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| lrandé Antunes ANAUISEDETEXTOS Cam eeoronacho: Renato: Foro: Conseo Eoromat: Andréia Custodio Marcos Bagno ‘Marcos Marcionlo ‘Ana Stahl Zilles [Unisinos} Carlos Alberto Faraco(UFPR Egon de Olvera Rangel (PUC-SP] Gilvan Mailer de Oliveira [UFSC, pol} Henrique Monteagudo (Universidade de Santiago de Compostela} xanavilil Rajagopalan [Unicamp} ‘Marcos Bagno [UnB] ‘Maria Marta Perera Scherre[UFES] Rachel Gazolla de Andrade (PUC-SP] Salma Tannus Muchall PUC-SP} Stella Maris Boron icardo [UnB] ‘GP-BRSIL CATALOGACAO HA FTE ‘SINICATO WAGONAL Dos EITORES DE LIVES, RI nen Antunes and. 1937 ‘Anal de textos :fundamentos epratcas/ande Antunes ‘to Paul Parsboa Eri 2010, (Estategis de ensino:21) Inca bibliog 1500 978-85 7934.0222 |. Lingua portuguesa Composcioeexerccos- Fstudoeensino 2 Andlse de dscursa. 3 Linguagens e inguas-Estudo eensino. 4Linguistica Estado eensina Tula. Se 103816 copseeo8 cou a11 134342 Diteitos reservados 8 Parébola Editorial ua Sussuarana,216 Alto do ipiranga (04281070 S30 Paulo, SP paabx:(1 1] 5061-9262 | 5061-8075 fax: (11] 2589-9263 home page: www parabolaeditoral om br ‘e-mail parabola@parabolaeditoral com.br Todos 0s detosrevervados. Nenhuma parte desta aba pode ser ‘eprodunds ou transmis por cialis forms teu tosses ees Glevenco 0 mecinca ind fotcépa ¢ penne oc ee, em questo bun de dado em pemata ores Parsbola Edtoral Lida 'SBN:978-85-7934.0222 © do texto: randé Antunes (©da edigdo brasileira: Parabola Editorial S4o Paul, setembro de 2010 Nocées preliminares sobre 0 texto e suas propriedades 2.10 conceito de textualidade omo fundamento para a compreensdo do que é 0 tex- to, tem-se desenvolvido o conceito de textualidade, a qual pode ser entendida como a caracteristica estru- tural das atividades sociocomunicativas (e, portanto, também linguisticas) executadas entre os parceiros da comuni- cacao. Logo, todo enunciado — que porta sempre uma fungio comunicativa — apresenta necessariamente a caracteristica da textualidade ou uma “conformidade textual”. Quer dizer, em qualquer lingua, e em qualquer situagdo de interagéo verbal, o modo de manifestagao da atividade comuni- cativa é a textualidade ou, concretamente, um género de texto qualquer. Dai que nenhuma aco de linguagem acontece fora da textualidade. “Desde que ela exista, a comunicagao se da de for- ma textual” (Schmidt, 1978: 164). Na mesma direcdo, afirmou Marcuschi em uma de suas aulas: “No momento em que alguém abre a boca para falar, comeca um texto”. Perde sentido, entao, aquela perspectiva ascendente da lin- guagem, segundo a qual, primeiro, se aprendem as palavras, de- Pois as frases, para enfim, se chegar ao texto. Todos os segmentos de nossa atividade de linguagem, desde os primeiros balbucios, MISCO Mndncls 6s RT, sao entendidos e cla: como partes funcionais de um todo integrado: 0 texto. Fazer da textualidade o objeto de ensino n: teorias da moda, ou um jeito de— como dizem aulas mais motivadas, 0 & pois, ceder ag alguns — deixar ag mals prazerosas, menos mondtonas. E mui. to mais que isso: € uma questdo de assumir a textualidade como.) Principio que manifesta e que regula as atividades de linguagem, Ocorre que essa textualidade nao acontece de forma abstea. ta. Acontece sob a forma conereta de textos, linguistica ¢ social- mente tipificados, conforme veremos a seguir. 2.2.0 conceito de texto tivamente, uma pessoa tem esse dis muito dificil t@-1o, uma vez €m no textos. Por mais cernimento, até porque nao é que nao andamos por ai esbarrando que esteja fora dos padres considerados cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou escrevemos, em situagdes de comunicacio, sio sempre textos, ) Também nao é dificil explicitar essas intuigdes, xarmos na andlise de como acontece a interagao verb; Pessoas nas diferentes situacdes de sua vid, apresentar fundamentos te6ri analisar, se nos fic al entre as la social. Vamos tentar ntos que pretendemos do livro, de uma forma essivos capitulos de anlise, icos dos pon embora o fagamos, neste ponto muito suméria, uma vez que, nos suc: vamos desenvolvé-los um pouco m ‘Ba; Primeiramente, poderfamos com, Tecorremos a um texto quando temos algu cativa e a queremos express: gar por lembrar que ima pretensiio comuni- sar. Oomen, conforme citagao de Sch- midt (1978: 167), afirma que “nao se instaura um texto sem uma funcao comunicativa”; propde ainda que o texto tem seu fluro controlado pela respectiva fungao comunicativa que exerce, Dessa forma, todo texto € a expressio de algum propési- to comunicativo, Caracteriza-se, portanto, como uma atividade eminentemente funcional, no sentido de que a ele recorremos com uma finalidade, com um objetivo especifico, nem que seja, simples- mente, para nao ficarmos calados, Assim, nada do que dizemos é destituido de uma intengio. O sentido do que dizemos aos outros é parte da expressio de um ou mais objetives. Falamos com a intengio de “fazer algo”. O sucesso de nossa atuag’o comunicativa esta, sobretudo, na iden- tificagao dessa intengao por parte do interlocutor com quem inte- ragimos. Por isso mesmo € que, no percurso da interacao, vamos dando as instrugdes necessarias para que o outro va fazendo, com eficacia, essa identificagao. Como diz Schmidt (1978: 80), 0 texto um “conjunto ordenado de instrucdes”. © principio de que falamos sempre para cumprir determi- nado objetivo é sobejamente referido por todos os autores que se ocupam do texto. Por exemplo, Adam (2008: 107) declara que “o texto nao é uma sequéncia de palavras, mas uma sequén- cia de atos”. Halliday ¢ Hasan (1989: 52) definem texto como a “linguagem que é funcional, Por linguagem funcional, queremos referir aquela linguagem que cumpre alguma fungio em algum contexto”, Na mesma linha, Schmidt (1978: 170) define o con- ceito de texto como “um conjunto-de-enunciados-em-fungio”. Consequentemente, todo texto é expressio de uma atividade social. Além de seus sentidos linguisticos, reveste-se de uma rele- vancia sociocomunicativa, pois esta sempre inserido, como parte constitutiva, em outras atividades do ser humano, Nas palavras de Marcuschi (2008: 23), “nao existe um uso significativo da lin- gua fora das inter-relagGes pessoais ¢ sociais situadas”. Assim, compreender um texto é uma operagao que vai além de seu aparato linguistico, pois se trata de um evento comunica- tivo em que operam, simultaneamente, aces linguisticas, sociais © cognitivas. 2.2.2. Um segundo aspecto que deriva desse primeiro ponto €0 fato de que o texto, como expresso verbal de uma atividade social de comunicagao, envolve, sempre, um parceiro, um inter- locutor. Nao, simplesmente, pelo fato de que temos uma com- panhia quando falamos e, assim, nao o fazemos sozinhos. Mas, sobretudo, pelo fato de que construimos nossa expressao verbal com 0 outro, em parceria, a dois; de maneira que 0 texto ya tendo um fluxo conforme acontece a interagao entre os atores dy agao de linguagem. | Dizemos 0 que julgamos ser de interesse do outro escutay | Pressupomos esse interesse e arriscamo-nos a responder a ele, Dai 0 dialogismo reconhecido por Bakhtin (1995) como caracteristi. ca fundamental da linguagem. Nao dizemos as coisas gratuita mente ou aleatoriamente. Esforgamo-nos, quase sem notar, part sermos, em cada contexto, relevantes, dizendo 0 que supomos ser da necessidade, do interesse ou do gosto do outro. Em iltim: instancia, é isto mesmo: nao falamos sozinhos, no sentido de que ‘at usu Eacagun tngtonas ‘© texto que construimos é wma resposta 20 te,juandopalavrase frasesquetui GUE SUPOMOS ser a pergunta do outro. recolhendo numa revista, Em con- 2.2.3, Um terceiro aspecto a se consi- ee a derar sumariamente diz respeito ao fato de fo “sein sentido? de ambis as pegas, QUE O Texto € caracterizado por uma orienta As justficativas para a hipdtese de | ¢Go temdticas quer dizer, o texto se constrél a nie conttuiam texion cont’ partir de um tema, de um t6pico, de ums de sentido possivel”. E curioso que, ideia central, ou de um micleo semintico, ivomemorern tune. | que Ihe dé continuiade eunidade tas, sem que ninguém questionasse a Para explicitar esse principio (to presen” distincia entre isso €0 exervico real_| te AS MOssas intuigdes), vejamos, por exem- irimnem ws | plo assoguintes pve qu mat mente caras de texto', Religiosidade ‘Monstio planos sexo cantor pela denincia de polémico paguel fazer sobre pre tendem enfermeira menino milhdes presente viva-vor telelone estar risco com mercado 0. ‘Computador completo ficar frontal vocé veloz se para esperar doméstico princando mamilto moda Relogias cartas sobre expectativa inteito promagdo empregadas sabatina caine ‘nha novo queijo compra Brasil meninos. Mamilero voraz E preciso 100 pontas para ganhar um relégio de plastica. Teremos imenso prazer em lhe mastrar © nosso pals. Ja esta nas lojas Tok & Stok a Lina Garden Verao 97.Dizia'se ld em casa que éramos de origem francesa Teno um pequeno museu em casa | _ Seu proximo passo¢ ter um cartao com 6 meses de anuidade gratis. | — Jamais abandonarei a senhora | 80m mesmo ¢ viver numa cabana no meio do mato. O proprio banco aluda a des eo quais $80 05 melhores produtos para montar sua carteira de investimentos. Daria para perceber em alguma dessas passagens uma unida- de semantica, ou reconhecer qualquer nticleo de sentido? Daria para dizer sobre qué é cada uma? Daria para fazer, a partir delas, um resumo, uma sintese? Alguém poderia reconhecer af uma fun- ao comunicativa pertinente a determinado contexto? Como se vé, so passagens construidas a partir de palavras ou de frases soltas, o que nos faz voltar aos termos com que ini- ciamos esta segio: 1m conjunto aleatério de palavras ou de frases ndo constitui um texto. Com base nos pontos até aqui levantados, podemos recapitular em seguida 0 que tem sido proposto na. linguistica de texto como as propriedades do texto, ou seja, como critérios que nos permitem reconhecer wm conjunto de palavras como sendo um texto. Em sintese, a questio seria: 0 que um conjunto de palavras recisa ter para funcionar e ser identificado como um texto? A resposta a essa questo jd se encontra definida na literatura sobre a linguistica de texto. Por exemplo, Beaugrande e Dressler (1981) propdem como propriedades ou critérios da textualida- de: a coesio, a coeréncia, a intencionalidade, a aceitabilidade, a informatividade, a intertextualidade, a situa visio deles, sete propriedades, portanto, Nos estudos que tenho feito, Propostas, ionalidade. Sao, na na sequéncia dessa e de outras optei por fazer uma pequena reordenagio no qua- {to dessas sete propriedades, concedendo certa saligncia aquelas f wate comes oe © em a construgio mesma do text ia ; Toaivalente a questi proponho, como propriedades do oe eevrencoes com que usamos ae eoecencl - texto, ‘ 2 coesio, a coeréncia, a informatividade ea, arencionalida nguagem, no sentido it interlocutor que fala se dis mee ceca Pen ena | poe a dizer somente aquilo que tem sentido revisio desses da textualidade, sugio a letura de Costa Val Antunes (2009) empreend mequagem. Nao & bem asi aceitabilidade e a situacionalidade, wensio pragmético-funcional da xensio.pragmitico-func metem aos interlocutores € nao ao texto pre propriedades que, mais diretament. re, tertextualidade. Proponho, como condi goes ade de que s€ 1a lo de efetivagao do texto, a intencionalidade, a inde 3 disposi "pues coerentes. A ‘ or da ‘intenso com Para justificar essa reordenagio, aleg cimavercomad> gue a intencionalidade e a aceitabilidade r. de que todo é wm fazer, pots priamente. Quer dizer, pela intencionalidade, \icoutrosconseios—@ , portanto, coerente. Pela aceitabilidade, admite-se que o ouvinte, simultaneamente le todo 0 esforgo necessario pars processar os sentidos € as intengdes expres ropriamente onibilidade 000), bem como a de sas. Como se vé, essas duas propriedades nao sao P' do texto. Embora lé se reflitam, remetem para a disp. cooperativa das pessoas envolvidas na interacao- 4 O mesmo cabe afirmar da situacionalidade: uma condigi® para que o texto — que é parte de uma atividade social —acontt ca. Nenhum texto, como sabemos, ocorre NO yazio, em abstratos fora de um contexto sociocultural determinado. Todo corado numa situagao concreta ou, melhor dizendo, hum contexto social qualquer. Uma conferéncia, PO é parte da programacao de um evento e é por €l@ ee todos os detalhes, Uma simples conversa é parte dew a mento interpessoal que prevé variadas finalidades: ___ Essa insercio da linguagem em nossa acvidade 58 Sbvia que até mesmo temosdificuldade de percebel™ Og mente evidente & que falamos sempre em um lua 0” sind? determinado evento social, e com a finalidade 4& i condugao desse evento, executar qualquer at por, defender ou refutar um ponto de vista, dar uma justificativa, uma ordem, fazer o re- lato de um fato, convencer, expressar um sen- timento, apresentar um plano, uma pessoa, um lugar, fazer uma proposta, ressaltar as qualidades de um produto, pedir ou oferecer ajuda, fazer um desabafo, defender-se, pro- testar, reivindicar, dar um parecer, sintetizar uma ideia, expor uma teoria; enfim, fazemos, 0 dia todo e todos os dias, intimeras agoes de linguagem, cada uma, parte constitutiva de wma situagao social qualquer. Em resumo, proponho para 0 texto, es- pecificamente, as propriedades da coesao, da coeréncia, da informatividade e da intertex- tualidade’. As outras sao condigdes funda- mentais para que 0s textos se efetivem. Reromando o absolutamente basico para a compreensao dessas quatro propriedades, lembramos os seguintes pontos*: » Sobee a coesio © a coeréneia, apresentei em Lutar com palavras: coesio e coerincia (Si0 Paulo: Pa- ribola Editorial, 2005), além de explicagdes bem acessiveis, um far- to conjunto de exemplos. Sobre as propriedades da intencionalidade € dda aceitabilidade, sugiro a leitura do capitulo 4 de meu livros Lingua, texto ¢ ensino (Sao Paulo: Paribola Editorial, 2009). Sobre a proprie- dade da informatividade, pode-se ver o capitulo 7 desse mesmo livro, * Volto a justificar por que, neste ponto do livro, fago apenas uma sumaria apresentagio das proprie- dades do texto: nos capitulos desti nados a anilise, pretendo desenvol: ver com mais detalhe esses e outros Pontos. Aqui, trago apenas o que cconsidero essencial para a compre ensio das questies. * a coesdo concerne aos modos ¢ recursos — gramaticais ¢ lexicais — de inter-relagao, de ligagao, de encadeamento entre os varios segmentos (palavras, oracdes, periodos, pardgrafos, blocos superparagréficos) do texto. Embora seus recursos transparegam na superficie, a coesao se fun- damenta nas relagées de natureza semantica que ela cria €, a0 mesmo tempo, sinaliza. Ou seja, pela coesio se pro- move a continuidade do texto que, por sua vez, é uma das condigdes de sua unidade; * a coeréncia concerne a um outro tipo de encadeamento, © encadeamento de sentido, a convergéncia conceitual, aquela que confere ao texto interpretabilidade — local e global — e Ihe da a unidade de sentido que esta sub- jacente @ combinagio linear ¢ superficial dos elementos Presentes ou pressupostos. A coeréncia vai além do com- Ponente propriamente linguistic da comunicacao verbal, ou seja, inclui outros fatores além daqueles puramente linguisticos, fatores que estio implicados na situagio em que acontece a atuagao verbal; dai que a coeréncia decor. » s6 dos tracos linguisticos do texto, mas também de ‘outros elementos constituintes da situagéo comunicativa; a informatividade concerne ao grau de novidade, de im. previsibilidade que, em um certo contexto comunicativo, © texto assume; concerne ainda ao efeito interpretative que 0 carater inesperado de tais novidades produz. Essa novidade decorre, portanto, da quebra do que era previsi- vel, do que era esperado para aquela situacio de comuni- cago, seja em relagao a aspectos ligados a forma (decor- rentes de manciras diferentes de se dizer o ja dito), seja em relagao a aspectos ligados ao contetido (decorrentes de ideias e conceitos novos). De qualquer forma, todo texto, em alguma medida, comporta algum grau de informati- vidade. © contexto de uso é que determina um teor mais alto ou mais baixo de informatividade. Logo, nem sempre o texto melhor e mais adequado é aquele com um grau de informatividade mais alto, Os avisos, como: “Transito in- terrompido”, “Devagar. Escola”, “Reduza a velocidade” € outros semelhantes so de baixa informatividade, mas, por isso mesmo, é que so adequados ao seu contexto de funcionamento; * a intertextualidade concerne ao recurso de inserciio, de en- trada, em um texto particular, de outro(s) texto(s) ja em circulacio. Na verdade, todo texto é um intertexto — di- zem os especialistas — no sentido de que sempre se parte de modelos, de conceitos, de crengas, de informagées ja veiculados em outras interagdes anteriores. Ou seja, dada a propria natureza do proceso comunicativo, todo texto contém outros textos prévios, ainda que nao se tenha inte ra consciéncia disso. Mas ha uma intertextualidade expli- cita, que tem lugar quando citamos ou fazemos referencia direta ao que est dito em outro texto, por outra pessoa. Nesse caso, a intertextualidade assume um aspecto dina- mico, na medida em que significa mais do que o simples transito do outro texto ou da outra voz. Quem recorre & palayra do outro, 0 faz ou para apoiar-se nessa palavra, ou para confirmé-la ou para refuté-la. Ou seja, 0 recurso 8 palavra do outro responde sempre a alguma estratégia argumentativa’. De qualquer forma, propriedades e con ies devem centralizar os estudos e as andlises que fazemos em torno do texto. £ fundamen- tal ampliar nosso repertério acerca do que procurar ver nesses materiais. Quando falta uma visao clara dos elementos que sio neces- sirios para se constituir um texto (e € muito provavel que tais elementos faltem para mui- tos professores!), vamos a ele, simplesmente, para reconhecer classes e categorias da gramé- tica, sem que procuremos averiguar em que tais classes e categorias intervém para fazer, daquele conjunto de palavras, uma unidade de sentido comunicativamente funcional’. Mesmo numa abordagem suméria como esta, da para per- ceber que um texto nao se constitui apenas de elementos gra- maticais ¢ lexicais. O texto é um tragado que envolve material linguistico, faculdades e operagdes cognitivas, além de diferentes fatores de ordem pragmatica ou contextual. Possivelmente, uma das maiores limitagdes que tem aconteci- do em nossas aulas de linguas tem sido a pressuposigao ingénua de que um texto resulta apenas de um conjunto de elementos linguisticos. Ou seja, nessa suposigio reduzida, as palavras bas- camos tateando por sobre elas, como se todo 0 sentido expresso estivesse na cadeia dessas pala- tam; a gramatica basta. Por isso, fi vras ena sua gramatica de composigao. O conjunto de propriedades que mencionamos possibilita-nos olhar para o texto — seja do aluno, seja de um outro autor —e perceber ai, por exemplo: FE de grande rclevincia a consul 13 A obra de Koch eta, iniculada Intertextualdade ~ dsdlogos pos sivei, Sio Paulo: Cortez Editors, 2007. Alem de consideragies te6- Fieas, as aucoras apresentam fartos exemplos de génerostextuais, onde sio explorados diferentes aspectos dia imertextualidade © Minha pretensio com este livro 6 exatamente, oferecer elementos para que 0s professores possam ampliar essa compreensio do que é sume texto possam, assim, intervie no desenvolvimento da competén~ «ia dos alunos para a produgio, re cepgdo e anslise de textos de forma relevante e signicativa, [- tecutsos de sua coesdo | + {atotes (explicitos e implicitos) de sua coeréncla (linguistica e pragmatic), | + fists de sua concenrado tematic, | + aspectos de sua relevancia sociocomunicativa, | | luacos de intertextualidade, + ctilérios de escotha das palavras + sinais das intengbes pretendidas, + marcas da posicao do autor em relacao ao que € dit. + estiatéglas de argumentacio ou de convencimento, + efeitos de sentido decortentes de um jogo qualquer de palavras, [___stetuarto does do nv! de inquagem,enze muitos outs elementos +s hiv ass fato de apenas nos fixarmos em ques- relevanes ¢ alequados. £ que, T6e5 de gramética, sobrerudo naquelas liga- 4» lado da coaénca, dow outer das & norma-padrao, nos fez deixar de ver mpresar qualidade sovextee, a MUItOS OUtTOS Componentes também fun- saber:sua relesinciaotestodeve damentais para a comunicagio relevante’ € fuuirobviedaiseao}abdo-e adequada socialmente. E hora, portanto, de todeveconlormarse ivcondigon abrir nossa capacidade de percepcio ¢ de ds sca wld ate eps procurar encontrar nos materiais que lemos aoe re munca € 0UViMOS tragos de sua coeréncia global e de relevancia comumicativa e adequa- sua funcionalidade comunicativa. fice Senn 23.4, Merce um comenaio também ae ae ene eieecsconei d0is aspectos do texto: gramatial. (a) a modalidade — falada ow escritas (b) ea extensao em que ele se realiza. E comum, até mesmo entre alguns professores, a impressio de que a fala nao é textual; ou seja, texto é apenas o escrito. Daly uma outra suposigao: a de que a lingua falada nao é regulada pela gramatica. A fala seria qualquer coisa fora das normas morfos- sintaticas. Algo meio caético. As regras — e muitas! — seriam privativas da escrita; por isso, elas é que serviriam de parametro para a avaliagao da fala. Ha quem acredite que fala bem, e™ qualquer situagio, quem fala conforme a escrita correta. Outra compreensio infundada diz respeito a crenga de que texto, para ser reconhecido como tal, tem que ser grande. Ora texto € qualquer passagem, de qualquer extensao, desde que constitua um todo unificado e cumpra uma determinada fungao comunicativa. Na verdade, essa compreensio nao é tio infundada assim, pois pode ter como supor- ts ay ¢ Hasan (1989) chamama esse tipo de textos ("0s absolutamente porque adequa- tea tradicional diferenciagao, feita em quase —_textos_minimon todas as graméticas ¢ manuais didéticos, en [weimhs

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