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Resenha Rawls
Resenha Rawls
Faculdade de Direito
Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado / Doutorado
Disciplina: Teoria da Justiça
Professora: Bethânia Assy
Doutorando: André Panno Beirão
Rawls tem vínculos com o contratualismo mas se distancia em outros, por isso é por
caracterizado com Neo-contratualista (por alguns, p. ex. Álvaro De Vita).
Resenha da obra:
Desde Kelsen as teorias do Direito pareceram adormecidas; como se só tivesse restado o
positivismo lógico, que apresenta dois tipos de proposições de conteúdo cognitivo:
1- Analíticas (origem cientifica da matemática ou lógica)
2- Sintéticas ou Empíricas (Fruto da verificação pela experiência) - Análise de Philip Pettit.
Outros campos, como da estética, não tem fundamentos cognitivos, ou seja,
fundamentam julgamentos pelo “emotivismo”.
Durante metade do Séc. XX passou-se a considerar que a teoria política enquadrava-se
tipicamente na ciência política empírica, ou seja, ocorreu um silêncio da teoria política normativa
(não empírica).
Permanecia o dilema liberdade x igualdade da democracia ocidental que uns pensavam
ser insolúvel racionalmente (analiticamente), e outros, que só poderia ser resolvido pelas teorias
utilitaristas (utilidade – busca da satisfação do desejo racional (maior felicidade para o maior
número)).
A partir 1960 começou-se a rechaçar tanto o positivismo lógico como o utilitarismo (vide
Berlim, Isaiah), pois há, (ao menos na teoria política) na realidade, um pluralismo de valor.
Rawls foi um divisor de águas. Uma vez que articulou uma perspectiva normativa como
alternativa ao utilitarismo contratualista. Apresentou uma proposta liberal-igualitária com
compromissos normativos substantivos. Ou seja, com foco pluralista. Procura romper com a
verificação empírica ou casual e, também, com a argumentação lógico-dedutiva (ainda que
tenha desta se aproximado com a “posição original”. (Cap. 3)
De seu conceito de posição original, deriva a necessidade de atribuir um “véu da
ignorância” – não é justo numa sociedade democrática alguém responder pela produção de
desigualdades ou sofrer seus efeitos de algo que está fora de seu controle. A ninguém é dado
escolher em que posição virá, na distribuição de encargos, ao nascer; nem escolher qual o
quinhão de talentos naturais que irá receber. (Não é uma idéia de que, a diferença de talentos
naturais produza desigualdade – o que reafirma a teorias jusnaturalistas, mas sim que os
arranjos institucionais são recompensados de forma desigual).
Daí o debate da “Justiça Distributiva” e daí deriva sua noção de “Justiça”.
- Não como fruto da noção de desigualdade humana fundamental (mais um dos valores
políticos)
- Sim como uma forma de arbitrar conflitos entre valores políticos (Liberdade, Igualdade,
Fraternidade).
Articulação: 2 princípios de justiça (3 componentes)
1 – Princípio da igual Liberdade (e direitos fundamentais)
2 – Princípios da igualdade eqüitativa de oportunidades
- Princípio da diferença (MAXI-MIN) – Acordo pacifico entre os mais talentosos (e melhor
aquinhoados) e os desfavorecidos.
Dele deriva a desigualdade socioeconômica, que só é moralmente legitima se visa
maximizar o quinhão de recursos do terço mais desfavorecido da sociedade.
Controvérsia da desigualdade – Aceita a desigualdade socioeconômica se propiciar maior
quinhão distributivo aos que se encontram em posição social inferior.
Sugere uma ordenação léxica dos componentes: Liberdade – Igualdade – Fraternidade.
Dentre os arranjos destes componentes que ofereçam grau similar de Direito Civil, Direito
Político e garantia do Império da lei, sugere a seguinte ordem:
1º - Aqueles que propiciem igualdade eqüitativa de Oportunidades
1º - Aqueles em que o quinhão de recursos sociais escassos seja maior aos mais desfavoráveis
em renda e riqueza.
Desse acordo tácito pode surgir o senso de justiça comum que, em última análise,
fundamenta-se na fraternidade. Ou seja, princípios de justiça que tem por base o acordo
(Contratualista) ou a aceitabilidade razoável (alternativa ao positivismo lógico).
Seu livro pode ser considerado um marco na rediscussão da Teoria política normativa e
gerou muita controvérsia, ora por ser considerado “socialista” demais para justificar o liberalismo-
democratico, ora por ser liberal-democratico-contratual demais para subsidiar uma justiça social
mais igualitária. Inovou com o conceito de “justiça como equidade”.
No seu prefácio (1º edição) reafirma sua fonte teórica em Kant e afirma ter buscado
alternativa à teoria Utilitarista por considerá-la frágil para servir de base à democracia
constitucional. Não conseguiu oferecer teoria satisfatória sobre direito e liberdades fundamentais
de pessoas livres e iguais.
Resumo do Capítulo 1:
Com sua teoria da justiça visa propor alternativa às doutrinas utilitaristas e empíricas
(intuicionismo) que dominam a tradição filosófica.
Justiça não pode pressupor sacrifício de poucos para vantagem a muitos. A injustiça só
seria tolerável se necessária para evitar injustiça ainda maior.
Concepção pública da justiça – Aquilo que constitui a carta fundamental de uma
associação humana bem-ordenada. Seu foco é na justiça social, ou seja, seu objeto é a estrutura
básica da sociedade e de seus pontos de partida. Não tem foco na justiça entre Estados ou
povos. Pretende teorizar um sistema fechado de estrutura básica da sociedade (isolado de outras
sociedades) para depois extrapolar. Pressupõe sociedade bem-ordenada (todos agem de forma
justa).
Para compreender a concepção de justiça deve-se explicitar a concepção de cooperação
social da qual ela provém.
Conceito de Justiça: advém do equilíbrio apropriado entre exigências conflitantes –
atribuição de direitos e deveres e na definição da divisão apropriada das vantagens sociais.
Concepção de justiça: conjunto de princípios correlacionados que objetivam identificar as
condições relevantes que determinam esse equilíbrio – interpretação desse papel.
Para ele, os princípios de justiça da estrutura básica da sociedade é que fundamentam o
contrato social inicial imaginando por Locke, Rousseau ou Kant. A partir de uma situação (estado
de natureza – hipotético de Kant) inicial de igualdade, para então, definirem as condições de
associação. A isso chama de justiça como equidade.
Nessa hipotética posição original, os princípios de justiça são escolhidos por trás de um
véu de ignorância (sem estar contaminado pelo favorecimento (ou desfavorecimento) das
circunstâncias sociais); todos em situação semelhantes. Nessa posição original há um status quo
apropriado e, conseqüentemente, os consensos fundamentais são eqüitativos (daí justiça como
equidade). Nela é definida a concepção de justiça, depois sua constituição, depois sua
legislação.
Como todos querem o seu bem, é pouco provável a aceitação de perda duradoura de
algo por vantagem aos demais. Logo, o principio da utilidade parece ser incompatível com a
reciprocidade implícita na sociedade bem ordenada.
Na posição original haverá duas escolhas:
1 – Igualdade na atribuição de direitos e deveres fundamentais.
2 – Desigualdades sociais e econômicas (riquezas e autoridade) - só justas se resultarem em
vantagens recompensadoras para todos, em especial para os desfavorecidos.
Justiça como equidade divide-se em: Interpretação da situação inicial das escolhas; e,
Conjunto de princípios que são acordados.
Quer ratificar o contratualismo e refutar o utilitarismo ou o perfeccionismo (teoria segundo
a qual a sociedade está ordenada de forma correta (justa) quando suas instituições servem para
alcançar o maior soldo liquido de satisfação de uma determinada sociedade).
Sua teoria da justiça está vinculada à teoria da escolha racional.
Diferenças teóricas utilitaristas x teorias contratualistas;
Contratualista Utiltarista
- Considera sólida convicção sobre a prioridade da justiça - Procura explicar suas convicções como
- Considera que os princípios de justiça são fruto de uma ilusão socialmente útil
escolha social e, portanto são em si mesmos, o objetivo do - Parte de analise de uma só pessoa para
acordo original a extrapolação para a sociedade
- Teoria Não-Teleológica – justiça com equidade - Teoriza Teleologia (maximização do
(deontológica) – não especifica o “bem”, independemente do bem)
“justo” - O bem estar social depende dos níveis
- Na justiça como equidade – o conceito do justo precede o de satisfação dos indivíduos
do bem (prioridade da ética Kantiana).
O intucionismo – Doutrina em que o conjunto irredutível de princípios fundamentais (a
serem comparados e pesados) visam os equilíbrios (juízos ponderados) sobre o mais justo.
Os intucionistas afirmam que os contratualistas no seu juízo de justiça social apenas
alcançam uma pluralidade de princípios fundamentais que se equilibram de uma só maneira, e
não de várias. Tal argumentação não é de todo equivocada e só rebatida por Rawls com a
apresentação de critérios éticos que expliquem os pesos aos juízos ponderados. Ou seja, o
intucionismo questiona até que ponto podem os contratualistas ponderarem o que é justo ou não,
por não se poder atribuir pesos a princípios concorrentes (individual x bem estar). Isso só seria
possível pela intuição do bem. O contratualismo refuta tal teoria por considerar um único principio
com ajuste de pesos, que é o principio da utilidade (utilitarismo – Mill, Sidgwick).
Rawls tenta diminuir o grau de intuição (sem abandoná-la). Busca solucionar a
priorização. Primeiro, recorre à posição original. Depois, busca dispor os princípios numa ordem
social ou léxica (deve atribuir satisfação ao primeiro antes de passar ao próximo).