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RAÍZES HISTÓRICAS DE ARARI

Terezinha Maria Bogéa Gusmão

"A História é a chave para a compreensão de nossa realidade e das nossas


perplexidades. A História trata da nossa identidade, nos remete as nossas raízes
pessoais, étnicas, culturais, nacionais. Explica em boa parte o que somos.
Conhecer História é percorrer o caminho da tolerância, exercer a cidadania,
compreender a necessidade de fortalecer as instituições democráticas,
reconhecer a realidade das desigualdades e a dívida social para com os
deserdados e despossuídos” (Alfredo Nastari).

INTRODUÇÃO

É inegável a importância do resgate histórico das sociedades do passado para


compreender as transformações, rupturas e permanências nas ações e desenvolvimento
do homem no meio em que ele vive. O homem se fez homem por meio do trabalho, que
o possibilitou sair do “estágio animal” para o humanizado ao longo do tempo. Por isso,
cabe a própria História como ciência do homem no tempo, desvendar enigmas em toda a
sua complexidade. É necessário penetrar no espírito da história com aguda lucidez
daqueles que, não satisfeitos com a aparência, buscam a essência dos fatos. Isso significa
localizar os fatores econômicos, políticos, sociais e culturais que influenciam e interagem,
produzindo os fatos históricos.

A história é um processo pelo qual, todos os homens consciente ou


inconscientemente participam. Conhecer o nosso passado é capacitar-se para entender o
presente e para atuar na construção do futuro. Portanto, pretendemos analisar e descrever
as formas pelas quais o homem organizou a produção material e espiritual da sociedade
arariense no século XIX, levando sempre que possível em consideração o cenário
histórico global.

No contexto histórico maranhense do final do século XVIII, e início do século


XIX, paralelamente à provável fundação de Arari surgiu um clima intelectual,
particularmente em São Luís. Vários fatores contribuíram para essa efervescência
cultural. Um deles foi a fundação em 1805, do Seminário do Maranhão. Segundo
Rodriguez, “veio satisfazer uma necessidade angustiante de que, havia muito tempo se
ressentia a gente maranhense; e, com implantação de um ensino renovado iria clarear o
horizonte de sombras em que estavam submetidos” (apud CABRAL, 1984).

O retorno de grande número de jovens maranhenses filhos de famílias abastadas,


que haviam se educado nos centros acadêmicos mais adiantados da Europa-Montpelier,
Edimburgo, Paris, Coimbra, onde receberam a influência do ensino renovado dominante
nestes centros, foi outro elemento que favoreceu a cultura de elite desenvolvida no
Maranhão nessa época. Assim, como a atuação da Maçonaria, identidade que defendia
ideia liberais e havia se espalhado pelo litoral e interior maranhense, favorecem também
a ilustração das camadas ricas maranhenses. Dentre tantos outros, acontecimentos que
iriam abalar as estruturas social, econômica e política deste Estado (CABRAL, 1984).

Nesta conjuntura, os hábitos cultivados pelas elites maranhenses tornaram-se


sofisticados e preconceituosos, em detrimento de uma população em sua maioria escrava.
Cabral cita que no início do século XIX, essa polução apresentava-se superior a população
livre. Também fazemos referência a insatisfação popular nesse momento, impulsionada
pelos ideais de liberais que circulavam entre alguns elementos da classe média.

Tratando-se da divisão política do Maranhão no início da segunda década do


século XIX, encontrava-se dividido em: três municípios, dos quais os importantes eram
São Luís, Alcântara e Caxias. Possuíam 32 núcleos urbanos e doze distritos militares.
Para o culto religioso havia um bispado, criado em 1676 e dividido em trinta e quatro
freguesias (povoado sob aspecto religioso) dos quais vinte e dois ficavam no Maranhão.

No contexto nacional, dentre outros elementos, o Brasil tinha uma classe média
que estava minada de influências das ideias pró-emancipatória. Porém, apenas uma
pequena elite de revolucionários inspirava-se no ideário de liberdade. Não existia na
época uma burguesia dinâmica e ativa que pudesse servir de suporte, como no caso da
burguesia europeia, mas uma aristocracia sedenta pela manutenção dos seus privilégios.
A ideia de revolução esbarrava sempre no receio de uma revolta de escravos.

O comportamento dos revolucionários, com exceção de poucos, era


frequentemente elitista, racista e escravocrata. O horror a um provável levante de negros
escravizados, levaria essa elite a repelir as formas mais democráticas de governo e temer
qualquer mobilização de massa. No entanto, encarando com simpatia a ideia de conquistar
a independência tão ambicionada pelos brasileiros.
Dentro destas condições soariam falsos e evasivos os manifestos em favor das
formulas representativas de governos, os discursos afirmando a soberania povo pregando
igualdade e liberdade como direito inalienável e imprescindível do homem, quando na
realidade, se pretendia manter escravizada boa parte da população e alienada da vida
política outra parte.

Os movimentos em prol da independência do Brasil, que começa de uma maneira


mais intensa no final do século XVIII, configura-se como uma luta contra os brancos
portugueses e seus privilégios. Os despossuídos que viviam oprimidos, a revolução
implicava na eliminação das barreiras de cor, na realização da igualdade econômica e
social. Para os representantes das categorias superiores da sociedade, fazendeiros ou
comerciantes, a condição necessária da revolução, no entanto, era a manutenção da ordem
e a garantia dos seus privilégios. A partir de então ficaria claro para quem e por quem
tinha o país lutado e se tornado independente.

Para as elites que objetivaram imediatamente o usufruto da emancipação do país,


o ideário liberalista significava apenas liquidação dos laços coloniais. Não pretendiam
reformar as estruturas de produção nem a estrutura social. Por isso, a estrutura da
escravidão seria mantida, assim como a economia de exportação. Portanto, o movimento
de independência seria menos antimonárquico do que anticolonial, menos nacionalista do
que antimetropolitano (CABRAL, 1984).

Foi nessa vulgata histórica que Arari foi fundado. Dentro de um contexto estadual
que apesar das adversidades sociais e políticas se destacara pela intelectualidade do século
XIX, e a nível nacional voltado para a emancipação e subsequentemente a manutenção
do sistema de produção econômica baseada na mão de obra escrava.

1. O SURGIMENTO DE ARARI

1.1. Origem do nome arari

Há uma diversidade de hipóteses a respeito da origem do nome Arari. Segundo


Lisboa (apud BATALHA, 2014, p. 57), a origem comporta quatro hipóteses:

Arara é a expressão onomatopaica com que os índios designavam os grandes


papagaios (Psittacus Macrocereus). E distinguiam: Araruna, arara escura; e
arari, arara vermelha e amarela.
1ª hipótese: arari - arara vermelha e amarela.
2ª hipótese: arari - arara pequena, arara nova, filhote de arara. Na linguagem
geral, a desinência i, posta ao substantivo, exprime diminutivo, como
em tamanduá-i, caju-i, arara-í.
3ª hipótese: arari – denominação dada a certa árvore de terra firme e a tinta
vermelha extraída da casca (Stradel, Vocabulário nheengatu-português, p. 377)
4ª hipótese: arari – certa espécie de sardinha (Stradel, citado, p. 378).

No entanto, o padre Clodomir Brandt e Silva em sua obra Assuntos Ararienses I,


escreve:
Posso dizer para dar um exemplo que o nome ARARY veio do igarapé que já
tinha essa denominação (...) Nessa região é muito comum a existência de uma
árvore denominada de arariba (...) Sem dúvida nenhuma nas margens do rio e
pelo igarapé a dentro, haviam verdadeiras moitas dessa importante árvore. As
margens do rio deveriam servir de ponto de referência para os barqueiros que
subiam por ele em demanda da Ribeira do Mearim ou de lá voltavam (...), de
arariba para Arari, a transformação não foi difícil. A lei do menor esforço, que
é uma economia fisiológica na pronúncia das palavras, iria produzir a
transformação metaplástica do vocábulo, pela perda da sílaba ‘ba’. A apócope
era perfeitamente normal, sobretudo, tendo em vista o atraso dos moradores
daquele tempo e a presença absoluta do elemento português que monopolizava
o comércio, o transporte, a religião e tudo. O luso com sua maneira de falar,
transformou lentamente a palavra. Aos ouvidos dos que tinham que obedecer
ás ordens, arariba era arari, e assim depois iam dizendo (...) por último deve-
se ter em vista que o nome ARARY pode ter sido transplantado do Pará para
o Mearim. Tenho basicamente desconfiança que isso possa ter acontecido.
Assim como os portugueses que vieram morar aqui trouxeram, de Belém para
cá a devoção a Nossa Senhor da Graça, o mesmo pode ter acontecido com o
nome” (SILVA, 1985).

Dentre as hipóteses suscitadas a respeito do nome Arari, não podemos descartar a


possibilidade da última afirmação de Silva, já que também é encontrado em outras partes
do território brasileiro. Segundo o historiador João Francisco Batalha, “o nome Arari, no
Pará, apareceu pela primeira vez, na Ilha de Marajó (...) Arari é o nome do rio mais
importante da Ilha de Marajó, que corta os municípios de Santa Cruz do Arari e Cachoeira
do Arari”. Mas, também aparece na região que no século XVI foi denominada de França
Antártica – de processão francesa – que abrangia a Ilha de Sergipe, Paranapuã (atual Ilha
do Governador), Urucu-mirim (flamengo), e Lage.

Os franceses que ali se localizaram conseguiram manter um relacionamento


amistoso com os indígenas, que se agruparam, construindo a chamada “Confederação dos
Tamoios” – foco de resistência de ambos em relação a dominação e exploração
portuguesa. Nessa Confederação encontrava-se um chefe das tribos terminóis (povo
indígena extinto do tronco linguístico tupi que habitava a costa do Espírito Santo), que se
chamava Araribóia. Assim como o povo indígena denominado de Arari, também extinto
que habitava as imediações do Rio Preto em Minas Gerais.

Para Batalha, o termo indígena Arari, também designa o povo extinto que habitava
às margens do Mearim, dando nome ao Município.
Supõem-se que o nome Arari possa ter chegado até aqui através de nativos
nômades. Como o tupi era o tronco linguístico do povo nativo brasileiro, a palavra ou
radical arari permeava todo território brasileiro dando nome a pessoas, lagos, plantas e
lugares, como observamos acima. Também não podemos descartar totalmente a
possibilidade do nome Arari ter vindo da planta araribá, já que o radical contido nessa
palavra também evidencia o nome arari. Além disso, esse nome pode ter chegado até
aqui através dos portugueses que já tinham conhecimento de muitas outras localidades do
território brasileiro onde ouviram a pronúncia arari.

Em suma, percebe-se que Arari é um nome originalmente indígena, como e


quando chegou nesta região, não se sabe ao certo, como já referenciado existem várias
hipóteses acerca da origem do nome do município.

1.2. Quem foi seu fundador?

Os historiadores César Augusto Marques, Jerônimo de Viveiros, Mário Martins Meireles,


acreditavam que Arari foi fundado pelo vigário José da Cunha d’Eça, que chegou a
Ribeira do Mearim – primeiro povoamento a despertar a atenção das autoridades civis e
religiosas nessa região – em 1723.

O Pe. Clodomir Brandt e Silva também contestou a possibilidades de fundação e


fundador de Arari. Baseando-se nos escritos de Dom Francisco de Paula e Silva, bispo e
historiador e escreveu: “não parece, portanto, muito provável que tenha sido ele o
fundador de Arari” (referindo-se a d’Eça).

Ainda afirma com veemência, após pesquisas, que Arari não foi fundado em 1723,
e nem teve um fundador específico. Um dos argumentos utilizado por ele é que, “se a
fundação deste, de fato, houvesse ocorrido em 1723, como em 1803, havia somente três
casas e praticamente um século depois da suposta fundação (1820), apenas vinte e duas
casas?”

Esse questionamento parece coerente, o que não se pode dizer acerca dos demais
dados, onde se evidencia uma desproporcionalidade para um crescimento demográfico.
A partir de então, se intensificam dúvidas e a problematização quanto a fundação do
município de Arari.
Silva ainda relata que o melhor argumento para negar a fundação de Arari em
1723, pelo Pe. José da Cunha d’Eça, é:
A inexistência do nome de Arari, nos livros de assentamento de batizados e de
casamentos da Freguesia Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim, a
qual, deveria estar vinculado a este lugar. O nome Arari apareceu em primeira
vez em 12 de outubro de 1812, no livro de casamento da referida Freguesia,
com a realização da cerimônia matrimonial de José Raimundo de Oliveira e
Ana Vicência Saraiva. E foi encontrado também um requerimento de Lourenço
da Cruz Bogéa, pedindo licença para construir uma capela no lugar Arary,
datado de 1806”. Ele ainda afirma que “Arari não teve um fundador. Nasceu e
foi crescendo vegetativamente a partir de 1800. Alguém veio fincou a casa
perto de uma moita de araribá, depois veio outro, e assim por diante. O que é
admissível (SILVA, 1985).

Porém, estudos mais recentes feito por Batalha registra que,


O marco inicial da história de Arari, ocorreu em 22 de março de 1720, por meio
de despacho de Bernardo Pereira de Berredo a requerimento do sesmeiro
Francisco Vieira, com confirmação de D. João V, rei de Portugal, em 24 de
maio do mesmo ano. Se quisermos dar um nome ao fundador da cidade, que
se dê o nome de Francisco Vieira, primeiro cidadão que se dispôs a cultivar a
terra arariense por meio de sesmaria de campo (BATALHA, 2014).

Dessa forma, entende-se que, na primeira metade do século XVIII, com o cultivo
da terra, e posteriormente o aparecimento de casas de fazenda para criação de gado
possibilitaram a origem e o desenvolvimento inicial do município. De maneira ocasional,
sem a preocupação de núcleo administrativo organizado, como ocorreu inicialmente com
o aparecimento da maioria dos municípios do país.

Duas hipóteses são levantadas quanto a localidade do seu aparecimento do


município: Sítio Velho em decorrência do Engenho de Vera Cruz (1684) ou no Sítio
Velho dos Franceses (1613) - porém a primeira é mais aceita – e estende-se pelas
mediações dos atuais povoados Curral da Igreja e Bonfim que devido aos constantes
deslizamentos das barreiras do rio Mearim, chegando a assolar ruas inteira, foram
remanejados para outras localidades. Certamente esse acontecimento foi proporcionado
pelas fortes correntezas ocasionadas pelas marés da pororoca, já que nessas localidades
se evidencia de maneira mais intensa esse fenômeno.

Dessa forma, chamando a atenção do governador Joaquim de Mello de Póvoas


(1761-1779), determinando a transferência do povoado para Vitória do Mearim. No
entanto, alguns habitantes preferiram se mudarem para as Flexeiras, Barreiros e Pericao.

1.3 Os primeiros moradores

Os primeiros habitantes correspondentes ao atual município, de Arari, foram os


nativos. “O mais provável é que tenha sido os Tabajaras ou Gamelas, sem a exclusão da
hipótese de que tenha havido outras tribos históricas, como os Guajás, Guajajaras,
Barbados do grupo Tapuia que povoavam os vales do rio Mearim” (BATALHA, 2014).
Quanto aos primeiros moradores descendestes de portugueses, podemos citar: Francisco
Vieira, Lourenço da Cruz Bogéa, Pedro Leandro Fernandes, Leonardo Pimenta Bastos,
Nicolau Antônio Rodrigues Chaves, Inácio Mendes da Silva, Benedito Raimundo da
Ericeira, dentre outros. Sendo a maioria deles proveniente do povoado Ribeira do
Mearim.

2. A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE ARARI

2.1 Processo emancipatório

No processo da emancipação do município de Arari, vários acontecimentos abalaram


a já tão fragilizada estrutura maranhense. Por um lado, tinha os portugueses e por outro
os ingleses imperialistas. Como por exemplo, o consulado inglês que havia sido instalado
em 1813, na cidade de São Luís. Tratava o governo da capitania com autoridade e
menosprezo. O que levava os proprietários maranhenses apelarem desde o início do
século XIX para o socorro da coroa portuguesa, contudo sem serem ouvidos. Diante disso,
não era de se estranhar que os movimentos militares e populares que eclodiram nesse
período tivessem forte tom nacionalista e violentos ressentimentos contra os lusitanos. É
inviável falar de acontecimentos ocorridos na primeira década do século XIX, no
Maranhão, sem fazer referência no maior movimento popular já ocorrido neste Estado, a
Balaiada.

Os anos que antecederam a Balaiada foram de grandes dificuldades econômicas para


o Maranhão, agravadas pelo derrame de moedas falsas e pela retração do meio circulante.
Apesar de representar o quinto orçamento do Império em 1834, não recebia do governo
central recursos para atender as suas necessidades, a condições social do maranhense era
precária. Devido a isso, as classes marginalizadas adeririam a esse movimento iniciado
por vaqueiros na esperança de conseguirem melhorar a sua realidade.
Há sem sombras de dúvidas duas histórias da Balaiada: um dos sertanejos,
outra das lutas entre cabanos (conservadores) e bem-te-vi (liberais). Aparecem
de tal forma mescladas que é impossível explicar uma sem a outra. Porém,
quanto as barbaridades cometidas durante a revolução, é interessante notar que
foram atribuídas exclusivamente aos balaios e nunca aos bem-te-vis, os quais,
respaldavam o movimento. Os balaios foram vistos como pertencentes as
classes inferiores, sem princípios, assassinos ferozes, ladrões e cultivadores de
toda sorte de vício. Outro aspecto bastante evidenciado em relatórios dos
expedicionários legais foi o fato de serem homens de cor: “índios, negros,
mestiços de toda espécie (JANOTTI, 1987).
Foi nesse contexto da primeira metade do século XIX, que Arari foi se
desenvolvendo e construindo o ideário emancipatório. Em 26 de maio de 1858, foi
elaborada a lei provincial que determinava a criação da Freguesia de Nossa Senhora da
Graça, relatando:
João Pedro Dias Vieira, Vice-Presidente da Província do Maranhão. Faço saber
a todos os seus habitantes que a Assembléea Legislativa Provincial decretou e
eu sancionei a lei seguinte: Art. 1 –A capela filial da Freguesia de Nossa
Senhora de Nazaré da Vila da Vitória do Mearim no Arary fica erecta em
Freguesia com a invocação de Nossa Senhora da Graça do Arary. Art. 2 – Esta
nova Freguesia terá por limites os mesmos marcados para a dita Capella. Art.
3 – Ficam revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas as
autoridades a quem o conhecimento e execução da predita Lei pertencer que a
cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Secretário
do Governo a faça imprimir, publicar e correr. Palácio do Governo do
Maranhão em 26 de maio de 1858, trigésimo sétimo da Independência, e do
Império, José Pedro Dias Vieira (SILVA, 1985).

Posteriormente foi erigido canonicamente vindo para cá o seu primeiro vigário


João Francisco Coelho, que já prestava assistência ao lugar como capelão.

Precisamente em 27 de julho de 1864, Arari alcança categoria emancipatória, pela


lei provincial nº 690, onde o reconhecia como Município, o desembargador Miguel
Joaquim Aires do Nascimento, o qual, era vice-presidente da Província e no momento,
presidente interino.

A Freguesia passou a ser distrito administrativo e a ter Câmara e o direito de


escolher os eleitores que deveriam votar na eleição para deputado. Nesse período
(Império), o voto era censitário e as eleições aconteciam em duas etapas.
Na primeira, os votantes – termo que designava cidadãos que votavam nas
eleições de primeiro grau escolhiam os eleitores. Na segunda, aqueles que
estivessem sido escolhidos como eleitores elegiam os deputados e senadores.
Para ser votante no Brasil nesse momento era necessário que o cidadão tivesse
uma renda mínima de 100 mil-réis anuais. Se quisesse ser eleitor teria que ter
anualmente uma renda de 200 mil-réis. E para ser Deputado e Senador as
somas eram de 400 e 800 mil-réis. (Disponível em:
<http://www.politize.com.br/historiadovotonobrasil/>Acesso em:
04/05/2018)

Mulheres, analfabetos, soldados rasos, pobres, integrantes do clero, indígenas,


escravos e menores de 21 anos, não podiam votar.

2.1 A importância do catolicismo para a emancipação e desenvolvimento inicial de


Arari

O surgimento de Arari é contemporâneo a conflitos internacionais proporcionados


pelas Guerras Napoleônicas e sua expansão imperialista. Em 1806, Napoleão Bonaparte
criou o Bloqueio Continental, como uma medida estratégica para barrar o avanço
econômico da Grã-Bretanha, proibindo os países europeus de comerciarem com os
ingleses, pretendendo com isso, sufocá-los já que, não havia conseguido conquistá-los
militarmente. Nesse panorama a situação de Portugal era crítica, pois dependia
economicamente da Grã-Bretanha.

Devido a isso, Portugal desconsiderou a determinação do Bloqueio Continental,


ficando a mercê de uma invasão das tropas napoleônicas. No final de 1807, chegava a
notícia de que tropas francesas tinham invadido o norte de Portugal. A Corte Portuguesa
entrou em pânico. Todos queriam embarcar para o Brasil. Dias depois as tropas francesas
entram em Lisboa. Na realidade era uma cansada tropa de 1200 homens sem possibilidade
de combate. “Estavam sem cavalaria, artilharia, munições, sapatos ou gêneros
alimentícios; cambaleando de cansaço, a tropa mais parecia a evacuação de um hospital
do que um exército que marchava triunfante para a conquista de um reino”.

Porém, a invasão das tropas napoleônicas a Portugal, ocasionou a vinda de D.


João, príncipe regente, juntamente com a Coroa Portuguesa para o Brasil em 1808, que a
partir de então, procurou conciliar os contraditórios interesses dos proprietários rurais
brasileiros e dos comerciantes portugueses, dentre outras medidas tomadas que
possibilitaria o desenvolvimento em alguns setores da sociedade colonial do início do
século XIX. Contemporaneamente a esses acontecimentos, nasce e se desenvolve
paulatinamente o povoado denominado de Arari. Num período de efervescência política,
de insatisfações e de ideários de liberdade.
O primeiro acontecimento político importante que se pode registrar na cidade
de Arari, foi o movimento liderado pelo português, aqui residente, João
Antônio Fernandes para pleitear junto ao bispo diocesano a elevação do
povoado, ou melhor, da sua capela, ao status de curato[1] ou capelania (...) A
comunidade tomando pouco a pouco, consciência de sua força na solução de
seus problemas (SILVA, 1985).

Diante do exposto, percebe-se que Arari surge mediante a uma atuação de cunho
religioso, que possibilitou uma atuação política. A partir da ação dos moradores dessa
região ao reivindicarem através de um abaixo-assinado a elevação do povoado a curato.
Percebe-se também que o povo arariense desde o seu primórdio soube o que exatamente
queria, já mostrando determinação ao assinarem um documento que viabilizasse
condições políticas favoráveis para sua localidade.

Provavelmente esse ato possibilitou em 16 de janeiro de 1858 a vinda do bispo D.


Manuel Joaquim da Silveira a Arari, que desencadearia consequências benéficas acerca
do seu processo emancipatório. Escreve Batalha, “com vistas a elevar a freguesia, o curato
de Nossa Senhora da Graça, parte de Viana para Arari, às nove horas deste dia, o bispo
D. Manuel Joaquim da Silveira”.
O referido bispo fez uma parada em Vitória do Mearim onde foi recebido com as
devidas honrarias dispensadas a sua posição eclesiástica. Na noite de domingo do dia 24
de janeiro ele chega em Arari.
O revmo. vigário de Vitória e seu irmão cel. Manuel Loureço Bogéa,
acompanham o prelado até Arari, onde chegam às oito horas da noite.
“As casas enfileiradas e perfeitamente iluminadas, com as luzes
refletindo-se no rio ofereciam um espetáculo encantador”. Sinos
foguetes e ronqueiras aumentam a alegria dos 250 fiéis com seus vivas
e achortes. O antístite ficara hospedado na residência do capitão José
Antônio Fernandes (BATALHA, 2014, p. 90).

Alguns meses após a visitação do bispo, no dia 24 de maio do referido ano, foi
criada a Lei Provincial n° 465, proporcionando ao “curato de Nossa Senhora da Graça
a elevação a freguesia[2], porém, como filial da freguesia de Nossa Senhora de Nazaré”
( BATALHA, 2014, p. 91, grifo do autor). Observa-se a Lei nº 465 de maio de 1858,
criada por João Pedro Dias Vieira, Vice-Presidente da Província do Maranhão.
Faço saber a todos os habitantes Assembleia Legislativa Provincial
decretou e eu sancionei a Lei seguinte: Art. 1º: A capela-filial da
freguesia de Nossa Senhora do Nazaré, da vila da Vitória do Mearim,
no Arari, fica ereta em freguesia com invocação de Nossa Senhora da
Graça do Arari. Art. 2º: Esta nova freguesia terá por limites os mesmos
marcados para dita capela. Art. 3º: Ficam revogadas as disposições em
contrário. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o
conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e
façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Secretário do
Governo a faça imprimir publicar e correr. Palácio do Governo do
Maranhão em 24 de maio de 1858, trigésimo sétimo da independência
e do Império ( BATALHA, 2014, p. 92).

Seis anos depois, começa a tramitar do processo de emancipação política de


Arari. Em 09 de maio de 1864, a Assembleia Provincial do Maranhão recebe e discute
em primeira votação o projeto de lei que eleva à categoria de Vila (emancipação) a
freguesia Nossa Senhora da Graça do Arari. Onze dias depois votam em segunda
discussão do projeto, a autonomia de Arari. No dia seguinte a Assemblei bota na ordem
de debates, já em terceira discussão, o projeto que cria o município. Em primeiro de junho,
foram lidos sem debates e aprovados definitivamente o projeto de lei sobre a sua
emancipação. O dia tão esperado pelos ararienses para adquirir a sua liberdade política
foi, 27 de junho de 1864, criado pela Lei Provincial nº 690, elevando Arari à categoria de
município e se desmembrando de Vitória do Mearim.

Podemos observar a lei, sancionada pelo desembargador Miguel Joaquim Aires


do Nascimento, Vice-Presidente da Província do Maranhão.
Faço saber a todos os habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial
decretou e eu sanciono a Lei seguinte: Art. 1º- Fica elevado à categoria de vila
a freguesia de Nossa Senhora da Graça do Arari, conservando os limites que
atualmente tem a referida freguesia. Art. 2º- Fica também elevado à categoria
de vila a povoação de Manga, segundo distrito de passagem franca. Art. 3º-
Ficam revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas as
autoridades a quem o conhecimento e a execução da referida Lei pertencer,
que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O
Secretário do Governo a faça imprimir, publicar e correr. Palácio do Governo,
em 27 de junho de 1964, quadragésimo terceiro da Independência e do Império
(BATALHA, 2014, p. 94).

2.2 Seus primeiros anos como emancipado: as primeiras eleições arariense

No final do século XIX até início da segunda metade do século XX, as eleições
fraudulentas aconteciam constantes e escancaradamente no Brasil. O que gerava ações
violentas por parte das pessoas que estavam envolvidas na política. E se tratando
especificamente de Arari, não foi diferente.
Em 1863, no mês de agosto, houve a primeira eleição em Arari. Um mês antes
da eleição, um delegado de polícia, acompanhado de soldados e capangas, foi
a casa do juiz e tomou a força os livros e demais materiais de votação, tendo
ainda espancado aquela autoridade e seus familiares. A eleição foi feita pelo
delegado e, assim mesmo, foi aprovada pela Comissão da Câmara, certamente
sob o patrocínio de algum candidato beneficiado por tais votos. Era o primeiro
elo de uma longa lista de eleições fraudulentas, violência nos dias de eleição e
outras degradações políticas, como era típico em todo território
nacional (SILVA, 1985, grifo do autor).

A primeira eleição municipal de Arari, como emancipado ocorreu em 7 de


setembro de 1864, sendo esta presidida pelo primeiro juiz de paz deste município, João
Joaquim Pereira. Tendo sido eleitos como representantes do povo e seus respectivos
votos:
Os vereadores eleitos foram: tenente-coronel José Antônio Fernandes, 543;
tenente Pedro Nunes Cutrim, que residia no Centro Velho, 535; tenente João
Joaquim Pereira, 529; Lino José Tiago de Melo, 528; alferes[3] Joaquim
Fernandes, 509; alferes Raimundo Hermenegildo de Sena, 409; José Nicolau
Pereira, 481 votos. Ficaram como suplentes da vereança: tenente José Teodoro
Rodrigues Chaves, 45 votos; alferes João Mariano de Sousa Leite, 43; capitão
Raimundo Joaquim Muniz, 38 votos; Feliciano José da Silva, 36 votos; Ciríaco
Antônio da Silva, 34; tenente Raimundo Filipe Pedroso, 31; alferes Manuel
Nascimento Cardoso, 27 votos (BATALHA, 2014, p. 95).

Os ararienses elegeram 7 vereadores para um período de quatro anos. Em sete de


janeiro de 1865, que também é o marco da instalação da Câmara Municipal de Arari, estes
foram empossados, iniciando as suas atividades em prol de uma população emancipada
política e administrativamente, no dia seguinte. Nesse período, “Arari só tinha uma rua,
à beira-rio, chamada de Rua Grande”, onde se localizava a Câmara de Vereadores.

Foram também eleitos nesse momento, juízes de paz[4] para a sede, os seguintes
cidadãos: José Teodoro Rodrigues Chaves, Caetano Alberto de Sousa, Manuel Antônio
Machado, Antônio Lino Pereira e como suplentes, Demétrio Raimundo Fernandes,
Ciríaco Antônio da Silva, Tomás de aquino Fernandes e Pedro Leandro Fernandes.
Em 1868, foi realizada a segunda eleição da história do Arari emancipado,
elegendo novamente 7 vereadores para um pleito de 4 anos ( 1869-1873).

A última eleição realizada em Arari antes da Proclamação da República, foi em


31 de agosto de 1889. A eleição foi realizada na Igreja Matriz, onde foi colocada uma
mesa para a votação. Na ocasião todos os quarenta e sete votos foram destinados para o
senador Augusto Olímpio Gomes Fernandes. Aproximadamente três anos depois,
precisamente em 20 de novembro de 1892, aconteceu a primeira eleição após a
Proclamação da República. Foram escolhidos pelo povo para representá-los nesse novo
regime:
O intendente Francisco de Paula Bogéa com 106 votos; um subintendente
Vicente Ferreira Rodrigues com 126 votos e os vereadores: Leonardo Pimenta
Bastos, Antônio Francisco Cardoso, Florêncio Antônio de Freitas, Miguel
Antônio Pinto, Joaquim Antônio da Costa Ribeiro, cada um com 56 votos,
além de mais nove vereadores eleitos com uma quantidade inferior de votos,
estes tendo as mais diversas ocupações (SILVA, 1985).

A próxima eleição realizada quatro anos depois, elegeu-se como Intendente[5] de


Arari, o tenente coronel Vicente Ferreira Rodrigues e subintendente o capitão Miguel
Antônio Pinto, os quais governaram o município nos últimos anos do século XIX.

Aspecto econômico

Arari no seu primórdio, surgiu tímido e inexpressivo em relação ao cenário


econômico estadual da época. Tratando-se de um contexto internacional, a burguesia
europeia estava maravilhada por estar ceifando os frutos da Primeira Revolução
Industrial. Porém, havia a insatisfação de uma nova classe social, o proletariado.
A industrialização traçou a mobilização e a transferências de recursos
econômicos, a adaptação da economia e da sociedade necessária para manter
o novo curso revolucionário. O primeiro e talvez mais crucial fator que tenha
que ser mobilizado e transferido era a mão –de-obra, pois uma economia
industrial significa um brusco declínio proporcional da população agrícola e
um brusco aumento da população não agrícola e quase certamente um rápido
aumento geral da população (...) tanto a Grã-Bretanha quanto o mundo sabiam
que a Revolução Industrial lançada nestas ilhas não só pelos comerciantes e
empresários como através deles, cuja a única lei era comprar no mercado mais
barato e vender sem restrição no mais caro, estava transformando o mundo.
Nada poderia detê-la. Os deuses e reis do passado eram impotentes diante dos
homens de negócios e das máquinas a vapor do presente
(HOBSBAWN, 1997).

Essa ideologia levou países europeus no século XIX, a buscar novos mercados,
matéria-prima, mão-de-obra barata, local para colocar sua população excedente e novas
áreas para investimentos, gerando assim, o imperialismo desses países sobre a Ásia,
África e em menor escala sobre a Oceania. Já a América sofreu o imperialismo mais direto
promovido pelos Estados Unidos.
No cenário nacional, o Brasil essencialmente agrícola com seus poderosos
proprietários, achava-se longe de exercer o controle absoluto de seus negócios. Os frutos
que esperavam colher com a independência e, logo após, com a abdicação de D. Pedro I,
não lhes apresentavam facilmente ao alcance de suas mãos. Permaneciam o comércio em
atacado e a varejo controlados por portugueses, enquanto os seus novos rivais, os ingleses,
detinham os negócios de exportação, agrilhoando a economia nacional.

A expansão do capitalismo no Brasil ia afastando os portugueses das sólidas


posições que haviam ocupado no campo das finanças e do comércio. Ressentia-se
igualmente, os artesãos e as pequenas manufaturas nascente da concorrência dos produtos
europeus, que os impediam de desenvolver suas potencialidades, condenando-os a
inexpressividade.
Quanto ao Maranhão, sofria a penetração direta do comércio inglês, facilitado
pelos tratados firmados por D. João VI, que traziam consideráveis
consequências para a exportação e cultura algodoeira. Reinava o
descontentamento tanto entre os portugueses que inexoravelmente, passava a
segundo plano no mundo dos negócios, como entre os agricultores, esmagados
pelos juros impostos pelos seus novos credores, pela desvalorização dos
produtos tradicionais no mercado internacional e pelo encarecimento do
escravo impulsionado pela determinação inglesa de extinguir o tráfico negreiro
(CABRAL, 1984).

É nessa conjuntura de desenvolvimento, descontentamento, conflitos, ensejos de


liberdade que surgem as primeiras relações comerciais de Arari. Tímido, como já citado,
mas com um povo forte, determinado a desenvolver-se apesar de todos os entraves que
aparecem no processo de edificação de um município.

No início da fundação de Arari, não existia muitos escravos, mesmo porque a


população era muito pequena e alguns desses moradores não eram simpatizantes da
escravidão. Posteriormente de forma paulatina, foi crescendo o número de escravos,
devido, a implantação de engenhos e cultivo da cana-de-açúcar neste município, além do
fato de que a aquisição de escravos possibilitava status.

A escravidão brasileira (meados do século XVI a maio de 1888), que ainda neste
momento era a principal base de sustentação econômica do Brasil, deixava evidente que
aqui também se fazia presente pelos mesmos motivos que no restante do país. Para se ter
noção da quantidade de escravos em Arari, podemos observar que no período de 1859 a
1888, houveram 436 batizados de negros e mulatos filhos de escravos. Existem dados que
mostram que Pe. Inácio Mendes de Morais e Silva dispunha de um certo número de
escravos. Também era um dos maiores proprietários de terra deste município e
circunvizinhança, exercia também a atividade pecuarista nesta região - e foi com a prisão
de um de seus vaqueiros que se iniciou o maior movimento popular ocorrido na história
do maranhão em 1838, a Balaiada.
“O início do processo de enriquecimento econômico de Arari deu-se com a
intensificação da navegação do rio Mearim, aliado a criação de gado, plantação
de cana de açúcar e assentamento de diversos engenhos na região. Por ser o
primeiro porto influente de quem sobe o rio, tornou-se também a vila portuária
de maior importância desta ribeira, por vários anos” (BATALHA, 2002).

Acerca dessa citação se percebe que Arari, ainda na sua idade primitiva teve uma
atividade portuária significativa, beneficiando assim o desenvolvimento local, também
pode ser percebida na colocação feita pelo Pe. Brandt e Silva que cita em uma de suas
obras: “Quando os barcos que viajavam tinham de encostar por falta de vento e de maré
os passageiros não deixavam de saltar em terra e o lugar foi chamando a tenção de
diversos que depois de demorarem um pouco na Ribeira do Mearim, vinham situar-se
nessas barrancas”.

A fertilidade das terras propiciou o cultivo de produtos agrícola, assim como, o da


cana-de-açúcar, possibilitando o povoamento da localidade e consequentemente o seu
crescimento demográfico. A pecuária também se desenvolveu devido a fertilidade dos
campos, sendo esta, a primeira e a principal atividade praticada no município, geradora
de expressiva fonte de renda.

Não podemos deixar de citar a cultura de subsistência aqui praticada, por exemplo, a
mandioca, o arroz (que posteriormente seria o produto agrícola de maior expressividade
econômica deste município), dentre outros. Com o cultivo desses produtos somado a
atividade da pecuária, Arari começa a se desenvolver econômicamente.

Aspectos religioso e social

O sentimento religioso e social que permeiam a nossa sociedade é produto da


somatória de três universos culturais inteiramente distintos: nativo, branco, negro.
Gerando uma cultura pluralizada, miscigenada, que se estruturou ao longo do Período
Colonial (1530-1822) no Brasil.

Em toda a sociedade, as relações se manifestavam de pessoas para pessoa e


intergrupos, cristalizando-se em momentos importantes: visitas, batizados, casamentos,
enterros, festas religiosas e profanas. A mentalidade religiosa e social, era
predominantemente das tradições portuguesa.
Era costume a realização de festas que ocorriam durante vários dias, com
abundância de comidas e bebidas, músicas, danças – consideradas comemorações
familiares. Também existiam as reuniões e festas dos padroeiros e principalmente nos
chamados “Ciclo de Natal”, sendo esta, uma das mais importantes. Mesclava-se o
religioso e o profano dentro da sociedade da época em todo o território brasileiro. Havia
constantemente reuniões após o jantar, o jogo de cartas, com ou sem apostas em dinheiro.
Apreciavam também muito as adivinhações de origem portuguesa.

Nesse palco entrelaçado é que surge as primeiras relações sociais e religiosas


miscigenadas do município de Arari. No início, nessa comunidade, existiam vários
portugueses, todos católicos sedentos em praticar seus cultos. Mediante essa situação, em
1806, Lourenço da Cruz Bogéa, se dirigiu ao bispo D. João de Brito Homem requerendo
uma permissão para a construção de um templo, a qual, foi aceita – devido a necessidade
que havia de um local para se reunirem em adoração ao Criador, assim se construiu a
primeira capela neste municio.

“No dia 06 de agosto 1811, a capela era inaugurada com a solene entronização
da imagem de Nossa Senhora da Graça que veio em procissão fluvial da
vizinha Ribeira do Mearim. A festa naquele dia foi grande. Lourenço da Cruz
Bogéa e sua esposa Isabel da Hungria Mendes Bogéa lideravam as atividades
religiosas e sociais e eram incansáveis no zelo para que tudo se saísse bem.
Trajados a maneira da época era mais que procurava exibir suas roupas novas.
E não era para menos, pois aquele foi um grande dia para o lugar, pequeno para
conter as 400 pessoas que acompanharam a imagem da Ribeira do Mearim,
tendo à frente o Pe. Inácio Homem de Brito. Houve celebração da Santa Missa
a chegada de um Te Deum e, durante nove dias, todas as noites, eram
realizados ofícios religiosos. Foi a inauguração oficial da primeira capela
construída em Arari. Podemos até dizer que foi o dia da fundação oficial de
Arari (...). A festa da Graça, celebra em agosto, com começo no dia06 e
terminando a 15, movimentação apenas aos moradores da povoação, como
também atraia fieis dos lugares vizinhos, sobretudo da Ribeira do Mearim, sede
da Freguesia, do Bonfim, do Barreiros, do Carmo e até da Capital da
Províncias, e de outras Freguesias como a de Viana, Santa Maria de Anajatuba
e de Itapecuru. Depois começou-se a festejar Bom Jesus dos Aflitos, cuja a
imagem Lourenço da Cruz Bogéa foi buscar em Portugal e lhe deu uma capela
ao lado da de Nossa Senhora da Graça”(SILVA).

A sociedade arariense se constrói e se desenvolve em um âmbito religioso. Essas


duas festas católicas se tornaram as mais importantes comemoradas neste município.
Também havia a realização de bailes - a mistura do profano com o religioso - pessoas
importantes da sociedade se faziam presente. Além de se trabalhar a religiosidade, essas
festas possibilitavam entretenimento. O trabalhador manual por exemplo, tinha a
oportunidade de se divertir também no arraial com danças, comilanças e bebedices,
costumes típicos de todo território intensamente influenciado pelos costumes dos
portugueses.
Ao redor da capela de Nossa Senhora da Graça a povoação deste município foi se
desenvolvendo social, econômica e culturalmente. Os acontecimentos convergiam para a
vida religiosa que servia de elo para a emergente população.
Podemos até afirmar que Arari centralizava todas as suas atividades em volta
da capela nossa Senhora da Graça. Nela se realizavam os batizados e nela se
casavam os filhos das famílias da localidade. Ali se promoviam grandes festas
e sacerdotes vindo de Vitória ou de São Luís pregavam a palavra de Deus e
eram ouvidos e celebravam a Eucaristia, participadas por todos (SILVA).

A falta de padre era um grande problema para Arari. É por isso que o Pe. Brandt
Silva refere-se acima aos sacerdotes que vindo de outras localidades para a realização de
cerimônias religiosas. Segundo ele, aqui vivia praticamente sem assistência de
autoridades eclesiásticas. E um dos motivos era que os padres não queriam ser vigários
de paróquias muito pequenas. Todavia, as pessoas começaram a canalizar a sua atenção
para a realização de outros cultos e festividades, como a macumba, o terecô, baile de São
Gonçalo e outros, que na época eram condenados pela igreja católica.

O único vigário efetivo que o município teve logo após a criação da Freguesia, foi o
Pe. João Francisco Coelho (1858-1866), e a partir de então, ficou sem vigário permanente
até 1944, quando vem para cá o Pe. Clodomir Brandt e Silva.

Porém, muitas e insistentes tentativas foram feitas junto as autoridades competentes para
enviar um padre para Arari, porém, sem resultados positivos. Tem-se como exemplo, o
pedido de um senhor chamado Pompílio em agosto de 1878, o qual foi publicado no
Jornal Estado do Maranhão, que dentre outros elementos relatava:
“Apelamos para o rvd. Vigário do Mearim (...) pedindo por amor da religião
de Jesus Cristo ao nosso muito virtuoso prelado que por sua misericórdia nos
mande um padre, porque necessitamos desse sal da terra, desse candelabro,
para com sua luz vir dissipar as trevas do erro em que estamos envolvidos à
muito tempo(...)”.

Pompílio em outubro do mesmo ano, insiste novamente na esperança de conseguir


um vigário “(...) Igreja sem pastor – tudo é trevas! Invocamos ao nosso pai espiritual que
nos acuda em tão dura emergência(...), queremos, pois, um padre para nos vir socorrer”.

Havia também documentos que, além de solicitar um vigário, relatavam a


realidade de Arari nesse momento nos aspectos: sanitário, educacional e social, como
observamos nas solicitações do professor Raimundo Pereira Pestana divulgado no Diário
do Maranhão, em 5 de setembro de 1879, que citava:
“ O vigário João Coelho faleceu no seio de sua família(...), de hidropisia geral;
e o frei Joaquim de aneurisma no peito(...), o Mearim é um foco de peste, por
essa mesma razão poderosa, é que nós impetramos um padre para o jornal da
capital. Continua mau o estado sanitário desta vila. Grassam ainda com muita
intensidade, as febres intermitentes com caráter epidêmico. Raro é o dia que
não se sepulte uma ou duas pessoas(...).

Diante dos relatos, podemos perceber que a figura do padre naquele momento era
polarizadora. Subtende-se que sobre ele estava a responsabilidade de organizar a
localidade que estivesse inserido. O povo sem uma autoridade religiosa se encontrava
meio que a deriva. O que justifica as várias solicitações para o envio de um vigário para
Arari, nesse momento.

[1] Zona geográfica eclesiástica da Igreja Católica designando aldeias e povoados com
condições necessários para se tornar uma freguesia, ou seja, tornar-se o distrito de um
município e era provida de um cura residente para cuidar das atividades religiosas.

[2] Parte do território de uma diocese confiada a direção de um pároco; paróquia.

[3] Patente de oficial abaixo de tenente (no Brasil, a designação foi substituída pela de
segundo-tenente).

[4] Em 1827, surgiu o juiz de paz, através de uma lei esparsa idealizada pelos liberais.
Foi concebido como um representante eleito que não tinha treinamento, nem pagamento,
e que atuariam em assuntos de pouca importância na freguesia.

[5] No Brasil, o intendente existiu até 1930, sendo substituído pela figura do prefeito. É
uma figura da administração pública, exercendo atividades e funções semelhantes a dos
atuais prefeitos.

REFERÊNCIAS

BARROS, Célia de. O Brasil Monárquico, tomo II: O processo de emancipação. 10


ed.-Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

BATALHA, João Francisco. Navegadores do Mearim e os Marítimos do Arari. São


Luis. Litho Graf, 2002.

----------. Um Passeio Pela História do Arari / João Francisco Batalha. – São Luís, 2011.

BOTELHO, Joan. Conhecendo e debatendo a história do Maranhão. São Luís: Gráfica


e Editora Impacto, 2012.

CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Política e Educação no Maranhão (1834-1889).


São Luís, 1984.
HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Tradução: Maria
Tereza Lopes e Marcos Penchel. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.

JANOTTTI, Maria de Lourdes M. A Balaiada. Brasiliense,1987.

SILVA, Clodomir Brandt. Assuntos Ararienses I. Arari: Notícias de Arari, 1985.

----------. Assuntos Ararienses II. Arari: Notícias de Arari, 1990.

https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sar_Augusto_Marques

http://www.politize.com.br/historiadovotonobrasil/>Acesso em: 04/05/2018)

http://www.ambiti-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9825 Acesso
em: 05/05/2018

http://www.google.com.br./amp/s/educalingo.com/pt/dic-pt/intendente/amp

Acesso em: 05/05/2018

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