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OFICINA DE VIOLÃO DA ESCOLA DE MÚSICA DA UFBA

Ana Cristina Tourinho (UFBA)


anacrist@ufba.br

Resumo. Este trabalho relata a experiência desenvolvida durante os últimos três anos do curso
“Oficina de Violão”, da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (EMUS-UFBA). A
premissa é de que este curso deva oferecer subsídios para que o sujeito seja capaz de se expressar
através do seu instrumento (no caso, o violão), e possa adquirir conceitos musicais além de
conhecimentos básicos de leitura e escrita musical. A coordenação tem estado atenta para detectar
pessoas que demonstrem habilidades e interesses acima da média e encaminha-las para um estudo
mais direcionado, podendo visar a graduação, caso o aluno tenha completado o segundo grau.

Introdução
Este trabalho relata a experiência desenvolvida durante os últimos três anos do curso
“Oficina de Violão”, da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (EMUS-
UFBA). A premissa é de que este curso deva oferecer subsídios para que o sujeito seja
capaz de se expressar através do seu instrumento (no caso, o violão), e possa adquirir
conceitos musicais além de conhecimentos básicos de leitura e escrita musical. A
coordenação tem estado atenta para detectar pessoas que demonstrem habilidades e
interesses acima da média e encaminha-las para um estudo mais direcionado, podendo visar
a graduação, caso o aluno tenha completado o segundo grau.
Queremos deixar aqui um desenho do curso que estamos coordenando desde 2001,
relatando nossas experiências, acertos e desacertos. Através de um planejamento
sistemático e de projetos anuais tem sido possível elaborar metas concretas a serem
atingidas, refazer caminhos e solidificar as ações que vêm obtendo bons resultados.
Segundo Lück,
... ao orientar a melhoria demanda um processo de análise, decisão e planejamento
ágil e versátil, que possibilita concentrar e canalizar esforços, apropriar e
disponibilizar recursos adequados... a partir de uma compreensão clara e objetiva da
situação ... (Lück, 2003, p. 10)

A fundamentação para a metodologia desenvolvida está apoiada em Swanwick (2003),


Oliveira (2000) e Luckesi (2003). Para as avaliações que vêm sendo feitas, Luckesi defende
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princípios para uma educação avaliativa que busque “um alto investimento na busca da
qualidade do ensino e da aprendizagem dos nossos educandos, tendo em vista o seu
desenvolvimento, como sujeitos de seu destino e como cidadãos.” (Luckesi, 2003, p.8)
Utilizamos também os princíos apontados por Swanwick nos quais um “ensino musical da
música”, é aquele onde o aluno possa trazer licitamente para a sala de aula a música que
valora e que possa tomar decisões musicais a respeito do repertório que trabalha.
(Swanwick, 2003).

Fases de Trabalho
Quando foi criada em 1989, a “Oficina de Violão” da Escola de Música da
Universidade Federal da Bahia visava atender a enorme demanda de alunos (cerca de 200
pessoas) que a cada início de ano pretendiam uma vaga para estudar violão. Até então, as
aulas eram tutoriais, ministradas pelos professores efetivos da EMUS, e o teste de ingresso
exigia que o candidato soubesse ler música. Tal exigência inviabilizava o ingresso da
maioria das pessoas, visto serem poucas as escolas de música em Salvador na época, fato
agravado pela inexistência de outras alternativas para se aprender leitura musical. Na
EMUS, a carga horária dos professores efetivos, ocupados com alunos da graduação,
somente permitia o ingresso de um ou dois alunos a cada ano, o que tornava este teste um
exame muito concorrido e nem sempre eficaz, porque a exigência da leitura musical era
uma prerrogativa excludente.
Quinze anos depois, a Escola de Música vem sistematizando uma modalidade de
ensino de violão com atendimento em grupo que envolve apenas um professor do quadro
efetivo na coordenação atuando os alunos da graduação em violão como professores
estagiários, atendendo a cerca de 150 alunos a cada semestre em aulas coletivas, com
material didático desenvolvido especificamente para essa finalidade. Oliveira recomenda
que “... as várias situações sócio-culturais e econômicas demandam novas posturas do
sistema educacional, sendo recomendada a aprendizagem por competências e baseada em
evidências”. (Oliveira, 2001, p. 19) Sendo assim, as modificações e adequações às
demandas de mercado vêm sendo introduzidas, respeitados os objetivos educacionais. O
curso teve apoio do CNPq através da Bolsa PIBIC de Iniciação Científica (Almir Côrtes,
2003 e Felipe Rebouças, 2004) e desenvolve atualmente um modelo de ensino-
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aprendizagem que permite o atendimento à demanda e proporciona treinamento específico


de metodologia de trabalho em grupo para os alunos da graduação.

Metodologia
O material adotado atualmente1 foi elaborado especificamente para este tipo de
clientela e de formato de aula, visando os sujeitos que buscam este tipo de curso. A média
de idade está entre 19-22 anos, sendo os mais jovens e os de mais idade direcionados a
cursos específicos. As crianças, aceitas a partir de 8 anos, cursam o IMIV (Iniciação
Musical com Introdução ao Violão), um curso diferenciado. As turmas, agrupadas por
idade, respeitam o ritmo de aprendizagem dos mais idosos, existindo ainda a possibilidade
de inserção em outro curso da EMUS, “Musicalização para a Terceira Idade”.
Para os alunos oriundos da comunidade e que procuram a EMUS, o curso está previsto
para ser cumprido em um máximo de quatro semestres, sendo que, em casos que o
programa correspondente ao semestre é cumprido em menos tempo o aluno é incentivado a
passar para o semestre subseqüente, ainda que fora dos prazos normais, ou ainda a ingressar
num estágio intermediário, cursando durante algumas semanas o semestre posterior como
“ouvinte”. O estudante tem aulas semanais de violão, de leitura e escrita musical em
separado, e se desejar, poderá cantar em um dos quatro corais da Escola. A Coordenação
tem recomendado e reforçado a validade da participação nos corais como uma das melhores
formas de apoio à leitura musical. Nas aulas de violão também se cantam as melodias a
serem tocadas, sendo o fraseado, a intensidade e o andamento trabalhados desde o material
musical mais simples.
As turmas para as aulas de violão são de quatro alunos e as de teoria cerca de vinte
pessoas, ai mesclados com outros instrumentos dos cursos de extensão oferecidos pela
EMUS. Trabalham como professores-estagiários somente alunos da graduação da EMUS
enquanto matriculados regularmente na UFBA e com bom aproveitamento escolar. Para os
alunos da graduação, a “Oficina de Violão” funciona também como um laboratório de
aprendizagem, sendo realizadas reuniões pedagógicas mensais e cursos de metodologia de
ensino em grupo, além dos objetivos estarem expressos tanto para quem ensina quanto para
quem aprende. Por sugestão do próprio grupo, um novo estagiário deverá observar as aulas,

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Cristina Tourinho e Robson Barreto. Oficina de Violão. V. 1, Salvador, Ed. Quarteto, 2003.
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participar das reuniões por um semestre, ter uma única turma inicial e somente a partir
desta experiência prática passar a dar aulas regularmente. Em 2004, foram oferecidos, por
exemplo, dois cursos: um com a Profa. Márcia Braga (Tatuí – SP), abordando aspectos do
ensaio de peças para conjunto de violão e técnicas de aquecimento e relaxamento para
grupos, e outro com a Profa. Silvana Mariani (Florianópolis – SC), sobre metodologia de
ensino para crianças, tendo como base o livro da sua autoria “O Equilibrista das Seis
Cordas”.
Outras atividades também estão sendo propostas para as pessoas que trabalham no
curso. Devidamente orientados, os professores-estagiários participam do processo de
classificação dos candidatos ao curso. Trabalhando em duplas, sempre um estagiário mais
experiente orienta outro que está começando, para entrevistar individualmente cada
candidato, classificando-o de acordo com sua habilidade instrumental, conhecimento de
leitura musical, idade e turno pretendido. Este nivelamento permite a construção de turmas
hipoteticamente mais homogêneas para o semestre (15 aulas) do que simplesmente uma
inscrição via balcão de secretaria com o preenchimento de um formulário de dados
pontuais. Além dos efeitos de classificação, espera-se que os estagiários desenvolvam as
habilidades de percepção necessárias para uma avaliação diagnóstica, necessária para a
formação das turmas. Este procedimento tem se mostrado compensador, trazendo bons
resultados para o agrupamento e para os estagiários, porque proporciona uma inserção
maior na filosofia do curso.
Além disso, os estagiários apresentam palestras mensais para os alunos. As palestras
são gratuitas e abordam temas do cotidiano de um aluno iniciante, tais “como estudar em
casa”, “como se apresentar em público”, “história do violão”, entre outros temas, que vão
sendo sugeridos nas reuniões, de acordo com a necessidade que se apresenta. Os alunos
também são convidados a participar, tocando no que chamamos de “mini-audições”, 10 a
15 minutos de música que antecedem a palestra do mês. Ainda por iniciativa de um dos
estagiários (Gabriel Macedo) nasceram as “Mostras Experimentais”, apresentações de
alunos da graduação que acontecem sempre às quartas feiras. Também em 2003
aconteceram visitas orientadas a uma loja de instrumentos musicais de Salvador, onde
funcionários satisfaziam a curiosidade de crianças e adolescentes acerca de instrumentos e
acessórios. Depois de manusear vários instrumentos (geralmente os eletrônicos foram os
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preferidos) havia uma audição dos visitantes para o público presente na loja. Com estes
procedimentos, buscou-se uma abertura para o processo de conhecimento, permitindo inter-
relações entre processos de aplicação e a valorização da experiência extra-escolar. (LDB
9.394/96)

Filosofia do Curso “Oficina de Violão”


A filosofia adotada pela coordenação é de que, além da extensão funcionar como um
braço universidade-comunidade, existe uma real necessidade de proporcionar aos alunos
dos cursos de bacharelado técnicas de ensino instrumental, disciplina esta inexistente no
atual currículo dos cursos de instrumento da EMUS-UFBA. A maioria dos instrumentistas
oriundos da graduação da EMUS ganha o seu sustento básico ministrando aulas e não
atuando como músicos. As modificações na legislação atual vai exigir que os professores
sejam licenciados, a partir de 2006, sendo que um impasse está sendo criado para os
bacharéis em instrumento. A Universidade Federal da Bahia tem avançado muito
lentamente (desde 1999 existe uma proposta de reformulação curricular, ainda não
concluída na EMUS) na modificação dos currículos dos seus cursos, cuja última
atualização (pasmem!) é de 1978! Contra uma máquina burocrática e administrativa que
funciona tão lentamente, apesar da ciência de que os limites do prazo estão chegando, o
trabalho da coordenação da “Oficina de Violão” é, além de atender a uma faixa da
população que deseja aprender a tocar, capacitar os seus alunos para atuarem
competentemente no mercado de trabalho.

Resultados
Os resultados obtidos têm sido cuidadosamente registrados a cada semestre, e estão
separados em: renovações, desistências, cancelamentos, reprovações, alunos concluintes,
alunos encaminhados para a graduação. A cada final de semestre computamos cada um
desses itens, o que nos tem dado um quadro real dos resultados obtidos, possibilitando um
planejamento semestral de acordo com a realidade.
A maioria dos alunos permanece na Escola apenas por um ano, ou seja, apenas por
dois semestres. Consultados via telefone, os sujeitos desistentes declaram que o motivo foi
por: a) não conseguir pagar o curso; b) não conseguir conciliar horários; c) o curso não
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atendeu às expectativas. Fica claro que a fidedignidade pode ser questionada, mas estas têm
sido as respostas que aparecem com mais freqüência.
Atualmente cursam a graduação da EMUS oito alunos oriundos das “Oficinas de
Violão”, sendo quatro em Instrumento (Violão), dois em Licenciatura em Música e dois em
Composição. Dos quatro de violão, três trabalharam como professores-estagiários, e retro-
alimentando o sistema.

Conclusão
Acreditamos que este curso possa servir de fonte de estudo para novas pesquisas na
área de ensino instrumental, e a nossa proposta tem sido a de aliar, colocando lado a lado a
pesquisa e a extensão. A disponibilidade de atuação na extensão foi diminuída com a
redução de professores do quadro permanente da UFBA e a criação dos cursos de pós-
graduação. Por outra parte, a extensão pode servir como fonte de pesquisa e de estágio para
os alunos da graduação, mas precisa ser administrada de forma consciente para que produza
os resultados desejados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LÜCK, Heloísa. Metodologia de Projetos. Rio de Janeiro, Vozes, 2003.


LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na escola. Salvador, Malabares,
2003.
OLIVEIRA, Alda de Jesus. Múltiplos espaços e novas demandas profissionais na educação
musical: competências necessárias para desenvolver transações musicais significativas. In:
Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musica, 10, 2001. Uberlândia:
Anais da ABEM, 2001, pp. 19 –40.
SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina
Tourinho. São Paulo, Moderna, 2003.
TOURINHO, Cristina e BARRETO, Robson. Oficina de Violão, v. I. Salvador, Quarteto,
2003.

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