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Dois sentimentos

cotidianos intoxicam a
mente e o corpo; saiba
quais são
Veja formas de tentar evitar
emoções que podem desencadear
problemas no organismo

Ressentimento e raiva fazem mal ao cérebro — Foto:


Unsplash

Não é fácil abandonar o ressentimento,


perdoar e aceitar situações com as quais
não concordamos. Muito menos navegar
nas águas turvas dos sentimentos
negativos. No entanto, compreender a
ligação íntima entre a mente, as emoções
e o corpo é essencial para alcançar o mais
alto nível de bem-estar pessoal.

Por que canalizar e refletir sobre a


negatividade? Porque o ressentimento e a
raiva tendem a se tornar agentes
desestabilizadores que afetam
principalmente um dos bens mais
preciosos que as pessoas possuem: o
cérebro.

E reinam no dia a dia: na discussão com o


companheiro, com um familiar ou amigo;
ao presenciar, ver ou ouvir injustiças; ou
pela mera memória de situações
passadas. “Agarrar-se à raiva é como
beber veneno e esperar que a outra
pessoa morra”, é uma frase popular
atribuída a Gautama Buda.

A maioria daqueles que vivenciam e


normalizam essas emoções negativas
tendem a se apegar a elas e,
consequentemente, acabam afundando
em uma poça de ressentimento e
desconforto. Quanto mais tempo
escolhem ficar na piscina, mais amargos
ficam.

‘Pão para hoje, fome para amanhã’

A Universidade de New Hampshire, nos


Estados Unidos, explica que, inicialmente,
o ressentimento pode ajudar a pessoa a
se sentir mais confortável com a dor, pois
esse sentimento funciona como um
escudo contra a verdadeira fonte da raiva.
Para os pesquisadores, agir assim é uma
forma de evitar responsabilidades porque
faz você pensar que está no controle. No
entanto, nos bastidores o que emerge é
uma variedade complexa de emoções que
proporcionam uma falsa sensação de
segurança ao sentir-se completamente
vulnerável.

Ramiro Fernández Castaño, médico


especialista em neurologia cognitiva,
afirma que a exposição excessiva à raiva e
ao ressentimento pode modificar o
comportamento do cérebro. Ele destaca
ainda que isso ocorre principalmente se
ambos os sentimentos negativos são
repetitivos desde a infância, fase em que
o cérebro mais se desenvolve.

—Uma criança exposta a situações


estressantes desde cedo provavelmente
será uma pessoa insegura ou
hipocondríaca quando crescer e verá as
coisas de forma catastrófica em qualquer
situação — afirma o médico.

Um estudo publicado no International


Journal of Psychotherapy Practice and
Research garante que as emoções
mencionadas têm consequências
negativas a nível físico.

"Essas emoções, presas dentro de nós,


nos fazem reviver raiva e memórias
negativas. O estresse interno dessa
repressão emocional pode levar a coisas
como depressão, ansiedade, redução da
função imunológica, fadiga, hipertensão,
dor no peito, obesidade, psoríase e dor
crônica", detalha o relatório.

— As pessoas que permanecem presas a


uma mentalidade negativa estão
promovendo involuntariamente a morte
neuronal, enquanto aquelas que optam
por focar no positivo geram novos
neurônios a partir de células-tronco
cerebrais — afirma Jackie Delger,
neuropsicoeducadora e Life & Business
Coach.

“Viver num estado crónico de tensão


desativa os mecanismos de reparação do
corpo, o que aumenta a inflamação e o
hormônio do estresse, o cortisol, no
corpo”, afirma a empresa norte-americana
de serviços de saúde Piedmont. Segundo
a instituição, o perdão ativa o sistema
nervoso parassimpático, o que ajuda o
sistema imunológico a funcionar com
mais eficiência e abre espaço para
hormônios que produzem bem-estar,
como a serotonina e a oxitocina.

— O cérebro não sabe o que é real e o


que é imaginado — diz a psicóloga Angela
Buttimer. — Quando você repete
mentalmente uma experiência de seis
meses atrás, seu corpo reage como se
estivesse tendo a mesma experiência
continuamente.

Fernández Castaño explica que quando o


cortisol sobe, o sistema límbico é ativado
– um conjunto de estruturas interligadas
que medeiam emoções, aprendizagem e
memória – e em resposta a esse processo
o coração bate mais forte, mais sangue
vai para os músculos e mais oxigênio
entra nos pulmões.

— Quando isso acontece de forma crônica


todos os dias, o sistema límbico trabalha
mais e, em qualquer situação, está
prestes a reagir ou perceber o perigo —
acrescenta. Posteriormente, traz não só
problemas cardiovasculares, mas também
problemas metabólicos.

Além disso, pesquisadores do Hospital


John Hopkins destacam que as pessoas
que guardam rancor têm maior
probabilidade de sofrer de depressão
grave e transtorno de estresse pós-
traumático, bem como de outros
problemas de saúde. Mas há luz no fim do
túnel: os profissionais garantem que é
possível treinar para que isso não cause
efeitos nocivos à saúde.

Estudos mostram que o ato de perdoar


pode gerar enormes benefícios à saúde
como: reduzir o risco de sofrer um ataque
cardíaco; melhorar os níveis de colesterol
e o sono; e reduzir a dor, a pressão
arterial e os níveis de ansiedade,
depressão e estresse.

Se você quer aprender a lidar com a raiva


e evitar que ela fique encapsulada no
corpo, uma pesquisa realizada pelo
Ministério da Saúde australiano
aconselha:

Segundo Delger, graças aos avanços da


ciência há a certeza de que através de
diferentes técnicas é possível
reprogramar-se, religar o cérebro com
novas crenças e assim expandir o seu
mundo pessoal de possibilidades.

Fernández Castaño concorda e


acrescenta: “os circuitos cerebrais podem
ser modificados para melhor através de
práticas constantes de meditação ou
atenção plena, que estão cientificamente
comprovadas para desembaraçar
circuitos relacionados ao estresse”.

Em última análise, Delger explica que um


pensamento desencadeia uma emoção e
esta, por sua vez, desencadeia outro
pensamento na mesma frequência, o que
gera um nível de frequência e humor
associado.

— Através de técnicas como visualização,


meditação, liberação de emoções
aprisionadas, reprogramação do
inconsciente, entre outras, podemos ter
acesso ao centro de comando e
programação de nossas vidas.
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