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Construção civil e

meio ambiente
Prof. Dra. Cristine Santos de Souza da Silva
Introdução
Vivemos em uma sociedade na qual o despertar da consciência ambiental
impõe uma mudança na formação ética e profissional dos indivíduos, de
modo que se faz necessário incorporar, cada vez mais, os princípios da
sustentabilidade ambiental em todas as áreas de atuação humana. No
setor da construção civil não é diferente! Estudos demonstram que os
principais impactos ambientais causados pela construção civil estão
relacionados ao consumo de água, emissões atmosféricas, consumo de
energia e geração de resíduos.
Considerando isso, essa disciplina permitirá que você desenvolva uma
visão sistêmica acerca dos componentes ambientais e dos resultados da
interferência humana na qualidade ambiental, associando-se a esse
cenário os impactos das atividades desenvolvidas por empreendimentos
da construção civil.
Especificamente neste primeiro momento, abordaremos alguns conceitos e
definições que servirão de base para a compreensão da relação existente
entre a construção civil e os impactos ambientais, bem como
entenderemos como ocorre a dinâmica dos processos de intervenção
humana nos ecossistemas e suas consequências ambientais. O estudo desta
temática auxiliará você a ter uma visão mais ampla sobre as suas
responsabilidades com as questões ambientais enquanto cidadão e
enquanto Engenheiro Civil.
Bons estudos!
Capítulo 1

Construção Civil e
impactos ambientais
Prof. Dra. Cristine Santos de Souza da Silva
Construção Civil
e Impactos
Ambientais
Os problemas ambientais tão evidentes
nas últimas décadas têm alertado a
sociedade no que se refere à importância
da proteção do meio ambiente, dos
recursos naturais e da avaliação dos
impactos da ação humana na natureza.
Por causa disso, diversos setores têm se
empenhado na busca de soluções
sustentáveis para os desafios ambientais,
entre estes setores podemos destacar o
da Construção Civil.
Não há dúvida que, ao longo dos anos, a
Construção Civil tem causado grandes
impactos ambientais, que ficaram ainda
mais evidentes devido ao crescente
aumento da população, ao
desenvolvimento tecnológico-industrial e
ao aumento do poder aquisitivo e do
consumismo, que impulsionaram o
mercado imobiliário, fazendo do ramo
um setor em constante expansão.
A Construção Civil é um dos setores que
mais consome recursos naturais e que
mais gera resíduos, quando comparado
a outros setores industriais. Porém, para
entender como e por que isso acontece,
faz-se necessário esclarecer alguns
conceitos importantes associados a meio
ambiente e impacto ambiental,
entender quando as questões ambientais
passaram a ser consideradas
importantes, bem como conhecer como
as atividades e processos envolvidos no
setor da construção se relacionam com os
aspectos ambientais.
Conceitos e Definições

Meio Ambiente
A definição do termo meio ambiente é bastante
ampla e pode ser apreendida sob diferentes
perspectivas, considerando os diversos atores sociais
envolvidos, os quais conduzidos por interesses difusos
conceituam o termo segundo suas motivações,
preocupações e interesses.
Na legislação brasileira, a Política Nacional do Meio
Ambiente, Lei n° 6.938 de 1981, conceitua o meio
ambiente como o “conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas”. Assim, podemos perceber que o
conceito de meio ambiente oscila entre dois vieses: o
viés fornecedor de recursos, uma vez dele provém o
sustento alimentar; e o viés meio de vida, pois nele as
espécies encontram habitats e condições adequadas
para sua sobrevivência.
Há ainda que diferenciar os tipos de ambientes existentes,
que são assim classificados de acordo com o nível de
qualidade ambiental e em relação ao nível de intervenção
humana. Dessa forma, os ambientes podem ser:

Fabricado ou desenvolvido pelos humanos:


constituídos pelas cidades, pelos parques
industriais, e corredores de transportes como
rodovias, ferrovias e portos;

Ambiente domesticado: envolve áreas


agrícolas, florestas plantadas, açudes, lagos
artificiais, entre outros;

Ambiente natural: como exemplo, as matas


virgens e outras regiões autossustentadas,
que não dependem de nenhum fluxo de
energia controlada diretamente pelos
humanos, como ocorre nos dois outros
ambientes.

Em todos os casos estamos falando de meio ambiente!


A diferença está na qualidade ambiental dos tipos de
ambientes, pois quanto menor a intervenção humana
(antrópica) maior será a qualidade do ambiente.
Conceitos e Definições

Impacto Ambiental
O conceito oficial de impacto ambiental, segundo a Resolução CONAMA 01 de 1986, é
“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada
por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais
e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos
recursos ambientais.”.
Nesse sentido, observa-se que o que caracteriza o impacto ambiental não é apenas qualquer
alteração nas propriedades do ambiente, mas aquelas que provoquem o desequilíbrio das
relações constitutivas do ambiente, tais como as alterações que modifiquem a capacidade
suporte do ambiente natural.
Contudo, vale salientar que
apesar de ser normalmente
associado a algum dano na
natureza, devemos notar que
esta associação negativa está
ligada a apenas uma parte do
conceito, pois se impacto
ambiental é uma alteração das
propriedades do meio ambiente,
então esta alteração poderá ser
negativa ou positiva.
O impacto de uma atividade
(operação) sobre o meio
ambiente é uma mudança
(alteração) de uma situação
ambiental existente, causada por
esta atividade, onde os
componentes ambientais (água,
solo, fauna, flora, ecossistemas
especiais, saúde ambiental) são
afetados.
Por isso, o impacto ambiental é
sempre antropocêntrico, por ser o
homem o responsável em causar
e ao mesmo tempo sofrer as
consequências dos impactos
ambientais.
De maneira geral, podemos dizer
que a espécie humana altera a
natureza de oito grandes formas:
Redução da biodiversidade
Ao destruir, fragmentar, degradar e simplificar os habitats da vida
selvagem, a espécie humana está causando a redução da
biodiversidade.
Também, ao desmatar florestas, escavar ou aterrar áreas
alagadiças para plantar alimentos ou para construir prédios ou
rodovias, diversas espécies são extintas localmente, e essa
diminuição na diversidade de espécies acaba degradando o
capital natural da terra.
Uso crescente da Produtividade Primária
Líquida da Terra
Ao usar, desperdiçar ou destruir um percentual cada vez
maior da Produtividade Primária Líquida do planeta, que
sustenta todas as espécies consumidoras, inclusive a espécie
humana.
Essa alteração é o principal motivo pelo qual o homem
desloca e elimina habitats e estoques de alimentos de
diversas espécies.
Fortalecimento de pragas e bactérias
nocivas à saúde
O uso de pesticidas e antibióticos acelerou a seleção natural
entre as populações de bactérias e pragas de reprodução
rápida e, ainda que acidentalmente, levou a resistência
genética destas espécies nocivas ao ambiente e à saúde
humana, a estes produtos químicos, ficando cada vez mais
difícil combatê-los.
Eliminação de predadores naturais

Principalmente em função da agricultura e da pecuária,


passaram a ser incentivadas as atividades de caça a espécies de
predadores naturais.
Essa atitude simplifica e prejudica as cadeias alimentares e os
ecossistemas naturais.
Introdução de espécies exóticas
Nem sempre esta introdução de espécies é deliberada, às vezes
é acidental. Da mesma forma, nem sempre esta introdução é
ruim, às vezes é benéfica, como é o caso dos grãos para cultivo e
do gado domesticado.
No entanto, algumas espécies exóticas podem se tornar
verdadeiras pragas, ficando, em muitos casos, extremamente
difícil o seu controle populacional, uma vez que não possuem
competidores..
Uso dos Recursos naturais mais rápido do que
podem ser repostos

Este também é outro problema relacionado às atividades


humanas. Na atividade pecuária, gados que pastam em excesso
acabam tornando áreas verdes em desertos ou semidesertos
menos produtivos.
Outro exemplo está relacionado ao uso da água doce, que em
muitos casos é bombeada dos aquíferos subterrâneos mais
rápido do que é reposta.
Percebe-se, então, que os impactos ambientais estão associados
de forma genérica a três tipos de ações humanas, que podem
ser:
Inserção: quando são inseridos elementos físicos no ambiente
natural, ou uma espécie exótica (deliberada ou
acidentalmente), ou ainda, componentes construídos, como
uma barragem, uma rodovia, edifícios, entre outros;
Supressão: quando há a retirada de componentes do
ecossistema, como a vegetação, a destruição completa de um
hábitat, ou ainda de componente físico da paisagem, por
exemplo, na escavação para construção de uma rodovia;
Sobrecarga: quando ocorre a introdução de fatores de estresse
que vão além da capacidade de suporte do meio, como por
exemplo: emissão ou despejo de poluentes, introdução de
espécies nocivas, redução de hábitats, aumento da demanda
por bens e serviços públicos.
Ainda dentro do contexto de impacto ambiental é importante
caracterizar que as ações resultam em impactos ambientais por
meio daquilo que chamamos de aspecto ambiental.

O Aspecto Ambiental é o mecanismo através do qual uma


ação humana causa impacto ambiental, sendo conceituado
pela ISO 14.001 como “o elemento das atividades, produtos ou
serviços de uma organização que pode interagir com o meio
ambiente”.
Poluição Ambiental
Pode-se considerar a poluição ambiental como a degradação do ambiente, resultante de atividades
que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar das populações; criem
condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as
condições sanitárias do meio ambiente; e lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões de
qualidade ambiental estabelecidos.
A poluição ambiental deve-se à presença, ao lançamento ou à liberação nas águas, no ar ou no solo de
toda e qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, quantidade, concentração ou
caraterísticas em desacordo com os padrões de qualidade ambiental estabelecidos por legislação,
ocasionando, assim, interferência prejudicial aos usos preponderantes das águas, do ar e do solo. Dessa
forma, entendemos que a poluição está relacionada a parâmetros físico-químicos que podem ser
mensurados. Esses parâmetros são chamados de poluentes e para eles é possível estabelecer valores de
referência ou padrões ambientais. De acordo com o tipo de poluente, podem ser distinguidas diversas
formas de poluição: física, química, físico-química, bioquímica, biológica e radiativa.
Os poluentes podem entrar no meio ambiente de forma natural
(por exemplo, uma erupção vulcânica) ou por meio das
atividades humanas (por exemplo, provenientes da queima de
carvão). As fontes de poluição podem ser de dois tipos:
Pontuais: são aquelas fontes que emitem o poluente a partir de
um ponto bem caracterizado, como o que ocorre no lançamento
de um efluente industrial, por exemplo. Cargas pontuais de
poluentes são facilmente identificadas e, portanto, seu controle é
mais eficiente e mais rápido.
Difusas: são assim chamadas por não terem um ponto de
lançamento específico ou por não advirem de um ponto preciso
de geração, tornando-se assim de difícil controle e identificação,
como ocorre, por exemplo, no aporte de nutrientes em córregos e
rios através da drenagem urbana.
Degradação Ambiental
Da mesma forma que poluição, degradação ambiental é um termo com conotação
negativa. A Política Nacional do Meio Ambiente diz que “degradação ambiental é a
alteração adversa das características do meio ambiente”. Sendo assim, a degradação
ambiental quando gerada pela intervenção humana é sempre associada a um
impacto ambiental negativo.
O avanço das tecnologias e a evolução das economias são as principais fontes da
degradação ambiental que é um resultado do crescimento cada vez maior da
população, consumo desequilibrado e exploração ilimitada de matéria prima.
A Construção Civil e sua
relação com o Ambiente
O processo de desequilíbrio ecológico começou no séc. XVIII, em
consequência da Revolução Industrial, da urbanização e do
expressivo crescimento populacional, que por sua vez, aumentaram
consideravelmente as demandas supridas pelas atividades da
construção civil.
Por causa disso, o setor é apontado como sendo o maior consumidor
dos recursos naturais e a atividade que mais gera resíduos. Estudos
apontam que cerca de 14% a 50% dos recursos naturais do planeta
foram consumidos pela construção civil desde o início da
urbanização até o final do século XX. Isso sem considerar que além
do consumo desses recursos, há também o impacto ambiental
causado pelo o que é produzido pelas atividades que compõem o
setor da construção civil.
No que diz respeito à água, o seu uso é exorbitante na construção de
um empreendimento. Estima-se que exista um gasto médio de 160 a
200 litros de água para a confecção de um metro cúbico de concreto
e até 300 litros na compactação de um metro cúbico de aterro.
A água não está inserida somente na obtenção de materiais em obra,
mas também no dia a dia dos funcionários no local, sem esquecer de
que ela está presente desde a obtenção de matérias primas até a
entrega para os usuários e durante toda a sua vida útil, onde a água
continua a ser consumida.
Em relação aos recursos minerais, o setor industrial da construção
consome o equivalente a 40% de pedras e areias, além de 1/3 da
madeira extraída anualmente no mundo, considerando o uso
total destes recursos em todas as atividades antropogênicas.
Alguns recursos naturais utilizados pelo setor como matérias
primas e fonte de energia, por exemplo, o cobre, estão
apresentando volumes reduzidos e reservas limitadas.
Além disso, devido a perdas no transporte e demais etapas de
construção, se estima que grande parte das matérias primas
consumidas, retornem à natureza em menos de um ano de sua
extração como Resíduo da Construção Civil (RCC).
E esse cenário fica ainda mais agravado pelo fato de que grande
parte do volume RCC gerado acaba sendo descartado em locais
inadequados por meio das disposições irregulares.
Quanto ao consumo de energia, grande parte ocorre na etapa
de uso das edificações, que equivale à aproximadamente 48% da
energia total produzida no Brasil.
Cabe considerar, nesse caso, que no cenário brasileiro, um
elevado percentual da energia produzida é oriunda de
combustíveis fósseis, os quais geram poluentes que agravam o
efeito estufa.
Relacionado à emissão de poluentes, a construção civil emite na
atmosfera Dióxido de Carbono (CO2) em todas as etapas de
fabricação e ciclo de vida dos seus produtos.
Essas emissões iniciam durante a extração das matérias primas,
continuam com a manufatura de produtos e equipamentos,
construção, uso, demolição, reuso, reciclagem e disposição final
dos resíduos, gerando um volume correspondente a mais de um
terço do total mundial de emissão de gases.
Por causa disso, os seus efeitos da construção civil no meio
ambiente vêm sendo discutidos há algum tempo e a
preocupação com os recursos naturais aumentando a cada
avanço da sociedade, tendo o propósito de incentivar e
difundir a preservação da natureza em um contexto global.
Referências
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CONAMA nº 1 de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e
diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Publicada no
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