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Urbanística Inteiro
Urbanística Inteiro
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humana e meio ambiente, proveniente do reconhecimento de que “o homem é
um principal fator de modificação da biosfera” (Unesco, 1968).
Essa natureza mais politizada da discussão ambiental culminou na
realização, em 1972, da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Humano, em Estocolmo. O próprio nome da conferência refletia o princípio da
indissociabilidade. Ainda que as conferências anteriores tenham contribuído
inegavelmente para o debate, a Conferência de Estocolmo é tida como o marco
fundador do atual regime internacional do meio ambiente, por ter sido a primeira
conferência em grande escala organizada pela ONU sobre o tema, para a qual
mais de 100 países enviaram representantes (LAGO, 2009). Desde então, a
cada 10 ou 20 anos a sociedade internacional reúne-se para discutir os avanços
alcançados no tema até então e o trabalho a ser feito a partir dali.
A Conferência de Estocolmo foi marcada pelo embate entre duas
correntes de pensamento a respeito do meio ambiente: a corrente
preservacionista, formada por políticos e cientistas de países desenvolvidos que
defendiam limites para o crescimento econômico como forma de preservar o
meio ambiente; e a conservacionista, formada por países em desenvolvimento,
que defendiam que os interesses socioeconômicos de suas populações não
poderiam deixar de ser atendidos.
Esse embate definiu a discussão ambiental pelos próximos anos, ao longo
dos quais algumas medidas importantes foram tomadas: a criação do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma, em 1973); a Convenção de
Viena sobre a Camada de Ozônio; e o subsequente Protocolo de Montreal (1985
e 1987), que erradicou o uso de CFCs, o lançamento do relatório Nosso Futuro
Comum consolidando o conceito de desenvolvimento sustentável como resposta
ao embate preservacionista e conservacionista, e o lançamento, em 1988, do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – até hoje um
importante instrumento de verificação dos efeitos causados pela emissão dos
gases de efeito estufa.
No ano de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, uma nova conferência sobre
o meio ambiente fora organizada, dando continuidade à Conferência de
Estocolmo, realizada 20 anos antes. A Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad) é de suma relevância por dois
motivos. O primeiro deles foi por ter consolidado a posição dos países em
desenvolvimento de que a preservação ambiental deve estar de acordo com os
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anseios dos países periféricos em sua busca por padrões de vida melhores, que
é o âmago do conceito de desenvolvimento sustentável (mais uma vez, o nome
da conferência reflete a ideia principal em discussão). Já o segundo é por
expressar o protagonismo que o Brasil procurava exercer no tema ambiental,
uma busca por maior participação na ordem internacional decorrente do
processo de redemocratização pelo qual passava o país nos anos anteriores à
realização da Cnumad.
Antes de falar mais sobre o Brasil ao longo desse processo de formação
do regime internacional do meio ambiente, vale ressaltar importantes resultados
produzidos pela RIO-1992 (como popularmente ficou conhecida a Cnumad),
como a Agenda XXI, conjunto de ações práticas a serem adotadas pelos Estados
membros em favor da sustentabilidade ambiental; a Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento; a Declaração de Princípios para o Manejo
Sustentável de Florestas; e as duas Convenções-Quadro sobre Diversidade
Biológica e sobre Mudanças Climáticas, as quais servem de base aos
importantes acordos que são firmados até hoje sobre esses temas, a exemplo
do Protocolo de Quioto (e seu sucessor o Acordo de Paris) e o Protocolo de
Nagoia.
A última grande conferência das Nações Unidas sobre o tema ocorreu em
2012, também no Rio de Janeiro, razão pela qual a Conferência das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável também ficou conhecida como
RIO+20. Essa conferência foi importante por várias razões. A primeira foi o
contexto histórico no qual ela estava inserida poucos anos após a crise financeira
de 2008, momento em que os países estavam compelidos a dar menor atenção
à causa ambiental em favor da recuperação de suas respectivas economias. A
RIO+20 serviu para refrear esse ímpeto mais individualista dos Estados-membro
e também defendeu que a questão ambiental era na verdade um mecanismo de
superação da crise por meio de investimentos na economia verde.
Além disso, a Rio+20 lançou as bases para a renovação de dois regimes
internacionais importantes que estavam para expirar naquele momento: o
Protocolo de Quioto, voltado para a mitigação da emissão dos gases de efeito
estufa, que fora substituído pelo Acordo de Paris, assinado em 2015; e os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, conjunto de compromissos voltados à
promoção do desenvolvimento, bem-estar e combate à pobreza e desigualdade
por toda a comunidade internacional durante os anos 2000 e 2015. Essa
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iniciativa fora substituída pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
renovando o compromisso de promoção do desenvolvimento para o período
entre 2015 e 2030, dessa vez associando esse compromisso também à causa
ambiental.
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estavam imbuídos de uma visão utilitarista de preservação de recursos naturais
para seu melhor aproveitamento. Uma abordagem mais principiológica viria
décadas mais tarde.
De fato, segundo Berté (2013), um marco essencial nessa progressão de
fatos rumo a uma política ambiental foi a Lei n. 6.938/1981, que estabeleceu a
Política Nacional do Meio Ambiente. Conforme seu artigo 2º, essa lei determina
dez princípios que devem ser considerados para assegurar as condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade humana. Yamawaki e Salvi (2013, p. 225) apontam que
tais princípios determinam que “o meio ambiente passa a ser considerado
patrimônio público e, em função disso, que a ação governamental prime pela
manutenção do equilíbrio ecológico, tendo em vista o uso coletivo desse
recurso”. Também preveem o controle e o zoneamento das atividades
poluidoras, o acompanhamento da qualidade ambiental, os incentivos às
pesquisas acerca da temática ambiental e às práticas socioeducativas por meio
da Educação Ambiental. Deve-se, portanto, investir no planejamento e na
fiscalização.
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Brasil”1. É interessante ressaltar essa intersetorialidade entre os diversos entes
federados, algo que veremos com mais detalhes quando falarmos da
Constituição de 1988, o que mostra que uma política pública voltada à
preservação ambiental só pode ser bem-sucedida se for coordenada nos
âmbitos local, regional e nacional (e internacional, como vimos nas
conferências). De acordo com a Lei n. 6.938/81, o Sisnama é formado pelos
seguintes órgãos:
1
MMA. Sistema Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: <https://bit.ly/3gjszi8>. Acesso em
11 out. 2020.
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cidades, o meio ambiente é considerado um bem de uso comum do povo e,
portanto, deve ser assegurado às presentes e futuras gerações. Nesse contexto,
a política de desenvolvimento urbano deve conciliar crescimento econômico e
sustentabilidade, com base na legislação ambiental.
Para compreender o lugar do meio ambiente na Constituição de 1988, é
preciso entender melhor sobre os direitos fundamentais e suas dimensões. De
acordo com José Afonso da Silva, os direitos fundamentais são “situações
jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes,
nem mesmo sobrevive” (Silva, 2014). São direitos inerentes ao ser humano
necessários para que este consiga viver de maneira digna. Normalmente
referidos como direitos humanos na esfera internacional, em tratados e
convenções, os direitos fundamentais são normalmente expressos nas normas
constitucionais – normas de maior valor hierárquico no ordenamento jurídico de
um país –, divididos em três dimensões ou gerações.
As normas de primeira geração são aquelas ligadas aos direitos
individuais, à liberdade e autonomia de um indivíduo, como os direitos civis
(liberdade, segurança, propriedade) e políticos (direito à participação). As
normas de segunda geração são ligadas aos direitos sociais e coletivos (direitos
econômicos, culturais, direito à saúde, educação), comuns a uma comunidade
de pessoas, por exemplo a população de um país. Por fim, as normas de terceira
geração são as de direito difuso, comuns a todas as pessoas de maneira ampla
(extensível a toda espécie humana). Um dos direitos de terceira geração mais
comuns é o direito a um meio ambiente saudável. É por meio dessa concepção
que devemos entender o tema do meio ambiente na Constituição.
As normas constitucionais sobre o meio ambiente estão contidas no artigo
225. Em seu caput, é expressa a natureza do direito fundamental nesse tema
nos termos que discutimos.
Aqui está contida a ideia de que esse é um direito difuso (todos têm
direito), que abrange todos os indivíduos, incluindo aqueles que ainda não
vieram a nascer (defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações),
um exemplo daquilo que convencionou-se a chamar direito intergeracional.
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O artigo 225, bem como seus incisos e parágrafos, expressam princípios
importantes da legislação ambiental, como o princípio da prevenção, que visa a
impedir uma ação que cause lesão irreparável ao patrimônio ambiental; o
princípio do poluidor-pagador, que define que o agente potencialmente causador
do dano ambiental deve arcar com os custos da prevenção ou eventual
reparação; e o mencionado princípio da equidade intergeracional (Viegas, 2017).
FINALIZANDO
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CONVERSA INICIAL
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Essa distinção não é trivial. Em países com forma de Estado centralizado,
essas divisões subnacionais representam não mais do que repartições
meramente administrativas de organização do território, não expressando poder
político autônomo do ente central do país. No caso do Brasil juridicamente
inaugurado pela Constituição de 1988, a gestão das políticas públicas dos
diversos temas de interesse da sociedade (em particular, para fins deste curso,
a gestão ambiental e urbanística) será compartilhada entre as instâncias
nacional, regionais e municipais.
A divisão de competências entre os entes federados é definida pelos arts.
21 e seguintes da Constituição. Essas competências possuem natureza
legislativa (quem é competente para legislar sobre o quê) ou administrativa (qual
ente é responsável por tal gestão pública) e são divididas entre competências
exclusivas ou privativas (aquelas que só podem ser exercidas por um ente
federado) e compartilhadas, em que os entes colaboram para a gestão daquela
política pública de maneira conjunta.
Para fins de nosso curso, vamos observar o art. 23 e alguns de seus
incisos:
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do espaço urbano é de maior interesse da população local, logo, sua gestão
compete ao município correspondente ao território.
A Constituição de 1988, marco institucional e legal do processo de
democratização no país, propiciou a organização de uma ordem legal urbana e
configurou o direito urbanístico brasileiro. Libório e Saule Jr. (2017) relatam que
essa nova ordem vem conferindo ao Município o papel preponderante como
“ente federativo para atuar no campo legislativo, administrativo e econômico na
promoção das políticas de desenvolvimento urbano, no planejamento e
ordenamento de uso e ocupação de seu território [...]”, além da responsabilidade
de fomentar políticas que "propiciem o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e da propriedade e do bem-estar de seus habitantes". Além
dos municípios, a União e os Estados têm responsabilidades e competências
para o enfrentamento dos problemas socioambientais urbanos. Na esfera
Federal, o direito urbanístico brasileiro está embasado na Lei de
Desenvolvimento Urbano (10.257/2001), o Estatuto da Cidade.
Em resumo, quando se trata da ordem legal urbana desenvolvida pela
Constituição de 1988, é importante sempre ter em mente esse desenho
institucional de divisão de competências entre os entes federal, estadual e
municipal. É o que explica, por exemplo, a existência de uma lei federal geral
sobre uso do espaço urbano (Estatuto da Cidade), ainda que esse tema, em boa
parte das vezes, seja de interesse local.
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a inviolabilidade do exercício da profissão de advogado pode ser modulada por
lei ordinária posterior (“nos limites da lei”).
Por fim, normas de eficácia limitada são aquelas que não exercem efeitos
imediatos, necessitando de lei ordinária posterior. É aqui que entra o objeto
dessa seção.
Pelo texto do art. 182 da Constituição, que trata da política urbana, vemos
o seguinte: “a política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de
seus habitantes” (Brasil, 1988).
Importante retomarmos o que vimos sobre divisão de competências que
a Constituição atribuiu ao município, seguindo a ideia de maior interesse da
localidade em ver o bom uso de seu próprio espaço urbano. Também verificamos
que esse dispositivo está condicionado (ou seja, tem sua eficácia limitada) a uma
lei ordinária posterior (“conforme diretrizes gerais fixadas em lei”). Essa lei é o
Estatuto da Cidade.
Segundo Yamawaki e Salvi (2013, p. 65), para que os princípios da
Constituição de 1988 pudessem ser implementados, foi necessária uma
legislação específica. Assim, foi criada a Lei Federal n. 10.257/2001,
denominada Estatuto da Cidade. A Lei estabeleceu instrumento que possibilitou
“ao Poder Público maior capacidade de intervenção no uso e na ocupação do
solo, bem como na rentabilidade das terras urbanas, viabilizando a função social
da cidade e da propriedade”. Com o Estatuto, a gestão municipal passou a ter
diretrizes que auxiliam no enfrentamento de problemas, principalmente em
relação à desigualdade de acesso à terra urbana. As normas, de ordem política
e interesse social, passaram a regular o uso do solo urbano em prol do bem
coletivo, da segurança e bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio
ambiental. A Lei também estabelece que a sociedade tenha participação nos
processos decisórios, por meio de audiências e consultas públicas.
NA PRÁTICA
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necessário, procure dialogar com os gestores públicos, agentes de órgãos
públicos, atores políticos locais e lideranças da comunidade.
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CONVERSA INICIAL
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aumenta em sete vezes o seu tamanho, proporcionalmente ao total. Como
demonstra a tabela a seguir, o índice de urbanização aumenta significativamente
dos anos 1940 até os anos 1990. Em conjunto, a proporção da população
urbana, se comparada à população rural, se multiplica a ponto de, no final do
século XX, a imensa maioria da população brasileira estar situada nas áreas
urbanas.
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evidenciam quase metade da população brasileira residindo nas regiões
metropolitanas.
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preventivas e normativas que permitam controlar os impactos negativos dos
investimentos público-privados sobre os recursos naturais.
O conjunto de instrumentos legais que compõe as formas de intervenção
no espaço urbano, tal como supracitadas, atinge o planejamento por métricas
distintas. Entretanto, o conjunto de instrumentos deve estar baseado em
unidades de gestão integradas. Em especial a unidade síntese de todo
planejamento ambiental, bem como de funcionamento dos sistemas ambientais,
a bacia hidrográfica, deve estabelecer as fundações para organização e
compatibilização das legislações. A figura abaixo demonstra como essa unidade
de gestão permite que sejam visualizadas as múltiplas dimensões do
planejamento em uma base cartográfica, legal, ambiental e política comum.
5
Da mesma forma que o sistema de circulação de água desse sistema, as
unidades ambientais mais importantes acompanham os principais canais desses
grandes rios que formam o território paranaense. A concentração fitogeográfica
do entorno desses rios é o que permite a existência de uma diversidade biológica
nesses corredores de circulação de água. As bacias hidrográficas controlam o
movimento das águas e a concentração da vida no seu entorno. Nesse sentido,
os recursos ambientais para sobrevivência humana derivam do funcionamento
desse sistema. Por isso, as bacias são uma realidade física inescapável.
Em vias de síntese, o mosaico de legislação urbano-ambiental deve estar
ordenado em torno de critérios biogeográficos de ordenação. A bacia
hidrográfica concentra esses componentes e, sobretudo, permite que sejam
elaborados comitês de gestão dessas bacias nas quais as cidades fazem parte.
É sempre importante lembrar que os assentamentos humanos fazem parte e são
dependentes desse sistema para sua sobrevivência. Por isso, a legislação deve
e, de fato está, estar voltada para harmonização da sobrevivência humana com
o funcionamento equilibrado dos sistemas naturais.
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TEMA 4 – ZONEAMENTO AMBIENTAL OU ZONEAMENTO ECOLÓGICO-
ECONÔMICO (ZEE)
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isso, as escalas sugeridas para elaboração dos planos permitem que essa
diversidade de documentos seja compatibilizada. As escalas do sistema nacional
de ZEEs são definidas pelo decreto 4.297/2002. São elas: nacional 1:5.000.000,
macrorregionais 1:1.000.000, estaduais 1:3.000.000, 1:1.000.000, 1: 250.000,
1:100.000, e locais, 1:100.000.
Um exemplo de macrozoneamento ecológico-econômico é o realizado
pelo IBGE, em parceria com o MMA, sobre a região da Amazônia Legal. O
documento possui múltiplos mapas e avaliações realizadas e está disponível
como arquivo público nos sites do IBGE e do IBAMA. A figura abaixo é um dos
mapas produzidos pelas instituições. Trata-se da classificação de unidades
territoriais e estratégicas para a Amazônia legal.
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TEMA 5 – AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)
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governo existentes e aproximar a realização os objetivos do empreendimento
com os horizontes estabelecidos pelos poder público sobre a área.
Os artigos 6º, 7º (revogado) e 8º versam sobre a estrutura técnica do EIA
– estudo de impacto ambiental e do RIMA – relatório de impacto ambiental.
Esses serão explorados em maior detalhe em outras aulas. Por enquanto, é
importante compreender o conceito de avaliação de impacto ambiental, os
empreendimentos que demandam esse tipo de avaliação e as diretrizes para os
estudos. Em conjunto, esses instrumentos particularizam os instrumentos de
planejamento ambiental desenvolvidos nessa rota.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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A partir da metade da aula, o objetivo foi apresentar o zoneamento
ecológico-econômico e o licenciamento ambiental. Ambos instrumentos são
necessários como recursos legais e técnicos para o engajamento direto dos
agentes econômicos no território. No caso do zoneamento, procuramos enfatizar
o aspecto político desse documento, uma vez que condiciona não apenas a
forma atual de ocupação, mas estabelece horizontes possíveis para as
intervenções nesse espaço. Seja restringindo, seja incentivando, o zoneamento
é um instrumento determinante para compatibilização dos interesses existentes
para ocupação do território.
Por fim, procuramos apresentar um estudo prático de análise da reserva
legal urbana, com o intuito de mostrar os instrumentos que têm sido
desenvolvidos para melhorar o desempenho dos sistemas ambientais em
ambientes urbanos.
Esperamos que esta aula tenha sido uma fértil trajetória pedagógica em
torno da legislação ambiental e urbanística brasileira. Continue nessa
empreitada, pois ainda temos mais assuntos importantes a abordar nesta
disciplina.
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CONVERSA INICIAL
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infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;
(...)
VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
f) a deterioração das áreas urbanizadas;
g) a poluição e a degradação ambiental;
h) a exposição da população a riscos de desastres.
(...)
XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente
natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico,
paisagístico e arqueológico;
XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada
nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com
efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural
ou construído, o conforto ou a segurança da população;
XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas
edificações urbanas, de sistemas operacionais, padrões construtivos e
aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos
ambientais e a economia de recursos naturais (incluído pela Lei n.
12.836, de 2013).
Art. 4º. Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros
instrumentos:
I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e
de desenvolvimento econômico e social;
3
II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas
e microrregiões;
III – planejamento municipal, em especial:
a) plano diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;
c) zoneamento ambiental; [...]
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TEMA 3 – AGENDA 21 LOCAL E PLANO LOCAL DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
1
Ambos os documentos estão disponíveis como referência principal no site do MMA. Conferir
em: <https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/documentos.html>.
Acesso em: 19 out. 2020.
2
Consultar em: <https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-
21-local/item/724.html>. Acesso em: 19 out. 2020.
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• 1º Passo: mobilizar para sensibilizar governo e sociedade.
• 2º Passo: criar o Fórum da Agenda 21 Local.
• 3º Passo: elaborar o diagnóstico participativo.
• 4º Passo: elaborar plano local de desenvolvimento sustentável.
• 5º. Passo: implementar o plano local de desenvolvimento sustentável.
• 6º Passo: monitorar e avaliar o plano local de desenvolvimento
sustentável.
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Tabela 1 – Resultado prático alcançado pelos municípios no Brasil
O retrato da gestão que a lei de 2007 permitiu estabelecer pode ser notado
no Gráfico 1, que demonstra os percentuais de participação na oferta de serviços
de água e esgoto entre municípios e estados. Os dados ilustram a majoritária
participação dos estados mantendo-se como os principais fornecedores do
serviço ao longo de todo o período avaliado pelo gráfico, o que demonstra a força
do modelo concentrado na oferta do serviço pelos estados como a regra principal
no modelo de gestão do saneamento básico no Brasil.
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Gráfico 2 – Participação percentual de água (AG001) e esgoto (ES001) em
âmbito nacional entre setor público e iniciativa privada por ano (2011-2017)
10
e 4) agendas de implementação. As quatro etapas são um resumo dos 19 itens
exigidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos.
11
XVIII - identificação dos passivos ambientais relacionados aos
resíduos sólidos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas
saneadoras;
XIX - periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o
período de vigência do plano plurianual municipal.
XIX - periodicidade de sua revisão, observado o período máximo de 10
(dez) anos.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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foi descrito ao longo desta aula. Ele contempla desde instrumentos
internacionais de gestão, como é o caso da Agenda 21, até instrumentos próprios
da política nacional, a exemplo da política nacional de resíduos sólidos.
Por fim, apresentamos a legislação mais recente do tema, o novo marco
legal do saneamento, mediante uma estratégia comparada de análise, entre as
opções legais adotadas pela lei e os dados de acesso à água e ao esgoto.
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CONVERSA INICIAL
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a implementação das diretrizes constitucionais voltadas ao desenvolvimento
sustentável e deve servir como base legal para o planejamento urbano. Segundo
Malheiros (2014), em 1988, a Constituição Federal constituiu referência
obrigatória para o entendimento da necessária integração entre as políticas
ambientais e as políticas de desenvolvimento urbano, consolidando os
princípios, diretrizes e instrumentos anteriormente adotados pela PNMA. Os
principais instrumentos da PNMA são: Licenciamento Ambiental, Estudo de
Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental. Em 2001, a Lei n. 10.257
estabelece o estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) como importante
instrumento para a qualidade de vida nas cidades.
O conjunto de instrumentos que serão demonstrados a seguir parte de
base normativa encontrada na política nacional de meio ambiente, tal como
supracitado. Cinco são as regras básicas que organizam as legislações
correlatas, todas extraídas do art. 10 da Lei n. 6.938/1981, alterado pela Lei
Complementar (LC) n. 140/2011.
3
3. O licenciamento exige publicidade (que é um princípio constitucional,
como será demonstrado no tema a seguir);
4. Os órgãos ambientais devem fiscalizar as permissões dadas pela licença;
5. Cabe à esfera federal a competência para o licenciamento de
empreendimentos de interesse nacional.
4
1. Lei n. 6.938/1981, institui o licenciamento como instrumento da PNMA;
2. Lei n. 7804/1989, altera a lei de 1981 e define os casos de competência
do IBAMA;
3. Decreto n. 99274/1990, define os requisitos para exigência do EIA;
4. Resolução Conama n. 001/1986, estabelece as definições e diretrizes
para execução da Avaliação de Impacto (AIA);
5. Resolução Conama n. 237/1997, revisa os procedimentos do
licenciamento ambiental e organiza as competências para o licenciamento
(Motta; Pêgo, 2013, p. 32).
5
Saiba mais
6
Figura 1 – Fluxograma do licenciamento ambiental para parcelamento do solo
urbano
7
espaço, o impacto no tráfego, o transporte público local, a disponibilidade de
iluminação e ventilação, assim como a existência e os impactos na paisagem
urbana e ao patrimônio natural e cultural. É o que diz o texto do Estatuto da
Cidade na seção XII:
NA PRÁTICA
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Referência, emitidos pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato
Grosso e pela Prefeitura de Cuiabá, através do Processo Administrativo n.
PG976918-0/2014. Além dos Termos de Referência, foram consideradas
resoluções do CONAMA, bem como o Código Ambiental do Estado de Mato
Grosso e legislação urbana do município de Cuiabá. A abrangência dos
trabalhos, bem como os métodos empregados para sua realização, segue as
diretrizes da Resolução CONAMA n. 001/86, que institui o EIA/RIMA como
instrumento de política ambiental brasileira.
FINALIZANDO
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CONVERSA INICIAL
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Figura 1 – Setores urbanos e bairros: Manaus
1
Veja fotos da industrialização da ZFM, 1960 e 1990, nos links:
<https://idd.org.br/acervo/primeiros-galpoes-do-distrito-industrial/>;
<https://d.emtempo.com.br/economia/202565/zfm-contara-com-industrias-da-area-da-saude-
na-pos-pandemia>. Acesso em: 16 out. 2020.
3
floresta amazônica. Cada ciclo de crescimento associado às indústrias da região
amazônica tem uma correlação com a diminuição do desmatamento (Silva,
2015).
Entretanto, apesar dessa correlação regional, a gestão interna dos
resíduos industriais gerados pela ZFM ainda é um desafio a ser superado.
Levantamento realizado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão
(JICA) indicou a falta de um plano de gerenciamento de resíduos em mais da
metade de cerca de 187 fábricas pesquisadas pelo estudo, o que indica que há
desafios próprios ao processo de industrialização na ZFM (Brianezi; Sorrentino,
2013).
4
Figura 2 – Extremoz: caracterização geográfica
5
Figura 3 – Extremoz: mapa temático
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impactos ambientais decorrentes da dinâmica espacial do município,
especificamente na bacia do córrego Pipa. Os resultados obtidos por meio das
pesquisas realizadas no município poderão ser utilizados para a tomada de
decisões de planejamento urbano e ambiental.
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Quadro 1 – Modelo pressão-estado-resposta
8
Em resumo, o terceiro tema desta aula, em um estudo de caso, mostrou
a existência de metodologias de avaliação da qualidade ambiental. Trata-se aqui
de ferramentas quantitativas de verificação, capazes de correlacionar diferentes
formas de relação entre a ocupação urbana e a capacidade de o ambiente
absorver essa demanda e fornecer os serviços ecológicos para a população que
ali reside. No caso da cidade de Aparecida de Goiânia, o número encontrado foi
0,483, que indica uma baixa qualidade ambiental.
9
Figura 5 – Isidoro
10
previstos nos incisos I, II e III do § 2o do art. 32 desta Lei; (Redação
dada pela Lei nº 12.836, de 2013)
VII – forma de controle da operação, obrigatoriamente compartilhado
com representação da sociedade civil.
VIII - natureza dos incentivos a serem concedidos aos proprietários,
usuários permanentes e investidores privados, uma vez atendido o
disposto no inciso III.
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urbana, pois concedem liberdades de exploração compartilhada entre o setor
privado e o público.
Sintetizando, a cidade de Isidoro, por meio de operação urbana
compartilhada, aplicou os mecanismos previstos pelo estatuto da cidade no
planejamento do espaço urbano. Mediante o zoneamento de uma área com alto
grau restritivo de ocupação, criou oportunidades de investimento privado na
região, oferecendo oportunidades de intervenção público-privada no território.
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O último estudo de caso selecionado toma como exemplo o projeto
imobiliário criado no Costão do Santinho, em Florianópolis, uma área com
potencial de exploração pelo setor privado, mas localizada em uma região de
grande importância ambiental. O estabelecimento do resort, o plano ambiental
produzido, a relação com a prefeitura e o papel do Ministério Público, ao longo
de toda a obra, são ilustrativos dos conflitos que a legislação ambiental e
urbanística procura regular. Trata-se de um projeto disputado, econômica e
judicialmente, que representa o perfil de conflitos que queremos evidenciar. A
norma existe para todos os setores da sociedade, mas sua aplicação depende
da jurisprudência, dos princípios gerais do direito e, sobretudo, dos diversos
interesses envolvidos em estabelecimentos e projetos construtivos.
NA PRÁTICA
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Quadro 3 – Modelo para estudo de caso
FINALIZANDO
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