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© PRINCIPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIGAO PORTUGUESA (*) Mania LUCIA AMARAL 1. INTRODUGAO Igualdade ¢ “igualdades” no texto constitucional portugués E no artigo 9°, relativo as “Tarefas fundamentais do Estado”, que a Cons- tiuigo da Repabia Portuguea empregn pela pimeia vez a pave igual dade A disposi, qu se enconansera num gro de det cues qe em por eparfe “Prncpos fundamenas determina que “Sto taf fundamen: tis do sada) didlo eta BS A) Promove «iguadede ene homens ¢ muhdrs™ Dip so longo do dit xrvo constitu, plas e expresses como “ig”, “gia iin” 0 "cn tiges de igual eaparecert varias vezes. No ago 10" dizse qu o pow ‘aec.o poder pltco através do agigio igual. No stig 36%, relaivo 0 dic fos funamenas de Contr fami ede conta easunen, di-e qe ais tities, queso de todos, se exerem em condipdes de pena iguldade, endo os ebnjigeslguis dese to podendo os ios nascids fara do cashento Sex por esse moto, dsriminados; mais adante, a propésto do diet de dees a ears pulios (aig 50°), volta a dizerse que todos of eidadaos 0 Getém em condipes de igualdade, inaient, 0 aig 58°, onde s cons gra como dirito soci odo a0 taal, a expresso gue se ua, via das Cattas mas dele em pate diverse, én de "igualeade de opotnidades ‘A idea peral de igualdae (eauponho que, por engusnto,poderemos designtlajustamente asim, como "dea gral, cna no extant Je ua ds- posto 8 pare. O argo 13% sstematicamenteinlido no grupo de preceitos {he enunclam os princpiosordenadores do exerfeo dos diets fundamen- tis, diz que todos ov cdaddos tm a mesma digniade soctl ¢ so iguais perante ale (a 1) ¢ que (n° 2) ning pode ser privilegido, benefit, pe- (Testo apesenado ao XIIP Congreso do Insti Teo-americano de Dirt Const- ‘scion Jjudicado, privado de qualquer dieito ov isento de qualquer dever em razio da ‘ascendéncia, sexo, raga, lingua, teritério de origem, religdo, conviegdes pol ticas ou ideoldgicas, instrug, stuagdo econdmica ou condicdo social ‘A transcrigio de todos estes enunciados tem a vantegem de deixar clara a afinidade existente, neste dominio, entre o texto constitucional portugues € ‘outros, que Ihe s80 préximos tanto no tempo quanto nas escolhasessenciais de “valores”, Nada, em tudo © que se acabou de descrever, parece substancia- mente diverso do que ¢ pescitonoutos lugares. A consagrago de “norma expe- ciais” de igualdede 20 lado de um prinfpio “geral” —entendido como relativo 40 modo de exerccio ds direitos fundamen, e, portant, em ceria medida sub- Jjectvicado — € uma orientagio comum, pelo menos & Consiuigdo espanhola © 2-Consituigio lem. A prépria formulagdo desse mesmo principio geral, con- 10 n." 1 do artigo 13° da CRP (todos os cidadios tém a mesma dignidade social.) coincide com a da primeira frase do artigo 3.° ds Constituiglo ita liana, E embora no a2 2 do artigo 13. o texto portagués nto use a pelavea “sis criminagao” (mas antes uma pretensa explicitasS0 do conceto que The coesponde, expicitaglo essa que talvez caus, 2 ntepretaco, mais problemas do que aque- Jes que eventualmente petenderia evita), a verdade € que o eenco daguelas cerac- terstcas pessoais que, em principio, impedem o estabelecimento de diferencas entre as pessoas que as detém, Bs quais, por sso mesmo, 0s nort-americanos _chamam "categoria suspeitas”(), se assemelha, sobretudo pela sus extensio, 40 fixado no artigo 21° da Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europea. ‘A.redacedo dos n.% 1 ¢ 2 do artigo 13, que acima transcrevi, corresponde ‘a que foi aprovada pela Assembleia Constituinte em Abril de 1976. A formula ‘io textual do principio da igualdade manteve-se portanto inalterada ao longo dos 28 anos de vigéncia da Constituiglo @), Esta afirmagio, que poderia parecer supérflua quanto ® outros direitos nacionais, no 0 € para 0 caso do direito constitueional portugués. A CRP nfo tem tido propriamente uma vigéncia rran- quila, pelo menos naquilo que diz respeito a sua formulagSo literal: as revisbes constitucionais ocorridas em 1982, 1989, 1992, 1997 ¢ 2001 introduziram alte- ages ao texto inicial de 1976 onde se misturaram, sem conexao lépica aparente, tanto 0 historicamente necessério e compreensfvel quanto o meramente conjun- (©) Lawrence H. Tike, American Continional Law, 2* ed, Mineola, New York, The Foundation Press, 1988 p. 1465. (@) Ese afrmagio, veradeca no momento em que 0 texto fi escrito, é 0 no € 8 altura de caneagfo des proves. A seta revo da Contugto portpuess— aprovan pla Assembein ‘4: Republica em Maio de 2004 — alierou, de fet, on. 2 do ago 13% serescentando-ne & ‘prlgio de dsriminacSo em fang da “ong sexual". A aerajSo merece coment que ‘lo posem, neste moment, se eis, tural ), 0 fenémeno, que tem as sua rafzes profundas nas circunsténcias par- ticulares que marcaram 0 processo constituinte portugués (4), nfo pode agora ser objecto de anélise pormenorizada. Basta que, em relaglo a cle, se sublinhe 0 essencil. Para a tradiglo de pensamento que se inscreve na continidade do cons- tinucionalismo, o prinepio da igualdade no ¢ obviamente um principio qualquer. Visto que o conteido de6ntico que vulgarmente Ihe ¢ atribufdo o transforma antes ‘virtual guardiao de todos os restantes valores constitucionais” (*), nfo pode “deinar de ser significativo 0 facto de, numa constituicdo intranquila, se ter man- tido A margem da intranguilidade a sua formulagSo literal. Nem as especifcida- des do nosso processo de transigo democrtico nem a inquictagéo (textual) da cons: tituigio que dele resaltou impediram que, em Portugal, se fossem sedimentando 08 estruturas bésicas do Estado-constitucional. A coneretizago — pela jurisprudén- cia, pelo Iegslador, pela administragdo — da norma contida no artigo 13° tem sido um instumento essencial desse processo de sedimentagio. Tl, VISAO_BREVE DE_UM PATRIMONIO. COMUM Os problemas da determinagio do conteido do principio. Duas dimensdes da igualdade A expressio que € useda no.n® 1 do artigo 13.° da CRP.— todos os cida- aos ... so iguais perante a lei — corresponde, na tradiga0 do constituciona- (©) aca uma visio gerade tds as aerages e da sua hist, Jorge Miranda, Manual de Dirto Consttucona, Tomo I, 7", Coiba, Coimbra Bios, 2003, p, 280 e 3. (0) Bidem pp. 45°55. A consiuigo reitnte deste proceso ten sido mates vezes — por eu dele mesmo — qualita como “compromisris” (hci, p. 350) Na reaidae, ‘em scnio ato gutnto patel precio o emo, "compromssna" lo paderm dena de ser fm ge as coaettuggeseuropeat da segunda meade 6 séulo XX (Mauro Foravant, Stato Casinaione, Moeriale per wna sors dele dotrinecositaconall, Taino, Gagpchelli editor, 199% p. 230), O que distingue 0 compromisso obo na Asiembleia Contituine poragoess de 1976 €o seu ester partclamentediscerado sobre a queso, Pancico Lacs Pies, Teoria da Consiga de 76. A transi dais, Coimbra, 1988. Ali 3 hiss do artigo 9°, elativo A "trefas Fundamental o Etado" (ue encionamos em primero hgar no texto) pode star ‘hemplarmente a ifcldade do compromiso, As alieas que consgram, hoje, a "promogto” (her da ipunldade real ere os poraiueses que iguadade ene homens e mulheres com “Af fandamenti” da Replica no exiiam ssi mesmo a verso cxiginria da Costco. ‘A imei fo escia pla revisho consitucionsl de 1982, A segunda foi ata pela Lei Cons thcioal de 1997. 1976, em verdes flr de "igualdde el ente portugues”, © que 5© fai or osoguinte: "Sto tetas fundametae do Exado[..<)Socilzar os mis de produo a riguezs, ves de formas adeqadas hs ceacteitint do preset pio sic, ei as ondgtes gue permitm romovero be-esar ea qualidade devia do povo,especiakment das Clases abaladcas solr a expresso a opesszo do homem pelo home" (©) Tribe, ob cit nots 1, p 1436 lism europeu continental, 8 formulagdo habitual do principio da igualdade desde 0s finais do século XVIIL. Sera fastdioso recensear todos 08 textos constitu consis europeus que a partir de entdo a adoptaram ¢ continuam a adopta (). Mas a verdade € que, st as palavras nfo mudaram durante dois sécuos, « nossa percepsao sobre o que & que clas devem querer dizer se foi susbstancialmente transformando, Este processo histérico de mudanga de sentido nio pode ser visto como tum processo de rupture: parte do nosso entendimento do que sea hoje 6 conteido do principio corresponde ao parilhado pelo iluminismo da iustragdo, ‘que inspirou os primeiros textos das declaragbes de direitos. Mas a essa parte fizemos n6s acrescer vdras outras pares, que do eram nem podiam ser ante- vistas pelo primeiro constitucionalismo, ‘A forma mais precisa de explicitar esta construgdo gradual, por “ as", das virias dimensoes atrbuidas a0 conteddo do principio parece ser aquela que distingue nele, antes do mais, duas facetasessenciais: por um lado, a exi- BEncia de que todas as pesssoas sejam tratadas pelo Direto de modo igual, por outro, a exigéncia de que todas as pessoas sejam tratadas pelo Dirito,n80 de modo igual, mas como iguais. A. primeira faccta podemos confecir a desig. nagio de {entendimento da} igualdade come universalidade. A segunéa pode- ‘mos atribuir a designagio de [entendimento] da igualdade como diferenca fur damentada ou razodvel 2. A igualdade como universalidade e 0 Estado-tegistativo © primeiro constitucionatismo, aquele mesmo que determinava, nas suas declaragies de direitos, que a lei € igual para todos, nao era em geral sensfvel (©) Amigo 3° da Délaration des dts de homme etd ctyen de 1798 Tous es hom: ‘mes sont aux pr Ie ratue devant I 6.” Condoret,comenando este puss do Aco Cont tiucional Francs de 24 de Junho de 1793 dni” A igusidade coasse em que cade pestoa psa par dos mesmosdrcts™. Apud Lopez Praga, Dirtto Constucional Porque. Esudes Jabra a Carta Consitucional e 0 Ato Adicional de 1892, Coimbra, imprensa Litera, 167, opp. 133-134, Em Pongal, a 1933, férmuletaciclonl no ft exacamente eta iualdade ‘perant lei) mas antes uta nspirada no atigo 6 da Delraso dos Dirctos 60 Homem e do dato, de 26 de Agosto de 1789: “A lel € igual para todos.” Vejam-se ot argos 9° ds CConsaigo de 1622, 14S", § 12, da Cara de 1826, 10. da Consiuigso de 1838 3°, 27,03 ‘Consitigh da Primeira Repablica de 1911, (0) A dingo ene "rto ipa” e rato de todos como ina € adptads por Lawrence ‘Tite panic dems frmulags de Dweskin, que se refere a0 right fo equal ramet e 30 right 10 be teted at an equa. Tribe, ob cit. oa, p. 1437. (Quanto « Dwoekin, vse po tino A eferdacia a dstngdo em Sovereign Vrme, The Theory and Practice of Equal, Cambeidge/Mas- sschusets, Harvard University Press, 2000, . 11). Na Hirata portaguesa € sobre 0 proceso Ge aherago de sentido do peicpio a igalade: Castnheia Neves, O Iestingo dos Astentos € 2 fangdo urea dos Supremes Tribwrts, Combs, Coimbra Ears, 1983, pp. 119 es. A segunda “faceta” do principio. facto € por demais conssbido. A “descoberta” desta oura “dimensto” da igualdade (entendida, no como indiferenciagao jurf= ddica entre as pessoas, mas como exigéncie de existéncia de diferencas funda- mentadas entee clas) &, pelo menos para a Europa, retagao da Constituigao de Weimar e que se estendeu, depois, rapidamente, 36 ia C&nclr urdiashaclonaié ©). Antes cesta altura ~ antes do debate do inicio do século, da insttuiglo de Tribunais Consttucionais e do consequentef1o- rescimento das tarefas estdveis de interpretagio das normas constituigbes nacio- ais Hlescimento es et sobre, eps de 1945 —, er pravicanete PERSE ‘ee part camp aigualdae- O princtpio reduiase portant exigencia de ‘gual tratamento de todos pelo Direito e © igual tratamento consumia-se por (Sobre ax orgens contro dowrintris desta “segunda” dimensto, P. Kuchhof, “Der algemeine Gisela" em Handbuch des Staatsechts (senscelKuch cus), Band V, Allgemeine Grendrechleren, Heidelberg, CF. Mallee Verlag, 1992, pp. 837972 874), A teo- fi do entendiment de igudade come “proibigso do arti” (ow como fren fundamen, de acodo com a expresso do texto) & formula pela primeira vex por Leitbolse Tipel apa tr do segunte postlado:o principio da jusldae nfo pode se ealenido como iuaizgo for- ‘mal-esquemiicn mss io smente come igualdade proporcionsl, que se ada no igual tta- ‘mento de situages defacto que, em dterminads ecstncas, devam se tad como ia Sobre o procesto, qr do preenchimeno gradu deta formulsgio sparenemente vars, que da sn adopeio pelarjushdigbesconstucionas earopeas no segundo ps-guera (Quando © Ps prio Labor sstume a pesidénca do Tribunal Cosicionlalemio) vsjam-e, ete mits ‘uses, Maria de Gléia Garcie “Prnpio da Igualdae, Fémulavazi ov Rormulascarrepadan ‘econo em Bolen do Minitrio da Justia, 388 (198), p. 19-64; Fransco Rubio Llo- tem, “La ipualdad en I jurspragencia del Tribunal Coesttuciona. Inragucion em Revista Eipatola de Derecho Consticional, Ano 11, Nim. 31 (1991), pp 9-36 [2]; Peter Hibere, “Der Glecheinsatz im modemen Verassngsstat, Archiv des onfentichen Rechts, Band 107 (0982), pp 1-14 (0) Eingego a expresso no sentido que Ie dao por Gustavo Zagrebeiy,nomeademene ‘em "Su we ape els rapionvoleza" em lt prinipo di rapionevoezca nella glurispradenta della Cone Costuionale, ob. co, Miao, Gia Etre, 1994, pp. 179-192 (183) (C2) Assim mesmo, Francisco Rubio Lirete, ob. ct nota, 7,p. 25. sev emo setae sae wine, anos con Se Nea iE claro que tudo isto, que hoje nos parece pouco, ea jé muito. Si aequa 1 ee cpa pt svomisc de os os emos a ee i agen coo feted deo pox atnama Ae ee ginconaona como um pssst singe a eres tna por demas comsabin, pelo qb Te M80 re soc Rosen a cxpce de foals no so are a eee sobre ovgem’c fundamen da desiguadede ea ae etn ques qo unguém no Esato te pes dit on eae sg const deh gre, Se aan poman que io eae stmt 1, as eats fe encontrarao & discriglo dele” (12); O tratamento igual, consumido na igual ra ede chain ou igen nesago Tel de todos (s Gatos) poderes do Estad, era portato a muito.” Se hoje nos parce povco, tal a) Peaster nenas sto agora Noss Cxigeh- Sir ge tetas 3, A igualdade como diferenga fundamentada e o Estado-constitu- ional CCom efit, a hist da “descobert"e da afirmagdo da outra dimensto do principio -- a do entendimento da igualdade. como diferenca,{constituida pelo Direito de forma) fundamentada — ¢ também, conszbidamente, a histria,d& ae lke dando de ur events vnelaio So modo de exerccio das iberdadesindvidusis. E por isso que o principio vem hoje enunciado, na Consttuigdo portuguesa como noutras, a propésto do “regime ger” dos direitos fundamentais. J& no precisamos 3 entender ape- tas, como os homens do século XVII, de um modo objectvo-negativo, isto é, oii instrament de eradicegdo de exauios grupas privilegiados: af nists cul- turn jricasaingram aguele ponto de desenvolvimento que permite — ov que txige: a questi serd abordada adiante — que o entendamos também de modo Subjetive-positivo, isto ¢, como insrumento que garanta a (ive) expressio das diferengasindividuas. “Este processo de subjerivzapdo do entendimento do principio resultou da sua aplicagao a0 prOprio leislador. Era jstamente esse o elemento que faltava (0°) Por wotos,Castaneira Neves 0. et natn 6, pp. 19 © 38. (13) Utne a eaduco pomupoest do M. de Camgos (Publeagtes Exopa-Amica, 3* ed, Mirna, sp. rane rs, — que nto podia deixar de faliar — no chamado “Estado-legisiativo”. Como “E proprio do Dirito estabelecerdiferenga justas entre as pessoas (8), © como prbprio do poder legislativo defini-las e consttu-las de acordo com a medida da jusiga, a partir do momento em que a ideia de igualdade deixou de ser, ape- tas 0 vincalo dos Tribunais e da Administrago para passar a ser, também, “vin- ‘eulo total da fungio classificatria do legislador” (8), 0 conteddo do principio {que a enuncia enriqueceu-se inevitevelmente com uma nova dimensio, Para SOheretizar a norma que agora Ihe era superior, a lei nfo podia (como se fazia em finais de 700) entender que a “igual oat ndimento tunha que ser outro. Cee idene, assim formulada, a “idea” de igusldade nto resolvia propriamens nenhum problema. elo conti: com ea s6 se criavam noves egal Uifculdades e tensdes, sobretudo no campo sensiblissimo de delimitaglo de compctecias ente 0 poder leisativo © pode das jursdigdes constitucio sa Com gue enon pera o juz aftr a ndorar doleislaor? E como Cig Se garanra que ese seu jufco no redundasse na imposigo & comn- dade das razdes do proprio Tribunal? Como, em suma, traduzir em term ddogmiticosrigorosos as to vagas exigéncias de “fundamentacio das diferengas ca do tratamento de fodos como iguais? 4. O critério da igualdade como diferenca fundamentada. O conceito de diseriminagao (© nosso sentir comunitério foi achando resposta para todas estas questdes, ‘antes do mais, a partir do conceito de discriminagao. Discriminar significa ipbsloces cif essnas.com fundamenta, pum ulae, MBs. Bu ). Por definigéo, os pré-jufzos, sempre culturalmente indus nunca sio razodveis, Agir “azoavelmente quer dizer (agir] de modo tal que ‘as nossas boas razes possim set reconhecidas como tais” (7). © mundo da emo- () Franciso Rio Llsete, ob. ct nota 7, p16 (3) Aexprsso € ce Live Palain,em "Eguaplara (i. cost", Hnccopedia del Dito, vol. XIV, pp 519-549 (520, 1) exresio € de Condoret. Vejose supra, not 5, (09) Thi, ob cit nota, pp. 1480 ¢ (0) Zapabeaky, ob ec ota 8 pp. 179-180, ‘¢lo decorrente do preconceito ndo é, certamente, o mundo da boa-razto. Por isso ‘mesmo, o imperativo da proibigio do arbitrio legislativo (que € outro modo de dizer: ndo-razdo do legislador) significa, antes de tudo, proibiglo de discriminago neste exaeto sentido: prima facie, nfo serio admissiveis aquelas diferengas que lei constituir © que nio tiverem outro fundamento para além do pré-juizo do Tegislador sobre aquilo que distingue as pessoas ¢ sobre aquilo que & relevante para a formagio da sua identidade. Como a nogdo ainda € vaga, 0 elenco das caracteristicas pessoais que é fixado no n.° 2 do artigo 13:° da CRP (ou no artigo 14° da Constituigio espanhola, no artigo 3.° da Constituigf italiana ov no n° 3 do antigo 3,° da Lei Fundamental de Bona, et.) tem a utilidade heursten aii a exati, ome Acne con rnin me me ona apr maomnel pore fonlde mom peu 0 legsor Pa ond, abe a jz eas eda cn as ae ae 5. Occitério da igualdade como diferengafundamentada. Outros pro- ‘Blemas_ Caso 0 indfcio no ocorra — ou caso a lei que diferencie 0 nio faga eri fungio de caracteristicas pessoais tidas & partida como nio-admi efeitos de diferenciago —, 0 escrutinio do juiz quanto & existéncia de razdes {que justifiquem as diferengas estatufdas pelo legislador pode deve ser um ceserutinio menos severo, Dado que, prima facie, se nfo verificam os sinais iciadores da existéncia de uma discriminagio proibida, o julgamento da inconsiucionaldade da li s6poderd vir a ser um jlgamento fundado se se] ie iquer relagdoenire.o fim prosseguido pela lei e f | (a este tipo de “serio” que os nore americanos chamam “stictsertiny tet ‘eiemse, par além de Tribe (ob. eit, p 1451), a8 informagieseahis em Giovanni Bogneti, “I pinipio di rapionevolezza ela gitrispadenea della Cone Supers degli Sul Uni em 1 principio di ragioevoleea ct nos 8, pp. 43-4, © em Peter Habele, ob cl, nota 7, p. 6. (0) Pore mnsresdesenvolinete, Kira, ob ct 907, pp. $23 $8. Ate tipo de jtto — qu, em dieito europe coninenal, ocoe quand eséem causa # iuslade elena apenas como “proibigdo do erbiio” —chamam os note-americans "baie requirement of min ‘mae rationality” Tbe, ab cit, p. 1438 nesta dimensio — que é a dimensio minima da proibigdo do arbitrio @%) — o principio da igualdade obriga a que os Tribunais Constitucionais procedam 4 juos negativas de racionalidade pritica que, pel. sua prépria.natureza, trans- portam em si mesmos problemas dificeis de delimitaglo, fundamentacio ¢ [Em primeiro lugar, é muitas vezes dificil distinguir com rigor entre aquilo que é requerido pela aplicagao do princfpio da igualdade, entendido nesta dimen- slo, ¢ aquilo que € requerido pela aplicagdo de outros prinefpios, cuja concre- tizago também pressupOe a racionalidade prética do juizo de avaliaglo da ade- ‘quagdo de meios a fins. Estou a referir-me, como é evidente, aos principios da proporcionalidade e da proteccio da confianga, Na jurisprudéncia constitucio- nal portuguesa, por exemplo, toma-se &s vezes bem visivel como a proximi- dade entre 0s diversos tipos de juizos que sio requeridos para a concretizacao {dos trés principios torna dificil a distingso conceitual do conteddo de cada um dees. Vé-lo-emos em breve (3) "Em segundo luger, esta “fluide” do juizo de igualdade — assim enten- dido minimamente, como proibicdo do arbitrio —- coloca evidentes problemas no dominio da separagdo entre poder legislative poder judicial. O jviz. que julga a “desigualdade” de uma lei, ¢ que como tal a considera inconstitucio. nal, nio_pode evidentemente sobrepor as sua razies 8 razio (ou nfio-razio) lador.. Isto quer dizer que os Tribunais Constitucionais no avaliam, Bre, portanto, den Ora, eis limites parecem ser ultra ‘passados pelas chamadas “sentences manipulativas” (aditivas e substitutivas) ‘que, no entanto, surgem tipicamente a propésito da aplicaglo do principio da igualdade: o paradoxo € vis(vel na jurisprudéncia do Tribunal Consttucional porugués mas nfo creio que a cla se restrinja 2). Muitas vezes, tanto pare spor” a igualdade eventualmente lesada por uma norma legal quasto para garantir (de acordo com o principio da interpretagao conforme & Constitui- ©) _Acxpresio“dimensto misina” é de J.J. Gomes, Direto Constinucionale Teoria da Contino, 52 ed, Comba, Almedina, 202, p. 426, (2) Uma distngo lene iuslde €proporcionaliade 6, por exemplo, aquela que se enconra em Kitch, ob cit, p91. Volare: so assomo, (@) Para o caso do Tribunal Consitvional espanol, Francisco Rubio Morente, 0b. cit ro 7, p34 aa, samente, da extensio a todos 0 leislador cons aGGADLO_ 0: problemas cre Indie, problemas de delimitagéo das competéneias da jurisdicio consttuco- nal. Vé-os-emos também em breve Na histéria do pensamento politico, ideia de igualdade (tanto na sue dimensdo de universaldade, quanto na sua dimensto de difeenga fundamen- tada) andou sempre associada & propria idein de justiga. Mas o problema consitucional da concep o do “igual” como justo surge-nos hoje de frm pa- ticulamente complexa.” Formulemo-lo do seguinte modo. evidente que a pessoas diferentes devem sr atibuidos por li direitos diferentes, de scordo cam 2 medida da diferenga; mas, em todo 0 e880, que conteido exacto tem este dever?: Um contetido meramente negarivo,restrit a0 imperative de n30 riminaglo e de nfo arbitio, ov (ambém) um conteido postive, dduza no imperative de anulacio daquelas 6 mn her LTT APTAMEE? Oneando dente mote set ied ques argulecare constiuclond das dferenciagdes" ( € formada (pla proibigdo de diferenciar (i) pela autorizagdo de diferencar tesa saber se a estes dois planos se deve acrescer um terceira — o da imposigdo [cons ituional) de diferencia, de tl modo que, para certs grupos de pessoas, por principio, Jonas nfo pelo facto de abelecer desigualdades mas pelo ‘Numa Consttuigdo ee eae ee endun ts nxmes especiais de igualdade, a resposta para a questfo s6 poderd ser encontrada através da procura de uma espécie de “justiga de sistema”: 0 principio meté- ceu continuar insens{vel a esta portuguesa discrepancia entre o law in the books © 0 law in action. f certo que uma tal insensiblidade no constitui em ‘mesma um fendmeno novo. historia do constitucionalismo europeu conti- (5 _ Para mis nfoagies — sobretudo no dominio jslabral — Maria do Rosso Pla Ramalho, “Ipualdae de atmeno ect abalhadoresetsbalhadoras em mati remnerar in Revista da Ondem dos Advogaos. Axo 51 (1997) Lishon, pp. 159 es. (©) Virgin Ferra, em "Os paradoxos da stugio das mulheres em Portugal", Revista CCriien de Cincias Sota, Noverbo de 1998Feverio de 1999, pp 199-220 (201 (seo rnc). O paradox relete-se em ntmeres. Em 1995, de acordo com dados do BUROSTAT, Por- toga sresentiva a tere tana de setividade feminna mai aad Europ pa 0 grupo ei os 25 a8 49 aos. A rapide ea ntensidade da manga so impesionares: a “escalada” desta tua dese guase em proporgo geome desde 1960. No enlano — e em compara com ‘oe curs dois pales dt UE com eas de aciviade mas elevadae — o abalo feminino em Pox- ‘upal € muito mais raramenteexerido em tempo parcial alm dts, 0 hock labora & dos tae longs da Europa os salios dor menos elevados; at redex de apoio (matero-infanti) das mais precdras; as pecs sciis de parha de waalhos domésticos das menos favrives is rlheres O raw de feriniagao da reqénci do enrnosopeire ds actividades profisionais Uenico-cienifies€impresioaniement clevad,snda em comparaio cm oe dadosexteadoe da observaco dos restanes pales europeus: mas o gia a “emieiago da plica” dos mais Dinos. H paicamente 20 anos que ntndace da partcpagto dat muleres porwgusss na tsfecapoiica — peo sesso a ergs polticnsnacionas ou locals — se muntém sem alerases Bo terceiro Toga (oa escala dos pies eurpeus) em taxa de acividae feminina, pass-se para 11 lugar em "una" ce pareipaio plies. O paradoxo é porcanio bem Vise ara todas ‘esas informopces: para lém de Vifnia Feri, e da bidliografa a cited, vejan-s anda os adosrecothidos por Jost Manvel Leite VigasSério Furia, Ar Mulheres na Poltica, cis, Celis Editors, 201, e elo Mitsuo do Equipamento, do Pinesmento e da Administagso do Tero no elavio intulado Porm, Plano Nacional de Desenvolvimento Econdmico ¢ Social, 20002006, Lisboa, Outro de 1999, pp. F-I5 rental esté cheia de exemplos de casos semelhantes a este — textos que tantas ‘vezes contiveram programas ¢ imposig6es consttucionas hipertrofiadas, cujas con- sequéncias nfo foram mais do que “a grandiloquéncia nas palavras e a fraqueza nos actos” (3). Escrever palavras grandiloquentes ndo custa;e, 8s vezes, serve de muito, gracas aos compromissos formais dilat6rios que com elas (com essas ppalavras) se selam, Sempre que tal suede, porém, é a prépria-normatividade da Consituigio que se sactifica. 8. A igualdade como diferenga fundamentada: a jurisprudéncia cons- itucional A jurisprudéncia concretizadora do prinefpio enunciado no artigo 13° remonta as pareceres © acs da Comissio Constitucionl, que, durante © periodo trmsittio de 1976-1982 esinda antes de instisigto do Tribunal Cons- tiuetonal, define grandes lnhas erentadores da interpretapio da Constitu 40 (°°), Logo nas suas primeiras decisGes (*°) sao fixados muitos dos critérios {he depois se manterao, na jurispradcia do proprio Tribunal, quanto & dens ficagio da “idein” de igualdade. f impossivel recensear aqui toda ess juris- prudéncia, abundantissima (1); mas creio que no incorrerei em falha de rigor fe resumiro seu espirito constant us pontos fundamentss. Em primeir lugar, {Hiigo Em segundo Inga, A vizihanga que mulas vezes se esabelece, e que 6) 1.4, Gomes Canotio, “Revise I fo romper eon I Constucién digente? Defensa e un constusioalisna relexivo", em Revita eipafola de Derecho Constncional Ano 15, ‘um 43, Enero-Abil 198, pp. 323 19) (©) Sobre a histrn a insti (Comissto Constitucorl) «a sua rst dese, Jorge ‘Miranda, Manuel de Direto Constneloral ce 2482, . 374, alada Armingo Ribeiro Mendes, "0 Conseho da Revolugo ea Comisko Consitcional na facalzago de consitecionaliade as lei (1976-1983) ¢ José Manvel Cardoso da Conta, “O Tribunal Constitucional pocugus: a Sa eigem histéca", ambos em Porugal, O Sistema Palco ¢ Cosiuional, 1974-1987, ore “Miri Baptista Coelho, Isutuc de Ciencias Soi, Universidade de Lisboo, 198, pp. 925-940, £913.92, (0s leading cates fram, fundamentalment, of Paecres n° 176 fem Pareceres da ‘Comisso Constineiona! (gu er as: PCC), Vl, p. 18) a* 1478 PCC, ¥, p17) en 28) (CC, XIV, p. 124) Nese imo, hi uma deciarato de voto de Figucredo Dias que em grande Parte “xa” doting que depois no mais dinar de ter segs em, pp. 181 s, (3) arn uma reotha exaust de iformapio (st daa ds edie), Marim ée Albu- ‘qerque, Da Iguoldade,Itredugdo @ Juruprudénca, Coimbra, Aledina, 1993, préprio Tribunal nio consegue evitar, entre o juizo de igualdade e os juizos de proporcionalidade e de proteccio da confianga. Finalmente, em terceiro lugar, 4 forme como 0 Tribunal tem feito coexistir a sua train, sobretudo. em. matéria de interpretacdo ‘Giigo 13°, com a emissio de sentengas “manipulativas” que, justamente por SBIPT aimenatocminenenentereleina do pico da gualdade, ao tem peste domo poo evr. Pasarela anlisr coda um deste pots par amente bora o Tibunal mac taka desert assim mesmo oun oxentagio constant verdad € gue an ealegoras (i antrormene refed) do “ser tino eaicio"« do "ese Bisco de aconaldae’,definias pel juritpran. cont amecan pam expla sss vaigdes de intro da equal pr tet cau, prcom aicaeiniamon so acevo dos Acris pores tin aia dovmerprtagio do argo I3* A edentago, all, ¢definda mato euor"(86) € foto wearer eo pncipo geal de igatade conto non? 1 Goanigo 13° da Conmigo eb prego mateal que ele confere quando £ sou lgislasva ou em gros problemas qustontdos ndo ve enconram directement coberr por um dnt eopecal de iualdade 2 prt Jor alas clash de nao-dcrininegdo contd no n° 2 do precio do” (2) T depois: "{A] protecgdo material conferda pelo principio geal da “jgueldade assume, essencialmente, o carfcter de uma “proibicdo do arbitio", isto 6, de uma proibigao de medidas manifestamente desproporcionadas ou ina- equadss, por um lado, & ordem constiucional dos valores, e, por outro, & situa so féctca que se pretende regula(..)” (#). Dagui resulta que, ao longo de quase ets décadas, vido a ser sempre muito mais numerosas as declaragdes de incons- titucionalidade fundadas na violagdo do n2 2 do artigo 13° — e incidemtes, pportanto, sobre normas legais que estabeleceriam diferengas em fungdo de uma das caracterfsticas pessoais ali elencadas (#) — do que as fundadas na violacio do n. 1, ou da dita “norma geral de igualdade” (#). O conteddo desta siltima (©) Figueiredo Dias, em deslragso Ge voto a0 Pareer n* 281 (PCC, XIV, p 151. ico mew (2) Nem, tide (4) Exemplar: Acios n° 40081, de 31 de Ou de 91 (ATC, 20° Wa p15) «oes ete ear em caus una cea de egies ncasitucionl porge funda mums ds _Siminaco em fang d conch econsmin; Action 18601. de de Mai de. 1991. em que se enlndeu que a isriminaco indvis ora funn do sexo (ATC. 19° Vp. 28). Exes dois {tos precom exemplars pelo tip de fndarentagso que eles aparece: haven prima face, ‘mn ciferenga mtd poe em lao a una "cs ., dese logo mat ever prs 0 lepildor ca concust de inonsitcionaliade mais. oid (©) Exemplos de casos em que se cnc exit inconstacionaidace por Wolf, ape ‘as, don 1 do argo 13 em ie portato se ters considerado que © principio da poiigto “norma” € aliés, com grande constincia, definids através de uma construgio cautelosamente negativa: “a teoria da proibigdo do arbitrio ndo é um eritério efinidor do contetido do principio da igualdade, mas antes expressa e limite a competéncia do controlo judicial” (#8), pelo que, perante este “critério essen cialmente negatvo, $0 censurados apenas os casos de flagrantee intolerével desi- ualdade” (*), 0 que s6 ocorreré quando as diferengas insitufdas pelo legisia- ddor forem “no fundamentadas, nfo objectivas, nfo razodveis” (8) 1a orienta i = sem- abrupta, dos regimes legais. Nestes casos, com efeito, o Tribunal parece s te negat servido para a densificagdo da igualdade Sequanio Teqisormfnio de rzoailigae cote Um exempo desta difcule dade, provocada sobretudo pelo traco, demasiado ténue, com que o Tribunal desena as fronteiras entre 0 jufto de igualdade e o ju‘zo relative a0 contesido o prinefpio da proteccHo da confianca, pode ser dado pelo Acérdio n.° 1/97 (), fem que se conclui: “Deste modo, a violagdo da igualdade € determinada por ‘uma violagdo da seguranga juridica, que a modificagdo retroactiva das regras de avaliagto de. um_concurso pablico implica”). "A auto-contengio do Tribunal relativamente & intepretagao do n° 1 do artigo 13. gue, como vimos, se define desde a “Jurisprudéncia” da Comissio Constiuicional, serve evidentemente o propésito de assegurar que, neste domf= ue, de Ao arbi no fra obervad plo leislador: Action 68/85 (ATC, 5° Vol, p. $25); 886 (ATC, 7° Vol, p. 79); 7H89 (ATC, 92 Vo. p. 67); LDH (ATC, 11° Vola p. 138},€ UOT ATC, 362 Vol, p. 7). (9) Acéadto n° 35558 (ATC, 27° Vol, pp. 233 es (p. 2419) ©) Idem, iden 9) Acéeios 9 18990 ATE, 16" Ve, p. 395), 1828S (ATC, 6 Vo, p. 81; 4484 (ATC. 39 Vel, 5. 139, (Gh) ATC, 36° Vol, pp. 7-64 (©) Idem, pp. 2627. Pace uma visto erica deta sentenga — que parce 1 vio tus tos exemplar dav difcldades de dlimitgio do conte do juzo de igaldade face a outros que Ihe podem ar aiacentes, como of qe deve ds deieade questo da exis, ou lo, de uma ‘essen de edmimisagio” que fom sonsitcionalment inamisivel a emissto de cer ipo de ei-edid (n0 sentgoatpla da expreito) — vea 8 Jorge Noval, Separagto de pderes € iii ar congested tenes de Rie, Listen, Les 199 FTE TTS PORTETE — isto mesmo tem conscién- cia o Tribunal desde os seus prime Weriguar... da existEncia de um ‘paticularismo sufiientemente distinto para justficar uma desigualéade de regime Juridico, e decidir das circunstAncias e factores a ter como relevantes nessa ave- riguagio, & tatefa que primariamente cabe 20 legislador (...) que cabe, por tanto, 20s érgios de aplicacio do Direito} nfo ¢ «substtuirem-se> ... 20 legis- lador,¢ aferiem da solugao legislativa pela sua propria ideia do que seria, no caso, a soluglo «usta». O que cabe a esses drgios € antes e tio somente ave- riguar se a norma que tm diante de si possui uma suficiente justificagio objec- tiva [e) ecassar unicamente «as solugbes legais de todo,o ponto de vista insus- ceptiveis de eredenciar-se racionalmente»” (51), No entanto, apesar desta orientago tio clara, o Tribunal ndo se tem impedido de, neste campo, ser ele pro prio a emitir nova norma, no momento em que fixa a interpretaedo nos termes da {gual a norma em jufzo no pode ser considerada inconsttucional. Como jé foi dito (), ndo parece que esta prética — aparentemente paradoxal — de emisso daquele tipo de sentengas a que a doutsina italiana chama em geral “manipulati- vas” (“aditivas” ou “substtuivas”) 3) justamente num dominio em que a atiude ‘geral é a de auto-contencdo jursprudencal sa um problema resto &-experiéncia tuguesa. Provavelmente, ov 0 “paradoxo” que este problema indicia 6 sé aperente, ou ser ele proprio sinal da exisincia de algum outro problema que se ‘Mo consegue exactamente equacionar. Como quer qué sia, a verdade 6 que, tm ‘bém na jurisprudéneia do Tribunal Consttucional, 0 “quadro” pico no contexto ‘do qual estas sentencas sio emitidas €, precisamente, o da aplicagio da “norma eral de igualdade”. | Os casos dos Acérdaos.n.**, 143/85, 423/87 ou 103/97. podem ser, quanto a este ponto, casos exemplares (*) ‘A igualdade como diferenca fundamentada (cont.). O problema das “diseriminagbes positivas” [A questio, jé atris equacionada, de saber se a “arquitectura constitucional das diferenciagées” integra, para além de discriminagOes proibidas, outras que sejam autorizadas ou impostas ao legislador parece ter, face & CRP, duas pers- (Action? 14285 [ATC 6° Vol, pp. 81 © $8 (pp. 1278). ©) Cie supra, nos 21 (©) Guanto a entesimento dos conceitos na dourina portugues, Canto, ob it ot 19, . 1007 105) Em, respectivamente, APC, 6" Vol, pp. 153 € ss; 16" VOL, pp 77 € 8; 362 Vol, pp. 291 es, rectiva diferentes de resposta, Uma € aque que se puderobtr face & aval Gao jursprdencial do caso coneeo, com o su ui de adequaso dos propsitos ds ei ao regime de diferengas por ela estabeleido e aos factos que a funda- mentam:; outa, a que se procuar obter por interméio de uma consrugio dog- Indica eral, fandade apenas na inerpretagéo des normas constitasionis inde ndemerte da sua coneretzagdo face a diversdade da Vida E certo que, como orientagfo teoréice gra, se pode sempre adoptr a texe seguinte. As proibigdes de diferenciagdo que decorrem daqueles caracteristicas Iuaas para quem “splica” a Tei ov para quem "execua", ras (nt win Valo j dico diferenciado para quem Tegisla. Os poderes administrativo ¢ judicial, no {imbito-da “Gscricionariedade™ (e 0 termo vai aqui vsado em sentido lato) que Tes for deixado pela vinculago ali, aunca poderto fundamentar as sua deci- ses numa valoracio “autGnoma” do sentido consitucional do elenco das cate- sorias suspetas. Mas a stuagho — nfo pode deixar de ser — diversa para © poder legslatvo, A partida, os limites decorentes do n° 2 do artigo 13. apa recer-Ihe-io como indicadores negativos; mas a proibiglo de constituigto de diterengas em fargo de cada wma das caracterticas pestis que & enumerade ppela Constiulgdo nao pode valer para a li de modo absoluto. A razio por Aue tal sucede ¢ simples: cada “iscriminagio pribida” tom que ser interpretada, € qualficad, de acordo com o resume sistema consituconal. Pode por isso suce- der qu, perante a indagagio desta jusica de sistema, se conclua que, face a cada uma delas, a resposta soja diversa:haverg eventualmente caractersticas pes- soais que, pelo seu lugar no “sistema”, valham sempre como probicdes de dis texto — que o coneeto de "iscrmina0",eatendido como diferencia proba, snl es tinge &“subsngio” dos Sai eda uns dis calegrias elencadas no *2 do aig 13° Va, de seordo com 0 que Toi dito acina (nota 1S), muito pace além dso, At “categoria” do srg 13? slo heursicamente Gis: cont elemeatos que pemitem 8 compreensto do nosso sen- ‘ir comunirio sobre o que 6, em é scrimina. ‘igualdade; 0 segundo, relativo a vinculagdo dos privadas as normas consagradas no artigo 13° da CRP. Aludirei a ambas as questBes apenas de forma t6pica, 0 ‘que nao cobre, evidentemente, a complexidade de que as duas se revestem, © que seja a vinculago auténoma do poder administrativo ao prinefpio consttucional de igualdade ¢ coisa que, evidentemente, s6 se poderd vir a inds- gar no Ambito dos espagos de discricionariedade deixados directa ou indirecta ‘mente, por intermédio de clésulas gerais ov de conceitos indeterminados, pela lei actuagZo administracio. Neste Ambito a jgualdade ¢, na expressdo de Paladin, “norma geral de execugio"; no entanto, € dificil determinar com rigor como & ue 0 seu conteido se pode distinguir do contesido do principio da imparcali dade da Administrgio. (O artigo 266.° da CRP pressupSe quer a possbilidade quer a necessidade da distinglo, visto que enumera, como principios aos quais std subordinada a actuago dos érgios e agentes administrativos, no apenas © dda proporcionalidade, da justiga e da boa £6 como também os da igualdade e ‘imparcialidade. Sendo porém certo que, para 2 administrag%o, a exigéncia do trato igual de todos significa dever de agit sem olhar ds pessoas, rest averiguar como € que a justiga administrativa tem distinguido entre o conteido deste ever, que € afinal de contas o de actuar com imparcialidade, do conteido do ‘outro, que € 0 de actuar com observincia da “igualdade”). As proibigdes de dis- criminar (4 0 vimos no némero anterior) so absolutas para quem “aplica” a le: sio-no tanto para o poder administrativo quanto para o poder judicial. O direito constitucional portugués no prevé, no entanto, remédios proprios para a defesa dos privados contra decisSes inconsttucionais dos Tribunais: a natureza singu- lar, em dizeito comparado, do nosso sistema de justiga consttucional no com- Porta (ou pelo menos, nlo tem comportado, até agora) a instituigio do recurso de amparo, ou de queixa directa para o Tribunal Constitucional, contra actos dos poderes plilicos lesives de direitos fundamentais. meio processual do recurso — das decisdes dos juizes que nfo apliquem norma com fundamento na sua inconstitucionalidade, ou que a apliquem, no obstante 2 mesma inconsti tucionalidade ter sido arguida durante o processo — sobre o qual assenta toda ‘ arquitectura do controlo concreto de normas (artigo 280.° da CRP), acaba no entanto por funcionar, na prética, como um meio de controlo por parte do Tri- bunal Consttucional do modo pelo qual os restantes wibunas (todos eles) dizem © direito; a defesa dos privados contra actuagées inconsttucionais do poder Judicial pode encontrar-se, portant, aqui De acordo com 0 n.°1 do artigo 18.° da CRP, “os preceitos constitucionais respeitantes a direitos, liberdades e garantis (...) vinculam as entidades pibli- cas e privadas”. © problema de saber se os privados, na sus actuacio, estio subordinados & observincia da igualdade e das proibigdes de discriminagio con- tidas no artigo 13° — e em que medida o esto — colocarse-6 portanto em iteito portugues com alguma agudeza, ou, pelo menos, com um preméncia acrescida face s0 que & comam em dircito comparado. Mas a interretagio gue a doutrina e a jursprodéncia tém feito desta férmala constiticional no diverge, no essenial, do que € defendido noutos lagares (edo que parece ser 4 nica solugio adequada, face aos TGpicosinterpretativos da unidade da cons- fuga, de correeedo funcional de maximo efeto integrador () Nem 8 ‘Consiga nem nenfum oot sector da ordem jurica pode controlar, ou regrar, 08 preconceitos dos privados no seu agit social. A garantia de uma “rzoabiidade” da sctuagio privada € um propésito qoe est, pela narureza das coisas, fora do alene tanto do dirito constitucinal como de qualquer dirt, em geal, Mas se € certo que @ Consiga nto pode controlar o preconceito social, também & certo que impossibildade de contolonéo significa nem igno- rancia, nem complaeéacia nem toerineia perantepréias contréias ao “coneeito consitucional de justi”. O que a Constituigao exig € que lei ordinria no caucione a ndoxazombildade do agirprvador nessa medida, elencos de “dis- criminagées probidas", como es que constam do n° 2 do artigo 13° da CRP podem, pelo valor que tim enguant inicadores do semi da comunidade quanto 40 que €cifeenciagojusta ou injuta, guia a ei oxintria, nesta sua fongzo de instumento de nao-caugio do preconceito privado (°7). 9) Quanto sexes pias, anaes da ares de interpreagsoconsttcioa, a tert ‘ura portuguesa, J.J. Gomes Capo, ob. ct ata 19, pp. 1207 e 8. (€) Em send que me parce secant, Jost Cals Vea de Andrade, Qs Diitos Fan lamenas na Contino Poriguesa de 1976, 2" eds, Coimbra, Alesina, 200, pp 268s. ‘Vejese tmbém Trib of in nota 1p. 1482

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