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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

CLÁUDIA EMANUELLE FLORENTINO DE ARAÚJO

DELAÇÃO PREMIADA: A JUSTIÇA NEGOCIADA E SEUS REFLEXOS NO


PROCESSO PENAL

BOA VISTA - RR
2017
CLÁUDIA EMANUELLE FLORENTINO DE ARAÚJO

DELAÇÃO PREMIADA: A JUSTIÇA NEGOCIADA E SEUS REFLEXOS NO


PROCESSO PENAL

Monografia apresentada como requisito


obrigatório para obtenção do título de Bacharel,
no Curso de Direito, do Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal de Roraima.

Orientador: Prof. MsC. Luiz Bruno Lisboa


Bragança Ferro

BOA VISTA - RR
2017
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima
A663d Araújo, Cláudia Emanuelle Florentino de.
Delação premiada : a justiça negociada e seus reflexos no Processo
Penal / Cláudia Emanuelle Florentino de Araújo. – Boa Vista, 2017.
78 f. : il.

Orientador: Prof. Me. Luiz Bruno Lisboa Bragança Ferro.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal


de Roraima, Curso de Direito.

1 - Instituto da delação premiada. 2 - Legislação esparsa. 3 - Direito


comparado. 4 - Justiça negociada. 5 - Reflexos no Processo Penal. I –
Título. II - Ferro, Luiz Bruno Lisboa Bragança (orientador).

CDU – 343.1(81)(094.4)

Bibliotecária responsável: Maria de Fátima Andrade Costa - CRB-11/453-AM


CLÁUDIA EMANUELLE FLORENTINO DE ARAÚJO

DELAÇÃO PREMIADA: A JUSTIÇA NEGOCIADA E SEUS REFLEXOS NO


PROCESSO PENAL

Monografia apresentada como pré-requisito para


a conclusão do Curso de Bacharelado em Direito,
da Universidade Federal de Roraima – UFRR.
Área de Concentração: Direito Processual Penal;
Direito Premial; Delação Premiada; Defendida
em __ de janeiro de 2018 e avaliada pela seguinte
banca examinadora:

______________________________________________________
Prof. MsC. Luiz Bruno Lisboa Bragança Ferro
Orientador – Curso de Direito – UFRR

______________________________________________________
Prof. Ilaine Aparecida Pagliarini
Professora – Curso de Direito – UFRR

______________________________________________________
Prof. Isete Evangelista Albuquerque
Professora – Curso de Direito – UFRR
Aos meus pais, filha, amigos e professores que
foram fundamentais ao longo destes anos e,
principalmente, nestes últimos meses.
Em especial, à minha mãe e ao Valdemar, pelo
amor, dedicação e apoio incondicionais.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por tão grande fidelidade em me trazer até aqui,
por me suster e manter firme, pelas bênçãos imerecidas e pela certeza de que nunca me
abandonou, sempre me cuidando, protegendo e realizando o melhor para mim. Por vezes não
entendi os desvios do caminho e porque parecia demorar tanto para chegar a minha vitória,
mas agora entendo que o tempo dEle é perfeito, e não havia tempo melhor que este para
desfrutar o que estou vivendo.
Aos meus pais, pelo amor, apoio, paciência e compreensão, estando sempre comigo em
todos os momentos, sendo minha base para superar cada obstáculo.
Ao Valdemar Pinheiro, por me educar tão bem ao longo destes 18 anos, e por me
surpreender nestes últimos 7 anos, sendo amigo, professor, conselheiro e pai. Obrigada pelos
livros e por cada discussão doutrinária que me acrescentou conhecimento. Obrigada por
cuidar da Giovana para que eu pudesse estudar. Esse trabalho não estaria concluído sem a sua
fundamental ajuda.
Aos meus familiares e amigos, obrigada por compreenderem cada vez que precisei me
ausentar para poder estudar. O apoio, incentivo e torcida de vocês foram essenciais, e esta
conquista não teria o mesmo sabor sem vocês ao meu lado.
Aos meus mestres e professores, obrigada pela dedicação e paciência em ensinar e
incentivar.
A todos aqueles que, em algum momento ou de alguma forma, contribuíram nesta etapa
da minha vida.
Um dia, os juristas irão ocupar-se do direito
premial. E farão isso quando, pressionados pelas
necessidades práticas, conseguirem introduzir a
matéria premial dentro do direito, isto é , fora da
mera faculdade e do arbítrio. Delimitando-o com
regras precisas, nem tanto no interesse do aspirante
ao prêmio, mas, sobretudo, no interesse superior da
coletividade.
Ihering, 1997
RESUMO

Nos últimos anos, ante o cenário político que se desenvolveu, o instituto da delação premiada
ganhou extrema evidência, sendo difundido diariamente nos meios forenses, policiais e em
todos os segmentos de comunicação. Desta forma, o presente trabalho tem por objeto de
estudo o instituto da delação premiada, que é um acordo realizado entre o delator e o Estado,
onde este beneficia aquele em troca de informações que auxiliem na elucidação dos delitos.
Tendo como problemática os reflexos da delação premiada no processo penal, aborda a
questão em três capítulos. O primeiro aborda a delação premiada e seus aspectos gerais; o
segundo aborda a delação premiada na legislação brasileira; e o terceiro aborda os reflexos da
delação premiada no processo penal. O objetivo da pesquisa é analisar o instituto da delação
premiada por meio de um estudo aprofundado sobre seu conceito, origem e evolução
histórica, bem como examinar a aplicação da delação premiada no Brasil ante a ausência de
sistematização legal específica do instituto, o qual pode ser encontrado no bojo de diversas
legislações esparsas, cada qual com uma aplicação própria sobre o instituto. Por fim, busca-
se avaliar os reflexos da delação premiada como uma justiça negociada no processo penal.
A metodologia de pesquisa utilizada foi a bibliográfica, com a consulta a livros, artigos
científicos e jurídicos, produção jurisprudencial e legislativa. Ao final do estudo, percebeu-
se que os reflexos da delação premiada incidem sobre o processo penal ao atingirem
diretamente a figura do delator, visto este ser o maior beneficiado em troca das informações
prestadas.

Palavras-chaves: Instituto da delação premiada. Legislação esparsa. Direito Comparado.


Justiça Negociada. Reflexos no Processo Penal.
RESUMEN

En los últimos años, ante el escenario político que se desarrolló, el instituto de la delación
premiada ganó extrema evidencia, siendo difundido diariamente en los medios forenses,
policiales y en todos los segmentos de comunicación. De esta forma, el presente trabajo tiene
por objeto de estudio el instituto de la delación premiada, que es un acuerdo realizado entre el
delator y el Estado, donde éste se beneficia a cambio de informaciones que ayuden en la
elucidación de los delitos. Teniendo como problemática los reflejos de la delación premiada
en el proceso penal, aborda la cuestión en tres capítulos. El primero aborda la delación
premiada y sus aspectos generales; el segundo aborda la delación premiada en la legislación
brasileña; y el tercero aborda los reflejos de la delación premiada en el proceso penal. El
objetivo de la investigación es analizar el instituto de la delación premiada por medio de un
estudio en profundidad sobre su concepto, origen y evolución histórica, así como examinar la
aplicación de la delación premiada en Brasil ante la ausencia de sistematización legal
específica del instituto, el cual puede ser que se encuentra en el seno de diversas legislaciones
escasas, cada una con una aplicación propia sobre el instituto. Por último, se busca evaluar los
reflejos de la delación premiada como una justicia negociada en el proceso penal. La
metodología de investigación utilizada fue la bibliográfica, con la consulta a libros, artículos
científicos y jurídicos, producción jurisprudencial y legislativa. Al final del estudio, se
percibió que los reflejos de la delación premiada inciden sobre el proceso penal al alcanzar
directamente la figura del delator, visto este ser el mayor beneficiado a cambio de las
informaciones prestadas.

Palabras llave: Instituto dela delación premiada. Legislación dispersa. Derecho Comparado.
Justicia Negociada. Reflejos en el proceso Penal.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AC – Apelação Criminal;
AgR – Agravo Regimental;
Art. – Artigo;
CF – Constituição Federal;
CP – Código Penal;
CPP – Código de Processo Penal;
HC – Habeas Corpus;
MPF – Ministério Público Federal;
REsp – Recurso Especial;
STF – Supremo Tribunal Federal;
STJ – Superior Tribunal de Justiça;
TRF – Tribunal Regional Federal.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10
1. DELAÇÃO PREMIADA 12
1.1. Origem Etimológica e Definição 12
1.2. O Direito Premial – Origem Histórica 14
1.3. Delação Premiada x Colaboração Premiada: uma discussão epistemológica 15
1.4. Natureza Jurídica da Delação Premiada 16
1.5. Prêmios Legais 18
1.6. Do Direito ao Silêncio 19
1.7. A importância do Direito Italiano para institucionalização da Delação
Premiada no Ordenamento Jurídico Brasileiro 21
2. DELAÇÃO PREMIADA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 25
2.1. Lei nº 8.072/1990 – Crimes Hediondos 26
2.2. Lei nº 8.137/1990 – Crimes contra a Ordem Tributária, Econômica e contra as
Relações de Consumo 28
2.3. Lei nº 7.492/1986 – Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional 31
2.4. Art. 159, §4º do Código Penal – Crime de Extorsão mediante Seqüestro 32
2.5. Lei n. 11.343/06 – Crimes de Drogas 33
2.6. Lei n. 9.613/98 – Crimes de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, Direitos ou Valores 38
2.7. Lei n. 9.807/99 – Proteção à vítima e testemunhas 43
2.8. Lei nº. 12.850/2013 – Organizações Criminosas 48
3. REFLEXOS DA DELAÇÃO PREMIADA NO PROCESSO PENAL 60
3.1. Delação Premiada Posterior à Sentença 60
3.2. Confissão e delação premiada no sistema trifásico 60
3.3. Possibilidade de Retratação da Proposta 62
3.4. Retratação da confissão e delação premiada 64
3.5. Valor Probatório da Delação Premiada: Regra da Corroboração 67
CONSIDERAÇÕES FINAIS 70
REFERÊNCIAS 72
10

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, ante o cenário político que se desenvolveu, o instituto da delação
premiada ganhou extrema evidência, sendo difundido diariamente nos meios policiais,
forenses e em todos os segmentos de comunicação, destacando-se a imprensa, rádio e internet.
Tida como uma “justiça negociada”, a delação premiada demonstra a fragilidade do
Estado em esclarecer crimes utilizando-se apenas dos seus órgãos investigativos e
jurisdicionais, os quais têm se esquivado de suas funções típicas, quais sejam, por meio de
profunda investigação obter os elementos da prática delitiva e dos seus autores, coautores ou
partícipes, mas têm se valido da facilidade da delação premiada para coletar subsídios sobre o
delito, onde o delator “dedura” seus parceiros de crime em troca de uma recompensa.
Com origem nas Ordenações Filipinas, a delação premiada vigorou até o surgimento do
Código Criminal de 1830, o qual extinguiu o instituto, e retornou ao ordenamento jurídico
apenas nas últimas décadas no bojo de diversas leis, cada qual abordando o tema de uma
forma singular, com requisitos e particularidades próprios.
Devido à crescente criminalidade e a incapacidade do Estado em combatê-la de modo
eficiente e eficaz, encontrou-se na delação premiada um instrumento de combate, onde o
Judiciário e o delator unem forças para lutar contra o crime. Mas, surge o seguinte
questionamento: quais são os reflexos da delação premiada, como uma justiça negociada, no
processo penal?
Desse modo, com o presente trabalho buscou-se analisar o instituto da delação
premiada por meio de um estudo aprofundado sobre seu conceito, origem e evolução
histórica, bem como sua importância e aplicação mediante a sua previsão legal em algumas
legislações esparsas. Também, abordou-se a forma como o tema é compreendido no direito
comparado, visto este servir como inspiração para institucionalização da delação no
ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, avaliaram-se os reflexos da delação premiada no
processo penal.
Utilizou-se, como metodologia de abordagem, o método dedutivo, o qual parte de uma
premissa maior, passando por outra menor e chegando a uma conclusão particular. Desse
modo, o trabalho se desenvolveu a partir de uma análise dos aspectos gerais da delação
premiada, os quais foram confrontados com o problema de pesquisa formulado.
Como metodologia de procedimento, foi utilizado o método histórico, explorando as
origens da delação premiada nas legislações estrangeira e pátria, possibilitando a
compreensão sobre a evolução do instituto desde as suas origens até os dias atuais.
11

A técnica de pesquisa utilizada foi a bibliográfica, com consulta a livros, monografias,


artigos retirados da internet e de revistas especializadas, constituindo farto material. Também,
foram abrangidas a atividade científico-jurídica, a produção jurisprudencial e legislativa.
O primeiro capítulo tratou sobre a origem etimológica e histórica da delação premiada,
fazendo referência aos primórdios do direito premial. Explorou-se sobre a discussão
doutrinária acerca das expressões “delação premiada” e “colaboração premiada”, se ambas
possuem distinções tão somente conceituais ou se, de fato, são institutos diversos, cada qual
com particularidade própria. Por fim, explanou-se sobre a natureza jurídica do instituto e os
prêmios legais dele proveniente.
O segundo capítulo abordou sobre as origens do instituto da delação premiada no direito
comparado, mostrando a importância de estudar o direito estrangeiro e como o ordenamento
jurídico pátrio sofreu influência deste na institucionalização da delação premiada.
Devido a delação premiada não estar uniformizada no ordenamento jurídico pátrio,
estando prevista em diversas leis, o terceiro capítulo analisou o instituto na legislação
brasileira, ressaltando suas peculiaridades e nuances.
Por fim, o quarto capítulo discorreu sobre o tema central deste trabalho, salientando os
reflexos que a delação premiada traz para o processo penal, sua validade como prova,
possibilidade de retratação da delação e da confissão e conseqüências desta, e a possibilidade
de coexistência da delação e confissão no bojo do processo.
Diante disto, por meio de uma análise minuciosa do instituto da delação premiada,
realizou-se o desenvolvimento do tema de forma didática, buscando alcançar a toda a
comunidade, principalmente aqueles que atuam na área jurídica, fazendo-a entender
claramente as particularidades do instituto.
12

1. DELAÇÃO PREMIADA

1.1. Origem Etimológica e Definição

Derivada do latim delatio, de deferre, a palavra delação, de acordo com o Dicionário


Online de Português (2017), significa denúncia; ação de delatar, de denunciar um crime
cometido por alguém ou por si mesmo; revelação de um crime, delito ou ação ilegal.
“Premiada” vem das vantagens e dos prêmios concedidos ao delator.
Segundo o Dicionário Jurídico Piragibe (MAGALHAES, 2007, p. 366), delação
premiada é a “causa de diminuição de pena para o acusado ou partícipe que entregar seus
comparsas”.
Mossin e Mossin (2016) trazem, de forma introdutória, um conceito de delação como
denúncia de um ato criminoso, praticado por terceiro, a uma autoridade policial ou judiciária,
onde o denunciante não possui interesse direto na sua repressão. Mas, pareada a este conceito,
há a delação adjetivada pelo termo “premiada”, que traz um sentido de recompensa. Esta é a
delação utilizada por aquele que, envolvido em algum delito, confessa o crime e entrega seu
companheiro em troca de um prêmio.
Partilhando do mesmo pensamento de Mossin e Mossin, para Jesus (2006), a delação,
por si só, ocorre quando o suspeito ou réu incrimina uma terceira pessoa. Já a delação
premiada é aquela que concede vantagens ao delator, incentivada pelo legislador.
Nucci (2011, p. 447) adota o seguinte conceito:
Delatar significa acusar, denunciar ou revelar. Processualmente, somente tem
sentido falarmos em delação quando alguém, admitindo a prática criminosa, revela
que outra pessoa também ajudou de qualquer forma. Esse é um testemunho
qualificado, feito pelo indiciado ou acusado. Naturalmente, tem valor probatório,
especialmente porque houve admissão de culpa pelo delator. [...].

A delação premiada, para Bitencourt (2010), consiste no benefício da redução da pena e,


a depender do caso, a sua isenção total ao criminoso que denunciar os participantes da
conduta criminosa. Para que tal benesse seja concedida, há a necessidade da satisfação de
determinados requisitos legais, e só assim a redução ou isenção será conferida na sentença
final condenatória pelo juiz.
Partindo destes conceitos, tem-se que o instituto da delação premiada é um negócio
jurídico bilateral, composto da seguinte forma: em um polo está o delinquente, acusado do
crime, que confessa a prática do delito e aponta um terceiro pelo mesmo fato; no polo oposto
13

encontra-se o Estado, disposto a conceder uma benesse – podendo ser desde uma diminuição
de pena até sua isenção total – àquele que, colaborando de forma efetiva, denunciar seus
comparsas.
Lima (2016, p. 1031) enquadra a colaboração premiada 1 como uma espécie do direito
premial, conceituando-a como:
[...] técnica especial de investigação por meio da qual o coautor e/ou partícipe da
infração penal, além de confessar seu envolvimento no fato delituoso, fornece aos
órgãos responsáveis pela persecução penal informações objetivamente eficazes para
a consecução de um dos objetivos previstos em lei, recebendo, em contrapartida,
determinado prêmio legal.

Desta forma, “ao mesmo tempo em que o investigado (ou acusado) confessa a prática
delituosa, abrindo mão do seu direito de permanecer em silêncio [...], assume o compromisso
de ser fonte de prova para a acusação acerca de determinados fatos e/ou corréus.” (LIMA,
2016, p. 1031).
Távora e Alencar (2016) atribuem à delação premiada uma dupla acepção: confessional,
quando o delator traz para si a autoria da prática do delito, e testemunhal, como testemunha
imprópria ao denunciar a participação de terceiros.
É valido ressaltar também a posição de Távora e Alencar (2016) ao defender, assim
como outros autores, a validade da delação premiada como prova se acompanhada de outros
elementos obtidos na instrução. E, para que a mesma detenha status probatório, deverá passar
pelo crivo do contraditório. Os renomados autores também lembram sobre a possibilidade de
sigilo da delação, se o mesmo for necessário para lograr êxito quanto ao fim almejado.
Alguns autores equiparam à delação o chamamento de corréu, tal como Capez (2012, p.
434), o qual conceitua o instituto da seguinte forma:
Delação ou chamamento de corréu é a atribuição da prática do crime a terceiro, feita
pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a
sua participação. Tem o valor de prova testemunhal na parte referente à imputação e
admite reperguntas por parte do delatado (Súmula n. 65 das Mesas de Processo
Penal da USP).

Ao observar todos os conceitos acima citados, nota-se a presença de dois requisitos


essenciais para a configuração da delação premiada, quais sejam: a admissão da prática
delituosa pelo criminoso e a revelação de quem participou ou contribuiu com esta prática. Se
o delinquente, em nenhum momento, confessar o seu envolvimento e apenas delatar a
participação de terceiros, não haverá o instituto da delação premiada, mas tão somente um
testemunho. Da mesma forma, se o delinquente, assumindo a autoria do fato, apenas ajudar na

1
O autor utiliza a expressão “colaboração premiada” – e não delação premiada – por entender aquela se tratar de
um instituto com mais larga abrangência. A distinção entre tais institutos encontra-se no tópico 3 deste mesmo
capítulo.
14

localização de objetos ou vítimas do crime, sem incriminar terceiros, tem-se aí mera


colaboração.
Assim, conclui-se: para que haja o instituto da delação premiada é necessário o
binômio: confissão do delito + denúncia de terceiros que auxiliaram na prática delituosa,
visando um prêmio legal em favor do réu delator.

1.2. O Direito Premial – Origem Histórica

Derivada do direito penal, o direito premial, ciência instituída por Rudolf Von Ihering,
jurista alemão, caracteriza-se pela disposição de um prêmio que o Estado oferece em troca de
informações que auxiliem e colaborem no combate à criminalidade. Para Ihering (1997), ao se
render ao direito premial, o Estado assinala o seu atestado de incapacidade de desvendar e
combater crimes mais complexos através dos meios habituais de investigação e
processamento criminal.
Um dia, os juristas vão ocupar-se do direito premial. E farão isso quando,
pressionados pelas necessidades práticas, conseguirem introduzir a matéria premial
dentro do direito, isto é, fora da mera faculdade e do arbítrio. Delimitando-o com
regras precisas, nem tanto no interesse do aspirante ao prêmio, mas, sobretudo, no
interesse superior da coletividade (IHERING, 1997, p. 73).

No entanto, apesar de institucionalizado por Ihering tão somente na metade do século


XIX, o instituto do direito premial vem de tempos bem remotos. A Bíblia Sagrada retrata o
tão conhecido fato do beijo da traição. O Evangelho segundo Mateus, capítulo 26 (vinte e
seis), narra o episódio em que Judas, um dos doze discípulos, entregou a Jesus aos sacerdotes
que já deliberavam prendê-lo em troca de trinta moedas de prata.
Quanto à origem do instituto no Brasil, a doutrina consensualmente aponta para – no
período do Brasil Colônia, quando este estava sob a influência de Portugal, regido pela
legislação portuguesa –, as Ordenações Filipinas (1603), que prevaleceram até a entrada em
vigor do Código Criminal de 1830. É valida a observação de Mossin e Mossin (2016) que,
nesta época, ainda não era utilizada a expressão delação premiada, a qual surgiu tão somente
no direito moderno, mas o instituto tinha a mesma finalidade atual.
Conforme Jesus (2006), o Código Filipino, no Livro V, Título CXVI – que abordava a
parte criminal –, trazia a delação premiada sob o título “Como se perdoará aos malfeitores que
derem outros à prisão”, premiando com o perdão aos criminosos que delatassem crimes
alheios.
15

De acordo com Costa (2008), na época da escravidão, em meados dos anos 1800, tal
instituto era utilizado no Brasil para localizar escravos fugitivos, sendo empregado por meio
da promessa de pagamento de recompensas presentes em cartazes de “Procura-se” afixados
em locais públicos.
O mesmo autor também faz referência à presença da delação premiada em movimentos
históricos-políticos, como a Inconfidência Mineira em 1789, quando um dos inconfidentes,
Coronel Joaquim Silvério Reis, para “solucionar” seus problemas financeiros, denunciou
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o qual foi condenado à forca, e assim obteve o
perdão de suas dívidas com a Fazenda Real e a aquisição de nomeações, posses e isenções
fiscais.
No entanto, a delação premiada, tal como é entendida na atualidade, adentrou no
ordenamento jurídico brasileiro por meio da Lei nº 8.072, de 1990, a Lei dos Crimes
Hediondos, a qual no seu artigo 8º, parágrafo único, traz a seguinte redação: “O participante e
o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu
desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.” (BRASIL, 1990).
Com o passar do tempo, o instituto passou a compor o bojo de diversas legislações
extravagantes, sendo utilizado como um instrumento de combate ao crime organizado,
auxiliando o Estado a impedir e desarticular organizações criminosas e crimes praticados em
concurso de pessoas.

1.3. Delação Premiada x Colaboração Premiada: uma discussão epistemológica

A doutrina não é consensual quanto à definição e emprego das expressões “delação


premiada” e “colaboração premiada”. Enquanto alguns autores utilizam tais expressões como
sinônimas, outros preferem trabalhar com a sua distinção, considerando-as institutos diversos.
Lima (2016 p. 1032-1033) preza pela distinção conceitual das expressões, considerando
a colaboração premiada como sendo mais abrangente.
O imputado, no curso da persecutio criminis, pode assumir a culpa sem incriminar
terceiros, fornecendo, por exemplo, informações acerca da localização do produto do
crime, caso em que é tido como mero colaborador. Pode, de outro lado, assumir
culpa (confessar) e delatar outras pessoas – nessa hipótese é que se fala em delação
premiada (ou chamamento de corréu).Só há falar em delação se o investigado ou
acusado também confessa a autoria da infração penal. Do contrário, se a nega,
imputando-a a terceiro, tem-se simples testemunho.
16

Távora e Alencar (2016, p. 928-929), apesar de utilizarem as expressões como


sinônimas, as distinguem semanticamente:
1) a colaboração premiada é mais ampla, porque não requer, necessariamente, que o
sujeito ativo do delito aponte coautores ou partícipes (que podem, a depender do
delito, existir ou não, bastando imaginar a colaboração do agente que,
arrependido,torna possível resgate de vítima com integridade física preservada ou a
apreensão total do produto do crime, porém não praticou o crime em coautoria);2) a
delação premiada exige, além da colaboração para a elucidação de uma infração
penal, que o agente aponte outros comparsas que, em concurso de pessoas,
participaram da empreitada criminosa, como uma forma de chamamento de corréu.
Outras expressões são verificadas na prática para designá-la, tais como imputação de
corréu, chamamento de cúmplice, pentitismo (alusivo a pentito ou arrependido),
crownwitness (testemunho da coroa) ou, ainda, colaboração processual.

Apesar de reconhecer a maior utilização, tanto por parte da doutrina como pela
jurisprudência, da expressão “delação premiada”, Lima (2016) não a emprega, pois acredita
que esta traz em seu bojo o significado e peso de uma traição, além de considerá-la uma
forma de colaboração premiada. Desse modo, para o autor, a colaboração premiada seria
gênero do qual a delação premiada seria espécie.
Compartilha do mesmo pensamento Gomes (2005), para o qual a colaboração premiada
também é expressão mais abrangente, e não pode confundi-la com delação premiada. “O
colaborador da justiça pode assumir culpa, e não incriminar outras pessoas (nesse caso, é só
colaborador). Pode de outro lado, assumir culpa (confessar) e delatar outras pessoas (nessa
hipótese é que se fala em delação premiada)” (GOMES, 2005, p. 18).
Quezado e Virgínio (2009) trazem à discussão uma nova expressão: a colaboração
processual. Trata-se de um instituto do direito processual onde o réu colaborador, no
andamento da persecução criminal, confessa a prática de um delito sem imputar coautoria ou
participação a terceiros. Como exemplo, o colaborador apenas prestaria informações que
auxiliassem na localização do objeto do crime. É a mesma colaboração premiada que os
demais autores abordam.
Após esta explanação, conclui-se que ambos os institutos não são distintos apenas
conceitualmente, mas também não se confundem em sua essência, cada qual possuindo
peculiaridades e nuances próprias. Desta forma, cabe salientar que o foco central deste
trabalho é o instituto da delação premiada.

1.4. Natureza Jurídica da Delação Premiada


17

É de suma importância conhecer a natureza jurídica de determinado instituto para que


haja um melhor entendimento acerca das suas características e funções no mundo jurídico.
Devido à ausência de uma legislação específica que discipline a delação premiada, não
há consenso doutrinário nem jurisprudencial quanto à natureza jurídica deste instituto. Desta
forma, há autores que defendem que a delação premiada enquadra-se no âmbito do direito
penal, e outros prezam pela sua natureza processual penal. Isto ocorre devido o instituto estar
presente em leis esparsas e extravagantes, além dos vários prêmios legais e consequências
provenientes do mesmo. Assim, vale analisar a delação nos seus dois âmbitos de atuação,
quais sejam na seara do Direito Penal e na seara do Direito Processual Penal.
Aos defensores da delação premiada como instrumento do direito penal, a sua natureza
jurídica poderá variar de acordo com o benefício obtido pelo réu delator, podendo adotar a
natureza de circunstância atenuante da pena ou até mesmo resultar num perdão judicial. Neste
sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça através do julgamento do HC
97509/MG, o qual dispôs que “a delação premiada, a depender das condicionantes
estabelecidas na norma, assume a natureza jurídica de perdão judicial, implicando a extinção
da punibilidade, ou de causa de diminuição de pena” (STJ, 2010).
Defendendo a mesma corrente do direito material, a delação premiada é tida como
“causa obrigatória de redução de pena, isto é, presentes os seus requisitos, é direito subjetivo
do réu ver sua pena diminuída proporcionalmente ao maior ou menor auxílio prestado [...]”
(CUNHA, 2016, p. 297).
Já para os que defendem sua natureza processual penal, “a colaboração premiada
funciona como importante técnica especial de investigação, enfim, um meio de obtenção de
prova. Por força dela, o investigado (ou acusado) presta auxílio aos órgãos oficiais de
persecução penal na obtenção de fontes materiais de prova.” (LIMA, 2016, p. 1055). Com
estas palavras, o autor assim defende a natureza probatória da delação premiada no âmbito do
Direito Processual Penal, ressaltando que não se pode confundir a delação premiada com os
prêmios legais dela provenientes.
Cabe salientar que, no âmbito processual penal, a delação premiada por si só não serve
como prova absoluta em desfavor daquele que está sendo delatado, mas o processo deve estar
instruído com outras provas que subsidiem as informações prestadas pelo delator. Neste caso,
a delação serve apenas como indicador de autoria e materialidade do crime.
Desta forma, conclui-se que a natureza jurídica do instituto em apreço varia de acordo
com o caso concreto.
18

Quanto à natureza penal e processual, Santos (2017, p. 97) possui o seguinte


posicionamento:
Os enfoques processual e material da colaboração premiada não são excludentes, e
sim complementares, o que reforça a natureza híbrida do instituto. [...] o acordo, em
si, rege-se por normas processuais, mas a repercussão é inteiramente material. [...] A
natureza da delação premiada, em verdade, é processual material – forma e conteúdo
processuais, mas com efeitos materiais. Sob o ângulo processual, a seu turno,
inexiste incompatibilidade em vislumbrá-la, simultaneamente, como direito público
subjetivo do acusado, de um lado, e meio de formação de provas, do outro (e
estritamente como meio de prova, considerado, tão só, o depoimento do delator),
porquanto são perspectivas distintas do mesmo instituto.

Santos (2017) também defende ser a delação premiada um direito público subjetivo do
acusado, ou seja, “se existiu a colaboração e estão presentes os requisitos que a tornam
premiada, é dever (grifo do autor) do juiz implementar a recompensa”, mesmo não havendo
“chancela jurisdicional do acordo entre a acusação e o réu”, já que este não é requisito
essencial à conquista dos prêmios previstos em lei (SANTOS, 2017, p. 92).

1.5. Prêmios Legais

As primeiras leis que abordaram o instituto da delação premiada previam apenas um


tipo de vantagem em troca da colaboração, qual seja a diminuição da reprimenda legal de um
a dois terços. Para Lima (2016), tal era a justificativa pela qual os agentes não tinham
estímulo para cooperar com as autoridades estatais, visto que continuariam a cumprir a pena
provavelmente no mesmo estabelecimento prisional, acompanhado dos parceiros de crime.
“Isso acabava por desestimular qualquer tipo de colaboração premiada, até mesmo porque é
fato notório que o „Código de Ética‟ dos criminosos geralmente pune a traição com verdadeira
„pena de morte‟ (LIMA, 2016, p. 1048).
Em 1998, com o advento da Lei de Lavagem de Capitais, Lei nº 9.613, o legislador
inovou com alguns outros prêmios, os quais foram modificados quando a citada Lei sofreu
alteração pela Lei nº 12.683/2012, permanecendo então as seguintes vantagens: redução da
pena de um a dois terços e fixação do regime aberto ou semiaberto, substituição da pena
privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos e o perdão judicial como causa extintiva
de punibilidade. De acordo com Lima (2016), é facultada ao juiz a escolha de um desses
benefícios, o qual “deve sopesar o grau de participação do colaborador no crime, a gravidade
do delito, a magnitude da lesão causada, a relevância das informações por ele prestadas e as
19

consequências decorrentes do crime de lavagem” (LIMA, 2016, p. 1049). E para que o


acusado faça jus aos prêmios deverá cumprir determinados requisitos estabelecidos na lei.
A Lei de Organizações Criminosas, Lei nº 12.850/2013, ampliou o leque de vantagens a
serem concedidas ao colaborador. Lima (2016) expõe que, além de prever a diminuição de
pena, a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e o perdão
judicial como extinção de punibilidade, a Lei inova ao trazer o sobrestamento do prazo para
oferecimento da denúncia ou suspensão do processo, com a consequente suspensão da
prescrição, o não oferecimento da denúncia e a causa de progressão de regimes.
De acordo com Lima (2016), os prêmios legais têm caráter personalíssimo, não se
estendendo àqueles que não cooperaram de forma voluntária com as investigações. Deste
modo, “por constituir circunstância subjetiva de caráter pessoal, os prêmios legais decorrentes
da aplicação da colaboração premiada não se comunicam aos demais coautores e partícipes,
nos exatos termos do art. 30 do Código Penal” (LIMA, 2016, p. 1053).
Destarte, de modo a se evitar que esta importante técnica especial de investigação
seja transformada em indevido instrumento de impunidade, a aplicação dos prêmios
legais depende não apenas do preenchimento de requisitos objetivos – consecução
de um dos resultados listados pelos diversos dispositivos legais que tratam da
colaboração premiada –, como também de requisitos subjetivos. Assim, mesmo que
a colaboração tenha sido objetivamente eficaz para a obtenção de um dos resultados
listados nos incisos do art. 4º da Lei nº 12.850/13, poderá o juiz recusar a
homologação desse acordo se a análise do conjunto dessas circunstâncias judiciais
for desfavorável ao colaborador (LIMA, 2016, p. 1053)

Por fim, as vantagens provenientes da delação premiada devem apenas ser concedidas
“àqueles acusados de pequena ou média importância, preservando-se intacta a persecução
penal dos líderes das organizações criminosas.” (LIMA, 2016, p. 1054) Compartilha do
mesmo pensamento Sérgio Moro citado por Lima (2016), para o qual “faz-se um acordo com
um criminoso pequeno para obter prova contra o grande criminoso ou com um grande
criminoso para lograr prova contra vários outros grandes criminosos.” (LIMA, 2016, p. 1054).

1.6. Do Direito ao Silêncio

O direito ao silêncio é assegurado constitucionalmente a todos os acusados e está


previsto no art. 5º, LXIII, da Constituição Federal de 1988. O princípio Nemo Tenetur se
Detegere se exprime no direito de não produzir prova contra si mesmo, sendo direito
fundamental caracterizado pela sua inalienabilidade, irrenunciabilidade e intransmissibilidade
(LOBO, 2016).
20

No entanto, a Lei das Organizações Criminosas, em seu art. 4º, §14, ao dispor: “Nos
depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade” causou grande divergência
na seara doutrinária (BRASIL, 2013).
Bitencourt (2014) apud Lobo (2016) defende ser este dispositivo inconstitucional
devido ao fato de obrigar ou condicionar o réu a abdicar de um direito consagrado na
Constituição Federal e em Pactos Internacionais de Direitos Humanos. O autor ainda critica o
instituto da delação premiada ao enquadrá-lo como tortura psicológica, pois “defende que o
réu não tem, em hipótese alguma, obrigação de produzir prova contra si. Do contrário, por
meio de uma coação psicológica, abdicar-se-á do seu direito fundamental de não produzir
prova em seu desfavor”, visto estar-lhe sendo oferecido prêmios legais muito vantajosos para
o iminente colaborador (LOBO, 2016).
Prezando pela possibilidade de constitucionalidade do direito ao silêncio em seara de
delação premiada, tem-se que:
A colaboração premiada é plenamente compatível com o princípio do nemotenetur
se detegere (direito de não produzir prova contra si mesmo). É fato que os
benefícios legais oferecidos ao colaborador servem como estímulo para sua
colaboração, que comporta, invariavelmente, a autoincriminação. Porém, desde que
não haja nenhuma espécie de coação para obrigá-lo a cooperar, com prévia
advertência quanto ao direito ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII), não há violação ao
direito de não produzir prova contra si mesmo. Afinal, como não há dever ao
silêncio, todo e qualquer investigado (ou acusado) pode voluntariamente confessar
os fatos que lhe são imputados. Nessas condições, cabe ao próprio indivíduo decidir,
livre e assistido pela defesa técnica, se colabora (ou não) com os órgãos estatais
responsáveis pela persecução penal (LIMA, 2016, p. 1035).

Lima (2016) expõe que o legislador foi infeliz ao utilizar o verbo “renunciar”, visto que
o direito ao silêncio, por se tratar de direito fundamental previsto constitucionalmente, é
indisponível, não podendo se falar em renúncia deste. Se um acordo de delação premiada
fosse pactuado de forma a renunciar tal direito, conduziria a nulidade absoluta do processo
por ilicitude do objeto. Desta forma, a melhor interpretação do dispositivo da Lei de
Organizações Criminosas é no sentido de “não há falar em renúncia ao direito ao silêncio,
mas sim em opção pelo seu não exercício, opção esta exercida voluntariamente pelo
investigado/acusado”, o qual deverá contar com a assessoria jurídica do seu defensor e estar
previamente ciente de que não é forçado a colaborar para o seu próprio desfavor (LIMA,
2016, p. 1035).
De forma prática, o delator, ao assinar o termo de acordo de colaboração premiada,
optará ou não pelo exercício do seu direito ao silêncio. Tal fica demonstrado no Termo de
21

Acordo de Colaboração Premiada firmado entre o Ministério Público Federal e Paulo Roberto
Costa, que averigua os crimes de corrupção no caso da Petrobras:
Parte V - Garantia contra a auto incriminação, direito ao silêncio e direito a
recurso
Cláusula 17. Ao assinar o acordo de colaboração premiada, o colaborador, na
presença de seu advogado, está ciente do direito constitucional ao silêncio e da
garantia contra a auto incriminação. Nos termos do art. 4º, § 14, da Lei 12.850/2013,
o colaborador renuncia, nos depoimentos em que prestar, ao exercício do direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. O colaborador
renuncia ainda, ao exercício do direito de recorrer das sentenças penais
condenatórias proferidas em relação aos fatos que são objeto deste acordo, desde que
elas respeitem os termos aqui formulados (MPF, 2014).

1.7. A importância do Direito Italiano para institucionalização da Delação Premiada no


Ordenamento Jurídico Brasileiro

Em termos históricos, alguns países influenciaram diretamente o Brasil na adoção do


instituto da delação premiada, podendo citar a Espanha, a Itália e os Estados Unidos, sendo
este último o modelo que menos se assemelha ao adotado pelo ordenamento brasileiro visto o
ordenamento jurídico americano ser regido pelo sistema do common law e o ordenamento
pátrio pelo sistema do civil law.
Sobre a necessidade de se estudar o direito alienígena, Bittar (2011) apud Machado
(2012) defende a importância de se conhecer o histórico e as origens do instituto da delação
premiada, sobretudo porque a legislação brasileira é um reflexo das legislações estrangeiras,
as quais serviram como inspiração para aquela.
Apesar de o Brasil sofrer grande influência da Espanha, Bittar (2011) apud Machado
(2012) defende que a delação premiada, no ordenamento jurídico pátrio, tem grandes traços
do modelo italiano.
No Brasil, a introdução do polêmico instituto teve como inspiração para o legislador
pátrio o modelo italiano (quiçá o único), pois houve, na prática, um verdadeiro
pedido de empréstimo à legislação antiterrorista italiana, da regra de premiar o
delator que tenha propiciado em razão de suas denúncias, a liberação do sequestrado
ou que tenha colaborado, com a autoridade judiciária ou policial, na coleta de provas
decisivas para a identificação e captura dos concorrentes (BITTAR, 2011 apud
MACHADO, 2012, p. 23).

Deste modo, devido à grande semelhança entre o direito brasileiro e o direito italiano,
necessário se faz conhecer as nuances e peculiaridades com que o sistema jurídico disciplina a
delação premiada desde os seus primórdios, visto este servir de inspiração à legislação
brasileira.
22

A origem histórica da delação premiada no direito italiano é um pouco incerta, sendo


difícil identificar em que momento de fato esta surgiu. Segundo Bittar (2011) apud Machado
(2012), entre o fim dos anos 60 e início dos anos 70, a sociedade italiana sofreu grandes
ataques por meio de uma nova forma de criminalidade, a qual causou forte insegurança aos
cidadãos, tornando-se necessária a elaboração de normas mais gravosas que viessem a
combater tais atividades organizadas criminosas.
O crime organizado, na Itália, surgiu através de máfias. À medida que as máfias
adquiriam grandes proporções, espalhando-se mundo afora, tornou-se crucial que a mesma
fosse disciplinada por normas especiais que tivessem dupla acepção. Isto é, conforme Bittar
(2011) apud Machado (2012), enquanto de um lado as sanções para estes tipos de crimes
seriam agravadas, de outro lado seria possível a concessão de uma atenuante a quem,
afastando-se dos seus cúmplices, auxiliasse as autoridades no impedimento das consequências
dos crimes ou cooperasse no esclarecimento dos fatos ou no reconhecimento de demais
agentes.
Assim, de acordo com Silva (2003), o instituto da delação premiada surgiu como escopo
de combater atos terroristas, principalmente a extorsão mediante sequestro, e atingiu seu ápice
nos anos 80, quando mostrou eficácia nos processos instaurados para apurar os crimes da
máfia italiana.
A delação premiada ganhou grande destaque no direito italiano por meio da “Operação
Mãos Limpas”, onde o mafioso Tommaso Buscetta colaborou com a justiça através de
declarações prestadas ao promotor Giovanni Falcone. De acordo com Marcos da Costa
(2008), Tommaso Buscetta não queria, como vantagens pela delação, a redução de pena ou a
liberdade, mas solicitou a proteção de sua esposa e filhos e sua própria segurança pessoal. A
família de Buscetta foi transferida para os EUA por meio de um acordo entre os governos.
As informações prestadas por Tommaso Buscetta culminaram em um mega processo
criminal, que teve o julgamento iniciado em fevereiro de 1986, sendo finalizado somente em
dezembro de 1987, o qual resultou no arrolamento de quatrocentos e setenta e cinco réus
mafiosos. Conforme Costa (2008), deste mega processo ocorreram dezenove sentenças
condenatórias à pena de prisão perpétua e, somando todas as outras sanções penais,
culminaram em dois mil seiscentos e sessenta e cinco anos de prisão.
Devido à sua colaboração com a justiça, Tommaso Buscetta, visando a sua segurança,
cumpriu pena nos Estados Unidos. Segundo Costa (2008), as delações de Buscetta tiveram a
duração de sete meses: durante quatro meses foram realizadas na Itália, e os três restantes nos
EUA. Já o promotor Falcone, que conduziu o mega processo contra a máfia, sua esposa e sua
23

escolta foram assassinados na Itália pelo mafioso Giovanni Brusca, o qual posteriormente
tornou-se colaborador da justiça.
Apesar de a Itália contar com leis a respeito da delação premiada já antes da
operação mãos limpas, foi somente em 1991 que a lei disciplinou normas para a
proteção dos colaboradores da justiça. O projeto italiano surgiu pós-Buscetta, em
1989, e foi sancionado em 1991 (COSTA, 2008, p. 23).

De acordo com Bitencourt (2008), a delação premiada encontra-se regulamentada, no


direito italiano, nos artigos 289bis e 630 do Código Penal e pelas leis nº 304/1982, 34/1987 e
82/1991. O decreto-lei nº 678, de 1994, dispôs sobre os requisitos de admissibilidade para que
uma pessoa seja tida como colaboradora, os quais devem ser interpretados restritivamente, e
também previu “um procedimento instrutório para a avaliação das declarações preliminares
do interessado” (COSTA, 2008, p. 22).
A lei italiana nº 82, de 15 de março de 1991, que resultou da conversão do Decreto-
lei nº 8, de 15 de janeiro de 1991, precisamente em seu artigo 6º, alterou o art.
289bis do Código Penal Italiano, estabelecendo pena menor para o co-autor de
seqüestro com fins de terrorismo ou subversão da ordem democrática que libertar a
vítima, isto é, pena de dois a oito anos de reclusão. É bom lembrar que a pena,
excluindo tais benefícios, é de 25 a 30 anos quando ocorrer por culpa em sentido
estrito; ou prisão perpétua, quando a morte for voluntariamente causada (COSTA,
2008, p. 23).

Com o surgimento do instituto da delação premiada sob o título de “colaboradores da


justiça”, deu-se ensejo ao fenômeno do pentitismo, que traduzido para o português significa
“arrependido”, termo bastante utilizado pela imprensa para indicar a figura jurídica disposta
no art. 3º da Lei nº 304/1982, o qual premiava com uma suspensão condicional do processo,
ou atenuante da pena, ou com a extinção da punibilidade, ou com a proteção à família ao
“sujeito que, submetido a processo penal, confessava sua própria responsabilidade e fornecia
às autoridades notícias úteis à reconstituição dos fatos do crime [...] e a individualização dos
respectivos responsáveis.” (COSTA, 2008, p. 22).
Além do arrependido, há, no direito italiano, mais duas figuras que estão relacionadas
com a colaboração com a justiça: o dissociado e o colaborador.
O dissociado, conforme Costa (2008), é aquele que, antes da sentença condenatória,
almeja de forma eficaz diminuir ou impedir os resultados danosos do crime praticado,
confessando os crimes perpetrados.
Por fim, o colaborador é aquele que, antes da sentença de condenação, além de praticar
todos os comportamentos acima citados, colabora com as autoridades na colheita e produção
de provas relevantes que auxiliariam na reconstituição dos fatos e descoberta dos demais
agentes (COSTA, 2008).
Sobre esses três personagens, é válido expor as observações de Silva (2003, p. 79):
24

Pela lei, o “arrependido” poderia ser beneficiado com hipóteses de não-punibilidade,


atenuantes e com a suspensão condicional da pena; porém, a proteção poderia ser
revogada se as declarações fossem mendazes ou reticentes. Por outro lado, a
designação dissociado surgiu na Lei nº 34/87, que tratava exclusivamente das
organizações e dos movimentos de matriz terrorista ou eversiva. O art. 18 dessa lei
nacional previa o “comportamento daquele que, imputado ou condenado por crime
como finalidade terrorista ou de eversão ao ordenamento constitucional, admitia as
atividades efetivamente desenvolvidas e demonstrava comportamento incompatível
com o vínculo associativo e de repúdio à violência como método de luta política”. A
diferença entre as duas figuras estava no fato de que, enquanto para os
“arrependidos” eram exigidas apenas declarações sobre os fatos e os envolvidos no
crime, para o “dissociado”, além dessas informações, exigia-se também sua ruptura
com a ideologia política que motivava o seu comportamento criminoso. Por fim, a
figura do “colaborador da Justiça” é uma evolução ampliativa dos dois modelos
anteriores, prevista primeiramente no art. 10 da Lei nº 82/91, abarcando aqueles que
genericamente colaboraram com a Justiça ou apresentam declarações úteis no curso
das investigações, independentemente de serem co-autores ou partícipes dos crimes
investigados, testemunhas ou pessoas que colaboraram de alguma forma com as
autoridades responsáveis pela investigação.

De acordo com Costa (2008), as delações premiadas na Itália culminaram numa notória
redução das atividades mafiosas. Os crimes que abrangem esse instituto são aqueles que
atentam contra a segurança interior do Estado, a exemplo do sequestro por motivo de
terrorismo ou subversão, e contra a liberdade individual. “Na Itália, o subterfúgio do prêmio
mediante colaboração com a justiça é exclusivamente direcionada ao desmantelamento da
Máfia e visa derrocar sua estrutura de ação eficiente e sigilosa.” (COSTA, 2008, p. 25).
25

2. DELAÇÃO PREMIADA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Sabe-se que não há no Direito Brasileiro uma legislação específica que disponha sobre o
instituto da delação premiada, o qual acaba sendo abordado em regramentos legais diversos,
cada qual disciplinando o instituto a sua maneira. Acerca dessa ausência normativa específica,
é válido o comentário de Jesus (2005, p. 16-17):
A falta de harmonia em seu regramento, ademais, pode gerar alguma dificuldade na
sua aplicação. Questões como a incidência do benefício quando a delação é sugerida
por autoridades públicas, a viabilidade de sua aplicação em sede de revisão criminal,
entre outras, mereciam um tratamento expresso em nosso Direito Positivo. Esses
obstáculos poderiam ser ultrapassados mediante a elaboração de uma legislação
específica, de modo a evitar discrepâncias normativas e suprir possíveis lacunas
acerca do tema.

Partilha do mesmo pensamento Gomes (2005), o qual defende que, ante a inexistência
de regramento específico e uniforme, o Estado devia aparelhar-se de forma a não precisar da
delação premiada, mas, enquanto tal legislação não é produzida, o tema deve ser abordado
com uma especial atenção, devendo-se analisar a proporcionalidade do prêmio, a eficácia da
delação, a proteção e segurança do delator e sua família, entre outros.
O instituto da delação premiada encontrou inspiração no direito estrangeiro e sofreu
grande influência do direito italiano nos anos 80, adentrando no ordenamento jurídico
brasileiro por meio da Lei dos Crimes Hediondos, em 1990. Após isso, o legislador passou a
inserir a delação em diversas leis, mas não de maneira uniforme, de forma que cada
instrumento legal passou a prever requisitos e peculiaridades próprios que se limitam à
situação legal descrita.
Assim, devido ao fato de o instituto da delação premiada estar previsto em diversas
legislações, este será explorado em ordem cronológica da elaboração de cada legislação,
expondo as particularidades e características com que cada uma aborda sobre o instituto.
No entanto, antes de adentrar em cada legislação que aborda o tema da delação ou
colaboração premiada, Lima (2016) ressalta que este instituto já se encontrava presente no
Código Penal (não da forma que é tratado atualmente e explanado neste trabalho), mas sob a
forma de atenuação de pena premiando àquele que confessasse espontaneamente a autoria de
crime, incidindo a circunstância atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, “d”); ou
premiando aquele desistisse de prosseguir com a execução do crime ou reparasse o dano ou
restituísse a coisa antes do julgamento, incidindo as benesses do arrependimento eficaz (art.
15) e do arrependimento posterior (art.16) (BRASIL, 1940).
26

2.1. Lei nº 8.072/1990 – Crimes Hediondos

A Lei nº 8.072, de 1990, surge no ordenamento jurídico brasileiro em resposta a alguns


acontecimentos que ocorriam nesta época, tais como uma onda de sequestros de pessoas de
classe econômica mais favorecida, o que gerou grande insegurança social. Dessa forma, a
citada lei tem como objetivo disciplinar o artigo 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal de
1988, segundo o qual:
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem (BRASIL, 1988).

A delação premiada adentrou no ordenamento jurídico brasileiro moderno por meio da


Lei nº 8.072/1990, que disciplina os crimes hediondos, tendo como escopo auxiliar na
desarticulação de quadrilhas, bandos e organizações criminosas, colaborando com a
investigação criminal e impedindo a continuidade ou prática de novos crimes. Também, a
referida lei oferece prêmios ao delator nos crimes de extorsão mediante sequestro (BRASIL,
1990).
O artigo 7º da lei em estudo acrescentou o §4º ao artigo 159 do Código Penal, o qual
posteriormente teve sua redação alterada pela Lei nº 9.269/1996, premiando com a redução de
um a dois terços da pena o delator que, ao cometer o crime em concurso de pessoas, denunciar
seus comparsas e, assim, facilitar a libertação do sequestrado (BRASIL, 1996).
O instituto da delação premiada também fica evidenciado por meio da leitura do
parágrafo único do artigo 8º, onde se tem que a vantagem a ser concedida ao delator consiste
na redução da pena de um a dois terços se ocorrer o desmantelamento do bando ou quadrilha.
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código
Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o
associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu
desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços (BRASIL, 1990).

Este dispositivo legal, segundo Lima (2016), aplica-se somente aos delitos elencados na
referida lei – crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins ou terrorismo – que foram praticados por associação criminosa, a qual se busca o seu
desmantelamento por meio da denúncia do delator. Dessa forma, se o crime não for praticado
por associação criminosa, mas apenas em concurso de agentes, não há o benefício da delação
premiada, mesmo que por meio das informações colhidas pelo delator haja êxito quanto à
identificação dos demais partícipes.
27

O legislador, ao tratar sobre os crimes hediondos, instituiu o tipo penal de bando ou


quadrilha. O art. 288 do Código Penal, ao sofrer modificação legislativa pela Lei nº 12.850 de
2013, passou a denominar “quadrilha ou bando” como “associação criminosa”, ficando da
seguinte forma: “Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de
cometer crimes:” (BRASIL, 1940).
Mossin e Mossin (2016, p. 47-48), quanto à ausência de definição legal de “crimes
hediondos”, observam que cabe ao „legislador [...] apontar aqueles fatos puníveis que possam
se enquadrar no seu âmbito, respeitando [...] a relevância do bem jurídico tutelado pela norma
penal e ofensa grave aos interesses comunitários‟.
Assim, cabe fazer a análise do parágrafo único do art. 8º e uma explicação detalhada
para melhor entendimento.
Por meio da interpretação do parágrafo único do art. 8º, tem-se o participante como o
delator, que integra a associação criminosa e comete crimes hediondos e outros a eles
igualados, “a título de partícipe, assim compreendido aquele que coopera, que ajuda os
demais na prática delitiva ou de coautor, aquele que juntamente com os outros sujeitos ativos
transgride o núcleo do tipo penal.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 48).
Ainda, tem-se a figura do associado, que surge como parceiro, cúmplice, “que não
deixa, evidentemente, no campo penal de ser coautor.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 48).
“O objeto da denúncia é o „ex‟ „bando ou quadrilha‟, ou seja, a atual „associação
criminosa‟.”. (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 49). Assim, a denúncia tem por objetivo a
apresentação dos integrantes da associação criminosa instituída para a prática de crimes
hediondos e outros a eles equiparados.
Quanto à autoridade que receberá a denúncia, entende-se por esta a policial, porque,
segundo Mossin e Mossin (2016, p. 49), “é a ela que cumpre desmantelar o grupo
criminoso.”. No entanto, não há impedimento quanto ao Ministério Público receber a delação,
visto que, por ser órgão da persecução criminal, pode colaborar com a autoridade policial.
Desta forma, não se entende como a autoridade citada no referido parágrafo único a figura do
juiz, visto que sua atividade é de natureza processual, e não persecutória.
Em seguida, tem-se como resultado da denúncia “o „desmantelo‟ da associação
criminosa” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 49). Por desmantelar entende-se desfazer,
desmanchar.
Assim, ao interpretar o parágrafo único do art. 8º extraem-se alguns requisitos para que
o delator possa ser beneficiado com a delação premiada: a existência de quadrilha ou bando –
atual associação criminosa – para a prática de crimes hediondos ou outros a eles equiparados,
28

a delação do participante dessa associação à autoridade, e que por meio dessa delação seja
possível o desmantelo da associação criminosa.
De acordo com Mossin e Mossin (2016), ao analisar esse dispositivo entende-se que o
benefício da redução da pena é obrigatório, e não facultativo, visto que o legislador utiliza a
expressão “terá a pena reduzida”. Dessa forma, ao serem preenchidos os requisitos constantes
no parágrafo único, o delator deverá ser beneficiado com o decréscimo da pena.
Já no que diz respeito à quantidade de pena a ser reduzida, deve-se levar em
consideração o princípio do devido processo legal, corroborado com o sistema do livre
convencimento, onde o aplicador do direito deve se fundamentar nos fatos e elementos
concretos “que são inerentes ao preceito que contém a causa de diminuição de reprimenda
legal concretamente imposta.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 51). Continuando o mesmo
autor:
[...] o órgão julgador deverá levar à guisa de consideração para efeito o
estabelecimento da quantidade de redução discorrida, o tempo gasto para entrega
dos outros autores do fato típico e o conseqüente desmantelamento da quadrilha ou
bando. É a resultante da efetividade da colaboração.

Dessa forma, no que se refere ao quantum da redução, “fica evidentemente a critério do


magistrado, o que, inexoravelmente, deve ser feito de forma fundamentada [...]” (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 50), sob pena de nulidade. Por fim, necessário se faz trazer a lume que o
aplicador do direito não pode fazer uso das circunstâncias judiciais elencadas no art. 59 do
Código Penal, devido ao fato de elas serem aplicadas na sanção-base na primeira fase do
sistema trifásico, e não para interferir na quantidade de redução, a qual é apreciada na segunda
fase do sistema mencionado.

2.2. Lei nº 8.137/1990 – Crimes contra a Ordem Tributária, Econômica e contra as


Relações de Consumo

Os delitos contra a ordem tributária são espécies de crimes econômicos que possuem
como bem jurídico a ordem tributária, a qual tem como objetivo gerir os recursos arrecadados
para tornar possíveis as políticas públicas estatais. Abrangem a atividade de arrecadação de
impostos da União, dos Estados e dos Municípios e algumas autarquias, envolvendo delitos
aduaneiros, infrações funcionais, crime de sonegação fiscal e de apropriação indébita.
Dessa forma, a Lei nº 8.137 de 1990 surgiu com o objetivo de proteger a atividade
estatal tributária, a qual é essencial para o custeio e manutenção do Estado, e defender os
29

interesses da Fazenda Pública, estabelecendo normas que trazem em seu bojo uma sanção
com o intuito de punir aqueles que cometerem os delitos elencados nos arts. 1º e 2º da referida
lei, a título de exemplo, os delitos de supressão ou redução de tributos, omissão ou prestação
de declaração falsa às autoridades fazendárias, entre outros (MOSSIN e MOSSIN, 2016).
Quanto aos crimes contra a ordem econômica, encontram previsão no art. 4º da lei em
apreço, e “estão compreendidas nessa gama de atividades criminosas o abuso do poder
econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência [...].”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 52).
A delação premiada, por meio da Lei nº 9080/95, foi inserida no parágrafo único do art.
16: “Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o
coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou
judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.” (BRASIL, 1995).
Mossin e Mossin ressaltam a possibilidade da prática dos delitos contra a ordem
tributária, econômica e contra as relações de consumo por quadrilha ou bando, onde há a
necessidade de concurso de agentes ou coautoria, a qual deve ser adicionada a participação,
pois ambas não se confundem. “Enquanto que a coautoria pressupõe que mais de um agente
tenha praticado a conduta delitiva [...], realizando [...] o núcleo do tipo; na participação o
delinquente somente coopera, ajuda o autor ou coautor na realização do tipo penal [...]”.
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 53-54).
A delação premiada, no bojo da lei em apreço, traz uma peculiaridade: tem como
requisito “a confissão espontânea, ou seja, aquela que é feita espontaneamente, sem nenhum
ato coativo”. (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 54).
[...] a confissão deve ser espontânea, isto é, aquela cuja voluntariedade não se
encontra maculada. O agente, por sua livre vontade, sem coação e tampouco
induzimento em erro essencial, decide espontaneamente confessar. É irrelevante à
configuração da delação o motivo – mais ou menos nobre – que teria levado o
agente a confessar. Não se exige, pois, que a confissão seja fruto de arrependimento.
(DELMANTO, 2014, p. 288).

Por tanto, se restar comprovado que a confissão do partícipe ou coautor foi adquirida
através de coação ou qualquer outro ato que descaracterize a voluntariedade, mesmo obtendo
resultado favorável, não cabe a delação premiada, conforme explica Mossin e Mossin (2016).
Dessa forma, a confissão só terá eficácia legal positiva quando for espontânea. Bem ressalva
os autores que aquela, quando obtida sem coação, pode culminar em uma condenação do
confitente, desde que esteja corroborada e em harmonia com outras provas, conforme exposto
no art. 197 do Código de Processo Penal.
30

De acordo com Mossin e Mossin (2016), se a confissão for adquirida por meio de ato
ilícito é nula, de forma integral, de modo a não gerar consequências na seara processual penal.
Assim, constatada a ilicitude e nulidade, não poderá haver condenação do confitente com base
naquela confissão.
Ao interpretar o dispositivo que fundamenta a delação premiada na lei em estudo,
Mossin e Mossin (2016) apontam que a delação não pode ser obtida através de meio coativo,
quer seja físico ou psicológico. No entanto, esse meio coativo não abrange a incitação da
delação, ou seja, se esta for estimulada, provocada ou orientada por terceiros ou até mesmo
pelo defensor do acusado, tem-se como inteiramente válida a exposição dos parceiros de
crime. “Essa provocação, em linhas gerais, não retira o condão da voluntariedade no ato
delatório, posto que ele será levado a efeito de maneira voluntária. Ora, o delator segue a
provocação de terceiros se quiser. Na incitação [...] não existe ato coativo.” (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 55).
Ao propor a delação premiada no bojo da Lei 8.137 de 1990, o legislador buscava a
exposição da trama delituosa (BRASIL, 1990). Ou seja, objetivava premiar ao coautor ou
partícipe que revelasse a autoridade policial ou judicial os planos delituosos. Dessa forma, a
delação dos demais comparsas de crime pode ocorrer em qualquer momento, seja quando as
investigações criminais estiverem em curso, por meio do Inquérito Policial, seja no decorrer
do processo penal, em qualquer etapa procedimental. Pode ser feita de forma oral ou escrita,
devendo esta obrigatoriamente ser assinada pelo acusado delator. É ato personalíssimo,
conforme expõe Mossin e Mossin (2016).
Deve-se observar algo quando ocorrer a delação:
[...] a delação não terá a menor eficácia se ficar comprovado que houve mera
invenção do delator exclusivamente para obter a benesse legal. Assim, deve pelo
menos ter-se constatado que os nomes por ele apontados guardam algum liame ou
vínculo com o delito objeto de apuração em sede de Inquérito Policial, ou que serve
de conteúdo de ação penal. (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p.56).

Quanto à redução da pena, o legislador, ao utilizar o termo “terá”, indica a sua


obrigatoriedade, ou seja, ao ser comprovada a eficácia da colaboração do delator, deverá o
magistrado, por meio de ato vinculado, obrigatório, reduzir a pena imposta na sentença
condenatória. No entanto, no que diz respeito à quantidade de redução da pena, fica facultado
ao juiz, desde que de forma fundamentada, estabelecer o quantum entre um a dois terços.
Nesse sentido, é válido o fundamento de Mossin e Mossin (2016, p. 57):
Tendo por consideração o que está sendo expedido, a eleição de um quantum
mínimo ou máximo da redução permitida pelo legislador (legalidade) não pode se
situar, exclusivamente, na vontade pessoal do aplicador da norma de regência, mas
deverá encontrar sustentáculo, escólio em alguma situação concreta, extraída do
31

próprio regramento jurídico onde se encontra prevista a diminuição da reprimenda


legal.Tendo como ponto de partida essa premissa, o aplicador do comando
normativo de regência deverá avaliar, objetivamente, qual foi o nível de colaboração
prestado pelo delator com relação àquilo que o legislador denomina de “toda a trama
delituosa.” Trata-se da efetividade da colaboração.

Por fim, é válido ressaltar que “em hipótese alguma o aplicador do direito pode se valer
das circunstâncias judiciais arroladas pelo art. 59 do Código Penal, para determinar o quantum
da redução analisada.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 57). Tais circunstâncias incidirão
sobre a pena-base, na primeira fase, enquanto que as circunstâncias legais, isto é, causas de
diminuição da pena, incidirão na segunda fase.

2.3. Lei nº 7.492/1986 – Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional

Assim como ocorreu com a Lei nº 8.137/1990 – Lei dos Crimes contra a Ordem
Tributária, Econômica e contra as Relações de Consumo, a Lei nº 7.492 de 1986 – define os
crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – também sofreu incidência da Lei nº 9.080 de
1995, a qual acrescentou o parágrafo segundo ao artigo 25 (BRASIL, 1986).
A Lei em apreço, no seu primeiro artigo, define “instituição financeira” para fins de
entendimento da própria Lei e em seguida, do artigo segundo em diante apresenta um rol
exaustivo de condutas criminosas que se enquadrariam contra o sistema financeiro nacional.
Quanto ao objeto tema deste trabalho, encontra-se previsto no art. 25, §2º, segundo o
qual: “Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou
partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a
trama delituosa terá sua pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).”.
De acordo com o STJ, no julgamento do REsp 934.004/RJ:
Para a configuração da delação premiada (art. 25, 2º, da Lei 7.492/86) ou da
atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), é preciso o
preenchimento dos requisitos legais exigidos para cada espécie, não bastando,
contudo, o mero reconhecimento, pelo réu, da prática do ato a ele imputado, sendo
imprescindível, também, a admissão da ilicitude da conduta e do crime a que
responde. (STJ, 2007)

Observa Mossin e Mossin (2016) a semelhança que há entre este diploma em estudo e o
anterior, isto é, como ambos dispõem de maneira similar sobre o mesmo instituto, o que pode
ser compreendido pelo fato de que os mesmos (artigos que disciplinam a delação premiada
nas duas leis) foram inseridos pela mesma Lei nº 9.080 de 1995.
32

Dessa forma, devido tais institutos encontrarem-se disciplinados de forma idêntica na


Lei estudada no tópico anterior e na Lei em apreço, não serão reproduzidas as mesmas
observações já mencionadas. Assim, remete-se o leitor ao tópico anterior quanto à explicação
do instituto da delação premiada encontrado no dispositivo da Lei.

2.4. Art. 159, §4º do Código Penal – Crime de Extorsão mediante Sequestro

Diz o art. 159, §4º do Código Penal: “Se o crime é cometido em concurso, o
concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a liberação do sequestrado, terá sua
pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços)”. (BRASIL, 1996).
Como exposto no tópico 1 deste capítulo, o artigo 7º da Lei nº 8.072 de 1990
acrescentou o §4º ao artigo 159 do Código Penal, o qual posteriormente teve sua redação
alterada pela Lei nº 9.269/1996, premiando com a redução da pena de um a dois terços ao
delator que, ao cometer o crime em concurso de pessoas, denunciar seus comparsas e, por
meio desta, facilitar a libertação do sequestrado.
Inicialmente cabe fazer uma breve explanação sobre concurso de pessoas, o qual divide-
se em coautoria e participação. De acordo com o entendimento de Delmanto (2014, p. 195),
“Coautoria – São coautores os que executam o comportamento que a lei define como crime.
[...] Participação – O partícipe é quem, mesmo não praticando a conduta que a lei define
como crime, contribui, de qualquer modo, para a sua realização.”
Dessa forma, devido o dispositivo do regramento penal utilizar a expressão “concurso
de pessoas”, a delação premiada pode ser estendida tanto ao coautor quanto ao partícipe,
conforme bem ressalta Mossin e Mossin (2016).
Outra observação feita por Mossin e Mossin (2016) é quanto à expressão “concorrente
que o denunciar à autoridade”, o qual se entende que, para que haja a incidência da delação
premiada, o delito deverá ser praticado por duas pessoas, no mínimo, a título de participação
ou coautoria. Corroborando esta linha de pensamento, Greco (2009, p. 127) afirma que “basta
que duas pessoas tenham, agido em concurso, praticado o delito para que a uma delas seja
possível a delação.”.
Quanto à denúncia do concorrente à autoridade, pode ocorrer por meio da arguição do
indiciado ou por iniciativa própria do mesmo. Já a autoridade que receberá a denúncia, de
acordo com Mossin e Mossin (2016), se restringe à autoridade policial e ao Ministério
Público, não abrangendo a autoridade judiciária.
33

No que se refere ao teor da denúncia, Mossin e Mossin (2016) defendem que, como a
finalidade do dispositivo legal é pôr em liberdade a vítima do sequestro, é suficiente que o
partícipe ou corréu faça referência à prática do crime e informe o local de cativeiro, não
havendo necessidade de mencionar os demais que atuaram em concurso. No entanto, para que
haja a incidência do benefício legal, é necessário que a delação realizada seja eficaz de forma
a possibilitar a libertação da vítima sequestrada. Caso contrário, será ela ineficaz. Nessa linha
defende Mirabete (2011, p. 1102), que “a simples confissão da prática do delito, ainda que
com a denúncia dos demais coautores ou partícipes, sem tal efeito, pode ser considerada
apenas como atenuante genérica [...].”.
Se, como exigência para a soltura da vítima, houver tido pagamento total ou parcial ao
sequestrador, mas a delação facilitou a libertação da vítima, ainda assim haverá o
reconhecimento da benesse ao delator, defendem Mossin e Mossin (2016).
Assim como estudado em tópicos anteriores, o legislador, ao utilizar o verbo “terá” traz
a obrigatoriedade da concessão do benefício caso os requisitos sejam cumpridos. Ou seja, o
crime sendo cometido em concurso, o concorrente o delatar a autoridade, e esta delação
facilitar a libertação do sequestrado, presentes e cumpridos tais requisitos, o juiz,
obrigatoriamente, deverá diminuir a reprimenda legal.
Compartilha do mesmo pensamento Lima (2016, p. 1038), o qual defende que “para a
incidência do benefício aí previsto, é indispensável que as informações prestadas pelo
colaborador facilitem a libertação do sequestrado, logicamente com sua integridade física
preservada.” Neste sentido, cabe o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no HC
26.325/ES:
CRIMINAL. HC. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO. DOSIMETRIA.
DELAÇÃO PREMIADA. INFORMAÇÕES EFICAZES. INCIDÊNCIA
OBRIGATÓRIA. DESCONSIDERAÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. A
delação premiada” prevista no art. 159, § 4º, do Código Penal é de incidência
obrigatória quando os autos demonstram que as informações prestadas pelo agente
foram eficazes, possibilitando ou facilitando a libertação da vítima (STJ, 2003).

No que concerne à quantidade de redução da pena, como já exposto em tópico anterior,


esta fica a cargo do aplicador da norma, o qual deverá fazê-la por meio de decisão
fundamentada.

2.5. Lei nº 11.343/2006 – Crimes de Drogas


34

Na Lei nº 11.343 de 2006 o instituto da delação premiada encontra previsão legal no seu
art. 41, que dispõe:
O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e
o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e
na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá
pena reduzida de um terço a dois terços (BRASIL, 2006).

“Como deixa claro o dispositivo em questão, a incidência da colaboração premiada


somente é possível quando, na prática de qualquer dos delitos previstos na Lei nº 11.343/06, o
agente perpetrar a conduta em concurso de pessoas.” (LIMA, 2016, p. 1.039). Neste sentido é
o entendimento do STJ no julgamento do HC 99.422/PR:
A conduta praticada pelo paciente não se subsume à prevista para a aplicação do
art. 41 da Lei 11.343/06, ao contrário do que quer fazer crer o impetrante; isso
porque, a previsão formulada nesse artigo traz a figura da delação premiada,
somente sendo possível a sua incidência quando, na prática de qualquer dos delitos
previstos na Lei 11.343/06, o agente perpetrar a conduta em concurso de pessoas,
o que não ocorreu na hipótese dos autos (STJ, 2008).

De acordo com Mossin e Mossin (2016), a delação premiada pode abranger tanto o
indiciado como o acusado, podendo ser operacionalizada nas duas fases, tanto no inquérito
policial como na relação jurídico-processual.
Outro ponto em comum com as leis já analisadas é que a delação premiada, também
neste caso, precisa ser voluntária. Para Bianchini e outros (2009), a voluntariedade, neste
contexto, não é tida como sinônimo de espontaneidade, isto é, a ideia de cooperar não precisa
partir do próprio agente. Mesmo que o agente seja estimulado ou incitado a cooperar por um
terceiro, ainda assim suas informações serão relevantes e válidas. Segundo Mossin e Mossin
(2016), a provocação “não retira o condão da voluntariedade no ato delatório [...]. Ora, o
delator segue a provocação de terceiros se quiser. Na incitação, obviamente, não existe ato
coativo. Enfim, a delação deverá ser tida como válida, mesmo que ela tenha sido provocada.”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 66-67).
Acerca do assunto, tal é o entendimento do Tribunal Regional Federal da 1ª Região no
julgamento da Apelação Criminal 2008.38.03.005529-2/MG:
PENAL E PROCESSUAL PENAL - TRÁFICO TRANSNACIONAL DE
ENTORPECENTES - ART. 33, CAPUT, C/C ART. 40, I, DA LEI 11.343/2006 -
DOSIMETRIA - DELAÇÃO PREMIADA - ART. 41, DA LEI 11.343/2006 -
REQUISITOS - PROPORÇÃO DA COOPERAÇÃO. I - Autoria e materialidade
devidamente comprovadas, pelo conjunto probatório. II - A sentença negou a
delação premiada à ré apelante, ao fundamento de que não foi ela voluntária,
porque só ocorreu após a descoberta da droga pelos policiais e sem a vontade de
colaborar com a Justiça, mas inspirada pelo sentimento de vingança para com o
co-réu. III - Entretanto, o art. 41 da Lei 11.344/2006, não exige, para a delação
premiada, a colaboração espontânea, mas apenas que seja ela voluntária, isto é,
livre de qualquer coação física e moral, "sem necessidade de se buscar a
espontaneidade (arrependimento sincero ou desejo íntimo de contribuir com a
35

Justiça). Em outras palavras, a delação pode ter por fundamento, exclusivamente,


o intuito de obter o benefício previsto neste artigo, ainda que o agente não esteja
arrependido do que fez, valendo, inclusive, quando houver o aconselhamento do
defensor para que assim aja" (Guilherme de Souza Nucci, Leis Penais e
Processuais Penais Comentadas, Ed. RT, 6ª ed., p. 376/377) (TRF1, 2012).

Ao interpretar o dispositivo legal que prevê a delação premiada, temos que, além da
colaboração ser voluntária, ela também precisa identificar os demais coautores ou partícipes
do crime. De acordo com Mossin e Mossin (2016), o colaborador deve fornecer elementos
que auxiliem a autoridade competente, quer seja aquela que conduza o inquérito policial ou o
Ministério Público, excluindo desta a figura do juiz, posto que este tem como função julgar, e
não investigar. Dessa forma, a vantagem deve ser concedida à figura do colaborador se este
prestar informações que auxiliem na identificação dos demais agentes que praticaram ou
colaboraram na prática do delito juntamente com ele (colaborador).
No entanto, bem ressaltam Mossin e Mossin (2016) que deve haver certa “peneira”
quanto às informações obtidas por meio da colaboração, sendo necessário que os terceiros
delatados envolvidos na infração penal tenham relação com esta ação delituosa e que seja
comprovado de forma efetiva que os mesmos também possuem responsabilidade criminal. Tal
comportamento é exigido para afastar apontamentos falsos sobre demais terceiros, feitos
apenas com o intuito de obter a benesse da delação premiada, que neste caso culmina na
redução de pena.
Neste sentido, cabe a seguinte jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região:
APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO INTERNACIONAL DE
ENTORPECENTES - LEI 11.343/2006 - AUTORIA E MATERIALIDADE DO
DELITO COMPROVADAS - DOSIMETRIA DA PENA - DELAÇÃO
PREMIADA - INAPLICÁVEL - APLICABILIDADE DO § 4º, DO ARTIGO 33,
DA LEI 11.343/06 - REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA - PRISÃO
PREVENTIVA MANTIDA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. [...] 3. A
aplicação do artigo 41, da Lei 11.343/06 requer a efetividade da delação. No caso,
embora o réu tenha fornecido alguns nomes de pessoas que supostamente estariam
envolvidas com o tráfico, não logrou provar que tais informações são verdadeiras,
até porque não possibilitaram às Autoridades identificar, de forma efetiva, os outros
integrantes da associação criminosa (TRF1, 2012).

Ainda tratando desse quesito de identificação, tem havido certo embate doutrinário
quanto haver ou não a necessidade de prisão das pessoas envolvidas no delito praticado.
Mossin e Mossin (2016, p. 70) defendem que “o legislador na norma de regência não
subordinou a prisão da pessoa que foi objeto de identificação também como condição para
efeito da concessão do benefício legal, expressamente previsto”. Ou seja, para que a delação
seja efetiva, é suficiente que a indicação seja real e concreta.
36

Continuando a análise do dispositivo da Lei em comento que traz a delação premiada


em seu bojo, necessário se faz algumas considerações quanto à expressão “recuperação total
ou parcial do produto do crime”.
Mossin e Mossin (2016, p. 71), de forma indispensável, diferenciam produto do crime
de proveito do crime, sendo o primeiro “a coisa conseguida diretamente com a prática do
crime” e o segundo “se constitui qualquer coisa ou bem adquirido com recurso proveniente da
prática do crime”. A título de exemplo de produto do crime tem-se o automóvel furtado,
dinheiro furtado; e a exemplo de proveito do crime tem-se que com o dinheiro obtido através
da venda de substância entorpecente o criminoso compra um imóvel. Neste último caso, o
imóvel é o objeto a ser recuperado.
A respeito do exposto, é válido analisar o art. 60 da Lei em estudo, o qual diz:
Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público,
havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação
penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e
imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que
constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125
a 144 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal
(BRASIL, 2006).

Ao analisar o art. 41 juntamente com o art. 60 da Lei de Drogas, bem observam Mossin
e Mossin (2016) que o legislador, no segundo artigo citado (art. 60) faz referência tanto aos
produtos dos crimes quanto ao proveito auferido com sua prática. Mas, o art. 41 da Lei em
questão, ao trazer apenas a expressão “produto do crime”, segundo Nucci (2007, p. 346), faz
alusão “a substância entorpecente, que necessita ser recuperada, total ou parcialmente.”.
Dessa forma, após essa explanação, conclui-se que o legislador, para a concessão do
benefício da delação premiada, estipulou os seguintes requisitos: a voluntariedade da
colaboração, de forma a contribuir para a identificação dos demais coautores e partícipes do
crime, para que haja a recuperação total ou parcial do produto do crime, qual seja a substância
entorpecente.
Assim, conforme Mossin e Mossin (2016), para que o delator faça jus ao prêmio da
redução da pena, a sua colaboração deve culminar na recuperação da droga. Se a colaboração
resultar ineficaz, produzindo resultado negativo quanto à recuperação, não há que se falar em
benesse a ser concedida. Trata-se de causa objetiva específica e concreta.
É válido destacar o embate doutrinário quanto ao fato de ser cumulativo ou não a
presença dos dois requisitos já mencionados, quais sejam a recuperação total ou parcial do
produto do crime e a identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, para a
concessão do prêmio.
37

Nucci (2007) defende que os requisitos são cumulativos. Na mesma linha de


pensamento, Bianchini e outros (2009, p. 219) assentam que “a lei exige [...] uma dupla
colaboração (sempre que possível): (a) delação dos demais participantes do delito e (b)
recuperação do produto do crime”.
Seguindo a corrente contrária, defendendo pela não cumulatividade dos requisitos,
Delmanto (2014) expõe que há limites para a colaboração, não sendo exigido que com ela
sejam preenchidos todos os requisitos, isto é, a identificação de todos os partícipes ou
coautores bem como a recuperação total ou parcial do produto do crime, porque o delator
pode saber quem são os comparsas, mas não com quem ou onde está o produto do crime, e
vice-versa.
Na mesma linha de pensamento encontra-se Lima (2016), para o qual não é necessária a
ocorrência dos dois resultados, mas, “dentro das possibilidades do colaborador, basta que
resulte um dos dois resultados: identificação dos demais concorrentes ou recuperação total ou
parcial do produto do crime” (LIMA, 2016, p. 1.040) Se o delator tiver ciência de ambas as
situações e indicar apenas uma delas, não fará jus ao prêmio constante no dispositivo legal.
Mas, sendo conhecedor de apenas uma circunstância e sendo incapaz de identificar a outra,
não há motivo para negar a concessão da benesse.
Também não há consenso na seara jurisprudencial quanto à cumulatividade ou não dos
requisitos. No sentido de não haver a necessidade de concorrência dos requisitos, o Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, por meio do julgamento da Apelação Criminal
2008.38.03.005529-2/MG, firmou entendimento no sentido de:
Vicente Greco Filho, discorrendo sobre a necessidade ou não de cumulação dos
requisitos para a delação premiada, prevista no art. 41 da Lei 11.343, assinala que o
“e” contido no dispositivo legal em análise, deve também ser entendido como “ou”,
porquanto pode não haver produto do crime a recuperar ou a recuperação já ser
relevante em si mesma (Vicente Greco Filho, comentários à Lei 11.343/2006 – Lei
de Drogas, Ed Saraiva, 4 ed., p. 242) (TRF1, 2012).

Em sentido diverso, prezando pela cumulatividade, cabe o entendimento do Tribunal


Regional Federal da 2ª Região, por meio da Apelação Criminal 200851018060118:
Para que sejam reconhecidos os efeitos da delação premiada a que se refere o art. 41
da atual Lei de Drogas, o acusado que se dispõe a colaborar deve fazê-lo em todas as
fases da persecução penal, além de ser exigível, ainda, a presença dos seguintes
requisitos cumulativos: a) voluntariedade da colaboração; b) identificação de
partícipes ou coautores do crime; c) recuperação total ou parcial do produto do
crime, sendo incabível, na ausência de qualquer deles, a redução de pena fixada. O
desinteresse da acusada em colaborar com as investigações, aliada à falta de
efetividade das informações prestadas durante a fase processual, as quais não foram
suficientes para ensejar a identificação dos coautores e a recuperação do produto do
crime, impede a aplicação da benesse (TRF2, 2014).
38

Por fim, encerrando as discussões acerca da concorrência ou não dos requisitos na Lei
de Drogas, Mossin e Mossin (2016) defendem que não há necessidade da cumulatividade dos
requisitos legais para a concessão da benesse do favor rei. A questão da “colaboração
parcial”, onde somente um ou dois dos requisitos foram preenchidos, será considerada para
efeito de proporcionalidade na concessão do benefício.
Desta forma, acerca do quantum da redução da reprimenda legal, a qual está estipulada
entre um terço a dois terços, para Mossin e Mossin (2016), este será estabelecido mediante o
nível e efetividade da colaboração desprendida, não esquecendo a necessidade de
fundamentação, sob pena de nulidade, da decisão judicial. Por fim, é válido ressaltar que
deverão ser mantidas afastadas as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código
Penal, as quais não podem influenciar no decréscimo da pena.
Quanto à obrigatoriedade ou facultatividade da diminuição da pena, Mossin e Mossin
(2016) aduzem que por meio da expressão “terá pena reduzida” contida no dispositivo legal
em apreço tem-se que, presente os permissivos legais, esta é obrigatória.

2.6. Lei n. 9.613/98 – Crimes de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, Direitos ou Valores

A Lei 9.613, de 3 de março de 1998, dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação


de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos
previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá
outras providências (BRASIL, 1998). Nesta, o instituto da delação premiada encontra
previsão no parágrafo 5º do art. 1º, o qual teve sua redação alterada pela Lei nº 12.683 de
2012 e dispõe:
§5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto
ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer
tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à
apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou
à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime (BRASIL, 2012).

Diferente do que já foi exposto no decorrer deste trabalho, o instituto da delação


premiada inova ao trazer o verbo “poderá” no bojo deste dispositivo. Desta forma, cabe tecer
importantes considerações quanto à análise do artigo em comento.
O artigo 1º, em seu caput, que também teve a sua redação alterada pela Lei nº 12.683 de
2012, disciplina sobre a conduta de “Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
39

indiretamente, de infração penal.” (BRASIL, 2012). No entanto, conforme observam Mossin


e Mossin (2016), o parágrafo quinto deste artigo expõe que quem pratica tal conduta poderá
ter sua pena reduzida se preenchidos alguns requisitos.
O legislador, ao utilizar o verbo “poderá”, confere ao magistrado a faculdade de utilizar
o benefício da delação premiada. Ou seja, nas palavras de Mossin e Mossin (2016, p. 81), ao
realizar-se uma interpretação restritiva, “fica a critério do juiz conceder ou não benefício
legal. Não se cuida, por conseguinte, de direito subjetivo do acusado, que somente existe
quando há uma situação normativa de cunho imperativo: „será‟.”.
No entanto, os mesmos autores acima citados, ao defenderem a unidade e simetria do
ordenamento jurídico, e o fato de o direito ser regido pela equidade, ao analisarem que o
dispositivo em estudo cita a possibilidade da redução da pena de um a dois terços, também
entendem que o verbo “poderá” está empregado no sentido de balança para determinar a
quantidade de decréscimo da pena. Isto é, tal como nas legislações estudadas nos tópicos
anteriores, o critério a ser utilizado para determinar o quantum de pena a ser reduzida é o da
quantidade e efetividade da colaboração, mais uma vez lembrando sobre a necessidade de
fundamentação da decisão judicial que impor a sanção. Dessa forma decidiu o Tribunal
Regional da 1ª Região:
Reconhecido pelo magistrado que a colaboração do acusado foi fundamental para
desmantelamento da quadrilha e para conhecer o funcionamento de toda a
organização criminosa, possibilitando a condenação, inclusive, de autoridades, a
diminuição da pena no patamar máximo pelo beneficio da delação premiada se
impõe (TRF1, 2013).

Ou seja, para Mossin e Mossin (2016, p. 83). “a quantidade de efetividade do resultado


da delação deverá ser o instrumento a ser empregado para fixar o valor do prêmio [...].”.
Outra semelhança com as legislações anteriores já estudadas, neste caso também
deverão ser mantidas afastadas as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal.
Mossin e Mossin (2016) trazem a lume uma peculiaridade encontrada no dispositivo em
estudo: a possibilidade de haver mais de um resultado com a colaboração do delator. Os
dispositivos estudados nos tópicos anteriores abarcavam apenas um resultado obtido por meio
do depoimento do delator, e nestes, o grau de efetividade da delação era a balança para
determinar entre o mínimo e o máximo de redução da pena.
No entanto, nos crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos ou valores, o
legislador inova ao trazer mais de um resultado à conduta da colaboração do delator. Neste
caso, seguindo a mesma linha de pensamento, prezando pela equidade, Mossin e Mossin
(2016) expõem que, caso haja a possibilidade de ocorrer mais de um resultado, e acontecendo
40

apenas um deles, ou todos eles, o parâmetro a ser utilizado para determinar a quantidade de
redução da pena será o mesmo: a efetividade da colaboração, a qual será medida por meio da
quantia de resultados obtidos por meio da cooperação do delator. Isto é, quanto mais
resultados alcançados, maior a redução da sanção penal.
Outra questão que merece destaque diz respeito à sanção prevista pelo legislador, o qual
impôs àquele que praticar a conduta descrita no art. 1º da lei em estudo a pena privativa de
liberdade e multa. Assim, conforme Mossin e Mossin (2016), caso haja condenação, incidirão
cumulativamente ambas as sanções, quais sejam a corporal e a pecuniária. Da mesma forma,
havendo a redução da pena, esta deverá recair sobre ambas as penas também.
Mais uma inovação que esta legislação traz abrange a possibilidade de o delator cumprir
a pena em regime aberto ou semiaberto. Sobre o assunto, Delmanto (2014, p. 1011) se
posiciona no sentido de:
[...] a possibilidade de concessão do perdão judicial e de regime inicial aberto é de
boa política criminal, pois, evitando que o colaborador vá preso, dá maior proteção à
sua incolumidade física e, em conseqüência, estimula a colaboração espontânea
(sic).

Dessa forma, quanto ao regime prisional, de acordo com a sanção imposta no art. 1º da
Lei nº 9.613/98, com a redação dada pela Lei nº 12.683 de 2012, qual seja reclusão de no
mínimo 3 (três) anos e no máximo 10 (dez) anos, cumulada com multa, o regime prisional
pode iniciar com o aberto, o semiaberto ou o fechado. No entanto, como observam Mossin e
Mossin (2016, p. 87), “pelo acordo decorrente da colaboração premiada, independentemente
da quantidade da pena privativa de liberdade efetivamente imposta, será afastado o regime
mais gravoso que é o „fechado‟”.
Assim, conclui-se que: no que diz respeito à quantidade de redução da reprimenda legal,
devido ao verbo “poderá”, tem-se a faculdade do juiz proceder à diminuição. Mas, ao abordar
sobre o regime prisional, ao utilizar a expressão “e ser cumprida em regime aberto ou
semiaberto”, “leva o intérprete a entender que havendo a diminuição buscada pelo „dedo-
duro‟ a título de prêmio a ele ofertado, a adoção de um dos regimes previstos passa a ser
direito subjetivo do condenado e beneficiário da colaboração.” (MOSSIN, 2016, p. 87). Neste
caso, é vedada taxativamente a imposição do regime fechado.
Quanto à escolha do regime a ser imposto, Mossin e Mossin (2016) sustentam que esta
deve ser de acordo com a pena aplicada, isto é, quanto mais esta se aproximar do máximo
abstratamente previsto, será fixado o regime mais gravoso. Outro quesito que pode ser
verificado é a reincidência e primariedade. Ou seja, sendo caso de reincidência do acusado, o
regime a ser adotado deverá ser o semiaberto.
41

Observam Mossin e Mossin (2016) que, no que se refere à determinação do regime


inicial, o magistrado poderá se utilizar das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do
Código Penal, diferente do que acontece na decisão sobre a redução da sanção penal.
Outra inovação que esta lei traz ao disciplinar sobre a delação premiada é o surgimento
do instituto do perdão judicial nessa seara do direito premial, o qual é extraído por meio da
expressão “facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la” contida no bojo do parágrafo quinto do
art. 1º.
Por esses dizeres legais, o magistrado poderá deixar a seu critério, desde que o
colaborador mereça o prêmio prometido pelo legislador, ao invés de conceder-lhe a
diminuição da sanção penal, outorgar-lhe o “perdão judicial”. Não se cuida, por
conseguinte, de direito subjetivo do condenado em ter sua reprimenda legal
perdoada. Esse é o sentido e a conseqüência no campo penal da frase “deixar de
aplicá-la” (MOSSIN, 2016, p. 88).

O instituto do perdão judicial, previsto no art. 107, IX, do Código Penal, constitui-se em
causa de extinção de punibilidade. Nas palavras de Mirabete (2011, p. 571):
O perdão judicial foi também arrolado pela reforma penal entre as causas da
extinção da punibilidade, como instituto por meio do qual o juiz, embora
reconhecendo a prática do crime, deixa de aplicar a pena desde que se apresentem
determinadas circunstâncias previstas em lei e que torna inconveniente ou
desnecessária a imposição da sanção penal. Trata-se de uma faculdade do
magistrado, que pode concedê-lo ou não, segundo seu critério, e não direito
subjetivo do réu.

Também no mesmo sentido é o enunciado da Súmula 18 do Superior Tribunal de


Justiça: “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória de extinção de punibilidade,
não subsistindo qualquer efeito condenatório.”
Retomando o disposto no parágrafo quinto do art. 1º da Lei em comento, o legislador
ainda dispõe sobre outra benesse, qual seja a possibilidade de substituição, a qualquer tempo,
por pena restritiva de direitos. Ou seja, como já exposto, como fica a critério do magistrado
aplicar ou não o perdão judicial, e se este decidir pela não aplicação, também lhe fica
facultado à substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, conforme
pensamento de Mossin e Mossin (2016).
No entanto, segundo o analisado no decorrer deste tópico, como a pena privativa de
liberdade foi prevista cumulativamente com a multa, observam os autores acima citados que,
visto a sanção pecuniária não comportar permuta pela pena restritiva de direitos, ao ser
substituída a pena privativa de liberdade por esta, permanecerá a obrigação pecuniária,
devendo o condenado arcar com esta.
42

Quanto ao momento da substituição da pena, ante a ausência de delimitação, Mossin e


Mossin (2016) defendem que esta pode ocorrer no curso do procedimento recursal ou depois
do trânsito em julgado da decisão condenatória, em seara de execução da pena.
Após tais considerações acerca das benesses concedidas pelo legislador, é válido
explanar sobre os resultados almejados.
Ao interpretar o dispositivo em voga neste tópico, tem-se que o primeiro objetivo do
legislador com a oferta do prêmio ao delator é a colaboração espontânea do autor, coautor ou
partícipe com as autoridades, prestando esclarecimentos que encaminhem à apuração das
infrações penais.
Na explanação de Mossin e Mossin (2016), a espontaneidade traduz-se na
voluntariedade de ajuda do colaborador. Isto é, se a colaboração, possuidora de um duplo
significado que abrange a confissão – já que o colaborador para fazer jus às vantagens
concedidas tem que ser partícipe ou coautor do crime –, for obtida através de algum tipo de
coação, mesmo sendo alcançado resultado favorável, será ineficaz. Ou seja, a confissão ou
colaboração somente será válida quando for espontânea.
Também, a “confissão sem qualquer tipo de coação pode conduzir à condenação do
confitente, desde que essa se mostre compatível e harmoniosa com outros elementos de prova
[...]” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 91). Assim, a confissão alcançada por meio ilícito é
nula, não gerando consequência alguma no processo penal.
É válido relembrar o que já foi mencionado nos tópicos anteriores, que não
descaracteriza a espontaneidade o fato da colaboração ser incitada, estimulada ou provocada
por terceiros. Desta forma, essa instigação não anula a voluntariedade do ato delatório.
Quanto à autoridade a qual serão prestados os esclarecimentos, segundo Mossin e
Mossin (2016), abrange a autoridade policial e o Ministério Público. Não integra esta a
autoridade judiciária, visto sua atividade ser meramente processual, e não de investigação de
infração. No entanto, pode ocorrer de a colaboração espontânea acontecer em juízo.
O legislador teve como intenção, através dessa colaboração, obter esclarecimentos que
conduzissem à apuração das infrações penais, à identificação dos partícipes, coautores e
autores. Assim, “cumpre ao colaborador prestar informações que conduzam positivamente no
sentido de averiguar, de conhecer com certeza, as infrações penais praticadas pelos autores,
coautores ou partícipes” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 92). Ou seja, a apuração, neste
contexto, é do tipo penal ofendido, e não de fatos delitivos, pois, se a autoridade, por meio de
seu próprio esforço e investigação, ou através de terceiros que não se beneficiariam da
delação premiada, conheceu o fato punível, é automática a sua constatação material.
43

Além da apuração da infração penal, o legislador também previu a identificação dos


demais participantes como condição para concessão do prêmio da delação premiada. Desta
forma, “que os dados ou elementos trazidos pelo delator resultem no reconhecimento de
outros agentes que, juntamente com ele, estejam envolvidos nos mesmos delitos, na condição
de coautores ou de partícipes.” (MOSSIN, 2016, p. 93).
Na parte final do parágrafo quinto, o legislador utilizou a conjunção alternativa “ou”
para dispor sobre o último resultado almejado, qual seja a “localização dos bens, direitos ou
valores objeto do crime”. Assim, de acordo com Mossin e Mossin (2016), tem-se que a
colaboração também poderá ser válida desde que por seu intermédio se consiga localizar,
recuperar, encontrar os bens, direitos ou valores objetos do crime.
Quanto à necessidade ou não de cumulatividade de todos os resultados previsto no
dispositivo em apreço, Mossin e Mossin (2016) sustentam que não é necessária a
concorrência de todos os resultados descritos, bastando para a concessão do benefício a
obtenção de pelo menos um resultado almejado.
Em virtude da conjunção ou designar alternativa ou exclusão, entendemos que
bastará que os esclarecimentos dados pelo delator levem à apuração das infrações
penais (materialidade e autoria) ou à localização dos bens, direitos ou valores, não
sendo necessário que a colaboração alcance ambas finalidades (apuração e
localização) (DELMANTO, 2014, p. 1012).

2.7. Lei nº. 9.807/99 – Proteção à vítima e testemunhas

A Lei 9.807, de 13 de julho de 1999, traz em seu bojo normas que tem como objetivo
organizar e disciplinar os programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas
ameaçadas, além de dispor “sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham
voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal”.
(BRASIL, 1999).
[...] por não ter seu âmbito de aplicação restrito a determinado(s) delito(s),
representou verdadeira democratização do instituto da colaboração premiada no
ordenamento jurídico pátrio, possibilitando sua aplicação a qualquer delito, além de
organizar um sistema oficial de proteção aos colaboradores. Com efeito, à exceção
da Lei nº 9.034/95, que não se referia a tipos penais determinados, mas sim a crimes
praticados em organização criminosa, todos os demais diplomas legais que tratavam
da colaboração premiada possibilitavam sua aplicação apenas a determinados crimes
(LIMA, 2016, p. 1040-1041)

Nesta legislação, segundo Mossin e Mossin (2016), o legislador premia a delação tanto
com a diminuição de pena quanto com o perdão judicial.
44

Em relação à diminuição de pena, esta benesse encontra amparo no artigo 14 da lei em


estudo, o qual possui a seguinte redação:
Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação
policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes
do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços
(BRASIL, 1999).

Ao interpretar o referido dispositivo, observam Mossin e Mossin (2016) que o


legislador legitima a possibilidade da delação ocorrer tanto na fase investigatória quanto na
fase judicial.
Quanto à voluntariedade, “não se exige que a colaboração seja espontânea, basta que ela
ocorra como um ato de vontade, sob o domínio dela. Ainda que sugerida ou motivada por
terceiro. Isso significa que a colaboração não precisa partir [...] da iniciativa do colaborador.”
(ROBALDO, 2009, p. 867).
Cabe salientar que o quesito da voluntariedade já foi abordado em tópicos anteriores,
sendo que as mesmas peculiaridades já explanadas se aplicam também no bojo desta
legislação, não sendo necessário se estender quanto ao assunto.
Ao prosseguir na interpretação do dispositivo, expõem Mossin e Mossin (2016) que,
como um dos objetivos da delação é a identificação dos demais coautores ou partícipes do
delito, não pode a testemunha exercer papel de delatora, visto não ter nenhuma relação com o
crime tentado ou consumado. Desta forma, a colaboração espontânea precisa ser exercida por
um dos participantes do delito, visto que esta implica em confissão voluntária.
Há discussão doutrinária no que diz respeito à quantidade de pessoas necessária para
enquadrar a coautoria ou participação. Quanto a esta questão, devido ao silêncio do legislador,
para Nucci “é natural que a identificação de qualquer coautor ou partícipe, desde que sejam
apenas dois (o delator e mais um) é suficiente para a aplicação do benefício” (NUCCI, 2007,
p. 1027).
Outro objetivo da delação premiada, nesta legislação, é a localização da vítima com
vida, caso que ocorre em crimes que abrangem patrimônio e pessoas, conforme explica
Mossin e Mossin (2016).
Além deste, a colaboração também possui como escopo a recuperação parcial ou total
do produto do crime, isto é, “dos bens materiais que os criminosos conseguiram com a prática
do evento típico. Não confundir com proveito do crime, que se constitui qualquer bem ou
valor que seja adquirido com recurso provindo da incursão delituosa” (MOSSIN, 2016, p. 98).
45

Quanto ao decréscimo da pena, o legislador estipulou a diminuição de um a dois terços.


Devido o dispositivo não estabelecer parâmetros que determinariam o quanto seria diminuído
da sanção penal, a doutrina, mais precisamente Mossin e Mossin (2016), defende que o
magistrado deve se utilizar da efetividade da colaboração como baliza para enquadrara
redução prevista como benesse ao delator. “Portanto, exsurge de maneira mansa e pacífica
que é em função do resultado produzido pela delação que se instituiu o prêmio a ser
concedido ao „colaborador‟” (MOSSIN, 2016, p. 99).
Ainda sobre este assunto, o magistrado deverá ter sua decisão fundamentada, sob pena
de nulidade, garantindo o devido processo legal baseado no princípio do livre convencimento,
onde “a certeza racional do magistrado deverá encontrar significado em uma situação de
ordem real, material” [...] culminando para que “a quantidade de atenuação da reprimenda
legal deverá ser extraída dos fatos concretos que são inerentes ao dispositivo que contém o
tipo de prêmio a ser conferido ao delator.” (MOSSIN, 2016, p. 100)
Prosseguindo na interpretação do dispositivo em estudo, o legislador utiliza o verbo
“será” no decorrer do texto, traduzindo a obrigatoriedade da redução da pena ao estarem
presentes os requisitos de ordem objetiva ou subjetiva, conforme Mossin e Mossin (2016).
Devido o art. 14 da Lei nº 9807/99 trazer a possibilidade de ocorrência de mais de um
resultado com a colaboração, Mossin e Mossin (2016) defendem não haver a necessidade de
concorrência entre estes resultados para a incidência do prêmio previsto. No entanto, o
Superior Tribunal de Justiça partilha de pensamento diverso deste, firmando entendimento
através do HC 233855/MS ao interpretar o referido dispositivo da seguinte forma:
Para a configuração da delação premiada (arts. 13 e 14 da Lei 9.807/99), é preciso o
preenchimento cumulativo dos requisitos legais exigidos. Precedentes do Supremo
Tribunal Federal. Na espécie, as instâncias ordinárias, fundamentadamente,
consignaram que o depoimento do paciente não contribuiu de forma eficaz e
relevante para o deslinde do caso (STJ, 2013).

Mossin e Mossin expõem que o aludido entendimento do Superior Tribunal de Justiça


destoa da finalidade do dispositivo em questão, devido ao fato de que “a aplicação rígida do
comando normativo em espécie culminará em afastar a aplicação do Instituto e também, como
consequência, um dos seus primados na área criminal que é de política criminal no que tange
à redução da reprimenda legal.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 103)
Quanto à formalidade do ato, a delação, para produzir efeitos legais, deve estar
materializada, reduzida a escrito. Conforme Mossin e Mossin (2016), a delação não possui
validade, na seara probatória, se as declarações não estiverem documentadas, ou seja, se
foram feitas tão somente verbalmente. “No campo probatório, o ato delatório tem força de
46

prova documental, razão pela qual deve o ato estar devidamente comprovado, ou seja,
reduzido a escrito. Trata-se de comprovação da lisura quanto à essência do ato” (MOSSIN,
2016, p. 104).
No que diz respeito ao acordo realizado entre o Ministério Público e o delator, Mossin e
Mossin (2016) relatam que este deve estar baseado no dispositivo da lei, isto é, deve se limitar
a obter informações quanto à localização da vítima com vida e a recuperação parcial ou total
do produto do crime. Desta forma, não cabe ao órgão da persecução criminal fazer outras
exigências ao delator. Também, é válido ressaltar não ser necessária a homologação do
magistrado do acordo de delação.
Por fim, Mossin e Mossin (2016) fazem duas observações: no que tange à confissão,
esta, por si só, não pode conduzir à condenação, devendo, para isto, estar acompanhada de
demais elementos de prova produzidos no correr da investigação processual. Já em relação à
colaboração voluntária, esta é suficiente para culminar na redução da sanção penal, não
havendo a necessidade de ocorrer um resultado positivo atinente àqueles previstos no
dispositivo em estudo.
Além do benefício da redução da reprimenda legal, a Lei nº 9.807/99 traz, no bojo do
art. 13, outro benefício: o perdão judicial, o qual se traduz na abdicação do Estado ao direito
de punir, constituindo causa de extinção da punibilidade:
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo
criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais
co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua
integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do
crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a
personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão
social do fato criminoso (BRASIL, 1999) (sic).

Quanto à abrangência do perdão judicial, em razão de ter o legislador omitido o tipo


penal a que essa vantagem se aplica, Mossin e Mossin (2016) partilham do pensamento de
que “o perdão sob comento pode ser adotado em qualquer figura delitiva, desde que se
revelem concorrentes seus permissivos subjetivos e objetivos arrolados no comando
normativo (art. 13 de 9.807/1999).” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 106)
Na mesma linha de pensamento segue Greco (2009, p. 729):
Pela redação do mencionado art. 13, tudo indica que a lei teve em mira o delito de
extorsão mediante seqüestro, previsto no art. 159 do Código Penal, uma vez que
todos os seus incisos a ele parecem amoldar. Contudo, vozes abalizadas em nossa
doutrina já se levantaram no sentido de afirmar que, na verdade, a lei não limitou a
sua aplicação ao crime de extorsão mediante seqüestro. Podendo o perdão judicial
ser concedido não somente nesta, mas em qualquer outra infração penal, cujos
requisitos elencados pelo art. 13 da Lei 9.807 possam ser preenchidos (sic).
47

Ao analisar o dispositivo que embasa o perdão judicial, nota-se que o legislador utilizou
o verbo “poderá”. Dessa forma, observam Mossin e Mossin (2016) que o legislador se utiliza
de verbos diferentes ao dispor sobre cada benesse, isto é, no que tange à redução da
reprimenda penal, fora utilizado o verbo “terá”, denotando a obrigatoriedade da concessão do
benefício se preenchidos os requisitos legais; já no que diz respeito ao perdão judicial, o
legislador, ao fazer uso do verbo “poderá”, preza pela facultatividade, deixando ao arbítrio do
aplicador da norma conceder ou não o prêmio.
Vale ressaltar que, segundo Mossin e Mossin (2016), o perdão pode ser concedido de
ofício ou por provocação das partes, isto é, do acusado ou do Ministério Público. A não
concessão do perdão judicial não impede a utilização da redução da sanção penal.
No instituto do perdão judicial abordado no art. 13 da lei em comento, tem-se como
requisito para a concessão da benesse que o acusado seja primário, ou seja, exclui-se do
âmbito de incidência do prêmio o reincidente. De acordo com Mossin e Mossin (2016), este é
um critério subjetivo.
Outro critério para a concessão da benesse, agora de ordem objetiva, é que o acusado,
além de ser primário, “tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o
processo criminal” (BRASIL, 1999). Acerca da voluntariedade, já foi bem explanada no bojo
deste trabalho. Quanto à efetividade da colaboração, esta tem um liame direto com o resultado
obtido por meio da delação. Ou seja, “a denúncia feita pelo indiciado ou acusado terá que
produzir um dos resultados concretos apontados nos incisos do dispositivo esquadrinhado”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 109).
Para que o delator obtenha o benefício do perdão judicial, o legislador impôs a
ocorrência de alguns resultados. Isto é, por meio da colaboração do delator, deverá ser
possível ocorrer “a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa, a
localização da vítima com a sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial
do produto do crime” (BRASIL, 1999).
No entanto, muito é discutido na doutrina se tais resultados elencados nos incisos I, II e
III do art. 13 são ou não cumulativos para a concessão do perdão judicial, pois:
A lei não é clara, a respeito da alternatividade ou da cumulatividade dos requisitos
enumerados nos incisos do art. 13. Acolhendo-se a tese da cumulatividade, a lei
perde o seu significado e reduz-se à aplicação ao crime de extorsão mediante
seqüestro. Pois é o único que permite a identificação de comparsa + a localização da
vítima + a recuperação do produto do crime (valor do resgate). Não é lógica essa
posição, uma vez que não teria sentido editar uma lei de proteção a vítimas e
testemunhas voltada, unicamente, ao delito previsto no art. 159 do Código Penal.
Portanto, parece-nos natural concluir pela alternatividade dos requisitos. Para a
obtenção dos benefícios da delação premiada, é preciso que o agente permita a
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identificação dos demais coautores ou partícipes ou favoreça a localização da vítima


com sua integridade física preservada ou proporcione a recuperação total ou parcial
do produto do delito (NUCCI, 2007, p. 1026). (sic)

Partilha do mesmo pensamento Lima (2016), para o qual o condicionamento da


concessão do prêmio legal à cumulatividade da ocorrência dos requisitos previstos no
dispositivo transformaria uma lei genérica, em tese aplicável a qualquer delito, em uma lei
específica que restringiria a concessão do benefício da delação premiada ao crime de extorsão
mediante sequestro. “Portanto, há de prevalecer uma cumulatividade temperada, condicionada
ao tipo penal, ou seja, é necessária a satisfação dos requisitos possíveis no mundo fático,
quaisquer que sejam eles, de acordo com a natureza do delito praticado” (LIMA, 2016, p.
1041-1042).
Mossin e Mossin (2016) observam que o legislador, no art. 14 da Lei nº 9.807/99 faz
uso da conjunção alternativa “ou” para separar os requisitos objetivos que possibilitam a
redução da reprimenda legal, não havendo a necessidade de cumulatividade dos mesmos para
obtenção do benefício. No entanto, o legislador, ao dispor o art. 13 da mesma Lei, não utilizou
nem a alternatividade do “ou” nem a conectividade do “e” para separar os requisitos, pairando
a dúvida sobre haver ou não a necessidade de concorrência dos requisitos para a aplicação do
prêmio. Assim, ante essa omissão legislativa, “deve-se interpretar o texto legal de maneira
mais favorável ao delator, por se cuidar de matéria de conteúdo penal e até mesmo por
questão de política criminal.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 111).
O parágrafo único do artigo em estudo traz que “a concessão do perdão judicial levará
em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão
social do fato criminoso” (BRASIL, 1999). Assim, além dos requisitos já citados
anteriormente, estes elementos também deverão ser ponderados sob o aspecto de resultado da
delação.
Por fim, é válido ressaltar que a Lei em estudo traz, no bojo do seu art. 15 e incisos, a
proteção aos réus que colaboram com a justiça. “O legislador traçou norma precisa contendo
medidas específicas que devem ser empregadas relativamente àquele que colaborou com os
fins buscados pela legislação quando do oferecimento do prêmio que lhe é correspondente”
(MOSSIN, 2016, p. 115).

2.8. Lei nº. 12.850/2013 – Organizações Criminosas


49

A expressão “organizações criminosas” surgiu com a Lei nº 9.034 de 1995, já revogada,


a qual discorria “sobre a utilização de ações por organizações criminosas” (BRASIL, 1995).
Conforme Mossin e Mossin (2016), posteriormente tal expressão foi inserida no bojo de
diversas legislações, podendo citar a Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.618/1998), a qual
foi alterada pela Lei nº 12.683/2012.
No entanto, segundo Mossin e Mossin (2016), apesar de o termo já haver sido citado em
leis anteriores, somente com a Lei nº 12.694, de 2012, que o legislador trouxe o conceito de
organização criminosa, o qual foi substituído por um novo conceito trazido pela Lei nº
12.850, de 02 de agosto de 2013 (revogou tacitamente o conceito da lei anterior), dispondo da
seguinte forma:
Art. 1º § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional (BRASIL,
2013).

Cabe salientar que, de acordo Mossin e Mossin (2016), devido à ausência de conceito
de organização criminosa até a Lei nº 12.694/2012, a expressão “organização criminosa” era
utilizada como “quadrilha ou bando”, segundo estava exposto no art. 288 do Código Penal.
Sobre as alterações conceituais e legislativas advindas por meio da edição da Lei nº
12.850/2013, Nucci (2013) aprova a substituição do termo “quadrilha ou bando”, presente no
art. 288 do Código Penal, por “associação criminosa”, visto aquele estar defasado. No
entanto, critica o fato de não haver uniformidade nas legislações ao estabelecerem a
quantidade de pessoas necessárias para a configuração dos delitos, isto porque, na Lei de
Drogas exige-se o número de duas pessoas; para a associação criminosa, prevista no Código
Penal, tem-se o mínimo de três pessoas; e para configurar organização criminosa, impõe-se a
necessidade de haver pelo menos quatro pessoas. “Em suma, por política criminal, a
organização criminosa, no Brasil, somente pode validar-se como tal com um número mínimo
de quatro integrantes.” (NUCCI, 2013, p. 15).
Após essa breve introdução, faz-se necessário realizar uma análise do conceito de
organização criminosa.
Para Mossin e Mossin, o legislador, ao empregar o termo „organização‟, “quer se referir,
exclusivamente, à reunião de delinquentes, desde que presentes algumas regras previamente
estabelecidas” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 129). E ao qualificá-lo com o adjetivo
„criminosa‟ demonstra que sua finalidade é praticar crimes. Desta forma, subentende-se que
50

organização, neste contexto, não é tida como constituição ou instituição de algo, mas união,
reunião de delinquentes. Compartilha do mesmo pensamento Baltazar Júnior (2014, p. 1268):
A própria ideia de organização traduz a presença de uma coletividade de agentes, de
modo que não se concebe uma organização criminosa unipessoal. A ideia de
organização pressupõe uma coletividade ou a reunião de esforços de agentes
distintos, de modo que, do ponto de vista da estrutura do tipo penal, cuida-se de um
tipo de concurso necessário.

Dessa forma, independentemente de ser atribuído o título de organização criminosa ou


associação criminosa, quanto a sua finalidade trata-se do mesmo fenômeno negativo, isto é, o
“objeto desta incriminação é a necessidade de impedir que se formem sociedades criminosas,
encaminhadas a cometer crimes, com perigo permanente da ordem pública” (MAGGIORI,
1955 p. 448).
No que diz respeito à quantidade de pessoas que devem associar-se para configurar a
organização criminosa, o legislador estipulou um mínimo de quatro pessoas, não limitando o
seu máximo. “Nota-se que no comando normativo em espécie, o legislador não faz nenhuma
distinção, porquanto somente faz alusão à „pessoa‟ sem se referir se ela é capaz ou incapaz;
imputável ou inimputável.” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 130). Diante disso, já que a norma
não se pronunciou quanto a essa questão, não cabe ao intérprete fazê-lo.
Esse número mínimo pode ser constituído, inclusive, por menores de 18 anos, que,
embora não tenham capacidade para responder pelo delito, são partes fundamentais
para a configuração do grupo. Naturalmente, não se está falando de crianças ou
adolescentes simplesmente utilizando como instrumentos para a prática de delitos
diversos, mas, sim, de jovens com perfeita integração aos maiores de 18 anos,
tomando parte da divisão de tarefas e no escalonamento interno. Há casos concretos
de menores de 18 anos que são os líderes da quadrilha, enquanto os maiores não
passam de subordinado (NUCCI, 2013, p. 21)

Ainda sobre o assunto, o próprio art. 2º da Lei em estudo, em seu parágrafo 4º, traz que:
“a pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): I – se há a participação de criança
ou adolescente” (BRASIL, 2013). Ou seja, corrobora no sentido de que criança ou
adolescente pode sim compor o número de pessoas que integram a organização criminosa.
Continuando a análise do conceito de organização criminosa, tem-se que a associação
de quatro ou mais pessoas deverá ser “estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão
de tarefas, ainda que informalmente” (BRASIL, 2013). Assim, para a configuração daquela,
“deve haver permanência e estabilidade do grupo e graus hierárquicos, de nível superior e
inferior, permitindo, inclusive, que haja ascensão entre os integrantes do grupo; além do que é
indispensável que haja um comando” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 131).
Quanto à divisão de tarefas, entende-se que todos os integrantes da organização
criminosa possuem tarefas distintas, mesmo que estas não se encontrem instituídas em
51

documentos ou registros, e todas elas convergem para os fins ilícitos almejados, conforme
expõe Mossin e Mossin (2016).
Ao analisar a parte final do dispositivo em estudo, tem-se que o objetivo da organização
criminosa deve ser obter vantagem, indireta ou diretamente, de qualquer natureza ou de
caráter transnacional. Assim, segundo Mossin e Mossin (2016), não há a necessidade de
concorrência dos dois comportamentos, bastando somente um para a configuração do delito.
Quanto a esta vantagem, devido estar apontada de forma bem ampla no bojo do artigo,
entende-se que esta deve ser contrária à lei, uma vantagem adquirida por meio de expediente
criminoso. É o que se apreende do próprio artigo, ao citar o objetivo de obter a vantagem de
qualquer natureza mediante a prática de infrações penais (BRASIL, 2013).
Esses grupos organizados apresentam uma característica bastante comum, visando o
desenvolvimento de práticas injurídicas, aliadas à clandestinidade, que é a hierarquia
do ponto de vista da organização, divisão de trabalho bem definida, tendo sempre
por escopo o objetivo de lucro, de vantagem, provinda da prática delitiva (MOSSIN
e MOSSIN, 2016, p. 136)

Para finalizar a análise do art. 1º, §1º, o legislador é bem claro ao expor que, como
característica indispensável para configurar a organização criminosa, ela deve ser instituída
com o objetivo de praticar mais de uma infração. Ou seja, de acordo com Mossin e Mossin
(2016), o delito em questão fica desqualificado se a associação for instituída para a prática de
apenas uma infração. Também, como requisito essencial, tem-se que tais fatos puníveis
devem possuir uma pena máxima abstrata superior a quatro anos, não havendo limite quanto
ao mínimo cominado.
Quanto ao caráter transnacional, “o evento proibido é praticado no Brasil e se projeta
para o exterior. O contrário também é verdadeiro: o fato delituoso é levado a efeito no exterior
e atinge o território pátrio” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 134). Ou seja, “o crime
transnacional contempla um grupo de pessoas que praticam ilícitos na busca, principalmente
de ganhos financeiros, atuando, inclusive em vários países [...].” (MOSSIN e MOSSIN, 2016,
p. 136). Desse modo, tais crimes englobam tráfico ilícito de drogas, lavagem de dinheiro,
tráfico ilícito de pessoas, contrabando de migrantes, entre outros.
Em razão do aumento da criminalidade transnacional, e buscando criar meios para lutar
contra essa espécie delitiva, realizou-se a Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional, onde “cerca de 125 países dela participaram numa união no
combate dessa modalidade delitiva, para tanto criando normas jurídicas específicas para essa
finalidade” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 137).
52

Após a análise do conceito de organização criminosa, contido no art. 1º, §1º da lei em
estudo, é de grande importância explanar, de forma breve, sobre o tipo penal da organização
criminosa, disposto no art. 2º: “Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou
por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas”
(BRASIL, 2013).
Cabe fazer algumas considerações sobre o artigo em análise. Quanto ao dispositivo
trazer várias condutas em seu bojo, e ao conter a conjunção alternativa “ou”, tem-se aí
demonstrado que, para a caracterização do delito, basta que seja praticada uma conduta
apenas daquelas descritas no artigo. Ou seja, conforme expõem Mossin e Mossin (2016), se
ocorrer mais de uma das condutas positivas descritas no artigo, o agente responderá apenas
por uma delas. “O agente somente será punido por uma das modalidades nos chamados
crimes de ação múltipla (vários núcleos de tipo), embora pratique duas ou mais condutas
proibidas no mesmo tipo penal.” (MOSSIN e MOSSIN, 2013, p. 218).
Por fim, “havendo a prática de eventos típicos pela societas delinquentum, o delito de
organização criminosa e os outros decorrentes de sua atividade deverão ser punidos a título de
concurso material de crimes, conforme regra que se encontra [...] no art. 69 do Código Penal.”
(MOSSIN, 2016, p. 154).
Quanto à delação premiada, esta se encontra na lei em análise sob o título de
“colaboração premiada”, disposta no art. 4º, segundo o qual:
Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de
direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação
e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos
seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da
estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a
prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a
sua integridade física preservada. (BRASIL, 2013).

Segundo Mossin e Mossin (2016), apesar de o legislador ter utilizado o termo


“colaboração”, e não “delação”, ambos têm a mesma finalidade: beneficiar aquele que
apontou os demais partícipes ou coautores no empreendimento delituoso.
Assim, como foi feito no decorrer deste trabalho, cabe estudar o dispositivo de regência
na ordem de sua constituição.
Como já exposto em tópicos anteriores, o legislador, ao fazer uso do verbo “poderá”,
deixa implícito uma faculdade, fica ao arbítrio do aplicador da norma a concessão ou não do
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benefício, ainda que preenchidos os requisitos legais. Desta forma, de acordo com Mossin e
Mossin (2016), não se trata de direito subjetivo do colaborador.
Mossin e Mossin (2016) ressaltam que no dispositivo em comento o legislador inovou
em uma peculiaridade, qual seja, “submeteu a concessão do perdão judicial, à „requerimento
das partes‟, assim entendido do próprio acusado, por intermédio do seu representante legal, ou
por si próprio, [...] ou do Ministério Público [...]” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 156). Dessa
forma, se requerer quer dizer postular, tem-se que o juiz pode indeferir o pedido,
corroborando a faculdade a que se faz menção. Também vale ressaltar que o magistrado pode
agir de ofício, isto é, conceder o benefício sem a provocação das partes, devido ao fato de ele
possuir “plena liberdade de aplicação da norma penal, e, [...] quer se trate de perdão judicial,
quer se cuide da diminuição da reprimenda legal, é matéria de direito penal que pode ser
adotada livremente ao prolator da decisão judicial” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 156).
É oportuno considerar que apenas em seara processual é que o magistrado necessita ser
provocado, para instauração da relação jurídico-processual, através da ação penal, conforme
Mossin e Mossin (2016).
Quanto ao perdão judicial, tal prêmio é extremamente benéfico ao colaborador, visto
que:
O reconhecimento do perdão judicial pressupõe que o juiz condene o acusado. Ora,
se ele for absolvido não se cogita desse tipo de perdão. Não se perdoa quem é
inocente. Diante disso, sempre houve discussão sobre o efeito secundário da
prestação jurisdicional condenatória, cujo término se deu por meio da Súmula 18 do
Superior Tribunal de Justiça, verbis: “A sentença concessiva do perdão judicial é
declaratória da extinção de punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório.” Indo além, insta ressaltar ainda que, por expressa disposição
normativa, “a sentença que conceder perdão judicial não será considerada para
efeitos de reincidência.” Enfim, declarado o perdão judicial, não resta no campo
penal nenhuma conseqüência primária ou secundária que é própria da sentença
condenatória, não servindo, inclusive, como título executório no juízo cível para
efeito de reparação do dano. Entretanto, essa decisão não faz coisa julgada no campo
civil, o que autoriza o ofendido a entrar com ação objetivando a reparação do dano
moral ou material (MOSSIN e MOSSIN, 2013, p. 520). (sic)

Além do perdão judicial, o dispositivo faz menção à redução da sanção penal privativa
de liberdade no patamar de até 2/3 (dois terços). De acordo Mossin e Mossin (2016), o fato de
o legislador utilizar a expressão “até” importa na quantidade máxima que pode ser concedida,
podendo inclusive ser outorgado ao delator um quantum menor, como apenas 1/3 (um terço)
de redução.
No que diz respeito aos critérios utilizados para balizar a quantidade de decréscimo,
como já foi analisado em tópicos anteriores, ante a omissão legislativa dos quesitos que
servirão de base para o juiz definir a quantidade de redução a incidir no caso concreto, “o
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melhor critério que deve ser levado em consideração pelo órgão aplicador da norma é o nível
de colaboração emprestado pelo delator, a efetividade de sua ajuda, mesmo porque é [...] ela
que se constitui o suporte, a causa determinante da premiação legislativa” (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 158).
Ainda em relação à quantidade de redução da pena, o dispositivo em análise possui a
previsão da possibilidade de ocorrer mais de um resultado por meio da colaboração.
Ocorrendo isto, Mossin e Mossin (2016) defendem que, quanto mais resultados forem obtidos
por meio da cooperação, maior será o número de redução da pena, ou seja, a quantidade de
resultado será utilizada como parâmetro para auferir a efetividade da delação.
Aliado a este critério, como já foi muito explanado no bojo deste trabalho, está a
necessidade de a decisão ser fundamentada, sob pena de nulidade, corroborada pela garantia
fundamental do devido processo legal, levando em consideração o princípio do livre
convencimento. Também é necessário relembrar que as circunstâncias judiciais previstas no
art. 59 do Código Penal não incidem nessa fase.
Outra inovação que chegou com a Lei nº 12.850, de 2013, foi a possibilidade de
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.
Dessa forma, observa-se que a lei em análise dispõe de três formas de benesse: o perdão
judicial, a redução da reprimenda legal e a pena restritiva de direitos. No entanto, para que o
colaborador faça jus a estes prêmios, é fundamental que ele “tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e com o processo criminal” (BRASIL, 2013).
No que diz respeito à efetividade da colaboração,
[...] levando-se em consideração os elementos de fato contidos nos autos, o aplicador
da norma de regência deverá concluir se a delação em questão foi eficaz ou não,
concernentemente aos interesses da justiça e da própria atribuição da recompensa
legal prometida pelo legislador. De forma indubitável, não seria conforme o direito e
nem consoante o próprio interesse público, que fosse outorgado ao “colaborador” a
vantagem normativamente prevista sem que dela resultasse qualquer conveniência
em nível de persecutio criminis e da própria administração da justiça (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 162).

Assim, segundo Mossin e Mossin (2016), a colaboração deverá contribuir para que se
colham informações com maior amplitude e precisão dos fatos delituosos. Como um dos
objetivos é a identificação dos demais partícipes e coautores, se com a cooperação não obtiver
resultado positivo, não há como conferir o prêmio ao acusado ou indiciado. De forma
semelhante, a delação premiada terá eficácia somente quando por seu intermédio conseguir
recuperar parcial ou totalmente o produto do crime. Por fim, “a validez da delação se
subordina à confissão do delator” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 163). Desse modo, o delator
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deverá assumir sua responsabilidade pelo fato criminoso, resultando ineficaz a delação se o
mesmo não confessar seu envolvimento no delito.
Quanto ao teor da colaboração, os fatos relatados pelo colaborador, estes não devem ser
conhecidos pelas autoridades responsáveis pela persecução penal, restando afastada a
concessão do benefício se o delator apenas confirmar dados que já eram conhecidos pelos
órgãos, como defende Mossin e Mossin (2016). Da mesma forma ocorre se os fatos narrados
pelo colaborador não forem eficazes para culminar em um ou mais dos resultados previstos
pelo legislador na norma de regência.
Acerca da necessidade de concorrência ou não dos resultados, o legislador foi bem claro
ao utilizar a seguinte expressão: “desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos
seguintes resultados” (BRASIL, 2013). Dessa forma, não restam dúvidas, “é dispensada sua
cumulatividade, o que se revela justo e racional” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 165).
Por meio da delação, busca-se “a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas” (BRASIL, 2013). “O
legislador foi bastante rigoroso ao pressupor que o prêmio somente poderá ser ofertado, se
com a delação foram apontados todos os integrantes da organização” (MOSSIN e MOSSIN,
2016, p. 165). Assim, a benesse somente será concedida se, com a colaboração, forem
mencionados todos os integrantes da organização criminosa e apontadas todas as infrações
penais praticadas pela mesma. Dessa forma, faltando algum desses quesitos, não há razão para
a concessão da vantagem legal, na visão de Mossin e Mossin (2016).
Criticando esse rigor legal, Nucci (2013, p. 52) expõe o seguinte:
Se, por ventura, o colaborador entregar os outros cúmplices, mas não for capaz de
apontar todos os delitos cometidos pela organização criminosa não poderá, segundo
o estrito teor legal, beneficiar-se do instituto. Segundo nos parece, há de se conceder
valor à delação de um membro da organização, identificando os demais e crimes
suficientes a envolver todos os apontados, independentemente de esgotar as práticas
delitivas; afinal, uma organização de amplo alcance comete inúmeras infrações que
nem mesmo todos os seus integrantes conhecem.

No que diz respeito aos demais resultados previstos no artigo em estudo, todos são bem
autoexplicativos, não se fazendo necessário tecer grandes explanações.
Assim, com a colaboração premiada também se busca a revelação da estrutura
hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa, a prevenção de infrações penais
decorrentes das atividades a organização criminosa, a recuperação total ou parcial do produto
ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa, e a localização de
eventual vítima com a sua integridade física preservada (BRASIL, 2013).
56

O §2º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013 traz uma situação peculiar. Se o acordo que
envolve a colaboração premiada e consiste no perdão judicial não tiver ocorrido na proposta
inicial, aquele pode ser provocado em âmbito jurisdicional, desde que haja relevância da
colaboração prestada. Ou seja, conforme Mossin e Mossin (2016, p. 171), “extrai-se que o
favor legal poderá ser provocado desde que a cooperação do delator seja valiosa para a
obtenção de algum dos resultados alinhados nos incisos I até o V, do art. 4º, caput, dessa
Lei.”. Desse modo, aquele que provocar a atividade jurisdicional deverá evidenciar a
existência de subsídios sólidos capazes de comprovar que por meio da colaboração se obterá
resultado positivo para as investigações.
Diante da grande importância da colaboração prestada, a qual necessitará ser
documentada, conforme está descrito na Lei, a representação ou requerimento da benesse
poderão ser apresentados ao magistrado competente a qualquer tempo (BRASIL, 2013).
Quanto ao juiz, que é livre para decidir, poderá ou não conceder o perdão judicial. Assim, “o
magistrado deverá examinar o mérito da causa e se há elementos que autorizam declarar
extinta a punibilidade do delator. Se assim não fosse, o legislador não utilizaria o vocábulo
„requerer‟ ou „representar‟, bastaria [...] fazer alusão à expressão „homologar‟” (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 172).
Outra inovação que a Lei em análise trouxe está exposta no parágrafo quarto do artigo
4º, onde o legislador faculta ao Ministério Público “deixar de oferecer a denúncia se o
colaborador não for o líder da organização; for o primeiro a prestar efetiva colaboração”
(BRASIL, 2013). Nas palavras de Mossin e Mossin (2016, p. 179), “foi conferido ao
Ministério Público a faculdade de premiar o delator, deixando de acusá-lo formalmente em
juízo.”
Na mesma linha de pensamento, é válido trazer a crítica que Delmanto (2014, p. 90) traz
a esta novidade legislativa:
Antes dessa lei, a delação premiada dependia, sempre, da palavra final do juiz ao
sentenciar o processo. Agora, se houver a delação premiada na fase de investigações,
o próprio Promotor de Justiça ou o Procurador da República poderá deixar de
oferecer denúncia ao delator. O juiz não tem mais a última palavra.

Desta forma, conforme Mossin e Mossin (2016), ocorrendo colaboração voluntária e


efetiva, e por meio desta advindo um ou mais dos resultados elencados nos incisos do art. 4º,
o Ministério Público poderá deixar de oferecer a denúncia ao delator.
Tal parágrafo tem sido deveras criticado pela doutrina, e para Mossin e Mossin (2016)
por meio dele entende-se que há uma super valoração e proteção ao colaborador envolvido
com organização criminosa, visto haver a probabilidade da concessão de diminuição da
57

sanção penal, do perdão judicial caso haja condenação, e agora a possibilidade de não
oferecimento da denúncia, não sendo objeto de ação penal o delator.
No entanto, devido expressa vedação legal, não podem ser beneficiados com o prêmio
do não oferecimento da denúncia o líder da organização criminosa nem os demais membros
quando um primeiro já prestou efetiva colaboração.
Ainda no que diz respeito à possibilidade do Ministério Público “renunciar” o poder-
dever de oferecimento da denúncia, “desde que cumpridos rigorosamente o que determina o
legislador, não há como se extrair do texto legal que em outro tempo aquele que foi
beneficiado pela delação, pode ser objeto de persecução judicial pelo mesmo fato” (MOSSIN
e MOSSIN, 2016, p. 182). Ou seja, tal situação é permanente, definitiva, mesmo que não
esteja corroborada por homologação judicial.
A Lei nº 12.850, de 2013, inova ao trazer uma vedação explícita ao magistrado: a não
participação deste nas “negociações entre as partes para a formalização do acordo de
colaboração” (BRASIL, 2013). Assim, conforme o parágrafo sexto da Lei, o acordo
acontecerá “entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou
acusado e seu defensor” (BRASIL, 2013).
O conteúdo desse acerto deve gravitar em torno dos resultados a que se referem os
incisos I até o V do art. 4º da lei sob análise, posto que somente diante da ocorrência
de uma daquelas situações previamente estabelecidas, é que o delator poderá ser
premiado com o perdão judicial ou a redução da reprimenda legal no importe
previamente determinado (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 185).

O parágrafo sétimo dispõe que, realizado o acordo conforme as formalidades previstas


no art. 6º da Lei sob análise, este deverá ser reduzido a escrito, documentado e assinado pelo
delator e pelo seu defensor, entre outras, “o respectivo termo, acompanhado das declarações
do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação [...]”
(BRASIL, 2013).
Visando resguardar a defesa do delator é indispensável a presença do seu defensor em
todo o processo de negociação, confirmação e execução da colaboração. O defensor deverá ter
acesso irrestrito às provas e aos elementos de informação constituídos contra seu cliente e
arrolados aos autos, “de modo a permitir um juízo mais seguro quanto aos riscos do processo
e, consequentemente, vantagens de se aceitar um acordo de colaboração premiada”. (LIMA,
2016, p. 1060)
Sobre esse acordo, necessário se faz algumas observações, e neste sentido bem expõe
Lima:
58

Por mais que a existência desse acordo não seja condição sine qua non para a
concessão dos prêmios legais decorrentes da colaboração premiada, sua celebração é
de fundamental importância para a própria eficácia do instituto. Afinal, a lavratura
desse pacto entre acusação e defesa confere mais segurança e garantias ao acusado,
que não ficará apenas com uma expectativa de direito, que, ausente o acordo,
poderia ou não ser reconhecida pelo magistrado. Ainda que esse acordo de
colaboração premiada não tenha sido formalizado durante o curso da fase
investigatória, é perfeitamente possível que o Ministério Público, por ocasião do
oferecimento da peça acusatória, formule proposta de colaboração premiada a um
dos denunciados, com requerimento de sua oitiva (e da defesa técnica), com
subsequente apreciação pelo juiz (LIMA, 2016, p. 1059-1060).

Acerca do termo de acordo da delação premiada, conforme o art. 6º, este deverá ser
escrito e conter: a) o relato da colaboração e seus possíveis resultados; b) as condições da
proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; c) a declaração de aceitação do
colaborador e de seu defensor; d) as assinaturas do representante do Ministério Público ou do
Delegado de Polícia, do colaborador e de seu defensor; e) a especificação das medidas de
proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário.
Assim, de acordo com Mossin e Mossin (2016), este termo em que constam os fatos que
consistem na delação premiada será analisado pelo magistrado, o qual verificará sua
legalidade e regularidade e, constatando-se que não há vícios, deverá ser homologado, “para
produzir exclusivamente efeito de ordem formal e jamais de mérito [...]. Trata-se de mero
reconhecimento da legitimidade do acordo celebrado” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 190).
Ainda sobre homologação, o parágrafo seguinte, o oitavo, informa a possibilidade de o
juiz não homologar a proposta que não atenda aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso
concreto. (BRASIL, 2013). Conforme Mossin e Mossin (2016), esta proposta a que faz
referência o dispositivo não é o mesmo termo citado no parágrafo anterior, mas aquela integra
este. Isto é, a proposta contém os ajustes de delação e premiação (redução da reprimenda legal
em até dois terços ou perdão judicial – não pode ser ofertada nenhuma outra condição) entre o
Ministério Público ou o Delegado de Polícia e o acusado ou indiciado. “Caso a predita
proposta não se atenha aos limites legais, o legislador permite que o juiz competente faça, no
caso concreto, sua adequação, ou seja, a ajuste aos mandamentos legais de regência”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 196). Tal como no parágrafo anterior, a homologação da
proposta consiste tão somente em confirmar a sua regularidade e legalidade no que tange aos
seus requisitos legais.
Vale ressaltar que a homologação do termo e da proposta trata-se apenas de ato
meramente formal que consiste na confirmação da regularidade e legalidade do ato. Mossin e
Mossin (2016) fazem questão de deixar bem claro que em nenhum dos casos há a decisão
antecipada de mérito.
59

O parágrafo nono dispõe que, mesmo “depois de homologado o acordo, o colaborador


poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério
Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações” (BRASIL, 2013).
Buscando a verdade real, e diante do surgimento de novos fatos e elementos que possam ser
colhidos através da delação obtida e no decorrer da instrução criminal, o legislador não
colocou nenhum óbice quanto à possibilidade de se ouvir novamente o colaborador.
Isso se justifica plenamente, porque por intermédio de novos dados de prova que
possam ser fornecidos pelo “colaborador”, a autoridade investigante poderá
constatar outros elementos quer em termos da materialidade delitiva, quer em se
cuidando de demais pessoas envolvidas em práticas criminais. De maneira ampla,
tanto mais dados existirem em torno do acontecimento típico, mas segura e robusta
será a acusação feita diante do juízo criminal, mesmo porque é exatamente com
lastro nos elementos captados na informação do delito, é que se terá uma melhor e
justa causa para a ação penal, o que servirá, indubitavelmente, para o magistrado
conduzir a prova judicial e formar com base sua persuasão racional (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 197).

O artigo estudado ainda traz mais alguns parágrafos, os quais serão objeto de análise em
capítulo apropriado visto se tratarem de reflexos que a delação trará no bojo do processo
penal. Desse modo, finalizam-se aqui as explanações sobre as peculiaridades e similitudes da
delação premiada abordadas em cada legislação.
60

3. REFLEXOS DA DELAÇÃO PREMIADA NO PROCESSO PENAL

3.1. Delação Premiada Posterior à Sentença

Com o surgimento da Lei nº 12.850, de 2013, a delação premiada foi disciplinada em


vários aspectos que até então nenhum outro regramento legal havia previsto.
Visando beneficiar o delator, o legislador traz mais uma vantagem que reflete
diretamente no andamento do processo penal. Sabe-se que a delação premiada pode ocorrer
em sede de procedimento criminal e de inquérito policial, ambos anteriores à sentença de
mérito. Agora, por meio do parágrafo 5º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013, esse campo de
incidência foi estendido, permitindo que a delação seja aplicada posteriormente à sentença.
O referido parágrafo traz a seguinte redação: “§5º Se a colaboração for posterior à
sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime
ainda que ausentes os requisitos objetivos” (BRASIL, 2013).
Mossin e Mossin ressaltam que o dispositivo não especifica se tal colaboração deve
ocorrer antes ou depois do trânsito em julgado. No entanto, entende-se que “se, na ordem da
construção normativa, há a previsão de concessão do prêmio consistente na redução da pena
em „até metade‟, presume-se que a sentença ainda não foi objeto da coisa julgada formal”,
podendo ou não ser passível de recurso. (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 183).
Outra vantagem que o legislador prevê ao delator é a progressão de regime, mesmo que
não estejam presentes os requisitos objetivos. Assim, como a progressão de regime prisional
só ocorre em sede de execução da pena privativa de liberdade, para Mossin e Mossin fica
subentendida a possibilidade da delação se realizar após a sentença judicial ser transitada em
julgado formal. Dessa forma, “independentemente do tempo em que o delator estiver
cumprindo pena e também dispensado a inspeção em torno do mérito, ele automaticamente
passará de um regime gravoso para um mais ameno” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 183).
Desta forma, conforme exposto, a delação premiada pode ocorrer: em sede de inquérito
policial, no bojo de processo penal em andamento e após a sentença, mesmo depois de
transitada em julgado.

3.2. Confissão e delação premiada no sistema trifásico


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A relação da confissão e delação premiada é um tema que causa grandes debates no


meio doutrinário devido ao liame que há entre os dois institutos e, neste trabalho, baseado em
grande parte na doutrina de Mossin e Mossin (2016), um está intimamente ligado ao outro.
De acordo com Lima (2016), não se pode confundir confissão com delação premiada.
Na delação premiada, ao colaborador só serão concedidos os prêmios legais quando forem
cumpridos os requisitos presentes na norma de regência, ou seja, admitir sua participação na
prática delitiva, auxiliar os órgãos da persecução penal com informações válidas e eficazes
para a descoberta de fatos novos, informações estas as quais aqueles não tinham
conhecimento, resultando na identificação de demais agentes, localização de produtos do
crime, entre outros a depender da situação. Já na confissão, o acusado apenas admite fatos
previamente conhecidos, corroborando as provas preexistentes, não apontando demais
comparsas na incursão criminosa, tendo direito tão somente a circunstância atenuante prevista
no Código Penal.
Acerca do exposto, pronunciou-se o STJ no HC 90.962/SP:
Apesar de o acusado haver confessado sua participação no crime, contando em
detalhes toda a atividade criminosa, incriminando seus comparsas, não há nenhuma
informação nos autos que ateste o uso de tais informações para fundamentar a
condenação dos outros envolvidos, pois a materialidade, as autorias e o
desmantelamento do grupo criminoso se deram, principalmente, pelas interceptações
telefônicas legalmente autorizadas e pelos depoimentos das testemunhas e dos
policiais federais (STJ, 2011).

O legislador, no art. 65, III, alínea d, do Código Penal, dispõe que: “Art. 65 – São
circunstâncias que sempre atenuam a pena: III – ter o agente: d) confessado espontaneamente,
perante a autoridade, a autoria do crime;” (BRASIL, 1940). Desta forma, ante o que está
expresso no dispositivo, caso o agente confesse de forma espontânea a autoria de crime, fará
jus, se houver condenação, à diminuição da sanção penal. É circunstância atenuante,
conforme Mossin e Mossin (2016).
Para que o delator faça jus aos prêmios provenientes da delação, desde a diminuição da
pena até o perdão judicial, deverá admitir e reconhecer de modo espontâneo, sem coação ou
vícios, sua responsabilidade criminal. “Assim é que o colaborador [...] somente poderá ter
acesso à benesse legal se ele admitir que teve envolvimento com a prática delitiva, quer a
título de coautoria ou de participação” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 221).
Ou seja, o delator, ao cumprir determinados requisitos legais, também tem direito às
vantagens previstas pelo legislador. De acordo com Mossin e Mossin (2016), a delação
premiada, conforme sua natureza jurídica, é causa especial de diminuição da pena, não se
confundindo com circunstância atenuante. “Isso implica afirmar que a precitada causa espécie
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e circunstância em que podem ser aplicadas concomitantemente. A incidência de uma não


exclui a adoção da outra. Não há, portanto multiplicidade de outorga de benefício legal”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 222). Neste sentido é o entendimento do STJ no julgamento
do HC 84.609/SP e do REsp 1.002.913/PR.
HABEAS CORPUS . APLICAÇAO DA CAUSA DE DIMINUIÇAO DE PENA
PREVISTA NO ART. 14 DA LEI N.º 9.807/99. APELAÇAO. JULGAMENTO
QUE NEGOU A INCIDÊNCIA DO BENEFÍCIO. FUNDAMENTAÇAO
INIDÔNEA. IMPOSSIBILIDADE DE AVERIGUAÇAO DA INCIDÊNCIA DA
MINORANTE NA VIA ESTREITA DO WRIT. 1. Ao contrário do que afirma o
acórdão ora vergastado, não há impossibilidade de aplicação simultânea da
atenuante da confissão, na 2.ª fase de individualização da pena, com a da delação
premiada, na 3.ª etapa, por se revestir, no caso do art. 14 da Lei 9.807/99, de causa
de diminuição de pena. 2. Também ao contrário do que afirma o acórdão ora
objurgado, preenchidos os requisitos da delação premiada, previstos no art. 14 da
Lei n.º 9.807/99, sua incidência é obrigatória (STJ, 2010).

Dessa forma, como bem expõe Mossin e Mossin (2016), em razão de o critério trifásico
reger a aplicação da pena, tem-se que a confissão espontânea se enquadra na segunda fase,
como circunstância atenuante, onde o juiz, ao individualizar a pena, aumenta ou diminui esta
– fica a critério do mesmo o quantum será o aumento ou redução, não havendo previsão do
legislador. Já a delação premiada, como causa de diminuição da pena, se encaixa na terceira
fase do sistema trifásico, e “são fatores determinantes de acréscimo ou redução da pena:
dobro, metade, 1/3, 2/3 [...]” (MOSSIN e MOSSIN, 2014, 223). Assim, o sistema trifásico
corrobora o fato de que os benefícios da confissão e da delação premiada podem ser aplicados
concomitantemente.

3.3. Possibilidade de Retratação da Proposta

A Lei nº 12.850 de 2013 traz em seu artigo 4º, §10 a possibilidade das partes retratarem-
se da proposta, dispondo da seguinte forma: Ҥ10. As partes podem retratar-se da proposta,
caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser
utilizadas exclusivamente em seu desfavor” (BRASIL, 2013).
Conforme Mossin e Mossin (2016), a retratação mencionada neste parágrafo refere-se
tanto à proposta quanto ao “termo” citado no §7º do mesmo artigo, mas não abrange a
homologação do acordo celebrado com a autoridade policial, já que o legislador, ao utilizar a
expressão “as partes”, a exclui. Desse modo, “a retratação em questão somente diz respeito ao
órgão do Ministério Público e do colaborador, na qualidade de „partes‟” (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 199).
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Delmanto (2014, p. 1.035) faz uma crítica a este parágrafo ao sustentar que, ao mesmo
tempo em que “esse dispositivo permite que o delator se retrate, ele [...] abre a possibilidade
de o Ministério Público igualmente se retratar do acordo já homologado, gerando insegurança
jurídica para o delator.”
Mossin e Mossin (2016) defendem o legislador ter agido de forma acertada ao permitir a
retratação, visto a delação ser ato voluntário e o dispositivo não trazer nenhuma consequência
imediata à conduta, não havendo óbice ao arrependimento quanto à realização do acordo.
Como já foi estudado no capítulo anterior, a homologação da proposta e do termo da
delação premiada é tão somente para cumprir um protocolo de regularidade e legalidade do
ato. Desta forma, de acordo com Mossin e Mossin (2016), ante a precariedade do ato este
pode se tornar sem efeito pela vontade da própria parte que o desempenhou, principalmente
quando esta entender não ser mais conveniente aquele, tendo em vista as suas possíveis
consequências.
A faculdade conferida pelo legislador (“poderá”) não deixa de ser um direito
subjetivo conferido às partes. Assim fica a critério dela manter ou não o “termo” ou
a “proposta”, sem que haja necessidade de aval do magistrado, bem como da
consulta ao sujeito contrário. Trata-se, por conseguinte, de ato unilateral da parte
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 199).

No que diz respeito especificamente ao colaborador, corroborando no sentido de ser


legítima a possibilidade de retratação, tem-se que por meio da delação há o apontamento dos
seus comparsas e a sua própria confissão de envolvimento no delito, a qual é passível de
retratação de acordo com o art. 200 do Código de Processo Penal. “Logo, o confitente pode
voltar atrás, pode desdizer quanto à sua admissão da responsabilidade penal” (MOSSIN e
MOSSIN, 2016, p. 200)
Além de o legislador permitir a retratação, ele também traz uma consequência para esta:
“as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas
exclusivamente em seu desfavor” (BRASIL, 2013).
Um dos requisitos para validade da delação premiada previsto no art. 4º, I, é “a
identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa” (BRASIL, 2013).
Dessa forma, ao constar no texto normativo a expressão “demais coautores e partícipes”, o
legislador deixa implícito o envolvimento do colaborador na prática delitiva. Assim, Mossin e
Mossin (2016) defendem que, ao entregar os seus comparsas por meio da delação, o delator
autoincrimina-se, admitindo a sua responsabilidade criminal.
A confissão proveniente da delação premiada é elemento de prova que pode ser usado
contra o delator quando estiver apoiada e compatível com outros meios de prova juntados aos
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autos. “O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de
prova, e, para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo,
verificando se entre elas e estas existem compatibilidade ou concordância”, conforme o art.
197 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941). Assim, de acordo com Mossin e Mossin
(2016), havendo conflito entre a delação e das demais provas contidas nos autos, o
magistrado, a rigor, não poderá condenar o confitente.
“Diante dos dizeres normativos do dispositivo sob exame, as provas produzidas pelo
delator não poderão ser usadas exclusivamente em desfavor dele próprio, mas também em
detrimento daqueles outros sujeitos que foram objeto da delação”. Dessa forma, os dados e
elementos obtidos por meio da delação objeto de retratabilidade não perderão sua eficácia no
que diz respeito aos demais partícipes ou coautores (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 200).
Mas, de acordo com o princípio da persuasão racional ou do livre convencimento, o
magistrado “formará sua convicção pela livre apreciação da prova [...]. Isso implica afirmar
que o aplicador do direito ao decidir não pode se cingir unicamente nos termos da confissão
retratada, mas na „prova‟ como um todo, posto que deve ter ela sentido geral e abrangente”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 201). Dessa maneira, para que os elementos probatórios
obtidos através de delação que foi retratada possam ser juntados para ser aclamada a
procedência da pretensão punitiva, devem eles estar em harmonia com as demais provas
acolhidas nos autos.

3.4. Retratação da confissão e delação premiada

Foi abordada em tópico anterior a possibilidade de retratação da proposta e do termo da


delação premiada. Agora, será explanada sobre a retratação da confissão na delação e as
consequências que esta trará para o processo penal.
Ficou evidenciado [...] que com o ato de entrega dos companheiros de crime, o
delator confessa sua participação ou coautoria. É que o ato dilatório está
intimamente vinculado com a confissão. Assim é que o comportamento traiçoeiro
somente pode ser feito por aquele que está envolvido na prática delitiva. Isso leva a
concluir, de maneira abundante, como não poderia deixar de ser, que a testemunha
não pode ser instrumento de delação, mesmo porque nessa qualidade não está ela
sujeita a nenhuma premiação de ordem legal, mas unicamente assume o
compromisso de dizer a verdade sobre aquilo que é objeto de sua narração fática
(art. 203 CPP) (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 224).

De acordo com o art. 200 do Código de Processo Penal, “A confissão será divisível e
retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
65

conjunto.” (BRASIL, 1941). Assim, segundo Sanches citado por Mossin e Mossin, “para
quem considera a confissão como reconhecimento que faz o réu de sua própria culpabilidade,
a retratação é o desconhecimento expresso da culpabilidade reconhecida. [...] é a revogação
que faz o sujeito de sua confissão [...]” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 225).
Vale ressaltar que “o legislador processual penal não subordina a retratabilidade a
requisito ou condição. Pode ela ser feita em qualquer circunstância, por se tratar de um direito
do acusado fundado na ampla defesa” (MOSSIN e MOSSIN, 2012, p. 487). Desta forma, se o
art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal garante aos litigantes em processo judicial ou
administrativo o contraditório e a ampla defesa, pode-se afirmar então que a retratação da
confissão também é um direito constitucional, uma garantia fundamental do confitente. Assim
sendo não se pode negar ao delator a possibilidade deste retratar-se quanto ao que foi revelado
em sua confissão.
Acerca das consequências jurídicas resultantes da retratação da confissão ante a delação,
a parte final do art. 200 do Código de Processo Penal dispõe: “sem prejuízo do livre
convencimento do juiz fundado no exame das provas em conjunto” (BRASIL, 1941).
A confissão, explique-se, é meio de prova e de defesa. Isso significa em outros
termos, que o juiz pode com base no interrogatório condenar o acusado, desde que,
os elementos fáticos que surgiram da sua admissão quanto à responsabilidade pela
prática do fato delituoso se harmonize com os demais elementos da prova, conforme
previsão legal estampada no art. 197 do Código de Processo Penal (“o valor da
confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e
para sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo,
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância”) (MOSSIN
e MOSSIN, 2016, p. 226).

Desta forma, se valendo de que a confissão também é meio de prova, “a retratação não
significa um meio absoluto de o réu se livrar da culpabilidade por ele assumida, que para ter
eficácia no campo probatório, deve ser feita de maneira livre, sem qualquer tipo de coação”
(MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 226). Assim, ante a retratação feita em sede de informação do
crime ou em juízo, deve o juiz confrontá-la com os demais instrumentos de prova arrolados
junto aos autos, conforme seu livre convencimento, podendo acolhê-la ou não. “Sendo
concebida, induvidosamente, não poderá o aplicador do direito com suporte nela dar
provimento à pretensão punitiva do acusado.” Mas, se ao ser afastada a retratação, a confissão
estiver em harmonia com as demais provas colhidas nos autos, será imposta ao acusado a
condenação (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 226).
Quanto à influência que a retratação da confissão pode causar para a delação premiada,
“a traição dos demais agentes que estão ligados ao evento delituoso pode ser mantida ou
também retratada” (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 227). Isto é, o confitente pode apenas
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retratar-se no que diz respeito à sua participação na conduta delitiva, da qual também é
acusado, mas manter o depoimento quanto à colaboração dos demais companheiros de crime;
como pode retratar-se de forma a negar a sua participação e dos demais comparsas da prática
delitiva. Assim, a retratação pode ser tanto da confissão como da delação.
Diante desta situação, conforme Mossin e Mossin (2016), o juiz, da mesma forma como
acontece na retratação da confissão, utilizando-se da sua persuasão racional e baseado no
acervo probatório, poderá concluir se a delação realizada pelo agente que se retratou deverá
ser mantida ou não, tida ou não como procedente. “[...] mesmo que seja mantida pelo delator
o ato de entrega de seus comparsas no empreendimento criminoso, deve ele analisar, diante
das provas amealhadas aos autos, se procede ou não o ato de traição” (MOSSIN e MOSSIN,
2016, p. 227). Dessa forma, ante o ato de delação dos demais agentes da conduta criminosa, o
magistrado não pode levá-la a efeito isoladamente, mas deverá confrontá-la com elementos
reais de prova com o objetivo de corroborar a veracidade da traição.
Sobre o assunto, a Apelação Criminal 55806 do TRF3 dispõe que “as informações
prestadas em delação premiada não podem ser usadas como único meio de prova para
alicerçar a condenação dos réus” (TRF3, 2017).
Diante do que está sendo objeto de considerações, se ficar afastada judicialmente a
retratação da confissão, o que poderá conduzir à condenação do confitente, havendo,
por conseguinte, a manutenção da traição das demais pessoas que também figuram
como sujeitos ativos do delito increpado e tendo havido resultado positivo
decorrente da delação, o prêmio deve ser conferido ao acusado. De outro lado, se
com a retratação da confissão também o traidor retrata a delação, não importante se
no correr das investigações ou na fase judicial, mas que se por intermédio dela
forem conseguidos seus objetivos previamente traçados em lei, não há como se
negar a redução da pena ou a concessão do perdão judicial (MOSSIN e MOSSIN,
2016, p. 218).

Tal entendimento é o mesmo do Supremo Tribunal Federal (2012), o qual no Agravo


Regimental 820480 sustentou que, “embora não caracterizada objetivamente a delação
premiada, [...] incide a causa de redução da pena do art. 14 da Lei n 9807/99, sendo
irrelevante [...] a retratação da ré em juízo, que em nada prejudicou os trabalhos
investigatórios”.
No entanto não é consensual esse entendimento na seara jurisprudencial. O Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, em sede de Apelação Criminal 72862320084013803, decidiu
que “a lei permite a concessão de diminuição da pena aos agentes traidores que colaboram
com as investigações e ajudam a desmantelar esquemas criminosos. É um meio de prova
imoral, mas legítimo. Não faz jus a esse benefício aquele que se retrata em juízo” (TRF1,
2010).
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Da mesma forma decidiu o Tribunal de Justiça do Paraná, em sede de Apelação


Criminal 119132-7, onde “a fim de que se proceda com a diminuição para fins de delação
premiada, deve o agente corroborar os depoimentos prestados em fase policial, nos atos
judiciais. A retratação do agente impede a aplicação da diminuição” (TJPR, 2014).
Para Mossin e Mossin (2016), não há justificativa de ordem legal nem prática o
impedimento à concessão do benefício da delação premiada ao que se retrata.
Partindo-se da premissa de que intimamente conexo com a delação está a confissão
do traidor e que é direito constitucional e processual do corréu ou partícipe se
retratar, a partir do momento em que se nega a ele o prêmio conferido juridicamente,
se está, pelo menos de forma indireta, negando um direito fundamental que lhe é
inerente. Isso só seria plausível se a mencionada delação não alcançasse os fins
colimados pelo legislador. Alias, se isso ocorrer, evidentemente, o “delator” não
receberá nenhuma recompensa já que sua conduta imoral não gerou nenhuma
eficácia, foi integralmente inócua. Todavia, se com suporte na delação inicialmente
levada a efeito, foram conseguidos os resultados previstos em lei, ou seja, se a
traição trouxe para as investigações ou para o processo judicial aquilo almejado pelo
legislador e, posteriormente a isso ocorre a retratação da confissão, porém mantida a
delação ou aconteça a retratação em torno de ambas, não há como se negar o prêmio
ao delator, caso aconteça sua condenação. Isso porque, o pressuposto da premiação é
o alcance do resultado previsto na norma de regência e não que não haja a
retratação, posto que, inclusive, não existe norma a respeito de tal óbice. O aplicador
do direito, insista-se, deve por em prática a lei como ela é, sem qualquer adição; ao
lado que, na sua interpretação sistemática deve ser compatível com princípios
fundamentais, notadamente aqueles consignados de forma expressa na Magna Carta
da República (MOSSIN e MOSSIN, 2016, p. 229).

Desta forma, conforme Mossin e Mossin (2016), para que seja conferido ao delator o
prêmio, basta que a delação produza os resultados previstos no dispositivo legal, independente
de haver retratação ou não.

3.5. Valor Probatório da Delação Premiada: Regra da Corroboração

Para Távora e Alencar (2016, p. 826), “prova é tudo aquilo que contribui para a
formação do convencimento do magistrado, demonstrando os fatos, atos, ou até mesmo o
próprio direito discutido no litígio”.
Ao se apurar preliminarmente a prática de um delito, não há impedimentos para que
uma delação, considerada de forma isolada, sirva como embasamento para a instauração de
um inquérito policial ou o oferecimento de uma acusação, visto que, de acordo com Lima,
“para que se dê início a uma investigação criminal ou a um processo penal, não se faz
necessário um juízo de certeza acerca da prática delituosa” (LIMA, 2016, p. 1055).
No entanto, em sede de sentença condenatória, conforme Lima de Lima, a delação
premiada não pode, isoladamente, fundamentar uma condenação. “Se, porém, a colaboração
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estiver em consonância com as demais provas produzidas ao longo da instrução processual,


adquire força probante suficiente para fundamentar um decreto condenatório” (LIMA, 2016,
p. 1055). Neste sentido é o entendimento do Supremo Tribunal Federal no julgamento do HC
75.226/MS:
COMPETÊNCIA - HABEAS-CORPUS - ATO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Na
dicção da ilustrada maioria (seis votos a favor e cinco contra), em relação à qual
guardo reservas, compete ao Supremo Tribunal Federal julgar todo e qualquer
habeas-corpus impetrado contra ato de tribunal, tenha este, ou não, qualificação de
superior. PROVA - DELAÇÃO - VALIDADE. Mostra-se fundamentado o
provimento judicial quando há referência a depoimentos que respaldam delação de
co-réus. Se de um lado a delação, de forma isolada, não respalda condenação, de
outro serve ao convencimento quando consentânea com as demais provas coligidas
(STF, 1997).

Com o advento da Lei 12.850 de 2013 este entendimento jurisprudencial tomou forma
no art. 4º, § 16, segundo o qual “nenhuma sentença condenatória será proferida com
fundamento apenas nas declarações do agente colaborador” (BRASIL, 2013).
Assim, neste contexto de delação premiada surge a necessidade da aplicação da regra de
corroboração, segundo a qual o delator deve estar municiado de elementos informativos e
probatórios que corroborem e confirmem suas declarações.
No que diz respeito à oitiva formal do delator no processo referente aos demais
partícipes ou coautores delatados, para que esta sirva como prova, e não apenas testemunho,
deve-se respeitar o contraditório e a ampla defesa, assegurando assim a participação dialética
das partes, conforme Lima (2016).
Funcionando a observância do contraditório como verdadeira condição de existência
da prova, tal qual dispõem a Constituição Federal (art. 5º, LV) e o Código de
Processo Penal (art. 155, caput), surgindo a necessidade de se ouvir o colaborador
no processo a que respondam, por exemplo, os acusados objeto da delação, a
produção dessa prova deve ser feita na presença do juiz com a participação dialética
das partes (LIMA, 2016, p. 1056).

Levando em consideração que a colaboração é tida como prova testemunhal em relação


ao corréu delatado, é permitido ao defensor deste que faça perguntas ao delator, as quais
devem estar relacionadas, exclusivamente, à delação realizada, “sob pena de indevido
cerceamento da defesa e consequente anulação do processo a partir do interrogatório,
inclusive” (LIMA, 2016, 1056-1057). Tal é o entendimento do STJ no julgamento do HC
83.875/GO, segundo o qual “o interrogatório é essencialmente meio de defesa. No entanto,
se do interrogatório exsurgir delação de outro acusado, sobrevém para a defesa deste o
direito de apresentar reperguntas.” A proibição do exercício deste direito fere
o contraditório, sob pena de nulidade (STJ, 2008).
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Vale constar que, para garantir ao delator o direito de não produzir prova contra si
mesmo, as perguntas realizadas pelo defensor do corréu deverão estar restritas aos fatos e
elementos que incriminam o agente delatado. Neste sentido decidiu a Segunda Turma do
Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 111576 AgR, onde é assistido a cada um
dos litisconsortes penais passivo o direito de fazer perguntas aos demais corréus, os quais não
estão sujeitos a responder, visto possuírem o direito da não autoincriminação. Se
desrespeitada “essa franquia individual do réu, resultante da arbitrária recusa em lhe permitir
a formulação de reperguntas, qualifica-se como causa geradora de nulidade processual
absoluta, por implicar grave transgressão ao estatuto constitucional do direito de defesa”
(STF, 2014).
Quanto ao delator, ao depor na condição de réu, lhe é garantido o direito ao silêncio,
não sendo obrigado a responder as perguntas realizadas que podem prejudicar a sua situação.
No entanto, quando estiver arrolado como testemunha, conforme Lima (2016), o delator não
está abrangido pelo direito ao silêncio, devendo responder as perguntas que lhe serão feitas,
ficando resguardado apenas o direito de não produzir provas contra si mesmo.
Por fim, é majoritário o entendimento de que a colaboração/delação premiada, por si só,
é insuficiente para embasar uma condenação, devendo estar acompanhada por outras provas
que legitimem as declarações prestadas pelo delator.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com surgimento anterior à sua positivação, a delação premiada esteve presente em


épocas bem remotas por meio do instituto do direito premial, desde a traição de Judas,
passando pela Conjuração Mineira e subsistindo em diversos outros acontecimentos
históricos.
Servindo como instrumento de combate à criminalidade, o Estado tem-se utilizado da
delação premiada no intuito de elucidação de crimes através de relatos do delator, que, além
de confessar sua autoria do crime, também denuncia seus comparsas, visando um prêmio legal
ofertado pelo Estado.
A delação premiada surgiu inicialmente com as Ordenações Filipinas, vigorando até o
Código Criminal de 1830, o qual extinguiu o instituto, que retornou apenas na década de 90,
com o advento da Lei dos Crimes Hediondos. Desde então, a delação premiada passou a
compor o bojo de diversas legislações, cada qual abordando o instituto a sua maneira, não
sendo uníssonas nos requisitos e peculiaridades.
Não se pode deixar de citar a importância que o direito estrangeiro tem para a
institucionalização da delação premiada no ordenamento jurídico pátrio, inspirado,
principalmente, no direito italiano. Na Itália, a delação premiada surge como instrumento de
combate às organizações criminosas, mais precisamente às Máfias, e atingiu seu ápice quando
ocorreu a Operação Mãos Limpas.
Acerca da utilização das expressões “delação premiada” e “colaboração premiada”,
viu-se que, apesar de alguns doutrinadores utilizarem as expressões como sinônimas, não se
trata apenas de uma distinção conceitual, mas são de fato institutos diversos, com
particularidades próprias, não havendo como confundi-los.
Sobre a natureza jurídica da delação premiada grande é a discussão doutrinária. No
entanto, conclui-se pela natureza híbrida do instituto, devendo ser analisada de acordo com o
caso concreto, sendo, por vezes, circunstância atenuante de pena, em outros casos, causa de
extinção de punibilidade, e alguns autores ainda defendem o seu caráter de direito subjetivo
do réu.
A delação premiada é um instituto que visa beneficiar o réu sobremaneira,
comportando prêmios desde a redução da pena até a sua isenção total, podendo resultar no
perdão judicial. O prêmio é acordado entre o delator e o Ministério Público, e para sua
concessão necessário se faz levar em consideração a efetividade da colaboração.
71

Outra questão muito discutida em sede doutrinária é em relação ao direito fundamental


que o delator possui de manter-se em silêncio, garantia constitucional de não autoincriminar-
se. A Lei de Organizações Criminosas traz em, seu bojo, um dispositivo que faz referência à
“renúncia ao direito de silêncio”, fazendo surgir uma corrente que defende ser este dispositivo
inconstitucional. No entanto, após análise minuciosa, entende-se que o delator não renuncia
ao direito ao silêncio, mas opta por não utilizá-lo em troca de receber favores legais que o
beneficiarão se condenado.
Outra questão abordada é quanto ao fato de não haver uma legislação específica
abordando sobre o instituto, mas este está presente em várias leis, não havendo uniformidade
quanto sua aplicação, peculiaridades e requisitos. Alguns autores, vale dizer a minoria,
defendem que esta omissão legislativa pode causar certa insegurança jurídica ao delator,
devendo evitar o uso da delação premiada. No entanto, têm-se obtido resultados eficazes por
meio da delação premiada, havendo uma celeridade na elucidação dos delitos e no combate à
criminalidade.
Muito se foi discutido qual o momento apropriado para ocorrer a delação premiada,
concluindo-se que esta pode acontecer até mesmo após a sentença, mesmo quando transitada
em julgado. Também ficou acertado sobre a possibilidade de coexistência da confissão e da
delação premiada no curso do processo penal, visto que ambas são aplicadas em fases
distintas no sistema trifásico de aplicação da pena, não caracterizando bis in idem.
Outra possibilidade em relação à delação premiada é quanto à sua possível retratação,
tanto por parte do delator quanto por parte da autoridade judiciária. No entanto, há
consequências para esta ação, as quais serão analisadas e julgadas pelo magistrado.
Por fim, abordou-se o valor probatório da delação premiada, corroborando que esta
por si só não pode servir para fundamentar uma condenação, mas, quando confrontada com as
demais provas do processo e confirmando a veracidade dos fatos, é plenamente válida como
prova.
É importante ressaltar que, após este estudo, percebeu-se que os reflexos da delação
premiada incidem sobre o processo penal ao atingir diretamente o delator por meio dos
benefícios legais previstos.
Desta forma, após este minucioso estudo sobre o instituto da delação premiada
concluiu-se que, ante a crescente criminalidade, o Estado não encontrou outro meio de
combatê-la se não se aliar ao delinquente, negociando favores em troca de informações que
auxiliem na elucidação os fatos de forma mais célere, visando menores consequências sobre a
sociedade.
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