que as pessoas poderão participar mais do cuidado à sua saúde em seu
dia a dia, com aproximação com o próprio corpo e com o reconhecimento da sua
forma de lidar com a sua vida e suas condições. Além de conhecer as diferentes
maneiras que os outros vivenciam as suas condições crônicas, ampliando modos de
pensar o cuidado à saúde.

Para essa pesquisa, escolhemos um método chamado cartografia, que é


inspirado nos jeitos que a geografia faz os mapas dos territórios. Essa escolha da
cartografia para ajudar a fazer a pesquisa, vai fazer com que a pesquisa seja feita por
todos os envolvidos, e vai permitir recolher cada momento importante dos encontros
nas oficinas de dança, e da vida das pessoas que participarão da pesquisa. Vão ser
feitas oficinas de dança e experimentações corporais em oito encontros, realizados
uma vez por semana, com duração de 1h30min, durante dois meses. Pretende-se
utilizar exercícios e práticas de consciência corporal, relaxamento, alongamento,
coordenação motora e ritmo; bem como realizar dinâmicas para possibilitar encontros
por meio movimentos, toques e gestos, exploração do repertório musical, criações de
movimentos e posturas, num diálogo com outros modos de expressão, tais como
desenho, fotografia, poema, entre outros. E quando estivermos fazendo essas oficinas
pensamos que já estamos reconhecendo que todos são importantes e tem coisas a
expressar que são importantes para esse mundo.

A sua participação não terá nenhum pagamento. Os encontros para oficinas de


dança e experimentações corporais serão combinados antes, e nós vamos cuidar
para que aconteça num lugar que seja fácil de chegar. A estudante e pesquisadora
responsável poderá recolher registros dos participantes como desenhos, imagens e
Rubrica do participante Rubrica do pesquisador

Da pesquisa

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fotografias realizados nos encontros, mas esses materiais só serão mostrados com
autorização dos participantes. Ela também fará um caderno de campo com anotações
de cada encontro que vai ajudá-la a lembrar do que aconteceu e que precisará mostrar
nos espaços das universidades e com profissionais e estudiosos algumas histórias e
pensamentos da pesquisa, e o nome dos participantes será mostrado do jeito que
cada um escolher.

5B) Desconfortos, riscos e benefícios

Se aceitar participar deste estudo, o(a) senhor(a) vai ser convidado a dançar e
se movimentar num grupo com outras pessoas adultas. A proposta do trabalho será
preparada com atividades simples, suaves, respeitando os limites do corpo de cada
participante. A proposta não prevê nenhum tipo de intervenção invasiva, nem
exigente.

Mas, precisamos avisar que quando você estiver fazendo as movimentações


corporais, e as demais atividades que podem ocorrer no desenvolvimento dos
encontros, pode ser que você experimente sensações desagradáveis para o seu
corpo ou ter pensamentos e sentimentos que sejam difíceis e que deixem você um
pouco triste ou preocupado, mas isso não deve fazer mal para você. Se isso
acontecer, nós vamos cuidar para que você se sinta acolhido e, se precisar, vamos
te encaminhar para outros cuidados. Ao final de cada encontro vamos consultar cada
um dos participantes sobre como se sentem e avaliar juntos se é necessário um
momento de conversa individual. Caso seja detectada alguma condição de sofrimento
que ultrapasse as possibilidades de atendimento no grupo entraremos em contato
com profissionais de referência do seu território e faremos um encaminhamento para
que seu problema que apareceu durante a participação nas oficinas seja atendido do
modo mais adequado possível.

O estudo irá produzir experiências de consciência corporal, apropriação de si


e transformação do cotidiano de pessoas com condições crônicas através da dança,
na medida em que o corpo se relaciona consigo e com o outro inventando modos de
existir que favorecem a produção de cuidado. Pretende-se que essas experiências
possam contribuir para um bem-estar geral do corpo ou diminuir os desconfortos que
já existam. O maior benefício do estudo vai ser para outras pessoas que sofram com
esses desconfortos, que sejam atendidas por terapeutas que possam ler os
resultados e as indicações de cuidado que podem surgir desse estudo.

5C) Forma de acompanhamento e assistência

Rubrica do participante Rubrica do pesquisador

Da pesquisa

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O(A) senhor(a) será acompanhado pela pesquisadora estudante de terapia


ocupacional durante o estudo e após o término do mesmo, sob a supervisão da
docente responsável pela pesquisa.

Em qualquer etapa do estudo, o(a) senhor(a) terá acesso aos profissionais


responsáveis pela pesquisa. A investigadora principal ERIKA ALVAREZ INFORSATO
e a investigadora executante MARIANA APARECIDA ARTHUR, que podem ser
encontradas na USP – Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia
Ocupacional, Rua Cipotânea, 51, 1º andar - sala 5, Laboratório de Estudos e Pesquisa
Arte e Corpo e Terapia Ocupacional (PACTO), Telefone (11) 3091-8437.

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em


contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (CEP-FMUSP): Av. Dr. Arnaldo, 251 - Cerqueira César -
São Paulo - SP -21º andar – sala 36- CEP: 01246-000, horário de atendimento: 8:00-
17:00h; Tel: (11) 3893-4401/4407 E-mail: cep.fm@usp.br

5D) Liberdade de recusar-se e retirar-se do estudo

A escolha de entrar ou não nesse estudo é inteiramente sua. O(A) senhor(a) tem o
direito de recusar-se a participar e/ou retirar-se deste estudo a qualquer momento e,
se isso acontecer, você poderá continuar participando da oficina de dança sem
qualquer prejuízo ou represália.

5E) Manutenção do sigilo e privacidade

Os seus dados serão analisados em conjunto com todos participantes da pesquisa,


não sendo divulgado a identificação de nenhum participante da pesquisa sob qualquer
circunstância.

Solicitamos sua autorização para que os dados obtidos nesta pesquisa sejam
utilizados em uma publicação científica, meio como os resultados de uma pesquisa
são divulgados e compartilhados com a comunidade científica.

5F) O (A) senhor(a) receberá uma via deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.

5G) Garantia de Ressarcimento

O(A) senhor(a) não terá qualquer custo, pois o custo desta pesquisa será de
responsabilidade do orçamento da pesquisa. O (A) senhor(a) tem direito a
ressarcimento em caso de despesas decorrentes da sua participação na pesquisa.

5H) Garantia de indenização


Rubrica do participante Rubrica do pesquisador

Da pesquisa

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O (A) senhor(a) tem direito à indenização diante de eventuais danos decorrentes da


pesquisa.

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que
foram lidas para mim, descrevendo o estudo DANÇA E PRODUÇÃO DE CUIDADO EM
SAÚDE PARA PESSOAS COM CONDIÇÕES CRÔNICAS.

Eu discuti com o _______________ sobre a minha decisão em participar nesse


estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha
participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento
hospitalar, quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo
e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o
mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa
ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

Assinatura do paciente/representante
Data / /
legal

-------------------------------------------------------------------------

Assinatura da testemunha Data / /

para casos de pacientes menores de 18 anos, analfabetos, semi-analfabetos ou


portadores de deficiência auditiva ou visual.

(Somente para o responsável do projeto)

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e


Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo.

-------------------------------------------------------------------------

Assinatura do responsável pelo estudo Data / /

Rubrica do participante Rubrica do pesquisador

Da pesquisa

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Doenças crônicas

Tabela 5.2 - Pessoas que tinham pelo menos um dos doze tipos de doenças crônicas selecionados,
por Grandes Regiões, segundo o sexo e o número de doenças crônicas - 2008

Pessoas que tinham pelo menos um dos doze tipos de doenças crônicas selecionados

Sexo e número de doenças crônicas Grandes Regiões


Brasil
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Números absolutos (1000 pessoas)

Total 59 501 3 774 14 334 27 300 9 854 4 239

1 doença 34 540 2 391 8 718 15 598 5 358 2 475

2 doenças 13 684 838 3 281 6 278 2 323 963

3 doenças ou mais 11 278 546 2 335 5 423 2 173 801

Homens 25 185 1 675 5 942 11 510 4 226 1 833

1 doença 16 157 1 125 3 945 7 308 2 596 1 182

2 doenças 5 488 365 1 268 2 506 956 393

3 doenças ou mais 3 541 185 729 1 695 675 258

Mulheres 34 316 2 100 8 392 15 790 5 628 2 406

1 doença 18 383 1 265 4 772 8 290 2 763 1 292

2 doenças 8 196 473 2 013 3 772 1 367 570

3 doenças ou mais 7 737 361 1 606 3 728 1 498 543

Números relativos (%)

Total 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0

1 doença 58.0 63.3 60.8 57.1 54.4 58.4

2 doenças 23.0 22.2 22.9 23.0 23.6 22.7

3 doenças ou mais 19.0 14.5 16.3 19.9 22.0 18.9

Homens 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0

1 doença 64.2 67.2 66.4 63.5 61.4 64.5

2 doenças 21.8 21.8 21.3 21.8 22.6 21.4

3 doenças ou mais 14.1 11.0 12.3 14.7 16.0 14.1

Mulheres 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0

1 doença 53.6 60.3 56.9 52.5 49.1 53.7

2 doenças 23.9 22.5 24.0 23.9 24.3 23.7

3 doenças ou mais 22.5 17.2 19.1 23.6 26.6 22.6

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
2008.
Nota: Os doze tipos de doenças crônicas selecionados foram: hipertensão; doença de coluna; artrite ou reumatismo; bronquite ou asma; depressão;
doença do coração; diabetes; tendinite ou tenossinovite; insuficiência renal crônica; câncer; cirrose; e tuberculose.

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