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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

BRUNA CARDOSO DA SILVA

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS: A POSSIBILIDADE JURÍDICA NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Florianópolis

2023
BRUNA CARDOSO DA SILVA

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS: A POSSIBILIDADE JURÍDICA NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Direito, da Universidade do Sul de Santa
Catarina, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Msc. Dagliê Colaço


Florianópolis

2023
BRUNA CARDOSO DA SILVA

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS: A POSSIBILIDADE JURÍDICA NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua
forma final pelo Curso de Graduação em
Direito, da Universidade do Sul de Santa
Catarina.

Florianópolis, 05 de junho de 2023.

______________________________________________________
Professor e orientador Dagliê Colaço, Mestra
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, titulação
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, titulação
Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS: A POSSIBILIDADE JURÍDICA NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste
Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente


em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, dia de março de 2023.

____________________________________
BRUNA CARDOSO DA SILVA

Dedico este trabalho à minha orientadora,


Mestra Dagliê, que sempre acreditou mais
em mim do que eu mesma, à minha noiva
que sempre me ajudou, à minha sócia por
ter resiliência, à minha psicóloga Ana por
me ajudar no processo e a todos os
casais que desejam formar uma família
com muito amor.
AGRADECIMENTOS

À minha mãe, meu pai e minha irmã que, com muito amor, carinho e apoio,
não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

À Oxalá e Oyá por ter me dado saúde, discernimento e força para superar os
obstáculos e desafios com muita fé e respeito.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que


oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, construindo uma
relação de confiança, mérito e ética aqui presentes.

Aos coordenadores, professores e colegas de curso, da unidade Florianópolis


e Pedra Branca, que foram tão importantes na minha vida acadêmica e no
desenvolvimento desta monografia.

Aos meus amigos, pelas alegrias e tristezas compartilhadas, com vocês, as


pausas entre um parágrafo e outro de produção, melhora tudo que eu tenho
produzido em vida.

Ao amor da minha vida, que me apoiou e apoia diariamente, me dando o


suporte em que eu nem sabia que precisava, me ajudando da melhor forma
possível.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o


meu muito obrigada.
RESUMO

O tema desta pesquisa é a possibilidade de adoção por casais homossexuais. O


objetivo principal foi analisar os principais aspectos de adoção por homossexuais, e
os objetivos específicos foram esclarecer a possibilidade jurídica quanto a adoção
feita por um casal homoafetivo, alertar que, mesmo com maiores avanços e
atualizações, ainda há dificuldades nesse processo, características e concepções de
Direito de Família, verificar aspectos sobre a adoção e entender seus requisitos
quanto ao adotante e adotado. Analisar as argumentações contrárias e favoráveis à
adoção por homossexuais no Direito Brasileiro, considerando a pergunta problema
da pesquisa: quais são as dificuldades na adoção feita por casais homoafetivos?
Além de verificar o princípio do melhor interesse da criança, os aspectos
psicológicos envolvidos e o posicionamento jurisprudencial. A metodologia é a
revisão de literatura, através de pesquisa teórica. Conclui-se que, nos moldes da
Constituição Federal de 1988, a família brasileira apresenta-se distante do modelo
patriarcal e hierarquizado. O atual desenho jurídico do direito de família comporta as
famílias homossexuais, pois a via do matrimônio não é mais única. O cenário
contemporâneo prevê além do casamento, a união estável, a união livre e a
monoparentalidade. O princípio do melhor interesse da criança vigora no sistema
jurídico por força do artigo 5º, § 2º da Constituição Federal/88 e da Convenção
Internacional dos Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil através do Decreto n.
99.710/90, sendo uma norma cogente, que se sobrepõe a qualquer outra norma em
jogo por tutelar os direitos da infância e adolescência.

Palavras-chaves: Adoção. União Homoafetiva. Constituição Federal.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................9
2 CONCEITO DE FAMÍLIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA...................................11
2.1 DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA.............................................................................................11
2.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO......................................................................................12
2.3 AS MODALIDADES DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO...........................................................................................................................17
2.3.1 Casamento...................................................................................................... 18
2.3.2 União Estável...................................................................................................19
2.3.3 Família Mononuclear ou Monoparental...........................................................20
2.4 AS NOVAS ESPÉCIES DE FAMÍLIA.........................................................................21
2.4.1 Família Anaparental.........................................................................................22
2.4.2 Família pluriparental ou família mosaico.........................................................23
2.4.3 Família Eudemonista.......................................................................................23
2.4.4 Família Paralela...............................................................................................24
2.4.5 Poliafetividade oficializada...............................................................................24
3 DIREITO DE FAMÍLIA E O INSTITUTO DA ADOÇÃO............................................26
3.1 DIREITO DE FAMÍLIA: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS..............................26
3.1.1 Autonomia Privada nas Relações do Direito de Família..................................27
3.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL.................................................................................28
3.3 REQUISITOS PARA O ADOTANTE..........................................................................32
3.4 RESTRIÇÕES................................................................................................................34
3.5 REQUISITOS EM RELAÇÃO AO ADOTADO..........................................................35
4 ADOÇÃO POR CASAIS DE MESMO GÊNERO NO SISTEMA JURÍDICO
BRASILEIRO..........................................................................................................................37
4.1 HOMOSSEXUALIDADE...............................................................................................37
4.2 UNIÃO HOMOAFETIVA...............................................................................................40
4.3 ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS..............................................................41
4.4 A HOMOSSEXUALIDADE COMO OBSTÁCULO....................................................44
4.5 ARGUMENTAÇÃO CONTRÁRIA E FAVORÁVEL..................................................45
4.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA...........................................47
4.7 A QUESTÃO PSICOLÓGICA......................................................................................48
4.8 POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL...............................................................49
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................52
REFERÊNCIAS......................................................................................................................55
9

1 INTRODUÇÃO

Diante disso podemos questionar: os casais homossexuais costumam


enfrentar mais dificuldades na adoção? Atualmente, de forma atuante, os direitos
das pessoas homoafetivas conquistaram espaço e respeito na sociedade,
possibilitando com isso a adoção de crianças por casais homossexuais, de forma
que irá dar uma nova oportunidade àquelas crianças que estão sem qualquer
perspectiva de serem inseridas em um novo núcleo familiar, onde essas irão ver a
real necessidade e importância do instituto família.
No Brasil, as adoções, tanto para casais heterossexuais quanto para casais
homossexuais, são deferidas nos tribunais com base em um mesmo artigo, que é o
artigo 226, § 3 da Constituição Federal, o que pode gerar certo conflito, já que o
referido artigo dispõe sobre a “união estável entre homem e mulher como entidade
familiar”, podendo ocasionar um indeferimento de um pedido de adoção por casal
homoafetivo.
A família é um dos temas mais relevantes para o direito e para a sociedade,
tendo em vista que a família não tem a função apenas de proteger o menor, mas de
dar a esse todo o direcionamento necessário e os princípios, para que possa trilhar
um caminho correto na sua vida.
Na sociedade atual, mulheres atuantes em todos os setores, seja no comércio
ou no comando de uma empresa, alcançaram seus direitos civis e políticos
reconhecidos, o que as coloca atualmente em igualdade com os homens. Mas não é
raro vermos mulheres nas mesmas funções que homens ganhando salários
inferiores. Os membros de uma mesma sociedade não podem tratá-las de forma
distinta porque são mulheres. A partir da formação do sujeito, sendo ele homem ou
mulher, é imprescindível a garantia de seus direitos.
Um dos princípios fundamentais do direito, a dignidade da pessoa humana,
deve ser colocada em prática por uma sociedade que tanto insiste em discriminar as
mulheres e os homossexuais, devendo, na verdade, ser garantindo a todos a
igualdade – assim como destaca os artigos 3º e 5º, caput, da Constituição Federal
de 1988.
10

Este trabalho de conclusão de curso está dividido em três capítulos, contento


todos os critérios exigidos. O primeiro capítulo traz o embasamento sobre o
conceito de família e sua evolução histórica, demonstrando as modalidades de
família existentes e suas novas espécies, enquanto o segundo discorrerá sobre o
direito de família seus conceitos e características, a definição e os requisitos do
instituto da adoção. O terceiro capítulo tratará sobre questões relativas à
homossexualidade e a união homoafetiva, a possibilidade jurídica da adoção por
casais homoafetivos e seus efeitos, assim como os posicionamentos favoráveis e
contrários, o princípio do melhor interesse da criança e a questão psicológica e o
posicionamento jurisprudencial nesse sentido.
O método para a elaboração deste trabalho, tem como base, pesquisas
bibliográficas. Desta forma, a revisão de literatura foi feita através do estudo teórico
em livros, revistas, artigos e páginas eletrônicas concernentes à temática.
11

2 CONCEITO DE FAMÍLIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A família é uma instituição social que existe desde os primórdios da humanidade


e que se transformou ao longo dos tempos. O conceito de família não é fixo ou
único, mas depende do contexto histórico, cultural e jurídico em que se insere. Este
índice, aborda as diferentes formas de organização familiar que surgiram ao longo
da história, bem como os princípios constitucionais que regem o direito de família no
Brasil. Entretanto, vamos analisar também, a importância da família para a
sociedade e para a realização da dignidade humana, bem como o papel do afeto
como elemento essencial para a constituição familiar.

2.1 DEFINIÇÃO DE FAMÍLIA

A definição de família não é fixa e sofre mudanças de acordo com as


evoluções religiosas, socioeconômicas e culturais. No entanto, existem várias
definições doutrinárias criadas em contextos históricos específicos. Maria Helena
Diniz (2007, p. 9), lista três significados fundamentais da palavra família, que são o
sentido amplo, o sentido extenso e a definição restrita, conforme descrito abaixo:

a) No sentido amplíssimo o termo abrange todos os indivíduos que


estiverem ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade,
chegando a incluir estranhos, como no caso do art. 1.412, § 2º, do Código
Civil, em que as necessidades da família do usuário compreendem também
as das pessoas de seu serviço doméstico. A Lei n. 8.112/90, Estatuto dos
Servidores Públicos Civil da União, no art. 241, considera como família do
funcionário, além do cônjuge e prole, quaisquer pessoas que vivam a suas
expensas e constem de seu assentamento individual.

b) Na acepção “lata”, além dos cônjuges ou companheiros, e de seus filhos,


abrange os parentes de linha reta ou colateral, bem como os afins (os
parentes de outro cônjuge ou companheiro), como a concebem os arts.
1.591 e s. do Código Civil, o Decreto-Lei n. 3.200/41 e a Lei n. 8.069/90, art.
25, parágrafo único, acrescentado pela Lei n. 12.010/2009.

c) Na significação restrita é a família (CF, art. 226, § 1º e 2º) o conjunto de


pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente
os cônjuges e a prole (CC, arts. 1.567 e 1;716), e entidade familiar a
comunidade formada pelos pais, que vivem em união estável, ou por
qualquer dos pais e descendentes, como prescreve o art. 226, § 3º e 4º, da
CF, independentemente de existir o vínculo conjugal, que a originou
12

Nesse sentido, o conceito de família abrange não apenas os laços


sanguíneos, mas também aqueles unidos por afinidade, incluindo os ascendentes e
descendentes, parentes consanguíneos e afins. (BARROS, 2007, p. 02), endossa
essa ideia e apresenta uma definição que varia de acordo com o contexto:

Enquanto o vocábulo filiação exprime a relação que existe entre o filho e as


pessoas que o geraram, em sentido inverso, isto é, do lado dos genitores
referentemente ao filho, essa relação chama-se paternidade ou
maternidade. Note-se, entretanto, que, em linguagem jurídica, às vezes, se
designa por paternidade, num sentido amplo, tanto a paternidade
propriamente dita como a maternidade. É assim, por exemplo, que deve ser
entendida a expressão “paternidade responsável” consagrada na
Constituição Federal de 1988, art. 226, § 7o.

De acordo com Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012, p.4),
não é possível apresentar um conceito único absoluto de Família, apto a delimitar a
complexa e multifária gama de relações socioafetivas que vinculam as pessoas,
tipificando modelos e estabelecendo categorias. No entanto, entende-se a que a
família é o núcleo existencial integrado por pessoas unidas por vínculo socioafetivo,
teologicamente vocacional a permitir a realização plena dos seus integrantes,
conforme o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

2.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO

A família representa uma instituição imprescindível na formação do indivíduo,


visto que ela é seu aparato biológico. Ou seja, a base de sua existência tanto no
mundo quanto na sociedade. Essa instituição vem passando por diversas mudanças
ao longo da história, em grande parte devido às transformações sociais que
continuam ocorrendo, resultando em novas formas de constituição familiar e
estabelecendo novos valores e concepções de vida.
Segundo Noronha e Parron (2017, p. 2),

A família era formada exclusivamente por laços consanguíneos e liderada


pelo pater, o qual detinha o controle sobre os direitos familiares. No entanto,
com o tempo, essa regra foi sendo amenizada e a instituição família evoluiu.
As constituições do passado tiveram um papel crucial na questão familiar,
mas limitavam-se a reconhecer o casamento como elemento formador e
legitimador da família, sendo este indissolúvel.
13

Assim, desde os primórdios da civilização, as pessoas se reuniram em torno


de algo ou alguém, construindo a família como um segmento social primitivo
reconhecido. A definição atual da família brasileira sofreu influências da família
romana, germânica e canônica.
Segundo o autor Paulo Lobo (2020, p.17), a Igreja Católica detinha grande
influência sobre a família na Idade Média, tendo em vista a forte presença da religião
na sociedade da época. Dessa forma, o casamento era visto como uma união
sagrada, cujo propósito era a procriação e a perpetuação da espécie humana. Além
disso, a família era vista como uma unidade econômica, em que todos os membros
deveriam contribuir para o sustento do lar.
Menezes (2021, p. 2) também afirma que, com o passar do tempo, a
concepção de família foi se modificando, acompanhando as transformações sociais
e culturais da época. A Revolução Industrial, por exemplo, contribuiu para a
mudança no papel das mulheres na sociedade, fazendo com que elas saíssem do
ambiente doméstico para trabalhar nas fábricas e contribuir financeiramente para o
sustento da família. Essas mudanças culminaram na evolução do conceito de
família, que hoje é visto como uma instituição em constante transformação,
adaptando-se às necessidades e demandas da sociedade contemporânea.
Conforme Romano (2017), durante o período do direito romano, a família era
estruturada sob o princípio da autoridade, onde a mulher era completamente
subordinada ao homem. Na esfera familiar, era responsabilidade do homem assumir
a posição de líder patriarcal, enquanto a mulher e os filhos eram obrigados a seguir
as regras estabelecidas. Contudo, com o rápido desenvolvimento das cidades,
ocorrido no final do século XIX, essas relações sofreram significativas mudanças,
quebrando o paradigma do modelo patriarcal e adotando uma nova concepção de
relacionamento familiar, com a equiparação da posição da mulher na sociedade. De
acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2010, p.31):

Com o imperador Constantino, a partir do século IV, instala-se no direito


romano a concepção cristã da família, na qual predominam as
preocupações de ordem moral. Aos poucos foi então a família romana
evoluindo no sentido de se restringir progressivamente a autoridade do
pater, dando-se maior autonomia à mulher e aos filhos, passando estes a
administrar os pecúlios castrenses.
14

No que diz respeito ao matrimônio, os romanos entendiam que o amor era


crucial não só no momento da celebração, mas também durante toda a sua
existência. A falta de afeto era suficiente para justificar o divórcio. Já os canonistas
se opunham à dissolução do vínculo matrimonial, argumentando que, por se tratar
de um sacramento divino, o homem não tinha o poder de dissolvê-lo em nenhuma
circunstância.
Carlos Roberto Gonçalves (2010, p.32) ainda afirma que:

Durante a Idade Média as relações da família regiam-se pelo direito


canônico, sendo o casamento religioso o único conhecido. Embora as
normas romanas continuassem a exercer bastante influência no tocante ao
pátrio poder e às relações patrimoniais entre os cônjuges, observava-se
também a crescente importância de diversas regras de origem germânica.

Até a Idade Média, a única forma de instituição familiar conhecida era a


religiosa, regulada pelas normas obrigatórias do direito canônico. O casamento era
considerado uma instituição criada por Deus e, por isso, gerava uma união
indissolúvel, que tinha como finalidade não só os deveres matrimoniais, mas
também a procriação.
Como bem mostra Paulo Lobo (2011, p.17):

Ao longo do século XX, a família sofreu profundas mudanças de


composição e concepção, pois o Estado, antes ausente, passou a se
interessar de forma clara pelas relações de família, em suas variáveis
manifestações sociais. Dessa forma foram se ampliando os interesses
protegidos, implicando assim em novas definições de modelos familiares, na
tentativa de acompanhar a evolução social. A família patriarcal, que a
legislação civil brasileira tomou como modelo, desde a Colônia, o Império e
durante boa parte do século XX, entrou em crise, culminando com sua
derrocada, no plano jurídico, pelos valores introduzidos na Constituição de
1988. O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século
passado, regulavam a família constituída unicamente pelo casamento, de
modelo patriarcal e hierarquizada, ao passo que o moderno enfoque pelo
qual é identificada tem indicado novos elementos que compõem as relações
familiares, destacando-se os vínculos afetivos que norteiam a sua formação.
Nessa linha, a família socioafetiva vem sendo priorizada nas doutrinas e
jurisprudências.

Segundo Heloisa Helena Barbosa (2020, p. 2):


15

é importante destacar que a Constituição da República de 1891 trouxe uma


inovação ao inserir o casamento em seu texto, embora tal previsão tivesse
apenas a finalidade de reconhecer a instituição do casamento. Essa
previsão foi reafirmada na emenda de 1926”.

Guilherme Calmon Nogueira da Gama (2012, p.04) assim explicita:

Foi a partir da constituição de 1934 que a família foi objeto de expressa


referência no texto constitucional, sob o título da família, da educação e da
cultura. No seu Artigo 144, da carta então vigente, foi claramente
consignado que a família era constituída pelo casamento indissolúvel, sendo
a orientação do Direito Canônico, e que gozava da proteção especial do
Estado. Importante observar que o texto atribui efeitos ao casamento
religioso desde que fossem adotadas certas formalidades com a posterior
inscrição no registro Civil.

Com a chegada da Constituição de 1967, o casamento ainda era tratado da


mesma forma, conforme o Artigo 167, que permaneceu inalterado pela Emenda
Constitucional 01, de 1969, Artigo 175. No entanto, em 1997, a Emenda
Constitucional 09 trouxe uma mudança significativa, permitindo a dissolução do
vínculo do casamento nos casos previstos em lei, desde que houvesse separação
judicial prévia por mais de três anos. Essa reforma constitucional foi regulamentada
pela Lei 6.515 de 26 de dezembro de 1977, quando o divórcio passou a ser adotado
como forma de dissolução do matrimônio no ordenamento jurídico nacional,
conforme explica Dilvanir José da Costa (2006, p.14)
As constituições anteriores tratavam a família sob ideologias conservadoras e
preconceituosas, com o dogma da indissolubilidade do casamento, ligado à
preservação da paz familiar, e considerado absoluto e indiscutível. Guilherme
Calmon Nogueira da Gama (2001, p.09) fez um comentário crítico sobre o modelo
constitucional de família, baseado na ideologia conservadora da indissolubilidade do
vínculo matrimonial, que era considerado como absoluto e inquestionável.

A família como instituição, era merecedora de tutela constitucional, ao passo


que seus integrantes, como pessoas, não gozavam de tal proteção, ainda
que a convivência fosse altamente prejudicial ao casal e, com maior
frequência à descendência resultante de tal vínculo formal.
16

Antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, as constituições


anteriores tratavam o casamento como a base da formação e legitimação da família,
em conformidade com uma perspectiva conservadora. No entanto, essa visão já não
era mais adequada, o que culminou com a promulgação da nova constituição.
Segundo Eduardo de Oliveira Leite (2005, p.17), a Constituição Federal de
1988 representou um marco na evolução do Direito de Família no Brasil. A partir
dela, a família deixou de ser vista apenas como um núcleo econômico e reprodutivo
para se tornar um espaço de companheirismo, amor e afeto.
A Constituição procurou organizar uma sociedade sem preconceitos e sem
discriminação fundada na igualdade de todos. Segundo Caio Mário da Silva Pereira
(2017, p.367):
Em todo tempo a ordem jurídica estabeleceu o dever de assistência à
família, nas pessoas que compõem esse agrupamento social. O instituto de
o pater poder (hoje, poder familiar) e da tutela sempre estiveram acolhidos
em nosso sistema jurídico.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu a proteção à família em seu


quarto parágrafo do Artigo 226, que prevê que a família, base da sociedade, recebe
especial proteção do Estado. Isso abrange não apenas a família formada pelo
casamento tradicional, mas também a união estável e a família monoparental. Essa
abordagem reconhece a importância da família como instituição fundamental para a
sociedade, independentemente do status matrimonial.
Pietro Perlingieri (2006, p.04) assim leciona:

A família passou a ser o valor constitucionalmente garantido nos limites de


sua conformação e de não contrariedade aos valores que caracterizam as
relações civis, especialmente a dignidade da pessoa humana ainda que
diversas possam ser as suas modalidades de organização, ela é finalizada à
educação e à promoção daqueles que a ela pertencem.

A Constituição de 1988 promoveu mudanças significativas nos conceitos de


família, atribuindo proteção não apenas ao casamento civil, mas também à união
estável e às famílias monoparentais, em virtude da dignidade de seus membros. O
casamento religioso passou a ter efeitos civis desde que cumpridas as formalidades
legais. Com essas alterações, o texto legal buscou adequar-se à nova realidade
17

social e funcionalizar as relações familiares. As entidades familiares deixaram de se


limitar exclusivamente ao casamento e passaram a abranger outras formas de
união. A nossa carta magna, reconheceu também a comunidade parental como uma
das modalidades de entidade familiar, consoante disposto no artigo 226 e
parágrafos:

Artigo 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 1º [...]
§ 2º [...]
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento.
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes.

É evidente que a inclusão de novas formas de instituições familiares na


constituição foi um avanço significativo no sistema jurídico, que está gradualmente
se adaptando e ajustando ao novo modelo de sociedade. Anteriormente, apenas o
casamento era considerado uma forma legítima de família, enquanto outras formas,
como o concubinato, eram consideradas ilegais.
Para Carlos Roberto Gonçalves (2022, p.615):

Embora a família continue a ser a base da sociedade e a desfrutar da


especial proteção do Estado, não mais se origina apenas do casamento,
uma vez que, duas novas entidades familiares passaram a ser
reconhecidas: a constituída pela união estável e a formada por qualquer dos
pais e seus descendentes.

O jurista ainda destaca (2022, p.13) que o Código Civil de 2002 apresentou
inovações importantes, rompendo com o modelo patriarcal vigente no Código de
1916 e adotando o poder familiar, que equiparou os direitos e deveres do homem e
da mulher, conferindo-lhes igualdade de comando. O código também promoveu
mudanças significativas em relação aos filhos, reconhecendo o direito à igualdade
de tratamento, independentemente da sua condição de ser legítimo, adotado ou
fruto de relacionamentos extraconjugais.
18

Atualmente, com a evolução das culturas, dogmas e valores, o conceito de


família se expandiu muito além do casamento tradicional. Visto que, uma família de
bom funcionamento provê um ambiente mais amoroso e mais estável para crianças.
A multiplicidade de formações familiares é grande e inclui famílias
reconstruídas, informais, monoparentais, famílias formadas por pessoas do mesmo
sexo, entre outras.
Fábio Ulhoa Coelho (2016, p.27) preleciona que:

Não se consegue identificar uma estrutura única de família. Centrada a


atenção apenas no ambiente urbano, podem-se divisar os mais variados
tipos: há os núcleos compostos pelo esposo, esposa e seus filhos
biológicos; o viúvo ou viúva e seus adotivos; esposo, esposa e os filhos
deles de casamento anteriores; esposo, esposa e filho biológico de um
deles havido fora do casamento; esposo, esposa e filho adotivo; casais não
casados, com ou sem filhos; pessoas do mesmo sexo, com ou sem filhos,
biológicos ou adotivos, de um deles ou cada um deles; a homossexual e o
filho da companheira falecida; avó e neto; irmãs solteiras que vivem juntas
etc.

No direito brasileiro atual, o conceito de "família" já não se restringe apenas à


definição religiosa católica. Onde, no passado, a família era constituída de modo
rígido, apenas entre o homem e mulher, fazendo do casamento a única maneira de
formar uma família. Mas, com o passar dos anos, a sociedade evoluiu e, juntamente
com ela, as maneiras de se constituir uma família, fazendo com que seu conceito e
sua configuração sofressem inúmeras alterações, assim as modalidades familiares
se expandiram, passando de família matrimonial até a família homoafetiva. De
acordo com a lei, é considerada uma entidade familiar a união formada através do
casamento civil entre um homem e uma mulher, da união estável entre homem e
mulher, ou entre pessoas do mesmo sexo, bem como a relação monoparental entre
um ascendente e qualquer um de seus descendentes.

2.3 AS MODALIDADES DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

De acordo com o doutrinador Fábio Ulhoa Coelho (2019, p. 123), as entidades


familiares são classificadas em duas espécies: as constitucionais e as não
19

constitucionais: As famílias constitucionais são as referidas no artigo 226 da CF as


fundadas no casamento, na união estável entre homem e mulher e as
monoparentais. A lei não as pode tratar diferentemente, sob pena de
inconstitucionalidade. Já as famílias não constitucionais são as demais, como, por
exemplo, a união livre e a parceria entre pessoas do mesmo sexo. A lei ordinária
pode conferir-lhes direitos diferentes dos atribuídos às famílias constitucionais, mas,
por força dos princípios superiores da igualdade e da dignidade, não as pode
marginalizar, prejudicar ou criminalizar. As diferenças entre essas categorias, assim,
dizem respeito exclusivamente aos requisitos de constitucionalidade das leis que as
disciplinam.
No que diz respeito às entidades familiares, a Constituição Federal faz
menção apenas às formadas através do casamento, uniões estáveis e famílias
monoparentais. Essas entidades, conhecidas como famílias constitucionais,
possuem garantias de igualdade de direitos, sendo considerado inconstitucional
qualquer lei ordinária que trate essas famílias de forma discriminatória.
Já as famílias formadas por união homoafetiva e aquelas definidas pela
doutrina, embora não sejam mencionadas explicitamente pelo legislador, são
reconhecidas e protegidas pelo ordenamento jurídico. Em consonância com o
princípio da dignidade da pessoa humana, essas famílias não podem ser tratadas de
forma discriminatória em relação às famílias constitucionais.

2.3.1 Casamento

De acordo com o artigo 1.511 do Código Civil, o casamento estabelece uma


comunhão plena de vida, baseada na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
Essa lei concede aos cônjuges a responsabilidade conjunta pela gestão da
sociedade conjugal, tendo em vista o respeito à dignidade e às necessidades de
cada um, incluindo os filhos, quando houver. Isso implica em uma união exclusiva,
baseada no amor e afeto mútuos entre o casal, na igualdade de direitos e deveres
dos cônjuges e na assistência mútua às diferenças. Todas as questões relacionadas
à administração da entidade familiar devem ser compartilhadas e decididas em
comum acordo. (BRASIL, 2002)
20

Segundo Silvio Rodrigues, “casamento é o contrato de direito de família que


tem por fim promover união entre homem e mulher, de conformidade com a lei, a fim
de regulamentarem suas relações cuidarem da prole comum e se prestarem mútua
assistência” (2002, p. 28).
Na definição de Roberto Senise Lisboa (2012, p.75):

É a entidade familiar construída por pessoas físicas de sexos diferentes, de


forma solene e, em princípio, indissolúvel. O casamento ainda é a forma de
constituição da família que confere historicamente maior estabilidade e
segurança às relações entre os seus membros, inclusive pelas
consequências decorrentes da sua celebração, impondo-se direitos e
deveres materiais e imateriais aos cônjuges e a eles perante a sua prole.

O casamento só pode ser realizado de acordo com as formalidades


estabelecidas por lei, e a indissolubilidade deve ser o desejo inicial dos envolvidos.
Além disso, implica em uma união exclusiva, uma vez que a fidelidade mútua deve
ser um dever imposto a ambos os cônjuges. A relação matrimonial representa uma
união permanente, impulsionada pelo amor e afeto existentes entre o casal, baseada
na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na assistência mútua.
Para Maria Helena Diniz (2010, p.23):

É a entidade familiar construída por pessoas físicas de sexos diferentes, de


forma solene e, em princípio, indissolúvel. O casamento ainda é a forma de
constituição da família que confere historicamente maior estabilidade e
segurança às relações entre os seus membros, inclusive pelas
consequências decorrentes da sua celebração, impondo-se direitos e
deveres materiais e imateriais aos cônjuges e a eles perante a sua prole.

Atualmente, o casamento não se restringe mais apenas a pessoas de sexos


diferentes. Com as mudanças culturais e sociológicas, foi necessário se adaptar a
um novo conceito de casamento, isto é, a celebração matrimonial entre pessoas do
mesmo sexo, que passou a ser reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em
maio de 2011. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132. Essas ações foram propostas pela
Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, respectivamente, com
o objetivo de reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade
familiar. O STF julgou as duas ações em conjunto por terem o mesmo objeto e a mesma
21

fundamentação jurídica. O resultado foi a declaração de inconstitucionalidade da interpretação


que exclui os casais homoafetivos do conceito de família previsto na Constituição Federal.

2.3.2 União Estável

Apesar da existência da União Estável, a Constituição Federal de 1988


estabelece, em seu artigo 226, § 3º, que “Para efeito da proteção do estado, é
reconhecida a união está entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” Dessa forma, a relação familiar
fora do casamento passou a ser chamada de união estável, ganhando uma nova
posição no sistema jurídico. (BRASIL, 1988)
O Código Civil de 2002, em seu artigo 1.723 caput, estabelece que: “É
reconhecida como entidade familiar a união estável entre homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e com o objetivo de
constituição de família”. (BRASIL, 2002)
De acordo com a lei, para que seja considerada uma união estável, a relação
não pode ser mantida em segredo, sendo necessário que o casal se apresente em
público, agindo como se fosse casado. Caso contrário, o fato não será reconhecido
e sua comprovação em juízo será dificultada. Além disso, a relação deve ser
contínua e duradoura, embora a lei não estabeleça um prazo específico para sua
configuração.
Nas lições de Paulo Luiz Netto Lobo (2009, p14):

A união estável é a entidade familiar constituída por homem e mulher que


convivem em posse do estado de casado, ou com aparência de casamento
(more uxório). É um estado de fato que se converteu em relação jurídica em
virtude de a Constituição e a lei atribuírem-lhe dignidade de entidade familiar
própria, com seus elencos de direitos e deveres. Ainda que o casamento
seja sua referência estrutural, é distinta deste; cada entidade é dotada de
estatuto jurídico próprio, sem hierarquia ou primazia.

Apesar da união estável ser considerada uma modalidade de entidade familiar


equiparada ao casamento, ela se diferencia em relação à sua constituição e
dissolução. Isso ocorre porque a união estável é uma forma de união de fato, que se
forma e se desfaz no plano dos fatos, não sendo necessário formalizá-la por um ato
22

solene ou dissolvê-la por meio de outro procedimento formal. Por outro lado, o
casamento é constituído e dissolvido por meio de atos solenes, com todas as
formalidades exigidas em lei.

2.3.3 Família Mononuclear ou Monoparental

A Família Mononuclear ou Monoparental é constituída por um dos pais e seus


descendentes. Ou seja, um pai ou uma mãe que vive sem cônjuge e com filhos
dependentes. Isto está previsto no artigo 226 da Constituição Federal de 1988, em
seu § 4º:

Artigo 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


(...)
§ 4º. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus adolescentes.

Portanto, é possível denominar de família monoparental aquela formada por


um dos pais que convive exclusivamente com o seu filho ou filha. Essa forma de
família é bastante comum na sociedade contemporânea, tendo em vista o alto índice
de dissolução conjugal, o que resulta em um grande número de mães que assumem
a guarda dos filhos e desempenham o papel de ambos os genitores.
Neste sentido, esclarece Magda Raquel Guimarães Ferreira dos Santos
(2011, p.15) que:
No direito de família chamamos de família monoparental aquela que a mãe
ou pai vive com seu filho ou filha sem manter relacionamento afetivo com o
outro. A Constituição de 1988 reconhece que a família é a base da
sociedade e enumera três tipos de famílias que merecem proteção jurídica e
do Estado. São as famílias advindas do casamento da união estável e das
relações de um dos pais com seus filhos, ou seja, a família.

Assim, a proteção integral da família é garantida pelo ordenamento jurídico


brasileiro. É possível afirmar que o direito nacional abrange a família de forma
ampla, concedendo-lhe o papel de proporcionar o bem-estar e permitir a busca da
felicidade de seus membros. Sendo assim, não há distinção entre a família
monoparental, a união estável ou a família formada pelo casamento.
23

2.4 AS NOVAS ESPÉCIES DE FAMÍLIA

Nos dias atuais, uma nova concepção de família que se constrói. As


mudanças profundas na estrutura familiar e nos ordenamentos jurídicos de todo o
mundo são decorrentes da evolução do conhecimento científico, dos movimentos
políticos e sociais do século XX e do fenômeno da globalização. Essas mudanças
têm raízes históricas atreladas à Revolução Industrial, que causou uma redivisão
sexual do trabalho, e à Revolução Francesa, que disseminou os ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade, conforme salientado por Sálvio de Figueiredo Teixeira
(2000, p.17).
O conceito de família sofreu mutações ao longo do tempo. No passado, a
família se baseava no casamento entre um homem e uma mulher, que tinham como
finalidade gerar e educar os filhos. A sociedade não reconhecia outras formas de
constituição familiar, e os filhos que nasciam fora do casamento eram discriminados
e chamados de “ilegítimos”, tendo limitações nos seus direitos sucessórios.
O Direito antigo além de severo e conservador, colocava estes sujeitos numa
situação marginalizada, se nascidos fora do casamento.

Segundo Menezes (2021, p. 12), a família passou por uma grande


transformação ao longo da história. A Revolução Industrial provocou uma mudança
nos papéis dos cônjuges na família, levando à emancipação da mulher e à
separação entre a Igreja e o Estado. A busca pela felicidade tornou-se o principal
objetivo, dando origem a novas formas de famílias. O legislador teve que
acompanhar a evolução social e foi com a Constituição de 1988 que se
reconheceram novos horizontes nas questões familiares.
De acordo com Lobo (2004, p. 56), hoje, não se utiliza mais a expressão
“filhos ilegítimos” e tanto os filhos gerados dentro quanto fora do casamento
possuem os mesmos direitos. Atualmente, a ideia de família composta por um pai,
uma mãe e seus filhos unidos pelo casamento se ampliou e deu origem a outros
modelos de famílias, como a família monoparental, em que a mãe ou o pai biológico
ou adotivo cria e educa sozinho seu filho.
24

De acordo com Silvana Maria Carbonera (2017, p.608), é importante destacar


que a família que surge a partir da união que atualmente é protegida pelo Estado e
considerada uma entidade familiar pelo artigo 226, § 3º da Constituição Federal de
1988 e pelo artigo 1.723 do Código Civil de 2002. Por que não aceitar a formação de
uma família por casais homossexuais, com ou sem filhos, desde que haja amor e
afeto? Essas novas formas de união merecem e devem ser reconhecidas como
família, pois cumprem a função dela no cotidiano.
Segundo Ana Clara Alves de Abreu (2022, p. 1), a convivência e o amor entre
pessoas do mesmo sexo não podem ser motivo para lhes negar os direitos
garantidos aos casais heterossexuais, pois elas também constituem uma forma de
família, amparada pela Constituição. A família tradicional, caracterizada por
formalismo, obediência e hierarquia, cedeu espaço a uma relação mais igualitária e
respeitosa entre seus integrantes. O que outrora era privilégio do homem hoje é
compartilhado por mulheres e filhos.
O autor ainda afirma, que ao se basear no amor e não na procriação para
formar uma família, os casais não precisam ser necessariamente formados por
pessoas de sexos diferentes. Recentemente, tem havido uma luta pelos direitos dos
homossexuais de se uniram formalmente, mostrando que a família pode ser formada
por um projeto de vida em comum. Os casais homossexuais estão criando mais um
modelo de entidade familiar, a família homoparental, por meio da adoção.
Conforme Menezes (2021, p. 1), devido às mudanças culturais e sociais, o
conceito de família tem evoluído no sistema legal brasileiro, surgindo novas
modalidades familiares. A ideia de família não é mais vista apenas como uma
entidade cujo objetivo primordial é a procriação, mas sim uma entidade que valoriza
o afeto, a solidariedade, a lealdade, a confiança, o respeito e o amor.
Atualmente, a família pode ser constituída tanto por laços de consanguinidade
quanto por laços de afeto e solidariedade mútua, conforme será demonstrado a
seguir.
25

2.4.1 Família Anaparental

Família anaparental é aquela que existe sem a presença dos pais, onde a
doutrina tem definido como uma família formada por pessoas que vivem em uma
estrutura organizacional e psicológica comum, sem a presença de um ascendente.
Por exemplo, dois irmãos que moram juntos ou duas amigas idosas que decidem
compartilhar suas vidas até a morte.

Segundo Maria Berenice Dias (2006, p.184), “Quando não existe uma
hierarquia entre gerações e a coexistência entre ambos não dispõe de interesse
sexual, o elo familiar que se caracteriza é de outra natureza, é a denominada família
anaparental”.
Embora o número dessa forma de entidade familiar tenha aumentado no
Brasil, ela ainda não recebeu a devida atenção e importância dos estudiosos do
Direito e do Estado. Seu reconhecimento jurídico é possível apenas por meio do
afeto, como elemento único e suficiente para a formação da família. Visto que suas
vivências estão embaladas no laço familiar.

2.4.2 Família pluriparental ou família mosaico

Conforme Maria Berenice Dias, a família pluriparental é uma forma de


entidade familiar “resultante da pluralidade de relações parentais, sendo também
denominada de família mosaico. Esta modalidade familiar surge com o desfazimento
de relações incitadas por separação, divórcio, dissolução de união estável ou até
mesmo viuvez” (2015, p.57).
Maria Berenice Dias (2008, p.38) destaca que:

A convivência familiar dos parentes colaterais recebe o nome de família


pluriparental. Não importa a igualdade ou diferença do grau de parentesco
entre eles. Assim, rios e sobrinhos que vivem em família constituem uma
família pluriparental. Igualmente, os irmãos e até os primos que mantêm
convivência familiar, são outros exemplos. Por não existir verticalidade dos
vínculos parentais em dois planos, é conhecida pelo nome de família
anaparental. Assim é possível identificar duas espécies de entidades
familiares parentais que se diferencial pelo elo de parentesco de seus
26

integrantes: monoparental é formada por um ascendente e seus


descendentes e pluriparental, entre parentes da linha colateral.

A família pluriparental é conceituada pelo projeto do Estatuto das Famílias


(BRASIL, 1990), em seu artigo 69, § 2º, como uma entidade familiar formada pela
convivência entre irmãos e pelas comunhões afetivas estáveis entre parentes
colaterais.
Observa-se que não há distinção entre a família pluriparental e a anaparental,
uma vez que o legislador reconheceu e definiu as relações familiares estabelecidas
entre irmãos e outras relações parentais baseadas no sentimento de afeto, o qual é
considerado fundamental para a existência dessa modalidade familiar.

2.4.3 Família Eudemonista

A Família Eudemonista, tem como doutrina, a felicidade plena, seja ela no


âmbito individual ou coletivo. Essas relações de afeto entre seus membros,
compartilha sentimento mútuo de amor e carinho, onde cada pessoa é valorizada
em sua singularidade, tendo o direito de buscar a felicidade em sua própria jornada,
independentemente de sua orientação sexual. Não há um modelo pré-definido para
essa construção; ela pode acontecer em relacionamentos heterossexuais ou
homossexuais, e até mesmo em uma relação sem conotação sexual
Segundo Maria Berenice Dias (2006, p.45):

A possibilidade de buscar formas de realização pessoal e gratificação


profissional é a maneira que as pessoas encontram de viver, convertendo-
se em seres socialmente úteis, pois ninguém mais deseja e ninguém mais
pode ficar confinado à mesa familiar.

Este segmento, trás mais um modo que engloba todos os tipos de arranjos
familiares atualmente existentes, valorizando a convivência de pessoas que
compartilham afeto e respeito mútuo, fundamentais para a manutenção da relação
familiar.
27

2.4.4 Família Paralela

Conforme explicado por Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus Maluf (2010,
p.25), a família paralela é aquela formada “a despeito do princípio da monogamia,
observado no ordenamento legal pátrio. O Código Civil denomina de concubinato as
relações não eventuais existentes entre homem e mulher impedidos de casar”. No
entanto, a doutrina distingue esse tipo de concubinato daquele em que existe
apenas uma família, chamando-o de família paralela. Nessa modalidade, um dos
integrantes participa como cônjuge em mais de uma família.
Segundo o artigo 14, § 2º, do projeto do Estatuto da Família (BRASIL, 1990),
as pessoas casadas ou em união estável que mantêm relacionamentos familiares
paralelos com outra pessoa têm os mesmos deveres das outras entidades
familiares. Isso significa que são obrigadas a contribuir, na proporção de suas
condições financeiras e econômicas, para a manutenção da família e, dependendo
da situação, podem ser responsabilizadas por danos materiais ou morais (Projeto de
Lei nº 3.369 de 2015).

2.4.5 Poliafetividade oficializada

Conforme Kelly Angelina de Carvalho (2020, p. 11), trata-se de um novo


modelo de entidade familiar que ganhou destaque na mídia após a divulgação do
registro de união afetiva entre três pessoas, sendo um homem e duas mulheres,
feito em um cartório de protesto e título em Tupã/SP. O trio vivia em união pública,
estável e com intenção de constituir família há três anos, e decidiu registrar em
cartório a união e os direitos e deveres de cada um. Essa decisão pode abrir
precedentes para outras pessoas que estejam vivenciando situações semelhantes, a
fim de solicitarem o registro de suas uniões.
Na visão da advogada e tabelião Claudia do Nascimento Domingues (2020,
p.10) o documento tem total validade, conforme se lê:

Não posso imaginar um tabelião criando um documento que não tenha


valor. Não faz sentido. Como valor de documento, é algo público, registrado,
indiscutível. Poderemos discutir quais são as eficácias legais das regras
28

contidas neste documento, isso sim. São duas coisas diferentes, e me


assusta alguém ligado ao direito diga simplesmente “isso vale ou não vale”.

De acordo com a opinião dessa especialista em direito, não há violação da


Constituição ao registrar uma união estável entre três pessoas, pois a Carta Magna
reconhece a pluralidade de famílias, sem especificar que a união deve ser formada
apenas por duas pessoas. Entretanto, existem outros juristas que discordam dessa
visão e a consideram em desacordo com a legislação brasileira.
29

3 DIREITO DE FAMÍLIA E O INSTITUTO DA ADOÇÃO

De acordo com Pereira (2000, p. 475), “A adoção é um ato jurídico pelo qual
uma pessoa recebe outra como filho, independentemente de existir entre elas
qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim”. Trata-se de um instituto que
visa estabelecer um vínculo de filiação baseado no afeto e no interesse do adotado,
garantindo-lhe todos os direitos e deveres decorrentes dessa relação. O direito de
família, por sua vez, é o ramo do direito civil que regula as relações jurídicas
decorrentes da convivência familiar, abrangendo temas como casamento, união
estável, filiação, alimentos, guarda, tutela e curatela. Neste capítulo, pretendemos
esclarecer os métodos do instituto da adoção no âmbito do direito de família
brasileiro, abordando seus aspectos conceituais, legais e procedimentais, bem como
seus efeitos jurídicos e sociais.

3.1 DIREITO DE FAMÍLIA: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

O Direito de Família é abordado no livro IV do Código Civil, que possui quatro


títulos que vão do Artigo 1.511 ao Artigo 1.783. De acordo com Sílvio Rodrigues
(2004, p. 5), esse ramo do direito abrange as regras aplicáveis às relações entre
pessoas que têm vínculos de casamento, união estável, parentesco, afinidade e
adoção.
Maria Helena Diniz (2010, p.1), por sua vez, define o Direito de Família como
um conjunto de normas complexas que regulam a celebração do casamento, sua
validade e seus efeitos, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal,
a dissolução deste, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os
institutos complementares da tutela e curatela.
Sílvio de Salvo Venosa (2011, p.1) apresenta sua definição de família da
seguinte maneira: “A família é um fenômeno baseado em fatores biológicos,
psicológicos e sociológicos, regulados pelo direito”. É importante notar que, no
passado, qualquer referência jurídica à família era baseada no casamento. Somente
mais recentemente é que os juristas passaram a considerar a família como uma
30

instituição que abrange uniões sem casamento e até mesmo famílias


monoparentais.
Além disso, ele acrescenta (2011, p.1):

O direito de família, um ramo peculiar do Direito Civil, é composto pelo


conjunto de normas que regulam as relações jurídicas familiares, guiando-
se por elevados interesses morais e pelo bem-estar social. Originalmente,
no Brasil, o direito de família era regulado exclusivamente pelo Código Civil.
No entanto, princípios constitucionais e inúmeras leis complementares
modificavam parcialmente vários dispositivos do Código Civil de 1916, além
de regular outros fenômenos e fatos jurídicos relacionados direta ou
indiretamente com a família. O Código Civil de 2002 busca fornecer uma
nova compreensão da família, adaptada ao novo século, embora ainda dê
passos tímidos nessa direção.

É imprescindível que o Estado exerça uma função de proteção e garantia dos


direitos fundamentais das famílias. Isto sem violar a sua esfera de autonomia e
privacidade. O direito de família, em virtude de sua natureza, é composto por um
conjunto de normas jurídicas de caráter imperativo, que regulam as relações
familiares e os interesses decorrentes delas. No entanto, isso não significa que o
direito de família seja um ramo do direito público, pois ele também abrange aspectos
de ordem patrimonial e contratual, que são próprios do direito privado.

3.1.1 Autonomia Privada nas Relações do Direito de Família

No que diz respeito à autonomia privada do Direito de Família, José


Sebastião de Oliveira (2002, p.170) destaca que a família não é definida pelo direito,
mas pelas pessoas que se relacionam e definem, através de suas escolhas diárias,
seus projetos de vida em comum. O papel do direito é apenas reconhecer essa
condição, ou seja, reconhecer a autonomia afetiva que cada indivíduo possui para
escolher como conviver com os outros.
O direito deve impedir apenas que, nessa escolha e convivência, ocorram
danos. Isso, no entanto, não é um objetivo exclusivo do direito de família, mas sim
de todo o convívio humano, para o qual existe a responsabilidade civil no âmbito do
direito privado. A família como fato cultural está acima do direito, no cerne do
sistema jurídico, uma vez que a antecede, sucede e transcende o jurídico.
31

Segundo Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (2001, p. 7):

Segundo Silvana Maria Carbonera, o sistema jurídico não tem o papel de


especificar condutas, impor comportamentos ou modelos, nem sancionar
eventuais desvios. Um modelo intervencionista de direito de família é
característico do modelo codificado de família, no qual havia uma postura
definidora do comportamento familiar pelo legislador.

Ao reconhecer a autonomia privada do indivíduo e a dignidade humana como


prioridade na proteção da personalidade e desenvolvimento, a adequada
regulamentação da formação da família se desvincula da tutela prioritária do grupo e
se conecta aos indivíduos e suas escolhas.
Então, não é mais adequado ter uma legislação altamente descritiva que
estabeleça modelos de família, deveres dos cônjuges e imponha regime de bens.
Essa abordagem demonstra falta de respeito pelo direito das pessoas, cuja
autonomia é promovida e reconhecida pelo próprio sistema jurídico.
Por outro lado, Guilherme Oliveira (2001, p.34) argumenta que são os
próprios sujeitos - casados ou não - que constroem o conteúdo de sua relação em
termos de convivência e patrimônio. Portanto, a lei deve ser ausente e essa
convivência deve ser assunto exclusivo do casal, que é seu próprio legislador.
Para Gustavo Tepedino (1999, p.16), é necessário reconstruir a regulação da
constituição da família para que ela esteja em conformidade com os princípios
constitucionais em vigor. A relação de direitos e deveres familiares, bem como a
estruturação de modelos e condutas na vida privada, prejudica as bases pessoais da
família e a disposição dos indivíduos para a solidariedade espontânea. Essa
solidariedade pode ser realizada de diversas formas, muito mais amplas e diversas
do que aquelas tipificadas pelo legislador.
Assim sendo, as normas jurídicas que se adequam a esse padrão, a esse
perfil tipificador, precisam ser removidas da legislação comum por meio do controle
de constitucionalidade. Após isso, é suficiente a orientação por meio dos princípios
constitucionais ou o simples reconhecimento dessa autonomia para a formação de
uma família no Código Civil, por meio de reforma legislativa apropriada, conforme
destacado por Silvana Maria Carbonera (1998, p.309).
32

3.2 PREVISÃO CONSTITUCIONAL

É inegável que existem relações que, mesmo sem a presença de diversidade


de gêneros, possuem requisitos necessários para serem consideradas como
entidades familiares, merecedoras de proteção jurídica. A Constituição Federal
estabelece todas essas relações devem ser protegidas, proibindo qualquer tipo de
discriminação ou preconceito por motivos de origem, raça, sexo ou idade. Além
disso, a Carta Magna garante o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, o bem-estar, a segurança, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça,
como valores imprescindíveis em uma sociedade fraterna, pluralista e livre de
preconceitos.
Segundo Paulo Luiz Netto Lobo, o artigo 226 da Constituição da República é
uma cláusula geral de inclusão, não sendo admissível excluir qualquer entidade que
preencha os requisitos de afetividade, estabilidade e ostensividade.
Os princípios de igualdade jurídica são fundamentais para o Estado de
Direito, permitindo estabelecer como postulado essencial. Segundo Roger Raupp
Rios (2001, p. 118), “não se pode simplesmente ignorar a condição pessoal do
indivíduo, que inclui, sem dúvida, a orientação sexual, como se não estivesse
relacionada à dignidade humana”.
A constitucionalização da família, tem como fundamento, garantir as
estruturas de convívio do indivíduo, independentemente de sua orientação sexual. O
princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 1º, inciso III, da
Constituição Federal de 1988, é um dos fundamentos do Estado Democrático de
Direito, e a igualdade de todos é proclamada no artigo 5º, caput, que estabelece que
“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. (BRASIL, 2002)
O artigo 3º da Constituição Federal atual e seus incisos têm como objetivo
proteger a dignidade humana, buscando uma sociedade livre, solidária e justa. Com
a intenção de erradicar a marginalização de todos os brasileiros, a Constituição
Federal estabelece em seu artigo 3º, inciso IV, a promoção do bem de todos,
buscando o bem-estar, sem preconceito de raça, origem, cor, idade, sexo e
quaisquer outras formas de discriminação.
Segundo Sálvio de Figueiredo Teixeira (2000, p. 186):
33

Baseando-se nesse princípio, é possível perceber que a convivência de um


casal homossexual não difere da união estável. Portanto, através de
interpretação analógica, as mesmas regras da união estável podem ser
aplicadas à relação homoafetiva, uma vez que se trata de um
relacionamento baseado no amor e no afeto, assim ocorre na união estável.

A história do direito de família no Brasil, assim como em quase todos os


ordenamentos jurídicos, está marcada por várias ocorrências de exclusão.
Ser cidadão, significa não ser excluído, portanto, é preciso considerar as
várias representações sociais da família, valorizando o sujeito de direito em seu
sentido mais profundo, sem preconceito.
Como destaca Sálvio de Figueiredo Teixeira (2000, p.187), essas
considerações das diferenças existentes entre as pessoas são fundamentais para a
democracia. Não é aceitável que milhares de pessoas sejam excluídas da
possibilidade de viver de acordo com sua opção sexual, já que sua orientação
sexual não é uma escolha nem um crime, e não cabe ao Estado decidir qual tipo de
relações afetivas as pessoas podem ter.
Portanto, as lacunas existentes devem ser preenchidas pelo Judiciário através
da analogia, dos princípios e costumes, e, sobretudo, dos direitos fundamentais, que
são os pilares de todo Estado Democrático de Direito. O princípio da dignidade
humana não é compatível com qualquer forma de discriminação, e se um indivíduo é
depreciado ou humilhado, sua dignidade não está sendo garantida.
Segundo Guilherme Calmon Nogueira Gama (2021, p. 97):

A dignidade da pessoa humana, colocada no ápice do ordenamento jurídico,


encontra na família o solo apropriado para o seu enraizamento e
desenvolvimento, daí a ordem constitucional, constante do texto brasileiro
de 1988, dirigida ao Estado no sentido de dar especial e efetiva proteção à
família, independentemente de sua espécie. Propõe-se, por intermédio da
repersonalização das entidades familiares, preservar e desenvolver o que é
mais relevante entre os familiares: o afeto, a solidariedade, a união, o
respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum, permitindo o pleno
desenvolvimento pessoal e social de casa participe, com base em ideais
pluralistas, solidaristas, democráticos e humanitários.

O artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 estabelece a igualdade


de direitos e deveres entre homens e mulheres, enquanto o artigo 3º, inciso IV,
34

preconiza a promoção do bem-estar geral, sem discriminação de gênero ou


orientação sexual. Portanto, não há justificativa para a discriminação de pessoas
com base em sua orientação sexual.
Segundo entendimento de Maria Berenice Dias (2004, p.61):

É imprescritível que a lei em si considere todos igualmente, ressalvadas as


desigualdades que devem ser sopesadas para prevalecer a igualdade
material em detrimento da obtusa igualdade formal [...] O princípio da
igualdade é um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito.
Igualdade na própria lei, ou seja, não basta que lei seja aplicada igualmente
para todos.

Assim, é necessário recorrer à analogia com a união estável para a inclusão


da união homoafetiva. No sistema jurídico brasileiro, a fim de adequar a redação do
artigo 226, §3º da Constituição Federal.
A adoção é o processo legal que permite o estabelecimento de um vínculo de
parentesco civil em linha reta entre duas pessoas que não possuem laços
sanguíneos ou de afinidade. Essa relação faz com que, para fins civis, os adotantes
ou adotados, sejam considerados pais e filhos biológicos, criando uma verdadeira
conexão familiar entre o adotado e a família adotante.
Conforme preleciona Maria Helena Diniz (2010, p.238):

Adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais,


alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco
consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para a sua
família, na condição de filho, pessoa que, geralmente lhe é estranha. Dá
origem, portanto, a uma relação jurídica de parentesco civil entre o adotante
e o adotado. É uma ficção legal que possibilita que se construa entre o
adotante e o adotado um laço de parentesco de primeiro grau em linha reta.

A adoção, abarca um caráter humanitário, suprimento a falta de filhos aqueles


que não tem a capacidade de gerá-los. Favorecendo todos na relação. Ao adotado,
o conforto, apoio moral, psicológico, material e financeiro que a vida não foi capaz
de lhe fornecer através de seus pais biológicos.
De acordo com Maria Berenice Dias (2015, p.267), desde a promulgação da
Constituição, os filhos adotivos têm os mesmos direitos e qualificações que os filhos
havidos na relação do casamento ou fora dela. A origem da filiação é a única e se
35

apaga com a adoção. A partir do momento em que a sentença judicial é proferida e


o registro de nascimento é feito, o adotado assume a condição de filho.
O sobrenome do adotado será o do adotante. Se houver o desejo do adotante
ou do adotado (se for uma criança ou adolescente), o nome pode ser alterado. Os
adotantes são registrados como pais no registro do nascimento, e seus ascendentes
são registrados como avós, baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e no Código Civil brasileiro.
Araújo e Reis (2017, p. 02) afirmam que o adotado adquire os mesmos
direitos e obrigações de qualquer filho, como nome, parentesco, alimentos e
sucessão. Por outro lado, o adotado também tem os deveres de respeito e
obediência. A adoção é, portanto, um vínculo de parentesco civil em linha reta,
estabelecendo entre o adotante ou adotantes e o adotado um liame legal de
paternidade e filiação civil.
Com o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), as instituições
de abrigo se tornaram locais onde as crianças deveriam ficar apenas
provisoriamente., mas isso não acontece.
As crianças abrigadas passam por sentimentos de desproteção e abandono.
A maioria das crianças deixadas nos abrigos vem de famílias carentes e muitas não
estão liberadas do poder familiar, ou seja, estão abandonadas de fato, sem a
presença dos pais, mas de direito não podem ser adotadas, devido a imensas
negligências.
Muitas crianças acabam sendo deixadas em abrigos sem esperança de voltar
para suas famílias de origem, por causa de problemas estruturais das famílias ou
pela falta de contato com seus parentes. A partir do momento que o poder familiar é
perdido, a maioria das crianças já passou dos dois anos, o que caracteriza a
chamada adoção tardia e torna mais difícil que elas sejam adotadas. Com o tempo,
as possibilidades de essas crianças serem adotadas reduzem, fazendo com que
muitas delas fiquem anos em instituições, às vezes até chegarem à maioridade. O
abrigo deveria ser uma medida temporária e excepcional, usada como forma de
transição para a colocação em família substituta e não como restrição de liberdade,
mas isso nem sempre se concretiza. Isso acontece pela dificuldade de achar
36

pessoas dispostas a adotar irmãos, que muitas vezes são a única família que eles
têm, conforme Maria de Fátima Ribeiro (2015, p.17).
Dessa forma, a autora afirma que as memórias da vida no abrigo se tornam
cada vez mais intensas e presentes na mente dessas crianças, com todas as
frustrações, sonhos e desejos não realizados durante anos de abandono. Esses
traumas do passado muitas vezes afetam a vida dos adotados e representam um
desafio tanto para eles quanto para seus adotantes. Todos esses problemas são
grandes barreiras para que os candidatos à adoção optem por uma criança mais
velha. A pessoa que escolher pela adoção tardia deverá ter muita paciência, ter um
bom coração, estar consciente da responsabilidade assumida e ter, acima de tudo, a
vontade de ajudar uma criança, e não apenas resolver um problema particular. O
que essas crianças precisam e querem é o direito de ter uma família, onde possam
encontrar amor e respeito.

3.3 REQUISITOS PARA O ADOTANTE

Artur Marques da Silva Filho (2019 p.940) destaca que o primeiro requisito
para o adotante é a capacidade plena para adotar. Não pode ser aceito o pedido de
adoção formulado por uma pessoa que não tenha essa capacidade. Pela adoção, o
adotante passa a exercer todos os direitos e faculdades inerentes ao poder familiar,
ou seja, o adotante detém, conforme o caso, poderes de representação e
assistência ao adotado. Busca-se proteger os direitos da criança que está sendo
adotada, não faz sentido que uma pessoa que não tenha plena capacidade para os
atos da vida civil possa adotar outra pessoa que ainda não tenha essa capacidade.
Outro requisito importante em relação ao adotante é a idade. É exigido que o
adotante tenha pelo menos dezesseis anos a mais do que o adotado. O
cumprimento desse requisito objetivo permite concluir logicamente que um adotante
de dezoito anos só poderá adotar crianças que não tenham alcançado os cinco anos
de idade. Trata-se de um requisito de ordem moral, pois a criança vê o adulto como
um exemplo a ser seguido e, se adotada por uma pessoa jovem demais, poderá não
ter o respeito que uma pessoa adulta deve impor, segundo Rogério Tadeu Romano
(2020, p.1).
37

Em relação ao estado civil do adotante, não há qualquer restrição. Homens,


mulheres, casados, viúvos, separados judicialmente, separados de fato, divorciados
ou concubinos podem adotar. A jurisprudência frequentemente reforça a
interpretação de que independentemente do estado civil, maiores de 18 anos podem
adotar a criança ou adolescente. Portanto, é irrelevante se o adotante é separado
judicialmente ou não.
Segundo Artur Marques da silva Filho (2019, p.941), a adoção por sua própria
natureza, sempre impôs certas restrições no momento do estabelecimento do
vínculo de adoção, por razões de ordem pública e social, para evitar fraudes ou
proteger o adotando, ou por outras razões. Admitir a inexistência de qualquer
proibição equivaleria a permitir a frustração do próprio objetivo da adoção, que,
atualmente, visa colocar um estranho na condição de filho.
Como afirma Kátia Regina Ferreira Lobo Maciel (2016, p.15):

São muitas poucas as restrições e quase todas dependem da avaliação do


Juiz em face do conjunto de informações prestadas pelos técnicos do
juizado. A guarda impõe ao guardião os deveres de assistência moral,
material e educacional, e assegurar à criança todos os direitos, inclusive os
direitos previdenciários.

A adoção consiste em uma alteração no vínculo familiar, pois o assento de


nascimento é substituído por outro, instituindo uma nova relação de parentesco que
outorga ao adotado os mesmos direitos dos filhos consanguíneos do adotante.
Ressalta-se que os procedimentos jurídicos objetivam preservar a ordem de
preferência, sendo que a data de aprovação da ficha ou habilitação dos
pretendentes à adoção será considerada para efeito de ordenação na lista ou
cadastro. Tal medida se faz necessária por razões de ordem pública e social, a fim
de prevenir fraudes ou resguardar o adotado.
Entretanto, conforme destaca Lais Angrewski (2019, p. 03) os candidatos a
adotantes, ao se inscreverem, já declaram suas preferências em relação ao futuro
adotado, tais como gênero, cor da pele, cor do cabelo, cor dos olhos, idade etc.
Nesse caso, por exemplo, quando a primeira criança disponível para adoção não
corresponde às características preferidas pelo primeiro candidato a adotante da lista,
evidentemente que a criança será encaminhada para o segundo candidato da lista, e
38

assim sucessivamente. Quanto mais requisitos os candidatos a adotantes


manifestarem em relação às crianças que pretendem adotar, maior será o lapso
temporal para que uma criança lhes seja encaminhada, e o inverso também é
verídico. Quanto menores os requisitos dos candidatos a adotantes em relação às
crianças maiores são as probabilidades de serem encaminhados para uma criança
brevemente.
A preocupação dos profissionais envolvidos no processo de adoção, como
técnicos, psicólogos, assistentes sociais, promotores e juízes, é garantir o bem-estar
e a segurança da criança que será adotada, de modo que ela não sofra com o
decorrer do processo de adoção.

3.4 RESTRIÇÕES

Existem processo, que impõe certas restrições no momento da formação do


vínculo de adoção, por razões de ordem pública, social e para evitar fraudes ou
proteger o adotando. Com a eliminação de todo vestígio de discriminação entre
filhos no ordenamento jurídico, certos impedimentos foram sensivelmente reduzidos,
conforme Menezes (2014, p. 01).
Atualmente, é impedida a adoção por ascendentes e irmãos do adotando.
Além disso, a adoção por procuração é vedada e há um impedimento relativo ou
temporário para o tutor ou curador, enquanto não der conta de sua administração e
alcance. Segundo o ECA, “não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
adotando” (BRASIL, 1990).
Por meio da manifestação de vontade própria, Montezini et al., (2019, p. 1) diz
que se busca fazer da adoção um instrumento sério de viabilização de um vínculo
parental, assegurando proteção integral à criança e ao adolescente. A inovação é
importante, pois aumenta a segurança judicial de que a medida pode atender aos
superiores interesses do adotando, permitindo ainda ao julgador uma melhor
visualização da família substituta.
Por Ana Paula De Oliveira (2013, p. 2), a adoção sempre impôs certas
restrições por razões de ordem pública e social, e para evitar fraudes ou proteger o
39

adotando. A eliminação da discriminação entre filhos no ordenamento jurídico


diminuiu sensivelmente o capítulo referente a certos impedimentos.
Dias (2018, p. 1) afirma que em consequência, passou a ser proibida a
adoção por ascendentes e irmãos do adotando. Para buscar uma maior proximidade
entre os sujeitos da relação adotiva, foi vedada a adoção por procuração, mantendo
ainda um impedimento relativo ou temporário relacionado ao tutor ou curador,
enquanto não der conta de sua administração e alcance.
Montezini et al., (2019, p. 1), alega que com a manifestação da vontade
própria, pretende-se fazer da adoção um instrumento sério de viabilização de um
vínculo parental, assegurando proteção integral à criança e ao adolescente. A
inovação é importante, na medida em que aumenta a segurança judicial de que a
medida pode atender aos superiores interesses do adotando, permitindo ainda ao
julgador uma melhor visualização da família substituta.
Carlos Roberto Gonçalves (2018, p.463) afirma que, tratando-se da adoção
dos próprios filhos, o fundamento dessa proibição encontra respaldo no princípio da
igualdade entre os filhos. Não tem sentido querer adotar quem já é filho pela
natureza. Por outro lado, a adoção é um instrumento de integração familiar como
meio de defesa e proteção integral do adotado. Esse benefício é inexistente em caso
de adoção de outros ascendentes, que não se circunscreve apenas aos pais, mas
pela generalidade da expressão, estende-se aos avós, bisavós e trisavós. Em época
remota, admitia-se a adoção por avós, que era a posição majoritária da doutrina e da
jurisprudência, na esteira da inexistência de um impedimento legal e na ideia de que
a adoção atenderia às necessidades dos menores, de acordo com Clarissa Haidar
(2013, p.1).

3.5 REQUISITOS EM RELAÇÃO AO ADOTADO

Em relação à capacidade, o mesmo critério para expor o componente pessoal


referido ao adotante será observado em relação ao adotado. Esta expressão é
empregada no sentido de potencialidade para que o sujeito de direito possa ser
adotado, conforme Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2016 p.1013).
40

Quanto ao critério de idade, não há um limite mínimo de idade para poder ser
adotado, mas a idade máxima é de dezoito anos à data do pedido, ressalvada a
hipótese do adotando estar sob guarda ou tutela dos adotantes. O Estatuto, ao não
fixar idade mínima, acompanhou a tendência atual, e aos maiores de dezoito anos,
reserva-se a adoção civil, submetendo-se a outro regime jurídico. Outros requisitos
que também se aplicam ao adotado referem-se à questão de diferença de idade,
mas não são requisitos específicos para o adotado, pois já são observados em
relação ao adotante. Rogério Tadeu Romano (2020, p.1).
Além da idade, outro requisito que se refere ao adotado é o consentimento. O
Estatuto prevê que o adotando deve manifestar sua concordância com a adoção, se
for maior de doze anos de idade. Essa exigência visa respeitar a vontade e a
participação do adotado no processo de adoção, bem como evitar situações de
constrangimento ou rejeição. Entretanto, o consentimento do adotando deve ser livre
e esclarecido, podendo ser revogado até a prolação da sentença.
O Estatuto também prevê casos em que o consentimento do adotando é
dispensado, como quando ele for absolutamente incapaz ou quando sua situação for
de risco ou abandono.
Outro requisito que diz respeito ao adotado é a preparação psicossocial. O
Estatuto determina que o adotando seja preparado gradativamente para a adoção,
por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude. Essa
preparação visa facilitar a adaptação do adotado à nova família, bem como prevenir
ou minimizar possíveis conflitos ou dificuldades. A preparação psicossocial deve
levar em conta as características e as necessidades de cada adotando, bem como o
seu estágio de desenvolvimento e maturidade. A preparação psicossocial também
deve envolver os pais biológicos do adotando, quando possível, para que eles
compreendam e aceitem a adoção como medida de proteção ao seu filho (SOARES,
2021, p. 414-434).
Por fim, um requisito essencial para que o adotando possa ser adotado é a
destituição do poder familiar dos pais biológicos. O Estatuto Da Criança e do
Adolescente (BRASIL, 1990) dispõe que a adoção depende do consentimento dos
pais ou do representante legal do adotando, salvo se eles forem destituídos do
poder familiar. A destituição do poder familiar é uma medida judicial que extingue os
41

direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, em casos de abuso, violência,
abandono ou descumprimento dos deveres inerentes à paternidade ou à
maternidade. A destituição do poder familiar visa proteger o interesse superior do
adotando, que não pode ficar sujeito a situações de risco ou vulnerabilidade. A
destituição do poder familiar deve ser precedida de contraditório e ampla defesa, e
somente pode ser decretada por sentença judicial.
42

4 ADOÇÃO POR CASAIS DE MESMO GÊNERO NO SISTEMA JURÍDICO


BRASILEIRO

No Brasil, a adoção é regulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente


(ECA) e pelo Código Civil, que estabelecem os requisitos e as condições para a sua
realização. Um dos requisitos é que os adotantes sejam maiores de 18 anos e
tenham pelo menos 16 anos de diferença em relação ao adotado. Outra condição é
que os adotantes sejam pessoas idôneas, com condições de oferecer um ambiente
familiar adequado ao desenvolvimento do adotado.
Nesse contexto, surge a questão da possibilidade da adoção por casais de
mesmo gênero, ou seja, por pessoas que mantêm uma união estável ou um
casamento civil com alguém do mesmo sexo. Essa questão envolve aspectos
jurídicos, sociais, psicológicos e éticos, que serão abordados neste capítulo. O
objetivo é analisar o tratamento dado pela legislação e pela jurisprudência brasileira
à adoção por casais de mesmo gênero, bem como os principais argumentos
favoráveis e contrários a essa modalidade de adoção. Além disso, pretende-se
apresentar alguns dados sobre a realidade da adoção por casais de mesmo gênero
no Brasil e as principais dificuldades e desafios enfrentados por essas famílias.

4.1 HOMOSSEXUALIDADE

Conforme Eduardo Espínola (2001, p. 27), etimologicamente, a expressão


utilizada para descrever casais do mesmo gênero é composta pelas palavras homo
e sexus. A palavra "homo" em grego significa "semelhante", e "sexus" em latim
significa "sexualidade", portanto, a expressão "casais homossexuais" é entendida
como "casais com sexualidade semelhante", ou seja, casais que praticam a
sexualidade com pessoas do mesmo sexo.
No entanto, a verdade é que a ciência possui poucos recursos para fornecer
explicações cientificamente fundamentadas. Assim, a homossexualidade continua
sendo um enigma para os estudiosos. A prática da homossexualidade fazia parte da
rotina de muitos povos primitivos, bem como das antigas civilizações, uma vez que
43

era conhecida e praticada pelos romanos, egípcios, gregos e assírios, conforme


apontado por Fernanda de Almeida Brito (2012, p.1).
Tanto a psicologia quanto a psicanálise concordam que a homossexualidade
não é um distúrbio mental. Em vez disso, acreditam que é mais influenciada pelas
realidades políticas e sociais do que por fatores psicológicos. Sigmund Freud (1951,
p. 216) considerava a homossexualidade um acaso, não uma escolha planejada, e
não a via como uma perversão ou enfermidade.
Assim, a homossexualidade sempre esteve presente na sociedade, embora
de forma discreta e oculta, sob uma tolerância silenciosa. No entanto, o preconceito
está diminuindo e os movimentos LGBT ganham cada vez mais espaço no mundo.
Como afirmou Maria Berenice Dias (2007, p.5-22): "A homossexualidade é
tão antiga quanto a heterossexualidade. Ela acompanha a história e, se nunca foi
aceita, sempre foi tolerada, porque sempre existiu em todos os lugares, desde os
primórdios da história humana" (2007, p.5-22).
A homossexualidade não é um fenômeno recente na história. Em algumas
civilizações antigas, como a Grécia e a Roma, as relações entre pessoas do mesmo
sexo eram vistas como algo natural e até mesmo valorizado, especialmente entre
homens. Há registros de poemas, obras literárias e mitos que retratam o amor e o
erotismo homoafetivo entre cidadãos comuns, líderes militares e imperadores
(HISTORY CHANNEL BRASIL, 2019).
No entanto, essas relações não eram livres de regras e convenções sociais.
Na Roma Antiga, por exemplo, a homossexualidade era aceita desde que não
afetasse a masculinidade e o status do cidadão romano, que deveria assumir o
papel ativo ou penetrador na relação sexual. Os parceiros passivos ou penetrados
eram geralmente escravos, ex-escravos, prostitutos ou artistas, considerados
infames e sem direitos civis. Além disso, a homossexualidade sofreu variações ao
longo do tempo, conforme as mudanças políticas e culturais de cada período
histórico. Na República Romana inicial, por exemplo, a pederastia (relação entre um
homem adulto e um jovem) era proibida e punida com a morte; na República média
e final, ela voltou a ser tolerada; e no Império Romano, ela tinha restrições baseadas
no status social dos envolvidos, conforme o Guia do Estudante, (2008, p, 02). Com a
ascensão do cristianismo como religião oficial do Império Romano no século IV d.C.,
44

a homossexualidade passou a ser condenada como um pecado e uma aberração


moral. A partir daí, iniciou-se um longo período de repressão e perseguição aos
homossexuais na história ocidental, segundo Aventuras na História (2017, p. 12-15).
No século XXI, porém, a homossexualidade passou a ser reconhecida como
uma orientação sexual legítima e natural por diversos países e organizações
internacionais (HISTÓRIA DO MUNDO, 2019, p. 3). No entanto, ainda há muita
discriminação e violência contra essa população em vários contextos sociais,
especialmente nos países subdesenvolvidos ou com forte influência religiosa
conservadora. O Brasil é um exemplo de país que apresenta contradições e desafios
nesse aspecto, pois apesar de ter uma legislação avançada em relação à
homossexualidade, ainda registra altos índices de homofobia e intolerância (FUNDO
BRASIL, 2021, p. 3).
Na atualidade, a homossexualidade deixou de ser marginalizada e encontrou
maior tolerância e compreensão por parte da sociedade. A resistência agora é
encontrada apenas em pequenos grupos isolados, como pessoas mais idosas,
conservadoras e radicais. Em geral, a sociedade acolhe os indivíduos homossexuais
e aprendeu a respeitá-los, independentemente de concordar ou não com sua
orientação. Eles são pessoas normais e merecem consideração.
O novo Código Civil perdeu a oportunidade de regulamentar as uniões entre
pessoas do mesmo sexo, o que gerou muitas críticas. Aqueles que concordam com
essa posição defendem que o assunto está relacionado ao Direito Constitucional. No
entanto, é importante buscar a justiça e respeitar os princípios constitucionais.
O sistema jurídico brasileiro tende a se adaptar aos padrões de uma
sociedade verdadeiramente plural e solidária, e isso já foi confirmado com a histórica
decisão do Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
4.277, como podemos ler:
EMENTA: 1. [,,,] 2. PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM
RAZÃO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER
(GÊNERO), SEJA NO PLANO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL
DELES. A PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO
CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO
COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA
DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA
AUTONOMIA DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA.
CLÁUSULA PÉTREA. O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional
45

expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como fator de


desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º
da Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objetivo
constitucional de “promover o bem de todos [...]. 3. [...] Família em seu
coloquial ou proverbial significado de núcleo doméstico, pouco importando
se formal ou informalmente constituída, ou se integrada por casais
heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A Constituição de 1988, ao
utilizar-se da expressão “família”, não limita sua formação a casais
heteroafetivos nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia
religiosa. [...] Isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos que
somente ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito
subjetivo à formação de uma autonomizada família. [...] 6. [...]. Ante a
possibilidade de interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório
do art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se
necessária a utilização da técnica de “interpretação conforme à
Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa qualquer significado
que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre
pessoas do mesmo sexo como família. Reconhecimento que é de ser feito
segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união
estável heteroafetiva.

A família atualmente se fundamenta em vínculos afetivos, nos quais o desejo


do grupo está centrado na comunhão devida, com um forte sentimento de
solidariedade mútua. Os princípios da dignidade da pessoa humana são os pilares
que orientam, nos quais os interesses individuais têm primazia sobre os interesses
patrimoniais, de liberdade e de igualdade de direitos irrestritos.
Portanto, o conceito atual de família reside justamente nesse ambiente
propício para o desenvolvimento da personalidade humana, no qual se pode integrar
sentimentos, esperanças e valores.

4.2 UNIÃO HOMOAFETIVA

Compreende-se por vínculos homoafetivos, de acordo com a definição de


Roberto Senise Lisboa (2006, p.83-94), "as relações íntimas entre pessoas do
mesmo sexo que possuem afeto semelhante, mesmo que tenham orientações
sexuais diferentes".
O termo "afeto homoafetivo" foi cunhado pela desembargadora Maria
Berenice Dias (2011, p. 5-22), no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, como
substituto do termo "união homossexual". Essa escolha foi muito acertada, uma vez
que valoriza o sentimento que permeia essas relações: o afeto. É o afeto, acima de
tudo, que compõe e estrutura uma família, sendo um elemento essencial.
46

Portanto, não se deve excluir das concepções de família os vínculos


homoafetivos, uma vez que eles são essencialmente baseados no afeto. Maria
Berenice Dias (2015, p. 258) expressa sua posição da seguinte maneira:

As relações homossexuais constituem uma unidade familiar que em nada se


diferencia da união estável, razão pela qual podem e devem ser aplicadas,
por analogia, as leis reguladoras do relacionamento entre um homem e uma
mulher. [...] Se o convívio homoafetivo gera família e se esta não pode ter a
forma de casamento, necessariamente há de ser união estável. Não há
outra opção. Trata-se de uma alternativa entre duas opções. Daí é forçoso
reconhecer que a união estável é um gênero que admite duas espécies: a
heteroafetiva e a homoafetiva. O legislador constituinte, ao considerar a
família como um fato natural, só a concebeu como estrutura em torno da
diferença entre sexos, acabando a Carta Magna por reconhecer unicamente
a união heterossexual.

Maria Celina Bom de Moraes (2010, p. 20) compartilha do entendimento de


que:
As relações homossexuais, com o objetivo de consolidar vínculos afetivos-
solidários, se encontram implicitamente tuteladas pela Carta Constitucional.
A autora é categórica ao sustentar a obrigatoriedade em se admitir outras
formas de entidades familiares, além das previstas expressamente na Lei
Maior, por ser vedado qualquer tipo de discriminação em função da
orientação sexual do indivíduo, bem como por ter sido constitucionalmente
consagrado o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana.

A consolidação da família monoparental veio fortalecer a argumentação de


que os indivíduos homossexuais têm direito à adoção, uma vez que a Constituição é
regida pelo princípio fundamental da proibição de qualquer forma de discriminação.
Portanto, o que não é proibido torna-se permitido. Consequentemente, os
homossexuais têm direitos garantidos.
Nos dias de hoje, uma nova postura começa a surgir. As ações em
andamento nos tribunais de família estão começando a reconhecer as uniões
homoafetivas como entidades familiares. “Assim, nem que seja por analogia, já se
aplica a legislação da união estável, assegurando-se partilha de bens, os direitos
sucessórios e o direito real de habitação” conforme Maria Berenice Dias (2017,
p.237).
47

4.3 ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS

Além dos desafios reconhecidos em termos doutrinários e culturais, a


homossexualidade ainda se depara com a falta de legislação específica, já que
existem poucas normas que protegem e impõem restrições às relações
homoafetivas.
José Luiz Mônaco da Silva (2001, p. 214) compartilha dessa perspectiva,
afirmando:
[...] o homossexual tem o direito de adotar um menor, salvo se não
preencher os requisitos estabelecidos em lei. Aliás, se um homossexual não
pudesse adotar uma criança ou um adolescente, o princípio da igualdade
perante a lei estaria abertamente violado. [...]

O que importa, no substancial, é a idoneidade moral do candidato e a sua


capacitação para assumir os encargos decorrentes de uma paternidade ou
maternidade adotiva.
A Constituição Federal de 1988 defende com habilidade e exatidão o
princípio de igualdade e reprova qualquer forma de preconceito, entretanto ao longo
de suas páginas simplesmente negligenciou as relações que não envolvessem
homem e mulher, o que levanta dúvidas. Essa omissão constitucional acerca das
relações homoafetivas gerou um vácuo jurídico que dificultou o reconhecimento dos
direitos e deveres dos casais de mesmo gênero. Por muito tempo, esses casais
tiveram que recorrer ao Poder Judiciário para pleitear questões como a união
estável, a adoção, a herança, a pensão e outros benefícios que eram garantidos aos
casais heterossexuais. Somente em 2011, na ADI 4277 e ADPF 132 o Supremo
Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, equiparar as uniões homoafetivas
às uniões estáveis entre homem e mulher, conferindo-lhes os mesmos direitos e
obrigações previstos na Constituição e no Código Civil. Essa decisão histórica
representou um avanço na luta pela igualdade e pela dignidade das pessoas que
vivem em relações homoafetivas no Brasil.
Que a sociedade em suas diversas esferas como: religiões, campos
profissionais, sociais, não encara com aprovação e um mínimo de aceitação a
homossexualidade, isso é fato, mas que a legislação se abstém de regulamentar e
48

assim oferecer o apoio jurídico, já se torna ofensivo e opressivo, necessitando de


correção o mais brevemente possível.
É crucial considerar que os homossexuais, são uma realidade dentro de
nossa sociedade, portanto a possibilidade de adoção por um casal dessa natureza
não pode ser ignorada, nem considerada como um fato totalmente fora de nossa
realidade. Muito se questiona se a criança que passasse por tal situação não
sofreria por falta de referências paternas, no caso das lésbicas, ou maternas, no
caso de um casal de homens.
Além disso, de acordo com Paulo Luiz Netto Lobo (2009, p. 2), a sociedade,
apesar de se autodenominar moderna e flexível, adota uma posição muito
conservadora quando se trata de certos assuntos, como o que está em evidência,
por exemplo. No Brasil, como o legislador se omitiu ao deixar as relações
homoafetivas à margem de uma lei específica, a adoção por casais homossexuais
não recebeu nenhuma previsão legal, nem autorização, nem proibição. Portanto, se
não é expressamente permitida, também não é proibida.
É importante ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente, em suas
disposições legais, aborda a adoção e em momento algum questiona ou impõe
qualquer tipo de impedimento aos candidatos à adoção que possuam orientação
sexual diferente da considerada "normal" pela sociedade, o que torna justa a adoção
por homossexuais. Desde que esses se enquadrem nos demais requisitos
mencionados no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Importante considerar, de acordo com Rodrigo da Cunha Pereira (2000, p.
14), às condições socioeconômicas, o ambiente saudável e as perfeitas condições
psicológicas dos adotantes, além, é claro, de como o adotando convive e reage
dentro desse contexto, pois é dele o interesse a ser protegido, sendo ele também o
principal afetado pelas consequências dessa escolha.
Vale ressaltar que a Constituição máxima apresenta princípios relacionados a
aspectos que jamais podem ser desrespeitados, como, por exemplo, o princípio da
equidade, que é um dos alicerces da legislação e da sociedade. Não se pode excluir
o direito individual de guarda, tutela e adoção com base na preferência sexual, pois
isso configuraria discriminação contra o indivíduo em relação à sua orientação
sexual.
49

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, atribui ao Estado o dever


de garantir à criança, entre outros direitos, o direito à dignidade, ao respeito e à
liberdade, direitos que seriam completamente negligenciados se as crianças fossem
abandonadas nas ruas à própria sorte ou deixadas em qualquer instituição. Talvez
uma das maiores preocupações em relação à adoção por casais homossexuais seja
o desenvolvimento e a forma como a criança cresce, enfrentando a falta de uma
figura paterna ou materna, de acordo com Gustavo Tepedino (2005, p. 13-24).
Assim, é compreensível a opinião de que não é ideal que uma criança conviva
e cresça em um ambiente onde dois homens ou duas mulheres tenham uma relação
semelhante ao casamento. Porém, é fato que seria muito pior para essa criança
viver à margem da sociedade, sem um lar, sem acesso à educação, principalmente
em um país como o Brasil, onde milhares de crianças passam por privações.

4.4 A HOMOSSEXUALIDADE COMO OBSTÁCULO

Ao refletir sobre o tema sob o prisma constitucional, compreende-se que não


se pode excluir o direito de adoção com base na orientação sexual do adotante, sob
o risco de violar alguns princípios fundamentais estabelecidos na Constituição
Federal. A sexualidade é um elemento intrínseco à natureza humana, que
acompanha o indivíduo desde o seu nascimento.
Conforme a compreensão de Roger Raupp Rios (2007, p. 27):

[...] na construção da individualidade de uma pessoa, a sexualidade


consubstancia uma dimensão fundamental da constituição da sua
subjetividade, alicerce indispensável para a possibilidade do livre
desenvolvimento da personalidade. Fica claro, portanto, que as questões
relativas à orientação sexual se relaciona de modo íntimo com a proteção
da dignidade da pessoa humana. A dignidade da pessoa humana, como
princípio fundamental, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição
Federal, traduz, em parte, a pretensão do legislador constituinte de
transformá-lo em um parâmetro objetivo de harmonização dos diversos
dispositivos constitucionais e de utilizá-lo como instrumento de aplicação,
interpretação de todo ordenamento jurídico.

Ainda considerando que a dignidade é uma característica intrínseca de cada


ser humano, que merece respeito e proteção por parte do Estado, impedindo que
50

seus direitos e garantias individuais sejam violados, não é possível permitir


tratamentos diferenciados entre heterossexuais e homossexuais. A liberdade de
expressão sexual é um direito subjetivo, uma faceta do direito à personalidade, que
tem como objeto o próprio indivíduo.
Conforme a abordagem de Eduardo de Oliveira Leite (2005, p. 21), a noção
jurídica de liberdade sexual está relacionada à ideia de livre disposição do próprio
corpo, em consonância com uma visão individualista do ser humano, expressa no
senso comum de que cada um pode fazer o que quiser com seu corpo. Essa
liberdade será limitada somente quando seu exercício contrariar a ordem jurídica ou
os direitos de outra pessoa.
Kéren Morais (2021, p. 02), entrevistou a assistente social Gabriela Elias, ela
afirma que o conservadorismo é um dos impedimentos para adoção. “Temos um
poder judiciário e um sistema de justiça brasileiro em geral muito conservador até
hoje, então sempre que é pensado no melhor interesse da criança, infelizmente nos
deparamos com profissionais que deixam de lado a sua ética profissional e passam
a atuar por meio dos seus valores pessoais”.
Ainda na entrevista, Gabriela expôs que o processo de adoção no Brasil
envolve burocracia por vários fatores. Em sua experiência profissional no CRAS
(Centro de Referência de Assistência Social), no CREAS (Centro de Referência
Especializado de Assistência Social) e também no Serviço de Acolhimento
Institucional para Crianças e Adolescentes encaminhadas para adoção, ela verificou
que o que é considerado são as condições emocionais e financeiras no processo de
adoção, contudo, há uma relação na qual os candidatos podem estabelecer quais
são as suas preferências físicas e psíquicas em relação à criança ou ao adolescente
que almeja adotar. Seleção essa que Gabriela reputa muito cruel, pois as crianças
rejeitadas geralmente são crianças de grupos vulneráveis, como as crianças negras
e deficientes.
De acordo com a Ana Paula Silva (2021, p. 01), que conta a história do
Fernando e seu companheiro Sérgio, que conseguiram a adoção do filho Yuri de 14
anos, o casal passou por algumas dificuldades para conseguir finalmente a adoção,
“nós sofremos preconceito, discriminação pela questão da nossa sexualidade.
Houve até maldade, mentiras para nos prejudicar para que a gente não conseguisse
51

adotar o Yuri", disse Fernando. Mesmo com todas as dificuldades e atrasos, o


processo que correu no estado de Santa Catarina, teve um final feliz.
Portanto, como defendido por Maria Berenice Dias (2007, p. 12), a
Constituição não permite qualquer prejuízo a alguém com base em sua orientação
sexual, uma vez que, em um Estado Democrático de Direito, a valorização da
pessoa humana é um elemento essencial e fundamental, não havendo espaço para
discriminação ou preconceito de qualquer natureza.

4.5 ARGUMENTAÇÃO CONTRÁRIA E FAVORÁVEL

Existem muitas crianças que aguardam com expectativa, em lares adotivos e


abrigos, por uma família que possa oferecer a elas um novo lar, repleto de afeto,
cuidado e atenção. E, por outro lado, é cada vez mais comum casais do mesmo
sexo, dispostos a amar incondicionalmente, buscando o direito de adotar uma
criança, afirma JESUS et al. (2017, p. 1).
Segundo Cecílio et al. (2013, p. 1), a questão da adoção por casais do
mesmo sexo é um tema polêmico e delicado, que gera muitos debates entre
profissionais de diversas áreas, como juristas, psicólogos, psicanalistas e a própria
sociedade. Um dos principais argumentos contrários a essa modalidade de adoção é
que as crianças adotadas por casais homossexuais seriam afetadas pela orientação
sexual dos pais, ou seja, teriam mais chances de se tornarem homossexuais
também. Além disso, alega-se que essas crianças sofreriam com a falta de
referência de pais de gêneros diferentes e com a discriminação e o bullying na
escola ou na vizinhança, o que acarretaria problemas emocionais graves. No
entanto, vários estudos na área da psicologia demonstram que não há evidências de
que crianças adotadas por casais do mesmo sexo tenham prejuízos em seu
desenvolvimento psicológico ou social.
Contudo o que deve prevalecer é o bem-estar do adotando, levando em
consideração sua atual condição de vida e como seria se vivesse num novo lar, seja
ele proporcionado por pessoas do mesmo sexo ou não. Se o adotante for cumpridor
de seus deveres e possuir todos os atributos necessários para que possa conceder
à criança um lar digno e respeitável, onde ela possa ter uma vida feliz e saudável,
52

com certeza, a melhor opção é a colocação em família substituta. A permissão da


adoção por parte de casais homossexuais contribuiria para amenizar o sofrimento de
inúmeras crianças, que teriam a oportunidade de serem criadas com todo apoio
material, emocional e intelectual, preparando-as para se tornarem adultos dignos,
evitando assim o abandono e a marginalização.
Apesar dessas dificuldades, também há casos de sucesso e de superação de
casais homoafetivos que conseguiram adotar e formar famílias felizes e saudáveis.
Conforme a matéria da CNN Brasil (2023. p. 1), alguns exemplos são: o casal Erick
Silva e Betho Fers, que adotaram a Stefanie; o casal João Romão e Rafael Câmara,
que adotaram o Gabriel; e o casal Toni Reis e David Harrad, que adotaram três
filhos: Alyson, Jéssica e Filipe.
Segundo Betho, é imprescindível que o Poder Judiciário crie normas que
regulem a família homoafetiva. O especialista também considera que essas famílias
podem adotar crianças, mas enfrentam dificuldades em alguns setores da
sociedade, como a escola ou a saúde, por exemplo. De acordo com ele: “Sem lei,
gera insegurança emocional, já que não está previsto na Constituição. A gente ter
leis que regulem a formação familiar é o caminho para outras demandas e agendas
no país como um todo”, explicou.
QUERINO (2021, p. 02) afirma que:

Comparado aos casais heterossexuais, o número apresenta uma larga


diferença, quando uma vez que apenas 3% destes têm filhos adotados. Em
dados gerais, 2,9% dos casais homoafetivos têm crianças adotadas
enquanto entre casais heterossexuais esta taxa não passa de 0,4%.

Uma pesquisa realizada em 2018 pelo Williams Institute, dos Estados Unidos,
segundo o Observatório (2019, p. 03) revelou que 114.000 dos 700.000 casais gays
que vivem juntos, têm filhos. 68% têm herdeiros biológicos. Enquanto, 21,4%
optaram pela adoção.
A adoção homoafetiva representa uma excelente chance para essas crianças
que não se enquadram nos padrões de preferência da maioria dos candidatos à
adoção. Os casais homossexuais, por enfrentarem discriminação, têm menos
53

propensão a escolher um adotado com base em características físicas, priorizando,


principalmente, o vínculo afetivo e o desejo de ter um filho.

4.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA

Essa relação é regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei


n. 8.069/90), que define como criança aquele indivíduo com idade inferior a doze
anos incompletos, e como adolescente aquele que possui entre 12 e 18 anos. Além
disso, o artigo 3º do próprio ECA afirma que crianças e adolescentes possuem todos
os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, garantindo-lhes proteção
integral e proporcionando, por meio da lei ou outros meios, todas as oportunidades e
facilidades necessárias para o seu pleno desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Complementando essas
disposições, o artigo 4º do ECA estabelece:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.

O Código Civil de 2002, em dois dispositivos, acaba por reconhecer esse


princípio de maneira implícita. O primeiro dispositivo é o artigo 1.583 do Código Civil
vigente, pelo qual, em caso de dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal por
meio de separação judicial por acordo mútuo ou divórcio direto consensual, será
respeitado o que os cônjuges acordarem em relação à guarda dos filhos. Segundo o
Enunciado n. 101 do Conselho de Justiça Federal, aprovado na I Jornada de Direito
Civil, estabelece que a expressão guarda de filhos presente no dispositivo deve
abranger tanto a guarda unilateral quanto a compartilhada, sempre considerando o
interesse primordial da criança. Na ausência de acordo entre os cônjuges, a guarda
será atribuída àquele que apresentar melhores condições para exercê-la (art. 1.584
do CC). Certamente, a expressão melhores condições constitui uma cláusula geral,
uma oportunidade deixada pelo legislador para ser preenchida pelo aplicador do
Direito caso a caso.
54

No caso de dissolução da sociedade conjugal, a culpa não tem mais


influência sobre a guarda dos filhos, devendo ser aplicado o princípio que
busca a proteção integral ou o interesse superior do menor, de acordo com
a proteção constitucional (LIMA NETO, 2020).

Segundo Mariana de Oliveira Santos (2019, p.03), as circunstâncias em que


a criança se encontra e as vantagens que lhe serão proporcionadas devem ser
avaliadas, a fim de garantir seu desenvolvimento como indivíduo. No que diz
respeito ao interesse superior da criança e do adolescente, a colocação do menor
em uma família substituta homossexual atende a esse interesse, uma vez que, entre
um lar efetivo e bem estruturado e a vida em um abrigo para crianças abandonadas,
não há dúvidas de que o primeiro prevalece.
A Constituição Federal, em seu artigo 227, determina que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a
alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a
dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária,
além de colocá-lo a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

É dever do Estado assegurar um lar e uma convivência familiar para os


menores, sem levar em conta a orientação sexual das pessoas que os acolhem
como integrantes de suas famílias, portanto, a adoção por homossexuais, tanto
individualmente quanto em conjunto, deve ser totalmente aceita.

4.7 A QUESTÃO PSICOLÓGICA

Segundo Maria Berenice Dias (2015, p. 1) a questão é abordada de forma


perceptível pelos psicólogos e psicanalistas. Desconsiderando-se os métodos de
reprodução assistida, barriga de aluguel e outros meios artificiais que possam ser
citados, pessoas do mesmo sexo não têm como gerar filhos juntas. Em
contrapartida, existem pessoas de sexos opostos que, por impossibilidade ou
desinteresse, não cuidam dos filhos que conceberam de forma natural e os colocam
para adoção.
55

Ainda sobre a questão, a autora afirma que muitas crianças precisam de um


lar, ao mesmo tempo em que há um número expressivo de casais homossexuais
que querem ter filhos. Um dos principais questionamentos em relação à adoção por
casais homoafetivos se refere à chance de a orientação sexual dos pais afetar a dos
filhos. (DIAS, 2015)
A autora esclarece que em primeiro lugar, é relevante levar em conta que a
grande maioria dos homossexuais vem de um ambiente familiar que, mesmo que
não seja tradicional, é heterossexual. Se a sexualidade dos pais determinasse a dos
filhos, isso não seria verificado. Em segundo lugar, a identificação que acontece
entre os filhos e os pais do mesmo sexo não tem relação direta com o sexo em si,
mas sim com o papel que cada um desempenha. (DIAS, 2015)
Luana Machado Ferreira (2006, p.66) acrescenta:

Assim, o que influencia a sexualidade ou qualquer outra forma de expressão


dos filhos está mais ligado ao tipo de relação que os pais estabelecem entre
si, para com os filhos e com o mundo do que outra coisa. Podendo avaliar a
questão dos homossexuais por esse prisma, ou seja, entendendo pai e mãe
como função paterna e materna e não literalmente, não há contraindicações
específicas além das que existem para qualquer ou quaisquer pessoas
independentemente de sua opção sexual, já que as funções que vão
exercer independem do gênero sexual.

O que as pesquisas têm demonstrado é que todas as comunidades cujas


estruturas geram e educam crianças, inclusive as homossexuais, serão semelhantes
ao modelo tradicional de família, isto é, caracterizam-se pelo comportamento
afetuoso e pelas interações interpessoais, pelo convívio, companheirismo e apoio
mútuo entre seus membros. Da mesma forma que existem casais heterossexuais
estáveis que desejam ter um filho, casais homossexuais têm a mesma capacidade
para fazê-lo.

4.8 POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL

Cabe ao sistema jurídico a desafiadora tarefa de absorver as mudanças


sociais e regulamentá-las, a fim de adequar a ordem jurídica à realidade da
sociedade. Nesse sentido, Paulo Nader (2019. p. 76) afirma que: "(...) o Direito deve
56

refletir a vontade social e, portanto, a legislação deve apenas incorporar os valores


positivos que a sociedade valoriza e vive".
O direito atua como um instrumento de normatização, regulando as
demandas sociais. A legislação brasileira não abordou especificamente o direito de
adoção por indivíduos ou casais homossexuais. No entanto, na ausência de uma lei
específica, o juiz não pode se abster de julgar e deve fazê-lo, utilizando-se de
analogia, costumes, princípios gerais do direito e jurisprudência. (NADER, 2019)
Dessa forma, é incumbência do direito incorporar as transformações sociais e
regulamentá-las, a fim de adequar a ordem jurídica à realidade social. O direito
desempenha o papel de instrumento normatizador, regulador das demandas sociais.
A legislação brasileira não tratou do direito de adoção por indivíduos ou casais
homossexuais. Portanto, na ausência de uma lei específica, o juiz não pode se
eximir de julgar. A seguir, apresentam-se alguns exemplos:

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 889.852-RS.


Cuida-se da possibilidade de pessoa que mantém união homoafetiva adotar
duas crianças (irmãos biológicos) já perfilhadas por sua companheira […]
Contudo, estudos científicos de respeitadas instituições (a Academia
Americana de Pediatria e as universidades de Virgínia e Valência) apontam
não haver qualquer inconveniente na adoção por companheiros em união
homoafetiva, pois o que realmente importa é a qualidade do vínculo e do
afeto presente no meio familiar que ligam as crianças a seus cuidadores. Na
específica hipótese, há consistente relatório social lavrado por assistente
social favorável à adoção e conclusivo da estabilidade da família, pois é
incontroverso existirem fortes vínculos afetivos entre a requerente e as
crianças. Assim, impõe-se deferir a adoção lastreada nos estudos científicos
que afastam a possibilidade de prejuízo de qualquer natureza às crianças,
visto que criadas com amor, quanto mais se verificado cuidar de situação
fática consolidada, de dupla maternidade desde os nascimentos, e se
ambas as companheiras são responsáveis pela criação e educação dos
menores, a elas competindo, solidariamente, a responsabilidade. Mediante
o deferimento da adoção, ficam consolidados os direitos relativos a
alimentos, sucessão […] Frise-se, por último, que […] Assim, por qualquer
ângulo que se analise a questão, chega-se à conclusão de que […] (REsp
889.852-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/4/2010). Posto
CB Ltda versus Prefeito Municipal de Capim Branco. Relator: Ministro Luis
Felipe Salomão. Brasília, 27 de abril de 2010. Superior Tribunal de Justiça -
Informativo nº 0432 - Período: 26 de abril a 7 de maio de 2010. Brasília, v.
432, n. 1, p. 1-2, 2010.
O sistema judiciário do Brasil não tem permanecido em silêncio diante das
transformações ocorridas na sociedade contemporânea, adotando gradual e
discretamente posicionamentos que reconhecem as uniões duradouras e públicas
entre pessoas do mesmo sexo como uniões estáveis.
57

Tribunal de Justiça de Santa Catarina deferiu, em 26 de setembro de 2017, a


habilitação para adoção de um por um casal homoafetivo, considerando que os
estudos social e psicossocial foram favoráveis à habilitação e que não há elementos
a colocar em dúvida o preparo do casal para exercer a parentalidade. O acórdão
também rejeitou os argumentos discriminatórios e infundados do Ministério Público,
que pretendia descobrir a “gênese” da homossexualidade e os “papéis” que cada um
exerce no âmbito relacional, afirmando que tais questões esbarram na dignidade
humana dos requerentes e na necessidade de tratamento igualitário.
Apesar desse avanço jurídico, ainda existem muitos desafios e preconceitos
para os casais homoafetivos que desejam adotar. Alguns deles são: a demora e a
burocracia do processo de habilitação; a resistência de alguns juízes e conselheiros
tutelares pelo “conservadorismo”; a falta de preparo e sensibilidade de alguns
profissionais envolvidos; a escassez de pesquisas e dados sobre o tema; a
discriminação e o estigma social; e a falta de apoio e orientação para as famílias
formadas.
Assim como existem projetos de lei que se opõem à adoção homoafetiva,
como o PL 620/15, também há projeto de lei que busca regulamentar a situação das
adoções homoafetivas e deixar explícito na legislação o direito de casais
homoafetivos à adoção, para que não precisem mais recorrer ao judiciário para
concretizar a paternidade. É o caso do PL 3435/2020, do deputado Bacelar
(Podemos/BA), que argumenta que, com o reconhecimento pelo STF do casamento
homoafetivo como entidade familiar, fica assegurado o direito à adoção, que visa
atender e proteger o direito das crianças e adolescentes que esperam por uma
família. Há inúmeras discussões sobre casais homoafetivos formarem família por
meio da adoção, mas a falta de regulamentação do assunto gera demoras por meio
de recursos judiciais.
Há vários casos julgados sobre a adoção homoafetiva e o que se considera
para que esses direitos sejam efetivados são os princípios do melhor interesse da
criança e da igualdade. No entanto, o ideal é muito mais do que isso: com milhares
de crianças à espera de um lar e um número ainda maior de casais esperando para
adotar, o que se precisa é de agilidade para a efetivação dessas adoções, e a
regulamentação desse caso possibilita que mais crianças alcancem um lar.
58

5 CONCLUSÃO

A família é uma instituição social que se define pela união de pessoas que
possuem vínculos afetivos, biológicos ou jurídicos, e que coabitam sob o mesmo
teto, partilhando responsabilidades, direitos e deveres. A família é considerada a
base da sociedade, pois é nela que se moldam os valores, as crenças e as
identidades dos indivíduos. Contudo, o conceito de família não é fixo, mas sim
flexível e histórico, ou seja, ele se altera de acordo com o contexto social, cultural,
político e econômico de cada época e lugar.
O ordenamento jurídico brasileiro admite diferentes modalidades de família,
que são reguladas pelo Código Civil de 2002 e pela Constituição Federal de 1988.
As principais modalidades de família são: casamento, união estável e família
mononuclear ou monoparental. Essas modalidades de família se fundamentam nos
vínculos entre cônjuges ou entre pais e filhos. Ademais, essas modalidades de
família podem ser compostas por pessoas de sexos diferentes ou iguais,
respeitando a diversidade sexual e afetiva.
Além das modalidades tradicionais de família, existem outras espécies de
família que surgiram na sociedade contemporânea e que ainda não são
reconhecidas legalmente pelo ordenamento jurídico brasileiro. Algumas dessas
espécies de família são: família anaparental, família pluriparental ou família mosaico,
família eudemonista, família paralela e poliafetividade oficializada. Essas espécies
de família se sustentam nos vínculos entre parentes que não são pais e filhos, entre
pessoas que já possuem filhos de relacionamentos anteriores, entre pessoas que se
unem pelo afeto e pela busca da felicidade, entre pessoas que mantêm dois
relacionamentos simultâneos ou entre pessoas que mantêm um relacionamento
amoroso entre três ou mais pessoas. Essas espécies de família desafiam os
padrões normativos e expressam a pluralidade das formas de constituir família na
atualidade.
A autonomia privada permite que as partes escolham e regulem seus
interesses dentro dos limites legais e éticos. A Constituição Federal reconhece a
família como base da sociedade e garante sua proteção pelo Estado, bem como a
igualdade entre os filhos, havidos ou não da relação do casamento ou por adoção. A
59

adoção é um ato jurídico solene pelo qual se estabelece um vínculo de paternidade


e filiação entre o adotante e o adotado, independentemente de qualquer relação
natural ou biológica entre eles. A adoção é regulada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que prevê os requisitos para o adotante e para o adotado,
visando o melhor interesse do menor.
A homossexualidade não é um obstáculo para a adoção, mas sim um fator
que pode gerar resistências e dificuldades no processo. A homossexualidade ainda
é vista por muitas pessoas como algo anormal, pecaminoso ou prejudicial,
especialmente para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. Essas
pessoas alegam que a adoção por casais homossexuais viola o princípio da
heterogeneidade dos sexos, que seria essencial para a formação da identidade e da
sexualidade dos adotados. Elas também afirmam que a adoção por casais
homossexuais expõe os adotados ao risco de sofrerem preconceito, discriminação e
bullying na sociedade.
A argumentação contrária à adoção por casais homossexuais se baseia em
premissas falsas, preconceituosas e discriminatórias. Essa argumentação nega a
diversidade sexual e familiar existente na sociedade brasileira e viola os princípios
constitucionais da igualdade, da dignidade e do melhor interesse da criança e do
adolescente. A argumentação favorável à adoção por casais homossexuais se
baseia em premissas verdadeiras, respeitosas e inclusivas. Essa argumentação
reconhece a diversidade sexual e familiar existente na sociedade brasileira e
defende os princípios constitucionais da igualdade, da dignidade e do melhor
interesse da criança e do adolescente.
O princípio do melhor interesse da criança é um princípio jurídico que orienta
todas as decisões relativas à proteção e à promoção dos direitos das crianças e dos
adolescentes. Esse princípio significa que toda medida que afete direta ou
indiretamente uma criança ou um adolescente deve levar em conta seus interesses,
necessidades, desejos e opiniões, buscando garantir seu bem-estar físico,
psicológico, emocional, social e moral. O princípio do melhor interesse da criança
deve nortear o processo de adoção, independentemente da orientação sexual dos
adotantes. O que importa é que a criança ou o adolescente encontre uma família
que lhe ofereça amor, cuidado, respeito, educação e segurança.
60

A questão psicológica da adoção por casais de mesmo gênero envolve os


aspectos emocionais e comportamentais dos adotados e dos adotantes. A questão
psicológica deve ser acompanhada por profissionais qualificados, que possam
orientar e apoiar as famílias durante todo o processo de adoção. A questão
psicológica deve considerar as singularidades de cada caso, respeitando as
diferenças e valorizando as potencialidades de cada indivíduo.
O posicionamento jurisprudencial sobre a adoção por casais de mesmo
gênero é favorável e progressista no Brasil. O STF reconheceu em 2011 a união
estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, equiparando-a à
união heteroafetiva para todos os fins jurídicos. Essa decisão abriu caminho para
que os casais homoafetivos pudessem adotar conjuntamente, ou seja, ambos
figurarem como pais ou mães no registro civil da criança ou do adolescente adotado.
O CNJ autorizou em 2013 o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo,
seguindo o entendimento do STF sobre a equiparação das uniões homoafetivas às
heteroafetivas. Essas decisões representam avanços significativos para a garantia
dos direitos das famílias homoafetivas no Brasil.
Diante do exposto, não há como impedir que os casais homossexuais adotem
conjuntamente uma criança ou adolescente. Visto que a jurisprudência brasileira
vem demonstrando que os homoafetivos possuem direitos em seu favor, com base
nos princípios da dignidade humana e da igualdade. E que deixar de proteger tal
direito seria uma grande discriminação com base em sua orientação sexual.
A questão da cidadania da criança e do adolescente e da adoção por pessoas
em união homoafetiva ainda demanda muitas discussões acadêmicas. Aperfeiçoar
as teorias, os procedimentos e os programas relacionados à adoção é o grande
desafio que se apresenta. O que se sabe até agora é que a preocupação com a
criança e o adolescente, com todos os seres humanos, deve ser uma causa coletiva,
para que a sociedade possa, gradativamente, tornar-se uma sociedade cidadã.
Nessa perspectiva, cidadania exige, acima de tudo, participação de todos para a
construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, que se manifeste não
somente nas formas de governo, mas nas diversas formas da vida social, nas
relações cotidianas, nas diferentes formas de constituir família.
61

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