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CONGRESSO NACIONAL

ANNAES

i»\

Gamara dos Deputados

Sessões de 10 a 30 de setembro de 1912

VOLUME X

KIO DE JANEIRO

IMPRENSA N ACIONAI.

1913
lí\i
KjBLfcACftÇS
OPlClAfS,

91,
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ÍNDICE

Sessões de 18 a 30 de setembro de 1912

:tnL .
DISCURSOS CONTIDOS NESTE VOLUME

-Vntoiiio Carlos :

(Pedido de publicação de um protesta, recebido do seu listado,


contra o projeeto do divorcio). Pag. 102.

(Voto de pezar pelo fallecimento do Dr. Antonio Jacob da Paixão,


ex-Deputado á Constituinte listado de. Minas Gera es).
pelo
Pag. 7:18.

Antonio Nogueira :

(Pela ordem). Pag. .598.

(Declaração de voto contra o requerimento do Sr. Souza e Silva


para que o projeeto de amnistia aos implicados nas revoltas do
Batalhão Naval e navios da esquadra, e aos civis e militares
envolvidos nos acontecimentos do Manáos, seja enviado á Com-
missão de Marinha e Guerra para o necessário estudo).
Pag. 582.

Augusto de Lima :

(Pedido de publicação no Diário do Congresso de protestos contra


o projeeto do divorcio, recebidos do sen Estado). Pag. 7.

(Auxilio da União ao desenvolvimento do ensino publico nos Es-


lados). Pag. 13.

(Orçamento da Agricultura: croácio


'l*!;.do serviço do policia sani-
taria protectora do gado). Pag.

líueiio <1© Aiidrailn :

(Pela ordem). Pag. 586.

(Amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão Naval e navios


da esquadra, e aos civis e militares envolvidos nos aconteci-
méritos de Manâos). Pag. 643.

Calogeras :

de publicação no Diário do Congresso do representações,


(Pedido
recebidas do seu listado, contra o projeeto do divorcio).
Pag. 102.
VI
ÍNDICE

(Creaç.âo e organisação do Ministério da Agricultura). Pag. 171.

(Problema da da borracha brasileira). Pag. 405.


producção

Carlos Maximilia.no :

(Pela ordem). Pag. 536.

(Declaração de
voto contra o requerimento do Sr. Souza e Silva
para que o projecto de amnistia a civis e militares vá á Com-
missão de Marinha
e Guerra). Pag. 583.

(Amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão Naval navios


e
da esquadra e aos
civis e militares envolvidos nos aconteci-
raentos do Manáos).
Pag. 586.

(Attitude da bancada do Rio Grande do Sul em relação ao


reque-
rimento do Sr. Souza e Silva para que o projecto de amnistia
aos civis e militares
vá á Commissão de Marinha e Guerra)
Pag. 653. '

Corrêa lio í reitas :

(Amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão Naval e navios


da esquadra,
e aos civis e militares envolvidos nos aconteci-
mentos de Manáos).
Pag. 395.

(Orçamento da Agricultura: administração do Sr. Pedro de


loledo). Pag. 716.

Costa Itibeiro :

(Pela ordem). Pag. 578.

Cunha Vasconcelloa :

(Declaração de voto). Pag., 525.

Euzo1>io
de A-ndratl© :

i Protestocontra o acto do Ministro da Viação annullando a


concurrencia aberta para as obras do porto de Jaraguá).
Pag. 523. '

(Sobre o mesmo assumpto). Pag. 550.

1' el in to Sampaio :

(Irregularidades nos da Rôde de Viação


praticadas estudos
1"errea Bahiana;.
Pag. 8.

Fig ueiredo
Rocha :

(Aíirmima?ea)d0pUnCCÍOnarÍOSpublÍCOS °*v's c'a União e reforma


ÍNDICE VII

Firmo liraffa :

de nomeação de substitutos a membros ausentes da Com-


(Pedido
misão de Saúde Publica). Pag. 629.

Fonseca Hermes :

de voto a favor do requerimento do Sr. Souza o Silva


(Declaração
para que o projecto de amnistia a civis e militares seja enviado
i Commissão de Marinha e Guerra). Pag. 584.

Francisco Veigra :

(Pedido de publicação no Diário do Congresso de representações,


recebidas do seu Estado, contra o projecto do divorcio).
Pags. 102 e 550.

Freire <le Carvalho Filho :

(Justificação do protesto das senhoras bahianas contra o projecto


do divorcio). Pag. 448.

Galeão Carvalha! :

(Sobre a acta). Pag. 2.

(Declaração de voto em nome da bancada Pag. 362.


paulista).
'Requerimento seja enviado á. Commissão de Justiça,
para que
afim de formular parecer, o projecto de lei modificando o de-
creto que rotula a extradição de criminosos entre os Estados.)
Pag. 566.

Garção Stoeliler :

(Regulamentação do jogo de azar,). Pag. 102.

Gumercindo Kibas :

da União ao desenvolvimento do ensino publico : res-


(Auxilio
posta ao discurso do Sr. Miguel Calmon). Pag. 668.

Homero Baptista :

de Dr. João Cruvello


(Manifestação pezar pelo lallecimento do
Cavalcante, ex-Deputado pelo Estado do Rio de Janeiro).
Pag. 751.

Jrlosannah de Oliveira :

(Pedido de publicação no Diário do Congresso de um protesto


contra o projecto do divorcio). Pag. 102.
mmqi

Iriuea Maelimlo :

(Aranistia aos implicados na rev*Ua do Batalhão Naval e navios


da Esquadra, e aos civis e militares envolvidos nos aconteci-
rnentos dü Maná os). Pag. 379.

(Sobre o mesmo assumpto). Pags. 629 a 664.

de intregal da denuncia do Sr. Presi-


(Pedido publicação
dente da Republica, dada Sr. Coelho Lisboa, e dos do-
pelo
cumentos que a instruem). Pag. .">24.

de voto contra o requerimento do Sr. Souza o


(Declaração
Silva, para que o projecto da annistia a civis e militares vá á
Commissão de Marinha e Guerra). Pag. 582.

represente a Carnara
(Pedido do nomeação de uma Commissão que
na inauguração do mausoléo do Presidente Affonso Penna).
Pag. 664.

Manifestação do pezar pelo fallecimento do Dr. Antonio Jacob da


Paixão, ex-Deputado á Constituinte Tístado do Minas).
pelo
Pag. 7,19.

Jaoqnes Ouriciae :

aposentadoria e soldo de
(Confusão existente no Thesouro entre
militares reformados). Pag. 112.

em esteve envolvido.)
(Explicações relativas a factos políticos que
Pag. 628.

Jayme Gomo:

do Congresso de um
(Pedido de publicação no Diário protesto
contra o do divorcio^. Pag. 348.
projecto

•Toíio Vespucio :

desta Capital referente i


(Protesto contra a local de um matutino
Commissão de Marinha e fluerra). Pag. 565.

Joaquim Piros :

da critica feita
(Orçamento da Agricultura : refutarão por
versos oradores). Pag. 399.

o mesmo assumpto). Pag. 649.


(Sobre

Josiao do Araújo :

do Batalhão Naval e navios


(Amnistia aos implicados nas revoltas
da esquadra, o civis e militares envolvidos nos acontecimentos
de Manios). Pag. 527.
mtci a

(Desistencia da palavra em favor de outro Deputado). Pag. 537.

(Orçamento da Agricultura : organização tumultuaria das tabel-


Ias explicativas). Pag. 583.

(Orçamentoda Agricultura : pedido de adiamento da discussão),


Pag. 013.

(Orçamento da Agricultura : resposta á critica ao requerimento


em que pediu discriminação de varias verbas justificação
;
de emendas). Pag. 046.

Luclauo Pereii-a:

(Desistencia da palavra em favor de outros Srs. Deputados).


1'ags. 537 e 068.

(Orçamento da Agricultura: refutarão á critica de diversos ora-


dores; Serviço de Defesa Economica da Borracha). Pag. 669.

Manoel Borba:

(Pedido de nomeação de uma commissão


para que acompanhe ao
recinto, afim de o compromisso regimental, o Sr.
prestar
Cunha Rabello, Deputado eleito pelo Estado de Pernambuco).
Pag. 750.

Mario Hermes:

(Analyse e refutação da critica de diversos oradores á organiza-


ção das tabellas explicativas do orçamento da Agricultura).
Pag. 537.

(Pedido de publicação no Diário do Congresso de um protesto


contra o projecto do divorcio). Pag. 549.

Martim Francisco:

(Responsabilidade do Estado de S. Paulo para com a União em


consequencia dos emprestimos a valorização do café).
para
Pag. 348. 1

(Requerimento de nomeação de uma commissão da Camara para


dizer as suas despedidas ao
general Júlio Roca). Pag. 447.

(Pela ordem). Pag. 628.

Maurício de Lacerda:

(Amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão Naval o navios


da esquadra e aos civis e militares envolvidos nos aconteci-
mentos de Manáos). Pag. 388.

(Pedido de publicação no Diário do Congresso de um discurso do


Sr. Coelho Lisboa em uma festa operaria, oflerecendo
o busto
de Washington ao Marechal Hermes da Fonseca). Pag:. 524.
ÍNDICE

Meira © Vasconcellos:

(Pedido de publicação 110 Diário do Congresso de protestos contra


o projecto do divorcio). Pag. 358.

Mello Franco:

(Pela ordem). Pag. 348.

^liguei Calmou:

(Pedido de publicação no Diário do Congresso do Codigo das


Águas). Pag. 460.

Moniz <le Carvalho:

(Aposentadoria dos funccionarios civis da União). Pag.


públicos
23.

(Orçamento da Agricultura: de varias emendas).


justificação
Pag. 39.

(Pedido do publicação integral dos documentos apresentados con-


tra o projecto do divorcio pelo Sr. Freire de Carvalho Filho).
Pag. 523.

Moreira lírandão:

nome da Commissão do Tomada


(Reclamação de documentos em
do Contas). Pag. 110.

(Pela ordem). Pag. 112.

IVetto Campello:

de fallecimento do Sr. Luiz do Andrade, ex-


(Voto pezar pelo
Deputado á Constituinte pelo Estado do Pernambuco). Pag. 753.

Nicanor do Nascimento :

do Batalhão Naval
(Annistia aos implicados nas revoltas e navios
da esquadra, e aos civis e militares envolvidos nos aconteci-
mentos de Manáos). Pag. 393.

Octavio Iioclia :

Acto do Sr. Ministro da Viação annullandp a concurrencia aberta


a construcçâo do de Jaraguá). Pag. 353.
para porto

Osorio :

Desistencia da palavra em favor do outro Sr. Deputado). Pag. 668.


IXMC10 XI

J?ereira Nunes :

o serviço de
(Orçamento da Agricultura: aprendizados agrícolas
immigração). l'ag. 23.

do Dr. João Cruvello Cavalcante,


(Voto de pezar pelo fallecimento
ex-Deputado pelo Estado do Rio de Janeiro). Pag. 751.

Presidente :

Pags : 2, tO, 21, 111, 115, 116, 166, 348, 301, 377, 392, 303, 524,
526, 527, 507, 568, 643, 646, 664, 740, 751, 753 e 755.

Baphael Pinlxeiro :

(Declaração de voto). Pag. 447.

Raul Cardoso :

(Refutação á critica de diversos oradores á elaboração do orça-


mento da Agricultura). Pag. 594.

Tfibciro Junqueira :

(Pedido de publicação no Diário do Congresso do protestos contra


o projecto do divorcio). Pag. 628.

Itodolplio Paixão :

(Pedido do publicação no Diário do Congresso de protestos contra


o projecto do divorcio). Pag. 448.

Souza e Silva, :

(Sobre o seu requerimento, para que o projecto do annistia a civi


e militares vá. á Commissão de Marinha e Guerra para o neces-
sario estudo; e protesto contra conceitos injustos expendidos
contra a classe a que pertence). Pag. 570.

Victor de JSritto :

(Orçamento da Agricultura: estudo de varias questões). Pag. 129.


MATÉRIAS CONTIDAS NESTE VOLUME

Academia de Comuercio de Pernambuco: tornam-se-


lhe extensivas as disposições da lei n. 1.339, de 9 de janeiro
de 1905, á semelhança do tem sido concedido a outras
que
Academias. (Projecto n. 48 15 — 1912). Pag. 878.

Aiieuistas do Hospital iVaeioruil de Alienados: o


numero é elevado a oito. (Projecto n. 96 A — 1912).
Pag. 728.

Amnistia, aos implicados nas revoltas do Batalhão Naval e


navios da esquadra e aos civis e militares envolvidos nos acon-
tecimentos de Manáos. (Projecto 123 A — 1912). Pa,-rs. 377,
527, 578, 58o e 642.

Aposentadovia. do escrivão da 3" vara criminal do Districto


Federal, Alberto Lima da Fonseca. (Projecto n. 327 — 1912).
Pag. 99.

Aposentadoria dos funccionarios civis da União.


públicos
n. 103 — 1912). Pag. 21.
(Projecto

Autorização ao Poder Executivo abrir


para cre-
ditos :

De 427:140S909, ouro, extraordinário, ao Ministério da Fazenda,

para pagamento de juros e mais despezas do empréstimo de


que trata o decreto n. 8.794, de 21 de
junho de 1911, relativo
ã Companhia de ViacJo Bahiana. n. 199—1912)
(Projecto
Pag. 3.

De 17:046$666, extraordinário, ao Ministério da Marinha, para


attender ao
pagamento da differcnça do vencimentos a fun-
ceionarios da Directoria do Expediente. n. 328 —
(Projecto
1912). Pag. 4.

D.í 21:5275634, extraordinário, ao Ministério do Interior, para


pagamento das gratificações addicionaes devidas ao pessoal
docente do Instituto Benjamin Coustaat. n. 337 —
(Projecto
1912). Pag. 333.

Do 339:055J1900 c de 3:868$, ao Ministério da Fazenda, supple-


mentares, este á verba 19* e aquelle A verba 18* da lei
n. 2.544, de 4 de ultimo, dar cumprimento
janeiro para ao
arl. 97 da mesma lei. (Projecto n. 338 — 1912). Pag. 336
liNLICK

De 1.000:000$, extraordinário, ao Ministério da Viação o Obras


Publicas, acquisição do materiaes lixo, ródante e do
para
tracção, destinados á Estrada de Ferro Rio d'Ouro.
(Prujecto
n. 239 — 1012). Pags. 05 e 363.

De 4:6628776, extraordinário, ao Ministério da Fazenda, afim do


oecorrer pagamento devido a Verano Gomes Alonso
ao de Al-
meida, em virtude de sentença judiciaria. —
(Projecto n. 344
1012). Pag. 624.

De 1.182:8291(140, ouro, especiaes, ao


papel, o!77$777, Ministério
da Fazenda, occorrer ao pagamento de dividas de exer-
para
cicios findos. — 1912). Pag.
(Projecto n. 381 734.

Codigo clíiH Pag. 460.

Comruissâo tio Stud I {ooK Offlcial : sua creação


(Projecto n. 324 — 1912) Pag. 19.

Oo m missões nomeadus :

Para craittir sobre o Godigo das Águas. Pag. 377.


parecer
Para representar a Gamara no embarque do eminente general
Júlio Roca. Pag. 526.
"áo
Para representar a Gamara na soleinnidade da inauguração
mausoléo do Presidente Affonso Penna, no cemiterio de S. João
Baptista. Pags. 664 e 720.

Companliias regiouaes do Acre, 1'urús e Juruá: sáo


transformadas em unidades permanentes do Exercito. (Pro-
jecto n. 34 A — 1912). Pag. 727.

Compromisso regimental do Sr. Deputado Cunha Ra-


bello. Pag. 751.

Créditos :

De 42:7140$909, ouro, extraordinário, ao Ministério da Fazenda,


despezas de que_ trata o de-
para pagamento de juros e mais
creto n. 8.794, de 21 de junho de 1911, relativo á Companhia
— 1912). Pag. 3.
de Viação Bahiana. n. 199
(Projecto
De 17:046S666, extraordinário, ao Ministério da Marinha, para at-
tender ao da differença de vencimentos a
funccio-
pagamento
narios da Directoria do Expediente. (Projecto. n. 325 — 1912j

Pag. 4.

De 1.000:000)?, extraordinário, ao Ministério da Viação e Obras


Publicas, acquisição do materiaes lixo, rodante e do
para
tracção, destinados á Estrada de Ferro Rio d'0uro. (Projocto
li. 239 — 1912). Pags. 95 e 363.

De 21:527$631, extraordinário, ao Ministério do Interior, para


pagamento das addicionaes devidas ao pessoal do-
gratificações
ÍNDICE

ceute do Instituto Benjamin-Constant. n. 337 —


(Projeeto
1912). Pag. 335.

De 359:055|$900 e do, 3:868$, ao Ministério da Fazenda, supplo


montares, este á verba 19a e aquelle á verba 18", da lei
n. 2.54-4, de 4 de janeiro ultimo, para dar cumprimento ao
art. 97 da mesma lei. (Projeeto ri. 338 — 1912). Pag. 330.

De 4:662$776, extraordinário, ao Ministério da Fazenda, alim de


oecorrer ao pagamento devido a Verano Gomes Alonso de Al-
meida, em virtude de sentença judiciaria. (Projeeto n. 344 —
1912). Pag. 024.

De 1,182:829$140, e 177$777, ouro, especiaes, ao Minis-


papel,
terio da
Fazenda, para oecorrer ao pagamento de dividas de
exercícios lindos. (Projeeto n. 381 — 1912). Pag. 734.

ltoelaração do voto :

Do Sr. Galeão Carvalhal e outros. Pag. 362.

Do Sr. Raphael Pinheiro. Pag. 447.

Delegacia,* Fisca«s do Thesouro Nacional nos Estados :


são divididas em trez classes, dando numero, classes o vonc -
mentos ao respectivo n. 333 — 19i2) Pags .
pessoal. (Projeeto
87 e 365.

Deiegracias Eiseaes do Thesouro Nacional nos Bstados : di-


visão dos vencimentos
que percebem os respectivos funecio-
narios em dois terços como ordenado e um terço como gratili-
cação. (Projeeto n. 334 — 1912). Pag. 372.

Denuncia <lo Presidente da Kepubliea Marechal


Hermes da Fonseca, pelo Sr. Coelho Lisboa. Pag. 198.

J )ireetorIa Geral de Maude Publica : os actuaes


inspectores interinos serão aproveitados, independente de con-
curso, para as vagas existentes de inspectores sanitarios.

(Projeeto n. 318 A — 1912). Pag. 657.

J>i-vida da {••tierra <lo Paraffuay e restituição dos


trophéos que lhe foram tomados. (Projeeto n. 328 — 1912).
Pags. 430 o 568.

Eleição da Commissão Especial de nove mem bro

para emittir parecer sobre a denuncia do Presidente da Repu


blica, apresentada pelo Sr. Coelho Lisboa. Pag. 526.

Emendas ao orçamento da Agricultura. Pags. 110, 166 e 593.


Não acccitas ao mesmo. Pag. 127.
XTI ÍNDICE

Equiparação cie vencimentos :

Dos amanuenses da Escola Polytechnica do Hio do Janeiro aos

dos actuaes 3o oíliciaes da Secretaria do Ministério da Justiça e


n. 330 — 1912). Pag. 364.
Negocios Interiores. (Projecto

l)o mecânico electricista o do inspector teclinico das


da Bibliothcca Nacional aos dos
graphicas e do encadernação
— 1912). Pag. 730.
respectivos oíliciaes. (Projecto n. 223 A

Funccionarios Pederaes, civis c militares, que residi-


rem em nacionaes on em prédios alugados pela
proprios
ao pagamento de uma taxa.
União : ficam sujeitos (Projecto
n. 292 A — 1912). Pag. 022.

demittidos como traidores á


Vunccionarios públicos
da revolta dc 1893 : ser-llies-á contado
Republica por occasião
o tempo em que estiveram fóra do exer-
para todos os elleitos
n. — 1912) Pag. 72o.
cicio dc suas funcções. (Projecto

.Vo^-o d.e azar : é taxado e regulamentado.(Projecto n. 332


— 1912). Pags. 110 0 363.

eeceioaaes : serão creados em va-


J ui/.es substitutos
rios Estados tantos lugares quantos forem os districtos eleitoraes
os territorios dos mesmos Estados. (Pro-
em que se devidem
— 1912). Pag. 373.
jecto n. 335

do Analyses da Alfandega do Ilio de Ja-


L,aboratorio
o sao creados outros nas Alfin^Cpiis do
neiro i é reformado
União. 0 A 44-i). Pag. 3.>7.
diversos Estados da (Projccton*

Liicenca :

seis mozes, com todos os vencimentos, ao bacharel Manoel


Do
federal na secçao do Estado da Bania.
Durval, substituto do juiz
— 1912). Pag. 3.
n. 282 A
(Projecto
a Vicente
De um atino, com dois terços da diaria que lhe compete,
classe da Estrada de Ferro Central
Ferreira, trabalhador de 2*
A — 1912). Pag. 3.
do Brasil. (Projecto n. 280
ao bacharel >dofredo
De seis inozes, com todos os vencimentos, J
substituto seccional do Estado do Ma-
Mendes Vianna, juiz
n. 29o A — 1912). Pag. 4.
ranhão. (Projecto

todos os vencimentos, ao desembargador


Do um anno, com
da Còrte dc Appellação do Districto
Affonso Lopes de Miranda,
n. 278 A 1912). I ag. 97.
Federal. (Projecto
a A. Euterpino Borges, encar-
De um anno, sem vencimentos,
Estrada de Ierro Contrai
regado do « Block-System-Adel» da
— 1912). Pag. 98.
do Brasil. n. 326
(Projecto
ÍNDICE XVII

De um anno, sem vencimentos,


para tratar de negocios fóra do
paiz, ao Di\ Carlos Gesar de Oliveira Sampaio. (Projecto
11. 299 A — 1912, do Senado). Pag. 650.

De um anno,
em prorogação, com dois terços dos vencimentos, ao
bacharel Carlos Dornicio de Assis Toledo, promotor do
publico
Alto-Purús. (Projecto n. 321 A — 1912). Pag. CS8.

De um anno, com dois terços dos vencimentos, ao bacharel An-


tonio Augusto Ribeiro de Almeida, da Co-
promotor publico
marca do Alto-Acro. (Projecto n. 346 — 1912). Pag. 059.

De um anno, com dois terços dos vencimentos, ao bacharel


Gustavo Affonso Farneze, federal na secção do Acre.
juiz
(Projecto a. 323 A — 1912). Pag. 732.

De um anno, com todos os vencimentos, a José Vieira da Cunha,


primeiro escripturario do Io districto da Inspectoria Federal
das Estradas de Ferro. n. 350 — 1912). Pag. 733.
(Projecto

De um anno, com todos os vencimentos, a D. Maria José dos


Santos Mourão, agente do Correio de Diamantina, Estado de
Minas Geraes.
(Projecto n. 352 — 1912). Pag. 735.

De um anno, com ordenado, a Carlos Telles Alvira, auxiliar do


Laboratório de Chimica da Repartição de Águas. (Projecto
n. 353 — 1912). Pag. 736.

Licenças para tratamento de saúde dos funccionarios


públicos
federaes ou de pessoas de suas respectivas famílias : só serão
concedidas com ordenado até seis mezes. n. 348 —
(Projecto
1912). Pag. 667.

Mensagens tio Sr. Presidente cia Hepublioa :

Solicitando o credito supplementar de 5.405:121 $094, ouro, e


904:8508413, papel, á. verba 5", art. 33 da vigente lei orça-
mentaria, ao Ministério da Viação e Obras Publicas, para
occorrcr ao pagamento das garantias de de um semestre
juros
de cada estrada de ferro. Pag. 196.

Submettendo á apreciação do Congresso a exposição de motivos


que lhe foi apresentada pelo Ministro da Agricultura sobre a
necessidade de ser votada uma lei que regule a situação júri-
dica do indio brazileiro. Pag. 345.

Solicitando abertura do credito de 2:3543889, ouro, e 2S6g,


ao Ministério da Agricultura,
papel, para attender á inde-
mnização de despezas feitas com a introducção de animaes
reproduetores, de accòrd o com o art. 82, n. XXXII, da lei
n. 2:356, de 31 de dezembro de 1910. Pag. 654.

Submettendo á apreciação do Congresso o requerimento de João


Baptista da França Mascarenhas, acompanhado da exposição
de motivos, apresentada Ministro da Agricultura, acerca
pelo
da reclamação de de diversas na impor-
pagamento parcellas,
Camara — Vol. 2 —
XVIII ÍNDICE

tancia de 1:899$926, ouro, e 1:336S>700, papel, glosadas em


varias contas de despezas feitas pelo requerente cora impor-
ação de animaes reproductores. Pag. 635.

IViillidntle dos contractos de alienação de immoveis : é


incluído aquello que houver conluio
em entre o comprador e o
vendedor para a lesão da Fazenda Publica. {Projecto n. 268 A
— 1913). Pag. 731.

Orçamento do Ministério da Agricultura para o exercício de


1913. n. 61 B — 1912). Pags. 28, 116. 166, 171, 399.
(Projecto
537, 582, 646, 648, 668, 679 e 716.

Parecerea :

N. 111 — 1912, indefere o requerimento do ex-cabo da Brigada


Policial do Districto Federal, Lindolpho Pinheiro da Camara,
reforma. Pag. 96.
pedindo

N. 112 — 1912, indefere o requerimento de D. Adelaide Fia-


viana Cavalcante Negreiros, viuva do alferes do Exercito, An-
tonio Carlos Cavalcante Negreiros, pedindo uma Pag.
pensão.
329.

N. 113 — 1912, indefere o requerimento em que Lindolpho Au-


agente de 4a classe da Estrada de Ferro
gusto Pereira Mattos,
Central do Brazil, pede pagamento de vencimentos a quo se
Pag. 329.
julga com direitos.

N. 114 — 1912, indefere o requerimento de D. Emilia Custodia


da Silva Caldas, em seu favor a pensão do monte-pio
pedindo
a que tinha direito a mulher de sou filho, capitão do Corpo de

Bombeiros, Francisco Xavier Pereira Caldas. Pag. 331.

N. 115 — 1912, manda archivar o requerimento do capitão-


tenente Wilfrid Francis Lynch, pedindo a verdadeira inter-
do disposto na lei n. 404, de 24 de outubro de 1896.
petração
Pag. 331.

116 — 1912, reconhece deputado pelo Io districto do Es-


N.
tado de Pernambuco o Sr. José Cunha Rabello. Pags. 445 e

567.

N. 117 — 1912, indefere o requerimento de Cícero Arseniodo

Souza Marques, de Ia classe dos Correios de S. Paulo,


praticante
solicitando um anno de licença, com vencimentos, para trata-

mento de saúde, tora da paiz. Pag. 725.

N. 118 — 1912, indefere o requerimento do general do divisão


Carlos de Oliveira, pedindo permissão para se utilisar das ca-
choeiras «Paulo Affonso» nos rios Paraná e
«Sete Quõdas» e
S. Francisco. Pag. 746.

Pensão á viuva e filhos menores do Senador Alexandre Cassiano


do Nascimento. n. 336 — 1912). Pags. 94 e 376.
(Projecto
ÍNDICE XIX

Prorogação da actual aosssão legislat iva até o

dia 3 de novembro do corrente atino. (Projecto n. 349—1912).


Pag. 667.

Reforma no de almirante o vice-almirante reformado


posto
Antonio Luiz von Hoonholtz. (Projecto n. 337—1912) Pag. 660.

Regulamento «ias Capitanias <1© Portos, bai-


xado cotn decreto n. 6.617, de 29 de agosto de 1907: é autori-
zada a sua revisão. n. 262 A — 1912). Pag. 334.
(Projecto

Requerimento :

Da Commissão de Finanças, sejam ouvidas as Comrnis-


para que
sões de Constituição e Justiça e Especial de Aposentadorias

sobre o requerimento do Dr. Antonio Pacheco Mendes. Pag. 115.

Da Commissão de Finanças, que seja ouvida a Commissão


para
de Instrucção Publica, sobre o requerimento de Alberto Nepo-

muceno e outros. Pag. 115.

Martim Francisco, informação do Ministério da


Do Sr. pedindo
de a quanto attinge a responsabilidade do Estado de
Fazenda
União, em consequencia dos emprestimos
S. Paulo para com a
de 3.000.0JO-O-O e 15.000.000-0-0 de libras para a volon-

zação do café. Pags. 352 e 362.

Commissão
Da Commissão de Finanças, para que seja ouvida a
de Constituição e Justiça sobro o projecto n. 274, de 1912, rola-
tivo a vencimentos de federaes em disponibilidade.
juizes
Pag. 361.

ser ouvida a Commissão de


Da Commissão de Finanças, para
Policia sobre o requerimento de Braziliano Cavalcante, pedindo
361.
de 450 exemplares da revista Mar c Terra. Pag.
pagamento
gina 361.

Calmon, para que se nomeie uma commissão afim


Do Sr. Miguel
da Re-
de conhecimento das bases do codigo das Águas
tomar
o Poder Executivo incumbira do organizar ao
publica que
do-
Sr. Alfredo Valladão, devendo, antes de formular projecto
a harmonizar as Commissões Especiaes de
finitivo respeito,
Mesa, os princi-
Minas e do Codigo Florestal, já nomeadas pela
communs ao objecto de cada uma dellas. Pag. 361.
pios

Do Sr. Irineu Machado, sem prejuízo da<discussão, seja


para que,
ouvida a Commissão de Finanças sobre o projecto ii. 123 A,
concede amnistia a civis e militares, Pag. 378.
1912, que
de quaes os nomes
Do Sr. Irineu Machado, pedindo informações
dos militares que respondem a processo criminal militar pelos
cias revoltas do Batalhão Naval
crimes occorridos por occasião
XX ÍNDICE

e navios da esquadra, e bem assim quaes os nomes dos réos


que
se acham presentes e os dos ausentes, e qual a causa desta au-
sencia. Pag. 392.

Do Sr. Irineu Machado,


para que sejam enviados á Camara dos
Deputados dos processos a que respondem os militares
os autos
accusados crimes occorridos em outubro de 1910 na ci-
pelos
dade de Manáos, e em dezembro de 1910, nesta. Capital.
Pag. 392.

Do Sr. Costa Ribeiro (urgência) para ser votado o


parecer n. 110,
que reconhece deputado pelo Io districto do Estado de Pernam-
buco o Sr. Dr. José da Cunha ftabello. Pag. 564.

Do Sr. Souza o Silva, para que o projecto de amnistia aos impli-


cados nas revoltas do Batalhão
da esquadra, o Naval e navios
aos civis e militares envolvidos nos acontecimentos de Manáos,
seja enviado á Commissâo do, Marinha o Guerra
para o neces-
sario estudo. Pags. 579 e 043.

Do Sr. Irineu Machado, para que seja ouvida a Commissâo do


Constituição e Justiça sobro as emendas offerecidas na 2a dis-
cussão do projecto que concede amnistia a civis c militares,
sem prejuízo da mesma discussão. Pag. 586.

Requisição para a, prisão provisória até a re-


mossa dos documentos : poderá ser feita á vista do despacho
telegraphico, ficando assim snbstituido
o paragrapho único do
art. Io, n. 7, da lei n. de
de janeiro de 1892
39, 30 (Proiecto
n. 339 — 1912). Pag. 576. v

Serventes (lo Deposito INTaval


do Rio de Janeiro :
perceberão as mesmas que os do Arsenal de Marinha,
diarias
de accôrdo com a lei n. 2.260, de 4 de outubro de 1910
v(Pro-
n. 342 — 1912). Pag. 577. '
jecto

Serviço de «Iolema, contra o ophidismo : sua creação (Pro-


n. 341 — 1912). Pags. 445 e 577. v
jecto

Sol d. o dos oíüciaes reformados: será considerado


effeitos legaes como tença ou
para todos os pensão. (Projecto
n. 331 — 1912). Pags. 114 e 364.

Superintendenoia de Portos e Costas : creação


do lugar de conservador de instrumentos. (Projecto n. 345 —
1912). Pag. 625.

Tiro Naval Braziloiro : é instituído nos termos do re-


n. 1.659, de
gulainento approvado pelo aviso 6 de abril do
1911, do Ministério da Marinha. n. 214 A — 1912).
(Projecto
Pag. 333.
ÍNDICE XXI

Voto <le pezar :

Pelo fallecirnento do Dr. Antonio Jacob da Paix5.o, ex-Deputado


á Constituinte pelo Estado de Minas. Pags. 738 e 739.

Pelo fallecirnento do Dr. João Cruvello Cavalcante, ex-Deputado

pelo Estado do Rio de Janeiro. Pag. 751.

Pelo fallecirnento do Sr. Luiz de Andrade, ex-Deputado á Consti-


tuinte pelo Estado de Pernambuco. Pag. 753.
GAMARA DOS DEPUTADOS

-g»

Primeira sessão da oitava iegislatura do Congresso Nacional

107" SESSÃO, EM 18 DE SETEMBRO DE 1912

PRESIDENCIA DOS SRS. SABIN0 BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE,


SOARES DOS SANTOS, Io VICE-PRESIDENTE

A 1 hora da tarde procede-se á chamada, a res-


que
pondem os Srs. Sabino Barroso Júnior, Simeão Leal, Raul
Veiga, Juvenal Lamartine, Luciano Pereira, Rogério de Mi-
randa, Costa Rodrigues, Agapito dos Santos, Flores da Cunha,
Eloy de Souza, Augusto Leopoldo, Lourenço de Sá, Manoel
Borba, Netto Campello, Augu«to do Amaral, Borges da Fonseca,
Erasmo de Macedo, Alfredo de Carvalho, Moreira Guimarães,
Freire de Carvalho Filho, Felinto Sampaio, Paulo de Mello,
Torquato Moreira, Figueiredo Rocha, Dyonisio Cerqueira, Ro-
drigues Salles Filho, Florianno de Britto, Porto Sobrinho,
José Tolentino, Pereira Nunes, Silva Castro, Augusto de
Lima, Sebastião Mascarenhas, Vianna do Castello, João Luiz
de Campos, Moreira Brandão, Garção Stockler, Jayme Gomes,
Rodolpho Paixão, Francisco Paolielo, Nogueira, JEpaminon-
das Ottoni, Manoel Fulgencio, Galeão Carvalhal, Cândido Moita,
Alberto Sarmento, Estevam Marcolino, Martim Francisco.
Olegario Pinto, Caetano de Albuquerque, Lamenha Lins, Hen-
rique Valga, João Yespucio, Homero Baptista e Victor de
Brito (55).

Abre-se a sessão.

O Sr. Raul Veiga (2° Secretario) á leitura da


procede
acta da sessão antecedente a qual é posta em discussão,

O Sr. Galeão Carvalhal — Peço a palavra.

O Sr. Presidenta — Tem a o nobre Deputado.


palavra
Vol. 1
2 ANNAES DA GAMARA

O Sr. üaleão Carvallial a acta) — Sr. Presidente,


(sobre
íoi hoje publicado no Diano do Conyresso o
parecer sobre as
emendas apresentadas ao orçamento do Exterior.
Esta publicação foi feita com muita irregularidade ; d1-
gumas emendas não estão numeradas e um dos pareceres não
foi publicado.
Peço, pois, a V. Ex., se digne de providenciar para que
não sejam distribuídos os avulsos desse parecer sein que fi-
quem corrigidos os erros da publicação hoje feita no Diário do
Conyresso.

— A Mesa
ü Sr. Presidente providenciará no sentido da re-
clamação feita pelo nobre Deputado.
Em seguida é approvada a acta da sessão anterior.

O Sr. Presidente — Passa-se á leitura do expediente.

ü Sr. Simeão Leal {i" Secretario) procede á leitura do


seguinte

EXPEDIENTE
Officios:

Dous do Ministério da Guerra, de 1(5 do corrente, satis-


fazendo ás requisições da Gamara constantes dos officios
ns. 2.137, de 12 de agosto de 1911 e 82, de 22 de junho findo,
sobre os seguintes requerimentos :
Dos officiaes honorários do Exercito Frederico Augusto
de Menezes Lara, José Victorino da llocha e Augusto Eugênio
Wildt, pedindo a concessão do soldo vitalício feita aos volun-
tarios da Patria decreto n. 1.687, de 13 de agosto de
pelo
1907:
Do ex-capitão do Exercito Guilherme Augusto da Silva,

pedindo ser considerado reformado no posto de capitão que


— A' fez
tinha na occasião de sua exoneração. quem a requi-
sição.
Do Ministério da Guerra, do igual data, remettendo os
relativos á mensagem do Sr. Presidente da Republica,
papeis
autorização abertura do credito destinado ao
pedindo para
pagamento da
gratificação de 1$ diários aos serventes do de-
mais de cinco annos
partamento deste ministério que contarem
de serviços eifectivos. — A' Commissão de Finanças.
Do Ministério da Marinha, do 10 do corrente, enviando
o requerimento em que o capitão-tenente José Francisco
Martins Guimarães pede relevação de
prescripção em que in-
voluntariamente incorreu para recebimento da gratificação es-

pecial fixada pelo decreto n. 890, de 18 de outubro de 1890 e que


deixou de receber. — A' Commissão de Finanças.
Requerimento de D. Maria Augusta de Britto Pereira,
viuva, do capitão-tenente Arthur de Britto Pereira, pedindo
os favores lei de 3 de de 1912. — A's
da n. 2.542, janeiro
Cominissões de Marinha e Guerra e de Finanças.
SESSÃO E.M 18 Dli aETE.MUIlü D li 1912 3

E' lido e fica sobre a mosa ató ulterior deliberação um


projecto do Sr. Metello Júnior o outros.
São successivamente lidas e vão a imprimir as se-
guintes

UEDACÇÕES

N. 109 — 1912

Rcdacção final do projecto n. 199, desta anno, que autoriza a


abertura do credito na importancia dc 427:140$909, ouro,
para pagamento de juros e mais despezas do empréstimo
de que trata o decreto n. 8.794, dc 21 de junho de 1911.

O Congresso Nacional resolve:

Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado


a abrir, pelo Ministério da Fazenda, o credito extraordinário
de 427 :140$909, ouro, para pagamento de juros e mais des-
pezas do emprestimo de que tx-ata o decreto n. «.794, de 21
de junho de 1911, relativo á Companhia Viação Bahiana :
revogadas as disposições em contrario.

Sala das Commissões, 16 de setembro de 1912. — Cunha


Vasconcellos. — Luciano Pereira. — Erasmo de Macedo.
Sebastião Mascarenhas.

N. 282 A — 1912

Rcdacção final do projecto n. 282, deste anno, que autoriza q


conceder ao bacharel Manoel Durval, substituto do juiz
federal na secção do Estado da Bahia, seis mezes de li-
cença, com todos os vencimentos.

O Congresso Nacional resolve:


Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado
a conceder ao bacharel Manoel Durval, substituto fe-do
juiz
deral na secção do Estado da Bahia, seis mezes de
licença, para
tratar-se onde lhe convier, com todos os vencimentos.

Sala das Commissões, 16 de setembro do 1912. — Cunha


Yasconeellos. — Erasmo de Macedo. — Luciano —•
Pereira.
Sebastião Mascarenhas.

N. 286 A — 1912

Rcdacção final do projecto n. 286, deste anno, autoriza o


que
Presidente da Republica a conceder um anno de licença
com dous terços da diaria que lhe compete, a Vicente Fer-
reira, trabalhador de 2' classe da Estrada de Ferro Central
do Brasil.

O Congresso Nacional resolvo:


Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado
a conceder a Vicente Ferreira, trabalhador de 2" classe da
Estrada de Ferro Central do Brazil, um anno de licença com
ANNAES DA GAMARA

dous terços da diaria a que tem direito, para tratamento de


•saúde, as disposições
onde lhe convier ; revogadas em con-
trano.

Sala das Commissões, 1G de setembro do 1912. — Cunha

Vasconcellos. — Erasmo de Macedo. — Luciano Pereira. —.

Sebastião Mascarenhas.

N. 295 A — 1912
'deste
lledacção do projecto n. 29!í, antio,
que autoriza a
final
concessão de licença a Godofrcdo Mendes Vianna, juiz
substituto federal na seeção do Maranhão.

O Congresso Nacional resolve:


Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado
a conceder seis mezes de licença, com todos os vencimentos,
ao bacharel Godofredo Mendes Vianna, juiz substituto seccío-
uai do Estado do Maranhão ; revogadas as disposições em con-

tçario.

das Commissões, 10 de setembro de 1912. — Cunha


Sala
— Erasmo de Macedo. — Luciano Pereira. —
Vasconcellos.
Sebastião Mascarenhas.
E' lido e vae a imprimir o seguinte

projecto

N. 325 — 1912

Autoriza a abrir, pelo Ministério da Marinha, o credito exlraor-


dinario de 17:0â6$(iti0 para attender ao pagamento da dif-
vencimentos a funçeionarios da Directoria ilo
ferença de
Expediente daquelle ministério.

Em mensagem de 23 de agosto do anno passado, o Sr.

Presidente da Republica solicita um credito de 17 :046$666, pelo


Ministério dos Negocios da Marinha, para attender ao paga-
inento de vencimentos atrazados a diversos íunccionarios da

Directoria do Expediente do mesmo ministério.


Da exposição de motivos que está annexa á mensagem

e acompanhada de informações prestadas pelo consultor júri-


dico daquelle departamento da administração, e, inda mais,
<1' uma demonstração da Ia Secção da Directoria do Contabi-

1 idade, se vê que o credito pedido tem fundamento legal.

Em 1892, pelo regulamento annexo ao decreto n. 1.195 A,

de 30 de dezembro, o pessoal daquella secretaria estava assim

organizado: um director geral; três directores dc secção;

cinco officiaes ; quatro segundos ditos ; quatro


primeiros
amanuenses ; porém, em 11 de junho de 1907 baixou o novo

regulamento reorganizando a mesma secretaria e dando-lhe

o nome de Directoria do Expediente da Marinha, com o novo


assim composto : um director ; dous primeiros offi-
pessoal
ciaes ; um segundo official e quatro auxiliares. Ficaram, pois,
'excedentes: um director do secção, tres primeiros affi-
como
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912

ciaes è tres segundos ditos, os quaes ficaram addidos áquella


directoria e outras repartições da Marinha, cx-vi do art. 40
do dito novo regulamento.
Veiu, porém, a lei n. 2.092, de 31 agosto de 1909, que
achou, após tanta experiencia, que o melhor era mesmo o que
estava vigorando em 1892 e, consoantemente, restabeleceu o
antigo quadro que baixou com o regulamento annexo A pre-
cipitada lei n. 195 A. Mas, não se cumpriu esta lei do 31 de
agosto de 1909, quanto ao pessoal.
Crôa-se o Ministério da Agricultura, para elle são transfe-
ridos da Directoria do Expediente da Marinha, segundo a lei:
dous primeiros officiaes o um segundo, aquelles em agosto
de 1909 e um primeiro official e um segundo em 0 de janeiro
de 1910.
Desfarte dão-se tres vagas de primeiros officiaes e uma
de segundo, no
quadro daquella directoria, fiiado
pela lei
li. 2.092, de 1909. 1 «
Os funccionarios excedentes e addidos se
julgam com di-
reito ao accesso nas datas em que se abriram as vagas ; re-
querem, portanto, com parecer íavoravel do consultor júri-
dico.
Assim, foram promovidos a primeiros tres segundos, e a
segundos quatro terceiros officiaes, contando suas antigui-
dades e vantagens de K de setembro de 1909. uns, e de 0 de
janeiro de 1910, outros. E' de tudo isto que nasce a proce-
delicia do credito na ¦alludida
pedido supra mensagem para
pagamento de vencimentos atrazados devidos áquelles funccio-
ncirios.
Attcndendo, pois, aos termos do pedido do Poder Executivo
e aos documentos e informações em que elle se baseia, pensa a
Gomrnissão de Finanças que o credito extraordinário de que se
trata está no caso de ser attendido, pelo que sujeita á Gamara
o seguinte projecto de lei:
Artigo, único. Fica o Poder Executivo autorizado a abrir
pelo Ministério da Marinha o credito extraordinário de
17:0í0$G0G para attender ao pagamento da differença de ven-
eimentos a funccionarios da Directoria do Expediente daquelle
Ministério, desde as datas em que deveriam ter seus accessos,
conforme tudo consta dos documentos que acompanharam a,
mensagem do Poder Executivo, de 23 de agosto do anno passado ;
revogadas as disposições em contrario.
Sala
das Commissões, 25 de de 1912. — Homero
junho
Baptista, vice-presidente. — Caetano N. de F. c Albuquerque,
relator. — Antonio Carlos. — Pereira Nunes. — M. Borba. —
Felix Pacheco. — João Simplicio.

(lom a concessão deste, a importancia dos vários créditos


abertos no anno corrente ficará assim especificada:
7.819:433Ç333, ouro, e ó'.568:884$362, papel:
Data supra. — Homero Baptista, vice-presidente. — Cae~
tano de Albuquerque, relator. —
Antonio Carlos. Pereira
Nunes. — M. Borba. — Felix Pacheco. — João Simplicio.
ANNAES DA GAMARA

Subscrevo o parecer, que termina pelo projecto de lei au-


torizando o Governo a abrir pelo Ministério da Marinha o
credito de 17:04G$6G6, para attender ao pagamento da diffe-
rença de vencimentos que são devidos a alguns funccionarios
da Directoria do Expediente daquelle ministério.
A' vista parecia
primeira que não era o
procedente pe-
dido de
credito, mas o estudo das reclamações feitas in-
pelos
teressados, prova que a antigüidade para todos os effeitos em
relação ao preenchimento das vagas em questão, deve ser con-
tada nos termos da exposição feita pelo Ministro ao Presidente
da Republica, solicitando a abertura do credito.
No 1'ôro administrativo o direito á per- a antigüidade dá
cepção dos vencimentos que se prove, atrazados, desde
que
da parto do funccionario não partiu acto algum directa
que
011 indirectamente impedisse a sua promoção ou a demorasse.
Sendo o Tribunal de Contas consultado sobre a abertura
do credito, não impugnando o direito dos reclamantes, re-
spondea negativamente, por ser a despeza pertencente a exer-
cicios ,já encerrados e não se tratar daquella que se acha compre"
hendida na tabella B, annexa ã lei n.2.356, de 31 de dezembro
de 1910, competindo ao Congresso Nacional providenciar a re-
speito.
Os funccionarios,
a que se refere a mensagem presiden-
ciai, depois promovidos, de requeroram ao Ministro da Mari-
nha, que a antigüidade lhes fosso contada desde a data em
que se abriram as vagas que deviam ser preenchidas e, tendo
corrido o competente processo, depois do parecer formigado
pelo consultor jurídico, foi deferido o pedido e foram feitas
as apostillas competentes nos titulos de nomeação.
Ainda mais, a Contabilidade, tendo do fazer o calculo
para o desconto mensal da quota do montepio, contou a anti-
guidade de accôrdo com o despacho do Ministro, que acceitou
como procedentes as justas reclamações dos funccionarios
promovidos, isto em virtude da disposição da lei do orça-
mento para o exercício de 1911, que mandou revigorar a lei
do montepio dos funccionarios civis da União, para o que
foram expedidas as instrucções de 16 de agosto de 1911. Desta
fôrma os funccionarios nomeados após a suspensão do monte-
pio em 1897, tiveram de
uma pagar e continuam a fazel-o,
quota mensal, que <5 tanto quanto mais afastada é a sua maior
nomeação da i^poca do restabelecimento do montepio.
Desde que os funccionarios em questão tiveram de pagar
as quotas de montepio, a contar das datas das vagas e não das
nomeações, -assiste-lhe como effeito retroactivi a percepção
dos vencimentos. O contrario seria injusto, os
pois, pagariam
ônus sem as vantagens correspondentes.
TVidos estes factos demonstram que as em vir-
promoções
tude da lei n. 2.092, de 31 do agosto de 1909, estabe-
que
leceu o primitivo quadro da Secretaria da Marinha, não foram
feitaspor culpa exclusiva do Governo, que as reconheceu,
mandando nos titulos de nomeação ou promoção fazer as ne-
cessarias apostillas, assignalando a data das antigüidades
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 7

para a percepção dos vencimentos, sendo que alguns teem di-


reito á differença dos vencimentos a contar de 4 de setembro
de 1909 e outros a contar de 0 de de 1910.
janeiro
A mensagem do Presidente da Republica é o resultado do
processo que correu na Secretaria da Marinha em virtude do
qual entendeu o Ministro da Justiça attender ás reclamações
dos funccionarios
promovidos.
Além disso o Congresso é soberano decidir sobre o
para
caso, que se resolve em uma simples contagem de tempo para
os devidos effeitos na hypothese de promoção.
A lei de 31 de agosto
de 1909 equiparou os vencimentos e
categorias dos funccionarios das Secretarias de Estado, in-
cluindo naturalmente as Secretarias da Marinha e da Guerra.
O Ministro da Guerra deu immediata execução ao decreto le-
gislativo, fazendo as nomeações e decorriam
promoções, que
daquella lei.No Ministério da Marinha assim não se procedeu até
que, com o inicio do actual período presidencial, o almirante
Marques de Leão tomou a iniciativa de providenciar as
sobre
reclamações verbaes feitas pelos funccionarios, que tinham di-
reito incontestável ás em virtude da citada loi de
promoções
•'•1 do agosto de 1909, que autorizava o Governo a abrir os cre-
ditos necessários o dos vencimentos resul-
para pagamento
tantes da reforma e haviam sido elevados, revo-
lei
que que
gou todos 09 actos anteriores relativos ás organizações das Se-
cretarias de Estado, por ter fixado os vencimentos dos funccio-
narios e o quadro do pessoal.
E' este o meu parecer.

Sala das Commissões, 17 do setembro de 1912. — Galeão


Carvalhal.

Mensagem a que se refere o supra


parecer
Srs. Membros do Congresso Nacional — Transmittindo-
vos a inclusa exposição me foi apresentada
que pelo Ministro
de Estado da Marinha sobre a necessidade da concessão do
credito de dezesete contos e quarenta e seis mil e seiscentos e
"sessenta
e seis réis (17:046$666), para pagamento de vencimen-
tos atrasados a diversos funccionarios da Directoria do Expe-
dronte do mesmo Ministério, rogo vos digneis resolver sobre a
concessão do alludido credito.

Rio de Janeiro, 23 de agosto de 1911. — Hermes R. da


Fonseca.

O Sr. Presidente — Está finda a leitura do expediente.

O Sr. Augusto de Limo. — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Augusto de Lima (pela ordem) a


pede publicação
no Diário do Covaresso dos nrotesfos contra o
projecto de di-
vorcio. dos municípios de Viçosa e Rio Branco.
ANNAES DA GAMARA

Consultada, a Cariara concede a publicação pedida.

O Sr. Presidente — Tem a o Sr. Felinto


palavra Sam-
paio.

0 Sr. Felinto Sampaio — Pedi a palavra, Sr. Presidente,


para invocar desta tribuna a moralidade de integro e provecto
administrador que tem sabido ser o illustre Ministro da Viação
do benemerito Governo da Republica, chamando a attenção*do
S. Ex., appellando mesmo para o seu patriotismo, contra uma
grave irregularidade que se está passando com os estudos da
ítéde da Viação Ferrea Bahiana, estudos estes feitos em alguns
casos com o maior desprezo pelos interesses do desba-
paiz,
rato *• menoscabo dos dinheiros públicos e mais ainda, sob o
ponto de vista legal e technico, estão se praticando actos que
bem revelam a desorientação, a balburdia e o critério
pouco
que vão tendo os estudos da viação ferrea da Bahia.
Assim é, Sr. que, Presidente,
de feitos os estudos da depois

projectada ferro-via do Cajueiro a Sipó e de concluída a lo-


cação de seus primeiros cincoenta kilometros, resolveu o Mi-
nisterio da Viação, abandonando o trabalho até agora feito,
nos quaes se consumiram cerca de 800:000$ dos cofres pu-
blioos, mandar fazer novos estudos de uma estrada
pela margem
esquerda do rio Itapicurú, partindo da villa do Barracão.
Eu me proponho demonstrar e esclarecer ao Exm. Sr. Mi-
nistro da Viação o engano e mesmo má fé com que procederam
aquelles que aconselharam ao Ministério da Viação a modifi-
cação do primitivo traçado Cajueiro a Sipó.
Sr. Presidente, o Ministério da Viação, mal informado,
parece ter-se convencido do que o traçado margem es-
pela
querda do rio Itapicurú é mais curto, mais economico e mai3
rendoso em trafego. Sejam, porém, forem os funccio-
quaes
narios por intermedio dos quaes tenham chegado ao minis-
terio informações que o levaram a este é o eu
juizo, certo,
o affirmo sem receio de contestação séria, todas ellas
que
teem por origem directa ou mediata um engenheiro sub-ein-
preiteiro da construcção do referido trecho, suspei-
pessoa
tissima para fnllar no assumpto, pelas vantagens espera
que
auferir da mesma construcção.
Fique o Sr. Ministro da Viação sabendo
que, somente por
interesse e especulação do empreiteiro e da
sub-empreiteiro
ferro-via ao Sipó, que, conhecedores da zona, sabem
que a cs-
trnda pelo actual traçado, o da margem direita, exigindo muito
menor movimento de terras, pois em longos haverá
trechos
simples raspagens, deixará menor lucro aos mesmos empreitei-
ros, trabalham por isso com afinco por obter a mudança do traça-
do peta margem esquerda, augmentando assim os seus lucros, o
vão, para isso obter, suggerindo a uns e a outros, ora verbal-
mente, ora por escripto, juizos desfavoráveis á construcção
pela margem direita.
Discutirei, Sr. Presidente, a questão, mostrando de modo
cabal a improcedencia da mudança pretendida.
SESSÃÜ EM 18 DE SETEMBRO DE Í9Í2 9

Antes de tudo, o objectivo da estrada a construir-se é, e


si não é deve ser, facilitar o aproveitamento das aguas ther-
maea do Sipó, de eí'1'icacia comprovada nas moléstias de pelle,
nas do estomago e nas do íigatio, estas ultimas tão communs
em nossa zona intertropical. O problema que se pretende, pois,
resolver com a construcção desta estrada é o da ligação do
Sipó á capital do Estado e por meio delia aos outros pontos
civilizados do paiz.
Para attingir este objectivo a estrada só pôde absoluta-
mente ser construída pela margem direita do rio Itapicurú,
porque o arraial do Sipó, com suas fontes thermaes, é situado
á margem direita do rio & na margem esquerda, quer defronte,
do Sipó,
quer nas circumvisinhaças, o terreno é alagadiço
em grande extensão, invadido periodicamente pelas enchentes
annuaes do rio, improprio para a construcção economica do
uma estação, a qual, por isso, na melhor hypothese, terá de
ficar a meia légua pelo menos de distancia das fontes, ao
contrario da margem direita, em que está situado o Sipó, a
qual, por sua altitude, foi preservada até da enchente anor-
malissima de tres annos passados.
Junta-se a esta distancia de meia légua a interposição
do rio, invadeavel nas cheias, aindapequenas, a difficuldade,
si não impossibilidade, de se transportarem enfermos em taes
condições e
verá que facilmente
abandonar o actual tra- se
çado e construir a estrada pela margem esquerda do Itapicurú
é deixar sem solução o problema do largo aproveitamento das
aguas thermaes do Sipó, cujo uso ficará nesta re- -
hypothese
stricto ao
pequeno numero dos que se possam transportar pe-
nosamente em carros de bois ou em cavallos e se disponham
depois a arrostar uma moradia e passadio em que falta de
tudo, o conforto tão preciso aos enfermos. Sim : o Sipó sem
estrada de ferro não poderá offerecer commodidado o con-
íorto.
Bastava, Sr. Presidente, esta só consideração, para ser
abandonada a idéa de se construir a estrada es-
pela margem
auerda do rio, desde que, sejam quaes forem as suas vantagens,
é deixar sem solução o problema do largo aproveitamento das
agu^s que é
thermaes, o que se procura agora resolver.
E' certo que a estrada, por uma ou por outra margem,
prestará valiosos ao transporte de mercadorias ;
^serviços
mas só a construcção pela margem direita resolve o problema
capital do aproveitamento das aguas sem prejuízo das outras
vantagens. Logo, a construcção pela margem direita do rio
impõe-se.
Para impedil-a, porém, allega-se, senhores, o custo da
construcção de uma ponte sobre o rio Itapicurú, a falta de
agua na zona da margem direita, o encurtamento do traçado
e a superioridade dos terrenos da margem esquerda para os
trabalhos agrícolas.
Tudo isto é mal contado. Para a estrada ir do Cajueiro
ao Sipó pela margem direita do rio não se tem de construir
nenhuma ponto no Itapicurú, o Sipó fica
pois que exactamente
10 ANX.MiS DA (J.VMAIU

na margem direita:
virá a a
ponte ser precisa auando se
d° SÍPÓ Para ° Tucano de Pombal
e dahiaoPril,TFrtiS&da

contraclou e não se oomprehende


porque, para evitar a eon-
strucçao de uma ponte daqui a cie/ ou quinze annos so Iro-
° da oslrada"""
STSAí *

'e ''esYa'
contos pouco1 mais
ou para se Economizar
vao botarfóra quantia'se
oitocentos contos nos
gastos estudos iá ieitos
Ao espirito esclarecido e honesto do Sr. Ministro da Viacãò
chamo attençlo para as allegações que venho de fazer
margem esquerda
se nounaHrconstru
poupa a constiucçaocã^d^mnV™^^
cie unia SJela
ponte, daqui a nninzp muns
exige-se desde já a construcção de vários
p0nti?hões nos se
guintes riachos que a estrada terá de atravessar indo
margem net
esquerda: rio Quente Paus finnnM iA™- £
ciatá, Catusinho, Araticum e Capoeira'. Tudo isto S Hartios
a Itaplcurú> os cl"aes
se terá de transpôr
Som pontííliões?8
Sr. Presidente, o que, sobretudo, a mim oareceu «xmii

* h" '"alr° ™
V-taSSÍ
Funis?

aeseif íeguaí *> 1«-


JS? SnSSfi
5» ,™' crasso.
Óuizera ver, Sr. Presidente este ?Tro
enepnh<i?™
cessidade de viajar e pel»a n,e"
preso' â maS ]n L"1'8'!
afim de me dizer que duas pontes são demais enchente,
Gommigo, aquelles que viajam
pensam o contrario eme

a"construcção não sóXduasdpJntos"mf?®8 pefrmitlisstem

dertantas quantas são as estradas de rodagem


que atravSam

via->a
constantemente
nód f 1^? ao
sol (!^'áSintemnerie0,não'
C0IP a de «Wem lá uma
\ez
vez Derco^re
percoire a estrada
^estrada com fnHn
ioda aa eommodidade
e findo o nas-
'inventaram
até a8fSST^Ít Sa - l
ponte, quando é certo
que bem proximamente
ao íocal em qfit
ellfa terá de ser construída daqui a quinze annos e aue será
Uma gUa aC'ma d° Sipó' ha em abun-
dane™ P«dra

O engenheiro não teve quem lhe mostrasse a


e, nao pedreira
conhecendo a zona, nao a viu.
E' natural no traçado da estrada
que de ferro se nrocure
quanto possível, servir os núcleos de população da zona ò a
°,racA
àsta'"
SESSÃO KM 18 DE SETEMBRO DE 1912 11

Construindo-se
a estrada pela margem esquerda, ella em
todo o seu
percurso tocará apenas na villa de Itapicurú, ao

passo que, sendo construída pela margem direita, a estrada


cortará as villas de Aporá, Bom Jesus ou Villa Rica, Mucambo
ou Nova Olinda e Soure, villas superiores á villa de Itapicurú
umas e outras iguaes.
Vemproposito a
notar que a supposta superioridade dos
terrenos da margem esquerda parece contestada pela circum-
stancia de se encontrarem mais núcleos de população na mar-
gem direita do que á esquerda.
Falla-se também na falta de agua na margem direita.
Si é que a margem esquerda
certo é mais abundante de agua,
6 necessário reconhecer que na margem direita ha agua suí-
ficiente no rio Pequara, no Ribeiro, muita, no Mucambo e nas
Contendas, muitíssima.
Dadas as curtas distancias destes logares aos outros, é
claro que o abastecimento da locomotiva se fará folgadamente
e ainda para as obras de alvenaria da construcção haverá agua
bastante.
Peço permissão ao Sr. Presidente para fazer incluir no
meu discurso o seguinte trecho do meu relatorio dirigido á
Repartição Fiscalizadora das Estradas de Ferro, no qual o
Sr. Ministro da Viação poderá ajuizar das vantagens do tra-
çado que propuz e foi por S. Ex. approvado. E' o seguinte:
seguinte:

«O traçado da linha Cajueiro a Sipó tem sua


direcção geral orientada segundo N. O., em uma de-
flexão de 25" e procurando assim servir a diversos
núcleos de população do Estado, que nesta região é
constituída por diversas cidades e villas ribeirinhas
do rio Itapicurú e seus affluentes, as quaes, devido
a abundancia de agua e fertilidade das terras mar-
ginaes, lograram ser escolhidas para o estabelecimento
de vários engenhos de assucar, cultivo de fumo © ce-
reaes de iodas especie, que abi se desenvolvem de
modo extraordinário.
Sendo ponto de partida da linha Cajueiro a Sipó
a estação de Aporá, na estrada em construcção da
Tiuibó a Propriá e logar de futuro entroncamento,
acha-se situada no município de Barracão, a três
kilometros antes do leito do rio Itapicwrú e a 224
kilometros de distancia da capital do Estado da
Bahia.
Esta linha é typica
pelas grandes tangentes que
admitte na maior parte do percurso ; além disso,
mesmo nos trechos accidentados, os saltos de cóta
são distribuídos em sufficientes frajectos na direcção
"no
geral para qualquer desenvolvimento
dispensar
traçado ; sendo, pois, pontos obrigados esta-
para
rões intermedias Aporá, Bom Jesus, Nova Olinda e
Soure, a linha terá simplesmente que acompanhar
ANNAES DA GAMARA

a estrada do rodagem, liga


que aos extremos estas
quatro localidades, encurtando com toda probabi-
lidado -em todo percurso.
Do.Aporá, seguindo pela encosta das vertentes
CIO ItâpiCUlÚ, ÜG3CGrd pQTft SC af&Stai' O IÍ10I10S pOS-
sivel da direcção gorai até atravessar o rio Gangú
mais ou menos três kilometros A montante 'estrada
da
ce rodagem, e dalii continuará, mais
^ ou menos, de
iuvci, o riacho da .1Jcídl*oii'íx
o depois da Po-
quara, iianqueando este ultimo subirá pela encosta
u ganhar directamente o chapadão no Bom Josu*
logar de estação.
oahindo da mesma a linha em duas ou tres gran-
ucs uin^entes com declividades suaves e1 ip*Qrins por
curvas de grande raio e pequena deflexão, vence 20
e®Pisãp ató
do ? •
Roncador,P°r e ^dahi
quasi a descida
em deante, mettendo-se á es-
0 00111 mais
£i?£nf».encoii i P,iesmo> ovi menos
seis kilometros de descida chega ao nivel da tra-
vessia da caixa do Mucambo. deixando antes, da
mesma estação de Nova Olinda.'
franqueada a dita caixa, a linha
ganha quasi, em
uma única tangente, o alto do
espigão fronteiro de
ra^S-?ndf> direct? a,Baixa
Ve^>
^ ganha as vev-
^«'.chega depois com uma des-
lirh
^ída fnti?
focada ,íf' dous
dt ¦
kilometros mais <*u in^nns
atravessando o Payayá, a linha sobe™ tnrSlU
vemento ondulados, exigam
que varias rampas o
contra-rampas para franquear
as baixas dos Olhos
d Agua, do Carrapatinho, do Ou vir d da Roda e ou-
trás secundarias, mas permittem boas tangente» »
curvas folgadas até alcançar na-; gargantas do Ou-
teiro da Roda as vertentes da Natuba, feito o ouo
a unia s,.'rie 00 grandes tangentes,
ítnf talvez,
hkL ,.™?
com uma
que única ínterrrupção,
devida d tra-
vessia da baixa_da Natuba, antes da qual será esta-
levari bem perto do
^lda
> ípo, a Utl*ÍZ
ti es iHSouro'
kilometros, mais ou menos, antes de
chegar a dita localidade, a linha largando á direita
11 continuará a descer mansa-
li 0ríl°njgem
encosta,
mente pela rodeando,
quanto possível, cm
cota elevada, a baixada ijue corre entre
a mesma en-
costa o, a margem do Itapicurií, até entrar na es-
^rephc», ficará
/^l°oí-ÍMmijnao fer4e. q\ie a sudoeste
a distancia approximada
a om t
do SOO metros da rnesma, ao da encosta
pé e suffi-
cientemente elevada para não ser attingida pelas
águas que no inverno estacionam na baixa eonsfí-
tuindo aqui e acolá varias lagôas.
No futuro a liníia terá saíiida franca, margeando
o Itapicurü, até escolha de melhor
travessia que,
como resalta do esboço que acompanha, não poderá
SE88Ã0 EM 18 1)E SETEMBRO DE 1012 13

' -
I
ser a menos de dous ldloipetros ou três a montante do

Sipó, devido á direcção geral do rio e aos baixos da

margem esquerda, formados por materiaes sedimen-


taes depositados palas enchentes do mesmo rio, e por
conseguinte sujeitas a inundação em grande extensão.

Do summario que v&e1 junto ao presente


perfil
relatorio, tornará fácil discriminarem-se as varias
localidades atravessadas linha, a collocação das
pela
estações, as
obras de arte exigidas, as condi-
poucas
altimetricas da linha, sendo, como já íoi dito,
ções
em oplimo o traçado ; o movimento de
planimetria
terra de toda a linha não •excederá de três motros

cúbicos metro linear, mesmo na hypothese de


por
caprichar em grade batidos, reduzindo-se a excavaçfio
um a três córtes nas gargantas do Ou-
pedra pequenos
teiro da Roda. >

Eis aqui, Sr. nesla parte do


Presidente, relatorio como,
que remetti em marcopassado á então Re-
do anno
proxiino
partição Federal de Fiscalização de Estrada de Ferro, se evi-
dencia a superioridade do traçado pela margem direita do
rio Itapicurú, que so pretende agora modificar.

Sr. Presidente, conheço a zona,


que: percorri como en-

genheiro, e o fica dito parece termesufficientemente


que
demonstrado a improcedencia da mudança do traçado preten-
dida, restando-me appellar para o Sr. Ministro da Viação,

pedindo a S. Ex. não consinta que, á sombra do seu nome


honrado, de do profissional, se procure gravar
sua competoncia
o Thesouroproveito do interesses
em inconfessáveis e falsas

pretenções descabidas. Indefira S. Ex. estas pretenções de

gananciosos empreiteiros, ordenando que se effectue a con-


strucção da ferro-via Cajueiros a Sipó pelo traçado estudado
com todo critério e acerto em suas condições technicas e

economicas e terá assim praticado mais


S. um acto
Ex. de
henemerencia c patriotismo que valerá muito mais do que quanta
concessão de interesses pessoaes feita cm nome do progresso
material, mas á custa da desmoralização nacional. (Muito bem ;
muito bem. O orador tf cumprimentado.)

O Sr. Presidente — Tem a o Sr. Augusto de


palavra
Lima.

O Sr. Augusto de Lima — Sr. Presidente, occupou hontem


a tribuna da Gamara o nobre Deputado pelo Estado da Bahia,
Sr. Miguel Calmon, tomando para objecto de seu discurso o
importantíssimo assumpto consignado no projecto aetualmente
em estudo, da Gommissão Especial da Gamara, para estudar
as condições do ensino primário nos Estados.

O discurso de S. Ex., debaixo do aspecto quo interessa


ao projecto que tive a honra de apresentar á Camara, com-
põe-se do duas partes.

i
li ANNAE8 DA CAMA1U

Na primeira S. Ex., sustentou com exeellentes argumentos


tirados da Constituição de 24 de fevereiro a incompetência
da União para legislar,
prover e dispôr de modo,
qualquer
sobre assumpto da
instrucçâo primaria.
Eu me dispenso de insistir na demonstração, Sr. Presidente,
de que me acho de aceôrdo com o nobre Deputado em que,
na fôrma da Constituição, a União deixou aos Estados a com-
petencia para legislar sobre a instrucçâo primaria.
A Constituição republicana nesta parte, como em algu-
mas outras obedeceu ás tradições nacionaesdo Império.
Quando veiu a Republica, já a competência legislar
para
sobre instrucçâo primaria estava delegada ás circumstancias
administrativas do paiz.
O acto addicional, ao lado de outras medidas descentra-
lizadoras, prescreveu que a instrucçâo primaria ficasse a
cargo das antigas províncias.

A Republica, portanto, nesta parte, não innovou abso-


lutamente o regimen nacional dos institutos de en-
primários
sino.
De accôrdo
com a doutrina sustentada S. Ex. é &
por
exposição preliminar da apresentação de meu projecto. V. Ex.
e a Casa devem estar lembrados de que, resguar-
procurando
dar o mclindre da autonomia local, eu estabelecia no art.
_1*
desse projecto que, á requisição dos governos locaes, a União
auxiliasse com subsídios pecuniários o desenvolvimento da
instrucçâo primaria nos Estados.
Ainda de accôrdo com os escrupulos de não ferir a auto-
nomia local, mas ao mesmo tempo estabelecer as
precisando
bases que legitimassem, de algum modo, a investigação do

poder, que liberalizava esse auxilio, no exame da exactidão


em que esses auxílios seriam empregados, bem como da effi-
racia com que elles vinham contribuir o intuito que o
para
legislador tivesse em vista, eu estabelecia no art. 2°, não uma
fiscalização, que fosse de qualquer modo desflorar, ainda que
ligeiramente, a epiderme delicada dos governos locaes ; esta-
belecia em vez de fiscal, delegados, orgãos de informações,
examinando 'em devia
agentes que, as condições que per
o subsidio da União, apresentassem um relatorio ao
prestado
Governo Federal em que dessem conta de todos os esclareci-
mentos necessários para que bem se ajuizasse das condições
do ensino e das necessidades que elle reclamava.

A outra parte do discurso do nobre Deputado pelo Es-


fado da Bahia refere-se á competencia, por elle sustentada,

que assiste á União, de fundar institutos normaes onde se


habilitem professores para o ensino primário dos Estados.
Sr. Presidente, si o meu accôrdo de vistas com o nobre
Deputado pela Bahia, aliás compententissimo na matéria de
ensino, especialmente do ensino profissional, si estou do
accôrdo com S. Ex. na parte em que recusa á União compe-
tnticia para se ingerir na organização, na fiscalização do en-
sino primário nos Estados...
SESSÃO EM> 18 DE SETEMBRO DE 1012 15

Um Sr. Deputado — A' União falta competencia para crear

escolas primarias.

O Sr. Augusto de Lima — ... não estou de accòrdo com


S. Ex. na competencia desta vez outoi'gou ao Governo
que
da União para fundar escolas normaes.

O Sr. Garção Stockler — Escolas normaes superiores

para tratar de ensino primário.

O Sr. Carneiro de Rezende — A Constituição, no art. 70,

diz que são eleitores os cidadãos maiores de 21 arinos e alis-


taveis na fôrma da lei, etc. De fôrma que quem define o que
são eleitores é a Constituição da Republica ; de modo que á

União incumbe fazer o eleitorado, porque os três poderes su-

periores, Executivo, Legislativo e Judiciário, são delegações,


directas ou indirectas, do voto popular.

O Sr. Augusto de Lima — V. Ex. antecipa muito previ-


dentemente, um dos argumentos pelos quaes se prova a com-

potência da União para interessar-se intimamente no desen-


volvimento da instrucção primaria, da qual resulta um dos re-

quisilos da capacidade eleitoral do cidadão.

O Sr. Carneiro de Rezende — Quem define ? Quem re-

gula ?

O Sr. Augusto de Lima — E' a União evidentemente. Mas,


voltando ás escolas normaes, eu as subordino todas, de
qual-
quer gráo que sejam, ao instituto de ensino primário, ao
instituto de que ellas são apparelho superior.
O instituto primário é um bloco indivisível, tudo que lhe
diz respeito, desde as condições de disconcia até as condições
do docência, pertence a uma harmonia que o espirite logico
do todos não pôde recusar na unidade do organismo peda-
gogieo.
Em que disposição da legislação da Republica, ou da
Constituição, encontra S. Ex. base para affirmar que a União
pôde, concomitantemente com o<í Estados, fundar escolas nor-
rnaes, quando nega a incompetência á mesma União para
fundar escolas do instrucção primaria ?
Procurei na lettra e no espirito da Constituição, e nada
achei que autorize o Poder Legislativo a assumir a respon-
sabilidade do fundar escolas normaes no paiz.

O Sr. Ozorio — As escolas normaes não são escolas se-


cundarias ?

O Sr. Garção Stockler — Tem a mesma competencia que


tem para fundar escolas secundarias.
O Sr. Augusto de Lima .— S. Ex. estaria autorizado a at-
tribuir essa competencia á União, sob o fundamento de que
a Constituição Federal dá, cumulativamente á União e aos
Estados, competorcia para legislarem sobre o ensino secun-
dario ?

O Sr. Ozorio — Com certeza foi esse o fundamento.


16 ANNAES DA CAMARA

O Sr. Augusto de Lima — Senhores, é nas


preciso que
leis, assim como nas sciencias, a technica seja inseparavel
do sentido dos vocábulos. E a technica jurídica e legal nós
a vamos buscar, não nos diccionarios lexicographos, mas nas
licções dos
juristas, das leis, das sentenças dos tri-
próprias
bunaes, dos pareceres dos jurisconsuítos.
Ora, Sr. Presidente, em nenhuma dessas fontes autorizadas
se encontra applicadas ás escolas normaes a denominação de
ensino secundário.
O na legislação do Império, como na legislação da
que,
Republica, assim se denominava e se denomina 6 o curso de
o curso de
propedêuticos, conhecimentos
que
preparatórios,
habilitavam á matricula nas escolas superiores do paiz.
Esta technica ainda hoje 6 vigente no dominio da nova re-

forma, quando, demittindo os antigos gymnasios da funeção


de alumnos para os cursos superiores, que era
prepararem
funeção precipua e exclusiva, lhes deixou um inte-
preparo
independentemente da matricula nos cursos supe-
gral
riores.
Ora, quer numa, quer noutra dessas phases da instrucção
secundaria do paiz, ninguém se lembrou jamais de incluir as
escolas normaes nesta categoria do ensino secundário.

de Rezende — Technica
O Sn. Carneiro profissional.

O Sr. Augusto de Lima — E' technica, pedagógica ou di-


dactica. .
Entende-se por ensino normal o instituto que forma
pro-
fessores destinados ao ensino primário.
Creio sobre este assumpto não necessidade ha
que de
insistir, bem ou mal,
generalizada esta denominação,
porque,
ella não encontra saneção, como disse, nem na Constituição, nem

na legislação do Império e nem na da Republica.

Lamento, Sr. Presidente, que a escassez do tempo não


desenvolver todas as a idéas que me suggere
me permitta
brilhantíssima oração que ouvimos hontem do^ nobre Deputado
Miguel Calmon. S. Ex., aliás, e ainda bem, não recusa
Sr.
da sua boa vontade, o prestigio do seu talento,
a contribuição
estudo meditado deste problema, para a solução do
para o
virá a ser um dos nesta
factores casa, maiores
qual espero
mesmo ao espirito, esclarecido e bem intencio-
e espero que,
nado de S. Ex., estas simples considerações, bem como outros
lhe suggerirá a leitura do projecto em es-
argumentos que
a sanar os seus defeitos, a encher as suas
tudo o attrahirão
mesmo, o que com applausos eu lou-
lacunas a substituir
disposições por outros, com tanto quigi a União
varia as suas
fosso'ao desse clamor publico que, de um ponto a
encontro
dos governos locaes de
outro do paiz se eleva com a confissão
escassez de seus recursos, prover
ctue lhes é impossível, pela
necessidades ensino, tal como o exigem as grandes
ás do
de ou pelo crescimento natural, ou pela
massas população,
infelizmente só transporta para as nossas
immigração, que,
massas de analphabotos, na sua maior parte.
plagas
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 17

Alas, nestes poucos minutos, permitta-me V. Ex. que le-


vante ainda um reparo ao discurso do nobre Deputado pela
Bahia.
S. Ex., para sustentar que a Constituição impede a União
de subsidiar com dinheiro a instrucção dos Estados, invocou
o art. 5° da Constituição que, tratando da divisão das attri-
buições dos Estados e da União, especificadamente facultou
a esta ministrar soccorros públicos aos Estados em casos de
calamidades e
quando elles os requisitassem.
Ora, Sr. Presidente, não vejo em que se possa estabe-
lecer um simile entre cousas tão absimiles, como sejam o
soccorro por um ílagello meteorologico, epidemico ou tellurico,
e o auxilio permanente, normal, exigido pelas condições esta-
tisticas do paiz.
Este auxilio federal, uma vez que a Constituição expres-
samente. não o recusou, pode e deve ser ministrado.

O Sr. Monteiro de Souza dá um aparte.

O Sr. Augusto de Lima — Para legitimar esta presumpçíio,


respondo ao nobre Deputado com o art. 70 da Constituição em
que está estabelecido como uma das condições para que o ci~
dadão possa ser eleitor é saber lêr e escrever.
Quem quer os fins quer os meios.
Senhores, ha muita cousa
que a Constituição não permitte
claramente, mas que, entretanto, está na índole do systema,
na presumpção dos
humanitários sentimentos
e sociaes e nos
proprios compromissos do regimen republicano.
Na Constituição não devemos ver sómente aquillo que os
seus termos expressos dizem ou deixam entender ; devemos
também suppor nella incluídas todas as doutrinas do regi-
men. (Apartes.)

O Sn. Presidente — Attenção ! Lembro ao nobre. Deputado


que está a terminar a hora destinada ao expediente.

O Sr. Augusto de Lima — Vou terminar, Sr. Presidente.

O art. 70 da Constituição, quando trata das condições dc


capacidade eleitoral, tanto se refere ao alistamento dos elei-
tores da União...

O Sr. Monteiro de Souza dá um aparte.

O Sr. Augusto de Lima — ... refere-se ao alistamento


dos eleitores tantopara a União como também para os Es-
tados. Em resposta ao aparte do meu eminente collega o
Sr. Monteiro de Souza, ainda eu dizer que entro a União
poderia
e os Estados ha um verdadeiro pacto e que os governos dos
Estados são orgãos da soberania também como responsáveis

pelas instrucções republicanas, porque, se nós quizermos


ainda estender as zonas da competencia e da collaboração ao
regimen, iremos até o interior do lar onde a mãe de família
tf a
primeira prelectora dos deveres cívicos dos futuros eida-
riãos. Entretanto, ninguém impedirá que a União vá ao en-
contro de todas essas forças educadoras.
Vol. %
18 ANNAES DA GAMARA

Auxiliar a alguém nunca foi invadir a sua compe-


tencia.

O Sr. Monteiro de Souza dá um aparte.

O Sr. Augusto de Lima — V. Ex. está de accôrdo em que


a União deve auxiliar os Estados ? Não é verdade-?

Monteiro de Souza — Estou de accôrdo.


O Sr.

Augusto de Lima —- Registro o assentimento


O Sr. do hon-
frado Deputado, competentissimo como é na matéria, porque
foi autoridade do ensino em seu Estado.

Agora, sobre a creação, pela União, de estabelecimentos


de instrucção primaria nos Estados, sou completamente con-
trario a isso, porque neste caso a União entraria na compe-
tencia dos Estados, competencia que, por ter sido outorgada
Constituição Federal, faz
parte das Constituições locaes,
pela
é um patriotismo da sua autonomia.

Sr. Presidente, V. Ex.,


em obediencia
ha a
que pouco
me lembrou o regimento,
protestando na concluo,
primeira
opportunidade tratar do assumpto uma © muitas vezes até
Camara.
que elle seja decisivamente julgado pela (Muito bem ;
muito bem.)

O Sr. Presilente — Está finda a hora destinada ao expe-


diente.

Vae-se á ordem do dia .{Pausa.)


passar

Comparecem mais osdos Srs.


Santos, Soares
Antonio
Nogueira, Aurelo Amorim, Souza,
Monteiro
Firmo de
Braga
Ghristino Cruz, Cunha Machado, Agripino Azevedo, Coelho
Notto, Joaquim Pires, Felix Pacheco, Raymundo Arthur, Mo-
da Rocha, Bezerril Fontenelle, Frederico Borges,
reira João
Virgílio Brigido, Augusto Monteiro, Simões Barbosa
Lopes,
Lundgreen, Costa Ribeiro, Aristarcho Lopes,
Frederico Cunha
Barros Lins, Baptista Accioly, Dias de Barros
iVasconcellos,
Hermes, Muniz de Carvalho, Pedro Lago, Octavio
Mario Man-
Ubaldino de Assis, Antonio Moniz, Alfredo lluy,
gabe ira, pe-
Souza Brit.to, Raul Alves, Moniz Sodré, Raphael
reira Teixeira,
Jacnues Ourique, Júlio Leite, Metello Júnior,
Pinheiro Ni-
Nascimento, Pereira Braga, Thornaz Delpliino, Erico
canor do
de Araújo, Francisco Portella, Faria Souto,
Coelho Elysio
Teixeira Brandão, Fran-
Mauricío de Lacerda, Raul Fernandes,
Carlos, Carlos Peixoto Filho, Josó Boni-
cisco Veiga Antonio
Machado, Calogeras, Lamounier Godofredo, Ba-
faoio Irineu
Antero Botelho, Carneiro de Rezende, Chris-
ptista do Mello,
Bragf^, Bueno de Andrada, Josó Lobo,
tiano Brazil Ferreira
Oscar Marques, Luiz Xavier, Pereira
Rodrigues Alves Filho,
]Bctynici> Gustíivo Riclitird, Ociíivio Roclia,
do Oliveira CgIso
do Amaral, Carlos Maximiliano,
Gumercindo Ribas, Evaristo
Nabuco de Gouvôa, Oosorio, Domingos Masearenhas, João Sim-

plicio o João Benicio (80).


"18
SESSÃO EM DE SETEMBRO DE 1912 19

Deixam de comparecer com causa participada os Srs. Ar-


thur Moreira, Mavignier, Serzedello Corrêa, João Chaves, An-
tonio Bastos, Theotonio de Britto, Hosannah de Oliveira, Dun-
shee de Abraflches, João Gayoso, Eduardo Saboya, Thomaz
Cavalcanti, Gentil Falcão, Camillo de Hollanda, Felizardo
Leite, Seraphico da Nobrega, Maximiano de Figueiredo, Bal-
thazar Pereira, Meira de Vasconcellos, Arthur Orlando, Josó
Bezerra, Rego Medeiros, Natalicio Camboim, Rocha Cavalvante,
Euzebio de Andrade, Joviniano de Carvalho, Felisbello Freire,
Miguel Calmon, Campos França, Carlos Leitão, Deraldo Dias,
Rodrigues Lima, Pedro Marianni, Leão Velloso, Pedro de Car-

valho, Pennafort Caldas, Fróes da Cruz, Manoel Reis, Mario


de Paula, Alves Costa, Prado Lopes, Silveira Brum, Ribeiro
Junqueira, Astolpho Dutra, João Penido, Landulpho Maga-
lhães, Álvaro Botelho, Francisco Bressane, Alaor Prata, Mello
Franco, Camillo Prates, Honorato Alves, Cardoso de Almeida,
Joaquim Augusto, Raul Cardoso, Eloy Chaves, Cincinato Braga,
Álvaro de Carvalho, Prudente de Moraes Filho, Marcolino Bar-
reto, Adolpho Gordo, Palmeira Ripper, Valois de Castro,
Arnolpho Azevedo, Costa Júnior, Marcello Silva, Fleury Curado,
Ramos Caiado, Annibal Toledo, Carvalho Chaves, Diogo For-
tuna, Fonseca Hermes e Pedro Moacyr. (72.)

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

G Sr. Presidente — A lista da accusa a de


porta presença
135 Srs. Deputados.
Vae se proceder ús votações das matérias que se acham
sobre a mesa.
Peço aos nobres Deputados que occupem as suas cadeiras.
{Pausa.)
Vae ser julgado objecto de deliberação um projecto.
Em seguida, 6 lido, julgado objecto de deliberação e en-
viado ás CommissÕes de Agricultura e Industria e de Finanças
o seguinte

PROJECTO

N. 324 — 1912

Crêa a Commissão do Stud Book Official, e dá outras

providencias

Considerando a necessidade que ha dos poderes públicos


protegerem a industria da criação do cavallo de sangue puro,
em que estão empregados avultados capitaes em diversos Es-
tados da Republica ;
Considerando que o meio pratico de proteger a industria
de criação de cavallos de sangue tf favorecer o desenvolvi-
monto das sociedades de corridas : e
Considerando a necessidade de fixar no Stud Book Offi-
30 ANNAES DA GAMARA

ciai a genealogia de todos os animaes de sangue nascidos no


paiz:
O Congresso Nacional resolver
Art. 1." Commissão
Fica creada
do Stud a
Book Official,
que se comporá de representantes das sociedades de corridas,
de criadores, de turfemen de reconhecida competencia. Essa
commissão terá 11 membros nomeados pelo Ministro da Agri-
cultura, que será o presidente, e ficará incumbida de orga-
nizar e manter o Stud Book Official dos cavallos de sangue,
dar certificados, fazer os respectivos registros, examinar os
titulos e documentos dos animaes apresentados
a registro, ve-
rificar a identidade dos animaes e intervir ex-officio sobre
todas as questões que se relacionarem com esses animaes.
As funcções dos membros da Commissão do Stud Book
serão gratuitas.
Art. 2." Todos os cavallos de sangue importados ficam su-
jeitos a registro no Stud Book Official.
Art 3,' E' igualmente obrigatoria a inscripç.ão no Stud
Book Official de todo o animal de sangue nascido no Brazil,
para goso das vantagens estatuídas nesta lei
Art. í.° O regulamento
Stud Book especial
Official do
será pela respectiva commissão.
organizado
Art. 5." As sociedades de corridas são
obrigadas a manter
em todas as suas reuniões pareôs animaes naciotiaes de
para
dous, de tres e de quatro annos, de abril e
a junlio, para
os de_ tres o de quatro e mais annos, de julho ao fira da
até
estação sportiva, sob pena de não receberem de qual-
auxilio
quer natureza do Governo Federal.
Paragrapho único. Esses roalizar-se-hão,
pareôs qual-
quer que seja o numero de
concurrentes e
que se inscreverem,
quando apenas um se apresente terá direito
a receber 50 ,%' do
respectivo prêmio.
Além desses pareôs, as sociedades darão tres
aráuialmente
grandes prêmios destinados aos referidos animaes, não podendo
ser, na Capital Federal, nenhum desses in-
grandes prêmios
ferior a cinco contos de réis.
Art. 0." Aos criadores dos vencedores
dos prêmios de ani-
maes nacionaes, as sociedades, de corridas 'darão uma quantia
correspondente a 5 % do valor do primeiro prêmio.
Art. 7." As sociedades de corridas do só
paiz são obrigadas
a acceitar nas corridas realizadas em seus hippodromos os ani-
maes inscriptos no Stud Book Official referidos
mediante os
certificados passados pela Commissão do Stud Book.
Art. 8.° As sociedades de corridas apresentarão até 30 dias,
antes do inicio da estação sportiva, ao Ministro da Agricultura,
o progromma dos grandes prêmios que pretendem realizar e que
serão effectuados seja qual fõr o numero dos inseri-
animaes
ptos.
Esse será submettido á Commissão do Stud
programma
Book Official.
Art. 9." A's sociedades de corridas cumprirem as
que
disposições desta lei será pelo Govorno Federal dado auxilio
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 21

annual mínimo de 15:000$ e ficarão isentas de quaesquer im-


postos federaes.
Art. 10. Revogam-se as disposições em contrario.

Sala dassetembro de 1912. — Metello Júnior.


sessões, 18 de
— J. Augusto do Amaral. — Dionisio Cerqueira. ¦— Nicanor
do Nascimento. — Florianno de Britto. — Pereira Braga. —
Raphael Pinheiro. — Thomaz Delphim. — Nabuco de Gouvca.
¦— João Penldo. — Salles Filho. — Figueiredo Rocha.

O Sr. Presidente — Vou submetter á discussão e votação


duas redacções finaes:
Em seguida, são successivamente lidas e, sem observações,
approvadas as redacções finaes dos projectos ns. 152 A e 283,
de 1912, sendo enviadas ao Senado.

O Sr. Presidente — Estão findas as votações.


Passa-se âs matérias em discussão.
Continuação da 2" discussão projecto do
n. 103, de 1912,
regulando a aposentadoria funccionarios
dos civis
públicos
da União; com parecer da Commissão de Finanças, ás emendas
em 3" discussão e voto em separado do Sr. Antonio Carlos, á
emenda n. 9 (vide projecto n. 91 C, de 1911).

O Sr. Presidente — Acha-se sobre a mesa uma emenda


que vae ser lida.
Em seguida ó lida e posta em discussão a seguinte

EMENDA AO PROJECTO N. 103, DE 1912

(3" discussão)

Emenda ao projecto n. 103:


Accrescente-se onde convier :
«A presente lei em nada affecta aos funccionarios que,
em virtude do disposto no art. 75 da lei n. 2.356, de 31 de
dezembro de 1910, tenham direito adquirido á aposentadoria
com os vencimentos integraes ou com uma parte correspon-
dente dos mesmos.
Sala das sessões, 18 de setembro de 1912.— Raul Fer-
nandes. »

O Sr. Figueiredo Rocha — Poço a palavra.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

0 Sr. Figueiredo Rocha — Sr. Presidente, o assumpto


que .
se discute é da mais alta importancia, dizendo respeito ás apo-
sentadorias dos funccionarios civis, englobadamente com a apo-
sentadoria ou reforma dos militares.
O projecto, penso eu, vem ferir direitos adquiridos, e,
por conseguinte, contraria o preceito constitucional, não
que
admitte a rctroactividade das leis.
22 ANNAliS DA GAMARA

Exemplo: os officiaes do Exercito e da Armada, com mais


de 35 annos de serviço,
por disposições legaes fazem jus,
que
veem desde o tempo dos alvarás, á reforma no imme-
posto
diato e respectivos vencimentos; os que teem mais de 40 annos
teem direito á reforma no posto immediato, com a graduação
do subsequente.
O
projecto, entretanto, determina a reforma ou aposen-
tadoria destes militares, no posto que tenham na occasião.
Parece-me que os direitos adquiridos não
podem ser attin-
gidos pela disposição que se vae votar, e por isto apresentei a
seguinte emenda:

«Accrescente-se onde convier:

Os officiaes do Exercito, Armada e classes annexas que já


contam mais de 35 annos de serviço eque já teem direito a
reforma nos postos immediatos, se reformarão venci-
com os
mentos do posto de suas reformas. »
Mando á Mesa ainda uma outra emenda,
que estabelece que
continuem em vigor^os dispositivos
referentes á reforma vo-
luntaria e a graduação no posto subsequente,
para os officiaes
que contarem mais do 40 annos de serviço quando se refor-
marem.
Como a Camara sabe, os officiaes, depois de 30 annos do
serviço, teem direito á reforma voluntaria, segundo as leis
actuaes; o projecto, cassando esta faculdade, vem ainda ahi,
ferir direitos adquiridos.
A emenda
quo proponho a este respeito é a seguinte (Lê)
que não se podem comparar serviços militares com
Penso
os de funccionarios civis, assim como não se podem sommar
quantidades heterogêneas.
O serviço do militar ó de responsabilidade
extraordinaria;
o militar nao tem direito a descanso em sua casa, e a cada
momento pode sei chamado para
qualquer commissão não lhe
sendo dado apresentar excusas,
que prejudicam a promoção
por merecimento o que muitas vezes dão logar a DrisÕes e fi
notas desfavoráveis na fé de officio.
o serviço militar 6 pesado, começando
Todo
pelo de recruta,
pelo de guarda, e indo ate o de commando. Ainda ha bem pouco
tempo, a Camara teve occasião do lastimar a revolta dos cou-
raçados, em que sahiram, mortalmente feridos, vários officiaes
victimas de seu
_dever.
O mesmo nao succede com os civis, que estão em suas
casas, tranquillos o gozando das vantagens de seus cargos.
Póde-se dizer que o serviço militar eqüivale ao
civil, augmcnl
tado da metade, e 30 annos daquelle correspondem
à 45 annos
deste.
Nao e exacto o que se propala, quanto a se reformarem
os militares com grandes vantagens. Ainda ha pouco foi
aposentado um digno ministro do Supremo Tribunal, com'mais
do 3:000$ mensaes. ao passo que não ha marechal
que, com
mais de 50 annos de serviço effectivo, chegue a se reformar
com semelhantes vencimentos.
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 23

Não se justifica o clamor que levantam ás vezes contra


a classe militar.
As reformas, como estão sendo feitas, aproveitam apenas
aos militares com mais de 40 annos de effectivo exercício,
tendo prestado os mais relevantes serviços á sua Patria.
Ninguém dirá de certo, que seja demais que um homem nestas
condições encontre, na velhice, a merecida recompensa.
Dou parabéns á illustre Commissão, pela elaboração do
projecto, que vem effectivamente satisfazer á aspiração de
estabelecer a igualdade entre as diversas categorias de funccio-
narios; como, entretanto, essa igualdade não pode deixar de
ser relativa, conto que sejam acceitas as minhas emendas,
que obedecem, aliás ao elevado intuito de salvaguardar direitos
adquiridos. (Muito bem; muito bem.)
Vem a Mesa, ó lida approvada e posta em discussão com o
projecto a seguinte

EMENDA

(Ao projecto n. 103, de 4912)

(3" discussão)

Accrescente-se onde convier:

Continuam em vigor as leis relativas á reforma voluntaria


para os officiaes das classes armadas e as que dão direito á
graduação no posto subsequente aos officiaes que contarem
mais de 40 annos de serviço, que continuarão a ser considerados
como effectivos, quando tiverem mais desse tempo de serviço.

Sala das sessões, 18 de setembro de 1912. — Figueiredo


Rocha.

O Sr. Presidente — Continua discussão do


a projecto
n. 103, de 1912.

O Sr. Moniz de Carvalho — Peço a palavra.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputadb.


palavra

O Sr. Moniz de Carvalho — Sr. Presidente, serão muito


ligeiras as minhas observações,
porque acho prematura a dis-
cussão agora e aguardo que o assumpto venha a debate de-
pois de elucidado pela Commissão Especial a que a Camara
commetteu o estudo da questão.
Esperando que o parecer dessa commissão satisfaça os
altos interesses em jogo © relativos á matéria em debate, venho,
entretanto, em auxilio e complemento ás considerações feitas
pela Commissão que elaborou ultimo parecer, em que se fazem
referencias ás aposentadorias illegalinente concedidas Po-
pelo
der Executivo.
E como a matéria é de gravidade transcendental e para
ella devem convergir as vistas de todos os legisladores, parti-
24 ANNAES DA GAMARA

cularmente da Commissão Especial incumbida de dar parecer


sobre o caso, eu, embora achando, como disse, debate
que o
no presente momento prematuro, é submetto á apreciação e
julgamento da Commissão a seguinte emenda elaborei:
que
(Lê)
Emenda additiva ao projecto n. 91 C, de 1911.
Art. O Governo promoverá
das a
aposentado- revisão
rias concedidas por decreto do Poder
Executivo,
'dofóra dos pre-
ceitos taxativos do art. 75 da Constituição e decreto le-
gislativo n. 117, de 4 de novembro de 1892.
Paragrapho único. Os funccionarios aposentados em taes
condições ficarão sujeitos
ora estabelecido,ao regimen legal
apurando-se o exercício
cargos effectivo dos
publico® que
desempenhavam para a contagem do tempo e das
percepção
vatagens concedidas em geral ao funccionario Ficam,
publico.
entretanto, mantidas as vantagens © condições especiaes das
aposentadorias concedidas por decreto legislativo.» (Muito
bem; muito bem.)

Vem á mesa, è lida, approvada e em com


posta discussão
o projecto a seguinte:

EMENDA

Ao projecto n. 103, de 1912

(3a discussão)

Emenda additiva ao projecto n. 91 C, de 1911.

Art. O Governo promoverá a revisão das aposentado-


rias concedidas por decreto do Poder Executivo, fóra dos
taxativos do art. 75 da Constituição decreto
preQeitos e do
legislativo n. 117, de 4 de novembro de 1892.

paragrapho único. Os funccionarios taes


aposentados em
condições ficarao sujeitos ao regimen legal estabelecido,
ora
apurando-se o exercício effectivo dos cargos públicos que
desempenharam para a contagem de tempo das
e percepção
vantagens concedidas em geral ao funccionalismo publico.

Ficam, entretanto, mantidas as vantagens e es-


condições
peciaes das aposentadorias concedidas decretos legisla-
por
tivos.

•S. R.— Em Camara., 27 de julho de 1912.— Moniz de


Carvalho.

E' encerrada a 3" discussão


do projecto n. 103, de 1912,
e adiada a votação até que a
respectiva Commissão dô
parecer
sobre as emendas offerecidas.

I
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 25

0 Sr. Presidente — Esgotada a matéria em discussão


constante da primeira parte, passa-se á

SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA

(ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

Continuação da 5'" discussão do projecto m. 61 B, d© 1912,


fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria o
Coinmercio para o exercício de 1913.

0 Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Pereira Nunes.

0 Sr. Pereira Nunes — Sr. Presideste, antes de tratar do


orçamento, consulto a V. Ex. si, em virtude de disposição
regimental, não compete a palavra a um orador que vae fallar
contra o orçamento, o Sr. Deputado Nicanor do
porquanto
Nascimento, a quem coube a palavra anteriormente, declarou
da tribuna que suas proposições seriam a favor do orçamento.

O Sn. Presidente — Parece o Sr. Deputado, si bem


que
ouvi, consulta si é a S. Ex. que cabe a vez de fallar ou a um
orador que se tenha inscripto com declaração do fallar contra.,

. O Sr. Pereira Nunes — Sim, senhor.

O Sr. Presidente — O orador vez fallou


que pela ultima
não fez declaração alguma na inscripção. Nessas condições, a
Mesa segue a ordem da inscripção e dá a palavra ao nobre
Deputado.

O Sr. Pereira Nunes —Sr. Presidente, minha presença


na tribuna, na hora em que se debate, em terceira discussão,
o orçamento da agricultura, justifica-se por um compromisso
anteriormente assumido com o voto favoravel, no seio da
Cotnmissão de Finanças, ás despezas com os serviços de immi-
e especialmente de abertura do ao da autorização
gração
credito supplementar proposta do referido or-
á verba 3" da

çamento. Tanto mais natural e opportuno me parece digno o


esforço para tomar parte neste debate, quanto impugnações
a esse voto foram feitas em segunda discussão e não pude acudir
ao appello dos àllustres preopinantes.
Verdade é que na sessão da Camara em que isso se deu,
os Deputados Galeão Carvalhal e Caetano de Albuquerque,
também signatarios de meu voto vencedor no seio da Commissão,
deram prompta e categórica resposta. Mais ainda, o illustre
relator do projecto e chefe da bancada a que me honro de

pertencer, o Sr. Raul Fernandes, galhardamente esposou a


solução adoptada e, com aquella sua persuasiva dialectica que

todos nós applaudimos, defendeu o referido dispositivo ao en-


caminhar a votação.
Não venho, pois, oppòr contradicta aos que de boa fó se
insurgiram contra a fórmula, aliás commum na nossa legislação
orçamentaria, das autorizações do credito. Antes se afigura ao
26 ANNAES DA GAMARA

meu espirito que muito louvável seria á attitude da maioria


da Commissão apoiando o relator e affrontando com coragem
o fantasma do déficit, votando pela dotação precisa reclamada
no projecto orçamentário contra a verba minorada da proposta
governamental.
Trata-se de um serviço de colonização e povoamento, cujo

progressivo desenvolvimento assegura íactores valiosos da nossa


expansão economica e da nossa riqueza e civilização. As cousas,

porém, nem sempre se passam _como a gente quer... e, naquelle


momento, no seio da Gommissão, como neste recinto, a palavra
eloqüente do nosso digno companheiro, o eminente Sr. Serze-
dello Corrêa, creava a patriótica suggestão de «horror ao
déficit», — e a unica_solução viável, no seio da Commissão de
Finanças, foi a votação da verba da proposta com o compro-
misso do voto pelo credito supplementar, já de antemão julgado
necessário. Embora de pouco rigor technico, a fórmula
adoptada, que aliás é de pratica vulgar nos nossos orçamentos,
— foi, e 6 agora mais do que nunca, em 3o discussão, pelas
exigoncias regimentaes, o único
meio de não embaraçar o
custeio de um dos mais importantes serviços do da
Ministério
Agricultura.
A justificativa, pois, do meu apoio e do meu esforço para
que não faltem ao Governo os meios precisos continuidade
para
desse importante e utilissimo serviço, é fácil.
Representante de uma zona agrícola, centro
grande pro-
ductor, onde a lavoura o as industrias agro-pecuarias se teem
desenvolvido sem os favores do Estado, na mais exhaustiva
labuta da iniciativa — é meu dever
privada, pugnar pelo amparo
dos operários ruraes, pelos benefícios á lavoura, pelo povoa-
monto e cultura das nossas ricas zonas do interior.
E' também nome desses eminteresses, represento
que
com (não apoiados)
brilho mas com muita dedicação,
pouco
meus enthusiasmos missão e
que proclamo pela grandiosa
do Ministério da Agricultura, ein cuja acção admi-
patriótica
nistrativa o Dr. Pedro de Toledo, titular da
pasta, vae empre-
com invejável brilho sua operosidade intelligente, rne-
gando
honesta administração
recendo sua fecunda e applausos e en-
corajamento de todos os brazileiros.

A velha phrase, sediça nos coinicios populares, costumeira


— essencialmente
em nossa tribuna parlamentar paiz aoricola
define com muita propriedade a natureza da nossa zona
— como nação quo «haure da superfície uberrima
territorial
a fartura todas
e as delicias a imaginação
da torra toda que
humana creou no Eden lendário »,eo Ministério da Agricultura
no feliz de um dos nossos estimados homens de
conceito
—será o departamento
Estado, o Sr. Nilo Peçanha do trabalho,
o ministério do futuro Brazil.
— Muito bem, apoiadissimo.
O Sr. José Bonifácio
—E' fácil explicar,
O Sr. Pereira Nunes certas impor-
tcchnico-orçamentarias na elaboração da das
feições proposta
hontem aqui sujeitas a critica amarga o severa.
despezas,
recente da administração federal, atravessando
Departamento
SESSÃO 1SM 18 DE SETEMBRO DE 1912 27

o período de organização de seus múltiplos e complexos en-


cargos, é muito explicável a impossibilidade do rigorosos de-
talhes de verba serviços cuja iniciação se está fazendo,
para
quando, extensivo o rigorismo da critica a faltas incriminadas,
attingirã a todas as de orçamentos dos outros ramos
propostas
da administração.
Fundado ha pouco, num agitado da nossa vida
período
política, elle teve seu inicio com a vigorosa capacidade orga-
nizadora do Sr. Rodolpho Miranda, que aproveitara as primeiras
bases esboçadas
pelo provecto Sr. Cândido Rodrigues.
verdadeira phase de organização, — em sua existeneia
Em
inicial, — 6 bem de ver que seus .resultados
práticos já se vão
fazendo sentir, e as despezas de agora serão todas de
quasi
caracter reproductivo.
E' de justiça, e não ha negal-o, que a acção administrativa
do illustre titular, Dr. Pedro de
Toledo, é um penhor seguro,
urna garantia valiosa dos innumeraveis serviços que esse de-
partamento da administração vae prestando iao e ás
paiz
classes productoras.
Mas, Sr. Presidente, não venho á tribuna fazer a
para
apologia do illustre auxiliar do honrado Sr. Presidente da
Republica. Mais eloqüentes do as minhas mais
que palavras,
persuasivos do que os meus argumentos, será a exposição que
farei dos serviços proporcionados ás classes productoras por
esse departamento da administração — desde o ensino agrícola,

pela disseminação dos rudimentos das culturas no interior,


até a fundação e proximo funccionamento do mais alto depar-
tamento do ensino superior agronomico — a escola de agri-
cultura e veterinaria, e em rapida synthese farei o estudo das
múltiplas secções, importantes pelos seus fins e úteis pelos
seus effeitos práticos e promissores.

O Sr. Moniz de Carvalho — Y. Ex. um a


presta serviço
todos nós, que estamos in albis, porque até hoje, não temos o
relatorio do Ministro c a nossa ignorancia a respeito das
coisas desse ministério ó aggravada por esta circumstancia.

O Sr. Pereira Nunes — Os relatorios do anno passado já


foram publicados...

O Sn. Caloüehas— Ah! do anno passado...

O Sr. Moniz de Carvalho — V. Ex. vae essa


prestar com
exposição um relevante serviço á Camara e ao Ministro.

O Sr. Pereira Nunes — Agradeço a Y. Ex.; mas o meu


intuito principal 6 justificar meu voto no seio da Commissão
de Finanças e legitimar opinião sincera acerca da importancia
dos serviços desse ramo da administração; igualmente,
publica
acho obra digna de louvor
pelos eminentes collegasa seguida
que, em critica imparcial, serena e digna, esforçam-so em nosso
recinto
parlamentar pela discriminação rigorosa das verbas da
despeza E', não ha duvida, uma exigência
publica. technica
que, dentro dos limites do possível, deve sempre á
presidir
elaboração desses trabalhos financeiros...
28 ANNAE8 DA CAMARA

O Sr. Calogeras— V. Ex., como membro da Commissão


de Finanças, costuma dizer:

Video mcliora proboque, deteripra sequor.

O Sr. Pereira Nunes— .. .mas eu não censuro a critica


brilhante de V. Ex. no tocante ás regras da sciencia de fi-
nanças. Não tem applicação o aphorismo. Permitta-me V. Ex.
que assegure c|ue faço no seio da Commissão de Finanças a
politica da União, na defesa do Thesouro, contra inopportunas
exigencias regionaes, e tonlio votado sempre eórte das
pelo
despezas adiaveis. A unidade orçamentaria, a especificação
detalhada das despezas publicas, a discriminação de todas as
rubricas com as suas respectivas verbas, o equilíbrio da receita
e da despeza, são exigencias technicas louváveis:—essa é
quasi sempre
preoccupação,a todos os em do
parlamentos
mundo, dos que elaboram ou discutem leis orçamentarias.
Analysemos rapidamente os serviços principaes.
Está estabelecido dos o ensino
rudimen- ambulante
mais
tares e úteis preceitos de
chegaremos até cultura
ao Ensino e
Superior de e Veterinaria
Agricultura brevemente será
que
inaugurado, estando desde ,já entregue a organização desse
importante instituto, a um especialista reputado, antigo pro-
fessor em um dos estabelecimentos do do
prospero Estado
S. Paulo...

O Sr. José Bonifácio — Um


profissional de reputação,
um homem competente.

O Sr. Pereira — e
Nunes
que foi convidado para dirigir
a Escola Superior Agricultura,
de que irá funccionar em prédio
proprio e cuja inauguração, consta-me, se fará era
abril.
O ensino ambulante já se vae fazendo com vantagens.
O contractados
ministério tem
12 especialistas, em
que
excursão por diversas zonas do interior dos Estados, ministram
instrucções em conferências o ensinamentos ao alcance dos
agricultores.
pequenos
agrícolas — Estão fundados
Aprendizados e funccionando
desse genero onde se
oito estabelecimentos preparam os mestres
de cultura que irão substituir os antigos e boçaes feitores.
Já funccionam Bahia, Rio os
Grande da
do Sul, Minas,
Pará, s. Paulo e Santa Gatharina.
Maranhão,
AlagOas,
— Já está funccionando
Escola de lacticinios a de S. João
d'El-Rey de Minas K
(Estado
— Estes institutos
Campos de demonstração de demonstra-
de cultura, verdadeiros laboratorios,
ção dos methodos abertos
e á pratica das nossas principaes
ás experiencias plantações,
em numero de 7, nos seguintes Estados:
,já estão funccionando,
Grande Norte, Parahyba, Minas, S. Paulo, Santa Ca-
Rio do
tharina, Rio de Janeiro e Sergipe.
Estações experimentaes de canna do assucar — A de Per-
em franca actividade e a de Campos, em con-
nambuco, já
devendo ser fundada uma no Sul para cultura do
strucjção,
trigo.
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 191S 29

Postos zootechnicos— Remodelados os antigos e creados


os da^Lapa e Ribeirão Preto.
Em Pinheiros está creada uma escola média pratica-theo-
rica, cuja matricula já excedeu o numero regulamentar, tendo
sessenta o tantos alumnos.
Já ahi existem 11 animaes, sangue — sete
puro anglo-
arabes, dous puro sangue inglez — dous Hacknes e « bovinos »
de todas as raças.
Fazendas modelo foram creadas algumas.
Serviço veterinário — Creação de inspectorias policiaes
sanitarias nos Estados.
Congresso veterinário, no Ministério, com assistência do
representantes de vários paizes americanos.
Clamavam os nossos agricultores enormes difficul-
pelas
dades dos meios de cultura, e especialmente carestia e im-
pela
possibilidade de obter sementes o mudas as suas
para plan-
tações...

O Sr. El,oy de Souza — E ainda continuam essas difficul-


dades.

O Sr. Pereira Nunes—...mas vou expor a V. Ex. como


_
está provida, em parte, essa palpitante necessidade dos nossos
lavradores.
A distribuição gratuita dc sementes até agosto foi de
628.000 toneladas de sementes de cereaes forra-
(gramineas,
geiras, tuberculos, algodão, canna e hortaliças).
Durante os mezes desse anno fluente 155 toneladas de se-
mentes de trigo, sendo 100 para o Rio Grande do Sul, 35
para
o Paraná o 25 para Santa Catharina.
O horto ilorestal tem tido extraordinário desenvolvimento.

A
primeira sementeira, realizada em 30 de março de 1911.
possue hoje dous milhões de mudas de «arvores fructiferas»,
do «ornamentação» e de «conservação das florestas».
Esse horto já distribuiu aos Estados 273.(522 mudas.
Os estabelecimentos de culturas especiaes também já
existem.
As Estações Experimentaes da Canna de Assucar em Per-
nambuco e em Campos...

O Sr. Augusto Amaral — A do Estado cjue represento já


nos vao prestando bons serviços.

O Sr. Pereira Nunes— ...a de Pernambuco já em acti-


vidade, confiada a um technico contractado e especialista no
assumpto, e a de Campos, meu município, onde se estão con-
struindo agora os edifícios e pavilhões para os gabinetes —•
serão dous institutos de ensino pratico, muito util ao aperfei-
çoamento dos meios de cultura da sua rica graminea — a canna
de assucar.

A serícicultura já dispõe de dous pequenos institutos, no


Rio Grande do Sul e em Minas: — « Bento Gonçalves »
c « Ro-
drigucs Silva».
30 ANNAES DA GAMARA

Nesses dous estabelecimentos não só se estuda o bicho


de seda, como os meios de cultura, íunccionando já uma escola
inixta para o ensino dessa especialidade, com frequencia re-
guiar.
Industria e Cornmercio — Si dirigirmos nossa attenção para
os serviços públicos que correm pela Directoria da Industria
e Cornmercio, veremos a creação da Gamara Internacional de
Commercio Brazileiro e suas íiliaes nos principaes mercados
estrangeiros.
Creação >da Bolsa de Mercadorias — Está íunccionando.
« Escolas de Aprendizes Artífices », cujas installações teem
sido augmentadas com melhoramentos e apparelhos, dispondo
estes institutos de extraordinaria matricula.
Nestes estabelecimentos de funcção social educadora e
moral, prepara-se o homem util, o operário, o in-
pequeno
dustrial habilitado e intelligente.
Representam talvez a salvação das gerações futuras que
surjam desprotegidas da fortuna e ahi rehabilitadas para a

yida industrial. \,«ívl

O Sr. Calogeras —V. Ex. estudou o mecanismo dos re-


dessas escolas? Si o fez terá notado que não ha
gulamentos
nada mais esterilizador da iniciativa do que o modo por que
esses estudos estão organizados.

O Sr. Pereira Nunes — O Ministro da Agricultura in-


troduziu na reforma recente medidas regulamentares que
crearão o habito de economia e mutualismo, espirito de soli-
dariedade e educação civica. Aqui trago o regulamento e

posso informar ao meu nobre collega, porquanto acompanho


a vida desses estabelecimentos — que esses institutos estão
florescendo com applausos de todo o Brazil.
Em minha terra a Escola do Aprendizes Artífices tem
matricula superior a 200 alumnos, o em
plena actividade
funccionam officinas de alfaiataria, electricidade, carpintaria,

marcenaria, aulas obrigatórias de desenho, etc.


de industrial — Esta secção, ainda ha
Serviço propriedade
iniciada já produziu a renda de 150:000$ no corrente
pouco
o veiu preencher, sensível lacuna, na nossa organização
anno
administrativa. .
As importantes repartições do Astronomia e Meteorolçgja
de inadiaveis reformas, o com a acquisição
teem sido objecto
instrumental teem sido despendidos úteis di-
de moderno
nlleiQ°ss'serviços
de estatística já nos fornecem elementos_para
de social e a Repartição do Publicações e
estudos proveito
íunccionando sob a direcção do Sr. Affonso
Divulgações está
Costa ex-Deputado federal.

Essa dispõe de uma das mais importantes


secção, que
artes do Brazil — colhe, affeiçôa, adapta
officinas de graphicas
as informações úteis e necessarias ao desenvolvimento
todas
á sua instrucção agrícola industrial, e as divulga por
do paiz^
do e pelo estrangeiro.
todos os pontos paiz
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO 0E 1912 31

Pet'doe-me a Camara,
vT perdoem-me os Sr. Presidente,

sua ouvem
attenção com
ociosa o
temno8 rmr>
Pm,5ue fhn«que
lhes ,me
™ .roubo, a incommodidade
que proporciono a
o». EEx. com esta descripção fatigante...

O Sr. Raphael Pinheiro e outros — Não apoiado.


Pereira- Nunes—... <le serviços desse departa-
P
monto ^R"
da nossa administração federal. Essa dissertação visa
o objectivo de elucidar opinião que mantive no seio da Com-
missão de Finanças.

O Sn. Raphael Pinheiro —O trabalho de V. Ex. é ver-


Entretanto, si me
mip?nnf!™h«? (el' permittisse pediria
dados com os dos annos anteriores, para
vppmna n annf I,
que cabe á actual admi-
nistração benemerencia

~ Permitta-me o illustre amigo e


nobrp
nobre Nun~es
Deputado que nao personaliza a critica. Sem irreve-
6«U Pe(?° vonia
para JHstifloar a minha,
oueCsaft
que se apoia 'niÕe®'
em convicções sinceras acerca da utilidade e da
necessidade do uma serie de
serviços deste Ministério.
Passemos, pois, ao
ponto principal dessa oração, á exposição
de seguros dados para justificativa da verba necessaria aos
serviços de ímmigraçao o colonização.
O serviço de immigração tem tido, nestes tres últimos
annos, um desenvolvimento extraordinário. unimos

Ao immigrante são proporcionadas condições


de conforto
e a acolhida e
LfejS1tar; prompta immediata, segue-se á
' °° "m ab'™01»
encontram Saího

com a
concessão do auxílios o favores especiaes, definidos no
de PvOVOament°. approvado
pelo de-
ÍX
creto n™?%?°h!T,JC0
n. 9.081, de 3 do novembro de 1911.
O auxilio de passagens, alóm de facilitar a selecção,
também concorro incrementar
para o movimento emiaxatorio
do exterior para o paiz.

A viagem cio interior da Europa ao porto de embarque


lorça o emigrante com família a avultados idispendios de
transporte em estrada
de ferro, de maneira que a uns não
sobram recursos paxa a compra de passagens em vapores que
os levem a paizes de ultramar, e a outros se afigura o receio
de que este accrescimo de despeza lhes reduza
demais o pecúlio
de que possam necessitar acudir
para a eventualidades.
Os ímmigrantes que obteem
passagem gratuita são esco-
Ihidos, porquanto chamados veem a
de parentes e amidos iá
aqui estabelecidos
com bom êxito e, isso
por mesmo elevam
a porcentagem dos que apresentam maior probabilidade de
alcançar prestes, no local do destino, urna situação nrosnera
que nao tardará em ser divulgada entre os seus
conhecidos nó
32 ANNAES DA GAMARA

exterior, constituindo um incentivo para a immigração espon-


tanea.
A escolha de immigrantes encontra sérios óbices nas me-
didas coercitivas expressas cm leis, regulamentos o circulares,
que diversos governos europeus adoptaram contra a immigração
para o Brazil, principalmente após a extineção da Inspectoria
Geral das Terras e Colonização, em 1896.
Tendo cessado durante longo período a intervenção directa
do Governo Federal em tudo
que de perto interessa aos ser-
viços de immigração e colonização, forain-se consolidando com
facilidade as disposições que vedam, em alguns paizes, a escolha
de immigrantes e a concessão de passagens.
Felizmente, com o restabelecimento desses serviços e em
consequencia da vulgarização dos nossos recursos, vão se dis-
sipando as suspeitas desfavoráveis ao Brazil como paiz immi-
grantista.
Sem infracção das disposições prohibitivas ainda em vigor
em alguns
paizes, acatando-se-as escrupulosamente, tem vindo
muitas famílias de agricultores, que, satisfeitas e em relativa
abastança, dão o melhor testemunho das vantagens que o immi-
grante valido e operoso pode auferir em terras brazileiras.
Augmenta dia a dia o numero de famílias estabele-
que,
cidas em núcleos coloniaes, chamam outras a virem se loca-
lizar identicamente.
Ao immigrante agricultor acompanhado
de família, que
deseja localizar-se no paiz como proprietário rural, ó concedida
passagem gratuita, ou por antecipação, ou por meio da resti-
tuição da respectiva importancia, de accôrdo com o art. 12
do .regulamento actual.
No primeiro caso é o immigrante denominado subsidiado;
no segundo espontâneo.
Entretanto não ó restituida a todos os immigrantes espon-
taneos a importancia de suas e de suas famílias.
passagens

Para que isso se dê do accôrdo com o citado art. 12 <5


indispensável:

em primeiro logar que seja esse favor solicitado;


em segundo que o immigrante e sua família sejam agri-
cultores e estejam localizados como proprietário rural;
em terceiro logar que tenha em sua família pelo menos
trespessoas aptas para o trabalho, maiores de 12 annos e
menores de 50.
E' ainda indispensável que o requerimento solicitando o
favor seja apresentado dentro do prazo de dous annos, contados
da data da chegada do vapor que os transportou ao porto bra-
zileiro.
Referiu-se ha pouco o meu eminente collega, o Sr. Pandia
CalOgeras, cujo nome sempre cito com a devida venia, á questão
de prophylaxia de trachomas e outras moléstias.
— Ha na Hospedaria de Immigrantes da Ilha das Flores
um medico especialista de moléstia de olhos, qual compete:
ao
§ 1." Comparecer diariamente á Hospedaria, de modo a
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 33

attender aos immigrantes e ao pessoal da Hospedaria atacados


de qualquer moléstia relativa á sua especialidade.

§ 2.° Examinar minuciosamente todos os recem-chegados


e verificar si soffrem de qualquer moléstia contagiosa do appa-
relho visual, principalmente de tracboma.

§ 3.° Providenciar para que todos os immigrantes que


soffram de moléstia ocular transmissível e curavel sejam se-
parados dos demais e convenientemente tratados ató completa
cura.

§ 4." Communicar ao director, para que sejam tomadas


as medidas necessarias ao reembarque de immigrantes para o
paiz de procedencia, todas as vezes que encontrar um caso
de moléstia incurável, ou, sendo curavel, recusar o paciente
submetter-se ao tratamento pelo tempo necessário até á com-
pleta cura, e impedir a sua entrada nas colonias sempre que
se achar em condições de poder propagar a moléstia de que
íor portador.

§ 5.° Apresentar relatorio annual sobre o serviço a seu


cargo, suggerindo ao director as providencias que julgar ne-
cessarias.

Esse serviço, que está a cargo do illustre oculista Dr. David


Sanzon, tem sido eflectuado com toda a regularidade.

Durante o anno do 1911 entraram no Brazil 135.967 immi-


grantes, sendo 90.092 do sexo masculino e 45.875 do sexo
íeminino, assim classificados: espontâneos, 80.372; subsidia-
dos, 55.595; agricultores, 99.811; diversas profissões, 30.156.

Em relação aos annos de 1909 e 1910, respectivamente,


houve um augmento de 50.556 e 47.403 immigrantes.

Nacionalidade dos immigrantes entrados:

Portuguezes 47.493
Hespanhóes 27.141
Italianos 22.914
iRussos 14.013
Turco-arabes 6.319
Allemães 4.251
Austro-húngaros 4.132
Brazileiros 2.392
Francezes 1.397
Inglezes 1.157
Suecos 1.116
Argentinos 624
Barbadenses 293
Belgas 293
Norte-americanos 275
Gregois 250
Hollandezes 247
Suissos 229

Vol. X 8
34 . ANNAES DA GAMARA

Uruguayos 229
Bolivianos 163
Diversas 1.039

Total 135.967

Até o dia 30 de junho do corrente anno já se verificou a

entrada de 86.554 immigrantes, sendo 59.212 pertencentes ao

sexo masculino e 27.342 ao sexo feminino, assim classificados:


espontâneos, 54.708; subsidiados, 31.846; agricultores, 61.290;

diversas profissões; 25.264.


No numero dos immigrantes entrados figuram 35.558 por-
tuguezes, 15.381 italianos, 12.841 hespanhóes, 5.766 russos,

3.359 turcos, 1.851 austro-hungaros, 1.747 allemães e 10.051

de diversas nacionalidades.
Em núcleos coloniaes ou eolonias, custeados pela União ou
ella auxiliados, o recenseamento feito em dezembro do
por
anno proximo passado accusou a seguinte população estabele-
cida depois da creação do Serviço de Povoamento:

Famílias Pessoas

Affonso Penna, Espirito Santo 357 2.024


Inconfidentes, Minas Geraes 123 865
João Pinheiro, Minas Geraes 105 636
Constança, Minas Geraes 63 363
Santa Maria, Minas Geraes 53 339
Vargem Grande, Minas Geraes 36 201
Itajubá, Minas Geraes 33 179
Visconde de Mauá, Rio de Janeiro 89 491
Itatiaya, Rio de Janeiro 49 298
Bandeirantes, S. Paulo 127 696
Monção, S. Paulo 45 581
Ivahy, Paraná 966 4.840
Cruz Machado, Paraná 957 4.474
Vera Guarany, Paraná 647 4.208
Itapará, Paraná 602 1.396

Iraty, Paraná 286 1.379


Senador Corrêa, Paraná 3(59 1.285
Nova Gallicia, Paraná /l0° 1.895

Tayó, Paraná 74 361


Jesuino Mracondes, Paraná 66 345

Annitapolis, Santa Catharina 275 1.307

Esteves Júnior, Santa Catharina 57 598

Guarany, Rio Grande do Sul 9.464


Erechin, Rio Grande do Sul 928 5.010

Ijuhy, Rio Grande do Sul 528 2.899

Diversas colonias:
1.013 6.204
Antigas

Total 10.040 52.824

immigrantes que, durante o anno de 1911,


Dos 72.970
do Rio de Janeiro, 29.059, que vieram como
entraram no porto
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 33

subsidiados, trouxeram, segundo declarações feitas a bordo dos


vapores que os transportaram, perante os funccionarios do
Serviço de Povoamento encarregados do sua recepção, recursos
pecuniários na importancia, em moeda nacional, de 541:464$939'.
Essa quantia, declarada pelos immigrantes, 6 sempre
muito inferior áquella que realmente trazem, por isso que, por
causas peculiares a cada um, já como receio de pagamento de
impostos, já temendo que não lhes seja feita a concessão dos
favores previstos, considerando-os abastados, confessam sem-

pre serem portadores de quantias insignificantes.


No corrente anno, até o dia 15 deste mez, entraram no

porto do Rio do Janeiro 35.727 immigrantes, dos quaes 9.917


vieram como subsidiados.
Estes, constituindo 1.985 famílias, trouxeram valores pe-
cuniarios na importancia de 196:712$681.
A producção durante o anno de 1911, obtida pelos colonos
localizados com auxílios federaes em núcleos coloniaes, attingiu
a 7L652:035$800, afòra diversos productos do origem industrial
que não puderam ser contemplados na estatística organizada
pela Directoria do Serviço de Povoamento com os elementos
colhidos pelas administrações dos núcleos.
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SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO MS 1912 37

0 Sr. Calogeras — Ahi estão englobadas verbas diffe-

rentes.

O Sr. Pereira Nunes — São demonstrativos da


quadros
despeza da» verba terceira na proposta governamental.
O Sr. Calogeras —- V. Ex. está que eu estou
pensando
atacando a exactidão de suas affirmações, quando não estou.
Relativamente á verba terceira nós combatemos apenas o modo
pelo qual a Gommissão. de Finanças a fez, instituindo verda-
deira mentira orçamentaria isto é, estabelecendo verba que
ella reconhece que não ó sufficiente, e então na cauda do orça-
mento, autoriza a abertura de credito especial.

O Sr. Pereira Nunes — O aparte uO nobre Deputado não


mais procede; eu já expliquei.

O Sr. Osorio — A impugnação não era á dotação, mas á


forma.

O Sr. Niganor do Nascimento— Eu até na occasião em


que impugnei esse credito, perguntei ao honrado leacler si o
Governo precisava de oito mil contos, e S. Ex. não respondeu.

O Sr. Pereira Nunes — Já mostrei por quadros e balan-


ços anteriores, da despeza realizada, que excedo de oito mil
contos a despeza a que o nobre Deputado se refere. Esses ba-
lanços respondem mathematicamente, cabalmente sobre a do-
tação cujo voto foi objecto de debate no seio da Coinmissâo de
Finanças.
Assim, Sr. Presidente, não achamos tarefa digna de en-
comios a quem se propuzer a combater os importantes serviços
de immigração e povoamento. Elles são preciosos eleementos
de nossa riqueza e prosperidade.

O Sr. Calogeras — De accôrdo.


pleno

O Sr. Pereira Nunes — Lembro as sessões no parlamento


francez, quando em 1891 alli se agitavam discussões no sentido
de supprimir despezas e reduzir o déficit orçamentário, e cito
um trecho do notável discurso do Sr. Poincaré oppondo-se á
suppressão de despezas úteis ao desenvolvimento e a riqueza
do paiz:

«Já se tem realizado uma


série gradual de economias
administrativas nos exercícios anteriores; o que resta fazer é
a suppressão das engrenagens inúteis; é que existem, em
França, na administração, dispensáveis e obsoletas complica-

ções, uma plethóra de pessoal funesto sobre todos os pontos de


vista— funesto sobretudo porque desviada vida activa, da vida
livre do commercio, da industria e da agricultura forças vivas

que melhor aproveitadas seriam no interesse dá nação.»


Epois, como naquelle momento o illustre estadista
francez, appellando para a coragem civica dos seus collegas
no parlamento, apontava remedios profícuos para o equilíbrio
das finanças do seu paiz, assim também me será licito implorar
á Gamara que na faina de cortar despezas não se supprimam
38 ANNAES DA CAMARA

de fôrma alguma verbas não constituirão


que jamais o passivo
de uma nação.
A um aparte do nobre Deputado Sr. Raphael Pinheiro
sobre o êxodo dos nossos immigrantes para a Republica Ar-
gentina, poderei responder, o assegurando que é, felizmente,
phenomeno contrario que se está observando.
Para proval-o basta exhibir os despachos telegraphicos
expedidos pelos honrados
presidente no Estado do Rio Grande
do Sul e governador de Santa Gatharina sobre
o que se passa
naquelles Estados.

O Sr. Osorio — Só em 1910, no semestre, o


primeiro go-
verno do llio Grande do Sul localizou 4.200 immigrantes:

O Sr. Piíreira Nunes — E' exacto. Vou ler os telegram-


mas que isto confirmam e respondem ao nosso illustre collega
Sr. Raphael Pinheiro.

O Sr. Osorio — Está também na mensagem do presidente


do Rio Grande do Sul.

O Sr. Pereira Nunes —Assim estão concebidos os despa-


chos telegraphicos, ao ministro, sobre assümpto:
esse
Copia do telegramma enviado pelo Sr. Dr. Carlos Barbosa,
presidente do Estado do Rio Grande do Sul, ao Sr. Ministro da
Agricultura:

«Nessa Capital, segundo estou informado, teem circulado


noticias do exçdo de immigrantes do Rio Grande para a Re-
publica Argentina. Dada a completa inexactidão dessas versões,
apresso-mo a assegurar a V. Ex. corrente
que a estabelecida é
etn sentido inteiramente opposto, é, isto da Argentina é
que se
esta operando movimento emigratorio este
para Estado.
Saudações mui cordeaes.

Cópia do telegamma dirigido pelo Sr. coronel Vidal Ramos,


governador do Estado de Santa Gatharina, ao Sr. Ministro da
Agricultura:

Constando se propala os immigrantes encaminhados


que
para este Estado, pela União, estão seguindo para a Republica
Argentina, achei conveniente informar a V. Ex. baseado em
dados officiaes do movimento immigratorio e emigratorio
deste Estado, no corrente anno que foram encaminhados pela
Directoria Geral do Serviço de Povoamento e recibos na hospe-
daria desta capital, 1.72G immigrantes tomaram os
que se-
guintes destinos: Núcleo Annitapolis, 811; Núcleo Esteves
Júnior, 231; Itajahy, 16; S. Francisco, 19; Joinville, 1; Laguna,
10; Florianopolis, 1; Santo Amaro, 1; Paranaguá, Polacos, (530;
total, 1.726. Immigrantes espontâneos o diíectamente vindos
do estrangeiro desembarcaram nos de Florianopolis,
portos
Itajahy o S. Francisco, 38 de 1"
classe e 357 do 3" classe.
Bali iram directamonte para o estrangeiro,
portos citados,
pelos
37 immigrantes em 1" classeo 236 em 3" classe, assim desti-
nados: Breinen, 101; Hamburgo, 23; Montevidéo, 96; Buenos
Aires, 53; total 1.273. Por estes dados V. Ex. verá carece
que
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 39

de fundamento referido.— Cordiaes


plausível o boato sau-
dações.»

O Sr. Pereira Nunes — Assim Sr. Presidente, seja.


pois,
licito reaffirmar a immigração ó um elemento
que positivo da
nossa prosperidade, da nossa expansão economioa e da riqueza
futura do paiz. As nações que se deixam tomar de desalento,
sem reacções patrióticas para se libertarem das crises sociaes,
das suas depressões financeiras e economicas, e buscam thera-
peutica imprópria aos elementos de sua vitalidade, serão
victimas por certo de lenta e fatal anemia. E' mister reagir,
trabalhar no interesse collectivo, utilmente, não julgar
gastar
verbas do passivo orçamentário despezas concorrerão
que
positivamente para o publica e engran-
augmento da riqueza
decimento da patria. fôrma ó Pensar
alimentar o de outra
postulado terrível pessimismo economico — que o
fatalista, de
progresso social é um perigo, tornando a miséria corollario
fatal da civilização. bem. O orador é vivamente
(Muito feli-
citado.)

Comparecem ainda os Srs. Arlindo Leone, Souza e Silva,


Josino de Araújo e Corrêa Defreitas (4).

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Josino de Araújo.!


Continúa a discussão do projecto n. 61 B, de 1912. (Pausa.)]

Não estando presente o Sr. Deputado Josino de Araújo,


tem a palavra o Sr. Moniz de Carvalho.

O Sr.
Moniz de Carvalho — Permitta-me a Camara que,
Vencendo justos e legítimos escrupulos, ao tomar parte neste
debate, que resvalou para um terreno ingrato e pessoal, comece
fazendo declarações peremptórias, categóricas, depois das quaes
possa com inteira liberdade e franqueza manifestar meu pen-
samento, como impõe a culminancia desta tribuna, onde se
roflecte a opinião nacional nas suas legitimas aspirações.

Faço justiça á probidade do Sr. Ministro da Agricultura e


declaro á Camara que S. Ex. merece o culto da minha consi-
deração, da minha estima e do affecto particular.
meu Declaro
ainda mais que; solidário com política de S. Ex., sua operosa
a
e honesta administração merece meu apoio o ajpplauso.

Estas as faço
declarações
porque é necessário destruir a
subversiva a pessoa dos Ministros com
doutrina
que confunde
a matéria em discussão nos debates orçamentários, escure-
cendo assim com nuvens de suspeitas infundadas o aspecto
transparente e límpido da discussão mantida com superiori-
dado e som interesses subalternos ou inconfessáveis.

O Sn. Nicanor do Nascimento—Muito bem.

O Sr. Moniz de Carvalho — E' preciso que cada um se


compenetre de que tão sagrados e tão legítimos são os direitos
e os deveres do Ministro quanto sagrados e legítimos são 09
direitos e devores dos legisladores.
40 ANNAES DA CAMARA

No momento em que renunciarmos ao debate dos orça-


mentos, 110 momento ein que abandonarmos «esta discussão que
noseleva, que nos honra o que ao mesmo tempo reflecte o
cumprimento de um dever imperioso, talvez o dever primor-
dial do nossa missão, porque a este debate se prenda a pessoa
de A, se ligue o conceito de B, se junja o despeito contra G e
o odio contra D, teremos rebaixado
porquanto, nosso mandato,
por mais que elevada
seja uma autoridade publica, o indivi-
duo ou a pessoa delia está muito aquém da elevação desta tri-
buna. que occupamos por delegação e para defesa do direito
do povo, sem que nos possamos servir delia desabafos
para
de odios o para ataques pessoaes.

O Sn. Rapiiael Pinheiro—Estamos cançados de dizer isto,

O Sr. Moniz de Carvalho—Entretanto no debate do orça-


mento da Agricultura, preciso para manter a liberdade que é
nácessaria á manifestação das minhas idóas e opiniões a
respeito, idéas e opiniões inspiradas em meu patriotismo o
em minhas convicções, deixar bem claro que muito separada do
assumipto em debate está a pessoa do Sr. Ministro da Agri-
cultura, a quem considero, a quem respeito ie a quem venero.

Não vou fazer a critica infundada do orçamento da Agri-


cultura ; não vou fazer censuras ao parecer da Commissão de
Finanças sobre
o projecto: vou cumprir meu dever; vou sa-
tisfazer preceito o constitucional, suggerindo, em fôrma de
emendas, medidas de economia, restricções do gastos, necessa-
rias no presente momento.

Quero collaborar na elaboração desile orçamento, conci-


liando as exigências dos serviços com as condições difficois do
erário publico; quero fiscalizar a distribuição e a applicação
das rondas publicas nos serviços solicitados pelas necessidades
da conectividade de que sou representante.
Muito é orudimentar
principio constitucional, do qual
resulta este dever,
que se impõe a todos que teem a intuição
immediata e directa de seu papel nesta Gamara, som preoc-
cupações pessoaes, que deturpariam o espirito do legislador e
degradariam a acção do Congresso.
Entro de animo decisivo, com a consciência do cumpri-
mento deste dever o com a franqueza que caracteriza todos os
meus actos, no estudo ligeiro, perfunctorio, obscuro, porém
sincero,do projecto; alvejando o interesse collectivo, traduzo
o superior que deve prevalecer no esipirito dos
pensamento
homens políticos.
Estudando o orçamento, investigando as suas verbas me-
tioulosamento e apreciando as suas disposições, cumpro tam-
bem um dever de partidário, obedeço ao programma do partido
ao Este partido, como as conectividades hu-
qual estou filiado.
manas invariavelmente organizadas para a própria felicidade
da sociedade, não podia confundir a livre discussão de um as-
sumpto da maior relevancia, nas suas immediatas consequen-
cias, na sua repercussão, com o interesse pessoal do seus orga-
nizadores e executores.
„ SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 41

Meu
partido, quando desfraldou o programma, que consti-
tue um
evangelho para aquelles que a elle são dedicados por
idéas e por acção, não podia confundir matéria de estudo e
discussão do Parlamento com a 'pessoa de alguém.

O Sr. Raphael Pinheiro—Apoiado; entretanto, não ó esse


o espirito que parece animar certas pessoas aqui dentro.

O Sr. Moniz de Carvalho—E' preciso que esse estado de


coacção desappareça deste recinto (apoiados); é preciso que so
respeite a consciência alheia; é preciso que se ouçam com de-
ferencia e até com certa reverencia ios pensamentos, os con-
ceitos externados por ou trem...

O Sr. Raphael Pinheiro — o elogio seja livre como


Que
a critica.

O de Carvalho—
Sr. Moniz
... porque, a estabelecer-se
a doutrina que infelizmente vejo patrocinada, acceita e julgada
por muitos dos mais distinetos oradores que teem occupado a
tribuna sobre a matéria orçamentaria, dar-se-d uma coacção
moral a que não se ,podem submetter os espíritos acostumados
ao cumprimento do dever, presos a essa lei superior que é a
lei do respeito á própria consciência e á observancia estricta
dos proprios conceitos.

O Sr. Calogeras—O contrario seria crear a classe dos in-


tangíveis.

O Sr. Moniz de Carvalho—A investigação, o estudo meti-


culoso, a apreciação detalhada, terra a terra, passo a passo,
daquillo que a administração pede e que o Parlamento concede
para a boa direcção e a perfeita distribuição das rendas pu-
blicas, não podem ser objecto p;ir.a essas suspeitas, essas cor.je-
cturas que so teem feito e que, tendo a sua apparencia fugidia,
duvidosa, teem o
permitta-me seu fundo,
a Gamara dizer, in-
digno do Srs. Deputados.
qualquer um dos
(Apoiados.)
E' preciso que se saiba que o que se trata do discutir é o
orçamento da Agricultura e não a pessoa do titular da respe-
ctiva pasta. ]

O Sr. Raphael Pinheiro—Estamos cançados de dizer isto.

O Sr. Moniz de Carvalho—E' preciso que se saiba quo


só nos preoccupam as questões impessoaes e não o administra-
dor, o homem político. Trata-se simplesmente da administra-
ção; e ninguém dirá que a administração publica pertence
única e exclusivamente ao Poder Executivo. A administração
publica só pôde viver do conjunto de esforços dos Poderes
Executivo. Legislativo e até de um outro, que é o desdobra-
mento do Executivo, — o Poder Judiciário. Administração
pu-
blica não significa obra exclusiva do Poder Executivo. Admi-
nistração publica não é um dom particular ou peculiar dos mi-
nistros. Administração publica é uina personalidade jurídica
para a qual concorrem oonjuntamente o Congresso Nacional o
42 ANNAES DA GAMARA

o Podei' Exeeutivo, aquelle elaborando e este executando as


leis reclamadas pelas necessidades geraes, a que cumpre a ad-
ministração attender.

O Sr. Augusto do Amaral—Principalmente do Legisla-


tivo, porque então não valeria a
pena haver Gamara e Senado.
(Trocam-se outros muitos apartes.)

O Sr. Raphael Pinheiro — Executivo dizer que


quer
executa uma delegação dada.

O Sr. Nicanor do Nascimento — administra 6 o


Quem
Executivo. O espirito de intolerância não parte do Governo,
que é tolerante.

O Sr. Mario Hermes dá um aparte.

O Sr. Raphael, Pinheiro — Reservo-me para os outros or-


çamentos em 3" discussão.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Fiz o parallelo, mostrando


que nenhum dos outros está nas condições deste.

O Sr. Mario Hermes — Está bastante especificado. Si tiver


occasião, mostrarei.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Critica ao orçamento não


é acto de opposição.

O Sr. Victor de Britto.— Mas, ha supponha?


quem

O Sr. Nicanor. do Nascimento — E' um acto de concurso.

O Sr. Bueno de Andrada — Recusaram um requerimento


para ouvir-se de novo a Commissão de Finanças a respeito
de verbas.

O Sr. Nicanor do Nascimento — A recusa é que é intole-


rante.

O Sr. Presidente—Attenção. A discussão não pôde con-


tinuar assim.

O Sr. Moniz de Carvalho—Os meus collegas estão con-


correndo poderosamente para «levar o debate, estão dando au-
toridade ás palavras do orador...

— V. Ex. está sustentando a boa doutrina.


O Sr. Osorio

O Sr. Moniz de Carvalho—... e, portanto, os apartes não

me e, nntes, auxiliam-me. trazem-me o concurso da


perturbam:
autoridade de SS. EEx. e dão-lhe o direito de descançar. (Tro-

cam-sc muitos apartes; o Sr. Presidente chama a attenção.)

Esta opinião externo com to maior


gáudio, porque
que
a vejo applaudida manifestações espontaneas. sinceras e
pelas
de todos os meus collegas, <5 parte integrante do
conscientes
do meu partido, o qual, para os homens discipli-
pnogramma
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 43

nados, como eu, fôrma o evangelho devem


pelo qual pau-
lar seus actos nas funcções ha funcção
políticas ; e não poli-
tica mais elevada do o exercício do mandato popular neste
que
recinto.

Esta constitue preceito do programma do meu par-


opinião
tido, deste no Sr. Presidente, V. Ex. occupa
partido qual,
saliente e elevada posição, como é, seu va-
procer, que pelo
lor, pelo seu mérito e pelas sympathias de gosa;
justas que
esta opinião é também a do invicto chefe, o Sr. Senador Pi-
nheiro Machado,
que a expoz nas palavras proferidas naquella
memorável assembléa em que seu nome foi glorificado, a Io de
setembro de 1910, quando as summidades da
política brazileira
entenderam ser chegado o momento propicio fazer jus-
para
tiça aos preclaros dotes de S. Ex. e aos raros serviços
por elle
prestados á Patria e á Republica.
Nessa occasião, respondendo S. Ex. ao discursa do actual
Ministro da Fazenda, o Sr. Francisco
a Salles, declarou
que
sua maior aspiração,
parte interessada na acção política
como
brazileira, era ver, na confecção dos orçamentos, a investigação
meticulosa das necessidades a prover, a analyse perfeita, im-
mediafca e completa da creação, arrecadação e fiscalização das
rendas publicas e da sua applicação, ajustando aquellas neces-
sidades aos recursos rees do Thesouro, afim de termos orça-
mentos verdadeiros e de facto equilibrados, como exigem o cre-
dito e o nome nacionaes.
Portanto, a minha opinião tem a autoridade, tem o grande
valor de traduzir um dos ideaes adoptados no
programma do
meu partido e também de ser esposada e doutrinada por meu
chefee chefe do meu partido, o eminente Sr. Senador Pinheiro
Machãdo. (Apoiados.)
Si não me bastassem estes dous factos, imptonentes e si-
gnificativos por excellencia para o homem que se preza como
partidario disciplinado, poderia ir além e reproduzir, desta
tribuna, as palavras patrióticas, sinceras, verdadeiras, a
respeito proferidas pelo Sr. Presidente da Republica. (Muito
bem.)

Antes, porém, de o fazer, citando os conceitos emittidos


pelo eminente e preclaro Sr. Presidente do Republica, cujas
virtudes e cujos predicados moraes todos conhecem e admi-
ram (apoiados), permitta a Gamara que ainda mo refira á pa-
lavra, ao conceito manifestado pelo Senador Pinheiro Machado,
em nome da conectividade que S. Ex. chefia, merecida
politicai e
justamente no paiz ; permif,ta-me a Clamara que reproduza o
trecho da noticio referente á reunião realizada a 23 de agosto
no Palacio do Cattete da Commiseão de Finanças, do Sr. Presi-
dente da Gamara, dio> leaclcr da maioria desta Casa e do Mi-
nisterio.

«O Sr. Senador Pinheiro Machado declarou peremptória-


mente, com a responsabilidade política nacional, de chefe da
que « achava o déficit muito minguado em relação com as gran-
des cifras da receita; não haveria difficuldade nenhuma em
eliminal-o, para se estabelecer, gomo é imprescindível, o
44 ANNAES DA CAMARA

EQUILÍBRIO ORQAMENTARIO, FAZENDO-SE RIGOROSOS CÓ11TES NAS


DESPEZAS ADIAVEIS.».
Interrompi minha argumentação, quando cheguei ao nome
venerando e venerado do Presidente da Republica, com-
para
pletar o pensamento do eminente Senador Pinheiro Machado,
emittido na memorável
sessão de setembro de 1910, com as
palavras transcriptas no trecho da noticia que acabei de lôr,
de um valor extraordinário ; palavras que devem constituir
um dogma para aquelles que aqui, neste recinto, alliam os
dous deveres, de liomem político, para com a Nação, de homem
partidario, para com o director de seu ipartido.

Combinando minha acção de


político com os deveres de re-
presentante do povo brazileiro e de. homem de partido, procuro
sempre ouvir, obedecer e cumprir as prescripções da minha ag-
gremiação, emanadas do nosso chefe.
Mas, «is o que a respeito dizia o eminente Sr. Presidente
da Republica, em conceitos austeros, na mensagem de 3 de
maio ultimo, affirmando que « é im.presccndwel mais
pruden-
cia na decretação das despezas especialmente evi-
publicas,
tando-se que sejam aggravadas com as de caracter permanente».
Este conceito elevado do Sr. Presidente da Republica...

O Sr. Raphael Pinheiro — E patriotico.


O Sr. Muniz de Carvalho—...que,
sua austeridade,
pela
pela sua integridade moral, se impõe ao nosso respeito e
admiração; este conceito de S. Ex., manifestado com a fran-
queza e responsabilidade de Chefe da Nação, o Con-
perante
grosso Nacional, na mensagem inaugural de 3 de maio, foi
confirmado, foi repetido, foi repisado na reunião de 23 de
agosto, quando S. Ex. resolveu ouvir a Commissão de Finan-
ças da Gamara, ao illustre Presidente desta corporação,
ao teader da maioria desta casa e ao seu Ministério.
O Sr. Presidente da Republica confirmou seu anterior
. .
juízo e,^ com aquella linguagem secca de um homem recto o
justo, S. Ex. disse: «custe o custar o «déficit» deve
que
DESAPPARECER do OIIÇAMENTO » .

Portanto,
quando a minha opinião neste momento não
representasse um principio um traço da legenda,
partidario,
do lema do meu partido, uma côr da bandeira á cuja sombra
estou abrigado; quando minha oipinião aqui não revelasse1 o pen-
samento, o sentir e o conceito do chefe do meu partido, Ira-
duziria a palavra do Governo; e não podia haver, certa-
mente, para mim posição mais commoda, mais agradaivel, mais
consoante com a minha sinceridade e consciência do que esta,
ao lado dio> pensamento do Sr. Presidente da Republica, a quem
com dedicação apoio. (Muito bem.)

Mas não é só o Sr. Presidente da Republica que trata a


matéria orçamentaria presentemente em debate com esta ele-
vaçâo, com
este patriotismo, com este nobre desprendimento,
com esta legitima altivez, com que o indivíduo deve sopitar
o sentimentalismo banal para acudir á voz da razão, aos ditames
da justiça e ao respeito ao direito, collocando sempre acima
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 45

dos pequeninos interesses individuaes os altos direitos da col-


lectividade.

Não 6 sómente o Sr. Presidente da Republica, é também


o Sr. Ministro da Fazenda, o integro e conspicuo Sr. Francisco
Salles...

O Sá. Nicanor do Nascimento — O sincero Sr. Francisco


Saltes.

O Sr. Moniz de Carvalho — ... assim se manifesta.


que
De facto o juizo do competente, do honrado Sr. Ministro
da Fazenda, emittido no seu relatorio do corrente anno, é que
«não se
põe ordem nas
finanças, sem. o proposito inabálavel
de realizar todas as economias possíveis, de restringir as des-
pezas aos limites dos recursos da receita.».

Recolhe-se, portanto, nesta ordem chronologica, nesta


queda, que parece, que se assemelha á do uma grande cachoeira,

a palavra do Chefe da Nação, do chefe do partido e do Sr. Mi-


nistro da Fazenda.

O Sr. Osorio — E a do bom senso.

O Sr. Moniz de Carvalho — Portanto, aqui não


quando
estivesse obedecendo aos dictames da própria consciência, ús
convicções pessoaes, teria em meu palavras desses apoio as
eminentes brazileiros que formam a cuspide do edifício da
política nacional, para imprimir autoridade á opinião que
externo e esposo.

Diz mais o Sr. Ministro da Fazenda, neste trecho de ouro:

«Tudoquanto podíamos ter aproveitado, para chegarmos


ao equilíbrio financeiro, com o desenvolvimento das rendas pu-
blicas, foi contrastado pela dtemasia com que augmentámos tam-
bem as despezas.».

O Sr. Nicanor do Nascimento — Para corrigir esta de-


masia quer se augmentar mais ainda !

Um Sr. Deputado — A Commiissãoi de Finanças liontem


deu provas do contrario.

O Sr. Nicanor do Nascimento — O


que a Commissão quiz
fazer liontem foi a desorganização de
serviços, que nos levará
a despezas maiores ainda. Não foi um córte sincero, foi, como
demonstrarei na discussão do orçamento da -Guerra, a simu-
lação do um córte, córte que é impatriotico e que não pôde
ser approvado.

O Sr. Augusto do Amaral — Apoiado. outros apar-


{Ha
tcs.)

O Sr. Presidente — Attenção I tem a é


Quem palavra
o Sr. Moniz de Carvalho.

O Sr. Moniz de Carvalho — Estes conceitos, tão eleva-


damente apoiados pelos homens de maior responsabilidade,
46 ANNAES DA CAMAKA

pelos que mais de perto' e mais immediatamente lidam com


a administração, lembrando papel o do Congresso no presente
momento, são a* reproducção fiel e categórica do preceito
constitucional do art, 34, n, 1, da Constituição Federal.

E' condição primaria, na ordem chnonologica das attri-


buições outorgadas ao Poder Legislativo pela noissa Consti-
tuição (art. 34, n. 1) : orçar a receita, fixar a despeza e tomar
as contas das receitas e despezas de cada exercício financeiro.
Logo, assim, infundada, injusta e quiçá malévola, é a
censura que se levanta contra os legisladores que estudam
os orçamentos, procuram íattender ás necessidades sociaes
e consultam as forças do erário publico, ajustar os dis-
para
pendios ás condições das rendas arrecadadas.
Neste esforço o Parlamento cumpre um dever elementar
e presta a solidariedade da sua collaboração legitima aos
representantes da administração, apoiaiulo-os, assim, e não
os hostilizando.

E para que sulcar com a acção


preoccupaçõas pessoaes
conjunta do Parlamento e da
administração de cuja
publica,
harmonia depende a felicidade nacional, que ó o escopo dos
poderes constituídos ?

O Sr. Pereira Teixeira — Apoiado.

O Sr. Moniz de Carvalho — Mas, não fica ahi a responsa-


bilddade do Congresso. O legislador constituinte, affirmando
e definindo a acção do Parlamento, estabeleceu «só ao
que
Poder Legislativo cabe legislar sobre a divida e es-
publica
tabelecer os meios para o seu ».
pagamento
Entregando ao critério do Congresso o patri-
patriotico
monio nacional, >oi
legislador constituinte quo
prescreveu
« cabe ao Poder Legislativo regular a arrecadação e a distri-
buição das rendas federaes»; e, finalmente, «crear e supprimir
empregos públicos federaes, fixar-lhes as attribuições, esti-
pular-lhes los vencimentos».

Portanto, em respeito aos princípios da Constituição,


em obediencia aos
preceitos em que se funda a nossa nacio-

nalidade, dos quaes resulta o reconhecimento da soberania


do povo, não se
pôde condemnar, censurar, ou, até, deixar de
applaudir o Deputado que procura estudar, examinar, in-
vestigar a matéria orçamentaria em debate.

Como por tal proceder, se deprimir a missão da Camara;


se vilipendiar o mandato do legislador, atirando-o á valia
commum em que o odio e o despeito se atassalham ?
Como confundir e negar um dever; como deturbar um
como traduzir com malícia aquillo >a Consti-
pensamento, que
tuição impõe como obrigação primaria do mandato legisla-
tivo ?
Portanto, correndo a escala descendente das autoridades
em que me apoio, firmo minha opinião na primeira dellas, que
é o nossio tpacto fundamental, a razão de ser da nossa existcncia
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 47

política, o fundamento e a garantia da nossa vida social; e


sinto-me bem, recobro animo, toda a vez que cumpria este
dever, sem me
preoccupar com o Ministro ser- A, nem com o
ventuario B,
porque si o cargo do Ministro é muito elevado, si
o serventuário está altamente collocado na vida social, na
hierarchia da sociedade, o legislador se dwe sentir superior
sempre no exercício do seu mandato, muito superior a qualquer
autoridade, muito superior a qualquer Ministro, honrando a
cadeira de representante da Nação. (Apoiados.)

O Ministro, por mais respeitável que seja, por mais digno


que se torne do meu respeito e admiração, como acontece com
o Sr. Ministro da Agricultura,
representa o portador, o titular
de uma nomeação,
passo que 10 representante
ao da Nação
exerce a nobre investidura da soberana delegaçãio do povo
(apoiados), é uma parcella da própria soberania populatr.
O Ministra representa a iminediata confiança da Presidente da
Republica, mas nunca a emanação directa e immediata da
vontade do povo brazileiro, sob o regimen da democracia
republicana.

O Sn. Raphael Pinheiro — Igual á nossa só é a investi-


dura do Presidente da Republica, como nós, ó um
porque,
dos mandatarios do povo.

0_ Sr. Moniz de Carvlho — Definidas as elevadas


funcções, harmônicas e independentes, dos consti-
poderes
tuidos, e tendo
prestado as justas homenagens ao administrador
probo, operoso e intelligente, que é o Sr. Ministro da Agri-
cultura, passo a referir-me ás opiniões da Commissão de Fa-
zenda sobre o mesmo assumpto.
Agora a prata de casa. ó Venho das alturas ; cheguei até
onde pôde alcançar o pensamento do homem ás
político,
cumiadas da lei, á Constituição, onde hauri a santidade do
meu dever, a inspiração das minhas obrigações aqui ; mas pre-
ciso apoiar-me também na opinião respeitabilissima da Com-
missão de Fazenda, onde também não falta autoridade, porque
estai ó a expressão do mérito, o expoente da capacidade de tra-
balho, do estudo, do talento, do denodado culto do dever, que,
mais do> que ninguém, exprime com justo destaque o emi-
nente relator da Orçamento da Receita. (Muito bem.)

Quando acabo de me referir aos grandes responsáveis pela


administração publica, quando venho de me reportar aos pre-
ceitos da Constituição, sinto-me bem procurando o apoio, o
arrimo da autorizada opinião do Sr. relator da Orçamento da
Receita, o Sr. Homero Baptista, porque S. Ex. reúne tudo
quanto de peregrino, moral e intelectualmente, pôde um
homem possuir. (Apoiados geraes.)

As sabias e valiosas apreciações do illustrado relator da


Receita no seu parecer precisam ser immediafcamente mim
por
estudadas ; e, por isto, trouxe uma nota dos trechos que vou
citar, ipara não roubar tempo á Camara.

O Sr. Victor de Britto — Y. Ex. nunca nos roubou tempo.


48 ANNAES DA tíAMARA

Nicanor uo Nascimento — Está concorrendo


O Sn. para
elevar o Parlamento. (Muito bem.)

O Moniz de Carvalho — Muito agradecido.


Sr. Quero
honrar-me, transcrevendo nas minhas considerações despreten-
ciosas os trechos superiormente lançados neste parecer, porque
isto me dá conforto, traz-me a certeza de que estou trilhando
a -estrada do direito e da verdade; e que, portanto, não é possível
que a minha missão seja mal succedida, cm consequencia de
conceitos erroneos ou de preconceitos injustificáveis.
O que consta da pag. 118 do parecer foi escripto pelo
eminente relator depois do conhecido o Orçamento da Agri-

cultura; não podia deixar de ser assim, como se vae ver.

Diz S. Ex.:

«Já fizemos ver o repetimos aos que governam com a


responsabilidade do poder, ou apenas com a responsabilidade

po>litica, que é necessário parar no desvio accidentado por que


se enveredou, cm que se abusa do poder eontribuitivo e do
credito para abarcar tudo de vez: estradas, portos, pontes, edi-
ficios, obras de toda a sorte, povoamento, catechese, armamen-
to, etc., em uma confusão insana, sem o estudo minucioso, sem
o devido orçamento, sem medir aspossibilidades do erário, sem
as mais elementares; precauções administrativas e sem ajuizar
do encargo transmittido ao futuro, em compromissos de honra

para o
paiz.
Indubitavelmente, é preciso fazer alguma cousa, fazer
muita cousa mesmo, consoante ao período de expansão que a
Republica attingiu; estimular as iniciativas meritorias; fo-
mentar o desenvolvimento agrícola e industrial;
provocar o

progresso, omfim. Mas fazer tudo com peso e medida, cada


_
cousa no seu tempo e no seu togar, conforme as necessidades
verificadas e as posses da Nação.»
Não soü um retrogrado; ao contrario, sou constituído de uma,

natureza excessivamente liberal. Não admittir mesmo


posso
certas economias, que affectam a (organização c manutençao de

serviços públicos da mais immediata utilidade para o paiz.


Não porém, concorrer oom o meu apoio, com o meu as-
posso,
sentimento, enganando a consciência, para dotar a
própria
administração publica de verbas dispensáveis 6 luxuosas, cujas

importâncias não estão mencionadas nem mesmo no proprio


critériodo pedido do administrador. Si tivesse, portanto, de

transigir, silenciando que deanfe deste facto, contradiz o meu


e viola o meu conceito, moral-
pensar, que affronta o meu juízo
mente commetteria um crime do qual me accusaria a con-

sciencia, pelo remorso.


O Sr. relator da receita, além deste conceito, que vem a
calhar no assumpto em discussão, diz mais á 122:
pag.
«O augment» desmedido da despeza foi,pois,o factor deter-
minante dos deficits; e como a despeza é proposta pelo Governo,

com dos serviços e necessidades da admi-


pleno conhecimento
nistração, e fixada pelo Congresso, na expressão constitucional;
como á despeza é corta e só pôde o deve ser excedida em casos
St:a SÃO KM 18 DE SETEMBRO DE 1912 49

restrictos, a culpa e responsabilidade dos deficits cabem ao


Governo e ao Gongresso, de mãos
que, dadas, em acção cou-
juneta teem compromettido as finanças da Republica.»
Occupando, portanto, a tribuna da Gamara, collaborando na
coniecção do Orçamento da Agricultura,
quero lavar a minha
testada; e si a responsabilidade do mal que resultar deste
orçamento recatar sobre a Gamara,
se dirá que uma voz houve
que se desquitou do côro geral, livrando-se da penai merecida.,
Quero nobremente apoiar o Ministro da Agricultura,
quero
concorrer para a conservação e manutenção do todos os ser-
viços organizados em sua ipasta, mas entendo estabelecer as
peias da economia e restricções na despeza, porque taes péias
6ao ditadas pelo patriotismo, necessidade
pela publica, e im-
postas a consciência e ao dever de cada um dos legisladloires
pelas condições do Thesouro Nacional.
E' interessante o que diz illustrado relator
o da Receita;
o tanto e a verdade, tanto nelle a verdade
nitida, se reproduz
pura, diaphana que, ainda na redacção do projecto de orça-
mento da agricultura terceira discussão,
para se deu o vicio
que b. Ex. condeinna e profliga aqui:
«O trabalho da Commissão
foi. pois, de augmento de des-
pesa... »
«Não e de crer as estimativas da receita
quo proposta
possam ser sensivelmente modiíiçadas. As principaes, as que
poderiam dar margem a justo augmento, foram todas já ac-
crescidas^. .1 or emquanto, as informações officiaes que a
Lommissao conhece apenas a autorizam a não repudiar a pro-
posta, apezar de reconhecer o ampliativo
pensamento que a
dominou. Nestas condições, a Commissão só tem um alvitre
a lembrar: reducçao das despezas. Si o Congresso tem, effe-
ctivamente, o
proposito de normalizar o orçamento da Repu-
blica, deve pol-o em pratica com decisão firmesa.»
e
Este conceito aproveito confirmar meu
para pensamento,
para dar autoridade ao meu critério. O Sr. Relator do Orça-
mento da Receita conjura a Camara, concita-a, para trabalhar
no sentido de diminuir a despeza, pois 6 impossível, deaiito
dos dados officiaes, obter o augmento Receita
da além das
majorações já consignadas.
Portanto, traduzindo a
.... palavra do Governo, sinto-me iden-
ti ficado, abraçado, consorciado com o pensamento do illustro
Relator da Receita,
occupando-me neste momento do orça-
mento da Agricultura, a reducção de muitas de
para propor
suas verbas ou de quasi todas as suas iepíaggeradas consi-
gnações.
Chamo particularmente a attenção de V. Ex., Sr. Priesi-
em geral1, da um Camara,
facto muito deve doer
para que ao
patriotismo de V. Ex., nas condições actuaes, tendo Y. Ex.
leito da reunião
parte convocada pelo Sr. Presidente da Re-
publica e realizada a 23 do agosto. E' cruel para V. Ex. ver
presentemento o Orçamento da Agricultura em terceira dis-
cussão com as *uas despesas
ainda mais augmentadas, isto con-
tra tudo foi jürado
quanto na fé de políticos, de combatentes
solidários com o Governo do paizr
Vol. l
52 ANNAES DA CAMARA

ú Patria, seja feita com e sujeição ás condições


parcimônia
financeiras actuaes do paiz. (Muito bem.)

O meu illustre collega e amigo, a quem muito prezo, não

achou isso razoavel e, então, augmentou as construcções e deu

ao orçamento da Agricultura mais do que o Ministro pediu;


ampliou o totaldos gastos, compromettendo assim o êxito do

trabalho da própria Commissão, de que ó ornamento, por tor-


nar quasi irremediável o desequilíbrio do orçamento geral,
uma vez que as probabilidades de accrescimo da receita próxima
foram tomadas em consideração na respectiva organização.

da Agri-
S. Ex., elaborando o parecer sobre o Orçamento
Mi-
cultura, consignou muito mais para as despezas do que o
nistropedira; e nesta 3a discussão ainda augmentou conside-
ravelmente as verbas. Assim 6 que se chega a esta curiosa si-
tuação: nesta quadra em que se reclama com estardalhaço_a
necessidade reducção de despezas,
da o projecto da Commissão

para esta discussão augmentou em cerca de quatro mil contos


as consignações orçadas.

Depois da importante reunião do Cattete, depois dos con-


ceitos pelo Relator da receita, cuja palavra
externados inspira
respeito, capta admiração, mesmo allicia convicções (muito
bem); depois das ponderações de S. Ex. tão categóricas, tão
raramente no exhaustivo
independentes,
dadas parecer elabo-
rado com ó um
competencia,
que tratado sobre a existencia
financeira do
paiz e que merece ser lido e relido por aquelles
que toem a responsabilidade da administração c do futuro da
Nação,...

O Sr. Nicanor do Nascimento—Instrue mais que 10 annos


de estudo.

O Sr. Moniz de Carvalho— ... o illustre collega, o ta-


lenloso Relator do Orçamento da Agricultura, redige o projecto

em 3a discussão com um augmento de despezas mortas, para


o pessoal de serviços creados, na importancia de milhares de
contos.
Em resumo:
o projecto augmenta prodigamente as des-
orçadas,
depois de conhecido oíficialmente o déficit,
pezas já
o qual oSr. Ministro da Fazenda denunciou que, deixando-se

á margem as operações de credito e os depositos, foi em 1910

do cerca de 100.000 contos e em 1911 de mais 104.000 contos.

Que esse déficit foi coberto, c certo, com os recursos na-

turaes do paiz, porque como taes se devem considerar as ope-


rações de credito; porquanto, do contrario seteria chegado á
ruína financeira, compromettendo a situação economica na-

cional.
Nestas condições, quando surgiu inopinado o pavor desses
deficits, dominou illustros collogas, muitos dos quaes com
que
oollaboração na Commissão de Finanças, sendo aliás ainda
fácil impedir suas desastrosas consequieincias, procurando-<se de-
cisiva e criteriosamente diminuir as consignações approvadas
em 2a discussão, vô a Camara com surpreza o projecto em
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 53

3a discussão, referente ao Orçamento da Agricultura, com esse


grande augrnento de milhares do contos.
De modo
que o
orçamento da Agricultura em 3a discussão,
ja na ultima
phase da collaboração da Gamara, ao sahir
quasi
desta casa, levando no seu bojo a responsabilidade desta
corpo-
ração, responsabilidade no momento não
que presente' é só
política, mas também moral; esto orçamento sabe daqui para
o Senado consignando maiores despezas, immoderados gastos,
muito superiores ;i_proposta organizada no respectivo minis-
terio^ differenças tão avultadas o nobre Relator, com
que o
respeito que lhe tributo, m© de injus-
permittirá qualificar
tificaveis.
Quando assim me exprimo, V. Ex. bem comprehende o meu
.justo escrupuIo. a minha contrariedade em com
qualificar
severidade a deliberação da; Commissão de Finanças, porque
sómente quero ser leal e fiel na enunciação do meu pen-
samento.
São injustificaeis,porque augmentam despesas com a
exclusiva responsabilidade da Camara, ultrapassando as con-
signações propostas pelo Ministro, o que não é acto de 6abe-
dor ia nem de prudência.
Si augmentasse por proposta do Ministro, ficaria entre
os poderes Executivo e Legislativo repartida a responsabili-
dade. Mas, a facilidade da Commissão, a sua prodigalidade,
o seu optimismo, ou mesmo indifferença, submissão ou erro
de officio, chegam
ao ponto de, nesta quadra de situação
pre-
mente, que o Governo
em brada contra os deficits com seve-
ridade e austeridade, pedindo com extremo esforço o con-
curso de todos os seus amigos e pondo em .evidencia
a palavra
prestigiosa e acatada do eminente chefe do Partido Republi-
cano Conservador para essa nobre e e,levada missão de equi-
librar os orçamentos, assumir a odiosa responsabilidade do
augrnento descommedido de despezas não não soli-
propostas,
citadas pela administração.

O Sr. Calogeras — Deveria completar o pensamento di-


zendo que, por parte do Governo, ha aquillo Faguet chama
que
— Ia de la responsabilite.
peur

O Sr. Nicanor na Nascimento — Não esqueça o culto da


incompetência.

(Apartes. Soam os tympanos.)

O Sr. Moniz de Carvalho—Nestas condições não sei si


haveria algum tribunal,
fosse submettido ao
o procedi-
qual
mento da Commissão 110 (presente momento, de referencia ao
Orçamento da Agricultura, que. sendo constituído de homens
criteriosos, imparciaes e competentes, não lavrasse sua imme-
diata condemnação. Dar, consignar, dotar, quando se pede,
ainda se
justifica; mas, dar sem se pedir, neste momento, nas
condições financeiras em que se acha o
paiz, não 6 simplesmente
um acto de inépcia, é um crime de leso-patriotismo. O Gto-
verno concita o Parlamento a cortar as despezas
propostas para
satisfazer a espectativa e a confiança da Nação; a Commissão,
Si ANNAE8 DA CAMARA

que representa o Governo, augmenía as consignações pedidas


e crea novas...

O Sr. Raul Fernandes — V. Ex. está mostrando que não


estudou as emendas da Commissão; si as tivesse estudado,
teria visto^ que ellas só se referem ia despezas
forçadas por
actos públicos do Governo, como o contracto
a lavoura
para
secca e o acto do Governo que creou o serviço de pesca, ser-
viços creados e que exigiam as dotações convenientes.

O Sr. Moniz de Carvalho—Quando


de apontar
precisasse
uma verba, não foi
pedida e foi redigida comproimettedora-
que
mente, para responder immediatamente ao digno relator,
bastar-me-ia (referir-me ao credito su/pplementar de cerca de
5.000:000$ para o serviço de immigração, dotado
já aliás,
pom a consignação proposta Governo,
pelo sem solicitação e
do-m a condição, felizmente rejeitada, de poder ser utilizado
em qualquer tempo do futuro exercício.

O Sr. RAUL Fernandes — Conw sem ninguém encom-


mendar, se está em lei, no orçamento da Agricultura vigente ?
O Sr. Moniz de Carvalho — Na proposta do Governo, que
ó a base para a elaboração do orçamento, não -encontra
se o
pedido desse credito espontâneo e até tentador para o au-
gmento de gastos.
Não serei capaz de emittir uma proposição que não traduza
intuito de lealdade, isso* não vacillo em acoeitar qualquer
fpor
contestação se firme em factos;
plausível que e, neste caso,
nao trepidarei em me declarar vencido e convencido. O ele-
mento visceral da organização do Orçamento da Despeza é a
proposta do Governo acompanhada das tabellas explicativas.
O Sn. Raul Fernandes — Si declaro...

O Sr. Moniz de Carvalho — Terei grande prazer em ser


convencido o vencido um ooJlega, cujo
por invejável talento
admiro desde muito tempo.

O Sn. Raul Fernandes — Pois eu informo...

O Sr. Moniz de —
que está, Carvalho
porém, em dis- O
cussão é o Orçamento da Agricultura o
parece-mo que sómente
-orientar-me
podem a proposta e as tabellas apresentadas pelo
respectivo ministro a esta camara, indicando as consignações
distribuindo-as.

O Sr. Rapiiael Pinheiro — Nunca se deu credito sup-


plementar para ser utilizado em tempo.
qualquer
O Sn. Raul Fernandes — Posso V. Ex. que no
garantir a
Orçamento da Agricultura, em vigor este anno, o credito está
consignado nos mesmo® termos em a emenda da
que Com-
missãoi,que, contra meu voto, ser aberto
propoz para em
qualquer tempo do anno. {Tia muitos apartes.)

O Sr. Moniz de Carvalho — Si eu sentisse prazer na po-


em que me atira o cumprimento do dever, occupando a tribuna
e roubando a attenção generosa dos meus collegas, nada poderia
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912

oppôr a esse dialogo se estabelece tão brilhantemente


que
entre dous talentos de escól; seria admiravel meu de
papel
espectador enthusiasta dos dous distinctos contendiores, tão
superiormente apaixonados.
Mas, si o meu fim despretensioso na tribuna ó cumprir
um dever; isi esse dever, para ser cumprido, demanda tempoi;
si ío tempo corre, si a sessão
sendo se limita, si meus collegas,
tão generosos em ouvir-me duraatc certo tempo, não ipódem
continuar a me prodigalizar sua attencão muitas horas
por
seguidas, porque tudo fatiga, tudo cansa, o
principalmente
exercício da tribuna; nestas condições não sentir-me
p>osso
bem com as interrupções que me afastam do assumpto dis-
cutido.

O Sr. Raul Fernandes dã um aparte.

O Sr. Moniz de
Deputado quer obri- Carvalho—O nobre
gar-me a fazer um discurso formal, quando estou apenas pa-
lestrandio' (para esclarecer meu espirito e revelar minhas convi-
cções ® duvidas. '!
Assim é
que eu chamava a attencão da Camara para este
facto da maior significação, da maior responsabilidade e gra-
vidade: —o orçamento em discussão excede, nas consignações,
ao orçamento vigente em 300:000$, ouro, e 5.811:000$ papel ;
vae aiém, consigna a mais, entre a proposta do Ministro e o
trabalho da Commissão, 3.630:000$, papel.
O
projecto para esta discussão orça a mais do que o pá-
reoer apresentado, isto é. mais do que «quillo que foi submet-
tido 'ao ao veredictum da Camara, e approvado como
juizo,
necessidade publica, 2.149:400S>000.
Quer isso dizer que a Commissão de Finanças, afastando-se
ou não se compenetrando dos deveres que lhe impunham as
condições difficeis e prementes do Thesouro Nacional, resol-
veu trilhar no sentido compromettedor do erário publico, ag-
gravando sua situação, ao envez do decisivamente cortar os
serviços adiaveis e reduzir as despezas dos organizados para
chegar ao equilíbrio da despeza o receita.
Deste conceito ou censura não pôde escapar a Commissão
de Finanças, salvo aquelles de seus membros que protestaram,
que assignaram com restricções o presente orçamento com-

promettedor da situação financeira do paiz, pelo desequilíbrio


da despeza sobre a receita.
Não é obra meritoria. Sr. Presidente, destruir o trabalho
alheio e necessário, nor defeituoso, sem suporil-o; e se aprende
na doutrina maçonioa, que norfia a verdade e o bem sem
de seitas, — destruir, construindo,
preoccupação
E como não faço trabalho de opposição, porque sou soli-
dario com a administração, nem desta tribuna obedeço ás
injunoções do despeito ou do odio; como também faço garbo
de manifestar meu respeito a todos aauelles que me merecem
estima e consideração, como o Sr. Ministro da Agricultura,
combatendo o orçomento submettido ao estudo_ da Camara, o
qual é no meu conceito injustificável, organizei um novo or-
çamento, sem prejudicar nenhum dos serviços organizados;
S6 ANNAES '
DA CAMARA

mantendo as consignações de aceôrdo com as restriutas ne-


cessidades publicas e attendendo ás condições difficois das
finanças do paiz.
Por esta foi razão reconhecendo,
que., aquilatando e ap-
plaudindo os sentimentos patrioticos do meu distincto col-
lega, eminente Relator do
parecer ora em debute, disse a prin-
cipio que terminaria, a jornada deste debate abraçado, unido
petos mesmos intuitos, com S. Ex., porque sei que o escopo
de b. Ex. e servir ao paiz, é prestar o
concurso do seu valor,
dos seus talentos do seu esforço, em bem da conectividade; e
nesse proposito S. Ex. o mais leal
prestará e decidido apoio
as considerações que lhe desperta a importancia da matéria.
O Sr. Raul Fernandes—Mas devem ser em relação a todos
os Ministérios.
E assim tem sido ?

O Sr. Moniz de Carvalho _


Quero desde já lavar minha
testada sobre o assumpto, envolver
que pôde uma injustiça.
Pergunta S. Ex.: tem sido o mesmo trabalho sobre todos
os ministérios cujos orçamentos foram discutidos ?
Posso desde já responder-lhe, com a sinceridada das mi-
nuas convicções, sem interesses subalternos nem despeitos,
que
e meu intuito, meu minha
proposito, deliberação proceder com
a mesma isenção em relação a cada um dos orçamentos, como
ja me manifesteisobre o da Guerra, o da Marinha e o do In-
terior ; e não vejo razão para discutir com desassombro as con-
eignaçoes do Ministério da Agricultura e não proceder com a
mesma independencia em relação
aos outros, porque si os Mi-
nistros valem seu mérito
pelo pessoal, pela sua illustração,
pelo seu talento e honestidade, nenhum vale mais que o
br. Pedro de Toledo. (Apoiados.)
Portanto, estou não
hostilizando a pessoa do Ministro ; e
si suppuzesse collega me
que quelquer emprestava este in-
tuito, este sentimento indigno do meu mandato
pequenino, e
desta gloriosa tribuna, eu deixaria immediatamente a dis-
cussao deste orçamento.

Tenho attendido bem para os córtes injustificáveis e cruéis


da Commissão de
Finanças no Orçamento da Guerra, deixando,
entretanto, de realizar outros córtes muito mais necessários
e que não sacrificam serviços altamente relevantes e indis-
pensaveis para o paiz.

O Sr. Irineu Machado—Então vamos fazer uma cousa:


na receita vamos augmentar os impostos.

O Sr. Moniz de Carvalho — O illustre Deputado sabe


quanto aproveito com suas idéas, mas não se trata por ora da
receita; discute-se a despeza.
Por isto não vou perder o caminho, nem abrir vela sem
vento; discuto agora a despeza,
procurando apreciar rigorosa-
mente suas verbas, commentando as respectivas consigna-
Ções com justiça, prestando, assim, «o meu o serviço
paiz que
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 57

lhe devo e correspondendo á confiança do eleitorado que me in-


vestiu_de seu representante nesta illustrada corporação.
Não discuti o Orçamento da Fazenda, porque as suas
consignações correspondem a serviços cuja reducção importa-
ria em uma desorganização funesta da arrecadação das rendas
fedcraes, as quaes já reclamam augmento de pessoal e de re-
partições fiscaes. Esse orçamento é um trabalho sóbrio, além
de que o honrado Ministro da Fazenda é um homem que, nas
suas futncções administrativas, na sua vida mantém
publica, o
característico parcimonioso dos seus hábitos na vida particular.
E' assim um orçamento sem larguezas, sem liberalidade, sem
aventuras, provendo estrictamente serviços presos directa-
mente Thesouro,
ao adstrictos á arrecadação, á fiscalização e
á distribuição das rendas publicas ; e não
podia assim merecer
censuras, nem mesmo uma rigorosa critica assente nos prin-
cipios da justiça.

Atacar o Orçamento da Fazenda, sem attender ás necessi-


dades imprescindíveis que o comprehendem, seria desservir
impatrioticamente á causa defendo,
própria que porque da
segurança da boa arrecadação das rendas dependem directa-
mente os recursos do Thesouro.

O Sn. Irineu Machado — Y. Ex. vèr onde


quer se poderia
cortar no Ministério da Fazenda ? Na creação dos inspectores
de Fazenda.

O Sr. Antonio Carlos — Não apoiado.

(O Sr. Sabino Barroso deixa a cadeira da l'rcsidencia, que


é oceupada pelo Sr. Soares dos Santos.)
'vvalho —
O Sr. Moniz de ü: Neto a singular coincidência
de assumir a cadeira presidencial o honrado representante
do
Rio Grande do Sul justamente quando termino a primeira parte
do meu discurso, em que externei minhas convicções, fiz a
critica geral do trabalho da illustre Gommissâo de Finanças
sobre o Orçamento da Agricultura, e vou passar a justificar as
modificações e reducções quo proponho sem nem
pretenções
intuitos pessoaes, até mesmo não como emendas, mas como
suggestões admissíveis na collaboração de tão importante tra-
balho orçamentário, cujo plano não corresponde á escassez
das rendas que exige.

Não satisfaria minha consciência, não cumpriria meu dever,


si não trouxesse formulada em trabalho
minha colla-
pratico
boração, porque occupar a tribuna, criticar o se apre-
que
senta, destruir o que traduz o trabalho, o esforço alheio, o nada
propôr nem produzir, é caminhar para o chãos ; e não se pôde
admittir que, em matéria de finanças, a Gamara adopte seme-
lharite critério, que é o mais funesto á conectividade.
A discus :ão aqui é impessoal. O assumpto que é combatido
deve ser immediatamente modificado, alterado, substituído ou
concertado, para attender ás necessidades reclamadas
pela
administração, até onde chegam as forças do thesouro pu-
J>lico.
58 ANNAES DA CAMARA

Nesto intuito, modifico em geral as consignações do pro-


jecto em discussão, respeitando, entretanto, o plano traçado
na proposta do honrado Ministro.
Não são emendas que apresento, são suggestões que melhor
despertem o
patriotismo da commissão de finanças para as
condições excepcionaes e prementes das finanças nacionaes; e
em nome dos elevados sentimentos que inspiram a Camara,
consoante o pensamento commum de prestar serviços á gran-
deza e ao progresso do paiz, lembro que o maior serviço do
Parlamento <5 votar os orçamentos sem os deficits condemna-
veiis o injustificáveis, que se annunciam pavorosos e ameaça-
dores da sua prosperidade economica.
Ao art. 1* apresento um substitutivo muito razoavel, mo-
doradamente organizado.
Neste substitutivo não desorganizo serviços, não supprimo
repartições, não altero o pessoal existente; considero sagrado
e mantenho tudo aquillo que diz respeito ao ensino agronomico,
assumpto em que não posso admittir reducções e restricções.

O Sn. Irineu Magiiado—V. Ex. um bom critério para


quer
a política de reducção ?

O Sr. Moniz de Carvalho — Y. Ex. tenha


paciência de es-
perar para conhecer o critério que me inspira, afim de melhor
e mais opportunamente propôr o seu. Y. Ex. agora volta ao
recinto e não tem acompanhado, com pezar meu, as consi-
derações expostas sobre a matéria que estudo sem o espirito
de partidario opposicionista.

O Sr. Irineu Machado—Tenho acompanhado o discurso de


V. Ex., mas devo declarar que ainda não encontrei em todo elle
um critério seguro, (ZZa diversos e repetidos apartes.)

O Sr. Muniz de Carvalho — Approveito essa troca do apar-


tes para descançar um pouco. (O orador senta-se.)

O Sr. Irineu Machado — V. Ex. vem para o Parlamonto


com hábitos muito novos, com os quaes não estamos acostu-
mados. V. Ex. fará muito bem em ficar sentado até o fim.
Nenhum orador se molesta com apartes dos seus collegas. Não
os darei mais a V. Ex.

O Sr. Moniz de Carvalho (continuando)—Não supponha


Y. Ex. o gesto do orador importa em uma desattenção para
que

com o nobre Deputado.

Façoespontaneamente esta declaração, não com o receio


de digam que sou desattencioso para quer que
que quem
seja, quando tal mereça; faço-a porque não foi meu intuito pra-
ticar uma diescortezia com o distineto collega, que muito me

honra com seus apartes, quando opportunos. Mas devo sa-

lientar em assumpto árido, como é a discussão dos orça-


que
mentos, os apartes intempestivos irritam o debate e riertur-

bam o orador, ©u vantagem da


semdiscussão.
proveito
— O dever do orador é ouvir com
O Sn. Irineu Machado
attenção os apartes que são dados.
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 S9

0 Sr. Moniz de Carvalho — Assim tenho sempre proce-


dido, mas não é possível, em assumpto como este, vir V. Ex.
interromper-me eom um aparte, embora espirituoso, que não
era pertinente á matéria.

O Sr Irineu Machado — Sabe V. Ex. o aparte que eui ia


dar ? Não sabe. Portanto, está acabado.

O Sr. Moniz de Carvalho — Tenha o nobre Deputado a


bondade do formular o seu aparte.

O Sr. Irineu Machado — Não desejo mais o iseu


perturbar
discurso.

O Sr. Moniz de Carvalho—Y. Ex. sabe quanto o respeito


e admiro seu talento. Sem- zanga, peço a V. Ex. dê o seu
aparte, fechando o incidente, que lamento.

O Sr. Irineu Machado — Não darei mais apartes.

O Sr. Moniz de Carvalho — Ficaria muito -satisfeito si


V. Ex.
quizesse discutir o assumpto, emprestando-lhe o con-
curso do seu estudo, do seu saber e da sua experiencia parla-
mentar.
Voltando ao assumpto em discussão, Sr. Presidente, vejo
que o art. Io do project» consigna as diversas verbas para
despesas com os serviços organizados ultimamente e até ainda
por organizar.
A primeira verba é referente á Secretaria do Estado, ro-
presentando um augmento de 42:000$ sobre a proposta apre-
sentada pelo Ministro.
'Devo
explicar que, não tendo eu tratadlo' do Orçamento dá
Fazenda em 3a discussão, não tive ensejo de apresentar-lhe
emenda eliminando o augmento da consignação para a repre-
sentação do Ministro, além da despeza para a conducção desso
titular; e, como naquelle orçamento prevaleceu o augmento
para a representação do respectivo Ministro, entendi quo o
critério, quanto ao Orçamento da Agricultura, deveria ser o
mesmo, mantendo-se ambas as consignações, quer para a con-
ducção, quer para a representação, além dos vencimentos.
Por isto, não proponho a eliminação do augmento oonsi-
gnado no projecto, embora este se não justifique, como tam-
bem é justificável a verba para a conducção, em vehieulos da

propriedade e custeio
do Estado, quanto ao Ministro da
quer
Agricultura,quer quanto a qualquer dos outros, porque con-
stitue uma despesa abusiva, que o Thesouro actualmente não
comporta e contra ella reclama a collectividade, de que é
Camara representante dirocta.
A dava 1.029:580$ o gabinete do ministro,
propósito para
e dependencias. Lembro a rcducção, de 10:000$ para 5:000$, na
consignação relativa a artigos do expediente para o gabineto
do Ministro, porque se trata de uma repartição ha pouco com-
ptetamente organizada e, si se fôr consultar os dous últimos
;
orçamentos, verifica-se as consignações elevadas foram
que
justificadas precisamente por se tratar então da organização da
repartição e haver necessidade de comprar muitos objectos
60 ANNAES DA CAMARA

que hoje ,já foram adquiridos. O bom sonso indica que não é
possível que um gabinete já organizado precise do urna con-
signação igual á quo se votou para a organização dessa re-
partição ; para tal custeio, sem esbanjamento, bastam
5:000$000.
Reduzo também as diversas verbas de material e supprimo
o almanack do Ministério da Agricultura, si cada
porquej,
ministério tivesse o seu almanack e os legisladores fossem
obrigados a acompanhar o movimento dessaspublicações offi-
ciaes, nada mais faríamos dio que ler almanacks.... (Risos).

O Sr. Raphael Pinheiro — Neste devo dar uma


ponto,
explicação; creio que se trata do um almanack com a nomen-
clatura do pessoal, tempo de serviço, etc.

O Sr. Moniz de Carvalho — Ainda assim não vejo utili-


dade nesse luxo de almanack, toda repartição
porque publica
deve ter um livro proprio dos assentamentos de seus empre-
gados.
O meu critério pôde ser um tanto arbitrario; a culpa não
é minha, mas do proprio Ministro, que não mandou até agora
o relatorio, cuja leitura muito me aproveitaria, orientando-me
de modo
que pudesse evitar a suppressão do alguma consignação
necessária no rigor da expressão.
Quanto aos ministérios militares, reconheço a necessi-
dade <do almanack: si também ha, ao da Agricultura, é
quanto
natural que os outros ministérios civis também precisem fazer
publicações analogas; no> entanto, tal consignação para alma-
nack só existe neste orçamento, o que constitue excepção odiosa.
(Trocam-se apartes.).
Peço ao illustre Deputado pelo Districto Federal que- me
ouça ; tenho interesse nessa sua attenção pela alta conside-
ração que lho tributo, ha muitos annos: o querer bem é como
o odiar: bem velho não acaba, como odio velho não cança. ..
Noto cousa curiosa neste orçamento, é que todos os por-
teiros teem,
além dos vencimentos, o aluguel para casa.
E' um
privilegio novo dessa classe de funccionarios publi-
oos, que mostra a que ponto chega o absurdo na applicação
dos dinheiros públicos! Não é, aliás, que haja má, fé, que haja
dolo ou culpa; colloco a questão em plano superior, mas in-
contestavelmente por esse meio são augmentados os vencimen-
tos desses funccionarios á revelia do Poder Legislativo, que
tem tal attribuição privativa.
E se culpa houvesse, seria a que em direito chamamos
« culpa levíssima »,a seria culpa da inadvertencia, da tolerancia,
da bondade systemat.ica.
Conceder serventuário
a um além dos seus ven-
publico,
cimentos. marcados
pelo poder competente como a retribuição
natural da prestação de serviços, uma casa para morar, é meio
extravagante, esdruxulo, de augmentar illegalmonte os venci-
mentos fixados. E nem se pôde allegar quo existe tal praxe,
porque sómente a creou o Ministério da Agricultura, que existe
apenas de três annos para cá.
Esta consignação, por conseguinte, é uma pratica nova,
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 61

illegal, violadora do preceito constitucional, escarnecedora das


attribuições do Poder Legislativo, que deve ser banida.

O Sr. Bueno de Andrada — De resto um


para porteiro
basta uma porta. (Risos.)

O Sr. Moniz de Carvalho —• A ó a da repartição.


porta
Etymologicamente o cargo defino o indivíduo: porteiro com
casa fóra ó um dcsvirtuamento da sua missão, que é estar na
entrada da repartição.
(Assim, proponho umareducção de 176:200$ na primeira
verba do orçamento, semperturbar 3erviço algum e até con-
fiando no bom acolhimento do honrado Ministro, cujo pa-
triotismo por é todos reconhecido.
Apreciando todas as consignações com critério elevado,
não podia deixar do propôr á illustre Commissão de Fazenda,
cujos propósitos de economias são conhecidos, as reducções
de despezas não
prejudicam os serviços. Assim,
que nesta pri-
meira verba, sem.
prejudicar a ninguém, sem desorganizar ser-
viços, faço uma economia de 176:200$, economia inesmo
que,
nos momentos de fartura, nas épocas de abundancia, nas gran-
des safras, se impunha.
Gastar muito não é um mal, muitas vezes é um bem, por-
que o que se gasta pôde reverter cm grandes benefícios; mas
gastar mal ó sempre um erro, não adeanta a ninguém, nem
a ricos nem a pobres. Gastar muito depende de se poder gastar;
gastar mal é sempre inépcia, sinão um crime daquelle que o
faz. (Apoiados.)
A 2a
verbadiz : pessoal contractado. Consultei as
tabellas,
porque, acima de tudo, procuro convcncer-me e firmar
minha opinião com lealdade; investiguei todos os elementos
que me estavam á mão, lamentando a falta do relatorio do Mi-
nistro que podia esclarecer-me: nenhuma explicação, justifi-
cação ou esclarecimento plausível encontrei cor-
que pudesse
responder á regra que deve presidir á organização do orça-
monto das depezas publicas, a sua especialização de-
positiva,
nunciando a necessidade que vae prover, o serviço que vae
attender.
A verba segunda, a que se refere a respectiva tabella, con-
signando 250:000$ para o pessoal contractado, nada mais
diz do que «gratificações,
diarias, ajudas de custo c passagens
do pesso/xl contractado para serviços technicos, comprehen-<
dendo consultores, instruetores, veterinários, mestre de off-
cina e outros.»
Bem se vê quo de tal descripção nada apura a Carnara que
justifique sua responsabilidade cm semelhante dospeza, cuja
monta fica exclusivamente ao arbítrio do Ministro, desprezan-
do-se assim os princípios salutares da prestação de contas em
que se assenta a responsabilidade do Poder Executivo, sabia-
mente prescripfca na Constituição, como indispensável ao re-
gimeu republicano.
Quaes e quantos e para que são «sses funccionarios da-
nominados pessoal contractado ?
62 ANNAES DA GAMARA

Acredito que haja esse serviço, embora dentro das condi-


ções fundamentaes dos orçamentos elle
parte não devesse fazer
do nosso projecto, porque a explicação dessa despeza não sa-
tisfaz as circumstancias o elementos essenciaes que constituem
e relevam a responsabilidade do Poder Executivo.

Si esse
existepessoal contractado, como aliás presumo e
acredito, porque a consignação ó pedida pelo Ministro, e o Mi-
nistro não a proporia si não houvesse tal pessoal contractado,
nada teria a dizer si, na proposta da despeza, se mencionasse
o numero, funcções, condições e exercício de tal pessoal, afim
de não parecer que com tal verba o Ministro pretende exercer
a seu alvedrio a attribuição, privativa do Congresso, de crear
empregos e marcar arbitrariamente vencimentos de empre.-
gados.
Entretanto, o que parece 6 que ainda não está assentado
tal pessoal, nieim o exercício de isrna funcção, si
porque, já
estivessem, o Ministro com lealdade o diria ao Congresso e o
convenceria de sua necessidade com razões calariam no
que
espirito da Camara.

E' um pessoal que o Ministro suppõe ha do precisar,


que
mas que ainda não está nomeado, nem exercendo funcções pu-
blicas.
Proponho que se elimine, portanto, esse pessoal, que o pro-
jecto menciona abstractamente, indeterminadamente.

O Sr. Bueno de Andrada — '?


Contractado para que serviço
O Ministro não declarou.

O Sr. Moniz de Carvalho — Consigna da mesma fôrma


yerba para o serviço de installações...

O Sr. Bueno de Andrada — ? São serviços


Quaes que já
teem outras verbas para custeio.

O Sr. Carvalho •— O Ministro


Moniz de não diz, porque
.suppõe, ató
ponto certo
com fundamento, desso
que precisará
mas ainda não E' pessoal não está
pessoal, precisou. que
agindo, cuja suppressãoi não acarreta desorganização de serviço
mantido.
Tratando-se, portanto, 110 presente momento, de reduzir
despezas, deve a Camara de preferencia atacar aquellas que
não affectam a serviços já existentes, já em acção.
Em consideração ao honrado Ministro, não venho sug-
entretanto, a eliminação da verba, mas simplesmente
gerir,
uma reducção, o qwe se impõe nas presentes condições deffi-
citarias do Thesouro publico e se justifica nos factos que já
expuz e estão demonstrados e apurados na tabella e no
que
parecer.
—• « Pessoal
Altero deste modo a verba: contractado, fóra
do onde se diz: 250:000$, diga-se 100:000$000.
quadro,
Fica reduzida, assim, a verba, de 150:000$000.

— A verba não é
G Sr. Antonio Moniz só para pessoal
contractado; ella comprehende instructores...
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 63

Moniz de Carvlho — E' só o contrariado,


0 Sr. pessoal
o comprehende instructores, consultores, etc., mas sem
qual
se dizer quantos, nem para que, nem o porque de sua neces-
Bidade, como íôra imprescindível para justificar a despeza,

que deve ser especificada, positiva, certa e realmente conhe-


cida, afim de bem so estabelecer a responsabilidade de cada
um dos constitucionaes perante a Nação, a que a Ca-
poderes
mara deve prestar contas de seus actos, como principal orgãlo
da democracia brazileira.

O que se presume de
tudo isso ó quie esse pessoal ainda
não existe; é pessoal de que o Ministro poderá ter precisão,
mas ainda não existe localizado, como dizem os engenheiros,
funccionando, prestando serviços ao paiz.

O Sr. Raphael Pinheiro —• A não especificação deter-


mina esses embrulhos.

O Sr. Mario Hermes — Já ha especificação geral.

O Sr. Augusto de Lima—O serviço veterinário já está ini-


ciado.

O Sr. Moniz de Carvalho — Passo á verba 3". Essa verba


cogita de um serviço da minha maior sympathia, o do povoa-
mento, que assenta
em o futuro da riqueza do paiz. Não ha
brazileiro que não preste todo o seu esforço e apoio a essa
consignação (apoiados), porque se sabe que do braço estran-
geiio resultará um grande íactor para a expansão e prosperi-
dade da producção nacional e o aproveitamento das condições
especialissimas do solo pátrio.

Na verba
quanto «ao 3a,
pessoal», nada não
proponho,
reduzo nem altero o pessoal, porque não poderia saber qual
é o funccionario que é necessário e qual o supérfluo, neste
ou naquelle departamento. Mas quanto ao « Material», venho
suggerir uma pequena e razoável economia.

Trata-se de um ministério novo, installado com luxo,


apenas ha três anuos ; entretanto dispõe o projecto:

« Material — o necessário ao serviço, inclusive fardamento

para interpretes e outros auxiliares, transporte do pessoal e


auxilio do aluguel de casa para o porteiro, 100:000$000 — »

Essa verba deve ser reduzida a 50:000$, porque acho que


o serviço feito com solicitude e sobriedade, embora por menor
numero do empregados, escolhidos e dedicados, dará o mesmo
resultado o quiçá melhor nesse assumpto ; e dessas pequenas
economias, catadas aqui e alli, resultará, como ficará demon-
strado, uma boa somma, que vae concorrer para melhorar as
condições dos orçamentos o satisfazer os intuitos do Governo
tão severamente manifestados Sr. Presidente da Republica
pelo
em actos solemnes.

Não ha da minha outra intenção senão a de con-


parte
ciliar — as necessidades do era-
essas duas grandes questões:
64 ANNAES DA GAMARA ;

rio publico com as exigências reaes e inadiaveis do serviço


púbico.

Não quero a desorganização de serviço algum facto


pelo
do erário publico estar vasio ; o paiz tem o legitimo recurso
dos supprimentos, dos
do credito ; mas adiantamentos,
quero
que, em taes
precarias, oscondições
funccionarios saibam
que a época da abundancia e a quadra das prodigalidades pas-
saram, embora temporariamente, tal é a minha confiança na
riqueza nacional.

Nessa mesma verba encontra-se o seguinte: «Hospedaria


de Immigrantes da ilha das Flores: pessoal, 227:280$; ma-
terial, 320:0005000».

Noto, todavia, que, .além de 12 marinheiros para o serviço


das embarcações de transporte, o projecto menciona 12 tri-
polantes para um batelão, o que me parece que, pelas condições
dessa pequena embarcação, pôde ser o numero reduzido á
metade, sem alterar as necessidades do serviço.

Não supprimo pessoal, reduzo simplesmente essa sub-


consignação que me parece ser exaggerada.
a
O Sr. Raphael Pinheiro — Si V. Ex. soubesse o perigo
que esses trip ulantes correm...

O Sr.
Moniz de Carvalho — Não estou supprimindo ser-
viço» ahi
; estou apenas reduzindo alguma cousa delles, cousa
aliás muito pouca ; a é em um orçamento de
prova que
1.200:000$, ouro © 28.555:000$, venho suggerir a re-
papel
ducção apenas de 8.000:000$, muito prudentemente...

O Sr. Raphael Pinheiro — Até agora, muito criteriosa-


mente.

O Sr. Pereira Teixeira V. —


Ex. acha pouco isso ? São
30 %| do orçamento. Não me procedente a ridícula re-
parece
ducção do numero de marítimos da ilha das Flores, cujos ser-
viços são inestimáveis em certos momentos em nossa bahia.

O Sr. Nicanor do Nascimento — O orçamento, era de


que
24.000:000$, foi elevado a 32.000:000$000.

O Sr. Peritira Teixeira—V. Ex. quer reduzir no orçamento

mais de 30 % ?

O Sr. Moniz de Carvalho — Veio muito a proposito o

aparto do nobre Deputado, meu erudito collega e amigo, o


Sr. Dr. Teixeira, em defeza dos marinheiros, contra os quaes,
aliás, nada altero e nem de leve tóeo. S. Ex. confundiu os
12 tripolantes do batelão da Ilha das Flores com os marinheiros,
a cujo serviço presto minha ardorosa admiração.

Diz o 12 marinheiros. Mantenho esse numero ;


projecto:
e, si não tivesse o proposito de mantel-o, mantel-o-ia só pelo
aparte do meu illustre collega.

V. Ex., conhece tão bem as condições da ilha das


que
Flores e sabe o risco da vida marítima ; V. Ex., que se tem
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 65

constituído aqui advogado dessa classe e sempre vem em


apoio delia, verificará com satisfação
a emenda não co-
que
gita da reducção de marinheiros, classe de que V. Ex. um
dos mais dignos patronos nesta Casa.

O Sr. Pereira Teixeira — O aparte não foi meu, foi do


Sr. Raphael Pinheiro.

O Sr. Moniz de Carvalho — Entretanto, além dos 12 ma-


rinheiros da Ilha das Flores, existem 12 tripolantes de um ha-
telão. Ora, a Gamara sabe que o batelão é uma em-
pequena
barcação que comporta apenas um remador até dous.

O Sr. Raphael, Pinheiro—Perdão; V. Ex. inter-


permitta
rompel-o. Esses batelões transportam de 400 a (500 pessoas.
São grandes alvarengas.

O Sr. Moniz de Carvalho — O menciona só-


projecto
mente 12 tripulantes, não os supprimo, reduzir apenas
quero
o numero. O Governo não pede se supprima ou se dezor-
que
ganiaem os serviços públicos, pede, entretanto, que se restrin-
jam as despesas ; e, assim, as ordens ou solicitações do Go-
verno estão sendo por mim cumpridas, com lealdade e dedica-
ção, sem intuitos pessoaes nem despeito».

Muito
a proposito, peço licença á Camara
para ler succulen-
tos trechos do ultimo «Retrospecto Gommercial», publicado
nestes dias, sob a responsabilidade da conceituada redacção do
Jornal do Commercio.
Neste importante repositorio da vida financeira, economica
e commercial paiz, revigora a do
minha convicção de dever
prestar lealmente minha collaboração â obra patriótica do
Parlamento, reduzindo as despesas e correspondendo assim
aos intuitos superiores do Sr. Presidente da Republica.
A Gamara deve attender que « nos
a últimos tres annos, de
1908 a 1910, o déficit orçamentário se elevou, sem contar o
saldo dos depositos, que corresponde a emprestimos, ;l somma
colossal de 201.212:597$672.»
«A divida externa, que, quando se contrahiu o fundino-loan,
era de £34.697:300, se eleva em 1911 a £85.439:677, ou quasi
o triplo.»
«A divida interna fundada, que era de 595.737:300$, passou
a ser de 002.439:600$; e a divida fluctuante, que se expressava
em 153.527:910$, anda em cerca de 275.188:431$000.»
Na expressão eloqüente destes algarismos, encontra a Ca-
mara a razão
plausível do meu papel nesta tribuna, suggerindo
os córtes possíveis e razoaveis, que se impõem ao patriotismo
e á prudência do parlamento.
Para esta cruzada conto, antes de qualquer outro, com
o concurso do laborioso e honrado Ministro da Agricultura, que
não permittirá que as difficuldades financeiras do paiz au-
gmentem desordenadamente pana satisfazer-se ostentações in-
opportunas e excessos adiaveis.
Examinando a sub-consignação: — Material —, se
que
eleva a 320:000$, sem explicações na tabella da
plausíveis pro^
Vol 5
66 ANNAES DA GAMARA

posta, entendo que a razão aconselha, no lactual momento,


sua reduceão, afim de que o espirito de sobriedado, que agora
se impõe, refliota na acção, nos actos o nas dos
praticas di-
;versos directores de serviços.

O Sr. Augusto do Amaral—Dá-me licença: acredito que


no Ministério da Agricultura haja tabella de distribuição.

O Sr. Moniz de Carvalho —- Não ha existe


duvida, a ta-
bella de distribuição ; e deve ser essa mesma o Ministro
que
mandou ao Parlamento. De modo lado, se fica
que, por esse
descansado e prevenido, porque essas tabellas exageradas não
dependem do Ministro: cada director de serviço o
que pede
quer sem consultar as forças do Thesouro. Este trabalho, que
ó odioso, está reservado ao Poder Legislativo,
que deve invés-
tigar, indagar e afinal deliberar sobre sua
procedencia.
O Sr. Nicanor do Nascimento—No Ministério da Agri-
cultura não ha regra, não ha fôrma; ha o arbítrio do Ministro.
(Ha outros apartes.)

O Sr. Moniz de Carvalho — E' muito natural Mi-


que o
nistro submetta ao critério e ao estudo do Congresso os dados
ministrados pelas diversas directorias da administração; cum-
pre, porém, á Camara apurar a procedencia e o fundamento das
Bommas pedidas.
Foi o que o Ministro fez, subrnettendo ao Congresso as
tabellas organizadas, como lhe foram apresentadas; agora
cabe ao Congresso, antes de comprometter responsabili-
sua
dade, examinar, estudar, collaborar com o Ministro e propor
as reducções aconselhadas lhe cabe,
pela prudência, porque
como dever a responsabilidade o fis-
principal, de autorizar
calizar as
despezas com critério.
publicas
Seria imprudente, sem attender naturaes
a esses turnos
da organização dos orçamentos, accusar, atacar, incriminar os
actos do Ministro, que, sendo conspicuo jurista, bem sabe dis-
tinguir as fronteiras dos seus deveres de administrador e ás
das prerogativas do Congresso, a a Constituição submetteu
que
6ua acçao e funeções.
E, si a Camara deixa de cumprir o seu dever, se aliena as
suas prerogativas, si deixa de consultar as condições do The-
souro e autoriza a osmo despezas adiaveis, 6 evidente que quem
abusou, prevaricou, ou andou mal, foi o Congresso, porque a
Constituição diz que lhe cabo examinar com todo critério as
propostas do Ministro, reconhecer a procedencia 011 não das
despesas solicitadas, autorizal-as depois de estudadas, assu-
mindo inteira responsabilidade de seus actos meditados e re-
flectidos.

O Sr. Raphael Pinheiro dá um aparte.

O Sr. Moniz de Carvalho — Cumpre á Camara acautelar


Bua acção responsabilidade futura.
e
A sub-consignação « Material»,
para essa directoria, ó de
320:000$, que
parece extraordinariamente elevada e visível-
mente reduzivel, sem prejuízo do serviço necessário
publico
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 67

«Material» — Alimentação, transportes de immigrantesv


320 ;000$000 ». Reduzo, com justos fundamentos, essa consi-
gnação a 200:000$, que é sufficiente.

O Sr. Augusto do Amaral -— Creio que ha necessidade de


ouvir de novo o Governo sobre isso. Talvez essa verba não
possa ser reduzida.

O Moniz de Carvalho — Não é sem segura orientação


Sr.
que proponho tal reducção ; ao contrario, fui a respeito muito
cuidadoso. Procurei informações, ouvindo alguns entendidos,
a respeito dessa verba concernente â alimentação dos immi-
grantes, porque a considero uma despesa sagrada dupla-
mente, não só pela natureza do serviço, como também porque
a alimentação do immigrante corresponde a uma obrigação
contractual contrahida no estrangeiro para a vinda delles de
lá para cá.

Si a Camara estabelecesse que o Governo ficasse sem os


recursos necessários, incorreria em justa censura, além da res-

ponsabilidade correlativa do Thesouro, porque arrastaria


assim o Governo a subtrahir-se de má fé ao cumprimento
de uma obrigação contractual, regulada no caso pelos pre-
ceitos do direito civil, porque o Estado contracta como pessoa

jurídica, não gosa de privilegio, se nivela ás pessoas physicas


capazes.

Tal seria deprimente para o paiz e prejudicial


situação aos
interesses nacionaes. '

Entretanto, estou informado que a despeza com a ali-


de
mentação de immigrantes não attinge a 90:000-5 ; o, si a verba
for esgotada, dentro do novo exercício, poderá o Governo usar
do credito supplementar autorizado.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Conforme o leader de-


clarou, que, sendo preciso, pediria verba supplementar.

Moniz de Carvalho — São 320:000$, reduzido a


O Sr. que
200:000$, não supprimindo serviço algum necessário.
E' preciso que os orçamentos se elaborem sem dcficits,
de
porque, do contrario, é irrisorio o que escreveu a Commissão
Fazenda e fica sem limite a sua responsabilidade.
Acredito a Camara que não ha razão para sahirem os or-
nas condições em que estão sendo elaborados; na_da
çamentos
o justifica, a não ser, que não admitto, que, por presumpção,
o
se attribua isso á ignorancia das attribuições, prerogativas e
deveres do proprio Congresso, que commodamente se põe á
discrição céga das tabellas ministeriaes.
Não po«so concordar que. na actual situação, se organizem
orçamentos com esses deficits, patentes e claros, expondo in-

justificavelmente ás censuras do povo e aos commentario3 dos


estrangeiros uma obra viciosa, compromettedora e funesta,

quando ha razão para isto.


não
Não bulir com uma não desorganizo uma
preciso pessoa,
só repartição, não estabeleço uma medida que possa, directa
68 ANNAE9 DA GAMARA

ou indirectamente, importar um desrespeito ou uma descon-


sideração ao illustre titular da pasta, de quem sou amigo.
Masnão posso absolutamente calar meus deveres do legis-
lador, para attender os escrupulos, as attenções o os dictames
do meu affecto.

E' preciso que todos discutam, collaborem e concorram


para que se remedeio o que todos reconhecem que não está
direito. E' a razão por que falo, e falo desta fôrma, com a
maxima franqueza, expondo meu pensamento e confiando na
lealdade do Ministro.
A reducção de taes despezas impõe-se á coherencia e ao
compromisso assumido pela Commissão de Fazenda com o Chefe
da Nação, em significativa solemnidade.

No projecto, a consignação para a immigração, concer-


nente a passagens do exterior, é do 600:000$, ouro. A lei vi-
gente consignou 300:000$, ouro; dentro das forças desta con-
signação efficazmente
está agindo
a administração e
publica;
até hoje que, embora o elemento immigratorio para
não consta
o nosso paiz tenha crescido extraordinariamente, como nos dá
noticia o parecer da receita, attingindo já 71.000 immigrantes
no primeiro semestre, quando no passado, tendo sido em ann0
numero assombroso, só attingiu 130.000 despeito deste a
; a
grande accrescimo de immigrantes estrangeiros, portanto, acar-
retando grande despesa, não consta, repito,
que o Governo já
houvesse pedido credito supplementar áquella verba.

Não ha lassumpto, na 'administração


publica do Brazil,
que deva inspirar maior interesse sympathiae legislador
ao
e ao Governo do que o povoamento do solo.
(Trocam-se
apartes.)
A consignação, para 1912, é de 300:000$, ouro ; entretanto,
nas tabellas comparativas da despeza vigente e da proposta
no projecto, a consignação foi elevada, sem explicação nem
quaesquer razões, a 600:000$, ouro.
Como in médium consistet viríus, proponho a consignação
de 400:000$000. Não é nem o que existe actualmente, nem
foi proposto nas tabellas e acceito Commissão.
o que pela
Ainda nesta verba 3*, além das differenças
já propostas,
venho suggerir a suppressão da sub-consignação de 200:000$,
«para attender a despesas imprevistas, comprehendidas as des-

com o pessoal que for em commissão ao estrangeiro em


pesas
do Serviço de Immigração», porque é uma, despesa
proveito
antipathica, de moralidade duvidosa, desacreditada no conceito

r>epeílida pela opinião sensata, deante do avultado nu-


geral,
mero de immigrantes espontâneos, além dos serviços exis-
tentes e onerosos das companhias de navegação contractados
com o Governo. .
Nestas condições a verba 3" fica reduzida em 200:000$,
ouro, e 1.432:800$, papel. Satisfaz perfeitamente as necessi-
dades sem desorganizar serviços, sem ferir direitos
publicas,
pessoaes.
Economica » — « Propaganda do
Verba 4* « Expansão café
SESSÃO EM 18 D13 SETEMBRO DE 1912 69

e outros productos do Brazil no estrangeiro e representação,


500:000$, ouro».

Para pagamento no paiz de trabalhos de propaganda, com-


prehendendo publicações e custeio de automóveis, 360:000$,
papel *.

Ha uma geral quizila contra esses gastos de fementida

propaganda, que esgotam o thesouro publico na inglória faina


de alimentar viciosos, em geral, nas cidades européas, onde
passam vida de desoccupados, ridicularizando nos centros de
incessante actividade os attributos da nossa raça e até a nossa
nacionalidade.

Não deixam de ter razão os que assim julgam e consi-


deram este verba um fomento de corrupção o de
perdição dos
descendentes do paes-alcaides. Entretanto, respeitando os in-
tuitos nobres do illustre titular da Agricultura, não venho
suggerir a suppressão da verba, o que era prudente e bem me-
recido : limito-me a reduzil-n. propondo que, em vez de
500:000$, ouro, consignem-se 300:000$, ouro, importância que
considero, aliás, inutilmente consumida e empregada contra os

proprios interesses do patiz e quiçá com sacrifício do propro


decoro nacional.

As despezas por esta verba devem ser escrupulosamente


feitas, cortando-,se os abusos, extirpando-se as dissipações e
incontinencias já criticadas até pela imprensa caricaturista do
velho mundo.
O pessoal desse serviço deve ser escolhido e competente,
afastando as justas queixas contra os engajamentos de filhos-
famílias, protegidos ou bafejados pelo favoritismo official e
político.
Para este serviço, envez de 500:000$, fica mantida a con-
signação de 300:000$, ouro.
Não se dá tudo, mas ainda se consigna mais de metade.

A outra sub-consignação pagamento no paiz resa: «Para


de trabalhos de propaganda, comprehendendo publicações, tra-
ducções e acquisição de obras, etc., 'etc, ajudas de custo do

pessoal incumbido dos referidos trabalhos e custeio de auto-


moveis, 360:000$000 ».
Isto não pôde ter sido lido pelo honrado Sr. Ministro, a

quem faço inteira justiça.

O que tem a propaganda no paiz. nos centros agrícolas, com


o custeio de automoveis ? Bem se vô que as tabellas foram ar-
ranjadas disparatadamente por empregados subalternos, sem
responsabilidade nem consciência da importancia de tal do-
cumento, provocando assim justa censura.

O Sr. Niganor do Nascimento — Censura não ; um corte-


zinho.

O Sr. Moniz de Carvalho — Esta falta é do algum em-


pregado desidioso e até ignorante, porque o trecho está mal
redigiéoi e é até ridículo no seu conjuncto.
70 ANNAEB DA GAMARA

O Sr. Nicanor Nascimento —


Quando se tratou de uma
verba semelhante no Ministério da Guerra, o Sr. Dantas
general
Barreto mandou cortar indignado.

O Sr. Bueno de Andrada — Cortar a verba bem; indignado <5


fita. (Ilisos.)

O Sr. Augusto do Amaral — Convencido da necessidade


dessa providencia; indignado, não.

O Sr. Moniz de Carvalho— Desejo,


em bem da discussão,
afastar quaesquer juizos pessoaes, mesmo ainda está
porque
en, tempo do Congresso cumprir o seu dever corrigindo os
despropositos e disparates de taes consignações, organizadas
por novéis,
empregados inexperientes e cabulosos
que ajuntam
palavras sem nexo e enfileiram na mesma sub-consignação pes-
soai o material de serviços distinetos e sem relação
A importancia dessa sub-consignação ó, de 360:000$; venho
suggerir a
para 100:000$,
reducção pensando, entretanto, que
a Camara deveria supprimil-a, si préviamente ouvisse o operoso
Ministro da Agricultura, 'a quem presto toda a minha conside-
ração e confiança.
Sómente acredito que essa propaganda existe no paiz
porque o Ministro o diz: e a affirmação do Ministro envolve
a honra do Governo. Presto justa reverencia
hon- á do
palavra
rado Ministro,
porque não posso admittir que elle venlia dizer
ao Parlamento que existe um serviço, organizado ou a ser or-
ganizado, e esse serviço não tenha entrado em suas
cogitações
Parece que tal serviço de no
propaganda paiz vae ainda
ser organizado ; não está ainda organizado, porque, si o es-
tivesse, o illustre Ministro diaria, como procedeu em relação
ás demais repartições, a relação do pessoal com as respectivas
funeções e vencimentos.

O Sr. Homero Baptista — Essa no


propaganda estran-
geiro podia muito bem ser desempenhada pelosi cônsules com
real resultado commercial. (Apoiados.).

O Sr. Nicanor do Nascimento — O Sr. Lauro Müller,


quando assumiu o governo, declarou que o seu programmá
era justamente dilatar essas funeções administrativas e oco-
nomicas dos cônsules.

O Sr. Moniz de Carvalho — Reduzo a oonsignação ouro,


de 500:000$, para 300:000$; e a de 300:000$,
papel, para
100 :000$000.
Não para sei
que e porque se 300:000$ om
gastar pro-
paganda no paiz. Todos sabem, no emtanto, a falta de
que
desenvolvimento agrícola no paiz é não á inexistência
devida
de propaganda e die conhecimentos, á falta de immigra-
mas
çao, de braços que trabalhem. Isto 6 uma verdade tão in-
concussa salta claramente á consciência de qualquer admi-
que
nistrador.
Mas, uma vez que no seu de
plano administração, o Sr. Mi-
Ministro da Agricultura entendeu
que» essa propaganda era
um serviço necessário a fazer, a Camara, collaborando na obra
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 Tl

de S. Ex., deve dar-lhe uma consignação, embora menor do


que a que elle pede ou pediram a elle, e assim digo porque
essas consignações não são feitas Ministros, mas
pelos pelas
respectivas directorias de serviços.
Na verba 5° venho suggerir a reducção de 200:000$, ouro, e
260:000$, papel, sem demittir um funecionario, nem alterar
os elementos necessários para o seu trabalho e as necessidades
do serviço.
Esta verba 5" se refere ao Jardim Botânico. Entre outras
cousas diz: «Material de expediente da repartição
10:000$000».
Posso usar de toda a franqueza
porque considero esta pro-
pçsta como um trabalho confeccionado ás pressas por qualquer
directoria ou sub-secção do Ministério ; e, ã revelia do hon-;
rado Ministro,4remettido ao Congresso..

O Sr. Nicanor do Nascimento — No Ministério da Fa-


zenida não sie faz isto...

O Sr. Moniz de Carvalho — E' de facto, excessiva aquella!


sub-consignação. Não podia ter sido calculada; foi organizada
por atacado, mero trabalho de imaginação megalomana.

Todos sabem o Jardim Botânico é uma directoria


_que
muito util, mas não se pôde admittir que para o expediente
de sua repartição, que tem apenas 12 ou 14 empregados de
bancas, se gastem 10:000$000. Também sou director de uma
repartição cpm igual
pessoal, onde ha, por conta do expediente,
pennas, canivetes,
papeis, etc., sem nunca ter gasto mais de
3:000$ por anno. De modo que estou fallando com isenção de
animo e 9em intenções reservadas; venho suggerir a reducção
da verba, do 10:000$, para 5:000$000.

Outra sub-consignação que é abusiva ou estravagante, é


a de « Transporte de
pessoal e material, comprehendendo as
passagens dos naturalistas viajantes e o frete de suas ba-
gagens... 8:000$000».

Não resta duvida ao meu espirito de que essa doscripção


de despesa é toda fantastic-a, absolutamente ideal, sem relação
com o serviço: uma móra segurança para se terem recursos á
mão no caso de qualquer hospedagem graciosa, que o director
rcctor do estabelecimento queira fazer á custa do Thesouro
I\acionai, porque os sábios estrangeiros que visitam o Brazil
encontram no orçamento do Exterior a respectiva consignação
para occorrer ás despezas de sua hospedagem, quando elles
merecem tal distincção do Governo.
Assim conclue-se que essa rubrica é inútil ou abusiva ; e
por isso proponho sua suppressão.

Limito-mea suggerir a reducção ridícula do 43:000$ nesta


verba, que o de 364:000$000. Faço, portanto, uma ligeira
economia no material, porquanto sómente se dove consignar
consifrnnr nquilto que exclusivamente se despende e é im-
prescindivel. Este processo do se consignarem verbas que não
«ho f-vastas dando logar a grandes sobras no fim do exercício,
produz muito máo effeito, não só no paiz, como no estran-
annaes da camaiu
J2> .

geiro, porque avultam 110 orçamento da despeza, augmentando


a cifra dos deficits ou diminuindo a dos saldos. (Apartas.)
Por este meio, também evito um desairoso conceito, jus-
tamente attribuido ao Congresso, que é « as Camaras
que or-
ganizam os orçamentos, copiando materialmente os algarismos
da proposta do Governo, reproduzindo as verbas sem a menor
investigação, sem o menor cuidado, quasi inconscientemente,
dando um attestado da inutilidade do Congresso, cuja principal
funcção é, entretanto, orçar a receita e fixar a despesa fe-
deral».
Dahi1 resulta
justa censura ao Congresso, faz ou
porque
acceita um orçamento com grande déficit constituído
por des-
pesas enormemente accreseidas e_ desnecessárias ; tudo por
mero luxo (apoiados), manifestação da vaidade humana, que
suppõe que a importancia de um serviço se assente na. ele-
vada cifra do seu custo apparente ! ! !

E' um facto verificado que essas repartições, em geral, nüu?


precisam de gastar a totalidade das consignações de material
que figuram no orçamento ; e a consequencia
pois,>'•, se
que
aggrava o total na lei orçamentaria da despeza, sem necessi-
dade alguma, compromettendo-se o credito publico para appa-
¦renda de um déficit muito maior do que o real.
Na verba 5", portanto, fiz uma reducção de 43:000$, em

360:000$, mais ou menos.
E' uma ninharia, que representa insignificante
parcella
nesta lartura orçamentaria. A reducção, em todo caso, é ne-
cessaria.
A verba 6" é muito sympathica: refere-se ao novo ser-
viço de Inspecção e Defeza Agrícolas, o o Governo
para qual
somente devia aproveitar homens competentes, com real scien-
cia e pratica comprovada, deixando de cmpoleirar nessa
gaiola homens utopistas, ideologos, desper-
philosophos, que
diçam os recursos do Thesouro e levam aos centros agrícolas
somente o ridículo e
a desiIlusão- das aspirações dos lavradores.
A defesa
agrícola tem, ainda bem, nesta Camara, um pa-
trono intemer.ato. dotado de organização, moral superior, de
verdadeiro patriotismo, que igualmente assim pensa; refiro-me
ao meu gentilissimo amigo e collega Dr. Pereira Teixeira,
com quem tenho trocado idéas sobre este serviço na Bahia.
Esta verba, do mesmo modo que as despezas com o
povoa-
mento do solo e a instrucção agrícola, se impõe ao interesse e
ao carinho da Camara ; e, aos das represen-
particularmente,
tações do Norte, onde a lavoura luta contra a carência de todos
os factores do seu engrandecimento, da sua expansão.

Mas,preciso 6 haja todo o escrupulo, e


_que prudência
critério na applicação das verbas consignadas taes ser-
para
viços, que devem ser uma realidade, afim de não sejam
que
dissipadas as dotaçoes inutilmente, desordenadamente1, com
mero sacrifício do Thesouro o sem resultado pratico, quando se
sabe que a despeza com a agricultura é reproductiva, nos honra
no presente e nos garante o futuro.
A defesa agrícola, que é um serviço incipiente, sem ainda
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 73

ter systematizaçãoregular, está tão fartamente dotado que,


com esforço, a Gamara pôde reduzir essa
jura pequeno consi-
gnação em 933:000$, sem alterar sua accão progressiva e,
até mesmo, concentrando e conjugando os elementos de que
ella precisa no presente.

Talvez pareça que, loucamente, ceifei esta verba como a


morte ceifa a humanidade, indistinetamente, grandes e pe-
quenas sub-consignações, úteis ou adiaveis, e inúteis ser-
viços... {Riso.)
Pois não foi assim;
meu critério foi muito outro: procurei
fcaber que constituía
o necessidade immediata da lavoura, sua
utilidade, o que dizia respeito a serviços organizados, para não
toear nisto, porque entendo que a desorganização dos serviços
traz muito maior prejuízo do que o augmento de despeza.
Procurei conduzir-me com o critério de
quem não quer
destruir, de quem quer construir, manter a
prosperidade do
paiz e garantir sua riqueza futura pela expansão de sua pro-
ducção racionalmente praticada em toda a extensão do seu
uberrimo sólo.
Nopessoal fiz pequena reducçâo, apenas attingindo a
nma classe de funccionaríos supe.rabundantes. Aqui se diz:
«Inspectorias — Seis inspectores e 23 ajudantes».
Devo suggerir que fiquem seis inspectores e 12 ajudantes,
escolhidos entre os mais competentes, que mostrem vocação o
solicitude para tão ardua e melindrosa tarefa. Assim as inspe-
ctorías ficam razoavelmente dotadas de dous ajudantes para
cada inspector, o serviço não soffre, o Thesouro faz uma oco-
nomia de mais de 60:000$000.
Comquanto se considere que mais tarde esse serviço será
de grande resultado e utilidade, não se pôde deixar de reco-
nhecer que presentemente o trabalho das inspectorias é insi-
gnificante e ainda desorganizado, sem methodo nem disciplina.

O Sr. Bueno de Andrada — nenhum.


Quasi

O Sr. Moniz de Carvalho — Quanto


ao material o pro-
ponho diversos córtes justificados, conseguindo prudentemente
uma economia de 933:000$, reducçâo que não é muito, porque
á verba 6a, dizendo respeito d inspecção de serviços agrícolas,
propaganda, etc., consigna a assombrosa verba de 2.472:000$,
despropositadamente distribuída por uma série de extrava-
gancias mencionadas, sem reflexão nem relação com o serviço
real e pratico que deve ser estabelecido.
Passo á verba 7°: — Posto Zootechnico Federal.

O Sr. Nicanor do Nascimento — V. Ex. dá licença que in-


terrompa, para fazer um requerimento de ordem ?

O Sr. Moniz de Carvalho — Pois não.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Peço a palavra or-


pela
dem.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra
7* ANNAES DA CAMARÀ

° Sn" Nicanor Nascimento —


if 4o Requeiro a V. Ex con-
prorosac^° ¦»«">
óradoí coatüruar Para
seu^iBcurso
Consultada a Casa, 6 concedida a prorogação.

® ^r- Mpniz de Carvalho


„ (Continuando) — Agradeço á
da approvação do requerimento do meu col-
legapff?aJac™Li!62!
e amigo, e, particularmente,
a V. Ex. a attencão ctup tãn
dispensado ás minhas
n^o?J0S^men sobro K6m considerações des-
pretenciosos assumpto da maior relevancia como é este
orçamento dos serviços agrícolas.
*
Vei bti / . / osto /.'ootcchnico. E' uma renarticão ciue mp-
mas a organização abundante
,c.alJinll0;
do°eservico nessn™^01'
530 P<5de prestar-se a uma reducção
razoavel da E,, !
w»iu,u"oa mim
ssrtAsçassssíwar0

que 0 scrviço merece toda a aften-


cão di'rimnTft-n™
que muito maior attenção e
nTrinhn /w?™' penso
0 erar,° representa
Publico, que a
seiva mÍr.ai rto f/!)
de decorre a existencia
HnnaUH^o _onde da própria na-
sPr esquecida em vim só instante,
sèm -e '?a"cçao do
crime de leso-patriotismo.
Nnfr. /? ?
as tàbellas organizadas
r?ípo no^n pelas diversas reparti-
a comP^a de ammaes, si fossem
ínnvrori,! bom applioadas,
e™ uma vasta íazenda de
-° criação, po-
v3 nn Tcheia ?a!Z
dos mais apurados typos de animaes de raça.
{Apoiados. Ha diversos apartes.)
muito o assentimento geral dos meus colle-
eis „?"ra;;m,e
sorns ás da causa da agricultura,
nnI'fT.?n U, ta e da in-
Uana' a am mu^° justos o procedentes meus
conceitos
Na consignação
para compra de animaes no paiz...
^APIIAEIj ^INnEni0 — Deve ser da fazenda do
Saycan^11

O Sr. Moniz de Carvalho ... acquisição e conservação de


materiaes agrícolas,si
pretendesse eu agir com outro escrupulo,
proporia a suppressão
da verba do 150:000!?; no entanto, ape-
nas venho suggerir reducção a 50:000$,
porque ,jd rc tem com-
pra nos exercícios anteriores no valor de mais
íL,?,?,macs,
300:000?, que devem- existir e já ter reproduzido.
E' muito animal, é animal por cima do tempo, fóra de um
razoável critério, fóra até da capacidade de um zoote-
posto
chnico, porque Posto Zoootechnico não de
é fazenda criação
é simplemente uma reunião selecta, um de speci-
conjuncto
mens rezes, para que se apurar os benefícios
_de possam da
selecção na reproducção, na melhoria das raças puras ou
mestiças.

O Sr. Raphael Pinheiro — Demais não


quem 6 pobre tem
luxo.

O Sr. Moniz de Carvalho — Portanto, reduza-se de


150:000$ a 50:000$ ; o também se córte a consignação para a
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 191! 75
I

importação de animaes, é de 100:000$, ouro, 50:000$,


que para
ouro.
«Verba 8' — Escola de aprendizes Artífices». Ahi não
tem a Gamara emque tocar, porque esse serviço, que tem dado
tão profícuo resultado ao merece-me absoluto applauso
paiz,
e apoio para seu desenvolvimento.

«Verba 9a — Serviços geologicos e mineralogicos: Ma-


terial, o necessário ao serviço e...»
Basta ler a distribuição da verba para ver a Gamara sí
não tenho -absoluta razão nos quereparos tenho feito, porque,
atinai de contas, sendo a responsabilidade de todos, uma parte
delia cabe a cada um dos seus membros individualmente.
Diz a tabella de modo generioo, indeterminado, arbitrário:
— «Material, o necessário ao serviço, comprehendendo grati-
íicações deu pessoal extranumerario, no art. 28 do
previsto
regulamento, etc.»
Gomo se sabe o regulamento é um acto do Poder Executi-
vo, devendo ser emanado para complemento e execução do
decreto legislativo; si, em virtude do regulamento, o Poder
Executivo pudesse crear empregos, nomear e mar-
pessoal
car-lhe vencimentos, resultaria que esse havia
poder absor-
vido uma das attribuições privativas do Congresso, definidas
na Constituição. Entretanto não me detenho no commentario
desse facto abusivo.

« Materiaes, 120:000$, o necessário ao serviço de um posto


de mineralogia.»
Portanto, de uma trata-se
repartição de ou sexta
quinta
classe, emboragrande importancia descientifica, na qual se
reflecte a nossa cultura, e que presta reaes serviços aos sa-
bjos estrangeiros ; mas nem comtudo isto, ser uma re-
pôde
partição que precise de 120:000$ de materiaes annualmente,
quan tem seus gabinetes montados e seus instrumentos bem
conservados e, ha muito,adquiridos.
O empregado, que organizou a tabolla, errou. Esse homem
tinha na cabeça, em sonho, a necessidade de 120:000$ de ma-
teriaes para o (expediente do
posto mineralogico e, incons-
;
cientemente traçou tal despeza.
Não quiz eliminar ou reduzir de mais a verba; mantive
a farta consignação de 60:000$, que já me parece um despro-
posito, um exaggero, ás necessidades de materiaes para um
posto goologico.
Acredito que, quando para estes detalhes
attender e sub-
consignações, oprimeiro apoiar-me os intuitos e a resolução
a
ó o honrado Ministro da Agricultura, que, absorvido pela ope-
rosidade de sua administração, não teve tempo de corrigir os
dispauterios da tabella, que, ingenuamente, a illustro Commis-
são do Fazenda muito commodamento subscreveu_e aoceitou.
Proponho reducção para 60:000$, porque não pretendo
eliminar systematicamente as consignações de serviços exis-
tentes, mas o Ministro será ouvido a respeito e, assim, servirá
ao menos para despertar-lhe a attenção sobre essa consignação,
que deve ser ainda menor.
16 ANNAE9 DA CAMAHA
i

São
eoonomias, como so vê, pequenas, catadas aqui c alli
como quem está catando araçá em vasta plantação. (Risos.)
Verba 10. «Junta Commercial» — Material:
aoquisição e
concerto de moveis, 6:000$000 ».
Nessa verba venho suggerir a pequena economia de 4 :000.?
porque reconheço que ó um serviço importante, bem orga-
nizado e util.

Reduzo 4:000$ em 406:000.?, sendo que a reducção explica-


se, porque nao comprehendo que para concertar moveis se pre-
cise gastar annualmente 6:000$, em uma repartição, aliás
pequena. Sena
preciso que tudo estivesse arrebentado para
que, em cada anno, se precisasse de reformar o mobiliário
daquella repartiçao, que, aliás, descansa na santa paz.
Verba 11. «Serviço de fe-statistica» — Typooraphia, ma-
terial, eventuaes ».
A hora esgotada,está
da prorogação restam poucos mi-
nutos, de que nao posso, como desejava,
modo expor as razões
da minha convicção sobre cada uma das consignações redu-
ziveis, sem prejuízo ou 'desorganização dos serviços.
O estudo, o critério © o patriotismo da Commissão
de Fa-
zenda e a lealdade do honrado Ministro completarão o tra-
balno de revisão deste orçamento.
Peço nesta verba pequenaa reducção de 96:000$, que é
ridícula em uma consignação de 1.238:982$500.

O Sr. 'Bueno de Andrada — No pessoal ou no material ?


O Sr. Moniz de Carvalho — No pessoal apenas isupprimo
um funccionario: o ajudante do superintendente da typo-
oraphia. Acho que já é de mais haver em umatypographia
pequena, como a de estatística, um superintendente, quanto
mais um ajudante desse
? superintendente
Que quer dizer supierintendente de uma typographia de-
pendencia de uma repartição publica? (Pausa.) E' nephilibata1'
(Riso.)
E' louvável que o Congresso lestude e apure verba por
verba, seus desdobramentos em consignações e sub-consigna-
ções, porque sómente assim cumpre seu dever, exerce suas
funcções e, afinal, vem até em apoio dos intuitos elevados da
administração, a qual está confiada a um Ministro compe-
tente, operoso e honrado, que não condescende com os abusos
de quem quer que seja na esphera de sua autoridade.
Este trabalho fastidioso, que caberia á Commissão de Ea-
zenda, não hostiliza o Ministro, exprime tão sómente a leal-
dado collaboração do Congresso Nacional
da na obra do equi-
librio orçamentário, que é a questão do momento que preoc-
cupa o preclaro Chefe da Nação.

No da Estatística, que é um pessoal numeroso,


pessoal
proponho apenas a suppressão- desse ajudante de superinten-
dente. Ora, superintendente de uma typographia já é uma
demasiada, uma superfetação, avalie agora a Ca-
graduação
mara o cargo de ajudante de tal superintendente.
Mas ainda nessa mesma verba: — Eventuaes,.,
tem
140:000$000 I !
SESSÃO EM' 18 DE SETEMBRO DE 1912 77

E' de causar admiração essa consignação,


porque já o or-
çamento consigna com largueza vencimantos
para todo> o pes-
soai e do todos os serviços, além de copiosa somma para ma-
terial; como pois pôde justificar-se esse pedido de 140:000$
para eventuaes de um serviço localizado em uma repartição
organizada ?
Affirmo que Deus me livre de, tendo a responsabilidade
ciequalquer serviço, tachar um apoio incondicional e irrespon-
savel que me désse consignações desta ordem e sem expli-
caçoes.
Verba 12. «Meteorologia e Astronomia» — Nesta verba
venho suggenr a reducção de 150:000$ e justifico em poucas
palavras, que convencerão a Camara da sua procedência.
Para expediente, ha a verba de 40:000$000.
Só para expediente, a 20:000$, 40:000$.
ó Reduzo
que
rouito, porque expediente não ser
pôde a construcção de um
edifício ou o concerto de uma casa. E' apenas o material de
escriptorio para uma repartição de 5°
classe, que é muito im-
portanto sob o ponto de vista scientifico, mas, sob o ponto de
vista administrativo, não passa de uma de 5* classe.

Necessidades imprevistas — Outra novidade deste orça-


mento, que onera a despeza figurada na lei de sommas imma-
gmarias, sem dlastino 1 1 1
'? suppress^° desta verba, ingenuamente
que
é de CO^OOOíOO^n
A suppressão não_ desorganiza serviço algum, porque o que
c imprevisto oiao existe, não está conhecido, nem podia ser
calculado.

•j vei'^a. t5 irrisão ás regras scientificas


Lima que pre-
sidiem d organização ou á factura de um orçamento regular,
digno de tal nome, onde a norma descriptiva das despezas
reaes
serve para demonstrar ao a solicitude,
povo a correcção, o
escrupulo e a probidade da administração publica, que ó de-
positaria do patrimonio ooillectivo e do da
produeto arreca-
daçao dos impostos.
Verba 13. «Museu Nacional» —• Acquisição de produetos
naturaes e outros objectos, 10:000$000.
Nesta_verba, limito-me a suggerir a reducção de algumas
consignações, sem perturbar o serviço nem alterar o pessoal:
corto o supérfluo, o desnecessário, e, assim, se faz uma eco-
nomia de 360:000$000.
E a economia
se eleva a essa importancia, ha
porque
uma consignação,
que não se justifica, que é escandalosa, por-
que e simplesmente luxuosa, sumptuaria, a de 300:000$ para
substituição do mobiliário do estabelecimento.
Ora, não pude ainda ha obter da Cornmissão de
pouco
Fazenda 15:000$ a acquisição do
para do mobiliário quartel
general da Bahia, que i* um edifício novo, vasto, inagestoso,
que está desprovido de mobiliário em alguns dos seus vastos
aposentos.

. O Sn. Augusto do Amaral — E' exacto, a mobilia


que lá
existe 6 do proprio ofíicial commandante.
78 ÀNNAES DA GAMARA

O Sr. Moniz de Carvalho — E si não fosse o general So-


tero mandar para lá sua mobília particular, alguns moveis
comprados com as economias da obra e outros a credito, pas-
sar-se-ia pela vergonha de não haver onde sentar-se um
visitante official.
A Oommissão de Fazenda negou os 15:000$ para ia com-
pra desse mobiliário; ientretanto é essa mesma Commissão
que
consigna 300:000$, não já para adquirir, mias para substituir
o mobiliário do Museu Nacional, que, aliás, está dle
provido
tudo.
E' colossal incoherenciall...

O Sr. Nicanor do Nascimento — Mobiliário o qual


para
já, no anno passado, demos 300:000$, que o Ministro declara
que foram gastos em moveis.

O Sr. Moniz de Carvalho — Pois bem, nesta verba, que


representa 704:000$, venho suggerir um córte de 361:000$,
sendo que 300:000$ são da suppressão do mobiliário de luxo.
Propriamente, no que se refere á repartição, io córte é
de 61:000$000.
A verba 14* refere-se a um instituto de ensino superior,
a Escola de Minas, cuja organização todos reconhecem como
necessaria e deve ser mantida, no proprio interesse eccnomico
do paiz. Devo notar, porém, que, illegalmente, foram augmen-
tados os vencimentos do seu professorado, que está perce-
bendo indevidamente vencimentos superiores aos marcados na
lei.
Venho
suggerir, por isto, uma de 17
pequena reducção
contos na
sub-oonsignação, sendo de 15 contos a instai-
para
lação de um observatorio astronomico ; e lembro á Commis-
são que limite os vencimentos do professorado á importancia
legal, porque mais tarde o Estado cobrará o indevida-
que
mente agora paga.
A Escola do Minas tem preparado seus alumnos perfeita-
mente, sem ter observatorio astronomico .até hoje. Ora, pa-
rece-me que o momento actual é o peior para aconselhar esse
augmento de despeza.
A verba 15a refere-se a «auxílios á agricultura e aos

|criadores.»
Tenho grande e justa quizila ou embirramento com e3ses
favores pessoiacs, que são reconhecidas armas de corrupção, ele-
mento para a exploração insopitavel dos bem recommendados

contra os bem merecedores, a despeito dos escrupulos da


administração, porque, onde se diz favor, desapparece o con-
aeito da justiça.
Esses favores pessoaes nunca aproveitaram, nem aprovei-
tarão ao lavrador verdadeiramente emprehendedor, trabalha-
dor, serio, independente e altivo.

São absorvidos moços bonitos, agricultores de salão


pelos
è casaca, ficando sem despacho os requerimentos daquelles em
favor dos creados taes prêmios.
foram
quaes
na Bahia com o operoso
Haja que se passa
vista o indus-
itrial e agricultor coronel Horacio Urpía Júnior, aue introdu-
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 7®

eií1 escala do Henequem,


?imoaf^VOura- grande o qual produz
uma fibra privilegiada da cordoaria, fazendo grandes cfispen-
0103 , tendo direito expresso e inilludivel á importancia de
dous um de lavoura nova
prêmios, e outro de industria nova
requereu o pagamento em 1911 e até hoje seu requerimento
descança no Ministério da Agricr." :aguardando haja
que
verba ou boa vontade.

^escasos desta ordem, que ferem sempre o


i!
lavradores do norte
- - 9 do paiz, desmoralizam a
íncfíi
ao desses prêmios distribuídos
)S- sem critério e por pro-
tecçao ou corrupção.

contra a distribuição ar-


bifJpjJf £5? nTLgrandf PreJen!?ão
J y prévi0> destes prêmios individuaes, con-
ira Sc SvS
pessoae?> Que, quando não affectam ató a
hrm ra wrínl! !!•
p exigem humilhação do
a indivíduo para con-
seguil-os ou recebel-os.
Attendendo, entretanto, a compromissos
que possam existir
desejiando nao crear difficuldades ao
honrado Ministro, venho
suggenr a reducçao, da verba de 200:000$, 100:000$000.
para
Sr,eJ constituem
Premios o incentivo e a
tqUu ,eusses
trabalho e da iniciativa
eííítl™ particular, de onde re-
sultam a prosperidade e o desdobramento das industrias e da
polycultura. Mas, para ser obtido esse resultado, preciso fôra
que se estabelecessem regras inalteráveis,
princípios absolutos
de justiça, que garantissem o direito do agricultor ou criador
obscuro, porém, de merecimento e de serviços reaes, contra os
açambarcadores dos
proventos destas medidas, que ficam inuti-
lizadas e deturpadas na sua execução.
Para bem exprimir a procedencia das considerações que
exponho, appellando o honrado
para Ministro da Agricultura,
refiro o. Que se passou com o intelligente industrial e ope-
roso agricultor bahiano, Sr. Horacio ürpia Júnior, para quem
o beneficio desses premios não pôde ainda ser uma realidade,
embora nenhum outro mais direito tenha.

Verba 16 . Informações , divulgações etc., H 0:000$ para


material.

E' outro serviço que não conquistou ainda minhas sym-


patinas, porquanto a essa grande despesa de 192:800$ corres-
ponaem esforços de tão pequena importancia que, sem gastos,
melhor prestal-os-ia secção da Agri-
qualquer Secretaria de
cultura ou da chamada Defesa Agrícola.
A Camara bem sabe como se informa e se divulga, nels.te
paiz, a custa do erário publico: é uma dispendiosa inutilidade,
no presente © simplesmente.

Venho suggerir a reducção! da consignação de 110:000$


ao material,para 50:000$, sem ditoso,
alterar o pessoal není
prejudicar o serviço a organizar-íse.
Verba 17 — Trata-se do Serviço de Veterinaria,
para o
Qual o projecto consigna extraordinarias despezas, no total
de 1.768:720$, sendo com o pessoal 748:920$ e com o mate-
nal 1.019:800$000.
80 ANNAES DA CAMARA

Trata-se do um serviço
ainda incipiente, o qual me
parece
deveria expandir-se paulatina o prudentemente, com o vigor
da própria acção, conquistando e crescendo, sem tão
grande sa-
crilicios tio Thesouro no presente momento.
Entretanto, respeitando >a organização pomposa que foi
dada a esse serviço, limito-me a suggerir uma reducção
nesta verba de 474:800$ apenas, sem o serviço
perturbar e
mantendo o pessoal já figurado, supprimindo sómente a crea-
ção de enfermaria veterinaria de Bello Horizonte, cuja despesa
annual de 31:800$ não é compensada serviço
pelo que possa
prestar.
Si ha de acontecer o que se está dando com o Collegio
Militar de Porto de Alegre,
que se quer, por economia, mandar
fechar, depois
gastar-se de
mais de mil contos, é melhor que
não se_crie essa enfermaria veterinaria, não ser
para penoso
amanha mandar fechal-a, pesando então sobre o thesouro

a carga absurda dos empregados iem disponibilidade, re-
que
o descaso dos governos
presentam pelo erário publico e signi-
ficam le dernipr cri do parasitismo legalizado.
Muito eu teria a dizer a respeito desta verba si o tempo
me permittisse entrar em detalhes sobre as necessidades e re-
sultados desse serviço, cuja disseminação muito util deve ser
no -Brazil sóbria, ,e modesta, tanto são e re-
quanto pobres
duzidos ainda os nossos centros criadores a se deve at-
que
tender.

Protecção aos índios. Verba 18 — E' um serviço novo, pro-


missor, que capta promptamente o carinho e as sympathias de
todo brazileiro patriota, que sente vibrar forte e commovente
a fibra da sua nacionalidade, em que se enfeixam sieus sen-
timentos de nativismo.
Mantenho a verba, que é assombrosa, na importan-
cia de 2.281:800$, com a
justificada reducção. de 1.102:400$,
ficando ainda com dotação superior á do actual exercício.
Noto ainda nesta verba o Poder Executivo se attri-
que
bue a competencia de crear empregos e marcar vencimentos
novas cargos exercidos effectivo, o vae
para por pessoal que
do encontro ao preceito 'constitucional.

As tabellas rezam: «para occorrer a despesas com as


inspoctorias e levar a effeito a fundação e manutenção de novos
centros agrícolas, comprehendendo os vencimentos do pessoal
effectivo dos mesmos centros...»

Ninguém contestará que o honrado Ministro nãoi abusará


desse trecho, porque não pôde crear empregos e marcar venci-
mentos effeetóvos nessas condições sem violar a Constituição
deixando um funesto
cruelmente, precedente na administração.
Isto aqui está, naturalmente, não foi escripto por
que
gente reflectida e competente, porque, si o fosse, se limitaria
a o dinheiro, sem dizer tal cousa, affronta o Con-
pedir que
gresso, absorver uma das suas attribuições privativas.
por
a commetter um abuso,
A gente pôde ser forçada mas não
deve ostentali-o nunca, sem incorrer em maior crime.
Eimitando-me a estudar os diversos serviços do Ministério
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 81

da Agricultura, meu intuito demasiadamente provado e aqui


repetido <5 demonstrar minha consideração, meu apreço e
minha admiração á operosidade do honrado Ministro, desper-
tando sua attenção, instigando sua reflexão para estes pontos,
que pódem servir de ataque para os adversarios que queiram
hostilizar sua honesta administração.
E, si estou despertando a attenção de S. Ex. para taes

e fazendo estas restricções nas consignações deste or-


pontos
çamento, ó porque estou certo de que S. Ex. esposará a mesma
causa, pois não posso admittir que o meu intuito, deante das dif-
ficuldades do Thesouro, seja mais patriotico que o de S. Ex.,

tem a responsabilidade directa e parcial da sorte do go-


que
verno actual.
19 — «Ensino Agronomico» — Faço também uma
Verba
grande reducção nesta verba, que sobeá somma avultadissima
de 4.384:311$800, tanto ou mais que o paiz Idespende pre-
do
sentemente com todo o ensino superior a cargo do Ministério
do Interior, sem entretanto, desorganizar ou prejudicar ser-
viço algum.
Mantenho a Escola Superior de Agricultura, mas estou em
completa divergenciu pomposa creação que_ se chama
com essa
Horto Florestal, o qual não deve passar de uma secção da pro-
pria escola, a cargo do abundante pessoal que a constitue. E,
si necessidade houvesse dessa instituição autonoma, imprópria
seria sua séde desta cidade, que_a natureza sitiou
nas cercanias
de naturaes para o ensino e observação dos estudiosos.
florestas
Será possível que nesta terra em que as florestrs estão
affrontando a nossa deficiencia de população se necessite de
mais um horto florestal ?

O Sa. Bueno de Andrada — Já existe um aqui custeado pela


Municipalidade.

O Sn. Moniz de Carvalho — Demais, como lembra o emi-


nente Deputado por S. Paulo, esse já é um serviço da Mu-
nicipalidade, de accôrdo com a nossa organização adminis-
trativa decretada pelo Congresso Nacional.

O Sn. Presidente — Lembro a V. Ex. que a hora da pro-


rogação está finda. (Interrupção.).

O Sr. Raphael Pinheiro — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Raphael Pinheiro ordem) — Peço a V. Ex.-


(pela
que consulte a Casa si concede mais 10 minutos do proroga-
ção para o orador terminar seu discurso. (O Sr. Presidente con-
sulta a Camara e esta concede os Í0 minutos de prorogação.).

O Sr. Moniz de Carvalho (continuando) Agradeço a


nimia benevolencia do meus collegas; e dentro dos 10 minutos
concedidos terminarei o meu discurso, concluindo o estudo que,
sem nem atavios de forma, estou fazendo.
pretenções
A verba 20a não está consignada na proposta; ê um ser-
viço novo; é a
pomposa Inspectoria da Pesca, onde ainda tudo
está desorganizado e cuja creação veio de facto perturbar
Vol. 8
82 ANNAES DA CAMARA

as relações e condições dos pescadores e induistriaes nas ca-


pitanias de portos e nas alfandegas.
Si mo sobrasse tempo, poderia alongar-me sobre este as-
supapto, não para condemnar a creação do serviço, mas para
criticar com vantagem a sua organização, que, como foi feita,
parece-me, aoillide directamente sobre as aíttribuições
das capitanias portos, deonde deve residir sempre a autori-
dade sobre oos marítimos e as embarcações, sem excepção.
mar,
A falta de tempo não permitte outra ordem de conside-
rações jurídicas, além da matéria orçamentaria; mas pro-
metto opportunamente manifestar o meu modo de pensar, os
meus sentimentos e as razões poderosas que tenho para não ap-
plaudir a fôrma por que foi este serviço organizado com
pompa, mas sem efficacia nem critério pratico.
Este serviço novo, de dous mezes, ou de menos de 60 dias
de existenpia, ó onerosissimo, constituo uma ameaça ruinosa
ao Thesouro Nacional.
A Inspectoria
de Pesca começa custando ao orçamento
1.300 contos
para principiar, desorganizando o que existia o es-
tabelecendo a confusão nas relações administrativas dos pes-
oadores e industriaes.
O Sr. Raphael Pinheiro — Não falando nas isenções de
impostos.
O M°NIZ nE. Carvalho—Poderia
. . propôr, por uma justa
injuneçao de patriotismo, a sua sup-pressão. Presentemente não
se deve, senão faltando a fé aos
justos dictames da conscien-
cia, propor a creaçao ü>e empregos e muito menos de repar-
tiçoes luxuosas, tanto mais quanto se trata do um serviço
que poderia e deveria ficar subordinado ao Ministério da Ma-
ruma, como especiaes secções em cada uma das capitanias de
portos, produzindo desde logo os resultados o os benefícios col-
limados para a classe pobre dos
pescadores, a que deve tutelar
e proteger.
Organizando esse serviço,
_ o Ministério da Agricultura
nao se prcoccupou com a pesca em pequenas embarcações,
que até_ agora e o recurso das populações pobres do beira
mar , nao, tratou da pesca moderna, com embarcações a vapor
de alto mar, abrangendo até >a captura das baleis
por meio dos
canhões proprios, a qual se prende uma industria de rico fu-
turo, a do azeito de peixe.
Entretanto, ao envéz de facilitar a acção e garantir o Ira-
balho dos
pescadores e o desenvolvimento das industrias cor-
respondentes, o regulamento baixado esto anno é um tratado
bysantino de dilíiçuldades, fuLilidades e subtilezas, que nem
a Inspectoria Geral pode exeoutar e praticar com proveito.
Aecrosce quo em virtude, desse regulamento,
que é acto
do Poder Executivo, 101 creado um
pomposo pessoal, enorme
e largamente remunerado, com a violação elamarosa do pre-
ceito constitucional o com o sacrifício immediato do avultada*
sommas do Thesouro Nacional.
A Camara não pôde ser indifforente a consignação
esta
de despeza, que aliene
sem uma de suas mais elevadas prero-
gativas constitucionaes.
SESSÃO EM 18 DE SETEMBRO DE 1912 83

0 da pesca,
serviço tal como foi organizado, não recom-
menda a
competencia de quem o elaborou, que não foi cer-
tamente o honrado Ministro, todo mundo sabe
porquanto que
esses trabalhos massudos são feitos candidatos
pelos ou di-
rectores nomeados. De ordinário, taes
quem elabora regula-
mentos com o interesse dárecto de ser collocado, sem calma
e nao tendo a comprehensão nitida de elementos,
todos os
que muitas vezes colliidiem com os interesses communs e geraes,
organiza mal, querendo organizar bem, de auto-
pelo excesso
ridade que se attribue. Não pedirei a suppressão desta verba,
mas sim a suppressão de muita cousa inútil.
que me parece
Não concordo com a compra de navios nelles
piara se manter
escolas, despendendo-se com o seu custeio o absurdo de 800
contos annuaes, quando se fechar Escola Militar de
quer a
Porto Alegre, que custa 600 contos, porque o Thesouro não
tem dinheiro.

Quod Deus vult perdere, dementat prius.


Serápossível que Deus nos arranque a razão para nos
rebaixar no conceito
publico ? Não ó possível. Nesta consigna-
çao de ml e trezentos contos,
peço a reducção de 772 contos,
porque excluo os navios, tripulações á custa do
paiz, mantendo
porem a mspectoria e estações modestas o registro
para da-s
embarcações de pesca e para a necessaria fiscalização e con-
cessão dos favores a legislação
que concedeu á sua* industria,
cujo desenvolvimento se está dando pela iniciativa particular
e sem ônus para o Thesouro.
Para concluir, assignalo
que nesta minha jornada e pe-
regrinação, de verba emverba, tocando em todos os estágios
do orçamento em discussão, cheguei a reduzir suas despezas
na
importante oifra de, ouro, 450:000$ e 8.727 :000$ em
papel sem
desorganizar ou supprimir um serviço
existente, sem demittir
um funccionario publico, sem arrancar o pão e os recursos a
um ente humano.
Devo consignar neste momento, como a razão superior
do meu estorço, do meu
cumprido dever
perante a Camara,
perante o honrado Ministro o a Commissão de Fazenda, as
ju-
diciosas considerações de abalisado publicista, que escreveu
com competencila. sobre a actual situação
financeira do Brazil:
« A situação actual resume-se neste contraste em
singular:
pleno estado de florescência economica, tendo vencido os obsta-
culos da SUPEKTUIDUTAÇÃO, expandem-se as fontes
de producção,
como demonstra o augmento das rendas
publicas e do commer-
cio exterior, emquanto o paiz encontra-se na imminencia de
uma nova crise financeira.

«Esta crise, portanto, não decorre da decadencia economica


inas do excesso exaggerado das despezas c do augmento extraor-
ainario
que vae tendo, de um modo que parece quasi incon-
soiente, a divida publica nacional.
«E tanto mais se torna necessário chamar este
para estado
«e a attenção dos
que legislam o governam,
çousas quanto a
tendência é continuarem
para nesta attitude de prodigalidade
84 ANNAKS DA GAMARA

que, afinal, acabaria por affectar a vida economica do e


paiz
dlar com o credito publico em pantamas.»

Cumprindo este dever, permitta-me a Camara, Sr. Presi-


dente, que sejam minhas ultimas palavras a manifestação de
minha gratidão pela benevolencia da Mesa e de
generosidade
meus illustres collegas, que me honraram com Bua conforta-
[lora attenção.

Procureidesempenhar conscienciosamento o honroso man-


dato que fui investido,
com trazei.do o concurso de minha in-
telligencia, embora apoucada (não apoiados geraes), ao serviço
da Patria, cuja aspiração de prosperidade e grandeza constituo
o oxygenio que ialimenta os sentimentos dos brazileiros. (Muito
bem; muito bem. O orador é vivamente cumprimentado por
seus collegas, que o abraçam.)

{Em meio do discurso do Sr. Moniz de Carvalho, o Sr. Sar-


bino Barroso Júnior, Presidente, deixa a cadeira dapresiden-
cia, que é occupada pelo Sr. Soares dos Santos, 1" Vice-Presi-
dente.)

Veem á Mesa as emendas do Sr. Moniz de Carvalho.

0 Sr. Presidente — As emendas do nobre ficam


Deputado
sobro a mesa para serem lidas e apoiadas opportunamente.
Esgotada a hora da prorogação, vou levntar a sessão, de-
signando para amanhão a seguinte

ORDEM DO DIA

Continuação da 3" discussão do 61 Bj, de 1912,


projecto n.
fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio para o exercício de 1913 ;
Discussão única do projecto n. 304, de 1912, autorizando
a conceder, a Joaquim de Macedo Costa um anno de licença,

com todos os vencimentos; com parecer favoravel da Commis-


são de Finanças e voto em separado e emenda dos Srs. Ribeiro
Junqueira e outros ;

2" discussão do projecto n. 70 A, de 1912, mandando isen-

tar de todos direitos, inclusive dos de expediente, a introdu-


os

cção fronteiras de gado vaceum e ovelhum destinado (i


pelas
e dando outras providencias; oom substitutivo da
criação
Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de Finanças;

3o discussão do projecto n. 213, de 1912, creando o jogar


de zelador do Museu Naval, annoxo á Bibliotheca da Marinha,
com vencimentos e garantias idênticos aos dos mestres do
os
Arsenal de Marinha; com parecer favoravel da Commissão de

Finanças n. 300, de 1911) ;


(vide projecto

3u
discussão do projecto n. 279, de 1912, autorizando a
abrir, Ministério do Interior, o credito extraordinário de
pelo
4:200.? ouro, do prêmio de viagem conferido
para pagamento
ao Dr. Carlos Leoni Werneck ;
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 85

2" discussão
do projecto n. 325, de 1911, mandando con-
siderar para todos os effeitos, por acios de bravura praticados
na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 de novembro
de 1897, a: promoção do Io tenente do Exercito Francisco das
Chagas Pinto Monteiro, a este com da
posto; parecer Com-
missão de Finanças;

3a discussão do projecto n. 210 A, de 1912, do Senado,


autorizando a abrir,
pelo Ministério da Justiça e Negocios In-
teriores, o credito de 8:940$, supplementar á verba da con-
signação — Pessoal — da rubrica 6" n.
do art.. 2" da lei 2.544,
de 4 de
janeiro de 1912; com parecer favoravel da Commissão
de Finanças;

3" discussão do projecto n. 203, de 1912, autorizando a


abertura do credito de 150:000$, ouro, conta do especial
por
de 8.000:000$, para despezas com a representação do Brazil
na Terceira Exposição Internacional de Borracha;

3a discussão
projecto n. 320 A, do
de 1911, considerando
de utilidade publica a Associação Commercial da Bahia; com
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Justiça;
Discussão única do projecto n. 303, de 1912, autorizando
concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista
da Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Com-
missão de Finanças;

2" discussão do projecto n. 373, de 1912, facultando a


D. Claudia Vergara de Oliveira, viuva do coronel graduado
reformado do Exercito Heleodoro Joaquim de Oliveira e sua
filha Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art.
-Ia do decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2" discussão n. 306, de do


1912, do Senado,
projecto au-
torizando mandar
pagar a Ladisláo
a Dias da Cunha, cessio-
nario de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282,
por obras contractadas e executadas nos quartéis da Força
Policial do Districto Federal; com parecer favoravel da Com-
missão de Finanças (vide projecto n. 409 de 1911);

3a discussão do projecto n. 377, de 1911, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 5:393$548, para paga-
mento de vencimentos que competem ao lente em disponibi-
lidade da Faculdade de Direito de S. Paulo, Dr. Pedro da
Veiga Filho.

Levanta-se a sessão ás 6 horas e 40 minutos da tarde.

108a SESSÃO, EM 19 DE SETEMBRO IDE 1912

PRESIDENCIA DOS SRS. SABINO BARROSO /UNIOR. PRESIDENTE," SI-


MEÃO LEAL, 1" SECRETARIO, E RAUL VEIGA, 2" SECRETARIO

A' 1 hora da prrocede-se á chamada, a que respondem


os Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Simeão Leal,
Kaul Veiga, Juvenal Lamartine, Rogério
Mavignier, de Mi-
8# ANNAES DA GAMARA
i-. v

randa, Hossannah de Oliveira, Gosta Rodrigues, Raymundo


Arthur, Agapito dos Santos, Eloy de Souza, Lourenço de Sá,
Manoel Borba, Netto Campello, Augusto do Amaral, Borges da
Fonseca, Erasmo de Macedo, Euzebio de Andrade, Alfredo de
Carvalho, Dias de Barros, Felisbello Freire, Muniz de Car-
valho, Arlindo Leone, Raul Alves, Raphael Pinheiro, Paulo de
Mello, Torquato Moreira, Jacques Ourique, Nicanor do Nas-
cimento, Pereira Braga, Florianno de Britto, Silva Castro,
Maurício de Lacerda, Teixeira Brandão, Augusto de Lima, Se-
bastião Mascarenhas, Francisco Veiga, Vianna do Castello, An-
tonio Carlos, Josó Bonifácio, Calogeras, João Luiz de Campos,
Álvaro Botelho, Lamounier Godofredo, Francisco JBressane,
Carneiro de Rezende, Moreira Brandão, Garção Stockler, Ro-
dolpho Paixão, Manoel Fulgencio, Cândido Motta, Prudente de
Moraes Filho, Palmeira Ripper, Estevam Marcollino, Martim
Francisco, Olegario Pinto, Caetano de Albuquerque, Henrique
Valga, Gustavo Richard, Soares dos Santos, Octavio Rocha,
Carlos Maximiliano, Fonseca Hermes, Victor de Britto e João
Benicio (65)

Abre-se a sessão.

O Sr. Raul Veiga (2" Secretario) a leitura da acta


procctre

da sessão antecedente a qual é, sem observações, approvada.

O Sr. Presidente — Passa-se leitura


d do expediente.

O Sr. Simeão Leal Secretario) leitura do


(Io procede á

seguinte

EXPEDIENTE

Officios:

Do Sr. Io Secretario
do Senado, de 18 do corrente, envian-
do a emenda daquella
Casa do Congresso Nacional á proposição
desta Camara autorizando a abertura, pelo Ministério da Fa-
zenda, do credito supplementar necessário ao do
pagamento
juros e mais despezas do emprestimo de 60.000.000 de francos
ou de £ 2.400.000.— A' Commissão de Finanças.
Do mesmo senhor, de igual data, remet,tendo dous auto-
graphos devidamente sanccionados das seguintes resoluções do
Congresso Nacional:
Autorizando ao a
Ministério abrir
da Justiça e Negocios
Interiores 40:000$ de
o para acquisição de uma embar-
credito
cação apropriada para conducção de enfermos de bordo dos
navios surtos no porto desta Capital;
Autorizando a concessão de sci3 mezes de licença, com
ordenado, ao praticante de 1" classe da Renartição dos Correios
do Estado da S. Paulo Edmundo Dantés dos Santos Pereira;
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 87

Autorizando a concessão de um anno de licença, com or-


denado, ao amanuense da Administração dos Correios do Es-
tado do S. Paulo José Alcebiades de Oliveira Guimarães;

Concedendo um anno de licença, com ordenado, ao guarda-


chaves da Estrada de Ferro Central do Brazil Antônio Mar-
condes.— Ao archivo.

Do Ministério da Fazenda, de 18 do corrente devolvendo,


em additamento ao officio n. 41, de 13 deste mez, os papeis
acompanharam o officio desta Camara n. 108, de 12 de
que
julho ultimo.— A' Commissão de Finanças.
Requerimento José
do Antônio Costa,,
engenheiro civil
pedindo concessão para a construcção de uma estrada de ferro
economica da bahia Cabralia até o Rio Paracatu'.— A's Com-
missões de Obras Publicas e Viacção e de Finanças.
São successivamente lidos c ficam sobre a mesa até ul-
terior deliberação os seguintes

PROJEGTOS

Divide as delegacias fiscaes do Thesouro Nacional nos


Estados em tres classes e dá numero, classes e vencimentos ao
respectivo pessoal':

Considerando que «em algumas delegacias fiscaes o nu-


mero de funccionarios ó actualmente inferior ao existente no
tempo das antigas Thesourarias de Fazenda, sendo certo que
naquella época, os serviços não alcançavam á metade ou mes-
mo á terça parte dos actuaes», segundo referiu o Sr. Presi-
dente da Republica em sua mensagem de abertura da actual
sessão do Congresso Nacional, á pag. 30 do Diário do Congresso,
do 4 de maio do corrente anno ;
Considerando que « em outras, pelo excepcional desenvol-
vimento dos serviços e das rendas, notatlamente nas Dele-

gacias em S. Paulo, no Amazonas e no Pará, os respectivos

quadros estão reclamando augmento urgente e completa ré-


forma»;
Considerando que «em geral o pessoal não corresponde
á massa enorme de trabalho que diariamente afflue á reparti-

ção e referente a importantes serviços novos que se vão orga-


nizando nos diversos ministérios»;
Considerando que, «attribuida as delegacias fiscaes uma

grande cópia de serviços, taes como a cobrança da divida acci-


va, prestações de fianças dos exactores, pagamento de juros
dos títulos da divida publica, tomada de contas dos responsa-
veis, cofre de orphãos, montepio, estando sob a
pensionistas,
sua immediata fiscalização a arrecadação aduanara, as colle-

ctorias federaes, agentes fiscaes, clubs de mercadorias, pro-


prios nacionaes, caixas economicas, naquellas em que se acham
o pessoal existente ó muitas vezes insufficiente para ter em
dia todos os trabalhos, attendel-os convenientemente, sem sa-
crificio do expediente, sempre volumoso e as mais das vezes
de caracter urgente » ;
88 ANNAES DA CAMARA

Considerando que^ em consequencia dessa grande afflu-


encia de «não obstante
serviços, as mais insistentes recom-
mendações do Thesouro e os esforços do pessoal das delega-
cias, não se ha conseguido evitar o atrazo na organização e
remessa dos balancetes, o que causa sérios embaraços á re-
gularidade do serviço de contabilidade do Thesouro»;
Considerando que as ponderações expostas na alludida
Mensagem pelo Sr. Marechal Presidente
são tão da Republica
evidentes que, a despeito de ser dada uma extra-
gratificação
ordinária a empregados quando tomam, depois das horas do
expediente, as contas dos responsáveis e fazem balanços em
latrazo das mesmas
delegacias, não se tem conseguido nem se
conseguirá pôr em dia esse serviço, cuja regularidade o exige.
Considerando que, se «não correm com a regularidade ne-
cessaria os serviços a cargo dessas repartições fiscaes», não
sendo possível ter em dia a tomada das mencionadas contas
e balanços, apezar da. vantagem offcrecida, 6 obvio isso
que
acarreta sérios prejuízos aos interesses do serviço publico e
dos particulares;
Considerando que aos empregados se devem proporcio-
nar vencimentos, que offereçam garantia á sua subsistência;
Considerando que em taes condições se torna preciso,
para certas classes, a conservação dos vencimentos estas
que
percebem actualmente, e se deve melhorar os outras, con-
de
forme se verifica do projecto n. 422 C, de 1910:

O Congresso Nacional decreta:

As delegacias fiscaes do Thesouro Nacional nos


Estados iicarão divididas em t,res classes, os Es-
abrangendo
tados seguintes:

/• classe

Amazona», Bahia, Minas Geraes, Pará, Rio


Pernambuco,
Grande do Sul e S. Paulo.

2' classe

Alagôas, Ceará, Maranhão, Matto Grosso e Paraná.

3° elasse

Espirito Santo, Goyaz, Parahyba, Piauhy, Rio Grande do


Norte, Santa Catharina e Sergipe.
Art. 2." A delegacia fiscal do Amazonas, ainda que per.
tença primeira classe,
á formará, tendo por base os ordenados
dos respectivos empregados e funccionarios, uma tabella espe-
ciai, devido a gratificação por ser maior do a dos em.
que
pregados das incluídas na referida classe.
Art. 3.° As tabellas annexas sob as lettras A, BeC indicam
o numero, classes e vencimentos do respectivo pessoal.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 89

Art. 4." O provimento dos logares augmentadoá por esta


lei só se fará por accesso entre o pessoal da mesma reparti-
ção.
Paragrapho único. Sómente será aproveitado o pessoal de
outra repartição si não houver mais empregado da classe in-
ferior á em que existirem vagas.
A nomeação de
para os
primeira entrancia
logares só
poderá recahir em pessoa habilitada em concurso.
Art. 5.° Fica autorizado o Governo a abrir os necessários
créditos para a execução da presente lei.

Art. 6." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 19 de setembro de 1912.— Netto Cam-


T>ollu.— Mfíira de Vasconcellos.— Lourenço de Sá.— Manoel
Borba.— Erasmo de Macedo.— Florianno de liritto.— Dias
de Darros.— Aristarcho Lopes.— Borges da Fonseca.—Costa
Ribeiro.— Simões Barbosa.— Cunha Vasconcellos.—Augusto
do Amaral.
90 SESSÃO EM 19 JJE SETEMBRO 1)1 1912

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92 ANNAES DA CAMARA

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94 ANNAES DA CÂMARA

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." Ficam equiparados os vencimentos dos amanuen-


see da Escola Polytechnica do Rio de Janeiro aos actuaes ter-
ceiros officiaes, antigos amanuenses, da Secretaria de Estado
do Ministério da Justiça e Negocios Interiores.
Art. 2.° Fica o Poder Executivo autorizado a abrir os
créditos necessários á execução desta lei; revogadas as dis-
posições em contrario.

Sala das sessões, 19 de setembro de 1912.— Metcllo Júnior.


—Florianno de Britto.— Maurício de Lacerda.— Nicanor do
Nascimento.— Sallc.s Filho.— Faria Souto.— Erasmo de Mi-
cedo.— Borges da Fonseca.— Lundgren.— Tliornaz Delphino.
•—Cunha Vasconcellos.— Dionysio Cerqueira.— Figueiredo
Bocha<— Pereira Braga.— Raphael Pinheiro.

Considerando que o mallogrado Senador Alexandre Cas-


siano do Nascimento prestou extraordinários serviços á Repu-
blica, quer no Congresso Nacional, quer nos cargos de admi-
nistração que exerceu em agitada época da divida do paiz;
Considerando que aquellc inditoso parlamentar morreu
deixando sua mulher sem recursos manter
pobríssimo, para
a subsistência;
Considerando que o mallogrado cidadão foi sempre de uma
notável obrigação civica:
Propomos o seguinte projecto de lei:

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1.° E' concedida á viuva do Senador da Republica


Alexandre Cassiano do Nascimento, D. Anna Nunes do Nasci-
mento, emquanfco o fôr, uma pensão mensal de 600$, e bem
assim a de 100$ a cada um de seus filhos menores Maria de
Lourdes, Conceição o Manoel, com reversão ás filhas emquanfco

solteiras o filho emquanto menor.


Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das seesões. 19 de setembro de 1912.—Fonseca Her-


João Vespucio de Abreu e Silva.— Pereira Braga.—•
mcs.—
Bocha.— Victor de Brillo.— Nicanor do Nascimento.
Octãvio
j0(-u) Uenicio da Silva.— Soares dos Santos.— José Lobo.—
Gustavo Bich.ard.-~ Dyonisio Cerqueira.—
Olegario Pinto.—
Evaristo do Amaral.— Salles Filho.— José
Manoel Reis.—
Nabvco de Gouvêa.— Domingos Mascarcnhas.—
Bonifácio.-
Borges da Fonseca.— Erasmo de Ma-
jsetto Ribas.—
Gumercindo
ccíl0 Campcllo.— Costa Ribeiro.— Aristarclio Lopes.
Manoel Borba.— Augusto do Amaral.— Carlos Maximüiano.
Galeão Prudente de Moraes Filho.— Palmeira
Carvalhal.—
Bippcr Rodrigues Alves Filho.— Pedro Lago.— Maurício

de Lacerda — Raphael Pinheiro.— Souza e Silva.— João

Mangabeira.— Fclisbello Freire.— Ho-


Simplicio.— Octavio
Aurélio Amorim.— Cunha Vasconcel-
sannali de Oliveira.—
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 $5

tos.— Carneiro de Rezende.— Garção Stockler Dias de


Barros.— Irineu Machado.— Florianno de Dritto.— Arlindo
Leone.—• Barros Lins.— Osorio.— Henrique Yalga.— Flores
da Cunha.—Moniz Freire.—Lundgreen.

A Estrada de Ferro Rio do Ouro, construída attender


para
sómente aos serviços de transporte do materiaes pessoal para e
as obras do abastecimento de agua, foi mais tarde aberta ao
trafego publico, talvez a titulo de >experiencia e sem estar
sufficientemente provida de materiaes fixo, rodante e de
tracção.

Crescendo as necessidades do trafego, foram-llies entro-


gues materiaes velhos de outras estradas, sem uniformidade
de typos e sem capacidade para os fins a que eram destinados.
A baixa das tarifas de lenha e carvão, melhorando por
um lado a situação dos moradores da baixada do Rio de Janei-
ro, tal crise determinou nos transportes que a, estrada se viu
forçada a attender os exportadores ordem de inscripção e
pela
com atrazo ás vezes do um mez.
As reclamações pela imprensa surgiram em abundancia e,
peza me dizel-o, com justiça ; sómente os reclamantes ataca-
vam a honrada administração do director da repartição e seus
subordinados quando a única providencia a tomar era o au-
gmento do material da Estrada de Ferro do Rio do Ouro.
A tarifa equit,ativa
que o honrado Ministro da Viação
houve por bem adoptar
agora por solicitação minha em vez
da que lhe precedeu, aliás muito elevada, melhorou a situação
afflictiva dos moradores da baixada, mas a não
providencia
ficará, completa si não fôr augmentado o material da Estrada
de Ferro Rio do Ouro.
Nadaexplica que, correndo a alludida estrada em zona
fertü, qual está
á destinada grande futuro, ao lado da
jum
« Linha Auxiliar », para ella não tenham ainda os poderes pu-
blicos voltado a sua attenção, de modo a equiparal-a ás outras
da mesma bitola, que convergem para a Capital da Republica.
O augmento dos materiaes rodantes <e de tracção permit-
tirá o accrescimo de trens de suburbios entre Belford Roxo e
Alfredo Maia, concorrendo tal medida para o desenvolvimento
da zona e conseqüente elevação da renda.
A simples inspecção dos materiaes, que venho de alludir,
mostra, mesmo aos
que não são profissionaes, o esforço que
precisa a administração empregar para attender aos múltiplos
serviços do trafego geral.
Por taes motivos julgo medida do mais alto patriotismo
o seguinte projecto de lei:
«Fica o Presidente da Republica autorizado a abrir um
credito de 1.000:000$ fixo,
para acquisição de materiaes ro-
dante e de tracção, destinados á Estrada de Ferro Rio do Ouro,

Sala das sessões.— Manoel Reis.


E' lido e vae a imprimir o seguinte
96 ANNAES DA GAMARA

PARECEU

N. 111 — 1912

Indefere o requerimento do ex-cabo da Briyada Policial do


Districto Federal Lindolpho 'Pinheiro da Gamara, pedindo
reforma.; com pareceres contrários das Commissões de
Constituição e Justiça e de Finanças.

O ex-cabo da esquadra da Brigada Policial melho-


. pede
ria de reforma, de accôrdo com os arts. 75 e 80 do regulamento
que baixou com o decreto n. 5.568, de 20 de junho de 1905.
Comquanto a Força Policial tenha organização militar,
todavia é uma instituição civil e submettida Ministério do
ao
Interior e Justiça.
A Commissão de Marinha e Guerra incompe-
julga-se
tente para dar parecer.

Sala das Commissões, 19 de agosto de 1907.— Bezerril


Fontenelle, presidente.— Garcia Pires, relator.— Balthazar
Bernardmo. — Figueiredo Rocha.— R. Paixão.— Antonio
Noç/ueira.

Lindolpho Pinheiro da Gamara, ex-cabo da


do esquadrão
Força Poliooal desta Capital, excluído a 10 de abril de 1895 so-
licita do Poder Legislativo sua reforma nos termos dos 75
arts.
e 78 do regulamento n. 3.568. de 20 de junho de 1903, rue-
gando que a moléstia que motivou sua exclusão foi adquirida
no serviço da mesma corporação.
A petição datada de 14 de maio de 1907, foi submettida ao
estudo da Commissão de Marinha e Guerra, a qual se declarou
incompetente para emittir
parecer, porque a Força Policial
comquanto tenha organização militar, é todavia, uma institui-
çao civil,
e dependente do Ministério do Interior.
Apreciando os fundamentos e procedencia do pedido, e
Considerando que o peticionario, tendo
sido engajado como
praça em março de 1891, foi excluído da então Brigada Poli-
ciai em abril de 1895, de accôrdo com os
preceitos legaes então
vigentes, e allega em favor da reforma
_somente que impetra
as disposiçoes consagradas no regulamento de 20 de junho de
1905; isto e, quer applicar este regulamento regenciâ.
á de
factos occorridos ou consummados dez annos antes;
Mas
Considerando que as lei não têm effeito retroactivo. por-
que lhes veda peremptoriamente a disposição do art. 11 n. 3
da Constituição^ Federal; e assim, portanto, não podem ter
acolhida ou razão jurídica as allegações do peticionario:
A Commissão de Constituição e Justiça é de nareeer que
seja indeferido o pedido de reforma requerido ex-cabo
pelo
da Brigada Policial Lindolpho Pinheiro da Camara.

Sala das Commissões, 2 de agosto de 1912.— Cunha Ma-


chado, Moniz de Carvalho, relator.— Porto So-
presidente.—
brinho, pela conclusão.— Carlos Movimilimo.— Henrique Val~
ga.— Nicanor do Nascimento, pela conclusão.— Gumercindo
Ribas, pela conclusão.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 97

A' Gommissão de Finanças foi presente o parecer da de


Constituição e Justiça indeferindo o requerimento cm que o
ex-cabo de cavallaria de policia Lindolpho Pinheiro da Ca-
mara, excluído da corporação em 1895, pede agora a reforma
nos termos em que posteriormente estabeleceu o regulamento
de 1905.

Acceitando a conclusão a que chegou o alludido parecer,


a Commissão de Finanças opina que elle seja approvado pela
Camara.

Sala das Commissões, 18 de setembro de 1912.—Homero


Baptista, vice-presidente.—Felix Pacheco, relator.— Antonio
Carlos.— Raul FernandesGaleão Carvalhal.— M. Borba.,
São successivamente, lidos e vão a imprimir os seguintes

PROJECTOS

N. 278 A — 1912

Autoriza a conceder até um anno de licença, com todos os ven-


cimentos, ao desembargador Affonso Lopes de Miranda, da
Côrte de Appellação do Districto Federal; com parecer da
Commissão de Petições e Podcres e emenda da de Finanças

Foi presente á Commissão de Petições e Poderes o projecto


do Senado autorizando o Poder Executivo a conceder até um
anno do licença, com todos os vencimentos, ao desembargador
Affonso Lopes de Miranda, da Côrte de Appellação do Districto
Federal, para tratar de sua saúde onde julgar conveniente.,
Acompanham o projecto — o requerimento do mesmo des-
embargador solicitando do Congresso Nacional a licença, nos
termos em que o Senado a autorizou, e um attestado medico
firmado pelo Dr. Murtinho Nobre, pelo qual se verifica estar
aquelle magistrado soffrendo de neurasthenia e carecer, para
seu tratamento, ausentar-se desta Capital por espaço de um
anno.
Estando assim justificada a necessidade de licença, reque-
rida é a Commissão de Petições e Poderes de parecer quo a
Camara approve o projecto do Senado que a concede.

Sala das Commissões, 11 de setembro de 1912.—- Olegario


Pinto, presidente interino.— Prudente de Moraes Filho, rela-
tor. — Souza Britto. — Mario de Paula— Dionisio Cer~
Queira. — Augusto Monteiro.

A' Commissão do Finanças da Camara foi presente o pro-


jecfo do Senado, com parecer favoravel da Commissão de Pe-
tiçõe3 e Poderes, concedendo até um anno de licença com todos
os vencimentos ao desembargador da Côrte de Appellação Af-
fonso Lopes de Miranda,
que se acha enfermo de neurasthenia,
sondo de opinião
que o citado projecto devo ser approvado com
esta emenda:
Onde se diz «com todos os vencimentos>, diga-se «com
ordenado

Vol. i
91> ANNAES DA CAMARA
¦
i±i!
Sala das Commissõcs, 18 de setembro de 1912.— Homero
Baptista, vice-presidente.— Felix Paclteco, relator.— Anto-
nio Carlos.— fío-uL Fernandes.— M. Borba.— Galeão Car\-
malhai, vencido por entender que deve ser approvado o projecto
do Senado que concede a licença com todos os vencimentos.

N. 278 — 1912

( DO SENADO)

O Congresso Nacional decreta:

Artigo único. E' o Presidente da Republica autorizado a


conceder até um anno de licença com todos os vencimentos,
ao desembargador Affonso Lopes de Miranda, da Côrte de
Appellação do Districto Federal, para tratamento de saúde
onde julgar conveniente; revogadas as disposições em con-
trario.

Senado Federal, 1 de setembro de 1912.— José Gomes


Pinheiro Machado.— Joaquim Ferreira Chaves.— Pedro Au-
gusto Borges.

N. 326 — 1912

Autoriza a concessão de licença, sem vencimentos, a Euterpino


Borges, encarregado do « Block System Adel» da Estrada
de Ferro Central do Brazil.

Foi presente á Commissão de Pitições e Poderes o reque-


rimento do A. Euterpio Borges, encarregado do «Block System
Adel» da Estrada de Ferro Central do Brazil, em que pede
um anno de licença, sem vencimentos, tratamento de
para
saúde.
Não acompanha a petição qualquer informe do Ministério
da Viação, respetivo ao requerente.
Estranho é que, por tal ministério ou pela repartição onde
trabalha o peticionario, não tivesse sido encaminhado, obede-
cendo ao estabelecido, o pedido de licença, mórmente, como
declara esse funecionario, havendo sido concedida anterior li-
'Viação.
cença pelo Ministro da
Como, entretanto, versa o requerimento sobre licença, sem
vencimentos, e por prazo dentro dos limites legaes, é a Com-
missão de parecer que seja concedida e submette á apreciação
da Carnara o seguinte:

O Congresso Nacional decreta:

Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado


a conceder um anno de licença, sem vencimentos, ao Sr. A.
Euterpino Borges, encarregado do «Block System Adel» da
Estrada dc Ferro Central do Brazil.

Ilevogam-se as disposições em contrario.

Sala das Commissões, 18 de setembro do 1912.—Lamou-


nier Godofredo. Dionisio Cerque ira, relator.—•
presidente.—
Augusto Monteiro.— Olegario Pinto.— Souza Brito.
SESSÃO KM 19 DE SETEMBRO DE 1912 99

N. 327 — 1912
Autoriza o Presidente da Republica a aposentar Alberto Lima
da Fonseca, escrivão da 5a Vara Criminal do Districto
Federal; com emenda additiva da Com,missão de Finanças
A Commissão de Constituição e Justiça, a que foi presente
A'bert0 Lima da Fonseca,
VnrQ^rwííínQi a ^ escrivão da 5*
Vara Criminal desta Capital, pedindo aposentadoria com todos
"el°—•J»
MS!6»¦'MST0"
a) que o requerente, em 23 de
agosto de 1904 e no edi-
ficio do extineto Tribunal Civil e Criminal, íôra victima de
um accidente, quando alli se achava no exercício de suas fun!
de cseriv5° da Câmara Criminal da-
2tfh,™uef0as
qucIIg^ ti iburitil o passâTcim n sor eis do seu cfirfirrv irfnnl nnr
oocasiao da reforma da Justiça do Districto Federal de 1905;
r'irIVer«nte, em consequencia do faliado
Accidente n
í?i(,.nK ¦' 9m estado de mvahdez, que o tem impossi-
^ * imP°ssibilital"° de exercer
as Seções dl seTcavgo

1-030, de 14 de de novembro de 1890, em


rt\ ~®4, domando em consideração a triste
precaria e
si-
vitalício ou não, que pela idade ou
pnfprmivíc {unc"°nario, por
moraI fica impossibilitado de desem-
nenínr
penhar as fiinpn"-1Ca
funeçoes ?U
do emprego e outra
qualquer profissão
sem que tenha adquirido direito á aposentadoria, reconhece-
PGnSã° C°r:'CSp0nd('nlc ac>
nado e tw de slrvío.Uma
' °r^er'0rmente a lei n. 1.338, de 9 de janeiro de 1905
a
l)1'il.neira organização da Justiça
1Z:;e\°rm0n, do Districto
Iodei al, constante do decreto n. 1.030, de 1890 dispoz eme
Vlg0r as disposições desse
mesmo'decreto, que
sido revogadas expressa
minf i ihouvessem ou implícita-
que p0r íorSa da mencionada lei n. 1.338,
V° VIg0r a dlsP°sição do citado art. 204
do
ao rwfòl^
decreto n. V nnerrí
1.030, de novembro de 1890
0 decrcto n;. 9-2(i3' de 28 do dezembro de
10^üm^eníe novíssima
relorma da organização
do niírwl t' judiciaria
Federal, prescreveu nos seus arts. 79 e 80, o
seguinte-

8erventuari°s de officio de
n= q^„o'nòr-Inó .^S justiça perderão
uy oLUo C/U.! Í5OS •

• ^i0 /cas°) de impossibilidade


, iienf.e^i" para o serviço, prow--
de idade avançada, cegueira ou moléstia incurável, ve-
meio de exame medico legal presidido pelo juiz
¦ ^ara ou da
pelo presidente Corte de
* \rmniuÍ-° plvej
s.eÇ^eptuario funccionar o
iliC onS1 -sr perante tribunal
80. verificada a impossibilidade" da continuação
OT„„„.r-
exercício, do
o Ministro da Justiça, declarando
a vacancia do offi-
com a de
líHo', .noríieara í^ccessor obrigação pagar ao serven-
imP°HS ,! ad? a tcr^a do rendimento,
rrovn0 Parte quando
de subsistencia e bon» serviços
«o exercicio do ctrgo »°
100 ANNAES da camara

Tal é o estado da nossa legislação a respeito do assumpto.


expendido fica e da própria exposição do
Do que acima
que, si o que
deduz elle ao Congresso impetra
requerente se
reguladoras da matéria,
Nacional não tem apoio nas disposições
desappareceria a necessidade de recor-
pois no caso contrario
a situa-
rer a esse ramo do poder publico, ó certo também que
requerente tem alguma cousa de particular e,
Cão do mesmo
não nos textos legisla-
póde-se dizer, prevista precisamente
S<V
das figuras da aposentado-
especie do requerente e uma
no 2o do projecto n. 91 C de í
ria enquadradas § Io do art.
de 1911, em discussão na Gamara.
de dezembro presentemente
Eis o projecto do citado § Io do art. 2o desse projecto:
funccionario se inutilizar, em acto oe serviço,
«O que
na defesa dos interesses da União, ou em consequencia de de-
•sastre no desempenho da iuncçao ae
ou accidente, occorrido
aposentadoria com todos os venci-
seu cargo, terá direito á
seja o tempo de serviço.»
mentos, qualquer que
do Alberto Lima da
Trata-se, pois, no requerimento
de um caso de accidente, occorrido em acto de desempenho
seca
requerente e que a este
das funcçõe3 do cargo exercido pelo
no exercício do mesmo cargo.
inutilizou para continuar
acaba de ser transcripto
Em tal caso o dispositivo que
direito á aP03®nta^c'í'^
reconhece ao funccionario inutilizado o
'tempo de serviço
seja o
com todos os vencimentos, qualquer que
Pensando e isso digno de acceitaçao poi
ser justo por
ao
o dispositivo
parte do Congresso o pensamento que presidiu
8 Io do art. 2", do projecto n. 91 C, de 1911, já approvado em
a que aindanaoioi
segunda discussão na Camara, e attendendo
mas devera sel-o, e a bom-
esse dispositivo convertido em lei,
de seja deferido o pedido do requerente,
missão parecer que
offerece á consideração da Camara o seguinte.
para o que

PROJECTO

O Congresso Nacional decreta:


Republica autorizado a
Art. l.° Fica o Presidente da
escrivão da .) Vara cri-
aposentar Alberto Lima da Fonseca,
todos os vencimentos de seu
do Districto Federal, com
minai
impossibilitado em_con-
de cujo exercício ficou elle
cartto
no desempenho da3 luncçoes
de accidente occorrido
sequencia
do mesmo cargo. . _
em contrai 10.
Art. 2.° Revogam-se as disposiçoes

9 de agosto 1912.— Cu"j£jf£-


de
Sala das commissões,
enrique
Vasconcellos, relator.li
chado nresidente.—Meira
valaa Porto Sobrinho.— Carlos Maxirniliano.— Mello Fran-
se tratar, não de aposen-
co. Nicanor do Nascimento, por

tadoria, mas de
pensão justificada. rvimiml
da 5a vara Lriminal
Alberto Lima da Fonseca, escrivão
em 1909, ao Congresso Nacional
do Districto Federal pediu,
todos os vencimentos, por se ter tautiluadô
aposentarão com
Governo nessa
em As informaçoes prestadas pelo
gerviço.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE Í912"' 101

época foram accordemente favoraveis ao requerimento do ai--


ludido escrivão, qual, ao dirigir-se para o gabinete
o do pre-
sidente do Tribunal Civil e Criminal, cahira de modo desas-
trado, contundindo a columna vertebral e entrando desde logo
a de uma .ataxia locomotora progressiva. Só em agosto
padecer
do anno presente a Commissão de Constituição e Justiça
emittiu parecer ia respeito. A referida Commissão, pelo seu
illustre relator, Sr. Meira de Vasconcellos, depois de re-
capitular as disposições legaes sobre aposentadoria, opina pelo
deferimento da petição formulando o necessário projecto de
lei. Acha o referido relator que a situação do requerente tem
alguma cousa de particular, pois que não está prevista pre-
cisamente nos textos legislativos. O caso em questão poderia,
a seu vêr, enquadrar-se no § 1° do art. 2° do n. 91 C,
projecto
de 2 do dezembro de 1911, presentemente sujeito ao estudo de
uma commissão especial na Camara.

Esse paragrapho diz o seguinte:

« O funccionario que se inutilizar, em acto do serviço ná


defesa dos interesses da União ou em consequencia de desastre
ou accidente occorrido no desempenho da funcção de seu cargo,
terá direito á aposentadoria com todos os vencimentos, qualquer
que seja ri tempo de serviço. »
Entretanto, o que a recente reforma judiciaria prescreve
no seu art. 80 é que «os serventuários de officios de justiça
perderão os cargos por moléstia incurável e o ministro decla-
rará a vacancia, nomeando successor com a obrigação de pagar
ao serventuário impossibilitado a terça parte do rendimento,
quando provar a falta de outro meio do subsistência e bons
serviços no exercício do cargo. »
É' claro que não se falia ahi em inutilização no acto do
serviço; mas não será ocioso perguntar si concedida a apo-
sentadoria nos termos do projecto da Commissão de Consti-
tuição e Justiça não ficará livre ao aposentado o direito do
reclamar a terça parte do rendimento de seu cartorio, apezar
do disposto na parte final do citado art. 80 da Reforma Ju-
diciaria.
Para maior clareza a Commissão de Finanças propõe um
paragrapho ao art. Io do projecto.
E, como ha uma Commissão Especial, incumbida de es-
tudar a nova lei sobre as aposentadorias, convindo que todos
os casos e hypotheses occurrentes lhe sejam presentes, requer
que o projecto e o additivo sejam enviados á alludida Com-
missão para dizer a respeito.

Sala das Commissões, 18 de setembro de 1912.

Additivo no art. 1a

Paragrapho único. Não se comprehenderá nesses venci-


mentos a terça parto do rendimento do cartorio, da trata
qual
o art. 80 do decreto n. 9.203, de 28 de dezembro de 1911 o
102 ANNAES DA CAMARA

que, nos casos do aposentadoria por invalidez resultante da


inutilizar;:!') c;n acto de serviço, caberá ao successor nomeado.
Homero Baptista, vice-presidente.— Feiix Pacheco, relator.
Antonio Carlos¦—Galeão Carvalhal.—Manoel fíorba.—
Raul Fernandes.

O Sr. Presidente — Está íinda a leitura do expediente.

O Sr. Antonio Carlos — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Antonio Carlos (pela ordem) pede á Mesa a pu-


no Diário do Congresso do protesto de Mar de Hes-
blicação
contra o projecto de divorcio.
panha

Consultada, a Camara concede a publicação pedida.

O Sr. Hosannah de Oliveira — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Hosannah de Oliveira ordem) á Mesa a


(pela pede
no Diário do Congresso de um contra o
publicação protesto
projecto de divorcio.

Consultada, a Camara concedo a publicação pedida.

O Sr. Francisco Veiga — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente—Tem a ordem o nobre


palavra pela
Deputado.

O Sr. Francisco Veiga (pela ordem) pede que seja publi-


cada uma representação de catholicos de S. Gonçalo do Ama-
rante, em Minas, contra o projecto de divorcio.

Consultada, -a Camara concede a publicação.

O Sr. Calogeras — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Prosidente — Tem a pela ordem o nobre


palavra
Deputado.

Sr.
O Calogeras {pela ordem) —Sr. Presidente, mando ;l

Mesa, a V. Ex. que consulte á Casa sobre si consente


pedindo
na respectiva publicação, três representações contra o projecto
Patos
do divorcio, vindas da cidade do Rio Novo, do Areado de
e Itabira de Matto Dentro.

Consultada, a Camara concede a publicação pedida.

O Presidente — Tem a o Sr. Garção Stockler.


Sr. palavra

— Sr. Presidente, consulto a V. Ex.


O Sr. Garção Stockler
si é achando-se inscripto logo em seguida a mim o
possível,
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 103

no3so illustre collega Moreira Brandão, ser-lhe concedida a pa~


lavra logar, ficando-roe reservado o direito de
em primeiro
fallar depois de S. Ex.

— Estando inscripto, depois do Sr. Mo-


O Se. Presidente
reira Brandão., o Sr. Jacques Ourique, em seguida aquelle col-

lega só poderei conceder a palavra a este.

Stockler — Neste caso, infligirei ao meu


O Sr. Garção
illustre o supplicio de só lhe reservar alguns mmutcfe,
collega
resumindo tanto quanto possível o que tenho a dizer.
Trago, Sr. Presidente, á presença da Gamara um projecto
de lei. .. ,. .
Este projecto já foi aqui apresentado pelo distincto par-
lamentar e illustre constitucionalista Sr. Felisbello Freire.
<0 de S. Ex. referia-se á permissão para o jogo
projecto
do azar e á sua regulamentação.
Não sei porque, ás primeiras refregas que soffreu o pro-

nesta Camara, sob a increpação de sua inconstitucio-


jecto
nalidade, volveu elle ao seio das Commissões para que tivesse
a extrema uncção e o enterro um pouco simples, apressado,

como aquelles que se distribuem aos que conquistaram poucas

glorias neste mundo.


Não quero eu emendar a mão ao illustre ainigo.

Não o fazer, nem o quizera. S. Ex., parlamentar


pudera
velho, perfeitamente adestrado em todas as lutas parlamen-
tares, não poderá ter deante de si um simples caloiro de tri-

buna apoiados) pretender emendar-lhe a mão.


(não para

O Sr. Presidente, é estabelecer neste paiz a


que quero,
regulamentação de uma coisa que é real, palpavel, fremente

e irreductivel na sua existencia e que por conseguinte, está

acima do todas as vontades que lhe queiram negar a sua

realidade.

Refiro-me ao jogo de azar.

O está estabelecido em nosso paiz, talvez em toda a


jogo
nossa raça, como uma necessidade inelutavel, como que fa-

zendo do nosso organismo, integrado em cada um, in-


parte
filtrado no sangue, nos ossos, nas nossas cellulas.
Ninguém ha neste diga que não joga. Isto so
paiz que
serve ou servir para se dizer que o projecto aqui apre-
pôde
sentado soffre um vicio de origem, qual seja o interesse que
tem o proponente nas vantagens que delle possam provir.
Desde já declaro que não sou jogador; sou avesso ao jogo,
em absoluto, e acho que todo o mundo que confia na sorte do
é insensato, está confiando sempre em uma coisa
jogo que
passada ou que ainda ha de vir para o futuro.
Parece-me muito com aquelle nobre medico que confiava
na dos seus doentes e então dizia, com o afo-
generosidade
rismo de Dabbs:
O medico confia na generosidade dos seus doentes,
que
parece-se muito com aquelle viajor, que esperava que o rio
104 ÀNNAES DA' CAMARA

ítcabasse de passar para elle continuar a sua viagem. Sei qua


o velhopadre Antonio Vieira, o grande pregador, exímio ver-
nacu lista e político nas suas horas vagas, dizia que ma admi-
nistraçao do Brazil conjugava-se o verbo furtar em todas as
suas pessoas, tempos e modos.

O Sn. Florianno dis Britto— Nas índias.

O Sr. Garção Stocklkr — Nas índias


ou no Brazil. Hoje.
posso .affirmar (estimo muito o addendo de V. Ex., que é uni
dos historiadores exímios e
que pôde bastante illuminar o de-
bate) com orgulho da minha terra
que não se pôde mais con-
jugar este verbo. Poucos sabem conjugal-o com efficiencia-
alguns depois de conjugal-o com certa habilidade acabam nó
e^í'aiJt'C) a conjugação:-mas o verb& jogar,
Tr posso affirmar
a v. íjx., como a todos os collegas,
que se conjuga perfeitis-
simamente, com habilidade extraordinaria
em todos os tempos
pessoas e modos. '

q-ne '0(l0s J°gam, Sr. Presidente. Aqui mesmo


^m0r0
Janeirograves senhoras de graves magistrados não
manaarn comprar o necessário
para o dia sem que venham o
jacaré, o burro, ou mesmo a cobra. Dentre os illustres Depu-
taaos que honram o_ recinto
das deliberações do Parla-
',nz'le,ro, graves
«Só sei si muitos existirão não gostem
que
seu Pequeno jogo e parece mesmo
í® ,cr que alguns
atues, retirando um
pouco do tempo de seus grandes afazeres,
deliciar com um bilhetinho de loteria ou mesmo de
QualQuer cousa que augmente os réditos,
^rnflr1n que
• j^uriií 0°usa ao seu normal e,
™?o a quando passamos
peia Avenida, offerecem-nos rapasitos: um, o burro, aquelle
ouiro, o carneiro,
ainda um outro a cobra e assim
por deante.
Pinheiro —Isto não 6 nada. Si V. Ex.
atravessar, ?A"IA.EL
ás 8 horas da noite, a Avenida Mem de Sá, verá
'?,m;rn
^r'^ar • venha ver a luta da cobra com o tigre
v™ ,a
vxlr <Jo Iíuy Barbosa com o Presidente
íu a
Pubhca o sabe V. Ex. o que está lá dentro ? O peior dos
jogos: o jaburu.
(Risos.)
S'V Garçâd
Stockler —Este
<£ não conheço. Mas, dizia
,
eu, hr- J residente,
que todos jogam. Os proprios jornaes nas
suas oolumnas <lao os do dia,
palpites de maneira quo a in-
crepaçao de mconstitucionalidade do projecto do meu illustre
collega,_o br. Fehsbello Freire, não teria outro motivo sinão
a taxaçao, a tabeliã
quo elle apresentou. Realmente no Brazil
vivemos com um pouco de realidade, mas muito e muito de
superstições.
Esta questão de eonstitucionalismo é nós <?n-
entro um
perstiçao.
Serve muito para so levantar em dado momento contra
este ou aquelle projecto ou idéa não
que convenham a um de-
terminado grupo.
Abi, grita-se pelo eonstitucionalismo, mas no dia secninte
elle desapparece, dar logar a
para uns tantos outros de inte-
resse da maioria.
105
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912

Está é a verdade innegavel.

O Sr. Niganor do Nascimento — V. Ex. Dão quer se re-


ferir com isto ao monopolio ?

O Sr. Garção Stockler— Acceito a contribuição sem que


a elle me tenha referido ou o pretenda fazer.

Sem termos entre nós feito constitucionalismo, ainda


ternos mais: campeia entre nós como perfeitamente legal o
jogo de loteria.
Eu pediria informações aos meus illustres collegas do
Districto Federal, ou áquelles que mais entendam do assumpto,
si o jogo de loteria pertence á municipalidade ou á União ?

O Sr. Niganor do Nascimento — Pertence á União.

O Sr. Garção Stockler — Ora, o de loteria, incon-


jogo
testavelmente, jogo é um de azar, e aqui a União o permitte
inconstitucionalmente...

O Sr. Rapitael Pinheiro — Azar o comprador,


para para
a companhia o lucro é certo.

Sr._Garqão Stockler— ...


9 jiorque ella estabelece taxas,
contribuições distribuídas as instituições a estabeleci-
pias,
mentos_ de caridade.
Seja, porém, o que fôr, o que 6 verdade ó que o jogo de
loteria é um jogo de azar estabelecido pela União por conste-
seguinte inconstituicional.
Cada um dos Estados trata de tirar do um do
jogo pouco
muito que ha a
explorar nesta matéria.
O Rio Grande
sua tem >a
loteria, a Bahia também tem,
Minas teve e volta a ter,
porque a verdade é que isto está no
habito do povo, é uma cousa que ninguém
pôde arrancar.
Invadiu o organismo inteiro, cellula por cellula.
!0 Sr. Niganor do Nascimento — E' uma diathese.

O Sr. Garção Stockler — Não é uma diathese, <5 mais


do que isto.
Nestas condições, fechar os olhos
para que e dizer qus
e possível combater o ?
jogo
Combater o jogo ó empenhar um combato a sombras, uma
peleja contra phantasmas, de onde sahe sempre ferido de morto
o prestigio da policia e do Governo.
Para que esconder ? E' antes regulamental-o,
preciso ta-
xal-oe tirar delle as rendas
que deve dar. (Muitos apoiados.)
J axado e regulamentado o jogo, pôde a policia assistil-o
para impedir que nolle tomem os os
parte menores, inter-
dictos: isto, sim seria serviço publico.
Presentemente, nas estações de aguas, aqui na Capital
federal e por toda parte, joga todo o mundo.
Depois como intervir a policia, si quando chega encontra
Senadores e Deputados jogando ?
O Sr. Raphael Pinheiro — não <3
Quando a própria po-
Jicia que faz o monopolio disso. Não somos nós, sómente.
106 ANNAES DA GAMARA

O Sr. Garção Stockler — Eu dou razão ao povo brazi-


leiro, que ó o mesmo povo latino de toda a parte. Realmente,

quem não deseja ter um pouco além de suas necessidades ?

O Florianno de Britto — Todos os modernos.


Sr. povos
Na llussia ha a loteria de casamento.

O Sr. Raphael Pinheiro—'Os millionarios americanos são


os que mais contribuem para o sustento de Monaeo.

O Sr. Garção Stockler — Si é não cohibir o


possível
jogo, como outras cousas, si elle infiltrado em nosso sangue,
está
si elle representa verba extraordinaria mas que faz bom ca-

bello, porque razão não tental-o ?


E quando algumas pessoas veem sair a sorte a outrem
ficam como que empolgadas. Realmente, um indivíduo que
andava andrajoso, com a sella na barriga, de repente apparece
na culminancia, no auge da felicidade, dispondo dc bons au-
tomoveis, freqüentando bons tlieatros, quem, a vista disso,
não deseja sentar-se em cadeiras aveludadas, deitar-se em
camas macias, vestir bons fatos, gosar, emfim, de tudo isso

que representa o conforto da vida ?


O jogo se estende de tal fôrma que elle se faz por todos
os modos e meios. Uns jogam para ganhar dinheiro, outros

para ganhar fama.


Eu não me quero referir a esto ou áquelle, mas os homens
sensatos, os philosophos,- os verdadeiros estadistas, os que
toem as
grandes responsabilidades do paiz, aquelles que pre-
cisam medir suas palavras e seus pensamentos, quando sobem
á tribuna no parlamento ou fóra do parlamento, para dirigir

^ palavra ao povo, é para fazer com solemnidade extraordinaria


sahir de seus lábios sentenças que sejam irrefragaveis.
Então, mastigam as as tartamudeiam como si
palavras,
cilas causassem certas engulhos talvez do terror da responsa-
bilidade, emissão mais ou menos fraca da voz, pois a verdade
é que elles vão titubeando, param e depois soltam «os pou-
quinhos, muita vez um tanto mal arrevezadas, as palavras,
mas isso não quer dizer nada, porque quanto mais arreve-
zadas mais força possuem.
E' isto photographia dos tempos actuaes, quiçá dos tempos
e provavelmente dos tempos futuros até o terminar
passados
dos séculos. Mas, que importa que o homem seja um grande
estadista e só possa fallar assim aos pinguinhos ?
A seu respeito exclamamos: Como este homem pensa para
fallar, as palavras que descem de seus lábios são pesadas 1

O Sr. Raphael Pinheiro — E' o exemplo do Pacheco do


Eça de Queiroz, que pontifica.

O Sr. Garção Stockler — Assim cada um faz seu jogo.


Porque razão havemos nós de tirar ao povo esta única proba-
bilidade de vir a ser feliz ?
Em moço ouvi contar que uma mulher estava miserável,
nada possuía. Tudo quanto tinha resumia-se em uma cabrita
velha. {Risos.)
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 107

Pois bem, um dia ella vendeu essa cabrita por 5$, com-

um bilhete e teve 20:000$. Ficou rica. Eu então tomava


prou
mim aquelle exemplo e dizia: mas, meu Deus, como ha
para
de ser bom o dia em também 20:000$. E ima-
que eu tirar
gine-se que, em vez de 20, eu tire 50 ou 100 I Que grandeza !
Com isso cobrirei todas as minhas necessidades e farei ainda

umas tantas cousas que são do meu intimo prazer.

E, com esses castellos, todos jogam e nas casas pobres


chega-se a vender uma a compra do bilhete,
gallinha para
porque, no dia em que a está a alegria no lar, está
sorte vier,
uma festa preparada, está o goso satisfeito.
Desse modo, Sr. Presidente, vae-se infiltrando completa-
mente o jogo. Si acontece este ou aquelle perder, o que é a
regra, então o perigo ainda é maior, porque se quer desforrar
e a desforra do jogo é...

Ora, Sr. Presidente, a Commissão de Finanças que tem


como um dos orgãos mais devotados ao equilíbrio orçamentário
do paiz o meu illustrado collega Sr. Antonio Carlos, assim
como os que lhe fazem companhia, essa Commissão quer
outros
combater os deficits e diz que a capacidade tributaria do paiz
está esgotada. Não, não está; ainda temos a capacidade do

jogo, que è enorme. (Apoiados.)


Si nós devemos reconhecer a realidade do phenomeno e
si essa realidade não pôde absolutamente ser combatida, o que
resta ó tirar dellas todo o proveito.
Sei, Sr. Presidente, que os projectos de lei que aqui voem,
em regra geral, são credenciaes que os calouros do parlamento
trazem como apresentação á Gamara e ao povo. V. Ex. man-
da-os á Commissão e a Commissão já sabe que ó só para dar-
lhes os sacramentos da extrema uncção: nunca mais voltam á
tona.
Si me
permittcm, direi que esses projectos se parecem
com osvotos que fazemos á Nossa Senhora da Apparecida.
Cada um que deseja um favorzinho da santa offerece um voto
e cresce tanto a quantidade que só a carroçadas se retiram
para abrir logar.
Assim também os projectos: veem para aqui ás canadas,
em uma grande profusão e precisam também ser despojados
ás carroçadas.
Por isso, tenho um pouco de receio que com este aconteça
a mesma cousa que se deu com dous outros que tive occasião
de apresentar á consideração dos meus collegas: nunca mais
sahiram da pasta da commissão e entretanto eram de inte-
ressa palpitante.
Não quiz com um desses projectos fazer estréa parla-
mentar, mesmo porque essa estréa far-sc-hia, hoje ou ama-
nhã... depois... quanto mais tarde melhor, a gente
porque
vae-se familiarizando mais com os collegas e encontra mais
liberdade
para uma estréa. (Risos.)
Mas eu trazia commigo um compromisso velho: o de dizer
aos meus conterrâneos nesse paiz, em que todo o mundo
que
sanha pelos serviços prestados á Republica, não era licito exi-
ÀNNAES da: gamara

gir «do jurado, que presta realmente um serviço, que elle o


fizesse sem receber a devida remuneração. Apresentei Dor
isso o projecto.
Mas elle ahi ficou na pasta da commissão e logo ogoimís
ministro da Interior expedia um decreto estabelecem^
¦9 que
jury compõe-se de sete membros o que o cargo de jurado
e honorífico e gratuito,cousas que se contrabalaçam, de
maneira
que ninguém sabe qual dellas dá um empurrão uma na outra
[(Risos.)
Honorífico e gratuito. Honorífico dizer honra
quer que
ninguém quer e gratuito preço de serviços ninguém
que ac-
seita. (Riso.)

O outro, Sr. Presidente, era um mandava


projecto que
que vigorasse no Districto Federal, se alastrar
para depois
pelos Estados,
a pratica de serem ouvidas na formação da culpa
as testemunhas do defesa e accusação, hoje
porque qualquer
pessoa está sujeita a ir parar nas grades da cadeia só se
para
defender barra do tribunal do as
jia jury, porque próprias
Justificações são julgadas peças graciosas. Porque razão não
•t° j ser ouvidas as testemunhas de defesa, quando a pie-
mtude da defesa deveria sobretudo se dirigir á
parte compro-
mettida no processo ?
Esse projecto, diziam, fazia leis a retalho, mas tem sido
o único processo de fazer as leis. Porque conjuncto
em não
se consegue, como acontece com o Codigo Processual do Dis-
tricto Federal, está dormindo até hoje, o Codigo
que e com
Civil. Por consequencia só existem as leis do retalhos.

O Sr. Raphael Pinheiro — São não


postigos, emquantó se
abre a porta grande.

. ^ Caução Stockler Agora espero este


, que pro-
jecto não tenha o mesmo destino, estou certo de
porque que
a Commissão do Finanças lhe dará o devido andamento.
Penso ainda
, que regulamentar o jogo, taxai-o, 6 uma me-
didai de grande preponderância social.

O Sr. Augusto do Amaral — Apoiado.

O Sr. Raphael Pinheiro — Apoiado.

O Sr. Garção Stockler — Porque de dizer


isto que 6
vergonha adoptar uma medida sobre jogo não exprimo a ver-
dade, por que o que faz vergonha é o facto e o facto não
deixa do existir.

O Sr. Raphael Pinheiro — A prostituição, por exemplo.

O Sr. Garção Stockler —A e o


prostituição jogo são
cousas excessivamente elásticas; que quanto mais comprimidas
mais crescem. Porconsequencia, estar a comprimir essas cousas
é dar-lhes expansão. Eu acredito que, si não houvesse a ce-
lebre maçã no Paraíso, não estaríamos hoje soffrendo e car-
regando esta carcassa humana, tão pesada.
Parece que devemos ter um pouco de paciência. O metaj
o ouro, reluz de tal modo, empolga tanto, arrasta, fascina da
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 109

maneira tão forte, 6 — não


que impossível resistir e dizer: jogo
Mas como ?
Si o jogo é a única onde obter
porta por se pode fácil-,
mentjs esse metal, esse ouro...

O Sr. Raphael Pinheiro — E' uma formula esperança


da
e sem esperança nmguem vive.

O Sr. Garção Stockler—... eu só posso acreditar que


o jogo só desapparecer
pôde por longas tradições de trabalho
e do habito de economia.

O Sr. Augusto do Amaral — Aclio


que nem assim.

. Sr. Garção Stockleii— Talvez


p porque a França está
uando exemplo em contrario.
E raro haver entre nós escriptores que produzam 12 vo>
lumes,* entretanto na Europa elles produzem bibliothecas.

Sr>RaphaelPinheirjo— Excepção entre


r li? nós do Senhor
tioelho Netto: tem 50.

O Sr. Garção Stockler — E isso ó assim porque ? Porque


fli cellula la é mais aperfeiçoada através dos séculos. De ma-
neira que os filhos, os netos, todos os descendentes emfiin,
veem participando da perfeição de cerebro do primeiro tronco.
Entre nós nao é assim.

Nossos hábitos não permittem acabar com o jogo, quandff


® °
jogo a profissão mais fácil desta vida e
permitte mais faci/
accesso a fortuna.
Comprehendo muito bem si chegássemos
_ que, a supprimir
o jogo, muita gente morreria de fome.
'O
Sr. Raphael Pinheiro —V. Ex. quer sabor quanto re-
presenta para o commercio do luxo desta torra a perseguição
«o jogo ? Uma somma de 50 contos diários.

O Sr. Silva Castro dá um aparte.

O Sr. Garção Stockler — A


perseguição ao jogo ó uma
dessas cousas impraticáveis.

Perseguir o jogo o lutar contra fantasma, porque elle se


jS0ueir'a impalpavel, ínapprehensivel e fugidio, de modo quí
some nos olhos da logo
policia, que ella se apresenta; mas
quando a policia desapparece, elle se ostenta ainda mais forte
mais pujante e mais visivel.

'O Sr. Raphael Pinheiro — Para


sermos logicos devemos
suppnmir também o álcool, porque si um attonta contra a es-
Pocie, o outro a tal ou indivíduo.
qual

O Sr. Garção Stockler — Pois


é possível que alguém
um panno de roleta, em um baralho do cartas,
^a, Ç,r,n em
um bilhete de loteria
alguma cousa que não seja o desejo de
v
ganhar, de ser feliz J
m 01110 CSSe ^ ° me^or caminho Para conquistar
o bem°estar
110 ANNAES DA CAMARA

Não me acho com forças para esse facto: em


profligar
regra perseguem-se os pequenos e se favorecem os grandes.
Persogue-se o jogo; mas o Estado abre banca franca, in-
stituindo a loteria. Fica assim estabelecida a lei do funil em
que 110 largo fica o Estado e no estreito ficam os outros. (Riso.)
O principio de moralidade em relação a este assumpto
exige que se o regulamentem de maneira todos
que produza
os effeitos no tocante ao imposto.
a minha
Si palavra neste defendendo o projecto,
ponto,
não pôde agradar aos que teem a envergadura moral e que
estão acima de todas as suspeições, em todo caso, li-
peço,
cença para lhes dizer: o meu desejo é bom; a minha intenção
é_rnodesta; e o futuro dirá,_ si este
projecto merecer as a.tten-
çoes da Camara,
si elle dá ou não alguma probabilidade dc
êxito ás instituições do caridade, de
philantropia, beneficencias,
em summa, a todas as instituições
pias.
Elle cifra-se em poucas palavras. (Lê)
Isto, Sr. Presidente, ó para não incorrer na pecha dc in-
constiíucionalidade.
E' tão somente isso.
Agora direi daqui a todos os meus concidadãos isso
q^e
e uma bandeira de paz...
A
policia não combate mais doentes, um
c cada poderá
estabelecer as bancas francas como em Monaco e talvez possam
tirar grandes lucros.
A instrucção que tanto
publica, soffre, entre nós, pôde
retirar daqui E grandes
proventos. que esses almas-puras,
que tanto anceiam pela sorte, fiquem em liberdade de
plena
atirar-se á sorte e ver si apanhar
pódem essa grande arma
que se chama a felicidade na vida.

Vem á Mesa e 6 lido o seguinte

projecto

O Congresso Nacional resolve:

Art. 1." E' o jogo de


permittido azar, taxado c regula-
montado por quem de direito.
Art. 2.° Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das sessões, 19 de setembro do 1012.— Garção Sto-
ckler.

0 Sr- Presidente — O fica


projecto sobre a Mesa até ui-
fenor deliberação.

Tem a palavra o Sr. Moreira Brandão.

0 Sr. Moreira Brandão — Sr. Presidente,


(*) em meu
nome e em nome de meus companheiros da Commissão de To-
xnada de Contas, que tenho a honra de presidir, venho re-

(*) Este discurso não foi revisto orador.


pelo
SESSÃO EM li) JJK SETEMBRO DE 1912 111

clamar de V. Ex. uma providencia, que, por ser urgente e


(ia mais alta importancia, acredito, não se fará esperar.

¦O caso é o seguinte: Tendo o Tribunal de Contas, nos

primeiros dias julho do corrente anno, salvo engano,


do mez de
communicado á Mesa da Camara que havia registrado, sob
protesto, o contracto referente ás Docas da Bahia, commu-
nicação que, 110 mesmo dia foi lida polo honrado Sr. 1° se-
cretario, na hora destinada ao expediente, acontece, entre-
tanto, que, até a presente data, tal documento não chegou
áquella Commissão de Tomada de Contas, ficando ella, por
essa fôrma, tolhida no exame e estudo desses papeis, que
ha muito deveriam lhe ter sido entregues, para sobre elles
se pronunciar, e depois a respeito submetter seu juizo ao
conhecimento e á apreciação da Camara dos Deputados.
Esse facto e outros idênticos determinaram o alvitre
tomado pela Commissão de lazer sua reclamação, officialmente,
da tribuna da Camara, pelo orgão de seu humilde presidente.
(Não apoiado.)

Feita esta reclamação, a Commissão de Tomada de Contas


descança na certeza de que Y. Ex., solicito como se tem mos-
trado em attender a tudo que se relaciona com o interesse
publico (muito bem), vindo ao seu encontro, acudindo ao seu
appello, tomará com brevidade possível as providencias que
as circumstancias aconselham, quer no caso de que se trata,
quer em referencia a quaesquer outros, que, porventura, se
encontrem em idênticas condições, correspondendo V. Ex.
desta arte ao intuito da Commissão, que outra cousa mais não
quer sinão cumprir seu dever. (Muito bem.)

A Commissão, procedendo, como procede, quer offerecer


a V. Ex. mais uma opportunidade para prestar mais um re-
levante serviço ao paiz e á Republica, e confiante aguarda as
medidas que V. Ex. houver por bem tomar, certa de que
serão promptas e efficazes.

E' o que tinha a dizer. (Muito bem, muito bem.)

O Sr. Presidente—O Sr. Deputado Moreira Brandão tem


razão na reclamação que fez, a qual importa em uma censura
á Mesa.

A Mesa confessa por engano, mandou á Commissão


que,
de Constituição e Justiça os papeis que deviam ter sido en-
viados diroctamente á Commissão de Tomada de Contas.

Verificado,
porém, esse engano, a Mesa procurou fazer
com que esses papeis voltassem daquella para esta outra com-
missão. Isso não se deu ainda; a Mesa providenciará, pois, para
.que o engano se corrija no mais breve prazo possível. (Muito
bem !)

O Sr. Moreira Brandão — Peço a pela ordem.


palavra

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra
112 ANNAES' DA' GAMARA

O Sr. Moreira Brandão (pela ordem)—Sr. Presidenta,

ter ouvido V. Ex. dizer que eu irroguei uma


pareceu-me
censura á Mesa?! (Pausa.)

Absolutamente não foi esse o meu intuito. Acredito que


a Mesa providenciou como o caso
exigia. Não disse que a Mesa
deixou de os remetter á Commissão; o que disse foi que ató

agora mão chegaram elles ao seu destino.

Nunca seria capaz de fazer uma censura a V. Ex. que


os dias mais se eleva no conceito de todos nós, pelo
todos
aprumo de sua correcção. geraes; muito bem; muito
(Apoiados
bem /)

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Jacques Ourique.

0 Sr. Jacques Ourique — Sr. Presidente, procurarei em

10 minutos resumir o que tenho a dizer.


Como V. Ex. tem visto, ha annon a esta parte, como que
se estabelece uma confusão entre aposentadoria e soldo de

reformados.
São entretanto cousas muito distinctas.

Acabo de ver mesmo que o soldo do reformado vae ser

Thesouro Nacional conjunctamente com as aposen-


pago pelo
tadorias.

Não concordo com esta medida, e V. Ex. vae ver as

razões porque.
Não só esta resolução como outras, do proprio projecto
de aposentadorias em discussão nesta Camara, confundem pre-
soldo de reformados com vencimentos do apo-
judicialmente
sentados, quando são cousas inteiramente diversas.

O soldo do doutrina estabelecida


é, nas
reformado
pela
nossas leis desde os tempos mais remotos, uma tença ou pensão
ou
dada ao militar, em pagamento de serviços anteriores; tença
«os casos de grande
pensão que deve ser sagrada, e que, mesmo
da Patria, não ser tocada, sem que os re-
necessidade pôde
formados concordem com isso.
nc-
Durante a guerra do Paraguay, quando a Patria mais
cessitava de recursos, lançaram-se impostos sobre vencimentos

e fizeram-se propostas para reducções nas aposentadorias;


dos reformados só soffreram abatimentos nos seus
entretanto,
soldos aquelles que voluntariamente os offereceram para au-

xiliar a Patria naquella emergencia.

resolução de 25 de movembro de 1834, a pri-


imperial
A
claramente a doutrina, diz: «Os offi-
meira que estabeleceu
seus soldos, ou
ciaes reformados não podem ser privados dos
em virtude de prisão ou penas por crimes que me-
metades
visto que, competindo-lhes essas reformas
roçam processos,
taes soldos
com vencimento de soldo, dever-se-ha entender que
seus alimentos, como uma tença ou
lhes são conferidos para
obtida em remuneração de serviços anteriormente pre-
pensão
á Patria. »
^tados
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 113

E o aviso de 28 de abril de 1866, accentuando e explicando


a doutrina desta resolução accrescenta: «O soldo ou reforma
em caso algum deve deixar de ser abonado inclusive na prisão,
pronuncia ou condemnação, excepto o desconto da metade
quando em tratamento nos hospitaes militares,
que todos visto
os assentos e provisões, que se
em pleno vigor,
acham esta-
nelecein o
princpio em adinittido — de o soldo
geral que do
official reformado é a remuneração de serviços anteriormente
prestada ao Estado.

Esta é adoutrina até ha respeitada, si bem


pouco que
uma instituição manca, no momento actual, como ó a nossa
Contabilidade da Guerra, tenha creado duvidas no pagamenl.o
desse soldo e alterado a norma acceita e seguida
geralmente
em toda a parte, onde ha uma noção as
clara do que sejam
instituições militares.
Em todos paizes o militar sacrificou Patria a
que pela
sua mocidade,- todas as suas commodidades e até a sua vida,
quando é necessário, recebe por si ou pelos seus descendentes,
o soldo da reforma, como uma remuneração desses serviços
extraordinários, que nem a todos é dado prestar, uns porque
a elles fogem, outros porque não tôm occasião.
Por isso, Sr. Presidente, venho apresentar á consideração
da Gamara um projecto tornando bem clara a situação dos
reformados quanto ao seu soldo, é
porque preciso que esse
soldo absolutamente não seja confundido com a aposenta-
doria dos funccionarios civis. Aposentadoria é cousa muito
diversa. Já o demonstrei. O soldo do reformado é uma re-
compensa puramente militar, elle não.
que perde, que
transmitte á sua família; é uma dada
garantia d classe militar
cuja actívidade, cujo esforço, e cuja vida, Patria
a pede nos
momentos difficeis e elle não tem o direito de recusar.
O meu projecto é o seguinte (Lê)
Essa confusão que tem havido entre soldo e aposentadoria
e devida á falta de conhecimento dos preceitos profissionaes
da vida militar neste assumpto.

Conviria que os meus nobres collegas, antes de se mani-


festarem sobro
projecto, o meu
estudar
procurassem cuidado-
samente a lei, partindo do
principio de que o soldo da reforma,
além de ser um effeito da gratidão da Patria, cie
por serviços
sangue prestados por seus filhos, é um estimulo
para os novos
militares.
O militar
que em combate tem de sacrificar a sua vida
o sente
que a sua família, os seus filhos e elle proprio, si in-
valido, ficam desamparados, não pôde ter o estimulo necessário
para se atirar com arrojo, quando as emergencias das batalhas
exigem que elle faça tudo fôr a salvação
que possível para
da honra nacional.

Peco a maior attenção para este assumpto, que é re-


levante, se trata de reorganizar Exercito como
quando o nosso
elle o deve ser, constituído entre livres.
nações (Muito bem,
muito bem; o orador é muito cumprimentado.)
Voi. a
ANNAES DA CAMARA

.Vem á Mesa e é lido o seguinte

PR0JECTO

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." O soldo dos officiaes reformados será conside-


rado, para todos os effeitos legaes, como ou
tença pensão
obtida, em remuneração., de serviços anteriormente prestados
a JNÍaçao.

Art. 2." De accôrdo com a doutrina


i da imperial resolução
de 25 de novembro do 1834 e da explicação do aviso de 28
de abril de 1866, o soldo do official reformado em caso nenhum
deve deixar de ser abonado inclusive na prisão, pronuncia ou
conuemnaçao, excepto o desconto da metade quando em tra-
tamento nos
hospitaes militares.
Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das sessões, 19 de setembro
. de 1912.— Jacques Ou-
rique. Olcgario Pinto — Augusto do Amaral.— Paulo de
Mello.- Caetano de Albuquerque. — Florianno de Britto.—.
mas üe Barros.— Raul Cardoso de Mello.—Celso Bauma
kouza Lopes.

® Sr. Presidente — O
, ¦ projecto fica sobre .a Mesa até ul-
tenor deliberação.
Tem a palavra o Sr. Rodrigues Salles Filho.
<C
^r" Salles Filho — Sr. Presidente, posto que
^°^riffues
ser breves as considerações que tenho a fazer desta
es°assos cinco minutos
•i iinJla'rin0tS- que faltam para terminar
a0 0XPecllonte, ser-ine-hia impossível
Iin . tratar
'iH0 reservo-me a
si m! ?A P ? para sessão do amanhã,
si mo fôr obter
possível a palavra.

Presidente — finda a hora destinada ao ex-


pediente"*
Vae-se passar á ordem do dia. {Pausa.)

_}m lnais os.Srs. Antonio Nogueira, Aurélio Amo..


°P 1'irmo Braga, Christino Cruz, Joaquim
&LS
Pires, Felix ra'
Pacheco, Moreira
Bezerril Fontenelleda Rocha,
Frederico Borges, Flores da Cunha, Augusto Monteiro, Au-
gusto Leopoldo, Simões Barbosa, Meira de Vasconcellos,
Costa
Ribeiro, Anstarcbo Lopes, Cunha Vasconcellos, Barros Lins
Moreira Guimaraes, Miguel Calmon, Mario
Hermes, Pedro Lago'
Octavio Mangabeira, Freire do Carvalho Filho. Ubaldino de
Entorno Moniz, Felinto Sampaio,
i®1'' Alfredo Ruy, Souza
' Ia1 ' Cerqueira,
5 i r,1? Sy.sio Rodrigues Sallns Filho
Manuel Reis, Souza o Silva, José Tolentino, Erico Coelho Pe-
reira Nunes Elysio do Araújo, Faria Souto, Raul Fernnades
Carlos Peixoto. Filho, Antero Botelho,
Christiano Brazi Javmé
Eparnmoiidas Ottoni, Galeão Carvalhál Fe™-
reira Braga, Raul Cardoso, Alberto Sarmento, José Lobo, Ro-
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO BE 1912 11b

drigues Alves Filho, Marcello Silva, Oscar Marques, Annibal


Toledo, Luiz Xavier, Lamenha Lins, Pereira de Oliveira, Celso
Bayma, João Vespucio, Gumercindo Ribas, Evaristo do Amaral,
Nabuco de Gouvôa, Osorio, Domingos Mascarenhas e João Sim-
plicio (67).
Deixam de comparecer, com causa participada, os Se-
nhores Arthur Moreira, Monteiro de Souza, Serzedello Corrêa,
João Chaves, Antonio Bastos, Theotonio de Brito, Dunshee de
Abranches, Cunha Machado, Agripino de Azevedo, Coelho Netto,
João Gayoso, Eduardo Saboia, Thomaz Cavalcanti, João Lopes,
"Virgílio
Brigido, Gentil Falcão, Camillo de Hollanda, Felizardo
Leite, Seraphico da Nobrega, Maximiliano de Figueiredo, Bal-
thazar Pereira, Arthur Orlando, Frederico Lundgreen, José
Bezerra, Rego Medeiros, Natalicio Camboim, Rocha Cavalcanti,
Baptista Accioly, Joviniano de Carvalho, Pereira Teixeira,
Campos França, Carlos Leitão, Deraldo Dias. Rodrigues Lima,
Pedro Mariani, Moniz Sodré, Leão Velloso, Figueiredo Rocha,
Pedro de Carvalho, Thomaz Delfino, Pennafort Caldas, Fróes
da Cruz, Porto Sobrinho, Francisco Portella, Mario de Paula,
Alves Costa, Prado Lopes, Silveira Brum, Ribeiro Junqueira,
Astolpho Dutra, João Penido, Landulpho Magalhães, Baptista
de Mello, Alaor Prata, Francisco Paolielo, Mello Franco, Ca-
millo Prates, Honorato Alves, Cardoso de Almeida, Joaquim
Augusto, Eloy Chaves, Cincinato Braga, Álvaro de Carvalho,
Marcolino Barreto, Adolpho Gordo, Bueno de Andrada, Yalois
de Castro, Arnolpho Azevedo, Costa Júnior, Fleury Curado,
Ramos Caiado, Carvalho Chaves, Corrôa Defreitas, Diogo For-
tuna, Homero Baptista e Pedro Moacyr (77).

ORDEM DO DIA

O Sr. Presidente — A lista da accusa a


porta presença
de 132 Srs. Deputados.

Yae-se proceder ás votações das matérias quo se acham


sobre a Mesa.
Peço aos nobres Deputados que occupcm as suas cadeiras.
(Pausa.)

Vou submetter a votos o requerimento da Commissão de


Finanças para que sejam ouvidas as Commissões de Consti-
tuição e Justiça e Especial de Aposentadorias sobre o reque-
rimento do Dr. Antonio Pacheco Mendes.

Posto a votos ó approvado.

O Sr. Presidente — Vou submetter a votos o requerimento


da Commissão de Finanças para quo seja ouvida a Com missão
de Instrucção Publica sobre o requerimento de Alberto Nepo-
muceno e outros.
Posto a votos é approvado.

O Sr. Presidente — Estão findas as votações.


Passa-se ás matérias em discussão.
iis ANNAES DA CAMARA

Continuação da 3" discussão do projecto n. 61 B, de 1012,


fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e
Gommercio para o exercício de 1913.

0 Sr. Presidente — Acham-se sobre a Mesa diversas emen-


das que vão ser lidas.
Em seguida, são successivamente lidas, apoiadas e ep-
viadas í\ Commissâo as seguintes

EMENDAS AO PROJECTO N. 61 B, DE 1912

(3" discussão)

Onde convier:

Continüa em vigor no corrente exercício a disposição do


art. 83, da lei n. 2.514, de 4 de janeiro de 1912.

Sala das sessões, 19 de setembro de 1912.— Cunha Ma-


cliado.— Nicanor do Nascimento.— Porto Sobrinho.

Na verba 6" n. II, onde se diz:

Acquisição, transporte e
de plantas e sementes
distribuição
compreliendendo o
pagamento de gratificações ao pessoal ex-
traordinario empregado nesse serviço — 300:000$, accrescente-
se to fine: inclusive 20:000$, para a Sociedade Nacional de
Agricultura, pela manutenção de serviço da mesma natureza.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.— Christino Cruz.


A Sociedsde Nacional de Agricultura teve a seu cargo o
serviço de distribuição plantas de
e sementes de 1902 a 1910.
Durante esse longo
período, foram distribuídas por ella
gratuitamente 266.763.150 grammas de sementes diversas e
1.344.113 mudas de plantas.
A
partir de 1911 o serviço passou a ser feito officialmente
pelo Ministério da Agricultura, mas a sociedade continuou, na
medida de suas forças, a fazer distribuição de plantas e se-
mentes.
Devido, á falta de recursos, terá a sociedade que
_porém,
suspender tão util serviço, de que ha muito beneficiou os
lavradores.
obviar isso, emenda verba '6"
Para manda a destacar da
a importancia de 20:000$, como auxilio á sociedade pela ma-
nutenção do serviço de distribuição gratuita de plantas e se-
mentes.

Depois das — despezas miúdas imprevistas —


palavras o
rccrescente-se: inclusive 6:000$ para gratificação ao director
do serviço durante o exercício.

Sala das sessões, de setembro de 1912.— Nabuco da


Gouvüa.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 117

Deduza-se da verba. 15 — Auxílios á Agricultura e ás In-


dustrias a quantia de 20:000$ para subvenção á Gamara In-
ternacional do Commercio.

Sala das sessões, 16 de setembro de 1912.—Felix Pacheco.

Para onde convier:

Da verba consignada no n. 15 do art. 1°, destaque-se a


importancia de 24:000$, afim de ser a Escola Universitária de
Mandos subvencionada mensalmente com 2:000$ como auxilio
ao curso de agronomia que mantém.

Sala das sessões, 16 de setembro de 1912.—Monteiro de


Sousa.— Christino Cruz.

Ao art. Io — Verba VI — N. II (Material):

Onde diz: Diarias e despezas de transporte, etc., até m^n-


saes 380:000$, diga-se — Diarias e despezas, etc. (como esta)
250:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

A' verba 4" (art. Io):

Diga-se: Propaganda do cafá etc. (ouro! 400:000$ — Para


o pagamento etc. (papel) 300:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.

Ao art. 6o:

Supprima-se.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.—Nicanor do


Nascimento.

Oode convier:

Continua o Governo autorizado a rescindir visto constituir


monopolio — sem ônus para a União o contracto firmado em
22 de fevereiro de 1911 com os engenheiros Carlos V. da Costa
Wigg e Trajano Saboia Viriato de Medeiros.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.

Ao art. 1", verba 2o — Pessoal contractado — reduza-se


a
95:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.
118 ANNAES DA CAMARA

Na verba 18":

Reduzam-se os eventuaes a 15:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.—Nicanor do


~~
Nascimento. "

Na verba 19a — Pessoal (conservado o sub-director):

Supprima-se a consignação a, 235:000$000.


Supprima-se a consignação b, 21.000$000.
Supprima-se a consignação b, 20:400$000.

Sala das sessões, li de setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.

Na verba 19" — Ensino Agronomico:

Adiando, porquanto não está installado e funccionando;


reduza-se a consignação — Material—a 2.000:000$000.

Sala das sessões, li de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Na verba 3" do art. 1" — Serviço Povoamento:

Reduza-se a 300:000$, ouro, e 3.792:000$, papel, redu-


zindo a IY sub-consignação — Inspectorias e Núcleos Coloniaes
— na — — ¦— —
parte Material e Pessoal em commissão
1.000:000$000.

Sala das sessões, 14 do setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.

Na verba 16":

Reduza-se a consignação — Material — a 50:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Na verba 17", n. 2 — Material:

Na consignação — Artigos do expediente:

Diga-se 100:0009000.

Na consignação — Acquisição de Yaccinas etc.:

Diga-se 250:000$000.

Na consignação — Despezas do transporte etc.:

Diga-se 150:0008000.
Ficando a consignação total em 748:000$000.

Sala das sessões, 14 do setembro de 1912,—Nicanor do


Nascimento,
11®
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912

Ao art. Io, verba 3":

N. V — Despezas Extra é Eventuaes:

Diga-se, em vez de 100:000$, 50:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.— Nicanor do

Nascimento.

ÍA' verba 15a:

Reduza-se a consignação a 500:000$000.

Sutrahindo:

Da sub-consignação I, 75:000$000.

Da sub-consignação II:

Auxílios aos Estados, etc., 35:000$000.


Auxílios aos Agricultores, etc., 30:000$000.
Prêmios, etc., 30:000$000.
Retirado o Auxilio ao Externato Aquino, 20:000$000.
Reduzido o Auxilio ao Museu Commercial de 35:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.—Nicanor do

Nascimento.

Ao art. Io, verba 12":

a — Material — a 100:720$000.
Reduza-se consignação
Deduzindo proporcionalmente nas sub-consignações, acqui-

sição, etc. e — Para attender — etc.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.—Nicanon do

Nascimento.

Na verba í3":

Onde so diz 904:808$ diga-se 004:000$000.


da sub-consignaç.ão — Obras de conservação,
Supprjmindo
etc. ft parte de 300:000$ para a substituição do mobiliário e

approveitamento para tal substituição gradativa os 100:000$

da sub-consignação.

14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Sala das sessões,
Nascimento.

Na verba 14*:

Substitua-se toda pelo seguinte:

Fica o Governo Federal autorizado a dentro da verba

de 400:000$ transportar a Escola de Minas logar util e


para
reformar-lhe a construcção o regulamento, om ordem a ser
uma escola moderna, c util, submettendo a 3 do
profissional
maio de 1913, os regulamentos organizados ao Congresso Na-
cional.

Sala do 1912, — Nicanor do


das sessões, 14 do setembro
Nascimento.
120 ANNAES UA CAMARA

Ao art. Io, verba n. 6, n. II, Material:

Na sub-ionsignação — Acquisição de machitias, etc. ató


serviços — 3'00:000$ — mantenham-se os dizercs e reduza-se

a verba a 100:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Na verba, n. III:

Onde se diz: — Serviço de extincção, etc.,200:000$, diga-se


— 100:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

No art. 1.°, verba 8":

Reduza-se a verba Material a 616:000$, — reduzindo nas


verbas — Artigos de expediente, 50:000$ — Diarias, etc.,
150:000$ — Dispezas de installação, etc., 100:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Na verba 9" — Material:

Reduza-se a 50:000$000.

Sala das sessões, 14 de setemDro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Na verba 11°, n. III:

Eventuaes, 140:000$, reduza-se a 40:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io, verba 1', n. VI — Material:

Onde se diz: Conservação do jardim, etc., 10:000$, di-


— conservação, etc., 6:00$000.
ga-se

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io, verba 1", n. VI — Material:

Onde se diz: Conservação e custeio, etc., 14:000$, di-


ga-se conservação e custeio, etc., 7:000$000.

Sala dns sessões, 14 do setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 121

A verba 1* (art. Io) — N. VI:

Onde diz:

Idem, idem Álmanach do Ministro, 15:000$000.

Diga-se:

Idem, idem, etc., 5:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io — Verba Ia — VI — Material:

Em vez de:

Elaboração, revisão e publicação do relatorio do Ministro


20:000$000.

Elaboração, revisão, etc., 5:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io — Verba 1" — N. VI — Material:

Onde diz:

Idem, Diroctoria Geral de Contabilidade, 15:000$000.

Diga-se:

Idem, Directoria Geral de Contabilidade, 4:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io — Verba 1* — N. VI — Material:

Onde diz:

Idem. Directoria Geral de Industria e Commercio,


10:000íf000.

Diga-se:

Idem. Directoria Geral de Industria e Commercio,


3:000.15000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io — Verba 1° N. VI — Material:

Onde diz:

Idem para a Directoria Geral de Agricultura, 10:000^000.


122 ANNAES DA GAMARA

Diga-se:

Idem etc. até Agricultura, 3:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. Io — Verba Ia — N. VI:

Onde diz:

Artigos de expediente e machinas de escrever ; acquisi-


ção de livros, revistas, jornaes e outros impressos, 10:000$000.

Diga-sei:

Artigos etc. até impressos, 5:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. —• Nicanor do


Nascimento.

Onde convier:

Fica o Governo conceder prêmios de 20:000$


autorizado a
por lote de 100 rezes
importadas de
do estran-
raça
pura
geiro, correndo as despezas por conta da verba consignada
no art. 6o da presente lei e não podendo exceder, no presente
exercício, a quantia de 200:000$ o total dos conce-
prêmios
didos.

Salas das
sessões, 16 de setembro de 1912. — Domingos
Mascarenhas. — Osorio. — Gumercindo Ribeiro. — João Ves-
pucio de Abreu e Silva. — João Benirfo da Silva. — Victor de
Britto.

Na verba 15° — N. 2, rubrica — auxílios diversos — accres-


cente-s«, sem augmento
respectiva importância, e em
da sua
primeira parte, após as — inclusive 20:000$ para a
palavras
Escola de Commercio do Externato Aquino:

20:000$, para a Escola Barão de Suassuna. mnnt'da pelo


Syndicato Agrícola de Gamoleira, Amaragy, Bonito o E«-
cada e 10:000$ para a Escola Agrícola do Goyanna, em Per-
nambuco.

Rala dassessões, 16 do setembro de 1912. — Costct Ribeiro.


¦— M. Borba. — Netto Campello. — Aristarcho Lopes. —• Au-
do Amaral. — Rego Medeiros. — F. —.
gusto J. Lundgreen.
Loureneo de Sá.— Borges da Fonseca. — Cunha Vasconcellos.
— Simão Barbosa. — Meira de Vasconcellos. — de
Erasmo Ma-
cedo.

Onde convier:

Art. Os dírectores de serviços organizados em repar-


tições applicarão com parcimonioso critério as sub-consigna-
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 123

ções referentes a material, de modo a que1 não sejam exce-


didas nem o serviço publico prejudicado.

das sessões, 16 do 1912. — Moniz de


Sala de setembro
Carvalho.

A' verba III — Povoamento do Sólo:

Destaque-se da verba sob essa rubrica a importancia ne-


cessaria para a fundação de uma colonia nacional agrícola-

pastoril em cada um dos seguintes municípios: Pirapóra, Gur-


vôllo, Rio das Velhas e Villa Nova de Lima á margem da
Estrada de Ferro Central do Brazil.
§ O governo desapropriará ou receberá em cessão gratuita
dos particulares os terrenos, campos e mattas precisas á íun-
dação desses estabelecimentos.

§ A partilha e distribuição dos lotes pelos colonos será


regulada pela lei vigente.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Augusto de


Lima. — Sebastião Mascarenhas.

A' verba 20a — Para oceorrer a quaesquer despezas extra-


ordinarias diga-se em vez de 300:000$, diga-se 200:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.

A' verba 19" — Ensino agronomico — Material de-


para
posito de installação e adaptação de diversos estabeleci-
mentos: em vez de 3.230:700$, diga-se 1.500:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Rdphael Pi-


nheiro.

A' verba 1° — Despezas com a conducção do ministro —


reduza-se a 3:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Rdphael Pi-


nheiro.

A' verba <i* — Expansão economica do Brazil — Propa-


ganda do cafVs: em vez de 500:000$, diga-se 250:000$000.

Sala das 17 de setembro de 1912. — Raphael


sessões, Pi-
nheiro.
124 ANNAKS DA CAMAHA

A1 verba 4a — Para no de trabalho de


pagamento paiz
etc. — Em vez de 300:000$, diga-se 180:00ü$00u.
propaganda,

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.

A' verba 5* — Serviço de inspecção e defesa agrícolas,


material, publicação de editaes. etc. — reduza-so a
45:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Ravhael Pi-


nheiro.

A' verba 7" — Posto zootechnico federal — Material,


compra de animaes, etc. Reduza-se de 100:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.

A' verba 5" — Consignação, material, acquisição de ma-


chinas, instrumentos, etc. — Reduza-se a 150:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.

A' verba 9* — Serviço e mineralogico — con-


geologico
signação material, etc.: em vez de 120:000$, diga-se —
80:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.

A' verba 16a — Serviço de informações e divulgação —-

material para acquisição de livros, etc.: em vez de 110:000$.


diga-se — 60:000$00Ò.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.

A' verba 15a — Auxilio á agricultura e ás industrias —


Prêmio de animação â pecuaria, etc.: em vez de 300:000$,
diga-se — 150:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. ¦— Raphael Pi-


nheiro.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 125

A' 17* — Serviço de veterinaria — Material — ar-


verba
tigos de expediente, etc., etc.: em vez de 136:800$, diga-se
100:000$000.

17 de de 1912. — Raphael Pi-


Sala das sessões, setembro
nheiro.

17" Secretaria de veterinaria — aequisição de vac-


A1 verba
sinas, etc. em vez de 670:000$, diga-se — 350:000$000.
;

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-

nheiro.

A' verba 18" — Para despezas imprevistas e eventuaes: orn


vez de 200:000$, diga-se — 100:000$000.

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nlieiro.

A' verba 3* — Serviço de Povoamento ¦— atteuder


para
a despezas imprevistas: supprima-se.

Sala das sessões, 17 do setembro de 1912 . — Raphael Pi-


nheiro.

Na verba 15a — Auxilio á agricultura e industria — onde


se diz:

«Auxílios aos agricultores e criadores para o transporte,


no paiz, de adubos, apparelhos, machinas e instrumentos
agrícolas. »

Accrescente-se in fine :

«Inclusive 20:000$ á Sociedade Nacional de Agricultura


para o mesmo fim.»

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — João Pe-


nido. \

Na rubrica 4" — Expansão Econômica do Brazil — redu-


zam-se a verba, ali consignada, de 500:000$, ouro, a 150:000$
ouro. — Victor de Britto.

Ao art. 1°:

Verba 1* n. IV:

Onde se diz:

Material — despezas com conduccão do ministro 12:000$


— Supprima-se.

Sala das sessões, 14 setembro de 1912. — Nicanor


de do
Nascimento.

!
126 ANNAES DA CAMAIU

A verba final que dá em globo 300:000$ para oventuae3


seja reduzida a 100:000$000.

Sala das sessões, 10 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

A verba de 1.285:600$ seja reduzida <a 200:000$ nos ter-


mos da autorização anterior.

Sala das sessões, 16 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. 4o do projecto n. 61 B, de 1912, supprima-se.

Sala das sessões, 16 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. 5o do projecto n. 61 B, de 1912, supprima-se.

Sala das sessões, 10 do setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Ao art. 1°:

Verba 1* — I do ministro:
gabinete

Onde se diz:

Secretario, officiaes de gabinete e auxiliares 56:000$ di-


ga-se — secretario, officiaes de e auxiliares
gabinete
26:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

'A
verba n. 1 do ministro — substitua-se pelo
gabinete
seguinte:

Gabinete do ministro:

Um ministro de Estado — Vencimentos 24:000$, repre-


sentação 12:000$, mantendo assim o pedido modestamente feito
pelo ministro o que a Commissão violentando os nobres sen-
timentos de S. Ex. propoz elevar a 24:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.

Na verba I:

Supprima-se o augmento de 30:00$ para pagamento do


consultor jurídico e seu auxiliar.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 127

Accrescente-se onde convier:

Pica para o exercício


adiada de 1914 a execução dos de-
cretos ns. 2.543, de 5 de janeiro de 1912 p 9.521, de 17 de
abril de 1912.

das sessões, 14 de setembro de 1912.. — Nicunor áo


Sala
Nascimento.

Supprima-se, durante o exercício, a rubrica 20" relativa

á inspecção da Pesca.

Sala das sessões, 19 de setembro de 1912. Raphael Pi-


nheiro.

Fica adiada, por um anno, a execução do Serviço de Pro-


tecção e Defesa da Borracha, creada no Ministério da Agri-
cultura.

Sala das sessões, 17 de setembro do 1912. — Raphael Vi-


nheiro.

O Sr. Presidente — A Mesa não pôde acceitar as seguintes


emendas, por serem infringentes do Regimento:

EMENDAS

(Não acceitas)
Onde convier:

Que sejam equiparados os vencimentos dos «Encarrega-


dos das visitas domiciliares e inspecção de canalização da Re-
partição de A.guas e Obras Publicas», aos dos «Irispectorcs
do 4a classe da Repartição Geral dos Telegraphos >,

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. Dionysio de


Cerqu,,eira. — Olerjario Pinto. — Carlos Maximiliano.

A' verba 1*: — Serviço de registro — suppri-


genealogico
ma-se.

Sala das sessões, 17 do setembro de 1912.— Dionisio de


nheiro.

A' verba 5": consignação material — serviço de extineção


do — supprima-se.
gafanhotos

Sala das sessões, 17 de setembro de 1912. — Raphael Pi-


nheiro.
'
N. 1

Na rubrica 1*, na parte relativa ao «Material», suppri-


ma-se a verba de 100:000$, destinada ao «Serviço de regis-
tro genealogico de animaes e registro o archivo geral de marcas
1 28 ANNAES DA GAMARA

para animaes», comprehendendo o pessoal commissionado


para a execução do mesmo serviço e a acquisição de livros
e mais objectos, encadernações e impressões relativas ao
assumpto ».

N. 2

Na rubrica 3' — Serviço de povoamento — Supprimam-se


as verbas destinadas ao « Serviço de immigração » e ao « Ser-
viço de colonização», na importancia total de 3.706:800$, papel,
e 600:000$, ouro.

N. 4

3Va rubrica 6* — Serviço de inspecção e defesa agrícolas


— Supprima-se a verba destinada á « Defesa agrícola », na im-
portancia de 200:000$, papel.

Sala das sessões, 19 de setembro do 1912. — Victor de


Britto.

N. 32

Fica revogado o capitulo 4o, art. 88 até 94 e paragrapbo,


do decreto n. 9.521, de 17 de abril de 1912.
Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do
Nascimento.

Art {Onde convier) :

Supprimam-se as consignações para


de todas o pessoal as
sub-consignações para auxilio de aluguei das casas de portei-
ros das respectivas repartições sujeitas ao Ministério da Agri-
cultura.

Sala das sessões, 10 de setembro de 1912. — Moniz de Car-


valho.

Art. {Onde convier) :

Os logares vagos nos


quadros dos serviços organizados

e repartições do Ministério da Agricultura não serão preen-
chidos aW que o pessoal de cada serviço ou repartição fique
reduzido a dous terços dos actuaes quadros e respectivas ca-
tegorias.
Paragrapbo único. Esta disposição não attinge aos chefes
de serviços ou de repartições e aos corpos docentes das diver-
sãs instituições de ensino.

Sala das sessões, 16 de setembro dè 1912. — Moniz de Car-


valho.

Supprima-se a verba 20*, destinada á «Inspectoria de


Pesca ».

Sala das sessões, 19 de de 1912. — Victor de


setembro
Britto.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 129

O Sr. Presidente — Tem a Sr.


palavra o Victor de
Britto.

O Sr. Victor de Britto — Sr. Presidente,


quando hontem vim
u Gamara na persuasão de tomar a palavra para discutir o or-
yamento da Agricultura, estava ainda sob a desagradavel im-
pressão das duas sessões anteriores.

Realmente, não
na primeira, mas só
também na segunda,
em meu espirito
affirmava se
a convicção de que a discussão
do orçamento da Agricultura tinha sido um
arrastada para
terreno ingrato. Embalde eu interrogava a razão do apaixona-
mento dos espíritos e do animo de intolerância da de
parte
alguns na discussão travada a respeito de um assumpto, no
qual nunca 6 licito si não manter a maior concordia entro
quantos desejam disputar a gloria de concorrer a boa
para
marcha dos negocios públicos, em um paiz organizado as
sob
normas do regimen representativo.

Hontem, porém, quando se iniciou a terceira da


phase
discussão do orçamento da Agricultura, outra foi a minha
impressão ; pois desde logo notei com satisfação
que a atmos-
Paixão e intolerância se havia sensivelmente mo-
5flSra,de
Qificado, de modo que já era licito esperar se chegasse a um
momento de calma, de bonança, em
que todos pudessem dosas-
sombradamente tomar parte na discussão de uma matéria, na
qual tudo é permittido, eu o repito, menos a paixão e o odio.
[Apoiados ; muito bemi.)

O Sr. Nicanor do Nascimento — Muito bem ! na analyse,


como eu a fiz.

O Sr. de Britto — Exectamcnte.


Victor V. Ex. viu que,
nm muitos pontos, eu o applaudi: não
pois traduzi nas pala-
vras de v . Ex. intuitos de opposição ao Sr. ministro da Agri-
cultura quanto mais ao honrado Sr. Presidente da Republica,
de quem sei 6 V. Ex. grande admirador e venerador.

O Sn Nicanor do Nascimento — Apoiado.

O Sn. Victor de Britto — Sr. Presidente, iniciou o debate,


na sessão de hontem, o meu illustre collega, o Sr. Deputado
I ore ira Nunes,
cujas logo
palavras para me inspiraram a
confiança de
que outra era a orientação que se ia imprimir ao
debate. E mais em mim se firmou essa confiança, depois que
subiu d tribuna o nobre Deputado
pela Bahia, o Sr. Moniz de
Carvalho.
Realmente. Sr. Presidente, nada mais
podia contentar o
meu espirito de governista leal, mas condicional (porque, si
alguma cousa ha eu não
que posso comprehender, no que
nuer que seja quanto mais em política, é o incondicionalismo)
do que o discurso do nobre Deputado
bahiano. cada uma do
cujas phrases. na formosura da fôrma, do estylo, qu:e S. Ex.
tanto sabe cultivar, se casava com o meu modo de ver, com
a minha opinião sobre o assumpto em debato.
Vol. 9
130 ANNAES DA CAMARA

Appello para o testemunho do meu nobre amigo, Sr. Ni-


canor do Nascimento, a quem tive o ensejo d© dizer que não
sabia o que mais poderia eu fazer na tribuna, depois do bri-
lhante discurso do nobre Deputado pela Bahia.

O Sr. Nicanor do Nascimento — E' verdade..

O Sr. Vigtor de Briito — Logo 110 longo do


exordio dis-
curso do illustre Sr. Moniz de Carvalho, phrases da mais alta
significação me soaram aos ouvidos, e retumbaram por este
recinto como para fazerem recordar um período, que já vae
bem longe e que nunca mais se apagará da memória das gera-
ções.

S. Ex. teve phrases como esta, pronunciada com a ener-

^ia e o calor de um verdadeiro senhor da tribuna: Ficai sa-


bendo, Srs., que cada um de nós aqui na Camara dos Srs Depu-
tados, cada um dos representantes do Poder Legislativo vale,
neste regimen, muito mais do que um ministro, porque o
ministro ó apenas pessoa da confiança do Chefe da Nação e

pode ser amanhã demittido, emquanto nós outros, os legisla-


dores, só poderemos sahir daqui depois de terminado o nosso
mandato, conferido pela soberania nacional.

Pois bem, Sr. Presidente, quando S. Ex., com eloquencia


admiravel, proferiu perante a Camara dos Deputados aquelle
conceito brilhante, reproduziu-se em minha imaginação um
dos períodos mais solemnes da historia humana — 23 de ju-
nho de 1789 — dia para sempre memorável, em que se lavrou
o decreto de inviolabilidade dos representantes do povo e a
sentença de traição á Patria a quem quer que tentasse contra
a liberdade de um Deputado.

Os conceitos do nobre Deputado bahiano traduziam,


Sr Presidente, o direito inviolável de critica, conferido a todo
representante da Nação na tribuna parlamentar sobre os actos
do Governo.

Nada, era menos licito do que aquella atmospliera de


pois,
intolerância,que se procurava manter na discussão de leis or-
çamentarias, atmosphera de intolerância sobre a qual ainda
não fui contestado.

O Sr. Raul Cardoso — Eu não estava presente.

O Sr. Victor de Britto — E tal foi o espirito de intole-


rancia pelo simples
que, facto de haver o orador aparteado

favoravelmente ao Sr. Nicanor do Nascimento, em alguns pontos


do seu discurso, houve quem lhe chegasse a insinuar que estava
sendo ao
desleal honrado Chefe da Nação, ao seu partido, e
até ao Sr. Senador Pinheiro Machado, com quem elle
proprio
se honra de manter a mais inteira solidariedade política e a
quem o ligam os laços do mais sincero affecto.

Como si aqui houvesse quem, mais do que eu, Sr. Presi-


dente, estar acima de qualquer suspeição sobre a sua
possa
lealdade política 1
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912

O Sn. Nicanor do Nascimento — E, si ha quem se não


possa accusar de espirito de intolerância é o Sr. Senador Pi-
nheiro Machado.

O Sr. Raul Cardoso — Não houve intolerância, o ataaue


foi pessoal. ^

O Sr. Nicanor do Nascimento — Não ó verdade. Eu não


ataquei pessoalmente a ninguém.

O Sr. Raul Cardoso — Cada um dos illustres Deputados


tom o direito de-atacar os actos do Governo. Os actos são do
(joverno e nao de seus ministros. Critiquem como quizerem
esses actos
; o que não podem absolutamente é, indivíduos que
se dizem pertencer ao Partido Conservador, virem aqui affir-
mar menos probidade do Sr. Ministro da Agricultura.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Não affirmei tal eousa.


Cardoso — V. Ex.
Ç.AUL chamou a attonção do Pre-
emente da Republica falta de
para a probidade do Sr. Ministro
da Agricultura.

0 Sr. Nicanor do Nascimento —


. . Si V. Ex. puder provar
isto, nao fallarei mais.

O Sn. Raul Cardoso — Está Diário


no do Congresso.
O Sr. Nicanor do Nascimento —
_ Si V. Ex. mostrar isto
nao usarei mais da palavra. '
O Sr. Raul Cardoso — Ainda ha pouco, na sala do cafó,
quando se fallava no apresentado
projecto pelo Sr. Stockler
V. êx. disse que era um projecto do Ministro.
O Sr. Nicanor do Nascimento — Na sala do café não ha
tachygraphos.

O Sr. Victor de Britto —


. (trocam-se muitos apartes que
nao permittem ao orador continuar). Si me permittem os no-
bres Deputados, entrarei em nova ordem
de considerações
Quando tive a honra de iniciar a 2* discussão do orça-
mento da Agricultura, coube-me o ensejo de apresentar duas
emendas, justificando os motivos que me traziam á tribuna.
Declarei que o fazia em nome da
situação das finanças do paiz.
•Bisonho em matéria
parlamentar (não apoiados) e mais ainda
cm cousas de finanças,
pois não passo de velho curandeiro...
,( nao apoiados.)

Vozes — Muito competente.

O Sr. Victor
Britto —de ... tive a opportunidade de
uizer que o fazia, não só em nome das necessidades financei-
ras cio momento mas
ainda em nome dos
princípios radicaes da
política republicana em que fui educado.
Si volto, pois á tribuna apresentar novas
para emendas
orçamento da Agricultura, são ainda os mesmos os senti-
mentns
que me animam, principalmente no tocante ao
problema
132 ANNAES DA GAMARA

Sr. Presidente, aqui, pela primeira vez, me oc-


Quando,
do assumpto, ora em debate, não tive occasião de me
cupei
referir á do Sr. Ministro da Agricultura.
pessoa
agora bem accentuar que, as consi-
Eaço-o,
porém, para
em nada podem interessar a pessoa
derações que vou emittir,
Ministro, em quem, eu me honro em o declarar desta
do Sr.
tribuna reconheço um servidor dedicado á causa publica,

íolgo de render homenagens aos setis predicados intellectuaes

com S. Ex.
pela sua
se acção tem imposto
© moraes, que
nos negocios administrativo
do confiado
departamento
efficaz,
Tanto mais eu não e não devo fazer
á sua direcção. posso
outro conceito do nobre Sr. Ministro da Agricultura, quanto

é verdade estar S. Ex. ligado á política rio-grandense por laços


de sympathia, que, a cada momento, tenho eu visto traduzidos
bancada do meu Estado, e não ignoro o conceito em que
no.
o Sr. Ministro da Agricultura chefe do
ó tido pelo preclaro
meu partido.
A que titulo, havia eu de subir a esta tribuna para
pois,
fazer opposição á do Sr. Ministro da Agricul-
para política
tura, nos negocios confiados á sua alta direcção ?
Feitas estas considerações, passo a tratar do assumpto em
debate.
Quando, na 2* discussão, eu iniciei a serie de considerações
me trouxeram á
primeiro cuidado,
tribuna, de- foi meu
que
Sr. Presidente da
pois de lembrar um trecho da mensagem do
um conceito de um dos mais notáveis iman-
Republica, ler
Pearson, venia repetir neste mo-
cistas, que peço para
mento:
«Custe diz Pearson Niti na sua
o que custar, (citado por
obra «Princípios de Sc. das finanças» ed. fr. de 1904) o
pr-
não se deve encerrar com déficit.
çamonto, em seu conjuncto,
déficit chroriico ó um verdadeiro cancro na vida dos Es-
Um
Si circumstancias, de natureza ou outra, se
tados. política
á applicação de impostos relativamente bons, recor-
oppõem
ra-se a novos impostos : tudo, menos o déficit.
Um despende annualmente 50 milhões mais do
paiz que
as suas receitas, contrahe 50 milhões de dividas, sem
que
de anno a anno, dos seus deficits sucoessivos,
fallar nos juros,
e assim por deante, indefinidamente.
isso lhe, arruina o credito. Ello não pode mais en-
Tudo
dinheiro sinão em condições cada vez mais onerosas.
contrar
se tem formado uma terminologia ridícula:
Em certos
paizes
zomba-se do equilíbrio arithmetico, a pretexto de que o equj-

librio deve ser economico. Mas o equilíbrio não pôde ser sinão
si um paiz gasta demasiadamente, a recorrer a
arithmetico:
é-lhe preferível reduzir as despezas. Nada arruina
dividas,
uma nação do que as dissipações financeiras.
mais
E' uma verdadeira destruição de capitães, em grande de-

trimento das classes populares, ás quaes. ao primeiro mo-

afigurar que a dissipação seja » vantajosa.


mento, se
pôde
Sr. Presidente, longe estava eu de suppôr que o conceito

do notável financista, por mim adduzido em abono das minhas


SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 133

considerações sobre matéria orçamentaria, viesse a ser con-


firmado de modo completo na sequencia dos factos pela opi-
nião dos mais competentes, e até pelo juizo, segundo aqui
mais de1 uma vez se tem affirmado, do proprio Sr. Presidente
da Republica.
No momento em que fallo, é notorio estarem todos con-
vencidos de que políticaafinanceira se deve modelar pelo
conceito do eminente financista, a que me acabei de> referir.
Todavia, Sr. Presidente, o acerto das minhas considera-
comprovado factos subsequentes — o que- para mim
ções, pelos
seria uma victoria, si á Gamara dos Srs. Deputados tivesse
eu vindo com á carreira — não in-
pretensões parlamentar
pediu que um jornal da terra, um folha desta Capital, pre-
tendesse ridicularizar o meu despretencioso discurso.

O Sn. Raul Cardoso — V. Ex. está muito acima disso.

O Sr. Victor de Britto — Não importa os factos vieram


;
confirmar que os meus conceitos estão hoje consagrados pela
própria autoridade, pela probidade inexcedivel do Sr. Presi-
dente da Republica.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Apoiado de cuja sincei-


;
ridade não nos é licito duvidar.

O 3k Victor de Britto—E tanto mais, Sr. Presidente, devo


insistir, antes de entrar no estudo das emendas que desejo
apresentar, na necessidade absoluta da política de economia,
ora planos do Governo,
nos quanto ó hoje uma verdade indis-
cutivel, que um dos motivos poderosos do prestigio em que
vão cahindo as democracias está precisamente no abuso, feito
pelos parlamentos, das suas prerogativas, no augmento in-
continente das despezas publicas, desprestigio chegou ao
que
ponto de já haver sido suggerida na França a idéa de se di-
minuirem, de se restringirem as prerogativas dos parlamentos
pelo abuso da decretação de despezas que sobrecarregam, que
'oneram
o Thesouro, abalam o credito publico e profunda-
mente reflectem na vida das infelizes classes proletarias.
Passo agora, Sr. Presidente, á justificação das minhas
emenflàs.
Na rubrica Ia — na Directoria de Contabilidade — en-
contra-se a seguinte verba:
« Para o Serviço de Registro Genealogico de Animaes, e
Registro e Archivo Geral de Marcas para Animaes, comprehen-
dendo o pessoal commissionado para a execução do mesmo ser-
viço e a acquisição de livros e mais objectos, encadernações
e impressões relativas ao assumpto, 100:000$000.
Desde logo me chamou a attonção o facto de não estar
esta verba consignada onde mais naturalmente devia estar,
isto 6, na Directoria Geral de Industria, onde mais plausível
é a collocação do registro de genealogia de animaes, do ser-
viço de registro de marcas, etc.
Não oomprehendo, pois, a collocação dessa verba na secção
de contabilidade.
134 ANNAES DA GAMARA

Demais, não percebo justo fundamento se exija


para que
aqui uma consignação especial para de livros
pagamentos e
mais objectos quando, para tal fim, já a Directoria de Conta-
bilidade tem uma verba de 15:000$000.
Eis porque apresento uma emenda supprimindo esta con-
signação especial da verba 3*.

O Sr. Luciano Pereira — Neste caso, devia apresentar


emenda augmentando a outra verba.

O Sr. Victor de Britto — Augmentar ? o


para que si que
eu quero 6 cortar verbas, diminuir despezas...

O Srt. Raphaiíl Pinheiro — E em terceira discussão não


se podem apresentar emendas augmentando verbas./

O Sr. Victor de Britto — Serviço de Immigração. Eis


um outro ponto para o qual solicito a attenção dos nobres
Srs. Deputados.
Na segunda discussão deste orçamento adduzi largas
considerações^ a respeito doproblema em
questão.
Tive então ensejo de me declarar adversario intransigente
da immigração subsidiada,_ pois que, não só por doutrina, mas
ainda attendendo á situação financeira do paiz, não eu
podia
concordar continuasse a figurar no orçamento uma verba ele-
vacia para esse fim, quando a verdade 6 a immigração
que
espontanea já é maior do que a subsiada.
E isto eu o demonstrei com os dados, colhidos na pro-
pria mensagem do honrado Sr. Presidente da Republica.
O Sr. Raphaei, Pinheiro — 80.000 immigrantes são es-
pontaneos, contra 50.000 subsidiados.

O Sk. Yictor de Britto — Apoiado.

O Sr. Raul Cardoso — Nós precisamos de 300.000 annual-


mente.

O Sn Yictor de Britto — Perdão. E' inconveniente essa


penetração brusca de massas muito volumosas de immigran-
tes. Pôde succeder o mais de uma voz suecedido,
que tem
como ainda recentemente na Republica Argentina, da qual
houve verdadeiro êxodo de immigrantes, com os o the-
quaes
«ouro havia despendido sommas em loca-
grandes passagens,
lização, etc.

O Sr. Nicajíor do Nascimento — Isto succedeu


já no
Brazil.

O Sr. Yictor de Britto — E' um dos argumentos mais


poderoso contra a immigração subsiada.

O Sr. Fonseca Hermes — A immigração espontanea tam-


bom d estipendiada.

O Sr. Raul Cardoso — E 6 conforme o systema de colo-


nização.
O problema do povoamento do solo se divide em duas
partes: immigração e colonização.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 135

A immigração 6 a parte do problema que diz respeito &


introducção do immigrante 110 paiz, e a colonização, a que
diz respeito á sua localização.

O Se. Raul Cardoso — As verbas figuram no orça--


que
mento para esse serviço teeni sido despendidas, não só com

passagens, mas com a alimentação, com a hospedagem dos


immigrantes.

O Sr. Fonseca Hermes — Mesmo dos espontâneos.,

O Sr. Raul Cardoso — E' nisto se o dinheiro.,


que gasta

0 Sr. Fonseca Hermes — Não se o immigrantei


pense que
espontâneo é gratuito.

0 Sr. VifcTon de Britto — W. EEx. estão indo muito


adear.te do meu pensamento. Já se vê que não podemos deixar
de dar de comer aos immigrantes que veem ao paiz. Não toco
nesta verba, porque ella não está em desaccôrdo com o meu
modo_ de ver. O que supprimo
a verba para é
passagens do
exterior, afim de
que se não dê o facto, que é uma verdadeira
anomalia, de indivíduos (eu conheço um nessas condições) irem
muitas vezes á Europa á sua custa, e de lá regressarem ou-
tras tantas á custa das verbas de immigração.
Conheço um italiano que procede da seguinte fôrma: em-
barca para a Europa, com passagem de 3° classe, pagando
trinta ou quarenta mil réis. Uma vez munido de pequenos
contrabandos, toma passagem como immigrante, e volta para
aqui a vender seus pequenos contrabandos. Já cinco vezes tem
o espertalhão aproveitado a parte que lhe toca na verba do or-
çamento da Agricultura, destinada a passagens do exterior.

O Sr. Luciano Pereira — E' um abuso, com o qual não se


pódf argumentar.

O Sr. Nicanor do Nascimento — E' uso e não abuso.

O Sr. Yictor de Britto — Os apartes são incostetavel-


mente parlamentares ; não me estão perturbando de modo al-
gum ; todavia, já me desencaminharam da corrente 'das
idéas._ En todo caso, neste» desencaminhamento, ainda vou
adduzir considerações contra a immigração subsiada. "fallava
Quando
pronunciei o meu discurso de 0 de .iulho. disse que
de experieda própria, nor informações directas colhidas no
exercício «1* minha de no
profissão medico, período de cerca
de 30 anno; a resoeito do nroblema de nue se trata. Devo
mesmo accrtscentar que, sobre este escripto
problema, tenho
na imprensado minha terra, principalmente na A Federação,
órgão do partido Republicano Rio-grandenáe1. sou
Não por-
tanto, um fixtrànho ao àssumpto, «no contrario tenho-lhe de-
dicado muito estudo, considero immigração.
porque util a
Entendo ser cheirado o momento de confiarmos o
porén, pro-
hlemn do novoimento rio nlem^nfo extran^eiro
deoendente á
injimicrração esrmtnnea, e cuidarmos dos iA milhões de bra-
zileiros. ah vivem
que nas nossas companhas e nossos ser-
toes & espera dt nossa
protecção.
13(i ANNAES DA CAMAIU

O Sn. Raphael Pinheiro — Apoiado. O norte tem direito


também de viver.

S,R; Fonseca Hermes — No emtanto,


, . a maioria do terri-
tono esta inculta. A não
população ó sufficiente. (Trocam-se
muitos apartes.)
"V
O Sr. ictor de — VV.
Britto EEx. sabem que um ag-
sumpto importante, o desde o começo
qual, do século passado
vem attrahindo a attenção dos mais autorizados economistas -
6 o problema da e da produeção.
população

Fartamente já_tecm os economistas ponderado,


que o pia-
neta tem limites,
não podendo os
paizes augmentar indefinida-
mente a sua população, nem, tão pouco, a siía produeção.
Disso offereoem exemplos a Irlanda e a China. Da primeira
registra a historia que ioi emigrar
preciso em massa, para fugir
à miséria que a victimara em consequencia
de crise da lavoura:
na segunda, o mfanticidio ó o triste recurso, que alii se assi-
gnaia como Iructo da superpopulação.
(Trocam-se muitos apar-
tes.) Estou convencido de não
que é o volume da população
que iaz a felicidade de um paiz, mas, acima de tudo, a quali-
dade. E uma questão resolvida.

O Sr. Raul Cardoso— Mais isto não é republicano.


O Sr. Victor de Britto — V. Ex. não me pôde inhibir de
ter idoas socialistas. Uma das republicas mais praticas do
mundo, os Estados ao completar uma
JJnidos, população pouco
interior a 70
milhões de habitantes, começou de oppôr obsta-
culos as correntes volumosas de immigração e passou a fizer
seiecçao. Como ponderei no meu discurso de 9 de julho, la a
considerar no não só o problema economico,
povoamento,
por-
que uma nação não é uma sociedade industrial,
não é uma sccie-
aaae pecuaria, disse eu, na
qual o objectivo capital á simples-
mente augmentar o numero das
vaccas <a dos bois, pois, quanto
maior o numero tanto maior
o rendimento. Um paiz é alguma
cousa mais do que isso.

No povoamento é de mister attender não só á eco-


parte
nomica, mas também á ethnica á
o nacionalista. Qtando, eu
senhores, Por n;i°
espirito de nativismo, mas pjr encarar
o problema a luz das sãs noções colhidas nos melfores trata-
distas, antes do vir a esta tribuna, me extornavi naquelles
Lermos cm artigos de imprensa, não
havia ainda, liío a opinião
de Oliveira Martins,_ exarada
em 1887, em seu lrro O Brazil
e as colonias. opinião
que vou tomar a liberdad< de expôr á
apreoiaçao dos Srs. Deputados.
Escrevia Oliveira em Martins
1887 : «Parabém avaliar
o desenvolvimento das duas
grandes nações amtficanas (Bra-
zil e Estados Unidos) , é mister não contrapôr números qu<e
abstractamente nada significam: é necessário conparar a ratio
desse desenvolvimento. Pois tão
pouco tem crescido a popula-
çao brazileira ? Absolutamente será pouco; clativamente, é
tanto ou mais ainda que nos Estados Unidos1.
SESSÃO EM 19 DI3 SETEMBRO DE 1912 137

Em nota : «A população dos Estados Unidos era, em 1790,


de quatro milhões, e subia a 35' em 1870 : octoplicai-a. A do
Brazil (no mesmo periodo), estacionaria no elemento negro,
decuplicou no elemento europeu : S00.000 almas em 1789;...,
S.Í20.000 em 1872».

Nesses algarismos não se inclue, nem os mestiços e os


negros, livres e escravos, nem tão os selvicolas.
pouco

Sendo a população actual do nosso computada em


paiz
25.000.000, segue-se que em 40 armos (de 1872 a 1912), a po-
pulação do Brazil triplicou. Este facto, assás significativo,
responde categoricamente aos que tanto faliam do pouco des-
envolvimento da população do nosso paiz.

Quem que estude o problema ã luz dos dados estatis-


quer
ticos, e a marcha
conheça aseensional da população nos vários
paizes, ha de forçosamente confessar que o augmento da po-
pulação no Brazil tem sido verdadeiramente rápido. Para ainda
mais documentadamente o demonstrarmos, compare-se o cres-
cimento da população dos Estados Unidos de 1870 (33.000.000)
a 1912 (80.000.000) com o augmento da do Brazil no mesmo
periodo. Emquanto esta, como vimos, triplicou, aquella
cresceu duas vezes e meia, mais ou menos.

Continúa Oliveira Martins: «Imaginar no


possível que
Brazil entrem annualmente duzentos ou tresentos mil euro-
peus de qualquer raça é uma illusão ; desejal-o, é um epro
deplorável. Mais vale o caminhar, segura e normalmente, do
que a precipitação cheia de riscos.

E' dissolvente para a organização interna de uma nação o


ingresso abrupto, a infusão de elementos
precipitada que além
de excessivos para as forças de absorpção do nacional,
povo
forçosamente teem de ser por natureza rebeldes e até insus-
ceptiveis de assimilação.

E' melhor a immigração lentamente natural, se


que pro-
porciona ás forças do paiz e se funde, que do a irrupção tur-
bulenta de massas famintas e desmoralizadas. Por brilhantes
ou seductoras que pareçam exemplos como os da Australia,
o facto é que mais de um observador descobre abi
perspicaz
motivos para eventuacs crises futuras.

0_progresso de uma nação differe essencialmente da ex-


ploração de um territorio concedido. Em uma empresa o fu-
turo é vitalício, o ponto de vista é «penas o lucro. O
critério exclusivo do lucro das lavouras e do commercio não
basta : é mistér, porém, que, subordinadamente, esse cri-
terio concorra para a construcção firme duradoura, do
e Es-
tado. »

Eis Sr. Presidente, ao da immigração,


quanto problema
considerações que me autorizam uma
a apresentar emenda
suporessiva di verba relativa á immigração, conservando
apenas a pertinente ao tratamento dos immigrantes no paiz
antes do sua localização.
138 ' ANNAES DA CAMARA

'Agora,
o problema da colonização.
Como disse, Sr. Presidente, a colonização é uma das partes
do problema do povoamento.
Consiste na localização do immigrante, e é precisa-
mente do methodo, dos processos empregados para esse ser-
viço, que dependem os da colonização. resultados
Um paiz que não sabe localizar o seu immigrante, que não
tem boas leis para garantir a liberdade e a propriedade, não
pôde esperar bom êxito em serviço desta naluaeza.
Ha aqui, porém, uma questão constitucional, para a qual
peço venia para chamar a attenção dos nobres Srs Deputados.
Vou demonstrar que o problema da colonização não pôde ficar
a cargo do Poder Federal da União.
Ha uma disposição constitucional que transfere á proprie-
dode dos Estados as minas e terras devolutas, situadas em seus
respectivos territorios. E' o art. 64 da Constituição.
a colonização só pôde ser feita nas terras devolutas,
_Ora,
a não ser que se trate de colonização particular.
O Sr. Nicanor no Nascimento — Foi violando esta regra
constitucional que, este armo, o Ministério da Agricultura com-
prou uma fazenda 110 Paraná. (Trocai,i-se outros apartes.)
"Vigtor
O Sr. de Bruto —V. Ex. vô que, no modo como
me tenho enunciado sobre o da immigração, eu me
problema
revelo identificado com a orientação do meu partido.
São incontestáveis os inconvenientes dos apartes, arras-
tando-nos
para pont.o differente, justamente quando se va« for-
mulando um raciocínio.

Saibam os nobres Deputados o Rio Grande1 do Sul


que
deve o seu colonial á immigração espontanea.
progresso
O Sr. Raul Cardoso — No seu inicio não foi espon-
tanea.

O Sr. Nicanor do Nascimento — A historia do Hio Grande


neste ponto 6 interessante.

O Sr. Victor de Biutto — O Rio Grande do Sul deve gran-


demente o seu progresso agrícola e industrial A immigração
espontanea.

O Sr. Raphael Pinheiro — E' a verdade.

O Sr. Nicanor do Nascimento — Os immigrantes espon-


taneos são os que conveem.

O Sn. Victor de Britto — Sem duvida.

O Sr. Raphael Pinheiro — Em 1890 e 1891, quando meu


pae era diroctor da Hospedaria de Immigrantes no Rio Grande
do Sul, chegaram grandes levas de immigrantes profissionaes,
que não quizeram seguir para os núcleos coloniaes. Foi pre-
ciso fazel-os sepuir A força contra de meu
protesto pae.
Houve mais a ida dos polacos, que foi um dos capítulos mais
importantes de immigração. [Ha apartes.)
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 139

O Sr. Yigtor de Britto — Reitero, Sr. Presidente, a minha


afíirmativa deante do art. 64 da Constituição de 24 de feve-
reiro^ as terras devolutas aos
pertencem Estados ; a colo-
nizaçao só pôde, pois, ser feita nas terras devolutas, a não
ser a particular.

O Sr. Raul Cardoso dá um aparte.

O Sk. VifiTOR de Britto — E' uma sophisma á Constituição


(concorrer a União a serviços que, de sua natureza e pela clis-
posição constitucional, devem aos Estados
pertencer ou aos par-
ticulares.

O Sr. Raul Cardoso — O Estado de S. Paulo cedeu terras


devolutas para a União colonizar.

O Sr. Yigtor de; Britto — Sustento que isso <5 um so-


pnisma._A União não tom o direito de sophismar a própria
disposição da lei constitucional.

O Sr Osorio — A questão constitucional fica resolvida


entre accôrdo da União e dos Estados.

^AtJL Cardoso — Os Estados teem muitas vezes ce-


uido terras, 1'epito, a União colonizar.
para

^ ^R" ^'ICT0H
Britto — O nobre Deputado
DE
i.™ que tanto me
os meuseus
amigo o Sr. Raul Cardoso,
ece-me partes,
o ensejo de desviar o rumo de
, meu discurso para
(Joutrma, com a qual melhor responderei
fq !faC ^ aos
apartes ae o. jlx.
regimen em vivemos,
que o federativo, o
visceral, principio
substancial, nao se contem, não reside no Poder Fe-
dera], na União, reside, sim, nos Estados. Eu havia es-

cnpto seguinte antes de ler Boutmy
.o : o que caracteriza a
essência do regimen federativo são os Estados com as isuas
organizações autonomas, cada qual representando um dos
orgaos da vida vegetativa, na qual está a verdadeira vida na-
cional, ao o Poder
passo que Federal, a União, representa o
apparelho da vida de relação, o systema nervoso encephalo-
meduljar do organismo federativo.
São idóas
que eu já havia enunciado de publico, antes de
as ler no
admiravel livro de Boutmy, que tenho á mão, no qual
esse eminente escriptor faz o confronto das constituições da
1 rança, da Inglaterra e dos Estados Unidos.

O Sr. Raul Cardoso — E contesta


quem o ?

nAPH.ABL Pinheiro — V. Ex., a iritor—


que defende
lerencia da União nos negocios da colonização.

O Sr. Nicanor m nascimento .— Desde o começo.

P'AUL — E' o orador está encarando


PaRdoso que
a da lmmigração em face dos interesses do
, Rio
«rantie do Sul.
HO ANNAE8 DA GAMARA

O Sr. de Britto — Perdão ;


Yictor fallo do Rio Cirande
corno fallariaqualquer dos de
Estados da Federação. Y. Ex.
me está emprestando sentimentos que não tenho.
Tomo a liberdade de ler os conceitos de Boutmy. {Lê.)
O Sr Cunha Vasconcellos — E'
um adversario do regi-
men presidencialista.

O Sr. Victor de Britto — De facto ; Boutmy é parlamen-


tarista. Taes conceitos, repito, já eu os havia mais concisa-
mente o mais expressivamente formulado: Os Estados repre-
sentam os órgãos da vida vegetativa do do
organismo uma
nação : o Poder Federal representa o de relação,
apparelho
que une, que estabelece a unidade, a harmonia entre os or-
gãos da, vida vegetativa e o organismo nacional e entre, este
e as naçõe_s estrangeiras.
Quer isto dizerque, acima de tudo, no regimen federa-
tivo, valem os Estados.

Um Sr. Deputado — Naturalmente.

O Sr. Gumercindo Ribas — E' axiomatico.

O Sr. Victor de Britto — E' axiomatico, como diz o meu

illustrq collega.

O Sr. Raul Cardoso — Ninguém contesta isso.

O Sr. Victor de Britto de—Desde a Constituição


que
um paiz, sob o regimen federativo, estatue as terras de-
que
volutas partencem aos Estados, não licito ao Poder
parece
Federal, infringir ou adulterar essa disposição, comprando
terras para estabelecer núcleos coloniaes conta da União.
por

O Sr. Raul Cardoso — Não veda á União comprar, nem,


aos Estados vender. Pertencendo as terras devolutas aos Es-
lados, estes transferir venda, e a União é uma
podem por
pessoa jurídica, que pôde entrar em relações com os Estados.

O Sr. Victor — Seria


de Britto então preciso que a União
entrasse em accôrdo com os Estados entregando-lhes, man-
tendo-lhes todas as attribuições relativas & colonização. O
que não fôr isto é infracção ou, repito, sophisma, adulteração
(ío preceito constitucional e do dogma da autonomia 110 regi-
me.n federativo^

O Sr. Raul Cardoso — A União fica ; dentro


proprietária
da sua própria casa, faz o que quer.

O Sr. Victor de Bruto — O art. 64 da Constituição diz

que : só
pertencem á União' os territorios necessários, «indis-

pensaveis para a defesa das fronteiras, fortificações, constou-


cções militares e estradas de feirro ».
Em nome, portanto, dos princípios que. acabo de expôr,
em nome da disposição expressa no art. 64 da Constituição
Federal, eu apresento urna emenda reduzindo considerável-
mente a verba para colonização, verba que não ó pequena, pois
se eleva a três mil setecentos e tantos contos.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912

Si'; Presidente, encontro esta verba : «expansão


f>rnnPe^0ÍS'i
economica do Brazil e propaganda do café, etc.».
O Sr. Raul Cardoso — Supprima-se 9

Sr" Vigtor — Sem de Britto


duvida. Eu sei, de expe-
nencia
própria,— porque tenho estado na Europa —sei o
6 CSSa expansao economica, o que é essa propaganda do
café

O Sr. Raul Cardoso — Não diga isto !


O Sr. Vigiou de JJjutto— Oh ! sei !...
S„r- Presidente, no meu discurso
• de ü de julho adduzi
„„t
varias considerações para justificar uma emenda, não sup-
pressiva, mas_ reduzindo esta verba.
live então ensejo de dizer que o serviço de expansão
economica e propaganda do cale na Europa era cousa para
VC1 •

O Sr. Niganor do Nascimento — Para


Landor ver.
DE Brittov^— Ante^ do enunciai
/.nne/L?R'~^IGT9R aquellas
considerações, tive a opportunidade de conversar com um il-
lustre Deputado, insuspeito iio- assumpto,
por ser da terra do
cate, qual o me deu, nada mais nada menos, do
que a seguinte
mforinaçao ,
« Uma vez, estando eu em Hamburgo, em palestra sobra o
serviço de expansão e com
propaganda um forte negociante
de caie disse-me Sr. este
Dr., :
Qual, isto é uma historia;
quem faz a
propaganda do caie somos nós ; não acredite nessa
propaganda teita po»r outros ; Quem a íaz somos nós,
que temos
interesse em lazel-a ; tudo mais 6 conversa.»
lJois bem, e^sa iniormação do negociante de Hamburgo
mio e mais do que a confirmação de quanto hei affirmado á.
Gamara e do que affirmei no discurso a que me acabo de
referir.
Tenho ainda uma consideração para justificar a minha
emenda. Temos no exterior os consulados e, dentro do paiz
os agentes do Ministério dos Estrangeiros.
Em todos
paizes os de immigração a tendeneia (em muitos
a pratica) e commetter essa funcção aos cônsules, os quaes
pouca cousa teem que fazer, como, mais de uma vez, foi
me
dado obseirvar.
Si temos cônsules, a elles, teem bastante
que tempo dis-
ponivel, cumpre se occuparem desta tarefa de utilidade real
para o paiz, e que para elles púdo bem não ser de todo des-
proveitosa.

O Sn. IIaphael Pinheiro — Si V. Ex. me dir-


permitte,
ine-hei que esta tarefa constituirá uma fonte de receita para
os consulados.

O Sr. Victor de Britto — E' exacto. V. Ex. completou a


minha ordem de considerações sobre do
esta parte meu dis-
curso. Por esta razão o apresento
pelas que já exarei, uma
emenda supprimindo a verba.
ÁNNAES DA CAMAUA

De,sdc já declaro que confio tanto


em que as minhas
emendas passem, como nas cebolas do
Egypto. Vivemos em
um regimen democrático, e nas democracias o que vale é a
hegemonia do maior numero, e eu declaro que me curvo re-
speitosamente deante do poder da arithmetica.
Vou passar, Sr. Presidente, a uma outra emenda, mesmo
correndo risco de abusar da attenção dos illustres collegas
que me ouvem. (Não apoiados.)

O Sn. Cardoso — Estamos


Raul '(Apoiados.) ouvindo a V. Ex. com
o maior prazer.

O Sr. Victor de Bruto — Temos agora «Defesa agri-


:
cola—Serviço de extincção de gafanhoto® e outros animaes
ou parasitas nocivos á 'agricultura, etc.».
Sobre esta rubrica eu vou fallar de cadeira, si bem con-
tinue de pé. Conheço o serviço a
que ella se refere, como as
palmas minhas mãos.
das Ha 30 annos costumo passar os
ineus períodos de villegiatura na fronteira do Rio Girande do
Sul.
Aproveito esses períodos de férias, não só para descan-
sar como para exercer a profissão, ora no terirtorio argentino,
ora no oriental.
E' assim que, por mais do uma vez, me tem sido dado
informar-me de cousas da vida ou das
praticas dessas duas
republicas ; e vou transmittir á Gamara, para bem concre-
tizar o meu pensamento, o que uma vez observei na Argentina
a respeito da extincção dos
gafanhotos.
Devo dizer, preliminarmente, que na Republica Argentina
esse serviço foi estabelecido ha muitos annos; começou
custando ao Estado verba muito elevada, que se foi pouco a
pouco reduzindo, graças á convicção, a que chegaram os ho-
mens de governo daquelle paiz, de que os gafanhotos teima-
vam em se não deixar exterminar.
Quando tive occasião de, observar o que vou referir, já, a
verba havia sido consideravelmente reduzida. Estava eu hos-

pedado em um hotel, quando se apresentaram dous rapagões ;


e, como travássemos palestra, um dellos me informou de que
era o chefe do serviço de matança dos gafanhotos, e que o seu
companheiro era o secretario.
Erain, pois, o cbefe e o secretario do serviço.
Os gafanhotos haviam invadido a região. Perguntei-lhe,
então, como fazia o serviço, ao que o interrogado me respon-

deu. Em primeiro logar, pela lei, todos os criadores e agricul-

tores da zona invadida são obrigados a nos prestar auxilio,

fornecendo-nos animaes, pessoal, etc.


Recordo-me de lhe haver observado que, para tal fim,

não havia necessidade de leis, porquanto os proprios lavrado-

res e criadores eram os mais interessados na extincção do fia-


os primeiros a fornecer, com toda a soli-
go.Ho. Elles seriam
citude, os meios necessários, como animaes, carroças, etc. De-

por quem era feito o serviço. Elle me re-


pois, perguntei-lhe
spondeu : é feito pelos peões dos lavradores ou dos criadores.
De modo que, assim, fiquei eu sabendo (tive até occasião de o
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 143

observar de perto) que o serviço era executado pelos parti-


culare.s.
A um lavrador ouvi eu : Não precisamos que o governo
no& mande esta commissão, a outra cousa não faz sinão
qual
enche,r o bolso no fim de cada mez, porque, de facto, o seu
papel 6 assistir ao trabalho do nosso pessoal.
No Rio Grande do Sul. presentemente, o que posso affir*
mar é que o serviço de extincção de gafanhotos ó feito exclu-
sivamente particulares. Os
pelos lavradores já aprenderam a
matar gafanhotos e dispensam essa historia de commissão,
subsidiada para ir auxiliar ou assistir á matança dos dainni-
nhoe insectos.
Comprehende Y. Ex. que, si assim não fosse, eu estaria
aqui a fallar contra os interesses do Estado que tenho a honra
de representar.
Portanto, Sr. Presidente, pelas razões que acabo de expôr,
condemno esta verba, e
proponho a sua suppressão, de accôrdo
com a emenda que vou enviar á mesa.
Passo a tratar da verba referente á pesca.
Sr. Presidente, nós estamos realmente atravessando uma
quadra da nossa vida política, na qual o problema principal,
que está attrahindo a attenção de todos, é o financeiro. Não
quero com isso dizer que estejamos atravessando uma crise
como a do tempo de Luiz IV, nem igual á da debacle que se
seguiu á política financeira de Law, nem, tampouco, Deus me
livre de, tal pensar, que de longe se assemelhe á que atra-
vessou a França, antes da grande Revolução.
Não, Sr. Presidente, o que abi está é facilmente remedia-
vel. Mas, como todo mal devo ser combatido logo de começo,
quando é susceptível de ser submettido a uma acção thera-
peutica de efficacia segura, entendo que devemos acudir á
perturbação do nosso organismo financeiro, empenhando-nos
decididamente na solução do problema.
Logo, todas as despezas adiaveis devem ser cortadas, e
entre essas eu colloco a Inspectoria da Pesca.

O Sr. Raul Cardoso — Serviço está iniciado, em


que já
bom pé.

O Sr. Dionisio de Cerqueira — E dará re-


que grandes
sultados.

O Sr. Raphael Pinheiro — Daqui a cem annos.

O Sr. Victor de Britto — Nós não somos paiz piscicul-


tor. Começámos, como todos, por se.r paiz agrícola ; depressa
passámos a ser industrial, e já queremos ser piscicultor. Ora,
si hoje organizamos uma inspectoria de pesca, amanhã quero-
remos crear uma a caça é, incon-
inspectoria
porque do caça,
testavolmente, uma industria de real uitlidade.
ter uma
Depois, Sr. Presidente, porque razão havemos de
&scola de cujo dire.ctot" começa ganhando 18 contos
pesca,
annualmente, tanto quanto o director de uma grande
ganha
repartição ? Si fundamos uma escola de pesca porque não ha-
yemos de estabelecer uma escola para ensinar pecuaria, desde
144 ANNAES DA GAMARA

que a nossa industria pastoril 6 ainda rudimentar em quasi todo


o paiz ? Os nobres Srs. Deputados hão de concordar commigo
em que a industria pastoril é infinitamente mais vantajosa e
util do que a piscicultura..

O Sr. Raul Cardoso — A é utilissima. Basta


piscicultura
V. Ex. attender para a importação que annualmente fazemos
de peixe secco ou em conservas. Grande economia se fará.

O Sr. Victor de Britto — E' a nossa eterna mania de


povo latino tantas vezes accentuada por eminentes escriptores,
entre os quaes figura G. Le Bon : queremos tudo do Governo,
e abi está, uma das
causas da inferioridade de nossa raça, com-

parada á anglo-saxonia. O anglo-saxão, desde que sahe, da


escola, entra na vida capacitado quede deve fazer tudo por
si. de.ve viver independente e autonomo, excluindo toda a in-
tervenção dr> Governo ; só pede a este o que nio pôde absolu-
tamente deixar de pedir.
Nós, ao contrario, si acaso temos uma dór de barriga, re-
corremos ao Governo para que nos mande um medico ; si
inventamos alguma cousa, immediatamente pedimos uma con-
cessão ao Estado para a explorarmos. De, vez em quando re-
cebo cartas pedindo-me para advogar no Congresso certas in-
reações ou industrias.

Um Sr. Deputado — E' a falta de confiança no esforço


próprio.

O Sn. Victor de Bhitto — Não podemos fazer nada sem


a intervenção paterna] do Governo. E' a prova de nossa infe-
rioridade.
Proponho, pois seja cxtincta a Inspectoria de Pesca.
que
Sr, Presidente, eis-me chegado ao fim da minha jornada,
sem brilho (vão apoiados), mesmo porque pertenço ao nu-
mero dos que entendem no Parlamento se deve dar mais
que
importancia á substancia do assumpto do que & fôrma, ao es-
tylo do discurso.
Ao terminar o meu discurso, o que me resta dizer, Sr. Pre-
sidente, é o seguinte : como da vez, ainda per- estou
primeira
suadido de que o alphange da maioria, o poder despotico do
algarismo cahirá
inexoravelmente sobre as minhas emendas.
Come, poróm, eu não estou aqui para pedir ou solicitar votos,
nem me preoecupar com o resultado da impressão do
para
minhas palavras, de meus conceitos e de meu esforço, mas

cumprir o meu dever, declaro á Camara que, bem como


para
no meu discurso de 9 de junho, deixo esta tribuna satis-

feito...

O Sr. Raphael Pinheiro— Nobremente..

O Sr. Victor df. Britto— ... lavrando aqui o meu pro-


testo, que o Estado do Rio Girande do Sul, que me
para
honrou com a generosidade extrema...

— Fazendo merecimentos
Um Sr. Deputado justiça aos
do V. Ex. (Apoiados geraes.)
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 145

VJICTVa de Biutto— ... fazendo-ine


tantP -?R'i seu reprcsen-
lac^° d3, brilhante bancada
j, ?° qua aqui o e representa,
rf'
0 mais obscuro dos membros
fimíl o ie,u ,?ou (não apoiados)
sabendo que eu, pelo menos, me empenhei para desem-
nSiin fielmente
penhar o mandato que me foi confiado.
bem ; muito bem. O orador é cumpri-
mcntado) (Muito

os Srs' Irineu Machado. Jbsino


ATainda de
Araújo e Metello Júnior
(3).

— Continúa
a discussão do projecto
^e.?ldente

lem a palavra o Sr. Augusto de Lima.

de Liina — Sr. Presidente, da primeira


vp7 !„?rm„AfrS,i! dacFo discutir o de orçamento
projecto da
^
surprehendido hora avançada
pela diosi nossos
fr*nho^/h
naballios, nao pude completar o pensamento ou o proposito
tribuna de apresentar uma outra emenda ao
oiçamento a
da Agricultura tao importante como a que então
apresentei, mas ja debaixo de outro
ponto de vista, em que eu
procurava consultar igualmente os interesses superiores da
producçao nacional.
Ex-' Presidente, relação
em á agricultura,
como 7" Çr>
a, tudo mais, ha opiniões que outra cousa não represen-
tam smao sentimentos de
preconceito, sentimentos super-
sticiosos, exaggeros opiniões e lia
; que representam a média
ao que .justamente se ajuizar
pôde de todas as cousas.
Oom relação á agricultura, tem-se dito que ella é a prin-
.
cipal lonte de riqueza do nosso paiz.
A celebre phrase, que a Republica herdou do Império, de
que este paiz ó essencialmente agrícola, entrou na corrente
dos logares communs parlamentares.

O Sn. Calogeras — Sendo aliás uma inexactidão. O paiz


e essencialmente agrario.

O Sn. Augusto de Lima — Terminou tal tra-


phrase por
duzir um exclusivismo com manifesto prejuízo das fontes ela
riqueza do paiz, como
muito bem acaba de frizar o nobre
Deputado pelo 3o districto de Minas.
A agricultura, Sr. Presidente, não ha duvida, das
é uma
fontes mais importantes da riqueza
publica, mas ó preciso
que, quando tal affirmamos, nos recordemos de o que a
que
agricultura apresenta de dourado, de seduetor, é exactamente
aquella excepcional no paiz —a
phase que ella teve phase de
ouro, de da cultura
predomínio do café, da monocultura as-
Phyxiadora de outras fontes de expansão da energia economica
do paiz. E' ter-se
preciso em vista que este prestigio fasei-
nador da agricultura se liga principalmente á idade dourada
<Jp café,
que só excepcionalmente attingiu preços extraordina-
rios, fazendo a fortuna do muito lavradores
pouco dos que. se
entregavam
a essa risonha e por veze» illusoria actividade em
ousca do thesouro agrícola.
Vol. 10
146 ANNAES DA GAMARA

O Sr. Raphael Pinheiro — depois o


Que preparou pre-
eente actual do Estado do Rio de Janeiro.

O Sr. Augusto de Lima — Na cultura do café a mono-


mania obsidente com que os capitães se submergiam na terra
em demanda desse grão de ouro, recorda a época dourada an-
terior, a outra phase em que, em uma outra industria não
menos illusoria, não menos fascinante, não menos escaldante
da imaginação do.s primeiros povoadores de Minas e de outros
Estados auriferos iam estes em demanda dos thesouros e vol-
tavam muitas vezes desilludidos.
E' por isso que a industria agrícola não deve ser conside-
rada na nossa historia economica, no <administrativo
quadro
do paiz, como uma fonte permanente de riquezas, sómente
tendo em vista os resultados transitórios, excepcionaes da cul-
tura do café...

O Sr. Raphael Pinheiro — E' o se


que quer preparar
agora de novo, desgraçadamente, com a historia da borracha,
N. Ex. vae ver que é mais uma tentativa de monocultura.

O Sr. Augusto de Lima — O aparte do nobre Deputado


é digno do estudo e da meditação dos entendidos no assumpto.
O novo problema pela sua affinidade, sua seme-
pela
lhança com os problemas antigos da mineração, industria
também extractiva, merece ser estudado com muito critério,
com muita segurança, tendo em vista a longa experiencia já
soffrida pe.lo paiz, na exploração dessa industria e pelo The-
souro, que é quem o bem afinal,
estar ou o mal repercute
estar, o erguirnentoo descalabro da riqueza nacional ?
ou
Para dizer a V. Ex., com franqueza, qual o meu senti-
mento, qual o meu modo de pensar, qual a minha conceituação
a respeito da industria agrícola, eu diria que é de todas a
mais precaria ; é de todas as mais fallivel ; é de todaa a que
mais contingente se manifesta na dependencia de factoresi na-
turaes, dos factores meteorologicos, dos factores mesologicos,

que mais particularmente cercam a exploração genero desse


de trabalho, mais escasso de meios porque a la-
promptos,
voura não se improvisa, a lavoura não tem a mesma presteza
da mineração do ouro e outros mctaes, uma vez descobertos,
vez postos em accesso franco para as explorações. A la-
uma
voura, depois da regularidade das estações, depende da ferti-

lidade da terra, do emprego do braços, dos instrumentos au-

xiliares desde a transformação da semente até o producto da

colheita. E quem, como o humildo orador poude assistir du-

ranto longo curso de sua vida ás difficuldades dessa industria,


travadas pelo homem, a pedir á terra os seus pro-
ás luctas
duetos...

O Sr. Calogeras— V. Ex. não se seduziu pelo beatus

ruris otium.

O Sr. Augusto de Lima — ... quem como o orador tem

sentido a impressão penosa da situação do nosso lavrador do

interior, de escassos capitaes, quando se expõe á miséria, es-


SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 147

perando aleatorios
fructos do suor longo, abundantemente dor-
ramado, pôde,não
certamente, entoar, como na bucólica an-
tiga, o bcatus ruris otium, o otium, muito differente daquelle,
Sr. Presidente, que o maiituano su&pirava gozar sub
poeta
tegmine {agi; porque 6 substituído sempre pela labuta
quasi
incessante sob o sol inordente ou os ri goras da intemperie das
invernadas.
A classe agrícola, Sr. Presidente, da qual alguns governos
modernos procuram jactanciosamente parecer orgãos, é, en-
tretantcs do nosso operariado social o grupo talvez monos
favorecido...

O Sr. Raphael Pinheiro—Muito bem.

O Sr. Augusto de Lima— ... porque ou chamo lavrador,


não o fazendeiro que assiste ás operações da sua fazenda, de
uma larga varanda coni'ortave.1, ouvindo piano, canto ou
pa-
lestra lítteraria, ou na falta destas diversões, a voz fanhosa
de um intolerável, para nós, mas para elle delicioso gramo-
phone, que ó, aliás, um dos instrumentos modernos de maior
flagello para ost nossos ouvidos.

O Sr. Niganor do Nascimento — E' flagello para quem


touve e para quem paga.

O Sr. Augusto de Lima — O lavrador não é o feliz capi-


talista que nas immediações da estação da estrada de ferro
explora judaicamente o trabalho honesto dos arredores, para
que o verdadeiro lavrador, aquelle que luta braçalmente com a
terra, venda por dez réis de mel coado o que lhe custou dias e
dias de constante labor.

O lavrador não <5 o medico, o engenheiro,


o bacharel, que,
não querendo entregar-se a essas diversas
profissões chamadas
liberaes, não sei porque., finge entregar-se á profissão da la-
voura, que fica sendo uma fôrma elegante, como qualquer
outra, do seu snobismo exotico.
Entretanto, elle sóo conhece a fa- da lavoura boletim,
ctura do commercioque lhe manda as notas do saldo.
de café,
O lavrador não é para mim nenhum desses dilettanti.
Esses teern outra rubrica social ; esses serão bons burguezes,
embora vivam em fazenda, porque são feitos das massas dos
lídimos burgue.zes ; são capitalistas porque a sua funcçãq, em
relação á sua especiç de serviço, não passa da funcção de ca-

pitalista...

Elle emprega seus capitaes1, cruza os braços, arranca os

juros do trabalho alheio.


Os outros, os titulados ou diplomados ou na technica do
dia — certificados, que não são nem burguezes, nem capita-
listas, representam essa grande funcção nas socie-
parasitaria
tlades modernas, são os herdeiros ricos.
Lavrador é o operário. A tão classe da la-
preconizada
voura não ó constituída desses barões do grandes latifúndios,
os landlords da nossa terra. Essa classificação pertence á outra
ordem social.
148 ANNAES DA GAMARA

A classe da lavoura é constituída do trabalhadores* ae


derrubadores, do destocador, do capineiro, do do
plantador,
que faz a
colheita, do carreiro ou tropeiro, transporta o
que
producto para os paióes.
Esses é que constituem a classe da lavoura, é que são os
productòres agrícolas. Lavoura quer dizer trabalho c vem de
laborare. Lavradores, portanto, são esses directamente,
que,
com o auxilio do seu braço, com o esforço de suasi energias
physicas, com a intensidadecontinua de uma
perseverança
disputam á terra os seus íructos e que, desde a derrubada ató
a colheita, lutando contra as parasitas dos aresi, contra as pa-
rasitas das terras e dos mercados, contra as parasitas de toda
ordem, afinal de contas, chegam a um resultado que nãoi lhes
dá absolutamente a fortuna, ou o bem estar sonhado. A la-
voura é uma classe proletaria como
proletária ó a classe dos
operários de construcção, dos pedreiros, dos calce.teiros o em
condições muito mais contingentes que os operários da cidade.
Porque este tem a concurrencia, tem a offerta do traba-
lho para exercer a sua actividade.

O Sr Cassiano do Nascimento — E tem a yréve.

O Sr. Augusto de Lima — E tem a gréve.


A lavoura, Sr. Presidente, permitta V. Ex. que, eu diga
como a entendo, modificando uma velha formula economica :
a lavoura não é uma fonte do riqueza sempre ; e, mesmo

quando é, é preciso distinguir.


A lavoura iserá uma fonte de riqueza publica ; irias, só
excepcionalmente, o é da riqueza
particular.
Eu podia, em abono desta que, pôde minha affirmação,

parecer paradoxal {não apoiados), como tantas outras propo-


sições aqui tenho emittido, e. que tem sido, por alguns
que
collegas, assim classificadas, em abono destas idéas,
podia,
invocar o testemunho de todos os Srs. Deputados que durante
algum tempo viveram em centros agrícolas, ou entretiveram
relações com agricultores. Não seriam numerosos os
pouco
exemplos de lavradores que. arruinaram
,seus capitaes
os
adquiridos em outras profissões, da cultura da terra.
Podia invocar o testemunho do nobre collega e meu dis-

tinetissimo amigo, o Sr. Josino de Araújo.

O Sr. Josino de Araújo — E' a pura verdade.


-residente
O Sr. Augusto de Lima — S. Ex., no centro
mais importante do Estado de Minas, pode bem in-
agrícola
formar á Casa a esto respeito.

Josino de Araújo — Esse não se li-


O Sr. phenomeno
mita a Minas, dá-se em S. Paulo e noutros Estados.

O Sr. Augusto de Lima — Quantos casos de capitalistas,

fascinados extraordinário do café, ficaram redu-


pelo preço
nas oscillaçõe-s1 da alta e baixa, na falta de
zidos á miséria
comminsarios procediam na prestação de
lisura com que o«
ou mesmo, nas fallencias daquellegi a quem con-
suas contas,
fiavam a reserva de seus capitaes.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 149

0 Sn. Martim Francisco — Nunca houve preço de café


que servisse do segurança, lavrador,
quer para o quer para o
commissario.

® Sr. Augusto de Lima — O aparte de V. Ex. vem em


abono da doutrina que venho sustentando, da precariedade da
lavoura do café, pela instabilidade dos seus preços, pelo teôr
irregular do seu valor economico, venal ou commercial.
Passada a época do florescimento reconheço do
café, que
elle, comquanto trouxesse momentaneamente ao paiz, não uma
riqueza permanente, mas verdadeiras congestões de prosperi-
dade apparente não nos devemos illudir quanto ao verdadeiro
valor economico da agricultura.
A experiencia só se mostra-nos
dedica á cultura da
que
terra quem não encontra outro meio mais e fácil de
prompto
ver o seu capital augmentado.
Si posso empregar um conto e delle dentro de seis mezes
ou um anno, tirar liquido o de 00 mil réis. não em-
juro vou
pregal-o na cultura da terra onde o proprio capital corre risco.
Quaes são os apparelhos de que lança mão o lavrador
para chegar ao resultado que elle tem em vista ? Desde o
instrumento com que derruba a matta, até os meios de trans-
porte, em que leva o seu capital ao mercado, é um mundo, é
uma tal complicação de tramites realmente a vida
que da
lavoura só pôde sorrir a quem matar a fome.
precisa
Tal é, Sr. Presidente, a verdade, o mais ó egioga, é bu-
colica, é poesia.

O Sr. Osorio — A cultura é remuneradora desde que tenha


uma direcção capaz e que seja feita com machinismos mo-
dernos.
No Rio Grande, hoje, muitos capitalistas se teem dedicado
á agricultura, obtendo do seu capital melhor resultado do que
empregando-o em apólices.
O Sr. Augusto de Lima — Realmente, a observação de
V. Ex. tem visos de ve.rdade ; mas é ter em vista um
preciso
dos elementos que V. Ex. faz entrar 110 bom êxito da agrieul-
tura : o capital.
Si a lavoura fosse unia industria remuneradora, por si
só, em umpaiz conío o Brazil em que a terra sobra, cm que
a fertilidade da terra sorprehende, «m que a remuneração
vegetal do trabalho é completa, o indivíduo em vez de em-
pregar o capital na lavoura, sahiria delia com capital.
Mas é o contrario que se te.m verificado. Tenho muito
receio de trazer para exemplo, ein abono de minhas doutri-
nas, personagens vivos ou cujas relações com interessados mo
trazem um certo enleio na sua citação ou 11a invocação do seu
testemunho. Mas é notorio que, em Minas, não se apresenta,
ao menos 110 circulo dasi minhas relações, um só homem que
entrasse para a lavoura pobre e delia tivesse, sahido rico.

O Sr. Calogeras — Assim V. Ex. conclue suppvpssão


pela
do Ministério da Agricultura.

O Sr. Osorio — Tudo isto se explica pela rotina.


18" ANNAES DA CAMARA

O Sn Augusto de Lima — W. obrigam; EExs.


a umai me
volta ao passado. Em relação á chamada
rotina, ha muito
exaggero, talvez de apreciação. Nós costumamos olhar o nosso
passado com desdém ; habituamo-nois só a encarar a flor das
ultimas novidades;; mas a falta de reflexão muitas vezes nos
obriga a
prescindir dos esforços dos nossos antepassados, que
muito fizeram para se obter o que, se obtém hoje via do
por
vapor, da electricidade e de outrasi fqrças ainda hão
que de
apparecer.
Em 1828, foi promulgada a lei organica dos municípios ;
e em 1829 e annos seguintes, as municipalidades do Império
adoptaram os
codigos de posturas. seus
Pois bem, nesses mo-
mentos previsão, de
de sabedoria e de vernáculo se encontram
disposições
que fazem a geração moderna levantar os superei-
lios com expressão de surpreza e espanto ; tal ó a exactidão
dos meios de que lançaram mão ; o accerto dos ensaios que
puzeram em acção, para normalizar as diversas forças de pro-
ducção agripola nos municípios.
Lembro os codigos de posturas de, Sabará, Marianna e> de
S. José de El-Rei, nos quaes se encontram disposições como
esta: o uso do arado é aconselhado como um dos instrumen-
tos mais eíficazes para multiplicar a força da
produetora
terra.
Entretanto, hoje, dir-se-hia no mesmo momento em
que
que os Srs. Ferrero, Turot, Ferri e Doumer e outros nos vão
descobrindo, estamos também vendo o arado é um in-
que
strumento quitai contemporâneo do aeroplano aperfeiçoado,
quando já os velhos portuguezes aconselhavam aos colonos da
Minas o uso do arado.
A viticultura, outra superstição do agricultor moderno.
A viticultura ó uma cousa extrao>rdinaria 1
Passa como uma invenção dos modernosi cincinatos.
Pois em Minas a viticultura foi fortemente ensaiada ; tra-
vou-se_ uma verdadeira luta com a terra afim de arrancar delia
a videira, dizem-n'o documentos.

O Sr. Raphael Pinheiro — Era a nostalgia do portuguez


pelo bom verdasco.

O Sn. Augusto de Lima — Pois bem ; a.o vir a geração que


precedeu a actual, não havia uma vinha regularmente ex-

piorada.
Mas porque ?
Não é porque não foram empregados os meios ; é porque
tal não se ajustava ao nosso sólo.
produeto
O trigo em alguns Estados, como o do Rio Grande d Sul,
Paraná o Santa Catharina, é um cereal altamente remunera-
dos dos esforços do homem...

O Sr. Raphael Pinheiro — Deixa o Sul de Minas tentar.

O Sr. Augusto de Lima — ... mas não foi aos


possível
mineiros do Sabará e de Santa Barbara eultival-o. De todas as
outras culturas naquella zona o que ficou foi o milho, o
feijão, o arroz, o ainda este tem tido as suas crises.
CESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 ]g{

Justifica isto, Sr. Presidente,


. . que si nem sempre é verda-
«eiro o nihil novum sub
matéria de agricultura sole» em
to-
davia, muita cousa ha que attribuimos ao gênio inventivo da
actuahdade e que nao 6 mais do
que a repetição de esforços
que cessaram deante da impossibilidade creada pelas condi-
çoes naturaes.
Como é que se, salvou a lavoura, não a lavoura das ri-
quezas alluviaes do café, mas a lavoura normal, a lavoura qua
nao tem piano, a lavoura não
que falia francez nem allemão,
que nao da reuniões e nem recepções, essa lavoura que se
conte,nta que a «terra lhe dê o que ella lhe pediu», como é
que se salvou essa lavoura ?
Salvou-se com outra industria que lhe fica lateral, que a
subsidia, que a alenta.
O fazendeiro de eafé que comprava cereaes
para alimentar
seus trabalhadores, que comprava o boi, o porco, o carneiro,'
naturalmente havia de sossobrar ao primeiro desfallecimento
do preço do calo ; mas permanecia o pequeno lavrador, que
tinha sua vacca de leite sua séva, sua
; criação, seus recursos
pecuários.
Dizia eu, ha pouco, a lavoura café,
que do ao lado de al-
gumas fortunas, muito poucas, deixou
que excepcionalmente,-
tinha produzido a miséria de muitos lavradores.

O Sr. Raphael Pinheiro — a desgraça


Quasi de um Es-
tado, o do Rio de Janeiro.

O Sr. Augusto de Lima — Entretanto, outra industria, aí


pccuaria, não conta, ao que posso informar, uma só ruina.

O Sr. Osorio — Não soffre os mesmos riscos.

O Sr. Augusto de Lima — Em


primeiro logar, remuné-
rando muito mais e normalmente
permanente o trabalho do
homem, ella, a industria não
pecuaria, exige sinão reduzido
numero do pessoal para seu trato.
O Osorio — A pecuaria
Sr. exige mais capital do que á
agricultura.

O Sr. Augusto de Lima — Conforme. Nós temos em Minas


canpos e campos cujo valor estimativo é infimo, campo® aliás
muito apropriados,
pela abundancia de suas e pela
pastagens
excelência de suas aguadas,
para a industria pastoril. E a pas-
tcril é capita! que por si mesmo se reproduz com juros com-
postos, porque a reproducção ó phenomeno natural. Basta al
acção do homem protegendo a evolução de, sua criação contra
.as jntemperies, contra, as moléstias, endemias ou epidemias,
qie possam dizimar seus rebanhos.
A pastoril, digo
ainda mais, 6 a industria por exocllenciâ
qua virá succeder á agricultura no Estado de Minas ou nos
outos Estados que ventura estejam em condições topo-
por
grrphicas e climatericas idênticas ás do de Minas.

O Sr. Garção Stockler — Ahi inverte-se a ordem natu-


em vee de, se começar pela pastoril, apaba-Ste pela
pi: pas-
ANNAES DA CAMARA

O Sr. Augusto de Lima — A agricultura, meus senhores,


como industria especifica, era insufficiente, como supponho ter
ligeiramente demonstrado, trazer
para e a riqueza publica
particularAo lado da pecuaria, da creação dos rebanhos
e
nisto mclúe gados de toda especie, bovinos, ovinos* eqüinos
sumos, etc., — ao lado dessa industria, a agricultura ó uma
força, é um coefficiente de valor. E a
pastoril, fomentada, ani-
mada, .alimentada agricultura
pela para então ter todas as
expansões de que é susceptível na terra mineira.
E' sobretudo para esse lado, lado
para o pastoril da in-
dustria nacional, que ouso reclamar a attenção da Casa.
O Estado de M'inas, Sr. Presidente, está admiravel-
que
mente...

O Sr. Raphael Pinheiro — Providencialmente.

O Sr. Augusto de Lima—... adapta-


providencialmente
do a receber todos os benefícios da industria teve
pastoril, a
experiencia amarga das industrias extractivas do ouro, dos
inallogros da caça das esmeraldas. A visão colonial não se
pôde renovar nos nossos dias, com relação ao ouro...
porque
O Sr. Raphael Pinheiro — Penso de modo contrario, por-
que com relação á industria e.xtractiva Minas ainda, é um ter-
reno por explorar.

O Sr. Augusto de Lima — üVfas não devemos nos illudir


muito, ainda lia animados por esse velho
porque poucos annos,
preconceito, de que aquillo que os antigos fizeram era uma
cousa imperfeita, inefficaz, houve tentativas se extralúr
para
o ouro por onde andaram os antigos exploradores...

O Sr. Calogeras — Lavrar de novo os antigos,


lavrados

O Sr. Augusto de Lima— ... os se lavrar de novo


para
lavrados antigos ; e isso não
bons resultados.
produziu
Eu mesmo posso informar á Casa illudido essa
_ que, por
visão do ouro da nossa terra mineira e ao mesmo tempo ccm
esse preconceito desdenhoso da inefficacia e cos
grosseria
processos primeiros, animei uma industria, que aliás fez fal-
lencia — ia da exploração, por meio (le dragas, do leito do rio
das Velhas.
Quem diria que o rio das Velhas, que ha um século thha
talvez o dobro de volume de suas aguas, ter sido ex~
pudesse
piorado em seus cascalhos, em toda sua extensão, ant-
pelos
gos com
processos, seus guindastes rudimentares ?
Quem poderia dizer que no leito desse rio, onde aliís
logares eram vadiaveis, não houvesse zonas, de casci-
poucos
lho virgem, desafiando o mesmo desejo fez aquelle
que g)-
vernador do Rio de Janeiro, o Arthur Sá e Menezes, mancar
para lá fazer explorações ?

Quem poderia dizer


que o bandeirante, ávdo
portuguez
de encontrar á flor da terra, ver reluzir na raiz da gramrm o
ouro, ge abalançaria a extrahir esse metal no mais fundo do
leito do rio, desprezando outros veios de exploração mais
fácil ?
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 153

O resultado : naufragou no rio das Velhas, uma draga,


naufragou outra no Ribeirão do Carmo, outra no rio das Mortes.
O alvião antigo tinha penetrado o mais
profundo das areias do
rio.

O Sn. Garção Stockler— Isto serve para mostrar a fal-


lencia completa das explorações auriferas ntí' Estado de Minas ?

O Sr. Augusto de Lima — Eu não declarei tal fallencia,


ínas annote.i com muita reserva os esforços feitos e os resul-
tados negativos.

O Sr. Garção Stockler — Pois eu acho ainda é um


que
grande futuro para Minas essa exploração.

O Sr. Augusto de Lima — O futuro é a siderurgia.

O Sr. Garção Stockler — E tanto no Congresso de


que
Minas propuz a creação de um corpo do engenheiros expio-
radores.

O Se. Augusto de Lima — Acredito muito mais, Sr. 'Pie-

sidente, no futuro da metallurgia, acredito muito mais que o


futuro do Minas ha de ser o ferro...

E com o testemunho do nosso illustrado collega, Sr. Cal-


logeras, autoridade, competente na matéria, ouso manifestar a
Esperança de que essa idade estará próxima de nós pelo es-
forço de um dos nossos patrícios, o Dr. Augusto Barboza, que
actualmente estuda o tratamento do minério por meio da ele-
ctricidade.
Mas, Sr. Presidente, muito antes do ferro vir implantar o
kcu domínio entre
productos de
os uma importação, acredito

que a industria pastoril terá contribuído para augmentar a


receita não só do Estado de Minas, como do proprio Thesouro
da União, indirectamente.

E\
portanto, na industria pastoril que fundo as minhas
(mmediatas esperanças como força economica do Estadd do
Minas.

E' preciso, porám, que essa industria não encontre emba-


traço ao seu desenvolvimento e expansão ; é protegel-a
preciso
contra as forças dissolventes e destruidoras.

E' preciso que assim como a hygiene publica acautela a


saúde dos homens contra a invasão das moléstias, assim tam-
bem a veterinaria venha ao encontro da saúde dos
preventiva
animaes.

E' Sr. Presidente, e nós temos o exemplo de muitos


sabido,
paizes em que. a industria pastoril ó cuidada racional e scienti-
ficamente de medidas
; é sabido que ha um grande numero
prophylaticas e de medidas do hygiene offensiva contra a in-
vasão das moléstias ou contra as moléstias já adquiridas.

Vindo ao encontro dessa necessidade muito previdente-


mente o illustre titular da convocou
pasta da Agricultura uma
reunião foram estuda-
que se realizou nesta Capital e na qual
ANNAES DA CAMARA

dos os meios mais efficazes para proteger o gado das moléstia»


que o ameaçam ou das moléstias simplesmente poseiveis nas
condições do paiz.
Vou ler um trecho das instrucções, aprovadas pelos dele-
gados reunidos nesta Capital, as sie acham em via
quaes de
execução, instrucções em que, se expõem claramente os meios
cuja execução se torna necessaria :
(lê)
«A sciencia determinando
exactamente quaes os
agentes de o-rigém microbiana
ou parasitaria, que pro-
voca a maior
parte das moléstias contagiosas, que affe-
o tara o gado, em relevo
poz o valor das medidas pro-
phylaticas e permittiu aos hygienistas affirmar com se-
gurança que applicadas rigorosamente nos primeiros
casos, que apparecerem, essas medidas bastavam, quasi
sempre, para evitar a multiplicação e a disseminação
de grande numero de. epizootias, dão
que grandes pre-
juízos á economia de diversos paizes.»
Sr. Presidente, estes meios
efficazmente
prophylaticos
applicados não precisam tornar-se uma fonte permanente de
despezas para o Thesouro da União. Não digo
que, estabelecido
o serviço, dada a sua utilidade, ser depois supprimido
deva
por completo, deste desapparecimento resultar
porque pôde a
invasão de novo do mal se custou tanto
que a debellar; ma»,
pode diminuir o apparato das installações luxiosas que exige
o seu primeiro emprego.

..Uma difficujdade, entretanto, se antolhava aos poderesda


União, em relação á policia sanitaria no interior dos Estados.
Essa difficuldade nascia de melindre dos
da autonomia
governos locaes. {Lendo) :

«Para se pôr em diz o das in-


pratica, proemio
strucções, com esperança de êxito, um svstema de de-
.fe,sa sanitaria do contra a expansão das epizoo-
gado
tias,_«e faz mister a existência da mais completa bar-
monia de vistas entre a União e os Estados e que estes
sem abdicarem de suas á União
prerogativas, confiem
a responsabilidade da policia sanitaria e da prophyla-
xia das moléstias contagiosas apparecerem ou so
que
desenvolverem em zona da sua exclusiva
qualquer ju-
risdicção.»

Conseguido isto, a União se propõe :


«1o, destruir os fócos infecção em
de existentes
qualquer ponto do territorio nacional ;
2o, impedir a entrada de animaes ,iá contaminados
e exercer severa vigilancia eobre. aquelles que provie-
rem de regiões paizes ou
onde, endêmica ou epidemi-
mente, reinem taes
enfermidades.»
Eis ahi, Sr. Presidente, resumidos os dou® fins desse
apparelho de hygiene contra moléstias epizooticas.
Si não fôra o adiantado da hora, eu demonstraria á Casal
o grande perigo que corre a industria, que, por vezes, já
tem soffrido varias crises, como pôde, attestar o meu illustre

.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 , 155

collega pelo Rio Grande do Sul, o Sr. Osorio, o grande perigo


que, por vezes, já tem produzido grandes males na creação.
'exame...,
O Sh. Osoeio — A, introducção de gado ,sem

O Se. Augusto de Lima — A introducção de gado sem


exame, sem um attestado de limpeza ou do emprego de qual-
quer dos meios prophylaticos contra o contagio.
Parece primeira vista, á
pela falta de habito destas pro-
videncias, que isto ó uma medida oppressora, que vem crear
novos encargos, que vem limitar a liberdade industrial.
Entretanto, bem certo é que a liberdade não é mais do
que a direcção doe nossos aotos por motivos, por convenien-
cias de ordem publica, e pelos princípios da lei moral, psy-
chologica ou jurídica.
Não ó propriamente, uma definição didactica ou doutri-
naria cia liberdade, mas ó, em todo caso, uma d^soripção do
que é a liberdade.
(Mas, reconhecida nesta reunião dos competentes, a ne-
cessidade das medidas prophylaticas ou das medidas de me-
dicina aggressiva contra moléstias já existentes, invasoras,
nos rebanhos do interior, até hoje .entretanto, ao Ministério
da Agricultura não foi possível órganizar esse serviço vete-
rinario em nenhum dos Estados criadores.
As inspectorias sanitarias, que se destinavam a ser os
postos em cuja jurisdicção corressem todos os actos, todas
as providencias que dissessem respeito á saúde dos animaes.
não teem dado o resultado que dellas se esperava ; nem sei
mesmo si ellas teem uma existencia effectiva.
Mas, «abe V. Ex. que a prophylaxia contra a moléstia dos
animaes não se faz com as simples inspectorias. A medicina

pela olhar é inútil.


Vindo ao encontro do pensamento do Governo, das suas
boas intenções, inie4ativa
só á particular poderá caber a re-
solução deste problema, cuja urgência se impõe.
Imagine V. Ex. si o Estado tivesse" de montar tanques
balneários para o gado.

O Se. Osoeio — Nas fazendas particulares o Estado não

pôde fazer.

O Se. Augusto dh Lima — Quanto terá o Governo de

gastar nessesi estabelecimentos ?


Naturalmente terá necesidade de nomear um director, um
secretario.

O Sr. Calogeras — Não se esqueça do sub-director.

O Sr. Augusto umde Lima — Um


secreta- sub-director,
rio, officiaes, amanuenses, serventes, continuo?, es-
porteiros,
tafotas e exculcas para avisar a approximação do gado ! Será
dispendioso, como oppressivo, porque a Gamara bem sabe
a exacção, o rigor com que vários funccionarios mais desidio-
sos no cumprimento dos seus deveres de mostrar zelo,
gostam
aforroando o proximo, commettendo actos de crueldade ou do
extorsão.
1*6 ANNAES DA CAMARA

A difficuldade está, Sr. Presidente, neste caso, cm ser en-


contrado um profissional idoneo, que offercça garantias suffi-
cientes para realizar, sua iniciativa,
pela aquiüo que debalde
os governos procuram com apparato
grande de funccionarios.
Neste momento em que se
prcconisa todo e qualquer pro-
cesso tendente a salvar o orçamento do
phantasma apavorante
do déficit, são dignas de acolhimento e de benevola acceitação
todas aquellas medidas que veníiam realizar um serviço pu-
blico, que, está 110 programma do Governo, sem trazer ônus
para o Thesouro.
Uma vez fiscalizada rigorosamente
'serviço, a administração desse
comtanto que a União não tenha de
pagar essa íiscali-
zação, o que fica a cargo da empreza, ter-se-ha realizado o
ideal que teve em vista o Governo com a approvação dos com-
petente,s, com a sancção da experiencia dos paizes pastoris, da
garantia da saúde das rezes, que constituem a massa da in-
dustria pastoril.
E' o que procuro realizar com a seguinte emenda :
«.0 Governo contraeturá com
quem offerecer condições de
idoneidade os serviços de policia sanitaria do gado
protectora
nos Estados de Minas, S. Paulo, Goyaz e IMatto Grosso, obrigan-
do-se o proponente a installar tanques de banheiros antisepti-
cos e outros serviços e dependencias necessarias á preservação
do contagio de enzootia e epizootia.
O Governo terá fiscaes contractante, a cujo
pagos pelo
cargo correm todas as despezas.»
Para melhor fundamentar a emenda, offereço, como parte,
integrante do meu discurso, a inclusa exposição em uma
que
autoridade competente trata do assumpto.
Sr. Presidente,
si este tentamen da iniciativa
_ particular
nao produzir .resultado, muito menos o produzirá qualquer es-
forço da administração publica.
Enviando, á Mesa
portanto, esta emenda, peço a V. Ex.
que lhe dô o destino regimental.
(Muito bem ; muito bem.)

DOCUMENTOS A SE REFERIU O SR. AUGUSTO DE LIMA


QUE

Memorial—O Ministro da Agricultura tomou a louvável


iniciativa de reunir, na Capital Federal, os delegados dos go-
vernos dos Estados, afim de concluir-se um accôrdo razoavel
de uma série de mediads systematicas
para execução relativas
á defesa sanitaria dos animaes domésticos, no intuito de tute-
lar efficazmento a pecuaria nacional contra a invasão de moleiS-
tias contagiosas e exóticas, e contra a diffusão de epizootias e
enzootias já existentes ou radicadas em nosso paiz, solução para
verno troca de obrigações e compromissos! contrahidos,
em que
o almejado problema_de policia sanitaria dos animaes:
Apezar da reunião, dos estudos e discussões havido®, a
incipiente está á espera dos resultados de tão bem
pecuaria
inspirado alvitre, que não pôde florescer sem a interveção
energica do Governo.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 1S7

Em paizes os mais adeantados, quer pela cultura intelle-


elual o moral do iseu povo, quer pelo progresso de sua indus-
tria, de seu commercio e de sua lavoura, problemas como este
teem procurado na iniciativa a sua solução fácil
particular e
razoavel. E' ella, com auxilioa e favores concedidos Go-
pelo
verno em troca de obrigações e compromissos contraliidos,
que
tem dado solução a assumptos havidos como irrealizavei®.
Ainda, recentemente, como exemplo, em Gênova, o abasteci-
mento de leite á população teve solução satisfactoria depois
que foi entregue á iniciativa particular, sob fiscalização ri-
gorosa dos poderes competentes, mais fácil nesta hypothese.
Nas instrucções dadas, de accôrdo com o regulamento ap-
provado pelo decreto n. 9.194, de 9 de dezembro de 1911, ar-
tigo 4o, se encontram as seguintes palavras: «A policia de-
fensiva interna será executada nas exposições bem
pecuarias,
como nas estradas de ferro e de rodagem onde transite
por
gado de qualquer especie.»
O Governo não tem pessoal para; fazer e proceder á fisca-
lização de semelhante .serviço, em um paiz como o nosso, na
penúria dos meios de transporte, do uma grande extensão ter-
i'itorial e jâ contando, como affirmam os criadores e interes-
sados, algumas moléstias já radicadas em .seus campos.
As inspeetorias já creadas e crear, Ministério da
por pelo
Agricultura, não resolvem os de
problemas prophylaxia de-
fensiva tal como deve ser.
O estado economico dos Estados da Uniãio não
permittirá
um emprehendimento de larga
ficando ao acção dispendiosa,
governo geral o recurso de provocar a acção e iniciativa par-
ticular, com resalva e garantia da fiscalização na. execução das
medidas prophylaeticas autorizadas e exigidas Governo
pelo
em troca do favores concedidos.
Os Estados criadores estão soffrendo a livre entrada e sa-
hida do gado, o ouíros animaes, sem a mínima fiscalização,
devido á deficiencia do pessoal e do material, á falta de re-
gulamentaçâo e á falta de autoridade ás inspeetorias fa-
para
zerom cumprir as suas determinações, dependendo tudo da
intervenção do Governo, .sem o sossobrarão todos
que os es-
forços que, para. serem efficazes, devem ser oppoKunos.
A sciencia, determinando ex.actamcnte quaes os agentes
de origem microbiana ou maior
parasitaria que provoosm a
parte das moléstias contagiosas que affectam os animaes, poz
f'm relevo o valor das medidas prophylaeticas e permittiu ao
nygienista affirmar com segurança que, applicadas rigorosa-
mente nos casos f|ue
primeiros apparcçarrt, essas medidas
bastam .sempre
quasi para evitar a multiplicação e disseme-
nação de numero de
grande epizootias que tão grande prejuízo
causam, annualmente, á economia de diversos pa>izes.
Essasmedidas jámais serão tomadas pelo E-stado, porque,
do vasto campo de acção, deve-se contar com a acção
aiieatoria das exigencias burocráticas das repartições publicas,
snto
que a. verba consignada no orçamento geral da receita
158 ANNAES DA CAMARA

de auxiliar os fazendeiros
para o presente exercício, afim pos-
suidores de mais de 500 cabeças de gado, na construcção de
banheiros com insecticidas, além de insufficiente, por não

poder attender senão a muito pequeno numero de proprieta-


rios, ainda não beneficiou a quem quer que seja.

Não será por este meio que se conseguirá attingir um re-

sultado satisfatório, pois nem todos conhecem os ef-


pratico
feitos beneficos dos banhos insecticidas; outros até não acre-

ditam na sua effieacia, e, por conseguinte, só vendo de ma-

neira real, de modo- que não possa deixar duvida no espirito

que a medida caminhar victo-


de quem quer que seja, poderá
riosa e ser largamente adoptada.

Para resolver este problema o abaixo assignado, fazen-

deiro e capitalista, residente no Estado de Minas Geraeâ, se

por si ou por sociedade que organizar, construir nos


propõe,
pontos de passagem obrigada dos animaes, importados ou ex-
nas feiras e em todos os logares dos Estados de
portados,
Minas, Goyaz, Matto Grosso e S. Paulo, que o Governo julgar
conveniente, banheiros carregados de substancias antisepticas
e insecticidas,
postos de observação para animaes doentes, ou
suspeitos, a cargo de pessoal technico competente, mangas para
animaes em transito, posto seguro e bom para animaes ou re-.
banhos, em observação, estudo ou quarentena.
Para cobrir as despezas de construcção, custeio e fiscali-
zação o abaixo assignado pede:
a) decreto exclusivo de construir e explorar tanques e
banheiros insecticidas em
pontos de importação
todos e os
exportação de animaes nos referidos Estados (Minas, Goyaz,
Matto Grosso e S. Paulo), nas estradas interestadoaes existentes
e nas que vierem a ser, nas estações das estradas de ferro, nos

pontos do embarque, nas feiras, prazo de


pelo 10 nnnos;
b) «autorização de cobrar $800 a 16000 por banho dado em
cada animal, afim de cobrir as despezas com os banheiros e

pessoal necessários, de accôrdo com a tabeliã approvada pelo


Governo;
c) prohibiçã», á semelhança das actuaas feiras do Estado

de Minas, que nas estações das estradas de ferro, agencias de


vapores e barreiras interestadoaes ou municipaes, transitem

animaes sem que seja presente a guia dos agentes ou admi-


nistradores dos banheiros, visadas fiscaes ou represen-
pelos
tantes do Governo, declarando que os animaes estão isentos de
febre aphtosa, que foram examinados nos laboratorios dos

postos de banho e que se sujeitaram aos referidos banho® den-


tro de 25 dias, na fôrma dos arts. 47, 52 e 53 das referidas
instrucções.
O abaixo assignado obriga-se:
a) a banhar o ter de observação os ani-
gratuitamente
maes de raça importados para reproducção;
b) manter nos principaes pontos de banheiros, postoe
zootechnicos montados Com a mais rigorosa exigencia hygie-
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 15fl
' '¦ • r
, j
nica, com
pessoal technico e material competente o necessário
para èxame, tratamento e cura dos animaes e classificação das
moléstias atacada®;
c) apresentar semestralmente um relatorio circumstan-
ciado do movimento dos banheiros e postos de observação com
o numero, estado, sexo, qualidade, r?.ri, o idade approximada,

quanto possível, dos animaes banhados e em transito pelas


estações de banho;
d) concorrer de seis em seis mezes com a importancia

precisai para fiscalização, dar as indicações e informações que


forem pedidas pelos agentes do Governo, facilitar o exame e
inspecção do serviço;
e) ter pastos para animaes em transito banhados, pastos
isolados para os que estiverem doentes e para os suspeitos
sujeitos a quarentena e observação;
entregar
/) ao Governo, findo o prazo do contracto, os
banheiros e postos zootechnicos, perfeitamente conservados;
g) fornecer gratuitamente o serviço clinico a todos os fa-
zendeiros, com seus animaes cm
que reclamarem. transito,
Com esta proposta o Governo realiza os dous princípios
fundamentaes que dominam a prophylaxia geral de um paiz,
contra as moléstias contagio-sas dos animaes:
Io, destruição dos fócos de infecção já existentes em qualquer
ponto do territorio dos Estados referidos;
2o, impedir a entrada de animaes já contaminados e exer-
cer severa vigilancia sobre aquelles que
procederem de re-
giões, ou paizes, onde endemica ou epidemicamente reine al-
guma enfermidade.
A proposta apresentada pelo assigna'dp resolve
(abaixo
ambos os problemas porque:
a) estabelecendo pontos de observação para o gado em
transito, crea um iserviço efficaz de vigilancia e, portanto,
evita entrada de animaes doentes no territorio dos Estados,
destróe na fronteira dos Estados qualquer elemento infectuoso,
que, sem elle, poderia invadir os Estados, como mais do uma
vez tem acontecido com a febre aphtosa e com muitas outras
moléstias infectuosas dos animaes;
b) faz o expurgo do carrapato por meio de banhos in-
secticidas;
c) evita que outros insectos ataquem os animaes durante
25 dias, desde que tenham soffrido a passagem ba-
pelos
nheiros.

Todos isabem que o carrapato, além de ser um hospedo


incommodo pouco a pouco,
e que sugando a vitalidade
vae, do
animal, ao qual se agarra, é portador do pyroplasma, germen
causador da tristeza — espantalho perigoso, inimigo de qual-
quer iniciativa em proveito da pecuaria, reduzindo a nada todo
o emprehendimento nesse sentido
pela morte dos melhores re-
produetores importados.
As pesquizas scientificas modernas já veem determinando
160 ANNAES DA GAMARA

a presonç-a no paiz de uma outra entidade mórbida a anas-

plasmose.

O Dr. Eduardo Marques, no 3° numero da Revista Vete-


rinaria e Zootechnica, publicação offieial do serviço da Vete-
rinaria do Ministério da Agricultura, de dezembro de 1911, dá
conhecimento da presença, em animaes examinados no Insti-

tulo Pasteur de S. Paulo, da anaisplasma maroinalis de que


falia Tlieiler, verificado pelo professor Carim em animaes im-

portados da Republica Argentina.


Os estudos de Theiler, seguidos de experiencias minu-

ciosas o bem orientadas, levaram á conclusão de que os cor-


redondos por elle encontrados nas margens dos glo-
pusculos
bos vermelhos, representam, na verdade, um novo parasita,
bem diverso do pyroplasma, determinando uma moléstia com
symptomas, até certo ponto, analogas aos do pyroplasmose.
Moléstia esta
que, segundo verificou o mesmo autor em suas
experiencias, pôde acommetter a animaes que já tiverem sof-
frido um ataque de pyroplasmose, como evidenciou em ani-
maes importados de Londres que já haviam soffrido um ata-
que experimental do pyroplasmose.
Esta moléstia tem, como verificou, o carrapato por agente
de sua propagação.
Não são- estas as únicas entidades mórbidas que dizimam
os animaes e que cedem com applicação dos banhos inse-
cticidas.
O 'Paulo,
Dr. Cotrim, em uma conferencia realizada em S.
ha dous annos, declarou que, antes de estabelecer os banheiros
em sua fazenda de criação e de submetter o seu gado periodi-
camente aos banhos de sarnol triplo, a mortandade dos bezerros
era desanimadora, e, com a applicação dos banhos, decresceu
de tal forma que o autorizava, a aconselhar o
pela pratica,
uso e emprego desta medida prophylactica.
Os insécticidas teem base o ácido arsenioso, e este
por
agente pôde ser absorvido, embora em pequena dose, através a

pelle. Os herbívoros, sob a influencia destas doses


pequenas
de arsênico, adquirem vigor, ficam mais bem dispostos, au-

gmenta-se-lhes o appetite, promovendo a engorda <Jo animal.


Estes effeitos tonificantes do arsênico e dos seus deri-
vados são conhecidos ha muito tempo. O Haufmann,
professor
em sua recente obra de therapeutica animal, diz haver cria-
dores que submettem seu gado á engorda uso de pequenas
pelo
doses de ácido arsenioso, accrescentando ter-se constatado que
as femeas, neste caso, dão
productos mais fortes, mais vigo-
rosos, crias mais resistentes. Gomo o arsênico se elimina, em
parte, pelo leite, resulta
que as crias o recebem meio deste
por
e assim veem a augmenfar rapidamente de criando te-
peso,
cidos fortes e ossos compactos.
Esta acção tônica pôde ser interpretada pelo estimulo da
vida elementar ou pela melhora no de
provocada processo
nutrição, além das vantagens indirectas resulíantes do banho,
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 161

em que animal colhe os meios para despojar-se


o de qualquer
elemento pathogenico que traga sobre si, ficando criada desta
fôrma, e de certo modo, uma medida de prophylaxia contra a
importação da febre aphtosa, pyroplasmose, anaplasmose etc.,
completada pelo isolamento dos doentes e suspeitos, o cre-
mação dos que morrerem.

As medidas pedidas pelo abaixo assignado para garantir


o fiel, efficaz e energico cumprimento do seu programma, o
par» que produzam os effeitos e resultados desejados, não são
excessivas, exageradas, extraordinarias ou contrarias ao pen-
samento do Governo e ás disposições regulamentares appro-
vadas pelo Ministro dai Agricultura, e nem contrarias aos bons
princípios constitucionaes.
Nenhum posto de fiscalização sanitaria, nenhuma repar-
tiçãio de barreira interestadoal 011 intermunicipal dar
poderá
passagem á tropa de animaes a que se refere o dispositivo do
art. 47, sem que lhes seja presente guia do inspector sanitario
declarando a tropa isenta, de febre aphtosa e procedente de
região indemne (art. 52).
A tristeza, ou pyroplasmose bovina, fica considerada' como
moléstia transmissível pelos carrapatos e, como tal, sujeita ao
serviço da policia sanitaria interna (art. 59).

Compete ao_Gover'no Federal prover as medidas indispen-


saveis á extincção dos carrapatos e mais insectos do
parasitas
gado, de modo ai impedir a pyroplasmose 60).
(art.
O Governo Federal mandará construir nas proximidades
das fronteiras e dospontos de embarque de bem como
gado,
junto feiras
ás e de gado, omercados numero de banheiros
precisos para submetter o gado em transito á acção dos banhos,
carrapaticidas, nos termos do regulamento em vigor 62).
(art.
Nenhum animal de especie bovina ser transportado
pôde
nas estradas de ferro dai União sem haver préviamente soffrido
o expurgo correspondente (art. 64).
Essas medidas são consideradas de salvação e,
publica
por isso, exercidas sem preoccupação de transtornos inevita-
veis, os quaes incumbe ao Governo attenuar sem prejuízo das
medidas de rigorosa hygiene policial 47).
(art.
Não ó licito, a quem quer que seja converter sua fazenda,
ou estancia, em fóco permanente de infecção em
que ponha
perigo a propriedade e até a vida de seus vizinhos e nem tran-
sitar pelas estradas publicas, centro das
pelo propriedades
alheias com animaes ou rebanhos atacados de peste, semeando
a morte pelos campos e deixando
os germens parasitarios cau-
sadores do contagio e da
propagação das moléstias contagiosas.
Na Republica Argentina o problema da contra
prophylaxia
carrapatos e outros insectos transmissores de moléstias infe-
ctuosas encontrou solução na inciativa e concurso particular,
a euja acçãío o Governo da Republica confiou o serviço, con-
cedendo
privilégios e favores, ao mesmo tempo que estabelecia
uma réde de severa vigilância
e fiscalização. Em pouco tempo
DA CAMARA
102 ANNAES

foram construídos e mantidos nas zonas di-


Os banheiros
obrigada dos animaes pelos
visorias pontos de passagem
o nos
e favores, com direito de
particulares, mediante privilégios
e tabellada, de accôrdo com o Go-
cobrar importância certa
feitas com o lornecimento de
verno cobrir as despezas
para
e insecticidas', com_o numeroso pes-
substancias antisepticas
e amortização do capital em-
soai indispensável, com o juro
e com a fiscalização.
pregado
imposto ou um tributo, mas a
A cobrança não era um
feito e do serviço prestado, re-
iusta recompensa do trabalho
exceder o limite máximo estabele-
munoração que não devia
as despezas sem
cido pelo Governo, como capaz de cobrir todas
ao criador e lesivo ao industrial.
ser pesado

asaignado não é, pois, uma pretenção


proposta do abaixo
A
a justiiiquem,
singular e isolada, sem honrosos precedentes que
e momentosos interesses de ordem publica
apoiada em altos

geral.
não só lado da uti-
Fica desta fôrma, provado que, pelo
necessidade de dissemmaçao, no
como da urgente
lidade pelo
de banheiros com insecticidas, a pro-
territorio da Republica,
deste problema de
apresentada offerece, para solução
posta dos
de vista da protecçao samLaria
alto interesse sob o ponto
devendo, merecer todo
animaes, vantagens irrefutáveis, pois,
iniciativa da Umao, que mui
apoio, sem deixar a exclusiva
o
difficilmente se fará sentir.

a approvação de sua proposta, se


O abaixo assignado, com

compromette:

zona apezar de já possuir inspe-


I, a beneficiar uma que,
vigor os melhoramentos na-
ctorias veterinárias, não tem em
e necessidade, continuando a
vidos como de
grande urgência
freqüentes de todas as moléstias, epizootias
goffrer as visitas
e freqüente devastação de seus campos,
e enzootias com cruel

fiscalização nos reforidos Estados,


II, estabelecer rigorosa
e exportadores de gado da
maiores criadores, importadores
sentir em todo
•Republica, para que sua acção benefica se faça

territorio da Republica;
o
de reproduetores, ou de
III, garantir aos importadores
raças seleccionadas, bem como a exportadores, a
animaes de
não introduzem em seus campos, no meio de
certeza de que
nem exportam
seus rebanhos, animaes portadores de moléstias,
livremente transitar, coroando
animaes atacados, que podem
os seus esforços e despendioso sa-
dos melhores mosultados

crificio;

na Republica um problema reputado de alto


IV resolver
todos que estudam e compre-
interesse para sua pecuaria por
de um serviço de isanitaria de
hendein a impórtancia policia

animaes;
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 163

"V,
tornar obrigatorio o serviço e uso dos banhos insecti-
cidas e a fiscalização dos animaes em tratamento;
VI, criar e manter um serviço de estatística, pelos rela-
tonos apresentados semestralmente, senão perfeito, pelo
menos, igual ao dos outros habilite o Governo
paizes, que a
determinar, em momento dado, o numero>, idade, raça, sexo è
especie dos animaes existentes nestes Estados, e da mesma
lorma o que tiver sido importado e exportado.

Sem despezas
para a União, sem pesado sacrifício para os
particulares, mediante apenas uma pequena contribuição, sem
\ alor e tsein importância, a proposta traz em resumo as vanta-
gens e bcneíicios já mencionados:

1 , destruição dos carrapatos e de outros de


portadores
parasitas transmissores de toda sorte de epizootias e enzootias;

~ , preservamento do animal, por 25 dias, da o


procura
ataque dos msectos; ^

3' a introducção no organismo do animal de pequenas


quantidades de um agente medicamentoso tonico o estimulante
intePeries da nova vida, lhe
!LUef,?ní^na we31^n-®~á3 estimula
funcçoes da nutrição e o torna de fácil aclimatação;

4°, desinfecta o animal, evita a entrada de doente


gado
ri,a eira qualquer moléstia
T?nt prestes a invadir o
leintorio dos Lstados, combate e debella a que surgir;

completamente a tristeza
V „exti?SU0 (pyroplasmoso')

feitamente isadios e acclimatados, e o gado fornecimento


para
liv"°do
È„cs^3rssfade-

0 P01' conseguinte,
o orçamento
•i H .nnhn ^lcultura' geral
' Pesadas verbas votadas
a criação, in-
«tn-iiln* ! para
stallação e manutenção de postos de observações zootechnicaa,
de seu pessoal e do pessoal de fiscalização.

assignado exposto,
polo com clareza e verdade,
ri5n ? ^aixo
f„av0/es maiores e nem iguaes, á somma de sacri-
?£LP„
ne,m a somma do vantagens
tSl í i der- o boneficio.s
de seu trabalho e
4cla,ccao polo vasto terri- esforço,
Es^ad?.® !'f eridos
que se tornaram em pouco tempo
com
medidas, conscienciosamento executadas e seve-
ninimt r
. lOS miaiores da -Vinería»
aI/
Antônio ? , ,as' productores
Andrade Ribeiro da Almeida. Amenua,
ANNAES DA GAMARA
164

BANHEIROS

Orçamento

Despezas preliminares:

na fronteira dos Estados, nas


50 banheiros
e de embarque, a réis ,nn.nnm!nnn
feiras pontos
:000$000 lOO.UOOÍhUOO
de observação com laboratorios e
50 postos
P
a 5:000$000... 250:000$000
respectiva pharmacia,
em transito,_ para
Campos para banhados
estiverem em observação ou onn.nnn«nnn
os que
a 4:000$000 200:000$000
quarentena,

Somma 550:000$000

Despezas permanentes annuaes:

veterinários nos 20 postos mais impor- ««-nnnennn


50
tantes, a juizo do Governo, a 4:800$000 96.000$000
ou práticos, chimicos, .Qft.nftn«nnn
50 pharmaceuticos,
:600$000 VV 180.000ít>0UU
Governopara os Estados de oo./,nn«nnn
8 fiscaes do
Minas e S. Paulo, a 4:800$000 38.400$000

6 fiscaes para os Estados de Matto Grosso .cnn«nrm

e Govaz, a 3:600$000 21:600*000


e trabalhadores, sendo oito
400 serventes
cada banheiro e posto de obser-
para
e conservação e limpeza
vação para
e seus tapumes, Q.nnn*nnn
dos campos, postos
60$ mez ou 720*000....... 288:000*000
por
50 capatazes ou feitores a 1:200$000..... 60.000$000

Sarnol triplo, seu transporte, frete e

carreto os logares mais distantes,


para
extravios e deterioração, nn/iannn
prejuizos,
de banhos, a 100 reis. 100:000$00'-)
liara 1.000.000

Somma 784:000*000

Transporte:

Despezas fiscaes preliminares 550:000*000

Desoezas annuaes permanentes 784:000*000


de 10 % do capital despendido
Turos á razão
construcção, installação e forne- ^.onnisnnn
para
cimento de pharmacias oo.uuuit.uuu
55:000*000
:im0rtme£oaca!)Ual.
?"!.!?. f.T.3..*

Verba 100:000|000

e imprevistos a 1:500*000.. 75.000$000


Extraordinários

Somma.............. 1.069:000$000
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 165

Hceeita annual

Exportação:

296.000 rezes exportadas pelo Estado de Mi-


nas, conforme o relatorio do se-
cretario da Agricultura do Es-
tado deste anno, a 1$000 296:000$00ü
150.000 rezes exportadas peto Estado de
Goyaz, calculo provável a 1$000 150:000$000
300.000 rezes exportadas pelo Estado de
Matto Grosso, calculo provável
a 1$000 300:000$000
20.000 animaes de especies diversas expor-
tados pelo Estado de Minas a
800 réis 16:000$000
10.000 idem idempelo Estado de Goyaz a
800 róis 8:000$000
10.000 'idem idem Estado de Matto
pelo
Grosso a 800 réis 8:000$000
10.000 idem idem pelo Estado de S. Paulo,
a 800 réis 8:000$000

Importação:

200.000 rezes importadas por s. Paulo, a


líPOOO 200:000$000
30.000 rezes importadas
por Matto Grosso,
a 1$000 30:000$000
60.000 rezes importadas por Minas, >a 1$000 60:000$000
10.000 animaes de outras raças importados

por S. Paulo, a 800 réis 8:000$000


10.000 animaes de outras raças por Minas,
a 800 réis 8:000$000

Somma 1.092:000$000

Transporte:

Despeza preliminar fixa 550:000$000


Despezas annuaes permanentes.... 1.009:000.$000
íteceita de exportação 786:000íf000
Receita de importação 306:000$000
10.000 animaes de diversas raças impor-
tadas em Matto Grosso, a 800
réis 8:000$000
5.000 ditos de ditas em Goyaz, a 800 réis. 4:000$000
30.000 imprevistas, extraordinarias, tanto
na importação como na expor-
tação nos referidos Estados, a
800 réis 24:000$000

Somma 1.128:000$000
16* ANNAES DA GAMARA

Resumo

Despezas annuaes permanentes 1.069:000$000


Receita — Exportação 786:0008000
Importação 342:000$000 1.128:000$000

Saldo-Somma 59:000.$000

(Em meio do discurso do Sr. Augusto de Lima, o Sr. Sa~


bino Barroso Júnior, presidente, deixa a cadeira da presidencia
que é occupada pelo Sr. Simeâo Leal, Io secretario.)

Vem á Mesa, ó lida, apoiada e enviada ii Commissão a


seguinte

., hmenda

Ao projecto n. 61 B, de 1912

(3a discussão)
Onde convier:

O Governo poderá contractar com offerecer


quem ga-
rantia de idoneidade o serviço de e sa-
prophylaxia policia
nitaria om geral, que proteja os animaes contra a enzootia e
epizootia.
No contracto se obrigará o a fazer as neces-
proponente
sarias installações e custear o serviço, sem o menor ônus para
a União.

Sala das sessões, 1.9 de setembro de 1912.— Augusto de


Lima.

O Sr.
Presidente -— Da série de emendas apresentadas
liontem pelo Sr. Moniz de Carvalho e que lidas, não
vão ser
podem ser acceitas as parte.3 relativas: á verba 1° « suppres-
siva do auxilio para aluguel de casa»; á verba 3", «reduzindo
0. numero de inspectores e ajudantes de inspectores da colo-
nizaçao»; á verba 6a, «reduzindo, na Defesa Agrícola, os aju-
dantes de inspectores»: á verba 11", «suppressiva do ajudante
do superintendente da typographia»; á verba 17°, «diminuindo
o numero de serventes
e veterinários e supprimindo o posto
de observação e
enfermaria em Bello Horizonte»; á verba 18",
«reduzindo o numero do ajudantes de inspectores»; e á verba
19", « suppressiVas do Horto Florestal, das escolas permanentes
de lactíôinios e dos cursos ambulantes».

São lidas, apoiadas e enviadas á Commissão as seguintes

EMENDAS

Ao projecto n. 61 B, de 1912

(3° discussão)

Art. Io — Verba 1" — Onde se diz:

Artigos de expediente para o gabinete do ministro, 10:0008,


diga-so: 5:000$000.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 167

Idem Directoria Geral de Agricultura, diga-se: 3:000$000.

Idem Directoria Geral de Industria e Commercio, diga-se:


3:000$000.
Idem Direotoria Geral de Contabilidade, diga-se: 5:000$000.

Auxilio Imprensa Nacional, diga-se: 6:000$000.

Auxilio ao relatorio do ministro, diga-se: 12:000$000.


Auxilio ao almanack do ministério, supprima-se.
Despezas miúdas e não classificadas, diga-se: 3:000$000.

Conservação das installações electricas, diga-se: 8:000$000.

Idem do
jardim, diga-se: 6:000$000.
Auxilio ao porteiro para aluguel de casa: supprima-se.
Para o serviço de registro genealogico de animaes, o qual

ficará a cargo da Directoria Geral de Industria e Commercio,


supprima-se.
Assim, fica reduzida a verba a menos 176:200$, sem per-
turbação do serviço.

Yerba 2a — Pessoal contractado, fóra do quadro, onde se


diz 250:000$, diga-se 100:000$, reduzida a verba 2* em réis
150:000$000.

Verba 3" — Material — Onde se diz: 100:000$, diga-se:


50:000$000.
Hospedaria de Immigrantes — Onde se diz: 12 tripulantes
de batelão. diga-se: 6. a 150$ por mez, sendo a verba, em vez
de 82:000$, 72:000$000.
Material—-'Onde se diz: 320:000$, diga-se 200:000$000.
Serviço de immigração — Passagens do exterior, onde se
diz: 600:000$, diga-se: 400:000$, ouro.
Colonização — Pessoal: sete inspectores, reduzam-se a três
a 9:600$, e cinco ajudantes, reduzam-se a três a 7:200$000.
Onde 166:800$,
se diz:diga-se: 114:000$000.
Materialpessoal em
e commissão — Onde se diz :• réis
3.000:000$, diga-se: 2.000:000$000.
Despezas extraordinarias — Supprima-se.
Reduzida, assim, a verba 3a, em 200:000$, ouro, e róis
3.380:800$, papel.

Verba 4a — Expansão economica — Onde se diz: 500:000$,


ouro, diga-se: 300:000$, ouro.
Para pagamento no paiz de trabalhos de propaganda, etc.,
onde se diz: 360:000$, diga-se: 100:000$000.
Reduzida, assim, a verba 4a, em 200:000$, ouro, e réis
260:000$, papel.

Verba 5" — Jardim Botânico—-Material: expediente, onde


se diz: 10:000$, diga-se: 5:000$000.
Transporto de pessoal, etc. —Supprima-se.
_ Conservação de edifícios — Onde se diz: 50:000$, diga-se:
20:0008000.
Reduzida, assim, a verba em 43:000$000.
168 ANNAES DA CAMARA

.
Verba 6a — Despeza especial — Pessoal: onde se diz: 23
ajudantes-inspectores, diga-se: 12; onde se diz: 133:000$
diga-se: 72:000$000. '
Material — Publicações, etc.—Onde se diz: 145:000$
diga-se: 80:000$000.
Gratificação ao pessoal, etc.—Onde 300:000$,
se diz:
diga-se: 100:000$000.
Diarias, despezas imprevistas, etc.—Onde diz:
se réis
480:000$, diga-se: 200:000$000.
d° írÍS°' etc-~ünde se diz: 57:000$, diga-se:
30-000$000a

6a — Acquisição de machinas,
... Lerba etc. —Onde se diz:
200:000$, diga-se: 100:000$000.
Delegacia do Acre — Diarias,
despezas miúdas, etc.— Onde
se diz: 160:000$, diga-se: 100:000$000
Defesa agrícola —Extincção
. de gafanhotos, etc.— Sup-
prima-se. 1
Reduzida, assim, a verba em 933:000$000.

Verba 7a — Material — Diarias


e despezas de transporte
de pessoal, etc.: onde se diz: 40:000$, diga-se: 10:000$000.
ammaes —Onde
se diz: 150:000$, diga-se:
50-000$000a
Importação de animaes — Onde se diz: 100:000$, ouro,
diga-se: 50:000$, ouro.
aSSÍm' a Verba em 130:0(W' 50:000?'
paBel* e
ouroRCdUZÍda'

Verba 8a—Gomo está.

Serviçogeologico — Material:
notcIflSi T gratificações do
eran0' °nde Se dÍZ: 120:000$' di»a"se:
50^000$000
Reduzida, assim, a verba em 70:000$000.

Verba 10a Junta Commercial—-Material,


publicações,
impressões, etc.: onde
se diz: 7:000$, diga-se: 4:000$000.
m°veis, etc. —Onde
se diz: 3:000$, diga-se:
o.nnn<tn(víS1Ca0
o uUUípUUU ¦
Reduzida, assim, a verba em 4:000$000.

Verba 11a — Typographia — Ajudante de superintendente-


supp rima-se.
Eventuaes — Substituição do pessoal, custeio de delegacias
— Onde se diz: 140:000$, diga-se: 50:000$000 '
Reduzida, assim, a verba em 9G:000$000.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DB 1912 169

Verba 12a — Meteorologia — Expediente:


e astronomia
onde se diz: 40:000$, diga-se: 20:000$000.
Necessidades imprevistas — Onde se diz: 60:000$, sup-
prima-se.
Estações meteorologicas, custeio, compras de terrenos, etc.
— Onde se diz: 220:480$, diga-se: 150:480$000.
Reduzida, assim, a verba em 150:000$000.

Verba 13a — Museu Nacional — Material: acquisição de


productos naturaes: onde se diz: 10:000$, diga-se: 5:000$000.
Livros, jornaes — Onde se diz: 8:000$, diga-se: 3:000$000.
Objecto de expediente — Onde se diz: 15:000$, diga-se:
10:000$000.
Instrumentos, etc.—Onde se diz: 20:000$, diga-se:
10:000$000.
Acquisição de animaes — Onde se diz: 3:000$, diga-se:
1:000$000.
Materiaes para horto botânico — Onde se diz: 15:000$,
diga-se 5:000$000.
Transporte do
pessoal, ajuda de custo, etc. se —Onde diz:
25:000$, diga-se: diarias do pessoal, 10:000$000.
Despezas miúdas —Onde se diz: 18:400$, diga-se: réis
8:400$000.
Substituição do antigo mobiliário, etc.—Onde se diz:
400:000$, diga-se: 100:000$000.

Verba 14a_—Material — Supprima-se 15:000$ para a com-


pleta ínstallação do observatorio astronomico.
Para montagem
de machinas—Onde se diz: 4:000$, diga-
8
se: 2:000$000. '
Reduzida, assim, a verba em 17:000$000.

Verba 15* —Auxílios á e ás industrias — Au-


agricultura
xino aos agricujtores e criadores,
comprehondidas as despezas
com a acquisição de reproductores, o que supprima-se, onde
se diz: 200:000$, diga-se: 100:000$000.
Auxílios aos agricultores
e criadores para o transporte
nopaiz_ cie adubos, etc¦.—Supprima-se, 100:000$, prêmios de
animaçao á pecuaria, á agricultura e ás industrias, accrescen-
te-se: — novas.
Auxilio á Sociedade Nacional de Agricultura, para tra-
— Onde se diz: 20:000$, diga-se: réis
10"000$000PrOPaSanda

á de Geographia, accrescente-se
,?ociedade in fine
f devendo
publicar uma memória». '
Reduzida, assim, a verba em 210:000$000.
ANNAES DA CAMARA

Verba 16* —Material: para acquisição de livros, despezas


miúdas, etc.—Ondo se diz: 110:000$, diga-se: 50:000$000
Reduzida, assim, a verba em 60:000$000.

Verba 17" —Veterinaria— Pessoal: onde se diz: sete ser-


ventes, diga-se: três:
Onde se diz: 29 veterinários nas inspectorias, diga-se:
18 veterinários.
Pessoal — onde se diz: 19 serventes, diga-se: 12.
Posto de observação e enfermaria em Bello Horizonte —.
Supprima-se.
Material: artigos de expediente, despezas miúdas, etc.—
Onde se diz: 136:800$, diga-se: 86:800$000.
Acquisição de vaccinas, etc.— Onde se diz: 500:000$, diga-
se: 100:000$000.
Despezas de transporte de imprevistos,
pessoal, etc.—¦
Onde se diz: 335:000$, diga-se 135:000$000.
Reduzida, assim, a verba em 474:800$000.

Verba 18"—-Pessoal — Onde se diz: 12 de in-


ajudantes
spectores, diga-se: 5 ajudantes.
Material: despezas com os inspectores, fundação de novos
centros agrícolas, etc.— Onde se diz: 450:000$, diga-se:
150:000$000.
Para objectos de expediente, etc. — Onde se diz: 20:400$;
diga-se: 10:400$000.
Para occorrer ás despezas com a fundação do novas po-
voações indígenas, accrescente-se: devendo installar uma na
,zona do Gangagy, municinio da Barra do Rio do Centro, e outra
no rmmicipio de Santa Estado da Bahia.
Cruz,
Para despezas imprevistas — Supprima-se.
Para conservação, custeio das indígenas, etc.—
povoaçôes
Onde se diz: 252:000$, diga-se: 150:000$, distribuindo-6e
igualmente entre as três povoações.
Para custeio dos centros agrícolas creados, etc.— Onde
se diz: 840:000$, diga-se: 350:000$, distribuíndo-se igualmente
entre os sete centros agrícolas existentes.
Reduzida, assim, a verba em 1.102:400$000.

Verba 19' — Ensino agronomico — Horto florestal; sup-


prima-se.
Escolas permanentes de lactícinios — Supprima-se.
ambulantes — Supprima-se.
Cursos
Material: para despezas de installnção. diarias,
passagens,
imprevistos, etc.— Onde se diz: 2.580:711$, diga-se: réis
1.580:711$000.
Reduzida, assim, a verba em 1.235:800$000.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 Í7Í

Verba 20' — Pessoal — Onde se diz: einco chefes de gabi-


nete, diga-se: dous chefes dos organização.
gabinetes em via de
Um chefe de escriptorio — Supprima-se.
Cinco auxiliares de laboratorio, diga-se: dous auxiliares
do laboratorio em via de organização.
Pessoal das estações, accrescente-se: tres estações, sendo
uma no Estado da Bahia.
Pessoal para um navio — Supprima-se.
Material: despezas de installação, compra de um navio,
etc.— Supprima-se.
Custeio da inspectoria e das tres estações, etc. —Accre-
scente-se: inclusive installação; e onde se diz: 250:000$, diga-
se: 200:000$, sendo 150:000$ igualmente distribuídos pelas
tres estações.
Custeio, conservação do navio, lanchas, etc.— Supprima-se
navio e accrescente-se: acquisição de lanchas e barcos de pesca
á véla
para cada estação; e onde se diz: 250:000$, diga-se:
120 :000$000.
Reduzida, assim, © verba em (verba 20a) 672:800$000.

Verba 21" — Eventuaes— Supprima-se.

Iledija-se assim:

Art. 1." O Presidente da Republica 6 autorizado a des-


pender pelas repartições subordinadas ao Ministério da Agri-
cultura, Industria e Commercio, no exercício de 1913, a quantia
de 750:000$, ouro, e 19.828:138$302, com os serviços
papel,
especificados nas seguintes verbas:
Art. 2." (c)Onde se diz: o de outras culturas novas, ac-
crescente-se: especialmente de fibras vegetaes.
Art. 4." Supprima-se.
Art. 5." Supprima-se.

Camara dos Deputados, 17 de setembro de 1912.— Moniz


de Carvalho.

O Sr. Presidente — Continua a discussão do projecto nu-


mero 61 B. de 1912.
Tem a palavra o Sr. Joaquim Pires. (Pausa.)
Nãn estando presente o Sr. Joaquim Pires, tem a palavra
o Sr. Calogeras.

O Sr. Galorreras — Sr. Presidente, fui um vencido no


modo pelo qual se organizou o Ministério da Agricultura.
Segundo o meu conceito, a creação devôra ser o coroa-
mento de uma longa obra anterior de e de ensaio,
preparação
afim de collocnr sobre os alicerces e sobre as columnas dos
institutos basilares — ensino pratico, investigação scientifica,
uçmonstração, serviços de meteorologia e outros, faina colo-
mzadora — o
remate final, a cupola em que se encontra o
orgam central, coordenador e propulsionador.
172 ANNAES DA CAMARA

Começar este, significava dobrar_ despezas e esforços,


por
malbaratar energias, fazer á Nação custosas aprendi-
pagar
zagens individuaes. Tirar agricultura
aos a sua
negocios da
feição puramente profissional, estreitamente technica, para os
equiparar a outros ramos da administração, em que interveem
differentes e interesses trazia o
considerações partidarios,
inconveniente de obedecer o preenchimento do cargo de
grave
ministro a factores extranhos ao problema: os interesses par-
tidarios, a política.
assim o valor technico da direcçao superior,
Diminuiria
O ministro, alheio ao assumpto, ou, pelo
não especialisada.
com elle familiarisado, seria, mais mtelli-
menos, pouco por
manejado com habilidade maior
gente que fosse, instrumento
ou menor por subalternos irresponsáveis. .
V. Ex. sabe que não ha maior perigo em matéria de di-

ou de do o facto daquelle, legal-


recção commando que _que
xnente está á frente do serviço, obedecer a suggestões alheias

responsabilidade e, nella, as peias


de quem não tenha própria
necessarias para a conveniente solução dos problemas.
Para se emancipar, de aprendizagem
um se tor-
periodo
naria indispensável, qual o paiz pagaria forçosamente
durante o
a incultura profissional desse funccionario.
Esta se reflectiria em todos os actos de creaçao, em todos

os serviços a iniciar. E, ainda, a difficuldade maxima em todo


de formação, a que consiste em descobrir e escolher
periodo
essa difficuldade viria aggravada pelo ínsufficiente
pessoal;
tivesse de fazer a escolha e^ pela maior
preparo de quem
Este elemento, fatalmente, havia de influjr, abai-
pressa desta.
xando a craveira do critério de selecção e de acceitação, obri-

simultaneidade dos serviços a crear, a


gando o ministro, pela
multiplices a di_s-
distribuir sua actividade por problemas,
menor da sua atte^nçao,
pensar a cada um delles uma parcella
impossibilitado isso de dar a delles a solução
por qualquer
mais conveniente e acertada. As forças humanas teem limite.
Isto mesmo comprehendeu o Sr. Affonso Penna, que pro-
curou intelligentemente ir creando ou remodelando os seJvl£°.s>
direcção suprema do Mi-
que mais tarde se enfeixariam sob a
nisterio da Agricultura.
nova
E' S. Ex., o principal responsável pela creação dessa
a quiz preencher de prompto e preferiu, com inteiro
pasta, não
acerto, ir estabelecendo >as bases do edifício, a lhe collocar no

ar ' suspensa, não se sabe por que meios, a trave de cumieira.

Esse era o methodo mais curial para evitar erros o vícios


á soffroguidão. Era a fôrma de resguardar seus
inherentes
utilissimos fins, sem infectal-os com o virsu do partidarismo.
o caracterizar profissionalmente, technicamente
Era preço para
administração, se devêra manter divorciado
um ramo de que
dos movimentos uma como que direcção
por inteiro políticos,
da agricultura nacional, com escopo próprio, alheio
superior
à partidos, com objectivo proprio, que seria organizar, bara-

tear e transportar a producção do paiz.


lembrar que as perturbações reinantes no
Não é novidade
em que se deu a transmissão de poderes ao
ambiente político
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 173

J? (£, f-j v
Sr. Nilo Peçanha o obrigaram a commetter um erro adminis-
irativo, do cujas conseqüências soffreu a economia agrícola.
k.esse erro ter o Vice-Presidente
, em exercício rompido
a tradiçaoque seu antecessor vinha firmando e, desde logo,
installado o ministério creado em lei,
cujo funccionamento in-
tegral estivera adiado ató então.

Augusto do Amaral — Mas tinha combinada


sido
com o lallecido Dr. Alfonso Penna a creação maquella época,
mais ou menos.

^,u" Calogeras— Estava creado em


l 9. lei, mas faltava ser
installado.
Vou explicar as razões de minha affirmativa. Pensava
o Conselheiro Affonso Penna, tanto quanto dizer,me é licito
liaver necessidade de preparar os primários e, uma
çrgãos
vez co 1 locados estes em boas condições de íunccionamento,
a ar-lhes
então como orientador geral o Ministério da Agri-
cultura. °

Um Sr. Deputado — Elle estava fazendo.

O Sr. Calogeras— Não tinham


os serviços preli- ainda
minai es o desenvolvimento necessário
para permittir a creacão
de orgam coordenador,
que era o ministério. Por isso o Sr Af-
lonso lenna nao lhe fez a installação immediata.
Dizia-s_e naquella occasião, 1906-7,
por que provavelmente
essa situaçao provisoria duraria algum tempo ainda.
O Sr. Augusto do Amaral — V. Ex. deve se recordar de
que ja se apontavam nomes no tempo de S. Ex.
O Sr. Calogeras — Isso de apontar nomes não tem grande
valoi pelo seguinte: antes -das vagas existirem, antes mesmo
dos logares serem creados, já pullulam candidatos.
O Sr. Raphael Pinheiro — Os ha mesmo chronicos.
O Sr. Calogeras—Felizmente o
primeiro serventuário
do cargo, chamado Sr. Nilo Peçanha
pelo para inaugurar a
nova pasta, estava na altura <le bem poder comprehender o
momento (muito bem) e, pelo seu valor proprio, em condições
de attenuar as conseqüências perturbadoras de uma creacão
pi cmatura.

O Sr. Cândido
Rodrigues, que todos nós conhecemos como
um espirito
ponderado e temperamento de administrador, no
Ministério da Agricultura confirmou o juizo que de S. Ex.
todos nós fazíamos.

S. Ex. desde logo revelou quo comprehendia a situação.


¦Lsta, de Jacto, caracterizava-se 'necessidade
fazer do pela de
novo ministério um pratico, orientador
estabelecendo laços
rouxos entre ensaios não definitivos, méros esboços sujeitos
a corrigenda e aperfeiçoamentos
successivos, creações transito-
ias,
phases provisorias, até sua final consolidação, pautada
° C°m ° ^Ue l0SS0 indica(^°
P°r experiências longas
edec°
174 ANNAES DA CAMARA

Era, portanto, característica essencial dos serviços a in-


stallar o serem tentativas sujeitas a contínuos melhoramentos;
nada, portanto, de fixo; nada, portanto, de rigido e immutavel.
Essa obra e essa orientação ficaram desde logo claras,
não só pelo cunho pessoal que S. Ex. imprimiu á direcção
dos serviços, nos curtos cinco mezes de permanencia do hon-
rada paulista, á frente da pasta, como em um documento no-
tavel, ao qual poucas allusões se teem feito e que, entre-
tanto, representa uma das peças de maior bom senso que teem
vindo a lume por parte da administração publica.
Refiro-me á justificação do decreto que deu ao Ministério
da Agricultura a sua organização provisoria, documento 110
qual veem inscriptas as seguintes phrases:
Definindo a tarefa de organização, dizia S. Ex. que «não
é trabalho que se deva realizar de um só jacto, mas sim com
o tempo, á medida que se disponham, para o conveniente
funccionamento, de suas diversas directorias, divisões ou se-
cções do pessoal e do material indispensáveis».
De facto, essa
grande é a
difficuldade á qual alludia ha
pouco o digno Deputado por Minas, que me precedeu na tri-
buna, da idoneidade profissional o administrativa daquelles
que veem incumbidos da organização de um serviço qualquer,
tarefa mais difficil no período de creação do que na phase de
desenvolvimento normal.

Esse
era, aliás, o proprio pensamento da lei creadora dos
serviços, que, em seu art. 4°, § 2o, dizia claramente: «Serão
organizadas ou remodeladas as repartições a que se refere a
primeira base, de modoos diversos serviços
a esystematisar
tornal-os adequados que se aos
propõe o Ministério»,
fins a
fins esses que em artigos anteriores se caracterizavam pela
descentralização dos serviços.
Primei-ra consequencia da prematura instituição do Mi-
nisterio da Agricultura e do seu nivelamento com as demais
pastas onde as exigencias políticas se tornaram mais pre-
mentes, foi que, surgindo um dissídio entro a orientação par-
tidaria do Governo da Republica e o Sr. Cândido Rodrigues,
se viu este digno paulista obrigado a se demittir do cargo que
com tanto brilho vinha oecupando, perdendo com isso a admi-
nistração publica a collaboração um homem com- efficaz de

petente, conhecedor do assumpto e que ia se desempenhando


da melhor fôrma possível das difficuldades do cargo que em
boa hora lhe fôra confiado.
Outra tivesse sido a orientação dada pelo Congresso ã so-
lução do problema, de modo que, em vez de um ministério,
existisse apenas como que uma direcção geral dos serviços
agrícolas, e certamente esse incidente lamentavel se não teria
dado. a experiencia
Pois daquella mesma época nos forneço
a lição da do ministros e de chefes de repartições
permanencia
annoxas, entre os quaes a divergencia política era um facto,
mas que, entretanto, continuaram á frente dos serviços que
dirigiam com inteira lealdade ao ministro e a esses mesmos
serviço».
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 Í75

0 Sn. Augusto do Amaral — Aliás isso é republicano.


® Sn. Cauogehas — Aliás ó isso
• republicano. Não ha
crimes de ídéas.
Succedeu-lhe no Ministério o Sr. Rodolpho Miranda. Não
creio faltar ao respeito devido a um homem de bem, dizendo
que os seus títulos á successão rrrr::-erial eram mais de na-
tureza partidaria, mais de natureza política do que própria-
mente profissionaes e que influíram poderosamente para sua
escolha as razoes de sua intimidade, de suas convicções par-
tiaarias, de suas ligações com alguns dos chefes da situação
dominante naquella occasião.

O Sr. Raul Cardoso dá um aparte,

Calogeras — Nem se concluir


Póde isto das minhas
palavras**'

^AUL Cardoso— um grande agricultor e in-


dustriaf^'

• 9 Calogeras — Não basta ser um


„ grande agricultor
industrial P?r?. s®1! ministro da Agricultura. Quero dizer
contra-mdicação^ mas também não é um indiscutiveí
ÍVfüirf
titulo de recommendaçao.

O Sr. Josino de Araújo — Elle é militar, é capitão.


O Sr. Raul Cardoso — Não é militar.
O Sr. Augusto do Amaral — E' como esta Camara gup
quasi toda militar, está cheia de coronéis da Guarda Nacional.
AnAUJO~A Guarda Nacional é uma re-
serv^ dò^ ExercitoDE

O Sr. Cal/dgeras—respeito Pelo


que tenho ás oniniões
alheias, embora nao
admiração tenha
pelo que foi ,a direccão
do Ministério
da Agricultura,
quando alli esteve o Sr! Ro-
dolpho Miranda, peço licença para não qualificar o meu nro-
80 a P^sagem desse político pela pasta da
Agricultura!'!

O Sr. Josino de Araújo — V. Ex. deve qualificar.


Frangisco — Agradecemos
a genti- muito
1p7t
leza, nem cífAnTIM
só comnosco como com o chefe
um departido aue
a maiona do S Paulo, independente do Thesouro
^f^ta ™ai°I,ia
5*™ v .cluo esta disposta a luctar, desde que o Go-
verno Federal seja neutro. y

de Araújo — Infelizmente
um Pa ,^(?sino nãjo está aqui
um só paulista para protestar.

O Sr. Martim Francisco — Repetirei


o aparte amanhã.
CAI^GERAS-Sem entrar, Sr.
na ana- Presidente,
lv<!n'ÍLSlU
lyse dos argumentos
de feição partidaria
"i"eu/ult0 que acaba de adduzir
presado amigo, o Sr. Deputado Martim
«isco, Fran-
devo na enunciação
proseguir do pensamento que os
176 ANNAES DA CAMARA

apartes dos nobres Deputados interromperam e que vem a


ser o seguinte: estamos numa assemblóa onde as opiniões se
chocam e, si tivermos a fortuna de viver até o fim dos tres
annos de nosso mandato, talvez nos seja dado ver os excessos
de linguagem transformarem a Camara em recinto onde se
possa exhibir até o pugilato.

O Sr. Martim Francisco — Este argumento é também


contra V. Ex. Si chegar a esse ponto eu fugirei.

O Sr. Calogeras— O que quero significar é o seguinte:


meu dever de respeitar os sentimentos alheios obriga-me a,

quando tenho de criticar actos, não lhes dar significação pes-


soai e pejorativa; deixar que, si essas feições existem, de-
corram expontaneamente dos proprios factos e actos, que ana-
lyso impessoalmente.

O Sr. Raul Cardoso—Ha de me permittir que diga ao


nobre Deputado por Minas: V. Ex. está insistindo de tal modo
que somos obrigados a pedir que externe qualquer conceito

que tenha contra o SrRodolpho Miranda.


Acredito que esses conceitos não ferem, não attingem ao
homem.

O Sr. Calogkras — Não attingem ao homem, mas ao admi-


nistrador.

O Sr. Martim Francisco — Si ha allusão a reservados,

quero que se levantem accusações, porque pretendo discutir e


estou prompto a isso.

O Sr. Calogeras—.Nesse caso, á vista dos apartes, eu


licença frente e continuar na ana-
pediria para seguir para a
lyse que vinha encetando.
O problema a resolver era collocar as repartições technicas
subordinadas em suas melhores condições de funocioanmento,
determinando-lhes assim o máximo de rendimento, e enfei-
xal-as todas sob a direcção superior do ministério, orientador
de modo geral e nunca oppressor de iniciativas e de trabalho.

Respeitadas, as exigencias assim,


próprias, peculiares a
um —
desses
diversas cada
serviços um delles —
cada para
obter o que se chama em sciencia o ambiente optimum para o
seu desenvolvimento, quer quanto ao recrutamento do pessoal,

quanto aos meios materiaes.


quer

Esse conjuncto de serviços isolados — trabalhando com

actividade especifica e debaixo de normas especificas também


— daria uma coexistência de rendimentos administrativos e
máximos sob a superintendencia discreta (ahi
profissionaes
capital) — o ministro
é que está a questão do orgam central
— regularia a distribuição dos recursos
e seus auxiliares que
attribuiveis a cada um, a vida financeira dentro do orçamento,

o desenvolvimento preciso e as creações novas,


permittiria
indispensáveis, e resolveria todos os problemas superiores ex-
cedentes da alçada e da competencia peculiar de cada chefe
subordinado..
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 177

0 Sr. Augusto do Amaral — V. Ex. está collocaiido a


questão no ponto de vista mais elevado — no ponto de vista
republicano, dando a responsabilidade a cada um.

O Sr. Calogeras— Exactamente: dar a integridade ab-


soluta de forças a
quem tem a faculdade do commando ou da
direcção, mas também dar ia responsabilidade correlata.

O Sr. Augusto do Amaral — V. Ex. está me dando uma


esplendida lição de economia.

O Sr. Calogeras—
A solução eslava, portanto, no que
fôra iniciado pelo Sr. Cândido Rodrigues, experiente, conhe-
cedor do assumpto. Consistia em estabelecer normas flexíveis,
elasticas, capazes de permittirem movimentos fáceis, dando a
cada serviço meios de viver e também de se desenvolver, con-
forme as suas características próprias.
O novo ministro, até certo ponto alheio ao conhecimento
do meio administrativo federal, transformou-o infelizmente (e
não o
qualifico, porque cada um de nós, si deslocado estivesse
em uma posição qualquer, talvez soffresse influxo analogo),
transformou-se em simples instrumento ou, antes, em espi-
rito dirigido por subordinados irresponsáveis e, na especie,
incompetentes.

O Sr. Augusto do Amaral — Isso V. Ex. acaba de


que
dizer é tão verdade, constitue argumento esplendido que ao
meu juizo e ao de companheiros de classe para lamentar não
é
termos civis administrando o Exercito, porque então essa admi-
nistração seria para nós de mais vantagem.

O Sr. Calogeras—isso foi desenvolvido amplamente


no parecer do Sr. Souza e Silva.

Dias depois de nomeado (creio que a 29 de novembro de


1909), a 9 de dezembro (10 dias depois, portanto), foi pro-
mulgado o decreto de organização definitiva do ministério.
Em 10 dias — basta essa approximação de datas para se veri-
ficar que embora a responsabilidade legal do acto recahisse
sobre o ministro,
honestamente, perante o nosso fôro intimo,
nós não podemos o criminar por isso — em 10 dias não pôde
um novato, uma pessoa que do pó para a mão vae dirigir um
serviço que não conhece de perto, dar organização completa,
que se traduza num regulamento da secretaria. Foi, portanto,
acto suggerido por outrern.
Nessa organização, traduzida no decreto de 9 de dezembro
de 1909, veem regras inflexíveis, de uma rigidez absoluta, con-
strictoras de toda a iniciativa, quiçá da própria vida dos ser-
viços technicos.
Não tenho remedio essa obra como ne-
sinão caracterizar
fasla, do ponto de vista
sem entrar
do nas
serviço
publica,
intenções de quem
a elaborou, estou certo que estas in-
pois,
tenções eram optimas; mas, o facto material 6 que a obra,
,jul-
gada por suas conseqüências, foi nefasta, por ter como cara-
cteristicas a centralização absoluta o a burocracia, pela peior
das suas formas, invasão do elemento
que vem a ser a for-
Vol. 12
178 ANNAE8 DA GAMARA

malistico, do elemento amigo do papelorío, em todas as re-

partições annexas. Estas, por serem technicas e deverem se


desenvolver de accôrdo com as exigencias da teehnica, viram-
se desde logo entorpecidas e continuamente pêadas por tão
monstruosa concepção administrativa.
E' preciso que eu prove o que estou dizendo. E o
para
fazer, basta lembrar que aos directores geraes do ministério
se dava a missão, interpretada latissimo scnsu, de regulamentar
todos os serviços.
E, Sr. Presidente, esses directores eram bacharéis em
direito, vindos de secretarias varias, uns Ministério
do da
Yiação desmembrado, outros de outras repartições — pouco
importa—; homens pessoalmente estimabilissimos, mas que
estavam acostumados a encarar os problemas do ponto de vista
da applicação da lei, das relações dos serviços entre si o com
a administração central, completamente alheios e afastados do

ponto de vista technico, portanto.


Não ha lhos querer mal por isso. Nunca tinham sido cha-
mados a estudar e resolver
problemas technicos. Era natural
que sua obra se resentisse desse defeito.
Mas, por igual era absurdo — e ahi a critica pôde c deve
se exercer — entregar a esses homens, competentes em admi-
nistração mas incompetentes em matéria technica, a solução
de problemas delicadissimos, digamos de meteorologia, astro-
nomia, pedagogia agrícola, etc. E, no emtanto, foi o que acon-
teceu, de fôrma que homens cuja opinião mereceria acatada
em outros assumptos quaesquer de pura administração, vinham
ex-abrupto arvorados em juizes technicos chamados a resolver
questões intrincadissimas de geologia, de lavras de minas, de
traducção numérica dos factos sociaes, da investigação do céo,
do estudo dos meteoros.
O ministro, entrando lá, na convicção de que sua
para
tarefa era principalmente política (era uma concepção comi»
outra qualquer, não a analyso), considerando que a sua tarefa
era principalmente partidaria, o ministro até certo se
ponto
desinteressou dos
serviços technicos, propriamente ditos, que
entregou ;í direcção principal dos seus auxiliares, e isso na

phase mais melindrosa da creação dos orgãos do complicado


mecanismo engendrado lei de 1006.
pela
O Sn. Raul, Cardoso — Não podia mesmo dar serviço nc-
nlium sem ouvir os competentes.

O Sn. — Mas
Calouras 6 que elle não ouvia os compe-
tentes; ouvia directoresos da secretaria, nos quaes a compe-
tencia technica especlalisada não existia.
Para si, reservou S. Ex. o que era o desdobramento normal
do que julgava ser a sua missão política: a nomeação dos au-
xiliares.
E aqui, eu fallar, os meus nobres col-
posso permittam
legas, com certa autoridade, porque, em dada occasião, me foi
dirigido um appello para esboçar uma reorganização de ser-
viços dependentes do Ministério da Agricultura. Acharam que
eu conhecia mais ou menos o assumpto; o então, reunido com
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 179

o Dr. Miguel Lisboa e o Dr. Orvillc Derby, constituímos uma


commissão incumbida de remodelar o serviço geologico.

Baseado nessa experiencia pessoal, tanto quanto no que


os jornaes da ópoca diziam o sobre o que se sabe relativamente
a outros serviços, mas principalmente baseado nessa experien-
cia pessoal, nessa minha intervenção em um caso concreto,

posso dizer que, provavelmonte devido á concepção que S. Pix.


tinha das necessidades políticas do momento, nem só os cargos
creados eram superiores em numero ao que pediam os chefes
repartições subalternas, como os vencimentos eram su-
,das
periores aos que estavam fixados em lei.

Eu não quero cançar a Clamara lendo cópia da correspon-


dencia que naquella occasião foi trocada entre o Sr. ministro
e o Deputado que ora ocoupa a attenção da Camara, em que
claramente vinham especificadas as condições em que eu tinha
acceito a incumbência que me fôra dada, e ao mesmo tempo
cotejando o que tínhamos proposto, de accôrdo com a loi, com
o que de facto se tornou mais tarde a reorganização dos ser-
viços feita pelo ministro.

O Sr. Martim Francisco—Então, a divergencia de opi-


niões de V. Ex. com o ministro ó antiga ?

O Sr. Calogeras — Peço ao honrado collega que não veja


no que estou dizendo qualquer cousa que traduza melindre
pessoal offendido.

O Sr. Martim Francisco — Não, absolutamente.

O Sr. Calogeras — O eu disse foi o seguinte: nós


que
tínhamos adoptado como critério de organização dos serviços
a obediencia absoluta á lei, não creando empregos que não es-
tivessem consignados em lei, não augmentando vantagens além
das consignadas cm lei. Nenhuma dessas bases representa só-
mente opinião minha—o o que diz a Constituição.
Ambas as idóas foram violadas no regulamento que depois
foi promulgado pelo ministro da Agricultura.
Agora, devo salientar: si alguma cousa me impedisse de
tomai' palavra neste momento e de
a me referir áquella phase
do Ministério da Agricultura, seria exactamente o facto do
S. Ex. não ser mais ministro.
Não tenho o habito de apedrejar os que já não teem poder.

O Sr. Martim Francisco — Nem se inferir isto da


pôde
minha observação.

O Sr. Calogeras—-A
minha experiencia pessoal auto-
riza-me dizer
que na reorganização
a ou na creaçâo dos ser-
viços novos os dous preceitos legaes — o limite de vencimentos
e o limite no numero o categoria do
pessoal— foram violados.
Foi o que disse. Não é questão de divergencia de opiniões: é
questão sómente de sublinhar o facto, baseado em algarismos.

O Sr. Josino de Araújo — aliás é muito


Que grave.

O Sr. Calogeras — Foi dito na occasião.


180 ANNAES DA CAMARA

S. Ex. pelo facto de ser chefe de um partido local e ainda


ém cumprimento do que julgava ser ia sua missão política...

O Raul
Sr. Cardoso — V. Ex. lia de permittir que eu
declare que do Partido Republicano Conservador de S. Paulo,
além do official de gabinete, S. Ex. não empregou ninguém no
Ministério. Não foi, pois, o partidarismo do Sr. Rodolplio Mi-
randa que encheu o Ministério da Agricultura.

O Sn. Martim Francisco — Pelo contrario.

O Sit. Calogeras— Mas a acção do Sr. Rodolplio Mi-


i'anda não se exerceu s_ómente em S. Paulo, sim no Brazil
inteiro. E o aparte do nobre Deputado me obriga a dizer o
seguinte: por causa de recommendações partidarias foram
feitas, entre outras nomeações para a Bahia, a de um hiero-

phante, creador de religiões, como inspector agrícola...

O Sr. Josino de Araújo — Magnus Sondhal.

O Sr. Antonio Moniz — não era baliiano, aliás.


Que

O Sr. Calogeras — Perfeitamente; até com o


e protesto
da bancada da Bahia.

O Sr. Martim Francisco — Em S. Paulo ha nomeações


peiores, feitas a pedido de adversarios.

O Sr, Calogeras — Não duvido. Isto o mal ó


prova que
geral.

O Sr. Josino de Araujo — O mal foi a organização deste


ministério na effervescencia da luta presidencial.
O, Sr. Calogeras — Além disso, Sr. Presidente, havia
(isto é innegavel) um grande descaso no modo qual os
pelo
serviços do ministério eram então dirigidos.

De minimis non curat se


pretor ? Talvez. O facto é que
davam anomalias como as seguintes: talões de passes em mãos
de empregados subalternos, eram objectos do compra e venda
com rebate sobre os preços normaes das passagens nas estradas
do ferro.

Dos proprios reservados a alludiu ha o meu


que pouco
presado amigo, Sr. Martim Francisco, serão defensáveis todos ?

Emfim, passemos adeante.

Deram-lhe como successor o actual ministro. Creio ainda


não faltar ao respeito devido a S. Ex., homem de bem que
reconheço ser, dizendo que, assim como ao seu predecessor,
nenhuma notoriedade precisa de especialista o indicava ú es-
colha presidencial.

Homem estimabilissimo por suas qualidades pessoaes


(muito bem), por seu valor moral, os negocios da Agricultura
nunca tinham constituído objeclo de destaque especial nas suas
cogitações de homem publico, nem mesmo de homem parti-
cular, voltadas que estavam estas para os assumptos jurídicos
da sua honesta banca de advogado.
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 181

.0 Sn. Raul Cardoso —Em S. Paulo, como Deputado,

tratou muitas vezes com grande brilho de assumptos de agri-

cultura. Ha discursos seus importantes nesse sentido.

O Sr. Martim Francisco — Fez um grande serviço a São

Paulo: foi adversario da valorização.

O Sr. Calogeras— Reconheço, mas isto não basta para lhe

crear uma competencia especial.

Sr. Raul Cardoso — Difficilmente V. Ex. encontrará


O
homens competentes em todos os assumptos.

O Sr. Calogeras — Nem digo que as competências pul-

lulem e é o que limita o critério da escolha.

O Sr. Raul Cardoso — V. Ex. ha de apontar os erros

do ministro.

O Sr. Calogeras — E' o vou fazer daqui a pouco.


que

O Sr. Raul Cardoso — Erros, todos nós commettemos, sem

ser por inépcia.

O Calogeras — A pasta
Sr. da Agricultura, que não de-

vera ser
política, foi dada ao actual ministro pela necessidade
de se manterem as ralações partidarias, no Estado de S. Paulo,
com o numeroso grupo opposicionista ao governo local.

O Sr. Raul Cardoso —O partido de S. Paulo tem vida


V. Ex. está fazendo uma injustiça. Não acredite no
própria.
que dizem esses homens da oligarchia.

O Sr. Calogeras — Acredito essas considerações o


que
leyaram a fazer parte do ministério, por não ser S. Ex. um
especialista de competencia notoria.
Acredito que o critério político fez com que lhe fosse de-
signada a pasta da Agricultura, como teria sido indicado para
outra qualquer. Isto trazia o grave inconveniente de sanccionar
a omnipotencia dos orgãos administrativos, o predomínio in-

contrastavel da burocracia, elementos permanentes entre mi-


nistros transitórios, a exercer continuamente o seu predomínio,
a pressão sobre todos os serviços que lhe são subordinados,
sua
dissolvente de energias, estipladora do esforço.
Levou S. Ex. — e desejo que isto fique
para o ministério,
bom claro no meu discurso, — as suas excellentes intenções,
a sua indiscutível e indiscutida
probidade monetaria pessoal.
Restaria a averiguar acto é igualmente
si defensável,
o
do ponto de vista dessa superior probidade intellectual e moral,
que consiste em sómente acceitar as incumbências para as

quaes se esteja absolutamente preparado.

O Sr. Raul Cardoso d;i um aparte.

O Sr. Calogeras nas — Não


minhas palavras ha cousa
alguma que possa melindrar o illustre ministro. São apre-
ciações que versam exclusivamente sobre sua acção como
homem e como tal sujeito á critica.
publico,
18! ANNAES BA GAMARA

O Sr. Raul Cardoso — Vou deixar de dar apartes, com-

promettendo-mo a, em tempo opportuno, fazer a defesa de


S. Ex.

O Sr. Caloc.eras— Que não seja este compromisso um


modo de dizer que nas minhas palavras ha qualquer cousa que
o possa melindrar.

O Sr. Raul Cardoso — Absolutamente. Procurarei refutar


apenas os argumentos de V. Ex. provando que as adminis-
trações dos Srs. Rodolpho Miranda e Pedro de Toledo teem
sido sabias.

O Sr. Calogeras— Qual tem sido o influxo de S. Ex.


na administração do Ministério da Agricultura ? Fez-lhe o pa-
negyrioo, ha poucos dias, o meu distincto companheiro de ban-
cada o de districto, e prosado amigo, o Sr. José Bonifácio.

A todos impressionou quo,para salientar a obra do mi-


nist.ro, par do expressões
a amaveis e referencias cabíveis in-
dist.inctamente a qualquer homem publico, S. Ex. nada en-
contrasse para a caracterizar, sinão exalçar a magnitude e a
importancia dos problemas superintendidos por aquella pasta.
Não ó isto, entretanto, a acção do ministro. E' tão sómente
a matéria prima sobre a qual esta acção se deveria exercer.
Era uma verdadeira transmutação de valores, na phrase de
Nietzche, essa tentativa do nobre Deputado por Minas. E' li-
cito repetir a pergunta: Em tudo isto, qual o coefficiente
pessoal do ministro ? a quo fica vinculado o seu nome, como
significativo de actos creadorcs digno de encomios, merece-
dores de destaque, justificando a benemerencia des-
publica,
afiando o juizo dos posteros ? ou serão estes, os pequenos de-
talhes do expediente diário, onde a iniciativa ministerial con-
siste em dizer — sim — aos amigos? ou consistirão em crear
uma que outra escola ou outras estabelecimentos — sempre
úteis, reconheço — mas, representam o serviço normal,
que
quasi . automático da machina administrativa, por si e sem
necessidade de intervenção extranha ?

Além disto, conviria nesta acção considerar


quasi
que
automatica dos bureaux,
elemento quo se deixa de lado:
ha um
é o modo, o methodo ella se faz.
pelo qual
Já Eduardo Prado tinha posto em evidencia quanto o bra-
zileiro é sujeito ii illusão graphjca, e confunde o escrever um
regulamento ou o definir de um facto com a solução de pro-
blema real correspondente.
Esta é nma das manifestações nossas da velha confusão
entre a representação e o caso
paralle- material corrente: do
lismo que entro o conceito o o objecto se quer estabelecer (sem
que exista necessariamente na realidade); da equivalência in-
trinseca que tenta firmar entre a palvara, o nome, a idéa, a
figura cerebral e o faoto sub-jacente.
Para empregar palavras de philosopliia, é a transposição
attenuada da inexacta coincidência entre o o o
pbenomeno
momento.
'SESSÃO
EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 183

 estas conviria accrescentar outras, e, no-


ponderações
tadamente, conceito de o as generalizações, a que o
quanto
espirito nacional ó tão propenso, prejudicam o solver de dif-
1'jculdades quaesquer, pelo relativo descaso com que o amor
ás primeiras íaz encarar as contrucções analyticas, as quaes,
entretanto, são, de facto, define e organiza as soluções.
quem
As e não representam
generalizações, quando possíveis
apenas um acto de economia cerebral, mero processo de sim-

plificaçãomental por incapacidade da apprehensão integral dos

phenomenos, ou anteí>, do parallelismo entre phenomenos sup-


teem
postos congeneres, da mesma família— as generalizações
o grande mérito de permittir a formação de idéas mais vastas,
menos particularistas sobre um determinado assumpto.
A sua essencia, a sua natureza intima, o seu funcciona-

mento peculiar, as suas características próprias, entretanto,


não ógeneralização que a dá:
a é a analyse, é o exame miúdo,

quem fornece o fio conductor para a decifração dos enigmas.


E é exaetamente isto o que caracteriza a acção de um
homem e não a magnitude dos problemas que en-
qualquer,
frenta, os óbices que tem de vencer, o que aliás nem permitte
dar o devido desconto aos actos de volição, não reservados na
apreciação global dos phenomenos externos á actividade in-
dividual considerada.
O que define um homem é o modo por que age.
E isto exaetamente faz-me duvidar um pouco do que ha

pouco allegava o meu prosado amigo, cujo nome declino com a


devida venia, o Sr. Raul Cardoso, quando dizia que a presença
do Sr. Pedro de Toledo era um acto de benemerencia que se
traduzia por augmento do patriotismo nacional, no seu con-

juneto material e intellectual, por serviços reaes prestados


a Nação.
Acredito que, do ponto de vista de administração publica,
não diverge muito a orientação actual da que era dada áquelle
ministério ao tempo em que foi ministro o Sr. Rodolpho Mi-
randa.

A existencia mesma do laços partidarios entre o ministro


que sahia e o que lhe ora dado como successor indica isto.
A esto minguava autoridade para corrigir erros porventura
commettidos por seu antecessor. Fazel-o systematicamente,
seria iniciar uma lueta intestina nos arraiaes governistas,
quanto á União, em S. Paulo. Era forçada a continuidade dos
actos administrativos no Ministério da Agricultura, com grave
damno para o serviço pubileo.
O Congresso era essencialmente hostil A direcção dada
aos negocios da Agricultura no Ministério da Praia Vermelha.
Muito atacado pela opposição pujante daquelle tempo, raras
vezes tendo defesa por parto dos elementos governamentaes,
o ambiente era positivamente contrario ao que por lá se fazia.

O Sr. Raul Cardoso — de


Questão política.

O Sr. Calüqeuas — Eu não intenções,


allegar nem
quero
alludir simplesmente aos inflammados de rethoric»
períodos
184 ANNAES DA GAMARA

opposicionista da época, para tão sómente me apegar aos faetos.


O Congresso effectivamente não condemnou esses aotos
de modo explicito.
Fel-o, implicitamente, entretanto.
Fel-o, estabelecendo lei de despeza
na o exercido
para
seguinte, que era o de 1911, portanto na lei votada em 1910,
em seu art. 57, a ordem positiva de serem submettidos á ap-
provação do Congresso, na próxima sessão legislativa (que era,
a do anno passado) todos os decretos creavam ou refor-
que
mavam serviços dependentes do Ministério <te Agricultura, In-
dustria e Commercio, nos termos da lei n. 1.606, de 29 de
dezembro de 1906.

Era,
portanto, polidamente, com o devido respeito ao poder
independentemente que é o Executivo, a fôrma de dizer: O
Congresso quer pronunciar-se sobre aotos de organização ou
reorganização feitos em determinado ministério.
Agora, assim porque taes actos exorbitavam
procedeu da
lei creadora da ou
autorização dada Congresso. Não
pelo fi-
guram na
lei «stas explicações retorquirão oppositores. Direi
á Gamara que isto não é deducção minha, e não houve
que
outro fundamento ao voto legislativo. Estamos argumentando
de boa fé, e posso ser crido ao dizer havia
que accôrdo geral
nessa revisão.

Note-se que o Congresso não se limitou


a exigir que taes
actos lhe fossèm sujeitos ao voto e á
analyse. No art. 61 da
mesma lei
declarou que o Governo ficaria autorizado a rever
os regulamentos dos diversos serviços do Ministério da Agri-
cultura, completando e modificando os mesmos, de accôrdo
com o que a experiencia tivesse aconselhado, sem augmento
aas respectivas dotações orçamentarias, podendo, entretanto,
translerir as sommas fossem necessarias,
que de uma para
outras verbas do orçamento, ou de umas para outras consi-
gnaçoes das mesmas verbas.

O Sr. Raul Cardoso — V. Ex. não acha contradictoria


essa disposição ?

O Sr. Calogeras — Não. E'


__. o que o Congresso queria.
Nos, Deputados daquelle tempo, conhecemos a genesis desse
artigo. Era a seguinte. De 1'acto, tinha havido exorbitância
de autorizações legislativas; de facto, organização
a dada aos
serviços entorpecia, peava tudo era activídade
quanto de na-
tureza technica.^ Por isso o Congresso simultaneamente <au-
tonzava a revisão desses
regulamentos responder
para á ob-
jecçao de alguns, de que a faculdade de regulamentar, uma
vez exercitada, estava exgottada, e ao mesmo tempo fazia que
esses actos de creaçao, tratando de assumpto da competência
privativa do Congresso, em que o Executivo agia
por delegação
que era inconstitucional, eu o reconheço, viessem a ser su-
jeitos ao rcferendum legislativo.

Infelizmente, Sr. Presidente, até hoje ficou, pelo menos


um dos artigos, lettra morta, e o Congresso nunca teve de se
SESSÃO EM 19 DI! SETEMBRO DE 1912 183

pronunciar de um modo decisivo, definitivo, sobre os serviços


organizados no Ministério da Agricultura. {Pausa.)
quasi terminada a hora, o orador requer e a
(Estando
Casa concede prorogação por meia hora.)
Continuando, direi que> como Deputado que fui na legis-
latura posso declarar a V. Ex. que por mais de uma
passada,
vez na discussão do orçamento da Agricultura se tentou obtér,

por meios indirectos, a approvação implícita do Congresso para


todos os actos praticados naquelle departamento administra-
tivo, mas muito de proposito (eu o sei nem só porque era
Deputado, como pelas trocas de idóas que se travam nesta
Casa por occasião da discussão leis
das principaes) sempre
negou a Cornmissão de Finanças guarida a essas tentativas,
sempre aconselhou nos seus pareceres & Camara de não san-
ccionar definitivamente e sem debate, com a autoridade legis-
lativa, actos que o Parlamento reputava menos convenientes
ao serviço publico, quando não de modo absoluto, ao menos
na modalidade com que se apresentavam.

De que fôrma agiu o Ministério da Agricultura no exer-


cicio da faculdade, dada pelo Congresso, de rever os regu-
lamentos existentes ?
Foi nomeada uma commissão revisora composta dos
mesmos funccionarios que tinham elaborado os regulamentos
primitivos.
Portanto, eram aquelles, cuja obra se criticava, que eram
chamados a modificar o que, naturalmente de boa fé, elles
tinham feito e
que julgavam ser obra perfeita quando a cen-
sura se baseava na incompetência, na especie, dos autores
dos taes regulamentos. Vinha, ató, augmentada a difficuldade,
pela intervenção de uma nova directoria, creada e desenvolvida
entrementes — a contabilidade — na domina a curiosa
qual
feição mental de suppor que não é méra registradora da vida
financeira dos diversos serviços, mas que tem o direito de
intervir na economia interna de cada um delles, de os reger
soberanamente, de accôrdo com as ordens mlnisteriaes e as
forças orçamentarias.

Creia V. Ex., Sr. Presidente, que haveria paginas curiosas


a escrever sobre as chinezices oriundas dessa intromissão ver-
dadeiramente indébita na vida das repartições subordinadas,
sobre as complicações causadas por ella, sobre os óbices con-
tinuos ao surto de trabalhos óbices essa
profícuos, postos por
directoria.
Si o escopo era paralyzar as iniciativas, sua marcha pro-
gressiva, ella o conseguiu plenamente.

Quem conhecer a economia interna dos different.es ser-


viços e tiver ensejo de ouvir as
queixas e as confidencias dos
chefes das differentes repartições das
subordinadas, quacs
muitas aliás estão ouvirá, espirito indepen-
publicadas, sendo
dente, confissões curiosas, noticias interessantíssimas sobre
os óbices,
por vezes, insuperáveis, creados por essa intervenção
continua na
activjdade peculiar a cada- uma dessas repartições.
186 ANNAES DA CAMARA

Mas, para quem possua noção diversa do que seja a exi-


gencia do serviço publico, não lia sinão levar á conta da fra-
queza de conceitos administrativos, ou ti conta de insipiencia
das necessidades peculiares da administração, um estado mental,
uma orientação política que permittiu se fundasse e princi-
palmente perdurasse uma situação de tal jaez.

Sim. Com taes elementos, dizia eu, era impossível resul-


tasse profícua a revisão feita pelos mesmos autores da obra
primitiva criticada.

Continuaram, portanto, as mesmas peias entorpecedoras.


Accentuou-se ç, centralização administrativa. A contabilidade
transformou-se em um verdadeiro conceito final de «cousa
em si» como dizia a antiga philosophia. Haviam de vir todos
os demais serviços a ter sua traducção na contabilidade, e dessa
fôrma amarravam todos os ramos de actividade, a pretexto de
fiscalização orçamentaria.

O juiz da leclinioidade dos trabalhos, da competencia dos


funccionarios delles incumbidos, do desempenho, dos meios
conducentes á consecução dos fins collimados, já não eram os
chefes technicos responsáveis: era o Collegio de Directores
Geraes, bacharéis em direito e burocratas, incompetentes nos
assumptos alheios á faina administrativa.

Os resultados fizeram-se logo sentir pela productividade


diminuída dessas repartições subordinadas, modo curioso
pelo
pelo qual se fizeram promoções e nomeações. Chegou-se a
ponto de collocar-se como encostado, em um serviço onde ha
occupações intellectuaes, a um barbeiro analphabeto.
quasi

Promoções,
julgamento da competencia... tudo passou
a ser objecto de cogitação de inteiramente leiga no as-
gente
sumpto. (Trocam-se muitos apartes.)

Dospropositos desse^ encontrariam, talvez, corre-


quilato
ctivo no Congresso.
10 Sn. Josino nE Araújo — Mas feitas
as promoções são
pelo Collegio de Directores Geraes ?

O Sn. Catxjoeras — Eu discuto sem declinar nomes. Estes


não importam aos interesses do paiz: discuto os factos, que
são o essencial.

Aliás esse desrespeito ao Congresso, a uma ordem sua


imperativa, não 6 facto isolado no Ministério da Agricultura.
A Inspectoria da Pesca seria mais uma prova.
Sabe-se que, em corta occasifio,
dos directores
um da-
quolle ministério, ao ter de parecer sobre um acto que
emittir
violava francamente as disposições legislativas, se expressou
assim: «O Congresso
não tem opiniões fixas, o anno
para
poderá mudar de modo de pensar e pôde ser que mais tardo
ou mais cedo venha a concordar com o parecer que vou dar»
{sensação). Esse não será o teõr exacto da informação, mas
traduz seu pensamento dominante.
SESSÃO EM 19 UE SETEMBRO DE 1912 187

Do facto, essa opinião valor tem si não tivesse


pouco
sido si o ministro, corrigindo o empregado desres-
obedecida,
do Congresso, lhe não houvesse seguido o conselho
peitador
nos actos subsequentes Não era isto aliás cousa
que praticou.
de admirar.

A tergiversação deante
do texto positivo da lei não choca

da da Agricultura, em assumpto te-


quando o titular pasta
clinico ministério, diz as bellezas nos conta uma
desse que
curiosa entrevista concedida a um correspondente do Financial
Times, transcripto no Jornal do Commcrcio de 14 de março do
arino passado.
O meu discurso seria um acto de injustiça, poderia até

parecer uma obra de demolição systematica, si mo limitasse


a apontar defeitos ou erros da açcão ministerial.

Não ó sómenteruins que S. Ex.


uma tem série de actos
praticado. Em alguns casos, sua influencia tom sido benefica.
E folgo em dizel-o com a mesma sobranceria com a qual cen-
surei actos que mo pareceram passíveis de critica. Por exem-

pio,na faina de nomear e nomear, o Sr. Rodolpho Miranda


tinha sido obrigado a baixar enormemente o critério da es-
colha e acceitar pessoal abaixo da critica.

.Pois bem, em geral,-e 6 um grande serviço quem


para
sabe a influencia dos homens na execução dos serviços, desde

que o Sr. Pedro de Toledo foi nomeado ministro da Agricul-


tura, é certo que tem havido muito mais cuidado no preen-
chimcnto de vagas o nas nomeações feitas.

Isso á incontestável. Também alguns actos do creação


foram felizes, foram proveitosos. Mas, não convém, por amor
ao ologio, ao cncomio, exagerar o mérito de semelhantes actos,
que, como disse ha pouco, ao começar as considerações com
que venho occupando a attenção de meus honrados collegas,
são cousas que nascem apenas do funcolonamento normal do
determinados serviços. Surgem como phenomeno normal de
actividade de orgãos prepostos a certos ramos de administração.
Valem por uma manifestação do um verdadeiro automatismo
administrativo.

Para achar actos typicos da acção pessoal do Sr. ministro


da Agricultura, creio que o observador imparcial se deverá
cingir a dous, cuja responsabilidade legal e moral pesa intoi-
ramente sobre S. Ex. Refiro-me ao contracto para fundação
da industria siderúrgica e ao conjuncto de providencias refe-
rentes á defesa da borracha. A responsabilidade inteira talvez
não_ seja bem dito, nem justo, porque, a rebuscar com cuidado
e sinceridade, mais como editor
apparecerá porventura S. Ex.
responsável do de facto, como autor delles.
que,

Do do contracto de siderurgia se tem dito que


primeiro,
nasceu de um decreto, elaborado cm uma como
que conferencia
no gabinete ministerial, sem audiência das repartições oompo-
tentes.
188 ANNAES DA CAMARA

A serie que dahi de


se actos
originaram foi analyzada
com brilhantismo,
sobriedade, patriotismo, ponderação, energia
e calma, não só pela digna Commissão de Obras desta Casa,
como pelo honrado Deputado por S. Paulo, o Sr. Sarmento,
cujas opiniões partilho inteiramente. Note-se mais que a so-
briedade e o recato de expressões usadas para classificar e
para analyzar este contracto foram de tal ordem que, certa-
mente por acto voluntário, deixaram os dignos críticos de ex-
gottar o assumpto, tratando-o apenas pelos seus pontos prin-
cipaes, deixando inteiramente de lado uma serie immensa de
considerações que veem robustecer os argumentos de SS. EEx.,
e com elles a opinião condemnatoria de todos nós que julgamos
ter sido inconveniente a acção do Governo da Republica no
tocante a esse assumpto.

O negocio, entretanto, deve


ser vantajoso, porque o facto
innegavel que, já agora,
é procura se
fugir á conveniência da
rescisão desse contracto, e contra opiniões anteriormente emit-
tidas e divulgadas, se advoga a necessidade de respeitar o voto
da Cainara, como aqui foi dito.

Singular respeito, por parte de quem não escondia ha bem


pouco a necessidade de annullar acto tão lesivo ao interesse
nacional. Declarava-se, ha bem
pouco, a urgência, a conve-
niencia da rescisão a todo transe
de um de tanta des-
pacto
vantagem para o Governo Federal, e emtanto agora, em folhas
amigas, na imprensa officiosa, condemnam-se e aggridem-se
Deputados quo continuam hoje, como hontem, a aconselhar ao
Governo a urgência da rescisão desse contracto, e a innocuidade
da medida.

Nãoquero entrar nessa analyse, Sr. Presidente; prefiro


encetar desde logo o estudo do segundo dos actos do
grandes
Ministério da Agricultura, característicos da actual: a
phase
defesa da borracha.

Este assumpto é longo, exige a apresentação de estatísticas,


de uma serie immensa de dados financeiros, de exames
que
não posso fazer nos minutos me faltam da
poucos que pro-
rogação que a Camara, com tanta benevolencia, me concedeu.
Por outro lado. viu V. Ex. eu iniciei o meu
que dis-
curso em hora tardia da sessão, e por mais que procurasse
augmentar a rapidez da exposição dos factos, afim de, quanto
antes, deixar
de castigar a dos honrados
paciência collegas
(não apoiados), só pude chegar até este momento a meio das
muitas considerações que ainda tenho de fazer.

Pediria, portanto, a V. Ex. que me concedesse ficar in-


scripto para fallar amanhã segunda vez.
pela (Muito bem;
muito bem. O orador é muito cumprimentado por seus col-
legas.) «

{Em meio do discurso do Sr. Caloaeras, o Sr. Simeão Leal.


Secretario, deixa a cadeira da prcsidencia, que é o ocupada
pelo Sr. Raul Veiga, 2" Secretario.)
SESSÃO EM 19 DE SETEMBRO DE 1912 189

0 Sr. Presidente—Esgotada a hora da prorogação, fica


adiada a discussão do projecto n. 61 B, de 1912.

Vou levantar a sessão, designando para amanhã a seguinte

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

2• discussão do projecto n. 123 A, de 1912, do Senado,


concedendo amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão
Naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910, e aos civis
e militares envolvidos nos acontecimentos do Mandos em ou-
tubro do mesmo anno; com favoravel da Commissão
parecer
de Constituição e Justiça;

2' discussão doprojecto n. 305, de 1912, concedendo á


viuva, emquanto o fôr, de Quintino Bocayuva, o auxilio de 800$
mensaes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos
Edgard, Oswaldo, Waldemar, Rosa, Ada e Córa, e também o de
300$ á Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, quantia que, por sua morte ou casamento, reverterá aos
seus filhos Sarah, José, Leo e Izabel;

3° discussão do projecto n. 301, de 1912, autorizando o


^residente da Republica a concorrer com a
quantia de 100:000$,
como auxilio,
para se erigir um monumento, nesta Capital, em
honra á memória da ex-imperatriz do Brazil; com voto em
separado do Sr. Pedro Moacyr e da Commissão de
parecer
Finanças;

3" discussão doprojecto n. 189 B, de 1912, redacção


para
3" discussão da emenda approvada e do destacada
projecto
n. 382, de 1911, mandando equiparar os vencimentos do con-
servador restaurador da da Escola Nacional
pinacotheca de
Bellas Artes aos do secretario da mesma escola;

3a discussão do projecto n. 298, de 1912, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 7:200$ occorrer
para
ao pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de
sentença judiciaria;

Ia discussão do projecto n. 275 A, de 1912, tornando ex-


tensiva aos juizes federaes de 1" instancia e seus a
substitutos
disposição do art. 3", n. III, da lei n. 2.356, de 31 de dezembro
de 1910, relativa ;i cobrança em estampillias das custas judi-
ciaes; com favoravel da Commissão
parecer de Constituição e
Justiça;

2" discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo


1'ara o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos
tenentes, os inferiores
que tenham mais de três annos de praça
e serviços
profissionaes, e dando outras providencias; com
pa-
recer e emenda da Commissão de Marinha e Guerra;
190 ANNAE3 DA CAMARA

2* discussão do n. 280, 1912,


projecto de determinando a
liora legal; com da Commissão
parecer de Constituição e Justiça.

SEGUNDA PARTE (ÁS 4 HORAS DA TARDE ANTES)


OU

Continuação da 3" discussão do


projecto n. 61 B, de 1912
>a despeza
fixando do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio para o exercício de 1913;

d0 Pr°íecto n. 304, de 1912, autorizando


a ™?Íf^Sã° TUnÍca
conceder a Joaquim de Macedo Costa um <anno de licença
0S vencime"tos; com
osíí1 í' S® parecer favorável da Commis-
eas e v0. 0 em seParado e emenda dos
^Í?t. t Srs. Ri-
beiro Junqueira e outros;

70 A- de 1912, mandando
Ivntfi. d0„pr?ject0
todos ?•
os direitos, inclusive dos de expediente,
a in-
frjonteifas de
gado vaccum e ovelhum destinado
pe 5s
e dando outras providencias;
p®?- com substitutivo da
Commissão de Agricultura e
parecer favoravel da de Finanças;

do P™jec,to n- 213, de 1912, creando o logar


dA 7ni°nHÍSC^SSA?
° Mu,seu Naval, annexo á Bibliotheca de Marinha
!L i
VBüoimentos e garantias idênticos aos dos mestres dó
com parecer favoravel
pfnoü ;
¦finanças , ¥,arinha.; da Commissão de
(vide projecto n. 300, de 1911);

PI!°'Íerc('P 11 • 279, de 1912, autorizando


ahT-ii^Voi^'d°- a
Ministério do Interior
-onndP o credito extraordinário de
u
Pa-£ament? prêmio de viagem conferido
aõ jjr.
iio tv ITtI'a
Carlos Leoni Werneck;

2' discussão do projecto n. 325, de 1911 mandando con


os
Por aotos de bravura
na^camnanrhan^d0r Heffeitos praticados
Canudos com antigüidade de 15 de novembro
de 1807 ?
l\ ten01!te d0 Exorcito Francisco
Chagas PinlnMnn0&d0 das
Monteiro a este
P°st°: com Parecer da Commissão
de Finanças;

3a discussão
do projecto n. 210 A, de 1912 do Semrtn
autorizando abrir, a
pelo Ministério da Justiça e Negocios In
terioies, o credito de 8:940$, supplementar á verba da
— Pessoal — consi
gnaçao da rubrica 6a do art. 2o da lei n 2 544
1912; com
Parecer favoravel da Commissão
de Finanças;"'0

abertofdrSiS £*&&& t
de 8.000:000$, P-«
na Terceira Exposição Internacional de Borracha;

3p0A| d« ""i considerando


de utilidade publica ^Asww-
a Associaçao
puoiica Commercial da
Lü! / Bahia- rom
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Justiça;
SESSÃO EM 20 DE SETEMBRO DE 1912 191

Discussão única do
projecto n. 303, de 1912, autorizando
a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista da
Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão
de Finanças;

2a discussão do projecto n. 373, de 1912, facultando a


D. Claudia Vergara de Oliveira, viuva do coronel graduado re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e sua filha
Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art. 4o do
decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2" discussão do projecto n. 306, de 1912, do Senado,


autctrizando a mandar pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessio-
nario de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282,
por obras contractadas e executadas nos quartéis da Força
Policial do Districto Federal; com favoravel da Com-
parecer
missão de Finanças (vide n. 409, de 1911);
projecto

3* discussão do projecto n. 377, de 1911, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 5:393$548, para paga-
mento de vencimentos que competem ao lente em disponibi-
lidade da Faculdade de Direito de S. Paulo, Dr. João Pedro
de Veiga Filho.

Levanta-se a sessão ás 6 horas e 15 minutos da tarde.

ACTA EM 20 DE SETEMBRO DE 1912

PRESIDENCIA DO SR. SADINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE

A' 1 hora da
procede-se tarde, ;i chamada, a que respon-
nem os Srs. Sabino
Barroso Júnior, Soares dos Santos, Simeão
Leal, Raul Veiga, Mavignier, Costa Rodrigues, Christino Cruz,
Agapito dios Santos, Frederico Borges, Eloy de Souza,
Augusto Monteiro, Augusto Leopoldo, Manoel Borba, Netto
Campello, Erasmo de Macedo, Alfredo de Carvalho, Freire
de Carvalho Filho, Antonio Moniz, Figueiredo Rocha, Pereira
tfraga., José Tolentinov Erico Coelho, Silva Castro, Mauricio
de Lacerda, Teixeira Brandão, Sebastião Mascarenhas,
> íanna do Castello, Ribeiro Junqueira. Antonio Carlos,
José Bonifácio, Álvaro Botelho, Francisco Bressane, Car-
neiro de Rezende, Garção Stockler, Jayme Gomes, Nogueira,
Manoel Fulgencio, Martim Francisco, Olegario Pinto, Cae-
tano de Albuquerque, Henrique Valga, Octavio Rocha, Ho-
mero Baptista, Fonseca Hermes e Osorio (45).
Deixam de comparecer com causa os Srs.
Artnur participada
Moreira, Juvenal Lamartine, Antonio Nogueira, Au-
192 ANNAES DA CAMARA

relio Amorim, Monteiro do Souza, Luoiano Pereira, Serzedello

Corrêa, Rogério de Miranda, João Chaves, Antonio Bastos, Fir-

mo Braga, Theotonio d'e Brito, Hosannah de Oliveira, Dunshee


de Abranches, Cunha Machado, Agripino Azevedo, Coelho

Netto,Joaquim Pires, João Gayoso, Felix Pacheco, Raymundo

Arthur, Eduardo Saboia, Moreira da Rocha, Bezerril Fonte-

nelle, Thomaz Cavalcanti, Flores da Cunha, João Lopes, Yir-

Brigido^ Gentil Falcão, Camillo de Hollanda, Felizardo


gilio
Leite, Seraphico da Nobrega, Maximiano de Figueiredo, Bal-

thazar Pereira, Simões Barbosa, Meira de Vasconcellos, Ar-

thur Orlando, Frederico Lundgreen, Costa Ribeiro, Lou-

renço de Sá, José Bezerra, Augusto do Amaral, Aristarcho

Lopes, Borges da Fonseca, Cunha Vasconcellos, Rego Medeiros,

Natalicio Camboim, Rocha Cavalcante, Euzebio de Andrade,

Barros Ba p Lis (a
Lins, Accioly, Dias de Barres, Joviniano de
Carvalho, Felisbello Freire, Moreira Guimarães, Miguel Cal-
mon, Mario Hermes, Muniz de Carvalho, Pedro Lago, Octa-
vio Mangabeira,Ubaldino de Assis, Felinto Sampaio, Alfredo
Ruy, Pereira Teixeira, Campos França, Arlindo Leone, Carlos
Leitão, Souza Britto, Raul Alves, Deraldo Dias, Rodrigues
Lima, Pedro Mariauni, Moniz Sodré, Leão Velloso, Raphael
Pinheiro, Paulo de Mello, Torquato Moreira, Jacques Ou-
rique, Júlio Leite, Metello Júnior, Nicanor do Nascimento,

Dionysio Cerqueira, Pedro de Carvalho, Rodrigues Salles,

Filho, Thomaz Delphino, Florianno de Britto, Pen-

nafort, Caldas, Fróes da Cruz, Manoel Reis, Porto Sobrinho,

Souza e Silva, Pereira Nunes, Elysio de Arau.jo, Francisco

Porteila, Faria Souto, Mario de Paula, Raul Fernan-

des, Alves Costa, Augusto de Lima, Prado Lopes, Fran-

cisco Veiga, Silveira Brum, Astolpho Dutra, Carlos Pei-

xoto Filho, João Penido, Irineu Machado, Calogeras, João


Luiz de Campos, Landulpho Magalhães, Lamounier God_o-
fredo, Baptista do Mello, Antero Botelho, Moreira Brandão,
Christiano Brazil, Josiuo de Araújo, Rodolpho Paixão,
Alaor Prata. Francisco Pra-
Paolielo, Mello Franco,
^Camilo
tes, Honorato Alves, Epaminondas Ottoni, Galeão Carvalhal,
Ferreira ]^raga, Cardoso de Almeida, Cândido Motla, Joa-
Augusto, Raul Cardoso, Alberto Sarmento, Eloy Cha-
quim
vos, Cincinato Braga, Álvaro de Carvalho, Prudente de Mo-
i'aes Filho, Marcolino Barreto, Adolpho Gordo, Palmeira

Ripper, Bueno de Andrada, José Lobo, Estevam Marcolino,

Valois de Castro, Rodrigues Alves Filho, Arnolpho Azevedo,

Costa Júnior, Mareeilo Silva, Fleury Curado, Ramos Caiado,

Oscar Marques, Anuibal Toledo, Luiz Xavier, Carvalho Cha-


ves, Lamenha Lins, Corrêa Defreitas, Pereira de Oliveira,

Celso Bayma, Gustavo ltichard, João Vespucio, Gumercindo

Ribas, Evaristo do Amaral. Diogo Fortuna, Carlos Maxiini-


liano. Nabuco de Gouvêa, Victor dk>. Brito, Domingos Mas-

carenhas, João Simplicio, João Benicio e Pedro Moacyr (166 ).

Presidente — Respondeiam á chamada i5 Srs.


0 Sr.
Deputados.

Não ha numero para se abrir a sessão.


SESSÃO EM 20 DE SETEMBRO DE 1912 193

. Designo para amanhã a mesma

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PAUTE (ATÉ ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

2" discussão do projecto n. 123 A, de 1912, do Senado, con-


cedendo amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão Na-
vai e navios da esquadra, em dezembro de 1910, e aos civis e mi-
litares envolvidos nos acontecimentos de Manáos em outubro
do mesmo anno; com
parecer favoravel da Commissão de Con-
stituição o Justiça;

2* discussão do projecto n. 305, de 1912, concedendo á


viuva, emquanto o fòr, de Quintino Bocayuva o auxilio 800$
de
mensaes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos
Edgard, Oswaldo, Waldemar, Rosa, Ada e Córa, e também o do
300$ á Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, quantia que, por sua morte ou casamento, reverterá aos
seus íilhos Sarah, José, Leo e Izabel;

3° discussão do projecto n. 301, de 1912, autorizando o


1 residente da Republica a concorrer com a
quantia do 100:0|00$,
como auxilio,
para se erigir um monumento, nesta Capital, em
honra á memória da ex-imperatriz
do Brazil; com voto em se-
parado do Sr. Pedro Moacyr e da Commissão
parecer de Fi-
nanças;

3"discussão do projecto n. 189 B, de 1912, redacção para


tia emenda approvada e destacada
o™s!° do projecto
n. .38^, de 1911, mandando equiparar
os vencimentos do conser-
vador restaurador da
pinacotheca da Escola Nacional de Bellas
Artes aos do secretario da mesma escola;

3a discussão do projecto n. 298, de 1912, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 7:200$ para occorrer
ao pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de
sentença
judiciaria;

1" discussão do n. 275


projecto A, de 1912, tornando ex-
ensiva aos federaes de 1" inslancia e
juizes seus substitutos a
do art. 3o, n. III, da lei n. 2.35(5, de
(lQ«a° 31 de dezembro
' relativa a cobrança em estampilhas das custas judi-
- <. es, . com
r>Pn
parecer favoravel da Commissão de Constituição e
Justiga; —«

discussao do n. 118 A,
projecto de 1912, transferindo
0 Corpo de Saude do Exercito,
nonÍAf, • x' «ví, U/Uiii
com ilUIIIclo
honras Utíde ocfjvIUUOS
segundos te-
os mleriores
inle/iores que
Que tenham mais de três
<¦ tres annos de p
eos praca
Proflss,lonaes, e dando outras
Prof^s/enaes,
rpi.»i. ÍP0S
i providencias; com com na-
o
e emenda da Commissão
Cornmissao de Marinha e Guerra:G-uerra* it
Vol 'V ' *
12
194 ANNAES DA CAMARA

2* discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a


hora
parecer legal; com da Commissão de Constituição e Jus-
tiça. >

SBGyNDA PARTE (ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

Continuação da 3a discussão do projecto n. 61 B, de 1912


fixando a despeza do Ministério da Agricultura,Industria e Com-
inercio para o exercício de 1913 ;

Discussão
única do projecto n. 304, de 1912, autorizando
a concederJoaquim a
de Macedo Costa um anno de licença,
com todos os vencimentos; com parecer favoravel da Commís-
são de Junanças e voto em separado e emenda dos Srs. Ri-
beiro Junqueira e outros;

2* discussão do projecto n. 70 A, do 1912, mandando


isentar de todos os direitos, inclusive dos de expediente, a in-
troducçao pelas fronteiras de gado vaccum e ovelhum destinado
a criaçao e dando outras providencias; com substitutivo da
Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de Finanças;

3* discussão do projecto n. 213, de 1912, creando o logar


de zelador do Museu Naval, annexo á Bibliotheca de Marinha,
com os vencimentos e garantias idênticos aos dos mestres do
Arsenal de Marinha; coin favoravel
parecer da Commissão de
íinanças (vide projecto n. 300, de 1911);

3a discussão do projecto n. 279, de 1912, autorizando a


Ministério do Interior o credito extraordinário de
r oa1*
4:200$, ouro, para pagamento do prêmio de viagem conferido
ao Dr. Carlos Leoni Werneck;

2a discussão do n. 325, do 1911, mandado con-


projecto
siderar para todos os effeitos por actos de bravura praticados
1-a c'e Canudos, com antigüidade de 15 de novembro
5oívPail^a
oc 1897, a promoção do 1" tenente do Exercito das
Francisco
Chagas Pinto Monteiro a este posto; com da Commissão
parecer
de Finanças;

3a discussão do projecto n. 210 A, <le 1912, do Senado, au-


torizando a abrir, pelo Ministério da Justiça e Negocios Inte-
riores, o credito do 8:940$, supplementar á verba da consigna-
— Pessoal — da rubrica
çâo 6a do art. 2° da lei n. 2.544, do 4
do janeiro de 1912; com favoravel da Commissão
parecer do
Finanças;

3a discussão do projecto n. 203, de 1912, autorizando a


abertura do credito de 150:000$, ouro, conta do especial
por
de 8.000:000$, para despezas com a representação do Brazil
na Terceira Exposição Internacional do Borracha;

3a discussão do projecto n. 320 A, de 1911, considerando


de utilidade publica a Associação Commercial da Bahia; com
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Justiça;
SB9SÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 198

Discussão única do
projecto n. 303, de 1912, autorizando
concessão de licença Mario de Souza Carvalho, desenhista da
a
Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão
de Finanças;

2a discussão projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


do
Claudia Vergara de
Oliveira, viuva do coronel graduado re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e sua filha
Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art. 4° do
decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2' projecto n.
discussão 306, de 1912, do Senado, auto-
do
rizando pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessionário
a mandar
de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282, por
obras contractadas e executadas nos quartéis da Força Policial
do Districto Federal; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3a discussão do projecto n. 377, de 1911, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 5:393$548, para paga-
mento de vencimentos que competem ao lente em disponibili-
dade da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
Veiga Filho.

Levanta-se a sessão ás 6 horas e 15 minutos da tarde.

109* SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912

PRESIDENCIA DOS SUS. SABINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE; SOA-


RES DOS SANTOS, Io VICE-PRESIDENTE ; RAUL VEIGA, 2o SE-

CRETARIO, E JUVENAL LAMARTINE, 3o SECRETARIO

A' 1 liora da tarde, procede-se á chamada, a que respon-


dem os Srs. Sabino Barroso Juinor, Simeão Leal, Raul Veiga,
Mavignier, Rogério de Miranda, Hosannah de Oliveira, Bezer-

ril Fontenelle, Agapito dos Santos, Flores da Cunha, Eloy de

Souza, Manoel Borba, Netto Campei Io, Borges da Fonseca,

Vasconcellos, Rego Medoiros, Alfredo de Carvalho, Dias


Cunha
de Moreira Guimarães, Freire de. Carvalho Filho, An-
Burros,
tonio Britto, Raul Alves, Raphael Pinheiro, ror-
Muniz, Souza
Figueiredo Rocha, Florianno do Britto, lorto
quato Moreira,
Sobrinho, José Tolentino, Elysio de Araújo, Silva Castro, lu-an-

cisco Portella, Teixeira Brandão, Sobastião Mascarenhas, üran-

cisco Veiga, Vianna do Castello, Antonio Carlos, Caloeeras, João


Luiz de Campos, Álvaro Botelho, Lamounier Godofredo, Antcro
Brnssane. Carneiro do Rezende, Moreira
Botelho, Francisco
Stockler, Jayme Gomes-, Rodolpho Paixão,
Brandão, Garcão
Franco, Epaminondas Ottoui, Manoel Fulgencio, Cândido
Mellò
Estevam <M'areolino, Rodrigues Alves Jnlho, Martim
Moita,
ANNAES l
196 DA CAM ARA

Francisco, Olcgario Pinto, Caetano de Albuquerque, Luiz Xa-


vier, Lamenha Lins, Henrique Valga, Octavio llocha, João Ves-

pucio, Fonseca Hermes, Victor de Brito e João lienicio (64).

Abre-se a sessão.

0 Sr. Raul Veiga (2" Secretaria) procede á leitura das


actas das sessões de 19 e do dia 20 do corrente as quaes são,
sem observações, approvadas.

O Sr. Presidente—'Passa-se á leitura do expediente.

0 Sr. Simeão Leal (/" Secretario) á leitura do


procede
seguinte

EXPEDIENTE

Officioâ :

Do Ministério da Viação e Obras Publicas, de 20 do cor-


rente, enviando a seguinte

MENSAGEM

Srj. membros do — Tenho a honra do


Congresso Nacional
solicitar-vos a necessaria
para a abertura ao Mi-
autorização
nisterio da Viação e Obras Publicas de um credito supplemen-
tar de 5.405:121$094, ouro, e 904:850$413, papel, á verba 5",
art. 33 da vigente lei orçamentaria, occorrer ao paga-
para
mento das garantias de .juros de um semestre de cada estrada
de ferro, conforme a inclusa exposição de motivos, que mo foi
dirigida pelo ministro daqulla pasta.

Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1912, 91° da Indepen-

delicia e 24" da Republica. — Hermes II. da Fonseca.

Sr. Presidente da Republica-Verifica-se da lei de orça-


em vigor na verba 5a deste ministério foi eonsi-
monto que
credito apenas
occorrer ao pagamento das garan-
gnado para
tias do juros de um semestre de cada estrada de, ferro, tendo

a respectiva tabella registrada Tribunal de Contas


sido pelo
de uma eonsi-
nessa conformidade. Accresce ainda que em mais
o credito votado não é sufficiente nem mesmo para
gnação
em vista
attender ao pagamento correspondente a um semestre,
sido depositadas, 11a fôrma dos contractos, novas
de terem
de compromis-
sommas que vencem juros. Tratando-se, pois,
e licito faltar,
sos assumidos pelo Governo e. aos quaes não lhe
a abertura
torna-se necessário solicitar ao Congresso Nacional
supplementar de 5.495:121$094, ouro, e
de urii credito
á rubrica 5", art. 33 da vigente lei orça-
904:850$413, papel,
inentaria, de accòrdo com a inclusa discriminação.

Rio de, Janeiro, 18 de setembro de 1912. — José Barbosa

Gonçalves.
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SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 197

Ministério da Viação e Obras Publicas — Directoria Geral


de Contabilidade — Ia secção— N. 15 — Rio de Janeiro, 20 de
setembro de 1912,

Sr. Io Secretario da Deputados — Tenho


Gamara dos a
lionra de transmittir-vos a inclusa mensagem do Sr. Presi-
dente da Republica relativa á abertura de um credito supple-
mentar de 5.405:121$094, ouro, e 904:850$413, papel, á
verba 5", art. 33 da vigente, lei orçamentaria, para occorrer ao
pagamento das garantias de juros de um semestre de cada
estrada de ferro.

Saúde e fraternidade. — José Barbosa Gonçalves.

Do Presidente do Estado de Minas Geraes, de 12 do cor-


rente, remettendo a cópia do convênio eclebrado pe.la lei
n. 594, de 5 deste mez, entre os Estados do Espirito Santo c, de
Minas Geraes.—A' Commissão de Constituição e Justiça.

Do juiz substituto federal do Estado do Santa Gatharina,


de C do corrente, pedindo licença para processar o Sr. Depu-
tado Gustavo Richard. — A' Commissão de Constituição e Jus-
tiça.

Requerimentos :

Do Honorio Gonçalves Ribeiro, guarda-chaves de 3" classe


ida Estrada de Ferro Central do Brazil, pedindo um anno de
licença, com vencimentos, para tratamento de saúde. — A's Com-
missões de Petições e Poderes e de Finanças.

De Luiz Sobral, guarda-chaves 3" classe da Estrada do de


Ferro Central do Brazil, pedindo um1 anno de licença, com ven-
cimentos, tratar de sua saúde. — A's Commissões de Pe-
para
tições e Poderes e de Finanças.

De D. Suzana Terceiro, viuva de Francisco Terceiro, sar-


gento ajudante do corpo de inferiores da Armada, pedindo os
favores do decreto n. 2.542, de 3 de janeiro de 1912.—A'.s
Commissões de Marinha e Guerra e de Finanças.

Manoel
De José de Queiroz Ferreira, preparador da Es-
cola Polytechnica, aposentadoria, com todos os ven-
pedindo
cimentos. — A's Commissões de Constituição e Justiça o de

Finanças.

Do capitão reformado do Exercito Fernando José Farias

da Costa,pedindo reversão ao serviço activo.—A' Commissão


de Marinha e Guerra.

Telegrammas :

Florianopolis, 20 de setembro—Presidente Camara Depu-


tados — Rio — Communico-vos que tendo de me retirar tem-
porariamente do Estado, passei nesta data o governo ao Sr. co-
ronel Eugênio Müllor, vice-govornador. Saudações cordiaes. -
Vidal Ramos. — Inteirada.
i 98 ANNAES DA GAMAR/*

Florianopolis, 19 setembro — Sr. Presidente da Camara


dos Deputados — Rio —¦ Tenho a honra do communicar a V. Ex.
que na qualidade de vice-governador assumi hoje a adminis-
tação do Estado. Gordiaes saudações, — Eugênio Müller, go-
vernador. •— Inteirada.

Aratuhype,21 do setembro —- Sr. Presidente da Camara


dos — Rio — A Associação Sagrado-
Deputados Coração de Jesus
da freguezia de Aratuhype, archidioccse da Bahia, protesta
solemnemente contra o divorcio, attentado ao direito da fami-
lia brazileira e sentimentos oatholicos. — Antonia, presidente.
Maria, vioo-presidente. — Simplicia, 1* secretaria. — Izabel,
— Seraphina, thesoureira. — Laurinda. — Maria.
2* secretaria.
A' Commissão de Constituição e Justiça.

Maná-os, 20 do setembro — gr. Presidente da Camara dosi


Deputados — Rio — Communico V. abrindo
Ex. governador
terrível campanha minha pessoa, actos
pretendendo praticar
attento minha independência, agindo modo suggestionar con-
solho municipal, funcciona aliás illegalmente, destituir
ponto
como acaba acontecer intendente meu amigo Aprigio Menezes-
legalmente eleito, reconhecido com assento ha dou» aanos,
sessão esteve cercada força policial requisitada afim de manter
tamanho attentado leis, depois desfei-
governador procurar
tear todos modos, afim obrigar-me resignar, nada obtendo re-
corre agora maiores violências, corro cidade grande insis-
pois
iencia tenta depôr-me, custe custar ; igual eommu-
que
nicação acabo fazer Presidente da Republica. Attonciosas sau-
dações. — Jorge da Moraes. — Inteirada.

São successivarnonte lidos o ficam sobre a mesa até ulte-


Vior deliberação dous projectos dos Srs. Mello- Franco e Netto
Campei lo.

Denuncia contra o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca,


Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil, por
J. Coelho G. Lisboa

Exmos. Srs, Presidente e mais membros da Camara dos


— O bacharel
Deputados João Coelho ei-
Gonçalves Lisboa,
dadão brasileiro. residente nesta cidade do Rio do Janeiro o
em pleno poso dc seus direitos civis e políticos, no exercício
da faculdade que 1 lie conferem a Constituição da Republica
em seu art. 72, 8 9o e a lei n. 27, d'1 7 do .janeiro de 1892,
art. 2°, vem perante a Camara dos Deputados, denunciar o
Presidente da Republica, Marechal Hermes Rodrigues da Fon-
seca. pelos crimes de responsabilidade dos arts. 10, 19. 21, 22.
25, 20, 27,
23, 30, 31, 35, 30. 37. 40, 43, 44; AO c 48, §§ 1», 2°
*? 7" lei n. 30, de 8 do janeiro de 1892; pelos crimes eommuns
da
Cos nrts. 109 § 2", 111, 115, § V, 165, 109, 181, 189, 190, 207,
§ 0°, 211, 215 o 217 do Codjgo Penal, áquolles correlato», e
mais pelos dos arts. 139 o 146 do mesmo oodigo. E para for-
inação da culpa, de fôrma a lhe serem applicadas as penas
da lei passa o supplicante a expôr os factos delictuosos.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 499

O Marèchal Hermes da Fonseca, reconhecido Presidente dá


Republica, dirigiu convites, fóra da a diversos^ amigos
política,
competentes para as da Agricultura, da Viação e da
pastas
Fazenda, o que foz crâr alimentava S. Ex. o intuito de pro-
mover o saneamento administrativo, conforme promettora
durante pleito o eleitoral aos da sua eleição. A
promotores
imprensa então entre outros, um convite ao
palpitou pre-
sidente do Instituto da Ordem dos Advogados a
para pasta
cio Interior e Justiça, Rio Branco continuaria na do Exterior,
para as pastas militares altas patentes eram apontadas.

Na Prefeitura do Districto Federal esperavam todos vêr


empossado o grande tribuno Lopes Trovão, autor do projecto
do Senado que remodelou a cidade do Rio de Janeiro.
Houve uma como que expectação geral, serenavam os
ânimos, e o civilismo, de occasião, alvo-
partido político que
rára bandeira o nome fulgurante do Ruy Bar-
por general
bosa, aguardava expectante os acontecimentos.
Os convites para Ministros, porém, não foram mantidos.
A organizaçao do ministério tornou logo que o
patente
chefe do Poder Executivo se achava coacto, obedecia servil-
mente á injuncções de terceiros e, mais ainda, se debatia en-
tre forças, que o subjugavam alternadamente e que se cho-
cavam com desusada vehemencia. A nomeação do Sr. J. J.
Seabra para a" pasta da Viação foi objecío do primeiro con-
flicto, do qual sahiu vencedor o tenente Mario Hermes contra
o general Pinheiro Machado.

Taes factos seguiram a este com a mesma origem e cum-


plicidade, tamanhos escandalos e tão hediondos crimes, que o
espirito publico impressionado discutiu largamente a acção
nefasta exercida sobre a vontade do Chefe da Nação, inque-
riu, investigou o afinal conseguiu conhecer o movei de tan-
tos desatinos.
Ü desrespeito á lei da amnistia, os assassinatos de mari-
nheiros nas solitarias pela fome eda
as- Ilha das Cobras
phyxia; a impunidade do coinmandante do Batalhão Naval,
indiciado autor do taes crimes; a intervenção armada no Es-
tado do Rio com a deposição do Governador; a dissolução do
Conselho de Intendencia Municipal do Rio de Janeiro; o desres-
peito aos ltabeas-corpns do Supremo Tribunal Fedteral; o
desterro do centenas de recrutados pelas ruas e
populares,
praças, para as regiões inhospitas do Acre e do Madeira;
ns execuções a bordo do Satellitc no a impunidade
alto mar;
do commandante da escolta que taes crimes commetteu; os
escandalos administrativos na Imprensa Nacional; o incêndio
do edifício da Imprensa; a impunidade do seu autor ou auto-
tores; o
abafamento do inquérito sobro o incêndio da
policial
Imprensa; as prisões de diversos cidadãos brazileiros e estran-
geiroa a satisfazer vinganças do director da Imprensa; a grando
expedição espalhafatosa á Bahia em uma esquadra e acom-
panhada de um quasi corpo do Exercito, com despezas não au-
torizadas; a intervenção armada no Estado da Bahia, com o
bombardeio da cidade do S. Salvador, para deposição do Go-
vernador em exercício; a escandalosa negociata com o mi-
SOO T ANNAES DA CAMARA

nistro Epitacio Pessoa, offerecendo a este membro do Supremo


Tribunal Federal o mandato de Senador
pelio Estado da Pa-
rahyba do Norte, bem como a vice-presidenciat do mesmo Es-
tado para um seu nrmão, com o fim de1 voto
(obter o e a in-
fluencia daquelle juiz no tribunal contra os habeas-corpus
requeridos em favor do Governador deposto do Estado da
Bahia; as concessões pelo conde de Frontin de construcção por
Idlometro' da Estrada de Ferro Ttacurussã a amigos parti-
culares, o que constituiu o decantado ensilhamento da Cen-
trai; os desastres consecutivos da Estrada de Ferro Central do
Brazil; a subscripção feita
por atnigos do Governo © imposta
de porta em
porta, a ministros, directores repartições,
do em-
pregados públicos, directores de companhias, negociantes e di-
rectores de bancos nacionaes e estrangeiros, obter
para o di-
nheiro, que 101 entregue ao Presidente
da Republica, para este
comprar um palacete para sua residencia futura; a interven-
çao armada no Estado da Parahyba do Norte, para abafar o
pronunciamento dasi urnas eleitoraes,
suffoeando a autonomia
do Estado a pronunciar-se 110 fazendo
pleito presidencial, in-
vadir o Estado por torças do Exercito, oommandadas por um
general, para satisfazer a promessa feita ao ministro Epitacio
J essaa; a intervenção armada 110 Ceará oontra o resultado
das
eleições para presidente e vice-presidentes do Estado, com a
ulterior imposição ao Congresso do mesmo Estádio, para que
desrespeite o resultado das urnas
eleitoraes e falsifique a apu-
raçao de íorma a serem reconhecidos <o> eleito
presidente dia
maioria do povo cearense e vice-presidentes
os amigos do Go-
vernador deposto, conforme accôrdo feito 110 palacio Guana-
imra; os meetings annunciados e mandados fazer pela cama-
riina cio üattete com agentes periurbeulores para armar con-
1 netos e a subsequente impunidade do assassinato de Fer-
nanclo bantas, unn dos agentes postos pelo chefe de Policia á
disposição do tenente Mario Hermes; o ataque ao jornal op-
posicionista O Século, da Imprensa Nacional
pelo pessioal ao
mando arnnrario do seu director;
o meeting annunciado e pre-
parado pelo mesmo director da Imprensa Nacional para premo-
ver ataque ao jornal do opposiyão O Paiz, e o decreto de 20
de março uo corrente anno, revogando uma
lei federal, acto de
despotismo para dispensar do tempo de embarque officiaes
de Marinha a promover com odiosa preterição dos que teem
direitos a promoção.

Todos estes escandalos, todas estas surprezas, todos estes


crimes, que derramaram sangue em diversos pontos do paiz o
deram prejuízos de milhares « milhares
de contos de réis aos
cofres do Thesouro Nacional, todos estos monstruosos atten-
tados á dignidade e soberania nacionaes, foram praticados fo-
ram accumulados pelo Marechal Hermes da Fonseca em anno
e meio die governo!
Não são casos isolados, como o do Panamá, que levou d
cadeira de réo o Sr. de Lessepss, amargurando os últimos dias
do grande francez, que, abrindo o canal de Suez, ligãra a na-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 201

vegação do Oceano Indico e Pacifico á do Atlântico pelo Mar


Vermelho e Mediterrâneo.
Não são casos isolados, como o de Wilson, que provocou
a revolta immediata no Palais Bourbon, levantando-se todos
os Deputados em signal
protesto, quando, no re-
do indignado
cinto daquella Casa Legislativa entrava o genro do Presidento
da Republica, facto que produziu a renuncia do cargo de pre-
sidenle da França, Jules Grevy e promoveu ainda a am-
por
pliação do art. 177 do Código Penal Francez.
Não são casos isolados, como o dos Fundos Guelfos, que
sacudiu o espirito do allemão, nem coino o da quebra do
povo
Banco de Roma, que o governo da Italia.
abalou
E' uma série ininterrupta torpes,
de crimes sue-
os mais
cedendo uns aos outros vertiginosamente, levando o Brazil ao
descredito no exterior, d bancarrota, e mais ainda incutindo o
scepticismo político no espirito do povo brazileiro, povo altivo e
culto, que, sabendo impor-se ao respeito das nações poderosas,
elaborou cm poucos annos duas grandes trans-
pacificamente
formações sociaes — a abolição do elemento servil e a mudança
do regimen político.

Srs. Deputados—A intervenção armada no Estado da Bahia


avulta dentre as demais intervenções que exerceu criminosa-
mente o Presidente da Republica nos negocios peculiares a di-
versos Estados da União, fVira dos casos exceptuados no art. 6°
da Constituição, pela aggravante do bombardeio e saque á capi-
tal do Estado, attentado que repercutiu no exterior, denotando
um estado de barbaria incompatível com o brilhante papel que
representára o Brazil em Haya no Congresso da Paz.
Nos primeiros dias de janeiro do corrente anno, notou o

governador da Bahia, Dr. Aurélio Yianna, «não haver até


então recebido a nota pelo governo federal a todos os
enviada
outros governadores e
presidentes, reiterando as suas affir-
mações anteriores de não intervir na política dos Estados».
Sabendo mais tarde fôra «annunciada a remessa para a

Bahia de mais 200 soldados do 49" de caçadores», transmittiu


elle aos amigos e á imprensa a suspeita de quo o Marechal
Hermes da Fonseca premeditava um ataque ú autonomia
daquelle Estado. (Doe. n. 2.)
O seccional da Bahia, Dr. Paulo Fontes, expediu um
juiz
mandato de habeas-corpus «para que pudessem funccionar
livremente no antigo edifício da Camara dos Deputados os
congressistas convocados pelo presidente, em exercício, do
Senado», mandato sobre o qual foi aberto conflicto de júris-
dicção.
Aguardavam todos o do Supremo Tri-
pronunciamento
bunal Federal sobre a competencia daquelle juiz federal em
negocio concernente á autonomia do Estado, quando entendeu
elle requisitar «força cumprimento
federal precisa para efficaz
e effectiva execução de tal habeas-corpus». (Doe. n. 3, Diário
Official, anno I<L n. 8. 10 de janeiro de 1912. Das. n. 516.)
208 ANNAES DA GAMARA

Tendo
o Presidente da Republica conhecimento do cori-
flicto jurisdicção que suspendera os effeitos do mandado ds
de
habeas-corpus em questão, ató ser annullado, como annullado
foi pouco depois pelo Supremo Tribunal Federal, mandou
ordem ao commandante da 7a região militar, Sotero
general
de Menezes, para fazer cumprir tal mandato.

Assim
procedia o Presidente da Republica, aproveitando
aquelle
pretexto para a intervenção que exercer
premeditava
a ferro e fogo naquelle Estado, intervenção
para a qual fizera,
por influencia do Ministro da Viação, o Sr. J. J. Seabra, a no-
meação do general Sotero para o commando da 7" região mi-
litar e como principio de execução impuzera ao governo> da
Bahia fizesse o Congresso falsificar o reconhecimento de
poderes de seus membros, de fôrma a ter o Ministro Seabra o
terço representado por amigos seus. Nessa indecorosa tran-
sacção foi representante do Ministro o juiz seccional Dr. Paulo
Fontes !
O
general Sotero de Menezes, recebida a ordem
presiden-
ciai, intimou o governador do Estado a retirar as forças poli-
ciaes dos pontos em que estavam aquarteladas, respondendo o
governador por seu secretario
geral e official de gabinete que
ogoverno do Estado retiraria não
as forças, mas que o Con-
gresso, se poderia reunir; não concordou essa solução
com
aquelle general, como dil-o em seu telegramma ao Presidente
da Republica,
por parecer-lhe cogitar-se de uma cilada e então
categoricamente
affirmou
que, si até uma e meia da tarde não
se retirassem as forças, as faria retirar
a bala e de facto a essa
hora ordenou que os fortes de S. Mcurcello e
do Barbalbo hostili-
zassem as posições occupadas; horas da
seriam quatro tarde,
quando o governador mandou uma commissão, chefiada pelo
commandante da policia ao
pedir general para suspender as
hostindades, pois que já havia mandado retirar as forças das
posições occupadas. Deante desta formal affirmativa, continua
o general em seu telegramma, mandou ello pelo tenente Pro-
picio rontoura cessar o fogo, ordenando a oocupação dos pon-
tos abandonados. (Doe. n. 4, Diário Official, anno LT, n. 10, 12
de janeiro de 1912, 614.)
pag.
Como se vô, esteve a cidade da Bahia duas horas o meia,
segundo affirma
general o
Sotero do Menezes, sob a acção de
um bombardeio dos
fortes de S. Marcello e do Barbalho, cujas ba-
Ias arrazaram diversos edifícios, destruindo a Bibliotbeca Pu-
blica, Palacio do Governo, levando o luto á família bahiana.
que
tempo antes hospediíra o Presidente
pouco principeseamonte
da Republica, em sua espalhafatosa expedição !
A vergonha que cobriu Nação Brazileira ante os povos
civilizados, abalando o espirito indignado
publico, pelo covarde
bombardeio da capital bahiana, quando poucos dias antes pro-
testaramos nós contra o bombardeio da cidade de Assumpção,
produziu a morte do grande chanceller americano, o barão do
Rio-Branco, perda irreparável para a Nação Brazileira e para
a diplomacia, que o extraordinário brazileiro reformára, sub-
stituindo as antigas desconfianças e dos Ma-
prevenções
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 203

chiavello, Metternich, Talleyrand e Bismark cultura da


pela
amizade entro povos do velho e do novo mundo
os .
Para o Supremo Tribunal Federal, em tão
recorreu an-
gustioso momento o Estado da Bahia, pela voz de seu eminente
filho o conselheiro Ruy Barbosa,
que requereu successivamente
tres habeas-corpus, em dos direitos constitucionaes da-
pról
quelle grande Estado—governar-se autonomicamente por de-
legado seu em eleição' de seu glorioso povo.
Reclamava o illustre advogado do
bahiano fossem
povo
garantidos o Io e o 2o vice-governadores successivamente no
nxercicio do mandato
lhes conferira o povo do seu Es-
que
tado, mandato
qual as armas do
federaes violenta e barbara-
mente esbulharam o Dr. Aurélio Vianna, 2° vice-governador
em exercício.
Emquanto o Presidente da Republica dava ordens para
seguirem
para o Estado da Bahia novos batalhões, metralhado-
ras a um navio de
guerra, o Ministro da Viação trancava o Te-
legrapho, como si sua fosse, deixando os filhos da
propriedade
Bahia e mais habitantes desta cidade em i'»neiedade crescente
por motivos dos parentes e amigos moradores na capital ba-
mana. (Doe. n. 1, justificação crime e n. 4.)

Aterradoras eram
primeiras as
noticias dos effeitos do
bombardeio, que destruirá por incêndio o Palacio do Governo,
a Bibliotheca Publica, arrazara diversas casas, damnificando
outras; debalde telegraphavam as redacções dos jornaes pe-
dmdo noticias,
que pudessem transmittir ao publico; pediam os
parentes, pelo telegrapho, noticias de seus parentes, os amigos
noticias de seus amigos e nem uma resposta obtinham. Pe-
niam-n'as ao Governo e o Governo deshumanamente se fe-
ehava em absoluto silencio.
Crescia a anciedade e alguns telegrammas officiaes que
chegavam traziam a mentirosa noticia de que estava tudo em
paz. (Doe. n. 5, Diário Qfficiál, anno LI, n. 11, 13 de janeiro
do 1912, pag. 680).
O general Sotero de Menezes communioa ao Governo Fe-
deral a renuncia voluntaria do em o
governador exercício;
Sr. RivadaviaCorrêa, em sua communicação
aos governadores
o presidentes de Estados, affirma o Dr.
que Aurélio Vianna
abandonára o cargo. «Tudo so contradiz nas offi-
affirmações
ciaes, deixando entrever quo ha um empenho constante em
occultar a verdade».
«>TA que o Governo sonega esta verdade, allega o conse-
Iheiro Ruy Barbosa,
já quo a Bahia está sendo victima de uma
sequestração geral; já
que estamos submettidos ao regimen da
um estado de sitio de nova especie, necessário é que se re-
corra ao supremo remedio o o tribunal simul-
que garanta
taneamente a todos os ameaçados.»
«Demonstrou S. Ex. a legalidade do acto do Sr. Aurélio
vianna convocando o Congresso extraordinariamente o da in-
constitucional idade do que de R. Francisco,
praticou o barão
arvorando-se em do Congresso e fazendo igual con-
presidente
vocação.
204 .V ANNAES DA CAMAHA

«O habeas-corpus concedido é outra monstruosa illega-


liaade.
«A petição despachada continha sete assignaturas fal-
sas de congressistas, que não pertencem ao partido do Ministro
da Viação; resultante de um estellionato, tal petição é um do-
cumento indecoroso, (iue impede os seus autores de estender a
mão aos homens de bein.
«O juiz federal, compleno conhecimento dessa falcatrua,
não hesitou em conceder o habeas-corpus illegal quo serviu
de pretexto para o bombardeio.
«Como representante do Brazil na Conferencia de Haya,
lembra o eminente advogado da Bahia,
de teve elle a honra
assignar o art. 25 das convenções que
prohibem expressamente
o bombardeio das cidades não fortificadas. Prohibem-no
igualmente os^codigos de guerra das nações cultas e especial-
mente o dos Estados Unidos; prohibe-o expressamente o pro-
jecto do Godigo de Direito Internacional Publico, do foi
que
autor o Sr. Epitacio Pessoa, relator do feito. LC-se no art. 419
desse codigo:

«E'
prohibido atacar ou bombardear por qualquer
«meio que seja, cidades, habitações
povoações, ou
«construcções não defendidas.»

«E' doloroso, exclama o


grande brazileiro, o contraste que
se pode recordar neste momento: ha um anno esta
quando
cidade esteve à mereô de um negro, de um bronco e inculto
marujo, que a podia reduzir a cinzas com o auxilio dos for-
rridaveis elementos navaes de esse homem des-
que dispunha,
classificado nao foi capaz de semelhante crime, tendo chegado
o humanitana providencia de arrojar as bebidas ao fundo do
oceano para que os seus companheiros não a cabeça,
perdessem
tornando-se capazes de um acto de loucura.
«E agora... é um do Exercito
_agora general que, para
satisfazer a ambição tresloucada de um Ministro, manda bom-
bardear uma cidade indefesa e trucidar dezenas de cidadãos,
commcttendo um crime ignóbil e monstruoso, que um negro
inculto nao se sentiu com forças para praticar.
«Daqui a poucos annos, accrcscenta, tivermos de
quando
comparecer á nova Conferencia de Haya, havemos de fa-
zel-o, envergonhados e humilhados, sem coragem para
levantar a cabeça deante da Europa e dos Estados Ameri-
canos.»

O Sr. Epitacio Pessoa, relator do feito, levanta diversas


preliminares, achando que o assumpto 6 de natureza política,
sendo o tribunal incompetente. «Acha que o constrangimento
não está provado c que o tribunal não pôde designar o local
para a reunião da assembléa.» «Vota pelo adiamento e pelo
pedido de informações.»
O Supremo Tribunal Federal resolveu converter o julga-
mento em diligencia, para que sejam pedidas informações ao
Presidente da Republica, ao Ministro da Justiça e aos interessa-
dos da Bahia. No dia 19 de janeiro forneceu o Ministro do In-
terior á imprensa a seguinte nota: «Tendo o Sr. Presidente da
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 205

Republica lido em um jornal o officio com o qual o Dr. Àure-


lio Vianna, governador da Bahia, passava o cargo ao seu substi-
tuto e parecendo-lhe pelos termos deste officio que em vez
legal,
de renunciar voluntariamente houvera renunciado por coaceão,
determinou ante-hontem ao Ministro do Interior que telegra-
phasse aos Drs.Aurélio Yianna e Braulio Xavier, pedindo com
urgência lhe remettessem o teor inteiro daquella communi-
cação.» De posse das duas respostas, o Presidente teve a certeza
de se tratava realmente
que de renuncia por coacção, oriunda
de possível exorbitância no cumprimento de suas ordens, quo
sdmente visavam a execução de um habaas-corpus.»
«A vista disso o dentro de sua orientação rigorosamente
constitucional, o Presidente da Republica determinou hontem
ao Sr. MinMro do Interior que transmittisse instrucções ao
Sr. Ministro da Guerra seja na Bahia o
para que procurado
Dr. Aurélio Vianna, á disposição de quem o inspector da região
porá todos os elementos de força federal que lhe permittam
reassumir o e assegurem a sua manutenção alli, caso seja
poder
isso necessário.»
«Ainda de ordem do Sr. Presidente da Republica, o Sr.
Ministro do Interior cabotelegraphou
submarino ao Sr.
pelo
Dr. Aurélio Yianna, communicando todas as providencias que
o Governo Federal acabava de expedir o effeito de sua
para
reposição no cargo de
governador da Bahia.
O Presidente
dn Republica expede ordens ao general Sotero
de Menezes
pelo cabo submarino nos termos seguintes:
«Conhecendo termos officio Dr. Aurélio Vianna passando
governo Estado ao Dr. Braulio Xavier, verifiquei motivar esto
acto coacção por parte força federal».
«Nao estando nos intuitos do Governo Federal praticar
actos que possam ser acoimados de violência nem permittir
violação Constituição, o como sómente tivesse ordenado
execução habeas-corpus, resolvi que vos fosse pelo Ministro da
Guerra determinada reposição Dr. Aurélio Vianna no governo
Estado, o 11 o_ queira reassumir,
caso demonstrando assim posi-
ti vãmente que nao so Governo Federal como general inspector
não tiveram em vista semelhante attentado autonomia Estado.
Recommendo-vos, pois, e com lealdade,
patriotismo e dedicação
do que tendes dado provas, Dr. Aurélio,
procureis offerecen-
do-lne, em nome Governo União, de
garantias que necessita
para reassumir cargo governador. De vossa acção e seu resul-
tado mandar-me-lieis informações. Confio que, como amigo e
patriota,_uuxiliar-me-Iieis, cumprindo vosso dever, a solver si-
tuação tão melindrosa. Saudações.—Marechal Hermes da Fon-
scca, Presidente da Republica».
Interrogado o Ministro da Guerra representante
pelo do
Correio da Manhã, a respeito da
nota dada íí imprensa pelo Mi-
nistro do Interior, ouvida a leitura, disse-lhe o general Monna
Barreto, textualmente:

. «O meu amigo fica autorizado lendo


a dizer que, para
mim a segunda da nota
parte do Ministro da Justiça, eu lhe
declarei e autorizei a dizer pelo Correio da Manhã e3sa
que
206 ANNAKS DA CAMARA

ó verdadeira. O Marechal Hermes absoluta-


segundu parto não
nesse
mente não autorizou nem ordenou que eu telegraphasse
sentido ao general Sotero do Menezes. O que o Presidente da
sa-
Republica fez foi ordenar ao general Sotero que procurasse
com o Dr.
ber não só com o Dr. Braulio Xavier como também
Aurélio Vianna quaes as causas da renuncia deste ultimo, para

então agir dentro das normas constitucionaes.»


da Republica communicou por intermedio
Presidente
O
do Interior, aos presidentes e governadores dos
do Ministro
havia mandado repor no governo da Bahia o
Estados que
Dr. Aurélio Vianna. (Doe. n. 6.)
sessão do Supremo Tribunal Federal no dia 10 de
Em
é julgado o habeas-corpus requerido pelo conselheiro
janeiro
Barbosa; lê o Sr. Epitacio Pessoa as informações dadas
Ruy
Governo, em que este communica ao Tribunal ter expe-
pelo
com urgência telegramma ao Dr. Aurélio Vianna e ao
dido
aquello
Dr. Braulio Xavier, pedindo o teor do officio pelo qual
a este o governo da Bahia; manifesta o conhecimento
passára
da coacção sobre a qual fôra passado o governo e transmitte

noticia das medidas tomadas ao Ministro da Guerra,


a junto
de ser o reposto e no cargo; le
afim governador garantido
informações do barão de S. Francisco e a do Dr. Braulio Xa-
vier. Diz este que, com a mudança da data de 27 para 29, foi
obrigado a restringir a sua informação, historia os factos, re-

ferindo-se ao officio authentico qual lhe foipassado o


pelo
e indo cumprimentar o Sotero, foi sur-
governo que, general
lhe lizesse
prehendido pela continência que este mandou que
força, devida exclusivamente aos che-
a sua continência esta
fes de Estado.
E' dada
palavra ao a
conselheiro Ruy Barbosa, que jus-
tifica o de habeas-corpus,
pe.dido analysando a impressão ge-
inan-
rada no publico pelo acto do Chefe do Estado que
animo
dava repòr o governador da Bahia.
«O habeas-corpus, exclama S. Ex., não pôde encontrar
mais estrondosa^ E' o Governo da Republica, e
justificação
da Nação antecipando-se ao julgamento, vem
o Chefe que,
o acto do violência debaixo do qual se via constran-
rosolver
o governador da Bahia e contra o qual estavam protes-
gido
Estado eircumstancias escandalosas da si-
tando naquelle as
e fóra delle as reclamações clamorosas da^ opinião na-
tuação
a justiça não foi comple.ta, nao loi suffi-
cional. Infelizmente
e compressiva, dei-
ciente, m'anteve a mesma situação normal
a quem se suppunha vir valer nas mesmas con-
xou aquelles
e de privação do liberdade».
dicões de constrangimento
requerido se compõe de tres partes,
«O habeas-corpus
do 2o governador da Bahia,
não sómente assegurar a liberdade
no exercicio de suas funeçoes constitucio-
mas ainda manter
do Senado o sobretudo sustentar a Assem-
naes o presidente
daquelle Estado, na posição que, pelos dis-
hiéa Legislativa
e leis desse mesmo Estado,
nositivos constitucionaes pelas
«Haverá nada mais contrario ao senso com-
lhe competem»
em que se vao encontrar o goyerna-
mum do auo a situação
da Bahia «Dcante delle se acha commandando
dor interino
207
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912

a guarnição o mesmo o depoz, o mesmo


general que general
que bombardeou, que incendiou a cidade, o mesmo general
que nas suas partes officiaes, uma, duas, tres vezes tem men-
tido solemnemçnte adulterar os factos, o mesmo
para general
que começando pela ameaça do bombardeio em março do anno
passado acabou de relizal-a pelo bombardeamento e incêndio
da capital da Bahia, irrisoriamente chamada elle de glo-
por
riosa, quando a artilheria dos fortes do se,u mando acaba de
, enxovalhal-a e reduzil-a. em grande parte a ruínas !» e con-
clue « O governo do Estado se acha desarmado
para exercer suais
primeiras funcções a de policiar o Estado. Elle tiraria das mãos
do governador da Bahia a policia e entregal-a-hia prisioneira
á força federal.»

«Estou a vosautorizado
annunciar, exclama o eminente
advogado, os
jornaes desta tarde,
que daqui a duas horas, de-
vem trazer ao
conhecimento do publico e do paiz inteiro quo
o general Ministro da Guerra nao reconhece estas ordens do
Sr. Presidente da Republica, a Bahia expedidas, estas
para
ordens lá não serão cumpridas porque as autoridades mili-
tares as não cumprirão.»
«Na opinião do- Ministro da Guerra, trata-se neste caso
de acto arbitrario do Ministro do Interior, ao as autori-
qual
dades militares da Bahia não teem de prestar obediencia, por-
que estas não obedecem sinão ás ordens transmittidas in-
por
termedio do Ministro da Guerra».

Foi em taes termos denunciada a comedia desoladora que


se deveria desenrolar ao correr da intervenção armada do Pre-
sidente da Republica nos negocios peculiares á autonomia do
Estado da Bahia, comedia na qual representaria papel sa-
liente, no Supremo Tribunal Federal, o relator do feito, Dr.
Epitacio Pessoa, com os olhos fitos na cadeira de Senador pelo
Estado da Parahyba do Norte, que lhe 1'ôra pelo
promettida
Marechal Hermes da Fonseca, e contando já com a conquista
deste infeliz Estado da União,
lhe deveria ser cuja olygarchia
consignada pelo mesmo Marechal, na eleição próxima futura
de Io vice-presidente do Estado, que garantira este a seu ir-
mão, o coronel Antonio Pessoa. Este, pensa o simples juiz,
tomará em breve tempo conta da presidência abandonada
com certeza logo em princípios do futuro período pelo presi-
dente Castro Pinto, geitosa e violentamente hostilizado pela
imprensa, de accôrdo com o plano pelo ministro
politiqueiro
architectado!
Representa o seu papel o ministro Epitacio Pessoa, jus-
tificando o seu voto após ter lido as informações do Sr. Ri-
davia Corrêa em nome do Presidente da Republica, informações
em que affirma este que medidas foram tomadais pelo Governo
para que fosse o Dr. Aurélio Vianna reposto e mantido com
todas as
garantias.
«Parece, diz o Sr. Epitacio, que em vista dessa informação
mequivcica do Governo, o habeas-corpus, neste particular está,
sem objecto»; classifica «de receio aquelle. do advo-i
gratuito
208 ANNAES DA CAMARA

I
gado, temendo a acção do Ministro Menna Barreto, impedindo
a obediência ás ordens do Governo».
«O facto d'0 desmentido do Ministro Menna, lido ao tri-
bunal, lhe não parece com fundamento, pois, não crê
a
que
leviandade daquelle possa chegar ao ponto de desconhecer que
é mero secretario de Estad'0. A palavra do Presidente da Re-
publica, que não se pôde pôr em duvida, vem tudo desmentir.
Os receios são, pois, infundados, não ha alma de seraphim,
exclama, que se não confranja cm saber do bombardeamento
de uma cidade, principalmente quando o é em tempo de paz o
por armas brazileiras. Em outra situação teria concedido a
medida, agora, porem, que o Presidente da Republica vem dizer
positiva e formalmente a sua
não resolução,
decidir
poderia
<le outra fôrma sinão julgando
prejudicado o pedido. O Pre-
si de ii te da Republica não pôde
ser tão miserável que deixo de
cumprir aquillo que se obrigou categórica e positivamente».
Replicando a seus eollegas «estranha, com viulen-
grande
cia, que o Supremo Tribunal, acostumado a acatar as infer-
inações iornecidas pelos delegados de e até
policia, pelos in-
spectores de quarteiiao, rejeite, taxe de inseguras ou falsas
aquellas emanadas do mais alto funccionario da Nação. Qual-
quer que seja o ministro que se lhe queira oppôr terá o prêmio
a que por isso faz jús>.»
Concluo ai firmando que o Presidente cum-
da Republica
prira o
que communicou ao tribunal.
Procedendo-se á votação verificou-se
que julgavam pre-
judicado o pedido de habeas-corpus, votando com o relator os
ministros Oliveira Figueiredo, Leoni, Espinola, Godpfredo, An-
d ré Cavalcante e Ribeiro de Almeida,
e concediam a ordem de
habcas-corpus os ministros Pedro Cavalcante,
Lessa, Amaro
Canuto, Murtinho, Natal e Oliveira Ribeiro. Vô-se, pela maioria
de um voto,
que a orientação do alto tribunal de justiça, era
pela concessãodo habeas-corpus, ao encontro
medida salutar,
da qual ia_o 1 residente da
as suas Republica,
promessas com
do reposição do
governador o
e garantias de que procurava
cercar. Os argumentos alopecinos, de que usára o relator, do
feito, que se insinuava amigo particular do Marechal Hermes
da 1< onseca, e que, ministro do Supremo Tribunal Federal, pe-
dia e ODtinna comnrissões rendosas do Poder Executivo, e re-
pre.sentava de ha muito o papel de Mercúrio, portador de re-
cados do 1 residente da Republica,
para membros daquella corte
de, justiça, arrastaram votos a formar esta maioria de um voto
naquelle julgamento, em a serenidade
que que deve assistir á
administração da justiça, foi toldada pela condescendência in-
justificável para com o Poder Executivo, aliás desrespei-
que
tara diversos julgados desta mais alta casa da federal.
justiça
No dia ~1 e reposto no da Bahia,
governo o Sr. Aurélio
Vianna, prestando-lhe as honras militares o 50" de caçadores,
no dia 22, 16 o presidente do Supremo Tribunal Federal, em
sessão, o telegrainma do Sr. Aurélio Vianna, áquelle Tribunal,
commuiiicando a sua posse no
governo da Bahia, o agradecendo
ao Tribunal, a sua intervenção. São mantidos os factos
que se
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1913 209

desenrolaram o depois;
trama urdido aqui Ministro
pelo da
Viação, o Sr. J. J.
Seabra, candidato ao governo do Estado, nas
eleições deveriam ter logar 110 dia 28, com o tenente
que Mario
Hermes, candidato a uma de Deputado Federal,
cadeira por
aquelle Estado, nas eleições teriam logar logo depois
que no
dia 30, foi posto em de Menezes,
pratica pelo general Sotero
que, após a reposição do Sr. Aurélio Vianna, no governo, exer-
ceu a coacção sobre a pessoa do governo reposto, para obter a
renuncia espontanea indispensável áquella mentirosa situação,».

E' o general Sotero d© Menezes communica por te-


quem
legramma ao Presidente da Republica», «que fez
a commissão
sciente ao Sr. Aurélio
Vianna, no go-
que a sua permanencia
verno trazia inquietação
para a ordem publica e que seria um
serviço á ordem publica transmittir ao conselheiro Braulio Xa-
vier o
poder governamental.». Nesse telegramma, diz o Sr. Pedro
iJelas columnas d'0 l'aiz, o general omittc conferencia
P°;
previa que teve com a commissão e levou sua innocencia ao
ponto de adduzir que só mais tarde soube, por communicação
do presidente do Tribunal de Justiça, que o Dr. Aurélio Vianna,
lhe havia
passado o governo do Estado, em satisfação ás instan-
cias do
presidente e mais membros da Associação Commercial.
«Mas, diz S. Ex., e o confirmará nessa Gamara de Depu-
tauos, onde tem presentemente uma cadeira, no mesmo Jornal
ae Noticias, de 21, vem a nota de
que ao penetrar o Dr. Braulio
Xavier, no 1'alacio das Mcrcôs, assumir
para o governo, foi
recebido por extraordinaria acclamação,
estando o salão repleto
de Senadores e Deputados estadoaes, do Partido Conservador,
presentes também personagens da e o Sotero
politea general
(le Menezes, com todo o seu Estado-Maior !
«Isto 110 mesmo dia,
poucas horas depois das conferências.
JNo emtanto diz que só mais
o general
tarde soube, por com-
municação do presidente do Tribunal de Justiça,
que o Dr Au-
relio Vianna lhe havia passado o governo.

«O general Sotero de Menezes, procedera ao desarmamento


da policia estadual para se constituir o arbitro da administra-
çao do Estado.»
Itecollocára no poder o Sr. Braulio Xavier em consequencia
de uma renuncia espontanea, provocada
pelas ameaças da com-
missão de que nos falia o general bombardeador da cidade de
fc.Salvador, e pelos conselhos e
pastoraes bênçãos do arcebispo
primaz da Bahia.
Estavapreparado o terreno a farça eleitoral se
para que
deveria representar no dia 28, eleoendo o Sr. J. J. Seabra,
go-
vernador do Estado, bem como a que se deveria representar no
dia 30, da qual deveria surgir Deputado
o filho primogênito do
Marechal Hermes da Fonseca, Presidente
da Republica, e autor
da comedia.
No dia 23 de fevereiro sustenta o Ruy
conselheiro Bar-
nosa, no Supremo Tribunal a terceira petição de habeas-
corpuií
que1 a essa alta casa apresentára em favor do exercício
pelos brs. Leoncio Galrão e Aurélio dos
Vianna cargos de Io o
210 ANNAES DA GAMARA

2o vice-governadores, de que haviam sido esbulhados nelas


armas e
autoridades federaes.
«Pela quinta vez, diz o eminente advogado, ides nesta
sessão deliberar sobre este assumpto, encontrando malograda
a vossa intervenção tutelar por um conluio
dos
justamente
orgãos do poder em cujos
protestos e compromissos de ardor
restauração da legalidade na Bahia com tanta boa
pela fé
puzestes a vossa confiança.
«Em ambos os vossos julgados houvestes bem consi-
por
derar o habcas-corpus se vos exorava,
prejudicado que em
razão ao acreditardes equivalente ã cessação da violência a
estipulada solemnemente Governo Federal,
promessa pelo
ante o mais elevado tribunal brazileiro, de a fazer immediata-
mente cessar. Na solução do segundo caso a fé empenhada á
Nação e á justiça pelo chefe do Poder Executivo se revestia
de caracteres ainda mais assignalados. O Governo da Repu-
blica, nas informações que vos dirigiu, não se obrigava só-
mente a mandar repor o vice-governador, as forças da
que
União haviam deposto, annunciava ao Supremo Tribunal que
para essa medida ja se haviam expedido instrucções terminan-
tes, recebendo o cominandante da da Bahia ordem
guarnição
para deixar o exercício do cargo e vir a esta cidade, chamando-
se com urgência aqui o scout Bahia e o seu cominandante, en-
viando-se, emfim, áquella cidade em missão especial, um ge-
neral de divisão, para assegurar a volta da política do Estado
a seus eixos regulares.
«Esse apparatoe lealdade, de seriedade
contimía o conse-
lheiro lluy .Barbosa,
impressionaram. vos
Deante de tamanha
ensçenaçao fizestesde zelo
á benevolencia das relações entre
os dous poderes uma concessão,
que se desvia do rigor consti-
tucional, considerando o habeas-corpus á vista do
prejudicado
testemunho official, onde o Governo vos attestava justamente
nao haver cessado ainda a coacção. Não destes ouvidos aos
nossos avisos de que a vossa segunda decisão, estribada nas
mesmas considerações da
seria como esta ludibriada,
primeira,
bem se pode calcular a decepção em vós deveis sentir,
que
porque nunca se viu o Governo infligir á justiça, na sua re-
presentaçao mais augusta, uma zombaria tão grosseira.»
Em obediência ás ordens do Marechal Hermes da Fon-
seca, otenente-coronel Ferreira Netto, entendendo-se com o
Dr. Aurélio Vianna, ao dizer-lhe este que estava resolvido a
esperar o general Vespasiano, replicou:
V. Ex., Sr.
«Pois pela segunda vez perder a occa-
Dr., vae
sião de se ver livre destas cousas ? Estou prompto para repol-o,
mas não posso garantir-lhe a vida, nem o exercício do seu
cargo. V. Ex. só tem um caminho a seguir, é renunciar.»
«Deste episódio incrível, como tudo o que compõe esta
historia de indignidades, diz o illustre advogado do povo ba-

hiano, foram testemunhas, além do desembargador Palma, que


o narra em uma carta ao Diário de Noticias, impressa na sua

edição de 6 do mez corrente, outros Deputados, como o Dr.

João Mangabeira e meu filho, o capil.ão-tenente Alfredo Ruy.»


Descreve o conselheiro Ruy Barbosa ao Supremo Tribunal

Federal todas as manobras machiavolicas praticadas pelo


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 211

emissário do Presidente da Republica, o general Vespasiano


de Albuquerque, que começára informar ao Governo,
por por
telegramma de 30 de janeiro, «a cidade estava em
que plena
paz, que o tenente-coronel Pedro Ferreira Netto fizera-lhe
entrega do documento, devidamente authenticado, em o
que
Dr. Aurélio Vianna declara renunciar definitivamente, sem
coacção, o cargo de do Estado, fazer
governador pedindo-lhe
esta communicação a S. Ex. afim
de ficar sem effeito a ordem
de reposição que lhe foi offerecida». Official, 31 de
(Diário
janeiro de 1912, pag. n. 1.483.)
Gomo, porém, respondesse o Marechal Hermes mantendo
as ordens anteriores, inicia o Vespasiano uma série
general
de manobras tomar tempo, o Sr. Leoncio
para convidando
wurão, que se achava foragido em Arêas, vir tomar
para
conta do Governo, tendo deste a resposta de que estava deci-
dido a exercer o governo do Estado em se definindo as ga-
rantiasJiue o da União lhe promettera.
«Não ha nada mais curioso, observa o conselheiro Ruy
Barbosa, do a negaça, o subterfugio, a evasiva com
que que
arguciou o general Vespasiano dizendo no seu telegramma:
«o conego Galrão faz solicitação de das
parte garantias amplas
que lhe offereci.»
«Pois si o conegomal solicitava das
parte garantias que
o general lhe dava, não podia hesitar era o general em
quem
redarguir ao conego, notando-lhe isso mesmo:
«As garantias que me requer jd estão incluídas nas que
lhe offereci.»
«Não havia outra replica em boa fé ao conego Galrão.»
«Mas, cm vez do lhe retrucar
assim, em vez de assumir
assim francamente a responsabilidade pelas garantias parciaes
que o conego reclamava, em vez de lhe declarar que ollas já
lhe estavam implicitamente asseguradas no compromisso ge-
ral de garantias, o general Vespasiano evita esse acto de cia-
reza, essa elucidação tranquilhzadora, essa explicação ir-
recusavel, procedendo corno si o do Senado ba-
presidente
hiano houvesse recusado o governo e dando terminada
por
ctoin elle a sua missão para ir bater á do segunde
porta
substituto.»
Repetiram-se as manobras machiavelicas das garantias
sem garantias, ora com o Sr. Aurélio Vianna, ora com o conego
Galrão, manobras comrnunicadas ao Presidente da Republica,
que resolveu tirar finalmente a mascara e passar ao general
Vespasiano o seguinte telegramma:
«Recebi vossos tolegrammas de hontem emque me
eommunicaes quanto tendes feito em bem do restabeleci-
monto da ordem constitucional no Estado instando com um e
outro dos dous immediatos d*> afim
substitutos
governador,
de que delles assuma o Infelizmente
qualquer governo.
vossos esforços e os leaes intuitos do Governo Federal não
al-
cançaram o resultado
que era de esperar ante a recusa daquelles
cidadãos. As exigencias feitas Sr. conego Galrão são,
pelo
como muito bem dizeis, das amplas e com-
parte garantias
pletas que o Governo Federal lhe mandou dar conforme
jnou telegramma de 30. A recusa, do conego Galrão
pois,
212 ANNAI5S DA CAMARA $

em ao vosso convite, respondendo com o pedido de ga-


attencter
rantias que já lhe tinham sido lealmente offerecidas, não só
para assumir o governo, como para nelle se manter não se
justifica e tem grundc inconveniente em prolongar a desagrada-
Vel e anormal situação que atravessa a vida administrativa do
Estado. O Governo Federal procurado agir com tem
a maior
isenção e só com o objectivo de
respeitar a Constituição, e a au-
tonomia do Estado, mas não pôde, nem lhe é licito contribuir
que permaneça indefidamente em tal estado de cousas,
para
aos interesses da Bahia e da
tão prejudicial própria Republica.
«Por isso dcante da recusa dos dous substi-
primeiros
tutos do governador em assumir o governo, apezar das com-
pletas garantias que em meu nome lhes offerecestes, dv-
veis scientificar-lhes que a vossa missão está terminada
e que o meu governo considera normalizada a situação esta-
dual com a presença na administração do presidente
do Tribunal do Appellação
e Revista, Dr. Braulio Xavier. Sau-
— Marechal Ilermcs,
dações. Presidente da Republica». (Diário
de Noticias, da Bahia, 10 de fevereiro)».

«Ukase lhe chamo, diz o conselheiro Ruy Barbosa, por-


que o imperador de todas as Russias não disporá mais sobe-
ranamente do governo das suas do que neste do-
províncias
cumento se mostra certo de ter á sua disposição os nossos Es-
tados a vontade
soberana do Presidente brazileiro. O de que
eu duvido, é de
que, na chancellaria dio- Czar haja artistas ca-
pazes de faltar á verdade com o aprumo que entre nós se vê,
quando em um documento firmado Chefe da Nação
pelo
aqui, autorizar a entrega da Bahia a um ex-Ministro,
para
se affirma que «os dous substitutos d-o governador
primeiros
recusaram assumir o
governo».
«E1 mentir, rementir e trementir.
«Bem fóra de perpetrar esta recusa, o primeiro vice-go-
vernador ainda não cessou até agora de protestar, declarar e
clamar que o assumiria, que devia assumil-o, que o queria
assumir.

«Na véspera do dia em que o Marechal Presidente ousava


esse altentado, recebia elle, Conselheiro Ruy, de um dos mais
autorizados representantes da Bahia, o Dr. João Mangabeira,
este despacho:

9 (ás -1,50
«Bahia, p. m.)—Ruy Barbosa. Rio—Segundo tele-
de hoje Galrão espera apenas resposta do seu officio
gramma
ao Vespasiano, para assumir o governo. Está firme, bem como
os amigos da Cantara e do Senado.— Mangabeira.»

«No dia subsequente, mal a 11 i constou esse disparate, da


mesma lhe veio ás mãos este outro despacho:
procedencia

«Bahia, 10 «lo fevereiro (10 h. 55, a. m.)—Conselheiro Ruy


Barbosa. Rio—Transmittir Galrão. Com surpreza e indignação

geraes, Hermes reconheceu governo Braulio como legitimo e


Vespasiano deu caso da Bahia como liquidado, quando Galrão
aguarda momento assumir governo, tendo garantias.— (As-
signado) Mangabeira».
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 213

«A vespera desse dia, o Dr. Aurélio Vianna lhe telegra-


phára:

em longa oonferenoia com o general Vespasiano,


«Hontem,
declarei que, caso Galrão recusasse o governo eu o assumiria.
«Mas Galrão assume o governo com garantias expressas no
Officio enviado ao general
que transmittiu integra ao Marechal,
aguardando resposta.— (Assignado) Aurélio Vianna».

«A mesma cousa lhe communicou o Senador Severino Vieira


em 7 deste mez, por telegramma.
«Inteirado como foi pelo general Vespasiano, continua o
conselheiro Ruy Barbosa, da grosseira desvirtuação a que lhe
submettera a sua resposta, invertendo-lhe a expressão tão
obvia, tão nitida, tão visivel, o conego Galrão endereçou ao
enviado extraordinário do Marechal o telegramma de que lhe
transmittiu tres^ dias depois, o contexto no seguinte despacho,
estampado no Diário de Notícias de 13 do corrente:

«Ruy Barbosa—134, S. Clemente—Dirigi ao Ves-


general
pasiano de Albuquerque a 11 de fevereiro o telegramma cuja
cópia envio á V. Ex.
pelo submarino:

«General Vespasiano de Albuquerque — Bahia—Recebi o


vosso telegramma, em
transmittindo-me o do Marechal
que,
Presidente da Republica, me scientificaes está terminada
que
a vossa missão e que o Governo Federal considera normalizada
a situação estadual com a presença na administração do
presi-
dento do Tribunal do Appellação e Revista, Braulio Xavier, íun-
dando essa resolução na minha recusa a attender ao vosso
con-
vite e também na recusa do Dr. Aurélio Vianna, presidente da
Camara dos Deputados.
«Por parteminha estranho a recusa que me 6 attribuida,
porquanto no officio que vos dirigi estabeleci apenas o modo
franco e positivo de me serem dadas as garantias que julgava e
ainda julgo indispensáveis á defesa da minha pessoa e autori-
dade no exercício do cargo a manutenção da ordem
para pu-
blica e respeito á lei e aos direitos dos meus concidadãos.
«Permittireis que deixe aqui consignado o meu protesto
como presidente do Senado Bahiano. Saudações—Leoncio Gal-
rão, presidente do Senado.»

Aqui termina a tragi-comedia


começou com o bom-
que
bardeio da S.cidade
Salvador de
e acaba com o interessante
papel do general Vespasiano do Albuquerque na
parte que tem
por scenario a Bahia.
O Supremo Tribunal Federal, escarmentado polo des-

respeito a seus habeas-corpus por parte do Poder Executivo,
tendo mesmo annullado a sua acção, quando por uma emenda
co Sr. Epitacio Pessoa
sem habeas-corpus
julgou effeito o
que na vespera concedera em favor do governo do Estado do
Rio, inspirado nru política expectante do Cunquitator brazi-
leiro na Bahia, tomar tempo novas informações
para pediu
ao Governo e mandou
que os pacientes comparecessem á barra
do mesmo tribunal.
214 ANNAES DA GAMARA

O telegrainma, porém, do Marechal Hermes da Fonseca,


Presidente da Republica, ao General emissário, mais que um
ukasn do Czar de todas as Russias, parece uma bulla do César
de Roma, rei do Universo (catholico) tresandando a estylo je-
suitico em todo o seu contexto!
Perante o Supremo Tribunal Federal, em sessão extra-
ordinaria do dia 11 de março, comparecem os pacientes, conego
Galrão e Dr. Aurélio Vianna, que, vencendo difficuldades quasi
insuperáveis, qual tivessem de atravessar hordas de beduinos,
que os houvessem aprisionado, sem as garantias de que esse
alto tribunal ordenara ao juiz seccional cercasse os requísi-
tados pacientes, nesta capital haviam aportado um dia antes,
Com tal perigrinação, porém, ao templo da suprema jus-
tiça da Republica, colheram apenas os pacientes invectivas
soezes do ministro Epitacio Pessoa!
O Supremo Tribunal Federal julgou prejudicado o
requerimento de habcas-corpus. E' que o Marechal Hermes da
Fonseca, Presidente da Republica, desrespeitado
que havia já
diversos julgados daquella alta casa da justiça federal, íi-
zera informar alguns membros do tribunal de que não estava
disposto a voltar atrás; dóra em telegramma ao general Ve3-
de Albuquerque o caso terminado e terminado
pasiano por
estava o caso da Bahia.
Em sessão de 27 de o Supremo Tribunal Federal
janeiro,
havia resolvido dar provimento ao recurso ex-officio do ha-
beas-corpus concedido Paulo Fontes para annullar
pelo juiz
a decisão
do juiz a quo. O recurso interposto havia suspendido
o habeas-corpus; o Marechal Hermes da Fonseca, porém,
sciente e conoiente do recurso, bem como dos seus effeitos,
tomou por
pretexto o habcas-corpus recorrido para a inter-
vrnção nos
casos do art. C da Constituição; annullada pele
tiibunal competente aquella medida judiciaria destruído ficou
o pretexto, quod nullum cst nullum producet effectum.
No mesmo dia 27 de J. J. Seabra o
janeiro deixára o Sr.
exercício de Ministro da Viação e Obras Publicas, cargo em
que agira jogando com a influencia e do Governo
prestigio
para impôr a sua candidatura de ao Estado da
governador
Bahia na eleição deveria ter logar no dia soguinte, 28.
que
Dous dias depois, a 30 do mesmo mez, teriam logar as
eleições geraes em que o tenente Mario Hermes, filho do Ma-
rechal Presidente, deveria ser eleito Deputado pelo l" districto
da Bahia.
A velha capital
d,i. Colonia, a cidade de S. Salvador, fôra
bombardeada, incendiada, saqueada, estava entregues ao terror
dos seus escombros e ein meio o pânico geral produzido
para
pelos morticínios, surgir a eleição do filho do Presidente da
Republica!
Trinta dias depois estava o tenente Mario Hermes di-
plornado Deputado pelo 1" districto da Bahia o seu pao, que
evcommendará tv ignóbil empreitada, dava por terminado o
caso bahiano.

De tudo o fica se
que exposto deduz, que o Presi-
dente da Republica, Marechal Hermes Rodrigues da
SESSÃO EM 21 DE SETEMB110 DE 1912

Fonseca, com tal intervenção nos negocios peculiares


ao Estado da Bahia, fóra dos casos exceptuados no
art. 6o da Constituição, commetteu o crime do art. 22
da lei de i'esponsabiIidade do Presidente da Republica.

Srs. Deputados. — O Ceará decahíra desastradamente do


grandioso conceito que lhe conquistára o movimento abolicio-
nista do elemento servil, que o baptizára com o nome de Terra
da Luz.
Esse Estado da União fôra empolgado fraudo elei-
pela
toral ao serviço da famalia Accioly, polvo, cujos tentáculos
nojentos se distendem por todas as repartições federaes e
estadoaes, secretarias, thesouro, assemblóa, conselhos,
policia,
casas do instrucção, alfandega, collectorias federaes e esta-
doaes, estações do estradas de ferro, serviço® contra as seccas,
representação federal, toda a vida de um Estado, tudo que
age, tudo
que produz, tudo fôra açambarcado pelos indivíduos
da família Nogueira Accioly, numerosíssima do
prole padre
Pompeu, velho político do império, de o commendador
quem
Accioly é genro e de quem herdou as manhas clerico-monar-
chicas que o sagraram chefe no regimen decahido.
O povo cearense, forte e rico de um milhão de habitantes,
representantes das tradições da Colonia, que dos velhos fitjal—
gos pernambucanos, que proclamaram a Republica, no Senado
de Olinda, em 1711, através a Republica de 17 e a Confederação
do Equador, semearam de feitos gloriosos o longo littoral e os
vastos sertões do norle até a epopéa do Tristão de Alencar nas
campinas do Grato, este piovo generoso o nobre, que em um
rápido movimento de opinião redimiu no Império a escravidão
negra, pouco a pouco se foi deixando aviltar nos ferros do
uma escravidão de nova especie, sob o jugo feudal de uma
família, a ponto do ser conhecido pela denominação do —
escravos brancos da olygarcliia do Accioly 1
A usurpadora po>!itica dos
governadores, organizada pelo
corrupto governo Campos/ Salles o desenvolvida nos governos
dos conselheiros do Império, sendo animada no Ho-
periodo
drigues Alves e consolidada no periodo Penna-Peçanha, insti-
tu ira ao norte do Brazil os conhecidos Estados escravizados,
que se generalizaram por todo o paiz.
As difficuldades da vida, aggravadas
com o parasitismo
dos filhos, genros, parentes, compadres e servos dle
todos os generos e castas; os impostos contribuídos sómonte
pelos que não fazem parte da tribu exploradora, desanimando
o commercio, a agricultura e a industria com seus generos
desvalorizados eiri competição com similares favorecidos com
dispensasi de impostos aos correligionários; as perseguições
por
toda a parte aos caracteres nobres, submettem
que si não a tal
regimen, com os assassinatos do ooronel Nelson, chefe político
de Camocim; de um sobrinho do
padre Ferreira, chefe político
do Icó; do chefe de Ipueira, capitão Gregorio Pa-
político
216 ' " ANNAES DA CAMARÁ

lhares, cujo cadaver foi arrastado pelasruas do povoada, o de


outros muitos opposicionistas; com osmartyrios infligidos á
familia do jornalista Antonio GLementino; todas as oppres-
sões, todas as torpezas da
Accioly olygarchia o
promoveram
movimento que, tendo á frente o illustre parlamentar
eleitoral,
coronel João Brigido, redactor-proprietario do Unitário, e o
professor Agapito dos Santos, redactor-proprietario do Jornal
do Ceará, se agitava energicamente como um movimento abo-
licionista da escravidão branca, riaquelle desgraçado Estado da
União.

O enthusiasmo eleitoral com que o pernambucano


povo
se erguera da apathia em que o lançara a olygarchia ltosa e
Silva e em meetinf/s, clubs
políticos o ligas femininas arrostára
toda a oppressão das forças
de policia militarizadas, com arma-
mento Mauser, metralhadoras e peças dle artilharia, chegando
mesmo a rechassar batalhões de policia até os seus quartéis, se
transmittiu aos seus vizinhos cearenses, os imitando
quaes,
aquelle glorioso povo, pleiteavam as próximas eleições para
governador e vice-governador de Estado, reunindo-se em co-
inícios, fundando comitês e ligas feminis, agi-
políticos quo
tavam a opinião contra a nefasta olygarchia da familia
Accioly.
Por occasião de as ruas de Fortaleza, em 21 do
percorrer
janeiro, um prestito infantil, composto de cerca de três mil
cpeanças, acompanhadas de senhoras e cavalheiros, victo-
riando alegremente os nomes dos candidatos da opposição, do
Presidente da Republica, e de outros po-do Ministro da Guerra
] iticos, o commendador
governador do Estado,Nogueira Accioly,
mandou atacar a passeata infantil, na
praça Ferreira, por bata-
lhões de infaniteria e cavallaria de policia, surgindo ino-
que,
pinadamente dos lados dous
da praça, fazendo cerco á multi-
dão de meninas senhoras, e
assassinaram diversas creanças,
feriram mais algumas dellas e ai muitas
pessoas que as acompa-
nhavam, recuando sómente ante a resistencia dos populares,
que, em defensiva, os receberam os batalhões á bala. (Doe. 11. 7).
Esse requinte de levantou o espirito publico
perversidade
cearense ao mais alto de revolta o em poucos dias a
gráo
cidade do Fortaleza se achava em armas, com a chegada de
elementos^ de resistoncia das localidades visinhas, intimava
a deposição do governador e seu embarque immediato para
a Capital da União.
Correram as eleições, sendo eleito por esmagadora maioria
do proprio eleitorado, feito pelo olygarcha, para seu uso e
goso, o candidato da opposição, coronel Franco liabello, sendo
derrotado o general Bezerril Fontenelle, candidato do Presi-
dente daRepublica.
O Marechal Hermes da Fonseca, cuja candidatura á presi-
dencia da Republica fôra lançada por acclamações dos oppri-
midos das olygarchias do Ceará, de Pernambuco, do Amazonas,
da Parahyba, do Rio Grande do Norte, do Pará e do Alagôas,
tendo ao assumir o governo trahido todos os que depositaram
em sua pessoa as esperanças de emancipação política, dando
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 217

força ao olygaroha do Pernambuco contra o povo pernam-


bucano, ao olygarcha de Alagôas contra o povo alagoano, oppri-
mindo o bahiano com a intervenção armada naquelle
povo
Estado, a começar pelo bombardeio do S. Salvador, e nego-
ciando com o ministro Epitacio Pessoa o voto e influencia

deste juiz 110 Supremo Tribunal Federal, a favor da mterven-


ção armada na Bahia em troca da olygarchia da Parahyba do
Norte, entrou em accôrdo com o monstro do Ceará, que, após

a carnificina das creanças de Fortaleza, o povo cearense bavia


deposto do governo e expulsado do territorio do Estado, para
intervir nos negócios peculiares ao mesmo Estado, e começou

a intervenção adopitar a candidatura do general Bezer-


por
ril Fontenelle ao governo do Ceará.
E' o Bezerril Fontenelle o declara franca-
general quem
mente manifesto no dia 8 de fevereiro, di-
em seu publicado
zendo que acceitara a candidatura depois de novas solicitações
de amigos, daquelle «acima de todos os
principalmente que,
interesses especulativos, exerce a missão sagrada de guarda
e sentinella da paz e da honra nacional». (Doe. 11. 8).
Corroborando ainda a apresentação da candidatura Be-

zerril da Republica dá testemunho em inter-


pelo Presidente
view n'A Noite, inserto cm o n. 287, de 15 de junho, o general
Osorio de Paiva, e amigo do Marechal Hermes, nos
parente
seguintes termos:
«...0 lhe affirmar é que o Sr. Presidente da
que posso
Republica, não tem absolutamente poder para impor candida-
tos á governança de Estados.
«...0 Sr. Marechal, vendo que o eleito foi o coronel
Franco Rabello e tendo como candidato o general Bezerril,

tornou-se arbitro da situação, impoz candidato contra a vontade


do cearense, annullando a eleição e reduzindo a soberania
povo
do a farrapo ! ü Congresso cearense não se reunirá e
povo
está tudo prompto...»
«O coronel Rabello accedeu ao convite para o accôrdo, por-
da Republica, iria insinual-o como causa
que o Sr. Presidente
da anarchia que dizem IA reinante, como origem da excitação

de ânimos que lavra entre aquelle povo, etc.... Ora, quem


excitou assim o Ceará foi o proprio Sr. Marechal, que para la
enviou o coronel Thomaz Cavalcante para impòr o seu candidato
militar, esse cuja conducta ó por demais conhecida naquelle

meio. 1
«Sim, senhor, o
por candidato
Marechal, o general tem
ao
Bezerril. Não ha muito passou um telegramma
tempo S. Ex.,
José Faustino declarando seu candidato aquelle general e Ia-

zendo ver que como tal deveria ser respeitado.


«.. .e agora repito, tenho só a repetir: o Sr. Presidente da
Republica, tem o poder de impôr candidatos
não á governança
do (Doe. n. 9.).
Estado.».
Como se lê do fica exposto, levantada pelo novo do
que
Ceará, a candidatura do coronel Franco Rabello, apresentou o
Presidente da Republica, por parte do oligarcha, a candidatura
do general Bezerril, contrapondo um general a um coronel, en-
viou depois outro coronel, já Deputado Federal pela oligarchia,
ANNAES DA CAMARA'

para perturbar a ordem publica e deu ordens, ao commandanto


do districto «considerasse o
general Bezerril, seu candidato, que
como tal deveria ser respeitado.»

Derrotado nas urnas eleitoraes o candidato do Presidente


da Republica, general Bezerril, pelo povo cearense, sequioso
de liberdade que assim reivindicava as suas glorias passai
das, não aguardou
o Marechal
Hermes da O' reconhe-
Fonseca,
cimento de
poderes por parte da assembléa daquelle Estado,
composta aliás de parentes e servos do oligarcha, e encarregou
ainda outro general, o Sr. Carlos de Mesquita, commandante
da guarniçao, da importantíssima commissão
de verificar quem
fôra o eleito, si o general Bezerril, si o coronel Franco Ra-
bello ! !
Informado pelo general Carlos de Mesquita de que o eleito
do povocearense, lôra o coronel Franco
Rabello, começou im-
pertinentemente o 1 residente da Republica a provocar a re-
nuncia voluntaria deste coronel, e obtida ella convidou 0 Dr.
moura Brazil para o alto cargo de
presidente do Ceará !(Doc.
n. i,'just. cri.).

medi?0, Que fôra já convidado pelo Marechal


'Ç,mP° da organização
.9 do seu ministério para a
Afri°u"ura> »ão tendo sido mantido um tal convite,
!?« aÍLh
vez
ao Marechal, acceitaria
ü v - aquelle cairgo sob
esc°lba dos vice-governadores ser feita
Coe®',a por
irJtei'voncão dos chefes políticos que no Ceará so
Proclamação da autonomia do Acre, e orga-
P0,(í.:er>
contra as seccas do norte, com
Sí,!; iSOmÇO a sua superin-
tenaencia !» (Does. n. 9 e 10.).
"jÍ8 oxt™mos levou a arbitrariedade
í?quo do Marechal Her-
ua J onseca, o systema
republicano da Confederação !
depois de repetidas conferências coin
™«iv i ' o Ma-
0
nt» í i f»?!68 •' ,MoVra Brazil declarou terminantemento
Prudência do Ceará, fazendo assim fracassar
a
cobrado 110 Palácio Guanabara
Pr-IaiíWA Ho nCC i ,° pelo
a revelia do povo cearense, cuja so-
i /«fiío Republica
Deram a, como o declarou o general Osorio de Paiva, ú im-
prensa, reduzira a farrapo, impondo candidato contra a
vontaoo cio povo, ao ver eleito o
coronel Franco Rabello, o der-
rotado o seu primeiro candidato,
o general Bezerril.
Persistia ainda o Presidente da Republica em dar ao
oligarcha do Ceará, a victoria eleitoral, tentou fazer assumir o
governo do Ceara o Bezerril,
general dando ordem para tal
fim ao general Carlos de Mesquita; este
iIlustre soldado, porém
que verificara, como ao Marechal coinmunicou, a estrondosa
victoria eleitoral do coronel Franco
Rabello, respondeu ao Pre-
sidente da Republica o ao Ministro da Guerra que seria im-
fazer recuar o povo cearense,
possível garantindo que uma ten-
¦ativa seria de deposição contraria ao coronel Franco Rabello.
provocaria immediatamente a revolta e accrescentou
geral,
que prezava por demais a sua honra militar, e o seu caracter
de homem honesto, para collaborar nas medidas de repressão
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 ?19

sangrenta de que cogitava ou viesse a cogitar o Governo Fe»


deral; não queria manchar seu passado.
0

então que deixando o comrnando do districto este mi-


Foi
litarzeloso de seus brios de soldado, e assumindo o commando
o coronel Agobar, que, corno os demais officiaes da guarnição
cearense não se prestaria a ser instrumento de oppressão,
manobrou o Marechal Hermes da Fonseca de fôrma a obter
do coronel Franco Rabello acceitasse o seu reconhecimento
de presidente pela assembléa organizada por parentes e ade-

ptos do oligarcha, sob condição de serem reconhecidos Io e 3o


vice-governadores dous candidatos amigos do oligarcha do-

posto.

O Franco
coronel Rabello acceitou as condições impostas,
seguio o Ceará, 'onde foi reconhecido uma minoria
para por
de oito votos em uma assembléa de 30 Deputados, estando na
capital 20 delles; já a mesa desta assembléa fôra eleita por uma
minoria de 12 votos, estando presentes á sessão 26 Deputados.
(Doe. n. 11, Diário do Congresso Nacional, anno XXIII, 7 do
agosto de 1912, pag. 1.001.)

Como se vê o usurpador por tantos annos do governo do


Ceará uma vez deposto do
poder, já não teve forças para
fazer cumprir pela assembléa que com a fraudo organizára o
compromisso que contratura no palacio Guanabara.

O coronel Franco Rabello, eleito legalmente pelo povo


cearense, assumiu o poder iIlegalmente, reconhecido por uma
assembléa organizada pela fraude da oligarchia.

O Presidente da Republica, em logar de deixar ao povo


do Ceará, que em um movimento de brio depuzera o oligarcha
e o expulsára do Estado, completar a sua obra de emancipação
política, collocando no poder os seus eleitos, sem o reconheci-
monto dessa assembléa do, escravos brancos, que surgira da
fraude eleitoral e reformára a Constituição para reeleger o
oligarcha, ficaria assim organizado o Estado, que estava fóra
da lei, exerceu a intervenção, obrigando tal assembléa a reco-
nhecer presidente o candidato eleito e vice-prosidentes can-
didatos não eleitos para taes cargos.

Faz-se de uma vez destruir estas cidadellas da


preciso
fraude — falsas assembléas — em se acastellam os oli-
que
garchas para, sophismando o resultado das urnas eleitoraes
com a apuração de actas falsas, se eternizarem no poder.
Em casos taes agirá o povo como soberano, restabelecendo
o regimen republicano, que houvera sido deturbado pelo abuso
do poder.

Para ser agradavel, porém, ao oligarcha do Ceará, agiu o


Marechal Presidente da Republica, já adoptando u candida-
tura do general Bezerril á presidencia do Estado, já exigindo
a renuncia do coronel Franco Rabello do cargo para o qual
fora eleito-, derrotando aquelle, convidando o Dr. Moura

Hrazil do mesmo Estado, já finalmente, após
para presidente)
a recusa digna deste medico, negociando a transacção
grande
220 ANNAE8 DA CAMAHA

vergonhosa que, sophismando a soberania


popular, macrili
o actual governo do Ceará.

De tudo o que fica exposto


se deduz que o Presi-
dente da Republica impediu
por violências e ameaças
que os eleitores cearensesexercessem livremente o di-
leito do voto, abusando o Marechal Presidente da in-
fluencia do cargo, art. 25; violou o escrutínio, inútilí—
zando a eleição presidencial do Ceará, art. 20; praticou
contra o Poder Legislativo daquelle Estado, crime es-
pecificado no cap. III da lei de responsabilidade, art. 21;
obrigando a assemblea estadual do mesmo Estado a re-
conhecer quem nao fôra eleito, fazendo-a exercer as
suas iuncçoes do modo por que bem o entendeu elle
presidente, art. 16, tudo da lei de responsabilidades do
Presidente da Republica.

da evolução política de nossa


n ,^°Sputa308-SNtai1Í8t9ria
Patria nenhum dos Estados da Republica se
poderá ufanar de
possun mais brilhantes
paginas, do que as que foram escri-
nobreza de caracter e valor dos filhos il-
ií(^rnio0
lustres da i>!ue'
Parahyba do Norte..
a idéa de patria una e grande,
O.T.Oncreando quão
, -ra ,em .W6 vira a luz, batendo-se contra a
yao dominadora dos mares, fulge
vjHni w o vulto de
Negreiros, o chefe organizador da Restauração do
Norte

, a metropole, que se, erguera apenas


9enfraquecida
JHg0 ^espanhol, abandonou a colonia brazilea
H°r
sob 0 doininio batavo, por li&ver feito
nfuaricn Tnm n° Wni?ruíí
tÍIS,,.-!?nrfrJ^r •^níla'1 a invasora das capitanias do norte
¦ 'd;oixa,ndo a Bahia, de cuja
£? nní.u * Xi? guarnição
a<i va(; a Metropole, volta a Para-
hvha S nr f f !'ai'.anflao>
~ V . il IIiao u scu veneranao p'ae, esta
i nin^n
oeiece r. ^m if
com tV
ernao Rodrigues, Manoel Queiroz, Jeronymo Ca
ueiia o uuiios o piano que expuzera no Recife a Fernandes
Vieira, visita o forte de Oabeuello, volta a Pernambuco, le-
vanta torças, ataca os hollandezes
o por vinte, aimos paira so-
camP° de batialha, a terminar com a rendição
de i aborda^ em que ditou condições as mais absolutas para
a restauraçao completa das capitanias do norte, mas também
as mais honrosas para ambos os exercitos.
Firmando os altos destinos do Brazil
com a victoria final
e expulsão dos nollandezes do sólo da Patria, governador ge-
ral do Maranhao e Grão Pará, de Pernambuco depois e 'afinal
de Angola na Afnca, o capitão general André Vida! de Ne-
greiros nao teve ate o presente competidor em glorias e do
1 Ilustre parahybano diz Varnhagen: «André Vidal era homem
tão superior que necessitava um Plutarcho para aprecial-o.
«Einquanto emprehendeu sempre com muito esforço e
valor não levava em mira o prêmio nem talvez esse mesmo
phantasma da gloria, que tantas vezes nos embriaga, tudo fez
por zelo e amor do Brasil; sua abnegação a bem da Patria
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 221

chegou ao extremo de consentir sem a mínima reclama-


que
Çao circulassem essas infindas narrações contemporâneas
dessa campanha, que sempre lhe attribuiram um papel tão se-
cundario».
O nome do extraordinário como_que enche
parahybano
pelo caracter, valor, intrepidez,
acção e exem-
perseverança,
pio, creando uma patria grande e una para o joven povo bra-
zileiro, lodo o periodo colonial de tre,s séculos de gestação da
nossa nacionalidade.
Novice-reinado é o sábio naturalista Dr. Ar-
parahybano
ruda Gamara, que de volta d'a Europa em fins do século XVIII
fundão celebre Arcopâgo de Ilambé. Denunciada a propaganda,
que já se ramificára com as Academias do Cabo e do Paraiso,
e suffocada a conspiração de 1801, dissolvidos os centros poli-
tico-scientificos; a idéa, caminha, rebenta a Revolução
porém,
de 17. E' proclamada a Republica em Pernambuco, Parahyba,
Rio Grande do Norte e Ceará.
O general Amaro Coutinho e o coronel Estevão Carneiro,
com o illustre mineiro coronel Francisco da Silveira formam
o Governo Provisorio da Parahyba do Norte.
O coronel Peregrinode Carvalho ó enviado pelo novo go-
verno com forças parahybanas á cidade do Natal e lá chegando
proclama com André Albuquerque a Republica no llio Grande
do ISorte.

Restabelecido o legalismo em todas as capitanias, na Pa-


raliyba do Norte após a capitulação dos republicanos, appa-
rece o capitao
João Soares Noiva, se insinua 110 governo
que
interino a de estarem 'occupados
pretexto os lofficiaes dje
patentes superiores^ em organização de forças, faz prender os
revolucionários « não para que se infrinja nelles o direito dc
capitulação, tratado e anceito em nome de 8. Magestade,
pelos
Ousados Commandantes das Tropas Unidas, a
para restau-
ração, a qual capitulação será levada d
presença de 8. Alar/cs-
tude», mas para segurança da causa da legalidade. o
(Datas
notas para Historia da Parahyba,
por Irineu Pinto, pag. 275.)
Com este acto de perfídia, mentindo á fé da capitulação,
que haviam assignado com os republicanos os chefes legalistas,
garantindo áquelles vida, liberdade e bens, entrega o capitão
João Neiva ao carrasco as cabeças do general Amaro Coutinho,
dos coronéis Francisco da Silveira e Peregrino de Carvialho
e mais as de 65 revolucionários, si haviam batido deno-
que
dadamento na Parahyba do Norte independencia e liber-
pela
dado do Brazil !!

Taes horrores praticou esse algoz do povo parahybano 11a


campanha de perseguições ás famílias dos martyres tlci 17 o
de seqüestro aos seus bens, taes a da
perfídia», como prisão
ue Peregrino de Carvalho venerando deste
pelo pae guer-
roiro indomito, com indulto filho,
promessa de ao si deste
conseguisse a rendição de suas forças; taes degradações com-
metteu,
que, um mez depois foi excluído do governo, por termo
de j do junho de 1817 «
por se reconhecer a calumnia, o cynismo
e lalsidade» com agira no mesmo.
que
222 ANNAES DA CAMARA

Pôde galgar, porém, o capitão João Neiva dentro em


breve, com as vagas que abriu... os postos superiores — mor-
reu brigadeiro!!!
No Império, sete annos mais tarde, entra a Parahyba do
Norte com grande contingente de homens illustres na cam-
panha da Confederação do Equador, tendo a frente o coronel
Monteiro do Franco. Prega no a Republica em Pernambuco,
jornal Republica, o intemerato parahybano, eloqüente tribuno
Borges da Fonseca, o agitador da revolução de 48; chefia o mo-
vimento de propaganda no mesmo Estado o eminente parahy-
bania Maciel Pinheiro, ao lado de Martins Júnior, nos últimos
annos do periodo monarchico.
A' da
frente
propaganda republicana na Capital: do Im-
perio, como secretario da Commissão Executiva do Partido
Republicano, bate-se denodadarnente o parahybano Dr. Aris-
tides Liobo, o chefe republicano de mais acção naquelle movi-
mento, primeii*o civil que entrou na conspiração militar, que
proclamou a Republica, e Ministro do Interior do Governo
Provisorio.
Na
gloriosa jornada de 15 de novembro, um só
porém,
official commandante de forças, relutou, resistiu ao major
Marciano de Magalhães, que teve á frente da Escola Militar
de forçar os
portões do jardim do Campo da Acclamação — foi
o major João Soares Neiva, commandante' do Corpo de Bom-
beirosü!
Por escarneo da sorte foi o Estado Parahyba doado
da
pelo generalissimo Deodoro da Fonseca ao relutante descen-
dente do algoz do povo herdeiro do seu nome,
parahybano,
perfidias e manhas, fundador, com seu irmão, bacharel Ve-
nancio Neiva, da primeira olygarchia no Braail-
organizada
Republica.
Contractos sem coucurrencia distribuídos a parentes, com
prejuízos para a arrecadação dos dinheiros estadoaes; distri-
buição cie cargos rendosos
pelos membros da família; contra-
cto com o sogro do governador de malas do Cor-
para porte
reio, pelo centro do Estado; quantias subtrahidas de registra-
dos do Correio pelo cunhado do mesmo distri-
governador;
de dinheiros dos soccorros federaes as
Jjuição públicos para
yictimas das seccas aos do mesmo
parentes governador, pelo
cunhado; empastelamentos de typographias de, jornaes da op-
posição e intimações pela policia a jornaes opposicionistas para
guardarem silencio sobre as falcatruas do governo, sob pena do
descontos de 50, CO, 70 o mais
empastelamento, por cento nos
ordenados dos empregados estadoaes, atrazados de seis, oito e
10 mozes, sendo o agiota de tão torpes transacções o mesmo
cunhado, sócio do governador, pois, este só despachava petições
do pagamentos apresentadas aquelle, que, aliás, exercia
por
o de juiz de casamentos últimos
cargo da. capital e nos tem-
p:os o de juiz seccional!!!; subscripções impostas a empregados
festas e
presentes ao governador; outras e ou-
públicos para
tras torpezas, verdadeiras infâmias, que estão desgraçadamente
hoje, por todo o territorio do paiz e centra-
generalizadas,
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 223

lizadas na palacio do Cattete, foram os primeiros actos do Dr.


Venancio Neiva, na Parahyba do Norte, fundando a primeira
oiygarchia aladroada que enxovalhou a Republica, em sua al-
vorada.
De toda esta podridão surgiu no mundo político o Dr. Epi-
cio Pessoa, secretario e conselheiro do governador e filhote,
como sobrinho de José Neiva, da no"?sta oligarchia parahy-
bana !
a Republica pela revolução de 23 de novem-
Restabelecida
bro que destruiu os effeitos do golpe de Estado Deodoro-Luce-
na, levantou-se o povo parahybano e depoz o governador Ve-
nancio Neiva, reorganizando a política do Estado sob o influxo
benefico do marechal Floriano Peixoto—o consolidador da
Republica.
Ministro da Justiça do corrupto governo Campos Salles o
Dr. Epitacio Pessoa, aposentando o celebre Dr. Honorio de Ei-
gueiredo nomeou o Dr. Venancio Neiva juiz seccional daquelle
Estado, fundando com este sob o commando de Antonio Silvino
o batalhão Epitacio Pessoa, hoje bandoAntonio Silvino, e pouco
apouco a jogar com a influencia juízo federal e por inter-
do
médio de seu irmão Antonio Pessoa se foi approximando do
Governo até fundar a nova oligarchia Neiva-Machado, com a
qual faz hoje alliança positiva para a conquista da Parahyba.
Generalizando as torpezas da oligarchia dos Neivas fôra o
Dr. Epitacio pastaPessoa
política do na
Interior e Justiça o
instrumento do Dr. Campos Salles, para a organização da nunca
assás decantada política dos governadores, que semeou de oli-
garchia o territorio da Republica.
Introduzindo 110 Supremo Tribunal Federal os mesmos pro-
cessos tornou-se o filhote da oligarchia dos Neivas no
período
Nilo Peçanha, a quem serviu com seu voto na questão do Es-
tado do Rio, o mercúrio do Cattete, sendo assalariado
pelo Mi-
nisterio do Exterior de fôrma a desmoralizar o mais alto tri-
bunal de
justiça da União.
O Marechal Hermes da Fonseca premeditando a interven-
ção armada no Estado da Bahia para servir ao Sr. J. J. Seabra
e conquistar o diploma de Deputado para o seu filho tenente
Mario Hermes, ante o phantasma do Supremo Tribunal Federal,
assasssinado já então este pelo desrespeito por parto do Governo
aos seus julgados, lembrou-se de que o Dr. Epitacio Pessoa, ao
serviço do Sr. Nilo Peçanha, havia com uma emenda annullado
um kabeas-corpus em tavor do Estado do Rio e con-
pensou oin
tractar também os serviços de tão assignalado juiz !
Conhecendo as aspirações
daquelle do
políticas membro
Supremo Tribunal Federal á
posse da Parahyba do Norte, acce-
0 Presidente da Republica com a entrega da política
!]0u~"'e
daquelle bello
pedaço da patria brazileira, tão rioo do homens
11 lustres em todos os tempos e dispondo
de cargos electivos, com
menosprezo dictatorial do povo parahybano, contracto
firmou
com o Sr, Epitacio Pessoa para assim dispor do seu voto e in-
lluencia 110 mais alto tribunal do paiz (doe. n 1, 1", 2" e 3*
LGSv»/ «
224 ANNAE8 DA CAMARA c

O jornal A Noite em seu 11. 129 de 13 de dezembro de 1911,


assim noticia tal negociata:
«A política da Parahyba levou lioje os Srs. Walfredo Leal e
Epitacio Pessoa a conferenciar com o Sr. Presidente da Repu-
blica. Dessa conferencia ficaram assentadas as candidaturas dos
Srs. Castro para Pinto
presidente, Antonio Pessoa para vice-
presidente, Epitacio Pessoa para Senador e Maximiano de
o Sr.
Figueiredo para Deputado». Does. ns. 12, 13 e 14).
O Jornal do Commercio do mesmo dia
publicou a nota do
Cattete nos seguintes termos: «consta assentadas
que ficaram
as eleições dos Srs....» etc.
E' positivo este jornal; não trata já do candidaturas,
mais
dá logo como
assentadas as eleições, conhecedor como ó o de-
cano da imprensa dos processos eleitoraes dos tempos que atra-
vessamos; diz a cousa como a cousa é !
O imperialismo que vac desenvolvendo o Marechal Hermes
da r onseca, oppondo ás manifestações das urnas a
populares
sua vontade absoluta; a collocar um
general 110 governo de Ser-
gipe; a negociar por intermedio do irmão a eleição do governo
de s. Paulo; a impor á Bahia o
governo do Sr. J. J. Seabra com
bombardeio da capital bahiana
pelo general Sotero de Mene-
zos; a negociar o reconhecimento do
governador do Ceará, após
a eleição em que se
pronunciara o povo cearense, mystificando
assim o resultado das urnas; ;a crear
difficuldades ao reconhe-
0 P°'ss0 do governador eleito do Alagftas; intervir
íiim$n a 110
e 11 dispor dos cargos electivos do Estado da
n . i,e ino ^ xU,iy
aranyba do Norte para cumprir o conchavo que fez no palácio
Guanabara oom o Sr. Epitacio Pessoa, tudo isto, depois de
impor ao Estado do Rio o governo do Sr. Botelho
Oliveira e
dissolver o Conselho Municipal do Federal, um Districto
tal
imperialismo satisfazer fins inconfessáveis,
(desbragado, por
que semanifestou também no reconhecimento de poderes e
escolha do leader da Camara dos Deputados, perturba por de-
inais a marcha da Republica, conspirando contra a paz e di-
gnidade nacional.
O povo da Parahyba do Norte foi o primeiro que em
assomos do brio se ergueu altivo contra a oligarclvia que a
explora e deprime.
O Dr. Lima Filho na imprensa e 11a arregimenfação do
Partido Democrata; o Dr. Santa Cruz em defesa do município,
célula mater da Republica e o Dr. Franklin Dantas, em defesa
da manifestação da soberania popular urnas eleitoraes,
pelas
veem de ha muitos annos travando luta a mais renhida contra
a postergação dos direitos de cidadão detentores do
pelos
poder naquelle Estado.
Levantando o grito d» — Liberdade ou Morte — em dias
do abrilde 1910, lança o Dr. Santa Cruz 11111 manifesto ao
em que se lê: «Nossa liberdade vale a nossa vida, 11a
povo.
qualidade de homens podemoslivres
calar não
o de
grito
indignação e revolta contra a vil escravidão, imposta pelo
prefeito, chefe do terror que, se julgando soberano, esquece
seus deveres para com o povo. que como feitor ao
governa
sabor do sua supina ignorancia e fina Nossa
perversidade.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 225

única aspiração é de sermos livres, firmarmos o grande prin-


cipio da soberania popular. Exigimos a restauração do nossos
direitos de cidadãos brazileiros, direitos assegurados
políticos
pela Constituição e violadas pela tyrannia do poder.». (Doe,
n. 15).
Filho de uma das famílias do Norte, bacharel
primeiras
em direito, fazendeiro rico em Alagôa do Monteiro, limite de
Pernambuco com a Parahyba, começou de ser o Dr. Santa
Cruz accusado de chefe do, cangaceiros nesse movimento, em

que á frente do povo se levantava em defesa da autonomia


do município, nas urnas
para garantir a victoria que alcançara
das eleições municipaes, a 5 de janeiro se realizaram em
que
Monteiro, eleições nas com seus amigos elegera o pre-
quaes
sidento e vice-presidente do conselho, infligindo tremenda:
derrota ao governo estadual.
que filiadas ás oligarchias estaduaes estavam já organiza-
E'
das oligarchias municipaes, que se ramificavam por todo o ter-
ritorio norte do paiz. Neste movimento verdadeiramente revo-
lucionario um dos chefes locaes de mais prestigio no Es-
por
tado,o governador não pediu a intervenção do Governo Federal !
Fôra fundada no Janeiro a «Liga Política do Norte»
Rio de
ou antes — Liga Oligarchica do Norte—; os governadores se
auxiliavam mutuamente com as suas forças policiacs arregi-
mentadas. A' policia da Parahyba uniu-se a de Pernambuco,
havia alliança entre os oligarchas Rosa e Silv.a e Álvaro Ma-
chado. As duas forças policiaes, fortes de 1.200 homens cer-
caram a fazenda do Areai, estacando, porém, doze longos dias
ante a resistência heróica do illustre parahybano !
Não se podendo manter por mais tempo na fazenda, rompe
o cerco o Dr. Santa Cruz o, levando a sua família, á frente
dos seus 800 homens, faz uma retirada através o alto sertão
até o Ceará, retirada que honraria a qualquer official culto
do nosso exercito.
Em vão os revolucionários
telegrapharam ao Presidente
da. Republica
protestando contra a invasão de forças de Per-
nambuco em territorio parahybano. O Marechal Presidente,
deixou que a policia de Pernambuco entrasse em Monteiro,
depois de abandonado Dr. Santa Cruz, espingardeasse o
pelo
povo parahybano inerme, fizesse depredações, saqueasse a fa-
zenda do Areai após a retirada do seu proprietário, arrombando
açudes, destruindo usinas de assucar, demolindo casas de vi-
venda o de colonos matando o e incendiando armazéns e
gado
depositos !
Approximando-se o período eleitoral para a organizaçaj
da Assembléa Estdual Legislativa, levantou-se o povo pa-
nahybano, tendo a frente o Dr. Lima Filho, republicano- ins-^
torico, ex-Deputado Federal, reclamando a abertura das urnas
em formam a
os grande
da opposição,
que pudessem que
maioria do Estado, torço da assembléa,
fazer ga- ao menos o
rantída com
a representação das minorias pelo manifesto que
o Marechal Hermes da Fonseca apresentou a sua candidatura
á presidência da Republica.
Este direito lhe foi mais uma vez sophismado pela fraude

Vol. 15
226 ANNAES DA GAMARA

eleitoral, feita a eleição por uma lei estadual estabeleceu


que
o n. 3 como terço de trinta deputados!!
Acompanhando o povo pernambucano em seu movimento
libertador, povo agito-se
parahybano, o
organiza clubs politi-
cos, comitês, ligas, funda em todos os municípios directorioa
locaes do Partido Democrata e escolho candidato a presidência
do Estado o Dr. Lima Filho, velho republicano, chefe do Par-
tido Democrata e o mais temido adversario da oligarchia pa-
rahybana.
Começa a campanha então
do Marechal Hermes contra o
pronunciamento das urnas eleitoraes, intervindo ostensiva-
mente nos negoeios peculiares áquelle Estado da União o fir-
mando a 13 de dezembro com o juiz Epitacio o immoral con-
chavo do Palacio Guanabara — a entrega da Parahyba do
Norte a este juiz em troca do seu voto e influencia naquella
casa da justiça. (Does. ns. 1, 12, 13 e 14).

Ameaçado o Estado com uma candidatura oligarchica,


apresentada pelo Presidente da Republica e patrocinada pela
força federal, desistiu o illustre Dr. Lima Filho da sua can-
didatura á presidência do Estado, e apresentou o directorio do
Partido Democrata a candidatura militar do coronel Rego
Barros.
Para satisfazer ás exigencias do Sr. Epitacio Pessoa que
se aterrorizara a:com candidatura militar e exigia energica-
mente o cumprimento do indecoroso conchavo, começou o
Marechal Presidente a hostilizar aqüôlle coronel, estava
que
no Amazonas, onde commandava «o> Io districto, o ameaçando
com conselho guerra de 1'actos nesse Estado, o
por passados
chamou a esta Capital e finalmente prohibiu que o mesmo co-
ronel, que fôra a Parahyba buscar sua familia, alli perrna-
necesse por algum tempo acompanhando o eleitoral.
pleito
Os jornaes dessa Capital registravam diariamente o mo-
v.mento de forças o Estado da Parahyba, todos os dias
para
eram publicadas^remoções de officiaes alli destacados, que se
não prestavam ás manobras da oligarchia; as ordens dessas
remoções eram transmittidas ministro Epitacio,
pelo proprio
que se prestou servilmente um dia ao papel de ajudante do
ordens do Ministro da Guerra, indo ao Lloyd contractar o em-
barque de cem praças do Exercito, soldados de sua confiança,
aquelle Estado, caso esse muito commendado pelos
para jor-
naes do dia!
Entre os officiaes removidos da Parahyba por lhes re-
as manobras do Presidente da Republica, conta-se o
pugnarem
sobrinho do ministro Epitacio o digno tenente Aris-
proprio
tareho Pessoa, deportado longiquo Estado por ter este
para
moço caracter e valor. A continuava a campanha de
policia
chegando ao extremo de senhoras e
perseguições, prender
moças da illustre familia Dantas do Teixeira.
O Dr. Franklin Dantas, distineto medico naquella cidade,
ex-deputado á Assembléa Legislativa no regimen passado, or-
ganizou resistência contra as perseguições e depredações da
Força Policial. O movimento patriotico do Dr. Franklin Dan-
tas, que trás longa e peitinaz luta contra a oligarchia para-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 227

hybana, fez recrudescer a remessa de forças federaes


para
aquelle Estado;—approximado o período das eleições, volta do
Ceará o Dr. Santa Cruz e tenta arregimentar a sua gente para
o pleito.
Emquanto aqui na Capital da Republica o Marechal Her-
mes consentia
que o Sr. Epitacio Pessoa movimentasse forças
do Exercito contra os seus desviando-ias assim
patrícios, do
grandioso papel de garantias da ordem, transformai-las
para
em esbirros eleitoraes deste trefego
e ambicioso juiz do Supre-
mo Tribunal, soífriain os no Estado as conse-
parahybanos
quencias do indecente accôrdo feito 110 Palacio Guanabara.

Em Campina Grande e outras localidades os.opposicionis-


tas íorain espancados, por quererem defender os seus direitos.
O candidato da opposiçáo, coronel Rego Barras, foi victima
de uma tentativa de morte
pelo alferes José Vicente, quando em
S. João do Cariry se
achava em propaganda de sua candida-
tura, e uma tal façanha deste official de
policia, commandando
em pessoa a descarga contra aquelle coronel do Exercito, foi
objecto de elogios Torres Hornem,
pelo general como affirma
em artigo n'A Província de 22 de jullio o Dr. Manoel Duarte
Dantas. (Doe. n. 17.).
O lar da família
foi desrespeitado, como em
parahybana
carta Franklin
ao Dr.
Dantas, communioa o padre Vicente
Rodas, nos termos: «o capitão
^seguintes positiv-os Augusto
prendeu João Vieira, Bernardo Limeira e Anatolio, todos se
achavam aqui na casa de João, com as famílias
justamente
e mais D. Ernestina. Todas as casas da família de V. S. foram
invadidas por soldados.». (Doe. 11. 18.).
Em carta escripta ao Dr. Epitacio Pessoa pelo Dr. Fran-
klin Dantas, autorizada a
publicação ao coronel Rego Barros,
que a estampou no Correio da Manhã, sendo transcripta no
Estado da Parahyba, narría
as o
amar- denodado
parahybano
guras por que passou sua illustre família e a indignação de
que se -acha possuído, nos seguintes termos:
«Exmo. Dr. Epitacio — Em um dos primeiros dias do
corrente mez, um assassino profissional ao serviço da oli-
garchia Machado, que commanda um forte contingente do 150
cangaceiros officiaes no Teixeira, o negociante João
prendeu
Vieira de Lyra, casado com uma sobrinha minha: o capitão
Bernardo Limeira i> família, o negociante Manoel Vieiiw.
a família do também negociante Severino Rego, e a minha
sobrinha senhorita Ernestina, a todos detendo na casa de re-
sidencia primeiro, do
pondo-lhes sentinellas ás e tra-
portas
zendo-os coagidos por toda a sorte de vexames.»
«Ainda mais. Estando eu, bem como o meu irmão Sérgio,
e as minhas irmãs solteiras, 11 estação in-
passando presente
vernosa nas fazendas de nossa sitas no município
propriedade,
do Alngíin do Monteiro, e as nossasencontrando-se fechadas
casas do Teixeira, aquelle assassino de norno Augusto mandou
occupal-as soldadesca, dinheiros,
pela que nos roubou jóias o
outros objectos. além cie estragar os nossos moveis.
«Accrescento minhas irmãs solteira') nenhum
que irmão
s
tnern morando comsigo.
228 ANNAES DA CAMARA

«Para V. Ex. não dizer que faço invenções, incluo uma

carta do reverendissimo padre Rodas, vigário do Teixeira, e


dos seus novos amigos de alli, cujo original remetto
parente
nesta data ao coronel Rego Barros, deixando de mandar reco-

nhecer a firma porque os infames compressores tentam contra

a vida do cidadão Severiano Rego, 2° tabellião da villa.

«Minhas irmãs D.D. Gelerinda e Maria Dantas, scientes dos


110 Teixeira, partiram de suas fazendas
graves acontecimentos
a sorte de suas sobrinhas, que se acham de-
para copartecipar
tidas como os demais.».
«Não temos para quem appellar em semelhante conjunctura

em tão desgraçada emergencia, desde que um dos desembarga-


dores do nosso Superior Tribunal teve a honrosa e confiante

missão de eliminar o coronel Rego Barros em S. João do Cariry,

e no Supremo está V. Ex. na qualidade de grande patife, dando


os maiores escandalos e desmoralizando o mais elevado Tri-
bunal do paiz.
«Depois do historico
que venho de fazer, resta-me, em
nome da mulher parahybana, affrontada nas pessoas de minhas
irmãs e sobrinhas, atirar de par com O1 meu maisvohemente

protesto ás faces cynicas de V. Ex. o esputo da minha justa


indignação.
«Todo o mundo sabe que a corrente militarista nos Es-
tados oligarchizados é uma necessidade do momento e ninguém
a deterá, sobretudo o> joven ministro, que é reconhecidamente
um liomem indiano !
«Acceite este
protesto como a expressão do meu solemne
desprezo pela pouca vergonha de V. Ex.
«Dr. Franklin Dantas. Fazenda Pedro II, 10 de maio de
1912.»
Pouco tempo antes das eleições mandou o
presidenciaes
Marechal Hermes da Fonseca seguisse do Recife para a Para-
hyba o inspector da 5" região militar, general Torres Homem,
com forte contingente e metralhadoras Mauser a assumir de-
finitivanienle o comniando das forças alli estacionadas, forças

que com os contingentes que haviam partido do Rio de Janeiro,


de Alagoas e do Rio Grande do Norte, montaram a 1.000
homens.
Com esto movimento de forças federaes implantou o Ma-
rechal pânico em meio o eleitorado parahybano.
Hermes o
O general Torres Homem entregou-se francamente á oli—
dominante, acceitando todas as festas e banquetes do
garchia
officialismo, pondo em evidencia a sua parcialidade que por
decoro da farda que veste devera encobrir; 110 dia da sua ene-
á capital parahybana na gare da Great Western, nas
gada
o nas ruas da cidade recebia sem um gesto de
praças publicas
repulsa a «escoria dos arruaceiros armados a rebenque, a pis-
tola Mauser, a cipó-páo», arruaceiros alugados que em alga-
zarra desafiava os adeptos do partido opposicionista a fazerem
qualquer manifestação de syrnpathia ao seu candidato !
(Doe. n. 19.)
«De Iiombro a hombro com as autoridades, os desordeiros
davam tiros e verberavam insultos á porta dos infensos a esta
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 229

situação desgraçada no seio da o chefe do districto


qual per-
manece sorridente e affectuoso recebendo homenagens.»
«Desde esse instante o comprehendeu
povo parahybano
que o general Torres emissárioHomem era um simples
do
levava
as credencias da tyrannia e nos seus bordados
Çattete,
de general descansavam as ambições do Sr. Epitacio a quern
o Presidente precisava serviços recebidos !»
pagar
Sendo obrigatoria a á general graduado para
promoção o
coronel que baixar ao n. 1 dos desta patente, veiu o Exercito
Brazileiro a contar entre os seus generaes um Torres Homem,
capaz de representar o este chefe de districto re-
papel que
presentou na Parahylia do Norte em contraposição ao proce-
dimento dos Carlos Pinto, Trompowsky, Carlos de Mesquita,
Ilha Moreira, José Faustino e tantos outros
que sabem guardar
a tradição gloriosa do nosso Exercito.

O general Torres Homem submettendo-se áo commando


directo do Sr. Epitacio Pessoa, ficando cégamente ti disposição
do br. João Machado, bem mereceu fiscalização
a de que o cer-
cou o trefego filhote da oligarchia dos
Neivas, a
que ordenou
seus adeptos o fossem informando do daquelle
procedimento
general no Estado da Parahyba. E' assim que o general Torres
Homem ao tomar
á frente das forças do Exercito na
posição
cidade de Campina Grande, subjugar daquelle es-
para ponto
trategico todo o movimento eleitoral do Estado, o Sr. Epitacio
Pessoa o collocou sob a fiscalização de Cliristiani Laiirintzen,
judeu dinamarquez, que de ha muito se constituiu, o verdugo
do povo daquella comarca, ao incumbiu de
prospera qual
vigiar o mencionado ordenando telegramma tal
general por
vigilância nos seguintes termos: «Diga-me também quaes dis-
posições força federal destacada em Campinas.» n. 20.)
(Doe.
«Eis um documento de alto valor pelo se verifica
qual a ve-
leidade que teve o Dr. Epitacio Pessoa de mandar fiscalizar o
proprio inspector regional general Torres Homem»,—com-
menta o Estado da Parahyba. A quanto o Marechal Hermes da
Fonseca fez baixar o Exercito Brazileiro !

O inspector regional aceentuou a sua campanha contra a


liberdade das urnas no Estado da Parahyba dio Norte, de-
clarando em phrase tarimbeira: «Os votaram nas
governistas
urnas e a opposição commigo».

Ao Dr. Affonso chefe Campos, de


prestigioso político
Campina Grande
estadual, e
negou deputado
o general com-
mandante das forças garantias, allegando ser aquelle illustre
parahybano «opposicionista e como tal convivente com can-
gaceiros. (Doe. cit. n. 17.)
Multipliclando-se as queixas feitas á S. Ex. sobre as vio-
lencias praticadas contra oppocionistas, não só em Campina
Grande, como em todo o Estado, respondia sempre secca-
mente aquelle general: «Por moralidade não consentirei que
se espanque em minha isto á luz do
presença e dia»!!
(Doe. cit. n. 17.)
Entre os actos do violência mandados praticar tal
por
general, destaca-se pela originalidade que o caracteriza o da
230 ANNAES DA GAMARA

intimação em Campina Granite por sua ordem e


por intermedio
do capitão Felizardo Toscano e do delegado Eufrasio Gamara
ao clistincto jornalista Sevcriano para não continuar distribuir
retratos do candidato da opposiçao, visto como «.este acto im-
portaria em sedição»! (Doe. cit. n. 17).

As
perseguições, prisões, espancamentos e outras bruta-
lidades praticadas nos diversos pontos do Estado forças
pelas
ao commando do general Torres Iíomem,
que estas distribuiu
por municípios, perturbaram o pleito eleitoral, produzindo a
abstençao das urnas em todo o Estado.

De Campina Grande, onde a opposição é duas vezes maior


que o governismo, recebeu o coronel Rogo Barros o seguinte
telegramma:

«CampinaGrande, 22 — Em virtude
de grande compressão,
a_opposi(;ao desle município resolveu fazer abstenção, afim de
nao honrar com caracter de pleito a victoria d'a intervenção
armada. — Monsenhor Salies, ex-bispo do Maranhão. — br.
Affonso Campos, advogado. — João Lourenço, fazendeiro.».
(Doe. n. 21).

Ao Dr. Lima Filho, presidente do directorio do Partido


Democrata, foram dirigidos entre outros os seguintes tele-
grammas:

*r^L1'-a 23 —
„ P™?! Directorio do Partido Democrata —
opposiçao cie I icuhy deante da pressão infame do governo
absteve-se das urnas. — Directorio Democrata». (Doe. n. 22.)
«rrmmpho, 2:> — —
Commissão Executiva A opposiçao
reunida nao pode votar visto não abrirem as secções no dia do-
terminado. Directorio de
Conceição». (Doe. cit. n. 22>)

Sr-_Dr. Lima
O governo não Filho
foz —
v^° acceitou o r.osso
,,ÍL? protesto. Assignamos
este em casaparticular. Povo opprimido e sob ameaças tem-
veis. — Manoel Januncio».
(Doe. cit. n. 22.)
«Campina
Grande, 22 — Directorio Democrata — Em vir-
tuaeoe grande compressão o eleitorado opposicionista deste
município resolveu abstenção. — Affonso —
Campos. Mon-
senhor Salles. — João
Lourenço.»

«Oajazeiras, 1!) — Directorio Partido Democrata — Che-


gou forte contingente afim liberdade
policial coagir oppo-
sicionis,as. Assumindo attitude
aggressjva procuramos o juiz
de direito e o cheio
político, que declaram ostensivamente nao
haver pleito o que farão eleição a bico de Reconhe-
penna.
cenclo maioria opposieionistas offereceram terço da votação
o
falsa, nao acceitamos. — Francisco Sobreira, presidente dire-
ctorio democrata oeste município». (Doe. n. 22.)
cit.
«Patos, 20 —• T.ima Filho — Partido Democrata deste
[)r.
município nãopode comparecer :'ts urnas coagido forca
pela
Jederal e policial; grande numero de eleitores foragidos Rio
Grande Norie. Ha absoluta falta de Leoncio
garantias. Wan-
aerley». (Doe. cit. n. 22.)
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 231

«Cajazeiras, 20 — Directorio Partido Demctcrata — Olí—


garchas estão fabricando eleição edifício collegio, obedecendo
instrucções Dr. Epitacio. Estamos coagidos. Francisco So-
breira.» (Doe. cit. n. 22.) , ,

«Pombal, 22 — Dr. Lima Filho — Partido


O Democrata
forçado abstenção Almeida. — João Car-
aqui. Aureliano de
neiro». (Doe. cit. n. 22.)

«Alagôa Nova, 24 — Dr. Lima Filho — As eleições aqui


a 22 deste foram feitas a bico de penna sem comparecimento
do formalidade. —
eleitorado. Abriram a casa da Gamara por
Belüario». — Doe. n. 23.)

«Itabayanna, 22 — Directorio Democrata — A opposição


absteve-se devido intervenção porém alguns federal, tendo
eleitores ido votar nas secções, afim de verificar o compare-
cimento e irregularidades. As chapas eram introduzidas nas
urnas pelo delegado de policia dessa capital e outros, á von-
tade, do resultou falsa votação superior ao numero de
que
eleitores —
que compareceram. Julgamos inútil protesto.
Sezinio». (Doe. cit. n. 23.)

«Guarabira, 22 — Directorio Democrata — Devido pa-


nico eleitorado opposicionista alarmado, noticias coação for-
ças federal e policial dlia pleito, resolvemos abster-nos reco-
lhendo grande numero do chapas, já distribuídas pelos nossos
correligionários. ;— Emydio Costa». (Doe. cit. n. 23.)

«Areia, 24 — Dr. Lima Filho — A manifesta oppressão


no eleitorado opposicionista pelas forças federal e policial com-
mandadas por um cabo do Exercito deixamos de comparecer
ás urnas no dia 22, no intuito de evitar derramamento de san-
ulteriores aos nossos amigos. — Cunha
gue, perseguições
Lima, ex-Deputado Federal». (Doe. cit. n. 23.)

«Taperoá, 24 — Directorio Democrata — Foi impossível


o comparecimento do pleito de 22
eleitorado da opposição no
devido dispersão nossos correligionários foragidos uns e sob
coacção forças federal o policial muitos outros. — Manoel Car-
neiro». (Doe. cit. n. 23.) . i

Alaoôa Grande não teve eleições, lavrando os eleitores


opposicionistas em numero de protesto que o tabellião
111 um
José Paulo T. de Arruda declarou não sentir-se com liberdade
do tomai' por termo isto em obodiencia as instrucções termi-
nantes do juiz de direito e do chefe político.

«Catolé do Rocha, 24 — Directorio Democrata. Aqui e


no Brejo do Cruz, como sempre as eleições de 22 do corrrente
feram feitas a bico de penna, alguns dias antes do detormi-
nado, motivo pelo qual não teve logar o comparecimento do
eleitorado opposicionista.— Pacifico de Almeida.» (Doe.
'
cit. n. 23.)

«Baseado no art. 45 do decreto n. 848. do 11 de outu-


bro de 1890, impetrou o illustre advogado Dr. Miguel Santa
Cruz ao juiz seccional Dr. Venancio Neiva uma ordem de ha-
232 . annaes da camaba

bc-as-corpus em favor do eleitor opposicionista Othon Lyra


preso minutos depois de ter votado 110 candidato do Partido
Democrata coronel Rego Barros, o também uma
ordem de lia-
ticas-corpus em favor dos eleitores
preventivo José Moreira
• ?', Barreto Cavalcante de Albuquerque Herme-
Inel),0 e
iicgildo C. da Cunha Jumor, os quaes se achavam foragidos
uo seus lares em virtude da ordem de
prisão que lhes foi dada
pt lo delogacio do policia, por^ terem estes eleitores votado no
candidato da opposiçao; prisão e ameaças de prisão illegal e
arbitrariamente feitas por ferirem illegal e arbitrariamente
art. J /O da lei n. l._t)9, de Io de novembro
de 1904 e an-
iiullarem os dispositivos do art. 72 §§ 13 e 14 do Pacto Fun-
damental da Republica.» (Doe. cit. n. 22.)
O n. 848,
decreto de H de outubro de 1890, em que se
üseapedido ode habcas-corpus, 6 o que organiza a justiça
lederal. O art. to, citado pelo Dr. Santa Cruz, diz textual-
mente: «O cidadao_ou estrangeiro
que entender que elle ou
outrem soffre pressão ou constrangimento
illegal, em sua li-
berdade, ou se acha ameaçado de soffrer, um ou outro tem
aireito de solicitar uma ordem de habcas-corpus
em seu favor
ou de outrem». 1
O juiz seccional da Parahyba
do Norte que foi o fundador
dn primeira, oligarchia que se organizou 110 Brazil-Republica,
a oligaichia deshonesta dos Neivas,
e como governador teve
®r- Epitacio Pessoa, sendo por
í.cVn 0
Ç? Campos Salles nomeado juiz para
nmipíli wws™ ,i„
1 ^federal, lançou na referida petição
ííh.™
'
¦<<íl,ao tomo conhecimento do pedido por
uâo ser cas0de competencia deste
h¦ 7!) Pnrnhvhn°HJ?sli;a,°.
0 c,e 1912.—V. Neiva». (Doe.
cVt ri 22 J

Proh pudor1

obter habcas-corpus dos juizes oli-


pei^ns mníri.m.fivcl
1" Presc? 0 eleitor opposicionista Othon Lyra,
victimas todos de tanta arbitrariedade
t violência, ^, !maiS'
por serem opposicionistas
e terem a idéa de exer-
Quando o Marechal Hermes da Fonseca,
PPA^riinfp1i
Presidente nA
da Republica, havia indicado os candidatos á
presi-
dencia e vice-presidencia do Estado e havia mandado o gene-
ral Torres Homem lazer a eleição!
O primeiro pretexto a
que se apegou o Dr. João Machado,
governador da 1 araliyba do Norte, para reclamar força fe-
deral e espalnal-a pelos municípios, movimento para o qual
seria insufficiente a força foi o de guardar as colle-
policial,
íederaes, como em aparte ao discurso illustre
çtorias do Sr
Inneu Machado na sessão de 22 de
junho da Gamara dos Depu-
taidos, o declarou o Sr. Gamillo de HoJlianda.
Feitas as primeiras depredações e arruaças por parte da
força lederal irmanada com a policia estadual para iuntas
perseguirem os opposicionistas a ferro e fogo, chegando ao
extremo de violar os lares e
prender moças e senhoras da dis-
tincta família Dantas, anto a resistencia prompta por parta
sessão em 21 nrc setembro de 1912 233

do Dr. Dantas c de seus amigos, pediu o governador


Franklin
rnais para manter
força a ordem.
Antes da eleição o Dr. João Machado affirmára em tele-
gramina ofíicial ao Governo estar restabelecida a ordem em
todo o Estado, mas a força federal continuou na Parahyba
tomando posição em Campina Grande, cidade central elá se
manteve durante a eleição cumprindo as ordens do Presidente
da Republica: — affastar das urnas pela acção compressora o
eleitorado opposicionista Ou ! havia alteração da ordem pu-
blica em todos os municípios pelos quaes foram distribuídas
as forças federaes e policiaes e não poderi'a haver eleições,
ou a ordem estava restabelecida—como officialmente o com-
inunicára por telegramma o presidente do Estado, e, neste
caso, fazia-se preciso retirar as forças para haver liberdade
de voto o proceder-se ás eleições !
Mas a intervenção armada por parte do Marechal Pre-
sidente da Republica estava 'assentada desde o
premeditada,
seu conchavo com o Dr. Epitacio Pessoa em 13 de dezembro
de 1911, porquanto já no dia seguinte 14, era expedido da
capital da Parahyba do Norte telegramma ao supplicante de-
nunciando unia tal intervenção: «Dr. Coelho Lisboa, Aris-
tides Lobo 237 — Rio — Acaba chegar telegramma Epitacio
Pessoa dizendo Marechal
prestará todo apoio ató mesmo força
armada eleição posse presidente Estado Castro Pinto, vice-
presidente Antonio Pessoa. Saudações.—Monteiro (doe. n. 24)».
E a 18 do mesmo mez outro telegramma da Serra da Raiz:
«Dr. Coelho Lisboa, Aristides Lobo 237—Pinto Monteiro, se-
cretariado Aristóteles, Garcia e Augusto Simões, fundou nesta
localidade município Caiçara, perante grande assistência di-
rectorio Partido Democrata, sendo ruidosamente acclamado
Presidente Republica, V. Ex., Dr. Lima Filho. Acaba chegar
nosso emissário do Bananeiras dizendo ter Dr. Epitacio Pes-
soa telegraphado chefe oligarcha daquelle município commu-
nicando ter Marechal indicado Castro Pinto
presidente Estado.
Faltam garantias nossos amigos alli. Saudações..—Francisco
José da Costa, presidente.—Emygdio José da'Costa, Io vice-
presidente.—Aristides de Moraes, 2° vice-presidente.—Aris-
toteles Garcia, 1" secretario.—Firmino Costa, 2" secretario.
Antonio Costa Filho.—Alfredo Costa.—João Rodrigues.—ller-
meto Costa. — Antonio Martins.—Manoel Mariazendo.—Com-
missão da Propaganda». (Doe. n. 25.)

Era
já em dezembro de 1911, muito grande o movimento
eleitoral no Estado, preparando-se o povo parahybano para
dar combato a olygarchia que o explora.
'afan
O Marechal Hermes da Fonseca, no de fazer cumprir
o seu conchavo com o juiz Epitacio Pessoa, substituiu os brio-
sos offieiaesparahybanos que se não ao degra-
prestavam
dante papel de, capangas eleitoraes deste juiz, por uns Massa
e Toscano de Britto 'ao mando do Homem
a general Torres
perseguirem o parahybano e impondo aos valentes sol-
povo
dados do Exercito as maiores humilhações.
«Fazia dó vel-os em documento dirigido ao Pre-
(dizem
sidente da Republica e general Ministro da Guerra os dignos
234 ANNAES DA GAMARA

parahybanos Drs. João e Manoel Duarte


ao longo Dantas)
de
veredas invias marchando sobre o famintos,
sólo
pedregoso,
esfarrapados, sujos, com os pés ensangüentados, em peregri-
nação horrível pelos desertos, sem terem animal-os
para a
convicção de servirem a uma causa justa.
«O general Torres Homem, abusando deste admiravel es-
pinto de disciplina, que caracterisa o soldado brazileiro,
transformara em esbirros aquelle de bravos !
punhado
«Em Campina Grande, onde ha uma base de operações
de guerra (sic) commandada pelo não menos celebre capitão
Toscano de (Britto, que já uma vez foi enxotíado da Parahyba
pela mesma olygarchia a quem hoje se entregou de corpo e
alma, eram os bravos soldados inco<rriam no desiagrado
que
daquelle verdugo castigados com as mesmas infaman-
penas
tes que eram applicadas aos nossos marinheiros.
«Ha pouco tempo uma força regressava do
que sertão
commandada por um offici&l encontrou nas immediações de
jampina Grande uni soldado em mostrava
que pranto as ia-
pes rubras em que se viam os signaes de duas bofetadas, que
lhe dera o ieroz e covarde capitão Toscano. Toda a cidade, de
Campina Grande conhece este facto tão grave quanto escan-
daloso.
«Mas o capitão Toscano de Britto Campina
permanece em
Grande, trazendo sempre á mão o mesmo rebenque com
que
ameaçava o eleitor que votasse no honrado Rego Bar-
coronel
ros, e,
deleitando-se em esbofetear os soldados
indefesos do
Kxercito Brazileiro como fez alli e publicamente 11a cidade de
Itabayanna.
« O
general Torros Homem, não ignora esses factos e os
approva com seu silencio.».
(Doe. n. 26.).
Sr. Kpitacio Pessoa, depois Presidente
, n° de ter obtido do
da Republica a intervenção armada na Parahyba do Norte,
para
anastar das urnas_o eleitorado opposicionista
persiste ainda em
conservar no sertão
parahybano as forças federaes que acutal-
mente sao hostilizadas barbaramente de policia
pelos soldados
como succedeu a 3 de agosto na villa do Teixeira, onde praças
do Exercito morreram apunhaladas !
por policiaes (Doe. cit.
n. 26.).
E o Marechal Presidente da Republica, para pagar os ser-
viços de um juiz ambicioso o t.refego Tribunal
do Supremo
Federal, opprime a liberdade
de um povo altivo e nobre e ul-
traja a dignidade do
soldado brazileiro ! !
Divulgadaque foi em todo o Estado, «a noticia de que o
forres Homem, no caracter
general do chefe do districto da-
quella circumscripção militar, aconselhara ao partido situacio-
nista o fechamento_das urnas a seus adversarios, levando assim
ao povo a convicção de que aquella autoridade ordem
por do
Presidente da Republica, pretendia com a força de
que dispunha
contrapôr-se a liberdade do voto»; repetindo-se por toda a
parte que aquelle generaldeclarara peremptoriaraente
que «os
governistas votariam nasurnas e os opposicionistas com ello
general» bem como os elogios feitos por R. Ex. ao alferes José
Vicente, autor do tentativa de assassinato o candidato
contra
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 38

da opposição coronel Rego Barros, quando cm propaganda de


sua candidatura perturbando o pleit0 por
em S. José de Cariry;
perseguições, ameaças, espancamentos e prisões que afugen-
taram das urnas os eleitores em sua grande maioria, lavra-
ram-se actas á vontade dos o ligarei) as não havendo portanto
eleições presidenciaes na Parahyba do Norte.
De tudo n <iue fica exposto se deduz: que o Mare-
clial Hermes Rodrigues da Fonseca, Presidente da lie-

publica, subornou, peitou, o juiz.do Supremo Tribunal


Federal, Dr. Epitacio da Silva Pessoa, para votar contra
os de habeas-corpus, requeridos áquelle Tri-
pedidos
hunal, em favor dr, governador da Bahia, Dr. Aurélio
Vianna, deposto pelas armas federaes. Art. 46; praticou
intervenção armada em negocios peculiares ao Estado
da Parahyba do Norte, fóra dos casos do art. 6o da Gon-

stit.uição, art. 22. e impediu por violências, ameaças e

tumuito eleitores naquelle Estado exercessem li-


que
vremente o direito de voto, art, 25. Tudo da lei de respon-
sabilidade do Presidente da Republica.

Srs. Deputados — Assumindo o Governo da Republica, o


Marechal Hermes da Fonseca, em 15 de novembro de 1010, en-
controu o Conselho Municipal do Districto Federal funccionando

regularmente por terem sido eleitos, reconhecidos e empos-


sados os intendentes na fôrma da lei, e estarem exercendo seus
mandatos sob a egide do Supremo Tribunal Federal, que contra
actos de violência dn Presidente Nilo Peçanha, garantira por
hábeas-corpus, aos intendentes municipaes o «ingresso no' edi-

ficio do Conselho, para exercerem sem dotença estorvo ou


damno, os direitos decorrentes dos seus diplomas.». (Aocórdam
de 11 de dezembro de 1009.). Direito an. XXXTX V. CXV,

pag. 139.
Constituído como foi o Conselho Municipal, por eleição em

que fflra estrondosamente derrotado o bando político favorecido


no reconhecimento de
pelo Governo Nilo Peçanha, travada lueta
de cujas sessões se retiraram os governistas por não
poderes
contarem com o diplomado mais velho sob cuja presidencia pu-
dessem fazer approvar as suas actas falsificadas, por decreto
n. 7.089, de 20 de novembro >de 1909, resolveu o Vice-Presi-
dente da Republica «suhmetter o caso mo conhecimento do
Congresso e, deliberasse a respeito, de-
Nacional, ali' que este
terminou n. 5.100. do 23, do decreto
que nos formos do art..
8 de de 190o Prefeito ndministrasso e governasse o
março
disfcrieto. do nccftrdo com as lois o posturas em vigor, indo-

pendentemente de collaboração do Conselho Municipal, que


então não se não for constituído na fôrma de di-
existia por
reito.».
O accõrdam de n de dezembro acima citado considerou

«o referido decreto n. 7.089, inteiramente inapplicavel tf es-


ca?o de força
pecie dos autos nor não verificar o pretendido
se
maior do art. 23 da citada Consolidação.» Ti o Congresso Fe-

deral nos oito me/es da legislação de 1910 não resolveu o

caso do Conselho Municipal.


236 ANNAES DA CAMAtU

Por decreto n.8.500, de


de janeiro de 1911, «considerand i
4
o Presidente da Republica
que o Congresso Nacional, encer-
rando ainda uma vez as suas sessões sem resolver este caso
que lhe estava affecto desde 20 de novembro de 1909, deixara
Poder Executivo na necessidade de prover de remedio uma
situação que se não podia mais prolongar, mórmente na immi-
nencia de trabalhos eleitoraes que segundo o voto expresso
pela grande maioria do Congresso, reunido em sessão, estariam
eivados de nullidade pela comparticipação nelles do Conse-
lho, o que acarretaria para o districto a
perda de parte de sua
representação na Gamara e 110 Senado da Republica», bem
assim que a concessão de habeas-corpus Supremo Tri-
pelo
bunal Federal «1'oi tão sómente para os candidatos pene-
que
trassem no edificio do Conselho e
pudessem continuar no pro-
cesso da verificação de seus designou o ultimo
poderes, do-
mingo do mez_de março daquelle anno
para que nelle tivessem
logar as eleições do novo Conselho Municipal na fôrma
que,
do art. 2° do decreto n. 1.169 A, de 31 de dezembro de 1906,
teria a duração de tres annos».
• iairi curnpriniento de um tal decreto mandou o Marechal
residente occupar militarmente o edificio do Conselho Mu-
nicipal, prohibindo alli entrassem <os intendentes exer-
para
cerem os direitos decorrentes de seus diplomas. n. 28.)
(Doe.
Esbulhou assim o chefe do Poder Executivo os intendentes
municipaes de seus direitos e, sophismando o habeas-corpus
do buprerno Tribunal Federal, desrespeitou o da mais
julgado
alta casa da Justiça Federal.
Em 14de impetram os intendentes municipaes
janeiro
mais uma «ordem de habcas-corpus em seu favor,
preventivo
visto estarem soffrendo constrangimento illegal em conse-
queneia do acto do Sr. Presidente da Republica de 4 do mesmo
mez baixando o decreto n. 8.500, em virtude do qual foi dis-
sorvido o Conselho Municipal».
O Supremo Tribunal Federal tendo conhecimento de que
o Conselho Municipal «se constituiu e tem funccionado na
iurina de direito e sem surpreza ou clandestinidade» concedera
ja habeas-corpus aos intendentes fosse «permittido
para que
o ingresso no edificio do Conselho Municipal exercerem
para
sem detença ou damno os direitos decorrentes do seus diplo-
mas.» (Accórdarn n. 2.794, de 11 de dezembro de 1909); decla-
rára depois no «habeas-corpus n. 2.797; impetrado em favor
de todos os 16 diplomados
pela Junta de Prêtores que já ha-
vendo sido, por accórdarn de 11 de dezembro daquelle anno
concedida ordem de habeas-corpus a oito dos intendentes,
ficava prejudicado nesta parte» o habeas-corpus requerido;
dando « provimento ao
pedido de habeas-corpus feito em favor
dos outros oito intendentes diplomados, constantes da petição
para que tenliiam livre
ingresso na casa do Conselho, afim de
exercerem os seus direitos decorrentes dos diplomas de que são

portadores, mas perante a mesa presidida pelo cidadão Manoel


Corrêa de Mello, que é o mais velho dos intendentes diplomados,
mesa já considerada legal por ter sido organizada com as for-
malidades dos arts. Io o 3° do Regimento Interno do Conselho
e disposições dos arts. 10 paragrapho único e 92 da Conso-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBIU) DE 1912 237

hdaçao das Leis Federaes sobre organização municipal


a do
IJistricto Federal; proclamara illegal e inopportuno o de-
creto n. 7.689, de 20 de novembro de 1909.

O Supremo Tribunal Federal,


que por accórdam n. 2.793
de 8 de dezembro confirmára de 1909,
a decisão recorrida dò
Juiz lederal, que havia negado habeas-corpus a 11 ci-
dadaos, que se diziam inteuideutes «^decidindo,
municipaes
como se vê do texto cio mesmo, o
que recurso de habeas-
corpus era o_unico meio legal e hábil contra
a lesão do direito»
e em accordão n. 2.799, de 15 de dezembro ainda em recurso
julgara prejudicado o pedido por haver o Tribunal, em accór-
dam n. 2.797, concedido a ordem regularmente em favor dos
pacientes, coherente com seus julgados anteriores «concedeu
a ordem de habeas-corpus impetrada afim de
que os intendeu-
tes assegurada a sua liberdade individual pudessem entrar no
edilicio_ do Conselho Municipal e exercer suas funcções ate a
expiraçaio do prazo do mandato, prohibido qualquer constran-
girnento, que pudesse resultar do decreto do Poder Executivo
federal contra o qual fòra pedida aquella ordem de habeas-
corpus.) (Accórdam n. 2.900, de 25 de janeiro de 1911. Obr.
cit., pag. 229.)

Este accórdam declara «a Constituição


que Federal nos
arts á4, n. 30 e 0/, cerceia a autonomia municipal do Distri-
cto lederal, mas, cerceada ou limitada, essa autonomia é ga-
rantida pela mesma Constituição.
«Exceptuados os serviços a Constituição
que reserva para
o Governo da União e os
que as leis ordinarias reservarem
para o mesmo Governo, o
Districto Federal ó administrado
pelas autoridades municipaes.
«A lei de 29 de dezembro de 1902, só em dous casos de-
clara que ficam suspensas as funeções do Conselho Municipal:
o da annullação da eleição de intendentes e o de força maior.
«Na especie não se verifica nenhum desses casos. O que se
(leu foi o Pacto de, dos 1(> intendentes, oito não terem compa-
recido ás sessões de verificação de poderes, o desses oito sete
n»vo quizeram tomar nos Irabalhos
parto do Conselho Con-
st.ituido.
«Nem o Poder Legislativo, nem o Executivo, nem o .Tu-
< iciario, Içom competencia para annullar a verificação de po-
deres dos intendentes.
«O Senado, apenas, é competente
para confirmar ou re-
jeitar o veto do Prefeito.
«A especie de que se trata é toda
regulada por disposições
expressas da Consolidação e das leis ordinarias.
«Não se trata de um caso de ordem politica, pois não se
cogita de modiiicaçoes sociaes, feitas em beneficio da colle-
ctividade e com esse intuito, de assumptos devem ser
que
apreciados
por uma autoridade mais ou menos discricionária.
«O habeas-corpus ser
pôde concedido não só aos indi-
viciuos
que nenhuma funeção
publica exerçam, mas aos fun-
ccionarios
publicos que precisam da liberdade individual uara
exercer suas funeções.»
O Ministro da Justiça
e Negocios Interiores tendo conheci-
238 ANNAES DA GAMARA

monto do aceórdão supracitado por cópia, que recebeu em


officio do presidente do Supremo Tribunal Federal commu-
nicou a esta alta casa da justiça federal, em officio de 22 de
fevereiro de 1911 «em nome do S. Ex. o Sr. Presidente da
Republica, que o Poder Executivo, sem o menor intuito de
desrespeitar ao Poder Judiciário e sem ao respeito
faltar que
a esse alto e egregio Tribunal, cumprimento
devia não podia dar
á ordem judiciaria enviada, pelos motivos constantes da men-
sagem que S. Ex. o Sr. Presidente da Republica naquella
data dirigira aoda qual Congresso
remettia cópia Federal,
authentica para conhecimento do venerando Tribunal.»
Em tal mensagem diz o Presidente da Republica aos mem-
'Congresso
bros do Federal:
«Em mensagem de 20 de novembro de 1900, o Presidente
da Republica, meu digno antecessor, levou ao vosso conheci-
mento a situação anômala em que se encontrou o Districto
Federal, em face de uma eleição o Conselho Municipal,
para
que não poude produzir resultado, pela impossibilidade mate-
rial, que desde logo se desenhou, da constituição legal do
mesmo Conselho.
«Communicando o facto e a applicação do remedio provi-
sorio contido no art. 3", da lei de 29 de dezembro de 1902, o
Presidente da Republica solução o anorma-
pediu-vos para
lissimo caso.
«Ao assumir o Governo em 15 de novembro do 1910, encon-
trei o mesmo estado de cousas, creado no anno anterior, c
como o assumpto estivesse affecto ao vosso critério e sabedoria,
espereique, no mez e meio que ainda tinheis de sessões, aeudis-
soiscom a providencia
que vos tinha sido solicitada.
«Mas, encerrando-se os trabalhos legislativos em 31 de
dezembro sem a esperada solução, e não podendo absolutamente
continuar uma anormalidade de evidente inconveniência para os
interesses do districto, que se via, por tão Longo tempo, pri-
vado da collaboração de seu Poder Legislativo, orgão único
do intervenção do na direcção dos seus negocios, resolvi,
povo
em obediencia ao próprio espirito da lei de 1902, designai'
novo dia para se realizarem as eleições do Conselho Municipal
do Districto, e, para isso. expedi o decreto n. 8.500, de 4 de
ultimo.».
janeiro
ltoferindo-se ao aceórdão n. 2.990, de 25 de janeiro de
1911, diz o Marechal Presidente:
«Apreciando, pois, no exercício de um dever constitu-
cional «legitimidade e alcance» do decreto judiciário, emanado
a
do Supremo Tribunal Federal, entendi que o mesmo exorbi-
tava das attribuições que a Constituição e as leis assignalam
áquelle e constituía, com patente invasão ás attribui-
poder
dos outros poderes soberanos da Nação, uma deturpação
ções
do regimen, de conseqüências incalculáveis e funestas; por
isso, resolvi não dar cumprimento á ordem judiciaria e levar
d facto ao
conhecimento do Congresso Federal, autoridade
competente decretar a minha responsabilidade (!!!)
para pelos
actos que, no exercício do mandato que o povo me confiou, eu
<ipm inlracção da Constituição e das leis.
praticar
239
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912

«Em rapidas considerações, espero demonstrar a illega-


lidade e o arbítrio do decreto dahi resultando
judiciário, o
dever em que fiquei de lhe negar execução.

«E' manifesto, deante da legislação vigente, que o Con-


selho Municipal, ao qual o Supremo Tribunal Federal acudiu
agora com uma ordem de habeas-corpus, não se constituiu
legalmente, nem podia se const^uu- deante de um facto ma-
terial de transponibilidade impossível. Assim é realizada
que,
a eleição em 31 de outubro de 1909 e apurada do
pela junta
pretores, appareceram duas series de diplomados, de oito cada
uma, que, em mesas distinctas, começaram o serviço de reco-
nhecimento de poderes. Desde logo se desenhou a manifesta
impossibilidade de chegar-se a um resultado pratico, porque
nenhum dos grupos de intendentes poderia, por meio regular
e legal, constituir-se em Conselho Municipal, porquanto ne-
nlium jámais alcançaria os dous terços indispensáveis a
para
installação daquella assembléa.

«Deante de facto que implicava manifesto motivo de


força maior para a não composição do Conselho, o Poder
Executivo, usando da providencia instituída art. 3o do
pelo
decreto de 29 de dezembro de 1902, entregou o Districto Fe-
deral ao prefeito para que o administrasse e governasse, de
accôrdo com as leis em vigor.»

Nesta mensagem cita o Presidente da Republica opinião


do Sr. Amaro Cavalcanti, dizendo: «E' matéria corrente e
tranquilla, como doutrina o Sr. Amaro Cavalcante, citando
iiisigne constitucionalista que «sobre questões os
políticas,
tribunaes não teem
autoridades, devendo elles acceitar as de-
cisões dos departamentos políticos, do Governo como conclu-
sivas». E bem assim a do Sr. Pedro Lessa exarada no accór-
dam n. que, fôra este ministro relator e « no qual diz
2.970, de
o Marechal, clara e precisamente se define a funcção do insti-
tuto do habeas-corpus» que tem por funcção garantir a li-
herdade physica ou o direito de ir e vir, obstando a que seja
alguém encarcerado, exilado ou detido, a não ser por sentença
do juiz competente, proferida de accôrdo com as formalidades
legaes.»
Ao ouvir a leitura do officio do ministro e da mensagem
de Presidente da Republica, em sessão de 1 de abril de 1911,
inseriram na acta da sessão aquolles ministros declarações de
voto em que vibrantes de indignação refutaram o
sopliisma
dr> chefe do Poder Executivo, que truncára visivelmente as
opiniões citadas.

Diz o Sr. Amaro Cavalcante:

«Tivesse o Sr. Ministro da Justiça se limitado a commu-


nicar aó Supremo Tribunal Federal a resolução do Sr. Presi-
dente da Republica desacatando o a.ccórdam sob o n. 2.990,
d^ 25 de ultimo, e eu seria do parecer se fizesse
janeiro que
constar da acta semelhante communicação sem nenhuma
observação a respeito, desde que o acto do Executivo em nada
invalidava a decisão do tribunal.
240 ANNAES 1)A GAMARA

Dado, porém, que o illustre Ministro, aléin da communi-


cação, enviou ao Supremo Tribunal Federal — para conheci-
mento do mesmo — cópia authentica das razões nas quaes se
fundara o Executivo para assim proceder, sinto-me na no-
cessidade de fazer constar da acta declarações que reputo da
maior opportunidade, sinão indispensáveis mesmo, da minha
parte, visto se haver invocado as minhas opiniões de escriptor
em apoio da própria resolução presidencial.
As declarações que tenho a fazer, aliás com o maior res-
e acatamento ao Chefe do Poder Executivo, são as se-
peito
guintes:

I. procede a razão do desacato ao accórdam do Tribu-


Não
nal, o pretextoallegado de defender as aüribuições do Poder
sob
Executivo e de mão contribuir para a deturpação do reyimen e
subversão da ordem constitucional», porque o Supremo Tri-
bunal Federal em nada exhorbitou das attribuições que lhe
são próprias, invadindo porventura as daquelle poder, sejam as
declaradas na Constituição Federal, seja qualquer outra ex-
pressa em lei ordinaria: O tribunal se limitou a declarar, co-
nhecendo da especie a favor da liberdade individual, a nulli-
dade de um decreto do Executivo, e isto é, a sua illegalidade
inconstitucional idade, por não ter elle assento nem 11a Consti-
tuição, nem na lei, como assim tem feito innumeras vezes em
casos anteriores, para conceder, em conseqüência, uma ordem
de habeas-corpus, nos precisos termos do art. 72, 11. 22, da
Constituição. Com efleito, nenhuma disposição existe attribuindo
ao Executivo (ou mesmo ao Legislativo), explicita ou ao me-
nos implicitamente, o
direito de rever e aimullar a verificação
de poderes dos intendentes
municipaes feita respectivo
pelo
Conselho. K em tãonada obstar a intervenção
podia, pouco,
judiciaria a circumstancia aílegada de o Senado, ou o proprio
Congresso Federal, já se haverem contra a le-
pronunciado
galidade de taes intendentes, uma vez que ao Supremo Tribunal
Federal compete examinar o annullar, com igual autoridade,
os acros <k> Legislativo,
em especie
quando, sujeita, os achar
incongruentes com a Constituição Federal.
Conseguintemente, dando ao dispositivo constitucional ci-
fado, em caso concreto, a extensão que julgou acertada em arn-
da liberdade individual, ora ameaçada de Holencia on
paro
coacção por acto illeqal do Executivo, 0 Supremo Tribunal, na
sua qualidade de_ interprete final da Constituição e leis fe-
deraes, não invadiu attribuição de nenhum outro poder, exerceu
apenas a quo_ lhe ''privativa, e não tem superior, que possa
rever a decisão proferida, por ser elle, neste caso. o juiz único
da própria competência.—No man can douht or deny th.at the

poxver to construo the Constitution is a judicial powcr. (Story,


«Comm.».). The Federal Suprema Court. is the final- authority
in the construetion of the Constitution and lhe lates. (Th.
Cooley «Principies».). Jt is final of its oivn mithority.
jndr/e
(Idem. «Const. History of lhe United States».'!. Jt has heen held
that the Judicial Department, the Svpreme Court. is,
from the
very nature of its official powcrs and capacities, the final
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 241

arbiter; and that its decisions are binding, not only upon the
parties to suits litigated before it, but upon the several States
and upon the Executive and Congress. So constant lias becn
this pratice, that it forms the rule; any devictions from it have
been exceptional, rather the results of individual opinions,
than of any settled and defini,tive «An. In-
policy. (Pomeroy,
trod. to the Gonst. Law».). The Judicial Department is the pro-
per power in the Government to determine wliether a statute
be or not constitucional. It has accordingly become a settled
principie in the legal polity of this country, that it belongs to
the Judicial Power, as a matter of right and of duty to declare
every act of Legislature, made in violation of the Constitution,
or of any provision of it, null and void. (J. Kent «Comm, of
American Law», 13" ed. I, §§ 449 e seg.).

Ainda mais: O Supremo Tribunal,


procedendo desta sorte,
não exerce sómente um poder que lhe é inherente, como orgão
supremo do direito constitucional na Federação, cumpre ao
mesmo tempo um dever rigoroso que lhe é imposto de forma
imperativa. «It is noto fully and irrevocably settled, not only
that power belongs to the judicial tribunais,
the but that they
are bound to exercise it in ali proper cases.». (Black Handb.
pag. 5í.). The obligation to perform this duty, whenever the
conflict appears is imperative.». (Cooley, Principies, pag. 152;
Cf. Story, Comm. § 373, notes, §§ 375 o 1.576.).
«Le pouvoir d'interpreter les lois, comprend necessaircment
le droit de s'assu.rer si elles sont conformes ou non à la Con-
stitution, et, dans ce dernicr cas, de les declarer nullcs et de
nul effet... Quant au magistral il est rigourcusement obligé
de se prononcer. Si douteuse qui soit la question debattue, il
doit laresoudrc. Quelque penible que puisse útre sa mission,
il ne saurait ¦ s'y derober, sous peine de forfaiture. Le juge se
montre ici dans son veritable role de protecteur suprême des
droits individuels... La loi au sujei da laquelle on invoque
1'objection fondée. il dorme raison au plaignant, quand méme
celui-ci aurait pour adversaires tous les pouvoirs publies ré-
unis et Vopinion du pays entier. . (De Noilles, Cent. Ans. de
Rep. aux Etats-Unis.).
Continuando a citar Story, Pomeroy, Bryce, Decey, Willou-
ghby, Carlier, Munro, Cooley, Ruy Barbosa, Black e outros con-
stitucionalistas, termina o illustre ministro a sua longa o bem
fundamentada declaração de voto tirando a seguinte conclusão:
E',
pois, ao Supremo Tribunal Federal, c a elle sómente,
que no actual regimen compete rever e modificar as próprias
decisões; e para que assim deixe de ser não basta o desacato
do Poder Executivo a uma ou mais das suas decisões, será
mistér revogar a organização dos públicos
primeiro poderes
consagrada na Constituição de 24 de Fevereiro e crear, em seu
logar, um Poder Judiciário subserviente do Poder Executivo,
o, como tal, certamente incapaz de amparar ao alheio direito
desde que este seja lesado por algum acto do referido Poder.
Emquanto, porém, assim não fôr, mediante reforma constitu-
cional, um acto do Poder Executivo, desconhecendo, como o
Vol. 16
242 ANNAES DA GAMARA

autoridade e independencia do Pder Judiciário, 6


actual, a
não existisse, juridicamente faliando; valerá apenas
como si
harmo—
como uni precedente dG perturbação ao funccionamento
nico dos públicos e de desrespeito arbitrario a uma
poderes
decisão do Supremo Tribunal proferida^ sobre matéria
Federal,

de sua inteira jurisdicção e competencia, como é a matéria do

habeas-corpus.
Em verdade, como resultado, e por demais epnemero, con-
mesmo aos ollios daquelles que são capazes de
traproducente
bem sentir a necessidade de uma justiça independente, alimen-
tados da nobilitante convicção de que o poder, qualquer que
elle seja, 6 subordinado ao Direito.
haver bastante a júris-
Parece-nos dito o para reaffirmar
dicção o competencia irrecusáveis do Supremo Tribunal Fe-

deral, a despeito da3 razões contrarias do Sr. Presidente da

Republica; epodemos resumil-o nestaspalavras finaes:—res-


aos demais Poderes, mas sempre independente, sempre
peito
intangível, a autoridade da Justiça».

Diz o Dr. Pedro Lessa:

«Não me surprehendeu, nem me causou a menor extra-


nheza, o acto pelo qual o Presidente da Republica manifestou
a resolução de desacatar o accordam deste Tribunal, que con-
cedeu a ordem de habeas-corpus, impetrada em favor dos in-
tendentes municipaes do Districto Federal. A muitos dos meus
illustres collegas, neste recinto e fóra delle, havia eu commu-
nicado mais de uma a vez
profunda convicção, que sempre
nutri, de
que não seriarespeitada a decisão proferida em favor
dos membros do Conselho Municipal, assim como respeitada
não seria qualquer outra sentença, igualmente justa, desde que
contrariasse os interesses políticos dominantes. Annullando,
com visível e inexplicável transgressão do direito, o accordam
em que se dera o habeas-corpus requerido pelos Deputados
estaduaes do Rio de Janeiro, o proprio Tribunal contribuiu

para facilitar um pouco a tarefa de negar obediencia ás sen-


tonças do Poder Judiciário.
O que me impelliu a dar estas explicações, foi sõmente a
conveniência de pessoas não
mostrar
que leram os meus
ás
votos anteriores em matéria de habeas-corpus, ou os leram
som a neceãSaria nttenção, que entre o accordam do caso do
Conselho Municipal <> o*s votos por mim antes proferidos não
lia contradicção que se aponta na
a mensagem do Presidente da

Republica ao Congresso Nacional.


A doutrina que, acerca do habeas-corpus, invariavelmente
tenho sustentado, applicando-a sempre como juiz, é clara,
simples e assenta om expressas disposições do direito pátrio.
Delia nunca me afastei uma só vez. Importa rccordal-a, posto
resumidamente. Freqüentemente, todos os dias, se reque-
que
rem ordens de habeas-corpus, allegando os pacientes que es-
tão ameaçados
ou de prisão, o pedindo que lhes seja
presos,
restituida, ou garantida, a liberdade individual. Nessas con-
dições, não declaram, nem precisam declarar, quaes os direitos
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 243

"ICS íoi tolhido, ou está


•Íu;in:<f-X0rcv!c!0 ameaçado; porquanto
"ru exercício de todos os direitos do indi-
viHníf * f0, quasi
A liberdade individual é uin direito fundamental, con-
exercício do um sem numero do direitos:
hiíhn„ ',t'° para tra-
p.ara cu seus negocios,
n^rfi para tratar de sua saúde,
lcar aii s ^e seu culto religioso,
para cultivar seu
^re 0 sciencia,
i ?.ual(Juer para sc distrahir, para
s?íí sentimento, tudo, summa,
n homem
he"volvei: para em precisa
o da liberdade de locomoção, do direito de ir e vir.
?• *ora sinão impossível, enumerar to-
(JU(',indivíduo fica impossibilitado de exercer
ii!?n l'ires°s
vaf'a0i '.herdade individual:
<oT,n~i pela prisão, pela de-
ençao, ou exílio. A impetração
pelo do habcas-corpus para
a ',r °' 011 Para previnir, d o que, se vô diaria-
menteC°SSar

Pouco importa a especie de direitos que o paciente pre-


<leseja e*ercer- Seja-lhe necessaria a liberdade de lo-
rnmnn"
comoção
para pôr em pratica um direito de ordem civil ou
de ordem commercial, ou de ordem constitucional, ou de or-
dem administrativa, deve ser-lhe concedido o habeas-corpus,
(lxc!usn;a de ser
f,í!;,L ;ilUSU. juridicamente indiscutível esto
° r®,lto esc°PO. Para recolher ú casa paterna
!o imnnhi™
impubere ín
transviado, •
para fazer um contracto ou um tes-
P^ento, para receber um laudemio, ou para constituir uma
P81"? 'exercitar a industria do transporte, ou
í™/»oca' para
protestar uma letra; para ir votar, ou para desempenhar uma
luncçao política electiva; para avaliar um prédio e para col-
JQctal-o, ou ao
para proceder expurgo hygienico do qualquer
nabitaçao, se é necessário garantir a um indivíduo
a liberdade
de locomoção,
porque uma offensa, ou uma ameaça, a essa li-
foi embaraço a que exercesse
perdaue qualquer desses direi-
tos, nao lhe ser negado habcas-corpus.
pode Um juiz digno
desse, nome, indeferiria o pedido de habcas-corpus em favor
do culadao que, estando no dos
goso seus direitos políticos
não pudesse chegar ate á mesa eleitoral, porque lh'o vedassô
a violência de qualquer esbirro, ou de. qualquer autoridado
energúmena .'

Neste ponto releva espancar uma confusão, em que teem


incidido, ate 11a imprensa diaria, alguns espíritos não
que
attentam nem na funeçao do habcas-corpus. E1 esse,, dizem,
um remédio 'adequado
judicial á exclusiva protecção da liber-
dado individual, entendida embora esta expressão—liberdade
individual-—no sentido amplo, que abrange, além da liberdade
o locomoção, a de imprensa, de associação, de representação,
a inviolabilidade do domicilio.
Manifesto erro! E' exclusiva
„„„ missão do habcas-corpus
'? "perdado individual 11a accepção
wfú . restricfca, a li-
Physjca, a liberdade de locomoção. O
fnv,»n1 i' único direito em
do qual se node invocar o habcas-corpus, à a liberdade
)In0Ca0' P accôrdo com este conceito tenho sempre
julg-<id
244 ANNAES DA CAMAIIA

Concedi o habeas-corpus,
que o Presidente da Republica
inconstitucional e
voluntariosamente desacatou, porque os im-
petrantes e pacientes apenas pretendiam exercer um direito, ou
íuneção publica, em que estavam legalmente investidos, e de
que o Presidente da Republica é manifestamente incompe,-
tente para os destruir.

Si bem visível
Constituição a incompetência do Pre-
ó na
sidente da para annullar
Republica a verificação de podereis
do Conselho Municipal desta cidade, como de quaesquer outras
camaras municipaes, fôra preciso fazer do nosso direito um
grotesco formalismo chinez para se embaraçar um tribunal,
ao conhecer de um habeas-corpus, com uma ordem, ou um
decreto, expedido pelo poder constilueionalmentte incompe-
tente.»

E, tratando do habeas-corpus, como matéria de ordem


política, _diz o eminente ministro: «O que é espantoso
é que
observações a respeito sejam aquelles mesmos
produzidas por
que tenham antes recorrida ao tribunal, fim
para perfeita-
mente idêntico.

Si examinamos sob um aspecto mais amplo a arguição da


incompetência do tribunal para conhecer de questões políticas
ainda não poderemos chegar á conclusão dos nos in-
que
crepam de usurpar attribuições do outros poderes. Macaquea-
mos as instituições contitucionaes norte-americanas, a cada
passo os nossos políticos militantes lavam o rosto aos adver-
sarios com precedentes e costumes americanos; mas,
políticos
quando apparece a necessidade ou o ensejo de applicar ás insti-
tuições que, bem ou mal, importámos, bem se faz
patente a
nossa falta de envergadura imitar o modelo, a nossa
para in-
capacidade para pôr em
pratica o regimen perfilhado por nos-
sãs» leis.

Ausente desta Capital, e longe dos meus livros, ao to-


mar estes apontamentos, não me foi extractar das
possível
lições dos constitucionalistas americanos, as autoridades irre-
cusaveis no assumpto, o importa a este Mas,
que ponto. por
um feliz acaso, tinha & mão a obra foi invocada ao dis-
que
eiM irmos o caso do Conselho o Municipal, fim de
para vedar
ao tribunal o conhecer da especie. Refiro-me ao trabalho mo-
numental do Sr. Ruy Barbosa sobre O Direito do Amazonas
ao Acre Septcntrional. Nos dous volumes em que se contem
o extraordinário estudo, ha uma sério oxhaustiva de citações
das autoridades americanas nesta matéria. Cifrar-se-ha o
meu trabalho em reproduzir os
principaes ensinamentos; indi-
cando os logares de que foram transladados facilitar a
para
tarefa dos que quizerem verificar a fidelidade da reproducção.
Releve-me o tribunal que assim proceda. Si ha caso em que
se torne justificável e indispensável a citação de autoridades,
é este.
f SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 245

Primeiramente, importa notar que ao Supremo Tribunal


Federal, e não ao Governo da União, compete determinar
sobre que especie de pleitos se .estende a sua jurisdicção. O
bom senso e o espirito liberal dos norte-americanos não per-
mittern que essa attribuição seja exercida pelo Poder Executi-
vo, raras vezes arrastado por interesses e paixões de mo-
não
mento a soluções illegaes. Dessa doutrina e dessa pratica dá.
testemunho o professor Allen Smith: « Desde só a esse
que
tribunal (a Côrte Suprema) compete decidir as ques-
quacs
tòes que são políticas, quacs as que o não são, nas suas mãos
está o ensanchar ou estreitar o sentido ao quilificativo de po-
liticos, segundo1 lhe parecer» spirit of American Governe-
(the
ment, pag. 110.)

Ainda quando de natureza política fosse o caso do Con-


selho Municipal, não seria isso razão si não cumprir a
para
sentença judicial. Nos Estadosi Unidos da América do Norte,
a Côrte Suprema «decide renhidas questões sobre a intelligen-
cia da Constituição nos seus aspectos políticos». (Baldwin,
Modem Political Institution, 253.) «A Suprema Côrto
pag.
dosi Estados Unidos 6 freqüentemente chamada a resolver
grandes questões políticas, submettidas ao seu conhecimento,
sob fôrmas judiciacs.» Pollock, A. Firs Book of Jurispru-
(F.
dence, pag. 335.) «A Côrte Suprema tem annullado (annulled)
vinte e uma vezes deliberações do Congresso1, e leis estadoaes
mais de duzentas vezes, por implicarem umas e outras com
a Constituição. Muitas dessas teem sido questões do mais alto
alcance político (of the highest political importance) renhida
e amargamente debatidas nas assembléas legislativas, em meio
á excitação publica. Frenquentemente succede a nação
que
inteira se divida ao apreciar dessas controvérsias judiciaes, «
por vezes o julgado não vinga entre os nove juizes sinão me-
diante ligeira minoria. Não obstante, muito ha que o paiz se
submette sempre (every time) ao oráculo (to the oracle) da
Côrte Suprema, tendo por definitivamente encerradas as con-
tendas sobre que eila se (H. Mun3terberg, The
pronuncia.»
American, pag. 110.) Dissertando os celebres Casos Insulares,
escreveu o professor Rowo: «Estes julgados serviram de real-
çar com grande clareza a posição única, occupada pela Côrte
Suprema. Diversamente de outro tribunal, lhe cabo
qualquer
ás vezes, resolver questões que, supposto na fôrma,
jurídicas
são políticas na substancia, e actuam sobre a
profundamente
estruetura das nossas instituições.» The Supreme Court and
the Insular Cases, ann. of the Americ. Acad. of Polit. and
Soe. Sciences, vol. XVIII, 38.)»
pag.
Sendo assim, dir-se-ha: a
fica reduzida a regra de
que
que a Corte Suprema não resolve questões políticas, as quaes
sao próprias da esphera do Poder Legislativo e do Executivo ?
lazem os mestres do direito uma
constitucional americano co-
nhecida distineção entre casos exclusi-
puramente políticos,
vam,cnte políticos, absolutamente e casos
políticos, jurídico?
ou, antes, judiciacs cuja decisão ó de conseqüências política'
246 ANNAES DA GAMARA

O casos
políticos que assumem uma feição judicial, uma fõrmá
de pleito subordinado a normas políticas.

tivesse o Tribunal
..p) proferido um accórdam sobre
fôra questão
licito ao Poder Executivo Federal annul-
lai esse accói dam, ou suspender-lhe
a execução, sob o funda-
mento de ser a matéria de natureza
política, quando a esse
poder nao compete decidir o
que é Questão rvo-lificn Mas r»
objeoto da decisão do Tribunal no caso do Conselho Munlcinal
nao loi de natureza
política. Tratava-se de resolver si devia
a,anr}ullação inconstitucional de uma
remara M níini n iU n8,0'
havia na realidade, e todos o sabem
nrfffn&s» 6
grupo político em annullar uma camara
nomnftsla ris a nílvcrM?1
ersarios. Nada mais.
Façamos de conta, entre-
tnn n fim » San^-I0SSe
hypothese, e indaguemos em these
K°caqrUa t f
revestir a questão suscitada,
Omlp l vii, nwPoderia
' ¦ °.ar.acter político na administração mu-
nirinní 171 unioipio intervir na declaração de guerra
nn nPiohpI!ís a e
d°8 tr-atados, do na direcçáb das relações
dfnlomnte0 regimen
• do commercio internacional, no re-
ffimm fíih /
níl cJeaçao do bancos de emissão., na legis-
facã«%nhíoU «s naorip0'
forças de terra e mar. na declaração do estado
de aitin n! determinação
das condições e do processo da elei-
n!n !
C°.rgos federae_s, "a formação do
ramos rf» hj qualquer dos
1 • °'. na saneçao das leis da União, na livre no-
meaçaoe demissão dos Ministros de Estado, ou em qualquer
outros dos muitos_assumptos
da política nacional ? Tem n mu-
nicipio a attribuição, ou
meios, de dirigir as diversas tendencias
sociaes ímprimindo-lhes uma direcção qualquer Não é sua
°.u.ldar exclusivamente das necessidades
F"®sao„ e interesses
locaes : Ainda
quando entendesse alguém que mais vasta devo
resP'iera da acção das autoridades do Districto Federnl,
r
nao temos a combinação^ dos textos expressos dos arts. 08, 67
e j-i, n.^0 da Constituição Federal, a delimitar
bem vivamente
0 attribuição do município desta
,H"e.e Capital, e o que não
poae lazer o Governo da União no mesmo mnnicipio ? No texto
peremptono do art. 07, o qual bem claramente dispõe que.
salvas as excepções creadas Constituição
pela e por leis fe-
deraes (por leis exclusivamente), o Districto Federal é admi-
nistrado por autoridades municipaes, não está a declararão
solemne de que o município é governado por autoridades nor
elle constituídas ? 1
E desenvolvendo magistralmente o assumpto de fôrma a
pulverizar todos os da mensagem do
pontos Presidente
da Republica ao Congresso Nacional termina o inte-
gerrimo juiz o seu longo e luminoso voto no laudo
que; «Aos ollios de todos resalta a incompetência do Poder
Legislativo, que não fazer leis infringentes da Consti-
pôde
tuição e, ainda menos, applicando disposições
julgar, legaes a
casos particulares. Si, esses fundamentos, incomoetente
por
o o Poder Legislativo, mesmas razões não
pelas se pôde um
so pôr em duvida a incompetência do Executivo.
momento
Sob a monarchia não era raro expedirem os Ministros da
Justiça avisos interpretativos de preceitos legaes, a so-
para
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 247

lução de entregues ao Poder Judiciário. Juizes fracos


questões
e de foram muitas vezes os primeiros
pouco preparo jurídico
a solicitar taos instrucções. Lembram-se todos de quão ve-
hementemente se condemnava essa pratica inqualificável.

Como de tolerar que, sob a Republica Federativa,


havemos
e no regimen
presidencial, em que tão nitida e accentuada e
dos poderes, se restabeleça a inconstitucional in-
a separação
trusão do Poder Executivo nas funcções do Judiciário ? Ao

Presidente da Republica nenhuma autoridade legal reconheço


fazer aos ácerca da interpretação das
para prelecções juizes
leis e do modo como devem administrar a justiça. Pela Consti-
tuição e pela dignidade do meu cargo sou obrigado a repellir
a lição.»
De accôrdo com as declarações de voto dos Srs.
pleno
Amaro Cavalcante e Pedro Lessa se manifestaram immedia-
tamonte depois os Ministros Ribeiro de Almeida, Manoel Mur-
tinho, Canuto Saraiva e Manoel Espinola.
Alberto de Assumpção e os demais intendentes esbulhados
do exercício de seus
propuzeram acção summaria
mandatos
especial contra a União Federal e a Prefeitura perante o juiz
da 2" Vara Federal para annullar o decreto n. 8.500, de 4 de

janeiro de 1911.
Allegaram os supplicantes ser esse decreto exhorbitanta
das attribuições do Poder Executivo, infringir a disposição
do art. 65 da lei n. 939, de 29 de dezembro de 1912, e atten-
tar contra a autonomia do Districto Federal garantida pelo
art. 68 da Constituição.
A causa correu os tramites regulares e o integerrimo juiz
Dr. Pires de Albuquerque, cm longa sentença esclarecendo
magistralmente todos os pontos discutidos pelas partes liti-
gentes, julgou procedente a acção.
Nessa luminosa sentença diz o meritissimo juiz:
«E* noção corrente que os Conselhos ou Camaras Muni-
cipaes não teem caracter — «são moras corporações
politico
administrativas.»
« Por outro lado —• qualquer que seja a natureza e a ex-
tensão que se attribua ao decreto n. 8.500, de k janeiro, no
de
aspecto ora sujeito á apreciação do Poder Judiciário, outra
cousa elle não ó sinão o acto que destituo os autores da funeção
em quo estavam ou se julgavam investidos.
« Tanto basta para que si o não possa subtrahir ao exame
do Poder Judiciário, devidamente provocado.»

« Para solução do caso sub judicc, não se faz mister in-


sistir nem recorrer á lição dos mestres, desde que tomos ju-
risprudenoia assentada.
« Paraassegurar a magistrados fedoraes e locaes as ga-
rantias constitucionaes da irreductibilidade dos vencimentos,
de vitaliciedacio o de inamovibilidade; a Deputados e Senado-
des as
suas immunidades o ató o direito de ingresso no edi-
fieio das suas Camaras; a funccionarios administrativos, civis
e militares, officiaes do Exercito e da Armada, professores dos
institutos de ensino, chefes do repartições e empregados su ¦
248 V ANNAES DA GAMARA

balternos, asgarantias outorgadas pela Constituição, pelas leis


ou por simples regulamentos contra actos do Poder Legis-
lativo e do Poder Executivo Federaes e locaes, não uma, po-
rém, centenares de vezes se tem solicitado efficazmente e so
está solicitando todos os dias a intervenção do Poder Judi-
ciario.
Na pratica do regimen instituído Constituição de
pela
24 de fevereiro, pôde se dizer, não ha casos que oflereçam
mais numerosos exemplos.

«O que se objecta õ que na verificação de


poderes occor-
reram inlracções do Regimento que viciam o processo.
«Este é, entretanto, o terreno vedado á investigação ju-
dicial, como inaccessivel a de qualquer outro isso
poder, por
que a lei o reservou á acção discricionária de autoridade mu-
nicipal. Aqui é que teriam cabimento as ob.jecçõos levantadas
pelas rés em nome do discricionário.
poder
«Admittir
a discussão importaria em abrir uma nova
instancia verificaçãoá de poderes, a lei
que quiz pertencesse
exclusivamente ao proprio Conselho.
*3°
«Resta o art. 48, com referencia ao art. da lei de 29
de dezembro, cuja execução o alludido decreto teria produ-
zido.
« Note-se desde logo nem o artigo citado nem
que qual-
quer outro desta lei, confere, expressa ou simplesmente ao
Governo da União o direito de examinar criticar o annullar
a Constituição do Conselho Municipal. Pelo contrario, o que
abi se encontra é «ao Conselho Municipal for eleito
que que
compete a verificação dos de seus membros.»
poderes
(Art. (55.)
«O art._
invocado,3o, a hypothese de ser annul-
previne
lada a eleição
(pelo Conselho jú se vè), ou de sobrevir qual-
quer outro facto do força maior que prive o Conselho de con-
stituir-se ou de reunir-se.
«No caso, reconhecem as rés, não foi annullada
a eleição.,
«O^poder as devia validas.
que julgar julgou-as
«Tão pouco sobreveio facto impedisse
qualquer que a
composição e a reunião do Conselho.
«Esse compoz-se, reuniu-se e funccionou até o dia em
l,.4í) foi obstado pelas medidas policiaes conseqüentes ao de-
creto de
janeiro.
«Pouco importa a arguição de irregularidades occorri-
das nessa composição.
«Constituir-se irregularmente
por inobservância de for-
mulas regimentaes,
juizo do a
Governo, não ó certamente o
mesmo que não poder constituir-se pela superveniencia «de
um facto de força maior». E tanto menos será quando a affir-
mação de tal irregularidade, exprimindo embora opinião muito
respeitável, não tenha, como não tem na especie, valor deci-
sorio.
«Assim, o decreto de janeiro não se restringe ao texto da
lei do dezembro; corrige-o, additando um novo caso aos tres
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO I)E 1912 249

fluo previra o legislador:—o caso de constituir-se o Conselho


irregularmente, a juizo do Governo da União.
«Compreliende-se que, si isto fosse possível, o enfeixa-
mento depoderes do governo municipal nas mãos do
todos os
prefeito, delegado da União, que a lei só admittiu em casos
excepcionaes, extranhos e superiores á vontade humana, pas-
saria a não depender sinão da vontade do Governo.

«Entretanto, o que o decreto de janeiro annullou de facto


não foi a
verificação de poderes, mas a própria eleição, man-
dando proceder a nova.
«Desfarte exorbitou ainda da resolução que pretendeu
executar e transgrediu a lei eleitoral estabelecendo um novo
caso de nullidade:—o de eleições nuílas por vicio posterior-
mente, occorrido na verificação de poderes. »
E destruindo o argumento da força maior :
«Considerando que os autores foram pela autoridade com-
petente reconhecidos intendentes municipaes deste districto,
para o triennio de 1910 a 1912 o empossados nas respectivas
funcções;
«Considerando que ó illegal, e conseguintemente nullo, o
decreto n. 8.500, de A de
janeiro do corrente anuo,
que, dis-
solvendo o Conselho Municipal e mandando proceder a nova
eleição, privou do excrcicio
os de suas funcções e dos direitos
e vantagens decorrentes;
«Considerando que naquelle exercício estão os autores ma-
nutenidos pelo accordão n. 1.990, de 25 de janeiro de 1911,
que subsiste e subsistirá emquanto não fôr rescindido pelo
Supremo Tribunal Federal, juiz único de sua coinpetencia o
supremo interprete da Constituição e das leis;»
Julga o meritissimo juiz precedente a acção para o effeito
de assegurar aos autores os referidos direitos e vantagens, in-
cluindo o de receberem da fazenda municipal o subsidio ar-
bitrado pela lei.
O recurso desta
sentença interposto pelo juiz na fôrma
da para o Supremo Tribunal
lei, Federal não teve provimento
sendo a mesma confirmada por nccórdam n. 2.062, de. 11 do
novembro de 1911, nos seguintes termos:
«Vistos estes autos de appellação eivei em que são appsl-
lantes o juiz Federal da 2" Vara da Secção do Districto i/e-
deral, a União Federal e a fazenda municipal, e appellados
Alberto de Assumpção e outros, intendentes do mesmo districto;
recurso interposto da sentença
primeiro dos do
appellantes,
que se vô a fls. 376, e seguintes dos autos, pela qual foi jul—
gada procedente a acção dos appellados proposta contra as
outras duas appellantes os fins declarados em a dita sen-
para
tença:
Accórdam, depois de bem apreciada toda a matéria dos
autos e, bem assim, a discussão oral — em
em tribunal; eon-
firmar a sentença appellada em todas as suas partes, não só
por ser ella inteiramente conforme a direito, como ainda por
se haver fundado no accórdam anterior do Tribunal de n. 1.990,
de 25 de janeiro deste anuo, cuja decisão constitue caso julgado.
480 ANNAffiS DA CAMARA'

E para inteira intelligencia e comprehensão ao presente accòr-


dam, fica justamente declarado: Que no dispositivo da sentença
appellada — «para o effeito de assegurar aos autores; os
referidos direitos e vantagens, ineluido o de receberem da
fazenda municipal o subsidio arbitrado — si incluem
pela lei»
todos aquelles direitos e vantagens enumerados nos conside-
randa que precederam e serviram de base ao alludido disposi-
tivo, a saber: a) de serem os appellados reconhecidos inten-
dentes municipaes paradeste
o triennio de districto
1910 a
1912 e, como taes, empossados das respectivas funcções; b)
de poderem exercer as ditas funcções com os direitos e vantagens
dellas decorrentes quaes forame das decreto
privados pelo
n. 8.500, de 4 de do correntejaneiro
anno, decreto, que pela
dita sentença e pelo presente accórdam é declarado nullo por
illegal e inconstitucional; c) de serem os autores ora appella-
dos considerados como manutenidos no exercício de seus car-
durante o triennio referido appel-
gos por força da sentença
lada, ora confirmada pelo tribunal; — sobrelevando accrescen-
tar_ sobre este ultimo 'ionto,
que a doutrina seguida nas de-
cisões deste, de que li.a não compete mandar reintegrar os
funcckmarios públicos, embora destituídos illegalmente dos
seus cargos, nada tem de commum com o presente caso, Ou com
os direitos que este accórdam assegura aos appellados.
«A. doutrina do tribunal só se tem referido a funccionarios
de nomeação do Executivo, a compete
quem privativamente
nomear taes funccionarios; e como a reintegração seria uma
especie de renomeação, é de ver não caberia
que ao Judiciário
direito de ordenal-a, nas suas decisões, ao outro igual-
poder,
mente independente dentro das attribuíções lhes são exclu-
que
sivas. A especie ó manifestamente diversa: O Executivo não
nomeara intendentes aos ora appellados; nem para tanto tinha
competência; logo tão pouco tel-a-hia para reintegral-os nos
seus cargos. Só pôde reintegrar mesmo modo do
quem pôde
que o chefe do Executivo Federal, nomear sem a
menor inter-
venção deste poder; e é esta situação jurídica que as decisões
judiciaes lhes reconheceram de maneira inequívoca.
Portanto, o que incumbe á União Federal, ora appellante,
ou antes, aoseu Governo,
representante na causa, cm relação
aos appellados, não
reintegral-os, mas acatar e fazer acatar,
é
cumprir e fazer cumprir e guardar a decisão judicial em favor
dos mesmos em toda a sua inteireza, como nella se contem e
declara, porque assim lh'o prescreve a própria Constituição1. E
o Supremo Tribunal Federal, assim julgando, condemna igual-
monte as d<uas rés appellantes nas custas.
«Supremo Tribunal de 1911. —•
"V. Federal, 11 de novembro
Ribeiro^ de Almeida, p, — Amaro Cavalcante, relator do
accórdão. — M. Espinola. — Canuto Saraiva. — Manoel Mur-
tinho. — Lessa. — Oliveira
Pedro Ribeiro. — O. Natal, ven-

cido. presente, Nvniz liarreto.»
Fui
Embargado este accórdão geral da Repu-
pelo procurador
blica, foram desprcsados os embargos por accórdam n. 2.062.
«Vistos estes autos do. appellação eivei e nelles os embar-
gos de fls. 667, com que veiu o Sr. ministro procurador gc-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 251

ral da Republica contra o accórdam de fls. G38, confirmando a


sentença appellada de folhas a folhas e bem assim também
os embargos de fls. 657 da Procuradoria da Municipalidade
deste Districto com idêntico intuito: Accórdam, depois de bem
apreciar toda a matéria dos referidos embargos, em desprezar
os mesmosporque carecem elles de procedencia juridica em
vista fundamentos
dos do proprio accórdão embargado, que
deve subsistir para todos os effeitos de direito, como nelle se
contem e declara. Paguem os embargantes as custas.

Supremo Tribunal Federal, 24 do julho de 1912. — Espi-


rito Santo. — Amaro Cavalcante relator, para o accórdão. —
— —.
Ribeiro de Almeida, Oliveira Ribeiro. Canuto Saraiva.
M. Espinola. — M. Murtinho. — G. Natal, vencido. — Fui pre-
sente, Muniz Barreto.»

lia da Republica ao
poucos dias oppoz o procurador geral
accórdam acima embargos de declaração, que sendo claro l>or
demais como é este e os outros accórdams sobre tal acção,
confirmando todos juiz a quo,
a não trarão
sentença alto- do
ração ao julgado e tem por fim sómente a questão.
protelar
Assim tem o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca
desrespeitado as sentenças do Supremo Tribunal Federal pro-
movendo a mais baixa e condemnavel chicana com a qual
perde a compostura expondo á critica geral senão ao ridículo
não só o alto cargo de primeiro magistrado da Nação de que
está investido, como justiça federal.
a mais alta casa da
Esta instituição suprema de justiça que a Constituição da
Republica modelou pela Supreme Gourt of Justice dos Estados
Unidos do Norte ó a garantia de todos os direitos, e em todos
os tempos da Republica foi respeitada sempre, sendo de notar e
recordar que nos tempos difficillimos das successivas Fe^
voluções que pertubaram o Governo do Marechal Floiiano Pei-
xoto, este grande brazileiro, no auge do poder, cercado de

justo enthusiasmo pela serena energia com que enfrentára a


defesa da Republica, aos ministros e mais bajuladores que lhe
aconselhavam não obedecesse á ordem de habeas-corpus con-
cedida por esta alta casa de justiça, virou as costas o com
aquella bella calma que tanto se admirava, ordenou ao chefe de
mandasse soltar os presos por tal habeas-corpus fa-
policia
vorecidosl
Com esto acto do obediencia á Constituição e ás leis, dava
o glorioso Consolidador da Republica o mais eloqüente
exemplo do valor, demonstrando, em momento aliás o mais

perigoso, a clara comprehensão do Poder Publico dte que se


via investido.
E' verdade que o Supremo Tribunal entre nós muito tem
deeahido nos últimos tempos. E' o Dr. Pedro Lessa, um dos
seus ornamentos, quem declaração de voto,
o assignala cm sua
quando alludindo á emenda do Sr. Epitacio Pessoa diz:—«An-
nullando, com visivel e inexplicável transgressão ao direito, o
accórdam em que se dera o habeas-corpus requerido
pelos
deputados estaduaes do Rio de Janeiro proprio Tribunal con-
o
tribuiu para facilitar um pouco a tarefa de negar obediencia
ás sentenças do Poder Judiciário».
âS3 í ANNAES DA CAMARA

Os por épocas sophisticas no conceito de


povos passam
Gastellar e a do decomposição moral que atravessamos
phase
de ha muito se reflecte no Supremo Tribunal Federal, cujo

desprestigio vao desmoralizando a Republica além dos limites

da Patria.
alta casa, ultimo reducto da Justiça no Brazil, assai-
Desta
tado Governo, ouve-se tristemente fallar a nacionaes e
pelo
estrangeiros com sorriso de descrença, muito principalmente
depois fíanimedes da jurisprudência, constituiu-se o Sr.
que,
Epitacio Pessoa o portador de ordens do Poder Executivo para
Tribunal.
o pessoal desse
Desrespeitado no caso do Estado do Rio, ludibriado nos

casos da Bahia e do Conselho Municipal, submette-se o Tribu-

nal ora assumindo cumplicidade com o Governo para actos de

deportação de operários em virtude do decreto 1.641 de 7 de


de 15)07 e instrucções que baixaram com o decreto
janeiro
(>.480, de 23 de maio do mesmo anno, decretos reconhecida-
mente inconstitucionaes, ora em se despojando como presente-
mente, da competência de fazer intimar o Presidente da Repu-

blica a comparecer em juizo ; a todos que, por isso


parece
mesmo que o Poder Executivo desrespeita os seusjulgados,
mais se curva este Tribual ante o despotismo do Governo !
lia poucos dias, A requisição do conselheiro Rodrigues Al-
ves, presidente de S. Paulo, o Governo Federal deportou os
operários Primitivo Raymundo Soares, brazileiro; Antonio Fi-

gueira Yieitas, hespanhol; Altino Caldas, portuguez; Manoel


Gonçalves, hespanhol, e José Louzada, da mesma nacionali-
dade, todos residentes em Santos, presos na occasião em que
sahiam da redacção da Noticia onde haviam ido denunciar á
imprensa os actos violentos da policia estadual contra pes-
soas e moveis na Federação Operaria daquella cidade.
Com esto acto de violência pretendeu o governo abafar a

gréve pacifica dos operários da Companhia Docas de Santos.


O illustre advogado de S. Paulo, Dr. Demetrio Justo Sea-
bra requereu ao Supremo Tribunal Federal habeas-corpus em
favor dos presos, depois deportados, allegando a qualidade de

brazileiro para o primeiro e de residencia de mais de tres

annos para os outros, aliás casados com brazileiras e tendo

filhos brazileiros, nos termos do celebre decreto 0.480, accres-


cendo ainda que estavam todos sendo processados por suppos-
tos delictos no Juizo de Direito de Santos, tendo sido presos
em virtude de ordem de preventiva.
prisão
Ante as informações do Governo que fez apresentar ao
Tribunal um inquérito policial visivelmente arranjado para
a consecução de tal fim, bem como uns impressos do jornal
Lanterna, orgão livre-pensador, convidando operários á reu-
riião na séde da Federação Operaria para defesa pacifica do
seus direitos, negou o Supremo Tribunal Federal a ordem do
habeas-corpus para a apresentação dos pacientes, que segui-
ram barra fóra condemnados á expulsão do generoso o hospi-
taleiro sólo brazileiro, sem fôrma de processo.
Este procedimento da mais alta casa de Justiça da Repu-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 2S3

blica so tem repetido muitas vezes, repercutindo no estran-

geiro onde tem recebido a critica dos juristas europeus.


E' assim que o Journal du Droit International Privé et de
la Jurisprudence Comparée, em Paris, no n. 1—11
publicado
do anno 35 (1908) á pag. 891, no Boletim de la Jurisprudence
Brésilienne par Rougier, analysa a sentença do Dr. Pires de
Albuquerque no caso—Roger-Weil, em que ha considerando.
assim traduzidos:

«Cons. que 1'expulsion d'un étranger résidant au Brésil en


deshors des cas que specifie la loi ou en 1'absence de formes

qu' elle prescrit est. une violence illegale, autorisant le recours


d'habeas-corpus (Gonst. Feder. art. 77 § 22).
«Cons. que la loi du
7 janvier 1907 classe parmi les motifs
d'expulsion le vagabondage, la mendicité et le proxénétisme
«regulierement prouvés»—qu'une instruction du 23 mai sui-
vant substitue à la formule légale cette autre formule: ^le

proxénetisme établi par une enquête de police»—mais que


cette instruction dénature la loi qu'elle pretend appliquer et
est deux fois inoonstitutionelle comme empiétant sur le pou-
voir du législateur et comme transportant à une autorité adiai-
nistrative les prerogatives de 1'autorité judiciaire.

que 1'action de la justice ne saurait


«Cons. dépendre d'un
choix arbitraire du Gouvernement entre le procés public avec
les peines légales et 1'information secréte avec 1'expulsion;
—Qu'il est impossible d'admettre h côté du baimisseinent po-
litique que la Constituition semble tolerer e du bannissement ju-
diciaire qu'elle interdit la forme nouvelle d'un bannissement
policier, en consequence d'une incrimination fondée sur des
notes de police sans publicité, sans garantie et sans recours.
Qu'il est impossible encore d'admettre qu'a chaque instant la
justice risque d'ôtre troublée par la police lui arrachant un
inculpé pour l'expulser sur la foi d'invcstigations clandestinos,
de délationa malvoillantes ou du temoignage de ses propres
agent.s.»
E passando a criticar o accordam do Supremo Tribunal
Federal que rejeitou o recurso e confirmou a sentença despre-
zando os motivos do insconstitucionalidade do decreto de 7 «le
janeiro de 1907 em que aliás se basea o Tribunal para conce-
dor o habcas-eorpus nos termos do considerando seguinte:
«iMais sur le second grief:—Cons. la notification à
que
1'étranger des motifs do son expulsion est imperieusement
prescripto par 1'art. 7 de la loi, qu'elle est indispensable pour
permettre a cet étranger de faire valoir ses moyens de défenso
conformemont à 1'art. 8». Commenta R. Rougier:
«II ost interessant de voir comme à 1'étranger le problòme
a été étudió et rosolu sous son double aspect. II est intores-
sant aussi de voir comrno la loi brésilienne 7 1907
du janvier
Çiui s'etait préoccupée, d'assurer des droits à 1'étranger comme
li conviont dans un
pays qui attend son avenir du pcuplement
et de l'immigration—'a dans un espace do tomps três
bref uno
grande partie de son efficacité protectrice. Elle a subi una vi-
2K4 ANNAES DA GAMARA

da la part du Pouvoir Executif, desireux


goureuse poussée
cTavoir dans 1'expulsion une arme guise,
qu'il pút manier a sa

et devant1'attitude duquel la jurisprudence est partagée. Le

conflit se dessine três nettement entre les jurisdietions infe-

rieures, qui résistent à 1'arbitraire, non sans quelque ardem'


belliqucuse et le tribunal suprême que incline visiblement

dans le sens de la raison d'etat et accepte le fait du prince,


s'il ne reussit pas toujours a le justifier.

Le juge federal a três bien mis en relief 1'incorrection du


laquelle, en presence de la loi brésilienne, est la mô-
procédó,
me, qu'on se place au point de vue des droits de 1'étranger ou
à eelui du príncipe de 1'ógalité des dólinquants devant la Jus-
tice. Le Tribunal suprême a réformó la decision sans rópondre
aux arguments, qui bien sans réplique. Dans le>
paraissent
dernier état de la jurisprudence brésilienne 1'étranger n'est

cependant pas absolument dépourvu de protection. II peut se


contrè 1'arrêté d'expulsion et en discuter les motifs.
pourvoir
S'il triomphe c'est fort bien. Mais s'il succombe, le délit será
'au
par cela même établi et 1'arrêtó d'expulsion n'echappera
reproche d'atteindre un innocent, sans 1'avoir admis à se dé-
fendre que
pour encourir celui de soustraire aux tribunaux
un coupable dont le délif est dcmontré».

O Supremo Tribunal Federal em *>ua decadencia tem


vindo de quéda em quéda, e no ultimo julgado negou habeas-
corpus aos operários de Santos, cujas famílias brazileiras fi-
caram no abandono e miséria, sem mais exigir a notificação
aos pacientes, notificação que naquelle accordam o Tribunal
«indispensável para permit-
julgara nos termos do tal decreto
tir ao estrangeiro fazer valer seus meios de defesa».
Guardadas bem mas lionrosissimas excepções en-
poucas
tre os membros da nenhuma
magistratura
paiz, confiança do
inspira a justiça estadoal, nenhuma confiança inspira a justiça
local do Districto Federal, nenhuma garantia de direito offe-
rece a Justiça Federal. Os commentadores do direito compa-
'assignalam no exterior constantemente a falta de garan-
rado
tias da justiça brazileira; eis porque os governos europeus

teem prohibido a emigração para o Brazil, paiz cujo progresso


depende absolutamente do povoamento do sólo.
Nada, porém, poderá justificar o procedimento do Poder
do Poder Judiciário
Executivo em desrespeito a mais alta casa
da União.
Nos Estados Unidos do Norte é a Supreme Court of Justice
de summo acatamento, respeito e enthusiasmo por
objecto
áaque.lle grande e dos estrangeiros alli domicilia-
parte povo
Delia diz com muita justeza Andrew Garnegie em sua
dos
Democracy»: Beyond and before, and higher
«Triumpliant
or
House, Senate, or President, stands this final arbi-
than
umpire, judge of itseli'. More than once Lord Salis-
ter sob
has said that he eiivied his transatlantic brethren theip
bury
Gourt. Speaking at Edimburg on november 23, 1882,
Supremo
lie said: «1 confess 1 do íiot often envy the United States, but
in their institutions which appears to no
therq is one featuro
SESSÃO EM DE 285
21 SETEMBRO DE 1912

the subject of the envy their


greatest magnificent institution
oi 'a
Supremo Court».
Tão alta instituição, que as complexas e innumeraveis dif-
liculdades da administração da Justiça 11a Confederação Ame-
ricana, por ser esta organizada •
estados, que traziam para
a União constituições e leis próprias, despertaram e a Consti-
tuinte creou para a todos obrigar em um laço
commum na ad~
ministração da justiça, com
jurisdicção por todo o territorio do
paiz, esta instituição que nós copiamos para julgar os confli-
cios entre a União e_os Estados, e destes entre
si, litígios e re-
clamações entre nações estrangeiras o a União ou os Estados,
julgar nos crimes communs o Presidente da Republica, Mi-
nistros de Estado o ministros diplomáticos, esta alta casa que
em sua curta existencia conta vultos como
Macedo Soares, José
lfygino, Ampliilophio de Carvalho, Américo Lobo, Barradas,
Aquino e Castro, Piza e Almeida, e outros
luminares do direito
e do caracter, que no passado e no presente honram a magis-
tratura federal, tem sido ultimamente
victima de erros graves
por maiorias occasionaes de elementos advindos dos tristes
pe-
riodos governamentaes que vamos atravessando,
mas resta-lhe
ainda a magestado judiciaria
que lhe garante o alto papel a re-
presentar no regimen republicano.
Nos Estados Unidos do Norte, diz Bryce, apreciando a Su-
preme Court. 11a «American Commonwealth»—Few American
institutions are better worth studying than this intricate ju-
dicial machinery: few deserve more admiration
for the smooth-
ness ol their working: few have more contributed to the
peace
and well being of the country.».
De todos os governos
que teem ultimamente infelicitado a
pubhca administração desmoralizando o regimen republicano, só
o do Marechal Hermes da Fonseca, ousou desrespeitar, impru-
dente e acintosamente, as sentenças do Supremo Tribunal Fe-
deral.

De tudo oque fica exposto se deduz:


que o Maré-
chaJ Rf)dngu,'« da Fonseca
expediu
rlínrrr,lcs, o decreto
n. 8.0OO, de 4 de janeiro de 1911, e instruções em con-
sequencia deste pelo decreto n. 8.527, de 18 do mesmo
mez para as eleições de intendentes municipaes do Dis-
tricto Federal, decretos e instrucções
ás dis- contrários
posições expressas do art. 68 da Constituição e do artigo
05 da lei u. 939, de 29 do dezembro
de 1902, com o que
Commetteu o crime do art. 37;
praticou contra cidadãos
investidos das funeções de intendentes municipaes, o
crime do art. 10, capitulo III, nos termos
do art. 21; tudo
da lei de responsabilidade do Presidente
da Republica.

Deputados — O imperialismo se vae implantando


Srs.
en-
nos
pela corrupção dos costumes
rnn e accelerado disvirtu.!.-
"'rvi °° regimen republicano,
praticado como vem sendo nór
exploradores
do poder.
256 ANNAEB DA CAMAKA

Após a intervenção armada nos Estados do Rio de Janeiro,


da Bahia, da Parahyba do Norte e do Ceará; após a desmorali-
zada administração na Imprensa Nacional e na Estrada do
Ferro Central do Brazil; após o escandaloso abafamento do in-
querito policial sobre o incêndio da Imprensa Nacional, a inno-
contar o Sr. Armênio Jouvin dos crimes que lhe são attribuidos

pela opinião publica; após a condomnavel protecção ao Sr. Mar-


ques da Rocha, indigitado autor do hediondo crime da ilha das
Cobras; após a impunidade do tenente Mello pelos crimes de
íusilamentos a bordo do Satellite; após a intervenção no reco-
nhecimento de poderes do Congresso Nacional; após o ianni-
da justiça, com o desrespeito aos .julgados do Su-
quilamento
Federal; após o desrespeito á de Amnistia;
premo Tribunal Lei
após a vergonhosa acceitação de dinheiros mendigados de
em porta a nacionaes e estrangeiros para compra do
porta
de sua residencia, pratica o Marechal Hermes da Fon-
prédio
eeca mais um acto de dictadura baixando o decreto n. 9.446,
de 20 de março do corrente anuo. (Diário do Congresso Na-
cionál, anno XXIII, n. 06, pag. 1.264.)

Por este decreto entendeu o Presidente da Republica dls-

pensar
temporariamente o tempo de embarque para a promo-
dos officiaes do Corpo da Armada e classes annexas aos
ção
immediatamente superiores, e para apparentar alguma
postos
explicação ao seu acto dictatorial, apontou diversas leis, pelas
diz: «Os Poderes Públicos, em mais de uma circumstan-
quaes
cia e com o fim de facilitar o preenchimento e rejuvenesci-
mento dos quadros, teem dispensado o tempo de embraque»,
como que, «ordinariamente a falta do alludido requisito

não corre por conta dos officiaes, sinão do proprio Governo,

que não dispõe fios meios indispensáveis para proporcionar a


todos, como, aliás, lhe cumpre, o ensejo de observar as exigen-
cias legaes,
para o seu accesso.»
Em mensagem de 0 de iünho, o Presidente da Republica
submettcu á consideração do Poder Legislativo lal decreto,

liara provocar uma lei que venha homologar aquelle acto, que
fere positivamente a lei de promoções.
A Commissão de Marinha e Guerra dessa Camara reeo-

nhece que «si é verdade que uma lei determina que o Poder
Executivo preencha as vagas que oecorrerem nos differentos
da Armada, verdade- é também que outra lei esta-
quadros
condições revestir os officiaes
belece as que se devem
de para

o accesso a essas mesmas vagas.


«Não são leis antagônicas, mas leis que se completam.

A. vaga aberta cm um posto qualquer da escala deve ser logo


mas por quem tenha os requsitos que a lei an-
preenchida,
teriormente houver exigido.-!' {Diário do Congresso Federal,

anno XXIII,/n. 43, pag. 902.)


Como se vê, pelo conceito acima adduzido pela Commissão
de Marinha o Guerra em sua alta competencia, a Armada Na-
ao Marechal Presidente: — legcm ha-
cional pódc responder
benius! Temos lei e bôa lei, que satisfaz as justas aspirações

desta corporação.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 257

O intuito do Presidente
da Republica, baixando
porém, o
decreto 20 de março,
revoga a lei de promoções
que da Ar-
mada para dispensar o tempo de embarque, dispensando re-
quisito que caracteriza o serviç-o de Marinha, é bem conhe-
ciclo e commentado. O Marechal Hermes da Fon-
^geralmente
seca não deposita confiança na oíficialidade da Armada, pen-
sando dispôr do Exercito,
que tem movimentado para as inter-
venções criminosas nos negoeios dos Estados, abusando por
demais do supremo aommando, em que tem disvirtuado o pa-
pel desta gloriosa corporação, tenta fazer, a
por promoções
protegidos, um grupo, na Marinha Nacional, organizando um
ponto de apoio em que se possa firmar para o golpe de Estado,
com que a ingenuidade do Presidente da Republica, animada
pelos contínuos engrossamentos dos bajuladores, o cer-
que
cam e o comparam a Napoleão, ameaça ás instituições xiepu-
blicanas.

Osque cultivam a historia dos civilizados e com-


piovos
param as épocas o meios sociaes, dos quaes surgem caudilhos
a se transformarem em déspotas, verdugos das nações que os
crearam, bem comprehendem a situação
que geographica do
Brazil e a sua orientação diplomatica o
preservam de guerras
externas, ciom os brilhos- de cujas victorfas possa um aVentu-
reiro qualquer deslumbrar as massas
populares.
Sem o prestigio, pois, do successivas victorias alcançadas
em guerras contra nações vizinhas, glorias bellicas em-
que
briagam os povos, fascinando os exercitos ia crear dictadores
e déspotas, não conseguirá o Marechal Hermes da Fonseca o
seu desideratum.

Na administração da Marinha de Guerra entrou o Marechal


com o pó esquerdo, desencadeando-se logo sobre esta capital,
após os
primeiros dias do seu governo, a revolta da Armada;
concedida a pacificação pela amnistia, quando rompeu o se«
movimento — o da ilha das Cobras — os
gundo marinheiros
amnistiados se portaram como bons auxiliares do poder cons-
tituido na suffocação desse levante, que deu opportunidade a
que fossem esses mesmos marinheiros amnistiados o
presos
reclusos nas masmorras, cubículos e solitarias da ilha das
Cobras.
«Chegadas as primeiras turmas ã Ilha da Morte, narra o
Correio da Manhã em seu n. 3.466, de 13 de
janeiro de 1911,
foram com ellas atulhados todos os cubículos, as masmorras
e solitarias alii existentes. Atulhados ó bein o termo, pois
nas solitarias, feitas para incommodamente alojar uma pessoa,
eram mettidas tres e
quatro, guardando-se a mesma proporção
para todos os demais compartimentos.

«E assim, de pé, comprimidos uns contra os outros, sem


se poderem virar, ficaram alli centenas de homens, horas e
horas, na esperança de
que mais tarde os viessem tirar para
• outras dependências
do presidio.
«O calor infernal, calor de um ambiente fechado
por todos
os lados, e a atmosphera respirada do bocca a
pestilenta
Vol. 17
S58 ANNAE9 DA CAMARA

bocca pelos infortunados marujos, gerou em breve á sede.


Reclamaram agua e ninguém os quiz ouvir.
«Os
desgraçados, sem ar para respirar nem agua para
beber, começaram então a provar tormentos indescriptiveis,
Transcorreu a primeira noite, o dia nasceu e morreu, uma se-

gunda noite ouviu seus gemidos e não lhes deram agua e não
lhes deram pão !

«Veiu afinal o período agudo da fome. Alliava-se a ella


o cansaço, o entorpecimento muscular produzido por muitas
horas de immobilidade absoluta.
«Pelas grades viam-se lá dentro das masmorras boccas
se abriam em rugidos secoos, esmolando uma gotta de
que
agua para se dessedentar; olhos, que pareciam saltar das or-
bitas, procuravam entrever uma restea de luz, que lhes fal-
lasse de liberdade. Comprimidos — corpos semi-nús exhalavam
uma fedentina acre e repugnante de jaula irial lavada.

«Cahiu por fim a


primeira victima. Matara-a a inanição.
Deante disso ainda mais se revoltaram os condemnados.
«Em altas vozes reclamaram agua, alimento e um medico
companheiro
o de infortúnio que ainda julgavam com
para
vida. Retiraram o homem que havia cabido e lá fóra verificaram

que estava morto.


«Houve um momento1 de alarido na masmorra, os presos
forçavam as grades robustas. Despejaram-lhes por cima vários
saccos de cal !
«O desespero, em um crescendo continuo, foi até o ponto
de implantar a loucura entre os enclausurados. A fome levou-
os a tirarem pedaços de carne uns aos outros, isso em meio de
uma gritaria de apiedar ás próprias feras.

«A morte foi fazendo novas victimas e no fim de tres dias


18 enterros sabiam da ilha das Cobras para o cemiterio do Cajú.
«E, para que se não veja nestas linhas obra de pura ima-

ginação de quem as edita, damos a seguir os nomes dessas


creaturas mortas á fome, á sede, á aspliyxia e á pancada, den-
tx-o da
própria capital da Republica.
Chamavam-se assim os marinheiros mortos: Adão Roque
da Silva, Antonio Pinheiro, José Antonio dos Santos, Floren-

tino Marques de Oliveira, Carlos Pereira dos Santos, Porfirio

Pereira dos Santos, João Manoel Vaz, Josó Francisco da Costa,


M. dos Santos, José Domingues dos Santos, Francisco
Eduardo
Mathias de Faria, Scipião Sanotti, Maláo Cariba, José Francisco

dos Santos, Carlos Laperina, Olegario Capistrano dos Santos,

Benedicto Mariano e João Avelino.»

«Quando voltei á ilha das Cobras, diz em interview ao

da Manhã o Dr. Ferreira de Abreu, único official


Correio
ficou nesta ilha 110 dia da revolta, o comman-
(medico*) que
Marques da Ilocha disse-me na secretaria: «Tem abi
dante
1C passar as certidões de obito».
cadaveres, precisa
dezeseis mortes, continua o mesmo doutor,
« Aquellas sur-
O commandante, talvez notando o espanto
prehenderam-me.
aquella noticia, disse-me que se tratava de
que me causou
os attestados. Fui
casos de insolação. Todavia não quiz passar
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 259

v&l-os e fiquei convencido de que os homens tinham morrido


de inanição e aspliyxia.

«Dei como causa de obito — insolação...


«Seria uma vergonha que eu declarasse nesse documento
que aquelles homens morreram de inanição e asphyxia...
«Fui desligado do corpo, mas no inquérito depuz tudo
quanto sabia, em absoluta conformidade com os factos, termina
assim o seu interview o Dr. Ferreira de Abreu.»

Em interview também ao Correio da Manhã, sobre o mesmo


crime, diz calmamente o commandante Marques da Rocha:
«Â minha única culpa ó esta: não ter ido ver as condições
dos marinheiros presos. Quanto ao castigo da solitaria a pão
e agua, ó commum e não mata. Nem as prisões são tão estrei-
tas como se anda dizendo por ahi. Ha menos de tres mezes
mandei lá prender, nas tres únicas solitarias seguras, muitas
dezenas de presos, sem morrer ninguém...»

A 26 de dezembro um mez e onze dias depois de ter o


Marechal Hermes da Fonseca tomado posse do Governo, pro-
curou o supplicante em palacio o da Republica, Presidente
para avisar-lhe de que nas solitarias da ilha das Cobras es-
tavam marinheiros sem pão e sem agua.
presos
«Eu não duvido'
que seja verdade, disse ao supplicante
o Marechal Hermes, em se mostrando surprehendido com tal
noticia. Vou tomar providencias immediatas.»

No dia seguinte, ao voltar ao Palacio, o supplicante ouviu


dr Presidente da Republica na seguinte phrase a confirmação
do monstruoso facto
que abalou profundamente a alma na-
cional, repercutiu no
mundo civilisado e provocou a repulsa
das sociedades humanitarias dos paizes da Europa e da Ame-
rica:
«O facto, desgraçadamente, doutor, é verdade; de-

mitti o commandante.»
«Poucos dias se passaram e os reporters encontraram,
hombro a hombro, passeiando com o Presidente da Republica,
o indiciado autor de tão emocionante crime 1
O digno e honrado almirante Marques de Leão manda
proceder a conselho de guerra; 6 positivamente accusado o
commandante Marques da Rocha.

« E o Marechal Presidente, diz brioso officinl da Marinha


em carta ao Correio da Manhã de 18 de março, sentava á sua
mesa em uma festa do família, o official accusado de um crime
hediondo, e, indifferente ao clamor que o facto vinha levan-
tando no paiz e mesmo no estrangeiro, irreflectido e incon-
scientc, timbrava em ostentar a sua protecção criminosa ao
seu amigo!...
«Era que assim ello ageitava o conselho e, para
julgador
maior segurança desse arranjo, subornava os seus juizes com
favores^ o promoções.
« Não bastavam as revoltas da maruja e a pusilanimo
amnistia: era preciso, para maior vergonha e desmorona-
mento de classe, que surgisse esse conselho, com esses
260 ANNAES DA GAMARA

officiaes, talvez ainda maiores criminosos do que o réo quo


elles julgavam.
«O Marechal segurava-se,
o seu segurando
amigo; pro-
movia por merecimento, com preterição de companheiros di-
gnos e competentes, durante os trabalhos do conselho, Ray-
mundo Valle e depois, concluída a absolvição, também por
merecimento, promovia Pereira Leite, José Veríssimo e Mi-
guel Fiúza Júnior...
«Nicoláo Possolo, porém,_espera a conclusão de seu tempo
de embarque. A sua
promoção a fragata se déra um ou dous
mezes antes da convocação do celeberrimo conselho. Alberto
Álvaro da Silva, coitado! teve também os seus favores, na sua
reforma. Agora é sempre nomeado membro de conselhos
para
de guerra, fazendo por isto jus á percepção do todos os venci-
mentos, como si estivesse em actividade.

« Triste, muito triste Sr. 'redactor, é o conceito de nós


_ que
estão fazendo as marinhas estrangeiras, desgraça
que, por
nossa, acompanharam de perto o caso Marques da Rocha!
«Tive, infelizmente, ouvir,occasião
ha de bem
pouco,
humilhado, poder sem
articular uma palavra de defesa, com-
mentarios bem desabonadores do modo de destruir aqui a
justiça das classes armadas.
O' meu grande_e idolatrado Brazil!
porque não te ergues,
não te levantas e não os teusfilhos,
punes que fizeram de ti,
antes poderoso, respeitado, invejado, um de caudilha-
paiz
gem, um paiz de escravos?! Direito, liberdade, autonomia, são
a vontade da tenentada, sob as ordens do teu autocrata pre-
/bidente!»
E referindo-se ao almirante mandou archivar o
que pro-
cesso Marques^ da Rocha exclama:
«Então, Sr.
redactor, o almirante não encontrou no
exame dos autos
os indicios vehementes a pronuncia? A
para
maior dasdesgraças do homem é, sem duvida, a myopia do
consciência. Entretanto, os elementos, nos autos, haviam

fornecido fundamento, em artigo differente e mais severo do
ria 'algumas
primeira pronuncia: mas o almirante, satisfeitas
fias formalidades substanciaes, ordenadas tribunal mi-
pelo
litar, não encontrou nos mesmos autos, não enxergou, não
viu os indicios da lei basear a nova
para pronuncia!!!
Admirável myopia!...
Resta-nos, porém, Sr. redactor, a esperança de desappa-
recidas as misérias da actualidade, ver restabelecido, nova-
mente, o processo, como a lei admitte, punidos os verdadeiros
criminosos, para desaggravo de minha desventurada classe e
felicidade desta Republica.»
Pela voz desse
digno official de nossa Armada falia a ma-
nnha de
guerra justamente revoltada e hoje ferida em seus
direitos de promoções por tempo de embarque, ameaçada de
mais preterições, para fazer o Marechal Hermes da Fonseca
um grupo de protegidos; reclama da Gamara dos Deputados
em nome da justiça não homologue com o projecto da Com-
missão de Marinha e Guerra o acto criminoso do Presidente
da Republica.
SESSÃO KM 21 DE SETEMBRO DE 1912 261

De que tudo
fica o
exposto se deduz que o Ma-
rechal Hermes
Rodrigues da Fonseca, Presidente da
Republica, expedindo o decreto n. 9.446, de 20 de
março de 1912, revogou as leis de de offi-
promoção
ciaes do corpo da Armada Nacional, com o que com-
metteu o crime do art. 37; tolerou e encobriu crime de
subordinado seu
com a ostensivamente dis-
protecção
ao commandante Marques da Rocha, com-
pensada
mettendo com este o crime do art. 40;
procedimento
subornou por promoções durante os trabalhos do con-
selho de guerra officiaes do indiciado autor
julgadores
dos assassinatos da ilha das Cobras, com o que com-
metteu o crime do art. 46, tudo da lei de responsabi-
lidade do Presidente da Republica.


Srs. Deputados gestão dos públicos nogocios da União
A

pelo Marechal Hermes da Fonseca tem feito augmentar o


uescredito que o governo Campos Salles pelo peculato im-

plantou nas repartições federaes, o governo dos conselheiros


manteve e o governo Nilo Peçanha desenvolveu em tão alto
gráo, que em passeio pela Europa, após a sua administração,
escrevendo um livro de impressões de viagem, nelle registra
o conceito, que hoje traz o nome desse político: fraudar o Es-
tado não fraudar a ninguém.
é
As negociatas promovidas por proximos ao Ma-
indivíduos
rechal Presidente são diariamente denunciadas pela imprensa,
sendo discutidas por diversos jornaes, sem provocarem a mais

pallida contestação de parte dos accusados; pelo contrario


ostentam luxo e fortuna, sem baixar a fronte ante o publico
que os conheceu poucos ha mezes probretões, vivendo apenas
dos parcos vencimentos de seus empregos públicos.
Na Imprensa Sr. Armênio Jouvin provocou
Nacional os o
maiores escandalos administrativos; reclamações e mais re-
clamações foram apresentadas ao Presidente da Republica, por
intermedio do Ministro da Fazenda, contra negociatas clau-
destinas feitas pelo director da Imprensa, tão justas eram
taes accusações que instado
por seus amigos o supplicante
Bruno won Sidow e Nogueira Paranaguá para conversai' com
o Marechal Presidente, a respeito de reclamações daquelles e

perseguições a este disse-lhe ao ouvil-o o Presidente da Re-

publica:—«Mandei processar o Jouvin.—Para demittil-o,


Marechal ? perguntou o supplicante.— Não, para mettel-o na
cadeia, respondeu o Marechal.—» Corria inquérito adminis-
trativo sobre factos criminosos praticados pelo Sr. Armênio
JTouvin na administração da Imprensa Nacional, investigações
eram feitas sobre fornecimento de materiaes que deveriam ter
sido recolhidos ao almoxarifado, quando se manifestou incêndio
no edifício da Imprensa, começando o fogo pelo almoxarifado,
que estava sendo objecto de taes investigações.
A opinião publica e os jornaes da manhã e da noite aponta-
-o
ram Sr. Armênio Jouvin como autor do incêndio, interrogado
cui prodest ? o bom senso jurídico o indicara como interessado
em occultar as provas dos delictos de que era geralmente ac-
cusado; o delegado de Dr. Flores da Cunha abriu in-
policia-
362 ANNAKS DA CAMARA'

qucrito e quando todos esperavam fosse detido o Sr. Jouvin


para averiguações fez o delegado prender alguns cidadãos, que
o director indiciado apontava como seus inimigos, se-
porque
gundo lhe constava eram autores de artigos que analysavam
a sua administração !
Odelegado de policia prendeu os seguintes cidadãos:
Dr. Manoel Thernistocles de Almeida, ex-director da Im-
prensa Nacional e Deputado Federal na ultima legislatura;
Dr. Osman Pedrosa, Trajano César de Castro, Francisco da
Silva Seabra, tenente-coronel Manoel José da Silva Lima, João
Alves Pinheiro de Carvalho, Antonio Jayme de Alencar Ara-
ripe Filho, Mariano Rodrigues dos Santos, José Francisco
Felippe dos Santos, brazileiros, empregados e Othmar
públicos
Meinich, subdito allemão, negociante.

A imprensa
verberou diariamente o procedimento do de-
legado de
policia que consentiu o indiciado Jouvin dirigisse o
inquérito, apontasse e até interrogasse testemunhas. O suppli-
cante procurou o Ministro da Justiça, reclamando contra o
pro-
cedimento do delegado; o Dr. Rivadavia Corrêa ordenou a este
puzesse em liberdade os cidadãos illcgalmcnte presos.
O indiciado autor do incêndio da Imprensa Nacional cul-
tivava a amizade do tenente Mario Hermes, com cuja pro-
tecção podia contar para affrontar a opinião O in-
publica.
querito policial foi abafado e até hoje não teve relatorio! 1!
Na Estrada de Ferro Central do Brazil o conde Fron-
tin tornou-se
o alvo das mais vehementes accusações por
parte imprensa
da e do cm Este na-
publico geral. proprio
cional se foi desacreditando acceleradamente successivos
pelos
desastres que teem victimado centenas de e em-
passageiros
pregados; logo espalhou-se a noticia de que a intenção do di-
rector daquella estrada era deprecial-a para conseguir dos
poderes públicos a sua venda ao estrangeiro; justa ou injusta
uma tal accusação, discute-se hoje nesta Gamara a venda da
Estrada de Ferro Central do Brazil. Os desastres continuaram
e com elles as victimas e os estragos de locomotivas e wagons.
O jornalismo, o publico e o bom senso reclamam diaria-
mente a demissão do Dr. Frontin do cargo de director da
estrada de ferro, que sua administração estava aniquilando
e o Marechal Presidente, cerrando ouvidos ás reclamações,
mantinha o director daquella estrada, como o celebre director
da Imprensa Nacional.
E' que o Dr. Frontin, como o Dr. Jouvin, conhecia os
meios mais efficazesa empregar para prender o Marechal

Presidente da Republica; manifestações engrossativas ao Pre-

sidente se reproduziam continuadamente, promovidas pelos


dous directores dos dous estabelecimentos, e para taes fins
elles explorações pecuniarias aos empregados, sob
promoviam
suas c commando. Nestas manifestações eram sem-
guardas
pre offerecidos valiosissimos ao chefe do Poder
presentes
Executivo.
Quando mais se accumulavam as accusações contra os

mencionados directores, combinaram os dous com o comman-


dante do corpo policial, coronel Silva Pessoa, offerecerem ao
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 263

Marechal Hermes da Fonseca, como presente, o palacete de


sua residencia.
Publicada a noticia de fôra lofferecida ao Marechal
que
uma chave de ouro, como symbolo da propriedade de1 tal pa-

lacete, interpellou o supplicante, pela imprensa, o Dr. Frontin,


em nome
presidente da commissão que a offertára, reclamando,
do brazileiro, publicasse a lista dos offertantes de tal
povo
prédio. Começaram de percorrer as ruas desta Capital, os

membros da commissão, a pedir, de porta em porta, a nacio-

naes e estrangeiros, dinheiro, sob promessas de compensações


rendosas e immediatas, dio Governo, recebendo re-
por parte
de alguns, como do do London Bank, com
pulsas presidente
cujo nome haviam jogado, com o presidente do River
para
a contos do
Plate Bank, e, reunida quantia de cento e sessenta
réis, entregaram-n'a ao Marechal Presidente, que, com tal
dinheiro, comprou a casa n. 60 da rua Guanabara.

Com taes presentes conseguiram continuar os Drs. Jou-


vin e Frontin a dissipar bens da União, assumindo o Presidente
Marechal, assim, a responsabilidade de taes dissipações.
Os prejuízos da União, na Imprensa Nacional, pela desas-
trosa administração Jouvin e conseqüente incêndio do prédio,

livros e materiaes, são avaliados em cerca de vinte e cinco mil


contos. Os prejuízos da União, pela funesta administração
Frontin e subsequentes desastres, são avaliados em trinta mil
contos. Com a expedição espalhafatosa á Bahia, acompanhada

de esquadra e de um quasi corpo de Exercito, com as festas


ruidosas na capital daquelle Estado e nesta cidade, o Marechal
Presidente, para fazer a política do Sr. J. J. Seabra, despen-
deu, sem autorização, mais de dez mil contos. São sessenta e
cinco mil contos, que de tudo isto decorrem!
O déficit reconhecido pela Commissão de Finanças desta

Camara sobe a cento e cincoenta mil contos de réis!!!


Grande celeuma produziu, entre Vós, Srs. Deputados, o

conhecimento de am tal déficit; fundas preoccupações mani-


festateis sobre o futuro, em vista do estado de nossas finan-

ças; muito estremecestes pelo credito nacional; as vossas dis-


cussões na tribuna e na intimidade repercutiram na imprensa,
ultrapassaram os limites da Patria, apavoraram os nossos cre-
dores no exterior e o Economist, de Londres, nos ameaçou
com a quéda do cambio, condemnando as dissipassões e os es-

banjamentos do Governo.
Deante um tal descalabro
de financeiro, um só homem
levantou-se defender o Governo, dissimular o es-
para para
tado de nossas finanças, apontando, com gymnastica de cal-

culos, o estado financeiro em tempos passados, a comparar com


o actual: foi o Sr. Felishello Freire, o falsificador da his-
toria da Republica Brazileira, com a autoridade que traz da

gestão da Fazenda, como Ministro do Marechal Floriano Pei-


xoto, o demitiiu um bilhete escripto sobre a perna,
que por
ante a celeuma levantada no Congresso e na imprensa sobre
a questão das loterias — União Loterica — base do jogo do
264 ;¦ ANNAES DA CAMARA

bicho, o maior cancro que, ao lado do cloricalismo, corróe


estajoven Nação.
Dous acontecimentos extraordinários se destacam na ad-
ministrarão do Marechal Hermes da Fonseca, que impressio-
naram profundamente a Nação, um pelo ridículo que acarretou
o chefe do Poder Executivo e seu filho, tenente Mario
para
Hermes e o outro pela ferocidade que manifestou, repercutindo
110 exterior, como triste nota de selvageria, que abalou os nos-
sos créditos de nação civilisada — a expedição á Bahia e o
bombardeio da cidade de S. Salvador!
A' pratica desses dous actos altamente criminosos sabe-so
foi o Presidente da Republica arrastado por seu filho tenente
Mario, subjugado como se achava este pelo Ministro J. J.
Seabra, a quem brindando o Marechal Hermes declarara em

publico estava ligado


pacto de honra ! !!
por um
Qual o pacto de honra estabelecido entre o Marechal Iler-
ines da Fonseca e o Dr. J. J. Seabra ? indaga o povo brazileiro.
As reminiscencias do passado nos transportam ao tempo em

que eommandava o então general Hermes da Fonseca, a Bri-


gada Policial.
Era Ministro de Interior e Justiça o Sr. J. J. Seabra, que,
sabendo haver irregularidades criminosas na escripturação
Jaquella força, mandou a inquérito, em que se diz
proceder
foi encontrado desfalque superior a oitocentos contos do réis.
O inquérito da Brigada ficou celebre pelas discussões da
época e durante o pleito eleitoral, conversando o supplicante,
com o candidato Marechal, a tal respeito, disse-lhe este: «O
Seabra mandou instaurar inquérito contra mim, sem me avisar
previamente, para que eu o acompanhasse; só mais tardo tive
conhecimento de que se estava procedendo contra mim tal in-
querito, mas nada encontraram contra a minha administração.
Não deram publicidade ao inquérito me fazerem mal !»
para
Oinquérito da Brigada foi abafado pelo Ministro Seabra,
e o Marechal, contra quem aquelle o mandára instaurar, de-
clara hoje em brinde tem com o Sr. Seabra um pacto de
que
honra!
Estefoi reforçado com
pacto as promessas de eleição de
Deputado pela Bahia, para o tenente Mario, e juntos o Sr.
Seabra e o tenente Mario levaram o Marechal a fazer a es-

palhafatosa expedição á Bahia e a consentir no bombardeia-


mento á velha capital bahiana.
Faz-se preciso a esta Gamara requisitar o inquérito da
brigada, para esclarecer os motivos que obrigaram o Marechal,
a tal crime.
bombardeio da Bahia foi ordenado ao general
O Sotero de
Menezes, em telegramma assignado M. Hermes, que seria lido
Marechal Hermes, resposta a um telegramma em que aquelle
general perguntava ao Presidente da Republica si poderia usar
os canhões dos fortes de S. Marcello e do Barbalho, para coagir
o governador do Estado a retirar as forças que occupavam o
csdificio do Congresso. O Marechal Hermes da Fonseca chamou

» enta Capital, como acto de reprovação, o general bombar-


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DB 1912 265

deador e, exhibindo este em telegranima,


palacio aquelle viu
approvado o seu acto, restituida a confiança e o commando
para o qual voltou, sendo em seu embarque acompanhado
pelo
tenente Mario Hermes.
(Doe. n. 1, just. crim. 1', 2' e 3* test.).
O telegranima — M. Hermes — l'ôra
passado pelo tenente
Mario, que assim conseguiu a deposição do
governador do Es-
tado e a sua eleição de deputado com os respectivos subsídios,
no valor de setenta e tres contos e duzentos mil réis. Foi este
um meio subrepticio de que usou ? I o tenente Mario Hermes
Si tal fôr no correr do
processo evidenciado essa Gamara remet-
terá ao juizo competente os documentos com licença indispen-
savel para ser processado aquelle tenente.
O monstruoso bombardeio da Bahiaque na memorável
phrase do Ministro Marques de Leão não attentou mais con-
tra a dignidade brazileira do contra a civilização e a
que
humanidade e que abreviou os dias da vida
gloriosa do grande
chanceller da paz americana, o Barão do Rio Branco, reper-
cutiu no mundo exterior do fôrma dolorosissima
para a nossa
nacionalidade. A tal respeito diz a revista — Tout le Monde:
«Novamente está o Brazil dando a nota sensacional ás
secções telegrapliicas da imprensa, assumpto aos chronistas
e cuidado aos capitalistas que lá empregaram os seus capitaes.
E como o motivo da sensação 6 militar, ou, dizendo melhor, de
militares, não ficam
mal duas palavras sobre o mesmo.
Disseram os
primeiros telegrammas que o Presidente Fon-
seca, que é Marechal, ordenára o bombardeio da cidade de São
Salvador, para compeli ir o governador da mesma cidade a
obedecer ás suas ordens, e que em virtude deste bombardeio
incendiou-se a bibliotheca da cidade e o arcliivo. Outros pos-
teriores o bombardeio
affirmavam foi feito
que para cumpri-
mento de uma
judiciaria; sentença
outros, vindo mais tarde,
dizem que o Ministro da Marinha se deinittira achar que
por
o bombardeio da cidade de S. Salvador é maior attentado con-
tra a civilização
do que contra a própria Constituição do paiz.
Temos
pouco conhecimento da civilização do Brazil, que
segundo diz o Ministro da Marinha, tem uma Constituição, mas
seria curioso conhecer a Constituição deste paiz, onde se per-
mitte o bombardeio de cidades.
Dizem os telegrammas que o bombardeio foi precedido de
um aviso dado com duas horas de antecedencia, findas as quaes
tres fortalezas simultaneamente romperam fogo contra a ci-
dade, arrazando casas, incendiando o palacio do a
governador,
bibliotheca e o archivo, obrigando o mesmo governador a
refugiar-se no consulado da França, sob cuja bandeira ficou
protegido.
De passagem constatamos esta nova funeção que a America
do Sul creou para os cônsules europeus: — A
projeção da vida
aos seus governantes.
Não nos propomos nesta chronica a fazer um estudo desto
facf/O nem sob aspecto teelmico militar nem nas suas relações
com o direito das mas apenas noticial-o, commentando-o
gentes,
ligeiramente.
Não faz muito tempo eram despertados no-
já que por
266 ANNAES DA GAMARA

ticias do Brazil dando conta da revolta dos marinheiros da sua


esquadra, que após o assassinato de seus commandantes e offi-
ciaes, delia se apossaram e impuzeram ao governo brazileiro
a extincção dos castigos corporaes na Marinha.
Relendo essas noticias e comparando-as com os telegram-
mas actuaes, vê-se que os marinheiros revoltados em mil no-
vecentos e dez tinham mais noção de direito e de civilização
do que os
generaes que bombardearam a cidade de S. Sal-
vador. (!!!) O marinheiro Cândido, disse a imprensa em de-
zembro de 1910, vendo artilhado um ponto ao lado de um hos-
pitai, mandou intimar o Governo a desartilhal-o, por ser isto
contrario ãs leis da guerra e mostrou ter nítido conhecimento
dos preceitos da caridade christã, retirando-se á noitepara
o alto mar, afim de permittir que as famílias dormissem
tranquillas, emquanto que o general Sotero, que bombardeou
a cidade de S Salvador, deu-lhe aviso de duas horas apenas.
E' para notar que o acto do almirante Leão, que era mi-
nistro da Marinha, como o do marinheiro Cândido, em con-
fronto com o do Marechal Fonseca e o do general Sotero, re-
velam que ha na Marinha do Brazil mais espirito do civili-
sação que no Exercito.»
do
Aqui deixo registrada a impressão da folha militar, que
se publica no centro da civilisação do occidente, e que vos
deve emocionar, incitando
Brazil, que vos julgará no
a dar ao
futuro, a satisfação devida com a pu-
em tão
penoso período,
nição do responsável por tantos crimes, promovendo processo
de fôrma a ser condemnado o Marechal Hermes da Fonseca,
lavando assim com um 'acto de tanta a mancha
justiça que
entre outros crimes o bombardeio da Bahia lançou no pavi-
lhão da nossa nacionalidade.

De tudo que fica exposto se deduz finalmente que


o Mareclial Hermes Rodrigues da Fonseca, Presidente
da Republica, consentindo no abafamento do inque-
rito da Imprensa Nacional, tolerou, dissimulou e e,n-
cobriu crimes de subordinado seu, art 40; consentindo
continuasse na directoria da Imprensa Nacional o
Sr. Jouvin e na directoria da Estrada de Ferro Cen-
trai o
de conde
Frontin, geriu mal bens da União, e
os deixou
dissipar, consentindo que estes extravias-
sem, consumissem valores pertencentes á Fazenda Pu-
blica, art.. 49, § 7o; recebendo dinheiros de subscripção

promovida pelos. Srs. Jouvin e Frontin recebeu dona-


tivos para deixar de praticar actos do officio, que se-
riam demissões reclamadas, art. 44; fazendo a ex-
_as
d Bahia, sem autorização para as respectivas
pedição
despezas, ordenou despezas não autorizadas por lei,
art. 49, § Io; tudo da lei da responsabilidade do Pre-
sidente da Republica.

Srs. Deputados — A presente denuncia, que submette o


supplicante ao alto critério o estudo desta Camara, não ó
ditada por paixão partidaria ou outro qualquer sentimento
menos nobre.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 267

Trazendo ao vosso conlieoimento esta denuncia, da série


tios mais graves crimes, commettidos pelo Murechal Hermes
Rodrigues da Fonseca, contra quem nenhum resentimento tem
o supplicante, pretende este sómente demonstrar que a Repu-
blica é o regimen da responsabilidade e que nesta instituição
o cidadão tem o direito, sinão o dever, de promover a punição
dos criminosos, quaesquer que sejam as suas categorias.

Com este acto, a que ievado pela convicção da necessi-


é
dade de se
garantirem os brazileiros contra os desvarios dos
depositários do poder, promove o supplicante processo crime

contra o Presidente da Republica e espera seja o mesmo jul-


gado pelos crimes de responsabilidade pelo Senado, e pelos
crimes communs correlatos pelo Supremo Tribunal Federal,
na fôrma legal.

Os factos expostos estão comprovados por justificação


crime produzida no Juizo da 2' Vara Federal, com uma cer-
tidão do requerimento em que foi pedida a intimação do de-
nunciando e do despacho do juiz, e por trinta diversos do-
cumentos que á denuncia acompanham.

Rio, 19 de setembro de 1912. — O cidadão João Coelho


G. Lisboa. j

Reconheço verdadeira a firma do Dr. João Coelho_Gon-


Lisboa. Rio, 19 de setembro de 1912. — O tabellião in-
çalves
terino, Damazio Oliveira.

Documento n. 1

JUSTIFICAÇÃO DO SR. BACHAREL JOÃO COELHO GONÇALVES LISBÔA,


JUSTIFICANTE

Autuação—Aos dezenove de agosto de mil novecentos e

doze, nesta cidade do Rio de Janeiro, em meu cartorio autúo

a que se segue.—Eu, Honorio Corrêa de Moura, escre-


petição
vente juramentado escrevi. E eu, Hemeterio José Pereira
0
Guimarães, escrivão que subscrevi.

Illmo. e Exmo. Sr. Dr. federal. — O bacharel João


juiz
Coelho Gonçalves Lisbôa, cidadão brazileiro, residente nesta
cidade do Rio de Janeiro, e em pleno goso dos seus direitos
civis e políticos, precisa justificar a veracidade de alguns factos

uoliticos Bahia, no Ceará na Parahyba do


que se deram na e
Norte, bem como na Capital Federal,por isto vem requerer a
V. Ex. se digne admittil-o a proceder neste juizo a uma jus-
tificação de taes factos, para fins de direito.

Nestes termos a V. Ex. deferimento e que, no dia e


pede
hora que lhe forem designados, o admitta a dar a justificação
requerida, e esta sentença lhe seja entregue inde-
julgada por
ANNAE3 DA CAMARA

pendente de traslado, pagas as custas ma fôrma legal,para os


eíleitos da taxa judiciaria dá ú causa o valor de 500$000.

Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1912. — O advogado J


Coelho G. Lisbôa. '
D. â 2" Vara. Em 19-8-912.—Azevedo.—A.
_ designe o escri-
vao dia e hora— Districto Federal, 19 de agosto de 1912 —A
Pires e Albuquerque.

Assentada — Aos vinte e três de agosto de mil novecentos


e doze, nesta cidade do Rio de Janeiro, audiênciasna sala das
do juízo, onde se achava o meritissimo
juiz federal Sr. Dr. An-
tonio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, commigo
escrivão de seu cargo, o justificante
presente Sr. Dr. João
Coelho Gonçalves Lisbôa, foram inqueridas as testemunhas
quo se seguem. Eu, Honorio Corrêa de Moura, escrevente ju-
ramentado o escrevi. E eu, Hemeterio Josó Pereira Guimarães
escrivão, que subscrevi.
Primeira testemunha — Álvaro de Castro Neves Almeida,
vinte e nove annos de edade, natural do Estado da Bahia, eol-
teiro, jornalista, residente á rua do Bispo
numero cento e onze.
Aos costumes disse nada e prestou o compromisso legal. In-
querido sabe o allegado na inicial de folhas duas,
petição que
'"Ia disse, relativamente
?J que aos factos passados por
occasiao da deposição do Doutor Aurélio Vianna, do cargo de
governador do Estado da Bahia, o depoente
pela leitura de j'or-
naes publicados na occasião
e por uma palestra que teve com
o conego Galrão, sabe
que a deposição foi levada a effeito pelo
auxilio poderoso força federal,
prestado pela alli destacada e
ao mando do
general Sotero de Menezes; que á acção desse ge-
neral mandando bombardear o Palacio do Governo, e outros
pontos da cidade de S. Salvador, foi mais
que sufficiente para
fazer apear do
poder o Doutor Aurélio Vianna; quo ao conhe-
cimento do dopoent-e chegou também a noticia da reposição do
Doutor Aurélio Vianna, do governo da Bahia, bem como pos-
teriormente uma nova deposição; sabe também ter
que sido
essa segunda deposição ou renuncia motivada pela presença
em Palacio do Governo de uma commissão, da faziam
qual
parte entre outras pessoas os cônsules daquella cidade, e o
arcebispo, digo, o Senhor arcebispo Primaz do Brazil, D. Je-
ronymo, que fez sentir ao Doutor Aurélio Vianna a necessi-
dade de abandonar de vez o cargo de
governador, por isso que
a sua na direeção administrativa do Estado,
presença deante
dos preparativos para mais franca desordem, traria ou seria
causa de novo bombardeio, novas desordens e novos attentados
contra todos os direitos estabelecidos pela civilização; que
pela
leitura dos j'ornaes daquella época sabe ter o general Sotero de
Menezes mandado bombardear a capital do Estado da Bahia,
por ter recebido um telegramma assignado M. Hermes, au-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 289

torizando-o a fazer uso dos canhões dos fortes do Barbalho e


S. Marcello; que sabe leitura
pela dos
jornaes que este tele-
gramma foi passado pelo tenente Mario Hermes, official da
Casa Militar do Presidente da Republica, em resposta a um te-
legramma do general Sotero de Menezes ao Marechal Hermes
perguntando se podia fazer uso dos canhões, dous fórtes!
dos
para bombardear a cidade; sabe que chamado o Sotero
general
de Menezes a esta Capital Presidente da
pelo Republica, como
acto de reprovação em consequencia da deposição do governa-
dor, que provai'a ter sido coacta a sua renuncia, com surpresa
geral ioi aquelle general recebido pelo Ministro da Viação, o
Senhor J. J. que Seabra, ao abraçal-o felicitou-o
pela bôa
viagem respondendo-llie o com
general a seguinte phvase:
«está tudo prompto caboclo velho»; sabe mais, ainda lai-
pela
tuia dos jornaes e referencias de varias pessoas, que em con—
r??ü*a corn 0 Marechal Hermes da Fonseca o general Sotero
1
de Menezes, exhibiu o telegramma do Presidente da Republica,
assignado M. Hermes, que elle suppunha ser Marechal Hermes,
sabendo-se então que tal telegramma fôra passado pelo filho
para fazer crêr ter sido o Presidente
pae, da Republica, quem
expedira; sabe que a segunda deposição do Doutor Aurélio
Vianna, loi dous dias antes da eleição estadoal para governa-
dor e vice-governadores e quatro dias antes da eleição federal
eleições em que eram candidatos ao governo do Estado, o Mi-
mstro da Viação o Senhor J. J. Seabra, e o Deputado Federal,
o lilho do I residente da Republica, tenente Mario Hermes; que
a respeito dos acontecimentos políticos do Ceará, sabe da lei-
tura dos jornaes e dos
termos em que o
general Bezerril, diri-
giu o seu manifesto,
que a sua candidatura foi apresentada
pelo 1 residente da Republica; sabe que o Presidente
da Repu-
blica pediu ao coronel Franco Rabello,
que renunciasse a elei-
çao de governador do Ceará, e convidou o Doutor
Moura Brazi!
a acceitar o cargo de governador daquelle
Estado, o que este ac-
ceifou sob três condições e por fim não acceitou mais- sabe
que o Marechal pedio também ao coronel Franco Rabello' con-
sentisse que fossem reconhecidos
primeiros e segundo gover-
nadores do Ceará, os dous amigos do commendador Accioly,
sendo elle Franco Rabello, reconhecido governador, o que o
Doutor Franco Rabello acceitou seguindo para o Ceará, onde
01 reconhecido por uma minoria de oito votos na assemblóa,
que se compoe de trinta Deputados, estando presentes na ci-
acie vinte e oito, foram depurados os seus companheiros de
yiapa primeiro e segundo vice-governadores e reconhecidos os
a opposiçao;
que sabe que o Marechal Hermes da Fonseca, fez
laVi? noíT1 0 doutor Epitacio
Pessoa,
tr.rc pelo qual seriam elei-
ws na Parahyba do Norte, presidente Castro
o Doutor Pinto
vice-presidente
o confercnte da Alfandega do Rio de Janeiro'
Amorno PessAa,
seria eleito Senador o Doutor Epitacio
Pessoa'
Qr> antes
aposentado no cargo de
juiz do Supremo Tribunal
378 ANNAKS DA CAMARA

Federal; sabe que o juiz Epitacio, nas discussões dos liabcas-


corpus, requeridos pelo conselheiro Kuy Barbosa, ao Supremo
Tribunal Federal, perdeu toda a compostura de forma a pa-
recer mais um interessado do que um juiz, sendo notorio quo
todo o mundo sabia qual seriam os seus votos pelo seu con-
chavo com o Presidente da Republica; que este mesmo proce-
dimento tivera aquelle juiz, nas questões do Estado do Kio, ao
serviço do Senhor Nilo Peçanha, apresentando motivos de de-
cidir que constituíram verdadeiras aberrações jurídicas; sabt
que para satisfazer o conchavo contrahido com o Senhor Epi-
tacio Pessoa, o Marechal, mandou para a Parahyba do Norte,
forças do Exercito commandadas general Torres Homem,
pelo
que alli chegando, conforme referem telegrammas, deram-se

perturbações da ordem a principio provocadas por força do


Exercito, unidas ás da Policia, contra o povo em seu movi-
mento eleitoral e ultimamente tiroteios entre as forças do
Exercito e da Policia, com mortos e feridos; pela lei-
sabe que
tura dos jornaes dado o incêndio da Imprensa Nacional, pelo
Doutor Flôres da Cunha, primeiro delegado de policia, foi
aberto inquérito policial que até hoje não foi encerrado; que
neste inquérito o Doutor Armênio Jouvin, interrogou teste-
munhas sendo estas operários da Imprensa, e foram presos di-
versos cidadãos entre elles o Doutor Themistocles de Almeida,
ex-Deputado Federal e ex-Director da Imprensa Nacional;
sabe que durante a intervenção armada no Estado da Bahia,
o Telegrapho Nacional foi fechado pelo Ministro da Viação,
Senhor Doutor J. J. Seabra, não se obtendo noticias, da Bahia,

por dias, pois até o Ministro da Justiça, usou do telerapho


submarino para mandar a ordem de reposição do Doutor Au-
relio Vianna.—Nada mais disse nem lhe foi perguntado, man-
dando o juiz encerrar o presente depoimento que assigna de-

pois de lhe ser lido e achado conforme. Eu, Honorio Corrêa de


Moura, escrevente
juramentado o escrevi. E eu, Hemeterio José
Pereira Guimarães, escrivão, que subscrevi.—Antnnio J. Pires
de Albuaueraufí.— Álvaro de Castro Neves Almeida. — J. Coe-
lho G. Lisbôa. n,

Segunda testemunha José Carlos Duarte, quarenta e três—

annos de idade, natural do Estado do Rio de Janeiro, casado,

jornalista
e residente á rua Sophia numero trinta e oito. Aos,
costumes, disse nada e prestou o compromisso legal. Tnquerido
sobre o allegado da petição inicial de folhas duas que lhe foi

lida. que na qualidade de redactor de um dos diários desta


disse
Capital de registrar os acontecimentos da Bahia que pre-
teve
cederam e seguiram a deposição do Doutor Aurélio Vianna, e

sabe pelos informes recebidos não só pelo jornal de que era

redactor como de toda a imprensa do Rio de Janeiro que foi

ostensiva a intervenção armada do Governo Federal nessas


deposições; mais tarde estando aqui em convivência com o

Doutor Aurélio Vianna, conego Galrão e outros bahianos quo


aqui vieram apés esses successos, delles obteve plena con-
para
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 271

firmação das noticias divulgadas; sabe mesma


pela origem
que o bombardeio da Bahia se verificou após ter o general Sote-
ro de Menezes recebido um telegramma assignado: M.Hermes,em
virtude do qual elle levou a eífeito aquelle bombardeio; sabe
que o Doutor Aurélio Vianna teve ordem de ser reposto no
governo da Bahia, porém que reassumindo as suas funcções
ioi intimado por uma commissão da qual faziam parte, entre
outros, o arcebispo da Bahia e representantes consulares de
varias potências alli domiciliados; sabe também ter lido
por
nos jornaes que ao seu chamado a esta Capital o
general Sotero
de Menezes conferenciou com o Ministro da Viação
para o qual
teve este phrase que se tornou ¦—- «está tudo
popular prompto,
caboclo velho» — e após dirigindo-se ao palacio do Cattete
apresentou ao Marechal o telegramma recebido, verificando este
que haviam abusado do seu nome; sabe
que a, digo, que entre
a segunda deposição do Doutor Aurélio Vianna e conseqüente
entrega do governo da Bahia ao correligionário do Ministro da
viação mediaram quatro dias apenas para as eleições que alli
se realizaram, sendo a primeira de governador do Estado e a
segunda para Deputados Federaes em cujo numero se conta o
Presidente da Republica, digo, o filho do Presidente da Repu-
Mica; sabe que na intervenção do Ceará o Marechal Hermes
apoiou aprincipio a candidatura Bezerril Fontenelle, promet-
tendo-lhe inteiro prestigio, resolvendo posteriormente em face
dos acontecimentos derimir a contenda com a apresentação
de
um terceiro candidato que foi o Doutor Moura Brazil, isto
depois de eífectuadas as eleições respectivas; sabe
que não che-
gando a accôrdo esta apresentação o Marechal interveiu para
que subsistisse a eleição do coronel Franco Rabello, conseguindo
o reconhecimento do primeiro e segundo vice-presidente
per-
tencente á facção contraria: sabe pelas noticias dos jornaes
que
entre o Presidente da Republica e o Doutor Epitacio Pessoa
houve um conchavo em virtude do qual o
governo da Parahyba
seria entregue ao irmão do Doutor Epitacio Pessoa que eleito
vice-presidente chegaria a posse do poder, na vaga aberta
pela
posse do presidente,Doutor Castro Pinto,que 6 Senador,entraria
o Doutor Epitacio Pessoa
para o Senado como representante
daquelle Estado; sabe
que o voto do Doutor Epitacio Pessoa
na questão do habeas-corpus da Bahia era próviamente co-
nhecido não só em consequencia do accôrdo alludido, como
ainda em face do partidarismo que revelava nas discussões do
Tribunal, partidarismo este mal encobria interesses in-
que
confessaveis; sabe que do mesmo modo que o Marechal inter-
veio em diversos Estados fel-o no Estado da Parahyba, para
onde destacou força federal a ordem naquelle
que perturbou
Estado ao tempo das eleições; sabe com relação
ao incêndio da
Imprensa Nacional, foi aberto inquérito
que sobre elle um
policial que aliás nunca veio á lume, no qual interveio franca-
mente o Doutor Armênio Jouvin, inquérito
procedendo a de
testemunhas e a outros actos
que lhe eram moral e legalmente
delezos; sabe o Doutor Armênio Jouvin era por toda
que a
gente apontado como responsável immediato por aquelle in-
cendio, corroborava essa o attrito conhecido
presumpção entre
o mesmo Doutor Armênio Jouvin e o thesoureiro da Imprensa
271 ANNAE9 DA CAMARA

Nacional que para se libertar ás continuas perseguições do


mesmo teve de pedir uma licença, em cujo ainda se acha.
Os jornaes daquella época a, digo, época
em sua grande maioria,
salientavam a justiça das presumpções populares; sabe, como
toda a gente, que o Governo Federal, pelo decreto numero oito
mil quinhentos, de quatro de janeiro de mil novecentos e
onze, dissolveu o Conselho Municipal, attentando contra a au-
tonomia do Districto Federal e desrespeitando julgado de onze
de dezembro de mil novecentos e nove, em accórdão do Supremo
Tribunal Federal, para exercerem os intendentes diplomados,
sem detença, estorvos ou damnos, os direitos decorrentes de
seus diplomas, continuando no processo de verificação de po-
deres; sabe que não só desta feita, sinão posteriormente, as
decisões do Supremo Tribunal foram, neste caso, desrespeitadas
pelo Governo, entre ellas recorda-se do desrespeito ao accórdão
de vinte e cinco de janeiro de mil novecentos e onze, que con-
cedia habeas-corpus aos intendentes, afim de que, assegurada
a sua liberdade individual, entrar no edifício do
pudessem
Conselho Municipal e exercerem as suas funcções até a ex-
piração do prazo do mandato, prohibido qualquer constrangi-
mento que lhes pudesse resultar do decreto oito mil e qui-
nhentos; sabe que foi aberta uma subscripção, cujos subscri-
piores constam de publicada pelos jornaes, no intuito
uma lista
de se offerecer ao a quantia necessaria para a com-
Marechal
pra de uma casa para sua residencia particular; sabe que,
apezar do escandalo pelas peripecias desta compra,
produzido
a escriptura da casa foi assignada pelo Marechal Hermes da
Fonseca, que entrou immediatamente na posse da casa alludida;
que com a aquisição dessa casa o Marechal Hermes cerceou
de certo modo a sua acção, não só perante os iniciadores da
idéa, como ainda que a tornaram
aquelles effectiva;
perante
sabe que o Doutor por vezes tentou
Armênio Jouvin cercear a
liberdade da imprensa, açulando contra ella os seus subordi-
nados, que na sua presença chegaram a invadir a redacção do
Século, digo. Século, pretendendo fazer o mesmo
pretendente,
ao Diário de Noticias e Correio da Noite, promovendo ulti-
mamente um meeting contra O Pais. Nada mais disse nem lho
foi perguntado, mandando o juiz encerrar o seu depoimento,
assignou depois de lhe ser lido e achado conforme. Eu,
que
Corrôa de Moura, escrevente juramentado, o escrevi.
Honorio
Hemeterio José Pereira Guimarães, escrivão, que sub-
E eu,
— Antonio Albuquerque. — José Carlos
sorevi. J. Pires e
— J- Coelho G. Lisboa.
Duarte.

testemunha — Doutor João Pinheiro de Miranda


Terceira
e sete annos, solteiro, advogado, e i'esidente á
França vinte
Branco natural do Estado de Minas Ge-
Avenida Rio quinze,
compromisso legal.
raes. Aos, costumes, disse nada e prestou o
iolhas duas, que
Inquerido sobre os itens da petição inicial do
foi lida, disse que, com referencia aos factos oçcorndos
lhe
e o que viu poste-
na Bahia, sabe o que publicaram os jornaes
de passagem pela capital bahiana, isto é, que antes
riormente
dos iortes
da eleição digo, bahiana, os effeitos do bombardeio
Barbalho e balas de carabina nas ruínas do palacio
S Marcello e
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 273

do governo e prédios visinhos; assumindo o


que governo o
Marechal Hermes da Fonseca, nomeou seu Ministro da Viação
o Doutor J. J. Seabra, que não satisfazendo a sua ambição o
cargo de Ministro voltou suas vistas cupidas
para a curul pre-
sidencial da Bahia; que para conseguir seu desideratuvi pro-
metteu eleger o filho do Presidente da Republica Deputado
Federal nas próximas eleições, Estado da Bahia, caso
pelo
iossc empossado no governo daquelle Estado; que seduzido
por essa promessa o iilho do Presidente da Republica envidou
serio esforço para conseguir a victoria do Doutor J. J. Seabra,
que trazia como consequencia a sua eleição Deputado
para
Federal; que ouvio de uma alta do Exercito,
patente amigo
pessoal e partidario político do Marechal Hermes, ter este
fceabra; que posterormente leu nos
jornaes que esse telegramma
com a nota de — official — expedido do palacio do Cattete,
assignado M. Hermes, autorizando áquelle' general a fazer uso
dos canhões de S. M., digo, canhões do forte de S. Marcello
para conseguir o triumpho dos do Doutor
partidarios J. J.
Seabra; que posteriormente leu nos
jornaes que esse telegramma
tora passad-o em resposta ao outro do general Sotero de Me-
nozes, perguntando si podia usar dos canhões do forte,
passado
pelo filho do Presidente da Republica que assignou M. Hermes,
para lazer suppor que a assignatura fôra de seu
pae Marechal
Hermes, Presidente da Republica; sondo chamado
que á esta
capital o general Sotero de Menezes para ser reprehendido
pelos excessos criminosos praticados na Bahia, e declarando-
lhe Marechal que a sua pena consistia em não voltar para
9 a
.Bania, retrucou-lhe o general Sotero que conviria nisso depois
de requerer conselho de no exhibiria
guerra, qual o celebre
telegramma assignado M. Hermes, que deante disto o Marechal
Hermes desconversou; voltando
que para a Bahia o general
Sotero, com a incumbência de reporo Doutor Aurélio Vianna
este na realidade o repoz, porem, enviou-lhe em seguida uma
commissão diplomático, composta de arcebispos e agentes con-
sulares que solicitasse delle a sua renuncia voluntaria o que
foi coagido a fazei-o; que este facto se deu
dous dias antes da
eleição estadual para governador e vice-governador e
quatro dias antes da eleição federal Deputados
para e
Senadores ; que com relação aos factos occorridos no
ceara sabe pela leitura dos jornaes c por ser pn-
(l que o Marechal Hermes
ir!?0 „n°t°rio transmittira
oraens <1 força federal alli destacada para assegurar a poli-
tica dirigida
pelo commendador Accioly, intervindo a favor dos
correligionários deste; que deante da grita dos opposicionistas
a. lntervenção da força federal, o coronel Franco
nnn^a, Rabello,
a opposição fôra a presença do Marechal Hermes
r^ii
,,on':ril a referida intervenção e pedir a neutralidade
í rwí-Ílr
°JPresl^encial do Estado;
Wo1Eie que nessa occasião o Marechal
dissera a elle Franco Rabello
que o empossado no go-
seria 0 general Bezerril Fontenelle, que refe-
vinHn f í Çeaxra
a,um seu amigo e correligionário, que trans-
ínití'?/v
"'™ oao depoente, J10
que longe de se sentir contrariado com a
cattíSorica do Marechal, e convencido
ÍiTio n ficou satisfeito
qut o empossado
seria elle Franco Rabello, o que realmente
Vol, x
274 ANNAES DA CAMARA

aconteceu; sabe ainda


que que não obstante ter sido eleito o
general, digo, o coronel Franco Rabello, o Marechal ainda
instou com este para renunciar o cargo
para que fôra eleito o
convidou o Doutor Moura Brazil para acceitar o cargo
de go-
verriador do Ceara, o qual não acceitando
o convite, o Marechal
interveio novamente 110 sentido de serem reconhecidos o pri-
meiro e o segundo vice-presidentes da facção Accioly,
conjun-
ctamente com o coronel Franco Rabello, que sabe isso pela
leitura dos jornaes; com relação ao facto da Parahyba, sabo
pela leitura dos jornaes, que antes do bombardeio
pouco da
Bahia e Marechal Hermes accordara com o Doutor Epitacio
Pessoa a aoieza do caso da Bahia no Supremo Tribunal Fe-
deral, em troca_da sua eleição como Senador pela Parahyba e
de um seu irmão para vice-presidente do mesmo Estado; que
para manter esse compromisso remetteu forças federaes para
o Estado da Parahyba, commandada pelo general Torres
Homem, incumbidas de fazer a eleição da chapa official: que
com relaçao ao Conselho Municipal sabe que o Marechal Her-
mes desrespeitou um do Supremo
julgado Tribunal Federal
que reconhecia eleitos os antigos intendentes, reconhecidos e
empossados para o triennio de mil novecentos
e dez a mil no-
vocentose doze, dissolvendo esse Conselho e mandando fazer
nova eleição
por um decreto baixado em quatro de janeiro de
mil novecentos e onze, sob o numero oito mil e quinhentos;
sabe pelas leituras dos jornaes o Senhor Armênio
que Jouvin
quando director da Imprensa Nacional fez annunciar mpctings
para atacar o jornal O Paiz, tendo antes já mandado atacar
o século e o Diário de Noticias; sabe sobre o inquérito
que
aberto pelo Doutor Flores da Cunha o incêndio
sobre da Im-
prensa Nacional, o Doutor Armênio Jouvin interrogou as tes-
temunhas que eram, aliás, subalternos seus, empregados
da Im-
prensa, e fez prender diversos empregados lhe eram <ies-
que
afíeiçoados, sendo preso entre elles o Doutor Themistocles do
Almeida, ultimo director da Imprensa Nacional e ex- Deputado
Federal pelo Rio de Janeiro; sabe mais era voz
que corrente
ter sido o Doutor Armênio Jouvin o autor do incêndio
para se
eximir de responsabilidades e administrativas na
pecuniarias
mesma Imprensa, este inquérito, ao que consta até hoje,
que
não foi encerrado; que sabe que o Doutor .T. J. Seabra quando
Ministro da Justiça do
governo Rodrigues Alves fez abafar um
inquérito em que se apurava responsabilidades administrativas
'1o Hermes da Fonseca como commandante da Brigada
general
Policial; que sabe por ter lido nos jornaes que o Marechal Her-
mes da Fonseca, Presidente da Republica, declarou em brinde
ao Senhor J. J. Seabra que tinha com elle um pacto de honra.
Nada mais disse nem lhe foi mandando o juiz en-
perguntado,
cerrar o presente depoimento que assigna depois de lido e acha-
do conforme. Eu^Honorio Corrôa de Moura, escrevente juramen-
'tado, o
escrevi. E eu, Hemeterio José Pereira Guimarães, escri-
vão, que subscrevi.— Antônio J. Pires de Albuquerque.— João
Pinheiro de Miranda França.— J. Coelho G. Lisboa.

Juntada — Aos trinta e um de agosto de mil novecentos?


e doze, nesta cidade do Rio de Janeiro, em meu cartorio junto
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 278

a estes autos o talão de taxa judiciaria que se segue. Eu Ho-


nono Corrêa de Moura, escrevente juramentado, o escrevi
E eu, Hemeterio José Pereira Guimarães, escrivão, que sub-
screvi.

Reoebedoria do Districto Federal — Taxa judiciaria —


Exercício de 1912.

No livro de receita fica debitado o thesoureiro pela quantia


de dous mil e
quinhentos réis recebida do Sr. Dr. João Coelho
G°nca.lves Barboza, digo, Lisboa, °|°
proveniente de 114 sobre
5ü0$ de justilicaçao que promove em juizo.

Guia da 2* Vara Federal.

Hecebedoria dç Districto Federal, 31 de agosto de 1912.—


thesoureiro- A- Peixoto. — o escripturario,
Azeredo
Lopes
s^te rnil
0 quinhentos réis de estampilhas
«°n federaes
abaixo colladas, correspondentes a vinte e cinco folhas inclu-
sive a que se segue. '

Rio, 31 de agosto de 1912, — Hemeterio José Pereira Gui-


TíldVCiBS,

Emolumentos do juiz.

Hio, 31 de agosto de 1912. — Hemeterio José Guimarães.

• E faço estes autos conclusos


r 1™clu^o ao meritissimo
Juiz federal, Senhor Doutor Antonio Joaquim Pires de Car-
valho e Albuquerque. Eu, Honorio Corrêa do
Moura, escrevente
juramentado^, o escrevi. E eu, Hemeterio José
Pereira Guima-
raes,, escrivão
que o subscrevi.

Concluso em 31 de agosto de 1912.

Julgo
por sentença a presente justificação
para que pro-
duza os seus devidos e legaes effeitos. Entregue-se
á parte, in-
dependente de traslado,
pagas as custas. '

Districto Federal, 31 de agosto —


de 1912. Antonio J.
1'ires e Albuquerque.

Data.

m1es510 dia, mez e anno supra, de


parte do meritissimo
juiz federal, Senhor Doutor Antonio Joaquim Pires de Car-
vaino e Albuquerque
mo foram entregues estes autos com a
entença retro. E eu, Hemeterio José Pereira Guimarães, es-
crivao
que subscrevi.
Pereira Guimarães, escrivão vitalício do
Tiii™ífíri5';erí0
deríli da Vara do Districto
^gunda Federal, por no-
meaçao na fôrma da lei, etc.
revendo em meu cartorio os autos de
Q116' ius-
®m Que 6 justificante o Doutor João Coelho Gon-
de lies consta, folhas duas a petição inicial,
„lsb(]a> des-
paono o despacho de folhas quatro que me ó pedido
276 ANNAliS DA GAMARA ;

—- Petição de
™>r certidão verbo ad verbum como se seguem.
e Excellentissimo Senhor Doutor juiz le-
íís 2- Illustrissimo
cidadao bra-
deral: O bacharel João Coelho Gonçalves Lisboa,
nesta do Rio de Janeiro e em pleno
zileirõ residente cidade
e políticos, no exercício da lacui-
koso de seus direitos civis
<1 Constituição da Republica, em seu
dade que lhe coníerem
e dous, nono e a lei numero vmte
artigo setenta paragrapho
de sete de janeiro de mil oitocentos e noventa e dous,
e sete,
a Gamara dos Deputados
artigo dous, quer denunciar perante
Marechal Hermes Rodrigues da
o Presidente da Republica,
dos artigos dezeseis
Fonseca, pelos crimes de responsabilidade
dous, vinte vinte cinco,
dezenove, vinte um, vinte quatro,
e oito, trinta, trinta e um, trinta
vinte seis, vinte sete, vinte
e tres,
e cinco, trinta e seis, trinta e sete, quarenta, quarenta
e quatro, c seis, e quarenta e nove, para-
quarenta quarenta
sétimo, da lei numero trinta,
graphos primeiro, segundo e
noventa e dous, e pelos
de oito de janeiro de mil oitocentos e
e nove, paragraphos segundo,
crimes communs dos artigos cento
quarto, cento e
cenio e onze, cento e quinze, paragrapho
cento o oitenta e um,
sessenta e cinco, cento e sessenta e nove,
e noventa, duzentos e sete, pa-
cento e oitenta e nove, cento
sexto, duzentos e quatorze, duzentos e quinze e du-
ragraphos
Penal, áquelles correlatas e mais
zentos e dezesete do Godigo
o qua-
artigos cento e trinta e nove, e cento
pelos crimes dos
devendo lazer acompanhar a
renta e seis do mesmo Godigo,
nos termos do parecer nu-
denuncia uma justificação crime,
novecentos e cinco da Gamai a aios
mero quatorze de mil
sessão de trinta e um ae maio,
Deputados, apresentado em
do mez de maio de mu no-
(annaes da Gamara dos Deputados
e trinta e tres e approvaon
vecentos o cinco, pagina cento
obra citada, mez de junho de inil
em sessão de oito de junho,
o uma), e tendo o >re-
novecentos e cinco pagina noventa
da Republica de responder o congresso pelos
sidente perante
e o Supremo tribunal
crimes de responsabilidade perante
nos termos do artigo segunao
Federal pelos crimes communs
vem requerer a Vossa liíxcellencia
da lei de responsabilidade,
a veracidade de
digne admittil-o a justificar neste juízo
se
O supplicante se pro-
t.acs crimes de modo a fazer fé publica.
da Republica exerceu uuer-
iiõe a justificar que o Presidente
nos Estados da Bahia,
vencão armada nos negocios peculiares
Norte, fóra dos casos cxceptuados
do Ceará e da Parahyba do
impediu por violências e
no artigo sexto da Constituição,
¦imeacas que mesas eleitoraes e juntas apuradoras exercessem

suas violou escrutínios nos processos


livremente as funeções,
se reunisse pacificamente nas
fleitoraes impediu que o povo
e as dissolveu tora dos
s perturbou reuniões
nrae públicas;
lei o e tolheu a liberdade da im-
em que a permitte,
casos
contra e material das olficinas
tirensa e attentou redactores
algumas pessoas de sua
vn uranhicas; privou iIlegalmente
infringiu as leis que garantem o se-
liberdade individual;
tolerou dissimulou e encobriu
jr,.pdo da correspondência;
fazendo abafar inquéritos poli-
crimes dos seus subordinados
usurpou attribuições do Podter Le-
ciàes abertos contra elles,
e acceitou para dei-
recebeu donativos promessas
gislativo;
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 2T7

xar de praticar actos do seu officio, deixou-se corromper por


influencias e peditorio de outrem ceder contra os de-
para
veres do cargo; subornou por peita a outrem para proceder
contra que deve no desempenho de funcções publicas; fez
bombardear cidade, incendiando edificios, construcções, ar-
chivos, disto resultantes. Nestes termos. Pede a Yossa Excel-
lencia deferimento, e intimado o denunciando Marechal Her-
mes Rodrigues da Fonseca, Presidente da Republica 110 dia
e hora designados, o admitta a dar a justificação e julgada
esta por sentença, lhe seja entregue independente de traslado,
pagas as custas na fôrma legal. — Rio de Janeiro, quinze de
agosto de mil novecentos e doze. — O advogado, João Coelho
Gonçalves Lisboa. — Sello: Estavam colladas duas estampilhas
federaes do valor total de seis centos réis, devidamente inu-
tilizadas. — Distribuição: D. á Segunda Vara. — Em dezesete
•—oito—novecentos e doze.—Azevedo. — Despacho: A. á con-
clusão. D. Federal, dezesete de agosto de mil novecentos e
dioze.— Pires e Albuquerque. — Despacho:
A. Folhas quatro.
Indefiro o pedido com fundamento no artigo cincoenta e tres
cia Constituição. D. Federal, dezesete de agosto de mil nove-
centos e doze. — A. Pires e Albuquerque. — Nada mais
continha nas peças transcriptas fielmente aqui
por certidão em
tudo conforme aos originaes aos me reporto em meu
quaes
poder e cantorio subscrevo e assigno, nesta cidade do Rio de
Janeiro, em cinco de setembro de mil novecentos e doze. —
Eu, Honorio Corrêa de Moura, escrevente o es-
juramentado,
crevi. E, eu, Hemeterio José Pereira Guimarães, escrivão,
que subscrevi e assigno. — Hemeterio Josó Pereira Guima-
rães.

Documento n. 2

A FARÇA DA BAHIA

Crime premeditado

A declaração do Dr. Aurélio Vianna,


governador da Bahia.
de nao haver até agora recebido a
enviada pelo Governo nota
Federal a todos
os outros e presidentes,
governadores reite-
rando as suas affirmações anteriores d enão intervir na poli-
tica dos Estados, deixa bem a attitude
prever criminosa em
que se manteem os poderes da União, no dar
proposito de
cumprimento ao celebre de honra, em
pacto virtude do qual
se pretende entregar a Bahia ao Sr. Seabra, em paga dos mãos
e interessados serviços este
que prestou á candidatura do
Marechal, como supposto leader do hermismo na Camara dos
Deputados.
O preparo lento e calculado desse assalto
criminoso á
autonomia de ura Estado que se dispõe a repellir nas urnas
n°me de um Ministro
9 ambicioso e sem compostura, tem sido,
°t uma serie de violências,
í)rinciPio> de escandalos e de
afta
attentados
que bem denunciam á consciência livre do paiz o
monstruoso de uma escalada ao poder
plano com o mero au-
278 ANNAES DA GAMARA

xilio das baionetas federaes, grosseira e despudoradamenté


mascarado com uma ridícula apparencia de legalidade.
Dispondo apenas de meia duzi-a
e de de
gatos pingados
uma pequena parte do eleitorado, constituída funccio-
por
narios das estradas de ferro, dos Correios e dos Telegraphos,
que a sua immoralissima permanência na da Viação
pasta
lhe assegura, começou o Sr. Seabra por obter do Governo Fe-
deral, com o auxilio criminoso dos canhões do forte de São
Marcello, o reconhecimento de 14 intrusos (repellidos pelo
eleitorado e sem a menor significação na
política), quali-
dade do deputados da sua facção desprestigiada, na Camara da
Bahia.
Por igual processo e extorquidos violência bruta!
pela
dos canhões, em momento difficil, em toda e
que qualquer
reacção se tornava impossível, foram ainda, esse meio
por
vil e criminoso, conseguidos mais oito senadores, perfazendo
esse frueto da violência e da extorção um total de 22 congres-
sistas, quaesdosnem a quinta havia sido eleita,
parte mas
que ioram arrancados pela força á debilidade do adversario
mal armado, sob o pretexto de representação do terço, asse-
gurado ás minorias opposicionistas!

Foram esses espoletas, engrossados logo depois por quatro


ou cinco transfugas seduzidos acenos do
que pelos poder,
constituíram seabristao núcleo Ba- no Congresso Estadual da
hia, em torno
qual se praticaramdo todos os actos prepara-
torios de uma farça ignóbil, se pretende
pela qual guindar ao
posto supremo do governador daquelle Estado um Ministro
do Marechal Hermes, candidato duas vezes inelegível!
Já não resta a menor duvida acerca do
que se quer fazer
na Bahia, cujo governador não recebeu até agora a celebre
circular dirigida Governo Federal ás
pelo primeiras autori-
dades dos outros Estados, ao mesmo tempo \ em que se annun-
cia a remessa de mais 200 soldados do 49° de caçadores, que
so com esses intuitos foi mandado aquartellar no Recife,
quando já ai li não era absolutamente necessaria a sua pre-
sença.
Para a realização do revolucionário
plano e criminoso,
que tanto escalda a cabeça do ambicioso
Viação, Ministro da
leva-se a uma effeito
convocação illegal do Congresso por
autoridade incompetente, sem numero constituil-o
para e
loontando-se apenas com as baionetas do general Sotero de
Menezes!
A collaboração de um juiz energúmeno, disposto a todos
os papeis e a obedecer cegamente ás ordens e aos expedientes
do Ministro da Viação, fornecerá o deslavado sophisma para
uma intervenção do centro, a pretexto de fazer cumprir sen-
tenças federaes, de accôrdo com o dispõe o art. 6o da
que
Constituição de 24 de fevereiro 1

E' essa a farça quo se está na Bahia,


preparando para
guindar nas pontas das baionetas, ao cargo de governador do
Estado, um Ministro ambicioso, sem força eleitoral, sem pres-
tigio no Estado, impedido de aspirar a tal
posto, por ser duas
vezes inelegível, mas que o pretende, o ambiciona e quo
que
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 279

o quer conseguir pela força, como oaga de hypotheticos ser-


viços pessoaes ao Presidente da Republica e em virtude de
um pacto de honra, que ó, ao mesmo tempo, uma vergonha,
uma humilhação e um crime em face da nossa civilização!
A Bahia não tolerará, de certo, semelhante affronta por
parte de um ambicioso desvairado e sem escrúpulos.
Ajoelhado deante fraqueza do
paternal Marechal, cuja
pretende explorar, associando a causa de um filho dojPresi-
dente á sorte da sua criminosa aventura, ó nessa posição hu-
lia do contemplar tremenda
milhante que o a Bahia, na hora
e solenne das suas reivindicações.
O sangue generoso de tantos Irmãos e de tantos^ bravos

que se vão sacrificar na luta pela liberdade ha do recair sobr?


a cabeça do filho ingrato o ambicioso, que não hesita em que-
rer subir â custa da escravidão e da deshonra da terra loriQsa

que lhe serviu de berço.

Documento n. 3

Recebemos hontem os seguintes telegrammas do nosso


correspondente:

Bahia, 9—Das duzentas de linha que, chegaram do


praças
Recife, diversos grupos logo que saltaram, andaram percor-
rendo as ruas da Cidade Alta, levantando vivas a Dantas Bar-
reto, cantando, acompanhadas de violões que traziam, quadras
allusivas a políticos, ern que acabavam dizendo que vinham
fazer angú na Bahia. A população está sobresaltada.

Bahia, 9—0 juiz estadoal, Dr. Cândido Leão, concedeu


mandado de manutenção á Mesa da Gamara dos_ Deputados

que ó governista. Os seabristas espalham que está assignado

pelo Presidente da Republica o decreto pondo a Bahia em es-


tado de sitio.

Bahia, 9—Num conflicto havido entre correligionários


do Sr. Seabra, que promoviam desordens, o uma força de po-
'apaziguar
licia encarregada de os ânimos, a
qual, á sua che-

gada ao local foi aggredida, recebeu ferimentos o deputado


estadoal Theotonio Martins, que passíiva na occasião.

Bahia, 9—O senador Arlindo Leone, no pedido de habeas-


corpus dirigido ao
juiz seccional afim de serem manutenidos
na posse do edifício da Gamara os congressistas da opposição
seabrista, fez incluir os nomes
parlamentares go- de vários
vernistas, os quaes vão protestar contra esse facto.
'armar ao
O senador Le.one, assim procedendo, procurou
effeito fóra do Estado, no sentido de fazer acreditar que o

partido do Ministro da Vi ação conta com poderosos elementos


de prestigio.

Bahia, 9—Embarcaram hoje Joquié 19 congressis-


para
tas. Lá se encontram seis e amanhã seguirão mais oito. Não
,já
tem, pois, o menor fundamento o boato para ahi transmittido
de que os
congressistas pretendem desobedecer á convocação
do Governador Aurélio Vianna
280 ANNAES DA CAMARA

Bahia, 9 (Americana)—Hontem, á noite, passavam pela


rua Saldanha, em frente a uma casa em que o Gove.rno aquar-
telou a policia, quatro praças do Exercito, quando partiu do
interior do mesmo edifício um tiro com que foram alvejados
os soldados do Exercito, que passavam.
Estes advertidos do
perigo, reagiram, juntando-se a el/.es,
dentro em
poucos minutos, um crescido numero de populares,
que formando ao lado dos inferiores do Exercito, fizeram
frente ao ataque.
Sahiram feridos gravemente um policial e um soldado
do Exercito.

Bahia, 9 (Americana)—Hontem, noite,


á por occasião da

passagem do deputado Costa Pinto pelo largo do Theatro,


deu-se entre populares uma grande assuada, intervindo a po-
licia, que foi repellida.
Pouco depois um soldado de cava liaria da policia disparou
uma arma contra um guarda da Delegacia Fiscal, não o attin-
gindo.

Bahia,
9 (Americana)—O jornal official publica hoje a
lista dos
congressistas que seguem para Jequié, incluindo con-
gressistas que, segundo consta, não irão.
Conforme a lista, alguns membros do Congresso que até
bem pouco tempo apoiavam o Governo, deixam de ir.

Bahia,9 (Americana)—Chegou o Dr. Macedo Guimarães.


Seu desembarque foi muito concorrido.

Baliia, 9 (Americana)—No momento em que telegrapho


(1 e 35 da tarde) repetem-se os conflictos entre populares.
No largo do Forte de S. Pedro e na rua das Mercês, deu-se um
encontro entre policiaes e populares, sendo a policia re-
chassada.
Foi morto um policial e também uma criança que passava
no momento da luta.

Bahia, 9 — Todas as do Exercito,


(Americana) praças
nesta capital, estão aquarteladas.

Documento n. 4

O Exmo. Sr. Marechal Hermes da Fonseca, Presidente


da Republica, recebeu hontem da Bahia o seguinte tele-

gramma:
«Exmo. Sr. Marechal Presidente, da Republica — Tendo
concedido uma ordem de habeas-eorpus impetrado
preventivo
senador estadoal Dr. Arlindo Baptista Leone, em seu fa-
pelo
vor e no de seus colk>gas de representação política Dr. José
Campos França, barão de S. Francisco, Drs. Francisco Euge-
nio Gonçalves Tourinho, José Bernardo de Souza Brito, João
Martins da Silva, coronel José Duarte Oliveira, Dr. Landulpho
Caribé de Araújo Pinho, conego Hermelino Marques de Leão
Adolpho Marinho Neves, senadore.s estadoaes,
e Gustavo "Villasdas
e dos Drs. Lauro Lopes Boas, Antonio Muniz Sodré de
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 281

Aragão, Raul Alves de Souza, Fernando de Castro Rebello


Cock, Antonio Corrêa Caldas, Alfredo Rocha, Drs.
professor
Pamphilio Dutra Freire de Carvalho, Ângelo Dourado, Ma-
noel da Silva Galvãç, Carlos Arthur da Silva Leitão, coronel
Eloy de Oliveira Guimarães, Drs. Antonio de Amaral Fernan-
des Moniz, José de Aguiar Costa Pinto, Virgílio César Martins
dos Reis, José Álvaro Cova, Pedro Frederico Rodrigues da
Costa, coronéis Antonio Pessoa da Costa, Francisco Salles e
Silva, José Joaquim de Almeida Júnior e Drs. José Basilio
Justiniano da Rocha e José Venancio de Castro, deputados es-
tadoaes, ameaçados de violência ou constrangimento illegal
por abuso de poder do Governador interino do Estado, que
para impedir a reunião da Assembléa Geral convocada para
sessão extraordinaria no dia 15 do fluente, para tomar conhe-
cimento e resolver sobre a renuncia do Governador do Estado,
mandou occupar por numeroso contingente de força policial
parte deste edifício, installando alii o estado-maior do regi-
mento policial, distribuindo grandes reforços immedia-
pelas
ções, alojando, em frente, no Palacio do Governo, um batalhão
de policia armado em pé de guerra, achando-se assim os p'a-
cientes impedidos de entrar no edifício da Assembléa Legis-
lativa e de ahi e,xercer as suas funeções legaes, requisito-vos
a prestação da força federal precisa o efficaz cumpri-
para
mento e effectiva execução do «habeas-corpus» concedido nos
termos do art. tí°, § 4", lettra I, e art. 72, § 22, da Constituição
Federal.

Respeitosas saudações.—Paulo Fontes, federal.»


juiz

Documento n. 5

RELATORIO DO GENERAL 30TER0 DE MENEZES


O Presidente da Republica recebeu hontem o seguinte
telegramma do general Sotero de Menezes, commandante da
guarnição federal na Bahia:

«A ordem de habeas-corpus foi permittida cumprir pelo


governador depois de tenaz resistencia do governo do Estado,
como passo a expôr:

Sendo notorio pela imprensa govornista seria des-


que
respeitado aquelle mandato, cuja resistencia se manifestava
pelo apparato bellicoso
e posições entrincheiradas por nume-
rosa força jagunços
policial e
armados ostensivamente em
diversos da
cidade,
pontos accrescendo que o chefe de policia
o o commandante declaravam publicamente que receberiam a
lorça federal ü bala, mandei ás 10
horas da manhã de hontem-
o tenente-coronel chefe do estado-maior
ao palacio do governo
entender-se com este, appellando mesmo para os sentimentos
Patrioticos, para mandar retirar suas forças acastelladas no
paço municipal e logares adjacentes, afim de livre-
poder
mente funccionar o Congresso em suas sessões preparatórias
cujo inicio deveria ser á 1 hora sendo
da tarde, que, si tai
282 ÀNNAES DA GAMARA

não ordenasse, eu o faria a viva força dar cumprimento â


lei. O governador, que se achava cercado de alguns chefes do
seu partido, tendo á frente o Dr. José Marcellino, relutou em
acceder immediatamente ao meu appello, declarando que ia
pensar para resolver, fixando as 11 horas do dia para dar
definitiva solução. Chegada aquella hora, nada tendo resol-
vido, telephonei para o palacio, lembrando o seu formal com-
promisso, o que apressou o governador a mandar seus ajudan-
ies de ordens ao quartel do 50° de caçadores, onde me achava
desde pela manhã, declarar-me que as forças não se retira-
riam sinão depois que conferenciasse com o juiz federal, pe-
dindo para adiar a solução para 1 hora da tarde.

Para provar a V. Ex. que usei da maior calma e pru-


dencia, accedi a esse pedido. Pouco depois veiu á minha pre-
sença o Dr. secretario geral e official de gabinete que de-
clarou-me peremptoriamente que o governo do Estado não
retiraria das posições em que se achavam suas forças e que
o Congresso poderia reunir-se, que não haveria coacção. Não
concordei com essa solução por parecer-me cogitar-se de uma
cilada e então affirmei categoricamente que, si até á 1 % da
tarde não se retirassem as forças da Camara Municipal, o
faria á bala e, de facto, á essa hora, na impossibilidade de
sahir com a força de infantaria para o theatro dos aconte-
cimentos, porque seria certo o seu sacrifício total devido ás
posições da policia, ordenei que os fortes de S. Marcello e
Barbalho hostilizassem as posições occupadas, único meio de
fazer respeitar a lei e as ordens do Governo Federal. Em se-
guida ao canhoneio, o esquadrão de cavallaria de policia, com-
posto de mais de 400 homens entrincheirados em seu quartel,
que fica a cavalleiro do 50" de caçadores, rompeu fogo, com
descarga successivas. Deante de tal ousadia o fiz calar com
cinco tiros de canhão, que se achava convenientemente as-
sestado no respectivo quartel. Devo, a bem da verdade e da
justiça, dizer a V. Ex. que os tiros empregados foram tão bem
dirigidos, que só attingiram os objectivos, de modo a não
produzir os estragos
particulares, obrigando os occupantes das
posições a abandonal-as. Seriam 4 horas da tarde quando o
governador mandou uma cornmissão chefiada pelo comman-
dante da policia para suspender as hostilidades,
pedir-me
pois que já havia mandado retirar suas forças das posições
occupadas e assim julgava cumprido o mandato do juiz federal
e mo garantia que a policia se conservaria calma.

Deante desta formal affirmativa, mandei pelo tenente


Propicio Fontoura cessar o fogo, ordenando a occupação dos

pontos abandonados. Infelizmente temos a lamentar a des-


traição por completo do palacio de audiência do governo, onde
tinha numerosa força policial, pavoroso incêndio, per-
por
versamente ateado pelo capitão de policia Aristeu, na occa-
sião em que se retirava com a mesma 1'orça desse edifício,
fica contíguo á Delegacia Fiscal do Thesouro Nacional.
que
O respectivo delegado compareceu no quartel do 53° de ca-
e força e elemento circumscrever o
çadores pediu-me para
incêndio e garantir o estabelecimento. Fiz immediatamente
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 283

seguir 50 praças e o 9" pelotão de engenharia com o coronel


Netto e tenente Propicio, os do ao chegarem ao largo
quaes,
Theatro, pela cavallaria
fram e infantaria de policia traiçoei-
ramente atacados com tiroteio formidável, visto como já es-
tavam suspensas as hostilidades, tiroteio que repelliram ca-
tegoricamente, resultando sahirem feridos um official e qua-
tro praças do Exercito, Raphael
ferimentos pensados pelo Dr,
Pinheiro, que abnegadamente ahi se achava ao tempo em que
se dava este lamentavel facto do 6" batalhão de artilharia
armada, infantaria que havia mandado para o bairro com-
mercial para garantir a Alfandega, Telegraphos e obra3 do
porto, a requisição de seus chefes, foi mopinadamente e de
emboscada aggredida
policia, resultando
pela desse encontro
forte tiroteio, que produziu infelizmente a morte de tres sol-
dados e seis feridos da nossa força. Devo accentuar bem que
a força de policia fez o ataque traçoeira e covardemente pelo
facto do haver hasteado uma bandeira branca, além do com-
promisso formal do commandante da força policial de não
nos hostilizar, illudindo assim a boa fé do commandante da
força e dahi
grande o
prejuízo que soffremos; deante deste
monstruoso facto de novo mandei ao governador do Estado di-
zer que suas ordens não estavam sendo cumpridas pela policia
sublevada, o que obrigou a mandar ao theatro dos aconteci-
mentos o Dr. chefe de policia, que fiz acompanhal-o do ca-
pitão adjunto chefe do estado-maior, do meu assistente e
tenente Propicio Fontoura, que, seja dito do passagem, tem
prestado optimos serviços nesta emergencia. Os deputados
da parcialidade do Partido Conservador não se reuniram hon-
tem porque a hora em que pretendiam fazel-o foi exacta-
mente aquella em que as forças tiroteiavam em frente ao
paço
municipal, sendo até attingido por um projectil alvejado pela
policia o tenente Ângelo Dourado, deputado, ficando assen-
tado que hoje se reuniriam á hora
que em
telegrapho, o que
não fiz hontem pela absoluta falta de tempo. A cidade se
conserva em paz apparente, achando-se todas as forças aquar-
teladas. A deficiencia de minha força deu logar a que nã«
pudesse estabelecer o patrulhamento em toda a cidade, fi-
cando sómente guarneeidos os pontos mais necessários. Antes
de principar hostilidades, fiz distribuir profusamente se-
guinte boletim: — 7a região militar. O general Sotero de Me-
nezes, inspector da 7a região militar, faz saber que, tendo o
governo do Estado se recusado terminantemente a obedecer
o habeas-corpus concedido pelo Exino. Sr. juiz seccional,
para que possam funccionar livremente no edifício da Camara
dos Deputados os congressistas convocados barão
pelo Exmo.
de S. Francisco .presidente em exercício do Senado, cumpre-
lhe, em obediencia á requisição do mesmo federal aos
juiz
poderes competentes da Republica, fazer respoitar e executar
ossa ordem intervenção da força do seu commando, in-
pela
tervenção a dará inicio dentro de 1 hora. Respeitosas
que
saudações.— General Sotero.»
284 ANNAES DA CAMARA

Documento n. 6

O Exmo. Sr. Presidente da Republica recebeu, hontem, do


Sr. general Sotero de Menezes, inspector da 7a região militar,
com séde no Estado da Bahia, o seguinte telegramma:

«A ordem de habeas-corpus, foi


promettida cumprir pelo

governador, depois de tenaz resistencia do Governo do Estado,

como passo a expôr:

Sendo notorio pela imprensa governista que seria desres-


peitado aquelle mandado, cuja resistencia se manifestava pelo
apparato bellicoso e posições entrincheiradas por numerosa
força policial jagunços armados
e ostensivamente em diversos

pontos da cidade, accrescendo que o chefe de policia e o com-


mandante declaravam publicamente que receberiam a força fe-
deral á bala, mandei ás 10 horas da manhã de hontem, o te-
nente-coronel chefe do Estado-Maior ao Palacio do Governo,
entender-se com este, appellando mesmo para os sentimentos

patrioticos para mandar retirar suas forças acastelladas no


paço municipal e logares adjacentes, afim de poder livremente
1'unccionar o Congresso, em suas sessões preparatórias, cujo
inicio deveria ser á 1 hora da tarde, sendo que, se tal não or-
denasse, eu o faria a viva força para dar cumprimento á lei.,
O governador, que se achava cercado de alguns chefes de seu
partido, tendo á frente o Dr. José Marcellino, relutou cm acce-
der immediatamente ao meu appello, declarando que ia pensar
para resolver, fixando-lhe hora e dia para dar definitiva so-
lução. Chegada áquella hora, nada tendo resolvido, telephonei

para o Palacio lembrando o seu formal cumprimento, o que


apressou o
governador a mandar seus ajudantes ao quartel do
50° de caçadores, me achava desde
onde pela manhã, declarar
que as forças não se retirariam sinão depois que conferenciasse
com o juiz federal, pedindo para addiar a solução para 1 hora
da tarde.
Para provar a V. Ex. que usei da maior calma e prudência
accedi a esse pedido.
Pouco depois veiu á minha presença o Dr. secretario geral
e official de gabinete, que declarou peremptoriamente que
me

o governo do Estado, não retiraria das posições em que se acha-


vam suas forças
que o Congresso poderia reunir-se que não
e
haveria coacção. Não concordei com essa solução por parecer-
me cogitar-se de uma cilada, e então affirmei categoricamente

que, si até 1 1|2 da tarde, não retirasse as forças da Camara


Municipal, o faria á bala e, de facto a essa hora, na impossi-
bilidade de sahir com a força de infantaria para o theatro dos
acontecimentos, porque seria certo o seu sacrifício total, devido
ás posições da policia, ordenei que os fortes de S. Marcello e
Barbalho, hostilizassem as posições occupadas, único meio de
fazer respeitar a lei e as ordens do Governo Federal.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 285

Em seguida ao canhoneio o esquadrão de cavallaria de po-


licia, composto de mais de 400 homens entrincheirados em seu
quartel que fica a cavalleiro do 50" de caçadores, rompeu fogo
com descargas successivas. Deante de tal ousadia o fiz calar
com cinco tiros de canhões que se acha convenientemente asses-
tado no respectivo quartel. Devo a hem da verdade e da justiça
dizer a V. Üx. que os tiros empregados foram tão bem dirigi-
dos, que só attmgiram os objectivos, de modo a não produzir
estragos particulares, obrigando os occupantes das a
posições
abandonal-as. Seriam 4 horas da tarde, o
quando governador
mandou uma coininissão chefiada commandante da po-
pelo
licia, pedir-me para suspender as hostilidades, pois que já ha-
via mandado retirar suas forças das posições occupadas e as-
sim julgava cumprido o
do juiz mandado
federal, e me ga-
rantia que a policia se conservaria calma. Deante desta formal
aliirmativa, mandei pelo tenente Propicio Fontoura cessar o
logo, ordenando a occupação dos pontos abandonados. Infeliz-
mente temos a lamentar a destruição por completo do Palacio
de audiências do governo, onde tinha numerosa força
policial,
por pavoroso incêndio perversamente ateado capitão de
pelo
policia Aristeu, na, occasião em que se retirava com a mesma
força desse edifício, que fica contíguo á delegacia fiscal do
Thesouro Nacional. O respectivo delegado compareceu ao quar-
tel do 50" de caçadores e pediu-me forças e elementos para cir-
cumscrever o incêndio e garantir o estabelecimento. Fiz im-
mediatamente seguir
e o 9° pelotão de 50
praças engenharia
com o coronel Netto e tenente Propicio, os quaes chegados ao
largo do Tlieatro, foram pela cavallaria e infantaria
do policia
traiçoeiramente atacados co mtiroteio formidável, visto como
já estavam suspensas as hostilidades, tiroteio repeli iram
que
energicamente, resultando sahirem feridos um
official e quatro
praças do Exercito, ferimentos pensados
pelo Dr. Raphael Pi-
nheiro, que ahi se achava.
Ao tempo em que se dava esse lamentavel facto, o 8° bata-
Umo de artilharia, armado u infantaria, cjue havia
para mandado
o bairro commercial, para garantir a Alfandega, Telegrapho o
obras do porto, á requisição dos respectivos chefes* foi inopida-
mente e de emboscada aggredido pela policia, resultando desse
encontro forte tiroteio infelizmente,
que produziu, a morte do
tres soldados e seis feridos da nossa força.
Devo accentuar bem que a força de policia fez o ataque
traiçoeira e covardemente, facto
pelo de haver hasteado uma
bandeira branca, além do compromisso formal do commandante
<ja força de
policial, não nos hostilizar, illudindo assim, a boa
do commandante da força,
grande prejuízo que sof- e dahi o
i emos.
Deante deste monstruoso facto, de
novo mandei ao go-
nad.or do Estado dizer que suas ordens não estavam sendo
cumpridas
pela policia sublevada, o que o obrigou a mandar
ao theatro dos acontecimentos
o Dr. Chefe de Policia, a quem
286 ANNAES DA CAMARA

fiz acompanhar pelo capitão adjunto, chefe do Estado-Maior,

do meu assistente e do tenente Propicio


que seja da Fontoura,

dito de passagem, tem prestado optimos serviços nesta emer-

gencia. üs Deputados da parcialidade do Partido Conservador,

não se reuniram hontem, porque a hora em que pretendiam


fazel-o foi exactamente aquella em que as forças tiroteiavam

em frente do Palacio Municipal, sendo até attingido por um


alvejado pela
policia, o Deputado tenente Ângelo
projectil,
Dourado, ficando assentado que hoje se reuniriam á hora em
telegrápho, o não fiz hontem por absoluta falta de
que que
tempo.
A cidade conserva-se em paz apparente, achando-se todas

as forças aquartelladas. A defficiencia de minha força deu lo-


a que não pudesse estabelecer patrulhamento em toda a
gar
cidade, ficando sómcnte guarnecidos os pontos mais necessa-
rios. Antes de principiar as hostilidades, fiz distribuir profusa-
mente o seguinte boletim: «7a região militar. O general Sotero
de Menezes, inspector da 7a região militar, faz saber que, tendo

o governo do Estado, se recusado terminantemente a obedecer


o concedido pelo Exmo. Sr. juiz seccional, para
habeas-corpus,

que possam funccionar livremente, no edifício da Camara dos


Deputados, os congressistas convocados pelo Exmo. Sr. barão
de S. Francisco, presidente em exercício do Senado, cumpre-
lhe, em obediencia á requisição do mesmo juiz federal, aos po-
deres competentes da Republica, fazer respeitar e executar essa
ordem pela intervenção da força de seu commando, interven-

ção a
que se dará inicio dentro de uma hora. Respeitosas sau-
dações. — General Sotero.».

Documento n. 7

VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA

Somosjustos. Não foi o Sr. Seabra o primeiro ministro


abusoudos Telegraphos do Estado para fins de política-
que
Politiqueiro' de san-
gem. O Sr. Seabra encontrou precedentes.
aproveitou-os, e aproveitou-os indo muito além dos seus
gue,
antecessores. O papel que o Telegrápho Nacional representou
que se poderia imaginar. E
no caso da Bahia excedeu a tudo
disto convenceu
se o próprio Marechal Hermes que directa-
interveiu para apurar a verdade, o da sua intervenção
mente
não a demissão do Sr. Gosta, a que elle fez jús pela
resultou,
sua condescendência com tudo que o seabrismo quiz, mas a

sua remoção para outro districto. Mas, como a despeito de ser

muito para a gravidade do caso, parece que o Tele-


poúoo
quer enveredar outro rumo mais sério o
grapho Nacional por
mais honesto, só temos por que nos confessarmos satisfeitos.
Não somos nós os únicos a denunciar o abuso do Tele-
na Bahia. Jornal amigo do governo e sempre
grapho Nacional
muito sympathico ao Sr. Seabra affirmou hontem que, «além

da censura, na Bahia, houve a violarão dos telcarammas e o


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 287

descaminho cios despachos,


cuja entrega não convinha a de-
terminado orupopolítico. Este era
grupo político o do Sr.
Seabra, ministroentão dos Telegraphos. A cousa foi tão es-
candalosa que o Presidente da Republica se viu forçado, a
abandonar, para a transmissão dni sv.as ordens, o telegrapho
oiiicial para utilizar-se do cabo submarino O Te-
estrangeiro.
legrapho Nacional estava assim entregue, na de um
phrase
jornalista amigo do Marechal Hermes, a bandoleiros capazes
de todas as piratarias.
Mas isto ter
precisa fim. Não as medíidas ató
julgamos
agora tomadas pelo Governo, embora louváveis, bastantes,
lmpoe-se a bem do serviço
publico a demissão dessa gente que
ialtou aos seus deveres, sendo substituída
por outra que tenha
comprehensão mais exacta o mais honesta da missão do te-
legrapho explorado pelo Estado. O Estado paga esses funccio-
nanos para bem servir o e não
publico, para que elles se
convertam em baixos instrumentos de politicagem, suppri-
mmdo telegrammas, demorando a passsagem e a entrega do
outros e revelando o conteúdo de muitos. Isto contado no es-
trangeiro nos colloca na linha dos paizes mais atrazados do
mundo. «A simples transferencia, como punição do vergo-
nhoso suborno — escreve jornal amigo do Presidente da Re-
públicos e enthusiasta da actual situação — ó quasi um de-
boche ao publico lesado. De facto, remover da chefia do dis-
tricto telegraphico da Bahia, S. Paulo,
para Rio Grande ou
1 ernambiico o lunccionario'
pouco sério que violou e desenca-
minhou telegrammas, cm obediencia a imposições de politi-
queiros, seria brincar com os interesses mais respeitáveis
eoniíados ao Telegrapho Nacional. Seria dizer a todos os che-
les de districtos telegraphicos da União, a todos os telegra-
phistas e ate aos simples estafectas que, uma vez
que isso lhes
convenha, podem sempre furtar os telegrammas, inutilizal-os
violal-os, porque, como castigo do seu crime, a directoria
quando quando muito, os removerá.»
accusaçâo do orgão hermista 6 procedente.
.A E tem toda
razao quando acha que a simples remoção do districto com
esperança die volta, não' ó pena. E' necessário que a demissão
ahi fique como lição,
proveitosa a funccionarios
que para o
lutuio sejam solicitados fazer o
para mesmo. E nada mais
neste assumpto. Aguardamos as resoluções do Marechal Her-
mes, que e de esperar sejam bem inspiradas. A remoção dos
empregados prevaricadores é pouco. Não pôde haver Tele-
grapho sem o sigillo da correspondente, o quem a violar pa-
gue caro. Faça retirar, o Marechal todo esse
pois, pessoal dos
ielegraphos viciado pela politicagem, substituindo-o polo que
realmente sabe o que ó o Telegrapho como serviço
— Cril publico.
Vidal.

Documento n. 8

Sr", M,inÍ3lro C'a Justiça recebeu


trr.ir.P hontem o seguinte tele-
grainina do Dr. Braulio Xavier, da Bahia:

.....í do terceiro substituto constitucional do go-


ycinaaor do Estado, como do Superior
presidente Tribunal do
288 ANNAES DA GAMARA

Justiça, acabo de assumir o governo que me foi transmittido

pelo segundo substituto, então em exercício. Espero garantir


a ordem e a paz dentro do regimen puramente legal, contando
manter com V. Ex. as melhores relações. Affectuosas saúda-

ções.»

O Sr. Ministro da Justiça agradeceu hontein mesmo essa


communicação, fazendo votos pela prosperidade do governo e
felicidade pessoal do novo governador.

A nota do governo — O Ministério do Interior forneceu


liontem :í imprensa a seguinte nota:

«Tendo o Sr. Presidente da Republica lido em um jornal


o officio com o qual o Dr. Aurélio Vianna, governador da
Bahia, passava o cargo ao seu substituto legal e
parecendo-lhe
pelos termos desse officio, que em vez de renuncia voluntaria,
houvera renuncia por coacção, determinou ante-hontem ao
Ministro do Interior que telegraphasse aos Drs. Aurélio Vianna
e Braulio Xavier, pedindo com urgência que lhe remettessem o
teor inteiro daquella communicação.
De posse das duas respostas, o Presidente teve a certeza
de que se tratára realmente de renuncia
por coacção, oriunda
de possível exorbitância no cumprimento de suas ordens, que
somente visavam a execução de um habeas-corpus.
A' vista disso, e dentro da sua orientação rigorosamente
constitucional, o Presidente da Republica determinou liontem
ao Sr. Ministro do Interior, que transmittisse instrucções ao
Sr. Ministro da Guerra seja na Bahia o
para que procurado
Dr. Aurélio Vianna, á disposição de quem o inspector da re-
gião porá todos os elementos de força federal que lhe per-
mittam reassumir o e assegurem a sua manutenção alli,
poder
cajo seja isso necessário.
Ainda, de ordem do Sr. Presidente da Republica, o Sr. .Mi-
nistri do Interior telegraphou, Gabo Submarino, ao Dr.
pelo
Aurélio Vianna, communicando todas as o
providencias que
Governo Federal acabava do, expedir, o effeito da sua
para
reposição no cargo de governador da Bahia.»

Documento n. 9

PRESTITO—CEARÁ—3.000 CRIANÇAS !

A cidade, de Fortaleza em revolução


plena
rcs.
Deve-se política, á ora convulsiona todos os Estados
que
da União, uma mais
dolorosa de sangue, tendo desta
pagina
vez como victimas indefesas, crianças, duas das quaes foram
cobardemente assassinadas a fuzil pela soldadesca amotinada,
ficando outras
muitas feridas, em numero que se não pôde
avaliar, mas
que deve ser avultado, pois o canibalesco ataque
foi contra um bando de cerca de tres mil meninos e meninas.
Deu-se o triste caso na cidade de Fortaleza, capital do
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 289

Estado do Coará, de onde nos foi redacção


passado pela da
Revista Cownicrcipl o seguinte telegramma:
«Ceará, 22—Hontein,
percorriam as ruas desta cidade, em
deslumbrante encantadorae da Liga Infantil, cerca
passeata,
de 3.000 crianças, acelamadas festivamente massa
por grande
popular em delírio, sob chuva de flores. Riam as crianças, ©
cantavam com enthusiasmo indescriptivel.
Ao o
chegar
prestito á praça Ferreira, discursava uma
criança deannos, dezquando, bruscamente, a o ata-
policia
cou, causando mdizível dos e
pânico, gritos, lamentos paes
mães desesperados que, procuravam os filhinhos.
Diversas crianças foram fpridas e duas mortas.
Opovo estupefacto reagiu heroico, havendo muitos fe-
ridos, alguns gravemente, entre os quaes soldados de policia,
Foram mortos diversos cavallos. Não fõra a intervenção cio
bravo tenente do Exercito Pinheiro, impávido, fez
que, o pi-
quete de cava liaria recuar, o massacre dos innocentes seria
horrível.
Reina grande desolação entre as famílias.
Os ânimos estão excitados coin o inaudito e cobarde at-
tentado.
O inspector da região foi de tudo informado pelo tenente
Pinheiro, e dirigiu-se a palácio.
Parece ter havido premeditação.
A cidade acha-se debaixo de penosa impressão, receiando
a todo o momento novo attentadó.—Revista Commercial.

Uma brutalidade gent nome !

Os Prs. Virgjljo
Brigjdo e Frota Pessoa
procuraram lion-
tem, á paiacio dp Cattete,
tarde-, no o Presidente da Republica,
a quem mostraram vários telegrammas lhes haviam
que sido
dirigidos do CjVará, narrando gravps acontecimentos na cidado
de fortaleza, a Qual está em plena revolução, havendo sue-
cessivos combates entre a policia e o povo.
O
Marechal Hermes da Fonseca declarou áquelles repre-
sentantes d'a opposiçao cearejiae em vista dos
Que. despachos
que recebera 110 mesmo sentido, telegraphára ao Presidente
do Estado, pedindo e também ao
providencias, coronel José
raustiii'0, inspector da região militar, ordenando que o mesmo
tomasse energicas medidas para que fosse restabelecida a or-
dem publica.
A's 6 horas, quando o Marechal se. preparava
para deixar
o Paiacio do Cattete, entrou em seu gabinete o capitão Jar-
aim, ajudante de ordens do general Menna Barreto, afim de
apresentar a S. Ex. diversos telegrammas sobre os referidos
successos o recebidos Ministro
pelo da Guerra.
O Presidente da Republica mandou oommunicar ao seu
, eoretano da da Guerra
pasta que, também havia recebido
idênticos telegrammas e que já déra as competentes instru-
cçoes ao commandante da guarnição federal no Ceará
290 ANNAES DA GAMARA'

Fortaleza, 21—(Retardado telegrapho) —


pelo (American
Office)—A policia atacou hoje, na praça Ferreira, muitos po-
jjulares, inclusive senhoras e crianças, havendo renhido ti-
roteio.
O povo sustentou vivo fogo, chegando mesmo a fazer re-
cuar a força de cavallaria. Houve alguns mortos e muitos
feridos.
Mandaremos pormenore.s.

Fortaleza, (Retardado pelo 21


telegrapho) 8 h. 20 p. m.
(American Office)—Durante o percurso de um grande prestito
infantil que se realizou aqui, appareceu um soldado do policia
armado de punhal, havendo por isso protestos de populares,
que lhe tomaram 'a arma, sendo ferido nessa occasião um em-
pregado no commercio.

Terminada a festa das crianças, o povo ficou reunido na


praça Ferreira, notando-se, também a presença de muitas se-
nhoras e crianças.

O povo alli reunido começou então a acclamar os nomes


do general Menna Barreto, do general Dantas Barreto e do
coronel Franco ltabello e outros proceres da política.
Nessa occasião surgiu inesperadamente dos dous lados
tia praça, fazendo cerco, as forças de infantaria e cavallaria
de policia, sendo recebidas pelos populares, que foram ata-
cados também a tiros, com toda a resistencia.

As senhoras e as crianças foram atropeladas cavai-


pela
laria, estando algumas gravemente constando haver
feridas,
uma criança morta. Trata-se de conhecer o numero exacto
das pessoas feridas, o que ató agora senão apurar. O
pôde
trafego de bonds está completamente e, a cidada
paralysado
está ás escuras. Alguns dos mais exaltados,
populares, percor-
rem as ruas centraes armados de rifles, á espera de nova ag-
gressão por parte da força policial.
Vimos alguns
paes de família, cujas filhas foram feridas,
indignadíssimos contra a attitude do inspector da região mili-
tar, que não intervém com o seu afim do evitar
prestigio
esses conflictos.

Fortaleza, 22 Office)—A situação eontinúa na


{American
mesma. A Delegacia Fiscal, 'a estrada de ferro e outras repar-
lições publicas estão fechadas, bem como todas as casas com-
merciaes.
Sahiu hoje um boletim censurando o coronel José Faus-
tino, inspector militar desta região, ter negado
por garantias
a cidadãos inermes, quando mandou forças
guarnecer por do
Exercito a casa do secretario «Io Interior.
O edifício da Assembléa está transformado em quartel- do
policia.
Reina grande agitação de ânimos.

I-Ioje, ás í horas da tarde, realiza-se o enterro da criança


liontem assassinada por occasião dos conflictos.
Também falleceu hoje mais um dos feridos de hontein,
um negociante estabelecido nesta capital.
SESSÃO EM 21 DÉ SETEMBRO DE 1912 k 291

Fortaleza, 22 (American OfficeQ—A situação aggrava-se


de momento para momento.
O povo, armado de rifles, as ruas da cidade, en-
percorre
frentando as forças de policia, ouvindo-se tiros isolados a cada
instante.
Nas ruas centraes nota-se grande agglomeração de popu-
lares, dando vivas aos seus candidatos.
O commercio está fechado, e os combustores da illumina-
ção publica quasi totalmente quebrados, estando a cidade ás
escuras. .
^
O serviço de bonds também está paralyzado.
Fortaleza, 22 (American Office)—Os tiroteios repetem-se
a todo o instante, reinando grande pânico entre a população.
Muitos dos habitantes da cidade estão se retirando para
os arrabaldes e, para o interior do Estado, com receio de que
os acontecimentos se aggravem.
O povo está levantando barricadas ruas.
pelas
A situação ó bastante grave.

Fortaleza, 22 (American Office)— Por volta das 3 horas


deu-se violento tiroteio entre o
povo o as guardas da Delegacia
Fiscal, á rua Senador Pompeu, esquina da rua das Flores,
onde foram levantadas barricadas; do Thesouro do Estado, na
praça da Sé, c da cadêa, na rua da Santa Casa. Esses edifícios,
depois de vivo e demorado tiroteio, foram tomados pelo povo,
que os conserva em seu pode,r.
O Dr. Nogueira Aecioly, aconselhado
pelos filhos, recusou
o policiamento que o Exercito se propunha a fazer.
A situação ó horrorosa, não sendo possível ás famílias re-
tirar-se desta capital.

Documento n. 10

MANIFESTO DO GENERAL BKZEKRIL

O general Bezerril Fontenelle, candidato a presidente do


Estado, dirigiu aos seus conterrâneos, transmittindo-o pelo
telegrapho, o seguinte manifesto:

«Ao.? meus conterrâneos — Logo ao iniciar-se vida


a
constitucional da Republica, coube-me como presidente eleito
por uma assembléa ainda constituinte, a honrosa tarefa do
ensaiar o praticar o regimen do governo autonomo do Estado
do Ceará.
Não
é aqui o logar em que devo dizer-vos como entendi
e como
pratiquei esse regimen de autonomia, dentro dos moldes
que me eram traçados pela Constituição do Estado, e de
accôrdo com as normas republicanas, quaes so
genuinamente
encontram no estatuto fundamental da Federação.
Não deveis ignorar o que está relatado em as minhas
quatro mensagens dirigidas á legislatura daquella época.
Em synthese declararei,
todavia, em consciência,
que,
nenhuma injustiça se me accusou de qual-
pratiquei e jamais
quer aclo de improbidade ou de immoralidade administrativa.
292 ANNAES DA CAMARA

Exuberante prova dessa minha oonducta leal e incorrupti-


vel tive-a do immaeulado salvador da Republica, honrando^-
ipe com a sua confiança, a ponto de um dia consultar-me
para que lhe indicasse o um cearense que por nome
seu de
caracter e pureza republicana podesse exercer as funcções de
Ministro das Relações Exteriores.
Todo o Ceará sabe como organizei as finanças do Estado,
que encontrei arrebentadas e como geri a collecta e a distri-
buição dos dinlieiros públicos, economizando o bastante para
que uma reserva saqrada ficasse em especie no Thesouro

para accudir de prompto ás difficuldades prementes da fome


e miséria, por pepasião das crises climatericas que tanto
çja,
affligem _P povçt pearense.
Já são passados annos e nunoat jâmais, depois disso
desejei, apezQr de, por vezes solicitado, voltar a exercer o cjirgo
que a voz publica de amigos correligionários e adversários
políticos affirmava ter eu exerpido com modéstia, firmeza e
Honestidade..
Agora mesmo, antes de estalar a revolução de Fortaleza,
po ÍUifirú, um dps rpembros proeminentes Qpposição, aqui
'•("íidentp, conhecer a minha tenaz resistência em
pãp obstante
Pfidef p meu nome para ser suftragado á presidência para o
quátfiennio, honrou-me com a sua visita para m-
pfO*iij}Q
sistir coni al'1'inco no cie demover-me daqnella
proposito
attitude.
Ante o fqg}):' da ternpe-stqde ameaçadora, attpntp a novas
solicitações de amigos e, principalmente, ao appeilo cj^qqelle
flue, aoilOft de todos1 os interesses especulativos, exerce a missão
sagrada de guarda e sentinella da Paz e da Jtonra Nacional,
não pude mais resistir: — capitulei.
Sou, portanto, agora, candidato ao cargo de presidente
do Estado do Ceará. Não venho vos pedir votos, mas affirmar-
vos que acceitafei os que voluntariamente mp queiram dar os
meus conterrâneos e prometto que, zelando por minha honra
partjcular, saberei dignificar o cargo, si porventura para elle
fôr eleito pelo suffragio livre dos meus concidadãos, exer^
pendo o governo com o respeito devido a todas opiniões e di-
reitos e com a collaboração de todos os cearenses que me
ajudar a servir á nossa terra natal.
queiram
Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 1912. —José F. Bezerril

FontencUe.»

Documento n. 11

O SR. GENERAL OSORtO D13 PAIVA ACHA QUE SE TRATA DE UMA


IMPOSIÇÃO

O Ceará, general? que nos diz V. Ex. sobre os acon-


tecimentos de hoje?
Nada sei dizer a V. O que lhe posso affirmar 6 que
o Sr. Presidente da Republica não tem absolutamente poder
para impôr candidatos á governança de Estados.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 293

Trata-se, então, de uma imposição?


Pois não. O Marechal, vendo que o eleito foi o coronel
Franco Rabello e tendo Como candidato general Bezerril, tor-
o
nou-se arbitro da situação, impoz candidato contra a von-
tade do povo cearense, annullando eleição e reduzindo a so-
berania do povo a farrapo! O Congresso cearense não se
reunirá e está tudo promptò...
Mas, porque o coronel Rabello accedéu, então ao con-
vite para o accôrdo?
Porque o Sr. Presidente da Republica iria insinual-o
COhio cíiUsa dá anafchia que dizem lá reinante, oomo origem
da éxcitaçãci dó ânimos, que lavra entre aquelle povo, etc...
Ora, cjüem excitoü assim O Ceará fdi o próprio Sr. Marechal,

que paraenviou o coronellá Thomáz Cavalcanti para im-

pôr o seu
caxididato, militar, esse, cuja aondueta 6 por demais
conhecidá naquelle meio.
Mas o Marechal tem então candidato o
por general
Bezerril ?
Sim senhor. Não ha muito tempo S. Ex. um
passou
telegramma ao José Faustino, declarando seu candidato aquelle

generál e fazendo vôr que como tal deveria ser respeitado.


E agora...
.. .e agora, repito, tenho só a repetir: o Sr. Presidente
da Republica riãoi tem o poder de impôr candidatos â gover-
nartça d,o Estado!

Documento n. 12

UMA CONFERÊNCIA EM PALACIÒ

O Ceará e o 8r. Moura Brazil

Houve hontem no Cattete longa conferencia entre o Ma-


fechai e o Dr. Moura Brazil.
Nessa conferência o Marechal insistiu apresentando va-
rias razões, para qíie o Dr. Moura Brazil acceitasse a presi-
dérteia do Ceará, ao que o Sr. Moura não ftccedeu.
Como o Dr. Moura Brazil persistisse em não aceeit&rj á
floito entre ellfe e o Marechal houve nova conferenciá»

Documento n. 13

O Sr. Moreira da Rocha—Sr. Presidente, de pleno uCCôrdo


com o aproveito a opportunidade de mo achar na
projecto,
tribuna para continuar o meu discurso em resposta ao do
nobre Deputado pelo Còárá Borges. Sr. Frederico
Tendo demonstrado, com «1 elòqüencm fria è insopnisma-
vel tios números, Franco Rabello foi eleito
que o cbronel por
maioriá esmagadora do Ceará, que felizmente
presidente já
começa a sentir os benefícios da sua administração, passo á
questão do reconhecimento. Neste ponto mais infeliz foi o
nobre Deputado quando affirmou que o coronel Rabello foi
294 ANNAES DA CAMARA

reconhecido por oito votos, cm uma assembléa de 30 membros.


<;hega a ser infantil tal allegação, lembrada simplesmente
para produzir effeito aqui no Rio. Si; de facto apenas oito
Deputados votassem pelo reconhecimento do coronel Rabello
era natural que os 22 restantes contrários a esse reconheci-
monto comparecessem á assembléa reconhecer o
para outro
candidato. Isto e que é lógico. Falta de garantias não podiam
allcgar, por isso que o patriotico Governo do Marechal Hermes
cercou a assembléa de
garantias todas as E não
possúveis.
consta que Deputados,
mesmo allegando coacção ou falta de
liberdade para exercer seus direitos requeresseni
políticos,
ordem de habeas-corpus ao Supremo Tribunal Federal. Logo
o reconhecimento do coronel Rabello só ter sido feito
podia
muito constitucionalmente.

Accusa, porventura, o Deputado Frederico Borges o hon-


rado integro
e Sr. Presidente da Republica de
parcial no caso
do Ceara ?

Sr' Frederico Bor^es ~ s- Ex. foi illaqueado em sua


boa fi'

O Sr, Moreira da Rocha — O Presidente da Republica


.
nao pode ser enganado forma
pela que allega o nobre Depu-
tado.

„rA.ccusa S. Ex. o Governo Federal do não ter garantido


suincienteinente a assembléa em seu livre funccionamento 1
Si a assembléa estava e o
garantida si Sr. Franco Ra-
apenas com oito votos, era natural que os 22
í\ ,c°Iltava
Deputados restantes fossem votar no general Bezerril.

O Sr. Frederico Borges — Não eram 22 ; eram 15.


O Sr. Moreira da Rocha — Ainda assim : com os que vo-
taram contra, constituiriam maioria ; logo deviam i ompa-
recer e reconhecer o Bezerril.
general
O Sr. Frederico Borges — Mas V. Ex. contesta o facto ?
O Sr. Moreira da Rocha — Estou contestando, e a argu-
mentaçao que acabo de apresentar é insophismavel. A alie-
gaçao cm contrario é infantil e não calar no
pôde espirito pu-
blico.
Desejo que o nobre Deputado responda : havia ou não
garantias para a assembléa funccionar ? O Sr. Presidente da
Republica deu ou não deu essas ? O Sr. coronel
garantias
Agobá era ou não capaz de assegural-as ?

O Sr. Frederico Borges — V. Ex. acha eu estou


que fa-
zendo sabbatina ?

O Sr. Moreira da Rocha — Interpello nobre Deputado


o e
estimaria que S. Ex. respondesse.

O Sr. Frederico Borges — V. Ex., por sua honra, decline


os nomes dos Deputados que votaram no coronel Franco Ra-
bello.

O Sr. Moreira da Rocha — p0r sua honra, declino V. Ex.


os dos 22 que deixaram de comparecer.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 295

Borges — 15
0 Sr. Frederico Já disse que foram ; os no-
mes de 13 estão no telegramma, e cito xnais os de Monsenhor.
Pinto e do Sr. Jovino Pinto.

O Sr. Moreira da Rocha — E que os amigos de V. Ex.,


por
assim em maioria, como allega, não foram reconhecer o ge-
neral Bezerril ?

O Sr. Frederico Borges — E a mashorca, e as bombas de


dynamite não eram para recear ?

O Sr. Moreira da Rocha — Isto é fantasia de V. Ex.

O Sr. Frederico Borges — O coronel Thomaz Cavalcanti

que diga si é fantasia, e o infeliz Dr. Bezerra, victimado por


uma bomba...

Sr. Moreira da Rocha — Sr. Presidente, o Sr. Deputado


O
Frederico Borges quer até invocar o testemunho de quem já
morreu... Como o Sr. Affonso Bezerra podia vir dizer ao

Congresso si foi ou não fantasia?

Frederico Borges — De morreu elle?...


O Sr. que
C. J• •

O Sr. Moreira da Rocha — Elle é não vir dizer;


que pôde
é humanamente impossível.
Não será capaz, toda a sua audacia se esbarrará, por certo,
deante da lisura e patriotismo com que se houve o Sr. Presi-
dente da Republica na questão da successão presidencial do meu
Estado.

O Sr. Frederico Borges — V. Ex. decline os nomes dos


Deputados que votaram 110 reconhecimento do coronel Franco
Ilabello.

O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. declare nos nomes dos


Deputados que votaram contra.

O Sr. Frederico Borges—Estão declarandos; e elles protes-


taram immediatamente contra o reconhecimento.

Moreira da Rocha — As assignaturas desse tele-


O Sr.
gramina talvez sejam tão positivas como a do telegramma com
a assignatura do Sr. João Claro, que estava em Paracatuba.

O Sr. Frederico Borges — Paracatuba está a menos de uma


hora da capital.

O Sr. Moreira da Rocha — Podia assignar telegramma na

capital?

O Sr. Frederico Borges — Havia impossibilidade do dele-

gar podores?

O Sr. Joaquim Pires —¦ O coronel Franco Rabello não é

governador do Ceará ?

O Sr. Moreira da Rocha — E'.

O Sr. Joaquim Pires — Então 6 acabada.


questão

O Sr. Frederico Borges — Foi o eu disse: 6 facto con-


que
summado.
At>iNAKS 1J.\ GAMARA

O Sr. Moreira da lioclia — Está assim demonstrado que o


cdronel Habello nesta condições só podia ser reconhecido muito
legalmente e que essa historia de oito votos ó apertas uma í'a-
bula para entreter crianças sem somiio. Assim, tenho respon-
dido ao discurso do Sr. Deputado Frederico Borges. Antes, po-
rém, de me sentar, eu preciso de, contrariando embora os meus
hábitos de nunca me referir á minha pessoa, declarar a V. Ex.
e á Camara que estas palavras são dictadas pela consciência de
quem, desde os bancos acadêmicos, traçou uma x-ecta para a sua
vida publica e particular e que se ufana em declarar ter a con-
Vicçfio de havei-a trilhado é esperar 1'azel-o sempre sem o menor
desvio. (Muito bem; muito bem.)

E' encerrada a 3" discussão do n. 44, de 1912, e


projecto
adiada a votação.

2" discussão dò n. 05, de 1912, autorizando a abrir,


projecto
pelo Ministério da Guerra, o credito de 3.000:000$, supple-
mentar á verba 13* do art. 18 da lei n. 2.544, de 4 de janeiro
do corrente anno, para as despezas com diversas obras.

Entra óm discussão o artigo unicò.

O Sr. Frederico Borges — Peço a palavra.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Frederico Eorç/es — Sr. Presidente, a V. Ex.


peço
que se diprne de me mandar um impresso do em dis-
projecto
cussão. (O orador é satisfeito.)

O phojccto fjne V. Ex.


poz em discussão autoriza o Poder
Executivo a abrir ao Ministério da Guerra o credito de
3.000:000!?, süpplliincrttar á verba 13° do art. lS da lei ii. 2.544,
de 4 de janeiro do corrente anuo, as ti&spfluâi ci)in divitr-
para
sas obras militares.

Tive occasião de ler com a devida aftenção o parecer da


honrada Commissão de Finanças sobre o mesmo projecto.
As considerações com que essa Commissão justifica o cre-
dito pedido calaram inteiramente em meu espirito.
Effectivamente essas obras, umas que estão em andamento

c outras que, por força de economia, tiveram de ser paralyzadas,


devem ser continuadas em virtude de credito quo agora é pe-
dido pelo Governo e cuja approvação a Commissão de Fi-
nanças pede á Gamara.

Manifestada por esta fôrma a minha opinião em relação ao


credito, credito avultado de 3.000:000$,para conclusão de obras
em andamento e outras, eu tenho necessidade, Sr. Presidente,
aproveitando a opportunidade de achar-me na tribuna, de to-

mar em considerarão o discurso acaba dè ser


que prahuilciado
pelo meu distineto collega representante do Ceará, cujo nome

peço licença para declinar, Sr. Moreira da Rocha.


SESSÃO MM 21 DE SETEMBKO DE 1912 297

Br. Presidente, quaudo o espirito patriotico daquelles que


se interessam sinceramente desenvolvimento e
pelo progresso
do paiz se preoccupa com os grandes e elevados assumptos que
devem constituir principalmente o objecto das nossas cogita-
ções e das deliberações do Poder Legislativo, sem
pareceria
duvida muito reparavel, sinão censurável, nos occupasse-
que
mos de questões de política local.

Mas, Sr. Presidente, si attendernios devidamente d impor-


tancia do assumpto que hoiitem me trouxe d tribuna in-
para
serir no-s annaes do Parlamento um significativo o
protesto
expressivo contra a maneira
por qüe foi investido do poder pu-
blico da primeira autoridade do Estado do Ceará o honrado
Sr. coronel Franco llabello; si nós at.tendermos a inttgni-
para
tude deste assumpto, que dffècta as instituições republicanas...

O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. nunca se preoccupou com


esses assumptos.

O Sr. Frederico Borges — .. .si nós, Sr. Presidente, atten-


dermos a que a vida dos Estados importa a vida da União...
O Sr. Moreira da Rocha — Perfeitamente:

O Sr. Fredetióo Borges — ...si nós, Sr. Presidnete, con-


siderarmos que não nos devefnos mostrar indiferentes aos abu-
sós, aos desmandos coinmettidos nso Estados com menosprezo
da Constituição Federal o das constituições dos Estados...

O Sr. Moreira da liocha — V, Ex. dá licença para um


aparte ?

O Sr. Frederico Iioryes — V. Ex. não precisa pedir litíença:


V. Ex. pôde dar os apartes que quizer.
O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. dá licença ? Eu, quando
orava, V. Ex. me deu uma porção de apartes, eu tomei em
qite
consideração.

Õ Sr. Frederico Borges — Perdão ! Isto é uma questão de


delicadeza. Interromper uma argumentação que está sendo oro-
duzida...

O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. me interrompeu e foi,


portanto, mdelicado.

S* Sr- Frederico Borges — Fica estabelecido e combinado:


v. i'A. pôde dar. os apartes que quizer sem ser preciso pedir
ncença. Vamos, lá, é o aparte
qual ?
® ^r\ Moreira da Rocha — V. Ex., hoje tão
i que se mostra
zeloso
pelo cumprimento das Constituições dos Estados e Fe-
«erai,
porque não protestou contra a reeleição do Sr. No-
Acciol>r> Porque não Sr.
a™ protestou contra a eleição do Josó
Pfira í" vice-presidente quando o Sr. Nogueira Accioly
nr...
era presidente do Estado ?

Cm VeZ ^isso' v- Ex- 0 foi applaudir


lU"3 fez e en-
dossar°
208 ANNAES DA GAMARA

O Sr. Frederico Borges — Acabou ? Resposta: Admitia-


mos que todo esse rosário de accusações que V. Ex. fez seja
a verdade...

O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. applaudiu.

Sr. Frederico Borges — Perdão i Então não acabou


O
ainda...

Pergunto eu: todos esses erros que V. Ex. aponta justi-


ficam esses outros abusos de que eu estou tratando ?

O Sr. Moreira da Bocha — Não mas mostram


justificam,
a coherencía com que V. Ex. tem procedido.
O Sr. Frederico Borges —Sr. collega, aqui na Gamara não
se discute assim. Si V. Ex., aqui, quizer discutir commigo tomo
suas notas e, usando da palavra, conteste minhas affirmativas.

O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. deu constantes apartes


quando eu íallava, com o mesmo direito com que eu agora o
aparteio.

O Sr. Frederico Borges — Ora, Sr. Presidente, achava-me


deduzindo argumentos para mostrar que o objecto de
que me
occupo neste momento não é de somenos importancia, como
de somenos importancia não é o elevado que se discuto
credito
para as obras do Ministério da Guerra, quando fui interrom-
pido no desenvolvimento destes argumentos pelos apartes im-
pertinentes do honrado Deputado, que insiste em que continua,
perturbar a resposta que lhe
privar de tratar
devo e em me
de assumpto também de elevada magnitude, qual o modo por
que foi feita a substituição governamental no Estado do Ceará.

O Sr. Moreira da Rocha — Declaro a V. Ex. não abro


que
mais a bocca.

O Sr. Frederico Borges — E' prudente.


Sr. Presidente, o nobre Deputado, no seu longo aparte,
referiu-se á
política de meu Estado
historia e me emprestou
influencia que eu nunca tive na direcção política do mesmo.
Simplesmente representei aquelle Estado, que me honrou com
a sua confiança desde a Constituinte, e anteriormente 110 re-
gimen monarchico.

Eu, Sr. Presidente,


jamais tive urna posição de influencia,
tive um voto
decisivo nas questões políticas que afe-
jamais
ctavam o meu Estado. Sabem disso todos os meus compa-
nheiros de bancada, sabe disso o Dr. Accioly, cujo nome foi
citado.

Quando S. Ex., saiba a Gamara, e eu aproveito a occasião

para dizel-o, quando S. Ex. o Sr. Accioly. em um dos períodos


do sou governo, entendeu conveniente reformar a Constituição
do Estado, para_se reeleger e para tornar possível ou constitu-
cional a successão, fui um dos que se insurgiram contra essa
resolução porque a julgava contraria ao nosso pacto fundamen-
tal. Saiba V. Ex. que mo manifestei contrario a isso.

,0 Sr. Moreira da Rocha — Da tribuna da Camara ?


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO 1)E 1912 290

O Sr. Frederico Borges — Ha muitos modos de uma pessoa


manifestar a sua opinião, e eu o fiz declarando aos meus com-
e amigos que era contrario a isso e que esse acto
panheiros
viria collocar o nosso Estado em uma situação passivelde cri-
tica severa e justa. Era quanto eu podia fazer na occasião—era
levar a palavra amiga ao governador do Estado, amigo do meu
Estado, mostrando-lhe os perigos. Agora, si o nobre Deputado
entende que eu, por esse acto e por outros dos quaes pudesse
divergir da administração do Estado, devia vir romper em hos~
tilidades, crear embaraços á politica do Ceará, é isso o critério
de S. Ex.

O Sr. Moreira da Rocha — Apoiado. No dia em o


que go-
vernador do Estado- se desviar do que julgo legal e justo, rom-

perei com elle.

Sr. Frederico Borges — Isto é


O {rindo) que é um homem
de coragem ! E' valente a valer. E' pena que não o tivessem
mandado para cá ha mais tempo.

O Sr. Moreira da Rocha — Tenho coragem civica. Nunca


fui passivo; nunca applaudi acto», julgando-os máos.

Sr. Frederico Borges — E' não tivessem


O pena que apro-
veitado este homem mais cedo.

O Sr. Moreira da Rocha — Nunca fui aproveitado porque


nunca quiz ser escravo.

O Sr. Frederico Borges — ó tem esse máo ?


Quem que gosto

O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex., foi escravo do


que go-
verno Accioly durante 20 annos. V. Ex. applaudia aqui muita
cousa que estava em desaccôrdo com a sua consciência.

O Sr. Frederico Borges —E' o meu foi doce o


que jugo
tolerante.

O Sr. Moreira da Rocha — Eu não esse doce.


queria jugo

Frederico Borges — Entretanto V. Ex.,


O Sr. que faz praça
do seu coragem patriótica,
civismo, daestá sua carregando um
andor desmoralizado,
completamente que foi levado por oito
gatos pingados de uma assembléa. V. Ex., que se diz homem de
honra e dignidade, não 6 capaz de contestar que o Sr. Franco
ltabello tivesse mais de oito votos.

O Sr. Moreira da Rocha — Decline o nome dos vota-


que
ram.

O Sr. —
Frederico Borges Sr. Presidente, peço a V. Ex. que
me mande fornecer o Diário Official em veem os nomes
que
dos 15 Deputados á Assembléa do Ceará votaram contra.
que
O Sr. Moreira da Rocha — Peço a V. Ex. decline os
que
oito que votaram a favor.
O Sr. Frederico Borges — satisfeito). A situação em que
(E'
o nobre Deputado se colloca a resposta
para perturbar que
devo ao seu discurso, escripto e lido a Cainara, tra-
perante
balho todo meditado, baseado em factos do passado, inas sem
300 ANNAK9 ÜA CAMARA

nenhuma importância pára o presente, demonstra que pretende


contradíctar-nle de um modo systematico o caviloso.

O Si-. Moreira da Rocha — Estou calado.

O Sr. Frederico de meia hora que V. Ex.


Borges — Ha mais
está que está calado e fallando constantemente.
dizendo (1Uso.)
Appello para a lionrr. e a dignidade do nobre Deputado para que
decline os que votaram no coronel Franco Rabello para gover-
nador do Estado.

O Sr. Moreira da Rocha—E' o que estou pedindo a V. Ex.:


que declino os oito que votaram a favor.

O Sr. Frederico Borges — O nobre Deputado me a


pede
prova. Vou dal-a cabalmente.

Sr. Prseidente, a Assembléa Legislativa do Estado do


Ceará compõe-se de 30 membros. Um delles, o Sr. Meton de
Alencar, renunciou o seu mandato e achava-se no Estado de
Minas, creio
que em Juiz de Fórà, na occasião em que se deu
o reconhecimento. Achava-se nesta capital um outro deputado
estadoal, o Sr. Jorge de Souza, genro do Sr. Accioly.

O Sr. Moreira da Rocha — Elle saliiu daqui no dia 10 e o


reconhecimento foi no dia 11. Não estava, portanto, na capital
nessa occasião: estava no mar.

O Sr. —
Frederico Borges Tembs, portanto, reduzido o nu-
mero de 30 a 28. Desses 28, 15 deputados não cõmpareceram á
sessão.

O Sr. Moreira da Rocha — Todo o meu empenho está em


saber quaes os oito votaram a favor.
que
O Sr. Frederico Borges — Desses 28, aqui se acham 13
deputados, que não compareceram e são os seguintes: Lou-
íetiço Feitosa, Oscar Feital, Guilherme Moreira, João Gui-
lberme, Raymundo Salles, Tiburcio Gonçalves, João Carloã,
Antônio Corrêa, Guilherme Rocha, Padre Máximo, Alfredo Du-
tra, Alves Rocha e Casemiro Montenegro.
A esses podemos juntar o nome do respeitabilissimo mon-
senhor Vicente Pinto, 14, e mais o do Sr. Rocha, (pie se adiava
ausente, em 1'ernamliuco, r. que acompanhou os 13.
Temos 15 deputados. Para 28 qual 6 a maioria?

O Sr. Moreira da Rocha — E V. Ex. faz favor de citar os


nomes dos oito.

O Sr. Frederico Borges — Eu não estou aqui para denun-


ciar, nem tenho de memória os nomes dos oito. Quero provar
á Camara, e ficou de modo irrespondível, que uma
provado
minoria facciosa...

O Sr. Moreira da Rocha — Isso diz V. Ex.

O Sr. Frederico Borges —... reconheceu como primeira


autoridade do Estado o Sr. coronel Franco Rabello.
Eis o attentado, o
golne na Constituição do Estado! Eis o
menoscabo pelas instituições do paiz, o facto gravíssimo que,
se ficar sem um protesto, sem uma medida seria e energica,
SESSÃO EJVt gl PE SJSTEMBf^O DE 1912 301

constituir^ um precedente funestissimo, de consequencia as


mais lamentáveis para o paiz!
será
Jioje é fácil esse assalto ao poder, no Ceará; amanhã,
em outros Estados e, depois, ató na própria União, assaltada a
presidencia da Republica, por esses meios laceis, indecorosos
e insustentáveis! , . ,
Eu, Sr. Presidente, desde o começo da situação tristíssima,
meu Estado, tive a idéa de apresentar á Ca-
pela qual passa
mara cios tèrs. Deputados uma indicação fosse enviada á
que
Cominissão de Constituição e Justiça para, tomando conhe-
cimento dos factos, pronunciar sou voto a respeito e a Camara,
em plenário, decidir. Mas, Sr. Presidente, circumstancias
alheias á minha vontade, circumstancias gravíssimas, lamen-
taveis e que ainda persistem, teem demorado minha acção.
companheiro no Estado do
O valoroso que nós tínhamos
Ceará, representante do Partido Republicano Conservador, o
nosso illustre collega Sr. Thomaz Cavalcanti, alli foi victima
de um attentado hediondo.

O Sr. Moreira da Rocha — E nós o condemnamos.

Tive occasião de o dizer aqui, da tribuna da Camara, logo


no dia seguinte.

O Sr. Frederico Borges — E ainda hoje soffre as conse-

quencias da bomba de dynamite, que foi atirada por um in-


ferior do Exercito, e não tem podido comparecer á Camara e
exercer sua acção em defesa dos princípios constitucionaes e
do bem do Estado do Ceará. Nós quizeramos ter uma acção
eonjunota neste assumptogravíssimo, não pelos interesses

ephemeros dapolítica de momento, mas como uma garantia,


como uma homenagem ao principio fundamental da Consti-
tuição e, finalmente, como uma medida preventiva, para evitar,
no futuro, novos attentados desta ordem.
Posso dizer de fronte erguida e com a maior isenção de
animo: não me pessoa do actual detentor
revolto contra do a
nelle, antes, qualidades apreciaveis
poder em meu Estado; vejo
de um cidadão digno por todos os títulos; vejo um militar de
nome feito e honrado na sua classe; e, ató agora, posso accres-
centar, não tenho motivo para impugnar nenhum, de seus actos.
Mas, Sr. Presidente, dahi para reconhecer a legalidade
da sua posse, dahi para ir até ao ponto de voltar a cabeça si-
lencioso, indifferente a um attentado daquella ordem, vae

grande distanciai Seria um esquecimento completo dos prin-


cipios fundamentaes pelos quaes se rege a nossa nacionalidade:
seria o abandono de tudo quanto é serio, digno e respeitável
em uma sociedade regida por autoridades constituídas.
Eis
o motivo por que protesto; não por ter interesses
subalternos nessa questão, porque, se interesses subalternos
pudessem influir em meu espirito, eu estaria do lado do no-
br? Deputado, e de outros estão carregando esse andor
que
feito por meios inconfessáveis, indignos e condemnaveis.j

{Aparte do Sr. Moreira da Rocha.).


A Constituição foi pisada, foi violada!
i
E que queremos nós 4
302 ANNAES DA CAMAHA

Queremos que a Constituição seja levantada, seja respei-


tada, em honra da Republica, ainda seja o mesmo
que co-
ronel Franco Rabello mas o seja com
presidente, que a sua
posse legalizada.
A
maneira por que elle está collocado no
poder é uma iro-
nia, um -atroz
é labéo lançado aos poderes constitui-
públicos
dos, que nao teem força para lazer respeitar a lei suprema
do paiz.
Sr. Presidente, neste ponto, tendo-me referido ao dis-
curso do nobre Deputado,
quando S. Ex., invocando as garan-
tias prestadas ás parcialidades do Ceará, trouxe
políticas a
debate a pessoa do_ honrado Presidente da Republica, devo
dizer que 110 caso não ha necessidade de envolver o> nome do
Presidente da Republica.
qoando a sua personalidade tivesse de ser arrastada a
i
este debate, eu seria o primeiro a dizer, alto e
bom som: S. Ex.
íoi íllaqueado na sua boa fé, como illaqueado na sua boa fé
loi o cnete do Partido Republicano Conservador, aos quaes
o noDre .Deputado e seus amigos levaram a persuasão d© que
tinham elementos na assembléa fazer
para reconhecer o seu
candidato.

O Sr. Moreira da Rocha dá um aparte.

O Sr. Frederico Borges


não —
é modo Isto de discutir;
ouça com paciência a refutação ao seu discurso, e, se quizer,
escreva outro
para me responder, (llisos.)
O Sr. Moreira da Rocha — V. Ex. também me aparteou.
O Sr. Frederico Borges — Apartear
voei- é uma cousa;
ferar, como
V. Ex. está fazendo, é outra.
(Risadas.)
br.
Presidente, o nobre Deputado, querendo acobertar-so
com o manto da legalidade para justificar o
passo que S. Ex.
aíni&0s deram 110 Estado do Ceará,
^rvIiV.il querendo ficar á
.somnia da moralidade para embahir a opinião publica, veiu
Para este debate o nome do honrado Sr. Presidente da
ite.puDlica,
quando o que (! certo, o que é transparente, o que
«sta saltando aos olhos de todos é que S.Ex. foi victima dos
processos menos claros do honrado Deputado e de seus
.amigos...

O Sr. Moreira da Rocha — Não apoiado.


Síl'
Borges —F/a(lerico
... fazendo
n vi convencer ao Sr.
Presidente da Republica e ao chefe da Republicana
política
Conservadora do paiz dispunha de elementos
que capazes, na
Assembléa, para reconhecimento do seu candidato.

O Sr. Moreira da Rocha — Tanto dispunhamos que reco-


nhecemos; invoco o testemunho do coronel Agobar, para quo
elle diga si houve ou não garantia.
O Sr. Frederico Borges — Sr. Presidente, o coronel Ago-
bar e um homem de bem, e duvido venha dizer
que elle que
o nobre Deputado e seus amigos tivessem maioria na assembléa
para reconhecimento do seu candidato. Duvido que S. S. sus-
tento semelhante cousa.
SESSÃO EM 21 DK SETEMBRO DE 1912 303

V. Ex., não pôde estar jogando com o nome de um homem


de bem, para acobertar e justificar semelhante attentado.

O Sr. Moreira da Rocha — O coronel Agobar vem por ahi


ha de declarar que não compareceu á assembléa não
quem
quiz.

O Sr. Fredrico Borges — E' a lógica do nobre Deputado...

O Sr. Moreira da Iiocha dá outro aparte.

O Sr. Frederico Borges -r- Sr. Presidente, não meios de


ha
conter o nobre Deputado. (Risos) S. Ex. isto é es-
pensa que
cola publica de outros tempos.

O Sr. Moreira da Roclia — Não frenquentei escolas de ou-


tros tempos; isso e com V. Ex.

O Sr. Borges — As
Frederico interrupções constantes do
nobre Deputado,
que não me quer ouvir, isto é, que quer evitar
que a Camara ouça o que de irregular, de immoral, se passou
•nesse acto do
do actual detentor do
^reconhecimento poder no
meu Estado, sao o meio de
que lança mão para não calarem 110
espirito da Gamara os meus argumentos.
Mas, Sr. Presidente,
infructiferps são os esforços do no'-
bre Deputado
para justificar esses attentados á Constituição
ao Estado do Ceara e aos iundamentaaes
princípios da Con-
stituiçao da Republica.
S. Ex., não podendo justifical-os, veiu apegar-se a factos
passados no período governamental do Dr. Pedro Borges.
Sr. Presidente, chegava quasi ao termino do seu período
governamental o Sr. Dr. Pedro Borges, executando-se
quando,
a lei do sorteio para o serviço militar da Marinha, se formou
uma (jrevc no Estado do Ceará e o primeiro movimento dos
grevistas foi negarem-se completamente ao serviço de embar-
que e desembarque, procurando crear toda sorte de embaraços
a administração.
Ora, Sr. Presidente, conhecendo o facto, o Sr. Presidente
do Estado cleu as suas ordens á Força Policial,
mandando
guarnecer ospontos de embarque e do desembarque. Essas
ordens foram as mais terininantes, 110 sentido de garantir a
liberdade de trabalho; quem quizesse trabalharia e quem não
quizesse trabalhar não seria forçado a fazei-o.
Depois dessa ordem, S. Ex. accrescentou ao então com-
mandante do Corpo de Segurança, major Francisco Cabral
iia Silveira, dar testemunho
que pode solemne da verdade do
que estou affirmando, que, fossem fossem
quaes os insultos,
os impropérios atirados ã força, olle «estanhasse a cara» (fo-
iam as expressões dio governador) e só agisse quando mate-
nalmente aggredido.
Foi o que succedeu. Depois dos maiores impropérios ati-
raclos ao commandante, officiaes e soldados se adiavam
que
°. P011''? ('e desembarque, um grupo, animado pela
Pssjbilidado, ate então mantida pelos representantes da
aui.oriciade, começou a agir: atirou-se a um escalei- que vi-
1111a ae bordo, trazendo pessoas
que desembarcavam, aggrediu
304 ANNAES DA GAMARA

os remadores e apoderou-se dos remos, e, ao mesmo tempo,


outro grupo atirou-se sobre os soldados, matando logo um
delles. A. força reagiu e dahi resultou a morte de um único in-
dividi.)p; um rapaz portuguez, empregado em uma padaria.
Em poder do morto, que tinha sido um dos que mais se at-i—
ravam contra a força, foi encontrada uma enorme faca.
Para dar testemunho da maneira por que o correcta
Presidente do Estado soube manter o prestigio da autoridade
e a ordem publica, vou r rrftr o seguinte incidente:
garantir
O cônsul portuguez, que de alguma fôrma era sympa-
thico a esse movimento, representou então ao Ministro do
Exterior, Sr. Barão do Rio Branco, e tal foi a resposta dada

pelo Presidente do Estado que a reclamação não teve anda-


miento. Não se tratava de um cidadão portuguez que tivesse
sido offendido accidentalmente em um tiroteio: era um indivi-
duo revoltado, que se achava armado e que, na occasião da força
publica repellir uma aggressãp, tinha sido attingido um
por
tiro.

O Sr. Moreira da Rocha — iNão faça essa injuria ao


rapaz.

O Sr. Frederico Roryes — Estou me referindo ao que


oonsta de documentos públicos, O nobre Deputado, querendo,
poderá verifical-o.
O neto do energia do Presidente cio Estado, fazendo frente
ao movimento sedicioso, foi a defesa da ordem do Estado, a
segurança <Ja sua população e a garantia do governo
proprio
que, sf> assim não tivesse agido, toria tido a sorte teve o
que
J)r. Nogueira Accioly, .enxotado do seu Estado, dentro de líi
horas, em companhia de sua respeitabilissima famiiia.
O testemunho do nobre Deputado não tem mais valor do
que o de innumeras victimas das diatribes e das tnupelias dos
soldados desenfreados. Entre as testemunhas daqueltas scenas
acham-se, entre outras victimas do desrespeito daquella sol-
dadesca desenfreiada, a Exmá. .esposa do Sr. Thomaz Accioly.

<) Sr. Moreira da Rocha — Tenho respeito díi


duvidas a
declaraçao de Y. Ex., porque não é possível esta senhora
que
tenha affirmado fôra injuriada.
que

O Sr. Frederico liorues — Eis o argumento com que o


nobre Deputado quiz responder a um facto verídico, incon-
testavel, que se impõe com a firmeza de uma cousa indes-
truotivel,apavorando os ânimos daquelles que patrioticamente
se interessam pela sorte da Republica e veein assaltada a ca-
deira de Presidente de um Estado pelo inodo irregular e con-
demnado por que o foi
a do Estado do Ceará.
Não posso 110 momento lembrar-me de todos os pontos do
aranzel... (
U Sr. Moreira da Rocha — Muito obrigado.

O Sr. Frederico Boryes — ... o nobre Deputado


que
trouxe para a Gamara.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 30S

0 Sr. Moreira da Rocha — Mas não deixei de responder


a todos os apartes de V. Ex.

O Sr. Frederico Borges — Mas o é incontestável 6


que
que o nobre Deputado, na sua longa oração eseripta, não
trouxe um só argumento que viesse destruir a affirmativa
grave, da maxima importaücia, que eü havia trazido para a
Camara, de que o honrado Sr. Franco Rabello havia se sentado
na cadeira de Presidente do Estado do Ceará, reconhecido por
oito Votos, em unia asSembléa de 30 Deputados.

O Sr. Moreira da Rocha — Não apoiado.

O Sr. Frederico Borges — O telègráínina hontem, a


que
pedido do meu digno Collega, o Sr. Thornaz Cavalcante, trouxe
ao conhecimento da Câmara, revela ainda mais outro attôh-
tado, praticado dó maneira düe não classificarei de cynico,
por ser um adjectivo offensivo, mas que evidencia o modo
condetniiavel por que se vae fazendto administração no Estado
do Ceará.

O illustre Sr. coronel Franco Rabello, de da ca-


posse
deira de Presidente do Estado, pelo processo que a Camara
conhece e que eu denunciei, tem necessidade da Assembléa
Legislativa para as medidas de ordem publica e de conve-
niencia para a administração.

Mas, Sf. Presidente, esta Assembléa, em sua maioria é


ciontraria ao reconhecimento ao S. EX.; ella declara que este
Presidente foi illegalmente reconhecido; ella não Se tem reuni-
do; e, tendo de funccionnr no dia 1 de agosto, a
para proceder
eleição da Mesa, compareceram 13 Deputados dos não
que
accordaram no meio de ser reconhecido o Sr. coronel Franco
Rabello.
Estavam presentes 26 Deputados; destes, 13 votaram, para
presidente, no Sr. coronel Antonio .losé Corrêa.

O Sr. Moreira da Rocha — E 13 no coronel Belisario,


não ?...

O Sr. Frederico Borges — A acceitar-se o nobre


que o
Deputado está dizendo, teríamos o seguinte: o Sr. coronel
Belisario Cícero Alexandrino votou em sua própria pessoa.
Abi está a maneira por que vai funccionando a Assembléa
do Ceará. (Continuam os apartes do Sr. Moreira da Rocha.)
Peço ao illustre collega que attenda a que está na Camara
dos Deputados que,e ao mesmo tempo, não faça um discurso
parallelo ao meu.
Os 13 Deputados, expoliados em seu voto, reclamaram
immediatamonte, a apresentação das e o
pediram cédulas,
Presidente não os attendeu; um delles tomou a palavra para
protestar e ella lhe foi cassada. Retiraram-se, então, e a As-
sembléa ficou funccionando com a minoria, acabando deste
modo do eleger a Mesa.

O Sr. Moreira da Rocha — Acabaram ? !


Vol. 20.
'
306 ANNAES DA CAMARA

O Sr. Frederico Borges — V. Ex. sabe a votação se


que
faz por partes.

O Sr. Moreira da Rocha — Não senhor, vota-se, na mesma


occasião, ein tres urnas.

Frederico Borges — A Mesa da Assembléa assim


O Sr. foi
constituída illegalmente, com iraude e má fé. (Protesto do
Sr. Moreira da Rocha.)
Assim verifica V. Ex., como ainda hontem verificou
assignaturas dos 13 Deputados expoliados do seu
pelas
direito, a maneira por que está funccionando a Assembléa
e por que se vai tratando da causa publica no Ceará.
Como disse, aproveitei-me da discussão desse credito,
assumpto que faculta ao Deputado produzir considerações po-
liticas,para responder immediatamente ao discurso do nobre
Deputado; e, no desenvolvimento de minhas ponderações, de-
ciarei ser pensamento nosso trazer á Camara uma indicação,
afim de que esta Assembléa, como poder político supremo,
tomando conhecimento das irregularidades, das monstruosi-
dades, que se deram no Ceará, ouça a douta Commissão de
Constituição, ernitta o seu voto, profira sua decisão.
O motivo da demora havida é geralmente conhecido: é
o estado precário da saúde do nosso illustre collega, Sr. coro-
nel Tliomaz Cavalcante. Desejamos ter, nesse caso, acção eon-
juneta, sem irritar os espíritos, sem apaixonar o debate, sem
nos insurgirmos do modo a parecer que interesses de ordem
inferior nos animam e influem sobre nós nesta questão

O Sr. Moreira da Rolta — Dissimulação.

O Sr. Frederico Borges — De dissimulação usa V. Ex.;

não queira attribuir-me suas qualidades.

O Sr. Moreira da Rocha — Deus me livre 1

O Sr. Frederico Borges — Não queremos sinão evitar que


um precedente funestissimo fique encravado, entranhado na
vida republicana. E' preciso que, ao monos, conste a todo o
tempo.

O Sr. Moreira da Rocha — E' a mesma ccnlilona de Per-

nambuco, da Bahia.

O Sr. Frederico Borges — V. Ex. quer procurar compa-


nheiros para acto monstruoso como este ? Não encontra. JGm
Pernambuco, o reconhecimento podia ser feito com qualquer
numero.

O Sr. Moreira da Rocha—Não precisamos de companheiros.

Frederico
Sr. Borges O nosso fim —
é pacifico, é de
O
simples de simples constructores do uma obra
protestantes,
não será do presente, mas do futuro; e não estaríamos
que
mesmo longe de, acceitando o facto consumado, concordar em
em sua maioria, expressão da opinião do
que essa Assembléa,
Estado, reconhecesse o actual detentor do poder, mas legali-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 307

zando o acto, em vista do voto solomne da maioria a seus


representantes, si isto se fizesse a lionra da Republica,
para
para o bem e moralidade do Estado do Ceará, para demon-
strar e significarpolítica entre
que a vida
nós ainda não ó
a abstracção da da dignidade
moralidade, poise ha ainda
republicanos que pugnam pela pureza dos princípios, que que-
rem a verdade das instituições.
Tenho dito. (Muito bem; muito bem.)
(Em meio do discurso do Sr. Frederico Borges, o Sr. Sa-
bino Barroso Júnior, Presidente, deixa a cadeira da presiden-
cia, que é occupada pelo Sr. Soares dos Santos, Io Vice-
Presidente.)

Documento m. 14

A POLÍTICA DA PARAHYBA — UMA CONFERENCIA IMPORTANTE

São assentadas as candidaturas

Apolítica da Parahyba levou hoje os Srs. Walfredo Leal


e Epitacio Pessoa a conferenciar com o Sr. Presidente da
Republica.
Dessa conferencia ficaram assentadas as candidaturas dos
Srs. Castro para Pinto
presidente, Antonio Pessoa para vice-
presidente, o Sr. Epitacio Pessoa para Senador e Maximiliano
de Figueiredo para Deputado.

Documento n. 15

Felizmente nós nos vamos todos acostumando aos pro-


cessosprofundamente democráticos por que se rege
este paiz.
Ninguém mais se espanta e já se confessa que francamente
quem elege os governadores dos Estados é o Governo da União.
Os nossos collegas do Jornal do Commercio. que tão bri-
Ihanteinente se teem batido pela libertação de alguns Estados,
até agora sujeitos ao jugo de perigosas olygarcliias, noticiando
hoje a conferencia havida entre os Srs. Presidente da Republica,
Dr. Epitacio Pessoa e Senador Walfredo sobre a política da Pa-
rahyba, disseram:
«Consta que ficaram assentadas as eleições do Sr.», etc.
E' de louvar a franqueza dos nossos collegas. Para que a
hypocrisia de attribuir ao povo essa cousa que elle nunca fez—
uma eleição ?

Documento n. 16

Epi-
Tivemos hoje para a volta do Sr. Dr.
uma explicação
tacio Pessoa á
política. S. Ex.,
actividade aposentando-se no
togar de Ministro do Supremo Tribunal Federal, será eleito
Senador Parahyba, conforme ficou assentado no Cattote,
pela
para depois tornar-se candidato á da Republica.
presidencia
E,_diz o nosso informante, que nos merece fé, esse programma
foi concertado de accòrdo com o Sr. Marechal Hermes.

Vj
308 ANNAES DA CAMARA

Documento n. 17

Parahyba, 12 — Monteirenses om armas, chefiados Santa

Cruz, victlmas despostismo oligarchia, publicaram seguinte

manifesto dirigido governo do Estado : « Nós, mon-

teirenses livros, independentes, não podendo supportar mais


tempo jugo tiranno politicagem estúpida intolerável aturar
chefe Pedro Monteiro, ante a qual não temos direi-
prefeito
tos, vontade, acção, onde vida, propriedade, liberdade adver-

sarios são seus caprichos brutaes, resolvemos que-


sacrificadas
brar duro
grilhão nos prende parte maldita escravidão le-
vanlando grito liberdade ou morte. Falta de garantias perinane-
cemos terror. Domina assassinato. Espancamento, mão trato,
castigo infligidos povo deram causa grande clamor. Chamando
armas defendemos nossos direitos, vidas, propriedades, liber-
dade, assaltados
prepotência, crime. Nossa liberdade vale nossa
vida. Na
qualidade homens livres não podemos calar grito in-
dignação revolta vil escravidão imposta prefeito, chefe terror,
iulgando-se soberano, esquecendo deveres povo, como carrasco,
;abor, supina ignorancia, fria perversidade. Nossa única aspi-
ração sermos livres, firmamos grande principio soberania po-
pular, exercício direito livremente elegendo nosso chefe, con-
servar, bem servir, repudiar, apeiar poder, trahir: confiança

publica, estima, vontade seus administrados. Desenganados


meios legaes reclamados governo politicagem incomprehendida
avassala direito, lei, justiça, consciência, moral, religião. Lan-
çamos mão recurso, extremo reacção armada, ultimo direito
oppriinidos; exigimos restauração direitos políticos cidadãos
brazileiros, assegurados Constituições, firmados tyrannia
poder. Satisfeita pretenção, única aspiração rendermos armas
obedientes governos prestando serviços. Nada mais, portanto,
exigimos garantia lei. Confiados esperam governo resolver si-
tuação sem consultar áulicos, optando restabelecimento im-
perio lei contra extermínios irmãos. Usurpadores meus direi-
tos, oppressores liberdades poderão chamar-nos perturbadores
ordem. Usamos único direito de governo bello exemplo civismo,
tolerando livre exercido direitos garantidos constituições, verá
benefícios^ Effeito, não domina idéa crime, mas conseguir li-
herdade não regatearemos preços. Para pagarem sangue nossos
irmãos, caso derramado fizemos prisioneiros verdugos pre-
feito, seus principaes auxíliares, responsáveis situação peri-
gosa desgraçada queremos restauração nossa liberdade, amnis-
tia, perdão todos actos imputados malfadada questão, compro-
misso restituir liberdade refens esquecimento resentimentos,
inauditas perseguições sendo felizes, jurando nome revolução
ante altar sagrado nossa liberdade derramar ultima gotta san-
gue armas mãosendo negados direitos justiça reclamados mes-
ma ordem, razão lei, liberdade ou morte nossa divisa. Chefe
movimento revolucionários bacharel Augusto Santa Cruz Oli-
veira.». Esperamos gravíssimos acontecimentos. Governo soli-
citou auxilio força pernambucana exterminar revolucionários,
faz refens nome povo. Peça intervenção Marechal Hermes.—
Lima Filho.

4
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 309

Documento n. 18

O SACCO DE GATOS

A nota que fez vibrar nestes últimos dias, o corpo do par-


tido situacionista na Parahyba, foi a da eleição de monsenhor
Walfredo Leal para supplente do general Pinheiro Machado,
na presidência do P. R. C.
Esta preferencia dada a um dos delegados representantes
do conchavo reconstructor da olygarcljia Alvarista, sacudiu
bruscamente as esperanças do outro, para quem convergiam
as probabilidades de predomínio político, no proximo período
governamental.
Entre os capa bodes e bodes capados, ultimamente Wal-
fredist.as e Epitacistas, ficou, por aquelle simplissimo lance
da politicagem, uma linha divisória, ante a qual elles estacio-
nam em espectfativa muito diversa o não sabemos se impro-
pria para a observação dos acontecimentos.
O presidente e principal chefe do P. R. C., tivesse ou não
tivesse a intenção de tornar claras as razões intimas da esco-
lha, em que naturalmente interferira, deixou-as, entretanto,
transparecer de modo a derruir muitas esperanças e dissipar
muitas duvidas no scenario desta comedia política, tendo como
principal protagonista o Dr. Epitacio Pessoa.
Foi elle que se superpoz ao centro da velha política oly-
garcha na Parahyba, dando-lhe novos moldes e outras bases,
que ora deslocam-se impulsionadas pela corrente caudal da
época de tranfliçio
por que passa a vida publica no paiz.
A multiplicidade de vistas e de forças sem ponto fixo do
convergência, para onde possam ser canalizadas as aspirações
do povo, sem garantias e sem direitos, a bater-se no seio da
estagnação moral em que naufragam todas as iniciativas, a
bem da moralidade o da ordem, está produzindo muito mais
do que produziria a aggremiação extemporânea das resisten-
cias opposicionistas, ainda sob as malhas da traição em que
foram envoltas.
Aqui onde os surtos do desespero de uns, o egoismo, a
vileza e a
perversidade de outros prepararam os dissentimen-
tos, a repulsa e a desordem no espirito dos dominadores o do-
minados, só poderemos voltar ao regimen da lei, restabele-
cendo pelo direito da força, o prestigio do direito sacrificado.
Não está, pois, no Dr. Epitacio Pessoa, negociando as po-
sições officiaes, ou em monsenhor Walfredo cedendo-as pela
pusillanimidade, a abnogação o o descortino do roformador do
que necessitamos !...
Destes dous chefes de
grupos arrastados subterranea-
mente, em sentidos oppostos o na contingência de abraçarem-
se na praça publica, poderá provir a continuação dos mes-
mos engodos, subterfúgios o deslealdades,—únicas armas quo
filies sabem manejar para a conquista do poder pelo despo-
tismo.
Felizmente, a vasa do servilismo que os acompanha, não
tem a solidez precisa a uniformidade do volume que ella
para
3Í9 ANNAES BA CAMARA

apparonta, achatando-se sobre os escolhos atirados em seu


caminho.
Ahi estão bem visíveis as tortuosidades onde elles atiram-
se uin contra o outro, partindo os elos do conchavo indecente
que os ligaraprovisoriamente.
As oscillações da cauda quo lhes serve de leme, na arris-
cada traves-sia do mar morto em que vae singrando sem rumo
a não do Estado, bastam-nos para o naufragio dos
prever via-
jores, so antes a ambição de um não fôr estrangulada pela
audacia do outro.
Não se comprehcnde a paz em um saco de gatos, cujos
mstinctos promovem a guerra pela conservarão.
própria *se
Esperaremos mais, convencidos de que a situação acla-
rara contra ambos.

Documento n. 19

O nn. FRANKLIN DANTAS ESCnEVIí AO DR. EPITACI0 PESSÔA

Eis a carta que o Dr. Franklin Dantas escreveu ao Dr.


Epitacio Pessoa, e cuja publicação foi autorizada autor ao
pelo
coronel Rego Barros :
«Exmo. Dr. Epitacio — Em um dos dias do
primeiros
corrente mez, um assassino profissional, ao serviço da oli-
garchia Machado, que com manda um
contingente de 150
forte
cangaceiros officiaes no Teixeira, prendeu o negociante João
Vieira de Lyra, casado com uma sobrinha minha; o capitão
Bernardo Limeira e família, o negociante Manoel Vieira, o
família do também negociante Severino Rego e a minha so-
brinha senhorita Ernestina, a todos detendo na casa de resi-
dencia primeiro,do sentinellas ás e tra-
pondo-lhes portas
zendo-os coagidos por toda a sorte de vexames.
Ainda mais. Estando eu, bem como o meu irmão Sérgio e
as minhas irmãs solteiras, a presente estação inver-
passando
nosa nas fazendas de nossa propriedade, sitas no município de
Alagôa do Monteiro, e encontrando-se fechadas as nossas casas
do Teixeira, aquelle assassino, de nome Augusto, mandou
occupal-as pela soldadesca, que nos roubou dinheiros, jóias e
outros objectos, alóm de estragar os nossos moveis.
Accrescento que as minhas irmãs solteiras nenhum irmão
leem morando comsigo.
Para V. Ex.
não dizer que faço invenções, incluo uma carta
do paare Rodas, vigário do Teixeira e parente dos seus
reverendo
novos amigos dalli, cujo original remetto nesta data ao coro-
nel Rego Barras, deixando de mandar reconhecer a firma por-
que os infames compressores tentam contra a vida do> cidadão
Severino Rego, 2° tabellião da villa.
Minhas irmãs I)D. Celerinda e Maria Dantas, scientes
dos graves acontecimentos do Teixeira, partiram de suas fa-
zendas para coparticipar da sorte de suas sobrinhas, que lá
se acham detidas como os demais.
Não temos para quem appellar em semelhante conjuntura,
«m tão desgraçada emergencia, desde que um dos deseinbar-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBIIO DE 1912 JH

gadores do nçsso Superior Tribunal teve a honrosa e confiante


missão de eliminar o coronel Rogo Barros em S. João do Ca-
riry e no Supremo está V. Ex., na qualidade do grande patife,
dando os maiores desfrutes e desmoralizando o mais elevado
Tribunal do paiz.

Também não levo as minhas ao idiota João Sebo,


queixas
cumpridor das ordens de Ex., V. seria o meu
porque perder
tempo. Alguém sentindo-se coagido, appellou
que, para o liypo-
crita e inconsciente mata-mosquitos, nenhuma resposta obteve.
O façanhudo Augusto, assassino
capitão de com-
policia,
mandante força
aquartellada
da 110 Teixeira, além de reali-
zar os attentados acima, deteve cerca de 40 saccas de algodão
de minha propriedade, para atear-lhes fogo, bem como as
nossas casas 11a hypothese de que eu tome um desforço á mão
armada, já tendo na própria casa um deposito de petróleo para
incendiar a villa dos Dantas.

Telegraphei resumidamente ao Marechal Hermes, ao Cor-


rcio da Manhã e ao meu sobrinho Dr. Duarte Dantas, tão
sobre
lamentaveis acontecimentos e fil-o Alagôa de Baixo, do
por
vizinho Estado do sul, porque o telegrapho parahybano ó todo
oligarcha.

Depois do
que venhohistorico
de fazer, resta-me, em
nome dajnulher affrontada nas de mi-
parahybana, pessoas
nhas irmãs e sobrinhas, atirar, de par com o meu mais veho-
mente protesto, ás faces cynicas de V. Ex., o esputo da minha
justa indignação.

Todo o mundo sabe que a corrente militarista nos Esta-


dos oligarchizados é uma necessidade do momento e ninguém
a deterá, sobretudo o jovcn ministro, que 6 reconhecidamente
um homem indigno.

Acceite este protesto como a expressão do meu solemro


desprezo pela pouca vergonha de V. Ex.—Dr. Franklin Dantas.
Fazenda Pedro IÍ, 11 de maio de 1912.»
A carta do padre Rodas, a que se refere o Dr. Franklin
Dantas, é seguinte:
«111 mo amigo Dr. Franklin — Pax Domini sit vobiscum.
Estamos em tanta afflicção que nem tenho expressões.
Chegou noticia
que de se estavam
reunindo na Immaculada;
para atacar esta villa, e o capitão Augusto
prendeu João Vieira,
Bernardo Limeira e Anatolio, todos
que se acham aqui 11a
casa do João, juntamente com as famílias e
mais I). Ernestina.
Dizem os soldados estão aqui fazendo arma-
que guarda
uos, que si houver ataque á villa, todas estas vidas serão ti-
radas. Eu também estou aqui 11a casa do João Vieira, ao lado
•11 •».co que se compadeça de todos nós e não ataque a
villa. Mande-nos uma_ promessa que possa tranquillizar-nos e
por Nossa Senhora não ser derramado sangue
permitta tanto
«inocente.
T°das
as casas, da familia de V. S. foram invadidas nor
soiflaaos.Subscrevo-me com estima de
e consideração, V.*S„
am e servo em J. G. — PadireVicente F. Rodas. Teixeira, 5
de maio de 1912.» —
(Do Correio da Manhã.)
31? ANNAE8 UA GAMARA

Documento n. 2o

A INTERVENÇÃO

As festas
do officialisrno, pondo em evidencia :i pareiali-
dade general Torres Homem,
do actual chefe desta circumscri-
çao militar, hrmaram no povo paraliybano a convicção de que
a tyrannia que o opprime vem do alto: é o sentimento e o ar-
dos que defendem porque a continuação
precisam, desta
política de corsários, iIludindo a confiança e bôa fé do eleitorado
que os trouxera para os cargos representativos.
Aqui, onde o despotismo e a fraude fundaram,
lia vinte an-
nos, uma associação de especuladores sempre na posse do po-
der, seria lacil a reivindicação de nossa liberdade por meio
de uma nova conquista de nossos direitos,
si além, 110 centro da
iederaçao, pudéssemos encontrar o sentimento da justiça e a
verdade do nossas instituições republicanas.
Torres
Homem, sobre ora despenham-se
9 general quem
os blocos
apodrecidos da oligarchia Epitacio-Wal-
'™°i,0
apenas uni cumpridor de ordens,
que não quer ou não
pode descer a analyse dos acontecimentos nem conhecer as cau-
sas da luta entre perseguidores e perseguidos.
S. Ex., ao calor das manifestações ruidosas á custa dos
cofres do Estado ouvindo a vozeria bajulatoria
dos detendores
do poder, não descortina,
por trás da massa informe dos adula-
dores interessados, a revolta da opinião publica, assistindo ao
vilipendio da soberania popular, pela mesma força organizada
para defesa da democracia.
O que escrevem e entregam :í pqblicidado os gestores do
um partido desprestigiado e vencido por outro pm opposição,
uca destinado a uma triste pagina da historia politjca da lie-
publica, denunciando uma alta do Exercito, «de
patente mãos
dadas» com os déspotas da oligarchia parahyhana, prompta a
soterrar, sob pretextos imaginarios, as iniciativas dos que se
defendem ao lado da lei. 1
Infelizmente, a população desta capital assistiu, ainda
ante-nontom, a mais uma das scenas do vandalismo de nossos
contenaores, levando á recepção offerecida ao
partidária ge-
nora! lorres Homem a escoria dos arruaceiros, armados a re-
benque, a pistola Mauser e a sipó-púo, desafiando os adeptos
do partido adverso a fazerem manifestação
qualquer de sym-
pathia a seu candidato, em presença do interventor e chefe do
districto militar, tendo agora a sede entre nós.
Na gare ua estação da Great-Westorn. como na praça pu-
blica e nas ruas desta cidade,
levas da alludida rocepção des-
filaram, vomitando descomposturas ao partido Qpposioionista,
a seus chefes e a seu candidato á do Estado
presidência l...
De hombro a hombro com as autoridades policiaes, os des-
ordeiros (lavam tiros e verberavam insultos á dos in-
porta
fonsos a esta situação anarchica o desgraçada, no seio
da qual
o chefe do districto permanece sorridente o affcctuoso, roce-
bendo homenagens dos avnvrchizadores.
SESSÃO EJVI 21 DE SETEMBRO DE 1912 313

Si fugindo ú evidencia dos factos, acreditar


pudessemos,
na imparcialidade de S, Ex„ lhe pediariamos para abrir um in-
querito, em que fossem apuradas as aggressões, os distúrbios
e o pânico diffundido á noite, por diversos grupos que foram
levar-lhe na chegada a rubra solidariedade da tyrannia domi-

nante.
Promptificamo-nos a indicar os nomes dos aggredidos e
os onde foram vivar a S. Ex., e ao partido situacio-
domicílios
nista, mostrando afiados o sangue dos
punhaes para derramar
que forem ás urnas levar seus votos contra os candidatos offi—
ciaes.
E' assim que uma oligarchia vencida cede seu logar á ou-
tra a fundar-se sob os auspícios do poder absoluto no regimen
republicano !
querGomo que seja, nós saberemos cumprir nosso dever,

proseguindo na defesa de nossa causa.

Documento n 21

Do Correio de Campina extrahimos o seguinte telegramma,


endereçado Pr. Epitacio Pessoa ao coroqel Christiaqo
pelo
Laurintzen:

Rio, — Diga-me
30 consta acerca marcha cangaoei-
que
ros, si os que marcham sobre Soledade são os mesmos que
cercam Teixeira, ou si esta villa continua atacada.
Diga-me quaes disposições forca federal destacada
também
Campina, e da — Epitacio.
quo elementos dispõe defesa cidade.
Eis um documento do alto valor pelo qual se verifica quo
o Dr. Epitacio teve a veleidade de mandar fiscalizar o proprio
inspeotor regional general Torres Homem.
E' o extremo da vaidade e do egoismo.

Documento n. 22

PRESSÃO ELEITORAL

O Sr. coronel Rego Barros, candidato opposicionista ao


governo da Parahyba no pleito eleitoral que se deveria ter effe-
ctuado naquelle Estado, rocebou liontem o seguinte tele-
gramma:

«Campina Grande, 22 — Em de
virtude grande compressão,
ia opposiçao deste município resolveu fazer abstenção, afim de
evitar honrar com de pleito a victoria da intervenção
caracter
armada. Aguarde carta.— Affonso Campos.— Monsenhor Sal-
les, ex-bispo do Maranhão. — João Lourenço.»

Esse despacho
não differe, a não ser pela procedencia, de
muitos que o coronel recebeu, evidenciadores todos elles
outros
d" que os opposicionistas
parahybanos não poderam comparecer
ás urnas, em virtude da ar,cão compressora do governo estadual
e das forças federaes commandadas general Torres
pelo
Homem.
314 ANNAE3 DA GAMARA

O Deputado Hollanda, em aparte ao discurso de ante-


hontem, do Sr. Irineu Machado, sustentou que os soldados do
Exercito disseminados pelo interior da infeliz circumscripção
do norte, apenas estavam agindo no sentido de garantir as col-
lectorias federaes. Está a comprehender-se, entretanto, cjue
especie de collectorias elles
guardavam, transformados como
se achavam e ainda se acham em instrumentos da politicagem
do Sr. Epitacio Pessoa.
Os telegrammas dirigidos ao candidato da opposição não
deixam duvidas a respeito; e no caso
preferimos estar com a

palavra do honrado soldado da Republica que é o coronel llego


Barros, a crer de qualquer páo-mandado desse
nas affirmações
juiz do Supremo Tribunal, para quem a toga nada mais repre-
senta do que um meio 1'acil de arranjar uma situação de muita
folga, a qual tem do ser aproveitada nos boulevards europeus,
depois da sua elevação a Senador, na vaga do Sr. Castro Pinto.
Esse, o aspecto da Parahyba; essa, a consequencia utili-
taria do
simulacro^eleitoral de ante-hontem para os figurões
nelle envolvidos. E tudo está consummado. A opposição não
votou, porque não pôde votar. Mas, amanhã ou depois, o Sr.
Epitacio, por intermedio dos seus innumeros creados, mandará
affirmar pelos apedidos de qualquer jornal que esse não com-
parecimento ás urnas, dos adversarios do governo estadual, re-
presenta apenas uma fácil maneira de occultar uma innegavel
fraqueza política.
E isso não causará admiração a ninguém. O processo é
velho e usado por todo sujeito sem escrupulo para quem a
ancia de triumpliar não escolhe meios, tal como determina a
conhecida e sempre nova moral do Príncipe. Emquanto isso
se dá, o direito que tem o parahybano de escolher o seu
povo
natural dirigente vae por agua
a baixo, para gáudio dos in-
teresses subalternos engendrados entre o Marechal Hermes e
aquelle alto representante da justiça do paiz.

Documento n. 23

ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

Sobre o pleito para presidente deste Estado, realizado em


22 do corrente, recebemos os seguintes telegrammas :

Santa Cruz, 23 — Directorio Partido Democrata — Oppo-


sição Picuhy, deanteda pressão infame do governo, absteve-se
das urnas.— Directorio Democrata.

23 — Commissão executiva — A opposição reu-


Triumpho,
nida não visto não abrirem votar, as secções no dia de-
pôde
terminado.— Directorio da Conceição.

Patos, 23 — Dr. Lima Filho — O governo não fez eleição


e o escrivão não acceitou o nosso protesto. Assignamos este
em casa particular.
Povo opprimido e sob ameaças terríveis. —
Manoel Januncio.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 315

Campina Grande, 22 — Directorio Democrata —; Em vir-


tudo de
grande compressão o eleitorado opposicionista deste
município resolveu abstenção.—Affonso Campos.—Monsenhor
Salles.— João Lourenço.

Cajazeiras, 23 — Directorio Democrata — Resultado da


eleição aqui: Coronel Rego Barros, 150 votos; Drs. Lima Filho
e Silva Sobral, 150 votos.

Segue boletim pelo Correio.— Antonio Lacerda.

Soledade, 22 — Directorio Partido Democrata — A opposi-


ção daqui confiante na imparcialidade do tenente Cavardische,
sentia-se forte para pleitear eleição, mas em vista da falta de
garantias dominante em todo Estado e para não sacrificar ami-
gos jú privados de seus sagrados direitos evitando assim
maiores perseguições e protestos, resolveu unanimemente não
concorrer ás urnas. Saudações.— José Castor.

Cajazeiras, 19 — Directorio Partido Democrata — Chegou


forte contingente policial afim coagir liberdade do opposicio-
nistas.
Assumindo attitude agressiva procuraram o juiz de direito
e o chefe político que declararam ostensivamente não haver
pleito e que farão eleição a bico de penna. Reconhecendo
maioria opposicionista offereceram o terço da votação falsa,
não acceitamos.— Francisco Sobreira, presidente Directorio
Democrata deste município.

Patos, 20 — Dr. Lima Filho — Partido Democrata deste


município, não pôde comparecer ás urnas; sente-se coagido pela
força federal e policial. Grande numero de eleitores foragidos
no Rio Grande do Norte.
Ha absoluta falta de garantias.— Leoncio Wanderley.

Cabedello, 23 — Dr. Lima Filho — A chapa do Partido De-


mocrata, obteve aqui 32 votos. Saudações.— Comnvissão par-
tido.

Serra da Raiz, 23 — Redacção Estado — O resultado da


eleição: Coronel Rego Barros, 312 votos; Drs. Lima Filho e
Sobral, 312. Saudações.— Antonio Costa.

Triumpho, 23 — Dr. Lima Filho — A eleição em Princeza,


foi feita
a bico de penna, pelo governo e até agora ignoro o re-
sultado.— Vicente Carneiro.

Cajazeiras, 20 — Directorio Partido Democrata — Oli-


garchas estão fabricando eleição edifício collegio, obedecendo
instrucções Dr. Epitacio. Estamos coagidos.— Francisco So-
breira.

Pilões, 22 — Dr. Lima Filho — Este município tem 625


eleitores, o
governo conseguiu 193 votos e a opposição sob um
terror extraordinário, 71 voLos.— Directorio partido.

Pombal, 22 — Dr. Lima Filho — O Partido Democrata,


forçado a abstenção aqui. Saudações.— Aureliano de Almeida.
— João Carneiro.
'19 ANNAEB DA GAMARA

Illmo. Exmo. Sr. Dr, juiz seccional — O abaixo assignado,


advogado nos auditorios desta Capital, vem, amparado no
art, 45 do decreto n. 848, de 11 de outubro do 1890, impetrar
de S. Ex. uma ordem de habeas-corpus em favor do cidadão
brasileiro Othon Lyra, eleitor, residente e domiciliado no mu-
nicipio de Cabedello, preso e recolhido a cadeia publica da-
quella vi lia, desde o dia 22 do corrente mez, por ordem do de-
legado de policia, João José Vianna, vulgo Joca Pae Velho e,
também, uma ordem de habeas-corpus preventiva em favor dos
cidadãos, como o primeiro, brazileiros, alli, igualmente elei-
tores, residentes e domiciliados, de nomes; José Moreira Filho,
Aurélio Barreto Cavalcante de Albuquerque e Hermenegildo C.
da Cunha Júnior, os
quaes acham-se foragidos dos seus lares,
desde o dia 22 referido, em virtude de ordem de prisão que
lhes foi dada pela mencionada autoridade.

A prisão da primeira victima e a ordem de prisão das de-


mais, occorreu poucos minutos depois de haverem aquclle e
estes cidadãos eleitores, na eleição presidencial do Estado, roa-
lizada naquelle dia, votado no candidato do Partido Demo-
crata, coronel José Joaquim do llego Barros,

Em taos condições está evidente que a privação do direito


de liberdade que soffre o cidadão Othon Lyra e a ameaça de
prisão feita aos demais outros, ó arbitraria, illegal e iniqua,
já porque fere positivamente o art. 140 da lei n. 1.2G9, do
15 de novembro de 1904, e, sobretudo, irritantemente
porque
annulla e conculca os dispositivos claros e terminantes do
art. 72, §§ 13 e 14 do Pacto Fundamental da Republica, de 24
de fevereiro de 1891.

Isto posto, achando-se os já mencionados, cidadão Othon


Lyra, soffrendo um constrangimento illegal e os demais cida-
dãos indicados na imminencia do soffrerem igual constrangi-
monto, tudo com flagrante desrespeito aos direitos que lhes são
assegurados nas citadas,lei eleitoral federal e Constituição do 24
de fevereiro,
vem o supplicante V. Ex. a quem cabo
perante
expressa competericia para o caso nos termos do art. (30, lettra o,
da Constituição citada art. 04, do decreto n. 3.084, de 5 do
novembro de 1898 e art. 45 também do citado decreto n. 848,
de 11 de outubro de 1890, requerer para, com a urgência re-
commendada na lei, processar a respectiva ordem de habeas-
corpui, com a assistência do Dr. procurador da Republica.

Assim pede o supplicante a V. Ex. designação de dia,


hora o logar
para serem ouvidas as testemunhas presenciaes do
facto, abaixo arroladas, e ter objectivação o remedio impe-
trado.

Não instrue o supplicante a presente com a cer-


petição
tidão de prisão do cidadão Othon Lyra, pela impossibilidade
do poder obtel-a.

Outrosim deixa do sellar a presente, por determinação de


lei, uma vez que. trata-se de um crime político causa de reparar
violências soffridas por cidadãos eleitores no momento de
usarem dos seus direitos políticos.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 317

Pede deferimento.

Parahyba, 24 de junho de 1912.— Miguel Santa Cruz OU-


veira, advogado.
Não tomo conhecimento do pedido, por verificar-se da ex-
posição não ser o caso da competencia deste juizo.

Parahyba, 24 de junho de 1912.— V. Neiva.

Documento n. 24

TORTUOSA POLÍTICA

Pretender dosa direcção


negocios públicos, sem a con-
quista da pelos meios
opinião, legítimos, que a razão aconse-
lha, é tentar uma empreza arriscada, com a quasi certeza de
bem merecida derrota.
O governo, é uma funcção em que menos uma coacção
figura, para melhor caminho abrir aos sentimentos de bene-
voiencia, que rebentam do tronco da justiça, escudo com que
entram em combate os que se propõem a servir os interesses
collectivos.
As violências, pois, em diametral exposição, a paz e a
harmonia indispensáveis 'aos fins sociaes, que asseguram a
liberdade geral, quando invadem a região do bem e do verda-
deiro que procuramos attihgir, geram a desordem, que, por
ser latente em começo, nem por isso, são menos calamitosos
seus resultados, aggravados pela surpreza do momento ines-
perado do sua apparição.
Quem estudar o passado político d!a olygarchia, transfor-
mada, hoje em nosso Estado e, baptisada com o nome de colli-

gação olygarcha, não encontrará razões, que desviem o espi-


rito da convicção dos desastres oriundos do uma tal colligação,
sempre, testemunhando
grande crime de o
leso-patriotismo
pela aberração dos princípios constitucionaes violados.
Tão grande violência aos princípios democráticos fero
de morte qualquer obra emprôhendid>a por essa famosa colli-
gação Epitacio, Walfredo & Comp., desde, os seus primeiros
dias do existencia, convencida da fraqueza dos elementos reci-
procos, com os quaes pretendia mover-se, sob o intuito bem
manifesto de firmar um domínio, em solo reservado ao desen-
volvimento exclusivo dos germens republicanos, por mãos ha-
beis, nelle semeados.
Temos a prova dessa fraqueza reciproca procurando con-
stituir-se elemento de resistência e do valor contra o nosso
partido democrata em opposição ás olygarchias na retirada de
monsenhor Walfredo Leal, já apresentado pelo orgão do go-
verno como candidato a successão cargo este
presidencial,
disputado, na conferencia havida no Gattete em presença do
Presidente 'a
da Republica, pelo Br. Epitacio, advogando pre-
feroncia de seu irmão o coronel Antônio Pessoa, empregado do
Fazenda e deputado cstadoal para o exercício do ttlludido
cargo 1
318 ANNAES DA GAMARA

Da luta alli travada entro o representante d'a \clha oly-

garchia, monsenhor WalTredo Leal e o novo adepto da colli-

gação o Dr. Epitacio Pessoa, ministro do Supremo Tribunal


Federal, resultou a apresentação do Dr. Castro Pinto, com o
nome, do afinal representou-se essa comedia eleitoral que
qual
teve o desfecho que todos conhecem, no dia 22 de junho cor-
rente 1

Esta consequencia do absurdo político, eliminando o povo


de nosso Estado, que não foi ouvido o nem manifestou-se por
consulta de qualquer natureza, que fizessem-lhe sobre essa
combinação indecente, já, pelo constrangimento das partes
sem consentimento livre, ante os interesses antagonicos que
sustentavam; ambos reflectindo as vistas sórdidas da política

já, peja affronta aos preceitos básicos da Constituição


pessoal,
Federal, assente na mais apurada democracia, contraria ao
regimen olygarchico, eliminado, por completo, com a auto-
nomia dos Estados.
Não se tem noticia de desastre político, que, no passado
regimen de concentração monarcliica, se offerecesse a um'a
critica tão severa, como aquelle do qual assumiram a triste
responsabilidade os representantes da colligação olygarcha,
nessa combinação, cm que, como conspiradores contra a Con-
stituição Federal e contra a autonomia de nosso Estado, assi-
no exqulsito protocollo o funesto pacto do qual sur-
gnaram
Castro Pinto I
giu inesperada a candidatura presidencial do Sr.
ISão contentes com o assignalado despreso aos princípios
constitucionaes, quizeram mais um companheiro para a jor-
nada que deveria leval-os humilhados para as paginas da liis-
toria contemporânea.
E completou-se a obra nascida do mais lamentavel erro

político envolvendo em suas mil dobras, as esperanças do povo,


tão ingênuo em sua credulidade; arrastando-se muitas vezes,

por uma indignação justa, que inspira-lhe resoluções, sómente,


contidas por sua indole pacifica, sempre merecedora do ap-

plausos.
Alii das urnas, ou antes do bico da pemia
está como sahiu
da mesa eleitoral
protestante de outros otempos, o Sr. Dr.
Castro Pinto, para
exercer a funeção de presidente do Estado,

pelo absurdo do onde provém, tendo em perspectiva


presidido
um governo sem leme o certo quasi do um naufrágio que não

enxergam muitos, que, já, se preparam para o exercício de

cargos d(j confiança, tendo em vista explorações contrarias

ás boas normas administrativas.


O Dr. Castro Pinto, sem a confiança e o amor do povo,
e.liminado das urnas, será tudo, menos o eleito seu
que foi por
Estado ao cargo de seu primeiro magistrado...
Pode o despotismo das mesas eleitoraes disfarçado
por
uma abstenção imposta
pela força federal e policial, mostrar-

se illogico apparentando doçura no modo de agir e até osten-

tando uma tal ou qual homenagem ao direito; quando ao con-


trario é certo nunca vae de fonte impura uma agua crystalina
o assim, um eleito em taes condições, por maiores esforços,

será sempre o renegado dos flibusteiros políticos contra oa


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 319

quaes terá de pedir um apoio a opinião, custosa de cedel-o


attento o despreso a
que foi votado o povo, cuja liberdade con-
testada, fel-o descobrir nesse fraco
governo o co-responsavel
no crime de desrespeito aos preceitos do regimen democrático
republicano, incompatível, com as olygarchias, origem dos
maiores males que atacam actualmente, o organismo.
Eleições nu lias, e irritas, não
podem produzir resultados
que encontrem apoio na consciência
dos cidadãos livres, e sem
este o governo^ que pretenda firmar-se, será abandonado em
essencia por nao ter a protecção do direito; não valendo-lhe
em substituição do que lhe falta, essa força material organi-
zada, que, aliás, conspira, muitas vezes, contra as iniuncções
da prepotência.
Os productos da politic!a tortuosa só podem ser devida-
**Vín. apreciados, para ensinamento dos chicanistas políticos,
afíeiçoados aos prementes da irônica fortuna que os constituo
videntes, inc-apazes, porém, de experimentarem remorsos pe—
los males que praticam todos elles, reflectindo-se em pertur-
baçoes, contra as aspirações generosas dos cultores da honra
e. da justiça.
Façamos, sempre, votos pela extincção dessa política sem
entranhas inimiga do patriotismo.

Documento n. 25 „•

1'aialiyba, 11. - Acaba


chegar tclegi'amma Epitacio
Pes-
soa, dizendo Marechal
prestará todo apoio, até mesmo forca
armada, posse eleição Presidente Estado, Castro Pinto- Pessoa
vice-Presidente. Saudações. — Monteiro. '
Serra da Raiz, 18. — Tenente Pinto
Monteiro, secretariado
Aristóteles Garcia Augusto Simões, fundou hoje, nesta locali-
dade, município Caiçara perante grande assistência, directorio
Partido Democrata, sendo ruidosamente acclainado
o Presidente
da Republica, V. Ex., Dr. Lima Filho. Acaba de chegar nosso
emissário Bananeiras, dizendo ter o Dr. Epitacio Pesosa te-
legraphado chefe olygarcha naquelle município, communican—
do ter o Marechal indicado Castro Pinto, Presidente Estado
faltando garantia nossos amigos alli. Saudações. — Presidente
do directorio, 1'vai},cisco Josc da Costa. — Primeiro o segundo
vice, Emvddio José da Cos/n o Arislidcs Moraes. — Primeiro e
segundo secretários, Aristidcs <rareia
e Firmino Costa. Com-
missão de propaganda: presidente, Antonio Costa Filho.
secretario, Alfredo Costa. — Vogaes, João
Rodrigues , Ernesto
i^osla, Antonio Martins
e Manoel Nazianzendo.

Documento n. 26

A MISSÃO DO SR. TORRES HOMEM NA BAHIA

... .*^0S Exmos. Marechal Presidente da Republica e general


Ministro da. Guerra.
Como cidadãos, como brazileiros, temos o dever de chamar
& atiençao das altas do
patentes Exercito para a situação dos-
320 ANNAHS DA GAMARA

graçada a quo se acha reduzido um punhado de soldados do


Exercito nos longínquos sertões da Parahyba e que para alli
foi enviado para a garantia da ordem e do direito de todos
os cidadãos. Infelizmente o Sr. Torres Homem, prestando
mais attenção ás ordens do Sr. Epitacio do quo ás de seus
superiores, transformou as forças do Exercito em instrumento
efficaz para resolver o caso político da Parahyba.

Os valentes soldados do Exercito marcharam em accele-


rado para as inhospitas regiões do sertão adusto, com simples
uniformes kakis e apenas alguns mais felizes conduziram co-
bertores e capotes velhos aos hombros. Erapena vel-os em-
barcar na estação da Great Western, quasi em estado de pe-
nuria. Desembarcaram estes homens nas estações terminaes
e marcharam, quaes judeus errantes, sem rumo, recebendo uma
minguada diaria >e percorrendo léguas sem encontrarem em
que empregar aqüelle minguado dinheiro. Distribuiram-nos
em pequenos grupos para diversos pontos do vasto sertão.
Por esse tempo os Drs. Franklin Dantas e Santa Cruz, sa-
bondo que o inspector desta região militar transviado de seus
deveres, se prestára a instrumento de uma politicagem soez,
o que, por conseguinte, as forças do Exercito se encontravam
na Parahyba para satisfazer os caprichos do Sr. Epitacio, des-
armavam os seus combatentes porque absolutamente não que-
riam atirar contra o Exercito.

Aproveitando a opportunidade os satrapas da Parahyba,


consultaram o mappa eleitoral, verificaram as localidades onde
consultaram o mappa eleitoral, verificavam as localidades onde
lhes faltavam elementos de triumpho >e telegrapharam ao seu
correligionário Sr. Torres que tal
Homem cidade estava
«ameaçada» e S. Ex., em obediência á disciplina partidaria,
se aprestava em transmittir ordens e os pobres soldados do
Exercito tinham que mover-se a marchas forçadas para o
local indicado.

Viencidas
40 ou 50 léguas em tres ou quatro dias, alcan-
çavam, exhaustos, o tal ponto «ameaçado», e ao envez de
encontrarem atacantes deparavam apenas com os oligarchas
locaes que, cercando-os de seducções e artimanhas, procura-
vam transforinal-os em cabos eleitoraes, ao que absoluta-
mente elles, não se prestavam, repellindo com altivez os vis
corruptores. Decorridos dous ou tres dias, novas or-
dens recebia o Sr. Torres Homem da Parahyba, apressava-se
em cumpril-as e os pobres soldados seguiam para outros

pontos.
Fazia dó vel-os ao longo de veredas invias, marchando
sobre o sólo pedregoso, de seixos arnulados, famintos, esfar-
rapados, sujos, com os pés ensanguetados, em peregrinação
horrível desertos, terem para animal-os a convi- sem
pelos
cção de
servirem a uma causa justa. Servirem contrafeitos,
desolados, porque o Si*. Torres Homem, abusando desse admi-
ravel espirito de- disciplina que caracteriza o soldado brazi-

leiro, transformara em esbirros aquelle punhado do bravos..


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 32

estado sanitario das forcas é detestável; muitos adoecem


e os que Itieem essa desgraça veem-se inteiramente privados
de quaesquer recursos médicos ou pharmaceuticos.
Ha em Campina Grande uma base celebre
de operações
de guerra (sic) commandada
pelo não menos celebre capitão
Xoscano de Brito, que já uma vez foi enxotado da Parahyba
pela mesma oligarchia a quem hoje se entregou de corpo é
alma, em que sao castigados com as
mesmas penas infamantes
que eram applicadas aos marinheiros da nossa esquadra os
bravos soldados que incorrerem no desagrado
daquelle offieial
verdugo.

Uma força que regressava do sertão, commandada por um


offieial, encontrou nas ímmediações de Campina Grande um
companheiro que em pranto mostrava as faces rubras em
que se viam os signaes de duas bofetadas
que lhe dera o feroz
e covarde capitão Toscano. Só a muito custo o offieial com-
mandante pode conter os soldados indignados que queriam
desaggravar-se. Ioda a cidade de Campina Grande conhece
esse lacto tao grave qunto escandaloso. Diz-se ató nesta ci-
dade que o offieial cominandante da força deu parte deste
crime e desta indisciplina, e no entretanto, o capitão Toscano
permanece em Campina Grande, conduzindo á mão o mesmo
icuenque com que ameçava o eleitor
que votasse no honrado
o eminente coronel Rego Barros e deleitando-se em esbofe-
tear os indefesos soldados do Exercito brazileiro, como fez
aH], e publicamente na cidade de Itabayanna. O Sr. Torres
Homem nao ignora esses factos e os approva
com o seu silencio.
Jii que no espirito de ii. Ex. o despeito, os odios pessoaes o
a subserviência apagaram por completo os brios do soldado.
resentemente o que se passa nos sertões da Parahybo 6
mais do que infame. O Sr. Epitacio Pessoa, o venal e des-
pudorado ministreco do Supremo Tribunal, supremo chefe
da oligarcliia parahybana, exige a permanencia das forcas
federaes no sertão porque, empenhado como está
no extermínio
da nossa família e demais opposicionistas sabe que a
policia incendiaria do Sr. João Machado só se atreve a per-
segui 1-os protegi d a.s pelas forças do Exerci lo. Ao envez do
chefe juiz, os Machados querem a retirada das forças
federaes
para que os seus cangaceiros fardados sustentar-lhes
possam
o prestigio vacillanfce nos municipios.
bó essa dissenção entre os chefes da oligarchias
pôde ex-
plicar o selvagem ataque feito no Teixeira soldados da
pelos
policia á guarnição federal dalli no dia 3 do corrente.
Dous grupos de esbirros bem armados
sahiram do quartel
aa policia; um delles atacou algumas
"Vieira praças do Exercito na
porta da casa do Sr. João de Lyra e o outro encontrando
uma outra em frente
praça á residencia do Sr. capitão Lau-
-},ehx as?a38Ínou-a barbaramente a punhaladas. Sa-
íjenao ao assassinato do seu
companheiro, os soldados do Exer-
cho vibraram de indignação e vendo chegar as praças que
loram atacadas deante
da casa do Sr. Vieira de Lyra, algumas
ie as a Punhal o perseguidas de perto pelos policiaes as-
v«i. x
322 ANNAES DA CAMAKA

siíssinos, preparam-se para a defesa. Por esse tempo a policia


se entrincheirava, rompendo fogo contra a força do Exercito,
travando-se renhido tiroteio que durou quatro horas, resul-
ítando mais ferimentos de ambas as
partes.
E' para esses factos gravíssimos que chamamos a attenção
do Exmo. Sr. Marechal Presidente e do Exmo. Sr. Ministro
da Guerra, desde o inspector desta região militar, por
que
motivos inconfessáveis, não tem providencias, faltando assim
ao seu dever.
Em nome parahybanos opprimidos,
dos cuja vida e liber-
dade estão em
perigo, e da dignidade do Exercito brazileiro,

ultrajada por bandidos do peior jaez, pedimos ao Governo

Federal que faça cessar os crimes e os infames attentados

que se estão praticando na Parahyba.


Recife, 14 de agosto de 1912. — João Duarte Dantas. —
Manoel Duarte Dantas.

Documento n 27

A INTEKVEMÇÂO

da noticia de que o general Torres Homem,


A divulgaçao
no caracter de chefe do districto desta circumscripção militar,

com sede em Campina Grande, aconselhara ao partido si-


ora
tuacionista o fechamento das urnas a seus adversarios, trouxe

a convicção de que esta autoridade, por si ou de ordem do

Presidente da Republica, com a força de que dispõe,


pretende
contrapôr-se á liberdade do voto.
O
pretexto ó a perseguição dos revoltosos e cangaceiros,

mesmo nos municípios onde elles não existem !...


Por esta porta falsa da intervenção indébita e perturba-
dora, os olygarchas estão derramando o terror no eleitorado
no campo de suas tradicionaes
opposicionista, para ficarem sós
victorias eleitoraes por eleições a bicos de pennas !
Suppõem elles, talvez, que, por tal fôrma, sob o prof.ecio-
nismo do interventor militar, attingirão a meta sou de/ti-
_de
aratum a salvo da da lucta, continuação
político, pondo-se
"penas iniciada por quem sem ella, ficaria na contingência de

supportar passivamente os damnosos effeitos do desdobra-


da tyrannia, até agora exercitada no regimen da im-
nento

punidade. ...
Furiosos o allucinados os perseguidores peja resistencia

tenaz lhes teem opposto os não veem, não


que perseguido^,
compreliendem os prodromos de uma situação peor para seus

interesses inconfessáveis, visivelmente incompatíveis com a


ira e não con-
dignidade e a sofreguidão do povo que os repeli
sentirá no vilipendio de sua liberdade.
jamais
A do despotismo occasional, consinta ou
preponderância
não consinta que a opposição vá livremente exercer o direito

do voto nas eleições a 22 de junho do corrente, ella permane-

cerá cohesa, firme e decidida a hostilizar, sem desfallecimento


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 19!2 323

quem quer que venha para o governo fóra da lei, satisfazer


as veleidades do odio alheio ou as conveniencisa próprias fi-
liadas á politiquice immunda desta olygarchia desgraçada e
sem entranhas.
O Partido Democrata, Parahybano, não se compõe de re-
crutados no lixo dos
partidos desfeitos: constituiu-se exposto
ao sói do ostracismo, onde sómente os voluntários vieram alis-
tar-se á sua bandeira.
Ha, pois, entre elle e os transfugas, vassallos e traidores
do partido adverso, a distancia que separa os homens de bem
dos bandidos, tratantes e especuladores se nutrem pelo
que
crime ou nas senzalas de qualquer usurpador
que disponha dos
cofres públicos.

Documento n. 28

O CASO DO CONSELHO MUNICIPAL — NO SUPREMO TRIBUNAL

Os embargos da União e da Fazenda Municipal

Um dos primeiros actos dictatoriaes do Marechal Hermes


da Fonseca foi o decreto n. 8.500, de 4 de janeiro de 1911, dis-
solvendo o Conselho Municipal, devidamente eleito e empossado
pelo poder competente.
Poucos
mezes após a ascenção ao poder, que todos sabent
de que fôrma foi feita, usurpando a cadeira da presidência
para a qual tinha sido repudiado pela Nação, o Marechal dieta-
dor não se conteve e deu a mais cabal prova do despotismo
dó seu Governo, decretando um verdadeiro mandado de des-
pejo contra os edis da Capital da Republica.
Attentou contra a lettra expressa da Constituição, cer-
ceando a autonomia do Município do Districto Federal, com-
pellindo, a coice de armas, os seus legítimos mandatarios a
evacuarem o recinto do Conselho Municipal, onde se achavam
mantidos de um direito insophismavel que absolutamente o
Presidente da Republica não poderia conculcar com o tacãó do
sua boi,a.
Foi um acto inqualificável mas inteiramente de accôrdo
com a boçal idade do seu autor, rude soldado repentinamente
guindado á culminancia de Chefe do Poder Executivo.
Os intendentes, esbulhados, assim, de seus direitos, re-
quereram ao Supremo Tribunal Federal uma ordem de habeas-
corpus, para que pudessem livremerte entrar e sahir no editi—
cio do
Conselho, realizando sessões de accôrdo com a alta in-
vestidura de seus mandados, garantidos por eleição regular,
devidamente apurada, e empossados pelo poder competente.
O mais alto Tribunal da Republica, a posse
examinando'
legitima dos edis o a fôrma inconstitucional por que foram es-
bulhados de seus direitos, concedeu a ordem requerida para
os fins impetrados.
Muita gente illudiu-se sobre a fôrma porque o Marechal
resolveria o erro, cm vista do accôrdão do Supremo Tribunal.
324 ANNAES DA CAMA li A

Entretanto nós dissemos logo que o Marechal, déspota sem


a mínima cultura, não aceeitaria a egregia resolução,
desobecederia cegamente o veridictum do mais alto Tribunal
do Poder Judiciário.
Demais, acto do Marechal, fazendo dissolver o Con-
aquelle
selho, tinha
por fim servir aos amigos da situação, áquelles
que o auxiliaram a escalar o Palacio do Gattete. E, assim, paro,
que pudesse existir uma lógica no absurdo, o Marechal rasga-
ria com a ponta de sua espada a veneranda sentença, fazendo
subsistir o inconstitucional decreto de 1911 que dissolveu o
Conselho.
Infelizmente, para vergonha da Nação, realizaram-se os
nossos vacticinios: -—• o Marechal rasgou o accórdão e deu
de hombros ao acto do Supremo Tribunal!
Os intendentes assim prejudicados pelo acto illegal do Ma-
rechal, intentaram uma acção summaria, no Juizo Federal,
para o fim de ser julgado nullo aquelle decreto, reconhecidos
mais uma vez os seus direitos e condemnada a União e a Fa-
zenda Municipal a lhes pagar os subsídios, juros e custas.
Esta
acção, que foi distribuída ao juiz Dr. Pires e Albu-
querque, correu seus transmittes legaes, até que este magis-
trado, em luminosa sentença, deu ganho de causa aos inten-
dentes, com os seguintes considerandos:
«Considerando que os autores foram, pela autoridade com-
petente, reconhecidos Intendentes Municipaes deste districto
para o triennio de 1910 a 1912 e empossados nas respectivas
funcções;
Considerando que ó illegal, e conseguintemente nullo, o de-
creto n. 8.500, de 4 de janeiro do corrente anno (1911), que
dissolvendo o Conselho Municipal e mandando proceder a nova
eleição, privou do exercício
os de suas funcções e dos direitos
e vantagens decorrentes ;
Considerando que naquelle exercício estão os autores ma-
nutenidos pelo accérdão n. 1.990, de 25 de janeiro de 1911, que
subsisto e
subsistirá emquanto não fôr rescindido pelo Su-
premo Tribunal Federal, juiz único de sua competencia e su-
premo interprete da Constituição e das leis :
Julgo
procedente a acção para o effeito de assegurar aos
autores os
referidos direitos e vantagens, incluindo o de re-
ceberem da Fazenda Municipal o subsidio arbitrado pela lei.»
Na fôrma da lei, o integro juiz recorreu da sua sentença
nara o Supremo Tribunal Federal para o qual também recor-
reram as duas rés, a União Federal e a Prefeitura do Districto
Federal.
sentença foi publicada a 29 de maio de 1911.
Esta
Subiram então os autos ao Supremo Tribunal em G de
só sendo julgados
julho de 1911, os recursos na sessão do dia
11 de novembro do 1911, negando o tribunal provimento aos
recursos, apenas contra os votos dos ministros Guimarães Na-
tal, Oliveira Figueiredo, Godofredo Cunha e André Cavalcanti.
No dia 27 de janeiro deste anno o
procurador geral da Re-
publica embargou, porém, desta decisão do tribunal e são es-
tos embargos, que vão ser agora julgados pelo Supremo Tribu-
nal Federal.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 325

Eram estes embargos cjue o Supremo Tribunal ia julgar


hontem e, por falta de numero legal de juizes, deixou de o
fazer.
Bem vê que
se os representantes da União e da Fazenda
Municipal unicamente querem ganhar tempo esgotando to-
dos os recursos que a lei faculta.
Mas a sentença do integro juiz Pires e Albuquerquer, que
já. foi mantida pelo accórdão de 11 de novembro de 1911, deve
ser novamente confirmada no julgamento dos embargos, o,
desta fôrma, terão os indententes esbulhados, em ultima instan-
cia, os seus direitos reconhecidos pelo mais alto tribunal do
paiz.

Aguardemos pois o voredictum do tribunal.

Documento n. 29

O CASO DA ILHA DAS COBRAS

Transcrevemos do Correio da Manhã, de 17 de janeiro:


Seriam 8 horas da manhã, quando batemos á do n. 5,'
porta
primeiro andar, do Club Naval, alli na
Avenida, junto ao Thea-
tro Municipal. Appareceu-nos o commandante Marques da Ro-
cha. Pediu-nos desculpas de receber-nos em pyjama e introdu-
ziu-nos no seu proprio quarto. Exposto o fim da visita, S. S.
immediatamente nos disse:
Eu tinha muita vontade de dizer ao Correio da Manhã
a verdade inteira das cousas, tal
qual se passaram. Pedi, mesmo
á imprensa a fineza de mandar um representante de cada jornal,
afim do ter com elles um interview. Mas hoje estou resolvido
a nada mais contar. Estou muito magoado com os jornaes.
Mas commandante? O temos
por que, que publicado 6
tudo obtido de informantes que devem ser idoneos, pois per-
tencem á Marinha, e...
Tudo é falso.
Falso? Gomo explica, então...
Infamias e calumnias.

Sim, senhor. Infamias o calumnias.


Mas, commandante, nós asseguramos as nossas no-
que
ticias teem todas muito boas fontes navaes.
Olhe. O senhor saber de uma oousa?
quer
(Ora, si queríamos...)
Pois não.
•— A Marinha é a cousa mais infamo deste mundo.
Diz o commandante
que a Marinha...
Repito: é a cousa mais infame deste mundo. NãO' se
imagina a intrigalhada vae lá dentro. Eu attribuo essas
que
calumnias e infamias a collegas inimigos meus. Agora vamos
ter uma época de reforma, e uns temem outros
ser preteridos,
querem nreterir, outros... uma miséria.
—- Então,
o commandante não sabia do que houve na ilha
das Cobras?
326 ANNAES DA GAMARA

A minha única culpa é esta: não ter ido vêr as condi-

ções dos marinheiros presos._ Quanto ao castigo da solitaria,


á pão e agua, è commum, e não mata. Nem as prisões são tão
estreitas como se anda dizendo por ahi. Ha menos de três
mezes mandei lá prender, nas tres únicas solitarias seguras,
muitas dezenas de presos, sem morrer ninguém.
Mas, como o commandante explica a morte desta vez?
Não sei... O calor... O tempo estava
quente...
Houve uma pequena pausa. O da commandante Marques
Rocha cortou o dialogo:
Também é falso que o medico tivesse dado aquellas in-

jecções nos sobreviventes. Tudo o que se pediu, mandei fazer.


O medico mandou-me pedir um banho para o João Cândido,
mandei immediatamente attendel-o. Depois, solicitaram me-
lhoria de comida, também concedi. Falla-se muito, mas mente-
se ainda mais. Poucas pessoas sabem realmente o facto; o car-
ceireiro, o medico, o official do quarto, o commandante. Esses,
depondo 110 inquérito, esclarecem todo o facto. O mais são so
injurias o calumnias, a que os meus desaffectos dão curso.
A onde está João
Cândido?
proposito:
Está
preso na ilha das Cobras.
Ainda por causa dos acontecimentos?
Não. Elle foi ter sido encontrado com armas,
preso por
depois da revolta.
E está bom de saúde?
Está.
O commandante Marques da Rocha terminou dizendo:
Não sou um malvado. Matar para que? Para que, si não
havia entre
os presos nem um chefe da revolta? Mandei applicar
um castigoque ,já muitas e muitas vezes tem sido alli applicado,
sem que morresse ninguém. Quanto ao que se tem dito ao meu
respeito, devo-o á perseguição de collegas. Tenho 52 annos e
não ia, no fim da minha vida, fazer um acto degradante. O
inquérito provará a minha innocencia.
Onde
está o inquérito?
No Ministério
da Marinha.
E disse:

O Dr. Ferreira de Abreu, medico da Armada, foi quem


assignou as certidões de obito dos desgraçados que morreram
na ilha das Cobras, bojo appellidada ilha dos Martyrios.
Na actual conjunctura, em face dos acontecimentos que so
desenrolaram nas solitarias da ilha, acontecimentos que são a
mais espantosa macula que fica sobre o nome do Braz.il nos
chegar o conhecimento daquella sangrenta tragédia,
paizes onde
11a actual conjunctura, repetimos, as palavras do Dr. Ferreira
de Abreu tinham para nós singular lmportancia.
Pois tivemos o ensejo de ouvir esse medico, e eis o que re-
sultou da nossa entrevista:
—No dia da revolta do Batalhão Naval, disse-nos o Dr.
Ferreira de Abreu, fui eu o único official que ficou na ilha.
Como medico, o meu logar era alli, onde os meus serviços se
tornariam necessários. Fui sempre estimado pelos marinheiros
e pelos soldados do Batalhão1 Naval. A's 2 horas da manhã fui
SESSÃO KM 21 DK SETEMBRO DE 1912 327

levado para o hospital, no meio de vivas e acclamações por


parte dos revoltosos. A's 5 horas vim para terra, e apresentei-
me 110 Arsenal de Marinha...
Quando teve conhecimento das mortes?
Quando voltei á ilha das Cobras, o commandante Mar-
ques da Rocha, disse-me na secretaria: «Tem ahi dezeseis ca-
daveres; precisa passar as certidões de obito».
Ficou surprehendido, decerto
Naturalmente. Na ilha não havia nenhum doente do

gravidade.

Aquellas dezeseis mortes surprehenderam-me. O comman-


dante, talvez, notando> o espanto que me causou, aquella noti-
cia, disse-me que se tratava de casos de insolação. Todavia,
não quiz passar os attestados. Fui vel-os e fiquei convencido
de que os homens tinham morrido de inanição e asphyxia.
Procurei saber logo onde tinham sido encontrados os caaaveres.
Informaram-me que nas solitarias. Dirigi-me para alli.
As solitarias são prisões horrorosas, r.as quaes o ar só
entra depois de ter percorrido dous estreitos cubículos, onde
o ambiente começa sendo envenenado. Imagine; em seguida,
a uma porta de grades, ha um pequeníssimo espaço, de um
metro, se tanto; segue-se uma porta toda chapeada de ferro;
depois um espaço igual ao primeiro, após este nova porta de
ferro, tendo apenas um orifício a certa altura...
E, emquanto fallava, de Abreu desenhava
o Dr. Ferreira
em um a topographia da solitaria. — a minha
papel Quando
cabeça chegou á altura do orifício que serve para a entrada do
ar na solitaria, recuei aterrado, tão pestilencial era o fétido que
de lá vinha! E ainda lá estava gente viva!

O
Dr. Ferreira de Abreu interrompeu-se para proseguir:
Deante daquella monstruosidade, fiz o que devia: di-
rigi-me ao commandante, para que elle mandasse immediata-
mente transferir ospresos da solitaria. Assim se fez. Encon-
trei então o João Cândido e outros, em estado desgraçado, aos

quaes mediquei, immediatamente. Um dos presos, um creoulo


alto, estava já estendido ao chão e sem poder mover-se. Si não
Jhe accudisse depressa, teria morrido também...
E.. quanto aos cadaveres?

Dei os
passos que a minha posição especial me determi-
nava que fizesse. Voltei á ilha, já munido dos papeis impressos
as certidões. Dei como causa de obito insolação... So-
para
ria uma vergonha que eu declarasse, nesse documento, que
aquelles homens morreram de inanição e asphyxia...
E depois desse acontecimento?

Continuei tratando dos sobreviventes. Reclamei para


eMes alimento, as meias ra-
o necessário que se acabasse com
Oões, que continuavam sendo dadas aos e llies losse
presos, que
abonada a ração
por inteiro.
Quanto a João Cândido?
Reclamou-me dar. La ficou era
um banho, que mandei
bom estado...
Foi desligado
do corpo?
3:25 ANNAES DA. C AM ARA

1— Fui, mas no inquérito depuz tudo quanto rabia, em abso-


luta conformidade coin os factos.
E
por abi ficou a nossa entrevista, da qual resalta bem
quão pavorosa foi a tragédia da ilha do Martyriol
Recebemos a seguinte carta, que é ao mesmo tempo, um
clamor de agonia e um desaggravo:
«Sr. redactor do Correio da Manhã. — A hediondez in-
quisitorial praticada em pleno per iodo de civilização e que serve
de ultrage ao nosos paiz, praticado na ilha das Cobras, não de-
verá ficar impune. V. Ex., que com tanta emoção tem des-
cripto os horrores que soffreram os dezoitos nossos patrícios,
entre os quaes se achava meu infortunado irmão Olegario Ca-
pistrano dos Santos, rapaz que apenas contava 24 annos de
idade, deverá com a independencia do costume, continuar a
pedir1 um correctivo para o execrando crime do novo Torque-
máda, da ilha E' do
em nome Martyrio.
de minha mãe, ve-
lhinha, naturalmente
coitada, que
perderá dentro em pouco a
sua vida, tão preciosa para mim, devido ao grande choque que
senf.iu, pela perda de meu irmão, de maneira tão tragica, que
eu vos supplico continuar a pedir a punição do culpado daquelle
assassinato.

Desde o dia em
que ella foi scientificada da morte de meu
inesquecível irmão,
se acha de cama, entregue aos cuidados do
Dr. Bento Rodrigues, e de certo não se levantará mais.
O Eximo Sr.
Hermes, Marechal
que, além de chefe de fa-
rnilia exemplar, diz-se
escravo da justiça, não deverá esquivar-
se a punir o responsável aquelles crimes. Roca e Car-
por
leto não praticaram maior delicto, nem houve tantos requintes
de maldade no seu acto criminoso. Todavia, os crimes desses
homens apavoraram o Brazil inteiro. De toda a parte foram
soltos brados de indignação e de protestos e para escaparem do
furor popular, que pedia a cada momento os seus lyncnamentos,
na praça publica, foi a intervenção rigorosa da
precisa poli-
cia. ao contrario teriam succumbido nas mãos do povo altivo e
independente desta Capital. Por fim, justiça foi feita e acham-
se elles condemnados a trinta annos de prisão. E' que
preciso
o mesmo se faça ao responsável
pelas mortes occorridas na ilha
das Cobras.
Urge que a Marinha brazileira se lave do semelhante
affronta, eliminando do seu seio elemento
para tão degradante
ella; é preciso que o Presidente da Republica df; uma satis-
fação á sociedade brazileira. mandando responsabilizar o autor
do grande crime da ilha do Martyrio e se os poderes competen-
tes não tomarem em consideração o pedido de punição do cri-
minoso, caberá ao heroico povo do Brazil fazer a justiça que
lhe fôr negada, em um impulso de patriotismo e de indignação!
E' em nome de minha angustiada mãe, como já vos disse,
que, talvez, ao ser publicada a presente carta, não tenha mais
vida. e nue será também arrancada pelo monstro mandante dos
assassinios da ilha das Cobras, que vos peço continuar a pedir
a punição do assassino de meu irmão. Ao povo brazileiro eu
também peço que faça a justiça que o caso requer, e que se
desaffronte de tão grave attentado. A indignação que mo vae
SESSÃO KM 21. DE SETEMBRO DE 1912 329

n'alma, Sr. redactor, é mais fácil de se comprehender que de


se dizer, por que vos peço perdoar
motivo no caso de ter-me'
excedido nas expressões da presente carta. — José Capistrano
dos Santos. Rio, 15 de janeiro de 1912.»
'José
O capitão de fragata Francisco Marques da Rocha, re-
quereu conselho de investigação, para justificar-se das accusa-
CÕes que lhe foram feitas, como commandante do Batalhão
Naval. .
O
conselho, ao que consta, ficou constituído do capitão_de
mar e guerra Polycarpo de Barros, presidente, e pelos capitães
de fragata Gomes Pereira e Carino de Souza Franco.»

successivamente lidos e vão a imprimir o® seguintes

PAHECERES

N. 112—1912

Indefere o requerimento de D. Adelaide Flaviana Cavalcanti


Neyreiros, pedindo uma pensão

A viuva do alferes do Exercito Antonio Carlos Cavalcanti


Negreiros, ai legando as precarias condições
que se acha em

para viver, pede uma pensão igual ao soldo a que teria direito
oomo sobrevivente ao seu marido, si, por circumstancias a

que é de todo alheia, não estivesse inhibida de requerer se.u

pagamento na fôrma das leis que regulam o assumpto. A peti-


cionaria confessa que não tem direito ao que requer e isto

prova com a fé de officio de seu fallecido marido que, depois


de muitas faltas, naquelle documento apontadas, foi por sen-
tença excluído do Exercito.
A Commissão resolve indeferir o pedido, que só por favor,
com ônus para o Thesouro, poderia ser feito.

Cmmissões,
Sala 20 de
das setembro do 1912. — Ribeiro
— Manoel Borba, relator. — Antonio
Junqueira, presidente.
Carlos.—João Simplieio. — Caetano de Albuquerque.—Felix
Pacheco. — Homero Baptista. — Galeão Carvalhál.

N. 113 — 1912

indefere o requerimento em que Lindolpho Augusto de OU-


Mattos de vencimentos a que se
veira pede pagamento
direito; com da Commissão de Fi-
julga com parecer
nanças

Augusto de í" classe


de Oliveira Mattos, agente
Lindolpho
da Central decreto Brazil, allega
Estrada de Ferro que, por do
de 24 de maio de 1897, fôra aposentado naquelle cargo, mas

que, tratava de liquidar o seu tempo de serviço e


quando
entrar no goso da aposentadoria, o referido decreto foi annul-
lada pelo de 27 de' setembro de 1900.
Allega mais o peticionario que, a 22 de dezembro de 1900
e a 16 de maio de 1902, requereu à directoria da Estrada de
330 ' ANNAE8 DA CAMA11A

Ferro do Brazil
Central a sua reversão ao serviço, e que esta
lhe loi — accrescentando
negada,
que, tendo recorrido para o
mmistro da Viação, era requerimento de 30 de novembro de
1903, ioi então attendido, «tendo voltado ú effectividade de
•suas iuncções, por eífeito do aviso de 5 novembro
de de
¦».
1904
Allega ainda o requerente que, em petição de 3 de julho
de 1900,pediu que lhe fossem pagos os vencimentos que dè.ixou
de pereeber durante o tempo em esteve afastado do
que seu
cargo, mas que o seu requerimento foi indeferido despa-
por
cho de 29 de janeiro de 1907. Recorrendo
para o Poder Judi-
ciario, afim de conseguir a decretação da nullidade daquelle
despacho, o autor teve sentença favoravel do federal da
juiz
Segunda Vara deste Districto, o «julgou
qual procedente a
acção para, annullando aquelle despacho, assegurar ao autor
o direito aos vencimentos que deixou de perceber desde 27 de
setembro de 1900 e que já não estavam ao tempo
prescriptos
em que foi proposta a acção ».
Por fim, allega aindao peticionario que, não tendo a sen-
tença referida abrangido « o decurso do tempo e,m que o re-
querente esteve aposentado, isto ê, de 24 de maio de 1897 a
27 de setembro de 1900, mas sómente desta data em diante »,
recorria elle ao Congresso Nacional, este lhe relevo
para que
a prescripção em_ que porventura tenha incorrido.
A petição não foi instruída por documento algum, salvo
um retalho de jornal com a sentença do juiz federal da Segunda
Vara, — documento este que srt teria authenticidade si o
jornal
fosse o Diário Official.

Os dous decretos citados requerente, — de 24 do


pelo
maio de 1897 o 27 de setembro de 1900, — não constam da col-
lecção officinl dos Actns do Poder Executivo.
Não ha,
pois, elementos de informação sufficientes, para
quo esta Commissão se possa manifestar com perfeito conhe-
cimento de causa.
Accresce estando o facto sujeito ainda á decisão do
que,
Supremo Tribunal Federal, por appellação interposta ex-offi-
cio, a intervenção do Congresso Nacional na questão seria in-
teiramente inopportuna e destoante das boas normas do nosso
regimen.
Opina, portanto, a Commissão de Constituição e Justiça
pelo indeferimento da petição.
Sala das Commissões, 3 de setembro de 1912. — Cunha
Machado, presidente. — Afranio do Mello Franco, relator.—
Porto Sobrinho. — Carlos Maximiliano. — Nicanor do Nasci-
manto. — Felisbello Freire. — Moniz de Carvalho. — Meira de
Vasconcellos.

Lindolpho Augusto de Oliveira Mattos, agente de 4a classe


da Estrada de do Brazil, pede relevação de pre-
Ferro Central
scripção para receber ordenado relativo ao tempo'decorrido de
24 de maio de 1897 a 27 de setembro de 1900, em que esteve
SESSÃO EM 21 1)13 SETEMBRO DE 1912 331

indevidamente aposentado.
O peticionario liquidar o seu
para
direito recorreu ao
Judiciário, Poder sentença ainda
que, por
não passada em julgado lhe reconheceu direito aos vencimen-
tos a contar de 27 de setembro em diante. O
pedido não contém
outra informação além de um retalho de jornal com a sen-
tença de. instancia da qual houve appellação official.
primeira
Judiciosamente resolveu a Commissão de Constituição e
Justiça indeferir o pedido, indébita e inopportuna
por julgar
a intervenção do Legislativo em caso affecto ao Judiciário, em
parecer que a Commissão de Finanças adopta.

Sala das Commissões, 20 de setembro de 1912. — Ribeiro


Junqueira, — Manoel Borba, relator .— Galeão
presidente. Car-
valhal.— Homero Baptista. — Felix Pacheco. — Caetano de Al-
buquerque.— João Simplicio.— Antonio Carlos.

N. 114 —1912

Indefere o requerimento de D. Emilia Custodia da Silva Caldas,


pedindo em, seu favor, a pensão do montepio a que tinha
direito a mulher de seu filho, capitão do Corpo de Bom-
beiros Francisco Xaxier Pereira Caldas. ¦
,
D. Emilia Custodia da Silva Caldas, mãe do capitão Ido
Corpo de Bombeiros desta Capital Francisco Xavier Pereira
Caldas, pede reversão da pensão que caberia á mulher sobrevi-
vente daquelle seu filho, a qual, também 1'allecida, não

processou o montepio a que, tinha direito.
A requerente allega que seu filho não deixou descenden-
tes do casal.
Da certidão de obito de
Concêta Varriale Caldas, viuva
daquelle official, consta que a referida senhora deixou uma
filha de nome Maria, com seis annos de idade. Na ausência de

prova de que a menor Maria seja ou não filha do capitão Fran-


cisco Xavier Pereira Caldas devendo-se presumir que o seja,
e
não é liquido o direito da
peticionaria e por isso opina a
Commissão pelo indeferimento do seu pedido.

Sala das
Comini&sões, 20 de setembro de 1912. — Ribeiro
Junqueira, — Manoel Borba, relator. — Galeão Car-
presidente.
vallial. — Homero Baptista. — Felix Pacheco. — Caetano de Al-
buquerque. — João Simplicio. — Antonio Carlos

N. 115—1912

Manda archivar o requerimentoi Wilfrid


do capitão-tenent*
Francis Lynch, verdadeira do dis-
pedindo a. interpretarão
posto na lei n. 40í, de ~ft de outubro de 1896

O capitão-tenente Wilfrid Francis Lynch, que esteve em-


barrado nos navios compunham a esquadra leyal, como
que as-
332
ANNAES DA CAMARA

pirante, bem assim na qualidade de


_e guarda-marinha em
oommissao, pede n0 Congresso Nacional
que se manifeste sobro
a interpretação deve ser dada
que ao paragrapho único do de-
oreto n. 404, de 24 de outubro de 1896.

Diz o paragrapho único :

«E' igualmente
autorizado a mandar contar
para todos os ei feitos, aos aspirantes que serviram na
esquadra legal e ilotilhas
e foram commissionados' em
guarda-marinha, todo o tempo
que estiveram embar-
cados, como serviço de campanha».
O capitão-tenente recebeu Lynch,
que vencimentos de
campanha ate dezembro de 1894
e que só perdeu a commissão
cie guarda-marmha a 31 do citado
mez e anno, afim de conti-
nuar, como aspirante, o curso da Escola Naval, entende que o
*'0i, acima
P- referido e cujo único
IwPf ( paragrapho
licou transcnpto para melhor clareza deste parecer, deve se
estender ate o momento em que desembarcou dos navioa da
esquadra.

Attentando bem para os termos da lei, verifica-se fácil-


mente que o tempo a contar como de campanha é o que se re-
fere ao de embarquqe na esquadra Icual.
Ora, esta denominação só póda ser applicada á esquadra
em que embarcou o durante o tempo em que havia
peticionario
outra, que nao era legal.

Si o da Republica,
governo por actos expressos, como seja
°, a™°
?•!;'¦ > do Ministério da Marinha, expedido ao chefe
<io instado Maior General da Armada em 30 de julho de 1895,
declarou, conformando-se com o parecer emittido Su-
pelo
premo Iribunal .Militar, as datas até quando
quaes se, deveria
contar como de campanha os serviços
prestados nos navios, ou
losse no Rio, ou em Santa Catharina e Rio Grande do Sul, ó
.claro que os limitesjndicados
marcam a terminação das opera-
çoes e a incorporação dos demais vasos: de guerra à esquadra,
que üahi em deante não tinha mais que ser differenciada de
outra com o qualificativo — legal, a que se refere a lei n. 404
em seu paragrapho único.

A allcgação
do requerente de que recebeu vencimentos de
campanha dezembro ate
de 1894, emquanto que o® seus ser-
viços loram computados, como de campanha, sómente até abril
do mesmo anno, não isto, esse acto
procede, por que do Go-
verno não pode exprimir que a esquadra se achasse em ope-
rações de guerra.

Nestas condições, nada havendo a interpretar, a Commis-


são de Marinha e Guerra é de parecer que a petição do capi-
tão-tenente Wil.frid Francis Lynch deve ser archivada.

Sala
das Coinmissõej, cm setembro de 1912. — R. Paixão,
— Antonio Nogueira, relator —João
presidente. Vcspucio de
Abreu c. Silva.—Souza e Silva.—J. Augusto do Amaral.—
Mario Uermes. — Raymundo Arthur.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 333

São successivamente lidos e vão a imprimir os seguintes

PROJECTOS

N. 214 A—1912

Instituo no Brazil o Tiro Naval Brazücíro, nos termos do regu-


lamento approvado pelo aviso n. 4 .(>39, de 6 de abril de
19H, do Ministério da Marinha, e dá outras providencias ;
com parecer favoravel da Commissão de Marinha e Guerra

O n. 214, de 1912, de autoria do Deputado flu-


projecto
minense Sr. Dr. Maurício de Lacerda, institue o Tiro Naval
Brazileiro. Tal oomo se acha redigido, o projecto corresponde
ao fimque tem em vista seu autor, que é o de supprir a falta
de uma reserva a Armada, 'proporcionando-lhe ujma
para
classe especial de reservistas exclusivamente destinados ao

seu serviço.
Elle fonstitue um grande passo para a regulamentação
das reservas com que deve contar a Marinha para os casos de
emergencia e o consegue sem violência ou constrangimento

para quem quer que seja. E' uma isimples applicação á Armada
da lei que, estabeleceu o sorteio e alistamento para o Exercito
adaptando-a á Marinha, de accôrdo com as condições especiaes
dos indivíduos.
Como primeira consequencia resulta do projecto que os
•membros do Tiro Naval ficam desde logo isentos de servir no

Exercito, da obrigação que assumem de servir na Ar-


em vista
mada necessário,
torna-se,
pois, afim de evitar confusão, es-
;
tatuir que os membros do Tiro Navai não poderão fazer parte
do Exercito, disposição essa que cabe na autorização da regula-
mentação do art. 5°.
Gabe igualmente nessa .autorização a restricção da m-

acripção como reservistas aos membros das sociedades nau-


brazileira.
ticas que forem de nacionalidade
Sob o ponto de vista da technica naval militar, o projecto

corresponde ás contingências proíisionaes ; por sua instrucção

nautica e «sua familiarizarão com o mar, os membros das so-

ciodades nauticas possuem requisitos essenciaes para a presta-


de grande valia a bordo dos navios de guerra,
ção do serviços
necessário submettel-os a uma instrucção pre-
sem que, seja
os conhe-
liminar mais ou menos prolongada o fastidiosa. Com
elles, em pouco tempo, tor-
cimentes geraes que já possuem
o ser-
nar-se-hão aptos, mediante uma pratica summaria, para
Viço não especializado, da Marinha de guerra, propor-
geral,
cionando a vantagem de constituirmos uma parte das guarni-
intelligente, educado e conscio dos seus
ções com um pessoal
deveres para com a sociedade e com a y>at.ria.
que
A Commissão de Marinha e Guerra é, pois, de parecer
o projecto n. 214, de 1912, merece a approvação da Camara.

— R- Paixão,
Saladas Commissões, 19 de setembro de 1912.
— Augusto Carlos de Souza e Silva, relator.—
.presidente.
— H. Ar-
João Vespucio de Abreu e Silva. — Antonio Nogueira.
— Mario Hermes. — J. Augusto do Amaral.
thur.
334 ANNAES DA CA MAU A

N. 214 — 1912

O Congresso Nacional decreta :

Art. 1." E' instituído no Brazil o Tiro Naval Brazileiro


nos termos do regulamento approvado 1.659,
pelo aviso n. do
<> de abril de 1911, do Ministério da Marinha.

Art. 2.° O Tiro Naval Brazileiro se comporá i

a) das sociedades de Tiro Naval ;


b) das sociedades nauticas a elle confederadas.

Art. 3." A essas associações serão extensivas as vantagens


de que goza o Tiro Federal, e, nos moldes deste, constituirão a
reserva do pessoal da Armada.
Art. í." Aos atiradores do Tiro Naval serão igualmente ex-
tensivas as regalias e direitos concedidos aos atiradores do
Tiro Brazileiro e reservistas do Exercito, nos termos da lai
n. 1.860, de \ de janeiro de 1908.
Art. 5." O Ministro da Marinha é autorizado a regulamen-
lar a existencia de-? ;as Sociedades nos termos da lei.
presente
Art. 6." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 1(5 de agosto de 1912. — Maurício de La-


cerda. — Borges da Fonseca.

N. 202 A — 1912

Autoriza <> /'residente da Republica a rever o regulamento das


capitanias portos, de
baixado com n. 6.617, dc
o decreto
2!) de agosto dc 1907 ; com Commiis-
parecer contrario da
são dc Marinha e Guerra

O projecto n. 262, de 1912, autoriza o Governo a rever o


regulamento das capitanias dc
portos, para o fim de estabele-
cer que as matrículas dos indivíduos empregados na. vida do
mar somente paguem o sello do papel e de harmo-
(300 reis),
nizar o serviço das mesmas capitanias com o da nova Inspe-
ctorin de Pesca, dispensando de matricula nos livros daquellas
e. pescadores e marítimos empregados nas embar-
Repartições
cações destinadas á industria da pesca.
Não parece, á Commissão de Marinha e Guerra que me-
reça approvação o projecto referido, porquanto a taxa de ma-
tricula. a que se referem os regulamentos das capitanias não
é fixada nelles, e sim na lei da dareceita, onde osi defensores
medida apresentar emenda. K, como uma necessidade
poderão
do serviço de estatística, e do sorteio, quando em vigor, a
matricula do pessoal empregado na pesca não ser reti-
p<'>de
rada das capitanias de portos.

Sala das Commissões, 19 de setembro de 1912. — II. Paixão,


presidente.—Antonio Nogueira, relatoi'. — João Vespucio de
Abreu e Silva. — Souza e Silva. — J. Augusto do Amaral.—
Mario Hermes. — Raymundo Arthur.
SliSSÃU KM 21 DE SETEMB110 DE i9 1 335

Projecto n. 262, de I!)I2

O Congresso Nacional decreta :

Art. 1." Fica o


autorizado Governo
a rever o regulamento
das capitanias portos, de
baixado oom o decreto 11. 6.617, do
29 de
agosto 1907, do
para o fim de :
a) estabelecer que as matrículas e a revisão das matri-
cuias dos indivíduos empregados na vida do mar sómente pa-
guem o respectivo seilo do papel (300 róis) nos requerimentos,
afim de não continuar o pessoal marítimo sujeito a dous im-
postos de industrias e profissões, aos Estados e
pagando d
União annualme.nte ;
b) harmonizar o serviço das capitanias de com o
portos
da nova Inspeciona de Pesca, tendo, entretanto, absoluta
a
competência e autoridade
dequellas o registro e arrola-
para
mento de todas as
embarcações nacionaes, ficando, porém, di«-
pensados de matricula nos seus respectivos livros- os
pescadores
e marítimos empregados nas embarcações destinadas á indus-
tria da pesca.
Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das sessões, 29 de agosto de 1912.—Aloniz de Carvw
lho. — Octavio Mangabeira. — Souza Brito.

N. 337 — 1912

Autoriza a abrir, peloMinistério do Interior, o credito extra-


ordinário de i,l paru
pagamento das gratificações
addicwnaes devidas ao pessoal docente, do Instituto IJenja-
min Constant

Em Mensagem de 28 do mez findo, o Poder Executivo


pedo
ao Congresso a abertura de um credito extraordinário do
para pagamento <1<; gratificações addieionaes ao
pessoal docente do Instituto Benjamin Constant.
A' Mensagem estão annexas a exposição de motivos o uma
demonstração do credito pedido. Como se vê da lei orçamen-
taria n. 2.5'i'i, de i de janeiro ultimo, sob o n. 25 — Instituto
Benjamin Constant — o Congresso não dou re-
ao Executivo
cursos para attender a essas despezas, ora reclamam o
que
credito pedido para pagamento de pelo dividas
garantidas
principio do respeito a direitos subjectivos, ás quaes a União
se não
pôde eximir.
Assim, a Commissão de Finanças é de parecer seja con-
cedido o credito pedido, o qui' sujeita á consideração da
para
Camara seguinte de lei :
o projecto
Artigo único. Kiea o Poder Executivo autorizado a abrir,
pelo Ministério da Justiça e Negocios Interiores, o credito ex-
traordinario de 21:527$63l occorrer ao pagamento das
para
gratificações addieionaes devidas ao pessoal docente do Insti
336 ANNAES DA CAMARA

tuto Benjamin Constant ; revogadas as disposições em con-


tratrio.

Sala/das
Commissões, 10 de setembro de 1912. — Ribeiro
Junqueira, — Caetano de Albuquerque, relator. —
presidente.
Antonio Carlos. — João Simplicio.—M. Borba.—Felix Pa-
checo. — Homero Baptista. — Galeão Carvalhal.

Com a concessão deste, assim se especificam os vários


créditos concedidos no anno corrente : 7.876:2321937, ouro, e
8.489:517$803, papel.

Data supra. — Caetano de Albuquerque, relator.

MENSAGEM A QUE SE REFERE O PARECER SUPRA

Sus. inembios do Congresso Nacional — Transmittindo-


vos a inclusa exposição que me foi apresentada pelo Ministério
da Justiça e Negocios Interiores sobre a necessidade da con-
cessão do credito extraordinário de 21:527$631, para despezas
de gratificações addicionaes ao pessoal docente do Instituto
Benjamin Constant,, no corrente anno, rogo vos digneis liabi-
litar o Governo com o referido credito.

Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1912. — Hermes R. da Fon-


seca. — A' Oommissão de Finanças.

N. 338 — 1912

Autoriza a abrir, pelo Ministério da Fazenda, os créditos sup-


mentores de
339:055$900 e de 3:868$. este d verba 19' e
'cujuelle
d verba 18 da lei n. 2.544, de 4 de janeiro ultimo,
para dar cumprimento ao art. 97 da mesma lei

Em Mensagem mez findo o Poder Executivo pede


de 14 do
ao Congresso a da Fazenda, dos
abertura,
pelo Ministério cre-
ditos de 359:055$900, supplementar ;í verba 18* — Alíandegas
— o do 3:808$, supplementar á verba 19' — Mesas de Rendas e
— do orçamento vigente,
Collectorias afim de aUender a despe-
/as decorrentes do art. 97 da lei n. 2.544, de 4 de janeiro deite
anno.
A' mensagem estão juntas a exposição de motivos e urna
do credito preciso para occorror a taes despezas.
(demonstração
O art. 97 da lei precitada cogita do pagamento de salarios

aos operários, jornaleiros e diaristas que, comparecendo ao

em todos os dias úteis da semana, terão direito aos


serviço
salarios dos domingos o diasferiados ; 6 para este pagamento
se pedem os créditos supplementares de que se trata.
que

Commissão de Finanças, de accôrdo com a mensagem e


A
sua exposição de motivos, opina pela concessão do credito e

neste formula o seguinte projecto de lei •


sentido

Artig único. E' o Poder Executivo autorizado a abrir, pelo


Ministério da Fazenda, os créditos supplementares de
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 337

359:0Õ5$900 e tio 3:808$, este ú verba 19" o aquelle ú verba 18"


da le.i n. 2.544, de h do janeiro ultimo, para dar cumprimento
ao art. 97 da mesma lei ; revogadas its disposições em con-
trario.

SalaConirniissões,das20 de setembro de 1912. — Ribeiro


Junqueira, — Caetano Albuquerque, relator.—
presidente. de
Antonio Carlos. — João Simplicio. — M. líorba. — Felix Pa-
checo. — Homero Baptista. — Galeão Carvalha<1.

Com a concessão deste, assim se especificam os vários


créditos concedidos no corrente anno : 9.876:232$937, ouro, o
8.852:441$703, papel.

Data supra. — Caetano de Albuquerque, relator.

MENSAGEM A QUE SE REFERE O PARECER SUPRA

Srs. membros do_Congresso Nacional — Transmittindo-vos


a inclusa demonstração da despeza decorrente da execução do
art. 97 da lei n. 2.544, de 4 de janeiro ultimo, nas alfandegas
o algumas mesas de rendas, foi consignado para a não
qual
credito pela mesma lei, rogo vos digneis autorizar a abertura
ao Ministério da Fazenda dos créditos de 35S:055$900, supple-
montar á verba n. 18 — Alfandegas — <> de :J:808$, supplemen-
tar á verba n. 19 — Mesas de Rendas e Collectorias — do exer-
cicio corrente, afim de attender ;í \uella despeza.

Rio de Janeiro, li de agosto de 1912, 91 da Independen-


cia e 24" da Republica.- Hermes Jt. da Fonseca.—A' Com-
missão de finanças.

N. 9 A —1912

Reforma o Laboratorio de Analyses da Alfândega do Rio de lar-


nei.ro, erra laboratorios nas alfandegas de diversos Esta-
dos, dá outras providencias e fixa os números, classes e
vencimentos dc acci.rd-o com as tabcilas que estabelece ;
com emendas da Com missão de Constituição e Justiça e

nub-enienda da de Finanças

O projeoto apresentado pelos dignos Deputados Srs. Salles


Filho, Vietor de Britto e outros, visa dous fins :

a) reformar o Laboratorio de Analyses da Alfândega do


Rio de Janeiro ;
b) e crear outros laboratorios nas alfandegas de diversos
Estado- da União.

Pelo lado constitucional, o projecto não contém disposi-

ção alguma a que se possa arguir o vicio de inconstitucionali-


dade, sendo, aliás, este o aspecto que mais se impõe ao exame
da Commissâo.
Vol. 22
338 ANNAES DA GAMARA

Isto posto, no tocante á sua utilidade, é fdra de duvida


que, pelas razões deduzidas nos diversos considerando a,
que
precedem projecto,o vera satisfazer um o
reclamo domesmo
serviço publico, na parte que propugna a reforma do Labora-
torio de Analyses da Alfandega desta Capital, consagrando,
como algumas
consagra, providencias tendentes a melhoral-a
entre quaes avulta a que concerne ao augmento do pessoal,
a9
considerado na actualidade deficiente attender aos ser-
para
viços cada vez mais crescentes a cargo da repartição alludida.
Quanto a este ponto, é, pois, o digno de ser
projecto
acco.ito pela Camara, com as modificações de detalhe 09
que
debates, naturalmente, hão de suggerir.

Mas, em relação ao segundo isto é, no tocante à


ponto,
creação de outros_laboratórios nas alfandega? de diversos Es-
tados da Federação, á
se GommissSo
affigura razoavel máis
e pratico, autorizar o Governo Federal a entrar em accôrdo
com os governois dos Estados, em cujas capitaes ou cidades
existam laboratórios de analyses, convenientemente organiza-
dos, afim de que essas repartições, mediante, cquitativa e con-
vencionada contribuição, venham a fazer os exames que pelas
competentes alfandegas fcderaes, forem devidamente requiei-
tados.
Com a adopção deste alvitre, fácil de ser levado a effeito,
visto que existem laboralorios estadoaes muito bem montados,
entre Outras, nas cidades de Santos, Rio Grande e Porto Ale-
gre, a União pouparia não pequena despeza com a installaçâo
e custeio de novos laboratorios, sem do serviço e dos
prejuízo
trabalhos technioos, contestados
que, quando porventura pelos
interessados .poderiam vir a ser opportunamente corrigidos ou
ratificados pelo Laboratório do Rio de Janeiro. E, neste sen-
tido, a Commissão de Constituição e Justiça apresenta pro- ao
jecto em exame as emendas que em seguida vão formuladas :
Substitua-se o art. 2°, do e o seu paragraplio
projecto
único, pelo seguinte :

Art. 2." Nas demais alfandegas fcderaes, uma vez que o


serviço publico o exija, o Governo creará laboratorios, conge-
neres ao da Alfandega do Rio de Janeiro.

Paragraplio uriico. Fica o Governo autorizado a entrar em


accôrdo com os governos dos Estados, em cujas capitaes e ci-
dades existam laboratorios de analyses, convenientemente or-
afim de que essas repartições, mediante cquitativa
ganizados,
c convencionada retribuição, venham a fazer os exames que
competentes alfandegas federaes, forem devidamente, re-
pelas
quisitados.

Supprimam-so os arts. 4" e 1 :i com seus paragraphos.

Sala Gommissões,
das 20 de julho de 1912. — Cunha Ma-
chado, presidente.—
Gumercindo Ribas, relator. — Porto So-
brinhú. — Henrique Valga. —- Carlos Mjaximüiano. — Nicanor
do Nascimento. — Mcira de Vasconcellos.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 339

Baseado em fundamentos acce.it a veia


propugna o proiecto
-a atao 11(3 laboratorios,
mon't 1 ,n ou, mais proDria
sí»ccu,is '4° aiialy8os, filiadas ao Laboratório da
andtga 1
do Ilio \1
de Janeiro, em todas as alfandegs do
paiz
sas alfandegas as de Porto
> antos, Alegre
Balna, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Pará, o oro'
jecto dispõe expressamente a fundação,
quanto ás demais
andegas autoriza o Governo
a estende -Je até cilas o le?vicõ
quando considerar opporfcuno. ^«ivi^o

U:m 0'linafJü- Por vezes, no sen-


íido di^rr!"í'aoadi'd?-.h/.rnilíJa-s
annexos a todas as alfandegas
da Republíca Iatü,'10s

a" í)ruJecto (Jo orçamento


7(mripEn',r"n n^n8.»™ da Fa->
zenda paia o oonuite armo, *
escreveu o relator
« Com o desenvolvimento
que se impõe, a esse «serviço
do Iaboratorio (o
de analyses) 11 "i.spc/a
ii™,w,n respectiva Cí terá
7
de ser
auirmnntndi HonJro >i,. i,.,.,.
' nft°
p(,"s fia moUvo
sem institutos ieuaes Pai';l deixar
• P<l(,Kas ,l()s demais Estados
unido. si iici vantagem
Uniãoli ™?S ?,n da
na existcnrin d/i foiwwifnpi^ « a
Í"<I°S 08 Estados- nao aPena® a
GapUaí dâd|ÍJubS»8°Zar

atonos pelas demais


'«Mmd alfande-
kÍs bemohsér\ou ™
que por esta fórma (com
o lábSorio dl Alfinde^. Z «?Yel.
públicos unicamente'corri a população"da' CapTtofda°L?ublica
didí qíS WíiS
ser8;.^'" m^effic^dílvn,|ra,,^««1^
entrc«ucs a0 consumo
generos adulterados ou deteriorada^"
A° relatar o orçamento da Fazenda
. para o futuro exerci-
cio, escreve ainda nesse mesmo pensamento, o relator «E'
despeza que terá de. crescer
(a do Iaboratorio de analvses)
com
a creaçSo, necessaria e inevitável, de laboratoriosénn^or^
junto de outras alfandegas da Republica.
Motivo não ha
excopçao que so abriu á Capital. para a
Si de taes instituto»
benefícios — provetm
e isso é evidenle - sua disseminação s£ impõS
pelas demais regiões do paiz ».
O projwfo n. 0, portanto, veiu ao encontro de opiniões

positivamente expedidas Commissão
pela que, em pareceres
seguidos, realçou a conveniência da
creação de laboratorios em
repartições aduaneiras, — e
ÜJniK essa conveniência, ou
nunor, a necessidade do serviço está devidamente fundamen-
Uüo iios criteriosos consiaerandos
com que o autor do projecto
justuica as varias disposições submetle
que á consideração da
Camara.
()
¦, propósito de evitar o augmento da despeza publica tem
sujo, certamente, o motivo por que ficou até agora adiada a
satislaçao de tão reconhecida
necessidade.
projecto n. 9, porém, remove com acerto esse motivo,
pois
esianeiece imposto para a creação de novos laboratorios e
custeio do todos, imposto cuja renda
será mais que suf.fieiento
para a execução do serviço.
340 ANNAES DA CAMARA

O imposto suggerido é o do 0,5 %. sobre os direitos do im-


portação para consumo cobrados em papel, imposto cuja renda
é orçada, no projecto da receita para 1913, em 102.840:000$,
devendo produzir, pois, 814:200$000.
Será de 544:959$459 annuaes a despeza com a creação e
custeio dos laboratorios que o
projecto expressamente estabe-
lece, devendo apurar-se, portanto, o saldo de 269:240$541.
A Gommissão de Constituição e Justiça, ouvida sobre o
projecto convém na
propondo, approvação,
apenas, emenda
para o fim de autorizar o Governo a entrar em accôrdo com os
Estados em cujas capitaes ou cidades existam laboratorios para
o fim de que estes, mediante módica retribuição, venham a
fazer os exames que, pelas Alfandegas competentes, fossem
devidamente requisitados.
A Gommissão do Finanças, á vista do exposto, opina tam-
bom pela approvação do pnojecto, de accôrdo com o parecer da
Gommissão citada, reservando, porém, o direito de eme.ndal-o,
o que fará opportunamente c isso mesmo em pontos secunda-
rios, pois, nos seus principa.es dispositivos o projecto é por-
feitamente acceitavel. Propõe, porém, desde já, a sub-emenda

que vae redigida em separado.

Sala Coniinissões,
das de setembro de J 912.—Ribeiro
Junqueira, presidente.
— Antonio Carlos, relator. — Galeão
—-Ma-
Carvalha!. — Felix Pacheco. — Caetano de Albuquerque.
nocl Borba. — Homero Baptista. votei pela creação dos labora-
torios e contra o estabelecimento da taxa addicional. — Joãx)
Sirnplicio, vencido. Para crear os novos laboratorios de analy-
ses nas alfandegas de Santos, Belém, Recife, S. Salvador, Porto
Alegre, S. Luiz e Fortaleza e melhorar as condições do
pessoal
e do material do Laboratório de Analyses da Alfandega desta
o — a
Capital, rrèa sob a. rubrica—-Taxa de analyses
projecto
taxa addicional de Vh ;%i sobre os direitos de consumo, papel.
¦Não me de bom aviso aconselhar a creação dessa
parece
nova taxa addicinoal 110 momento actual, em que todos procla-
mam acliar-se esgotada a capacidde tributaria do paiz o ser ne-
reduzir se pro-
cessario as despezas publicas ; nem justo que
curo'sujei lar a um novo ônus todos os produetos importados,
¦est.ãò
actualmente, desces sómente os alimentícios
quando,
obrigados ás taxas de que Iratam a>< tabollas que acompanliam
o art. 5o da lei n. 81::, do 23 de dezembro de 1901.
Si as condiçõesfinanceiras do Tehsouro não permittem quo

dentro dos recursos ordinários se executem as medidas constan-


é preferível aguardar-se melhores tempos.
tes do projecto,

da Comviissão dc Constituição e Justiça


Sub-cmcnda

Ao único do art. 2o :
paragrapho
: —com os Governos dos Estados —,
Depois das palavras
accrescente-se : e dos municípios.

GommissÕes, 20 de setembro de 1912. Ribeiro


Sala das
— Galeão Carvaihal.— Antonio Carlos.
Junqueira, presidente.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1012 341

Manoel Borba. — Caetano — Felix


de Albuquerque. Pacheco.
Homero Baptista. — João
Simplicio.

Projecto n. 9, de 1972

O Congresso Nacional decreta :

Art. 1." O Laboratorio de Analyses da Alfandega do Rio do


Janeiro, sob a immediata
fiscalização e inspecção da reape-
ctiva alfandega, superintenderá o serviço de que trata o
art. 2o, resolvendo todas as duvidas
que nelle, se suscitarem em
relação ao ponto de vista technico.
Art. 2." Ficam creados laboratorios de analyses)'
(secçõeã
nas Alfandegas de Porto Alegre, Santos, Bahia, Pernambuco,
Ceará, Maranhão e Pará, com os mesmos fins e attribuições do
Laboratorio de Analyses do Rio de Janeiro.
Paragrapho único. Fica o Governo autorizado a estender,
opportunamente, esse serviço ás demais alfandegas.
Art. 3." Os nos laboratorios
Esados reger-se-hão pela
me&ma legislação applicavel ao do Rio de Janeiro, cabendo-
lhes, entretanto, plena autonomia scientifica.
Paragrapho único. Comquanto os laboratorios se devam
occupar de analyses bromologicas, o seu fim será
principal
auxiliar o fisco na appliçação e cobrança dos devidos impostos.
Art. 4." Depois de installadas as secções de analyses nos
Estados, as analyses que se tornarem necessarias nas reparti-
ções 1'iscaes do Amazonas serão realizadas laboratorio do
pelo
Pará, nas do Piauhy pelo tio Maranhão, nas do Rio Grande do
Norte, Parahyba e Alagôas pelo de Pernambuco, nas de Ser-
gipe pelo da Bahia, nas do Paraná e Santa Catharina pelo do
Santos, nas de Matto Grosso pelo do Rio Grande do Sul e nas
do Espirito Santo, Minas Geraes e Goyaz do Rio de Ja-
pelo
neiro.
Art. 5." Para installação e custeio dos serviços creados por
esta lei cobrar-se-ha, a partir de janeiro de 1913, nos despa-
chos de importação, sob a rubrica — taxa de analyses — a por-
centagem de 0,5 % sobre os direitos de consumo-papel, em logar
das taxas da tabella B( actualmente em vigor.
§ 1." Pelas analyses por requeridas directa-
particulares,
mente ou por intermédio de qualquer autoridade publica, serão
cobradas taxas de accôrdo com a tabella A, do art. 5" da lei
n. 813, de 23 de dezembro de 1901, mediante do respectivo
guia
laboratorio.

§ Os saldos
2." d'a receita adquirida com as providencias
desta lei de uns outros exercícios financeiros,
passarão para
em escripturação especial, até completa organização e instai-
lação dos serviços de analyses nas alfandegas.
Art. 6.° A installação dar-se-ha á medida que o Governo
fòr obtendo habilitado para esse fim.
pessoal
Art. O Governo 7."consolidará a legislação relativa á no-
cividade das bebidas e alimentícios, fazendo alte-
produetos
rações (pie julgar convenientes, podendo confiar a organização
desse trabalho a uma commissão de chimicos e de hygienistas.
342 ANNAJ1S UA CIAM A HA

Art. «.• Para e exacto cumprimento da que dispõe esta lei


Ias alfandegas e .seus respectivos laboratórios devem observar
o estabelecido no art. 4» e seus paragraphos da lei n. 813, de 23
de dezembro de 1901.
§ As 1."
amostras enviadas aos laboratorios pelos confe-
rentes devem sei' authenticadas e acompanhadas de boletins,
conforme se pratica na Alfândega do Rio de Janeiro.
§ 2." Os dias tomados com a extracção da amostra e exe-
cução da analyse não serão contados cobrança da arma-
para
zenagem.
Art. 9." Quando qualquer um dos laboratorios julgar no-
eiva alguma mercadoria, communicará immediatamente o re-
sultado da analyse ao inspector da respectiva alfandega. Igual
communicação será feita ao Laboratorio do Rio de Janeiro,
soientificando-o detalhadamente do oxame realizado.
§ 1." O laboratorio que julgar nociva qualquer mercadoria
romatterá cópia do resultado da analyse aos demais laborato-
rios, com as necessárias indicações ; competindo ao Laboratorio
de Analyse- da Alfândega do Rio de Janeiro communicar o
facto ás alfandegas onde não existam laboratorios e aos con-
sules brazileiros do ponto de origem e da capital do paiz ex-

portador.
§ 2." ü inspector da alfandega qual estiver
na depositada
a mercadoria condemnada marcará razoavel afim de que
prazo
o importador a reexporte, communicando-o telegraphicamente
aos inspectores das outras alfandegas, com o fim de impedir
a sua entrada nacional. em porto
8 3." Findo o prazo, si não frtr prorogado justa causa,
por
eerá a mercadoria inutilizada e imposta a multa de um conto
de róis ao importador, de accArdo com o art. 15 da lei n. 489,
de 1F» de dezembro de 1897.
§ 4.° As demais alfandegas, recebida a communicagao de
haver sido condemnada mercadoria, não darão sa-
qualquer
hida a idêntico, do mesmo fabricante ou exportador,
produeto
sem analyse, deverá ser requisitada do copforjru-
previa que
dade com o art, 4.,
§ 5.® EsBa protjibíç&o será levantada nas alfandegas que
não tiverem laboratorio, desde, que em novo exame o Labora-
isento
torio de Analyses da Alfandega do Rio de Janeiro declare
de substancia nociva o mesmo produeto.
(5.° O interessados podem recorrer das condemnaçõe6
§
Rio de Ja-
dos laboratorios nos Estados para o Laboratorio do
nova ana-
neiro e das próprias condemnações deste para uma
outro caso, por uma
lyse, que deverá ser procedida, em um e em
de tres ehimieos deste mesmo laboratorio, sendo
commissíío
dous tirados de uma escala organizada annualmente, pelo dire-

ctor, ficando suspensas as determinações dos §§ 1" a ató de-

cisão final. . . „„ , , ,
interposição de recurso o interessado terá o
§ 7." Para
na Nova Consolidação de Leis das Alfandegas,
prazo estatuído
da intimação feita a reexportação da merca-
a contar para
doria. _ .. ,
de interposição de recurso, serão retiradas
§ 8.° No caso
tres amostras da mesmn partida, soido uma do volume d° qual
SESSÃO EM 21 UE SETEMBRO DE 1912 343

houver sido extrahida a primeira e as duas outras do volumes


différentes, com assistência do interessado, préviamento. disso
scientificado, de um chimico e de um empregado fiscal, os
quaes com parte interessada rubricarão
a as amostras, autlien-
ticando-as de modo a impedir a substituição das mesmas ou
adulteração do producto que as constituí!.
Art. 10. As alfandegas communicarão mensalmente o total
da receita arrecadada conforme o art. 5° do Laboratorio do
ltio de Janeiro, para a devida escripturação.
Art. 11. U nume.ro, classe o vencimento do pessoal do
Laboratorio de Analyses da Alfandega do Rio de Janeiro e dos
laboratorios nas alfandegas dos Estados são os das tabellasi A,
B, C e D.

§ 1." As Ubellas B, C o I) começarão a vigorar depois de


organizados os respectivos iserviços.
§ 2." As despezas de installação serão as constantes da
tabolla E.
Art. 12. Para os logares de cliimicos-chefes ser
podem
nomoados profissionaes de reconhecida competencia indopen-
dente de concurso, tendo preferencia os tiverem, pelo
que
menos, cinco annos de serviço em laboratorio congenere offi-
ciai.
§ 1." Podem também ser nomeados, cm commissão, os

primeiros e segundos chimicos, percebendo, nesse caso, além


dos seus vencimentos, mais a gratificação do cargo de chi-
mico-chefe.
§ 2." As primeiras nomeações de chimicos, depois de apro-
veitados os candidatos classificados no ultimo concurso, serão
feitas livremente pelo Governo.

§ 3." As duas ultimas


de classes
esoripturarios do Labo-
ratorio (primeiros e segundos) cujas categorias actualmetei
correspondem a terceiro o quarto da Alfandega do Rio de Ja-
¦ m a ter as denominações de e
neiro pas/ segundos, terceiros
quartos, sendo pelo Governo designados os empregados que
devem occupar esses cargos.

Art. 13. O Governo poderá mandar todos os annos um


ou dous chimicos afim de se aperfeiçoarem nos principaes
laboratorios estrangeiros, com a obrigação de apresentarem
um relatorio circumstanciado dos estudos e observações que
houverem feito.
era
§ 1." Esses chimicos p>lo director tendo
serão indicados
vista a antigüidade revelada,
e dando
applicação preferencia
aos que se distinguirem por trabalhos originaes.
2.° Esses empregados além dos seus venci-
§ perceberão
mentos mais a a titulo de ajuda de custo
gratificação que
fôr votada esse fim.
para
Art. 14. Os escripturarios ao quadro dos es-
pertencem
oscripturarios das respectivas alfandegas, servindo nos labora-
torios por designação dos inspectoros, mediante proposta do
director ou dos chimicos-chefes.
Art. 15. A razão para o calculo das quotas nas alfandegas

que tivorcm laboratorio será elevada proporcionalmente tio


344 ANNAES DA GAMARA

augmento do numero de quotas marcado nesta lei, de modo


que o valor das mesmas continue inalteravel.

Art. 1G. Fica o Governo autorizado a abrir os necessários


créditos para execução da presente lei.

Art. 17. Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 27 de. maio do 1912.—Salles Filho.—V.


Britto. — Mario Hermes.—-Joaquim Pires.—,Romingos Mas-
carenhas. — João Vespucio de Abreu e Silva. — Camillo de
Uollanda. — Serzedello Corrêa.—Diogo Fortuna. — Najbuco de,
Gouvèa. — Carlos Maximiliano. — /{. Arthur.— João Gayoso.
— Luciano Pereira. — Hosannah de Oliveira.—Eduardo Sai-
boya. — Thornaz Delphino. — Florianno de Britto. — Fiyuei-
redo Rocha.

TABELLA A

Tabella do numero, classe e vencimentos do pessocd do Laboraj-


torio de Analyses da Alfandega do Rio de Janeiro

Ordenado Quotas Total

Direetor 10:000$000 20 10:000$000


Primeiros chimicos G:400$000 12 32:000$000
Segundos ditos 4:800$000 10 28:800$000
Terceiros ditos 3:G00$000 8 28:800$000
P r i m e i r o escripturario
(chefe da secretaria). 6:400$000 12 tt:400$000
Segundo escripturario.... 4:800$00ft 10 4:800$000
Terceiros ditos 3:600$000 8 7:200$000
Quartos ditos 2:400$000 6 4:800$000
Porteiro-conservador .... 3:600$000 8 3:G00$000
Contínuos 1:400$000 6 2:800$000

29 129:200$000

274 quotas, segundo o valor official (347$G35).. 95:251$990


Gratificação annual a um auxiliar do archivo... 2:400$000
Salarios a cinco serventes a 2:345$ 11:725$000

Material :

Livros, iornaes scientificos, objcctos de expedien-


te, talões e publicações 8:000$000
Acauisicão de reactivos, instrumentos e conser-
vação destes 12:000$000
Despezas extraordinarias e eventuaes, inclusive
o asseio do edifício .^:000$000
Consumo de gaz 1:500$000

263:076$990
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 345

TABELLA D

Tabclla do numero, classe a vencimentos do pessoal do Labo-


ratorio da Alfandega de Santos

Ordenado Quotas Total


Chimico-chefft 7:200$000 20 7:200$000
Primeiro chimico 4:800$000 10 4:800$000
Segundos chimicos 3:G00$000 14 7:200$000
Terceiros ditos 3:000$000 10 <>:000$000
Terceiro escripturario 3:000$000 10 3:000$000
Quarto dito 2:000f000 8 2:000$000
Gonsevador 2:000$000 8 2:000$000

32:200$000

140 quotas a 262$295 28:852$450


Salarios a serventes (tres) 1:440$ 4:320.§000

Material :

Livros, jornaes scientificos, objectos


de expediente, talões e
publica-
ÇÕes_... 3:000$000
Aequiüieao de reactivos, inetrumen-
tos e, conservação destes 5:000$000
Despezas extraordinarias e even-
tuaes, inclusive o asseio do edi-
ficio 1:200$000

Consumo de gaz «OO.fSOOO 10:000$000

75:372$450

TABELT.A C

Tabclla do numero, classe e vencimentos do pessoal dos Labo-


torios de Analf/ses das Alfandegas do Pará, Pernambuco,
llahia e Porto Alegre e respectivo material

Ordenado Quotas Total

Chimico-chefe 5:000$000 20 5:000$000


Primeiro chimico 3:200$000 16 3:200$000
Segundos ditos 2:600$000 14 5:200$000
Quarto escripturario 1:3001000 7 1:300$000
Conservador 1:600$000 8 1:600$000

16:300$000

Salarios a serventes (dous) 2:000$000

Material :

Livros, jornaes scientificos, obje,ctos de expedi-


ente, talões c publicações 2:000$000
346 ANNAES DA GAMARA

Acquisição de reactivos, instrumentos c conserva-


ção destes 3:000*000
Despozas extraordinarias e eventuaes, inclusive o
asseio do cdificio 1:000*000
Consumo de gaz 800*000

25:100.5000

4 laboratorios a 25:100$ 100:400*000

Quotas :

79 quotass no laboratorio da Alfan-


dega do Pará 19:097*697
79 quotas no laboratorio da Alfan-
dega de Pernambuco 17:33-iípS12
79 quotas no laboratorio da Alfan-
dega da Bahia 11:899*138
79 quotas no laboratorio da Alfan-
dega de Porto Alegro 18:960*000 67:291*647

167:9613647

TABELLA I)

Tabelln do numero, classe e vencimentos dopessoal dos Labo-


ratorio de Analyscs das Alfândegas do Maranhão e Ceará e
respectivo material

Ordenado Quotas Total

Chimico-chefe 4:000$000 17 4:000*000


Primeiro eliimioo 2:600*000 14 2:600*000
Quarto escripturario 1:0001000 1:000*000
Conservador 1: 600*000 1 1:600$000

4 9:200*000

Salário a s-ervente (um) 1:000$000

Material :

Livros, jornaes scientificos e objectos de expedi-


talões
ente, e publicações 1:000*000

Acquisiçiio de reactivos, instrumen-


tos e conservação destes 1:500*000

Despezas extraordinarias o even-

tuaes, inclusive o asseio do edi


ficio ooosooo
500*000 .5:600*000
Consumo de gaz

13:800*000

13:800* 27 :600*000
Dous laboratorios a
SESSÃO KM 21 Dlá SETEMBRO DE 1912 347

Quotas :

44 quotas no
laboratorio do Mara-
nlião 6:137$428
44 quotas no laboratorio do Ceará.. 5:080$944 11:218$372

38:818$372

TABELA E

Despezas de installação e aos encarregados de a


(/ratificação
executar

Laboratorio cio Analyses da Alfandega do


Rio de Janeiro :

Substituição do mobiliário, acquisição de mesas


do trabalhos chimicos, reforma, das existen-
tes, armanos, modificações de comparti-
mentos, acquisição de apparelho», livros,
revistas, jornaes scientificos, collecções de
leis e despezas extraordinarias 100: :000$000
Ajuda de custo a dous chimicos 13), 16:000$000
(art. papel.
Laboratorio de Analyses da Alfandega de
Santos :

Despezas do installação, acquisição de material


necessário e gratificações aos empregados
designados para fazer a installação 100:000f?000

Laboratórios de Analyses nas Alfandega» do


Pará, (Pernambuco, Bahia e Porto
Alegre :

Despezas de installação,
gratificação aos empre-
gados encarregados de fazel-a, acquisição
do material necessário, cada um a 50:000$. 200:000$000
Laboratorios de Analyses das Alfandegas do

Maranhão e Ceará :

Despezas de installação, gratificação aos on-


carregados de fazel-a, acquisição
do mate-
rial necessário, a 30:000$ 00:000$000

476:000$000

Demonstração fia receita e despezas com os laboratorios crcados


no projecto, comparativamente com as do Laboratorio de
Analyses da Alfandega do Rio de Janeiro

Despeza :

Laboratorio do Rio de Janeiro 2G3:076$990


Laboratorio de Santos 75:3728450
3Í8 ANNAES DA CAMARA

Laboratorios do Pará, Pernambuco, Bahia e


Porto Alegre 1(57:G91$647
Laboratorios do Maranhão e do Ceará 38:818$372

Total 544:959$459

Receita 0,5 %i sobre 149.000:$ 745:000$000

Saldo annual..., 200:040$541

Demonstração da receita e despezas actuavs (1911)

Receita :

Laboratorio de Analyses (Rio de Janeiro) 202:470$000

Despeza :

Verba votada 109:800$000


Crema) extraordinário 18:580$625 188:38^$625

Saldo effectivo verificado em 1911 14:089$375

O Sr. Presidente—Está. finda a leitura do expediente.

A denuncia lida será enviada á Commissão Especial de que


trata o Regimento logo que esta seja eleita.

O Sr. Mello Franco — Peço a pela ordem.


palavra

O Sr. Presidente — Tom a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Mello Franco (pela ordem.)—Communioa ú Mesa


que o seu iIlustro collega Sr. Camillo Pratos deixa do compare-
cer á sessão por motivo de força maior.

O Sr. Presidente — A M'esa fica inteirada.

O Sr. Jayme Gomes — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Jayme Gomes (pela ordem.) requer que sejam pu-


blicados os protestos, que manda á Mesa, contra o projecto de
divorcio.

Consultada, a Camara concede a publicação.

— Tem a o Sr. Martim Francisco.


O Sr. Presidente palavra

—De en-
O Sr. Martim (movimento de attenção)
Francisco
viamento do Paulo recebo e de S.
agradeço, Sr. Presi-
governo
dente, a Synopse da Receita e Despeza, Activo e Passivo do Es-
tado de S. J'ai(lo em 30 de junho de 1912 ; leio-a e, acto conti-
SESSÃO KM 21 DE SETEMBRO DE 1912 349

nuo, remettü- \. Ex. ;isubmetia á approvacão


para que da
€asa o requerimento :
seguinte
«Requeiro do Ministério da Fazenda informações de a
quanto attinge a responsabilidade do Estado de S. Paulo para
com a União, em consequencia dos emprestimos de três
milhões
e quinze milhões de libras para a valorização do caie. »
E facilmente me explico assim
por que procedo.
Na alludida Synopse,fls. \ c 5, leio as seguintes parcellas,
respectivamente na
receita e na despeza : do Thesouro
letras
emittidas no semestre : 55.«52:195$476 letras do Thesouro,
;
resgatadas no semestre : 57.653:091$903.
Ora, primeira vista,
á e é explicável engano da
qualquer
parte de quem, como eu, tem a mesma ignorancia fácil dos seres
adversarios (mo), parece que ;i segunda e maior dessas quan-
tias nada mais e sinao pagamento da
primeira, explicada a dif-
íerença pelos juros e pelo sello. Será isso í Esta pergunta,
Sr. Presidente, justifica o embaraço em
que me deixou o que
vem assim constatado a fls. 19 da referida Synopse. ; letras do
Thesouro, saldo em circulação : 101.420:738$077.
O para mim
caso ficou, Sr. Presidente, credor de enorme
espanto 1 Uma administração, dirigida pelo distincto brazileiro
Francisco de. 1 aulajlodngues Alves, communica-me que, tendo
com 55 resgatado 57, ficou devendo 101 ! Palavra : não entendo.
Que letra» são essas, na avultadissima somma de cento e um
mil contos ? de onde
? porque essas vieram
letras ? quantas ?
quem descontou vqual o
as juro que as precedeu na respectiva
'!
acceitação onde estão ellasV quaes véus
prazos .' Estas interro_
Sr. Presidente, acodoin-me. á curiosidade
gativas, justamente
quando á memória me vem este trecho da interessante mensa-
gem com que o aetual governador da minha terra se dirigiu ao
Congresso regional em exereicio :
«Nãoposso dizer-vos como se fará a liquidação final da
valorização do café, porque não são bastantes os elé-.nentos que
possuo, neste momento, e os trabalhos dessa liquidação depen-
dem de circumslancias que podem variar.»
Esse topico exjiressivo, a que até parece escripto por mim
(riso), mais me enche de conjecturas a attenção relativamente
a esses cem mil contos de letras rio Thesouro de S. Paulo. Terão
sido cila , mi ainda serão, bilheies por antecipação da receita,
constituindo um arremedo da invenção norte-americana em
1861 obtenção de recursos contra o seu se.ccionado, essas
para
«não feitas por adeantamento de lucros, o
pequenas despeza-'¦»,
ás quacs se refere .a citada
mensagem, em português inilludivel,
poucas linhas abaixo do trecho que ha pouco li? (Apartes)
Não. Absolutamente não é possível que, com uma receita orçada
em pouco menos de setenta mil contos, o governo emittlsse

quasi o duplo por antecipação.


Tratar-se-lia de gastos com a valorização ? E' possível, em-
bora pouco que assim succedesse. Taes gastos tecm
provável
na Synopsr rubrica especial, e não é possível que os realizasse
o governo paulista sem audiência, -em licença explicita do go-
verno da União, seu fiscal como endo . ante do quinze milhões
e.sterlinos, seu credor pela entrega responsável de Ires milhões.
J5° ANNAES DA CAMARA

Deixemos, porém, as duvidas que ladeiam o momentoso


assumpto. Approve a Gamara o seu requerimento,
e a verdade
apparecerá ou, quando menos, será encontrado um caminho
que a ella nos approxime.
Aproveitoa opportunidáde para tocar em caso
politico que
tem tal
qual relação com a minha presença neste recinto. Refi-
ro-me a incidente, ante-hontem havido,
quando discutia o orca
me?í;9. ^a, Agricultura. Não disfarça a bancada a que pertenço
a diliiculdade em que se acha para defender os dous dignos
iunccionarios que tão bem se hão desempenhado dos serviços
dessa nova repartição administrativa ; o
para assim acontecer
nada lia mais contribuído do que a publicação dos discursos
opposicionistas em simples resumos, e com, aliás explicável no
caso, suppressão dos apartes. E calcule, V. Ex„ Sr. Presidente,
quando avwltam semelhantes embaraços, quando por essa omis-
são de publicidade é responsável um dos mais bellos talentos
desta Gamara, o illustre Deputado mineiro Galogeras...

O Sr. Calookras— Recebi hoje as tachygraphicas


provas
do meu discurso. Ainda não as abri. O Diário Official publicou
um resumo não foi feito
por mim, embora calcado em algu_
que
mas por mim fçrnecidas. Esse resumo,
notas aliás, traduz bem
os conceitos que aqui profe.ri. Agora creio haver comprehen-
dido que o nobre Deputado me attribue haver intervindo na
questão da política paulista. Digo a S. Ex. que não creia em
tal «ousa.

O Sr. Martim Francisco — O aparte com que me distingue


o nobre Deputado restringe muito o eu dizer.
que pretendia
E' o caso de á
parabéns paciência da Gamara. (Não apoiado.)
Disse o nobre Deputado : o interesse feriu
partidário, porém,
logo o apparelho nascente e, afastado o primeiro Ministro, sue-
cedeu-lhe o Sr. Rodolpho Miranda, cuja Praia
passagem pela
vermelha o orador se abstem de qualificar.
A rota do Sr. Cândido Rodrigues fôra estabelecer normas
flexíveis, elásticas, dando a cada serviço meios de viver e
progredir, segundo suas características próprias.
O novo Ministro, alheio ao assumpto, transformou-se em
mero instrumento de subordinados irresponsáveis, e„ dias depoi^
de nomeado, organizoudefinitivamente a secretaria, dando-lhe
bases rígidas, inflexíveis, constrictoras de toda iniciativa,
quiçá
da vida profícua dos serviços technicos.
própria

O nobre Deputado absteve-se de o nome do


qualificar
Sr. Rodolpho Miranda na de Agricultura. Supprimirei a
pasta
deficiencia proposital de S. Ex.

Sr. Oalooeras — Devo recordar


O que declarei que me
abstive de
qualificar pelo muito respeito que me merecem todas
as opiniões.

O Sr. Martim Francisco — Neste caso espero que respeite


a minha. Protestei immediatamente contra as palavras do nobre
Deputado...

O Sr. Cammjeras — E' exacto.


SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 351

O Sn. íMaiitim Francisco— ... com a franqueza com que


costumo dizer o praticar reclamei, asseverando
; protestei, que
o tír. Miranda, respeitável chefe de ama corrente
jloclolpno de
opinião em S. Paulo, agricultor e industrial, leal e intelligente
de ' 'ra
necessaria
dispunha coin; para occupar a pasta mi-
nisterial í;ue tantos serviços lhe deve. Incompetente o Sr. Ilo-
dolphü Miranda para ser Ministro da Agricultura
por ser agri-
cultor e industrial ? (Riso.)

Ah ! quem se livra das injustiças na vida política ? Ainda


hontem, creiain tive de refutar em conversação o erro com
que o Sr. Rodolpho Miranda asseverara fazer ao nobre Deputado
a mesma opinião que delle o nobre Deputado fazia. Injustos,
injustíssimos ambos. Ambos e de ambos contando
o patriotas,
paiz serviços e. dedicação (apaioados), e nenhum delles mere-
cendo aquella censura com que Faguet no estudo do culto de
incompetência, discorda das atrajjalhações com
que o Legislativo
busca liodiernamente atrapalhar a acção Administrativo.
do
Agradecendo ao nobre Deputado, mais uma vez,
o honroso
aparte que me dispensou de quasi todo o discurso que eu
com
tinha a agradavel obrigação de
proferir hoje, peço-lhe dar por
(terminado o ligeiro incidente que, nem por minutos, alterou a
sympathia que tenho pela superioridade dos seus talento
; li-
mitando-me a declarar que, tendo o Sr. Rodolpho Miranda, com
auxilio de competentes, organizado
por partes a Secretaria da
Agricultura, com sequencia administrativa
e inspirado nos elo-
giaveis modelos da Argentina e dos Estados Unidos, coube ac seu
successor a remodelação de vários regulamentos para ulterior
uniformidade, trabalho esse em nada feriu
que planos primi-
tivos.
d© terminar, Sr. Presidente, mo vem
Antes á lembrança in-
cidente que desejo annotar. Refiro-me a aparte interrom-
que,
pendo outro que eu dera ao nobre Deputado, alludia a officios
reservados do br. Rodolpho Miranda.
Os reservados... Ora, liquidemos isso de vez. E' Senhor
o
Rodolpho Miranda accusado de, quando Ministro, distra-
haver
hido dinheiros públicos em assumptos reservados. Essa ac-
cusação appareúeu e repete-se pela mais feia das fôrmas; pela
injuria indeterminada. Positivasse-a a calumnia, e a resposta
seria immediata; que a melhor maneira de desconeeituar a
calumnia, dizia neste recinto José de Alencar, é divulgal-a..
{Aparte do Sr. Calou crus.)

O Sk. Marti m Francisco—{interrompendo o aparta) —


V. Kx. offende-me suppondo-me capaz querer offendel-o.
de
Estou-me referindo a um aparte interrompeu outro aparte
que
meu, incidente cm que V. Ex., de facto,
não tomou parte.
Continuo. Era a quarta vez recinto, apparecia
que, neste
allusão aos ditos reservados. Repliquei em termos. Repito
agora desenvolvidamente, o quanto possível, essa replica.
Não ha reservados do Sr. Rodolpho Miranda; ha os do
Ministério da Agricultura. Bom 6 isso fique bem
que consi-
gnudo e entendido.
352 ANJXAKS DA CAMARA

ac^e 0', a9C0'tarei a discussft» dos reservados


,1™ ,^ais' i (e os
do do Ministério Rodolpho Miranda
^inpo não chegam á quantia
c<?"t,os de réis) com o homem
jen publico, de respon-
Ksoilidade effectiva, declarar
que assumir a responsabilidade
ae semelhante discussão no Parlamento.
Uma das obrigações inilludiveis da vida publica é a con-
iiança na energia da honra.
própria E a honra é um senti-
mento tão subjectivo que o seu
juiz é, afinal de contas, a pro-
Pna victima. Quem se dedica competentemente ás- vicissitudes
ua vida publica, tem muitas vezes de padecer a injuria e
tolerar a calumnia em homenagem a interesses sociaes de
natureza reservada. (Apoiados.) Mas o campo da injuria tem
um limite que se chama paciência e esla
quando eliminada cos-
luma algumas vezes deixar passar no desastre
os proprios ac-
cusadores: esses que nao tiveram
a prudência com que estou,
desta tribuna, a dosar objectivações e escolher termos
que não
comprometiam a dignidade do meu paiz.
Sr. Presidente, Rodolpho Miranda foi Ministro em uma
phase de organização da secretaria. Mais: em uma phase em
que a mentalidade brazileira, visitada por notabilidades, ap-
plaudmdo Item, Ferdinando Martini, Clemenceau, Durante,
Pântano, comprehendia facilmente quanto á publicidade de
seus applausos poderiam corresponder reservas a cargo de
dirigentes responsáveis.
Perdoe-me a Gamara a supposição,
que pôde transparecer
no meu discurso, de ignorar
ella essas cousas. Perdoe-me cila
a injuria, mesmo com a fôrma delicada
que lhe dei. A injuria ú,
em regra, zangada, violenta, apressada; fere e foge, mas por
mais que corra, lá de longe os perdões coxos, vesgos, não a
perdem de vista e quando da victima e esta
passam porto os
acolhe immediatamente a ferida cicatriza. bem.)
(Muito
» 1111 niythologia, a lenda dos perdões. Repito-a de
.
Homero; aquelle apezar de cego, via
poefa que, longe, muito
longe, iluso. Muito bem; muito bem. O orador é muito cum-
primcntauo.)

Vem á Mesa, lido, apoiado e em


posto discussão o se-
guinte

UlíQU EIUMKNTO

Roqueiro do Ministério da Fazenda informação dc a quanto


attinge a responsabilidade do listado de S. Paulo para com
a União em consequencia dos empréstimos de 3.000.000-0-0
e 15.000.000-0-0 de libras para a valorização do café.

Sala das sessões, 21 dc setembro de 1912. — Martim Fran-


cisco.

E' encerrada a discussão e adiada a votação.

O Sr. Presidente — Tem à o Sr.


palavra Octavio Rocha.
S138SÃO EM 21 DE SETEMBUO DE 1912 3Í3

0 Sr. Octavio Rocha — gr. Presidente, na outra Casa do


Congresso Nacional os eminentes Senadores da Republica Ilay-
mundo do Miranda e Araújo Góes entenderam discordar do
acto do Sr. Ministro da Viação o Obras Publicas annullando
a concurroncia aberta para construcção, uso do
e goso porto de
Jaraguá.
A consideração que merecem os illustres representantes
da Nação obriga a uma explicação detalhada das razões quo
levaram o Sr. Ministro da Viação a esse acto.
E' o que vou tentar fazer.
O porto do Estado de Alagoas ó uma antiga
aspiração
daquella terra. Datam de os 1874
estudos desse porto, dos
quaes foi encarregado o engenheiro Andréas Gernadak, que
apresentou memória justificativa e orçamento, oste no valor
de 7.700:0003, ouro.
O americano
engenheiro John Hawkshan concordou com
o projecto Gernadak, dando o
plano do algumas modificações.
Ate 1890 nenhum melhoramento foi
autorizado 110 porto do
Alagôas.
O Governo Provisorio, no intuito de impulsionar o desen-
volvimento paiz Jazendo diversas
do concessões de estradas de
ferro e portos, incluiu entre estas a do de Jaraguá, com privi-
legio por í)0 annos, garantia de juro de (5 % para o capital que
fosso fixado pelos estudos, privilegio que foi concedido á Com-
panhia Industrial e de ConstrucçÕes Ilydraulicas.
Os estudos definitivos e o respectivo orcamenLo, 110 valor
de 17.415:310$333,foram approvados Governo
pelo em decreto
11. 808, de 1802.
Esse privilegio loi depois transferido a uma companhia
ingleza, lhe National Brazihan Harbour.
Desaccôrdo entre esta e o Governo na assignatura do
eontracto determinou a rescisão deste, com
indemnizacão one-
rosa para os cofres públicos (do 900:000$000).
Não mais se fallou no Jaraguá. Em virtude de autorização
orçamentaria (as taes autorizações que tão criticadas são nesta
Casa) o porto tomou de novo a attenção do Governo em 1911,
isto é no,anno passado.
Em março desse anno o Governo deliberou á
proceder
revisão dos estudos melhoramento
para do referido porto, man-
dando organizar um projecto definitivo de obras, de modo quo
o respectivo custo estivesse de harmonia com a receita pro-
vavel que se auferisse com o imposto de 2 ouro, e demais
%,
taxas pela lei
autorizadas do 1809.
Pessoalcommissão do porto do Recife, sob a dirocçílo do
da
integro engenheiro Dr. Alfredo Lisboa, após os estudos in loco.
organizou um projecto, que o Dr. Souza Bandeira submetteu
á approvação do Governo, elogiando-o como obra de valor.
O orçamento é da importancia de 15.607:71'i$000.
Esse projecto foi submettido á apreciação dos engenheiros
do ministério Drs. Souza Bandeira, Costa Couto o Leandrç)
Costa, dando estes seus pareceres, modificando, detalhes dç>
excellente trabalho do Dr. Alfredo Lisboa.

Vol. w
354 ANNAES DA GAMARA
r

Coin estes estudos o Governo achou-se habilitado a abrir


concurrencia para execução da obra, cumprindo assim a auto-
rização legislativa.
Em officio de 12 de agosto do anno passado, officio que
tem o n. 252, o Sr. Dr. Adolpho Del Vecchio, director technico
da commissão fiscal e administrativa das obras do porto do
Rio de Janeiro, apresentava á approvação do Ministro da
Viação a minuta do edital de concurrencia para construcção
do porto de Jaraguá.
Tomando conhecimento deste edital, feito de accôrdo com
a lei n. 2.350. de 31 de dezembro de 1910, art. 32, 2a parte do
n. 61, o Sr. Dr. Leandro Costa, chefe da Directoria Geral de
Viaçlio e Obras Publicas, propoz duas modificações, uma refe-
rente ;'i clausula XI o a outra referente á clausula XVII. (/>;)
O Ministro de Estado, o iIlustre o digno cidadão que dirigo
brilhantemente, na época actual, os destinos da Bahia, tendo
feito que estes papeis transitassem pelos canaes competen-
com
tes, mandou abrir concurrencia publica, tomando em conside-
ração os pareceres das diversas secções do seu ministério.
O edital foi publicado com o prazo de DO dias, começado do
28 de agosto de 1911.

Recolhidas as foram elIas abertas em 2 de


propostas,
dezembro de 1911. Os proponentes haviam sido todos julgados
idoneos.

Apresentaram propostas:

N. 1 — Pedro de Almeida, Francisco de Ainorim Leão e

engenheiro Arthur Prado. Preço, 9.379:514$500. Prazo, 55

annos.
N. 2 — Société Française d'Entreprises de Dragages e do

Travaux Publics. Preço. 11.698:362$430. Prazo, 85 annos.


N. 3 —Anaiole Gollot e Dannot & Comp. Preço

10.412:71í»$700. Prazo, Ví annos.


N. /( —Engenheiro João Proença. Preço, 11.081 :091 $900.

Prazo, 70 annos.
N. 5 —Oliveira, Almeida. & Comp. o Oscar de Almeida
'i9
Gama. Preço, 9.751 : 538^320. Prazo annos.

Em 9 de janeiro deste anuo, a nomeada


commissão pelo
sobre a e composta dos
ministério para dar parecer proposta,
Couto, José Martins Romeu e Alcides Medeiros,
Srs. Manoel
veredictnm.
o classificando,
seu pela clausula XLIX
proferiu
logar a proposta de Pedro
em de Almeida,
do edital, primeiro
Leão e engenheiro Arthur Prado, e pela
Francisco Amorim
e preço) a de Oliveira, Almeida & Comp.
clausula XLVII (pfazo
o direito ffue
Essa commissão declarou, resalvando-se, que
1.746, de 13 de outubro de 1860, se reserva o Go-
pela lei n.
não foi tomado em consideração.
vcrno pelo resgate
o Ministro^ da Vi ação
A' vista da dubiedade do parecer,
mandou ouvir o director da sucção technica
Dr J. J. Seabra
Alfredo Lisboa, <jue proferiu o seu parecer
mócòtrva, !**•
commissão, dizendo que o critério
discordando do da primitiva
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 355

adoptado por esta nao lhe parecia o mais consentanco com os


dizeres das cláusulas XLVJI e XLTX. Uma de inter-
questão
pretar juros.
Terminou classificando em 1" logar a de Pedro
proposta
de Almeida e outros, em 3" logar
a de Oliveira Almeida & Comp.
Chamava a attenção lambem cal-
para o caso dos preços,
cülados suppondo o_ material de construccão imporlado livre
de direitos, o que não era mais em vista do art. 2"
permittido
lettra b, da lei n. 2.544, da receita geral da Republica o
para
corrente exercício.
Eallou, então, a Directoria da Contabilidade do ministério.
O Sr. Rocha Miranda, chefe desse serviço, disse logo no
começo do seu
parecer:
« Não preciso muito acurado estudo para me convencer que
esta concorrência deve ser annullada.»
A idéa da annullação não partiu, em logar,
pois, primeiro
do Sr. Del Vecchio.
Diz mais Miranda o Sr.
o edital se Rocha
affastou
que
do preceito taxativamente
estabelecido na lei que manda que
a concurrencia versará apenas sobre o preço da unidade ou da
totalidade da obra, do arrendamento ou do fornecimento, con-
forme o que tiver sido posto em licitação.
E conclue assim, ao analysar as opiniões da commissão
e do Dr. Lisboa:
«Basta a divergencia de tão abalizadas opiniões in-
para
quinar de illegalidade a concurrencia realizada e determinar
a sua annullação e a publicação de novo edital.»
Disse, então, o inspector de portos Dr. Del Vecchio.
Este engenheiro, em luminoso parecer, opina anuulla-
pela
ção, depois de discutir o caso.
Depois ile fazer um ligeiro resumo dos o
pareceres,
Sr. Di'. Del Vecchio diz:
«Como se vê do exposto, conforme o critério adoptado,
assim variam os resultados obtidospara a classificação do
merecimento das propostas, aeerescendo ern caso algum
que
tomou-se em linha de conta o ijii.antum, que terá de o
pagar
Governo no caso de querer utilizar-se da faculdade lhe
que
assiste de resgatar a concessão, no fim de certo o que
prazo,
representa urna vantagem a favor da proposta de prazo mais
curto.»
A divergência provinha de ser dada a cada um a faculdade
de tomar prazo á vontade.
o
Demais, o edital ia de encontro á lei n. 2.221, de 30 do
dezembro de 1900, art. 54,que regula as concorrências pu-
blicas e exige a unidade determinada, substituindo de um modo
confuso o methodo simples e immediato de decidir a proposta
mais vantajosa para o Estado.
Deixemos de parte irregularidades se deram na con-
que
currencia.
Argumentemos coçn os factos principaes:
Em face dessa divergência de critérios e classificações,

o Sr. Ministro da Yiaçuo, tomando em consideração o relatorio


3S6 ANNAKS DA CAMAKA

do Dr. Del Vecchio, procurou ver de onde cilas provinham


e concluiu que o oito todo era da confecção do edital, que 1'ôra
íeito uma lei da Monarchia revigorada na cauda de um
por
orçamento. ,
Effectivamenle, o edital adoptou para a conslrucçao do

lei de 188G.
porto de Jaraguá a
Esta lei foi no orçamento da
emendaAgricultura feito

bancada do Rio Grande do Sul cogitava da con-


pela quando
a cobrança
strucção da barra e porto do Rio Grande e autorizava
das taxas maximas seguintes:

2 % sobro a importação directa do estrangeiro;


i % sobre a generos nacionaes;
importação dos
1'%' sobre a exportação para o estrangeiro;
1 V-i % sobre a exportação para os portos nacionaes.

l'or de carga
tonelada importada ou exportada para o

1$G00, por navio do vela 1$100.


estrangeiro: por vapor
Por tonelada de carga importada ou exportada para portos
nacionaes: vapor i$100, navio de vela estrangeiro
por por
800 réis, por navio de vela nacional 400 réis.

Quando o orçamento, com a emenda, estava em discussão,


coinmerciaes do Rio Grande pediram a substi-
as associações
lançadas sobre
tuição das taxas por outras por ellas estudadas,
sobro o e parte sobre o valor, a
as mercadorias, parte peso
saber: , ,
do cominercio internacional, transportadas
Mercadorias
sobre
por navios de vela 1$680 por tonelada de peso e 1,44 /
o seu valor official. ,
vapor: 2$620 por tone-
Ditas de dito transportadas por
lada de peso e 2,1(5 % sobre o seu valor official.
Mercadorias do commercio inter-provincial, transporta-

das por navios de vela: 1$120 por tonelada do peso e 0, Jo /a

sobre o seu valor official. ,


Ditas de dito transportadas por vapor: 1$680 por tonelada

de peso e 1,44 % sobre o seU valor official.


O pedido foi satisfeito e a emenda formulada pela repre-
rio-grandense interpretando mal o pedido, fez
sentação que,
as taxas sobre os navios, importando em uma verdadeira
recahir
de taxas, as associações cominerciaes ja as
duplicata pois
haviam incluído na sua proposta.
Foi preciso formular outra lei era
188/ para corrigir esse

0110
de 1880 nem a de 1887 foram, porém, applicadas
Nem a lei

em contractos. .... .
serviu do base a concurrencla,
pois foi essa lei de 1886 que
sobre taxas duplas.e inconstitucional cx-vi dos
nrovidenciando
claramente redigidos, quanto
arts 7" e 0" da Constituição, bem
da cobrança de taxas sobre importação e ex-
;i competencia
Dort icâo "vale
o Governo foi fez o edital e, por
Não dizer que quem

cabia .dcfendel-a. . .
isso,
o tarde reparar o erro..
Erraix htímanum est e nunca para
SKStiÃO KM 21 D li SKTKMBBO l>12 1912 317

Nem o Tribunal do Contas registraria semelhante con-

iracto
Ministro fez ouvir ainda o da directoria do
O Sr. pessoal
ministério. . .. .
Ilelvecio Limoeiro não opina annuliaçao, eu-
O Sr. pela
o edital é lei da concurrencia o que as propostas
zendo que
edital. Não a lei do 188(> nem
estão dentro do discute, poróm,
Acceita-o e conclue approvação da proposta
o edital. pela
Amorim Leão.
Costa Couto acceila o edital. i\ao o
O Sr. Dr. também

discute, mas diz que o estudo das é dilTicil porquanto


propostas
dous he-
trata-se de comparações, tendo-so em vistas pontos
uma da
terogeneos, e termina o seuparecer com pergunta,
deixa depender a acceitação desta ou daquella proposta:
qual
preferível para o Governo
« Será que o commercio pague
annuaes de juros 49 annos e que mi-
monos 22:021$ durante
1.108:429$,ou receber Governo as vantagens da
portam em o
nos seis annos que decorrerem de 49 a 55 annos e quo
reversão
importam 110 lucro avaliado ein 2.2(K>:438$823?»
Leandro Costa não ó annullação, mas deixa
O Sr. pela
assignar contracto torna-se necessário um
claro que para o
o as taxas pela de
accòrdo com proponente para substituir

Z ouro, recahindo nas condições do novo edital.


%, 'Conclue
favoravelmente á Amorim Leão, tendo
proposta
a uma
reduzido preço e prazo unidade só.
fim subiram os ao Sr. Dr. Silva Freire, con-
Por papeis
sultor technico do ministério.
não é annullação da concurrencia, mas declara
Este pela
desconhecer o inconveniente futuro de taxas,
quo não pôde
taes como estabeleceu o edital de concurrencia.
de ora dar preferencia
Depois á proposta Amorim Leitão,

Oliveira, Almeida & Comp., o Dr.


a de Silva Freire conclue
ora
dizendo que «difficil ó estabelecer uma supe-
o seu parecer
verdadeiramente apreoiavel do uma sobre outra»,
rioridade
de vantagem iminediata a de Amorim Leão e de
considerando
vantagem a de Oliveira, Almeida iV Comp.
remota
o Sr. ministro da vi ação
Eis ahi o problema posto para
" °
o
Não'houve ao parecer do inspector de Portos
contestação
razões, tanto mais valiosas
Canaes. Ficaram pé as suas
de
correspondiam a penitenciar-se do erro de ter concoi-
quanto
dado com o .edital. ,
unidade na noiiagao
A lei das concurrencias, a falta de
as taxas c a
(prazo e preço), a inexequihilidade de applicar ,iu
contra para soiuuo
inconstitucional de 1880, tudo depunha

oada qual
O Sr. ministro, pareceres,
vendo a balburdia dos
concluindo de uma fôrma sol) pontos ue \ ista
o argumentando
escolher uma pro-
üifferentes, viu-se na impossibilidade de
ora o derivante dessa anarchia
posta e verificando que o edital
a pelo despacho
resolveu sabiamente annullar coneurrenoia
a Camara conhece.
que
358 ANNA15S DA GAMARA

Nada mais logico nem mais moral.


Devia S. Ex. persistir 110 erro de seu ministério e esperar
que o Tribunal de Contas negasse registro ao contracto que
losse lavrado?
Não, por certo.
Estava autorizado o ministério a abrir coneurrcncia. Assim
o fez. Antes de escolher proposta, verificou que o edital fòra
mal leito. Nada mais logico que annullar tudo e procurar solver
o problema mais de accArdo com os interesses da União e do
glorioso Estado de Alagôas.
E1 o que se vae fazer 110 novo edital.
A justa aspiração de Alagôas será satisfeita, mas não com
condiçPes onerosas e sim no regimen geral da lei de portos.
O Sr. Ministro da Viação recebe com especial. agrado
critica elevada aos seus actos e leu com especial attenção os
discursos dos dous eminentes Senadores da Republica, não
tendo, porém, se convencido que deva modificar o seu meditado
despacho sobre a concorrência para o porto de Jaraguá.
S. Ex. coma homem publico, não terá pejo em declarar
que errou quando o seu erro fôr demonstrado sufficiente-
mente
No caso porém, apezar da elevação da critica e da auto-
rizada fonte donde partiu, S. Ex. não se convenceu que deve
alterar a sua resolução publicada.
Obedecendo ao Regimento e ao vosso delicado appello, di-
zendo-ine que a hora está terminada, eu concluo, Sr. Presi-
dente, declarando que estou prompto a discutir ainda o caso
do porto de Jaraguá si novos argumentos forem apresentados
contra o despacho do digno e illustre rio-grandense que dirige,
com brilho para o seu nome e honra para a sua terra, a pasta
da Viação e Obras Publicas 110 actual Governo.
Tenho dito. (Muito bem; muito bem.)

0 Sr. Presidente — Está finda a hora destinada ao expe-


dionte. j

O Sr. Meira e Vasconcellos — Peço a ordem.


palavra pela

0 Sr. Presidente — Tem a palavra o nobre Deputado.

0 Sr. Meira tí Vasconcellos (pela ordem) —Peço a V. Ex.


Sr. Presidente, que consulte a Casa si consente na publicação
de documentos que mando á Mesa, de protestos contra o di-
vorcio.
Consultada, a Gamara concede a publicação podida.

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. DEPUTADO MEIRA E VAS-


CONCELLOS, OS QUAES SÂO ENVIADOS k GOMMISSÃO DE CON-
STITUIÇÃO K JUSTIÇA.

17
«Recife, de setembro — Dr. Vicente Meira — Ban-
— Rio — Nome diocese conjuro
cada pernambucana pernam-
bucanos salvarem familia brazileira. — Arcebispo.»
SESSÃO 131 21 UE HDTIi.YlBKO UK 1 í> 1J 359

« Contra o divorcio — Pastoral do arcebispo de Olinda —

Luiz, por mercê de Deus e da Santa Si? Apostolica, arcebispo


metropolitano de Olinda, etc. — Aos meus amados filhos. —

Paz e benção no Senhor.


Gomo si já não foram bastanteos males que assoberbam
a sociedade agita-se o mais prejudicial e indecoroso attentado,

que visa p fundamento da mesma sociedade — a família, pro-


l.êem
pondo-se nas Camaras o nefasto divorcio, cujos effcitos
sido tão funestos aos povos cujos legisladores, ultrapassando o
mandato que receberam, collaboraram a ruina moral da,
para
seus eleitores.
Ainda vibram na sala do Senado Brazileiro as palavras
energicas e cheias de fogo do
brilhante Senador Gomes do
Castro, repellindo com indignação idêntica proposta.
Depois de por o dedo nas feridas sangrentas, quea impru-
dencia dos nossos licurgos, na vesanica sêde de legislar, tem
aberto neste pobre Brazil, perorava, com aquelle timbre do voz,

que lhe era especial:


«Pelo amor de Deus; deixem-nos ao menos a familia,
único que ainda nos resta!»
bem
E' acaso de repetirmos este pedido.
Para nós catholicos não pode haver logares de duvida, pois
é principio de fé a indissolubilidade do laço matrimonial, e
como tal, firmado na instituição divina, tendo o Salvador de-
clarado que o homem não tenha a temeridade de separar o

que Deus uniu. Que Moysés autorizou o divorcio «pela dureza


dos Judeus», mas «no principio não foi assim», o que na nova
lei permaneçe o laço, o que torna «adúlteros» os que rece-
bessem os separados, segundo se 16 em S. Marcos, S. Lucas o
S. Paulo.
Mas,pondo de parte o ponto de vista religioso, acredi-
t.amos que o simples pudor não autoriza a união com o pre-
supposto intuito da poria aberta para a dissolução da familia
e o incentivo do desprestigio da mulher.
Não acreditamos que o homem honesto tenha a coragem
de prometter à virgem innoeente que vae ser sua, uma fide-
lidade constitucional ou receber uma promessa incerta da per-
manencia de seu amor, que, por sua santidade e fins, deve ser
superior aos aceidentes, que ameaçam perturbal-a.
Não acreditem que o amor
garantida a
dos
julgue pães
felicidade da filha
estremecem, deante dos olhos a tendo
que
realidade brutal do repudio, que sacrificando a prole colloca
o thalamo nupcial em nivel inferior ao leito da prostituição,
porque esta ao monos se occulta e aquella ostenta, com a tinta
de 1 !
legalidade, que o instincto dos irracionaes não admitte
o
Não, filhos,
amados não consintamos nos seja arro-
que
batada a familia, como a possuímos, e que com a apparencia
de remediar um mal, infelizmente ás vozes apparece, en-
que
venene-se fonte moral — «a
a da nossa admiravel grandeza
mulher honrada e prestigiada».
Protestemos bem alto contra a dissipação desse thesouro

que a f6 nos deu o nossos maiores nos conservam.


300 ANNAES DA CAMAKA

Clamemos bem alto: «Não queremos a dissolução da fa-


milia».

Queremos a pátria brazileira como ella 6, bella no sou


fundamento moral.
Clamemos aos nossos representantes — a lei só ó util,
que
quando respeita os costumes honestos dos povos, e que não
approvaremos a prostituição da família.
Sirva-nos de triste exemplo a soi*te dos povos, que gemem
cm conscquencia do arbítrio de seus «pensadores » que para
sua « sociedade » sacrificaram ?. paz e a felicidade de seus con-
cidadões.
Deus esclareça a mente dos nossos representantes deante
deste ponto, para defender a qual não ha differença de crenças
e de idéas, basta a uniformidade da honra.

Soledade, agosto de 1012. — Luiz, arcebispo de Olinda».

O Sr. Presidente — Vae-se do dia.


passar a ordem (Pausa.)
Compareceram mais os Srs. Soares dos Santos, Juvenal
Lamartine, Antonio Nogueira, Aurélio Amorim, Monteiro de
Souza,Luciano Pereira, Firmo Draga, Costa Rodrigues, Chris-
tino Cruz, Cunha Machado, Joaquim Pires, Felix Pacheco, Ray-
mundo Arthur, Moreira da Rocha, Frederico Borges, João Lopes,
Virgílio Brigido, Augusto Monteiro, Simões Barbosa, Meira de
Vasconcellos, Frederico Lundgreen, Costa Ribeiro, Lourenço
de Sá, Augusto do Amaral, Aristarcho Lopes, Erasmo de Ma-
cedo, Miguel Calmon, Mario Hermes, Muniz de Carvalho, Pedro
Lago, Octavio Mangabeira, Ubaldino de Assis, Felinto Sampaio,
Alfredo Ruy, Pereira Teixeira, Arlindo Leone, Moniz Sodré,
Paulo de Mello, Júlio Leite, Metello Júnior, Nicanor do Nasci-
mento, Dionysio Cerqueira, Pereira Braga, Rodrigues Salles
Filho, Thomaa Delfino, Erico Ceoeiho, Pereira Nunes, Mau-
ricio de Lacerda, Raul Fernandes, Augusto de Lima, Ribeiro
Junqueira, Carlos Peixoto Filho, José Bonifácio, Irineu Ma-
chado, Baptista de Mello, Christiano Brazil, Josino Araújo,
de
'Sar-
Galeão Carvalhal, Ferreira Braga, Raul Cardoso, Alberto
mento. Prudente de Moraes Filho, Palmeira Ripper, Bueno de
Andrada, José Lobo, Corrêa Defreitas, Pereira de Oliveira, Celso
Bayma, Gumercindo Ribas, Evaristo do Amaral, Homero Ha-
Carlos Maximiliano, Nabuco de Gouvôa, Osorio, Do-
ptista,
mingos Mascaronhas o João Simplicio (76).

Deixam de comparecer com causa participada os Srs. Ar-


thur Moreira, SerzedelU» Corrêa, João Chaves, Antonio Bastos,

Theotonio de Brito. Dunshee do Ahranches, Agripino Azevedo,


Coelho Netto, João Gayoso, Eduardo Saboia, Thomaz Cavalcanti,

Gentil Falcão, Augusto Leopoldo, Camillo de Ilollanda, Feli-


zardo Leite. Seraphico da Nobrega, Maximiano de Figueiredo,

Baltbazar Pereira, Arthur Orlando, José Bezerra, Natalicio

Cainboim, Rocha Cavalcante, Euzebio de Andrade, Barros Lins,

Baptista Accioly, Joviniano de Carvalho, Felisbello Freire,

Campos França, Carlos Leitão, Deraldo Dias, Rodrigues Lima,

Pedro Marinnni, Leão Yelloso, Jacques Ourique, Pedro eje Car-


SHSSÃO 13M 21 DE SETEMBRO DE 1912 361

valho, Pennaiort Caldas, Eróes da Cruz, Manuel Reis, Souza o


Silva, Faria Souto, Mario de Paula, Alves Costa, Prado Lopes,

Silveira Brum, Astolpho Dutra, João Penido, Landulpho Ma-


Alaór Prata, Francisco Paolielo, Nogueira, Catnillo
galliães,
Pratos, Honorato Alves, Cardoso de Almeida, Joaquim Augusto,
Eloy Chaves, Cincinato Braga, Álvaro de Carvalho, Marcolino

Barreto, Adolpho Gordo, Valois de Castro, Arnolpho Azevedo,

Costa Júnior, Marcello Silva, Fleury Curado, Ramos Caiado,

Oscar Marques, Annibal Toledo, Carvalho Chaves, Gustavo Ri-

ehnrd, Diogo Fortuna e Pedro Moacyr(73).

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

O Sr. Presidente—A lista da anousa a presença do


porta
140 Srs. Deputados.
Vae-se proceder ás votações das matérias que se acham
sobro a Mesa..
Peço aos nobres Deputados que occupem as suas cadeiras.

(Pausa.)
Vou submetter a votos o requerimento da Commissão de

Finanças para que seja ouvida a Commissão de Constituição e


Justiça sobre o projecto n. 274, de 1912, sobro vencimentos
de juizes federaes em disponibilidade.
Posto a votos, tf approvado o requerimento da Commissão
de Finanças.

O Sr. Presidente^—Vou a votos outro reque- submetter


rimento da Commissão para ser de
ouvida Finanças
a Com-
missão de Policia sobro o requerimento de Brasiliano Cavai-
cante pedindo pagamento de 450 exemplares da revista Mar «
Terra.
Posto a votos, 6 approvado.

O Sr. Presidente — Vou submetter a votos o seguinte re-

querimento do Sr. Miguel Calmou:

«Havendo a Commissão resolvido o anno passado, por in-


dioação do illustre representante de S. Paulo, Sr. Adolpho
Gordo, mandar transmittir ao Senado as Bases do Código das
Águas da Republica o Poder Exocutivo incumbira, ein
que
virtude da disposição da lei orçamentaria do 1006, ao eoncoi-
tuado jurista Sr. Alfredo Valladão, de organizar, para que
aquelle ramo do Poder Legislativo da conveniência
julgasse
de serem incluídas como emendas no projecto do Código Civil;
e opinando a Commissão Especial, no que acaba de
parecer
apresentar Acerca deste «não deve o assumpto
projecto, que
ser incluído no Codisro » mas «constitui]1, corno na Hespanha,
objecto do lei especial», proponho, para não retardar mais a
solução do matéria que tanto importa aos interesses economicos
do paiz e que ha quatro annoa pende de deliberação do Con-
AN NA 158 DA GAMARA

gresso, que se nomeie uma Commissâo para tomar conhecimento


daquelle trabalho, devendo, antes de formular
projecto defini-
livo a respeito, harmonizar as Commissões
Especiaes de Minas
e do Codigo Florestal, nomeadas Mesa,
já pela os princípios
commims ao objecto de cada uma dei ias.

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912.— Miguel Calmon.

Posto a votos, é approvado o referido requerimento do


Sr. Miguel Calmon.

O Sr. Presidente — Opportunamente será nomeada a Com-


missão.

Vou submetter a votos o seguinte requerimento do Senhor


Marfim iraucisco, offerecido na sessão de hoje:
«Requeira do Ministério da Fazenda informação de a
quanto attinge a responsabilidade do Estado de S. Paulo para
ceP? a.UniH0 em conseqüência dos empréstimos de 3.000'.000-0-()
e Io.000.000-0-0, de libras
para valorização do café1.»

Posto a votos, 6 approvado o referido requerimento do


Sr. Martim Francisco.

0 Sr. Galeão Carvalha! — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a ordem o nobr«


palavra pela
Deputado.

O Sr. Galeão Carvalhal ordem.) —Sr.


(pela Presidente,
na qualidade de Icader da bancada paulista, tenho honra de
a
enviar «i Mesa a declaração de voto, que fazemos, sobre o re-
queriment.o que acabou de ser approvado pela Camara.

Vem á Mesa a seguinte

DECLARAÇÃO DE VOTO

Declaramos ter votado requerimento de informações


pelo
referentes aos empréstimos do Estado de S. Paulo com endosso
da União e, mais: estamos dispostos
de a votar todos os pedidos
informações relativos ao governo de S. Paulo nos da termos
Constituição Federal. — Galeão Carvalhal. — Bueiro de An-
drada. — Prudente de Moraes Filho. — Ferreira fíraya. —
— Rodrigues
Alberto Sarmento. Alues* Filho. — José Lobo.

O Sr. Presidente — A declaração do nobre Deputado será


consignada na acta.

Vão ser julgados objectos de deliberação diversos pro-


jectos.
HI:SSÃO KM 21 i»IO suTBMUHO uu 101J

Em seguida são successivamente lidos e julgados objecto»-


do deliberação os seguintes :

PUO.I ECTOS

N. 239 — 1912

Autoriza a abertura do credito de 1.000:000$000 para acijui-


sição dc materiaes fixo, rodante e de tracção destinados <í
Esitrada de Ferro Rio a'Ouro.

A Estrada de Ferro Rio d'Ouro, construída para attender


sómente aos serviços de transportes de materiaes e pessoal
para as obras do abastecimento de agua, foi mais tarde aberta
a>> trafego publico, talvez a titulo de experiencia e sem estar
sufficienfemente provida de materiaes fixo, rodante e do
tracção.
Crescendo as necessidades do trafego, foram-lhe entregues
materiaes velhos de outras estradas, sem uniformidade de typos
e sem capacidade
para os fins a que eram destinados.
A baixa das tarifas de lenha e carvão melhorando por um
lado a situação dos moradores da baixada do Rio de Janeiro,
tal crise determinou nos transportes que a Estrada se viu
forçada a allender aos exportadores ordem de inscripção
pela
e com atrazo, ás vezes, de um mez!
As reclamações pela imprensa surgiram em abundancia e,

peza-me dizel-o, com justiça; sómente os reclamantes atacavam


a honrada administração do director da repartição e seus
subordinados, quando a única providencia a tomar era o
augmento do material da Estrada de Ferro Rio d'Ouro.
A tarifa equitativa que o honrado Ministro da Viação houve

por bem adoptar agora, por solicitação minha, em vez da que


lhe precedeu, aliás muito elevada, melhorou a situação affli-
ctiva dos moradores da baixada, mas aprovidencia não ficará
completa si não fôr augmentado o material da Estrada de
Ferro Rio d'Ouro.
Nada explica correndo a alludida estrada em zona
que,
fértil á qual está destinado um futuro, ao lado da
grande
«Linha Auxiliar», para ella não tenham ainda os poderes pu-
blicos voltado a sua attenção, demodo a equiparal-a ás outras
Republica.
da mesma bitola, que convergem para a Capital da
O augmento dos materiaes rodante o de tracção permittirá
o accrescimo de trens de suburbios entre Belford Roxo e Al-
fredo Maia, concorrendo tal medida o desenvolvimento da
para
zona e conseqüente elevação de renda.
A simples inspecção dos materiaes, que venho de alludir,
mostra, mesmo aos não são o esforço
que profiísionaes, que
precisa a administração empregar para attender aos múltiplos
serviços do trafego normal.
364 ANNAES DA CAMAllA

Por taos motivos julgo medida do mais alio o


patriotismo
seguinte projecto do lei:

«Fica o Presidente da Republica autorizado a abrir um


credito de I .OOOrOOOfüOOO para acquisição de materiaes fixo,
rodante e de tracção, destinados á Estrada de Ferro llio
d'Ouro ».

-I912. —Manoel
Sala das sessões, 19 de setembro do lieis.
— A's Commissões de Obras Publicas e Vi ação de Finanças.
e

N. 330 — 1912

Equipara os vencimentos dos amanuenses da Escola Polytechnica


il.o llio de Janeiro aos dos actuacs officiaes da Secre-
faria de Estado do Ministério da Jus\tiça c Ncgoeios lnte-
ri ores.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." Ficam equiparados os vencimentos dos amanuenses


da Escola Polytochnica do Rio do Janeiro aos dos actuaes
3U* officiaes — antigos amanuenses da Secretaria de Estado do
Ministério da Justiça e Negocios Interiores.
Art, 2." O Executivo fica autorizado a abrir os créditos
necessários á execução desta lei; revogadas as disposições em
contrario.

Sala das sessões, 19 do setembro de 1912. — Mctello


Júnior. —. Florianno Britto. — Maurício
dede Lacerda. —
Nicanor do Nascimento. — Saltes Filho. — Faria Souto. —
Erasmo de Macedo. — Borges da Fonseca. — Lundgreen. —
Thom.az Delfino. — Cunha Vasconeello». — Dionisio Ver-
— Figueiredo Rocha. — Pereira — Raphael
queira. Braga.
Pinheiro. ¦ A' Uommissão de Finanças.

N. 331 — 1912

Manda considerar, para todos os cffeitos legaes; como uma


lança ou pensão, obtida em remuneração de serviços ante-
riormente prestados d Nação, o soldo do * officiaes refor-
modos c dá outras providencias.

O Congresso Nacional decreta;

Art. 1." 0 soldo dos


reformados será considerado,
officiaes
legaes. como uma tença ou pensão, obtida
para todos os effeitos
em remuneração de serviços anteriormente prestados á Nação.
Art. 2." Do aecôrdo com a doutrina da imperial resolução
de 25 de novembro de 1834 e da explicação do aviso de 28 de
abril de 1800, o soldo do official reformado em caso nenhum
dev<? deixar de ser abonado, inclusive na prisão, pronuncia ou
SESSÃO UM 21 Dli SETEMBRO »E 1012 365

oondemnação, excepto o desconto da metade, quando em Ira-

lamento nos hospit&es militares.


Ilevogam-se as disposições em contrario.

— Jacques Ou-
Sala das sett-mbro de 1912.
sessões, 19 de
— Olei/ario — Aiij. do Amaral. — Paulo de
Pinto.
rique.
— Caetano da Albuquerque. — Florianno de Britto. —
Mello.
— Raul Cardoso. — Celso Bayma. — Souza e
Dias de Borros.
Silva. — A' Commissão de Marinha e Guerra.

N. 332 — 1912

o de azar, tuxtulo e regulamentado por quem de


Pcrmittc jogo
direito

O Congresso Nacional resolve:

Ari. I •" E' permittido o jogo de azar, taxado e regula-

montado por quem de direito.


Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.

das sessões, 19 1912. — Garção


Sala de setembro de
Stockler,

N. 333 — 1912

Divide as dvlcyacias fiscaes do Thesouro Nacional nus Estados


cm três elasstes e dá numero,• classes e vencimentos ao

respectivo pessoal.

Divide as dolegacias fiscaes do Thesouro Nacional nos

Estados em ires classes e dá numero, classes e vencimentos ao.

respectivo pessoal.
Considerando quo «cm algumas delegacias fiscaes o nu-

de funccionarios 6 actualmente inferior ao existente no


mero
tempo das antigas thesourarias de fazenda, sendo certo que,
época, os serviços não alcançavam a metade ou mesmo
naquella
;i terça dos actuaes», segundo referiu o Sr. Presidente
parte
em sua Mensagem de abertura da actual sessão
da Republica
30 do Diário do Congresso do
ilo Congresso Nacional, á pag.
4 do maio do corrente anno;
uesen-
Considerando que «em outras, pelo excepcional
nas ueie-
volvimento dos serviços e das rendas, notadamente
e no Pará, os respectivos
gacias em S. Paulo, no Amazonas
e completa re-
quadros estão reclamando augmento urgente
forma »; .
nao corresponderá
Considerando que « em geral o pessoal
massa de trabalho que diariamente anlue a repartiçao
enorme
c referente a importantes serviços novos que se vao organizando
nos diversos ministérios»; ,
«atlribuida ás delegacias fiscaes uma
Considerando que,
serviços, taes como a cobrança da divida activa,
grande cópia de
fianças dos exactotes, pagamento de juros dos
prestação" de
366 ANNAES DA CAMARA

tiíulos da divida publica, tomada do contas dos responsáveis,


cofre de orphãos, montepio, pensionistas, estando sob a sua
immediata fiscalização a arrecadação aduaneira, as collectorias
1'ederaes, agentes fiscaes, clubs de mercadorias, proprios na-
cionaes, caixas economieas, naquellas em que se acham annexas,
o pessoal existente ó muitas vezes insuíficientepara ter em
dia todos os trabalhos, attendel-os convenientemente, sem sa-
crificio do expediente, sempre volumoso e as mais das vazes
de caracter urgente»;
Considerando que, em consequencia dessa grande aflluen-
cia de serviços, «não obstante as mais insistentes recommenda-
e os esforços do pessoal das delegacias, não
ções do Thesouro
se ha conseguido evitar o atraso na organização e remessa dos
balancetes, o que causa sérios embaraços á regularidade do

serviço de contabilidade üo Thesouro»;


Considerando que as ponderações expostas na alludida
Mensagem pelo Sr. Marechal Presidente da Republica silo tão

evidentes que, a despeito de ser dada uma gratificação extra-


ordinaria a empregados quando tomam, depois das horas do
expediente, ;is contas dos responsáveis e fazem balanços cm
atraso das deligencias,
mesmas não se tem conseguido nem se
o exige;
conseguirá pôr eni dia esse serviço, cuja regularidade
Considerando que, si «não correm com a regularidade
necessária os serviços a cargo dessas repartições fiscaes », não
sendo ter em dia a tomada das mencionadas contas
possível
e balanços, apezar da vantagem oflerecida, é obvio que isso

acarreta sérios prejuízos aos interesses do serviço publico e dos

particulares:
Considerando que aos empregados se deve proporciona!'
vencimentos que offereçam garantia á sua subsistência;
Considerando que, em taes condições se torna precisa, para
certas classes, a conservação dos vencimentos que estas per-
cebem actualmente, e se devem melhorar os de outras, conforme
s<< verifica do projeclo n. 4ÍÍÍÍ C, de 1910;

O Congresso Nacional decreta;

Ari . 1." As delegacias fiscaes do Thesouro Nacionnl^ nos

Estados ficarão divididas em Ires classe, abrangendo os Esta-

dos seguintes;

4" classr

Bahia, Minas tícraos, Pará, Pernambuco, Rio


Amazonas,
Grande do Sul o S. Paulo.

2" classe

Ceará, Maranhão, Matto Grosso e Paraná.


Alagòas,

3a classe

Goyax, Parahvba, Piauhy, Rio Grande do


Espirito Santo,
Norte, Santa Catharina e Sergipe:
SUSSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 307

Àit. 2." A Delegacia Fiscal no Amazonas, ainda que. per-


tença primeira classe,
ú formará, tendo por base os ordenados
dos respectivos empregados e funccionarios, uma tabella espe-
ciai, devido á gratificação, ser maior do que a dos empre-
por
gados das incluídas na referida classe.
Art. 3." As tabellas annexas sob as lettras A, B e G in-
dicain o numero, classes e vencimentos do respectivo pessoal.
Art. 4."
provimento O
dos logares augmentados por esta
lei só se accesso entre o pessoal da mesma repartição.
fará por
Paragrapho único. Sómente será aproveitado o pessoal
de outra repartição si não houver mais empregado da classe

inferior á em que existirem vagas.


A nomeação de para
primeira entrancia
os só
logares
em
poderá recahir pessoa habilitada em concurso.
Art. r>." Fica autorizado o Governo a abrir os necessários
créditos para a execução da presente lei.
Art. 0." llevogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 1!) de setembro de 1912. — Netto Cum-


—Meira tle Vaseoneellds. — Lowrenço de £>'«. — Manoel
pcUo.
de liarros.— Ari/Marcho Lopes.- - lioryes da Fonseca.— Dias
liarros. — Aristurehc Lopes. — Borges du. Fonseeu. —
de
— Simões Iiurbòsa. — Cunlia —
Cosia Ribeiro. Vusconcellosi.
Auyusto do Amaral.
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372 ANNAE8 DA GAMARA

N. 334 — 1912

Divide os vencimentosi que percebem, os funccionarios das De-


legadas Fiscaes do Thesouro Nacional nos Estados em, dous
terços como ordenado e um terço como gratificação.

Considerando que as leis em vigor concedem aos funccio-


narios em sua generalidade dous terços (2|3) dos vencimentos
que percebem como ordenado e um terço como
(1|3) grati-
íicação;
Considerando que ficam
por excepção excluídos dessa regra
os funccionarios e
empregados aos quaes são concedidas grati-
ficações addicionaes sobre os respectivos vencimentos fixos
por contarem tantos ou quantos annos de serviço publico effe-
ctivo, como acontece no magistério com os das
professores
Faculdades e na Repartição do Correio com os respectivos em-
pregados;
Considerando que, sendo-lhe autorizado pelo Congresso a
conceder uma
gratificação addiciunal aos funccionarios das
Delegacias Fiscaes do Thesouro Nacional nos Estados, o Go-
verno se utilizou dessa autorização, abrindo para isso o neces-
sario credito pelo decreto n. 8.924, de 25 de agosto de 1911;
Considerando que o Governo em sua proposta incluiu a
alludida gratificação, quer no orçamento para o corrente exer-
cicio, no orçamento
quer para o exercício de 1913, e o Con-
gresso concedeu, sendo, além disso, já acceita no parecer da
Commissão de Finanças para o futuro exercício;
Considerando que o Congresso Nacional teve em visla com
aquella medida augmentar os vencimentos dos funccionarios
e empregados das Delegacias Fiscaes, o que o Governo acceitou
e reconheceu corno verdade;
Considerando que se não justifica o proseguimento da
referida gratificação como addicional, o que constituo de certo
modo uma medida odiosa;
Considerando quo ao Congresso Nacional compete igualar
tudo quanto fôr consentaneo com as normas da justiça e do
direito:

O Congresso Nacional resolve:

Art. l.°Os vencimentos que percebem actualmente os


effectivos funccionarios e empregados das Delegacias Fiscaes

do Nacional
Thesouro nos Estados, se constituirão, a partir
de 1 janeiro do corrente anno, de dous terços
de (2|3) de orde-
nado e um terço (1|3) do gratificação, exceptuando-se os dos
funccionarios e empregados da Delegacia Fiscal no Amazonas,

cujos ordenados ficarão equiparados aos das Delegacias Fiscaes


de primeira ordem.
Art. 2.° Revogam-so as disposições em contrario.

21 de
setembro de 1912. — Netto Cam-
Sala das sessões,
— Meira de Vasconcellos. — Lourenço de Sá. — Manoel
pnllo.
— Erasmo de Macedo. — Florianno de Jiritto. — Dias
florba.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 373

de Barros. — Aristarcho Lopes. — Borges da Fonseca. —<

Costa Bibeiro. — Simões Barbosa. — Cunha Vasconcellosi. —

Augusto do Amaral. — Bego Medeiros. — A' Commissão de


Finanças,

N. 335 — 191

Crêa em vários Estados da Bepublica tantos logarcs de juizes


substitutos seccionaes quantos os districtos eleito-
forem
raes em que se dividem osi territorios dos mesmos Estados,
de aeeôrdo com-, a lei n. 1.423, de 27 de novembro de 190!i,
e dá outras providencias.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." Nos Estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio


de Janeiro, Minas Geraes, S. Paulo o Rio Grande do Sul haverá
tantos juizes substitutos seccionaes quantos forem os districtos
eleitoraes em que se dividem os territorios dos ditos Esta-
dos, de accôrdo com a lei n. 1 .425, do 27 de novembro de 1905.

§ 1.° Cada um dos ditos juizes exercerá, jurisdicção sobre


o territorio comprehendido nos mencionados districtos elei-
toraes, cujas sedes serão também os dos instituídos
juizados
presente lei.
pela
§ 2." Os juizes substitutos nos referidos Estados serão
classificados pela ordem dos alludidos districtos, segundo a
divisão estabelecida pela lei mencionada, e nessa ordem substi-
tuirão o juiz seccional nos impedimentos deste.

§ 3.° Nos municípios que forem séde das circumscripções


de trata o § 1" haverá, além do juiz substituto, os tres
que
8uppl«ites e o ajudante de procurador da Republica creados
138, da lei n. 1.269, de 15 de novembro 1904.
pelo art. de
Estes supplentes,
porém, só funccionarão ahi na falta ou
impedimento do juiz substituto e, em tal caso, exercerão, na
ordem respectiva, a jurisdicção plena que compete aos ditos

juizes.
§ 4." Os juizes substitutos de que trata o presente artigo
serão nomeados pelo Presidente da Republica dentre os cida-
dãos habilitados em direito e servirão durante seis annos,
com sendo dous
os vencimentos constantes da tabella annexa,
terços de ordenado e um de gratificação.
Art. 2." Aos juizes substitutos seccionaes, nos Estados e

no Districto das attribuições expressas nas leis


Federal, além
em vigor, e julgar civis e com-
compete processar as causas
merciaes, de natureza federal, afé o valor de dez contos de reis,
com appellação, nos effeitos legaes, para o juiz seccional.
Paragrapho único. Excedem sempre a alçada desses juizes
as questões:

a) de direito criminal;
í») de direito constitucional;
r) de direito internacional, ou privado;
publico
374 AN NAUS UA UAMARA

d) de divorcio, nullidade ou annullação de casamento;


e) de marcas de fabrica e privilégios de invenção;
{) as que derivarem de actos administrativos do Governo
Federal ou das autoridades administrativas da União que oífen-
dam direitos individuaes;

y) as que se fundarem em convenções ou tratados da


União com outras nações;
h) as que, directa ou indirectamente, interessem o Go-
verno da União ou a Fazenda Nacional, como autora ou ré.
assistente ou oppoente;
i) as em que fôr parte algum dos Estados da União.

Nessas causas exceptuadas, qualquer que seja o respectivo


valor, continua a pertencer aos juizes seccionaes a competencia

para o respectivo processo e julgamento, com recurso para o


Supremo Tribunal Federal.
Ari. 3." A interposição de appellações de juizes substi-
tutos para o juiz seccional pôde ser feita, ou em audiência ou
por despacho do juiz o termo nos autos, intimando-se a outra
parte ou seu procurador.

§ 1." O prazo dentro do qual devem subir os autos á


instancia superior ó de 30 dias, contados da data da publicação
do despacho pelo qual fôr recebida a appellação, sendo o dito

prazo commum a ambas as partes a não se podendo prorogar


ou restringir, nem se interromper por superveniencia de férias.

§ 2.° Apresentados os autos da appellação no juizo seccio-


nal, o escrivão do mesmo juizo, ou nos Estados em que houver
mais de um escrivão o que fôr designado pelo juiz seccional,
escreverá nelles, sob a sua rubrica, a data do recebimento e
os fará conclusos ao dito juiz, que ordenará por despacho O

pagamento dos direitos devidos e as diligencias necessarias.

§ 3." Si as partes já houverem arrazoado na Ia instancia,


o juiz mandará logo dar vista ao procurador seccional, se
fôr caso de ser elle ouvido. Si as partes não houverem ainda
arrazoado na inferior instancia, o juiz mandará logo dar vistas
a cada uma dellas, ou seja singular ou collectiva, por 10 dias

improrogaveis, findos os quaes os autos da appellação ."subirão,

com razões ou sem ellas, ao juiz seccional.


4.° O juiz a appellação no prazo de 30 dias.
§ julgará
5." As appellações procedentes do juizado da sede da
§
Becção federal subirão á instancia superior nos autos originaes,

independente de traslado, e as demais appellações subirão em

original, deixando traslado das


peças essenciaes.
Art. 4." Dos aggravos interpostos dos despachos profe-
juizes substitutos conhecerá o juiz seccional, nos
ridos pelos
dos arts. 717 e seguintes, terceira, da Consoli-
termos parte
approvada polo decreto n. 3.064, de 5 de novembro de
daçâo
1898 ... -
Art. 5.° Os conflictos de jurisdicçao, positivos ou nega-

tivos, dos juizes substitutos entre si na mesma secção federal,


juiz seccional respectivo. Os conflictos
serão decididos pelo
entre os ditos e os Estados, e os daquelles substitutos
juizes
I

KHHSÃO EM ai l)E SKTKMBUO DE 11)12 375

em uma secção federal com iguaes juizes de outra, serão j>ro-

cessados e julgados pelo Supremo Tribunal Federal.


Art. 0.° Em matéria criminal, compelem aos juizes substi-
creados por esta lei, todas as attribuiçõtís conferidas pela
tutos,
em vigor aos referidos juizes na sede das secções
legislação
federaes, inclusive o preparo dos processos e o despacho do
ou não pronuncia.
pronuncia,
único. Os autos de recurso de pronuncia
paragrapho
seccional immediatamente depois de lavrados
subirão ao juiz
ou lotío
os termos respectivos, quando o recurso for voluntário,
depois de publicado o despacho do juiz summariante, quando

o recurso for ex-offinio. .


os autos de juízos
forem cuja sede
Quando provenientes
federal, apresentará os autos
não seja a da secção o escrivão
de suspen-
110 correio no prazo de vinte o quatro horas, sob pena
seis mezes, e archivará em cartório o certificado da
são até
entrega.

Art. 7." Ficam creados nas sédes dos juízos substitutos

de que trata o art. Io desta lei os logares de adjunto do pro-

curador seccional, com exercício na respectiva circumscripção

e os vencimentos constantes da tabella annexa.


Estes funccionarios serão nomead.os e demittidos livre-
da os cidadãos habi-
mente pelo Presidente Republica, dentre

litados em direito.

adjuntos do competem,
§ 1.° Aos procurador seccional
o respectivo juiz substituto, todas as attribuições eon-
perante
feridas ao procurador seccional pelas leis em. vigor.
referidos adjuntos receberão
§ 2.° Os e os ajudantes
do procurador seccional, ou directamente do pro-
instrucções
da Republiea.
curador geral
Art. 8.° Junto a cada juizo substituto, com séde fóra da
seccional, haverá um escrivão e tantos officiaes de
do juízo
forem necessários.
justiça quantos
será nomeado secção, na
§ 1." O escrivão pelo juiz de
na legislação em vigor, o os officiaes do
fôrma prescripta
pelo juiz junto ao qual servirem.
justiça
serão os da tabella annexa.
§ 2." Os vencimentos

9." Fica o Poder Executivo autorizado a mandar


Art.
Penal, de modo a pôl-a de
rever a edição official do Codigo
modificado, e a
harmonia com as o teem
differentes
que leis
ao mesmo código, em que
incluir nella os textos posteriores
factos não no dito
forain qualificados como crimes previstos
codigo. , . ,
Fica igualmente autorizado o mesmo
Paragrapho único.
das reie-
Poder Executivo a mandar rever a Consolidação
n.
rentes á justiça federal, a que se refere o decreto ^•ll«4,_de
5 de novembro de 1898, de modo a adaptal-a as moditicaçoes

sobrevindas, decorrentes de leis posteriores.

Art. 10. Os vencimentos dos substitutos e demais


juizes
funccionarios creados lei se regularão pela ta-
pela presente
376 ANNAES DA GAMARA

bella seguinte, sendo dous terços de ordenado e um de gra-


tificação:

Juizes substitutos 4 :800$000


3:600$000
procuradores seccionaes
Adjuntos de
Escrivães 1:800$000

Official de justiça, (um) 600$000

Art. 11. Para pagamento dos funccionarios referidos fica


aberto o necessário credito.
Art. 12. Revogam-so as disposições em contrario.

das sessões, setembro de 1912. — Afranio de


Sala
Mello Franco. — A's Commissões de Constituição e Justiça o
de Finanças.

N. 336 — 1912

Concedo d viuva do Senador Cassiano do Nascimento, ernf/uanto


100$ a cada
o fôr, a pensão mensal de 600$, c bem,assim
um de seus filhos menores, etc.

Considerando que o mallogrado Senador Alexandre Cas-

siano do Nascimento prestou extraordinários serviços íi Repu-

blica, no Congresso Nacional, quer nos cargos de aditii-


quer
nistração que exerceu em agitada época da vida paiz; do
Considerando que aquelle inditoso parlamentar morreu
deixando sua familia sem recursos para manter a
pobre,
subsistência;
Considerando o mallogrado cidadão foi sempre de
que
uma honestidade a toda prova e de uma notável abnegação
civica:

Propomos o seguinte

PROJECTO DE LEI

O Congresso Nacional decreta:

Art. I.° E' concedida ;i viuva do Senador da Republica


Alexandre Gassiano do Nascimento, 1). Anna Nunes do Nasci-

mento, emquanto o fôr, uma pensão mensal de 000$, e bem assim


a de 100$ a cada um de seus filhos menores Maria de Lourdes,

Conceição o Manoel, com reversão âs filhas emquanto solteiras

o filho'emquanto menor.
Art. 2.° Revogam-se as disposições em contrario.

sessões, 19 de setembro de 1912. —• Fonseca


Sala das
Herrnps. — Octavio lincha. — João Vespucio de Abvtu <;
Silva'. — Pereira Braga. — Victor de Britto. — Nicanor do

Nascimento. —foão Benicio da Silva. — Soares dos Santos. —


— Pinto. — Richard- — Dionysio
José Lobo. Olegario Gustavo
— Reis. — Evaristo Amaral. — Salles
Cerqucira. Manoel
— José — Nabuco de Gouvâa- — Domingos
Filho. Bonifácio.
— Gumercindo Ribas, — Boraes da Fonseca, ...
Mascarcnhas,
. SESSÃO KM 21 DE SETEMBRO DE 1912 377

Erasmo de Macedo. — Netto Campello. — Costa Ribeiro.


— Manoel
Aristarcho Lopes. Borba. — Augustç do Amaral. —•
Carlos Maximiliano. — Galeão Carvalhal. — Lundgreen.
Prudente Moraes Filho.
de — Palmeira Ripper. — Rodrigues
Alves Filho. — Pedro Lago. — Maurício de Lacerda. — Tia-

phael Pinheiro. — Souza e Silva. — João Simplicio. — Octavio


Mangabeira. — Felishello Freire. — Rosannah de Oliveira. —
Aurélio Amprim. — Cunha Vasconcellos. — Francisco Por-
tella. — C. de Rezende. — Garção Stockler. — Dias de Barros.,
IrineuMachado. — Florianno de Britto. — Arlindo Leone.
Barros Lins. — Osorio. — Henrigue Valga. — Flores da
Cunha. — A' Commissâo do Finanças.

O Sr. Presidente — Vou submetter á discussão e á votação


diversas redaeções finaes.
Em seguida são successivamente lidas e, sem observações,
approvadas as redaeções finaes dos projectos ns. 199 A, 282 A,
280 A e 295 A, de 1912, sendo enviados ao Senado.

O Sr. Presidente — Estão findas votações.


as
Nomeio para a commissâo que tem de emittir parecer sobre
o Codigo das Águas os Srs. Miguel Calmon, Porto Sobrinho,
Celso Bayma, Marcello Silva, Bueno do Andrada, Carlos Maxi-
miliano e Carneiro de Rezende.
Passa-se á matéria em discussão.

I" discussão
projecto n. 123 A, dedò 1912, do Senado,
concedendo amnistia aos implicados nas revoltas do Batalhão
Naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910, e aos civis
e militares envolvidos nos acontecimentos de Mandos, em ou-
tubro do mesmo anno; com parecer favoravel da Commissâo de
Constituição e Justiça.
Entra em discussão o art. Io.

O Sr. Presidente — Acham-se sobre a Mesa diversas


emendas e um requerimento, que vão ser lidos.
São successivamente lidas, apoiadas e postas em discussão
com o art. Io as seguintes

Emendas ao projecto v. 123 A, de 1!)I2

(2' discussão)

Onde convier:

Ficam amnistiados, para todos os effeitos, os cidadãos


implicados em todas as revoltas havidas no Territorio do Acre,
desde a incorporação deste territorio dos Estados
á Republica
Unidos do Brazil até a data de hoje.

Câmara dos de setembro de 1912.


Deputados, — Bneno
,°t
de Andrada. —Moreira da Rocha. — A d apito dos Santos.
Augusto do Amaral, •— A . Monteiro de Souza,
¦*78 ANNAE3 DA CAMAUA

Accrescente-se ao paragrapho único, in :


fine
«... e no departamento do Purús, em maio de 1912.»

Sala das sessões, 2i de setembro 1912. — Moreira da


de
Rocha. — Firmo liras/a. — Costa Ribeiro. — Maurício de
La-
cerda. — Eloy de Souza. — Augusto do — Rego Me-
Amaral.
deiros. —
Agapito dos Santos. — Hosannah de Oliveira.
Netto Campello. — Borges da Fonseca. — Aristarcho Lopes.

Art. Ficam abolidas as restricções das amnist.ias con-


cedidas em 189o e 1898 aos revolucionários civis e militares,
de 1893.

Sala das sessões, 20 de setembro de 1912. — Celso Bayma.

Supprima-se o paragrapho único do art. 1".

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912. — A. Monteiro


de Souza.

Accrescente-se no paragrapho único do art. Io:

«... bem assim os


que se envolveram nos acontecimentos
havidos entre Bella-Vista e Ponta-Porã, ao do Estado
sul de
Matto Grosso, em maio do corrente armo.»

Sala
das sessões, 21 de setembro de 1912. — J. Augusto
ao Amaral. — Rego Medeiros. — Netto Campello. — Aristarcho
Lopes. — fíueno de Avdrada.

Supprima-se o único do art. 1".


paragrapho
Sala das sesões, 21 de setembro de 1912. — Calogeras.

Art. Síio abolidas as ultimas restricções amnistias


das
concedidas em 1895 e 1898 aos revolucionários civis e militares
de 1893.
_
Art. 3.® Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912. — Henrique


Valf/a.

Em seguida é lido, apoiado e em


posto discussão com o
art. 1° o seguinte

requerimento

Requeiro, sem prejuízo da discussão, que sobre o projecto


n. 123 A, de 1912, seja ouvida a Commissão de Finanças.

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912. — Irinen Ma-


chado.
SESSÃO 1SM 21 l)E SliTEMBHO DE 1012 37'J

O Sr. Presidente — Tem a o Sr. Jrineti Machado.


palavra

0 Sr. Irineu Machado — Está em discussão o projecto de


amnistia aos implicados na revolta do Batalhão Naval e navios
da esquadra, occorrida em dezembro de 1910, e aos civis e
militares envolvidos nos acontecimentos de Manáos, occorridos
cm outubro desse mesmo anno.
O
projecto em debate ê de amnistia a militares e civis,
formando, porém, aquelles a sua quasi totalidade.

São poucos, tão raros os civis a quem a medida apro-


tão
veitaria, nós podemos dizer, com segurança, que o projecto
que
é exclusivamente de amnistia a militares, envolvidos em
responsabilidade criminal decorrente dos successos do outubro
e dezembro de 1910.
A primeira das ponderações que tenho a fazer diz respeito
á violação de dispositivos do nosso regimen interno.

Um dos effeitos directos e immediatos de uma amnistia


ampla, illimitada e incondicional como esta, é o que em direito
se denomina a restitutio in integram; isto 6, aos indiciados ou
¦aos aos condemnados ou a pro-
julgados, aos que respondem
cesso, a medida restitue todos os direitos civis e militares,
todos os direitos políticos, todas as vantagens pecuniarias o
administrativas de que estiverem em consequencia
privados,
do decreto da condemnação judicial.

Com relação aos crimes de Manáos sabemos até ha


que
officiaes já condemnados.
O Sr. Gosta Mendes, official de marinha, foi condemnado
em ultima instancia pelo Supremo Tribunal Militar e, em
virtude dessa condemnação, perdeu o sendo da
posto, privado
farda.
Sabe ainda V. Ex. que essa sentença passou em julgado,
é definitiva, porque o Supremo Tribunal Militar já sentenciou
em ultima instancia. Nem a interposição do recurso de revisão

para o Supremo Tribunal Federal tem o effeito de suspender


a execução da sentença proferida; esta executa-se em toda a
sua plenitude, tem effeitos immediatos.

Logo, a restituição ao official do seu com todas as


posto,
vantagens de que foi privado, ao tempo do e em
processo
consequencia da condemnação, importa em augmento de
despeza.

Quanto aos demais officiaes, privados de gratificações e


outras vantagens no curso do processo criminal militar, é evi-
dente que a sua restituição ao estado em
que anteriormente se
achavam, o reconhecimento e a satisfação integral de todos os
direitos e vantagens de foram creariam final-
que privados,
mente outras despezas, pois a ninguém é licito negar que
voltariam elles a as vantagens pecuniarias de
perceber que
teriam sido
privados em consequencia da acção criminal.
Vê assim V. Ex., Sr. Presidente, que sobre o projecto
não pôde deixar de ser ouvida a Commissão de Finanças.
380 ANNAKS DA GAMARA

Era e é imprescindível a sua audiência e dahi o meu re-


querimento, para quo a Camara o envie áquella commissão,
como é regimental.
Mando ainda ú Mesa dous requerimentos, que passo a
justificar.
primeiro delles impõe-se pela sua própria evidencia.
O
V.
Ex. sabe perfeitamente que nem todos os crimes são
susceptíveis de amnistia, nem todos os criminosos devem gozar
desses benefícios.
O
dever de quem amnistia é examinar as condições em
quG o delicto se deu, a sua gravidade, a sua repercussão na
sociedade; o dever de quem vae amnistiar é analysar detida-
mente o processo, a natureza da responsabilidade, a extensão
do gravame feito á ordem social.

O Sn. Bukno de Andrada— Apoiado.

O Sn. Iiuneu Machado — Gomo, pois, julga o Poder Le-


gislativo que lhe cabe o direito de suspender o curso de um
processo criminal ? Gomo entender o legislativo que lhe é per-
inittido revogar uma sentença criminal em plena execução,
sem a leitura, sein o exame do
processo? Sabemos nós por-
ventura que delictos vamos amnistiar?
Sabemos se, além dos crimes de natureza política, foram
praticados outros actos de infracção penal, que constituam
crimes communs?
Não ó demais ponderar que, nos proprios crimes militares,
pôde haver infracções de natureza política o de caracter
commum.
O militar
pôde, a um tempo, ser accusado por homicídio
ou roubo por um delicto político, como o de conspiração, como
e
o de subversão da ordem constitucional e de tentar a mudança
da fôrma de governo ou embaraçar e impedir o livre exercício
de um poder constitucional.
Pôde ser accusado haver de
praticado um crime de na-
tureza política assim pode também ser accusado de pra-
como
ticas delictuosas de natureza coimnum, como, por exemplo,
de furto, de apropriação, de estellionato, de falsidade, de lio-
micidio.
Não nem admitto
comprehendo que seja licito ao Poder
Legislativo escmpulo da faculdade, que a Constituição
usar sem
— elle
lhe dá, de amnistiar que vae sobrépôr a sua autoridade
A do Poder Judiciário, elle que vae suspender a applicaçâo das
leis, o curso da acção criminal e o íuaecionamento dos tri-

bunaes, sem ao menos examinar o processo, sem compulsar os

autos em estão registradas as provas com relação a cada


que
um dos delinqüentes e dos factos delictuosas que lhes sejam
imputados.
Eis o meu requerimento. (Lê)
Presente o honrado relator o Sr. Carlos Maximiliano,

aproveito o ensejo interpellar o meu nobre collega, sobre


para
se S. Ex. porventura consultou os autos do processo a que
rospondotri esses jnilitares accusado?,
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912

0 Sr. Carlos Maximiliano — Não, senhor; não mo inte-


ressava o exame.

O Sr. IriNbu — S. Machado


Ex. responde que não exa-
minou os autos, que não
interessava a S. Ex. esse examel
'
O segundo dos meus requerinu: é este: (Lê)
Sabe a Gamara que, dos aceusados
pelos delictos praticados
durante a revolta de dezembro de 1910 e
que deveriam respon-
der criminalmente perante as auditorias da Marinha desta
Ca-
pitai, nem todos compareceram aos actos do processo, nem
mesmo puderam ser qualificados; e a razão dessa falta e dessa
ausência nos ajgnoramos officialmente.
Quantos são_ os accusados?
Quaes são elles? Quaes os
crimes por que sao responsabilizados?
São crimes que aífectam apenas a ordem
juridica, a ordem
política, ou sao crimes que affectam igualmente o patrimonio
de terceiros lesados?
O interesse na concessão da amnistia a esses accusados
importa apenas na satislação de uma necessidade social ou
numa_ medida de benevolencia individual, excluindo-os da
sancçao P^nal, subtrahmdo-os a acção criminal, quando por-
ventura pode haver terceiros a quem seus crimes affectassem?
Houve feridos ou mortos,
que não os agentes do Governo e os
militares que combatiam sob as bandeiras legaes e fieis para
reprimir o movimento da revolta, ou houve, talvez, terceiros
estranhos a lucta que fossem alcançados pelas armas dos re-
voltosos?
factos, todos esses, não
que podem escapar á indagação
j
do Poder Legislativo.

A nossa missão não


é a de sobrepormos
discricionariamente
esta nossa funeçao extraordinaria á funeção normal, ao curso
regular das leis e dos tribunaes.

• Pr'c'.P'° segundo o hoje se rege o


f*ue- i°- qual
instituto da amnistia ensina que ella não 6 uma medida con-
cedida no interesse individual do delinqüente. a
Não é essa
razão da clemencia. Esta não resulta da piedade que possa
inspirar a condição miserável ou a situação infeliz do prisio-
neiro processado, do degredado, do submettido, do humilhado,
que foi entregue, acorrentado, á acção dos tribunaes.
A necessidade da amnistia de causa bem diversa,
provém
e 6 indispensável estudar-lhe os intuitos o examinar se ellos
obedecem effeotivamento aos sãos e generosos princípios que
a instituíram: — suffocar fazer re-
a acção repressora para
nascer em todos os espíritos sentimentos de concordia, para
fazer brotar em todos os corações impulsos de fraternidade,
substituindo-se a vontade de castigar vontade de esquecer.
pela
São, essas, porventura, as razões que a concessão
justificam
da amnistia que o projecto manda dar?
Como? Se nós temos de indagar, não a
principalmente,
situação de inferioridade ou do penúria em que se encontrem
os accusados, mas de
medir e pesar os altos interesses do Estado
e da Republica, cofno
podemos decidir sobre o caso, sem saber
DA GAMARA
332 ANNAES

que respondem a processo, qua^


seQuer quaes são os accusados
infracção por cada uni, qual a raz&o
«i natureza da praticada
do processo e, finalmente, quaes aquelles que não
da demora
ou que teem ialtado as audiências
estão respondendo a processo
da i'ac{0
verificado que realmente faltam sessenta

adensados'
a revolta, desde as 11 horas da manha, quando já
Vencida
e nas muralhas da ilha das Cobras a
tremulava nas ameias
a misen-
bandeira branca com que os revoltosos imploravam
a piedade do vencedor, continuaram en-
còrdia e supplicavam
t,.,,tanto metralhados, esmagados pelas forcas federaes, aniqui-
dos iwvios, das fortalezas e das baterias
liidos pela artilharia
dos regimentos legaes, ate as seis
4erra e pela fuzilaria
a noite vinha descendo sobre
da tarde, quando já
horas
da ilha das Cobras. _
aciuelles tristes escombros
só agora despertem 110 coraçao do Oo-
Pois é crivei que
de esses infelizes que elle
verno sentimentos piedade por
elle assassinou barbaramente, desde
uroorio massacrou, que
0 horas da tarde daquelle des-
ás H horas da manhã até ás

dia de dezembro de 1910 ?


graçado
e de clemencia luo
Para esses sentimentos de piedade
olhar com muito cuidado^! Desconfiemos
tardia é que devemos
busca com essa amnistia ?
delles ? Que é que o Governo
elles? Volatilizaram-
Faltam sessenta accusados ! Fugiram
a alta temperatura de dezembro de
se? Derreteram—se com
1910 ? Para onde foram ?
das Cobras pelo lado do mar o
O Governo cercou a ilha
da esquadra, as torpedeiras, as lanchas e
do canal; os navios
na bahia.
os batelões exerciam a mais rigorosa fiscalização
No mar, o Governo era senhor da situação, porque possuía
sou lado a esquadra; em terra tinha inteira a populaçao por
ao
si e inteira a lealdade das forças do Exercito Nacional.

Fugiram ? Escaparam-se ? Não !


Todos os vencidos foram aprisionadas e encerrados. Devem

fios archivos o autos as inquirições a que responderam;


constar
como Abriu-se o respectivo 111-
foram arrolados responsáveis.
despacho da autoridade competente mandou sub-
Um
querito.
mettel-os a processo criminal militar.
os nomes
No auto de informação do crime devem constar

delinqüentes. Como desapparêceram, portanto, assim de


desses
repente, sem que ninguém saiba explicar para onde foram ?
conseguiu o Governo dar sumiço a sessenta homens ?
Como
cm um eommunicado sensacional, revelou ao
Já A Noite,
faltavam sessenta accusados> e que em notas á mar-
paiz que
lauçadas a lápis nas folhas do processo, se consignava
gem,
alguns dos havium sido fuzilados. Mas onde
que processados
homens ? Pela sua vida responde o Governo. Os
estão esses
róos, elle tinha sob sua guarda, ondo foram parar ? Que
que
fez o Marechal de rada um delles ? Que conta nos dá das suas

vidas ? fez o Governo desses accusados ? !


Que
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 383

Nenhuma noticia, nenhum acto official registra o facto


do desapparecimento pela fuga. Não existe nenhum inquérito
indagando desses de«apparecimentos nein dessa® deserções, dada
a hypothese de se terem evadido do cárcere.

Si elles não íugiram e, antes ao contrario, foram recolhidos


ás masmorras da ilha das Cobras — se lá estiveram sempre,
sob a vigilancia das forças militares de terra, em cuja leal-
dade e firmeza o Governo confiava', onde foram então e
para
como desappareceram ?
E' tudo isto que desperta em meu espirito a convicção
de que esta amnistia,, que por elles não foi pedida nem re-
clamada, que não nasceu de um movimento da imprensa nem
da opinião, é uma vergonhosa mystificação, 6 uma triste me-
dida solicitada, pelo Governo que assassinou esses desgra-
çados marinheiros e soldados, e na qual nenhum interesso
teem esses miseráveis accusados, cuia sorte despertou
járnais
no coração do Presidente da Republica o menor sentimento
de dó ou piedade !
A situação de João Cândido tem sensibilizado taulo os
corações dos nossos patrícios, e provocado tantas lagrimas que
mesmo aquelles que não costumam compadecer-se desses sof-
frimentos humanos, mesmoaquelles que não ante
desfállecem
os supplicios dos delinqüentes, mesmo os corações mais
apegados ao cumprimento do dever e aferrados á defeza da
segurança e da ordem social, mesmo essas almas empedernidas,
todos-estão movidos por sentimentos de sorte do
piedade pela
infeliz marujo.
Eu mesmo confesso que, no meu espirito, sinto elle
por
uma profunda compaixão.
Por mais fortes, porém,_que sejam os
movimentos da nossa
nlma o do nosso coração, não devemos, a pretexto de praticar
uma obr a de piedade, um acto'de solidariedade humana, con-
ceder, de envolta com a amnistia a João Cândido,
uma medida
geral em proveito de todos- os criminosos militares.
Devemos attender a outra exigencia ainda mais ponde-
ravel qual a de reclamarmos do Governo
a prestação de coutas
da sua responsabilidade; a situação Cândido
porque de João
(infeliz porque é um perseguido, é um martyrisado,
porque
victimado por actos de covardia en-
desnecessários tanto que
vergonham o Governo os desven-
que pratica) é a do negro
turado,
que vao crescendo aos olhos das multidões sempre im-
pressionavcis como um nome legendário, de co-
proporções
lossaes,^ emquanto os
seus algozes se amesquinham o diminuem
na razão inversa, dos
esmagados sem duvida pelo peso seus
da unan'me condemnação da opinião pu-
l>íica°S' PeS°

. Quando a situação de João Cândido acorde sentimentos de


]uaignaçüo contra os seus martyrizadores o algozes, nem por
isso nos
c •petrnittirto ter fraquezas.
üevertos, antes de tudo, exigir do
o andamento processo,
384 ANNAES DA GAMARA

porque, digamos a verdade, J<oão Cândido não de


precisa
amnistia, João Cândido tem a absolvição garantida sua
pela
mais que provada innocencia.

A amnistia não é para, elle; a amnistia é o Marechal


para
Eermes, que necessita sahir do embaraço em que se encontra,
incapaz de explicar o desapparecimento dos réos entregues á
sua guarda, incapaz de explicar essas manobras indecorosas
com que procrastinou o julgamento do tenente-coronel Pan-
taleão Tellcs e com que vae protelando a absolvição de João
Cândido e creando na alma da marinhagem e no coraç'.o da
nossa soldadesca os mais violentos odios e as mais fundas ma-
guas contra um Governo tão forte com os fracos e tão
para
fraco para com os fortes 1

E' preciso dizer desta tribuna á Nação não


que ha ne-
nnuma prova (e isso tem sido innumeras vezes publicado pelos
jornaes) contra João Cândido, em relação á sua responsabili-
dade nos crimes de dezembro de 1910. Elle foi, 6 certo-, o al-
mirante da revolução de 22 de novembro, mas nem foi co-autor
nem cúmplice da revolta de dezembro.

Não tevs nenhuma ligação, nenhuma co-participação no


segundo movimento; ao contrario, da sua 'responsabilidade
neste segundo movimento não ha uma .só prova; e no eintanto
°í.Poverno 0 man(-em numa incommunicabilidado odiosa, que
affronta a noc^a civilização, a nossa cultura jurídica, pois os
tribunaes, como investigadores, não toem o direito do conser-
var indefinidamente nessa situação nenhum delinqüente, o só
o podem fazer emquanto duram as exigencias de investigação
na pliase inicial do inquérito.
Chegado o periodo da formação
... da culpa, seja o delicto
miutar ou civil, e militar tu civil o fôro, em qualquer hypo-
se abrindo o
processo penal ordinário perante o juiz
c'0m.0 perante conselho de guerra, não 6 mais licito
_o
1"^mmunical:)ilidac,e
a nenhum accusado, seja sob
que pretexto
Mas qual a razão
desta incommunicabilidade ?
O Governo, que sabe tão bem quaes são os officiaes que
d-e guerra> P01' e manda
que parmitte
m!n«il°.™C0?n, un commissao
que saiam para o estrangeiro, em viagem para
a ilha Grande, para exercícios de tiro, etc., quando lhe seria
iacil enviai uma ordem ao
quartel general, prohiLindo a par-
0 Ses officiaes aue fazem parte do tri-
bunan uteador™
Porque nao reúne aqui
todas as testemunhas ?
Se esse e um dever
elementar do Governo, o de obstar
que
o processo seja eternizado; si (5 uma obrigação elementar da
sua parte providenciar para que o tribunal possa sempre
e C0Iíi a Presepca de todos
¦oli os sons juizes, (por
'ala°V6m que
0 Governo dizer á Gamara
que a necessidade dessa
amnistia provem da demora no
processo e julgamento dos ac-
SESSÃO KM 21 l)K SETEàJBHO DE 1912 385

cusados, demora estava em suas mãos remediar, impedir


que
ou obviar ?
Dir-se-ha facto de faltarem sessenta aeeusados
Que pelo
não Não é essa uma razão ac-
pôde o processo ter andamento.
corno
aooitavel; não ó essa uma escusa que posèamoé receber
uma verdade jurídica.

lia do crime
Pois, então, quando co-réos, quando a autoria
collectivn, a simples ausência de uns lautos indiciados é
?
obstáculo capaz de determinar a paralyzação do processo
Nunca !
se fogem,
Pafa aquelles que ausentam, para aquellos que
ha os meios regulares de direito e nos militares u.
processos
fuga ou a deserção não obstam o proseguimento da acção cri-
minai.
Morreram esses réos ausentes ? Foram fuzilados ? Pois ó
melhor que o Governo confesso claramente que os matou.
Fugiram ? Declare então o Governo que se ausentaram
para logares desconhecidos. Deportou-os o Governo, porven-
fura, para regiões invias, para os pantanos do Acre, afim de
morrerem inleccionados pela inalaria; ou cahirem sob as balas
homicidas do tenente Costa Mattos em Santo Antonio do Ma-
deira ?
Foram deportados ou foram assassinados ? Confesse o Go-
verno haver mandado assassinar ou deportar réos que estavam
entregues á acção dos 'tribunaes; confesse esse
que praticou
abuso de poder, esse crime monstruoso, irias não venha aqui
fingir-se hypocritamente de clemente e piedoso, co-
querendo
brir a sua culpa com o manto da amnistia, de que só elle ne-
cessita para si.
Não queira o Governo do Marechal Hermes simular esse
gesto de magnanimidade e zombar da desgraça desses misera-
veis fuzileiros e marujos, como se estivesse realmente a pro-
tegel-os com o seu misericordioso deslazendo-se em
perdão,
carinhos, transbordando de ternura e de piedade !
Seja como fòr, Sr. Presidente, o meu espirito é sempre
inclinado a negar a amnistia aos militares.
Não comprehendo a clemencia para delictos militares,
pois, uma vez concedida, será uma e um incita-
provocação
monto á renovação de outros attentados. A responsabilidade do
militar tí maior que a do civil. Elle
sabe que, por educação, por
disciplina, devores da sua
pelos profissionaes, pela psycologia
própria funcção e profissão, se encontra em uma situação muito
diversa da, do civil em face
dos acontecimentos políticos.
Não lhe é licito, empunhar nacionaes para
pois, as armas
pol-as ao serviço de urna só corrente da opinião
que por acaso
agite o
paiz, como nãio lhe é licito tão pouco ai ellas recorrer
para comprimir a outra em aquella >so divida.
parto que A
sua nussão ó superior ao jogo das ambições partidarias e ao
conlllcto das paixões que perturbem ou scindam os políticos
civis.

Vol. X
25
ANNAES DA GAMARA t
386

O militar só púde agir em nome da consciência geral do

o das supremas conyeniencias naclonaes.


paiz
Eis voto contra a ainnistia; a parcella de civis a
porque
que poderia aproveitar é minima; e, a pretexto de se amnistiar
civis, o que se pretende é proteger^ sob o manto da ainnistia,

os militares que, na cidade de Manáos, de mãos dadas com o


Sr. Pinheiro Machado, quizeram apossar-se do governo da-
Estado, o que o chefe gaúcho não conseguiu, naquelle
queíle
momento, deante da resistenciai e da coragem civica dos ama-
zonenses, mas veiu a conseguir xnais tarde, graças á fraqueza

e á corrupção desse infeliz governador decrepito, o Sr. Bithen-


court, estabelecendo o vergonhoso accôrdo de que, ha ainda
bom pouco tempo, este nos daviai noticia annunciando ao Sr.
Pinheiro Machado e ao Presidente da Republica que estava
reconhecido e proclamado seu successor no governo do Ama-
zonas o Senador Jonathas Pedrosa, nos termos do pacto ceie-
bAttdo l
Comprehendo, mas não tolero, não sanccionô nem ap-
plaudo os soldados que, por grandes ideaes políticos, compro-
mettem ou empenham a sua situação em um movimento poli-
tico, a que se associem embriagados por amor d'uma causa
superior e pela dedicação e fé nos princípios.

Comprehendo ainda que os grandes ideaes, as grandes


causas e os grandes movimentos possam electrizal-os, e que
elles, esquecidos da sua condição especialissima e de que a sua
responsabilidade está duplicada sua de mili-
pela qualidade
tares, se deixem arrebatar sob as impressões de momento, na
onda da agitação, entregando-se ás expansões revolucionárias e
ás explosões da Mas os
paixão política. grandes movimentos, os
grandes ideae's, as grandes causas são forças que dispõem desse
poder suggestivo: — imprimir ao nosso espirito
podem mo-
vimentos superiores á acção da nossa própria vontade e con-
seguir arrastar-nos, assim como as correntes mariti-
grandes
mas envolvem, transportam e arrebatam, no seio dos oceanos,
as mais possantes máchinas creadas humano.
pelo engenho
•Poderemos
ser victimas da acção das forças'moraes,
grandes
que nao são em ultima analyse sinão outras tantas forças phy-
sicas, collaborando também na evolução da humanidade e do
planeta. Comprehendendo tudo isso, mas o não compre-
que
hendo é que o movimento de outubro de 1910, em Manáos,
ti-
vesse obedecido a idéas ou a princípios.
Os que nelle se envolveram, agiram friamente no tablado
político, nao ao serviço de um ideal, mas ao de uma facção,
de um agrupamento pessoal como o dos Nerys e do Sr. Pi-
nheiro Machado, cujos nomes não- acredito
que possam suscitar
enthusiasmos no coração e na consciência do cidadão ou do
soldado.
Não admitto_ que <os_ militares criminosos tivessem alli
obedecido á acção superior de ideaes capazes de despertar
paixões elevadas ou de os impellir á de crimes actos
pratica e
SESSÃO EiVI 21 DE SETEMBRO CE 1912 387

de eiles reputados necessários á realização do


violência por
fins Não! .
patrioticos.
Alii, estavam ein apenas interesses materiaes, sim-
jogo
ambições dc campanario, ao serviço da mais corrupta e
pies
da mais desmoralizada oligarchia.

Dizia-se essa revolta fòra o resultado de uma


mesmo que
— confesso
promessa de
queroque cogitar, e sobre a qual
não
— teriai vergonha de ine deter nesta tribuna, analysando-a.
Dizia-se mesmo interesses subalternos ó que agitaram e
que
produziram esse movimento.
Não quero acreditar, Sr. Presidente, no que então se dizia

e sussurrava de ouvido para ouvido.


Creio, porém, seguramente, que os militares co-autores
dos crimes de Manáos eram serviçaies dóceis por conta
agindo
dos interesses subalternos de uma reprovada e
politicagem
immoral; eram instrumentos do Sr. Pinheiro Machado voltando
os canhões dos navios de guerra e as baionefcas 1'ederaes contra
o peito dos amazonenses, que a um tempo* lutavam pela re-
dempção da sua terra e clamavam contrai a ruinosa oligarchia
dos Nerys, contra a política aladroada que estava empobre-
cendo a Amazônia e enchendo de vergonha a quantos tiveram
o infortúnio de nascer alli.
A Gamara ouviu que, a pretexto de conceder amnistia a
civis, o que se quer é amnistiar militares ! A pretexto de se
conceder esta medida de clemencia em favor de militares ven-
cidos, enfraquecidos e humilhados, o que se quer é abater a
Republica, enfraquecel-a, humilhal-a, concedendo-se amnistia
a soldados que ao mesmo tempo trahiram a sua farda, deshon-
raram a sua classe,
pretenderam infamar as instituçiões, o
lançaram no coração de todos os brazileiros a mais profunda
descrença no regimen e a mais dolorosa desesperança na
Republica

queO a maioria parlamentar pretende, a de


pretexto
perdoar a soldados e marinheiros que foram arrastados a um
movimento impensado, ó amnistiar militares co-responsáveis
por umai acção partidaria, militares não serviram a um
que
programma revolucionário, mas foram os vis executores do

plano partidario de assalto ao governo de um Estado !


C)
que ora se pretende, a pretexto de amnistiar^ infelizes
que se
acham algemados e martyrizados sob a pressão de um
processo interminável, é restituir uma de tempo
por phase
muito mais extensa <5 restituir
que a da duração do processo,
para sempre, emquanto viverem, ao seio o aos quadros das
forças nacionaies, as fileiras,
os officiaes que deshonraram
oonvortendo-se contra o povo
em instrumentos de politicagem
Amazonas, que se transformaram em instrumento do um
partido, com o mais criminoso esquecimento dos seus encargos
pronssionaes, faltaram indignamente á lealdade devida á
que
Republica, infamaram
quo mancharam as suas fardas, que a sua
classe, que abalaram Nação
a confiança depositada pela nos
DA GAMARA >
388 ANNAES

isso mesmo são perante ella


seus servidores armados e que por
responsáveis quando se desviam da disciplina ou
muito mais
transgridem o dever militar.
essa obra de perfídia, de desmoralização, contra
Contra
de hypocrisia c de mentira, é que eu ine revolto,
essa obra
da Gamara que não consinta nesta amuistia, porque
exigindo
de deshonra para o regimen e a desmorali-
seriai um
padrão
/.ação das instituições republicanas já tão vilipendiadas pelo
Sr' Pinheiro Machado. (Muito bem; muito bem.)

meio do discurso do Sr. Irineu Machado, o Sr. Sbbino


{Em
Júnior, Presidenta, deixa a. cadeira da prexidcncia
Barroso
(/lie é oceupada pelo Sr. Soares do Santos, I" Viec-Presidente.)

0 Sr. Presidente — Continua a discussão do arl. 1".

Tem a palavra o Sr. Maurício de Lacerda.

Maurício de Lacerda - Sr. Presidente,


0 Sr. (' perdão
maioria, representa nesta Casa o espirito do meu partido,
a que
voluntariamente arriscada, do soldado que,
a posição arriscada,
no momento de um recontro se rebella contra as ordens de

coanmando.
Não nem devo votar esta amuistia ! Ella é a. morte
posso
do espirito militar, é a impossibilidade da continuação da
ordem militar,
perturbaçãos é
a ameaça, permanente
a para a
ordem social e para a ordem civil.
O projecto submettido a consideração da Camara envolve
dous episodios de desordem e anarchia militar, inteiramente
dispares, inteiramente differentes.
Eu não comprehendo coino a Camara pôde associar ao
movimento de Mandos a rebellião, a insubordinação de uma
marinhagem incapaz de comprehender os seus deveres, revol-
tada nas águas «Ia babia do Rio de Janeiro, a massacrar, á
vista da
população da Capital da Republica, um grupo de of-
íiciaos nos seus postos de commando.
Considero na nossa historia militar, mal esboçada ainda
a pagina mais gloriosai, mais forte e a mais altamente expres-
siva da comprehensão dos sentimentos do dever militar, a
morte dos officiaes de marinha, assassinados nos seus postos
de commando, naquella occasião.
Não lia pagina, m>ni em Hiachuelo, nem em combato naval
nenhum, que mais deva orgulhar os brasileiros, que mais
deva elevar a nossa esperança no podei' militar do Bra/.il. do
que a inorle do almirante Baptista das Noves <•. dos seus offi-
ciaes nos seus postos de commando ! {Apoiados.
E' esta pagina que essa amuistia incomprehensivel vem
ea.nceltar na historia nacional !
Reclamo para a Marinha Nacional a dessa
permanência
gloria, que ella conquistou com o sangue generoso de seus of-

(*) Este discurso não foi revisto pelo orador.


SESSÃO EM 21 I)E SETEMBRO uE 1012 389

ficiaos. Reclamo, em nome da: historia militar do Brazil,


que
não «e empane esta pagina com tralisacções « nego-
gloriosa
ciações de amnistia incomprehensivel e tardia bem.)
já (Muito

Não vejo
porque, quando dentro da marinha, iu- a aeção
telligente um ministro,
de modesto, mas capaz, tenta reconsti-
tuir a disciplina perturbada por aquelle movimento de loucura
collectiva dos marinheiros, o Poder Legislativo do Brazil possa,
vir perturbar a obra de reparação desse social,
phenomeno
que, sinão nos lançou para traz, aquelles tempos, denun-
para
ciados em uma obra notável de autor argentino, de anarchia e
ue caudilhismo daquelle irá, forçosamente, se reencetar
paiz,
com a amnistia votada militares
para crimes
que praticarem
políticos.
Em nenhumn_nação o, devo dizer,
... em nenhum periodo da
vida militar do, nao imporia,
que paiz, a partir da formação do
suas tropas armadas, se_compreliendcu
jamais que o militar,
coilocado em urna situação excepcional de obediência, pudesse
romper esta situação, no mesmo pé cie igualdade em que o
eivil, que so deve ao Estado — obediencia relativa dentro da
ordem civil.
O projecto o que quer ?
Quer transferir para a disciplina
militar a liberdade ampla
que os civis gosam em sua vida commum,
^'jSe, 0 no^.re deputado
pelo Districto Federal palavras
, '
^ crdade o palavras de sua
paixão, Disse estas, mas afflr-
,
PPmcipio, que reputo cardeal para podermos conti-
ai como naçao no continente,
perfazendo os nossos destinos
una,; respeitada, internacionalmente fallando:
raijilaros em insubordinação
rf não se concedem,
S' a a^ü(1S (í ° do
P.erdã° crime político, como ap-
«ii » V
"'' <|ue. esti'1 mhibido,
!n - pela sua funccão, da
nníi/:!õariüoo
P c a desse crime, cuja repressão a elle proprio incumbe?
Maximiliano —t- A historia
r»nnfíL?n" PAL0S do Brazil prova o
contrario, a começar
pela proelamaçâo da Republica.
íí"' 1)E Lacerda — Acceito
n„ 9 ^uruc,° o aparte do nobre
começar pela da Republica.» A
j proelamaçâo
P owamaçao da Republica não foi um episódio, mas urna re-
voluçao, e eu trato de episodios.
robelliões militares, naquellas em que os militares
^as se
IK> Brazil> o espirito do disciplina foi quebrado no
7a'11
Para se transformar a ordem civil, mas immediata-
r,,.,?'1;0
' mram os próprios militares ao lado
que se collocaram
cousas
delia>Va para obrigar a sociedade ao respeito

Um. 'u,na
syncope. Mas ao mesmo tempo em que
davim'"1
°- Bolpo, os
proprios militares se collocavam ao lado da
ordem
para a continuação da vida do
deha íyíwifJo? progressiva paiz,
novos princípios.
' muito differente, do caso de uma iitsubordi-
portanto,
390 ANNAES DA CAMARA

batalhão, de um navio, de uma fortaleza, feila


nação de um
marinheiros, presos á obediencia.
por
Pires — Para a já houve amnistia.
O Sr. Joaquim primeira

Maurício de Lacerda — V. Ex. assim dá dons tiros


O Sn.
si não dizer com isto
na cabeça, o, quizer suicidar-se, quer que

seja obrigado a dar o segundo.


A primeira amnistia foi um erro. Vou dizer, sem temor,

foi uma covardia, não se dá amnistia a quem ameaça.


porque
O concedido debaixo da: ameaça não é perdão, .não é
perdão
é medo. O Congresso Nacional votou a amnistia,
clemência,
lendo, deante de si, os navios de morrões accesos e os seus

eanhões voltados contra a cidade. Isto nãio é ciemencia, é co-


vardia.

O Sr. Dionysio Cerqueira — isolução V. Ex. dariai ao


Que
«aso ?

O Sr. Maurício de Lacerda .— Os navios que atirassem


contra o Congresso, porque a solução a Nação a daria.

0 Sn. Cari.os Maximiliano — Não ha entre a


paridade
primeira e ai outra. (Apartes.)

O Sr. IViauricio de Lacerda — A amnistia conce-


primeira
dida não a discuto. A segunda amnistia eu combato o reprovo.

O Sr. Pires —Está no seu direito.


Joaquim

O Sr. Maurício de Lacerda — Estamos. A segunda amnistia

que se propõe para os marinheiros revoltados no porto do


Rio de Janeiro, debaixo da allegação de que a alma nacional
se condrte da sorte delles, o que provoca a ciemencia do Poder
Legislativo, já vem tarde para dizer do mérito dessa ciemencia,
desse perdão. Não concebo que se possa perdoar aquelles, cuja
culpa não ficou provada.
ha crime político, nem crime militar de insubordi-
_Não
nação, mas sim um crime commum de assassinato de officiaes
de marinha. O que o Congresso, vae perdoar, não é o crime po-
litico, o crime militar; o que o Poder Legislativo vem declarar

perdoado são os assassinatos commettidos a bordo contra of-


ficiaes que, no momento, souberam cumprir o seu dever.; o
que o Congresso vem dizer á Nação e á Marinha ê que não
vale a os seus officiaes exporem vida em holocausto
pena a a
princípios, nem á honra militar, é si a marinhagem ama-
que,
nliã, em uma segunda revolta, sacrificar novamente os, offi-r
ctaes de marinha, estes terão a recompensai da
platônica pro-
moção depois da morte, e aquelles encontrarão aqui Con-
o
gresso para amnistial-os em nome desta admiravel Nação que
se apieda dos assassinos...
Faoto alarmante é este da opinião no
publica que. mo-
mento da revolta da marinhagem, se sobresaltou na; Capital da
Republica, em uma fuga_que não quero qualificar, mas que
bem comprehendo, opinião publica só tinha
que gestos do
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 391

maldição no momeíito aquelles miseráveis, de condpm-


para
nação para os seus actos, requerendo castigos
para inexoráveis
opinião em face
a sua revolta. Esta pubiica que, no momento,
do drama, assim procedia, apieda-se depois, commove-se, e
dando arrlias do seu sentimentalismo, glorifiea João Cândido,
chefe da revolta e dos assassinos, E' contra este movimento da
opinião que o Poder Legislativo deve usar das suas
publica
íuncçôes, esclarecendo-a, evitando ella collabore na obra
que
da destruição do poder militar.

Si. a amnistia fôr votada nas condições em que a dá o pro-


jecto, o único conselho que desta tribuna posso dar â officiali-
dade da Marinha é que apresente sua; demissão collectiva, pois
lhe é impossível manter-se no commando.

Uma Voz — Houve assassinatos só na primeira.

O Sr. Maurício de Lacerda — O nobre Deputado faz ques-


tão de primeira, segunda e terceira.
Quer S. Ex. dividir o drama em tres actos.
Acceitoa divisão, mas o desfecho do drama é um só.
E' amnistia, ó o perdão e o esquecimento de factos im-
perdoaveis e inesquecíveis, é a aquelles que fal-
graça para
taram com sua fé e lealdade.
Não nos devemos levar camadas se
pelas populares que
tocaram de sentimentalismo pela sorte dos marinheiros.
Não ha paiz que esteja em uma esphera de adiantamento
mais ou menos apreciável, com militar
poder organizado, que
permitia a impunidade da insubordinação de militares
porque,
permittida esta, não (\ só o Estado que periga, não é só a ordem
publica; é apropria ordem social exposta ásbayonetas capri-
ctoosas, aos sentimentos de momento cio um bando armado pela
Nação contra a própria Nação em
que boa fé o armou.

E1 inconcebível, sobretudo, este esquecimento da culpa


dos marinheiros, ao mesmo
porque tempo se esquece o valor
e a bravura dos officiaes victimados por elles !
Não ha em todo o debate uma só os actos
palavra para
aaquflles commandantes !
Ficaram apenas marinheiros a Na-
insubordinados que
Çao pede que se como
perdôe, porque a Nação 6 impressionável
wda a conectividade. O Poder Legislativo não pôde perdoar,
porem, porquanto si ha1 crime não pôde
commum, este crime
ser alcançado
pela amnistia proposta.
ordemA na foi
v política America do Sul sempre pertur-
,
naaa
pelos pronunciamentos militares, nunca pelas re-
quasi
voluçoes
clvs.
As nações debaixo
sul americanas accordaram sempre do
uma ordem
d« cousas transformada; pela vontade dos quartéis.
0 Peri°do
passou pelas outras Nações, passou por nós
lamnem, relativamente.
Hoje chegamos a um estado de comprehensãio melhor dos
392 AXNAliS DA CAMAltA

não lia mais motivo para que esses movi-


destinos nacionacs;
aientos se deem.
época.
E' esta a face do momento, 6 a physionomia da
O militar, accentuadamonle definido pela compre-
poder
hensão européa vao sendo eompreliem-lido pelos esta-
política
distas americanos.
Essas nações' não uma ínsjbor-
poderosas perdoariam
dinação dos militares; cilas repousam justamente na fé, na

lealdade, na obediencia de suas tropas.


No Brazil o que se quer fazer é uma recai alogaçâo das

insubordinações em os officiaes não


passam de meros
que
associados dos soldados, cada um cumprindo os seus devores

como entende e não como a Nação lhes impõe.


O que quer 6 privar o paiz do espirito militar, e a pri-
val-o desse espirito, melhor seria entregarmo-nos de uma vez
á tutela do uma nação que nos possa dar lições nesse sentido,

para evitar maiores descalabros. Essa amnistia representa a


destruição do espirito militar, a dissolução das forças armadas,
um perigo para a ordem social e para a própria Republica;
Voto contra. (Muito bem; muito bem.)

0 Sr. Presidente — Acham-se sobre ã Mesa dous reque-


rimentos que vão ser lidos.
São successivamente lidos, apoiados e postos em dis-
cussão com o art. 1° os seguintes

REQUERIMENTOS

Requeiro, sem prejuízo da discussão, que sejam prestadas


á Câmara dos Deputados as seguintes informações:

1*,
quaes os nomes dos militares respondem a pro-
que
Cesso criminal militar crimes occorrido* em dezembro
pelos
de tUtO na Capital Federal, occasião das revoltas do Ba-
por
talhão Naval e de navios da esquadra;
2", quaes os nomes dos réos
que se acham presentes;
3", quaes os dos ausentes ou dos
que faltam e qual a causa
dessa falta ou ausência.

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912.— Irineu Ma-


chado.

Requeiro, prejuízo dasem


discussão, sejam enviados
que
A Camara Deputados
dos os autos dos a res-
processos que
pondetn os militares accusados pelos crimes occorridos em ou-
tubro de 1910, na cidade de Manãos, e em dezembro de 1910,
nesta Capital.
Sala das sessões, 21 de setembro de 1912.— Irineu Ma-
chado.

O Sr. Presidente — Continua a discussão do artigo único


do projeefo n. 123 A, de 1912.
KM 21 DE SETEMBRO I)E 1012 303
SESSÃO

do Nascimento — Peço a palavra.


O Sr. Nicanor

— lia inscripto antes de \. F.x.


O Sr. Presidente orador

do — Eu Ialiar a
O Sr. Nicanor Nascimento pretendo
ceder a palavra si
favor do projecto, talvez V. Ex. me possa
o orador inscripto vae íallar contra:

Corrêa Defreitas — íallar a favor em


O Sr. Eu pretendo
relação a uma parte, e contra relativamente a outra.

— o Sr. Nicanor do
O Sr. Presidente Tem a palavra
desde vae íallar a favor do projecto e desde
Nascimento, que
não está presente o Sr. Josino de Araújo, lambem inscripto.
que

O Sr. Nicanor do Nascimento — Sr. Presidente, a


(*)
questão que neste momento interessa a Gamara não pôde nem
deve encarada debaixo de nenhum ponto de vista que
ser im-

ou O aspecto pelo qual a


plique paixão partidaria política.
questão é apresentada ao à doloroso, qualquer que seja
paiz
o ponto de vista em que se a encare; e, para proval-o peço a
'Presidente,
V. Ex., Sr. que me remetta os documentos relativos
a esse projecto.

O aspecto principal da questão é o seguinte:

Tendo o paiz presenciado a infelicidade da revolta do Ba-


talhão Naval o que occorre, para vergonha do instituto da jus-
tiça militar do paiz, o que ha dous annos corre o processo, 011
melhor, arrasta-se o processo, sem que se encontre a forma de
solução para applicar justiça a esses indivíduos, que, não se
sabe até hoje si são criminosos.
Nem esse aspecto da questão é apresentado nós aqui
por
na Camara para defender esse é o aspecto que dá á
projecto;
questão o Sr. Ministro da Marinha, confessou em officio
que
seu que é impossível completar o julgamento desses homens.
Quer me parecer que ha uma feição de barbaria maxima
no facto de nos apresentarmos appare-
perante o mundo sem
lhos judiciários competentes para cumprir a acção primordial
do Estado, a qual 6 a applicação é um |ieto
da justiça, e que
ue piedade humana impedir, que indefini-
indivíduos estejam
uarnento
presos, .sem que o Estado possa verificar
nem o de-
ucto, nem os responsáveis,
nem a fôrma por que esses delictos
se praticaram.
E' prejudicial e relaxadora
da disciplina publica a amnistia
revoltosos e 1
r® ebeldes; 6 preciso, entretanto, que seja decla-
tl0. alto desta
,tribuna, por um homem que ama acima de
? a intrepidez e a liberdade,
que a figura de João Cândido,
0„• - a figura
de um revoltoso, é ao mesmo tempo a figura de

( ' Este discurso não foi revisto orador.


pelo
304 ANNAES DA GAMARA

um soldado do extraordinária bravura. A extraordinaria bra-


vura desse revoltoso, que atravessara sereno,as águas da bahia
do Guanabara, deante do estremecimento e do receio daquelles

que o deviam combater e dominar...

O Sr. Maurício de Lacerda — Bravura dentro daquelles


navios qualquer de nós a teria.

(Ha outros apartes.),

O Sn. .Nicanou -no Nascimento ,-4.. mereceu que o Con-


gresso Nacional, nesse momento doloroso de angustia, em sessão
durante horas deliberasse
permanente para (lie conceder uma
aiunrstia^— transacção,uma amnistia — acoõrdo, ijma amnistia

que não é acto de clemencia nem de misericórdia <}atpartcs); si o


Congresso Nacional, nessti hora de angustia pai a uns e de calma
serenai para outros, por motivos diversos e vários concedeu a
amnistia aos homens que se encontravam em armas, aos re-
beldes que se achavam com os canhões accesos e apontados
para a «idade; si teve a serenidade bastante para, ainda, deante
dftistccttSDçÕQg, de covardia e de temor, nfro.oíjedecer á necessi-
dado de punir os rovoltosos, muito -.mais honesto é que hoje,
enciarando a verdadeira situação do em lia um
paiz, que grupo
enorme de brazileiros que pedem justiça, que pedem julga-
mento, sem que ser dada solução ao caso...
possa

Um Sr. Deputado — O Codigo Penal da Armada não está


em vigor '
?
outros apartes.)
[Ma
O Sn. Nicanou do Nascimento — O facto 6 o Sr.
que mi-
nist.ro*la Guerra confessa na sua mensagem lia impossibili-
que
dade de proceder ao julgamento desses cidadãos.
Ora, pergunto r algum brasileiro,
pckle pqde. algum cidadão
desta patr ia fjrnr jndofinidamení.o «roso. soí> p- nnçã*>
tiva da íorça
publica, guardado dentro do fortalezas, pungindo
atrozes sofinmentos, sem que chegue o momento de seu jul-
? . . ... ., ,.
gamento ,
Ju i' digno querer
que o Brazil dê ao mundo contemporâneo,
deiaos;poyo*.americanos,o exemplo funesto, dokjrosissimo da
impossibilidado absoluta de resolver o julgamento de um ho-
mem dentro da lei ?
: Si
quizessemos confessar nossa absoluta impotência >uri-
dica, o poderíamos
nao fazer melhor do que dnndo a conhecer
a impotência em que nos achamos para o julgamento de um
grupo c^e criminosos políticos., (Apartes.)
if&i foi o caso de necessidade
que determinou ao Congresso
hontom, naquella hora de
angustias e dç receios, a ço li cessão
da .amnistia: a rovoltosos-de armas em
punho, e isio
a pa-r para.
cifjcaçuo do pai'/, hd.je a concessão do igual perdão a homens
que se acham vencidos será mais justa ainda, porque visa
normalizar a vida juridifta. desta natria, será. mais justa ainda
porque muito maior e a necessidade
que temos agora de fazer
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 3'J5

o mundo esse. espéetacnlo A? de-


cessar perante civilizado,
é a falta de julgamento desses
s.ordem e de incapacidade, que
individual .
é preciso st! diga uma vor-
Demais, Sr. Presidente, que
rlade mus verdadeira: o Governo está pagando¦ por
dolorosa,
se encontrar em uma situação de felonia e de itraiçao perante
que a amnistia
esses homens. Declara-se, por toda a parte,
concedida aos militares na. hora em que o#tíyvam 4com. as

mão foi um simples acto de covardia; declara-se


armas na1
depois -revolta, o Governo quer tirar
mais. que hoje da segunda
vigança dos marinheiros implicados.
do Governo solicitando .essa amnistia
O acto, portanto,
vem demonsfcrar.de uma maneira absoluta, qoft não foi aquelle
o espirito que determinou a acceitação da. primeira, amnistia,
de exclusivamente da im-
<t que, a falta julgamento, decorre

prestabiüdade do npparelho judiciário do palz.,,


Demais, para que detalhar em matéria de crimes políticos ?
Não, Sr.
Crimes infames políticos, crimes gloriosos políticos !
•Presidente, todo crime <í na historia da hu-
político. igualado
manidade; é um e,
movimentodisse illustre es-
do
paixão,
—- ..6 que
criptor, ha uma . razão para-se dar, a amnistia esse

crime ó sempre.praticado por um aipor,exaggerada á liberdade.


E si eu tiver de escolher entre aquelíes que exercem a re-

bellião, que . as. faz crescer, e< aquelíes que procuram


dominar

pelo espirito de subserviência, prefiro, no, caso dft:duvi(la, Sr


Presidente, mo collocar ao, lado daquelle movimento de amor á
liberdade e, de amor a independencia.

O Sn. Vianna do Castello — V. Ex. dá licença um


para
aparte ?

O Sn. Niçanor do Nascimento — Pois não.

O Sn. Vianna do Castet.lo —Por wsta tkeoria '


justificamos
o roybo, que é. ex,aggerado arnor á propriedade,

ü Sn. Nicanor do Nascimento—V. Ex. com o do-


permitia,
vido respeito, não responda ú compa-
que ao aparte, que não
rativo. i
Levei, n:i Gommissão de Justiça, a minha coherencia ató
onde ella podia ir, e
se destacasse deste, projecto
propuz que
uni,outro, pelo qual fosse concedida a. todos os criminosas po-
Jitiqo»!'» mesma:
graça até a data da lei. E' a mesma cousa tra-
tada bem.)
pela mesma maneira. (Muito bem,; muito
¦ •.
,
O Sr. Presidento — Continua a discussão do projecto nu-
mero 123 A, de 1912. -
Tem a o Sr. CorrAa Defreitas.
palavra

O Sr. Corrêa Defreitas — Sr. Presidente, de


(*) Solicito,
V. Ex. se sobre a
digne servir-me mandar o projecto anmistia

.(*) Este discurso não foi revisto pelo orador.


.196 AN,NA ES DA CANTARA

o as emendas que lhe foram apresentadas, projecto esse que se


refere aos implicados na revolta da ilha das Cobras e do bom-
bardeio de Manáos. (O orador é satisfeito pehií Mesa.)
Sr. Presidente, eu não desejava occupar a attenção da
Casa para discutir o projecto que manda conjunctamente, con-
forme nol-o enviou o Senado Federal, conceder a amnistia,

quer aos marinheiros considerados responsáveis pelo movi-


mento revoltoso da illia das Cobras, quer aos officiaes iinpli-
cados. 110 bombardeio da cidade de Manáos, capital do Estado do
Amazonas, e conseqüente deposição do governo local.

Eu não desejava discutir esse assumpto, porque já tenho


me manifestado a seu favor, quando a amnistia foi 110 Con-
gresso Nacional apresentada, por oçcasião do levante da es-
quadra sob o commando de João Cândido; era natural que no-
vãmente a concedesse em prol da terminação de 11111 processo
que parece infindável e quando evidentemente a amnistia pri-
mitiva foi burlada nos seus nobres e humanos intuitos.
Mas, si concedo por outra vez amnistia aos marinheiros
que, como João Cândido, estão evidentemente comprehendidos
na graça anterior, eu entretanto sinto que, como orgão do Povo
Brazileiro, não a devo conceder aos olficiaes que, com plena e
calculada consciência por seus actos, investiram, em terra e a
bordo de navios da Marinha, contra o Governo do Estado do
Amazonas.
Os marinheiros foram levados á revolta pela reacção do
brio offendido, tratados como eram, com violação de todas as
leis, não como entes humanos, mas como animaes ferozes. E os
officiaesque bombardearam Manáos teem evidentemente outra
responsabilidade e deviam ser os primeiros a dar todas as
provas de respeito á disciplina militar e á Constituição da
Republica.
E' que se acabe sempre com a intromissão
preciso para
de officiaes em movimentos para a deposição dos Governos dos
Estados; t necessário uma lição frutifique e afinal inspire
que
um util temor, para a garantia da nossa boa fama no meio das
nações civilizadas.
Sabe hoje o mundo inteiro os rnartyrios da ilha das Co-
bras. Scenav. de verdadeira vergonha lá se desenrolaram nas
suüs enxovias o masmorras.
Eu nunca pensei mesmo que 11a minha terra taes factos
se pudessem dai' ! Então o marinheiro, apenas por ser qualill-
cado em urna situação inferior á do official, não tem os mes-
mos direitos humanos que este ?
E' ou não elle um homem ?
Tem ou não tem a protecção da1 lei ?
Pôde ou não pôde ter tanta dignidade como o seu mais
digno superior ?
Então o meio de se o punir é pela chibata, pela algema,
pela fome, e até pelo ácido phenico, e pela cal, e pela com-
pressão em cubículos, e pela asphixia ?
SESSÃO EM 21 DE SETEMBBO DE 1912 397

Estou convencido
de que não 6 responsável por todas essas
vergonhas officialidade
toda a da nossa marinha, mas é ver-
(jade que ha no seio aella, infelizmente, elementos- abusadores
de força e que dessa fôrma crearam
uma situação desagradável
para os seus collegas.

Aquelle» merecem a estigmatização como oa ou-


publica,
'¦'.os continuam a merecer todo o apreço do paiz.
Acredito que a maneira de certos officiaes considerarem e
tratarem o marinheiro seja
o fructo de educação aristocratica
que miei i/mente a1 Marinha, ao contrario do Exercito, tem
conservado, educação essa inspirada
pelo gênio de Saldanha da
tiama, que, embora um invejável o heróico marujo, (tinha
o esses precoucoitos-, estão
que em completa antinomia1 com as
nossas rr adi ecoes elhnieag,
sociaes e políticas.
i'via s,e ".''istocralizou
tal fôrma que de
até para a
wJIc]'
SC> (!Iltram o»
foíMri «ava i privilegiados, isto 6, os que
11 mo.s 0 materiaes
para n conquista de tão
r h Vifn!.r-n
funcyao — qual a da defeza da Pátria, no Oceano.
~~ E Para esta easa como se
cninVu,
' m-dmÍÍa
' °" E V- Ex- nao P(')(io negar pátrio-
tismo a nmhnm
nenhum h°
dos seus collegas.

~ perdão! Não estou negando


nifrSli«moCn°Ríí^i1DEPR1EITAS
pati íotismo a nenhum dos meus collegas.

^marinhe
ílroject?- I10'0 ^ só das escolas
de a prendi z es i roa
que d,!Verao sahir todos os offi-
c 1 a es d e Marmha-
Mor i nhm nííoH òn j
obedecendo-se ao
seguinte critério:
^le
P°r aiH<n0i'amenl0 nos estudos e comportamento
moraV
2o) por vocaçãA vida
pela militar;
3o) por vocação vida
pela do mar.

,do P°bre terá a sua entrada


trancada fiLho
~ "r»"™hime"to tk,s

Um Sr. Deputado — Não ha privilegio algum.


t0wA —
que Desde
condições espe- ha
rinc^rinM ^EPREITivs
a Escola Naval,
f>nvm ?i na como curso gymnasial,
(/,.?u*rnsexigências dispendiosas, é evidente que tudo
l*.
Privilegio. S«í o rico
coTt "'í1 poderá entrar na Es-
' °- 1)T°'ir,v tom a .sua entrada iinposibiliíada.
anpon w Hò.jo o
'• caC3do a laço
ai,io,.;r,inan"h0u'° pelos juizes de orphãos e
Policiaes, e, sem esperança de um futuro melhor,
nunm i»/
Um 1)0111 servidor. Seria,
anrenii;^ entretanto, justo que esse
coinp o soldado no Exercito,
ciai Tf r> pudesse adquirir o offi-
c„nill,)a Gn Rr'ndo a Armada
vessem uma corporação onde ti-
'úteis
tendpn("'as o verdadeiramente
aproveitáveis 38
398 ANNAE8 UA GAMARA

—. Observo ao nobre Deputado que só


O Sr. Presidente
'cinco a da or-
faltam minutos para terminar primeira parte

dem do dia.
— Retornando ao assumpto da
tí"Sr. Corrêa Defreitas
entendo que ella deve ser dada aos marinheiros que
amnistia,
mais do se revoltarem contra as barbaridades
não fizeram que
excedem aos mais negros quadros da
e desbumanidades que
Inquisição.

Sirvam todos esses factos de exemplo o nos proporcionem


lição melhores dias para a nossa dignidade,
como proveitosa,
Nação deve respeitar o direito dos seus concidadãos
como que
para merecer o respeito de povos, o não recebermos te-
outros
legramniás de Europa implorando misericórdia para as,vi-

ctima.s* das nossás paixões e dos nossos odios.

Como a classe naval acha-se aqui representada por lion-

rados collegas, convido-os a que venham declarar que esses

offieiaes que esses actos deshumanos e offensivos da


praticam
civilização não merecem a solidariedade da classe.

A amnistia no caso emergente é uma necessidade; ella


fará submergir essa pliase de violências e crimes, fazendo re-
surgir um novo período de clemencia e humanidade, dentro do
quaí os míseros marinheiros novamente serão dedicados á
causa da Patria e da Republica ! (Muito bem; muito' bem. O
orador c muito felicitado.)'

O Sr. Antonio Nogueira — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a ordem o nobre


palavra pela
Deputado.

O Sr. Antonio Nogueira — Sr. Presidente.


{pela ordem,)
despeito do protesto unanimo da Camara contra expressão
diversas proferidas pelo nobre Deputado pelo Paraná, quando
por vezes se referiu a cousas da Marinha e directamente á
officialídade que a ella pertence, a despeito desses protestos
que muito me desvanecem, eu estou 110 deVer moral de tomar
a palavra para refutar essas verdadeiras injurias de S. Ex.
contra uma classe que tem procurado sempre, em todos os
tempos, cumprir, o seu dever. (Muito bem: muito bem.)
E para que fóra daqui se saiba que um official de Marinha
com assento nesta Casa não deixará passar sem protesto, affir-
mações de todo ponto falsas, eu quero desde ,já que fique con-
signado na "ocasião opportuna occuparei ti tribuna; foi
que
para' isso que pedi a palavra, ordem. bem; muito
pela (Muito
bem.) a-

0 Sr. Presidente — Esgotada hora


a da primeira parte,
fica adiada a discussão do art. j* do n. 123 A, do
projocto
191&.-
SESSÃO KM 21 DE SETEMBRO DE 1912 309

Passa-se i'k

SEGUNDA PAUTE DA ORDEM DO DIA

(À's 4 horas da tardo ou antes)

B, do 1912,
Continuação da 3a discussão do projecto n. 01
fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio para o exercício de 1913.

O Sr. Presidente — Tem a Sr. Joaquim Pires.


palavra o

O Sr. Joaquim Pires (*) Sr. Presidente, procederam-


me na tribuna diversos oradores, que com talento e compe-
tenoia trataram do orçamento da Agricultura; seja-me licito
destacar, dentre clles, três que se occuparam do assumpto com
o mesmo intuito;
porém tendo cada um delles uma féiç&o
própria, para não dizer uma feição sui nenens. Com a devida
venia o nome dos illustres Deputados aos quaea alludo e
_cito
que são os Srs. Josino de Araújo, Nicanor do Nascimento e
Moniz de Carvalho.
Todos combateram o orçamento, um opposicionismo,
por
outro_por temperamento e finalmente terceiro preoc-
o por
cupação. O primeiro foi de uma habilidade rara na arte de
trucar- em falso, S. Ex. chegou mesmo effeito,
a armar ao pro-
duzinuo sensação as suas mirabolantes affirmativas.
S. Ex., como na labula de Aladino, fez creação
a sum-
ptuaria de urna {jarafle colossal, ao
da serviço do Ministério
a' com a
despendia'
i ?lia' o erário publico mais de
600 contos annuaes ! ! Achou
para eventuaes uma verba de
perto de cinco mil conto* ! ! !
E ainda mais, senhores, cousas tantas, tão phenomenal-
mente absurdas que, ditas assim com aquella certeza, com a
convicção roliustecida^ em dados que dizia officiaes, davam, a
nos outros,' a impressão de
que haviam enlouquecido os cautos,
prudentes e estudiosos membros da Commissão Finanças
de
desta Casa.
Mas, Presidente, as cousas phenomenaes
_Sr. so são em-
quanto nao conhecidas ou explicadas; na hypothese bastou a
simples leitura da tabella explicativa pam que desappareces-
sem todas aquellas
impressionantes
parcellas com as quaesman-
nina o Ministério
da Agricultura' colossal
garao»!
neduzida as devidas proporções, já a aawae não passava
°.us ou, automoveis c a despeza impugnada descia a
aoniP0I'taücia insignificante,

-í en';on(iei1 Que a discriminação das verbas não tinha


sidn f
com,a Precisa clareza, cousa se escoava
rHnrW- que muita
aestmamente,
sem uma justificativa ou com justificativas
f 7i"l

( ) Este discurso não foi revisto pelo orador.


"
400 ANNAES DA CAMARA

inacccitaveis; entretanto S. Ex., fazendo justiça ao Dr. Pedro


de Toledo, o considerava um homem honesto, porém- que pra-
ficava actos deshonestos.
Gomo conciliar as opiniões de S. Ex. ? Certamente, sendo
S. Ex. verídico e exacto, quando affirmava á Gamara e ao paiz
ser o Ministro Toledo uiíi liomem de bem, não o era quando
imputava a S. Ex. a pratica de aclos reprovados.
E a esse ponto vem a pello afíirmar, embora contrariando
opiniões de absoluta respeitabilidade, que a honestidade devo
ser sempre tida como um factor governamental, com ern
que
regra devemos contar.
A excepção tem sido neste, no como
regimen o
passado,
opposto do que_venho de affirmar, pois que os nossos homens
de Estado só são tidos como deshonestos quando no Governo,
opinião que se desfaz com a do Poder de que são temporaria-
mente detentores.
O partidarismo
político tem mais de uma vez
procurado
marear reputações;
porém, honra nossa, temos sido
para go-
vornados por homens de absoluta honestidade; devemos, por-
tanto, contar com cila, sempre tivermos de a considerar
que
como um facto governamental.
A honestidade é a regra; a deshonestidade a excepção.
Mas, voltando ao assumpto, será curioso talvez fazermos
um pequeno estudo comparativo entre as tabellas orçamenta-
rias, afim de vermos onde as especificações são maiores e
mais nitidamente feitas.
Para tal fim quer me parecer que devemos tomar como
base os dous factores — a despender e numero
Quantitativo
de verbas pelas quaes é feita a distribuição do quantitativo.

Assim temos:

Ministério do Interior

Quantitativo orçado a despender, 38.400:000$000,


Numero de verbas, 36.
(Media, 1.070:000í?000).

Ministério do Exterior

Quantitativo orçado a despender, 7.500'.000$000.


Numero de verbas, 11.
(Média, 080:000^000).

Ministério da Fazenda

Quantitativo orçado a despendei', 180.000:000$000.


Numero do verbas, 39.
'
-
(Média, 4.611:000$000)'.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 401

Ministério da Viação

orçado a despender, 152.200:000$000.


Quantitativo
Numero de verbas, 16.

(Média, 9.500:000$000).

Ministério da Marinha

Quantitativo orçado a despender, 48.500:000$000.


Numero de verbas, 27.

(Média, 1.790:000$000).

Ministério da Guerra

Quantitativo orçado a despender, 81.500:000$000,


Numero de verbas, 15.
(Média, 5.430:000$000).

Ministério da Agricultura

Quantitativo orçado a despender, 25.000:000$000.


Numero de verbas, 20.

(Média, 1.250:000$000).

Pelo exame feito se conclue o Ministério da Agrieul-


que
tura é o tendo menor
que, quantitativa (excepção feita do Ex-
terior), tem, entretanto, relativamente, maior numero de ver-
bas e, portanto, melhor e maior especificação.
Si considerarmos que a complexidade dos serviços a cargo
do Ministério do Exeterior não está na relação da diversidade
dos a cargo da Agricultura, temos que essai relatividade ainda
ó favoravel a este ministério.
Mas, Sr. Presidente, estou certo de o honrado Depu-
que
lado por Minas discutiu de bôa fé; acerto
por tal tenho como
que S. Ex., na ignorancia das praxes da administração, é que
affirmou ser possível ao ministro despender toda uma verba
com uma só das rubricas
a que a mesma está subordinada.
Não é assim,
porquanto annualmente, em janeiro, o Tti-
bunal de Contas faz a distribuição dos créditos, pelo
processo
qual ficam discriminados os quantitativos das differentes ver-
bais. Ora, si é certo
que a lei impede o extorno de verbas e que
esse principio salutar é observado não 6 também
strictamente,
possível o dispendio fôrma aventada honrado Sr.
pela pelo
Josmo do Araújo.

Assim como uma bolha de sabão desf:iz pela tenue


se
pressão do ar, as accusações de S. Ex. não resistiram siquer
ao embate S. Ex.
da discussão provocada S. Ex., porque
por
mesmo se encarregou de, lendo o texto da consignação, des-
castello que havia architectado.
nf°
Mas deixemos o talentoso e vejamos
. Deputado mineiro si
mais leliz foi illustre Deputado
em seus ataques o não menos
V.l. 28
402 ANNAES DA GAMARA

Federal, o Sr. Nicanor do Nascimento, cujo


pelo Districto
data vcniri declino.
nome com acatamento o prazer
Presidente, disse que S. Ex.v por temperamento, havia
Sr.
ao orçamento em questão S. Ex. timbra em sa-
dado combate
de patriota.
lientar o brio que exorna as suas qualidades
E' digno dõ louvor o empenho em que S. Ex. se acha de

reivindicar para o representante da Nação as prerogativaa que


em má hora eliminou do Parlamento.
o regimen
presidencial
A campanha encetada pelo ardoroso e inflammado Depu-
llie daria as esporas de cavalleiro
tado pelo Districto Federal
si S. Ex. já não fosse tenente de Gasconha.

Sr. Presidente, na França medieval flore.sceram os ca-

detes da Gasconha, quo passaram ;'i historia, symbolizando a


intrepidez e o patriotismo; posteriormente, pela evolução e
refinamento, foram elles corporifiçados nessa pleidade bri-
lhante dos lendários mosqueteiros.
Não sei si foi feliz a comparação, em nossos dias feita;,
«lo cadete Gascão com o voluntário especial e a dos mosque-
teiros com a companhia dos tenentes.
Espero que em não
minhas se
palavras, nada.veja
que
possa traduzir outra cousa que não soja admiração e acata-
lamento por esses generosos e nobres sentimentos, que vivi-
ficam e inflammam o patriotismo manifestado por essa piei-
ade, digua de elogios.
Mas, Sr. Presidente, dizem que o Sr. Nicanor é o Aramis
dessa nova cruzada, porque S. Ex. tem dous pontos de con-
tacto com aquelle lendário heróe.
A correcção no trajar, o fino trato, ao par dai intrepidez
ousada 110 ataque, fazem S. Ex. temido e querido.
E' certo,
porém, que nessa campanha de extermínio S. Ex.
terminará pelo arrependimento contricto, que levou Aramis
ao claustro, onde, enlevado na pratica, do exorcisino e da pe-
nitencia, maldizia as aventuras da mocidadc irrequieta, que
•por dernai- confiou na força <l<¦ seu braço o no vigor de seus
talentos.
Aramis foi cardeal; o Sr. Nicanor ser minislro de
poderá
Estado, e então, na curul sentir melhor
governamental, poderá
.e experimentar directamenle as injustiças, as malversações,,
os apodos, que mais
sangram quanto mais injustificados.
Mas, Sr. Presidente, o honrado
Deputado Districto
pelo
Federal, na campanha
travada contra o orçamento da Agricul-
tuira, fez obra demolidora, obr:i. de extermínio. Entre outros
córtes propoz S. Ex. a suppressão da Escola Superior de Agri-
cultura, facto de não existirem desse instituto
pelo de ensino
•superior, creado pelo decreto n. 8.319, 20
de de outubro de
1910, sinão o director, o vice-director e alguns lunccionarios
contemplados na verba 19".
Engana-se o nobre Deputado Districto Federal,
pelo que
tão mal conhece o que : u no Districto com tanto
passa quo
lustre representa «esta Cainara. Sr. Presidente, a Escola fcu-
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 403

perior de Agricultura, installada 'Palacio Leopoldina,


no antigo
A rua General Canabarro ji. 46, antigo, é um estabelecimento
modelar, capa» de rivalizar com os melhores da Europa e, sem
receio de errar, o mais notável da America do Sul.

Occupandq vasto o edifício, com custosos


portentoso ga-
hineies oe cmmica,
pnysica, botanica, zoologia e mecanictai,
laboratorios de microbiologia 'agricola, de phytopathologia, en-
tomologia agricola, installacoes do hvdrobiolosria. gabinete de
geologia e mineralogia agrícola, com suas collecções de rochas,
•terras e terras
geologicas cultas, etc., quasi todos em franca
organização, por isso que estão feitos o desencaixota-
sendo
•mento o montagem dos apparelhos chegados da Europa e Es-
tados Unidos e ultimando-se as seja
classificações, para que
possível a inauguração definitiviai em 15 de novembro e o
pleno funccionamento em fevereiro ou março do anno pi*o-
ximo, a escola já é uma realidade,
devido á tenacidade perse-
verante do Sr. Pedro de Toledo.

O concurso para provimento das cadeiras do curso fun-


oamental, devera ter inicio em dezembro proximo e o provi-
mento das seis cadeiras de lentes cathedraticos e seis lentes
substitutos do alludido curso, estará feito certamente em ja-
neiro do anno vindouro.

certo que a organização da Escola Superior e da Fa-


/enda Experimental annexa, que já está funccionando em
reclamado^ trabalho
íL°.'o de alta relevancia, no qual a
a ' ',íao e a competencia
"ateadas não teem sido re-

o nobre Deputado se quizesse dar ao trabalho de ir


, ^
ii aquelle instituto de ensino superior, em vias de ser
,1o
naugurado, se orgulharia, como braziloiro e representante
ein. vol-o dotado de tão notável quão
ij'
estabelecimento de ensino. Presentemente, Sr Presidente,
o embora os orçamentos de 1911 o 1912 tenham consignado
' 1011,0 «l0<5ento da so-
T Kscola e Fazenda annexa,
lenl.e
jistao preenchidos os logares de adini-
¦nistra^'ao, propriamonto
do accdrdo com os
arts. 23 e 530 do decreto n. 8.319,
quo creou o ensino agricola
no Brazil

suppressão da verba 19a, lettras « e b, traria, sem van-


l>ara os- cofres públicos, antes incalcula-
com prejuízos
vp^t'ln ar:li.03
inesinos, a
maior e a mais condemnavel desorga-
apparelho creado em virtude de disposição ex-
i>i'pta'lü
' (;ü,rr°borada dotações
vi£?n^a cfni- pelas orçamentarias em
bor. beria uma obra injustificável e revoluccionaria.

"\rr ,-M-> ®r* Presidente, não se limitou á Escola Supierior de


"r
o , .l,ra a acção extermínadora do talentoso Deputado pelo
(iistricto
desta Capital. As investidas de S. Ex. aittingiram
1"' 3"' "I"' G*' 8"' 9"' 11"» I2*' 1Li"' Ví*> 1G"' lü* 17°'
•18^ 19»
ANNAES DA GAMARA
404

das emendas suggeridas por fe. Ex. trariam


A aonrovao&o
do Ministério, sendo preferível a
a completa desorganização
total a um descalabro. , ,
sua eliminação
teria o nobre Deputado razoes de
Mas Sr. Presidente,
de tão radicaes medidas admi-
ordem publica, justificativas

nistrativas ?
seriam acaso persuasivos e con-
Os seus argumentos por
a autorizarem uma reacçao demolidora
vincentes, de fôrma
'?
parte do Congresso
por
Sr. Presidente; ao ouvil-os, embora enunciados pela
Não,
do orador consummado que e^o
palavra magica o seduetora
acudiu-me â memória a narração
Sr. Nicanor do Nascimento,
do Mar Morto — O touriste que de-
que os viajantes fazem
inhospitas, depois de transpor um
manda aquellas paragens
.árido sob o reverbero da canicula escal-
deserto e pedregoso,
dante, chega 110 horizonte uma vegetação que julga
perceber
soffrimentos; caminha e, depois de ter per-
o termo de seus
lhe infinda, abeira-se de
corrido uma extensão que pároco
fruetos de um amarello appe-
arvoredos que teem suspensos
dir-se-hia que alli estavam elles como
titoso e empolgante;
soffrimentos experimentados em mvio de-
prêmio a tantos
mas, oh ! decepção: mal o viajor toca
serto asperrimo e cruel;
se desfaz elle em pó impalpavel, pois
o frueto appetecido
não é a flôr do enxolre condensado nos
que outra cousa q<ue

galhos da tarvore enganadora. , ,


imaginoso Deputado pelo Dis-
As razões adduzidas pelo
encanto dos fruetos do Mar Morto, mas
tricto Federal teem o
como elles .se desfazem ao menor contacto.
Passo Sr. Presidente, a apreciar a notável
finalmente,
oração do illustre Deputado bahiano, Sr. Moniz de Carvalho.

Disse S. Ex., havia combatido o orça-


que preoccupação, por
E' arregimentou-se
S. Ex. como voluntário espe-
mento. que
ciai, as divisas de tenente mosqueteiro, e quer
pretendente
mostras de franco atirador. Hábil e velho politico, S. Ex.
dar
a pillula com mostras de uma disciplina « outrance
d-ourou
adduzindo considerações conselheiraes, quanto A
partidaria,
fiscalizadora e critica do Deputado, no exame das le_is
acção
orçamentarias. S. Ex. me perdoe: não quiz ser diabo* nem tão

accendeu duas velas, para não errar o caminho.


pouco ermitão;
o eminente Marechal Hermes, cuja conducta finan-
Elogiou
ceira; applaude, justificando dessa fôrma os cortes que propõe

nas verbas da Agricultura; mas certo estou em ver S. Ex. vo-


a favor da manutenção dos 21.000 sôldados do
tando commigo
nosso Exercito e contra a reducção proposta pela Commissão

de Finanças. E' que S. Ex. como cadete que ê, não foge ao


não come lobo ».
brocardo que nos ensina que «lobo
Estou mesmo seguro de que S. Ex. votará a favor de umas
occasião
tantas verbas, como aquellas que S. Ex. pleiteou por
da votação do orçamento do Interior, com denodo e galhardia,
embora fosse a palavra de ordem do partido do nosso vene-
SESSÃO KM 21 DE SETEMBRO DE 1912 40 S

rando chefe general Pinheiro Machado: « economias, mais eco-


nomias, só economias». Entretanto as emendas que aalludo,

que visavam favorecer uns tantos .serviços reclamados pelos


amigos da Bahia, não tinham por fim sinão augmentar a deB-

peza publica.
Assim tudo se justifica, mesmo aquillo que nos parece
inconciliável, como seja a altitude independente dos oradores,

que propõem córtes nos orçamentos, a titulo de economias,


mas que pleiteam verbas veem augmentar a despeza pu-
que
blioai: a arrogimentação com a opposição tenaz a
partidaria
correligionários o a medidas solicitadas pelo mesmo partido.
Emfim a anarchia mental é fructo- da época; não podemos
nos esquivar á acção conseqüente dos elementos em jogo, por
mais desordenados que nos pareçam.
E' preciso marchar, pois, como disse o poeta: «Tudo

marcha oh ! grande Deus.
Marchemos como cadetes ou veteranos, em busca
porém
do Progresso da Patria, subordinados á ordem, s<5
porque
assim bem serviremos á Republicai bem; muito bem.
(Muito
O orador é cumprimentado.)

{Em meio do discurso do Sr. Joaquim Pires, o Sr. Soares


dos Santos, Ia Vice-Presidente. deixa a cadeira da presidenei/i,
que é occupada pelo Sr. Raul Veiga, 2° Secretario.) i

O Sr. Presidente — Continuai a discussão do projecto


i). 61 B, de 1912.
Tem a palavra o Sr. Calogeras.

O ¦ Calogeras —
, , Quando ante-hontem, adeantado
pelo
da nora, Sr. Presidente,
me vi obrigado a interromper a expo-
siçao, que vinha fazendo perante a Gamara, das notas postas
u margem do orojecto de orçamento
do Ministério da Agricul-
fura. com o fito de sujeital-as ao critério da Gamara, ia eu
encetar a analyse do coniuncto de
providencias que ao Governo
.Federal aprouve aconselhar ou acceitar para o combate eco-
nomico destinado a defender a nroducção da borracha brasi-
loira, assumpto se appellidou — —
que problema do norte
a meu ver com uma tal ou
qunl impropriedade.
Problema do norte é o da lueta en-
contra as seccas, já
caminhado em sentido de solução. Para isso. basta que sejam
seguidas as indicações dadas por esse distinctc.
profissional
e consciencioso, o Sr. frente da
Arrojado Tjisbôa, nuando á
mspectoria creou engenheiro
que e superiormente dirigiu,
cujos optimos serviços o Governo actual não soube conservar.
Para tratar do
problema da borracha, das medidas a ado-
nr.nr em sua defesa, cumpre definir os termos em que elle so
encontra,
examinal-o nas suas phases multinlices, desde o ini-
«''o até
o momento em oue ella é offerecida no mercado, em
concurrencia
com os similares de outros paizes.
Embora rapidamente, devo lembrar,
. para combater certas
opiniões
geralmente aceoitas ou, pelo menos, acceitas com
406 ANNAES DA CAMARA

certa facilidade,
que a borracha não é o producto de planta
única, ou grupo dereduzido de plantas. Não. Existe 110 látex
de numerosas especies, no caule, nas raizes, nas folhas. Encon-
tra-se sob a fôrma de globulos suspensos no liquido, do qual
se separa por coagulação, e podendo fornecer substancias mais
ou menos elasticas, utilisaveis, ou não, nas industrias.

Deixando do lado as que não podem ser utilisadas, e tra-


tando das demais, citarei entre os grupos botânicos que dão
maioir porcentagem aproveitável deste producto, além das varias
especies de Hevea, de Castilla ou Castillna, vários Manihot,
as IJancornia, certas Lorantliaceae, alguns indivíduos do genero
Sapium, isto tão sómente no Brasil e em parte da America
do Sul.
Na America do Norte, proveniente do Texas, da Califórnia
ou do Norte do México, se encontra uma planta a;rbustiva, o
Guayule que, em certa escala, produz borracha.
Na Asia são os Ficus, especialmente o Ficus clastica.
Na África, os mesmos Ficus, differentes especies de lianas,
das quaes citarei dous generos, as Landolphia e as Clitandra, e
uma arvore, cuja cultura já se está fazendo com certa van-
tagein, a Funtumia clastica.
Esta enumeração não obedece ao intuito pueril do de-
monstrar erudição barata, ao alcance de qualquer manuseador
de livros sobre o assumpto.
Visa especialmente combater opiniões errôneas sobre o
pequeno numero de fontes productoras da borracha e, ao
mesmo tempo, justificar a conclusão de que se deve defender
pernnte a Gamara a limitação da área economica, na qual o
combate á borracha do1 Oriente tem de ser encarado.
Todas estas especies foram cultivadas.
O Ficus clastica, talvez o mais antigo como data de apro-
veitamento, encontra-se em plantações notáveis nas ilhas da
Sond_a,em Borneo e Ceylão. A Castilloa clastica no México,Java o
Ceylão. A
maniçoba nos mesmos logares, e, convém mtar,
não sómente aquella so conhecia sob o mome
que antigamente
de Manihot Glaziovii, mas também as outras especies gum-
miferas: 101 M. piauliycnsis, o M. ãichotoma e o M. hcptaphylla.
Mas o elemento principal, indiscutivelmente dominante
nos ensaios culturaes, foi a seringa, a Ilcvca brasiliensis. Todas
demais tentativas fracassaram ou se •encon-
as provaram mal,
tram em via de desapparecer.
Serviram de base, entretanto, á cultura em larga escala,
como procurei resumir em um quadro no qual tentei synthe-
cisar as estatísticas esparsas, incompletas, (ou, si existem,

pouco divulgadas) que encontrei em publicações numerosas


sobre o assumpto.
Refere-se esse resumo a dados concernentes aos exerci-
cios de 1910 e 1911; não
pretenções a oxactidão mathema-
tem
tica; dá simplesmente uma indicação summaria do pórte dos

phenomenos. Sem entrar em detalhes, poderei dizer que em


Ceylão, onde se experimentou, se estudou e se resolveu
o problema do aproveitamento de varias especies productoras;
SESSÃO ESI 21 DE SETEMBRO DE 1912 407

em Geylão, se encontram 80 mil hectares plantados; na Malasia,


e estabelecimentos dos Estreitos, 100 mil hectares (11a Mala-
sia, convém dizer, sómente a Hevea foi utilisada), na Cochin-
china cinco mil hectares; no México, a Castilloa, o Caucho,
occupa 50 mil hectares de área cultivada.
Cito estes algarismos mostrar que se não trata de
para
culturas experimentaes, mas em florescimento e desen-
pleno
volvimento.
Na Indo-China, são cerca de 5.000 hectares de Ilcvea.
No E'ste Africano, 1.250 hectares são occupados pela maniçoba;
na Nova Guinó,
quasi outro tanto com Hevea, Ficus e Funtu-
mia; no
Cameroun, 700, com Hevea e Funtuviia; em Samoa,
450 mectares teem_ plantação de Hevea e Funtumia; no
Togo,80 hectares estão cobertos de Manihot, e da especie afri-
cana, Funtumia, havendo cerca de 30.000 arvores assim piau-
tadas; nos 1.000 hectares gummiferos do Mayumbe, ha 17.000
Hevea, 3.461.000 Funtumia, 185.200
inaniçobas e 11.000.000
de cipós pertencentes ás duas especies de Landolphia e ás duas
de Clitandra. Nas índias Neerlandezas,80.000 hectares estão
pLan-
tados e produzindo. Na America do Norte, largas áreas estão
cobertas de culturas industriaes de Guayule.

Isto resume o seguinte


quadro:
ANNAES DA GAMARA

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SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 40Í

Para completar este e permittir se avaliea


quadro
ordem de grandeza dos factores contra os quaes a producção
nossa tem de luctar, citarei a capitalisação relativa a essas
differentes zonas de cultura.
O capital das empresas, em 1910, era avaliado em cerca de
24 milhões sterlinos para a Malasia e os Straits Settlements.
Nas índias Neerlandezas essa capitalisação se elevava a
25 milhões sterlinos, na mesma época.
Na África Occidental são dous milhões apenas.
Na America do que Norte,
se pôde considerar
a cultura,
como perdida, de Guayule, já absorveu seis milhões sterlinos..
Si accrescentarmos a essas as que foram des-
parcellas
pendidas na Indo-China, na Cochinchina, no México, as quaes
não figuram na estatística por mim citada, e as sommas que
encontraram emprego nessa industria, no anno passado, de
1911, e no primeiro semestre do exercício corrente, chegaremos
a um total superior a 70 milhões sterlinos.
Quer isto dizer que na industria da borracha cultivada,
concurrente do Brasil, no momento actual se acham envolvidos
capitaes em valor superior a um milhão de contos de róis do
nossa moeda.

O Sr. Luciano Pereira — Isto mostra a seriedade do pro-


blema.

O Sr. Calogeras — Tal esforço financeiro não se fez


sómente com êxito. Largos destroços semearam o campo das
tentativas feitas, e dessas muitas jazem inteiramente impro-
ficuas.
De um modo geral, póde-se dizer que, a não ser a Hevea,
todas as demais culturas mangraram e desappareceram.
Si não foram destruídas completamente, é isso em {>arte
devido do preço
â da borracha,
alta em determinado período,
o que permittia o aproveitamento de todas as substancias
elasticas, e em parte ao facto de que essa cultura, em grande
escala, podia ficar abandonada sem prejuízo, antes com be-
neficio para as arvores productoras, não sangradas, e que
assim envelhecem e se fortalecem. E' certo, entretanto, que
todas as demais tentativas feitas por especies outras, que
não a Hevea, e_stão em franco regressivo.
período
A correlação entre o esfox^ço feito para o desenvolvimento
do plantio, e a producção obtida, traduz-se algarismos da
por
maior gravidade, para nós.
Si nós nos basearmos em
referentes _ao anno
estatísticas
de 1910, o algarismo em a producção total
se avaliou
que
em borracha, de varias é de 75 mil toneladas.
procedências,
Dessas 75 mil toneladas, 40 mil, de facto, foram expor-
tada,8 Brasil; 16 mil, entretanto, foram enviadas pela
pelo
África, da exploração dos recursos syl-
parte proveniente
vestres, das lianas, e mais arvores existentes nas
funtumia
florestas daquelle mas o restante, do
paiz ; proveniente, já,
cultivo.
Polo Congo mais de mil toneladas de
passaram quatro
borracha, nesse mesmo anno.
410 f ANNAKS DA CAMARA

O Sr. Luciano Pereira — 19 milhões só do cultura.

O Sr. Galogeras — E das culturas de Revea, em começo


de desenvolvimento producção normal do Extremo-Oriente,
de
( e sob essa denominação abranjo toda a zona entre Geylão e
Bornóo, e os estabelecimentos dos Estreitos) vieram perto de
10 mil toneladas de borracha cultivada. Alguns avaliam em
oito mil. Estatísticas mais precisas permittem elevar um
poucó esse total.
O esforço iniciado no Brasil em 1909 e 1910, especialmente
notável em 1910 e 1911, após a terrível crise de depressão de
preços de 1906 e 1907, no sentido de manter nas
praças da
Amazônia a alta, que depois da crise se manifestara; e per-
mittir o commercio mais lucrativo do genero; os esforços feitos
no Brasil, nesse sentido, em 1910 e 1911, tiveram o grave
inconveniente de perpetuar uma situação malsã, e de abrir aos
concurrentes da producção brasileira, um campo de applica-
ção, dantes reservado exclusivamente aos productos superiores
exportados por nossa terra.
Seguiu-se a essa alta, e á tentativa de mantel-a por meios
artificiaes no Brasil, uma
pullulação de einprezas de cultura
de borracha, um verdadeiro boom, emprezas que se baseavam
em concessões mais ou menos hypotheticas, algumas mesmo
no Brasil.
Não ha muito tempo, os jornaes falavam de scenas de-
primentes para nós : uma assembléa geral de uma em-
preza, a De Mello Rubber Estates, que se fundara em uma
pretensa concessão de terrenos seringueiros no Estado da Bahia,
onde não ha, que me conste, uma só planta capaz de pro-
duzir a borracha-seringa.
O resultado do boom, para as tentativas que se não puderem
manter por falta de bases, foi a liquidação ruinosa de nu-
morosos bancos e companhias, especialmente no grande centro
de especulação da borracha, que ó Shangai.
Em fins d© abril de 1910, o mercado estava coberto dle
ruinas o destroços.
A repercussão no fez-se immediatamente sentir,
preço
A cotação do Pará-fine, que firma as taxas das demais
qualidades, descera de 12 shillings e C pence, libra, a 8
por
shillings e 8 pence, baixa que se accentuou em fins de 1910,
e attingiu a 5 shillings e 6 pence, em dezembro, e em junho
do anno passado, a a shillings e 10 pence.
A experiencia brasileira, por manter preços altos, tinha
tido o grave inconveniente de facilitar a retenção de stocks,
mais tarde liquidados
grandes prejuízos, e, alémcom
disso,
trouxera a que alludi, ha pouco,
consequencia de fazer des-
a
apparecer nas fabricas, nos donos das grandes manufacturas,
uma tal ou qual prevenção que em seu espirito existia, sobre
a possibilidade de contrabalançar o preço alto da borracha
brasileira com o preço menor dos succedaneos de qualidade
inferior, para os quaes appellaram desde o momento em que
o Pará-fine attingiu cotações realmente inabordaveis
Foi desta fôrma que se desenvolveu a procura de certas
SESSÃO EM 21 I)E SETEMBRO DE 1012 411

qualidades, obtidas por preço menos eltevado do que a seringa


brasileira, e dei Ias citarei u Guayule, o Jelutong, a maniçoba e
a mangabeira.
Em cotações inferiores, não competiriam com a borracha
brasileira, por não valer
pena empregar
a um genero infe-
rior, em egualdade de preço com um producto bom.
Assim, se incrementaram a procura e o consumo dos

productos regenerados, das borrachas fictícias e de outros succe-


daneos, que foram em larga escala entrando no uso corrente
da manufactura.
Quer isto dizer que a indiscreta intervenção official do
Banco do Brasil,_á solicitação das praças do norte, fez desappa-
recer as prevenções antigas dos fabricantes contra as borrachas
inferiores aos productos do valle amazonense, e abriu a essas
mercadorias inferiores o campo de utilisação, dantes reser-
vado ás qualidades superiores exportadas pelo Brasil. E' uma
lição digna de meditação.
E' evidente que, desde o momento em que a tal ou qual
equivalência perante as exigencias dos fabricantes era
admittida entre a borracha brasileira e os seus succedaneos,
a lucta se estabeleceria no preço de compra do genero, que
traduziria1, com o lucro natural dos intermediários, o seu preço
de prnducção.
Chegamos assim
preço de producção. ao
Não é fácil
esclarecimentos obter
completos sobre este
ponto. Elemento essencial da concurrencia commercial, o
preço de custo ó a base desta mesma concurrencia. E' obvio,
portanto, que os industriaes e commerciantes interessados na
borracha não andam divulgando os algarismos a que chegaram
e que representam este preço.
Mas ha certas taxas médias, em torno das quaes se esta-
belece um quasi accôrdo.
\ssim, é que, para o Brasil, as auctoridades mais compe-
tentes no assumpto acreditam que abaixo de 3$500 kilo
por
no Pará e de 4$ por kilo em Manáos e 110 Acre, todo de
preço
venda é ruinoso.

O Sn. Luciano Pereira — E' verdade.

O Sn. Calogeras — Podemos, admittir alga-


pois, esses
rismos como correspondendo mais ou menòs ao preço do custo.
Sou o primeiro a reconhecer a inexactidão destas asser-
ções; mas é a única base sobre a qual nos podemos apoiar para
enterreirar a discussão.

O Sr. Monteiro de Souza — Base, aliás, optimista.

O Sr.
Calogeras — Convém notar os dados relativos
que
ao Extremo-Oriente, mais conhecidos mai« discriminados,
e
talvez, do os algarismos brasileiros, ainda se
que prestam a
larga discussão.

_Nos prospectos de lançamento de emprezas, nas publi-


caçoes feitas angariadores de assignaturas de subscri-
pelos
piores, se encontram freqüentemente como traducção do
preço
de custo possível, incluídas todas as despezas, 110 Extremo-
ANNAES DA GAMARA

Oriente, os seguintes algarismos: um shilling e seis pence por


libra, podendo este preço, dizem os lançadores de companhias,
descer a um shilling e tres pence e mesmo a um shilling, em
condições especiaes de productividade e normalisação de ser-
viços.
Não me basearei nesses valores, pelo facto conhecido

pela Gamara de que, da data em que se divulgaram esses


elementos numéricos, até hoje,grande modificação se fez 110
ambiente economico do Extremo-Oriente inteiro.
Assim é que a crise dos salarios lá também se fez sen-
tir, augmentando notavelmente, como dentro- em pouco te-
rei occasião de demonstrar, o valor da mão d'obra incorpo-
rado no preço de custo dos generos chegados ao mercado.

O Sr. Monteiro Souza — E' fatal, desde o


que prodücto
se valorisa.

O Sr. Galogeras — Podemos, entretanto, balanços


pelos
das companhias publicados, pela analyse dos dados em que
se fundam, acceitar como representativas do ambiente
économico do Extremo-Oriente as seguintes médias: tres
shillings por libra na phase inicial das plantações, preço este
que na phase normal aa producção, do equilíbrio, para oqual
todas as culturas naturalmente tendem, poderá descer a um
shiling e nove pence. Não me basearei em cálculos mais opti-
mistas, que não ignoro, mas que acho mais
prudente não accei-
tar,porque a situação do problema da mão d'obra do Extremo-
Oriente, embora menos grave e permanente do que para o
Brasil, também lá exerce a sua influencia no sentido de
augmentar o preço do custo presumível do genero de que nos
estamos occupando.
Destes algarismos decorrem algumas lições.
Uma das primeiras ó a que se refere á concurrencia entre
o prodücto da Ucvea e os similares de outras procedências.
Parece haver accôrdo em que, abaixo de cinco shillings e
seis pence por kilogramma, já não ha conveniência no em-
prego da borracha proveniente quer do Guayule, quer do
Jelutong. Não competiriam em qualidades com o Pará, muito
melhor, que já se obteria por esse preço.
Isto tem alta significação para o Brasil,
porque são areas
immensas, plantadas no Texas, na Califórnia, e que se veem
afastadas da competição com o
prodücto brasileiro.
Por outro lado, temos a presença nos mercados de produ-
cto da mesma Hcvca, mais barato e mais que o prodücto
puro
brasileiro.
Basta dizer que a sua é de 2 ou 2 e meio por cento,
qüebra
emquanto que a do Pará*fine da melhor é de 17 ou
qualidade
18 %.
A chegada ao mercado de quantidades crescentes desse ge-
nero influirá no preço no sentido do fazel-o baixar. Será o
golpe de morte no látex coagulado das Landolphia, das Cli-
tandra, e talvez também da Funtumia,
A lueta, portanto, virá estabelecer-se, não mais com os si-
inilares, que só se podem obter por preços oomparaveis ao
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 443

não haverá
preço definitivo da serinaa, mas que então já van-
tagem em empregar porque, em egualdade de preço, o pro-
dueto da seringueira será melhor do que o da borracha pro-
veniente de outraqualquer origem; a lueta, portanto, virá tra-
vada entre a Eevea sylvestre e n mesma arvore transmigrada

para outras terras e ahi cultivada.


Ficarão, degladiando-se o Brasil e o Extremo-
portanto,
Oriente.
Na situação actual, parece que o Brasil atungiu a um
momento em que difficilmente incrementará sua producção,
alongamento progressivo das zonas de extracção, máo
pelo
grado as immensas reservas existentes na bacia do Amazonas.
De 1906 até o anno passado, as estatísticas globaes da pro-
ducção demonstram que se enviaram para o exterior 35 mil
toneladas no primeiro anno citado, 40 mil em 1910 e apenas
37 mil em 1911. Houve, portanto, um abaixamento de ex-

portação. Quer isto dizer que, si procurarmos traduzir os fa-


ctos, como se faz em economia, por meio de graphicos, a curva
representativa da exportação complexiva total da borracha
brasileira já attingiu o período de equilíbrio, revelado na ho-

rizontal idade do traçado.


As exportações dos coneurrentes brasileiros da borracha,
isto é, da maniçoba e da mangabeira, .apresentam o mesmo as-

pecto.
A evolução das remessas dessas duas substancias é tradu-
zida algarismos seguintes:
pelos

1907 1908 1909 1910 1911


tons. tons. tons. tons. tons.

líaniçoba . 2.429 2.166 3.106 3.618 3.444


Mangabeira 678 345 510 781 437

A mangabeira está em regresso franco; do 678 toneladas,


cahiu a 437 o anno passado.
Outro inteiramente, diverso por completo, ó o aspecto do
desenvolvimento das culturas do Extremo-Oriente.

O Sn. Firmo Braga dá um aparte.

O Sr. Galogeras — Sr. Presidente, do de vista das


ponto
trocas, do ponto de vista economico do intercâmbio, das duas
correntes de importação e de exportação de mercadorias, o que
importa é o
produeto remettido para o mercado consumidor.
IRelido artificialmente no mercado produetor, ó uma riqueza,
si quizerem, uma riqueza potencial, não é uma utilidade de
consumo, não é um valor de troca. Desviado do consumo,é como
si produzido não fôra.
Ao
citar esses algarismos, não tenho outro mérito sinão
o dasinceridade, elles traduzem apenas a informação
porque
official offerecida á Camara. Encontram-se todos no «Com-
mercio Exterior do Brasil» Directoria da Es-
publicado pela
tatistica commercial.
Neste documento, em que se centralisam as informações
enviadas de todos os onde passa para o exterior
portos por
414 ANNAES U.V CAMARA

a producção brasileira, trabalho onde constam as estatisti-


cas remettidas por toüas essas fontes de avaliação; nesse do-
cumento se encontram os algarismos que acabo de citar e
cuja exactidão o nobre Deputado poderá verificar recorrendo
ao impresso que lhe passo ás mãos.

(O orador eiitrcya um documento ao Sr. Firmo liraga.)

Outro inteiramente, dizia eu, é o aspecto do desenvolvi-


mento productivo das culturas orientaes.
Para mostrar aos o que é
nobresesse pro- Deputados

grosso, vou citar algumas informações do Malay Mail de 17


de novembro de 1910, uma das auctoridades nessa matéria, e
que se reportam aos 196.953 acres de seringaes plantados até
fins de 1909 nos Estados Federados Malaios.
São as seguintes as tonelagens previstas:

Tons.

1908 1.413
1909 2.692
1910 15.312
¦1911 10.125
1912 15.721
1913 22.973
1914 30.0(57
1915 36.081
1916 43.297

Accrescentando á tonelagem produzida nessa área,jsobre


ft qual a previsão se fez, os productos provindos dos 73.000
acres em 1908, e que chegarão á plnise de pleno
plantados
desenvolvimento de producoão em 1913, teremos mais:

Tons.

4913 «.518
•1914 8.982

1915 10.778

191(5 12.98't

d já eleva o toLal da producção em 1916 a 56.000 tone-


que
ladas.
E não é somente isto.
Em 1910, segundo estudos feitos por Gallagher, outra au-
no assumpto, continuou o desenvolvimento de cul-
ctoridade
1915,' começarão a
turas que, em produzir.
A sonima dessas producções parcellares permitte prever,
segundo ás estatísticas do Malay Mail. de Gallagher, o outros

prever cifra de 1916, daqui a


especialistas; permitte para
annos, um lotai de 65 a 70 mil toneladas de
quatro portanto,
borracha de lleoea tão sómepte para a península malaia.

Mas, não basta allegar taes O problema ainda ó


previsões.
mais serio.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 4Í$

Convém accrescentar ao total citado a producção das cul-


turas da Indo-China, da Cochinchina, emfim, de todas as re-
giões onde de algum modo a Hevea foi plantada.
O Sr. de Béthune, da Rubber Growers' Association
grande conectividade que, até certo ponto, centralisa no mer-
cado londrino o serviço de informações relativas á producção
da borracha—o Sr. do Béthune, repito, avalia esse
grande total
em 800 mil acres que correspondem a 320 mil hectares de ter-
reno já plantado e susceptível de produzir.
Feito o calculo, com algarismos abaixo da média já ve-
rificada, em plena cultura, á razão de 300 libras de borracha
por acre coberto de Hevea de edade variando de 6 a 12 annos,
esta área corresponde a uma producção total, vinda ao mercado
em prazo breve, de 108 mil toneladas do borracha.

O Sr. Monteiro de Souza — Superior ao consumo actual.

O Sr. Calogeras — Não é superior, como provarei no cor-


rer do meu discurso.
Vamos admittir que parasitas, moléstias, certos fungi,
causas imprevistas actuem fôrma tal
por que essa producção
de 108 mil toneladas não venha toda a mercado e <iue apenas
a metade se aproveite.

O Sr. Luciano Pereira — E' calculo muito pessimista.


O Sn. Calogeras — E' calculo que pecca por absurdo, mas,
em todo caso, admittamol-o.
Serão, portanto, 50.000 toneladas do borracha do Oriente
em concurrencia com as 40.000 toneladas nossas, tendo ambas
a mesma origem a llcveu— e mais bem preparada a do Ori-
ente.

Um Sr. Deputado — Si estacionarmos nisto.

O Sr. Calogeras —¦ Sim, na


phaso actual
Dous, Sr. Presidente, são, nessa lueta
próxima, os elemen-
cos a consideí.«íi . (i) a capacidade de ahsorpcfío
do merendo con-
Biimirlor: <>) O proco de misto do
produetô.
Examinemos eadn uni desses elementos.
Quantoajihfiocpçao da horrachn nos mercados consumido-
res, parece nao haver receios a nutrir.
Á'u momenio actual, além das 75.000 toneladas
produzidas
ou por cultura ou pela exploração do elemento
sylvestre, exige
a industria mais 45.000 toneladas
provenientes de vários succe-
daneos, que, por terem uma tal ou qual elasticidade e princi-
palmente por serem misciveis com a borracha, vão substituindo
em alto o lugar occupado
grão primitivamente pela gomma
pura.
São,portanto, ao todo, 130.000 toneladas de produetos
mais ou menos elásticos entram
que para a industria, e são
lormados seringa,
pela pelos regenerados, pelos oleos vulca-
msados, G-uayule,
pelo pelos caoutchoucs fictícios.
. com o progresso vertiginoso do automobilismo,
yrã>, dos
'eciaos impermeáveis', das applicações electricas, a ponto de
se poder
quasi dizer que o que se tem de indagar não é aquillo
416 ANNAES DA CAMARA

em que se emprega a borracha, mas aquillo em que se não em-


—; com o desenvolvimento
prega esse produoto de todas essas
industrias com o facto
novas e de apparecerem no mercado
quantidades sempre crescentes de borracha, egualmente pura
mas de preço inferior, produzida nas culturas, natural é que
a fom,e de matéria prima se revigore.

Teremos, portanto, um novo impulso ás industrias todas


que se servem da borracha isolante, impermeável e elastica,
e que hoje, impossibilitadas de o fazer pelo preço alto do
producto, amanhã poderãtoi usal-o correntemente pela baixa
da cotação decorrente da chegada dessa massa previsível de
gomma oriental em futuro proximo.
Não ha, pois, quanto ao mercado de consumo, receios a
nutrir.
Com uma resalva, entretanto, que é o apparecimento
da borracha synthetica.
Não quero entrar nessa questão, porque é complicada e
exigiria grandes desenvolvimentos.
Cumpre, entretanto, affirmar que não é cousa tão utópica
como a alguns se afigura, e como tenho lido, mesmo em do-
cumentos officiaes.
Sem entrar no examedos processos existentes, convém
deixar assignalado o perigo e lembrar que se approxima o
dia em que a lucta se tornará possível, em torno do preço de
seis a sete francos por kilogramma.
Examinemos agora
elemento: o segundo
o preço de custo.
Repetindo algarismos
por mim citados, adoptemos
já por
base a que decorre dos balanços publicados nos relatorios
das emprezas: tres shillings por libra no inicio, um shilling
nove pence para a phase normal da producção.
Transformado esse preço, ao cambio actual, em moeda
nossa, teremos 2$500 por libra na primeira hypothese e 1$342
na segunda. Referidos ao kilogramma, serão respectivamente
4$960 e 2$900.
Quanto á seringa do Brasil, os extremos sendo 3$500 e
4$, poderemos tomar um preço médio de 3Ç700 a 3$800 para
attender ás differenças locaes.
Mesmo computando pequenas variações nos fretes ma-
ritimos, não ha duvida que a lucta se estabelece entre os dous

preços médios de 3$800 para o Brasil o 2$900 a 3$ para a bor-


racha cultivada.
Essa situação, com a differença de 1$ em desfavor do
Brasil significaria a morte da industria nossa. Como im-

pedil-a ?
Com essa especie de introducção, de definição prévia
dos elementos formadores do
phenomeno, tive por fim fixar
os termos do problema. Agora, já delineados i ses elementos,
deante de seu conjuncto posto em equaçílo, digamos qual a

solução possível.
Para evitar o desapparecimento da industria seringueira
do Brasil, examinemos as
parcellas componentes do preço de
custo. Façamol-o„ entretanto, sómente em relação ao Brasil.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 417

exame relativo» ao Extremo-Oriente apresenta menos in-


teresse.
A crise do salario,
que lá também existo, faz com cjue o
coolie importado para o serviço venha
das plantações a per-
,ceber por dia meio dollar a mais do ha uns
que percebia,
quatro annos atrás. Quasi o dobro do salario na
primitivo,
pha.se actual. Essa situação tende a aggravar-se e todas as cor-
respondencias vindas do Extremo-Oriente, todas as estatis-
ticas publicadas em tratam
jornaes que exclusivamente
da industria da borracha, salientam o facto do augmento pro-
gressivo dessa pareella, que, consta, vae sempre crescendo.
ortanto, si nós, acceitando o combate, melhorarmos a nossa
e conseguirmos concorrer com a borracha do Ex-
producção
trerno-Oriente nessas condições, que são relativamente
optimas para nossos competidores, ou
claro está que essa tal
qual superioridade virá a transformar-se em victoria defi-
n
y? i producto brasileiro, quando a situação da mão irobra
na Malasia estiver aggravada
pelo augmento da procura in-
tensiva de operários.

O Sr. Presidente — Previno ao orador que faltam apenas


cinco minutos para terminar a hora.

O Sr. Calogeras — V. Ex. vè, Sr. Presidente, que estou


apenas no inicio das considerações
que venho fazendo. E*
esta a ultima vezque tenho o direito de falar neste turno do
orçamento. A minha na
presença tribuna não è um acto de
exclusiva voliçao minha. E' em resposta, que devo, ao nobre
Deputado que me chamou nominalmente
que nella a debato,
mo encontro. Comprehende V. Ex. que deixal-a agora, inter-
romper o meu discurso, seria desertar um posto de combate.
Assim, solicitaria de V. Ex. consultasse
que á Casa sobre si
me concede a prorogaçao de uma hora.

(Consultada a Casa, é concedida a prorogaçao pedida.)

O Sr. Caloqerar, ¦
Agradecendo á Caniara a
prorogaçao
concedida, volto á < considerações
que vinha fazendo.
Cinco grandes, immensas vantagens tem o producto extre-
mo-oriental sobre o producto brasileiro.
_ O salario, em primeiro logar, que é em média nas planta-
çoes da Malasia. no momento actual de. alta, de um dollar.
Trata-se do dollar dos Estreitos, valendo cerca de 3 francos,
ou, ao cambio vigente, 1$700. Quem quer que esteja a par da
producção 110 valle do Amazonas, sabe que lá se chega a pagar
ate dez vezes mais, conforme o numero de látex
de baiões
colhidos.

O Sr. Lugiano Pereira — A seringueiro é feita


paga ao
Pelo que olle produz.

O Sr. Calogeras — O segundo elemento favoravel que sobre


nos ti ni a industria dos
orientaes consiste na concentração das
culturas. Não fia arvores acontece 11a
solteiras, como estrada
do seringueiro nosso. São árt«qs cultivadas
inteiras e pro-
Vol, 27
*18 ANNAES DA GAMARA

ductoras. Assim, o mesmo numero de homens retirar


pôde
maior quantidade de producto, ou por outra, o mesmo numero
de arvores exige uma mão d'obra menor.
Permitte um custeio mais economico, o pequeno
porque
rendimento da estrada do seringueiro vem substituído pela
colheita do látex em toda a superfície cultivada.

Em terceiro plantações logar,


não se acham as tão dis-
tantes dos mercados onde se faz a distribuição dos productos.
Entre nós, são milhares de kilometros zonas invias,
por
rios de difficil navegação, por vezes interrompida durante
mezes a fio, constituindo um meio de transporte onerosis-
simo.
Quarta vantagem consiste em que as culturas não estão
situadas em logares ermos, desprovidos de recursos.

Ao todos
contrario,
elles são centros, onde se encontram
elementos^ para sustento do habitante. Em contraposição ao
ue se dá comnosco, onde tudo se importa, ató os generos
e primeira necessidade, com fretes altíssimos.
Finalmente, o regimen fiscal é tolerável e humano no
Extremo-Oriente.
Entre nós o regimen fiscal °|°
chega a extorquir cerca de 25
do producto, não calculado sobre -sobre
preço do mercado, mas
pautas por vezes superiores as cotações correntes...

O Sr. Luciano Pereira


V. Ex. —
não tem razão. As pautas
_
sao fornecidas pela Associação Gommercial, e de accôrdo com
a media da ultima semana. No Amazonas, exemplo,
por é
assim.

O Sr. Calogeras — V. Ex. sabe tão bem quanto ,ou as


oscillaçoes que se dão dia a dia sobre o preço da borracha,
como sobre
qualquer outro producto.
A
pauta baseada no da semana
preço anterior pôde vir
a ser superior ao
preço corrente no mercado.
De facto o imposto de 25 °|°,
recahe sobre o lucro deixado
pelo gênero, sobre o custo de producção, sobre os fretes. E' a
mais iníqua das exigencias tributarias de que ha noticia no
mundo. Symbolisa a ganancia do fisco.

Quando falo em 25 falo do todos os impostos


%, que in-
cidein sobre a borracha.
Ora, si o °|°
quinto ouro, do
é, 20 do valor isto
do metal,
foi bastante para justificar levantes o revoluções que a bis-
toria do JJrasil assignala, o que se não ha de dizer cm
relação a borracha, em a extorsão ultrapassa
que o quinto
e chega ao quarto ?

Mas quão problemático é o assentimento dos Estados á


reducção indispensável do imposto de exportação !.. E essa
é a medida imprescindível, entretanto...
{IIa apartes.)
Confessem, entretanto, que os Estados do Norte vivem
principalmente do imposto sobre a borracha. E' por isso que te-
inio como problemático a sua anniiencia em diminuir suas
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 419

fontes de receita e reduzil-fts


em breve prazo a 50 %' do valor
actual, como. 6 mistér.
(Ha apartes.)
A acção da União só pôde ser a de mera conselheira.
O decreto legislativo, em se delineou o plano resol-
que
vido Governo, para transformar em regras
pelo praticas as
theses firmadas pelo Congresso da defesa da borracha, disse o
que devia dizer. Si a União firmar o accôrdo, depende este
da armuencia dos Estados, por se tratar da taxa
que lhes per-
tence por inteiro, annuencia se provoca para obter a re-
que
ducção annual de 10 % do imposto da exportação da borracha,
sylvestre, até attingir a 50 % do coefficiente actual.
As novas culturas deverão estar isentas, no pensamento
ao decreto.

O Se. Luciano Pereira dá um aparte.

O Sr. Calogeras — Não estamos discutindo para provar


acerto ou desacerto da medida. Estamos collocados em ponto de
vista pratico. preciso E'
pjrever a reluctancia dos Estados, em
annuirem em uma reducção á metade de suas rendas actuaes;
porque o que se deseja é obter dos Estados
que, em vez de 22
ou 23 %, cobrem 11 ou 12 apenas.

O Sr. Luciano Pereira dá um aparte.

O Sr. Calogeras — Não


tem razão o nobre Deputado. Basta
ler o art. 1^ do decreto legislativo
para ver Que: «E* o Poder
Executivo antofisado a entrar em accôrdo com os Estados do
.1 ará, Amazonas e Matto Grosso, no sentido
de obter a reducção
annua de 10 / ate o limite máximo de 50 % do valor actual
dos impostos de exportação cobrados pelos Estados, sobre a
borracha seringa produzida nos seus territorios,
e a isenção de
qualquer imposto do exportação, pelo prazo de 25 annos, a
contar da data desta lei, sobre a borracha da
mesma Qualidade
c procedencia Que íôr colhida de seringaes cultivados.».
Está iirmado, portanto, o principio: que o limite da di-
minuiçao do imposto será os 50 da taxa
% actualmente co-
brada.
No rumo dessas cinco vantagens que possue a producção
Oriental, e no combate as desvantagens correlatas da producção
brasileira, e que as soluções serão encontradas.
E' nesse sentido que a acção do Governo de ser
Federal tem
exercida e o deve ser.

Deve ser, nem


só pela amplitude do
phenomono economico,
Que o torna um
problema nacional; mas também pelo compro-
misso que o Governo Federal contrahiu ao chamar o Acre para
o patrimonio nosso; não
porque se poderia permittir Que as
rendas cobradas nessa circumscripção
brasileira, servissem só-
mente para alimentar as receitas
federaes. Ao contrario do que
tem sido feito ató hoje,
ellas devem, de facto, collaborar para
a iormação de um ambiente economico, onde a vida collCctiva
no valle do Amazonas seja possível, ambiente economico de
natureza tal
que possa garantir a permanencia e a estabilidade
ae uma industria que, globalmente, quanto ,a exportação do
420 ANNAES DA CAMAM

representa 39 dos valores revnettidos para o extran-


Brasil, %
gciro. t ,. .
Agora, a acção do Governo Federal deve ser discreta. Mio
foi leito, lia annos atrás, cousa
pôde ser pautada pelo que
a que alludi, lia pouco; indiscrição de que resultou para a pro-
ducção brasileira a desvantagem de se dar força aos
grande
as
seus concurrentes além de falsear o mercado e de pesar sobre
cotações do genero. ,
No organisado pelo Governo Federal para a defesa
plano
da borracha ha um amalgama de medidas boas e de medidas

ruins.
Algumas optimas, perfeitamente judiciosas, que corres-
inteiramente aos termos especiaes do problema a
pondem
solver. Outras muito mais discutíveis, algumas positivamente
más e mesmo, a par de idéas aceeitaveis, algumas- ha, é do-

loroso dizel-o, visarão, não proteger a borracha, mas dar


que
de causa a interesses inteiramente extranhos ao as-
ganho
suinpto.

O Su. Luciano Peiieira — Mas connexas.

O Sr. Calogeras — Havendo estranheza, não pode haver

connexão.
E' com essa orientação organica que vou entrar na ana-

lyse dos dous actos, um do Legislativo, outro do Executivo


dominam o assumpto; o decreto 11. 2.543 A, de 5 do ja-
que
neiro, e o regulamento n. 9.521, de 17 de abril de 1912.
Da rapida enumeração que fiz ao começar estas conside-
rações, resulta em toda a parte a Jlevea desbancou suas
que
concurrentes, fez desapparecer as demais especies vegetaes,

productoras de gomma.
A lição, deve ser aproveitada; 6 á Tlevca que
portanto,
devemos auxiliar.
Não se comprehendeque, dentro no Brasil, estejamos a
auxiliar concurrentes locaes, para com e.llcs gastarem recursos

que mais propriamente se empregariam na especie mais


nobre.
Não se comprehende,
não ha meio do se justificar
essa tentativa galvanisar suecedaneos
de que, por si,
vão sendo afastados, varridos do mercado, como sejam a ma-

niçoba e a mangabeira, segundo prova a estatística que apre-


sentei •
Não se comprehende que havendo uma somma limitada

a se distraia da mesma uma parte, mínima que seja,


gastar,
tirando-a do elemento mais nobre, para a empregar em sub-
stancias que lhe fazem guerra, e isso por meio de auxílios
inúteis, ein ultima analyse, porque a borracha dessa proce-
dencia. desapparecerú afinal.

O luciano Pereira — Isso é o que resta demonstrar.


Sr.
— E' um desses pontos onde nãoha pos-
O Sr. Calogeras
sibiüdadc de discussão, porque a producção de maniçoba e

mangabeira no proprio Brasil, apezar dos auxílios, está em re-


E, depois, ha acima de tudo, a vontade do
grosso profundo.
SBSSA'0 IO.M 21 Ui; SETEMBHO OB 1012 421

consumidor, que refuga esse por sua inferioridade,


producto,
e que só o emprega como succedaneo, quando o alto preço do
Pará-fine o obriga a tal.

O Se. Luciano Pereira — Mas, por causa dos processos.



O Sr. Calogeras Mas, si nós temos, e podemos manter
elemento superior, havemos de gastar energia com mercadoria
inferior? Neste ponto não ha duas opiniões.
O de todos os fabricantes é unanime: só empre-
parecer
gam o inferior pelo alto da borracha, c>u pela
gênero preço
falta de supprimentos desta na quantidade necessaria para
utilisação exclusiva da mesma.
interesses —
O valor dos ligados a estas tres qualidades
Hevea, Maniliot Hancornia—traduz-se
e seguintes alga-
pelos
risinos: íO.OOO toneladas para a borracha seringa, 3.000 para
a maniçoba; e menos de 500 para a mangabeira.

O Sr. Luciano Pereira — Porque esta industria extractiva


é mais recente.

O Sr. Calogeras — Trabalhos recentes, relatorios de


viagens effectuadas na África, no Extremo-Oriente e nos pontos
onde a experiencia comparativa tem sido feita entre as diffe-
rentes culturas, mostra que em toda a as Landolphia,
parte
Clitandra, Sapium, Castilloa, Funtumia, Manihot, Ficus, e
iantas outras, teem recuado e vão desapparecendo deante
do triumpho definitivo da Hevea, pelo seu valor
intrínseco,pela natureza de seu látex, pelas condições espe-
ciaes cm que se encontra, pelo modo por que facilita a mão
d'obra empregada para exíracção do mesmo producto.

O Sr. Corrêa Defreitas — O látex do Ficus foi aban-



donado inteiramente.

O Sr. Calogeras — Empregar recursos não


nossos, que
são abundantes, produetoscmmenos vantajosos do que a
Hevea, corresponderá a um verdadeiro esbanjamento de di-
nheiro. E' por isso que não comprehendo como, na lei e no1 re-
gulamento que tratam do assumpto, veiu aconselhado e fir-
mado o principio dos prêmios para a formação ou re-plantio
de cauchaes, maniçobaes. e mangabaes.
Mas, não nos preoccupemos com este aspecto da questão,
e passemos a estudar preferencialmente o caso da producção
da borracha proveniente dos seringaes nativos e dos culti-
vados.
Estão de accôrdo todas as auetoridades todas
(pelo monos,
as que conheço) em a solução do problema da borracha
que
está na sua cultura.
Tudo se refere ao plantio e ao re-plantio da ar-
quanto
vore gummifera é, digno de encomios.
portanto,
Isso, entretanto, exige tempo, experiencia, attenção
continua e immobilisação de capitaes durante prazo que pôde
ir de cinco a seis annos, o mesmo mais.
Por outro lado, o Brasil não o mercado; não
pôde desertar
pôde abandonar a posição em que se encontra, no momento
actual, de dominador da
producção desse genero.
*22 ANNAES DA CAMARA!

Alem disso,
própria a
industria exige sé não aban-
que
done completamente
a extracção direeta do látex das arvores
nativas, e isto porque está verificado
que o produeto sylvestre
apresenta sobre o cultivado uma grande vantagem do ponto
de vista da resistencia, do que se chama o nervo da borracha.
E', portanto, a própria industria que está a exigir por
parte dos produetores deste genero a continuação de esforços,
afim de se não perderem as reservas naturaes de seringueiras
e o aproveitamento do seu látex.
Envidandotodos os esforços, com tensão maxima e inin-
terrupta, por obter normalmente o caoutchouc de cultura, é
imprescindível manter e favorecer a exploração racional das
florestas onde a Ilevea abunda.

O Sr. Luciano Pereira — ainda são colossaes.


Que

O Sn. Calogeras —< Não ha duvida; apenas uma faixa es-


treitissima foi explorada até hoje.
O problema, _portanto, deixando de lado as culturas que
devem ser, que são de facto a solução do futuro, cifra-se na
necessidade, de se organisar a exploração das reservas de se-
ringa.
A localisação das culturas em pontos accessiveis a navios
de grande calado, de grande porte, virá baratear o custo pela
concentração a_que
pouco ha alludi, pela diminuição dos fretes,
pela diminuiçãopreço de do
custo dos generos importados,
que facilmente serão transportados para o interior do Brasil.
O rendimento individual crescerá, não só pela concentração das
arvores, contraposta á disseminação da Hevea na estrada do se-
ringueiro, como pela melhoria das condições hygienicas—pos-
sivel em estabelecimentos permanentes, como são as planta-
ções industriaes, impossível nas mattas virgens onde os re-
cursos são —, nullos
finalmente tratamento mais racio-
pelo
nal do látex,
quer se o defume, outro
quer se empregue pro-
oesso qualquer. Não quero, por falta de tempo, entrar na ex-

planação deste ultimo Sempre direi, entretanto:


ponto.
tratamento mais racional do látex, por se empregarem pro-
ressox mais perfeitos applieados a quantidades crescentes de
liquido, o que molhar garantirá a uniformidade dos produetos.
A vida virá barateada pelos núcleos de industria e de
actividade commorcial
que se estabelecerão em torno dos pon-
tos permanentes, que são as plantações. Tudo isto, entretanto,
é relativo a estas ultimas.
Vejamos a solução para o caso da borracha sylvestre.
O primeiro ponto a enfrentar é a carestia da vida, da
qual resulta a elevação dos fretes, da mão d'obra, do sa-
lario. E como nestes assurnptos econômicos as causas se
transformam cm effeitos
e os effeitos em causas rcacção
pela
reciproca, pelo entrelaçamento normal dos todos
phenomenos,
esses elementos agem como factores de encarecimento das
utilidades consumidas e se traduzem pelo auginento do preço
dos produetos.
Um dos principaes motivos do alto custo da existencia no
valle do Amazonas 6 a tarifa alfandegaria que nos felicita. Si
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912. 423

essa tarifa é terrível mesmo para nós do Sul, onde temos en-
tretanto culturas do mantimcntos, muito mais séria,muito
mais
oppressora, muito mais é para as
premente, populações do
Amazonas, onde esta cultura não existe. {Apartes.)
O facto da elevação das tarifas alfandegarias, augmen-
tando o custo da vida nesta região, reflecte-se immediatamente
no salario, e dahi o exagero dos fretes a o nobre Deputado
que
se referiu.
Olhando para esse aspecto da questão, tanto o decreto
legislativo, como o regulamento do serviço da borracha, en-
carando o problema tarifario, firmaram a necessidade da
exoneração aduaneira de determinados O regulamento
generos.
dos serviços traz uma longa lista as
em que veem capituladas
ferramentas, os utensílios o serviço da borracha, as
para
substancias chimicas, eoagulantes, dissolvcntes, colorantes e
outras, aos_quaes se deve applioar o regimen de favor, a in-
teira isenção
de impostos, desde sejam introduzidos no
que
Brasil para a industria nos occupa.
que
Sr. Presidente, ou comprehendo esse favor. Mas talvez se
tenha ido um pouco longo mais; não havia necessidade dessa
isenção completa, e bastaria uma taxa módica.
O problema principal não é este, entretanto, sinão o en-
carecimento da vida, o exagero do preço de custo do produ-
cto, em virtude do despropositado valor dos
generos de alimen-
tação mais communs.
Não é o facto devido ás substancias chimicas, a esses mil
e um objecto de consumo que veem enumerados no regula-
mento sobre a borracha.

O Sn. Raul Cardoso — E' a carestia da vida.

O Sr. Galoreras — Perfeitamente. E' a carestia da vida,


é o
problema da alimentação, que o regulamento devia en-
frentar; e que só o fez em parte, para uma determinada for-
mula de solução: o plantio da própria zona.
Não basta, porém.
Si a organisação constitucional brasileira è de ordem tal
que não permitte a differenciação tarifaria, a constituição do
zonas aduaneiras com regimen tarifario attendendo
proprio,
âs differentes producções, e ás condições peculiares do meio
economico de cada uma, uma cousa se impõe: é não permit-
tir que uma situação legal da qual resulte o Sul ser
perdure,
tratado como filho e o Norte como engeitado.
Ahi está
razão uma
poderosíssima cm favor dos que,
como eu, se batem a
pela reducção dos direitos alfandegarios,
bem da própria integridade nacional. A tarifa si
prohibitiva,
beneficia a determinados industriaes do Sul, mata a exploração
da borracha alto impõe os generos de
pelo preço que para
primeira necessidade, importados na bacia amazônica.
O que se impõe, Sr. Presidente, é a reducção das tarifas da?
anandegas. com a miragem
Quanto ao que fez o regulamento,
de um augmento de 5
% nos prêmios conferidos aos que plan-
tarem e replantarem seringaes,
para promover a cultura paral-
leia de outros vogolaes destinados á alimentação ou mesmo
424 ANNAES
DA GAMARA

annexas' isto não passa de uma esperança lon-


ginquaStrÍa8
Apezar do regulamento
dizer que os
prêmios só serão pagos
um anno antes da
primeira colheita, abriu uma excepção
para
as culturas de mantimentos,
para as quaes os prêmios corres-
pondentes começariam a ser pagos desde logo. Como cal-
culal-os, enf.rof.anto, si o —: o
principal prêmio sobre a seringa
cultivada — ainda não tiver sido fixado,
por não haver ainda
proaucçao. I) aln, uma de formalidades
j^érie administrativas
de exames e averiguações, de vistorias, que tornarão a con-
cessão desses prêmios uma cousa aleatória.

Aliás, não é sómente opinião minha: ha uma auctoridade


que o diz melhor do que eu, o que, neste assumpto de pro-
ducçao e commercio da borracha, é geralmente conhecida
etc.,
e acatada Refiro-me ao Sr. José Amando Mendes.

Qiiem affirma claramente que a vantagem da em-


,°'Le
ol?v!a f,.uo' (lesde que se estabeleça, a cultura
SIuL1} f pa-
rallela se fará também.
n,"s> r[ne, leituras sobre
o problema, sabemos
a flitliculdade que ha em se obterem
os braços precisos para a
colheita da
gomma sylvestre, e que a passagem do trabalhado-
res, de barracãoj\ barracão, se reveste
de formas especiaes pela
compra de dividas o outras modalidades, as quaes chegaram a
dar a essa faina o sinistro appellido de
trafico. Estes operários
sao msufficientes nos seringaes.

O Sr. Luciano Pereira — A industria extractiva 6 exer-


cida apenas durante certa do
parte anno.

O Sr. Calooeras — Tenha paciência o nobre Deputado, e


permitia que eu conclua meu argumento.
IN a selva em que escasseam braços para sangrarem as se-
rmgueiras, em que o tempo é pouco para cuidar da extracção
0 encontrarão esses homens tempo para cultivar
livaunos' ?0

Sü" Pereira— V. Ex. está equivocado. A in-


i ^UCIANo
uustria ua norracha se exerce em uma certa época do anno
do modo que o seringueiro na outra época dispõe de tempo.

O Sn. —Calooeras
Isso se applicaria sómente áquelles
que permanecem na região; mas os que vão e voltam, e são
os que representam a maior parte do movimento demographieo
local ?
E ainda restaria a de saber si se
questão prestariam as
terras ribeirinhas dos grandes rios onde ha Hcvea, ao cultivo
de mantimentos.

O Sr. Monteiro de Souza — As condições naturaes impe-


dein esse plantio.
No resto do tempo os terrenos estão completamente alaga-
dos; não ha onde plantar.

O Sr. Luciano Pereira — Ha sempre terra firmo.

O Sr. Monteiro de Souza — Não nas margens •


dos rios.
SESSÃO UM 21 DE SETEMBRO DE 1912

0 Sn. Luciano Pereira — Antigamente, antes da borracha


nttingir os elevados preços que attingiu, sempre se viveu assim,
no Amazonas. Os seringueiros trabalhavam na extracção da
borracha, uma certa época, e na cultura do legumes, em outra.

O Sn. Monteiro de Souza — Isso era na época da extracção


da borracha nos proprios terrenos em que moravam os serin-
gueiros, isto é, na terra firme, ou iam para as terras alagadas
lazer a extracção e depois voltavam.

O Sr. Luciano Pereira — Porque não fazer assim


podem
agora que os veem de fóra ? E' isso que o regulamento procura
conseguir.

O Calou eras
Sr. — Era o que refere o nobre
possível
Deputado pelo Amazonas, o Sr. Luciano Pereira, cujo nome
declino data venia. quando a extracção se cifrava por alguns
milhares de toneladas por anuo, em zonas que não precisavam
de grande extensão para fornecerem essa producção. Hoje, o
caso é de dezenas de milhar de toneladas, e, em vez de acces-
sorio da actividade se tornam
própria dos habitantes da zona,
a razão principal, si não a causa única de existencias humanas
na região. Não ha comparação a estabelecer, entre
portanto,
duas phases tão dispares. Mas, prosigamos.

Outra causa de elevação dos preços reside na iinmensa dis-


tancia entre as regiões da borracha, e os centros abastecedores.
Os fretes oneram os productos baldeados, quer em um sentido,
quer em outro.
Solução tópica para essa difficuldade é o melhoramento
dos rios, ponlo sobre çual o não pôde haver discussão. O que
menos se pôde justificar, é dispender taes esforços em ser-
viço, util, é certo, mas menos proximo, menos ligado á questão
da borracha. Refiro-me á região do Rio-Branco.

Este vailo, de facto, não é uma zona preponderantemente


seringueira.
Allega-se que lá existem fazendas nacionaes, em pontos
mais ou menos altos onde se poderão estabelecer colonias, que
constituirão verdadeiro celleiro para a zona da borracha.

Peço, porém, licença para lembrar que um factor muito


sério virá onerar grandemente todas as remessas feitas para
áquella zona, rumo de Manáos.
Sabemos o alto preço dos melhoramentos dos rios, para
tornal-os permanentes o permittir a navegação fácil o franca
durante o anno todo.

Rios
ha em que, apezar de ser annuo, continuo, o serviço
de beneficiamento em seus leitos, se não consegue dar condi-
Ções fio navegabilidade sufficiente.
Le qualquer fôrma, são sempre caras taes obras.

Basta abrirmos o mappa dos rios Branco e Negro para


vermos que se trata de serviço sério, exige
que grandes dis-
pendi os e que terá a sua traducçâo eeonomica no custo dos
transportes desde o alio Rio Branco.
*26 ANNAES DA CAMARA

Até Manáos, por exemplo, serão cerca de 800 a 1.000 kilo-


metros, a contar de Pirára. Para outros pontos serão, não
1.000, mas milhares de kilometros.
que nas proximidades
Parece da capital do Amazonas se
encontrariam zonas prestando-se aos mesmos intuitos,de desen-
volvimento da industria pecuaria, com transporte menor para
os productos, e satisfazendo aos mesmos fins. Assim deu a en-
tender o Dr. Ludwig Schwennhagen, em sua eonferencia
feita em Manáos, a 15 de agosto de 1910, a Associação
perante
Commerpial.
No mesmo rio Amazonas, encontramos as ilhas da em-
bocadura, Marajó e tantas outras, em que economicamente se
obteriam os mesmos resultados, e seguramente, mais barato
será o transporte Manáos de
e os rios, lá
para por não haver
obras de melhoramentos a fazer, e ahi poderem navegar navios
de qualquer calado.

O Sn. Luciano Pereira — Isso é uma velha aspiração de


todo o valle do Amazonas,

O Sn. CaloOERas — Tenho absoluta certeza de uma cousa:


a minha divergencia não é de essencia, é mais de opportuni-
dade. Acho que deveriam resolver primeiro essa parte do
problema, nos rios onde ha borracha, o onde escasseam recursos
alimentícios, e deixar o rio Branco, para o futuro. (Ha um
aparte.).
A prova do acerto de meu modo de pensar quanto á neces-
sidade de approximar os centros abastecedores das zonas em
que o abastecimento deve ser feito, é dada, não por mim, mas
pela própria lei e
pelo regulamento, que indicam, no art. í)"
ns. 2 e 3, a necessidade de collocar essas fazendas, for-
que
necerão gado, legumes, etc., ás circumvisinhas,
populações
na visinhança dessas mesmas populações.
Quero dizer — com o pensamento da lei estou de pleno
aceôrdo.
E ó obvio em relação ao rio Branco, se violou o
que,
pensamento que dictou a approvação de similhante artigo,
afastando o centro productor do mercado de consumo.
Pensar, como muitos teein dito, nas terras altas e
que
zonas visinhas das Guyanas haverá facilidade era se estabelecer
immigração, é uma allegação que não posso julgar.
Militam contra cila, entretanto, experiências longas que
temos no Sul.
Ha um conjuncto de factores locaes que tornam
o problema
extremamente complicado. Não é dizer que, systemati-
camente, como se affirmou nos tempos da monarchia, S. Paulo,
canalisára para o seu territorio os iminigrantes chamados pelo
governo imperial. Não 6 dizer que, agora, o Governo Federal,
systematicamente, para o encaminha
as levas de immigran- Sul
tes que veein para os portos brasileiros.
Não. E' porque ha naquella expressão empírica a simples
verificação de relações existentes,de conveniências de mercado,
de chamados de parentes, de adaptação aos factores meso-
logicos.
SESSÃO EM 21 1)E SETEMBRO 1>K 1912 427

Não
se pode, portanto, de antemão, ar firmar que a immi-
gração extrangeira se encaminhará para ali, desde que existam
condições.

O Se. Luciano Pereira — As condições existem.

O Sr. Calogeras — Não


basta para justificar as despezas
correspondentes dizer que a immigração espontanea será um
facto. Ella só accorrerá si o ambiente for tal que isto per-
mitta.

O Sn. Luciano Pereira — V. Ex. fique certo também de


que o clima do Amazonas é muito calumaiado. Não é exacto o
que muita gente diz de mal a respeito. Lá teem ido muitas

pessoas competentes fazer estudos e verificam o contrario.

O Sr. Raul Cardoso — A 6 de braços; e si não


questão
tivermos braços, não podemos baratear o salario. Ha o ele-
mento nacional.

O Sr. Galogeras — Mas, dizia o nobre Deputado por São


Paulo, cujo nome peço licença o Sr. Raul
para pronunciar,
Cardoso, que a colonisação se poderia fazer com o elemento
nacional. E' exacto. E tem se procurado fazer. Mas eu pon-
(tero. Si a colonisação se fizer com elementos nacionaes, ha
de ser: ou fixando o elemento que já se acha na zona, e, então,
de pleno accórdo, se teria uma colonisação estável; ou ha de
ser feita com elemento vindo de fóra, isto é, despovoando o
Rio Grande do Norte, o Ceará, conservando no Amazonas os
mesmos elementos que para lá caminham e voltam. Seria
systematisar o êxodo de que se queixam os Estados marítimos
do Norte.

Temos ouvido sobre o caso os Deputados esses Es-


por
tados. Dizem que a causa da sahida
elles são as seccas, e, para
impedil-a, torna-se preciso o combate contra este flagello.
Ha, é certo, o elemento ambulante, a procurar serviços, ás vezes
por preço inferior ao do logar onde vive. Esta loucura ambu-
latoria chega a ser uma doença, quando ultrapassa certo gráo.
Mas isto não já disse,
passa, como
de uma manifestação atte-
nuada do phenomeno de nomadismo, pouco importante, em
summa; emquanto o colonisar o Amazonas com elementos na-
cionaes traduz uma política de de um
permanente povoação
logar em detrimento de outros. (Ha um aparta.)
"V.
Ex. deve ver que, no estudo desses factores, não se
pode applicar o rigor mathematico, ligados causas a effeitos,
corno o corollarios. Devemos tomal-os em grosso, nos
theorema
seus aspectos na sua característica dominante, e
principaes,
então a solução se apresenta variavel,
porque 6 preciso ageitar
o de factores, de fôrma tal a resultante final
çonjuncto que
seja vantajosa e orientada no sentido solver um determi-
de
nado
problema.

Bem vê V.
Ex. a complexidade dos elementos postos em
jogo. Cabe atéponderar, e V. Ex. o sabe, que este regula-
írienlo do serviço da defesa da borracha não recebeu um nome
*28 ' ANNAES DA GAMARA

muito apropriado,
porque, de facto, o problema é o da valo-
risação do do Amazonas.
valle (Apartes.)
Gomo consequencia destas observações, todo quanto se
cifre no melhoramento indispensável nas zonas produetoras
da borracha, nos melhoramentos das condições de navegabi-
lidade dos rios Purús, Xingú, em toda a zona seringueira, em
summa, é digno dos maiores louvores; e o regulamento e a
leique tratam do assumpto merecem neste ponto os maiores
encomios.
Vô V. Ex. que a minha critica não poupa elogios quando
defronta soluções que os mereçam.
(Apartes.)
Um outro serviço relevante, que já está iniciado pelo Go-
verno Federal, é o do saneamento. De immensas difficuldades,
entretanto, e talvez sómente o talento privilegiado do Os-
waldo Cruz o poderá solver. Ainda assim, uma serie de inter-
rogações passam pelo cerebro de quem reflecte sobre o caso.
Não devem, comtudo, desanimar a ninguém.

O Sn. Lugiano Pereira — V. Ex. deve coinprehender que


o clima do Amazonas é muito calumniado. Depois, a causa
das moléstias é em parte devida a má alimentação

O Sr. Calogeras — Removidas todas essas difficuldades,


feito o saneamento, attenuados os óbices que se originam desse
complexo de condições, ha um factor ainda que dominará todo
o problema: a questão do salario.
Alto actualmente, pelas agruras curtidas, pelo custo dos
elementos de vida transportados ao coração da selva por mi-
lhares de kilometros de rios de navegação difficil, o único
meio de o reduzir é baratear a vida, barateamento do
pelo
custo desses mesmos elementos.
A moeda para o commum dos seringueiros não é
própria-
mente um meio circulante. E' antes o denominador commum
de valores para o acerto de contas entre os adeantamentos em
generos, de um lado, e do outro, a prestação de ser-
pessoal
vlços feita pelo operário.

O Sr. Raul Cardoso — E' uma troca.

O Sr. Calogeras E' um aperfeiçoamento das trocas,


sem intervenção de verdadeira moeda, entre os adeantamentos
feitos pelo dono do seringal ou o aviador (entidades que por
vezes se confundem em um typo único) e o operário.
Melhorados os rios e obtida a possibilidade das presta-
cões de contas serem feitas mais freqüentemente, e não de
safra cm safra,
anno para de
outro, um
como é actualmente^
surgirão economias,
pois desapparecerá a necessidade de au-
gmentar os preços dos generos vendidos, para computar-sk
o juro do capital emprestado durante esse prazo.
Para diminuir, sem prejuizo de ambas as con»
partes
tractantes, antes com lucro para todos, o valor da troca assim
feita — serviços pessoaes de lado, fornecimentos
um de ge«
neros de outro — influirão de modo decisivo a revisão la->
rifaria, que barateará as importações, e, acima de tudo, a va*
lorisação da moeda que agirá no mesmo sentido.
SÍSSAO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 42»

A demonstração é muito longa e exigiria um novo dis—


curso. Não ha, talvez, no Brasil região que mais directainente
com maior intensidade venha a beneficiar com a alta do cam-
l)io, com a restituição do valor a nossa moeda, do
pleno que
seja a zona produetora da gomma.
Feita esta, baixarão ahi salarios o custo de producção;
e concomitantemente augmentarão o bem-estar dos serin-
gueiros, a produetividade de lucros da borracha, as economias
particulares. E a lueta contra o Oriente será a victoria da
nossa terra.
Não estejaha a quem
das condições especialissimas
par
daquelle pelos representantes
meio, direetos daquelias zonas,
pelos depoimentos singelos dos habitantes delia, in-
quer por
formações de funccionarios de mór valia, em coinmissão ali,
¦— como o nosso collega
o Sr. Bueno de Andrada e o Sr. Thau-
maturgo—quer pelos estudos sociaes de Euclides da Cunha,
Paul Walle e Alberto Rangel; não ha quem conhecendo aquel-
Ias regiões esses elementos informativos,
por possa duvidar de
que a solução está em_ ligar o seringal ao mundo civilisado,
alçar o nivel do cstalão médio da vida barateamento
polo
desta, decorrente da attenua<;ão tarifaria e do valor crescente
da moeda.
Para dar valor ás immensas extensões de Ilcvca.
quusi interminas reservas florestaes 110 Amazonas, advoga-se
construir, afastadas do fundo do valle ferreas
dos rios, vias
industriaes, que teriam por fim canalisar, ao
economicamente,
que dizem, p'ara os mercados consumidor.es o syl-
produeto
vestre. E' assim que se fala nas estradas a serem construídas
nos valles do Xingu, do Tapajós, do rio Negro exis-
e se prevê a
tencia de outras em condições analogas.
Não tenho_ele,mentos para julgar com acerto, porque não
conheço a região. IJma cousa affirino, entretanto: são alvitre.s
contidos dentro nos
termos do problema; são zonas da produ-
cção de borracha que se quer drenar. Nada ha que
possa, pre-
liminarmente, afastar similhante solução do do de-
terreno
bale.
Si são oppnrlunas, si Iran-portarão os oco-
produetos mais
nomicamente do que o rio melhorado com ramaes
ligeiros
marginaeâ, si irão_ procurar reservas florestaes que justifi-
quem tal esforço; são cousas essas sobre as não me posso
quaes
pronunciar, por não ter elementos proprios.
São, entretanto, alvitres que estão dentro no s termo:; pre-
cisoii do
problema.
Outra linha, de
que cogitam os dous documentos officiaes
a que me venho reportando, a do Abunan á fronteira peruana,
nao merece o mesmo elogio.
Conheço sobre essa um trabalho muito interos-
questão
sante, feito estrada
pelo Sr. Bueno de Andrada para uma de
automoveis,
que ligasse as três federaes. Acho
prefoituras
mesmo
que essa estrada teve inicio de execução.
O Sr. Luciano Pereira — completamente.
Desappareceram
O Sft. Monteiro de — existem
Souza Nem veBtigios mais.
430 . ANNAES DA GAMARA

O Sr. Calogeras — Noto urna cousa, comtudo. Uma es-


trada de rodagem não é a mesma que uma via
cousa ferrea.
A acceita rampas, deelividades, raios de curvatura
primeira
que uma estrada de ferro repelle. E o que seja possivel para
uma estrada de rodagem não o será para a estrada sobre
trilhos.

um aparte declarando que o traçado da via ferrea di-


(Ha
verge do da estrada de rodagem.)

O objectivo geral da estrada é o mesmo, quanto se pôde

julgar pelos mappas: a fronteira do Perú.


Na Estrada de Ferro Madeira ao Mamoré ha um ponto
fixo: o de partida, com pequenas variações locaes. Portanto, a
divergeneia de traçados não ha de ser tão grande que justifique
o protesto do nobre Deputado. Assim é,
principalmente, por-
que: ou ha de a linha rodear todas as cabeceiras dos rios, cousa
impossível por nascerem muitos nos paizes lindeiros; ou o
traçado ha de cortar quasi normalmente a maior parte dos

affluentes, directos e indirectos do Amazonas, nessa região.

— Lembro ao 110-
O Sr. Presidente (soando os tympanos)
bre Deputado que está a findar a hora da prorogação.

— V. Ex. está vendo affli-


O Sr. Calogeras quanto: estou
mas
cto pelo incommodo que vou causando aos meus collegas,
penso terminar dentro em poucos minutos, e, por isso, solici-
tarei de V. Ex. que consulte a Casa sobre si me concede mais
uma prorogação de 15 minutos.

(Consultada a Casa, é concedida.)

0 Sr. Calogeras — Sr. Presidente, conti-


(continuando)
nuando nas minhas nolas á margem, occorre lembrar que essa
circumstancia de traçado normal ao alveo dos rios mostra que,
fatalmente essas zonas alagadas á margem de todos os rios
hão de ser atravessadas em pontes longuissimas, com exten-
sos viaductos de accesso, assim exigindo uma série immensa
de custosas obras de arte, que viriam elevar o custo kilome-
tricô a alturas nunca vistas 110 Brasil.

E o que me impressionou, foi que essa observação por


mim feita, theoricamente, em estudo de gabinete, á vista dos
inappas, veiu confirmada, ha pouco tempo, por critica feita
ex-Senador Jorge de Moraes, e ultimamente 110 discurso
pelo
pronunciado pelo digno Deputado pelo Amazonas, o Sr. M011-

teiro de Souza, e também em um artigo interessante do Jornal


do Commercio, do Manáos, de 1 de julho ultimo, transcripto 110
Jornal do Commercio<, desta cidade, de ha poucos dias. Esse

estudo muito insuspeito, muito desprendido de


pareceu-me
considerações nelle se propunha, do modo geral', a
pequenas:
facto, o traçado ahi indi-
solução para um problema geral. De
cado tem a grande vantagem de procurar os espigões, as al-
turas intermedias entre os valles. Sei que no Amazonas, essas

alturas não são muito dominadoras, mas, em todo caso, não são
'
pontos alagadiços. .
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1912 43J

As directrizes propostas, si bem me lembra, partem de


Labrea e procuram de um lado, Senna Madureira, e, de outro,
Empreza e Xapury.
O traçado da
linha principal e dos seus ramaes, lembrado
pelos interesses amazonenses, é. 'ainda, mais curto do que
o projectado no decreto legislativo e no regulamento sobre a
defesa da borracha: tem 50 °|°
a menos do que o outro.

Qual a mais conveniente


entre essas duas soluções ?
Parece ser a
que evita as construcções em pantanaes, e
as travessias normaes dos thalwegs. E' a solução amazonense.
Restaria ainda a celebre linha de Pirapora a Belém, com
seus ramaes á direita e á esquerda.

Esta poderá servir a interesses outros, aos da borracha


é que_não.
Não atravessa, nem serve reservas de Uevea que não sejam
attingiveis por linhas menores, da zona equatorial
partindo
para o sul.
Não é crivei tenha tão cedo trafego remunerador proprio.
São, talvez, duzentos mil contos a despender, a
pretexto
de defender a borracha, mas em realidade servir outra
para
sorte de interesses que se mascaram com o rotulo de exigen-
cia da producção nacional, bandeira neutra a cobrir contra-
bando de guerra.

Admira até que o Governo Federal a tivesse incluído nas


medidas que solicitou do Congresso. E é de lastimar que este,
inais uma vez provando a incapacidade de resistência das as-
sembléas deliberantes, multidão anonyma, onde se pulverisam
as responsabilidades, não tenha refugado essa providencia^
que, no momento financeiro actual, e sob o falso pretexto in-
vocado, é verdadeiro assalto ao contribuinte, a serão
quem
pedidos os recursos para o custeio dessa, por emquanto, obra
de desperdício.

O Sr. Luciano Pereira dá um aparte.


O Sr. Calogeras — Estimo muito dê este
que V. Ex. me
aparte, no sentido de defender tão infeliz iniciativa, porque
minha resposta constituirá o fecho destas minhas já demasiado
longas observações.

Formúlo votos, esperançados embora, que o


pouco para
Governo ponha ás despezas sendo feitas
paradeiro que estão
com o fito de construir esta linha; afinal,
e compenetrando-se,
de seus deveres
para com a Nação não a deixe sob a pressão da
ímminencia de grande mal estar
déficit, na ancicdadc de um
geral,_sob a ameaça continua de emprehendimentos de obras
Oue não correspondem e são muito superiores ás forças actuaes
•Io
paiz. (Muito bem; muito bem. O orculor é cumprimentado
por todos os seus colleyas
presentes.)

(Em meio do discurso do Sr. Calogeras, o Sr. Raul Vcii/a


Secretario, deixa a cadeira da Presidência, ê occupada
que
pelo Sr. Juvenal Lamartine, 3o Secretario.)
432 ANNAES DA CAMARA

O Sr. Presidente — Esgotada a hora da prorogação, vou


levantar a sessão, designando segunda
para feira, 23 do cor-
rente, a seguinte

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

lla 2" <;liscussão do n. 123 A, do


projecto
tonado,_ concedendo 'amnistia aos implicados
íl' ?
"atalhão nas re-
Naval o navios da esquadra, em dezembro
injí!0
de 1J10, e aos civis e militares envolvidos nos acontecimen-
tos de Manaos, em outubro do mesmo anno; com parecer fa-
voravel da Commissão de Constituição e Justiça;
2" discussão projecto n. do
305, de 1012,
, concedendo á
viuva, emquanto for, de Quintino Bocayuva o auxilio
o de 800$
mensaes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos
' Oswaldo, Waldemar, Rosa, Ada e Córa, e também o de
300$ a Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, quantia que,
por sua morte ou casamento, reverterá aos
seus lilhos barah, José, Leo o Izabel;

3* dodiscussão n. 301, de 1912,


projecto autorizando o
Presidente da
Republica a concorrer com a
quantia de 100:000$,
como auxilio, para se erigir um monumento nesta Capital, oin
honra a memória da ex-imperatriz do Bra/.il; com voto em
separado do Sr. Pedro Moacyr e parecer d& Commissão de
i1 manças;

dis5usá;,10 c'° n. 1S4 B, de 1912,


oa i?" projecto redacção para
•!q1®ci!ssÍ,9, , a emenda approvada e destacada do projecto
n. .ih~, ue 1J11, mandando equiparar
os vencimentos do conser-
vador rostaurador da
pmaeotheca da Escola Nacional de Bellaa
Artes aos do secretario da mesma escola;

3" discussão do n.
projecto 298, de 1912, autorizando a
aixuura. do cccdito '7:200$
extraordinário ifc. oecorrer
para
no paKum.;nlo devido a Arilrur Martins r.opeq, em virtude de
sentença indiciaria:

1" discussão do
n. 275 A,
projecto de, 1912, tornando ex-
tensiva aos juizes
federaes de 1° instancia o seus substitutos
a
disposição do art.
3°, n. III, da lei n. 2.356, de 31 de dezembro
de 1910, relativa a cobrança em estampilhas das custas judi-
eiaes; com parecer favorável da Commissão de Constituição e
J ustiça

2° discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo


para o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos te-
nentes, os inferiores que, tenham mais de três annos' de praça
e serviços proíissionaes, e dando outras
providencias; com pa-
recer e emenda da Commissão de Marinha e Guerra-
2a discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a
hora legal; com parecer da Commissão de Constituição e Jus-
tiça.
SESSÃO li:\i 23 UL SETliMBKO UK 1912 433

aisdUNDA PARTE (ÁS 4 IIOHAS DA TARDE OU ANTES)

Continuação da li" discussão do projeoto n. 61 B, de 1912,


fixando a dospeza do Ministério da Agricultura, Industria o
Commercio para o exercício de 1913;

Discussão única do
projecto n. 30 i, de 1912, autorizando
a conceder a Joaquim de Macedo Gosta um anno de licença,
com todos os vencimentos; com favoravel da Com-
parecer
missão de Finanças e voto em separado e emenda dos Srs. Ri-
beiro Junqueira o outros;

2' discussão do projecto n. 70 A, de 1912, mandando isen-


tar de todos os direitos, inclusive dos de expediente, a intro-
ducção pelas fronteiras de gado vaccum e ovelhum destinado
á criação e dando outras com substitutivo da
providencias;
Commissão de Agricultura e
parecer favoravel da do Finanças;

3* discussão projecto do
n. 213, de 1912, creando o logar
de zelador do Museu
Naval, annexo á Bibliotheca de Marinha,
com os vencimentos e garantias idênticos aos dos mestres do
Arsenal de Marinha; com parecer favoravel da Gommissão de
Finanças (vide projecto n. 300, de 1911);

3a discussão
projecto n. 279,dode 1912, autorizando a
abrir, pelo Ministério do Interior, o credito extraordinário do
4:200$, ouro, para pagamento do prêmio de viagem conferido
ao Dr. Carlos Lconi Werneck;

2' discussão
do projecto n. 325, de 1911, mandando con-
siderar para todos os effeitos por actos de bravura praticados
na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 de novembro
de 1897, a promoção do 1" tenente do Exercito Francisco das
Chagas Pinto Monteiro a este posto; com da Commissão
parecer
de Finanças;

3» discussão do
projecto n. 210 A, de 1912, do Senado, au-
torizando a abrir,
pelo Ministério da Justiça e Negocios Inte-
riores, o credito de 8:940$, supplementar á verba da consigna-
ção _— Pessoal — da rubrica 6a do art. 2o da lei n. 2.544, de 4
de janeiro de 1912; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças;

3a discussão do projecto n. 203, de 1912, autorizando a


abertura do credito de 150:000$, ouro, do especial
por conta
de 8.000:000$, para despez'as com a representação do Brazil
na Terceira Exposição Internacional de Borracha;

3a discussão do n. 320 A, de 1911, considerando


projecto
de utilidade a Associação Comme,rcial da Bahia; com
publica
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Justiça;

Discussão única do n. 303, de 1912, autorizando


projecto
a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhistada
Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão
de Finanças;

Vol. s*
ANNAKS DA GAMARA

2* discussão projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


do
Claudia Vergara de
Oliveira, viuva do coronel graduado re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e sua filha
Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art. 4o do
decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2" discussão projecto n. 306, de 1912,


do do Senado, auto-
rizando a mandar pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessionário
de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282, por
obras contractadas e executadas nos quartéis da Força Policial
do Districto Federal; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3a discussão projecto n. 377,


do de 1911, autorizando a
abertura do extraordinário
credito de 5:393$548, para paga-
'ao
mento de vencimentos que competem lente em disponibili-
dade da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
Veiga Filho.

Levanta-se a sessão ás 7 horas e 15 minutos da noite.

110' SESSÃO, EM 23 DE SETEMBRO DE 1912

PRES1DENCIA DOS SRS. SABINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE; SOA-


RES DOS SANTOS, Io VICE-PRESIDENTE; RAUL VEIOA, 2° SEGRE-
VARIO, E JUVENAL LAMARTINE, 3o SECRETARIO

A' \ hora da tarde procede-se á chamada, a que respon-


dom os Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Raul
Veiga, Juvenal Lamartine, Mavignicr, Rogério de Miranda,
Costa Rodrigues, Cunha Machado, Agripino Azevedo, Moreira da
Rocha, Agapito dos Santos, Eloy de Souza, Augusto Leopoldo,
Lourenço de Sá, Manoel Borba, Netto Campello, Augusto do
Amaral, Borges da Fonseca, Erasmo de Macedo, Rego Me-
deiros, Eúzehio de Andrade, Alfredo de Carvalho, Barros Lins,
Baptista Aocioly, Pedro Lago, Freire de Carvalho Filho, An-
tonio Muniz, Raul Alves, llaphael Pinheiro, Torquato Moreira,
Figueiredo Rocha, Pereira Braga, Tliomaz Dclphino, Porto Sp-
brinho, Souza e Silva, José Tolentino, Erico Celho, Elysio
AraUjo, Silva Castro, Maurício de Lacerda, Augusto de Lima,
Sebastião Mascarenhas, Vianna do Castello, Antonio Carlos,
João Luiz de Campos, Álvaro Botelho, Lamounier G-odofredo,
Carneiro de Rezende, Moreira Brandão, Christiano Brazil,

Jayine Gomes, Rodolpho Paixão, Francisco Paolielo, Epami-


nondás Ottoni, Manoel Fulgencio, Galeão Carvalhal, Cândido
Motta, Raul Cardoso, Bueno de Andrada, Estevam Marcolino,
Arnolpho Azevedo, Martim Francisco, Olegario Pinto, Octavio
Rocha, João Vespucio, Carlos Maximiliano, Victor de Britto e
Domingos Mascarenhas (08).

Abre-se a sessão.
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO 1)E 1912 43S

0 Sr. Juvenal Lamartine Secretario, servindo de 2o)


(3o
a qual é, sem
procede á leitura da aeta da sessão antecedente,
observações, approvada.

0 Sr. Presidente — Passa-se á leitura do expediente.

0 Sr. Raul Veiga Secretario, servindo de Io) procedo


(2o
á leitura do seguinte

EXPEDIENTE
Offieios :

Dous do Ministério da Justiça e Negocios Interiores, de 18

do corrente, remettendo dous dos respectivos de-


jiutographos,
vidamente sancionados, das seguintes resoluções do Congresso

Nacional :

Concedendo um anno de licença, com todos os vencimen-

tos, ao desembargador da Gôrte de Appellação do Districto Fe-


deral Virgílio de Sá Pereira, tratamento de saúde onde
para
lhe convier;
Concedendo ao bacharel Joaquim (José Saraiva Júnior,

juiz de direito dos Feitos da Fazenda Municipal do Districto


Federal, um anno de licença, com todos os vencimentos, para
tratar da saúde onde lhe convier.
Ao archivo um dos autographos, enviando-se o outro ao
Senado.

Do mesmo ministério, de 20 do corrente, enviando o reque-


irimento do mestre e demais tripulantes da lancha Esquirol,
ao seviço das Colônias na ilha do de
Governador,
Alienados
lhes sejam as
concedidas,
os effeitos,
pedindo que para todo3
vantagens da lei n. 2.530, de 30 do dezembro de 1911.
A's Commissões de Constituição e Justiça e de Finanças.

Do Ministério da Agricultura, Industria e Commeroio, de


21 do corrente, transinittindo a seguinte

MENSAGEM

Srs. Membros do Congresso Nacional —- Submettendo á


vossa apreciação a inclusa exposição de que, com o
motivos
ioemoriiil e projectos annexos, Minis- nu1
apresentada pelo foi
tro do Estado da Agricultura. o Gommercio, ^sobre Industria
a necessidade de ser votada uma lei regule a situação ju-
que
l idica do índio brazileiro, peço vos digneis de tomar os men-
«•iqnailos (locwwiit-os na consideração (]Ue merecem, attenfa
a importancia do asumpto, pois tratam de uma questão pai-
vossa atten-
pjtante, sobre a qual já tive a honra de chamar a
Vão na mensagem de 3 do maio do corrente anno.

Ilio do Janeiro, 18 do setembro de 1912, 91° da Iudepeu-


denciú e 24" da Republica.—Hermes R. da Fonseca.

A' Commissão de Constituição o Justiça.


*36 ANNAES BA CÂMARA J

Do Ministério da Marinha, do 16 do corrente, satisfazendo


a requisição desta Gamara, constante do officio n. 171, de 5
de agosto deste anuo, sobre a do capitão-tenento
pretenção
Adalberío Nuues, e quanto á do capitão-tenente graduado Ma-
noel José Soares serão as informações
prestadas opportuna-
mente.— A quem foz a requisição.

Da Camara Municipal do Ouro Preto, Estado de Minas


Geraes, de 11) do rorrente, reniettendo a cópia da moção, aí>-
provada, protestando contra o projecto de divorcio.— A* Com-
missão do Constituição e Justiça.

Da Mesa da Assembléa Legislativa do Estado do Sergipe,


de 9 do corrente, communieando que a 7 dete mez foi installada
a sessão ordinária da 11* legislatura.— Inteirada.

Protesto da cidade do Serro contra o


projecto de divorcio.
— A iGommissão de Constituição e Justiça.

São succossivamente lidos e ficam sobre a mesa até ulte-


rior deliberação os seguintes

PROJECTOS

Considerandoque a fraternidade universal é principio car-


deal de toda
política moderna, sobretudo republicana;
Considerando que, desse decorreu a maxima
principio,
proclamada por José Bonifácio no sou projecto abolicionista
— «a sã
política é filha da Moral e da Razão»—o a divisa que
Benjamin Constante propoz, e foi acceita, a Republica
para
Brazileira — Ordem
c Progresso.
Considerando que, em virtude desse e dessas
principio
conseqüências, toda guerra constitue fatalmente uma lueta
fratricida;
Considerando que, esse caracter do lueta fratricida não
pode ser desconhecido, especialmente em relação á guerra fra-
Incida travada entre
o Império do Brazil com a Republica Ar-
gentina e a Republica do Uruguay, de um lado, o a Republica
do Paraguay de outro lado ;
Considerando
que os nossos antepassados não podiam des-
conhecer esse caracter, visto como os quatro
povos se acham
irmanados biológica e sociologicamente;
Considerando que, em virtude do mencionando principio
e das citadas conseqüências, a guerra tem de ser considerada
a maior das calamidades humanas o não somente das desgra-
ças patrias ou domesticas.
Considerando
que, portanto, a reparação dos resultados
desastrosos guerras das
incumbo a todas as victimas do taes
calamidades, sem distineção entre vencidos e vencedores;
Considerando que as responsabilidades de semelhante re-
paração devem ser, desde então,
proporcionaes aos recursos
ilas victimas, sem distineçãoentre vencidos e vencedores,
cumprindo a todos esforçarem-se, com a mais leal' dedicação,
para o levantamento eommum;
SESSÃO KM 23 DE SETEMBRO DE 1012

Considerando que as conquistas, as dividas de guerra, bem


com a guarda e o cydto dos trophéos., assim única-
proveein
mente da persistência dos sentimentos, opiniões e hábitos íe-
ro/es dos tempos em a irman-
que os povos não reconheciam
dade de todos os membros da especie humana, apezar das dif-
ferenças, fatalmente transitórias, de religião, de raças, de na-
cionalidades e de famílias;
Considerando que, portanto, seja qual fôr a apreeiação da
guerra do Paraguay, a imposição da divida e a conquista dos
trophéos, por parte dos vencedores, foram actos contrários á
fraternidade universal e, violações da sã política e
portanto,
attentados contra a ordem e o
progresso;
Considerando que esses actos são tanto mais inadmissíveis
quanto os vencedores, sendo parte na lucta, não pocfiam erigir-
se em juizes delia, tal julgamento á posteridade;
cabendo
Considerando que o verdadeiro culto dos antepassados
prescreve a confissão de suas culpas e erros, bem como a re-
paração e dessas
desses erros
culpas;
Considerando
que os nossos antepassados, ainda sob o
regimen imperial, nos legaram exemplo do
um memorável
cumprimento desse dever innilludivel, a escravidão
abatendo
africana;
Interpretando os mais nobres sentimentos e correspon-
dendo aos mais sublimes ideaes não só brasileiro como
do povo
da humanidade,;

O Congresso Nacional resolve:

1." Fica o Governo autorizado a convidar a nos3a


_Art.
irmã a Republica Argentina solicitarem, commum
para de
accordo, á nossa irmã Republica do Paraguay consinta
que
na restituição solemne dos trophéos foram tomados,
que lhe
bem como no cancellamento da divida ella acceitou como
que
resultado da guerra, de que foi a maior victima.

Art. 2.° Os trophéos serão solemnemente restituidos e


a divida cancellada em virtude dos considerandos acima men-
ciomulos, como o cumprimento de um dever inilludivel para
os três
povos irmãos; as Republicas Brazileira e Argentina, re-
conhecendo o descabimento da conquista dos trophéos e da
exigencia da divida, reconhecendo a Republica do Paraguay a
sinceridade dessa fraternal conducta.

Art. 3." Para dissipar quaesquer apprehensões acerca dos


perigos futuros que a restituição dos trophéos o o cancellamento
da divida referida acarretar a independencia
pudessem para
da nossa irmã a Republica do se estabelecerá no
Paraguay,
tratado
que fôr feito uma clausula declarando que a divida só
ficará cancellada emquanto continuo
a Ropublica do Paraguay
a ser nação autonoma, fóra de qualquer alliança
plenamente
política com qualquer outra nação, por protectorado,
quer
quer por federação, tratados militares de alliança
quer por
defensiva e offensiva, iudust.riaes
quer por tratados (agrícolas,
lauris, commerciaes ou financeiros), celebrados com exclusão
438 ANNAES DA GAMARA

ílo Brazil o da Republica Argentina ou preferencia entre estas.


Arfc. 4." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 23 de setembro de 1912.— Orlavio Roclia,

AINDA PELA FRATERNIDADE UNIVERSAL, ESPECIALMENTE AM ISRICANA

'propósito
do segundo annivcrsario da ratificação do tratado
A
Mirim-J aguarão

O dia 7 de maio corrente assignalou o segundo anniversa-


da ratificação do memorável tratado Mirim-Jaguamo. De-
rio
de nossa de limitem, recordamos, mais uma vez,
pois predica
ique com esse nobre rasgo o fallecido Barão do Rio Branco teve a
de iniciar, no Brazil, decisivamente, a verdadeira di-
gloria
republinaca, inaugurando, ao mesmo tempo, a ,re-
plomacia
dos erros e culpas da diplomacia brazileira. Em lio-
paração
menagem á sua memória, lemos a carta que llie dirigimos, a
a 0 de Çezar de 5ti|122 (28 de abril de 1910),
este proposito,
e que aqui reproduzimos precedida das considerações constantes
da circular de 1909. Transcrevemos tamebm os telegramma3

oceasião do Io anniversario do referido tra-


posteriores, por
balho.
'Sr.
Êis a carta a este dirigimos ao Barão
que proposito
do Rio Branco, agradecendo-lhe a sua benevola remessa dos

exemplares, dos tratados com as republicas do Urugüay e do

Peru':

apostolado positivista do brazil

Capella da Humanidade

(Effigie á Humanidade)

Viver para outrem

Rio de Janeiro, 6 de Gezar de 05] 122.

(28 de abril de 1910.)

Illmo. Sr. Barão do Rio Branco, Ministro das Relações


da Republica dos Estados Unidos do Brazil.
Exteriores

Sr. — Em nome da Igreja e do Apostolado Posi-


Illmo.
tivista do Brazil venho agradecer-vos cordialmente os exem-

dos tratados celebrados com as nosssas irmãs as Repu-


plares
do üruguay e do Perú sobre os limites de ambas com
blicas
o Brazil. As deploráveis delongas parlamentares impediram-

nos até boje de trazer-vos, em nome da mesma Igreja e Apos-


iolado, as' nossas congratulações por esses dous aotos; pois
só aguardavainos que ficasse legalmente consummado o que
se refere aos limites com a Republica do Uruguny. A vossa
DK 1912 439
SESSÃO EM 23 l)E SETEMBRO

nos a dispensar o remato


affectuosa induziu,
remessa porém,
testemunhar-vos a nossa
constitucional, para pessoalmente
civica e humana, como já o fizemos publicamente..
gratidão
emfim cumprir tal dever,
E'-nos extremamente grato poder
sobre o condomínio ua
sobretudo tendo em vi3ta o tratado
Mirim o do Jaguarão. ,
que esse ao to nos.
Afim de caracterizar
sentimentos os
aos vossos conabora-
inspira, em relação á vós e em relação
Presidente da llepuDlica,
dores, especialmente o fallecido
re-
Affonso Penna, e o presidente Dr. Carlos Barbosa, e mais
do Estado do llio Grande do Sul, permiiti-i
presentantes
Comte levam-nos a cou-
ponderar que os ensinos de Augusto
vossa carreira
vicção de ser esse o passo realmente glorioso da '*eu
e mesmo do conjunclo da diplomacia brazileira, ja pelo
dolorosas diilicu Idades, que
alcance moral o político, já pelas
vos crearam.
anachronicos preconceitos e paixões nacionalistas
de ver temido pelos seus
A' feroz ambição o povo brazileiro
amaao,
irmãos, suceede agora a aspiração humana de o sentir
sem rivalidades. , , ,
Masessa Victoria do altruísmo vos patenteado
havendo
'todo por certo, que
o bem que podeis fazer, não extranhareis,
vos ao mesmo tempo, a esperança e o voto de
manifestemos,
da divida da
vos ver complotal-a, annullação
promovendo a
e, por outro
Republica do Uruguay por um lado,
com o Brazil,
dos trophéos da divida da
lado, a restituição e a annullação
nossa tão cara irmã a Republica do Paraguay. Esta ultima me-
com
dida vos proporcionaria o mais feliz ensejo para instituir
a nossa irmã, a Republica Argentina, laços de verdadeira fra-
ternidadc, que dissipem para sempre as cruéis animozidades

que têm dilacerado a America latina.


representantes
dos da
Sabeis que a conducta
principaos
Humanidade deve para todos e
constituir, sobretudo para
os que occupam os mais elevados postos sociaes, um modelo e
Eis terminando esta carta, não hesito
um estimulo. porque,
attri-
em lembrar-vos a «divisa», no dizer de Augusto Cornto,
aos liguos
buida com felicidade a César, e que convém tanto
theoristas como aos grandes práticos:

«Nil actun reputans si quid superresset agendum.»

Todo o. vosso no amor, na fé, no serviço da Humanidade.,


— R. Teixeira Mendes.
n. 74.
Templo da Humanidade, rua Benjamin Constant

fls. 18 a 21.)
(Extraoto da circular annual de 1909,

as «eguintes reile-
à esses documentos devemos juntar
do Barao oo mo
xões feitas occasião do fallecimento
por
Branco, apreciando a sua carreira política:

«Apezar extravios, o rasgo de frater-


de tão deploráveis
Mirim-Jaguarao
nidade internacional constituído pelo tratado
tornou-se logo alimento e estimulo das esperanças que
desde o
440 ' ANNAliS DA GAMARA

o seu autor o completasse pela reparação dos outros grandes


erros da diplomacia imperial.
A morte acaba de dissipar taes quanto a acçao
esperanças

objectiva do Barão do Rio Branco. Estavamos certos, porém,


influencia subjcctiva — mão grado as suas tra-
de que a sua
imperialistas — havia de continuar a agir no sentido
dições
da" regeneração diplomatica, de modo a
realizar as referidas

esperanças, graças á grande lei sociologica — o homem se agita


e a Humanidade o conduz.»

O offerece-nos o ensejo de apresentar al-


que precede
considerações como fizemos na alludida. prédioa: de
gumas
hontem, quanto urge dar cumprimento aos
para patentear
votos o esperanças acima formulados.
Em primeiro logar assim o exige a sincera e cavalheiresca
fraternidade com as nossas irmãs as Republicas do Pa-
para
raguay e do Uruguay. Em segundo logar é só assim que con-

seguiremos firmar definitivamente as cftrdiaes relações que,


felizmente, existem neste momento entre o Brazil e a nossa

irmã Republica Argentina. . _


Porque então se desvanece a circumstancia capital, smao

ninica, alimenta as deplorabilissimas rivalidades nacio-


que
nalistas resultantes dos extravios políticos, fatalmente com-

mettidos pelos nossos antepassados e cont<eporaneos, em ambos


os povos.

Semelhantes rivalidades, não podem desapparecer por


meras manifestações de cortezias diplomáticas. A sua extin-

cção radical requer uma regeneração profunda dos sentimen-


tos nacionaes substituindo irrevogavelmente a mais leal ira-
'fernidade aos cálculos de um estreito e absurdo egoismo sob a
iIlusão do
patriotismo.
Com effeito, a vida política e moral, da mesma soirte que a
existencia material, ê regida por leis naturaes e não pelos capri-
na Política e na Moral —
fhos humanos. Por toda a parte,
como na industria — as nossas aspirações só podem ser
assim
satisfeitas subordinando-nos a essas leis naturaes.

a natureza humana, compondo-se fataflmerfte dá


Ora,
instinctos egoístas e de altruístas, só os
pendores
pendores
altruístas e tudo que os alimenta e estimula nos unem; os ins-
instituir e manter a união sinão desenvolvendo
podemos, pois,
os pendores altruístas, favorecendo todas as
directamente
circumstancias lhe são e dissipando quanto em
que propicias
nos estiver, tudo o que fftr susceptível de entreter e instigar os
instinctos egoístas.
SKR.S.ÍO FIM 2.Ü DE SETEMBRO DE 191 í? 441

Vê-se assim que a tão repetida de Sr. Saens


__ phrase
Pefia: Tudo nos une nada nos separa constituo apenas, na
realidade, um rasgo oratorio,
traduzindo, por certo, os inelho-
res desejos e as melhores intenções, mas que não pode operar
o milagre de transformar a natureza humana, individual e
collectiva. Em vez de nos deixarmos embalar essa se-
por
duetora chimera, cumpre - lembrar-vos, a cada instante, de
que unicamente o altruísmo e as circumstancias íavoraveis
ao altruísmo unem, na realidade, as famílias
os indivíduos,
e os povos, asim como só o altruísmo
e as circumstancias que
lhe são íavoraveis permittem vida indivi-
a coherencia da
clual desde o berço até a sepultura. Em uma palavra, 30 o
altruísmo perrnitte attingir a unidade religiosa.
Saens Peíla conformou-se com esta realidade,
, w
quando ultimamente disse no discurso de recepção do Sr.
Campos Salles:
«A America espera de nós alguma cousa mais do que
produetos e riquezas materiaes: exige e demanda
exemplos
progressos espiritu.es.
Seja a paz a consagração
perduravel do nosso estado so-
ciai e político; seja a
justiça o nosso ideal...»
lJors bem, a manutenção da divida imposta á nossa mar-
tyrizada irmã a Republica do Paraguay, além de notar uma
ialta cruel de fraternidade
para com esta, é um signal de des-
conliança para a nossa com
irmã a Republica Argentina, e,
portanto, um estimulante fatal das rivalidades «urgidas entre
esta e o Brazil, no decurso da evolução de ambos.
Porque a persistência de tal divida indica o proposito
de manter um supposto obstáculo ou uma supposta garantia
contra qualquer tentativa de incorporação do Paraguay á Re-
publica Argenina.
' °i dá-se, em relação ao Brazil', quanto á manu-
?
tençao da divida do Paraguay á Argentina. Pois se imagina
as_vistas ambiciosas relativas a tal incorporação ao Bra-
®era9 contidas pela
?, perspectiva da acceitação de seme-
lhante divida.

^ > PO13- evi(iente S(^ a divida


. 1ue desistencia dessa pa-
tenteara de facto a dissipação e des-
de semelhantes cálculos
conflanças. Sejam Governos
quaes forem as intenções dos
ae ambas as Republicas, taes
em dado momento, emquanto
dividas existirem, estas estarão — embora latentemente, como
agora — alimentando
os pendores egoístas de ambos os povos.
cIUe constituem uma ameaça a trator-
j01'^e permanente
uaaae deve unir
que a ambos.

Seriam inúteis novas considerações evidenciar


para que
a sapolítica como
impõe ao Governo brazileiro, no Governo
argentino, a desistencia das referidas dividas.
44 4 AN NA I2S DA CAMAKA

Nem a Moral o a Razão permittem que um dos Governos


faça depender do out.ro o cumprimento desse compromisso
altruísta.
Cumpre ¦ com ¦ o teu dever, succeda o que succeder — 6
a lição cavalheiresca que os nossos melhores antepassados
legaram aos indivíduos,
famílias ás
e aos povos modernos.
Qualquer das duas nações que tiver a gloria de tal ini-
eíativa, segundo o exemplo que já a ambas deu a nossa irmã
ú-RepubliCa do Uruguay, determinará aliás o mesmo rasgo
da parta da outra.

Nós, portanto, vimos müjis urtia vez appellar para o Go-


terno briiziloiro áfim de que não adie por maÍ3 tempo o desem-
ponho de tão impféscinaivel dever, será esse o melhor mo-
numeuto levantado á memória do Barão do Rio llranco, fa-
/«elido com que felle realize subjècti vãmente o desenvolvimento
da política regenerada que o tratado Mirim-Jaguarão inau-
gurou,
È' escusado accrescentar qile essó acto deve ser prepa-
rado ou completado, pondo-se termo á glorificaçSo, cada vez
mais lamentaveí, da iúcta fratricida de onde resultou essa
exécraiída dívida.
A verdadeira gloria só existe no altruísmo.

Pela Igreja e Apostolado Positivista do Rrazil.

R. Teixeira Mendes, vice-dirlector.


;
Em nossa sede, Templo da Humanidade, rua Benjamin
Constant n. 74.

Rio, 22 de Gesar de 124 (13 de maio de 1912).

(Vido Jornal do Commercio, de terça-feira, 14 de, maio


de 1912, edição da manhã, secção ineditoriül.)

A essas só 'temos
considerações a accrescentar, como íi-
zemos no ultimo
domingo — 15 de
(7 de Shakespeare corrente
setembro corrente) em nossa predica, que, para dissipar todas
as apprqheituõe$ sinceras Acerca dos quo Para a indo-
perigos
nossa.cara
pepdencia da irmã a Republica do Paraguay e para
a -paz sul-americana, se imaginava poderem provir do can-
reliameiito da exocrantlfl divida, bastaria, no respectivo tra-
tíido-fraternalmente reparador, inscrever uma cláusula con-
Svènienté.
E' o que se conseguiria declarando que a divida só ficava
cancellada emquanfo a nossa irmã a Republica do Paraguay
continuasse a ser nação plenamente autonoma, fora de qual-
quer alliança política cçm outra nação:
qualquer

Io, quer por protectorado;


2°, quer por federação;
SESSÃO KM 2ÍI DE SETEMDHO DE 11)12 Wi

3o, quer por tratados militares de alliança definitiva ou


offensiva;
4", quer por tratados industriaes (agrícolas, fabris, com-
mwciaes, ou financeiros) celebrados com exclusão do Brazil
e da Argentina, ou preferencia entre ellas.

Devemos, porém, notar que semelhante clausula consh'-


tue, a nosso ver, uma dolorosissima concessão feita unicamente
para tranquillizar os espiritou sinceramente timoratos. Por-
que o-,fifcafue ^cientifico da situação oceidental em geral, e
especialmente da situação americana, nfio deixa a mínima
duvida de que o cancellamonto da monstruosa divida seria a
prova mais cabal e ao mesmo-.tempo o melhor cimento do3
Bentimeut.os verdadeiramente sinceramente frater-
pacíficos,
naes, dos povos assim congraçados para sempre.

Terminando, appeilaTOOSi em nome da Humanidade, espo-


cialmenle da America, sobretudo Brazil e da Argentina,
do
para os mais nobres sentimentos internacionaes de que, com
justiça, se devem ufanar o Sr. general lloc-a e o Sr. Campos
Ha,lies, afim de envidarem decisivamente todo seu prestigio
político o .todas as, veras de suas almas no con.seguimonto ur-
gente do íãQ subi j me ideal.
-realmente
O Sr. Saònz Pena foi orgão das melhores almas
de todos os tempos, passados, dis-
presentes e futuros, quando
se ao Pr. Campos Salles:

«A America espera de nós alguma causa do


mais que
produetos e riquezas materiaes: exige exemplos e demanda
progressos espirituacs.
• ¦
«Seja o a cansai/ração
paz per durável do nosso estado
soe.ial e político; seja a nosso ideal...»
justiça

Pois bem. a solenme restituição dos trophéos fratricidàs


e ocavalheiresco canoellamento consti-
da divida monstruosa
l-Uem a. Hitnihose desses
exemplos e desse progressos espiritunes
Mue do. Brazil e da Argentina hoje exige não. só (i America,
mas Humanidade... Oxalá não demorem mais tempo o
ja por
Brazil e
a Argentina em escutar esse appello regenerador que,
na muito, lhes bradam a America, o Occidente, a Humanidade
Desdà pt)ido adquiririam antes ei ambos 03
os Governos
povos, brazileiro e argentino, o prestigio moral indispensável
para aconselhar ao da nossa irmã a Republica do Chile a res-
tmiicflo de Tacha e Arica á nossa irmã a Republica do Peru'.
K Otie mais gloria poderiam ambicionai' os 'estadistas a
os povos das fiopublicas irmãs desfarte reconciliadas ? Que
444 /. ANNAEg r>A CAMAflA

base mais solida para o eterno repudio da nefanda política


da paz armada e o inicio decisivo díi verdadeira nas indus-
trial'(

Pela Igreja e Apostolado Positivista do Brazil, II. Tei~


xeira Mendes, vice-direetor.

Em nossa séde, Templo da Humanidade, rua Beniamin


Constam, n. 74. i

Rio, 9 de Shakespeare de 124 de setembro


(17 de 1912.)

A divida c os trophéos paraguayos — Conhecido Deputado


empenha-se na Gamara em obter assignaturas um
para pro-
jecto de lei no sentido de ser cancellada a divida de guerra
do Paraguay e serem-lhe devolvidos os trophéos que jazem
nos nossos museus e igrejas, cobertos de
pó...
A idéa não é nova e ha muito constitue, assim dizer,
por
uma aspiração do nosso meio intellectual se
que preoccupa
com os
grandes problemas sociaes, achando que com esse mo-
vimento melhor traduziríamos, com a infeliz marty-
para
rizadá Republica, os nossos sentimentos de verdadeiro affecto
e prova de esquecimento dessa lueta fratricida num mo-
que
mento de desvario, no passado regimen, levámos a um povo
generoso e heroico com o fim de «libertal-o do seu tyranno
quando esse povo vivia feliz com esse seu tyranno. Esque-
como-nos de que, nessa época, viviam milhares de brazilei-
ros algemados pela mais hedionda escravidão e desse
que
modo não tínhamos a autoridade moral de nos apresentar
como civilizadores e libertadores de1 outras patrias...
Segundo estamos informados, a idéa vae felizmente ga-
nhando terreno entre os representantes da Nação; mas seja-
nos pormittido lembrar aos se acham â fronte dessa
que
campanha altruistica e realmente republicana o projecto
que
devia ser dividido em dous, sendo um do cancellamento da
divida e o outro da entrega dos trophéos, ha Deputa-
porque
dos favoraveis unicamente ao cancellamento da divida.
Assim facilmente se compulsar o
poderia pensamento
da Gamara e facilitar o triumpho na parte mais aceitavel.
Temos mesmo quanto á opportunidade
duvidas de se
tornar em realidade
a entrega dos trophéos na quadra poli-
tica que atravessamos.
Si é vercFade que o Exercito e a Armada nacionaes são
constituídos, sua na
maior parte, de verdadeiros republicanos
intellectualidades 'lambem
e de invejáveis, é verdade quo
ainda ha, e nem podia deixar de haver, uma menos
parte
culta e que encara estes factos sob um ponto de vista aaai*
nhado.

Quanto á divida de
guerra que impuzemos, sob pressão,
ao paiz vencido, como o
preço da sua liberdade, de que fomos
portadores voluntariamente, não se justifica; e, sob o ponto
de vista de direito internacional, ella é e seria insustentável.
E' uma divida já condemnada pela opinião unanime da
Nação.
SISSSÂO EU 23 de' SETEMBRO i)E 1912 445

PROJ EGT0

O Congresso Nacional decreta:

Ali'. 1." Fica ereado no Brazil o serviço de «defesa con-


tra o ophidismo».
Ari. 2." A defesa contra o ophidismo no Brazil' fará parte
integrante da defesa agrícola, a cargo dos inspectores de agri-
cultura.
Aii. 3." O Governo Federal auxiliará o Insttituto de Bu-
tantan, em S. Paulo, com a de 5:000$, para forne-
quantia
cimonto de serum aos postos de defesa.
Art. i." O Governo Federal nomeará um fiscal do ser-
vico addido ao Instituto de corresponder-se
Butantan
para
com os diversos postos o regulamentar o serviço dos mes-
inos, com o ordenado de 800$ mensaes e 200$ de gratificação.
Art. 5." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 23 de setembro de 1912.—J. Lamartine.

O Congresso Nacional resolve:

Art. 1.° ao Fica daequiparado


Escola
pharmaceutico
Quinze de Novembro o actual dentista.
Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 22 de setembro de 1912.— Silva Castro.

E' lido e vae a imprimir o seguinte

PARECER

. N. 116 — 1912

Reconhece deputado pelo Idistriçto do Estudo de Pernani-


buco o Sr. José da Cunha Rabello

A 1 do agosto deste anno realizaram-se no Estado do


Pernambuco as eleições para a vaga de uma cadeira na Ca-
mara dos Deputados, aberta com a morte do £>r. José Marian-
no Carneiro da Cunha, que representava nesta Casa do Con-

gresso o 1" distriçto daquelle Estado.


As eleições correram o compareci-
regularmente, mas
mento eleitoral foi diminuto;quinto do elerto-
menos de 11111
rado compareceu e deixaram de 1'unccionar muitas secçoes.
Das í(> secções de Recife não se reuniram três. O menor
eomparecimento foi de 10 votantes secção) e o maior
(19"
de 191 os entre um mínimo
(20" secção); ausentes variaram
de 96 e o máximo 192 secção).
(44a secção) (16ft
Nesse padrão é o quadro de votações em todo o Estado,
o que se que disputassem
pode attribuir d falta de candidatos
a vaga, dando em resultado esse pequeno comparecimento.
Em todo caso, o candidato mais votado e eleito obteve
no pleito mais de 8.000 votos, coefficiente com que se
pouco
4iô ANNABS DÁ CAMAltA

apresentaram nos reconhecimentos desta legislatura os ante-


riores candidatos por esse districto federal de Pernambuco,
quando a eleição era bastante disputada, como é do conheci-
monto de todos.
Não se pôde, pois, concluir pelo absenteismo eleitoral,
sejaqual fôr o seu motivo. Não será, antes, o resultado do
compressão que impedia anteriormente em muitos Estados do
Norte da Republica o alistamento eleitoral de adversários ?
A resposta não é fácil; deixamos comtudo assignalado esto
cpisodio que parece de summa importancia.
Das eleições, que' correram regularmente, nenhuma con-
testação produzida perante essa 3' cominissão de inquérito
nem protesto algum feito na Junta Apuradora do Recife, e,
wnído já decorridos prazos os
para os interessados dizerem
sem que alguém houvesse comparecido, quer pessoalmente,
quer por procurador devidamente autorizado, .julgo deverem
ser approvadns as eleições realizadas a i de agosto proximo
passado 110 Io districto de Pernambuco e cujo resultado é o
seguinte:

Votos

Dr. José da Cunha Rabello 8,144


Dr. Apollinario da Trindade Meira Henriques.. 54
Dr. José Marianno Carneiro da Cunha Filho... 10
Tenente Dr. Gastão Pinto da Silveira 2
Êrú branco 5

O resultado apurado pela junta no Recife pôde ser appro-


vado, sendo, porém, de parecer que delle se descontem os votos
obtidos pelos candidatos na 3* secção (Itambé) do Io districto.

Da acta respectiva não


consta em quem recahiram os
votos dos seis eleitores que compareceram. Póde-se lôr na
mesma: <0 presidente da mesa proclamou o resultado delia
(apurarão das cédulas), <1 qual foi rubricado e ó o «eguin-
te: Em seis votos.» Não lia nomes de candidatos nesse laco-
nico resultado. Penso, pois, dever ser annullada a eleição ne^-
sa secção.

Continua, entretanto, como candidato mais votado e eleito


o Dr. José da Cunha Rabello, com 8.138 votos.

Assim propomos que:

Sejam approvadas as eleições realizadas a 1 de agosto


do corrente anno, 110 Estado de Pernambuco, para uma vaga
de deputado federal, aberta morte do Dr. José Marianno
por
Carneiro da Cunha, excepto a da 3* secção de ItamüG;
Que seja reconhecido e proclamado, de accôrdo com os
resultados das mesmas, deputado federal pelo Estado de Per-
nambuoo o Dr. José da Cunha Rabello, candidato mais votado.

Sala das Cornmissoes, 23 de setembro de 1912.— Galeão


Carvalhal.— Maurício de Lacerda, relator.— Vianna do Cas-
tello.— Firmo Br ao a.
SESSÃO KM. 23 1)13 SETEMliltO l)B 1912 447

0 Sr. Presidente — Está finda a leitura do expediente.

0 Sr. Raphael Pinheiro — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a ordem o nobre


palavra pela
Deputado.

RaphaelPinheiro — Sr. Presidente,


0 Sr. {pela ordem)
solicitei a para enviar á Mesa a declaração de voto ao
palavra
Depu-
modo por que fui ao encontro do requerimento do nobre
Lado por S. Paulo o Sr. Martiin Francisco.

Vem á Mesa e c lida a seguinte

DECLARAÇÃO DE VOTO

Declaro o meu voto a favor do requerimento do


que
Sr. Martim Francisco se apoia, tão sómente, na minha opinião
relativa ao assentimento a Gamara deve daf sempre a
que
taes requerimentos.

Sala das sessões, 23 de setembro do 1912.— llaphacl


Pinheira.

0 Sr. Presidente — Será inserida na acta a declaração


do voto do tiobre Deputado.

0 Martim Francisco — Peço ordem.


Sr. a palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a nobre


palavra pela ordem o
Deputado.

0 Sr. Martim Francisco (pela ordem.) (Movimento de


atlenrãa) — Por ineio de requerimento, Sr. Presidente, lem-
br o
a V. Ex. a acertadissima e patriótica conveniência de ser
nomeada uma commissão que, representante desta Gamara,
como ella o ú do paiz, diga amanhã as nossas despedidas ao
eminente diplomata argentino general Júlio lloca.
Meu requerimento está, pelo assUmpto que o substancia,
dispensado de justificação. Mais do que eu, e tanto como
V. Ex., sabe esta assembléa que, a terra brazileira, Júlio
para
Hoca significa muito
que a harmonia de dous gover-
mais do
nos: Júlio Hoca traduz e vale essa marcha parallela das Ira-
«-lições de dous e essa tendencia brilhantemente civili-
povos
zadora de dous importantes agrupamentos humanos. {Apoiados.)
T>e
mim dependesse, Sr. Presidente, a reforma do rogi-
mento os nossos trabalhos, e seria a
que guia permlttida
entrada neste recinto, com direito á discussão de casos inter-
nacionaes, aos diplomatas acreditados no Brazil pelos go-
verno da Amertca do Sul. E, em verdade, nenhum diplo-
mata conheço do nossa confiante
tal
mais merecedor prova de
amizade do esse notável' argentino, educado pela geração
que
que, lá nas margens respirou com os nossos bravos
platinas,
448 ANNAES UA CAMARA

as auras gloriosas rie Montecaseros e Tonelero, do esse


quo
soldado a cuja .juventude se ligam as reminiscencias de
Tuyuty e 24 de maio.
(Apoiados.)
Que uma commíssão, pois, Sr. Presidente, enviada pela
Câmara dos Deputados da Nação Brazileira, dizendo amanliã
tpela nossa pátria um adeus ao general Júlio Roca, faça-o pa-
tenteando a justiça a
que tem direito aquelle que, no julga-
mento do poeta á memória de um dos chefes da nossa Inde-

pendencia por guarda de honra tem dous povos livres !
(Muito bem; muito bem.)

O Sr. Presidente — Os senhores approvam


que o reque-
rimento do Sr. Deputado Martim Francisco queiríwn levan-
itar-se. (Pausa.)
Foi approvado unanimemente.

0 Sr. Rodolpho Paixão — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

0 Sr. Rodolpho Paixão (pela ordem) pede a publicação


no Diário do Congresso de diversos protestos contra o pro-
jecto de divorcio.
Consultada, a Gamara concede a publicação pedida.

0 Sr. Presidente — Tem a o Sr. Freire de Car-


palavra
valho Filho.

0 Sr Freire de Carvalho Filho (movimento de attenção)


— Sr. Presidente,
(*) as minhas patrícias e os meus conci-
dadãos da capital da Bahia, em numero de 12.243, acabam
de investir-me de grata e honrosa incumbência. Elias e elles,
fra uma generosa manifestação de confiança, distinguiram-me
com o encargo de apresentar á Camara dos Srs. Deputados
estas representações e protestos que lhe dirigem contra o
projecto de divorcio, levados pelos sentimentos os mais puros,
os mais nobres, os mais santos, os mais patrioticos. (Mostra
os documentos que vac entregar cT~Maia.)
A incumbência devera, Sr. Presidente, ter cabido a quem
melhor do que eu a desempenhasse...

O Sr. Moniz — V. Ex. é muito competente


de Carvalho
e representa muito nobremente os sentimentos da sociedade
bahiana. (Apoiados.)

Freire de Filho — ... a


O Sr. Carvalho precedendo
entrega de considerações valiosas pelo aprimorado dos argu-

mentos, a quem, revelando erudição e talento, corroborasse de

modo e brilhante as idéas que animam estas repre-


poderoso
sentações e estes protestos, que tanto honram e exalçam as

senhoras bahianas, que, sempre distinetas pela elevação morai


de seus sentimentos, não teem quem as exceda na grandeza de
seu coração e de sua alma affeita á virtude e à dedicação pela

felicidade da família e da patria. (Apoiados.)


SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 449

• ,.Ç.ma ,vez'I)0reni> nufi me coube a incumbência, direi


justificando asrepresentações, algumas palavras que, embora
Pallidas por serem minhas
(nã° apoiados), traduzam comtudo
a sinceridade dos meus sentimentos e do meu concerto sobre
a magna questão social do divorcio, dissoíubilidade do matri-
momo a vinculo.
Peço a V. Ex., Sr. Presidente, illustres
e aos meus col-
legas relevem-me tomar-lhes, ainda que por pouco, o tempo,
eque sejam benevolos para com o orador novel na tribuna da
Câmara Federal.

O Sr. Moniz de Carvalho — Ouviremos V. Ex. com


niuiui satisfaçao. {Apoiados.)
^ Fitniitn de Carvalho —
?11' Fiu-io Sr. Presidente, com-
1
pulsando a historia, consultando a opinião dos philosophos o
eu vejo que a instituição do divorcio tem «ido
^«""•iPtores,
sempre lunesta a mulher, á familia e ti sociedade.
o Sr. Raphel Pinheiro — Não apoiado.
O Sr. Freire de Carvalho Filho — A historia conta que
o divorcio, vem de tempos
que bem antigos.
®í" ^0NIZ UK Carvalho — Elle precede a santidade do
casamento, o divorcio
porque é a barbaria e o casamento é
a civilizaçao.

®R" ÍKEUUi Carvalho Filho — ... tem determinado


sempre conseqüências as mais deploráveis, aos bons costumes
a moral social dos povos, que. hão admittido em seus codigos,
em suas leis, essa fatal instituição.
os3a oufrora rainha
do mundo, que deu tantas leis,
„• ,íl0?la'
ainda hoje muitas, adopfada.s
por povos civilizados, teve no
mvoreio <mi dos mais poderosos elementos de sua dêeadenoia
Funesto embora em seu? resultados,
generalizou-se entre
IU0d0 "UP--no (ll™r «l<>. uni
notável e.criptor, «o
n,J?w;n,°^
se tornou it. regra».
r, excepçao Acompanhado
de toda a soite de devassidao, corno muito bem diz o erudito

infam« \\t ,?^°rr^hC Pp®P,«*)u o povo romano a receber o jugo


l!ei10' sequioso de sangu» como um tigre da
íl- n «
• Nero, matncida e incendiario, de um
i'íl r 111,1
mihoçil, de um íaustoso Heliogabalo, de um cynico e
comilao Vitejio, de um estabanado Caligula».
1 od^oreio que, prostituindo" a instituição do casa-
a dignidade da mulher, depravando o» costu-
Í.Í es . i í ?u
cia laintlia e da sociedade romana.
E' assim que se vê da
,a c9m c'ue facilidade na
patria dos Césares o marido se
parava da esposa, repudiava a sordido
mulher, já por um
interesse pecuniário, como Cicero, tribuno,
L™«ero o grande
coní porque de novo dote
v>nor!^0u gerencia, precisava para
SUj® "1YI(1as;
íinfn, já como fez Filino de Minturnio, que es-
osoii a d isso luta Fannia
para apanhar-lhe o dote; repudian-
ern seguida;
já por um motivo frivolo e banal como fez
C°IU 8 esposa' ílür(Ju,; sahira á rua com a ca-
beça descobert
V»l-X 29
430 ANNAES DA CAMARA

Todas
essas torpezas eram, Sr. Presidente, praticadas
sob protecção da lei corruptora que permittia,
a com a sobre-
vivência dos esposos anteriores, a realização de novas nupcias
e tantas quantas as paixões e a impudencia creavam na ima-
ginação dos homens, que haviam perdido a noção da dignidade
e da honra. Isto ora praticado, com a mesma facilidade, tanto
pelos nobres como
pelos plebeus, tanto pelos ricos como pelos
pobres, tanto
pelos soberanos como pelo mais humilde dos ci-
dadãos romanos. César, Antonio, Pompeu, Octavio contra-
hiram vários casamentos pela pratica do divorcio, cujo abuso
chegou ao ponto, que, mesmo nesse de corrupção,
período
era uma grande honra para a mulhe,r romana o ter em toda
a sua existencia contrahido um só casamento e nelle ser con-
,servad(>._ Para commemorar essa virtude, perpetuando-a á
admiraçao dos posteros, escreviam na lapide sepulchral
o epitaphio «Cônjuge inclytae univirae»— Aqui
piae, jaz
uma esposa pia, inclyta,
que só teve um marido. Havia, assim,
para honra da humanidade, na Roma dissolu'ta, ainda um
resquício de preito á moral e á virtude.

Tácito, em seus Annaes, refere Tiberio


que querendo
substituir Occia que, por longos annos, as vestaes,
presidia
Fontelo Agripa e Domicio Pollon offereceram suas filhas para
tão melindroso encargo, sendo
preferida a filha de Domicio
Pollon pelo único motivo de sua mãe no mesmo
permanecer
casamento, ao passo que Fontelo Agripa, tendo se divorciado,
tornara por isso sua filha menos digna. Tal era ainda, Sr.
Presidente, o valor moral da indissolubilidade do casamento
110 seio daquelle
povo que se degradara pela acção do divorcio,
esse mal que querem seja uma lei entre nós.

O Sr. Pediio Lago — Mas não será, porque o Brazil não


quer.

O Freire de Carvalho Filho — Si de Roma eu


Se.
parto
com as
paginas da Historia a Grécia antiga, essa
para patria
da arte e da sciencia, do culto á belleza e á
poesia, não menos
lastimaveis são as conseqüências do divorcio. Alli ha, porém,
110 escandalo alguma cousa de equidade: 6 que o direito de
propositura da dissolução do casamento não eraprivativo do
marido, mas também faculdade conferida ã mulher, no que
se differençara da pratica dos romanos, que á imitação dos
do Oriente davam unicamente ao marido o direito de
povos
separar-se da mulher. Era da lei hebraica, como da dos Me-
das e dos Israelitas esse exclusivo do marido.
poder

jNa Grécia, como em Roma, o divorcio envilecia a mulher


pelo despedaçamento do vinculo conjugai.

O Sr. Florianno de ííritto — Na sua opinião.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Na de muita gente.


Apoiados.)

O Sr. Pedro Lago — Na opinião da grande maioria do


paiz. (Apoiados.)'
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 451

O Freire de Carvalho Filho — Dizia eu


Sr. que o di-
vorcio envilecera a mulher romana como a grega, e assim foi.
Seneca, o grande moralista, esse da escola da philosophia dos
estoicos, refere que «as esposas contavam a edade não pelos
annos, mas pelo numero de divorcios realizados. Divorcia-
vam-se para casar e casavam divovsiar-se».
para

Dahi, Sr. Presidente, a conseqüente prostituição na mais


torpe depravação dos costumes, que levou o proprio Seneca
a dizer que a mulher de seu tempo era um animal sem pudor.
Nessa situação deplorável da sociedade bem triste era a sorte
•da mulher, escrava dos vicios e da corrupção, escrava do es-
poso, que tendo-a como simples objecto para seus gosos,
facilmente a repudiava, como ser desprezível, e opprobriosa-
mente mandava despedil-a do lar por um escravo que, ao
conduzil-a ao portal da rua, se limitava a dizer-lhe:

Collige sarcinulas ct axi. (Junta tua trouxa e vae-te.)


E, assim ultrajada e mesquinha, seguia a misera o sou triste
destino através da impudencia dos costumes o da expansão
dos vicios do seu tempo.

O Su. Flouianno de Britto — Na historia sagrada vô-so


um homem repudiando uma mulher ter filhos com uma
para
escrava. Isto prova que não é a revelação divina que con-
demna o divorcio.

O Su. Freire de Carvalho Filho — Podia responder com


vantagem ao aparto de V. Ex.; mas is30 me tomaria o tempo,
que é tão escasso. Peço ao nobre Deputado sua benevolencia
para com o orador, novel nesta tribuna.

O Sr. Florianno de Britto — Novel, não Ex.


apoiado. V.
é um parlamentar affeito ás lutas da tribuna.

O Sit. Pedro Lago — E tem direito á nossa attenção.


(Apoiados.)

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Agradecido. Pro-


sigamos. No turbilhão de tanta loucura e requinte do depra-
vação dos costumes surge o Salvador do mundo, que- regenera
e redime a mulher, tirando-a do captiveiro e transformando-a
cm rainha soberana do lar, anjo tutelar da familia, querida e
adorada pelo esposo, idolatrada filhos e venerada pela
pelos
sociedade, onde a moral impera em toda a sua magestade.
(Apoiados, muito bem.)
Bemdita a vinda
do Salvador do mundo, que deu combate
áa negregadas
praticas do paganismo, á poíygamia, e fundou
a monogamia no sacramento do matrimonio, sobre o principio
da lei natural, a indissolubili.dade do vinculo conjugai.
(Muito bem.)

O Sr. Florianno de Britto — Discutiremos o assumpto.

Sr. Freire de Carvalho Filho — Perfeitamente;


,0 peço,
porem, ao nobre Deputado
que não me interrompa o tome
suas notas responder-me, com o muito me honrará;
para que
452 ANNAES DA CAMARA

c, si eu puder, como confio refutarei em seguida os seus argu-


mentos.

O Sr. Florianno de Britto Sem sophisma será diffici!.:

Moniz de Carvalho — A maldade do divorcio está


O Sr.
na consciência nacional. (Ha muitos outros apartes.)

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Permitia-me o nobre


Deputado, autor do projecto de divorcio, que lhe diga que o
sophisma nunca é usado pelos homens sinceros, pelos que se
batem convictos da santidade e da verdade da causa que de-
fendem. (Muito bem.)

Quem neste momento tem a honra de occupar a tribuna


e a attenção da Camara Federal não usa de sophismas, diz
com sinceridade o que pensa, de accõrdo cora a sua conscien-
cia e o sentir do seu coração. (Muito bem.)

O Sr. Dias de Barros — V. Ex. foi sempre um homem


respeitável. [Apoiados.)

O Sr. Freire de Carvalho Filho — E', Sr. Presidente,


contra es]te principio da lei natural, a indissolubilidade do ma-
trimonio, que se revoltam os divorcistas, levados por um sen-
timento que os faz descohecer que nesta condição essencial do
casamento está a base fundamental da existencia, verdadeira-
mente moral da família e da sociedade.

O Sr. Moniz de Carvalho — Perfeitamente.

O Sr. de Carvalho Filho — E' a indissolubilidade


Freire
do casamento que vivifica no coração dos esposos o nobre de-
ver da fidelidade conjugai. (Trocam.-se muitos apartes.)

O Sr. Presidente soar os tympanos) — Atten-


(fazendo
ç.ão ! Peço ao Srs. Deputados que não interrompam o orador.

O
Freire de Sr.
Carvalho Filho — Si o casamento não
fosse -sua
própria natureza
por indissolúvel e perpetuo não se
differenciaria da união sexual dos animaes írracionaes, dos
que na escala zoológica occupatn logar inferior ao rei da
creação. (Apoiados.)

Os Srs. Florianno de Britto e Dias de Barros dão apartes

O Ku. Freire de Carvalho Filho — A instituição do casa-


mento que lia de maisé o
nobre, mais. augusto na sociedade
humana, em sua constituição, pela fundação moral da fami-
lia. (Apoiados) .
O divorcio é o inimigo cruel dessa moral, que é o apa-
nagio das sociedades bem constituídas sobre as. bases da vir-
tude e da honestidade; ó seiva que alimenta a polygamia, é
amor livre, da mulher.
porta aberta ao ao envilecimento (Ha
muitos apartes, que interrompem o orador.)

O Sr. Presidente (fazendo soar os tympanos ) —Atten-

ção 1 P«ço novamente aos Srs. Deputados que não interrom-

pam o orador.
SESSÃO KM 23 1)13 SETEMBRO DE 1912 453

de —Bom vejo, Sr. Pre-


O Sr. Freire Carvalho Filho
sidente, estou desagradando, o que muito sinto, a alguns
que
Srs. Deputados. (Não apoiados).

Florianno de Britto — V. Ex. está agradando


O Sr.
muito com sua divagação ultramontana.

Freire de Carvalho Filho — Permitia o Sr. Depu-


O Sr.
tado, do do divorcio, que eu me dispense de
autor projecto
responder a este seu aparto.

O Sr. Florianno de Britto dá um aparte.

O Sr. Cândido Motta — O não está em discussão;


projecto
as represen-
o nobro Deputado está simplesmente justificando
tações de que é portador.

de Carvalho Filho — Perfeitamente.


O Sr. Freire

Lago — Representação lhe foi conferida


O Sr. Pedro que
pelo povo da Bahia.

O Sr. Florianno de Britto — ?


Que povo

Pedro Lago — O todo da Bahia, é contra-


O Sr. povo que
rio ao divorcio. Não se illuda V. Ex.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Zangaram-se os

senhores divorcistas porque eu disse que o divorcio é


porta
aberta ao amor livre. Antes de mim, outros o teem dito, e

entre elles o maior divorcista francez, o Sr. Naquet, quando,


combatendo pelo divorcio, dizia que «era seu ideal o amor
livre, completamente livre, em que se tome e em que se deixe
o companheiro ou a companheira, sem outra formalidade a
não ser a declaração perante o official do estado civil».
Corneloy, estudando os effeitos do divorcio, disso que
«por culpa do legislador e com a cumplicidade, com o esti-
mulo mesmo da Justiça a união livro vae substituindo pouco
a pouco o matrimônio e destruindo a família».
O divorcio, Sr. Presidente, não facilita unicamente esse

mal, dando expansão á polygamia, á libertinagem, ao envi-

lecimento da mulher, á dissolução da familia, mas a desgraças


outras de não menos gravidade. (Ha muitos apartes.)
Assonville em um trabalho estatístico demonstrou que
entre 9.900 creanças criminosas mais de metade pertencia a

orphãos, filhos de pais divorciados. Esta cifra, Sr. Presidente,


tem em outras estatísticas, vae, cada anno, era
se registrado
escala sempre ascendente, assumindo proporções aterradoras.
Paul «o alga-
Bourget, fundado em dados estatísticos, diz que
risino dos criminosos, é loucos
proporcionalmente o suicidas
dez vezes maior relativamente,
entre os ao rosto
divorciados,
da população». Igual affirmação faz Eurico Morelli.
E' um facto registrado que nos paizes onde lia lei de di-
vorcio grande é o numero de suicídios perpetrados por divor-
ciados. Bortillon diz: «Em Ioda Europa, o numero de suici-
dios (>. funeção direcla do numero do divorcio». Durklioin di/.
que «tudo que corrompe ou destroe a atmosphera familiar
454 ANNAES DA GAMARA

ó desfavorável á vida e impelle ao suicídio». Está conhecido

que a diminuição na natalidade, a fraude, o infanticidio, o


aborto criminoso, são outras tantas conseqüências da lei de-
separação do inatrimonio a vinculo.
Eis porque, Sr. Presidente, ante esses factos conseqüentes
da postergação da indissolubilidade do vinculo matrimonial,
lei natural que não
pôde o homem impunemente infringir ao
sabor de suas paixões, ou, independente de ser catholico, não
sou, não posso ser divorcista. (Apoiados.)
A instituição do divorcio tem sido sempre fatal d socie-
dade dos
que a admittiram em seus
paizes codigos o em suas
leis. (Apoiados e não apoiados.) Não 'São só os catholicos que
o condemnam, vendo nello um ataque ao sacramento do matri-
monio, são
grandes philosophos o pensadores, espíritos mesmo
os mais liberaes que combatem severamente essa instituição
pelos seus funestos resultados. E' um facto, <5 uma verdade
que parte onde o divorcio tem sido estabelecido em lei,
em toda
grandes são os protestos que contra elle se levantam por parte
de espíritos sensatos e patrioticos, que se revoltam ante a
ameaça da dissolução moral da familia e da sociedade.

O Sr. Phudente de Moraes Filho — Si essas fossem as


conseqüências, 6 claro que as nações onde existo o divorcio
já o terião banido de sua legislação.

O Sn. Freire de Carvalho Filho — V. Ex. bem sabe o que


se passa nos Estados Unidos da America do Norte, na França,
na Allemanha e em todos os paizes que adoptaram o divorcio.

O Sr. Flouianno de Britto — Na Italia, na Hespanha. Si


V. Ex. quer, eu conto.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Contará depois. Agora


tomar-me-hia o tempo.
Acudindo ao aparte do nobre Deputado por S. Paulo, devo
dizer que nos Estados Unidos da America do Norte a pratica
do divorcio tem chegado a um ponto tal que não é de admirar
seja em pouco riscado das leis da grande republica, pois
muitos...

O Sr. Moniz de Carvalho — O divorcio norte-americano


é assumpto de comedia e de revistas.

O Sn. Freire de Filiio — ... são os


Carvalho publicis-
Ias e patriolas que se ormiem confra o divorcio, que, transpor-
tado do Oriento para a Europa por Luthero, invadiu em má
hora o nosso continente, indo infeccionar a patria que Was-
liington fundou. Ahi, Kr. Presidente, o divorcio attingiu a
expansão. A estatística registra que se conta um di-
grande
vorcio cada seis casamentos. Li que nessa grande nação
para
contim-se aos centos jovens de 16 a 18 annos que, não enviu-
vando, toem, entretanto, já celebrado dous e tres casamentos
consecutivos a outros tantos divórcios realizados; assim como
<> notorio nos Estados em que as custas do processo de
que
divorcio são módicas, são baratas, é maior o numero de disso-
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 455

luções de casamento^ vinculo, isto é, numero de casos


o dei
divorcio está na razão directa barateza facilidade
da ou pro-
cessual sob
ponto de o
vista Esta circumstancia
pecuniário.
uo dispendio
com o processo de divorcio ó uma das razões
por
que na Inglaterra, onde ha lei de dissolubilidade do vinculo
matrimonial, poucos são
os casos de divorcio, pois alli é extre-
niamente caro o processo da
separação a vinculo.

Devo lembrar que no Estado da Carolina do Sul, onde não


lia lei de divorcio, a família não íoi abalada em seus sagrados
"fundamentos,
mantendo-se sua sociedade nos seus primitivos
e austeros costumes, bem differentes se observa em
do que
outros Estados contaminados como ha
pelo mal que, pouco
disse, foi transportado
por Luthero para a Europa, do que teve
logo a condemnação cie todos
os espíritos bons, até de dous de
seus mais ardorosos discípulos — Muncer e Garlostadt.
Entre norte-americanos teern condemnado a lei do
que
divorcio, lembro o desse
professor Robinson, que, tratando
assumpto, disse que « visíveis o terríveis são os eífeitos dessa
instituição sobre a sociedade, se
é a ruina futura com que
ameaça a família e a Nação».
Roosevelt, o eminente ex-presidente dos Estados Unidos
da America do Norte, disse « a facilidade de di-
que {lendo)
vorciar-se é, como sempre tom sido, uma maldição
verdadeira
para a sociedade, uma ameaça para os lares, a causa de muitos
casamentos mal succedidos, uma incitação e á immoralidade
grande mal, mal muito maior as mulheres». Não ha,
para
Sr. Presidente, norte-americano amante de seu paiz que não
se sinta impressionado pelo lá originado
que por se passa
pela lei do divorcio.
Na Allemanha sao muitos os teem cia-
publicistas que
mado contra o divorcio, e entre elles Bismarck,
se alistou
impressionado pelos deploráveis effeitos que essa instituição
tem produzido na grande nação refere
germanica. Glasson
quo_ ujii .i(•• rria 1
de i>er!im escrevera
que é freqüente nas es-
taçoes balnearias um cidadão encontrar-se se-
com quatro
nhoras com quem já íoi casado, de fôrma filhos não
que os
conhecem pae nem mãe.

Este estado de cousas, Sr. Presidente, não encontrar


pode
approvação de ninguém, faz lembrar aquella época ro-
pois
mana a que já me deploráveis tempos
referi, faz lembrar esses
em que as mulheres contavam, apontando com o dedo, nas
ruas, nas
praças e festas publicas, o grande numero de homens
que com o titulo de esposo se haviam succedido em seu lha-
lamo nupcial.
Ainda respondendo ao aparte do nobre Deputado por
"• T'aulo, lembro que na França, essa patria de grandes mo-
ralislas, do na sciencia,
philosophos o homens eminentes nas
'iine.i e em tudo em a intelligencia
que se pôde rendar e o
esforço humano, admittida
nas duas vezes que tem sido a lei
do divorcio, a primeira em 1792 em 1884,
e a segunda bem
lamentáveis foram e estão sendo as suas conseqüências...
456 ANNAES 1)A GAMARA

Um Sr. Deputado — A França não servir


pôde de exem-
pio na questão.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — ... no período actual.


Logo após a primeira decretação os casos de divorcio
eram contados pelo numero de casamentos, e a partir d'ahi
foram subindo, de modo que seis annos depois se registraram
divorcio» em numero superior aos casamentos celebrados,
attingindo assim a casamentos anteriores á lei.
Os efíeitos foram
que já em 1795 o Deputadotaes,
B011-
guyot na Convenção pedia que se procedesse á revisão dessa
lei, que {lendo) « entre outros males determinava o abandono
dos filhos que ficavam sem os cuidados e os carinhos paternaes,
sem a educação e o exemplo das virtudes domesticas».
Pouco depois, no Conselho dos Quinhentos, levantou-se
o deputado Regnaut de FOrne e combateu a lei do divorcio,
dizendo que ella {lendo) «favorecia a libertinagem e a de-
pravação, contribuindo assim para a corrupção dos costumes »,
e accrescentou mui judiciosamente: {lendo) «Não ha nada
de mais immoral do que permittir-se que um homem mude de
mulher como muda de casaco, e uma mulher de marido como
muda de chapéo», e concluiu seu discurso perguntando: «Não
é tornar o matrimônio joguete do capricho e do desvario,
transformando-o em concubinatos successivos?».
Ainda lovantou-se Villers reclamando a suppressão da
lei, dizendo que nada era mais que do ella contrario á moral
e á sociedade e que era um escandalo aterrador que o legis-
lador devia fazer cessar ».
Esta situação não continuar e a lei foi revogada
podia
em 1816, para ressurgir em 1884.

O Sr. Dias de Barros — As mutações da política fran-


ceza, proclamando a Republica e depois Monarchia,
a e pae-
sando novamente de Monarchia a Republica, explicam essa
mudança.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Readmitt.ido o divor-


ciopela lei de 27 de julho de 1884, começaram logo seus fu-
nestos effeitos.
Seis mezes depois se registraram 1.657, casos de divorcio-
e assim sempre crescente de anno a anno, no de 1911 attingiu
à avultada somma de 13.038 dissoluções de casamento a vin-
culo.
O divorcio é, pois, com justa razão apontado como uma
das causas males que soffre a França.
dos {Apoiados.)
Na Inglaterra Gladstone, e como elle muitos outros es-
eminentemente liberaes teem combatido o divorcio,
piritos
impressionados pelos effeitos funestos dessa instituição, que 6
uma ameaça á felicidade da familia e da sociedade, instituições
devem manter-se integras na pureza de seus princípios.
que

O Sr. Moniz de Carvalho — Apoiado.

Sr. Freire de Carvalho Filho — Dos tres systemas


O
teem sido adoptados para a separação dos cônjuges, o re-
que
8BS8Ã0 KM 23 l)E tíETJÍ&IBHO ÜB 1912 457

pudio, o divorcio o a simples separação ou desquite, é este


o tolerável em certas e especiaes cireumstancias. O desquite,
simples separação a mensa et thoro, não infringe a indissolu-
bilidade do casamento, apenas
corpos consente a separaçno dos
sem do vinculo, o que permitte aos cônjuges,
quebra quando
arrenpendidos, se reconciliarem e se reunirem de novo, com
a rehabilitação de ambos e a felicidade dos filhos. O divorcio,
porém, entre seus muitos males, difficulta o perdão, o arre-
pendimento e a carinhosa,
possibilidade de uma reconciliação
pois a experiencia tem conhecido que o odio não se apaga no
coração dos que se divorciaram.
.Encarando a questão sob outro de vista, o de ser
ponto
o casamento um contracto
dissoluvel, não menor
e
portanto
é a condemnação dessa theoria. Muito bem disse o nosso illus-
tre patrício Dr. Thiers Velloso no Congresso Jurídico reunido
em 1908: (lendo) « Ante todas as escolas de do
philosophia
direito a indissolubilidade do casamento é um ac-
principio
ceito e universal» e accrescentou «racionalistas como
que
Ivant e Hegel, protestantes como Ahrens, scepticos como Hume,
mestres da grande escola pbilosophica italiana como Rosmini
e Gioberti acceitam como
incontestável a indissolu-
principio
bilidade do casamento, apesar de sua natureza contractual».
Essa natureza contractual ó que não admitto como a querem
encarar. Admittido o inatrimonio, não como eu o considero,
um sacramento pelo qual se ligam a vida dous seres
por toda
humanos de sexo differente, mas um simples contracto, se
vô pelo estudo das leis que esse contracto não é, não pôde
ser da ordem dos contractos communs, isso sua
por que por
natureza exclue muitos dos princípios fundamentaes re-
que
guiam os contractos em geral.

O Sr. Moniz; di? Carvalho — Muito bem.

O Sn. Freire »e Carvalho Filho — Si o casamento,


Sr. Presidente, é um contracto, o 6 de natureza sui generis,
sujeito ao providencial principio da lei natural, a indissolu-
bilidade, que se impõe como regra indispensável, reconhecida
por todos os moralistas, como meio de garantir a felicidade,
a moral e a estabilidade, da família. {Apoiados.)
Bonald, em seu notável trabalho sobre o divorcio, disse
(lendo) : «O casamento não é um contracto ordinário, pois
que, annulladas as duas partes, não podem voltar ao estado em
que estavam antes do celebrai-o.
De mais a annullação desse contracto nunca será
quasi
veluntaria, a tiver manifestado o desejo
porque parte que
de dissolvel-o tirará á outra toda a liberdade de se oppor
e não lhe faltarão meios de a con-
que lance mão para forçal-a
sentir».

diz Bonald : «A sociedade domestica não 6 uma


.Ainda
tiedade commercial, cm com partes
?' que os associados entram
iguaes e da se retirar com iguaes resultados. E'
qual podem
uma sociedade, á qual o homem leva a protecção da força, a
mulher as necessidades da fraqueza; sociedade em que o ho-
458 ANNAE8
da gamara

mem so colloca com autoridade o a mulher


com dignidade, mas
da qual o homem sae com toda sua autoridade o a mulher
não
sae com toda sua dignidade, porque, de tudo quanto trouxe
para a sociedade, só pôde, em caso de dissolução, rehaver seu
dinheiro ».
O nosso illustre compatriota Dr. Thiago da Fonseca disse
no Congresso Jurídico a que já me referi {lendo): «o casa-
mento n ao pode ser considerado como um coníracto
pura-
mente civil,
porque exige sentimentos, cria obrigações de
consciência sobre as Quaes não se pode legislar».
Dise mais: «Aos que acham restrictiva a liberdade indi-
vmual, a perpetuidade do matrimonio, se deve object.ar que
a vida social e. uma serie de contiuuas restricções a essa li-
Deraaae, em beneficio da communhão ».

O Sn. Presidente —. Lembro ao nobre Deputado a


que
hora destinada ao expediente está
quasi finda.

O Freire de Carvalho Filho — Fui no começo tão


interrompido pelos senhores divorcistas,
que V. Ex., por equi-
uade, coaceder-me-ha alguns minutos mais além da hora
Jv uma íolerancia que peco.
O Sr. Presidente — A hora destinada ao expediente é
improrogavel.

OSr. Freire de Carvalho Filho — Procurarei reduzir o


muito que tenho ainda a dizer.
Bem acertado andou, Sr. Presidente, o legislador brazi-
leiro quando, promulgando a lei do casamento civil, estabele-
ceu como uma do suas condições a indissolubilidade, a per-
petuidade do vinculo matrimonial, o assim o fez pela consci-
encia do que o casamento é por sua natureza indissolúvel e
perpetuo, como ainda porque essa condição é a base
moral de
sua instituição.
Urrados andam os que negam esse principio da lei natural.
ricjite diz «o matrimonio <í por sua natureza
que perpe-
tuo, porque tal 6 o amor natural».
St.aal escreveu: «Segundo a determinação de seu ser,
como unidade completa dos sexos, o matrimonio ó indissolúvel.
união com
o proposito e com a reserva de dissolução não
entra na
concepção do matrimonio; nem a posterior mudança
de vontade o de affocto
pôde justifical-a, porque o matrimonio
deve subsistir na sua conformação moral».
Ilegel disse: <-<0 matrimonio deve considerar-se em si
mesmo indissolúvel, o fim do casamento
pois que 6 um fim
moral, o qual é tão alio quo julgo qualquer outro inferior».
ííioberti diz: «a unidade e a indissolubilidade unidas
formam a harmonia, dialectica do casamento. A polygamia o
o divorcio sao a sophistica. A ó o amor vago,
primeira o so-
giindo é o adultério disfarçado».
Macere disse na Gamara Franceza: «E' da essencia do
casamento que. pilo se.ja indissolúvel. Os sentimentos que
levam a formar esto coníracto são sua natureza dura-
por
SESSÃO 1!M 23 DE SETEMBRO DE 19Í2 459

douros: o laço, no pensamento dos que o formam, os liga

para sempre. Elles tomam reciprocamente um para com o


outro compromissos, não um dia, mas por toda a vida.
por
O conjuncto destes compromissos mutuos dâ ao casamento, na
hora innegavel do indis-
que elle
em se conclue, um caracter
solubilidade ».

Eu tenho ainda aqui a opinião de muitos outros homens


eminentes sobre o assumpto, si V. Ex., Sr. Presi-
que citaria
dente, não tivesse chamado minha attenção para a hora.
E' um facto do dominio de todos nós, legisladores, que
a sociedade braziieira não a decretação da lei de livorcio.
quer

O Sr. Pedro Lago — E' urna verdade.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — De todos os pontos do

surgem aos centos representações e mal se


paiz protestos
agita, ainda de leve, essa funesta e aterradora idóa da
que
de uma lei que faculta a dissolubilidade do vin-
promulgação
eulo matrimonial.

O Sr. Moniz de Carvalho — Muito bem.

O Sit. Freire de Carvalho Filho — Si ao brazileiro


povo
repugna a lei de divorcio...

O Sr. Moniz de Carvalho — A repulsa é nacional

{Apoiados).

O Sr. Freire de Carvalho Filho ... o que repito, ó uma

verdade incontestável, nós legisladores, delegados seus no Par-


lamento Nacional, não podemos votar essa lei que vai de en~
contro a vontade do povo,á vontade dos nossos eleitores

(apoiados) sem trahirmos o mandato que nos foi conferido


Não lia que fugir dessa verdade.
(apoiados, muito bem).
Cogliolo, discorrendo a proposito mesmo da adopção da

lei do divorcio, disse si deve indagar se o povo, quer, se


que
repugna ou não a seus costumes, si o sentimento commum de-
seja ou rejeito a lei.
O nosso illustre concidadão Dr. Eugênio do Barros, em-

bora divorcista, bem foi no Congresso Ju-


ponderado quando
ridico disse: «O legislador que não quer construir sobre areia,

mas estabelecer leis duradouras, não pôde deixar de attender


aos costumes do legislai; no raras as
povo. para que paiz _sãlo
vozes em favor do divorcio; tendo-se em consideração que
a maioria povo brazileiro
do é catholico, que os que professam
o catholicismo não toleram o divorcio, o legislador não pode
nem deve impôr estaá quasi totalidade da população
instituição
o divorcio».
porque um pequeno numero de indivíduos advoga
Não pôde, Sr. Presidente, haver nada de mais sensato e de
mais critério. (Apoiados.)
O notável nacional Dr. Clovis Bevilacquai,
jurisconsulto
o meu distinefc» conterrâneo conselheiro Felinto Bastos o tantos
outros, cujas opiniões não ler me faltar o tempo,
posso por
teom, batendo a instituição do divorcio, mostrando a desneces-
460 ANNAES DA GAMARA

'lei,
sidade da adopção desta pois o que temos na nossa legisla-

ção é bastante e está de accôrdo com a nossa indole.


E' assim, Sr. Presidente; o povo brazileiro não precisa e
não quer a lei do divorcio (Apoiados.)
lievolta-se contra ella e a repelle porque conhece o quanto
essa instituição tem sido funesta á familia e á sociedade de
muitas porque vê que o divorcio envilece a mulher, fere.
nações;
lhe no que ella tem de mais puro e de mais encanto, o piidor~
a pureza de seus sentimentos, a sua dignidade e a sua honra.
(Apoiados a não apoiados.)
O divorcio, ferindo o casamento no seu principio da lei
natural, a indissolubilidade do vinculo, viria despedaçar a feli-
cidade, a honra, a integridade da familia brazileira. E' a isso

que nos querem atirar, mas é contra esse tremendo mal com
que nos ameaça o divorcismo, que se revoltam, que protestam
o reclamam minhas patrícias, meus conterrâneos e a nação
inteira em um sentimento unisono de patriotismo. (Apoiados,
muito bem.)
Não, Sr. Presidente, não seremos victima de tamanho
infortúnio. Não, absolutamente não. pela boa sorte
Deus vela
do Brazil. No céo azul de nossa patria fulgura a protegel-a
a brilhante constellação do Cruzeiro, symbolo da redempção.
O divorcio, eu tenho fé, e como eu minhas patrícias e meus
conterrâneos, não será nunca uma lei na terra de Santa Cruz,
na grande Federação Sul Americana, na nossa patria querida,
no nosso querido Brazil. (Muito bem, muito bem. O orador é
vivamente felicitado.)

0 Sr. Miguel Calmon — Pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a pela ordem o Sr. Depu-


palavra
tado Miguel Calmon.

O Sr. Miguel Calmon (pela ordem)—Sr. Presidente, re-

a V. Ex. que consulte a Casa si consente a publicação


queiro
no Diário do Congresso do Codigo das Águas, para ser enviado
depois á Commissão Especial.

Consultada, a Gamara concede a publicação pedida.

Documento a se refere o Sr. Deputado Miguel Calmon


que

DE MOTIVOS APRESENTADA AO EXMO. SR. MINISTRO DA


EXPOSIÇÃO
INDUSTRIA, VIAÇÃO E OBRAS PUBLICAS

o terreno em que estas bases deviam ser lan-


Delimitar
foi o cuidado que tive ao iniciar o trabalho.
çadas primeiro
no seu contexto, quer
Um Codigo das Águas pôde abranger,
das aguas marítimas, quer o assumpto das aguas
o assumpto
terrestres. .
costumam se occupar de
Assim é que os mestres de direito
tratam de matéria das aguas.
ambos, quando
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 461

Entretanto, pareceu-me que o pensamento' do legislador


foi providenciar, apenas, sobre as aguas terrestres, pois é
aliique a nossa lei é atrasada e omissa, ó ahi que reina a
controvérsia, é ahi que os altos interesses economicos do
paiz
estão clamando pela necessidade da norma reguladora.
jurídica
Além disto, o assumpto das aguas marítimas entende mais
com o direito internacional e com o direito commercial, fl-
cando um menor trecho para o direito civil.
E, pelo que respeita ao direito commercial, o Governo da
Republica, em recente mensagem dirigida ao Congresso, sa-
lienta a necessidade de se rever o eodigo vigente.
As bases que apresento eingem-se, pois, ao assumpto das
aguas terrestres.
E exc'lúo deste trabalho tudo o se relaciona com o
que
direito internacional.
Excluo ainda, não só as aguas mineraes, como o regimen
das aguas pelo que respeita ao caso da mineração, assuinptos
estes de que deve tratar um codigo especial, conforme os
termos da autorização legislativa.

E' bem de ver-se que o Codigo das aguas ha do ser, real-


mente, um Codigo, o não uma consolidação.
De 1'aeto; consolidar o que?
O que possa existir no Direito Romano?
O que possa existir nas Ordenações?
O que possa existir na pobreza de nossa legislação?
Certo que não.
Mais: nem ha respigar, entre nós, na doutrina e na júris-
prudência.
A; doutrina ainda é a obra de Lobão !
E o que seja esta obra, mesmo para a. sua época, póde-se
julgar pela seguinte passagem Ao Alexandre Iíereulano:

«Este homem» diz o emérito escriplor, referindo-se a


Lobão, «escreveu
primeiras nas
décadas deste século, em odio
da grammatica e da língua, uma pilha de volumes refertos de
erudições gravíssimas, pesadíssimas, pedantissimas, onde o
pró e o contra das opiniões dos jurisconsultos si* acham accuniu-
lados por tal arte, que a leitura dessas dezenas de in-quartos é
o meio mais seguro de se não saber qual é o verdadeiro direito
na maior parte das matérias jurídicas ». (1).

A. jurisprudência está por se. fazer.


Assim, é mister que ae constitua o nosso direito das aguas;
a obra legislativa tem de ser de ereação desse direito.
E, para tanto, indispensável é o exame do assumpto na
legislação dos povos cultos, onde, modernamente, o regimen das
aguas tem estado em activa elaboração.

'pag.
(1) Apud Assis Teixeira, Aguas, 17.
462 ANNAES DA GAMARA

Foi trabalho que mo impuz.


Hauri nesta fonte quanto me pareceu conveniente, para
adaptar á tradicção de nosso direito, organizando as bases de
um Codigo, que correspondesse ás necessidades economicas e
sociaes do momento.

Como de direito, as cousas, em relação á sua propriedade,


dividem-se res nullius (na accepoão ampla) e res alicujus.
A'quella classe pertencem, dentre outras, as cousas com-
muns, isto é, as de que cada um usar e gosar,
pôde o cujas
partos iridividuaes se podem adquirir, mas nunca em sua tota-
lidade. (2).
À esta classe, a das res alicujus, as cousas
pertencem pu-
blicas e particulares.

Dividem-se as cousas em:


publicas

a) cousas de uso commum e


b) cousas patrimoniaes.

As cousas patrimoniaes podem, por disposição de lei,


tornar o caracter do cousas do uso commum e vice-versa. (3).
Estas cousas ainda podem tomar o caracter especial de
industriaes, ou sob a fôrma de monopolio ou de livro con-
currencia. (4).
As cousas de uso commum constituem, verdadeiramente,
uma propriedade do Estado; não se verifica, na liypothese, uma
simples relação do tutela, de administração ou do direito sui
generis, ao menos, como entendia a escola antiga.
A lição de Mcucci 6 completa a respeito.
Ao Estado, na sua accepção
própria e technica de povo
organizado, pertence tanto a
propriedade como o uso destas
cousas; com a única differença do que, em relação á proprie-
dade, que <5 direito, o Estado se considera como unidade
abstracta, em relação ao uso, que é um facto, como eollecti-
vidade concreta. (5).
Accentuar estas noções, tel-as sempre em vista, <5 de sum-
ma importancia na matéria, pois ú confusão dellas se deve,
em grande parte, o tumulto que reina geralmente na legisla-
ção das aguas, difficilima já, por si mesma, em virtude da
imprecisão da nomenclatura hydrographica.
A agua corrente, sob um certo aspecto, constitue-se cousa
commum.

(2) Mackeldey, Corso di Diritto Romano, § 170.

(3) Carlos do Carvalho, Consolidação: art. 197 § 3o.

(4) Art. cit. § 4o.

(5) Méucci, Instituzionc di Uirilto Administrativo, pa-


gina 339*
SESSÃO EM 23 D1C SETEMBRO DE 1912 463

Assim é das lustitutas e do Digesto.


1 }Ure communia suns hccc: acr, aqua profluens et
tnarc{g"

a E
confusão que pairava na exegese dos textos cessou
e
yen com a límpida explicação r>: V.iuio, acceita pelo nosso
eminente Teixeira de Freitas. (7).
E' cousa commum a agua considerada physicamente e
como elemento da natureza;
o rio é sempre res alicujus.
E loi com este critério
que Teixeira de Freitas formulou
o $ b" (1(3 art.
Esboço,3^8 de seu
impondo á agua corrente de
propriedade particular uma servidão publica « de uso para as
primeiras necessidades da vida, se houver caminho publico
que a faça accessivel».
Eis como se explica o art. 1» do Codigo.
Eis ainda, como se explica o art. 2o, que transplantei do
Código Civil Portuguez.
Assumpto de maior realce, neste trabalho, me pareceu,
uescie logo, a classincaçao das aguas em publicas e particulares.
Estudarei agora as aguas de uso commum, tratando, em
primeiro logar, das correntes.
O direito romano deixou norma sobre a matéria.
Lram, alli, de domini-o publico as correntes perennes e
volumosas.
Improcede, como demonstrei em outro trabalho (8), a
contradicçao que os exegetas teem apontado entre os fragmen-
tos de Marciano e de Ulpiano, no Digesto e o preceito das
lnstitutas.
Este domínio não constituía, porém, um direito régio; era
o domínio da cousa publica de uso commum.
O regimen feudal alterou,
a norma romana. todavia,
Assim que, o «confundindo
direito de soberania com o
direito de propriedade, os cursos de agua entraram também
para o patrimonio do príncipe, e foram enumerados entre os
direitos régios ».
E, « cm eonsequencia das lutas entre principes e feuda-
tarios, distinguiram-se os rios navegaveis dos não navegaveis».
«Os
primeiros o ficaram
domínio do reservados
para
príncipe; os segundos, bem como os seus respectivos leitos,
foram submeti,idos á alta .justiça dos senhores,
que delles go-
savam como donos, dispondo ainda dos mesmos mediante con-
cessão a particulares ».(9).
Derrocada que foi a feudalidade, aquelles voltaram para
o domínio do Estado.

(0) § 1°, 1, dc div. ver. (2, 1) fr. 2, § 1° D. de div. rer.


(1,3) •

(7) Dou rios publicou e particulares, pag. 14.

(8) Op. cit., pag. 16.

(9) Pacelli, Acque Publique, pag. 5.


464 ANNAES DA CAMARA

E o espirito da revolução ampliou este dominio, fazendo-o


comprehender as correntes 1'luctuaveis.
O principio generalizou-se.
São. publicas as correntes navegavéis ou 1'luctuaveis: eis
a norma, preponderante na legislação moderna.
(10).
E, si lia leis que se afastam deste não é,
principio, em
regra, com o intuito de restringir a comprehensão do dominio
publico, sinão de amplial-a.
Ainda sao as Ordenações do Reino o assento da matéria,
em nosso paiz !
O monumento Felippino, inspirando-se na lição do direito
feudal, deixou expresso:
Pertencem aos direitos reaes «as estradas e ruas publicas,
antigamente usadas,_e os rios navegavéis e de
os que se fazem
os navegáveis, si são caudaes corram ern todo tempo.
que
E, posto que o uso das estradas o ruas publicas dos rios seja
igualmente comraum a. toda a gente, e ainda a todos os ani-
mães, sempre a propriedade delles fica 110 real».
patrimonio
(")•
A Constituição do Império definindo, os direitos
porém,
e prerogativas da coroa, revogou, nesta o principio da
parte,
Ordenação.
E desde então os direitos reaes o dominio
passaram para
publico.
Mas, como entender o texto da Ordenação?
Quaes os rios que fazem parte do dominio publico?
A exegese não é fácil.
Já explanei o assumpto ern outro logar. (12).
Pareceu-me, porém, o ainda me o texto si-
perece, que
leneiou em relação aos rios não navegavéis, e não são
que
caudaes que concorram para que o outro rio seja navegevel.

Assim, ha, pelo texto, duas classes do rios públicos:


fi) ii.-;
que são navegavéis e
0) aquelles de que se fazem os navegáveis, si são caudaes
que corram em todo tempo.
E' certo que Almeida e Souza enxergou uma duvida, que
lhe pareceu antinomia, 110 texto da Ordenação.
Assim que, depois de haver proclamado que são direitos
reaes, isto é, propriedade do os rei,
de os rios navegavéis e
os navegavéis, concluo o lexlo que o uso dos rios
que se fazem
seja igualmente eommvm a toda a gettíe, ficando sempre a
delles no real.
;propriedade patrimonio
Entendeu Almeida e Souza solver a supposta antinomia,
e, com o seu habito de torturar o texto, explica que o legis-

(10) Oreste Renoletti, Conceito, Natura e Limiti dei Do-


minio Publico, pag. 51.

(11) Ordenação, Liv. II Tit. XXVI, § 7".

(12) Dos rios públicos e particulares, pag. 18 e segí.


SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 465

lador, na ultima clausula, só tornou commum o uso dos rios


não aavegavois, que não eram reaes direito leudal, e fez
polo

sua a propriedade delles; e, aos navegaveis, reservou
quanto
para si o pleno arbítrio! (13).
O illustre visconde de Seabra esclarece, de um
porém,
modo convincente o dispisitova legal.
O texto de^ que se trata, pondera elle, veio copiado lit-
teralmente do Código Manuelino, para onde tinha passado, da
mesma fôrma, do Codigo Aííonsino, e para este da declaração
dos direitos reaes formulados por D. Duarte.
A uma subtileza de Ituy Fernandes, que foi o relator desta
declaração, se deve o attribuir-se a toda a gente o uso dos
rios que pertenciam ao patrimonio regio, isto é, os navegaveis
e os de que se_fazem os navegaveis.
A distineção entre o uso e a propriedade de uma cousa,
cuja utilidade consiste toda 110 uso, foi um modo
que encontrou
o jurisconsulto de conciliar a doutrina das leis imperiaes com
as tendencias feudaes da monarchia.
Dos rios não navegaveis, explica ainda o visconde de
Seabra, não tratou Ituy Fernandes, não levantar contra
para
si os clamores dos senhorios, menos indulgentes do o
que pro-
prio monarcha.
E' bem certo, pois, que o texto da Ordenação silenciou em
relação aos rios não navegaveis.
Aliás, parece ser esta a exegese de Teixeira de Freitas. (14).

A legislação moderna, como deixei dito, quando se afasta


do principio de que são publicas as correntes navegaveis ou
fluetuaveis, é para ampliar o dominio publico.
Realmente, este dominio tende a se expandir.
Os interesses da industria e da agricultura não encontram
solução nas formulas da lei antiga.
Já se levanta a questão da opportunidade de ser mantida,
em uma nova lei de aguas publicas, a preeminencia do uso
da navegação.
O illustre Gianzana, que, como o primeiro, delia tratou,
responde negativamente.
Tal preeminencia, entende elle, «justificava-se quando
poucas vantagens se tiravam das aguas para a industria e para
a agricultura, e não sendo fáceis as estradas, os rios consti-
tu iam o meio mais commodo e economico de transportes; mas
não hoje que a navegação sobre os rios tom pouca ou nenhuma
importancia, em confronto com os novos meios de transporte,
de espeeie íerro-viaria: e, por outro lado, sempre maiores são
as utilidades que as aguas proporcionam á industria e á agri-
cultura ».

•(13) Tratado ãas aguas, 6, 10.


pag. §

(14) Vide nota 13 ao art. 52 da Consolidação.


Vol. X 39
46tt ANNAlífcS UA GAMARA

Como Pacelli, direi «a mim basta ler acenado para a


deixando aos cultores da sciencia economica e da
questão,
technica hydraulica o encargo de resolvel-a ». (15).
Além disto não me era licito consagrar a innovação neste
trabalho, pois a tanto se oppõe o obstáculo da Constituição.
Esta. nssentou a preeminencia da navegação. (l li).
Entretanto, ao lado do uso da navegação, o dominio pu-
Mico se deve desdobrar, quanto possível, para a solução dos
interesses ligados, hoje, ao reginien das aguas.
grandes

Assim:

Na Hesnanha, onde a matéria se rege pela lei de, 13 do

junho de 1879, combinada com o Código Civil, não importa á


classificação das aguas publicas o facto da navegabilidade ou da
íluçtuabilidade.
Ao dominio privado pertencem, alli, exclusivamente, as
aguas continuas ou descontínuas que nasçam em terreno de

um emquanto ellas não transponham os seus li-


particular,
mitos, e o curso dos regatos que não atravessem terreno per-
tencente ao dominio publico. (17).
Na Suissa, segundo attesta H. Pascaud, só o cantão do

tilaris 6 que classifica os pequenos cursos de agua no dominio

privado. (18).
Nfi ltalia ha muito que o systema legislativo 6 pela am-

pliação do dominio publico.


O Codigo Albertino, á imitação das constituições piemon-
tezas de 11 de de 1729 e das regias patentes de 29 de
julho
maio de 1817, declarou públicos todos os rios e torrentes, sem
distinguir os navegáveis dos não navegaveis.
E o Codigo vigente consagra a mesma disposição. (19).
No Chile, são do dominio publico os rios e todas as aguas

que corram por alveos naturaes.


Exeeptuam-se as vertentes que nascem e morrem dentro

de uma mesma herdade; a


propriedade, uso e goso dellas per-
tencem aos donos das margens. (20).
Na Republica Argentina, o dominio publico comprehende os
rios c seus alveos, bem corno todas as aguas que corram pelos

alveos naturaes. (21).

(15) Op. cit., pag. 98.

arts. 13 e 34, § 6*.


(16) Const.,

Pascaud, La Houille Blanchc, pag. 40.


(17) H.

cit., pag. 33.


(18) Op.

op. cit., pag. 20.


(19) Pacelli,

Civil, art. 595.


(20) Codigo

r Civil, aít. 2.340. n, 2.


(21) Codigo
SESSÃO EM 24 D10 SKfEMpo DE 1012 467

Estabelecido, corno ficou,


. que o texto da Ordenação Fillip-
pma não trata dos fios não navegáveis, a
estão que regimen
olles subrriettidos
pelo direito pátrio?
regimen do djróito romano, conforme
_Ao quando com a
razão, com a equidade,- Segundo
determina a lei de 18 do agosto
qe J
Ora, o domínio publico era bem esto direito.
amplo, por
Imii synuiese, conforme o preceito das Ínsíitutas, todos os
rios epam
públicos.
E, por exclusão, se deixava accentuar a significação da
palavra no.
Assim,, delia se excluía a torrente,
• . que corre apenas do
inverno (hiemes fluens)', bom como o ribeiro,
pois o rio deste
se distingue pela volumosidade ou pela opinião dos vizinhos
(niai/intndine au existimatione eircumcolentium).
O u.so da navegação não constituía,
pois, o critério exclu-
sivo para se caracterizar alli o dominio publico sobre os rios,
smflo ainda o interesse publico geralmente ligado ao uso
delle. (23).
E a opinião dos vizinhos, erigida em subsidio para a
caracterizaçao deste dominio, deixa bem claro que a elle não
devia repugnar a comprehensão dos rios fluetuaveis, que ser-
vein a uma utilidade de interésse-commmn,
quál seja o tran-
sporte.
O domínio publico estende-se, aos rios
pois, fluetuaveis.
E o que se collige, aliás, dos seguintes textos de Ulpiano:
Quominus illi in flumine publico navem, ratem age-
rc... (23).
Naviyii anpeUationc ctlam rates continenlur;
quia pie-
runiquc, et ratium usus necessarius est. (24) .
Certo, a navegação considerada technicamente é de duas
especies: navegação propriamente dita e a fluctuação.
Mas,
.juridicamente, diz Giorgi, esta distineção de
carece
importancia. (25).
Accresce que, na legislação moderna, só na Prússia, polo
que pude ler, o que o dominio se restringe
publico ás correntes
propriamente navegáveis.
O
principio da Ordenação deve se estender, aos rios
pois,
fluetuaveis.
Modifico, assim, a opinião que emit.ti em outro logar.(20).
Sejp desconhecer a existencia de correntes de dominio
privado, pelo nosso direito vigente, entendo, agora, que o do-
niinio publico se estende ás correntes fluetuaveis.

(22) Pacelli, op. cit. <5.


pag.

(23) Fr. Io, D. in 14)..


flumine publico (XLIII,

m) Er. 1", § 14, D. cie flumin. (XJL.IIJ, 12).

(25) Doutrina delle Persone Giuridiche, vol. III, n. 170,


pag. 380.

(20) Dos rios públicos e particulares, 44.


pag.
1
468 ANNAES DA CAMAHA

Assim, do estado actual do direito pátrio se devem con-


siderar públicos os rios navegaveis ou íluctuaveis e aquelles
<U) que os mesmos se fazem, si são caudaes que corram em
todo o tempo.
A ciasse — rios
esta segunda de que se fazem os navegaveis
ou íluctuaveis — as desaguam
pertencem correntes, que em
ponto em que um rio ainda não é navegavel ou íluctuavel. (27).
E, com esta doutrina, o dominio publico sobre as aguas
correntes adquire considerável extensão, podendo resolver in-
tcresses diversos.
elaborado
Embora no molde clássico da navegabilidade, o
principio do dominio publico se extenderá ás correntes flu-
otuaveis, collocando-se assim o nosso direito á altura da maior
parte das legislações modernas.
E, por outro lado, estará mais adeantado do que as mais
àdeaníádas legislações sobre aguas,
porquanto ao passo que,
mesmo perante estas, couto na Itália, ainda se levanta questão
sobre a dominalidade das correntes de que se fazem os rios

públicos, o principio está plenamente consagrado no direito

pátrio.
Assim, não acho inconveniência em se acceitar o moldo
clássico de nosso direito, com a ampliação que lhe dei.
Apenas, é mister, como eonsectario da ampliação feita,
alterar principio da
o Ordenação, estabelecendo-se, agora, que
as correntes de que se fazem os rios navegaveis ou íluctuaveis,

para que se reputem de dominio publico, basta que sejam

perennes, e não, ainda, eaudalosas.


O Codigo não fará, desfarte, obra revolucionaria; o os
interesses da industria o da agricultura terão ahi ampla con-
sagração.
De facto, a expansão do dominio publico, conseqüente ao

principio assentado, serve parallelamente a estes interesses.

E, estabelecido, nesses termos, o principio do dominio pu-


blico sobre as aguas correntes, abstive-me propositalmente,
de definir o que seja a navegação ou a fluctuaçâo.
Aos profissionaes incumbe o exame da matéria.

O Código não devo se constituir um obstáculo a que este

dontinio se dilate, com o desenvolvimento que a sciencia hy-

draulica possa dar ao regimen do transporte.

Conhecido o espirito do Codigo, a sua applicação se' fará

e a opposição dos particulares terá, na opinião dos


segura
sentença dos seu direito. Tribunaes, a garantia de
peritos e na
Certos, em outros paizes, a deliminação das correntes pu-
levantados,
blicas se faz por meio de cadastros periodicamente
em virtude das constantes alterações que se operam no regi-

men das aguas.

Op. cit., pag. 25.


[[21)
sessão em 23 r.n setembro de 1912 469

Este expediente, porém, não ter, entro nós, senão um


pôde
valor administrativo: não nem
puramente augmenta, diminue
0 domínio ou o domínio
publico particular.
De facto; não ha, pela nossa Constituição, o Contenciosa
administrativo. (28).
E' ao Poder Judiciário incumbe dirimir as
que questões
sobre o dominio das aguas.
E os cadastros teem, apenas, um effeito declarativo e não
creador do dominio das correntes, nelles se inscrevem.
que
E' errônea, como demonstra Pacelli, a doutrina de Tiepolo,
do ijuo a inscripção no cadastro constitue, o curso da
para
agua. o seu destino legal ao uso publico.
Este dominio publico pôde se originar de uma dupla causa:
destino necessário, destino accidental.
No primeiro caso, sim, como na hypothese de fortalezas
e edifícios públicos, cujo dominio da
se origina do acto livre
autoridade, que sancciona o destino
ao uso publico ou do pro-
prio povo que usa e gosa dos bens.
(29).
Assim, reduzindo o systema
por cadastros a sua verdadeira
significação, não passando o mesmo de uma simples medida
para a vida interna da administração, entendo elle não
que
deve ser «msagrado no Codigo.
Qual, agora, a providencia a tomar em relação aos cursos
dagua que não se comprehendem no estabelecido?
principio
Deixal-ios no dominio publico
Trazel-os para o dominio
publico?
Eis a que no
questão momento, se debate em todos os
paizes cultos, virtudeem principalmente dos enoi'mes inte-
resses que se prendem ao caso da energia hydro-electrica.
Uma solução intermedia, parece-me, resolve a questão.
Deixar no dominio privado as correntes só a elle
que
interessam, trazer para o dominio aquellas
publico que, real-
mente, forem de interesse publico.
Este interesse culmina, quanto A industria, no caso da
hulha branca, a agricultura,
quanto no caso da irrioação.
O dominio
publico, entendem alguns, se impõe como regra
em relação a estes cursos, porquanto, deixados no dominio
particular^ elles podem ser irregularmente aproveitados, ou,
mesmo, não ser aproveitados, e isto com grande damno para
a vida economica do paiz.
Em primeiro logar, ó bem vasto, e abundantíssimo dé
hulha branca, o numero de cursos de agua nosso di-
que pelo
reito vigente, de accôrdo com a interpretação lhe dei, e
que
com a ampliação que fte ao mesmo, se enquadram no dominio
publico.
Em segundo logar, não ha temer o aproveitamento irre-».
guiar pelo dominio privado.

(28) Vide Tribunal dc Contas, publicação inserta no Jor-


r\al do Commercio de 6 de outubro de 1906.

(29) Acqve Publichc, pag. 113,


470 AN NA ES DA GAMARA

Esle domínio, no aot.ua! estado da evolução do direito,já


não se apresenta, com arestas que possam magoar o interesse
colleçtivo.
Passou o momento romano; o, com elle, o individualismo
do direito.
E' bem certa a lei de Gimbáli.(30).
A evojucão do direito privado tem ires
percorrido phases
successivas:

o) a fôrma
primitiva de confusão e de completa absorpção
do elementoindividual no elemento social, confirmada, por
outro lado, na ordem cconomica, ausência completa de
pola
qualquer industria;
b) a fôrma secundaria de distincção e de completa eman-
cipação do elemento individual do elemento social, na
qual ap-
parece e se desenvolve, em altográo, a pequena industria;
c) a fôrma ultima de reconciliação e de reintegração do
elemento individual no elemento social, coeva do desenvolvi-
mérito gigantesco da grande industria.

liste 6 ojiosso momento.


Assim, não repugna ao direito privado, que se regule o
seu exercício, de modo a garantir o interesse da conectividade.
E mais dccentuada se torna esta nectessidade, na hypothose
do rogimen dás aguas.
E' um regimen especial, o da. propriedade particular dos
cursos d'agua.
Ceirlp, cila 6 uma propriedade particular; d;í direitos,
escreve Lriurent, mas direitos limitados pelo direito igual dos
outros rineiritihos. (31).
Assim só explica o direito de itispecção e de autorização
que, sobre estos cursos, exercia a administração publica, na
vigência do líttperid, segundo attesta Yeiga Cabral. (3.2).
E o mesmo se observa na França e na Bélgica.

Examinarei, agora, o caso do não aproveitamento dos


cursos de agua.
Como providenciar contra a resistehcia dos ribeirinhos?
Relativamente á utilização da hulha branca, a principio,
o industrial não tinha difficuldade em se acconímodar com os
ribeirinhos, que o eram originários e Verdadeiros; agora, en-
contra, porém, vim obstáculo formidável, neste gênero de cs-

pecülaçãd, que constituo a industria dos barreurs.(33).

(30) Enrico Cimbali, La Nuova frásc dei tíiritto Civüe,

pag. 15.

(31) Droit Civil Français, vol. VI, n. 19, pag. 35.

(32) Direito admihiiiràtivó, ftag. l5á.

(33) Concelle e Dardíirt, Legislatioh des Eauk, pag. 154.


SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO Ulá 1012 471

São os (Mravessadores, que adquirem uma pequena par-


cella de domínio sobre os cursos d'agua, impondo, mais tarde,
ao industria], a sua aoquisição por preço exorbitante.
Ao pude observar, tres são os principaes systemas,
que
creddds corri o intuito de arredar este obstáculo: o systema
das concessões, o da licitação o o das associações syndicaes.
O svsteiiia das concessões foi
primeiro o lembrado.
E' o regimeii da desáppropriação por utilidade publica,
de qualquer quéda daguà, capaz de produzir um certo mínimo
de energia electriea.
Assim, o 1'acto único da da energia bruta e
producção
mínima de uris tantos cavallos-vapor, em estiagem média, con-
stitue, por este systema, titulo bastante de utilidade publica,
para impor a desapropriação da levantando-se, sobre
quéda;
os escombros da propriedade particular, a íigura do conccssio<-
nariá i
E qual o minimo de energia, a produzir, que uma
para
quéda de agua seja considerada de interesse publico?
Não poderão responder, por certo, os do sys-
partidários
tema, que assenta, incontestavelmente, no arbítrio.
O systema parte, além disto, de um erro fundamental.
E' bem verdade que a desapropriação por utilidade pu-
blica constituo uni indispensável instituto de defesa do inte-
resse social.
«A propriedade, além do direito, e mais que simples di-
reito individual», diz Cimbali, «é uma grande 1'uncção social,
pelo que só pôde e deve ser realizada por quem possúa e con-
serve intactas as condições de que ella se origina, e que sómente

possa ol'1'erecer garantia segura de um exercício legitimo e fe-


cundo de úteis resultados». (34).
Mas, é mister que se constato que o proprietário não queira
ou não possa realizar, na sua propriedade, aqUelle melhora-
mento que a sociedade lhe impõe, para que a desapropriação
se justifique.
A não ser assim, diz ainda o eminente Cimbali: «ella será
uma .espoliação s>, (35),.
Ora, qualquer systema que possa resolver o problema,
dentro das normas que rege dominio privado, é sempre mais
o
réçomrriendavel do que o systema das concessões, que tem como
regra a desapropriação. .
Assim, mais é o da hei-
acceitavel do que este systema
'tação. i
do di-
E' o syslema apresentado por Michoud, professor
reito administrativo na Universidade Grenoble.
de
Elle do da individualidade da queda, que
parte principio
comocousa indivisível, é licitavel, conforme a regra de direito

commum.

(34) Op. cit., pag. 189.

<35) Op, cit., pag. 100,


472 AXNAES DA GAMARA

H. Pascaud sustenta galhardamente esta indivisibilidade:


«Na liypothese de um declive muito restrioto produzindo
com a agua corrente que o segue, um começo de queda d'agua.
a qual outros declives sucessivos venham dar o desenvolvimento
industrial necessário para a constituição de uma usina, 6 im-
possível determinar em que media o alveo, o declive e a
agua corrente contribuiriam para. o nascimento da quéda. E'
por um 5o. um 10°, um 20" que cada um dos ribeirinhos ahi
participou? Não poderia precisar... seNão menos do a
que
agua que corre, o aiveo que ella percorre, o declive que ella
segue, são insusceptiveis de medida, o é materialmente im-
possível precisar em que proporção estes diversos elementos
participaram da producção da queda d'agua ou que elles se
considerem como de um mesmo proprietário ou como do di-
versos ribeirinhos do curso dagua. Consequentemente, a uni-
dade queda não é susceptível de 1'raccionamento entre os ri-
beirinhos; todos contribuíram para o seu nascimento e teem
direitos indivisos sobre ella. Co-proprietarios da quéda de
agua, os ribeirinhos se acham na situação de todos aquelles
que possuem em commum direitos indivisos, que por sua na-
íureza, e pela impossibilidade physica, scientifica e jurídica
de se separarem em fracções distinctas, obrigam á licitação.
Ainda quando em exploração, a quéda de agua não se
pôde dividir; é, com effeito, a força motriz produzida que se
torna divisivel ». (36).
Entendo, pois, que a indivisibilidade da quéda da agua
está perfeitamente assentada, na explicação de Pascaud.
TJina objecção, porém, se oppõe ao systema.
Pretendem alguns que a quéda d'agua não é licitavel, pois
_
«não está nopatrimonio dos co-licitantes com todos os sexis
attributos e modos de ser essenciaes».
Para estes, « a
queda d'agua não terá valor como força
motriz, senão quando utilizada por trabalhos apropriados».
Ha, entretanto, nesta apreciação, um grave erro eco-
noinico, como accentúa Pascaud.
A apropriação pela industria não crèa nenhum valor: o
valor preexiste na agua corrente e sua quéda, em estado latente.
«A industria se limita a pôr em relação o valor preexis-
tente, a empregar os processos necessários para tiral-o da
agua corrente e sua quéda, e descobrir, para estes dous ele-
mentos da força hydraulica, os usos novos adaptados ás neces-
sidades industriaes de nossa época».(37).
Explicado, assim, o systema, assim é bem certo que elle já
tem assento no direito pátrio, pois é sempre licitavel a cousa
indivisível. (38).

(36) La Houille Manche, pag. 10.

(37) Op. cit., pag. 10.

(38) Teixeira de Fneitas, Consolidarão, nof. 26 ao ar-


tigo 1.166.
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 473

iA licitarão, porém, dá logar a perigos, apontados por Pas-


caud, contra os quaes é mistér estabelecer na lei certas pro-
videncias, em grande parte, por elle mesmo lembradas.
Um dos perigos a evitar é a arrematação por preço mi-
seravel.
A lei não deve permittir que ella se faça, nunca, por preço
inferior ao da avaliação.
A altura d'agua,
da em relação a cada propriedade,
quéda
não deve único
constituir
o elemento de apreciação para se
estabelecer o preço da licitação; a privação, para os ribeirinhos,
de outras vantagens, como a da agua, do leito,
propriedade
de seus productos, etc., deve ser levada em linha de conta.
O não emprego do direito licitado, dentro de um prazo
razoavel, ao uso que determinou a adjudicação, importa em

uma inobservância das condições da venda, prejudica o inte-

resse geral.
Assim, verificada esta hypothese, deve-se proceder a nova
adjudicação, a requerimento de interessado, ou do
qualquer
representante da administração publica, perdendo o adjudica-
tarioa differença entre- o preço da primeira adjudicação e da
revenda.
Um outro que é mistér conjurar, é a facilidade da
perigo,
sobre-licitação.
Estabelecido o principio da indivisibilidade da quéda, liei-

tando-se hoje os direitos de ribeirinho na montante de um

curso, amanhã podem os ribeirinhos da jusante, cujos direitos


são indivisíveis dos primeiros, vir, por sua voz, provocar uma

licitação e englobar, nos direitos a licitar, aquelles que uma


adjudicação precedente tenha attribuido a outros ribeirinhos.
A sobre-licitação, accentúa Pascaud, é uma consequencia
lógica do principio da indivisibilidade.
Aliás, assim o exige o interesse da industria.
E' forçoso concluir, que no diz
interesse eco- ainda elle,
nomico daproducção de um paiz, uma usina de 1.000 cavallos-
vapor contribuirá mais efficazmente para o bem da industria,
fazer cinco outras usinas do 200 cavallos.
do que o poderiam
Entretanto, é mistér que as sobre-licitações não se sue-

cedam com facilidade, não se façam a jacto-constinuo, si assim

se prtde dizer.
certa estabilidade na ex-
E' preciso que se assegure uma

ploração industrial.

Suggere Pascaud, com este intuito, as seguintes provi-


dencias:

a) Durante após a installação de uma usina,


dous annos,
o adjudicatario não poderá ser sobre-licitado.
sé fica em con-
Com esta providencia não o adjudicatario
dições apparelhar a sua usina, de modo a poder
de melhor
obter por ella maior indemnização, como de se preparar para
concorrer caso modificar e esten-
à sobre-licitação, pretenda
der a sua exploração industrial. _
b) A sobre-licitação não se poderá fazer, sinao quando a
47i ANNAÜS i)A CAMÂRA

usina a insta liar seja de força motriz, polo menos cinco vezes
superior, á da antiga usiníi.
Realmente, a sobre-licitação não se justifica, quando ré-
clamada por mesquinhas vantagens, que Hão compensam a
instabilidade industrial, que cila determina.
e) A indemnizacão a se pagar ao adjudicatario sobre-lici-
lado será em dinheiro ou in natvra, á siia vontade.
d) Quandd in natitrá, ella consistirá fettl uma quantidade
de energia electrica, pelo menos igual ú que o proprio adju-
dicatario sobre-licitadò produzia anteriormente, cada aniio.
r) K,
para máior garantia deato direito, se deve constituir,
a beneficio do iinmove.l sobre-licitado; umd servidíltíj grdvatido
a nova usina, de preferencia a quaosquer outros fornecimentos

que a mesma usina tenha de prestar.

Éálas medidas se impõem Ibdris ellas, pois tendem a asse-


gurar a estabilidade, da exploração séria o effectiva, tornando

possível, prdfieiiniéiíte, a sobre-licitação si'» lio Caso de um

gi-aiide e legitimo interesse iríaüsjtrial, e garantindo o menor


sdcrificití o adjudicátario ( sobre-licitado.
jiará
Uiii pbrigd sè desüotiCe 110 systema.
Butro
Assj.m que, a licitação pôde assumir uma extensão exces-
sihi, abrangendo; muitas vezes, a qudsi torttlidâde de um curso
d'ag.ua, de tal arte que, em vez da licitação da queda, se pre-
teima abüsivailiente a iipitaçaO do proprio curso.
Não liÜ (iesbonhecbl-o.
Más, o processo de licitação pode sfer cercado do cautelas,
de inodo á cercear o abuso.
Kín priHibli-o logar, d licitação é inaterid contenciosa, qtie
tem de ser dirlniidh pelos tribunais.

Estes hão do
resolvei coin pleito. conhecimento do causa,
examinando as que forein apresentadas pelo licitante,
plantas
ouvindo a opposição dos licitados, e determinando as dlligen-
cias fluo se fizerem necessárias.
ÍJiU segundo logar, a administração publica permanece
armada com
o sou direito de inspecção e do autorização, ao

qual anteriormente alludi.


A licitação attende a uma situação do direito privado.
Ella assegura o direito do adjudicatario, em relação aos

outros, ribeirinhos licitados, mas não affecta os interesses da

administração cujos direitos so conservam intactos.


publica,
Assim, o processo de instrucção e preparo da licitação pode
ser coiifbrídB il adfninlstrdção pública.
E esta dualidade do attribuições entre as autoridades hdhrii-

nistrativas e judiciarias, rião contraria aos princípios do direito.


E', aliás, o qU'e se {mítica entre ntts, no caso da dCsdbro-

priação por Utilidade pública.


Com este systemd, a administração poderá oppOr, desde

logo, o que entender, em virtude do Seu direito tíe inspecção

e autorização; é estará sempre presente á licitação, para trans-


uti-
formar o seu processo em processo do desapropriação por

íidade quandb esta se apresentar no caso.


publica,
sessão EÜ 2.1 Be SEtE-vaiio de iOiâ 478

O systema das associações syndicaes ê, em principio, o

que melhor resolve a qüfestilò.


Fj o regimen do rohsorno dfrpUcádo ao casp da energia
hydrb-eléctHca: e foi lembrado Hauriòh, professor 11a
por
faculdade de Toulouse, e Ader, engenheiro de poiltes e cal-

çíidns.
tl as associações Se podeiri orgttniáar tanto para a expio-
raçiltj das minas électricd»; como ;t Venda ou arrenda-
para
liicíUb
das quedas do agüa, âritbs íriesttio que estas tenham sidò
explobitlas.
São evidentei; fíols, as vantagens do systema.
De um lado, o sindicato tem o preciso elasterio, para que
o aproveitamento da se realize em maior tomo, como
quéda
convém á ordem ecopomica; de outro lado, ficam os ribeirinhos
fcbrri o direito de decidir sobre sells propfiòs interesses.
Mas, o systema encontra, entre nós, obsta-
praticamente,
cülos conhecidos.
Em logar, a difficuldade o syndicato, em
primeiro para
obter eâpitaés com qile realizo á explbráfcãd da uzina, serviço
este de custosa installação; em segilíiüo logar, a prevenção de

nossos rlbeirhllioS cbiltra o regimen de assòbiação.


Assim,, entendo com Pascaud que o systema das assôciaçocs
syndirács dbvc síü' íhiceito,
provisório apenas, a titulo
O Codigo admittirá que se constituam, obrigatoriamente,
estas associações; mas, si dentro de certo prazo elIas não liou-
vét-eiri iniciado a Exploração das uzinas, ou vendido ou arren-
dado as de iigüa, niesiíib não exploradas, ficam dissol-
quedas
vidas pleno direito.
de
Entrará, então, em pleno vigor, o systema puro e symples
da licitação.

Relativamente á irrigação, o nosso regimen de dominio

particular dos cursos de ngua é sufficiente para prover aos


interesses nonnaes da agricultura.
Á propriedade agrícola aiiidà não se acha demasiado re-
talhada,, e o iiagello da secca impera, apenas, em certas zonas
do território nacional.

Os í-asOs espebiaos, desapropriação nas


em cjiíe se ittipõé a
relação
cdM-énteâ, quer cbni quer cdrii
relação !i hulha branca,
á. irrij?tt'Ctiõ, 8ü qürilqiier oütra hypbtliese, em que se veriíiquò
a necessidade es-
otl Utilidade publica, serão posteriormente
tildados.

fMmflhehbtide-se, na classificátãd dás águas do


alnda>
vsb bommilnV, tlfis meátHas condições ijúc as correntes, os
fe-
canaes navegáveis ou íluctuantes.(39).

Pacelli, Ac<\uc Pübliche, Jiag. 77,


(39)
476 ANNAES DA GAMARA

O domínio das aguas publicas de uso commum nã» sa


limita, entretanto, ao caso das aguas correntes.
Estende-se, também, pela mesma razão, aos lagos ou la-
gôas navegaveis ou fluetuaveis, salvo estes forem de
quando
domínio particular. (40).
Não é possível determinar no Codigo, em relação aos
lagos ou lagoas navegaveis ou fluetuaveis, quaes as correntes
perennes que de
elles se fazem, como se pôde em relação ás
correntes e canaes; entretanto, ellas se devem, da mesma fôrma,
considerar de domínio publico, ficando o exame do facto in-
cuinbido aos profissionaes, nos casos occurentes.

Ha, todavia,
certas zonas do territorio nacional, nas quaes
o domínio
publico de uso commum se deve estender ás aguas
de qualquer especie; são as zonas assoladas pelas seccas
perio-
dicas.
Assim o exige,
mais do que o interesse da industria e da
agricultura, o
proprio interesse da alimentação e da hygiene.
Estas zonas serão previamente demarcadas pelo poder com-

petente.
O domínio publico, porém, não se restringe ás aguas de
uso commum.
Comprehende, ainda, quaesquer outras aguas situadas em
terrenos de domínio publico, si ellas não estiverem destinadas
ao uso commum; são as aguas publicas patrimoniaes.

Ao lado das aguas publicas, existem as aguas particulares,


que são todas as que se acham situadas em terrenos de domínio
privado, quando ellas não estejam comprehendidas 110 domínio
publico.

A. exposição feita deixou discriminadas as aguas publicas


e particulares.
E patenteou ainda, que as aguas classificadas como parti-
culares podem, normalmente, se conservar no domínio privado,
sem damno para o interesse publico.
Uma primeira excepção, porém, se apresentou como fi-
gura typica, capaz de, desde logo, ser acceita no codigo como
disposição geral e permanente no caso das zonas da secca.
Outras excepções se encontram, nas diversas hypotheses d»
desapropriação.

O principio da desapropriação está lançado na Consti-


tuição, e com a largueza exige o momento da evolução
que
jurídica.

(40) Teixeira de Freitas, art. 333, § 2o.

I
'Sò
SESSÃO EM ÜB 3KTEMHHC DE UM 2 477

Ahi se diz:
«O direito de propriedade mantem-se em toda a sua
plenitude, salvo a desapropriação necessidade ou utilidade
por
publica, mediante indemnizaçào prévia». (41).

O critério da necessidade, em timidamente se es-


que
boçou este instituto, na França, com a Constituição de 1791,
teve de ceder terreno, no direito moderno, ao principio mais
amplo da utilidade, do interesse social.
E, entre nós, este principio estava consagrado na Gon-

stituição do Império. (42).
A utilidade publica comprehende o interesse directo ou
indirecto do Estado.
O eminente conselheiro Lafayette deixou elucidado este

ponto, ainda no regimen decaindo.


Em uma nota ao seu Direito das Causas, referindo-se ã
servidão legal de uquedueto, instituída alvará de 1804,
pelo
dizia, em 1877, o insigne mestre:

«Ha a servidão legal de de


quem pense que passagem
agua importa expropriação da cousa alheia e, como tal, se

acha virtualmente abolida Constituição do Império, a


pela
qual só admitte a desappropriação motivo de utilidade
por
publica.»
«Esta opinião nos
parece de todo ponto errônea.»
« A dita tem por causa a utilidade da agricultura,
servidão
utilidade que aproveita á sociedade e que, portanto, entra na
definição de utilidade publica. Uma cousa se diz de utilidade

publica; ou quando é directamente util á entidade collectiva
Estado, província ou município — como os edifícios públicos,

praças de guerra, ou quando 6 immediatamente util ao indi-


viduo e ao mesmo tempo ao Estado, como a agricultura, a in-
dustria, o commercio, a fundação da família.»
«Neste sentido é a allocução — — em-
utilidade publica
pregada pela própria Constituição do Império ». (43).

Assim, o sujeito activo da


desapropriação ser a
pôde
União, Estado, município corpo moral
o o qualquer outro
ou
ou sociedade nu instituto privado, bem corno qualquer par-
ticular; mas representando sempre o interesse publico.
E os particulares ainda figurar como represen-
podem
taiites da administração, quando desta hajam obtido concessão
'0
para realizar uma obra
publica.(4 _
<-m
Os casos do interesse directo da administração publica,
por leis di-
assumpto de desapropriação, acham-se previstos
versas.

,(41) Constituição, art. 71', § 17.

do Império, art. § 22.


(42) Constituirão

das causas, nota 10 ao § 122.


(43) Direito

òp. cit., 547. -


,(44) Meucei, pag.
478 A.NNAES 1)A CAMAllA

E ó bom de vcr-se que a propriedade de quaesquer aguas


esjá sempre sujeita á desapropriação, estas iuteres-
quando
sarem aos ipesipps ct(sos; não era preciso que o Código o re-
petisse.
ü decreto n. 3,084, de 5 de novembro de 1808, 5%
parte
ai'U.J>5 e 101, consolida disposições, então vigentes, em
as
rólação ao assuinpto, pelp quo respeita á cornpeteneia federal.
Dá-se a desapropriação, necessidade
por publica, nos
seguintes qasos;

a) defesa do Estado;
b) segurança publica;
c) soccorropublico em tempo de fome ou outra extraor-
dinaria calamidade;
d) salubridade publica.
E por utilidade publica, nos seguintes casos:
a) çonstrucção de edifícios o estabelecimentos públicos
de qualquer natureza;
b) fundacção de bospitaes e casas do
povoações, caridade
ou de instrucção;
c) abertura, alargamento ou prolongamento de vias de
commupicaçâo;
d) construcção de pontes, fontes, aquoduetos, portos, diques,
cáes e quaesquer estabelecimentos destinados á commodidado
ou servidão publica;
e) construcções ou obras destinadas ú decoração ou saiu-
bridaçje publica.

Em relação porém, ás usinas electricas, o art. 23 da lei


n. 1.115, de 3i de dezembro de 1003, dispunha:
* "
("overiio promoyerá o aproveitamento da força hydrau-
lica para, transformação em energia ejectrica applicada a ser-
viços federaes, autorizar o emprego do
podendo excesso da
força no desenvo|yjmonto da lavoura, das industrias e outros
quaesquer fins, e conceder favores ás emprozas que se propu-
zerorç] a fazer esses serviços. Estas concessões serão livres,
como detçrijiina a Constituição, de ônus estaduaes
quaesquer
ou inunicipaps.»
Este artigo foi regulamentado decreto n. 5.407, de
pelo
27 de dezembro dè 1004.
Posteriormente, porém, o art. 18 da loi n. 1.310, de 31
de dezembro de 1004, o
qual vem revigorar até á vigente lei
de orçamento (45), dispoz:
«A's emprezas de electricjdade, gerada por força hydrau-
lica,que se constituírem para fins de utilidade ou convènjencia

publica, poderá o Presidente da Republica conceder isenção


de direitos aduaneiros, direito de desapropriação dos terrenos e
bemfeitorias indispensáveis iis installações e execução dos re-
spectivos serviços e demais favores também comprehendidos
no art. 23 da lei n. 1.145, de 31 de dezembro de 1903.»

(45) Art. 36 da lei n. 1.617, do 30 de dezembwde 1906.,


SESSÃO EiU 23 1)K SETPUWO DE 1912 $79

E estg, disposição foi regulamentada pelo decreto n. 5.G46,


de 22 de agosto de 1905.

Os dispositivos dos ceados artigos çje lei não tratam, po-


róm, da desapropriação das correntes, sinão, apenas, da desa-

propriação dos terrenos e bemfeitorias necessários para a ins-


stallação das usinas e colloeação dos cabos.
"ão jia referencia á desapropriação da agua.
Do íacto, abi
Cjfa,' q que consti|qe, propriamentp, úina corrente é a agua;
o leito segue a éqndiçaó juridica da corrente. (-10).

lAssiíii, o legislador teve em vista, somente, o caso das


usinas movidas pelas correntes a cujo aproveitamento, por
qualquer titulo, tenham direito o Governo Federal ou as em-

prezas.

E creou as servidões necessárias ií exploração dessas usi-


nas, concedendo, por outro jado, favores ás empregas que as
explorarem.
Estabelecido fica, desfafte, a hypothQse não se re-
que
fero á desapropriação das correntes.

Entretanto, em certas condições, estas correntes se devem

desapropriar.
Assim entenfje, mesmo, o illustre Micboud, autor do pro-
jecto de üpitação.

Alludindo a que sobro o seu do


projeeto pesava a censiira
demasiado abandono do interesse dos serviços públicos, e de
favorecer o monopolio, o eminente professor defende-se com
o ultimo capitulo do mesmo projeeto.

Alii, diz
pile, flão só pstá lançado o principio da desapro-
priaçãò, coíno alargado, ainda, o critério da utilidade publica,
reconbecendo-se no Estado o direito de desapropriar a ener-
gia liydraulica, não só para alimentar um serviço do
publico
tracção ou de illuminação corno para estabelecer um serviço
publico do distribuição electrica. De outro lado, o expropriante
poderá eim»níg«r, acçc.ssoriumcntç, a força oxpropriada em em-
prezas pyjrampnte privadas.
Com este systema, continua Micboud, «poderão existir ao
lado das usinas particulares e livres, usinas o umas
publicas,
servidão de reguladoras para as outras : a presença da usina

publica ao lado da usina particular impedirá que esta mantenha


o muito alto á força que ella distribuir : a presença da
preço
usjha particular ao lado da usina publica, impedirá o Estado
de. uma direcção pesada sot>ro esta ultima. Tanto considero como
— como em ou-
perigoso o monopolio do Estado nesta matoria
iras — desem-
quanto estou disposto a admittir que ellc possa
penhar um papel util, regulamentando por si mesmo certas em-
prezas de distribuição. Mas, entendo dever manter
publicas
esta idéa, em matéria de desapropriação: a cousa
essencial

(46) Lafayette, Direito das Cousas, npta 4 ao 39,


|
48 ' ANNAES DA GAMARA

expropriada deve servir, ao menos a titulo principal, a um


serviço de utilidade publica ». (47).
São idéas que acceitei no Codigo.

Assim, só_ estabeleci, até agora, a desapropriação de aguas,


por utilidade indirecta de administração e directa da industria,
e exclusivamente a titulo accessorio, no caso da desapropriação
para usinas electricas que forem applicadas a serviços pu-
blicos typicos. _
E, pela razão muito simples de que o regimen da licitação,
consagrado no codigo, ó bastante para attender os interesses da
industria.
Si não fòra isto, eu o teria consagrado.
De^facto, o egoismo ou a impotência do dominio parti-
cular não devem sacrificar o interesse social.
Verificada a collisão, aquelle deve, e devidamente
prévia
indemnizado, ceder a este.
Assim, para quaesquer outros fins industriaes ou agrícolas,
leis especiae_s devem
providenciar, consentindo, sempre, na
desapropriação, quando o proprietário não quer ou não pode
realizar os melhoramentos que a sociedade lhe exige.
Um caso ficará, desde logo, previsto no Godigo: é a des-
apropriação no regimen das associações syndicaes.

Ha a considerar, em relação a uma corrente, os tres ele-


mentos de que ella se compõe :

a) a agua ;
b) o leito ou alveo ;
c) as margens.

Já tratei da agua; examinarei, agora, o leito e as margens.


O alveo segue, evidentemente, a condição jurídica da cor-
rente, pois esta não se pôde comprehender sem elle (48).
E' de dominio publico, desde que a corrente o seja.
Em relação ás margens, é mister distinguir, como faz
Meucci, entre a margem interna c a externa.
A margem interna, que, com propriedade, se pode, entre
nós, denominar ribanceira, estende-se do leito á linha aque
chegam as mais altas aguas da corrente, no seu estado normal,
sem transbordamento (49)..

de la Houille Manche, Grenoble, vol. 1,


(47) Congrés
pag. 440.

1°, § 7°, D. de flum.


(48) L.

(49) Dos rios públicos e particulares, pag, 91.


SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 48 i

A ribanceira forma um só todo roí o o alveoj é lambem

parte integrante da corrente seguindo a sua condição jurídica.


tA margem externa é a zona de terreno circumstante, que
confina com a ribanceira (50).
Esta margem, a é publica
corrente de uso com-
quando
num, está sujeita ás servidões que este uso exige.
Assim que ella 6 da
necessaria para o serviço Jiydraulico
policia, ou accessorios da navegação e íluctuação.
Entretanto, o nosso direito assentou mesmo o domínio

publico sobre esta margem.

se deduz da lei n. 1.507, de 26 de setembro de


E' o que
1807.
Esta determina, no art. 8o, n. 3 :
dos
«Fica reservado para a servidão publica nas margens
rios navegáveis e de que se fazem os navegaveis, fóra do alcance
das marés, salvo as concessões legitimas feitas até a data da prc-

sente lei, a zona de sete braças, contadas do ponto médio das

enchentes ordinarias para o interior. »


E mais accentuada, ainda, se torna a existencia deste

domínio, no mesmo artigo, in fine, a lei autoriza o


quando,
Governo a conceder a referida faixa de terreno « em lotes ra-

zoaveis, na fôrma das disposições sobre terrenos de marinha».


Os terrenos reservados constituem, pois, pelo nosso di-

reilo, uma figura typica de domínio publico.


E assim ter entendido o eminente Carlos de Car-
parece
valho, como se deduz do art. 216, lettra c) da sua Consolidação.
Resolvi, guardar, no Codigo, a tradição do nosso
pois,
direito, declarando publicas as margens das correntes e canaes

públicos.
Entretanto, quanto ás correntes do que se fazem as cor-
rentes fluetuaveis, as quaes não apresentam, por si mesmas,

maior importancia, entendi não consagrar o mesmo principio.


Em relação a estas, o interesse publico fica salvaguardado
com a servidão de transito, que estabeleço, nas suas margens,

os agentes da administração, em execução de serviço


para
publico a seu cargo.
Da mesma fôrma, e pela mesma razão, considerei de cio-

as margens dos lagos, ou lagoas navegaveis ou


minio publico
fluetuaveis, forem deste doininto, p, quanto ás margens
que
das correntes de que se fazem os lagos ou lagoas simplesmente
fluetuaveis, estabeleci, apenas, aquella servidão.
n. 8, de I de
Em Portugal, também, segundo o decreto
dezembro 1892, art. 1", 2°, as margens das correntes,
de §
canaes, lagos ou lagôas que forem de domínio publico, per-
tencem a este domínio.

(50) Meucci, InstUuzioni di Diritto Amministr ativo pa-


gina 356.

Vol. 31
482 ANNAKS DA GAMARA

E este principio era, alli, geralmente, recebido, mesmo no


direito antigo, segundo attesta Abel de Andrade (51).

As correntes imprimem, a cada momento, importantes mo-


ctífioações nos prédios marginaes.
Ora ellas lhes causam um damno, ora lhes proporcionam
uma vantagem.
São como a fortuna, dizia Henrys: dão e tiram.
A este phenomeno alguém denominou — o absolutismo
das aguas.
Tal é li realidade; mas não ha removel-a.
«As correntes», diz Lomonaco, «não do con-
precisam
sentimento do legislador para exercerem a sua liberdade; cilas
não se preoccupam com os codigos; o seu absolutismo ó coevo
ao mundo, e durará emquanto o mundo existir».
E as modificações que ellas operam nos se ma-
prédios
nifestam:

a) na alluvião;
b) na avulsão;
C) na ilha;
d) no alveo abandonado.

Em todos esses casos


ha a observar o da ac-
principio
cessão, em virtude do
qual a cousa accessoria cede á principal.
E toda a economia do institutto da accessão está em se
saber qual a cousa e a accessoria
principal qual (52).
E' bem de vêr-se que o Direito Romano deve ser acceito
com reservas, sobre o caso.
O principio individualista, em que elle assentava, não pôde
regular a ordem do actual momento.
jurídica
a)_ A alluvião 6 própria ou imprópria.
Dá-se alluvião dita, os accrescimos
propriamente quando
se Formam, nas margens das correntes, lenta e insensivelmenle,
eom o limo
e os at.trictos trazidos pelas aguas.
E os
accrescimos se podem dar natural ou artificialmente.
Verifica-se a alluvião, impropriamente dita, no caso em
que as correntes, em sua retirada paulatina, deixam desço-
berta parte de sua margem interna.
Em ambos os casos, estes accrescimos ficam pertencendo
ao dominio publico, quando adherem ás margens das correntes
deste domínio, salvo na hypothese das correntes de que se
fazem as correntes fluctuaveis.
E nem ha discutir a direito
questão pelo pátrio.

(51) Çommenlario do Codigo Civil, 65.


pag.

(52) Lafayette, Direito das Cousas, 38, 93.


§ pag.
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 483

O caso está expressamente art. Io tio


previsto pelo de-
creto n. 4.105, de 29 de de 1868.
janeiro
ass'm enteildeu Carlos de Carvalho, na sua Consolidação
(do) .
Estes accresçimos, adherindo ás margens das correntes
particulares, ou das correntes de se fazem as fluctuaveis,
que
pertencem ao dominio dos proprietários marginaes, na fôrma
que o Código estabelece.
A doutrina do Direito Romano
de que o direito de alluvião
assistia, apenas, aos prédios
que fossem ager arcifinius e não
ayer limitatus, nao tem a consagração
do direito moderno, como
bem aceentuou a Côrte de Cassação de Florença, em acedrdão
de 26 de janeiro de 1882.
a) A avulsão dá-se quando, impellido
pela força das aguas,
uni fragmento de terra se vem juntar á ribanceira (54).
avulsãoi accresce da mesma fôrma,
,,n - e nas mesmas
condiçoes, ao ribeirinho.
prédio
sempre em um fragmento con-
uiri0,í?ll''íe*'an*0- ?."a-001nsis'(:
6 r^<?onI assi,n este
ii«nn ?!ve!i pôde ser reivindicado pelo
ono, como diz Lafayette, antes de se ligar
' e de se consub-
stanciar com o terreno onde é deposto.
rtireito irancez e o italiano, ê certo, admittem a recla-
m_„^
wiesmo depois do prazo de
um anno, quando o dono do
"a° tomado
posse da cousa acorescida por
avulsão (551)
Resolvi seguii o systema do codigo portusuez e do nosso
°ne
0 r««jmen da
eomo -)ndfffT>n propriedade,
I lSieri!eIa fStavel
prova' a ««peito, depois de
S tempo (56) ,azer
E não se dá a avulsão
a cousa quando
arroiada nela enr
rente J P °
seja insuscetível
adherencia de
natural
Nesta hypothese, dominam os princípios de direito aue
que
regem o caso das cousas perdidas. aireno
®'re^0 Romano, ao do-
niinio ^v^'n^nnrVo/'ííi""'0
mesmo a corrente
Kè que
publica ribeirinhos,
a.°rientação do direito moderno.
!?ne?teX ín°Hr
0 Part,cular il üha formada ei»
correiUe deste domínio.
1 l,|'jÍ'Oora8r80«»in^òrprJetanc'0"s<J
VÍ0 as disposições da
Ord
'¦[ 9 • de accôrdo com Mello Freire,
im ,§§ ,H
direito moderno,
o' mrillnto T!- que acceitei no codigo.
nimente Peixeira de Freitas, entendendo, na sua Con-

(53) Art. 201, lettra


g).
(54) Lafayette, 39,
§ pag. 96.
(55) Codigo
francês, art. 559; italiano, art. 456.
'ÍS.
Coí%0 art-
2-922. Projecto brasileiro.
art.
484 ANNAES DA CAMARA

soliclação que o direito vigente pelo dominio


é particular das
ilhas (57), propõe, todavia, a suareforma 110 Esboço (58).
Entretanto, si a ilha se fôrma pelo desdobramento de um
novo braço da corrente, continua a pertencer aos proprietários
á custa dos quaes se constituiu.
Mas, si a corrente é navegaevl ou fluctuavel, entendo,
como o Oodigo italiano, fica a administração
publica com o
direito a se apropriar delia, mediante indemnização previa.
d) O alveo abandonado, mesmo quando a corrente é do
dominio publico, deve pertencer aos proprietários marginaes.
isto
E por um principio de equidade, o pela presumpção
de que o alveo se formou aos poucos pelas aguas, com pre-
juízo do prédio atravessado pela corrente (59).
Da mesma forma, ensina Meucci, que foi gratuita a ex-
propriação natural que a <agua fez do terreno abrindo o alveo,
gratuita deve ser a volta deste ao proprietário marginal, uma
vez cessado o uso e o destino publico (60).
Em todo o caso, si a mudança da corrente se fez por uti-
lidade publica, em virtude de deliberação do poder competente,
o espaço occupado pelo novo leito deve ser legalmente des-
apropriado, e, para compensar a despeza da desapropriação, o
alveo abandonado passa para o dominio publico (61).

Os princípios aqui assentados, sobre accessão, applicam-se,


igualmente, aos lagos e lagoas, nos casos analogos que abi
possam occorrer.

Os 'aproveitamentos a que se as aguas


prestam publicas
de uso commum são: geraes e communs a todos os cidadãos,
uns; outros, especiaes e sujeitos á concessão do Governo.
Os usos geraes constituem, para os particulares que os exer-
citam, um direito de propriedade, de condomínio social sobre
as aguas publicas, como ensina Meucci (62).
tutella que a administração exerce e a moderação
_A que
impõe a estes
usos respeitam á fôrma deste direito c o modo
de seu exercício, mas não lhe alteram a substancia, tem
que
assento em lei.

(57) Art. 52, § 2", nota 2, pag. 23.

(58) Art. 336, ns. 6 c 7.

(50) Dos rios públicos c 91.


particulares, pag.

(60) Meucci, op. cit., pag. 315.

(61) Lafayette, op. cit., pag. 96.

(62) Meucci, Instituzioni di Dirillo Amministrativo, pa-


gina 390.
DE 1912 485
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO

esta ou eommunhao cívica não


«E propriedade publica
si
do Coai0o 1S'°
6 divisivel, como a oommunhao privada y.iMi»
caracter de co-propriedade, mas constituo uma
não lhe altera o
modaes sao a i ialiena-
differença modal, como differenças
do domínio publico, justi-
bilidade e a imprescriptibilidade
» (Oá).
ficada pelo destino do mesmo ao uso commum
e, entre nos, pelo ais-
10 uso nestas águas
preemincute
constitucional, o da navegação. n.
positivo navios
de cabotagem ha de ser luta poi
E a navegação
nacionaes (64).

exercidas nestas
A caca
pesca podem
e a ser livremente
com os regulamentos administrativos.
águas de accôrdo
259, de 1904, pendente de
E' bem certo que o pro.jecto n.
sujeitar a m-
deliberação da Gamara dos Deputados, pretende
embarcações ao regimen da riav< Ba<uao
dustria da pesca por
por cabotagem, nacionalizando-a. . , i;
n-
Entretanto, este alvitre, além de contrario as tradições
o não me parece con-
beraes de nosso direito sobre assumpto,

stitucional.

diz João Barballio, ca-


A Constituição, como proclamou
72, >a igualdade civil de nacionaes e
tegoricamente, tio art.

estrangeiros. ...
uma restricçao expressa que ella determinou,
E foi com
único, a cabotagem deve ser feita
no art. 18, paragrapho que

por navios nacionaes. , . _ , , . _ „


desta restricçao outra restricçao !
Como deduzir

relação aos usos especiaes destas aguas, na derivação


Em
a agricultura, a industria e a hygiene, o seu exercício
para
antes, depende de concessão do Governo ou da
não é livre;
existência de um titulo legitimo.
com o apoio de Ho-
E' uma doutrina que conta, na Italia,
e outros, e que vem firmada em arestos
magnosi, fíianzana
de Turim, considera as aguas applicadas a estes
da Cassação
usos como de domínio
publico patrimonial. _
Esta doutrina,
porem, demonstra Pacelli, não é sultragada
Direito Romano, como entendem os seus propugnauores.
pelo
não a suffraga, o de sua
O direito pátrio, também, pois
tradição que ao domínio publico de uso commum pertencem
as correntes de se fazem as correntes navegaveis.
que
uma cousa se revista, ao
Além disto, «é impossível que
mesmo tempo, de urna dupla natureza, a publica o a particular:

(63) Pacelli, Aque Publiche, pag. 103.

art. 13, paragrapho único.


(64) Constituição,
486 ANNAFJ9 DA GAMARA

a corrente publica, emquanto objecto do propriedade publica,


é cousa immovel, e se considera em seu todo, sem se poder
distinguir entre agua necessaria e supérflua á navegação.»
(65),
A qualidade de ribeirinho de aguas publicas não lhe at-
tribue nenhum direito sobre os usos especiaes das mesmas:
faz-se sempre mister, diz Pacelli, uma verdadeira concessão
que transfira ao sujeito a quem ella é outorgada o direito de
uso, do qual nelle não preexiste sinão a possibilidade.
E nem este facto altera a natureza do uso cornmum sobre
as aguas publicas.
Ao contrario, a concessão é verdadeiramente o modo de
realizar e regular este uso.
«'0 uso da derivação, importando effectivo consumo da
agua e não
podendo, pois, exercitar-se sinão por um numero
determinado de pessoas, e mediante normas e cautelas que
garantam a co-existencia dos vários usos, não se poderia rea-
lizar onde fosse deixado livre a todos.
« Assim, a concessão individüa o uso, e a categoria dos con-
cessionários representa o povo utente das aguas publicas»
(66).
A concessão não importa nunca na alienação da
parcial
cousa publica, que é inalienavel: o que se concede tf o uso,
que pertence á communhão social.
E nenhuma concessão se fará com o caracter de perpe-
tuidade, incompatível com a natureza deste uso e com as mo-
dificações constantes
que se operam no interesse
publico.
concessão deve, ainda, ficar sempre subordinada á con-
_A
dição si sine injuria alterius id
fiai.
Assim, tornar-se-hão inadmissíveis as acções de indemni-
_
zação contra o Estado, por parte de terceiros, que se julgarem
lesados com a concessão, ou de do conces-
garantia por parte
sionnrio molestado.

E, quanto á situação anterior ao Codigo, entendi esta-


belecer. como no direito italiano, se manteem os direitos
que
de uso, adquiridos
antes da promulgação do Codigo. por titulo
legitimo ou
por prescripção frinteriaria.
E esses direitos são reconhecidos, como no caso das con-
cessões que o Codigo estabelece, sem dos direitos de
prejuízo
terceiros.
Ainda: os direitos anteriores que o Codigo reconhece não
podem ser differentes daquelle que elle estabelece, isto é, «di-
reitos a titulo de propriedade e como ta.es sujeitos á
publica
autoridade moderadora do Estado; direitos á substancia do uso
e não á modalidade do proprio uso, os quaes, ao contrario,

(65) Pacelli. op. cit., pag. 409.

(66) Op. cit., pag. 137.


STCSSÃO EM 23 DE RKTEMnnO 111! 1912 487

•levem se modificar e adaptar ás exigencias do interesse pu-


blico » (67).
Assim, este é
principio, o
quer no caso da existência de
titulo anterior, mesmo de concessão quer no caso
perpetua,
tia posse trintenaria ou, mesmo, immemoríal.

Os usos geraes s6 podem se extinguir por disposição de lei.

Os usos especiaes se podem extinguir:


«) pela renuncia:
h) pela caducidade;
<¦) pela expiração do prazo e
d) pela revogação.

O uso das aguas publicas é, na verdade, revogavel.


O Estado pode, quando e nd nutum. supprimir
queira
qualquer direito de uso sobre as aguas
publicas.

O uso da derivação 6 real e se considera inalienavel sd


no sentido de que não
transferir se ou de
prtde de um prédio
um engenho a beneficio de outro
prédio ou de outro engenho;
mas, alienando-se o prédio irrigado ou o engenho movido
pela
agua publica, ao novo proprietário do ou do engenho
prédio
também, o direito de uso sobre a agua mas
passa, publica,
isso effeito, não da alienação,
por mas da indivisibilidado da
propriedade do prédio e do engenho, do direito de uso da agua
publica (68).

O Governo Federal expedirá decreto sobre de


a concessão
usinas nas aguas de seu dominio, sobre a concessão de usinas
appl içadas a serviço
federal, e sobre a inspecção e autorização
de usinas movidas
por aguas de dominio dos Estados mu-
ou
ninpios, cuja navegação é regulada
pela União.
E, como a preeminecia do uso da navegação, a que se re-
Fere o art. 34, § 6o, da Constituição, foi estabelecida
a bem do
commercio inter-estadoal e internacional—•otherwise, Co»-
gress had power over navigatio»
(69), não se comprehendendo
ani a simples fluetuação no o Oo-
(70), decreto que expedir
verpo estabelecerá em que condições a navegação se deve re-
pur.ar como servindo a este commercio, e em que condições as
usinas eleotricas se devem montar, sem do mesmo.
prejuízo

(67) Pacelli, op. cit., pag. 147.

(68) Op. cit., pag. 168.

(69) Walker American Law, 142: Pascal, Annotated


pag.
tonxtitution,
pag. 107.

(70) Farnham, Waícr a»d Water Rights, pag. 68.


488 ANNAES DA GAMARA

Em regra, as despezas de manutenção das cousas publicas


de uso commum devem correr por conta da administração.
Mas, ás vezes, diz Pacelli, estas cousas e as obras de que
ellas necessitam, proporcionando vantagens geraes á univer-
salidade, importam, também, em utilidades particulares a de-
terminados cidadãos.
«E' justo, então, estes
que concorram para as despezas
de manutenção da cousa publica, não sómente com o paga-
mento dos impostos e de outros tributos, que gravam propor-
cionalmente a todos os cidadãos, mas, ainda, com uma especial
contribuição, na
medida das utilidades especiaes que da cousa
publica ou obra publica lhes adveem. » (71)
Ora, as aguas publicas ou se prestam aos usos geraes da
navegação e do transporte, ou aos usos especiaes da derivação,

para a agricultura, a industria e a hygiene.


As obras que respeitam áquelle fim devem correr por
conta da administração; as que respeitam a este, por conta dos
particulares utentes.
As obras de defesa, aproveitando, também, aos proprie-
tarios marginaes, devem ser, em parte, por estes custeadas.
Si estas obras, porém, não interessam á navegação ou flu-
ctuação, mas unicamente aos proprietários marginaes, devem
ser por elles, exclusivamente, custeadas.

Em outro trabalho, tive occasião de explanar o assumpto


das aguas publicas em relação aos seus proprietários (72).
E sustentei que, em face da Constituição, apenas per-
f.encem á União as aguas que servem de limite entre o nosso
paiz e as outras nações, ou que estiverem situadas na zona de
10 léguas contíguas aos limites da Republica com os paizes
estrangeiros.
Continuo a manter a mesma opinião.
De facto:
principio ó
constitucional, entre nós, os
que
poderes ou direitos dos Estados teem por único limite n com-
petencia expressa ou implicitamente conferida á União, nas
clausulas expressas da Constituição (73).
Ora, não existe uma clausula que expressamente attribúa
á União o domínio sobro aguas.
Das clausulas expressas ahi contidas, não pôde decorrer
para a União outro domínio que não seja sobre as aguas a
que alludi.
Assim, o art. 34, § 6", declara ser da competencia da
União «legislar sobre navegação dos rios que banhem mais
de um Estado ou se estendam a territorios estrangeiros.

(71) Acque publichc, png. 150.

(72) Dos rios públicos e particulares, pag. 47 e segs.

(73) Art. 65, § 2o.

s
EM 23 DE SETEMBRO DE 1012 489
SESSÃO

não é, corto, o uso exclusivo a que as


A navegação por
outros usos, ani se acham
aguas prestam; ao contrario, entro
se
o da industria e o da agricultura. .
usos, como mostrei, devem are,
E estes anteriormente
ter preeminencia sobre o da navegaçao.,
segundo uma opinião,
constituinte
E' certo, pois, que o pensamento do legislador
uma ao domínio dos Estados
foi crear, apenas, restricção
sobre as aguas. ....
repugna á essencia da ou seja publica
Não propriedade,
a transferencia, em favor de urna pessoa
ou seja
particular,
diversa do proprietário, de um dos direitos que, habitualmente,
normalmente, são inherentes ao dominio (74). .
Assim, ó corrente nas relações de direito internacional

e .ajustes, ou ímme-
que, por tratados, convenções pela posse
morial, nação exercer sobre o territono de outra
uma pode
nação, entre outros direitos:

a) o de pesca nos mares territoriaes;


dos rios navegaveis, com
b) o de ter alfandega ;í margem
os direitos conseqüentes corno de policia fiscal;
c) o de transito ou passagem (75).

Supprindo, com o exemplo americano, uma jurisprudência


faltava á Republica Argentina, o doutrinas legaes de que
que
ella carecia, professor Estrada,
diz da Universidade
o de Bue-

nos-Aires — Estados são proprietários dos rios, seus leitos


« Os
e suas costas; a propriedade dos Estados, porém, não acarreta

do modo algum o direito de legislar sobre a navegação de suas


aguas» (70).
Accresce que, na Allemanha, conforme o íirt. 05 da lei de

introducção ao Codigo Civil, as regras administrativas, para


cada paiz, sobro o regimen das aguas, não deixam de existir
taes como eram em 1870.
E' alii,
local,
pois, o regimen das aguas.
Na
Suissa, cada um dos vinte e cinco cantões possue sua

legislação especial ou, simplesmente, sua jurisprudência sobre


as aguas.
E são bem ciosos deste direito, como se verifica de um

exemplo recente.
Em 1891, a sociedade dirigiu uma & As-
freiland petição
sembléa Federal, pedindo que se introduzisse na Constituição
mm artigo assim concebido:

«Todas as forças bydraulicas da Suissa, não ainda' utili-

zadas, são da Confederação. Suai exploração o


propriedade
sua transmissão electricidade, ar comprimido, etc.,
pela pelo
pertencem á Confederação. Uma lei federal regulará tudo quo

Civilc Italiano, vol. 3o, pag. 202.


(74) Lomonaco, Diritto

(75) Lafayette «Direito Internacional», vol. 1°, § 00,


ns. 8, 3 e 6.

(76) «Nociones de Derecbo Federal», 82, pag. 2.


490 ANNAES r»A GAMARA

concerne a. este monopolio e á distribuição do beneficio li-


quido que elle produzir. »
Consultados a respeito, os cantões protestaram todos contra
«a transferencia dos seus direitos de soberania e de admi-
nistração, sobre o regimen das aguas, para a Confederação»

E, para. se avaliar quanto é melindrosa a questão da com-


potência em matéria de aguas, basta ter em vista o se
que
passou na Áustria.
o
Havendo Governo, em 1865, emprehendido fazer uma
lei para todo o Império, sobre o regimen de aguas, enviou
única
o projecfo respectivo aos diversos Laendtags (assembléas pro-
vinciaes), afim de provocar sua opinião.
Um certo numero delles se negou a dar o seu assentimento,
allegando que uma parte, ao menos, das disposições propostas
entrava nas attribuições das Laender (províncias).
Em vista desta opposição, o Governo se viu na oontin-
gencia. de retirar do projecbo todas as disposições inte-
que
ressavam ;í agricultura, o reduzil-o a disposições referentes
ao direito civil e ao direito pena).
Resultou que a dahi
lei austríaca do Império, de 30 de
maio de 1869,
apenas comprebende 29 artigos. E completou-se
'r;«
por uma de leis locaes votadas nos annos seguintes, pelos
diversos L ¦.¦mltags (78).
Como já disse, em outro logar não me
(79), parece que
devessem ser tão extensos os direitos dos Estados sobre o as-
sumpto.
Mas elles estão na Constituição.

Entretanto, o Codigo procura, harmonizar


quanto possível,
os direitos dos Estados com os da União.
Em primeiro logar. elle estabelece o regimen inspecção
de
e de autorização, da União, sobre
por parte as aguas, mesmo
dos Estiados ou dos municípios, cuja navegação íhe compete
regular, afim de evitar a obstrucçSo.
Em segundo logar. concede a ella o direito de desapro-
priação destas aguas. sempre que estiver em causa um serviço
publico federal.
A faculdade que tem a União de desaproprial-as não re-
pugna ;'i natureza do regimen federativo.

(77) Paul Bougault « Congrès de Ia. Huoille Blanche. Gre-


noble, vol. Io. pag. 406.

(78) Michoud «La Houille Blanche», Grenoble—1903


pag. 225.

(79) «Dos rios públicos e particulares», pag. 105.


SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1ÍH2 491

E' reside a soberania; a escola contraria tem


nella que
hoje valor histórico, como cabalmente demonstra
puro um
Laband. , ..
„ ,
andou Carlos de Carvalho no
Assim, acertado o eminente
seguinte artigo de sua Consolidação: . . .
e os par-
«Os bens públicos dos Estados e dos municípios
eminente da soberania
ticulares se consideram sob o domínio
nacional. . _
«Esta manifesta-ao sob a fôrma de
desapropriação por

necessidade ou utilidade publica, limitando-se ou nao simples-


mente á occupação, uso ou emprego » (80).
Petropolis entre nós, todas as du-
E o Tratado de cortou,
vidas a respeito.

Um outro oaso de desapropriação fica, ainda, estabelecido


no Godigo, em relação a estas agitas, na hypothese da expio-

ração de usinas electricas.


Si, no inquérito a se na Suissa, nao ítçou
que procedeu
demonstrada a necessidade de uma lei federal que regulasse

a exploração' das forças hydraulicas em todo o paiz, é certo

diz Louis Robert, que a intervenção federal se recom-


porém,
menda em tudo o que concerne ás relações inter-estadoaes,
sobre o assumpto (81).
Realmente, não fora a intervenção federal e os Estados,

em desaccôrdo, ficariam na impossibilidade de tirar


quando
partido das que lhes servem de limite
aguas ou cortam o ter-
ritorio de mais de um delles, para a exploração das usinas
electricas, cujo incremento, além disto, affecta no proprio in-
teresse da Federação.
E, isto, muitos cantões suissos, ouvidos a respeito, se
por
pronunciaram pela intervenção federal.
Dabi a disposição do projecto de Codigo Civil Suisso, con-
cedendo ao Conselho Federal o direito de outorgar concessão
ás emprezas que se propuzerem ao estabelecimento de usinas,
alimentadas por estas aguas, quando os Estados não chegarem
a um aacrtrdo.
Assim o Codigo, estabelecendo, no caso, a des-
procede
apropriação Governo Federal, mas estabelecendo, como
pelo
formalidade essencial,
a cila preceda requisição de algum
que
dos Estados interessados. , . .
Discricionários são os assistem á ndmini-
poderes que
stração e mantel-as aguas no seu
para conservar as publicas
destino ao uso commum. ,
E estes poderes assentam em razões de ordem e de direito

politico.

(80 «Consolidação», art. 196.

(81) Le Rotubro, «De la utilisation des forces hydrau-


liques», pag. 48. is.
492 ANNAES DA CAMARA

Assim que ella age por si mesma, independente de decreto


da autoridade judiciaria, para reintegrar o dominio publico,
supprimindo a posse dos particulares sobre taes aguas, ou esta

posse seja illegitima ou contravencional, ou, ainda, quando le-


legalmente estabelecida, segundo as normas da lei vigente.
Na segunda hypotnese, revogando o uso commum, ella o
transforma de direito real de uso em direito pessoal á inde-
mnização, quando fôr caso desta (82).
O que é mistór, para que a administração possa agir por
si só, ó que ella limite a sua aeção aos confins destas aguas;
desde que ella occupe a propriedade particular, faz-se mistór
a intervenção judiciaria.

A
propriedade publica, em relação ás cousas de uso com-
mum, não deixa de ser uma verdadeira propriedade, como ac-
centuei no inicio deste trabalho, de accôrdo com a opinião do
eminente Meucci.
Assim, a administração publica, como qualquer particular,
poderá appellar para o Poder Judiciário, 110 juizo petitorio, afim
de que este declare o seu dominio sobre as aguas de uso
commum, em relação ás quaes os particulares se apresentem
com pretensos direitos.
Certo, este caso será raro; mas não é inadmissível.
O mesmo se deve dizer em relação ao
juizo possessorio.
A União, o Estado e o município teem a e
propriedade
a posse das aguas publicas de uso commum, que respectiva-
mente lhes pertencem.
Assim, é perinittido á administração
publica appellar para
o juízo possessorio.
E' esta, hoje, doutrina,
a e ó, também, a jurisprudência
que prevalece 11a Bélgica.
não colhe, como salienta Pacelli, o argumento da Cas-
_E
saçao romana de que a administração está com
já protegida
o privilegio excepcional da re-integna administrativa, por-
quanto, a existencia do privilegio excepcional não deve im-
portar na existencia do privilegio ordinário: «de outra fôrma
P privilegio se converteria em dauino para a pessoa privile-
giada, não se podendo desconhecer que, em certa contingência,
seja melhor para a administração publica servir-se do remedio
menos expedito, mas, certo, mais autorizado da aeção judi-
ciaria » (83).

Os direitos dos particulares sobre estas aguas estão,


também, sob a tutela do Poder Judiciário.

(82) Meucci, op. cit., pag. 414.

(83) Pacelli, op. cit., pag. 198.


SESSÃO EM DE SETEMBRO DE 1912 403
23

distingue entre os usos geraes, da nave-


A doutrina que
e os usos espeoiacs, corno os da derivaçao.
gação e outros,
dándo, apenas, aosna primeira liypothese, o di-
particulares,
rei I o de da própria
reclamar administração, e, so na segunda,

o direito de appellar para o judiciário, carece de fundamento.


a que aguas se constituem
Os usos geraes estas prestam
direito dos como já disse, anterior-
um verdadeiro cidadãos,
mente, de accôrdo com a lição de Pacelli.
a acçâo popular para a tutela do seu ui-
Gabe-lhes, pois,
as aguas com o umco limite de
reito de uso sobre publicas,
em juízo interesse directo e pessoal na
que demonstrem um
conservação publica da oousa
(84). , .
A particulares pode ser dirigida
acção dos contra a admi-

nistração ou contra outros particulares. .


Discricionários são, como disse, os direitos da admi-
que
nistração á sua vontade, supprimir, mesmo, o uso
que pode,
legitimo das aguas publicas, revogando-o, é bem de ver-se que
nenhuma acção pode caber aos contra ella, para
particulares
obter do decrete o seu direito de uso;
poder judiciário que
o que lhes assiste é o direito de pedir indemnização, nos casos

únicos em que esta tiver logar.


A acção dos entre si se verificar no
particulares pôde
juizo petitorio ou no possessorio.
Repetirei, aqui, a lição de Pacelli.
Em relação ao juizo petitorio, não ha duvida que o mesmo
pôde ter por objecto
não só a reparação do d>amno, mas o re-
conhecimento do proprio direito de um particular contra outro
particular, decretando-se, mesmo, a inefficacia de qualquer
concessão, pois a administração não pôde fazel-o sem a resalva
dos direitos de terceiros.
Em relação ao juizo possessorio, si a do di-
quasi-posse
reito de uso
que, os particulares teem sobre as aguas publicas
não é sufficiente para prescrever o direito de propriedade d»
União, do Estado 011 do município sobre elIas, ó, todavia, para
o exercício das acções possessorias.
Estabelecido, como ficou, o principio de que ia adminis-
(ração é competente, até, revogar o uso illegitimo ou
para
legitimo das aguas evidente aos
publicas,
que é particulares
não oabe a acção
possessoria, a respeito, não ha possi-
pois,
bilidade de moléstia ou explicação por parte delia.
Isto, a administração circumscreve a sua acçao
quando
dentro dos limites de seu domínio; pois, si, a bem do regurien
dias aguas, ella occupa a propriedade sem a iórma
particular,
legal da desapropriação, o proprietário bem pôde se queixar
de moléstia ou expoliação, perante os tribunaes, pois o dimto
de ó assegurado Constituição, salvo a des-
propriedade peki
apropriação legalmente feita.
A acção possessoria entre particulares se pôde dar, desde
Que autoro se «apresente com um direito de uso devidamente
autorizado.

!(84)| Op. cit., pag. 200.


494 ANNAES DA CAMARA

se o titulo de posse
Assim, não è ama concessão expressa,
mas posse immeinorial ou trintenaria, anterior á publicação
desse Codigo, ella não tem logar, porque seria o accumulo do

petitorio com o possessorio.

Em relação ás águas particulares, elias ficam debaixo da


inspecção e da autorização da administração publica.
E' mister, entretanto, não confundir a autorização para a
derivação, nas aguas particulares, com a concessão que é ne-
cessaria para a derivação das aguas publicas.
Na concessão,
o Estado crea um direito em favor de um
particular; tia autorização elle se limita, conforme suas at-
tribuições de policia, a regulamentar os direitos dos ribeirinhos
e a superintender o seu exercício, no interesse dos outros ri-
beirinhos e da segurança publica (85).
«A primeira se refere á actividade organizadora do Es-
tado: ella attribue um novo direito ao concessinoario, doqual
este tinha sómente a possibilidade. A segunda refere-se á
actividade conservadora do Estado, ella consiste em remover
algumas barreiras collooadas no campo da actividade indi-
vidual, e permitte o exercício de um direito que já anterior-
mente existia potencialmente no ribeirinho» (86).
O mais recommendavel systema em matéria de aguas seria
o que obedecesse ao seguinte conceito de Maçarei:
«E' uma injustiça para com a Providencia e um crime
para com a sociedade o deixar-se só escoar para o mar uma
gotta de agua, sem tel-a utilizado no proveito da agricultura
ou da industria.» (87)
E si o Codigo não realiza o idóal de Maçarei, não é menos
certo que, com a expansão que deu ao domínio publico sobre
as aguas, alargou o campode seu aproveitamento, com grande
vantagem para a agricultura e para a industria.
Em relação, porém, ás aguas classificadas rio domínio par-
ticular, entendi não alterar muito a tradição de nosso direito,
deixando que a própria evolução dos interesses economicos
venha mais tarde exigir a remodelação das leis.
E nem outra deve ser a missão do codificador.
Assim que, em relação a estas aguas, dous systemas se
— o continuidade e o das zonas.
apresentam da
Pelo systema da contiguidade, os únicos prédios se
que
podem aproveitar das aguas são os prédios marginaes, isto é,
os adjacentes ou contíguos ás mesmas correntes, ou sejam atra-
vessados ou, simplesmente, banhados por ellas.
E' o systema consagrado no codigo de Napoleão, acceito

(85) Louis Robert, iap. cit., pag. 82.

(86) Pacceli, op. cit., pag. 117.

(87) Apud Assis Teixeira, Aguas, pag. 126.


SESSÃO EM 23 r>E SETEMBRO DE 1012 495

pelo proprio Codigo Italiano e geralmente seguido na legis-


lação moderna.
E' também o systema de nosso direito. (88)
Assenta tal systema nas seguintes considerações:
a) os proprietários marginaes estão, constantemente, ex-
postos aos perigos da vizinhança das correntes, sendo .justo,
pois, que se compensem com o beneficio que resulte do util
aproveitamento dellas;
b) os prédios não marginaes se acham naturalmente un-
possibilitados, pela sua situação, de se aproveitarem desses
benefícios.
E' bem certo, como salienta Assis Teixeira, tal sys-
que
tema, muitas vezes, pôde extravagantes con-
produzir as mais
sequencias.
Assim que:
«) os
prédios lateraes raras vezes medirão mesma ex-
a
tensão, ficando, assim, as aguas divididas e distribuídas sem
a necessaria igualdade;
b) por outro lado, emquanto o proprietário marginal uni-
camente separado da corrente por uma pequena língua de terra,
ou por estreito caminho, não tem direito a empregar as aguas
próximas para irrigaçao do seu fron-
prédio, o proprietário
teiro, ao contrarie, cujo
prédio se estende largamente ao lengo
ua planície, poderá servir-se dessas aguas e empregal-as na
irrigaçao de toda a sua extensa
propriedade (89).
Em virtude destas considerações,
propõe Assis Teixeira
a adopçao do systema das zonas.
Todos os trechos situados em uma
certa zona, préviamente
determinada de cada lado da corrente,
terão o direito de irri-
gaçao, sem se indagar si elles pertencem ao mesmo ou a dif-
rerentes proprietários.
''a ^uv C'UCÍ s^° Ponderosos os argumentos apre-
se ti t'idos
na° resolvo a a
questa°; diminue, apenas,
intensidadeSdo^mal
De facto, qual o critério para demarcar a zona ?
Ate onde ella deve ir ?
A melhor solução é, sempre, estender o domínio publico
sobre as correntes; e o fiz quando exigiam as necessidades
economicas do nosso no
paiz momento.
A lei Jranceza de 1898 não consagrou, também, o systema
das zonas.

E o direito dos é successivo


proprietários marginaes e
eventual e não simultâneo.
Ainda aqui, segui a tradição de nosso direito, que, aliás
assenta em solido fundamento.

(88) Lafayette, Direito das Cousas, 26, n, 3,


§ pag. 68.
(89) Aguas, pag. 108.
496 ANNAES DA GAMARA ¦')

A divisão igual entre todos os proprietários marginaes,


superiores e interiores, attribuiria a eada prédio, mormente
em época de estiagem, uma porção de agua tão insignificante,

que nenhuma utilidade lhes prestaria (90).

Diffcrente é, pelo oodigo, o trato jurídico das correntes


e das nascentes.
Assim que, em relação ás correntes, o uso das águas 6
limitado pela condição dos proprietários rcstitiurem ás rema-
no ponto >:i
nascentes o seu curso natural e ordinário, em que
margem do primeiramente de pertencer
alveo deixe ao prédio.
E, quanto a nascentes, os proprietários podem usar dellas
e dispor do seu uso livremente.
Assim ó pelo Oodigo Italiano (91), pelo Codigo Portuguez

(92), e opelo era Codigo Francez.


Entretanto, a recente lei de 8 de abril de 1898 alterou,
profundamente, o principio na França, estabelecendo para o

proprietário do prédio um simples direito de uso, si a nas-


cento der origem immediatamente a uma corrente com o ca-
racl-er de corrente publica.
Este principio do menor fundamento,
carece, porém, o só
pode, na
pratica, dar logar a freqüentes contestações (93).
Ainda se faz distincção entre as nascentes naturaos e ar-
tificiaes, estabelecendo-se para aquellas o mesmo regimen que
domina as correntes.
Era o principio consagrado na proposta de Alexandre Her-
culano, na discussão do Codigo Portuguez, e que não logrou
ser_ approvada; é também o principio estabelecido no nosso
projecto, pendente do voto do Senado (9í).
Tal principio é, na verdade, o desconhecimento da pro-
priedade particular: portio enirn ar/ri videtur w/na viva.

Dous limites importantes soffre, porém, polo codigo, a


propriedade das nascentes.
O primeiro, a beneficio das povoações cujos habitantes
se abastecerem de uma nascente; o não 6 mister justificar a
imperiosidadc deste limite.
O segundo, para impedir que o proprietário desperdice a
agua dc que não precisa.

(90) Assis Teixeira, Águas, pag. 158.

(91) Art. 540.

(92) Art. Uí.

(93) Courcelle et Dardart, « Legislntion des Eaux i>, pa-


gina 33. -
'(94)'
Art. 571.
407
K'.VI 23 l)li SliTUMISUO L)E 1 ü 12
SESSXo

545 do Código Italiano.


E' o principio consagrado no art.
E este artigo faz honra á theoria moderna da propriedade
«que harmonizar,
deve o direito do pro-
quanta possível,
todo o consorcio civil».
prietario particular com os direitos de
o de uma nascente é senhor destas
Certo, proprietário
aguas, podendo dellas usar corno entender e mesino ahenal-as.
não vae tibi non nocct,
Mas este direito ao abuso: guod
et altiva prodest, facilc cst concedendum.
Aquellas de que ell-e não usa e que elle não aliena, devem

ser occupadas pelos que dellas necessitem.

O regimen da prescripção é incompatível com as appli-


cações variaveis e cada vez mais crescentes que vão tendo as
aguas.
Assim, resolvi abojil-o do codigo.
E accontuando que se respeitavam os direitos adquiridos
antes da
promulgação do codigo, como, aliás, é da própria
Constituição, deixei claro o expresso que esta só se considera
existente quando decorre de opposição não seguida ou dai con-
strucção de obras em prédio superior, como estabelece o Co-
digo Portuguez.
Entretanto, não infringi o principio de irretroactividade
da lei, pois taes requisitos já eram exigidos nosso di-
pelo
reito anterior, como da resolução de 1775. (95)

Em relação ao destino das aguas das


correntes particulares,
o direito moderno repelliu, de vez, o do codigo do
principio
Napoleão. que só as affectava á irrigação dos prédios.
O alvará de 18()íjá tinha aberto caminho, entre nós,
para a doutrina moderna.
O codigo, á semelhança do Codigo Italiano, a proclama
expressamente.
Assim, estas aguas poderão ser empregadas, indifferen-
temente, no interesse da agricultura ou da industria.
O principio está lançado no codigo, em molde bem amplo.
E,
pelo que respeita á agricultura, o codigo não cogita
exclusivamente da irrigação, mas «abrange o inclue o ena-
teramento e colmatagcm dos prédios, e quaesquer outros pro-
cessos que, pelo conveniente emprego da agua, tendam a des-
envolver a agricultura» (00).
A autoridade judiciaria, quando chamada a se pronunciar,
deve conciliar, os interesses da agricultura
quanto possível,
com os da industria.

Cf5) Lobão, Anuas, 75. Paiva e Pitta, «apud» Abel do


Andrade, «Commentario ao Codigo Civil», 251.
pag.

(96) Assis Teixeira, Aguas, pag. 165.


voi. 3Í
438 ANNAliS DA CAMAIIA

E taes ifiièressès não são, realmente, inconciliáveis.


Entendem alguns que a agua empregada por uma usina
não pódo mais servir á irrigação. Certo, diz Louis Robert,
muitas fabricas polluem a agua de tal arte que ella se torna
nociva aos terrenos que deve fertilizar. Em relação a estes
estabelecimentos, 6 mistér que se tomem providencias, impon-
do-lhes a obrigação do filtrações ou outros processos que pu-
xifiquem a agua, das matérias chimicas de que ella se acha
encarregada.
Mas as usinas hydraulicas, destinadas á producção do
energia electrica, continúa elle, não determinam nem corru-
pç.ão, nem desperdício da agua, pois que esta, depois de usada,
6 reconduzida para o seu leito (97).
E este e ia emprego mais importante da agua, na actua-
lidadé.
E, « não somente a agricultura nada tem a temer de uma
exploração intensa das forças hydraulicas, como, ao contrario,
deve esperar algumas vantagens desta exploração».
Estas vantagens são enumeradas por Tavernier. (98)
As derivações industriaes, collocadas a grande altura aoima
dos valles, servem accessoriamente a irrigar terrenos ribeí-
rinhos, cuja importancia jamais teria bastado, por si mesma,
para determinar o estabelecimento destas derivações.
A presença das usinas electricas na visinhança da agri-
cultura proporciona-lhe. a energia a preço barato, para favo-
recer os diversos ramos de exploração agrícola.
Os agricultores e o pequeno commercio rural terão, além
disto, tudo a lucrar com a valorização das forças hydraulicas,
a qual, agglomerando operários, dá sahida aos productos agri-
colas e expansão a este commercio.
A industria serve, pois, á própria agricultura; e o apro-
veitamento electrico serve á agricultura e á própria industria,
em geral, «mi suas variadas manifestações.

_Ein summa: o momento economico nem pôde admittir


duvidas sobre a procedência do dispositivo do codigo.

A ecaça
a pesca são. pelo codigo, asseguradas <ao dono
das aguas particulares, salvo as providencias administrativas,
que incumbem ás Camaras Municipaes, para a: segurança pu-
Jilica ou a conservação da especie, em relação ao modo e d
«'¦poça da caça ou da pescaria.
instituto cuja
Um impõe, adopção
quer no regimen se das
mguas publicas, quer no regimen das aguas particulares, 6 o
do consorcio das associações syndicàes.
Estas associações podem ser livres ou obrigatórias.

'(97)
LOuis Robert, op. cit., pag. 29.

(98) Apiul, Louis flobert, op. cit., pag. cit. e segs.


SESSÃO UAI 23 DK SETEMiiUO ÜK 1912 499

Na primeira liypothe.se, cilas encontram obstáculo na le-


gislação pátrio, que consagra o principio associativo em molües
bem amplos.
Relativamente ás associações obrigatórias, não hesitei em
acceital-as no codigo.
A razão inteira deste instituto se encontra, como salientou
o eminente Pisanelli, no seguinte conceito: a indifferença de

poucos não pôde sacrificar ai utilidade certa de muitos.


As associações syndicaes podem, ainda, ser de direito civil
ou de direito administrativo.
E o critério differencial entre ellas não deve ser a per-
sonalidade jurídica como quer Giorgi, attribuindo a estas tal
personalidade e negando-a áquellas.
Mesmo as associações de direito civil adquirem, pelo nosso
direito, a personalidade jurídica, as formalidades
preenchidas
legaes.
O que as torna de direito administrativo é a intervenção
da autoridade administrativa, na sua constituição.
E a fôrma de organização civil obrigatoria não repugna,
mesmo, aos
princípios do direito commum.
O consorcio, assim constituído, ó uma modalidade cou-
tractual.
Certo, o assentimento das partes, o accôrdo das vontades,
e o elemento^ essencial do todo o contracto.
Este accôrdo deve ser completo: mas não ser una-
pôde
nune.
Em certos casos, diz Planiol, o contracto a se fazer apre-
senta um interesse collectivo.
Dahi uma regra especial para elle: a vontade da maioria
faz lei.
O contracto se fôrma, então, por uma vontade collectiva
que substituo, aqui. a somma das vontades individuaes (99).
Assim, é, por exemplo, 110 caso da concordata, materis
em
no lallencia.

E' desnecessário salientar o pape! das associações syn-


dicaes, no Estado moderno, cujas funeções se a cada
estendem
momento.
Estas associações realizam, muitas vezes, um serviço pu-
}>1 mo, que, interessar, apenas, de
por a um pequeno numero
pessoas e. a um territorio limitado, não deve a ge~
pesar sobre
neralidade tios contribuintes.

E deixei formulado este instituto, na Ttalia, em


corno
termos bem amplos, comprchcndondo interesses
os diversos
ligados ao caso das aguas.

(99)' M. Planiol, Droit Civil, 295.


pag.
500 ' ANNAES DA GAMARA V

Assim, elle compreliende a derivação com fim industrial


c a irrigação, a defesa, o escoamento e a bonificação.
Ainda: deixei accentuado que, quando essas associações
forem de direito administrativo, poderão ter o direito do
desapropriação.

E leis especiaes poderão, posteriormente, desenvolver o

principio estabelecido, de accõrdo com as diversas modalidades


do interesse publico.

Consagrei 110 codigo um livro especial á servidão legal


de aqueducto.
As outras servidões, que derivam da; situação dos logares,
são tratadas conjunctamente com os diversos assumptos do
codigo.
iO nosso direito, embora incompleto, não foi doa mais atra-
zados no assumpto.
Assim
que a servidão legal de aqueducto, creada na me-
tropole pelo alvará de 27 de novembro de 1804, foi mandada
applícar ao Brazil peio alvará de 4 de março de 1819.
E é forçoso proclamar que foi Portugal a segunda nação
que poz em pratica esta servidão, desconhecida pelo indivi-
dualismo do direito romano, e que appareceu na Italia em
1210, na França em 1815 e na Hespanha em 1849.
De um aresto transcripto por Begas se vê mesmo que tal
servidão estava, desde 1071, introduzida no fôro da motropole
(100).
Entretanto, o nosso direito é incompleto, como disse, sobre
o assumpto.
De facto, pelo direito moderno, esta servidão se justifica
nos casos do aqueducto.

a) para as necessidades da vida.


l>) para os usos da- agricultura ou da industria;
c) para o escoamento das aguas superabundanteis;
d) para o enxugo ou bonificação dos terrenos.

Ora,
pelo regimen do Alvará, não está expresso que esta
servidão aproveite á industria.
E' n.vrU que entendi, em outro loga-r, que cila aproveitava
y industria, pelos seguintes motivos:
«Si é verdade de 1805
que o Alvará baixou para attender
aos interesses da lavoura, não é menos certo, porém, que elle
estabeleceu a servidão de
que se trata, não a> rega da
para
terras, como para o movimento de engenhos.'»
«Ora, o emprego da — engenhos — não
palavra deixa du-
vida a respeito: aquella servidão aproveita á industria. E

(100) Abel de Andrade, Commcntario ao Codigo Civil,


pag. 18 4,
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO 1)E 1012 bOl

assim ter entendido Teixeira do Freitas, quando, com


pároco
assento no referido Alvará, refere-se á derivaçao da agua

para beneficio tia agricultura c industrio» (101).


E continua assim entender, nuo deve dos-
pois a doutrina
na interpretação da lei, os interesses sociaos do mo-
prezar,
monto em que ella tem de ser applicada.
Entretanto, lorça é reconhecer em sentido contrario,
que,
se toem entre nós, opiniões valiosas, compre-
pronunciado,
hendendo na referida servidão sómente os serviços ruraes.
E me dispenso d<> mostrar as conveniências de estender,

expressamente, este beneficio á industria.


Mas não ó tudo: o referido alvará não consagra o aque-
dueto apenas, as
para as aguas superabundantes; e sinão, para
águas estagnadas.
De tal arte, que o beneficio se transforma em damno para
o beneficiador e para a conectividade.
Só depois que as aguas derivadas se tornam estagnadas,
isto é, nocivas, poderá o beneficiado fazel-as escoar pelo
prédio de outreir. !

O codigo acceitou, pois, a servidão legal de aquedueto, tal


como ella se acha consagrada no direito moderno.

Em relação, especialmente, ás usinas electricas, seguindo


o voto dos Congressos e a tendencia da legislação moderna,
o codigo expressamente lhes assegura, também, essa servidão.
E, pelo que respeita á passagem do. cabos pelas vias pu-
lilicas, estabeleci a competência da União para fazer con-
cessões, sempre que ollos cortarem mais de um Estado, mesmo
que não se verifique um serviço federal, ou dentro de um
mesmo Estado, 110 caso de empreza de utilidade publica.
Esta providencia, aconselhada pelos cantões da
proprios
Suissa (102) attende não só a um interesse nacional, como ao
dos proprios Estados, que poderão assim ampliar o mercado
para o aproveitamento de sua riqueza, que não "óde encontrar
barreiras nos outros Estados.

Assim, Sr. ministro, tenho concluído exposição, em


esta
que deixei explicado o espirito do codigo e a razão de seus
institutos.
Traduzindo o momenlo da evolução jurídica, procurei con-
ciliar, quanto o interesse com o interesse
possível, privado
collectivo.

(101) Dos rios e pag, 80.


públicos particulares,

(102) TiOuis Roberl, op. cit. ¦44.


pag.
502 ANNAES DA CAMAllA

Mas, não lia desconhecer que as bases deste codigo versam


sobre assumpto em que, mais acceJerada, se opera a traasfor-
mação incessante do phenomeno economico.
O regimen das agaas 6 hoje, sob o de vista eco-
ponto
nomioo, o
proprio regimen da energia eléctrica.
E esta se multiplica, .a todo o momento, em suas prodi-
glosas applioações.
Assim, o direito das aguas ha de ter um movimento cor-
relato.
Procurei, desfarte, generalizar a norma jurídica, para
que a obra legislativa não viesse a se mallograr no dia seguinte
ao da> sua promulgação.
Entrego, pois, o trabalho á apreciação de V. Ex., que
tão de perto conhece todos os da sua —
problemas pasta.
Alfredo Valladão.»

JProjeoto <le bases pax-a o Codigo <la« Ag-ua-H


cia Íítipublica

LIVRO I

Das aguas em geral

TITULO I

DAS AGUAS COMMUNS

Art. l.° E' assegurado o uso gratuito de cor-


qualquer
rente de agua, as
para primeiras necessidades da vida, si houver
caminho publico que a torne accessivel.
Art. 2." Si não houver este caminho, o-s proprietários
marginaes não podem impedir que os seus visinhos se apro-
veitem da mesma para aquelle fim, comtanto que sejam inde-
miiizados do prejuízo que padecerem com o transito
pelos seus
prédios.
§ 1." Esta servidão só se dará verificando-se que os ditos
visinhos não podem haver agua de outra sem
parte, grande
incommodo ou difficuldade.
§ 2."O direito do uso de aguas, a que este artigo se refere,
não prescreve, mas cessa logo que, pela construcção de alguma
fonte publica, as pessoas a quem elle é concedido
possam haver
sem grande difficuldade ou incommodo, a agua de
que carecem.

TITULO II

DAS AGUAS PUBLICAS

Art. 3.° As aguas ser do uso commum


publicas podem ou
patrimoniaes.
Art. 4." O uso commum será gratuito ou oneroso, conforme
determinarem as leis administrativas,
SESSÃO KM 2o !>K 8ETEMB110 DE 1912 503

Art. 5.° As aguas publicas do uso commum estão fór,ai do


commercio, e são, por consequencia, imprescriptiveis emquanto
conservarem este destino.
Art. G.° As aguas ás
patrimoniaes são equiparadas parti-
culares, salvo as restricções sobre a alienação e modo de apro-
veitarnento.
Art. 7." As aguas patrimoniaes podem por disposições de
lei tomar o caracter de aguas de uso commum e vice-versa.,
Art. 8.° Estas aguas podem tomar o caracter especial de
cousas industriaes, ou sob a 1'órma de monopolio ou sob a de
livre concurrencia.
Art.
9.° São publicas de uso commum:
«)
as correntes, canaes, lagos e Lagôas navegaveis ou
fluetuaveis;
b) as correntes de que se façam estas aguas;
c) os braços de quaesquer correntes publicas.
§ 1.° Uma corrente navegavel ou fluctuavel se diz feita
por outra, quando esta desagua em em aquella ainda
ponto que
não é navegavel ou fluctuavel.
§ 2." Às correntes de que se fazem os lagos e lagôas na-
vegaveis ou fluetuaveis serão determinadas exame de
pelo
peritos.
§ 3.° Não se comprehendem na lettra a) deste artigo os
lagos ou
lagôas situados em um e por elle

prédio particular,
exclusivamente cercados, não alimentados
quando sejam por
alguma corrente de uso commum.
Art. 10. A perennidade das aguas é. condição essencial,
para que ellas se possam considerar nos termos do
publicas,
artigo antecedente.
1'aragrapho único. Entretanto, deste co-
para os effeitos
digo, ainda serão consideradas
perennes as >aguas que seccarem
em algum estio forte.
rím!} COITenfo considerada
i ti j1'V publica, nos termos da
Jettra do iart.
a) J°, nao perde este caracter
porque em algum
ou alguns de seus trechos deixe de ser navegavel
ou fluctuavel.
Art. 12. Ainda se consideram
publicas, de uso commum,
todas as aguas situadas nas zonas periodicamente assoladas
pelas seccas.
Paragrapho único. Estas zonas serão próvia e devidamente
demarcadas
pelo Governo Eederal, podendo este, para tal fim,
entrar cm aocôrdo com os governos dos Estados.
Art. 1,3. São publicas
patrimoniaes todas as aguas situadas
em terrenos de domínio
publico, si ellas não estiverem desti-
nadas ao uso commum.

TITULO III

DAS AGUAS PARTICULARES

Art. 1/,. são situadas


particulares todas as aguas em ter-
renos do domínio particular, quando ellas não pertencerem ao
domínio
publiFo.
ANNAES DA CAMAUA

TÍTULO IV

no ai/veo r: das mauo f.n s

Art. 15. São públicos do uso commum o alveo o as mar-

gens das águas publicas do que trata o art. 0", salvo, quanto
ás margens, a hypothese do art. 20.
Art. 10. ü alveo é a superfície que as aguas cobrem, sem
transbordar para o sólo naturalmente enxuto.
§ 1.° Na hypothese de uma corrente que sirva do divisa
entre diversos proprietários, o direito de cada um delles se
estende a todo o comprimento de sua testada até a linha tirada
pelo centro do alveo.
2.° Na hypothese de um lago ou lagoa nas mesmas con-

dições o direito de cada proprietário estende-se desde a margem
até a linha ou ponto central, na extensão da testada- de cada um.
Art. 17. As margens a que allude o art. 15 consistem
cm uma faixa de terreno de 15,4 metros, a contar da linha
em que termina o alveo, para terra.
Art. 18. Esta faixa é destinada aos serviços hydraulicos,
de policia ou accessorios da navegação ou fluctuação.
Paragrapho único. Entretanto ella poderá ser concedida,
na férrna da legislação vigente, sobre terrenos de marinha.
Art. 19. O limite entre estas margens e os terrenos de
marinha, para o effeito de se demarcarem 4 5,4 metros de lar-
gura da faixa, ou 33 metros corno é no caso dos terrenos de
alcance das marés, é indicado pelo ponto onde as aguas dei-
xarem de ser salgadas de um modo sensível, ou não houver
liopositos marinhos ou qualquer outro facto geologico que
prove a acção poderosa do mar.
Art. 20. Não se consideram de dominio publico as margens
das correntes de que trata a lettra b) do art. 0o, quando estas
não são fluetuaveis e concorrem, apenas, formar as cor-
para
rentes, canaes, lagos ou lagoas simplesmente fluetuaveis e não
navegaveis.
Paragrapho único. Ern relação ás margens destas cor-
rentes fica estabelecida, porém, uma servidão de transito para
os agentes administrativos, quando em execução do serviço
publico a seu cargo.

TITULO V

DA ACCESSÃO

Art. 21. Constituem alluvião, o são públicos de uso


commum, na hypothese de correntes deste dominio, os acere-
scimos que, succesaiva e imperceptivelmente, se formarem nas
margens das correntes, bem como a do alveo se
parte que
descobrir pelo afastamento das aguas.
Art. 22. A alluvião que se formar ás margens das cor-
rentes de dominio particular ou das correntes de dominio pu-
blico, a que se refere o art. 20 pertence aos proprietários
marginaes.
KM 23 ÜK SCTiiMtmo 1)13 1912 505
êíiSSÃO

1.° A alluvião formada ás margens das correntes de


§
o art. 20, ao domínio publico, sempre
Que se refere pertence
for limitado estrada deste domínio.
que o níveo por uma
a alluvião se formar em 1 rente a prédios
§ 2.°
Quando
far-se-lia a divisão
pertencentes a proprietários differentes,
testada cada um dos prédios
entre elles, em proporção á que
apresentava sobre a antiga margem.

Art. 23. Verifica-se


a avulsão a força súbita da
quando
uma e reconhecível de
corrente arranca parte considerável
um prédio, arrojando-a sobre outro prédio.

O dono daquelle reclamal-a ao deste,


Art. 24. poderá _a
optar, ou consentimento na remoção
quem é permittido pelo
da mesma, ou pela indenmização ao reclamante.
Paragrapho único. Não se verificando esta reclamação

um anno, a incorporação se considera consum-


no prazo de
macia, o direito de reivin-
e o proprietário prejudicado perde
dicar c de exigir indenmização. _
Art. 25. Quando a avulsão fôr de cousa não susceptível
de natural será regulada de di-
adherencia pelos principies
roito que regem a invenção.
Art. 20. Os terrenos accrescidos ao domínio publico,_ por
alluvião ou avulsão, ser concedidos, como dispõe o
podem
paragrapho único do art. 18.
Art. 27. As ilhas ou ilhotas, que se formarem 110 alveo

de uma corrente, pertencem ao dominio publico ou particular,


conforme o dominio da mesma corrente.

§ 1."
Si a corrente servir de divisa entre diversos pro1-
e ellas estiverem 110 meio da corrente, pertence a
prietarios,
todos estes proprietários, na proporção de suas testadas, até

a linha que dividir o alveo em duas partes iguaes.


As estiverem situadas entre esta linha- e uma
§ 2." que
das margens, pertencem, apenas, ao proprietário ou proprie-
tarios desta margem.

Art. 28. As ilhas


que se ou
formarem pelo des-
ilhotas,
dobramento de um corrente, pertencem aos pro-
novo braço da
dos terrenos, á custa dos quaes se formaram.
prietarios
Paragrapho único. Si a corrente, porém, é navegavel ou
fluctuavel, ellas entrar o dominio me-
poderão para publico,
diante prévia indemnização.
Art. 29. As ilhas ou ilhotas, quando de dominio publico,
consideram-se salvo se estiverem des-
cousas
patrimoniaes,
tinadas ao uso commum.

Art. O alveo abandonado da corrente


30. ou par-
publica
duas margens,
tioular pertence aos proprietários ribeirinhos das
sem tenham direito a indemnização alguma os donos dos
que
terrenos onde as aguas abrirem novo curso.
por
Art. 31. Entretanto, si a mudança da corrente se fez por
utilidadepublica, oprédio occupado pelo novo alveo deve ser
indemnizado e o alveo abandonado passa a pertencer ao ex-

para que este se compense da1 despeza feita,


pfopriante,
506 ANNAES DA GAMARA

Ari. 32. As disposições deste titulo são applicaveis, tam-


bejj),a.os lagos e lagf)as, nos casos ánalogos ahi
que possam
occorrep.

LIVRO II

Das aguas publicas ein relação aos seus proprietário::

Art. 33. As aguas de uso commum, bem como


publicas
o seu alveo e margens, salvo, ás margens, a hypotliese
quanto
do art. 20, pertencem:
I. A' União:

a) quando situados no Territorio do Acre. ou em


qualquer
Outro territorio que a JJnião venha a adquirir, emquanto o
mesmo não se constituir em Estado ou frtr incorporado a algum
Estado;
b) quando servem de limites da Republica- com as nações
vis] ilhas;
c) quando situadas na zona de 10 léguas contígua aos li-
mitos da Republica' com
nações. estas
TI. Aos Estados, em ¦outra hypothese,
qualquer salvo o
caso do dominio municipal.
III. Aos municípios, exclusivamente situados 110
quando
seu territorio, respeitadas as restrieções que possam ser im-
postas pela legislação dos Estados.
Art. 3-5. As aguas publicas patrimoniaes pertencem á
União, aos Estados ou aos municípios, conforme o dominio
uos terrenos em elIas estiverem situadas.
que

LIVRO III

Do aproveitamento das aguas publicas

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Ari. 35. E'


a todos usar de
permittido quaesquer aguas
publicas, oonformando-se com os regulamentos administrativos.
I aragrapho único.
Quando este uso depender de derivação,
será regulado nos termos do art. 48.

TITULO I

Da navegação

Art. 30. O uso das aguas se deve realizar


publicas sem
prejuízo da navegação ou da fluctuação, salvo a bvpothese
do art. 52.
Art. 37. As pontes serão construídas deixando livre a
passagem das embarcações.
Paragrapho único. Assim, estas não devem na ne-
ficar
cossidade de nrriar a mastreação, salvo si é este o uso local.
Art. 38. A navegação de cabotagem será feita navios
por
nncionaes.
BHSSXU UM 21} OE SETKM HHO Uü 1013 ÜU7

CAPITULO ÚNICO

DA COMPETENCIA ADMINISTRATIVA

ArjL 30. Compef# á União:

T. Legislar sobre a nevegação, incluída a fluetuação, das


correntes o canaes de seu dominiQ.

Legislar sobre a navegação das correntes ou canaes:

a) que correm por mais de um Estado, dirigem-se a ter-


ritorio estrangeiro ou desaguam no oceano;
b)
que fizeram parte do plano geral de viação da- Repu-
blica, que 1'ôr adoptado pelo Congresso;
'forem,
c) que, futuramente, Poder
por decreto eipanajio do
Legislativo, considerados de utilidade nacional, por satisfà-
zerem a necessidades estratégicas ou corresponderem a ele-
vados interesses do ordem ou administrativas.
política

Art, 40. Compete aos Estados, salvo a cpmpetenoia dos


municípios, legislai;

a) sobre a navegação das correntes ou canaes situados


em seu territorio, quando não se verifiquem os casos do ar-
tigo antecedente;
b) sobre a fluetuação destas correntes ou canaes, salvo a
hypotbese do n. I, do artigo antecedente.

Art. M. Compete aos municípios legislar sobre a nave-


gação àu fluetuação das correntes ou canaes situados em seu
territorio, sempre que o caso não fòr de competencia da União
ou dqs Estados.
Art. iQs principios estabelecidos neste capitulo teem
applicação, em casos analogos, aos lagos ou lagôas.

TITULO II

Da caça e da pesca

CAPITULO I

DA CAÇA

Art. 43. A nas aguas


poderá ser exercida, livremente,
caça
publicas, do accôrdo com -os regulamentos administrativos.
Art. 44. Pertence ao caçador o animal por elle appre-
bendido.
Paragraplio único. Entretanto, si elle o animal
perseguir
nue tiver ferido, este ainda llio pertence, embora outro o ap-
prehenda.
Art. 45. Não se animaes de caça os domésticos
reputam
que fugirem a seus donos, emquanto estes andarem á *ua

procura.
508 ANNAES DA GAMARA

CAPITULO TI

PA PESCA

ArL 40. E' também livre o exercício da pesca, por na-


cionaes ou estrangeiros, nas aguas publicas, respeitados os
regulamentos administrativos.
Art. 47. Pertence ao pescador o peixe que clle pescar o o
que perseguir, arpoado, tenha-o, embora, outrem apprehendido.

TITULO III

Da derivação

Art. 48. As aguas publicas não podem ser derivadas para


as applicações da agricultura, da industria e da hygiene, sem
a existencia de concessão administrativa.
Paragrapho único. Nenhuma concessão, porém, so fará
com o caracter de perpetuidade.
ArL. í!). Em toda a concessão se estipulará, sempre, a
clausul» de resalva dos direitos de terceiros.
Art. 50. A concessão não importa, nunca, na alienação

parcial das aguas publicas, que são inalienáveis, mas no


simples direito ao uso destas aguas.
Art. 51. O código respeita os direitos adquiridos sobre
estas aguas, até á data de sua promulgação, por titulo legitimo
ou posse trintenaria.
Paragrapho único. Estes direitos, porém, não podem ter
maior amplitude do que os que o codigo estabelece, no caso
da concessão.
Art. 52. A concessão deve ser feita sem prejuízo da na-
vegação, quanto ás aguas que servirem effectivamente ao com-
mercio.
Art. 53. Em >outra hypothese, a navegação po-
qualquer
derá ser
preterida, si o interesse da derivação se apresentar
com maior importancia do que aquella.
§ 1." O Governo Federal, em regulamento que expedir,
estabelecerá as condições em que este caso se verifica.

§ 2." Este regulamento providenciará, ainda, sobre as

condições da derivação, de modo que se conciliem, quanto pos-


sivol, os usos públicos a que estas aguas se prestam.
Art. 54. As aguas destinadas a um fim não poderão ser

applicadas a outro diverso, sem nova concessão.

Art. 55. O uso da derivação é real: alienanrlo-se o prédio

ou o engenho a que elle serve, passa o mesmo ao novo pro-

prietario.

CAPITULO ÚNICO

DA COMPETENCIA ADMINISTRATIVA

Art,. 56. As concessões para derivação serão outorgadas


Estados ou pelos municípios, conforme o seu
pela União, pelos
dominio sobre- as aguas a que se referir a derivação,
SESSÃO EM DE SETEMBRO DE 1912 SOO
23

Ãrt. 57. Em ás aguas de


relação, que trata o
porém,
art. 39, n. ficam, bem como os seus respectivos alvco
II, ellas
-da e da autorização do Governo
e margens, debaixo inspecção
Federal sejam occupadas sem damno para a nave-
para que
gação que servir, effectivamente, ao commercio.
Art. 58. E esta autorização será sempre previa e expressa,
no
caso de derivação o estabelecimento de usmas ele-
para
ctricas. .
,
Art. 59. Os locaes deverão, para tal nm, sc>u-
governos
citar licença do Governo Federal, enviando-lhe as plantas das

usinas a installar, afim de este verifique si não na ob-


que
strucção, ou faça a desapropriação utilidade publica fe-
por
deral, quando fõr caso disto.
Art. 00. O Governo Federal
expedirá regulamento sobro
domínio, bem
a concessão de usinas movidas por aguas de seu
como sobre a das que se estabelecerem por desapropriação quo
elle decretar.

TITULO IV

Da extincção do uso publico

Art. Cl. Os usos geraes a que se prestam as aguas pu-


blicas, só por disposição de lei se podem extinguir.

Art. G2. Os usos de derivação extinguem-se:

a) pela renuncia;
b) pela caducidade:
pela expiração do prazo;
d) pela revogação.

Art. (53. E' sempre revogavel o uso das aguas publicas..

TITULO V

Da desobstrucção e da defesa

Art. Oi.aguas Nas


publicas de uso eommum, os pro-
dos confinantes são obrigados a cortar e
prietarios prédios
aparar as arvores e plantas existentes nos seus prédios, que
embaracem ou prejudiquem o regimen e curso das aguas, e a
navegação ou fluctuação; e a remover os obstáculos que tenham
or ig( ¦m nos mesmos prédios e sejam nocivos áquelle fim.

Paragrapho único. As arvores e plantas serão cortadas; e


os obstáculos removidos, pelos agentes da administração, á
custa dos proprietários, quando estes não o fizerem.
Art. 05. Si o obstáculo não tiver origem nos prédios mar-
ginaes mas fôr devido a. accidente ou á acção natural_das aguas
ou (torrentes, o dono será obrigado a fazer a remoção ou des-
truição delle, nos termos do artigo anterior e seu paragrapho.
Parngrapho único. Não havendo dono conhecido, elle será,
removido ou destruído pelos agentes c á custa da adminis-

I
iHO ANNAliS DA CA.MAllA

tração, a esta qualquer producto proveniente do


pertencendo
mesmo obstáculo.
Art. 66. As obras de defesa contra as inundações serão
feitas proprietários dos prédios inutidadoa, mediante
pelos
licença previa da administração.
íaragraplio único. Si estas obras interessarem ao proprio

regimen das águas publicas, a dcspeza será repartida entre

a administração e os proprietários.

CAPÍTULO ÜNICO

DA COMPETENCIA ADMINIST1UTIVA

Art. 67. Compete á União, aos Estados ou aos Municípios


sobre a desobstrucção e defesa nas aguas de seu
providenciar
dominio.
Art. 68. Em relação, ás aguas de que trata o
porém,
art. 39, n. II, esta compètehciá é da União sempre que se

tratar do navegação, effectivamente, commercial, sendo as des-


respectivas divididas entro ella o os Estados interes-
pezas
sados•
Paragrapho único. O Governo Federal poderá, quando en-
tender, entrar em accòrdo com os dos Estados, para a reali-
zação destas obras.

TITULO V

Da tutela dos direitos da administração e do3 particulares

Art, A administração sua própria força


69. publica, por
c autoridade, repor incontineníi, no seu antigo estado,
poderá
as aguas bem como o seu leito e margem, quando
publicas,
illegal ou contravencronalmente occupadas por particulares.
Art. 70.Assiste, ainda á mesma administração, o direito
interesse publico, mesmo
de assiin proceder, quando o exigir o
haja occupação legalmente estabelecida.
que
direito de reintegra administrativa cabe
Art. 71. Este
rtinda no caso do art. 3'!), n. II, e mesmo contra os
á União,
sempre a redundar em
Éslítdos ou Mtmicipios, que pcCupaçao
sirva, effectivamente, ao com-
de navegação qtue
prejuizo
T'U1C'lrt.
porém, quando assim
A administração
72- poderá,
no juizo petitoriO ou possessorio, o sou do-
entender, pleiteai-,
minio e posse sobre estas aguas. . .
(íos recursos a administração, os paiti-
\rt 73. Além
mas exclusivamente no juízo pe-
vnlnres noderãò accional-a,
«xpressos em que tiverem
tão somente nos casos
t torio e
haver esta, quando a admmis
direito a indemnização, para

tração sup^rinur ^^TbScio*do


regi-

JSSÜMS X
n SSSÍtt
S5& MS
-Jo
SESSÃO E-Ú UE SfcfEÜíiíiO ÜE l'Jl- Üll

o direito de acciónal-a, no juízo pelitorio 0(1 posséãsorio, para


a defesa de feeus direitos.
Art. 75. Os
particulares poderão defender 0's Sòus direitos
contra dütros particulares, no Jtiizcf iífeiitorio, paira quo se
decrete, meSirio, rt iiiefficaCia de qualquer concessão.
Art. 76. Os particulares ainda poderão defender estes
direitos, 110 juizo possessorio, mas só 110 caso em que apre-
sentem coííiO titulo uma concessão expressa ou outro titulo
legitimo equlvatente.

LIVRO IV

Do ápróvcitamentei das aguas particulares

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 77. As aguás particulares ficam debaixo da irtspC-


cção e dal autorização da administração publica, quando a uti-
lização dellas possa ififluir nt) direito' de teròèfros Ou na qua-
lidade, o curso ou ri altura dás agüás publicas.
Art. 78. Os prédios inferiores são obrigados a recè-
ber as aguais que côrrem naturalmente dos prédios supe-
ritíres.
Art. 79. O fluxo natüral, para os inferiores, dè
prédios
água pertencente ao dono do prédio superior, não coiístitue
por si só servidão efrt favòr deífes.

TlTülO í

Das correntes

Ari. ,80. Os donos ou possuidores de prédios atravessados


ovi banhados pe'as aguas correntes, podem usar dellas para a ir-
rigação' do seus prédios ou para o exercício de suas industrias,
romtanto que do refluxo das mesmas aguás não resulte pre-
juizo aos prédios que ficam superiormente situados, e que in-
feriormente não se altere d pOntô de sahida das aguas rema-
nescentes.

§ 1.° Entende-se por pofito de sahida aquelle onde uma


das margens do alveo deixa de ao
primeiramente pertencer
prédio.
— aguas réma-
§ 2.° Não se comprehendem na expressão
íiascentes — as escorredouras.
Art. 81. Si o tf atravessado corrente, o dono
prédio pela
ou nos limites delle, desviar o alveo da cor-
possuidor poderá,
rente, respeitando as obrigações lhe são impostits pelo ar-
que
tigo antecedente.
Art. 82. Tem inteira apnliçação, ao caso das
porém,
correntes, o dispõe o art. 120.
que
Art. 83. Si o prédio é simplesmente banhado cor-
jiélá
rente, e as águas não são sobejas, far-se-ha a divisão entre o
dono ou o o do fronteiro
possuidor delle prédio proporcional-
mente á extensão dos prédios o ás suas precisões.

V
$12 ANNAES DA CAMA1U

Paragrapho único. Devem-se harmonizar, quanto possível,


nesta os interesses da agricultura com os da indus-
partilha,
tria; e o juiz terá a faculdade de dicidir ex bono asquo.
Art. A situação
84. superior de um prédio não exclue
o direito prédio fronteiro á porção de agua que lhe cabe.
do
Art. 85. Si os donos ou possuidores dos prédios margi-
naes, atravessados pela- corrente ou por cila banhados, os
augmentarem, com a adjuncção de outros prédios, que não
tiverem direito ao uso das aguas, não as poderão empregar
nestes com prejuízo do direito que sobre ellas tiverem os
seus visinhos.
Art. 86. ,E' iinprescri|)tivel o direito de uso sobre as cor-

rentes particulares, o qual só poderá s,er alienado por escri-

ptura ou auto publico.


Paragrapho único. Respeitam-se os direitos adquiridos ate
a data da deste Codigo, por titulo legitimo
promulgação
ou que recaia sobre opposição não seguida, ou
prescripção,
sobre a construcção de obras no prédio superior, de que" se
inferir abandono do primitivo direito.
possa
Art. 87. O direito do uso das aguas dá também,
ao pro-

prietario ribeirinho o direito de lazer na margem ou no alveo


da corrente as obras necessarias ao exercício deite.
Art. 88. Si o é atravessado pela corrente, o seu
prédio
poderá travar estas obras em ambas as margens
proprietário
da mesma. , , , „
Art. 89. Si o é simplesmente banhado por ella,
prédio
marginal fazer obras, apenas, no
cada proprietário poderá
trato do alvieo que lhe pertence.
Paragrapho único. Em todo caso, este proprietário po-
traval-as na fronteira, mediante previa mdem-
derá margem
nização ao respectivo proprietário.
do serviente' poderá, no
Art. 90. O
proprietário prédio
aproveitar-se da obras ieita,
caso do paragrapho antecedente,
commum, desde uma parte da despeza
tornando-a que pague
respectiva, na do beneficio que lhe advier.
proporção

CAPITULO I

UA DESOBSTRUÇÃO
"proprietários
marginaes das correntes são
Art. 91. Os
a se abster de factos que possam embaraçar o livre
obrigados
os obstáculos a este livm curso,
rurso das aguas, e a remover
de modo a evi-
mjando elles tiverem origem dos seus prédios,
não fiH" proveniente de legitima
(ar niviuizo de terceiros, que
a p p1 i^c, açaod as agu as
^^^ serviç0 de rem0ção do obstáculo

á do
proprietário
custa a quem ella incumbe, quando
será feito
fazel-o, respondendo ainda, o proprietário
esle não queira
bem como pelas multas
nelas nerdas p damnos que causar,
nos regulamentos administrativos.
nue lhe forem impostas
das aguas nao re-
i"» obstáculo ao livre curso
\rt !>2..Si
o não tiver origem no prédio,
sultar de facto do proprietário
i„ SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 EJÍ3

mas for devido a accidentes ou á acção do proprio curso d'agua,


será removido pelos proprietários de todos os prédios preju-
dicados.
Art. 93. No caso do artigo anbecendente, o dono do pre-
dio em quo estiver o obstáculo o obrigado a consentir que os
proprietários interessados entrem em seu prédio para fazer
a remoção, respondendo estes que lhe cau-
pelos prejuízos
sarem._

CAPITULO II

da caça e da pesca

Art. 94. Os proprietários marginaes, ou as pessoas que


delles obtiverem licença, poderão livremente caçar ou pescar
nas aguas do domínio particular, salvo a restricção do artigo
seguinte.
Art. 95. As camaras munieipiaes, em regulamento quo
expedirem, e de accòrdo com a legislação dos Estados, provi-
dcnciarão, entretanto, para que o exercício da caça ou da pesca
se faça sem priejuizo para a segurnça e a re-
publica para
producção da especie.
Art. 9G._ Aquelle que_caçar ou em aguas alheias,
pescar
sem permissão do dono, não só perderá para este a caça ou o
peixe, como responderá ainda pelos damnos que tiver causado1.
Art. 97. O direito do proprietário, cujo
prédio é simples-
mente banhado pela corrente, comprehende, apenas, a caça
o a pesca no trato do alveo que llie pertence.
)'

TITULO II

das usinas electrioas

Art.
98. O dono de um prédio atravessado por uma cor-
rente pôde se servir da quéda de agua determinada polo nivel
médio da estrada sobro o prédio o o nivel inódio da sa-
liida.
Art. 99. Si o curso de agua separa dous
prédios perben-
contes a diversos proprietários, o direito de se servir da quéda
pertence a cada um delles pro-incliviso sobre todo o percurso,
commum, salvo titulo ou posso em contrario.
Art. iOO. Em ambos os casos, porém, o exercício deste
direito fica subordinado á autorização administrativa.

CAPITULO I

DA LICITAÇÃO

Art. 101.Qualquer ribeirinho do uma corrente pôde rc-


querer que os direitos pertencentes aos ribeirinhos, cm virtude
do capitulo antecedente, sobre uma secção determinada da
corrente, comprehendendo a parto quo banha o seu prédio, fa-

çam objecto do uma licitação.

Vol. 33
514 annaes da gamara

Art. 102. O processo e a instrucfião da licitarão competem


á administração publica, que expedirá para tal fim, o neces-
sario regulamento.

Art. 103. O julgamento da licitação cal» ao Poder Ju-


diciario.

Art. 104. A altura da queda de agua, em relação a cada


prédio, não deve constituir o único elemento da apreciação
para se estabelecer o preço da licitação ; a privação, para os
ribeirinhos, de outras vantagens, como a propriedade da agua,
do alveo, de seus productos, etc., deve ser levada em linha
de conta.

Art. 105. A adjudicação nunca poderá ser feita por


preço inferior ao da avaliação.

Art. 100. O adjudicatario, no prazo de dous mezes de-

pois da adjudicação definitiva, é obrigado a requerer autori-


;:ação administrativa para o estabelecimento das obras neces-
sarias á utilização da queda e a se conformar com os prazos
que lhe forem impostos pela administração para a oonstrucção
destas obras.

Paragrapho único. Quando o adjudicatario assim não pro-


ceda, uma nova adjudicação poderá ser determinada pelo juiz,
a requerimento de qualquer ribeirinho da secção, ou do repre-
sentante da administração.

Art. 107. Na hypothese de nova adjudicação, em cum-

do artigo antecedente, elle se fará da mesma fôrma


primeuto
que a adjudicação primitiva.

Art. 108. Se da revenda fôr inferior ao da pri-


o preço
meira adjudicação, o adjudicatario perderá a dii-
primitivo
íerença.

Art.
109. este for superior, a dilferença será
Si preço
dividida entre os ribeirinhos licitados.
proporcionalmente
ri ao podem
Art. 110. As acções sobre os immoveis ribeirinhos
embaraçar a licitação nem impedir o seu effeito.

Paragrapho O direito dos reclamantes1 será dis-


único.
transferindo-se ao adju-
putado sobre preço da adjudicação,
o
de se servir da quéda, livre de quaesquer
dicatario o direito

encargos.

111. da adjudicação deve ser pago aos ri-


Art. O preço
inicie as obras.
beirinhos licitados, antes que o adjudicatario

único. Si estes não quizerem receber o preço,


Paragrapho
ser começadas mediante prévia consignaçao
as obras poderão
do mesmo.
judicial

Si houver inscripção hypothecaria ou outros


Art. 112.
obras da mesma forma,
ao pagamento, as poderão,
obstáculos
o preço para ser
ser iniciadas consignando-se judicialmente

levantado por quem de direito.


SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912

CAPITULO II

DA SOBRE-LICITAÇÃO

-A.rt.
113. Qualquer ribeirinho da montante ou da ju-
¦íante do trecho licitado da corrente,
poderá requerer uma nova
licitaçao, englobando os direitos já licitados.
Art. 114. bo clous annos depois da installação de uma
usina o adjudicatario poderá ser
sobre-licitado.
Art. 115. A sobre-licitação não será permittida sinão
quando a usina a mstallar seja de força motriz, pelo menos,
cinco vezes superior á da antiga usina.
Art. 116. O adjudicatario sobre-licitado poderá ser pago,
a sua vontade, em dinheiro ou in natura.
Quando in natura, o pagamento
f.j-" consistirá em uma
quantidade de energia electrioa, pelo menos, igual á que o pro-
prio adjudicatario sobre-licitado tinha anteriormente.
S ri ca instituída, neste caso, uma servidão, die prefe-
rencia a qualquer outra, gravando a nova usina, a beneficio
da usina sobre-licitada.

TITULO II

DAS NASCENTES

Art. 117. Consideram-se


nascentes,
para os effeitos deste
Codigo, as que surgem e correm
aguas dentro de um só prédio
particular, o ainda que o transponham, ellas
quando não te-
nham sido abandonadas pelo proprietrio do mesmo.
Art. 118. O dono do prédio, onde houver alguma nas-
ciente de agua pode servir-se delia e dispor da mesma á sua
vontade, salvo o direito que algum terceiro tenha, adquirido
por titulo legitimo ou prescripção.
Art. 119. São applicaveis ás nescentes do
as disposições
art. 78 e seu paragrapho.
Art. 120. O proprietário de uma nescente não pôde, po-
rérn, desviar-lhe o curso quando da mesma se abasteça uma
população.
Art. 121. Em todo caso, si e@te uso não tiver adqui-
t idopor titulo legitimo ou o mesmo
prescripção, proprietário
deverá ser indemnizado.
Paragrapho único. A indemnização a se será cal-
pagar
culada não em vista das vantagens a fira das
que população
aguas, mas do prejuízo que soffre o com o
proprietário
ver-se privado d© usar da nascente á sua vontade.
Art. 122. O proprietário de uma nascente não poderá,
entretanto, desperdiçar as suas aguas em de outros
prejuízo
prédios, que dellas se possam aproveitar.
Paragrapho único. Ao proprietário assiste, neste caso, o
direito a uma justa indemnização.
Art. 123. Si uma nascente emerge em um fosso di-
que
vide dous prédios, ella pertence a ambos.
516 ANNAES DA GAMARA'

Art. 124. A nascente de uma agua será determinada pelo


ponto em que cila começa a correr sobre o solo, e não pela veia
subterranea que a alimenta.

CAPITULO ÚNICO

DAS NASCENTES ARTIFICIAES

Art. 125. O dono de um prédio é, também, proprietário


das aguas que se acham situadas 110 sub-solo.
Art. 126. Assim, elle poderá, livremente, abrir poços or-
dinarios ou artesianos para elevar as aguas a seu prédio,
desde que não prejudique direitos adquiridos' por terceiros,

por justo titulo, sobre as aguas deste prédio.


Art. 127. tiuadar-se-ha, entretanto, a distancia de dous
metros de a poço, nos prédios urbanos,_ e de 15 metros
poço
nos rústicos, entre a nova excavação e os poços e
prédios
fontes permanentes dos visinhos.
Art. 128. O proprietário, porém, não poderá abrir poços
distancia necessaria
junto ao prédio do visinho, sem guardar a
í>u tomar as para que elle não padeça pre-
precisas precauções,
íuizo. ...
Paragraplio único. Pela inobservância deste artigo, elle

ficará obrigado a demolir a obra feita e responderá por perdas


o damnos. . , , .
ainda, ser aberto de
Art. 129. Nenhum poço poderá,
fôrma ou diminuir s aguas de fonte ou reservatório
a alterar
de uso publico. ,
Art. 130. As correntes que desapparecem momentânea-

do formando um curso subterrâneo, para reappa-


mente solo
o caracter de cousa publica de
recer mais longe, não perdem
uso conimum, já o eram na sua origem.
quando
do autorização administrativa a aber-
Art. 131. Depende
tura de poços em terrenos do dominio publico.
applicalção a esse capitulo, em
Art. 132. Tem inteira
analogos, as disposições do capitulo anterior.
casos

TITULO IV
1

Das acções

ém relação ás
Art 133 • Os direitos dos particulares,
trata este livro, serão disputados em processo
aguas dl' que
summaxi ¦
o beneficio da_ acção
^ ^ Aquclle que, renunciando
decahir nesta, nao po-
intentar a acção petitoria,
possessoria,
derá intentar póssessoria.
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912

LIVRO V

Das aguas pluviaes

Art. 135. Consideram-se aguas pluviaes, os effeitos


para
deste codigo, as que immediatamente das
procedem chuvas.
Art. 130. Os prédios inferiores são obrigados a recebe-
rem as aguas pluviaes correm naturalmente elles.
que para
Art. 137. As aguas pluviaes
pertencem ao dono do prédio
onde cahirem ou entrarem, o mesmo dispor dei Ias
podendo
e desvial-as em prejuízo dos inferiores, salvo exis-
prédios
findo adquirido
direito em contrario.
Paragrapho único. Tem inteira applicação, porém, ao
caso, o
que dispõe o art. 122.
Art. 138. São de domínio de uso commum as
publico
aguas pluviaes que cahirem em logares ou terrenos públicos
de uso commum.
Art. 13'i). A todos 6 licito apanhar estas aguas.
Paragrapho único. Não se construir,
poderão, porém,
nestes logares ou terrenos, reservatórios o aproveita-
para
mento das mesmas aguas, sem licença da administração.
Art. 140. E' imprescriptivel o direito de uso das aguas
pluviaes.
Art. 141. Os proprietários são -obrigados a dispor os seus
telhados de modo que as aguas pluviaes caiam sobre o seu
proprio prédio ou sobre a via publica ; nunca sobre o prédio
do visinho.
Art. 142. Compete ás camaras municipiaes, de accôrdo
com a legislação dos Estados, regular tudo o respeita
que
ao esgoto das aguas pluviaes sobre a via publica.

LIVRO VI

Das aguas nocivas

Art. 143. A ninguém é licito conspurcar ou contaminar


as aguas que não consome, com prejuízo de terceiros.
Paragrapho único. Além da responsabilidade criminal, si
houver, os que infringirem esta disposição ficam sujeitas ás
regras deste codigo.
Art. 144. Os trabalhos para a salubridade das aguas serão
executados á custa dos infractores, respondendo estes pelas
perdas e damnos causarem e multas que lhes fo-
que pelas
rem impostas nos regulamentos administrativos.
Art. 145. Si os interesses relevantes da industria o exi-

Rirem, as aguas ser incfuinadas, mas os industriaes


poderão
deverão que cilas se purifiquem por qual-
providenciar para
quer processo ou sigam o seu esgoto natural.
Art. 146. Os industriaes deverão, tratando-se de cor-
rentes indemnizar os ribeirinhos prejudicados,
particulares,
pelo favor lhes for concedido no caso do artigo antece-
que
dente. ...
518 ANNAES DA GAMARA

Art. 147. Os_ terrenos pantanosos, quando decretada a sua


insalubridade e não forem deseccados pelos seus proprietários,
sel-o-hão pela administração publica.
Art. 148. Esta poderá realizar os trabalhos por si ou

por concessionário.
Art. 149. Ao proprietário assiste o direito de indemnizar
os trabalhos feitos.
Paragrapho único. Si elle não o quizer fazer, será des-
apropriado, recebendo apenas a importancia do valor do ter-
reno, anteriormente ao melhoramento.
Art, 150. O regimen dos esgotos será regulado por lei
municipal.

LIVRO VII

Da desapropriação

Art. 151. As aguas publicas de uso commum ou patri-


moniaes, dos Estados ou dos municípios, bem como as par-
ticulares, e o alveo « margens, daquellas ou destas, podem ser
desapropriadas necessidade ou utilidade publica:
por

a) todas ellas
pela União ;
b) as dos municípios e as particulares, pelos Estados ;
c) as particulares pelo municípios.

Art. 152. A s<3


desapropriação se poderá dar na hypo-
these de algum serviço publico classificado pela legislação vi-

gente, ou das associações syndicaes organizadas pela adminis-


tração publica.
Art.153. Entretanto, a União, mesmo não se verificando o

caso do antigo antecedente, desapropriar nos termos do


poderá
art. 158.

DAS USINAS ELECTRICAS

Art. 154. Quaesquer aguas poderão s>er desapropriadas,


utilidade a producção da energia electrica,
por publica, para
applicada a serviço publico.
Art. 155. A agun derivada e a energia adquirida nestas

condições devem ser effectuadas, a titulo principal, ás neces-

sidades dos serviços públicos administrados ou concedidos pela


União, pelos Estados ou pelos municípios.
Art. 156. A de energia queserá procurada
quantidade
desapropriação deve ser calculada de tal arte que o ser-
pela
viço tenha -sempre, nas mais baixas aguas, a quantidade
publico
de energia necessaria ao seu máximo de necessidades.

Paragrapho único. O decreto de utilidade publica, por^m,


que abi se accrescent.e uma metade a mnis
poderá permittir
as necessidades imprevistas.
para
Art. 157. A administração ou seu concessionário poderá

sempre entregar á industria todo o excedente que


privada
as altas aguas, e todos os resíduos mo-
lhe proporcionarem
de sua exploração.
mentaneos
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 51»

Art. 158. As águas, de trata o art. 39, n. II, lettra a),


que
poderão ser desapropriadas União e por ella concedidas
pela
para o estabelecimento de usinas electricas, sempre- que os
listados interessados não entrarem em aocôrdo a respeito, a re-

querimiento de um delles.

LIVRO VIII

Do consorcio

159. Aquelles teem interesse coramum na de-


Art. que
rivação uso de aguas, no enxugo e bonificaçao
e no quaesquer
dos terrenos, se neunir em consorcio, afim de prover
podem
ao exercício á conservação e á defesa de direitos.
seus __
Paragrapho único. Os estudos do consorcio e a adhesao

dos interessados devem constar de um acto escripto.


consorcio, a ddiberaçao da maio-
Art. 100. Constituído o
ria tem força obrigatoria para a minoria dissidente.

maioria votos representam a


§ 1.° Consideram-se os que
maior somma de interesses.
maioria não se fôrma, ou si as suas aeune-
§ 2." Si esta
aos interesses
rações se tornam gravemente pejudicadiciaes
communs, a autoridade judiciaria pôde tomar as providencias
ainda nomear, sendo necessário, um admini»-
opportunas e
trador.

A formação do consorcio ainda ser orde-


Art. 101. pôde
a pedido da maioria dos in-
nada pela autoridade judiciaria,
os outros, quando se tratar
teressados, ouvidos summariamente
communs,
do exercício, da conservação e da defesa dos direitos
dos quaes a divisão
não seja possivel sem grave damno.
único. Em tal hypothese, os estatutos orga-
Paragrapho
e assignados pela maioria, serão também, submettidos
nizados
á anprovação autoridade
da judiciaria. .
o consorcio fôr organizado pela aami-
Art 102. Quando
esta torá o direito de desapropriar ptra
nistração publica,
os fins do consorcio. . _ , , , „ „„.sn
nao terá logar senão
\rt. 163. A dissolução do consorcio
uma maioria excedente de três quarto»,
quando deliberada por
damno, e
ou quando, a divisão effectuar-ae sem grave
podendo
requerida por qualquer interessado SB
as
\rt 164. Em tudo o mais- applicar-se-hão ao consoroioi

a communhão, a sociedade e <i_aivj8ao.


regras que dominam
uesis
Art. 165. Até dous annos depois da promulgaçao
se organizar em consorcio para
eodigo. os ribeirinhos poderão
ou para a venda e arrenda-
a exploração de usinas electricas,
mento de",seus direitos a fazel-as funeeionar._
olles nao hoverem rea-
Art. 166. Si, terminado este prazo,
existente considera-se dissolvido
lizado taes fins, o consorcio
de ao systema puro e simpler da
pleno direito, voltando-se
licitação.

\
"•
520 ANNAES DA CAMARA

LIVRO IX

Da servidão legal de aqueducto

Art. 107. A todos (í encanar


permittido pelo prédio de ou-
trem, subterraneamente ou a descoberto, aguas aas
que te-
nham direito, e mediante prévia indemnizarão ao dono deste
prédio, nos casos do artigo seguinte.

Art. 108. Esta servidão se constituir:


poderá
a) para as'primeiras necessidades da vida;
b) para os serviços de agricultura ou da industria;
c) para o escoamento das aguas superabundantes;
d) para o enxugo e bonificação dos terrenos.
Art. 109. Não são delia os hortas,
passíveis quintaes, jar-
dins, pomares e cercas de casas rústicas ou urbanas.
Art. 170. O direito de assim derivar aguas comprehende,
também, o de fazer as respectivas ou açudes e nos ter-
presas
mos dos arts. 89 e 90.
Art. 171.
servidão será Esta
decretada pelo juiz, e me-
diante deposito
prévio do preço de indemnização.
Paragrapho único. Nenhuma acção contra o proprietário
do prédio serviente, e nenhum encargo sobre este
prédio poderá
obstar a que a servidão se constitua, devendo terceiro?
os
disputar os seus direitos sobre o preço da indemnização.
Art. 172. Os donos dos servientes teem, também
prédios
direito ú indemnização dos de futuro
prejuízos que vierem a
resultar da infiltração ou erupção das aguas, ou da deterio-
raçãio das obras feitas a conducção
para destas.
Paragrapho único. E, deste direito,
para garantia elles
poderão, desde logo, exigir que se lhes preste caução.
Art. 173. Si o aqueducto tiver de atravessar qualquer via
publica, ou de cruzar quaesquer aguas publicas, faz-se mistér
o consentimento da autoridade administrativa' competente.
Art. 174. Esta competeneia é sempre da União, mesmo
que não se trate de vias ou aguas do seu domínio:

a) quando o aqueducto fôr destinado iai qualquer serviço


federai ;
b) quando elle cruzar as aguas a se refere o
que art. 39
n. H, lettra a;
c) quando elle fôr destinado á dai energia
producção ele-
ctrica, mesmo que não se trate do um serviço federal, nos
casos do art. 158 e do art. 196, lettra d.

Art. 175. A direcção, natureza e fôrma do aqueducto, de-


vem attender ao menor prejuízo para o prédio serviente.
170. Correrão conta daquelle obtiver
_Art. por que a ser-
vidão do aqueducto, todas as obras necessarias para a sua
construcção, conservação e limpeza.
DE 1912 S21
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO

este fim, elle poderá occupar,


paragrapho único. Para
para o deposito
os terrenos indispensáveis
temporariamente,
caução prejuízos que possa oc-
de materiaes, prestando pelos
o serviente o exigir.
casionar si proprietário
servientes são obrigados
Art. 177. Os donos dos prédios
as obras a aue se relere o
a dar ao dominante para
passagem
artigo antecedente.
reforçar as mar-
Art. 178. O dono do aqueducto poderá
-nunca
com estacadas ou paredes de pedra solta, mas
geria deste
com de especie alguma. .
plantações
dos sorvient.es tudo
Art. 170. Pertence aos donos prédio,a
ou motas naturalmente.
que os marachões produzem
Art. 180. Estes donos, porém, não poderão fazer plantação
de nas mesmas margens, e as
nem operação alguma cultivo
cortadas dono uo
raizee nellas penetrarem serão pelo
que
aqueducto. ,
181. A servidão do aqueducto a que o aono nao obsta
Art.
murar ou cercar o terreno, assim
do prédio serviente possa
este nao
como edificar sobre o proprio aqueducto, de modo que
nem se impossibilitem ias reparações e lim-
seja prejudicado,
pezas necessarias.
único. Quando tiver de fazer estas reparações
Paragrapho
o dominante avisará antecipadamente ao ser-
ou limpezas,
vi ente.
182.
Art. O dono do prédio serviente ainda, con-
poderá,
aqueducto, para passar de um para outro
struir pontes sobre o
lado do mesmo prédio, mas deve fazel-as com a> solidez neees-

sarias e de modo que não se diminuam as discussões do aque-


dueto nem se embarasse o curso das aguas.
Art. 183. O dono do
prédio serviente poderá exigir, a todo
o momento, a mudança do aqueducto para outro local do
mesmo prédio, si esta mudança lhe fôr conveniente, e não
houver prejuízo para o dono do aqueducto.
Paragrapho único. A despeza respectiva, correrá por conta
do dono do prédio serviente.
Art. 184. Idêntico direito assiste ao dono do aqueducto,
sempre que ai mudança lhe fôr conveniente e não houver pre-
juizo para o serviente.
Art. !85. A agua, o alveo e as margens* do aqueducto con-
sideram-se como partes integrantes do prédio a que as aguas
servem.
Art. 186. Si houver aguas sobejas no aqueducto e outro
proprietário quizer ter parte nas mesmas, esta lhe será con-
cedida, mediante indemnização e pagando, além disso,
prévia
a quota proporcional á despezni feita com a conducção dellas
até ao ponto de onde se
pretendem derivar.
Paragrapho único. Concorrendo diversos
_ pretendentes,
serão preferidos os donos dos prédios servientes.
Art,. 187. Quando o dono do aqueducto quizer augmentar
sua capacidade, para receba maior caudal de
que agua, obser-

l
522 ANNAES DA GAMARA

var-se-hão os mesmos tramites necessários para o estabeleci-


mento do aqueducto.
Art. 188. Quando um terreno regadio, que recebe a agua

por um isó ponto, se divida por herança, venda ou outro ti-


tulo, entre dous ou mais donos, os da parte superior ficam
obrigados a dar passagem á agua, como servidão de aqueducto,
para a rega dos inferiores, sem poder exigir por ella indemni-
zação alguma, salvo ajuste em contrario.
Art. 189. Abandonando um aqueducto, volta o terreno á
propriedade e uso exclusivo do dono do serviente.
prédio
Art. 190. Sempre que as aguas correm em beneficio
que
de particulares, impeçam ou difficultem a communicação com
os prédios visinhos ou embaracem as correntes o
particulares,
particular beneficiado deverá, construir as canaes
pontes, e
outras obras necessarias evitar este inconveniente.
para
Art. 191, As acções relativas á servidão de aqueducto
serão processadas summariamente.
Art. 192. As servidões urbanas de aqueducto serão regu-
ladas pelas posturas municipaes.

TITULO I

Da extincção das servidões

Art. 193. A servidão do aqueducto extingue-se:


bi)pela renuncia o dono do
que prédio dominante faz da
servi ano em favor <lo prédio serviente;
b~\ pela confusão. Esta se dá quando se reúnem em uma
° dom™io das aguas 0 d°s terreno.» affectos â. ser-
vidãoSS°n
Paragrapho único. Si um dos prédios, por^m, se acha em
oommum o
a reunião não abrange todas as partes dn
•jnaiviso, prédio
neste_caso as servidões não se extinguem;
US0, durante 10 nnnos contínuos,
?ao quer por
npSligencia do dominante,
t P" quer por actos
do serviente contrários a ella, sem contradicçto do dominante:
desapropriação utilidade
por publica.
a v t • (o,
j. i. Si o prédio dominante é comrrnim, basfa nara
evjtar a prescripção a
que allude a lettra c) do artigo antece-
dente, que exerça n servidão um sõ dos condomínios.

TITULO II
r

Das usinas electricas

A legal de aqueducto aproveita,


wAIf' ,se™idão tam-
bem. ás usinas electricas.

Govprno Federal expedirá decreto sobre a col-


' C °"tros aPpaw,hos transmissores da
energia Sectrica:
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 523

se tratar de usinas ulle exploradas ou con-


a) quando por
*
cedidas
da transmissão de energia de um para outro
b) quando
Estado; ,
se tratar de empreza de utilidade ou eonve-
c) quando
niencia publica.

A energia electrioa no todo ou em


Art. 197. proveniente,
hydraulicas brazileiras, não
pôde ser tran-
parte, das forças
sportada de nossas fronteiras sem autorização es-
para além
decreto do Presidente da Repu-
pecialmente concedida por
blica.

DISPOSIÇÃO FINAL

Art. 198. Revogam-se as leis, decretos e demais disposi-

relativas á matéria das aguas e estiverem em con-


ções que
tradição com os dispositivos deste eodigo.

O Sr. Moniz de Carvalho — Pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem ordem o Sr. Depu-


a palavra pela
tado Moniz de Carvalho.

0 Sr. Moniz de Carvalho (pela ordem)—-Sr. Presidente,


requeiro a V. Ex. que consulte a Casa si consente na publicação
integral dos documentos apresentados pelo Sr. Freire de Car-
valho, no Diário do Congresso.

O Sr. Freire de Carvalho Filho — Eu ia pedir a palavra


pela ordem para requerer isso mesmo.

O Sr. Presidente — Consultada, a Gamara concede a pu-


blicação pedida.

(Os documentos a que se refere o Sr. Deputado Moniz de


Carvalho, os quaes são remettidos á Commissâo de Constituição
e Justiça, serão publicados depois.)

O Sr. Euzebio de Andrade — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a Depu-


palavra pela ordem o Sr.
tado Euzebio de Andrade.

0 Sr. Euzebio de Andrade (pela ordem,)—Sr. Presidente,


vim á tribuna para fazer meu o protesto levantado no Senado
pelo Senador Raymundo de Miranda contra o aeto do Sr. mi-
nistro dn Viação annullando a concurréncia as obras do
para
porto de Jaraguá, e fazer ainda um appello S. Ex.
a para que,
tomando em consideração o assumpto, reconsidere o sou acto,
que tão gravosamente fere o Estado desilludindo
de Alagoas,
sua população até da esperança de vir a ter um porto, velha
1
524 " ANNAES DA GAMARA

aspiração, que tem sido tolhida, e por modo illegal sinão escan-
daloso.
Desejava fazer apreciações detalhadas do assumpto, mas,
devido no adeantado da hora, deixo de fazel-as, pedindo a
V. Ex. quo me reserve a palavra amanhã, na primeira hora
do expediente.

O Sr. Irineu Machado — Pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Deputado Irineu


Machado.

0 Sr. Irineu Machado (pela ordem)—Sr. Presidente, como

Casa sabe, V. Ex. vae á eleição de uma Commissão


a proceder
a denuncia do Sr. Presidente da Repu-
Especial para julgar
offerecida á Gamara pelo Sr. Coelho Lisboa.
lülica,
Linos diários desta cidade que essa denuncia, escripta em
107 está acompanhada de 20 restantes documentos.
paginas,
E' um documento de tal relevancia, que nós precisamos,
todos, ir lendo e estudando detidamente, não seria,
desde já,
demais requerer á Casa a sua publicação' immediata no
pois
Diário do Congresso.
A todos julgar com exactidão, com re-
quantos queiram
ctidão, com imparcialidade, a denuncia ora submettida
_ao
Poder Legislativo, interessa evidentemente essa publicação.
Por isso, requeiro a Y. Ex. que consulte a Camara si eon-
sentena integral da petição de denuncia e dos
publicação
documentos que a instruem.

0 Sr. Presidente — Os senhores que approvam o reque-


rimento que acaba de iser" feito pelo Sr. Irineu Machado quei-
ram levantar-se. (Pausa).
Foi approvado.

O Sr. Maurício de Lacerda — Peço a ptfla ordem.


palavra

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Maurício de Lacerda (pela ordem)—Peço a V. Ex.

que consulte ai Camara si consente em que seja publicado no


Diário do Congresso um discurso pronunciado em novembro
de 1910 pelo Sr. Coelho Lisboa em uma festa operaria, offe-
recendo o busto de Washington ao Sr. Marechal Hermes da
Fonseca.

0 Sr. Presidente — Os senhores que approvam o requeri-


mento que acaba de ser feito pelo Sr. Maurício de Lacerda,
queiram levantar-se. (Pausa.)
Foi npprovudo.

(O documento a que se refere o Sr. Deputado Maurício


de Lacerda será publicado depois.)
*
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 525

0 Sr. Cunha Vasconcellos — Peço ai pela ordem.


palavra

0 Sr. Presidente — Tem a ordem o nobre


palavra pela
Deputado.

0 Sr. Cunha Vasconcellos — Declaro que votei contra o

primeiro requerimento.

O Sr. Presidente — V. Ex. mandará a sua declaração do


voto por escripto.

Está finda a hora destinada ao expediente.

Vai se passar á ordem do dia (Puasa).

Comparecem mais os Srs. Antonio Nogueira, Aurélio --uno-


rim, Lueiano Pereira» Firmo Braga, Christino Cruz, llay-
mundo Artliur, Bezerril Fontenelli, Frederico Borges, Flores
da Cunha, João Lopes, Virgílio Brigido, Augusto Monteiro,
Moira do Vasconcellos, Cunlia Vasconcellos, Natalicio Cam-
boim, Dias de Barros, Moreira. Guimarães, Miguel Calmou,
Mario Hermes, Moniz de Carvalho, Octavio Mangabeira, Ubal-
'Teixeira,
dino de Assis, Felint.o Sampaio, Pereira Arlindo
Leone, Souza Britto. Paulo de Mello, Júlio Leite, Metelilo Ju-
nior, Nicanor do Nascimento, Rodrigues Salles Filho, Fio-
riano de Britto, Pereira Nunes, Faria Souto, Raul Fernandes,
Alves Costa, Teixeira Brandão,. Prado Lopes, Francisco Veiga,
Ribeira Junqueira, Carlos 1'eixoto Filho, José Bonifácio, Irineu
Machado, Calogeras, Baptista de Mello, Francisco Bressane,
Josino de Araújo, Mello Franco, Ferreira Braga, Alberto Sar-
monto, Prudente de Moraes Filho, Palmeira Ripper, José Lobo,
Vailols de Castro, Rodrigues Alves Filho, Annibal Toledo, Cae-
lano de Albuquerque, Luiz Xavier, Lamenha Lins, Corrêa De-
freitas, Pereira de Oliveira, Henrique Valga, Celso Bayma,
Gumercindo Ribas, Evaristo do Amaral, Homero llaptifita,
e Fonseca Hermes, Nabuco de Gouvêa, Osorio, João Simplicio
c João Benicio. (70).

Deixam de comparecer com causa os Srs.


participada
Artliur Moreira, Simeão Leal, Monteiro de Souza, Serzedello
Corrêa, João Chaves, Antonio Bastos, Thootonio do Britto,
Hosannah de Oliveira, Dunshee de Abranches, Coelho Netto,
Joaquim Pires, João Gayoso, Felix Pacheco, Eduardo Saboia,
Thomaz Cavalcanti, Gentil Falcão, Camillo de Hollanda, Fe-
lizardo Leite, Seraphico da Nobrega, Maximianno de Figuei-
rodo, Ballthazar Pereira, Costa Ribeiro, José Bezerra, Aris-
tardio Lopes, Rocha Cavalcanti, Joviniano Fe-
do Carvalho,
lisbello Freire, Alfredo Ruy, Campos Carlos Leitão,
França,
Deraldo Dias, Rodrigues Lima, Pedro Moniz
Marianni, Sodré,
Leão \ elloso, Jacques Ourique, Dionysio, Cerqueira, Pedro da
Carvalho, Pennafort Caldas, Fróes da Cruz, Manuel liei -, Fran-
cisco Portella, Mario de Paula, Silveira Brum, Astolpho Dutra,
ANNAES DA CAMARA

João Penido, Landulplio Magalhães, Antero Botelho, Garção


Stokler, Aloar Prata, Nogueira, Gamillo Prates, Honorato Al-
ves, Cardoso de Almeida, Joaquim Augusto, Eloy Chaves, Cm-
einato Braga, Álvaro de Carvalho, Mareolino Barreto, Adolpho
Gordo, Gosta Júnior, Marcello Silva, Fleury Curado, Ramos
Caiado, Oscar Marques, Carvalho Chaves, Gustavo Richard,
Diogo Fortuna e Pedro Moacyr.

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

O Sr. Presidente — Nomeio Commissão tem


para a que
de representar a Camara no embarque do Sr. Roca, os
general
Srs. Martim Francisco, Mario Hermes, Pereira Braga, Dionisio
de Cerqueira e Calogeras.
A lista da accusa a
porta presença de 138 Srs. Deputados.
Vae se proceder á eleição da Commissão Especial de nove
membros, que tem de emittir parecer sobre a denuncia apre-
sentada pelo Sr. Coelho Lisboa.
Vae se proceder á chamada.

O Sr. Raul Veiga (2" Secretario, servindo de 1o) Procede


a chamada dos Srs. Deputados a eleição da Commissão
para
Especial.

O Sr. Presidente — Responderam á chamada 120 Srs.


Deputados. Vae-se fazer a verificação do numero cédulas.
de
(.Procede-se d contagem das cédulas).
Vae-se proceder a apuração das cédulas.

COMMISSÃO ESPECIAL PARA DAR PARECER SOBRE A DENUNCIA DO


SR. DR. COELHO LISBOA

Sãio recolhidas 120 cédulas que, apuradas, dão o seguinte


resultado:

Votos
1. Meira de Vasconcollos, eleito 75
2. Raul Fernandes, idem 72
3. Pereira Braga, idem ! 79
4. Cunha Mrchado, idem 69
5. Moniz de Carvalho, idem 69
O. Lamenha Lins, idem 68
7. Martim Francisco, idem 66
8. Mello Franco, idem
61 . . . .
9. Gumercindo Ribas, idem.'.'.'.....'..59
10. Carlos Peixoto Filho . . . . . . . ..... 17
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 527

Votos

11. Cândido Mottar, 15


12. Prudente de Moraes Filho 14
13. Figueira Veiga 9
14. Soares dos Santos 9
15. Irineu Machado 7
16. Josino de Arauto 7
17. Torquato Moreira 6
18. Cunha Vasconcellos 4
'19. 'Pedro L|ago 4
20. Celso Baymu 2
21. Alberto Sarmento 2
22. Calogeras 2
23. Maurício de Lacerda 2
24. Olegajio Pinto 2

Souza e Silva, Valois de Castro, Rodrigues Salles Filho e


Raul Cardoso, um voto cada um, cédula.
em branco uma

O Sr. Presidente — Proclamo Commissão


membros da
especial os Srs. Meira de Vasconcellos, Raul Fernandes, Pe-
reira Braga, Cunha Machado, Moniz de Carvalho, Lamenha
Lins, Martiin Francisco, Mello Franco Gumercindo Ribas.
e
Estão findas as votações.
Passa-se ás matérias em discussão
Continuação da 2" discussão do n. 123 A, de 1912,
projecto
do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas
do Batalhão Naval e navios da esquadra, 1910,
em dezembro de
e aos civis e militares envolvidos nos Ma-
acontecimentos de
nãos, em outubro do mesmo anno; com parecer favoravel da
Commissão de Constituição e Justiça.
Entrai em discussão o art. Io.

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Josino de Araújo.

O Sr. Josino de Araújo — Sr. Presidente, seus


singelo nos
termos e inoffensivo na apparencia, o cuja discussão
projecto,
V. Ex. acaba de annunciar, traz em seu bojo matéria de alta
gravidade e relevancia para a ordem
política e civil do Brazil,
de maneira que me senti forçado a tomar
parte no debate para
expôr o meu modo de ver.
Os fundamentos, Sr. Presidente, com o projecto d
que
apresentado á apreciarão desta Casa são dous.
Oprimeiro, dado no do illustre reilator, de ac-
parecer
côrdo com o conceito á amnistia,
geralmente adoptado quanto
o, Sr. Presidente, a calma dos
que o projecto visa restabelecer
espíritos conturbados pela revolta. O fundamento, porém, al-
legado na
genesis do projecto e repetido neste recinto pelo seu
primeiro defensor, o illustre Deputado Districto Federal
pelo

i ,cai?°í' d° Nascimento, ó que o mesmo projecto 6 motivado


pela deficiencia ou insufficiencia das nossas leis militares, o
ANNAES DA CAMARA
528 t

verificação da culpa dos responsáveis


uue impede a exacía
a do Batalhão Naval e a do Manáos.
uelas duas revoltas,
OraSr. Presidente, ambos os fundamentos são íalsos.
é contraproducente, porque, si a amnistiaj visa
O
primeiro
escopo
e de facto no seu conceito jurídico é este o principal
— a reconciliação dos espíritos, o restabeleci-
de tal medida
desnecessária, porque sabe-
inento da calma dos partidos, ella é
em relação ao Amazonas, a paz ,política é completa,
inos que,
alli existentes já se fundiram, constan-
absoluta: os partidos
accôrdo recente, para a
do-me até que chegaram a político
eleição do governador do Estado...
própria
Aurélio Amorim — Que já está eleito e reconhecido.
O Sr.

de ... — já está eleito e reco-


O Sn. JosiNio Araújo que
segundo acaba de declarar o nobre Deputado.
nheoido,
Assim, Presidente, quanto ao caso de Manáos, u1 amnistia
Sr.
visa um fim que já está attingido pelo
é escusada, porque
curso natural dos acontecimentos.

Pereira —Os não se fundiram.


O Sn. Luciano partidos

de Araújo — Si não se fundiram, a calma,


O Sr. Josino
restabeleceu, de modo a poder sei' ieíta, em
pelo menos, se
a mais importante das eleições do Estado, a de
completa paz,
seu governador.
O olvido do esquecido seria a significação exdruxula deste

projecto.

O Sr. Aurélio Amorim — Já houve accôrdo político, não

lia duvida; apenas os militares foram punidos e estão sendo

processados.

O Sr. Josino de Araújo — Chegarei a esta parte assigna-


lando, desde confissão do nobre Deputado a
já, que pela
amnistia! vem aproveitar apenas aos militares nella envolvidos
e que é bem que fossem punidos.

Em relação aos outros acontecimentos cujas conseqüências


a amnistia visa resolver, em relação á revolta propriamente
do batalhão naval, nesta Capital, por igual eu tenlio a amnistia

por desnecessária e contraproducente. Que me conste, que


conste a qualquer de nós, nenhum motivo existe de inquietação
na Armada que possa trazer á nossa convicção o receio de

qualquer nova perturbação da ordem.

A ordem está restabelecida na Armada, e está restabele-


cida, de um pela prisão aos marinheiros revoltados, e, de
lado,
outro, pela convicção em que «lies estão da punição dos seus
algozes, dos officiaes responsáveis por graves acontecimentos,

por graves crimes que a população « a opinião nacional de


sobejo conhecem.

O Sr. Aufiusro do Amaral — De fôrma só os officiaes


que
são responsáveis pelo bombardeio do Manáos ?
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 529

0 Sn. Josino de Araújo — A amnistia envolve tanto os


officiaes como os marinheiros.

Gumercindo Ribas — Envolve os criminosos.

O Sr. Josino de Aiiaujo — De modo que si para felicidade


nossa a está resolvida na Armada) Nacional e si essa é a
paz
documento
verdade que não pôde ser contestada, e, pelo menos,
publico não existe em sentido contrario, eu penso poder sus-
tentar a minha primeira affirmação, isto é, que, tanto no caso
de Manáos como no da Armada, a amnistia, com esse funda-
mento do restabelecimento da calma, é desnecessária.
Tal fundamento, portanto, é, como disse, contraprodu-
conte.
Vejamos o .outro, o da genesis da medida, que foi lem-
brado em mensagem do Poder Executivo, iniciativa do
por
Ministro da Marinha, e repetido neste recinto Sr. Deputado
pelo
Nicanor do Nascimento e ó que a deficiencia das nossas leis
processuaes militares impede o conhecimento exacto daquelles
tristes successos de modo a se respon-
poder saber quacs os
saveis por elles.

O Sr. Souza e Silva — Isso cilas mão


é inexacto; até hoje
impediram.

O Sn. Josino de Araújo — Peço licença estabelecer


para
o seguinte singelo dilemma, que, acredito, resolverá a questão,
ou demonstrará d Gamara, falta do digno re-
pela do replica
lator ou dos defensores do projecto, não tem o
que a medida
menor cabimento:
Ou esta affirmativa é verdadeira, ou não é; si não é não
comprehender
que possamos concorrer para uma mys-
_
tiíicaçaodessa natureza, dando um fundamento inexacto para
uma_medida do tal relevancia; si é, porém, verdadeira, a con-
clusao e que o Governo quer, não uma medida de clemencia,
mas uma medida de oppressão.

— Si não é possível
, ... Calogeras apurar a responsa-
bil idade dos culpados, os absolvam.
que

ü Sr. Josino de Araújo — A solução natural do processo


nesse caso, como diz o Sr. Deputado Calogeras, seria a absol-
vição dos accusados.
O que o Governo quer, é impedir absolvição.
portanto essa

O Sr. Carlos Maximiliano — Y. advogado, não


Ex., que 6
deve dizer isso. Sem estar terminado o processo não podem
ser absolvidos nem condemnados.

__ Sr. Josino de Araújo ¦—u Nem isso. O que af-


eu disse
íirmo é que, si não se puderem apurar provas, os réos terão,
afinal, de ser absolvidos.

Deputado — não se terminar


Quando pôde o pro-
cesso, da-se o habeas-corpus.
830 ANNAES DA CAMARA

Maximiliáno — Mas o militar não ha


O Sr. Carlos para
habeas-corpus.

Josino de Aiuujo — V. Ex. está respondendo á


O Sr.
Em primeiro logar, resta saber si ó ad-
qüestão pela questão.
missivel ou não o kabecis-cüvpus.
E' questão opinativa.

Sit. Carlos Maximiliano — Eu trabalho para que seja


O
admissível.

O Sh. Josino de Aiuujo — Em segundo logar, V. Ex. com-

que é hypothese absurda a de um processo que se


prehende
eterniza, que não tem solução; e a prova ue que essa aífir-

xnayâo ó verdadeira está no íacto de já ter sido con-


proprio
demnado um dos réos, comittandfiinte Costa Mendes, comío

autor do bombardeio de Manáo.s.

Um Sr. Deputado — Os róos foram diversos.

O Sr. Josíno de Auaujo — Nós temos 90 annos de vidá

nacíohal, tivemos provavelmente mais atrazadas do que as


leis
que existem actualmenle, e não houve um só exemplo dessa
hypothese absurda de se poder chegar a admittir que um pro-
cesso não tenha solução para uns réos e tenha para outros!

De modo
que, Sr. dizia eu, si Presidente, ó verdadeira a

allegáÇão, que o Governo


o quer não é um acto de clemencia,

mas um acto de oppressão; quer obstar apenas a absolvição

meios regulares dos indiciados nesse processo.


pelos
Sr. Presidente, os marinheiros da Armada Nacional e os
soldados do Batalhão Naval estão bem no caso daquelle frei
ThornaZ, daquelle celebre frade do Convento de Tibães de quem
falia Castello Branco, qüe, estando preso na sua cella por
ordem do prior, quando o seu confessor lhe foi aconselhar a
da sua falta, redarguiu logo, dizendo: — «si eu
pedir perdão
mereço a pena, devo soffrel-a até onde m'o determinarem; si
não a mereço, não quero dever á misericórdia o que a justiça
me deve a mim.»
E' esse
perfeitamente o caso dos soldados e marinheiros

processados pelos tristes acontecimentos do Batalhão Naval


desta Capital: clles não precisam dever á misericórdia nossa
o que a justiça deve a clles, isto ó, a sua absolvição.
Note-se, estou argumentando com os fundamentos trazidos
mensagem.
pela
UM Sn. Deputado — Mas si essa não se ma-
justiça pôde
líifostar com a devida pfomptidão, que fazer ?

O Sn. Josino de Auaujo — Esperar ella se manifeste,


que
responsabilizando o Governo pela demora, porque o Governo
ó o único responsável por essa delonga.
O Governo, que deu baixa ás testemunhas, que as mandou
differentes Estados da Republica, que s*be onde ellas
para
estão e não quer mandal-as vir para esclarecer o processo, ó
certamente o responsável no caso.
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 531

Deputado — Não foi baixa; sahiram por con-


üm Sr. por
clusão de tempo.

O Sr. Josino de Araújo — Não íoi tal pela conclusão do


tempo. Está aqui a mensagem do Sr. Ministro da Guerra. Ella
diz claramente:

Vê-se, que o Governo tinha os meios de evitar


portanto,
essa Negasse
situação. a baixa, que ella não se daria.
Mas o Governo fez mais: em seguida a isso, a essa baixa,
facultou-lhes o transporte para os diversos Estados, ó a men-
sagem que o diz.
De sorte que, Sr. Presidente, o Governo dá a baixa que
essas testemunhas pedem, o Governo as transporta para os
diversos Estados da Republica e vem allegar 110 entanto a im-
possibilidade de descobrir ella testemunhas para terminar o
processo !
(Trocam-se muitos apartes.)
V. Ex. sabe e é matéria de processo criminal que nenhuma
testemunha pôde se mudar sem avisar ao
juizo; e, respectivo
nesse caso, era até dispensável esse
aviso, foi o Go-
porque
verno justamente quem as transportou e deve conhecer-lhe q
paradeiro. (Apartes.)

O Sr. Josino de Araújo — Pois será crivei


que, por meio
das autoridades policiaes, que nós mantemos, não possamos
saber do paradeiro de 200 indivíduos sumidos dentro de nosso
territorio ?

Que triste confissão será essa da incapacidade de todo o


nosso vasto apparellio administrativo federal ou estadoal !

O Sr. Nicanor do Nascimento -—- Essa medida do aviso


tem um prazo, deve ser feita dentro de um anno e prescreve
desde que o processo dura dous annos.

O Su. Josino de Araújo — E11 estava


a dizer, quando V.
Ex. entrou no recinto, que o fundamento allegado por V. Ex.
não aproveita: ou a allegação de insufficiencia das leis pro-
cessuaes e verdadeira ou não 6. Si é, em primeiro logar, dizia,
•trata-se de evitar a absolvição e não de fazer em
elemencia;
segundo logar, o Governo toma-se responsável isso, de
por
modo que não allegar
pôde sua própria culpa para solicitar
essa medida de defeza.
Ainda mais, Sr. Presidente, si fosse allegação
verdadeira a
(10 Sr. ministro e do illustre defensor do
projecto, nesta Casa,
a conclusão seria que nós iriamos affirmar ás forças armadas
tio paiz a. indiscutível faculdado
do rebellarem-se contra os
podoros públicos, iriamos incitar a de todas as
indisciplina
nossas tropas com a confissão de que nossas leis impedem o
conhecimento da
culpa dos róos militares !
• ''ompreliende a tal allegação
gravidade que uma
1, ,
poaoria ter, uma vez que,
pela publicação de nossos debates o
(.n
officiaes que o antecedem, chegasse ella ao
1 ,!íurnentos
conneeiinehto dos officiaes, dos soldados 0 dos marinheiros.

í
DA GAMARA
JJ32 ANNAES

impossibilidade do sua
confissão antecipada da
Seria a
seria, portanto, um
em revoltaii semelhantes;
condemnação
a novas revoltas. {Apoiados.)
convite
— são de uma perfeiçuo abso-
Deputado As leis
Um Sr.

1UUOutro
— houve necessidade, até
Sr. Deputado Nunca
neste iundamcn o.
recorrer a esta medida, baseada
agora, de
— Presidente, si,_ portanto, os
Josino de Araújo Sr.
O Sr.
se apoiam
fundamentos em que se esteia o projecto nao
dous
110 raciocínio, é claro, e intuitivo que elle nao
nos factos nem

fundamentos uem nenhum

essa ó que e a verdade.


outro fundamento,
— E os sentimentos do
Sr. Nicanor do Nascimento
O
e ?
humanidade piedade
— fundamento ó piegas de
de Araújo Esse
O Sr Josino
opportuno. A piedade exi-
vou tratar delle em tempo
mais e eu

8a iag""jl'1 ser ín-


ser invocada, deveria antes
pjedad^pudesse
talvez ínnocentes dos mor-
as victimas, muitas
varada para
horrorosas do que o paiz tom conlie-
licinios, carnificinas
das
de taes successos.
cimento a propo.sito mesmo
•Penso a medida aílem de contrapro-
Sr. Presidente, que
ainda não está, parece, inteliz-
ducente é inopportuna, porque
sangrento de intervenções militares
mente, fechado esse cyclo
zonas do pai/,
constitucional em varias
para perturbar a ordem
administrativas.
em muitas de suas circumscripcoes
novas intervenções das forças
E' mais um incitamento a
legalidade, para inverterem a
militares, rebelladas contra a
de nossos Estados, como tem acontecido
ordem constitucional
a pretexto de zelo pela li-
em muitos delies, substituindo-se,
de paletot pelas ohgarchias,
herdade do povo, as oligarchias
mais perigosas, de dragonas. . .
é injusta. E injusta, porque
Elila não é só inopportuna:
dispares, como sao a
vem equiparar situações absolutamente
de Manáos.
revolta da Armada e bombardeio
dissentir do íllustre Depu-
Neste ponto peço licença para
orador Sr. Maurício de
lado ltio de Janeiro, o eloqüente
pelo
conceito achava mais graves os sue-
Lacerda, quando em seu
revolta do batalhão naval do que ao
cessos que se prendiam á
caso de Manáos.
hypotliose, a quo se rei oro o pa-
Penso que essa segunda
único é muito mais grave do que a pri-
ragrapho do projecto,
meira.. •

Bueno de Andrade — Muito bem.


O Sr.

... — de um lado, nós


O Sr. Josino de Araújo porque,
homens ignorantes que se
vemos que são marinheiros boçaes,
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 533

rebellaram cm nome de uma allegação, não


que pôde justificar
o seu delicto, mas o explica.

O Sr. Souza, e Silva d;i um aparLe.

O Sr. Josino de Araújo — De accôrdo; si não dá logar á


absolvição, pôde dar ttogar á attenuação da pena.
E em Manãos são officiaes, liomens de cultura, homens
que deviam ter o conhecimento dos seus deveres mi-
perfeito
li Lares e que usaram da espada
que a Nação lhes confioupara
a defesa da legalidade a voltarem
para contra ella, pondo-a ao
serviço do interesses partidarios mesquinhos, de chefes po-
liticos !

O Sr. Souza e Silva — Mas o tribunal os condemnou. {Ha


outros apartes.)

O Sr. .Tosino de Araijjo .—


Os seus pares não seriam ca-
pazes de arrancar as dragonas de um
official, de tirar aquillo
quo elle tem de mais grato ao seu coração de
militar, não ar-
rançariam os seus
galões si a accusação não fosse verdadeira !

® ®R- Souza e Silva — E' preciso distinguir os dous casos:


um affectou a ordem social e o outro, a ordem política. (Ha
outros apartes.)

Josino
Araijjo — Além "E
irmr>™,w' de contraproducente o
lncompieta,
"í, porque, a termos de votar
'í a bombardeiadores
de Manáos. não compre-
íionrin
"don d0"Sle '°«°. não vamos votar a
,, amnistia
Bahia, os interventores
i ernambuco S
Pernimhitn para de
e Spara
nS h
os dynamiteiros do Ceará etc nois nuo
onde ha a mesma razao deve
haver a mesma
disDosícãò fTVo-
cam-se mmtos apartes. c,ue
Permittam-me Deputados:os nobres
olles devem ser res-
Pe,a dignidad(> "acionai e pela digni-
S' qu.e cedo ou mais tarde, antes
d? piesciiptos
de mwmntno na
os crimes, ?',m
a justiça ha de ser feita
JUSt° qUe'- d.evido á igualdade
de circumstan-
ciando afXlf,dc?
,com os intentos deste se votasse
umi amnistia
uma Tmriisf in projecto,
prévia para todas as futuras rebelliões no Brazil.

SlLVA — ^ consequencia seria outra. Esto


nr-fn
acto B
justificaria o movimento militar?

Nicanor do Nascimento — A lição da historia é quo


revolução victoriosa é gloriosa.

^08IN° DF Araújo.— E' essa lição que nós preci-


q,m<2 ?R'
(JUe es,cIucci(la no Brazil, si ê quo queremos
zelar nc^Zer*
gridade de nossa nacionalidade e vida
spenron»
segurança jln pela o
das próprias instituições.
justamente a que a
se tradicção
apega o
relator illustre
daf phrases finaas do
aiiA /. ,un?ai. seu parecer, dizendo
que é a verdadeira tradição, continua e honrosa, a exemplar
534 ANNAES DA CAMARA

magnanimidade para com os políticos apaixonado» « infelizes,


colhidos nas malhas da justiça repressiva.

E' esse justamente o grave mal do nosso sentimentalismo,


é esse justamente a causa das successivas revoltas, dos con-
tinuos pronunciamentos, que envergonham a nossa historia na-
cional de paiz organizado !

E'
para evitar a sequencia desses factos que precisamos
usar energia,
de deixando esse sentimentalismo piegas, que
acompanha, apenas, a tradição naquillo ella tem de in-
que
conveniente, de perigoso, deixando de acompanhal-a naquillo
que olla pode trazer de vantajosa a Nação.
para

At,<5 hoje, os civis ou os militares quo se empenham nesses


movimentos armados, que teem sido a vergonha da nossa hls-
tona, teem. apenas, deante de «si uma alternativa sempre bo~
nangosa: ou a victoria ou a amnistia.

O Sn. Rapiiael Pinheiro— Ha, ainda, a morte.

O Sr. Josino d 13 Araújo •—¦< Essa é muito excepcional.

O Sr. Raphael Pinheiro — Asseguro 6 o se vô


que quo
mais.

Que o digam os revoltosos de 93.

O Sr. Josino pe Araújo — Não pode


-ser considerada como
factor. porque é demais insignificante, méra excepção, na
maioria dos casos. E' conhecido a amnistia só serve
que para
provocar outras. Delia se pdde dizer o que dizia Quichardin:
« dos desejos é que a sôde delles se irrita á medida que se a
satisfaz j> .

Quanto mais amnistia votarmos, mais necessidade teremos


do votal-a.

O Br. Cairos Maximiliano — E' contrario. O


q império
so fez a paz, quando começou com a amnistia. Antes, era uma
revolução em cima da outra.

O Sn. Josino de Araújo—O facto 6 que o proprio projeoto


que se discute 6 a documentação da minha affirmacão. Nris
vemos que a, amnistia votada os marinheiros
para revoltados
em novembro foi o fundamento da revolta immediata seguida
de poucos dias, do batalhão naval.

Nesta o Casa,
illustre Deputado pelo Estado de Minas, o
Sr. Ir meu Machado, uma
proferiu phrase de alta sabedoria,
quando declarou, occasião de discutil-a.
por que a amnistia
era, apenas, urna caixa economica de revoltas, que dentro
oin poucos dias, havia do produzir seus
juros.
Dias depois,muito
poucos dias, denois de votada a amnistia
a caixa economica produzia, com effeito, seus juros: rfiben-
tava a revolta do batalhão naval, realizava-se aqueíla sabia
prophecia !
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 535

0 Sn. Augusto do Amaral. — O Governo tinha elementos

para debellar a primeira.

Calogeras — Então, sanccionou a lei ?


O Sr. porque

Augusto do Amaral — Foi o Congresso...


O Sr. proprio

Calogeras — A approvaeão era do Executivo.


O Sr.

Josino de Araújo — Agora, vamos reviver o que


O Sr.
estava em esquecimento, diz-se, ha impossibilidade,
porque,
leis de se apurar as responsabili-
pelas nossas processuaes,
dades criminaes, isto 6, nós mesmos vamos incitar,
provocar,
novas revoltas termos occasião de votar seguramente
para
novas amnistias.

O Sr. Calogeras — Revolta-amnistia, amnistia-revolla.

O Sr. Cândido Motta — A amnistia foi cum-


primeira
prida ? (Trocam-se apartas.)

O Sr. Josino de Araújo — Sr. Presidente, vou resumir


minhas considerações, porque tenho empenho em ser o mais
breve possível, uma vez que faltam apenas poucos minutos

para finalizar a hora destinada para esta discussão.


Não poderei, por isso, tomar em consideração os múltiplos
apartes com que me assediam os dignos collegas.
Ia dizendo, Sr. Presidente, acabar com
que precisamos
essa especie de alcoolismo político, do que padecemos, em que
uma amnistia faz desejar uma nova, om uma especie de em-
briaguez perdão, que egtá a fazer a desgraça da Patria,
do
Voto, contra o projecto, não só por esses funda-
portanto,
mentos que dei, rapidamente, mas porque a medida 6
pedida
uma medidai hypocrita.
O Governo
nao quer a clemencja os
paríi pobres mari-
nhGiros (apoiados) \ o Govorno o ijuo fjuor é a sua absolvição, é
amnistia para si proprio ! Essa é a vcrdndo, cjuc devo SGr dita.

O Sr. Ilorianno de Britto — O Governo de


não precisa
amnistia.

O Sn. de Araújo — O
Josino
que ello quer á que se traga
o osqueci montopara os crimos,
para as- carnificinas borro-*-
rosas que se deram na ilha das Cobras
e no convés desse navio
sinistramente celebre, carnificinas que são manchas negras
na^ historia da nossa civilização ! O
que o Governo quer evi-

O Sr. Fonseca Hermes — O Governo não quor evitar


consa nenhuma; entrega a maioria- ao Congresso para deliberar
como entender. (Apoiados.)

O Sa. Josino de Araújo — Lamento que o aparte de V. Ex


®mr rn1alVf?SLa
mÍ pontradicção com a iniciativa do,Ministro
1Ri0 0 R°nfjas5o do o Ministro
rinha / •Wi • J1 í' quo da Ma-
foi alijado do Governo.
" ANNAES DA GAMARA i
536

Hermes — Não apoiado; isto não ó uma


O Sr. Fonseca
6 mais uma questão social. A Gamara de-
questão partidaria;
libere como entender.

Josino de Araújo — Dizia eu que o Governo


O Sr. quer
o esquecimento desses crimes horrorosos, que elle
prometteu
que prometteu publicamente, de vários modos, até pela
punir,
do proprio leadcr, que acaba de me honrar com os
palavra
seus apartes, nesta Casa, e, na outra, pela palavra de um dis-
tineto Senador ! Entretanto, não o fez ató agora ! Não o quer
fazer, e nesse lamentavel capricho quer então fazer esta com-

pensação: a impunidade dos oíficiaes a troco de amnistia dos


marinheiros !

Vou concluir, Sr. Presidente. Entendo que a medida é

perigosissima; encerra em seu bojo uma sória ameaçapara a


ordem civil do Brazil, para a própria vida institucional da
Republica. Approvada ella, como um convite que 6 a novas
revoltas ,da forja, ficará a nossa segurança, a nossa tranquilli-
dade, á mercê dos caprichos de officiaes ambiciosos, sinão da
soldadesca insubordinada. E' uma medida gravíssima, e eu,
para dar idóa da repugnancia que ella me inspira, relembrando
a phrase de Turgot, que respondeu a alguém que lhe offerecia
um plano financeiro com o não concordava, direi com
qual
elle: «Não é o projecto deve ser executado; são os seus
que
autores ». (Muito bem; muito bem.)

'Josino
{Em meio do discurso do Sr. de Araújo, o Sr. Sa-
bino liarroso Júnior, Presidente, deixa cadeira da
[a prcsi-
dencia, que é occupada Sr. Soares dos Santos, i" Vice-
pelo
Presidente.)

O Sr. Carlos Maximiliano — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Carlos Maximiliano ordem) Pedi


(pela a palavra
pela ordem, Sr. Presidente, apenas para declarar á Gamara
que, si na qualidade de derelator
amnistia do
projecto tinha
hoje o dever do refutar
os argumentos improcedentes aqui por
nobres collegas adduzidos a respeito na sessão anterior e na
de hoje, sou forçado, entretanto, a não cumprir este dever-
deixo de o fazer, em virtude do estado do minha saúde dê
minha garganta não o permittir. '

Affirmo, poróm á Gamara que amanhã, si me fôr possível


responderei as apreciações injustas dos meus collegas sobre à
°Mui.to ment° d° E'
pro,iecto- 0 quc tinha a dizcr-
ò°emU)

®,®r; Presidente — Esgotada a


.. hora da primeira parte,
fica adiada a discu^uo do art. 1° do projecto n. 123 A, de 1912.
SESSÃO EM 23 D13 SETEMBRO DE 1912 537

¦Passa-se á

SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA

(A'S 4 HORAS DA TAKDE OU ANTES)

Continuação da 3" discussão do projecto n. Cl B, de 1912,


fixando a dospeza do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio para o exercido de 1913.

O Sr. Presidente — Tem a o Sr. Deputado Luciano


palavra
Pereira.

0 Sr. Luciano Pereira — Sr. Presidente, achando-se in-


scripto o Sr. Deputado Mario Hermes, cedo a S. Ex. a palavra,
e opportunamente occuparei a tribuna.

O Sr. Presidente — Acha-se inscripto em primeiro logar o


Sr. Deputado .Tosino do Araújo.

O Sr. Josino de Araújo — Peço ordem.


a palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a palavra o nobre Deputado.

0 Sr. Josino de Araújo (pela ordem) Sr. Presidente, cedo


igualmente a
palavra ao Sr. Deputado Mario Hermes para
jaliar em seguida a S. Ex., pois vou combater o projecto.

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Deputado Mario


Hermes.

O Sr. Mario Hermes (movimento de attençãoi Sr- Pre-


sidente, desnecessária seria a minha defeza ápessoa do Sr. Dr.
Pedro de loledo, Min istro da Agricultura, bem como ao orça-
mento apresentsdo pela. Commissao de Finanças depois da
defeza competente o brilhante feita pelos nobres collegas Srs.
Itaul Cardoso, Raul Fernandes, José Bonifácio e .Fonseca Her-
jnes, e. direi mesmo pelos meus collegas Srs. Raphael Pinheiro,
ISicanor do Nascimento, Pandiá Galogeras e Josino de Araújo,
Cliie.
que, nnn vsnnnn
analysando e achando i„ , i. u:
exaggerado o orcamento do Mi-
nisterio da Agricultura, lizeram justic-a ;l honorabilidade do
or. Dr. Pedro de .Toledo, titular desta
pasta.
•An,es de entrar na analyse o na refutaoao da critica feita
1 .-lo nobre Deputado Minas Geraes,
por Sr. Josino de Araujo,
™°1do P°!' •J"'' ai*an? orgauizadas as label las explicativas
Mmfeterio da Agricultura,
iinoi.0 examinemos o re-
to apresentado
por S. Ex. e varios outros collegas, na
0 corrente, tanto mais tem sido
nrc,,Ui . quanto essa a
nota predominante dos
os '"'iscursos
discurs riontrarios ao
f'nmm&°^una«te
uommissão projecto da
de Finanças.
ANNAES DA GAMARA <
538

Pedem os illustres Deputados que o projecto ri. 61 B, dé


1912, volte á Commissão de Finanças afim de serem modifi-

cadas as alludidas tabellas para os seguintes effeitos:

a) especificarem-se as despezas de material e pessoal que


forem indevidamente englobadas em varias consignações e
sub-eonsignações das verbas 1", 3", 4" a 13", 16" a 19" e 21";
b) discriminarem-se em todas as consignações e sub-
consignações, inclusive as citadas na lettra a), os serviços
respectivos e suas sub-divisões, separando-se com o maior
detalho possível, como manda, a lei, as despezas correspondentes
a esses serviços ou suas ramificações.
Vejamos como se acham discriminadas as verbas indicadas
no requerimento:
A verba Ia, referente á Secretaria de Estado, contém seis
consignações e 32 sub-consignações exclusivamente destinadas
a pessoal e uma consignação e 18 sub-consignações destinadas
a material. Dessas 18 sub-consignações subordinadas ao titulo
Material, apenas uma consigna despeza; para pessoal, sem es-

pacificar o quantum. E' a consignação que ao ser- se destina


viço de registro genealogico e de marcas para animaes.
Mas ahi se trata de pessoal commissionado, sem numero

fixo, sem vencimentos prestabelecidos, admittido temporaria-

mente, conforme a maior ou menor affluencia de serviço, per-


¦cebcndo apenas ou diarias arbitradas pelo Mi-
gratificações
nistro, segundo a natureza do trabalho e os recursos da verba.
Não se trata de fixô, de pessoal de quadro, de
pessoal
com vencimentos determinados, casos únicos em que
pessoal
a despeza pôde figurar sob o titulo Pcssóal, devidamente dis-

criminada.
Gomo, poderia a Commissão
pois, de Finanças desenglobar
as despezas previstas nessa sub-consignação ?
O proprio Governo como poderia especificar de antemão
aquillo que só as circumstancias de momento pódom exigir ou
determinar ?
E' preciso ponderar que ahi, como em muitos «ulro« casos,
se trata de
serviços cuja affluencia escapa a toda previsão.
Nem SG pôde determinar, pelo menos por emquanto, os mezes

do anno em que elles terão maior ou menor desenvolvimento.


Manter para tal fim pessoal permanente, oro numero bastante

para attender ás exigencias do serviço nas occasiões em quo


ello mais avulta, seria obrigar o thesouro a uma despeza per-
manente. nem sempre necessaria.
Assim, si cresce a importação de animaes estrangeiros, si
augmenta num dado momento o numero de pedidos de registro
de animaes de raça nascida no si mais considerável se
paiz,
mostra o numero de pedidos de marcas para assignalar o gado
das especies bovina, cavallar c muar de todas as zonas criado-
ras do
paiz. 6 natural, é lógico, é indispensável quo nessas
occasiões seja augmentado o pessoa] incumbido da execução de
taes serviços.
EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 539
SESSÃO

do ser modificado esse pessoal, con-


Dahi a necessidade
cie momento; dalii a impossibilidade
formo as circumstancias
de antemão a vertia cxacta para o seu pa-
de so especificar

°amiA^v'erba
28 sub-consignações exclusiva-
3" comprebende
ao e cinco consignações para ira-
mente destinadas pessoal

acliam, é certo, despezas


Eraalgumas destas ultimas se
de pessoal; só para nae condi-
com o mas pessoal
pagamento
isto ó, pessoal coramissionaüo, cujo rui--
«jões acima indicadas,
de ser forçosamente llu-
do serviço, tem
mero, pela natureza
com o pessoal dos nu-
ctuante. Assim acontece, por exemplo,
A' medida estes vão sendo fundados, o
cleos coloniaes. que

pessoal augmonta forçosamente.

A' medida que ellos forem sendo emancipados o pessoal


terá do ser dispensado; e sel-o-á sem ônus para
diminuirá,
cofres por isso que se trata de pessoal simples-
os públicos,
mente commissionado.
O mesmo acontece com o tem de ir ao es-
pessoal que
trangeiro em do serviço de immigração. O mesmo se
proveito
com das hospedaria» estabelecidas de
(lá o pessoal provisórias
accôrdo com o art. 272 do regulamento do serviço de povoa-

mento.
Como, pois, fixar de antemão taes despezas ? Como espe-

cifical-as ? Como desenglobal-as das outras comprehendidas


nas mesmas consignações e que, também por sua natureza,
não podem ser determinadas com absoluta precisão ? !
O que dizem em relação a esta verba e o que ficou dito
om relação á verba 1° applicam-se a todas as outras indicadas
no requerimento.
O que se vê, examinando as tabellas do Ministério da
[Agricultura, que ellas especificam
6 com toda a clareza o pre-
cisão toda a despeza de pessoal, sempre que esta ser
pôde
fixada e so refere a pessoal permanente, ou dos quadros das
repartições.

Quanto ás despezas de material, são tão especificadas


quanto permitte a organização dos diversos serviços.
Basta considerar que o ministério distribue as suas des-
pezas totaes por 21 verbas distinetas e que estas contcein 49
consignações e 389 sub-eonsigSt/içõcs destinadas exclusiva-
mente a pessoal e 49 consignaç es o 89 sub-consignações des-
tinadas a material e a outras despezas sua natureza
que por
não podem ser previstas ou especificadas com exactidão, como
sejam, salários dos trabalhadores, diarias, ajudas de custo,
passagens, transportes, etc.
Tratando-se de um ministério recem-creado, não
que
tem atraz de um longo orçamentário sirva
_si periodo que de
base a previsão da despeza de cada serviço, não é justo nem
racional que se exija mais do que tem sido feito.
E isto que está feito reprosenta uma somma de boa von-

i.
540 ANNAES DA GAMARA

tado c esforço que só não aprecia quem ignora o que 6 orga-

nizar o mais simples orçamento. Mas quem desprevenidamente,


espirito de justiça, examinar as tabellas de que nos oc-
com
cupamos, reconhecerá fatalmente que é impossível descer a

detalhes, quando se trata de serviços inteiramente


maiores
novos, desconhecidos na maior parte do paiz e cuja execução

se tem de fazer em condições inteiramente differentes umas

das outras.

Sim, é preciso termos em vista, ali'*m de todas as outras

difficuldades que o caso offerece, a diversidade de zonas e

ue condições economicas em que se faz sentir a acção do Mi-

nlsterio da Agricultura.
E' assim que um mesmo serviço em Santa Catharina, no
Paraná ou no Espirito Santo exige certa despeza; em Matto
Grosso ou em Goyaz exige outra maior; no Amazonas ou no
Para exige despeza mais avultada ainda e no Territorio do
Acro essa despeza e decupla da que se faz em vários dos nossos
Estados.
Nestas condições, pergunto, como descer a detalhes maio-
'?
res do que os que se acham consignados no projeoto
E' claro que só a inexperieneia, a falta de conhecimento
de todas essas difficuldades ou uma requintada má vontade
podem fazer tal exigencia.

Um facto recente serve para mostrar que, ao contrario


do que se allega, as tabellas orçamentarias do Ministério da
Agricultura, longe de se resentirem de uma exaggerada con-
contração ou de uma prejudicial confusão de despezas de ma-
terial com as
pessoal, de offereoem já um typo de especifi-
cação orçamentaria que outros ministérios estão longe do
apresentar.
Refiro-me ao balancete que o Sr. Ministro da Agricultura
fez publicar no Diário Offieial de 31 de agosto proximo pas-
sado.
Excluídas dalii as 389 sub-consignações referentes a pes-
soai ainda assim representa o balancete um trabalho tão com-
plexo, pela multiplicidade de títulos de receita e despeza, que
occupa mais de 10 paginas, em typo miúdo, no Diário Offieial.

Quando se sabe que cada sub-consignação orçamentaria

constitue ou exige uma escripturação independente; que ellas


não podem ser fundidas ou condensadas na escripta offieial e
nos respectivos balancetes, póde-se bem ter uma idéa da dif-
ficuldade e dos invonvenientes que resultam de uma exagge-
rada discriminação.
'legal
Junte-se a isto a impossibilidade de se transferirem
os saldos de umas para outras sub-consignações, ou de applí-
car-se qualquer dellas a despezas que não estejam na mesma
expressamente previstas, e poderemos nos dar conta das dif-
ficuldades que surgiriam á administração si para cada especie
de artigos a adquirir, ou para cada natureza de transporte, ou
SESSÃO EM 23 Dl! SETEMBRO DE 1912 541

menores de cada serviço, fosso oreada


para as particularidades
uma sub-consignação especial !
Adoptado o critério dos illustres autores do requerimento,

só a consignação da verba 4a, que o Sr. Josino de Araújo quiz


attribuir exclusivamente .ao custeio de automoveis, teria do
ser desdobrada em 12 ou 14 sub-consignações e nestas condi-

o orçamento da Agricultura, quo é actualmente constituído


ç-ões
479 sub-consignações distinctas, a ter necessa-
por passaria
riamente 800 ou 1.000 sub-consignações I

Nesse dia um balancete do Ministério da Agricultura pas-


saria a occupar todo o Diário Official e então,
podemos affir-
mar, ninguém teria coragem de o ler e quem o lesse não o
entenderia. E então teríamos a balburdia que infundada e
apaixonadiamente o nobre Deputado attribue' jás tabeülas
actuaes.
A allegação feita pelo nobre Deputado, de que o Ministério
da Agricultura tf autorizado a despender só em automoveis a
somam de (392 contos, só pôde produzir effeítos em um ce-
rebro inteiramente alheio ao que se na administração
passa
publica de nossa pátria. Aliás, o proprio Sr. Josino de Araújo
sn incumbiu do demonstrar o que ha de inverosimil em sua
affirinativa, transcrevendo o texto das verbas orçamentarias
que consignam fundos para tacs despezas.
A verdade tf que no Ministério da Agricultura, excluída a
eonducção do ministro (verba 1"), só duas verbas comportam
despezas com o custeio de automoveis.
A verba 4a, destinada ao serviço de propaganda, o a verba
20", de ora em deante 21", destinada a despezas «Eventuaes ».
Mas qualquer dessas verbas tem de attender a lima infinidade
do pagam entoa alem dos quo resul tarem do uso de automoveis.
K basta a leitura do texto das mesmas verbas compre-
para
hender-se destlo logo que a parto applicavel a automoveis 6
.forçosamente muito limitada.
Quanto h verba 5% a despeza ai li prevista é com ca-
um
minbão-automovo,l destinado aotransporte de plantas, adubos
o outros materiaes do Jardim Botânico, o não tf certamente a
essa especie de automoveis
que se quiz referir a critica, som-
pre infundada o
apaixonada, do nobre Deputado.
Resta-me apenas examinar a accusaçfuo Dopu-
do nobre
xado na parte referente ás despezas eventuaes do Ministério da
Agricultura. Mas esse exame, exigindo uma analy.se mais com-
pleta do cada uma das verbas orçamentarias, sido de
e tendo
um modo geral explicada ilíustro relator, llaul
pelo Sr. Fer-
nancles, a impossibilidade cie prever todas as despezas em um
ministério que está ainda em sua phase de installação, deixo
para lazer em outra opportunidade, si assim «e julgar ne-
cessario.
me
parece fóra de louvar o zelo
proposito com que
o?» niuütres Deputados que toem discutido
o orçamento ora em
debate teem exercido o seu direito de critica. Elle nasce na-
DA CAMARA
R42 ANNAES

do Congresso, em dotar de
maxima
fnralmente da prerogativa
Governo. Ü que nao se comprehende
mek) de governo o próprio
mcondicionaes da
amigos que se dizem quasi
norém é que
no orçamento este-
com córtes profundos
situação procurem
tornando infecunda uma ad
a' acção do poder publico,
rilisar
Não sei como comprehender essa
que elles apoiam.
m nfstracão
o menos, com
nova theoria do economia política de despender
de íontes
de serviços e estancamento prematuro
desorganização
vivíisde receita publica»
do Marechal Hermes, por
Os
que applaudimos o Governo
o seu nao podemos
rtprfeita conformidade com programma
'idoütar dos empréstimos, hoje_ condemnada,
nem a politica
nao comporta o
nem a dos impostos novos, que o consumidor
fatalmente o Governo á mais justa impopularidad_e;
arrastaria
orientação para fazer face a solução
resta uma única politica
economico em um paiz novo e de tão grandes rc-
do problema
e essa é a do desenvolvimento das fontes de
cursos a explorar
improduetivass. Dentre os
receita e a suppressão das despezas
ha que mais de
departamentos da administração publica dous
consultam o desenvolvimento dessa politica — o da viaçao
perto
O primeiro, facilitando o escoamento dos
e o da agricultura.
e collocando, por facilidade de communicação
produetos
no_mercado consumidor,
restre, marítima e fluvial, o produeto
a em todas as suas
o segundo, desenvolvendo producção
dos que constituem a
manifestações, especialmente generos
tal
base mais solida da nossa riqueza. Negar recursos para que
se solva 6 impedir que a producção augmente, que
problema
mesmo
o paiz prospere e que possamos regularmente equilibrar
— caminho para a politica
de futuro a receita com as despezas
jdeal dos saldos orçamentários.

Sem emprego de capital nãoha credito possível, sem fo-

mentos ás fontes de riqueza publica ellas se exhaurem, sem

braços, sem capitaes, som agricultura, sem industria, sem

estiola-se uma nação. E outra cousa parece não


commercio,
quererem os nobres Deputados que se oppõein ás dotações pro-
Commissão, acreditando que com esse gesto do
postas pela
antipatliia revelada contra o illustre gestor da Agricultura pra-
ticam contra elle uma acção efficaz de demolição.
Engano manifesto, porque o ataque feito ao illustre au-

xiliar do Sr. Presidente da Republica, que pela elevação pa-


triotica com que vem desempenhando suas. altas funeções em-
confiança e a estima pessoal do Sr. Marechal e se tem
polgou a
imposto aos applausos da nação, resvala delle para ferir o pro-

prio Governo.
S. Ex. o Sr. Dr. Pedro do Toledo, 11a gestão do sua pasta,
como os demais ministros, tem merecido, pelos relevantes ser-
viços prestados ao paiz, o mais franco apoio do Sr. Marechal

Presidente da Republica.
Impedir a marcha ascendente da administração do Minis-
terio da Agricultura, pela negativa de meios ou por dotações
SESSÃO EM 23 DE SETEMBRO DE 1912 543

insufficientes, c deslustrar uma situação, é tornar infecundo

um que só tem por aspiração fazer o bom publico e


governo
felicitar o paiz. Os que o apoiamos com sinceridade, certos de
nem devemos
que praticamos obra de patriotismo, não podemos
tolher a sua acção beneíica no cumprimento desse programma,
único pode assegurar a truwamdado e a prosperidade do
que
paiz.
a nossa idade
Olhemos para os outros paizes, comparemos
com a delles o concluiremos o nosso progresso assenta no
que
desenvolvimento da agricultura e da industria, que sem re-

cursos não
podem medrar nem viver.
Inspire-se a Gamara nos sentimentos elevados de real

eopite esses impulsos de uma política subalterna


patriotismo,
e caminhe ao encontro dos desejos do Governo, alentando as
forças perennes da vida nacional para assegurar com uma po-
liticade paz e de concordia a estabilidade das instituições e a

prosperidade sempre crescente do Brazil. (Muito bem; muito


bem.)

0 Sr. Presidente — Continua a discussão do projecto


n. 61 B, de 1912.
Tem a palavra o Sr. Josino de Araújo.

O Sr. Josino de Araújo — Nunca


foi ú Europa e tem pena,
mas sabo por noticias de viajantes illustres que a tempestade
agita quasi sempre a Bahia de Gasconha; um feixe dos raios
dessa tormenta perenne, vibrado pelo distincto orador o
que
antecedeu, o illustre Deputado pela Bahia, veiu attingil-o,
envolvendo-o nas censuras que dirigiu aos seus intemeratos
companheiros. (O Sr. Mario Hermes declara não tivera
que
intenção de censurar.)
De facto, continua orador, S. Ex. referindo-se á critica,
que levantou contra a fôrma illegal, tumultuaria,
perturbadora
da organização financeira da Republica, pela qual está formu-
lado o orçamento da Agricultura, disse que só a inexperiencia
ou a podia explicar as arguições por mim
má fé feitas.
Para um representante da Nação, que tem o dever de co-
'leis,
nhecer as a censura do nobre Deputado 6 muito grave, e
exige uma resposta immediata, uma explicação inadiavel.
Sem receio de manifestar inexperiencia ou má fé, con-
tinua a sustentar que é illegal e tumultuaria a organização das
tabellas explicativas do orçamento em debate.
O distincto pelo Deputado
Districto Federal, Sr. Nicanor
do_ Nascimento, provou exhubcrantemente, em opi-
apoiado
niões de finajiceiros illustres, que a especificação das despezas
nu organização dos orçamentos, ó urn
principio fundamental na
contabilidade publica. [Aparte.)
Que o orçamento da Agricultura, inexperiencia
por ou
ignorancia de nossas leis, por parto de
quem o formulou (não
oro que fosse o Sr. ministro) não attender áquelle principio, ó
uma questão de facto; e, para provaI-o, o orador, com risco
ANNAES DA GAMARA

de sg tornar enfadonho, vae citar a legislação fiscal, que rege

o assumpto, desde 1828.

O orador lê trechos das leis de 8 do outubro de 1828, 15

do dezembro de 1830, 10 de novembro de 1833, 11 de outubro

do 1837, 21 de outubro de 1843 c 5 de novembro do 1880.

Como fica evidente da leitura quo fez, é indefensável a

norma seguida na organização da® tabeilas do orçamento da


'Agricultura, as de suas verbas,
quaes, na quasi totalidade, on-
despezas de naturezas diversas, hecterogeneas, inagsi-
globam
inilaveis, cm uma só dotação, tornando assim impossível, não
só ao Congresso como ainda ao
proprio Tribunal de Contas, a
fiscalização, que áquelle competi; directamente, por dispositivo
expresso da Constituição, e a este no desempenho da delegação,

quo para o mesmo fim, recebe do Poder Legislativo, prero-


gativa que é a sua razão de ser.

Comprehende que irá infadar a benevola attenção do seus


collègas; mas, por que não se diga que o orador faz accusações
sem base, « forçado a completar a analyse iniciada em seu dis-
curso anterior, apontando, urna a uma, todas as verbais, todas
as dotações, que no orçamento da Agricultura figuram englo-
bando despezas não especializadas, de natureza hecterogenea,
as quaes, por bem dizer, armam o ministro de um arbítrio
absoluto, na applicação dos meios- que lhe são dados para oc-
correr aos diversos serviços do sua pasta, porquanto, não tendo
realmente S. Ex. a obrigação de explicar as despezas não es-

pecializadas, em uma dada verba global, S. Ex. poderá so-

phismar a lei que impede o transporte de verbas, despendendo

parte insignificante em um ou alguns dos serviços e attri-


buindo quasi toda a dotação a iun só delles.

Com este intuito, o orador lê verba a verba Iodas- as vo-


tações globans, que constituem ns tabeilas explicativas, ao quo
se refere, accentuando que condemna essa fôrma illegal do
organizar orçamentos, porque com o englobamento, não só-
mente se frusta o dever que tem o Poder Legislativo de fis-
calizar as despezas publicas, como se podem igualmente abrir
alçapões para despezas injustificáveis.
Adduzindo muitas outras considerações que justificam sua
condemnação á infeliz pratica seguida no orçamento da Agri-
cultura, o orador declara que votará a favor do projocto desde

que as suas verbas estejam devidamente discriminadas, afim


de se evitarem as duplicatas de consignações para os mesmos
serviços o outros abusos.

mais ainda o orador: — concederá seu voto


Fará pelo
créditos supplementares que -se
quaesquer pedirem, por quanto
acredita e reconhece que os serviços affectos a este ministério
são effectivamento a pedra angular do desenvolvimento eco-
nomico do paiz.
Nesse intuito é que apresenta as emendas quo remetto á
Mesa, reduzindo varias consignações, que reputa desnecessa-
SES8ÃU KM 23 OJJ SKT12MBR0 DE 11)12 543

rias e verdadeiramente improductivas, conformo a iuslificativa


Que faz um detalhe.
O orador
passa em seguida a fazer desenvolvida ileiosa
,,
e suas
emendas, mostrando
que, como está constituído, o mi-
e cl!'sf,os.o apparelho
r^iS1"10 burocrático, que não corres-
Ponde aos altos intuitos de sua
creação, pois sO com o pessoal
• despendem cerca de 20 mil
dos 30 mil contos orçados
as despezas para
do ministério, ou sejam 00% daquelle total.
(iOnclue dizendo
que, pelo adeantado da hora, é forçado a
nierromper as suas
considerações;
pedindo que seja mantida
l'on,inuar na sessão
^?iat seguinte a analyse do
I lojecto. (Muno bem; muito bem. O orador é cumprimentado).

1>iy!SImiNTI! — O nobre
m11' Deputado ficará inscripto
para fallar pela segunda vez.

m?*° 'Io discurso do Sr.


de Araújo, o Sr. Soa- Josino
s dos Santos, Io Vicc-l residente,
deixa a cadeira da
cia presidem-
que e vccupada sucessivamente
pelos Srs. Raul Veiga,
4" Secretario, Juvenal Lamartine, 3° Secretario.)

O Sr. Presidente - Esgotada a hora, fica adiada a dis-


cussao do projecto n. 61 B, de 1912.

Vou levantar a sessão designando


para amanhã a seguinte

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE, ATÉ AS i HORAS DA TARDE OU ANTES

Votação do projecto n. 48 15.,de 1012, tornando evfensiv-is


a Academia de Commercio de Pernambuco°enelhaSdoq£
as disnoiiniVih
lei n. 1.339, de 0 de de
janeiro 190™,á
tem sido concedido a outras academias; com parecer favorável
''"bli° {vi"" »"*•» "• ,8 i'
Ia Í»T~í,«US™cc3°

Continuação da 2" discussão do projecto n. 123 A, de 1912,


rK0n0oid6nfJ0 aos
•amn1istia implicados nas revoltas
S& t
do Batalhao Naval e navios da esquadra,
o.n dezembro de 1910,
o aos civis « militares envolvidos nos a. onlecimenlos de Ala-
nãos, oin_ outubro do mesmo anno; com favoravel da
parecer
trommjssao de Constituição c .Instiga;

2" discussão do n.
projecto 305. de 1912. concedendo á
viuva, emquanto lor, de Quintino Bocaynva o auxilio de 800$
mensaes, assim como o 200$
de a cada um dos seus filhos Ed-
d0n Waldemar, Rosa, Ada
! lW e Córa, o também o do
Maria Amelia Bocaynva Bulcão, durante sua
vfnm P'
' Quantia que por sua morto ou casamento, reverterá
aos seus filhos Sarah, José, Léo e Izabel: 1
v«i. x
35
oiG ANNAES ÜA GAMARA

3" discussão do projecto 11. 301, de 191?», autorizando o


100:000$,
Presidente da Republica a concorrei' com a quantia do
como. auxilio, para se erigir um monumento nesta Capital, em

honra á ida ex-imperatriz do Brasil; com voto em


memória
separado do Sr. Pedro Moacyr e parecer da Commissao de

Finanças;

3" discussão doprojecto n. 1.84 B, de 1912, rèdacção para


3" discussão da emenda approvada e destacada do projecto
li. 382, de 1911, mandando equiparar os vencimentos Jo con-

servador .restaurador da pinacotheca da Escola Nacional de

Bellas Artes aos do secretario da mesma escola;

3" discussão do n. 298, de 1912, autorizando a


projecto
abertura do credito extraodinarío de 7:200$ para occorrer ao

pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de sen-


tença judiciaria;

1" discussão do n. 275 A, de 1912, tornando ex-


projecto
tensiva aos federaes de l1 instancia e seus substitutos a
juizes
disposição do art. 3", n. III, da lei n. 2.350, de 31 de

dezembro de 1910, relativa á cobrança em estampilhas das

custas com favoravel da Commissão de


judiciarias; parecer
Constituição e Justiça;

2* discussão do li. 1Í8 A, de 1912, transferindo


projecto
o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos
para
tenentes, os inferiores tenham mais de tres annos de
que
praça c serviços profissiònaes, e dando outras providencias:
com e emenda da Commissão de Marinha e Guerra;
parecer

2* discussão do n. 280, do 1912, determinando a


projecto
liora legal; com da Commissão de Constituição e Jus-
parecer
tiça.

SEGUNDA PARTE ÁS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES

61 B, de 1912,
Continuação da 3" discussão do projecto n,
fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e

Cominercio para o exercício de 1913;

Discussão única do projecto n. 3Ó4, de. 1912, autorizando

conceder a Joaquim de Macedo Costa um anno de licença,


a
todos os vencimentos; com parecer favoravel da Com-
com
de Finanças e voto em separado c emenda dos Srs. lli-
missão
íieiro Junqueira e outros;

2® discussão do projeçto n. 70 A, de 1912, mandando,isen-


itar de todos os direitos, inclusive dos de expediente, a intro-

ducção fronteiras de váccum e ovelhum destinado


pelas gado
e dando outras com substitutivo da
á criação providencias;
Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de Finanças;

3" discussão do projecto n. 213, de 1912. creando o logar

do zelador do Museu Naval, annexo à Bibliotíieca de Marinha,


e garantias idênticas aos dos mestres do
com os vencimentos
SÉS HÃO KM 2o Í)E áirrjsiiüiio ÜE 101 !>}}

AfseHâ! de Mdritííià; com favorável cia Commissão de


parecer
Finanças (vide projecto h. 300, de 1911);

i 3" discussão do projecto n. 270, de 19l2,; aiiioriãartíjo a


,
abrii'. pelo Ministério .do interior, o credito extraordinário de
í :20Ü$, ouro, jiara pagamento do prêmio de viagem conferido
ao Dr. Carlos Leoni Werneck;

3*. discussão
do projecto n. 325,. de 1011, mandando çon-
siderar para todos os òffeitos por actos de bravura praticados
na campanha de Canudos, coín antigüidade de. 15 de novembro
de 1897. a promoção do 1" tenente do Exercito Francisco dás
Chagas.Pinto Monteiro a este posto; com da Còmínissão
parecer
de Finanças;

3° discussão do projecto n. 210 A, de 1012, do Senado, au-


torizando a abrir, pelo Ministério da Justiça e Negocios Inte-
riores, o credito de 8:040$, supplementar á verba da consigna-
ção — Pessoal — da rubrica 0" do art. 2o da lei n. 2.544, de 4
ile janeiro de 1912; com favoravel do
parecer da Commissão
Finanças;

3" discussão do projecto n. 203, de 10)2, autorizando a


abertura do credito de 150:000$, ouro, conta do especial
por
de 8.000:000$, para despèzns com a representação do JJrazil
na Terceira Exposição Internacional da Borracha;

3" discussão
projecto, n, 32.0 A. do
de 1011. considerando
de, utilidade publica a Associação Commei-çjal da Hjdiia; com
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Jüsliríi;

Discussão unira do projecto n. 303. de HI12, atilorjzjindo


a concessão de licença a. Mario de Souza Carvalho, desenhista da
Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão
de Finanças;

2* discussão do projecto n. 373, de 1012, facultando a Dona


Maudia, Vergara Oliveira,
de viuva do coronel re-
graduado
formado do Exercito lleliodoro Joaquim de sua
Oliveira, e
filha Francisca de Oliveira fazerem as contribuições iift. 4"

do decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2a discussão do projecto n. 300, de 1012, do Senado, auto-


rizando a niandav
pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessionário
de Ladisláo Cunha & Comp.. a de I80:850$282,
quantia por
obras contrariadas o executadas nos da Força Policial
quartéis
do Districto federal: com parecer favorável da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 400, de 1911);

3* discussão do projecto n. 377, de 14)11, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 5:393$5í8, para paga-
menfo ile vencimentos competem ao lente em disponi-
que
bilidade da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro
da Veiga Filho;

discussão do n. 3Í1, dp 101;!. autorizando


projecto a
abertura do credito supplementar de 200:000$, á verba 15",
548 ANNAES DA GAMARA

do art. 93, da lei orçamentaria vigente, para attender a despezas

com o cadastro dos proprios nacionaos;

Discussão única do parecer da Commissão de Finanças

sobro a emenda offerecida na 2* discussão do projecto n. 161,

de 1912, estabelecendo um novo quadro de ainanuenses dò

Exercito (vide projecto n. 161 A, de 1912);

1" discussão do
projecto n. 9 A, de 1912, reformando o
Laboratorio de Analyses da Alfandega do ltio de Janeiro, crêa

laboratorios nas alfaudegas de diversos Estados, dando outras


lixa os números, classes e vencimentos de accôr-
providencias e
do com as tabellas cjue estabelece; com emendas da Commissão
de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finanças.

Levanta-se a sessão ás 6 horas tia tarde.

111* SESSÃO, EM 24 1)E SETEMBRO DE 1912

PRESIDENCIA DOS SUS. SABINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE; SoA-

KES DOS SANTOS, 1" VICE-PRESIDENTE; JUVENAL LAMARTINE

3o SECRETARIO, E RAUL VEIGA, 2° SECRETARIO

A' 1 hora da tarde, procede-se á chamada, a que respon-

dem os Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Raui

Veiga, Juvenal Lamartine, Mavignier, Luciano Pereira, Roge-

rio de Miranda, Costa Rodrigues, Cunha Machado, Bezerril


Fontenelle, Agapito dos Santos, Eloy de Souza, Costa Ribeiro,
Lourenço de Sá, Netto Campello, Borges da Fonseca, Erasmo
de Macedo, Euzebio de Andrade, Alfredo de Carvalho, Barros
Lins, Baptista Accioly, Moreira Guimarães, Felinto Sampaio,
Raul Alves, Rodrigues Lima, Itaphael Pinheiro,. Torquato Mo-
reira, Figueiredo Rocha, Pereira Braga, Porto Sobrinho, lírico
Coelho, Pereira Nunes, Elysio de Araújo, Silva Castro, Mau-
ricio de Lacerda, llaul Fernandes, Augusto de Lima, SeDastião
Mascareuhas, Vianna do Castello, Ribeiro Junqueira, Antônio
Carlos, João Luiz de Campos, Álvaro Botelho, Francisco Bres-
sane, Carneiro de Rezende, Moreira Brandão, Jayme Gomes,
Rodolpho Paixão, Manoel Fulgencio, Cândido Motta, Alberto
Sarmento, Marcolino Barreto, Palmeira llipper, BuenO de An-
drada, Estevam Marcolino, Arnolpho AzeveTlo, Afartim Fran-
cisco, Olegario Pinto, Caetano de Albuquerque, Lauienha Lins,
Henrique Valgas, João Vespucio, Carlos Maxiniiliano, Nabuco
de Gouvêa, Victor de Britto e Domingos Mascarenhas (66;.
Abre-se a sessão.

0 Sr. Juvenal Lamartine (3° Secretario, servindo de 2°)

procede á leitura da acta da sessão antecedente, a qual é sem


observações npprovada.
SESSÃO EM 24 015 SETEMBRO 1)E 1912

0 Sr. Presidente — Passasse íi leitura fio expediente.

O Sr. Raul Veiga (2" Seereflnrio, servindo de í°) procede á


leitura do seguinte

EXPEDIENTE
Officios:

Do Sr. Deputado Dunshee do Abranches, de 23 do cor-


rente, licença para se ausentar desta ('apitai— A'
pedindo
Gommissão do Petições e Poderes.

Do Sr. 1° Secretario do Senado, de 23 do corrente, en-


viando o projecto daquella Casa do Congresso Nacional auto-
rizando o Governo a fazer reverter ao quadro dos funccionarios
de Fazenda, para o effeito de ser aposentado, o ex-escriptu-
rario da Alfandega do Rio de Janeiro Joaquim Augusto Freire.
— A's Commissões. do Constituição de Finanças.
e Justiça e

Do mesmo senhor e de igual data, communicando que o


Senado e nesta data
adoptou envia a sancção proposição desta
a
Camara autorizando o Governo a abrir ao Ministério da Guerra
o credito de 3.000:000$, supplementar á verba 13" do art. 18
da lei n. 2.544, de 4 de janeiro do corrente anuo; para oc-
correr ás despezas com diversas obras em estabelecimentos
militares.— Inteirada.

Requerimento do major do Exercito Augusto Gurgel do


Amaral Júnior, cartorario da Delegacia Fiscal em Matto
Grosso, pedindo contagem de tempo.— A' Commissão de Con-
stituição e Justiça.

E' lido e fica sobro a Mesa até ulterior deliberação um


projecto do Sr. Figueiredo Rocba e outro.
E' lido e enviado a Commissão de Constituição Justiça o
o
protesto do Serro contra o divorcio.
(Este protesto será publicado depois.)

0 Sr. Presidente — Está finda a leitura do expediente.

O Sr. Mario Hermes — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a o nohre Deputado.


palavra
it
0 Sr. Mario Hermes pedi* a publicação de um telegramma
do intendente do Conselho Municipal de Aratuhype protestando
contra o projecto de divorcio.

Consultada, a Camara concede a publicação.

TELEGRAMMA A QUE SE REFERE O SR. MARIO HERMES

Presidente da bancada bahiana — Aratuhype, 20 do se-


tembro de 1912 — Intendente do Conselho Municipal protesta

.
AN NA ES OA OAMAUA

solemnemente contra a lei do divorcio, instituição perigosa


para os sentimentos catholicos o direitos da família nacional
— Conego Silvinó, intendente.— Albino Pinheiro, presidente
<lo Conselho.— Júlio AvcUar, vicé-prAidente do Conselho,:
Abilio Santos, conselheiro.— Antero, conselheiro. • - Anastácio,
cons dheirc.— Iíavid, conselheiro.

O Sr- Francisco Veiga — Peco a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Francisco Veiga pede a publicação de uma represen-


taçãd de Habitantes da cidade do Gtlrvello, em Minas, prote-
SÜihdo cotítra o projecto do divorcio.
r "Consultada,
a Carnara concede a publicação.
» • i " • i. • " i í t i - w.;

0 Sr. Presidente — Tem a o Sr. de An-


palavra Euzebio
drade.

0 8r. Euzebio de Andrade — Sr. Presidente,, mas rapidas


palavVaS' pronunciadas hontèih eu disse qhe, além de protestar
Còntra ô acto1 do1 illustre e; criterioso Sr.' Ministro 'ò
da Vfâ^So

0br$á Publicas
arínullando a coneurrencia para as obras di>
¦rtppVvllãva
pôrtif de: Jd);aguá, também pára S. Exí
afim dó que
'comò"a
chamasse a si novamente a questão c reconsiderasse;
lei lfoe impõe, esse acto grandemente prejudicial aos interesses
do Estado de Alagoas, desilludindo aquéíla população até da
espdrança de vir a ter um porto, tolhida sido esta
que jçm
justa e velha aspiração por incidentes sempre de natureza il-
lega), si não escandalosa. Sem embargo do brilhante discurso
proferido' pêlo talentoso Deputado pelo Estado do Uio Cirande
do Sul, o Sr. Octavio Rdchn, em defeza do acto do honrado
Si*. Ministro da VtaçJò e Obras Publicas, continuo o'pensar que
o acto de S. Ex. sobro não ter assento na lei, S. Ex.' mesmo
por
invocada, poderá tornar-Se
aos cofres da lesivo
grandemente
União, do
mesmo modo
"promoveu
que o foi aquelle de um outro ministro
'resultou
que outr'orafunesto accôrdo dó qual >a es-
candalosa ipdemnizaçãp pela rescisão da concessão
primitiva
do mesmo'porto de Jãraguá, indemnização' que se eommeníou
laiobom escandalosamente em ambas as casas do Congresso e
foi g*lo.stida em vários tons imprensa do
péla pai'/..
Sr. Presidente, o estacjo do meu espirito combalido e aba-
tido, íjoiiiò tótía a ("amara sabe, por crudelissimo e recente
golpe, riflo me permitte:roiifiar inteiramente a minha memória
o desenvolvimento que desejaria dar ho pfbttèslo que oi>a fU(,'0
e ao appello
que ainda dirijo, cheio de esperança e de plena
confiança, ao honrado Sr. Ministro da Viação. E por isso terei
de recorrer ás notas que organizei methodizar argu-
para a
mentação.
O Hr. Deputado Octavio Rocha iniciou a sua defeza recor-
dando que (Jepois desta onerosa indemnizaçã'0 ¦ a venho de
que
EM 24 PB SETEMBRO DE 1912 55J
SESSÃO

mo referir e que tão forte pesou sobre os cofres públicos, com

a rescisão do contracto porto de Jaraguá,


do nunca
primeiro
do orçamento
mais veiu á tona o assumpto, até que, em cauda
o Governo se novamente com o as-
para 1911, preoccupou
sumptò. . .
evidente equivoco; como na mjus-
Ha parte de S. Ex.
da
tiça da parte do meu estimadò' e amigo o venerandô
prezado
Senador Araújo Góes, culpando o Sr. Seabrá, quando Ministro

dã Viaçâo, da falta'de maior cuidado é áttenção no estudo'do


assumpto, a de organizar á concurrencia á con-
pònto pára
slrueção dos nielhoramcnto.5 do da capitaí de Alagôns
porto1
por bases que ferem a Constituição e as leis da Repüblicíi'.

Para demonstrar o equivoco do íjlustrado e talentoso


lembre d Ca-
Deputado pelo Rio' Grande do Sul, basta que eu
mara campanha'sustentada nesta Casa do Congresso, nos ul-
a
timos dias de 1909, bancada de Alagôas quando surpre-
pela
hendidã com umá emerida que mandava applicâr a tributação
feitas então,
dé'2 X ouro, ás importações pelo po'rtó de Maceió;'
como desta tribuna,eu e outros companheiros de re-
agora,
presentaçací discutimos vehementcmenle è á sacie-
'ille^alidade provamos
dade a de umá tal tributação, que só poderia ser
cabível em face da riòssa ltígisláçãó'depois'que'fosãem iniciadas
as obras do melhoramento do porto. Apezar do significativo
numero de vòtos que'
prestigiou a nossa causa, a emenda foi
adoptada pelà Câmara, lendo nós, porém, como compensação,
uma promessa formal e Categórica do então Presidente da llé-

publica, o Sr. cujo nome


Nilo Peçanha,sémpre tíóm
pronuncio'
o maior prazer e reconhecimento pelos serviçóá á
prestados
minha terra, qü° :S. Ex. mandaria estudar e decretaria as obras,
de accôrdo com a lei que vigorasse.
Reáh»erite, S. Ex. cumpriu a sua promessa, determinando
ao Ministro da Viação, ür. Francisco Sá, illustrado homem de
governo, que todos conhecemos, notável em matéria do enge-
nharia, competente nessa especialidade, organizasse a com-
missão teehnica de estudos que se transportou Maceió e
para
allipermaneceu por quasi seis longos inezes, estudando o porto.
Essa commissão projectou e orçou as obras, vindo porém
terminar seus trabalhos definitivos já no Governo aetuál, do
eminente Marechal Hórmes, a quem devemos, afinal, a appro-
vação dos estudos.
E' impossível suppôr, dos dous
portanto, que um e outro
ministros «desses dous autorizassem
governos projectassem e
vlma Obra sobre báses inconstítucionaes ou illegaes:

O Sn. Rocha — E' distinguir de


Qctavio preciso projecto
edital.

O Sn. Euzebio de Anduade —. Chegarei lá tiver de


quando
analysar o edital em face da lei.

O Sn. Ogtavio Rocha — Primeiro foi organizacjo o pro-


jecto, depois o edital,
ANNAES DA CAMADA

O Sr. Euzebio de Andrade — Mas a


para organização do
projecto era precisa base, e essa base eslava na lei auto-
que
rizou a obra.
A exposição que venho de fazer sobre a origem da nova
concurrencia responde nesta altura não só ao illustre Deputado
corno também ao topico do discurso
do meu estimado e vene-
] ando amigo Senador Araújo demonstra Góes,
porque que, no
caso, houve, alem da intervenção do Dr. Seabra, que é emi-
nente professor de direito, como todos
sabem, a de um homem
de reputaçao scientifica incontestável, o Sr. Dr. Francisco Sá,
ministro que expediu a portaria de 18 de março, dando in-
strucçoes a commissão technica,
que foi estudar o porto. Tenho
em maios, como Gamara vê, o relatório
_a apresentado pela re-
lenda commissão, onde transcreve topicos das instrucoões
dadas pela portaria de 18 de março de 1910:

«A, commissão_
examinará o antigo projecto no sentido de
_
possível modificação, de maneira a reduzir o custo de obras e
accommodar o orçamento do novo projecto a melhor corres-
ponuer a receita provável a auferir corri o imposto de 2 %
taxas do porto adequadas, de conformidade
HUr?'o™as com a lei
ae 180J, reunindo
para isto os dados indispensáveis sobre o
movimento commercial e marítimo
do porto. s>
t'° íac'°>,° trabalho da commissão
í"1' calcado sob o movi-
mento commercial e marítimo doporto dá a seguinte renda
provável, e loi esta renda serviu
que de base ao projecto pelo
valor da obra.
Estou argumentando de bôa fé, com toda a lealdade, sobre-
ruão, com a verdade de factos assim comprovados, isto leio
por
também a 23 do
pag. relatorio da commissão:
(lê).
provável — A receita
provirá da arrecadação das
seguintes taxas e impostos:

IImposto de 2 % ouro sobre o valor das mercadorias


importadas do estrangeiro;
II—Taxas de atracação dos navios nos cáes que admitti-
remos ser:
08 vapores: 700 réis metro occupado
por e dia de
estadia-^
Para os veleiros: 500 róis por metro occupado e dia de
estadia;
III —Taxa de carga o descarga pela utilização dos cáes,
e para a conservação das obras do porto á razão de tres réis
por kilogramma das mercadorias, quer de importação quer de
exportaçao;
ÍV — Ta5a capatazias, como nas Alfandegas, de 200 réis
por volume de peso não excedente de 50 kilogrammas, e por
dezena ou fracção de excedente 100 róis.
V —Taxa de armazém como nas Alfandegas: até 30 dias
na razão de 1 % ao_moz; até 60 dias na razão de 1%
% ao mez;
até 00 dias na razão de 2 % ao mez; pelo tempo que decorrer
além de 90 dias, 3 % ao mez.
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 853

VI —Taxas de diversos serviços íi navegação;


prestados
facultativos como a estiva, o fornecimento de carvão e agua,
o transporte por via ferrea até Jaraguá.
Applicados ao movimento commercial e de navegação, se-
gundo acima, teremo,s:

1—Imposto de 2 % ouro 202:500$000


II — Taxa de atracação íl:(>00$000
III — Taxa de carga
descarga e
390:000$000
IV — Capatazias 156:000$000
v — Armazenagem
67:500$000
VI — Para estas taxas nada consigno
Somma 857:600$000

Despeza annual com administração e conser-


vação das obras 60:000$000

Receita liquida 797:600$000

Sommando esta receita provável cm 797:600$000.


Gomo vê a Gamara, não ha neste calculo de renda do porto,
nem duplicidade de taxas, muitoe e in-
menos illegalidade
constitucional idade de impostos.
Cae assim por terra a accusação feita aos dous ministros
que intervieram no estudo da
questão.
Accresce que o historico feito
pelo honrado collega Sr. O.
Rocha, confirma por outro lado
§ meticulosidade o cuidado que
presidiu á decretação final das obras.

S. Ex. diz em seu discurso. :


(Lê)
«Em março desse anno o Governo
deliberou pro-
ceder á revisão dos estudos melhoramento do
para
referido porto, mandando organizar de-
um projecto
finitivo de obras, de modo
que o respectivo custo esti-
vesse de harmonia com a receita se
provável que
auferisse com o imposto de 2 ouro, e demais taxas
%,
autorizadas pela lei de 1869.
« Pessoal da commissão do Recife, sob a
porto do
direcção do integro engenheiro Dr. Alfredo Lisboa,
após os estudos in loco, organizou um projecto, que o
Dr. Souza fiandeira subinetteu á approvação do Go-
verno, elogiando-o como obra de valor.
« O orçamento de 15.(507:714$000.
é da importancia
«Esse
projecto foi submettido á apreciação dos
engenheiros do ministério, Drs. Souza Bandeira, Gosta
Gouto e Leandro Gosta, dando estes seus pareceres,
modificando detalhes do excellente trabalho do doutor
Alfredo Lisboa.
« Gorn estes estudos o Governo achou-se habilitado
a abrir concurrencia para execução da obra, cumprindo
assim a autorização legislativa.»

Até
aqui S. Ex. nos instrue sobre o cuidado havido nu
approvação do
projecto.
SS4 AN.NAKS PA CAMAUA

• *

Depois, S?. Es. anula nos informa sobro o escrupulo havido
na organização tio edital, quando diz:

«Em ofíicio do 12 de agosto do anno passado,


officioque tem o'n. 252, o Sr. Pr. Adòlpho Del
Vecchio; director technico dacommissSo fifcciáí e admi-
njstrativa das obras tio porto do Rio de Janeiro, apre-
sentava á approvacãp «Io Ministro da Yiaçiio a minuta
tio edital de concurrencia ronstrucção do porto
para
cje Jaraguá.
Tomando conhecimento deste edital, feito de ac-
côrdo com a lei 11. 2.3Ò0, cje 3| de dezembro de 1910,
art. 32, 2" parte do n. 01, « Sr. l)\'r Leandro Costa, chefe
da Directoria Geral dé V|açãb e Obras Publicas, propoz
duas modificações, uma referente á Cláusula XI e a
'
outra referente á cláusula XVII. {Lâ)'\
O Ministro de Estado, o illush-e e digno cidadão
quo dirige brilhantemente, na época actual, os destinos

qa Bahia, tendo leito com que estes papeis, transitas-


sem pelos canaes competentes, mandou abrir con-
cürreucía publica, tomando e'm consideração os pare-
cères das diversas sécçSes do seu ministério.»

A redacção do edital é como se vê do actual inspoctor dos


era então o (Jireetòr da comnüssüò' das obras do
portos, que
porto do JVio de Janeiro.
Já'' de estrannar, portanto, que este mesmo inspector gera\
dos Portos que organizou'o edital, que estudou meticulosamente
também o projecto do ol)ras, soja qU^in veUlui agòra, por motivo
tle uma impossível .justificação, arguir os seus proprios cálculos,
isto é, os cálculos cópstam neste edital, de fictícios, fir-
que
iundos eih taxas o impostos inconvenientes, ijlegaes e incon-

sfitviclotjães'.

U Sr. Ogtavio Rogiia — Não são os cálculos.

O Sr. Euzebio de Andrade— Mas não 6 tudo: este edital

foi subpiçttido á approváçãó do Ministro que, antes tia sua

publicação, oúviu funccioiííirios da pifectoriá Geral do Ministe-


rio', Empregados de'alta competência tòcbnica, encahecidos no

serviçò publico, conVlopga pratitía dos trabalhos de igual na-

lureza, que daquôlla'repartição sabem ás centenas por anno, e

oucje, antes deste, das opras de Jaraguá, ha pouco tempo vinha


de Se fazer idênticos ás obras dos portos de Paranaguá, do
para
Ceanfé bütVPs."
"peste escapado, de inconveniente
moqo o pydesse ter
que

fí illpg®1*-''
O Sn. Natalicio Cambojm— O ministro não ouviu o con-

suHoV juCidico.

Üm Sr. Deputado —Ouviu.

de Andrade — Sobre a illegalidade do


O Sn. Euzebio
.edital1?
SESSÃO KM 34 DE SETEMBRO DE 1912 555

O mesmo Sr. Deputado — Sobro a annulação da con-


curyeneia.

O Sn. Euzbbio de Andiude— Creio V. Ex'. se


que en-
'fér
gana... Alas dizia eu, Sr.' PCòsidente, queo que pudesse
escapado neste edital de illegnl e inconveniente ao iiispeetor
dos Hortos, nao escaparia aos lunceionarios repartirão
daquellá
si I ivesse
escapado a cales não teria1
ç passado despercebido aos
interessados da concurrencia.
K, muito a propósito, vem a repfoducção do li
que na
imprensa em
do commentario annulando
acto do mihistro a
concurrencia: . •
«...V. Ex. attender que o edital redigido pela Directoria
Geral desse mesmo ministério devia merecer inteira fé e con-
'em
iianfja relação á legalidade e de
constitucionaiidade cada
uma de suas cláusulas, porque não c de sUppôr e acfmilítjr que
~um
dos ministérios da Republica fizesse
publicar, dentro1 o fcVrá
do pai/, urna peça offiria} convidando nacionaes o'estrangeiros
a realizarão de uma importância ol>ra
ç|a da de que st* trata,
calcando-a fictícias,
em bases
illegaes inconstitucionaes ou
e
em leis que venham a ser
posteriormente pelo próprio ministro
consideradas inconvenierttes. Si isto era
pudesse admittir-se,
certo: ou que a uma tal concurrencia ta-
faltassem licitanles,
rnanlio e c vulto do negocio a estudos
permittir superficiaes
sobre todos st/us aspectos;' ou reclamações dos pretendentes
teriam ;Y tempo apparecido, em ordem A provocar esclareci-
inentos de
ponto3 obscuros "existente^ no edital,
porventura
smão taníbem sobre a inconveniência e ou
iIlegalidade essen-
cialmente a inconstitucionalidade
sobre das taxas pelas quaes
o concurrente preferido vai exclusivamente auferir'a reinune-
raçao e amtírtiznção do capital empregado na construcção,
custeio e. conservação das Obras.»
Pnrece-rne lei* demonstrado,
como me propuz, não ter lia-
vido do cuidados o
JaIIa q.ttcnçíio, qüer no osfudo do projecto
em si, no
orçamento da obra, no tinha de
quer edital, que
obedecer lanfo á disposição" legislaiiva, como á lei que regula
í»s conòurreiícfax (Pnttsa!)
publicas.
l*asso:, acompanhando o ditfeürfto do talentoso collega, á
1
1
pliase Via eomuirreiicia'.
"
Apezar Vle"oill) de oito informações prestadas
phreceres,
ao Srv hiihisft'0, S!. T<k: s'ó ai« impressionou cóih Vfto inspetftór
tibs Portos .
' '•. ;
\
D Sii. Octavio —Não foi só com a do inspector
ftoqiu
dos 1'ortòs.

O Sn. Euzebio de Andrade—.. .que depois de muitas he-


resias jivridicas concluo a audiência do consultor .jp-
pedindo
ridico do ministvrftvu fjnein,- Sc. minisl.ro lambem
aliás, o
devia ter ouvido, já
S;
JSx. adoptoi} os ^rjdain^utós do
f>qpque
parecer inspector,
ministrado já contra seme-
pelo porque
Ihantc manifestaram do Ali-
parecer'sé tbilos' os'ftinicfc-ionarioá
'e 'forrnaltnento
nisterio da Víàçto,' que ^ofrdeínnaráiti ábsolüta
a nullidade
proposta'.' '
536 •» annaes da camara

O Sr. Octavio Rociía— O Sr. ministro não se fundou


unicamente no parecer do Dr. Delvecchio, nem resolve coisa
nenhuma unicamente pelos pareceres. Estudou a questão, ex-
pol-a ao Sr. Presidente da Republica e, de accôrdo com S. Ex.,
resolveu a annullação da concurrencia.

O Sr. Euzebio de Andrade — Respondo ao aparte de


Ex. lendo o despacho do Sr. ministro (lc) : « Attendendo aos
fundamentos parecer do
do inspector federal dos Portos, etc.,
resolve annullar
a concurrencia ».— Parece que não ha resposta
mais cabal. O fundamento único do despacho do Sr. ministro
da Viação é a informação ministrada
pelo inspector dos Portos;
no despacho não ha outro.

O Sr. Octavio Rocha — Do estudo dos papeis chegou a


esta conclusão e, naturalmente, com algum havia de
parecer
concordar.

O Sr. Euzebio de Andrade — Era natural que os repre-


sentantes de Alagôas acompanhassem com o maior e mais justi-
ficado interesse...

O Sr. Octavio Rocha — Muito natural.

O Sr. Euzebio de Andrade —... todas as da con-


ph&ses
currencia em virtude da qual seria construída a obra pela qual
ha longos annos anceia. a população do meu Estado e para a
qual vem pagando desde tres annos uma contribuição, como
acabei de dizer, illegal, que monta a 200 e muitos contos, por
anno. De facto, acompanhámos esta concurrencia até a aber-
tura das propostas.
Conhecidas que foram ellas, nos regosijamos com o Go-
verno da Republica, com o eminente Marechal Hermes, com o
governo do Estado e com a população de Alagôas, esperançados
de que o Sr. ministro se pronunciaria pela mais favoravel.

O Sr. Octavio Rocha — Mas não se podia pronunciar...


O Sr. Euzebio de Andrade — Pareceu-nos que essa seria
operação das mais simples, das mais elementares; mas (e
aqui caberia uma interminável reticencia) o inspector dos
Portos, chamado a
o seu parecerinterpor a classificação sobre
das propostas, em vez de fazel-o por si só, como superinten-
dente do serviço geral dos portos do paiz, nomeou uma numerosa
oominissâo para dar elementos de informações com que pudesse
instruir o
parecer que devia prestar ao ministro; mas taes
foram as
peripécias, os incidentes occorridos nessa commissão,

que, como nota de escandalo, vulgarizou-se a noticia de que


o proprio inspector mandara abrir inquérito para serem apu-
radas irregularidades havidas no seio dessa mesma commissão.
A causa e os resultados desse inquérito ignoro.

O Sr. Octavio Rocha — Não conheço o facto.

O Sr. Euzebio de Andrade — Estou narrando um facto


vulgarizado; tenho bastante responsabilidade para não estar
aqui fantaziando, creia—me o honrado collega.
SESSÃO EM 24 Dli SETEMBRO DE 1912 S57

Mas
dizia que o inspector, de informações
_eu posse das
tiessacommissão, não se julgou satisfeito, pelo que pediu a
audiência do director da secção teclinica, o Sr. Dr. Lisboa, a
quem o nobre Deputado com muita justiça
qualificou de in-
s. ii<x. loi, alias, -o chefe da commissão
jegro. que em Maceió
levantou
planta e organizou os orçamentos das obras.
Effectivamente V.Ex. diz 110 seu discurso que este enge-
nneiro íez a classificação dosproponentes, como já havia feito
igualmente a commissão.
primeira

O Sn. Octayio Rocha — Eram divergentes; cada um


seguia um critério, a classificação não era a mesma: classificou
outra proposta em primeiro logar.

O Sr. Euzebio — de Andrade


Não conheço os pareceres
na integra. Alias
a intervenção
pediria de V. Ex. perante o
ministro, tossem
para que publicados na integra todos os pa-
receres, cumprir
parecendo-me ao ministro fazel-o, já que
aBora a questão esta tomando esse rumo e diante dos appellos
que estão sendo dirigidos a S. Ex.
Proseguindo, dizia que o Dr. Alfredo Lisboa engenheiro
a Que es^lldou o porto, fez a sua
i Çommissao também
classificação, discordando do critério da
primeira commissão o
deu o seu parecer, cujo trecho, constante
do discurso de V. Ex.,
« o seguinte:

*P A. Lisboa proferiu
. ,Pr• seu parecer, discordando do
oa primitiva commissão, dizendo
que o critério adoptado por
esta nao lhe parecia o
consentanco rnais
com os dizeres das
clausulas XLYIJ e XLIX. Terminou classificando em primeiro
logar a proposta de íulano e em terceiro logar a de Sicrano.
O Sr. inspector, que já tinha elementos sufficientes para
elaborar o seu parecer, entendeu ouvir
_ ainda um empregado
da contabilidade de sua repartição
(e não da Directoria de
LoiiiaDilidade do Ministério, conforme
por equivoco diz o nobre
Deputado). 1<01 este empregado
que, achando muito transcen-
cientes os cálculos dos engenheiros e sómente transcen-
pela
uencia dos cálculos matliematicos, cortou
todas as dilficuldadcs,
propondo a nullidade. E' o está 110 do nobre
que discurso
Deputado e attribuido ao mesmo funccionario.
(Lê:)
«Hasta a divcrgencia da tão abalizadas in-
opiniões\ paru
quinar da ülcgalidada a concurrencia realizada a determinar a
sua annullaeão a a
publicarão da novo adi tal.»

O Sn. Octavio Rocha — .\ão transcrevi todo o parecer;


voltarei á (tribuna dar explicações.
para

O Sn. Euzebio de —
Andrade Resolve-se a questão com a
publicação dos pareceres na integra, assim nós os apre-
porque
ciaremos do mesmo modo.
Trata-se de um empregado da contabilidade da Inspectoria
nos Portos; não é um funccionario
engenheiro, um com as
mesmas responsabilidades technicas dos haviam sido
que já
ouvidos.
í)i>8 AN NA IÍS DA CAMARA

;S,y. p§ja trai|sçqndenci.a dos cálculos dos engenheiros, qufc o


homem não eoinprehende.u,, propoz a annullação. E
o Sr. iuspo-
clor dos Rodos, que foi.chíunado apenas
para. fazer, a classifi-
cação .das propostas, cm. voz de assim proceder limitasse a
apreciar as .claustúas do. edital por ©11o organizadora criticar
as leis do (-ougresso, a censurar talvez a deliberação do Go-
verno, pelo regimen Ipgal,.
que .julgou .mais conveniente adoptar
para a construçção do porto de Jaxaguá.

O Sr. Nataucio Camboim — Tal não


parecer recommeuda
o funccionario que o deu.

O Sn. Octavio Rocha — Não apoiado.

O Sr. Euzebio de Andrade _ V. Èx. trechos


publica do
parecer;.o o que está 110 párecor, que V. Ex. leu e transcreveu
no seu discurso.

O Sr. Octavio Rocha — Elle informou ao Ministro.

O Sr . Euzebio de Andrade — E o Ministro fez otirá sobre


essa informação.

Mas o inspector, propondo ao Ministro a nullidade, teve a


cautela de, no
parecer, pedir a audiência do consultor jurídico,
(q aqui respondo ao aparte do Sr. Deputado Natalicio Cam-
bojm), circumstancia a que aliás o Sr. Deputado Octavio Rocha
não se referiu...

Ò Sr. Oçtavki Rpcha — Creio não


que pediu; em todo
caso não garanto; vou verificar.

O Sn.. ..Euzebio
de Andrade — Pediu, é.o me consta;
que
<5 <l com isto
que cite se justificará. Era necessária, ao derçiaís,
a .audiência do consultor jurídico. 1'unccionario que, certamente,
indispensavelmente, devia ter sido ouvido, si o foi
porque, o
consultor tebhnico, no que se referia á tecllnica, deverir.
parte
ser também o consultor jurídico, na parte respeito
que.dizia
ás relações jurídicas entre o Governo c os concürrontes.

Apresentado o alvitre da nullidade, o parecer foi submet-


lido, como historiou brilhantemente o
talentoso Deputado pelo
Rio Grande do Sul, ao estudo da Secretaria do Ministério da
Yiação; e, então, diz S. Ex., o primeiro da Secretaria
parecer
combate a nullidade...

O Sr. Octavio Rocha — Sem dar as razões.

O Sr. Euzebio de Andrade—... declarando «o edital


que
é a lei da eoncurrenoia e que as propostas estão dentro do
edital». vVc.eeita-o, © concilie pela preferencia a determinada
proposta, isto é, faz a classificação.

O Dr. Costa Couto, engenheiro especialista, segundo mo


consta, cm matéria de portos, tendo até obra a
publicado
respeito de çonstnicções de portos...

O Sr. Octavio Rocha — E' niuito competente.


SESSÃO KM 24 ÜJB SE-miililo DE lDiUí Bòí)

O Sr. Euzebio de Andrade —... «lambem » etn seu pa-


recer
(.diz o discurso de 8, Ex.) «acceita o editai»; logo é
contra a annullaçao. (Apartes.) '

O Sr. Octavio Rücha — Provando vicio do edital.


O Sr. Euzebio de Andrade — A questão <Ío prazo.
Ò Sii. Octavio RociiÀ — E resgate, é
do que a principal.
Euzebio de Andrade
. 9 SR» — A questão do resgate e a
principal, diz S. Ex.; mas esta é no
positivamente prevista
edital.

O Sr. Octavio IIociia — Não está resolvida.

O Sr. Euzebio de Andrade — O Dr. douto


i , Costa com-
bate a nu 1 lidado tambein, como acabo de ler.
finalmente, o director geral da secretaria ó contra a nulli-
üacle; conclue favoravelmente a certa
proposta, tendo reduzido
preço e prazo a uma só unidade — unia
das suppostas diffi-
culdades na apreciaçao daspropostas.
® Sr. Ministro, não satisfeito, mandou ouvir .ainda o con-
,i
eP^1?lc9» e,°Aste foi «também contra a nullidaaè. O
5P
. • knva rreire, e também contra a nullidade proposta pelo
inspector.
tem a Gamara deanle de. si os factos,
narrados por mim,
roDustcculos histórico
pelo que fez o illustro Deputado • pelo
uio Grande do S%ül, de onde se verifica
que o parecer do inspe-
ctor de_.l ortos e isolado, entre todos os demais,
porque as ia-
formações prestadas pelos funceionarios da inspectoria repre-
sentam simplesmente elementos de
que se valeu o Sr. inspeefor
Pai'eccl% íüè teve de interpor o
perante
Ministro'0


_ O Sr. Octavio ; Rocha Isto nada prova: podia estar
isolado e cqm a razao.

O SR. Euzebio de Andrade — Todos


funccionarios estes
naí.urahnente deviam ter eín suas
prevenido o
informações
espirito do Governo
do perigo que da nullidade decorreria, com
prováveis índeinnizaçoes aos coricurrerites que, satisfazendo
de boa te todas as exigericias do edital,
esperam pacientemente
a solução da questão
por 10 longos mezes.
Senhores, mim corno com-
para para qualquer dos meus
pánJieiros de representação, acredito, é inuifferentc
que a pre-
lercncia seja dada ao concorrente A ou B, a este ou áquelle;
que nós viva, é
queremos ardente e patrioticaniebtè que a
concurrencia não seja Alagoas,
annullada, afim de que possa
como outros Estados da União, gozar do melhoramento para o
qual
j,í contribue ha tres annos, sem nenhuma cojiipensação.
>oja a Gamara o effeito causado noticia
no Estado pela
de que o Sr. ministro annullára a. concurrencia.
Os jornaes os telegrammas, um dos
publicaraiii quaes é
este:

« Causou impressão no espirito do de Alagoas


péssima povo
!)60 AN-NA ES DA GAMARA

o impatriotico acto do Sr. Ministro da Viação, anuullando a


concurrencia para as
porto do; Jaraguá. obras do
Os lamentam
alagoanos que seus direitos sejam saerifi-
'politicagem,
cados aos interesses< da ao ponto de serem prete-
ridos na realização de seu mais desejado melhoramento.

Contribuindo o commercio ha três annos com vários im-

postos em ouro, para a applicação nas obras do porto, a Asso-


ciação Commercial faz-se portadora do protesto contra ta-
manha injustiça e descaso dos altos poderes, pela laboriosa

população do fecundo e desprezado Estado.

Está assignado pelo presidente da Associação Commercial.

Preciso resalvar a expressão politicagem contida 110 tele-

gramma, expondo que julgo injusta si applicada ao Sr. Mi-


nistro da Viação.

O Sr. Octavio Rocha — Telegrai»iaram a ou á re-


jornaes
presentação alagoana?

O Sn. Euzebio de Andrade — Eu não recebi nada e com


toda clareza disse que tinham sido publicados no Jornal do

Commercio de honlem na secção «Varias» os telegrammas.


Aliás eram dous os telegrammas. O outro era da Sociedade do
Agricultura.

O Sr. Octavio Rocha — Eu li os dous.

O Sr. Euzebio de Andrade — Si nesta questão o Sr. Mi-

nistro está, como acredito que esteja,


eu na plirase da Imprensa,
apenas com um capricho — o de fazer
justiça, permitta-me a

liberdade que S. Ex.


de estudando a lei das concurren-
esperar
cias, por S. Ex. mesmo invocada como fundamento para nulli-
ficar o processado e ouvidos juristas de sua confiança, saiba

attender ao appello que nesta hora lhe faz o Estado do Alagoas


mais humilde de seus representantes. (ATão apoiados.)
pelo
Com effeito, a lei entro nós rege a concurrencia é a lei
que
n. 2.22t, de dezembro de 1909. Analysada cada uma das partes
desta lei, verifica-se a regularidade maxima da confecção do

edital e a «orrecção que houve em toda a concurrencia.


Nesta do meu discurso desejaria produzir analyse
parte
de cada uma das disposições da lei das con-
circumstanciada
oito com as clausulas do edital, para
currencias, que são seis ou
ver si entro uma e outras houve discordância ou discrepância
o edital ferir a disposição da lei.
em que porventura pudesse
Para isto, como a Gamara vê, tenho em mãos devidamente anno-

tados a lei e o edital.


E'-me impossível fazel-o, porque a hora se approxima de
Forçado sou a limitar-me a uma rapida exposição.
seu termo.
A de novembro foram abertas as propostas, desentra-
28
dellas os documentos relativos ás provas de idonei-
nhando-se
recibos da caução depositada 110
os Thesouro, sendo dias
dade o
depois 110 Diário Official os nomes dos proponentes,
publicados
dos envellopes
tendo sido afinal annunciado o dia da abertura
continham as propostas.
que
'
SESSÃO EM 24 1)E SETEMBRO UE 1912 561

Consequentemente foi observada a disposição da lettra a


do art. 54 da lei das concurrencias, assim diz:
que (Lê)

«Art. 5í. Sempre que o Governo tiver de abrir qualquer


concurrencia, para fornecimentos,
ou ou serviços públicos,
para
observará as seguintes regras:

a) a questão de idoneidade dos será exami-


proponentes
nada e julgada préviamente, antes de abertas as propostas. As
propostas cujos autores não tiverem sido considerados idoneos
não serão abertas.»

A clausula X do edital determina o capital a empregar


na obra e clausula XLVII; o da concessão, sendo que a
prazo
clausula 40 impõe que as propostas se limitem ao prazo da
concessão e aos preços de unidade, tudo melhor esclarecido
pela clausula 52".
Ainda na clausula X diz o Governo o capital ouro
que
empregado nas obras o prefixado no edital está «sujeito a re-
ducção conforme a proposta que fòr acceita na cou-
presente
currencia ».
O edital na indicando
clausula II, o máximo da
preço
obra deixa que acima deste não acceitaria nenhuma
estatuído
offerta, reservando-se na clausula 48* o direito de annullar,
somente na hypothese de preços superiores ao do edital.
E' a exigencia da lettra b do art. 54 da lei assim diz:
que
.(Lê)

< h)
si o Governo quizer reservar para si o direito de
annullar qualquer concurrencia, caso os preços
"as pedidos sejam
muito idlos, deve também, antes de abertas propostas, de-
clarar quaes os preços máximos, acima dos quaes não acceita
nenhuma.»
A lettra c foi cumprida com todas as formalidades con-
stando tudo da acta lavrada na Direetoria do Obras do Ministe-
rio sendo as propostas rubricadas por todos os interessados.
E' o que determina a lettra c da citada lei que diz:
[Lc)
«<•) as propostas devem ser abertas e lidas deânte de
todos os concurrentes que se apresentarem para assistir a essa
formalidade. Cada um rubricará as de todos os outros. Antes
de qualquer decisão, serão publicadas na integra.»
Em referencia ao estatuído na lettra d basta ler as clau-
sulas de I a VIII; e quanto ao preço de unidade aqui estão
nas clausula* XL\'Í e XL1X. Diz a lei:
« d) o edital de concurrencia indicará com a mais extrema
minuneia todas as condições technicas e administrativas (plan-
Ias, desenhos, natureza da construcção e do material a empregar,
prazo máximo do inicio e da terminação das obras, etc.).
"A'os
casos de fornecimentos, quando o respectivo ohjecto não

possa ser designado de modo inconfundível, depositar-so-hão


nas repartições apropriadas amostras do que se deseja. A con-
currencia versará apenas sobre
preço o ou da unidade, ou da
totalidade da obra, do arrendamento, ou do fornecimento, con-
forme o que tiver sido posto em licitação.»

Vol. 36
¦>6- AN.XAL.S DA CAS1ARA

Quanto ao prescripto na lettra e, a cláusula LII o estatuiu


e foi observado. A lei nesta disposição assim reza:
«e) propostasas não conter sinão
poderão uma fórmula
do completa
submissão a todas as clausulas do edital
e o preço
íjue o proponente oiíerece. Não se tomarão em considerarão
"de
quaesquer oifertas de vantagens não previstas no edital
concurrencia, nem as propostas
que contiverem apenas o offe-
recimento de uma .reducção sobre a proposta mais barata.»
A lettra f da lei diz o seguinte:

*O a concuirencia cabe do direito


• ao autor da proposta
mais barata, por mínima seja differença
que a entre ella e
qualquer outra.»

E' a que falta executar, e aqui caber-nos-hia fazer um


grande desenvolvimento, porque sendo cinco as
propostas, todas
com preços diversos, inferiores de umas
para outras em cifras
que se elevam a 100, 200 e até 400 contos de réis, não se
encontram nesta cabulosa concurrencia
meios de se julgar oual
a, mais barata,
{tiilaridade. )

O Sn. octavio Rocha —V. Ex. está sophismando.

O Sn. Euzebio de Andrade — V. Ex.


não 6 capaz de
que outou sophismando; ao contrario, estou
provar argumen-
taudo lealmente, de boa fé.
(Apartes.)

A lettra g da lei declara:

«flO 6 licito
estipular uma ao Governo
segunda condição
que, no caso de absoluta igualdade entre duas
propostas com o
direito á melhor classificação sirva para decidir a quem cabe
a preferencia.»
Para o que serviria o si appareccssem
prazo duas ou
mais propostas com igual preço. {Apartes.)
V. Ex. em seu discurso allcgou a difficuldade de reduzir
a um só termo a
questão do preço e do prazo.

O Sr. Octavio Rocha — Sim; e


preço prazo.
Euzebio de Andrade — V. Ex. diz uma das
j-rt® que
difliculdades encontrou o Sr. ministro
que para decidir da
concurrencia foi a impossibilidade de reducção do preço e
prazo a uma só unidade. Mas...

O Sr. Octavio Rocha — Foi um só engenheiro que redu-


zju. Eu responderei a V. Ex.

O Sr. Euzebio de Andrade — Logo, houve quem reduzisse


os dous termos a um só.
Isto não é questão lao transcendente
que não pudesse
ser removida, e Janto assim V. Ex.,
que transcrevendo um
topico do
parecer director do da Secretaria
geral da Viação,
diz: « Concluo iavoravelmentc á proposta de Fulano,¦ tendo
reduzido preço e prazo a uma só unidade.»
Voltando á lei das concurrencias, pergunto & Camara: em
qual de suas disposições foi violada edital?
pelo Ninguém dirá.
SESSÃO KM' 2 í DE SETEMBRO DE 1912 503

Pareço bom claro o honrado


que Sr. ministro, abando-
nando vários pareceres deixou' quo lhe
profissionaes, guiasse
a acção o parecer isolado do Sr. inspector dos portos, refutado
aliás por todos os demais, inclusive pelo do consultor teclmico
do ministério.

O Sfi. N4.TAi.jcw Camüoi.m — Esta é a verdade.

O Sn. Euzebio de Andjuqb — Quanto á inconstitucionali-


dade da cobrança de taxas
respondam sobro navios,
por que
mim as Commigspcs de orçamento da Gamara e do Senado, que
formularam os respectivos de lei em virtude dos
projectos
quaes se autoriza o Executivo, a realizar obras dos portos pelo
regimen das leis ns. 1.740, de 1809 e 3.314, de 1880, leis que
o projecto da jei do orçamento organizado agora
para o exer-
cicio futuro manda ainda revigorar; indague o honrado Sr. mi-
nistro — e S. Ex. tem todos os elementos fáceis ao seu alcance

Qwa.es as taxas de receita dos portos da Republica já bene-
ficiados com melhoramentos.
(Pausa.)
A verdade jurídica é que o Governo, em face da lei das
concorrências, cm face do_ edital, em face da lei autorizou
que
a realização das obras, não pode, sem lezar direitos, annullar
a concurrencia porquê, como bem fundamentadamente li em
um dos jornaes a. proposito da questão:

«A mesma lei de concurrencia impede formal-


mente quo V. Ex. fulmine com a a alludida
nullidade
concurrencia, porque em seu art. 55, lettra h estatuo
d.e modo claríssimo:
«Si o Governo
quizer reservar para si o direilo
de annullar qualquer concurrencia, caso os preços pc-
didos sejam mais altos, deve também, antes de abertas
as propostas, declarar quaes os
preços máximos acima
dos quaes não aeeoita nenhuma.»
O (jovenvo mi clíiusula. X, dcturmuiou o csxpitstl
a ser empregado e na XLVI o concessão e
prazo da
preços de unidades.
Si fôr compulsado o edital aos casos
relação em
de nullidade da concurrencia, se também
nos depara
tolhida a acção legal do Governo nuJIifical-a,
para
pois cláusula XLVílf assim determina:
a
«... igualmente annullar a
poderá o Governo
presente concurrencia si os não estiverem
preços
dentro das condições estabelecidas neste edital.»
Estando, como de facto estão, os preços das pro-
postas dentro das condições de edital, é este que, do
mesmo modo quo a. lei n. 2.221. de dezembro de 19.09,
se oppõc também ao despacho de V. Ex.»

Diante do que o Governo estabeleceu na cláusula 48 do


(5'"u edital, se o único capricho do honrado Sr. Ministro é, na
phrasò dçt Ijnprwisa fazer justiça, ou, na phrase do illustre
Deputado rjo-grnndense Sr. O. Rocha, corrigir seu erro quando
suficientemente demonstrado, 6 justo que eu espere a repa-
ANNAliS DA CAMAUA <

ração da injustiça feita a Alagoas, negando-lhe direito ao


melhoramento do porto da sua capital.

O Sn. Octavio Rocha — Alagoas, teria um porto traria


que
ônus em vez de vantagens.

O Sn. Euzebio de Andrade— Espero V. Ex.


que prove
esta asserção. Disse que se negava ao Estado de Alagoas a
justiça, porque a promessa de uma nova concurrencia ó
inrealizavel por dous motivos: primeiro, porque não será pelo
regimen da
garantia de juros ou por meio de emprestimo ex-
terno feito
pela União, em uma quadra em que todos se preoc-
eupam com o déficit que o pequeno, esquecido e desprezado
Estado...

O Sr. Octavio Rocha — Desprezado, não apoiado. {Ha


outros apartes.)

O Sn. Euzebio de Andrade — ... e desprezado Estado de


Alagoas venha a
grande sacrifício da União,
obter tão
tão assi-
gnalada mercê (apartes); em segundo logar, porque as bases da
concurrencia mandadas adoptar pelo despacho do Sr. Ministro
incidem nos mesmos erros e vicios pelos quaes S. Ex. annullou
esta, e desfarte é S. Ex. quem confessa implicitamente que
as bases desta agora annullada são legaes, convenientes e con-
stitucionaes, porque por ellas mesmas determinou que se fi-
zesse a nova concurrencia.

O Sn. Octavio Rociia, dá um aparte.

O Sn. Euzebio de Andrade — Gomo, não? O despacho do


Sr. Ministro
publicado no Diário Official diz: «determino que
se organize novo edital com prazo máximo de 90 dias, para
realização do projecto dos trabalhos technicos já approvados o
sob a base financeira do imposto de 2 °/n, ouro, sobre osgeneros
de importação estrangeira com as modificações convenientes
A exploração e
do porto projectado.»
actual futura
Isto (5 que couãta das
a. mesma instrucções
cousade 1910,
como li no inicio desta minha oração. Si os 2 % ouro, cobrados
pela Alfandega de Maceió, sufficientemente cobrem a garantia
dos juros do capital empregado nas obras durante o período da
consitrueção, não o serão para assegurai- a amortização e re-
muneração do capital quando, inauguradas as obras, entrar o

porto em exploração. então a cobrança dasHaverá


taxas co-
nhecidas e que entraram no calculo da renda provável, con-
forme já expuz. Como V. Ex. promette voltar ao assumpto,
reservo-me para ouvil-o.
me é possível
Não proseguir, porque a hora do expediente
está finda; cumpre-me, pois, terminar. Antes, porém,
quasi
de encerrar estas considerações, quero ainda repetir: se o
honrado e austero Sr. Ministro da Vi ação, como sinceramente

confesso acreditar, nesta questão só tem capricho de fazer

justiça, ou, na phraso do nosso sympathico e talentoso collega


Dr. Octavio Rocha «como homem publico não tem pejo em

declarar que errou quando seu erro fôr demonstrado suffi-


SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO OE 1912 C6Ü

cientemente», mando publicar na integra todos o?


parecem
que instruíram o processo da coneurrencia (e aqui peço ao
meu nobre colloga interponha seu valimenlo perante o Sr. Mi-
nistro neste sentido) e submotta ú consulta dos jurisconsultos
de reputação firmada em nosso meio social o caso em debato
e si, n desses
opinião ampararem o acto do
jurisconsultos
S. Ex. primeiro a vir proclamar infundado
serei o o protesto
que nesta hora levanto em nome dos interesses do Estado de
Alagoas. Tenho dito.

(Muito bem.; muito bem. O orador ê muito cumprimen-


tado.)

0 Sr. Presidente — Tem a o Sr. Deputado João


palavra
Vespucio.
Lembro ao nobre Deputado faltam apenas tres minutos
que
para terminar a, hora.

O Sr. João Vespucio — Não 6 a primeira vez, Sr. Presidente,


que a Commissão de Marinha e Gíuerra acarreta com culpas que
não lhe pertencem. De outras vezes temol-as, nós os membros
da Commissão, deixado passar em silencio porque julgamos
não ser conveniente fazer
qualquer mas hoje, tal é
protesto;
a heresia que vem attribuida á Commissão de Marinha e Guerra,

que não podemos deixar passar desapercebidas, não só a serie


do innocencias sobre assumptos parlamentares, como também a
perfídia que se atira aos membros dessa mesma Commissão..
Um de hoje, diz que os cortes propostos no orça-
matutino
monto dadeterminaram que o Sr. Ministro desta pasta
Guerra
fosse ao Governo declarar que não podia absolutamente con-
cordar com isto c que este facto era devido á Commissão de
Marinha e Guerra ser composta de officiaes que estão ha muito
affastados de sua profissão e que por isso não conhecem mais
os assumptos militares e as necessidades do Exercito.
Ora, Sr. Presidente, o Sr. Ministro da Guerra era incapaz
de dizer estas tolices: porque não só S. Ex. foi, durante muito
tempo, membro desta Casa, como também da Commissão de

Marinha esabe quaes são os assumptos sobre que são


Guerra, e
chamados membros dessa Commissão e sabe tambom
a dizer os
os que são tratados Commissão de Finanças. S. Ex. nao
pela
seria, portanto, capaz de attribuir-lhe culpas que ella nao tem,
loram
nem tão pouco dar responsabilidade de factos que nao
praticados por ella.
Ainda mais, a Commissão de Marinha e Guerra nao acceita

os qualificativos que lhe são dados nesse matutino.


Para demonstrar o contrario do que ó affirmado, ella tom
os seus pareceres, quer sobre forças de terra, quer sobre torças
de mar, e em muitas outras questões militares que provam a
exhuberancia os assumptos da arte
que ella está a par de todos
a que pertencem os membros que a compõem. Era o que tinha
a dizer. (Muito bem; muito bem.)

0 Sr. Carvalhal — Peço a palavra pela ordem.


Galeão
5«6- ANNAES DA C.AMAHA

O Sr. Presidente — Tem a pela ordem o nobre


palavra
Deputado.

Carvallial Presidente, está.


O Sr. Galeão (pela ordem,)—Sr.
sobre a mesa um projecto de lei modificando o decreto que

a exlradicção de criminosos entre os Estados. Tive a


regula
resolução do pri-
honra do para ir de encontro á
apresental-o
Policiai Braziloiro, que se reuniu em S. Paulo,
iriéjro Convênio
haviam tomado pai"t8
onde foi deliberado que os Estados que
naquelle Congresso se esforçariam para que a lei fosse modi-
de rhodo a se determinar um prazo
ficada convenientemente,
certo, dentro do qual fossem exhibidos os documentos compro-
da culpabilidade dos réos, cuja prisão fosse requisi-
batorios
tíitíà par tíeápàcho telègfaphicò. , _
Presidente, requeiro vá á Commissao
Sr. que o projecto
de Justiça, que sobre ellfc foriíltllè o seu parecer. Quando

fOr dado á discussão, occuparei a tribuná para desenvolver

a do tive a honra de
melhor matéria constante projecto que
áprcifeetitar.

d Sr. Presidente — Está finda a hora destinada ao expe-

dlétlte.
Vai-st' náésar á ordein do dia (Pausa.)
mais Os Srs. Ailtonio Nogueira, Aurélio Amo-
CffmpaMcem
ttih, Mohteirn de Souza, Firino Braga, Dutishee d(3 Abranches,

Joaquim Pires, Fetix PádliéCò, Raymundo Arthur, Moreira da

íiochà, Frederico Éorges, Flores dá Cunha, João Lopes, Augusto

Moilteifo, Leopoldo, Simões Barbosa, Meira de Yas-


Augusto
Mahoel Boiba Augusto do
ooncellos, Frederico Ldhdween.
Amaral, Aristárcho Lopes, Natalicio 'Camboim, Miguel Calmou.

Mai-ití Hermes. MOrtiz de CárVnlho, Octavio Mangabeira, Freiro


-
de Carvalho Filho. Ubaldino de Assis, Antônio Monlz Alfredo

Ruy, ArliitdH Lcbiie, Souza Britto. Müriiz Sodré, Paulo de Mello,


-Tacques Ouriqtie, Juíio Leité, Nicànor dd Nascimento. Dionysio

florqüdira, Ròdri&üeá Saltes Filho, Florianno de Britto, Manoel

Heis, Sbúza e Silva, José TolentiiiO. Alves Costa, Prado Lopes,

Veiga, Carlos Peixoto Filho, José Bonifácio, Irinou


Francisco
CrUdgtíHs, Lamtldtiier (íodofredo. Clirístiano Brazil,
Mliciiâdo,
de Àradjb, Mellt) Franco, Nogueira, Epaininondas Ottoni,
JtisíHtí
Carvallial. Raul Cardoso, Prudente de Moraes Filho,
Gri leão
Lobo, Valois de Cast.rO, Rodrigues Alves Filho, Marcello
Jtisé
Ânnibal Toledo. Luiz Xavier, Corrôa Defreitas. Pereihi
Silvd.
Celso Bayma, Octavio Rocha, GurnercindO Ribas,
de,Oliveira.
Fonseca Hbt-mes, Osono,
Évat'ist.0 lio Amarril, Homero B;tl dista,
João Simplicit) 0 João Betticio (75).
fteixdm de éomparefcer bom caüsa participada os Srs. Ar-
Simeão Leal, Serzedello Cotréa, João Chaves,
f.hur Moreira,
Bastos, TheOtoriiO de Brito, Hosannah de Oliveira,
Antonlo
Agripino Azevedo, Coelho Netto, João Gayoso,
CliHstind Crüz,
Tllomaz Cavalcanti, Virfeilio Brigido, Gentil
Eduardo Sáboia,
de Ilollanda, Felizardo Leite, Seraphico da
Falcão, Camillo
de Figueiredo, Balthazar Pereira, Arthur
Nabrega, Maximiliano
SESSÃO EM 2'x DE SETEMBRO DE 1912 567

Orlando, Jpsé Bezerra, Cunha VasconceÜos, Rego Medeiros,


Rocha Cavalcante, Dias de Barros, Joviniano de Carvalho, Fe-
lisbello Freire, Pedro Lago, Campos França, Carlos Leitão,
"Velloso, De-
raldo Dias, Pedro Marianni, Leão Pedro de Carvalho,
Thomaz Delphino, Pennalort Caldas, Fróes da Cruz, Francisco
Portella, Faria Souto, Mario de Paula, Teixeira Brandão, Sil—
vejra Brum, Astolpho Dutra, João Penido, Landulpho Maga-
Ihães, Baptista de Mello, Anterq Botelho, Garção Sitokler, Alaor,
Prata, Francisco Paolielo, Camilló Prates, Honorato Alves, Fer-
reira Braga, Cardoso de Almeida, Joaquim Augusto, Eloy Clia-
ves, Cincinato Braga, Álvaro de Carvalho, Adolpho Gordo, CopI i
Júnior, Fleury Curado, Ramos Caiado, Oscar Marques, í . r-
vajho Chaves, Gustavo Richard, Diogo Fortuna e Pedro I.ioucyr

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ AS 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

t> Sr. Presidente — A lista accusa a


dá porta presença
de 141 Srs. Deputados.
Vae Se proceder á? votações das matérias que se acham
sobre mesa te dá constante da ordem do dia.
à
Peço aos nobres Deputados que occupem as suas cadeiras .>
\IJau'sa.)
Acha-se sobre a mesa o seguinte requerimento clé ur-
geneia:

«Roqueiro urgência para sér votado na sessão do hoje


o parecer u. 116, que reconhece deputado Io districto do
pelo
Estado de.Pernambuco o Sr. Dr. José da Cunha Rabello, pare-
cer esse já publicado no Diário do Congresso.

Sala das sessões, 24 de setembro do 1912.— Costa Ri-


¦»
beiro.

Os senhores que appròvam o requerimento le-.


queiram
vantar-Sé. (Pausà.)
Foi approvado.
Em consequencia do voto da Camara vou submetter a
votos o
parecer.
Votação do parecer n. 116, de 1912, reconhecendo Deputado
pelo 1° diâtrictò do Estado da Cunha
de Pernambuco o Sr. José
Rabello.
São suceessivaméhte o approvadas as se-
postas a votos
guihtes conclusões do
parecer n. 116, de 1912:
«Sejam approvadas as eleições realizadas a 1 de agosto
do corrente anno, no Estado de Pernambuco, para uma vaga
de deputado federal, aberta do Dr. José Marianno
por morte
Carneiro dá de Itambé.
Cunha, excepto a da 3a secção
Que Seja reconhecido é de accôrdo com os
proclamado,
resultados das mesmas, deputado federal pelo Estado de Per-
namburo o Dr. José na Cunha Rabello, candidato mais \»otado.»
!iG8 ANNAUS ÜA CAMARA

O Sr. Presidente — Proclamo Deputado pelo 1" districto


do Estado do Pernambuco o Sr. José da Cunha Rabello.
\uo ser julgados objectos de deliberação diversos proje-
ctos.
Em seguida .«ão sucessivamente lidos e julgados objetos
de deliberação o? seguintes

PROJECTOS

V. 328 — 1912

'Autoriza
a perdoar, de commum accârdo com a Republica Ar-
gcntina, a divida guerra do Parat/uay
da e a entregar a
essa nação os trophéos que lhe foram tomados.

Considerando que a fraternidade universal é principio


cardeal de
política toda moderna, sobretudo republicana;
Considerando desse
que, principio, decorreu a maxima
proclamada por José Bonifácio no seu projecto abolicionista —
«a sã política é filha da Moral e da Razão» — e a divisa
que
Benjamin Constant propoz, e foi acceita,
para a Republica Bra-
zileira — Ordem e Progresso;
Considerando que, em virtude desse principio e dessas
conseqüências, toda guerra constituo fatalmente uma lucta
fratricida;
Considerando que, esse caracter de lucta fratricida não
pôde ser desconhecido, especialmente em relação á guerra tra-
vada entre o Império do Brazil com a Republica Argentina e
a Republica do Uruguay, de um lado, e a Republica do Para-
guay do outro lado.
Considerando <os nossos antepassados não des-
que podiam
conhecer esse caracter, visto como
quatro os povos se acham ir-
manados biologica e sociologicamente;
Considerando que, em virtude do mencionado e
principio
das citadas conseqüências, a
guerra tem de ser considerada a
maior das calamidades humanas e não sómente das desgraças
patrias ou domesticas;
Considerando que, a reparação dos resultados
portanto,
desastrosos das guerras incumbe a todas as victimas de taes
calamidades, sem distincção entre vencidos e vencedores;
Considerando que as responsabilidades de semelhante repa-
ração devem sei', desde então, aos recursos das
proporcionaes
victimas, sem distincção entre vencidos e vencedores, eum-
prindo a todos esforçarem-se, com a mais leal dedicação, para
o levantamento commum;
Considerando que as conquistas, as dividas de guerra, bem
eomo a guarda e o culto dos trophéos, proveem assim única-
mente da persistência dos sentimentos, opiniões e hábitos fe-
rezes dos tempos emque os povos não reconheciam a irman-
dade de todos os membros da especie humana, apezar das dif-
SESSÃO EM ?í DE SETEMBRO DE 1012 569

ferenças, fatalmente transitória®, cie religião de raças, de nacio-


nalidades e de Tamilins;

Considerando que, portanto, seja qual fôr a apreciação da


guerra do Paraguay, a imposição da divida e a conquista dos
trophéos, pnr parte dos vencedores, foram actos contrários á
fraternidade universal e violações da sã política o
portanto,
attentados contra a ordem e o progresso;

Considerando que, esses actos são tanto mais inadmissíveis

quanto os vencedores, sendo na lucta, não podiam erigir-


parte
se em juizes delia, tal julgamento cabendo á posteridade;

Considerando que, o verdadeiro culto dos antepassados


prescreve a confissão de suas culpas e erros, bem como a re-

paração desses erros o dessas culpas;

Considerando que, os nossos antepassados, ainda sob o re-

gimen imperial, nos legaram um memorável exemplo do cum-


primcnto desse dever inilludivel, abatendo a escravidão afri-
cana:

Interpretando os mais nobres sentimentos e correspondendo


aos mais sublimes ideaes não só do brasileiro como da
povo
humanidade,

O Congresso Nacional resolve:

Ari. 1." Fica o Governo autorizado a convidar a nossa


irmã a Republica Argentina para solicitarem, de commum ac-
r;Wrdo, á nossa irmã Republica do Paraguay consinta na
que
restituição soleinne dos tropbéos que lhe foram tomados, bem
como no cancellamento ella aceeitou da
como re- divida que
sultado guerra,dade que foi a victima. maior
Art. 2." Os tropbéos serão solemnomente restituidos o a
divida cancellada em virtude dos considerandos acima mencio-
nados, como o cumprimento de um dever inilludivel para os
três povos irmãos; as Republicas Brazileira e Argentina re-
conhecendo o descabimento da conquista dos trophéos e da
exigência da divida, reconhecendo a Republica do Paraguay a
sinceridade dessa fraternal conducta.
Art. ti.0 Para
dissipar quaesquer apprehensões acerca dos
perigos futuros que a. restituição dos trophéos e o cancella-
mento da divida referida pudessem acarretar para a indepen-
dencia da nossa irmã a Republica do Paraguay se estabelecerá
no tratado a divida
que fftr feito uma clausula declarando que
só ficará
cancellada emquanto do Paraguay con-
a Republica
tinue a ser nação plenamente autonoma, fóra de qualquer alu-
ança política com qualquer outra nação, quer por protectorado,
quer federação, tratados militares de alliança
por quer por
defensiva e offensiva, quer por tratados industriaes (agrícolas,
fabris, commerciaes ou financeiros), celebrados com exclusão
do Brazil e da Republica Argentina ouentre estas.
preferencia
Art. Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 23 de setembro de 1912.— Octavio Rocha.


370 AN NA ES DA GAMARA

AINDA PELA FRATERNIDADE UNIVERSAL, ESPECIALMENTE AMERICANA

A propósito do segundo anniversario da ratificação do tratado


Mirim-J agitarão

O dia 7 do maio corrente assignalou o segundo anniver-


sario da ratificação do memorável tratado Mirim-Jaguarão.
Depois de nossa predica de hontem, recordamos, mais uma vez,
que com esse nobre rasga o fallecido Barão do Rio Branco teve
a gloria de iniciar,
no Brazil, decisivamente, a verdadeira di-
plorjiacia republicapa, inaugurando, ao mesmo tempo, a repa-
i'açãü dos erros é culpas da diplomacia brazileira. Em home-
iiagein ;i sua memória, lemos a carta
que lhe dirigimos, a este
proposito, a 0 de Cezar de 56] 122 (28 de abril de 1910), e que
aqui reproduzimos precedida das considerações constantes da
circular de 1909. Transcrevemos também os telegrammas pos-
terioresj por occasião do Io anniversario do referido trabalho.

Eis a carta que a este dirigimos ao Sr. Barão


proposito
do Rio Branco, agradecendo-lhe a sua benevola remessa dos
exemplares dos tratados com as Republicas do TJruguay e do
Perú:

APOSTOLADO POSITIVISTA DO BRAZIL

Capelía da Humanidade

(Effigé A Humanidade)

Viver para outrem

Rio de Janeiro, 0 de Cezar de 05] 122.

(28 de abril de 1910.)

Illmo. Sr. Barão do Rio Branco, Ministro das Relações Ex-


teriores da Republica dos Estados Unidos do Brazil.

Illmo. Sr. — Em nome da Igreja e do Apostolado Positi-


vista do Brazil venho agradecer-vos cordialmente os exemplares
dos tratados celebrados com as nossas irmãs as Republicas do
Üriiguay e dp Perií sobre os limites de ambas com o Brazil.
As deploráveis delongas parlamentares impediram-nos até hoje
de trazer-vos, em nome da mesma Igreja e Apostolado, as nossas
congratulações por esses dous actos; pois só aguardavarnos que
ficasse legalmente eonsummado o qüe se refere aos limites
com a Republica do Uruguay. A vossa affectuosa remessa nos
induziu, porém, a dispensar o remate constitucional, para tes-
temunhar-vos pessoalmente a nossa gratidão civica o humana,
como já o fizemos publicamente. E'-nos extremamente grato
poder emfim cumprir tal dever, sobretudo tendo em vista o tra-
tado sobre o condomínio da Mirim e do Jaguarão.
Afim de caracterizar os sentimentos que esse acto nos in-
spira, em relação a vós e em relação aris vossos collaboradores,
Sessão ESI 24 de seteMARo üe 1012 SÍ4

especialmente o fallecido Presidente da Republica, Affonso


PeíHiá, e
presidente Dr. o
Carlos Barbosa, e mais tepresõn-
tantes do Estado do Rio Grande do Sul, permitii-nos ponderar

que os ensinos de Augusto Comte levam-nos á convicção de


ser esse o passo realmente glorioso da vossa carreira e mesmo
do cdnjunto da diplomacia brazileira, já pelo seu alcance moral
e político, jâ pelas dolorosas diffieuldades; que anachroiiicos
preconceitos e paiXOes nacioiíalistàs vos crearam. feroz am-
biçfto de ver o povo brasileiro temido pelos seus ifmãos, sucéede
agora a aspiração humana de o sentir amado, sem rivalidades.
Mas essa victoria do altruismo vos havendo patenteado
todo o que podeis fazer,
behi não extranhareis, por certo, que
vos manifestemos, ao mesmo tempo, á o voto de esperança e
vos ver completa 1-á,
promovendo a annuliação da divida da
Republica do Uruguay com o Brazil, por um lado, e, por outro
lado, a restituição dos trophéos e a annuliação da divida da
nossa tão cara irmã a Republica do Paraguay. Esta ultima me-
dida com
vos proporcionaria o mais feliz ensejo para instituir
a nossa irmã, a Republica Argentina, laços de verdadeira fra-
ternidade, que dissipem para sempre as cruéis animõzidackss
cjüè íein dilacerado a America latina.
Sabeis que a conducta dos representantes da
principaeS
Humanidade deve constituir, para todos e sobretudo para os
aue occupam os mais elevados sociaes, um modelo e
postos
um estimulo. Eis
porque, terminando está carta, não hesito
em Íembi'ar~yos «divisa», no dizer do Augusto Comte, attri-
a
buida com felicidade a César, e que convrm tanto aos dignos
theoristas coiíio áos grandes práticos:
« Nil actum reputars si quid superesset agendum.»

Todo vosso no amor, na fé, no serviço da Humanidade.


— 11. Teixeira Mendes.

Templo da Humanidade» rua Benjamin Constant n. 74.

(Extraclo da circular annuá! de 1909, fls, 18 a 21.)

A esses documentos devemos juntar'as seguintes reflexões


feitas por occasiãO do fallecimento do Barão do Rio Branco,
apreciando a sua carreira política:

«Apezar de tão deploráveis extravio», o rasgo de fràter-


nidade internacional constituído pelo tratado Mirim-Jaguarão
tornou-se desde logo o alimento e estimulo das esperanças que
o stíü autor o completasse pela reparação dos outros grandes
erros da diplomacia imperial...
A morte acaba de dissipar laes esperanças quanto a acçao
•ob.jwl.iva
do Barão do Rio Branco. Estávamos certos, porem,
de que a sua influencia subjèctiva — máo grado as suas tra-
dtCOes iinperinlistas — liavia de continuar a agir no sentido da
regeneração diplornatica, de modo a realizar as referidas espe-
ranças, sociologica — O homem se agita e
graças á grande lei
a Humanidade o conduz.*
S72 /« ANNAES I)/V GAMARA

O que precede offerece-nos o ensejo do apresentar algumas


considerações como fizemos na alludida de hontoro
predica
liara patentear quanto urge dar cumprimento aos votos e es-
peranças acima formulados.
Em primeiro logar assim o exige a. sincera e cavalheiresca
fraternidade para com as nossas irmãs as Republicas do Para-

guay c, do Uruguay. Em segundo logar é só assim que conse-


guiremos firmar definitivamente as cordiaes relações que^
felizmente, existem neste momento entre o Brazil e a nossa irmã
a Hppublica Argentina.
Porque então se desvanece a circuinstancia capital, sinão
única, que alimenta as deplorabilissimas rivalidades naciona-
listas resultantes dos extravios políticos, fatalmente commetti-
dos pelos nossos antepassados e contemporâneos, em ambos os
povos.

Semelhantes rivalidades não podem desapparecer por me-


ras manifestações de cortezias diplomáticas. A sua extincção
radical requer uma regeneração profunda dos sentimentos na-
cionaes substituindo irrevogavelmente a mais leal fraternidade
aos cálculos de um estreito e absurdo egoismo sob a illusão
de patriotismo.
Com effeito, a
política e moral, vida
da mesma sorte que
a existencia material,
regida por leis naturaes ée não pelos
caprichos humanos. Por toda a parte, na Política e na Moral
— assim como na industria — as nossas aspirações só podem
ser satisfeitas subordinando-nos a essas leis naturaes.

Ora, a natureza humana, compondo-se fatalmente de instin-


ctos egoístas e de pendores altruístas, só os pendores altruístas
e tudo que os alimenta e estimula nos unem; os instinetos
egoístas e tudo que os fomenta o incita nos dividem. Não po-
demos, pois, instituir e manter a união sinão desenvolvendo
directamente os pendores altruístas, favorecendo todas as cir-
cumstancias que lhe são propicias e dissipando quanto em
nós estiver, tudo o que fôr susceptível de entreter e instigar
os instinetos egoístas.

Vô-se assim que a phrase tão repetida do Sr. Saens Pena:


Tudo nos une nada nos separa constituo apenas, na realidade,
um rasgo oratorio, traduzindo, por certo, os melhores desejos
e as melhores intenções, mas que não pôde operar o milagre
de transformar a natureza humana, individual e collectiva. Em
vez de nos deixarmos embalar por essa seduetora chimera,
cumpre lembrar-nos, a cada instante, de que unicamente o al-
truismo e as circumstancias favoraveis ao altruísmo unem,
na realidade, os indivíduos, as famílias e os povos, assim como
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 573

só o altruísmo e as circumstancias lhe são favoráveis,


que
permittem a coherenoia da vida individual desde o berço até
á sepultura. Em uma palavra, só o altruísmo permitte attingir
ú unidade religiosa e a circumstancia favoráveis ao altruísmo.
O Sr. Saens Pena conformou-se com esta realidade, quando
ultimamente disse no discurso de recepção do Sr. Campos
Salles:
«A America espera de nós alguma cousa mais do que pro-
duetos e riquezas materiaes: exige exemplos e demanda pro-
gressos espirituaes.
Seja a paz a consagrarão perduravel do nosso estado social
c político; seja a justiça o nosso ideal...»
Pois bem, a manutenção da divida imposta á nossa marty-
rizada irmã a Republica do Paraguay, além de denotar uma
falta cruel de fraternidade com esta, é um signa! de
para
desconfiança para com a fraternidade com esta, é um
para
signal de desionfiança para com a nossa irmã a Republica Ar-

gentina, e, portanto, um estimulante fatal das rivalidades sur-


gidas entre esta e o Brazil, no decurso da evolução de ambos.
Porque a persistência de dividatal
indica o proposito de
manter um supposto obstáculo uma supposta garantia contra
ou
qualquer tentativa de incorporação do Paraguay á Republica
Argentina.
E o mesmo dá-se, em relação ao Brazil, quanto á manu-
tenção da divida do Paraguay á Argentina. Pois se imagina que
as vistas ambiciosas relativas a tal incorporação ao Brazil
serão contidas pela perspectiva da acceitação de semelhante
divida.
E\ pois, evidente que só a desistencia dessa divida paten-
teará de facto a dissipação de semelhantes cálculos e descon-
fianças. quaes forem as intenções dos governos de ambas
Sejam
as Republicas,
em dado momento, emquanto taes dividas exis-
tirem, estas — embora —
estarão latentcmente, como agora
alimentando os pendores egoístas de ambos os O o sorte
povos.
que constituem uma ameaça permanente á fraternidade que
deve unir a ambos.

f'

Seriam inúteis novas que a


considerações para evidenciar
sã política impõe ao Governo brazileiro, como ao Governo ar-
gentino, a desistencia das referidas dividas.
Neiu a Moral e a Razão permittem que um dos governos
faça depender do outro o cumprimento desse compromisso
altruísta.
Cumpre eom o teu dever, miceeda o (jue succeder e u
lição cavalheiresca nossos antepassados le-
que, os melhores
garam aos indivíduos, ás famílias e aos povos modernos.
Qualquer das duas nações que tiver a gloria «lo tal ínicja-
tiva, segundo deu a nossa irmã a
o exemplo que ,já a ambas
Republica do determinará alias o mesmo rasgo da
Uruguay,
parte da outra.
874 ANX.VES DA CAMAIiA

Nos, portanto, vimos irjais


appellar um? vez
para o fío-
vorno brazjleiro_ afiip do qijp não mais tempo adio
por o do-
sompenhò ([o tão imprpsciiujivpl dovor. Será esse o melhor
monumento levantado á do liarão' do Rio
pieinoria Branco,
íazei)do com que p)]o realizo supjectivamehte desenvolvi-
o
monto da poljtica regenerada o tratado Mjrim-Jaguarâo
que
inaugurou.
E' escusado accrescentar
que esse acto deve ser preparado
ou completado, pondo-se termo á glorif icação, cada vez mais
lamentavel, da lueta fraticida de onde resultou essa execranda
divida.
A verdadeira gloria só existe no altruísmo.

Pela Igreja e Apostolado Positivista do Brazil,

11. Teixeira Mendes, vice-director.

Em nossa sóde, Templo da Humanidade, rua Benjamin


Constant n. 74.

Ilio, 22 de César de 124 de maio de 1912.)


(13

(Vi de Jornal do Commercio, de terça-feira, 14 de maio de


1912, edição da manhã, secção ineditorial.)

A essas considerações
só temos a accrescentar, como fi-
zemos no ultimo (7 de íáhakespeare correute — 15 do
domingo
setembro corrente) em nossa predica, que, para dissipar todas
as apprehnisõcs sinceras acerca dos perigos que para a inde-
pendencia da nossa cara irmã a Republica do Paraguay, e para
a paz sul-americana, se imaginava poderem provir do cancel-
lamento da execranda divida, bastaria, 110 respectivo tratado
fraternalmente reparador, inscrever uma cláusula
conveniente.
E' o que se conseguiria declarando
que a divida só ficava
c anca liada emquanto a nossa irmã a Republica do Paraguay
continuasse a ser nação plenamente autonoma, de
fura qualquer
alliança política com qualquer outra nação:

1", quer por proterttorado;


2",
quer pov federai;ão;
3?,
quer por tratados militares de alliança defensiva ou
offensiva;
4o, quer por tratadas industriaes (agrícolas, fabris, com-
merciaes, ou financeiros) celebrados com exclusão do Brazil e
da Argentina, ou preferencia entre estas.

I>evemos, porém, notar que semelhante cláusula consti-


tue, a nosso ver, uma dolorusissima concessão feita unicamente
1tranqüilizar os espíritos sinceramente timoratos.
para Por-
que o exame scientifico da situação occidental em geral, e es-
SESSÃO KM 34 »B .SETfiMJJfiO DE 11)12 Ô78

'dci^a
pocialnjcute da situação americana, não a mínima du-
vida de o caneellamento da monstruoso divida
que seria a
prova mais cabal e ao mesmo tempo o melhor cimento dos
sentimentos verdadeiramente sinceramente frater-
pacíficos,
naes, dos povos assim congraçados sempre.
para

Terminando, appellamos, em nome da Humanidade, espe-


cialmente da America, sobretudo do Brazil e da Argentina,
para os mais nobres sentimentos internacionaes de que, com
justiça, se devem ufanar o Sr. Roca e o Sr. Campos
general
Salles, afim de envidai-em decisivamente todo o seu prestigio
político e todas as veras de suas almas no conseguimento ur-
gente de tão sublime ideal.
O Sr. Saenz Pefia foi realmente orgão das melhores almas
de todos os tempos, passados, presentes e futuros, quanejo disso
ao Dr. Gamppa Salles:

n A- America espera de nós alguma cousa mais do que


pro-
duc^flos e riquezas materiaes: exige exemplos e demanda pro-
grossos espirituaes.
tSeja a paz a consagração estado so~
perdvravel do nosso
ciai e político: seja a justiça nosso ideal...»

Pois bem, a solemne restituição dos trophéos fratricidas


o o cavalheiresco cancellamento da divida monstruosa, consti-
üjom a synthese desses exemplos e desses progressos espirüuaes
que do Brazil e da Argentina,_hoje exige, não só a America, mas
a Humanidade... Oxalá nao demorem, tempo o
por jnais
Brazil e a Argentina em escutar esse appello regenerador que,
tia tanto, lhes bradam a America, o Occidente, a Humanidade t
Desde então os adquiririam os ambos
goverpos e ambos
povos, brazileiros e argentino, o prestigio moral indispensável
para aconselhar, ao da nossa irmã a Republica do Chile, a resti-
tuição de Tacna e Arica á nossa a Republica do Perú.
irmã
E que mais gloria poderiam ambicionar os estadistas e os

povos das republicas irmãs desta arte reconciliadas? Que base


mais solida o eterno repudio da nelanda politica da paz
_pára
armada o o inicio decisivo da verdadeira
paz industrial?
Pela Igreja e Apostolado Positivista do Brazil, 11 Teixeira
Mendes, vice-director.

Em nossa séde, Templo da Humanidade, rua Bcnjamin


Constant 11. 74.

Rio, 9 de Shakespeare dc 12-4 de setembro de 1912.)'


(17

A divida e os trophéos — Conhecido Deputado


paraguayos
empenha-se na Camara em obter assignaturas para um pro-
.lecto de lei no sentido de ser cancollada a divida de guerra do
Paraguay e serem-lhe devolvidos os trophéos que jazem nos
nossos museus e igrejas, cobertos de pó...
ANNAES DA GAMARA 0

A idéa não é nova e ha muito constitue, por assim dizer,


uma aspiração do nosso meio intellectual se
que preoccupa
com osgrandes problemas sociaes, achando que com esse mo-
vimento melhor traduziríamos, para com a infeliz e martyri-
zada Republica, os nossos sentimentos de verdadeiro affecto e
prova de esquecimento dessa lucta 1'ratricida que em um mo-
mento de
passado desvario,
regimen a um 110 levámos
povo
generoso e heroico com o fim de «libertal-o do seu tyranno
quando esse povo vivia feliz com esse seu tyranno. Esquecemo-
nos de que, nessa época, viviam milhares de brazileiros alge-
rnados pela mais hedionda escravidão e que desse modo não
tínhamos a autoridade moral de nos apresentar como civiliza-
dores e libertadores de outras patrias...
Segundo estamos informados, a idéa vae felizmente ga-
nhando terreno entre os representantes da Nação; mas seja-nos
permittido lembrar aos que se acham á frente dessa campanha
altruistica e realmente republicana que o projecto devia ser
dividido em dous, sendo um do cancellamento da divida e o
outro da entrega dos trophéos, porque ha Deputados favoraveis
unicamente a.o cancellamento da divida.

Assim, facilmente se poderia compulsar o pensamento da


Camara e facilitar o triumpho na parte mais acceitavel.

Temos mesmo duvidas quanto á opportunidade de se tor-


nar em realidade a entrega dos trophéos na quadra política
que atravessamos.

Si é que o Exercito
verdade e a Armada nacionaes são
constituídos, sua maior parte,
na de verdadeiros republicanos
e de intellectualidades invejáveis, também é verdade que ainda
ha, e nem podia deixar de haver, uma parte menos culta e que
encara estes íactos sob um ponto de vista acanhado.

Quanlo á divida
guerra que impuzemos,
de sob pressão,
ao paiz vencido, preço da sua liberdade, de que fomos
como o
portadores voluntariamente, não se justifica; e, sob o ponto de
vista de direito internacional, eila é e seria insustentável.

E' uma divida já condemnada pela opinião unanime da


Nação.—A's Commissões de Diplomacia e Tratado e de Fi-
nanças.

N. 339 — 1012

Manda substituir o único do art. í", n. 1, da lei


parayrapho
n. 39, de 30, de janeiro de 1892

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1.° O paragrapho único do art. 1", n. 7, da lei n. 39,

de 30 de janeiro de 1892, será substituído pelo seguinte:

Em caso urgente, a requisição poderá ser feita e executada


do despacho telegraphico para a prisão provisoria até
á vista
SESSÃO KM 21 Ü1S SÜTEMUKO DK 1912 577

a remessa dos documentos, que será feita no prazo máximo de


20 dias.
Art. 2.» Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 24 de setembro de 1912-— Galeão CaP-


valhal.— Cândido Motta.— Prudente de Moraes Filho.— A'
Coinmissão de Constituição e Justiça.

N. 340 — 1912

Equipara ao pharmaceutico da Escola Quinze de Novembro o


actual dentista

O Congresso Nacional resolve:

Art. l.° Fica equiparado ao pharmaceutiao da Escola


Q-uinze de Novembro o actual dentista.
Art. 2.° Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 22 de setembro de 1912.— Silva Castro.


— A' Commissão de Finanças.

N. 341 — 1912

Cr ca no Brasil o Serviço de Defesa contra o Ophidismo, c dá


outras providencias

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." Fica creado no Brazil o Serviço de Defesa contra


o Ophidismo.
Art. 2.° A Defesa contra o Ophidismo no Brazil fará

parte integrante da Defesa Agrícola, a cargo dos inspectores


de agricultura.
Art. 3.° O Governo Federal auxiliará o Instituto do Bu-
tantan, em S. Paulo, com a quantia de 5:000$ forneci-
para
mento de sérum aos postos de defesa.
Art. 4.° O Governo nomeará um fiscal do serviço addido
ao Instituto de Butantan para corresponder-se com os diversos
postos e regulamentar o serviço dos mesmos, com o ordenado
de 800$ mensaes e 200$ de gratificação.
Art. 5." Revogam-se as disposições em contrario. •

Sala das sessões, 23 de setembro de 1912.— J. Lamartine.

N. 342 — 1912

Determina que os serventes Naval do Rio de Ja- do Deposito


Arsenal de
neiro percebam as mesmas diarias que os do
Marinha, dtt accürdo com a lei n. 2.260, de í de outubro de
1910, e autoriza a abertura dos necessários créditos.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." Os serventes do Deposito Naval do Rio de Janeira


diarias os do Arsenal de Marinha:,
perceberão as mesmas que
do accôrdo com a lei n. 2.260, de i de outubro de 1910.

Vol, x
S78 AN-NA liS OA CAiJAUA

Art. 2.p Fica o Governo autorizado a abrir os créditos nó-


cessarios para a execução desta lei.
Art. 3.° Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 24 de setembro de 1912.— Figueiredo


Rocha.—- Pereira Braga.

O Sr. Presidente — Passa-se á votação constante da ordem


do dia.
Votação do projecto n. 48 B, de 1912, tornando extensivas
á Academia de Commercio de Pernambuco as disposições da
lei n. 1.339, de 9 janeiro de 1905, á semelhança do que tem
de
sido concedido a outras academias; com parecer favoravel da
Commissão de Instrucção Publica (vide projecto n. 48 A, de
1912) (1" discussão).
Posto a votos, é approvado em Ia discussão o seguinte

1*110 JECTO

N. 48 B — 1912

O Congresso Nacional resolve:

Art. 1.° Ficam extensivas á Academia de Commercio de


Pernambuco as disposições da lei n. 1.339, de 9janeiro de
de
1905, á semelhança do que foi concedido á Academia de Com-
mercio de Porto Alegre, creada pela Faculdade/Livre de Di-
reito da mesma cidade, Estado do Rio Grande do Sul, á Aca-
demia de Commercio de Santos e á Escola de Commercio do
Campinas, Estado de S. Paulo, pelos projectos ns. 177 B e
177 C, de 1911.
Art. 2." llovogam-se as disposições em contrario.

O Sr. Presidente — O á 2' discussão.


projecto passa

O Sr. Costa Ribeiro — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Costa Ribeiro (pela ordem) requer dispensa do


interstício o projecto n. 48 B, de 1912, figurar
para que possa
«a ordem do dia de amanhã.
Consultada, a Camara approva o requerimento do Sr.
Costa Ribeiro.

0 Sr. Presidente — Estão findas as votações.


Continuação da 2a discussão do projecto n. 123 A, de 1912,
do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas
do batalhão naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910,

e aos civis o militares envolvidos nos acontecimentos de Ma-

nãos, em outubro do mesmo anno; com parecer favoravel da

Commissão de Constituição e Justiça.


Entra em discussão o art. 1°.
SESSÃO E-U ai 1)E SETEMBllO 1JE 1912 579

0 Sr. Presidente — Acha-se sobre a mesa o seguinte re-


qucrimento:

«Requeira que o projecto n. 123 A, de 1912, seja enviado


á ComttijSsão de Marinha e Guerra para o necessário estudo.

Sala das sessões, 24 de setembro de 1912.— Souza c Silva.*

Vou submetter a votos o requerimento.

0 Sr. Souza e Silva — Pego a ordem.


palavra pela

0 Sr. Presidente — Tem nobre Deputado.


a palavra o

Q Sr. e Silva (pela Souza


ordem) — A necessidade, Sr.
Presidente, projecto n. 123 Ado ir ao estudo da Commissão
de farinha e Guerra é uma medida indispensável,
porque a Ca-
mar a não deve e não pôde resolver assumpto de tal gravidade,
assumpto da natureza deste, sem que esteja perfeitamente in-
formada das circumstancias que o rodeiam, de seus antece-
dentes e de suas conseqüências.
Está em jogo, Sr. Presidente, não só a ordem, que devo
prevalecer nas nossas instituições militares, como a
própria
segurança da. ordem social.
A Commissão de Constituição e Justiça, pronunciando-se
sobre projecto em questão,
o não fez a
mais do que examinar
sua eonstitucionalidade, não fez mais do exarninal-o sob
que
o ponto de vista dá sua legalidade.
Não é portam, bastante,
esse exame, a Camara
para que
possa sobre pronunciar-se elle
com inteiro e completo conlie-
cimento de causa, medindo o avaliando as conseqüências que
delle podem resultar, encarado sob o de vista rigorosa-
ponto
mente militar, nas relações que tem com a disciplina a que
devo estar sujeita a 1'orça armada.
E? indispensável que a Commissão de Marinha e Guerra
examine e estude convenientemente o assumpto, do modo a
apresentar á Camara, sob vários aspectos, conveniência
a da
medida, bem avaliada a extensão das suas conseqüências, afim
de que, resolvendo capital assumpto, o Con-
sobre esse magno e
gresso possa fazel-o dando um passo firme sobre terreno pré-
viamente estudado, e possa conhecer até onde
poderão arrastar-
nos as conseqüências que decorrerão da sua approvação.
Não estou combatendo propriamente a amnistia; reservar-
mo-hei para, em occasião opportuna, manifestar-me sobre
ella.
Mas, uma pro-
quero desde já accentuar á Camara que ha
funda differença nos assumptos estão (/ttleixados nesse
que
projecto, na sua natureza; motivado originariamente pela
preoccupação de dar um epilogo aos successos da esquadra, o
projecto se acha accrescido com uma emenda relativa aos»
successos de Manáos. Entretanto a que _se refere só-
parte
mente á amnistia dos marinheiros do batalhão naval não
alfecta propriamente a ordem política nem a segurança daa
•180 . ANNAES DA CAMARA A

instituições elle affecta essencialmente a ordem militar, é


;
um crime de ordem puramente militar; tem conseqüências
muito mais graves, vae interessar directamente a ordem mi-
nacional; ao passo
1 itar, que é a base, o esteio da ordem que
o caso de Mandos é um caso exclusivamente político; não

obstante a doutrina firmada pelo Supremo Tribunal de que os


officiaes nelle envolvidos comettoram não um ciúme político
mas um crimo militar.
Entretanto, si crime militar houve, esse crime está en-

íeixado na demonstração política, da qual resultou, da qual foi

um effeito e nunca uma causa.


Tendo feito essas considerações em relação a uma medida

que reputo indispensável, isto é, que seja ouvida a commissão


de Marinha e Guerra sobre esse projecto, espero que a Ca-

mara approvará o meu requerimento, que se vae votar.


A causa, a necessidade da medida a attender, se acham jus-
tifiçadas pelo facto de que já ha exemplo nesta Camara de

que o incompleto conhecimento de um pode arrastar


assumpto
alguns oradores, desejosos de influírem para a boa solução

do assumpto em debate, a injustiças mais ou menos irritantes


ao incompleto conhecimento teem do as-
que eu attribuo que
sumpto, das suas circumstancias e antecedentes.
Quero me referir de passagem ás palavras asperas e in-
com a Marinha Nacional se viu duramente ferida
justas que
honrado Deputado pelo Paraná. Como que esta occasião
pelo
serviu de
pretexto a uma explosão súbita de odios inexplica-
veis contra uma classe que si tem commettido desvarios, dos

tem sido antes victima do que autora, tem um vasto


quaes
acervo de serviços ao tem uma farta inésse de 1'actos
paiz,
moraes, isolados que bastam por si só para eleval-a ao mais alto
nível moral, não só a cila, a Marinha, como o proprio paiz.
Não preciso citar mais que a conducta revelada pelos
officiaes de Marinha em face do levante dos marinheiros.
Não quero ailudir á revolta dos marinheiros, mas mo ápe-
gando á ultima revolta, o levante do Batalhão Naval, estou certo
de que a Camara, si conhecesse a conducta que tiveram o com-
mandante e officiaes do «scout» Rio Grande do Sul que, só-

sinhos, isolados em face de mais de cem homens amotinados


com o mais digno heroísmo, veria que elles não
procederam
mereceriam os conceitos injustos e até certo ponto calumniosos
do honrado Deputado pelo Paraná.

O Sr. Corrêa Defreitas — Não ha calumnias. Os factos

são de notoriedade publica.

O Sn. Souza e Silva — Não posso, portanto, Sr. Presidente,


desai-
deixar de protestar com veheinencia contra os epithetos
rosos e insinuações malévolas feitas á classe a que tenho a

honra de pertencer.

O Corrêa Defreitas — Não lia intenções malévolas.


Sr.
se falia do Presidente da Republica a Camara
Quando
ouve silenciosa, e, quando se falia de um membro da classe

militar, lá vem os protestos.


SESSÃO EM 24 Dl! SETEMBRO DE 4912 881

À classe do V. Ex. não é privilegiada.

O Sr. Presidente — Attenção !

O Sr. Corrêa Dkfreitas — Não me referi á classe, alludi a


alguns membros da classe a e na
que V. Ex. pertence qual tenho
amigos que não a envergonham.

O Sr. Presidente — Attenção 1


Peço ao nobre Deputado, restrinja as suas conside-
que
rações.

O Sr. Souza e Silva — Sr. Presidente, infelizmente não


estava presente por occasião do discurso do honrado Deputado
pelo Paraná.
Tive,
entretanto, conhecimento delle extracto publi-
pelo
cado nos
jornaes diários e informações de collegas e, vindo á
tribuna, não podia deixar de protestar contra o modo por que
S. Ex. fez accusações á Marinha.
Não pretendo discutir este assumpto, é ingrato.
que
Em todo caso fica lavrado o meu protesto.

0 Sr. Presidente — Peço


ao nobre Deputado que restrinja
as suas considerações aoencaminhamento da votação. V. Ex-
já está fallando ha 10 minutos.

O Sr. Souza e Silva — Attendendo á observação de V. Ex.,


vou terminar as breves palavras com necessário
que julguei
fundamentar o meu requerimento.
Terminando, direi, que não me seja uma
parece que
questão partidaria essa amnistia (apoiados) sobre a a
qual
Camara se vae pronunciar.

Ella não foi pedida em mensagem do


poder Executivo pelo
Sr. Ministro da Marinha. S. Ex.
a amnist.ia. Ter-não
pediu
minando a. exposição que foi lida no Senado
pelo Sr. Urbano
Santos, S. Ex. se limitou a dizer que «em taes condições, tendo
em consideração que a amnistia (Lê)
desceram a assassinatos e estão respondendo espe-
a processo
ciai.
Como se vê, o Ministro não a amnistia; expõe uma
pede
situação, pedindo para ella o remetlio o Congresso en-
que
tender dever dar. Compete á Camara estudar o caso e resolvei-
o, dando a amnistia si, em sua sabedoria, necessaria.
julgal-a
Para isso, entendi necessaria a audiência da Commissão
de Marinha e Guerra,
ella estude o afim
projecto e de
que
emitta parecer sobre o assumpto, a Camara
para que possa
se manifestar com pleno conhecimento. bem; muito
(Muito
bem.)

O Sr. Presidente — Vou submetter votos o requerimento.


a

0 Sr. Antonio Nogueira — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Pesidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra
S82 ANNAK8 DA CAMAUA

O Sr. Antonio Nogueira ordem)—Sr.


(peta Presidente
mais uma vez, e infelizmente
parece-me que não será a ultima'
sou 1 orçado a divergir da opinião de meu honrado
collega pelo
itio do Janeiro, com quem. desejava viver sempre nesta Casa
eOrtjtigaflò, derlrtrando a Y. Ex. e ü Casa voto
que contra
este requerimento.

Na o sei porque a Commissão de Marinha Guerra,


e asso-
beronda já com tantos parecôres de caracter technico, deva
ser ouvida sobro este projecto.

O Sn. (jAHí.os Maximu.iano — Apoiado; nada tem que ver


com istoi

0 No<Jü.EinA — A não ser por vim espirito de


i ^',V.,a?.T0N.10-
prOcrasjmflçao que, acredito, meu honrado coUeKa , riftò tem,
natj vejo razãp que , justifiqtoç áapprbvação do requerimento
e por isso voto contra elle, ftiiás contrariado, repito,
porque,
meu desejo frtra estar sempre
de nccôrdo cólii o Hóbro Deputado.
(Minto bem; mililo bem.)

O Sr. Pesidente — Vou submetter a votos o requerimento.

1
Ò Sr. IHhèú Machado — Peço a palavra pela ordem.

0 Sr. Pesidente — Terh a palavra pela ordem o nobre


Deputado.

0 Sr. Irineu Machado (pela ordem.)—Foram apresentados


:j cpijfiidcração da Gamara três requerimentos de audiência
de commissões, sendo dous por mim.

Em, um dell.es pedi a audiência da Góriimissão de Finanças


e em ou.tro a da Comlhissão de JüstiÇa. ,
Sr, Souza e Silva pede agora a audiência da Commissão
, i«
de Marinha e Guerra.
Alemdestes, ha outro requerimento por mim formulado
em solicito, os processos
que referentes aos snccessos de Ma-
naõs o
aos desta Capital, em 1010, afim de verificarmos a
exte,nsfto do crime, a sua importância e seus eífeitos, para
podermos votar com pletfo conhecirtiento de causa.
Quoiiíò ao, T-equérimento por mim apresentado, relativo á
audififiçja da Cortnpissão de Finanças, elle lio.je se tornou
despçíiessario com a apresentação de diversas emendas a
que
tornam forçada, obrigatória, por isso que as emendas referentes
ás arpitistias anteriores que, de limitadas a ser am-
passaram
pias o inçondicionaes, importam evidentemente em aggravação
da despeza ».

Quanto, porém, á audiência da Commissão de Justiça,


taiiibetti solicitadil por liiirli ehi outro requerimento, ella é
absolutamente imprescindível, não só porque lia outros acon-
teeltiieiitos tírirHiriosüs, cujos autores são amnistiados, como
também.porque em relação á própria matéria eomprehendida
no projecto, isto fi, ribfc Süccessós de Maháos, rts opiniões variam
"21. 583
SliSSÃO KM DE SCTUMBUO DE 1912

e lia emendas que excluem dolle os militares, limitando a


amnistia aos civis.
Vê-se, portanto, que é o caso de applicar a disposição
_
regimental manda
que ouvir a Gommissão de Justiça sempre

o numero de emendas fôr tal que torne imprescindível


que
a consulta a essa Cominissão para que informe, sob o ponto do
vista jurídico, á Gamara, anfes da votação.
ao requerimento do honrado amigo, o Sr. Souza
Quanto
o Silva, peço licença a S. Ex. para delje discordar, julgando-o
absolutamente improcedente.
a de Mar'n'm
lÀclio que questão não interessa á€omiriissão
e Guerra, porque não se trata de uma medida que dlPa r.

peito ao funccionamento, nem d administração da Guerra.

Quer S. Ex. talvez .apreciarquestão em seus effeitos


a
disciplinâres o ponaes, em relação ás conseqüências da conces-
são da amnistia sob o ponfo de vista da disciplina, isto é, da

relevarão das penas a que. os delinqüentes estivessom sujeitos.


Esta matéria 6 precisamente da competencia da Gommissão
de Legislação e Justiça .
Si se. Irat.assn. |>or exemplo, da reorganização clo^quadro,

matérias, emfim, affectassem a administração ou a


de qwe
organização das forças armadas no seu de vista te-
ponto
clinico, comprehcndo que se ouvisse a Gommissão de Marinha
e Guerra.
porém, á matéria de amnistia, ouvil-a seria com-
Quanto,
descabido, seria uma innovação introduzida (na
pletamente
Carnara. a Gommissão de Marinha e Guerra não
porquanto
tem competencia para dizer sobre a natureza e a conveni-

ene ia da concessão de uma medida, corno a amnistia,


política
que é (uri aeto de clemencia.
j?jis porque, sinceramente convencido de (pie mandar ouvir
a Gommissão de Marinha e Guerra será um erro, peço licença
para discordar de S. Ex.. votando contra o sou requerimento,
6 descabido, com a mesma sinceridade com que
por julgar que
entendo ser de absoluta necessidade ouvir-se a Gommissão d»

a de Finanças e remetter-se a cópia do a


Justiça e processo
Gamara. .
Erá o que me cumpria dizer. bem-; muito bem.)
(MuUo

O Caí-los Maximiliano — Peço a para enca-


Sr. palavra
minhar a votação.

0 Sr. Presidente—Tem a palavra o nodre Deputado.

O Sr (para encaminhar a votação))—-


Carlos Maximiliano
£r. Presidente, palavras tratarei
em do assumpto,
breves já
completamente ventilado illustres collegas que me pre-
por
cederam na tribuna. Tenho responsabilidades neste assumpto.

Sou relator da Gommissão de Justiça, devo pronunciar-mo


na discussãq que aqui tiver logar.
Systematicameniè, com o meu velho espirito de tolerancia.
aparteej os oradores: tomei notas para dar resposta, até
pão
íi.84 ANiVAUS JUA CA.MAHA

mesmo quanto áquellas assacadilhas que lançaram sobre os


meus amigos. Absolufamento não passo, sob pena de passar
por um cobarde político, acceitar o requerimento que foi apre-
sentado e pelo qual se quer tranca*' a discussão.

Nós, membros da maioria, não nos devemos calar ante a


accusação formal, formidável, violentíssima da minoria contra
o Governo e os nossos companheiros. Voto contra o requeri-
mento e entendo que diverso não pôde ser o procedimento
de todos os homens da maioria, que tenham uma convicção po-
litica. (Apoiados; protestos. Trocanv-sc muitos apartes.)

0 Sr. Fonseca Hermes — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Pesidente — Tem a pela ordem o Sr. Depu-


palavra
tado Fonseca Hermes.

0 Sr. Fonseca Hermes — Sr.


(pela ordem) Presidente, em
aparte dado hontem ao illustre representante de Minas Geraes
qut* discutia
o projecto de amnistia, declarei positivamente
que a questão em debate não se prende absolutamente á matéria
de caracter partidário, nem se acha o Governo empenhado de
modo algum 11a mesma questão. (Muito bem.)
A amnistia é um instituto constitucional, é um instituto
liberal, que affecta de perto o interesse político do paiz.
'Cumpre distinguir, Sr. Presidente, os movimentos revolu-
cionarios polilica daquelles que não o são.
de natureza
Nãointeresse algum em que o projecto seja votado
tenho
immediatamente, ou em que sobre elle se pronunciem duas
ou tres coinmissões do Congresso. Acredito, igualmente, que o
requerimento offerecido pelo digno representante do Rio de
Janeiro não tem intuito protelatorio, mas simplesmente visa
esclarecer o espirito da Camara (muito bem) em uma questão
de alta investigação e do subida importancia.
Por isto, voto pelo requerimento.
Com estas considerações, por meio das quaes não desejo,
de, leve siquer, insinuar á maioria da Camara um procedi-
mento que se traduz 110 seu voto, tenho em vista accentuar que
a questão é de interesse político e social, não de interesse

governamental ou partidário. (Muito bem.)


Votarei livremente, como livremente votarão todos os
meus collegas da maioria. (Muito bem; muito bem.)

0 Sr. Pesidente — Vou submetter a votos o requerimento.


Peço aos Srs. Deputados que occupem suas cadeiras. (Pausa.)

seguida é votos e approvado o referido reque-


Em posto a
rimento do Sr. Deputado Souza e Silva.

0 Sr. Irineu Machado — Peço a palavra pela ordem.

0 Sr. Presidente — Tem a ordem o Sr. Depu-


palavra pela
tádo Irineu Machado.
SESSÃO EM 21 DE SETEMBRO DE 1012 585

0 Sr. Irineu Machado ordem)—Reqúeiro


(pela verifi-
cação da votação
Procedendo-se á verificação da votação, reconhece-se te-
rem votado a favor do requerimento GO Srs. Deputados (21 a
direita e 48 ú esquerda), e contra 29 á direita e 11
(18 ii es-
querda); total, 98.

O Sr. Presidente — Não ha numero.


Vac-se proceder ú chamada.

0 Sr. Raul Veiga (2° Secretario, servindo de Io) procede


á chamada dos Srs. Deputados.
Feita a chamada, verifica-se terem-se ausentado os Srs.
Rogério de Miranda, Cunha Machado, Bezerril Fontenelle, Flores
da Cunha, Augusto Monteiro, Meira Vasconcellos, Frederico
Lundgren, Euzebio de Andrade, Alfredo de Carvalho, Barros
Lins, Baptista Accioly, Miguel Calmon, Alfredo Ruy, Arlindo
Leoni, Rodrigues Lima, Pereira Braga, José Tolentino, Alves
Costa, Irineu Machado, Calogeras, Lamounier Godofredo, Chris-
tiano Brazil, Josino de Araújo, Mello Franco, Cândido Motta,
Raul Cardoso, Alberto Sarmento, Prudente de Moraes Filho,
Palmeira Ripper, Bueno de Andrada, Estevam Marcolino, Va-
lois de Castro, Arnolpho Azevedo, Mai'cello Silva, Annibal To-
ledo, Corrêa Defreitas, Celso Bayma, Octavio Rocha e Nabuco
de Gouvêa.

0 Sr. Presidente — Responderam á chamada 100 Srs.


Depu lados.
.Não lia numero para proseguir-se na votação.
Fica prejudicado o requerimento do Sr. Souza e Silva.
Continua a discussão do art. 1" do projecto n. 123 A, de
1912.
Acham-se sobre a mesa tres emendas e um requerimento,
que vão ser lidos.
Em seguida, são successivamente lidas, apoiadas o en-
viadas á Commissão as seguintes

EMENDAS

Ao projecto n. 123 A, de 1912

(2* discussão)

Art. 1." O Governo levantará no Arsenal de Marinha do


Rio de Janeiro um monumento symbolico a re-
perpetue
que
cordação necional e sua admiração officiaes que succum-
pelos
biram no primeiro e segundo levantes militares de 1910, na
bahia do Rio de Janeiro.
Art. 2.° Fica para isso o Governo autorizado a abrir os
necessários créditos.

Sala das sessões, 23 de setembro de 1912.— Maurício de


Lacerda.
586 ANNAlü8 DA CAMAKA

Arf. 1.° O Governo instituirá a medalha militar «Almi-


rahte Neves» para os officiaes, inferiores OU ri(* mft-
DniCftS
1'iulii) ano 1 "'tious im deverus militares,
y1" vv"",Uu
(•Oífl 1'JSCO. ue vida Imminente, tiverem bem sabido desempe-
nhar-so da nilssãb que lhes for incumbida.

Paragrapho único. Essa medalha será conferida artes


por
de bravura.

Sala das sessões, 23 de setembro de 1912.— Maurício de


Lacerda.

Onde convier:

,A,í't. i^icám ãmriistiacios os insurrectos civis implicados


nira. éuccessns.. ao muhicipio de Padüa e zona iimitrophe de
íiinás em 1912.

Sala das sesscíes, 23 do seterhbro de 1912.— Maurício de


Lacvrda.

E' lido, ápolado e posto em discussão com o art. Io do


projecto fl. 123 A, de 1912, o seguinte

REQUERIMENTO

Rbftueiro seja ouvida a Commissão de Constituição e Jus-


tiça sobre as emendas offerecidas na 2" discussão do projecto
n. 123 A, (airinistia) e isso sem prejuízo da mesma discussão.

Sala das sessões, 2i de setembro de 1912.'— Irineu Ma-


chado.

Ô Sr. Búènó de Andrada — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a ordem o nobre


palavra pela
Deputado.

0 Sr. Bueno — Agradeço muito


de Andrada {pela ordem)
a .V Ex. ter me cohceditío pálavra; mas parece que o Sr. re-
a
lator pediu-a, tendo, portanto, a preferencia, de modo que
com muito prazer eu ouvirei S. Ex.

0 Sr. Presidente — Teul a o Sr. Deputado Carlos


palavra
Matin.iiiaiH).

0 Sr. batíos Maximlliano — Em vez de se regosijar por


ser esto o de que é relator, vem de cabeça
pri{BCÍfO projecto
abàticla t)roiiÚrtciar b seu discurso.

Declarou que não havia feito a defesa de seu trahalho

netn ile seiís amigos, e a tnaioria, teimosa e renitente, susten-


tou sua opinião, e si a minoria não se retirasse do recinto,
, snssÃo KM 2í DE siítk.nIbuo de 1912 587

èèbtH, hçgió momento, uijl completamente inutilizado,,


iiomçtn
(íYííy <*fiylxait{/ lio ür, Fvntifjvu U^riiwf •
)
Querem a política de cáràngüeyos, que vae para Ueante
e páfà trás. {Protestos.)

E' iioiheiu de ijáorif/cios, tem a coragem de sustentar suas


opiniões, más nipgiiem o desmoraliza. Certamente! não é mais
relator dá €ònimissão de Justiça. Vem defender seu trabalho
dever comesinho de responder áquelles que o combateram,
pejo
más o faz
pela ultima vez.
Não.ycm adhesõfjs ,que, que seja o
jProvocaj" qualquer
voto.dií não será seu relator.
Çbihmissãb, mais
Defendia este, üròjecto .porque este é um caso ern que o
ríòverno Federal pode ser defendido,com segurança absoluta,
havenab-se mantido sempre nos strictos termos legaes.
Nó cíisb do ArriítzònSs o i'oi deposto hòr uma
gfiveríiadtír
força (pie se itistíbctí-diiiou, irias logo reposto. O Governo ctim-
priu o dever constitucional assim procedendo, e iiriuelles que
uéfendeltl ti èott acto senteirl-se u voptade em fázèl-Ó.
Aléiti iiíándoü
desse ingtãürár acto,
o jii-ocesso eonira
os milifartís. pi-tíceáso íiègulü áeús tramites, sferil nenhuma
Esáe
jíi'Otecç;lo aos áNiiisáuos. tanto qüé, pela fírinieira vez, na Re-
ptiblicà, liirí brmiill Bferdtíti a fBtdá ptíi* ter feito uma revolta !
Esta amliistià foi combatida cüíri velifeíhehcia, desabrida-
iilevitíí. Fiillarám sobre o vários oradores, sendo o
pitijècto
priirieirb b Sr. Iririéti MdfeKádo, ijUe ctíbritl de injurias o actúal
e o tix-advet^adot1 do Atimòrias, atácttrido a personalidade do
Sr. Pinheiro Machado.
O seu pobre eóllegá Á uni parlamentai1 consummado,
ol'hdor althilravel; iiâb lariçar íiião de recursos
qilb pi-feclsá
de suj>t»ril- a pobrbzá do argumentos pela violência dos epi-
thetos.
K velho ri áystteftid de atacar o deprimir o adversado, mas
a derrota ('• menos vergonhosa quando llíe fazemos justiça; o
se vericetlibs, o tHUtiipho sobe Üe válbr, ávültà-se na prbpdt1-
çtltt da yrandeza do
gigántíi que derrubámos.
S. Ex;. justificou o seu voto contrario á ámiii.stia, porque
ellá favoreci ii niilitárbs, e porqüfe essés horiieiis do Amazonas
estavam ao serviço do Sr. Pinheiro Machado.
E' iurid iiitdleráncja da opposição, adrirtitte o perdão
Párn tticlõ o iHUiidó, menos os amigos do Sr. Pinheiro
párá
Machado, e sl ella ássirii prpeede cá erh baixo, hão concedendo

pão tieiri água aos seiís adversários, iniilgino se estivesse no


o a ge-
poder, qiiò eihbHaga bs homens, tihmriO-lhes a brandurii
rieriifeidade! O ojipbsieionist.a convicto 11a de dizer: — Não, entre

Piiiheiro Machado e Iritieii Mdthádo ó oüt.rrt, que 6


libefiró
mais velho e talvez corte menos !>.
O Sr. Máüriciò de Lttcerdá, cortiò o Si'. Josinô de Araújo,
— aos ihili-
girát^m ifhiálmeiite eiti tbl'Ho deste pensatllento
tares não se dá amnistia.
1'erdoar os Vehcidbs ipte eòttfittitt ti<J nossit generosidade é
tf hhiuatío fe sujierihr, d'esde, Ohristo, (Muito bom.)
qiie
538 I ANNAES DA CAMARA

A monarchia não conseguiu pacificar este paiz; as revoltas


succediam-se.
Recuando um pouco mais, acceníua que a theoria de que
aos militares não se perdôa vem dos ministros de D. Manoel I.

A consequencia foi que rebentou no Brazil a conjuração


mineira, e emquanto se
commutavam varias penas, Tiradentes
foi trucidado. Mas esse militar, que representava uma idéa,
tornou-se immortal.
Essa perseguição, em vez de fazer o Exercito recuar, fel-o
resurgir glorificado.
Recorda as revoltas posteriores á Independencia, e o
homem que o nosso republicanismo venera como um santo,
sentado em um throno, inaugura entre nós o systema que
tanto horror está causando boje, da clemencia e do perdão.

Na revolta de 1835, no Rio Grande do Sul, notou-se que


quanto mais energico se tornava o governo, mais forte se
revelavam os combatentes.
Concedida a primeira amnistia em 14 de março de 44
nos revoltosos de S. Paulo e Minas, nunca mais, até 89, reben-
tou uma revolução nessas duas circumscripções do paiz.
Os revoltosos do Rio Grande, em 45, depõem as armas
deante da amnistia, e dez annos depois atravessavam os pan-
tanos e iam defender nossa bandeira no Paraguay.
Nunca mais, durante o Império, houve uma revolução no
Rio Grande. Nos seus últimos annos começou a vigorar a
theoria do pulso de ferro para o militar, e este se revoltou, e
o throno veiu abaixo.
Refere-se d revolução dfi 92, A revolta da Armada, que
se estendeu a uma vasta zona iío Brazil, e Prudente de Moraes,
assignando a amnistia, teve nos revoltosos da vespera os seus
mais energicos sustentaculos.
Foi o revoltoso de hontem o Sr. Alexandrino de Alencar,
que o Sr. Campos Salles foi buscar para o sustentar numa hora
em que sua autoridade periclitava, como succedeu quando pre-
cisou ir á Republica Argentina, receioso de que não desem-
barcasse na volta.
As amnistias são um meio de. pacificar os espíritos e con-
vencer os homens.
Nunca mais houve no Brazil uma revolta com a intensi-
dade da de 1893, e o Sr. Rodrigues Alves, contra o qual se
rebellou a Escola Militar, que sahiu á rua para o derrubar,
não trepidou em conceder amnistia áquelles que durante al-

gumas horas puzeram em risco sua própria vida, e o Sr. Lauro


Sodré, chefe desse movimento, sentiu-se diminuído, nunca
mais pensou em revoltas, e surgiu ha pouco, no Pará, como
um pacificador.
O Sr. Rodrigues Arves ficou sendo, mais do que nunca,

um político prestigiado como homem de seu tempo, corpori-


ficando as energias e as qualidades de seu povo.
Ha, é verdade, um fermento de anarchia no paiz, ma.? re-

duz-se a movimentos isolados; no Amazonas a primeira ordem


SESSÃO EM 24 D13 SETUMBllO 1>E 1912 589

do Governo no sentido de ser reposto o legal


presidente é
obedecida, o official revoltoso é preso, condemnado e perde
a farda; a armada, a que elle pertence, não se revolta.
A amuistia lia de ser sempre a sementeira do bem.
Combatendo o projecto, o illustre Deputado pelo Estado de
Minas fundamentou, entre outros, o requerimento em que
pede
sejam remettidos á Camara os autos dos a que res-
processos
pondem os implicados nos acontecimentos de Manáos e nesta
Capital, porque, entende S. Ex., a Camara não pôde conceder
annistia a culpados, de cujos crimes não tem conheci-
pleno
mento.
Nesse trecho do discurso terrível do nobre Deputado,
S. Ex. voltando-se,
perguntou-lhe si o orador lera esses autos;
respondendo-lhe que não e que não o orador en-
precisava;
tendia que os nobres Deputados eram chamados a perdoar o
não a julgar, e que lhes era mesmo necessário suppor
que havia
criminosos, porquanto, si se tratasse de innocentes, estes te-
riam sido absolvidos.

E' justamente porque se trata de criminosos o


que pro-
jecto tem razão de ser.
A amnistia, perdoando-os, faz esquecer-lhes os crimes,
como foram esquecidos os crimes de todos os revolucionários
do Império e da Republica.
A exigencia dos autos é, a demais, uma incoherencia do
nobre Deputado. pede, S.
certamente, Ex.
entrai' os
em
para
pleno conhecimento^ da causa, e, assim, essa
poder julgar;
exigencia, porém, não se justifica, Deputado
pois o nobre só
com pleno conhecimento de causa poderia declarar, como de-
clarou, votar o projecto. contra
Ou, se não tinha esse pleno
conhecimento, porque para isso lhe eram necessários os autos,
devia ser pela absolvição, que é, no caso, a amnistia, porque
in tluuio pro reo.

Não obstante, o Sr. Irineu Machado declarou votar contra)


o projecto e S. Ex. só o poderia ter feito conhe-
por ter pleno
cimento da causa. Não Ex. ler os
precisava, portanto, S.
autos.
Injuriando em seguida o do Amazonas, pelo
governador
accôrao celebrado, e, neste ponto, o orador responderá taro-
bem ao Sr. Josino do Araújo, seu brilhante collega, porque,
allegava S. Ex., esse accôrdo tirava a razão de ser do projecto
pela reconciliação dOs políticos, o nobre Deputado pelo Es-
tado de Minas lançou mão de um contraprodu-
argumento
cente.
De facto, si os políticos amazonenses, hontem em lula,;
nos episodios de Manáos, se reconciliaram, si as victimas nesse
lance estão satisfeitas e só o ex-commandante Costa Mendes
amarga as conseqüências de uma sentença inconstitucional,
por um crime, a que, aliás, foi arrastado, em virtude da má
interpretação foi forçado a dar a telegrammas lhe
que que
chegaram desencontrados, crime em agiu menos in-
quo por
stineto dij rebeldia do que por obediencia a um dever, pois
ANNAliS DA CA.MAU A

sujipunha estar cumprjndo ordeps, conformo o declara o pro-


Supremo Tribunal Militar voto de alguns de seus
prio pelo
Jüízes; de fa et o, si de um lado estão os implicados civis, tri-
umphantes em virtude daquelle aeçôrdo, e, de outro, como única
yiotima, a penar, Sr. Cósta Mendes, único que foi castigado,
q
Uíiico ijué
perde sua carreira, òmquanlo que seus correljgio-
nados civis
l)enei'iciám de uni accôrdò que não lhe approvèita;
de. fjicto, si essa é a situação, a conclusão é que a amiiistia
se impõe. (O Sr. fyucianà pereira: St o nobre Deputado provar
i/iie o $r. por ordem superior, também*
Çosta [Mendes qyiti
votarei pela àmnistiá.)

Respondendo a esse aparte, o orador lê um trecho do


voto do Sr. Teixeira Júnior, em que a allegação que fez está
claramente exposta, e diz que o commandante Gosta Mendes
não podia ser da
condensadofarda, á perda
essa
porquanto
pena'só pode ser coinminada ao militar que l'ôr sentenciado á
prisão por mais de dous annos. Não foi o caso.

O conselheiro lluy Barbosa deixou bem claro a


que pena
fôra demasiada e era inconstitucional. Essa allegação foi le-
vantada perante o Supremo Tribunal Militar, em embargos
que foram desprezados, sob o fundamento interessantíssimo
do que, uio cogitando p Codjgo Penal Militar do outra pena
para o crime em questão, aquella lorâ decretada !
Esta sentença contraria todos ps princípios de direito
criminal, porquanto, si não havia uma pena prevista 11a lei,
o que se impunha era a absolvição do rio. (Apartes.)
Aos apártes, que lembram que o remedio seria antes a
revisão do processo do que a amnistia, o orador responde que,
si não ha pena no üodigo para o crime, a revisão não pode ler
logar. (Continuam os apartes.)
Também se disso que os implicados não precisam da am-
nistia, que ó o
perdão, por ferem a seu favor a justiça.
fi argumento é bonito, mas é deshmnano, porque a atten-

del-o as \jctíniãs continuariam indefiriidanjrtitc" a soffrer,
pois o
processo penal militar em vigência o até o que é esta-
nelecldo 110 projécto do código de qiíe è relator o eminente
Deputado por S. Paulo, o Sr. Cândido Motta, dão lugar a uma
próç.rastinaçíío eterna pelo dispositivo que manda adiar o
julgamento, todas as vezes que faltarem testemunhas de de-
lesa ou do acciisaçlò.' (Apartes.)
Contra o projecto se allega que o perdão será dado a ma-
rinhéiròá Que yictimaram brutalmente seus officiaes; não de-
fehdo, nunca defenderá esse acto de revolta vergonhosa; mas
é pr.eciso dizer que projecto não abrange os implicados nesse
o
caso, porquanto., os qye toiparam parte nelle, foram immedia-

tamenle aniriistiados. (Troòam-se muitos apartes.)


"Quanto
ao caso do Amazonas, diz-se: Foram officiaes que
bombardearam uma cidade ! Não podem ser perdoados.
Bombardear uma cidade 1 E' grave. Mas os revoltosos de
1)3, amnistíados, bombardearam diversas cidades. (Trooam-sc
muitos apartes.)
SEriâÂo EM 2-1 Dli SETE.MDUO DE 1912 891

Osquo bontem concederam aquella amnistia esqueceram-


se de que ó fizeram, e hoje votam contra o projecto, porque...
a militares não se perdoa I
Não insiste em analysar essa colierencia.
A amnistia não o para os marinheiros, foi dito ainda; ó,
sim, para o Governo, que se quer forrar á responsabilidade dos
actos commettidos na ilha dos Cobras e a bordo do Satcllitc,
senão lambem na Bahia, em Pernambuco e alhures...
E' um caso de amnistia parlamentar.
O orador querememora
então, após o estado de sitio,
caloiro, tendo ingenuidade a de acreditar valeria a pena
que
revelar conhecimentos dé direito, Ypiando se discutiu a appro-
vação dos actos do Governo durante o interregno constitucional,
o orador rememora que nessa occasião, deputado da maioria
que apoia o Governo, secundado pelos seus distinetos collegas
Nicauor do Nascimento e Augusto de Lima, sustentava a
doutrina segundo
qual o Governo, a
depois de um estado de
sitio, é obrigado a dar contas de seus actos á Camara, de-
vendo esta examinat-os e mandar archivar os respectivos
papeis, salvo se entre taes actos algum houver dô base
que
para o começo de um processo de responsabilidade ella
que
deve iniciar. A approvação desses acíos é a absolvição do
Governo, foi o que o orador e os collegas a alludiu, sus-
qtie
tentaram.
O Sr. Trineu Machado o o Sr. Astolpho de Rezende sus-
tentaram opinião contraria; e, si o orador então teve razão para
admirar a habilidade de uma opposição assim,
que, pugnando
por uma doutrina contraria á quo sustentara, a
precipitava
absolvição do Governo, agora mais razão tem admirar a
para
àllegação feita pelo mesmo grupo opposicionista.

Não; o Governo quer não a amnistia si


para proprio, pois
a Camara, approvando-lhe os actos durante o estado de sitio,
já o amnistíou, e o amnistiou, amplamente, a tá uma
pois
emenda apresentada, exceptuando o episodio do Satellite, foi
rejeitada.
O único argumento
que poderia contra o pro-
prevalecer
jecto, argumento que, aliás, não foi adduzido, seria o proveito
que a opposição tiraria da prolongação do soffrimento do
João Cândido e dos seus companheiros, da procratinação
pois
do processo delles outro não tem sido responsabilizado senão
o Governo da Republica. (Apartes.)
Não é isso o que pôde estar no interesse da maioria, nem
na estricta pois já dissejustiça, dos impli-
que o julgamento
cados, dado o defeituosissimo processo penal militar e dada a
ausência das testemunhas, será adiado indefinidamente.
Foi dito que não lia perdão para militares; dirá o orador
que o código de processo penal militar, formulado não por
doutores em direito, mas eminentes generaes do Exercito
por
e da Armada, a acção criminal
prevendo o caso, prescreve que
para os militares se extingue pela morte do criminoso e pela
amnistia.
392 ANNAIiB DA CA&IAHA

Ha, portanto, uma lei decretando o perdão para os mi-


litares.
No caso da revolta dos marinheiros, o orador não os de-
fende; acha que '-'lies nos envergonharam perante o inundo
civilizado, com a sua rebeldia, porque o caso mais horrível
que pôde acontecer a um povo, é o soldado matando, voltando-
se contra seus proprios superiores !
Já elles soffreram, porém, sufíicientemeiite, e todos os
seus sentimentos de humanidade jugulam o seu germanismo,
porque também é admirador da Allemanha, estuda allemão ha
cinco annos, tem uma bibliotheca allemã, gosta immensa-
mente do allemão menos
no que elle possa tirar-lhe aquillo
que é a honra e a
gloria de sua raça.
Não pode adduzir mais considerações porque o tempo ex-
pirou.
No parlamento de sua terra faz a ultima invocação: en-
vergonhae-vos, representantes do povo, de perseguir, de tor-
turar, de encarcerar os vossos adversários. Não vos envergo-
nheis, porém, nunca desta virtude tradicional da nossa raça —
de perdoar os ignorantes, transviados, de abraçar os adver-
sarios de hontem, que se rendem hoje, de ter esta virtude
suprema — a benignidade.
Sêde dementes, sêde bondosos, membros do parlamento
valente da terra brazileira !

(Muito bem; muito bem. O orador é vivamente cumpri-


mentado pelos seus collcuas.)

(Em meio do discurso do Sr. Carlos Maximüiano, o Sr. Sa-


bino Itarroso Júnior, Presidente, deixa a cadeira da presidem-
cia que é occupada pelo S;r. Soares ri.os Santos, Ia Vice-Pre-
sidente.)

Comparecem ainda os Srs. Pereira Teixeira e Metello


Júnior (2) .

0 Sr. Presidente — Esgotada a hora da primeira parte,


íica adiada a discussão do art. 1" do projecto n. 123 A, de 1912.,

Passa-se á

SEGUNDA PARTE DA 011 DEM DO DIA

(A's 4 HORAS da tahde ou antes)

Continuação da 3» discussão do projecto n. 01 B, de 1012,


fixando a despoza do Ministério <la Agricultura, Industria o
Commercio para o exercício do 1913.

0 Sr. Presidente — Acham-se sobre a mesa diversas emen-


das que vão ser lidas.
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 593

Em seguida, são successivamente lidas, apoiadas e onvia-

das á Commissão as seguintes

EMENDAS

Ao projecto n. 61 B, dc 1012

(3" discussão)

Na rubrica 3" reduza-se a verba destinada a despezas ex-

traordinarias eventuaes» a 10:000$, papel.

19 de 1912. — Victor de
Sala das sessões, setembro de
Britto.

Na rubrica 1* reduza-se a verba destinada ao serviço «de


Registro Genealogico de animaes e Registro e Archivo Geral
en-
do Marcas, pessoal e acquisição dc baias e mais objectos,
cadernações e impressões» a 10:000$000, papel.

Sala 'das sessões, 19 de setembro 1912. — Victor dc


de
Britto.

Reduza-se a verba destinada á Inspectoria da Pesca a


200:000$, papel.

Sala das sessões, 19 de setembro de 1912.— Victar de


Britto.

Na rubrica 3", reduza-3e a verba destinada ao Serviço de


Immjgração a 100:000$, papel e 50:000$, ouro.

Na mesma rubrica 3" reduza-se verba destinada ao « Ser-


a
viço de Colonisação» a 500:000$, papel.

Sala das sessões, 19 do -setembro de 1912.— Victor dc

Britto.

da verba 15* a quantia de 60:000$. para au-


Destaque-se
xilioás três escolas praticas de electricidade e do
primeiras
mecanica se fundarem pelos mordes norte-americanos,
que
sendo 20:000$ a cada uma. t.

de 191' — Christiano
Sala das sessões, 20 de setembro
Brazil.
Vol. 38
594 ANNAES DA CAMARA

16 — Material:
Verba

Accrescente-se no fim, depois das palavras «despezas


miúdas e imprevistas» inclusive 0:000$ para gratificações ao
director do serviço durante o exercício.

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912.— Nabuco de


Gouvâa.

A' rubrica 15a:

Destaque-se a quantia de 20:000$ para auxilio ao eâtabe-


lecimento de avicultura de Campo Grande, do Dr. Reynaldo
Joaquim de Carvalho.

Sala das sessões, 21 de setembro de 1912.—José Bonifácio.

A' verba 19a — Material:

Deduzam-se 100:000$ para as despezas com as fazendas


nacionaes do Piauhy, que serão transformadas em uma fazenda
modelo, uma estação zootechnica regional e uma escola perma-
nento de lacticinios.

Sala das sessões, setembro de 1912.— Joaquim Pires.

Verba 18° — Material :

Da consignação. <450:0Ou$ deduzam-se 05:000$ para occor-


rer ás despezas com as obras do installação e custeio do Centro
Agrícola «David Caldas», no Estado do Piauhy, comprehen-
dendo os vencimentos do
pessoal effectivo de accôrdò com o
decreto que creou o mesmo centro.

Sala das sessões, setembro de 1912.— Joaquim, Piras.

O Presidente da Republica fica autorizado a rescindir o

oontracto de arrendamento das fazendas nacionaes do Piauhy

e a transferir as mesmas para a jurisdicção do Ministério da

Agricultura.

Sala das sessões, setembro de 1912.— Joaquim Pires.

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Raul Cardoso.

— Sr.
O Cardoso
Sr. (movimento de attenção)
Raul Pre-

sidente, essencial
é a um povo livre, conquista in-
principio
discutível da democracia, o voto do orçamento pela Nação.

E' essa a funeção do parlamento e elle a devo


primordial
exercer com toda a elevação o critério, não se deixando arras-
tar pela paixão partidaria.
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 595

0 orçamento, Sr. Presidente, é incontestavelmente o es-


pelho em que se reflecte, de modo nítido e preciso, o estado
econornico e financeiro de um e ao mesmo tempo evi-
paiz,
dencia a boa ou iná política.
Realmente, o orçamento constitue, 110 dizer de notável íi-
nancista, a synthose dos recursos, da da opulencia
grandeza,
e da civilização de um povo.
E foi por isso, Sr. Presidente,
que o illustre Ministro da
sFazenda terminando as considerações que procederam a expo-
sição da receita e despeza publicas, asseverou:

«A decretação da lei orçamentaria contendo equi-


librio estável entre a despeza fixada e a receitaprevista
é o serviço de maior relevancia que o Congresso Na-
cionalpôde prestar á Republica Brazileira neste mo-
mento.»

E o integro Marechal Presidente da Republica em sua


mensagem affirma:

«E' imprescindível mais na decretação


prudência
das despezas publicas, especialmente evitando-se que
sejam agravadas com as de caracter o
permamente
sem nenhuma influencia no desenvolvimento da ordem
economica.»

Vê-se, portanto, Sr. Presidente,


que é pensamento do Go-
verno o equilíbrio orçamentário, indispensável ao nosso cre-
dito o imprescindível para evitar o imperdoável comprometti-
mento das gerações futuras. Não temos o direito de legar di-
vidas aos nossos filhos.
®Jas», &'• Presidente, para equilibrar o
- i- orçamento não nos
e licito tomar de uma tesoura ou de um lápis e zás, cortar
aqui, riscar alli, sem attender ao se
que córta e ao crue so
risca, sem o menor critério emfim.
Não, é necessário, ó indispensável,
olvidar que o não
apparelho administrativo do Estado não
pôde ser feacrifi—
cado em
qualquer dos seus orgãos, devendo-se prover o
custeio de serviços essenciaes a seu regular íunccionamento.
O nosso primeiro trabalho deveria, portanto, ser o do
mais minucioso e desapaixonado exame
de cada uma das mui-
tiplas verbas solicitadas vários
pelos departamentos em que
se divide a suprema administração do paiz e, conhecidos os
serviços a que elhis se destinam, ver qual a importancia mi-
nnna com que poderiam ser mantidos, sem prejuízo dos fins
colhmados.
Este estudo, Sr. Presidente, foi commettido, de accôrdo
com o nosso Regimento, ;i Commissão de Finanças composta,
como Iodos o reconhecem, .dos mais illustres e competentes re-
presentanf.es da Naçao nesta Casa. (Apoiados.)
depois de reflectida analyse dos factos,
i ^Pmmiss.a<?'
depois de demorado estudo das múltiplas questões suscitadas
e emendas apresentadas, depois de, no exercício de seu mau-
dato, haver coníerenciado com o Governo e com a Commissão
de Finanças da outi'a Casa do Congresso, e tendo em vista
S96 ANNAES I)A GAMARA

como nós outros, não onerar o povo que representamos com


novas imposições ou novos compromissos, sem comtudo esque-
cer de prover serviços indispensáveis, o que seria mal maior,
apresentou o projecto de lei fixando a despeza, uma parte do

qual é objecto da presente discussão.

O Sr. Calogeras — Acceito tudo quanto V. Ex. está di-


zendo, mas 6 a própria Gommissão que diz que vae propor
eórtes. Já vê que o trabalho que ella confeccionou não ro-
pioaonfu o (|Uü si nituacííit nelttnl <lo pai/ OXiRfi.

O Sr. Mautim Francisco — O aparte do nobre Deputado


inhibe.a discussão sobro qualquer assumpto depois de emit-
tida uma opinião.

O Sr. Raul Cardoso — Não me consta a Coinmissão


que
pretenda propôr córtes, e se o fizer, dará naturalmente as
razões de seu procedimento.

Mas, Sr. Presidente, passaram sem discussão ou com pe-


quenos e insignificantes reparos as disposições da lei refe-
rente aos Departamentos da Guerra, Marinha, Interior e Ex-
terior, e, toda a grita, todos os protestos, todos os córtes, todo
o rigor e toda a economia, se reservaram para o mais impor-
tanto e menos dispendioso delles — o da Agricultura Indus-
tria e Commerciol {Apoiados.)

Mais importante sim, Sr. Presidente,pois entende com


o desenvolvimento oconoinico do paiz, cuja riqueza assenta,
como ninguém o negará, na agricultura e industrias extra-
ctivas.
Menos dispendioso porque, dos 518.500:000$ da despeza
papel proposta, tocam apenas ao .Ministério da Agricultura
í!'i. 000 :(>()()«, cabendo-lhe somente 700;000$ dos 1 5.500; OOOíJ?
ila tlespezn ouro I
Yeririea-se, pois, que na despeza publica o Ministério da
Agricultura, cujos serviços são quasi Iodos de caracter repro-
duri ivo, concorre apenas com a ridícula quota de mais
pouco
de 5

O Sr. Maktim Francisco — Isto é irrespondível.

O Sn. Raui. Cardoso — Em taes condições não vejo por que


tanta grita, tanto rumor, em derredor do orçamento do Minis-
lerin da Agricultura.
No omtanto examinemos uni por uni dos ataques ás verbas
destinadas a este Ministério.
Antes, porém, de o fazer, cu me permitto levantar uma
questão, qual seja:

Em lei annua destinada a fixar a Despeza c orçar a


Receita, podem ser apresentadas emendas supprimindo
serviços ereados por leis ordinarias ?

E' principio comesinho de direito que os actos só podem


ser desfeitos pela mesma iórma por que foram feitas. Assim,
os serviços ereados por lei especial ou ordinaria só lei or-
por
EM SETEMBRO DE 1912 597
SESSÃO 24 DE

extinctos. Para revogar uma lei é necessária


dinaria podem ser
outra lei. .
assim que a oarnara votou
E é necessariamente, por pensar
do Regimento terminantemente dispõe:
o art. 190 que

«§ 1.°
permittido apresentar aos projectos de
Não é
leis amiuas emendas com caracter de proposições prin-
dos projectos de lei.
cipaes, que devem seguir os tramites
cream ou cx-
São consideradas taes as emendas que
tinguem serviços e repartições publicas.»

1'reslüente, u» omondus
Si assim (5, Sr. estão projuUlo&daa
apresentadas pelo meu nobre amigo e illustre representante do
do Sul, cujo nome peço venia para declinar, o br.
Rio Grande
Yictor de Britto.

Victor de Britto — E isso não foram acceitas


O Sr. por
pela Mesa.

Cardoso — Mas é, Sr. Presidente, que o Sr. Vi-


O Sr. Raul
dor de Britto substituiu as suas emendas por outras que redu-
impossível
zem as verbas propostas de tal fôrma, que tornam
realização dos serviços a que ellas se destinam, importando,
a
assim, na sua extineção.

— V. Ex. o seguinte: de facto as


O Sr. Calooeras pondere
leis devem ser modificadas pelo mesmo processo por que foram
creadas, mas emendas aqui foram apresentadas, e sou insuspeito

dizer não apresentei nenhuma, que visam extin-


para porque
guir serviços que foram creados por lei orçamentaria.

Raul Cardoso — O Regimento veda, no artigo cuja


O Sr.
leitura acabo de fazer, a apresentação de emendas creando ou

extinguindo serviços.
Mas examinemos as emendas apresentadas.
Gomecomos, Sr. Prusldealo, pela referente ao povoamento
do solo.
Todos nós sabemos que a producção da riqueza depende
de tres elementos conjugados:—natureza, trabalho e capital.
Vejamos si o nosso paiz possue esses tres elementos' ne-
cessarios producção da riqueza.
á
Fatiando ao Parlamento Brazileiro, seria injuria descrever
a prodigiosa natureza com que á Providencia aprouve dotar
a nossa estremecida Patria.
Nenhum dos Srs. Deputados deixou por certo de experi-
montar prazer de ler
o o interessante o
bellissimo livro que em
1Í)00 publicou Affonso Celso sob o titulo «.Porque me ufano do
meti paiz».
Nelle, Sr. Presidente, esse nosso notável compatriota, com
o brilhantismo do seu talento, descreveu uma por uma as gran-
dezas do Brazil, tal qual cada um de nós sente no intimo de
nossa alma, ao contemplar suas florestas, seus rios, suas mon-
tanhas, a uberdade incomparavel do seu sólo, produzindo fio-
res e fruetos de todos paizesos !
E a tudo isto accresce a sua grandeza territorial. Todos sa-
598 ANNAES DA C AM ARA

bem que o Brazil é, depois dos Estados Unidos da America do


Norte, o mais vasto territorio do Novo Mundo e dos mais vastos
de todo o globo. E' quasi do tamanho da Europa, quatorze ve-
zes maior que a França e cerca de tresentas vezes maior que
a Bélgica.

Si o Brazil, observa Affonso Celso, igualasse a densidade


da população belga, teria uma população quasi igual a que era
calculada em 1900, para todo o mundo, e si attingisse a de Por-
tugal ascenderia a quatrocentos milhões. No emtanto, temos
°|<>
apenas vinte e cinco milhões, ou pouco mais de 6 daquiUo*

que comporta o nosso territorio.


Tudo isto tem o Brazil, mas, exclamava Olavo Bilac, em
uma das suas bellissimas conferências, de que serve tudo isso,
toda a nossa riqueza, si ellas jazem escondidas, quasi todas, no
seio escuro da terra; existem, mas é como si não existissem,
ninguém as aproveita, ninguém as desenvolve, nem as vae ar-
rançar dos veios reconditos em que dormem !

E accrescenta: «ó verdade que se anima o littoral, e vibra


e rebrilha e tumultúa, á luz e á agitação da civilização e do
trabalho. Mas, quasi toda a extensão do interior ó ainda um
deserto e um mysterio:— selvas de virgindade bruta; sertões
de secular braveza; rios immensos cujas aguas rolam familiares
sómente as íéras e ignorados da navegação; montes, planuras,
clareiras, matagaes de uberdade espantosa; mas tão despovoa-
das, tão tristes, tão mortos, como as solidões sinistras do Thibet
ou dos pólos».
E' de facto contristador, Sr. Presidente, lançar um olhar
pela nossa cai.',a geographica e verificar a existencia de uma
grande parte do territorio nacional com a designação de ter-
renos desconhecidos.
Ahi estão os sertões da Noroeste, do valle do Paranapane-
ma e do Feio, os de Matto Grosso, Goyaz, Amazonas e Pará.
Mas, não nos devemos deter nem desanimar com o ver que
o muito que temos feito 6 quasi nada deante do temos a
que
fazer.
E o que nos falta ?
A resposta 6 fácil: povoar, povoar. (Apoiados.)
Convencido, Sr. Presidente, pela experiencia de outros
pai-
zes dentre os quaes os Estados Unidos e a Argentina, e, para
nao salnrmos de nossas fronteiras, deante do brilhante exeni-
de S. Paulo, de
pio que o progresso o o enriquecimento das na-
ções novas dependem essencialmente da immigração e coloni-
zação, o Governo da União baixou o decreto n. 0. 155, de 19 do
abril de 1907, dispondo sobro a creação de núcleos coloniaes,
reatandoassim sua acção benéfica sobre a immigração e colo-
nização, interrompida no período que vae de 1890 á 1907.

O Su. ViGTon ou Britto — Ella se faz mesmo sem verba.

O Sr. Raul Cardoso — Não ha tal, como vou demonstrar


ao meu illustre collega, pedindo a sua preciosa attenção e pa-
ciência. E' preciso que se diga que não foi o actual titular da
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 599

pasta da Agricultura que instituiu no Brazil a immigração e o


povoamento do sólo.

O Sr. Victor de Britto — Apoiado. Vem de muito longe.

O Sr. Raul Cardoso—A immigração começou a ser seria-


mente encarada o efficazmente praticada no Estado de São
Paulo em por iniciativa
1887, do então Ministro da Agricul-
tura, conselheiro Antonio Prado, coadjuvado pela Sociedade
Promotora de Immigração, presidida pelo illustre republicano
Dr. Martinho Prado Júnior, do saudosa memória. E, si o Es-
tado do S. Paulo é o que é, deve-o quasi que exclusivamente
à immigração que promoveu, com admiravel previdência, evi-
tando o desastre fatal decorrente da lei da emancipação dos
escravos !

O Sr. Vigtor de Britto.—Não se deve exclusivamente á im-


migração, devemol-o também a nós brazileiros, que incontes-
tavelmente temos sido um factor do desenvolvimento do paiz.
Temos feito também alguma cousa.

O Sr. Galogeras —Qual é não é descen-


o brazileiro que
dente do colono ?

O Sr. Martim Francisco — Peço licença â V. Ex. (diri-


gindo-se ao orador), esclarecer espe-
para um ponto. Deve-se
cialmente a solução desse problema á Assembléa Provincial
dte S. Paulo de 188G, quando partidos se achavam equilibra-
os
dos e a assembléa deu voto franco ao presidente conservador
para proceder quanto á immigração como entendesse conve-
niente.

O Sr. Raul Cardoso me re- — O decreto


que ha pouco a
feri, Sr. Presidente, sabias e salutares enfeixa
re- disposições
lativamente á fundação de núcleos coloniaes pela União, pelos
Estados e por particulares e sobre a immigração o ooloni-
zação, cercando-se os immigrantes de todas as
garantias de que
ellos carecem.

Assim, os immigrantes são recebidos, hospedados e loca-


lizadlos por conta da União, que. além disso, lhes vende, a

preços reduzidos e a credito, lotes de terras jã preparados


para receber a cultura e com casa de moradia.
Quem negará que esse decreto foi inspirado nos mais sãos

princípios da scieücia economica? Nelle não -se cogita da im-


migração em globo, por cabeça, como em tempos se fazia.

O art. 92 do decreto que analysamos é claro:

«O Governo
Federal a introducção de
promoverá
immigrantes que, sendo agricultores e acompanhados
de familia desejarem fixar-se no paiz, como proprieta-
rios territoriaes, em lotes do núcleos coloniaes ou de
terras outras satisfaçam as exigências deste de-
que
ereto.»

Assim o Governo interessa desde logo o im-


procedendo
migrante na grandeza e desenvolvimento do paiz.
600 • ANNAliS I)A GAMARA

Esse systema de colonização, Sr. Presidente, é o mais


sábio possível e resolve até um dos grandes problemas sociaes,
qual o da democracia rural.

O Sn. Calogeras — V. Ex. faz muito bem em declarar


que o problema veio difficultado pelo primeiro legislador da
Republica. Foi melhorado em parte por esse decreto.

O Sn. Raul Cardoso — Mas, Sr. Presidente, não bastavam


os favores concedidos para que a immigração se fizesse á me-
dida das nossas necessidades.
Dalii, dispAr o mesmo decreto, mais tarde reformado pelo
de n. 981, de 3 de novembro de 1911, pelo actual titular dta
pasta da Agricultura, a introducção de immigrantes pagando
a União as passagens, «emquanto se não tornar sufficiente-
mente abundante o crescente a entrada de immigrantes no
paiz.»
O Governo autorizará companhias de navegação a
transportarem immigrantes, mediante condições previstas no
alludidlo decreto, e prestará a esses immigrantes os mesmos
favores que aos demais, vindos por conta própria.
Vê, portanto, o nobre Deputado pelo Rio Grande do Sul,
que não se trata propriamente de immigração subsidiada.
O Governo recebe, aqui ou a bordo de navios vara isso au-
torizados, aquelles estrangeiros que quizerem coliaborar com-
nosco no engradecimento db
paiz, garantindo-lhes collocação
e ampla liberdade de trabalho e de pensamento. E um dos
Estados que mais teem lucrado com a immigração è o Rio
Grande do Sul.

O Sn. Calogeras — E cada immigrante representa um



capital.

O Sn. Raul Cardoso — Já representa um capital, e os be-


neficos resultados não se teem feito esperar.
O illustre Ministro da Agricultura assevera em seu rela-
torio, no Capitulo V, sobre o povoamento do sólo:

«Os resultados, que de anno para anno se verificam,


mediante dados, estatísticas e outros elementos de
demonstração, exprimem a fiel observancia dos precei-
tos que regem a matéria, por parte de tão importante
departamento do ministério e deixam em evidencia
que o Brazil offerece em suas condições climatericas,
na riqueza de seu sólo e na sua organização interna, as
mais seguras
garantias para a attracção dos bons tra-
balhadores estrangeiros que queiram localizar-se em
seu lerritorio.
Em quasi todos os núcleos observa-se sensível de-
«envolvimento, cuja causa determinante não reside ex-
clusivamente nas condições naturaes que estimulam a
iniciativa e a operosidade dos colonos, sendo também
na selecção que se vae fazendo delles, mediante a pre-
ferencia dos mais aptos a vida agrícola e de
para
melhores condições moraes.
A hospedagem dispensada nas hospedarias e nos
núcleos aos immigrantes recem-chegados, as facili-
SESSÃO EJU 24 DE SETEMBRO DE 1912 601

são proporcionadas,
lhe na fórraa da lei cm
dades que
vigor, até
que obtenham os productos das primeiras
influem beneficamente no' animo delles, in-
colheitas,
duzindo-os a ministrar as melhores informações e a
compatriotas e parentes seus a virem parti-
convidar
das vantagens lhes concede o paiz. Dahi, em
Jtiar que
as levas de bons immjgrantes que nos
grande parte,
chegam, em geral dotados de profissão, trazendo eco-
e distinguindo-se por lia-
nomias, por vezes avultadas,
bitos de moderação e capacidade de trabalho que
por
muito os recommendam.»

Victor de Britto — Não lia ninguém que não saiba


O Sn.
disso.

Raul Cardoso — Não ha não saiba disso!


O Sr. quem
se Supprima a verba relativa a ímmi-
E V. Ex. propõe que
gração...

Victor de Britto — Verba do ex-


O Rh. para passagens
terior. O resto não, absolutamente.

Raul Cardoso — Perdão, relativamente á immigra-


O Sr.
impossível na actualidade sem o das passa-
ção, pagamento
gens.

O Sr. Victor de Britto Estabeleci uma questão de prin-
cipio. V. Ex. pôde fallar um século e não me convencerá por-
que estou firme em meus principio®.

— Mesmo nessa
O Sr. Raul Cardoso questão de princípios,
eu pediria a V. Ex., que me dissesse em quaes se baseia para
negar que um paiz como o nosso não precisa de immigração.

O Sr. Victor de Britto — Não declarei de


que não precisa
immigração. Protesto. Sou pela immigração expontânea,

O Sr. Raul Cardoso — Essa não basta.

O Sr. Victor de Britto — Si não basta Eu 6 que


paguem.
não concordo.

O Sr. Raul Cardoso — Como se vô do quadro


Attenda-me.
immigratorio Ministro
do movimento publicado no relatorio do
da Agricultura, as entradas de immigrantes em 1910 excede-
ram as de 1909 em 6.465 immigrantes, e as de 1911, excede-
ram as de 1910 em 30.000 !

Esse excesso verificado é devido a ter o Governo autori-


zado a vinda de novos immigrantes, com por elle pa"
passagens
f/as.

Esses immigrantes, satisfeitos com os bons tratos recebi-


dos no Brazil, sua collocação em núcleos corno proprietários,
mandam chamar os sua
seus vez arrastam
parentes, que por
outros, augmentando
assim a corrente immigratoria. E é pre-
ciso não olvidar recursos precisos
que nem todos dispõem dos
para se transportarem para aqui, dahi a necessidade du se lhes
pagar a passagem.
602 ANNABS DA CAMARA

O Sr. Victor de Britto — Si fôr augmentar a


preciso
verba, augmentem, mas eu me reservo o direito de não con-
cordar.

O Sr. Raul Cardoso — Desejava que o meu illustrado col-


lega dissesse o motivo por que não concorda.

O Sr. Vigtor de Britto — Já declarei aqui.

O Sr. Raul Cardoso — V. Ex. se com o naciona-


preoccupa
lismo.

O Sr. Yictor de Britto — Declarei não sou nativista.


que

O Sr. Raul Cardoso — Estou me convencendo que V. Ex.


pertence á escola liberal ou individualista que, em seu opti-
mismo, attribue tudo ao indivíduo, á cuja iniciativa tudo en-
fcrega, dizendo como os francezes: laisscz faire ou ne pas trop
gouvernér, ou então como os italianos: il mondo va da se.
Mas, não é isso que nos ensina a experiencia. Temos os
exemplos dos Estados Unidos da America do Norte e da Ar-
gentina, e, para não sahirmos de nossas fronteiras, o de São
Paulo.

O Sr. Yictor de Britto — E' uma doutrina. Já a Australia


não quer saber de immigrantes sinão em condições exce-
pcionaes. E a Nova Zelandia.

O Sr. Raul Cardoso — De aqui a 50 annos nós também


não precisaremos mais.
Actualmente, porém, ó indispensável fomentar por todos
os modos a immigração; não digo eu, cuja desautorizada pa-
lavra (não apoiados), em nada influiria 110 animo dos nobres
Deputados, que me ouvem, dizem-no os mais competentes na
matéria.

A illustrada Commissão de Finanças assim se exprime:

«O numero de immigrantes europeus, agricultores


em grande maioria, que procuram o Brazil, cresce do
anno para anno. Deter a corrente immigratoria seria
erro imperdoável; nenhum problema, entre nós, sobro-
leva ao do do sólo em importancia e ur-
povoamento
gencia; e seguramente ninguém pensa em fazer baixar,
por mal entendida economia, a cifra, progressivamente
crescente, do capital humano que vem valorizar as ri-
quezas desaproveitadas do paiz. Em 1910 entraram
88.564 immigrantes, só no primeiro semestre de 1911
esse algarismo já tinha sido ultrapassado, vendo-se o
Poder Executivo,
necessidade de na autorização
pedir
para, por meio dc operação de credito, attender á in-
sufficieneia da verba.
Mais vale fixar com exacção as despezas inevitáveis
como esta, o economizar onde a economia seja possível
e util, do que armar orçamento.? equilibrados... no pa-
pel e de antemão arrombados pelo fundo falso dos cre-
ditos ou dos empréstimos.».
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 603

E o segundo Congresso Nacional de Agricultura, composto


de competentes na matéria, reunido aqui no Rio de Janeiro, em
1908, declarou, em uma de suas conclusões :

«A colonização é o grande segredo do progresso das


dos nossos
jovens nações. Nunca será demais o esforço _
Governos, para attrahir o estrangeiro ao yiosso paiz, para
comnosco collaborar, já como simples trabalhador, já
como rural, industrial, etc.; mas é preciso
proprietário
faz mis-
não que, para attrahil-o o fixal-o entre nós, se
tér uma previdente e prudente politica economica, sem
surprezas constantes, sem sobresaltos e arbítrio, que ga-
ranta ao immigrante condições de subsistência e conforto

pelo menos um pouco melhores do que as que o obriga-


rarn a abandonar a patria nativa.».

Outra conclusão:

«O Congresso Nacional de Agricultura aconselha a


fundação de núcleos, para nacionaes e estrangeiros,
po-
voando-se o sólo e promovendo o desenvolvimento da
lavoura.».

Como, pois, negar a utilidade e necessidade do desenvolver,


a immigração e colonização ?

O Sr. VictoR de Britto — Também concordo. A questão


é do processo.

O Sr. Raul Cardoso —


Pelo que venho de expôr creio fi-
cou evidenciado que não
podia ser outro o processo a adoptai-
para immigração e colonização.
Todos os dias, Sr. Presidente, dentro como fóra desta Casa,
na tribuna e na imprensa, tecem-seos cnthusiasticos
mais
elogios a S. Paulo, que é incontestavelmente um dos primeiros,
sinao o primeiro Estado da União.

O Sr. Victor de Britto — V. Ex., diz uma verdade.


O Sr. Raul Cardoso — S. Paulo, cidade
em 1886, era uma
pequena com uma população de 50 ou 00 mil habitantes, sem
belleza e sem conforto.
Promoveu-se a immigração, e 10 a sua
_ annos depois popu-
laíjíio triplicava o com ella as habitações, os bairros.
as ruas,
Aovos costumes se implantavam; despertava a iniciativa parti-
cular ao impulso das novas idéas o immigrante e
trazidas com
mstallavam-se fabricas de tecidos, de de calçadas, etc.
chapéos,
No interioras mattas cabiam para serem substituídas por
plantações rendosas. Novas cidades se fundaram. As estradas
de ferro estendiam suas linhas.
E hoje, que é S. Paulo ? O Estado, uma Nação, e a sua
capital rival das mais Com h00
bellas cidades européas. mil
habitantes, bellos jardins, lindíssimos,
bellas avenidas, bairros
hei Ias vi vendas,
optima illuminação, abundancia de agua, todos
os meios de
transporte, bons theatros, Escolas de Direito, En-
genharia, Pharmacia, Conservatório Musical, Artes e Officios
604 AN NA láS DA CAMA1U

e bons collegios do humanidade0. Magníficos templos e selecta


sociedade. S. Paulo, é tido como a capital artística. E' a sala
de visitas do Brazil, na phrase de Olavo Bilac.
E a que se deve tudo isso ?
A' sua riqueza, que não seria a que é, não fosse a immi-
gração.
E' que S. Paulo não poupou esforços, não mediu sacrifi-
cios, para povoar o seu solo, tendo gasto até o anno de 1895,
a fabulosa somma de 50 mil contos com o serviço de immigra-
Cão e colonização !
Em 1896, na
presidência do Dr. Bernardino de Campos, en-
traram, á expensas do Estado, 108.000 immigrantes.
E de alli para cá não se tem descurado do serviço de im-
migração e colonização, com o qual dispende o Estado, annual-
monte 4 a 5 mil contos.

O Sn. Victor de Britto — Exactamente o eu <;


que quero
que os Estados gastem.

O Sr. Raul Cardoso — Mas nem todos estão nas condições


de gastar.

O Sr. Antonio Moniz — Principalmente os do Norte.

O Sr. Calogeras — E de na em
gastar proporção que prc-
cisam.

O Sr. Martim Francisco —Ninguém sem ter.


gasta

O Sr. Raul Cardoso — Nem todos estão nas condições de


gastar na proporção de suas necessidades, diz muito bem o no-
bre Deputado por Minas.

Como se vê do relatorio apresentado pelo illustre Dr.


Padua Salles, quando secretario d'a Agricultura do Estado de
S. Paulo, a immigração subsidiada provoca e desenvolve a
expontanea, tanto assim que se verificou que em 1911 o n,u-
mero dos immigrantes expontâneos entrados no Estado foi
de ''i3.532 contra 24.222 entrados em 1910 e o dos subsidiados
foi de 21.458 contra 12.517 em 1910.

Ao accrescimo, da immigração subsidiada corres-


pois,
pondeu igual accrescimo da expontanea. Esta é uma con-
sequencia daquella.

O Sr.
Calogeras — Tncontestavehnente a immigração
subsidiada provoca a expontanea, porque os que aqui chegam,
sentindo-se em meio conveniente, chamam os parentes.'
(Apoiados.)

O Sr. Raul Cardoso — Vou lôr aos nobre collegas o mo-


vimento da immigração expontanea e subsidiada no Estado
de S. Paulo, no ultimo decennio. {Lê.)
O Sr. Victor de Britto — Não nego. O que acho é que já
se pôde ir dispensando esse subsidio.

O Sr. Martim Francisco — Expontâneo não quer dizer


gratuito.
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 605

Raul bem o meu


Cardoso nobre col-
— Diz muito
O Sn.
lega de nãoquer dizer gratuito, e sim,
bancada:—expontâneo
sem solicitarão, de viotu livremente.
proprio,
immigração é feita hoje processos muito ciiver-
A por
sos do que os de antigamente. Outr'ora fazia-se uma especie

de trafico do brancos. Iam esses exploradores dizer que o

Ürazil uni El-dorado, onde havia a arvore das patacas.


era
Eis a razão se desmoralizou a immigração, chegando
porque
a Italia a prohibil-a.

O Sr. Victor dk Britto — A subsidiada.

Raul Cardoso — A subsidiada, não; essa immigração


O Sr.
por atacado.

Osorio — Essa está condeinnada.


O Sr.

Raul Cardoso — Actualmente o Governo não faz


O Sr.
mais do ir de encontro ao desejo do immigrante, auxi-
que
liando-o no transporte e collocação e liber-
garantindo-lhe
dade dc trabalhar.

O Sn. Osorio — O da é apenas um


pagamento passagem
auxilio.

Raul Cardoso — Examinemos agora o outro topico


O Sr.
do discurso do nobre Deputado Rio Grande, Sr. Yictor
pelo
de Britto, relativamente á colonização.
Entende S. Ex. que ó inconstitucional a acção da União
fundando núcleos coloniaes nos Estados, e cita em abono do
sua opinião o art. 04 da Constituição, defere aos Estados
qu«
a propriedade das terras devolütas.
Esqueceu-se o nobre Deputado, certamente, da disposição
do art. 35 da Constituição Federal que reza:

Ǥ 2." Animar, n,o paiz, o desenvolvimento das


letras, artes o sciencias, bem como a immigração. a
agricultura, a industria e o commercio, sem privilégios
que tolham as acções dos governos locaes.»

Nem a União podia alienar de si a obrigação contida nesta


disposição, principalmente em relação Estados
aos que não
dispõem dos recursos ter-
precisos para o povoamento de seu
ritorio.
Os núcleos teein sido fundados em terrenos cedidos pelos
Estados, dentre os quaes o adeantadissimo Estado do Rio
Grande do Sul, que o nobre Deputado tão dignamente repre-
senta.

O Sr. Yictor de Britto — Muito agradecido.

O Sr. Raul Cardoso —¦ Sr. Presidente, existem fundados


37 núcleos coloniaes, sendo 17 conta da União, 7 com o
por
auxilio pecuniário da União, Estados, 6 por fundados pelos
conta de Estados e Emprezas de Viação Férrea, sem auxilio
pecuniário da União, mas recebendo immigrantes por ella
introduzidos, e 7, todos em S. Paulo, sem compromisso algum
da União
606 ÀNNAES DA CAMARA

A população desses núcleos que em 1910 attingia a 33.765


ascendeu em 1911 a 50 e tantos mil. A producção
pessoas
obtida esses colonos correspondente ao anno de 1910
por
attinge á importante somma de 5.539:471$085. Essa pro-
ducção subiu em 1911 a 7.652:935$800, não comprehendidos
os de origem industrial que não íoram contem-
productos
piados na estatística organizada peLa Directoria do Serviço de
Povoamento.
O Governo tinha a haver em 31 de dezembro de 1910, de

parte destes colonios, cujas condições economicas são pros-


peras, como se deprende da exposição que acaba de fazer, a
importancia de 1.921:722$603, sendo 1.556 :126$897, por
compra de lotes e casas e 365:5958706 por auxílios pres-
tados.
O valor desses núcleos e suas bemfeitorias, tomando por
base a renda, é no ininimo de 30 mil contos.
Deante disto pergunto: está ou não está o tCrritorio en-
riquecido? São ou não úteis e reproductivas as despezas feitas
pela União com a immigração e colonização? Só negará quem
estiver cego pela paixão partidaria ou pessoal.
Nesses núcleos, Sr. Presidente, funccionavam em 1910
39 escolas publicas com a matricula de 2.532 alumnos, fi-
llios de colonos, sendo a freqüência média de 2.106 e ha-
Vendo ainda 35 escolas particulares custeadas pelos colonos.;

O Sr. Victor de Bruto — Não ha duvida; é realmente


admiravel.

O Sn. Raul Cardoso — Então, por que reduzir em vez de


augmentar essa verba destinada a tão profícuo, tão extraordi-
nario e tão justo serviço?

O Sn. Vígtor de Britto — reducção da des-


Quando pedi
peza para a colonização, era para que ella fosse commettida
aos Estados. Os Estados que façam o mesmo que o Rio Grande
tom feito.

O Sn. Rmjíj Cardoso — O Rio Grande do Sul tem três


núcleos coloriiaes, Guarany, Ijuhy e Erechin,que recebem au-
xilio pecuniário da União, bem como immigrantes por ella en-
yiados.
Passemos agora ao estudo de outros pontos que ,fazem
objecto da discussão.
Não contente com o povoamento do sólo, Sr. Presidente,
pelo modo por que acabei de demonstrar, o illustre titular da
pasta da Agricultura, compenetrado como se acha, com o seu
largo descortinio, de que era necessário nos apparelhar para
a luta
mundial que ha do ser travada no terreno economico
o tem
financeiro, procurado tirar o lavrador, o criador e o
industrial, da ignorancia em que jaziam.
Dahi, a creação das escolas theorico-praticas em quasi
todos os Estados da União, e aqui, na Capital da Republica,
segundo affirmou ha dias o nobre Deputado Piauhy, Sr.
pelo
Joaquim Pires, e consta da mensagem do illustre Sr. Presi-
dente da Republica, está a inaugurar-se a Escola Superior de
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 607

Agricultura e Veterinaria, dotada dos mais importantes la-

boratorios e moldada no de melhor existe nos paizes


que
cultos. «

Não bastava, porém, habilitar os agricultores ao manejo


• nem
dos instrumentos quo todos os i!!:< aperfeiçoam, aos

criadores ao conhecimento do methodo mais moderno para


o aperfeiçoamento das raças, era também defender
preciso
e animaes contra a invasão de diversas moléstias,
plantações
e isso se creou a secção de Defesa Agrícola e Veteri-
para
liaria.
Estabeleceram-se ainda, Sr. Presidente, campos de ex-
fazendas modelos, eatações zootechnicas, escolas
periencia,
praticas ambulantes e postos de selecção, não só' para difundir
os conhecimentos quanto ao melhor metliodo de lavrar a terra
e defender a cultura, como ainda quanto á pecuaria o do cru-
zamento das raças e escolha dos typos que mais convenham
ao nosso clima e nossos trabalhos quotidianos.
E como nem todospudessem freqüentar as escolas, o
actual Ministro da Agricultura deu largo desenvolvimento á

publicação e distribuição gratuita de folhetos, revistas e mo-


nographias, em que são tratados de modo claro e completo os
assuinptos que mais interessam a agricultura e a pecuaria.
Por esta fôrma, Sr. Presidente, me parece, fica resolvido
o grande problema economico de produzir o melhor com o
menor esforço.
O
Governo, assim procedendo -se me affigura bem orien-
tado, pois, como disse o inesquecível Quintino Bocayuya, em
<?ma de suas mensagens quando Presidente do Estado do Rio
de Janeiro:

«Vulgarizar a instrucção agrícola em todas as es-


plieras, subtrahir o cultivo da terra ao circulo acanhado
da rotina, abrir-lhe novos horizontes,
para qiie se collo-
que ao nivel do que se tem alcançado nas nações mais
adeantadas que nos devem servir de exemplo, eis a ta-
refa patriótica e fecunda a que todos nos devemos pro-
pôr, Governo e particulares, si queremos modificar a si-
tuação economica, fundando em alicerces solidos a
grandeza de nossa Patria.».

E tanto assim é que de toda a parte chegam applausos á


acção fecunda do Ministério da Agricultura. Ha dias foi lido
nesta Casa um telegramma congratulatorio do governador do
Rio Grande do Sul, agora é o illustro Presidente do Estado do
Rio de Janeiro, Botelho,
Dr. Oliveira
quem em sua mensagem
enaltece os serviços
prestados pelo Ministério da Agricultura
e assevera quo a «Escola de Agricultura do Pinheiro», desti-
nada á educação profissional não só dos agricultores própria-
mente, mas ao estudo da zootcchnia, veterinaria o industrias
ruraes «está admiravel o rigorosamente organizada», dispondo
de gabinetes e laboratórios para a instrucção ^cientifica, instai-
laçõe.s para exercícios de trabalhos práticos, campos de de-
monstração, etc.;
60« ANNAE8 DA GAMARA1

Veeni, portanto, os meus illustres collegas que aqui se teem


opposto ás verbas destinadas ao Ministério da Agricultura
que.
de parte surgem os applausos
toda a de pessoas competentes o
insuspeitas á acção fecunda daquelle ministério.

O Sr. Victor de Britto — Neste não toquei.


ponto

O Sn. Raul Caiidoso — as despezas com


Quem ponderar que
o Ministério da Agricultura não correspondem a %, do total
6
da despeza publica e que, Sr. Presidente, só o Estado de São
Paulo, gasta annualmente nos' serviços que venlio de estudar
mais de 12 mil contos, tem que concluir commigo que a votação
de 24 mil contos para todos os serviços do Ministério da Agri-
cultura, da Nação, é uma ninharia, uma ridicularia.

O Sn. Luciano Pereira — Muito bem.

O Sr. Maktím Francisco — Muito bem; é irrespondível.

O Sr. Raul Cardoso — Vejamos, agora, Si1. Presidente,


outro serviço cuja suppressão se pretende:—o da pesca.
A industria da pesca não pôde prescindir do dos concurso

poderes públicos para o seu desenvolvimento e íunccionamento


regular.
Os systemas
barbaros de pesca ideados pelos selvagens e
adoplados pelos civilizados teem produzido estrago inacredita-
vel, determinando a emigração de muitos especies de peixe,
(dotados como os demais animaes do instincto do conservação),
deixando empobrecidas ou em absoluta falta para a pesca as re-

giões abandonadas.

O illustre brasileiro José Verissiino, na sua importante


monographia pesca naA Amazônia, calcula em 22 bilhões de
kilos o consumo de peixe naquella região <> assevera já haver
tanta falta, em comparação com a abundancia do outr'ora,

que faz entrever a necessidade de urgentes e efficazes me-


didas prohibitivas.
Basta lembrar, aliás, que a nossa importação attinge an-
nualmente a 2.470 toneladas <1« peixe em conserva o 122 mil
Itarricas de bacalháo...

O Sn. Luciano Pereira — 17 mil contos só de bacalháol

O Sn. Raul Cardoso — ...e considerar uma temos


que
costa de mais do 1.200 léguas, além de grandes rios, com

infinita variedade de peixes, nos convencermos da


uma para
dos serviços attinentes á pesca, inaugurados pelo
utilidade
Ministério da Agricultura.
breve verificará o paiz os beneficos resultados quo
Em
de advir de tão acertadas medidas dos poderes pu-
lhe hão
' °E'
uma despeza reproduetiva o de alto alcance pratico.
S. Paulo, na cidade de Santos, existe uma compa-
Em
de pesca,
"vantagens
nhia cujas acções de 200$ hoje estão a 600$, devido
como pôde attestaf o illustre leader
ás produzidas,
da bancada paulista, que me ouve.
da maioria
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 600

O Sr. Victoh de Britto — Razão o Governo não


para que
intervenha.

O Sr. Raul Cardoso — Não lia tal. O Governo intervém,


para regular as condições em que a pesca deve ser feita, en-
sinando os processos a adoptar, as épocas apropriadas nas dif—
ferente regiões, e para incrementar a industria da salga e
da conserva do peixe, etc.

O Sr. Victor de Britto — V. Ex. deve propor a creação


da Inspectoria da Carne Secca, nós a importamos das
porque
Republicas do Sul.

O Sr. Haul Cardoso — O Governo cuida, não da carne


secca, mas dos matadouros modelos e entrepostos frigori-
1'icos.

O Sr. Victor de Britto — De modo entramos em


que
concurrencia com os particulares.

O Sr. Raul Cardoso — Não, apenas os


absolutamente;
auxiliamos.

o Sr. Cai.oíjeras — A carne a desap-


secca está destinada
parecer.

O Sr. Victor de Britto — Eu tenlio o direito de pensar


como' entender.

O Sr. Raul Cardoso — Y. Ex. no drieito de


está peii-
sar como entender, mas é injusto, deixando de admirar a
acção do Governo, que se está fazendo sentir de um modo
beneíico, no terreno economico.

O Sr. Victor de Britto — Por ser contrario á erieação


da Inspectoria de Pesca, V. Ex. não pôde affirmar que sou
contrario á acção do Governo.

O Sr. Raul Cardoso — Mas, Sr. Presidente, quem qui-


zor se inteirar de modo completo sobre a utilidade e vanta-
gens do novo serviço creado pelo illustre Ministro da Agricul-
tura, leia o bello livro de nosso compatriota Frederico Vil-
lar — A Penca no Brazil.

São de S. S. estas palavras:

«Póde-se lá conceber que o bacalháo, o ntum, o


salmão, a sardinha, e toda essa porção de conservas
que nos importamos, possam concorrer com o nosso

peixe á porta dos nossos mercados, si nós soubermos


ensinar os nossos pescadores a pescar, conservar e ex-

portar ou enviar para o nosso interior a infinidade do


especies de peixes da nossa costa, dos nossos rios o
lagos?!

Não! E' impossível! O xarqno


platino pôde. eonsti-
tuir a alimentação do nosso matuto si nós lhe enviar-
mos o peixe secco de nossas praias? E' impossível!
Vol. 39
610 ANNAES DA CAMAllA

Estaque claro
uma jangada, que sahe o mar
para
e do traz
cem mil réis
lá de peixe para os seus quatro
pescadores, é a não
mesma cousa que um barco mo-
derno que sahe á tarde e volta pela madrugada com
20 toneladas de peixe frasco em seus viveiros, Jora o
que conserva pelo sal e
pelo gelo, por outros processos.
Atulhar é
o termo, atulhar os mercados de todas as
cidades, mesmo os quo distam 24 horas de caminho de
ferro, com peixe„fresco. Atulhar os depositos das fa-
bricas de conservas com milhares de toneladas de
peixe é ter alimentação barata, trabalho o
para pobre
e remuneração para o pescador.»

Mas deixemos tranquilla a pesca.

Q Sr. Calogeras — Nosso desejo é que cila fique tranquilla


por muito tempo.

O Sr. IIauXj Cardoso — V. Ex. nesse injusto.


ponto é V. Ex.
que tem com tanta elevação discutido os mais relevantes as-
sumptos (apoiados) está, neste momento, se deixando impres-
sionar... (Risos.)

O Sr. Martim Francisco — caro.


Quer peixe (Risos.)
O Sr. Raul Cardoso — Tenho agora, Sr. Presidente, de
responder ainda que de leve ao illustre representante de .Mi-
nas, cujo nome declino com a devida venia, Sr. Josino de
Araújo.

O Sr. Victor de Britto — Ah! Graças a Deus. V. Ex. me


deixa agora. Até aqui quem veiu apanhando fui eu, vamos
agora ao Sr. Josino. (Risos.)

O Sr. Raul Cardoso — O nosso illustre collega queixa-se


de que a despeza do Ministério d'a Agricultura não está coin
as suasverbas bem especificadas. Mas S. Ex. naturalmente es-
queceu-se de que aquelle ministério enviou com a
proposta, ta-
bellas explicativas em que estão discriminados
perfeitamente
os serviços a que ®e destinam —
pessoal o material.
Entre ellas vou examinar uma das
que maior ataque sof-
Ireram, a relativa ao Jardim Botânico.
Natnreza da desrpeza , , . .',or Panel Dunn
sub-consignasa.o
congignagOes >K'1 uuro

VERBA 5"

JARDIM BOTÂNICO

(Dscrsto n. 9.216, de 18 de dezembro do 1911)

PESSOAL

Pessoal tochnico e administrativo :

Ord. Grat.

1 Director • 6:0008000 6:0008000


1 Chefe de secção de botanica 8:0008000 4:0008000 12:0008000
I Chefe de secção do pbysiologia vege-
tal e ensaio de sementes 8:0008000 4:0008000 12:0008000
1 Chefe do laboratorio de chimica 8: 0008000 4:000,$000 12:0008000
1 Ajudante de secção de botanica 6:4008000 3:2005000 9:6008000
1 Ajudante da secção de 9:6008000
physiologia. 6:4008000 3:2008000
1 Ajudante do laboratorio de chimica. 6:4008000 3:2008000 9:6008000
1 Secreta rio-bibliothecario 6:4008000 3:2008000 9:6008000
1 Escripturario 3:6008000 1:8008000 5:4008000
1 Preparador-desenhista 3:6008000 1:800,8000 5:4008000
1 Preparador de chimica 3:6008000 \: 800,8000 5:4008000
1 Naturalista da secção de
(auxiliar
botanica) 4:8008000 2:4008000 7:2008000
Naturalistas viajantes 4:800,8000 2:4008000 21:6008000
1 Conservador do herbário o museu.. 2:4008000 1:2008000 3:6008000
1 Conservador do laboratorio de chi-
mico 2:4008009 1:2008000 3:6008000
1 Jardineiro-chefe 3:2008000 1:6008000 4:8008000
1 Porteiro 2:0008000 1:0008000 3:0008000
1 Feitor 1:6008000 8008000 2:4008000
1 Continuo 1:6008000 8008000 2:4008000
l Conservador do placas (salario men-
sal de 1808000) — 2:1608000
1 2:1608000
Pedreiro (salario mensal do 1808) —
1 Carpinteiro ( salario mensal de
1808000) — 2:4608000
Serventes mensal 1508) — 7:2008000
( salario de
10 Guardas mensal do 1508) — 18:0008000
(salario
20 Jardineiros (salario mensal de 150$) — 36:0008000
1:8008000
1 Carroceiro (salario mensal de 1508) —
20 trabalhadores ( salario mensal de
1208000) — 28:8008000
20 Aprendizes jardineiros (salario men-
sal do 308000) — 7:2008000 250:6808000

MATERIAL

Custeio c conservação dos laboratórios, herbários e museu, compre-


hondida a
que fòr necessário
acquisição ao do
funccionamento
dessas dopondencias 15:0008000
Acquisição o conservação de instrumentos, ferramentas, utensílios e
outros materiaes para o jardim; embalagem das plantas, ferra'
gons o ferragens para os animaes, illuminação e despozas miu-
das e imprevistas 20:0008000
Objectos de expediente,
publicações scientificas, editaes, encaderna
ções o acquisições do livros, folhetos, revistas e jornaes para a
bibliotheca 10:0008000
Consumo de agua 3:2408000
Trrnsporte do
pessoal e material, comprehendendo as dos
passagens
naturalistas viajantes e o frete de suas bagagens 8:0008000
Diarias do
pessoal tcchnico c administrativo, do accôrdo com o regu
lamento, e 2:0008 para fardamento dos guardas 8:0008000

Conservação de oiificios e obras de arte 50:0008000 114:2408000 364:9208000

Total da verba. 364:9208000

Annaes da Camara Vol. X — Pag. 610. —


SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 611

O Sn. — Essa ao folheto o


Calooeras (referindo-se que
orador tem cm mãos) 6 a tabeliã explicativa, não 6 a proposta,
são cousas diíferetitcs.

O Sn. Mautim Francisco — Essa não pode servir nem de


objecto do interpretação ?

O Sr. Raul Cardoso — As tabellas explicativas que acoin-

panham proposta do orçamento são parto integrante desta. O


a
proprio nome o indica: tabellas explicativas.
Parece-me, Sr. Presidente, que essa questão que os nobres
Deputados estão fazendo ó uma questão de lana caprina, por
que o que precisamos saber, afinal de contas, é onde e de quo
modo vão ser applicadas as verbas, que devem por isso ser
especificadas o mais detalhadamente possível.

O Sr. Josino de Araújo — Devem ser especificadas miu-


dainente.

O Sn. Raul Cardoso — Como ao Jardim


está a referente
Botânico. E as demais estão devidamente especificadas nas ta-
bellas explicativas que acompanharam a proposta do orçamento
para o exercício de 1913 e, por isso, a illustrada Commissão de.
Finanças assignou o parecer íavoravel á despem proposta, e á
esse parecer nada tenho que accrescentar, eu que' na matéria
sou neophito. (Aãò apoiados.)
Sr. Presidente, si neste momento occupo a tribuna e tão
somente para me desobrigar do compromisso de demonstrar
que os actos do Ministério da Agricultura são sempre resulta-
dos do mais escrupuloso exame dos lactos e do maior desejo
de bem servir a causapublica. Não fora isso, não ousaria fallar
deante de tantos competentes...

O Sn. Vic-ron de Britto — V. Ex. está fallandó brilhante-


mente.

O Sn. Martim Francisco — Apezar de interrompido em todos


os seus raciocínios, está produzindo um exeellente discurso.

O Sr. Raul Cardoso — ... por que eu confesso que sou


apenas um modesto advogado, quasi um rábula, porque o fui
mesmo no começo de minha vida publica.

O Sn. Victor de Britto — V. Ex. foi brilhante causídico


hoje provecto advogado.

O Sn. — Absolutamente
Raul Cardoso não tenho preteri-
a financista,
por que só pôde ser bom financista quem for
pões
bom economista; eu não tenho competência nessa matéria,
por
isso comecei a ('firmando que me louvava no
parecer da Commis-
são de Finanças, composta dos mais iljustres representantes da
Nação nesta Casa, e conhecidos financistas.

Os
córtes o foram sem o menor critério, arbi-
propostos,
trariamente.
Era de desejar-se os nobres Deputados
que que propuze-
ram córtes demonstrassem cabalmente a procedência delles.
ANNAES DA GAMARA

Assim, vcrbi flratia, deveriam evidenciar que o serviço /l

o qual o Governo 20 contos poderia ser leito com 10.


para pedia
Mas não é isso o que se tem leito aqui, e sim, tão só e

unicamente, supprima-se aqui, córle-se alli, sem at.tender á

bôa ou má execução do serviço.

O Sn. Ozorio — Os cadetes de Gasconha nem combinai'am


uma acção conjuncta.

O Sn. Raul Cardoso — Não conheço os cadetes de Gas-

gonha.

O Sn. Ozorio Os collegas que combateram esse orçamento,
nem ao menos combinaram uma acção conjuncta.

O Sr. Raul Cardoso — O nobre Deputado, Josino de Araújo,


concorda com a especificação demonstrada.

O Sr. Josino de Araújo — Perdão, não é com toda; V. Ex.,


escolheu a verba mais especificada, mostrando com isso que
é um habilissimo advogado.

O Sr. Raul Cardoso — Não por mais tempo cangar


quero
;í attenção da Camara, (não apoiados), e por isso vou concluir

o meu modesto discurso.


Por todas as razões que acabo de expor, sem brilho, é ver-
dade, (não apoiados), mas, de Ioda a procedencia, julgo inteira-
mente, desarrazoadas as .emendas propostas.
Creio, as verbas distribuídas ao Ministério da Agtri-
que
cultura, não podem soffrer cortes, tão exiguas ellas são, e si
cortes comportassem, deveriam ser criteriosamente dados, e

sobretudo, depois de feitos nos outros departamentos, especial-


mente 110 da Guerra, cuja despeza attinge a 81 mil contos.
Positivamente, Sr. Presidente, a excepção de dous ou tres
oradores que se occuparam do assumpto, os demais teein parti-
pris, contra o Ministério da Agricultura.

O Sr. Victor de Brito — V. Ex. não se refere á minha

pessoa.
O Sr. Raul Cardoso — Absolutamente, não.

O Sn. ViirroR de Hritto — Agradeço a V. Ex.

O Sn. Raul Cardoso — Devo declarar, deixo de res-


que
feitos contra a 1I0 Ministério despeza
ponder, u outros ataques
da Agricultura, por desconhecel-os, visto não ter estado pre-
sente, ao-serem elles feitos, nem terem os mesmos sido publi-
cados na integra.
Admirei-me, Sr. Presidente, do proceder de alguns il-

lustres membros da maioria, porque eu, ainda que julgasse


menos especificada ou apparentemente exaggerada uma ou outra
verba das
propostas para qualquer dos departamentos gover-
namentaes, não a sua diminuição, nem pediria i>s-
proporia
clareeimentos, porque entendo que, o Presidente da Republica,
e seus auxiliares, conhecendo como conhecem os serviços em
todos os seus detalhes, estão mais nos casos de determinar o
'liiantum a despender com elles, do que eu, tanto que a lei lhes
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO UJS 1912 t>13

commetteu a obrigação de fazer a proposta em qu© devemos

calcar as nossas deliberações.


Sendo assim, e, confiando eu, como devem confiar Iodos os

da maioria, na orientação, patriotismo o probidade


membros
a que damos o nosso franco e enthusiastico apoio,
ilo Governo
não podia negar-lhe para a effectividade
o elemento essencial
do seu progranima,
e proficuidade de sua aeção, 110 desempenho
que (5 o do Partido a que pertenço—os recursos.
De facto, Sr. Presidente, negar ao Governo os recursos so-
licitados, ou dal-os insufficientes, é o meio mais seguro de en-
torpecer sua acção ou tornal-a infecunda. E' o supremo recurso

das opposições.

O Sr. Galeão Carvalhal — Essas mesmo teem obrigação

de dar meios ao Governo.

Raul Cardoso —O melhor serviço, os amigos do


O Srt. que
Governo lhe é não regatear meios para a reali-
podem prestar
zação dos fins a preencher.
Assim Sr. Presidente,
creio que cumpro o
procedendo,
meu dever e o faço tanto mais quanto desas-
gostosamente,
sombrado, como paulista, felizmente sou, tenho
porque, que
sempre o exemplo de S. Paulo, cuja riqueza se deve
presente
principalmente ao desenvolvimento da agricultura.
Incrementar a agricultura, a industria e o coinmercio, é

de facto, Sr. Presidente, engrandecer o paiz. E' enriquccel-o,


bem.
6. fazer obra bôa, profícua e patriótica. (Muito bem; muito
O orador é abraçado e cumprimentado por todos os Deputados
presentes.).

(Em meio do discurso do Sr. Raul Cardoso, o Sr. Soares dos


•Santos, Io Vice-Presidente, deipa a cadeira da é
presúlencia, que
occupada succcssivamente pelos Srs. Juvenal Lamartine, 3°
Secretario, e Raul Veiga, 2" Secretario.)

0 Sr. Presidente — Continúa a discussão do n. 01


projecto
B, de 1912.
Tem a palavra o Sr. Josino de Araújo.

O Sr. Josino de Araújo — Sr. Presidente, como faltam ape-

nas 10 minutos terminar a hora o no caso de occupar a


para
tribuna não me será dada
permissão do fallar pela terceira
a
vez, roqueiro a V. Ex. que, de acoôrdo com os iprecedentes,
hora, conser-
adie a discussão para amanhã, pelo adeantado da
vando-me a palavra.

O Sr. Presidente — Attendendo ao pedido do nobre Depu-


de 1912.
tado, fica adiada a discussão projecto 11. fil B,
do
Vou levantar a sessão, designando para amanhã a seguinte

ORDEM 1)0 DIA

PRIMEIRA PARTE, ATÉ A'S h HORAS DA TARDE OU ANTES

Continuação da 2* discussão do n. 123 A, de 1912,


projecto
do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas do
014 ANNAKS DA CAMAÍU

Batalhão Naval e navios da esquadra, em' dezembro de 1910, o


aos civis e militares envolvidos nos acontecimentos de Mandos,
em outubro do mesmo anno; com parecer favoravel da Commis-
são de Constituição e Justiça;

2a discussão do projecto n. 305, de 1912, concedendo á viu-


va, omquanto íôr, de Quintino Bocayuva o auxilio de 800$ meu-
saes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos Edgard,
Oswaldo, Waldomar, Rosa, Ada e Cora, e também o do 300$ ú
Sra. 1>. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua viuvez,

quantia que, por sua morte ou casamento, reverterá aos seus


filhos Sarah, José, Léo e Izabèl;

3a discussão do projecto n. 301, de 1912, autorizando o


Presidente da Republica a concorrer com a quantia de 100:000$,
como auxilio, para se erigir um monumento nesta Capital, em
honra á memória da ex-imperatriz do Brezil; com voto em se-
parado do Sr. Kídro Moacyr e parecer da Commissão de Fi-
nanças;

3" discussão doprojecto n. 184 B, de 1912, redàcção para


3* disciissão da emenda approvada e destacada do projecto
n. 382, de 1911, mandando equiparar os vericimentos do çon-
servador restauradór pinacotheca da Escola
da Nacional de Bel-
Ias Artes aos do secretario da mesma espola;

3" discussão do projecto n. 298, de 1912, autorizando a


abertura do credito extraordinário .de 7:200$ para oceorrer ao
pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de sen-
tença judiciaria;

1* discussão do projecto n. 275 A, de 1912 tornando ex-


íensiva aos juizes federaes de 1" iiistancia e seus substitutos a
disposição do art. 3o, n. IR, da lei n. 2.356, de 31 de dezembro
de 1910, relativa d cobrança em estampilhas dítscustas jwdi-
ciaes; com parecer favoravel da Commissão de Constituição e
Justiça;

2a discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo


ipara o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos
tenentes, os inferiores que tenham ítlilis de treá annos de
praçrt e serviços profissiorideâ, e datado olitras providenciai;
com parecer e emenda da Commissão de Marinha e Guerra;

2" discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a


hora legal; com parecer da Commissão do Constituição e Jus-

Bf.nuNnA lUriTu As i iipius da tarou ou antas

Continuação da 3a discussão do projecto n. 01 ti, de 1912


fixando a dospe.za do Ministério Ufl Agricultura, Industria e
Commercio para o exercício de 1913 ;

Discussão única do projecto n. 30í, de 1912, autorizando


a concedei' à Joaquim de MàcGclo Costa uni aiino tíb Itôtença,

tiça.
SESSÃO EM 24 DE SETEMBRO DE 1912 615

favoravel da Com-
com todos os vencimentos ; com parecer
e voto em separado e emenda dos Srs. Ri-
missão de Finanças
beiro Junqueira e outros ;

70 A, de 1912, mandando isen-


2" discussão do projecto n.
inclusive dos de expediente, a intro-
lar de todos os direitos,
e ove.lhurn destinado
duceão pelas fronteiras de gado vaccum
outras com substitutivo da
á criação, e dando providencias ;
l1 mancas ;
Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de

do projecto n. 213, de 1912, creando o logar


3*
discussão
Marinl" ,
de do Museu
zelador Naval, annexo á. Bibliotheça de
e, garantias idênticas aos dos mestre
com os vencimentos
da Commissüo (le
Arsenal de 'Marinha ; com parecer favoravel

Finanças projecto ri. 300, de 1911);


(vide
do n. 279, de 1912, autorizando
3a
discussão projecto
Ministério do Interior, o credito extraordinaro
íi abrir pelo
viagem contendo
de 4:200$, ouro, para pagamento do prêmio de
ao Dr. Carlos Leorti Werilêck ;
1911; mandando con-
3" projecto n.
discussão 325, de
do
siderar effeitos por actos de bravura praticados
todos os
para
15 de novembro
ha campanha de Canudos, com antigüidade de
do 1" tenente do Exercito Francisco das
de 1897 á promoção
da Commissão
Chagas tinto Monteiro a este. posto ; bom parecer
de Finanças ;
do Senado, au-
3a discussão do projecto n. 210 A, de 1912,
da Justiça e Negocios In te-
torizando a abrir, pelo Ministério
riores o fcredito de, 8:940$, stipplementar & verba da consigna-
da lei n. 2.544, de 4
cão —' Pesáoal — da rubrica 6" do art. 2o
favoravel da Commissão de
àe janeiro de 1912 ; com parecer
Finanças ;

do n. 203, de 1912, autorizando a


3» discussão projecto
do credito de 150:000$, ouro, por conta do especial
abertura
despezas com a representação do Brazu
do 8.000:000$, para
Terceira Exposição Internacional da Borracha :
na

3* discussão do n. 320 A, de 1911, considerando


projecto
utilidade a Asosciáção Commercial da Bahia ; com
de publica
favoravel da Commissão de Constituição e Justiça ;
parecer
do n. 303, de 1912, autorizando
Discussão única projecto
Souza desenhista aa
a concessão de licença a Mario de Carvalho,
do Brazil com emenda da LoinmKsao
Estrada de Ferro Central ;
de Finanças ;
facultando a Dona
2" discussão do n. 373, de 1912,
projecto
o re
Claudia Vergara de Oliveira, viuva do coronel,
^rnrln^ fiilha
formado do Exercito Ileliodoro Joaquim de Oliveira, o.sua
ao ait. t aa
Franciísca de Oliveira fazerem as contribuições
decreto ri. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2" discussão do n. 30G, de 1912, do Senado, auto-


projecto
Dias da Cunh^ cessionário
rizando a mandar pagar a Ladisláo
de 189:8,>0$282, por
de, Ladisláo Cunha & Comp,, a quantia
61t> ANNAES DA C,AMARA

obras contractada.s •• xecutadas nos da Força Policial


quartel?
do Districto Federal : com parecer favorável da Commissão do
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3* discussão do projecto n. :t77, de 1911, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 5:393$548, para paga-
mento de vencimentos, que competem ao lente em disponibili-
dade da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
Veiga Filho ;

2" discussão
do projecto n. 311, de 1912, autorizando a
abertura do credito supplementar de 200:000$, á verba 15"
do art. 93, da lei orçamentaria vigente, para attender a despezas
<k> art. 93 da lei orçamentaria vigente, para attender a despe-
zas com o cadastro dos proprios naciona.es;

Discussão única do parecer da Commissão de Finanças


sobre a emenda offerecida na 2" discussão do projecto n. 161,
de 1912, estabelecendo um novo quadro de amanuenses do
Exercito (vide projecto n. 161 A, de 1912);

i" discussão do projecto n. 9 A, de 1912, reformando o La-


boratorio de Analyses da Alfandega do Ilio de Janeiro, crêa
laboratórios nas alfandegas de diversos Estados., dando outras
providencias e fixa os números, classes e vencimentos, de accôr-
do com as tabellas que estabelece: com emendas da Commissão
de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finanças ;

2" discussão do proje.cto n. 48 B, de 1912, tornando exten-


sivas á Academia de Commercio de Pernambuco as disposiçõesi
da lei n. 1.339, de 9 janeiro de
de 1905, á semelhança do que
tem sido concedido a academias ; com parecer favoravel
outras
da Comissão de Instrucção Publica (vide projecto n. 48 A,
de 1912).

Levanta-se a sessão ás 5 horas e 55 minutos da tarde.

ACTA, EM 25 DE SETEMBRO DE 1912

PRESIDENCIA OO SEI. SABINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE

A' 1 hora da tarde, procede-se ã chamada, a que. respon-


dem os Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Rau!
Veiga, Mavignier, Monteiro de Souza, Costa Rodrigues, Cunha
Machado, Moreira da Rocha, Agapito dos Santos, Eloy de Souza,
Lourenço de Sã, Manoel Borba, Erasmo de Macedo, Alfredo de
Carvalho, Barras Lins, Moreira Guimarães, Freire de Carva-
lho Filho, Antonio Muniz, Souza Britto, Jacques Ourique, Fi-

gueiredo Rocha, Dionysio Cerqueira. Pereira Braga, Porto So-


SESSÃO EM 25 DE SETEMBRO DE 1912 017

brinho, Josi- Tolantino, Mauricio de Lacerda, Sebastião Masca-


renhas. Prado Lopes, vianna do Oastello, Antonio Carlos, José
Bonifácio, Irineu Machado, João Luiz de Campos, Álvaro Bote-
lho, Lamounier Godofredo, Carneiro de Rezende, Jayino Gomes,
Nogueira, Epaminondas Ottoni, Manoel Fulgencio, Galeão Car-
calhai, Alberto Sarmento, Rodrigues Alves Filho, Arnolpho Aze-
vedo, Marcello Silva. Olegario Pinto, Caetano de Albuquerque,
Homero Baptista, Victor de Britto, Osorio e Domingos Masca-
renhas (52).
Deixam de comparecer com eausa participada os Srs. Ar-
tinir .Moreira. Simeão Leal, Juvenal Lamartine, Antônio No-
gueira, Aurélio Amorim, Lueiano Pereira, Serzedello Corrêa,
Rogério de Miranda, João Chaves, Antonio Bastos, Firmo B.raga,
Theotonio de Brito, Hosaimali de Oliveira, Dunshee de Abran-
ches, Christino Cruz, Agripino Azevedo. Coelho Netto, Joaquim
Pires, João Gayoso, Felix Pacheco, Raymundo Artbur, Eduardo
Saboya, Thomaz Cavalcanti, Frederico Borges, Flores da Cunha,
João Lopes, Virgílio Brigido, Gentil Falcão, Augusto Monteiro.
Augusto Leopoldo, Camillo de Hollanda, Felizardo Le.ite, Se-
raphico da Nobrega, Maximiano de Figueiredo, Balthazar Po-
reira, Simões Barbosa, Meira de Vasconcellos, Arthur Orlando,
Fredurico Lundgreen, Costa Ribeiro, José Bezerra, Netto Cam-
pello, Augusto do Amaral, Aristarcho Lopes, Borges da Fon-
seca, Cunha Vasconcellos, Rego Medeiros, Natalicio Camboim,
Rocha Cavalcante, Eusebio do Andrade, Baptista Accioly, Dias
de Barros, Joviniano de Carvalho, Felisbello Freire, Miguel
Calmon, Mario Hermes, Muniz de Carvalho, Pedro Lago, Octa-
ivio M'angabeira, übaldino de Assis, Felinto Sampaio, Alfredo
Jluy, Pereira Teixeira, Campos França, Ari indo Leone, Carlos
Leitão, Raul Alves, Deraldo Dias, Rodrigues Lima, Pedro Ma-
rianni, Moniz Sodré, Leão Velloso, Raphaei Pinheiro, Paulo do
Mello, Torquato Moreira, Júlio Leite, Metello Júnior, Nicanor
do Nascimento, Pedro de Carvalho, Rodrigues Salles Filho,
Thomaz Delphino, Florianno de Britto, Pennafort Caldas, Fréea
da Cruz, Manoel Reis, Souza e Silva, Erico Coelho, Pereira
Nunes, Elysio de Araújo, Silva Castro, Francisco Portella, Fa-
ria Souto, Mario de Paula. Raul Fernandes, Alves Costa, Tei-
xeira Brandão, Augusto de Lima, Francisco Veiga, Silveira
Brum, Ribeiro Junqueira, Astolpho Dutra, Carlos Peixoto Filho»
João Penido, Calogeras, Landulpho Magalhães, Baptista do
Mello, Antcro Botelho, Francisco Bressane, Moreira Brandão,
Christiano Brazil, Garção Stockler, Josino de Araújo, Rodol-
¦pho Paixão, Prata, Francisco Mello Franco, Ca-
Alaor Paolielo,
millo Pratos, Honorato Alves. Ferreira Braga, Cardoso de Al-
meida, Cândido Motta, Joaquim Augusto, Raul Cardoso, Eloy
Chaves, Cincinato Braga, Álvaro do Carvalho, Prudente de Mo-
raes Filho, Marcolino Barreto, Adolpho Gordo. Palmeira Rip-
per, Bueno de Andrada, José Lobo. Estevam Marcolino, Valois
de Castro, Costa Júnior, Martim' Francisco, Fleury Curado,
Ramo* Caiado, Oscar Marques, Annibal Toledo, Luiz Xavier,
Carvalho Chaves, Lamenha Lins, Corrêa Defreitas, Pereira Ue
Oliveira. Henrique Vaiga, Celso Rayma, Gustavo Richard, Octa-
vio Rocha, João Vespucio, Gumercindo Ribas, Evaristo do
618 ANNAES DA C.VMA11A

Amaral, Diogo Fortuna, Carlos Maximiliano, Fonseca Hermes,


NabuoO de. (iouvôa, João SimplicíO, João Benioio e Pedro Moa-
cyr (150),

O Sr. Presidento — Responderam á chamada 52 Depu-


Srs.
tados.
Não ha numero para se abrir a sessão.

Designo para amanhã a mesma

ORDEM DO DIA

Continuação da 2a discussão do projecto n. 123 A, de 1942,


do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas
do Batalhão Naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910,
o aos civis e militares envolvidos nos acontecimentos de Ma-
nãos, <'in outubro do mesmo anno ; com parecer íavoravel da
Commissão de Constituição e. Justiça ;

2° discüssão
projecto n. 305, de 1912, doconcedendo á
viuva, de
eítiquahto Bocayuva o auxilio
fôr, de 800$
Quintino
mensàés, aásim cótno o de 200$ a liada um dos seus filhos
Edgard, Dswaldo. Waldemar, Rosa, Ada e Córa. ti também o de
300$ ã Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, quantia que. por sua morte ou casamento, reverterá
aos seus filhos Satali. .Tosé, Lóo e Izabcl ;

3" do discussãon. 301, de 1912, autorizando o


projecto
Presidente Republica a concorrer com a quantia de 100:000$
da
nesta Capital, em
como auxilio, para se, erigir um monumento
honra :l memória da ex-imperatriz do Brazil ; com voto em
separado do Sr. Pedro Moacyr e parecer da Commissão de
Finanças ;

3" discussão do
projecto n. 184 B, de 1912, redacção para
3" discvlsísão da etrienda approvadá e destacada di> projecto
ti. 382, de 19H, mandando equiparar os vencimentos do conser-
Nacional lie BoRas
vàaor-rêátâurádoi' pindòotheca da Escola
cia
Artes aos do âéctetárlo da mesma escola ;

8" discussã o do u. 298, de 1912, autorizando ni


projecto
abertura dn croniío extraordinário de 7:200$, para occorrer

devido a Arthur Martins Lopes, em vitude de


ao pagamento
sentença judiciaria ;

1" discussão do 11. 275 A, de 1912, tornando ex-


projecto
ténsiva áoè iüíieá fedérnes de l« instancia e se.us substitutos a

do ai't. 3°, 11. Ilt. da léi 11. 2.350, de 31 de dezembro


disposjçãtl
re)átiva & cobrança em estampilbas das custas judi-
de 1910,
fàvoravél da Commissão de Constituição e
rjáefe : com i>arecor
Justiça ;

2" do projecto
discussão 11. 118 A, de 1912, transferindo

o Corpo do Saúde do Exercito, com honras do segundos


para
os inferiores tenham mais de Ires annos de
tenentes, que
SESSÃO EXI 25 DE SETEMBRO DE 1912 019

o serviços profissionais, o dando outras providencias ;


praça
coni parecer o emenda da Comiuissão de Marinha é Guerra ;

2" discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a


hora legal ; com perecer da Commissão de Constituição c Jus-
tiça.

SEGUNDA parte As i iiüras da tarde ou antes

Continuação da 3" discussão do projecto n. 01 B» de 1912,


fixando a despeita do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio, para o exercício de 1913 ;

lMscussão única do projecto n. 305, do 1912, autorizando


a conceder a Joaquim de Macedo Gosta ütu anon do licença,
com todos os verlcittieptos ; coííi favoravel da Uoift-
parecer
missão de. finanças e voto eni separado o eivtehdá dos Srs. Ili—

beiro Juncpieira e outros ;

2° discussão do projecto n. 70 A, de 19Í2, mandando isen-


tai* do todos os direitos, inclusive dos de expediente, a intro-
íHibhão ffonítíirás de gado vMcuiri e lovelhuty dnstiiUiljo
tidlhs
outras substitutivo da
(t criação, e dando providencias ; eoin
Commissão de Agricultura e favOravei da de Fi-
parecer
naiiças ;

3» discussão (k) n. 213, de 1912, creando o Jogar


projecto
zelador do Museu Naval, anilexo á liibliotlieca de Marinha,
de
cOm os veílbitlibritds e gáránt$it< idênticas àos dos mestres do

Arsenal de Marinha ; corii favoravel da Commissão do


parecer
Finanças (vido projecto n. 300, de 1911);

3a
discussão do projecto n. 279, de 1912, autorizando a

abrir, Miriisterio do Interior, o credito extraordinário do


pelo
4:200$, ouro, para pavimento do prêmio de viagem conferido

ao Dr. Carlos Leoni Worneck ;

2* do projecto
discussão, n. 325, do 1911. mandando con-
siderar para todos os effeitos, por aetos de liravura pratica-
dos na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 do no-
vemhfo de 1897; a promoção do 1" tenente do Exercito Fran-
cisco drts Chagas Pinto Motiteiro a este posto ; com parecer da
Commissão do Finanças.

Senado, au-
3" projecto n. 210 A, de 19)2, do
discussão do
Ministério da Justiça o Negocios
ahrir, Int.fi-
torizando pelo a
rioros, o credito do 8:910$, süpplementar á verba da consigna-
—dá rubrica (i" do «rt. 2° da lei n. 2.541, dé 4
yüo—Pessoal
de 1912 ; com parecer favoravel da Commissão de
de janeiro
Finanças ;

3* discussão
do n. 203, de 1912, autorizando a
projecto
do credito de 150:000?, ouro, por conta do especial
abertura
do 8:000.000-1!, despezas com a representação do Brazil
para
na Terceira Exposição Internacional da Borracha ;

3" discussão do n. 320 A, de 1911, considerando


projecto
de utilidade a Associação Commorcial da Bahia ; com
publica
favoravel da Commissão do Constituição e Justiça ;
parecer
620 ANNAKS DA GAMARA

Discussão única rio projecto n. 303., do 1012, autorizando


a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista
da Estrada de Ferro Central do Brazil ; com emenda da Com-
missão de Finanças ;

2° discussão projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


do
Claudia Vergara do
Oliveira, viuva do coronel graduado re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e. sua
filha Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art. 4o
do decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892 ;

2a discussão
projecto n. 306, de 1912, do Senado,
do auto-
rizando a pagarmandar
a Ladisláo Dias da Cunha, cessiona-
rio de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282,

por obras contractadas e executadas nos quartéis da Força Po-


licial do Districto Federal ; com parecer favoravel da Com-
missão de Finanças (vido projecto n. 409, de 1911);

3a discussão do
projecto n. 377, de 1911, autorizando a
abertura do extraordinário
credito de 5:393$548, para paga-
monto de vencimentos que competem ao lente em disponibili-
dado da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
Veiga Filho ;

2" discussão do n. 311, áe 1912, autorizando a


projecto
abertura do credito supplementar de 200:000$ á verba 15*
do art. 93 da lei orçamentaria vigente, para atte.nder a despe-
zas com o cadastro dos proprios nacionaes.

Discussão única do parecer da Commiisão de Finanças


sobre a emenda offerecida na 2a discussão do projecto n. 161,

de 1912, estabelecendo um novo quadro de amanuenses do

Exercito (vide projecto n. 161 A, de 1912);

La-
1" projecto n. 9 A, de 1912, reformando o
discussão do
boratorio de Analyses da Àlfandega do ltio de Janeiro, crêa

laboratorios nas alfandegas de diversos Estados, dando outras


os números, classes e vencimentos de accôr-
providencias e fixa
<io com as tabellas que estabelece ; com emendas da Commis-

são de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finanças ;

tornando exten-
2a discussão do projecto n. 48 B, de 1912,
sivas á Academia de Commercio de Pernambuco as disposições
da lei n. 1.339, de 9 de janeiro de 1905, á semelhança do que

tom sido concedido a outras academias ; com parecer favora-

vol da Commfeão de Instrucção Publica (vide projecto ti. 48 A,

de 1912).
SESSÃO EM 2(5 DE SETEMBRO DE 1912 621

112" SESSÃO EM 20 DE SETEMBRO DE 1912

DOS SRS. SABINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE,


PRES1DENCIA
SOARES DOS SANTOS, Io VICE-PRESIDENTE, E JUVENAL LAMARTINE,
3o SECRETARIO

A' 1 liora da tarde procede-se á chamada, a que respon-


Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Raul
dem os
Lamartine, Mavignier, Rogério de Miranda,
Veiga, Juvenal
Cunha Machado, Agripino Azevedo, Joaquim
Costa Rodrigues,
dos Santos, Flores» da Cunha, Eloy de Souza,
Pires, Agapito
Lourenço de Sá, Manoel Borba, Neto Campello,
Costa Ribeiro,
Amaral, Borges da Fonseca, Erasmo de Macedo,
Augusto do
Andrade, Alfredo de Carvalho, Barros Lins, Ba-
Eusebio do
Dias do Barros, Moreira Guimarães, Pedro Lago,
ptista Accioly,
Freire de Carvalho Filho, Deraldo Dias,
jOctavio Mangabeira,
Paulo de Mello, Jacques Ourique, Nicanor do
Rodrigues Lima,
Cerqueira, Pereira Braga, Manoel Reis,
Nascimento, Dionisio
Souza e Silva, José Tolejitino, Francisco Por-
Porto Sobrinho,
i .-it- i* <1 ii 1 oootH'! A ltrAa fAolo A nfrnclo Ha Tjíma, SC1"""
J,(J1J.U, IVIrtUriCIU uc uuata,
Jose Bonifacio, Irineu Machado, João
bastiao Mascarenhas,
Alvaro Botelho, Carneiro de ltezende, Mo-
Luiz de Campos,
Christiano Brazil, Jayme Gomes, RodOlpho
reira Brandao,
Ottoni, Manoel Fulgencio, Galeao Car-
Paixao Epaminondas
Motta, Alberto Sarmento, Maroolino Barreto,
valhal,' Candido
Marcolino, llodrigues Alves Filho, Arnolpho Aze-
Estevam
jvodo 'LuizMartim Francisco, Olegario Pinto, Caetano de Albuquer¬
Xavier, Lameuha Lins, Correa Defreitas, Henrique
que,
Bayma, Gustavo Richard, Octavio Rocha, Joao
Valga, Celso
Ilomero Baptista, Carlos Maxhniliano, Fonseca Her¬
Vespucio,
Be.nicio
Nabuco de Gouvea, Victor de Britto e Joao
mes, 'Abre-se (80).
a sessao.

Lamartine servindo de 2")'


O Sr. Juvenal (3U Secretario,
das actas da sessão de 24 o do dia 25 do
procede á leitura
as quaes são sem observações, approvadas.
corrente,

Presidente — Passa-se ú leitura do expediente.


O Sr.

Veiga Secretario, servindo de /") procedo


O Sr. Raul (2°
á leitura do seguinte

EXPEDIENTE

Requerimentos :

Campello, viuva do engenheiro Can-


Do D Vnna Cardoso
nova pensão. A' Com-
dido de Oliveira Campello, pedindo
mí»são dej^i/jnuo''
legislativas
sàuer o, pedindo medidas
outro,
fabricação
de de lápis, canetas, etc.
protectoras da industria
A's Agricultura e Industria e de finanças.
Commissões de
622 AN NA ES DA GAMARA

Da Companhia Águas Mineraes Santa Rosa, pedindo con-


cessão para uma estrada de ferre de Lorena a íMambucaba.—
'A'a
Commissõeç de Qbi'as Publicas e Viação e de Finanças.
De Bonicio Echenique e outro, pedindo concessão de unia
estrada de ferro de. Porto Alegre, Estado do Rio Grande do
Sul, á villa do Torres.—A's Commissões de Obras Publicas e
Viação o do Finanças.

Suo suecessivamente lidos e vfto a imprimir os seguintes

PROJECTOS

N. 293 A—1912

Determina que os funccionarios federaes, civis e militares,


que residirem em próprios nacionaes ou em prédios alu-
ijudos pela União fiquem, sujeitos ao pagamento de uma
taxa, c dá outras providencias; com parecer favorável da
Commissão de Finanças

A Commissão de Finanças
é de parecer íavoravpl ao
pro-
jeclo «. 202 A, de 1912,'
apresentado pelos Srs. Itomero lia-
ptista, e outros, determinando que os funccionarios civis ou
militares residirem
que em proprios naciópaes1 ou em
prédios
alugados pela União fiquem sujeitos ao pagamento de uma
,taxa de 8 ,%i sobre o valor locativo do prédio,, de áceòrdo com
a avaliação da Direçtoria do Patrimonio.
O projecto n. 292, de 1912, visa uma providencia Salutar
á administração publica. E' uma medida proveitosa ao The-
souro e transformada em lei virá, não ha negal-o, nivelar van-
tagens e regalias entre funccionarios da Republica, consoante
os nossos moldes democráticos, e extinguir desigualdades que
abusiva tolerancia tem mantido.
Não menor proveito serja si, da exequibilidade da medida
proposta, resultasse, por sua applicação rigorosa, o arrola-
menlo fiel dos proprios nacionaes, tão indispensável aos in-
teresses patrimoniaes da Republica.
E', de 1'acto, lamentave.l apezar dos esforços da Di-
que,
rcctoria do Patrimonio, seja de uma deficiencia espantosa o
registro do.s e bens da União.
prédios
Governo
O Federal, em 1909, expediu o decreto n. 7.G25,
determinando em seu art. 1° —«que os demais ministérios
enviassem ao da Fazenda as relações de todos osprédios na-
cionaes oecupados por funccionarios civis ou militares, que
não direito por força de lei a nelles residi'' »•
tivessem Apezar
desla providencia do Executivo, a informação offieial que, nessa
hora, chega á Commissão assegura que, á excepção de um, os
demais ministérios absolutamente não cumpriram a disposi-

ção do decreto supracitado, quer dentro de um mez, que. lhes

foi pelo mesmo decreto estipulado para tal fim, quer até a

presente data.
São, deficientjssimos até esta data >os registros na
pois,
Directoria do Patrimonio acerca dos bens immoveisi da União.
SESSÃO EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 623

E' bem possível, entretanto, que com a approvação do


projecto, e séria execução da lei delle decor.rente, creàndo-se
umq nova rubrica da receita « Renda de proprios
publica, na-
outras providencias se conjuguem remediar
çionaes», para
tão lamentavol lacuna, oonseguindo-se o íombatíiento exàcto
do Patrimônio Nacional.
E' positivamente essa uma das vantagens da medida pro-
posta, cujos intuitos são fortalecidos diversos dispositi-
pelos
vos do projecto, que merece o estudo e a approvação do Con-
gresso Nacional.

Sala Gommissão,
da 24 de setembro de 1912.—Ribeiro
Junqueira, — Pereira Nunes, relator. — Antonio
presidente.
Carlos.—Raul Fernandes. — M. Borba. — Caetano de Albu-
querque, com restricções.—João Simplicio. — Homero Ba-
ptista. — Felix Pacheco.

Projecto n. 292, de 1912

O Congresso Nacional decreta :

Art. I." Os furiccionarios federaes,


civis ou militares, que
fsidirem em proprios nacionaes ou otn prédios alugados pe.la
nião, soja em virtude de disposições logaes ou .regulamenta-
res, sejapor conveniência de serviço, ou deliberação do
por
Governo, ficam sujeitos at> pagamento de uma taxa, a titulo de
aluguel de casa, cujas importâncias, constituindo rendas
pa-
trimoniaes da União, serão escripturadas como «Renda de
pro-
prios nacionaes».
Paragrapho único. A taxa a que. se refere o artigo
prece-
dente será de 8 % sobre o valor loeativo do
prédio e de accôr-
do com a avaliação da Directoria do Patrimonio.

Art. 2.° Ficam isentos do pagamento da taxa estipulada :

I. Os militares que residirem nos da


proprios quartéis
força que pertencerem ou nas fortalezas, situadas nos portos
a
c nas fronteiras do paiz.
II. Os funccionarios civis que, em virtude de suas fun-
eções, tenham de residir nas fronteiras do paiz, om ponto*
Afastados das cidades ou povoações.
III. Aquelles que, civis ou militares, vencimen-
percebam
tos annuaes não excedentes de 3:000$000.

Art. 3." Não são comprohendidos nossa excepção os fun-


ecionarios militares que residirem em casas situadas no re-
cinto ou adjacências dos quartéis ou demais estabelecimentos
militares, e que forem destinadas á residencia particular dos
officiaes e suas famílias.

_Art. Xas localidades em que, o preço corrente dos alu-


gueis de casa for inferior a i que resultar da apnliçação da refe-
J'ida taxa, deverão m .Ministros dp Estado, cada qual na parte
que lhe disser respeito, reduzir as' mesmas taxas de modo a
equiparar o aluguel do» riaoionae.s ao das casas
proprios parti-
culares de valores, typos e condições correspondentes.
824 ANNAES DA GAMARA

Art. 5.° ü pagamento de aluguel dos próprias nacionaes a


que se. refere esta lei será feito rnez vencido, mediante
por
desconto nas respectivas folhas de vencimentos.
§ 1.° Para cumprimento do disposto neste artigo, as con-
tabilidades dos diversos ministérios immediata-
promoverão
mente a organização do relações dos funccionarios ahi com-
prehendidos, com indicação dos nacionaes elles
proprios por
occupados e, sem demora remetterão taes relações as repar-
tições pagadoras para que se torne effectivo o desconto de-
vido.
§ 2." A demora na organização ou remessa dessas relações
não isentará os funccionarios dos
pagamentos que lhes compe-
tirem, os quaes serão devidas desde a data em que entrar em
vigor a presente lei.
§ 3.° Todo o funccionario, civil ou militar, sujeito ao paga-
mento de que se trata, fica obrigado a communicar á contabi-
lidade do ministério a que pertencer e á delegacia fiscal, si
tiver sido em qualquer dos Estados, o facto de estar residindo
em proprio nacional, com declaração de todos os dados que
sirvam para caracterizar o proprio occupado o informações
minuciosas sobre o estado de conservação o reparos de que
o mesmo necessita.
§ 4.° Aquelles que não cumprirem o disposto no paragra-
pho anterior dentro de tres mezes da publicação desta lei,
ficam sujeitos á multa de 2 %; do aluguel devido, durante todo
o tempo em que tiverem de.ixado de pagal-o.
§ 5.° Aquelles
que por motivo de licença ou por qualquer
outro ficarem
privados de vencimentos, indemnizarão os alu-
gueis atrazados por meio de descontos supplementares corre-
spondentes a 3 %' dos respectivos vencimentos.
Art. C.° Revogam-se as disposições em contrario.

S. R. Gamara dos Deputados, C de setembro de 1912.—


'Homero
Dwptista. — Antonio Carlos. — Ribeiro Junqueira. —
João Vespucio de Abreu e Silva.—•Diogo Fortuna. — Carlos
Peixoto Filho.

N. 344 — 1912

Autoriza a abrir, pelo Ministério da Fazenda, o credito extra-


ordinário de
4:662$776 para attender ao pagamento de-
vido a Vcrano Goma Alonso de Almeida, em virtude de
sentença judiciaria

Em Mensagem de 12 do corrente, o Sr. (Presidente da Re-


publica pede ao Congresso seja concedido ao Ministério da
Fazenda o eredilo de í :ti02$77t>, afim de ocorrer ao paga-
imuito devido a Verano Gomes Alonso de Almeida, em virtude
de sentença judiciaria.
A' Mensagem acompanha
a exposição de motivos, da qual
se que a Fazenda Nacional
vê foi condemnada a pagar áquello"de
funccionario os vencimentos relativos aos períodos de 22

julho a 2 de setembro de 1908.e de outubro de 1911 a íeve_


reiro do corrente anno, na importancia total de 4:(i62$776,
625
SESSÃO EM 26 DE SETEMB110 DE 1912

cujo pagamento foi deprecado


pelo Juizo da 1* Vara do Dis-
tricto Federal, tendo sido o
pre.catorio, que também está junto
a mensagem, julgado em boa
e devida fôrma.
Nestes termos, tratando-se de a
pagamento que se não
pode negar a Fazenda Nacional, a Commissão de Finanças
opina seja concedido o credito
extraordinário de que se trata,
ollerecendo á deliberação da Gamara o seguinte projecto do
161 !

Artigo único. Fica o Poder Executivo autorizado a abrir,


pelo Ministério da Fazenda, o credito extraordinário de
í :66~.$776 para attender. ao
pagamento devido a Verano Gomes
Alonso de Almeida, em virtude de sentença judiciaria ; revo-
gadas as disposições em contrario.

Sala das Commissões, 24 de setembro de 1912. —Ribeiro


Junqueira, — Caetano
presidente. de, Albuquerque, relator. —
Antonio Carlos. — Raul Fernandes. — Pereira Nwes. — Ma-
noel Borba. — João Simplicio. — Galeão Carvalhal. — Felix
Pacheco. — Homero Iiaptista.

Com a concessão deste, assim se especificam os differen-


tes créditos concedidos este anno : 9.876:232$237 (ouro) e
9.137:104$ 479 (papel.

Data supra. — Caetano de Albuquerque, relator.

Mensagem a que se refere o supra


parecer
Srs. Membros do Congresso Nacional — Transmittindo-voa
o incluso
processo, referente á carta expedida pelo
precatória
Juízo Federal da 1» Vara do Districto Federal, em 6 de junho
ultimo, para pagamento do vencimento de 2" escripturario da
Recebedoria Verano Gomes Alonso de Almeida, relativo aos
períodos de 22 de julho a 22 de setembro de 1908 e de outu-
bro de 1911 a fevereiro do corrente anno, na importaneia de
4:062$77(>, que e .são devidos em virtude de sentença judiciaria,
rogo vos digneis de autorizar a abertura ao ,'M'inisterio da Fa-
zenda do credito daquella importaneia, afim occorrer á des-
de
peza com o pagamento deprecado.

Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1912, 91" da Indepen-


ciência o 24° da Republica. — Hermes Com-
lt. da Fonseca.—A*
missão de Finanças.

N. 345— 1912

Crêa na Superintendencia de Portos e Costas o logar de con-


servador de instrumentos, que será exercido por um ope-
rario com os vencimentos annuaes de 2:100$, dos quaes 2\3
serão de ordenado e 1\3 de (/ratificação; com parecer fa-
voravel da Commissão de Marinha c Guerra

Entre as attribuíções deferidas ú 1* secção da Superin-


tendencia de Portos e Costas, integrante do Almiran-
parte
Vol. 40

f
626 ANNAES DA CAMARA

'74,
tado Brazileiro, está, pelo disposto no art. a conservação
de todos os instrumentos náuticos, astronomicos, geodesicos e
ineteorologicos, pertencentes ao Ministério da Marinha.
O pessoal de que se compõe a secção é todo tirado do
Corpo' Ida Armada, excopto os desenhistas, que podem ser
civis.
Parece, pois, que falta à organização da Superintendencia
um profissional operário, que se incumba da conservação dos
apparelhos citados,, conservação que não será effectiva sem

cuidadosa limpeza, que não pôde caber aos demais funcciona-


rios daquella Superintendencia.
E assim pensando, o Sr. Presidente da Republica, em Men-

sagem de 8 de agosto, acompanhada da exposição de motivos


do Sr. Ministro da Marinha, pede ao Congresso Nacional a
creação do logar de conservador dos instrumentos alludidos.
A Commissão de Marinha e Guerra 6 de opinião que a Ca-
mara adopto o seguinte

PROJECTO

O Congresso Nacional decreta :

Art. 1.° E' creado na Superintendencia de Portos © Costas

o logar.de conservador de instrumentos, que será exercido por


um operário com os vencimentos annuaes de dous contos e

cem mil réis, dos 2|3 serão de, ordenado e 1|3 de grati-
quaes
ficação.
Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das Commissões, de 1912. — Rodol- 20 de setembro


— Antonio Nogueira, relator. — R. Ar-
pho Paixão, presidente.
tinir. — João Vespucio de Abreu e Silva.—Souza e Silva.—

Mario Hermes — J. Augusto do Amaral.

de Finanças, tendo em vista a mensagem do


A Commissão
Presidente da Republica, dirigida ao Congresso Nacional,
Sr.
do corrente anuo, bem como a exposição de
em 8 do agosto
esse documento instruo, 6 de parecer quo sc.la
motivos que a
o encarregado da limpeza e conservação dos
creado logar de
náuticos, astronomicos,_geodesicos e meteorolo-
instrumentos
favoraveis ás considerações da Gommisao de Ma-
gicos, sendo
opinou, formulando
rinha e Guerra, que sob o mesmo assumpto
de lei em sua sessão de 5 de setembro deste
um projecto
ann
annexo ao decreto n. 0.10!) A, do_30 de
Ò regulamento1
novembro atribue
de esse, serviço á 1" secção da Super-
1911,
art. 74 ; e a íuncçao de
intendencia de Portos e Costas em seu
instrumentos deve ser conferida, conformo al-
conservador de
do Executivo, a um operário equiparado aos
vitra a mensagem
Os misteres de limpeza e, conservação
do Arsenal de Marinha.
ao Minis-
dos instrumentos náuticos e geodesicos pertencentes
exercidos pelos lofficiaes que se
terio da Marinha não podem ser
dependencia do Ministério da Ma-
acham em exercício nessa
não são compatíveis e.sscs serviços com as suas
Finha porque
SESSÃO EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 627

posições^ como também


pela sua instabilidade nesses carcos
A oreaçao, pois, do referido logar ó uma medida necessaria'
visandoi despeza mínima e impedindo
avarias em vistosa apna-
rolhagem, tao preciosamente util aos estudos e aos interesses
da importante repartição da nossa marinha de guerra.
Essa me.dida administrativa não ser
que ,póde resolvida
em emenda orçamentaria,
pela sua natureza opposta a dispo-
sitivo regimental, deve ser acceita no actual projecto de lei.
A Commissao de Finanças ó de opinião que a Gamara
adopte o seguinte projecto de lei, enviado da Commissão de
Marinha e Guerra, assim concebido :

O Congresso Nacional decreta :


' Ari 1.° E' creado na Superintendencia de Portos e Costas
o logar de «Conservador do instrumentos»,
que gera exercido
por um operário oom os vencimentos annuaes de 2:100$, dos
quaes dous terços serão de ordenado e Um terço de gratifi-
cação.
Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das Commssões,
setembro —
de 1912. Ribeiro
Junqueira, presidente, vencido.—Pereira
Nunes, relator.—
Raul Fernandes. Manoel Borba. — Caetano de Albuquerque.
João Sirnplicio, vencido. — Felix Pacheco. —
Homero Baptista,
' Antônio Carlos, vencido. O regulamento
To?? n. 9.109, de
1911, prove convenientemente sobro o
caso. Até hoje foi julgado
dispensável o cargo, cuja creação importará
para o Estado nas
responsabilidades mherente_s aos cargos —o montepio, apo-
sentadoria, etc. Si a funeçao ó realmente necessaria, melhor
seria a simples dotaçao orçamentaria
para pagamento de um
operário, sem a creação do emprego.

Mensagem a que se refere o parecer supra

Srs. Membros do Congresso Nacional — De accôrdo com a


inclusa exposição de motivos apresentada
pelo meu secretario,
encarregado dos Negocios da Marinha, tenho a lionra de soli-
citar do Congresso Nacional a creação
do logar do encarregado
da limpeza e conservaçao dos
instrumentos náuticos, astrono-
micos, geodesicos e meteor.ologicos, para attender á determina-
çao do art. 74 do regulamento annexo 40 decreto. 11. 9.109 A, de
30 de novembro de 1911, que attribuiu
esse serviço á Ia secção
da Superintendencia de Portos e Costas,
Essa funeção deve ser dada
a um operário equiparado aos
do Aresenal de Marinha
Capital, devendo desta
a respectiva
despeza ser consignada em emenda na do orçamento
proposta
de despeza doste Ministério para 1913, e.
que já tive a honra de
transmittir a essa Casa do Parlamento.
Assim, solicito a indispensável autorização para pôr em
execução essa medida, que se mo afigura do toda a convenien-
cia para os interesses dos cofres públicos.
Jap?.ir0' 8 (Ae a8°'S:to de 1912, 91° da Independencia
O/o11*.0 í6
e 24° da Republica. — Hermes 11. dat Fonseca.
628 ANNAES DA GAMARA

O Sr. Presidente — Está finda a leitura do expediente.

O Sr. Raul Veiga — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Raul Veiga (pela ordem) oommunica á Camara que


o seu illustre collega Sr. Simeão Leal, Io Secretario, tem dei-
xado de comparecer ás sessões por motivo de moléstia.

O Sr. Presidente — A Mesa fica inteirada.

O Sr. Ribeiro Junqueira — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

O Sr. Ribeiro Junqueira {pela ordem) pede que sejam


de divor-
publicadas diversas representações contra o projecto
cio, enviadas pelo Conselho Deliberativo de Bello Horizonte,
Gonferencia de S. Vicente de Paula, da villa de Rezende
pela
Costa ; pela Conferencia de S. Vicente de Paula, de Congonhas

do Campo, e por habitantes do districto de Piedade, municipio

de Loopoldina.

Consultada, a Camara consente na publicação.

O Sr. Martim Francisco — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a palavra pela ordem o nobre

Deputado.

O Sr. Martim Francisco (pela ordem)—Br. Presidente,

cumpre-me communicar a V. Ex. que a Comrnissao da Camara


Deputados nomeada represental-a nas despedidas «lo
dos para
sul-americano, argentino, Júlio Roca, hontem
illustre general
e ouviu de S. Ex. phrases
seus devores re-
se desempenhou de
de sincero agradecimento e de grande sympalhia por
petidas
essa Camara e pelo paiz. (Muito bem; muito bem.)

O Sr. Presidente — A Casa fica inteirada.

O Sr. Jacques Ourique — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a o nobre Deputado.


palavra

— Sr. Presidente, não


0 Sr.Jacques Ourique {pela ordem)
inscriptos no expedinte mais do
os meus collcgas
prejudicarei
cinco minutos.
in-
Mas o dever de responder immediatamente. á
cabia-me
ofJri da de illustre relator da Commissao
vectiva que parte,
-obre a amnistia na ultima sessão desta casa.
que deu parecer
Quando S. Ex. baseava a sua argumentação para justilicar

a amnistia dos marinheiros, na bondade do coração e na com-


SESSÃO EM 2G DE SETEMBRO !)E 1912 »y0

frlacencia dos brazileiros, eu, em aparte, disse a S. Ex. que a


disciplina podia ter abertamente essas
não bases, e S. Ex. re-
.spondeu-me directamente — que se admirava que um revoltoso
de 1893 1'allasse em defesa da disciplina.

Venho simplesmente ponderar a S. Ex. que eu, quando


fui revoltoso em 1893, não era militar, como não o sou hoje ;
não commetti, portanto, acto nenhum de indisciplina. E depois,
Sr. Presidente, acho errônea essa doutrina, como muitas outras
na occasião por S. Ex. Porque eu fui revoltoso,
proclamadas
eu segui e, me bati ideal no momento, não se
porque por um
segue que não possa exigir para o Exercito e para a Armada
a maior disciplina, pois a minha longa vida no Exercito me íe.z
conhecer que essa é a base de toda boa organização militar.

,(Apoiados ; muito bem.)


E depois, si arguiu, por S.ser indisciplinado,
Ex. me
civil, de setembro,
tomei
quando eu, parte na revolução
como
em defesa dos princípios republicanos que julguei atacados,
me arguiu S. Ex., eu, como militar, in-
por que não quando
fringindo o juramento á minha bandeira, tomei parte activa e
influente, na revolução de 15 de novembro de 1889, da qual
veiu a Republica de que S. Ex. <5 hoje um dos mais dignos re-
presentantes na Camara ?

Acho, Sr. Presidente, que, além de pouco delicada e gene-


rosa a invectiva, elia é incoherente e illogica. Fui revoltoso de

15 de novembro, de 10 de abril e de setembro de 1893, e devo

declarar a S. Ex. que não ha neste quem não saiba que


paiz
sempre foi com a maior lealdade e abnegação patriótica que
fiz todos os sacrifícios que, humanamente pôde fazer um cida-
dão causa de sua Patria. (Apoiados ; muito bem ;
patriota pela
muito bem.)

O Sr. Firmo Braga — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem a Deputado.


palavra o nobre

O Sr. Firmo Braga — Peço a V. Ex. se digne de fazer sub-


stituir os Srs. Honorato Alves e João Penido, um por doente
e o outro por ausente, na Commissão de Saúde Publica.

O Sr. Presidente — Nomeio os Srs. Freire de Carvalho e

Victor de Britto.
Tem a o Sr. Irineu Machado.
palvara

Irineu Machado — Sr. Presidente, cabe-me o dever


O Sr.
de responder, sem demora, ao illustre
e talentoso Deputado
rio-grandense, o Sr. Carlos Maximiliano.
Desejaria ordem, ao annunciar-se
fallar a discussão
pela
do de amnistia, para o fim de requisitar, até com a
projecto
suspensão do debate, a remessa dos autos relativos aos crimes
de Manãos e aos occorridos na bahia desta Capital, em 1910.
Como, porém, o tempo me não seria sufficiente, devo, pe-
dindo á Camara desculpa por me haver inscripto no expediente,
030 ANNAES DA' GAMARA

occupar a hora inteira, afim de communicar-lhes alguns factos


quo não podem ser suhlrahidos ao seu conhecimento.
A consideração mais importante allegada a favor da
aranistia é a de que a necessidade da sua decretação se impõe

pela circumstancia de não poder materialmente proseguir o


processo em razão das 3ifficuldade,s decorrentes da falta de
réos e da falta de testemunhas.

Esta allegação não tem fundamento. Não ha essa preten-


dida falta de testemunhas ou, dizendo-o em termos mais pre-
cisos, todas as testemunhas estão na guarnição desta cidade,
quer se trate do processo dos soldados implicados na revolta
da ilha das Cobras, quer se trate do processo a que respondem
os marinheiros que tomaram parte na segunda revolta da es-
quadra.
Aqui, nesta Capital, estão todas as testemunhas, sem ex-
cepeão de uma só. Ainda em uma das ultimas sessões do con-
selho de
guerra, havendo o tribunal requisitado o compareci-
mento das testemunhas, o Quartel-General não deu resposta
nem cumprimento a essa requisição.

As tres testemunhas requisitadas não compareceram ; não


funccionou, por isso, o conselho, e, nessa occasião, um official
de Marinha, parte faz
do conselho julgador,
que declarou que
sabia do própria todas
sciencia
que as testemunhas estavam

presentes, fazendo ellas parte da guarnição desta Capital. E o


official que fez esta declaração é o Sr. Severino da Costa Oli-
veira Maia.
O conselho de guerra já foi convocado para 17 sessões.
Destas, a 17* deve realizar-se amanhã, 27.
Das restantes 16 vezes em que se devia reunir o conselho,
oito sessões se realizaram e oito não.
A 15a sessão do conselho não se effectuou pela circum-
stancia de. haver faltado um accusado— Grcgorio do Nasci-
mento, que estava enfermo. Quanto ás primeira, segunda, de-
cima, décima primeira, décima segunda, décima terceira, de-
cima quarta e décima sexta, estas deixaram de realizar-se por
culpa da própria administração.
A' 1" sessão convocada para 27 de maio de 1911 não cam-

pareceu o capitão de fragata Pedro Fronlin, que fora nomeado


para fazer parte do conselho de guerra. Antes de tudo, cumpre
accentuar a grave culpa do Governo por havei' nomeado
o commandante Pedro Frontin membro deste conselho, quando
ellc fôra o commandante d<> «scout» Rio Grande do Sul. onde
se dera uma sublevação de marinheiros, tendo sido aquelle
official arrastado á contingência de recorrer ás armas, e de en-
trincheirar-se, com os demais officiaes, na casamata, para re-
sistir á rebelíião.
A circumstancia especial do haver esse official repellido
com tanta bravura o energia o ataque á sua própria vida e a
de ter sido um dos repressores do movimento, denota desde logo

que, interessado como era na punição dos crimes, não podia


ser nomeado membro do conselho de guerra quo tinha de julgar
os criminosos.
r
SESSÃO EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 63i

E, apezar disso, foi elle nomeado pela administração da


Marinha para funccionar como nesse conselho ! E' isso
juiz
ou não um abuso da administração ? Contestem-me, si forem
capazes.
Convocados os juizes para a 2" sessão, deixou esta de rea-
lizar-se
por não ter ainda dessa vez comparecido o mesmo offi-
ciai, Sr. Pedro Frontin.
Na 10a reunião foi
ouvida uma única testemunha, havendo
as demais deixado de
comparecer por culpa do Quartel-Gene-
ral,que nem as mandou nem explicou a razão da falta de cum-
prime.nto da requisição feita pelo conselho de guerra.
A' 11a sessão deixaram de comparecer os juizes capitão de'
fragata Pedro Frontin e o capitão de corveta Severino da Costa
Maia, não tendo por isso funccionado o conselho.

O Sr. Souza e Silva — Estava em commissão na ilha das


Flores.

O Sr. Irineu Machado — Registre-se o aparte do Sr. Souza


e Silva.— «porque o official Pedro Frontin estava em com-
missão na ilha das Flores».
A' 13" sessão faltou o juiz Arthur Alvim. Assim, quatro
vezes deixou de comparecer ao conselho, evitando a sua re-
união, o capitão de fragata Pedra Frontin. Dentre as oito
vezes não
em que o conselho se quatro vezes resultou
reuniu,
isso da ausência do official commandante do «scout» Rio
Grande do Sul, onde
dera a rebellião. se,
Não se
quatro vezes
realizou
a reunião do conselho de
guerra pela falta desse official, que devia funccionar como
juiz daquelles mesmos marinheiros cuja sublevação elle re-
primira militarmente !
A' 16" reunião do conselho não compareceram as teste-
munhas ; e, apezar da falta de comparecimento dellas ao con-
solho de guerra, nenhuma communicação fez o Quartel-Ge-
neral explicando a» causas da ausência das testemunhas arro-
ladas e requisitadas polo tribunal.
Nessa occasião, o conselho de guerra reclamou contra o
facto em officio dirigido ás autoridades administrativas, obser-
vando-lhes que já por três vezes haviam deixado de compare-
cer testemunhas, apezar de terem sido feitas as requisições
com muita antecedência e,
ponderando-Ihes que o Quartel-Ge-
neral não havia participado ao conselho o motivo desse não
comparecimento'. Vê. portanto, V. líx., Sr. Presidente, que
quatro vezes o conselho deixou de reunir-se pela falta de um
official que, não podia nem devia ter sido nomeado para tomar
mar e guerra
parte nelle ; uma só vez pela falta do capitão de
Arthur Alvim ; e outras três vezes foram os trabalho» do con-
solho de guerra prejudicados por culpa do Quart.el-General,
as testemunhas r.rnladas e requisitadas
que deixou <le enviar
e ainda por cima se negou a dar ao tribunal a satisfação por
essa falta do comparecimonl.ó.
Não julga, a Camara dos Srs. Deputados quo
porventura,
existam ahi faltas praticadas pela administração, e das mais
graves ?
632 ANNAES DA CAMARA

A lei que regula a matéria ó expressa.


O art. 287 do Codigo do Processo Militar, é o Regula-
que
mento Processual Criminal Militar, dispõe «o
que serviço ju-
DICIAL_PREFERE A OUTRO
QUALQUER».
Não
podem officiaes fazem os
de um tribuna!
que parte
julgador ser desviados actos da administração fóra
por para
do logar em que se reúne o conselho, como não
podem estes, sob
a allegação de estarem occupados em outro serviço, faltar ao
judicial.
Que as testemunhas todas se acham aqui, eu disse ;

que todas teem sido requisitadas conselho, também
pelo já
affirmei : que diversas vezes o conselho de tem dei-
guerra
xado iunccionar
de por falta de comparecimento das testemu-
nlias requisitadas, também é um facto, cabendo essa responsa-
bilidado ao Quartel-General, á autoridade administrativa.
Si porventura o Sr. Pedro Frnntin official
(zeloso que
e, cumpre-me dizel-o para ser imparcial e tem deixado
justo)
de comparecer ás reuniões do conselho de guerra, é porque o
Governo o desviou daqui, como succedeu ainda ultimamente*,
mandando-o para Santos, afim de reprimir a
gréve nas Dócasi;
foi, por ordem superior, desviado do serviço judiciário e man-
dado para outra missão de simples caracter policial !
Não constitue este facto uma grave culpa imputavel ao
Governo, que assim vae retardando o julgamento de João Can-
dido f
A outra allegação feita em favor da amnistia é que o pro-
cesso não pôde proseguir porque o Governo não tem meios de
reunir todos os réos.
Esta objecção é totalmente improcedente, é mesmo dis-
paratada. Basta attender-se á circumstancia de que o conselho
já inquiriu cinco testemunhas e já se jeuniu oito vezes, dei-
xando de reunir-se outras tantas, já redigiu o auto de infor-
mação do crime., já praticou diversos actos e realizou varias di-
ligencias, isto é, deu andamento ao processo, apezar de falta-
rem sessenta réos.
Pois não está este facto demonstrando que o argumento
não tem o menor valor ?
Ha uma disposição taxativa de lei, que responde esmaga-
doramente a essa objecção.
No art. 157, capitulo 17 — Da contumacia dos accusados
—, o Regulamento Processual Criminal Militar dispõe termi-
nantemente : «a contumacia dos co-réos não suspende nem
IMPEDE O JULGAMENTO DOS DEMAIS».
Disse eu, por isso, no meu primeiro discurso, em que
rompi o debate contra este, projecto que, no processo militar,
a ausência de um co-accusado não importava na suspensão ou

paralyzação do processo, com relação aos demais co-réos pre-


sentes.
Não só os faetos correm em apoio das minhas allegações,
mas própria lei responde, de modo cathegorico e irreplicavel,
a
ás duvidas formuladas pelos advogados da amnistia.
Já disse á Gamara que, das testemunhas arroladas, apenas
depuieram cinco ; falta agora apenas o depoimento de três.
SESSÃO EM 20 DE SETEMBRO DE 1012 #33

Pelo art. 69 do Regulamento Processual Criminal Militar

as applicaveis forem maiores de quatro annos


quando penas
de prisão, inquirir-se-hão no minimo cinco testemunhas e no

máximo oito.
Assim, falta apenas ouvir três testemunhas, essas mesmas
-obstinada-
tres testemunhas' cujo comparecimento tem sido

mente impedido pelo Governo.


Dir-se-ha no depoimento das cinco tes-
que* não havendo
temunlias tribunal
compareceram ao referencias a todos
que
audiência de mais tres testemunhas impor-se-ha
os réos, a
nos termos do § 2o do art. 69 do regulamento citado.
assim, mais seis testemunhas a ouvir; e estas
Haverá,
ser ouvidas em dous dias, como até
seis testemunhas podem
em um só, desde que um dispositivo do regulamento marca o

de quatro horas para a duração das sessões do


prazo minimo
conselho.
Pois, então, em oito horas não ser ouvidas seis
podem
testemunhas?
E ein duas sessões do conselho não podem ser ouvidas

seis testemunhas?
Note a o processo
Gamara
que militar tem tres phases:
a do inquéritopolicial-militar, a do conselho de investigação,
e a do conselho de guerra, ou do julgamento.
Passadas as duas primeiras a do inquérito poli-
phases,
cial-militar e a do conselho de investigação, e achando-se o

processo já nas ultimas sessões do conselho de


guerra, quando
todos os réos presentes estão de boa saúde e podem comparecer
ellas, a faltam
ausência
que não ó dos sessenta réos
a quando
todas
obstáculo legal para a continuação do processo e quando
as testemunhas fazem parte da guarnição desta cidade, estando
embarcadas nos navios de guerra surtos neste porto, qual é

a razão, Sr. Presidente, que justifica a decretação dessa amnis-


tia? Porque não esperar por esse julgamento, que virá bre-

vemente e está prestes a dar-se?

O Sn. Maurício de Lacerda — Apoiado.

O Sr. Irineu Machado — A audiência das tres ultimas tes-

temunlias arroladas está marcada para a sessão de amanhã, 27.

Realizada amanhã essa sessão, se bouver necessidade de

ouvir mais tres testemunhas, não bastará isso mais uma


para
só sessão?
Estando, o processo a findar, para que esta pressa,
pois,
para que esta exigencia da decretação da amnistia?

de Lacerda — Muito bem!


O Sr. Maurício
— Alguma cousa, alguma razão deve
O Sr. Irineu Machado
existir.

O Sr. da Cunha — A razão é uma razão de ordem


Flores
geral, uma razão social, generosa e de altruísmo.

O Sr. Irineu Machado — Vamos examinar essa especie de


altruísmo.
m ANNAES DA CAMARA!

Julguem os illustres Deputados estas minhas palavras, não


com o
que me disserem nas suas declarações publicas, mas de
accôrdo com a sentença intima das suas consciências.
Ouçam-me, os nobres Deputados
peço depois á Nação
e
que nos julgue a nós, os juizes desta amnistia, e aquilate do
valor dessa clemencia, dessa generosidade do dictador.

Deu-se a primeira revolta em 22 de novembro, a segunda


na noite de 9 para 10 do dezembro de 1910.
O crime 6 o mesmo; a vontade criminosa, uma só; a in-
tenção, a directriz e o objectivo dos delinqüentes, um só e o
mesmo.
Por que razão começou desde logo o Governo dividindo o
julgamento do mesmo crime por três processos separados?
Sim! O governo mandou fazer três processos. E o mais
curioso é que todos os actos de convocação dos conselhos de
investigação consignam que elles são chamados a apurar
a responsabilidade dos factos] posteriores á amnistia.
Comprehende a Gamara a mystificação e a farça; vê bem
a Camara que ó que se pretendia
o com esses processos rela-
tivos aos «factos posteriores á amnistia».

Ao primeiro dos processos respondia um pretendido assas-


sino do commandante Baptista das Neves. Esse accusado foi

promptamente absolvido porque não havia uma só prova, uma


só referencia relativa á sua responsabilidade criminal.
O verdadeiro autor do assassinato do almirante Baptista
das Neves já havia sido pelas
passado armas e aquelle que o
substituía processo no não podia deixar de ser absolvido, porque
a responsabilidade do crime cahia sobre terceiro que jii havia
sido executado militarmente.

O SRí Souza e Silva — Podia ser um co-réo.

O Sr. Irineu Machado — Mas não era, nem a accusação


lhe era £eita por co-autoria.

O Sr. Maurício de Lacerda — O corpo do almirante appa-


receu mutilado, o que prova que não foi obra de um só homem.

O Sr. Ibineu Machado — Registro os apartes dos nobres


Deputados, porque não negam a circumstancia de haver sido
fuzilado o autor do assassinato. (Apartes do Sr. Augusto do
Amaral.)
Os outros
réos, praças do batalhão naval, foram submet-
tidos a um
processo á parte, em outros autos.
Quanto As praças de Marinha que estavam embarcadas por
occasião da segunda revolta da esquadra, foram submettidas

por sua vez a


processo á
um parte, iniciando-se
terceiro o
conselho desem que a este
investigação houvesse precedido
o inquérito policial-militar, o que mostra claramente que o
Governo mandou julgar marinheiros, cuja culpa não estava
indicada em nenhum inquérito, só com o evidente intuito de
vingar-se da coragem com
que haviam arrancado á sua fra-

queza a amnistia de novembro!


SESSÃO EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 635

No conselho de investigação a que foram submettidos

nenhuma referencia, nenhuma prova contra elles existe; e,

apezar disso, foram cruelmente pronunciados!


Com relação a João Cândido, nos autos não ha prova alguma

da sua responsabilidade, o que existe ó a mais completa


porque
prova da sua innocencia.
A mais importante de todas as testemunhas arroladas

nesse processo, a mais conspicua, a mais graduada de quantas


compareceram á barra do Tribunal, foi o saudosissimo comman-
a bordo, por
dante Pereira Leite o quai clepôz que « ao chagar
das guar-
occasião do segundo levante, o da ilha das Cobras e
nições dos scouts « Rio Grande » e « Bahia », felicitou em nome
do Governo da Republica o rn,arinheiro João Cândido pela sua
stua da legalidade, não tendo
lealdade, pela fidelidade á causa
tomado parte na sublevação ».

Souza e Silva — Era uma manobra para obter as


O Sr.
culatrinhas.

O Sn. Irineu Machado — E' desoladora a declaração de

V. Ex.

O Sn. Galogeras— E onde estão as culatrinhas? (Aparte


do Sr. Souza e Silva.)

Irineu Machado — Então o commandante Pereira


O Sr.
Leite era homem capaz de servir a manejos tão ándecorosos

como esse?

O Sr. Júlio Leite — Era incapaz...

O Sr. Irineu Machado — Era incapaz e elle repetia a pa-


lavra ofíicial do Presidente da Republica quando, em nome

deste, ia dizer a João Cândido que a sua conducta merecia espe-

uial estima e fazia jús ao por parte do Governo


reconhecimento

pela lealdade com que aquelle marinheiro se puzera tão reso-


lutamente ao lado da causa legal.

O Sr. Souza e Silva — Nunca se poz ao lado do Governo.

O Sr. Irineu Machado — Não creio, Sr. Presidente, que


o almirante Pereira Leite fosse um instrumento abjecto capaz

de a manejos dessa natureza. As suas tradições


prestar-se
e desmentem semelhante hypothese. Seria o Ma-
respondem
rechal, Presidente da Republica, um homem capaz de manobras

taes? Dil-o o Deputado pelo Rio de Janeiro, o Sr. Souza e

Silva, alfirma que o Presidente da Republica lançou


quando
meios indécorosos como esse illudir a mari-
mão de para
nhagem.
— Não disso semelhante coisa. O que
O Sr. Souza e Silva
affirmei foi João Cândido e o cheíe do segundo levanto
que
fingiam estar ao lado do Governo para obterem as armas que
tinham sido retiradas dos navios, afim de adherirem á revolta

do batalhão naval.
— é a quo V. Ex. nos
O Sr. Irineu Machado Qual prova
dá ?
•36 ANNAUS DA GAMARÁ

O Sr. Flores da Cunha — E a em contrario


qual prova
que tem V. Ex. ?

O Sa. Souza e Silva — Estavam tão indisciplinadas as


guarnições dos navios, por occasião do segundo levante, os
que
radiogrammas dirigidos ao Sr. Presidente da Republica eram
assignados por João Cândido.

O Sh. FJíOREs da Cunha — O que é interessante é que a


historia e a psychologia desse facto sejam feitas sómente agora.
Não os quero qualificar porque tenho sido apontado como
anarchizador dos trabalhos da Gamara. (Não apoiados.)
O Sa. Irineu Machado — Acho o maior anarchizador
que
foi o Sr. Souza e Silva, vindo torpedar o Sr. Carlos Maximi-
liano. (Riso.)

O Sa. Souza e Silva — V. Ex. está desviando opinião


a
da Gamara...

0 Sn. Irineu Machado — E V. Ex. está querendo adivi-


nhar as minhas opiniões antes de ouvil-as.
Estou a pedir á Gamara exija a remessa do
que processo
afim de examinar, com isenção e serenidade, as affirmações
que laço da tribuna. (Trocam-se apartes.)
Sigo a mesma linha recta de sempre; fui em 1910 contra a
amnistia, como agora a combato, quer aproveite aos autores
do segundo levante naval, quer se estenda aos autores do bom-
bardeio de Manáos.
Dizia eu que nos autos existe a prova da innoceaicia de
João Cândido.
Poderia replicar, desde logo, aos illustres Deputados que
o ônus da prova incumbe, em matéria penal, a accusa
quem
e ninguém está obrigado, em juizo, a provar a sua innocencia.
O accusador é quem prova a culpa ou o dolo, segundo a
natureza da imputação.
No conselho de investigação não ha outras provas senão
as que dizem respeito á co-parlicipação e á direcção do João
Cândido 110 primeiro levante de 22 de novembro, polo qual
elle já havia sido aliás amnistiado.
O auto de informação do crime, redigido pelo tribunal, na
primeira sessão do conselho de guerra, diz textualmente o
seguinte: (Lê.)
O Sr. Maurício de Lacerda —
Quando se deu a ordem de
desembarque a esses marinheiros, não quizeram obedecer, e
foi preciso ameaçal-os com o bombardeio.

O Sa. Iiuneu Machado — Sr. Presidente, o facto ora ar-


guido não está articulado no auto de informação do crime,
nem está sendo examinado pelo judiciário, não é objecto do
processo.
No processo o que se tem apurado perante o conselho de
guerra é que os officiaes recorriam á autoridade de João' Can-
dido afim de que este servisse de intermediário para a trans-
missão das ordens que necessitavam dar á guarnição.
SESSÃO EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 657

O Sn. Souza e Silva — Conseqüências da amnistia.

O Sn. Irineu Machado — O facto ó esse, triste ou honroso,


em toda a sua singeleza; os officiaes, querendo dar ordens,
pediam a João Cândido que as transmittisse aos demais com-
mandados.

O Sn. Augusto do Amaral — Infelizmente, para vergonha


nossa.

O Sr. Irineu Machado — Onde a culpa, onde a responsabj-


lidade de quem vae transmittir aos outros commandados as or-
dem dos seus superiores, por determinação delles?

Os radiogrammas de João Cândido, a que alludiu em parte


o Sr. Maurício de Lacerda, não constituir absolutamente,
podem
um motivo de inculpação.

O Sr. Maurício de Lacerda — Provo que podem; os offi-


ciaes achavam-se ausentes de bordo e elles transmittia-os por
si...

O Sr. Irineu Machado — Faz o Sr. Mauricio de Lacerda


uma affirmação de importancia capital: os navios estavam en-
tregues aos marinheiros, nenhum offcial se achava a bordo d03
vasos deguerra, os quaes ficaram assim confiados ao arbítrio
e á discripção do almirante negro....

Elle é o_dono dos navios; explode a rebellião na ilha das


Cobras e João Cândido transmitte radiogrammas ao Governo
affirmando-lhe a sua lealdade: «Estamos ipromptos, á dispo-
sição do Governo...» Ao commandante ausente expede radio-
gramma dando-lhe aviso da revolta e affirmando-lhe estava
que
prompto, á disposição da legalidade.

O Sr. Maurício de Lacerda — « Mas mandem as culaf.ri-


nlias», era o que pediam sempre.

O Sit. Irineu Machado — « Estamos


proinptos para repri-
mir o levante; pedimos as culatrinhas bombardear
para a ilha
das Cobras.»

O Sr. Souza u Silva — Era manobra clara.

O Sr. Irineu Machado — Os nobresdeputados, alludindo


ao caso das culatrinhas, estão lembrando, com perseverança
digna de estima e de louvor, a falta de confiança do Governo da
Republica na marinhagem amnistiada e nas intenções delia.
Estou agora a recordar-me do aparte que dei, certa vez, ao
Sr. Souza e Silva, aparte que até hoje ficou sem resposta, ape-
sar de haver S. Ex. garantido que a daria dentro de poucos
minutos.

Quando S. Ex. elogiava a disciplina da Armada e fallava


dos
prestados pelo marechal á Marinha Nacional, obje-
serviços
ctei que a confiança depositada pelo Governo nessa marinhagem
não era tanta 'assim', pois filie se recusava a entregar-lhe as
culatrinhas.
638 ANNAES DA CAMARA

Agora, está, S. Ex. a explicar-nos as culatrinhas foram


que
retiradas e não 09 voltaram mais canhões dos
para grandes
dreadnouglits porque o Governo desconfiou que esse pedido
era manobra dos marinheiros.
Onde está, portanto essa confiança ? Onde estó essa apre-
goada tranquillidade do Governo da Republica a ileal-
quanto
dade dos marinheiros.

O Sr. Maurício de Lacerda — A revolta do scout Rio Grcm-


de, do Sul mostra que havia razão desconfiança.
para

O Sr. Irineu Machado — A. verdade é que os grandes navios


estavam abandonados, e o « almrante negro », senhor da situa-
ção, telegraphou para terra chamando o almirante Pereira Leite.
¦Chamou o seu superior,
avisoui-o da revolta, convidou-o a voltar
para bordo e foi João Cândido affirmou ao Governo
quem a
lealdade das guarnições do Minas Geraes e do São Paulo, e essa
lealdade teve-a inteira o Governo da Republica. O negro cum-
priu a sua palavra, e esse facto só ipode ser contestado com
provas, com a indicação de factos em contrario, não com a ar-
guição de suspeitas ou duvidas. Opponham aos meus racioci-
nios provas e factos; porque tudo quanto me objectaram não
basta para demonstrar que esses marinheiros ser
pretendiam
desleaes.

O Sr. Maurício de Lacerda — Eu aponto um facto a V.


Ex. Quando tiveram ordem de desembarcar do navio Minas
Geraes resistiram e houve mesmo um principio de insubordi-
nação, sendo preciso ameaçal-os com o bombardeio das for-
talezas.

O Sr. Irineu Machado — V. Ex. está. se referindo a facto3


anteriores.

O Sr. Maurício de Lacerda — Posteriores á segunda re-


volta. Depois do bombardeio da Ilha das Cobras tiveram ordem
de desembarque e houve mesmo cem marinheiros que quizeram
resistir com armas.

O Sr. Irineu Machado — Repito que esto facto não consta


dos autos nem os réos estão sendo accusados nem processados
em consequencia delle.
Entendo, porém, que os marinheiros tinham razões para
iaes desconfianças, para fcaes suspeitas.
Não haviam elles observado o tratamento dado go-
pelo
verno aos amnistiados de 22 de novembro ?
Não haviam observado a piedade e clemencia do governo
para com os vencidos da Ilha das1 Cobras ?

O Sr. Maurício de Lacerda — Ainda estavam Não


a bordo.
tinha havido a baixa geral na Marinha.

O Sr. Irineu Machado — Observaram das amuradas dos


drcadnouyhts o bombardeio; viram como 0
governo aniquilava)
os últimos sobreviventes sob a massa de ferro e de aço que des-
SESSÃO EM 26 DE SETEMBKO DE 1912 639

pejava na desolada ilha das Cobras; e, nos restos dos muros


quasi arrazados, se via a bandeira branoa> a tremular como um
aceno de piedade aos céos, como uma supplica angustiosa dos
vencidos, emquanto o vencedor respondia com a descarga cerra-
da dos seus canhões e da sua fuzilaria, dando assim, d face do
parlamento, porque todos nós daqui, testemunhamos esses actos
de impiedade e de fereza, a medida da sua generosidade e da
sua clemencia.

O Sr. Maurício de Lacerda — Da sua resistência.

O Sr. Irineu Machado — Resistencia depois de vencidos


os revoltosos I

O Sr. Souza e Silva — Estavam ei* luta.


ainda

O Sr. Irineu_Machado — Estão ahi na acta da Gommis-


são de Constituição e Justiça uma declaração e um appello
que então fiz aos collegas, observando-lhes esta circumstan-
cia vergonhosa, mostrando aos olhos da Camara inteira «ste
crime monstruoso praticado pelo Governo deante de todos os
legisladores.
Viera aqui á Camara dos Deputados fallar-me, por volta
do meio dia, o meu illustre amigo Sr. Edmundo Bittencourt,
o proprietário do Correio da Manhã, chamou a minha
que
attenção para esse facto e me mostrou a bandeira branca já
içada na ilha das Cobras.
Convidei os meus collegas a virem até as janellas, e todos
nós daqui viamos balouçando-se nas ameias da Ilha a bandeira
hranca, signal de armistício, symbolo do perdão, appello a
clemencia do vencedor, emquanto o Governo impiedoso, como
quem exercia a mais monstruosa vindicta, continuava, sem
cessar um minuto sequer, a despejar sobre ella ferro e fogo !

E esse espectaculo vergonhoso e innominavel durou até


que a noite cahiu sobre o sólo amaldiçoado dessa tristemente
celebre Ilha das Cobras, que havia die ser, mais algum
por
tempo ainda, a masmorra onde o Governo encarceraria os ulti-
timo3 despojos do batalhão naval e onde torturaria os ulti-
mos restos da marinhagem, reicindindo em crimes monstruo-
sos e infames que deshonram a nossa civilisação e enchem a
pagina negra e lodosa da nossa historia.

O Sr. Flores da Cunha — Appello a sua honra de


para
homem. V. Ex. acredita que o Sr. marechal Hermoe seja
connivento com o que se deu na Ilha das Cobras ?

O Sr. Irineu Machado — Acredito, depois do banquete


e da promoção do Sr. Marques da Rocha. (Apartes. Apoiados
e mão apoiados. Sussurro.)

O Sr. Dionisio Cerqueira — V. Ex. está falseando a


verdade, desculpe que lhe diga face a face. Essa bandeira eu
a vi, porque estava commandando uma força do atiradores,
e posso affirmar que depois de içada, os revoltosos atiraram
contra terra, morrendo em consequencia diesse ataque, glorio-

i
640 ANNAES DA CAMARA

samente cm <seus postos, um aspirante e soldados. (Ha muitos


outros apartes.)

0 Sr. Irineu Machado — Esta o meu


ahi voto escripto
naquella occasião. Quanto aos íactos agora narrados Jjor
V. Ex. eram então completamente ignorados e desconhecidos

O Sr. Dionisio Gerqueira — V. Ex. acredite no es-


que
tou affirmando sob palavra de honra".

O Sn. Irineu Machado — Desses íactos ninguém (teve

noticia naquella época.

Jacques Ourique — Como accusa V. Ex. com essa


O Sn.
vehemencia, sem ter conhecimento dos factos ?

Sr. Irineu Machado — Ninguém teve conhe-


O jàmais
cimento do íacto que o nobre Deputado pelo Districto Federal
só agora veio narrar. (.Trocam-se muitos apartes; intcrrom-

pem o orador.)
Peço a V. Ex., Sr. Presidente, que me retire a palavra o
a conceda aos meus collegas para que possam elles todos
'tempo.
lallar ao mesmo

Ourique — Estão defendendo a verdade.


O Sr. Jacques

(Apoiados.)
Irineu Machado — Os iIlustres collegas teem ou-
O Sr.
tros meios de demonstrar, se quizerem, a sua lealdade, estima
e idolatria pelo Governo da Republica.

Ourique — Pela mesma razão V. Ex.


O Sr. Jacques que
mostra sua paixão.

da Rocha — Idolatria, não; estima muito


O Sn. Moreira

justa. (Apoiados.)
Gerqueira — Eu dei o aparte para resta-
O Sr. Dionisio
belecer a verdade em um ponto em que V. Ex. a falseou.
'Sr.
O Sr. Irineu Maciido — O illustre Dionisio Cer-

lavrou tentos, deu o mesmo aparte quatro vezes.


queira quatro

Sr. e Silva — Em todo o caso esclareceu.


O Souza

Sr. da Cunha — Peço a palavra.


O Flores

Machado —
que nenhum jornal,
O facto é
O Sr. Irineu
noticiou até hoje os acontecimentos que
nenhum periodioo
referir o meu honrado eollega, representante do
acaba de
Districto Federal.

O Sr. de Araújo — Mas é a expressão da verdade.


Elysio

Dionisio Gerqueira — V. Ex. não acredita na


O Sr.
minha palavra de honra ?

O Sr. Irineu Machado — Até este momento ainda não

tomei o meu nobre eollega para meu çonfessor.

Gerqueira — Não é questão de eonféssor,


O Sr.. Dionisio
mas de restabelecimento da verdade deante da Nação...
tílitítiÃU UM 26 DU SUTEMURO DU i'J12 641

O Sr. Nabuco de Gouvea — Porque a Gamara suspendeu


a s.ua sessão ás 2 horas da tarde ? {Apartes.)

O Sr. Presidente — Attenção 1

O Sr. Irineu Machado — Ha um voto escripto mim


por
naquelle dia memorável, em
presença dos meus collegas e na
sala dos trabalhos da Commissão de Constituição e Justiça, em-

quanto esta se achava reunida, voto esse que, felizmente, foi


transcripto em sua integra 110 competente livro de actas da
alludida commissão. Lá encontrará V. Ex., Sr. Presidente, a
narrativa de todos estes factos e a sua constatação; registrei-o»
alli, o pedirei um dia a sua publicação nos Annaes da Camara.
Esse documento servirá por certo para instruir os futuros
investigadores da nossa historia. Vou agora proseguir na
minha resposta ao Sr. Souza e Silva.
Dizia eu que os documentos, as que são
provas escriptas,
esses radiogrammas, não ministram elementos contra João
Cândido.
Os depoimentos todos elles, são accórdes em affirmar que
João Cândido nenhuma co-partieipação teve na subi ovarão de
dezembro.

O Sr. Souza e Silva — Porque não poude, naturalmente.

O Sr. Irineu Machado — não se traduz


Quando um acto
por manifestações externas, a
liypothese de
que elle se pudesse
talvez realizado é inadmissível determinar responsabili-
para
dades.
Ninguém pôde submetter o cidadão ou o soldado a pro-
cesso por ter este deixado de fazer aquillo se cuida
que que
pretendia fazer, mas que elle não fez, nem revelou por qual-
quer acto ou
palavra que tivesse a intenção de fazer. Como
advinhar intenções criminosas que ficassem 110 intimo de uma
consciência e não tossem exteriorizadas em nenhum acto nem
manifestadas' por qualquer palavra ? Os meus oppositores estilo
sustentando a. theoria mais deshumana tenho
que eu ouvido
ate hoje. (Trocam-se apartes.)
Joã'o Cândido pediu as culatrinhas
para defender o Go-
verno, jurando-lhe lidei idade; e os nobres Deputados dizem
que elle e criminoso, porque o era
que pretendia primeiro
apanhar as culatrinhas c depois voltar-se contra o Governo f
(Apartes.)

O Sr. Souza e Silva — \. Ex.


^ acredita que elle defenderia
•-«overno ? tumulto.
(Apartes; O Sr. Presidente foz soar 0.1
?
lUmpanos. reclamando attenção. Continúando o tumulto, 0 Sr.
* residente suspende a sessão.)

(Suspende-se a sessão ás 2 horas da tarde.)

Comparecem mais os Srs. Anlonio Nogueira, Aurélio Amo-


ei?° d(! Souza> Firmo Braga, Felix Pachoco.
w' ii5?n Moreira
Bezerril Fontenelle, Frederico Borges. João Lonos '
Vol. *
41
AN.NAES DA CAAIAUA
6i2

Augusto Leopoldo, CamUlo do Hollanda,


Augusto Monteiro,
Cunha Vasconcelos, \atal|cio Camboim.
Aristarcho Lopos,»
Moniz de Carvalho, TJbaldino de Assis, Antonio
Mario Hermes,
Alfredo Ruy, Pereira Teixeira; Ar-
Moniz, Felinto Sampaio,
bodre, Júlio Rfetello
lindo Leone, Souza Britto, Momz j-.eite,
Salles Filho, Tliomaz Delpmno, 1< lorianuo
júnior Rodrigues
Nunes, Elysio de Araújo,
Erico Coelho, Pereira
de Britto,
Prado Lopes, Vianna do Castello,
Fernandes, Teixeira Brandão,
Antonio Carlos, Carlos Peixoto Filho, Cale-
ltibeirô Junqueira,
Godofredo, Baptista de Mello, Antero Bo-
geras, Lamounier
Nogueira, Pereira Braga, Raul Car -
telho Francisco Bressane,
Filho, Palmeira Ripper, Bueno de
doso Prudente de Moraes
Valois de Castro, Aninhai de Toledo, Pe-
Andrada, José Lobo,
do Amaral, Qso-
reira do Oliveira, Gumercindo Ribas, Evaristo
rio, Domingos Mascarenhag e João Simplicio (00).
de compareeer com causa os Srs. Ar-
Deixam participada
Moreira, Simeão Leal, Serzedello Corrêa, Joãio Chaves,
tliur
Bastos, Theotonio de Britto, Hosannah de Oliveira,
Antonio
de AhranChes, Chrjstino Cruz, Coelho Netto, João
Dunshee
Raymundo Arthur, Eduardo Soboia, Tliomaz Cavai-
Gayoso,
Virgílio Brigido, Gentil Falcão, Felizardo Leite, Sera-
canti,
Nobrega, Maximiano de Figueiredo, Balthazar Pe-
ptiico da "Vasconèellos,
Meira de Arthur Orlando,
reira, Simões'Barbosa,
Lundgren, José Bezerra, Rego Medeiros, Rocha Ca-
Frederico
valcántj, Joviniano de Carvalho, Felisbello Freire, Miguel Cal-

mon, Campos Franca, Carlos Leitão, Raul Alves, Pedro Ma-

riani, Leão Velloso, Torquato Moreira, Figueiredo Rocha, Pedro

de Carvalho, Pennafort Caldas, Fróes da Cruz, Silva Castro,

Mario de Paula, Francisco Veiga, Silveira Brum, Astolplio

Dutra, João Penido, Landulpho Magalhães, Garção Stockler,

Josino de Araújo, Alaor Prata, Francisco Paolielo, Mello Franco,

Camillo Honorato Alves,


Prates, Cardoso de Almeida, Joaquim

Augusto, Chaves, Cincinato


Eloy Braga, Álvaro de Carvalho,

Adolpho Gordo, Costa Júnior, Mapcello Silva, Fleury Curado,

Ramos Caiado, Oscar Marques, Carvalho Chaves, Diogo For-

tuna e Pedro Moacyr (08).


o Sr. Sabino Barroso
(A',ç 2 horas c HO minutos da tarde,
Júnior, Presidente, reassume a cadeira da presidência e reabre

a sessão.)

O Sr. Presidente—Reabre-se a sessão.

Passa-se á

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PAUTE (ATÉ A'S 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)

Continuação da 2' discussão do projecto n. 123 A, de 1912.

do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas do

Batalhão Naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910, e


SliSSÂU EM 26 DE SETEMBBP 1)15 191ÍÍ 643

aos civis o militares envolvidos nos acontecimentos de Mandos,


em outubro do mesmo anno; com parecer faVpravel da Com-

missão do Constituição e'Justiça.


-em discussão o art. 1".
Entra

0 Sr. Presidente — Acha-se sobre a Mesa um requeri-

mento para ser lido.

Em seguida é lido, apoiado e posto em discussão com o


art. Io o seguinte

REQUERIMENTO

Requeiro que o projecto n. 123 A, de 1912, seja enviado á


Commissão de Marinha e Guerra, sem prejuízo da discussão.

Sala das sessões, 26 de setembro de 1912.— Souza e Silva.

0 Sr. Souza e Silva — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Devo informar ao nobre Deputado que


o requerimento que acaba de ser lido hão vae ser submettido
já a votação; entra em discussão com o art. Io do projecto para
ser votado opportunamente.

O Sr. Souza e Silva — Desisto cm-


então da palavra, por
quanto.

0 Sr. Presidente — Tem a Bueno


palavra o Sr. de An-
(Irada.

O Sr. Bueno de Andrada—Julga necessário, antes de justi-


ficar a emenda, que apresentou a favor da amnistia dos revol-
tosos do Acre, definir-se, deante do proposto no
problema
projecto em discussão.
Votará a 1'avor do perdão aos da ilha da?
prisioneiros
Cobras, porque apoiou a amnistia aos rebeldes da esquadra.
Os motivos que levaram o Congresso a ser clemente na-
quella oceasião, são os mesmos que justificam a amnistia de
agora. De piais a mais. quando agora, quem a indica e mesmo
a solicita o o illustre Ministro da Marinha.
Não se recorda ter sido o medo a razão dominante de seu
voto naquella emergeneia. A
do amnistia surgiu no Senado

por ação compassivo desse notável cobarde — Ruy Barbosa, o


•71)a!, ó geralmente sabido, 1'ugiu sempre, em todas as oecasiões
difficeis do sua vida publica—, passou na Câmara com votos de
uma numerosa maioria acobardada, e foi finalmente sane-
cioriada por um outro cobarde, o Marechal, chefe supremo de
nosso Exercito.
Ora, si foi cobarde naquella occasião, esteve em excellente
companhia:
com dous únicos candidatos á presidencia da Re-!
publica; portanto, com toda a Nação.
AN NAUS DA GAMARA
04 í

votação, apparecer a lenda de que


Viu Ioko após aquella
em dous o dos heroes e o
se achava dividida grupos:
a Gamara
1105
explodiu a revolta da ilha das Co-
a dias,
QuandoTdahi
verificar si, de facto, havia muita dilferença na co-
hras oara
favor o os votaram contra a
dos que votaram a que
rmem
onde se travára *
dirigiu-se aos pontos,
ainnistia, „S„a'°
apenas verificar si la sc encontravam,
imra brigar, mas para
rebeldes, os heroes do Congresso.
combatendo os novos
Pois, desses válientes lá não viu nenhum ! (luso.)

é naquelle tremente mo-


\ verdade, Sr. Presidente, que
cada Senador e o Sr. Presidente
mento político, cada Deputado,
de accôrdo com os seus sentimentos
da Republica, procederam
de amor á Patria e estímulos humanitários. {Apoiados.)
testemunho
jui/.o ao
Aproveita a occasião para oppòr seu
seu excellente amigo, Sr. Corrêa Do-
injusto que emittiu o
freitas, a respeito da officialidade do nossa Armada.
fluencia de sua palavra, sabe por
B. Ex., arrastado
pela
não traduziu naquella hora perfeita-
testemunho particular,
referente aos nossos bravos e dignos
mente seu pensamento
officiaes de Marinha. S. Ex. sabe, o está convicto, que a o.tfi-
sempre a Patria e os ideaes repu-
cialidade da Armada, que
não regateará esforços até á temeridade,
blicanos perigarem,
até ao heroísmo. .
Disto tem provas o orador nos actos de indomita e serena
officiaes da Armada, quando dirigiu
bravura, praticados por
a administração no Territorio do Acre.
llelata, pormenorizando, o facto do 1" tenente Soares Dutra
ter se atirado de bordo do navio que commandava ás aguas do
rio Juruá, aguas infestadas de jacarés e caimans, para ir

salvar marinheiros que, trabalhando, haviam submergido.


dizer
Quem tem provas de tanto valor não pôde deixar de
e o pa-
que a nossa Patria pôde contar sempre com a coragem
triotiismo dos officiaes o da maruja de sua marinha de guerra.
(Apoiados.)
Passa ai que o Territorio do Acre, quer nas mar-
provar
do rio desse nome, quer nas do Purús e do Juruá, foi
gens
conquistado aos bolivianos e peruanos pela força das armas,
manejadas pelos intrépidos sertanejos do Ceará, da Parahyba
e do Rio Grande do Norte.
Narra os feitos do intrépido brazileiro Plácido de Castro,

que levou para aquellas invias florestas o exemplo da bravura


ingenita dos habitantes dos Pampas. Conta como foram con-

quistados para o Brazil os valles dos rios Juruá e Purús, lê o


trecho do commandante das forças peruanas Von-Hessel, der-
rotadas pelos seringueiros brazileiros na fóz do rio Ammonea,
pelo qual se vê que a pugna foi seria e resolvida.
Tudo isto, exclama o orador, prova que aquellas popula-
ções amam o Brazil, o
que é justo qu<>a Patria, em recompensa,
lhes conceda a almejada autonomia.
DE 1912 645
ST?oSÃ0 EM 26 DE SETEMBRO

Ia explodidas, demonstra
as diversas revoltas
Analysando
origem esta nobre aspiração.
oue tiveram por
não deixar de ,ser
As ultimas, principalmente, podem
da animação que lhes deu o
são ellas consequecia
amnistiadas;
8>V autonomia do
a
Para aqui vieram commissões pleitear
pelo Governo, pela
Acre- foram recebidas animadoramente
Para lá voltaram, cheias de es-
imprensa e pela opinião geral.
acreana seria em pouco
certas do que a autonomia
peranças,
tempo uma realidade.
essa medida não foi
Por motivos, que não analysa agora,

traduzida em lei. r
revolta, a
Do desengano ao desespero, do desespero a pas-

sagem ó lógica e fácil. Foi o que aconteceu.


responsáveis, co-
Assim, diz o orador, nós também somos

autores daquellas desordens. {Apoiados.) .


foram e estão produzindo serias
No Purús, estas graves
conseqüências para a paz e tranqüilidade daquellas populaçoes.

orador alonga-se em narrativas de factos que provam


O
entre outras telcgramma
um do pro-
tal asserção, destacando
da Republica 110 Territorio do Acre, dirigido
curador seccional
da Republica no Supremo Tribunal, declarando
ao procurador
dos bens dos revoltosos 1 Isto antes
ter decretado o seqüestro
de terminado, não já o processo, mas as primeiras pesquizas

policiaes.
Tal facto vem demonstrar que a lueta política entre ven-
acha travada
redores o vencidos, animada pelas autoridades, «e
fóra do terreno legal, cavando assim, no presente, discórdias

que 110 futuro só a amnistia poderá fazer esquecer.


Assim, nunca o aeto de nobresa soberana, concretizado na

concessão de amnistia, poderia ter mais justa e opportuna

applicação que no caso dos rebeldes do Acre.


do
Os
poderes públicos, estendendo sobre elles o magnanimo
manto da clemencia, em vez de excital-os a novas rebeldias, ao
contrario, mostrará que nas leis do se encontram meios
paiz
de restabelecer a paz naquellas perturbadas regiões.
E parece ser o único caminho a seguir.

Quando após as sangrentas


civis o partido do ven-
luetas
cedor abate, domina pune seus adversarios,
e os ódios políticos
refugiam-se no coração dos vencidos, e abi, silenciosamente,
como funesto fermento de futuras e inevitáveis
germinam,
discórdias.
Nem rancorosas nem severidades barbaras,
prescripções,
nem terror de concedem triumphador de mo-
supplicio, para o
mento a submissão sincera do adversario humilhado.
A tranqüilidade, então conquistada pela violência victo-
riosa, é sempre apparente; illude como a paz em Varsovia:
mais cedo ou mais tarde, mais cedo do que (arde, irrompe de
novo a revolta armada, perturbando a marcha progressiva do
paiz.
6Í6 AN NA KS OA CA.MAHA

E' a lição <ía Historia: o emir de Granada abatido pelo


duro de Aífon.-o de Leão, o Orando, em sua dissimulada
pulso
exclamava: «Como seria triste a vida, sem a es-
obediência
petançá da vindicta !»
E' ainda nos fastos históricos de todos os povos que se
apréiide ser a clemência o único methodo
político de resta-

beleceí' a paz nos espíritos e do adormecer nos corações dos


vencidos os desejos de vingança.
Systema nobre, humanitário e effieaz que as leis da amnis-
tia concretizam !
O maior poeta da nossa raça, o grande épico portiiguez
dizia: «A clemencía mais braços tem rendido do, eme av ps-
pada». «Publique Roma si venceu mais gente, quando iüipla-
cavei foi ou foi clemente ».
Srs. Deputados, termina o orador, ao vosso espirito dè

justiça, á magnanimidade de vossos corações, ao conselho de


vosso patriotismo, entrego a sorte da cáusa qUe defendo.

(Sfítíto tíoih, muito bem; o orador foi muito eumpri-m.cn*


tadó.)

Comparecem ainda os Srs. Lucíano Pereira, ílanhacf Pi-


hneíro o Faria Soutò (3).

O Sr. Presidente — Esgotada a hora d ti da


prirrteirá parle
ordem do dia, fica adiada a discussão do árt. 1* dó ppòjectò
n. 123 A, de 1912.
Antes de pass&r á segunda parte da ordoni do dia. eümpro
um dever declarando á Ráínara dos Deputados que a Mesa re-
solveü considerar como não ditas herii ouvidas ris paláyras hoje
proferidas neste
pelo Sr. rèeinto
Deputado Iríheu Machadii, e
que foram recebidas com q protesto que a Carnara conhece.
(Muito bem; muito bem. Patmás no recinto e nas
gali',riái.)
Essas palavras, poi-tnnt.o, não •ctíüst:li;ãò dos Àitnaos da
Oamára dos Deputados. (fírávos! Muito bem..' Hrfidfirtlo de
palmas.)

Passa-se á

SECUNDA PARTE DA ORDEM 1)0 PIA

(A'S 1 íloliAP DA TAHljfe 01' A NI' t!S)

Continuação da 3" discussão, do projecto n, (11 I!, dó 1012,


fixatlbo a dkspeza do Miflist.erio da ALírinultiii-a, Industria e
Cominerclo para o bxereicio de 1913.

O Sr. Prcsidohte — Tenl a o Sr. Josino de Araújo.


palavra

O Sr. Josino de Araújo — Atiles de fuíidámenlar ns eitietl-


das oue apresentou projecto ení debati1
ao é forcado a respdll-
dei' d critica feita pelo illustre Deputado S, Paulo e
por por
'

SESSÃO EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 647

outros dis.tinctos collegas, sobre o requerimento em que pediu


discriminação de diversas verbas referentes ao orçamento da
Agricultura.
E' obrigado a fazel-o, antes de iniciar as suas observa-

a respeito daquellas emendas, não só pela muita consi-


ções
deração que lhe merecem os seus collegas como também porque
tem o dever de justificar o seu procedimento, ottt relação ao
referido requerimento.

Ouviu dizer, em tom pedagogico, que as exigencias con-


tidas nesse requerimento tinham origem na is.ua inexp.çri< > ; i
administrativa. Tal alle.gação foi feita não por estadista,
summados, mas pelo joven e sympathico Deputado du Bahia,

que aliás fazia a sua eátréa nesse dia e pelo seu amigo o Sr.
Deputado Pires Fférreira, que o orador sabia tem apenas a;l-
ministrado ate hoje a sua banca de advogado e pretende ad-
muiistpir o ensino ria cadeira que tom óa Escola de Agricul-

tura. o.'! f ( rtence a este Ministério.
Pensa ter provado que o seu requefiirionto está amparado
nas leis brazileiras.
Ehttétárito, aftcusado de inexperiencia em matéria admi-
nistí-ativa, váe ler a opinião, sobre discriminação de despezas,
do illustre prbsidèrite dò Tribunal de Contas, de cuja.capa-
cidade não se pôde duvidai', pois é a maior autoridade no as-
süinpto, biitrb riós, e cuja pratica administrativa não se pôde
pôr em duvida, pois ha muito tempo exerce o «eu cargo, que
é db maior destaque rio apparelho administrativo financeiro
da NaçãO.
1j(\ bin seguida, vários trechos dos reíatorios do presidente
(lo Tribunal do Contas, fazetido vêr
a necessidade da especi-
íicação, tal como exige no seu requerimento, á vista do diz
que
que a allegfição feita contra o seu requerimento — de ser
iormülailo e apresentado um inexperiente — deante
por cae
de tão abalizada opinião.
Mas o que e mais
6 o que se allegou interessante
ainda:
a discriminação fias verbas seria
por deniais extensa, tomándo
grande parte do Diário do ConflrcsÈo o liingiiom o lefia !
E' um argumento inacceitavel; mas a theoria que elle re-
presénta tem a vantagem de explicar o motivo da não publi-
cação de reíatorios: são por demais e ninguém os 16,
longos
sendo inútil sua publicação.
Passa a responder aos argumentos
do Sr. Itaul Fernandes,
çüja presença assignala, folgando com ella, que representa o
restabelecimento, de antigas e salutares, Sr. Raul
praxes. (O
J:ernandes — affiriria — tem
quanto possível assistido aos
debates.)
Em relação á arpruição, feita pelo Sr. Raul Fernandes e
repetida por outros defensores do projecto, de ser, extensiva a
toaos os ministérios falta
a de discriminação dos serviços «
respectivas consignações, diz ser ella falsa, o
prova-o com a
leitura dos trabalhos dos differentes ministérios, mostrando,
64R ANNAES DA GAMARA

exemplo, que, no da Mnrinhn, até se especializam sub-


por
consignações de 200 e 100$000.
Não teem, pois, razão, os defensores do orçamento da

Agricultura, lie resto não concorda o orador coru o curso que


tomou a defeza do orçamento em discussão.
A verdade é que aquelles quo criticaram o orçamento da

Agricultura não eram obrigados a fazer critica idêntica aos

outros orçamentos. Muitas vezes a escolha de um orçamento


obedece aos estudos especiaes de cada Deputado. O orador, por
exemplo, é agricultor. E' natural que estude assumptos refe-
rentes á agricultura e possa discutir o orçamento da Agri-
«ultura.
Merece resposta o que disse o Sr. Joaquim Pires, deferi-
dendo o orçamento em questão. S. Ex. estabeleceu que, para o
apreciar, se deve partir do que chama o quantitativo a des-

pender e o numero de verbas a satisfazer. Este critério não 6


absolutamente acceitavel. Eqüivale a conceber o quantitativo
a despender, em relação ao numero de folhas da tabella.
Mas o orador não crê na efficacia das suas apreciações.
Elias estão, para a teimosia da Camara em achar perfeito o
orçamento da Agricultura, como o assobio do ditado gaúcho
para o gado que vae ao bebedouro. Bem diz o ditado gaúcho:
«Quando o boi não quer beber, é inútil assobiar...» Si a
maioria não quer ouvir as apreciações bem intencionadas dos
oradores, 6 inútil o trabalho delles.
Continuará o orador a justificaras suas emendas; porém
não o fará sem cumprir uma promessa anterior, qual ó a de
trazer ao conhecimento da Camara varias e curiosissimas bu-
gigangas, que servem á Commissão de Propaganda do Brazil
na Europa.
Exhibe-as em seguida, mostrando a inefficacia e o ridículo
da nossa propaganda de expansão economica no exterior, pas-
sando em seguida a criticar, uma a urna, as differentes con-
signações das tabellas e a fundamentar as emendas que apre-
senta até a 121* verba.
Quanto a esta sua ultima emenda, mandando reverter
30 % nas verbas em que ha despezas eventuaes para o serviço
de immigração e colonização, assignala a relevancia do serviço
de immigração,pelas vantagens decorrentes para a economia
nacional e para as condições políticas e sociaes do paiz.
(Muito
bem; muito bem. O orador é muito cumprimentado.)

(Em meio do discurso do Sr. Josino de Araújo o Sr. Sa-


bino Barroso Júnior, Presidente, deixa a cadeira (Act presidencia,
que é occupada successivamente pelos Srs. Soares dos Santos,
i" Vice-Presidente e Juvenal Lamartine, 3° Secretario.)

O Sr. Presidente — Continua a discussão do projecto nu-


mero 61 B, de 1912.

0 Sr. Joaquim Pires Peço a ordem.


palavra pela
EM 26 RE SETEMBRO DE 1912 649
SESSÃO

— Tom a o nobre Deputado.


0 Sr. presidente palavra

ordem.) — Declara não


O Sr. Joaquim Pires (pela pre-
tribuna discutir segunda vez o orça-
¦tender vir a para pela
mento da Agricultura; mas. chamado nominalmente quer
appello feito seu condiscipulo o amigo o
corresponder ao pelo
Sr. Josino de Araújo.

sua valia,
reconheça na matéria em cujos
Embora pouca
excedem os seus collegas Srs. Nicanor do Nas-
conhecimentos
e Moniz de Carvalho, o orador deseja accentuar que
cimento
do Sr. Didimo da Veiga, longe de contestal-o, como
a opinião
o illustre Deputado bahiano, vem exactamente corro-
suppoz
sua affirmativa ha 110 orçamento a maior dis-
borar a de que
criminação das verbas, sem contusão entre Pessoal e
possível
Material, pontos capitaes arguidos por S. Ex.

nessa occasião
disse o nobre Deputado não
O orador que
era um inexperiente, porque é brilhante o tirociuio de S. Ex.

na advocacia, como nas questões de que na Gamara se occupa,

collocando-as por sua cultura, sempre, no ponto de vi>s.ta mais


elevado.

O orador simples
disse distração,
que talvezS. Ex.,
por
de Contas
da fôrma
se houvesse pela qual o Tribunal
esquecido
faz o registro dos differentas, créditos e a especificação das

verbas impossibilitando o ministro de fazer dispendio por


uma só das consignações.

Antes do insinuar ao seu collega noções de Direi Io Admi-

uistrativo quiz o orador apenas chamar a attenção de S. Ex.

X>ara urn pequeno equivoco'.

Folga o orador ter se dado este pequeno incidente, para


que mais uma vez venha affirmar a elevada estima e admi-
ração que tributa aos collegas cujos nomes citou, declarando-
se prompto a retirar as palavras que, de leve embora, pu-
dessem arrufar os arminhos da susceptibilidade de seus no-
bres collegas. (Muito bem; muito bem.)

0 Sr. Presidente — Continua a discussão do nu-


projecto
mero 61 B.

Tem a palavra o Sr. Euzebio de Andrade. (Pausa.)

Não está tem a palavra o Sr. Deputado Gumer-


presente;
cindo Ribas. (Pausa.)

Também não está presente.

Dou a ao Sr. Deputado Luciano Pereira.


palavra

O Sr. Luciano Pereira — Como V. Ex. vê, Sr. Presidente,


faltam cinco minutos para terminar a hora; nestas condições
rogo a< fineza de adiar a discussão, na fôrma dos precedentes.

O —
Sr. Presidente Attendendo ao pedido do nobre Depu-
tado, fica adiada a discussão do n. 61 B, de 1912.
projecto
650 ANNAE8 DA GAMARA

Designo para amanhã a Seguinte

ORDEM DO DIA

do projecto n. 61 B, do 1912,
Continuação da 3" discussão
a despei a do Ministério da Agricultura, Industria e
fixando
Commercio pura o exercício de 1013;

da 2a discussão do projecto n. 123 A, de


Continuação
do Senado, concedendo aniríistia aos implicados nas rc-
1912,
voltas do Batalhão Naval e navios da esquadra, bm dezembro

de 1910, e aos civis e inilitareã envolvidos lieis acontecimentos

de Mundos, cm Qütjibrq do mesmo anjio; cbirt fayòbàvel


párbcbr
cia Òommissão de Constituição è Justiça;

305, de 1912, concedendo a


2° discussão 4o proipctp, n.
viuva, emquanto fôr, de Quintiiio Bocayuva, à auxilio de 800$

mensaes, assim como o de 200$ a cada um dos sbus filhos

Oswaldo, Waldemar, llosa, Ada e C.óra, e também o de


Edgard,
300$ :i Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, sua morte ou casamento, reverterá aos
quantia que, por
seus filhos Safah, José, Léo e Izábel;

3" discussão do projecto n. 301, do 1912, autorizando o


Presidente da Republica a concorrer com a quantia de 100:000$,
como auxilio, para se erigir um monumento nesta Capital, em
honra á memória da ex-imperatriz do Brázil; com voto em
seiiaradó do Sr. Pedro Moacyr b parecer da Commissão de
Finanças;

3" discussão do projecto n. 184 B, de 1912, redacção para


3" discnssãp da emenda, approvada o destacada do projecto
ii. 3Ô2, de 1911, mandando equiparar os vencimentos do ronser-
vador restaurador da ninacothoea da Escola .Nacional de Bellas
Artes abs do seerbtario da mesma escola.

3* discussão do projecto n. 298, de 1912, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 7:200$ para occorrer
ao pagamento devido a ArthUr Martins Lopes), ejn virtude de
sentença judiciaria;

1" discussão do projecto n. 275 A, de 1912, tornando ex-


tensiva aos juizes íederaes de 1" instância e sous substitutos a
disposição do art. 3", rí. III, da lei n. 2.356, do 31 de dezembro
de 1910, relativa á cobrança em estainpilhas das custas ju-
dioiaes; com parecer favoravel da Coinmissão de Constituição
e Justiça;

2a discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo


para o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos
tenentes; os inferiores que tenham mais cie três annos d»
praça e serviços e dando outras providencias;
profissionaes,
coiii parecbi- b emenda da Coniihissáo de Marinha e Guerra;
EM 26 DE SETEMBRO DE 1912 051
SESSÃO

do 1ÔI2, detérmiitando a
2" discussão do projecto n. 280,
de Constituição o
hora legal; cülii pabebér (íit CottinÜssSo

Justiça;
do projecto n. 804, do 1912, autorizando
tíisbussão jifilcá
dè Macedo Goàla um anuo do licença,
(i concedi1!' a Joaquim
vencimentos; colíi fitvomvel da tom-
cdíii todos ftá parecer
dos hrs. Ili-
rnisáãó de finanças o
yot.o em separado e emenda

beiro Junqueira c outros;

dç projecto n. 70 A, de 1912, mandando isen-


2a discussão
inclusive dos de expediente a ifUrQ-
tar do todos os diroitos,
fronteiras do vacoum e ovelhum destinado
ducçSo pelas gado
òdtrás bom substitutivo da
A' críáéaò e dando providencias;
Agricultura e parecer favorável da de Finanças;
Commissão de

do n. 213, de 1912, creando o logar


3,L discussão projeCto
Museu Naval, annexo á Bibliotbeca de Marinha,
de zelador do
e garantias idênticas aos dos mestres do
ròm os vencimentos
Marinha; com favòravel da Commissao de
Arsenal de parecer
Finanças projecto n. 300, de 1911);
(vide
do n, 279, de. 1912 autorizando a
discussão
3" projecto
do Interior, o credito extraordinário do
abrir, peto Ministério
4:200$, ouro, para pagamento do prêmio de virgem conferido
ao Dr. Carlos Leoni Wernecck;

2* do
discussão projecto n. 325, de 1911, m^ndâpdo con-
effeitos eje bravura
siderar para todos os por, actos praticados
na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 de hoyémbro
do 1897,. a promoção do 1" tenente do Exercito Francisco das

Chagas Pinto Monteiro a este posto; com da Conmiissãó


parecer
de Finanças;

3* discuíjsã,o projecto n. 210 Á, de 1912, d,o penado, ap-


do
torizando a abrir,
pelo Ministério da Justiça ò Negócios Inte-

ríores, o cre(Jí,tò de 8:9-10$, süpplémerítar á verba da cbnsigna-


— — da rubrica G" do art. 2" da lei n. 3,S44s «6,4
cão Pessoal
de de 1912; com parecer favorável da ubriinilssao tit{
janeiro
Finanças;

3" discussão projéfitd n, 203,, de


cio 1012, aütorjzáiido a

abertura. dp de 150:000$,
credito ouro, pof conta do especial

8.000:000$, despezas a representação do Brazil


de para çOip
na Terceira Exposição Iiitefitacionát da BOTracna;

3", do n..320 A, de 1911, considerando


discussão projecto
de ütiílaaaé ri Assòciáção Cdmiriercial_ da Bahia; com
pubilbá
favorável da Commisão de Constituição e Justiça;
parecer

Discussão única do
projecto n', 303, de 1912, autorizando

a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista da


Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão
de Finanças;

2" discussão projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


do
Claudia Vergara Oliveira,
de viuva do coronel graduado ,re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e sua
632 ANNAES DA GAMARA

filha Francisca do Oliveira fazerem as contribuições do art. 4o


do decreto n. 1.054, de 20 de setembro d'e 1892;

2a discussão projecto n. 306, de 1912,


do do Senado, auto-
rizando a mandar pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessionário
de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282, por
obras contractadas e executadas nos quartéis da Força Policial
do Districto Federal; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3" discussão projecto n'. 377.


do de 1911, autorizando a
abertura do credito
extraordinário de 5:393$548, para paiga-
mento de vencimentos que competem ao lente em disponibili-
dade da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da.
Veiga Filho;

2a discussão do projecto n. 311, de 1912, autorizando a


abertura do credito supplementar de 200:000$, á verba 15a
do art. 93 da lei orçamentaria vigente, para attender a des-
pezas com o cadastro dos proprios nacionaes;

Discussão única do parecer da Commissão de Finanças


sobre a emenda offerecida na 2a discussão do projecto n. 161,
de 1912, estabelecendo um novo quadro de amanuensee do
Exercito (vide projecto n. 161 A, de 1912);

Ia discussão do projecto n. 9 A, de 1912, reformando ò


Laboratório de Analyses da Alfandega do Rio de Janeiro, crêa
laboratorios nas alfandegas de diversos Estados, dando outras
providencias e fixa os números, classes e vencimentos de
accôrdo com as tabellas quei estabelece; com emendas da Com-
missão de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finanças.

2a discussão do projecto n. 48 B, de 1912, tornando exten-


isivas á Academia de Commorcio de Pernambuco as disposições
da lei n. lj.339, de 9 de janeiro de 1905, á semelhança do que
tem sido concedido a outras academias; com parecer favoravel
da Commissão de Instrucção Publica (vide projecto n. 48 A,
de 1912);

Discussão única do projecto n. 278 A, de 1912, do Senado,


autorizando a conceder até um anno de licença, com todos os
vencimentos, ao desembargador Affonso Lopes de Miranda, da
Côrte de Appellação do iDistrict.o Federal: com parecer da Com-
>nissão de Petições e Poderes e emenda da de Finanças.

Levanta-se a sessão ils 5 horas e 55 minutos da tarde.


SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 653

113" SESSÃO, EM 27 DE SETEMBRO DE 1912

PHES1DENCIA DOS SRS. SABINO BARROSO JÚNIOR, PRESIDENTE


;
SOARES DOS SANTOS, Io VICE-PRESIDENTE; RAUL VEIGA, 2o SE-
CRETARIO; JUVENAL LAMARTINE, 3" SECRETARIO

A' 1 hora da tarde procede-se a chamada, a que respondem


os Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Raul Veiga,
Juvenal Lamartine, Mavignier, Luciano Pereira, Rogério de
Miranda, Gosta Rodrigues, Cunha Machado, Moreira da Rocha,
Bezerril Fontenelle, Agapito dos Santos, Flores da Cunha, Lou-
renço de Sà, Manoel Borba, Netto Campello, Augusto do Ama-
ral, Erasmo de Macedo, Euzebio de Andrade, Alfredo de Car-
valho, Barros Lins, Moreira Guimarães, Octavio Mangabeira,
Antonio Moniz, Felinto Sampaio, Raul Alves, Rodrigues Lima,
Jacques Ourique, Pereira Braga, Florianno de Britto, Porto
Sobrinho, Souza e Silva, José Tolentino, Elysio de Araújo,
Francisco Portella, Maurício de Lacerda, Alves Gosta, Augusto
de Lima, Sebastião Mascarenhas, Prado Lopes, Francisco Veiga,
Vianna do Castello, Antonio Carlos, José Bonifácio, Irineu
Machado, João Luiz de Campos, Álvaro Botelho, Lamounier
Godofredo, Baptista de Mello, Anthero Botelho, Carneiro de
Rezende, Moreira Brandão, Christiano Brazil, Jayme Gomes,
Rodolpho Paixão, Nogueira, Manoel Fulgencio, Galeão Car-
valhal, Cândido Moita, Alberto Sarmento, Marcolino Barreto,
Bueno de Andrade, Estevam Marcolino, Alves
Rodrigues Filho,
Arnolpho Azevedo, Marfim Francisco, Pinto,
Olegario Caetano
de Albuquerque, Luiz Xavier, Henrique Celso
Valga, Bayma,
Gustavo Richard, Octavio Rocha, João Yespucio, Gumercindo
Ribas;„Maximiliano, Fonseca Hermes e Nabuco do Gou-
vea (78).

Abre-se a sessão.

0 Sr Juvenal Lamartine (3- Secretario, servindo de í")


procede a leitura da acta da sessão antecedente, a qual é posta
em discussão.

O Sr. Carlos Maximiliano — Peço a palavra.

0 Sr. Presidente — Tem a palavra o nobre Deputado.

0 Sr- Carlos Maximiliano — A affirmou


imprensa que a
i
bancada do Rio Grande tio Sul, votando comniigo o contra o
requerimento Souza e Silva, deu, na sessão de terça-feira, os
passaportes ao iIlustre lead-cr o Sr. Fonseca Hermes. Não <5
verdade.

'KIUVU 1U'U1'° t^xautorar, nem


"uem^10 de magoar a nin-
6S4 annajss ua gamara

O leader declarou, da tribuna, que a questão era aberta;


pôde a bancada prestigiar o companheiro, sem se
portanto
rebellar contra o chefe.

Quanto á minliij altitude, não ha duas opiniões: andei di-


•rei to.
Era o que tiiflja a dizer. (Muito bem; muito bem.)
Em seguida e approvada a Seta da sfesão antecedente.

O Sr- Presidente — P^ssa-se á leitura do expediente.

0 Sr. Raul Vejiga (2° Secretario, servindo de Io) á


procede
leitura do seguinte

EXPEPIpNTE I

Officios:

Pous do Ministério da Agricultura, e Com-


Industria
inercio, de 25 ç|o cprrçnte,' enviando as seguintes

M15NSAGE1ÍS

grs. membro* do Congresso Nacional — Transmitindo-


vos a inclusg, exposição, me foi apresentada
que pelo Ministro
da Agricultura, Industria e Cómmercio, relativamente á in-
(jemnizacão de despezas feitas com a introdücçãP de ànftnàes
reproduetores, de accôrdo com o art. 82,' n. XXXlI, da lei nu-
mero 2.350, de 31 de (Jezembro de 1010, tenho a honra de so-
licitar-vos a abertura ao mesmo' ministério do credito de
3:354$88Ó, quro, e 280$,'papel, para'attsnder á referida ip-
demnizaç^o.

Rio de .Janeiro, 25 de setembro de 1012, 01° da Indepen-


delicia e 21" da Republica Hermes da Fonseca.

presidente díj Republica — Em virtude do disposto no


Sr.
art. n. XXXII, dá lèi ji. 2.35(3, de 31 do dezembro eje 1910,
foi o Governa autorizado a abrir os créditos necessários para
pagamento de despezas feitas com a introducçãò dó ánimaes
reproduetores, apuradas ou que fossem apuradas neste mi-
uisterio, de accôrdo com o art. 2o dó regulamento baixou
que
com o decreto 11. 6. 15S, de 18 de abril de 1007.
Gabriel Augusto de Andrade, tendo importado animaes
destinados á reproducçãp, apresentou a este Ministério, 110 de-
vido tempo, os documentos legaes, tendo sido apurada a
quantia de 2:351.15880, ouro, e 280$, lhe devia ter
papel, que
sido indemnizada nos termos da citada disposição.
Em março do corrente aniio enviei ao Ministério da Pa-
zenda o respectivo processo, de
afim que o mesmo ministério
providenciasse sobre a abéMura do credito, o que hão se veri-

i
SESSÃO KM 27 DE SETlOlIillO DE 1912

ficou dentro do trimestre addicional do anno financeiro do


•1011,
segundo toe fpi declarado no aviso n. 60, de 28 de julho
ultimo.
Presentemente o
pagamento só poderá ser realizado me-
diante concessão defundos especiaes Congresso Nacional,
pelo
visto não estar o Poder'Executivo autorizado a abrir o tíredito

para tal fim, no corrente exercício.'


A' vista do exposto, peco vos digneis de solicitar ao Con-
gresso Nacional o credito especial de 2:35Í$889, ouro, e 28(5$,
papel, attender ao pagamento acima referido.
para

Secretaria de Estado da Agricultura, Industria o Com-


mercio, 25 de setembro de 1912— Pedro de Toledo.— A. Coin-
missão de Finanças.

Srs. Membros do Congresso Nacional — Tenho a honra de


passar âs yossas mãos, afim de que vos digneis de tomar na
'incluso
consideração que merecer, o requerimento de João Ba-
ptfeta da Franga Mascárenhas, acompanhado da exposição do
motivos que Me foi apresentada Ministrp de Estado da
pelo
Agricultura, Industria e Cómmorcio, acerca da reclamação de
pagamento de diversas parccllas,' na importância dô'l :899$026,
ouro, o 1:3361700, papel, glosadas em varias coritas de des-
pezas leitas pelo requerente com a importação de animaes re-
productores.

Rio do Janeiro, 25 de setembro do 91° da Indepon-


1912,
dencia e W da Republica.— Hermes II. da Fonseca.

Sr. Presidente da Republica — João


Jíaptista da Franca
Mascaronhas requoreu a este Ministério iudemnização de des-
as,com n m',roducção do animaes
?nnnS , reprodüctores em
190.), baseado na disposição contida
da 110 art. 82, n. XXXII,
iei n. 2.350, de
31 do dezembro de
{910.
Apuradas por este Ministério as importâncias devidas, nos
termos daquelle dispositivo, Ioi por vós solicitado ao Congresso
Nacional o credito especial de 15:09i$437,
ouro, em mensagem
de 9 do corrente mez, de accôrdo com a exposição
do motivos
que vos apresentei na mesma data.
Acontece, porém, que o referido
.. criador julga-se com
diraíto n índenlnização dè diversas despezas glosadas em suas
contas, por não terem sido consideradas como corijprèhendidas
na citada disposição.
E, .solicitando o pagamento das quantias, pede elle que o
seu requerimento seja enviado ao' Congresso Nacional, acom-
panliado de uma relação das alludidas 'Poder
glosas, para que o
¦legislativo incorpore'a respectiva imporlancia ú divida iá re
conhecida
pelo Governo.
656 ANNAES DA GAMARA

a petição de que se trata,


Apresentando-vos acompanhada
de quadro demonstrativo das despezas no começo referidas
um
e do uma relação das parcellas glosadas* neste Ministério, nada
tenho a oppôr a que a mesma petição seja remettida ao Con-

gresso.
Para esse fim tenho a honra do submetter á vossa assi-

gnatura a mensagem annexa.

Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1912 Pedro de Toledo.


—¦ A' Commissão de Finanças.


Do Ministério da Viação e Obras Publicas, de 20 do cor-
rente, satisfazendo a requisição desta Gamara constante do
officio n. 165, do 3 de agosto ultimo, sobre a pretenção do en-
genheiro João Maria de Almeida Portugal, pedindo contagem
de tempo.— A quem fez a requisição.

Requerimentos:

De Benedicto Netto de Vellasco, a validade do


pedindo
diploma de bacharel em sciencias lettras e a matricula
para
nas escolas superiores.— A' Commissão de Instrucção Publica.
De Alberto Morynte Bastos, guarda da Alfandega do Rio
de Janeiro, pedindo um anno de licença em e com
prorogação
todos os vencimentos.— A's Commissões de Petições e Poderes
e de Finanças.

Representações.

Da Camara Municipal da cidade de Lima Duarte; da Con-


fereneia de S. Vicente de Paulo e da Associação das Damas de
Caridade dessa mesma cidade, Estado de Minas, protestando
contra o projecto de divorcio.— A' Commissão de Constituição
e Justiça.

E' lido e fica sobro a Mesa até ulterior deliberação um


projecto do Sr. (iumercindo Ribas e outros.

São successivainente lidos e vão a imprimir os seguintes

PROJEGTOS

N. 299 A — 1912

Autoriza a concessão
de um anno de licença sem vencimentos,
mra tratar de negocios fora do pais, ao Dr. Carlos César
de Oliveira Sampaio; com
parecer favoravel da Commissão
de Petições e Poderes

(Do Senado)

PARECER

A Commissão de Petições e Poderes é de parecer que seja


approvado Camara
pela o projecto «Io Senado autorizando o
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 657

Presidente da Republica a conceder um anuo de licença, sem


vencimentos, para tratar de seus interesses, fóra do
paiz, ao
Dr. Carlos Gesar de Oliveira Sampaio, lente cathedratico da

iEscola Naval.

Sala das Comfnissões, 26 de setembro de 1912— Lamou-


nicr Godofredo, presidente.— Prudente de Moraes Filho, re-
lator. — Olegario Pinto.— Dionisio Cerque ira.— Octav-io Man-
gabeira.

Projecto n. 299, de 1912

(Do Senado)

O, Congresso Nacional resolve:

Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado


a conceder um armo de licença, sem vencimentos, para tratar
de negocios de seus interesses, fóra do paiz, ao Dr. Carlos César
de Oliveira Sampaio, lente cathedratico da Escola Naval; re-
vogadas as disposições em contrario.

Senado Federal, 0 de setembro de 1912.— José Gomes Pi-


nheiro Machado.— Joaquim Ferreira Chaves.— Pedro Augusto
Borges.

N. 318 A — 1912

Determina que sejam aproveitados, independente de concurso.


os actuaes inspectorcs interinos vagas de inspe-
para tos
etores sanitarios existentes na IHrecloria Geral de Saúde
Publica; com parecer favoravel da Commissão de Saúde
Publica

Considerando que os inspectorcs interinos ter


devem ad-
quirido no exercício de suas funeções a pratica necessaria
para
o bom desempenho do cargo que lhes vae ser confiado;
Considerando que o projecto f. assás isso
equitativo, por
que dá preiereneia aos que tiverem sido apprevados em con-
curso, aos que tiverem cursos especiaes de bacteriologia, pa-
rasitologia e protosologia e aos que contarem maior tempo de
interinidade:
A Commissão 6 de parecer favoravel approvação deste
á
projecto.

Sala das CommissÕes, 26 de setembro — Palmeira


de 1912
Hipper, servindo como
presidente.— Moreira da Rocha, relator
— Victor de
liritto.— Firmo Braga- Costa Rodrigues.

Projecto n. 318, de 1912

O Congresso Nacional resolve:

Artigo único. Para as vagas de inapectores sanitarios exis-


tentes na Directoria Geral de Saúde Publica, poderão ser apro-
ANNAES DA GAMARA

veitados, independente de concurso, os actuaes inspectores in-


termos, sendo preferidos:

?) os que já tiverem sido approvados em concurso para


esses logares;
?) os que provarem ter feito curso completo de bacterio-
logia,párias itologia ou helmintologia, em instituto nacional ou
estrangeiro;
n) os que, servindo polo menos durante dous annos como
médicos nessa directoria, tiverem maior tempo de interinidade.

Sala das sessões, 13 de setembro de 1912.— Souza Britto.


— Rodrigues Lima.— Cunlta Machado.— Carlos Maximiliano.
¦— Henrique Valga.— Ag apito dos Santos.— Olegario Pinto.

N. 321 A _ 1912

Autoriza a conceder ao Dr. Carlos Domicio de Assis Toledo,


promotor publico do Alto Purús, um anno de licença, em
prorogação, com dous terços dos vencimentos

(Do Senado)

A' Commissão de Petições e Poderes a foi presente o


que
projecto do Senado autorizando o Governo a conceder um anno
de licença, em prorogação, com dous terços dos vencimentos,
para tratamento de saúde, ao bacharel
de Assis Carlos Domicio
Toledo, promotor do Alto Purús, no Acre,
publico conforme
requererá, attendendo que o requerente com
provou attestado
medico estar soffrendo de cirrliose atrophica do figado com
ascites consecutivas, e carecer do licença
prazo de solicitado
para seu completo tratamento, 6 de appro-
parecer que seja
vado pela Camara aquelle
projecto.
Sala das Commissões,
26 de setembro de 1912.— Lamou-
nier Godofredo,
presidente.— Prudente de Morpes Filho, re-
latoi'.— Olegario Pinto.— Augusto Monteiro.— Dionysio Cer-
queira— Octavio Mangabeira.

Projecto n. 321, de 1912

(Do Senado)

O Congresso Nacional resolve:

Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado a


conceder ao Dr. Carlos Domicio de Assis Toledo, promotor pu-
o tio Alto^Purús, no
do Acre, um Territorio anno de licença,
em prorogaçao, com dous terços dos vencimentos, para trata-
mento de saúde; revogadas as disposições em contrario.

Senado Federal, 14 de setembro de 1912.— José Gomes Pi~


nheiro Machado.— Joaquim Ferreira Chaves.— Pedro Augusto
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 659

N. 340 — 1912

Autoriza a conceder
ao bacharel Antonio Augusto Ribeiro de
Almeida, promotor publico da comarca do Acre, um anno
de licença, com dous terços dos respectivos vencimentos;
com parecer favoravel da Commissão de Finanças

A Commissão do Petições o Poderes, a quem foi presente


a petição, em que o bacharel Antonio Augusto Ribeiro de Al-
meida, promotor publico da comarca do Alto Acre, solicita um
anno de licença, com dous terços dos seus vencimentos, para
tratamento de saúde, em vista de achar-se enfermo de
polyne-
vrite palustre, como demonstra com o attestado annexo, da
Directoria Geral do Saúde Publica, e
precisar de tal prazo para
o respectivo tratamento, segundo o mesmo attestado, é de
parecer que se adopte o seguinte projecto:
Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado
a conceder ao bacharel Antonio Augusto Ribeiro de Almeida
promotor publico da comarca do Alto Acre, um anno de licença,
com dous terços dos seus respectivos vencimentos, para tratar-
se onde lhe convier; revogadas as em
disposições contrario.

Sala das
sessões, 17 de setembro 1912.—
de Lamounier
(rodofredo,presidente— Octavio Mangfxbeira, relator.— Ole-
gano Pinto.— Souza Britto.— Augusto Monteiro.— Dionvsio
Cerqueira.

Parecer da Commissão de Finanças

Commissão de Finanças foi


n ,-4 presente o parecer da de
J etiçoes e I oderes deferindo o requerimento em o pro~
que
da,
do comarca Alto Acre bacharel Antonio Au..
!ltí0
™,°of01 tPk
kusio Ribeiro de Almeida pede mais um anno de licença, com
dous terços de vencimentos,
para tratamento de sua saúde
prolundamentc atacada e abalada
pbr moléstias contrahidas
duianto a sua longa permanência alii.

° e?amo feUo tres médicos


T-oí»i^>-re^UerfI1Íe íunLa j)0r da Di~
leciona Geral Saúde 1 ublica,
de que o dão como soffrendo de
polynevrite palustre, em condições de precisar de um anno de
licença
para o seu tratamento.

A Commissão de Finanças nada tem a oppôr à aDorovn-m


do projecto iorinulado pela de Petições e Poderes.
Sa'-11 '^as Commissões, 24 de setembro de 1912
r„n
Jungueim. mi
presidente.—- Felix Pacheco, relator Homero nl
ptista.— /iaul, Fernandes;-— Pereira
Nunes 1 //»>« ,i ,f ,
Caetano de AlbuquerqueAntonio
Carlos,-, João Simplicü.
660 ANKAES LIA CAMAIIA

N. 347 — 1912

Considera reformado no posto dc almirante o vice-alrnirantü

reformado com posto Antônio Luiz von


a (jTiaduaç.ão desse
Hoonlioltz e dá outras providencias; com os novos pare-

ccres das Commissões dc Marinha e Guerra e de Finanças


e voto um separado do Sr. Serzedcllo Corrêa

(Vide projectos ns. 10 e 16 A, do 1909)

O projecto n. 10 A, do 1909, foi devolvido, em 3" discussão,

ás Commissões de Marinha e Guerra e de Finanças, para novo


estudo. De autoria do Sr. ex-Deputado Graccho Cardoso, elle
manda considerar reformado 110 posto dc almirante o vice-
almirante reformado com a graduação desse posto Antonio
Luiz von Hoonlioltz, passando a receber o soldo que, pela ta-
bella vigente, vier a competir,
lhe e teve parecer favoravcl da
Commissão de Marinha e Guerra da passada legislatura.
A Commissão do Marinha o Guerra, concordando com o

parecer da Commissão de Marinha o Guerra emittido em 19 de

julho de 1909, julga que o referido projecto deve ser appro-


vado.

Sala das Commissões, «S de julho de 1912.— R. Paixão,

presidente.— Augusto Carlos de Souza e Silva, relator.— An-


toriio Nogueira.— Mario Hermes da Fonseca— R. Arthur.— J¦
Augusto üo Amaral.— João Vespucio dc Abreu e. Silva.

Parecer (th Commissão de Finanças

Não posso, infelizmente, dar o meu voto ao parecer do


eminente Sr. Serzedello Corrêa, a respeito da melhoria de re-
lorma do Sr. barão de Tefíé. Esse parecer não affirma nem
nega, deixando que a Câmara, em sua sabedoria e critério, re-
solva como fôr Como, porém, o honrado relator
mais acertado.
se reporta no que anteriormente dissera sobre o assumpto o
Si'. Homero Baptista, é claro que, em consciência endossa' as
idéas o conceitos emittidos polo preclaro representante do rio-
grandense, antigo relator da Marinha, hoje relator da receita
nesta Commissão, que justamente .se orgulha do tel-o como
vice-presidente.
Evidentemente, nada ha a oppôr, no terreno strictamente
legal e jurídico, ao parecer do Sr. Homero Baptista.
Tirando as suas deducções com aquella lisura de argu-
mentação e sinceridade de pensamento que lhe são habituaes,
o Sr. Homero Baptista ateve-se á lettra expressa dos decretos
e concluiu pela negativa; nem de outra fôrma opinar,
poderia
pois o que sc pede é uma lei especial, creando, a titulo de ex-
cepção, um direito novo e único para uma determinada pessoa,
digna em tudo desse altíssimo galardão nacional. Não ha, como
suppõe o antigo relator, muitos no Exercito e na Armada em
EM 27 DE SETEMBKO DE 1912
SESSÃO

Eu, menos, nao os conheço. Sei de


condições semelhantes. pelo
com clenodo no campo da batalha
innumeros que pelejaram
da Patria. Mas não injurio a nenhum dolles aifir-
pela causa
figura do Antonio Luiz von Hoonholtz é uma fi-
mando que a
um typo representativo, encarnaçao
gura culminante, grande
de um de gloria, de que nos deve-
viva o sympaihica passado
como no caso de que
mos ufanar, sobretudo sio vemos, _so
e renovado na extrema velhice do varão
traia, continuado
uin constante
e pertinaz seu amor á sua classe, ao
illustre por
e ao trabalho compatível com a idade a que
ao estudo
paiz,
chegou. ,
uma verba,
Fallando, ha annas, na Gamara, quando propuz
do Asylo dos Inválidos
que ella acceitou, para a reconstrucção
'Patria, tive opportunidade accentuar que precisamos
da de
educar o no sentimento do amor e da veneração pela
povo
gloria das nossas armas. Todos se queixam da a patina militar
e não raros no® presumem incapazes da resur-
do Brazil já
de nossa força disciplina na ordem moral e pelo
reição pela
as causas
adextramento na ordem technica e profissional. Entre
dessa decadencia lamentavel figura forçosamente o abandono
antigas. O resur-
que deixamos as nossas legitimas glorias
em
os povos cada vez
gimento das virtudes guerreiras, que tornam
menos aggresivos, mas igualmente mais conscientes de «eus

ficará sempre dependendo do maior ou menor zelo


destinos,
que puzermos nesse nobro culto.

Accresce ainda uma circumstancia: o Sr. barão de Teffé

não foi apenas um bravo e heroico marinheiro, o ultimo com-

mandante sobrevivente da jornada memorável de Riachuelo.

EUe honrou e honra ainda a nossa cultura em outros ramos


do saber. Não foi com títulos militares que transpoz as portas
da Academia de Sciencias de Pariz. Não seria ocioso recordar,
agora, quando do todos o» pontos do estrangeiro chegam ao
Brazil as grandes notabilidades scientificas, que veem apreciar
o eclipse solar total de 10 de outubro proximo, sem que de
nossa parte tenha havido demonstração outra de interesse pelo

phenomeno celeste que não a do pessoal do observatório offi-


-1864,
ciai, que, em antes, portanto, da guerra do Paraguay, o
então 1° tenente Hoonholtz hombreava dignamente com um

astronomo e hydrographo da estatura de Mouchez, o qual não


desdenhava, antes se comprazia em verificar com elle .exa-a
ctidão das observações feitas simultaneamente por ambos na
costa catharinense, por occasião do eclipse de 30 de outubro
daquelle anno.
O antigo relator fazgrande cabedal dos termos com que
o autor do sereferiu ao afastamento do serviço do
projecto
Sr. barão de Teffé e manifesta claramente a sua duvida quanto
á possibilidade de ter havido, no caso, uma compressão. Ora,
nós «abemos quantas fôrmas pôde revestir a coacção sem dei-
xar ao menos apparencia disso. Mas não quero nem preciso dis-
cutir este ponto.
«62 ANNAES DA CAMAllA

O caso reoente da reversão do Sr. índio do Brazil por sen-


tença é eloqüente demais para que precise insistir
judiciaria
na matéria.
Dou o meu voto ao parecer da Commissão de Marinha e

Guerra como uma recompensa nacional decretada especial-

mente Congresso, em attenção aos relevantes serviços


pelo
ao Brazil pelo barão de Teffó, na guerra como na
prestados
paz.

Sala da Commissão de Finanças, 18 de setembro de 1912.


— Homero Baptista, vice-presidente, vencido de conformidade
com o parecer que elaborou em 2 de setembro de 1909.— Felix
Pacheco.— Antônio Carlos Raul Fernandes* Galeão Cav-
valhal, vencido por ter assignado o parecer lavrado em 2 de
setembro de 1909.— - M. Borba.

Voto em separado do Sr. Serzeãello Corrêa

Foi presente á Commissão de Finanças o projecto em que


se manda que seja considerado reformado no posto de almi-
rante o vice-almirante reformado com a graduação desse posto
Antonio Luiz von Hoonholtz, passando a receber o soldo que
pela tabella vigente lhe vem a competir.
A Commissão de Finanças está de accôrdo com o luminoso

parecer que a Commissão do Finanças do anno de 1909 deu


sobre o assumpto em questão, mas por outro lado, considerando
os extraordinários serviços de paz e de guerra que aureolam a
vida desse notável militar que é o immortal barão de Teffó,acha
que só a Camara em sua sabedoria deverá decidir si deve ou
não conceder a esse bravo militar o favor que o projecto con-
1'ere.

Sala das Coinmissões, 20 de agosto de 1912.— Scrzedello


Corrôa, relator.

Proj-ecto n. 16, de 190!)

Considerando que a gratidão da Patria melhor se define


na recompensa aos serviços dos seus herdes sobrevivos;
Considerando que dos velhos combatentes de Riachuelo
enumerados entre os benemeritos commandantes de navio
nessa memorável jornada apenas existe o almirante barão do
Teffó, Antonio Luiz von Hoonholtz, com 72 aunos de idnde,
tendo a morte ceifado ha pouco o segundo delles, almirante
Elisiario Barbosa, ministro do Sunremo Tribunal Militar:
Considerando que. afastado pelo Governo Provisorio da
carreira onde tantos louros conquistou para. o seu e para o
nome do Brazil. foi o legendário marinheiro levadn a reformar-
se no posto de almirante com o soldo de vice-almirante pela
tabella antiga, auando aquelle seu illustre companheiro de
glorias, além dos proventos do alto cargo que occupava, se
reformara com o soldo da tabella actual;
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 19Í2 663

distinguido pelo marechal Deodoro da


Considerando que,
Fonseca com a nomeação de ministro plenipotenciario de 1*

classe, dignamente serviu o barão de Teffé no quadro effectivo

tanto em Bruxellas como em Roma, até o acto


diplomático,
da situação
discricionário da sua demissão em por effeito
1893,

anormal que o paiz atravessava naquelle momento;


Considerando que, depois do 42 annos de indefessa o inin-

terrupta aotividade, o almirante barão de Teffó está reduzido

á do minguado soldo de 600$ mensaes, como ga-


percepção
lardão a um passado coberto de brilho e de civismo;
Considerando que, no quadro dos almirantes graduados
nenhuma reforma existe nas condições da do almirante barão

de Teffé, sendo que todas as demais effectuadas


posteriormente
o foram com vencimentos maiores, attentas as novas leis em

vigor;
Considerando que, a situação em presentemente ®e
que
encontra o almirante barão de Teffó é clamorosamente exce-
o que o muito que á Patria resta do tributo ao seu
pcional
incontestável valor e abnegado desinteresse se traduz no legi-
timo e inconcuso direito de, na velhice, fruir dias mais con-
fortaveis e poder assegurar á sua a modesta subsistência
prole
no futuro;
Considerando que, o Governo da Republica já melhorou o
estado pecuniário dos voluntários da Patria, inspirando-se no
exemplo do Chile para com os sobreviventes da guerra do Pa-
cifico e da Ttalia para com os patriotas
garibaldinos;
Considerando que, si o reconhecimento nacional bem se
exprime exalçando a memória dos bravos que com o sacrifício
da vida ascenderam á immortalidade, não menos eloqüente-
mente se revela e enobrece quandi resgata os débitos da jus-
tíça contrahidos para com aquelles cujo merecimento não se
annulla ou diminue pelo simples facto da morte os haver por
bem poupado;
Considerando que, na hypothese, a Nação solve, ao mesmo
tempo, uma stríeta obrigação de honra e reivindica a equidade
para um dos mais insignes legionarios do Paraguay;

O Congresso Nacional decreta:

Art. l.° E' considerado reformado posto de almirante o


no
vice-almirante reformado com a graduação desso posto An-
tonio Luiz von Iloonholtz, passando a receber o soldo que pela
tabella vigente lhe vier a competir.
Art. 2.° Fica o Governo autorizado a abrir o necessário
credito para o seu
pagamento.
Art. 3." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 28 de junho de 1009 Graccho Cardoso.

O Sr. Presidente — Está finda a leitura do expediente.

O Sr. Irineu Machado — Poço a palavra pela ordem.


664 ANNAES DA GAMARA

— Tem a o nobre Deputado.


O Sr. Presidente palavra

Machado Presidente, devo


0 Sr. Irineu (pela. ordem)—Sr.
inaugurado amanhã, ás 10 horas, no cemiterio de S. João
ser
mausoléo do saudoso e integerriino Presidente Af-
Baptista, o
fonso Penna.
Amigo seu, que fui, e representante da terra mi-
pessoal,
berço, venho requerer a
neira, que teve a honra de sei' o seu
V. Ex. se digne nomear uma coriimissão que represente a Ca-

mara naquclla triste solemnidade. (Muito bem; m.uito bem.)

O Sr. Presidente — O nobre Deputado Sr. Irineu Machado


requer que seja nomeada uma commissão para representar a

Gamara na solemnidade da inauguração do mausoléo do Sr.

conselheiro Affonso Penna.


Os senhores que approvam o requerimento queiram se
levantar. (Pausa.)
Foi approvado.
Opportunamente farei a nomeação da commissão.
Tem a palavra o Sr. Irineu Machado.

0 Sr. Irineu Machado diz que precisa continuar as eonsi-


florações hontem encetadas para demonstrar a necessidade que
tom a Gamara do requisitar os autos do
processo a que res-

pondem os réos, cuja amnistia o projecto em discussão na


ordem do dia pretende obter da clemencia da Gamara.
Pensa já ter demonstrado hontem que 6 o Governo quem
precisa ser amnistiado, que só a elle aproveita gesto o de
piedade que cm seu vem pedir ao nome se Gongresso.
Recapitula as affirmações que hontem fez no sentido de
JBOiji^snf opu9i9jd as anb uioo soatioui sai} so anb jej^suouiop
essa amnistia, não procedem, porque é o proprio Governo que
embaraça o funccionamento do conselho de guerra, é elle que
difficulta o depoimento das testemunhas, não as apresentando
ao conselho e muitas vezes nem respondendo ási suas requisi-
ções, e porque, finalmente, a ausência de sessenta co-réos não
impede o julgamento dos restantes, como o proprio Codigo
Processual Militar estabelece.
Estuda os motivos
pelo Governo para declarar au-
dados
sontes 00 co-réos, um apenas, dos
porque desertou,
quaes tem
essa ausência justificada. Dos outros diz o Governo que uns
são inexistentes, rasgando-lhes assim a certidão de nascimento,
outros são extMviados, como qualquer encommenda postal,
alguns fuzilados e outros, ernfim, por motivos equivalentes.
Referindo-se de novo ao correi' do processo e suas prin-
cipaes peças, que na vespera eistudara para conhecimento da
Gamara, «ífirma que todos os depoimentos são pela innocencia
de João Cândido, cuja absolvição seria inevitável, se o pro-
cesso proseguisse até final julgamento.
E' falsa, na sua opinião, a clemencia que o Governo alar-
deia, porque elle 6 o martyrisador dos réos que deseja agora
SESSÃO EM 27 UE SETEMBRO DE 1912 665

sc salvar a, cllc mosmo, qug ígui de dar contas


salvar, para
desses CO ausentes, extraviados o inexistentes.
a própria administração que submetteu esses réos a
Foi
de investigação e depois ao de guerra, sem que ti-
conselho
o indispensável inquérito policia] militar; é
vesse precedido
administração conserva em inciommunicabi-
essa própria que
o entregues á justiça; é ella que
lidade réos pronunciados
no hospital da ilha das Cobras, como o con-
recusa reunil-os
Dispersando-
selho guerra requisitou,
de por terem adoecido.
os em hospitaes impede que o processo continue.
vários
E' esta a clemencia do Governo pelos réos: pede íi Gamara
amnistia para as crueldades, da administração.
Os rebeldes vencidos foram tratados como animaes, inju-

riados na grandeza de sua quéda.


O Governo foi farto, nessa occasião, em demonstrações de
Declarou esses homens sabiam das fileiras
generosidade. que
sem e corria em seu soccorro, empregando-os nas
pão que
obras da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Recorda a resposta

então deram os americanos e as companhias que executam


que
serviços, declarando esses trabalha-
aqueiles que não queriam
dores, porque não os encommendaram.
O Governo faltara ;i verdade; declarando que os tinha

contractado como trabalhadores daqucllas obras, quando as

companhias não tinham sido previamente consultadas.


Trata-se, além de tudo, de homens innocentes, sem ne-

nhuma responsabilidade nas sublevações, e que na occasião

se achavam em terra. A prova disso foi o resultado do con-


selho, declarando quo eram em parcella minima aqueiles que
tomaram parte na revolta.
As nações civilizadas punem apenas os cabeças do movi-
mentos subversivos, pois a justiça não é um instrumento de
vingança, não tf uma destruidora de vidas, não ó o massacre, o
aniquilamento, e limita- e a eliminar aquilloque é i ecessario.
Em relação ~o caso de Mandos pergunta se são também
sentimentos de humanidade piedadee os que indicam a neces-
sidade de amnistiar os autores desse crime. O coronel Panta-
leão Telles tem a cidade por menage, como teve o Sr. Costa
Mendes antes da sentença.
Aquelle soffre uma única privação, que é a de uma parte
de seus vencimentos, a gratificação.
'Para esse,
ura crime como do bombardeio de uma cidade
aberta, ao ponto das granadas alvejarem a Beneficencia Por-
tugueza, dando logar il intervenção das autoridades consulares,
nenhum outro paiz se limitaria a condemnar seus autores à
perda da farda, mas fal-os-hia pagar sua responsabilidade no
carcero.
Já não quer fallar nos paizes onde a vida militar 6 uma
profissão nobilitante, como a Allemanha, a Inglaterra, a
França, onde um crime desta natureza, em que os chefes de
força,si do Exercito o da Marinha fazem voltar as carabinas e
os canhões do Governo contra uma cidade aberta, valendo-se
666 ÀNNAES 1)A GAMARA

da arguição de que agiam em nome desse mesmo Governo,


bombardeando, matando mulheres e creanças, dando logar á
intervenção dos cônsules, seria exemplarmente punido.
(Apoiados e não apoiados.)

[Advertido de que n hora do expediente está finda, o ora-


dor interrompe o seu discurso).

O Sr. Presidente — Está finda a hora destinada ao expe-


diente.
Vae-se passar á ordem do dia. {Pausa.)

Comparecem mais os Srs. Antonio Nogueira, Aurélio Amo-


rim, Firmo Braga, Agripino Azevedo, Joaquim Pires, Felix
Pacheco, Raymundo Artliur, Frederico Borges, João Lopes,
Eloy de Souza, Augusto Monteiro, Augusto Leopoldo, Meira
Vasconcellos, Costa Ribeiro, Aristarcho Lopes, Cunha Vascon-
cellos, Natalicio Camboim, Baptista Accioly, Dias de Barros,
Mario Hermes, Moniz de Carvalho, Pedro Lago, Freire de Car-
valho Filho, Ubaldino de Assis, Alfredo Ituy, Pereira Teixeira,
Souza Britto, Dera Ido Dias, Moniz Sod'r"é, Raphael Pinheiro,
Paulo de Mello, Júlio Leite, Metello Júnior, Figueiredo Rocha,
Nicanor do Nascimento, Dionisio Cerqueira, Rodrigues Salles
Filho, Thomaz Delphino, Erico Coelho, Pereira Nunes, Faria
Souto, Raul Fernande?, Teixeira Brandão, Ribeiro Junqueira,
Carlos Peixoto Filho, Josino de Araújo, Mello Franco, Epami-
nondas Ottoni, Ferreira Braga, José Lobo, Valois de Castro,
Annibal de Toledo, Lamenha Lins, Corrêa Defreitas, Pereira
de Oliveira, Evarisío do Amaral, Victor de Britto, Osorio, Do-
iningos Mascarenhas, João Simplicio e Jouo Benicio (CO).

Deixam do comparecer com causa participada os Srs. Ar-


thur Moreira,, Simeão J^eal, Monteiro de Souza, Serzedello Cor-
rfia, João Chaves, Antonio Bastos, Theotonio de Britto, Ho-
sannah de Oliveira, Dunshee de Abranches, Christino Cruz,
Coelho Netto. João Gayoso, Eduardo Saboia, Thomaz Cavai-
canti, Virgilio Brigido, Gentil Falcão, Camillo de Hollanda,
Felizardo Leite, Seraphioo' da Nobrega, Maxim ia no do Figuei-
redo, Balthazar Pereira, Simões-Barbosa, Artliur Orlando, Fre-
derico Lundgreen, José Bezerra, Borges da Fonseca, Rego Me-
deiros, Rocha Cavalcanti, Joviniano de Carvalho, Felisbello
Freire, Miguel Calmon, Campas França, Arlindo Leone, Carlos
Leitão, Pedro Mariani,, Leão Velloso, Torquato Moreira, Pe-
dro de Carvalho, Pennafort Caldas, Fróes da Cruz, Manoel Reis,
Silva Castro, Mario de Paula, Silveira Brum, Astolpho Dutra,
João Penido, Calogeras, Landulpho Magalhães, Francisco Bres-
sane, Garção Stockler, Alaor Prata, Francisco Paolielo, Ca-
millo Pratos, Honorato Alves, Cardoso de Almeida, Joaquim
Augusto, Raul Cardoso, Eloy Chaves, Cincinato Braga, Álvaro
de Carvalho, Prudente de Moraes Filho. Adolpho Gordo, Pai-
meira Ripper, Costa Júnior, Marcello Silva, Fleury Curado,
Ramos Caiado, Oscar Marques, Carvalho Chaves, Diogo For-
tuna, Homero Baptista e Pedro Moacyr.
EM 27 DE SETEMBRO OE 1912 667
SESSÃO

ORDEM 1)0 DIA

— A lista da accusa a presença de


O Sr. Presidente porta
138 Srs. Deputados. ,
ás votações das matérias que se acnam
Vae se proceder
sobre a Mesa. , ,
Deputados occupera as suas cadeira»1.
Peço aos nobres que

(Pausa.) . , . „ ..
Gommissao de Lonsti-
Está sobre a Mesa um projecto da
Regimento, é considerado matéria
tuição e Justiça que, pelo
urgente.

O e o seguinte:
projecto

N. 349 — 1912

a acMal sessão legislativa até o ãia 3 de


Provou a, novamente,
novembro do corrente anno

O Congresso Nacional resolve:

E' novamente prorogada a aclual sessão le-


Artigo único.
gislativa até o dia 3 de novembro do corrente anno.

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912.— Cunha

Meeliado, Porto Sobrinho.— Henrique Valga.—


presidente.—
Carlos Máximiliano.— Meira de Vasconccllos.— Gumercindo

Ribas.— Afranio de Mello Franco.— Moniz de Carvalho.

O Sr. Presidente ,— Está em discussão unica o projecto


n. 349, de 1912.
Si não ha quem peça a palavra, vou declarar encerrada a
discussão. (Pausa.)
Está encerrada.
Os senhores que approvam o referido projecto queiram so
levantar. (Pausa.)
Foi approvado.
O projecto vae ser enviado ao Senado.
Vae ser julgado objecto de deliberação um projecto.
Em seguida, é lido. julgado objecto de deliberação o en-
viado á Commissão do Constituição e Justiça o seguinte

PROJECTO

N. 348 _ 1912

Determina que as licenças para de saúde dos [une- tratamento


cionarios públicos federaes ou de pessoa de suas respe-
ativas Ihmilias só sejam, concedidas com ordenado até seis
mezes c dá outras providencias

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." As licenças para tratamento de saúde dos fune-


cionarios públicos federaes ou de pessoa do suas respectivas
famílias só serão concedidas com ordenado até seis mezes.
668 ANNAES DA CAMARA

Paragrapho único. As licenças por outro motivo serão


sempre concedidas sem ordenado e pelo prazo máximo de um
anno.

Art. 2." Um terço dos vencimentos que perceberem os


funccTonarios públicos íuderaes lhes será abonado a titulo do

gratificação pro labore, a qual dependerá sempre do effectivo


exercício, devendo recebei-a oi substituto legal do funccionario

que estiver fóra do cargo.

Art. 3." E' da competencia exclusiva do Executivo ou dos


seus orgãofi a concessão das licenças de que trata a presente
lei; regovadas as disposições em contrario.

Sala das sessões, 10 de setembro de 1912.— Gumercindo


Ribas.— Joaquim Osorio.— Evaristo do Amara,l.—< Octavio
Rocha.— Domingos Mascarenhas João lienicio da Silva.—
João Vespueio de Abreu c Silva.— Victor de Britto.— Nabuco
de fíouvêVn— João Simplicio.— Diogo Fortuna Flores da
Cunha.

0 Sr. Presidente — Estão findas as votações.


Passa-se ás materiais em discussão.

Continuação da 3" discussão do projecto n. 01 B, do 1912,


fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio para o exercício de 1913.

O Sr. Presidente — Tem a o Sr. Deputado Luciano


palavra
Pereira.

O Sr. Luciano Pereira — Sr. Presidente, desisto da pa-


lavra em favor do meu collega Sr. Gumercindo Ribas, pedindo
a V. Ex^ que me inscreva de novo.

0 Sr. Presidente — Tem a o Sr. Deputado Osorio.


palavra

O Sr. Osorio — Faço minhas as palavras do Sr. Luciano


Pereira.

O Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Deputado Cor-


rêa Defreitas. {Pausa.)
Não estando presente, tem a palavra o Sr. Deputado Gu-
mercindo Ribas.

O Sr. Gumercindo Ribas (movimento de attenção)—Sr.


Presidente, o illustre Deputado pela Bahia Sr. Miguel Calmon,
cujo nome peço licença para declinar, produziu em uma das
ultimas 'sessões da Gamara um boilo discurso sobre instrucção
primaria, discurso que innegavelmente icnusou iassigjnaladl&j
impressão no espirito de todos que o ouviram, devido certa-
mente no prestigio pessoal do orador, já occupou
que posição
EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 669
SESSÃO

do paiz, tendo Jdo até Ministro de Es-


do destaque na política
do mallogrado Sr. Affonso Penna.
tado no Governo
do orador, além das idéas por assim
O prestigio pessoal
S. Ex., obriga-me a fazer al-
dizer originaes sustentadas por
algumas apreciações ao seu discurso, o que só
«uns reoaros,
haver faltado a devida oppo.rtunidade para o
retardei por me
lai!°Sr.
sabe V. Ex. bem como o
Presidente, perfeitamente,
Republicano do Rio Grande pratica
paiz inteiro, que o Partido
subordinada a
e realiza uma política eminentemente organica,
assim dizer, a
princípios culminantes, que pharolizam, por
acontecimentos
nossa acção, o nosso modo de aetuar deante dos
que 'Ae desenrolam no palco da política do paiz.
O egrégio republicano que foi Júlio de Castilhos(apoia~

dou), mentalidade de escol, braço firme de estadista...

de Britto — Typo de excepção. (Apaia-


O Sr. Florianno
dos.)

Lins — E de escol.
O Sr. Barros positivista

Ribas — ... e de escol, o


ü Sr. Gumurgindo positivista
S. Ex. {apoiados), do tão cedo se viu
que muito honra qual
a Republica, o eminente Júlio de Castilhos, iundador
privada
do Partido Republicano Rio Grandense, estabeleceu como

aggremiação o seguinte To-


lemma desta política principio:
lerancia com as a par da maxima intransigência com
pessoas,
os princípios.
A nossa orientação obedece ainda a este mesmo lemma.

Somas tolerantes com as pessoas, mas intransigentes com os

princípios.
O discurso do iIlustre Sr. Calmou si, por um lado, contém
conceitos que podem merecer os nossos applausos, que podem
merecer a nossa approvação, por outro lado, infelizmente, con-
tem que ferem,
idéas que golpeara de frente o programma do
Partido Republicano do Rio Grande, o é isto que justifica a
minha presença neste momento na tribuna.
Entretanto, Sr. Presidente, praz-me declarar que o dis-
curso de S. Ex. encerra idéas aproveitáveis. E já lhe devemos
um grande serviço, que foi o de fazer uma minuciosa exegeisse
do texto constitucional que consagra a competencia exclusiva
dos Estados legislarem sobre a instrucçSo primaria
para
(apoiados), evitando a perturbadora intervenção da União. S.
Ex. fez uma minuciosa exegesse do texto constitucional, ser-
viu-se até do argumentos colhidos nos debates da Constituinte,

para demonstrar a privativa competencia dos Estados para


legislarem sobre imstrucção primaria, de modo que eu só viria
repisar argumentos si porventura quizesse reforçar os de S.
Ex., o que não está nas minhas intenções. Assim é que fica de
pé este principio defendido por S. Ex., só os Estados podem
legislar sobre a instrucção primaria.
Mas, Sr. Presidente, si S. Ex. foi feliz ao sustentar esta
670 ÀNNAES DA CAMARA

these, não posso dizer a mesma cousa quando S. Ex. se insur-

giu contra a contribuição pecuniaria que a União pôde e deve


conceder aos Estados que não teem as forças economicas e
financeiras necessarias para attender ao serviço de diffusão
do ensino primário. S. Ex. fundou-se no texto da Constituição,

que no seu art. 5o prescreve: «Incumbe aos Estados prover,


a expensas próprias, ais necessidades do seu governo e admi-
anistração; a União, porém, prestará soccorros aos Estados que
em caso de publica os solicitarem.»
calamidade
S. Ex. para excluir o auxilio pecuniário da União fundou-
se neste texto constitucional que acabo de lêr.
Mas, Sr. Presidente, este texto apenas consagra os linea-
mentos, os princípios geraes da autonomia economica e fi-
nanceira dos Estados (apoiados) e o único caso em que a União
tem o dever constitucional de concorrer com recursos pe-
cuniarios para soccorrer os Estados.
Mas, Sr. Presidente, seria dar uma interpretação muito
estricta, iseria interpretar com muita secura a Constituição
conclluir que a União não possa por livre vontade, sponte sua,
auxiliar os Estados em matéria de instrucção primaria, que
se relaciona com o interesse geral da Nação, quando o Con-
gresso tem até votado verbas para soccorrer calamidades pu-
blioas em paizes estrangeiros.

Sr. Augusto de Lima — A União, sem que ei Consti-


_0
tuição expressamente determine, pôde soccorrer os Estados,
auxiliando-os na sua agricultura, na sua industria, na sua
hygiene publica, fornecendo constantemente até vaccina.
Por que não ha de soccorrer quando se trata da instrucção
publica, protegendo as bellas artes, a litteratura, que são meios
mais efficientes para se diminuir o analphabetismo 1

O Sr. Gumergindo Ribas — Perfeitamente; seria inter-


pretar com muita seccura a Conslitiução. Como todos nós sa-
bemos, o
garante a estabilidade
que das constituições é a sua
capacidade para acompanhar o desenvolvimento do progresso
social, dando efficaz solução aos casos difficeis que se apre-
sentam na téla política.
A Constituição não se oppõe ao auxilio pecuniário a qu»s
venho me referindo, mesmo porque o espirito do rogimen pro-
clama a sua necessidade.
Si quizermos buscar exemplos em paizes de regiinens iden-
ticos ao nosso, como os Estados Unidos e a Republica Argen-
tina, encontraremos subsídios fartos para justificar a these
que estou desenvolvendo.
Assim, vou citar uma passagem preciosa, que achei em
um folheto devido, si não me engano, ao illustre Deputado
pelo Rio de Janeiro Sr. Teixeira Brandão que, aliás, pro-
pugna princípios inteiramente contrários aos que estou sus-
tentando; nesse passo, todavia, S. Ex. vem fortalecer a opi-
niãi que advogo.
Cita S. Ex. o parecer do Sr. conselheiro Ruy Barbosa,
no seu trabalho sobre a instrucção primaria nas provincial»,
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 67i

trabalho elaborado ainda durante o regimen monarchico, e em

que se diz: .
«Por mais amplamente descentralizadoras que sejam as
addicional, longe está elle certamente
tendenoias do acto bem
descentralização completa o systema federativo re-
da que
presenf/i. „
ahi temos federaes — a Ar-
Pois bem: duas republicas
a instrucção
gentina e a dos Estados Unidos. Em ambos pri-
maria, Constituição, pertence á alçada provincial. Não
pela
obstante, em ambas a intervenção nacional se tem exercido

em uma escala considerável, sem que ninguém julgasse in-

fringida por isso a lei organica do Estado.

Na Republica Argentina, a exemplo do que se tem feito

na União Americana, o orçamento de 1869 consignou a quantia


de cem mil pesos fortes para ajudar as províncias a crearem

escolas, e o Poder Executivo os distribuiu por igual entre os


Desde então surgiu a idéa de instituir
governos provinciaes.
um conselho incumbido da acquisição do material litterarioe
technico do ensino elementar, assim como da sua distribuição

pelo paiz.» •
Nesta passagem, aliás, 6 lembrado um alvitre muito ac-
ceitavel, que facilita a intervenção da União: a acquisição do
material litterario e technico, para ser distribuído pelas es-
sorte federal
colas, o que de alguma evitaria a fiscalização que
sc exige. Em logar de dinheiro, seriam dados mc>veis e outros
elementos para que os estabelecimentos de ensino se desen-
volvessem.

Um Sr. Deputado — O que ó sempre melhor.

O Sr. Gumercindo Ribas— Perfeitamente.


Sr. Presidente, além deste merece reparos, no ponto,
que
discurso rio Sr. Miguel Calmon
existe contra o qual, de outro
accOrdo com a minha orientação política e com a orientação
do partido que tenho a honra <le representar, não posso deixar
de levantar o meu vivaz protesto.
S. Ex. aventou a idéa da creação de escolas normaes, nos
Estados, mantidas e dirigidas pela União, como sendo um dos
meios de encaminhar a solução do do ensino
problema pri-
mario.
Reputo essa medida duplamente inconveniente.
vem centralizar e uniformizar os
Em primeiro logar, pro-
grammas de uma instituição que precisa receber o constante
influxo local, afim de poder_reflectir as nuanças determinadas
pelas differenças das condições mesologieas que apresentam os
diversos Estados. (Apoiados.)
— Isto
Um Deputado
Sr. quando o proçrio Sr. Calmon
foi um dos maiores invocadores desse principio mesologico.
"V.
O Sr. Gumercindo Ribas — Ex. vem ao meu encontro.

Vou citar um trecljo do discurso de S. Ex. para mostrar


que o eminente Sr. Calmon estabeleceu premissas certas, mas
tirou conclusões errôneas. (Apoiados.)
672 ANNAES DA CAMARA

S. Ex. alludiu a uma passagem da obra do emerito pro-


fessor Agostinho de Campos e invocou estas palavras do repu-
tado pedagogista:
«Se da administração
ha ramo publica, diz elle, nos
que
paizes centralistas careça mais do influxo vivificante
proprios
da localidade, e delia receba em incitamento, carinho e vigi-
lancia, o alento indispensável á sua conservação e ao seu pro-
— esse é certamente a educação do povo.
gresso

Só a inspecção directa, o interesse local intelligente, a


observação próxima das necessidades de cada região, o amor
das tradições « do futuro da própria terra, só esse completo
conjuncto de forças de acção immediata, continua e incor-
ruptivel, pódo garantir a uma instituição, entre todas melin-
drosa, o cuidado incessante que a mãe dispensa ao filho, e sem
o que o fructo precioso cahirá da arvoro antes de attingir o
amadurecimento ».
Nos
paizes que três
disputam a supremacia em todos os
departamentos do ensino — Estados Unidos, Allemanha
publico
e Suissa— é preoccupação incessante não perturbar a inicia-
tiva locaj, a que confiam o dever do Estado de educar o povo.
Este a aprecia tanto que procura defendel-a das tendeucias
centralizadoras, como succede na Suissa, onde já contam vi-
ctorias como as do Codigo Federal das Obrigações, do Codigo
Civil e da Legislação das Águas; mas, em matéria de instru-
cção, teem sido repellidas todas as proposições sujeitas ao seu
referendum que visavam alargar a esphera de acção do Con-
solho Federal.
Esta foi a premissa, este o postulado sustentado pelo
Sr. Miguel Calmon, mas, infelizmente S. Ex. tirou corol-
larios inteiramente diversos, contrários ao preceito que sus-
tentara.
Mas, Sr. Presidente, não é só este o aspecto, o lado in-
conveniente da medida propugnada pelo eminente Sr. Miguel
Calmon; ainda ha um outro aspecto que não pôde merecer
a nossa approvação.
S. Ex. propugna a creação de escolas normaes nos Es-
tados. Propugna por consequencia a officialização do ensino
neste ramo de instrucção.
Ora, Sr. tal idéa golpeia de frente o pro-
Presidente, uma
grammai o a orientação
partido que orienta e auxilia o
do
Governo da União e nós sabemos perfeitamente que o Governo
tem como ponto precipuo, principal de seu programma, a des-
officialização do ensino, já iniciada brilhantemente pelo emi-
nente Sr. ltivadavia Corrêa, na reforma por S. Ex. elaborada.

Ora, não coinprehendo como a maioria que- faz parte de


um partido que apoia o Governo, sem faltar a elementares
deveres de disciplina partidaria e de lealdade política, possa
se insurgir contra pontos principaes do programma seguido por
esse mesmo Governo.
Accresce, Sr. Presidente, que a Camara por sua vez já
sanccionou de modoquasi directo a acção do Governo Federal
no tocante á desofficialização do ensino.
¦SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 673

Augusto de Lima — Gomo considera as escolas


O Sr.
normaes, como institutos propriamente de instrucção primaria
ou secundaria ?

O Sr. Gumergindo Ribas—Parece-me que são institutos


de instrucção secundaria.

O Sr. Vigtor de Britto — São consideradas nos Estados


Unidos como faculdades pedagógicas.

O Sr. Florianno de Britto — Ensino secundário ó aquelle


que prepara para admissão nas faculdades superiores. Esta
é a definição technioa. {Apartes.)

O Sr. Victor provadede que Britto — A


se trata de
institutos que nos Estados Unidos não lia escolas
secundários 6
normaes, ha faculdades de pedagogia em numero actualmente
de 200, que são sementeiras de professores.

O Sr. Gumergindo Ribas — Na minha opinião as escolas


normaes são institutos de ensino secundário, não podem ser
consideradas como institutos de ensino primário.
S. Ex. também aventou a idéa de importarmos professores
para as escolas normaes.
Sr. Presidente, não sou jacobino, mas iaeho que a medida
não se justifica.
'O Sr. Raphael Pinheiro — Depois vae de encontro ás
premissas que elle mesmo estabeleceu.

O Sr. Gumergindo Ribas — Vae de encontro ás premissas


estabelecidas pelo Sr. Calmou.
Para que precisamos nós importar estran-
professores
geiros, quando temos elementos capazes de desempenhar essa
missão, que deve estar entregue exclusivamente ao elemento
nacional ?
<0 Sr. Raphael Pinheiro—.0 proprio ensino technico dos
collegios profissionaes, entre nós, tem dado resultados adrni-
raveis, ministrado por cidadãos que nunca foram á Europa.
V. Ex. não pôde imaginar os resultados obtidos nos jardins
da infancia desta Capital.

O Sr. Gumergindo Ribas — Não precisamos desse auxilio,

e, principalmente nós do_Rio Grande do Sul, precisamos pro-


pela nacionalização do ensino, attendendo á situação
pugnar
geographica do nosso Estado e_á grande massa de immigrantes
que temos absorvido e que não sei se assimilal-a
poderemos
facilmente.
Quando exerci a magistratura n-o» meu Estado, percorri
muitas vezes colonias allemãs e tive infelizmente occasião de
verificar que filhos de colonos allemães só sabem ailemão o
muito conhecem da nossa língua.
pouco
De modo em vez de importarmos professores, de-
que,
vemos, cada vez mais, nacionalizar os nossos professores, afim
de que elles possam transmittir o sentimento da nacionalidade
aos seus alumnos, incutindo-lhes o respeito e amor á nossa
bandeira.
Vol. 43
874 ÀNNAES DA CAMARA1

Assim é que, para o roeu Estado, eu proporia a exigencia


do conhecimento do ajlemão para que os professores pudessem
ensinar nas colonias; seria o único meio de transmittirem a
nossa lingua, porquanto si mandarmos professores allemães
ensinarem os filhos dos immigrantes, elles só ensinarão o al-
lemão, dada a difficuldade com que se exprimem no nosso
idioma.
Logo, a medida lembrada pelo Sr. Calmon é manifesta-
mente inacceifcavel sob qualquer aspecto porque se a encare.
Outra idóa suscitada por S, Ex. é a do ensino obrigatorio.
Ora, o ensino obrigatorio é medida contra a qual nós temos
o dever de nõs insurgir, porque a consideramos uma violação
flagrante de uma das mais elementares liberdades republicanas.
8. Ex. baseou sua argumentação, no tocante á obrigato-
riedade do ensino, pátrio no
poder, instituto
dizendo que, do
em virtude desse instituto, os pães estavam na obrigação de
educar os filhos, e o Estado no dever de coagil-os, por meio
do ensino obrigatório, a mandar seus filhos para as escolas.
E' outra incoherencia do nobre Deputado pela Bahia.
Si S. Ex. conhecesse, como penso que conhece, esse insti-
tuto, não viria fazer repousar sua argumentação sobre tal base,

porque, si decretarmos o ensino obrigatorio, temos de facto


anniquilado o pátrio poder, tirando-lhe uma das funcções mais
eminentes, qual a que incumbe aos paes de dirigir a educação
dos filhos. Que é o pátrio poder ?
A faouldade de dirigir a pessoa e administrar os bens dos
filho».
Si o Estado entende que deve coagir o pae, que educa mal
o seu filho, a instruil-o nos institutos officiaes, então o Estado
devia intervir sempre que o pae, pelos seus mãos exemplos,
viciasse a educação dos filhos, transmittindo-lhes mãos cos-
tumes.

Um Sr. Deputado — Intervem, pois não; o pae perde,


neste ca60, o pátrio poder.

O Sr, Gumercjndo Ribas — V. Ex. é e sabe


jurista que
isto é um caso raro no fôro. Fique V. Ex. sabendo que eu
combato as restricções ao pátrio poder, combato a restricção
que attribuo iaojuiz a faculdade de intervir na administração
dos bens dos nossos filhos.
Com que direito pôde um juiz substituir-se á minha au-
toridade de pae, exigindo uma licença sua para eu dispôr do
um immovel pertencente a um filho menor V Terá o juiz mais
interesse pela vida e interesses desse meu filho de eu
que
proprio ?
E' uma restricção com a qual não posso concordar. En-
lendo que ninguém tem mais desvelos filhos de o
pelos que
proprio pae. A intervenção do Estado é sempre perturbadora,
é sempre anarchica, vae sempre restringir uma das prero-
gativas fundamentaes da familia.

O Sr, Vigtor »e JBrittq—• Apoiado; o Estado nunca devia


penetrar no lar.
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 675

O Sr. Gumercindo Ribas — Esse 6 é o principio re-


que
publicano. Assim como o Estado não impôr médicos,
pôde
não pôde também impòr mestres. (Apoiados.)

O Sr. Dias de Barros — V. Ex. é suffragio


pelo uni-
versai, provavelmente, não ?

O Sr, Gumercindo Ribas —Sou, não.


pois
DE — Pois si V. Es- consente
9 PIAS .Carros que o
Estado obrigue o cidadão a votar, como não admitte que o
ii/Stado leve ao espírito desse cidadão a convicção de votar.

O Sr. Gumercindo Ribas — O Estado não obriga ninguém


a votar; o voto o um direito.

O Sr. Dias de Barros — E' isso um


mesmo, é direito; mas
se na esse direito, creio saber exercel-o ?

®UMEtlcINDO '^IUAS — A de V. Ex.


analogia pecca
pela^base
'O Sr. Dias de Barros — Demonstrarei
que não.

O Sr. Gumercindo Ribas — Mas como dizia, Sr. Presi-


dente, decretado o ensino obrigatorio, ficaria de facto annul-
lado o instituto do pa-trio poder; ficariam os paos despojados
da sua funcçao primacia], é
que a de dirigir a educação do
seus filhos.

O Sr. Dias db Barros — Quando


teem capacidade para
o lazer.

O Gumkrcindo Ribas — Em regra a teem;


Jj>R. e si os
paos nao a tiverem, muitos menos
o Estado. (Ha um aparte.)
Diz o art. 1.564 da «Consolidação das Leis Civis», ela-
borada por um_ dos Jurisognaultos de mais nota no nosso paiz,
o Sr. conselheiro Carlos de Carvalho:

«No exercício deste na


poder, constância do casamento,
compete ao pai. ei) dirigir a educação dos
filhos etc.»
Está abi, Sr. Presidente —- dirigir —
Que é diricrir 1
Como ô
que o Estado, deante dessa disposição, pôde
obrigar a mandar meus filhos para esta ou aquell^ escola ?
Um Sr. Deputado—-Não é a isso que o Estado obriga.,
O Sr, Gumercindo Ribas— Seja fôr, obriga-me
como a
mandal-os para uma escola com cujos
programmas posso não
estar de accôrdo.
Mas
a verdade é esta, Sr. Presidente: é que o Estado não
pode impor mestres, assim como não
pôde impar engenheiros
ou médicos. O mais ó revolueionarismo inconsciente e aue
nao tem assento na razao.

O Sr. Dias de Barros — Mas


o tom na razão e na na-
tureza.

O Sr. Victok de Bruto —Tornar obrigatorio o ensino


num paiz onde não ha escolas . .
•76 ANNAES DA GAMARA

iO Sr. Gümercindo Ribas— Sr. Presidente, o idéal, se-

gundo a minha fraca concepção (não apoiados aera.es) segundo


a minha fraca concepção e a da política a que estou vinculado

pela identidade das idéas, é que, Sr. Presidente, a instrucção


seja feita nos lares, sob a direcção inegualavel das verdadeiras
educadoras que são as mães, educadoras incomparaveis dos
sentimentos que hão de formar a base de todas as nossas fu-
turas concepções moraes e intellectuaes.
A educação da infancia, Sr. Presidente, é direito que a
ellas pertence, sendo a escola
primaria uma verdadeira usur-
pação das funcções maternas.

O Sr. Victor de Britto— Não são idéas de Comte, são


de Spencer.

O Sr. Gümercindo IIibas — Sejam de Comte ou de Spen-


cer, são idéas verdadeiras, cuja existencia é comprovada todos
os dias pelos factos e pela experiencia.
E' até irrisorio, toca á irrisão fallar em ensino obrigatório
em um paiz que não tem escolas para receberem a população
escolar que as procura.

O Sr. Dias de Baiiros — Isto é um paradoxo.

O Sr. Gümercindo Ribas —Eu ver onde funccio-


queria
nariam as escolas, si tivessemos o ensino obrigatorio. Só se
fosse na praça publica.

O Sit. Dias de Barros — Uma bella idéa, seria um bello


systema.

O Sr. Gümercindo Ribas — Sr. Presidente, só espirito de


imitação justificaria uma tal medida, mas o espirito de imi-
tação já indica uma subalternidade, porque a verdadeira su-
perioridade não está na imitação, mas, sim, na originalidade.

,(Apartes.)
Mas imitar quando não temos as condições do paiz que
imitamos ! Isto é macaquear, não é imitar.
Justamente naquillo em que nós nos distanciamos da Con-
stituição Americana, se encontram os pontos excellent.es da
nossa Constituição; naquillo que não copiamos, naquillo em
que fomos originaes.

O Sr. Dias de Barros — Naquillo adaptamos ao meio.


que

O Sn. Gümercindo Ribas — A Constituição Americana


tem pontos defeituosissimos, a começar pela organização dos
poderes ]>oliticos e da própria magistratura, que ainda é eleita
nos Estados; os juizes inferiores dos Estados Unidos são eleitos
pela população e nós sabemos que resultados tem dado na pra-
tica esse systema de escolher juizes; são juizes verdadeira-
mente políticos, delegados das massas eleitoraes.
A prevalecer a lei da imitação, devíamos, então, copiar
tudo. Porque não imitamos es&e <ponto ?

'O Sr. Dias de Barros — E' a lei regula a evolução


que
mental do homem.
SESSÃO KM 27 DE SETEMBRO DE 1912 677

0 Sr. Gumercindo imitamos o pre- Ribas — Porque não


sidencialismo absurdo
que colloca a no- dos Estados Unidos,
meação de um ministro de Estado sob a approvação do Senado ?
Por conseguinte, oollocando o Poder Executivo na dependencia
de um dos ramos do Poder Legislativo.

O Sr. Dias de Barros — aliás é o grande poder,


Que
talvez o único poder real, o legislativo.
'
O Sr. Gumercindo Ribas — Porque não copiamos a in-
tervenção indébita do Poder Legislativo sobre o Supremo Tri-
banal Federal ? Lá, é o Congresso quem decreta o numero do*
juizes, augmentando-o quando lhe convém.
Por que não copiamos isto ?
Si a imitação é que se impõe, cumpria imitarmos tudo isso.

O Sn. Dias de Barros — Não somos obrigados a isso.

O Sr. Gumercindo Ribas — Logo, V. Ex. está commigo;


devemos ser originaes,quando as condições mesologicas nos
impõem essa originalidade.

O Sn. Dias de Barros—E admittir o que Mr bom. Nisso


6 que está o progresso.

O Sr. Gumercindo Ribas — Tem se dito, nesta Casa, e


repetido com tanta insistência, um conceito que eu até queria
perguntar a V. Ex. si não seria uma audacia da minha parte,
visto contrariar esse conceito.

O Sn. Dias de Barros — De modo V. Ex. tem


nenhum.
autoridade para o fazer.

O Sn. Gumercindo Ribas—-Não sei si não será uma au-


dacia dizel-o, mas minha opinião óque o analphabetismo não
é o grande mal que afflige este paiz. Parece-me que o maior
mal que nos afflige é a falta de educação moral, que os exem-
pios recentes estão, dia a dia, caracterizando. bem.)}
[Muito
Não são os analphabetos que teem feito o maior mal a esto
paiz. E' a falta de educação moral, de uma direcção espiritual
que guie a nossa conducta, os nossos sentimentos e que firme
o nosso caracter. (Apartes.)
Devemos, pois, procurar evitar essa intervenção pertur-
badora da União nos Estados, intervenção que só aggravará o
mal que se procura sanar.
Deixemos os Estados resolverem a questão do ensino dentro
de suas fronteiras, com os elementos de que dispõem o com
o critério que julgarem mais acertado.

O Sr. Victor de Britto — Isto é que é a Republica Fe-


derativa; o mais é sophisma.

0 Sr. Gumercindo Ribas — Apoiado; o mais é a ampu-


tação do regimen, é dar muletas aos Estados em vez de deixai-
os caminhar livremente. {Muito bem.)
Depois, Sr. Presidente, os nossos maiores commettimentos
collectivos, até hoje, vieram sempre da periphem o
para
centro e não do centro para a peripheria. {Apoiados.)
•78 ANNAE8 DA GAMARA

A nossa maior questão social, a da abolição, teve a sua


solução antecipada trabalho
pelo intenso de propaganda que
se realizou nas províncias. Assim é que quando, a 13 de maio
de 88, foi decretada a abolição, o Ceará, esse bello Ceará, cujas
seccas periódicas não conseguiram esterilizar o coração nobre
dos seus filhos, já tinha feito a abolição, e fulgurava como
estrella solitaria, na escuridão do nosso cóo ensombrado pela
escravidão. (Bravos.) E no Rio Grande e em diversos Estados,
levantavam-se massas de libertos, redimidos pelo povo.
No próprio Estado de S. Paulo existia já uma grande
massa de homens que não mais conheciam as algemas da es-
cravidão, em S. Paulo, onde era mais diffícil resolver o pro-
blema da liberdade da raça negra.

O Sr. Augusto de Lima — V. Ex. pôde accrescentar: em


Minas Geraes também.

O Sn. Cunha Vasconcèuxis— E em Pernambuco.

O Sr. Luciano Pereira — No Brazil inteiro.

O Sr. Gumercindo Ribas —Com a implantação da Itepu-


blica deu-se o mesmo facto. Os
grandes movimentos sugges-
'da
tivos, os mais bellos gestos republicanos vieram província
pana o centro, como ondas reivíiidicadorns, quebrar-se de en-
cont.ro aos degráos do throno centralizador.

O Sr. RapHael Pinheiro — O Estado de V. Ex. sobretudo


forneceu bellas cohortes.

O Sr. Gumercindo Ribas —O primeiro clarão republicano


neste paiz surgiu como um sol radioso e magnífico por sobre
os pincaros allaneiros das bellas e alterosas montanhas da
terra mineira. E V. Ex. sabe, Sr. Presidente, que eSso clarão
Corporificado em Tiradentes, veiu apagar^se nos subterrâneos
desta Casa, de onde st) sahiu para w sanguelra do patibulo o
para a resurreição gloriosa lios domínios da historia. {Muito
bem.)

O Sr. Cunha VascoNcellos — O clarão de li-


primeiro
bordado está corporificado em Bernardo Vieira de Mello, qud
no Senado de Olinda, em 1710, procurou proclamar a Republica.

O Sr. Gumercindo Ribas — Tivemos, ainda, Sr. Prosi-


dente, os formosos movimentos cívicos de Pernambuco, movi-
mentos que nos deram Bornardo Vieira de Mollo, primeiro, e
depois frei Caneca e seus gloriosos companheiros de martyrio,
movimentos que foram por assim dizer como que rugidos vi-
brantes de leão que se acorda para saudar no seio da floresta
a alvorada da liberdade appetecida.
Tivemos por fim essa odyssóa de glorias c heroísmos que
foi a republica dos Farrapos, no Rio (bravos), o queGrande
foi, por assim dizer, um verdadeiro parenthesis republicano do
10 annos, aborto na vida constitucional do império combalido.

0 Sn. VtnToa de Bairro — A Republica Federativa <5 tra-


dição (pie veiu da peripheria para o centro. Esta rt a prova
histórica.
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 679

0 Sn. Gumercindo Ribas — Assim é que quando a 15 de


novembro de 89 as forças armadas proclamaram, nesta Ca-
pitai, a Republica, nada mais fizeram do que ratificar, do que
sanccionar o sentimento democrático do nosso povo, na nossa
raça, e as aspirações vivazes da nossa nacionalidade. (Apoiados.)
Fica assim quo os grandes
provado ideaeshistoricamente
da Nação jámais precisaram das muletas do centro para ca-
minharem rumo da victoria e concretizarem-se em realidades

positivas, esplendorosas.

O Sr. Augusto de Lima — E V. Ex. ainda pôde accre-


scentar, com relação ao Rio Grande, que foi de lá que par-
tiram as primeiras obras de doutrina federativa.

O Sr. Gumercindo Ribas — Perfeitamente, mas a modéstia


mo manda callar...

O Sr. Victor de Britto — Na assemblóa constituinte de


Piratinim se escreveu o verdadeiro Direito Constitucional Fe-
derativo.

O Sr. Gumercindo Ribas — Sendo, pois, Sr. Presidente, a


diffusão do ensino primário uma
aspiração latente do paiz,
ella ha de ser levada a effeito pelos Estados, com a orientação

quo lhes parecer mais acertada e sem a intervenção pertur-


badora da União.
Façamos a difusão do
ensino primário, mas respeitemos
sobretudo a Constiuição; respeitemos as tradições liberaes do
nosso paiz, pois que nunca a Monarchia, Sr. Presidente, teve
a coragem, a audacia de restringir as nossas liberdades decre-
tando o ensino obrigatorio.
Era o que tinha a dizer. (Muito bem; muito bem. O orador
é vivamente felicitado pelos seus collegas.)

(Em meio do discurso do Sr. Gumercindo Ribas, o Sr. Sa-


bino Barroso Júnior, presidente, deixa a cadeira da presidência,
que õ oocupada pelo Sr. Soares dos Santos, 1° vice-presidente.)

O Sr. Presidente — Continüa a do


discussão pro.jecto nu-
mero 61 B, de 1912.
Tem a palavra o Sr. Luciano Pereira.

0 Sr. Luciano Pereira — Sr. Presidente, da minuciosa


leitura que fiz das emendas apresentadas ao orçamento da
Agricultura pelos nobres Deputados Srs. Nicanor do Nasci-
monto e Raphael Pinheiro, cujos nomes declino com >a devida
venia, cheguei á conclusão de que melhor avisados andariam
esses illustres collegas si, em vez de tão numerosas emendas,
apresentassem logo uma só, supprimindo o orçamento.

O Sr. Raphael Pinheiro — São modos de ver.

O Sr. Luciano Pereira — Essa emenda única, da solução


radical, além da vantagem da simplificação, teria também como
fatal consequencia a desnecessidade do ministério o do titular
que o dirige, o que, para aquelles nobres Deputados,
pareço
680 ANNAliS DA GAMARA

ser o melhor dos resultados, muito embora não se cansem do


declarar que não teem, nem jámais tiveram a intenção* de
atacar a pessoa do digno ministro, o eminente Dr. Pedro de
Toledo.
Obrigado a responder ás criticas, que reputo improce-
dentes, feitas da tribuna da Camara pelo nobre Deputado mi-
neiro, cujo nome declino com a devida venia, Sr. Pandiá Ca-
logeras, aos decretos ns. 2.543 A, de de 5.janeiro de 1912,
e 9.521, de 17 de abril do mesmo anno, que dispõem sobre as
medidas a adoptar para a defesa econoinica da borracha...

O Sr. Rapiiael Pinheiro — Julguei que V. Ex. viesse


fazer a critica esmagadora de cada uma das nossas emendas,

provando que ellas não tinham razão de ser.

O Sr. Lugiano Pereira—Além de faltar-me o tempo,


não posso fazer a critica circumstanciada dessas emendas, como
V. Ex. quer, porque os nobres Deputados seus autores não as

justificaram, não deram os motivos por que as apresentaram.

'O Sr. Rapiiael Pinheiro — Como 6 da natureza das


emendas.

O Sr. Cuciano Pereira — Mas, Sr. Presidente, si a no-


cessidade que tenho de responder ao meu nobre collega Sr. Ca-
logeras não me permitte o exame de cada uma daquellas emen-
das, distrahirei sempre algun^ minutos para dizer que essas
emendas, em conjuncto, mascarando um simulado desejo de
economia, acarretariam para a Nação com um prejuízo con-
sideravel, si approvadas pelo Congresso, porque, desorgani-
zando todos os serviços a cargo do Ministério da Agricultura,
as verbas deixadas seriam dispendidas em pura perda, razão

porque disse, e repito, que melhor seria acabar de uma vez


com o ministério.

Algumas das emendas reduzem verbas em mais de 50 %'


e outras supprimem-nas de modo absoluto. Não dispondo
assim de recursos para fazer face aos serviços do seu cargo,
o Ministro da Agricultura ficaria na situação do architecto

que é obrigado a deixar em meio a construcção iniciada, ou do


agricultor que, depois de cultivada e colhida a plantação, é
obrigado a abandonar sobre o sólo a colheita por falta de re-
cursos para conduzil-a ás usinas e beneficial-a, a exemplo do

que já succedcu entre nós, cm Pernambuco', durante a grande


crise do assucar, na qual os lavradores tiveram necessidade
de abandonar nocampo a colheita de canna, porque os preços
obtidos polo producto não dariam para cobrir as despezas do
beneficiamento.

iO Sr. Rapiiael Pinheiro — Desconfio ó o caso do


que
Ministério da Agricultura.

O Sr. Luciano Pereira — Hei de chegar lá.


Que adeanta ao paiz o começo de execução de certos ser-
viços, si de antemão já se sabe que elles mais adeante terão
fatalmente de ser suspensos, pçr insufficiencia de verba ?
SESSÃO KM 27 UE SETHMBUO DE 1912 681

Desse modo, a original economia pregada nas emendas,


em verdade, não passa de um inqualificável desperdício.

Ha muito quem supponha que economizar consiste sim-

plesmente cm gastar pouco dinheiro.


No Brazil tem sido esse, em via de regra, o critério ado-
sempre que se trata da creação de novos serviços.
ptado,
O resultado desse erro a Nação já o tem experimentado
de sobra.
Em paiz ficar
vez dotado de
do serviços que satisfaçam

as necessidades
publicas, o que apparece são perfeitos arre-
medos do se pretendeu crear, com os quaes se gastam
que
insensivelmente, sem o menor proveito, os dinheiros públicos,
em porém, múltiplas verbas, que, reunidas afina],
pequenas,
importam no triplo do que necessário seria para organizar
desde logo os serviços com toda a efficiencia.
Bem diverso desse 6 o critério seguido nos Estados Unidos,
nas colonias inglezas, na Algeria, na Argentina e em toda parte
onde se cuida seriamente de bem aproveitar os recursos eco-
nomicos da Nação.
E o é o que se
resultado conheço, deixando-nos cm uma
entra
posição humilhante todas as vezes que o nosso progresso
em parallelo com o daquelles paizes.
Para não ir mais longe nas comparações, a Republica Ar-
<• população quatro vezes inferiores
gentina, com um territorio
aos nossos, apresenta, no enitanto, um intercâmbio muitíssimo
mais avultado.
10 Sr. Raphael Pinheiro — O nosso mal é, quiçá, justa-
mente a extensão.

O Sr. Luciano Pereira — 0 nosso mal é não saber gastar.


Não se
pôde colher sem semear e paizes adeantados nos dão
o exemplo...

iO Sr. — Só
Raphael faz semeaduraPinheiro tem
quem
semente; e
que atravessamos,
110 momento
sendo a semente
o dinheiro e achando-se o paiz ás portas íle um déficit, que,
si não é apavorante para metade da Gamara, para outra me-
tade o d, penso que não podemos semear a mancheias, como

quer V. Ex.

Sr. Luciano Pereira — Não; simplesmente,


0 quero, que
se semeie o necessário para bem colher.
Vou agorachegar do nobre Deputado.
aos apartes

O variedade
Brazil, do seu clima e fertilidade as-
pela
sombrosa de seu sólo privilegiado, que lhe permitte cultivar
todos os produetos do globo, foi, ó e será, não obstante
quasi
tudo, um paiz cuja riqueza terá por base a agricultura, a pe-
cuaria e a mineração.
Essas industrias, entro nós,_póde-se dizer que ainda não

passaram do período embryonario.

10 Sr. Raphael Pinheiro — Ha um telegramma ao Finan-


cier e ao Financial News que declara que ha 10 annos nada
tínhamos, mas ao Sr. Pedro de Toledo,
que actualmente, graças
estamos em uma posição luminosa, ridentissima...
083 ANNAES DA GAMARA

O Sr.
Lugiano Pereira — Pondo de parte o exaggero de
IV. Ex., que diz o telegramma,
o aliás com a mais incontes-
tavel verdade, é que o Sr. Pedro de Toledo tem procurado des-
envolver as nossas riquezas, já tendo conseguido muita cousa.
Mas, proseguindo, Sr. Presidente, o Ministério da Agricul-
tura foi creado justamente para incrementar aquellas tres in-
dustrias, que são as bases da nossa riqueza.
E' consequentemente ello o ministério por excellencia orea-
dor das riquezas do paiz, aquelle que ha de fornecer recursos,
em um futuro proxlmo, a sustentação dos demais mi-
para
nisterios.
Em tal caso, que aconselharia a mais rudimentar noção
econômica sobre creação da riqueza, sinão dar a maxima ampli-
tude aos serviços desseministério, afim de que elles pudessem
desenvolver riquezas que só estão esperando esse impulso para,
dentro de
poucos annos, decuplicarem as rendas da Nação ?
Para
um paiz, releve a Gamara o chavão, essencialmente
agrícola como é o Brazil, porque vive exclusivamente dos pro-
duetos do seu sólo, e que tem uma renda de perto de réis
500.000:000$ annuaes, um orçamento da pasta da Agricultura,
Industria e Commercio que consome apenas 30.000:000$ é
ridículo.

O Sn. Raphael Pinheiro dá um aparte.

O Sr. Lugiano Pereira — Negará, V. Ex.


porventura, que
o Brazil seja um paiz essencialmente agrícola ?

iO Sn. RaphabL Pinheiro — Só um imbecil o poderia


negar; mas estando nós atravessando uma situação deficitaria,
não podemos fazer as larguezas que se quer fazer.

O Sn. Luciano Pereira —-Mas o Ministério da Agricultura',


com excepção apenas do do Exterior, ó o menos dotado de todos
os nossos ministérios, quando é elle no emtanto que directa-
mente entende com o desenvolvimento das forças economicas
da Nação.
O sou orçamento é, como já di9se, insignificante e mesmo
ridículo para um paiz agrícola por excellencia.

iO Sn. Raphael Pinheiro—... e extractivo.

.0 Sn. Luciano Pereira — Muito mais do a somma


que
dadapara a dotação do j\1 mistério da Agricultura custa á Nação
um dos encouraçados que mandamos construir para o nossa
Marinha...

iO Sn. Raphael Pinheiro — E destes navios man-


quantos
damos construir por anno ?

O Sr. Luciano Pereira— ... a metade dessa somma per-


demos annualmente com os deficits sempre crescentes da Es-
trada de Ferro Central do Brazil.
POr
que razão não
podemos gastar 30 mil contos com o
Ministério da Agricultura? (Trocam-se apartas.)
O argumento de que nós estamos perto de um abysrno fi-
nanceiro e por isso não devemos gastar, tratando-se do Minis-
SESSÃO EM 27 DB SETEMBRO BH 1912 083

terío da Agricultura não procedi, uma vez que as despezas oom


elle feitas, além de utilissimas, são todas fartamente roro»-
neradoras e reproductivas, porque entendem com o desenvol-
vimento de nossas riquezas agrícola, pastoral e de mineração
e essas riquezas, uma vez desenvolvidas, permittir-nos-ha
mandar construir não um dreagnought mais cinco ou 10, dentro
de pouco tempo...

(0 Sn. IIaphael Pinheiro — Dentro de tempo é forte.


pouco

!0 Sr. Luciano Pereira — V. Ex. sabe que para a vida


de uma Nação 20 ou 30 annos não ó ternpo.
A proposito da dotação do Ministério da Agricultura, devo
lembrar as palavras do meu nobre collega, cujo nome peço
licença para declinar, o Sr. Raul Cardoso, no seu ultimo bri-
lhante discurso proferido nesta Casa. S. Ex. estabeleceu a com-
paração entre os orçamentos da Agricultura do Estado de São
Paulo e o Federal, mostrando que o daquelle sobe a cifra de 12
mil contos.

O Sr. Cândido Motta — O Ministério da Agricultura do


S. Paulo dispende essa
quantia, mas não comprehendo só a
agricultura, comprehende também as obras publicas.

10 Sr. Luciano Pereira —Não responder ao aparte


posso
de V. Ex. porque me louvei em do Sr. Ilaul Cardoso.
palavras
O SR. Cândido Motta — O Sr. Ilaul Cardoso disse a ver-
dade inconteste, mas a Secretaria da Agricultura do S. Paulo
não se oecupa só da agricultura.

IO Sr. Luciano Pereira — o ministério também não <5 ex-


clusivamente da Agricultura, mas também da Industria e Com-
mercio.

0 Sr. Cândido Motta — Aqui ha o Ministério da Viação,


em S. Paulo os serviços dessa ordem correm pela Secretaria
da Agricultura. 0 que o Sr. Raul Cardoso disse é a verdade
o eu faço apenas essa pequena distineção...

iO Sr. IIaphael Pinheiro —Depois, S. Paulo 6 uma ex-


cepção.

O Sr. Luciano Pereira — Não ha uma excepção,


duvida,
mas precisamente porque soube gastar dinheiro, afim de fundar
a sua riqueza...

'O Sr. IIaphael Pinheiro — Além do «fé, são


quaes as
riquezas que S. Paulo preparou, gastando dinheiro ?

iO Sr. Luciano Pereira — E V. Ex. acjha o café ?


pouco
S. Paulo tem desenvolvido, agora, de medo extraordinário
a polycultura.

O Sr. IIaphael Pinheiro — Agora?

O Sr. Luciano Pereira — Sim, agora, depois da ultima


grande crise
porque passou o café. E como o poude fazer '
Tendo desenvolvido anteriormente a cultura do café, enrique-
ceu-se, encontrando-se actualmonte em condições de crear
684 ANNAES DA GAMARA .

novas fontes de riqueza, o que tem feito de um modo admi-


r.avel. Uma segunda crise no preço do cafó já não o apa-
nhará desprevenido.

O Sn. Cândido Motta — S. Paulo hoje não é só agrícola,


é também industrial.

O Sr. Luciano Pereira — Mas S. Paulo não chegou a essa


situação privilegiada sem ter primeiro gasto muito dinheiro

para preparai-». Em primeiro logar procurou encaminhar para


seu sólo fértil o braço fecundador do iinmigrante, afim de des-
envolver suas riquezas jacentes.

IO Sn. Raphael Pinheiro — S. Paulo não chama immi-

gração. Eu responderei á V. Ex. com a opinião do Enrica


Ferri, que se encontra em um discurso do Sr. Toledo, mostrando

que immigrantes não se attrahem, porque elles não ficam


sinão nos pontos, onde as condições do meio determinam o seu
êxito.

O Sr. Cândido Motta — Isso é verdade, mas lambem 6


verdade que S. Paulo attrahiu a immigração desde a Monarchia,

procurando substituir gradualmente o braço escravo pelo braço


livre.
'O Sr. Luciano Pereira—Em previsão feliz.
uma Não fez
como o Maranhão, que viu as industrias
suas arruinadas por
não ter tido a previdencia de arranjar pessoal para substituir
o braço escravo, a custa do qual sempre viveu, de sorte que,
quando surgiu a abolição, faltando o braço escravo e não ha-
vendo outro para substituil-o, as forças productoras do Estado
ficaram quasi que paralyzadas.

O Sr. Maurício de Lacerda — V. Ex. também pôde citar


o caso do Estado do Rio, devido á política do Sr. Paulino, o
velho escravocrata...
'O Sr. Luciano Pereira—Respondendo ao aparte do meu
nobre collega o Sr. Raphael Pinheiro, direi que S. Ex.
"Estado está cn-

ganado em suppôr que o de S. Paulo só attrahiu immi-

grantes espontâneos.
Ao contrario disso, o que todo mundo sabe <5 que a maioria
riosque para lá se encaminharam o foram subvencionados pelo
Estado ou pela União. A immigração espontanoa ó sempre pre-
ferivel, mas via de emregra el!a só apparece depois que os
immigrantes subvencionados, pela sua prosperidade, mostram

que a terra offerece vantagens aos que a procuraram.


Mas, Sr. Presidente, voltando ao fio do meu discurso, do
qual me vi afastado pelos apartes com que tenho sido honrado,
os nobres Deputados autores das emendas que estou discutindo
em conjuncto acham que os 30 mil contos do orçamento da
Agricultura são excessivos e por isso propõem a sua reducção
a menos de metade.

O Sr. Raphael Pinheiro — No momento.

O Sr. Luciano Pereira — E' esse um meio original do


se fazer economias pela paralyzação das forças vivas da Nação.
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 «85

i jo Sr. Raphael Pinheiro — Não é essa a nossa idéa.

O Sr. Luciano Pereira — Pôde não ser a idéa, mas 6 com


certeza a consequencia das alludidas emendas.

IO Sn. Raphael Pinheiro — Esse orçamento foi preparado


precipitadamente, em 60 dias.

O Sr. Luciano Pereira — Eu não sei se foi precipita-


damente.

(O Sr. Raphael Pinheiro — V. Ex. não sabe? Todos os


amigos do ministro sabem. Foi premido pela exigencia da
Gamara que não tinha trabalho;: foi feito de sopetão.

O Sr. Cândido Motta — tem isso ? O mundo foi feito


Que
em sete dias.

O Sr. Lugiano Pereira — Para mostrar á Gamara o cri-


terio das emendas apresentadas pelos dous nobres Deputados,
não me posso; furtar ao dever de examinar algumas dellas, nas
quaes descubro contradicções, incoherencias e até mesmo au-
lorizações a desrespeitos contractuaes, geradores de formi-
daveis indemnizações futuras.
Em
outras ó evidente o desejo de ferir a pessoa do mi-
nistro, .aquellas,
como por exemplo, mandam supprimir
que
a verba para conducção do mesmo titular e reduzir os seus
vencimentos e representação, deixando-o em condições do in-
ferioridade vis-a-vis dos outros ministros.
Estão aqui as emendas. Uma, do Sr. Nicanor do Nasci-
mento, que diz:

«A verba n. 1, gabinete do ministro — substitua-se polo


seguinte:

Gabinete do ministro:

Um ministro de Estado — Vencimentos 24:000$, repre-


sentação 12:000$, mantendo assim o modestamente
pedido
feito pelo ministro o que a Commissão violentando os nobres
sentimentos de S. Ex. propoz elevar a 24:000$000.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912. — Nicanor do


Nascimento. »

O Sr. Raphael Pinheiro — Não posso imaginar o ministro


capaz de fazer um pedido que não seja a expressão do sua
consciência.

Pereira — O ministro fez o


O Sr. Lugiano pedido porque
o entende de accôrdo com o seu modo de ver e nós estamos
no nosso papel attendendo-o ou não no pedido. Attendendo-o
collocaremos o Ministro da Agricultura em manifesta condição
de inferioridade vis-a-vis dos seus outros collegas.

O Sr. Raphael Pinheiro; — Em condições de supcriori-


dade, ficará ennobrecido pela desistencia.
pois

Sr. Pereíha — E' muito nobre para o ministro


O Luciano
pedir a diminuição dos seus vencimentos, mas nós não devemos
1
Í86 ANNAES DA GAMARA

consentir nella, pois é evidente que 3:000$ mensaes com que


ficaria, são insuficientes, além da desigualdade em relação
aos demais ministros.

{Trocam-se apartes entre os Srs. Raphael Pinheiro e


Osório.)

O Sn. Raphael Pinheiro — E' uma munificencia da com-


missão dar ao ministro mais do que elle pede.

O Sr. LuatAjfo Pereira — Não é uma munificencia da


commissão...

O Sr. Osorio — Uma equidade.

O Sr. Lugianso Pereira—... nem tão pouco uma equi-


dade; ó uma obrigação delia.

A outra eme*da que visa a pessoa do ministro é a se-


guínte {lê):

«Ao art. 1°:

Verba Ia — n. IV:

Onde se diz:

Material — deipezas com conducção do ministro 12:000$


— Supprima-se.

Sala das sessões, 14 de setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.»

IO Sr, Raphabl Pinheiro dá um aparte.

O Sr. Lugiano Pereira — V. Ex., em sua emenda, cortou


apenas a metade da verba, mas o Sr. Nicanor do Nascimento
mandou supprimil-a completamente, o que quer dizer que o
ministro teria de andar a pé,

O Sr. Pinheiro —V.


Raphael Ex. deve me fazer jus-
tiça. Não
por intuito
tive fazer a menor guerra ao Sr. Mi-
nistro da Agricultura. Não tenlio prevenção nenhuma contra
elle. O meu odio — si haja odio no caso —
quizerem que
é tão justo como a amizade de VV. EEx.

O Sr. Luciano Pereira —. Sim, comprehendo perfeita-


mente. IO desejo de V. Ex. é apenas, como o de todos nós,
o de bem servir a Nação.

IO Sr. Raphael Pinheiro —Mas V. Ex., exemplo, ó


por
um apaixonado pelo Sr. Ministro da Agricultura.

O Luciano
Sr. Pereira — Sou apaixonado por todos os
negocios públicos da minha terra. Levantei-me especialmente
na defesa do Ministério da Agricultura deante dos ataques in-
justos que contra elle teem sido movidos aqui de preferencia
a outro qualquer ministério.

O Sr. Raphael .Pinheiro dá outro aparte.


SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 687

'0
Sr. Pereira — Faço essa justiça a V.
Luciano Ex. De
nenhum mo-
minlia posso dizer
parte, que não tenho também
Sr. Pedro de Toledo. Desde
tivo particular de preferencia pelo
Rio de Janeiro, faliei com S. Ex. apenas tres
que estou no
do Sr. Ma-
vezes sendo que duas dellas em recepções officiaes
Não defendo, portanto, porque
rechal Presidente da Republica.
assiduo de seu ministério, no que, aliás,
seja freqüentador
mal, mas sim porque a acção de S. Ex. é digna
não haveria
de ser defendida.

Pinheiro — V. Ex. dá licença para lhe dar


O Sr. Raphael
ligeiramente demorado ? (O orador [az signal de
um aparte
O proprietário do contracto de siderurgia de-
assuntimento.)
num libreto aqui distribu;do, por todos nós, que todos
clarou
gritam contra a siderurgia são sujeitos que elle
aquelles que
fossem sócias no contracto. Agora, pergunto, e
não quiz que
todos os que teem defendido esse contracto que são ? Nós que

atacamos, o Sr. Nicanor do Nascimento e eu, somos movidos

esse sentimento baixo e subalterno, eu, portanto, per-


por
— aquelles que defendem que são ? O Sr, Rivadavia
gunto e
atacado, só teve a defeza dos Deputados da bancada do
Corrêa,
do Sul, ao passo que o Sr. Pedro de Toledo tem
llio Grande
tido a defeza de quasi todas as bancadas.

Osorio — O Sr. Rivadavia foi defendido pelos Depu-


O Sr.
do Rio Grande do Sul porque a eistes incumbiu a sua
tados
defeza.

Raphael Pinheiro —
Por essa razão devia o Sr.
O Sr.
Pedro de Toledo ser defendido pela bancada de S. Paulo, mas

assim não aconteceu. E porque todo esse amor para com o

Sr. Pedco de Toledo ?...

Pereira — A maioria da bancada


O Sr. Luciano paulista,
ó sabido, diverge politicamente do Sr. Toledo, mas a minoria

da bancada defendeu S. Ex. brilhantemente, como nóis todos

tivemos ensejo de assistir palavra do nobre


pgla Deputado Sr.

Raul Cardoso, V. Ex., portanto, é injusto na sua censura.

Pinheiro — Eu uotei apenas a desigual-


O Sr. Raphael
dade da defeza. Foi por isso que fiz o confronto.

— Attonda V. Ex.: a defeza foi na proporção


O Sr. Osorio
do ataque.

Pereira — Si a defeza do Sr. Pedro dc


O Sr. Luciano
mais intensa, é porque os ataques a S. Ex.
Toledo tem sido
foram violentíssimos.

meus nobres collegas quo me permittam


Peço agora aos
de algumas emendas que venho criticando
continuar a analyse
Disse que em certas dellas tinha lobrigado
em conjuncto.
contradicções e incoherencias e passo a justificar o meu
688 ' ANNAES DA' CAMARA

acerto. Uma das emendas assignadas pelo Sr. Nicanor do Nas-

cimento diz o seguinte:

Na verba 14":

Substitua-se toda pelo seguinte:

Pica o Governo Federal autorizado' a, dentro da verba de


400$, transportar a Escola de para logar
Minas util e refor-
mar-lhe a construcção e regulamento, cm ordem a ser uma
escola moderna, profissional e util, submettendo a 3 de maio
de 1913 os regulamentos organizados' ao Congresso Nacional.

Sala das sessões, 14 do setembro de 1912.— Nicanor do


Nascimento.

Vou mostrar a incoherenoia, o absurdo mesmo que existe


nesta emenda.
O orçamento consigna na alludida verba 14* a importância
de 487:694$684, simplesmente para manter a Escola dc Minas,
nas condições em que se acha.

A emenda, para transportar a escola para outro logar,


reformar-lhe a construcção e regulamento, etc., consigna
apenas a verba de 400:000$000 ! Isto é, menos 87:69í$684 do
que o orçamento diz ser necessário apenas para fazer o custeio
da Escola nas condições em que el la se encontra.

O nobre Deputado (o orador dirige-se ao Sr. liaphacl Pi-


nheiro) não acha isso um abuso?

O Sn. Uaphael Pinheiro — Sobre este não tenho


ponto
estudos, mas estou certo que meu collega justificará ou mos-
trará a razão de ser da sua emenda.

O Sr. Luciano Pereira — Vejamos outra emenda do


mesmo nobre Deputado.

«A verba de 1.285:600$ seja reduzida a 200:000$ nos


termos da autorização anterior.

Sala das sessões, 16 de setembro de 1912 Nicanor do


Nascimento.»

Seria,preferível que o nobre Deputado suprimisse logo


toda a
verba, porque esises 200:000$ que deixa para um ser-
viço que necessita de 1.285 :(500$ ó o mesmo que deitar fora,
sem o menor resultado.
Com suppressãoi total da verba ficaríamos sem o serviço
da pesca, mas com os 200:000$, ao paisso que pela emenda do
nobre Deputado ficaríamos, da mesma fôrma sem o serviço e
sem aquella importancia.
E é dessa maneira que o Sr. Nicanor do Nascimento quer
economias.
Empregar apenas 200:000$ em um serviço exige
que
1.285:600$ é ¦se
positivamente determinar que não faça cousa
alguma.
tiliSSÃO KM ~7 D li iSETEMBllO DE Í»8'J

Moita —r Entendo que esse serviço deveria


ü Su. Cândido
ser deixado á iniciativa particular.

Luciano Peheiha — Eu não< estava discutindo o me-


O Sn.
inas apenas mostrando o absurdo da emenda.
rito do servigo,
a menor duvida em dedai a." que reputo o
Nilo tenho, porém,
da mais alta necessidade publica. Para isto
serviço da pesca
não mais do que ler as palavras es-
demonstrar, precisaria
representante riograndense Sr. Homero Ba-
criptas pelo nobre
no seu monumental parecer sobre o orçamento da Re-
ptista,
mostrando que importamos annualmentç de peixe em
ceita,
superior a 17.000:000$, quando as nossas
conserva quantia
costas e os nossos rios e lagos são riquíssimos de melhores

especies de peixes.

O Sn. Cândido Moita — No norte e no sul estão se orga-

nizando companhias de pesca.

O Sn. Raphael Pinheiro — Pernambuco está se uppare-

lliando perfeitamente para esse serviço.

Luciano Pereira — Não ha duvida alguma que a


O Sn.
em servi-
iniciativa particular é sempre melhor que a publica
ços da natureza desse.
Ainda ha pouco, aparteando o nobre Deputado Sr. Gu-

mercindo Ribas, fiz sentir a minha opinião de que o Estado

não deve ser empresário.


Mas isso em termos, pois desde que a iniciativa particular
custa a apparecer; é o caso então do Estado intervir para en-

caminhar aquella iniciativa.

Uma voz — Alguns Estados da União já estão fazendo.

Peiieiiia — Sei de S. Paulo


O Sn. Luciano que 110 Estado
nesse
<t iniciativa particular já tem feito alguma cousa senti-

do. Do discurso do nobre Deputado Sr. Raul Cardoso verifi-

ca-se porto de Santos


no existe o serviço de pesca, todo
que
realizado pela iniciativa particular." Mas o Estado de S. Paulo
ha dezenove outras unidades da
não é o Brazil; além delle ainda
é necessário attender.
Federação, cujos interesses
O Estado de S. pela sua riqueza, pelo adeantamento
Paulo
em condições de ver a iniciativa par-
está
do seu povo etc., já
ticular o
dispensar auxilio publico. Mas o resto do Brazii. ou

uma grande parte delle, ainda não chegou a essa


pelo menos
situação. ,
Sr. Presidente, vou mostrar agora,
Proseguindo na critica,
íis i]uc acousolhíuix desrespeitos coiiti'uctu36s>
emendas
dores do iiidemnizações futuras.

Diz uma dtíllas: {Lê)


-VusoúI — reduza-st* a
O art. 1° Verba 2"— Gvnlracludo

95:000$000.
-li da 1012.— Nicanor da
Sala das sessões, de setembro

Nascimento.

Vol. 4/1
690 ANNAES DA CAMARA

O orçamento indica para esso pessoal a verba de


250:000$000.
Ora, serviço contractado quer dizer ? Quer dizer que
que
o Estado já assumiu compromissos com o pessoal encarregado
de o executar.

O Sn. Cândido Motta — Parece-me que o autor da emenda

interpretou assim: pessoa! contractado e pessoal que pode ser


dispensado, que não está no quadro, talvez diarista.

O Sn. Rapiiael Pinheiro — Deve ser nesse critério, por-


o Sr. Nicanor do Nascimento, sendo advogado o conhece-
que
dor das regras do direito, não poderia ter cominettido tão gravo
falta.

O Sr. Luciano Pereira — Aeceito a observação, com-


um
me tanto exquesita a significação dada á
quanto pareça
locução pessoal contractado pelo nobre deputado por S. Paulo.
Mais adeante, porém, em outra emenda, o Sr. Nicanor do

Nascimento manda adiar o ensino auronomico.


Ora, na verba 19", referente a esse ensino, o orçamento diz

textualmente: Augmentada de 260:000$ para as despezas re-

sultantes do contrrictò celebrado com o Dr. V. T. Cooke para o


estabelecimento de campos de demonstração, segundo o pro-
cesso da lavoura secca, na forma do art. 72, lettra c, da lei

n. 2.444, de í de janeiro de 1912.


Gomo vô a Clamara aqui já lia um contracto lavrado, com

obrigações reciprocas para as parles contractantes.

Pinheiro — Por tempo.


O Sr. Raphael quanto

Pereira — Pelo menos um anno,


O Sr. Luciano por pois

que a solicitação é orçamentaria.


Mas se o serviço já está contractado, para o Sr. Dr. Çooke
existe o direito de cobrar a sua remuneração, desde que o

contracto deixe de ser posto em execução por motivos indepen-

dentes de sua vontade. O seu adiantamento, pois, como manda a


emenda, sem livrar a despeza, deixa o paiz sem o serviço ! E'

esse um hélio e systema de lazer economias !...


pratico

Permilta a Gamara também ache que a emenda do


que
Sr. Nicanor do Nascimento, autorizando o Governo a rescindir
Medeiros, re-
o contracto feito com os Srs. Wigg e Trajano de
autorização a. um desrespeito contractual. Nao
presenta uma
tenho tempo para discutir, a feição jurídica da emenda.

Pinheiro — Não estando presente _o


O Sn. Rapiiael
Nicanor responderei a V. Ex. com o acto da Commissão
Sr
do"Obras Publicas mandando trancar a mensagem presidencial.

Pereira — Respeito muito a opinião da


O Sr. Luciano
estar e, estou em desacçôrdo com ella,
Commissão, mas posso
não comprehendo como o Congresso autoriza o Governo,
porque
•i fazer o próprio Congresso mandar
um contracto, para depois
allegando a sua incoustitucionalidade. Haveria no
rescindil-o,
caso dè má fé.
presumpção
SESSÃO .KM DE SETEMBRO L)E 1912 691

O Sr. Cândido Moita .— O Congresso não poderia ter ácido


do má ie.

O S11. Raul Fernandes •—• O argumento do nobre Deputado


que está na tribuna, por outras é este:
palavras, A Fazenda
Publica foi quem contratou, foi quem introduziu os allegados
vícios no contracto. Como, eila
pois, pdjdo hoje allegar esses
defesos que
provieram de actos seus ?

O Sn. Cândido Motta— Mas nós do Congresso nada temos


com isso. O orador censura a Commissão de Obras Publicas.

O 3a. Luciano Pereira — Não censurei tal. A um aparta


dado pelo nobre Deputado Sr. Raphael Pinheiro, dizendo quo
a emenda estava de accôrdo com da CommissSc
o parecer ú&
Obras Publica, declarei
que divergia, como de íacto diViPÍo
da opinião da Commissão.

O Sr. Cândido Motta _ Mac V. Ex. falou em proaumpcão


cio md fé.

O Sn. Luciano Pereira — Falei, em termos, como um


modo de dizer, bei que a má fó não aproveitar
poderia a uma
personalidade^ collocliva e abstracta corno <5 o Congresso. A
minha intenção foi dizer que tendo o Congresso autorizado o
contracto nao lhe lica bem agora mandar
rescindil-o, por con-
ter áuppostos vícios, pelos quaes ó responsável
o proprio Con-»
gresso.

O Sr. Cândido Motta — E eu acho o contrario: ó sempre


nobre reconhecer o erro.

O Sr. Luciano Pereira — Mas não coui o prejuízo de


terceiros, que agiram de bôa fé, confiando na palavra do Con-
grosso. A emenda do Sr. Nicanor manda rescindir o contracto
sem ônus para o Governo. Muito discutível ó a fllfppéátft in-
constitucional idade allegada para justificar esta rescisão. Pela
minha parte, sem
querer discutir esse ponto, penso que a ap-
provação da emenda daria logar a os concessionários
que
recorressem ao Poder Judiciário
, o deste obtivessem a con-
íiemnação da Fazenda a pesada indemnizaçãu1, ficando dessa
maneira o Estado sem a indu3íria_siderurgica e som
o dinheiro^
em troca da qual iria obtel-a. São essas as economias
que eu
Absolutamente não comprehendia.

O Sr. Rapiíael Pinheiro — Nada de monopolio,;..

O Sr. Luciano Pereira —


Mas quem o mandou fazer, es«
Vcificándo pos3oa ?
até ;n
A autorização^ do Congresso foi nesse sentido. Portanto,
*e houve concessão de monopolio, o concedeu
quem foi ò
Congresso.
Pergunto, dos concessionários que gastaram dinheiro
fiados na palavra da Nação, de boa fé, ser
podem prejudicada*
sob a allegação de que o acto praticado Congresso ó in*.
pelo
constitucional ?
AN NA KS DA GAMARA

O Sr. Cândido Motta — E' manifestamente inconstitu«

cional. O Congresso não pôde legislar para determinada pes-


soa.

Sr. Raphael Pinheiro — Está claro.


O

O Sr. Luciano Pereira — As demais emendas apresenta-


tadas pelos meus nobres collegas apenas supprimem e redu-
zem verbas, sem
que os duus nobres Deputados deem a razão

por que. Diminuem porque querem diminuir, tout à coup

O Sr. Raphael Pinheiro — V. Ex. deve se lpmbrar que


solicitei uma relação das despezas para poder me orientar na
confecção dessas emendas, o que não me foi dado.

Não sou culpado, a culpa foi de quem não me forneceu ne


elementos.

O Sr. Dionisio Cerqueira— Estas verbas destinadas aos


serviços já creados, cuja reducção ou supressão se pede, uma
vez approvadas, não virão paralizar •serviços existentes e pre-
judiear o material já comprado ?

O Sr. Raphael Pinheiro — Já declarei não.


que

ü Sr. Dionisio Cerqueira — Que critério adoptou V. Ex.


'?
para cortar nas verbas
A impressão que tive foi de corte a esmo.

O Sr. Raphael Pinheiro — Agradeço a V. Ex. tão lou-


vavel sentimento de bondade para commigo.

Sr. Luciano Pereira — Já tinha dirigido essa critica


O
ao nobre Deputado, em relação á suppressão de verbas.

— Não supprimi verbas; apenas


O Sr. Raphael Pinheiro
supprimi uma relativa ao Serviço de Povoamento.

Luciano Pereira — V. Ex. mandou supprimir uma


O Sr.
e reduziu em mais de 50 %.
{Apartes.)
O nobre Deputado devia ter falado antes, justificando
as suas emendas, para que me fosse permittido exercer, nesse
momento, o direito de critica que me assiste.

O Sr. Raphael Pinheiro — V. Ex. ainda voltar


poderá
á tribuna.

O Sr. Luciano Pereira — Voltarei, se achar conveniente.

O Sr. Cândido Motta — O illustre orador está provocando


a defesa das emendas.

O Sr. Luciano Pereira — Si o nobre Deputado, o Sr.

Raphael Pinheiro, provar que com as importâncias a que quer


do 'Ministério da Agricultura, este
reduzir o orçamento pódo
custear, os seus serviços, eu me darei por vencido.

Sr. Raphael Pinheiro — E' o dernons-


0 que procurarei
trar.
SESSÃO KM 27 OE SETEMBRO DE 1912

"V.
TiUCiANo Pereira — Vamos ver si Ex. consegui-
0 Sn.
rá o o me um pouco diffieil.
que pretendo, que parece

estas considerações sobre as emendas em conjuncto;


Fiz
as 38 do Sr. Deputados Ni-
nem podia discutir, uma por uma,
17 Sr. Raphaèl Pinheno, uma
canor -do Nascimento e as do
as mesmas ainda nem fopam justificadas. Todas»
vez que
a mesma
porém, se resentem do mesmo defeito e estão sujeitas
outras
critica geral; supprimindo algumas verbas e reduzindo
cargo do Mltiis-
em mais de CO %, desorganizam os serviços a
terio da Agricultura.

Pinheiro — Não 'supprimi verbas.


O Sr. Raphael

Pereira — Estou me referindo a V. Ex. e


O Sr. Luciano
collega, cujo movimento de critica 6 pairallelo
ao nosso digno
ao seu.

Pinheiro — V. Ex. como que me tráz


O Sr. Raphael
Sr. Nicanor e acreditar que as emendas
jugulado ao parece
commum accôrdo. Sob de honra di-
foram feitas de palavra
na dellas, tanto quo ha
rei que não nos ouvimos confecção
divergencia completa de nossas
surprezas admiraveis, pela
de detalhe. V. Ex. deve nos fazer
opiniões em alguns pontos
somos dous homens integralmente
a justiça de acretidar que

cerebrados e em condições de realizar, cada um de per si, um

estudo desses.

Pereira — Não em duvida. Ainda


O Sr. Luciano ponho
não ter feito a critica, deta-
agora V. Ex. censurou-me por
eu digo a fizenglobadamente, nao
lhada' das emendas, e que
lazer em detalhe, por não conhecer os motivos de-
a podendo
de cada uma das emendas.
terminantes da apresentação

O exame revela, desde logo, que ellas desor-


perfunetorio
do Ministério da Agricultura e, por isto,
ganizam serviços os
approvada3. Quando o nobre Deputado vier
não podem ser
serviços podem ser feitos com as verbas
provar que aquelles
occasião de me convencer ou nao. (Pausa.)
reduzidas, terei
emendas apre-
estas ligeiras considerações sobre as
Feitas
Deputados, representantes de. Dtetrioto
sentadas pelos nobres
a responder ao notável discurso pio-
Federal e da Bahia, passo
eminente collega Sr. Pandiíí Calogeras,
nunciado pelo meu
da erudição e elevada competoncia de seu autor,
tão revelador
pessoaes que faz do illustre e3ta-
quão injusto nos conceitos
dedicação, competência o pa-
nucT com todo o critério,
Agricultura, Indus-
frente dos negocies da
triotismo,' se acha á
tria e Ommercio.
fazer a defesa do eminente Sr. Pe-
Não é minha intenção
delia, o paiz inteiro faz
S ExJ. não precisa porque
dro de Toledo
e esforço a devida justiça.
á sua competência
mais do que já a respeito
Accresce que nada poderia dizer
Sr. José Bon.fac^
disse o nobre Deputado por Minas Qeraes,
694 ANNAES DA CAMARA

cujo nome declino com o devido respeito, em memorável dis-


curso pronunciado nesta Casa ainda não lia muitos dias.
Nessa notável peça oratória, uma das mais brilhantes
(]ue tenho ouvido nesta Gamara, a vigorosa, acção do digno
titular da
pasta da Agricultura está traçada de modo a deixar
nem patentes os alfos serviço? <n:e tem sabido prestar á
ftaeyo.
Limito-me, assim, a responder ao discurso do meu digno
collega Sr, Calogeras, na parte em que elle se refere especial-
mente ao Serviço do Defesa Economica da Borracha, deixando
üs lado a outra em o nobre
parte que Deputado faz a critica
<ia creaçao do Ministério e aprecia o valor pessoal dos esta-
distas a quem a süa direcção tem estado entregue.

Ao entrar no assúmpto, sejam as minhas primeiras pala-


vras de agradecimento ao digno collega. Lembra-se a Câmara
de como, em virtude de determinadas allnsões feitas ao Ser-
viço de Defesa da Borracha pelo meu nobre collega, allusfles
vagas mas importavam
que em pesadas censuras, tomei a li-
herdade pedir-lhe de as
que precisasse suas accusações, fa-
zendo as criticas opportunas,
que julgasse mas de modo a po-
derem ser combatidos ou apoiadas pela Gamara, conforme a
maneira por que as alludidas criticas
calassem 11» espirito de
cada um dos Srs. Deputados.
O discurso do meu nobre collega foi uma resposta a esse
appello. Muito sou a S. Ex.
grato pela cortezia.
Ao fazer o appello, formulei os termos da questão, afim
de bem fcollòcal-a no terreno da discussão.
Primeiramente oonvinha saber si havia ou não necessida-
de inadictvel de defender a borracha brazileira dá coucurren-
cia de similares estrangeiras. Já em discurso anterior tinha
mostrado a lastimavel situação em
que a nossa borracha teria
de ficar dentro de seis ou oito annos em face da sua competi-
dora, si a deixássemos entregue a si musma, como ate agora.
Mostrei também que a expulsão tía borracha braziloira
dos mercados não
somente tí valle de Amazonas, mas
affectava
todo o Brazil, uma vez
que a borracha entra para a cifra total
da nossi exportaçã-ji com 39
por cenlo, e esse rombo na balan-
ça eommercial' não podia ser substituído, o que levaria o paiz
iatui mente n inaolvencia.
Ein segundo logai\ caso o digno Deputado concordasse
com a necessidade da defesa* si estava ou não de accôrdo com
os meios que estão solido postos em pratica pelo Governo para
a solução do problema, devendo, em caso de discordância dar
lealmente as razões e no mesmo
por quo tempo apresentar
como substitutivo, as medidas julgasse mais
que convenientes.
O meu digno collega, na mesma occaslão em que eu lhe
fazia o appello, em apartes com me honrou,
que declarou desde
logo que reputava da maxima gravidade a situação da tiòssa
borracha, doaríté da eoncummcia lhe está fazendo a borracha»
qdti
de plantação no Oriente, e assim julgava necessidade Inadiável
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 09ü

a do problema; que estava de accôrdo com certas me-


solução
didas Que foram adoptadas, mas que discordava de outras, re-
servando-sô para dizer as razões por que Quando entrasse emi

3" discussão o orçamento do Ministério da Agricultura.


notável discurso de S. Ex., proferido na ultima sessão
O
da foi o cumprimento dessa promessa solemnemento
Gamara,
feita,
Aqui um
abroparentliesis dizer que procedimento
para
os seus dignos collegas Srs. Nicanor do
igual tiveram
não
Nascimento e Raphael Pinheiro, também nojninalmente in-
virtude de apartes e allusões ferinas que
terpellados, em
faziam ao Serviço da Defesa da Borracha, a ppoposito de tudo,
compromisso que assumiram de discutir o deme-
apegar do
rito dessò serviço.

Raphael Pinheiro — Predão , V. Ex. não nos pro-


O Su.
vocou.

O Luciano Pêreira — Na inesma occasião em que


Sn.
o Sr. Calogeras, fiz igual appello aos nobres
áppellei para
V. Ex. deve se lembrar deu um aparte ao
iieínutaàos. que
discurso do Sr. Nicanor do Nacimento.

Pinheiro — E' o celebre, aparte que me


O Su. Rapíiaix
tornou insupportàvel ao 'Ministério da Agricultura; dizia nello

sozinho na campanha de moralização


que embora ficasse

administrativa...

Pereira — Não é esse, foi um anterior,


O Sr. Luciano
occupavit a tribuna, tendo se refe-
em que o nobre eollega, que
defesa da borracha, recebeu de V. Ex. o
rido ao serviço de
— «em má liora creado».
seguinte aparto
— Si V. Ex. me fizesse ames-
O Raphael Pinheiro
Sn.
foz ao Sr. Galogeras, eu diria quanto á pri-
ma pergunta que
me ira parto, sim.
— A minha intorpellação, ou antes,
O Sn. Luciano Pereira
O meu nobre
o meu anViello, consta dostAnnaes do Congresso.
o Sr. Nicanor do Nascimento, declarou immediatamente
eólica
iria demonstrar as demasias do ser-
uue em tempo opportuno
e V. Ex. disse que elIo não li-
viço da Defesa da Borracha

caria sozinho.
E1 outra
Pinheiro embrulhada —• neste
O Sn Raphabd
aparte á campanha
negocio da Agricultura. quo dei referia-se
O
V Ex. sabe, que, preliminar-
do moralização administrativa.
da borracha devo ser at.tendido
mente, acho que o problema
V. Ex. ouvirá
agora como, dada a nossa_ situação deficitaria,

as minhas razões amanha.


para dizer que se propala que se
Aproveito a occasião
com os serviços, mas pelos cálculos
dispensarão 1(50.000:000$
um abalisado, íicuj as despeza
GtiG fiz quo não são cálculos de
a 213.000:000$, como procurarei demonstrar amanha.
— Em taos condições, não tendo
O Sr Luciano Pereira
o Sr. Nicanor do Nascimento-, acudido ao meu
nem V. Ex. nem
69G , ANNAKS DA CA.MA1U

appello, aliás feito


para melhor esclarecimento da verdade, 6
claro Que lhes não podia agradecer da tribuna, do modo porque
agradeci ao nobre Sr. Calogeras. VV. EEx. até não
parece
estarem de accôrdo com a existencia do problema...

O Sr. Raphael Pinheiro — Eu nada disse Y.


para que
Ex. chegasse a essa conclusão.

O Sr. Luciano Pereira — \'V. EEx. apresentaram emon-


das .adiando o serviço da defesa da borracha, aliás com infrin-
gencia do Regimento, não chegando eu a comprehender como
taes emendas foram acceitas.
Ora, si assim fizeram é porque são de opinião não é
que
tão premente a necessidade dessa defesa.

O Sr. Raphael Pinheiro — Do modo entendemos


por que
não ha nada premente.
O Sr. DroNisio Cerqueira — Prementissimo.

O Sr. Raphael Pinheiro — Pergunto a V. Ex. (referin,


do-se ao Sr. Dionisio Cerqueira) o que seja necessário pre-
liminarmente fazer resolver a crise da
para borracha brazi-
leira ? O regulamento feito pelo irmão do nobre Deputado peío
Amazonas, trabalho que considero um monumento, como todo
o mundo considera, todavia infringe disposições constitucio-
naes.

O Sr. Luciano Pereira — O regulamento foi feito pelo


Governo o não por meu irmão.

O Sn. Raphael Pinheiro — O Sr. Pedro de Toledo não


pôde ter idéas nitidas, praticas, sobre a borracha como as que
se encontram no regulamento.

O Sr. Luciano Pereira — Porque não ?

O Sr. Deputado Calogeras, 110 brilhantíssimo discurso


pronunciado nesta Casa, provou que conhece perfeitamente a
questão; porque não acontecer outro tanto ao eminente Sr.
Pedro de Toledo, sua de ministro,
que, pela qualidade tem
obrigação de conhecer o como os melhor
problema que o
conhecem ?
V. Ex. não me censurar
pôde por e3tar fazendo a defesa
Ho regulamento, ci/jas disposições eu seria o primeiro a com-
bater si não estivesse
de pleno accôrdo com ellas; mas, é&tan-
do de accôrdo,
competia-me defendel-as. Em logar
primeiro
sou representante de um Estado cuja vida economica e fe-
licidade dependem da resolüção do em segundo
problema;
logar porque, quem dirige os serviços £ um irmão meu e, por-
tanto, não posso deixar de rebater as accusações que se lhe
fizerem directa ou indirectamente nesta Casa.

O Sr. Raphael Pinheiro — Nobremente. Resta saber ai


V. Ex., como Deputado pelo Amazonas, consentirá na desna_
turação da Federação, indo o Governo Central legislar sobre
direito dos Estados, de taxar.
ÜKSHÃo KM 27 L>li tíETEMBRO 1>K 1912 697

O Sh. LuciaNo Pereira — V. Ex. não leu bom o rogu-


lamento. Este não autoriza o Governo Federal a intervir no
regimen das taxas estaduaes, mas a entrar em accôrdo com os
sovemos estaduaes afim de serem diminuídos os impostos do
exportação sobro a borracha.
V. Ex. lê os
e deve saber que ha poucos
jornaes dias as
folhas do
publicaram Rio
um telegramma dizendo que devia
ser approvado um projecto sobre o assumpto no Congresso
'Paraense e outro no Congresso Amazonense. Já vê que os go-
vernos federal e daquelles dous Estados estão procurando en-
irar em um laccârdo.

O Sr. Raphael Pinheiro — E a autonomia dos municípios,


onde fica?

O Sr. Pereira — Os
Luciano1 municípios procederão pela
mesma fôrma,
procurando entrar em accôrdo. (Ha um aparte.)
O regulamento foi calcado sobre a lei votada pelo Con-
gresso. Chegou até esse ponto.
A situação da borracha brazileira, Sr. Presidente, é a
seguinte: esse
productó constitue a riqueza principal dos
Estados do Amazonas e do Pará, do Território do Acre e do
norte de Matto Grosso.
o balanço total da nossa exportação a borracha entra
Para
com %, segundo os dados
39 estatísticos.
Está provado, inclusive pelo discurso do Sr. Deputado
Calogeras, que dentro de oito annos o Oriente estará em con-
dições de produzir perto de, 80 milhões de kilos de borracha...

O Sr. Raphael Pinheiro — I)e inferior.


qualidade
O Sr. Luciano Pereira — Isso é sabemos.
o que não Em
todo caso procurarei demonstrar que V. Ex. está enganado.
O nervo da borracha do Oriente é
fraco do que o da nossa, mais
porque a exploração das seringueiras começou a ser feita muito
cedo, apenas com cinco annos de idade. Também no Amazonas
se verifica a mesma cousa, quando a borracha é obtida com
leite de seringueira nova.

O Sr. Raphaei. Pinheiro — Procurei 110 mercado e não en-


contrei nada que me orientasse sobre a constituição dos terrenos
de Ceylão e elementos que me fornecessem dados comparativos
entre a situação do Oriente e do Amazonas nessa parte.

Pereira — Os do Oriente são tão


O Sr. Luciano terrenos
bons como os nossos...
E a prova disso está na rapidez com que lá se desenvolvem
as seringueiras. Não venha V. Ex. com o argumento de que
aqui 110 ftrazil a seringueira deve produzir melhor do que no
estrangeiro, visto estar no seu paiz de origem, porque eu
lembrarei a queV. Ex. muitas vezes certos productos dão
melhor transplantados do que no seu proprio habitat. Basta

que eu cite a V. Ex. o caso do café, que na terra rôxa do


S. Paulo encontrou o seu ideal, dnndo lá melhor do quo na
Arabia, de onde é originário.
098 AN NAUS OA CAM.SUA

Mas, pelo seu aparte, parece-me acreditar V. Ex. o


que
nosso producto encontra melhor preço nos mercados do que os
seus eoneurrentes estrangeiros. Si V. Ex. assim pensa, está
infelizmente enganado. Aj>e2.*r ao nosso ter mais
producto
nervo que o do Oriente, devido aos processos de fabricação,
do
este encontra, melhor mercado. A porcentagem perdida pelo
nosso durante a vulcanização 6 tão superior á perdida por
aquelle. que a sua maior elasticidade não é sufficiente para
evitar-lhe preços interiores.

Mas aiílda não é tudo. E' Üe que a borracha do Oriente


crer
sejapor emquanto menos elástica do que a nossa, devido tão
somente á pouca idade das arvores de que é extrahida, pois
o mesmo phenômèúo sè verifica entre nos com á borracha de
seringaes plantados.
Posso mesmo garantir a V. Ex. esse foi o motivo
que
principal que determinou na Amazônia jti abandono da cultura
da seringueira. Ouem podia ter borracha superior dos serin-
gaes nativos é claro
que não ia perder tempo com
plantações,
que al<5m do trabalho da cintura davam um producto de quali-
dado infeHor.

O Sii Osório — A proposito da inconstitucionalidade da lei


de defesa da borracha lembrada em aparte pelo Sr. Raphael
Pinheiro, seria bom ler o art. 12 da allúdida loi.

O Sn. Lur.iANO Peiieiha— Perfeitamente. Leiamos o ar-


tigb 12. (LÔ:)

«E' o Poder Executivo autorizado a entrar em accôrdo


com os Estados do Pará, Amazonas e Matto Grosso no sentido
de obter a. reducção annua de 10.% até o limite máximo de
50 % do valor actual dos impostas de exportação cobrados pelos
Estados borracha seringa produzida nos seus
sobro a territórios
e a isenção
qualquer imposto dede exportação, pelo prazo de
25 annos, a contar da data desta lei. sobro a borracha da mesma

qualidade o procedência que fôr colhida de seringaes cultivados.


Logo que fôr eiTectuado o accôrdo o Poder Executivo ex-
pedirá decreto fazendo a reducção que os mesmos Estados fi-
zerem do imposto do exportação cobrado sobre a borracha do
Território Ffderál do Acre e concedendo igiial isenção quanto
á borracha cultivada.»

Gomo vê o meu nobre collega Sr. Raphael Pinheiro, a


censura levantada por S. Ex. contra a lei é do todo improce-
dente. Em vez de respeitar a autonomia dos Estados, o que
a lei faz 6 precisamente reconheceí-a em toda a sua inteireza,
tanto (juó auióri/.a o Governo Federal a entrar em accôrdo com
os, governos dos Estados productores de borracha para um
determinado fim.
A simples leitura do art. 12 vale pelo mais eloqüente
dos discursos. Creio que com ella deve ficar satisfeito o meu
nobre collega.

O Sn. Raphael Pinheiro — Rendo-mo á evidencia.


SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 1)09

O Sn. Luciano 1'erkiiú — Ao contrário, pois, do que pensam


os nobres Deputados Srs. Nlçanor do Nascimento e Kupliael
Pinheiro, d solução problema do de defesa da nossa borracha
Esse adiamento importaria 110
não pôde ser adiada, aniquilla-
mcuto dos Estados do Amazonas, Pará, norte de Matto Grosso
e Território do Atire, que vivem exclusivamente daqueííe
110 paiz, visto
producto, e determinaria uma grande crise geral
como a borracha entra para a cifra total da nossa exportação
com 39 %.
A do nosso
defesa producto consiste em tornar o mais
si o não quizermos
barato possível o preço da sua predileção,
vi r dentro de poucos sumos varrido do mercado. Prbsehtemente»
a borracha brazileira alcançando preço inferior a í$500 pelo
kilo dá prejuízo ao extractor, ao passo que a do Oriente, mesmo
alcançando a metade daquelle ainda deixa lucro com-
preço,
pensador.
Atiftitti Sondo, rio dia om o Oriento pbr si só pudor
abarrotar o mercado, e isso acontecerá dentro de poucos annos,

só oi lo ficará no mercado, sendo o seu producto o único pro-


curado industrias, por ser o mais barato, já devendo ter
pelas
desapparecido nessa occasião a pequena diffcrença de quali-
dade ainda exiâtehto no momento actnal.
Deante de tal ameaça, cujas conseqüências para a vida

econômica e financeira do paiz são tão graves, deixar ao

desamparo o nOssO producto seria um crime monstruoso.

Estabelecendo a defesa dá nossa borracha por processos


do aecôrdo cbtii as leis economicas, tal qual o fazem a lei e o

regulamento em vigor, nós não sómonte evitamos a crise por


de outra fôrma terá fatalmente que passar o paiz, mas
que
lambem o valle do Amazonas, creando ao lado da
yalorizartiós
outras fontes de riquezas incalculáveis, de modo que
borracha
daqui a 10 a 15 annos aquella passoií de industria única que
é boje a industria meramente subsidiaria.

Agora para alcançar tão extraordinário resul-


pergunto:
lado e muito gastar 8.000:00üíj>000 V

Pinheiro — Só 8:000$000?
O Sn. Rapiiael

O Sn. Luciano Peiiuíua— Sim, 8.000:000S nnnuaes. Mas


sejam mesmo vinte ou trinta mil. Não será
admitíamos que
fazer essa despeza a termos que lastimar dentro
preferível
uma reducçao de 40 % na renda do paiz e o
de poucos annos
amiiqüillámerito de toda uma região?
do riofesa da borraena exigo onormos
j'7 Qiio o serviço
certo
são distribuídas
sommas mas também ó1 certo que as despezas
exercícios, sendo, como indiscutivelmente são,
por diversos
é certo correrem as dos ul-
ile nafureza reproduetiva, quasi
obtidos com as feitas
limos exercícios já por conta dos lucros
nos primeiros. .. ,
nos sao fornecidos por outras nações
Os exemplos que
mostrar como essas eousas se fazem. A
estão abi para nos
em gastar bilhões para dar á Argélia a
França não trepidou
hoje desfrueta. O mesmo fez a Inglaterra
prosperidade que
700 ANNAE8 UA CAMARA

com o Canadá, «a Australia e a Nova Zelandia. O mesmo fizeram


os Estados Unidos e todas as nações colonizadas.
As despezas quo temos a fazer são infinitamente menores
do que as que tiveram de fazer aquelles paizes, porque a zona
a valorizar entre nós é a mais
privilegiada da terra, dispondo
de caminhos naturaes de attingem as suas
penetração que
partes mais recônditas, além de outras vantagens inestimáveis.

Isto para não fallar do inconcusso direito que tem o valle


do Amazonas de exigir do Governo da União a protecção de
que agora precisa.
Essa região do
paiz apenas com 1.000.000 de habitantes,
que representam a
25* parto da população do Brazil, concorre
para as rendas 1'ederaes com de 80.000:000$ annuaes,
perto
equivalentes a sexta parte da renda total da Nação. Em com-
pensação, esta apenas auxilia a região com 800:000$ annuaes,
com quanto subvenciona a Companhiaa do Amazonas. Em
troca dos 80 mil contos
que recebe a União apenas gasta 800.
Será isso justo?
Aconselho aos nobres Deputados em duvida a
que põem
inadiavel necessidade que temos de resolver o da
problema
nossa borracha a leitura do monumental discurso proferido
pelo nobre Deputado mineiro Sr. Calogeras, onde as propo-
sições por mim adduzidas se acham demonstradas alga-
por
rismos.
S. Ex. discorda, apenas, quanto a algumas medidas, mas
está de accôrdo com as linhas geraes do problema.
O discurso do illustre Deputado é uma verdadeira mono-
graphia sobre o assumpto. {Pausa.)

Agora, vou ver si consigo mostrar á Gamara, que as


criticas feitas á lei e ao regulamento pelo illustre Deputado
Sr. Calogeras no brilhantíssimo discurso que aqui proferiu
são improcedentes.
Não me calaram no espirito as razões de discordância
que apresentou por isso vou tentar contradital-as.
e Permitia-
ine,porém, antes, o nobre collega que extranhe a sua discor-
dancia.
Percorrendo as actas dos trabalhos realizados no Congresso
convocado pelo digno Ministro da Agricultura para tratar do
problema, entre os nomes dos congressistas encontrei o do
meu nobre collega, representando o seu grande Estado.
Dessas actas não constam que S. Ex. tivesse se opposto
ás medidas aconselhadas pelo Congresso. Baseada nas con-
clusões deste foi a exposição de motivos enviada por S. Exj. o
Sr. Presidente da Republica ao Congresso Nacional, solicitando
autorização para pôr em pratica as medidas que lembrava.
Para estudar a questão nesta Casa foi nomeada uma
Commissão Especial, composta de membros de todas as com-
missões permanentes.
O longo e minucioso parecer dessa Commissão ainda foi
dado com vista Commissão
á de Finanças, que, por sua vez,
deu voto favoravel.
KM ^7 DE SirriiMBKO uli IDiÜ '701
BJiSÜÃÜ

Ambos esses pareceres foram discutidos tres vezes pela


Camara, na fôrma regimental.
tinha assento
S. Ex., ao tempo, para honra da Gamara, já
nella como representante de Minas. Apezar disso, porém, nem

contradictou, nem emendou o que naquelles pareceres as duas

Gommissões aconselhavam á Camara que votasse. Signal de

que ao tempo concordava.


As discordancias de S. Ex. agora, portanto, não deixam

de ser serodias, mas nem por isso deixam as mesmas de me-

recer da parte de todos a maxima consideração.


E é por isso que passo a contradictal-as,
precisamente
de formuladas uma pessoa do critério e da
afim que, por
do illustre collega, não vão ellas impressionar,
competencia
em alguns espíritos convicções que reputo errôneas.
gerando
ainda um nà critica feita pelo
Convém assignalar ponto
Ex. se esqueceu do
illustre representante mineiro, e é que S.
é conveniente fazer em substituição ás medidas
dizer o que
a approvação.
que lhe não mereceram
de S. Ex., sobre esta ou aquella medida é
A opinião
sem a menor indicação do modus
expressa em termos geraes,
eqüivale a dizer não adeanta uma linha
facícndif o que que
da questão.
para a solução pratica
agora os pontos atacados illustre collega,
Veiamos pelo
tempo explicar as razões de ser das medidas
para ao mesmo
impugnadi^eirQ
])0n(0 impugnado foi ter o Governo extendido

ao caucho, á maniçoba e á
mangabeira, reconhecidas como es-
as medidas de animação em favor do replantio
pecies inferiores,
e das culturas novas. Acha S. Ex. que essas medidas deveriam
uma vez que essa é a especie nobre,
beneficiar apenas a hevea,
reputando esbanjamento
e desperdício o que fôr applicado ein
áqüelles similares inferiores.
relação

O Sr. Raphael Pinheiro — A maniçoba, sob o ponto do

em certos mercados, é considerada mais im-


vista industrial,

portante.
— Creio ainda não chegamos
O Sr. Lúcia no Pereira que
nos garantir que não cheguemos ainda.
14 mas nada poderá
de S. Ex. o Sr. Calogoras foi feita nos seguintes
A critica
termos:
rápida resenha das especies botanicas quimmileras,
«Da
cederam diante da Hevea, o que a lueta
se verifica que todas
nativa e á mesma transmigrada
se circumscreve a esta planta
uelo cultivo 110 Oriente. Que justificaria, pois, a acçao ollicial

por si, estão sendo var-


procurar galvanizar concurrentes que,
a maniçoba e a mangabeira? Se ha
ridos do mercado, como
concentrem-se todos os sacrifícios cm
osfnrco a despender,
a Ibtvm,, e não so lhe-queira suscitar
brdl da especie mais nobre,
auxílios, inúteis aliás, disperdiçados com
óbice novos com
Tudo o mais d esbanjamento. E « o que
sirtiilãres inferiores.
á formação e ao replantio
faz a' doutrina official dos prêmios
maniçobaes e mangabaes.»
de caucliaes,
ANNAE8 DA GAMARA

Sobremodo improcedente é a critica do nobre Deputado.,


o íacto de ser um produeto interior a outro da mesma
especíe não quer dizer que elle não também ter
possa grande
valor industrial.
No caso especial das espeeies de borracha braziileira,
quatro
a situação é a seguinte:

Cotação de sabbado, 19, nos mercados de exportação:

Parafina
(seringa) 5$600
Gaúcho 4íji350
lVlaniçoba 3$800
Mangabeira SijiüOO

Relação do valor, tomada a seringa como unidade:


Parafina, 1,00.
Cauclio, 0,77.
Maniçoba, 0,67.
.Mangabeira, 0,57, desprezadas as fracções.

E'
preciso accentuar desde logo as cotações obtidas
que
pelo cauclio, maniçoba e mangabeira não são muito mais altas,
devido ás impurezas de que são cheios os
produetos, em conse-
queiicia dos atrasadíssimos processos com que são preparados
o mesmo devido á má fé do produetor ignorante, no caso da
maniçoba e da mangabeira, que addicioha areia, pedaços de
chumbo e outros corpos estranhos, na persuação ingênua do
que assim, augmentando o peso do produeto, illude o com-
prador.
A proposito, lembro-me que o Sr. Dr. Cerqueira Pinto,
inventor de um novo coagulante, e aetualmente em commissão
do Ministério da Agricultura na Exposição de borracha de
Nova York, viajando commigo, teve occasião de dizer-me que,
pelo seu processo de coagulação, a borracha da maniçoba ficava
superior á da própria hevea. Não sei se isto me teria dito o
])r. Cerqueira Pinto por brincadeira, o que não acredito por
se tratar de um homem respeitável.

O Sn. Raphael Pinheiro — Parece-me até ha fabricas


que
que boje não podem prescindir de certa porcentagem de ma-
niçoba.

O Sn. Luciano Pereira — Também a borracha seringa,


quando não preparada convenientemente, não obtém preços
iguaes ao produeto denominado fino, sendo inferiores as co-
tações para a borracha entrefina e o sernamby.
Assim, desde que o cauclio e as borrachas de maniçoba
e mangabeira sejam preparados por processos aperfeiçoados,
as suas cotações se approximarão mais do que aetualmente das
obtidas pela borracha seringa.
Tendo-se ainda em consideração que o cauclio occupa uma
área quasi igual á da seringueira, que a área occupada pela
maniçoba vae desde o Maranhão até Minas e o Espirito Santo
o que a da mangabeira vae desde o Amazonas até o Paraná,
ti licito suppôr que em superfícies tão vastas existem logares
SESSÃO BAI 27 1)E SETEMüiiO DE 1912 703

Ofldo circum§(4ncias pspeciaes concorram para qjje esta e n;]o


aquclla àrvóro productora de borracha ppssa ser explorada
'—
até mesmo conip industria' subsidiaria em condições mais

çeonomicas p vauLajpsas.
Á grande differença de cotação actualmente existente entro

borracha seringa e as outras espeçjps é deyi_da em grande


a
aos atrazados que estas são fabricadas.
parte processos por
E' certo que, logo o latcx das mesmas seja pre-
quasi que
adeantados, a differença actual nos
parado por processos
preços diminuirá muito.
E' verdade, também,
que a nossa borracha seringa não é
dos mais aperfeiçoados, mas eoinpa-
produzida por processos
e a mau-
radas aos com que se fabricam o eauclio, a maniçoba
são incontestavelmente muito mais adeantados.
yabeira,
de fabricação
Assim penso que, a[ieri'eiçoados os processos
da maniçoba e da mangabeira, a differença de
do cauclio,
sensivelmente. Mas que se mantenha na mesma
preço diminuirá
actual. .Mesmo conservada ella, ainda assim a in-
proporção
dessas ullinias espécies offerece vantagens
dustria extractiva
muito quem a ella se dedique. Não é preciso
o a que lia
prova é
argumento mais forte- .
é preciso não esquecer que a maniçoba, por
Além disso,
as espécies em que se divide, conta uma, a do
exemplo, entre
ás maiores seccas e aos ventos mais vio-
Piauliy, que resiste
com terrenos áridos, que pega dè galho,
lentos que se contenta
(pie começa a produzir apenas com 18 mezes do idade, e cujo

vez bem preparado se approxima sensivelmente


producto uma
do da seringueira em
todos os sentidos, conforme as observa-
fizeram os especialistas Drs. O. Labroy o
ções que a respeito
encarregados pelo Ministério da Agricultura de estu-
Y Cayla,
dar as condições actuaes de exploração da borracha no ISrazil
difiereptes zonas
o de examinar «as possibilidades agricolas das
em relàtorio recentemente apresentado á s*u-
de próducção»,
da Defesa da Borracha, do qual veiu um resumo
perintendencia
do Commerclo de 1!» dó corrente.
na edição (in Jornal
e disper-
Desse modo, poder-so-ha considerar esbanjamento
dicio o offerecimento
de prêmios de animação e fayqres ineji-
lias condições a que me referi e queiram
rectos aos que estejam
industria
aproveitar as vantagens que a exploração dessa lhes

poderá proporcionar?
ficar tranquillos a Gamara e o meu nobre collega
Podem
certamente, irá fazer cultivos desta
Sr Cilokeras, que ninguém,
de arvore, tentado apenas pelo valor do
ou daquella especie
Governo, porque as despezas que li-
prêmio offerecido pelo
zessem não seriam compensadas pelo mesmo.
a do recebimento do
.Não 6 simplesmente perspectiva
a cultura; pelo contrario,
„,,im'ln levará o agricultor a fazer

Kó o farrse que, esta lhe dará resultado Sc,mente


perceber
fôr verificado haver maior vantagem de
in sares ém que
o particular se decidirá
esta ou aquclla arvore,
,£tada
a líU^l"^.jt(,rio
j,a de guiar o industrial brasileiro na in-
que
704 ANNAES UA GAMARA

dustria extractiva ou na cultura das arvores produotoras da


borracha não é dedicar-se exclusivamente á havea, porque lhe
foram dizer que a borracha dessa arvoro obtém melhor preço
110 mercado; mas sim verificar qual das arvores productoras da
borracha, no logar onde trabalha, pôde deixar-lhe lucro maior
por um kilogramma vendido.

Além disso, é preciso ter ainda em consideração que a


licvea braziliensis não pode ser cultivada em toda parte. Exige
terrenos especiaes
que, no Brazil, só existem 110 norte, extremo
11a que vae da margem esquerda do Parnahyba ao Ama-
região
zonas, incluindo o norte de Matto Grosso, que é cortado pelos
confluentes deste grande rio.
Pela theoria sustentada pelo meu nobre collega, só essa
região ficaria com o privilegio de produzir borracha no Brazil,
quando é1 facto que a exploração das outras especies em outros
logares dá também resultados compensadores, em alguns até
mesmo mais compensadores que 11a exploração
do da hevea em
determinadas regiões amazônicas. No Rio Negro, por exemplo,
os lucros deixados pela industria extractiva da hevea são tão
diminutos, que sómente o trabalhador indígena pôde nella ser
empregado, por se contentar com salarios reduzidíssimos, a
que se não sujeita o cearense ou qualquer outro trabalhador.

Não é o preço obtido pelo producto que dá o seu valor


economico, mas a relação existente entre o custo da producção
e aquelle preço...

O Sr. Osorio — Depois o é apenas uma forma de


prêmio
animar.

O Sr. Luciano Pereira—...não fosse assim e nas in-


dustrias só os artefactos perfeição seriam fabricados,
de ultima
quando a verdade é que em via da regra não são esses os pro-
duetos de maior valor economico para o fabricante. Nessa ordem
de idéas é bom sempre termos em vista o que succede á in-
dustria allemã.
A industria extractiva da borracha de maniçoba e de man-

gabeira tom dado os resultados mais compensadores 110 Piauhy,


Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Minas Geraes, etc., nota-
damente que tem
do Piauhy, visto as suas rendas augmentarem
extraordinariamente devido ao desenvolvimento que 110 seu
territorio tem tido a industria extractiva da borracha do ma-
niçoba, não obstante os processos atrazadissimos postos em

pratica pelos extractores.


Não é possível, portanto, dada a immensa superfície á
industria da borracha 110 Brazil, fixar previamente a única

arvore que deve ser protegida e a sua cultura animada pelos

poderés públicos.
Commetteria um erro imperdoável o Governo que assim

p fizesse.
Mais tarde, si a experiencia demonstrar que determinada
arvore não corresponde aos resultados esperados, nada mais

fácil do que abandonal-a.


SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 705

Por emquanto, não ha razões para assinj^ pensar; quer


relativamente ao caucho, á maniçoba ou á mangabeira.
quer
Para decidir essas cousas não ha como a prova real da
E esta, até agora, tem dito que todas aquellas
expcriencia.
especies teem seu valor economico, e a prova ó que, apezar da
imperfeição dos methodos empregados na cultura e no fabrico,

ainda dão resultados compensadores aosque as exploram.


Lastimo que o meu nobre collega Sr. Cajogeras nao esteja
eu desejara ver como Si. Ex. responderia ás
presente, porque
ler dos Srs. Hads & Glemence, de Bello Ho-
opiniões que vou
A maniçoba e á mangabeira em Minas
rizonte relativamente
em carta dirigida ao Jornaljlo Commcrcio
Geraes, expostas
grande orgão da imprensa
desta Capital o publicada por esse
no dia seguinte áquelie em que S. Ex.
carioca, precisamente
discurso, a que estou repondendo.
proferiu o seu brilhantíssimo
E' a seguinte a carta daquelles senhores:
vivamente na solução do magno problema
«Interessados
lemos com intenso a brilhante exposição
da borracha, prazer
de 1», Drs. 0|. Labroy e V. ao
feita no Jornal pelos Çaylá,
da Agricultura, sobre as condiçoes actuaes da
Sr. Ministro
exploração daquelle producto no Brazil.
louvores ao trabalho dos dignos profissionaes,
Só temos
revelaram o maior escrúpulo no desempenho da commissão
que
operoso titular da pasta da Agri-
que lhes foi confiada pelo

CU"'Entretanto,
estudos
éque os seus profícuos
de lamentar-se
no valle da Ama-
tenham sc producção da borracha
cingido á
deixando de parte o exame da vasta
zonia e Estados do norte,
existe em
zona do Minas Geraes em que o precioso producto
a exploração
e offerece incontestáveis vantagens
grande escala
'm'UOs'extensos
vajjog (jog r|os Francisco, Carinlianha e
de mangabeiras, bem
Piracatú possuem abundantes plantações
maniçobaes nativos manihot Glaziowi, ambos
como extensos
excursionistas.
fãn nreconizados pelos illustres
não tem descurado esse problema, que
O Governo de Minas
um dos mais importantes
com clarividente justiça
considera
economica do Estado.
oara a vida
mais de um mez, convidado a se fazer
Ainda ha pouco
na Exposição de Borracha, a realizar-se em Nova
representar
mineira encarregou a Associaçao Com-
York a administração
de fazer a collecta dos documentos
mpppiil de Bello Horizonte
existencia e de aproveita-
da possibilidade
comprobatorios
mpnfo da borracha mineira. _
incumbência, a Associaçao encarregou o
Cumprindo a
conhecedor da região septentrional do
nr níiinn notável
as zonas
profissional, de percorrer pro-
Brazil e experimentado
dUCtAaexcúSaido°Dr°r
Quinií tevê'êxito completo, propor-
de apreciar devidamente a riqueza ex-
v.;nnaiJft Ihp o ensejo
as bacias de S. Francisco e do fia-
tíKfnariaaueconteem
affluentes, em Mina».
tC,í , ™

Vol. 45
706 ANNAES DA CAJVIARA

t
Percorrendo detidamente a zona e internando-se em
pontos ainda não visitados, o illustre profissional trouxe nuine-
rosas amostras que, devidamente acondicionadas, já seguiram
para a America do Norte, sendo de esperar o mais franco sue-
cesso á presença de Minas Geraes na Exposição da Borracha.
E não só a exuberancia da producção de borracha mineira
deve impressionar bem os industriaes que se dedicam a essa
exploração; sinâo que a facilidade do Iransporte ha de influir-
lhes no animo para empregarem sua actividade em Minas.
De facto: colhida a borracha nos vastos terrenos á margem
do S. Francisco, poderá ser conduzida por vapores que na-
veguem o mesmo rio, vindo alcançar Pirapora, actualmenfe
ponto terminal da Estrada de Ferro Central do Brazil, de ondo
demandará o porto do Rio de Janeiro.
Accresce
que em breve Pirapora será dotada de um porto
reunindo todas as vantagens para a navegação, em virtude da
concessão feita pelo Governo do Estado aos Srs. Luiz Cata-
nhedo de Almeida e Arthur Haas.
O que aqui expendemos em traços rápidos salienta a van-
tagem que acarretariam os estudos dos Drs. Labroy e Caylá
da zona norte-mineira, que de certo lhes causaria optima im-

pressão.
Lamentavel é, portanto, que os dous dignos commissarios
do Governo Federal não houvessem transposto a fronteira da
Bahia e
penetrado em Minas, abrangendo nas suas observações
e pesquizas uma zona fartamente dotada de borracha, pro-
dueto que paga diminutos impostos 110 Tliesouro de Minas,
tornando-se assim mais lucrativa a sua exploração para os
industriaes.
Pedindo abrigo para estas linhas no Jornal, nos subscre-
vemos, com a maior consideração, amigos e admiradores llaas
t£- Clcm.ence. Bello Horizonte, 21 de setembro de 1912.»
Como vô a Camara, opponho á opinião do nobre Deputado
mineiro Sr. Calogeras, a opinião dos Srs. Haas & Clemence,
também mineiros, que mostram á saciedade que a cultura e a
industria extractiva da maniçoba e da mangabeira podem dar
os melhores resultados nogrande Estado de Minas. (Pausa.)
Para o caso especial da borracha-seringa, pensa o meu
illustre collega — e neste ponto está de aecôrdo com o re-
— que a solução está na cultura industrial, mas
gulamento
que não se pôde deixar de manter e favorecer a exploração
dos seringaes silvestres, afim de não desertar o mercado, na

phrase de S. Ex.
Para conseguir-se esse desideratum, concorda ainda que
da vida; mas discorda
a principal a combater é a carestia
causa
de alguns dos meios que se pretende empregar para que os

resultados sejam efficazes.

A carestia da vida no valle do Amazonas tem como causas

principaes:

Io, taxação elevadíssima dos impostos, quer de importa-

de exportação, influindo, porém, mais directamente


ção, quer
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 707

a dos impostos de importação dos generos de primeira ne-


cessidade;
2o, irregularidade, difficuldade e sobretudo earestia ex-
trema dos transportes.
A essas causas principaes veem se juntar outras subsi-
diarias; umas devidas a condições especiaes do meio e outras
das duas — taes a insalubridade de
decorrentes principaes
certas zonas, a falta de capitaes, o atrazo dos seringueiros que
não sabem tirar proveito dos preciosos recursos que estão ao
seu alcance, etc., etc.
Para combater a primeira causa, o remedio theorico 6
haver de mais simples — diminuir os im-
tudo quanto pôde
limite conveniente.
postos até o
Devemos, de facto, diminuir os impostos. lüles são exage-
radissimos.
Gomo muito bem lembrou o nobre Deputado Sr. Galogeras

em seu discurso, pelo imposto do 5o do ouro cobrado pela me-


tropole, arrebentou um movimento revolucionário em Minas
Geraes. Que não
justificaria agora o imposto de exportação
cobrado borracha, que attinge a uin V' do valor desta?
sobre a
Mas como diminuir esses impostos?
O meu illustre collega prega para o caso a tarifa diffe-

rencial, mas como esta é prohibida pela nossa Constituição,

sustenta a necessidade da revisão dos impostos alfandegarios,


não succumba sob o fardo de taxas no
para que o norte que,
sul, vão apenas beneficiar determinados industriaes.

Nobres são estas que aos nortistas consola ouvir


palavras
de modo tão eloqüente um representante do sul.
pronunciar

Raphael Pinheiro — Apoiado, ellas são a ver-


O Sr. pura
dade.

Pereira — Infelizmente essa aspiração, 110


O Sn. LucianO
momento financeiro que atravessamos, não pôde passar de
aspiração e aconselhal-a eqüivale offerecer um remedio pu-
ramente platonico, porque o que se sabe 6 que o Congresso
não a votaria.
A lei da defesa da borracha procurou uma solução para
a difficuldade em terreno muito mais pratico.
Em vez de determinar uma derrocada nos impostos de

importação generos, como os cereaes, os lacticiuios


sobre certos
o que seria produzir
e outros generos de primeira necessidade,
uma forte depressão nas rendas do paiz, no mo-
bruscamente
ruina de industrias
mento em que elle mais precisa dellas e a
no sul em condições satisfactorias para
que já prosperam
Estados da Republica, estabeleceu o critério de favo-
muitos
loco desses principaes generos de primeira
recer a producção in
Para isso concedeu isenções de direitos não
necessidade.
desinfectantes e dissolvent.es,
s.ómente para boiões defumadores,
o nobre Deputado, mas para todos
como ironicamente assevera
e utensílios de trabalhos destinados direcla
os instrumentos
á industria principal da borracha e ãs
ou subsidiariamente
com successo na região.
outras industrias que pódem prosperar
708 ANNAláS DA GAMARA

A cultura intensiva da hcvea e o replantio dos seringaes


silvestres, não sómente nos logares accessiveis á grande nave-
gação, mas em Iodos aquelles onde o producto possa encontrar
vantagem, a colheita e o beneficiamento dá borracha, a pro-
ducção de generos aljmenticios, as industrias da e do
pesca
transportei todas serão beneficiadas pelas isenções, e muitas
dollas farão jús a prêmios de animação que não são para
desprezar.

O Sr. Dionisio Cerqueira — Sobretudo sonegando os se-


ringueiros da acção do regatão.

O Sr. Raphael Pinheiro — Não é o regatão o maior ini-


migo dos seringueiros.

O Sr. Luciano Pereira — Os regatões são negociantes am-


bulantes que vão vender de barracão em barracão os generos
de primeira necessidade e, ás vezes, até objectos de luxo.

Em geral elles não fazem negocios com os seringueiros,


mas com os proprios donos dos barracões, prejudicando dessa
maneira o commercio aviador
das praças de Belém c Manáos.
Em troca das mercadorias que compra, o dono do barracão
entrega borracha ao regatão, deixando assim de remetter esse
producto ao aviador, que é quem soffrc o prejuízo.

O Sr, Raphael Pinheiro — O regatão é o mascate das


aguas.

O Sr. Luciano1 Pereira — Disse muito bem V. Ex., o re-


gatão é o perfeito mascate das aguas. Carrega grandes embar-
cações de mercadorias, sobe os rios e, tocando ein todos os
portos, procura vendel-as.
Mas nem sempre são flores o seu negocio. As vezes depois
de longas viagens feitas sob as maiores agruras, ao chegar em
Belém ou em Manáos, o regatão vi" todo seu trabalho perdido.
Os aviadores costumam ter em cada navio que Iransporta
borracha representantes seus, que exercem uma especie de
fiscalização sobre os proprietários de seringaes, de sorte que,
quando os negocios feitos por estes com os regatões são desço-
bertos, a borracha dada em pagamento ó arrestada a requeri-
mento dos aviadores lesados.
Em tal caso o prejuízo do regatão ê completo, porque fica
sem a borracha, sem as mercadorias e sem o trabalho, que ó
tudo quanto pode haver de mais penoso.
Mas voltemos ao fio da discussão. Já mostrei á Gamara
a maneira pratica por que a lei e o regulamento procuraram
resolver a diminuição dos impostos de importação.
A impostos de exportação está por sua vez prevista
dos e
precisamente nesta occasião os Congressos Estaduaes do Pará
o do Amazonas discutem projectos autorizando os respectivos
governos a estabelecerem accôrdos com a União para essa re-
ducção.
O nobre Deputado mineiro accusa ainda o plano da loca-
lização dos centros de producção de generos alimentícios que
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 709

se pretendem crcar, pensando que seria preferível fazel-o ern


Marajó e não nos campos do Rio Branco, por se acharem estes
perto de 1.000 kilometros do Manáos.
Neste ponto o nobre Deputado estudou detidamente
não a
lei e o regulamento. Elles mandam promover a creação desses
centros de producção de genaros alimentícios em pontos que
foram escolhidos do modo a a distribuição dos
permittirein
productos nas condições mais 1'avoraveis, levada em conside-
ração a immensa superfície da região a attender. e esses pontos,
por felicidade, coincidem com logares onde existem campos
de criação o terrenos admiravelmente apropriadas para a agri-
cultura.
O nobre Deputado esqueceu-se que a cidade de Manáos
está a 1.000 kilometros do Rio Branco, mas são 1.000 kilome-
tros de rio abaixo, ao passo que está, distante de Marajó 1.778
kilometros de rio acima.
S. Ex. não tem portanto razão na sua critica.
O Rio Branco fica muitíssimo mais proximo de Manáo3
do que Marajó.
Para mostrar que a escolha devia recahir sbbre aquelle
e não sobre este basta considerar que hoje, nas condições
actuaes em que se encontra o Rio Branco, lutando os seus
fazendeiros com as difficuldades de uma navegação arriscadis-
sima, demorada
possível em certa época do e
anno,só ainda
assim abastecem Manáos de gado em condições muito mais
vantajosas do que os fazendeiros de Marajó.
Parece-me que este argumento é irrespondível.
Além disso a zona do Rio Branco é uma zona privilegiada.
Ligai-a a Manáos por meio de uma estrada de ferro ou de
rodagem foi sempre o sonho dourado dos amazonenses. Já
foram até dadas tres concessões nesse sentido, sendo que uma
federal.
O ideal amazonense foi sempre esse: ligar a capital do
Estado ao valle do Rio Branco.
Os campos do Rio Branco são extraordinariamente sau-
daveis, maravilhosamente ferteis e prestam-se admiravelmente
para a industria pecuaria, assim como para a agricultura em
grande escala,que exige campos, onde os instrumentos possam
correr livremente, sem necessidade de derribar florestas, es-
tando no aproveitamento dos seus campos o segredo do desen-
volvimento da agricultura «m grande escala na Republica Ar-
gentina.
Mostra-se ainda receioso o nobre Deputado Sr. Calogeras
de que, mesmo depois de feitos os trabalhos, a immigração
estrangeira não se encaminhe para o Rio Branco, mostrando-se
infenso á colonização nacional.
A isso respondo eu: Si ha previsão que não deve falhar
6 essa.
Tratando-se de uma região que gosa de um clima deli-
cioso, próxima de um grande centro como Manáos e de outro
não menos importante como Demerara, na Guyana Ingleza,
região que como nenhuma outra se presta á pecuaria o á la-
7d2 ANNAES DA GAMARA

ções de preço inferiores que vão do Rio Branco,


aos apezar da
navegação deste rio ser feita em pequenas embarcações,
ainda
sujeitas a freqüentes encalhes e a toda sorte de accidentes.
O argumento
parece-me concludente. Si, com o rio obstruído,
com navegação difficil,
a o gado vindo do Rio Branco chega a
Manáos por preço inferior ao de Marajó, que não succederá
-o anno?
quando a navegação for fácil e feita durante todo
Mas não é tudo. Os beneficiamentos que a lei e o regula-
mento mandam fazer no Rio Branco não se limitam apenas a
favorecer o desenvolvimento de centros creadores e agrícolas.
Toda a do baixo zona
Rio Branco é .riquíssima em gomma
elastica,pois contem enormes seringaes nativos, que ainda não
puderam ser explorados devido ás actuaes difficuldades de
transportes, podendo-se affirmar, porém, que logo que os
melhoramentos sejam feitos, o baixo Rio Branco e seus affluen-
tes, ricos em seringaes, verão desenvolver-se a industria ex-
tractiva da borracha.
Nessas condições, os melhoramentos que vão ser feitos
não poderão jamais consistir em despezas improductivas. O
nobre Deputado Sr. Calogeras, na sua critica, achou ainda

pouco pratico contar com a producção local, que a lei manda


incrementar com a concessão de prêmios, sempre que se culti-
varem parallelamente á seringueira os mantimentos, porque,
diz S. Ex. «o seringueiro em plena matta virgem, com tempo
escasso e insufficiente de auxiliares para a sangria das arvores
onde achará tempo e meios para plantar, cuidar e colher
legumes?
S. tocou, Ex.
para mim, precisamente na questão que
resolve problema economico
o do valle do Amazonas.
Emquanto a região não produzir o que consome, o seu

problema economico não está resolvido. E neste ponto ella


retrogradou, porque ainda ha trinta annos atraz era isto o

que succedia.
Os seus habitantes eram agricultores, que viviam nas teras
altas dos rios.
Sómente nos mezes de verão é que desciam para as terras
baixas, afim de se entregarem á extracção da borracha, vol-
tando de novo aos
lares, logo que o inverno, alagando os se-
ringaes, não lhes permittia mais o córte da borracha.
Em taes condições de trabalho, não tendo necessidade de
tirar da industria extractiva tudo o que precisavam para
viver, á feição qüe succede
do hoje, mesmo alcançando preços
baixos, a borracha ainda dava resultados compensadores.
Com a valorização do seu preço, porém, devido ás neces-

sidades crescentes da industria moderna, desde que a borracha


sómente dava para tudo, as roças foram sendo abandonadas,

até que o agricultor se transformou em seringueiro,


passando
a morar nos seringaes, solução que trouxe como consequencia
uma serie de factos e de circumstancias, que hoje constituem

outros tantos males a combater.


As medidas decretadas pela lei de 5 de janeiro e regula-

mento de 17 de abril facilitam uma nova evolução, por meios


SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 713

actualmente mais convenientes, para a reorganização economica


da região, baseada sobre o antigo regimen, de ser a industria
da borracha considerada e explorada como subs.Jiaria, regimen
que é incontestavolmente o único pelo qual se conseguirá pro-
duzil-a a preços suficientemente baixos.
No seu notável discurso, considerou ainda o meu nobre
collega a valorização da moeda como um dos meios princi-
se chegar ao barateamento da vida no valle do Ama-
paes para
zonas.
creio haja dessa opinião de
Não que alguém que discorde
S. Ex. Fosse, porém, o valle do Amazonas esperar que tal

valorização se desse, sem adoptar outros meios de acção mais


concurren-
prompta, e teria de ver o seu producto vencido pela
cia do producto estrangeiro.
Valorizarmoeda não tem sido outra a preoccupação de esta-
distas patrícios, desde que o Brazil se organizou em nação,

constituindo mesmo essa questão o programma de certos go-


vemos, não sendo possível até hoje dar-lhe solução.
Ainda esse conselho de S. Ex., pois, como se vê, 6 pura-
mente platonico, não podendo fazer parte de um programma que
desejasse fazer obra pratica
Resta-me agora responder á ultima critica feita á lei e
ao regulamento da borracha pelo nobre Sr. Calogeras, relativos

ás grandes redes de viação do programma.


E' indiscutível a necessidade de ser construída uma estrada
de ferro cortando o Territorio do Acro e ligando entre si as

três prefeituras.
Ao tratar agora da construcção dessa estrada aproveito a

occasião responder detalhadamente a uma pergunta do


para
nobre Deputado Sr. Raphael Pinheiro, 110 seu brilhante dis-
curso de estréa nesta Casa.
S. Ex. no seu alludido discurso, perguntou si o projecto
de construcção dessa estrada não entraria 110 plano de entregar
a um syndicato estrangeiro, do qual é o Sr. Far-
presidente
todo o nosso serviço do viação interna.
qhuar,

O Sn. Raphael Pinheiro—V. Ex. engana-se. Asseguro

me referir á Estrada de Belém a Pirapora.


que queria

Pereira — Nesse V. Ex. se enganou


O Sr. Luciano caso
na referencia. V. Ex. deve
que quando a fez,
lembrar-se de

em declarei que estava autorizado a dar explicações


parte,
V. Ex.
sobre o plano de construcção da. estrada e indagando-mo
respondi conhecimento exacto
autorizado por quem, que, pólo
tinha dos factos, ao que me retrucou V. Ex. que a minha
que
valia o Raphael Pinheiro, mas era pouco
palavra tudo para
daquelle nome.
para satisfazer ao Deputado
Deante da declaração de Y. Ex., acredito, agora, porém,
referir-se á Estrada de Belem a Pira-
que. a sua intenção era
discurso de V. Ex. a referencia foi feita á
pora, mas já que no
Estrada de Forro do Abuná a Villa de Thaumaturgo, aproveito

a occasião para fazer o historico desse projecto de estrada.


teve a idéa da sua construcção foi o en-
Quem primeiro
714 ANNAES DA GAMARA

genheiro civi! Gentil Norberto, um dos chefes da revolução


acreana, profundo conhecedor da região, e leval-a
para a
effeito requereu a sua concessão ao Congresso. Este, como era
natural, pediu a respeito informações ao Governo. Ouvido o
Ministério da Viação, este declarou tratando-se de uma
que,
estrada que corria na fronteira, competia ao Ministério da
Guerra pronunciar-se sobre a utilidade da sua construcção.
Ministério da Guerra, por intermedio do Grande Estado-
O
Maior do Exercito, estudou minuciosamente o traçado da es-
trada e terminou dando parecer favoravel á sua construcção,
que declarou de grande alcance estratégico.
Daante desse parecer o Congresso resolveu considerar a
estrada de utilidade mas em vez de dar
publica, a concessão
ao Dr. Gentil Norberto, mandou construil-a, administrativa-
mente, pelo regimen da lei e abrindo credito isso no
para
orçamento.
Ao ser organizado o plano de defesa da borracha foi nelle
incluída a construcção da estrada, estudada e autorizada

a construir.
E eis abi o motivo por que eila se encontra no plano.
Como já disse, Sr. Presidente, é indiscutível a necessidade
de ser construída uma estrada de ferro cortando o Territorio
do Acre e ligando entre si as três prefeituras.
Essa estrada, porém, deve attender a duas condições, im-
postas uma pela natureza do terreno e a outra pela situação
geographica do territorio.
Aquella importa dizer, que a estrada só poderá ser con-
struida por preço razoável, procurando os terrenos firmes,
por um traçado que reduza ao minimo a extensão das zonas de
inundação a atravessar.
A segunda exige que a estrada se preste com o máximo de
efficacla á defesa da extensa linha de nossa fronteira com a
Bolivia o o Perú, que vae do Javary ao Madeira.
Sobre essa segunda parte já vimos como se manifestou
a respeito o Grande Estado-Maior do Exercito, a mais compe-
tento autoridade que temos para dizer sobre o assumpto.
Quanto á primeira parte, a que se refere ao ponto de vista
economico, não sou um profissional, por isso não posso dizer
ao nobre Deputado si qualq-uer outro traçado encontra melhor
terreno para o estabelecimento firme e consolidado do leito
da linha; mas uma cousa se verifica á simples inspecção do
mappa da região — ó que o projecto, uma vez atravesado o
Madeira, ganha o divisor das aguas entre o Abuná e o Ttnxy,
alcança e sóbe o \cre, na parte de seu curso onde a altitude
já deve ser considerável, e corta o vale do Purús em demanda
do de Juruá na sua parte mais alta, onde é provável que
ainda existam alagadiços de grande extensão, mas onde é
também quasi certo que os terrenos enxutos constituam a
maior extensão.
Dadas as condições da região
que a estrada tem de atra-
vessnr, não lia duvida nenhuma que o custo da sua construcção
será elevadíssimo, Mas caríssima também ficou a estrada Ma-
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 715

deira Mamoró e ninguém por esse facto poderá pôr em duvida


a utilidade da sua construcção.
a estrada do Abuná a Villa Thaumaturgo terá desde
Que
logo grande trafego, pode
um ser garantido a priori; pois só o
commercio do Territorio do Acre ô mais do que sufficiente

para eusteal-a com grande lucro.


Não conheço exaotamente o custo da construcção da estrada

Madeira ao Mamoró...

O Sn, Pereira Teixeira — Cinco milhões esterlinos.

O Sr. Ltoiano Pereira — Cinco milhões esterlinos cor-

respondem a 75 mil contos, Acho exagerada a cifra, pare-


cendo-rne que ha engano da parte do meu nobre collega,

Sr, Pereira Teixeira. Tendo apenas a estrada uma extensão


de 350 kilometros, si custasse aquella cifra sahiria cada kilo-
metro a de mais de 300 contos, o que me parece absurdo.
razão
admittamos a cifra, para argumentar.
Mas
Em fins do anno passado a Estrada Madeira ao Mamoró

tendo apenas em trafego os 320 lsilometros, que vae da fóz

de Abuná a Porto Velho, já deixava uma renda bruta de mais

de 400:000$ mensaes, isto antes de attingir á zona mais rica


tem de percorrer, onde se enoontram os grandes seringaes
que
estão situados além da zona encachoeirada; antes de co-
que
meçar a receber os produotos bolivianos e matto-grossenses,

que é o fim principal da sua eonstruoção.


Pelo que ella já rendia então, póde-se facilmente calcular
o renderá depois de prompta, paroeendo-me não aventurar
que
um absurdo dizendo que a sua renda compensará largamente o
capital empregado.
A Estradade Ferro do Abuná a Villa Thaumaturgo, com
a exoeriencin
deixada pela construcção da Madeira-Mamoró,
economicamente do que esta.
pôde ser construída mais
O seu futuro não é menos certo, porque pelos seus trens

correrão todas as mercadorias importadas e todos os productos


exportados pelo Territorio do Aere, o que representa um tra-
fego considerável.
Assim sendo, não vejo razões para temer-se a sua con-

strucção.
O com ella,seria o Estado do Amazxinas, que
prejudicado
veria afastado de Manáos todo o commercio que essa praça
faz hoje com aquolle territorio, que a ser feito com
passaria
com Porto Velho.
a praça de Belém, ein communicação directa
A desso mal irnminente alarmou justamente
prespoctiva
lAmazonas, o dirigiu ao Ministério da
o commercio do qual
uma representação pedindo que, em vez daquella
Agricultura
estrada, fosse construída outra, partindo da cidade da Labrea,
-em direcção ao Alto Acre.
Esse novo traçado, mais curto do que aquelle e de con-

muito mais barata, ao Território do Acre


strucção pcrmitte
communicações rapidas c permanentes com a praça de Manáos.
Como Deputado amazonense empenharei todos os meus

esforços, o segundo traçado seja preferido ao pri-


para que
716 ANNAES DA GAMARA

meiro e nesse sentido subscrevi a emenda apresentada pelo


meu illustrado companheiro de bancada Sr. Aurélio de Amorim.
A representação da Associação Commercial do Amazonas
está, sendo estudada pelo Governo, não sendo difficil que,
taes os argumentos apresentados em favor da linha do Purús,
o proprio Governo peça ao Congresso a necessaria autori-
zação para ser modificado o projecto actual.
O interesse directo que na questão, o meu Estado tem

porém, não me conduz a desconhecer a vantagem estrategica

que o primeiro traçado tem sobre o segundo, parecendo-me,


no entretanto, que as vantagens economicas deste sobre aquelle,
devem determinar o Governo a preferil-o, uma vez que com
elle as nossas fronteiras ficam também servidas, ainda que
não dc modo tão completo como se fosse adoptado o primeiro
traçado.
Estou assim de um certo modo de accôrdo com as conclu-
sões do nobre Deputado Sr. Calogeras, relativamente á pre-
ferencia do traçado do Purús sobre o do Abuná a Villa Thau-
maturgo; mas por considerações diversas das apresentadas por
elle, sem desconhecer que este ultimo traçado não constituo
um erro technico e que offerece vantagens que não são para
desprezar, principalmente sob o ponto de vista da defesa na-
cional.
Deveria entrar agora na apreciação das criticas feitas pelo
illustrado mineiro á construcção da Estrada de Ferro da
Pirapora a Belém.
Sendo, porém, essa uma questão importantíssima que
precisa ser arialysada desenvolvidamente e dispondo eu apenas
de 20 minutos, prefiro tratal-a em outra occasião, para o que
peço a V. Ex., Sr. Presidente, que me considere inscripto para
fallar segunda vez sobre oprojecto em discussão. (Muito bem.
muito bem. O orador 6 muito cumprimentado).

O Sr. Presidente — O do nobre Deputado será


pedido
tomado na devida consideração.

(Em meio do discurso do Sr. Luciano Pereira, o Sr. Soares


dos Santos, Io Vice-Presidente, deixa a cadeira da presidencia
Raul Veiya, 2" Sc~
que è occupada successivamente pelos Srs.
cretavio e Juvenal Lamartine, 3o, Secretario.)

O Sr. Presidente — Continúa a discussão do í^ojecto


n. 61 B, de 1912.
Tem a palavra o Sr. Joaquim Pires. (Pausa.)
Não está presente.
Tem a palavra o Sr. Osorio. (Pausa.)
Não está presente.
Tem a palavra o Sr. Corrêa Defrcitas.

0 Sr. Corrêa Defreitas (*)—Sr. Presidente, tenho assistido


ás discussões do orçamento da agricultura, mas confesso que

(*) Este discurso não foi jrevisto pelo orador-.


SESSÃO KM 37 DE SETEMBRO DE 1912 717

cada um dos oradores que tem tratado do assumpto trataram


com a maxima proficiência, provando o estudo minucioso que
fizeram sobre as verbas que constituem as tabellas do Minis-
terio da Agricultura.

O Sr. Raphael Pinheiro — E' a primeira vez que tal


acontece em um paiz essencialmente agrícola.

O Sn. Corrêa Defreitas — Ora, isto, de certa fôrma me


alegra e v-rçjo que, na verdade, as formas parlamentares estão
sendo executadas com certo cuidado nesta Casa, de modo que
os trabalhos vão
passando por uma phase nova.
Até agora, leis basicas, que deviam merecer o nosso ca-
rinho e o nosso estudo, foram sempre descuradas, nesta Casa.
E isso era até motivo de censura por parte da imprensa, por
serem precisamente os assumptos mais importantes e transcen-
dentes e por assim dizer a principal razão de ser dos corpos
legislativos.
Agora, que surge uma
vejo nova éra. E' isso motivo de
felicitar-me dar parabéns á Gamara,
e por vel-a encaminhar,
no bom sentido, o trabalho parlamentar, discutindo com lar-

gueza de vistas, com cuidado, com cautela, com amor pela


causa política, provando desfarto que so fizeram estudos, que
não houve nenhum sentimento de obstrucção para as leis
annuaes, sinão desejo de esclarecer á Nação sobre assumptos
os mais palpitantes.
Mas, tenho notado que, ao Ministério da Agricultura, se
tem feito censuras que não acho de todo justas. E' possível
assim fallando incorra no desagrado dos meus caros col-
que
legas, a quem respeito o estimo, fazendo justiça ás suas in-
tenções, crendo que não seja um acto de hostilidade ao ti-
tular da da Agricultura, rna.s o zelo de bem ventilar os
pasta
negocios públicos, corrigindo defeitos e faltas.
E' um dever de consciência, a que me julgo obrigado vir
restabelecer a verdade.
O Ministério é uma da Agricultura
necessicidade palpi-
tante da Nação,por um aphorismo essencialmente
dita já hoje

agrícola; e realmente é um dos títulos de benemerencia do

Sr. Nilo Peçanha, a creação desse departamento da administra-


Ção publica. . , , ,
Esse acto, por si so basta para dispensar censuras por
outras faltas, pequenas ou graves, que tenha commetlido.

Pinheiro — Muito
O Sr. Raphael bem.

Maurício de Lacerda — V. Ex. nunca fez essas


O Sr.
censuras
— Estava ausente. Posso fallar
O Sr. Corrêa Defreitas
com toda a franqueza. , .
Este Ministério entende com os serviços mais importantes

da Nação, são os que se relaciçnam com a


que justamente
agricultura, com a industria pastoril e com o ensino agrícola.
Tenho predilecção, confesso, por estas cogitações, porque
entendo nella repouza o futuro de nosso paiz, e não re-
que
718 ANNAES DA CAMARA

gatearei applausos ao ministério que iniciou entre nós serviços


tão urgentes e necessários.
Por mais de uma vez me tenho referido aqui ao facto de
dispensarmos todos os favores á colonização estrangeira quando
os pobres trabalhadores naciones vivem perseguidos, sem terras
para cultivarem, verdadeiros pariás espalhados por todo o
Brazil.
Um Governo que se propuzer a amparal-os não pôde dei-
xar de ser um benemerito.
Considero o serviço de protecção aos indios o passo mais
agigantado que deu o Ministério da Agricultura, e elle, só
por si, bastaria para recommendar, quando outros motivos
de applausos não
existissem, a administração do Sr. Toledo
e de seus antecessores.
Esse serviço de protecção aos indios tem merecido até
encomios de
governos da Europa.
A Inglaterra, por exemplo, não se cansa de fazer elogios
do nosso paiz, aconselhando o governo peruano a cópiar os
nossos processos de catechese.

O Sn. Maurício de Lacerda — Pôde accrescentar a


que
Republica Argentina, tomando para modelo o nosso, acaba de
crear um serviço de protecção aos indios do Chaco.

O Sr. Corrêa Defreitas — Ia-me referir ao


justamente
facto que a acaba de alludir o nobre Deputado, Sr. Maurício
de Lacerda.

Maurício de — A Argentina
O Sr. Lacerda que tinha nove
regimentos de cavallaria no Chaco para conter os indios, agora
os dispensou.

O Sr. Corrêa Defreitas — Como sou apaixonado todas


por
as classes inferiores, quantos
por soffrem
todos perseguições,
que não teem recursos para a sua subsistência, não posso dei-
xar de render homenagens a um homem que é o libertador de
uma raça que é a desses aborígenes., que de alguma sorte pre-
paravam o advento da nova nacionalidade.
A principio deram-se atrocidades, que hoje são incompa-
tiveis com o nosso estado de cultura e adiantamento.
Não podemos permittir que em pleno século XX se pra-
tique a chacina de irmãos como se tem dado em relação aos
botucudos.
No momento em que o Ministro da Agricultura continúa
a a sua attenção ápropaganda dos nossos productos
prestar
na Europa e nos Estados Unidos, não regatearei a S. Ex. o meu
apoio mais fraco que elle possa ser. Continue S. Ex. nesta
por
rota, em beneficio da nossa patria e a_ cuidar do serviço de

protecção aos indios, que o meu apoio não lhe faltará.

O Raphael Pinheiro — As glorias cabem ao Sr. co-


Sr.
ronel Rondon. Si não houvesse esse bravo...

Defreitas — Por votar a emenda


O Sr. Corrêa qccasião de
tive ensejo de render o preito de minha admiração ao coronel
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 719

Rondou, applaudindo-lhe a altitude por saber que elle se


de uma causa santa, com carinho, com
poz ao serviço devota-
mento e acrysolado amor.

O Sr. Raphael Pinheiro dá um aparte.

O Sr. Corrêa Defreitas


ver todos nós que nos — Esporo
reconciliamos prol da em
grandeza da nossa patria, da nossa
terra, tendo em vista o futuro e a prosperidade do nosso paiz
tornal-a forte, poderosa, e sobretudo para tor-
para grande
nal-o humano.
Ao nobre titular da pasta da Agricultura, aquelles mesmos
que teem vindo a esta tribuna criticar os seus actos, accusando-
o, teem rendido á S. Ex. justiça, reputando um homem ho-
nesto. E' natural que ministério que agora inicia os seus
serviços, tenha necessidade desse recurso.

O Sr. Raphael Pinheiro — E' justamente por isso que nós,


os do grupo que tem feito a critica, achamos é preciso
que
tosar aqui e alli, porque ha exaggero de inicio na organização.

O Sr. Corrêa Defreitas —Continue Ministro


o Sr. da Agri-
cultura, a fomentar o desenvolvimento do como o está
paiz,
fazendo, tratando, sobretudo de problemas práticos.
Como amigo, apresento ató o seguinte de
plano: Que
futuro, em vez de se croarem repartições, serviços novos, se-
jam dadas subvenções, garantias de juros a todos aquelles que
se propuzerem contribuir para o progresso da agricultura e
o fizerem com efficacia.
Acho que a de_ juros
o processo mais racional,
garantia é

porque no caso da subvenção, por exemplo, podem ser dados


100:000$ de auxilio a um capital de 20:000$, ao passo que
a garantia 6 sempre proporcional ao capital empregado.
Continue S. Ex. a proceder como tem feito, como fez 110
meu Estado, subvencionando o posto zootechnico de Ponta
Grossa, pois que assim desenvolverá os serviços de seu mi-
nisterio, com despeza minima.
Partidário dedicado da desofficialização desses serviços,
desejo que a iniciativa particular se manifeste com toda a
em meu paiz, diminuindo os encargos da adminis-
pujança
tração. (Apartes.)
Não favoravel,
deixo de ser até, á desofficialização dò
ensino agronomico, desde que haja elementos que
proprio
correspondam ao programnia de ensino, a fundação de
para
escolas de agricultura o zootechnica.
Não ha duvida que se torna precisa a existência de nu-
cleos, de viveiros desses conhecimentos, mas deve também
haver a desofficialização, dando-se apenas subvenção ou ga-
rantia de juros aos estabelecimentos que forem fundados.
Agindo por essa iorma, terá o illustre ministro merecido
todos os terá feito surgir
applausos, a verdadeira agricultura,
de prosperidade para o paiz.
preparando uma grande éra
E' uma vergonha considerar que, durante todo o Império
e grande parte da Republica, o Brazil não tenha tido um Mi-
720 ANNAES DA' CAMARA

nisterio da Agricultura, cuidando-se de tudo, monos da prin-


cipal fonte da riqueza nacional.
Sou tão apaixonado por estes assumptos que desculpo as
pequenas faltas, em face
da grandeza do objectivo, em vista do
resultado que trará para a Nação o desenvolvimento agrícola.
Quanto á borracha, por exemplo, ha quem diga que é
exaggerada a despeza; que houve demasias e erros 110 modo
de resolver a questão.
Ora, eu fui testemunha do que se deu: o Ministro da, Agri-
cultura convidou os Estados a so fazerem representar em uma
especie de conferencia relativa á matéria; meu Estado mandou
um ou dous representantes e os outros procederam do mesmo
modo. Recolhidas as diversas opiniões, foram refundidas, e
o plano adoptado foi o resultado do estudo assim effectuado.
Si ha erro nesta questão da borracha, este erro não 6
delle, quem o praticou foi a Commissão que estudou o assumpto,
foram todos os esculapios chamados a tratar do caso, devendo,
portanto, a responsabilidade cahir sobre os que fizeram parte
da conferencia, e não unicamente sobre o titular da pasta.
Acho também curioso, Sr. Presidente, que para os Estados
do Pará e do Amazonas, que annualmente nos fornecem íO,
50 e 60 e alguma vez até 90 mil contos, estejamos a regatear
sete ou oito mil contos. Vou citar, e 6 interessantíssimo, o

que se fez na Inglaterra com o chá da índia: Gastaram-se até


70 ou 80 mil contos annualmente para fazer a sua propaganda.

O Sír. Raphael Pinheiro — A Inglaterra não estava 110


regimen deficitário.

O Sr. Corrêa Defreitas — Sou do Sul, insus-


portanto,
peito para fallar sobre o assumpto. Acho que o Pará e o
Amazonas, teeni todo o direito...

O Sr. Osorio — De exigir esta á borracha.


protecção

O Sr. Corrêa Defreitas — ... de exigir da União — en-


tidade abstracta que não existe senão para significar a uni-
dade política — esta protecção que cila deve aos Estados que
são os elementos, concretos. Acho que neste auxilio que ella
vae prestar é muito diminuto comparado áquillo com o que
tem contribuído para a Uiiião o Pará e Amazonas.
Terminando, Sr. Presidente, declaro que em. nome do
Estado do Paraná rendo inteiros applausos á administração
honrada do actual titular da pasta da Agricultura e faço votos

para que continue 110 ministério a mostrar a mesma boa von-


tade, esforço e patriotismo na grande obra do alargamento da

nossa riqueza, desenvolvimento das nossas industrias e con-


solidação da grandeza do paiz.

(Muito bem; muito bem.)

O Sr. Presidente — Esgotada a hora da sessão, fica adiada

a discussão do projeeto n. 61 B, de 1912.


Nomeio v>ara representar a Camara na inauguração do

mausoléo do finado Presidente da Republica, Dr. Affonso Penna,


SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 721

os Srs. Deputados Ribeiro Junqueira, Irineu Machado, Bueno


de Andrada, Miguel Calmon e Augusto Amaral.

Vou levantar a sessão, designando para amanhã a seguinte

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE, ATM As 4 HORAS DA TARDE OU ANTES

Continuação da 2a discussão do projecto n. 123 A, de


1912, do Senado,_concedendo amnistia aos implicados nas re-
voltas do Batalhão Naval e navios da esquadra, em dezembro
de 1910, e aos civis e militares envolvidos nos acontecimentos
d® Manáos, em outubro do mesmo anno; com favorável
parecer
da Commissão de Constituição e Justiça;

2* discussão do projecto n. 305, de 1912, concedendo á


viuva, emquanto fôr, de Quintino Bocayuva, o auxilio de 800?
mensaes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos
Edgard, Oswaldo, Waldemar, Ilosa, Ada e Córa, e também o de
300$ á Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, quantia que, por sua morte ou casamento, reverterá aos
seus filhos Sarah, Jostf, Léo e Izabel;

3* discussão do projecto n. 301, de 1912, autorizando o


Presidente da Republica a concorrer com a
quantia de 100:000$,
como auxilio, para se erigir um monumento nesta Capital, em
honra a memória da ex-imperatriz do Brazil; com voto em
separado do Sr. Pedro Moacyr o da Commissão de
parecer
Finanças;

3* discussão do
projecto n. 184 B, de 1912, redaccão para
3" discussão da emenda approvada e destacada do projecto
n. 382, de 1911, mandando equiparar os vencimentos do conser-
vador restaurador da pinacotheca da Escola Naeionnl de Rellas
Artes aos do secretario da mesma escola:

3" discussão do
projecto n. 298, de 1912, autorizando a
abertura do credito extraordinário de 7:200$ occorrer
para
ao pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de
sentença judiciaria;

Ia discussão do projeeto n. 275 A, de 1912, tornando ex-


tensiva aos juizes federaes de Ia instancia e seus substitutos a
disposição do art. 3o, n. III, da lei n. 2.356, de 31 de
dezembro de 1910, relativa â cobrança em estnmpilhas das
custas judiciaes; com parecer favoravel da Commissão de Con-
stituição e Justiça;

2a discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo


para o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos
tenentes, os inferiores que' tenham mais de tres anno:- de
praça e serviços profissionaes, e dando outras providencias-
com parecer e emenda da Commissão de Marinha e Guerra'-
»

7SS ANNAES DA CAMARA

2• discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a


hora legal; com parecer da Commissão de Constituição e
Justiça;

SEGUNDA PARTE A'S 4 HORAS DA TARDE OU ANTES

Continuação da 3a discussão do projecto n. 61 B, de 1912,


fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e
Commercio para o exercício de 1913;

Discussão única do projecto n. 304, de 1912, autorizando


a conceder a Joaquim de Macedo Costa um arme. de licença,
com todos os vencimentos; com favoravel da Com-
parecer
*Srs.
missão de Finanças e voto em separado e emenda dos Ri-
beiro Junqueira e outros;

2" discussão do projecto n. 70 A, de 1912, mandando isen-


tar de todos os direitos, inclusive dos de expediente, a intro-
ducção pelas fronteiras de gado vaccum e ovelhum •iL-stinado
á criação e dando outras providencias; com substitutivo da
Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de Finanças;

3a discussão do projecto n. 213, de 1912, creando o logar


de zelador do Museu Naval, annexo á Bibliiotheca de Marinha,
com os vencimentos e
garantias idênticas aos do? mostres do
Arsenal de Marinha; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 300, de 1911);

3*discussão do projecto n. 279, de 1912, autorizando a


abrir, pelo Ministério do Interior, o credito extraordinário de
4:200$, ouro, para pagamento do prêmio de viagem conferido
ao Dr. Carlos Leoni Werneck;

2* discussão
do projecto n. 325, de 1911. mandando con-
siderar para todos os effeitos por actos de bravura praticados
na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 de novembro
de 1897, a promoção do 1° tenente do Exercito Francisco das
Chagas Pinto Monteiro a este posto; com parecer da Commissão
de Finanças;

3" discussão do projecto n. 210 A, de 1912, do Senado, au-


torizando a
pelo Ministério
abrir, da Justiça e Negocios Inte-
riores, o credito de 8:940$, supplementar á verba da consigna-
— Pessoal — da rubrica 6" do art. 2o da lei
ção n. 2.544, de 4
de janeiro de 1912; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças;

3" discussão do projecto n. 203, de 1912, autorizando a


abertura do credito de 150:000$, ouro, por conta do especial
de 8.000:000$, para dcspezas com a representação do Brazil
na Terceira Exposição Internacional da Borraclia;

3" discussão do projecto n. 320 A, de 1911, considerando


de utilidade publica a Associação Commercial da Bahia; com
parecer favoravol da Commissão de Constituição e Justiça;
SESSÃO EM 27 DE SETEMBRO DE 1912 723

Discussão única do projecto n. 303, de 1912, autorizando

a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista da


Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão

de Finanças;

2° projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


discussão do

Claudia Oliveira,
Vergara viuva do de
coronel graduado re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e sua filha
Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art. 4o do

decreto n. 1.054. de 20 de setembro de 1892;

2" projecto n. 306, de 1912, do Senado, auto-


discussão do

rizando a mandar pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessionário


de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282, por
contractadas e executadas nos quartéis da Força Policial
obras
Districto Federal; com parecer favoravel da Commissão de
do
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3* discussão projecto n.
do 377, de 1911, autorizando a

abertura do extraordinário
credito do 5:393$5-i8, para paga-

mento de vencimentos que competem áo lente em disponibili-


Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
dade da
Veiga Filho;

2" discussão do projecto n. 311, de 1912, autorizando a

do credito supplementar de 200:000$, á verba 15a,


abertura
a despezas
do art. 93, da lei orçamentaria vigente, para attender
nacionaes;
com o cadastro dos proprios

Discussão única do parecer da Commissão do Finanças

sobre a emenda offerecida na 2a discussão do projecto n. 161,

\ 912, estabelecendo um novo quadro de amanuenses do


de
Exercito n. 161 A, de 1912);
(vide projecto

Ia discussão do projecto n. 9 A, de 1912, reformando o La-


boratorio de Analyses da Alfândega do Rio de Janeiro, crôa

laboratorios nas alfandegas de diversos Estados, dando outras


e fixa os números, classes e vencimentos de accôr-
providencias
do com as tabellas que estabelece; com emendas da Commissão
de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finanças.

2" discussão do projecto n. 48 B, de 1912, tornando exten-


sivas á Academia de Commercio de Pernambuco as disposições

da lei n. 1.339, de 9 de
janeiro de 1905, á semelhança do que
tem sido concedido a academias; com parecer favoravei
outras
de Instrucção Publica (vide projecto n. 48 A,
da Commissão
de 1912);

Discussão única do projecto n. 278 A, de 1912, do Senado,


a conceder até um armo de licença, com todos os
autorizando
ao desembargador Affonso Lopes de Miranda, da
vencimentos,
Corte de Appellação do Districto Federal; com parecer da Com-

missão de Petições e Poderes e emenda da do Finanças.

Discussão única do parecer n. 6í, de 1911, approvando o

vóto opposto Sr. Presidente da Republica á resolução do


pelo
Nacional que autorizou a contara antigüidade do
Congresso
724 ANNAES DA CAMARA

posto de alferes, de 4 de janeiro de 1890, ao Io tenente de ca-


vallaria Ignacio Teixeira da Cunha Butsamente (vide projecto
n. 432, de 1911.).

Levanta-se á sessão ás (> horas e 5 minutos da tarde.

114° SESSÃO, EM 28 DE SETEMBRO DE 1912

PRESIDENCIA IJO SR. SABINO BARROSO JUNTOU, PRESIDENTE

A' 1 hora da tarde procede-se a chamada a que respondem


os Srs. Sabino Barroso Júnior, Soares dos Santos, Raul Veiga,
Juvenal Lamartine, Mavignier, Monteiro de Souza, Luciano
Pereira, Rogério de Miranda, Costa Rodrigues, Dunshee de
Abranches, Agripino Azevedo, Joaquim Pires, Moreira da
Rocha, Bezerril Fontenelle, Agapito dos Santos, Flores da
Cunha, Lourenço de Sá, Ne tio Campello, Borges da Fonseca,
Erasmo do Macedo, Euzebio do Andrade, Alfredo de Carvalho,
Barros Lins, Freire de Carvalho Filho, Raul Alves, Torquato
Moreira, Júlio Leite, Figueiredo Rocha, Nicanor do Nascimento,
Floriano de Britto, Fróes da Cruz, Porto Sobrinho, Pereira
Nunes, Elysio de Araújo, Francisco Portella, Raul Fernandes,
Teixeira Brandão, Augusto de Lima, Sebastião Mascarenhas,
Prado Lopes, Vianna do Castello, Antonio Carlos, Irineu Ma-

chado, João Luiz de Campos, Álvaro Botelho, Francisco Bres-

sane, Carneiro de Rezende, Moreira Brandão, Jayme Gomes,


Rodolpho Paixão, Nogueira, Manoel Fulgencio, Cândido Motta,

Alberto Sarmento, Marcolino Barreto, Hueno de Andrada, Es-

tevam Marcolino, Rodrigues Alves Filho, Olegario Pinto, Cae-


(ano de Albuquerque, Luiz Xavier, Corrêa Defreitas, Pereira
do Oliveira, Henrique Valga, Celso Baym», Gustavo Richard,

Octavio Rocha, João Vespucio o Yictor de Britto (09).

Abre-se a sessão.

O Sr. Juvenal Lamartine (3" Secretario, servindo âc 2")


sessão antecedente, a qual (•, sem
procedo á leitura da nota da
observações, approvada.

0 Sr. Presidente — Passa-se á leitura do expediente.

O Sr. Raul Veiga (2U Secretario, servindo de Io) procede


á leitura do seguinte

EXPEDIENTE

Officios:

Do Ministério da Justiça e Negocios Interiores, de 25 do

remettendo dous dos respectivos autographos devida-


corrente,
sanccionados da resolução do Congresso Nacional còn-
mente
SESSÃO KM 28 DE S1STEMBR0 DE 1912 725

cedendo ao desembargador do Tribunal de Appellação do Ter-


ritorio do Aere, João Alves de Castro, um armo de licença, com
dous terços de vencimentos, para tratar da sua saúde, onde
— Ao archivo um dos autographos, enviando-se
lhe convier.
o outro ao Senado.
Do mesmo ministério, de 26 do corrente, satisfazendo a
requisição desta Commissão constante do üíficio n. 261, de

14 do corrente, o projecto creando o logar do 5° procura-


sobre
dor na secção Districto Federal. — A
do quem fez a requisição.
Do Ministério da Viação e Obras Publicas, do 26 do cor-

rente, satisfazendo a requisição desta Gamara constante do

officio n. 212, de 17 de agosto ultimo, sobre o projecto n. 172,


deste anno, mandando passar para o quadro de telegraphista

de 4a classe telegraphistas
os regionaes que contarem mais de
— A
10 annos de quem fez a requisição.
serviços.
Do vice-almirante Antonio Lins Cavalcante de Oliveira,

chefe do Estado-Maior da Armada, de 27 do corrente, communi-

cando foi incumbido, por ordem do Sr. Presidente da


que
Republica, do despacho do expediente do Ministério da Ma-

rinha. — Inteirada.
de José Coutinho de Lima e Moura,
Requerimento escri-
Inspectoria de Saúde do Porto de Santos,
pturario archivista da
S. Paulo, pedindo um anno de licença, com ordenado, para tra-
— A' Commissão de Petições e Poderes.
tamento da saúde.
Representação da Directoria do Grêmio Juvenil S. Jose,

de 2 do corrente, protestando contra o projecto de divorcio.—

A' Commissão de Constituição e Justiça.

E' lido e fica «obre á mesa, até ulterior deliberação, o se-

guinte
PROJECTO

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1." Será contado para todos os ef feitos o tempo em


estiveram fóra do exercício de suas funcções os funcciona-
que
ministério categoria,
rios públicos de qualquer e de qualquer
foram demittidos como trahidores á Republica, por occa-
que
sião da revolta de 1893.

sessões, 28 de setembro de 1912. — Corrêa De-


Sala das

freitas.

E' lido e vae a imprimir o seguinte

PARECERES

N. 117 — 19(12

o requerimento de Cícero Arsenio de Souza Marques,


Indefere
licença, com da Commissão de Finanças.
pedindo parecer

A' Commissão de Petições e Poderes foi presente o requo-

rimento de Cícero Arsenio de Souza Marques, pratieante de


724 ANNAES DA CAMARA

1* classe dos Correios de S. Paulo, solicitando do Congresso Na-


cional um anuo de licença, com vencimentos, tratamento
para
de saúde, fóra do paiz.
O
peticionario justifica o seu pedido com o laudo da junta
medica militar da 10a região, que o inspeccionou, e affirma sof-
frer elle de uma entero colite muoo-membranosa, e necessitar
de tratamento durante doze mezes.

Tal requerimento foi transmittido administrador dos


pelo
Correios de S, Paulo, ao director geral dos Correios, capeado
por um officio contendo a seguinte informação, conforme se
verifica da cópia authentiçada do mesmo ofricio remettido á
Camarg, pelo Ministro da Viação e Obras Publicas; «Esse fuji-
ccionario está faltando ao serviço desde 31 de maio ultimo. Sem
pretender pôr em duvida o laudo que instrue esse
pedido, devo
ponderar que o requerente partiu para a Europa, ha poucos
dias, segundo noticiou a imprensa desta Capital, afim de fre-
quentar um curso de aviação.»

Não basta o parecer de uma junta medica, por mais res-


peitavel que seja, affirmando carecer um funcoionario publico
de certo tempo de licença tratamento de sua saúde al-
para
terada, para que este 1'uacoionario se considere desde logo li-
cenciado.

Conseguintemente, quer para freqüentar um curso de avi-


ação, como noticiou a imprensa, quer para se tratar da moles-
tia diagnosticada pela junta medica militar da 10* região, a
esse praticante dos Correios de S. Paulo não era licito aban-
donar o emprego e partir para a Europa, antes de lhe haver
sido concedida a licença que solicitara.

Conceder-se soria essa


sanccionarlicença
o procedimento
irregular do funccionario
publico, que a pede e abrir um máo
precedente; por isso, a Gommissão de Petições e Podores <5 de
parecer que seja indeferido o requerimento.

Sala das Commissões, U de setembro de 1912, — Oleijario


Pinta, Presidente interino. Prudente de Moraes filho, Re-
lator, —- Dionisio Ccrqueira. Sw$a Brito. — Augusto Mon-
teiro. — Mario do Paula.

PARECER DA COMMISSÃO DE FINANÇAS

A Commisíão de' Finanças, a que foi presente o requeri-


mento de Cicero Arsenio do Souza Marques, praticante de 1°
classe dos de S. Paulo,
Correios pedindo um nnno de licença,
com para tratamento de saúde, estando de accôrdo
vencimentos,
com os fundamentos do parecer da Commissão de Petições e
Poderes, opina iudfifnriinento do dito
pelo requerimento.
Mítln das Gbrnmi&sfíos, L>7 fie setembro de 1013. — Ribeiro
Junqueira. Presidente e Relator. — Antônio Carlos. — SI. Borba.
—Galeão Carvalha!. Faliu Pacheco, w João —
Simplieio,
Raul Fernandes.
SESSÃO EM 28 I)E SETEMBltO DE 1912 727

São successivamente lidos e vão a imprimir os seguintes

PR0JECT0S

N. 34 A —1912

da Republica a transformar as compa-


Autoriza o Presidente
nhias regionaes do Acre, Purús e Juruá em unidades per-
manentes do Exercito e dá outras providencias; com pare-
cer contrario da Commissão de Finanças sobre a emenda
offerecida na 2" discussão

A Commissão de Finanças, sem referir-se ao projecto


n. 34, do corrente pela Commisssão de Mari-
anno, apresentado
nha e Guerra, não pôde no momento actual aconselhar a appro-
vação da emenda que autoriza a despeza de 1.500:000$, com
as construcções de quartéis para as companhias regionaes do
Acre, Purús e Juruá.

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912.— Ribeiro


Junqueira, Presidente.— João Simplicio, Relator.— Antonio
Carlos.— M. Borba.— Raul Fernandes.— Felix Pacheco.— Ga-
leão Carvalhal.

Emenda a que se refere o supra


parecer

Accrescente-se:

Art. Fica o Governo autorizado a mandar construir,


em cada um dos três departamentos federaes do Acre, um edi-
ficio com as dependencias necessárias ao aquartelamento das
forças do Exercito, abrindo o credito de 1,500:000$ no máximo,
dividido em tres exercícios.

Sala das sessões, 28 do junho de 1912.— Antonio No-


Augusto
gueira.— Mario Hermes.— do Amaral.— João Vespu-
cio de Abreu e Silva.

Projecto n. 34, de 1912

O Congresso Nacional rosolve:

Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado


a transformar ascompanhias regionaes do Acre, Purús e Juruá
em unidades do Exercito e augmentar o quadro
permanentes
ordinário da arma de infantaria, pela inclusão nelle dos offi-
ciaes em serviço nos corpos resultantes dessa transformação;
revogadas as disposições em contrario.

Sala das Commissões, 20 de junho de 1912.— R. Paixão,


Presidente.— Mario firmes da Fonseca. Relator.— João Ves-
pucio de Abreu e Silva.— Raymnndo Arthur.— Souza e Silva. .
Camillo de Hollanda.
728 ANNAES DA CAM.ARA

N. 96 A—1912

Fixa o numero de alienislas do Hospital Nacional de Alienados;


com pareceres favoravel da Commissão de Saúde Publica
e contrario da de Finanças

Examinando com attenção o pro.jecto n. 96, de 1912, a


Commissão de Saúde Publica é de parecer seja o mesmo
approvado pela Gamara dos Deputados, visto estar, pelo dis-
posto no art. r, de accôrdo com os princípios geralmente accei-
tos ria sciencia medica, relativamente á organização clinica dos
serviços hospitalares para alienados.
De facto, estabelece o projecto que o numero de médicos
alienistas no Hospital Nacional de Alienados deverá corres-
ponder a um alienista para 100 doentes, e nas colonias de alie-
nados a um alienista para 200 enfermos.
Esta proporcionalidade já 6 observada na Allemanha, e
foi preconizada no Congresso de Psychiatria de Paris, em 1900,
e no de Assistência a Alienados reunidos em Milão, em 1906.
Ha tendencia a ser adoptada em muitos outros
paizes.
Accresce que, de facto, já é quasi a proporcionalidade
existente no Ilospicio Nacional do Rio de Janeiro, convindo es-
tabelecel-a em lei.
E' claro, que a assistência aos loucos será muito mais
aliás,
proveitosa quando applicada pelo especialista a 100 doentes,
numero já não pequeno, do que a 400, como era o caso antes
da ultima reforma por que passou o Hospício Nacional.
Quanto ao numero de assistentes, pensa o actual director,
notável especialista Dr. Juliano Moreira, ser conveniente ele-
val-o a oito, afim de que seja o serviço feito com maior ca-
pricho e alguma folga para os 1'unccionarios, pois com o ex-
cesso a mais da lotação, incompatível com a insufficientissima
installação actual, não ó possível realizar-se serviço bom sem
pessoal sufficiente e preparado.
Sobre a conveniência ou não de se augmentar a verba de
despezas o corpo clinico, a augmento aliás modico, dirá
_com
Commissão de que Finanças,
naturalmente será a
submettido
o projecto, que cogita também de abono quinquennal do accres-
cimo de 5 °|° sobre os vencimentos dos funccionarios do hos-
pitai.

Sala das Commissões, 30 de agosto de 1912.— Diogo For-


tuna, Presidente.— João Penido, Relator.— Simões Barbosa.—
Moreira da Rocha.— Firmo liraga.

A' Commissão de Finanças foi com o


presente, parecer
da Commissão de Saúde Publica, o projecto do Sr. Deputado
Elov de Souza estabelecendo que o numero de alienistas do
.Hospício Nacional de Alienados deverá corresponder a um
alienista para com doentes e nas Colonias de Alienados, a um
alienista, além do director, para 200 doentes, ficando elevado
a oito o numero dos actuaes assistentes. Estabelece ainda o
projecto que ao pessoal superior da assistência dos alienados
será abonado accrescimo °|°
quinquennalmente o de 5 sobre
os seus vencimentos.
SESSÃO EM 28 DE SETEMBRO DE 1912 729

O illustrado Relator da Commissão de Saúde Publica


funda-se em razões de ordem technica e profissional para
dar o seu perecer em favor do projecto; e, nesse terreno, não
sabemos como contrarial-o, uma vez que invoca, e com in-
teira procedencia, o voto emittido a esse respeito pelo Con-
gresso de Psychiatria reunido em Paris em 190(5, o exemplo
da Allemanha, onde já se adopta aquella proporcionalidade, e
a resolução aconselhada pelo Congresso de Milão de 1906.

Todavia a Commissão pede de


para ponde-Finanças venia
rar apezar do relativo
que, progresso que temos feito em ma-
teria de assistência
alienados de certo atempo para cá, de-
pfis que os l)rs. Juliano Moreira, Afranio Peixoto é outros
excellentes especialistas começaram a fixar a attenção dos
poderes públicos 110 assumpto, muito e muito nos resta ainda
providenciar, para que tal assistência seja materialmente per-
feita.
Os esforços do Ministro convergem, agora,
_actual para
as colonias. Elias são indispensáveis desafogar o Hos-
para
picio e acabar com o deexcesso enfermos neste ultimo esta-
belecimento. São melhoramentos acarretam despezas não
que
pequenas e aos qus.es precisamos attender em logar,
primeiro
porque dizem com installações materiaes, sem as não
quaes
ha serviço clinico que valha.
Depois de remediada a
dossituação
enfermos própria-
mente ditos,
poderemos voltar então nossa solicitude
a para
o pessoal, aquinhoando-o melhor, se fôr o caso disto. De facto,
t o proprio e íllustre Relator quem confessa á Commissão
que
tanto íllustra com o seu talento e operosidade, que aquella
proporcionalidade já ú quasi existente no nosso Hospício.
Estamos 11a verdade muito longe dos 400 doentes para
cada ahenista, como acontecia antes ultima
da reforma do
Hospício.
Não nos momento
parece que o
seja opportuno para
auginentar despezas
pessoal. Tampouco com
podemos dar
nesta occasiao o nosso assentimento á concessão de addicio-
naes, que em ultima analyse representam accrescimos de or-
denados. A prudência e o bom senso aconselham o adiamento
desses Favores para melhores tempos.
A elevação do numero de assistentes é pedida para que
o serviço
possa_ ser feito com maior capricho e alguma folga.
11ao e ^as que ma's em época
,r,a j° procedem uma de
difficuldades como que atravessamos,
a accrescendo que não
devemos receiar iunccionarios em
dos
questão uma diminuição
do esmero comprovado com elles
que attendem aos seus de-
veres.
Nestes termos, a Commissão sente não poder aconselhar
a adopção do projecto.

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912.—Ribeiro


Junqueira, Presidente.— Felix Pacheco, Relator.—
Galeão Car
vrdhal.— Antonio Carlos.—M. Borba.—Raul Fernandes —Joãn
Svmplicio. '
730 ÀNNABS UA GAMARA

N. 90 — 1912

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1.° O numero de alienistas no Hospital Nacional de


Alienados deverá corresponder a um alienista para cem doen-
tes, e nas Colonias de Alienados a um alienista, além do di-
rector, para 200 doentes, ficando elevado a oito o numero dos
actuaes assistentes.
Art. 2." Ao pessoal superior da assistência aos alienados
será abonado °|°
quinquennalmente o accrescimo de 5 sobre os
seus vencimentos.
Art. 3." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 16 de de 1912.—Eloy de Souza.


julho

N. 223 A — 1912

Equipara a officiaes o mecânico electricista e o inspector1


technioo das officinas graphicas e de encadernação da
Bibliotheca Nacional; com contrario da Commis-
parecer
são de Finanças

Parece á Commissão de Finanças que, o projecto do


Sr. Pereira Braga equiparando a officiaes, para os effeitos
do vencimentos, o mecânico electricista e o inspector te-
clinico das officinas graphicas e de encadernação da Biblio-
theca Nacional não deve ser .approvado pela Camara.
A equiparação não procede, e, além do mais, acarreta
augmento de despez'a. Os officiaes são os funccionarios de
quarta categoria da Bibliotheca, occupando logar logo abaixo
do director, dos bibliothecarios e sub-bibliothecarios. A sua
admissão e accesso dependem de concurso que demanda certo
grão de cultura. Os funccionarios aos quaes o projecto deseja
beneficiar occupam cargos technicos secundários, nem o ser-
viço que desempenham justifica a elevação de seus vencimen-
tos. Ag officinas da Bibliotheca são de pequeno porte e o ser-
viço mecânico e de electricidade no estabelecimento não é
de natureza a reclamar maior remuneração para a pessoa que
o tiver a sou cargo.
Assim pensando, a Commissão opina pela rejeição do

projecto.

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912. — Ribeiro


Junqueira, Presidente. — Felix Pacheco, Relator. — Antonio

Carlos. — João Simplicio. — M. Borba. — Raul Fernandes.

N. 223 — 1912

O Congresso Nacional resolve:

Art. 1." Ficam equiparados a officiaes, para os effeitos

de vencimentos, o mecânico electricista e o inspector technico


SESSÃO EM 28 DE SETEMBRO DE 1912 731

das Qfficinas graphicas e de encadernação da Bibliotheca Na-


cional, abrindo-se o necessário credito,
Art. 2." Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 13 de de 1912. — Pereira Braga.


agosto

N. 268 A — 1912

Manda incluir entre os casos de nullidade dos contractos de


alienação de immoveis o conluio entre o comprador e o
vendedor, para fraudar o pagamento do imposto de trans-
missão; com parecer da Commissâo de Constituição e
Justiça

O projecto n. 268, fulminando de nullidade os contractos


de alienação de immoveis em que tenha intervindo o conluio
dos interessados para fraudar o pagamento do respectivo im-

posto em vigor, não introduz em nossa legislação civil uma


mnovação. A providencia que elle, institue é uma applicação
logioa do principio que prescreve a nullidade dos actos que,
embora validos em apparencia, foram, entretanto, simulada-

mente praticados em prejuízo de terceiros. Tal é a regra de


Valasco na Constituição 154, n. 11, assim enunciada: «Simu-
lationes in contractibus reprobantur, et ülos annullant, si fiant
in vel finei, vel tertii.»
fraudem leais, alicujuH
Á simulação, como bem Bevilacqua,
doutrina
pode ter

oin vista defraudar o pagamento de impostos e, nesse caso, ao


Estado deve caber a acção competente contra os simuladores,
annullação do acto lesivo. (Direito das Obrigações, § 62.)
para
Inveterados, como se acham entre nós, os conluios do-
losos para lesar os direitos fiseaes—facto que, aliás, ó uma
consoquencia natural da luta entre interesses oppostos—não
bastar para impedil-os a simples applicação das multas
pôde
estabelecidas nos regulamentos estaduaes para cobrança de
impostos, que, de ordinário, são difficilmente exequive.is.
Aos poderes estaduaes fiallece competencia pana crear
outra mais efficaz em defesa do fisco, e essa não
penalidade
ser sinão a insubsistencia da transacção simulada, que o
pôde
projecto commina.
Não é, do certo, uma medida juridicodecompleto
effeito

e immodiato, desde que a imposição


pena se acha depen-
da
dente da da fraude, que só em acção regular pódo ser
prova
feita, mas terá, sem duvida, um grande alcance moral, por-
difficuitará a confiança reciproca outro os contractantes,
que
concertos fraudulontos. Aliás, já a Or-
que garantia desses
ó a
denação, L. 4o, T. 71, punia com a saneção de nullidade a si-
mulação dos contractos, mas esses dispositivos parecem ter
com as decisões e ordens que só mandam
sido prejudicados
legaes, e 6 essa a opi-
cobrar a multa, expedidas pelos poderes
nião do eximio T. do Freitas. (Com. das Leis Civ., art. 3!i8
e not.)
732 ANNAES DA GAMARA

O projecto vem, portanto, reviver a sancção em desuso,

dirimindo controvérsias, porque proscreve taxativamente a

nullidade em taes casos e satisfaz uma necessidade fiscal


de evidente merecendo o assentimento da Gommis-
percepção,
são Justiça,
de que aconselha á Camara o seu estudo, para ser
convertido em lei, si assim julgar conveniente.

Sala Commissões,
das 20 de setembro de 1912.—Cunha

Machado, Presidente. — Porto Sobrinho, Relator. — Moniz de

Carvalho. — Henrique Valo a. — Carlos Maximilicmo, vencido.


— Nicanor do Nascimento, vencido : a pena iria incidir em uni
só dos conluiados,o que fôra injusto, tanto mais quanto em

muitos casos favoreceria um dos fraudulentos com prejuízo só


de um. — Meira de Vasconcellos, vencido. — Mello Franco.

Projecto n. 268, de 1912

O Congresso Nacional decreta:

Artigo único. Entre os casos de nullidade dos contractos


de alienação de immoveis, previstos na legislação civil, in-

clue-se aquelle em que ficar provado, pelos meios de direito,

o conluio entre o comprador e o vendedor para fraudar o pa-


de.vido á Fazenda Publica.
gamento do imposto de transmissão
Paragrapho único. Revogam-se as disposições em con-

trario.

Sala das sessões, 10 de agosto de 1912.—Afranio M. Franco.

N. 323 A — 1912

a concessão de um anno de licença com dous terços


Autoriza
dos respectivos vencimentos, ao bacharel Gustavo Affonso

Farncze, na secção do Acre; com pareceres


juiz federal
favoraveis das Commissões de Podercs e Finanças.

(Do Senado)

A' Commissão do Peitições e Poderes, a quem foi presente


e no qual se autoriza a concessão
um projecto, vindo do Senado,
vencim-ontos, para
de um anno de licença, com dous terços dos
tratar-se, onde lhe convier, ao bacharel Gustavo Affonso Far-
federal, na secção do Acre, é de parecer que se
neze, juiz
adopte o referido projecto.

de 1912. — Lamounier
Rio de Janeiro, 26 de setembro
— Manqabeira, Relator.—
Godofredo, Presidente. Octavio
Pinto. — Dionisio Cerqueira.— Prudente de Moraes
Olei/ario
Filho. — Augusto Monteiro.

de Finanças, foi com parecer fa-


A' Commissão presente
da de Petições e Poderes, o
projecto do Senado, con-
voravel
cedendo um anno de licença, com dous terços dos vencimentos,
SESSÃO EM 28 DE SETEMBRO DE 1912 733

ao juiz federal na secção do Acre, bacharel Gustavo Affonso


Farneze.
Não entrando 110 exame de certas allegações do peticio-
nario, extranhas ao seu pedido de licença, a Commissão, atten-
dendo ao attestado medico junto ao requerimento, acha quo
o projecto do Senado pôde ser approvado.

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912. — Ribeiro


Junqueira, Presidente. — Felix Pacheco, Relator. — Galeão
— Antônio Carlos. — M. Borba. — João Simplicio.
Carvalhal.
— Raul Fernandes.

Projecto n. 223, de t!)12

(Do Senado)

O Congresso Nacional resolve:

Artigo único. E' o Presidente da Republica autorizado a


conceder um anno de licença, com dous terços dos respectivos
vencimentos, ao bacharel Gustavo Affonso Farneze, juiz federal
na secção do Acre, para tratamento de saúde, onde lhe convier;
revogadas as disposições ein contrario.

Senado Federal, 1(5 de setembro dc 1912. — José Gomes


Pinheiro Machado. — Joaquim Chaves. — Pedro
Ferreira Au-
yusto Borges.

N. 350 — 1912

Autoriza a concessão de um anuo de licença, com todos os vau-


cimento», a José Vieira da Cunlia, /" escripturario do
•/" districto da Inspectoria federal das Estradas de ferro;
com emenda da Commissão de Finanças.

Foi presente á Commissão de Petições c Poderes o re-

querimenlo em que José Vieira da Cunlia, 1° escripturario do


Io districto da Inspectoria Federal das Estradas, actualmento
em exercício na commissão fiscal da Estrada de Ferro Madeira
e Mamoré, com em Porto Velho, no Estado do Amazonas,
sede
solicita ao Congresso Nacional, um anno de licença, com os
respectivos vencimentos para tratamento de saúde.
Do attestado medico apresentado pelo requerente, verifi-
ca-se estar o mesmo soffrendo de um impaludismo chronico,
o obriga a mudança temporaria de domicilio.
que
A Commissão é de parecer que_seja concedida a licença
requerida, submettendo á consideração da Camara, o seguinte

projecto:

«Artigo único. Fica o Presidente da Republica autorizado


a conceder á José Vieira da Cunha, 1" escripturario do 1"
districto da Inspectoria Federal das Estradas de Ferro, um
anno do licença, com todos os vencimentos para tratamento
734 ANNAES DA CAMARA

de saúde onde lhe convier; revogadas as disposições em con-


trario.

das Commissões, 11 de setembro


Sala de 1912. —
Olegario
Pinto, Presidente, — Augusto Monteiro, Relator. — Dionisio
— Souza Brito. — Prudente de Moraes Filho. —
Cerqueira.
Mario de Paula.

A Commissão de Finanças, a que foi presente o projeoto


da de Petições e Poderes, autorizando a concessão de um anno
"Vieira
de licença, com todos os vencimentos, a José da Cunha,
1° .escripturario da Inspectoria Geral das Estradas de Ferro, 6
deparecer que seja o mesmo approvado com a seguinte
emenda:

Onde convier: «com todos os vencimentos»; diga-se: «com

o ordenado.».

27 de setembro de 1912. — Ribeiro


Sala das Commissões,
—Antonio Carlos. — M. Borba.
Junqueira, Presidente e Relator.
— João Simplicio. —
— Galeão Carvalhal. — Felix Pacheco.
Raul Fernandes.

N. 381 — 1912

Autoriza a abrir, Ministério da Fazenda, os créditos es-


pelo
de U82:829$140, e i77$777, ouro, para
peciaes papel,
occorrer ao pagamento de dividas de exercidos findos.

Em mensagem de 9 do mez corrente, o Sr. Presidente da

ao Congresso seja aberto,


pelo Ministério dia
Republica pede
especial de 1.182:829$140, papel, 177$777,
Fazenda, o credito
ouro afim de dividas die exercícios findos, relacionadas
pagar
com o § 2o, do art. 31 da lei n. 490, de 10 de de-
de accôrdo
zembro de 1897. . _
A' mensagem acompanhava a exposição de motivos, que
taes dividas ministérios, e uma relaçao das
discrimina por
Segunda Sub-Directoria da Despeza
mesmas, organizada pela
Publica do Thesouro Nacional.
de credores cujo pagamento esta sob a ga-
Tratando-se
do respeito a direitos subjeetivos nao
rantia do
principio
de Finanças negar os. créditos pedidos e,
pôde a Commissão
á Camara o seguinte projecto de lei :
conseguintemente, sujeita
E' o Poder Executivo autorizado a abrir,
Artigo único.
da Fazenda, os créditos especiaes de
uelo Ministério
e 177$777, ouro, para occorrer ao pa-
1 Í82:829$U0, papel,
de exercícios findos, relacionadas de con-
Kainento de dividas
31, da lei n. 490, de 1(> de de-
formidade com o § 2o, do art.
revogadas as dsposiçoes em contrario.
zembro de 1897;

24 de setembro de 1912. — Ribeiro


Sala dias Commissões,
— Caetano de Albuquerque, Relator. —
Junqueira, Presidente.
— M. Borba. — Felix Pacheco. — João Sim-
Antônio Carlos.
— Galeão Carvalhal. — llaul Fernandes.
plicio.
SESSÃO EM 28 DE SETEMBRO DE 1912 73Ô

Com a concessão deste, ficarão assim especificados os dif-


ferentes créditos concedidos no corrente anno: 9.876:410$014
ouro, e 10.319:933$619, Data supra. — Caetano
papel. de Al-
buquerque, Relator.

Mensagem a que se refere o supra


parecer

Srs. Membros
do_ Congresso Nacional — Transmittindo-
vos as relações
inclusas de dividas de exercicios findos, or-
nizadas pelo Ministério da Fazendia, de accôrdo com o § 2o do
art. 31 da lei n. 490, de 16 de dezembro de 1897, rogo vos di-
gneis de conceder a necessaria autorização' para a abertura ao
mesmo ministério, do credito de 1.182:829$140, papel,' e
177$777, ouro, afim de occorrer ao pagamento das referidas
dividas, que assim se discriminam ministérios:
por

Ouro Papel

Da Justiça e Negocios Interiores 246:210$059


Da Marinha 30:286$857
Da Guerra __ 304:482$801
Da Viaçao e Obras Publicas 208:118$710
Da Agricultura, Industria e Com-
mercio 281:614$119
Da Fazenda 1771777 112:116$594

Total 1771777 1.182:829$140

liio de Janeiro, 4 de setembro de 1912, 91° da Indepen-


dencia e 24° da Republica. — Hermes
R. da Fonseca.

N. 352 — 1912

Autoriza a conceder um anno de licença, com todos os venci-


mentos, a D. Maria Josó dos Santos Mourão; com emenda
da Comixssao de Finanças.

A' Commissão do Petições e Poderes foi presente um re-


querimento de D. Maria Jose dos Santos Mourão, agente do
Correio do largo de D. João, na cidade de Diamantina, Estado
de Minas Geraes, pedindo ao Congresso Nacional um anno de
licença, com todos os vencimentos, em da
prorogação que
lhe foi concedida pela Directoria Geral dos Correios.
Allega a peticionaria achar-se impossibilitada de entrar
em exercício do seu cargo devido ao seu estado de saúde.
Três médicos que attestam
a peticionaria está doente de
anemia chlorotica,
precisando de um anno de tratamento me-
dico, e por isso impossibilitada de todo e qualquer serviço.
Esses attestados que juntou á petição teem a data de 22
de agosto ultimo.
A Commissão é de parecer que seja submettido á conside-
ração da Camara o seguinte projecto:

Art. Io. Fica o Presidente da Republica autorizado a cou-


ceder um anno de licença com todos os vencimentos á agente
736 ANNAES DA GAMARA ,,

do Correio- do largo de D. João, na cidade de Diamantina, Es-


tado de Minas Geraes, D. Maria José dos Santos Mourão, para
tratamento de saúde onde lhe convier.
Art. 2o. Revogam-se as disposições em contrario.

Sala das Gommissões, 11 setembro de 1912. — Olegcirio


de
Pinto, Presidente interino e Relator. — Augusto Monteiro. —
Souza liritto. — Prudente de Moraes Filho. — Dionisio Cer-

queira.

Parecer da Compiissão de Finanças

A Commissão de Finanças, a que foi presente o projecto


da do Petições e Poderes autorizando a concessão de um anno
do licença, com todos os vencimentos, a D. Maria José dos
Santos Mourão, agente do Correio do largo de D. João, na cidade
de Diamantina, é de parecer que seja o mesmo approvado com
a seguinte emenda:

Onde se diz «com todos os vencimentos», diga-se «com o


ordenado».

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912. — Ribeiro


Junqueira, Presidente e Relator. — Antonio Carlos. — M.
Borba. — Galeão Carvalhal, vencido. Sou de parecer que a li-
cença deve ser concedida com todos os vencimentos. — Felix
Pacheco. — João Simplicio. — Raul Fernandes.

N. 353 — 1912

Autoriza a conceder um anno de licença, com ordenado, a


Carlos Telles Alvim, auxiliar do Laboratorio de Chimica
da Repartição de Anuas; com. parecer favoravel da Com-
missão de Finanças

A Commissão de Petições e Poderes,a quem foi presente um


requerimento de Carlos Telles Alvim, auxiliar do Laboratorio
de Chimica e Biologia da Repartição de Águas, Esgotos e
Obras Publicas pedindo um anno de licença, com os respe-
ctivos vencimentos para tratamento de sua saúde onde lhe
convier, considerando que o petieionario faz acompanhar o seu
requerimento de um laudo da Directoria Geral de Saúde Pu-
blica attestando a necessidade de licença para sou tratamento,
é de parecer que seja deferido o mesmo requerimento, para
isto offerecendo á consideração da Gamara o seguinte

PROJECTOÍi

O Congresso Nacional resolve:

Artigo único. Fica autorizado o Presidente da Republica


a. conceder um anno de licença, com ordenado, para tratamento
de saúde, onde lhe convier, a Carlos Telles Alvim, auxiliar do
Laboratorio de Chimica e Biologia da Repartição Geral de
SESSÃO EM 28 015 SETEMBRO DE 1912 737

Águas, Esgotos e Obras Publicas; revogadas as disposições


em contrario.

Sala das
Commissões, 25 de outubro de 1911. — Cunha

Machado, Presidente. — Ubaldino de Assis, Relator. — Lamou-


— Carlos Maximiliano. — Camillo Prates.
nier Godofredo.
Seraphico da Nobrega.

A Commissão de Finanças, a que foi presente o requeri-


mento em que Carlos Telles Alvim solicita um anno de licença
de saúde com o projecto já formulado pela de
para tratamento
Petições e Pioderes, é de parecer que seja o mesmo approvado,
visto autorizar a concessão da licença apenas com o ordenado.

Sala das Commissões, 27 de setembro de 1912. — Ribeiro


Junqueira, Presidente e Relator. — Antonio Carlos. — M.

Borba. — Galeão Carvallial. — Felix Pacheco. — João Simpli-


do. — Raul Fernandes.

0 Sr. Presidente — Está finda do expediente.;


a leitura
{Pausa.)

Comparecem mais os Srs. Antonio Nogueira, Aurélio Amo-


rim, Firmo Braga, Cunha Machado, Virgílio Brigido, Eloy do
Souza, Costa Ribeiro, Augusto do Amaral, Aristarcho Lopes,
Cunha Vasconcellos, Natalicio Camboim, Baptista Accioly, Mo-
reira Guimarães, Felinto Sampaio, Souza Britto, Deraldo Dias,
Jaeques Ourique, Dionisio Cerque,ira. Pereira Braga, Manoel
Reis, Erico Coelho, Maurício de Lacerda, Francisco Veiga, Cai'-
los Peixoto Filho, José Bonifácio, Lamounier Godofredo, An-
tero Botelho, Galeão Carvallial, Prudente de Moraes Filho, An-
ilibai de Toledo, Guniercindo Ribas, Evaristo do Amaral, Homero
Baptista, Fonseca Hermes, Nabuco de Gouvêa, Osorio, Domin-
gos Mascarenhas e João Benicio (38).

Deixam de comparecer com causa os Srs.


participada
Artliur Moreira, Simeão Leal, Serzedello Corrêa, João Chaves,
Antonio Bastos, Theotonio de Hosannah de Oliveira,
_Brito,
Christino Cruz, Coelho Netto, João Gayoso, Felix Pacheco, Itay-
mundo Artliur, Eduardo Saboia,_Thomaz Cavalcanti, Frederico
Borges, João Lopes, Gentil Falcão, Augusto Monteiro, Augusto
Leopoldo, Camillo de Hollanda, Felizardo Leite, Seraphico da
Nobrega, Maximiano de Figueiredo, Baltliazar Pereira, Simões
Barbosa, Meira de Vasconcellos, Artliur Orlando, Frederico
Lundgreen, José Bezerra, Manoel Borba, Rego Medeiros, Rocha
Cavalcante, Dias de Barros, Joviniano de Carvalho, Felisbello
Freire, Miguel Calmou, Mario Hermes, Muni/, de Carvalho, Pe-
dro Lago, Octavio Mangabeira, Ubaldino de Assis, Antonio Mo-
niz, Alfredo Ruy, Pereira Teixeira, Campos França, Arlindo
Leone, Carlos Leitão, Rodrigues Lima, Pedro Marianni, Moniz
Sodré, Leão Velloso, Raphael Pinheiro, Paulo de .Mello, Meteilo
Júnior, Pedro de Carvalho, Rodrigues Salles Filho, Thomaz Del
Pennafort Caldas, Souza e Silva, José Tolentiuo, Silva
phino,
Castro, Faria Souto, Mario de Paula. Alves Costa, Silveira Brum
Ribeiro Junqueira, Astolpho Dutra, João Penido, Cnlogftras',
Vol, 47
ANNAES DA CAMA1VA

Landulpho Magalhães, Baptista de Mello, ChrisÚano Br.azil, <»aiv

cão Stookler, Josino de Araújo, Alaor Prata, Francisco Paolielò,


Mello Franco, Catoi 1 lo Pratos, llonorato Alves, Epaminondas
Ottoni, Ferreira Braga, Cardoso de Almeida, Cândido Motta,
Raul Cardoso, Eloy Chaves, Cinoinato Braga,. Álvaro de Carva-
llio, Adolpho Gordo, Palmeira llipper, José Lobo, Valois de
Castro, Arnolpho Azevedo, Costa Júnior, Martim Francisco,
Marcello Silva, Fleury Curado, Ramos Caiado, Oscar Marques,
Carvalho Chaves, Lamenha Lins, Diogo Fortuna, Carlos Ma-
xíuiiliáno, João Simplicio o Pedro Moacyr (111).

0 Sr. Presidente — Tem a ordem o Sr. An-


palavra pela
tonio Carlos.

O Sr. Antonio Carlos ,»,*) (pela ordem) .(movimento de


aílenção) — Sr. Presidente, chega-nos de Minas uma noticia
que a nós, mineiros, profundamente entristece e que merecerá
ser recebida em todo o paiz, pelos bons patriotas, com verda-
deiro pezar.
Essa noticia, Sr. Presidente, é a morte do Dr. Antonio
Jacob da Paixão, nosso illustre conterrâneo, brazileiro dis-
lincto que soube engrandecer todas as posições cjue o destino
lhe reservou na sua trajèctoria pela vida. (Apoiados.)

O, Sit. Manoel Fui.uicnp.io — E honrar o nome de Minas.


[(Apoiados dabancada mineira.)

O Sn. Antonio Caulos — Iniciado desde joven na vida pu-


blica, S. Ex. oceupou posição de destaque na antiga Assem-
bléa Provincial de Minas. Eleito á Constituinte Republicana,
posteriormente membro da primeira legislatura ordinaria, o
Dr. Antonio Jacob da Paixão foi cercado neste recinto do ma-
ximo apreço e da maior estima, e por vezes a sua palavra de
orador eloqüente fulgurou cm mais de um debate notável.
A sua austeridade, do costumes,,a sua grande altivez, a sua
r.ecophecida independencia de caracter eram titulos que lhe
asseguravam justo e merecido destaque em todos os meios onde
surgia, assim como admiração e respeito da parto de seus con-
terraneos. (Apoiados.)
Afastado da política, S. Ex. se recolheu á mansuetude
do seu escriptorio do advogado, profissão que nobilitou e na
qual se fez, em nossa terra, um dos mais salientes e notáveis
ornamentos, porque para cila levou as suas grandes virtudes
privadas e suas excelsas qualidades civicas, essas mesmas que,
neste meio parlamentar, lhe trouxeram a admiração e o res-
peito do seus collegas.
Traduzindo
o sentimento do pezar que nos vae na alma
de (apoiados da bancada mineira)
mineiros ouso pedir á Ca-
mara que faça consignar na acta da sessão do hoje um voto de
condolência; mais que isso, considerando a posição eminente
quo elle teve, fulgurando na assembléa que votou a lei fun-

(*) Estie discurso não foi revisto pelo orador.


siísaÂo km de setembro de 1012 *30

(lamentai da Republica. <e


onde sua passagem se modelou pela
norma puro patriotismo, e ferido em vista a praxe es-
do mais
tabelecida na Casa, eu solicitaria de V. Ex. que, além dosse
voto de pesar consultasse ¦& Gamara si concederia que, em ho-
menagem á sua _iIlustre memória, se suspendessem os trabalhos
da sessão de boje. (Muito bem; muito bem.)

O Sr. Irineu Machado — Peço a ordem.


palavra pela

O Sr. Presidente — Tem ordem o nobre


a palavra pela
Deputado.

0 Sr. Irineu Machado (pela ordem) — A Gamara acaba


de ouvir as palavras eloqüentes vindas de um coração nobre
e generoso, como o do meu illustre collega e digno represem-
tante do 2° districto de Minas.

S. Ex. teve phrases de carinho a memória


para querida
de Antonio Jacob da Paixão, mas despidas de
que, qualquer
favor, exprimem a mais recta e stricta justiça no julgamento
das qualidades privadas o civicas do eminente mineiro.
Antônio Jacob da Paixão foi um homem austero, integro,
na vida domestica, na vida profissional, como na vida política.
[Muito bem.).
Como um dos astros
maior grandeza, de
foi um dos pode-
rosos chefes do
que estava filiado;
partido a
foi um daquel-
les apostolos que pregavam na terra mineira as tradições da
justiça e da liberdade; e loi, na vida publica, um espirito
austero e inquebrantavel. [Apoiados.).
Ao tempo do Império, na Assembléa Provincial de Minas
tíeraes, ei Io representava a severidade o a inflexibilidade do
velho caracter mineiro. Para lá, levou, como muito bem disse
o Sr. Antonio Carlos, a pureza,, a energia e o valor das suas
virtudes privadas.
Eleito, logo depois da
proclamação da Republica, para
representar o Estado Minas
de no Congresso Constituinte, foi
um daquelles que nesse Congresso pertenceram ao grupo dos
que serviram aos mais sãos, aos mais demo-
puros princípios
craticos republicanos. (Apoiados do Sr. Francisco Veia a a
outros Srs. Deputados.)
Dos mais honestos,
política mineira, comona na política
federal, só concidadãos
deu aos seus
o que admirar, porque
a contemplação da sua vida é um conforto e é um estimulo.
Jacob da Paixão, nos tempos tormentosos em que a poli-
tica republicana se dividia, quando Presidente da Republica o
Sr. Marechal Floriano, divergindo dos seus correligionários,
porque combatia a política do Marechal de Ferro, preferia
sacrificar a sua carreira, preferiu afastar-se dos seus amigos,

para manter inquebrantavel a sua convicção; perdeu o mandato'


mas conservou íntegros o seu caracter e a sua honestidade.'
Cada acto da sua vida assignala um gesto de desprendi-
mento, de generosidade, de energia e de inflexibilidade ,
•[Apoiados.). E, nos tempos de amollecimento
quando, moral'
740 ANNAES DA CAMAIU

de deliquesceneia, como os que ora atravessamos, a cova se


abre para um grande soldado e luctador, como foi Jacob da
Paixão, todas as almas se confrangem, todos os corações se
apiedam e todos, unisonos, deploram perda de
a um brazilairo
illustre, em uma
que os época vão rareando,
em homens dignos
vão sendo cada
preciosos, em que as más qualidades
vez mais
vão sendo cada vez mais admiradas, como dotes peregrinos
de pousas que vão desappárecendo.
Acceitando a demonstração de solidariedade do povo mi-
neiro, com a grande dor que foi traduzida nas palavras do
Sr. Antonio Carlos, acompanhando o illustre collega nas suas
manifestações de pezar, a minha voz, neste momento, é a
consagração da minha estima e da minha admiração por ura
velho luctador da causa republicana, por um amigo, que des-
apparece, para deixar-nos como conforto o exemplo de sua
vida de virtudes domesticas e de virtudes cívicas. (Muito
bem; muito bem.).

0 Sr. Presidente — O Sr. Deputado Antonio Carlos requer


que se lance na acta um voto de pezar pelo fallecimento do
ex-deputado, Sr. Dr. Antonio Jacob da Paixão, membro que
foi da Constituinte Brazileira, e que se levante a sessão em
homenagem á sua memória.
Os senhores que approvam o requerimento queiram se
levantar. (Pauso.)
Approvado.

Em obediência ao voto da Gamara, vou levantar a sessão,


designando para a de segunda-feira, 30, ^ seguinte

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE, ATÉ ÁS í HORAS 1)A TARDE OU ANTES

Continuação da 2a discussão do projecto n. 123 A, de 1012,


do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas
do Batalhão Naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910,
e aos civis e militares envolvidos nos acontecimentos de Ma-
nãos, em outubro do mesmo anno; com parecer favoravel da
Commissão de Constituição e Justiça;

2* discussão do projecto n. 305, de 1012, concedendo ií


viuva, emquanto fôr, de (Juintino liocayuva, o auxilio de H00$
inensaes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos
Edgard, Oswaldo, Waldemar, Rosa, Ada e Cora, e também o de
300? á Sra. D. Maria Amélia Bocayuva liulcão, durante sua
viuvez, quantia que. por sua morte ou casamento, reverterá
aos seus filhos Sarah, José, Léo e Izabel;

3* discussão ilo projecto n. 301, de 1912, autorizando o


Presidente da Republica a concorrer com a de
quantia
100:000$, como auxilio, se -erigir um
para monumento nesta
Capilal, em honra á memória da ex-imperatriz do Hrazil; com
SESSÃO EM 28 DE SETEMBRO DE 1912 741

voto om separado do Sr. Pedro Moaeyr e parecer da Commis-


são de Finanças;

3o discussão do projecto n. 184 B, de 1912, redacção para


3a discussão da emenda approvada e destacada do projecto
n. 382, de 1911, mandando equiparar os vencimentos do con-
servador restaurador dapinacotheca da Escola Nacional do
Bellas Artes aos do secretario da mesma escola;

3" discussão do projecto n. 298, de 1912, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 7:200$ para occorrer
ao pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de
sentença judiciaria;

Ia discussão do projecto n. 275 A, de 1912, tornando ex-


tensiva aos juizes federaes da 1" instancia e seus substitutos a
disposição do art. 3", n. III, da lei n. 2.35(5, de 31 de dezem-
bro de 1910, relativa ã cobrança em estampilhas das custas
judiciaes; com parecer favoravel da Commissão de Constitui-
ção e Justiça;

2" discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo

para o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos


tenentes, os inferiores que tenham mais de tres annos de
praça e serviços profissionaes, e dando outras providencias;
com parecer e emenda da Commissão de Marinha e Guerra;

2° discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a


hora legal; com parecer da Commissão de Constituição e
Justiça.

SEGUNDA PARTE, ÁS A HORAS DA TARDE OU ANTES

Continuação da 3" discussão do projecto n. 61 B, de 1912,


fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria o
Commercio para o exercício de 1913;

Discussão projecto n. única


301, de 1912, do
autorizando
a conceder de a
Macedo Joaquim
Cosfa um anuo de licença,
com todos os vencimentos; com parecer favoravel da Com •
missão de Finanças e voto em separado e emenda dos Srs. Ili-
beiro Junqueira e outros;

2* discussão do projecto n. 70 A, de 1912, mandando isen-


lar de todos os direitos, inclusive dos de expediente, a intro-
ducção pelas fronteiras de gado vaccum e ovelhum destinado
:í criação e dando outras providencias; com substitutivo da
Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de Finanças;
3" discussão do projecto n. 213, de 1912, creando o logar
de zelador do Museu Naval, annexo íí Bibliotheca de Marinha
com os vencimentos e garantias idênticas aos dos mestres dó
Arsenal de Marinha; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 300, de 1911);

3" discussão do projecto n. 279, de 1912, autorizando a


abrir, pelo Ministério do Interior, o credito extraordinário de
743 ANNAES PA CAMAUA

4:200$, miro, para pagamento do prêmio do viagem conferido


ao Dr. Carlos Leoui Werneck;

2* do projecto
discussão n. 325, de 1911, mandando com-
siderar para todos os effeitos por actos de bravura
praticados
na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 do, novembro
de 1807, a promoção do 1° tenente do Exercito Francisco das
Chagas Pinto Monteiro a este posto; com da Com-
parecer
missão de Finanças;

3" discussão do projecto n. 210 A, de 1912, do Senado, au-


tomando a
pelo abrir,
Ministério da Justiça e Ncgocios Inte-
riores; o credito de18:940$, supplementar á verba da consigna-
— Pessoal — da rubrica
ção (>" do art. 2° da lei n. 2.544, de 4
de janeiro de 1912; com parecer favoravel da Commissão do
Finanças;

3'1 discussão
do projecto n. 203, de 1012, autorizando a
abertura do credito de 150:000.?, ouro, conta do especial
por
de 8.000:000$, despezas com a representação
para do Brazil,
na t erceira Exposição Internacional da Borracha;

3* discussão do projecto n. 320 A, de 1011, considerando


de utilidade publica a Associação Commercial da Bahia; com
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Justiça;

Discussão única do n. 303, de 1912, autorizando


projecto
a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista da
Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Commissão
de Finanças;

2* discussão do projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


Claudia Vergara de Oliveira, viuva do coronel graduado re-
formado do Exercito Iíeliodoro Joaquim do Oliveira, sua filha
e
Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do 4"
art. do
decreto n. 1.054, de 20 do setembro de 1892;
2" discussão
projecto do
n. 300, dè 1912, do Sonado, auto-
rizando a mandar
pagar a Ladisliío Dias da Cunha, cessionário
de LadisjáoCunha & Comp., a quantia de 189:850$282 por
obras contractadas e executadas nos
quartéis da Força Policial
do Districto Federal; com parecer favoravel da Commissão do
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3a discussão n. 377, do
de 1911, autorizando
projecto a
abertura do credito extraordinário de 5:3í)3$5i8, para paga-
mento de vencimentos i'iue competem ao lente em dispuuihili-
dado da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
Veiga Filho;

2a discussão
projecto n. 311. do
de 1012, autorizando a.
abertura cjo, credito
supptementar de 200:000$, á verba 15",
do árt.'93, da lei orçamentaria vigente,
páfa àttónder a despezas
com o cadastro (tos próprios nacionaes;

Discussão única
do parecer da Commissão do Finanças
sobre a emenda offerécida na 2» discussão do
projecto n. 101,
de 1012, estabelecendo um novo de
quadro amanuenses do
Exercito (vide projecto n. 161 A, de 1912);
SESSÃO KM ,'iO 1)H SETEMBRO »K 1012 741

1" discussão do projeclo n. 0 A, do 1912, reformando o La-


borafcorío de Analyses da Alfândega do Rio de Janeiro, crêa
laboratorioâ nas alfandegas de diversos Estados, dando outras
de accôr-
providencias e fixa os numerds, classes e vencimentos
dô"com as tabellas que'estabelece; com emendas da Commissão
de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finftnças;

2" discussão do projecto n. 48 B, de 1912, tornando exten-


'do
sjvas â Academia Comttiercio de Pernambuco as disposições
da lei ri. 1.339, de 9 de janeiro de 1905, á semelhança do que
tem sidoconcedido a outras academias; com parecer favoravel
da Gommissão de Iitstrdcçüío Publica (vide projecto n. 48 A,
de 1912);

Discussão única ç}o do 1912, do Senado,


projecto n. 278 A,
autorizando a concòder ató um anno de licençá',' com todos os
vencimentos, ao desembargador Affonso Lopes de Miranda, da
CÒrte de Appellação do Districto Federal; com parecer da Com-
missão de Petições o Poderes e emenda da de Finanças;

única do parecer n^ 64,


Discussão de 1911, approvando o
veto opposto Sr. Presidente da Republica á resolução do
pelo
Congresso Nacional, que autorizou a contar a antigüidade do
posto de alferes, de 4 de janeiro de 1890, ao 1° tenente de ca-
vallaria lgnacio Teixeira da Cunha Bustamente (vide projecto
ii. 432, de 1911.).

Levanta-se a sessão á 1 hora e 30 minutos da tarcje.

115" SESSÃO EM 30 DE SETEMBRO DE 1912

PRE9IDENCIA OO SR. SABINO BARROSO JUNIOlí, PRESIDENTE

A' 1 hora da tarde procede-se á chamada, a res-


que
pondem os Srs. Sabino Barroso Júnior,' Soares dos Santos,
Raul Veiga, Juvenal Lamartine, Mavignier, Monteiro de Sou-
¦/.n, Miranda, Costa Rodrigues,
Rogério de Dunshee de Abran-
ches, Christinb Cruz, Cunha Machado, Agripino Azevedo, Ray-
mundo Arthur, Moreira da Rocha, Bezerril FonteneJIe, Aga-

pito dos Santos Augusto Leopoldo. Camillo de Ilollanda,


Gosta Ribeiro;' liourenço de Sã, Manoel Borba, Netto Campello,
Augusto do Amaral, Borges da Fonseca, Cunha Vasconcellos,
Erasmo de Macedo, Natalicio Camboim, Euzebio de Andrade,
Alfredo de Carvalho, Barros Lins, Dias de Barros, Moreira Gui-
marães, Octavio Mangabeira, Freire de Carvalho Filho, An-
t.onio Muniz, Souza Brito, Rodrigues Lima, Jacques Ourique,
Figueiredo Rocha, Diptísio Çerffueira. Porto Sobrinho, José
Tolentirio, Pereira Nihnes, Elysio de' Araújo, Francisco Por-
tella, Faria Souto, Maúricio de Lacerda, Alves Gosta; Augusto
744 ANNA1S8 DA CAMAfiA

de Lima, Sebastião Mascarenhas, Francisco Veiga, Vianna do


Castello, Antônio Carlos, José Bonifácio, Irineu Machado, João
Luiz de Campos, Álvaro Botelho, Carneiro de Rezende, Moreira
Brandão, Rodolpho Paixão,
Fui- Epaminondas Ottoni, Manoel
gencio, Cândido Motta, Alberto Sarmento, Prudente de Moraes
Filho, Marcolino Barreto, José Lobo, Estevam Marcolino, Mar-
tim Francisco, Olegario Pinto, Caetano de Albuquerque, Luiz
Xavier, Pereira de Oliveira, Henrique Valga, Celso Bayma,
Gustavo Richard, Octavio Rocha, João Vespucio, Homero Ba-
ptista, Fonseca Hermes, Yictor de Brito e Osorio. (82).

Abre-se a sessão.

O Sr. Juvenal Lamartine Secretario, servindo de 2o)


(.?"
procede á leitura acta da da sessão antecedente, a qual 6, sem
observações, approvada.

O Sr. Presidente — Passa-se á leitura do expediente.

0 Sr. Raul Veiga (2o Secretario, servindo de Io) procede


á leitura do seguinte

EXPEDIENTE

Officios:

Do Sr. 1° Secretario do Senado, de 27 do corrente, enviando


um dos autographos, devidamente sanccionado, da resolução
rio Congresso Nacional, autorizando a abertura, pelo Ministério
da Agricultura e Commercio, dos créditos supplementares de
3:000.1! e 12:000$, para occorrer ao pagamento de vencimentos
ao consultor e ao aaxiliár jurídicos daquelle ministério.—
ao archivo.

Dous do Ministério da Fazenda, de 28 do corrente, remet-


tendo dous autographos, devidamente sanccionados, de cada
uma das seguintes resoluções do Congresso Nacional:

Abrindo a este ministério o credito necessário até 141:960$,

para ultimar a prédios ns. 79, 81,


desapropriação 83 e 85
dos
da rua General Caldwell e outros, declarados de utilidade pu-
blica pelo decreto n. 1.642, de 26 de junho de 1894:

Concedendo um anno de licença, com os vencimentos do


cargo, ao conferente da Alfandega do Rio de Janeiro Manoel
Jansen Müller.

Ao archivo um dos autographos, enviando-se o outro ao


Senado.

Do mesmo Ministério e de igual data, satisfazendo a re-

quisição desta Câmara, constante do officio n. 107, de 12 de


julho ultimo, referente ao pagamento feito a Philadelpho de
Souza Castro. —A quem fez a requisição.
SESSÃO KM 30 1)13 S13TUMBRO DE 1912 745

Dous do Ministério da Yiação e Obras Publicas, de 28 do


corrente, enviando os seguintes requerimentos :

Do praticante de 1" classe da Administração dos Correios


do Estado de S. Paulo José Bonifácio Gonçalves Pereira, pe-
dindo um anno de licença com vencimentos ;

Do praticante de Ia classe da Administração dos Correios


do Estado de S. Paulo Júlio dos Santos Júnior, pedindo um
afino de licença com vencimentos.
A's Commissões de Petições e Poderes e de Finanças.

Da Prefeitura do Districto Federal, de 28 do corrente,


satisfazendo a requisição desta Camara sobre a proposta de
F. A. Adamozil e Frank R. Taylor, referente a melhoramentos
que pretendem realizar em uma das mais importantes zonas
desta cidade. —A quem fez a requisição.

Requerimentos :

De D. Anna Carolina Moniz e filha, viuva do machinista


de Ia classe da Estrada de Ferro Central do Brazil José Moniz
Barreto, pedindo relevação de para percepção de
prescripção
montepio. — A' Commissão de Finanças.

Do barbarei João Vieira de Souza Filho, procurador da


Republicai ao Maranhão, pedindo um anno de licença, com orde-
nado, para tratar de sua saúde..— A' Commissão de Petições e
Poderes.

De Mfjnoel Peretti da Silva Guimarães, ajudante da Inspe-


ctoria Agrícola do lu Districto, pedindo um anno de licença
com vencimentos. —A's Commissões de Petições e Poderes e
de Finanças.

Do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dr. André Ca-


valcante de Albuquerque, pedindo um anno de licença com
todos os vencimentos.— A's Commissões de Petições e Poderes
e de Finanças.

Representação de moradores da cidade de Avaré, protes-


fando contra o
projecto de divorcio.— A' Commissão de Con-
stituição e Justiça.

Telegramma:

Aratuhype, 22 de setembro.

Presidente da Camara dos Deputados.— Rio. Intendentes

Conselho Municipal protestam solemnemente contra lei divor-


cio, instituição perigosa sentimentos catholicos, direito fami-
/ia nacional.— Conego Silvino, intendente Albino Pinheiro,

Presidente Conselho; Júlio Avellar, Vice-Presidente Conselho;


Albino Santos, Conselheiro; Antero, Conselheiro; Anastacio.
idem; Dr. David, idem.>— A' Commissão de Constituição e
Justiça.
746 ANXAES DA CAAIAIU

K' lido o vae a imprimir o seguinte

PARECER

N. 113 — 1912

Indefere o requerimento do general do devisão Carlos de Oli-


veira, pedindo permissão para' se Utilizar das cachoeiras
«Sete Quedas», e «Paulo Affonso-», nos rios Paraná <?
S. f rancisço.

O enorme progfcssp da industria moderna é determinado


I»cla'Í)(JVfpita hahrionia existente na solução dos Vários pro-
ííjcmaà mie'a sciencia fem resolvido.
Essa harmonia pôr vezes de maneira
se revela inesperada,
fazendo com que o aperfeiçoamento de um motor, a descoberta
íle novas energias façam desenvolver industrias de que se não
cogitara directnmente, mas que se ligam harmoniosamente.
-V energia hydraulica das quedas dos rios, essas em geral
'imi
çiUmçiaS regiõès inoWíig e níesnio desertas, estaria condem-
nada h nijo ái não 1'ôra o passo agigantado que
|er'áppliciiç'aò,
tem dado a electricidade, qüo deu a solução pratica do pro-
Moma da transmissão do força a distancia considerável, entre
o ponto de producção dessa energia e o de sua applicação.
'
Ha dècoTinios milhares de cavallos a
'• poucfflsí perdiam-se
vnpol', representados por essas innumera« cachoeiras de que
-sendo
ninguém cogitara de aproveitar a energia, porque essa,
a scjtyiça] da industria, é que deye deslocar-se para o ponto
(ilido" as necessidades humanas determinam o estabelecimento
ijfc sua mamifacfurá', ou a applicação da energia mecanica.
E assim a força hydraulica das qüódas dos rios, devendo
ter applicação em pequeno raio cm torno das mesmas, ficou
d-e&valofriíáda até''-o: dia em que se. conseguiu transmittir, de
modo pratiilo e econômico, a energia ôlectMca através de cen-
tonas dé kilometros e distribuil-a em todo este percurso, frac-
cionada conforme as exigências de cada industria que a con-
some. Essa facilidade <le transporte, essa subdivisão externa
dáií inalorófc ítffergias olfctricaS. tornou pratitíâ a utilização da
qúédà dos rios; cuja energia hydraulica, de natureza íocali-
zada, é transformada em olectrica, eminentemente transmis»
sivel. Foi entãoque a energia hydraulica se pôde, com verdade,
applicar a denominação de «hulha branca».

por este nome se tem a idéa' do valor enorme que adqui-



riram as innumeras quedas e saltos dos rios òue eirt toilps os
Sèíífraos^sülcaW'o nos*o: iiiimtinso1 paiz.
"'dom
"nodü-se
vi'rd(itle, affirmar que o ISrazil é um dos

pai/.tW iVials'rjcAí em « hulha bráhca *, parecèildo que a nalu-


'com'"isso'
rè/.rv qüiz corrjgir a íliii' escassez de combustíveis
'!' '>
miiiorabíV.
¦DÔ'/acto, a não serem as minas de S. Jeronymo e do Tu-
barão, ao sul do paiz, qtie produzem hulha inferior, até agora
SESSÃO EM DE SETEMBRO DE 1912 747
3Q

as investigações dos mais doufos inineralogistas nada conse-


descobrir de combustíveis sol idos ou líquidos. Rego-
guiram
de que,uma rede extensa de rios
sijemo-nos, pois, possuir
do planalto brasileiro: em sua cOlTida verti-
se precipitando
vão o de quedas qífè são poderosas
ginosa, pontuando pata
fontes de energia rfue, apropriadas e distribuídas pelos mais

recônditos centros de população, a elles levarão a «hulha

branca» necessária á vida dos povos civilizados.

natureza, erigindo do Rio Grande A Bahia a barreira


A
da cordilheira da Serra do Mar, a poucos kilométros
colossal
do litoral e da crista dessa Cordilheira desenvolvendo-se para
o interior das terras nacionaes, grande o planalto brazileiro

se os valles dos rios Paraná, Para-


que inclina para grandes
e Amazonas o alguns de seus affluentes, do mesmo jorro
guay
obrigou os cursos de agua, originados delles, a irrigarem
qne
iipmenSo, saltos desses rios essa co-
um planalto gerou pelos
lossal riqueza que é a nossa «hulha branca».

Devemos ser ciosos delia, provermos a sua conservação,


leis de protecção ás florestas que mantenham
promulgando
o règimen dos rios e o sen volume de agua. Outras, que de-

1i>rmirtein o natural aproveitamento dessa energia que deve

ronsl i'|uir ími fmjlttr poderoso dò nosso progresso.


r(VáÜo'Vle do
e/iulfir píirecer sòbré o requerimento poli-
ciona'ri(>"que requer concessão das cachoe.iras de Paulo Affonsò,

rio'!?. Francisco, e das'Setò Quedas, no rio Paraná, fomos


no
examinar o que isso rtípresienfa de energia hydrauíica, de

hulha nranca armazenada, e prócurilmos saber apprüximada-

iiiehtO o seu equivalente em combustível mineral.

Segundo autores conhecidos, sd a cachoeira de Paulo

Affoíiso representa a força collossal de mais de um iniljião de

cavallos-vapor e a de Sete Quedas representa a de quatro


milbões da mesjna unidade mecânica.
pedipios a um profissional que nos reduzisse o milhão

de cayallos a carvão, op'melhor,


que nos dissesse que qtianíi-
cairão sfpfia necessário queimar nos de
dadé d'e geradores
'para
vapor produzir em 24 horas unia força de um milhão
:vinte to-
Essa quantidade orça por cerca do mil
de cavallos.
carvão consumido nas 24 horas. Em 3tí5 dias do
neladas do
a,' Um hbnsumo de carvão de. cerca de 730.000
amlo/eqüivale
tonüíaday, do1 yáloi,:(!e çereiftle 200 mil coritos.

Assim, pois, sd a cachoeira do Paulo Áffonso, cu.ja energia


de cavallos-vapor, representa a ener-
é de mais de um mil|ião
'por
sete milhões do toneladas de hulha negra.
gia produzida
A cachoeira das Sete Quedas, cu.ja energia é representada

colossal algarismo de quatro milhões de cavallos-vapor,


pelo
a vezes sete milhões de toneladas de carvão,
eqüivale quatro
necessarias a de tão importante energia me-
para produeção
oanica.
Por esses números, antes inferiores aos verdadeiros, pôde-
se ver de faeto se trata de uma riqueza enorme, de cerca
que
778 ANNAES DA GAMARA

de um milhão do contos quo annualmonte so incorporará á


riqueza nacional.

A sua exploração não deve constituir monopolio de em-


preza ou individualidade alguma. ma,s, mediante racionaes
determinações, deve ser permittida a quem a queira apro-
veitar, na medida das necessidades da industria que deseje
explorar.

Temos a fortuna de possuir quedas como estas duas, sem

partilha com povos vizinhos, e por isso esse patrimonio, que


é nosso, deve ser aproveitado para maior fortuna do nosso

paiz.

Quédas como as de Paulo Affonso e das Sete Quédas, com


vãos tão largos e caudalosos, constituem, sob o ponto de vista
de aproveitamento da energia hydraulica, uma força dupla,
segundo seu aproveitamento á margem direita ou á esquerda,

para nellas estabelecer as usinas hydraulicas.

As quédas do Niagara pertencem, em sua margem es-

querda, ao Canadá, em sua margem direita aos Estados Unidos.

Pois esses dous paizes, que partilham a posse dessa po-


derosa fonte de energia, se dão por bem aquinhoados com a

parte que lhes coube. Tendo a America do Norte estabelecido,


ha cerca de 20 annos, a
primeira grande usina hydraulica,
com o emprego de poderosas turbinas desde que a força total
de cerca de 5() mil cavallos foi regularmente construída, novas
emprezas se estabeleceram, de que hoje o governo Ame-
modo
ricano não faz mais concessões, pois as derivações feitas, coin
diminuírem o volume das aguas no leito do rio, tenderiam
a prejudicar a belleza natural da cascata, que é também objecto
de intelligente exploração pelo numero de touristes que a
ella concorrem.

Essa energia hydraulica, transformada .em electrica, lé


distribuída até Buffalo e outras cidades da America, e con-

tribue para o inpeccavel serviço de illuminação, transporte,


etc., «Niagara Talls City», que
da augmenta depopulação ex-
traordinariamente, pela belleza do sitio e riqueza que propor-

ciona aos seus habitantes.

O Brazil também partilha com a Republica Argentina a


do Iguassú, cuja margem direita nos pertence,
posse da queda
ao passo que a esquerda áquella Republica vizinha.
E devemos nos dar por satisfeitos com possuirmos pela
metade mais essa grande riqueza de «hulha branca».

Temos demonstrado sufficientemente o valor dessas duas

fontes de energia hydraulica e, si não fosse escusado e desne-

oessario, mostraríamos a importancia que pôde ter no progresso


dessas regiões, ao norte paiz, para
e que possamos
ao sul do

dizer tão importante factor nos destinos nacionaes, por


que
interessar largas zonas de seu territorio, não deve sahir da

immediata acção do Governo do paiz.


EM DIS DE 1912 »4 -749
SESSÃO 30 SETEMBRO

A este cumpre prover a decretação das leis necessárias


regularizar o aproveitamento, pelo maior numero de nossos
para
dessa riqueza nacional.
patrícios,

Até aqui estudamos o valor industrial desses dous valio-

sissimos elementos da nossa grandeza, presentes da munifi-

ciência dessa soberbanatureza


e opulenta, ponto de partida
do verdadeiroprogresso daquelle que elimina as distancias,

vence o poder obstrucionista das grandes montanhas, subjuga

os mares incommensuraveis e transforma o lixo e a agua em


luz e força, para a satisfação das necessidades humanas.

Estudemos agora, á luz da legislação que rege a especie


de jure, constituto, a concessão que objectiva o pedido que
vimos estudando.

O que rege a especie é o decreto de 27 de dezembro de


1904, a cujas disposições se subordinam todas as concessões

requeridas por dispositivo franco dessa lei; é da competencia

exclusiva do Poder Executivo e não do Legislativo conhecer

de pedidos de tal natureza.

Ouvindo geral da Republica, sobre o caso ver-


o consultor

tente esse jurisconsulto e notável homem de lettras


doutíssimo
esgotou o assumpto, tal a clareza com que resolveu a questão

numa synthese brilhante. S. Ex., estudando o art. 14 do refe-

rido decreto, que estatue que sómente o Governo da União, na


legislação federal,
conformidade da poderá fazer concessões da
utilização para fins industriaes das forças hydraulicas do do-

mino da União, não esqueceu que esse decreto não define o

se deve entender com rios do seu domínio; no caso em


que
diz o douto parecer, o caso se simplifica, por-
questão, porém,
Paraná, quer o S. Francisco, banhando mais da
que. quer o rio
um Estado o tendo aquelle caracter internacional, porque
banha também nação estrangeira, em face do art. 34 daConsti-
tuição, § <>", devem reconhecidos como rios do domínio da
ser

União. De accôrdo, pois, com o consultor geral da Republica,

em face da legislação actual, que é a lei citada n. 5.407, do 27


de dezembro de 1904, ao Poder Executivo e não ao Legislativo

conhecer da concessão pedida, devendo, entretanto,


compete
o abalisado jurista, ser tomada na maior consideração
concilie
de ser feita a concessão, de tal alcance eco-
a circumstancia
á mesma pessoa, em relação aos dous maiores ele-
nomico,
do paiz ao norte e ao sul, e o mais que,
mentos de força natural
de vista do interesse do Estado, pertence ao Go-
sob o ponto
verno prever e acautelar.

Commissão pensa que deve ser indeferido o pe-


Assim, a
a conveniência de ser este parecer remettido
dido lembrando
Especial para elaboração do codigo das aguas
á Commissão
como elementos de estudo.
terrestres,
28 de setembro de 1912.— J. Car-
Fala das Commissões,
veiro do Rczthidi. ¦— Souza Brito, relator.— Octavio Rocha.»—
And radaPereira Braga.— Prado Lopes.
Btwno dc
750 AMNAIÜS DA CAMARA

O Sr. Presidente — Está finda leitura do


a expediente,
(Pausa.)

Compareceram mais os Srs. Antonio Nogueira, Aurélio


Amorim, Lúcia no Pereira, -Firmo Braga, Frederico Borges, Au-
guptp Monteiro, Aristarcho Lopes, Baptista Acçioly, PedroLago,
Ubaldmq de.Assis, Fplinto Sampaio, Alfredo íluy, Itaphael Pi-
nheiro,. Torquato Moreira, Júlio Leite,, Nicanor do Nascimento,
Florianno. de Britto, Manoel Heis, Souza i; Silva, Erico Coalho,
Raul Fernandes, Teixeira, Brandão, Prado Lopes, Carlos Pei-
xoto Filho, Calogeras, Francisco Bressane, Josino Araújo, Jay-
me Gomes, Galeão Carvalha!, Ferreira Braga, Raul Cardoso,
Rodrigues Alves Filho, Marcello Silva, Lamenha Lins, Eva-
risto do Amaral, Carlos Maximiliano, Nahuco de Gouvêa e
Domingos Mascarenhas (38).

Deixam de comparecer com causa participada os Srs. Ar-


thür Moreira, Semeão Leal, Serzedello Corrêa, Jofto • Chaves,
Antônio liastos, Theotonio de Brito, Hosannah de Oliveira,
Coelho Netto, Joaquim Pires, João Gayoso, Felix Pacheco, Edu-
ardo Sabpia, Thomaz Cavalcante, Flores da Cunha, João Lopes,
Yirgilio Brigjdo, Gentil Falcão, Eloy de Souza, Felizardo Leite,
SeraphicQ da Nobrega, Maximiano de Figueiredo, Balthazar
Pereira, Simões Barbosa, Meira Vaseoncellos, Art.hu r Orlando,
Fredpriuo Lumlgreen, José Bezerra, Rego Medeiros, Rocha Ca-
valcanti;, Joviniano de Carvalho, Felisbello Freire, Miguel Cal-
mói), Mario Hermes,, Muni/, de Carvalho, Pereira Teixeira,
Campos França, Arljndo Leone, Carlos Leitão, Raul Alves. De-
ruído,Dias, Pedro Marianni, Muniz Sodré, Leão Velloso, Paulo
de .M''llo, Melelio Júnior, Pereira Braga, Pedro de Carvalho,
Jíodrigue* '>?a)Jos Filho, Thomaz Deíphino, Caldas,
;penuafor.t
Fróes ida, Cruz, Silva Castro, Mario de Paula, Silveira Bruni,
Jlibeiro Junqueira, Astolpho Dutra, João Penido, Landulpho
Magalhães, Lainounier Godofredo, Baptista de Mello, Aixtero
Botelho, Ciiristiano Brazil, (Jargão Stockler, Alaor Prata, Fran-
cisco Paolielo, Melio Franco, Nogueira, Camillo Prates, Hono-
rato Alves, Cardoso de Almeida, Joaquim Augusto, Eloy Chaves,
Cineinato Braga, Álvaro de Carvalho, Adolpho Gordo, Palmeira
Rippeu, Bueno cle Andrade, Valois de Castro, Arnolpho Aze-
vedo, Costa Júnior, Fleury Curado, liamos Caiado, Oscar Mar-
ques, Aimiba-1 Toledo, Carvalho Chaves, Corrêa Defreitas, Ou-
mercindo Ribas, Diogo Fortuna, João Simplicio, João Benicio
e Pedro Moacyr (91).

O Sr. Presidente — Tem a o Sr. Deputado Ma-


palavra
nocl Borba.

O Sr. Manoel Borba — Sr. Presidente, achando-se na


ante-sala o Sr. Dr. José da Cunha Rabello, Deputado eleito

pelo 1" (listricío do Estado de Pernambuco, requeiro a V. Ex„


se digne nomear a Cominissão que o acompanhe ao recinto,
ulim de que S. Ex. preste o compromisso regimental.
8KSSÃ0 lilM oO DK SETL.MLSIIO DE 11)12 7 oi

0 Sr. Presidente — Convido os; Srs. 3° e 4° Secretários


a acompanharem ao recinto o Sr. Deputado Cunha Rabetlo,
para que S. Ex. o compromisso legal.
preste

(Comparece S. Ex., acompanhado da respectiva Cumminão


e, juntoá Mesa, presta o compromisso regimental tomando em
scijuida assento.)

0 Sr. Presidente — Tem a palavra o Sr. Deputado Pe-


reira .\uncs.

0 Sr Pereira Nunes — Sepulta-se hoje, Sr. Presidente


eni uma das nectopoles desta Capital, illust.ro
o Dr. João Cru-
vello (iavaIcant.o.A_vida do
pranteado publica
extineto justi-
I ica
as manifestações de da bancada
pezar fluminense, e as
homenagens do sentir .collcctivo da dos
Çainara Deputados.
Antigo nmcciqnario de fazenda, exerceu o fjnado diversas
commissoes do grande proveito á causa publica, afféçtas ao
ministério do que dependiam as suas funcçftès, elevahÜo-se
a uma das maiores graduações da sua classe.
Bacharel em direito em curso rápido e fecundo, elle foi
depois advogado e. político, em ambos os misteres sabendo
adquirir lama e posições
de destaque. No Estado do Rio, de
Presidente da Câmara de
N-aguahy, a cuja prosperidade e de-
sonvolviniento votara grande parte da sua operosa intelligen-
cia e actiyidade. chegou a Deputado á Assembléa
e a esta Ca-
mara. La collaborou na reforma constitucional fluminense,
nublando lado doaosaudoso patriarcha da democracia bra-
zileira, Sr.
general Quintino Bocayuva, «• aqui, por mais de
uma ye^ ,eleitoi representante do nosso Estado, pertenceu á
Commissão de Finanças e loi sempre activo e dedicado ira-
balhaaor.
Assim, Sr. Presidente,
em nome da bancada a que tenho
a honra do a V.
pertencer,
peço Ex. consulte
que n Casa si
consente que, se insira
jia acta um voto de
pezar pelo Íallecí-
mento do illustre Dr. Gruvello '(Cavalcante, um bons
dos ser-
vidorès do seu progresso que o Estado do Rio pranteia neste
momento. (Muito bem; muito bem.)

O Sr. Homero Baptista — Peço a palavra pela ordem.

O Sr. Presidente — Tem a palavra o nobre Deputado.

O Sr. Homero Baptista (pçla ordem). .(*)— Sr. Presidente


venho também render preito á memória do Dr. João Cruvellò
Cavalcante.
Bastar-Ihe-hiám por certo, como homenagem da Camara
dos Deputados, as palavras eloqüentes do orador que me pre-
cedeu, membro conspicuo da bancada de que fez, parte em

(*) Este discurso não foi revisto pelo orador.


752 JNNAES 1JA CAMA11A

legislaturas passadas o pranteado extincto. Não será, porém,


impertinoncia minha tirar ao acto o formalismo convencional,
que, nunca se sabe bem si exprime verdadeiramente a dôr
ou si é apenas a observancia de uma piedosa praxe parla-
mentar. (Pausa.)
Por mais de 28 annos fui amigo do Dr. Cruvello Cavai-
cante; foi-me
pois, dado,
conhecer os grandes predicados que
o distinguiam, quer 110 domínio das relações aífcctivas, quer
no largo scenario da vida publica.
Tinham primazia na figura modesta do meu mallogrado
amigo dotesos que traçaram as linhas de ouro de um ca-
raeter sem mancha e sem falha. (Muito bem.)
Elle foi bem o nobre patriarcha da familia que consti-
tuira e da familia de que proviera, a qual, desde muito cêdo
e durante dezenas de annos, faltara o amado chefe. No con-
vivio da amizade, era a solicitude, o desinteresse, a dedicação;
no trato geral, os fracos viam nelle um protector delicado,
os fortes um propugnador dos direitos, altivo e digno.

No scenario da publica não se verá na


vida acção que de-
senvolveu nem attenuações, nem o desmentido dos traços de
caracter que acabo de apontar; ver-se-ha, ao contrario, a
affirmação de uma consciência recta ao serviço da patria, da
liberdade e da justiça.
Aos 19 annos,
quando o Brazil foi lançado á guerra pela
tresloucada audacia de Solano Lopes, dictador feroz e execra-
vel, o Dr. 'Cruvello, era do Thesouro, ven-
que praticante
condo as relutancias da familia, apresentou-se voluntário o
marchou celere como soldado para desaffrontar a honra 11a-
oional que o invasor conspurcara.
De como elle soube cumprir o seu dever militar são tes-
teinunhos os galões de oflicial que trouxera e as condecorações
que lhe exalçavam o peito, conquistadas por impavidcz e bra-
vura em Tuiuty e Lomas Valentinas (! outras grandes batalhas.
Findaguerra, tornou á actividade de seu cargo no The-
a
souro Nacional, onde galgou todos os postos até ao director da
Recebedoria, cargo em que foi aposentado, tendo exercido as
mais importantes missões attinentes á funcção fiscal.

Foi 110 exercício de uma dessas commissões, em 1884, como


inspector da Alfandega do Recife, que eu o conheci, estudando
na Academia de Direito daquella cidade, onde ambos nos for-
mámos.
Como funccionario do Fazenda teve grande evidencia du-
rante a
gestão financeira do eminente Sr. Ruy Barbosa, que
lhe entregou a direcção do gabinete ministerial e a organização
o execução da repressão do contrabando nas fronteiras do meu

Estado, commissão em que se houve com todo zelo e profi-


ciência.
Já em meia idade, o Dr. Cruvello deixou-se arrastar pelas
seducções da política, t,ão ingrata aos que a comprehendem e

a praticam como processo racional para encaminhamento e

solução dos problemas que trabalham a sociedade.


SESSÃO EM 30 DE SETEMBRO DE 1912 753

Durante annos fez parte da Cainara Municipal da terra em


que nasceu, a cidade de Itaguahy, e, concomitantemente re-
presentou seu Estado na Assembléa Fluminense, onde teve
grande realce na gestão do preclaro republicano general Quin-
tino .Bocayuva.

Da Gamara esladoal passou para esta Gamara, onde pôz


ao serviço das melhores causas toda a solicitude, todo o es-
forço, todo o patriotismo.
Os Annaes da Gamara estão cheios deprovas exhuberantes
de seu critério, de seu estudo e de sua competeneia.
No domino da política, do íunccionalismo e da familia
o Dr. Cruvello foi sempre solicito, digno, recto e escrupuloso
no cumprimento dos seus deveres.

Eis ahi, Sr. Presidente, em duas traçada a tra-


palavras
jectoria da vida do illustre concidadão que hontem falleceu.
Acceito a proposta de homenagem feita
pelo illustre mem-
bro da bancada fluminense, deixando apenas na singelesa das
minhas palavras a consagração da benemerencia a que fez jús
a memória de meu pobre amigo e velho servidor do paiz.
{Muito bem; muito bem; o orador é felicitado.)

0 Sr. Presidente — O Sr. Deputado Pereira Nunes requer


que se lance na acta da sessão de hoje um voto de
profundo
pezar pelo fallecimento do Sr. Dr. Cruvello Cavalcante e mem-
bro que foi desta Casa do Congresso.
Os senhores que approvam o requerimento se
queiram
levantar. (Pausa.)
Foi approvado unanimemente.
Tem a palavra pela ordem o Sr. Netto Campello.

O Sr. Netto
Campello (*) (pela ordem)—Sr. Presidente,
não é sem
grande temor que peço a palavra depois das bri-
lhantes orações proferidas pelos illustres Deputados Srs. Pe-
reira Nunes e Homero Baptista, representantes do Rio de Ja-
neio e do Rio Grande do Sul. Não é sinão cm cumprimento de
um dever que venho
civico neste momento fazer, sem realce,
o elogio fúnebre daquelle patrício se chamou em vida
que
Luiz de Andrade.
O homem publico, cujo fallecimento occorreu ante-hon-
tem nesta formosa capital da Republica, não foi uma figura
secundaria em nosso meio social.
Luiz de Andrade pôde o deve ser encarado, debaixo de
"3e
vários aspectos lisongeiros e múltiplos pontos do vista,
como político, como abolicionista, como litterato, como parla-
mentar e como jornalista.
Nas regiões da política o illustre pernambucano sempre

so em contacto com as grandes idéas, as causas patrióticas


poz
e os princípios republicanos.

Este discurso não foi revisto pelo orador.


(*)
Y»l. « -
754 ANNAES DA GAMARA

Durante a memorável campanha abolicionista


a ^ Luiz de
Andrade pelejou valentemente ao lado do Joaquim Nabuco
José Mariano, José do Patrocínio e muitos outros, solapando
os alicerces da ignominiosa. instituição do captiveiro e dando
garrote ao despotismo da escravidão, para que a liberdade
viesse a ser uma realidade, como o foi depois da aurea lei
de 13 de maio de 1888.
Nos fastos da propaganda republicana Luiz de Andrade
loi uma ligura_ em destaque seu
pelo ardor patriotico e es-
teve sem solução de continuidade na fileira da vanguarda de
destemidos luetadores do estalão
Marinho, Martins de Saldanha
Júnior, Quintino Bocayuva, Silva Jardim e outros, logrando
a ventura, cie assistir^ á vontade á realização de seus idéas.
L por isso que não foi sem certo desvanecimento da
parte
í /?.?. pernambucanos que Luiz de Andrade veiu representar em
18J1 o seu berço natal1, a heróica terra de Pernambuco, no
Congresso Constituinte, onde a sua
palavra se poz nas occasiões
precisas ao serviço das causas liberaes e da defeza da Republica,
trazendo, senão o encanto
o a magia provocados quasi sempre
por surtos de eloquencia, menos o subsidio necessário
pelo e
a ponderação proveitosa á vida constitucional dos assumptos
e das idéas ventiladas nos discursos no recinto da Consti-
tuinte.
No jornalismo Luiz de Andrade soube conquistar
_ louros,
nao só entre nós como até em Portugal, para onde seguiu em
companhia de sua família ainda nos annos
primeiros de sua
inlancia, íazendo em Lisboa o curso superior de lettras e cur-
sando em Coimbra, na sua famosa Universidade, as aulas de
inathematicas e de
philosophia.
Alli, em Portugal, onde, póde-se dizer, teve os seus penates
intellectuaes, Luiz de Andrade sentiu saudades da patria que o
arrastaram a regressar ao Brazil, de maneira a sua
que acção,
como jornalista, se fez sentir não só naquelle de
paiz gloriosas
tradições, como em o nosso, especialmente no Rio de Janeiro.
Nesta capital Luiz de Andrade redigiu diversos jornaes
como o Diário de Noticias, ao lado do Ruy Barbosa, o Diário
Popular, com o Dr. da FonsecaDermeval
e outros, de sorte
que seu feito litterario
e jornalístico offerece um campo vastis-
sirno, onde a mentalidade do saudoso não pres-
pernambucano
cinde de ser apreciada de modo honroso
para a sua memória e
para a patria. (Muito bem). Graças a ligeiras informações
que colligi nesta Casa, ha minutos, sobre a sua perso- poucos
nalidade, tenho elementos para dizer com segurança que Luiz
de Andrade redigiu em Portugal a Lanterna Magica, que era
um poriodico humorístico e político, ao lado de Guerra Jun-
queiro, Bordallo Pinheiro e Guilherme de Azevedo.
Releva notar, Sr. Presidente, que outros periodicos, como
a Revista Illustrada, também tiveram a dirccção intelligente
e efficaz da penna de Luiz de Andrade e que, além dos alludi -
dos jornaes e periodicos em elle collaborou sem deslize,
que
se podem citar excellentes producções de seu espirito, entre
as quaes Os Quadros de hontem e de hoje, As Considerações
SESSÃO EM 30 DE SETEMBRO DE 1912 7Sg

sobre a Batalha ãe Avahy (Quadro historico de Pedro Ame-


rico), Physionomias litterarias de Portugal e cio Brazil ei
Contos Verdes e Amarellos.
Esses trabalhos constituem, por si só, elementos suffici-
entes para dar uma feição sympathica e verdadeiramente lit-
teraria a esse compatriota, cuja morte hoje deploramos, como
uma perda sensível para a patria e especialmente para o Es-
tado de Pernambuco.
Nestas poucas palavras podeis comprehender, meus senho-
ros, o valor de Luiz de Andrade.
Venho, portanto, Sr. Presidente, em nome da bancada
pernambucana, consoante o nosso proceder modo de de ante-
hontem e de accôrdo com o que.ultimamente se tem praticado
nesta Casa,
que, além de ser
pedirlançado na acta de hoje
um voto
pesar, se levante
de a sessão pelo desapparecimento
de um dos membros mais dignos da Constituinte Republicana.

{Muito bem; muito bem ! O orador 6 cumprimentado e abra-


çado por vários collegas).

0 Sr. Presidente — O Sr. Deputado Netto Campello re-


quer inserção de um voto de na acta e mais seja
pezar que
levantada a sessão em signal de pezar pela morte do ex-Depu-
tado á Constituinte Sr. Luiz do Andrade.
Os Srs. que approvam o requerimento queiram se levantar.

(Pausa.) Foi approvado.


Em obediencia ao voto da^Camsra, vou levantar a sessão,
designando antes, para a sessão de amanhã, a seguinte

ORDEM DO DIA

PRIMEIRA PARTE (ATÉ A'S 4 IIORAS DA TARDE OU ANTES)

Continuação da 2» discussão do A, n. 123 de 1912,


projecto
do Senado, concedendo amnistia aos implicados nas revoltas
do Batalhão Naval e navios da esquadra, em dezembro de 1910,
e aos civis e militares envolvidos nos acontecimentos de Ma-
náos, em outubro do mesmo anno; com favoravel da
parecer
Commissão de Constituição o Justiça;

2" discussão do projecto n. 305, de 1912, concedendo á,


viuva, emquanto fôr, do Quintino Bocayuva, o auxilio de 800$
mensaes, assim como o de 200$ a cada um dos seus filhos
Edgard, Oswaldo, Waldemar, Rosa, Ada e €óra, e também o de
300$ á Sra. D. Maria Amélia Bocayuva Bulcão, durante sua
viuvez, quantia que, por sua morte ou casamento, reverterá
aos seus filhos Sarab, José, J^éo e Izabel;

3" discussão do projecto n. 301, do 1912, autorizando o


Presidente da Republica a concorrer com quantiaa de
100:000$, como auxilio, para se erigir um monumento nesta
Capital, em honra á memória da ex-imperatriz do Brazil; com
voto em separado do Sr. Pedro Moacyr e parecer da Commis-
são de Finanças;
756 ANNAES DA CAMARA

3* discussão do projecto n. 184 B, do 1012, redacção para


3" discussão da emenda approvada e destacada do projecto
n. 382, de 1911, mandando equiparar os vencimentos do con-
servador restaurador da
pinacotheca da Escola Nacional do
Bellas Artes aos do secretario da mesma escola;

3° discussão do projecto n. 298, de 1912, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 7:200$, para occorrer ao

pagamento devido a Arthur Martins Lopes, em virtude de sen-


tença judiciaria;

1* discussão do projecto n. 275 A, de 1912, tornando ex-


tensiva aos juizes federaes da í" instancia e seus substitutos a
disposição do art.. 3o, n. III, da lei n. 2.356, de 31 de dezem-
bro de 1910, relativa á cobrança em estampilhas das custas

judiciaes; com parecer favoravel da Commissão do. Constitui-

ção o Justiça;

2® discussão do projecto n. 118 A, de 1912, transferindo

para o Corpo de Saúde do Exercito, com honras de segundos


tenentes, os inferiores que tenham mais de três annos de praça
e serviços profissionaes, e dando outras providencias; com pa-
recer e emenda da Commissão de Marinha e Guerra;

2" discussão do projecto n. 280, de 1912, determinando a


hora legal; com parecer da Commissão de Constituição e Jus-
tiça.

SEGUNDA PARTE 4 HORAS DA TARDE OU ANTES)


(A'S

Continuação da 3° discussão do projecto n. 01 B, de 1912,

fixando a despeza do Ministério da Agricultura, Industria e

Commercio para o exercicio de 1913;

Discussão única do projecto n. 304, de 1912, autorizando

a conceder a Joaquim de Macedo Costa, um anno de licença,

com todos os vencimentos; com parecer favoravel da Com-

missão de Finanças e voto em separado e emenda dos Strs. Ri-

beiro Junqueira e outros;

A, 1912, mandando isen •


2* discussão do projecto n. 70 de
tar de todos os direitos, inclusive dos de expediente, a intro-

ducção pelas fronteiras de gado vaccum e ovelhum destinado

á criação e dando outras providencias; com substitutivo da

Commissão de Agricultura e parecer favoravel da de Finanças;

3* discussão do projecto n. 213, de 1912, creando o logar

de zelador do Museu Naval, nnnexo á Bibliotheca de Marinha,


com os vencimentos e garantias idênticas aos dos mestres do

Arsenal de Marinha; com parecer favoravel da Commissão de

Finanças (vide projecto n. 300, de 1911);

3*
discussão do projecto n. 279, de 1912, autorizando a
do Interior, o credito extraordinário de
abrir, pelo Ministério
4:200$, ouro, para pagamento do prêmio de viagem conferido

ao Dr. Carlos Leoni Werneck;


SESSÃO EM 30 DE SETEMBRO DE 1912 757

2* do projecto
discussão n. 325, de 1911, mandando con-
de bravura praticados
siderar para todos os effeitos por actos
na campanha de Canudos, com antigüidade de 15 de novembro
de 1897, a promoção do 1° tenente do Exercito Francisco das
1 Chagas Pinto Monteiro a esto com parecer da Com-
posto;
missão de Finanças;

3" discussão do projecto n. 210 A, de 1912, do Senado, au-


torizando a abrir pelo Ministério da Justiça e Negocios Inte-
riores, o credito de 8:940$, supplomentar ã verba da consigna-
— Pessoal — da rubrica 6" do art. 2o da lei n. 2.544, de 4
ção
de janeiro de 1912; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças;

3" discussão do projecto n. 203, de 1912, autorizando a


abertura do credito de 150:000$, ouro, por conta do especial
de 8.000:000$, para despezas com a representação do Brazil,
na Terceira Exposição Internacional da Borracha;

3* discussão do projeco n. 320 A, de 1911, considerando


de utilidade publica a Associação Commercial da Bahia; com
parecer favoravel da Commissão de Constituição e Justiça;

Discussão única do projecto n. 303, de 1912, autorizando


a concessão de licença a Mario de Souza Carvalho, desenhista
da Estrada de Ferro Central do Brazil; com emenda da Com-
missão de Finanças;

2a discussão projecto n. 373, de 1912, facultando a Dona


do
Claudia Vergara de
Oliveira, viuva do coronel graduado re-
formado do Exercito Heliodoro Joaquim de Oliveira, e sua filha
Francisca de Oliveira fazerem as contribuições do art. 4° do
decreto n. 1.054, de 20 de setembro de 1892;

2* discussão
projecto n. 306, de 1912, do Senado, auto-
do
rizando a mandar
pagar a Ladisláo Dias da Cunha, cessionário
de Ladisláo Cunha & Comp., a quantia de 189:850$282 por
obras contractadas e executadas nos quartéis da Força Policial
do Districto Federal; com parecer favoravel da Commissão de
Finanças (vide projecto n. 409, de 1911);

3a discussão do projecto n. 377, de 1911, autorizando a


abertura do credito extraordinário de 5:393$548, para paga-
mento de vencimentos que competem ao lente em disponibili-
dade da Faculdade de Direito de S. Paulo Dr. João Pedro da
Veiga Filho;

2" discussão do projecto n. 311, de 1912, autoriznndo a


abertura do credito supplementar de 200:000$, á verba 15",
do art. 93 da lei orçamentaria vigento, para attender a des-
pezas com o cadastro dos proprios nacionaes;

Discussão do
única
parecer da Commissão de Finanças
sobre a emenda offerecida na 2* discussão do projecto n. 161,
de 1912, estabelecendo um novo quadro de amanuenses do
Exercito (vide projecto n. 161 A, de 1912);

Ia discussão do projecto n. 9 A, de 1912, reformando o La-


boratorio de Analyses da Alfandega do Rio de Janeiro, crêa
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laboratorios nas alfandcgas de diversos Estados, dando outras


providencias e fixa os números, classes e vencimentos de
accôrdo com as tabellas que-estabelece; com emendas da Com-
missão de Constituição e Justiça e sub-emenda da de Finanças;

2* discussão do projecto n. 48 B, de 1912, tornando exten-


sivas á Academia de Commercio de Pernambuco as disposições
da lei n. 1.339, de 9 de janeiro de 1905, á semelhança do que
tem sido concedido a outras academias; com parecer favoravel
da Commissão dó Instrucção Publica (vide projecto n. 48 A,
de 1912);

Discussão única do projecto n. 278 A, de 1912, do Senado,


autorizando a conceder até um anno de licença, com todos os
vencimentos, ao desembargador Affonso Lopes de Miranda, da
Côrte de Appellação do Districto Federal; com parecer da Com-
missão de Petições e Poderes e emenda da de Finanças;

Discussão únicaparecer do 1912, approvando o n. 64, de


veto opposto pelo Sr. Presidente da Republica á resolução do
Congresso Nacional que autorizou a contar a antigüidade do
posto de alferes de 4 de janeiro de 1890, ao Io tenente de ca-
vallaria Ignacio Teixeira da Cunha Bustamente (vide projecto
n. 432, de 1911).

Levanta-se a sessão á 1 hora e 35 minutos da tarde.

FIM DO DÉCIMO VOLUME

2141 — Rio de Janeiro — Jmprenta Nacional — 1913

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