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Regimes totalitários na Europa

A crise iniciada em 1929, nos Estados Unidos, não se limitou àquele país e se alastrou
por todo o mundo ocidental, em especial pela Europa. Para evitar quebrarem seus negócios,
muitos investidores estadunidenses recorreram a cobranças dos empréstimos que haviam sido
concedidos a governos e empresas estrangeiras, sobretudo as europeias. A Europa havia saído
da Primeira Guerra Mundial não só derrotada, mas endividada para poder se reconstruir.
Grupos nacionalistas de extrema-direita passaram a utilizar a crise econômica como
justificativa para criticar o sistema liberal-capitalista, acusando-o de ser incapaz de atender aos
anseios da população e de adotar políticas mais efetivas. Nesse período, houve a derrocada dos
valores e da instituições liberais e o aumento da descrença nos partidos tradicionais, sobretudo
na Europa. Greves, protestos e manifestações de rua eclodiram em alguns países, como a
Alemanha.
A instabilidade política e econômica, os ressentimentos gerados pelos tratados de paz, os
sentimentos de revanchismo, a rivalidade entre as nações e o desemprego auxiliaram na
escalada de movimentos políticos autoritários e totalitários em várias partes do mundo.
O totalitarismo se caracteriza pela máxima intervenção do governo na sociedade, pelo
ultranacionalismo e pela centralização do poder do Estado na figura de um líder. Nos regimes
totalitários, os governos de partido único impõem uma ideologia e todos os opositores são
perseguidos como inimigos nacionais; as relações sociais são reguladas pelo Estado, assim
como os meios de comunicação, e o cotidiano é rigidamente policiado.

Na Itália, o fascismo
Em 1919, a Itália mergulhou em uma crise econômica que acarretou uma crise política,
aprofundada pela pequena participação na divisão dos ganhos da guerra, além das perdas
humanas e materiais, o orgulho nacional saiu humilhado dos campos de batalha; as pretensões
expansionistas que motivaram a entrada da Itália na guerra não haviam sido plenamente
atendidas; o país estava mergulhado na retração econômica, com milhares de desempregados
e muitas agitações sociais.
A Revolução Russa, ainda fresca na lembrança das pessoas, atormentava a monarquia,
a aristocracia e as classes médias conservadoras italianas. O Partido Socialista passou a ter 216
mil membros em 1920. Nesse ano, a Itália assistiu a um amplo movimento de ocupação das
fábricas, com a formação de conselhos operários nas unidades produtivas.
Esse conjunto de elementos estimulou movimentos de trabalhadores que se insurgiam
contra o desemprego e exigiam medidas mais rígidas para combater a crise. Novas lideranças
políticas canalizavam as insatisfações populares e, entre esses líderes estava Benito Mussolini,
antigo simpatizante do socialismo e, agora, um dos fundadores do fascismo. O termo fascismo
vem do italiano fascio, que significa “feixe”. O símbolo do fascismo era formado por um feixe de
varas, que simbolizava a união, na qual se amarrava um machado, representação da autoridade
dos antigos magistrados romanos, que podiam julgar e decidir sobre a vida e morte dos réus.
Por isso, tornou-se um símbolo associado ao poder.
Um dos principais objetivos para a criação do símbolo era criar um forte vínculo político e
ideológico entre o povo, o partido e passado italiano.
Extremamente nacionalista, o fascismo se colocava como inimigo do socialismo e,
portanto, da Revolução Russa. Apesar de defender o Estado, apoiava a propriedade privada e
os valores tradicionais. Por isso, obteve a simpatia e o apoio do governo à época, ampliando sua
base de apoio, o que possibilitou que os fascistas se organizassem politicamente e fundassem
o Partido Nacional Fascista em 1921. Entre seus apoiadores estavam a burguesia, grupos da
classe média e do clero, donos de terras e muitos trabalhadores – ao contrário dos trabalhadores
russos que apoiavam as ideias marxistas, mostrando que qualquer relação que se faça entre
operariado e socialismo não se sustenta.
Vendo seu poder aumentar, Mussolini passou a exigir que o rei Vitor Emanuel II demitisse
o primeiro-ministro para que o líder fascista pudesse ocupar seu lugar. O rei recusou a
solicitação. Em 27 de outubro do mesmo ano, os militantes fascistas, chamados Camisas
Negras, realizaram a Marcha sobre Roma, passeata que reuniu uma multidão nos arredores da
capital italiana. Pressionado pelos grupos que apoiavam o movimento, o rei demitiu o primeiro
ministro e convidou Mussolini para organizar um novo governo de acordo com as normas do
sistema parlamentarista em vigor.
Assim que assumiu o governo, Mussolini deu início a uma onda de perseguição política,
reprimindo movimento populares, comunistas e opositores. Apoiado por um grande contingente
de homens armados, o Parlamento se sentiu pressionado a dar ao líder fascista todos os poderes
necessários para que realizasse as reformas que julgasse adequadas. Após uma série de
medidas, Mussolini conseguiu concentrar os poderes políticos e econômicos, além do poder da
polícia. O fascismo encontrava caminho aberto para ser implantado de maneira dominante no
país.
As eleições de abril de 1924, realizadas já sob o governo de Mussolini, garantiram, aos
fascistas a maioria no Parlamento. A oposição, atordoada e dividida, desorganizou-se após
violenta repressão do novo governo, e muitos deputados foram presos, exilados ou mortos.
Os sindicatos eram controlados e as greves, proibidas; o sistema educacional era
rigidamente vigiado, enquanto a propaganda fascista se dedicava a exaltar as ações do governo
e a mitificar a imagem de Mussolini, que, a essa altura, havia instaurado um regime ditatorial.
Além disso, a economia, sob a direção do Estado, deu ênfase à indústria pesada e ao setor
bélico.
No contexto de fortalecimento do Estado fascista, Mussolini também articulou a criação
do Estado do Vaticano, localizado em Roma. Em 1929, por meio do Tratado de Latrão,
celebrado entre o papado e o governo italiano, a Santa Sé teve sua independência e soberania
reconhecidas pelo Estado italiano, resultando na fundação da Cidade do Vaticano. O tratado
também definiu as relações entre o governo e a Igreja católica.

A ascensão nazista
O surgimento do nazismo na Alemanha possui semelhanças com o fascismo italiano.
Além de terem sido contemporâneas, as duas ideologias surgiram das dificuldades sociais
enfrentadas pelos dois países em decorrência da Primeira Guerra Mundial e se fortaleceram com
as crises econômicas que assolaram o continente na década de 1930.
O caso alemão foi ainda mais dramático, pois o país foi o mais afetado pela guerra, tanto
no que diz respeito aos conflitos bélicos quanto às consequências advindas dos tratados de paz,
que responsabilizavam os alemães pelas atrocidades da guerra. Ainda antes de terminada a
guerra, o kaiser alemão Guilherme II foi pressionado a abdicar do trono. Em seu lugar, assumiu
um governo provisório que pôs fim à participação da Alemanha no conflito e convocou a
Assembleia Nacional Constituinte para reformar a Constituição do país, aprovada em 1919.
A Assembleia recém-formada, além de fundar a república, foi obrigada a aceitar a paz
estabelecida pelo Tratado de Versalhes, que impunha à Alemanha severas punições. Apesar
desse cenário desfavorável, entre 1924 e 1929, um processo de recuperação econômica,
possibilitado por financiamentos externos, apaziguou a oposição ao governo, trazendo a
população o sentimento de gradual retorno à estabilidade. Mas a quebra da Bolsa de Valores de
Nova York em 1929 teve resultados devastadores para Alemanha. Os investimentos
desapareceram. De 1929 em diante, o desemprego quadruplicou, e a insatisfação cresceu em
todas as camadas sociais.
O caos econômico assentou as bases para a crise política que se instaurou no país nos
anos 1930, mas que já vinha sendo ensaiada desde 1923, com a tentativa frustrada de Adolf
Hitler, líder do Partido Nazista, de dar um golpe de Estado. Encarcerado, Hitler escreveu uma
obra que construiu as bases do pensamento nazista. Intitulado Minha luta, Hitler já defendia o
nacionalismo exacerbado, o antissemitismo, o militarismo, intervenção estatal na economia,
racismo e perseguição as minorias étnicas.
Nesse contexto, dois partidos políticos se antagonizaram. De um lado, a esquerda,
representada pelo Partido Social-Democrata e pelo Partido Comunista Alemão; de outro, a
extrema direita, representada principalmente pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores
ou, simplesmente, Partido Nazista. O grande capital e a pequena-burguesia, temendo o avanço
do comunismo, apoiaram e financiaram a ascensão nazista. Importante dizer que o nacional-
socialismo indicado no nome do partido não apontava uma real associação entre o projeto
nazista e as ideias socialistas. Na verdade, a palavra “socialismo” foi estratégia adotada para
atrair as massas trabalhadoras e evitar o fortalecimento dos grupos de esquerda na Alemanha.
Os nazistas defendiam a construção de um Estado Forte e centralizado na figura do líder;
pregavam a superioridade do povo alemão; reivindicavam a necessidade da Alemanha
conquistar territórios que permitissem desenvolver seu potencial econômico, espaço vital. Além
de manifestavam um forte sentimento antissemita e, como costuma acontecer em governos
antidemocráticos, eram favoráveis ao controle das mídias. Com essa pauta, os nazistas
conseguiram aumentar seu apoio popular, o que fez o Partido Nazista se tornar um dos mais
importantes do Parlamento.
Com o agravamento da crise econômica, a partir de 1929, muitas pessoas buscaram
atribuir a culpa pela situação caótica em que a Alemanha estava aos judeus. A ideologia nazista
pregava que os germânicos, ou arianos, eram uma raça humana superior, e que deveriam lutar
contra etnias e pessoas consideradas inferiores. A partir dessa ideia preconceituosa, racista e
xenofóbica, os nazistas passaram a perseguir judeus, comunistas e militantes de esquerda em
geral, ciganos, pessoas com deficiência, testemunhas de jeová, homoafetivos, entre outros.
Na Alemanha nazista, milhares de judeus foram perseguidos pelo governo, como quando
foram aprovadas as Leis de Nuremberg, em 1935, que previam a discriminação pública de judeus
e o cancelamento de sua cidadania alemã. Muitos judeus foram confinados nos guetos (bairros
afastados que confinavam os judeus) e outros tantos foram presos e enviados para campos de
concentração, onde permaneciam confinados e realizando trabalhos forçados.

Consolidação do Poder
Diante do avanço dos nazistas, das intrigas governamentais e das pressões dos grandes
grupos economicos, o presidente von Hindenburg nomeou Adolf Hitler, líder do Partido Nazista,
chanceler em 1933. Foi o primeiro passo para a instauração de um governo ditatorial.
Em fevereiro de 1933, o palácio do Reichstag (sede do Parlamento alemão) foi incendiado.
As lideranças nazistas decidiram responsabilizar os comunistas como forma de desarticular a
oposição. Para isso, produziu provas falsas que associavam o ataque a grupos comunistas. A
repressão empreendida pelos nazistas decorrente dessa ação serviu para instaurar a ditadura
nazista na Alemanha. Em uma caçada aos comunistas, 25 mil pessoas foram presas em apenas
dois meses – muitas delas foram torturadas e algumas morreram –, enquanto a imprensa era
censurada e as correspondências, violadas.
Assim como os fascistas italianos, os nazistas alemães souberam usar a propaganda a
seu favor, tanto para divulgar a ideologia nazista, quanto para comunicar atos de seus
representantes e, acima de tudo, exaltar a imagem de Adolf Hitler. E, tal como na Itália fascista,
os nazistas se beneficiaram do desenvolvimento dos meios de comunicação, principalmente o
rádio, que difundia as notícias em tempo real para todo o território alemão.
As propagandas utilizavam crianças e jovens alemães como símbolos de uma suposta
pureza da raça alemã, vinculada à raça ariana. Elas alternavam produções com forte apelo
emocional, ao associar padrões estéticos, músicas e imagens a sentimentos nacionais,
destinadas a todos os públicos, incluindo os menos letrados, e filmes grandiosos, que exaltavam
o regime nazista por meio de imagens impactantes e triunfais
O presidente von Hindenburg, em 1934, veio óbito, e a elite civil e os chefes militares
alemães aprovaram a fusão das chefias do governo e de Estado, e Hitler assumiu a presidência,
além de tornar-se o comandante supremo das forças armadas. O Estado organizou a sociedade
em corporações; e a indústria de base recebeu incentivos, em especial a indústria bélica.
Entre 1933 e 1939, o Estado alemão adotou uma política expansionista, militarista, racista
e nacionalista.

Autoritarismo na Península Ibérica


Na Europa e em outras partes do mundo, o fascismo italiano e o nazismo alemão serviram
de inspiração e modelo para movimentos políticos de extrema-direita e para regimes autoritários.
Patrocinados pela grande burguesia que temia a eclosão de novas revoluções socialistas.

O salazarismo em Portugal
A república portuguesa foi proclamada em 1910. No entanto, o novo regime não conseguiu
solucionar sérios problemas socioeconômicos, como o desemprego e a difícil situação dos
trabalhadores urbanos e rurais, contribuindo para o golpe militar em 1926.
Entre 1926 e 1928, o grau de insatisfação da sociedade cresceu e ela se polarizou. O
clima de agitação e confronto levou a elite portuguesa a apoiar as propostas ditatoriais e forte
cunho nacionalista e anticomunista.
Nesse período Antônio de Oliveira Salazar tornou-se ministro da fazenda, adotando
medidas favoráveis aos representantes do capital, que, em 1932, apoiaram a sua ascensão ao
cargo de Primeiro-ministro. Em 1933, Salazar outorgou aos portugueses uma Constituição de
natureza fascista, iniciando uma nova fase política no país.
Iniciou-se assim uma das mais longas ditaduras do século XX, que só chegaria ao fim em
abril de 1974, com a deposição do sucessor de Salazar, Marcelo Caetano, derrubado por um
movimento militar conhecido como Revolução dos Cravos.

O franquismo na Espanha
Enquanto o fascismo avançava na Itália e o nazismo na Alemanha, a Espanha lidava com
o crescente aumento das desigualdades sociais, agravadas com o fim da Primeira Guerra
Mundial. O país estava convulsionado por greves de trabalhadores rurais, conflitos entre
empregados e donos de fábricas em regiões da Espanha e sublevações nas possessões
coloniais na África, que clamavam por independência.
Proclamada em 1931, a república espanhola enfrentou uma série de perturbações
políticas, e nos primeiros anos republicanos, conservadores e socialistas se alternaram no poder.
As eleições de 1936 conduziram ao poder a Frente Popular (uma coligação formada por
socialistas, republicanos e comunistas) graças às alianças de trabalhadores organizadas por
todo o país. A vitória da Frente Popular provocou uma reação violenta dos grupos de direita
contra o governo eleito.
Em julho de 1936, um grupo de generais simpatizantes do fascismo, liderados pelo general
Francisco Franco, tentou dar um golpe de Estado e derrubar o governo republicano. Os golpistas
tinham o apoio do bloco conservador, que se estendia dos monarquistas aos fascistas da
Falange, uma facção política conservadora. Porém, milícias improvisadas pelos trabalhadores e
demais setores populares conseguiram resistir, dando tempo para que as tropas republicanas se
organizassem. Assim, iniciava-se uma guerra civil que se estendeu por três anos.
A Espanha dividiu-se em dois campos político-militares. De um lado, as milícias de
trabalhadores, dirigidas por comunistas, por socialistas ou por anarquistas, e os setores do
Exército leais à República e ao governo eleito; do outro, os milicianos monarquistas e fascistas
e os militares golpistas, que controlavam a maioria do exército, apoiados pelos latifundiários e
pela Igreja.
O conflito ganhava dimensões internacionais e assumia importância geopolítica, à medida
que cada lado da contenda solicitava apoio estrangeiro. Os nacionalistas recorreram aos
governos ditatoriais da Itália e da Alemanha; os republicanos, às Brigadas Internacionais,
formadas por voluntários de vários países do mundo na luta pela defesa da democracia e da
liberdade.
A vitória coube aos nacionalistas, que iniciaram uma nova ditadura, agora sob o governo
do general Francisco Franco. Na guerra foram apoiados por Salazar, Hitler e Mussolini. Em abril
de 1937, a Força Aérea Alemã bombardeou a cidade de Guernica, com o objetivo de testar a
eficiência dos equipamentos alemães e apoiar os fascistas na guerra.
O saldo da guerra foi extremamente negativo para a Espanha, com a morte ou o exílio de
cerca de 700 mil pessoas, a destruição de povoados pelos bombardeios aéreos e a adoção de
um novo governo antidemocrático.

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