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PDF.O Oficio Do Psicanalista II - ORGANIZADORES.8FEV
PDF.O Oficio Do Psicanalista II - ORGANIZADORES.8FEV
Conselho Editorial
Prof. Dr. Henrique Figueiredo Carneiro (UNIFOR)
Prof. Dr. Paulo Roberto Ceccarelli (PUC-MG)
Prof. Dr. Gisálio Cerqueira Filho (UFF)
Prof. Dr. Luis Cláudio Figueiredo (USP, PUC-SP)
Profa. Dra. Elisabeth Roudinesco (École Pratique des Hautes Études, FR)
Profa. Dra. Ana Maria Rudge (PUC-RJ)
Ofício do psicanalista II
por que não regulamentar a psicanálise
Capa
Alonso Alvarez
Produção editorial
Araide Sanches
ISBN 978-85-7137-445-4
1. Psicanálise – Regulamentação. 2. Psicanalistas. 3. Psicanalistas –
Formação. I. Sigal, Ana Maria. II. Conte, Bárbara. III. Assad Samyra.
CDU 159.964.2.
CDD 150.195
Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 8/10213
Apresentação 7
Ana Maria Sigal, Bárbara Conte, Samyra Assad
Por que não regulamentar a psicanálise, Movimento Articulação
e a regulamentação da psicanálise 13
Ana Maria Sigal
O desejo de Freud é não regulamentável 21
Antônia Portela Magalhães
Formação em psicanálise: enquadre e deslizamentos 27
Bárbara de Souza Conte
A psicanálise de Freud e a nossa 39
Denise Maurano
A psicanálise é uma mercadoria? 45
Francisco Leonel Fernandes e Fernanda Costa-Moura
A questão da causa e a não regulamentação 53
Gêisa de Carvalho S. Ferreira
Movimento Articulação: pensando a ética complexa 59
Gustavo Soares e Valéria Quadros
Desse modo, o que nos convoca neste novo livro são 14 trabalhos
das dezoito instituições que compõem o Movimento Articulação e que
discutem os fundamentos do Por que a psicanálise não deve ser regu-
lamentada para que se mantenha como ofício sustentado a partir de sua
ética. São trabalhos que apresentam o esforço de divulgar nas institui-
ções, universidades, cursos e grupos de pares, os pressupostos que, ao
mesmo tempo mantêm a transmissão dos princípios da psicanálise e
conferem argumentos para a não regulamentação.
Nessa batalha constante, é necessário ressaltar que dezoito insti-
tuições psicanalíticas, diferentes entre si, se mantêm articuladas de uma
forma não institucionalizada através de reuniões semestrais desde o ano
2000.
São estas as questões que têm balizado nossa atuação desde os pri-
meiros encontros. Uma das reflexões que tratamos de sustentar ininter-
ruptamente se refere a como constituir e manter um Movimento que
não se institucionalize e se transforme ele próprio em um regulador do
exercício do ofício de psicanalista. Se nos arrogarmos o direito de di-
zer quem é e quem não é psicanalista estaríamos incorrendo no mesmo
erro que tentamos desfazer! Assim temos proposto somente intervir em
questões que afetam a regulamentação em nível de propostas de Estado
ou de demandas produzidas por instituições reconhecidas em sua prática
psicanalítica que solicitem assessoramento. Numerosas vezes somos
convocados a denunciar formações enganosas, a partir de publicações
ou anúncios em periódicos ou na internet, mas optamos por não intervir.
Há um acordo entre as instituições que formam nossa Articulação:
mantê-la como um movimento e não como uma instituição, para evi-
tar assim nos transformar em autorizadores. Insistimos em manter-nos
como Movimento, exercício que não é fácil, mas que tem nos permitido
trabalhar há quase vinte anos com sucesso em uma luta que, devemos
dizer, não tem sido simples.
Referências
Derrida, J.; Roudinesco, E. De que amanhã... Diálogo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2004.
Freud, S. (1926). A questão da análise leiga. In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
dedicação aos textos, dizem que já que vão regulamentar, por que não o
fazemos nós; e ainda, outro grupo que diz que não é para regulamentar,
mas, quando fala, o que se escuta, o que desliza na fala, é um desejo
de regulamentar, colocando em jogo uma ambiguidade manifesta em
relação à não regulamentação.
Isso aponta que alguém que se nomeie analista por estar num
grupo de analistas, que de alguma maneira se “reconhecem” entre si,
não é suficiente para garantir as condições necessárias à sustentação da
prática analítica. O reconhecimento, embora importante, não garante
a sustentação de uma posição na direção da delimitação do campo da
prática analítica.
Delimitação que só é possível pelo ato analítico, no qual a dimen-
são do significante tem a ver com a constituição do sujeito, enquanto
representado por um significante para outro significante. Atravessar o
impasse com que o sujeito se depara frente ao rochedo da castração,
dando as voltas necessárias, sustentando um desejo da máxima diferen-
ça exige que haja ato analítico.
Por que e o que se tenta regulamentar? Será que as tentativas de
regulamentar não são uma forma de obturar isso mesmo que constitui o
objeto da psicanálise — a falta que é estrutural? Será um desejo de fazer
unidade com o Outro e não de descompletá-lo?
É frente a essa dificuldade que é preciso que façamos o esforço
de insistir nas voltas necessárias para tomar o novo, que é a descoberta
do inconsciente, e os passos lógicos necessários para que a psicanálise
tenha lugar.
A questão que me interessa pôr em discussão tem a ver com a posi-
ção do analista enquanto objeto no lugar de agente em seu discurso, po-
sição essa necessária para que o ato analítico seja possível. Para situar
essa posição do analista, vou tomar a posição freudiana e diferenciá-la
em relação à posição de seus mestres: Breuer, Charcot e Chrobak.
Referências
2. Estas páginas iniciais fazem parte do capítulo por mim escrito e intitulado
“Psicoterapia: o percurso histórico nos desafios por uma formação sem regulamen-
tação” (Holanda, 2012).
Não por acaso, esse ponto também foi objeto de discussão nos
primórdios da psicanálise, ou seja, de que forma seria feita a transmis-
são dos princípios técnicos e éticos e quem estaria apto para o exercí-
cio da psicanálise? A história do movimento psicanalítico ensina que
inicialmente um “Comitê secreto” (Grosskurth, 1992) estava destina-
do a pensar o futuro da psicanálise. Posteriormente, a função sobe-
rana do poder foi entregue por Freud à International Psychoanalysis
Association (IPA), instituição criada em 1910 e considerada instân-
cia legítima de transmissão e controle de seus membros. No entanto,
múltiplas cisões ocorreram desde lá até nossos dias, até não mais se
sustentar uma legitimidade única. Inúmeras associações buscam trans-
mitir e assegurar o adequado exercício da prática entre seus membros,
reassegurando um pressuposto freudiano que é da ciência moderna: o
descentramento do sujeito, ou seja, o homem, em sua razão, não detém
o domínio do conhecimento.
Está marcado, desta forma, o lugar de alteridade que a psicanálise
perseguiu quanto à formação, apontando o inconsciente, o desejo e as
pulsões como conceitos desde onde o sujeito emerge de seu universo
estranho e familiar ao mesmo tempo. Da mesma forma, as práticas psi-
coterápicas se legitimam na transmissão de seus paradigmas a partir
da alteridade de outro. Justifico este ponto a partir da crítica ao sujeito
da modernidade que considera o eu como autônomo, racional e autos-
suficiente. Se o sujeito é sempre um sujeito histórico, que se constitui
na relação com o outro, é na intersubjetividade da prática que a trans-
missão ocorre. Não há uma prática sustentada em um sujeito autossufi-
ciente e único, caso contrário, corre-se o risco de que a transmissão e a
prática psicoterápica tornem-se dogmáticas e centradas em uma crença
não passível de ser questionada e de ser reformulada de acordo com os
achados da clínica. Cada associação, psicanalítica ou psicoterápica, que
se proponha a discutir os fundamentos de seu fazer necessita que seus
pressupostos sejam expostos ao exercício do debate clínico.
A título de conclusão
Referências
Freud, S. (1893-1895). Estudios sobre la histeria (Breuer y Freud). In: Obras Completas
de Sigmund Freud. Buenos Aires: Amorrortu, 1990. V. 2, p. 1-315.
______. (1905). Sobre Psicoterapia. In: Obras Completas de Sigmund Freud. Buenos
Aires: Amorrortu, 1990. V. 7, p. 243-258.
______. (1909). Análisis de la fobia de un niño de cinco años. In: Obras Completas de
Sigmund Freud. Buenos Aires: Amorrortu, 1990. V. 10, p. 1-251.
______. (1926). Pueden los legos ejercer el análisis? Diálogos con un juez imparcial.
In: Obras Completas de Sigmund Freud. Buenos Aires: Amorrortu, 1990. V. 20, p.
165-245.
Grosskurth, P. O círculo secreto. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
Hausen, D., Conte, D. Psicoterapia: ampliar ou restringir. Revista da Sociedade de
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Holanda, A. O campo das psicoterapias. Curitiba: Juruá, 2012.
Kohon, G. A Escola Britânica de Psicanálise: The Middle Group, a tradição indepen-
dente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
Laplanche, J. El après-coup. Problemáticas VI. Buenos Aires: Amorrortu, 2012.
Roudinesco, E. O paciente, o terapeuta e o Estado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
Tardits, A. As formações do psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2011.
Denise Maurano
Corpo Freudiano do Rio de Janeiro
Nada garante que uma psicanálise termine por fazer advir um ana-
lista. Entre querer ser analista e estar apto para sustentar essa função há
um largo passo. Não há como regulamentar a psicanálise de ninguém,
não há como medir suas possibilidades. Fazer uma análise não é fre-
quentar um psicanalista, ainda que este seja muito bom e renomado,
ainda que se faça isso por anos a fio. Nesse sentido, o que foi concei-
tuado como transferência, para indicar o que traz implicações afetivas
e efetivas, na atualização do inconsciente que é colocada em ato numa
psicanálise, se constitui como um obstáculo para toda e qualquer regu-
lamentação da psicanálise, porque uma análise só pode ser contada uma
a uma, a partir do destino disso que se chama transferência.
Mas então o que fazer? Sentar e chorar o infortúnio de sermos ex-
postos a ser enxovalhados a cada ataque dos evangélicos, dos médicos,
dos psicoterapeutas ou de quem quer que seja?
Não! Por isso estamos aqui e temos com Freud o compromisso de
tentarmos enunciar o mais claramente possível os postulados e hipóte-
ses fundamentais da psicanálise. Ou seja, temos o compromisso de nos
empenharmos em transmiti-la com todo o entusiasmo e rigor ético que
ela merece. E não podemos esquecer de nos ocuparmos também de sua
difusão, questão cara a Freud.
E, se ainda assim, não podemos garantir para o leigo, de manei-
ra inquestionável, o reconhecimento de um bom analista, ou de uma
boa escola de formação, podemos pelo menos fazer alguns alertas. Por
exemplo: vale divulgar que quando se trata de psicanálise, a propagan-
da das garantias e facilidade encontra-se em proporção inversa à serie-
dade. Desconfiem das garantias e facilidade anunciadas.
Vale também observar se o trabalho psicanalítico é feito com in-
dependência ou se ele se encontra apenso, submetido a algum credo,
religião, ou a alguma outra disciplina, seja filosofia, medicina, psicolo-
gia ou o que for. Porque uma coisa é a psicanálise dialogar com outras
áreas, outra é submeter-se a elas.
do valor. A pessoa então não frui para si ao comer, ela se “alimenta”, tal
ou tal atividade transforma-se em “investimento” ou “gasto”, tudo na
vida passa a ser situado na perspectiva de que cada um é uma empresa
a ser administrada quanto à sua “sustentabilidade”. Qualquer iniciativa
passa a ser concebida e avaliada sob a ótica do “custo e benefício”, do
“direito dos consumidores”, como se diz.
Qual a relação da psicanálise com essa lógica que se encontra,
hoje, em vias de se totalizar? Em que sentido a psicanálise poderia fa-
zer alguma objeção a essa lógica e por quê? São perguntas que pode-
mos desdobrar a partir da noção de discurso introduzida por Lacan em
1969-70. A psicanálise, dentre tantas outras marcações, assinala que
a ordem do discurso, que se inicia com o discurso do Mestre, o qual
situa a operação fundamental da linguagem, sempre coloca em jogo um
resto. O discurso é por assim dizer uma operação que deixa resto, na
medida em que, ao se colocar, estrutura lugares e diferenças, ao mesmo
tempo em que (e justamente porque) ele produz uma perda, exclusão. É
este resto que está na base, no fundamento da produção do sujeito em
função da articulação significante. A emergência do sujeito como efeito
do discurso localiza justamente esse resto, aquilo que Lacan designou
como objeto a, como a perda que indicia e constitui um sujeito. Neste
sentido, o sujeito assinala um constrangimento da estrutura, um “fora”
dela, um real que se articulou localmente de dentro dela, em certa con-
juntura significante que expõe sua incompletude. Vale dizer, o objeto a
é aquilo localiza a perda que é necessária para um discurso se articular.
E a localiza como o desperdício, a dissipação e, mais rigorosamente, a
entropia que é implicada e produzida na própria articulação da ordem
do discurso.
Por conta dessa entropia, não há nenhum “além” ao cada um que
cada um é. O futuro de cada um é a morte, como efeito disso que nos
constitui e se desperdiça — e nos singulariza. Vale dizer: o desejo é
a boca” que assinala num plano que não o imediato da evidência, num
plano que é eminentemente subjetivo, o “cada um” analista. Em suma,
sustentar entre pares praticantes essa condição de analista pela via de
uma pactuação tão somente e que perdura, que não se regulamenta, que
não faz consistir um interesse corporativo nas figuras do Estado, mas
que o leva em conta, não é só um feito notável que podemos aproximar
de uma criação no sentido próprio do termo, como é também uma mo-
dalidade de, sem desconsiderar as diferenças que demarcam os grupos
psicanalíticos diversos, sustentar o discurso como transmissão, e não
mera reprodução social.
Por força da estrutura, portanto, e por exigência da operação que
precisa pôr em prática e sustentar no real, assim é para a psicanálise: no
lugar de regulamentação, pacto, transferência produzida em trabalho.
Desviando-se da pretensão moral que promete conjugá-la às demandas
de adequação da sociedade e do jogo econômico, resta, pois, à psicaná-
lise tomar as responsabilidades que lhe são próprias. E se por aí não se
chega evidentemente a unir os analistas, a fazer “conjunto”, a unificar o
campo sempre conflagrado da psicanálise, é em ato que se pode, a cada
vez, sustentar os limites desse campo e dar a ele uma chance efetiva.
Referências
Gustavo Soares1
Valéria Quadros2
Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre – CEPdePA
O chamado
Outras Articulações
Referências
Alberti, S. et al. Ofício do psicanalista: formação vs. regulamentação. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2009.
Alberti, S. Pelo fórum de debates: uma apresentação. In: Alberti, S. et al. Ofício do
psicanalista: formação vs. regulamentação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.
______. Pequeno relatório do colóquio Os Estados Gerais da Psicanálise. 2000.
Disponível em: <http://www.psicomundo.com/foros/egp/relatorio.htm>. Acesso em: 9
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Bion, W. (1962a). Uma teoria sobre o pensar. In: Estudos psicanalíticos revisados. Rio
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______. (1962b). O aprender com a experiência. Rio de Janeiro: Zahar, 1966.
Chuster, A., Soares, G., Trachtenberg, R. W. R. Bion – a obra complexa. Porto Alegre:
Sulina, 2014.
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Lannes, E. S. História das tentativas de regulamentação no Brasil. In: Alberti, S. et al.
Ofício do psicanalista: formação vs. regulamentação. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2009.
Major, R Entrevista concedida a Leneide Duarte-Plon. Folha de S.Paulo. Caderno
Mais. Disponível em: <https://chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/psicanalise/rene-major.
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Manifesto das entidades brasileiras de psicanálise. Estados Gerais da Psicanálise.
Disponível em: <http://egp.dreamhosters.com/textos/manifesto_entidades_brasilei-
ras_de_piscanalise.shtml>. Acesso em: 8 abr. 2018.
Referências
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Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1988. V. IV,
p. 11-322.
Freud, S. (1926). A questão da análise leiga. In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1988. V. XX,
p, 211-284.
______. (1933). Novas conferências introdutórias sobre psicanálise. In: Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio
de Janeiro: Imago, 1988. V. XXII, p. 15-226.
______. (1937). Análise terminável e interminável. In: Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1988.
V. XXIII, p. 247-290.
outro. Mas no campo da ética, sempre que possível, deve haver a busca
por um reconhecimento das práticas do sujeito e do outro, firmando
posições buscando a pluralidade.
No entanto, sabemos que aquilo que o sujeito pode falar de si mes-
mo é sempre aquém do que ele é. O sujeito constituído por um conjunto
de normas, hábitos, regras, não consegue reconhecer como tais normas
se constituíram e quais são os seus efeitos; assim estas permanecem
como elementos desconhecidos, mas que influenciam na construção das
subjetividades.
Lacan coloca a ética na experiência do reconhecimento ao re-
fletir sobre a relação dialética entre senhor/escravo, em Hegel. En-
contramos nos textos lacanianos sobre o imaginário, como a neurose
representa uma vivência traumática cujo reconhecimento não pode
acontecer. A repetição, ao mostrar o que não pôde ser elaborado,
aponta nas entrelinhas para a possibilidade do desconhecido motiva-
do pelo trauma, poder ser perlaborado, e então tornar-se reconhecido
no ato analítico.
São os gestos, atos e palavras do sujeito na experiência psicanalítica
que trazem a possibilidade de ampliar esse saber, não como uma experi-
ência cognitiva, e sim ética; marcados pelo envolvimento do sujeito nes-
sa experiência, conforme palavras de Walter Benjamim na sua afirmativa
de que a experiência leva a quebra de um tempo passado e futuro, e im-
plica o sujeito no seu envolvimento no presente, num aqui e agora. É só a
experiência da transferência, no campo do ato, que pode trazer os rastros
do que foi o assujeitamento do sujeito, como na relação senhor/escravo.
É a possibilidade de reconhecer um pedaço perdido de sua história. Mas
lembrando que sempre existirá no sujeito uma certa opacidade, como
bem nos demonstra Judith Butler (2017), quando critica que haja uma
transparência absoluta no sujeito em reconstruir sua própria história. Não
é possível, a partir de narrativas sobre si, reconstruir a si mesmo. O que
Referências
Freud, S. O futuro de uma ilusão. In: Obras Completas. São Paulo: Companhia das
Letras, 2014. V. 17.
Lacan, J. (1953-54). O seminário. Livro 1. Os escritos técnicos de Freud. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1983.
______. (1954-55). O seminário. Livro 2. O Eu na teoria de Freud e na técnica da
psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
Tiburi, M. Filosofia prática: ética, vida cotidiana, vida virtual. Rio de Janeiro: Record,
2016.
Mariana Mayerhoffer1
Laço Analítico Escola de Psicanálise
pelo que se sabe, pelo que se guarda dessa experiência” (p. 28). Em
relação à psicanálise, Lacan dirá em seguida que da natureza própria
do ato nesse campo resulta uma “posição que se deve manter por estar
apto a exercê-lo”, do qual “dependem consequências mais sérias” em
relação ao que resulta disso. Nesse ponto afirma que “o ato psicanalí-
tico diz respeito, e muito diretamente, em primeiro lugar” aos que dele
não fazem profissão, mas que “desse ato fazem profissão de agente”,
como cita Alberti (1998, p. 97). Seu ato é não regulamentável porque a
psicanálise não se transmite como qualquer outro saber, como dito em
O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise (1969-70), citação que
assim prossegue:
O psicanalista tem uma posição que eventualmente pode ser a de um
discurso. Ele não transmite um saber — não porque não tenha nada a
saber, ao contrário do que imprudentemente se diz. Isto é o que está posto
em questão — a função, na sociedade, de um certo saber, aquele que lhe
transmitem. Ele existe. (p. 188)
É igualmente por ser o discurso do analista aquele que fará interrogar
os outros em suas estruturas de dominância a partir do lugar agente que a
psicanálise não é uma profissão e não há como verificar, senão em termos
particulares, sua eficácia, que lhe será inculcada pelo valor da interpreta-
ção, que é sempre no um a um que se produz. Cada um dos quatro lugares
dos quatro discursos tem a ver com a apreensão de um efeito do signifi-
cante, sendo o lugar agente do discurso do analista o objeto pequeno a
como dito por exemplo em O seminário. Livro 20. Mais, ainda (1972-
73). E isso quer dizer que a psicanálise tem uma referência ética colocada
no lugar de normas, não é uma regra. É mais que isso: o tripé análise/
supervisão/teoria é uma transmissão ética que se faz de maneira singu-
lar, que tem suas balizas autorizadas tanto pelo próprio analista quanto
por outros, pares psicanalistas ou mesmo a sociedade, inclusive mas não
só no que esta se encarna no analisando. Diz-se antecipadamente que o
1. Saber-fazer aí, tal qual Lacan (1976-77, p. 12) se refere ao saber fazer com o sinto-
ma, no Seminário 24. Na edição brasileira de Outros escritos traduz-se como “saber
haver-se”, em relação à verdade (Lacan, 1970b, p. 442).
como causa, fala de modo diferente. Fala de modo ético. E isso não é
qualquer coisa.
No ato de fundação e sustentação do Articulação verificamos
efeitos de divisão, institucionalmente, efeitos de convivência das di-
ferenças das instituições analíticas e efeitos de barra, até aqui pelo
menos, à regulamentação da psicanálise.
O sujeito funciona totalizando-se, institucionalizando-se, por
isso tanto a clínica quanto a política inscritas nesse campo da psica-
nálise se definem por uma operação de fazer furo, de questionar o
que chega ao sujeito como tarefa para ele reproduzir. No trabalho do
Articulação testemunha-se, com essa referência, o exercício de uma
política que se move pela direção contrária à totalização discursiva
na contabilização capitalista: onde uma política quer regulamentar o
saber, a política da psicanálise exercida em Articulação faz furá-la.
Com isso poderíamos identificar as tentativas de regulamentação da
psicanálise com a tentativa sempre presente no humano de fazer o
Um da repetição, de identificar-se, pela unificação, plenamente com
os “semelhantes” com a ajuda caridosa de um mestre que os co-
mande, lembrando o axiomático “Psicologia das massas e análise
do eu” (Freud, 1921), aliado ao que Lacan diz sobre a massa vi-
sar comumente ser comandada por um Outro, na “Conferência em
Genebra sobre o sintoma” (Lacan, 1975, p. 8) ou ao que é dito em O
seminário. Livro 23. O sinthoma: “A maior necessidade da espécie
humana é que haja Outro do Outro” (Lacan, 1975-76, p. 124). E a
partir dessa realidade tratar de responder ao que daí advém como
mais-de-gozar, quando o que se apresenta é a intenção de ganho de
um bônus que compensaria a perda originária, como se pode ler as
tentativas de regulamentação da psicanálise, às quais o Articulação
se contrapõe.
Em O seminário. Livro 19. ... ou pior, Lacan (1971-72, p. 146) fala
que o sujeito reproduz a neurose que os pais inocentemente produziram.
Referências
Introdução
1. Ana Luisa Colnaghi, Claudia Blois, Elisa Maia, Marcia Cirigliano e Renata Dias,
Analistas Membros da Escola Lacaniana de Psicanálise – RJ.
2. Só depois.
mais além, a Escola também espera daquele que está implicado com
a causa analítica que sua produção, atravessada pela experiência pes-
soal de sua análise, possa atravessar os demais analistas em formação.
Então, podemos ver que o ato psicanalítico jamais estará dissociado da
formação de um psicanalista, da mesma forma que esta está ligada ao
percurso de um analista em uma Escola.
Sendo assim, da mesma forma que o ato psicanalítico é algo que
escapa à apreensão, a formação em uma Escola de psicanálise não se
trata de uma aprendizagem. Não há professor, nem mestre, a psicanálise
não se aprende e sim se experimenta.
A teoria psicanalítica sim, pode ser aprendida, mas de nada serve
ao psicanalista no seu ato, na medida em que este provém do não saber
do real do inconsciente, do que está fora da ordem significante, ou seja,
fora do pensamento. Como compreender que as escolhas feitas sob a
maior lucidez, levam alguém à repetição de uma mesma experiência
desastrosa, inúmeras vezes? É possível enquadrar tais sintomas em ca-
tegorias diagnósticas, mas o saber sobre a origem de tais sofrimentos
há que ser construído. Não se trata de melhora do sintoma e sim de
reconstrução subjetiva. Um novo sentido, uma nova história de vida,
uma invenção.
Na aula de 5 de janeiro de 1968 (Seminário XV – O ato psicana-
lítico) Lacan se utiliza do cogito cartesiano “penso logo sou”, toman-
do-o pela negação. “Penso onde não sou” e “sou onde não penso”,
para recortar entre esses dois campos, o não absoluto: “nem penso
nem sou”, lugar limite da linguagem, onde o Real da verdade poderá
surgir.
Portanto, é se despojando dos efeitos imaginários da marca do
Outro que o constituiu enquanto pensamento, que o sujeito, em uma
psicanálise, pode advir como psicanalista.
Um psicanalista surge da sua absoluta solidão!
Referências
Araujo, F. M. O tempo em Lacan. Ágora, Rio de Janeiro, v. 19, n.1, p. 103-114, jan./
abr. 2016.
Coelho, M. As novas dificuldades na clínica e a formação do psicanalista. Colégio de
Psicanálise da Bahia, 2006.
Freud, S. (1930). O mal-estar na civilização. In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Vol. XXI.
Lacan. J. (1953-1954). O seminário. Livro I. Os escritos técnicos de Freud. Rio de
Janeiro: Zahar, 1986.
______. (1967-1968). O seminário. Livro XV. O ato psicanalítico. Edição Escola de
Estudos Psicanalíticos de Recife, PE.
______. (1972-1973). O seminário. Livro XX. Mais, ainda. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
Porge, E. (1989). Psicanálise e tempo: o tempo lógico de Lacan. Trad. Dulce Duque
Estrada. Rio de Janeiro: Cia. de Freud, 1998.
Samyra Assad2
Escola Brasileira de Psicanálise
Do que insiste
dos objetos ofertados pela ciência e dos documentos jurídicos que visam
contornar situações contemporâneas nunca pensadas antes, permanece,
então, uma falta de sentido. Exacerba-se o caráter de uma permissivi-
dade, tal como foi possível também perceber no que se anunciava em
maio/68, sobretudo no refrão que gritava: “é proibido proibir”.
Estas são algumas das roupagens que sustentam, por outro lado, cer-
ta sede de sentido contemporânea, ou do movimento que leva ao triunfo
do sentido, tanto no que diz respeito à ciência quanto à religião. Trata-se
de movimentos que exigem o tamponamento de um furo intransponível
na existência humana, ao se trazer a oferta de um sentido para o que de
insuportável a permissividade ao gozo apresenta na civilização atual. É
aqui que podemos dizer com Miller (2004) que, em “O futuro de uma ilu-
são”, “Freud pôs o dedo sobre o que é hoje um extraordinário significante
mestre da religião: a vida” (p. 12).
Nisso, se me permitem dizer, é como se o globo terrestre pudesse
ser transformado numa boca aberta... A propósito, “Deus é o pão e a
vida”...
• Do lado da psicanálise em sua experiência clínica, a falta de sen-
tido resulta do tratamento das ficções aprisionantes do sujeito, desti-
tuindo-se assim o sentido do sintoma, ao mesmo tempo conduzindo-o
a uma liberação sob a espécie de uma invenção libertadora, a partir do
nada que restou disso tudo.
O milagre aqui, se assim posso dizer, é que esse encontro com o
que há de mais singular em cada um e que redefine um modo de vida,
nos permite reconhecer o tamanho da ficção que sustentou todas as nos-
sas escolhas e sofrimentos, reduzindo-a a um engano que não abriga ne-
nhuma correspondência, nem de significado, nem de substituição, sob a
égide de um discurso que não seria mais do semblante.
É como se a psicanálise viesse, no osso para o qual se conduzem
as palavras que veiculam uma história, demonstrar sempre a direção
O escrito e o futuro
sentar-se em uma poltrona e receber quem vai te pedir ajuda... Mas não
se esqueça: você tem que obedecer a um registro com carteira profis-
sional de psicanálise, bem como à respectiva fiscalização para se dizer
psicanalista apto a receber pacientes...”.
Posso dizer que há, então, um tensionamento, certo misto de sur-
presa e consequência que implica, de um lado, sustentar uma interven-
ção no discurso social — ou seja, preservar a psicanálise fora de uma
regulamentação pelo Estado —, e de outro, sustentar o que a rigor se
vive numa experiência analítica, justamente ao lado do que “legitima”
entre a doutrina e a política da psicanálise, a formação do analista. Trata-
-se da intervenção de um singular produzido na formação do analista via
sua própria experiência analítica, sobre o universal. Nisso, podemos di-
zer que o que importa mesmo é manter a prática analítica — a formação
que a sustenta — numa certa ruptura com as demandas do Outro social;
importa a posição do analista como um rebotalho da humanidade.
Logo, a ação que implica preservar a psicanálise fora de um char-
latanismo articula, de forma especial, a importância decisiva da experiên-
cia analítica sob a égide de um tempo sem duração, e um consequente
movimento na civilização, a fim de se conservá-la, essa experiência
analítica, fora de um domínio ditado pelo mestre contemporâneo, fora
das falsas garantias obtidas pelas normas, regras de carga horária, como
também pelo sentido.
2. A segunda razão que justificaria o desafio colocado à prática
da psicanálise nos dias de hoje se liga ao fato de que o futuro é incerto
e a cada um pertence. A sobrevivência da psicanálise supõe o esva-
ziamento de um lugar para aquele que a ela se submete. Esse lugar,
por sua vez, é “conquistado” a partir de uma longa experiência com
o inconsciente, outra forma de dizer sobre a importância de saber não
saber. Sumariamente falando, essa é a condição para que uma causa —
a causa analítica daí proveniente — possa favorecer, por conseguinte,
Adiante!
O triunfo do sentido
Referências
Freud, S. (1926). A questão sobre a análise leiga. In: Edição Standard das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. V. XX.
______. (1927). O futuro de uma ilusão. In: Edição Standard das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. V. XXI.
______, (1939). Moisés e o monoteísmo. In: Edição Standard das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. V. XXIII.
Lacan, J. (1974). El triunfo de la religión. In: El triunfo de la religión precedido de
Discurso a los Católicos. Buenos Aires: Paidós, 2005. p. 78.
Miller, J. A. Religião, psicanálise. Opção Lacaniana, São Paulo, n. 39, p. 9-24, maio
2004.
______. A salvação pelos dejetos. Revista Correio, São Paulo, n. 67, p. 23-24, dez.
2010.
.
Sidnei Goldberg1
Rosane Ramalho2
Associação Psicanalítica de Porto Alegre – APPOA
gigantesca fogueira vê-se uma foto de Freud numa página de livro sen-
do consumida pelas chamas. Uma voz ao fundo atiça a multidão, o tom
é de ódio e ouvimos a expressão: psicanálise, ciência judaica. Isto ocor-
reu em 1933, logo após a ascensão de Hitler ao poder.
Em um outro filme, Freud além da alma, vemos, numa das cenas
finais, o episódio em que Freud apresenta suas teorias sobre a etiologia
das neuroses, especificamente o tema da sexualidade infantil e, nesse
momento, sofre acusações de produzir uma teoria charlatã. Tais acu-
sações acompanharam o desenvolvimento da teoria psicanalítica: entre
os argumentos repetidos estava o de que Freud produzia uma ciência
judaica. No período entre 1895 e 1933, observamos o desenvolvimento
progressivo e simultâneo tanto da psicanálise quanto do nazismo, como
nos aponta Roudinesco (2016). Nesse sentido, a conferência XXXV:
“A questão de uma Weltanschauung” pode ser compreendida como um
dos momentos em que Freud responde de maneira sintomática, dizen-
do: ciência sim, religião não. Nesse ponto, Freud está balizado pelo
imperativo de localizar sua invenção no campo da ciência, tomando
como molde a física de sua época. Por outro lado, a clínica o conduz
para além de suas intenções, o que o fez oscilar entre oposições como
trauma e fantasia, realidade histórica e realidade psíquica, lembranças
encobridoras e lembranças reais. Há uma aproximação dos termos re-
ligião, fantasia, mente infantil, mentes primitivas e, especialmente, o
termo ilusão, com a noção de falsidade, charlatanismo.
Num de seus últimos textos, “Construções em análise”, Freud
(1937a) propõe que alcançar as lembranças do passado através de inter-
pretações é essencial num processo de cura. Ainda assim reconhece que
devemos trabalhar como um arqueólogo construindo ou reconstruindo
a realidade histórica a partir de restos. Parafraseando Cazuza: “Raspas
e restos nos interessam”. E, estendendo essa busca da verdade histórica
à psicose, afirma: “Assim como a nossa construção só tem efeito por
Referências
Sonia Alberti
Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil
1. “Kurpfuscher ist, wer eine Behandlung unternimmt, ohne die dazu erforderlichen
Kenntnisse und Fähigkeiten zu besitzen. Auf dieser Definition fußend, wage ich
die Behauptung, daß – nicht nur in den europäischen Ländern – die Ärzte zu den
Kurpfuschern in der Analyse ein überwiegendes Kontingent stellen. Sie üben sehr
häufig die analytische Behandlung aus, ohne sie gelernt zu haben und ohne sie zu
verstehen”. http://gutenberg.spiegel.de/buch/die-frage-der-laienanalyse-928/6
Referências
Alberti, S. Pelo fórum de debates: uma apresentação. In: Alberti, S., Amendoeira, W.,
Lannes, E., Lopes, A., Rocha, E. (Orgs.). Ofício do psicanalista: formação vs. regula-
mentação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. p. 7-20.
Amendoeira, W. A articulação das entidades psicanalíticas brasileiras. In: Alberti, S.,
Amendoeira, W., Lannes, E., Lopes, A., Rocha, E. (Orgs.). Ofício do psicanalista: for-
mação vs. regulamentação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. p. 23-32.
Barillot, P. Particularité de l’acte analytique. Disponível em: <https://champlacanien-
france.net/sites/default/files/barillot.pdf>. Acesso em: 15 out. 2018.
Elia, L. Leiga por rigor: o que é impossível regulamentar na psicanálise? In: Alberti,
S., Amendoeira, W., Lannes, E., Lopes, A., Rocha, E. (Orgs.). Ofício do psicanalista:
formação vs, regulamentação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. p. 79-88.
Freud, S. (1917). Uma recordação de infância em Poesia e verdade. In: Obras comple-
tas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. V. 14, p. 263-278. Disponível em: <http://
gutenberg.spiegel.de/buch/kleine-schriften-i-7123/13>. Acesso em: 15 out. 2018).
______. (1926). Die Frage der Laienanalyse: Unterredungen mit einem Unparteiischen.
In: Studienausgabe. Frankfurt a.M., S. Fischer Verlag, vol. Behandlungstechnik, 1975.
pp. 271-350. (Tradução: A questão da análise leiga: diálogo com um interlocutor impar-
cial. In: Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. V. 17. pp. 124-217).
______. (1927). Pós-escrito de “A psicanálise leiga”. In: Alberti, S., Amendoeira, W.,
Lannes, E., Lopes, A., Rocha, E. (Orgs.). Ofício do psicanalista: formação vs. regula-
mentação. Trad. de Eduardo Vidal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.
______. (1937). Die endliche und unendliche Analyse. In: Studienausgabe. Frankfurt
a.M.: S. Fischer Verlag, 1975. vol. Ergänzungsband, p. 351-392.
Lacan, J. (1953). Função e campo da fala e da linguagem. In: Escritos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998. p. 238-324.
______. (1957). A psicanálise e seu ensino. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1998. p. 438-460.
______. (1962-63). Le séminaire. Livre X. L’Angoisse. Paris: Seuil, 2004.
______. (1967-68). L’Acte psychanalytique. Compte rendu du Séminaire XV. In:
Autres Écrits. Paris: Seuil, 2001. p. 375-382.
______. (1972). L’Étourdit. In: Autres Écrits. Paris: Seuil, 2001. p. 449-496.
______. (1973). Note italienne. In: Autres Écrits. Paris: Seuil, 2001. p. 307-312.
Lannes, E. S. (2009). História das tentativas de regulamentação no Brasil. In: Alberti,
S., Amendoeira, W., Lannes, E., Lopes, A., Rocha, E. (Orgs.). Ofício do psicanalista:
formação vs. regulamentação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. p. 33-44.
Santo Agostnho. Capítulo XIV: L’Homme parle au dehors, le Christ enseigne au dedans.
I n: Du Maître. §45. Tradução para o francês do Abade Raulx. Disponível em: <http://
www.abbaye-saint-benoit.ch/saints/augustin/maitre/index.htm#_Toc14686863>.
Acesso em: 15 out. 2018.
Respeitosamente,
há 5 anos
9.394 visualizações
Excelentíssima Senhora
Presidenta da República
Dilma Roussef,
1. Que, conforme mais abaixo no texto do Projeto tem como uma de suas definições as
alterações psicopatológicas, o que contraria a competência, conforme alguns autores
(inclusive o próprio médico que criou a Psicanálise, Sigmund Freud), mais do psica-
nalista do que do médico: “III – alterações anatômicas ou psicopatológicas”.
2. Na medida em que não fica claro o que é um “Serviço médico”, podendo este inclusive
ser todo um ambulatório, uma enfermaria, um dispositivo clínico de saúde – inclusive
mental –, esse inciso é um retrocesso em relação ao que já se instituiu no Brasil, no
sentido de hoje haver CAPS que funcionam sob a coordenação e supervisão de não
EXCELENTÍSSIMA SENHORA
SENADORA FÁTIMA BEZERRA,
para o exercício desse ofício requerem do analista que ele possa estar
numa posição que dê lugar à verdade do outro. Freud nos mostrou que
a Psicanálise não é uma prática de convencimento. Sendo um ofício e
uma prática — e não uma profissão —, a Psicanálise não se ajusta aos
modelos de profissionalização que recebem algum tipo de certificação
ou diploma, expedidos por instituições de ensino ou órgãos regulado-
res públicos. Enfim, o surgimento de um psicanalista depende, essen-
cialmente, de sua análise pessoal.
A Psicanálise não é regulamentada como profissão no Brasil e não
o foi até agora porque os parlamentares brasileiros, desde as primeiras
tentativas na década de 1970, reconheceram a complexidade do campo
psicanalítico e resistiram a qualquer decisão que pudesse desfigurar e
mesmo banalizar um ofício que lida tão intimamente com o sentir, o
pensar e o agir humanos e verificaram que os institutos de formação de
psicanalistas já são, per se, órgãos que a garantem, reconhecendo-se,
como tais, entre eles.
Os psicanalistas não reclamam nenhuma regulamentação do
Estado. A Psicanálise persiste há mais de um século graças a princí-
pios e métodos rigorosos e a um corpo teórico e técnico que tem a
proposta de Sigmund Freud como fundamento. Uma regulamentação
da Psicanálise externa a seu campo geraria um funcionamento contra-
ditório com o surgimento ou a formação de um analista. Dificultaria a
operação em vez de melhorar suas condições. Além disso, a legalização
forneceria inevitavelmente um endosso formal das práticas daqueles
que não necessariamente se submetem em ato à ética da Psicanálise.
Sabemos que no momento está em tramitação no Senado, na
Comissão de Assuntos Sociais, o PROJETO DE LEI DO SENADO nº
174, de 2017 e no que tange à Psicanálise parte de premissas e estipu-
la procedimentos incompatíveis com a essência do ofício e a formação
de sua prática. É flagrante a diferença de campos epistemológicos. Não
Cordialmente,
Entidade Representante1
Departamento de Psicanalise do
Instituto Sedes Sapientiae Ana Maria Sigal
Escola Brasileira de Psicanálise Samyra Assad
Escola de Psicanálise dos Fóruns
do Campo Lacaniano Sonia Alberti
Escola Lacaniana de Psicanalise Maria Teresa Saraiva Melloni
Escola Letra Freudiana Mauricio de Andrade Lessa
Patricia Sá
Federação Brasileira de Psicanálise
– FEBRAPSI Rosane Müller Costa
Formação Psicanalítica Instituto
Sedes Sapientiae Maria Helena Saleme
Saiba mais
A Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras é um co-
letivo integrado por 17 instituições: Aleph-Escola de Psicanálise;
1. Simpósio do qual participou o colega Marie-Jean Sauret, que fez esta entrevista
pela revista Psychanalyse. Foi durante o simpósio que ele tomou conhecimento da
Articulação das Entidades Psicanalíticas, o que despertou nele o interesse por esta
entrevista. (N. da T.)
2. Durante a entrevista, Eduardo Rocha, Fernanda Costa Moura e Idália de Goes inter-
vieram pelo Tempo. Em relação às outras associações, por terem sido representadas
por um único interlocutor, é o nome dele que figura como autor da resposta (o nome
da associação é então indicado entre parênteses).
4. Termo que preferimos não traduzir por não haver correspondente em português.
Trata-se de uma forma arcaica do termo “sintoma” em francês, utilizada por Lacan em
seus últimos anos de ensino, quando reviu a teoria psicanalítica do sintoma. Assim
como o gozo feminino, o gozo do sinthome não só está fora da referência fálica como
é um “gozo suplementar”. (N. da T.)
6. No original em francês segue a esta entrevista um “pós-escrito” que tem por finalida-
de uma breve apresentação do trabalho da Articulação das Entidades Psicanalíticas
para esclarecer possíveis lacunas que a entrevista deixa em aberto. Julgamos desne-
cessária sua publicação aqui já que o livro, por si só, responde bem melhor a essas
possíveis lacunas. (N. da T.)