De acordo com Brocx e Semeniuk (2010), os cristais são partes constitutivas da
Terra, portanto, é um planeta cristalino com inúmeros cristais de rica variedade mineral, que ocorrem em diversos ambientes. Como testemunho da geoheritage do planeta, muitos cristais e minerais podem servir aos estudos da geodiversidade devido as variáveis de tamanho, composição, forma, zoneamento, bordas de reação, inclusões minerais, inclusões de fluidos e gases, geminação,deslocamentos, exsolução, ocorrência incomum ou raridade de um atributo de cristal e sua forma de agregação, como as rosas do deserto ou drusas. As características geológicas na macroescala têm grande relevância nos estudos da história de evolução da Terra, e os cristais e minerais, são partes importantes desses elementos que respondem a padrões que auxiliam nos estudos do patrimônio geográfico do planeta. Os autores citam o gesso gigante no México e Espanha, os cristais de zircão de Jack Hills que são os mais antigos da Terra, a grande pirita na Espanha, granadas bola de neve, entre outros exemplos de elementos da geoheritage constituídos por cristais, que devem ser protegidos por processos de geoconservação. Estudar os cristais é complexo devido à ampla variedade de minerais que os formam, assim como, os tipos de cristais, tamanhos, paragênese e configuração geológica. As localidades de ocorrência e os empreendimentos de proteção de jazidas de cristais e minerais de importância global e nacional fazem parte do escopo do estudo dos autores apresentado no presente texto. Nesse contexto, são apresentados como marco inicial a definição de geoheritage, geoconservação, o escopo e escala desses conceitos, critérios para seleção de locais de importância geológica, a natureza dos cristais e minerais, suas variedades que são estudados como elementos da geoheritage que devem ser conservados, integrando a história evolutiva da Terra e dos homens com dados históricos, científicos, culturais, valores estéticos e religiosos. Dessa forma, alguns exemplos de elementos da geoheritage de importância global são citados pelos autores como aspectos de localidade e também de valor histórico cultural. Nesse sentido, as inconformidades de James Hutton em Siccar Point como representante de um sítio geológico histórico, as Sete Irmãs ao longo das falésias calcárias de Sussex, no Reino Unido e Uluru um inselberg de megaescala como representante de locais culturais importantes. Os fenômenos geológicos que possuem importância geoheritage foram citados pelos autores, com importância relativa aos cristais e minerais têm-se: locais onde uma característica geológica, tipo de rocha, espécime de tipo de planta ou fóssil foi primeiro reconhecido e descrito (ou seja, localidades de tipo); locais historicamente significativos onde contribuições originais para a compreensão dos processos ou princípios geológicos foram inspiradas; exemplos de livros de recursos e processos geológicos; características geológicas que oferecem oportunidades de pesquisa ou educacionais; exemplos notáveis de estágios significativos na história evolutiva da Terra; a variedade de características geológicas relacionadas e significativas dentro de uma pequena área geográfica; mesmo que qualquer característica possa não ser digna de reconhecimento especial, a combinação de características relacionadas na proximidade pode ser única e geologicamente significativa; características geológicas, formações e paisagens de excepcional beleza natural com usos recreativos existentes ou potenciais; e, locais de coleta de espécimes de rochas e minerais com usos recreativos existentes ou potenciais ou valor educacional. Os cientistas do Reino Unido desenvolveram o método de inventário em que a estratigrafia, paleontologia, petrologia estrutural e metamórfica e outros, são passíveis de encapsular a história geológica e a essência de um local permitindo o estudo sistemático e seletivo da evolução do planeta em termos de geoheritage. A criação de áreas protegidas como o Grand Canyon no Arizona, EUA e outros sítios destacados pelos autores são importantes para a geoconservação em megaescala. Porém, os estudos iniciam-se em escalas de cristais, constituindo-se como um dos importantes componentes do alfabeto de leitura do processo evolutivo da Terra. Os padrões em cristais podem ser lidos pelos ciclos das rochas (processos de formação de rochas magmáticas ou metamórficas) as composições, tamanhos, arranjos, origem, reabsorções marginais, zoneamento de cristais, inclusões cristalina e de fluidos e gases são avaliados na reconstituição do processo de formação do planeta. Esses critérios podem ser globais, nacionais, regionais ou locais, com significância independente do tamanho do fenômeno geológico, portanto, terreno, afloramento, leito ou cristal são avaliados segundo critérios próprios. O cristal é um corpo sólido homogêneo constituído por um elemento ou um composto ou mistura isomorfa, com arranjo atômico de repetição regular expresso externamente como faces planas (euédricos) e sem faces planas anédricos, com formas subédricas. Os que não possuem faces planas são internamente cristalinos, são os cristais. Há sete sistemas de categorias: (cúbico, tetragonal, ortorrômbico, hexagonal, trigonal, monoclínico e triclínico), com variedades de classes de simetrias e formas dependentes das faces desenvolvidas, estilo de intersecção nos eixos cristalográficos, o que confere aos cristais diversas geometrias. Os cristais são expressão de minerais cristalizados, podem ser elementais, óxidos, sulfetos, halogenetos, sulfatos, carbonatos ou silicatos simples, complexos ou híbridos. Variam em tamanho de <1 µm a decímetros, metros e muito mais. Os minerais e suas formas cristalinas são comuns e onipresentes no planeta Terra, sendo esta considera cristalina, a exceção do seu interior fundido. Alguns cristais possuem importância geoheritage que podem ser lidas a partir da história hidroquímica e das pressões e temperaturas alcançadas expressas nos cristais que compõem as rochas que fazem parte da geologia estrutural. Os autores consideram os cristais importantes devido à possibilidade de captar informações sobre a Terra, por meio da datação radiométrica do cristal ou zonas nos cristais que ilustram como cresceram ou como os magmas evoluíram. A microestratigrafia que são camadas de composição do cristal também é considerada. O interior dos cristais carrega informações importantes de processos evolutivos do planeta, sendo a geoconservação dos locais que possuem cristais com geoheritage primordial para os estudos da história da Terra. Segundo os autores, a conservação in situ de cristais que possuem significado geoheritage é o preferível, associando-os à geologia circundante e à história da região. Não sendo possível, a conservação ex situ em coleções e em museus é o melhor a ser feito.