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LerTurns QD FILOSOFICAS SALMA TANNUS MUCHAIL sri soe AOL: Be SUMARIO RPRESENTACAO, Capitulo | “EDITRR” FOUCAULT. (coautor: Marcio Alves da Fonsece) 1. O "dito" @ 0 “escrito 2. P pronesite do ttuio "A hermendutica do suieito Capitulo Of PROMESSR A EMBRIAGUEZ: A PROPOSITO OR LEITURA FOUCRULTIANR 00 ALCIBIRDES DE PLATAO 1. O texta de Piatéo no curso de Foucault 2. Perfil do persenagem-tituio @ resumo do ¢lalogo 3. Destaaues. U. Ecos do Alcibiades hoje? Capitulo i 0 CUIOANG DE Si — SUAGIMENTO € MARGINALIZRGAD |. Surgimenta da nogao: 2. Oesprestigio moral 3 32 40 48 4s 4e ) cuontio DE Si MOMENTO CARTESIFNO pimevo ciuzamento As palavas e as colsas > Segundo ciuzamento — Historia da foucura’ Tereeio cuzamenta — A vida dos homens intames, -STOICOS E EPICURISTRS |. 0 contexto socratica-platonico, 2, 0 context helenisticoxomana TRANSVERSAL: ENTE HEIDEGGER E FOUCAULT. |. Foucault e 3 no¢ao de “espirtualidade™ 2, Heidegger e na¢ao de pensamento (DIZER-VERORDEIRO E SEUS CPONENTES |. Sentida carrente 2, Contexualizacao. 3. Contrapontes CO OIZER-VERORDEIRO: DESCRICAD POSITIVA 1 Quadea sera 2. Para conciuie PEFLEXOES: FILOSOFIA HOLE? FEFERENCIRS BIBLOGRAFICAS ‘7 60 6y 65 1 m4 75 101 woz 104 108 ns is ng 123 1a APRESENTACAO ste livro resulta de um cielo de estudos sobre © curso que Michel Foucault miniscrow no Collage de France, em 1982, sob o titulo "A hermenéutica do sujeito”. A edicio francesa do curso em formato de livro saiu em 2001 ¢ a traducio brasileira «em 2004. Entre 2004 ¢ 2009, estudos sobre © curso ¢ 0 livto getaram comunicagdes pronunciadas em diferentes ocasid © lugares, quase codas esparsamente inncluisas em revistas ou livros coletivos. A reuniio, aqui, destas comunicagbes ers versoes ligeiramente modiffeadas nao impede que cada qual possa ser lida isoladamente, Nao obstance, sua organizagao em capitulos su uma ordem de leitura que asticiona a possi bilidade de articuliclas, tornando-as menos repetitivas e mais complement © primeiro capitulo conta com a coatitoria do professor Marcio Alves da Fonseca, com quem foi realizada, em eo oragao, a traduigae brasileira do curso de 1982, Com fungao introdutéria, craca os contornos gerais do curso € do listo, mediante duasestrategias: a primeira consiste em acrescentar © labor de “traduin” a rama entre “dizer e escrever" a segunda, itulo do curso, cont mntrapondere an io de alguns angulos ou passagens, oy miter a reconstituigao dos momen 4 nogao de “euidado de si” abordados no curso (0 helenistico”, 6 qrtesiano”. Ao mesino tempo, esta selecio tem pon por cetério a possibilidade de explorar algumas inter. tue o pensamento de Foucault propicia: com Socrates seio, com estoicos © epicuristas, com Descartes, com tesdegger yr capitulos VII e VIEL dao destaque a um tema muito susicular, 0 “dizerverdadeizo”, que, introduzido no curso. Je 1982, se desdobrara em assunto dos Gltimos cursos, os de 1983 € 1984 Encerrando 0 ciclo, o capitulo IX reflete sobre a atualidade «4s Filosofia e propoe algumas decorréncias de nacureza ética «jue incidem particularmente sobre a postura do professor ¢, -tensivamente, sobre a atividade do intelectual universitario, Sanna Taxus Muciat Capitulo | “EDITAR” FOUCAULT' {coautor: Marcio Alves da Fonseca) 1. 0 "dito" e 0 “escrito Durante os mais de trinta anos transcorridos do inicio dos anos de 1950 até sua morte, foram muitos 0s “ditos” eos "escitos" de Michel Foucault. Por meio dees, muitos outros, além de Foucault, ppuderam falar, por diversas vezes esta incerlocugio foi registrada ‘na forma da escrta. Novos “ditos” e“escrtos” em grande néimero foram possiveis com Foucault e a partir de Foucault. Occurso A hermenéutica do sujet", considerado na pluralidade das formas pelas quais podemos conhecé-lo ~ a forma das aulas 1, Comunicagto apresentada em messredanda acerca do tho de ‘radu dant clan nteracional Fou Noweans Depleenent (Pans, 2004) em homenagem ao 20 anes da more do los Aves fa esa oi pbliada er Cars Parse (Pari. .n [2005] 346-356) versio base stu na Reva de Flog Aro da PUC-PR (Cub 210.23 (2005) 73:86) Nas verdes francesa eral foram publics dis es Separados que agu, esto reunios em duas partes dm mesmo fe "2M. Foocatr, LHlrménetiqu dm Cours 4 Coleg dF 1981-1982, Paris, Galimard/Seu, 2001 ego fi exalts wo 2 dicen de Pango Ewald Alesandeo Fontana, ps Fiédéne Geos “anand 9 Forma do eur editado em texto, a forma g pe nizado em lvto,a forma do livre traduzido para outs (ase algunas reflexes nesta direso. Ne trae ada plo “to” do curso pronunciadoe pelo “escrito do seed ede sua craduso, muitos tomam a palavra, Neses aaa ee parts dela, isimeros interlocutores vém se alojar ‘Nasama do curso, do livro e da traducio de A hermentutice do sit, 0 primero a tomar 2 palavra — a0 menos aparence. sponte ¢ Foucaule, Foucaule-professor. Bste é quem pesquisa gue escrove canto 0s dossiés nos quais se apoiam as aulas Suan as propria aus pronunciadas nos audit6rios do Collage de France ‘Ao pronunciar as aulas, Foucaule-professor faz mui- sos outros falatem, Assim, Platio, Séneca, Marco Aurélio, Cassiano, Diogenes Lari, Epiteto, Galeno, Plurarco,Epicuro, Posdinio, Musonius Rufls, Frontio e tantos outros tomam 2 palaza através de Foucault. As palavras destes pensadores, gue acompanham a de Foucault, jé haviam sido pronunciadas sans, de modo que aquela fala aparentemente primera, = Foursuleprofessor, nfo faz mais que reatualizar outros ‘Ne passgem do curso para o texto, quando as aulas pro- sto convertidas em iro, Foucault-professorrorna-se cusaulrautor £ agora 0 editor quem toma a pala- de Foucault. Em sua intervencio, 0 editor 0s dosstsredigidos por Foucault mipleca as frases das aulas,redige as no- aniza a5 referéncias utilizadas m0 curs0 ~>» sco Alves ds Fonseca, Salma 2004 Este live veré doravante 238 pgas da edigdofrancesa er30 respondents na edigio brasileira [Nestamesma trama do curso edo livoinseresea tradugio. Os tradutores, por sua vez, também tomam a palavra, na medida em aque, interpretando o texto, 6 convercem para sua lingua, fazendo {que também nela — sua lingua ~ 0 dito” do cursotome-sacessive ppelo “escrito” do livro traduzido. Para tanto, incervém no texto fazendo escolhas, estabelecendo semelhancasedistingdes. inter vencdo dos cradurores é,aparentemente, a mais distante daguela fala primeira de Foucault-professor. Curiosamente,eneretanc,é aeravés dela que os leirores de sua lingua terao o primi concato com 0 “escrito” do livro e com 0 “dito” do curso ‘Assim, na trama resultante do cruzamento entte a pala wa pronunciada, 0 livro editado e posteriormente tradurido, alojam-se diversos interlocutores. Ao seu modo ea0 seu tempo, ‘cada um marca sua presenga. Foucault-professor, os pensadores que faz falar nas aulas pronunciadas, os ouvintes das aulas {quando proferidas no Collége de France, o editor que converte as aulas em livro, Foucault-aucor do livro, os tradurores, os Ieitores, Desta trama explicita-se uma escrita constrwida em ‘muitos tempos, uma fala reverberada em muitas outras Ha neste eruzamento a presenga de certo estilo, Certo estilo de dizer e de escrever. Este estilo é marcado por um carater que pode ser chamado “experimental” ou “laboratorial”. proprio a algo que se apresenta sempre inacabado. E um estiloquedavora ‘muiras falas, comporta muiltiplas intervengies ¢ avolhe diversos interlocutores. Por ser deste modo ~ inacabacio, experimental plural ~,o estilo de Foucaule nao procura a regularidade ea Seguranca nos pressupostos tradicionals da unidade do “autor” Deste estilo esta ausente a pretensio esta ausente a pretensio a busca da ausente também a pretensio eda unidade da “obra a descoberta da “verdad origem e do sentido siltimo, est 2 fundagao de um sistema de pensamento. presente neste estilo de dizer e de sere see" de sua filosofia. Nie foram Ora, 0 que est " de Foucault & 0 “modo de sc onze em que Foucault referiuse a0 “modo de se venaamento, Mentifica seu trabalho a uma espécie 4 sunade que seria da ordem da problematizagio) os (es concedida Hangois Ewald em 1984 publica, vee et sents com o titulo “Le souci de la vérité™, afiem, aeaiespeio que seria deforma comuim a0s estdos realizados “Tea Hitona da loucura havia sido a nogio de problematizagio, Problematizagao nao quer dizer representacao de um objeto precustente nem criagao pelo discurso de um objeto que no ‘ste [Problematizacao] ¢0 conjunto de praticas discursivas ou tna discursivas que faz que algo entre no jogo do verdadeiro e do flso e 0 constitua como objeto para 0 pensamento” Também em 1984, em um debate com Dreyfus ¢ Rabinow, Foucault referese a sua flosofia como um trabalho do pensa- mento que seria um trabalho de perpétua reproblematizacao, E este esforgo de reproblematizagao (das atividades, das préticas, dias atcades) ndo repousaria em uma espécie de pessimismo capresso pela formula “nada mudara”, ao contritio, “éa adesio 20 principio de que o homem & um ser pensante até mesmo fem suas mais silenciosas préticas, e que © pensamento nio é0 «que nos faz erer naquilo que pensamos nem admitir aquilo que {azemos; mas.o que nos faz problematizar até mesmo o que n6s somos". Econelui:“O trabalho do pensamento nao consiste em denunciaro mal que habitaria secretamente tudo 0 que exis, ‘sas em pressentiro perigo que ameaga tudo 0 que € habitual «toznar problematico tudo 0 que é slide”. M Fouts, Polémigue,poingue et problématistions, in TD, P imard 1994, «IV, p. 991-598, a wc, its cot 1V, p 668678, pos de cla pitalogie de Vrique: un apersu du eravaile revs Np eeu Se wm apr dra Afilosofia como problematizasio remete incessantemente& nquietagdo do pensamento, Ela éda ordem da provisoriedade des conclusbes e ndo da estabilidade das certezas. Sua indole arvscatse, deslocar-secontinuamente areare experimentar, pao admitindo para simesma qualquer repouso ou descanso.& diana Blosofa do pensamenco inquito, pois mais do que mero pensamento é em certo sentido, ima pitcs Poriss Foucault Pode afrmar, na “Introducio” de O wo dos prez, que o cor Fo vio dafilosofa€ 0 “ensaio", entendido como “experincia ve ulifcadora de sino jogo da verdade”, como "ascese” ou ainda ‘como “um exerciio de si, no pensamento™. ‘Ora, se ha sentido nestas consideracbes sobre o estilo dos “dios” e dos “escritos" de Foucaul, que nos remetem 20 suodo de ser” proprio de sua filosofia,entendida como "en saio”, como “experiéneia", como “exercicio des’ este sentido parece de modo peculiar relacvamente & tama dos “dios” € dos "excrtos” que compaem A hermentutce dost. Na trama dle curso pronunciado, posteriormente convertido em vo & teaduzido para outraslinguas,talvez possamos const om mais evidéncia,oesvaecimento da distingio entre estilo” C tconeeido”, ou se quisermos entre “forma” ¢ “conreido", aracteritico dos trabalhos de Foucault ar, ainda 2. A propésite do titula “A hermenéutica do suielto” (© curso — palavra pronunciada — que Foucault proferiu em 1982 deseavolve-se na forma de retomadas sucessvas recolocs g6es de temas e aucores, decalhamentos graduais, apresentanso Gn, inn de ue — Voge slain PCat pec tte 0 vps Fe ae dene Ga BES rettor Foucout 13 reve F. Gros’ e ceserto ¢ 0 contetido investigado. Com Jeito como seu eixo central, 0 sujeito de quie se io €aquele cuja natureza ow identidade ji fa, mas aquele que se autoconstitui em praticas de si rretanto, & justamente esta espécie de coe mae conteiido que parece abalada quando se atenta para 0 » curso e do livro. Ea suspeita que espreita o tradutor a0 cabo do laborioso oficio de traduzir, se surpreende rntar uma estranha hipétese: a de que, afinal, nem forma snteido parecer corresponder exatamente ao que seria nahermenéutca do suet. E sobre esta hipdtese que sugerimos ‘nas reflexes. ropomos desdobré-la em cas quest6es: pa rmvira.o titulo é incompativel com o que ele designa? Segunda, slo faz sentido? 2 P incompatibilidade do titulo (0 curso de 1982 tem seu ponto de partida na distincio (o¥ ppoviean) entre euidado de ste combecimento de si. Esta oposi¢a0 sap! aso alums express usadas por F Gros no texto que ao jppaetiao door, parararacenzar“asingulandade do curs de 1982 an ois Hp 499-9030 bp. 627-31 0 ed bp IS ‘Assim, esquematicamente, pode-se falar em modos distintos a fecndade ou de linked peneneno la, aa Govan de acess Avrlade, cm cet distin, frincpalmene, a duas nove posts de yo aad de rtespondes linhagem espitual do pesamentosxpundoa ‘alo etn verdad €leangado po ou pra ewel eRkoe anaformando todo ose sj. AD enbeen Er eorteaponde o pensamento de ipo repute segundo seal ose verdad ¢ plo do sujet em rao de 3 opeg inalerdvel exrura,precsamente a dese syjeto aaerer Noprimeio cas raese da adie qucaaceia aan re a os qui eva verdad dese ie 00 serv: No segundo caso, rats da ado que crateriza seer made, sujet que em oma dentidade ar SEE sua prope verdad, verdade do ou no suet a Se fesbona ou deafada, © pir polo desta opsies Secon se aro losico principal no pense bee sates somano, com rae para 0 esis enqua 0 rss poloar consoldanocartesianismo.Aorgem fsa Frente porem, se situa nos paradonos do platonsme, av ctaindo's dupla via do culdado de se do conbecimeno seu ga anc inhager da espritualidade guano 8 do wise epsenativo. Una destin sucinta dea epi de ‘itera oupndria pode eri mum echo de Fano Plo Aor aa os doi caminos” seus pl flsfa were pte o de uma eslizago da exsténcia odo cae de sujito de conhecmento, comespondendo, ent oo thas manciasdedsinir 0 eu" Bt le ie, ans TILF.P. Acca, esl di plop — Fuse ee ime, 1996, p. 121 Una anise deste rema éencont ana” Foscout 118 ‘nt Bovcucae Foucault le paradose du platonisme, in Gos, C. Lav Ce eit oan camomile es a ese Get ee acess icon phon Teanga oes ae rece e ih STS Pe ake ae cscs meron tread gt ota Tee Be eae Patera oe Saree & & concepcao cartesiana de método; 2) oposigao entre “saber de weekender eer rth da confi, 5) pes? 15, CEP, Geen: Tered ference, mediante dus slceratas concise ls [Gprinulidada, ue estado de combine dea Sintngue vane made" ce evra’ 0 apt anigo, seo ico de aes eta De um ao, “Tectao” da verdad, qo poe se “da” nas pra eps tons de oto, a "deca da edad na emia ds tims ou "no eng das conscénis™ Tnsopoieevirtam, por asi is deri que Fowaule raza € a escolhs uf pra alia Na seme hots da prmeia aula (de 6 dejo de 1982 20 Prd ema do eed com etmeno ct avons hei do pensamento ara "Temos pis com see sida de tuna formula fxs precce, por SJuiloee que apareecaramente dade oxuloVaC-eque aeeumaealal¥ dc perore oda aflosofares beleisia Shana sui coma espititaldade cs Deva caro valarente a segunda hora desta primera aul, qv 3 anagto de um esto sobre a isttia do ciao de ettaporarin esquematcammente, ee momentos: 0 moments ‘Senncoplatnio, de seu nascent flosfco;o momen ee de owe de seu desenolimente ma ua de ‘Diisennica tomar dos los eIl4C; €0 momento da fosnagem pao asctomo cist, nos slo V€V" xs fas horas da primeira aula vamber tua import o “Moma caesano” na desqualiicao do cid de sien repulifiago do conhecment de Comade,ocse 1982 ib peteoed todos enes momentos ou no o bora Ime poporgo A anise do momento socrscoanso THI, Situation du cours, in HS, p. $0350; ed bP SB268S 15 Ibid, p. $10; be, p64 16.M, Fovewar, HS, p13: e br, pS Trlbid, p 320d. bes p AL tettar Foucout 17 ras primeiras aulas (de “scans eenmissoes a SER FESPRIEO a © 184 jane, longs ay 0 sentide de titulo F no entanto o titulo tem sentido. E este sentido € duplo, femos © proprio titulo do curso de 1982”, escreve Ggussamente F. Gros. E uum pouco abaixo: “[..] no ltimo Pascault ¢ partcularmente acerca do estoicismo, osilamas seossantemente entre o tracado nitido das ruptunase a insis cencia nas continuidade? Por um lado, se acentuarmos o poo de visa histric,enten- deremos que seo curso nio trata do sujeito de uma hermené ‘ica ele trata, porém, das condicdes que tornaram possivel oque “aa ser uma hermenutica do sujito, De modo semelhante, se aceneuarmos o movimento de continuidade, compreenderemos 4 incorporagio das priticas de si pelo cristianismo na direcao de uma hermentutica do sujeito depois consolidada pelo carte sianismo. E nesta direcdo, cremos, que se deve ler a cuidadosa frase iniial do Resumo do curso na qual, a0 informar o tema & que “o curso deste ano foi consagrado”, Foucault nao diz “a0 tema da hermenéutica do sujeito”, mas “a formasdo do tema da hermenéutica de si”. Poderiamos dizer que neste primeiro sentido A hermenéutica do sujito significa antes: (Em dire) 4 ermenéutica do sujet 23 Mt Fowcaur, Résumé du cours, in HS, p. 481. ed. br p.608; dee ‘aque nso, 24.F Gos, ination du cours, in HS, p. S16; ed. br, p 649; destaqne cau ovo Riu ous, HS 478 bs p57: 20 | roves 0 este do evade seroaolh sstrnnes pdt donjin Di mods eat i sureomeee seme compres Fo ee mel a Ee re acs See ei nae cos oman tt nt Sa ee cuice, ce i rine corees FEF Gos, Scwation du cours in HS, p 48% 08 Be P62 ear Foucaut | 21 Capitulo Il DA PROMESSA A EMBRIAGUEZ: A PROPOSITO DA LEITURA FOUCAULTIANA DO ALCIBIADES DE PLATAO' =r 1. O texto de Platao no curso de Foucault Comecemos por situar o dialogo de Platao Alabusd de Foucault “A hermenéutic primeira aula (6 de janeiro aproximagao inicial de Pla Apologia de Socrates. Mas no que compoem o curso ¢ a buidos, explicitamente, o lt » de paruda. Introdugao, ponto de retere Agaw. em todo caso um marco’, ¢ assim que Foucar siciona este texto que, lido « {amente analisado nas primeiras aulas reaparecera ao longo de todo o curs \ ‘ \ Ma If 10 sours ealinhava. Por isto mesmo, para quem acompanha eee Nowimento do curso, durante o qual uma pluralidade ensadors & taza ao cenério (Epictet, Epicuro, Mareg soto, Musonius Rufus, Filodemo, Filon de Alexandria, ploeatca, Seneca, entre tantos outros), Nao surpreende que na “ltima aula Foucault proponha: “[..] gostaria de volear breve tnente ao texto que nos serviu de referéncia durante todo este ano, saber, o Alibiades de Platio”. ‘Apergunta que nos vem 4 mente, Foucault mesmo a formu- Jac"por que romaro didlogo do Alabiades,a que, ordinariamente, os comentadores nao atribuem uma importancia tio grande na cobra de Platio? Por que tomé-lo como marco nao apenas para falar de Platio como ainda para colocar em perspectiva,afinal, todo um plano da filosofia antiga?™: A resposta que ele nos dé diz respeito a situagaio do Alcibiades «em relagio a obta de Platao em geral e, nela, 20 tema do cuidada des em particular. [Nao cabe aqui abordar os muitos e controversos aspectos concermentes a situagio do didlogo Alcibiades no contexto da obra platénica, mas dois deles merecem ao menos ser mencionados. Primeiro, a posigdo que, a partir do século Hl, a tradigio neoplatonica atribui ao Alabiades"a frente das obras de Plato”, lugar primeiro, inicial’, “espécie de portal da filosofia”, “in- trodueio, primeira e solene na filosofia’ “Alcibiades iniciador”, is 0 que Foucault evoca (remetendo principalmente a Proclo © Olimpiodoro 3.11,» A¥6sed. br, p 532 (aula de 24 de margo,primeita hor) 10 po 168 ed, ps 200-230, 510s p 154168; p Und; ed br. p, 209-214, 293. JF. Pradeau assim * slecama de privé escolar incomparsvel""Durante onze sudo ds flu plana reeebew como introdugio a etura do rena e Matin comerando pela Alabiader (cf, -F. Paves A foe © outro aspect dz speicoa comple quests hie accrade sua dagio,deseulgarnadlasibeone ee Paro ede suaautentcidade Estas quetishorenc rs por Foucaule durante suas lies, Matas vse spon tea (log de lati cujadataemole star neta [borda-as mais ongamenteem uma ala sounds hore tulade 1 dejan Races oconernentedesaceey tae (posta em dvda no scul XIX por Scekamaches) «a0 mesmo tempo, consider “conologicamente rsa Pos apresentandocaraceristicas dos deems periods dor tseritorplaticor, um texto que “parce sas, deco tmode, toda a obra de Patio” Taraduion «Plato, Ahad Traduction indie par Chantal Marbocul ce J-FPradesu Introducion, nots, bbligrapie ee ndex pa Jean Frans Pradeau, Pais, Flammarion, 2000, p22} Mane Laurence Dis ambern Mima que para os artigos o Aide era considerado log trod Fiod fost platnica® (ck Marie Laurence Disco, “Tndaon lito, ‘Meade Tene abi trad par Maurice Cros, ev pa Mate Larence Descls. Introduction et notes de Maric-Larence Deson Par Les Bells Lets, 2002, p. XXVD). 6: Apenas para indica algumas retréneas: Phas (opi) m0 considera um dllogo seri ou de jventude loealizando™ no mesmo grupo constitu por Exhdomo, Ménon e Gargar contemporineo dese Ultimo e antes de Ranqut, Fédon Republics (onsierados clogs da Imaturidade, portanto, no grupo que Mane Laurence Declos denomina "grupo intermedisio™ aps ox" dislogos socratics” ou da venta, anes dls idlogos a maruridade™ ¢ dos“dsloos da wlhise” (ML, Dies ‘py eit, p AXE XN. - 17 Por exemplo, HS, p38, 36,37, 4846, 400, Br p43 ASA 55,58, 507 HS, p 400 bp S07 9-18. p. 7173; br p 9198 10. CES p77. roua ace bp 100.CF amb uo pp 2429. Ver o eno de ff Simian reentemente tau pra 0 portugues: Ptodag alps de Pan, rad Gong O81 1 FP hotas Fernando Rey Puente Belo Homonte Bi UFMG, 202, Th HS.p.78:ed be, p98 sntiasver | 25 1s oromessa a © 1 de Patio expe, para que Foucault ints i ele“ msconante nese dilgo & cao de eo peruse da cogacdo Sosratica ate © que » proximas do ultime Platio ou de Foucault encontra respal na de toda a filosofa seoplatonisms. por outro, feo tema do cwidado de 8 (e, com, 5) que, de modo particular, confirma 10 de Plato este dia meta grande teona do cuidado de si™ grande al do euidad ca * sua “teoria completa’ nysionea ¢ sstematica™®, Em sintese, eis © que ele Pl to do Al cos em gue ¢fita a reorganizacio progre coda 2 velha tecnologia do eu”. Alem disso, ¢ a partir deste « compreendem os posteriores desdobramentos scones da nog de cuidadade ist 6,“todo slocamentas, de rearvagSes, de orgamizagio ¢ reorganizagio festa tvmcas naquilo que viria a sera grande culeura de st na ei" sua “primeira sua primeira o ox & momento plassinico, ¢ nades, raz 6 testemunho de um sade onjuntede ni 9 Tad bop 98 Sp Shel Braga Hs p tia fp SR Tal beep OL pova helensstica € 10 pectivas historicas™* das quais “ome que “marco historico e chave 2. Perfil do personagem-titvio e resumo do vialogo Alcibiades (480-404) ¢ um personagem historico gue py lence a uma geragio anterior & de Platio (428 427-4" 348 [De familia aristocrata, perdeu precocemente os pais ¢ reve por ‘autor ninguem menos que Pericles Para um delineamento de seu perfil, reproduzimos erechos de um conciso retrato feito por Pradeau: “Alcibiades € um dos personagens mais famoses {da via politica ateniense do século V". Sua celebridade dev se-"tanto ao seu papel politica, incluindo traigies e fracassos pelos quais fi culpabilizade, quan a sua petsonalidade bem ncomum: elegance e debochado, de uma beleza excepcional empreenddor e excessivo, ele € 0 jovem ambicioso e desmedido que acompanha a queda do império ateniense™. Ou entio a 18. HS, p. 4b, p68. Reconsiwamos ourrs passgens 8 part Asie e que sensei a hiss do ad deo, de aad peripcas. de ss labora Hosea no pensamento gogo, elenistico emaae” ip “et be, p88) No Alahadereecnhecese "um dss episiosesencias” Iscria do cua oe 8 com elias consiersves durante a clizao ga heleistiae roman” (p 6; br, p88) Nee enconcames agus Snactenstia de Patio que é “uma scbrposiso diadmca, "um apo "eco ente ead de coniment dem gue" enone toda histria do pensamento gree, beer mane, evienteente ‘om equliios ferent, ifvente slags, Onicas dfrentemens 3 Thandie um ow a out, dicbuigdo oe momenas ete ones deste cidade canibom diferentes aoe Sets pos de psa {87-485 be, ps 19.18, p 760 br p98 20.118, p 84, be p 107 21 JAE Pasa op ce 1S 103 promesso a enbrionie: | 27 ssnetnnce Deel (eprodutinds alma so oe mo Pare berate oe on edad dee fee si oo mninarto™ Cond a em ge sempre ee, oer ae cement rds prteades spines que Séerates havia se dedicado a formar: € 6 eaanreeese rece no cenino de es dilogos de Plato. foe cles, aquele que Socrates amav intone, vie tem a idade aproximada de 15 anos e a cena pave por volta do ania 435 .C. No Banquete tem mais ou eae se nas ea cena ocarte por volta do ano 416 aC, No ving gue leva seu nome, a cena se passa perto do ano 432 na veer uerra do Peloponeso (431-404), ‘om idade de 18 3.20 anos, o joven Alebiades esta no final Io adolecéneia,limiar da idade adulta, Idade critica, exereve Fraicanle, “quando se sai das mios dos pedagogos © se esta pura entrar no perioda da atvidade politica”, quando a jovem desea de ser “objeto de deseo erdtico, momento em que deve inypessar na vida e execer se poder, um poder ativo”® af ‘que se localiza a data dramatia do didlogo, isto &, a data em "ques" passa a cena eelatada por Platio, Por um lado, Aleibades nao © assediado por seus cortejadares, por outro, cultiva > polis. eto & que Sera, pla primeira we, Fagamos um breve resumo do didlogo, seguindo de perto as orientacoes das aulas de Foucault. O didlogo é por ele or ganizado em duas metades, das quais a segunda é desdabrada em duas. ‘A primeira metade (trabalhada na segunda hora da aula de 6 de janeira) comega com a evidenciacao dos prvilégios do jovem Alcibiades — bem-nascido, belo, rico, ele em em mente transformar seus privilégios de status em competéncia politica ‘em governo dos outros. Sécrates faz aparecer ento as deficén: ciasde Alcibiades, comparando-o a seus rivais, os esparcanos eo: [persas, de quem a riqueza é maior e a edueacao mais consistence, ‘Tem lugar entao a primeira referencia a inscricao do vemplo de Delfos, © famoso “conhece-te ati mesmo", que neste contexto inicial nfo passa de um “conselho de prudéncia”™,um preceito, rnio ainda um conceito: "Vamos, meu caro amigo, creia-me, reia ‘nas palavras inscritas em Delfos: Conhece-te ati mesmo’. Mais grave porém que a inferioridade em riqueza e educacio é aque, para supers-la, Alcibiades nao dispae de uma certa “tékbne”, 26, No total das 24 horas (em dove aulas) do curso,» andlise mals tie a lade ver mosh Segunda hore ala {Ge de jneto: na prima e na segunda hora ds aula de 1 de jane imi hora da ata de 3 de eee orem, com jf eo, emo 2 logo arravena toto curse na tecorrenc gy algumas vse, Sdtenasntses do texto todo, ere as qual ha das: nde alas Ba, {ques non wer sao especialmente eseltecedorae p aD-201 (primers hora ‘aude 7 de martjep. 7 imei hr mls de 34d ma “EP sy. 36 83, 5b, p 6, 67.45 ws ai Aids Pra red de pangs, fem mites arse par Lo Rl oe olan de. Mea, vied lo tad, p29 lh a Chaat Marlee Ho Fos Hamann, Bn 148 Ba Mae Co 7% th na ea ne et coments lequrs Cason ne amiga Pha, fee a oromessa 4 embriaquer 129 rian pede Alcibiades, como Plutarco eIsdcrates) Palen 3 seme seus dots ao Boa, sen eeyagem que causa fasinio ou indignasao”™, Cortejado nen en eh ae mee orenana it em a dade apronimada de 15 anos ea cena Se re No unc tom as oo spn fol oe adem ae Ne see Mer deine da Guera do Peloponeso (431-404). para entrar no perfodo da atividade politica”, quando o jovem eee eee estan ge de ee eee ee ee coe Ba faicpenener einen Sanne Tre apreses de DSR BML Discs op. ct pK 23. J-F. Poaceau, ope yD, “gift 3 BB te amit p34; 5; ob, p49; ver cambiin 25H p shed be, p07 Ey Fagamos um breve resumo do didlogo, segundo de pereo asoventagtes des aus de ovens. O dees ee ee ganizado em duas metades, das quais a segunda é desdobeata fem dua. ‘A primeira metade (trabalhada na segunda hora da aula de 6 de janeiro) comeca com a evidenciacio dos privilégioe do jovem Alcibiades — bem-nascido, belo, rio, ele tem em mente transformar seus privilégios de status em competéncia politica, fem govern dos outros. Séerates faz aparerer enti as defcitm cas de Alcibiades, comparando-o a seus rvais, os espartanos eos persas, de quem a riqueza é maior ea educacio mais consistence “Tem lugar ento a primeira referencia &inscrigfo do templo de Delfos, o famoso “conhece-te ati mesmo”, que neste contexta inicial nfo passa de um “conselho de prudéncia"”, um preceivo, no ainda um conceito; “Vamos, meu caro amigo, creiarme, crea ‘nas palavras insritas em Delfos:'Conhece-te ai mesmo [1 ‘Mais grave porém que a inferioridade em riqueza e educacio é ue, para superé-la, Aleibiades nao dispoe de uma cera "tne, 26, No total das 24 hora (em doze aus) do cuts. a anise mais Aexida do Alabides €eaizada em quatro horas m3 segunda hors da ala {de 6 de janeiro; na primera ena segunda horas da aula de 13 de janeiro na primeira hora da ala de 3 de Fevereiro. Porem. como afi dito, remisio| 0 didloge atrvesa todo o curso. Esa recorrénia da log, algumas v2, 1 densassineeses do rear rdo,entre as gus hs Juas. nas duas aul fina. ‘que a noasa versio especialmente exclascedoras:p. 400-11 (peimeta hors Asaulade 17 de margo) ep. 436-437 (rimeirs hoa da aulade 24 de marco fk Br, p 507-508, 982554, 27 HBS, p. 3683, 66: ed. br. p46. 67 38, Patio, Albiades 124. Para scpwoducio de passagens,fnemeos vwso de uma ou outa das seguintes tradusden Fences: Paes: Ose ‘plies, cra. ec notes par Léon Robin aca cllaboraion de MJ Morea Pans, Bibliotheque de la Pleads, p_ 288 Ibid, rad. Chaeal Marboet J-T-Pradeau, Pais Flammanon, "2000, p 145: thd. ad, Masrice Crise, Ingo. ee notes de Marie Lauence Delos, Pars, Les Belles Lees, 2002 77-7; Md wrod rad, notes comment aegucs Cazes. FSO {Classiques de i Philosophie. 1998 e129 (03 promess sagan por Sosratesa detinic em ssa, Aleuades acaba por wonha entte os ewhadios, ube ele # gue ¢ 2 voncordia, Mais senavel necessidade de que whem Eas 2 passagem: “No te preocupes, Snguenta anos, sete iil se deve aperceber * so, conforme insiste Foucault, a Se que a verdade no sto conjunto de 9 tal como esté posto, qualificam- tema pré-floséfico que deu lugar ncorporado a9 imbiro da refle sexta vincula-se ao exercicio da acio cyemar-e para bem governar 0s outros), asuperacao sas da agi educativa e amorosa, a necessidade de 3 gnoréncia duplamente, em relacio ao que ndo se sabe va de que se ignora)’ 2 Hip MoXT we amen, p ABIc0. be AOA, ver vambe p58, ‘Alaa: 1274 traduesn de Robin (lta) 100 "al ad 98) ade Chanval Marboeul Prada ta “o mais verge ‘sat py ade M4. Cet ea "vergonhaignorinea” (98) NF) Canara “ima staan igh (p97, Alabiade: 127 wall. Rolin, p. 24%; trad. Mashorl « pI. a Cart 6 tea rae p 9 AT Mr bp 1 LLIB. 8045, remade as p.7475ce br, p 85:57, etomad 20 Foca, Comega entio a outta metade do ext, analisado en seu sfesdobvamento em duas quest0es: primeito, © que é 0 ew de jus ae deve cuidar (Assunta da primeira hora da auls de 13 Mijaneeo)e- segundo, em que contite eudinse atone de Segunda hora da aula de 13 de janie) 1 tratamento da primeira questo (o que é oe?) faz apa ecet, pela segunda vez, 0 preceto délfco, agora como uma referenc Elemento idéntco” porque & 0 mesmo enquanto “sjeo™ ¢ Sinquanco “objeto” do cuidado?™: A ama esa a resposta, nia Sar como “substingia", mas como "sujeito de agbes™ is 6 ue diz o texto: [.]€ da almg que é preciso cuidar, a ela ue deveros dirgir nosso olhar™ Sequese a segunda questio (0 que ¢cwierse?),Cuidar de si & canhecr asi mesmo, esta. a resposta, Na resposta ercera teferéncia 20 preceico délico, agora porém incroduido "em todo o seu explendor e em roda a sua plenitude”, definitva rence wansformado de preeta de condate em conceit flo Encontramos aqui quel rag de“sobreposgio” entre cidade conbecimento desi espécie de origem bifarcada, que diecionara, por assim dizer, o desenvolvimento posterior do pensamento filosfico™ Eisa passagem:"Mas, pelos deuses este preci 30 Justo de Delfos, que evocivamos ha pouco, estamos sguros de de natureza mais “metodol6gica": 0 que é “este 34H, p 51-5244 bp 6667 35. HS, p 5457 ed bp 6872. 3 Pus, Alaides32; trad, Kein, 245 ad Marboeue Pade, 179; trad Crowet,p. 13a Careaunp 109. Observese que subi lo ddlogotarcamenteacescental, a natura mana (8, p 3% ver também p42, nota 25, p Hob br, p30, ver ambi p54 0225, 213) LisosquelF- Puaea fp it, p67) eee "0 Ades, 20 on teri do que ute subi se De eam ses eres alguns su apis sua reagan, naa & uma pesquisa we bomen’ fo arp SPT, ep MGS 670 bey pe 7 Ne tan aeima na 1 ba ramessa a emistaner | 31 vos bem, s0 teremos bem compreen. uyodessenquanto conhecimento da alg fee pneamanatuteza que ela |, volane dere atc pensamento €0 saber [al “Ora,g aac elemento? Pois bem, € 0 elemento divino."* Numa [esta a dinamica: do cuidado de si ao conhecimento de si; Jo conhecimento de st ao conhecimento do divino; do conhe- samento do divino a sabedoria, E assim, dotada de sabedoria, a vlna “sabera distinguir o bem ¢ o mal, 0 verdadeiro € 0 falso, Sabera conduzir-se como se deve, sabera governar a cidade”, 0 {que significa, no limice, “saber ocupar-se com a justiga”™? Entio, no final do dislogo, Alcibiades prometee se compro- ‘mete, "Que promessa faz a Sécrates?” Ele promete aplicarse a Justiga e compromete-se a ocupar-se com ela. 3. Destaques 13, Piética e 2 politica, o erético e 0 divino (© primeiro aspecto a realgar,o mais evidence, €a correlacao entre éicae politica. Ambicionando participar da vida piblica, 59. Pi, Alike Sra Robin p 245 ra Macoous Pade p 1700 wa Groep. Std arena p. 108. {OHS pbk bap 88 4 Sp. roe ambi p. 7071, 43849; br, p88 ee abe 9-91, 585-556, r = 42 Sp Mee be, 9.90. $8.15: p 70: Ver também p. 168-165; ed, br, p. 90; ver também pat? P. 168-169; ed. br, p. 90; ver camb 32 | Foucout, mestie do cldado Alcibiades € po Srtesconducid &impeaivaneceidate saselade de 00 do gore despre tee oer eminettonente Ei ran en cuts Ome pn Pde a ease faunas ats duns pecs de poenn sen si ético e 0 comando politico™. & ae ns comelro, por sua vx ene ambi pola e sun cgi ce € como ue acd por uta ques fandamentas/a_relagio entre o mestre 0 discipulo, relagio sari ajonordonominr ei aa ssssamen ext, ae re edie pedagogic. Ea se nial do dogs se ida suprends, ilo de Clin que apse seen tos tas enamorado 2 dee Fnr de ienquanto os ost sandonarane oe ae como cat te imporarao com comer 3 aeaaet tdarr ane am que teame eae js pl den arr taguclequ cd de que Albee Se eats poles be cdr da dade, Pos ado, a Dengan ula ue na ple Sates ESTO — metre ou gun cj fg cor de que Seulne idem de Al on que se sun abso seen Nii dependnem deabanonar poo de mes dean tomer nga qu teas dnome muas SEE go dann "Ou cosa go seo anda poral tauadindgon mayo veos andere feria sa dn mqueas come de melorar oma posse stn po sPot b euidao de expla Four," cm ser igs cue [tm sempre nese de pr pet areata br Jaime Bruns in Sits, ba romesse & ertiaguez | 33 es sour que 0 est [POEM © Que define om ou eee cud do cuidado qué aquele que tyes on) O mest €aquele que cud ee em des mkeSMO eg, HO aMOF gue ne pul. enconera a possi be de cuidar do oe eal tem des proprio.) 1 oes ao ene eccae politica e entre ética, politica can seem suaalianga com o divino, Apés declarar ee dos demas ea deisio de s6tardiamente ee enudes is oque diz Séeratesna segunda io fos um motivo humano que me SS eetuas un eto impedimento demoniaco™. E um algo a6 que Sdcrates enuncia na Apologia: a “inspi- se dem deus” ou “da divindade™”. Fangio dom aser cumprida,o cua de sé para Sécrates missio 2a pelos deuses. Sdo os deuses que cuidam de que haja cuidado de si Por isto Sécrates pode afirmar. uma coisa: se me condernardes por ser ei como Gausareis 2 88s propos maior dano que a mim”. Ou tereis facilmente, senhores”, de modo agulhio que desperca, ‘passareis 0 resto da vida 0 s¢0 deus, cuidadoso de vés, vos enviar algum smo, Sécrates se coloca como que “Por fazendo-se seu porta-voz. Reconstituamos sagem do didlogo entre Sécrates e Alcibiades 6 * “Iidcsi’”2 lator, Albi, p24 7H roast mest 8 09 cued [Sécrates|~ Meu tutor vale mais e & mais sibio que 0 ru, Petites. [Alcibiades] — Quem é ele, Socrates? [Sécraes] —Um deus, Alcibiades, mesmo que até oda de hoje rio me deixou conversar contigo; énele que me fo para dizer {que s6 por mim, por mais ninguém, ce veka rveagio” Por sco também, jé ndo é Sécrates quem fila diretament, ele dizo que dizo oréculo de Delfos". De modo anaogo, assim que nna sucesso dos dscursos sobre Eros, no Banque, Sécraes dizoque sobre o amor Ihe disera a sacerdotisa Diotima de Mantincia. E, pois, no plano do divino que se passa do cuiado de ao conhecimento de si. Conhecer-se a si mesmo, “tal é0 presente cde uma erdrica superior que Séerates quer fazer". Conhecet: se é conhecer a alma e, na alma, 0 divino: “[.] como o olho se vé na pupila de um outro oho, é na alma do amant, ou equivalentemente na divindade que melhor nos vemos". Dito de outro modo, cuidar de si é conhecers, entendendo-se 0 conhecimento de si como uma espécie de exigencia divina®. (© conhecimento de si tem assim “um sentido profundamente religioso, na meelida em que preside a uma relacio bem-sucediéa entreo humano eo divino”, ainda que caiba a Socrates “dar-the também um sentido filossfico" 53 Paso, Alois 124: trad Robin p.288 ad MarboeufePradeat 146, ead. Crone p79: ead. Cazeaun p 8% Acrescentemosa elena ‘que Foucault fa 3 dela de salvage. "Salvacio dese saacio dos oro. (terme salvago ¢sbrolotamentesadicional. Com fat, 0s o encom ‘mos em Plato preisamene asociad ao problems do euidado des Ado euidado dos otros. precisa sarc, harse para sahar 0 outros (1S, p74 be 222) 545). Caras, "Tnrducton” a Phaton Alsi, p. 25, S8.tbi,p 2 56. Bid, p26; dstaque nos. S7-CEJF Pave, op cts p38 58 MLL Discaos op it p XXX a romessa a emariaouer | 35 para comet pena areata, © que & a justca assim, sade Ou dito de ouero modo: a formagio do Seen do culdado de sco euidado de si requer ve rotons com o mest; conduzindo o diseipulo ao “fo divindade, o mestre cuida de quem deve lic Fe cuidar de si - os isto mesmo, engana-se Alcibiades € no se revela um sous aanulo quando, 26 final do ddlogo, atsbui a Sécrates eee ne esse bem compreendido o mest, atibuitia 20 SERS Tesamos uma parte do didlogo final encre nossos personagens! — sabes pois, qual o meio para escapar de reu estado a [aleibiades] ~ Sim, eu 0 se {socraces] — Pois bem, equal é este meio? [alebiades) — Que ea me ibercaria sob a condiglo de que tt ‘0 queitas, Socrates! [Sécraes] ~ Nao € isto 0 que deves dizer, Alcibiades! (leibiades] - Mas que devo entao dizer? [sécrates} — Deves dizer, sob 2 condigdo de que deus © [Alabindes ~ Eeneo 0 que eu digo!” Podemos repeir Pradeau, que vé neste trecho do disloge final uma prova de que “Alcibiades nao compreendeu Sdcrates 59.C£ Cs, “ntmacton”a Paton, Aebiade, p26. sal, Ris Alber Se wad, Rabin, 250; ad. Mabows € rae, 191-19; trad Cros, p 127; trad. Cazeau, p. 116-17 3 Fou este do culdado ce parece incapaz de sar da relagio de obediéncaefscinio. Seu curioso amante Ihe inspira. ave b. Al promessa e seu malogro Embora Sécrates ndo consiga que Alcibiades ocompreenda, rele encontra uma ocasiao de “esperanca”, de “antincio", de ‘promessa”, E, como que num suspense, Foucaule assim nos encaminha ao desfecho do dislogo: “[.| apoiados no conhec mento de si que & 0 conhecimento do divino, conhecimento da sabedoria e regra para se conduzir como se deve, sabemos agora que poceremos governar e que aquele que tier feito este ‘movimento de ascensio e de descida poderd ser um governante de qualidade para sua cidade. Alcibiades entdo promete™. ‘Convém pois que reproduzamos as frases exacamente finais do didloge: [Alcibiades] — Pois bem, ese decidido;a partir de hoje, comesarei a cuidar da justigal [Sécrates} — Ah, como desejaria verte perseverar! Tenho porém tum grande medo, Nao que desconfie de cua narureza, mas constatando a potencia de nossa cidade, cemo que ela nos eng, canto ati quanto a mim* ‘Ougamos dois comentarios deste epiloge: “A vida piblca, contudo, leva a0 risco de corromper a boa narureza de Alcibiades 11. J-¥, Papa, op. cit p 218, noe 16 2€F J Caren "redacion” 2 Piston. Aide, pHs 22,24 J-¥. Pane, op ci, ps 33 63.5, p70; el br, p90 (4: hart, Altiads 135 trad Robin, p. 25; a Maou an p.t92vuad Cros p129:rad cazeaus.p. 117-118 Obsenaci: atic Ue Croisee ar "nowt pow onde a ones raze ross Nad ta oromessa a ertiaauet | 37 sda a influgncia de Sderates’, escreve Ma + Pradeau adverte: “Esta Gltima ameaga tem so depos que sabemos 0 que efeiamente ig seperate ¢ Aleibiades (est Gsimo retomando, ee fcagas eu compromiso no mantida)™ Harti fo oconfronco ere Alcibiades e Séerates no final rane ur Foucaul, “faz eco a0 tema do Alcibiades”, ramos de Alcibiades como que uma “ou- ‘o modo negativa, em todo caso rardia e inquete, encont rm, de cert cida™ cre, cuja data dramatica situa-se por volta de No Banque do nec, Alabiades tem aproximadamente 35 anos: “esta no 2 pose, esceve JP. Pradeau™ “em plena prosperidade polities Frente da facea0 democritica” firma Cavalcante de sonra Durante ojantar entre argos, na casa de Agar3o, que ‘em um concurso lteriio, sucedem-se 0, cada qual Fazendo um discurso o politico Pausinias, o mé tleelogto ao Amor (0 jovem Fedro, ‘ico Brinimaco, © poeta cOmico Aristofanes, o poeta trigico lagatio e, por dima, Sérates"). Aleibiades irrompe de sibito nu cenira completamente embriagndo — “chefe da bebedel (65, Mel Dass op. it, p XNA. fo.) F Panna, ope cit, p. 218, nota 167. (G7 Sp 68 rp 215, C-exprssiosemelhanteempregada pot 1-6 Phaora op- tp 19, m0 3, ai ane bp 218 i una o cep. ‘rn Soon PaO ang ad ino | olan ay 4 sug cna dered de ms ves (i ae Mae Gopi) deo Da nc, Da "al smeasbns arse named ane ea 38 Foucault. meste do cudaca como a si mesmo elege” E, numa espécie de corelato con {roto do elogio ao Amor que Sécrates,repetindo asacerdotca Diotima, acabara de fazer, Alcibiades faz 0 elogio a Sécrates. Sempre enamorado, araca ¢ louva Sécrates, este homem que jamais se embebeda, mas que seduz pelo poder da plawa ¢ tnfeiiga pla forca da argumentasdo. Como que em paralelo& proms aero, segue agora um arent "Bp menos, Penhores, se ndo fosse de todo parecer que estou embriagado, tu vos contatia, so juramento, 0 que & que eu soft sob oefeito dos discursos deste homem, e softo ainda agora". A exposigio das insuficiéncias das qualidades de Alcibiades segue-se uma xplanagio invertida: “Sabeis que nem a quem é belo tem ele ‘minima consideracio [..J, nem tampouco a quem é ric, nem stjucm eenha qualquer elo de honns™, Ente a observant dios argumentos de Sécrates ¢ as gliias do sucesso politico, ts impasses de Aleibiades“[. tenho certeza de que nio posso Contestarlhe que nio se deve fazer o que ele manda, mas quando ne teiro sou vencido pelo aprego que me tem o pablico. Safo-me tntdo de sua presenca e fujo, € quando o vejo envergonho-me pelo que admit. E muitasvezes sem diva com prazeroveria fhao existe entre os homens; mas, se por outro lado tal coist Scorrese, ber sei que muito maior seniaa minha dor de mode Gque no sei o que fazer com este homem™ E, por fim ¢ mals Gque tudo, a confissio definitiva do compromisso desfeito:“Pois the forga ele a admicir que, embora sencdo eu mesmo deficiente fem inuitos pontos ainda, de mim mesmo me decide eato dos nnegécios de Atenas” 72, Pao, Bangurte 213 eb p68 D8 Ibid, 215 cbeve br, 178-0 go € 080 74 Ibid, 2c; be, p 17S; destagne soso 75 bid, 216bec ed be, p17 276 Abid, 2a, eb, p 17-174 estas 05 priguer 139 ba pomessa 2 ent 3 EE ste sentide que encontran srece «ado caber, {40 genenica quanto, vans « catastrofes do Alcibiades real ppequeno interval entre a promessa ¢ 1m paralelo, a inicialmente suge LU. Ecos do Alcibiades hoe? ambicao" de Atenas, deste Alobiades que “enearnow cau esreve-“Ele tem todas as pre to da propia Atenas, cidade omperialista, falante e orgulosa” ‘omy la. ele « falador e vazio de justia’ |... "somente belo, bincnge neo” Assim, -condenando Aleibiades, é. ambiciosa Atenas que Patio condena” Paralelo semethante lemose JF, Pradeaus "|. éa figura jue melhor pareve cet encarnade 0 periodo que vi Atenas pussar do apogeu de um seinado sem divisies sobre © mundo serrata e da ocupagao no final da Guerra Floponeso” Assassinado fio mesmo ano em que acaba a juerra 04 aC), Alcibiades é uma espécie de “alegoria do des- “hho de Atenas. Mas também sua vida toda & descrita como 1 alegona” da historia de Ateni ‘Como Atenas, assim ele verso, acusado de todos os excesses, de Poe op ssp 1S rato ato, Maha, p10 uma ambigio desmedida ¢ costumes deploraseis, aX icessantemente lousade por seu carisiia sua aaa amb 04 aire pela maneia como patece jamais ter poi dsoviar ea Geotino do destino da cidade” |..), “destino paradosal de wma cade democritica que defendia a liberdade, mas dominsndo lim império, que cultivava o Fausto baseado em um tesoure iMfonial extorquido das cidades ‘aliadas’ e que pereccu 1 “oniflitos que ela mesma provocou"™ Estendamos ainda mais, com excessiva licenga certamen te, mas com alguma verdade, o alcance daguela frase em que Foucault faz tudo caber e, dela eliminando os termos que s rua personagens e localizam fatos, poderemos entao ler que spaguicle Spequeno intervalo entre a promessa e a embriaguer {esenhados, afinal, “todos os dramas e catastrotes da asa coneluir na critica Alcibiades a critica a incompetén cae a ignorincia que minam por dentro o poder democratico ‘quando firmado no na sabedoria, mas na recbrica, “uma cerca serorica ateniense imperial e belicista”. Eliminemos, também aqui, o.adjetivo “ateniense” que circunscreve o fato,e poderemos refletr sabre os iscos de qualquer democracia quando firmada numa certa retériea imperial e belicsta” thd p18 5 had, p48. Ver ambi p36 p62 90 Capitulo ill o CUIDADO DE SI — SURGIMENTO E MARGINALIZACAC' mto deve suscitar, fenimeno cultu ir, na historia do 0 desafio que toda bistiria do pensame ‘em apreender 0 momento em que um jada, pode efetivamente constitu: um momento decisivo Micuet F [..] 4 aposta, estd precisamente ral, de dimensao determin pensamento, desenvolvida no periodo hele “cuidado de si” no rita. Mas consutut | de Inaugurada na Grécia antiga € go da nogao de circunsc fendmeno cultural nistico © romano, a inclus: co é historicamente Foucault denomina sso quer Sigh “de dimensao determinada” ¢ cisivo” que afeta toda a sta nogao da campo filos6fi também o que conjunto”. Com esta expre nificar que se trata de um dado contextualizado, “um momento de assim que mesmo tempo, de historia de nosso modo de pensar erapeutas Em ume de 2132 1o Filosotos eT 1006 Publicada no vol Pscuta, 2007, f ntada ne Cc PUC PR Cuatiba san Paul J Comunicagaie apre Questo da Cus », org, Damel Omar PF mn for 21s p ied be p 43 stra da texualidadeeUlcimo tvgy 984), Ja antes, porém, cle aescolhen juror do curso de 1982 "4 a expressio grega epiméleia beantogg Ao longo da historia da filosofiay modalizada, dando lugar a uma “série gue Foucault estabelece um sucinto inventéio, rnaigo mesmo’, “ter culdados consigo”, “retirarse recalher-se em si", "sentir praver em si meemor, somente em si", “permanecer em companhia de mesmo” “ser amigo de si mesmo”, “estar em si como numa se”, “prestar culto a si mesmo”, “respeitar. (Ovclumoso curso de 1982 é uma hist6ria do “euidado de ‘Dot momentos desta histéria‘, Foucaule dedica a maier parte de suas aulas aquele que considera seu perioda aureo, a saber, o da “cultura de si” elenistica e romana, especialmente ro epicurismo e no estoicismo dos primeiros séculos de nossa era Portm, precedendo e fundamentando esta demarcagio brica por ele priorizada, as aulas iniciais so dedicadas & descricio da instauragio filos6fica inaugural da nog no assim denominado “momento socratico-platonico”. Sintética, porém densa, esta primeira descri¢io € uma referéncia constant, retomada ao longo de todo 0 curso, como que a atravessé-lo perpendicularmente. E &nestas mesmas aulas inicais, em meio, Portanto, a descricio do nascimento filoséfico do “cuidado ce 3 HS, p. 140d be, p16 4. Foucault exqueratiza esta historia em ctés momentos: 0 de st ‘sscimento losin, culos V e1V aC, momento socriticoplatdnico;® 1h su ida de outro”, seus I Il AC., momento helensico toma: ‘aca passagem do ascetsmo pagio a0 ascetsmo cist, séculos IV eV. CE Usp she be pale ee M4 | Foucault, mest do culdado Ela € diagnosticada em dois ambitos:primeismene a2? sécie de esmaecimento moral do proprio concerns gens Shee sugeesidamence quem ashe Bose da mayne demarcur outs soerenes See a aati eee ea aes 1. Sursimenta da nocaa- Como se sabe, nio é 0 “cuidado”, mas 0 conkecimento de "(nde seautén) que adquitia importincia na tradigio hse riogréfica da filosofia. Uma das inscrigdes do templo défc, conselho de conduta a0 consulente do oriculo, o “eonhecete ti mesma” passa, por assim dizer, de preceito a conctito quando, na figura de Sécrates, & incegrado por Plato & filo sofia’, Mas o que Foucault realga env suas anlises€ que eta incoxporagao filosofica do “conhecimento de si éconcomitante 5-H, p. 32; br, pA 6. CES, paticularmente, as al Apel e Alcbes: sss de Focal sare 0 ioso® imeratiacto 145 © culdade de si — sumer # maar cuidado” Ou antes, no momento originirio de ‘ LEER ioe das daa nogte, 60 uidado des que me gos abarca eda sustentagdo a0“conhecimente wm um echo do ico de seu curse “Ora, quand srg prec dco (ith sent), ele est, algun SEE manera muto agnicatva,acoplado, atelado ae Jipo do cunda de: mesmo (epee heats). Eu de Copa atelado™ Na verdae, no se trata totalmente de din acoplamento Em alguns textos] € bem mais como me cape le subortinaci relatvamente ao prececo do culdade dr que we formula a regra‘conhecee a mesmo’ Opty ‘etn (conhecete a 4 mesmo) aparece, de maneia basta te clara, mats uma ve, em alguns textos sgmificativon, no had mats eral da epee bent (cuidado de si mesmo), ‘emo una dat formas, uma das consequéncias, uma especie de aplcagio conerca, reise particular da regra geal ¢ preciso igo mesmo, que nao fe eaquegas de mesmo, que te ocupes co que Fenhas cuidados contigo mesmo. E neste ambito, como. ‘que no limite deste curdado, que aparece e se formula a teyra “Apr depos da figure crates, partic ‘res est romana go de undo” ota for tundamento do ee Duan carat onbecimente’ Zagoes yerats do “cuidado de st” — no perso: snags Socatenc depos de Socrates, no pensamente helenistico mano recolhidas em dors trechos das aullas” podem se ‘ut sinteuicamente reproduzidas scent 1. p11 HIS: er tamber, sobre # rates a segunda hora da aula de 3 le marge 1982, eral al de 17 de marge 1982p 406-407, 46 Fouca0n.mesten >» Em Socrates, 0 “euidado des” remete aura fim a ele confiada pelos deuses; designate uma poss ques do mestee J fiem cumpreensinar os concidados car des determina ihe um papel, que € 0 daquele que despera ¢inqueta “apd Socrates, o “euidado dest" remete a uma atade gral aque div respeit a um modo de pensar ede conduzinse deg tha uma atengdo ou converse doolbarvnculada av sentido de nana e exeratarse, determina aoe cwyo eewto ¢ punticador transformador. ‘De todo modo, nas duas caractenzagoes «depois dele — 0 “curdado de s1”€ uma nogdo que “acompa thou, enquadrou, fundow a necessidade de conecer-s¢ 4 3 mesmo", copstituindo “um principio fundamental” da stude =r fem Socrates filosaica" ‘Ora, 0 destino historico destas duas noses ‘conhecimento des!" - ensaia uma especie de cenano bifurca lo no proprio destino histonico da filosofia, desempenhando cada qual © papel, por assim dizer, de matru de duas inhagens nento, de duas modalidades de conceber a arvdade "1 e de a praticar, S40, por um lado, a filosofia come ‘oundado” € de pen filoso jamentore ética de vidg e, por outro, a flosoa come rte representative. Abreve e apa It ennertou em suas primeiras pelo acronica tellexao que Hou alas suigere que a via da representagan sera alicersas mmbiéncia cartesiana” Mas ja antes desta que se pode nomear sedimentagdo no plano do "conhecimento” a via da coca passou fragilizagao do “cundado” & esta fragt se trata agora de abo 0 candado de si sugimento # mara Desorestigio mora! séfiea inicial € em seu subsequente de ado de si” fos preponderante, sera, come je amenta des que, ao 7 Jeri estatuto penlegiado/ Buscando entay desqualifieacan do “Cuidado”, Foucault esboga usando suas proprias palavras, delineia tos de mnterrogagao e reticéncias™, go da histonio P ceoes acerca destas hipétes sganisadas ein dows blocos. O primeiro concerne a morale nuontramon a desenigio dos “paradoxes” veieulados pela sopra nogao de “cuidado de si”s0 segundo concerne a verdade cic e econhece oassimn denominado "momento cartesiano”. >> contotnos que tragamos para esta exposigao, como jé foi Jivo,abordaremos apenas © primeiro bloco de reflex CConsiderando o principio do “cuidado de si” em uma pers pectia priogitariamente moral, constacamos que ele gerou dois pparadoxos, Desde logo, observa-se que o valor do “cuidado de * sofieu, radicionalmente, uma espécie de inversao de sinal Ue indice positvo, no sentido de acentuar uma moral social € coletiva, passa a um indice negative, no sentido de uma eénica nudiiduaita. Basta repeti, aqui, aquele “inventério” de formu- lacoesa ques nogio deu lugar, reunindo expressdes, codas elas, «com ronalidade autorreferente: “ocupar-se consigo mesmo, “tet ‘uidados consigo”, “retiar-se em si mesmo”, “recolher-se em “sentir prazer em si mesmo, "buscar deleite somente em ""permanecer em companhia de si mesmo", “ser amigo de si "no" estar em si como numa fortaleza”, “cuidar-se”, “prestar 8 5 mesmo”, “respeitar-se” ete". Complementando este podem ser esquematicamen eames: tua bra da primeira aula Jenco, que € Sere (6 de janeiro de 1982), encontramen asada oe pro primes hoa), ber “ime able de expen?” A ne dean ni et deepened pl prio Fah va _enrados em notas por Frédéric Gros ~ skongaiada i au cnn eee primeira expresses que remeter a alosde conbecimento, 0 vp sobre si ou a pereepedo de si mesmo, tais como “examinar “yoltar 0 olhar parao interior da sua casa ene ” aoeeeeecins” exe Fim passagem posterior isto, na primera ce ale de 10 de Fevereiro, Foucault evoca, entre outras, a aia -ametfora da casa” extraida precisamente do Tae de aanreadade, de Plytarco: 0 olbar sobre sé semelhante s janclas sera casa que "nao dever abrit-se para as do viinho", i Sogunco,expressbes que remeter aum movimento no 36 doclhar mas da exitecia por inter, tis como “retirarse em i, “colherse ems, "descerao mais profundodesi mesmo" Trat seaqui do sentido forte de “conversio” (metinaia ou converte), Gque €a acieude de “reflur sobre si mesmo” ou de instalaese em Siimesmo como em um Iugar-efigio, uma cidadela bem fort fad, uma fortaleza proteyida por muralhas es.” Release a passagem de Seneca reproduzida por F. Gros: “Que a filsofa trga em torno de nés a inexpugnavel moralha que a Fortina ataca com suas mil maquinas, sem abrir passagem- Mantém tama posigdo inatingivel a alma que, desligada das coiss de fora, defende-se no force que ela mesma constr para HS, p. 82.88; ed, br, p. 104106, 12. HS, p. 210; ed. br, p. 268-268. 13. States, Caras Luc, tM, cara 825, psa F Gros em M. Pouca, 5, nota 10, p. 98; Br 124 sm eproduida Fo" 1s margoaiaacs0 | 8 0 culdada de si — surgimento © >» ect, expresses qu remetem nio agora a atin slbais, mas a aividedes ow condutas particulars. E estas oe sjobram em crs ordens. Algumas relativas ao vocabuldn tls como "trararse, “curarse”, “amputar-s", "abrir ser rst Bomesencgtrener emer sere de sua escolt de los, reproduzid por Foueaai ce varias passages: a escola defilosofia mio € primeizamente lugar aonde se chega apenas “para aprender, como flosofal, para aprender a discuci, games et" ditiamos, ara aptender a arce doy ‘uma escola de filosofiaé “um ‘gabinete més um iareon’ “um hospital da alma”, um “lispensitio dy alma’, que se frequenta nao quando se esta “em boa sade" mas aonde “este chega com © ombro descolado, aquele cont tum abscess, 0 terceiro com uma fistul cabega” exes" la, outro com dores de Outras sao expressies particularmente relativas 20 rocabulario juridico, cais como “revindicat: “fazer valer seus direitos”, “liberarse”, ‘Outras ainda estio vinculadas a0 voeabud ‘culeuar-se",“honrarse",“respeitarse” de si mesmo! “desobrigar-se” ete rio religioso, ais como “envergonhar-se diante = Qurto.epresiesqueremetema um eto pode mo pervect pr sua esse deat ens pos. Algumas se inspitam em mld de dons «in rcs como somes” Ouree tisomo" set pater consign om presen de st stare clizem respeita a sensaries, “alegrar-se consigo”, “ser feliz Penta gS? 36-4 12122 usages ems ekeaiy Ted beep Ldyorane een te congo, "PB “ ‘ or Foca usin Sed Be 50 Foxcaus, este 80 cused nds" ou “20s N0580s OUVidos", soam como indicat was dealguma ioisa como “desafio”,“bravat *"vontade de ruptura ete” og Simo una alternatva “melancdlicaetrst”simposibindes, ‘Ieuuma moral coletiva ou civil entio substcuide posta de conduta egoistae individual {certo que esta leicura moralmente“negativa”do“cuidado de si” foi reforgada por uma cert interpretagio do periods helenistico € romano largamente defendida por respeitados historiadores e até bem pouco tempo incontestada, Conem explorar um pouco esta interpretacio histrica telembrada por Gros em uma longa nota. Tratase da tese segundo a qual, por falta de condigdes politicas de liberdade social ~estando 4 Gréciapoliicamente dominada, desde Alexandre da Macedonia Império Romano ~, a valorizasio da a¢30 moral, civia ¢ politica do fldsofo, cao fortemente acentuada na Grécia csc, teria sido substicuida pelo consolo, por assim dizer, da liber dade pessoal, individual ow interior, Esta tse é partlhada por historiacores eassicos da filosofia, como Brehier, Festugitee Aubenque, Tomemos alguns exemplos. Emile Brchiet, no capi tulo sobre “o estoicismo antigo”, depois de afirmar que aidade helénica or uma pro, durante a qual “a culeura grega se cornu urs bem comum de todos os paises meditertineos’ aspectos, “um dos civilizagao cident foi, sob certos ais imporcantes periodos na historia da ‘klentifica aia *marurisade" eo “evidente declino” de ur tipo de filosofia distanciada das “preocupagies politicas”®, Pie Aubenqui, autor do capitulo sobre "as filo na obra organizada por E, Chitelet, também A importaneia deste period, durante © gual "misturas populagdes, consecutivas 4 consuista de Alexandre, fario| Sofias helenistica haw de IS-F Grovem ME Focewer Hsp. 28 nota 7ied BSE 16. Batu, Hstome de Ls phloxphe. Paris, PUP, 1967, tI. fase 2 9288 docaque none marinas | ST © cuidado de =} — susimento © Slosoa tena entdo conhecido: “A perda de sem por primeito efeito, na jondade ¢ da exterioridade, ur “E 0 momento em que a ‘omem livre, ue até entio se confundia com 9 ‘vicos, se transmuta, por falea de melhor, sn iterdade tenor. em que 05 ideais gregos de autarquia e de mia. que procursvam até entio se satisfazer na cidade, onfiados unicamente aos recursos espirituais do omer india ()” TF esta leitura do periodo helénico © romano que a partir da segunda metade do século XX (em sequéncia aos trabalhos fo estudioso e epigrafsta Louis Robert) foi contestada. Outra te mais recente interpretagio é partilhada por historiadores como Paul Veyne, Pierre Hadot e, na mesma direcio, Michel, Foucault. Como exemplo, algumas passagens de Hadot, extra das do capitulo 7 ("As escolas helenisticas”) de O que éaflosofa «antiga?, Depois de afitmar categoricamente que “€ cocalmente ceeroneo tepresentar essa poca como um perfodo de decadéncia", prope algumas reflexdes: “A precensa perda de liberdade das cidades no provocou a diminuigio da atividade filos6fica. E porvencura pode-se dizer que o regime democratice Ihe foi mais favoravel? Nao foia Atenas democritica que instaurou um pro- cesso de mpiedade contra Anaxigoras e Sécrates?". E continua: ‘Nao houve, na orientasao da prépria atividade filos6fica, uma 7 F Auninott, As Slovo heleniscicas— estoicisme, epicurisme, ‘osm in F Care (ong), Hite de fla — ideas, doutrinas, ad Almeida Rode Janera, Zaha, 1973, I, p. 167-168: dest= endomaiin ai gan etn tnt toa dinate ea age m cle a moral do individuo € eriam se veltado para a intemor Sa sleet gia ands Se alt metnenielapiccns pete Se A mans crepes aia ger oe tee pa ectcicn Uepetnd toca 2 A er pono os ee ect Ca bt sarc Gn pation) eu Boe te oc on ous nom lo ae as hd malate oepescre ak eter Adie ir apa qu opacontcc rade tapi aude apts Oa mated Wome dtealtncis dia ev que na ane eas pe pe char alas sur sentiment ques ab atopeiog mene aro homens do mundo pret romano" Pay ype 2 ears dows pode pea enuea uaifonte de ine tan’ abnra que sobene eo cnfuensclnoenes tlds circ ec efenes epee Pojuononcanees dese nle dogs pelo mena et sevndor eames, dame” fae gor snd solo shes snplardade nial om conspeniga so quan spond, 16. P Hoon, 0 que & «foi anti’, ra. Dion Das Maceo. asl, Loyola 1999, 14-145 deseague nosso 18.CE M. Focennr, Hiro de saat I~ Le sous es Pass {alma 1984, especvamente, py 1OL-AI1, $897; Hans dr a 1 @cuiado de 5 rad M. Thorn da Cosa Abugueret Rs Se 8 Gea 985, respecvamente p88 108.4799 20.M Power Levu dep 102 0 Br. p89 53 © cuidado de si — suis fomesticas et); (EPC, © CEEMO diz vis relagdes consigo”, quando se toma vsynecerse, para melhorar a si mesmo, para 2 estas acepybes posiem arcicularse ou sobrepor ee hanmntas “ha sociedades 0€ gFUPOS NOS quais a wc intensificada e desenvolvida sem que por isso, sano, os valores do individualismo ou da vida cados”.E neste sentido que Foucaule vr oo period helenisneo @ romano o desenvolvimento do a de-uma cultura de si’ na qual foram intensificas slonzadas as celagSes de i para consigo”™ que podemos reconhecer como primeiro para: intensificacao das relagdes parece terse prestado ciades ascando o sentido nical de igo" hisconcamente 0 “cuidado desi” indie com uma “aticude indvidualista” e mesmo com srs salonaacio da vida privada’. Este paradoxo, por sua vez, vforgado por um faro que Foucault chama de “suplemen- tar’ mas no menos importante. Com efeito, foi a partic da odo de ‘euidado de si que, precisamence na contramdo da ‘dew de “individualism”, se consttulram “as mais austeras, ‘mais rigorsas, as mais restritivas morais, sem dvida, que 5 Ocidenteconheceu”,inauguradas epratiadas no pelo cis cianismo, como habitualmence se eré, mas pelas filosofias da paca helenstcae romana. Em suma, pois, de um lado, temos «“cuidado de si invertendo-se em indice negative, de outro, ce papel de mate (ou de "principio postive matricial") das ‘ais igoross regras moras ‘Um segundo paradoxo completa o primeiro, A moral austera do asceismo pagio © suas regras severas vinculadas » cee so painipio do “edad dS embora anima oe mia "quer na moral cist quer ma moral modem cess Agoa porém 0 mais devas em “indi ose a secon 9 ema a ol tapos ue no send tito deren an ue 1 moder de bia para como urs (poe exemplo, se dade” “clase pti), mas sempre scartan- < rrearecimento do sentido primeiro do ‘cuidado de si 0 oe elao desi para consigo™ ‘Consideradas juntas, estas transmutacées desenham, afinal, an so paradoxo: € 0 “cuidado des” presandose a redundar or Piano do “egoisme” quanto do “no egotsmo”. Exe Feito bloco de hipStses que, de certo modo, expicam «sii hsterico da verso orginal do “cidade et sdesonsiderado, acaba po “despre a peo Jee acko dos historiadores™ wr ayilizacao moral da nolo no € Sendo um prime: so anata de sbordagem nem mesmo o mais seni Oxo ub, ecte nto mais no dmbito da moral, mas no da verdad mracerard que a marginalizagio do “cua des” no prover smrnene doe desdobramentosa que a propria nogiose press também eprineipalmente consequéncia ou acompanhamento tia quaifeagte do outro poo, sto da peilgiada vaoriasto do conhecimento” Sob o nome geal de momento cartesian" tsteeo segunda bloco de hipéteses, prac qual Foucault sugete tutras reflexes, Para nbs assunto de outro capt xe Por Uma tima (ou introdutéra)observagio. Se recomarmos dois marcos que nos serviram de pista, a saber, 0 surgimento © © quase desaparecimento filoséfico da nogao de ss diremosentao —utilzand uma meifor "me do eng 23,15, 1S; ed. bes p17. 24H, p.1Sced be p18 0155 (0 cuidado de si — surgimento e masala 10 de sa vida flOs6ea a ogy 1 enfermidade de ordem moral e gus, spitulo IV g CUIDADO DE S! — MOMENTO CARTESIANO' ~ al, meu caro Sécrtes ct Prario, Aca 104 Alaibiades dispoe-se a ouie de Sdcrates os ensinamentos gus o habilivem a conguistar 0 comando de Atenas. Eo que si Séerates? Que 0 justo governo da cidade comeca com o gover no desi mesmo e que se governar implica conhecers nese contexto que o dialogo platonico integra a imbito da riexso flosfica a tecnologia ou arte de “ocuparse consign” ¢, com ela, © preceito délica de “conhecerse a si mesmo” Er seu |. Comunicagia apresentada no Colaquifnernacional Cacti de Foucault, Natal, UFRN, 2007 Pabliada no volume de meso 1. Muniz de Albuquerque Jimior, A, Veiga Net, A de Sours Filho ovizonte Autenwien, 2008, p. 368-975 2. Segundo a tradugao Fancesa de Cazes Pans. ib Frangaie, 1998), nog de“euidado de sn logo Al eH (ef. "Intraducton’,p. 31). Segunda a eradacio de MC as elles Lettres, 2002), hi dezenove acoeéncas no pot cl Ailogo e mais quatro acorréncias depots (Fp 787, N00 82 ‘tua 0 primeio grande aparecimenta rw de 1982 °A hermenéutica do sujeito” Foucaule mostra sue antenormente & sua incluso no universe da Filosofia a vitae entre as duas mogSes comportava, originariamente, " pomazia do “euidado”, nogdo mais fundante e abrangence jue ade “conheeimento”. Mas, na dindmica do pensamento plaednico, reconhece, por um lado, que esta telacio tenderd a tnvercerse, subordinando 0 “cuidado” a0 “conhecimento”. Por jutro lado ~ e isto pertence ao que ele denomina “paradoxo do platonismo" —, reconhece também, como “caracteristica de Platio”, uma espécie de “sobreposicao dinamica” das duas ‘nogdes, um “apelo reciproco” a articuli-las, de modo que “ne- nnhum dos dois elementos deve ser negligenciado em proveito do outro, Esta “sobreposigao” ou este “apelo.reciproco”sustenta ‘um vinculo indissolivel entre 0 Ambito do|conhecimento (que remete & questio da verdade), o das condutas (que remete 2 consttuicio ce de si) e 0 do governo dos outros (que remete deste pale» o arnomnasnoe queen tice raga testa na eo da propia vida como eaénca bela Giremes endo que daconuneo entre confecmentoeuidado de dseguese a asociado entre o que hoje denominaviamos planosepsemolgice, ec, palin e eco. Fo nase Gago quese vi esagrparse quando, aolongo da his do penstento cident nor de “onhecimento”tornouse preponderant, enquanto ade euldado”esmaria-e A pti dat gana relvdcia 0 deseo que Foucault i primis ao cut de 1982, expressamenedeclarado: "Porta { ceaiado des elavamente a prilégio eo longament Cone ao conbecmenta desi, qu, neste ano, gseara de 37,45, 5D ed. br, p. 4,57; 64. idea eds passagens em que "ea nord de ‘conheimenco de aa saber, emt [24b, 1298, 132 Ch 52 6567 ad bp 63.6, 8586) saver emergit™ Retenhamos esta afrmagio Ela sed eomada nas adiant “ao tencionamos aqui analisar a proposta foucaultiana gereasurgimeno positivo do “cuidado", Antes, dela nos aces pos pela margens, exporando se “negativ” ou, mas stecsamente, buscando compreender melhor adesvaloriacto Preica do “cuidado”, Para isto, noss0 camino segue indica pes que 0 proprio Foucault fornece. Exquematizando muito sinteticamente 0 que j& foi ex plkctado, podemos dizer que a dissociacio entre “cuidado"« Prpnhecimenco” de si esténa origem de dus vis que marcam, na eajetéria do pensamento floséfico, a concepgio ques tem {is Blesofiae a correlata concepei0 do sujeito: na via em que predomina 0 “cuidado”, a filosofia € pensamenco inseparivel da pritica de vida e a ela cosresponde o sujeito de agdes cuja terdade ndo tem esséncia nem substancia porque se constitu ¢ transforma se continuamente; na outra via, flosofia€conhe- timento priortariamente “representative” a que corresponde 6 sujeito do conhecimento cuja verdade &substanciaessencial rence invasive, jé dada e consticuida (© problema que nos colocamos ¢ ompreender como se deu 4 passagem do predominio do “cuidado” pata o do “conheci- mento”, Foucaule levanta dois tipos de hip6tese Primeiramente, hi um grupo de explicagdes que descrevem a ocorréncia, 10 ecurso da historia, de certa desfiguragao mora! do signifies do do cuidado de si, evertendo diretamente no desprestigio da nogao. Este primeiro conjunto de explicagdes fo: eratado "0 capitulo anterior, © segundo tipo de hiporese, que € de ordem prioritariamente epiemolagcs, consiste na sobrevale agio do “conhecimento”, incidindo assim, indietaments, SHS,» 67-68; ed. be, p86. i 6 CF cap, °O edad dest — surgimento ¢ marinalia nesiano 158 © culdado de si — momento cove desqsiicagio do “vided”. xa hipsene ssne que Foucault denomina “momento cartesiano”, eee nds anc do “anne O cahccpas seaeees Fee ca qn premceons aps epee i ora se permiza um raro “saleo de muitos séculos", de esata us efsénca de Foucul ao “moreno wc asl gue compe “A ermentatin feos pees ee a ae epee easel) oy Poe Sc as sermon rec cours soe percannene en fad ‘spare a ca (1963) A aes mene fe eee ae ed cm 2001 aquele, portant Primera cruzemento — As palavras e as coisas Descartes é para Foucault um referencial desta ‘ecorvente. Ao priilegier as passagens do Renascimento i Classica desta a Modernidade, na traecéria hist6rica Percornda em seus primeiros grandes livros, posiciona Descartes 0 smuar do classicismo, assim como ‘dade. Para remeter apenas a uma mencao hore de aula de 3 de fevereiro do sndo por um interlocutor sobre ls cartestano”, responde que tomou Porque para ele ‘ndo é o sujeito que UE © suyeito seja © que ele & para ces pelo conhecimento, um aceso a verdade gue the &abeco pla sua propria estrutura de sujeieo™ Contudo,salvaguardada a importinca especies da gra historia de Descartes, a demarcasio de um “momenta! c adjetivacao “cartesiano” nio devem significar que em algum instante fixo € a partir de um snico pensador mudanen sibitas e definciva tivessem aconcecido, Na realidade, up. turas imporeantes jd ceriam ocorrido antes de Descartes ¢ ressuigimentos modernos do ‘cuidado” vitio depois dele" £ Foucaule quem afirma: “quando digo ‘momento’ ndo se tata, de modo algum, de stuar isto em uma data elocaliz, nem deindividualiaéIo em torno de uma pessoa e somente uma" ‘fo significa que Descartes foi um “inventor, o primeira area lizar cudo isto" [A expressio “momento cartesiano” aparece, diz ele ainda, “a eeulo puramente convencional”e,empregada com muitas aspas", seu sentido remete aquele duplo papel de requalificarfilosoficamente 0 “conhecexe a ti mesmo” « em contrapartida, desqualifcar 0 “cuidado de si)” Desara que usou esta denominagio “brincando um pouco, embora no sea engracada”™, para nomeat a tnica que reca sobre 0 "9: Acrescenta ee, como jf fizea em tetos anteriores, gue esta sus o que, “de maneira muito dara, encontramos em Descartes sro spusda or uma “rads suplementar.tazida por Kant, de modo eartes me parecem ser 0s dois grandes more P 234235) Refertncias de senido semelhante © 9p6° ncontramos em outaspassagens do mesmo cUrS <0 Gs aula de 28 de fevereo (ip, 261:ed br. p 386) na primeira ora ds ale 24 de marco ip. 442-443 ed br, p. 559560) gualmente nesta deo ‘Our (p04 ed br 632-633) 1 HS p. 29-92 ed br, p 4653 1 MS p.27:ed br, p 38 TMS py ed by pt FHS. 15 ed be, p 18 16115,p.07 ed be p86 sects | Bt 0 eudada desi me syrtane, do aio do coabeciments) cerca dosed arena Sogou expressions permite sneetenenonaitence come “ambigacia® eee a warcenana a qual conntvem ¢ enredamge sts no ovalplas pevas Iecerogeneas, 3 fapesene, sur, ¢ et “a w exempla, omnn se Veuasgoe? 189-1660). que Boucaule redesenha pater ¢ as vses Quadro denen do qua: enon eguivale — no pla. sduplicada™. gs sundana daquele ses cemarenenes 9 prime Bonne, 1 Oo Sao Paul, Dafa Frogs ew sla verteza verdaeita 930 6 6 eu empnny, eo cay Mas oe ope compere sn npapel entre as yesmto qule esta “sential * 1 a to 208" © cujo "carpe" the portemee pettence o pensam oe ence 0 culo MEH COMPO, ete Papel, ee fog mY texto inp te Mesias aguele et rxposts crac ge onan a etude fer protendesse Festituit 60 En, Buca er jas repenttagas Mas ole ag sine sade et eamenos que compact o asi denonnade a papel do ogo. no cami dosonementct sovoupesfanea uicamene no ponent an caer cra de Volanque,resta3 rene dala age espa50 “SEE: Gants supostamente scopade pelos modelos sare or daa realnade 80 pode delineaese Somo mage Sexo ou Feprceentagio Pa ee esas vonsderagbes, empresas aguas asagens ge Blandine Kregel (asnatente de Foucault ns Extoge de France). No capitulo "Foucaule, foi cup Shea vedo ena um sugestivo cto, "O olka logan”) ee the Foucault nos comida “a relagio da imagem edo ce, $3 Sree do diseuso"™ Mas espeaicamene Ise amber “§ pincura éum apice do pensamento;ndo se compreende m#n05 Frepresentacio classcacontemplando Avmennasdoguclends 17 Ihed. 128 (ie Mt Mon corp, ce papier ce feu. Udy dazu, Pars, Gallamatd, 1972. Apendice, p38 Informagoes sobre outras verses deste texto cf Biiografi 19 Blandine Ket, lubed Fac, and Pa P30 20 thd. p27 Hore dl fie 2608 Pars 7a Plan, 2004

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