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Deus No Mundo Real - Jon Paulien
Deus No Mundo Real - Jon Paulien
Humble Hero
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INTRODUÇÃO
Desde a publicação do meu livro Present Truth in the Real World [A Verdade
Presente no Mundo Real], muitas pessoas expressaram o desejo de que eu não me
houvesse limitado basicamente ao método para alcançar as pessoas secularizadas;
gostariam que eu tivesse escrito mais sobre a questão da mensagem. Acham que
uma barreira considerável, ou até mesmo a maior barreira para alcançar a mente
de pessoas seculares, seja o fato de que a mensagem que apresentamos é expressa
em linguagem que não faz sentido para as pessoas da grande corrente da sociedade
atual. Prometi que continuaria a dar mais consideração à questão da mensagem, e
que poderia escrever um livro sobre o tipo de mensagem que faria sentido para
pessoas seculares, sem comprometer os claros ensinos da Escritura. Este livro é
uma tentativa inicial nessa direção.
diretamente com pessoas nos dias de hoje? Como andar verdadeiramente com
Deus de um modo que faça diferença no mundo atual? Que diferença faz
conhecê-Lo?
Essas são algumas perguntas que abordaremos neste livro, Deus no Mundo Real.
Embora cada um dos seis capítulos possa ser considerado isoladamente, há uma
progressão intencional ao longo do livro. O primeiro capítulo, “O Fundamental
na Vida”, articula o evangelho em termos do mundo que conhecemos hoje. Seu
propósito é mostrar que o evangelho não só faz diferença, mas é a única solução
duradoura para a questão mais importante da existência humana. O segundo
capítulo, “O Beisebol e o Jogo da Vida”, esclarece o equilíbrio bíblico do
evangelho ao analisar um texto claro e específico, Romanos 3:23-25, em seu
contexto. O evangelho não pode ser plenamente apreciado quando expressões
confusas ou desequilibradas afastam os inquiridores.
1. Àqueles que têm contvato com a fé cristã, mas procuram um relacionamento mais
profundo com Deus. Esse público pode incluir membros ativos da igreja que podem
não conhecer claramente os elementos básicos da salvação ou o que significa ter
um relacionamento vivo com Deus. A esses crentes, o conceito de caminhar com
Deus pode parecer um clichê vazio, algo que dá a impressão de piedade, mas que
na prática não funciona. Para esses, uma abordagem contemporânea do
cristianismo básico pode proporcionar a chave necessária para um relacionamento
genuíno e gratificante com Deus.
Minha oração é que Deus use este livro para energizar um movimento que
alcance os não-alcançados como nunca antes.
O FUNDAMENTAL NA VIDA
Quando pessoas de mente secular vêem um adesivo de carro ou uma placa que
diz: “Jesus é a resposta”, raramente são levadas a reconsiderar a direção de sua
vida. Não sentem a necessidade de ir para o acostamento, ajoelhar-se e agradecer
a Deus Sua resposta aos problemas existenciais. Ou ignorarão a mensagem e suas
implicações, ou reagirão com irreverência: “E a pergunta, qual seria?” Mesmo
que tenham consciência de questões sérias na vida, mesmo que no fundo saibam
qual é a pergunta, pessoas de mente secular geralmente não esperam encontrar a
resposta na igreja ou em Jesus.
Paus e pedras
Lembra-se daquele antigo ditado: “Paus e pedras podem me quebrar os ossos,
mas as palavras nunca me machucarão”? Esse não parece o ditado mais tolo que
você já ouviu? Isso não é mesmo verdade, certo? Homens maduros, que
suportariam qualquer dor física por uma boa causa, muitas vezes se descontrolam
por completo quando colocados numa sala cheia de gente que zomba deles.
Na minha juventude, fui um garoto durão. Aos catorze anos de idade, minha
voz já era de baixo, grave, e eu havia atingido minha altura completa, como
também o peso (bom, acho que engordei um pouquinho nos últimos anos). Isso
me dava uma enorme vantagem no campo de futebol [americano] durante o
tempo de escola. Recordo aqueles dias atléticos com certa satisfação, agora que
cheguei à meia-idade e as coisas não são do jeito como eram. Mas houve um dia
que deixou um tipo muito diferente de lembrança.
Era meu último ano de ensino médio, e tínhamos uma impressionante equipe.
Eu era o capitão e o zagueiro. Meu companheiro que ficava na posição de médio
era o Danny, incrivelmente rápido e criativo. Era mestre em mostrar-se aos
adversários numa determinada posição, e depois afastar-se quando o outro jogador
chegava perto. Um outro zagueiro era Oscar, ainda maior e mais corpulento que
eu. Lembro-me dele, derrubando dois ou três jogadores para fora do meu
caminho e ainda olhando em volta à procura de mais alguém para bloquear. Na
posição de atacante ficava o Carlos. Era tão alto como Oscar e tinha mãos
grandes. Tudo o que eu precisava fazer era jogar a bola para o grupo, e Carlos
dava um jeito de sair com ela. Depois havia o Jaime, o receptor. Tinha 1,90 m e
pesava aproximadamente 60 quilos, o jogador mais rápido que já vi, fora os
profissionais.
Naquele dia, tive que apitar um jogo do qual sua equipe participava, e ele estava
em pé, de muletas, na linha lateral. Não demorou para que eu ouvisse a voz dele.
– Esse apito não faz sentido! Qual é o problema, você está cego ou coisa
parecida?
Vez ou outra ele tinha algo a dizer acerca da qualidade da minha arbitragem. Fiz
o possível para ignorá-lo, mas o impacto dos comentários começou a se acumular
enquanto o jogo prosseguia.
– Ah, por misericórdia, isso foi óbvio! Você está dormindo em pé?
– Não acredito! Estou parado aqui. Estou vendo tudo. Você é tonto? É cego?
Qual é o problema?
Ele me olhou dentro dos olhos por dois segundos e depois disse, com desgosto
na voz:
Aquele jogo aconteceu num pequeno ginásio no meio de uma grande cidade.
Peguei a bola e, furioso, fiz o maior arremesso da minha vida. Ela foi parar em
cima de um prédio vizinho. Saí do campo com a cabeça baixa. Procurei o canto
mais fundo e escuro do porão daquela escola e chorei durante duas horas sem
parar. Danny, Oscar, Carlos e Jaime seguiram-me, todos, ao porão para mostrar
solidariedade, mas aquilo não ajudou. Chorei, chorei e ninguém conseguia fazer
com que eu parasse. Meus amigos tentaram dizer que o professor de Bíblia não
estava falando sério e que se desculparia no dia seguinte (ele nunca chegou a fazer
isso), mas nada me servia de consolo. Por quê?
O valor pessoal, quer você perceba, quer não, é muito importante para o tipo de
vida que vivemos. A maneira como nos sentimos determina em alto grau como
tratamos outras pessoas e como encaramos as grandes questões da vida. A menos
que encontremos um jeito de desenvolver uma avaliação positiva e firme daquilo
que valemos, tudo o que fizermos será afetado negativamente. Portanto, a busca
de uma apreciação sólida daquilo que valemos está no centro de nossa busca pelo
melhor que a vida pode oferecer.
A maioria das pessoas procura construir seu senso de valor pessoal de três
maneiras básicas. Como as pessoas nem sempre têm consciência do motivo pelo
qual fazem o que fazem, vamos considerar mais de perto essas três maneiras.
Examinaremos cada abordagem e avaliaremos sua utilidade na construção da auto-
estima e na conquista dos nossos objetivos na vida.
Certa vez tive o privilégio de receber um BMW por engano, de uma locadora
de automóveis em Frankfurt, Alemanha. Sem limite de velocidade nas auto-
estradas alemãs, sentia-me no paraíso dos motoristas! Ao longo das duas semanas
seguintes, ficou óbvio por que as pessoas amam os seus BMWs – aquele pessoal
faz brinquedos fantásticos. Mesmo que eu nunca chegue a possuir um, jamais me
esquecerei da experiência! Os cínicos dizem: “A única diferença entre homens e
meninos é o preço dos seus brinquedinhos!” E embora eu já tenha passado dos 50
anos de idade, vejo que não faltam “brinquedos” que ainda são atraentes para
mim e para meus amigos.
Cada vez mais, a idéia das pessoas acerca do significado e valor da vida é
moldada pelo cinema e pelos programas de televisão. Já notou que uma elevada
porcentagem dos roteiros de Hollywood, atualmente, apresenta heróis que
passaram dos farrapos para as riquezas? No passado, era comum que o roteiro
mostrasse uma pessoa abastada que renunciava às mordomias da riqueza para
identificar-se com os pobres, mesmo com o risco de ser mal interpretada. Hoje,
entretanto, parece que por mais pobre que seja o herói, mais cedo ou mais tarde
na história ele acaba recompensado com riquezas e aclamação. Essas histórias do
cinema e da TV exercem muita influência sobre mentes jovens. Como resultado,
muitos jovens de hoje identificam riquezas com sucesso e felicidade.
É mesmo? Para ele, era. Afinal, naquelas redondezas, as únicas pessoas com
dinheiro e respeito pareciam ser os gigolôs e traficantes que andavam dirigindo
lustrosos cadilacs pretos. Para ele, naquele momento, esses carros representavam
tudo o que uma pessoa poderia desejar na vida. O “sucesso” que esses criminosos
exibiam pesava muito mais do qualquer preocupação que Chester poderia ter
quanto à maneira através da qual enriqueciam.
Você diz que a solução é simples? É só ficar tão rico que possa ter todos os
brinquedos novos que desejar, o tempo todo! Afinal de contas, se você tiver uma
coleção completa de BMWs, não importa que um deles sofra um arranhão. Se
tiver trezentos pares de sapatos, não importa que caia o salto de um ou dois deles.
Se puder adquirir um palacete, você saberá que é alguém.
Mas é aqui que parece instalar-se uma decepção cruel. Os pobres podem sempre
sonhar em ficar ricos e achar que isso fará a diferença. Mas os ricos logo
descobrem que, quanto mais coisas possuem, tanto menos valor lhes atribuem.
São cegados por um horrível efeito colateral da riqueza, que chamo de
“desvalorização”. Os bens perdem o valor ao crescerem em quantidade. Existe
algo especial em trabalhar e economizar e sonhar com uma compra. Os ultra-ricos
não chegam a experimentar esse prazer especial. Quando você pode ter tudo o
que deseja, sempre que deseja, isso tudo não significa mais tanto assim. Quando
alguém gasta trezentos milhões de dólares num único iate ou constrói uma casa
com mais cômodos do que poderia vir a ocupar algum dia, isso não retrata um
certo senso de desespero?
– Por que a Oma (nome em alemão para vovó) sempre faz coisas para os outros
e não compra um monte de coisas para ela mesma?
Respondi:
– Oma aprendeu que é mais bem-aventurado dar que receber.
Tammy continuou:
O que um pai deve dizer diante disso? Lembro-me de ter dito alguma coisa
assim:
– Sabe de uma coisa? Isso é verdade! Tenho tantos brinquedos, que nem me
importo mais com a maioria deles!
Embora eu tenha plena consciência dos princípios de valor pessoal que estou
comentando neste capítulo, vez por outra me pego medindo meu valor com base
no desempenho. Essa foi certamente uma parte da razão pela qual chorei quando
o professor de Bíblia se dirigiu a mim de modo tão rude. Eu havia fracassado em
atingir minhas próprias expectativas. Havia esperado ser tão bom na arbitragem,
que ninguém pusesse defeito nela. Em vez disso, passei pela experiência de uma
arrasadora humilhação. Basear o nosso valor no desempenho e nas consecuções é,
na melhor das hipóteses, um remédio frágil para a condição humana.
Estratégia nº 3: Quem você conhece (abordagem do relacionamento)
O terceiro modo pelo qual as pessoas avaliam seu valor como seres humanos é
pelas opiniões que os outros têm a respeito delas e pela maneira como os outros se
comportam em relação a elas. Nas duas primeiras abordagens da auto-estima, os
critérios eram as posses e o desempenho. Agora passamos para a abordagem do
relacionamento, na qual a base para a forma como nos sentimos em relação a nós
mesmos é a percepção daquilo que os outros pensam de nós. As palavras deles, seu
comportamento para conosco e nossas reações às suas palavras e comportamento
afetam fortemente nosso senso de valor pessoal, se somos indivíduos orientados
pelos relacionamentos.
Das três abordagens que promovem o valor próprio que estamos analisando, a
do relacionamento é a que nos deixa mais à vontade para comentar. Geralmente
nos sentimos mais justificados em construir nossa auto-estima sobre
relacionamentos do que sobre bens ou desempenho. Certamente, parece bem
mais nobre. A maioria não deseja ser considerada dependente dos bens ou do
desempenho (embora todos tenhamos essa tendência numa ocasião ou noutra),
mas nos dispomos a esperar que bons relacionamentos proporcionem um nível
suficiente de significado e realização na vida. E a experiência certamente parece
sugerir que os relacionamentos sejam a resposta que temos procurado.
Uma boa ilustração é o namoro dos adolescentes. Sem dúvida, você já notou a
tremenda transformação na vida dos adolescentes quando descobrem que outro
ser humano por aí acha que eles são o princípio e o fim de toda a existência. Essa
descoberta muda tudo, repentinamente! Os espinhos se tornam rosas, numa
transformação milagrosa. Patinhos feios se tornam belos cisnes. Personalidades
melancólicas ou negativas se tornam radiantes. Nada tem um poder tão tremendo
de promover nosso senso de valor como a percepção de que outro ser humano
nos considera preciosos, únicos e capazes. Quem nós somos, como seres
humanos, é poderosamente afetado por aquilo que outras pessoas pensam.
Às vezes, os pais buscam encontrar seu próprio valor na vida e atos dos filhos.
Queremos que nossos filhos tenham oportunidades que não tivemos. Queremos
que sejam bem-sucedidos onde falhamos. Desejamos que sejam tudo o que não
pudemos ser. No processo, às vezes colocamos sobre nossos filhos o tremendo
fardo de carregar nossos valores, bem como os deles mesmos. Quando têm um
bom desempenho ou se saem bem numa tarefa, nós mesmos nos orgulhamos
disso. Quando fracassam ou são rejeitados por seus colegas, também assumimos o
fato pessoalmente. O que os outros pensam de nós exerce um efeito poderoso
sobre nosso senso de valor pessoal. O que os outros pensam dos nossos queridos
pode ter um efeito semelhante.
Sem dúvida, você ficará impressionado ao saber que tenho ligação com Hillary
Clinton. Relacionamentos assim podem, naturalmente, proporcionar acesso
especial a uma pessoa pública. Lembro-me de uma das vezes em que o casal
Clinton passava por tremendos transtornos com acusações públicas de
infidelidade. Achei que Hillary apreciaria um conselho ministerial sobre como
lidar com aquela situação difícil. Expliquei-lhe algumas das dinâmicas da infância
de Bill que afetariam a maneira como ele se relaciona com as mulheres à sua volta.
Mostrei-lhe algumas das ferramentas e estratégias que os cônjuges podem usar
para conviver com a tragédia da infidelidade. Animei-a, dizendo que Deus estaria
com ela, não importando o que acontecesse.
Eu realmente disse essas coisas para ela. Ela e Bill estavam assistindo a um
comício no Hoosier Dome em Indianápolis, Indiana. Eu passei pelo Dome
enquanto dirigia na rodovia interestadual que passa perto. Na verdade, eu lhe
disse essas coisas mentalmente – enquanto passava por ali de carro. Por algum
motivo, não tenho certeza de que ela me ouviu... Ah, por falar nisso, não tenho
ligação apenas com Hillary, mas com Bill também. Não sei exatamente como é a
nossa relação, mas a Bíblia demonstra conclusivamente que nós três descendemos
de Adão e Eva!
2. Os Doadores: Por outro lado, pessoas que se sentem mais seguras por natureza
podem encontrar muito valor pessoal ao incentivar e promover os outros. Obtêm
seu senso de valor ao darem mais ânimo e ajuda do que recebem. Alguns
“doadores” gostam de ser elogiados de tempos em tempos; outros detestam isso.
Mas, em ambos os casos, para os “doadores”, a motivação predominante no
relacionamento é a alegria que sentem ao elogiar e encorajar os outros.
A maioria dos seres humanos é um pouco mais complicada do aquilo que essas
simples categorias sugerem. Na verdade, a experiência mostra que a vasta maioria
das pessoas se encaixa mais nos “recebedores” que nos “doadores”, porém a
maioria argumenta que é basicamente “doadora”. Aqui há uma séria desconexão
com a realidade. Assim, a abordagem que apresento a seguir pode não encontrar
eco em todos. Ela mostra, porém, que a busca pelo valor pessoal através de
relacionamentos é deficiente quase desde o início, não importando quais sejam as
tendências básicas dos indivíduos numa determinada relação.
O mesmo vale para nossa tendência de buscar valor pessoal através dos filhos ou
pela interação com “celebridades” que possam cruzar nosso caminho. Quando
uma pessoa busca valor próprio nos filhos ou netos, coloca uma pressão incrível
sobre um ser jovem. Os filhos são forçados a suprir necessidades que nunca foram
responsáveis por suprir em seus pais. Os pais que procuram suprir suas
necessidades através dos filhos tendem a ser muito exigentes com eles, desafiando-
os com expectativas impossíveis. Com certa freqüência, esses pais voltam um dia
para casa para encontrar um bilhete dizendo: “Não importa o que eu fizer, sei que
nunca estará bom o bastante para você. Portanto, decidi pôr um fim à nossa
desgraça.”
Nossa dependência das celebridades pode ser destrutiva até para elas. Tornam-se
os grandes “doadores”. A vida de estrela traz muito louvor e admiração. Mas
existe também a pressão constante das pessoas com “necessidades” a serem
supridas pelas celebridades. Suprir constantemente essas necessidades através de
uma palavra, um autógrafo ou um pouquinho de tempo pode ser extenuante.
Depois de algum tempo, uma celebridade chega a sentir-se completamente vazia
e exaurida, de tanto dar. E ser uma pessoa pública significa também receber crítica
pública, pelo menos por parte de alguns seguidores. Se o sucesso eleva as
expectativas, inevitavelmente a crítica vem atrás. E a crítica magoa celebridades
tanto quanto aos demais. O resultado? Um número muito grande de celebridades
acaba com a própria vida ou se destrói com álcool e drogas.
Alguns sabem por experiência quão arrasador pode ser um divórcio. Você
começa com uma pessoa que fez uma enorme diferença na sua vida. A pessoa
achou você o máximo e fez tudo por você. Por sua vez, você se viu dependente
dessa relação para encontrar significado e valor pessoal. Então, chega o dia em
que, nas palavras de uma divorciada, “ele arrancou meu coração, jogou-o no
chão, pisou em cima por um tempo e depois cuspiu sobre ele”. Que rejeição ou
humilhação pode superar isso? Se você depende de outro ser humano para sentir
que tem valor, encaminha-se para o desastre. Quando seu melhor amigo pode
traí-lo, em quem você irá confiar?
Embora a abordagem do valor pessoal que se concentra nos outros pareça trazer
alguma promessa em casos especiais, no fim demonstra ser tão efêmera como as
outras duas abordagens.
Além do mais, as pessoas que realizaram grandes coisas sabem que o desempenho
tampouco satisfaz a longo prazo. Os jogadores profissionais de basquete não só
ganham milhões de dólares por ano, como são celebridades do mais alto nível.
Mas se o dinheiro e a fama fossem tudo, por que tantos astros do basquete buscam
consolo no álcool, em casos passageiros e nas drogas? Por que apelar para as
drogas, quando você está vivendo exatamente a vida que tantos outros dariam
tudo para viver? Evidentemente, o desempenho, mesmo quando combinado com
uma enorme riqueza, não é o caminho para a felicidade e a realização.
Não existe saída? A estima dos outros parece ser a única esperança que resta. Mas
parece que não encontramos um senso de valor num relacionamento com
qualquer um. É necessário que seja um amigo com características especiais, para
proporcionar o tipo de valor pessoal de que tão desesperadamente necessitamos.
Segundo minha maneira de ver, necessitamos de um amigo com quatro
características exclusivas.
1. Alguém que tenha valor genuíno e inerente. Necessitamos é de um amigo que seja
valioso, genuína e inerentemente. Não um Magic Johnson que esteja em busca de
realização nos mesmos becos sem saída onde você e eu temos procurado. Deve
ser alguém que seja inerentemente valioso. Alguém que não necessite encontrar
valor nos outros ou nas coisas. Alguém que seja digno por causa de quem ele já é.
2. Alguém que conheça tudo a nosso respeito. Esse amigo também deve ser alguém
que saiba tudo sobre nós, porque relações cheias de segredos e surpresas são
relações frágeis. Você nunca sabe quando as pessoas descobrirão algo a seu
respeito e mudarão de idéia. “Ora, se você é realmente assim, não quero ter nada
a ver com você.” O tipo de relação que promove o valor pessoal não guarda
segredos num armário em algum lugar. A franqueza e a transparência são
essenciais.
3. Alguém que nos ame como somos. Muitas pessoas, contudo, já decidiram que não
gostam de nós por sermos quem somos. Precisamos de um amigo genuíno,
verdadeiro, que não se desconcerte diante de nossas fragilidades e deficiências.
Precisamos de alguém que tome tempo para nos conhecer intimamente, mas que
se comprometa de modo pleno a nos aceitar e amar, independentemente do que
dissermos ou fizermos. Precisamos de alguém que nunca nos abandone, mesmo
que tentemos deixá-lo. Precisamos de alguém que conheça tudo a nosso respeito,
mas assim mesmo nos ame. Um relacionamento como esse pode proporcionar um
chão firme para nosso senso de valor pessoal.
4. Alguém que nunca morra. Mesmo uma relação com todas as três características
será insegura enquanto a morte se apresentar como uma ameaça diária. Você
poderia encontrar o parceiro perfeito, aquele que supre sua demanda de valor
próprio, só para perdê-lo na morte, quando você mais necessita dele. A questão
decisiva com a auto-estima é que só a encontraremos de verdade num
relacionamento com uma pessoa que viva para sempre.
Um senso de valor pessoal é, na verdade, a base de uma vida que vale a pena ser
vivida. Mas isso é realmente possível na Terra? Existe mesmo alguém por aí que
seja autenticamente valioso e viva para sempre? Ou estamos simplesmente falando
em termos filosóficos acerca de algo que nunca nos irá acontecer? Não existe
saída? Chegamos mesmo ao fim de toda esperança? Não, não, mil vezes não! A
maior história já contada é que um Amigo, com exatamente as quatro
características descritas acima, realmente existe. Estou falando de uma Pessoa que
vale o Universo inteiro, que vive para sempre, que conhece tudo a seu respeito e
que o ama do jeito como você é. E está ansioso por fazer-Se conhecido a você.
É por isso que a certeza da salvação, de estar bem com Deus, não é opcional. Os
seres humanos precisam desesperadamente saber onde se encontram no Universo,
qual é o seu verdadeiro valor. Se você não sabe que tem vida eterna, que está em
harmonia com Deus, será forçado a buscar essa realidade de alguma outra
maneira. Você viverá com base nos bens, no desempenho ou dependerá de suas
relações humanas para ser feliz. Pode até procurar a vida através de realizações e
relacionamentos religiosos.
Por que minha necessidade não está sendo suprida em Cristo neste momento?
Por que mesmo estou comprando estes brinquedos? Por que acho que preciso
voltar aos estudos? Por que estou procurando encontrar um emprego melhor? Por
que essa pessoa me atrai tanto? Nossa tendência é evitar refletir sobre essas
perguntas. Mas as razões são importantes. O fundamental é isto: a menos que
nosso senso de valor se estabeleça no relacionamento com Jesus Cristo, seremos
forçados a buscá-lo em algum outro lugar, e os resultados não serão bons.
Bíblico ou psicológico?
São realmente bíblicos esses conceitos, ou teria eu me perdido nos labirintos da
psicologia? Essa é uma pergunta muito importante. A menos que nossas respostas
básicas diante da vida estejam alicerçadas em algo mais do que simplesmente
suposições humanas, estamos a caminho do desapontamento. Por sorte, a Bíblia
fala enfaticamente sobre a questão do valor pessoal. A palavra-chave que nos
conduz à perspectiva bíblica sobre o valor é a palavra “glória”. A pergunta crucial
que os escritores bíblicos fazem é: “Em que me glorio?” Para encerrar, vejamos
alguns textos.
Jeremias diz: “Não se glorie nas riquezas, nas posses. Não se glorie na fortaleza
física ou mental. Glorie-se no Senhor. Essa é a essência da vida.” Jeremias viu
claramente que a base da vida real não se podia encontrar em nosso fascínio com
bens e desempenho. João 12:42, 43 nos aponta os perigos da glória movida por
pessoas:
creram nEle,
Talvez o melhor texto que trata do assunto do valor pessoal e seus substitutos se
encontre em Gálatas 6:14.
Quando Paulo fala nesse texto acerca do “mundo”, está falando de bens,
desempenho e pessoas. Essa é a essência do “mundo”. O mundo é necessário; não
existiríamos sem bens, conquistas e relacionamentos com outras pessoas. Mas nem
as melhores coisas do mundo podem competir com a cruz, como meio de
determinar o valor humano. Nada que eu faça, ou que alguém mais faça por mim,
pode ocupar o lugar daquilo que Deus tem feito em meu favor por meio de Jesus
Cristo.
Na Bíblia, então, uma pergunta predomina sobre todas as outras no que se refere
ao valor dos seres humanos. E a pergunta é: “Qual é sua glória?” Sua maior glória
está nas posses, nas realizações ou na lista de amigos? Ou você se gloria na cruz de
Jesus Cristo? Onde está sua glória? Essa se torna a pergunta mais importante.
* Nota da tradutora: Forma modificada de beisebol, jogada com bola maior e mais macia.
O BEISEBOL E O JOGO DA VIDA
Isso nos deixa com a pergunta crucial: Como podemos ter esse tipo de
relacionamento com Jesus? Como chegar a uma posição aceitável diante de Deus?
Como saber quando estamos bem com Deus? O que devemos fazer a fim de ter a
vida eterna? (ver Mateus 19:16). Sob a perspectiva humana, a resposta óbvia é:
Não cometa erros! Viva uma vida irrepreensível. Viva sem cometer faltas. Então
Deus terá de aceitá-lo! Todavia, por mais lógica que essa abordagem pareça, ela
tem sérios problemas. Neste capítulo, examinaremos um dos textos mais claros
sobre esse assunto na Bíblia. A menos que o evangelho que partilhamos, as “boas-
novas” nas quais cremos, estejam solidamente alicerçados na revelação de Deus,
nós nos encontraremos caindo de novo nas armadilhas da ilusão. E não podemos
esperar que pessoas de mente secular renunciem às suas ilusões em troca de algo
ainda mais incerto! Então, consideremos novamente o que a Bíblia chama de
“salvação”.
Não é de admirar que haja tantos cristãos de rosto comprido! Como poderia
alguém regozijar-se no contexto de frustrações e fracassos contínuos? Quero
dizer, a vida é uma batalha real. Consigo entender os cristãos que se sentem sem
tempo para sorrir, sem tempo para comemorar. Entendo esses cristãos porque essa
é a minha batalha também. Estou batalhando e me machuco todos os dias. Eu
também não rebati 1.000.
– Sim, fui eu – respondi, com um justo toque de orgulho. Achei que ela fosse
pensar: “Gente, mas que homem!”
E por aí acabou a intenção de rebater mil naquele dia de sábado! Pode parecer
trivial, mas os sapatos ao contrário causaram em mim a mesma sensação de
fracasso que uma infração mais séria teria causado.
O que Paulo nos diz em Romanos 3:23 confirma a idéia de que a vida se parece
bastante com o beisebol. Exatamente assim como os melhores jogadores de
beisebol acertam apenas ocasionalmente em meio ao fracasso geral, assim Paulo
indicia a humanidade toda, quando diz: “Todos pecaram”. Gramaticalmente, a
palavra grega que Paulo usa para “pecaram” é um indicativo aoristo que, nesta
sentença, expressa a idéia de que o pecado é característico de nossa história
passada inteirinha, vista como um todo. Todos temos um registro passado que
desejaríamos não existisse. Todos perdemos muitas jogadas no curso de nossa
carreira. Não há exceções a essa regra, além do próprio Jesus. É por isso que “se
cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Romanos 3:19). Por
isso, as “obras da lei” não podem ser a base para que alguém acerte tudo com
Deus (ver Romanos 3:20). Todos cometeram erros suficientes para ficar sob a
condenação da lei. Rebater 1.000 com perfeição é a exigência, e ninguém até
hoje cumpriu essa exigência. Qualquer pessoa que tenha chegado à idade adulta
cometeu erros suficientes para ser condenado para sempre aos olhos da lei.
Mas o problema é ainda muito mais grave do que isso. Mesmo que o nosso
registro anterior pudesse de alguma forma ser perdoado, isso ainda não seria
suficiente. Paulo continua dizendo que nós carecemos da glória de Deus. Isso
significa que, mesmo que começássemos tudo de novo, nossos melhores atos a
partir de então não seriam bons o bastante para atingir o padrão. A palavra grega
que Paulo usa para “carecem” está no tempo do presente contínuo. Isso enfatiza a
natureza permanente da nossa carência. A inadequação até das coisas boas que
fazemos é contínua e constante. Todos nós carecemos continuamente da glória de
Deus. Paulo deixa claro que, assim como os jogadores de beisebol que rebatem
200, 300 ou até 400, nossos melhores esforços não se aproximam do ideal. Todos
nós fracassamos continuamente em rebater 1.000 na vida cristã; carecemos
continuamente da glória de Deus.
Bem, pode parecer irrazoável da parte de Deus esperar que os seres humanos de
alguma forma atinjam Seus padrões de caráter. Afinal de contas, Ele é Deus, e nós
somos humanos. Mas creio que a idéia de Paulo aqui é prática. Ele afirma aquilo
que já sentimos no íntimo, bem fundo. Com poucas exceções, a maioria de nós
sente que não está vivendo à altura de nossos próprios padrões de certo e errado,
quanto mais dos de Deus! Como é que eu sei? Toda vez que criticamos os outros,
estamos subindo a barra º para o nosso próprio desempenho. Se achamos que um
pensamento ou ato está errado em outra pessoa, sentimos que está igualmente
errado em nós mesmos. Paulo nos ajuda a evitar um falso senso de valor pessoal,
baseado num conceito inadequado de responsabilidade humana.
Em Romanos 3:23, então, Paulo identifica em nossa vida duas realidades que
tornam impossível a salvação com base nos próprios esforços. Primeira, todos
temos um registro passado de pensamentos e atos pecaminosos, o qual não
podemos anular. Em algum momento, todos nos rebelamos contra Deus; todos
fizemos coisas que refletem nossa natural inimizade contra Ele (ver Romanos 8:7).
Segunda, mesmo nossos melhores esforços no presente, mesmo nossas boas ações,
deixam de atingir o ideal que Deus mantém diante de nós. Falhamos – não só em
guardar Sua lei dos Dez Mandamentos, como também em seguir o exemplo
perfeito da vida terrestre de Jesus. Se, portanto, estou contando com meu
desempenho como base para acertar tudo com Deus, minha situação é insustentável
(ver Romanos 1:18-3:20), e assim o é a de toda a humanidade. É necessário
existir outro meio de alcançar o favor de Deus e entrar em relacionamento com
Ele.
Quando Paulo diz “sendo justificados”, está preocupado com a maneira como a
pessoa se sai sob o escrutínio de Deus no juízo final, no encerramento da história
(ver Romanos 2:12, 13; 3:6, 19, 20). Nesse contexto, a ligação entre os versos 23
e 24 é surpreendente. Na verdade, é tão surpreendente que alguns eruditos da
Bíblia sugerem que o verso 23 não estava no original de Paulo, mas deve ter sido
acrescentado mais tarde por algum editor que o entendeu mal. A mensagem
bíblica às vezes parece boa demais para ser verdade. Mas, como não existe
evidência de que alguém mexeu nesse texto, devemos aceitar que os versos 23 e
24 expressam a mensagem que Paulo pretendia.
Voltemos a Romanos 3. Com base em que pode Deus justificar aqueles que
pecaram e carecem continuamente de Sua glória? Como pode Ele justificar os
ímpios (ver Romanos 4:5) sem contrariar Seu próprio caráter? Como pode Deus
absolver no juízo final pessoas que pecaram? Paulo resume em três partes a
estratégia de Deus para justificar pecadores. Somos justificados pela graça, em
Jesus Cristo e mediante a fé. Note o que diz o texto:
Pela graça
A primeira parte da estratégia divina que Paulo está delineando em Romanos 3 é
que somos salvos pela graça, “gratuitamente”. A palavra grega traduzida como
“gratuitamente” se encontra também em João 15:25. Ali Jesus diz: “Odiaram-Me
sem motivo”. A expressão “sem motivo” traduz exatamente a mesma palavra grega
que é traduzida como “gratuitamente” em Romanos 3:24. Jesus foi odiado sem
motivo. Em outras palavras, Ele não fez absolutamente nada para merecer o ódio
do povo. De modo semelhante, nossa justificação ocorre “sem motivo”. Não
fizemos absolutamente nada para merecer a justificação. Somos justificados “sem
motivo” por Sua graça.
Mas a notícia acerca da graça fica ainda melhor. Essa graça constante dura por
um longo tempo. Vai até a segunda vinda. Na próxima vez que você ler o livro
O Grande Conflito, verifique a página 641, onde Ellen White descreve a vinda de
Jesus Cristo nas nuvens. O povo de Deus está olhando para cima, vendo a
chegada dEle. O que dizem, à medida que Jesus Se aproxima sobre as nuvens?
Será que estão dizendo: “Afinal, já era tempo, mesmo! Venho rebatendo 1.000
durante os últimos 25 anos, e sei que estou preparado!”? De jeito nenhum!
Enquanto Jesus Se aproxima, a última coisa na mente deles é a sua prontidão para
recebê-Lo! Em vez disso, clamam: “Quem poderá subsistir?” Esses são os filhos de
Deus, não os ímpios que acabaram de clamar para que as rochas e montanhas
caíssem sobre eles. Até mesmo os justos por ocasião da segunda vinda se sentirão
indignos de viver na presença da incrível glória de Deus. O que Jesus lhes diz? “A
Minha graça te basta” (2 Coríntios 12:9). Por ocasião da segunda vinda!
Caro leitor, se podemos regozijar-nos em Sua graça na segunda vinda, não acha
que estaria certo regozijar-nos um pouquinho hoje? Seríamos capazes de sorrir de
vez em quando – mesmo nos dias em que rebatemos, digamos, uns 148, como
acontece às vezes comigo? Jesus diz: “A Minha graça te basta”. Para mim, isso é
absolutamente fantástico! E essa graça não só é suficiente; ela me é concedida sem
motivo. Tenho tudo de que necessito porque Deus Se importou em concedê-lo.
Não mereço, e em certo sentido nunca merecerei, mas Deus concede sem
motivo.
Assim, Paulo abre sua discussão sobre a base de nossa salvação alegando que ela é
pela graça. Mas Paulo não pára nesse primeiro passo. Se tivesse parado, teria
deixado a impressão de que Deus é como um pai indulgente. E, para ser honesto
com você, não simpatizo muito com pais indulgentes.
Em Cristo
Assim, a doutrina de Paulo sobre a base da justificação não pára no passo
número um. É verdade que somos justificados pela graça, gratuitamente, sem
motivo. Todavia, embora a graça não nos custe nada, custou tudo a Jesus. Note
uma vez mais Romanos 3:24:
A graça é outorgada gratuitamente, mas num outro sentido não é grátis. Somos
justificados gratuitamente por Sua graça mediante a redenção que há em Cristo
Jesus. Em outras palavras, somos justificados não só pela graça; também somos
justificados em Cristo mediante a redenção que Ele operou na cruz. Romanos diz
que Deus apresentou a Jesus como um sacrifício de expiação mediante a fé em
Seu sangue. Somos justificados não só pela graça, mas também pelo sangue.
A graça me diz que a salvação é sem motivo minha. Não dou motivo que leve
Deus a derramar Seu amor sobre mim. Mas o sangue diz que a salvação não é
barata; custou tudo a Jesus! A graça, de acordo com João 1:17, veio por meio de
Jesus Cristo. A ilustração do pai indulgente não basta. Se você prega somente a
graça e nunca o sangue, a graça resultará em presunção e permissividade.
Devemos entender que a graça é possível devido ao infinito custo da vida do
Filho de Deus.
Assim, não há saída humana para o pecador. Você precisa rebater mil, acertar
todas para ser salvo, de acordo com a lei. E mesmo que um ser humano ou um
anjo fosse bem-sucedido em guardar perfeitamente as leis do Universo, essa
obediência salvaria apenas esse indivíduo. Seria em resposta a seu próprio mérito.
Mas tenho boas notícias. Existe Alguém cuja natureza transcende os limites da
humanidade. E foi Ele mesmo quem fez a lei. A história da cruz é a história de
um Deus que desceu à Terra e assumiu as limitações da natureza humana. Deus e
a raça humana estão perfeitamente representados nessa Pessoa divino-humana. A
raça humana inteira participou da perfeita obediência do Homem Jesus. A todos
aqueles que “carecem da glória de Deus”, Jesus oferece o dom de Sua justiça
perfeita, conquistada em 33 anos de perfeita obediência aqui na Terra.
Mas isso gera uma pergunta interessante: Como podem os atos de um único
homem ser igualados aos atos de tantos bilhões de pessoas? Como pôde alguém
morrer no lugar de tantos? Como podem os atos de justiça de um homem fazer
expiação pelos atos imperfeitos de tantas pessoas pecadoras? Que tipo de
combinação celestial ocorre na equação divina da salvação?
Quem é maior, a criação ou o seu Criador? Uma vez mais, a resposta é óbvia.
Jesus é claramente maior que a criação. Ele não só fez a lei moral do Universo,
como também o Universo inteiro. Isso explica por que não seria suficiente que
um anjo morresse por nós. Tinha que ser o Criador. Quanto valor tem Cristo,
então? Ele vale o Universo inteiro porque é Aquele que criou tudo! Quando
Jesus morreu na cruz, um valor igual ao Universo inteiro estava em jogo. Como
Jesus é o Criador, Sua morte na cruz expia todo pecado que já se cometeu ou que
poderia ser cometido. Ele é igual, em valor, a tudo o que existe.
Algum tempo atrás, passei um mês viajando pela Europa, assistindo várias
reuniões para pastores. A caminho de casa, minha bagagem se perdeu, e assim
cheguei sem meias e roupa de baixo. Um dia depois, minha família e eu partimos
para uma longa viagem pelo Oeste dos Estados Unidos. Antes de sair, comprei
um novo par de meias e roupa íntima. Enquanto cruzava o continente norte-
americano, continuei telefonando para a empresa aérea a fim de descobrir por
onde andava minha bagagem. “Provavelmente em Copenhague”, disse o
funcionário, e isso não foi nada animador. Por que estou contando isso: Porque
essa experiência toda me impressionou muito com a imensidão deste grande
planeta. Só a Europa já é vasta, mas quando voltei para os Estados Unidos,
descobri outro grande continente.
Compare isso com a vastidão do Universo. A luz leva mais de dez bilhões de anos
para chegar até nós, partindo do ponto mais distante daquilo que até agora
descobrimos acerca do Universo. E Jesus fez o Universo inteiro – cada galáxia,
cada planeta (ver João 1:3). Ele é igual em valor a tudo isso, e assim mesmo
escolheu descer a esta Terra e obedecer a Deus de modo perfeito em nosso lugar.
Ele desceu e recebeu a conseqüência total do nosso pecado – morte eterna,
extinção permanente. Na cruz, os pecados do mundo inteiro foram colocados
sobre Cristo.
Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós; para que,
nEle, fôssemos feitos justiça de Deus (2 Coríntios 5:21).
Se Paulo tivesse parado aqui, teria deixado a impressão de que todos serão salvos.
Por quê? Porque somos salvos pela graça, e Deus derrama Sua graça sobre todos.
Também somos salvos pelo sangue de Cristo, e Ele morreu por todos. Sua morte
teve um valor igual ao do Universo inteiro. Isso não deixa ninguém de fora.
Inclui a todos os que já viveram. Em Cristo, fez-se expiação por todos na cruz.
Significa isso que todos serão alvos, queiram ou não? De maneira nenhuma, como
veremos.
Mediante a fé
Embora a expiação tenha sido feita por todos, nem todos colherão os benefícios
dessa expiação. Na verdade, por várias razões, seria má idéia que todos fossem
“salvos”.
Assim, em Romanos 3, Paulo tem mais uma coisa a dizer acerca da maneira
como as pessoas entram numa relação de justiça com Deus. A justificação ocorre
pela graça e em Cristo. Mas há um terceiro aspecto nessa questão da justificação, e
nós a encontramos nos versos 25 e 26:
Não somos justificados apenas pela graça e em Cristo, mas, de acordo com
Paulo, também somos justificados mediante a “fé”. Seja o que for que Paulo
queira dizer aqui com “fé”, ele não quer dizer que a fé seja a base de nossa
salvação. A fé não pode conquistar nossa justificação, de forma alguma. Somos
justificados por causa de algo que aconteceu no coração de Deus (graça) e de algo
que foi feito em Cristo na cruz. A salvação jamais vem a uma pessoa porque essa
pessoa a merece. A salvação é pela graça e em Cristo. Mas Paulo diz que também
somos justificados mediante a fé. Assim, os três pré-requisitos pelos quais as
pessoas são justificadas são: pela graça, em Cristo e mediante a fé.
Ser justificados pela fé significa que, embora a graça e o sangue de Cristo
providenciem o necessário para estarmos bem diante de Deus, a justificação ainda
é algo que temos que desejar e escolher conscientemente. A fé não é uma obra; é
um dom. Ainda assim, a fé é algo que exercemos da mesma forma como
estendemos a mão para receber um presente. Se colocamos a mão atrás das costas,
não recebemos o presente. A fé é uma dádiva, mas tem que ser exercida. É uma
capacidade que Deus nos concede, mas também é uma escolha que devemos
colocar em prática.
Essa é a razão pela qual muitas pessoas não desejam a salvação, mesmo que seja
gratuita. Não querem entregar a vida a outrem. Desejam permanecer no centro
de seu universo pessoal. Mas para todos os que estão dispostos a trocar a vida que
têm por algo melhor, a notícia é boa. Jesus nunca deixa de responder a esse tipo
de disposição. Se você diz a Jesus que deseja que Ele esteja no centro de seu
universo, Ele virá, sem impor condições. Você não conseguiu rebater mil? Ele fez
isso. Quando seus melhores esforços carecem da glória de Deus, você pode ainda
regozijar-se porque sabe que os melhores esforços dEle são mais do
suficientemente bons.
Mas ser salvo pela fé não significa que não importa mais o que fazemos. A fé
nunca está separada de uma pessoa em sua totalidade. Aqueles que são salvos pela
fé tornam-se pessoas mudadas. As decisões que tomam daquele dia em diante são
decisões diferentes. A fé significa que você entra naquele carrinho de mão, e que
você vai com Ele – para onde quer que Ele o conduza.
A prática da fé
No mundo real, em termos práticos, como respondemos àquilo que Cristo fez
por nós? Como é que eu faço para começar um relacionamento com Deus? O
que significa responder ao poderoso ato divino de salvação na cruz? O que
significa, na prática, ser justificado pela graça, em Cristo, e mediante a fé? Eu
gostaria de sugerir alguns passos práticos:
Como podemos ter mais consciência de nossa necessidade de Deus? Ler a Bíblia
nos torna conscientes dos tipos de coisas que fizeram tropeçar os santos de
outrora. A Bíblia retrata honestamente os feitos de seus personagens – os bons, e
os maus e feios. Ler acerca de Davi, Moisés e Pedro nos ajuda a ter mais
consciência de nossas próprias limitações. Também é útil orar para que Deus abra
a compreensão que temos de nós mesmos. Alguns consideram proveitoso manter
um diário espiritual, no qual registram as coisas que aprenderam com Deus e com
as experiências da vida acerca de si próprios. Consulte também amigos de
confiança (mais sobre essas estratégias no último capítulo do livro). O caminho
para a salvação começa com a consciência de nossa própria necessidade.
2. Deseje e aceite aquilo que Cristo fez. Assimile o valor incrível que lhe foi
atribuído na cruz. E você pode ter todo esse valor hoje. Não precisa esperar até
que o tenha “conquistado”. Ao ler isto, se você percebe que não está em Cristo,
que você só está rebatendo uns 240, que não há chance de você vencer por seus
próprios esforços, não precisa permanecer fora do contato com a graça e o sangue
de Cristo por um instante mais. Você pode escolher aceitar o que Ele fez em seu
favor, agora mesmo.
Você realmente deseja estar bem com Deus? Tem medo daquilo que pode
perder? Você não está sozinho. Quase todos, no fundo, estão um tanto divididos
quanto à questão da salvação. Uma parte sua sabe que você está metido numa
encrenca, e deseja desesperadamente sair dela. O restante de você se apega à
encrenca e faz a lista de todas as vantagens de estar nela! Tome conta daquela
parte que deseja estar bem com Deus, a parte que deseja fazer a vontade de Deus.
Ore para que Deus lhe dê amor por Ele, amor pela salvação, amor pela verdade,
não importa o custo (mais sobre isso adiante, no livro). Descobri que quando as
pessoas oram dessa maneira, Deus toma providências. Aceitar a salvação envolve
custo, mas o regozijo e a liberdade que vêm de estar em paz com Deus valem
qualquer coisa que se esteja disposto a renunciar.
3. Regozije-se naquilo que Deus tem feito por você. Não há motivo para andar por aí
com o rosto comprido, quando você entende que foi salvo pela graça, em Cristo.
Não importa por onde você esteve ou o que já aprontou, Deus fez mais do que o
suficiente para salvá-lo. Vale a pena comemorar isso para o resto da vida!
Mas como mantemos essa atitude de gratidão num mundo tão cínico?
Desenvolvendo uma atitude de gratidão. Há milhares de coisas boas na vida pelas
quais nunca agradecemos a Deus. Quando aprendemos a concentrar a atenção
nessas coisas, mais do que nas frustrações, teremos muito mais alegria e fé
(considerações adicionais a esse respeito no capítulo seguinte)!
4. Deixe que cada ato de sua vida demonstre lealdade e confiança nEle. Boas ações e
obras fiéis nunca serão a base de sua salvação, mas constituem o resultado glorioso
dessa salvação. Quando você sabe que foi salvo, e quando sabe que pode sorrir em
Cristo, torna-se muito mais fácil ser tudo o que você pode ser para Cristo. Torna-
se uma alegria servir e abençoar os outros. Torna-se um gozo partilhar essa fé que
lhe dá energia, aonde quer que você vá.
E se esqueça do número de rebatidas daqui para a frente. Deixe que Deus faça a
contagem da média. Em Cristo, nossos melhores esforços são aceitáveis a Deus.
Em Cristo, estamos rebatendo mil hoje, amanhã e no dia seguinte –
independentemente de como nos sentimos. E, ao nos empenharmos em Cristo
para tornar nossa vida mais e mais semelhante à forma como Ele nos vê, mudanças
reais acontecerão. Nossa vida em mudança é uma resposta natural a uma salvação
inacreditável que é gratuita e disponível neste exato momento.
Como anda a sua vida atualmente? Sente-se frustrado dia a dia por suas
limitações? A melhor maneira de saber se você está vivendo pela média de
rebatidas, e não pela graça, é como você interage com os outros. Se sua reação
natural à maioria das situações da vida é ser crítico, amargo e fazer com que os
outros se sintam humilhados, isso é sinal de que você está vivendo pela média das
suas rebatidas. Se você sabe que está rebatendo 214, e chega a encontrar alguém
que está rebatendo 188, é natural olhar para essa pessoa e dizer: “Qual é o seu
problema?” Um espírito crítico e apontador de erros é a indicação mais clara de
que estamos vivendo por nossa média de rebatidas, e não pela graça. A pessoa que
vive pela graça sabe duas coisas: (1) ela não a merece, e portanto não vai apontar o
dedo a ninguém; e (2) em Cristo, ela recebe essa graça de qualquer maneira, de
modo que não precisa mais exaltar-se criticando os outros.
Por outro lado, sentimo-nos inferiores toda vez que falhamos em viver à altura
de nossas normas ou quando entramos em contato com os “superastros” das
realizações em nosso ambiente. Embora essa inferioridade esteja mais próxima da
realidade do que uma superioridade falsa, ela nos rouba a confiança de que
necessitamos para fazer uma diferença positiva no mundo. Quando vivemos fora
da aceitação de Deus, na qualidade de cristãos ou mundanos, tendemos a oscilar
para frente e para trás entre uma superioridade ilusória e uma inferioridade
deprimente.
O evangelho põe fim a esse jogo. Cria uma nova auto-imagem. O evangelho
nos humilha na presença dos outros porque nos ensina que somos pecadores
salvos apenas pela graça. Ao mesmo tempo, encoraja-nos diante dos outros
quando entendemos que somos amados e honrados pelos únicos olhos que
realmente contam no Universo. O evangelho nos dá tanto ousadia quanto
humildade. Concede-nos uma ousadia que não precisa estar arraigada à
superioridade. E nos concede uma humildade que não deprime. Não há uma
simples filosofia ou religião que consiga realizar isso em nós. Na verdade,
libertamo-nos! Não mais permanecemos presos por mentiras.
– Sei que o senhor pagou um elevado preço por mim, mas precisa saber que
falei sério. Não vou trabalhar. Pode gritar comigo, pode me bater, pode fazer o
que quiser, mas não vou trabalhar!
– Esta casa é para mim? Verdade? Eu não esperava um lugar tão bonito!
– Está bem – disse o dono. – Você não precisa trabalhar para mim. Eu o
comprei para dar-lhe a liberdade! – E, com isso, fez sinal ao cavalo, e o carroção
começou a afastar-se, deixando um africano boquiaberto, parado junto à estrada,
na frente de sua nova casa.
Nessa história, detecto um traço da grande transação que acontece entre Jesus e
nós quando captamos o significado da cruz para a nossa vida. Se Jesus realmente
nos libertou na cruz, não vale a pena servi-Lo durante o restante da nossa
existência?
É claro que essa experiência de questionar certezas mais antigas, esse senso de
traição, não se limita aos adventistas do sétimo dia. A segunda metade do século
vinte foi um período de mudanças convulsivas em todos os aspectos da vida. O
advento da tecnologia da computação e a internet mudaram fundamentalmente a
maneira como as pessoas pensam e raciocinam. A velocidade e a complexidade da
vida se aceleraram rapidamente. Nada mais parece estável. Os empregos são
enxugados no minuto em que o seu salário se torna confortável. Famílias parecem
ter perdido a chave da estabilidade e da permanência. O lugar onde você mora
está mais sujeito à casualidade do que à intenção. Como resultado, membros de
famílias maiores vêem-se afastados uns dos outros.
1. O domínio geral da cultura secular, primeiro no mundo ocidental e cada vez mais,
também, no mundo em desenvolvimento. O pensamento secular tem solapado as
instituições da religião, justamente num tempo em que mais necessária é a
estabilidade espiritual. O sobrenatural parece cada vez mais distante da realidade.
Interpretações conflitantes da realidade parecem desacreditar todas as alegações de
verdade absoluta. Expressões de fé têm sido varridas para as margens da
consciência, enquanto os cinco sentidos se tornam os árbitros da verdade.
1. A primeira coisa a ser deixada de lado é a vida de oração particular. A incerteza que
abala a fé no mundo de hoje mostra-se freqüentemente, antes de qualquer outra
coisa, na área da oração particular. Mais de uma esposa de pastor me contou que
seu marido não orava fazia anos, a não ser em público. Não faço uma
generalização que inclua todos os pastores adventistas, mas creio que o esforço
para manter aberta a linha de comunicação com Deus é mais difícil hoje do que
nunca. Quantos de nós temos uma vida de oração que seja tudo o que pode e
deve ser?
Este item específico é profundamente pessoal. Talvez nem mesmo seu cônjuge
saiba que a sua vida particular de oração esteja patinando. Ela acontece naquele
momento silencioso, quando você fica sozinho e ninguém mais está por perto. É
nesse lugar que geralmente começa a inclinação rumo ao secularismo.
2. A vida de leitura e estudo começa a declinar. Conheço pessoas que não oram há
anos, mas continuam uma rotina de estudos. Podem até nem ir à igreja, mas
levantam-se na manhã de sábado e lêem a Revista Adventista, o devocional ou
Diálogo Universitário. Aos sábados, podem assistir à TV Novo Tempo, em vez de a
um jogo de futebol ou um filme. Todavia, sem um forte componente de oração,
o interesse em assuntos espirituais tende a declinar com o tempo, pelo menos em
termos da espiritualidade pessoal. Quando o estudo continua na ausência da
oração, pode significar menos para a jornada espiritual do indivíduo do que
questionar a jornada espiritual dos outros.
Eu o incentivaria a pensar seriamente nas mudanças que você faz no seu estilo de
vida. Muitos adventistas crêem sinceramente que usar jóias não está em harmonia
com a vontade de Deus para eles. Essa crença não é universalmente compartilhada
entre os adventistas, mas faz parte de um pacote espiritual que procura comunicar
a idéia de modéstia, simplicidade e uma beleza dada por Deus. Quando uma
pessoa começa a usar jóias, ela faz isso como forma de glorificar ainda mais a
Deus? Ou como um modo socialmente aceitável de condescender com o amor ao
brilho?
Minha experiência como pastor também me ensinou que quando uma mudança
no estilo de vida ou nas normas vem combinada com um declínio na vida
devocional, é quase sempre sinal de uma atração para o que é secular. A mudança
na aparência exterior é freqüentemente o primeiro sinal público de um declínio
na vida espiritual particular.
Quando pessoas que ao longo da vida foram abstêmias começam a trazer cerveja
ou vinho para a geladeira, geralmente isso é sinal de tendência à secularização.
Quando pessoas verazes começam a torcer a verdade a serviço de uma boa causa,
geralmente isso é sinal de tendência à secularização. Quando pessoas honestas se
sentem à vontade falsificando a declaração de renda, geralmente isso é sinal de
tendência à secularização. Quando pessoas de hábitos econômicos começam a
envolver-se com aquisições dispendiosas, mais do que em ajudar os pobres e
oprimidos, geralmente isso é sinal de tendência à secularização. Quando pessoas
modestas começam a surpreender-nos com a escolha de suas roupas, geralmente
isso é sinal de tendência à secularização.
Não devo prosseguir sem um alerta. Por mais que eu creia naquilo que escrevi
acima, entendo que, numa comunidade fechada e disfuncional de igreja,
observações feitas sobre o comportamento exterior podem causar grande dano.
Afastamos as pessoas de Deus quando impomos arbitrariamente nossas convicções
pessoais sobre os outros, que nem as entendem, nem as aceitam. O meu apelo
aqui é relacionado a uma conscientização pessoal de nossa posição diante de Deus. Se
temos consciência dos indícios de tendência ao secularismo, teremos menor
probabilidade de perder nossa ligação pessoal com Deus. Assim, o objetivo desta
seção é estimular a conscientização pessoal; não é um chamado para que mais
adventistas se tornem “policiais da conformidade”.
Mas você precisa tomar cuidado com esse tipo de pensamento. Deixar de ir à
igreja pode começar num nível muito inocente, talvez um sábado aqui, outro ali.
Mas então, num sábado, você não está com vontade de levantar, e a coisa seguinte
que você percebe é que não consegue ir à igreja mais de uma vez por mês. Um
dia, você descobre que é bem mais fácil ficar simplesmente na cama ou fazer
alguma outra coisa. Quando nosso registro de freqüência atinge esse estágio, é um
importante sinal público de que a caminhada com Deus já não é como costumava
ser.
Entendo que, para alguns, a Bíblia tem sido usada como ferramenta de opressão
e abuso. Grupos étnicos ouvem que são inferiores porque a Bíblia diz isso.
Estudantes bem-intencionados da Bíblia impedem mulheres de exercer alguns dos
talentos que Deus lhes deu. Exige-se que crianças “honrem” seus pais, mesmo
quando esses pais estão cometendo atos criminosos. Para esses indivíduos, um
pouco de dúvida pode ser um passo importante no caminho para a saúde
espiritual. Para crescer espiritualmente, pode parecer que estão rejeitando a Bíblia.
Mas não estão realmente rejeitando a Bíblia; estão rejeitando falsas crenças que
foram erroneamente baseadas na Bíblia.
Com mais freqüência, entretanto, as dúvidas vêm como conseqüência natural da
transgressão de normas pessoais. Deixe-me explicar. Quando você age de uma
forma que viole sua consciência (ou, em outros termos, quando você peca
voluntariamente), só dois caminhos se abrem diante de você. Você pode
arrepender-se desse pecado ou pode mudar sua teologia. A abordagem
recomendada na Bíblia é confessar os pecados, arrepender-se e lidar com as
conseqüências. A passagem por esse processo leva a um senso do perdão e da
renovada aceitação por parte de Deus. Ela joga esse pecado para trás de você e
restaura o seu relacionamento com Deus.
A solução não é adotar uma postura defensiva e viver com medo e desconfiança.
Em vez disso, precisamos apoderar-nos agressivamente da realidade do reino de
Deus, que está bem vivo em meio a este mundo secular, da Nova Era. A chave
não é inventar algum tipo de escape, mas apoderar-nos preventivamente daquilo
que Deus já providenciou em Cristo. De acordo com o Novo Testamento, o
reino de Deus já está aqui, no meio desta realidade. Mediante o Espírito Santo,
podemos ter com Deus uma caminhada real num mundo que questiona a Sua
própria realidade.
1. O que estudamos deve ser relevante para a vida de cada dia. A escolha que fazemos
do material devocional deve ter ligação com o que acontece naquele momento na
nossa vida. Se aquilo de que você necessita num determinado estágio é a
recuperação do uso do álcool ou de um passado doloroso, a literatura que
apresente o passo a passo é a melhor leitura devocional para você nesse ponto. Por
outro lado, se sua necessidade mais profunda é uma compreensão melhor da
Bíblia, então os comentários devocionais podem ser o ponto de partida. A vida
devocional deve estar voltada para as questões básicas com que você se defronta.
De outra maneira, provavelmente não afetará a sua vida. Será simplesmente um
vácuo no meio do nada.
3. A leitura devocional não pode ser apressada. A leitura devocional deve ser
aprazível. Procure arranjar as coisas de modo que você não tenha de usar o
despertador ou limitar o tempo que você investe. Devocionais apressados podem
fazer mais dano que bem. Eu cheguei a tomar a Bíblia, O Grande Conflito ou O
Desejado de Todas as Nações e desafiar-me a ler o maior número de páginas que
conseguisse num período de uma hora. Não demorou para que aquilo se tornasse
um concurso. Eu lia motivado por metas seculares, mais do que pelo meu desejo
de conhecer melhor a Jesus.
Quando se trata de leitura devocional, tome tempo. Seria melhor passar uma
hora inteira num texto, e explorar profundamente o que esse texto tem a dizer,
do que ler página após página e experimentar um impacto mínimo em sua vida.
O ritmo da vida atual vem-se acelerando há mais de uma geração. Nesta era
tecnológica, precisamos desesperadamente aprender a reduzir o ritmo, a refletir e
a fazer um levantamento da nossa vida. Precisamos fazer com que nosso coração
apressado passe para o ponto morto por algum tempo e simplesmente comungue
com Deus. Se não tomamos tempo para refletir, podemos encontrar-nos cada vez
mais distanciados de uma relação pessoal com Deus – mesmo em meio ao serviço
direto para Ele.
O papel não só se lembra das coisas das quais me esqueço, mas o ato de escrever
parece também implantar as coisas mais profundamente na memória. “A expressão
aprofunda a impressão.” Digo as coisas na minha mente enquanto me preparo
para escrever. Vejo as palavras que estou escrevendo. Sinto a esferográfica e a
pressão sobre o papel. Estou utilizando uma variedade de modos de aprendizado.
Isso é útil para fazer com que aquilo que escrevo se torne uma parte mais
permanente de quem eu sou como pessoa. Não só isso, mas o processo de
escrever parece extrair pensamentos e sentimentos que haviam estado ocultos de
mim antes.
Creio, portanto, que uma das melhores maneiras de praticar uma caminhada
com Deus é fazer anotações, escrever as idéias que surgem da leitura da Bíblia ou
de outros livros espirituais. Não anote qualquer percepção espiritual. Para o seu
diário devocional, anote somente aqueles vislumbres que causam um impacto
profundo em sua alma. Se você escrever tudo, o diário pode ficar emaranhado
demais para ser útil. O melhor livro devocional que você lerá é aquele que você
mesmo escreveu. Não há dois seres humanos iguais. Uma coleção de idéias
impregnada de poder que já o motivou no passado será um recurso poderoso para
manter e restaurar seu relacionamento com Deus no futuro.
Certo dia, passei 45 minutos lendo um livro espiritual. Ele me preencheu tanto
o coração, que precisei fazer anotações sobre a experiência. Não encontrando
papel e caneta para escrever, peguei meu notebook e me sentei. Por mais de uma
hora, ocupei-me digitando as idéias que o Senhor me deu naquela manhã. A
maioria delas cairia no esquecimento para sempre, se eu não tivesse feito isso.
Quer você anote percepções espirituais importantes usando papel e caneta, quer
use o computador, o resultante “livro das idéias”, seu próprio livro de reflexões
devocionais, será uma ferramenta poderosa que Deus pode usar para tornar-Se
mais real em sua vida.
1. Do jeito como você puder. Não existe uma maneira única de orar. Algumas
pessoas lhe dirão que a única posição apropriada do corpo para a oração é sobre os
joelhos, com os olhos fechados e as mãos cruzadas. E, para ser honesto, essa é a
maneira que adoto com mais freqüência. Mas a Bíblia não determina nenhum
tipo de exclusividade relacionada com a posição corporal durante a oração. As
pessoas descritas na Bíblia oraram em pé, ajoelhadas e com o rosto em terra.
Oraram com os olhos abertos e com os olhos fechados. Oraram com as mãos
cruzadas ou com as mãos estendidas para o alto. Mais importante do que uma
posição específica do corpo é fazer contato com Deus.
Ter conhecimento disso traz importantes conseqüências. Por exemplo, toda vez
que oro em silêncio, com os olhos fechados, minha mente tende a vagar. Fecho
os olhos para orar, e quinze minutos mais tarde me acho vagueando em algum
outro município. Em geral, não tenho idéia de como cheguei lá. Simplesmente
me envolvi em algum tipo de flutuação mental. Por isso, acho muito útil manter
os olhos abertos quando oro, e concentrá-los em algum objeto na sala, como um
sofá ou o desenho do tapete. Focalizar os olhos me ajuda a focalizar a mente
também. Eu me pergunto quantas pessoas se angustiam em oração, simplesmente
porque não sabem que Deus não Se importa se conservamos os olhos abertos ao
orar. O que importa é que a mente esteja concentrada nEle.
4. Permita que Deus responda suas orações. Outra estratégia útil é dar a Deus a
oportunidade de responder às suas orações. É fácil passar apressadamente pela lista
de pedidos de oração e depois se pôr em pé e sair para o dia, sem esperar que
Deus responda de alguma forma. Dizemos: “Senhor, estou com pressa hoje.
Preciso me aprontar para o trabalho, mas lá longe há missionários e colportores
que precisam de alguma ajuda. Bem, preciso correr agora. Tchauzinho.”
Certo dia, no Seminário, apresentei essa idéia. Um aluno do Canadá foi movido
a experimentá-la naquela noite. Depois da oração, teve a repetida sensação de que
precisava entrar em contato com certa mulher no Canadá. Como a esposa dele se
encontrava no Canadá naquela época, não longe de onde a mulher morava, ele
decidiu ligar para sua esposa e pedir que entrasse em contato com a mulher. No
dia seguinte, sua esposa telefonou e disse que não havia conseguido fazer o
contato. Ele insistiu com a esposa para que continuasse tentando. Tinha a
convicção de que o Senhor sabia por que aquela mulher precisava ser encontrada.
A esposa ligou de novo. Desta vez a mulher atendeu. Sua resposta foi espantosa.
“Meu marido faleceu há uma semana, e acabo de voltar do médico, que me disse
que tenho câncer. Estou sentada aqui ao lado do telefone, querendo saber se
alguém se importa comigo.” Meu aluno canadense não teve dúvida de que Deus
ainda Se comunica com Seu povo hoje!
O problema é que a maioria das pessoas prefere não fazer essas escolhas.
Procuram realizar tudo quanto é posto diante delas, e isso simplesmente não
funciona. De modo inevitável, ou a família ou a vida devocional, ou ambos, são
colocados sobre o altar da indecisão. Assim, hoje em dia, quando alguém me pede
que aceite um cargo ou execute alguma tarefa, pergunto a mim mesmo: “Qual
das minhas atividades isso vai substituir? Isso é mais importante ou interessante do
que aquela ocupação à qual terei de renunciar para executar esta?” Viver é fazer
escolhas. Se não escolhemos, o tempo escolherá por nós. E ficaremos infelizes
com a escolha.
Tudo isso tem grandes implicações no que tange à parte devocional da vida.
Nosso tempo com Deus é freqüentemente substituído pela pressão de ocupações
de menor importância. Se não escolhemos passar a melhor parte de cada dia com
Deus, inevitavelmente seremos levados em direção daquilo que é secular. Assim,
o primeiro passo para reforçar nossa experiência devocional é escolher torná-la a
prioridade da nossa vida. O mais importante acerca da força de vontade é que ela
é fortalecida pelo uso. Escolha colocar Deus em primeiro lugar. Diga isso em voz
alta. Escreva sobre isso aos seus amigos. Expressar essa escolha vai torná-la mais
forte. Decida o que precisa ser descartado em sua vida, se a sua experiência
devocional deve crescer. Tenha cuidado ao aceitar novas incumbências ou
responsabilidades. Na vida devocional, acima de todas as outras coisas, devemos
ecoar as palavras de Paulo: “Uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para
trás ficam...” (Filipenses 3:13).
O outro lado da moeda, por sorte, é muito diferente. A maneira como você
vive exerce um impacto poderoso sobre aquilo em que você crê. Esse é o tema
predominante do capítulo intitulado “A Cura Mental”, do livro A Ciência do Bom
Viver (p. 241-259). Os atos rotineiros da vida de cada dia produzem efeito sobre
aquilo em que as pessoas crêem e a maneira como se sentem e pensam.
Esse é um dos segredos do estilo de vida adventista. Ele nos compele a incluir
Deus em cada pormenor de nossa existência. Ao preparar o orçamento familiar,
qual é a primeira coisa que você considera? O dízimo. Deus é o centro de sua
vida financeira. Quando faz compras numa loja de roupas, em que está pensando?
“Se eu usasse esta peça, ela confirmaria meu testemunho cristão ou seria uma
contradição e incoerência? Essa roupa chamaria a atenção para mim ou apontaria
para aquilo que Deus faz na minha vida?” Quando você está no supermercado, lê
rótulos. Por quê? Porque não deseja colocar dentro do seu organismo coisas que
Deus não aprovaria. Coisas que poderiam atrapalhar sua eficiência para Ele.
Corretamente adotado, o estilo de vida adventista inclui Deus em todas as
atividades da vida diária.
A relação entre justificação e senhorio é ilustrada com mais eficácia por uma
história que Jesus contou aos discípulos. Em Mateus 18:23-35, um rei perdoa uma
dívida de dez mil talentos (talvez dez bilhões de dólares, em moeda inflacionada)
de seu servo. Supõe-se, na história, que o servo fosse reagir alegremente,
perdoando uma dívida equivalente ao salário de apenas cem dias de seu conservo.
Todos em volta ficam chocados quando ele não o faz. A história é uma parábola
do perdão divino e do humano. O que Deus faz por nós torna-se o modelo de
como devemos tratar-nos uns aos outros. Uma fé equilibrada e viva inclui
devoção e ação. Somos salvos pela fé somente, mas a fé salvadora nunca está
sozinha!
Assim, embora as devoções sejam vitais para um relacionamento vivo com Deus,
elas fracassarão em seu propósito, a menos que a caminhada com Deus permeie
nossa experiência num mundo real. Mediante o estilo de vida adventista, temos a
oportunidade de experimentar Deus no centro de cada pormenor da nossa vida.
Mediante a prática da fé, nossas crenças se tornam mais fortes e nossa experiência
toda se integra à caminhada com Deus.
Considere a situação difícil do rei Josafá. De acordo com 2 Crônicas 20, ele
estava sendo atacado pelos exércitos de três nações! Reuniu seu conselho, mas em
vez de traçar uma estratégia militar ou diplomática, dirigiu-os em oração. Bem,
como é que você e eu oraríamos numa situação como essa? Não sucumbiríamos a
rogos abjetos, de autocomiseração? Em vez disso, Josafá disse:
A expressão aprofunda a impressão. Fale de fé, e você terá mais fé. Ellen White
expressa essa idéia com palavras vigorosas:
Primeiro princípio: Antes de fazer com que uma pessoa o escute, você precisa
deixá-la à vontade; ela precisa sentir-se confortável. Cercar alguém numa esquina
pode causar o oposto daquilo que você pretende. Você gosta de estar com uma
pessoa que repetidamente lhe diz o que você deve fazer e que o humilha ao
enaltecer sua própria compreensão superior? Essa pessoa faz com que você se sinta
à vontade? Você está disposto a ouvir aquilo que ela ainda tem a dizer? Deseja
tornar-se como essa pessoa?
Ou será que responde? Como saber das respostas de Deus às nossas orações?
Deus ainda fala com viva voz hoje ou precisamos adivinhar Sua vontade através
da cadeia de circunstâncias que segue à oração? Você conheceria a voz de Deus se
a ouvisse? Você distinguiria Sua voz dentre as muitas que o rodeiam no mundo
de hoje?
Imagine que você é membro de uma igreja. Deus o abençoou através dos anos
em suas tentativas de servir à igreja. Tem sido fiel nos dízimos e nas ofertas. Mas
então, um dia, uma voz atrás de você diz: “Venda tudo o que possui e dê o
dinheiro à Adra, para alimentar os famintos.” Você faria isso? Se soubesse, sem
dúvida, que era a voz de Deus, você venderia tudo? Mas como saber?
Se Deus lhe falasse hoje, você saberia que era Ele?
Como sabia Abraão que aquele estranho pedido vinha diretamente de Deus?
Com toda franqueza, foi até bom Abraão não ser adventista do sétimo dia,
porque, se fosse, provavelmente não teria ido ao Monte Moriá. Um fervoroso
adventista do sétimo dia teria comparado o que a voz disse com as Escrituras e
teria concluído: “Isso não vem de Deus.” Perceba, a voz dizia que ele devia fazer
algo contrário ao sexto mandamento. E não só isso, mas os profetas revelam que o
sacrifício de um filho é abominação ao Senhor. Um bom adventista seria levado a
concluir que a voz, obviamente, não era de Deus. Só há um problema. A voz era
de Deus!
Como sabia Abraão que a voz que lhe ordenava fazer algo contrário à vontade
de Deus era de Deus? Minha suspeita é de que, em sua longa vida, Abraão andou
e conversou muito com Deus. Chegara a saber quando Deus Se comunicava com
ele e quando era simplesmente a voz de seus sentimentos íntimos ou alguma outra
influência. Abraão tinha experiência com Deus. Havia testado suas impressões.
Havia praticado o que ouvia. E discernia quando era Deus falando e quando não
era.
Deus, provavelmente, não lhe pedirá que faça algo semelhante ao que pediu a
Abraão. Somente alguém com uma experiência vitalícia de caminhada com Deus
poderia ter reagido da forma como Abraão reagiu àquela ordem. Deus sabia com
quem estava lidando. Abraão mostrou-se fiel a Deus, mesmo numa situação
torturante e carregada de perplexidade. Através desse exemplo, Deus pôde ensinar
ao Universo inteiro algo especial acerca do Seu plano de salvação (ver Patriarcas e
Profetas, p. 153-155). Não há como dizer o que Deus faz com alguém que esteja
disposto a ouvir Sua voz e obedecer a ela.
Relacionamento vivo com Deus
Se desejamos ter o tipo de relacionamento com Deus que Abraão teve, então
precisamos aprender a reconhecer a voz de Deus em nossa vida diária. Creio que
há somente dois tipos de viver cristão. Um pode ser descrito como uma
simulação. O outro se baseia em uma experiência genuína, viva, com Deus.
Sua vida cristã está no piloto automático? Professa o cristianismo porque seus
pais o fazem? Porque sua família o faz? Porque seus melhores amigos o fazem? Ao
longo dos anos como pastor, cheguei a reconhecer que uma elevada porcentagem
de homens, de modo particular, estava na igreja principalmente porque seus
familiares eram membros. Não havia um sólido compromisso pessoal.
Você vai à igreja simplesmente por causa do hábito? Porque você cresceu indo,
e assim continua? A vida se torna interessante apenas quando você está no
trabalho ou na quadra de esportes ou no shopping – fazendo algo de natureza
secular? É aí que você se sente mais vivo e envolvido com a vida?
Creio que o único tipo de vida cristã que interessa é o segundo: uma
experiência genuína e viva com Deus. Você sabe que Deus existe e sabe que Ele
está com você, e sabe que pode expor a Ele suas mais profundas necessidades e
preocupações. E sabe que Ele fará a mesma coisa com você. Uma relação viva e
genuína com Deus é a base para o único tipo de cristianismo que realmente
importa.
Não estou falando aqui de vozes audíveis. Se você me dissesse que ouve vozes o
tempo todo, eu o escutaria, mas ficaria um pouco preocupado. Quando falo de
impressões que tive, não estou dizendo que Deus me favoreça de algum modo
especial. Não ouço vozes audíveis, e não creio que minha experiência com Deus
seja incomum, em algum sentido. Mesmo assim, tenho sabido por experiência
que Deus é capaz de comunicar-Se comigo, ainda que eu não ouça uma voz
audível, ainda que não veja uma figura angélica. A Bíblia sugere que Deus deseja
comunicar-Se conosco diretamente; por isso, quando prestamos atenção à voz de
Deus fora das Escrituras, estamos sendo fiéis às Escrituras.
Duvido muito que ele tenha tido consciência de haver nos expulsado da estrada.
O interessante é que, uns 180 metros adiante do local onde fomos forçados a sair
da pista, havia um guardrail. Se ele nos houvesse apertado naquele ponto, não teria
havido lugar para onde escapar. Teríamos sido esmagados contra a mureta ou
possivelmente jogados por cima dela, barranco abaixo. Depois desse incidente,
contei por fim à minha esposa sobre a impressão de perigo na rodovia.
– Bem, nesse caso, é melhor tomarmos mais cuidado daqui para a frente.
Mas respondi:
– Não; já passou. Era sobre isso que o Senhor estava tentando me acautelar.
Agora tudo vai ficar bem. – Eu sentia um alívio completo da ansiedade, e esse
alívio era tão real quanto a impressão anterior de perigo. De alguma forma, senti
que o perigo havia passado e que o restante da viagem transcorreria razoavelmente
sem novidades. Senti total gratidão a Deus, que Se importa conosco e é
plenamente capaz de nos avisar com antecedência sobre coisas assim.
Não quero dar a entender que Deus sempre nos avisará ou protegerá. Quando
coisas ruins acontecem com o povo de Deus, isso não significa necessariamente
que fizeram algo errado ou estão sendo punidos. Ironicamente, na volta para casa
daquela viagem, eu dirigia feliz pelo Estado de Dakota do Sul, com meu controle
de velocidade fixado em 100 km/h (o limite exato de velocidade naquele trecho
da estrada). Até hoje me pergunto por que Deus não me avisou sobre o policial
rodoviário cujo radar estava calibrado (intencionalmente ou não) 20 quilômetros a
mais que a velocidade real. Embora meu velocímetro dissesse que eu viajava a 100
por hora (aquela região de Dakota do Sul é muito plana), o radar dele dizia que
eu estava a cento e vinte por hora. E ele não demonstrou, absolutamente, senso
de misericórdia. Para mim, acabou sendo muito cara aquela parada, embora eu
tivesse obedecido fielmente à lei, pelo menos no que dizia respeito ao meu
conhecimento. Pretendo perguntar ao Senhor sobre esse incidente durante o
milênio. Mas se tiver de escolher, prefiro ser avisado sobre motoristas de
caminhão desatentos, em vez de policiais rodoviários equivocados ou corruptos.
Esses incidentes e outros me levam a crer que Deus é muito real e objetivo. Ele
não Se ocupa exclusivamente com a administração do Universo; também gostaria
de envolver-Se mais com as atividades corriqueiras da nossa vida. E parece tão
disposto a comunicar-Se conosco hoje como esteve com as pessoas dos tempos
bíblicos.
Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue
evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim,
como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá
além daquele que recebestes, seja anátema.
Paulo, aqui, sugere que as impressões (como anjos ou pregadores) podem levar-
nos em sentido contrário ao dos claros ensinos de Deus. Satanás pode vir a nós
disfarçado de anjo de luz (ver 2 Coríntios 11:14, 15). Não importa qual seja a
fonte, não devemos jamais aceitar uma impressão contrária àquilo que já
conhecemos como sendo certo.
Alguns se sentem motivados quando estão com outras pessoas; outros se apagam
dentro desse mesmo tipo de contato. Quando os introvertidos precisam sujeitar-se
a um ajuntamento muito grande, em geral precisam ir para casa depois, fechar as
cortinas e deitar-se num quarto escuro por algum tempo até recuperar as forças. É
de cortar o coração ver pessoas se esforçando para servir a Deus de um modo
contrário à maneira como Ele as “programou”. Assim, gasta-se muita energia
meramente para “sobreviver”. Tenha cautela com impressões que o conduzam
em sentido contrário à forma como Deus o fez.
Bem, quando eu faço isso, vejo que uma grande porcentagem dos pensamentos
e idéias que me passam pela mente são irrelevantes para a minha vida naquele
momento. Se você se sente impressionado a visitar alguém, visite! Se o impulso é
de telefonar, telefone! Se você se sente inclinado a ir a um determinado shopping,
vá até lá e veja o que acontece. Quando você recapitular suas experiências
passadas, pode muitas vezes dizer quando era Deus que estava guiando ou quando
era você que estava seguindo seu próprio caminho. Recapitular a reação às várias
impressões e os seus resultados pode aguçar o senso de como Deus o guia
pessoalmente.
Vamos supor que eu sinta a impressão de que preciso entrar em contato com
alguém ou orar com essa pessoa. Vamos supor que, ao fazer o contato, essa pessoa
faça repetidas observações sobre o momento excepcionalmente oportuno do
telefonema ou o quanto precisava de uma visita. Suponha que, aonde eu for
naquele dia, as pessoas se sintam abençoadas e o reino de Deus avance. Isso me
sugeriria que a mão de Deus estava claramente por trás das impressões que me
levaram a fazer o bem, no momento certo. Deus já me deu vários dias assim, e é
tão gostoso! Sinto-me nas nuvens, realizado e com um senso de propósito. Fico
sabendo que há um Deus vivo que Se importa de me guiar, mesmo nos
pormenores da vida.
Mas as coisas nem sempre acontecem desse jeito. Às vezes, sinto o impulso de
fazer telefonemas ou visitas, e a reação é menos positiva. As pessoas coçam a
cabeça, sem ter idéia do motivo pelo qual Deus poderia querer que eu entrasse
em contato com elas naquele momento. O contato, inclusive, pode provocar
algum problema, para mim ou para elas. Às vezes, sinto que devo fazer algo
especial por um membro da minha família, só para descobrir que errei feio!
Quando os resultados de uma determinada impressão não cooperam para o bem,
essa impressão provavelmente veio de uma fonte que não era Deus.
A chave, então, é testar nossas impressões, ou pelo menos aquelas que não são
obviamente tolas ou contrárias à Bíblia. Faça experiências com elas. Mantenha um
registro dos resultados. Com o passar do tempo, você aprenderá gradualmente a
distinguir a voz de Deus de algumas das outras vozes na sua cabeça. Descobrirá
que Deus utiliza um certo modo de falar com você, um que você chegará
gradualmente a reconhecer. Notará que a voz dEle vem até você com um
“sotaque” particular. Chegar a esse reconhecimento não acontece de maneira
fácil. Exige tempo e atenção cuidadosa. Mas a alegria produzida pela orientação
de Deus vale o tempo e o esforço. Deus cuida de muitas áreas da sua vida que não
são diretamente governadas pela Escritura. E os outros também serão beneficiados
pela sensibilidade que você revela.
Em muitas ocasiões, desejei auxiliar alguma pessoa, mas senti que poderia fazer
mais dano do que bem. Para produzir o máximo efeito, o auxílio deve ocorrer no
momento certo, no lugar certo e do jeito certo. Ser sensível à guia de Deus pode
fazer uma grande diferença aqui. A Escritura não nos diz quando ou a quem
visitar. Deus Se dispõe a nos ajudar a saber quando e como abordar as pessoas,
mas precisamos estar sintonizados com a voz dEle.
Ellen G. White declara: “Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que
esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos
ministrou no passado” (Eventos Finais, p. 72). Você alguma vez já pensou em
aplicar esse princípio à sua própria vida e experiência? Ao ver como o Senhor o
guiou no passado, você ganhará confiança para saber que Ele o guiará também no
futuro. Talvez eu possa contar mais algumas experiências do meu passado, nas
quais tive certeza absoluta de que Deus me guiava.
Naquela sexta-feira à tarde, o pastor titular me ligou e disse que à noite daria um
estudo bíblico numa parte perigosa da cidade. Acrescentou que não se importaria
de ir acompanhado, se eu tivesse algum tempo livre. Feliz pela oportunidade de
sair daquele solitário apartamento, concordei em estar às 18h na casa dele. A
caminho do estudo bíblico, ele fez uma parada num bairro que parecia diferente
daquele que mencionara.
– Quem é a Pam?
– É uma pergunta interessante. Uns dois meses atrás, ela veio andando pela rua
num sábado e anunciou que havia encontrado a igreja na lista telefônica. E tem
vindo desde aquele dia. Acho que ela está interessada em batizar-se logo.
– Fiquei sabendo que o senhor está planejando um batismo neste sábado – disse
ela.
– Sim, dois ou três jovens querem batizar-se – respondeu o pastor.
– O senhor acha que haverá algum espaço para mim? – perguntou ela.
O pastor titular descobriu logo que não precisaria mais levar Pam para casa
depois dos cultos. Com sabedoria, entregou para mim os estudos bíblicos que ela
ainda teria de fazer. Nas tardes de sábado, encontrávamos todos os parques mais
lindos da cidade de Nova York e passávamos o tempo estudando a Bíblia, bem
como conhecendo um ao outro. Sou agradecido pelo fato de que nosso
relacionamento estava centralizado no aspecto espiritual quando começamos. Não
demorou muito para que expandíssemos o nosso tempo juntos aos domingos
também, e conversávamos bastante depois da reunião de oração das quartas-feiras
(o impressionante é que nenhuma das velhinhas desconfiou que aquela moça
começara a freqüentar os cultos de oração depois da chegada do pastor-assistente).
A essa altura, ela ficou sabendo que seu bisavô morrera. Ela e sua mãe decidiram
ir para o funeral no Centro-Oeste. Pam havia crescido numa fazenda na Dakota
do Norte e passado lá a maior parte da sua vida. Depois que seus pais se
divorciaram, ela acabou acompanhando a mãe para a cidade de Nova York.
Depois de mais ou menos um ano na grande cidade, ela suspirava por algum
toque do torrão natal. Ela o encontrou na igreja, que a fazia lembrar-se do “porto
seguro” que a igreja pode oferecer para os mais jovens num mundo confuso. Pam
nunca apreciara de verdade a cidade de Nova York e falava freqüentemente em
voltar para o Centro-Oeste a fim de cursar a universidade. Assim, quando ela e a
mãe compraram passagens só de ida para o funeral em Dakota do Norte (naquela
época, a tarifa para bilhetes só de ida era mais baixa que para ida e volta), percebi
que o relacionamento havia acabado. No aeroporto, ela se despediu sem nenhum
entusiasmo. Sem graça, dispus-me a pagar a passagem de volta para ela e a mãe,
caso decidissem retornar. Então, assisti à entrada dela no avião e sua saída da
minha vida.
Voltei para as minhas solitárias quatro paredes – zangado com Deus. Quando
finalmente encontrei a pessoa certa, Ele a levou embora. Como podia Ele brincar
comigo desse jeito, só para me deixar mais sozinho que nunca? Depois de algum
tempo, contudo, percebi que minha ira contra Deus não era unânime dentro de
mim. Eu não estava 100% zangado com Deus; só uns 80%. Os outros 20% dentro
de mim raciocinaram que, se um casamento com Pam não fosse da vontade de
Deus, então na verdade não importava quão fantástica ela era. Casar com alguém
que não fosse da vontade de Deus só podia ser desastroso. Assim, travou-se uma
batalha no meu íntimo – 80% de mim queriam-na de volta, não importava o
custo; os outros 20% queriam fazer a vontade de Deus, não importava o custo.
Apesar do meu oferecimento de trazer Pam e sua mãe de volta, vários dias
passaram sem notícias dela. Minhas orações confusas e embaralhadas continuaram
sendo elevadas a Deus. Alguns dias mais tarde, notei que uns 70% de mim a
queriam de volta, e 30% diziam que a vontade de Deus era o que realmente
importava. Depois de oito ou nove dias de silêncio, apenas 60% queriam que ela
voltasse; 40% oravam para que se fizesse a vontade de Deus e pediam a ajuda de
que eu necessitava para aceitar o fato.
Aprendi uma lição muito importante durante essa época. Na jornada cristã,
freqüentemente nos vemos divididos contra nós mesmos. Nossa devoção plena a
Deus é solapada por uma variedade de vozes lá dentro, algumas das quais
podemos nem perceber. Mas aprendi que a vontade humana pode apegar-se
inclusive à menor migalha de fé, dirigi-la a Deus e então, por Sua vez, Deus fará
essa fé crescer. Embora a impressão de colocar o retorno de Pam nas mãos de
Deus partisse de mim mesmo, eu sabia que era a impressão certa, mesmo que a
maior parte de mim lutasse contra ela. Quando colocamos nossa vontade por trás
das impressões que sabemos virem de Deus, ocorrerá o crescimento de caráter, e
nossa caminhada com Deus se tornará cada vez mais real.
Era o dia número onze. Eu orava ao lado da cama por volta das onze da noite
(os dois números onze facilitaram a memorização). No meio daquela oração,
tomei consciência de que 51% de mim queriam obedecer à vontade de Deus,
fosse qual fosse o custo. Contei ao Senhor que, mesmo que nunca mais visse Pam,
tudo estaria bem. Mesmo que eu tivesse que permanecer solteiro para o resto da
minha vida, estaria bem. Eu só queria fazer a Sua vontade. Um sensação incrível
de paz me dominou. Uma sensação de entrega, plena e completa. O senso de que
Deus aprovava minha decisão. Eu sabia que, de um jeito ou de outro, tudo ficaria
bem. Deus estaria comigo e Ele tomaria conta das coisas.
Você precisa entender que meus dois relacionamentos anteriores com moças na
universidade haviam terminado de modo semelhante. Em cada caso, a pessoa pela
qual eu estava interessado foi embora, algo aconteceu, e nunca mais nos
encontramos. Para mim, essa experiência com Pam foi “três tentativas, e você está
fora!” – uma experiência completamente arrasadora. Que alívio foi entregar nas
mãos de Deus todo o conceito de uma companheira de vida! O meu jeito não
estava funcionando, de qualquer maneira!
Já houve dias em nosso casamento em que fui tentado a dizer que ele foi um
erro. (Ela também já teve esses dias.) Agradeço a Deus pela certeza pessoal de que
nosso casamento tem a Sua aprovação. Ele escolheu usar esse relacionamento na
prosperidade e na adversidade, para me tornar tudo o que posso ser para Ele.
Creio que às vezes Deus está apenas aguardando para nos conceder o desejo de
nosso coração, mas o retém porque o exigimos com nossas próprias condições.
Ele espera até que nos dediquemos totalmente a Ele, para que recebamos o Seu
dom de um modo que seja benéfico. Por vezes, nosso egoísmo pode ser o maior
obstáculo para receber exatamente aquilo que mais queremos.
Fiquei muito confuso. O que teria significado o sinal das onze horas da noite, se
não a aprovação de Deus para nosso possível casamento? Como aconteceria
aquele casamento, se um de nós não estava interessado? Nosso verão terminou
numa sala do Atlantic Union College, onde ela se matriculava no seu curso. Eu
estava pronto para dirigir meu carro de volta para Nova York e seguir minha
vida. Ela estava pronta para fazer um teste e seguir a vida dela. Despedimo-nos
com um aperto de mão. Eu disse: “Foi um lindo verão. Nunca me esquecerei de
você!” Entrei no carro e me afastei. E assim acabou. Ou pelo menos parecia.
Graças à minha entrega a Deus, consegui fechar a porta e sair sem maiores
traumas.
Quando voltei a Nova York, fiz arranjos para expandir meu ministério em áreas
que aumentassem minhas oportunidades sociais (como lecionar no ensino médio).
Comecei a pensar em ir para o Seminário no ano seguinte, como opção através da
qual Deus me abrisse o futuro. Mas, acima de tudo, eu estava satisfeito por seguir
no Seu ritmo e no lugar indicado por Ele. Embora sentisse solidão às vezes,
sentia-me bem por ter-me dedicado totalmente a Deus.
Então, num sábado à noite, o telefone tocou. Mais uma vez, a operadora disse:
“Tenho uma ligação a cobrar da Pam. Aceita o débito?”
Pam tivera tempo para pensar. Tempo para explorar outras opções. Começou a
achar que havia perdido algo que mais tarde se arrependeria de perder. Começara
a sentir que havia cometido um erro ao permitir que eu escapasse. Minha resposta
deixou claro que eu continuava minha vida e não passava os dias pensando nela.
Ela ficou chocada. Nenhum rapaz a havia deixado antes. Eles sempre ficavam
desesperados quando ela se afastava, e isso a deixava menos interessada ainda.
Agora era a vez de ela ficar confusa. Sem ter planejado, sentiu que a atração surgia
novamente. Era a sua vez de reacender a chama entre nós. E se saiu muito melhor
do que eu.
Como servir?
Com respeito à questão do companheiro de vida, uma experiência saudável com
as impressões é essencial. Quando se trata de romance, os sentimentos e as
impressões são extremamente perigosos. Assim, em nenhum outro momento,
uma relação viva com Deus é mais vital para o sucesso. O interesse de Deus pelos
romances humanos está claramente ilustrado nas histórias bíblicas de Isaque, Jacó e
Moisés.
Depois que Pam e eu nos casamos, fomos para o Seminário. Então, ingressei no
ministério pastoral em tempo integral. Deus nos abençoou, e parecia que se
estendia diante de nós uma carreira vitalícia no ministério. Mas, depois de algum
tempo, várias pequenas coisas sugeriam que eu ainda não havia chegado ao lugar
do trabalho definitivo. As pessoas diziam coisas como: “Você é um bom pastor,
mas alguma vez já pensou em lecionar?” Ou então: “Sua pregação é boa, mas
quando você tem uma lousa atrás de si e dá início a um debate, é aí que você se
inflama!” Eu vibrava mais no meu estudo pessoal e na classe da Escola Sabatina do
que no púlpito ou fazendo visitação.
Uma coisa parecia certa: se Deus me quisesse numa sala de aula, eu precisaria de
um doutorado. Como ninguém se ofereceria para pagar meus estudos, Pam e eu
decidimos, com muita oração, começar a fazer sacrifícios e economizar tudo o
que pudéssemos enquanto continuávamos no ministério. Quando tivéssemos
economizado o suficiente para pagar uns dois anos de estudo, nós nos
mudaríamos para Michigan e ela conseguiria o restante trabalhando como
secretária. Mas sempre nos comprometemos com um aspecto: quando viessem os
filhos, ela lhes daria atenção em tempo integral. Assim, decidimos adiar a chegada
dos filhos para depois de concluído o doutorado ou pelo menos até que
tivéssemos recursos suficientes para cobrir as despesas com educação.
Quando atingimos nossas metas financeiras, fizemos planos de mudança para
Michigan. Informamos a Associação e nossa igreja que partiríamos. Autorizamos o
senhorio a alugar nossa casa para outros inquilinos. Pam encontrou um bom
emprego como secretária na Universidade Andrews, onde eu estudaria.
Entregamos a papelada e fizemos os exames de ingresso. Então, um mês antes da
mudança, aconteceu o grande choque. Pam estava grávida. Isso significava que ela
não trabalharia mais depois da chegada do bebê. Também significava que a maior
parte da sua renda potencial não entraria. Significava que agora estava em jogo
tudo aquilo para o qual havíamos trabalhado.
Sugeri à Associação que poderíamos permanecer em nossa igreja por mais uns
dois anos a fim de economizar mais dinheiro para os estudos. Tanto a Associação
quanto a igreja receberam bem a idéia. Mas havia outro problema. O proprietário
já havia concordado em alugar nossa casa para outras pessoas. Mas ficou feliz
quando lhe disse que desejávamos permanecer (éramos bons amigos). Ele disse:
“Se o caso é esse, vou fazer com que aconteça. Sou advogado. De qualquer
maneira, não tenho nada registrado por escrito com essas pessoas. Vou
simplesmente dizer-lhes que terão de encontrar outro lugar.” Com esse estímulo,
orei ao Senhor dizendo que, se pudéssemos permanecer na mesma casa e na
mesma igreja, seria um sinal para que adiássemos o doutorado para uma ocasião
posterior.
Quando vi Mike, o proprietário, no seu quintal no dia seguinte, ele estava com
a cabeça baixa e as mãos nos bolsos. Fui até a cerquinha que separa os dois
terrenos. Ele me disse que gostava muito de nós e queria que ficássemos, mas
simplesmente não poderia romper o acordo que havia feito com as outras pessoas.
– Jon, eu lhes dei a minha palavra – disse ele. – Simplesmente não me sinto bem
em voltar atrás.
Concluí que, se aquele advogado de mente secular queria manter sua palavra e,
como resultado, perder um bom amigo, Deus devia estar por trás daquilo de
alguma forma.
– Mike – eu disse –, você é a voz de Deus para mim hoje. – Pude ver que ele
não sabia bem o que fazer com a situação, mas ele entendeu que eu achava que
era uma boa coisa. Eu disse que ele estava fazendo a coisa certa, e que eu
procuraria fazer o mesmo com a minha vida. Sabia que, se Deus estivesse
conduzindo os fatos, tudo daria certo, mesmo que não soubéssemos de onde viria
o dinheiro. Então, Pam e eu nos preparamos para deixar a cidade.
Dois dias depois, outro amigo meu, que era presidente de uma empresa,
procurou-me e disse:
– Você tem habilidades de pesquisa que eu poderia usar. Enquanto faz o seu
doutorado, estaria interessado em ser consultor para minha empresa? Eu lhe
mandaria um cheque de trezentos dólares cada mês, e você faria algumas pesquisas
para mim de tempos em tempos, para me ajudar no meu negócio. – Meu
interesse por pesquisas e as expectativas dele coincidiam, e o dinheiro que ele me
ofereceu cobriria a metade daquilo que minha esposa conseguiria! O Senhor nos
dava um sinal: Ele cuidaria das coisas se tão-só confiássemos nEle. Como
resultado, fomos para Michigan pela fé, mas com alguma evidência para apoiar a
fé.
– Apreciamos muito o que você vem fazendo aqui – ele disse. – Dei uma olhada
nos seus registros, e vejo que você nunca recebeu auxílio financeiro de nossa
parte. Por que não o solicitou?
– Não creio que seja o meu caso – respondi. – O senhor sabe, minha esposa e
eu gostamos de saber de onde virá nossa refeição seguinte, e decidimos fazer o
que fosse necessário para manter um saldo na conta. Embora fosse ótimo receber
ajuda financeira, não temos uma necessidade imediata.
– Precisamos fazer algo por você – disse ele. – Deixe-me ver. – Ele pegou um
livreto e começou a folheá-lo. – Deve haver em algum lugar uma bolsa que seja
concedida por mérito, e não por necessidade.
É dessa maneira que Deus trabalha quando você está no lugar certo, na hora
certa. Eu não havia solicitado ajuda, mas o reitor me chamou. Eu não achava que
seria um candidato qualificado, mas ele decidiu encontrar um jeito de fazer com
que aquilo acontecesse. Ao longo do ano seguinte, ele arranjou quase quatro mil
dólares a título de bolsa por mérito! E isso foi apenas o início. A casa na qual
residimos também nos veio sob circunstâncias praticamente miraculosas, no que
diz respeito ao momento, ao custo e à localização. Não teria sido melhor se
houvéssemos planejado daquela forma. Um ano depois, quando nosso dinheiro
estava para esgotar-se, ofereceram-me um emprego permanente no Seminário.
Quando me graduei, não devíamos nada, a ninguém.
Nada se compara à sensação de saber que nos encontramos onde Deus deseja
que estejamos e fazendo o que Ele quer que façamos! E não é esse o tipo de
experiência que Deus deseja para todos os que O seguem? Sei que há ocasiões em
que Deus não escolhe proteger ou guiar. Há ocasiões em que Deus, em Seu
propósito, pode não advertir-nos com antecedência quanto a um perigo. Mas
quando vemos o amor que encaminhou Jesus para a cruz, sabemos que podemos
confiar nEle, não importa quais sejam as circunstâncias. Não há voz de orientação
que se compare com a Sua voz, quer nas Escrituras, no Espírito de Profecia, quer
por impressões ou circunstâncias. Disso eu sei. Toda vez que Deus Se dispuser a
falar comigo, quero ser como Samuel e dizer: “Fala, Senhor, porque o Teu servo
ouve” (1 Samuel 3:9).
UMA LIÇÃO DA GUERRA DO GOLFO
Você se lembra onde estava e o que estava fazendo quando soube que a Guerra
do Golfo havia começado? Eu me encontrava no Walla Walla College,
lecionando num curso de extensão da Universidade Andrews para uns 35
pastores. Além de dar aulas, eu devia fazer um recrutamento de candidatos para os
programas de pós-graduação do Seminário. Eram aproximadamente 16 horas do
dia 15 de janeiro. Eu entrevistava um estudante, quando Ernie Bursey passou pela
porta aberta da sala de entrevistas. Ernie, um dos professores de religião em Walla
Walla, é conhecido por sua oposição à guerra. Quando ele passou, dava a
impressão de que seu queixo ia encostar nos sapatos.
De repente, nada mais parecia importante. Mal pude esperar para voltar ao meu
quarto no hotel e fazer exatamente o que Saddam Hussein fazia naquele
momento – sintonizar a CNN para descobrir o que afinal estava acontecendo.
A primeira notícia que chegou foi uma enorme surpresa. Os analistas militares
haviam previsto que as perdas num ataque inicial com bombas sobre o Iraque
representariam mais de 10% dos aviões aliados envolvidos no bombardeio. Como
1.700 aeronaves militares participaram do primeiro ataque, aproximadamente 200
poderiam ser abatidas antes que as defesas aéreas do Iraque fossem neutralizadas.
Então, a notícia de que todos os aviões, com exceção de apenas um, retornaram à
base com segurança depois da primeira onda foi uma surpresa enorme. O sucesso
foi não só além da expectativa; foi além dos limites da imaginação. Nunca se
ouvira algo sobre esse nível de perdas em toda a história da aviação militar.
A essa altura, percebi que a guerra exerceria um impacto muito maior sobre
nossas percepções do mundo do que eu havia esperado. Como a maioria dos
americanos, aguardei ansiosamente o relatório Cheney-Powell sobre o ataque
inicial. Estava programado para as nove horas da noite, pelo fuso horário do
Pacífico. Entendi que a primeira missão do ataque aliado seria destruir a força
aérea iraquiana e os aeroportos militares.
O comando e o controle não tinham que ver particularmente com as armas que
os iraquianos usariam para responder a um ataque. O comando e o controle
diziam respeito às linhas de comunicação e autoridade dentro da força militar e da
sociedade iraquiana em geral. O que Cheney e Powell diziam era que não
estavam com medo dos aviões ou tanques iraquianos. Estavam mais preocupados
com a capacidade iraquiana de comandar e controlar seu pessoal e equipamento,
sua capacidade de comunicar-se.
É lógico que ela foi direto ao seu pai e apontou o local onde estavam os
soldados. Numa questão de minutos, a pequena trincheira contendo os três
homens estava rodeada por uma força de várias centenas de iraquianos. Balas
voavam ao redor e equipamentos mais pesados já se encontravam a caminho. A
situação dos três soldados parecia totalmente perdida, com exceção de um detalhe
– comando e controle. Um dos soldados falou ao rádio e transmitiu um
desesperado pedido de socorro.
operadores de sinais,
Armagedom.
A palavra traduzida como “peleja”, no verso 14, deixa claro que esses versos
empregam linguagem militar. Mas note o verso 15, colocado bem no meio dessa
passagem!
Embora não faça parte do Apocalipse, esse é, em certo sentido, o texto mais
claro sobre o Armagedom em toda a Bíblia. Os cristãos enfrentam uma guerra
como o restante do mundo também, mas não é um estilo carnal de guerra. As
armas da nossa milícia não são carnais. Quais são as armas carnais? Fuzis AK47 são
armas carnais. Bombardeiros F14 são armas carnais. Tanques M1A1 são armas
carnais. O que fazem essas armas? Elas estraçalham pessoas. De acordo com o
Novo Testamento, os cristãos não combatem com esse tipo de armas. As armas
com as quais lutamos não são armas carnais; ao contrário, têm o divino poder de
demolir fortalezas.
Que tipo de fortalezas? Fortalezas espirituais, não carnais. De acordo com Paulo,
em 2 Coríntios, os cristãos recebem poder divino para capacitá-los a demolir
argumentos e todo tipo de altiva pretensão que se levante contra o conhecimento
de Deus. Ainda além, a guerra cristã é descrita como levando cativo todo
pensamento e tornando-o obediente a Cristo. Você vê, a guerra cristã é uma
batalha pela mente. Uma batalha entre forças sobrenaturais que desejam engajar-
nos no serviço de Cristo ou no de Satanás. Você participou de uma batalha
travada pela conquista de sua mente nesta semana? Uma batalha pelos
pensamentos da sua mente? É exatamente a isso que o Armagedom diz respeito. É
a isso que a vida cristã diz respeito.
Assim, a Bíblia usa a guerra como um quadro mental da vida cristã. Mas a
“guerra” cristã também é muito diferente do tipo “carnal”. Embora seja uma
imagem violenta, a guerra bíblica conquista ao amar os inimigos, abençoar os que
nos maldizem, orar pelos que nos ferem e andar a segunda milha quando nos
pedem um favor. A guerra cristã vence o mal com a estratégia de Ghandi e
Martin Luther King, e não a de Átila, o huno, e Norman Schwartzkopf
[comandante das tropas aliadas na Guerra do Golfo]. Os verdadeiros cristãos
bombardeiam as pessoas com amor e misericórdia, lançam graça perante os outros
e se escudam com autenticidade e vulnerabilidade. Para usar uma expressão
comum, a guerra cristã trata de “matar suavemente”. Isso é loucura do ponto de
vista secular. Mas, embora as alegações do evangelho pareçam absurdas à primeira
vista, a Bíblia declara que as “armas” do evangelho são muito mais poderosas do
que as armas carnais de destruição em massa, e que exercerão impacto maior no
curso da história humana!
Como é possível? Como pode a fragilidade da guerra espiritual ser mais forte
que todas as armas carnais? Creio, à luz desses textos bíblicos, que os eventos da
Guerra do Golfo podem ajudar-nos a responder a essa pergunta. A força do
ataque aliado não jazia no poder explosivo das bombas ou no impacto destruidor
dos mísseis, mas numa coisa simples chamada comando e controle! Existe aqui
uma analogia que abra caminho para o poder secreto da fé cristã? Qual é o
comando e controle da guerra cristã? Qual é o elemento crucial que faz a
diferença entre vitória e derrota na vida cristã?
Certa vez, fui enviado a uma igreja, como pastor. Antes de conhecer a
congregação, achei que seria proveitoso obter algumas informações com o pastor
anterior. Eu não estava preparado para o que ele me contou. Ele disse: “É
impossível trabalhar com essa igreja. Você não pode fazer absolutamente nada por
aqueles membros. Gaste tempo com seu carro; leia bastante; mas trabalhar com
aquele povo não o levará a lugar nenhum.” Ele continuou: “Nunca consegui
pregar mais do que dez minutos nessa igreja. Quando chego a esse ponto, uma
sensação incrível de escuridão me cobre e simplesmente não consigo prosseguir.”
Ele concluiu, com certo humor, que a única coisa a ser feita por aquela igreja
seria amarrar um cabo ao seu redor, arrastá-la até o mar e então cortar o cabo.
O aspecto mais incrível dessa experiência foi que havia uma chapa de vidro de
uma polegada de espessura, separando completamente o púlpito da congregação.
Assim, nada do que eu dizia passava para o outro lado. Agora sei que o vidro não
estava lá na verdade, mas eu podia senti-lo plenamente como se estivesse. Olhei
para a congregação através daquele vidro, e o que vi era esquisito. As crianças
subiam pelo encosto dos bancos e passavam por baixo deles, para saírem pela
frente. Os adultos conversavam uns com os outros e simplesmente não prestavam
atenção em mim.
“Semana após semana vocês fazem isso”, disse ele, “e não têm idéia do que
realmente está acontecendo. Anotei todos os pedidos de oração mencionados no
ano passado. Depois, prestei atenção para ver se alguma coisa acontecia. Sabiam
que, ao longo do último ano, 80% de todos os pedidos foram claramente
respondidos de maneira positiva? Precisamos levar essa parte do programa ainda
mais a sério do que até agora. Suas orações fazem diferença. Suas orações estão
mudando o mundo, quer percebam, quer não!”
Clinicamente falando, pelo menos para o nosso grupo, essa foi uma evidência
indiscutível de que a oração intercessória faz diferença. Desde aquela época, tenho
tomado conhecimento de pesquisas científicas que colocam esse conceito sobre
uma base
Não me pergunte por quê. Sei de pessoas que ficam muito nervosas por causa da
oração intercessória, como se Deus estivesse de alguma forma sendo compelido a
fazer algo na vida de outra pessoa. A oração intercessória pode não ser lógica. Não
entendo por que ela funciona, mas sei que funciona. E a Bíblia apóia claramente
sua validade. Penso em 1 Timóteo 2:1, 2, onde o apóstolo claramente insiste com
os fiéis para que orem pelos “reis” e por todos aqueles que exercem autoridade,
muitos dos quais nunca influenciaremos pessoalmente. E Paulo espera que essas
orações façam a diferença. Ele diz que devemos orar por essas autoridades “para
que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda a piedade e dignidade” (1
Timóteo 2:2, NVI). Também penso em Daniel 10, onde as orações de um
homem conseguiram alterar o curso de uma nação que era uma superpotência.
Não sei por que coisas como essas acontecem, mas sei que acontecem! De
alguma forma, no curso do grande conflito entre a luz e as trevas, as intercessões
voluntárias de agentes morais como nós providenciam o contexto no qual Deus
pode agir contra Satanás com uma autoridade que de outra forma não seria
possível. Isso, claramente, não acontece porque Deus seja incapaz ou indisposto
sem as nossas orações. Mas, de alguma forma, nossas orações mudam as
circunstâncias nas quais Deus atua. Dwight Nelson sugeriu: “Talvez, na grande
batalha pela lealdade humana, as forças da luz e das trevas se hajam de alguma
forma apegado às regras do jogo limpo. Seria o caso de que nossas orações
intercessórias concedam a Deus a permissão de intervir com poder e amor na vida
de alguém que esteja sendo vítima das forças do mal, de alguém que não tenha a
presença de espírito ou a força da fé para fazer ele mesmo sua petição a Deus?”
(Andrews University Student Movement, 10 de janeiro de 1995, p. 11). Podemos
concordar ou não com essa idéia, mas os resultados da oração intercessória são
dignos de nossa atenção.
Mas havia mais razões ainda para que o inimigo se preocupasse. A comunicação
é uma via de mão dupla. O homem do rádio podia fazer mais do que
simplesmente chamar socorro; ele podia também operar como investigador. Podia
detectar sinais e comunicações do inimigo. Podia responder a perguntas sobre a
situação da batalha que afetaria as decisões tomadas pelos oficiais no
acampamento. Podia descobrir onde, exatamente, se encontrava o inimigo e
transmitir essa informação. Podia avaliar a força do inimigo e que tipo de ataque
viria. O homem do rádio era a chave para manter os comandantes no controle da
situação. No meio da batalha, ele era melhor do que uma centena de espiões sem
a capacidade de comunicar-se rapidamente. Não é para menos que era tão
perigoso carregar o rádio! No sistema de guerrilha, o silêncio e o segredo são
essenciais. O homem do rádio tinha a capacidade de abortar sozinho as operações
do inimigo, de um modo como ninguém mais conseguia.
Um aspecto é que, quando oramos pelos outros, nossa atitude para com essas
pessoas muda. Certamente é difícil manter sentimentos hostis contra alguém por
quem você ora todos os dias. Quando buscamos a Deus para o bem daqueles que
O têm rejeitado, o Espírito de Deus Se aproxima e nos traz um gosto do infinito
amor de Deus por essas pessoas. Quando buscamos a Deus em favor daqueles que
não gostam de nós, recebemos uma prova do Seu amor por aqueles que O
desprezam. Quando fazemos contato com a atitude de Deus para com os
perdidos, nossa própria atitude começa a mudar. A oração pelos outros nos
transforma.
Há outros benefícios para aqueles que oram. Quando oramos pelos outros, nós
recebemos em espécie. Quando oramos para que alguém se achegue a Cristo e
seja perdoado, tornamo-nos mais capazes de sentir que estamos perdoados diante
de Deus. Ao aprendermos a orar pelas pessoas que nos magoaram,
experimentamos o perdão pelas vezes em que magoamos os outros. Quando
oramos pelos outros, nosso relacionamento com Deus cresce. As duas coisas
parecem trabalhar juntas; se oramos em favor dos outros, nós mesmos somos
abençoados.
Alguns anos atrás, enquanto viajava em outra parte do país, decidi telefonar para
o pastor que me batizou quando eu tinha 12 anos de idade. Como garoto, eu
sempre o respeitara muito. Que homem de Deus era aquele! Eu via nele um
modelo daquilo que eu poderia tornar-me se entrasse para o ministério. Ele era
sempre circunspecto e sério, mas mostrava para com as crianças uma cordialidade
tranqüila que sempre me atraiu. Quando decidi fazer a ligação, ele estava
aposentado, na faixa dos 80 anos, e morando perto do lugar onde eu ficaria
hospedado. Fiz a ligação, sem saber o que esperar. Quando ele atendeu,
perguntei-lhe o que andava fazendo na vida. Eu estava totalmente despreparado
para a resposta.
– Nada! Não faço nada! – disse ele. – Não faço nada; eu não sou nada; sou um
lixo! Todos os dias, simplesmente fico sentado, sem fazer nada, só esperando que
chegue o dia seguinte. Às vezes, saio para o jardim por meia hora, por aí, mas fora
isso apenas fico sentado sem fazer nada. Espero no Senhor que me leve para o lar
e me dê descanso.
Fiquei estupefato. Não sabia o que dizer. Fiz uma breve súplica pedindo
orientação e então tive uma idéia. Perguntei-lhe se ainda orava.
Pedi-lhe que orasse por mim e por meu ministério, por onde vou. Contei-lhe
como as orações de outros faziam a diferença no meu pastorado. Disse-lhe que,
embora seu corpo não fosse capaz de fazer muito mais pelo Senhor, ele ainda
podia fazer uma grande diferença. Podia orar pela Associação Geral; os que ali
trabalham precisam de toda ajuda que puderem obter! Podia orar pelo presidente
de sua Associação. Comentei com ele que os administradores da igreja eram
pessoas muito ocupadas. Eles amam ao Senhor e sabem quão importante é orar
pela obra em seus territórios, mas são extremamente ocupados. Não têm tempo
para orar tanto quanto gostariam. Mas ele tinha tempo para orar. Talvez Deus o
estivesse conservando com vida porque precisava de indivíduos que tomassem
tempo para orar em favor de Sua causa naquela região.
Contei a ele algumas das coisas que você leu neste capítulo; de como a oração
intercessória fez a diferença em vários pontos da minha experiência. Uma coisa
impressionante aconteceu. Enquanto o telefonema prosseguia, comecei a detectar
um sinal de sorriso na voz dele. Depois, ele foi ficando cada vez mais
entusiasmado, e uma sensação de esperança brotou com força. Ele começou a crer
que o Senhor lhe dava tempo para que ele orasse.
– É fácil, quando se envelhece, sentir que os melhores dias ficaram para trás –
disse eu –, mas Deus o conservou com vida até aqui, talvez porque seus maiores
dias ainda estão pela frente! Quem sabe a sua Associação esteja definhando por
falta das orações que só o senhor pode fazer. É possível que o senhor seja a chave
da obra de Deus nesta região, e o senhor nem sabe!
Uma segunda sugestão é fazer uma lista de oração, mas evitar algumas ciladas ao
fazê-la. A maioria das pessoas comete o erro de fazer uma longa lista de nomes
pelos quais gostariam de orar. Listas longas são fáceis de fazer. As pessoas gostam
de saber que outros estão orando por elas, e não é agradável rejeitar um pedido
assim. Mas a realidade pura e simples é que listas longas são exaustivas para a
maioria das pessoas, e o resultado final é, freqüentemente, que a lista existe, mas
recebe muito pouca atenção. Depois de algum tempo, orar por uma longa lista de
nomes se torna muito trabalhoso para a maioria das pessoas.
Sugiro, portanto, conservar a lista reduzida, pelo menos para começar. Três
nomes talvez sejam suficientes, especialmente se você nunca perseverou por
muito tempo na oração intercessória. No topo da lista, eu sugeriria colocar o
nome da pessoa mais difícil que você conhece. Estou falando da pessoa que o
incomoda, mais do que qualquer outra. A pessoa que produz um nó no seu
estômago, toda vez que está por perto. A pessoa que não leva em consideração os
seus sentimentos e necessidades. A pessoa que passa por sua vida como um rolo
compressor, esmagando tudo pelo caminho. Espero não estar falando aqui de seu
chefe ou cônjuge.
Junto com o nome do topo da sua lista, coloque uns dois nomes de pessoas mais
promissoras. Ver alguns resultados em pouco tempo é extremamente animador.
Quando as coisas mudam na vida das pessoas por quem você ora, você desejará
substituir um ou mais nomes da lista por outros que tenham uma necessidade
imediata maior. Alguns podem preferir fazer uma segunda lista, mais longa, que
receba atenção de tempos em tempos. Mas a lista básica deve ser relativamente
curta e administrável.
Mas um encontro regular com um ou mais amigos não funciona para todos. Em
alguns casos, o melhor tipo de compromisso é entrar em entendimento com um
amigo intransigente. Tenho alguns amigos inflexíveis e sou grato a Deus por eles.
Que quero dizer com amigo intransigente? O tipo de amigo que se importa com
você o suficiente para confrontá-lo, quando necessário. Suponha que você diz a
um amigo que planejou passar 15 minutos – das 7h às 7h15 – todas as manhãs em
oração intercessória. Você pede a essa pessoa que lhe cobre o compromisso de
cumprir o combinado. Um amigo inflexível é alguém que lhe telefona às 7h17 da
manhã para saber se você cumpriu ou não! Esse tipo de amigo pode fazer uma
grande diferença na vida de oração. Todas as três formas de compromisso podem
ajudar-nos a manter o tipo de coerência desejado.
Pode ter havido um resultado ainda maior e de mais longa duração do que os
originalmente observados. Uma queda impressionante nas estatísticas do crime na
última década tornou Nova York um dos lugares mais seguros do país. Eu mesmo
experimentei essa nova atmosfera na cidade no último verão, ao retornar após
dezoito anos. Vi muitas mulheres caminhando sozinhas à noite, algo que
raramente ocorria quando morei lá nas décadas de 60 e 70. A mudança foi
notável.
Chego a acreditar, mais e mais, que minha vida e ministério seriam um total
desperdício se ninguém orasse por mim. Deus me deu muitos talentos, mas tenho
cada vez menos confiança nas minhas habilidades, com o passar dos anos. Vejo
com mais freqüência que a oração é a chave que abre portas espirituais e move
montanhas espirituais. Como isso é uma verdade, sou um dos homens mais
abençoados do mundo por ter uma esposa que ora por mim quando mais preciso.
Além dela, há muitas outras pessoas, em seis continentes, que tomaram por conta
própria a decisão de orar por mim e meu ministério, e posso apenas começar a
imaginar o tipo de diferença que isso faz.
Neste capítulo final, investigaremos aquilo que considero ser a questão máxima
da fé cristã no mundo real: Ela faz uma diferença que a maioria das pessoas possa
notar? É uma expressão genuína da realidade ou um escape da realidade, um
“ópio do povo”? Que significa ser um cristão real? Que significa ser autêntico ou
genuíno? Todos conhecemos o conceito de “máscaras psicológicas”, uma pessoa
tentando mostrar uma coisa que ela não é. Isso pode ser especialmente tentador
quando você é um cristão entre cristãos, porque todos sabem que tipo de
comportamento esperar. Se você não se considera muito “cristão” naquele dia, é
fácil exteriorizar os sinais apropriados sem na verdade ser coerente. Mas um
cristianismo falso causa grandes danos no mundo secular.
Visitei a igreja Riverside, em Nova York, num domingo, com alguns amigos. A
igreja Riverside tem um dos cinco maiores órgãos clássicos do mundo. Sendo eu
mesmo um organista, nunca me canso de ouvi-lo. O organista naquele dia foi
Frederick Swann. Ele é internacionalmente famoso, com dezenas de gravações. E
tocou de modo magnificente naquela manhã de domingo.
Quando terminou o culto, levei meus amigos à plataforma para olhar o órgão
mais de perto. E como eu conhecia um bocado acerca daquilo, comecei a
explicar algumas das diferentes características do órgão. Enquanto eu falava, o
auditório começou a aumentar. Foi interessante! Assim, comecei a exagerar um
pouquinho a história. E o auditório ficou maior ainda. Então, de repente, notei
que as pessoas não estavam mais olhando para mim. Estavam olhando para trás de
mim. Virei-me e me vi face a face com Frederick Swann. Ele me olhou dentro
dos olhos e disse: “Seria melhor conhecer os fatos corretamente, filho, antes de
abrir a boca.” Depois, virou-se e se afastou. Alguma vez você já desejou que o
chão se abrisse e o engolisse? Naquele dia, aprendi uma lição muito dolorosa
sobre autenticidade.
Agora, honestamente, você é autêntico? É realmente a pessoa que parece ser? Se
você me houvesse feito essa pergunta há 25 anos, eu teria dito: “Mas é lógico.
Você está vendo o próprio.” Todavia, mesmo naquela época, duvido que as
evidências me dessem razão.
Que alívio!
Uns dez anos atrás, ouvi certo pregador pela primeira vez. Ele causou um
impacto incrível sobre mim. Toda vez que ele falava, meu coração ardia lá
dentro. Era como se ele pudesse ler a minha alma. Era semelhante à maneira
como às vezes me sinto quando leio Ellen White. Mas ele não era profeta. E
deixou isso muito claro. Era só um cristão comum, falando do fundo do coração.
Ainda assim, suas palavras tinham um poder profético.
O que tornava sua pregação tão poderosa? Noventa por cento das ilustrações
vinham de sua experiência pessoal. E quase sempre falava dos seus fracassos – não
dos seus sucessos. Isso me levou a pensar nos meus sermões. E comecei a perceber
que, quando apresentava ilustrações de minha experiência pessoal, sempre
mencionava meus sucessos. Quase nunca falava dos meus fracassos. Assim, dez
anos atrás, comecei a perceber que ainda usava o púlpito para lustrar a minha
imagem.
Um novo olhar sobre Laodicéia
Agora, honestamente, você é autêntico? É realmente a pessoa que parece ser?
Alguns anos atrás, eu estava sentado num restaurante com vários líderes da Igreja
Adventista do Sétimo Dia na América do Norte. No meio da refeição, um deles
se virou para mim e perguntou:
– Jon, qual você acha que é a maior necessidade da Igreja Adventista hoje?
Talvez por causa desta minha história – essa jornada com vistas à autenticidade –
foi que respondi assim, rapidamente:
Mas não leve minha palavra tão a sério. É só perguntar a Jesus qual é a maior
necessidade da Igreja Adventista. Ele responde com termos claros em Apocalipse
3, na mensagem à igreja de Laodicéia. Nela, Jesus traz Sua mensagem à Sua igreja
do tempo do fim. Note as palavras dEle no verso 17:
Você diz: “Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada”. Não
reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e
que está nu (NVI).
Jesus faz um resumo no verso 19: “Repreendo e disciplino aqueles que Eu amo.
Por isso, seja diligente e arrependa-se.” Jesus apresenta essa mensagem não porque
odeie Laodicéia, mas porque a ama. E deseja dar-lhe essa mensagem para que ela
seja curada e se torne autêntica de novo.
Ao aplicar esse texto à situação atual da Igreja Adventista, não estou apontando o
dedo para os outros. Por um lado, é Jesus quem está julgando aqui, não eu. Por
outro lado, seria impróprio que eu acusasse os outros de algo pelo qual também
tenho culpa. Minha história toda é uma história de ser algo que não sou. Então,
por favor, entenda que o problema de não ser autêntico não é apenas o seu
problema ou o problema da Igreja; é o nosso problema; é o meu problema.
Sei que esse problema não se limita à América do Norte. Onde quer que eu vá,
as pessoas vêm a mim e dizem: “Quero lhe contar algumas coisas que estão
acontecendo aqui, porque o senhor é de outro país. Se eu disser essas coisas aqui,
as pessoas as usarão contra mim. Se eu falar com o senhor, posso ser franco.” Esse
é o grande temor de Laodicéia. Temos medo de que, se revelarmos quem
realmente somos, as pessoas se voltarão contra nós.
Tudo indica que Paulo estava respondendo a uma acusação que atacava seus
motivos. Foi acusado de ser falso. E ele concorda com seus oponentes no sentido
de que o ministério não está imune a esse problema. Uma pessoa pode ingressar
no ministério por várias razões. Pode entrar no ministério porque acha uma glória
colocar-se em pé diante do público. Pode entrar no ministério para ganhar
dinheiro. De acordo com Paulo, alguns podem até entrar no ministério para obter
vantagem sexual (essa é a implicação da palavra impureza no verso 3)! Paulo,
certamente, não está fazendo rodeios quanto à questão nesses versos.
Paulo fala da necessidade de motivos puros, não só de atos puros. No grego, essa
passagem é ainda mais franca do que na tradução. Paulo fala diretamente de
motivos sexuais, financeiros e dos motivos de glória humana e bajulação. Há
muitas razões pelas quais uma pessoa pode escolher servir ao Senhor, e muitas
delas não são espiritualmente sadias. O que mais me assusta, contudo, é que nós,
os envolvidos no ministério, podemos nem ter consciência de alguns desses
motivos mais profundos. É fácil dissimular. É natural colocar a máscara.
E ele deve ter trabalhado bem. Alguns anos mais tarde, tornou-se presidente de
uma Associação em outra área. Tive o interesse de descobrir como ele estava
sobrevivendo entre “eles”. Um dia, notei que havíamos sido designados para a
mesma comissão da Associação Geral. Estaríamos juntos naquele dia. Entrei na
sala e o vi no lado oposto. Aproximei-me rapidamente, planejando cumprimentá-
lo ao nosso costumeiro estilo informal. Então, ele se virou e me viu. Estava
vestindo um terno completo, com colete, e seu cotovelo parecia amarrado ao
corpo. Ergueu a mão de maneira digna e disse, com voz baixa: “Olá, Jon. Que
bom vê-lo novamente.” Para mim, foi um choque! Num período de três anos,
ele se havia tornado “um deles”!
Mas não me interprete mal; ele é realmente uma ótima pessoa. Porém, essa
experiência me faz lembrar de que é totalmente natural tentar ficar à altura da
imagem que as pessoas têm de nós. É humano querer que os outros pensem bem
de nós. É difícil não mudar quando você se acha numa posição de alguma
importância. É natural tentar construir um senso de valor próprio através do
desempenho, da formação de imagem e do elogio dos outros. A boa notícia é que
meu amigo está se encontrando de novo. Fiquei sabendo que começou a
estabelecer uma tendência rumo a um estilo mais aberto e honesto de liderança.
Mas não há dúvida de que foi uma grande luta para ele. Sei, porque não sou
diferente. Para nós, é natural tentar ser alguém que não somos.
Por que isso é tão natural? Porque temos medo de ser autênticos. Tememos
mostrar o nosso eu verdadeiro. Temos medo daquilo que outras pessoas podem
pensar. Tememos a maneira como reagirão. Isso não é novidade; a mesma coisa
acontecia no tempo de Jesus. Note João 12:42, 43:
para não serem expulsos da sinagoga; porque amaram mais a glória dos
homens do que a glória de Deus.
Mecanismos de defesa
Por que é tão difícil ser genuíno? Por que é tão difícil ser autêntico? Existe uma
seção inteira da psicologia relacionada com aquilo que conhecemos como
mecanismos de defesa. Parece que os seres humanos têm mecanismos internos de
defesa. Eles entram em ação no momento em que nos sentimos pressionados,
emocional ou psicologicamente.
Os mecanismos de defesa são tão naturais, que podem até ser engraçados, porque
nos reconhecemos quando ouvimos falar deles. Deixe-me mostrar um bom
exemplo de mecanismo de defesa na Bíblia. De acordo com o registro bíblico,
Saul estava tentando matar Davi. Mas o que fez Saul? Começou a espalhar para
todo o mundo que Davi estava conspirando para matá-lo! (ver 1 Samuel 22:8, 13;
24:9). Esse é um mecanismo de defesa chamado “projeção”. Saul não queria
considerar a si mesmo um homicida brutal. Então, projetou sobre Davi as
motivações malignas com base nas quais estava agindo. Quando você se sente mal
a respeito de si próprio, é fácil começar a culpar todo o mundo.
4. Os mecanismos de defesa são pecaminosos, porque todos os tipos de engano são pecado.
A presença de mecanismos de defesa indica que a maioria dos pensamentos,
objetivos, desejos e motivos humanos são egoístas, destrutivos e distorcidos. A
natureza pecaminosa está escrita em nossos nervos; escrita nas próprias fibras do
nosso ser. Num mundo pecaminoso, é natural ser egocêntrico e defensivo. A
Escritura (Jeremias 17:9) apresenta claramente o diagnóstico: “Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o
conhecerá?”
O coração é enganoso
Esse texto é como o golpe final. Não só é enganoso o seu coração; não só é
enganoso o meu coração; nós nem mesmo sabemos quão enganoso ele é! Só há
uma conclusão à qual posso chegar depois de tudo o que vimos neste capítulo:
Ser autêntico é um evento sobrenatural. Quando você encontra uma pessoa
verdadeiramente autêntica, sabe que ela esteve face a face com Deus. E eu daria
um passo além. Ninguém pode ser autêntico a menos que seu valor pessoal seja
construído sobre algo além de si mesmo. Se a auto-estima está baseada no
desempenho, você tem medo de ser autêntico porque suspeita que seu
desempenho é menos do que perfeito. Ao olhar bem lá no fundo, você sabe que
encontrará coisas que não desejaria realmente conhecer. Em sentido puramente
humano, portanto, não existe uma coisa assim como ser autêntico. Todo ato de
pecaminosa humanidade é uma impostura.
Precisamos mesmo?
Se a autenticidade é impossível com a nossa força humana, podemos ser tentados
a desistir de tentar ser autênticos. Não faria mais sentido simplesmente encontrar
uma máscara que não caia quando estamos em dificuldade? Não seria um “mundo
ideal” se cada um pudesse ocultar-se completamente, e com sucesso? Bem, se
você estiver tentado por essa idéia, tenho más notícias para dar. A autenticidade
não é uma opção. Não podemos afastar-nos desse desafio e continuar
espiritualmente vivos. Note as palavras de Jesus em João 3:21.
aproxima-se da luz,
João 3:20 nos diz que pessoas afastadas de Cristo procuram as trevas. Procuram
ocultar-se. Mas, segundo o verso 21, aqueles que estão em Cristo são diferentes.
Eles se aproximam da luz. São francos e honestos acerca de suas falhas. E dessa
honestidade surge uma percepção maravilhosa: Quando pessoas perturbadas e
confusas fazem alguma coisa corretamente, é porque Deus está operando na vida
delas!
A autenticidade cristã traz glória a Deus – não ao agente humano. Porque
quando agentes humanos são autênticos, você sabe que eles cometem erros. E
você sabe que eles sabem que cometem erros. Assim, se um pregador ou
administrador não é melhor do que você ou eu, qualquer bem que ele fizer só
pode ser um milagre de Deus! E a glória por esse ato vai para Deus – não para o
agente humano.
Certa vez perguntei a um grupo de jovens: “Na igreja, o que constitui a maior
barreira para permanecer cristão quando se atinge a idade adulta?” Cada um
respondeu em particular. E a maioria disse, essencialmente, a mesma coisa:
“Pessoas que agem como se não cometessem faltas.”
Essa também não é a resposta. Em minha experiência, falar sobre nossos defeitos
e dúvidas do momento tende a desanimar os outros. Pode até fazer com que se
inclinem para idéias e comportamentos perigosos. O primeiro passo antes de
ministrar aos outros é ter consciência de nossos defeitos e levá-los a Deus,
pedindo perdão e cura. Partilhar os fracassos do momento é desanimar os outros.
Por outro lado, contar acerca de lutas em áreas nas quais estamos obtendo
progresso pode dar aos outros a coragem de lidar com seus próprios desafios.
A falta de autenticidade também destrói nosso crescimento espiritual. Nossas
máscaras nos impedem de ver as deficiências específicas que precisamos levar a
Cristo em busca de cura. Embora a autenticidade não nos compre a salvação, a
falta de autenticidade pode levar-nos a perdê-la. Afinal, somos salvos somente à
medida que confessamos nossos pecados, à medida que admitimos nossa
necessidade daquilo que Deus tem para oferecer. A confissão é simplesmente dizer
a verdade sobre nós mesmos. Não confessar é contar uma perigosa mentira diante
de Deus, que já conhece a verdade completa a nosso respeito.
Outra razão pela qual a falta de autenticidade não é uma opção para os cristãos é
que ela destrói nossos relacionamentos. Num casamento, as pessoas muitas vezes
fazem de tudo para conservar a máscara. Quando surgem os problemas, tentamos
abafá-los e manter a paz. Um casamento não autêntico pode durar vinte anos ou
mais. Todos os vizinhos acham que aquela é a família perfeita. Um dia, o marido
volta para casa e encontra a esposa furiosa, arrumando as malas.
Por isso, o evangelho é tão central em tudo o que fazemos na vida. Sem o
evangelho, é impossível acreditar que Deus nos valoriza. Sem o conhecimento do
evangelho, não temos escolha a não ser projetar nosso senso de dano e
indignidade sobre Deus e crer que Ele nos despreza tanto quanto nós mesmos nos
desprezamos. A única trilha rumo ao valor pessoal, então, vem no evangelho da
aceitação em Cristo na cruz. É junto à cruz que descobrimos quão preciosos
somos para Deus.
Se uma criança crescesse sabendo que é preciosa, teria um sólido alicerce para
seu valor pessoal. Mas em vez de ouvir que são preciosas, as crianças em sua
maioria ouvem mensagens muito diferentes. “Você não vale nada.” “Você é uma
desmazelada.” “Você é muito egoísta.” A mensagem que lhes é martelada dentro
da cabeça é que não têm nenhum valor especial, que são apenas toleradas pelos
outros, que não são preciosas para os demais.
Em vez de serem elogiadas pelos muitos dons e talentos que Deus lhes deu, a
maioria das crianças ouve mensagens como: “O seu melhor não é bom o
suficiente” (e como eu sei disso!). Ou: “Você nunca consegue fazer nada certo?”
Ou: “Você é tão preguiçoso, que na hora em que terminar essa tarefa o cachorro
terá morrido de velhice!” Desde o primeiro dia, a vida nos apresenta um
inexorável assalto contra nosso valor pessoal. E isso não é para pôr toda a culpa
nos pais. (Não preciso disso; já sou pai!) Mas os pais e outros que lidam com
crianças estão freqüentemente apenas projetando seu próprio senso de indignidade
quando interagem com elas. Assim, a menos que lidemos com nossa falta de valor
pessoal, transmitimos o problema para a geração seguinte.
Mas, graças a Deus, há uma saída. Junto à cruz, Deus enviou uma mensagem
muito diferente para a raça humana. O evangelho diz: “Você é absolutamente
precioso. Para Deus, tem o valor do Universo inteiro.” O mesmo Jesus que
morreu na cruz é o Criador do Universo todo. Assim, quando Jesus morreu por
mim, o Seu sacrifício cobriu o valor do Universo inteiro! Que valor incrível Deus
atribuiu a você e a mim! Somos tão preciosos para Deus, que Ele Se dispôs a
sacrificar Seu Filho por nós. Dessa maneira, o evangelho de Jesus Cristo nos diz
que somos infinitamente preciosos.
O evangelho também nos diz que somos únicos. Lemos que Jesus teria
enfrentado a cruz mesmo que uma só pessoa precisasse de salvação! Ele teria
morrido só por você! Isso me diz que nossa singularidade é muito importante para
Deus. O mesmo Deus que não fez dois flocos de neve exatamente iguais, não fez
dois seres humanos exatamente iguais. Isso quer dizer que cada ser humano é
testemunha de uma faceta única do caráter de Deus e de Seu plano para a raça
humana. Se uma pessoa se perde para a eternidade, há uma perda eterna que não
pode ser plenamente compensada. Somos verdadeiramente únicos –
preciosamente únicos!
O evangelho também nos diz que somos capazes. Quando uma pessoa entra em
relacionamento salvífico com Jesus, recebe dons espirituais através da operação do
Espírito Santo. Não há duas pessoas que tenham exatamente a mesma combinação
de dons, mas todos têm algum dom. E esses dons são poderosas capacitações de
Deus que nos habilitam a fazer uma verdadeira diferença no mundo.
1. Conheça sua verdadeira condição. Você não pode tornar-se autêntico, a menos
que se disponha a enfrentar a verdade a seu respeito. Teremos mais a dizer sobre
esse processo permanente na próxima seção deste capítulo.
2. Aceite a verdade sobre si mesmo. Aceite a realidade de que você tem estado
fingindo. Quando você enxergar a profundeza completa de sua depravação e
pecado, aceite que ela é uma declaração verdadeira de sua condição.
4. Aceite, pela graça de Deus, que você é relevante e valioso em Cristo. Quando se trata
de autenticidade, esse é talvez o mais importante dos cinco passos básicos. Só uma
pessoa que sabe que é valiosa ousaria examinar suas trevas interiores. A única
maneira de obtermos esse conhecimento é através do evangelho. Nosso valor é
definido pela cruz. A partir desse senso de valor, vem a inclinação para ser
autêntico. Por outro lado, no momento em que achamos que Deus não nos
aceita, as máscaras entram imediatamente em ação. Nenhum ser humano é capaz
de ser verdadeiramente autêntico em sua própria força. Somente na força que
recebemos de Cristo podemos realizar essa obra.
Qualquer pessoa que tenha lutado em busca da autenticidade sabe quão difícil é
apoderar-se dela. Você pode tê-la, e daí a 24 horas se vê fingindo outra vez.
Como chegar a um quadro claro de nossa realidade? Como encontrar a verdadeira
autenticidade, quando a realidade óbvia a nosso respeito é o auto-engano (ver
Jeremias 17:9)? Deixe-me apresentar uma série de passos práticos voltados para o
autoconhecimento – coisas que aprendi ao longo dos últimos trinta anos, na
maior batalha da minha vida. Minha luta terá valido a pena, se puder ser o meio
de ajudar outros.
Mas eu não escrevi a Bíblia; Deus dirigiu sua produção. Personagem após
personagem é retratado com autenticidade, como uma pessoa real, com falhas
significativas. Aliás, os personagens bíblicos, em sua maioria, parecem até mais
atrapalhados que você ou eu. Ainda assim, Deus os usou. Não esperou que se
tornassem perfeitos para que Sua reputação não fosse manchada pela ligação com
eles. Usou-os a despeito de suas falhas. Essa característica das biografias bíblicas é
poderosamente descrita em uma das mais notáveis passagens dos escritos de Ellen
White (ver Testemunhos para a Igreja, v. 4, p. 9-11).
Tenha Ester escolhido ou não ser candidata no “concurso”, ele não foi de
beleza. O concurso envolvia um “programa” de uma noite com o rei. E ela
participou, evidentemente com entusiasmo. De alguma forma, Ester provou que
era melhor na cama do que todas as outras moças. No hebraico, Ester 2:13, 14 diz
que, à noite, as moças iam à presença do rei, saindo da Casa das Virgens, e pela
manhã iam para a Casa das Concubinas. A maioria das traduções passa por cima
disso, por constrangimento. Se você se ofendeu com essa história, conviva mais
com o Autor. Ele revelará que tem a mente mais aberta do que nós.
Ester não só se tornou rainha após essa escolha incomum; também parece que
ela não praticou a fé como deveria quando viveu no palácio (ver Ester 2:10; 5:12,
13; 7:3, 4). Não há menção de oração ou de Deus em parte alguma do livro.
Talvez Ester tenha tido problemas com a guarda do sábado e o regime alimentar
especial dos judeus. Era uma judia “cultural”. Como sabemos? Seu próprio
marido não tinha pistas de que ela era judia. É muito difícil não identificar um
judeu autêntico, especialmente se ele vive no seu dormitório e cozinha.
Como você sabe, Ester e Mardoqueu não deviam estar na Pérsia. Deus havia
chamado Seu povo para fora de Babilônia (e Pérsia) cinqüenta anos antes. Muitos
voltaram para a Palestina sob a direção de Deus. A maioria não. A vida era
confortável e o chamado de Deus parecia ser mais do que podiam suportar. Ester
e Mardoqueu representavam um grande número de pessoas fora do esquema das
ordens de Deus. E uma vez tendo entrado pelo caminho da condescendência,
pode ser difícil sair, e se acaba chegando a lugares surpreendentes.
Mas, apesar de todas as coisas nebulosas que aconteceram, o que sabemos acerca
de Ester? Quando o povo de Deus enfrentou uma grande crise, ela estava no
lugar certo e na hora certa para cumprir o propósito de Deus. Embora o povo
estivesse vivendo em apostasia, Deus não os abandonou. Embora a vida de Ester
estivesse cheia de pequenas e grandes condescendências, Deus ainda estava
disposto a usá-la. Foi verdadeiramente uma heroína corajosa, apesar de suas faltas.
A que Deus nós servimos! Não importa onde você tenha estado, não importa o
que tenha feito, Deus ainda pode operar milagres em sua vida, se você permitir.
Não importa quão tenebrosas sejam as descobertas que você faz na busca por
autenticidade, Deus está disposto a redimir sua vida e usá-la para Sua glória.
Oração autêntica não é qualquer tipo de oração. O que quero dizer com oração
autêntica é a oração dirigida a Deus com dedicação total. É uma imersão completa
do coração e da alma na experiência da oração. A oração autêntica diz: “Quero
conhecer a verdade, não importa o custo.” Quando procuramos a verdade na
Bíblia, precisamos permitir que o Espírito de Deus nos abra a mente, nos torne
dispostos a conhecer a verdade, aceitar a verdade e seguir a verdade para onde ela
nos conduzir. Quando você diz a Deus: “Eu quero a verdade, não importa o
custo”, você a receberá – mas também pagará o custo. A verdade pode custar-lhe
a família, o emprego, a reputação. A verdade pode até custar-lhe a vida. Você
quer conhecer a verdade tanto assim? Se quiser, Deus a dará.
No meu livro Present Truth in the Real World [A Verdade Presente no Mundo
Real], conto de uma ocasião em que lutava para saber qual era a vontade de Deus
para a minha vida. Eu estava deitado de bruços num chão de madeira rija, no
Brooklyn. Não sabia o que fazer. Finalmente, desesperado, clamei a Deus: “Eu
quero a verdade, a verdade completa, nada menos que a verdade, e não ligo para
quanto isso vai me custar!” E Deus me deu o que eu precisava. Minha vida nunca
mais foi a mesma.
Você vê a diferença? A verdade pode ser muito abstrata. A verdade pode ser
doutrinária. A verdade pode dizer respeito a obter uma compreensão correta de
todas as bestas do Apocalipse e saber organizá-las em fila. Conhecer a verdade
pode ser muito satisfatório. Mas pode tornar-se um substituto para um tipo mais
prático de verdade. Conhecer a verdade a meu respeito é muito diferente da
verdade abstrata. Isso me afeta muito, muito de perto. É o tipo de conhecimento
a nosso respeito que outras pessoas muitas vezes têm. Então, você poderia orar
assim: “Senhor, ajuda-me a me ver assim como as outras pessoas me vêem.
Ajuda-me a obter o tipo de conhecimento sobre mim mesmo que as outras
pessoas têm.”
Deus é muito bom nisso. Hebreus 4 diz que Ele é um cirurgião “cardíaco” que
corta fundo. Pode até separar o osso da medula. Pode cavar ainda mais fundo para
ver os pensamentos e intenções do coração. O livro Caminho a Cristo contém uma
declaração muito preciosa: “Quanto mais perto de Jesus você chegar, tanto mais
cheio de faltas você se sentirá” (p. 64). Na prática, muitas pessoas torcem essa
declaração. Agem como se ela dissesse: “Quanto mais perto de Jesus você chegar,
tanto mais cheios de faltas os outros lhe parecerão.” Mas essa não é a realidade.
Aqueles que estão perto de Jesus têm plena consciência de suas próprias faltas,
tanto que nem têm tempo para fixar-se nas faltas dos outros. Um dos sinais mais
claros de uma experiência cristã em estado terminal é o espírito crítico e acusador
de faltas. Contudo, embora a oração autêntica seja uma ferramenta valiosa,
aprendi que mesmo os níveis mais profundos da oração não chegam sempre ao
âmago. Aprendi que podemos enganar-nos até mesmo na oração. Por exemplo,
você alguma vez já mentiu para Deus em oração? Já foi para a igreja tão irado
contra Deus que desejou dar-Lhe um soco no nariz? Mas, quando chegou sua vez
de orar, você disse algo assim: “Ah, Senhor, eu Te amo tanto! És tão importante
para mim!” É verdadeiramente espantoso! Sabemos que Deus conhece tudo sobre
nós, mas Lhe dizemos coisas que achamos que Ele deseja ouvir! Assim, nossa
busca de autenticidade precisa ir ainda mais fundo que a vida de oração –mais
fundo ainda que escrever um diário e estudar a Bíblia.
5. Prestação de contas. O nível mais profundo de todos pode ser o mais crítico
para o sucesso na área de conhecer a si mesmo: a prestação de contas. O auto-
engano está enraizado em todos nós o suficiente para entretecer-se até mesmo na
nossa vida de oração e em nosso estudo da Bíblia. Às vezes, a única maneira de
Deus chegar até nós é por intermédio de outro ser humano.
Tenho uma sugestão ainda mais assustadora, para poucos e corajosos. Encontre
um amigo cuidadosamente escolhido (inflexível) que o ame e se importe
profundamente com você. Alguém que não desejaria jamais vê-lo sofrendo. Vá a
esse amigo e lhe diga: “Se você soubesse que eu não ficaria com raiva nem me
vingaria de você mais tarde, o que você me diria a meu respeito? Que problemas
você vê no meu relacionamento com Deus? Como é que eu me relaciono com
outras pessoas?”
Isso assusta, não é mesmo? Bem, eu não viveria sem isso. Tenho três desses
amigos, além da minha esposa. Um é branco, outro é negro e o terceiro é
hispânico. Sei que esses três homens me amam, e confio no amor deles. Dei-lhes
o direito de me confrontarem acerca dos meus erros, a qualquer momento. Toda
vez que nos reunimos, realizamos sessões de prestação de contas, nas quais nos
isolamos e abrimos uns aos outros os recessos mais profundos do coração. A Bíblia
diz: “Leais são as feridas feitas pelo que ama” (Provérbios 27:6). E nenhum amigo
é tão leal quanto aquele que o ama o suficiente para dizer-lhe a verdade sobre
você mesmo.
Observe que sou uma pessoa um tanto pública. Muita gente sente um pouco de
medo de mim, porque tenho uma personalidade muito forte. Uma pessoa comum
tende a me dizer o que ela acha que eu quero ouvir. Mas não quero acabar como
Saddam Hussein. Ninguém jamais lhe dizia a verdade, porque os conselheiros que
lhe diziam a verdade eram executados! Assim, quando Saddam Hussein cometia
um grande erro, era provavelmente a última pessoa a saber disso. Um número
muito grande de pessoas depende de mim e da minha jornada com Deus. Por
isso, cultivei amizades nas quais posso confiar e as incentivei a serem honestas
comigo. Esse é um dos melhores métodos para desviar-nos dos nossos
mecanismos de defesa.
Mas, e se você não tem nenhum amigo íntimo? E se não há ninguém neste
mundo a quem você confiaria a angústia mais profunda do seu coração? Ainda
existe um jeito. Encontre um bom conselheiro cristão para ajudá-lo. Os
conselheiros são preparados para ajudar as pessoas a se abrirem e descobrirem as
verdades mais profundas sobre si mesmas. Os conselheiros se preparam para ser
bons ouvintes. Os conselheiros conseguem freqüentemente perceber quando você
está fazendo um jogo de auto-engano. São preparados para nos estimular a fazer o
tipo de desabafo necessário, no contexto do sigilo. Embora eu tenha considerado
proveitoso esse aconselhamento em vários estágios da minha vida, ele é
particularmente essencial para pessoas que não têm ninguém mais a quem
recorrer. A vida é breve demais para ser desperdiçada com falta de autenticidade.
CONCLUSÃO
Assim, para os cristãos que desejam conhecer a Deus por si mesmos e alcançar
seus semelhantes no mundo real, a estrada que leva à autenticidade é o único
caminho a seguir. É certamente uma estrada difícil, levando montanha acima.
Começa ao pé da cruz, com a compreensão de que para Ele valemos o Universo
inteiro. Se valemos tanto, então não importa o que alguém mais pense a nosso
respeito. Com a coragem que recebemos em Cristo, podemos começar a
peregrinação em busca da honestidade e genuinidade.
Ao pé da cruz, você pode começar a permitir que a máscara caia. Pode começar
a deixar que seu verdadeiro eu apareça, porque também pode falar do valor que
tem em Jesus. Não há saída para o dilema humano sem Jesus. Enquanto você lê
estas palavras conclusivas, quero convidá-lo a entregar-se a Jesus sem reservas, na
quietude dos seus pensamentos. Afinal, a que mesmo você está renunciando? Vai
perder o quê? O que você está entregando a Ele é a confusão e o auto-engano,
coisas das quais você queria ver-se livre de qualquer maneira. Receba-O, e dê as
boas-vindas a um novo dia de autoconhecimento, misturado com paz.
Muitos de nós sonhamos com uma igreja que assuma o papel ordenado por
Deus para o tempo do fim, e prepare o mundo para o retorno de Jesus. Mas o
único tipo de igreja que fará uma diferença decisiva no mundo de hoje é aquela
em que as pessoas e a fé sejam genuínas. Não é fácil essa tarefa, mas hoje é um dia
apropriado como qualquer outro para começar. Hoje pode ser o início de uma fé
cristã mais autêntica na sua vida. Convido-o para que me acompanhe ao longo do
caminho. É íngreme a estrada, mas você vai gostar do panorama!