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Driblando o Destino Um Romance - Mila Maia
Driblando o Destino Um Romance - Mila Maia
PRÓLOGO
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Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos
Alana era uma nerd e se orgulhava disso. Ela era líder do grupo de
não tinha costume de usar e deixei os meus longos cabelos soltos, pois tinha
feito ondas nele. Fiz uma maquiagem mais forte do que normalmente fazia
e desci.
Me despedi rapidamente da minha família e encontrei Karen em
frente à minha casa. Ela estava linda com um conjuntinho lilás, que
e fomos direto para a entrada. Algumas pessoas que esperavam para entrar
praguejaram contra nós, mas entramos na festa sem problemas maiores.
olhando um para o outro. Vocês são tão parecidos, não sei por que nunca
ficaram juntos.
somos incompatíveis e eu não quero falar sobre isso agora. — avisei e nós
fomos ao bar pegar mais bebidas.
Assim como Matheus, o irmão dele, Alex, ainda não tinha chegado.
no que quero que ele faça para mim. Estou pensando em falar para
passarmos um fim de semana acampando na praia, o que acha?
— Também acho! Mas chega de falar dele, não quero ficar triste
caso ele não venha! — ela falou, soltando seu copo vazio no bar e me
puxou para a pista de dança — Hoje eu estou aqui para celebrar meu
ela. Estávamos muito felizes e, então, um feixe de luz branca fez nossos
olhos doerem.
carro vindo em nossa direção. Tentei sair, mas não consegui me mover,
Então eu o vi. Saindo do banco do carona estava o cara que esperei a noite
toda para ver. Matheus gritava e colocava as mãos sobre a cabeça, seu rosto
estavam bambas.
O que era para ser um dia inesquecível, se tornou o pior dia das
nossas vidas.
naquele momento.
Não queria voltar àquele colégio, mas minha mãe havia insistido e
dia.
Respirei fundo e cocei meus olhos. Virando na cama, olhei para foto
que ficava na cabeceira. Nela, Karen e eu, ambas com doze anos, sorríamos
Não sabia o que faria sem ela que era a minha irmã de alma, minha
melhor amiga. Esse era para ser o nosso ano, o último ano nessa cidade
então, com certo esforço, fui até o banheiro para fazer minha higiene
matinal. Estava evitando espelhos, mas minha mãe tinha recolocado o do
Entrei na sala vestindo uma calça jeans que agora ficava folgada e
— Não é bem assim, Alana. Você sabe que só quero seu bem, minha
filha. Ver a minha garotinha nesse estado me dói tanto... — ela disse e eu vi
respondi, tentando ser compreensiva. Minha mãe fazia muito por mim e eu
mal retribuía.
via desde o enterro de Alex. Ele também tinha emagrecido e seu rosto ainda
entrei no colégio sem parar, falar ou cumprimentar ninguém. Sabia onde era
minha sala e fui até ela, levei minhas coisas até as últimas cadeiras da sala,
outra coisa.
tinha um palpite que, assim como eu, ele não conseguiria focar nas aulas
daquele dia.
ALANA
andar bem rápido para não falar com ninguém. Quando entrei na sala, a
diretora Núbia estava conversando com o Matheus e, pela cara dos dois, a
conversa era bem séria.
Ao me ver, ela me chamou e me mandou sentar na cadeira ao lado
dele, foi bom que você apareceu porque nós precisamos ter a mesma
questionei sobre as aulas. Não terei tempo para o futebol com as aulas da
tarde. — Matheus se justificou, mas era fácil perceber que ele só estava
colégio. Tive muito tempo extra para praticar minha escrita. — expliquei e
limpá-las.
um momento, pensei que ele iria me dizer algo, mas ele apenas suspirou e
seguiu seu caminho sem falar nada. Ainda bem, porque tudo o que eu não
— Alana voltou tão estranha, né? Quer dizer, ela já era estranha, o
que a deixava um pouco normal era a Karen, uma pena que ela se foi. —
a Paloma.
E mais uma vez naquele dia, eu perdi a paciência. Saí do box do
para ficar com ele. — levantei a voz, partindo para cima dela e coloquei o
dedo em sua cara, ela se retraiu, parecendo amedrontada pela minha reação
— Tenha respeito pelos mortos, sua ridícula! — peguei a minha mochila e
tanta atenção quanto naquele dia, afinal, desde o acidente eu evitava sair de
casa. Não sabia do Matheus, mas imaginava que ele tinha feito o mesmo.
uma pessoa muito importante naquela noite e o tempo não reparava isso.
E eu sabia que ele era o único que me entendia, mas mal aguentava
olhar para ele. As lembranças que ele me trazia eram muito dolorosas.
até mim para que eu o acariciasse. Ele era muito fofinho e manhoso. Deitei
com ele no meu colo e, enquanto ele lambia meu rosto, minha mãe me viu.
— Boa tarde, mocinha. Como foi seu primeiro dia?
— Exaustivo. Acho que nunca fui tão encarada em toda minha vida.
contou das aulas extras e vou voltar para o clube do jornal, então só
com os professores, já que essas aulas vão ser só para você e para o
Matheus.
— Filha, eu sei que você não está feliz, mas é para o seu futuro. E
você ainda vai ter tempo para fazer as coisas que você gosta, como o jornal.
Eu sei o quanto você gosta de escrever e de estar com a equipe, você é tão
boa escritora.
apesar do que a mãe da Karen diz, a Lúcia e o Matheus não são pessoas
menção de comida, mas sabia que precisava comer para não preocupar a
mamãe.
celular apitou.
Levou uns três dias até as aulas extras começarem. Tanto eu, quanto
tentava me acostumar.
Tirei meus fones e encarei com mais atenção, agora sem nenhum
pudor. Em letras finas e garrafais, havia uma frase em inglês e uma data.
Era letra de uma música que se tornou uma das minhas favoritas depois
dirigindo a ele. Então, seguiu meu olhar para a tatuagem e a acariciou com
tristeza.
— Queria fazer uma, mas não consegui... Foi difícil sair de casa
— Então é por isso que o seu cabelo está tão grande? — ele
muito amiga dela e eu sempre agradeço quando ela vai lá, isso nos ajudou
bastante.
— Descobri há alguns dias que ela mantinha contato com vocês e...
matemática. Matheus assentiu com a cabeça para mim e foi para o lugar
dele.
não tinha escolha a não ser prestar atenção. Matemática não era meu forte,
mas o professor era bastante paciente. Quando ele nos dispensou mais cedo,
meu caminho para a sala do jornal, mas quando não ouvi a porta se abrir,
preparada. — confessei.
— Parece que o passado quer rir da nossa cara, toda vez que olho
para o campo eu vejo o meu irmão correndo comigo. — sua voz soou
melancólica.
— Toda vez que olho para o campo vejo seu irmão e a Karen juntos
— Também não consigo, é tão injusto. Eles tinham a vida toda pela
frente e eu não sei se algum dia vou conseguir superar esse vazio no meu
cicatrizes.
ALANA
Assim que virei a esquina, vi que minha mãe também estava chegando,
repleta de sacolas.
Corri ao seu encontro para pegar algumas e sorri para vovó, que
cuidava de suas plantas no jardim. Deixei tudo na cozinha e fui para o meu
tranquila.
meses, era a única coisa que mantinha um pouco da minha sanidade. Olhei
Ainda não sabia o que faria com todos eles. Não queria me desfazer
meu bairro, sobre o colégio e sobre alguns poucos casos polêmicos que
para levar até o jornal no dia seguinte. Desci para almoçar e, depois de
comer, fui ajudar minha avó com os bordados que ela vendia.
Depois da separação dos meus pais, nós fomos morar com a vovó.
Minha mãe dizia que era por minha causa, que ela temia que eu ficasse
muito solitária, mas no fundo eu sabia que era mais por causa dela própria.
precisava de um carinho de mãe. Por ser filha única, as duas sempre foram
muito ligadas, então era natural que minha mãe quisesse estar em casa.
de algum dos doces da minha mãe que era a melhor confeiteira da cidade,
de um poderoso do marketing, mas mudou sua vida toda para ficar comigo.
Ela dizia que éramos uma família de mulheres fortes, mas precisávamos do
apoio uma da outra, e por isso ela não hesitou em largar tudo para me ajudar
fazendo.
— Está ficando bonito, você só precisa melhorar nesse ponto aqui.
Ainda não está perfeito. — minha avó disse, pegando o bordado da minha
bagunçada.
levemente entediado, como sempre. Essa parecia ser sua expressão padrão
fiquei sem reação, mas então notei que a mãe do Matheus também estava
— Oi, Alana, a sua mãe está aí? — ela perguntou, com um sorriso
amável.
— Oi, Matheus!
Minha mãe, provavelmente tendo ouvido a comoção, entrou na sala,
— Lúcia, que bom que você veio! Estava mesmo querendo sua
opinião!
perto e pensei em fazer uma visitinha. Acho que você estava me chamando
Venha até a cozinha que preciso mostrar o bolo que estou fazendo para o
muito bem.
Peguei o suco e voltei para sala para entregá-lo à vovó. Ela estava
fazendo um monólogo sobre suas flores e como ela fazia para vê-las
explicação. Achei a cena um pouco cômica, porque não sabia se ele estava
bagunça que era a minha aparência. Quando desci com outra roupa e o
cabelo penteado, os dois tinham ido para a cozinha, onde mamãe cortava
— Que centro de mesa mais lindo, Alana! Dona Teresa disse que foi
— Ah, é mesmo? Dessa eu não sabia! Achei que o talento dele era
apavorado.
— Você nunca vai chegar perto deles. — ele sussurrou para mim e
Encarar a vida sem eles era algo que estávamos tentando fazer desde
pessoa muito simpática, mas ainda conseguia ver em seu olhar a mesma
tristeza que via nos olhos do Matheus e nos meus próprios, quando me
encarava no espelho.
Eu já tinha ido deitar há algumas horas, mas meu sono não vinha.
Respirei fundo e me remexi na cama. Alguns dias eram mais fáceis que
alimentar corretamente.
Meu estômago reclamou um pouco, então decidi não forçar. Fui até
prometia ser longa. Decidi por uma comédia que eu conhecia muito bem e
Pela primeira vez, não era um incentivo, mas um convite para uma
conversa. Estava tão focada no jornal e nas aulas extras que tinha esquecido
de respondê-lo. Mas dessa vez eu não precisava pensar muito, então salvei
descendo as escadas.
— Oh, querida, eu fiquei tão feliz de te ouvir rindo mais cedo, achei
que essa noite fosse ser mais fácil. Eu vou fazer um chá para te acalmar um
pouco.
para cozinha.
“Admirador secreto”.
Ao ler, não pude evitar que os cantos dos meus lábios se curvassem
para cima, era muito bom ter alguém se preocupando comigo de um jeito
normal.
Li a mensagem e guardei o celular no bolso. Tomei o chá todo e
depois voltei para o meu quarto, minha mãe deitou comigo em minha cama
Me sentia uma criança sempre que ela fazia isso. Pouco depois do
meu pai nos deixar, ela deitou comigo na cama e me contou que a partir
daquele dia seriamos nos duas contra o mundo, para sempre.
e tinha outros filhos. Gostava de estar com os meus irmãos, mas não
deixava minha mãe sozinha por muito tempo. Ela virou o meu alicerce
prateleiras algo que eu tinha guardado ali há um bom tempo. Sorri quando
finalmente encontrei um frasquinho de tinta azul para cabelo.
Queria que a Karen estivesse comigo de alguma maneira. Azul era a
cor favorita dela e nós tínhamos comprado essa tinta juntas. Pretendíamos
embalagem.
— Ok, vamos fazer isso logo. Não sei se vai dar tempo de descolorir
e pintar... Pelo que entendi aqui, isso leva tempo. Mas vamos pelo menos
descolorir. — ela explicou, me fazendo subir a escada até o meu quarto.
de ter pedido para ela fazer isso. Ela não sabia nem cortar o meu cabelo,
imagina pintar.
depois.
— É melhor mesmo, vou chamar a Lúcia para vir aqui, ela sabe
fazer essas coisas. Quer saber? Acho melhor você ir ao salão dela. — ela
disse, pegando o celular.
cabelos. Eles estavam bem longos e sua cor mesclava entre o castanho
escuro e o louro mel nas pontas.
— Trabalho nenhum, vou ligar para ela e você vai com o Matheus,
ok?
bem.
e passou a empurrá-la.
— É, não dormi muito bem. Mas ei, minha mãe disse para te levar lá
em casa hoje depois da aula. — comentei.
— Achei que iríamos para o salão. — ela disse, levemente confusa.
— O salão fica na minha casa. Pode ficar tranquila, minha mãe vai
nisso. Era difícil para mim, mas eu sabia que precisava recuperar minha
paixão. O Alex, que era o meu maior fã, não gostaria de me ver fora do
campo.
vezes, mas nada muito significativo. Eu não gostava mais dela desse jeito.
uma cara de nojo e foi até o fundo da sala. Estranhei aquela atitude, mas
não tive tempo de fazer nada, pois a professora chegou e finalmente Paloma
atenção nas aulas porque a Alana estava de cara fechada e não olhou em
Será que ela estava assim por ter me visto com a Paloma?
atividades complementares.
sem a Karen.
primeira vez depois que meu irmão se foi. Mesmo depois de tanto tempo
— Também acho. O Ronaldo até que joga bem, mas o Lucas vacilou
duas vezes e por pouco não levamos um gol. Isso não pode acontecer em
que ele é só do primeiro ano, mas a gente podia tirar ele da reserva e dar
uma chance a ele no time principal. Assim a gente cobre esse buraco na
— Pô, cara, mas aí a gente coloca o Lucas no banco? Ele não vai
vive falando que a gente não pode ser individualista no esporte. — Albert
dele.
— Verdade. Vocês têm razão. Vou falar com o Lucas, ele leva bem a
sério minhas opiniões. E se for para o bem do time, ele vai concordar.
e fui até ela. Os outros nerds pareciam não acreditar que eu estava ali, me
relação a prazos.
— Foi bom, mas diferente. Foi a primeira vez que eu tive coragem
de entrar em campo esse ano. — ele suspirou — Mas eu preciso seguir com
não é?
favoritos.
admirador secreto.
Coloquei meu celular em cima da mesa e fui até a outra cadeira para
sorrindo.
— Bem, eu não sei o seu nome ainda. Minha mãe não o conhece,
pelo menos eu acho que não, afinal, nem eu mesma o conheço. Mas sim, ele
é lá do colégio. — revelei.
mensagens com ele não me faz nenhum mal... — falei, olhando para ela
através do espelho.
— Está certo, então. Só não marque nenhum encontro com ele, ok?
concordei.
— Que bom, fico muito feliz. — ela disse, bagunçando seus cabelos
como se ele fosse uma criança — Seu pai ligou mais cedo, disse que vai
ligar depois para falar com você — ela contou e eu vi a expressão leve
sumir do rosto do Matheus.
— Não interessa, mãe. Se ele ligar de novo, diz que eu morri igual o
Alex, ele não se importa mesmo. — ele falou, mas pareceu se arrepender
logo depois, quando as lágrimas começaram a escorrer do rosto de Dona
Olhei para a sala e vi que Matheus não estava mais lá, então tirei os
fones e a Lúcia disse com tristeza:
dele só piorou depois do acidente. Às vezes ele tem alguns acessos de raiva
e é muito difícil para mim...
espero que o tempo cure nossas feridas. — ela falou, enxaguando os meus
cabelos.
lindo, Alana!
Matheus não apareceu mais por lá e não me viu com parte do cabelo
azul.
ser sua confeitaria e que o aluguel não era tão abusivo, e pensamos mais
uma vez em mil opções de decoração, em tudo que faríamos naquele lugar.
Era difícil não lembrar da Karen, que tinha sonhado isso junto com a
gente. Eu sentia muita falta dela, o tempo ainda não tinha curado as minhas
feridas, mas eu esperava que isso acontecesse logo.
conselho amigo.
não sentia. Tomei banho e desci para a cozinha, onde minha avó me
sentar.
— Saiu cedo para encontrar uma cliente, acho que em breve teremos
muita gente nessa casa. — ela respondeu, colocando uma fatia enorme de
bolo em meu prato. Eu sabia que não conseguiria comê-lo inteiro, mas não
queria decepcionar a minha avó, que se entristecia muito com os problemas
que eu estava tendo para comer, então não comentei sobre o tamanho
avantajado do bolo.
“Quer um conselho?
vontade para criar um e-mail fake, caso se sinta mais confortável, então
não se envergonhe e desabafe comigo! Prometo fazer o meu melhor para
ajudar!
Alana Soares”
tão feliz que nem percebi as pessoas ao meu redor, foi só quando escutei
sabia que não adiantaria confrontá-las, então ignorei e segui para sala.
bem cedo. Se ele não viesse, eu teria que assistir às aulas da tarde sozinha.
Sentindo-me um pouco solitária, peguei meu celular para buscar
manhãs antes das aulas começarem, mas naquele dia a minha caixa de
mensagens estava vazia.
vi o Matheus.
não se importasse nem um pouco com as aulas, com o sol forte ou com o
calor intenso.
Luana estava tão magra. Era tão estranho vê-la assim, porque eu
achava que ela ficava muito mais bonita com todas aquelas curvas, mas
talvez ela não estivesse tão feliz com o outro corpo e quisesse mudar. Não
— Oi, Luana!
— Tudo bem também. Escuta, posso correr com você? Estou sem
dupla.
Corremos juntas por um tempo, sem dizer nada uma à outra, até eu
quebrar o silêncio.
Estranhei, porque ela era bastante atlética, mas como estava calor, presumi
— Ei, esqueceu que tem aula hoje? — questionei, mas ele nem se
— Não esqueci, só não quis aparecer por lá. — ele respondeu, mal-
humorado.
para você estar com todo esse mau humor? — tentei entender o que estava
acontecendo.
esperando para entrar no jogo. Tirei meus fones de ouvido e coloquei uma
música para tocar, esperando que isso fizesse minha raiva passar.
Quando a aula acabou, fui até o vestiário, mas antes de entrar, senti
Era o Matheus.
Ainda sentia uma pontada de raiva dele, mas quando olhei para o
— Quero, mas não aqui. — ele segurou minha mão e me levou até o
estacionamento onde estava a sua moto.
Não sabia aonde iríamos, mas não sentia nem um pingo de
arrependimento por deixar o colégio no meio da aula.
ALANA
— Opa, opa! Não vou andar nisso não. — eu queria muito ir com
ele, mas morria de medo de andar de moto.
mais veemência.
— Que saco, garoto! Não gosto de motos. Se você quer sair, vamos
andando ou posso pedir um motorista por aplicativo. — respondi
grosseiramente.
sua cintura. Ele parecendo sentir meu nervosismo, então acariciou uma das
minhas mãos e isso me acalmou um pouco.
Como não estávamos indo tão rápido, apreciei o vento contra o meu
rosto e tentei descobrir para onde íamos. Quando passamos pela ponte que
para sentarmos.
O mar estava revolto e o vento estava frio, apesar do sol forte. Por
Karen insistiu para que eu fizesse isso durante todos esses anos, mas nunca
consegui.
Estudávamos no mesmo colégio desde que éramos crianças e eu
sempre tive algo por ele, mas nunca senti que fosse correspondida.
Esqueci essa paixonite depois de alguns anos, porém ela voltou com
ter a missão de unir seus irmãos para que pudéssemos sair em casais.
Nem eu nem o Math dávamos muita corda para os planos dos dois,
apesar do meu coração acelerar sempre que eles nos deixavam sozinhos.
Karen tinha certeza que assim que ficássemos sozinhos ele se declararia
para mim e seríamos o casal mais feliz do mundo.
vez que tive toda atenção do colégio foi quando não aceitei suborno do ex-
texto meu foi publicado no jornal de renome e isso foi motivo de muito
— Math, quer me dizer o que aconteceu entre você e o seu pai? Sei
que vocês não se gostam, mas agressão física é demais... Foi algo sério?
tem. Ele poderia ter ficado comigo e com a minha mãe quando o Alex
morreu, mas não, ele não teve coragem e nos abandonou. — ele respirou
fundo, limpando algumas lágrimas do seu rosto — Agora ele acha que pode
com toda essa história, estiquei minha mão até a dele, tentando passar
algum conforto. Ele entrelaçou nossos dedos, ainda sem olhar para mim.
disse coisas horríveis para a minha mãe. Ele disse que ela era culpada pela
morte do Alex, que foi ela quem deu o carro para ele. Ela chorou muito,
porque também se culpa por isso. Mas não foi culpa dela, e eu estava
começando a convencê-la disso, então ele veio e destruiu tudo. Foi horrível
vê-la daquele jeito de novo, então comecei a discutir com ele, trocamos
vários xingamentos até ele dar o primeiro soco e eu revidar. Brigamos por
acontecido... Não foi culpa de ninguém, foi uma fatalidade. Seu pai também
está de luto, ele só está descontando nas pessoas erradas. E algum dia ele
Ele não disse nada, apenas acariciou minha mão com o polegar e
daqui alguns metros. Deve estar abrindo agora, podemos ir para lá e fingir
que a nossa vida não é uma total bagunça, o que acha? — ele sugeriu, se
artesanatos.
largava a minha mão. Eu não sabia como devia me sentir em relação a isso,
— Foi bom. Temos algumas ideias novas para o time. Estava com
futebol, e não nos separamos mais. É bom estar de volta ao time com eles...
jornalista.
— Pode ter certeza que é! Espero que você leia e me conte, quero
saber sua opinião. Acho que também vou ver o filme e aí nós podemos
comparar os dois!
ele sugeriu e eu sorri, não sabia se essa conversa um dia aconteceria, mas eu
esperava que sim.
— Mas ei, será que esse brinquedo vai demorar muito aqui em
cima? — perguntei, olhando para baixo, o que foi uma péssima ideia.
— Relaxa que não vamos cair. Você está segura aqui comigo. — ele
Subi na moto e Matheus pilotou até minha casa, indo bem rápido e
me fazendo abraçá-lo por todo o caminho.
— A gente? Então quer dizer que você também estava com ela,
Matheus? São dois irresponsáveis agora? Você não pensa na sua mãe não,
Matheus.
— Fica calma, Susana. Eles estão bem e é isso que importa, não é?
Matheus, que até então tinha ficado estático, em silêncio, foi até a
Voltei minha atenção para minha mãe, que agora levava o delegado
até a porta, conversando baixinho com ele. Estranhei aquela atitude, mas
olhou diretamente para mim — Tenta não dar tanto trabalho à sua mãe.
— Vou tentar, mas o problema é que ela não é muito paciente. Você
viu que ela te chamou sendo que não tinha sumido nem por vinte e quatro
filho morando longe, eu ligo constantemente para saber onde ele está. —
ele contou e eu sorri, lembrando do Joaquim. Éramos muito próximos até
a mãe dele e agora me encarava como se pudesse ver além do meu exterior.
nos encarando até minha mãe voltar para sala, atraindo minha atenção para
ela.
feliz. Talvez o senhor Correia fizesse mais bem a ela do que eu imaginava.
nos preparativos para o casamento. — ela disse tirando o Dom do meu colo
e foi para o lado da Lúcia.
um tom de voz autoritário que eu não ouvia há anos. Pelo canto do olho, vi
reclamar que no tempo de sua avó os castigos eram bem piores. — ela
ainda mais.
Revirei os olhos e fui até meu quarto. Lá, liguei minha caixa de som
coração. Ele estava sendo gentil comigo até perceber que a Karen estava
e observei-a de perto.
Qualquer um que olhasse para ela diria que éramos um casal, porque
Queria entender o que ele queria com aquela foto, porque era tão
estranho ele querer que eu visse aquilo sendo que nunca nem demonstrou
Quando cheguei na sala, notei que Matheus e sua mãe já tinham ido
para ser melhor que isso! — ela esbravejou, batendo a colher na beira da
Eu prometo que nunca mais vou te deixar preocupada assim, mas por favor,
você já me deixou de castigo e isso é o suficiente. Não brigue comigo
cuidado.
— Ok. Eu conheço você e sei que foi apenas um descuido. Mas que
— Eu prometo.
— Certo. Então está bem. E como foi o passeio com o Matheus? Ele
— Contou sim. Foi por isso que fomos para o parque, ele precisava
quando ela me deu um sorriso por cima do ombro que eu me senti confiante
em questioná-la:
delegado? — assim que terminei de falar, ela se virou para me encarar com
— Amigos, hum, sei... você sabe que pode me contar a verdade né,
coisa você será a primeira a saber, mas dessa vez não tem nada acontecendo
mesmo. — ela falou sem me encarar e eu senti meu sorriso ficando maior.
com uma quedinha não escondiam nada. E olha que a adolescente ali era
eu!
turbulento, desliguei a luz, peguei o meu notebook, levei-o até a cama e abri
chamada Yara.
“Querida Alana.
pressionado muito para transar com ele. E eu ainda não me sinto pronta!
Ele tem ficado distante e acho que vai terminar comigo por isso... Devo me
entregar a ele apenas porque ele quer? Não quero dividir isso com minhas
amigas porque eu sei que elas iriam acabar me julgando e tudo o que não
Me ajuda?”
“Querida, Y.
essa pressão para você fazer algo que você não quer. Nunca devemos fazer
coisa alguma por pressão dos outros, todos temos nossas vontades e
preparada, não tem o que discutir aqui, o que nos leva ao segundo
respeito que esse rapaz está tendo por você nesse momento. O corpo é seu,
a ele. Não abra mão de aproveitar um momento tão importante como esse
ele estar se afastando de você porque você não quer transar com ele. Será
que ele não está com você por interesse? Se você acha que ele vai terminar
por você dizer não, querida, eu sinto dizer que ele não te ama e que esse
relacionamento não é nem um pouco saudável. Eu tenho certeza que você é
uma pessoa incrível que merece alguém que te ame e te respeite, alguém
com quem você vai ter momentos maravilhosos e, o mais importante de
Alana Soares.”
antes da publicação.
um sinal de vida.
Alegrei-me ao ver uma mensagem dele, mandada há apenas alguns
minutos.
A professora de inglês estava dando sua aula e ela era gente boa,
mas odiava atrasos, então optei por não interromper sua aula. Fui direto
todo para a festa, que seria no dia seguinte, na casa dela. Revirei os olhos e
ignorei, eu nunca apareceria na casa dela depois das coisas que ela e a
Paloma disseram sobre a Karen.
Voltei minha atenção para minha mesa, organizei alguns textos para
serem postados ao longo da semana e, quando o sinal bateu, fui para sala no
em cima do Matheus.
De novo!
Eu queria conversar com ele, queria saber por que ele tinha deixado
— Vai ser o jeito, apesar de que o café da cantina tem gosto de tinta
velha. — ela disse com uma careta, fazendo-me rir — Mas ei, já que você
está aqui, me diz uma coisa, está acontecendo alguma coisa entre você e o
— Ele não para de olhar na nossa direção e, como sei que ele não
está olhando para mim, achei que vocês estavam tendo alguma coisa.
atenção.
Do meu lado, Luana estava me olhando com uma expressão
divertida. Senti meu rosto aquecer, desviei o olhar dela e comecei a retirar o
resto dos meus materiais da mochila. Foi então que esbarram na minha
mesa, derrubando boa parte das coisas que estavam nela.
— Qual foi, garota! Está cega agora? Não enxerga nem minha mesa!
sussurrou:
— Não estou cega, pelo contrário estou vendo tudo e não estou
gostando. Acho bom você parar o que está fazendo, o Matheus é meu! E
nem adianta fazer essa cara de sonsa porque você sabe muito bem do que eu
estou falando. — com um grande e falso sorriso, ela voltou para a carteira
dela.
Eu devia ter ficado irritada, mas tudo o que eu consegui sentir foi
aula.
Mirela e ela estava adorando toda aquela atenção. Passei o período todo na
um pouco.
melhor que nunca, minha atuação no jornal com a coluna nova estava me
tinha feito uma nova amiga e ainda tinha um admirador secreto para alegrar
todo o meu sanduíche e não me senti enjoada. Aquilo era uma vitória, então
dividi isso com Luna, que me deu um abraço para comemorar. Eu ofereci
um pedaço para ela, mas ela disse que não queria, que se meu apetite tinha
nos interceptou.
Ele apenas riu e me levou até o pátio do colégio, não muito longe de
de leve.
— Não percebeu que ele queria falar com ela sozinha? Achei que
quando elas já estão sendo esfregadas na sua cara. — ele falou saindo de
suspirei — Mas me diz, como conseguiu aquela foto que você colocou no
meu quarto?
MATHEUS
— Meu irmão me deu aquela foto, ele pegou em uma das visitas à
casa da Karen e me deu. Ele achou que seria engraçado me provocar com
— Muito. Olha só, nunca mais entra no meu quarto, seu babaca! —
ela gritou para mim, deu-me o dedo do meio e me deu as costas, marchando
Alana. Eu gostava dela, estar com ela era bom e conversar com ela por
que estava encarando o vazio que Alana tinha deixado para trás.
quarto horário. Eu até que gostava de geografia. Não era a minha matéria
favorita nem nada, mas me dava bem com a teoria.
Alana, ainda que ela estivesse brava comigo. E foi aí que o professor cortou
Vi a Alana ser sorteada para fazer dupla com o Tadeu, um dos caras
da equipe de natação. Eu não ia com a cara dele porque ele era um babaca
metido a besta.
Quando ela arrastou a carteira para junto da dele, toda sorrisos, e
chamado, percebi que as coisas podiam ser piores. Minha dupla seria a
Paloma.
queria muito saber o que tinha de tão engraçado no tema deles, ou se aquele
de Alana.
novamente.
— Foi mal, Loma, mas estou sem cabeça para fazer esse trabalho
agora, não consigo me concentrar com todo esse barulho. Vai lá em casa
mais tarde que a gente escreve lá, está bem? — perguntei e ela suspirou
pegando o celular.
Quando o sinal bateu, peguei minhas coisas e saí sem olhar para
ou basquete, mas dessa vez ele fez gestos para que elas se juntassem a nós
no centro da quadra.
mesmo tempo, que teríamos uma aula de vôlei. — Não adianta reclamar
outro.
pelo bloqueio e chegou na defesa, posição ocupada por Alana. Ela bateu
ângulo estava errado e ela não tinha força alguma, então a bola foi direto
equipe.
Alana não sabia jogar vôlei! Notei isso com um quê de divertimento
em dizer alguma coisa, o babaca do Tadeu, que estava no time dela, saiu da
frente da rede para demonstrar como ela devia receber uma bola, tocando
no braço dela e dando risadinhas em seu ouvido. Irritado para caralho, bati a
bola com força no chão, pronto para sacar mais uma vez.
o suficiente para montar uma estratégia sem dizer uma palavra, e agora nós
tínhamos um alvo.
Dessa vez, errei meu saque propositalmente para que ele batesse
nosso lado da quadra, tocando o chão antes que alguém pudesse se mover.
Foi um ponto entregue, mas a exclamação de dor que escapou dos lábios
eles. Eu estava me divertindo bastante até ver a Alana de papo com ele de
cabeça só por vocês serem do time, não! — ele avisou, saindo da quadra e
sentou na arquibancada.
— Qual o seu problema, garoto? Por que fez isso com o Tadeu?
— Meu problema é sua proximidade com ele. Se afasta dele, ouviu?
com quem eu quiser! — ela gritou indo até a arquibancada ficar com o
babaca.
peguei-a pela mão, levando-a até minha moto para irmos para minha casa.
Matheus estava muito estranho, agindo daquele jeito com Tadeu sem
motivo algum.
gostei muito do Matheus ter levado a Paloma para a casa dele, não queria
nem imaginar o que eles estavam fazendo em seu quarto, mas Tadeu fez
uma das minhas músicas favoritas do momento, pedalei até a minha casa.
— Oi, minha filha. Por que chegou agora? Muito trabalho no jornal?
— Oi, Matheus.
menos eu espero ou minha mãe vai me matar! — ele falou e minha mãe
sorriu.
você não derruba nada. Pode ser, filha? — minha mãe me perguntou com a
estranha perto dele, suas atitudes em relação a mim eram tão confusas que
proteger. Tadeu é um babaca que quer fazer você ser mais uma da lista dele.
sei me cuidar, segundo que você está falando do Tadeu mesmo? Porque ele
não me pareceu ser assim, pelo contrário, foi muito gentil e educado. —
disse com um misto de irritação e surpresa.
— Você que sabe, só não quero ter que dizer o famoso “eu avisei”
quando ele te machucar. — ele falou assim que estacionei e saiu do carro
sem se despedir.
pensava que era para me dizer essas coisas? Uma menina bobinha que não
direito de revidar!
Voltei para casa ainda mais chateada com ele, porém enquanto me
roupa, decidi que deixaria o tempo dizer quem estava certo na história.
— Boa noite, minha neta. Senta aqui ao meu lado. — Vovó apontou
onde eu deveria me sentar e eu obedeci. Não era meu lugar de sempre, mas
aparentemente, ela queria que a minha mãe sentasse ao lado do delegado.
simpático.
— Estão indo bem. E o Joaquim, como está? — perguntei a ele
comentou casualmente.
— O quê? Por quê? Eu achei que ele amava Florianópolis! Não que
— Ah. O Joaquim... Bem, não tem outra palavra para isso. Ele
quando eles resolveram agredir o meu garoto. O colégio não fez nada, a
polícia muito menos, então eu conversei com a mãe dele e achamos melhor
ele vir morar comigo. — ele respondeu se servindo e então virou-se para
— Que babacas! Coitado do Joaquim, mas que bom que ele está
quem é um pouco diferente, mas nós o amamos como ele é. E ele vai gostar
coisas novamente e comia sem sentir enjoo, minha mãe estava muito mais
Vovó estava muito feliz de tê-lo como companhia, fazendo várias perguntas
pavê na tigela que estava com uma cara muito boa. Servi a todos e, após
animada.
opinião...
olhos, falei:
que eu vou me deitar logo depois. — ela disse, se levantando. — Boa noite,
de jantar e disse:
voltar.
pela milésima vez! Ela estava em um looping eterno desde que a ensinei a
Fui até meu quarto, mas parei no meio do caminho. Ouvi um soluço
abri, vi que ela estava sentada em sua cama, seu rosto estava um pouco
vermelho. Ela estava chorando. Corri até ela e sentei-me ao seu lado,
— Mãe, o que foi que aconteceu? Por que está chorando? O senhor
— Não aconteceu nada, meu amor. É só que nunca pensei que fosse
encontrar alguém depois do seu pai. E aí agora, com isso tudo que está
acontecendo entre o Brian e eu... não sei, eu fico pensando se vale a pena
novamente. Você era muito pequena, mas sofri muito com o seu pai.
— Mãe, eu não tenho muita bagagem no assunto, mas não baseie
mas isso não significa que o Brian fará o mesmo, até porque ele parece
gostar de você de verdade. Tenta dar uma chance a ele, você estava tão feliz
durante o jantar, quero te ver assim mais vezes. — disse, beijando o rosto
comigo.
toda hora pegava meu celular para ver se tinha alguma mensagem. Estava
tão dispersa que minha mãe percebeu.
acabou, fui até meu quarto, tomei um banho e vesti o meu pijama. Enquanto
eu escovava os dentes, meu celular vibrou.
Era ele.
Reli duas vezes, estava completamente incrédula.
casa. Minha mãe ia sair com algumas amigas e eu ficaria sozinho. Como já
Levantei-me para falar com ela, ignorando o meu celular por enquanto.
— Oi, filho. Foi bom e divertido. Fazia tempo que eu não fazia algo
— Ah, que bom que se divertiu. Seu pai apareceu por aqui?
— Ele me ligou dizendo que passaria por aqui, achei que fosse se
desculpar pelo que aconteceu na última vez.
— Ah, ele não apareceu e foi até bom, ainda não o perdoei. —
— Sei que seu pai errou, mas gostaria que vocês tivessem uma boa
relação.
coisas que tinha comprado. Então, ela levantou, olhou no fundo dos meus
olhos e disse:
dele?
respeitoso e estávamos indo com calma porque eu temia a sua reação! Mas
percebi que não posso me negar a felicidade por causa de você, meu filho.
— Eu sei que não pode, mãe. E nem deve! A senhora nunca mais se
relacionou com ninguém desde o acidente do Alex. Sei que, assim como eu,
treinador?
basicamente você nos uniu, filho. Antes falávamos só sobre você, mas
me tratou com muito carinho. — ela sentou ao meu lado, meio nervosa.
falei a ela — Amanhã vou para uma festa, então se quiser jantar com ele
para sala.
Peguei meu celular e notei uma mensagem da Alana, percebi que ela
tinha mandado outra ontem e eu não tinha visto. Estranho. Não lembrava de
relaxar meus músculos tensos, estava assim desde que a vi com o babaca.
Me questionei mais uma vez se ela não enxergava que ele não prestava.
um corte, e fui até meu quarto. Vesti um short folgado e deitei em minha
A aula daquela sexta foi bem entediante, quase ninguém foi para o
colégio por causa da festa, nem o Matheus apareceu. Apesar do Tadeu e da
o que ele queria. Mas o sentimento que ele causava em mim era surreal, e
Letícia já estava na sala e quando bateu o sinal, ela foi fechar a porta e
manhã toda treinando. Não tive tempo nem de almoçar direito, saí do banho
e corri para cá. O senhor Andrade mandou um papel para justificar meu
— Que isso não se repita, Matheus! Ser jogador não vai te dar um
futuro decente se você não tiver estudo. — ela disse para ele, virando para o
conversava tanto com o meu admirador secreto, mas ele me encarava como
nossa atenção.
— Quero uma síntese desse texto na minha mesa até o final da aula,
ela deve ter duas laudas completas. As instruções do que vocês devem
tinha me entregado assim que entrei na sala — Você tem que ir buscar sua
— Acho que vamos ter que dividir o texto, porque não vou enfrentar
esse dragão de novo. — ele disse encostando sua cadeira na minha e pegou
o texto da minha mão, colocando-o na mesa de uma maneira que nós dois
pudéssemos ler.
esquecida?
Ele sorriu e voltou à leitura. Eu mostraria a ele quem de nós dois era
— É mesmo? O quê?
— Ah, legal! Só toma cuidado para não ser um babaca igual seu
amiguinho Tadeu.
— Você que pensa, Alana. Você ainda vai perceber quem ele
realmente é. Te vejo na festa! — ele disse, acenando com a mão, indo até a
sua moto.
Fui de bicicleta até em casa e, quando cheguei, joguei-a de qualquer
jeito nos jardins e entrei apressadamente em casa, sem nem perceber quem
me aguardava na sala.
— Eita, Alana anda tão importante agora que nem fala com as
dela.
melhores amigos na infância. Nós nos afastamos um pouco quando ele foi
morar com a mãe dele em outro estado, mas agora estava de volta e eu não
— Olha quem fala, você era menor que eu quando saiu daqui e
— Vejo que tem muita saudade aí, mas agora vai tomar um banho
jeito na sala.
atrasa!
fui até o guarda roupa para escolher que roupa eu iria usar. Avaliei todas
elas e optei por usar o vestido rosa que eu havia informado ao admirador
secreto que usaria. Ele era longo e tinha decote de coração e florzinhas
brancas por todo o tecido. Fiz babyliss no meu cabelo, deixando solto e
repleto de ondas.
— Oi, Brian! Tudo bem? Desculpa por não ter falado com você
disse que tem uma festa para ir. — ele disse, me dando novamente aquele
preconceituoso. Quer dizer, claro que eu vou sentir falta da minha mãe, do
mate todo dia de manhã cedo e dos meus amigos. — quando ele disse a
— Ah, Joca, mas aqui você pode fazer vários amigos novos! —
Sorrindo, respondi:
cozinha. Subi para o meu quarto e estava tirando meus pincéis da gaveta
quando me assustei ao ver Joaquim entrar no meu quarto, com meu celular
na mão.
— Quem vai te esperar? Está indo a um encontro? A tia sabe?
— Faz um resumo que eu entendo, Lana. Faz muito tempo que não
conversamos!
secreto há algumas semanas e hoje finalmente ele vai se revelar para mim.
— respondi, começando a me maquiar.
— Não fala assim, Joca! Ele é um cara legal que me entende e gosta
de mim.
minha mão.
— Calma, Lana! Vamos torcer para que esse cara seja um bonitão.
Depois de alguns minutos, decidi que ele não vinha. Já estava indo
embora quando escutei-o dizer:
claridade, a fisionomia do garoto por quem fui apaixonada por boa parte da
minha vida e que agora havia feito eu me apaixonar por ele novamente.
— Então era você esse tempo todo? Qual o seu objetivo com isso?
Me iludir? Me fazer acreditar que você gostava de mim? — perguntei,
irritada.
— Como você pode achar isso? Eu nunca quis brincar com seus
minha frente.
seu irmão namorou a Karen, mas você nunca quis nada comigo! — disse,
dando uns passos para trás, queria fugir e pensar com mais clareza.
que gosto de você e você está agindo dessa maneira! — ele disse,
segurando minha mão, puxando-me para perto dele, deixando nossos corpos
praticamente colados.
Matheus colocou sua mão em minha nuca, então fechei meus olhos
e esperei pelo beijo. Podia sentir sua respiração em meu rosto e a
raiva nos olhos, e percebi que ele tinha seguido as meninas depois de vê-las
se aproximando.
eu vou jogar seu celular longe! — Matheus gritou para elas duas.
Matheus — Realmente foi muito bom rir dela durante todo esse tempo em
que vocês trocaram mensagens, mas essa cena agora me fez gargalhar como
nunca. Sério que você acreditou nele, queridinha? Tudo não passou de uma
brincadeirinha, queríamos nos divertir, e por que não com você? Uma
frente deles.
Matheus.
Ainda não conseguia acreditar que ele tinha feito isso comigo, que
dessa maneira.
últimos dias.
Assim que desci, notei uma moto parando logo atrás do carro.
Era o Matheus.
E eu não podia deixar que Paloma estragasse uma das poucas coisas
— Deixa eu me explicar, por favor, nada do que ela disse é... — ele
interrompi.
todas as dúvidas que eu poderia ter sobre o que ele sentia não existiam
mais.
Quando terminamos o beijo, eu estava morrendo de vergonha, então
escondi meu rosto em seu peito e pude senti-lo tremer quando ele riu.
— Me beija desse jeito e agora fica com vergonha? Você não cansa
de me surpreender, Alana.
abafada.
acreditado nas mentiras da Paloma queria curtir um pouco mais esse clima
mais um selinho.
Viramos para sair dali e o Math finalmente notou o Joca que estava
volta agora, mas foi bom te ver! — ele disse, indo até a moto
caí na real e percebi que o Math nunca faria isso comigo, nunca mesmo! E
— Ainda bem que você continua sendo uma garota esperta, viu. Vai
encontrar uns conhecidos, quem sabe eu não descolo uns beijinhos também.
— ele brincou — Não faça nada que eu não faria e amanhã a gente coloca o
pensava.
ALANA
Foi ali, no quintal dos avós dele, que nos conhecemos. Ele jogava
abraçando.
— Como não lembrar? Meu Deus! Que saudades desse lugar, nunca
mais vim aqui desde que meus pais se separaram. — respondi, tentando
— Minha avó ainda mora aqui, ela ficou bem abalada depois que
meu avô faleceu, mas não quis sair dessa casa. Eu venho visitá-la algumas
— Sabe que tentei por anos deixar de gostar de você? Mas parece
que não fui muito feliz nessas minhas tentativas, você sempre esteve
— Até quando iríamos negar isso que sempre foi tão claro para nós
dois?
— Eu não sei, mas a única coisa que eu quero agora é ficar com
você.
— Posso fazer isso acontecer. O que eu mais quero é ficar com você
— Vamos fazer outra coisa então. Está com fome? Tem uma
lanchonete ótima aqui perto, vamos comer e depois eu te levo para casa.
— Quer pilotar?
você!
logo!
— Nada disso, você vai pilotar até a lanchonete. Ela fica a duas
acelerador e o freio, não tem mistério nenhum, você dirige, sabe dosar o
acelerador e o freio, então sobe logo que quero lanchar com minha
suspiro apaixonado.
ser assim mesmo? Sem um encontro, sem um pedido? — brinquei com ele,
— Nossa! Eu não sabia que você gostava dessas coisas, mas a gente
cintura.
Comecei a guiar e, por incrível que pareça, não era mesmo tão
difícil assim. Chegamos à tal lanchonete e fomos direto para o balcão fazer
os pedidos.
eu estava louca para assistir. Era o terceiro de uma série de filmes que
seriam lançados. Math não conhecia, então meio que resumi tudo para ele,
— Ah, seria. Já sonhei com você muitas vezes, por isso perguntei.
no braço dele.
— Pode ser, vou falar com a dona Lúcia e te aviso. — ele me beijou
centro.
Estava cansada, o dia havia sido bem agitado, mas eu não conseguia
pegar no sono, então peguei meu celular e olhei minhas redes sociais. A
— Não falei que a minha voz era irresistível pelo telefone? — ele
— Sério? Vai ver ela saiu para algum lugar e resolveu dormir fora.
— Sei muito bem onde ela deve estar, mas não quero nem pensar
Quase deixei meu celular cair com a novidade. Parecia que todo
mundo estava começando a namorar ao mesmo tempo!
— Ai, meu Deus! Isso é incrível, com quem que ela está?
— E depois eu sou desatenta, né? Fico muito feliz por ela, sua mãe
merece todas as coisas boas que a vida pode dar a ela.
— É verdade, mas eles estão bem onde estão, pelo menos é nisso em
que eu tento acreditar.
eu poderia dormir até tarde! Mas naquele dia eu nem consegui sentir raiva
Decidi levantar logo, pois estava com fome. Meu estômago voltara a
ser meu amigo e, agora que eu estava irradiando felicidade, nunca mais me
Meu namorado.
Sorrindo, levei meu sanduíche e meu café até a sala e resolvi ver um
Delegado. Ao me ver, ele ficou bem sem graça, acho que imaginava que eu
acordaria tarde e não descobriria que ele havia dormido com a minha mãe.
— Ah... bom dia, Alana! — ele coçou a nuca, evitando fazer contato
constrangido.
— Prometo ter mais cuidado. Você dormiu bem? Não ouvi você chegar.
— Dormi muito bem! Meu estômago me acordou. — disse,
todo dia que eu via um homem de meia idade com pinta de durão todo sem
graça.
— Muito, sua mãe é uma mulher incrível e o que eu sinto por ela
cozinha? — assenti e fui até a cozinha, com ele logo atrás de mim.
— Ah, só me diz o que você vai usar que eu pego. — disse, indo até
no balcão.
tem muita sorte em te ter por perto e eu espero compartilhar dessa mesma
Limpei algumas lágrimas que caíram. Meu pai nunca tratou a minha
mãe desse jeito e eu me sentia muito feliz por ela estar recebendo tanto
— Bom dia, vó! — beijei suas bochechas e ela me deu sua benção.
— Vai sair, Alana? — ela perguntou sem tirar os olhos do jornal.
fones, peguei minha bicicleta e pedalei sem parar até chegar em uma casa
O lugar que me trazia felicidade e muito amor, pois nela morara uma
das pessoas mais importantes da minha vida, a pessoa com quem eu dividia
não costumava usar muito, porque na maioria das vezes isso entristecia a
minha mãe. Ela achava que o luto estava me dominando, mas não era
assim. Não mais, pelo menos. Estava feliz como não me sentia há muito
acostumada a conviver com essa tristeza e cada dia ficava mais fácil, mas o
amor que eu sentia por ela continuava forte. E isso nunca mudaria.
mãe da Karen, aparecesse. Ela estava muito mais magra do que na última
vez que eu a vira, e também estava bastante pálida. Meu coração apertou
um abraço.
— Oh, minha pequena Alana! Você está tão linda! Claro que senti
saudades... Entre, o Manuel teve que viajar, mas deve voltar hoje ainda. —
ele estava. A sala estava escura e um pouco suja, não havia espelhos nem
frutas para ela, que retorceu um pouco o rosto, mas não disse nada.
— Trouxe o café da manhã para comermos juntas, que tal? Sei que a
senhora adora suco de laranja. — disse, tirando a térmica com suco da bolsa
e incentivando-a a comer.
— Não estou com fome, Lana. Desculpe-me, mas já comi algo mais
— Ah, tem certeza que não quer nem um pouquinho? Está delicioso.
— Não quero mesmo. Desculpa novamente, mas não estou me
O pai dela havia instalado uma cadeira de balanço para ela, que
Ela assentiu e nós ficamos em silêncio por um tempo até que ela
perguntou:
— Sim, as duas estão bem! Minha mãe deve abrir a sua loja no
— Que bom, fico feliz por ela. — ela disse, apertando minha mão
— E você? O que tem feito? Como vai no colégio?
— Minha Karen ficaria feliz com isso, ela sempre adorou os seus
textos. — ela apertou um pouco mais a minha mão e disse: — Sinto tanta
falta dela... Eu não sei como viver sem a minha filha, Alana. — e então
começou a chorar copiosamente.
podia. Aquilo acontecia toda vez que eu a visitava, e por isso eu acabava
adiando essas visitas. Era sempre assim: eu tentava fazer com que ela
comesse algo, ela recusava, perguntava sobre minha vida e então ela
chorava.
por alguns segundos, apenas observando os dois, então anunciei que estava
indo embora.
não deu sinais de ter me ouvido. Com o coração apertado, voltei para casa
reprimindo o choro.
os braços para mim e eu corri para deitar em seu colo. Ela acariciou meus
cabelos e finalmente derramei as lágrimas que eu havia segurado durante
todo o caminho.
Bem que me falaram que seguir em frente era a parte mais difícil.
ALANA
depressão. — justifiquei.
— Sei que não pode e nem quero que se afaste dela, minha filha,
apenas desejo que você seja sensata e que não vá sozinha, não faz bem para
você.
comigo, eu odeio te ver desse jeito. — ela disse, fazendo cafuné em meus
cabelos e eu assenti. Ainda fiquei deitada em seu colo por alguns minutos, e
Ah, aliás, ele vai buscar o Joaquim daqui a pouco e os dois vêm almoçar
conosco hoje.
bem relaxante, aproveitei para lavar meus cabelos. Vesti um vestido lilás
delicadeza. Discretamente tentei sair sem fazer barulho para dar privacidade
esquentar de vergonha.
consegui.
— Oi, Math!
— Oi, linda, estava dormindo até agora, foi? — ele perguntou com a
voz levemente rouca, senti borboletas no meu estômago e não pude deixar
de sorrir.
— Não, acordei bem cedo, fiz umas coisas e cheguei em casa agora
pouco, mas eu não levei meu celular e não vi que você tinha me ligado.
tento ajudá-la. — expliquei com certa tristeza. Ele concordou do outro lado
tempo, mas ela nos odeia e sempre reagiu muito mal a qualquer coisa que
fizéssemos.
— É uma pena que ela guarde essa mágoa de vocês, que não têm
culpa de nada. Todos nós estamos sofrendo, se ao menos ela se deixasse ser
ajudada.
— É complicado. Minha mãe ainda faz terapia para lidar com o luto,
eu fiz por algum tempo e ajudou. Nós tentamos falar com ela para que ela
também procurasse ajuda profissional, mas ela não quis nos ouvir. Talvez
saber se você já falou com a sua mãe sobre eu ir almoçar aí com vocês.
— Eu devo aparecer aí antes do meio dia, mas a minha mãe não vai.
— ele disse com certo ressentimento — Ela falou que vai passar o dia fora
podia significar uma coisa e não pude deixar de soltar uma risada
debochada.
um tempo.
vem, eu vou convidar a Luna para almoçar aqui. Ela me contou que os pais
Eles eram muito carinhosos um com o outro, era estranho ver minha mãe
assim.
Para dar privacidade aos dois, fui até a cozinha beber água. Não
demorou muito para minha mãe entrar, indo direto para pia temperar o
frango.
Vi o sorriso em seu rosto e não resisti, tive que abraçá-la.
— Não precisa falar nada, nem ficar com vergonha, ok? Se ele te
fizer feliz, por mim está tudo bem. — sussurrei no ouvido dela, que se virou
resolvi fazer algo mais elaborado e peguei uma receita de torta de biscoito
com chocolate em um dos inúmeros caderninhos de receitas da minha mãe.
continuei cozinhando.
— Hmm, quer vir aqui hoje? Mamãe está fazendo lasanha! — falei
com entusiasmo e ela ficou em silêncio por alguns instantes. Achei que a
ligação tivesse caído, mas então ela finalmente falou, a voz ainda muito
baixa:
— Acho que não, Lana. Não sou uma boa companhia hoje.
— Ah, não faz isso, Luna! Você tem que vir para cá, muita coisa
aconteceu ontem e eu preciso te contar tudo. — insisti um pouco, colocando
— Que droga, Alana! Será que é tão difícil escutar um não? Eu não
sou a Karen, não sou a sua melhor amiga e não quero ser! Para de tentar
ligação terminada, assustada com aquela reação da Luana. Senti uma mágoa
se formar no meu peito, mas alguma coisa estava estranha. Ela nunca tinha
pode me levar?
agiu de um jeito muito estranho, foi muito evasiva, e quando eu insisti, ela
explodiu comigo e desligou na minha cara.
— Luana não é assim, Math! Eu sei que eu sou amiga dela há pouco
tempo, mas as coisas que ela me falou... Ela nunca agiu assim, tem alguma
coisa muito errada!
avisei, beijando seu rosto — A vovó pode terminar a sobremesa quando ela
voltar da igreja.
— Ok, toma cuidado naquela moto e me liga se for algo sério com a
Luana. — ela pediu preocupada.
camiseta, já que andar de moto de vestido era uma péssima ideia. Peguei
minha carteira, o celular e desci ao escutar a buzina.
ele acelerou.
deixar o Matheus entrar, e então corri até onde Luana estava jogada no
chão, desacordada, em meio a uma poça de sangue que vinha dos diversos
cortes espalhados por suas pernas e braços.
Cortes profundos.
mesmo quando fazia muito calor, eu devia saber que não era normal.
quando ouvi ele soltar uma expressão de espanto ao entrar na sala. Ele
desconfiada que ela tinha algum distúrbio alimentar, mas suicídio? Isso nem
passou pela minha cabeça.
instruções para o que o Math fizesse o mesmo. Com a mão livre, chequei a
tudo bem, ela vai ficar bem. — Matheus disse tentando me acalmar, mas eu
— Não vai ficar tudo bem, Matheus! Olha como ela está! Eu não
enxerguei isso, não a ajudei e agora ela pode morrer! — falei, enquanto
— Nada disso é culpa sua, Alana! Fica calma, nós precisamos tentar
amenizar esse sangramento. Então eu preciso que você fique calma! — ele
disse com a voz mais firme — Alana, olha para mim. — ele chamou, e eu o
encarei. — Ela precisa de nós agora. Luana vai ficar bem, mas agora nós
temos que nos focar. Faça mais pressão no corte. — ele ordenou e eu
percebi que ele estava certo. Então concordei e passei a fazer pressão com
alívio.
deles tentou falar comigo, mas eu não conseguia ouvir nem focar em nada,
então a voz do Matheus, clara como o dia, soou nos meus ouvidos:
— Ela vai junto. Eu vou avisar os pais dela. Alana. Alana, olha para
mim. Eles vão levar a Luna para o hospital e você vai junto, ok? Não vou
Luana.
Eu queria segurar a mão dela, mas os paramédicos me pediram para
ficar afastada, então apenas rezei para que ela estivesse bem. Estava
tentando focar na Luana e ser forte por nós duas, mas meu corpo tremia.
eu estava sendo para Luna? Ela sabia muito de mim, mas o que eu sabia
dela? Eu nem havia reparado que ela tinha depressão! Sentindo as lágrimas
ali comigo.
mãe. Eu levantei e corri para ela, que me abraçou. Chorei em seu peito e ela
em contato com os pais da Luana e como ela era menor de idade, precisava
de um responsável legal.
enquanto minha mãe falava no telefone, e eu notei que a roupa dele estava
— Acredita que eles nem deram importância para tudo que contei? É
como se ela nem fosse filha deles! Eles só queriam saber se ela estava viva,
— Calma, mãe. Luna já tinha me falado que os pais dela eram desse
jeito, acho que faz sentido que ela tenha alguns problemas. Não sei como eu
não pensei nisso antes, na verdade... Eu sou mesmo muito privilegiada por
ter uma mãe maravilhosa. — estiquei a mão para a mamãe, que a segurou e
mim.
eu só percebi que cochilei quando acordei com a voz grave do doutor que
atendeu a Luana.
Geralmente isso é difícil para pacientes psiquiátricos, então será bom que
— Filha, veja com seus amigos quem pode doar sangue para Luna,
certo?
— Não sei, mas acho que o Nicolas, talvez. Vou ligar para ele para
perguntar. — ele disse tirando o celular do bolso e indicando que faria a
ele avisou.
— Não posso por causa da tatuagem, ainda não tem um ano que fiz.
Vou mandar mensagem para a minha mãe, ela é doadora, também.
É nessas horas que vemos quem vale a pena e quem não vale.
muito do nosso apoio, filha. Como ela terá alta daqui a mais ou menos uma
semana, ela vai ficar lá em casa. Vamos arrumar um cantinho para ela lá,
mas não dei muita atenção. Ela surtou quando eu a convidei para almoçar
com a gente, eu acho que a Luna tem anorexia.
forças para comer, mas acho que isso faz mais sentido. Pobrezinha...
disse fazendo um carinho no rosto dele, e depois virou para mim dizendo:
— Agora vamos para casa. Vocês precisam tirar essas roupas com sangue.
Vou pedir para o Brian fechar a casa dela, amanhã arrumo alguém para
limpá-la.
Dito isso, fomos os três para casa, minha mãe de carro e eu fui de
Corri para o meu banheiro, tomei banho e joguei as roupas que estava
vestindo no lixo. Eu não conseguira vesti-las novamente sem lembrar de
todo ocorrido.
hoje, Alana. — ele disse pouco antes de sair pela porta da frente.
— Você precisa comer. Foi isso que levou a sua amiga para o
hospital, mas podia ser você. — ela disse levantando e me pegando pela
mão, levou-me para a cozinha.
alimentar.
reagir até que eu tivesse forças para sair disso sozinha, e ela não tinha
ninguém.
da lasanha da mamãe e comi sob o olhar atento dela. Quando a vovó se deu
por satisfeita, ela me mandou para a cama, porque já estava bastante tarde.
E falhei terrivelmente.
com minha insônia, desci para a sala para assistir algum filme.
— Oi, lindo.
acidente...
não tenho nenhum deles aqui. E você? O que fazia para melhorar?
— Dormir com a minha mãe me ajudava, mas hoje ela não está aqui,
então vou virar a noite assistindo filmes até ser vencida pelo cansaço.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, então disse, com certa
hesitação:
Pela primeira vez desde a ligação da Luna, permiti que meus lábios
se curvassem em um pequeno sorriso. Era uma coisa pequena e boba, mas
ele disse que me amava! Claro que eu já imaginava que esse sentimento
fosse recíproco, mas ter essa certeza foi demais para o meu coração.
campainha. Saltitei feito uma criança para abrir a porta e ali estava ele, o
amor da minha vida.
questionou, aborrecido.
Meio confusa, pisquei para ele e então me dei conta do que tinha
acontecido: eu e o Math dormimos juntos no sofá.
E pela cara que o Brian estava fazendo, eu tinha certeza que ele
pensava que eu e o Matheus tínhamos feito muito mais que dormir.
ALANA
— Ai, meu Deus! Não é nada disso que o senhor está pensando! —
respondi apressadamente enquanto me afastava do Matheus, que ainda
dormia.
namoradinho dormindo no sofá sem sua mãe estar em casa. — ele falou
nervoso, passando as mãos pelos cabelos.
despertou assustado.
— Poxa, Alana! Minha coxa! — ele reclamou comigo, mas então
respondeu friamente.
dormimos juntos!
namorando, senhor. Sei que não deveria ter vindo dormir na casa dela sem a
dona Susana estar presente, mas não pensei muito nisso ontem à noite.
Math.
— Nós estamos ficando. — ele corrigiu — Ainda não a pedi em
Minhas bochechas esquentaram mais uma vez, feliz por saber que
— Serei sincero com você, garoto. Como os pais da Alana não estão
presentes, eu vou ter que assumir certos papéis aqui. Eu não acho que vocês
Vocês são adolescentes cheios de hormônios e tenho certeza que Susana não
quer ser avó tão cedo. — ele disse com sua melhor voz de policial malvado.
constrangida.
— E vocês podem sair juntos, desde que não cheguem muito tarde,
mas não quero que o relacionamento de vocês atrapalhe os estudos. Sair dia
nós concordamos.
estava cuidando de mim. Era bom ver outra pessoa além da minha mãe
meu rosto.
pedir desculpas se fui muito agressivo, não quero que me interprete mal,
mas como sua mãe não está e ela não comentou nada sobre vocês, acho que
ela não sabe ainda, não é? Me senti na obrigação de falar alguma coisa,
espero não ter passado dos limites. — ele disse, parecendo estar
constrangido.
— Não se preocupe. Se eu achasse inapropriado, falaria na hora,
você sabe que eu sou bem sincera. Mas sei que estava tentando me proteger
e te agradeço por isso. Confesso que não pensei nas consequências quando
— Que bom que não ficou chateada. É estranho assumir esse papel
paternal, na verdade... Só tive o Joca e ele não conviveu muito comigo. Mas
é bom saber que estou fazendo o certo. — ele coçou a cabeça, sem jeito.
pai não é muito presente e a minha mãe tem o coração grande demais para
para a cafeteira.
enquanto eu mandava uma mensagem para minha mãe para saber como ela
casto e foi embora. Brian levou as louças para a pia e não deixou que eu o
ajudasse a lavar, então eu fui arrumar a casa e cuidar das plantas, que
De novo!
em sua bochecha.
Nos outros dias, entre aulas normais e aulas extras, visitei Luana e
nós criamos um laço ainda maior do que o que já tínhamos antes, ela estava
se dando muito bem com a minha mãe também e eu estava adorando isso.
ficando em silêncio e chorando sozinha, mas nós estávamos lá por ela e não
acabando.
— Sim, minha linda. Seria um prazer tê-la em nossa casa, não quero
te ver sozinha naquela casa enorme. — minha mãe falou, segurando a mão
dela.
— Tudo bem, ficarei com vocês sim. Quando meus pais voltarem eu
vejo o que faço, também não quero ficar sozinha. Eu nem sei como
agradecer tudo o que vocês estão fazendo por mim. — ela disse com
lágrimas nos olhos.
— Luna, saiba que você pode contar com a gente para o que
precisar. Amigos são para essas coisas.
pelo aplicativo do meu celular, Luana estava mais à vontade com a gente e
isso me deixava muito feliz.
e saí correndo para casa para arrumar o meu quarto e abrir espaço para
acomodar as coisas da Luna ali, porque eu queria que ela se sentisse
processo.
— Alô?
— Está tudo bem sim, só tive que correr para pegar o celular. —
disse, colocando a mão no peito, tentando recuperar o fôlego.
dela! — anunciei.
acostumado a digerir.
— Eu sei, mãe, pode deixar. Vou fazer uma comidinha bem leve. Eu
quero que ela se sinta bastante acolhida aqui, vamos ajudá-la a superar tudo.
— Está bem, então. Luna foi liberada aqui, daqui a pouco estaremos
aí, beijo! — minha mãe se despediu e então desligamos.
frango, então decidi fazer uma salada e um arroz para acompanhar. Chamei
a vovó para me ajudar e ela começou a grelhar o frango, contando-me
se abrir. Corri para receber Luana, que não estava com sua melhor
aparência. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados, a pele ainda estava
— Calma, Luna. Vai ficar tudo bem, nós vamos cuidar de você. Está
prestar muita atenção nisso para não a desencorajar, mas minha mãe sentou
ao lado dela e colocou a mão em seu ombro o tempo todo, dando suporte.
minha mãe, Brian e vovó no outro, conversando baixinho para que não
escutássemos.
— Está bem. Por que não leva o Joaquim e a Luana com você?
Joca me encarou e eu dei graças aos céus por ele entender as coisas
com facilidade, porque ele rapidamente respondeu:
Sem uma palavra, ele ligou o motor e dirigiu até a casa dos avós
e ele veio até o meu lado, esticando o braço para pegar minha mão.
sorriso fraco — Quer dizer... Não me leva a mal, mas você não ficou
chateada com o que o Brian falou naquele dia? Ele meio que só começou a
Andrade, mas jamais deixaria ele interferir desse jeito em minha vida. —
ficado ofendida, então não sei, achei que talvez você pudesse se chatear. Eu
também não quero impor nada para você. — ele disse, erguendo nossas
confiar um no outro, mas para te responder, eu não achei que ele impôs
nada, apenas sugeriu e pediu para que falássemos com nossas mães sobre
isso, não vi nada demais. Ele estava tentando ser um adulto responsável,
apenas isso.
meu pai não era daquele jeito comigo, sabe? Eles se entendiam tão bem, ele
era tão carinhoso... Não sei. Era como se ele fosse o pai que eu queria ter. E
olhos dela. Eu acho que ele vai fazer muito bem para ela, e para mim
também. — expliquei e ele soltou nossas mãos, apenas para me puxar para
o seu colo.
te entendo, eu via os pais dos outros meninos jogando bola com eles,
acompanhando no colégio... E eu só tinha o Alex e a minha mãe. — ele
— São mesmo. Mas agora nós temos que conversar com elas sobre
a gente, antes que o delegado conte. Espero que elas não encrenquem
muito.
o tranquilizei.
meu rosto — Estou planejando isso há dias. Não gostei de dizer ao seu
em um beijo apaixonado.
papo em dia.
— Isso, Luna, nós vamos te proteger caso alguém diga algo. E além
exclamou.
— Cara! Em que mundo você estava na última semana? No
chuteiras estão querendo matar a Alana, afinal ela está pegando o camisa 10
do time.
— Opa, subiram de nível! Isso vai render muita fofoca. Meu Deus!
Brian.
— Bem, crianças o papo está muito bom, mas já são dez horas e
amanhã vocês têm aula.
— É, Joca, vamos que amanhã ainda temos que levar o resto dos
papéis da sua matrícula. — Brian disse.
Ele deu um beijo casto na minha mãe, acenou para nós e andou até o
disse, abrindo a porta da frente. Luna acenou para Math e seguiu minha mãe
para dentro de casa, deixando-nos sozinhos.
seguinte.
— Laura fez boa parte. Fiz alguns hoje à tarde e decorei o bolo. —
de volta.
estava aparentemente bem, então avisei que ia tomar um banho. Quando saí
já com o pijama no corpo, convidei-a para ir ao quarto da minha mãe
comigo.
— Que surpresa boa, vamos fazer uma festinha do pijama hoje? —
— Não precisa nem pedir. — ela passou o braço por meus ombros e
esticou o outro para Luna, que estava em pé ao lado da cama, constrangida.
ir ao colégio. Vesti uma calça jeans e a blusa do uniforme. Como não estava
dos meus tios lá na praia. E a senhora sabe como a tia Lucélia é chata, então
queria que a senhora visse com ela para mim, pode ser?
— Vocês o chamam assim, por que não posso chamar? Quer que eu
seja mais moderna e chame ele de crush? — ela perguntou com muita
naturalidade.
— Meu Deus, chega vó! Vamos, Luna! Preciso passar no clube de
— E pode deixar que eu falo com a sua tia sim, querida. — vovó
confortá-la, mas sabia que não havia muito que eu pudesse fazer. A única
pessoa que podia ajudar, de fato, era ela mesma — Minha mãe deixou uma
em silêncio, antes de ela mudar de assunto: — Então quer dizer que você e
agora só quero celebrar essa fase da nossa vida. Mas pensei em convidar a
galera toda, ainda não sei. — falei e ela sorriu para mim.
— Oi, Nico. Tudo bem sim, aconteceu alguma coisa? Por que você
está ofegante?
e eu não protestei, porque percebi que essa agonia toda era para ficar
sozinho com a Luana. Acenei para ela, que me encarou com um pouco
apreensiva.
consegui ver uma parte da quadra. Vi o Matheus e mais uns dois jogadores
com umas cinco meninas da torcida, e elas não paravam de tocar no meu
namorado.
os meus colegas.
— Recebeu sim, mas não é disso que estou falando. Adivinha quem
comemorando, mas quando viu que eu não fiz o mesmo, ele me encarou e
— Não, não gostei. Não acredito que vocês fizeram isso! Minha
notícias, mas também temos colunas de fofoca, não podíamos deixar vocês
drama! Você sabia muito bem o que aconteceria quando você assumisse
achando ruim isso, imagina quando ele for um grande craque do futebol
coluna para Lívia. Vai ser a minha única da semana. — disse, marchando
e a Mirela.
quando o Matheus riu de algo que a Paloma falou, eu não consegui mais
do nosso namoro.
agora.
— Estou bem, e você? Estranho te ver por aqui, você costuma ficar
graça — Muitas coisas, na verdade, mas preferi não dar muita importância.
— Ah, eu até tentei, sabe? Mas eu odeio ser o centro das atenções,
— Eu entendo, mas se você quer ficar mesmo com ele, vai ter que
se acostumar, né?
— Eu sei e estou tentando, mas não queria ter que aturar isso agora.
Meu relacionamento não deveria ser assunto na boca de outras pessoas.
resto das nossas vidas. Não tem nada que a gente possa fazer a não ser
ignorar e seguir em frente, sabe? A gente só não pode deixar isso acabar
Era o Matheus.
me levantei.
— É, cara, relaxa. Eu e a Alana só estávamos conversando, estava
rudemente.
cruzando os braços.
Mas ele é meu amigo e quis me ajudar. Além do mais, você me pareceu
— Não foi isso que eu vi. Mas quer saber? Não quero brigar, não
quero dar o gostinho a ela de ser o pivô das nossas brigas. — ergui as mãos
em frustração.
como falou com o Tadeu. Ele estava me apoiando enquanto você estava
— Não fala dessa maneira, até parece que eu estava fazendo algo
errado. Não distorce as coisas, você que estava aqui abraçada com aquele
babaca.
— Ele é meu amigo, Matheus, meu amigo! Não posso mais ter
— Sou eu quem devia te apoiar, Alana. Por que você não foi atrás
de tudo o que aconteceu no ano passado, eu queria ser invisível aos olhos
dos outros, eu não queria ser exposta dessa maneira. Eu não gosto disso. —
com essas coisas e não posso mudar quem eu sou. Nem por você, nem por
ninguém.
Passei a aula toda de cabeça baixa e não me recordo de uma palavra que o
professor disse.
Senti uma mão passar nos meus cabelos e alguém sentou ao meu
lado. Não precisei nem perguntar quem era, apenas pelo cheiro do perfume
— O que aconteceu? Por que está esse clima tenso entre vocês? —
para ele... Está rodeado de gente o tempo todo. Se você gosta mesmo dele,
amiga, vai ter que dar um jeito de se adaptar. — ela disse, resignada.
cochichos, muita gente me encarando. Ninguém falou nada para mim, além
— Não fala assim, Luna. Muita gente quer te ver bem, você tem que
— Quando será que esse povo vai achar outro assunto para falar?
— Vai demorar, viu. As meninas estão loucas para saber o que você
fez para fisgá-lo. — Tamires respondeu, olhando para quadra.
garota, mas te escolheu, sua boba! Deixe de besteira e curta isso! Deixe que
falem, ignore o que não te acrescenta em nada. Vai curtir teu namorado,
não das outras garotas. Isso devia ser a única coisa que importava para mim,
e não o que os outros falavam.
Ele estava jogando, mas ao me ver na beira do campo, veio até mim.
Mesmo ele estando todo suado, enlacei seu pescoço e o beijei. Foi
Nico, no vestiário.
comigo. Mas sei lá, ela está namorando com você e não com ele, né? Talvez
deixar um otário dar em cima da minha mina bem na minha frente é outra.
Eu já percebi que ele faz a linha de bom moço, mas isso não cola comigo
não! Tem alguma coisa muito estranha nele e naquele maldito sorrisinho
Confiar é saber que não importa quem queira a sua mina, ela não vai querer
mais ninguém.
enxerga o quanto ele é manipulador. Mas ela já está meio cabreira comigo,
e para piorar ela não gosta da atenção que eu atraio, ficou chateada porque
— Complicado, cara! Ela vai ter que aprender a viver com isso,
você é Matheus Vieira! Um dos melhores jogadores do time!
— Eu sei, mas ela não gosta da atenção. Eu entendo, mas não posso
mudar quem eu sou, nem por ela nem por ninguém, estou fazendo o que eu
— Acho que isso é a coisa mais justa que tem. Mas nesse caso, você
também não pode exigir que ela mude. Ela não vai aprender a gostar da
exposição, então você vai ter que ensiná-la a pelo menos aceitar. Sei lá,
mostra o lado bom. De repente isso dá mais visibilidade para a coluna dela.
— É. Pode ser. Talvez assim ela aceite melhor. Mas e aí, me fala
comigo, mas conseguimos conversar um pouco hoje e foi bom. Ela acabou
de passar por um perrengue enorme e ainda não está cem porcento bem, né,
exatamente disso que ela precisa. Com o tempo ela vai confiar mais em
— Espero que sim, não quero pressionar nada. E sei lá, eu gosto
dela, mas eu sei que ela precisa aprender a lidar com os próprios demônios.
— ele disse e fiquei bastante surpreso com sua maturidade.
ver como as coisas vão andar, cara. Mas ó, vou lá na biblioteca pegar um
livro.
Queria fazer uma surpresa para a Alana, e como ela gostava muito de coisas
soou familiar, então tirei da estante uma cópia antiga e comecei a folhear.
Um dos poemas saltou aos meus olhos, mas então me surpreendi ao escutar
a risada de Alana.
Caminhei em direção ao som de sua voz e a avistei. Senti meu sangue subir
livros sobre elas, mas não foi isso que mais me incomodou. Ela poderia
conversar com quem quisesse, mas não queria que ele tivesse suas mãos
sobre ela.
Tadeu alisava as mãos de Alana, como se eles não fossem apenas
desse cara!
ALANA
— Oi!
começar o trabalho. Ele sussurrou para mim, indicando que encontrara, mas
que só havia um exemplar. Sussurrei de volta para dizer que nossa
biblioteca precisava de mais investimento, mas que por enquanto, íamos ter
acariciava minha mão. O toque dele era tão singelo que não havia chamado
minha atenção.
Tadeu.
— Ainda não, começamos faz pouco tempo. — respondi, voltando à
mesa e puxando-o para sentar ao meu lado — Pode me esperar? Assim não
volto sozinha e você pode jantar lá em casa, que tal? — beijei seu rosto e
não disse uma palavra, guiando-me para fora do prédio pela mão. Já
— Nossa, amor! Vamos voltar para buscar então, você vai precisar
para amanhã?
esperando, ou vai direto para o carro, vim com o da minha mãe hoje. — ele
colégio.
Fui para o carro e esperei por ele lá por alguns minutos, mas ele não
carro.
— Isso é bom, estarei torcendo por você! Estou feliz com as aulas
conseguir nos formar junto com os outros. — ele disse, animado — Falando
nisso, vai ter uma festa depois do jogo de sexta, o que acha de irmos juntos?
— Nós poderíamos ir sim, acho que vai ser divertido! — falei e pelo
rádio.
estavam na sala, deixei o Matheus com eles e segui para o meu quarto.
— Oi, moça! Viu o passarinho verde, foi? Ou foi azul igual aos
encabulada.
— Ah,.. hum... O Nicolas me convidou para sair depois do jogo de
— Não, ele disse que todos irão para festa, mas que ele quer me
abraço nela.
como as outras meninas do colégio... Eu sou quebrada por dentro, Lana. Ele
não vai gostar de uma garota cheia de problemas... — ela disse isso com os
olhos.
pessoa incrível, inclusive. E é por isso que ele já gosta de você, e há muito
tempo! Ele jamais brincaria com você, nem com ninguém. Ele não é assim.
E acredita em mim, você não quer ser que nem as outras meninas. Por
— E está conseguindo. Vai ficar tudo bem, você vai ver. — prometi,
sua futura confeitaria, ela sempre sonhou com isso e agora seu sonho estava
a porta fechada.
ocupadas uma com a outra enquanto nossas mãos apreciavam nosso corpo.
Ele retirou o celular do bolso e fez uma careta ao ver quem era.
Com certeza não era a mãe dele.
ALANA
sua sorte eu estou com o carro da minha mãe. A gente faz uma chupeta e
— Vou lá dar uma força para Mirela, o carro dela ficou sem bateria
— Hum, é mesmo? O carro dela quebra e ela liga justo para você?
— Não, não sou. Mas não custa ajudar, não precisa ter ciúmes. De lá
eu vou para casa, beleza? — ele disse, tentando me beijar outra vez, mas eu
desviei.
indo embora.
Avisa a Mirela que você não é mecânico nem amigo dela, viu? Diga que da
próxima é para ela chamar outra pessoa!
minha cama.
das antipáticas não tivesse ligado para ele pedindo ajuda. — disse e eles me
encararam, parecendo confusos. Suspirei e contei tudo, tentando manter
— Pela sua cara você não gostou nada, né? — Luna comentou.
— Lana! Vem ver isso! Meu Deus! Olha o que a Tami acabou de me
seguinte legenda: “Para quem era invisível, a Alana está sendo bem
disputada, hein, pessoal! Quem será que vai ganhar o coração da moça? O
quê para ficar me apostando? E o Matheus, aquele cachorro! Por que ele fez
isso? Fingiu que estava tudo bem e depois voltou para bater no Tadeu! —
— Eles são uns babacas, a única pessoa legal do jornal era você. O
resto está só preocupado com o que vende e vocês são notícia! Mas
seguinte, o Tadeu fez alguma coisa na biblioteca para provocar essa ira? —
confiar nele! E se esses canalhas acham que vão ficar lucrando com a minha
provocar, fica fazendo o bom moço na tua frente, mas eu conheço bem o
— Não viaja, Joca! O Tadeu é meu amigo, ele sabe que eu tenho
namorado.
— Eu sei que ele sabe, mas isso não o impede de comer pelas
beiradas até chegar ao prato principal, que é você! Abre o olho, Lana!
gostasse da nossa amizade, não ficaria próxima a alguém que quisesse algo
Mas não pude voltar a ler, porque meu celular apitou e eu o peguei
no colo dela.
Toda vez que eu vejo vocês, parece que há uma tensão entre os dois. — ela
disse, preocupada.
simples fato de não abrirem mão de algumas coisas para não machucar o
outro. Vocês são jovens, sei que agora tudo parece grande e complicado
demais, mas não é o fim do mundo, meu amor.
— É tão difícil às vezes, mãe! Tem hora que temos tantas coisas em
— Claro que é, você só tem dezoito anos, Alana. Tem muita coisa
para viver e construir ainda. Tenha calma, não brigue por pequenas coisas,
dar certo. — ela disse e ficamos ali, em silêncio, por um tempo, refletindo
falar rapidamente, mas eu ignorei e tomei coragem para dizer algo que
— Não precisa agradecer. Eu não sei muita coisa sobre carros, mas
não se nega ajuda aos amigos. — sorri para ela.
— Que pena que nem todo mundo pensa assim. Eu liguei para uma
idiotas tinham postado uma foto da minha briga com o Tadeu e ainda
colégio, tinha certeza que ela não ia gostar nem um pouco disso.
voltar, ela ainda não tinha respondido. Mandei mais algumas e liguei
também.
— Amor! Não foi só ciúmes, você sabe que eu confio em você, mas
ele faz as coisas de propósito e eu não consigo deixar de pensar que tem
— Sei que talvez seja cedo para falar esse tipo de coisa, mas não
consegui mais guardar aqui no meu coração, eu precisava te falar isso para
Agora tudo o que eu quero é ir para aí e te beijar até que a gente fique sem
ar.
— Matheus!
certo, eu quero ficar com você, mas ultimamente tem sido tão complicado...
coisas nos afetarem. Caramba, eu sou ciumento, mas parece que aquele
babaca fica perto de você de propósito. Tem alguma coisa muito errada
— Não fala, mas fica de cara feia depois. Não posso ficar ignorando
parece que a gente gosta de ficar brigando por besteira. A gente precisa
parar com isso, Math. Não há amor que sobreviva a tanto ciúme.
— Eu sei, linda. Vamos fazer um trato. Precisamos, antes de tudo,
por essas coisas, vamos conversar sobre elas apenas quando incomodarem
— Combinadíssimos!
— Não, vim para a varanda, acho que todos foram dormir e eu estou
aqui. Quero dormir escutando sua voz hoje. — ela disse me fazendo tomar
uma decisão.
cozinha.
— Vai para onde, menino? Você acabou de chegar! Nem para mais
Peguei a moto e fui até a casa da Alana o mais rápido que pude,
torcendo para não ser parado pela polícia, ou eu teria muito o que explicar
ao delegado.
corri até lá. Escalei até encontrá-la com o telefone na orelha, de costas para
dela, eu me declarei:
Acariciei seus cabelos até que ela dormisse e assim que Alana
adormeceu, não demorou para que meus olhos pesassem, fazendo com que
tinha dormido comigo, não tinha ido embora depois que eu adormeci.
Sentei-me abruptamente e encontrei uma Luana bem desesperada ao lado
da cama.
— Luna!
chamar a gente e ele está aqui! Por que não me avisou que ele dormiria aqui
— Bom dia! — falei virando para lhe dar um selinho, mas ele
intensificou nosso beijo. Luna pigarreou alto, então eu lembrei que
tínhamos plateia.
— Deixem os beijos para depois! Vou distrair sua mãe e vocês saem
pelos fundos! Não demorem! — ela disse com urgência, virando-se para
sair do quarto.
— Acho que cinco e quarenta. Minha mãe nos acorda cedo. Ainda
bem que Luna costuma acordar antes dela, já que você não foi embora.
— Acabei pegando no sono depois de você. Estava tão bom que eu
afastamos rapidamente.
— Luana vai me matar e não vai mais encobrir a gente! Deixa para
da cama.
— Estou fazendo o que não poderei fazer lá, não vou para o colégio
calçava a sandália.
semblante entristecer.
— Então quer dizer que eu vou enfrentar aqueles babacas falando
merda de mim sozinha? Que maldade, meu amor. Depois te passo o assunto
da aula de reposição, mas vai ser bem chato ficar sozinha por horas com o
Gusmão, a voz dele me irrita muito. — falei, abraçando-o mais apertado.
— Ok, ok, dessa vez você está perdoado. Mas vamos logo, antes
que a Luna desista da gente. — falei, puxando-o pela mão e levando-o até a
uma.
você foi dormir tarde ontem. — minha mãe disse, servindo café em uma
você, ouviu bem? — ela pediu, levantando-se. Sorri para ela e assenti.
— Aconteceu que eu já falei com sua tia e ela liberou a casa, então
deixa para dormir com o boyzinho lá! Vocês não sabem ser discretos! — ela
Olhei para Luna e ela estava se controlando para não rir, escondendo
depois do jogo.
subitamente, perguntando.
tia Lucélia depois do jogo, mas eu já tinha falado isso para a senhora... —
disfarcei.
e não sozinha com o Matheus, por mim tudo bem, só tenha juízo, Alana.
não perceber.
no seu rosto.
— Está bem, está bem. Mas vão logo escovar os dentes que eu vou
levar vocês duas para o colégio. — ela disse, apontando para mim e para
Luna.
— Por favor, tia, leva a gente junto, a gente pode ajudar com o que
faltar!
— Eu não acredito que ficou pronta tão rápido, ai meu Deus, mãe!
— Eu mal posso esperar para ver, aposto que o tom de rosa que eu
sugeri para as paredes está lindo!
Mas vocês podem ir para lá depois da aula, a confeitaria não vai fugir nesse
meio tempo. — minha mãe acrescentou com um sorriso e nós duas
de entrarmos.
discretos.
Eu odiava isso.
— Precisamos saber com quem que você vai ficar, Alana! Confesso
que estou torcendo para o Tadeu ganhar e ficar com você, assim o Math fica
comigo! A gente combina muito mais! Sabe, eu não sei por quanto tempo
você vai aguentar isso tudo, mas eu espero que seja por pouquíssimo tempo.
— Paloma disse, com um sorriso falso.
— Não vamos sair da sua frente. Você se julgava tão boa e agora
está brincando com dois caras, Alana! Eu esperava isso de qualquer uma,
mas da nerd da turma, não! Foi um choque para mim! — Mirela falou,
— Qual foi, resolveu criar coragem agora? Onde é que ela estava na
— Ih, ficou nervosinha? Assim até parece que você tem culpa no
preocupação — Parece que todo mundo que chega perto da Alana sofre de
algum jeito. Primeiro aquela vagabunda bate as botas, depois essa aí tenta
seguir pelo mesmo caminho... Coitados dos meninos! Espero que pelo
— Você lava a sua boca para falar da Karen! Saiam da minha frente
agora, antes que eu arrebente a cara de vocês! — gritei, as pessoas estavam
vocês! — berrei para que todos que estavam ao redor pudessem escutar e,
ao me virar, encontrei minha mãe parada, observando tudo completamente
abismada.
desabar e, como sempre, ela foi minha fortaleza. Luna estava silenciosa ao
nosso lado e eu só percebi para onde estávamos indo quando chegamos na
porta da diretoria.
ALANA
— Bom dia, senhora Soares. Ao que devo a sua presença aqui pela
manhã? Aconteceu alguma coisa? — diretora Núbia perguntou assim que
insinuaram que minha filha tenha tido culpa no acidente com a Karen e
também na condição da Luana. Isso tudo parece ter sido motivado por
Antes que a diretora Núbia pudesse dizer qualquer coisa, minha mãe
completou:
inspetores nos pátios e corredores para evitar esse tipo de coisa, além de
de fofocas! — minha mãe disse mais nervosa, pegando o jornal que Mirela
tinha jogado em mim e o entregando bruscamente para a diretora — Eu sei
que a imprensa precisa ser livre, mas vocês não têm nenhuma regra para
conheço a minha filha e sei que para ela perder o controle e gritar daquele
funcionários para criarmos novas políticas contra o bullying. Isso não pode
continuar assim.
fundamental e confesso que só deixei que ela continuasse aqui porque era
seu último ano. Minha filha perdeu a melhor amiga há pouco tempo e ela
— ela me chamou e eu levantei o rosto para ela. — Peço que venha até mim
caso algo dessa magnitude volte a acontecer, ok? Eu farei tudo no meu
poder para que isso não se repita.
mochila no ombro.
pois sentia que iria desabar a qualquer momento. Não conseguia entender
esse ódio que elas tinham de mim. As mentiras que elas jogaram na minha
cara foram tão maldosas que reabriram feridas no meu peito. E o que mais
doía era que o colégio todo acreditava que eu estava jogando com o
— Acho que é melhor vocês não irem para aula, meninas. Vamos
falar algo sobre marcar uma sessão de terapia de emergência para ela, mas
depois, meu celular vibrou e eu o peguei, vendo que tinha recebido algumas
mensagens.
comigo.
comentei.
parando no semáforo.
— Em relação ao quê?
grandes times aqui, ele teria que ir para capital, talvez até para outro
vestibular. Mas não sei, mãe, a gente só namora. Apesar de eu amá-lo, não
— Sim, mãe. O nosso namoro não pode interferir nos nossos planos
futuros.
— Já pensei, mas não curto muito a ideia. Vai ser difícil, mas vamos
nos ajustar. — falei e nós sorrimos uma para a outra. Logo depois minha
vidraça tomava boa parte da parede e bem ali na frente havia um canteiro
cheio de flores cor-de-rosa recém-plantadas. Lentamente, subi meu olhar
para o letreiro e senti meus olhos se encherem de lágrimas.
sei que ela estaria comemorando conosco como sempre esteve durante
todos esses anos. — ela falou, beijando minha testa.
ALANA
datas especiais que ela comemorava conosco. Ela amava aquele bolo de um
jeito único.
Como eu queria que ela estivesse aqui agora, como queria que
aquele acidente não tivesse passado de um pesadelo ruim.
na confeitaria.
perfeito! Era exatamente do jeito que nós tínhamos sonhado por tantos
anos.
paredes.
mamãe.
— Tia, isso aqui está muito lindo, acho que a galera do colégio vai
amar! Vai virar o novo point, vai ser o maior sucesso! — Luna exclamou,
esse lugar está maravilhoso! — falei e ela sorriu para mim, emocionada.
Minha mãe nos levou para os fundos para nos mostrar a cozinha e
todos os equipamentos. Era uma parte mais técnica, e ela nos explicou para
o que cada coisa servia, mas eu não entendi boa parte. E pela expressão da
tudo isso. O pai da Alana nunca me apoiou e eu abdiquei desse sonho por
celular.
— Ih, deixa que eu monto essa playlist aí, Luna. As suas músicas
Luana resolveu fazer companhia à minha avó, já que ela não tinha terapia, e
aleatória. Eu estava tão feliz pela minha mãe! Ela sofreu muito nos últimos
anos de casamento com o meu pai, e vê-la conquistando aquilo que sonhava
também.
— Garoto, que nojo! Não podia ter tomado um banho antes de vir,
— Sabe que sua mãe me ama, né? Mas não foi ela que me deixou
subir não, vim correndo do colégio para cá, pulei a sacada e vim para o seu
— Vamos nada! Eu só queria ficar com você. Fiquei muito mal pelo
do limite. Minha mãe ficou furiosa e com razão, elas me disseram coisas
uma enorme tristeza ao lembrar como ela tinha se encolhido ao meu lado.
aquilo.
— Eles querem visualizações. — reclamei — Você viu a quantidade
disse, cabisbaixo.
— Não se sinta culpado, lindo. Isso não é culpa sua, elas que não
têm nada melhor para fazer na vida e se sentem bem maltratando os outros.
Não é novidade, elas fazem isso desde que entrei no colégio. Karen sempre
foi o meu escudo, ligando o foda-se para tudo o que diziam. As coisas que
elas disseram dela... foi horrível, Math. Ela não está mais aqui para se
defender, nem a mim, e eu preciso aprender a lidar com tudo isso sozinha.
quintal dos meus avós e ele me dizia para aprender a perder, rindo da minha
cara e me falando que nem sempre se ganhava. — ele disse, com um sorriso
triste.
— Bem, ele não estava errado, né? — refleti, encostando meu rosto
— Sinto falta dele. Tanta falta que às vezes me sufoca, não sei como
conseguirei entrar no campo sábado para jogar sem ele. — ele finalmente
— Meu amor, ele vai estar lá com você. Tenha certeza disso. E eu
baixo:
gente?
— Pode ser, mas não vai pegar bem eu descer aqui, sua mãe vai
descobrir que ando pulando a sacada. — ele disse com uma fungada, um
pouco mais descontraído.
— Verdade, acho melhor você entrar pela porta da frente. Vou dizer
— Foi sim, deu tudo certo. Ele já deve estar chegando. — disse,
minha mãe trouxe a comida para a mesa. Todas nos sentamos e vovó
começou a servir Luana, que estava conseguindo comer melhor nos últimos
dias.
seco, mas fingi que estava tudo bem. Disfarçadamente comecei a colocar
salada no meu prato, enquanto o Matheus sentava ao meu lado sem dizer
uma palavra.
me encarava.
— Ele brigou com você? Por isso você está com essa cara?
falar, viu? Ele chega a ser pior que o treinador em dia de jogo. Mas jurei
que foi a primeira e última vez e agora já estamos resolvidos. — ele disse,
— Será que ele vai falar com minha mãe? — sussurrei, esticando o
braço para pegar comida. Vendo minha mãe me encarar com uma expressão
— Sim, foi tudo bem, tanto para mim, quando para o Albert e o
sorriso orgulhoso.
— mamãe comentou.
sobrancelhas.
— Não sei se teria necessidade, a maioria das pessoas que vão já são
divertirmos um pouco, acho que seria bom para você relaxar um pouco. —
Brian disse para minha mãe. Senti meus ombros ficarem tensos e olhei para
— Seria muito bom, meu bem. Há muito tempo não vou na casa da
detalhados.
mãe — Pelo amor de Deus! Vocês não vão! Eu estou planejando isso há
mesmo planejando levar sua mãe para algum lugar nesse fim de semana. —
— Sim, tudo certo. Iremos curtir, mas com todo o respeito, senhor.
Por mais que tenha tudo sido uma brincadeira, eu ainda estava um
pouco alterada. Eu sabia que estava errada, mas a verdade é que eu estava
embrulhar como não fazia há semanas. Olhei de relance para Luna, que
estava com uma aparência nervosa, ainda era difícil para ela e eu às vezes
porção e comecei a comer, ainda que sem vontade. Ao me ver comendo, ela
— Vai dar tudo certo! Qualquer coisa você me liga, ok? Eu sei que o
Nicolas vai se esforçar para que seja bem legal, mas caso você não se sinta
coração aquecer um pouco. Ela estava progredindo cada dia mais, agora que
tinha uma rede de apoio e motivos para querer melhorar.
o técnico me falou que têm uns olheiros que confirmaram presença, é difícil
ficar calmo. Mas eu sou o capitão, preciso passar confiança para os caras.
— ele respondeu.
nato. Eu tenho certeza que os olheiros vão notar todo o seu talento e
dedicação.
— Espero que sim, porque esse é todo o meu futuro. — ele falou,
— Até que eu a entendo. Para mim não tem coisa pior que viver
longe de você, linda. — ele declarou, puxando-me para um beijo carinhoso
e repleto de paixão.
ALANA
certeza que vocês vão arrasar! — exclamei, fazendo um toque de mãos com
Albert.
jogo. Como é a casa da sua tia? Vai ter lugar para todo mundo? — Tami
perguntou, tomando seu açaí.
— Então! Tem uns três quartos só, mas os cômodos são enormes.
Vai dar para dormir uma boa quantidade em cada canto se dividirmos
— É, pode ser. Vamos ser umas vinte pessoas no total, né? Alguns
comemoração pós jogo. Rimos muito com a imitação que o Joca fez do
Luna com um selinho. Ela ficou muito vermelha e ele foi todo carinhoso
com ela. Amei vê-los juntos, pois era visível o quanto eles se gostavam.
não é todo dia que algo assim acontece. — ela falou, mas escolheu uma
meninas precisariam levar, fiz um grupo, adicionei todas que iriam e sugeri
que fôssemos ao supermercado depois da aula, na terça-feira. Quando
animados, afinal, era o último ano de muitos garotos ali. Além da emoção e
tinha sido um sucesso e minha mãe não poderia estar mais feliz, e eu, mais
orgulhosa.
observando o Matheus treinar. Nós não nos víamos direito há dias, já que
ele estava focado e precisava se manter assim até o dia do jogo. Apesar de
camisa, mas eu queria saber se está preparada para nosso fim de semana. —
ele falou, olhando para mim com um sorriso sugestivo que eu não
compreendi.
com as meninas ao mercado e você não tem ideia do quão exaustivo é sair
para fazer compras com várias meninas, sendo que cada uma tem um gosto.
— Não estou falando disso. Você e o Math não vão dormir juntos lá
— Ai, meu Deus, Joca! Eu-eu, ainda não sei, v-vou deixar
— É o melhor que você faz. Não tem nada pior que fazer as coisas e
transe com ele se estiver mesmo a fim. — ele completou e eu tapei a boca
dele.
— Você está louco? Como pode falar isso alto? Quer que todo o
colégio saiba?
— Amiga, você não faz ideia de como esses atletas bebem, viu? O
— Ai, meu Deus! Eu espero que todo mundo seja responsável. Isso
é a última coisa que precisamos que aconteça. Vou pedir para a minha mãe
pote que ela fez para comemorarmos a vitória dos meninos, dei boa noite
para minha avó e subi para arrumar minha mochila. Quando coloquei as
pela mamãe sem dar explicações e ignorando quando ela perguntou onde eu
bem confiante. Eu vou jogar para valer mesmo. — ele disse, beijando a
minha testa delicadamente.
— Espero que sim. — ele disse, mas ainda estava com a expressão
bastante séria — Sabe, conhecemos um olheiro ontem. Ele é amigo do
— Uau. Mas isso é muito bom, não é? Por que você está com essa
cara?
— É bom sim, mas não quero nutrir esperanças nem criar
expectativas. Vai ser complicado caso não dê em nada. — ele respondeu.
— É... Mas e se der? O próprio treinador vive falando que você tem
talento, e até eu, que estou só começando a entender de futebol, sei que
você é bom. E não estou falando isso só porque você é meu namorado. —
profissional.
coisas bem mais complicadas nas aulas normais mesmo. Eu só estou feliz
de não ter mais que ir para as aulas extras, porque a minha mãe resolveu
— Ah, é? Eu também vou começar, mas achei que você não fosse
fazer. — comentei, levemente surpresa.
— É, eu não ia, mas minha mãe não quer que eu me iluda com o
futebol e tenha uma segunda opção no futuro. — ele explicou.
verdade. — ele respondeu, bastante pensativo. Acho que ele não tinha
considerado essa segunda opção muito a fundo.
— Tudo bem, amor, você não precisa saber agora. Vamos viver um
dia de cada vez, né?
Odiava essa distância que se instalava entre a gente, mas não havia
nada o que eu poderia fazer contra ela. Matheus e eu teríamos que trilhar os
nossos próprios caminhos algum dia, e eu não sabia se faríamos isso juntos.
ALANA
praia.
pronta.
— Brian não vai. Ele tem que ficar na delegacia hoje, mas eu vou
respondeu.
— Ah, que bom! Tia Lu vai precisar de apoio, ela estava meio triste
nesses últimos dias. — mencionei, passando o delineador.
que isso estava na mente dele. Tentei confortá-lo essa semana, mas nos
vimos tão pouco... — lamentei, mexendo nos meus batons, tentando decidir
qual eu usaria.
vestibular, precisamos focar nos nossos objetivos. Ele tem treinado muito e
está fazendo academia. Daqui duas semanas nós vamos começar o cursinho,
ele de noite, eu de tarde, vai ficar cada vez mais difícil nos vermos. —
— Eu sei, meu amor, eu também já estou com saudade dela. Mas ela
afastada do irmão, por isso não sabia de tudo que estava acontecendo.
Ainda bem que a Luna ligou para ela, porque senão ela nem ia ficar
sabendo.
do time, que tinha um logo bem grande de um tigre, com as cores branco e
azul. Nas minhas costas, o número 10 estava estampado. O número do
Matheus.
— Espero que sua noite seja como sempre sonhou. É meio estranho
na primeira vez, mas depois passa e começa a ficar bom. — ela disse e meu
rosto corou.
— Mãe!
— Não, filha, deixa eu falar. Eu só posso falar isso uma vez na vida.
indicou que não era sobre a praia que ela estava falando.
aproximei.
todos riram. Sentei ao lado da Luana, que sorriu nervosamente para mim.
Era o primeiro jogo do Nico que ela iria assistir e ela estava bastante
dar uma boa lavada na alma. — Tami comentou com um biquinho — Essa
noite eu até sonhei que estava fazendo prova de matemática, Deus me livre!
por ele. Soprei um beijo para dar boa sorte, e ele fingiu pegar com a mão,
básicas, tipo em qual posição cada um joga. Eu consigo ver que tem jogadas
orquestradas aí, mas não sei exatamente o que está acontecendo. Sei lá, as
explicações do Math são empolgadas demais, eu me perco um pouco
boca dele é tão linda se mexendo que eu não me aguento. — Luana revelou,
— Quem te viu, quem te vê, hein, dona Luana? — Joca brincou com
— Sério? Ah, não, eu vou ouvir muito por ter perdido esse lance,
O primeiro tempo não teve nenhum gol, mas teve um cartão amarelo
a favor do outro time quando a bola bateu no braço do Nicolas e uma
foram para o vestiário com caras não muito boas. Percebi pela expressão do
precisava ir bem, tinha alguém nessa arquibancada que estava de olho nele.
Queria que o Matheus tivesse todo o sucesso do mundo, fosse perto
cada dia mais próxima de se tornar realidade. Afinal, eu o amava, mas não
Mas não era hora de pensar nisso. “Um dia de cada vez”, repeti
mentalmente.
Imediatamente percebi que o nosso time estava mais rápido e mais focado.
senti meus olhos encherem de lágrimas, porque sabia bem o que isso
significava.
lances perigosos que a Tami explicou por cima, e ela também falou que a
posse da bola estava mais com os nossos meninos. O jogo seguiu com
bem capaz de eles furarem a nossa defesa e empatar. Eu ainda acho que
aquele último gol devia ser anulado, mas paciência. — ela concluiu,
emburrada.
Juntei as mãos em oração, torcendo para que desse tudo certo para o
marcou.
bochechas corarem. Não demorou muito para o árbitro soar o apito final e a
respectivos namorados.
e me beijou apaixonadamente.
tempo longe. — falei e ele selou nossos lábios mais uma vez.
qualquer imprevisto.
Assim que todos viram a casa da minha tia, ficaram de boca aberta,
exatamente como eu quando vi pela primeira vez. O lugar era incrível, toda
contava com uma extensa área verde, piscina e um deck que tinha uma vista
— Luna, nada disso! Você está entre amigos! Todos nós aqui temos
cicatrizes, algumas visíveis e outras nem tanto, mas isso não nos faz mais
fraco ou pior que ninguém. Não quero que se prive de nada por causa delas.
dado de presente.
conversa bem divertida com o Nico, já que ela não parava de rir e eu amava
vê-la feliz. Mais ao fundo, um pouco mais perto da praia, conseguia ver o
Albert conversando com uma garota que não pude reconhecer. Todos
estavam se divertindo, e isso fez meu coração se encher de felicidade.
Mas então Matheus chamou a minha atenção, me beijando e fazendo
tudo ao meu redor desaparecer. Éramos só nós dois ali, sozinhos, e o mundo
era nosso.
Cada toque.
Cada beijo.
longo e apaixonado.
Ele foi conhecendo pouco a pouco cada parte do meu corpo, assim
deliciosa. Estava entorpecida de algo que nunca senti, não havia sensação
melhor do que amar e ser amada.
movimento do meu corpo, fazendo minha primeira vez ser mais que
especial.
seu coração.
— Eu também, mas essa semana foi um pouco difícil por causa das
sala de aula.
— Eu sei, também não gosto disso, mas vamos ter que dar um jeito.
— Como? Você precisa treinar e fazer o cursinho, eu também
preciso ir para o cursinho e logo vou começar a trabalhar com a minha mãe.
— Eu sei. — ele disse, fazendo com que eu olhasse para ele — Mas
— Sei que não é, eu também não sou! Mas eu sei que eu quero estar
com você e nós vamos fazer dar certo. — ele disse, beijando suavemente os
meus lábios.
futuro juntos.
Acordei antes do Matheus na manhã seguinte e aproveitei para
observá-lo por um tempo, me sentia tão sortuda por ter alguém como ele ao
meu lado.
então apenas levantei e, de pijamas mesmo, caminhei pela casa, indo até a
qualquer jeito nos quartos e na sala. Parecia que a festa tinha sido muito
— Ih, olha a carinha dela! A noite deve ter sido boa, hein? — Tami
brincou.
— Ai, meninas, não vou mentir não, foi maravilhosa! — falei e elas
pouco de água. Pigarreei e fingi que não tínhamos acabado de agir como
três patetas.
tudo lá para fora? Albert, você pode pegar o bolo que está na geladeira? Eu
Luana já tinham colocado boa parte da comida, e voltei para a cozinha para
pegar o suco. Foi então que senti mãos em minha cintura e virei a cabeça
beijá-lo — E você?
— Fazia tempo que eu não me sentia tão feliz. — ele sorriu, me deu
Nicolas.
para o Matheus me ensinar a jogar futevôlei, não deu muito certo. Eu era
erguendo da areia e me levando até a água em seu colo. Comecei a rir até
dos garotos do time ameaçando jogar Beatriz, uma das amigas da Tami, na
água.
— Math, fala para eles pararem. Ela não quer entrar na água, eles
observando o Cauã erguê-la em cima das pedras, levando-a para parte que
— Cauã, larga a menina! Não está vendo que ela não está a fim de
até eles e os puxaram até o raso. Quase chorei de alívio. Bia sentou na areia
Luana veio para o meu lado com lágrimas nos olhos e falou:
Não tínhamos mais ânimo para ficar na praia. Voltamos para a casa
disse, frustrado — Eu e os meninos demos uma chamada nele e ele vai ficar
— Sim, mas podia ter sido muito mais sério. E o Thales também é
um não!
— Não se preocupe, linda. Essa não é a última vez que os dois vão
Suspirei e disse:
sério, ok? Eu vou me esforçar mais para passar mais tempo com você.
beijar.
maravilhosa que havia tido com o Matheus. Eu estava temerosa sobre o que
aconteceria, mas ele me fez sentir tão segura e amada que minhas
inseguranças desapareceram. Logo que terminei de comer, dei um beijo na
novo. Ela estava feliz em estar com a tia, progredindo bastante na terapia e
namorando o Nico, mas eu sentia falta de ter minha melhor amiga por perto
a música inundar meu quarto. Tomei banho, vesti uma roupa leve e
lavar.
Luana.
queria ir para São Paulo comigo. Desde que ela iniciou a terapia, ela estava
Luna devia estar bem ansiosa com isso, porque eu mal enviei a
encontrava.
Suspirei, torcendo por isso.
Era o Matheus.
vai ser bom ter alguém para assistir os jogos comigo. Ela até tenta, mas ela
é que nem você para entender as jogadas. — ele respondeu, rindo um pouco
— Ei, eu me esforço! — ri junto com ele — Mas fico feliz que você
esteja lidando bem com isso, achei que você fosse estranhar mais.
— Eu tenho que lidar, né, amor? Eu quero que a minha mãe seja
feliz.
— Ah, verdade. Ele me disse que eles iam fazer uma trilha e
convidou a gente. O Nico é todo ligado nessas coisas de natureza. Você
quer ir?
mim.
— Tudo bem, mas vou depois do almoço, pode ser? Vou fazer umas
da cama.
Naquela noite, sonhei com a Karen, coisa que há muito tempo não
acontecia.
ALANA
um pouco.
vestido. Desci as escadas e encontrei minha avó arrumando uma mesa bem
— Bom dia, minha neta! Sua mãe ligou, disse que está chegando e
com novidades.
— Pela voz dela foi algo bom. Ela estava muito animada, então
achei que seria caso de comemoração. — minha avó disse, deixando-me
chegou.
Sozinha.
— Oh, deixe-me olhar você! Está tão linda, filha! E com um brilho
Contei a elas tudo que havia acontecido lá sem tantos detalhes e elas
me escutaram atentamente.
— Sim. Foi bem tenso na hora, tanto que não conseguimos ficar
dia”.
— Ah, que lindo! Não imaginava que ele fosse assim, parece ser tão
sério.
— Ele quer que nós moremos juntos como uma família. Nos
convidou para morar com ele. — ela disse e eu arregalei os olhos para ela.
verdade — minha mãe disse, meio nervosa — Fomos nós três por muito
tempo e eu amo morar com as duas. O convite foi estendido para todas nós,
mas não sei o que vocês querem fazer, então eu ainda não dei uma resposta
definitiva.
comigo.
casinha e eu pretendo ficar aqui até o fim dos meus dias. Podem ir
tranquilas, quero a felicidade de vocês. — minha avó disse a nós duas
nos rir.
— Nós vamos morar com ele então, a senhora já decidiu.
eu fico.
muito bonito um pelo outro, morarmos juntos faz sentido, Alana. Mas eu
vivendo com ele, não quero que fique sozinha quando eu for para faculdade
sonho.
— Eu sei, filha. Eu sei. Então é isso. Vamos nos mudar! Vou contar
a novidade ao Brian. Ele está animado com tudo isso, o Joaquim também.
— Joaquim já sabe?
— Nós conversamos com ele antes de vir para cá. O garoto mal
podia conter a animação, disse que vai adorar te ter como irmã! — ela
revelou.
— Estou animada para essa nova fase da nossa vida, mãe. Eu te
amo.
Sorri para ela e subi para me ajeitar para ir até a casa do Matheus.
Fiz uma mochila com umas coisas básicas, me despedi da minha mãe, da
vovó e fui.
Matheus, mas parei de repente assim que vi Paloma saindo da casa dele.
Matheus sabia muito bem o que Paloma tinha feito comigo e com
nós dois e ainda assim permitia que ela fosse até a casa dele.
Isso não era algo que eu conseguia aceitar facilmente.
MATHEUS
Minha mãe, antes de avisar que iria passar o dia com o treinador, me
deu uma pequena bronca por deixar tudo jogado por aí, sabendo que a
responsabilidade de manter as minhas coisas no lugar era minha e todo
Ela estava certa, claro, mas eu não pude deixar de revirar os olhos
antes de dizer que, quando ela voltasse, ia estar tudo no seu devido lugar.
Ela então sorriu para mim e eu pude ver o que há muito tempo eu não via
nos olhos dela: Felicidade plena. Prometi para mim mesmo que faria o
passar uma vassoura no chão, porque queria deixar tudo perfeito para
Alana.
Depois de terminar, bebi uma boa caneca de café para estar mais
Quando a campainha tocou, corri para atender imaginando que fosse ela,
encostando-se no batente.
— Claro, entra aí! — falei, abrindo mais a porta para permitir que
ela passasse.
sofá.
— Pode falar, Paloma. — respondi, rezando para que fosse algo
por aquela situação na festa da Mi, eu não fiz por mal, juro. — ela falou em
um tom arrependido.
sobre isso.
que você pensasse o mesmo de mim. Mas como a sua namoradinha não vai
muito com a minha cara, fiquei pensando que talvez você se sentisse da
negativamente.
E sabe, é verdade que a Alana não gosta de você, mas você deu motivos
para isso.
redimir.
Observei-a por alguns instantes. Alguma coisa me dizia que ela não
tinha vindo apenas para pedir desculpas, mas como ela parecia
espero que você apoie o meu namoro, porque ele é muito importante para
mim. Alana é uma pessoa tranquila, se essa sua mudança for sincera, tenho
próprios erros para que não fique um clima ruim entre nós. Afinal, vamos
nos ver bastante a partir de agora, já que Mirela e Albert estão saindo. Quer
— Vai dar certo! Os dois merecem ser felizes. Mas é isso, eu já vou.
Mas se passou mais de meia hora e ela não tinha chegado, então comecei a
atendeu.
Esperei exatos dez minutos, mas não obtive nenhuma resposta.
— Ela ainda não chegou, achei que ela estivesse ido para sua casa.
— Então, eu também achei, mas até agora ela não chegou, estou
uma mensagem.
ALANA
para onde ir, mas a praia me pareceu a melhor opção. Durante o trajeto do
Era a Paloma.
um pouco receosa de deixar a minha casa e a minha avó para trás, mas que
faria tudo para minha mãe ficar feliz depois que eu fosse embora.
Assim que cheguei na praia, aproveitei que o sol não estava muito
Meu celular vibrou novamente e dessa vez era o Matheus. Tinha três
mensagens dele.
Ignorei as mensagens e voltei a olhar o céu, o mar e qualquer coisa
que não fosse meu celular. Escutei-o tocando duas vezes, mas não dei
não era o Matheus. Se Fábio Junior cantava “Só você”, só podia ser a
minha mãe.
— Oi, mãe!
— Oi, filha. Onde você está? Achei que tinha ido para casa do
Matheus, mas ele acabou de me ligar e nem sabe onde você está. — ela
perguntou, desconfiada.
— Não, nada. Está tudo certo, fique tranquila. Eu vou avisar ao
— Eu também, beijo!
mandado.
Digitei e, antes que ele pudesse me mandar outra mensagem, eu
cadeira de balanço.
— Ela vai ter dois eventos essa semana e disse que precisa adiantar.
para praia.
— Flores?
— Sim, minha neta. Chegaram algumas flores para você, junto com
envelope entre as folhas. Abri e encontrei uma carta escrita pelo Matheus
“Alana,
palavras certas. Quem é boa com essas coisas de escrita é você, mas eu
preciso tentar. Não sei se devo me desculpar, mas acho que é o que você
quer que eu faça. Sei lá, às vezes acho que você não confia em mim. Aliás,
acho não, tenho certeza. Eu tenho a sensação de que você fica esperando
eu errar para a gente terminar e você ficar livre de toda pressão e de todas
essas coisas que você não gosta, mas que fazem parte do meu mundo. Eu te
amo, mas não posso amar sozinho. Uma vez você disse que não iríamos
brigar por coisa pouca e que iríamos confiar e conversar um com o outro
sempre, mas isso não está acontecendo. Você foge sempre que tem a
oportunidade e eu não sei mais o que fazer. Depois da noite linda que
tivemos, eu achei que tudo ficaria bem, mas estava enganado. A confiança
Fizemos tudo muito rápido, e talvez por isso que as coisas não
Matheus.”
amparar. Ela abriu a porta e sentou ao meu lado, colocando a minha cabeça
enxuguei o rosto e contei para ela tudo o que tinha acontecido. Ela me
— Meu amor, acho que com tudo isso que aconteceu entre vocês,
um tempo não é de todo o ruim, nesse momento acho que é até o melhor
para os dois.
aconchegando a ela.
Ela ficou comigo por um tempo e depois voltou para o seu quarto.
Levei uma manta comigo e me enrolei nela, olhei para o céu e pedi
nós dois.
ALANA
Se minha mãe achou que tinha que me acordar, é porque ela estava
muito preocupada, e isso era tudo o que ela não precisava. Suspirando,
levantei e tentei dar um sorriso para ela, que nem por um segundo acreditou
todas em silêncio naquela manhã, e logo a Luna chegou para irmos juntas
bagunçado agora, mas vocês vão se entender. Vocês são feitos um para o
outro. Vai ficar tudo bem, eu tenho certeza! — ela disse fazendo carinho nas
minhas costas.
outro assunto, então falamos sobre uma série que ela estava assistindo pelo
resto do caminho.
Não queria encará-lo, mas foi inevitável não olhar para ele, mas
Matheus passou por mim sem dizer nada e sem sequer reconhecer minha
presença.
Eu baixei a cabeça, tentando não chorar e fui para sala, com Luana
informação nenhuma.
frente, bastante atento à aula, ao contrário de mim, que não parava de olhar
daríamos certo.
dessa aula?
importante para você... mas já que não está bem, tome aqui o passe para
enfermaria, espero que pegue o assunto com outro colega depois, ok?
pegar meu material, sentindo todos a minha volta me encarando, mas não
parecia estar bem, sempre rodeado dos amigos. Isso acabava comigo,
principalmente porque Paloma parecia estar com ele o tempo todo.
Brian. Estávamos nos acostumando a essa nova rotina, mas ele e o Joaquim
eram pessoas maravilhosas e eu realmente queria estar muito feliz por esse
momento eu estava feliz por ela, celebrando com o Joca, mas no outro eu
questionei:
desconversou.
apenas apertei sua mão. Quando ele estava pronto, suspirou e começou a
falar:
estou muito acostumado a falar disso, sabe? Eu nunca escondi quem eu sou,
mas algumas pessoas usaram isso contra mim, então é um pouco difícil.
— Eu nunca faria isso, Joca. Ninguém deve ser julgado por ser
quem é, ainda mais alguém tão maravilhoso como você. — falei e ele sorriu
um pouco.
— Queria que todo mundo pensasse como você. Tudo bem, você
venceu, vou te contar o que aconteceu. É só... sabe que eu vim morar aqui
em namoro. A gente foi bem feliz por um tempo, mas ele ainda não tinha se
assumido, então tinha que ser tudo escondido. Se a gente queria sair, tinha
que ser em outra cidade, se a gente queria privacidade, tinha que ir para
minha casa. Quando a gente ia para o colégio, ele me ignorava. E eu, bobo,
ele só riu e disse que era bobagem, que era só zoação. Até que um dia eu
apanhei de um deles. E... bem, ele não fez nada. O que foi meio que um
soco no estômago por si só. Mas eu relevava, tentava pensar que ele
precisava se proteger, ninguém sabia que ele era gay. Enfim, eu devia ter
tinha passado por isso. Ele tinha uma alegria tão contagiante que eu nunca
imaginei que algo tão sério assim tinha acontecido. Sabia que alguns caras
tinham feito a vida dele bem difícil, mas nunca pensei que alguém pudesse
ser tão baixo. — Aí as coisas ficaram ruins o suficiente para eu precisar vir
morar com o meu pai. — ele continuou — A gente chorou juntos, ele disse
que ia sentir a minha falta. A gente até fez planos de ir estudar juntos em
uma cidade que ninguém conhecesse a gente, porque assim a gente poderia
ficar juntos.
— Ah, então era por isso que você queria se mudar de novo?
— Era. — ele deu uma risada fraca — Mas agora não preciso mais,
já que ele avisou nas redes sociais que vai se mudar para Florianópolis com
a namorada dele.
divertindo tanto que eu senti falta dele. Mandei mensagem, mas ele não
respondeu, então eu abri uma das redes sociais dele só para ver as fotos e
esquisito, porque ele não tinha me falado nada. Então encontrei uma foto
dele beijando uma conhecida nossa. E os amigos babacas dele todos
comentando sobre o quanto ele era sortudo. Aí eu percebi que ele era
apenas um babaca que nunca ia me assumir. Liguei para ele e passamos a
noite inteira discutindo, ele dizendo que me amava, mas que precisa manter
uma imagem e mais um monte de bobagem. Dei um basta, terminamos. —
— Joca, eu não acredito que ele teve coragem de fazer isso com
você! Que babaca! — falei extremamente indignada — Como alguém pode
ser tão cretino assim! É compreensível não estar pronto para se assumir,
mas usar as pessoas para manter uma imagem é extremamente desprezível.
alguém que não só vai te assumir, mas vai querer te exibir por aí como se
ele fosse a pessoa mais sortuda do mundo, porque ele vai ser! Você vai ver.
— Ótimo! Então vamos fazer o seguinte. Hoje foi a última vez que
nós choramos por causa de um cara, ok? — estendi o mindinho para ele e
selamos o pacto.
franzi o cenho — Não faz essa cara que eu tenho certeza disso.
Eu também queria ter essa certeza, mas depois daquele dia, passei a
chorar bem menos e o Joca voltou a esbanjar sua alegria contagiante, até
saiu em um encontro.
do resto.
entrando. Levantei meus olhos para ver quem era e encontrei o olhar que eu
estava evitando há dias.
Era a primeira vez desde que nós demos um tempo que eu o via
sozinho. Matheus me encarou por um tempo, a expressão impassível, e
— Não faz isso, Joca! Por favor, faz isso por mim.
— Não quero falar com ele aqui, não agora, por favor!
— Não tem conversa, Alana. Vai até lá! — ele avisou colocando o
pano no ombro, virando as costas e entrando na cozinha.
mesa dele.
Como fazia tempo que eu não fazia isso, meu coração até bateu mais
unhas nervosamente.
— Queria que não tivesse se afastado tanto, nunca pensei que fosse
durar tanto tempo. — falei, segurando a mão dela e entrelacei nossos dedos
— Sinto sua falta.
— Eu sei que não, então tive que ser corajoso por nós dois. Foi bem
difícil.
parte desse problema é culpa do meu pai e das inúmeras vezes que ele
falhou comigo.
Não era novidade nenhuma ouvir isso, mas eu fiquei feliz de ouvi-la
doía saber que você não confiava em mim. — disse, surpreendendo até a
mim mesmo com a mágoa na minha voz. Apertei a mão dela novamente
— Tenho que fechar a loja com o Joaquim hoje, minha mãe saiu
com o Brian.
Fui de moto até minha casa, indo direto para garagem e coloquei na
coisas para a gente comer, mas logo percebi que teria que passar no
ele respondeu, dei a partida no carro e coloquei uma música alta. Estacionei
na casa do Nico e ele veio até o carro, trazendo uma caixa com toras de
madeira que ele colocou no porta-malas. Em seguida, ele abriu a porta e
— A vida é agora e não há tempo para perder. Não é isso que você
mano, pelo amor de deus, troca essa música. Isso aí nem letra tem!
sempre.
também era bom ter alguém para vigiar as coisas antes de eu buscar a
Alana. Avisei-o que eu estava voltando e ele ergueu o polegar para mim.
— Vai lá buscar sua mina, mas não esquece que você prometeu
confeitaria, senti até um frio na barriga, mas ela estava lá, me esperando
com um sorriso tão lindo no rosto que me perguntei como aguentei passar
ele foi embora. Estava com tanta saudade de tê-lo por perto, de ouvir a voz
caminho apenas com uma mão, pois não queria largar a minha e como o
som do carro.
dias, está sendo bem legal ter o Joaquim sempre por perto.
— Posso imaginar, ele é um cara bem legal. Sua avó foi também?
— Não, ela disse que preferiria ficar em sua própria casa, então
respeitamos a vontade dela. Vou visitá-la sempre que tenho um tempo.
alguma coisa no bolso, enfiando algumas notas na mão do Nico, que bateu
do treinador dele.
— Sim, não podemos deixar que isso aconteça outra vez. — falei,
encostando minha cabeça no ombro dele — O que fez nesse tempo que
ficamos afastados?
banda que toca muito bem na cidade vizinha, acho que deveríamos ir no
próximo show deles... E você, o que fez?
— Hum, no começo foi bem difícil, mas eu passei boa parte do
tempo com a Luna ou com o Joca, escrevi alguns textos e trabalhei bastante
na confeitaria.
— Sim, do jeito que a minha mãe sonhou, estou muito feliz por ela.
— Ah, eu gostei! Apesar de nunca ter ido até lá, algumas pessoas
a cara — Senti sua falta, linda! Mais do que você pode imaginar.
— Eu acho que posso, viu! Doeu tanto não estar com você e te ver
— Não vivo bem sem você, então acho que vamos ter que dar um
Math, porque na minha cabeça, ela era uma ameaça para o nosso
relacionamento. O que não fazia sentido num contexto em que o Matheus
nunca iria fazer nada, não importa o quanto ela quisesse. E agora eu sabia
disso.
encerraria a temporada. Ele estava bem ansioso, tinha esperado por isso por
muito tempo. Era o jogo que definiria tudo. Tiago tinha o treinado muito
bem e ele estava cheio de expectativas. Eu estava feliz por ele, mas também
clima ia pesando no colégio. Estávamos todos com muitas coisas para fazer
e mal tínhamos tempo para nós mesmos. Algumas pessoas já tinham até
obrigatórias do cursinho. Acho que era por isso que ela andava tão estranha:
alguns minutos.
obviamente eu não vou te contar, mas não quero me tornar uma pessoa
— Eu não fiz feitiço nenhum! Nós dois nos amamos. Sei que deve
seu mal. Tem outros caras aí no mundo e você vai ficar com vários deles.
com uma expressão engraçada — Eu tenho que ir, preciso ver umas coisas
antes de viajarmos.
— Tudo bem... Olha, não vou pedir desculpas por tudo porque eu
não faço isso, mas acho que podemos pelo menos tentar nos dar bem nessa
viagem, ok? Afinal, depois que tudo isso acabar a gente não vai se ver tanto
e eu não quero que você leve para sempre a imagem de que eu era uma
farpas lançadas uma contra a outra? Meu Jesus, eu estou muito surpresa!
tão infantis, amiga. E ela não me pediu desculpas, nem nada assim, só pediu
uma trégua.
mudou bastante depois que os pais se separaram. A Karen que era bem
próxima a ela na época, e depois disso começou a afastar todo mundo, falar
mal da Karen e espalhar boatos maldosos. Foi o jeito que ela conseguiu
entendo.
Espero que ela tenha de fato amadurecido. Mas ei! Vamos logo no
planos para a viagem, concordamos que Luna iria dormir na minha casa no
para casa.
ligou.
Reconhecimento de campo, apenas, mas é bem legal lá. E a sua tarde, como
foi?
— Pois então. O jogo está cada vez mais próximo, estou começando
a ficar ansioso.
vamos aproveitar e dar uma passeada por lá, conhecer um pouco a cidade. E
também falamos um pouco sobre as férias. Você já sabe o que vai fazer nas
suas?
com a Luna e com a tia dela. E vão ser só duas semanas. Temos mais de um
— Até, bruxinha.
Assim que cheguei em casa, engoli o meu almoço e subi para meu
anunciado, muito feliz, que iria sair com seu novo crush, e que depois
buscaria Luana, já que ela dormiria aqui em casa.
— Alana, ele é seu pai! Vocês mal se viram durante esses anos.
— Eu sei que não foi culpa sua. Mas se ele deu o primeiro passo,
cabe a você dar o segundo.
— Não sei de onde veio esse interesse súbito em mim. Olha, eu vou
passar uns dias com ele sim, só para não parecer ingrata, mas o Matheus
não vai ficar muito feliz com isso.
— Ele supera, vocês têm a vida toda para ficarem juntinhos. — ela
falou e eu senti um peso no estômago.
— Não sei disso, mãe. Math tem quase certeza que o olheiro vai
levá-lo para o tal time que ele tanto quer ir. Ele está se esforçando como
nunca. Eu assisti aos jogos, ele foi incrível.
não vai para a tal da universidade de São Paulo com você? — ela falou com
um sorriso, mas eu não retribuí.
— Acho que ele não seria feliz se fosse. — falei com pesar e ela me
ficar com o teu macho, e eu também queria ficar com o meu, mas aí nós não
rir.
de café, esse era o nome do rapaz com quem ele estava saindo.
— Bem boas. É muito cedo para afirmar qualquer coisa, mas ele é
bem atencioso. E pegou na minha mão em público, o que é algo que o meu
ex nunca faria.
— Que máximo, Joca. Você merece! Mal posso esperar para sairmos
em casal.
no ônibus.
— Alana, minha tia me disse que vamos poder ficar no apê dela lá
— Eu espero que sim... E acho que ainda não te contei. — ela disse,
— Ah, que bom! Engenharia Ambiental que ele quer fazer, né?
Tomara que ele passe! Como eu queria que as coisas fossem mais simples e
que Matheus pudesse ir também, mas eu sei que não é isso que ele quer.
— Ele quer jogar futebol, Luna. Esse olheiro vai decidir o futuro
dele, você sabe que o time do colégio é mantido pelo time do nosso estado,
a maioria dos jogadores que se destacam, vão direto para o profissional por
causa disso. — comentei, com um suspiro — Estou tentando me acostumar
com a ideia de que talvez não estejamos juntos quando isso acontecer. —
— Não fica assim! Viva o agora, Lana. Nicolas vive dizendo isso, e
ele está certo, sabe? Não pensa no futuro, curta esse momento com ele e
crie memórias inesquecíveis, assim, mesmo que vocês estejam longe, ainda
A única parte ruim foi ter que acordar muito mais cedo que o normal
— Eu não estou tanto assim, porque acho que ele sempre gostou
dela. — revelei.
tão grosso com ela! Eles viviam brigando! Quando você percebeu isso?
no ônibus, tudo ficou ainda mais claro para mim. Talvez as brigas fossem
amor reprimido e como agora finalmente a Paloma saiu dessa obsessão que
quisesse.
Eu ficaria feliz em ganhar, mas não me importaria em perder. O
legal para mim era participar, mas ao contrário de mim, Matheus era
pedra e desvendamos a pista que nos mandou para perto da cachoeira, onde
estava a pedra verde. Chegando lá, vimos uma placa indicando que ela
procurar.
a terceira pista.
sabia cavalgar muito bem e nos levou tranquilamente até o fim do milharal.
Começamos a correr em direção a casa e no meio do caminho, vi
desembestados, mas eu não era uma boa corredora e o Matheus não queria
Matheus estando meio emburrado. Rindo, dei um abraço nele e beijei seu
rosto, dizendo para ele desfazer o bico, o que fez ele rir um pouco também.
estacionamento. Me despedi do Math com um longo beijo e fui até ele, que
estava colocando as malas do Joaquim no porta-malas.
vocês.
exausto.
minha testa.
— Foram poucos dias, mãe. Como está? Soube que não anda se
sentindo bem.
— Já estou melhor. Deve ser essa virose que está se alastrando pelo
bairro.
— Pode deixar, mocinha. Mais tarde a sua avó vem jantar aqui. Ela
meu quarto.
los.
Esperei que ele chegasse e fomos direto para meu quarto. Ele
imediatamente se jogou na cama e sorriu para mim, mas pedi que ele
silêncio, ele distraidamente traçando círculos com a mão nas minhas costas.
pensar em outra coisa. — ele respondeu e eu ergui meu corpo para olhar
nos olhos dele.
Ele sorriu e ergueu a mão para colocar meu cabelo atrás da minha
orelha.
estado inteiro. É nisso que eu acredito e que você também tem que
acreditar. — falei e ele me puxou para si, invertendo nossas posições e me
envolvendo em um beijo carinhoso e apaixonado.
Eu amava demais o Matheus, mas enquanto me entregava a ele, só
ficasse focado.
joelheiras e tudo.
— Alana, preciso de você. Vem comigo. — ele me chamou e todos
— O que aconteceu?
que não vai conseguir. Já tentei todas as técnicas que costumamos usar
nessas situações, mas não está adiantando. Você é nossa última esperança.
— ele disse e eu assenti, seguindo-o apressadamente.
chorando.
tudo certo e que esse nervosismo que estava sentindo era algo passageiro,
mas não. Estou morrendo de medo. — ele falou e eu nunca tinha ouvido
Meu coração se quebrou, mas eu precisava ser forte por ele, então
muito calmamente soltei as nossas mãos para segurar seu rosto e falei:
— Não é mesmo, mas você é tão talentoso quanto ele era. Dê o seu
melhor em campo hoje, meu amor. Vai ser mais que o suficiente. — falei,
abraçando-o.
Não havia muito tempo para consolá-lo, mas eu senti seu corpo
relaxar um pouco contra o meu e eu soube que tudo ficaria bem.
— Eu te amo, Alana. Não sei o que faria sem você. — ele disse,
entender o que estava acontecendo, mas mesmo sem isso eu pude perceber
indignada.
Matheus não pareceu nada feliz, mas Albert correu até ele e falou
assim, mas então a vida me provou que nada é tão ruim que não possa
piorar.
dinheiro com minha mãe, e então vi o sorriso dela murchar e ela desfalecer,
Estou falando com ela ir desde que você voltou. — ele disse nervoso e ela
— Eu vou com você, minha mãe nunca passou mal desse jeito. —
a terceira vez em dois dias. — Brian disse decidido e ela assentiu. Fui até a
entrando no carro.
para a enfermeira, que me deu uma ficha para preencher. Não demorou para
consultório.
estava deixando crescer. Eu estava tensa por não saber o que a minha mãe
tinha e estava tensa por não estar vendo o jogo pelo Matheus para passar
toda a confiança que ele precisava. Mas eu tinha fé que ele se sairia bem,
forte. Por cima do ombro dele, vi minha mãe em uma maca sendo levada
— Sua mãe quer falar com você. Ela está sendo levada para
enfermaria, vai ter que ficar mais umas horas aqui. Vem que eu vou te levar
quando pensei em todos os sintomas que ela tinha exibido nos últimos dias
e, o mais importante deles: Felicidade.
meus olhos se encherem de lágrimas — Estou muito feliz por você, te amo
demais.
— Também te amo, meu amor. Sabia que você ia ficar feliz. — ela
beijou minha bochecha e eu a encarei, emocionada.
— Ainda não disse muita coisa, vamos conversar mais tarde. Mas já
sabemos que eu não sou mais tão jovem, vou precisar tomar vários cuidados
extras. — ela falou e eu segurei sua mão.
— É, mas vai dar tudo certo. Brian com toda certeza vai estar lá por
você em todo o processo. Ah, mamãe, mal posso esperar para conhecer esse
neném lindo! Espero que ele resolva nascer em uma semana tranquila, eu
quero poder viajar para vê-lo nascer!
— Você ajudou! Sem você, o Matheus não teria jogado, e ele foi a
profissional?
sem graça.
— Você e a Luna eu tenho certeza que vão, mas eu, já não sei. É
muita concorrência! Mas de qualquer forma, não me importo de me
— Vocês dois são muito fofos! Vai lá encontrar com a Luna que eu
tenho certeza que ela está doida para te dar os parabéns. — falei,
abraçando-o novamente.
Um tempo depois, o treinador saiu acompanhado de um homem de
aparência séria, que presumi ser o olheiro. E logo atrás deles saiu o
Matheus, com os olhos cheios de lágrimas.
Assim que ele me viu, veio correndo até mim e me abraçou. Ele me
concluiu seu monólogo, sorrindo para mim, que não consegui retribuir.
acontecer.
porque ele assim como eu, sabia o quanto seria difícil manter um
relacionamento à distância.
série apenas para me distrair, mas logo meu celular vibrou com uma
mensagem do Joaquim.
formado por inúmeras fotos que o jornal do colégio tinha tirado durante
todo o ano letivo.
Meu coração doía ao pensar que eu teria que abrir mão do amor da
minha vida.
No dia seguinte, acordei tarde. Tinha ficado acordada até bem tarde
estava perfeito.
— Não achei que fosse possível você ficar ainda mais linda.
que Matheus estava conversando com sua mãe e o treinador e fui até o
painel de fotos.
disse:
— Não quero terminar com você. — ele segurou meu rosto — Não
— Eu também não, mas não vejo como isso poderia dar certo,
Matheus. — respirei fundo — Nós vamos estar em momentos
completamente diferentes da nossa vida. — falei, segurando as lágrimas.
— Você me ama?
daquela pergunta.
Eu prometo que vou fazer o melhor que eu posso para sempre estar perto de
você, mesmo com toda essa distância. Fica comigo, bruxinha. — ele pediu
— Não desiste da gente.
Luana e Nicolas, eu sabia que não seria fácil conciliar a minha rotina de
certo.
que estivéssemos disponíveis para trocar mais que duas palavras um com o
outro, mas quando encontramos, conseguimos dividir tudo através de uma
tela.
Como Matheus não conseguia viajar para me visitar por causa dos
jogos, eu voltava para minha antiga cidade sempre que tinha algum feriado
E foi assim que vivemos nos primeiros dois anos, pois depois disso,
Matheus foi transferido para um time do Rio de Janeiro e isso facilitou
Pois ele aproveitava cada tempo livre que tinha para ir me ver.
Mesmo com a carreira dele crescendo cada vez mais, Matheus não
com a Luana para o Nicolas, pois eles dois só se formariam no ano seguinte
e fui morar com Matheus, que já estava com uma carreira mais
estabelecida.
encontrei ao meu lado. Não me surpreendi com isso, visto o quanto meu
pessoal.
Enquanto comia uma das minhas torradas, recebi uma ligação, era
Luana.
minutos.
uma com o Matheus não vai ser novidade, mas estou otimista que vai dar
tudo certo.
ela disse, bem humorada — Vou ver se conseguimos outro voo. Te vejo em
breve, amiga!
Cada conversa que eu tinha com a Luana me fazia sentir ainda mais
orgulho do que ela havia se tornado. A história de superação da minha
melhor amiga me inspirava de muitas maneiras, ela era uma guerreira que
soube tirar forças dos seus traumas de maneira sublime e com isso mudou
mãe para saber se ela já estava chegando e fiquei encantada ao receber uma
foto do meu irmão mais novo, Jonas, olhando pela janela do avião, o que
chegariam a tempo.
Suspirei aliviada, torcendo para que tudo desse certo, Matheus tinha
sonhado tanto com esse dia que eu passei a sonhar junto com ele e tudo o
que eu mais desejava era que o meu camisa dez fosse convocado.
MATHEUS
manhã.
Assim que me viu, ela correu até mim e entrelaçou suas pernas em
E poder dividir toda a minha vida com ela, era o que tornava tudo
mais fácil.
não foi fácil, principalmente por causa da saudade absurda que eu sentia ao
vê-la apenas por uma tela, mas nós superamos isso e quando eu fui
fáceis e eu aproveitava cada tempinho livre que eu tinha para ir vê-la, até
mais velhos e experientes, apenas para ter o meu espaço no time e assim,
Hoje era o dia que eu tinha sonhado desde que comecei a jogar
ser convocado.
seu pescoço.
mandou uma foto do Jonas no avião. — ela me contou — Nico e Luna vão
atrasar, acho que só chegam depois, mas Joca, Albert e Tamires vão estar
aqui a tempo.
— Que bom! Confesso que parece que o tempo está passando até
mais devagar hoje.
da minha vida.
Sorri para Alana e ela deitou sua cabeça em meu ombro, ainda
muito emocionada, enquanto ouvíamos as felicitações da nossa família e
amigos.
FIM
Reescrever esse livro me proporcionou um turbilhão de emoções e
me lembrou o quanto eu gosto de escrever romances juvenis,
provavelmente daqui para frente você encontre mais romances desse tipo
escritos por mim, mas por enquanto, deixa eu agradecer a todos que me
essa jornada.
À Naah Floro por ter criado uma capa exatamente do jeito que eu
imaginei e a Elaine C. por ter feito mais uma vez um excelente trabalho de
revisão nesse livro.
E por fim, agradeço a você que está lendo, espero que tenha gostado
Naah Floro
Diagramação:
Mila Maia
Revisão:
Elaine C.
Imagens da diagramação:
Canva
autora.