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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

HILDA OLIVEIRA DE ARAUJO LEAL

Alienação parental: conceito e prevenção através da guarda compartilhada.

CASTANHAL,
2023.
2

ALIENAÇÃO PARENTAL: CONCEITO E PRENVEÇÃO ATRAVÉS DA GUARDA


COMPARTILHADA.

Hilda Oliveira de Araujo Leal1

RESUMO. O trabalho em tela tem o condão de conceituar a alienação parental,


fazendo uma análise bibliográfica e legislativa do instituto. Ainda, busca-se, por
intermédio da pesquisa acadêmica sob exame, verificar a possibilidade de fixação de
guarda compartilhada nos casos em que se constata a existência de contendas
familiares, precipuamente que há comprovada incidência dos chamados atos de
alienação parental. Ademais, este estudo traz como questões norteadoras as
seguintes: “A guarda compartilhada quando há alienação parental atende ao melhor
interesse da criança?”; “De que forma a guarda compartilhada pode prevenir a
alienação parental?” e “Quais os atos da alienação parental e como isso interfere na
vida social do infante?”.
No que concerne ao objetivo geral deste trabalho, almeja-se compreender os limites
e admissões da guarda compartilhada nas questões de alienação parental no Direito
de Família, buscando-se esclarecer, através da pesquisa bibliográfica, o que se
entende por alienação parental, analisando situações em que essa violência pode
ser verificada e responder ao problema científico do presente trabalho de conclusão
de curso: “A guarda compartilhada pode inibir os atos da alienação parental?”
Palavras-chave: alienação parental; guarda compartilhada; poder familiar; atos de
alienação parental; lei n.º 12.318/2010.

SUMÁRIO. Introdução. 1. Da alienação parental a visão conceitual da síndrome


2. A alienação parental segundo a Lei 12.318/2010 3. Da guarda compartilhada
no ordenamento jurídico, da possibilidade ou não da sua fixação em casos de
incidência da síndrome de alienação parental e seus efeitos 4. Conclusão 5.

1
Graduanda em Direito pela Universidade Está de Sá, campus Castanhal. E-mail:
201902186461@alunos.estacio.br
3

Referrências.

INTRODUÇÃO
É sabido que ao homem tornou-se impossível viver isolado, surgindo as chamadas
aldeias ou tribos na antiguidade, que a posteriori vieram a desembocar nos núcleos
familiares no formato hodierno. Tal qual como ocorre na sociedade como um todo,
as relações familiares também podem ocasionar contendas entre os envolvidos,
desencadeando, inclusive, violências no âmbito das relações interpessoais. Um
exemplo de tal dinâmica reside na alienação parental, fenômeno que surge
precipuamente quando da separação de genitores responsáveis pela guarda e
sustento de filhos menores, passando a haver, com a nova condição familiar, uma
verdadeira disputa pela guarda e afeto dos infantes.
De acordo com estudiosos da seara da família, sua origem está ligada à
intensificação das estruturas de convivência familiar, com maior aproximação entre
pais e filhos, sendo aqueles primeiros, com a separação do casal, surpreendidos
com a quebra de uma realidade com a qual se acostumara. Ocorre, porém, que
nesta verdadeira “guerra de braços”, restam os filhos menores, os quais uma vez
que ainda não tenham atingido a capacidade civil plena estão sujeitos ao poder
familiar dos genitores (ALEXANDRIDIS e FIGUEIREDO, 2013).
Assim, submetido, enquanto incapaz, ao jogo de manipulações dos genitores recém-
separados, é sabido que a alienação parental se externa de diversas formas,
inclusive, sobre a assertiva de ter sido o filho vítima de abuso sexual (IBDFAM,
2016).
São diversas as situações em que, visando dificultar ao máximo ou mesmo
impedir o acesso do ex-cônjuge não detentor da guarda com o fito único de destruir
o ex-cônjuge e a relação genitor-filho, o genitor detentor da guarda, submete a
criança ou o adolescente a sofrer alienação parental. Neste caso,
independentemente de gênero do alienante, pode-se caracterizar a síndrome de
alienação parental. Segundo o psiquiatra Richard Gardner, tal síndrome se
consubstancia em uma lavagem cerebral, em programar uma criança ou
adolescente para que venha a odiar ou até mesmo a esquecer seu genitor (mãe ou
pai, conforme o caso concreto) sem qualquer justificativa.
No presente trabalho, visando explicar a síndrome retro mencionada, far-se-á
a conceituação da alienação parental, pretendendo, ainda, demonstrar como ela se
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externaliza e quais suas práticas mais frequentes. Outrossim, ao longo da presente


pesquisa se buscará demonstrar a possibilidade (ou não) do estabelecimento da
guarda compartilhada entre os genitores nos casos em que há sabidamente a
ocorrência de atos que possam ensejar tal síndrome, verificando-se, por fim, se a
adoção do modelo de guarda compartilhada configura um meio eficaz de se coibir a
prática da violência.
Trata-se, portanto, de pesquisa bibliográfica pautada fundamentalmente em
livros doutrinários e artigos acadêmicos, além de se lastrear, no que couber ao
assunto, nos termos da Lei de Alienação Parental (Lei n.º 12.318/2010), da e
entendimentos jurisprudenciais atinentes ao tema, visando, assim, responder à
problemática do presente trabalho de conclusão de curso: “a guarda compartilhada
pode inibir os atos da alienação parental?”

1. DA ALIENAÇÃO PARENTAL: A VISÃO CONCEITUAL DA SÍNDROME

A família tem especial proteção do Estado, uma vez que constitui a base de
nossa sociedade (ALEXANDRIDIS e FIGUEIREDO, 2013), de forma que seu
reconhecimento, manutenção, desenvolvimento e dissolução devem ter especial
atenção da figura estatal, com a devida regulação de forma a preservar a própria
instituição. Com a evolução da sociedade, é incontestável o surgimento de novas
formas familiares além das tradicionalmente reconhecidas pelo casamento, como o
núcleo familiar advindo de uma união estável, a denominada família monoparental e
a família homoafetiva.
Desta especial proteção do Estado quanto à família, nasceu o chamado poder
familiar em nosso ordenamento jurídico, conceituado por Maria Helena Diniz como:
“Um conjunto de direitos e
obrigações, quanto à pessoa e bens
do filho menor não emancipado,
exercido, em igualdade de condições,
por ambos os pais, para que possam
desempenhar os encargos que a
norma jurídica lhes impõe, tendo em
vista o interesse e a proteção do
filho.”
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Enquanto menores – não tendo atingido a maioridade e, portanto, a capacidade


civil plena –, os filhos estarão sujeitos ao poder familiar alhures conceituado, o qual,
segundo Roberto Lisboa é “a autorização legal para atuar segundo os fins de
preservação da unidade familiar e do desenvolvimento biopsíquico de seus
integrantes”. Cristalino, assim, que os pais sirvam de guias para o desenvolvimento
e orientação da vida do menor, desde o seu nascimento até a maioridade civil – que
em nosso país se dá aos 18 anos.
Segundo a legislação cível pátria, compete a ambos os pais o exercício do poder
familiar, ainda que estes não desfrutem de uma vida conjugal. Destaque-se, que, via
de regra o término do relacionamento amoroso entre genitores não altera a relação
existente entre pais e filhos, apesar de o fim do vínculo matrimonial trazer, na
maioria das vezes, o efetivo poder familiar por um dos genitores, enquanto o outro –
afastado do lar – passa a exercer o chamado direito de convivência.
É nesta dinâmica de dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável que,
frequentemente, se observa a instalação da alienação parental, passando a haver
entre os genitores uma disputa pela guarda dos filhos. Antes, naturalizava-se que os
filhos ficassem sob a guarda da mãe e, ao pai restava, basicamente, o direito de
visitas em dias predeterminados, normalmente em finais de semana alternados
(IBDFAM, 2008). Como encontros impostos de modo tarifado não alimentam o
estreitamento dos vínculos afetivos, a tendência é o arrefecimento da cumplicidade
que só a convivência traz. Afrouxando-se os elos de afetividade, ocorre o
distanciamento, tornando as visitas rarefeitas. Com isso, os encontros acabam
protocolares: uma obrigação para o pai e, muitas vezes, um suplício para os filhos
(IBDFAM, 2008).
De acordo com o entendimento de Maria Berenice Dias (2008):
“muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe
sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma
tendência vingativa muito grande”. E, segue a ex-
desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

“Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da


separação, desencadeia um processo de destruição, de
desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge. Ao ver o
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interesse do pai em preservar a convivência com o filho, quer


vingar-se, afastando este do genitor.”

Segundo Duarte (2011), a alienação parental designa uma condição psicológica


causada pelo exercício abusivo do poder sobre a criança, quando um dos genitores
impede a convivência da criança com o outro genitor. De acordo com a autora, é
uma forma de maltrato ou de abuso, no qual um genitor manipula a consciência dos
filhos, com o objetivo de impedir, dificultar ou destruir seus vínculos com o outro
genitor.
Ao se manifestar nas crianças, induzida, conforme ditado alhures, a alienação
parental ocasiona comportamentos, sentimentos e pensamentos diversos, levando o
menor a denegrir sistematicamente o genitor alienado, recusando a presença deste
último, sem conseguir explicar o motivo de tal aversão (Gardner, 2002).
Assim, a alienação parental pode ocasionar prejuízos incalculáveis e muitas
vezes irreversíveis, dentre eles a extinção de laços emocionais básicos entre pais e
filhos. Isso se dá, principalmente, através de campanhas de degradação
empreendidas pelo genitor alienador, que, o faz sem medir o prejuízo gerado à
criança – que pode desenvolver um quadro de negação, vergonha, ansiedade,
depressão e culpa, segundo estudiosos da psicologia.

2. A ALIENAÇÃO PARENTAL SEGUNDO A LEI N.º 12.318/2010

A Lei n.º 12.318/2010 conceitua juridicamente a alienação parental como atos e


não como uma síndrome propriamente dita, como ocorre pela psicologia. “Assim, no
texto legislativo, a lei não trata do processo de alienação parental, necessariamente,
como patologia, mas como conduta que merece intervenção judicial, sem cristalizar
única solução para o controvertido debate acerca de sua natureza” (PEREZ, 2013).
Não obstante isto, frequentemente os magistrados responsáveis por julgar casos em
que há a incidência da alienação parental, entendem tais atos como os chamados
atos ilícitos, previstos nos arts. 186 e 187 do Código Civil de 2002 (MONTEZUMA et
al, 2017).
De acordo com o art. 2º da lei retro, “considera-se ato de alienação parental a
interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
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adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.
O parágrafo único do artigo 2º traz um rol exemplificativo dos atos de alienação
parental, conforma abaixo relacionado:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de


alienação parental, além dos atos assim declarados pelo
juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou
com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do


genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com


genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de


convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais


relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive
escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra


familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a
convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem


justificativa, visando a dificultar a convivência da criança
ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste
ou com avós.

Salta aos olhos, por seu turno, a escolha do legislador ao dispor que a prática da
alienação parental ocasiona lesão de direito fundamental da criança sobre a qual
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incidirá o ato, conforme art. 3º da lei de alienação parental, chamando a atenção do


leitor, neste ponto, para demonstrar que, o maior atingido é em verdade o menor sob
a guarda do genitor alienador e não o genitor alienado, como se pretende quem
perpetua tais atos.
Como suscitado acima, uma vez violado o cuidado inerente dos pais quanto aos
filhos menores por intermédio da prática de atos de alienação parental, cabe ao
Estado-Juiz à tramitação prioritária das ações judiciais diante da declaração da
ocorrência de atos de alienação parental. Tal medida, segundo o art. 4º da
legislação em pauta, tem como finalidade a preservação da integridade psicológica
da criança ou do adolescente, inclusive, para assegurar sua convivência com genitor
ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
A lei trata ainda, do procedimento a ser adotada pelo magistrado que, diante de
indício de prática de ato de alienação parental, determinará a realização de perícia
psicológica ou biopsicossocial (art. 5º), em ações autônomas e incidentais, visando
proteger a criança ou adolescente submetido a alienação, bem como verifica a
efetiva ocorrência dos atos.
A título de responsabilização a ser imposta frente ao genitor alienador, o art. 6º
dita que, uma vez caracterizados os atos de alienação parental ou qualquer conduta
que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, caberá ao
Estado-juiz repelir tal conduta, conforme dispositivo abaixo transcrito:

Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou


qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou
adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o
juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da
decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar
seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o


alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor


alienado;
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III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou


biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda


compartilhada ou sua inversão;

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou


adolescente;

§ 1º Caracterizado mudança abusiva de endereço,


inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz
também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a
criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião
das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

§ 2º O acompanhamento psicológico ou o biopsicossocial deve


ser submetido a avaliações periódicas, com a emissão, pelo
menos, de um laudo inicial, que contenha a avaliação do caso
e o indicativo da metodologia a ser empregada, e de um laudo
final, ao término do acompanhamento.

A lei assevera, por fim, que, a atribuição ou alteração da guarda do menor é


preferencialmente fixada em favor do genitor que viabiliza a efetiva convivência do
menor com o outro genitor, nas hipóteses em que seja inviável a guarda
compartilhada (art. 7º).

3. DA GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO, DA


POSSIBILIDADE (OU NÃO) DA SUA FIXAÇÃO EM CASOS DE INCIDÊNCIA DA
SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS EFEITOS

Segundo Alecrim (2020), a guarda compartilhada surgiu na Inglaterra, na década


de 60, expandindo-se posteriormente pela Europa, Canadá e Estados Unidos. É
somente em meados de 2008 que, segundo o autor, o modelo de guarda chega ao
Brasil.
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Segundo Peres (2002), com a Revolução Industrial, a guarda dos filhos passou a
pertencer à mãe, pois, os homens diante deste panorama passavam maior tempo
fora de casa, com a criação da guarda repartida, quebrou-se a tradição de somente
um dos genitores manter a guarda do menor no sistema jurídico inglês, influenciando
outras nações posto que na guarda compartilhada ou repartida ambos os pais
desempenham seus deveres inerentes ao poder familiar.
Neste sentido, dita Peres (2002):
Na Inglaterra, o sistema da Common law teve a iniciativa de
romper com o tradicional deferimento da guarda única que
sempre teve tendência para a figura materna, passando assim
os tribunais a adotarem a conhecida solo ordem, que significa
repartir, dividir, os deveres e obrigações de ambos os cônjuges
sobre seu filho. Dessa maneira, as decisões dos tribunais
ingleses passaram a beneficiar sempre o interesse do menor e
a igualdade parental, abolindo definitivamente a expressão
direito de visita, possibilitando assim maior contato entre
pai/mãe e filho. Tal instituto aos poucos foi ganhando
repercussão na Europa, e aproximadamente no ano de 1976 foi
profundamente assimilado pelo direito Francês, com a mesma
intenção da guarda compartilhada criada no direito inglês; ou
seja; dirimir as malécias que a guarda única provoca para os
cônjuges e seus filhos. Assim, o ordenamento jurídico francês,
após a introdução da Lei 87.570, ratificou o posicionamento dos
tribunais, passando no seu art. 378-2 a mencionar que todos os
direitos inerentes dos país sobre seus filhos irão continuar após
o divórcio.

Tal qual como ocorrido no país europeu de origem, a guarda compartilhada


desembocou no território brasileiro em um período de grande estímulo à entrada e
permanência das mulheres no mercado do trabalho formal, ocasionando mudanças
significativas nas relações interpessoais, inclusive, as familiares (ALECRIM, 2020).
Diante disso, recepcionou-se em nosso ordenamento jurídico a modalidade de
guarda dos filhos menores em análise, a qual passou a ser prevista nos artigos.
1.583, 1.585 e 1.634 do Código Civil Brasileiro.
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Na modalidade em análise, resguarda-se o direito de todos os filhos e genitores à


convivência familiar, independentemente da situação conjugal ou vínculo existente
entre os pais. Desta feita, na guarda compartilhada, segundo o art. 1.583, §1º do
CC/2002, tem-se “a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres
do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
dos filhos comuns”.

No ordenamento jurídico pátrio, a fixação da guarda compartilhada é regra,


havendo, inclusive, a previsão de que a fixação do modelo de guarda ocorre ainda
que não haja acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho menor, com
exceção dos casos em que um dos genitores expressamente declarar ao magistrado
que não deseja a guarda do menor, vide art. 1.584, II, §2º, abaixo colacionado:

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


(Redação dada pela Lei nº 11.698, de 2008).

§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto


à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores
aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda
compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao
magistrado que não deseja a guarda do menor. (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

Portanto, a legislação conceitua a guarda compartilhada como verdadeiro


sistema de corresponsabilidade no exercício do poder parental (COLTRO, 2018),
com ambos os genitores participando ativamente da vida dos filhos nos deveres de
cuidado e no crescimento destes últimos. Destaque-se, ainda, que segundo Alecrim
(2020), o relacionamento dos genitores após o fim da união conjugal é o principal
fator para tornar possível a aplicação da guarda compartilhada, posto que mãe e pai
assumem, em comum acordo, a função de continuarem no pleno exercício do poder
familiar conjuntamente.

Não obstante isto, sabe-se que existem contendas, inclusive, nas relações
familiares, podendo ocasionar a própria alienação parental. Com o fito de coibir a
ocorrência de tais atos, o magistrado atuante no caso concreto, observa os aspectos
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positivos e negativos da guarda disposta no Código Civil, sobrepesando aquela que


mais for benéfica ao menor no caso concreto.

Nos casos de incidência de atos de alienação parental, por seu turno, para
que a fixação da guarda compartilhada seja viável e tenha sua eficácia atingida
(assegurando, assim, o bom convívio dos genitores para juntos assegurarem o bem-
estar do filho menor) se faz necessária análise criteriosa, ultrapassando a teoria e
verificando o que de fato é benéfico à criança ou adolescente do caso concreto
(Alecrim, 2020). Assim, o juiz não deve afastar do entendimento de que a formação
moral, social e psicológica do menor é o principal foco e objetivo a ser alcançado.

Apesar de ter sido criada para assegurar o bom convívio da família que
recentemente passou por um processo de dissolução matrimonial, segundo Alecrim
(2020):

(...) a guarda compartilhada pode ter aspectos tanto positivos


quanto negativos, deste modo, alguns autores aduzem que os
malefícios que podem ser causados pela guarda
compartilhada, são concretizados pelo sentimento de culpa e
angústia que ainda podem existir, acarretando em uma
possível alienação parental, na qual um dos ex-cônjuges utiliza
o(s) filho(s) para atacar o outro, tanto emocional quanto
psicologicamente.

Da mesma feita, segundo Guimarães (2003),

Na maioria dos casos trata-se de uma disputa narcísica entre


eles, que atribuem ao judiciário o poder de decidir quem é o
competente o suficiente para incumbir-se dos cuidados da
criança. É, portanto, uma questão que envolve angústias
depressivas associadas à dependência e à culpa. A
dependência é negada inconscientemente, uma vez que se
acredita que a criança pode prescindir dos cuidados da outra
parte, quando, na verdade, está sendo usada pelos pais como
uma arma para ferir o narcisismo um do outro como troféu que
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garanta a suposta completude do vencedor como figura


parental. (GUIMARÃES, 2003)

Apesar das vantagens da guarda compartilhada, importa esclarecer que as


problemáticas enfrentadas em decorrência de atos de alienação parental e
constantes desavenças podem inviabilizar a fixação do modelo de guarda em
estudo, caso em que, segundo COLTRO (2018), deve-se dar guarda única ao
cônjuge que demonstrar maior aptidão em garantir o bom e sadio desenvolvimento
dos filhos.

De modo diverso é o entendimento de Tudela e Fernandes (2010), os quais


versam sobre a necessidade de convivência dos filhos menores com ambos os
genitores, de forma a assegurar o estreitamento de laços afetivos. De acordo com os
autores, a guarda compartilhada atuaria, portanto, como mecanismo capaz de
proteger a criança e o adolescente dos possíveis prejuízos decorrentes da fixação
da guarda unilateral, que, segundo os estudiosos, facilitam a ocorrência dos atos de
alienação parental.

Como já explicitado anteriormente, a regra de fixação de guarda de filhos


menores no ordenamento jurídico é a guarda compartilhada, aplicando a guarda
unilateral apenas quando da impossibilidade acordo entre os pais. Ainda segundo
Tudela e Fernandes (2010), a guarda compartilhada visa justamente evitar disputas,
preterir a criança de sujeitar-se a manipulações psicológicas, fazer valer o superior
interesse da criança e os seus demais direitos resguardados em lei.

Assim, inconteste que, diante de uma análise minuciosa dos casos concretos
a ser feito pelo magistrado, a utilização correta da Lei n.º 12.318/2010 e a guarda
compartilhada, em conjunto, possuem o fito de assegurar o melhor interesse da
criança, mormente o fato deste último instituto assegurar o convívio igualitário a
ambos os genitores na vida do menor. Cabe, portanto, educar a sociedade civil,
coibir os atos de alienação parental desde o seu nascedouro e visar a proteção
integral da criança, possibilitando, desta forma, o desenvolvimento saudável das
relações familiares e do próprio menor.
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CONCLUSÃO

Diante do exposto ao longo presente trabalho, verificou-se que a alienação


parental configura, sob o viés psicológico da problemática, como espécie de abuso
ou maltrato infringido ao filho menor, que, é submetido a tal violência por seu genitor
(mãe ou pai) em detrimento de seu ex-cônjuge ou companheiro. É, por meio de tal
violência que o genitor alienador causa sofrimento ao menor, fazendo-o acreditar
estar em perigo com o genitor alienado, vindo a recusá-lo sem saber sequer
justificar.
Diante do entendimento legal da alienação parental, fora explanado que, a
alienação parental não foi descrita em sua lei como uma síndrome psicológica, mas
sim atos que demonstram a tentativa de fazer com que o menor venha a preterir o
genitor alienado. No tópico inerente aos aspectos legais, viu-se, ainda, que a Lei da
Alienação Parental visa atribuir a responsabilidade ao genitor alienador de formas
diversas, conforme a gravidade do ato de alienação parental, podendo culminar na
advertência, fixação de multa ou alteração da guarda previamente fixada em favor
do genitor alienado.
Adiante, buscou-se conceituar o instituto da guarda compartilhada, demonstrar
quando a mesma fora recepcionada no ordenamento jurídico brasileiro e se é
possível a aplicabilidade do modelo de guarda com o fito de coibir a prática dos atos
de alienação parental. Na oportunidade, mediante a pesquisa bibliográfica, a
pesquisa acadêmica demonstrou a possibilidade de fixação da guarda compartilhada
mesmo nos casos de incidência de atos de alienação parental.
Neste sentido, importa destacar que a guarda compartilhada é tida, inclusive,
como regra, uma vez que possibilita a coparticipação de ambos os genitores na
formação, desenvolvimento do filho menor e tomada de decisões no que concerne
ao melhor interesse deste último. Detectou-se, assim, que a comunidade acadêmica
enxerga o instituto como meio eficaz de coibir a prática dos atos de alienação
justamente por prever este sistema de coparticipação.

REFERÊNCIAS

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