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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

MAYNÁ ISABEL MORAIS DOS SANTOS


Nº USP 9777222

SÍNTESE PESSOAL DA OBRA:


“OS ENGENHEIROS DO CAOS” DE GIULIANO DA EMPOLI

SÃO PAULO
2021
"Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar".

Zygmunt Bauman

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3
2. SÍNTESE PESSOAL DA OBRA “OS ENGENHEIROS DO CAOS”.......................... 4
2.1. DO CAPÍTULO 1 AO CAPÍTULO 6...................................................................... 6
3. CONCLUSÃO - A ERA DA POLÍTICA QUÂNTICA ............................................... 10
4. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 11

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1. INTRODUÇÃO

Giuliano da Empoli é resumido nas pesquisas pelo site Wikipédia como um escritor,
consultor político, ex-candidato ao senado italiano pelo Partido Democrático e presidente
fundador do Voltar, um think tank com sede em Milão. Nascido em Paris, em 1943, Empoli
formou-se em direito pela Unidade Sapienza de Roma e obteve o mestrado em Ciência Política
no Institut d’études politiques de Paris.
Dentre as obras escritas por Empoli, o livro “Os engenheiros do caos: como as Fake
News, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio,
medo e influenciar eleições” ¹, é descrita por Empoli como o resultado de galeria de personagens
coloridos, quase todos desconhecidos do grande público, mas que estão mudando as regras do
jogo político e a cara da nossa sociedade.
Em uma Conferência proferida em 29 de novembro de 2010, Ginzburg ao apresentar
acerca da história da era do Google, diz que:

“O Google, esse poderoso instrumento de homogeneização cultural (e, portanto, de


controle, ainda que indireto), pode ser usado em diferentes e imprevisíveis direções:
por exemplo, ajudando uma garota siberiana a fugir do seu destino (ou daquilo que lhe
parece ser o seu destino) na construção de uma identidade complemente estranha ao
contexto no qual ela vive. Em poucos minutos, graças ao Google, Diana aboliu o tempo
e o espaço: cinco séculos, 15 mil quilômetros, oito fusos horários. Ela autonomamente
reelaborou, de uma maneira totalmente anti-histórica, uma tradição histórica da qual
lhe tinha chegado apenas um eco indireto”. ² (GINZBURG, p. 62).

Nesse sentido, uma mulher de 27 anos, nascida e criada nos bairros periféricos da Zona
Norte da Cidade de São Paulo/Brasil, autora da presente síntese, conseguiu em poucas horas
encontrar um vasto mundo de informações sobre um homem francês de 78 anos, assim como
encontrando diferentes perspectivas sobre um de seus livros, o Engenheiro do Caos, que aborda
justamente sobre os efeitos da internet que afeta tanto a maneira de ler e escrever história,
quanto a maneira de vivenciar o processo histórico.
Assim, deparei-me com um vasto mundo de informações, que tanto podem ser
verdadeiros como, muito provavelmente, podem ser errôneos. O Google, como elucidado por
Ginzburg, pode ser ao mesmo tempo um poderoso instrumento de pesquisa histórica e um
poderoso instrumento de cancelamento da história, no qual o passado se dissolve.
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2. SINTESE PESSOAL DA OBRA “OS ENGENHEIROS DO CAOS”

A obra de Empoli é dividida em introdução, seis capítulos (Capítulo 1 – O vale do


Silício; Capítulo 2 – A Netflix da política; Capítulo 3 – Waldo conquista o planeta; Capítulo 4
– Troll, o chefe; Capítulo 5 – Um estranho casal em Budapeste e Capítulo 6 – Os físicos e os
dados) e uma conclusão.
A introdução do livro parte de um relato do jovem Goethe observando, da janela de um
hotel em Roma, em 19 de fevereiro de 1897, o carnaval que alvoroçava a multidão. O carnaval
é descrito como expressão de transformação e até mesmo meio de aproximação da população,
uma festa que tem por hábito, nas palavras do autor, de virar o mundo de cabeça para baixo,
invertendo não somente as relações entre os sexos, mas também entre as classes e todas as
hierarquias – que, em tempos normais, regem a vida social.
No entanto, o carnaval pode ser subversivo, como mecanismo do povo derrubar, ainda
que de modo simbólico e por um tempo limitado, todas as hierarquias instituídas entre o poder
e os dominados, podendo, inclusive, transformar o carnaval em revolta, comprovando isto pelas
tentativas de governantes em detê-las. Tentativas que se mostraram falhas, visto que jamais
conseguiram se livrar completamente do Carnaval e de seu espirito subversivo. O carnaval,
assim como tudo em sua volta, se transformou e de certo adaptou-se as mudanças histórica.
Vejamos:

“[..] nenhum poder jamais conseguiu se libertar completamente do Carnaval e de seu


espirito subversivo. Ao longo de séculos, esse espírito percorreu infatigavelmente as
ruas para se estampar nos panfletos e nas caricaturas dos jornais populares. Até
reaparecer, mais recentemente, nas sátiras dos shows de TV e nos ataques dos trolls na
internet. Mas só muito recentemente o Carnaval deixou, por fim, sua praça preferida, às
margens da consciência do homem moderno, para adquirir uma centralidade inédita,
posicionando-se como o novo paradigma da vida política global”. (EMPOLI, 2019, p.
11).

O mundo vive um novo paradigma da vida política, e a política torna-se questão de


engajamento e não de ideia discutidas racionalmente em esfera pública. Ao passar pelo
carnaval, não há como não se engajar.
O engajamento pode ser visto como a ascensão do populismo, que através de seus
líderes populistas se materializam como uma constante e crescente aversão de regras e valores
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até então pré-estabelecidos, transformando, aos olhos do povo, defeitos viraram contraditórias
qualidades. Para isso, Empoli apresenta, ainda na introdução, Giuseppe Conte - o Mister Conte
- que chegou ao cargo de primeiro-ministro da Itália pela coligação entre o Movimento 5
Estrelas e a Liga, utilizando seu engajamento para assumir um importante poder político,
mesmo sendo desmascarado por suas fake news, permaneceu em ascensão durante as eleições.
Seu primeiro gabinete, que tinha como líder Luigi Di Maio, foi considerado pelo jornal The
New York como o primeiro governo populista da Europa Ocidental moderna.
Assim como na Itália, houve o crescimento dos populismos em todo planeta, num
verdadeiro carnaval populista, os líderes populistas assumem importantes cargos e postos de
poder, tendo como uma de suas figuras emblemáticas – e problemáticas – líderes populistas
como Donald Trump, Boris Johnson e Jair Bolsonaro. Não obstante, atrás de famosas figuras
populistas, encontramos os spin doctors, ideólogos, cientistas especializados em Big data, que
tornaram possível os referidos lideres populistas chegarem ao poder.
A obra de Empoli é, deste modo, voltada a apresentar a história dos denominados
Engenheiros do Caos, figuras fruto da era tecnológica, que utilizaram da internet como meio de
revolucionar a política. Para Empoli, como exemplo de engenheiros do caos, temos: Beppe
Grillo, Dominic Cummings, Steve Bannon, Milo Yiannopoulos, Arthur Finkelstein.
Empoli elucida que:

“Para os novos Doutores Fantásticos da política, o jogo não consiste mais em unir as
pessoas em torno de um denominador comum, mas, ao contrário, em inflamar as
paixões do maior número possível de grupelhos para, em seguida, adicioná-los, mesmo
à revelia. Para conquistar uma maioria, eles não vão convergir para o centro, e sim unir-
se aos extremos. Cultivando a cólera de cada um sem se preocupar com a coerência do
coletivo, o algoritmo dos engenheiros do caos dilui as antigas barreiras ideológicas e
rearticula o conflito político tendo como base uma simples oposição entre “o povo” e
“as elites”. No caso do Brexit, assim como nos casos de Trump e da Itália, o sucesso
dos nacional-populistas se mede pela capacidade de fazer explodir a cisão
esquerda/direita para captar os votos de todos os revoltados e furiosos, e não apenas dos
fascistas”. (EMPOLI, 2019, p. 16).

Ainda, diz que:

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“Naturalmente, como as redes sociais, a nova propaganda se alimenta sobretudo de
emoções negativas, pois são essas que garantem a maior participação, daí o sucesso das
fake news e das teorias da conspiração. Mas tal tipo de comunicação possui também um
lado festivo e libertário, comumente desconhecido daqueles que enfatizam unicamente
a faceta sombria do Carnaval populista. O escárnio vem sendo, desde então, a
ferramenta mais eficiente para dissolver as hierarquias. Durante o Carnaval, um bom e
libertador ataque de riso é capaz de enterrar a ostentação do poder, suas regras e suas
pretensões. Nada mais devastador para a autoridade que o impertinente, que a
transforma em objeto de ridículo”. (EMPOLI, 2019, p. 16).

Deste modo, nesse carnaval populista em que estamos todos inseridos, participamos e
vivenciamos o mundo ao avesso, onde o insulto ou uma piada não será considerada vulgar se
contribuir para a demolição da ordem dominante e sua substituição por alguma dimensão de
liberdade e fraternidade.
Empoli apresenta ainda que o carnaval contemporâneo se nutre de dois ingredientes que
nada tem de irracional:

“[...] a cólera de alguns meios populares, que se fundamenta sobre causas sociais e
econômicas reais; e uma máquina de comunicação superpotente, concebida em sua
origem para fins comerciais, transformada em instrumento privilegiado de todos
aqueles que têm por meta multiplicar o caos”. (EMPOLI, 2019, p. 18).

Assim, para combater a onda populista, é necessário concentrar-se no segundo aspecto,


onde os engenheiros do caos utilizam-se de uma máquina de comunicação superpotente, a
internet, concebida em sua origem para fins comerciais, transformando-a em um poderoso
instrumento para multiplicar o caos.

2.1. DO CAPÍTULO 1 AO CAPÍTULO 6

O primeiro capítulo, o intitulado Vale do Silício do Populismo, conta a história de Steve


Bannon, uma personalidade extremamente controvérsia da atualidade. Bannon é conhecido
como ex- CEO da campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e ex-extrategista chefe da
Casa Branca durante o governo Trump e, importância para a realidade Brasileira, um grande
apoiador da campanha do atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro.

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Como filho da classe trabalhadora americana e ressentido contra elites econômicas e
intelectuais do mundo, Bannon investiu sua carreira no chamado banco de cólera, criando
estratégias para ajudar a eleger pessoas afinadas com seus ideais. Muitos das suas ideias e
posicionamentos gravitam, ainda que contraditórios, em acreditar que os liberais americanos
construíram uma hegemonia globalista a partir de um marxismo cultural que deve ser
substituído por uma internacional nacionalista. Em seu apoio na campanha presidencial de
Trump, apostava na retomada do controle populista sobre o governo através de discurso de
preocupação com o destino de seu país e de seu povo. Trazendo à tona a ideia do engajamento,
de contágio, de canalizar o ódio para um projeto redentor de poder.
Surge então o conceito de Partido Algoritmo, na qual um engenheiro do caos, tal como
Bannon, se utiliza de dados que produzimos via internet, transformando-o em estatísticas para
conseguir interpretar e interferi em nossos desejos e sentimentos de forma objetiva. Atitude esta
que podemos relacionar ao capitalismo de vigilância teorizado por Zuboff ³, na qual consiste na
utilização da imensurável quantidade de dados que usuários fornecem gratuitamente a empresas
das tecnologias transformando em matéria-prima e produto final altamente lucrativo, no caso
de Bannon, utilizando para ajudar a ascensão de líderes populistas.
A Itália, por sua vez, se projeta como um Vale do Silício do populismo para que os
engenheiros do caos afluem em “peregrinações destinadas a detectar as últimas invenções dos
netos de Maquiavel”, assim como, na constatação de que, “pela primeira vez, o poder vem
sendo conquistado por uma nova forma de tecnopopulismo pós-ideológico, fundando não em
ideias, mas em algoritmos disponibilizados pelos engenheiros do caos”.
No segundo capítulo, a Netflix da Política, Empoli aborda sobre o movimento 5 Estrelas
(M5S), movimento este fundado em 2009 pelo comediante Beppe Grillo e pelo já falecido
empresário da comunicação Gianroberto Casaleggio, tendo como finalidade deslocar os
partidos tradicionais para colocar cidadão comuns no poder e estabelecer uma democracia
instruída, com votações por meio da web. Casallegio entendia que:

“[...] a internet iria revolucionar a política, tornando possível o surgimento de um


movimento novíssimo, guiado pelas preferências dos eleitores consumidores. Ele
pretende, então, lançar um produto capaz de responder de maneira eficaz a uma
demanda política que os partidos existentes não são capazes de satisfazer. Mas sabe,
também, que a dimensão digital, sozinha, ainda é fria e distante demais para dar vida a
um verdadeiro movimento de massa na Itália. É por isso que precisa de Beppe Grillo:
para dotar de calor e paixão um movimento que corria o risco de, sem esses ingredientes,

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continuar confinado aos geeks italianos. A força e a resiliência do futuro Movimento 5
Estrelas virão desta combinação inédita: o populismo tradicional que se casa com o
algoritmo e dá à luz uma temível máquina política”. (EMPOLI, 2019, p. 31).

O M5S foi um marco na Itália, visto ser organizar como uma das principais forças da
direita populista no país, ao passo que seus eleitores respondem aos números e ao dono do
partido – que administra e empresa, mas não é político – Davide Casaleggio, único herdeiro do
partido após a morte do pai.
Intitulado como Waldo conquista o planeta, o capítulo 3 apresenta a história do ursinho
azul virtual e canastrão que ficou conhecido ao protagonizar um dos episódios da séria britânica
Black Mirror. Waldo é comandado por um homem frustrado e ressentido, e tais sentimentos
são expressados por Waldo agir com paranoia, com ódio e com extrema frustação tanto consigo
mesmo quanto com o mundo.
A cólera, como abordada por Sloterdijk, fora ao longo dos anos administrada por
diferentes instituições, contudo, atualmente como ninguém mais a gerencia, pode se manifestar
de diversas formas e cada vez mais desorganizada e caótica. No entanto, Empoli possui uma
percepção diferente.

“Dez anos depois da publicação do ensaio de Sloterdijk, já está comprovado que as


forças da ira se reorganizaram e expressam-se no centro da galáxia dos novos
populismos que, do Leste Europeu aos Estados Unidos, passando pela Itália, a Áustria
e os países escandinavos, dominam cada dia um pouco mais a cena política de seus
respectivos países. Para além de todas as diferenças entre si, esses movimentos têm
como ponto comum o fato de pôr em primeiro lugar de sua agenda política a punição
das elites tradicionais, de direita e de esquerda. Essas últimas são acusadas de terem
traído o mandato popular, ao cultivar os interesses de uma minoria restrita em vez de
servir aos anseios da “maioria silenciosa”. Muito mais que medidas específicas, os
líderes populistas oferecem aos eleitores uma oportunidade única: votar neles significa
servir de torcida contra os governantes”. (EMPOLI, 2019, p. 49).

Os partidos empresas visam canalizar o ódio contra os representantes da elite à esquerda


ou à direita, esvaziando o centro político e se colocando como anti-políticos, mas
contrariamente, trabalham justamente para unir os desejos pelos extremos do ódio, na qual
sempre encontram justificava para seus discursos de ódio. A união do populismo não se dará

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pelo reconhecimento do outro, mas com o líder, dividindo o mundo entre “nós’ e “eles”. Nesse
ínterim, Empoli apresenta desde o MBL, no Brasil, até aos Coletes Amarelos, na França.
No capítulo, denominado Troll, o Chefe, apresenta a história de quando a empresa
chinesa Internet Gaming Entertainment contrata milhares de jovens chineses para jogar o
famoso jogo de vídeo game World Of Warcraft dia e noite e a acumular troféus, que,
posteriormente, poderão ser vendidos em dinheiro real a jogadores ocidentais. Resulta-se uma
batalha virtual violenta entre os críticos de tal prática e os jogadores que utilizam do WOW
como importante fonte de renda.
A partir da utilização do meio virtual como “rinque de batalha”, Bannon em parceria
com o jornalista Andrew Breitbart, responsável pelo mais conhecido site de extrema-direita nos
EUA, utilizam-se de correntes invisíveis e com discursos de extremo ódio para alimentar
milhões de indivíduos à margem da sociedade, deslocando o alvo da cólera para o establishment
político e midiático. Para isso, utiliza-se do rosto do então apresentador de TV Donaldo Trump
e um discurso extremamente apocalíptico, descrevendo um mundo em perigo, onde a máquina
do politicamente correto e de censores democratas quer tirar tudo o que você mais preza, a
liberdade de expressão, o anonimato, os valores da pátria e da família, sua liberdade, seus
direitos civis, sua propriedade. O troll chefe podemos entender como o ex-presidente Trump.
Em paralelo com os mecanismos dotados por Bannon, em 2019 o então candidato a
presidencia do Brasil, Jair Messias Bolsonaro apostou numa política terra arrasada: com
insultos, perseguições, xingamentos, difamações e, sobretudo, mentiras.
O capítulo 5, intitulado Um estranho casal em Budapeste, após o trágico ataque armado
que dois atirados invadiram a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, e matou 5 pessoas
e deixou 5 feridos. Após o ocorrido, dois milhões de franceses e chefes de estado de toda Europa
marcham as ruas estendendo bandeira contra os atos terroristas, entre os quais estavam o chefe
de Estado Viktor Orbán, da Hungria.
Em parceiro com Arthur Finkelstein, um engenheiro do caos, Orbán constata a
possibilidade de drenar a raiva acumulada em prol de propósitos de perpetuação no poder.
Através de um discurso nacionalista, xenofóbicos e de ódio contra a imigração, Orbán
conseguiu se manter no poder.
Por fim, o capítulo 6, intitulado Os físicos e o dados, Empoli apresenta uma importante
invenção, a chamada microtargeting, que são: “análises demográficas sofisticadas e sondagens
de boca de urna entre os eleitores das primárias, que vão permitir identificar os diversos grupos
para os quais devem ser enviadas mensagens segmentadas”. (EMPOLI, 2019, p. 81).

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Ou seja, ao invés de distribuir a todos sem nenhum critério, direcionam as mensagens
apenas para as pessoas certas, as influenciáveis, posto impactar diretamente na contagem de
votos, como no caso de Trump, que venceu no Estado do Wisconsin por uma margem apertada
de 11 mil votos.
Os Engenheiros do caos distorcem, produzem e conduzem novas realidades e, para
tanto, os físicos assumiriam um importante e novo papel na política, compreenderiam a
realidade e os poderosos interesses econômicos que ela representa, as quais conforme pedido
de Cummings fez aos grupos de pesquisadores: “Digam-me para onde devo enviar meus
voluntários, em que portas devo bater, a quem devo mandar e-mails e mensagens nas redes
sociais e com que conteúdos”.

3. CONCLUSÃO – A ERA DA POLÍTICA QUÂNTICA

Ao deparar com a conclusão de Empoli, deparamo-nos com uma análise sobre como a
física quântica desfaz a física apresentado por Newton, de um mundo mecânico ordenado, mais
ou menos racional, controlável, no qual uma ação corresponderia a uma reação. “Com a política
quântica, a realidade objetiva não existe. Cada coisa se define provisoriamente, em relação a
uma outra, e, sobretudo, cada observador determina sua própria realidade” (EMPOLI, 2019, p.
116), ainda que precisemos negar uma evidente realidade, através do chamado negacionista.
O mundo se depara com bolhas sociais, econômicas e políticas, bolhas estas que
favorecem um determinado grupo de pessoas possuam as mesmas ideias, e construam sua
própria realidade, ainda que apartada de qualquer lógica e racionalidade.

“A política quântica é plena de paradoxos: bilionários se tornam os porta-estandartes da


cólera dos desvalidos; os responsáveis por decisões públicas fazem da ignorância uma
bandeira; ministros contestam os dados de sua própria administração. O direito de se
contradizer e ir embora, que Baudelaire invocava para os artistas, virou, para os novos
políticos, o direito de se contradizer e permanecer, sustentando tudo e seu contrário,
numa sucessão de tweets e de transmissões ao vivo no Facebook que vai construindo,
tijolo após tijolo, uma realidade paralela para cada um dos seguidores”. (EMPOLI,
2019, p. 117).

Em O futuro desconhecido e a arte do prognóstico, Koselleck4 apresenta a arte do


prognóstico através das repetições históricas, “quanto mais estratos temporais de possíveis
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repetições influíram no prognóstico, mais certeiro ele foi; quanto mais prognóstico recorreu à
incomparabilidade e à singularidade da revolução vindoura, menos se cumpriu”. No entanto,
devido as consequências da globalização do neoliberalismo dos processos a longo prazo da
modernização ocidental e, sobretudo, da globalização da era digital, temos um presente em
constante mutação, a cada discurso de um líder populista, a cada personagem nesse carnaval
populista, diferente de anos atrás, temos um futuro que foge da nossa experiência e que é cada
dia mais difícil de ser verificado empiricamente.

4. REFERÊNCIAS

¹ EMPOLI, Giuliano da. Os engenheiros do Caos – como as Fake News, as teorias da


conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar
eleições. Tradução Arnaldo Bloch. 1ª ed. São Paulo: Vestígio, 2019.

² Ginzburg, Carlo, “A História na era Google” In Pensar o Contemporâneo. 1ª ed. São Paulo:
Arquipélago Editorial, 2013.

³ Zuboff, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância, cap. 12: ”Duas espécies de poder”,
pp. 401-450. 1ª ed. São Paulo: Intrínseca, 2021.

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Koselleck, R. : “O futuro desconhecido e a arte do prognóstico” IN Estratos do Tempo,
pp.189-205.

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