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Capitulo Demanda por trabalho O trabalhador merece o seu salrio. CO evangelho segundo Sao Lucas liltimo capitulo analisou os fatores que determinam quantos traba- Ihadores escolhem entrar no mercado de trabalho e quantas horas eles estéo dispostos a alugar para os empregadores, Entretanto, os resultados do mercado de trabalho dependem no somente da dis posicao dos profissionais em oferecer o seu tempo, mas também da disposigo das empresas em contratar esses trabalhadores. Portanto, agora examinaremos o lado da demanda do mercado de trabalho. As decisdes de contratar demitir feitas pelas empresas criam e destroem muitas vagas a todo 0 momento. Durante um ano tipico da década de 1980, por exemplo, quase 9% dos empregos na industria manufatureira dos Estados Unidos foram recém-criados e 11% dos ‘empregos existentes desapareceram. A nossa anilise da demanda por trabalho comega reconhecendo que os empregadores nao contratam trabalhadores simplesmente porque querem “corpos” para preencher vagas na empresa. Elas contratam porque consumidores querem comprar uma variedade de bens e servicos. De fato, as empresas sio 2s intermediérias que contratam trabalhadores para produzirem aqueles bens e servigos e, por esse motivo, a demanda por trabalho ~ assim como a demanda por outros insumos no processo de produgio, como terrenos, prédios e maquinas ~ é uma “demanda derivada”, resultado dos desejos dos consumidores. Apesar da aparente semethanga entre os fatores que determinam a demanda da empresa por trabalho e a demanda por outras tecnologias Capitulo 3 Demanda por trabalho 97 no processo de producao, economistas destinam grande parte de seu tempo a um estudo separado da demanda por trabalho. Afinal, trabalhadores sio, sim, diferentes de outros insumos ¢ de maneiras muito diversas. Todos nés estamos extremamente interessados nas caracteristicas das empresas que alugam nossos servicos por oito horas ao dia, Algumas oferecem condigdes de trabalho e oportunidades sociais que so bastante agradaveis, en- quanto as condigdes de trabalho em outras podem ser estarrecedoras. Os determinantes da demanda por trabalho também tém reflexos sociais e politicos importantes. De fato, muitas das questes centrais na politica econdmica envolvem o niimero de trabalhadores que as empresas empregam ¢ o salirio que oferecem a eles. Diversas politicas como salarios minimos, subsidios de emprego e restrigGes na capacidade de empregadores demitirem temporariamente os trabalhadores sao tentativas de regular alguns aspectos da demanda por trabalho da empresa, 3-1 A funcao de producéo Comecamos o estudo da demanda por trabalho especificando a fungio de produgao da empresa. A funcdo de produgao descreve a tecnologia que a empresa usa para produzir bens € servicos. Para simplificar, inicialmente suporemos que existam somente dois fatores de produgio (isto é, dois insumos no processo de producio): 0 niimero de horas dos funcio- narios contratados pela empresa (B) e capital (K), 0 estoque agregado de terra, maquinas outros insumos fisicos. Escrevemos a funcao de producao da seguinte forma a=f(E,K) Ga) em que q é a producio da empresa. A funcao de producio especifica quanto produto é gerado por qualquer combinagio de trabalho e capital. ‘A definicio do insumo de trabalho faz. duas suposigdes bastante restritivas. Primeiro, 0 niimero de horas do funciondtio B é dado pelo produto do niimero de trabalhadores contratados multiplicado pelo nimero médio de horas trabalhadas por pessoa. Ao enfocar 0 produto E, em vez de seus dois componentes separados, supomos que a empresa obtém a mesma produgao quando emprega dez trabalhadores para um dia de oito horas, do que quando emprega 20 trabalhadores para uma jornada de quatro horas. Para simplificar a exposi¢o, ignoraremos a diferenca entre o niimero de trabalhadores contratados e 0 nimero de horas trabalhadas durante grande parte deste capitulo, e simplesmente nos referiremos ao insumo trabalho E como o nitmero de trabalhadores contratados pela empresa. Segundo, a func3o de producio implica que tipos diferentes de trabalhadores podem, de alguma maneira, ser agrupados para formarem um Gnico insumo a qual chamaremos de “trabalho”, Na realidade, os trabalhadores so muito heterogéneos, pois alguns deles tém graus universitarios, enquanto outros nao terminaram o ensino médio; alguns t¢m muita experiéncia no mercado de trabalho, e outros so novatos. Em resumo, alguns trabalhadores provavelmente fardo uma contribui¢go muito maior para a produgio da empresa do que outros. Entretanto, veremos que ¢ titil derivar primeiramente a demanda por trabalho de uma empresa ao ignorar essas complicagdes. O modelo mais simples proporciona um entendi- 98 Economia do trabalho ‘mento claro de como as empresas tomam suas decis6es de contratacio. Mais adiante, ainda neste capitulo, usaremos essa base para construir uma especificacdo mais generalizada sobre a tecnologia de producio. Produto mar: ial e produto médio produto marginal é 0 conceito mais importante associado com a funcao de produgio de uma empresa, Definimos o produto marginal do trabalho (0 qual denotamos como MP;) como a mudanga na produgao proveniente da contratagao de um trabalhador adicional, mantendo constante a quantidade de todos os outros insumos. Da mesma forma, definimos o produto marginal de capital (ou MP,) como a mudanga na producao proveniente de um aumento de uma unidade do estoque de capital, mantendo constante a quantidade de outros insumos. Supomos que 0s produtos marginais do trabalho e do capital so niimeros positives; com isso, a contratacao de mais trabalhadores ou de mais capital levara a uma produgio maior 6 facil entender como calculamos o produto marginal do trabalho usando um exemplo | numérico, A Tabela 3-1 resume a produgao da empresa quando essa contrata diferentes ntimeros de trabalhadores, mantendo constante o capital. Se a empresa contratar um traba: Ihador, ela produzita 11 unidades. O produto marginal do primeiro contratado, portanto, seré de 11 unidades. Se a empresa contratar dois trabalhadores, a producio subir para 27 unidades, ¢ 0 produto marginal do segundo trabalhador sera de 16 unidades. A Figura 3-1 mostra um grafico dos dados de nosso exemplo para ilustrar as suposicées tipicas feitas sobre o formato da fungio de produgao. Jé a Figura 3-1a mostra a curva de pro duto total. Essa curva descreve 0 que acontece com a producao quando a empresa contrata mais trabalhadores. A curva do produto total é positivamente inclinada. © produto marginal do trabalho é a inclinacao da curva do produto total, isto é, a taxa de mudanga na produgao com a contratacdo de mais trabalhadores, Portanto, o formato da curva do produto total tem importantes implicagdes para a curva do produto marginal, como mostra a Figura 3-1b. Em nosso exemplo numérico, a producao, inicialmente, aumenta com uma taxa cada vez maior de trabalhadores contratados. Isso sugere que o produto mar- ginal do trabalho esta aumentando, talvez por causa dos ganhos iniciais que resultaram da atribuicdo de tarefas especificas aos trabalhadores, ¢ a produgio eventualmente aumentaa uma taxa decrescente. Em outras palavras, 0 produto marginal do trabalho comeca a cair, fazendo que o proximo trabalhador contratado adicione menos a produsao da empresa do que aquele contratado antes dele. Ainda em nosso exemplo, o produto marginal do terceiro trabalhador contratado ¢ de 20 unidades, mas o produto marginal do quarto é de 19 unidades, e do quinto cai ainda mais: para 17 unidades. A suposigao de que 0 produto marginal do trabalho eventualmente diminui segue-se da lei dos retornos decrescentes. Lembre-se de que 0 produto marginal do trabatho é definido em termos de um nivel fixe de capital. Os primeiros trabalhadores contratados podem aumentar substancialmente a produgZo porque podem se especializar em tarefas rigidamente definidas. A medida que cada vez mais trabalhadores sio adicionados ao estoque de capital fixo (isto é,a.um mimero fixo de maquinas € uma quantia fixa de terra) os ganhos provenientes da especializacao diminuem e o produto marginal dos trabalhadores diminui.. Vamos supor que a lei de retornos decrescentes opere em alguma amplitude do emprego. Na realidade, veremos que a empresa desejard expandir a quantidade de vagas indefinidamente, a nao ser que ela, eventualmente, se depare com retornos decrescentes i Capitulo 3 Demanda por trabalho 99 Caleslando o produto marginale médio do trabalho (mantendo constante o capital Nimerode Produto : Valor do Valor do trabathadores Produgio.—marginal’-—-Produtomédio produto, __ produto médio fempregados__(unidades) __(amidades) "_(unidades) marginal (USS) ___(USS) fox Te ° ES = = 7 1 u uu ue 2 20 | 2 2 16 135 32 270 3 "7 20 157 40 a3 | 4 66 1 165 38 33,0 s 83 7 166 3 332 ! 6 98 as 163 30 32,7 7 ut 3 159 26 37 8 122 n 153 2 30,5 9 131 ° 146 8 L 10 138: 7 13,8 “4 ‘Obs: Nos cielo parao valordo produto marginal eo valor do produto médko, presupée-se que opreyo do produto € de USS 2 120 20 Produto médio 100 J AG 7 vO 60 Produto total 2 wo 20 5 Produto marginal : _ a w Figura 3-1 As curvas de produto total, de produto marginal e de produto médio (a) A curva do produto total mostra a relacio entre a producéo e o nimero de trabalhadores contratados pela ‘empresa (mantenda constante o capital). (6) A curva de produto marginal mostra o produto gerado por cada trabalhador adicional e a curva de produto medio mostra 0 produto por trabalhador. 100 Economia do trabalho Definimos 0 produto médio do trabalho (ou AP,) como a quantidade de producao rea: | lizada pelo trabalhador tipico. Essa quantidade ¢ definida por AP, = q/E. Em nosso exemplo numérico, a companhia produz. 66 unidades quando contrata quatro trabalhadores, por tanto 0 produto médio é de 16,5 unidades. A Figura 3-1b ilustra a relacdo entre as curvas de produto marginal e as curvas de produto médio. Uma regra facil de lembrar, que descreve a relagdo geométrica entre essas duas curvas, é a seguinte: a curva marginal fica acima da curva média quando a curva média estiver subindo, e abaixo quando a curva média estiver caindo Isso sugere que a curva marginal intercepta a curva média no seu ponto mais alto (o que acontece quando temos cinco trabalhadores). Deve ficar claro que a suposigao de retornos decrescentes também sugere que a curva de trabalho do produto médio finalmente cairé Maximizagao do lucro Para analisar as decisdes de contratagdes feitas pela empresa, faremos uma suposicdo sobre © comportamento da empresa. O objetivo principal da companhia € maximizar seu lucto, € 05 lucros dela sio dados por Lucros = pq—wE 1K G2) em que p é © prego pelo qual a empresa consegue vender a sua producio, w é a taxa salarial (isto é, 0 custo para contratar um trabalhador adicional) e r€ 0 preco de capital Neste capitulo, presumimos que a empresa é um pequeno participante na industria. Como resultado, 0 prego do produto p nao é afetado pela quantidade de produto que essa ‘empresa em particular produz e vende, ¢ os precos do trabalho (w) ¢ capital (r) também nao sio afetados pela quantidade de trabalho e capital que ela contratar. Portanto, da perspectiva da companhia, todos esses presos séo constantes, esto além de seu controle. A empresa que nao consegue influenciar os precos € conhecida como uma empresa perfeitamente competitiva, ¢ assim ela maximiza os seus lucros ao contratar a quantidade “correta” de trabalho e de capital. 3-2 A decisdo de contratacado no curto prazo Defina curto prazo como o petiodo de tempo que é suficientemente curto para que a ‘empresa no possa aumentar nem reduzir o tamanho de sua fabrica ov comprar e vender seu equipamento fisico, Portanto, no curto prazo, o estoque de capital da companhia é fixado em algum nivel Ky. Por isso, ela pode determinar a produgao adicional realizada por cada trabalhador ao ler 08 miimeros da curva do produto marginal. Por exemplo, a Figura 3-1 indica que 0 oitavo trabalhador contratado aumenta a producao da empresa em 11 unidades. Para obter o valor em délares do que cada trabalhador adicional produz, podemos multiplicar o produto mar. ginal do trabalho pelo prego do produto. Esta quantidade é chamada de valor do produto marginal do trabalho e é dada por VMPy = p x MP 63) Capitulo 3 Demanda por trabalho 101 Dolares (USS) »{ 2 —__+— a 8 ‘Nimero de trabalhadores ‘Adecisdo de contratago da empresa no curto prazo Uma empresa que visa & maximizacio de lucros emprega trabalhadores até o ponto em que a taxa salarial sej igual 429 valor do produto marginal do trabalho, Se o salario @ de US$ 22, a empresa emprega oito trabalhadores. valor do produto marginal do trabalho é 0 aumento em délares nas receitas geradas por um trabalhador adicional ~ mantendo constante o capital, Suponha que o preco do produto seja USS 2. O oitavo trabalhador contratado contribuiria com US$ 22 para a receita da empr valor da curva do produto marginal ¢ ilustrado na Figura 3-2 (¢ os dados basicos so relatados na Tabela 3-1). Como o valor do produto marginal ¢ igual ao produto marginal do trabalho multiplicado pelo preco (constante) do produto, o valor da curva do produto marginal é simplesmente uma versio “ampliada” da curva do produto marginal. A lei dos retornos decrescentes sugere que os ganhos em délares com a contratacao de trabalhadores adicionais eventualmente declinam. Definimos o valor do produto médio do trabalho como VAP, = p X AP G-4) © valor do produto médio mostra o valor em délares sobre a producéo do trabalhador. ‘Como resultado, o valor da curva do produto marginal e o valor da curva do produto médio sio vers6es ampliadas das curvas de produto marginal e produto médio, portanto a relagdo entre as curvas marginais e médias na Figura 3-2 é idéntica a relacéo que discu timos anteriormente, Quantos trabalhadores a empresa deveria contratar? A empresa competitiva consegue empregar toda a mao de obra que quiser a um salirio constante de w délares. Suponha que o salario no mercado de trabalho seja USS 22. Como esta ilustrado na Figura 3-2, uma empresa que visa & maximizagio de lucros contratara cito trabalhadores. Neste nivel de emprego, o valor do produto marginal do trabalho € igual taxa salarial e 0 valor da curva do produto marginal é negativamente inclinada, ou 102 Economia do trabalho VMP, = we VMP, esta declinando 65) Em outras palavras, no ponto onde a empresa maximiza os lucros, 0 ganho marginal pro- veniente da contratagao de trabalhadores adicionais é igual ao custo daquela contratacio, € nao é financeiramente vidvel expandir a empresa porque o valor da contratacao de mais trabalhadores esta diminuindo. A intuicdo para esse resultado é a seguinte. Suponha que a empresa decida contratar apenas seis trabalhadores; se ela empregasse o sétimo trabalhador, receberia mais em receitas adicionais do que pagaria para aquele trabalhador (0 valor do produto marginal é de USS 26 € o salario é de apenas USS 22). Uma empresa que visa a maximizacao de lucros ira, portanto, expandir € empregar mais mio de obra. Entretanto, se a companhia fosse empregar mais do que oito trabalhadores, o valor do produto marginal seria mais baixo do que o custo de contratagao. Suponha, por exemplo, que a empresa queira empregar 0 nono trabalhador. A contratacdo dele custaria US$ 22, embora seu valor de produto marginal seja de apenas USS 18. Portanto, do ponto de vista de maximizagao de lucros, nao vale a pena empregar mais do que oito trabalhadores. Observe que a Figura 3-2 também indica que o salario seria igual ao valor do produto marginal se a empresa contratasse apenas um trabalhador, Neste ponto, no entanto, 0 valor da curva do produto marginal seria positivamente inclinado, fi facil ver por que a contratacio de apenas um profissional néo maximiza os lucros. Se ela contratasse outro, 0 segundo trabathador contribuiria até mais para as receitas da empresa do que o primeiro. Este argumento mostra por que a lei dos retornos decrescentes tem um papel tio impor- tante na teoria, Se VMP, continuasse aumentando, a empresa maximizaria os lucros a0 se expandir indefinidamente. Seria, dificil manter a suposi¢ao de que as decisbes da empresa nao afetam 0 preco do produto ou o prego do trabalho e capital. Na realidade, a lei dos retornos decrescentes estabelece limites sobre o tamanho da empresa ‘Também é importante ressaltar que a condicao de maximizacio do lucto, a qual requer que 0 salario seja igual ao valor do produto marginal de trabalho, ndo diz que a empresa deveria estabelecer 0 saldrio igual ao valor do produto marginal. Afinal, a empresa compe- titiva nao tem influéncia sobre o salério e, consequentemente, nao pode “estabelecer” que 0 salirio seja igual a qualquer coisa. Tudo que ela pode fazer é estabelecer o nivel de emprego de forma que o valor do produto marginal de trabalho seja igual ao salario predeterminado. Por tiltimo, vale considerar a deciséo de contratagio se o salrio competitivo fosse alto, como US$ 38, descrito na Figura 3-2. Com este salario, parece que a empresa deveria empregar quatro trabalhadotes, cujo salério fosse igual ao valor do produto marginal. No entanto, se 4 empresa empregasse quatro trabalhadores, 0 valor do produto médio de trabalho (USS 32) seria menor do que o salario. E porque a contribuicio por trabalhador para a empresa é menor que o salario, ela perde dinheito e deixa o.mercado. Os tinicos pontos na curva do valor do produto marginal que sio relevantes para a decisio de contratacio da empresa sio aqueles que se encontram na inclinagao negativa da curva abaixo do ponto onde a curva VAP, cruza a curva VMP,, Pela conveniéncia, restringitemos nossa atengo ao segmento especifico da curva VMP, A curva de demanda por trabalho no curto prazo para uma empresa Podemos agora derivar a curva de demanda por trabalho no curto prazo. Essa curva nos diz.o que acontece ao emprego a medida que os salrios mudam, mantendo o capital cons Capitulo 3. Demanda por trabalho 103, Figura 3-3 Délares (USS) Acurva de demanda por trabalho no curto prazo O produto marginal ceventualmente decina, por isso.a curva de demanda por trabalho no curto prazo se incina 22 negativamente. Uma queda no salir, de USS 22 para USS 18, aumenta 0 emprego da empresa Um aumento no prego do produto desiocaa curva do valor do produto marginal para cima e aumenta as vagas. 18 ‘VP 12 Numero de trabahadores tante. A construgio da curva de curto prazo é apresentada na Figura 3-3, a qual mostra a parte relevante da inclinagao negativa da curva do valor do produto marginal, ou VMP, Inicialmente, o salario é de US$ 22 e a empresa emprega oito trabalhadores. Se 0 salério cair para US$ 18, a companhia empregar nove trabalhadores. A curva de demanda por trabalho no curto prazo é, portanto, dada pela curva do produto marginal. A medida que o valor do produto marginal de trabalho declina, mais trabalhadores s4o contratados, e uma queda no salirio aumenta o nimero de trabalhadores. A posicao da curva de demanda por trabalho depende do preco do produto. Como 0 valor do produto marginal é dado pelo prego de produgio, a curva de demanda no curto prazo desloca-se positivamente se o produto se tornar mais caro. Por exemplo, suponha que 0 prego do produto aumente, deslocando o valor da curva do produto marginal na Figura 3-3 de VMP; para VMP;’. Se 0 salério fosse de USS 22, o aumento no preco do pro- duto elevaria as vagas da empresa de 8 para 12 trabalhadores. Assim sendo, ha uma relacio positiva entre 0 emprego no curto prazo € 0 preco do produto. Por iiltimo, lembre-se de que a curva de demanda no curto prazo mantém o capital constante em algum nivel, Ko. Teriamos derivado uma curva diferente se tivéssemos mantido o estoque de capital a um nivel diferente, K,. A relacdo entre o valor do produto marginal de trabalho e o estoque de capital sera discutido a seguir:! A curva de demanda por trabalho no curto prazo na industria Derivamos a curva de demanda por trabalho no curto prazo para uma tinica empresa. B claro que podemos aplicar a mesma abordagem e derivar a curva de demanda por trabalho Observe que 0 posicionamenta da cuna de demanda por vabalho tamibém depende da efciénca prosutiva dos traba- Ihadores Suponha, por exemple, que um avango tecnelégico como uma "pilla para trabalhar duro” fizsse corn que os twabalhadoresficassem muito mais produtivos. A curva de demanda de curto prazo se deslocavia para cima porque o valor o produto macginal de cada trabalnador aumentaia, 104 Economia do trabalho Salario Salerio a \ WV 15 2830 Emprego 356 60 tronge (emoreas ins ores Figura 34 A.curva de demanda da industria no curto prazo ‘Cada empresa na industria emprega 15 trabalhadores quando o salario € de US$ 20. Se o salariocair para USS 10, cada empresa poderé empregar 30 trabalhadares, Se todas as empresas se expandirem, a oferta de pradutos na indistria aumentara, reduzindo o preco do produto e o valor do produto marginal, de forma que a curva de demanda por trabalho de cada empresa individual desioca-selevemente para a esquerda. Sendo o valor menor que US$ 10, cada ‘empresa, entdo, emprega 28 trabalhadores. A curva de demande da indistria nao é dada pela soma horizontal das, ‘curvas de demanda da empresa (0D), mas considera o impacto da expanso da industria no prego do produto (7) no curto prazo para todas as empresas na industria, ou seja, para um grupo de empresas que produzem o mesmo produto. Parece que esta curva da indiistria pode ser obtida a0 somar horizontalmente as curvas de demanda de empresas individuais. Por exemplo, suponha que cada empresa na indiistria empregue 15 trabalhadores quando o salario esta a USS 20, ‘mas aumenta as vagas para 30 quando o salirio cai para USS 10. Parece que poderiamos obter a curva de demanda da indiistria se simplesmente somarmos as vagas das empresas. Se houvesse duas empresas na indiistria, poderiamos concluir que uma delas emprega 30 profissionais quando o salario est a USS 20, 60 quando o salério é USS 10. Essa abordagem, no entanto, € incorreta porque ignora o fato de que a curva de demanda por trabalho para uma empresa assume o preco do produto como dado, Cada empresa, em um mercado perfeitamente competitivo, € pequena e ndo consegue influenciar os precos. No entanto, se todas as companhias se aproveitarem dos salérios mais baixos aumentando suas vagas, haveria muito mais produgdo na industria e isso sugeriria que o prego do produto cairia. Como resultado, se todas as empresas expandissem a oferta de trabalho, 0 valor do § produto marginal (ou o preco da producdo multiplicado por produto marginal) também cairia, e a curva de demanda de cada empresa se deslocaria levemente para a esquerda. 0 emprego nessa indiistria expandiria menos do que seria 0 caso se simplesmente somissemos as curvas de demanda de empresas individuais. A Figura 3-4 ilustra este ponto para uma indastria com duas empresas idénticas. Como vemos na Figura 3-4a, cada empresa contrata 15 trabalhadores quando o salitio est a USS 20 € 30 quando o salario cai para USS 10. A soma dessas duas curvas de demanda ¢ ilustrada na Figura 3-4b pela curva DD. No entanto, é impossivel para cada empresa na indiistria expandir Capitulo 3 Demanda por trabalho 105 suas vagas se houver uma reduco no preco do produto. Como resultado, a curva de demanda para cada empresa se desloca levemente, de forma que cada uma empregue apenas 28 traba Ihadores a um salério mais baixo de USS 10. A indistria, portanto, emprega 56 trabalhadores com um salirio mais baixo. A “verdadeira” curva de demanda por trabalho da indiistria é entéo dada por TT. Esta curva, a qual justifica 0 fato de que preo do produto ¢ ajustado se todas as empresas se expandirem, é mais ingreme do que a curva de demanda que obteriamos se somassemos horizontalmente as curvas de demanda de empresas individuais, Usamos uma elasticidade para medir a sensibilidade do emprego na indiistria as mu- dancas na taxa salarial, A elasticidade da demanda de trabalho no curto prazo ¢ definida como a alteracao percentual no emprego (Bsa) resultante de uma alteraco de 1% no salario Alteragao percentual no emprego 8: $3 = (3-6) w Alteracao percentual no salério Em Visto que a curva de demanda por trabalho no curto prazo é negativamente inclinada, a clasticidade também deve ser negativa. Em nosso exemplo, vimos que a indiistria emprega 30 trabalhadores quando o salario esta a USS 20, ¢ emprega 56 se o salério cair para USS 10. A elasticidade de curto prazo é 8—_=@ EES = 1 = 1,753, G7) Diz-se que a demanda por trabalho é elastica se 0 valor absoluto da elasticidade for maior do que 1, € diz-se que é ineldstica se 0 valor absoluto da elasticidade for menor do que 1 Uma interpretagao alternativa da condicao de produtividade marginal © requisito para que a empresa contrate trabalhadores até o ponto em que o valor do produto marginal seja igual ao salario, mostra a “parada” (stopping rule) da empresa em suas decisbes de contratagao — isto é, a regra que Ihe diz. quando parar de contratar. Esta regra de contratacao é também conhecida como a condigao de produtividade marginal. ‘Uma maneira alternativa e mais familiar de descrever um comportamento que maximiza Iucros se refere & regra de parada para a produgdo da empresa: uma empresa que visa a maximizagio de lucros deve produzir até 0 ponto onde o custo de produgdo de uma uni- dade adicional (ow custo marginal) for igual a receita obtida com a venda daquele produto (ou receita marginal) Essa condicdo esta ilustrada na Figura 3-5. A curva do custo marginal (MC) é positiva mente inclinada ~ medida que a empresa se expande, os custos aumentam a uma taxa crescente. Para uma empresa competitiva, a receita com a venda de uma unidade adicional € dada pelo prego do produto constante p. A igualdade do preco e do custo marginal ocorre no produto q*, Se a companhia quisesse produzir menos do que q* unidades de produto, ela aumentaria seus lucros a0 expandir a producZo. Afinal, a receita com a venda de uma unidade adicional excederia os custos de producao daquela unidade. Em contrapartida, se a empresa quisesse produzit mais do que q* unidades, ela aumentaria seus lucros com uma redugdo na producao. O custo marginal para a producio dessas unidades excede a sua receita marginal. 106 Economia do trabalho Figura 3-5 Oélares A decisao de produgio da empresa Uma empresa que vise & rmaximizagdo de lucros produz ate que o prego do produto Sea igual a0 custo marginal de produgéo. Essa condicao de ‘maximizagdo de lucros é a mesma ue o das empresas que exigem 3 contratacdo de trabalhadores até que os saliros sejarn iguais 20 valor do produto marginal Prego do produto — Producso No entanto, a condi¢ao de maximizacao de lucro que iguala o preco ¢ o custo marginal (a qual nos da o nivel étimo de producao) é idéntica 8 condigdo de maximizacao de lucros que iguala 0 salirio ¢ © valor do produto marginal do trabalho (a qual nos da o mimero timo de trabalhadores). Lembre-se de que MP, nos informa quantas unidades de produto 4 um trabalhador adicional produz. Suponha, por exemplo, que MP;5= 5. Isso sugere que é preciso um quinto de um trabalhador para produzir uma unidade extra. Generalizando, se um trabalhador adicional produz MP, unidades, ento 1/MPz produziré uma unidade Cada um desses empregados recebe um salirio de w délares. Consequentemente, 0 custo de produgao de uma unidade extra de produto é igual a Mc = wx 1 os MP, A condigio de que a empresa produz até o ponto onde o custo marginal é igual ao prego pode ser escrita como G9) Ao reorganizarmos os termos na Equacao (3-9), obtemos a condicéo de produtividade mar ginal, w= p x MPp. Resumindo, a condicio que diz 4 empresa, a qual visa a maximizacio de lucros, quando parar de produzir € exatamente a mesma condi¢ao que The diz quando parar de empregar trabalhadores. Capitulo 3. Demanda por trabalho 107 Criticas da teoria de produtividade marginal Uma critica comumente ouvida 4 teoria da produtividade marginal € que ela tem pouca semelhanga com a maneira como os empregadores realmente tomam as decis6es de con: tratacdo. A maioria dos empregadores provavelmente nunca ouviu falar do conceito do valor do produto marginal ~ muito menos pedir aos seus gerentes de recursos humanos que conduzam célculos detalhados e complexos, os quais igualam essa quantia & taxa salarial ¢, consequentemente, determinem quantos trabalhadores devem empregar. Os defensores da teoria nao levam essa critica a sério. Uma resposta Obvia a critica é que se algum empregador nao se comportar da maneira como a teoria da produtividade marginal diz, esse no duraré muito tempo no mercado. Apenas o melhor — isto é, 0 mais lucrativo ~ sobrevive no mercado competitivo. E se determinado empregador nao estiver contratando de maneira eficaz, outra empresa substituiré o empregador ineficiente. ‘Também poderiamos argumentar que o valor da teoria da produtividade marginal nao depende necessariamente da validade das suposices ~ ou se ela depende ou nao da provisdo de uma representacao “realista” do mercado de trabalho. Babe Ruth € Willie Mays, por exemplo, provavelmente nao estudaram ou memorizaram a Fisica, que diz como uma bola de beisebol reage ao ser acertada por um taco e como as leis de movimento de Newton determinam como a bola viaja pelo ar. Mesmo assim, eles claramente aprenderam e intuitivamente entenderam — por meio da habilidade inata e talentos adquiridos ~ as implicagGes dessas leis para acertarem um home run. Em outras palavras, Babe Ruth e Willie Mays certamente agiram como se eles soubessem todas as leis relevantes da No mesmo tépico, os empregadores provavelmente nao sabem como resolver as equa es mateméticas que igualam o valor do produto marginal a taxa salatial. Mesmo assim, apressio de um mercado competitivo os forcou a aprender as regras basicas sugeridas por essas equacdes: como tomar decisdes de contratagao as quais assegurem que eles poderio fazer dinheiro € que seus negécios sobreviverdo. Resumindo, os empregadores em um mercado de trabalho competitive agem como se soubessem € obedecessem as implicacdes da teoria da produtividade marginal isica, 3-3 A decisdo de contratacao no longo prazo No longo prazo, o estoque de capital de uma empresa nao é fixo. A empresa pode expandir ou reduzir suas instalagdes e equipamentos, Assim sendo, cla maximiza os luctos ao es. colher quantos trabalhadores empregar e quanto investir em instalagdes e equipamentos. Isoquantas Uma isoquanta descreve as combinacées possiveis de trabalho e capital que produzem ‘o mesmo nivel de producio. As isoquantas, portanto, descrevem a fungao de producio exatamente da mesma maneira como as curvas de indiferenga descrevem a fungio de utilidade de um trabalhador. A Figura 3-6 ilustra-as associadas com a funcio de produgio, 4=f(E, K). A isoquanta denominada gq mostra todas as combinagées de capital-trabalho 108 Economia do trabalho Figura 3-6 Curvas de isoquanta Todas as combinagbes de capital- ‘trabalho que estao 20 longo de uma Gna isoquanta produzen ‘o mesmo nivel de producao. ‘As combinagbes de insumos 'nps ponto X e ¥ produzem qo unidades. As combinagoes de insumos que se encontram em isoquantas mais altas geram mais produtos, Capital ak aE Emprego que produzem exatamente qo unidades de produto, e a isoquanta denominada 4, mostra todas as combinacées de capital-trabalho que produzem q, unidades. A Figura 3-6 ilustra as propriedades dessas curvas de produgao constante As isoquantas devem se inclinar negativamente. As isoquantas no se cruzam. ‘As isoquantas mais altas so associadas com niveis mais altos de producio. As isoquantas séo convexas a origem. Essas propriedades das isoquantas correspondem exatamente as propriedades das curvas de indiferenca. Por Ultimo, assim como a inclinagao de uma curva de indiferenca é dada pelo negativo da razao das utilidades marginais, a inclinagio de uma isoquanta é dada pelo negativo da razdo dos produtos marginais. Especificamente? AK _ MP, a AE” MP, 2 Para provar isso, vamos calcula a inclnagSo da isoquanta entre os pontos Xe ¥ na Figura 3-6, Ao it do ponta X para © ponto ¥, & empresa emprega AE mais trabalhadores, e cada um dees produz MP, unidades de produtos. Consequer temente, 0 ganho de producdo & dado pelo produto AF x MP. No entanto, 20 ir do ponto X para o ponta Y a empresa festa se ivando de 4K unidades de capital. Cada uma dessas Unidades tem um produto marginal de MP, A reducdo ne pproducdo ¢ entao dada por AE x MP. Visto que o produto ¢ 0 mesmo em todos os pontos ao longo da isequanta, @ {ganha em producio resultante da contratagao de mais tabahhadores deve ser igual 8 reducdo na producto resuitante fa reducao do estoque de capital, de forma que (E x Me) + (K IMP) = 0. A Equacao (3-10) € obtida ao reorganiza os termas nesta equacéo. Capitulo 3 Demanda por trabalho 109 Figura 3-7 Linhas de isocusto Todas as cambinacoes de capita -trabalho que se encontram 30 longo de ums unica curva de cur isocusto 580 igualmente custosas, As combinacées de capit trabalho que se encontram em uma curve de isocusto mais ata sto mais custasas. Ainclinagao de Co/r ‘uma isoquanta é igual a razao de pregos dos insumas (-w) Capital Izocusto com despesa de custo Cy “ Isocusto com despesa de custo Cy Cow Cw Emprego O valor absoluto desta inclinagao € chamado de taxa marginal de substituicao técn {ca Asuposicao de que as isoquantas so convexas & origem, sugere como a taxa marginal de subscituigio técnica se altera 4 medida que a empresa substitui capital por trabalho. Especificamente, a suposi¢ao da convexidade sugere que a taxa marginal de substituigao técnica (ou uma isoquanta mais achatada) decresce 4 medida que a empresa substitui tra- balho por capital. Isocustos Os custos de produgio da empresa, os quais denotamos por C, so dados por C=wE +1K Gan ‘Vamos considerar como uma empresa consegue gastar uma quantia especifica de dinheiro, Cy. A empresa poderia decidir empregar apenas capital, e, neste caso, ela empregaria Cy/r unidades de capital (em que ré 0 preco do capital) ou apenas trabalho, quando ela contra- taria C,/w trabalhadores, A linha que conecta todas as combinagées de trabalho e capital, quea empresa poderia gastar com uma despesa de custo de Cy délares, ¢ chamada de linha de isocusto ¢ esté ilustrada na Figura 3-7. Vale observar uma série de propriedades das linhas de isocusto. Especificamente, ob- serve que a linha de isocusto nos mostra um menu de combinacbes diferentes de trabalho e capital que so igualmente custosas. Segundo, as linhas de isocusto mais altas sugerem custos mais altos, A Figura 3-7 ilustra as linhas de isocusto associadas com as despesas de Coe C, onde C, > Cy. Por diltimo, podemos facilmente obter a inclinagao de uma linha de isocusto ao reescrever a Equacao (3-11) como 0, 110 Economia do trabalho Gary Esta equagao é da forma y = a + bx, com ordenada C/re inclinagao-w/r. A inclinacio, portanto, é o negativo da razao de precos dos insumos Minimizaco de custos Uma empresa que visa 4 maximizagio de lucros, e que esteja produzindo qy unidades, quer: fabricar essas unidades com 0 menor custo possivel. A Figura 3-8 ilustra a soluco para este problema de minimizagio de custos. Especificamente, a empresa escolhe a combinacio de trabalho e capital (100 trabalhadores e 175 maquinas) dada pelo ponto P, onde a linha de isocusto é tangente a isoquanta. No ponto P, a empresa produz qq unidades no custo mais baixo possivel, porque ela usa uma combinacdo de capital-trabalho que se encontra na linha de isocusto mais baixa possivel. Ela pode produzir q, unidades usando outras combinagées: de capital-trabalho, como 0 ponto A ou B na isoquanta. Esta escolha, no entanto, seria mais cara porque coloca a empresa numa linha de isocusto mais alta (com uma despesa de custo de C, délares) Na solugao de minimizagio de custos, P, a inclinacao da linha de isocusto é igual 4 inclinagao da curva de isoquanta, ou MPy MP, G3) xe Figura 3-8 A combinagao étima de entradas Uma empresa minimiza os custos para produzir qo unidades ao usar a combinacéo de capitaltrabaho Cyr ‘no ponto F, onde a isoquanta é tangente 3 linha de isocusto. Todas 2s outras combinacbes de capital-trabalho (como aquelas clr ddadas pelos pontos A e 8) encontram-se numa curva de isocusto mais alta, Capital 100 Emprego Capitulo 3 Demanda por trabalho 111 Assim sendo, a minimizacao de custo requer que a taxa marginal de substituigao técnica seja igual a razo de precos dos insumos. A intuicdo por tras dessa condicao é facilmente assimilada se a reescrevermos como Ga) Giltimo trabalhador contratado produz MPy unidades para a empresa a um custo de w dolares. Se 0 produto marginal do trabalho é de 20 unidades ¢ 0 salario € de USS 10, a razio MPp/w sugere que o tiltimo dolar gasto gerard duas unidades de produto. Do mesmo modo, a razio MPx/r mostra o rendimento da producio do tiltimo délar gasto em capital. Aminimizacao de custos requer que 0 tiltimo délar gasto em trabalho gere tanta produgio quanto o tiltimo délar gasto em capital. Em outras palavras, o tiltimo délar gasto com cada insumo gera o mesmo “valor pelo dinheiro gasto” Ahipétese de que as empresas minimizam o custo para produzir um nivel especifico de produgio é normalmente confundida com a hipétese de que as companhias maximizam os luctos. Deve ficar claro que se restringirmos a empresa para produzir qa unidades de produto, ela deve produzir esse nivel de producdo de modo a minimizar os custos para poder maxi- mizar os lucros. Assim sendo, as empresas sempre usardo a combinagao de trabalho e capital que iguala a razdo dos produtos marginais & razdo de precos dos insumos. No entanto, esta condigao nao descreve apenas o comportamento de empresas que visam 4 maximizacio de lucros. Afinal, a igualdade das proporg6es na Equagio (3-13) foi derivada ao presumir que ela produziria qg unidades, independente de qualquer outra consideracdo. A empresa que visa a maximizagao de lucros nao escolhera realizar apenas um nivel de produgio, Em vez. disso, escolhera realizar o nivel étimo de producao ~ isto é, 0 nivel de produgao que maximiza os luctos, cujo custo marginal de produgao é igual ao preco do produto (ou q* unidades na Figura 3.5) ‘Assim sendo, a condigdo de que a razo dos produtos marginais ¢ igual & razdo de precos dos insumos nao nos diz tudo que precisamos saber sobre o comportamento das empresas que visam 4 maximizagio de lucros no longo prazo. Vimos, anteriormente, que para um dado nivel de capital ~ incluindo o nivel étimo de capital -, a vaga da empresa é determinada a0 igualar o salario com 0 valor do produto marginal do trabalho. Por analogia, a condigao de maximizagio dos lucros que diz para a empresa quanto capital empregar € obtida 20 igualar o prego do capital (7) € 0 valor do produto marginal do capital VMP,. Assim sendo, 4 maximizagao de lucros no longo prazo também requer que o trabalho ¢ o capital sejam empregados até o ponto onde w=pxMP, © r=pxMPy Gas) Essas condicdes de maximizacdo de lucros sugerem minimizagao de custos. Observe que a razio das duas condigdes de produtividade marginal na Equagio (3-15) implica que a razio de precos dos insumos seja igual 4 raz3o dos produtos marginais. 2 Para reafrmar 0 panto, a maximizacdo de lucros sugere minimizacSo de custos, mas a miimizagBo de custos no precisa sugerr maumizagdo de lucos 112 Economia do trabalho 3-4 A curva de demanda por trabalho no longo prazo Nao podemos determinar o que acontece com a demanda por trabalho no longo prazo de ‘uma empresa quando os salarios mudam. Sendo assim, consideraremos uma que produ q, unidades. Presumimos que este rendimento é onivel de produgdo que maximiza os lucros, no sentido que, neste nivel, o preco do produto é igual ao custo marginal. Uma empresa que visa A maximizagio de lucros fabricard este produto no custo mais baixo possivel, por tanto, ela usaré um mix de trabalho e capital em que razo dos produtos marginais ¢ igual 4 razdo dos precos dos insumos. O salario é inicialmente igual a wy. A combinagao étima de insumos para esta empresa esté ilustrada na Figura 3-9, em que ela usa 75 unidades de capital e 25 trabathadores para produzir gy unidades de produto. Observe que a despesa de custos associada & produgao deste nivel é igual a Cy délares. Suponha que 0 salirio do mercado caia para w;. Como a empresa respondera? O valor absolute da inclinagao da linha de isocusto é igual a raz3o de precos dos insumos (ou w,/1), portanto, a linha de isocusto ser achatada pela reducao no salario. Como resultado da se melhanca entre a alteracdo salarial na Figura 3-9 ¢ a alteragao salarial no modelo neocléssico da escolha de trabalho-lazer, discutido no Capitulo 2, ha uma forte inclinago para duplicar as varias etapas de nossa anlise geométrica anterior. Devemos ter muito cuidado quando tragamos a nova linha de isocusto porque a maneint dbvia de destocar esta linha é, também, a maneina errada de deslocd-la. Como ilustra a Figura 3-9, talvez queiramos deslocar a linha de isocusto ao redor da ordenada original Cy/r. Se essa rotacio da linha do isocusto fosse “legal”, a empresa se deslocaria do ponto P pata o ponto R. A reducao de salario aumenta as vagas de 25 para 40 trabalhadores ¢ aumenta a producao de qo para q', unidades. Embora sejamos tentados a tracar a Figura 3-9, a andlise simplesmente esta errada! A rotacio da linha de isocustos em torno da ordenada original Cy/rsugere que a despesa com custo da empresa esta sendo mantida constante, ou seja, a C délares. Nao hd nada na teoria de maximizagéo de lucros exigindo que a empresa incorra os mesmos custos antes e depois da alt ragio salarial. As restrigdes no longo prazo sao dadas pela tecnologia (como esta resumido pela funcao de producao) e pelo preco constante do produto € outros insumos (P e R). No geral, a empresa no maximizar4 seus lucros ao se restringir ela mesma para incorrer no mesmos custos antes ¢ depois de uma mudanca salarial. ‘A empresa se expandira se os salarios cairem? A redugio salarial tipicamente reduziré o custo marginal de producdo da empresa.+ Em outras palavras, é mais barato produzir uma unidade adicional quando a mao de obra esti barata do que quando est cara. Esperamos, entdo, que a queda nos salarios encoraje a ‘empresa a expandir a producio. A Figura 3-10a mostra o impacto dessa reducdo no custo marginal na escala da empresa (isto é, no tamanho dela). Como a curva do custo marginal {Pode ser mestrado que o custo marginal de produséo cal quando osinsumos usados no process de produco 80 “norma” no sent em que a empresa usa mais mao de obra e mais capital medida que ela se expande, mantendo os pesos de ‘m0 de obra € capital constants, O principal resultado da teora de que a cure de demanda por trabalho no longo pra ¢ negativamente incinada ~ também se mantém se amo de obra fosse um insumo inferior Capitulo 3 Demanda por trabalho 113 Figura 3-9 Capital O impacto de uma reducéo de salario, mantendo constante a despesa de custo inicial a Co cor Uma redugao sali desloca a curva de isocusto, Se a empresa fosse manter 2 despesa inicial com custos constants a Codolares, a inka de isocusto se deslocaria a0 redor de Cy, © 2 companhia se 8 deslocana do ponto P para o ponto FR Entretanto, a empresa que visa a maximizagSo de lcros n80 mater, 1a maioria dos casos, a despesa com custos constantes quando os slarios mudarem, ‘ Salto bing NE SAO 2 a0 Emprego Dolares k | E MCo MG, p (00 150 Produto 25 50 Emprego (a) Dacisao de produgao da empresa (6) Decis5o de contratagdo da empresa Figura 3-10 , O impacto de uma reducao salarial na produgao e no emprego de uma empresa que & maximizacao de lucros {2}.ma reduca0 no salario reduz o custo marginal de producao e encoraja a empresa a expandir(produzir de 100 a 150 uidades).(b) A empresa se desca do panto P para 0 ponto , aumentando o nimero de trabalnadores empregados e25 para 50. 114 Economia do trabalho cai de MC, para MC,, a reducio no salério a encoraja a produzir 150 unidades de produt em vez de 100 unidades. Assim sendo, a empresa “pulara” para uma isoquanta mais alta, como ilustra a Figur 3-10b. Como foi observado anteriormente, o custo total para produzir 150 unidades ni precisa ser 0 mesmo que o custo de produgao de 100 unidades. Como resultado, a nov linha de isocusto nao precisa se originar do mesmo ponto no eixo vertical como a antiga No entanto, sabemos que uma empresa que visa 4 maximizacio de lucros produziré 15 unidades de produto de maneira eficiente, isto é, esta producao usar o mix de minimizaci de custos de trabalho ¢ capital. Assim, o mix étimo de insumos é dado pelo ponto na iso4 quanta mais alta, onde ela é tangente 4 nova linha de isocusto, a qual tem uma inclinaci igual a w;/r(c, consequentemente, é mais achatada que a linha de isocusto original). solucao é dada pelo ponto R na Figura 3-10b. | Como tracado, o nimero de trabalhadores aumenta de 25 para 50, Veremos a seguir qu a empresa sempre empregara mais pessoas A medida que os salarios caem. O posicionamentt do ponto R na Figura 3-10b também sugere que ela usara mais capital. Veremos na figuri que nem sempre precisa ser dessa forma, De modo geral, uma redugio salarial aumentar ou diminuird a quantidade de capital exigido. ‘Acurva de demanda por trabalho no longo prazo (ou D,) esta ilustrada na Figura 3-1 No salério inicial de wo, a empresa empregou 25 trabalhadores. Quando o salério caiu par w,, cla empregou 50 trabalhadores. Agora mostraremos que a curva de demanda por tre balho no longo prazo deve ter uma inclinacio negativa Efeitos substituicao e escala i Em nossa derivagao da curva de oferta de trabalho, decompomos o impacto de uma alt ago salarial sobre horas de trabalho em efeitos renda e substituicao. Esta seco usa um decomposicio similar para avaliar 0 impacto de uma alteracio salarial nas vagas da empres Especificamente, uma reducao no salirio reduz.o prego do trabalho em relacio ao preco capital. O declinio no salirio encoraja a empresa a reajustar seu mix de insumos para qu esta requeira mais mao de obra (¢ aproveitando a mao de obra agora mais barata). Alé disso, a redugo no salario diminui o custo marginal de produgao e encoraja a empresa: se expandir, A medida que essa se expande, pretende contratar mais trabalhadores. Esses dois efeitos esto ilustrados na Figura 3-12. A empresa est inicialmente no pont P, onde ela se defronta com um salario igual a wp, produz 100 unidades ¢ emprega 25 tra balhadores. Quando o salério cai para w,, ela se desloca pata 0 ponto R, produzindo 1 unidades e empregando 50 trabalhadores. E util visualizar o deslocamento do ponto P para 0 ponto R como sendo feito em doit estagios. Neste primeiro estégio, a empresa aproveita o prego mais baixo do trabalho pai expandir a produgao. No segundo, aproveita a alteragio salarial ao reorganizar seu mix insumos (isto é, ao substituir capital por trabalho), enquanto mantém a produgdo constant Para conduzir esta decomposicao, a Figura 3-12 introduz uma nova linha de isocus denominada DD. Essa linha é tangente a nova isoquanta (a qual produ, 150 unidades) porém € paralela & linha isocusto que a empresa enfrentou antes da redugao de salaio Em outras palavras, 0 valor absoluto da inclinagao da linha de isocusto DD ¢ igual a wy! a razo de precos original. O ponto de tangéncia entre esta nova linha de isocusto e a nov curva de isoquanta é dado pelo ponto Q. FORE Figura 3-11 Acurva de demanda por trabalho no longo prazo Acura de demanda por trabalho ro longo prazo mostra o emprego da empresa com um certo salrio es nclina negativamente, Figura 3-12 Efeitos substituicao eescala Uma reducdo nos saléios gera efeitos substituicao e escala. O feito escala (0 destocamento do ponto P para o ponto Q) encoraja a empresa a expandir aumentando 0 emprego. O eleito substituicao (de Q para A) encoraj a companhia a usar um mmétodo de producdo que requer ‘muita mao de obra, aumentando, assim, as vagas, Dolares 25 Capitulo 3 Demanda por trabalho 115 | OR 50 Emprego 1c S20 em 40.50 Emprego 116 Economia do trabalho Oe Cert cece Re eRe gee Cera EN eimtciee it ‘Afair Labor Standards Act (FLSA), de 1938, requeriu que os trabalhadores cobertos recebessem 1,5 vezes o salario por qualquer hora trabalhada além de 40 horas semanais. Diferentemente da maioria dos Estados, a California imp0s regulamentos adicionais sobre 0 pagamento de horas extras. Os trabalhadores da California devem receber 1,5 vezes o salario por qualquer hora ta balhada excedendo 8 horas por dia - mesmo que eles trabalhem menos de 40 horas semanais. Porém, antes de 1974, a legislacao da California se aplicava apenas as mulheres. Depois de 1980, a legislacao passou a ser aplicada também aos homens, A teoria da demanda por trabalho faz uma previsao clara sobre como esta legislacao de- veria afetar a probabilidade de os trabalhadores da California trabalharem mais de oito horas por dia. Mais especificamente, a probabilidade de os homens trabalharem mais do que isso deveria ter declinado entre os anos 1970 e 1980 — quando o regulamento para pagamento de hora-extra foi estendido para cobrir 03 homens, e 0s empregadores mudaram para métodos mais baratos de producao. A Tabela 3-2 mostra que 17,1% dos homens da California trabalharam mais de oito horas or dia em 1973. Por volta de 1985, foram apenas 16,9%. Antes de atribuirmos esta leve reducao na extensao do dia de trabalho ao aumento na cober- tura da legislacdo, precisamos saber o que teria acontecido & extensao no dia de trabalho para 0s homens na California na auséncia da legistaco. Em outras palavras, precisamos de um grupo de controle. Um grupo de controle possivel sao os trabalhadores em outros Estados - homens cujo dia de trabalho nao foi afetado pelas alteracdes nas politicas da California. O resultado foi que a fracao de homens que trabalharam mais de oito hores por dia aumentou durante 0 mesmo periodo de 20,1 para 22,8%. A estimativa de diferencas-em-diferencas do impacto da legislagdo da California sobre horas extras teve uma reducao substancial de 2,9 pontos percen- tuais sobre a probabilidade de trabalhar mais de oito horas didrias. Alternadamente, 0 grupo de controle poderia ser as mulheres trabalhadoras da California ~ que sempre foram cobertas pela legislacdo. A probabilidade de que seu dia de trabalho durasse mais do que oito horas também aumentou durante o periodo, ou seja, de 4,0 para 7,2%. Novamente, a abordagem de diferencas-em-diferencas sugere que a legislacao de horas extras da California reduziu em 3,4 Pontos percentuals a probabilidade de profissionais trabalharem mais do que oito horas por dia. Tabela 3-2 Efeitos de emprego da regulamentagao de horas extras da Califérnia Grupo de tratamento Grupo de controle 1 Homens na Homensem outros Mulheresna | California (%) ___Estados (%) California (%)_| Empregados trabathando mais | de oito horas por dia em: 1973 m1 201 1985 169 Diferenca 02 Diferencas-em-diferencas Fonte: Daniel 5. Hamermesh and Stephen J. Trejo, “The Demand for Hours of Labor Direct Estimates from California,” Review of Economics and Statistics 82 (February 2000): 38-47.

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