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1.

INTRODUÇÃO

As capacidades coordenativas fazem parte das chamadas capacidades físicas: as


condições do organismo que geralmente estão ligadas ao desenvolvimento de uma
determinada ação ou atividade. Essas habilidades são estabelecidas pelos genes, mas
podem ser aperfeiçoadas através do treinamento.

As capacidades físicas são divididas em capacidades condicionais e capacidades


coordenativas. As capacidades físicas condicionais estão ligadas à possibilidade de fazer
um movimento no menor tempo possível (velocidade), para manter um esforço
prolongado (resistência), permitir o máximo percurso possível de uma articulação
(flexibilidade) e superar uma resistência através de tensão (força).

As capacidades coordenativas, por outro lado, estão ligadas à disposição


ordenada das ações para cumprir um objetivo. Orientação, equilíbrio, ritmo, adaptação,
acoplamento ou sincronização, reação e diferenciação fazem parte desse tipo de
capacidades físicas.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. TIPOS DE CAPACIDADES
2.1.1. CAPACIADES FÍSICAS

Capacidades Físicas são definidas como todo atributo físico treinável num
organismo humano. Em outras palavras, são todas as qualidades físicas motoras
passíveis de treinamento comumente classificadas em diversos tipos.

Muitas vezes, deficiências em algumas capacidades físicas podem levar uma


pessoa a experimentar dificuldades para participar de certas manifestações da Cultura de
Movimento. É por meio das capacidades físicas que se conseguem executar ações
motoras, desde as mais simples às mais complexas (andar, correr, saltar, nadar, etc). O
fato de ser mais veloz, mais flexível ou mais forte tem uma origem hereditária,
transmissível de pais para filhos, mas também tem a ver com a forma como vamos
desenvolvendo/treinando as referidas capacidades ao longo dos anos.

As capacidades físicas são os atributos físicos treináveis no corpo humano. São


qualidades ou condições internas de cada pessoa que podem ser trabalhadas por meio de
treinamento e preparação para desenvolver determinada condição ou aptidão física.

Existem dois tipos de capacidades físicas: capacidades condicionantes, também


conhecidas como condicionais, e capacidades coordenativas. Vamos explicar abaixo
mais detalhadamente.

2.1.2. CAPACIDADES FÍSICAS CONDICIONANTES

São as capacidades físicas básicas que dependem do metabolismo energético do


organismo.

Força Muscular

A Força Muscular é Capacidade que um músculo específico ou um grupo


muscular tem de produzir tensão para vencer a resistência. Permite deslocar objetos e
pessoas ou o próprio corpo pela contração muscular. É subdividida em três formas:

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 Força Dinâmica ou Isotónica: envolve a força dos músculos em suportar
movimentos repetidos ou o próprio peso do corpo. Também conhecida por força
máxima ou pura.
 Força Estática ou Isométrica: capacidade de produzir tensão muscular sem gerar
movimento.
 Força Explosiva ou Potência: capacidade de produzir o máximo de energia para
realizar um movimento explosivo. Exemplo: saltar à distância.

Resistência Física

 Capacidade de realizar um esforço contínuo por determinado tempo, suportando


a fadiga e mantendo a qualidade do exercício. A resistência física pode ser:
 Resistência Aeróbica: suportar por um longo período uma atividade física com
equilíbrio fisiológico – capacidade cardiovascular e de oxigenação.
 Resistência Anaeróbica: sustentar um esforço físico de alta intensidade pelo
maior tempo possível. A absorção de oxigênio é melhor que seu consumo.
 Resistência Muscular Localizada: realizar no maior tempo possível um
movimento repetido com a mesma eficiência.

Flexibilidade

 Capacidade de ampliar a extensão dos movimentos e a capacidade funcional das


articulações. Depende também elasticidade muscular.
 Flexibilidade Ativa: maior amplitude de movimento realizado pela contração
muscular voluntária.
 Flexibilidade Passiva: maior amplitude possível que seja possível alcançar com a
ação de forças externas.

Velocidade

Tem relação com a capacidade muscular do corpo e coordenações


neuromusculares. Permite realizar movimentos que constituem uma só ação, com
intensidade máxima e no menor tempo possível. A Velocidade é uma Capacidade Física
que pode ser classificada em três tipos:

 Velocidade de Deslocamento: capacidade máxima de se deslocar de um ponto a


outro;

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 Velocidade de Reação: velocidade com que o indivíduo responde a um estímulo
externo;
 Velocidade de Membros: capacidade máxima de movimentar os braços e/ou as
pernas.

2.1.3. CAPACIDADES FÍSICAS COORDENATIVAS

“Coordenação é a interação harmoniosa e económica do sistema músculo-esquelético,


do sistema nervoso e do sistema nervoso sensorial com o fim de produzir ações motoras
precisas e equilibradas, importância em várias disciplinas científicas como a
aprendizagem motora, o controlo motor e o desenvolvimento motor”, (Kiphard, 1976).
O mesmo autor refere que “a coordenação do movimento, de acordo com a idade, é a
interação harmoniosa e, na medida do possível, económica, dos músculos, nervos e
órgãos dos sentidos, com o fim de produzir ações cinéticas precisas e equilibradas e
reações rápidas e adaptadas à situação”.

Para Meinel (1976), a coordenação é a “capacidade de organizar movimentos


para atingir, um objetivo determinado”, enquanto Frey (1977), citado por Weineck
(1986), realça que a coordenação permite ao atleta dominar ações motoras com precisão
e economia, que podem ser previsíveis (estereótipos) ou imprevisíveis (adaptação) e
aprender relativamente depressa os gestos desportivos.

Na interpretação de Weineck (1986), a coordenação é “ a ação combinada do


sistema nervoso central e da musculatura esquelética, objetivando uma sequência de
movimentos”.

Hirtz (1986), define as capacidades coordenativas como uma classe das


capacidades motoras que em conjunto com as capacidades condicionais e as habilidades
motoras, permitem retirar rendimento do corpo, e que são determinadas na sua essência
através de processos de condução nervosa.

São as capacidades de controlo motor e de processos reguladores do sistema


nervoso central do corpo. Ou seja, coordenam o sistema muscular e o sistema nervoso
para resultar em determinado controle de movimento. As capacidades coordenativas são
o alicerce para o domínio de movimentos técnicos.

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 Capacidade de Equilíbrio: sustentar uma posição do corpo contra a ação da
gravidade.
 Capacidade de Coordenação Motora: atividade psicomotora onde o indivíduo
adquire a habilidade de melhorar aos poucos seus movimentos através da
repetição de execução. Com o tempo, realiza o mesmo movimento com muito
menos esforço.
 Capacidade de Agilidade: habilidade de mover o corpo no espaço de forma
eficiente.
 Capacidade de Ritmo: sequência de movimentos de forma harmônica e
equilibrada que se repetem várias vezes.
 Capacidade de Descontração: capacidade neuromuscular que reduz a tensão na
musculatura. Faz com que o indivíduo se recupere dos esforços físicos
realizados ou descontraia grupos musculares desnecessários para a execução de
algum movimento.
 Capacidade de Orientação: capacidade de calcular a mudança do corpo em uma
posição, para determinado objetivo no campo de ação. Exemplo: sacar uma bola
alta em jogo de voleibol.
 Capacidade de Reação: responder de forma rápida e objetiva, com uma ação
motora, a um movimento ou sinal.
 Capacidade de Diferenciação: capacidade de obter uma harmonia nos
movimentos que geram maior precisão e economia de energia. Exemplo: remar.
 Capacidade de Adaptação a variações: habilidade para se adaptar ao encontrar
adversidades ou uma nova situação devido a condições externas, realizando o
movimento de outra maneira.

Estas capacidades são condicionadas pela capacidade de elaboração das


informações por parte dos analisadores implicados na formação do movimento (tácteis,
cinestésicos, estático-dinâmicos ou vestibulares, visuais e acústicos. Segundo Meinel e
Schnabel (1984), Weineck (1999), podem ser assim classificados:

 Analisadores cinestésicos – funcionam através de propriocetores existentes nos


músculos, tendões, ligamentos e articulações que informam o sistema nervoso
central, através de fibras nervosas, das forças exercidas sobre estes;

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 Analisadores tácteis – funcionam através de recetores existentes na pele, que
informam sobre a forma, superfície dos objetos, etc.…;
 Analisadores vestibulares – que se situam no ouvido interno, e que informam
sobre as mudanças na direção, aceleração e velocidade dos movimentos da
cabeça;
 Analisadores visuais – que através dos seus recetores informam sobre a perceção
da distância, da relação dos próprios movimentos e os de outras pessoas.
 Analisadores acústicos – estão relacionados com os estímulos que se recebe
através dos sons.

Weineck (1999), subdivide a coordenação em geral e especial, sendo a primeira


aquela que resulta da instrução geral para o movimento em diversas modalidades
desportivas, ou seja, manifesta-se em diversos sectores da vida quotidiana. Já a
coordenação especial é aquela que se forma no contexto de uma modalidade desportiva
específica, ou seja, são movimentos específicos de uma modalidade desportiva.

O rendimento das capacidades coordenativas depende muito da capacidade


destes analisadores fornecerem informação adequada, para Fonseca (1999), se as
informações sensoriais transmitidas por estes analisadores não forem precisas ao nível
da receção (input), não serão bem integradas no cérebro e o produto final (output) em
consequência sairá inadequado.

2.1.4. HABILIDADES PARA DESENVOLVER AS CAPACIDADES


COORDENATIVAS

Segundo Barbanti (1979), Weineck (1999), devem realizar-se algumas tarefas


para que exista um aperfeiçoamento coordenativo na educação física e no desporto de
jovens, tais como:

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 Aperfeiçoar e utilizar as várias formas de base de motricidade (marchar, correr,
saltar, balançar, trepar, lançar, apanhar, etc.) e garantir o enriquecimento
sistemático de experiências motoras;
 Aperfeiçoar as capacidades coordenativas fundamentais (capacidade de
diferenciação cinestésica, capacidade de orientação espacial, capacidade de
equilíbrio, capacidade de reação, capacidade de ritmo);
 Garantir uma racional aquisição e consolidação das técnicas desportivas através
de uma ligação sistemática do aperfeiçoamento das capacidades coordenativas
com o processo de aprendizagem motora;
 Combinar de forma ótima o aperfeiçoamento das capacidades condicionais e
coordenativas.

2.1.5. IMPORTÂNCIA DAS CAPACIDADES COORDENATIVAS

O trabalho em conjunto com as capacidades condicionais melhora a realização


de movimentos coordenados ( Meinel e Schnabel, 1984).

“Uma boa disponibilidade para o movimento e um bom desenvolvimento ao nível das


capacidades coordenativas são aspectos significativos e determinantes no quadro da
formação corporal dos atletas.” (Hirtz e Holtz, 1986).

“…as capacidades coordenativas desempenham um papel primordial na estrutura do


movimento com reflexos nas múltiplas aptidões necessárias para responder às
exigências do dia-a-dia, do trabalho e do desporto”. (Hirtz, e Schielke, 1986)

De acordo com Meinel e Schnabel (1987), as capacidades coordenativas são


requisitos O desenvolvimento das capacidades coordenativas é imprescindível ao
desenvolvimento das capacidades condicionais (força, velocidade, resistência,
flexibilidade) e vice-versa, como refere Barbanti (1996),

Segundo, Fonseca (1999), o cérebro deve integrar toda a informação dos seus
analisadores, porque sem essa interação dinâmica, o cérebro não funciona de forma
adequada, fazendo com que a aprendizagem seja difícil e desmotivante. O trabalho de
forma sistemática das áreas de integração táctilo-quinestésica, visual e auditiva,
possibilita um aumento do seu repertório motor, o processamento de informação de

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forma mais complexa e especializada, permitindo uma economia de esforço, uma maior
adaptação quando há modificações do ambiente ou de situações.

2.1.6. CONCLUSÃO

As capacidades coordenativas se exploradas e trabalhadas convenientemente


permitem processar informação de forma mais complexa e especializada melhorando o

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reportório motor, permitindo uma resposta mais rápida e com um menor dispêndio
energético.

Neste contexto surge a Escola através da Educação Física como espaço


privilegiado, para um trabalho variado de experiências motoras que permitam uma
melhoria da coordenação motora e consequentemente do desenvolvimento global. É
neste âmbito, que este trabalho surge, com o objetivo de ser mais um instrumento de
auxílio no conhecimento, sobre a importância dos treinos das capacidades coordenativas
e física, por parte de toda a comunidade educativa.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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