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MATERIAL DO CURSO

LEDOR - TRANSCRITOR

APOSTILA

LEDORES E OS DEFICIENTES VISUAIS


LEDORES E OS DEFICIENTES VISUAIS

Em um mundo letrado como o nosso, o Braille é uma das bases de inserção do


deficiente visual na sociedade. Através desse Sistema é possível decodificar
símbolos no papel, de forma manual. Contudo, o número de livros em Braille
ainda é mínimo, pois apresentam especificidades que dificultam a criação de
bibliotecas exclusivas e grandes acervos. Nesse cenário, os ledores, pessoas
que emprestam a sua voz para decodificar os livros, ganham destaque ao dar
forma ao mundo para os deficientes visuais.

Destaca-se a importância do ledor como mediador entre o autor e o ouvinte cego,


avaliando o significado que essa relação possui para o deficiente visual. A
atividade de leitura em voz alta por outra pessoa tem se traduzido como uma das
melhores alternativas para garantir o contato do deficiente visual com o universo
das letras.

Pesquisas revelam que marcas das subjetividades estabelecidas entre leitor e


ouvinte podem se caracterizar, por exemplo, através da identificação do ouvinte
com o ledor ou com a relação do próprio leitor com o livro. A relação ledor-ouvinte
traz muito mais do que uma simples leitura. Ela ativa no leitor que não enxerga,
a confiança na voz do ledor que não tem a deficiência visual. Ocorre uma relação
solidária e de generosamente entre ambos.

O ledor geralmente atua de forma voluntária, já que na maioria das vezes é um


amante da leitura. Entretanto, existem indivíduos que são remunerados ao
desempenhar esse papel. Os textos falados ou audiobooks são utilizados, ainda
que de maneira insipiente, para compor as chamadas audiotecas de instituições
e acervos particulares. Esse tipo de arquivo tem se popularizado e alguns podem
ser baixados através da internet. Recentemente, um projeto intitulado Livro
Falado disponibilizou na rede mundial de computadores mais de 300 livros
gravados de, aproximadamente, 280 autores brasileiros.

Há softwares de voz que funcionam como ledores digitais, propiciando ao


deficiente visual certa autonomia. Porém, a voz humana imprime sensibilidade,
calor e emoção às mensagens, isso é preferido para deficientes. Apesar dos
dados otimistas, nem todos os alunos com deficiência visual ingressam na escola
regular. Além disso, dificuldades encontradas no processo educacional não
revelam uma preocupação em como esses alunos devem obter uma melhoria na
qualidade de ensino. Faltam escolas com infraestrutura adequada, professores
capacitados, o que dificulta ainda mais a inclusão de alunos cegos.

DEFICIÊNCIA VISUAL: FORMAS DE LEITURA E ACESSIBILIDADE À


INFORMAÇÃO

A prática do desenvolvimento de sistemas, produtos e serviços para serem


utilizados com segurança e autonomia por pessoas com deficiência visual ou
mobilidade reduzida constitui o conceito atual de acessibilidade. Essa condição
deve, não apenas permitir que essas pessoas participem de atividades que
incluam o uso de produtos, serviços e comunicação, mas também a inclusão e
o uso destes por todas as parcelas presentes em uma determinada população,
ou seja, é a possibilidade de qualquer pessoa usufruir de todos os benefícios da
vida em sociedade.

Segundo o Decreto nº. 5.296 de 2 de dezembro de 2004, acessibilidade está


relacionada em fornecer condição para utilização, com segurança e autonomia,
total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de
comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com
mobilidade reduzida. Ainda neste decreto, encontramos que esses
impedimentos são denominados "barreiras", quando existir qualquer entrave ou
obstáculo que limite ou empeça o acesso, a liberdade de movimento, a
circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou
ter acesso à informação.

Dentre os dispositivos legais, temos ainda a Convenção dos Direitos da Pessoa


com Deficiência, que ganhou status constitucional a partir da promulgação do
decreto nº. 6949/2009 e, prevê também o direito à acessibilidade no sentido de
promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e
promover o respeito pela sua dignidade inerente.

Nesse sentido, a deficiência não é apenas entendida sob a perspectiva médica


ou "da falta" de algo, precisando se adaptar para o convívio em sociedade. Hoje
a deficiência é vista sob a ótica social, já que o que impede a plena participação
são as barreiras encontradas na sociedade. Sendo assim, quanto menor for a
barreira, quanto maior a possibilidade e a facilitação do acesso, menor será o
impacto da deficiência na interação com o meio.

DEFICIÊNCIA VISUAL

O termo cegueira não significa, necessariamente, total incapacidade para ver.


Na verdade, sob cegueira podemos encontrar pessoas com vários graus de
visão residual. Engloba prejuízos dessa aptidão a níveis incapacitantes para o
exercício de tarefas rotineiras (visão corrigida do melhor dos seus olhos permite
enxergar há 6 metros o que uma pessoa de visão normal enxerga há 60 metros).
Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que tem somente a percepção
da luz ou que não têm nenhuma visão e precisa aprender através do método
Braille e de meios de comunicação que não estejam relacionados com o uso da
visão; e como possuidor de baixa visão aquele que lê tipos impressos ampliados
ou com o auxílio de potentes recursos ópticos.

Segundo o Censo do IBGE 2000, da população brasileira (169 milhões de


habitantes), 14,5% (24,5 milhões) são pessoas que têm deficiência (visual,
motora, auditiva, mental, física). Desses, 48,1%, mais de 16 milhões de pessoas
apresentam algum grau de deficiência visual no Brasil e, dentre elas, 159.824 se
declararam incapazes de enxergar.

Considerando que o sistema visual recebe e interpreta, de forma instantânea e


imediata, mais de 80% dos estímulos do ambiente, as pessoas com deficiência
visual necessitam fazer uso dos demais sentidos para interagir com o mundo a
sua volta e, por isso, precisam estar inseridas num ambiente estimulador, contar
com a mediação e condições favoráveis para a exploração de seu referencial
perceptivo. Isso não implica o desenvolvimento compensatório dos outros
sentidos, levando à crença de que cegos têm uma maior audição ou possuem
sexto-sentido.

Os sentidos têm as mesmas características e potencialidades para todas as


pessoas. O fato é que para as pessoas com deficiência visual, o canal de
informação não será visual, e o referencial perceptivo passará pelo
desenvolvimento dos sentidos remanescentes, ou seja, elas recorrem às
informações tátil, auditiva, sinestésica e olfativa com mais frequência para
guardar na memória os esquemas de que precisam para construir suas pistas e
interagir com o mundo.
A ativação contínua desses sentidos faz com que o deficiente visual crie
habilidades e desenvolva processos particulares de codificação que formam
imagens mentais, que será ampliada conforme o grau e a pluralidade de
experiências ao longo da vida. São as experiências significativas,
contextualizadas, vividas e internalizadas pelo deficiente visual que formam a
imagem mental de que ele necessita.

SISTEMA BRAILLE

O Braille é um sistema de leitura tátil e escrita para pessoas com deficiência


visual, inventado pelo francês Louis Braille (1809-52). Ainda jovem, quando
frequentava o Instituto de Cegos de Paris, ele adaptou um método de
comunicação militar, desenvolvido por Charles Barbier, que utilizava um sistema
fonético de pontos, traços e buracos e possibilitava a comunicação noturna entre
oficiais do exército francês. Esse novo sistema, adaptado por L. Braille, passou
a utilizar pontos em relevo, possibilitando o manuseio pelas pessoas cegas, tanto
na escrita como na leitura. As dificuldades para a implementação deste sistema
passou, sobretudo, por uma forte negação de que seria verdadeiramente
eficiente para a comunicação, até o impedimento do uso desse código entre os
alunos dessa instituição. O reconhecimento veio após sua morte e o sistema
Braille começa a ganhar o mundo. O Brasil foi o primeiro país da América Latina
a adotá-lo como forma oficial de escrita entre os cegos, em 1854, no Instituto
Benjamin Constant – RJ.

O Sistema Braille é a representação do alfabeto convencional através de pontos


em relevo, que o cego distingue por meio do tato. Utilizando seis pontos
salientes, podem-se fazer 64 combinações que representam letras simples e
acentuadas, pontuações, algarismos, sinais de matemática, e notas musicais.
Os símbolos Braille são formados por unidades de espaço conhecidas como
células ou celas. Uma célula Braille completa consiste de seis pontos dispostos
em duas colunas paralelas contendo três pontos cada. A posição do ponto é
identificada por números de um a seis, da esquerda para a direita e de cima para
baixo.

Através do sistema Braille o deficiente visual vê suas possibilidades ampliadas,


de acesso à informação e comunicação. O mundo passa a ter sentido e construir
significados por meio daquilo que, até então, estava oculto pela falta de acesso.
São múltiplas possibilidades de atribuir sentidos e construir imagens para
representar o mundo que se amplia e se desvenda na ponta dos dedos. Ao tocar
o papel sabe-se que aqueles pontos ganham um contorno próprio, que vão além
das palavras para ganhar vida na imaginação do seu interlocutor.

Sendo assim, não basta apenas decodificar letras em palavras. O ensino do


Braille demanda técnicas que vão desde a etapa da estimulação sensorial até o
uso de equipamentos específicos para a produção dos pontos. Necessita ser
acompanhado por um profissional especializado que, além das letras, lhe
ensinará a criar significados e construir esquemas perceptivos peculiares a cada
etapa do aprendizado do Braille. São habilidades motoras, táteis e imagéticas
que compreendem o processo como um todo, garantindo futuras aquisições e
qualidade de uso.

A acessibilidade à informação por meio do código Braille passa por um criterioso


processo de adaptação do conteúdo. Isso porque converter uma informação
impressa para uma informação tátil demanda conhecer as especificidades desse
código, tais como:

• Um conteúdo impresso quando transcrito para o Braille tem seu volume


ampliado, ou seja, cada página em tinta pode resultar em até 5 páginas em
Braille;
• O custo alto da impressão, pois demanda o uso de equipamentos
específicos, folhas com gramatura superior às convencionais e tempo de
trabalho para adaptação;
• Armazenar as obras e transportá-las é algo bastante complexo pelo
grande volume dos materiais;
• Inexistência de obras suficientes para toda demanda.

Além dos livros em Braille, o uso desse código seria muito útil em rótulos de
produtos, medicamentos, bem como para outras identificações e sinalizações,
em geral. A vantagem reside no fato do contato direto com as palavras, notando-
as de sentido ao tocar. Permite conhecer a ortografia, estrutura gramatical e
distribuição do texto no papel.

Como nem todos os deficientes visuais são usuários do sistema Braille, temos
também outras ferramentas que garantem a acessibilidade à informação, como
os livros falados e softwares de síntese de voz para computadores.
LIVROS FALADOS

São obras que se propõe a ser uma versão falada do livro impresso, sendo um
livro auxiliar do livro em Braille. O "ledor", pessoa que grava as obras lendo-as
em voz alta, precisa ser fiel ao conteúdo, respeitando pontuação e fazendo
pausas, se houver a necessidade da soletração. A leitura sem efeitos sonoros
ou sonoplastia, parte do princípio de que o cego precisa construir sozinho o
sentido do que está sendo lido, sem interferências externas. Tem como ponto
forte a questão da facilidade de transporte e armazenamento dos livros, bem
como a rápida produção. O ponto negativo reside no fato da impossibilidade da
interação com a grafia das palavras, o que faz com que muitos deficientes
visuais, usuários somente de livros falados, possuam dificuldades para a escrita,
grafando as palavras com o mesmo som que ouvem.

INFORMÁTICA PARA CEGOS

Deficientes visuais talvez tenham sido os mais beneficiados pela tecnologia, em


especial de computação. Hoje, com a ajuda de computadores, scanners,
impressoras e outros equipamentos, um cego é capaz de “escrever e ser lido, e
ler o que os outros escreveram". O uso do computador pelo deficiente visual
tornou-se possível graças ao desenvolvimento de leitores de tela e sintetizadores
de voz capazes de transmitir oralmente toda a informação visual disponível no
monitor. Com o uso desses recursos de áudio essas pessoas podem
desempenhar, desde tarefas mais simples até as mais complexas e, que exigem
um maior conhecimento das funções de informática. A grande vantagem, porém,
está na economia de tempo e de recursos financeiros como, por exemplo: com
o uso de um scanner podemos digitalizar livros para serem lidos através de um
editor de texto com vozes sintetizadas ou, utilizando uma impressora Braille,
adaptar rapidamente a obra e imprimi-la para o uso imediato. Existem vários
softwares gratuitos ou comercializados para o uso de deficientes visuais, bem
como a possibilidade de configurações diversas quanto ao idioma, tonalidade de
voz, entonação, velocidade de leitura e tipo de fala sintetizada. Encontra-se
nesse grupo o Sistema Dosvox, com possibilidades de trabalho por meio do
lúdico e jogos de interação.
Porém, somente os recursos tecnológicos se tornam insuficientes se não
considerarmos requisitos básicos de acessibilidade web. Podemos citar como
exemplo construções de sites seguindo as diretrizes da W3C. Se os requisitos
de acessibilidade não estiverem disponíveis nos aplicativos e serviços, os
leitores de tela esbarram nas barreiras comunicacionais e nos deixam no escuro.

O acesso à informação pelos computadores traz como ponto positivo a facilidade


de juntar a audição do texto com a possibilidade de fazer-se a soletrarem, a
verificação da grafia das palavras. Por meio dos softwares leitores de tela as
pessoas cegas acessam de maneira completa os textos e a informação de
maneira muito rápida e precisa, acompanhando a velocidade com que são
produzidas e distribuídas na rede.
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