Você está na página 1de 17

ISSN: 1984 -3615

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

AS METAMORFOSES DE SATÃ: AS RESSIGNIFICAÇÕES DO MAL

Orestes Jayme Mega (a);

Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (b);

Lennon Oliveira Matos (c).

O objetivo deste artigo é rastrear as pegadas de Satã até descobrir de qual inferno ele
surgiu, utilizando-se para isso de uma abordagem da arqueologia que a considera como
"conhecimento do poder", abordagem esta apresentada no artigo de Pedro Paulo Abreu
Funari: Teoria e Métodos na Arqueologia Contemporânea: O Contexto da Arqueologia
Histórica.

[...] Shanks e Tilley constataram que o próprio nome da disciplina


pode ser interpretado como o "conhecimento do poder", retomando
um dos sentidos da palavra arque em grego. (FUNARI, 2005: 2).

Em outras palavras, este artigo visa interpretar o mito de Satã através de sua
dimensão ideológica intimamente ligada à ideia de poder e sua contestação. Numa
abordagem transdisciplinar com a Psicologia Analítica, Satã foi considerado neste trabalho
como um arquétipo, um símbolo universal presente no espírito humano e que ora foi
interpretado de maneira benéfica e ora de maneira maléfica. Marcos Callia, no artigo
“Terra Brasilis: pré-história e arqueologia da psique” dá uma interessante definição de
arquétipo:

Os arquétipos são estruturas ou matrizes inatas que habitam o


inconsciente coletivo, presente em cada ser humano como
depositário das experiências humanas através da sua existência e
do seu desenvolvimento na terra. Esses conhecimentos herdados e
transmitidos durante longa jornada têm como base as necessidades

(a)
Licenciado em História / Bacharelando em Arqueologia e Preservação Patrimonial, Universidade Federal
do Vale do São Francisco.
(b)
Bacharel em Medicina Veterinária / Bacharelando em Arqueologia e Preservação Patrimonial,
Universidade Federal do Vale do São Francisco
(c)
Bacharelando em Arqueologia e Preservação Patrimonial, Universidade Federal do Vale do São Francisco.

257
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

do soma e as necessidades instintivas que impulsionam para a


vida. Os arquétipos são estruturas poderosas que influenciam a
experiência pessoal para determinados padrões, comuns à nossa
espécie [...] Os arquétipos estão presentes nos sonhos, nas fantasias
interiores, nos mitos, nas lendas e na cultura popular. Carregam
grande carga emocional, atualizando-se e estruturando as
diferentes culturas. (CALLIA, 2006: 9).

Além disso, este artigo também relata (mas sem se aprofundar no assunto) as
supostas ligações filológicas entre o nome Satã e o nome de uma antiga divindade egípcia
(ligação esta defendida por um dos grupos satanistas da atualidade conhecido como
Templo de Set). E retomando o sentido ideológico de Satã, o materialismo histórico serviu
como um excelente instrumento da explicação do porquê das mudanças pendulares que o
"príncipe das trevas" sofreu através das eras. Contudo, este artigo visa somente arranhar a
superfície do tema, atendendo aos conselhos daqueles que nos alertaram sobre os perigos
de nos aprofundarmos nestes "assuntos obscuros".

Um ponto de partida deve ser estabelecido antes de iniciarmos nossa jornada em


busca das origens de Satã (e não faltarão pessoas para dizer que esta é uma jornada
sombria!) e o ponto de partida que escolhemos é o presente. O que faremos é retroceder no
tempo. Partiremos de uma análise dos grupos satânicos de nossos dias, desvendando, com
a brevidade necessária para este artigo, suas premissas filosóficas. Depois, iremos em
busca dos fundamentos sobre os quais os grupos satânicos atuais erigiram suas doutrinas, e
nessa busca pretendemos retroceder muitos milênios no passado. Traçando uma grosseira
analogia com uma escavação arqueológica, podemos dizer que da mesma forma que
sedimentos formam diversas camadas estratigráficas umas sobrepostas às outras, também
os símbolos universais da humanidade, os arquétipos, se sobrepõem uns aos outros,
formando extensas camadas de significados. A proposta deste artigo é fazer uma "grosseira
estratigrafia dos significados", uma "escavação arqueológica" na mente humana em busca
daquilo que é hoje conhecido pela maioria das pessoas como o "arquétipo do mal”.

BREVE PANORAMA DO SATANISMO ATUAL

258
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

Os filmes de Hollywood retratam Satã como um mal absoluto, uma entidade


espiritual incapaz de realizar qualquer ato que não tenha a maldade como fundamento.
Estes filmes ajudaram a moldar a imagem caricatural com que hoje as massas entendem
Satã. Além dos filmes há a milenar pregação cristã ensinando que Satã é o adversário de
Deus e que quer tomar seu lugar, estabelecendo seu próprio reino de maldade. Sendo
assim, tudo que é mau e adverso é considerado como obra de Satã.

Esta visão de Satã como o "mal absoluto" levou à criação de uma “religião”
chamada satanismo gótico, também chamada de satanismo tradicional. Os praticantes desta
vertente do satanismo absorveram todo o estereótipo transmitido pelos filmes de terror,
pregando a existência concreta de Satã como uma divindade que um dia estabelecerá seu
domínio sobre a Terra e recompensará seus seguidores. Contudo, apesar da pretensa
antiguidade, estes cultos só começaram a surgir na década de 1970, inspirados na
publicação, em 1969, da bíblia satânica (livro que não tem o satanismo gótico como
fundamento). Ainda na década de 1970 começam a surgir fragmentos do que seria o "livro
negro de Satã", que também pretensamente tem uma idade secular.

Deixando de lado a pretensa antiguidade, o que se percebe é que o satanismo gótico


nada mais é que o reuso de uma "anti-religião" criada pela igreja católica em fins da idade
média. O satanismo gótico é, em essência, um cristianismo ao contrário, fruto de um
pensamento maniqueísta que busca equilíbrio psíquico através da criação de extremos
opostos (e quem sabe complementares). Esta visão dualista de um cosmos dividido entre
divindades que representam antíteses bem definidas é exemplificada pelo masdeísmo
através do conflito existente entre Ahura Mazda, divindade benévola, e Ahriman, divindade
malévola. O masdeísmo, também conhecido como zoroastrismo, representa a primeira
religião a celebrar esta extrema dicotomia entre o bem e o mal. Surgido no século VII a.C.,
através das pregações do profeta Zarathustra (ou Zoroastro) na antiga Pérsia, o masdeísmo
forneceu o modelo tanto do cristianismo e outras religiões monoteístas como o judaísmo e
o islamismo como do satanismo gótico, que simplesmente inverteu a orientação da
adoração. Se no cristianismo (assim como nas demais religiões monoteístas) o bem deve
ser adorado e o mal evitado, no satanismo gótico é o mal que deve ser adorado.

259
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

A "linha" satânica mais praticada em nossos dias é a que foi difundida pela igreja de
Satã que segue o que se convencionou chamar de satanismo moderno. Aqui, Satã não é
mais visto como uma entidade que tem sede de adoração, mas sim como um símbolo de
liberdade. Estes satanistas riem da ideia de Satã como um espírito ou entidade que almeja
estabelecer seu domínio sobre a Terra. Oficialmente, a igreja de Satã surgiu em 1966. Seu
fundador, Anton Szandor La Vey, era um tocador de órgão em um parque de diversões e
também numa igreja evangélica. O que ele presenciou nesta profissão o convenceu a
estabelecer as bases filosóficas do satanismo moderno. Em suma, ele viu os mesmos
homens praticando tanto a abstinência cristã quanto a libertação satânica dos instintos
animalescos humanos. Tal fato foi a prova para ele de que o cristianismo era uma fé falsa
pois negava a natureza carnal do homem (LA VEY, 1969: 2).

Desta observação do "triunfo" da natureza carnal do homem surgiu o núcleo da


filosofia da igreja de Satã que é a veneração da vida em seus aspectos materiais. O homem
é visto como um animal cheio de desejos e a maioria das religiões, até então, apresentava
esta natureza carnal do homem como algo a ser superado. Em outros termos, as religiões
sempre se esforçaram para espiritualizar o homem, relegando os desejos carnais à sujeira
do pecado ou à fraqueza do espírito. Caberia a este novo satanismo a tarefa de revalorizar a
carne. O satanismo moderno é a religião da carne e vê o homem somente como um animal
que deve ter seus instintos e desejos libertados de toda repressão (LA VEY, 1969: 9).

Em 1969, três anos após a fundação da igreja de Satã, Anton Szandor La Vey publica
a bíblia satânica, onde expressa toda a filosofia de sua igreja. A partir de então o satanismo
alcança uma enorme popularidade e começa a ser expresso de maneira mais explícita no
cinema e na literatura.

Uma terceira vertente do satanismo (e que ocupa uma posição central neste artigo) é
conhecido como setianismo 1 (www.xeper.org). Surgido em 1975 através de um cisma
dentro da igreja de Satã, o setianismo tem por fundamento uma reinterpretação de Satã
através da figura do deus egípcio Set. Muitas vezes conhecido como o "deus do vento seco
do deserto", tanto suas características comportamentais quanto seu nome ajudaram a

1
Todas as informações sobre o setianismo foram pesquisadas no site do templo de Set.

260
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

formular o que viria a ser chamado de Satã. Set é também chamado de Set Hen, e este
nome foi logo identificado com a palavra Satã, que em hebraico significa "adversário". Tal
identificação foi feita pela comunidade cristã egípcia dos primeiros séculos da era cristã.
Além da semelhança do nome, Set também possui, como Satã, uma história marcada por
inconformismo e revolta. Mais para frente discutiremos o mito Set.

Entretanto, inconformismo e revolta não eram atributos exclusivos de Satã e de Set.


Outros personagens mitológicos também carregavam esta característica. Vários mitos de
diversas culturas mediterrâneas apresentam uma figura rebelde que luta para livrar o
homem das garras dos "deuses tiranos", o que constitui um primeiro passo na libertação do
indivíduo da prisão da sociedade, pois, se os deuses podem ser confrontados, então seus
representantes na Terra também podem. Veremos alguns desses mitos a seguir.

OS MITOS DE REBELIÃO CONTRA A ORDEM DIVINA

Prometeu, Satã e Set são três símbolos que expressam um mesmo sentimento e uma
mesma vontade de liberdade. Prometeu roubou o "fogo" dos deuses para dar aos homens e,
em consequência de seu crime, foi punido severamente. Satã rebelou-se contra Jeová e
acabou sendo lançado no inferno. Set matou Osíris e foi banido para o deserto. Em todos
esses mitos há a presença de dois fatores essenciais para o entendimento do funcionamento
das sociedades estratificadas: a hierarquia vigente e a rebelião a esta hierarquia.

Inconformismo, transgressão e punição são os três capítulos básicos destes três


mitos. Apresentaremos a seguir breves resumos dos mitos de Prometeu, Set e Satã a fim de
melhor explanar esta questão:

PROMETEU

Existem diversas versões do mito de Prometeu. Hesíodo aborda o mito em suas


obras Os Trabalhos e os Dias e na Teogonia; Platão, no diálogo Protágoras e Ésquilo, na
peça Prometeu Acorrentado. Estes três autores nos oferecem diferentes narrativas que, por

261
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

sua vez, nos oferecem diferentes interpretações sobre o mito como um todo e a questão do
“fogo” em particular. Cito abaixo o resumo de uma parte do mito de Prometeu tal segundo
Santos (2010: 2):

Segundo diversas versões, Prometeu foi aquele que criou o homem


do barro da terra, mas semelhante versão não é confirmada em
Hesíodo. Prometeu, o filho de Jápeto, antes da vitória de Zeus, já
era considerado um benfeitor da humanidade, o que lhe causou um
enorme mal, por ter enganado por duas vezes a Zeus, o pai dos
deuses. Segundo a Teogonia (v.535-536), como os deuses
desconfiassem dos homens, protegidos por Prometeu, houve uma
querela entre os divinos e os homens. Para acabar com essa
querela entre imortais e mortais, era necessário que se fizesse uma
oferenda de um sacrifício a Zeus. Prometeu, querendo enganar a
Zeus para beneficiar os mortais, dividiu um boi enorme em duas
porções: a primeira continha as carnes e as entranhas, cobertas
pelo couro do animal; a segunda, apenas os ossos, cobertos com
intensa gordura do mesmo. Zeus escolheu exatamente a porção
que continha ossos e gordura, a qual era destinada aos mortais.
Sentindo-se ultrajado, com o coração pleno de ódio, investiu
contra os homens a privação do fogo, ou seja, simbolicamente, a
privação da inteligência de tal forma que os homens se
imbecilizaram. (SANTOS: 47-50).

O que, afinal de contas, era o “fogo” dado à humanidade por Prometeu? Existem
vários significados possíveis. Podia ser o fogo propriamente dito; poderia ser a inteligência
(tal como na citação acima), as artes e as técnicas, ou mesmo uma “fagulha divina” que nos
deu a faculdade de cometermos crimes contra a lei cósmica promulgada pelos deuses
olímpicos (hybris). As múltiplas interpretações sobre o “fogo”, ao nosso ver, constituem
umas das mais vívidas características do mito de Prometeu. Contudo, apesar das possíveis
diferenças de interpretação, o mito deixa claro que o “fogo” era algo que pertencia aos
deuses e que Prometeu, por amor à humanidade, roubou deles para entregá-lo aos homens
da idade do ferro, isto é, a nós. De qualquer forma, o “fogo” não nos deu apenas luz física.
Com ele, a humanidade adquiriu conhecimentos capazes de ampliar seus horizontes.

Entretanto, os deuses não deixariam este crime impune. Ardilosamente prepararam

262
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

uma armadilha para Epimeteu, irmão de Prometeu e, por fim, à própria humanidade.
Reunindo dons e presentes, os deuses forjam Pandora, a primeira mulher, e a enviam, junto
com uma caixa (ou jarro) para o imprevidente Epimeteu. Este aceita o presente dos deuses,
mesmo tendo sido avisado por Prometeu para que não aceitasse nenhum presente deles.
Por sua vez, Pandora, mesmo tendo recebido avisos para nunca abrir a caixa (ou jarro), a
abre e com isso liberta todos os males que afligem os seres humanos: doença, trabalho,
dores, velhice e muitos outros males se encontravam dentro da caixa de Pandora. Somente
a esperança fica retida na caixa. Prometeu também não escapa impune. Acorrentado numa
montanha , o titã sofre continuadamente o ataque de uma águia que devora seu fígado, que
se reconstrói continuadamente também, para novamente ser devorado.

SATÃ

As origens de Satã são obscuras e tão paradoxais como seu primeiro aparecimento
na Bíblia. Em Gênesis (capítulo 3) Satã aparece sob a forma de serpente, habitando o
paraíso ao lado de Adão e Eva. Sua presença junto à árvore do conhecimento do bem e do
mal é simbolicamente importante e, até certo ponto, esclarecedora. Sua oferta à
humanidade então nascente de fazê-la despertar e tornar-se, por assim dizer, divina,
mostrou-se irresistível. Como diz o versículo 5 do capítulo 3 de Gênesis a respeito do
fruto da árvore do conhecimento: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se
abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Tradução do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas, 1961). Até este ponto não há na Bíblia uma inimizade
entre a Serpente (símbolo de Satanás) e a humanidade. A inimizade surge depois e é
ordenada pelo próprio Criador, como vemos em Gênesis, capítulo 3, versículo 15, que
assim se expressa à serpente: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e
a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Tradução do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas, 1961). A partir deste ponto começa uma história de
acusações, oposições e inimizade entre a figura de Satã e a humanidade. Existem várias
outras aparições da figura de Satã na Bíblia. Entretanto, por motivo de espaço, focaremos
nossa análise deste arquétipo em sua primeira aparição descrita acima a fim de salientar

263
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

seu “pecado original”, isto é, sua afronta “política” contra a ordem divina.

Satã como noção cosmológica que personifica a dualidade maniqueísta, como a


força antípoda a Deus, “o anjo caído” que promove a queda do homem e sua condenação, é
sem dúvida um conceito, uma interpretação social reduzida de uma ideia construída ao
longo de várias associações entre suas aparições literárias nos relatos que estão contidos
nos textos bíblicos, fragmentos muitas vezes pertencentes a épocas e contextos diferentes,
e a própria expressão da psique humana.

Para que seja possível estudar uma origem arquetípica ou quem sabe “ideológico-
histórica” desse personagem mítico, é preciso compreender as sutilezas contidas em todas
as suas aparições e múltiplos contextos2. Como uma construção discursiva que é, o mito
precisa ser entendido não só em seus contextos históricos, mas como uma manifestação da
sociedade em todas as suas dimensões, aqui, enfatizaremos a questão do inconsciente
coletivo, que por diversas vezes revela a condição essencial para a interpretação moderna
das cosmologias humanas. A história como contexto3, assim, não é razão suficiente para
uma proposta de mitologia comparada.

Um exemplo edificante é expresso na própria identidade múltipla que um


personagem adquire e que se justifica na esfera do inconsciente, promovendo a construção
de novos discursos diametralmente opostos aos “originais”. Assim, por exemplo, Satã
muitas vezes é associado a “Lúcifer”, e tal alegoria surge e se consolida apenas em
períodos pós-bíblicos; Jesus no novo testamento se autodenomina a estrela radiosa da
manhã (KELLY, 2006: 67), “aquele que traz a luz” ou do latim “Lucifer”, ou o planeta
Vênus quando surge do leste: “Tempo presente, eu Jesus sou o Lucifer” (Apocalipse
22:16).

Para entender tais metamorfoses é necessário um entendimento que não é só


material; insuficiente é, em nossa opinião apenas as análises cronológico-históricas ou as
literárias, pois a carência de uma justificativa material contextual clama por uma proposta
de entendimento psicológico-social, ou imaterial.
2
Assim como Jack Miles o faz em sua obra “Deus, uma biografia” de 1995. (KELLY, 2006: 10).
3
Dentro de uma concepção do Materialismo histórico.

264
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

Não se trata, porém, de se pretender o entendimento por conceitos psicológicos


“universalistas”, mas uma das possíveis abordagens que podem contribuir para uma
interpretação aprofundada dos fenômenos mitológicos. Tentaremos não reduzir os
contextos, mas somar. Apenas pelas teorias psicológicas, tal tentativa seria sem dúvida
“proplética” e “anacrônica”; portanto, temos aqui a proposta de apresentar uma
interpretação rica de contextos e de suas interações. Hoje, a fusão dessa diversidade de
discursos interpretativos é a imago mundi da ciência na pós-modernidade.

Neste artigo, trabalharemos com duas dimensões do mito de Satã. Na primeira delas,
abordaremos o mito através de um viés psicológico pautado na Psicologia Analítica de Carl
Gustav Jung, onde Satã é a expressão de parte importante e vital da psique humana (um
arquétipo), que se liga a própria estruturação da individualidade. Na segunda,
trabalharemos o mito através de um viés marxista, onde a figura de Satã constitui uma
força ideológica de contestação dos poderes estabelecidos e das estruturas sociais impostas
por estes poderes. Assim, mais que uma fusão interpretativa, propomos uma interação
complexa de fenômenos sócio-históricos e psicológicos onde Satã é uma imagem alegórica
do próprio drama existencial tanto de indivíduos quanto de sociedades.

SET

Já a figura de Set ficou conhecida através do mito que narra a traição feita por ele ao
seu irmão Osíris, e de sua batalha contra Hórus, filho de Osíris e divindade ligada ao poder
faraônico. O mito de Set é rico em diferentes interpretações acerca de sua simbologia
“política”. Nesse artigo exploraremos uma destas diversas interpretações.

Set, por inveja, matou seu irmão Osíris e o desmembrou e espalhou os pedaços de
seu corpo por diversas partes do Egito. Osíris era uma divindade ligada às cheias do Nilo e
ao poder de previsão destas cheias e também à obra civilizadora. Uma interpretação que
podemos levantar é que os sacerdotes egípcios se aproveitaram do conhecimento da
previsão das cheias do Nilo através da implantação do calendário solar para impor seu
poder ao povo iletrado. Além disso, agiam como elemento "civilizador" ao atuarem como

265
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

elo entre os deuses e os homens. Portanto, os sacerdotes exerciam seu poder através da
manutenção de uma superestrutura que exaltava a previsibilidade tanto da natureza quanto
das massas humanas por eles dominadas. A previsibilidade permitia seu controle. Já Set
não era ligado às cheias do Nilo e seu ritmo constante. Como "deus do vento seco do
deserto", Set era uma energia imprevisível e indomável e contrária à obra civilizadora.

Hórus, filho de Osíris e Ísis, vinga o pai, vencendo Set numa luta em que lhe corta o
pênis. Com esta vitória, torna-se regente do Egito em substituição a Set. Entretanto, apesar
dessa dualidade e dessa oposição, Set e Hórus aparecem por muitas vezes com papéis
semelhantes nas representações de ritos simbólicos relacionados à cerimônia da “União das
Duas Terras”, o que nos faz interpretar o mito de Set como divindade principal do baixo
Egito que, com a consequente derrota deste diante do Alto Egito, resultando na unificação
do país, Set, por representar a parte derrotada, teve sua simbologia alterada para
representar os aspectos “negativos” para a vida egípcia, como a aridez e a seca.

Outras interpretações apontam que Néftis, esposa de Set, concebeu um filho de


Osíris. Tal filho seria o deus Anúbis. Esta traição de Néftis talvez tenha sido o fator
determinante para a oposição de Set contra Osíris ou até o de seu assassinato
(CAMPBELL, 1990: 185).

Aridez e umidade constituíam elementos não só naturais mas também cosmológicos


para os antigos egípcios. Neste sentido, entender esta dicotomia em seu aspecto
cosmológico e religioso pode nos ajudar a entender esta mesma dicotomia em seu aspecto
político:

“Osíris a deidade do Sol, fonte de calor, da vida e da fecundidade, além do que era
também considerado como deus do Nilo, que anualmente visitava sua esposa, Ísis” (a terra,
mas não toda sua totalidade, somente a parte inundada), “por meio de uma inundação.”
(BULFINCH, 2006: 281), e ainda “aquele que construiu os instrumentos de lavoura e
ensinou os homens a usá-los, e deu-lhes as leis, a instituição do matrimônio e uma
organização civil, e também os instruiu no culto dos deuses.” (BULFINCH, 2006: 281).

Nestas passagens é possível verificar que a dicotomia natural umidade/aridez

266
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

também podia ser interpretada como dicotomia política ordem/caos, sendo Osíris e Hórus
representantes da ordem e Set representante do Caos.

Entretanto, sabemos que os arquétipos tendem a estar inseridos em esquemas de


compensações. O medo pode gerar fascínio. Desta forma, a figura arquetípica de Set, assim
como Satã, pode ter exercido algum fascínio oculto nas mentes de muitos egípcios. Será
que os egípcios adorariam a Set, seu deserto e todas as suas dores e doenças, em vez de
adorarem a Osíris e sua dádiva ao Egito, o rio Nilo? Teria Set um “presente para a
humanidade assim como Prometeu e Satã?

Em nossa interpretação, Set podia ao mesmo tempo representar a morte através da


seca como representar a liberdade do sistema de coletivismo servil que então reinava no
Egito. “O vento seco do deserto” incorpora o poder da transformação e da mudança
inerente ao imprevisível. Mas que imprevisível seria esse a que se opunha o deserto? Ora,
não seria a própria existência da civilização egípcia, baseada na agricultura, um
contraponto à vida tribal mais antiga, baseada na caça e coleta? Temos que uma das
grandes preocupações no antigo Egito recaía sobre o tema da agricultura, e é esta a chave
que liga Set a nossa interpretação de sua função mitológica de oposição a estrutura de
dominação social. Sem a agricultura, a civilização egípcia seria impossível. Ora, qual é a
principal ameaça à agricultura senão a seca prolongada? E qual a principal ameaça ao
coletivismo servil senão o “caos” de uma sociedade igualitária onde não haveria um faraó
divino para reinar?

Quem trouxe a agricultura para o Egito fora o próprio Osíris (BULFINCH, 2006:
281). Temos esta força personificada no próprio Osíris, que mesmo após sua morte por Set
continua a “exalar” uma força vital relacionada à fertilidade vegetal.

A civilização egípcia fora construída inexoravelmente sobre a estabilidade e a


previsibilidade das cheias do Nilo, da fertilidade dos solos e do trabalho coletivo
organizado por estamentos sociais. A agricultura egípcia demandou uma organização social
marcada por uma forte hierarquia, e dessa hierarquia se deu toda a mudança ocorrida no
Egito para se impulsionar tribos de caçadores-coletores à uma civilização cujos alicerces
estavam na estratificação do trabalho, nos regimentos e no poder teocrático. Muito além

267
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

das cosmologias, a agricultura como uma tecnologia, propiciou o próprio aparecimento da


“estabilidade” da estrutura política, status este não só fundador e mantenedor, mas
necessário às próprias manifestações das estruturas sociais construídas sobre ela. Quando
nos referimos ao Egito, pensamos em como suas estruturas sociais são estáveis ao longo de
muitos séculos.

Assim, Set e sua “instabilidade” das forças do deserto imprevisíveis agia contra a
“estabilidade” da agricultura, da fertilidade e sua previsibilidade. Desse modo, desafiava
Osíris, não apenas pelo comando político, mas também em sua própria perspectiva de
como se manifestaria a estrutura social. Neste sentido, este desafio à “ordem” propõe uma
revolução a tudo que advinha da civilização que fora ensinada por Osíris:

Aquele que construiu os instrumentos de lavoura e ensinou os


homens a usá-los, e deu-lhes as leis, a instituição do matrimonio e
uma organização civil, e também os instruiu no culto dos deuses.”
(BULFINCH, 2006: 281)

Set, assim, representa o vento “da imprevisibilidade” que atua como elemento
contrário à obra civilizadora de Osíris e Hórus. Set era o inimigo não da “vida” ou do
“homem”, mas do modelo de civilização; poderia representar o modelo tribal antigo,
arcaico, de caça e coleta contra a agricultura e o sedentarismo que permitiram a ascensão
de um regime faraônico, de uma sociedade construída em cima da dominação. Temos
novamente o elemento arquetípico da liberdade individual e da contestação do poder se
manifestando. Nesta perspectiva, Set representa não o “mal” como entendido pelo
dualismo cristão, mas o contrário à ordem estabelecida por Osíris e Hórus. Entretanto, os
arquétipos não permanecem os mesmos por milênios. Os significados são transitórios,
ressignificáveis em sua essência. A interpretação cristã encarou os mesmos arquétipos
simbolizados por Set como o “mal” absoluto. Neste sentido, o deus egípcio Set também
ajudou a moldar a figura maligna de Satã.

Nos três mitos acima, a transgressão aparece com um crime político. A ordem
cósmica foi perturbada e, de alguma forma, tinha que voltar ao seu princípio, em outras
palavras, tinha que ser restabelecida.

268
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos, enfim, ao final de nossa jornada sombria, e, afinal de contas, o que


encontramos? O que hoje chamamos Satã e o significado que há por trás deste nome tem
uma história que ainda precisa ser melhor esclarecida. Como foi mostrado de maneira
extremamente superficial neste artigo, dar a Satã unicamente o significado de arquétipo do
mal tornou-se insuficiente. Por trás do ódio a Satã há coisas obscuras escondidas. O que,
para muitos, significa nada mais que destruição e morte pode se revelar com um
significado mais nobre e edificante. Já foi dito aqui que Satã significa “adversário”, mas de
quem? As sociedades hierarquizadas odeiam a individualidade e fazem de tudo para
suprimi-la através da mentalidade de rebanho. Set, Prometeu e Satã foram divindades que
ousaram desafiar os antigos deuses reinantes, ou seja, desafiaram as ordens estabelecidas.
E hoje, quem as desafia? O que significa realmente o “mal”? Gostaríamos de terminar este
artigo dizendo que, para aqueles que detêm o poder, o “mal”, muitas vezes, é a liberdade, a
individualidade, a não-hierarquia sempre entendida pejorativamente como caos. Satã, Set e
Prometeu representam este “arquétipo da individualidade subversiva”, este anseio de
liberdade que afronta as ordens sociais. Mas, como identificar isso no registro
arqueológico? E principalmente: tem essa reflexão importância para a Arqueologia?

De modo geral, vincula-se a Arqueologia somente ao estudo da cultura material de


sociedades pretéritas, a Arqueologia, por assim dizer, focaria suas energias
preferencialmente na análise dos objetos que compõem as infra-estruturas das sociedades
que estuda. Porém, existem outras leituras para os conceitos limitantes desta abordagem
dos artefatos como tendo apenas a dimensão material formal e funcional que convenciona-
se considerar. Nesta perspectiva, os artefatos, algumas vezes, são “supervalorizados” em
alguns aspectos e “sub-valorizados” em outros aspectos. Em alguns casos acabam tendo
suas materialidades “infladas” sendo assim considerados apenas “objetos instrumentais” e
suas ligações com a superestrutura a que estavam ligados “minorizadas”, gerando uma
“artefatologia” que tende ao fetichismo. Tal epistemologia, nascida sob a égide da
modernidade, tem suas raízes num positivismo materialista que surge durante a revolução

269
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

industrial, conceitos que se desenvolvem como fundadores da arqueologia do sec. XIX,


onde a cultura “material” é apenas o “objeto” estudado sob o foco do estrutural-
funcionalismo. Essa instrumentalização da cultura material, onde o artefato é destituído de
suas esferas transcendentes constitui-se em um fenômeno originário da cosmologia
moderna, tornando-se assim impróprio ao entendimento das culturas antigas onde a
separação cosmogônica entre o profano e o sagrado na cultura material não possuía uma
fronteira sensível (SUBIRATS, 1989: 101-102). Assim, muitas vezes, interessantes
reflexões sobre as sociedades pretéritas são perdidas devido à ênfase na análise da
materialidade dos objetos encontrados nas intervenções arqueológicas. A cultura material é
“significativamente constituída” e não podemos negligenciar tal esfera de ações e
pensamentos segundo Hodder (apud RENFREW; BAHN, 1996: 461).

Nosso ponto de vista se baseia numa posição contrária ao estado de coisas que
negligencia os aspectos simbólicos da cultura material. Entendemos que a cultura material
de uma dada sociedade é produto (e igualmente produtora) de uma concepção social sobre
a vida que é expressa, principalmente, através da mitologia. Os artefatos aqui são mais que
“objetos”, pois possuem significados que transcendem a matéria e o próprio tempo, podem
assim ser estudados de maneira transdisciplinar como propomos neste artigo sobre as
superestruturas inerentes as sociedades abordadas aqui. Em outros termos, tanto a
mitologia quanto a cultura material de uma sociedade refletem uma concepção de vida que
pode ser entendida como “imago mundi” desta sociedade. Seguindo esta linha de
pensamento, a cultura material torna-se parte constitutiva do próprio mito, ou, em outros
termos se “mitologiza” ao mesmo tempo que a mitologia se “materializa” através dos
artefatos, na vida cotidiana das sociedades, formando um todo coeso.

A proposta que desenvolvemos aqui vai além do estudo da própria cultura como
artefato em si. Nem mesmo foca-se no estudo da dimensão do material na cosmologia.
Queremos ir além destas tentativas. Nosso estudo é um estudo do discurso do poder.
Discurso este que se materializa em artefatos assim como se mitologiza, tornando-se
elemento da superestrutura. Enfim, desenvolvemos uma arqueologia que pretende alcançar
as mentalidades por trás dos artefatos.

270
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

Embora não classifiquemos este nosso trabalho como sendo um trabalho de


Arqueologia Cognitiva, compartilhamos com esta uma visão de que os indivíduos
pertencentes a uma mesma cultura compartilham um “mapa cognitivo” que orienta suas
ações. Nesta perspectiva, nós entendemos a mitologia como a mais alta expressão deste
“mapa cognitivo”:

As a first concrete step it is useful to assume that there exists in


each human mind a perspective of the world, an interpretive
framework, a cognitive map […]. For human beings do not act in
relation to their sense impressions alone, but to their existing
knowledge of the world, through wich those impressions are
interpreted and given meaning. (RENFREW & BAHN, 1996:
370).

A vida, tal como entendida por uma sociedade, é o pano de fundo sobre o qual são
produzidas tanto a mitologia quanto a cultura material. Essas duas esferas da cultura
humana estão interligadas e nós acreditamos que o melhor que temos a fazer é uni-las a fim
de entendermos as culturas pretéritas de uma forma mais abrangente e viva.

271
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia: Histórias de Deuses e Heróis. Rio


de Janeiro: Ediouro, 2006.

CALLIA, Marcos. Terra Brasilis: Pré-história e Arqueologia da Psique. São Paulo:


Paulus, 2006.

CAMPBELL, Joseph; BILL, Moyers. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena. 1990.

FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Teoria e Métodos na Arqueologia Contemporânea: O


Contexto da Arqueologia Histórica. Disponível na Internet via:

http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/pdf/mneme13/124.pdf

JUNG, Carl. Gustav (et al.). O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.

_____, Carl. Gustav. Escritos Diversos (volumes X e XI). Petrópolis: Vozes, 2003.

KELLY, Henry A. Satan, a Biography. Cambridge University Press, 2006.

LA VEY, Anton Szandor. A Bíblia Satânica. Morbitus Books Brasil, 1999.

RENFREW, Collin. BAHN, Paul. Archaeology: Theories, Methods and Practice.


Londres: Thames and Hudson Ltd, 1996.

SANTOS, Elaine. C. P. O Mito de Prometeu e Pandora – A Criação do Homem e da


Mulher. Disponível na Internet via:

http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/
Comunicacao/Gt10/Elaine_C._Prado_dos_Santos.pdf

SUBIRATS, Eduardo. A Cultura Como Espetáculo. São Paulo: Nobel, 1989.

Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, Tradução da Versão Inglesa de


1961-Edição Brasileira. Nova Iorque: Watchtower Bible And Tract Society Of New York,
Inc, 1967.

272
ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I CONRESSO INTERNACIONAL DE RELIGIÃO
MITO E MAGIA NO MUNDO ANTIGO
&
IX FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA
2010

REFERÊNCIAS DIGITAIS

www.xeper.org

273

Você também pode gostar