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HISTÓRIA GERAL DA ARTE

1/2022

9. ARTE PALEOCRISTÃ E BIZANTINA

PROFA. LETÍCIA MARTINS DE ANDRADE


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – UFSJ
Arte paleocristã
O Cristo como Apolo ou Hélio,
em meio à Vinha mística.
c.250. Mosaico; 103,5 x
142,5cm. Abóbada do
mausoléu M da Necrópole
Vaticana. Museus Vaticanos.

A vinha: no evangelho de João


é símbolo do Cristo e da fé
A basílica
A arquitetura
paleocristã O espaço interno se distribui em
apresentou dois tipos uma planta retangular dividida
fundamentais de em 3 ou 5 naves paralelas,
igrejas: as de tipo separadas por filas de colunas
basílica e as de tipo ou pilares sobre os quais se
apoiam arcos (arcadas). Na
rotunda, ambas extremidade da nave central,
derivadas diretamente que é mais alta e larga que as
da arquitetura romana laterais, se situa a abside,
precedente. semicircular. As basílicas
possuíam originalmente um átrio
porticado que precedia o nártex
(vestíbulo transversal aberto para
o edifício em colunatas ou portas;
era um espaço reservado aos
catecúmenos). Através dele se
chegava ao salão principal, de
três ou cinco naves, destinado
aos fiéis já batizados.

Afresco (no Vaticano) representando a antiga de basílica de São Pedro no séc. XV.
Antiga basílica de São Pedro em Roma. 326-333 d.C. Reconstituição gráfica e modelo
tridimensional
Antiga basílica de São Pedro, Vaticano. 326-333 d.C.

A diferença de altura entre a nave


central e as laterais permite colocar
uma fileira de janelas que ilumina o
interior (CLERESTÓRIO). Na
cabeceira se situa o presbitério
(reservado aos sacerdotes) com o
altar, principal lugar do templo, onde
se realiza a missa. Costuma ter
forma de abside ou de êxedra final
e vem precedido por um arco que
arremata a nave central, verdadeiro
ARCO TRIUNFAL que recorda os
arcos comemorativos romanos e se
ergue em clara alusão ao triunfo da
Igreja.

1: clerestório
2: abside
3: nave central
4: naves
colaterais
Santa Sabina all'Aventino. Roma. 422-432; abside vista do exterior.

Basílica paleocristã de Santa Sabina all'Aventino. Roma . 422-432. Arcada da nave com colunas coríntias de spolia (24 colunas foram extraídas do templo de
Juno Rainha, então vizinho)
Santa Sabina all'Aventino. Roma. 422-432. Arcada da nave com colunas
coríntias e decoração em opus sectile
Igreja de San Salvatore em Spoleto (Umbria, Itália), séc. IV-VI
Detalhes arquitetônicos com spolia da nave da basílica de San Salvatore, Spoleto. séc.IV-VI.
Arquitetura de tipo rotunda

Planta do complexo de Sant’Agnese Fuori le Mura: a basilica constantiniana de


Sant’Agnese, o mausoléu de Santa Costanza e a basílica onoriana de Sant’Agnese;
sob os edifícios, a Catacumba de Sant’Agnese
Mausoléu de Santa Costanza, Roma. c.350 d.C. Diâmetro 35,9m
Deambulatório do mausoléu de Santa Costanza, Roma. c.350 d.C. D: 39 m.
Mosaicos do deambulatório*
anular do Mausoléu de Santa
Costanza, Roma. c.350 d.C.

*deambulatório: corredor de
circulação

POMBAS
PERDIZES
FÊNIX
FONTES DE ÁGUA
ROMÃS
PALMEIRA
PINHAS
CEDRO DO LÍBANO
MARMELOS
PERAS
UVAS
FIGOS
LARANJAS
VASOS
PRATOS
CORNO DE UNÇÃO (DAVID,
SAMUEL FORAM UNGIDOS
ASSIM)
Pombas: a pomba é citada no evangelho de Mateus, simboliza a alma cristã (a
alma humana redimida pela fé cristã), o espírito santo e a paz. Aparecem com
frequência bebendo de uma fonte ou vaso.

Palmeiras: associadas à vida e à vitória desde os gregos. Representam o


Paraíso, o lugar de conforto, refrigério, o oásis no deserto. Estavam presentes
no imaginário da comunidade hebraica que culturalmente lembra o seu passado
no deserto árido, onde a água fresca e as palmeiras do oásis constituíam uma
miragem constante e o próprio conceito de felicidade.

Em grego palmeira se diz foinix, palavra que também significa fênix, a ave
mítica que renasce das próprias cinzas, já conhecida nessa acepção pelos
gregos e pelos romanos como símbolo de imortalidade.

Mosaicos do deambulatório anular do Mausoléu de


Santa Costanza, Roma. c.350 d.C.
Pavão: símbolo da ressurreição. De
Aristóteles e Santo Agostinho afirmava-se
que a carne do pavão não se decompõe
após a morte. Símbolo da ressurreição;

Romã: símbolo da ressurreição, vinculado à


Prósérpina, que retorna do Hades.

Mosaicos do deambulatório
anular do Mausoléu de Santa
Costanza, Roma. c.350 d.C
Santa Pudenziana,
Roma. Cristo em
Majestade. Mosaico
absidal do final do século
IV ou início do V
Santa Pudenziana,
Roma. Cristo em
Majestade. Mosaico
absidal do final do século
IV ou início do V
No mosaico de Santa Pudenziana, quatro criaturas aladas estão posicionadas no céu: o TETRAMORFO: este mosaico é uma das primeiras
representações conhecidas dessa iconografia. As quatro criaturas representam os quatro evangelistas: Mateus (anjo), Marcos (leão), Lucas (boi) e João
(águia). Descrições desses seres são encontradas no Antigo Testamento – no Livro de Ezequiel (1:1-14, 10:1-22) – e criaturas muito similares são
descritas rodeando o trono de Deus no Apocalipse de São João (4:5-11), no Novo Testamento. Contudo, as escrituras bíblicas não fazem qualquer
conexão entre as quatro criaturas e os quatro evangelistas. Os emblemas dos evangelistas são de fato datos do século IV e são de origem oriental. As
criaturas como símbolos dos evangelistas foram estabelecidas por São Jerônimo (morto em 420) em seus Comentários a Ezequiel.

Santa Pudenziana, Roma. Cristo em Majestade com tetramorfo (detalhes) . Mosaico absidal do séc. IV ou início do V
Sarcófago de Junius
Basso. c.359 d.C.
Mármore; 118 x 244
cm. Roma, Grutas do
Vaticano
[1] Sarcófago romano com
representações da vida de São
Pedro e Jesus. Início do séc. IV
d.C. Mármore. Nova York,
Metropolitan Museum;

[2] sarcófago romano com os três


hebreus na fornalha ardente
(direita) e Noé (à esquerda).
Mármore, Museu do Vaticano.
Chi-Rho: são as iniciais gregas do nome de
Jesus Cristo. Também chamado de crisma,
crismon,ou monograma cristológico.

Sarcófago da Catacumba de Domitila, Roma. Vaticano, Museo Pio Cristiano


ARTE DAS CATACUMBAS
AS CATACUMBAS

A partir do século II, em várias cidades da


península italiana e da África setentrional,
há cemitérios subterrâneos, catacumbas,
formados por uma complicada rede de
galerias escavadas diretamente no tufo
calcário e apenas em algumas partes
completadas por obras de muramento. Em
Roma, o desenvolvimento das
catacumbas é extenso, superando os 100
km lineares. Está provado que as
catacumbas jamais serviram de lugar de
reunião ou de refúgio dos cristãos durante
as perseguições. Eram cemitérios
particulares protegidos pelas leis
cemiteriais romanas.

Catacumba de S. Pedro e Marcelino. Roma, Via Labicana


Mapa parcial da catacumba de Villa Torlonia, Roma

http://www.catacombsociety.org/maps.html
Catacumba de Via Latina, Roma Catacumba de via Latina, Roma (sólia e arcossólio)

Além das galerias, existiam, como tumbas de famílias ricas, câmaras, Nos cubículos, os cadáveres eram sepultados em vãos fechados por lajes de pedra ou
salas, mais ou menos grandes – os cubículos –, isoladas ou em grupos, barro cozido (sólia) e encimados por um arco (arcossólio) também escavado no tufo e
quase sempre sustentadas por estruturas de alvenaria. ornado com pinturas
[1] pássaros em volta de um cântaro. c.250 d.C. Pintura parietal. Roma,
catacumbas de Domitila; [2] Ave e vaso com uvas – pintura mural paelocristã
com a qualidade técnica da pintura romana dos primeiros séculos d.C. Do
Mausoleu de M. Clodius Hermes, catacumba de S. Sebastiano;
O PEIXE

Peixe e pão eucarísticos, detalhe da pintura mural. Início do século III d.C.
32 x 30 cm. Roma, Catacumbas de San Callisto, cripta de Lucina
A ÂNCORA

Na Antiguidade, a âncora era símbolo de


segurança e, portanto, conforto. Os
cristãos adotaram a âncora como
símbolo de uma reconfortante
esperança na existência futura. Para
os cristãos, Cristo é a esperança infalível
para todos que acreditam nele. Um dos
distintivos da religião cristã em relação
às pagãs é a “esperança e a alegria de
uma destinação sobrenatural”. Pedro,
Paulo e vários pais da igreja primitiva
falam nesse sentido. “Esperança esta
que agarramos qual âncora de nossa
alma, firme e sólida...” diz Paulo na
Epístola aos Hebreus 6:19, 20, onde
aparece pela primeira vez a conexão
entre a âncora e a ideia de esperança.

Catacumbas de Domitilla, Roma. Placa tumular em mármore mostrando peixe e


âncora. Final do séc. I d.C.
Outro tema recorrente
da arte paleocristã,
representa um jovem
pastor de túnica curta,
carregando nos ombros
uma ovelha, numa
referência à parábola
da ovelha desgarrada
do Evangelho de Lucas
(15: 4-7). Em João 10:
1-21, Jesus é
representado como o
Bom pastor que dá a
vida pelo seu rebanho.
A imagem do bom
pastor vem diretamente
do repertório da
literatura e arte
bucólica greco-romana.

[1] Cristo como o Bom Pastor. Relevo em mármore de sarcófago do final do século IV.
O Bom Pastor Roma, Museu Laterano; [2] O bom pastor. Século IV. Mármore. Roma, Museo
Laterano; [3]; O bom Pastor (det.). Cripta de Lucina, Catacumba de São Calisto, Roma.
inicio do século III. D:71cm
O Profeta Jonas e o monstro do mar. Pintura mural na catacumba de São Pedro Os três homens na fornalha ardente. Catacumba de Priscilla, Roma. séc. III e
e Marcelino, em Roma. séc. IV. IV d.C.
Histórias de Jonas é um profeta do Antigo testamento que foi engolido Três hebreus na fornalha ardente (Daniel, 4: 17-18). Contos de resgate
por um monstro marinho (em grego kêtos, frequentemente identificado milagroso tirados das escrituras judaicas como Daniel na cova dos leões
com uma baleia) e depois de três dias foi devolvido, intacto, na praia. A e os Três hebreus na fornalha ardente parecem ter sido favoritos dos
história, muitíssimo apreciada pelos primeiros cristãos, evoca a morte a primeiros cristãos.
ressurreição de Cristo.
Sala de reuniões da Sinagoga de Doura-Europos (atual Síria); c.
250 d.C.

A consagração do tabernáculo. Pintura mural da sinagoga de Doura-Europos


(Síria). c. 250 d.C.
Constantinopla, reconstituição de uma vista aérea da cidade no século VI

Mar de Marmara
estreito de Bósforo
323: Constantino transfere a capital para Bizâncio, rebatizando-
a de Constantinopla.

325: O CONCÍLIO DE NICEIA, convocado por Constantino,


estabelece as bases da doutrina cristã.

380: o cristianismo torna-se a religião oficial do Império, com


Teodósio.

395: divisão definitiva do Império em Oriente e Ocidente, com


os filhos de Teodósio, Arcádio (oriente) e Honório (ocidente),
levando a capital de Milão para Ravena.

410: saque de Roma pelos godos, sob Alarico.

476: queda do Império Romano do Ocidente, com a renúncia do


último imperador, Rômulo Augusto, sob Odoacro, assinalando o
início da Idade Média.

527-565: reino de Justiniano (considerado a primeira era de


ouro da arte bizantina).

723-843: período do iconoclasmo.

1204: saque de Constantinopla pelos Cruzados (quarta


Cruzada).

1453: queda de Constantinopla sob os turcos otomanos,


assinalando o final da Idade Média.
Mausoléu de Galla Placidia. Ravena, 425-430

A planta cruciforme (cruz latina) era uma


predileção de Galla Placídia, por sua
devoção à Santa Cruz, mas também
guarda relação com os martyria romanos.

Mausoléu de Galla Placidia, Ravena,


425-430.Vista interna, com os
sarcófagos e mosaico da luneta
oposta à entrada.
Mausoléu de Galla Placidia. Ravena,
425-430. Mosaicos da cúpula. A
cúpula tem 4,4m de diâmetro.
Cada peça cúbica componente do mosaico é
chamada TÉSSERA (ou tessela). As tésseras
são peças de vidro de formatos irregulares,
refletindo a luz de modo igualmente irregular,
produzindo efeitos de cintilações, de
resplandecência. O resultado é um conjunto
como uma tela cintilante e imaterial, mais do
que uma superfície sólida e contínua. Tudo
isso fez com que o mosaico de vidro fosse o
complemento ideal da nova estética
arquitetônica das basílicas paleocristãs.
O aspecto é muito contrastante em relação à
pintura ilusionista romana, pois alcança um
efeito de irrealidade, de imaterialidade.

“... já o contraste entre extrema modéstia do


paramento externo e o esplendor noturno, porém
intenso, do interior, é provavelmente denso de
sentidos simbólicos: a alma tanto mais
resplandece quanto mais despojado é o
invólucro corpóreo; a matéria é finita, mas
infinita é a luz divina que a preenche.

In G. C. Argan, História da Arte italiana, vol. I, p.


253-254.
São Lourenço (?) e armário com evangelhos.
Mosaico de Galla Placídia,Ravena, séc. V
Aspecto externo do Batistério Neoniano. Ravena, séc. IV-V.

O chamado batistério
neoniano é o mais antigo
monumento bizantino
remanescente em Ravena. Foi
construído no século IV sobre
uma terma romana e
reformado no século V por um
bispo de nome Neon. Era
vinculado a uma basílica que
foi destruída no séc. XVIII.

A planta octogonal desse


batistério será empregada em
praticamente todos os
batistérios cristãos: ela
simboliza os sete dias da
criação e mais o oitavo, que é
o dia da Ressurreição e da
Vida eterna, à qual somente se
ascende através do batismo.
As imagens apresentam
ainda uma certa
consistência plástica
devida aos vínculos
com o ambiente
romano. Por outro lado,
a monumentalidade e o
hieratismo crescente
das figuras, juntamente
com a exuberante
policromia, têm sua raiz
no mundo artístico
oriental e bizantino.

O batismo de Cristo e os doze apóstolos. Mosaico da cúpula do Batistério


Neoniano (ou dos ortodoxos) Ravena, séc. V). A cúpula do batistério
neoniano, forrada de mosaicos suntuosos, foi uma reforma empreendida pelo
bispo Neon em torno de 458 (anteriormente possuía cobertura plana).
[1] São Paulo e São Pedro. Mosaico da cúpula do Batistério Neoniano (ou dos ortodoxos), Ravena, séc. V.; [2] Batistério
Neoniano. Ravena, séc. V. parte inferior do mosaico da cúpula com o motivo da ‘ETIMASIA’ (em grego: ‘preparação’), referência
apocalíptica ao fim do mundo: o trono vazio com o Livro da vida, pronto para receber o Cristo no dia do Juízo
O batismo de
Cristo; mosaico da
cúpula do Batistério
Neoniano, Ravena,
c.458.

Começa aqui o predomínio dos fundos dourados


abstratos nos mosaicos, em substituição aos céus azuis
naturalistas: uma característica fundamental da arte
bizantina. O ouro, em folha, era prensado como um
sanduíche, entre duas lâminas de vidro que compunham a
tessera.
Batistério dos arianos, Ravena, séc. V-VI. Vista externa e da
cúpula com o Batismo de Cristo e apóstolos.

O chamado Batistério dos arianos, Ravena, séc. V-VI. Foi


obra do rei ostrogodo Teodorico, de crença arianista.
De acordo com a doutrina arianista, Cristo era filho de Deus,
mas mantinha sua natureza humana; e somente através do
sacramento do batismo é que a sua natureza divina se
tornaria manifesta. O arianismo era uma forma de cristianismo
antitrinitário que clamava que Cristo era um ser especial
criado por Deus para a salvação da humanidade.

O Batismo de Cristo. Mosaico da cúpula do Batistério dos arianos, Ravena, séc. V-


VI
Sant’ Apollinare Nuovo, Ravena, 505

Sant’ Apollinare Nuovo, Ravena, 505. [1] Fachada alterada no século XVI e campanário românico. [2] Nave central e abside
reconstruída. Foi a igreja palatina de Teodorico, originalmente chamada de Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando os
bizantinos tomaram o controle de Ravena, com Justiniano em 540, todos os bens arianos passaram para igreja católica, e os
mosaicos de temática ariana foram substituídos, assim como retratos da corte de Teodorico. Nesse momento, o orago passou a ser
São Martinho. No século IX, contudo, recebeu as relíquias de Santo Apolinário, primeiro bispo de Ravena, e foi rebatizada.
“Esses santos não habitam o mundo descrito pelos nossos cinco sentidos. Eles habitam o presente eterno do espírito transcendente”.

Sant’ Apollinare Nuovo, Ravena, 505. Mosaicos com procissão de santos e santas mártires
[1] San Apollinare Nuovo. Procissão de santas (det.). Mosaico com incrustação de pedras semi preciosas e de madre-pérola. Séc. VI;
Sant’ Apollinare Nuovo, Ravena, 505. [2] Mosaicos representando o porto de Classe, perto de Ravena
San Apollinare Nuovo. A multiplicação dos
pães e peixes. Mosaico. Séc. VI.
A ortodoxia trinitariana voltou para Ravena com San Vitale, Ravena. 526-547
os exércitos do imperador Justiniano. O
arianismo foi expugnado do reino, ocultado ou
apagado. A magnífica igreja de San Vitale (São
Vidal) foi construída no governo de Justiniano
como um monumento à ortodoxia triunfante.

As igrejas de planta central, não mausoléus


ou batistérios, mas igrejas mesmo, vão
dominar o mundo cristão ortodoxo oriental a
partir de Justiniano, e tão completamente
quanto as de planta basilicais dominaram o
Ocidente. Não se tem uma explicação
convincente para esse fato.
Os capitéis aqui não
fazem mais referência às
ordens clássicas. São
invenções livres. Aparece
o bloco de imposta, um
elemento de transição
entre o capitel em si e os
arcos.

San Vitale, Ravena. 526-547. capitéis


San Vitale, Ravena. 526-547.
Mosaicos e mármores
San Vitale, Ravena. 526-547. moisaicos representando: [1] Justiniano e seu
séquito.; [2] San Vitale, Ravena. Teodora e damas. Mosaico, século VI d.C..
Os halos que coroam suas
cabeças não dizem respeito
à vontade de divinização da
figura do imperador e da
imperatriz, mas querem
indicar a origem divina de
sua autoridade.

San Vitale, Ravena. Teodora e Justiniano, detalhes do mosaico.


Antêmio de Trales e Isidoro de Mileto. Hagia Sophia (Santa Sofia). 523-537 d.C. Hagia Sophia (Santa Sofia). 523-
Fachada principal. Istambul 537 d.C. Vista aérea e planta.
Istambul, Turquia. A planta tem 82
x 73m.
Antêmio de Trales e
Isidoro de Mileto.
Hagia Sophia (Santa
Sofia). Vista da nave
central. 523-537 d.C.
Istambul
O esquema de construção da cúpula de Santa Sofia é
chamado de “cúpula sobre pingentes”. Ela se apoia sobre
quatro arcos. O espaço triangular curvado entre cada arco
é chamado de pingente.

Hagia Sophia, Istambul; 523-537 d.C. Cúpula. A cúpula se ergue a 56 m do chão e possui 34 metros de
diâmetro. Está apoiada sobre os pingentes formados por quatro arcos e tem em sua base 40 janelas.
Basílica de São Marcos, Veneza. 1043-1070.

São Marcos apresenta planta de cruz grega inscrita num quadrilátero, mas cada
braço da cruz está realçado por uma cúpula própria. Estas cúpulas não se
assentam em tambores; foram encaixadas em calotas bulbosas de madeira,
forradas com folhas de cobre dourado e rematadas por lanternins decorativos,
para que pareçam maiores e sejam mais visíveis de longe, constituindo uma
ótima baliza para guiar os navegantes.
Basílica de São
Marcos, Veneza;
interno. 1043-1070
ÍCONES,
ICONOCLASMO E
ICONOFILIA
O IMPÉRIO BIZANTINO E A QUESTÃO DO ICONOCLASMO

c.600: o papa Gregório I referenda o uso das imagens


pintadas com finalidade pedagógica: “a pintura é a
bíblia dos iletrados”.
627: árabes islâmicos conquistam as províncias
orientais do império bizantino e a Pérsia, tornando-se a
principal ameaça ao império Bizantino, que logo
perderá 2/3 de seu território.
726: um édito imperial de Leão III decreta a proibição
das imagens religiosas.
754: concílio de Hieria convocado pelo imperador
Constantino V determina a destruição dos ícones.
787: concílio Niceia II, convocado pelo imperador Leão
IV, anula as decisões de Hieria e aprova a veneração
dos ícones.
814: imperador Leão V instaura novo período
iconoclasta.
843: imperatriz Teodora reafirma as decisões de Niceia
II e pede a restauração dos ícones.

[1] Cristo abençoando e São Pedro. Ícones remanescentes do período pré-iconoclasta no Mosteiro de Santa
Catarina do Monte Sinai. Pinturas a têmpera sobre madeira. Séc. VI ou VII; [2] Saltério de Chludow, folio 67r.
A crucificação e iconoclasta. c.850-900d.C.
Na abside da igreja de Hagia Irene,
em Istambul, uma simples cruz
exemplifica o problema do
iconoclasmo na arte.
A Virgem com o Menino. Theotokos. Mosaico absidal de Hagia
Sophia, Istambul. Dedicado em 867. h: c. 5m
Pantocrator. [1] Final do séc. XIX.
O cristo Pantocrator é um tipo iconográfico
PANTOCRATOR Pintura a têmpera e ouro sobre
definido pela iconografia bizantina e que se
madeira; 111,8 x 83cm. Londres,
tornará o mais comum do período românico.
British Museum ; [2] Mosaico de c.
Literalmente, ‘pantocrator’ significa o Cristo “que
1150. Cefalù, Sicília, Itália; [3]
a todos governa”, ou “todo poderoso”. Ele vem
Medalhão com ícone. c.1100.
aureolado, em gesto de bênção, segurando o
Ouro e esmalte; diâmetro: 8,3 cm.
livro na mão esquerda. Pode vir emoldurado por
Nova York, Metropolitan Museum;
uma mandorla, pelo tetramorfo ou pelos
[4] Cristo pantocrator . Mosaico de
evangelistas, mostrado em meio corpo ou em
Santa Sofia, Istanbul, Turquia.
corpo inteiro, entronado.
Século IX.
A ICONOGRAFIA MARIANA

A iconografia
mariana surge em
Bizâncio. Os mais
antigos exemplos
conhecidos provém
de ambiente egípcio,
e derivam
provavelmente de
uma relação
sincrética com a
figura de Ísis
amamentando seu
filho Hórus

Virgem amamentando o Menino. Pintura mural e relevo. Ambas do Egito Copta, século III d.C.
THEOTOKOS

Significa literalmente “a Mãe


de Deus”. O tipo Theotokos
significa, portanto, qualquer
representação da Virgem
Maria com o Menino, da
Virgem em seu papel de mãe.

A Virgem entronada, com o Menino


entre santos e anjos. Séc.VI.
Encáustica
Theotokossobre
commadeira.
santos
Convento de Santa Catarina,
Teodoro e Jorge e anjos.Sinai,
séc
Egito
Vi ou VII. encáustica sobre
madeira. Mosteiro de Santa
Catarina do Monte Sinai,
Egito.
HAGIOSORITISSA A Virgem Hagiosoritissa é uma Hagiosoritissas. [1] The Sinai Icon
representação mariana em que a Collection, University of Princeton
Virgem aparece sem o Menino, de (http://vrc.princeton.edu/sinai/items/sh
pé, apresentando-se habitualmente ow/6404); [2] Moisaco da catedral de
ligeiramente voltada para para o lado Palermo, Itália. C.1130-1089.
e com as mãos erguidas em sinal de Palermo, Museo Diocesano; [3]
rogo. Essa iconografia faz referência Pintura sobre madeira; da iconóstase
à da deesis, em que a Virgem suplica central da catedral da Dormição do
a Cristo sua intercessão pela Kremlin em Moscou. Final do séc.
humanidade. É a Virgem no papel da XIV; [4] c.950. relevo marmóreo;104
intercessora. cm x 40 cm x 7 cm. Dumbarton Oaks.
HODEGITRIA
A virgem Hodegitria é uma representação Hodegitria. [1] Mosteiro de Monte Athos. Séc. XIII;
popular da Virgem na qual ela traz o Cristo [2] Berlinghiero. Madona e menino. 1228-1236.
menino no colo, segurando-o com a mão têmpera sobre madeira; 76,2 x 49,5 cm. Nova York,
esquerda enquanto a direita o aponta. O Metropolitan Museum; [3] A Mãe de Deus
gesto de apontar para o filho é o de mostrar Smolenskaya. c1550. Prata, esmalte e lata; 74,5 x
que ele é o caminho da salvação. O nome 72,5cm. Londres, British Museum; [4] Virgem
Hodegitria vem de Hodegon, um mosteiro Hodegitria. séc.X-XI. Marfim; 23,4x7x1,3cm. De
de Constantinopla, no qual existe um ícone Constantinopla. Nova York, Metropolitan Museum.
mostrando a Virgem nesta postura
específica desde pelo menos o século XII e As figuras marianas vestem o MAPHORIUM em cores
que tem a função de proteger a cidade. escuras que variam do purpura imperial/violeta ao
azul profundo
ELEUSA [1] A mãe de Deus Vladimirskaya. 1850-1900. têmpera
Eleousa é a Mãe de Deus da Ternura,
a Virgem da Ternura. ‘Eleousa’, em e gesso sobre madeira; 31x26cm. Londres, British
grego, significa ‘misericordiosa’. Museum; [2] A mãe de Deus Feodorovskaya. séc.
Também existe o tipo Oumilenie, uma XVII. Ouro, prata e gesso sobre madeira; 23,5 x
variante da Eleousa, que significa ‘a 26,5cm. Londres, British Museum; [3] A Virgem
Mãe de Deus da amorosa ternura’. Em Eleousa, séc. XIV. Lazurita, malaquita, prata, vidro e
ambos os casos, os rostos das figuras terracota; 11,2x8,6x1,3cm. Nova York, Metropolitan
estão se tocando. O tipo deriva do Museum; [4] Eleousa. Virgem de Vladimir. C.1131.
ícone mais popular da Rússia, que é a Têmpera sobre madeira; 104 x 69cm. Moscou, Galeria
Virgem de Vladimir. Tretyakov
técnica do esgrafito sobre a folha de ouro cria efeitos A coloração verde-acinzentada e escurecida da pele das
gráficos que caracterizam a pintura de matriz bizantina figuras é consequência do emprego do pigmento com base
no Ocidente em azurita

Madona entronada (anônimo ítalo-bizantino) séc.


XIII. Têmpera sobre madeira; 81x49,5cm.
Washington, National Gallery

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