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A Vida Depois Da Vida
A Vida Depois Da Vida
Prefácio
Vinte e nove anos atrás o livro A Vida depois da Vida de Raymond Moody levou a uma
mudança mundial em nossa compreensão da morte. A pesquisa do doutor Moody se
espalhou pelo mundo e ajudou muito na formação de modernas expectativas
relacionadas ao que vamos vivenciar depois da morte _ o túnel, a luz branca, a
presença de entes queridos falecidos há muito tempo esperando por nós do outro
lado. Tenha em mente que há vinte e nove anos essa não era uma imagem
comumente associada com a experiência de morrer. O doutor Moody inspirou uma
primeira geração de pesquisadores dedicados à compreensão científica da consciência
e da morte humanas _ pesquisadores que, por sua vez, criaram uma nova ciência de
estudos de quase-morte. Bruce Greyson, professor de psiquiatria na Universidade de
Virgínia, disse que “todo um novo mundo” abriu-se após a publicação da pesquisa de
Moody. Essa mudança em nossa visão coletiva foi tão profunda que é difícil lembrar
das condições culturais que existiam antes de 1975, quando o livro foi publicado pela
primeira vez.
A Vida depois da Vida fez enorme sucesso porque abordou dois dos maiores
problemas da civilização ocidental do século vinte: primeiro, a perda dos mitos sociais
coletivos relacionados à morte e, segundo, a desvalorização sistemática de qualquer
coisa relacionada com o lado espiritual dos humanos. O trabalho do doutor Moody nos
lembrou que, em essência, somos seres espirituais, e o fato de que uma luz amorosa
nos encontra quando morremos é a prova disso. Quando morremos, nossa própria
vida é avaliada e interpretada, não de acordo com o quanto de dinheiro ganhamos ou
o quanto temos de status e prestígio, mas sim de acordo com o amor que
compartilhamos com os outros durante nossa vida. Num momento em que a
freqüência à igreja e a participação em religiões organizadas e tradicionais estavam
em sua maior baixa, A Vida depois da Vida reacendeu a compreensão da importância
da espiritualidade em nossa vida cotidiana.
É apropriado que A Vida depois da Vida tenha sido originalmente apresentada por
Elisabeth Kubler-Ross, a pioneira nas pesquisas sobre morte. Embora por dezenas de
milhares de anos os humanos tenham aceitado a morte como parte natural da vida,
uma revolução brutal em nossas atitudes com relação à morte ocorreu na virada do
século dezenove. A morte deixou de ser natural, passou a ser suja, um fato médico, e
foi escondida da visão pública. Enquanto a maioria das pessoas morria em casa no
século dezenove, na metade do século vinte, a maioria das pessoas morria nos
hospitais. As intervenções médicas agressivas no final da vida, possibilitadas pela
ciência, resultaram numa perda de dignidade e de controle sobre a própria vida por
parte da pessoa diante da morte. No final do século vinte, até mesmo a Associação
Americana de Medicina concluiu que pacientes moribundos eram submetidos a
intervenções médicas humilhantes e desnecessárias, que extirpavam qualquer
dignidade do processo de morte.
Em 1965, quando Elisabeth Kubler-Ross escreveu seu livro Sobre a morte e o morrer2,
a morte era algo que não era discutido. Pacientes à beira da morte eram submetidos à
“doce mentira”. Eles não eram informados da verdade sobre sua situação clínica, já
que os outros sentiam que a verdade era traumática demais e destruiria suas
esperanças. A doce mentira só servia para isolar a profissão médica e a sociedade dos
fatos da morte.
Foi preciso outra década antes que o clima estivesse pronto para A Vida depois da
Vida. A doutora Kubler-Ross introduziu o conceito chocante de que pessoas
moribundas tinham sentimentos previsíveis em relação à morte e, com frequência,
até a aceitavam. Dez anos depois, o doutor Moody explicou o porquê. Em vez de a
morte ser simplesmente a extinção da vida, ele documentou que se trata de um
momento espiritualmente dinâmico, com revelações que transformam a vida. Essas
mesmas revelações transformaram nossa sociedade também. Um indicador do
impacto de A Vida depois da Vida é o número enorme de livros com títulos similares
que o seguiram. Esses títulos incluem Life before life3, Life at death4, Life between life,
e meu favorito, Elvis after death. A Vida depois da Vida se tornou um ícone cultural
porque respondeu ao empobrecimento espiritual da nossa sociedade na época.
É irônico que a mesma tecnologia médica que contribuiu para degradar e humilhar as
condições de pacientes à beira da morte nos permitiu ressuscitar as pessoas com
sucesso para que elas pudessem relatar suas experiências de quase-morte. No início
da década de 1970, a tecnologia médica tinha avançado até o ponto em que a
ressurreição bem-sucedida de paradas cardíacas era algo comum. Embora sempre
tivesse havido histórias que descrevem a vida depois da morte, antes da Era Moderna
era raro sobreviver à morte clínica. A medicina moderna de cuidados intensivos e a
reação rápida das equipes médicas tornaram rotina driblar a morte. O doutor Moody
foi o primeiro a reconhecer que esses mesmos pacientes poderiam contribuir para
nossa compreensão dos últimos minutos de vida.
Mais significativa ainda foi a técnica experimental desenvolvida pelo doutor James
Whinnery, do National Warfare Institute, com a qual experiências de quase-morte
podem ser induzidas num ambiente controlado. Ele estudou pilotos de combate que
eram levados a ponto de quase-morte quando colocados numa centrífuga gigante. O
propósito desse estudo era entender as forças gravitacionais às quais os pilotos de
combate eram submetidos enquanto voavam em aeronaves de alta velocidade. Ele
também descobriu que esses mesmos pilotos de combate passavam por experiências
de quase-morte quando submetidos às pressões da centrífuga. É fascinante perceber
que o doutor Moody, um psiquiatra da Geórgia; o doutor Whinnery, cirurgião de
combate da força aérea; e eu, pediatra em Seattle, cada qual trabalhando de maneira
independente, chegamos às mesmas conclusões sobre experiência de quase-morte.
Quando o livro do doutor Moody foi publicado pela primeira vez, os cientistas médicos
riram e descartaram as experiências de quase-morte, rotulando-as como alucinações.
Vinte e nove anos depois, a ciência está agora do lado do doutor Moody. Não conheço
um único pesquisador científico importante que não tenha chegado a conclusões
similares. Foram feitas três principais revisões das experiências de quase-morte na
literatura científica dos últimos onze anos e todas concordam com as descobertas
iniciais do doutor Moody. O ceticismo e o clima intelectual hostil que pioneiros como
Elisabeth Kubler-Ross e Raymond Moody tiveram de enfrentar levaram à situação
atual, na qual existem dúzias de artigos em importantes jornais científicos sobre
experiências de quase-morte. O doutor Moody criou o clima atual em que centenas de
alunos de pós-graduação estão obtendo seus certificados em estudos avançados de
experiências de quase-morte. Mais da metade das faculdades de medicina dos
Estados Unidos ministram cursos sobre os aspectos espirituais da morte.
O próprio Raymond Moody permaneceu como pioneiro nos últimos vinte e nove anos.
Geralmente, cientistas que fazem o tipo de contribuição extraordinária que ele fez
com A Vida depois da Vida descansam sobre seus louros, passando o resto da carreira
refinando e promovendo suas descobertas originais. E, embora o doutor Moody tenha
sido merecidamente premiado com o Bigelow Chair of Consciousness Studies na
Universidade de Nevada, Las Vegas, ele também ministra cursos sobre a vida depois
da morte para alunos de pós-graduação e novatos em experiências de quase-morte.
Mas a carreira do doutor Moody desde o lançamento de A Vida depois da Vida foi
principalmente marcada por explorações contínuas da pesquisa da consciência. Ele
permanece no auge da pesquisa científica e sempre estará cerca de vinte e nove anos
à nossa frente.
Meu encontro com o doutor Moody mudou tudo isso. Ele havia lido meus trabalhos
iniciais sobre as experiências de quase-morte das crianças e queria me conhecer.
Passamos três dias inteiros conversando sem parar sobre essas experiências.
Lembro-me vividamente de ser chamado ao hospital para ressuscitar um paciente em
estado grave durante esse mesmo período. O doutor Moody acompanhou-me até lá e
continuamos nossa discussão em todos os intervalos que surgiam, enquanto eu
atendia o paciente, e depois durante todo o caminho de volta para casa.
Joseph Campbell escreveu que a imagem da morte é o começo da mitologia. Por sua
vez, são nossos mitos que nos fazem sentir como parte da sociedade dos vivos, bem
como herdeiros do legado da morte que veio muito tempo antes de chegarmos aqui e
permanecerá muito tempo depois de partirmos. Os mitos da raça humana dão sentido
à vida individual e nos ajudam a interpretar eventos, tais como a morte, que não
podem ser prontamente entendidos por meios “normais”.
PRÓLOGO
Como venho trabalhando com pacientes terminais nas últimas décadas, fiquei cada
vez mais preocupada com a observação do fenômeno da morte em si. Aprendemos
muito sobre o processo da morte, mas ainda temos muitas perguntas em relação ao
momento da morte e à experiência de nossos pacientes quando são declarados
clinicamente mortos.
São pesquisas como as que o doutor Moody apresenta neste livro que trazem uma
nova luz e confirmam o que nos foi ensinado por mil anos – que existe vida depois da
morte. Embora não declare ter estudado a morte propriamente, é evidente, a partir
de suas descobertas, que os pacientes, ao morrer, seguem tendo consciência do
ambiente ao seu redor depois de serem declarados clinicamente mortos. Isso em
muito coincide com minha própria pesquisa, que usou relatos de pacientes que
morreram e retornaram, apesar das nossas expectativas desfavoráveis, e,
frequentemente, para a surpresa de alguns médicos altamente qualificados,
renomados e certamente realizados.
Todos esses pacientes vivenciaram uma flutuação para fora de seu corpo físico,
associada a uma grande sensação de paz e completude. A maioria estava ciente da
presença de outra pessoa que os ajudou na transição para o outro plano da vida. A
maioria foi recebida por entes queridos que haviam desencarnado antes deles, ou por
uma figura religiosa que foi significante em sua vida e que coincidia, naturalmente,
com sua própria crença religiosa. É alentador ler o livro do doutor Moody no momento
em que eu estava pronta para colocar minhas próprias descobertas no papel.
O doutor Moody terá de estar preparado para muitas críticas, principalmente vindas
de duas áreas distintas. Haverá membros do clero que ficarão irritados com ele, por
ousar fazer pesquisas numa área que é supostamente um tabu. Alguns
representantes religiosos de determinadas igrejas já expressaram suas críticas contra
estudos desse tipo. Um padre referiu-se a eles como “venda de graça barata”. Outros
simplesmente sentiram que a questão da vida depois da morte deveria permanecer
como uma questão de fé cega e não deveria ser questionada por ninguém. O segundo
grupo de pessoas de quem o doutor Moody pode esperar uma reação de preocupação
perante este livro são cientistas e médicos que enxergam este tipo de estudo como
“não-científico”.
Creio que chegamos a uma era de transição em nossa sociedade. Precisamos ter a
coragem de abrir novas portas e admitir que nossas ferramentas científicas atuais são
inadequadas para muitas dessas recentes investigações. Acredito que este livro abrirá
essas portas para as pessoas que têm a mente aberta e lhes dará esperança e
coragem para avaliar novas áreas de pesquisa. Elas saberão que essa compilação das
descobertas do doutor Moody é verdadeira, porque foi escrita por um pesquisador
genuíno e honesto. Também é reforçado por minha própria pesquisa e pelas
descobertas de alguns cientistas, acadêmicos e membros do clero que têm a mente
bastante séria e que tiveram a coragem de investigar este novo campo na esperança
de ajudar aqueles que precisam saber, em vez de acreditar.
Recomendo este livro para qualquer pessoa que tenha a mente aberta e congratulo o
doutor Moody pela coragem de publicar suas descobertas.
Flossmoor, Illinois
INTRODUÇÃO
Este livro, escrito por um ser humano, naturalmente reflete a vivência, as opiniões e
os preconceitos de seu autor. Assim, embora tenha tentado ser o mais objetivo e
direto possível, certos fatos sobre mim podem ser úteis na avaliação de algumas
declarações extraordinárias que são feitas no decorrer da obra.
Em segundo lugar, escrevo como uma pessoa que não está amplamente familiarizada
com a vasta literatura dos fenômenos paranormais e ocultos. Não digo isso para
menosprezar o assunto, e estou certo de que um maior conhecimento da área poderia
ter ampliado minha compreensão dos eventos que estudei. De fato, agora pretendo
olhar mais de perto alguns desses livros para ver até que ponto as investigações dos
outros são sustentadas pelas minhas descobertas.
Em terceiro lugar, minha formação religiosa merece algum comentário. Minha família
frequentava a igreja presbiteriana, mesmo assim meus pais nunca tentaram impor
suas crenças e conceitos religiosos a nós, seus filhos. De maneira geral, eles
tentaram, conforme crescíamos, encorajar quaisquer interesses para que
desenvolvêssemos sozinhos e fornecer oportunidades para que as seguíssemos.
Assim, cresci tendo uma “religião”, não um conjunto fixo de doutrinas, mas uma
preocupação com doutrinas, ensinamentos e questões espirituais e religiosas.
Acredito que todas as grandes religiões dos homens têm muitas verdades para nos
contar, e que nenhum de nós tem todas as respostas para as verdades profundas e
fundamentais com as quais a religião lida. Atualmente sou um membro da igreja
metodista.
Minha esperança é que este livro atraia a atenção para um fenômeno amplamente
difundido e muito bem ocultado, e, ao mesmo tempo, ajude a criar uma atitude
pública mais receptiva para o assunto. Tenho plena convicção de que esse fenômeno
tenha grande significância, não apenas para muitos campos acadêmicos e práticos –
especialmente psicologia, medicina, filosofia e teologia e ministério – mas também
para a maneira como lidamos com nossa vida cotidiana.
Deixe-me dizer logo de início que, em termos que explicarei muito depois, não estou
tentando provar que existe vida depois da morte nem acredito que uma “prova” disso
seja possível neste momento. Parcialmente, por essa razão evitei o uso de nomes
reais e ocultei certos detalhes de identificação nas histórias, enquanto deixava seu
conteúdo inalterado. Isso foi necessário tanto para proteger a privacidade dos
indivíduos em questão e, em muitos casos, para receber permissão para publicar a
experiência relatada a mim em primeiro lugar.
Muitos acharão incríveis as declarações feitas neste livro e outros cuja primeira reação
será descartá-las. Não tenho direito nenhum de culpar pessoa alguma que se encaixe
nessa categoria; eu teria precisamente a mesma reação a poucos anos atrás. Não
estou pedindo que ninguém aceite os conteúdos deste livro ou acredite neles
simplesmente por minha autoridade. Na verdade, como um lógico que repudia a
estrada para a crença que se segue por meio de apelos inválidos de autoridade,
especificamente não peço a ninguém que faça isso. Tudo o que peço é que a pessoa
que não acreditar no que ler aqui, pense um pouco. Venho lançando esse desafio
repetidas vezes há algum tempo. Daqueles que vieram a aceitar, houve muitos que,
céticos a princípio, passaram a compartilhar minha opinião a respeito.
Por outro lado, não há dúvida de que haverá muitos que lerão o livro e encontrarão
um grande alívio, pois descobrirão que não foram os únicos a passar por tal
experiência. Para eles – especialmente se, como a maioria, esconderam sua história
de todos, revelando-a a poucas pessoas de confiança – só posso dizer isto: È minha
esperança que este livro possa encorajá-los a falar com um pouco mais de liberdade,
para que uma faceta mais intrigante da alma humana possa ser elucidada com maior
clareza.
O FENÔMENO DA MORTE
Como é morrer?
Essa é uma pergunta que a humanidade vem fazendo a si mesma desde que os
humanos passaram a existir. Nos últimos anos, tive a oportunidade de levantar essa
questão com uma série de plateias de número considerável. Esses grupos variaram
desde turmas de psicologia, filosofia e sociologia passando por organizações da igreja,
auditório de televisão e clubes cívicos até sociedades de profissionais de medicina.
Com base nessa exposição, posso dizer com segurança que este tópico excita os
sentimentos mais poderosos de pessoas dos mais variados tipos emocionais e estilos
de vida.
Do mesmo modo, conversar sobre a morte pode ser visto no nível psicológico como
outra maneira de abordá-la indiretamente. Não há dúvida de que muitas pessoas têm
a sensação de que conversar sobre a morte é, de fato, chamá-la mentalmente,
trazendo-a para mais perto, fazendo com que se tenha de enfrentar a inevitabilidade
de sua própria morte. Assim, para nos pouparmos desse trauma psicológico,
decidimos simplesmente tentar evitar o assunto o máximo possível.
A segunda razão pela qual é difícil discutir a morte é mais complicada, como se
estivesse enraizada na própria natureza da linguagem em si. Em sua maioria, as
palavras da linguagem humana aludem a coisas que vivenciamos segundo nosso
sentido físico. A morte, no entanto, é algo que reside além da experiência consciente
da maioria de nós porque conscientemente nunca passamos por isso.
Talvez a analogia mais comum desse tipo seja a comparação da morte com o sono.
Morrer, dizemos a nós mesmos, é como dormir. Essa figura de linguagem ocorre de
maneira muito comum no pensamento e na linguagem do dia-a-dia, além de estar
presente na literatura de muitas culturas e de muitas épocas. Aparentemente, era
algo bastante comum até mesmo na época dos gregos antigos. Na Ilíada, por
exemplo, Homero chama o sono de ”irmã da morte”, e Platão, em seu diálogo
Apologia de Sócrates, coloca as seguintes palavras na boca de seu professor,
Sócrates, que acabara de ser sentenciado à morte por um tribunal ateniense:
[Agora, se a morte é apenas um sono sem sonhos], deve ser um ganho maravilhoso.
Suponho que se qualquer um tivesse de escolher a noite na qual dormiu tão
profundamente que nem chegou a sonhar, e então compará-la com todas as outras
noites e dias de sua vida, e então tivesse de dizer, depois de certa consideração,
quantos dias e noites melhores e mais felizes do que esta ele passou durante a vida
bem, acho que... [essa pessoa] acharia fácil contar esses dias e noites em
comparação com o resto. Se a morte é assim, então, chamou-a de ganho, porque o
tempo como um todo, se visto dessa maneira, pode ser encarado como nada mais
que uma única noite.9
Por mais antigas e difundidas que possam ser, no entanto, as analogias com “dormir”
e “esquecer” são extremamente inadequadas quando a preocupação é confortar. Cada
uma delas é uma maneira diferente de fazer a mesma afirmação. Embora nos digam
de modo um pouco mais aceitável, na verdade, ambas dizem que a morte é
simplesmente a aniquilação da experiência consciente, para sempre. Se isso for
verdade, então a morte realmente não tem nenhuma característica desejável do sono
e do esquecimento. Dormir é uma experiência positiva e desejável na vida porque é
seguida do despertar. Uma boa noite de sono torna as horas que vêm a seguir mais
agradáveis e produtivas. Se o despertar não viesse depois, os benefícios do nosso
sono não seriam possíveis. De modo similar, a aniquilação de todas as memórias
dolorosas, mas também de todas as memórias agradáveis. Assim, por análise,
nenhuma das duas analogias está próxima o suficiente de nos dar qualquer conforto
real ou esperança diante da morte.
Contudo, existe outro ponto de vista que nega a noção de que a morte é a aniquilação
da consciência. De acordo com essa outra perspectiva, talvez mais antiga, algum
aspecto do ser humano sobrevive até mesmo depois que o corpo físico pára de
funcionar e é destruído. Esse aspecto persistente foi chamado de muitos nomes, entre
eles psique, alma, mente, espírito, ser e consciência. Seja qual for o nome designado,
a noção de que a pessoa passa para outra realidade de existência depois da morte
física está entre as crenças mais veneráveis dos humanos. Existe um cemitério na
Turquia que foi usado pelos homens de Neanderthal aproximadamente cem mil anos
atrás. Ali, marcas fossilizadas permitiram que os arqueólogos descobrissem que esses
homens ancestrais enterravam seus mortos em esquifes de flores, indicando que
talvez vissem a morte como uma ocasião de celebração – como uma transição do
morto deste mundo para o próximo. Na verdade, nos túmulos de cemitérios muito
antigos há evidências da crença na sobrevivência humana depois da morte do corpo
em toda a Terra.
Alguns anos mais tarde, depois de receber meu Ph.D em filosofia, fui lecionar em uma
universidade no leste da Carolina do Norte. Em um dos cursos, pedi que meus alunos
lessem Fédon, de Platão, um trabalho no qual a imortalidade está entre os assuntos
discutidos. Em minhas palestras, enfatizava as outras doutrinas que Platão apresenta
e não havia enfatizado a discussão sobre a vida depois da morte. Certo dia, depois da
aula, um aluno me procurou e perguntou se poderíamos discutir o assunto da
imortalidade. Ele tinha certo interesse no assunto porque sua avó “morrera” durante
uma operação e contara uma experiência muito fantástica. Pedi que me falasse a
respeito, e, para minha surpresa, contou-me quase a mesma série de eventos que o
professor de psiquiatria descrevera.
Nesse momento, minha busca por casos ficou um pouco mais ativa e comecei a incluir
leituras sobre o assunto da sobrevivência humana diante da morte biológica nos meus
cursos de filosofia. Entretanto, tomei o cuidado de não mencionar as duas
experiências de morte nos meus cursos. Adotei, de fato, uma atitude de “esperar pra
ver”. Se tais relatos eram bastante comuns, pensei, provavelmente ouviria mais se
apenas levantasse o assunto geral da sobrevivência nas discussões filosóficas,
expressasse uma atitude simpática à questão e esperasse. Para meu espanto, em
quase todas as classes, que tinham cerca de trinta alunos, pelo menos um
procurava-me depois da aula para relatar uma experiência pessoal de quase-morte.
Da vasta quantidade de material que poderia ter derivado de 150 casos, houve uma
seleção óbvia. Parte disso foi proposital. Por exemplo, embora tenha encontrado
relatos do terceiro tipo, que complementam e estão bem de acordo com as
experiências dos dois primeiros tipos, em grande parte desconsiderei-os por duas
razões. Primeiro, porque isso ajudou a reduzir o número de casos estudados para um
nível mais manejável, e, segundo, permitiu-me estar o mais perto possível de relatos
em primeira pessoa. Assim, entrevistei com grande nível de detalhe cerca de
cinquenta pessoas, das quais sou capaz de relatar as experiências. Dessas, os casos
do primeiro tipo (aqueles na qual uma morte clínica aparente realmente ocorre) são
certamente mais dramáticos do que aqueles do segundo tipo (em que apenas uma
proximidade da morte ocorre). Na verdade, sempre que fazia palestras públicas sobre
o fenômeno, os episódios de “morte” invariavelmente atraíam o maior interesse.
Artigos na imprensa foram escritos em certos momentos de forma a sugerir que esses
eram os únicos tipos de caso com os quais eu trabalhava.
Contudo, ao selecionar os casos que serão apresentados neste livro, fugi da tentação
de lidar apenas com aqueles em que o evento da “morte” ocorreu, pois, como ficará
óbvio, os casos do segundo tipo não são diferentes, mas sim formam uma linha
contínua com os casos do primeiro tipo. Ademais, ainda que as experiências de
quase-morte sejam marcantemente semelhantes, tanto as circunstâncias que as
cercam, quanto as pessoas que as descrevem variam amplamente.
Consequentemente, tentei fornecer uma amostra de experiências que adequadamente
reflete essa variação. Com essas qualificações em mente, passemos agora para a
consideração do que pode acontecer até onde fui capaz de descobrir, durante a
experiência de morrer.
A EXPERIÊNCIA DE MORRER
Após certo tempo, se acalma e fica mais acostumado com essa condição ímpar.
Percebe que ainda tem um “corpo”, mas de uma natureza muito diferente e com
poderes muito diferentes do corpo físico que deixou para trás. Logo outras coisas
começam a acontecer. Outras pessoas vêm ao seu encontro para ajudá-lo. Vislumbra
os espíritos de parentes e de amigos que já faleceram, e um espírito doce e caloroso
de um tipo que ele nunca encontrou antes – um ser de luz – aparece à sua frente.
Esse ser faz uma pergunta para fazê-lo avaliar a própria vida e o ajuda no processo,
mostrando uma retrospectiva panorâmica e instantânea dos principais eventos de sua
vida. Em determinado momento, ele se vê se aproximando de algum tipo de barreira
ou fronteira, aparentemente representando o limite entre a vida terrena e a próxima
vida. Ainda assim, sente que deve voltar para a terra, que o momento de sua morte
ainda não chegou. Nesse ponto, resiste, pois agora foi envolvido por suas
experiências na vida depois da morte e não quer retornar. Sente-se repleto de
sentimentos intensos de alegria, amor e paz. No entanto, apesar de sua atitude, de
algum modo religa-se ao corpo físico e volta a viver.
Mais tarde, ao tentar contar o que se passara os outros, sente dificuldades. Em
primeiro lugar, não é possível encontrar palavras humanas adequadas para descrever
esses episódios sobrenaturais. Também percebe que os outros zombam da história,
então para de contá-la. Mesmo assim, a experiência afeta sua vida profundamente,
especialmente sua visão acerca da morte e seu relacionamento com a vida.
É importante ter em mente que essa narrativa não tem a intenção de ser a
representação da experiência de uma determinada pessoa. Em vez disso, é um
“modelo”, uma composição dos elementos comuns encontrados em várias histórias.
Introduzo-a aqui apenas para dar uma ideia preliminar e geral do que uma pessoa
que está morrendo pode vivenciar. Como se trata de uma abstração em vez de um
relato real, neste capítulo, discutirei em detalhes cada elemento comum, citando
muitos exemplos.
Entretanto, antes de fazer isso, alguns fatos precisam ser expostos para colocar o
resto de minha exposição da experiência de morrer num parâmetro adequado.
1. Apesar das semelhanças marcantes entre vários relatos, não há nenhum que
seja precisamente idêntico (embora alguns estivessem marcantemente
próximos).
2. Não encontrei nenhuma pessoa que relatasse todos os componentes da
experiência citada anteriormente. Muitos relataram a maioria deles, isto é, oito
ou mais, dentre os quinze.
3. Não existe nenhum elemento citado anteriormente, que todas as pessoas
tenham relatado, que apareça em todas as narrativas. No entanto, alguns
desses elementos chegam bem próximos de serem universais.
4. Não existe um único componente do meu modelo abstrato que apareça em
apenas um relato. Cada elemento apareceu em várias histórias separadas.
5. A ordem pela qual a pessoa em via de morrer atravessa os vários estágios
brevemente delineados anteriormente pode variar da ordem dada no ”meu
modelo teórico”. Para citar um exemplo, várias pessoas contaram ter visto o
“ser de luz” antes, ou ao mesmo tempo em que deixaram o corpo físico, e não
como no “modelo”, algum tempo depois. Entretanto, a ordem na qual os
estágios ocorrem no modelo é bastante típica, e grandes variações não são
comuns.
6. Quão profundamente a pessoa vivencia essa experiência hipotética completa
parece depender do fato de ela ter realmente passado por uma morte clínica
aparente, e se esse for o caso, por quanto tempo esteve nesse estado. Em
geral, as pessoas que foram declaradas “mortas” parecem relatar experiências
mais completas e detalhadas do que aquelas que apenas chegaram perto da
morte, e aquelas que estiveram “mortas” por um período mais longo vão mais a
fundo do que aquelas que estiveram “mortas” por um período mais curto.
7. Conversei com algumas pessoas que foram declaradas mortas, ressuscitadas e
que voltaram sem relatar nenhum desses elementos comuns. Na verdade, elas
dizem que não lembram nada sobre sua “morte”. De forma bastante
interessante, conversei com diversas pessoas que foram realmente declaradas
clinicamente mortas em ocasiões diferentes e com anos de distância, e elas
contam não ter vivenciado nada numa das ocasiões, mas que foram bastante
envolvidas pelas experiências da outra.
8. Deve ser enfatizado que estou contando relatos, experiências ou narrativas de
primeiro grau, que outras pessoas me passaram verbalmente durante as
entrevistas. Assim, quando ocorre num determinado relato, não implica
necessariamente que não aconteceu com a pessoa envolvida. Apenas quero
dizer que essa pessoa não me contou que isso tenha ocorrido, ou
definitivamente não fica claro em seu relato que tenha vivenciado isso. A partir
desse parâmetro, então, vamos observar alguns dos estágios e eventos comuns
das experiências de morrer.
INEFABILIDADE
Certo, tenho um problema verdadeiro ao tentar lhe contar isso, porque todas as
palavras que conheço são tridimensionais. Enquanto passava pela experiência, eu não
parava de pensar: “Bem, quando estava aprendendo geometria, sempre me disseram
que existiam apenas três dimensões, e simplesmente aceitei o fato. Mas os
professores estavam errados. Existem mais”. Claro que nosso mundo _ aquele em
que viemos agora _ é tridimensional, mas o próximo definitivamente não é. E é por
isso que é tão difícil falar sobre ele. Tenho que descrevê-lo com suas palavras, que
são tridimensionais. É o mais próximo que posso chegar disso, mas não é realmente
adequado. Não posso lhe dar um panorama completo.
OUVINDO AS NOTÍCIAS
Várias pessoas relatam ter ouvido seus médicos ou outros espectadores anunciar sua
morte. Uma mulher me contou o seguinte:
Eu estava no hospital, mas não sabiam o que havia de errado comigo. Então o
doutor James, meu médico, mandou-me para o andar de baixo, na radiologia, para
fazer uma tomografia do fígado a fim de que pudessem ter um diagnóstico. Primeiro,
testaram no meu braço a droga que usariam, já que eu tinha alergia a muitos
medicamentos. Mas, como não houve nenhuma reação, seguiram em frente. Quando
a usaram novamente, apaguei. Ouvi o radiologista que cuidava de mim ir até o
telefone e discar. Ele disse: “doutor James, matei sua paciente, a senhora Martin”. E
eu sabia que não estava morta. Tentei me mover e avisá-lo, mas não consegui.
Enquanto tentavam me ressuscitar, eu podia ouvi-los dizer quantos centímetros
cúbicos de sei lá o que precisavam me aplicar, mas não sentia a agulha da injeção.
Não sentia nada quando me tocavam.
Em outro caso, uma mulher que previamente sofrera vários episódios de problemas
cardíacos, foi acometida de uma parada cardíaca durante a qual quase perdeu a vida.
Ela diz:
Ouvi uma mulher que estava lá dizer: “Ele está morto?” e outra respondeu:
“Sim, está morto”.
Relatos desse tipo estão bem de acordo com o que os médicos e as demais pessoas
presentes lembram. Por exemplo, um médico me disse:
Uma paciente minha teve uma parada cardíaca pouco tempo antes de outro
cirurgião e eu começarmos a operá-la. Eu estava lá e vi suas pupilas dilatarem.
Durante algum tempo, tentamos ressuscitá-la, mas não obtivemos nenhum sucesso,
foi quando pensei que a tínhamos perdido. Disse ao outro médico que trabalhava
comigo: “Vamos tentar mais uma vez e então vamos desistir”. Dessa vez, fizemos o
coração voltar a bater e ela se recuperou. Mais tarde perguntei do que ela se
lembrava de sua “morte”. Ela disse que não lembrava muita coisa, exceto que me
ouviu dizer: “Vamos tentar mais uma vez e então vamos desistir”.
Uma imensa sensação de alívio. Não havia dor e nunca me sentira tão relaxado.
Eu estava confortável e tudo estava bom.
O RUÍDO
Em outros casos, os efeitos auditivos parecem assumir uma forma musical mais
agradável. Por exemplo, um homem que foi reavivado após ter sido declarado morto
ao chegar ao hospital conta que durante sua experiência de morte...
Eu ouvia o que pareciam ser sinos tocando, bem distante, enquanto flutuava ao
vento. Pareciam sinos de vento japoneses... esse era o único som que podia ouvir às
vezes.
Uma jovem que quase morreu com hemorragia interna associada a um distúrbio na
coagulação do sangue disse sobre o momento em que entrou em colapso:
O TÚNEL ESCURO
Isso aconteceu comigo quando eu tinha nove anos de idade. Já faz vinte e sete
anos, mas foi tão marcante que nunca esqueci. Numa certa tarde, fiquei muito doente
e fui levado às pressas para o hospital mais próximo. Quando cheguei, os médicos
decidiram que precisavam me colocar em coma induzido, mas não sei por quê.
Naquela época, usavam éter. Administraram aquilo colocando um pedaço de pano
sobre meu nariz, e quando fizeram isso, meu coração parou de bater, como me
contaram depois. Naquele momento, eu não sabia exatamente que era isso o que
tinha acontecido comigo, mas, de qualquer forma, quando aconteceu, passei por uma
experiência singular. Bem, a primeira coisa que aconteceu – agora vou descrever
como senti – foi ouvir um barulho de campainha muito ritmado brrrriiiimmm
bbbrrrriiiimmmm. A seguir, movi-me através de um – você vai achar isso estranho –
através de um lugar longo e escuro. Parecia um cano ou coisa parecida.
Simplesmente não dá para descrever. Estava me movendo, vibrando o tempo todo
com esse som de campainha.
Tive uma reação alérgica muito séria com uma anestesia local e parei de
respirar – sofri uma parada respiratória. A primeira coisa que aconteceu – muito
rapidamente- foi atravessar um vácuo escuro, negro, numa velocidade
surpreendente. Acho que daria para comparar a um túnel. Parecia que eu estava
andando no carrinho de uma montanha russa num parque de diversões, atravessando
o túnel numa velocidade absurda.
Durante uma grave doença, um homem chegou tão próximo da morte que suas
pupilas dilataram e seu corpo começou a esfriar. Ele conta:
Eu estava num vazio completamente escuro. É muito difícil explicar, senti como
se estivesse me movimentando num vácuo, através da escuridão. Mesmo assim,
encontrava-me bastante consciente. Era como estar num cilindro sem ar dentro. Era a
sensação de estar no meio do caminho, com um pé aqui e outro em algum outro
lugar.
Antes do momento de sua experiência, que aconteceu quando ele era criança, um
homem sempre tinha tido medo da escuridão. Mesmo assim, quando seu coração
parou de bater por causa de ferimentos internos ocorridos num acidente de bicicleta,
ele conta que:
Meu médico já havia chamado meu irmão e minha irmã para me ver pela última
vez. Uma enfermeira me deu uma injeção para me ajudar a morrer mais facilmente.
As coisas à minha volta no hospital começaram a ficar cada vez mais distantes.
Enquanto recuavam, entrei de cabeça numa passagem estreita e muito, muito escura.
Parecia ter o tamanho suficiente para que eu passasse. Comecei a escorregar para
baixo, para baixo, para baixo...
Uma mulher, que esteve próxima da morte após um acidente de trânsito, fez um
paralelo com um seriado de televisão:
De repente, eu estava num vale muito escuro e muito profundo. Foi como se
houvesse uma trilha, quase uma estrada, através do vale, e eu caminhava por essa
passagem... Mais tarde, depois de estar bem, um pensamento veio à mente: “Bem,
agora sei o que a Bíblia quer dizer com “o vale da sombra da morte”, porque estive
lá...
FORA DO CORPO
É evidente que a maioria de nós, na maior parte do tempo, identifica-se com o corpo
físico. Claro que sabemos que temos ”mente” também. Mas para a maioria das
pessoas nossa “mente” parece muito mais efêmera do que nosso corpo. Afinal de
contas, talvez a “mente” não seja nada além do efeito da atividade elétrica e química
que ocorre no cérebro, que é parte do corpo físico. Para muitas pessoas, é uma tarefa
impossível até mesmo conceber como seria a existência de outra forma que não no
corpo físico, com o qual estão acostumados.
Antes de suas experiências, as pessoas que entrevistamos não eram, como grupo,
diferentes das pessoas comuns em relação a essa atitude. É por isso que, depois da
rápida passagem pelo túnel escuro, uma pessoa que está morrendo frequentemente
tem uma grande surpresa. Nesse momento, a pessoa pode se ver olhando para o
próprio corpo físico de um ponto de vista exterior a ele, como se fosse “um
expectador” ou “uma terceira pessoa no quarto” ou estivesse observando as imagens
e os eventos numa “peça de teatro” ou num “filme”. Agora vamos ver partes de
alguns relatos em que esses episódios extracorpóreos tão misteriosos são descritos.
Foi cerca de dois anos atrás, e eu tinha acabado de completar dezenove anos.
Estava levando uma amiga para casa no meu carro e, ao chegar num determinado
cruzamento, no centro da cidade, parei e olhei para dos dois lados, mas não vi
nenhum carro vindo. Comecei a atravessar o cruzamento e ouvi minha amiga gritar a
plenos pulmões. Quando olhei vi uma luz que me cegava, os faróis de um carro que
vinha em alta velocidade em nossa direção. Pude ouvir um som horrível - lateral do
meu carro sendo amassada – e houve um único instante durante o qual eu parecia
estar atravessando um espaço fechado e escuro. Foi muito rápido. Depois, era como
se eu estivesse flutuando a um metro e meio do chão, a uns quatro metros do carro,
eu diria, e pude ouvir o eco da batida esvaecer. Vi pessoas virem correndo e se
aglomerarem em volta do veículo e minha amiga sair do carro, obviamente em
choque. Pude ver meu próprio corpo nos destroços entre todas aquelas pessoas e
pude vê-las tentando retirá-lo, Minhas pernas estavam retorcidas e havia sangue por
toda parte.
Como se pode imaginar muito bem, alguns pensamentos e sentimentos sem paralelo
percorrem a mente das pessoas que se encontram nessa situação. Muitas delas
acham a ideia de estar fora do corpo tão inimaginável que, mesmo ao vivenciá-la,
sentem-se totalmente confusas em relação aos conceitos da coisa toda e não fazem a
ligação com a morte por um tempo considerável. Elas ficam imaginando o que está
acontecendo; porque de repente, podem se ver a distância, como um expectador?
As reações emocionais para esse estado estranho variam amplamente. A maioria das
pessoas relata, a princípio, um desejo desesperado de voltar ao corpo, mas não têm a
menor ideia de como proceder. Outros se lembram de ter sentido tanto medo que
beirava o pânico. Entretanto, alguns relatam reações mais positivas, como na
descrição a seguir:
Ouvi outras duas pessoas expressarem exatamente essa mesma preocupação quando
se viram fora do corpo. De maneira bastante interessante, as duas também estavam
na área da saúde – uma era médica e a outra, enfermeira.
Em dado momento – agora sei que estava deitado na cama -, realmente, podia
ver-me na cama e o médico cuidando de mim. Não dava para entender aquilo, mas
eu olhava meu próprio corpo deitado ali. E me senti muito mal quando vi meu corpo e
tive consciência de como ele estava todo quebrado.
Várias pessoas me disseram ter sentimentos de estranheza em relação ao corpo,
como nesta passagem surpreendente:
Nossa, na certa, eu não tinha ideia de que era daquele jeito. Sabe, só costumo
me ver em fotos ou na frente do espelho, e dessas duas formas a aparência é plana.
Mas de repente lá estava eu – ou meu corpo – e pude ver-me. Definitivamente pude
ver-me, tive uma visão completa, a uma distância de um metro e meio. Foram
precisos alguns instantes para me reconhecer.
Em uma descrição, essa sensação de estranheza assumiu uma forma mais extrema e
engraçada. Um médico conta como durante sua morte clínica esteve ao lado da cama
observando seu próprio cadáver, que tinha a cor acinzentada que o corpo assume
depois da morte. Desesperado e confuso, ele estava tentando decidir o que fazer.
Temporariamente, decidiu simplesmente ir embora, já que se sentia muito
incomodado. Quando mais jovem, ele ouvira histórias de fantasmas contadas pelo avô
e, paradoxalmente, “não gostava de estar perto dessa coisa que parecia um corpo
morto – mesmo que fosse o meu!”
Nem olhei para o meu corpo. Oh, claro que sabia que ele estava lá, e poderia
tê-lo visto se tivesse olhado. Mas não queria vê-lo, nem um pouquinho, porque sabia
que tinha feito o melhor na minha vida, e estava voltando minha atenção agora para
essa nova realidade. Eu sentia que olhar para trás e ver meu corpo seria olhar para o
passado, e eu estava determinada a não fazer isso.
Pude ver meu próprio corpo preso às ferragens entre todas as pessoas que se
aglomeraram, mas, sabe, eu não tinha nenhum sentimento por ele. Era como se fosse
um ser humano completamente diferente, ou talvez até mesmo um simples objeto...
sabia que era meu corpo, mas não sentia nada por ele.
Um homem disse que o pensamento que veio à sua cabeça foi: “Deve ser isso que as
pessoas chamam de morte”. Mesmo quando essa percepção se dá, ela pode ser
acompanhada por um sentimento de confusão e até mesmo por uma certa recusa em
aceitar o próprio estado. Um rapaz, por exemplo, lembra-se de ter refletido sobre a
promessa bíblica de viver “setenta anos”, e protestado que mal chegara aos vinte.
Uma jovem forneceu uma descrição impressionante de tais sentimentos quando
contou que:
Pensei que estivesse morta, e não estava preocupada por estar morta, mas
simplesmente por não conseguir entender para onde deveria ir. Meus pensamentos e
minha consciência eram exatamente como em vida, e eu simplesmente não conseguia
entender nada. Ficava pensando: “Para onde vou? O que vou fazer? E “Meu Deus,
estou morta! Não dá para acreditar, porque ninguém realmente acha que vai morrer
de verdade”. Sempre é algo que vai acontecer com outra pessoa; embora você saiba
disso, no fundo ninguém acredita de verdade... Foi então que decidi que ia esperar
até que toda a comoção se acalmasse e eles carregassem meu corpo dali, para depois
resolver aonde ir.
Em um ou dois casos que estudei, as pessoas à beira da morte, cujo espírito, mente,
consciência... (ou seja lá o nome que você queira dar) foi desprendida de seu corpo
dizem que, após o desprendimento não sentiam que estavam em nenhum outro tipo
de “corpo”. Sentiram como se fossem “pura” consciência. Um homem relata que
durante sua experiência ele sentiu como se fosse “capaz de ver tudo à minha volta –
incluindo meu corpo todo deitado na cama – sem ocupar nenhum espaço”, isto é,
como se ele fosse um ponto de consciência. Alguns outros dizem que realmente não
conseguem lembrar se estavam em algum tipo de “corpo” ou não depois de sair do
corpo físico, porque estavam envolvidos demais pelos eventos à sua volta.
Contudo, as descrições desse corpo trazem uma forte semelhança com o antigo.
Assim, embora indivíduos diferentes usem palavras diferentes e façam analogias
diferentes, esses modos variantes de expressão parecem estar sempre dentro da
mesma arena. Os vários relatos também estão em muita concordância com as
propriedades e características gerais do novo corpo. Portanto, para adotar um termo
bastante bom, que resume sua propriedade, e que foi usado por alguns dos meus
entrevistados, de agora em diante vou chamá-lo de “corpo espiritual”.
É mais provável que as pessoas próximas da morte tomem consciência de seu corpo
espiritual no contexto de suas limitações. Quando estão fora de seu corpo físico,
descobrem que, embora tentem desesperadamente contar sua situação aos outros,
ninguém parece ouvi-los. Isso é ilustrado muito bem no trecho da história de uma
mulher que sofreu uma parada respiratória e foi carregada para a sala de emergência,
onde a tentativa de ressuscitá-la foi feita:
Para complicar o fato de aparentemente ser inaudível para as pessoas à sua volta, a
pessoa num corpo espiritual logo percebe que também é invisível. A equipe médica e
os outros que estão em volta do corpo físico podem olhar diretamente para onde a
pessoa está em seu corpo espiritual, sem dar o menor sinal de que a estão
enxergando. No corpo espiritual, também falta solidez; parece que podem atravessar
com facilidade os objetos físicos do ambiente, e esse corpo não é capaz de agarrar
nenhum objeto ou pessoa, nem tocá-los.
Ou,
Além disso, apesar da falta de percepção para as pessoas em corpo físico, todos os
que vivenciaram essa realidade concordam que o corpo espiritual ainda é algo
impossível de descrever. Concorda-se que o corpo espiritual tem uma forma ou
aspecto (às vezes como uma nuvem redonda ou amorfa, outras essencialmente a
mesma forma do corpo físico) e até mesmo partes (projeções ou superfícies
semelhantes aos braços, pernas, cabeça, etc). Mesmo quando sua forma é relatada
como uma configuração arredondada, frequentemente se diz que ela apresenta
extremidades definidas, uma parte superior e outra inferior, e até mesmo as partes já
mencionadas.
Já ouvi esse novo corpo ser descrito em termos muito diferentes, mas se pode
prontamente notar que muito da mesma ideia está sendo formulada em cada caso. As
palavras e frases que foram usadas por várias pessoas incluem uma névoa, uma
nuvem, uma fumaça, um vapor, uma transparência, uma nuvem de cores, uma
insubstancialidade, uma forma de energia e outras que expressam significados
similares.
1. Perdi o controle do carro numa curva, o carro saiu da estrada e voou no ar.
Lembro-me de ver o céu azul e que o carro ia cair numa vala. Na hora em
que o carro saiu da estrada, disse para mim mesma: “Vou sofrer um
acidente”. Nesse momento, meio que perdi minha noção de tempo e minha
realidade física no que dizia respeito ao meu corpo e perdi o contato com o
meu corpo. Senti meu ser, ou minha existência, ou meu espírito – ou seja lá
o nome que você queira dar – saindo de mim, subindo pela cabeça. E não era
nada que machucasse, era como levitar e estar sobre mim...
[Meu “ser”] parecia ter uma densidade, quase isso, mas não uma densidade
física – meio tipo, sei lá, ondas ou coisa parecida, eu acho. Nada realmente
físico, quase como se estivesse eletrizado. Mas parecia haver alguma coisa ...
era pequeno, e parecia ser circular, sem contornos rígidos. Dá para comparar
com uma nuvem ... parecia quase como se fosse seu próprio invólucro...
Ao sair do meu corpo, pareceu que a extremidade maior saiu primeiro e a
pequena, por último... Foi uma sensação muito leve, muito mesmo. Não
havia nenhuma tensão no meu corpo [físico]; a sensação era totalmente
separada. Meu corpo não tinha peso...
O ponto mais impressionante de toda a experiência foi o momento em que
meu ser foi suspenso acima da parte frontal da minha cabeça. Foi quase
como se tentasse decidir se queria partir ou ficar. Foi aí que pareceu que o
tempo tinha parado. No começo e no fim do acidente, tudo se moveu muito
rápido, mas, nesse momento em especial, mais ou menos no meio, enquanto
o meu ser era suspenso acima de mim e o carro ia em direção à vala, parece
que o carro demorou muito para chegar lá, e durante esse tempo eu não
estava realmente muito envolvida com o carro, ou com o acidente, ou com
meu próprio corpo – apenas com minha mente...
Meu ser não tinha características físicas, mas preciso descrevê-lo em termos
físicos... poderia descrevê-lo de tantas maneiras, com tantas palavras, mas
nenhuma delas seria precisa, exata. É tão difícil descrever!
Finalmente, o carro se chocou contra o chão e capotou, mas meus únicos
ferimentos foram uma torção no pescoço e um pé inchado.
2. [Quando saí do corpo físico] foi como se saísse do meu corpo e entrasse em
outra coisa. Não achei que fosse simplesmente nada. Era outro corpo... mas
não outro corpo humano regular. Era um pouco diferente. Não exatamente
como um corpo humano, mas também não era como uma grande massa de
substância. Havia uma forma, mas nenhuma cor. E sei que ainda tinha
alguma coisa que se pode chamar de mão.
Não dá para descrever. Eu estava mais fascinado com tudo à minha volta _
ver meu próprio corpo ali, e tudo mais – então não pensei no tipo de corpo
em que estava. E tudo isso pareceu passar muito depressa. O tempo não era
exatamente importante, mas ao mesmo tempo era. As coisas parecem
acontecer mais rápido depois que você sai do corpo.
3. Lembro-me de ser carregado para a sala de cirurgia e as horas seguintes
foram um período crítico. Durante esse tempo, eu não parava de sair e entrar
no meu corpo físico, e podia vê-lo diretamente de cima. Mas, enquanto isso
acontecia, eu ainda estava num corpo – não um corpo físico, mas algo que
posso descrever melhor como uma forma de energia. Se tivesse de colocar
em palavras, diria que era um ser transparente e espiritual em oposição a
um ser material. Mesmo assim, ele tinha partes definitivamente diferentes.
4. Quando meu coração parou de bater, senti como se estivesse numa bola e
quase como se eu fosse uma pequena esfera – como as bolinhas de plástico
das armas de brinquedo airsoft – dentro dessa bola maior. Simplesmente não
tenho como descrever isso para você.
5. Eu estava fora do meu corpo olhando para ele a cerca de cem metros de
distância, mas ainda estava pensando, exatamente como na vida física. E
onde eu estava pensando era aproximadamente na minha altura corpórea
normal. Não estava num corpo, como tal. Dava para sentir alguma coisa –
como se fosse uma capsula, ou algo com uma forma clara. Não dava
realmente para ver; era como se fosse transparente, mas não exatamente.
Era como se eu estivesse simplesmente ali – uma energia, talvez como uma
pequena bola de energia. E na verdade eu não estava ciente de sensação
corpórea alguma – temperatura, ou qualquer coisa assim.
Por outro lado, os sentidos que correspondem aos sentidos físicos da visão e da
audição permanecem intactos no corpo espiritual e parecem realmente ampliados e
mais perfeitos do que quando na vida física. Um homem disse que enquanto estava
“morto”, sua visão parecia incrivelmente mais poderosa e, em suas palavras: “Não dá
para entender como eu conseguia ver tão longe”. Uma mulher que recorda essa
experiência nota que “parecia como se esse sentido espiritual não tivesse limitações,
como se eu pudesse olhar para qualquer lugar, para todos os lugares”. Esse fenômeno
é descrito em termos gráficos, no próximo trecho, em uma entrevista com uma
mulher que esteve fora do corpo após um acidente:
A “audição” no estado espiritual pode aparentemente ser chamada assim apenas por
analogia, e a maioria diz que não ouve realmente vozes e sons físicos. Em vez disso,
parecem captar os pensamentos das pessoas à sua volta, e, como veremos mais
tarde, esse tipo de transferência direta de pensamentos pode ter um papel importante
nos últimos estágios das experiências de morte.
Como uma senhora diz:
Eu podia ver as pessoas à minha volta, podia entender o que estavam dizendo,
mas não ouvia os sons, como estou ouvindo você. Era mais como saber o que
estavam pensando, exatamente o que estavam pensando, mas apenas na minha
mente, não em seu vocabulário real. Eu já sabia um segundo antes de abrirem a
boca para falar.
Eu podia sentir o meu corpo e ele estava inteiro. Eu sabia disso. Sentia-me
inteiro e sentia que tudo estava ali, embora não estivesse.
Nesse estado desencarnado, então, a pessoa fica afastada dos outros. Ela pode ouvir
as outras pessoas e entender seus pensamentos completamente, mas os outros não
são capazes de vê-la nem de ouvi-la. A comunicação com outros seres humanos é
efetivamente rompida, até mesmo pelo sentido do tato, já que o corpo espiritual não
tem solidez. Portanto, não é de se surpreender que, depois de um tempo nesse
estado, sentimentos profundos de isolamento e solidão se instalem. Como um homem
colocou, ele podia ver tudo à sua volta no hospital – todos os médicos, enfermeiros e
outros membros da equipe desempenhando suas tarefas. Mesmo assim, não podia se
comunicar com ele de maneira nenhuma, então “estava desesperadamente sozinho”.
Minha experiência e todas as coisas que estava vivenciando eram muito bonitas,
mas indescritíveis, queria que os outros estivessem lá comigo para ver também e
tinha a sensação de que nunca seria capaz de descrever para ninguém o que eu
estava vendo. Tinha a sensação de estar sozinho porque queria alguém ali para
vivenciar tudo comigo. Mas eu sabia que mais ninguém poderia estar ali. Sentia que
estava num mundo particular naquele momento. Realmente senti um pouco de
depressão nessa hora.
Ou,
Eu não era capaz de tocar em nada, não era capaz de me comunicar com
nenhuma pessoa à minha volta. Era uma sensação maravilhosa e solitária, um
sentimento de isolamento completo, sabia que estava completamente sozinho,
solitário.
E novamente,
Eu estava perplexa, não podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo. Nem
tampouco estava preocupada ou inquieta do tipo: “Oh, não, morri e meus pais foram
deixados pra trás e ficarão tristes, e nunca os verei de novo”. Nada disso passou pela
minha cabeça.
O tempo todo eu estava ciente de que estava sozinha, muito sozinha – quase
como se fosse uma visitante em outro lugar. Era como se todas as relações tivessem
sido rompidas. Sei – era como se não houvesse amor ou nenhuma outra coisa. Tudo
era muito técnico. Não entendo, na verdade.
Passei por essa experiência quando estava dando à luz uma criança. O parto foi
muito difícil e perdi muito sangue. O médico desistiu e avisou meus parentes que eu
estava morrendo. Entretanto, eu estava bastante alerta durante tudo isso, enquanto o
ouvia dizer isso, senti que estava voltando. Quando voltei, percebi que todas essas
pessoas estavam ali, pareciam quase multidões, flutuando no teto da sala. Eram
todas pessoas conhecidas minhas, mas que haviam falecido. Reconheci minha avó e
uma garota que conhecera quando estava na escola e muitos outros parentes e
amigos. Parecia que eu via o rosto e sentia a presença deles. Todos pareciam felizes.
Foi uma ocasião muito feliz, e senti que eles tinham vindo para me proteger e
orientar. Era quase como se estivesse indo para casa, e eles estavam ali para me
receber ou acolher. Durante todo esse tempo, tive a sensação de que tudo era leve e
lindo. Foi um momento lindo e glorioso.
Um homem recorda:
Várias semanas antes de quase morrer, um grande amigo meu, Bob, tinha sido
assassinado. No instante em que saí do corpo, tive a sensação de que Bob estava ali
parado, ao meu lado, pois podia vê-lo na minha mente e senti que ele estava ali, mas
era estranho. Eu não o via como um corpo físico, podia ver coisas, mas não na forma
física, mas mesmo assim tudo estava muito claro, suas feições e todo o resto. Isso faz
sentido? Ele estava lá, mas não tinha um corpo físico. Era como um tipo de corpo
transparente, e eu podia sentir cada parte dele – braços, pernas, e assim por diante –
mas não o estava vendo fisicamente. Não pensei que era estranho no momento
porque eu não precisava realmente vê-lo com meus olhos. De qualquer forma, eu não
tinha olhos.
Perguntei: “Bob, para onde vou agora? O que aconteceu? Estou morto ou não?” E ele
não respondeu, não disse uma só palavra. Mas, com frequência, enquanto eu estava
no hospital, ele ficou ali, e perguntei novamente: “O que está acontecendo?”, mas
nunca houve resposta. Então, no dia em que os médicos disseram “ele vai
sobreviver”, ele partiu. Não o vi mais nem senti sua presença. Foi quase como se ele
estivesse esperando até que eu passasse aquela última fronteira para me contar e
dizer os detalhes sobre o que estava acontecendo.
Em outros casos, os espíritos que as pessoas encontram não são pessoas que
conheciam na vida física. Uma mulher disse ter visto, durante sua experiência
extracorpórea, não apenas seu próprio corpo espiritual transparente, mas também
outro corpo, de outra pessoa que havia morrido muito recentemente. Ela não sabia
quem era essa pessoa, e fez o seguinte comentário: “Eu não via essa pessoa, esse
espírito, como tendo uma idade específica, não mesmo. Eu nem ao menos tinha
sensação de tempo”.
Em alguns casos, as pessoas acreditaram que os seres que encontraram eram seus
“espíritos guardiães”. Um homem ouviu de tal espírito: “Ajudei-o neste estágio da sua
existência, mas agora vou entregá-lo aos outros”. Uma mulher me disse que enquanto
saía do corpo, detectou a presença de dois outros seres espirituais, e eles se
identificaram como seus ‘auxiliares espirituais”
Em dois casos muito similares, as pessoas contaram ter ouvido uma voz que dizia que
ainda não estavam mortos, e que deveriam voltar. Como uma dessas pessoas conta:
Ouvi uma voz, não uma voz de homem, mas uma audição além dos sentidos
físicos, dizendo o que eu deveria fazer para retornar, e não senti medo de voltar ao
meu corpo físico.
O SER DE LUZ
Talvez, o elemento comum mais incrível nos relatos que estudei, e certamente o que
tem um efeito mais profundo no indivíduo, é o encontro com uma luz muito brilhante.
Tipicamente, na sua primeira aparição, essa luz é turva, mas rapidamente fica mais
brilhante, até que alcança um brilho de outro mundo. No entanto, embora essa luz
(geralmente descrita como branca ou “clara”) seja de um brilho indescritível, muitos
chegam ao detalhe específico de que ela não agride os olhos de maneira nenhuma,
nem ofusca, nem os impede de ver outras coisas à sua volta (talvez porque nesse
momento eles não tenham “olhos” físicos para serem ofuscados).
Logo depois de sua aparição, o ser começa a se comunicar com a pessoa que está
fazendo a transição. Notavelmente, essa comunicação é do mesmo tipo direto que
vimos anteriormente na descrição de como uma pessoa no corpo espiritual pode
“captar os pensamentos” daqueles à sua volta. Pois, aqui novamente, as pessoas
declaram que não ouviram nenhuma voz ou som físico algum vindos do ser, nem
responderam a ele por meio de sons audíveis. Em vez disso, narram que a
transferência direta e desimpedida de pensamentos ocorre de forma tão clara que não
há possibilidade de não entender ou mentir para a luz.
A primeira coisa que ele me falou foi: ele perguntou se eu estava pronta para
morrer, ou o que eu tinha feito com minha vida que quisesse lhe mostrar.
Além disso, até mesmo no caso de formas mais incomuns para formular a “questão”,
após elucidação, tudo acaba tendo a mesma força. Por exemplo, um homem prestes a
morrer me disse:
A voz me perguntou: “Vale a pena?” E isso queria dizer se o tipo de vida que
andara levando até aquele momento parecia valer a pena, com tudo o que eu sabia
agora.
Todos afirmam que essa pergunta, por mais fundamental e profunda que possa ser
em seu impacto emocional, não é feita de maneira nenhuma em tom de condenação.
Todos parecem concordar que o ser não dirige a pergunta para acusá-los ou
ameaçá-los, pois ainda sentem total amor e aceitação vindos da luz, não importa qual
possa ser a resposta. Em vez disso, a questão parece ser formulada para fazê-los
pensar sobre a vida. Se você quiser, pode-se dizer que é uma questão socrática, uma
pergunta feita não para obter informações, mas para ajudar a pessoa que está sendo
questionada a prosseguir pelo caminho da verdade sozinha. A seguir, vamos ver
algumas descrições desse ser fantástico em primeira mão.
1. Ouvi os médicos dizerem que eu estava morto e foi quando comecei a sentir
como se estivesse cambaleando, mais ou menos como se flutuasse pela
escuridão, que era um tipo de cela. Não há palavras para descrever. Tudo estava
muito escuro, exceto que, muito distante de mim, podia ver uma luz. Era uma
luz muito brilhante, mas não muito grande a princípio. Ela ficou maior, conforme
eu chegava mais perto. Eu estava tentando chegar à luz na outra extremidade,
porque sentia que era Cristo, e estava tentando chegar àquele ponto. Não foi
uma experiência assustadora. Foi algo mais ou menos agradável, pois, sendo
um cristão, relacionei a luz com Cristo. Então ouvi: “Eu sou a luz do mundo”. E
eu disse a mim mesmo: “Se for isso, se devo morrer, então sei quem espera por
mim no final, ali naquela luz”.
2. Levantei-me e caminhei até o corredor para pegar água, e foi nesse momento,
como descobriram mais tarde, que meu apêndice se rompeu. Fiquei muito fraco
e caí. Senti como se estivesse à deriva, um movimento do meu ser real para
dentro e para fora do meu corpo, e comecei a ouvir uma linda música. Flutuei
pelo corredor e saí pela porta na varanda coberta. Ali, tive a impressão de que
nuvens, uma névoa cor-de-rosa na verdade, começaram a se reunir à minha
volta, então flutuei até atravessar o toldo, como se ele não estivesse lá, e acima
havia uma luz clara, pura e cristalina, uma luz branca que me iluminava. Era
linda, muito brilhante e radiante, mas não machucava meus olhos. Não era
nenhum tipo de luz que se pode descrever na terra. Na verdade, eu não via
uma pessoa na luz, mas ainda assim essa luz tinha uma identidade especial,
definitivamente tinha. Era uma luz de compreensão e amor perfeitos. O
pensamento que veio à minha mente foi: “Você me ama?” Mas não era
exatamente na forma de uma pergunta, acho que a conotação daquilo que a luz
dizia era: “Se você me ama, volte e conclua o que começou na vida”. E durante
todo esse tempo, senti como se estivesse cercado por amor e compaixão
arrebatadores.
3. Eu sabia que estava morrendo e não havia nada que pudesse fazer a respeito,
porque ninguém podia me ouvir... estava fora do corpo, não havia dúvida
quanto a isso, porque podia ver meu próprio corpo ali na mesa de cirurgia.
Minha alma estava fora! Tudo isso me fez sentir triste a princípio, mas então
surgiu uma luz realmente brilhante. Parecia que era um pouco fraca no começo,
mas logo ficou como um enorme holofote. Era uma quantidade tão grande de
luz, nada parecida com um grande flash de luz, era luz demais. E me transmitia
calor, tive a sensação de calor agradável. A luz era branca, um pouco amarelada
e brilhante. Era extremamente brilhante, não dá para descrever. Parecia cobrir
tudo, mesmo assim não me impedia de ver tudo à minha volta _ a sala de
cirurgia, os médicos e enfermeiras, tudo. Dava para ver claramente, e ela não
me cegava. A princípio, quando vi a luz, não tinha certeza do que estava
acontecendo, mas então ela me perguntou se eu estava pronto para morrer. Era
como conversar com uma pessoa, mas não havia uma pessoa ali. A luz estava
conversando comigo, mas na forma de uma voz.
Agora, acho que a voz que realmente conversava comigo percebeu que eu não
estava pronto para morrer. Sabe, ela estava simplesmente me testando mais do
que qualquer outra coisa. No entanto, desde o momento em que a luz falou
comigo, me senti muito bem – seguro e amado. O amor que vinha dela era
inimaginável, indescritível. Era uma companhia agradável. E tinha senso de
humor também – definitivamente!
A REVISÃO
A aparência inicial do ser de luz e suas perguntas não verbais e investigativas
são o prelúdio para um momento de intensidade impressionante durante o qual
o ser apresenta uma revisão panorâmica da vida da pessoa. Frequentemente, é
óbvio que o ser pode ver a exibição de toda a vida do indivíduo e não precisa de
informações para si. Sua única intenção é provocar a reflexão.
Essa revisão só pode ser descrita em termos de memória, já que esse é o
fenômeno familiar mais próximo disso, mas tem características que a
distinguem de qualquer tipo de lembrança normal. Em princípio, é
extraordinariamente rápida. As memórias, quando descritas em termos
temporais, parecem vir uma após outra, suavemente, em ordem cronológica.
Algumas pessoas recordam que não tinham consciência nenhuma de ordem
temporal alguma. A lembrança era instantânea; tudo aparecia de uma só vez e
era possível ver com apenas um olhar. Embora haja diferenças na maneira de se
expressar, todos parecem concordar que a experiência terminou em apenas um
instante no tempo terreno.
Mesmo assim, apesar da velocidade, meus informantes concordam que a
revisão, quase sempre descrita como uma exibição de imagens visuais, é
incrivelmente vívida e real. Em alguns casos, as imagens são relatadas como
dotadas de cores vibrantes, formas tridimensionais e até mesmo de movimento.
E ainda que passem rapidamente, cada imagem é percebida e reconhecida.
Mesmo as emoções e os sentimentos associados com as imagens podem ser
revividos enquanto a pessoa as vê.
Alguns entrevistados dizem que, embora não possam explicar adequadamente,
tudo o que já haviam feito estava presente na revisão – desde as coisas mais
insignificantes até as mais significativas. Outros explicaram que viram os
principais momentos de sua vida. Alguns declararam que, ainda por um período
após a experiência de revisão, eles podiam lembrar de eventos ocorridos em
sua vida com riqueza de detalhes.
Algumas pessoas caracterizam isso como um esforço educacional por parte do
ser de luz. Enquanto presenciam a exibição, o ser parece enfatizar a
importância de duas coisas na vida: aprender a amar as outras pessoas e
adquirir conhecimento. Vejamos um relato representativo:
Quando o ser de luz apareceu, a primeira coisa que disse foi: “O que você
tem para me mostrar daquilo que fez com sua vida?”, ou algo parecido. Foi aí
que os flashbacks começaram. Pensei: “Nossa, o que está acontecendo?”,
porque de repente eu tinha voltado à minha infância. E daquele momento em
diante, foi como se estivesse caminhando desde o começo da minha vida,
passando por todos os anos, até chegar ao presente.
Também foi muito estranho onde isso começou, na época em que eu era
uma garotinha brincando perto do riacho existente na nossa vizinhança, e havia
outras cenas daquela época – experiências que vivenciei com minha irmã,
coisas sobre os vizinhos e lugares reais onde estive. Depois, no
jardim-de-infância, lembrei-me de quando tive um brinquedo especial do qual
gostava muito, mas o quebrei e chorei por muito tempo. Essa foi uma
experiência realmente traumática para mim. As imagens continuaram pela
minha vida e lembrei-me de quando estava no grupo de escoteiras e fomos
acampar. Recordei-me de muitas coisas vividas no tempo do colégio. Depois,
enquanto cursava as quatro últimas séries do ensino fundamental, foi uma
grande honra ser escolhida para a sociedade de conquistas acadêmicas e me
lembrei desse acontecimento. E assim continuei relembrando o ensino
fundamental, o ensino médio, a formatura e meus primeiros anos de faculdade,
até onde eu estava naquele momento.
Os eventos que passaram em flashback vieram na ordem da minha vida e
eram muito vívidos. As cenas eram como se você saísse e as visse acontecendo,
completamente tridimensionais e coloridas. E tinham movimento. Por exemplo,
quando me vi quebrando aquele brinquedo, pude ver todos os movimentos. Não
era como se estivesse assistindo do meu ponto de vista naquela época. Era
como se a garotinha que eu via fosse outra pessoa, num filme, uma garotinha
entre todas as outras crianças, brincando no parquinho. No entanto, era eu.
Vi-me fazendo todas essas coisas enquanto criança, e eram exatamente as
mesmas coisas que eu havia feito, porque me lembrava delas.
Mas eu não via a luz enquanto passava por essas memórias. Ela
desapareceu assim que me perguntou o que eu havia feito, e as lembranças
começaram, mas eu sabia que ela estava ali comigo o tempo todo, que me
carregava através dos flashbacks, porque podia sentir sua presença e porque
ela fazia comentários aqui e ali. Estava tentando me mostrar algo em cada uma
dessas memórias. Não é como se tentasse ver o que eu tinha feito – pois já
sabia – mas estava selecionando esses momentos especiais da minha vida e
colocando-os na minha frente para que me lembrasse.
Durante tudo isso, o ser de luz seguiu reforçando a importância do amor.
Os lugares que me mostrou melhor envolviam minha irmã; sempre fui muito
próxima dela.
A coisa toda foi muito estranha. Eu estava ali, estava realmente vivendo esses
flashbacks, estava realmente caminhando através deles e foi tudo muito rápido.
Contudo, foi lento o suficiente para que eu pudesse absorver tudo. Mesmo assim, o
período de tempo não foi muito grande, acho que não. Parecia que o ser de luz veio,
então passei por todas essas memórias, e a luz voltou. Parece que foi menos do que
cinco minutos e provavelmente mais do que trinta segundos, mas não posso afirmar.
O único momento em que senti medo foi quando fiquei preocupada que não
fosse capaz de terminar minha vida aqui. Mas gostei de passar por essas memórias.
Foi divertido. Foi gostoso voltar para minha infância, foi quase como revivê-la. Foi
uma maneira de voltar e ver tudo, o que normalmente não temos chance de fazer.
Também devemos apontar que existem relatos em que a revisão é vivenciada, muito
embora o ser de luz não apareça. Como regra, nas experiências em que o ser
aparentemente a “dirige”, essa revisão é uma experiência mais arrebatadora.
Entretanto, é geralmente caracterizada como muito vívida e rápida, além de exata,
independente do fato de o ser de luz aparecer ou não, e independente de ocorrer no
curso de uma morte “real” ou apenas durante a proximidade da morte.
Nos dois exemplos a seguir, embora não houvesse acontecido a morte clínica no
momento da experiência, desgastes ou ferimentos fisiológicos reais estavam
ocorrendo.
Sabia que estava morrendo e me lembro de ter pensado que queria sustentar
minha família. Estava perturbado por estar morrendo e ainda ver certas coisas que eu
tinha feito na minha vida e de que me arrependia, e outras de que me arrependia por
não ter feito.
Esse flashback vinha na forma de imagens mentais, eu diria, mas eram muito
mais vívidas que as imagens normais. Vi apenas os pontos altos, mas foi tão rápido
que foi como ver a minha vida inteira, sendo capaz de fazer isso em poucos
segundos. Tudo passava na minha frente como um filme projetado numa velocidade
tremenda, mas mesmo assim eu era completamente capaz de ver tudo, e de
compreender. No entanto, as emoções não voltaram com as imagens, porque não
havia tempo suficiente.
Eu não via mais nada durante essa experiência. Havia apenas escuridão, exceto
pelas imagens a que assistia. No entanto, dava para sentir a presença de um ser
muito poderoso, e completamente amoroso, ali comigo durante toda a experiência.
Enquanto estava servindo no Vietnã, fui ferido e mais tarde “morri” por causa
dos ferimentos, embora durante todo o tempo soubesse exatamente o que estava
acontecendo. Fui atingido por seis balas de metralhadora e quando isso aconteceu
não fiquei nem um pouco triste. Em minha mente, realmente me senti aliviado
quando fui atingido. Estava completamente à vontade e não sentia medo.
No momento do impacto, minha vida se tornou uma imagem na minha frente, e
deu-me a impressão de que eu poderia voltar no tempo em que ainda era bebê; as
imagens pareciam progredir através da minha vida toda.
A melhor coisa em que posso pensar para comparar é uma série de imagens,
tipo slides. Era como se alguém estivesse passando slides na minha frente, muito
rapidamente.
Todas essas coisas, e muitas mais, simplesmente passaram pela minha cabeça
e foi muito rápido. Provavelmente não durou meio segundo. E então tudo acabou e lá
estava eu de pé olhando para o caminhão. Pensei que estava morto, pensei que era
um anjo. Comecei a me beliscar para ver se estava vivo, ou se era um fantasma ou
coisa parecida.
O caminhão deu perda total, mas não sofri um só arranhão. De algum modo,
voei pelo pára-brisa pois o vidro estava arrebentado. Depois que as coisas se
acalmaram, achei estranho que todos esses acontecimentos tivessem ocorrido em
minha vida, que tivessem causado algum tipo de impressão duradoura em mim e que
tivessem passado pela minha mente durante esse momento de crise. Eu
provavelmente seria capaz de pensar em todas essas coisas, lembrar e descrever
cada uma elas agora, mas levaria pelo menos quinze minutos. No entanto, tudo
aconteceu de uma vez, automaticamente, e, em menos de um segundo. Foi incrível.
A FRONTEIRA OU O LIMITE
A VOLTA
É óbvio que todas as pessoas com quem conversei tiveram de “voltar” em algum
momento de sua experiência. No entanto, até chegar esse momento, geralmente
houve uma mudança interessante de atitude. Lembre-se de que os sentimentos mais
comuns relatados nos primeiros momentos que seguem a morte são um desejo
desesperado de voltar ao corpo e um intenso arrependimento sobre a própria morte.
Entretanto, depois que a pessoa que está morrendo chega a certa profundidade em
sua experiência, não quer retornar e pode até mesmo resistir à volta ao corpo. Esse é
o caso especialmente das pessoas que foram até o ponto de encontrar o ser de luz.
Como um homem disse, de maneira mais enfática: “Eu não queria sair de perto
daquele ser”.
Fiquei pensando se deveria ficar ali, mas me lembrava da minha família, dos
meus três filhos e do meu marido. Agora, essa é a parte mais difícil de explicar.
Quando tive essa sensação maravilhosa ali, na presença daquela luz, realmente não
queria voltar. Mas levo minhas responsabilidades muito a sério, e sabia que tinha
obrigações para com a minha família. Então decidi tentar voltar.
Eu havia feito três anos de faculdade e ainda tinha um pela frente. Ficava
pensando: “Não quero morrer agora”. Mas acho que se isso tivesse durando mais
alguns minutos, se tivesse ficado com a luz um pouco mais de tempo, não teria mais
pensado nos meus estudos, seria arrebatado pelas outras coisas que estava
vivenciando.
Eu estava fora do meu corpo e percebi que tinha de tomar uma decisão. Sabia
que não poderia ficar fora do corpo físico por muito tempo, então – bem, para os
outros isso é muito difícil de entender, mas para mim era perfeitamente claro – sabia
que tinha de decidir entre seguir em frente ou voltar.
Era maravilhoso ali, do outro lado, e eu até queria ficar. Mas saber que tinha
algo bom para fazer na Terra também era maravilhoso. Logo estava pensando: “Sim,
devo voltar e viver”, e voltei para o meu corpo físico. Sinto como se a hemorragia
tivesse parado sozinha. Seja como for, comecei a me recuperar depois disso.
Outros sentem que realmente receberam uma permissão para viver dada por “Deus”,
ou pelo ser de luz, fosse em resposta a um pedido próprio de poder viver (geralmente
porque o pedido foi feito sem egoísmo) ou porque Deus ou o ser aparentemente
tinham alguma missão em mente para eles realizarem.
Eu estava acima da mesa e podia ver tudo o que faziam. Sabia que estava
morrendo, que esse era o final. Mesmo assim, estava preocupada com meus filhos e
quem tomaria conta deles. Portanto, não estava pronta para partir. O Senhor permitiu
que eu vivesse.
Um homem recorda:
Digo que Deus certamente foi bom comigo, porque eu estava morto e Ele
deixou que os médicos me trouxessem de volta, por um propósito: ajudar minha
esposa, que tinha um problema com alcoolismo, e sei que ela não teria conseguido
sem mim. Mas agora ela está melhor e realmente acho que isso teve muito a ver com
o que passei.
Estava com minha tia idosa durante sua última doença, o que nos esgotou
muito. Eu ajudava a cuidar dela, e durante todo esse tempo, todos da família
rezavam para que ela recuperasse a saúde. Ela parou de respirar várias vezes, mas
eles a trouxeram de volta. Finalmente, um dia ela olhou para mim e disse: “Joan, já
estive lá, no Além, e é lindo. Quero ficar lá, mas não posso enquanto vocês
continuarem rezando para que eu fique. Suas orações estão me segurando aqui. Por
favor, não rezem mais”. Todos nós paramos e pouco tempo depois ela morreu.
Poucos vivenciam a reentrada real no corpo físico. A maioria relata que simplesmente
sentiu que no fim da experiência ”foi dormir” ou ficou inconsciente, para mais tarde
acordar no corpo físico.
Por outro lado, alguns se lembram de terem sido arrastados rapidamente para o corpo
físico, frequentemente como uma sacudida.
E,
Meu “ser” parecia ter uma extremidade pequena e outra grande, e no final do
meu acidente, após ter ficado suspenso sobre minha cabeça, ele voltou. Quando saiu
do meu corpo, deu-me a impressão de que a extremidade maior saiu primeiro, mas
ao retornar, a extremidade menor parece ter voltado primeiro.
Quando ouvi pegarem meu corpo e retirá-lo debaixo da direção, foi como um
zuuum e senti como se fosse arrastada por uma área limitada, um tipo de túnel,
acho. Estava escuro ali, e me movia rapidamente, de volta ao corpo. Enquanto era
sugada de volta, parecia que a sucção começara na cabeça, como se eu estivesse
entrando pela cabeça. Não senti como se tivesse poder algum de decisão em tudo
isso, nem ao menos tempo para pensar a respeito. Estava ali, a metros de distância
do meu corpo, e de repente tudo havia terminado. Nem tive tempo de pensar: “Estou
sendo sugada de volta ao meu corpo”.
1. Depois de voltar, não parei de chorar por uma semana porque tinha de viver
neste mundo após ter visto o outro. Não queria voltar.
2. Quando voltei, trouxe comigo alguns dos sentimentos maravilhosos que tive ali.
Eles duraram por vários dias. Mesmo agora, ainda os sinto de vez em quando.
3. A sensação foi tão indescritível que permaneceu comigo de alguma forma.
Nunca me esquecerei. Ainda penso nela com muita frequência.
Deve ser enfatizado que uma pessoa que passou por uma experiência desse tipo não
tem dúvida alguma sobre sua realidade e importância. As entrevistas que fiz são
geralmente repletas de comentários precisamente nesse sentido. Por exemplo:
Enquanto estive fora do corpo, fiquei muito surpreso com o que estava
acontecendo comigo. Não entendia, mas não estava fabricando ideias. Eu
simplesmente não estava com esse estado de espírito.
E,
Não foi nenhum tipo de alucinação. Já tive alucinações uma vez, quando me
deram codeína no hospital. Mas isso aconteceu muito antes do acidente. E essa
experiência não foi nada parecida com alucinação, nada parecida mesmo.
Tais comentários vêm de pessoas que são bastante capazes de distinguir sonho e
fantasia da realidade. As pessoas entrevistadas têm personalidades funcionais e bem
equilibradas. Entretanto, elas não contam suas experiências como contariam seus
sonhos, mas sim como eventos reais que realmente aconteceram com elas.
Outro recorda:
Não contei para ninguém durante muito tempo. Simplesmente não disse nada.
Eu não estava muito à vontade porque tinha medo de que não acreditassem que eu
estava falando a verdade e que dissessem: “Ah, você está inventando essas coisas”.
Um dia, decidi: “Bem, vamos ver como minha família reage”, e contei, mas não
contei para mais ninguém até agora. No entanto, acredito que minha família entendeu
que passei por tudo isso.
Outros, a princípio, tentaram contar para outra pessoa, mas foram mal recebidos e
dali em diante decidiram permanecer em silêncio.
1. A única pessoa para quem tentei contar foi minha mãe. Pouco tempo depois
mencionei como havia me sentido. Mas eu era apenas um garotinho e ela não
prestou atenção em mim. Então nunca mais contei a ninguém.
2. Tentei contar para o padre da minha paróquia, mas ele disse que eu estivera
alucinado, então me calei.
3. Eu era bastante popular no ensino fundamental e médio, e apenas seguia a
multidão, não fazia nada de novo. Era uma seguidora, não uma líder. E depois
que isso aconteceu comigo e tentei contar para as pessoas, acho que
automaticamente me rotularam como louca. Eu tentava contar para as pessoas
e elas ouviam com interesse, mas depois comentavam: “Ela pirou de vez?”.
Quando vi que isso não passava de uma grande piada, deixei de falar sobre o
assunto. Estive tentando transmitir a ideia de que: “Nossa, essa experiência
estranha aconteceu comigo”. O que estava tentando dizer é que havia mais
coisas de que precisávamos saber sobre a vida do que eu havia pensado, e
tenho certeza de que eles também não sabiam.
4. Tentei contar para as enfermeiras o que acontecera, quando acordei, mas me
disseram para não falar sobre o assunto, pois eu estava apenas imaginando
coisas.
Aconteceu também, com frequência que, após entrevistar as pessoas pela primeira
vez sobre os detalhes de sua própria experiência, contei que outros entrevistados
relataram exatamente os mesmos eventos e percepções. Essas pessoas expressaram
profundo sentimento de alívio:
Sempre foi algo muito real para mim, mas jamais contei a alguém porque tinha medo
de que me olhassem e pensassem: “Quando você apagou, sua mente ficou ruim na
mesma hora!”.
Eu imaginava que outras pessoas teriam passado pela mesma experiência, mas
que eu provavelmente nunca encontraria alguém que tivesse conhecimento dessa
pessoa, porque não acho que as pessoas querem falar sobre esse assunto. Se alguém
viesse me contar, sem eu ter passado por isso, provavelmente olharia e ficaria
imaginando que tipo de pegadinha estariam tentando fazer comigo, porque é assim
que é a nossa sociedade.
Ainda existe outra razão pela qual alguns são tão reticentes ao relatar suas
experiências aos outros. Eles sentem que a experiência é tão indescritível, tão além
da linguagem humana e dos modos de percepção e de existência, que é inútil até
mesmo tentar.
Naquela época – antes de entrar na faculdade – eu, que havia sido criado numa
cidade muito pequena, com pessoas de mente fechada – mas, de qualquer modo,
pessoas que andavam comigo – era um cara típico da panelinha do ensino médio.
Desde aquele dia, minha mente está constantemente pensando no que fiz com
minha vida, e o que farei daqui em diante. Meu passado – estou satisfeito com ele.
Não acho que o mundo me deva algo, porque realmente Fiz tudo o que queria e da
maneira como queria, e ainda estou vivo e posso fazer muito mais. Mas, desde o dia
em que “morri” de repente, logo após minha experiência, passei a me perguntar se
havia feito as coisas porque elas eram boas ou simplesmente porque era boas para
mim. Antes, eu simplesmente agia por impulso, agora, primeiro analiso as coisas na
minha mente, bem devagar. Parece que tudo precisa passar pela minha mente para
ser digerido.
Tento fazer coisas que tenham mais significado, e que façam minha mente e
alma se sentirem melhor. E tento não ser preconceituoso, tento não julgar as
pessoas. Quero fazer as coisas porque elas são boas, não porque são boas para mim.
E parece que a compreensão que tenho das coisas agora é muito melhor. Sinto que
isso se deve ao que aconteceu comigo, aos lugares em que estive e às coisas que vi
nessa experiência.
1. Depois dessa experiência, foi quase como se eu fosse preenchida com um novo
espírito. Desde essa época, muitos comentaram que pareço passar por um
efeito calmante sobre eles, instantaneamente, quando estão agitados. E parece
que estou mais conectada com as pessoas, que consigo sentir coisas a respeito
delas mais rapidamente.
2. Algo que acredito ter sido dado a mim, por causa da minha experiência de
morte, é que posso sentir as necessidades na vida dos outros indivíduos. Com
frequência, por exemplo, quando estou com pessoas no elevador do prédio onde
trabalho, tenho a impressão de que posso ler o rosto delas e dizer se precisam
de ajuda, e de que tipo. Várias vezes conversei com pessoas que estavam com
problemas e levei-as até o meu escritório para lhes dar conselhos.
3. Desde que me feri, tenho a sensação de adivinhar o pensamento e a vibração
das pessoas e sentir o ressentimento vindo dos outros. Algumas vezes fui capaz
de saber o que as pessoas iam dizer antes que dissessem. Poucas pessoas vão
acreditar, mas passei por algumas experiências extremamente estranhas. Certa
vez, eu estava numa festa adivinhando o pensamento das outras pessoas, e
algumas que não me conheciam se levantaram e foram embora. Elas ficaram
apavoradas, achando que eu era uma bruxa ou coisa assim. Não sei se é algo
que ganhei enquanto estava morta, ou se eu estava dormente em mim e nunca
tinha usado até acontecer minha quase-morte.
Há uma concordância notável nas “lições”, por assim dizer, que foram trazidas de
volta por aqueles que estiveram próximos da morte. Quase todos enfatizaram a
importância de tentar cultivar o amor pelos outros, um amor único e profundo. Um
homem que encontrou o ser de luz sentiu-se totalmente amado e aceito, mesmo
enquanto toda sua vida era exibida num panorama para que o ser pudesse ver. Ele
sentiu que a “pergunta” que o ser estava fazendo era se ele seria capaz de amar os
outros da mesma forma que amava a si próprio. Agora sente que é sua obrigação
tentar aprender enquanto estiver na terra.
Do mesmo modo, todos desaprovam o suicídio como meio de retornar à realidade que
vivenciaram durante suas experiências. É que agora o estado da morte em si não é
mais sombrio para eles. Vamos analisar algumas passagens nas quais tais atitudes
são explicadas:
1. Suponho que essa experiência moldou algo em minha vida. Eu era apenas uma
criança quando tudo aconteceu, tinha apenas dez anos, mas agora, durante
toda minha vida, estou completamente convencida de que existe vida depois da
morte, sem sombra de dúvida, e não tenho medo de morrer. Não tenho.
Algumas pessoas que conheci sentem muito medo e ficam bem assustadas.
Sempre sorrio quando ouço as pessoas duvidarem da existência da vida depois
da morte, ou dizer: “Quando a gente morre, acaba”. Eu penso: “Eles não sabem
nada”.
Muitas coisas aconteceram comigo na minha vida. No trabalho, apontaram uma
arma para mim, para a minha têmpora. Isso não me assustou muito porque
pensei: Bem, se eu realmente morrer, se realmente me matarem, sei que ainda
viverei em outro lugar”.
A razão pela qual a morte não é mais assustadora, como todas as passagens citadas
expressam, é que depois dessa experiência a pessoa não nutre mais dúvidas sobre
sua sobrevivência à morte física. Não se trata mais de uma mera possibilidade
abstrata, mas de um fato de sua experiência.
1. Alguns dizem que não estamos usando a palavra morte porque estamos
tentando escapar dela. Isso não é verdade no meu caso. Depois de passar pela
experiência que passei, sabe-se no fundo do coração que não existe essa tal
“morte”. Simplesmente nos formamos e passamos para outra coisa – como do
ensino fundamental para o médio e para a faculdade.
2. A vida é como uma prisão. Nesse estado, simplesmente não entendemos como
esses corpos são prisões. A morte é como ser solto – como fugir da prisão. Essa
é a melhor coisa em que consigo pensar para comparar.
Até mesmo aqueles que previamente tinham alguma convicção tradicional sobre a
natureza do mundo depois da morte parecem ter se afastado de tal convicção após
seu próprio encontro com a morte. De fato, em todos os relatos que reuni, ninguém
pintou a imagem mitológica do que reside no Além. Ninguém descreveu o paraíso dos
cartunistas com portões de pérola, ruas de ouro e anjos alados tocando harpa, nem
um inferno de chamas e demônios com tridentes.
Portanto, na maioria dos casos, o modelo de recompensa e punição para a vida depois
da morte é abandonado e descartado, mesmo por muitos que eram acostumados a
pensar nesses termos. Para sua surpresa, descobriram que mesmo quando seus atos
aparentemente mais terríveis e pecaminosos foram manifestados perante o ser de
luz, este não reagiu com raiva e fúria, mas apenas com compreensão e até mesmo
com humor. Enquanto uma mulher revisava sua vida com esse ser, ela viu algumas
cenas nas quais deixou de mostrar amor para demonstrar egoísmo. Mesmo assim,
disse que as atitudes dele quando essas cenas apareceram foi de que ela estava
aprendendo, mesmo naquele momento. No lugar desse antigo padrão, muitos
parecem ter retornado com um novo modelo e uma nova compreensão do mundo do
Além _ uma visão que não traz o julgamento unilateral, mas um desenvolvimento
cooperativo em relação ao objetivo final de autorrealização. De acordo com essas
novas visões, o desenvolvimento da alma, especialmente das faculdades espirituais de
amor e de conhecimento, não cessa depois da morte. Em vez disso, continua do outro
lado, talvez eternamente, mas certamente por um período de tempo e numa
profundidade que podem apenas ser vislumbrados, enquanto ainda estivermos no
corpo físico, “através de um vidro, obscuramente”.
CORROBORAÇÃO
Em vários casos, a resposta de certa forma surpreende para essa questão é “sim”.
Além disso, a descrição dos eventos testemunhados enquanto fora do corpo confere
muito bem com o que de fato ocorreu. Vários médicos me disseram, por exemplo, que
ficam desconcertados ao ver como pacientes sem conhecimento médico podem
descrever, em detalhes e tão corretamente, o procedimento usado nas tentativas de
ressuscitá-los, muito embora esses eventos tenham acontecido enquanto os médicos
sabiam que os pacientes envolvidos estavam “mortos”.
1. Depois que tudo acabou, o médico me disse que eu havia passado por um
momento difícil, com o que concordei: “É, eu sei” Então perguntou: “Bem,
como você sabe?” e respondi: “Posso dizer tudo o que aconteceu”. Ele não
acreditou. Daí contei a história toda, desde o momento em que parei de
respirar até a hora em que voltei.
2. Quando acordei depois do acidente, meu pai estava lá. Eu nem queria saber
como meu corpo estava, ou como os médicos achavam que eu estava. Tudo
o que queria era conversar sobre a experiência por que tinha passado. Contei
ao meu pai quem me arrastou para fora do prédio e qual era a cor das
roupas que a pessoa estava vestindo, e como me tiraram e até mesmo toda
a conversa que estava acontecendo à minha volta. E meu pai disse: “Bem,
sim, essas coisas são verdade”. Entretanto, meu corpo estava fisicamente
fora naquele momento, e não havia como eu ter visto ou ouvido essas coisas
sem estar fora do meu corpo.
Quando isso aconteceu, sofri, como ainda sofro, de um episódio sério de asma
brônquica e enfisema. Certo dia, tive um acesso de tosse e aparentemente rompi um
disco na parte inferior da minha espinha. Por dois meses consultei uma série de
médicos devido à dor agonizante, e finalmente um deles me indicou um
neurocirurgião, o doutor Wyatt. Ele me examinou e disse que eu precisava ser
internado imediatamente, e assim fazendo, colocou-me na tração em seguida.
O doutor Wyatt sabia que eu tinha uma doença respiratória séria, então chamou
um pneumologista, que informou que o anestesista, doutor Coleman, deveria ser
consultado para ver se poderiam me anestesiar. Assim, o pneumologista cuidou de
mim por quase três semanas até que finalmente me levou a um ponto em que o
doutor Coleman pudesse me anestesiar. Um dia, ele finalmente concordou, embora
ainda estivesse muito preocupado. Eles marcaram a cirurgia.
Uma noite, já no hospital, fui dormir e tive um sono agitado até algum
momento da madrugada, quando acordei com uma dor aguda. Virei-me na cama e
tentei encontrar uma posição mais confortável, mas nesse momento uma luz
apareceu num canto do quarto, pouco abaixo do teto. Apenas uma bola de luz, quase
como um globo, e não era muito grande, tinha cerca de trinta ou quarenta
centímetros de diâmetro; e quando a luz surgiu, uma sensação tomou conta de mim.
Não posso dizer que era uma sensação estranha, porque não era. Era um sentimento
de completa paz e extremo relaxamento. Pude ver a mão que se estendia da luz até
mim, e a luz disse: “Venha comigo. Quero mostrar-lhe algo”. Então, imediatamente,
sem hesitação alguma, estiquei minha mão. Ao fazer isso, tive a sensação de ser
erguido e de ter deixado meu corpo. Quando olhei para trás vi que ainda estava
deitado na cama enquanto subia até o teto do quarto.
Nesse momento, quando saí do corpo, assumi a mesma forma da luz. Tive a
sensação, e terei de usar minhas próprias palavras para descrever, uma vez que
nunca ouvi ninguém falar sobre nada parecido, que essa forma era definitivamente
um espírito. Não era um corpo, apenas uma nuvem de fumaça ou vapor. No entanto,
a forma que assumi tinha cores. Havia laranja, amarelo e uma cor que não sei
distinguir _ parecia um azul índigo, um tom de azul.
Esse ser espiritual não tinha a forma de um corpo. Era mais ou menos circular,
mas tinha o que posso chamar de mão. Sei disso porque quando a luz veio até mim,
estendi minha mão. Mesmo assim, o braço e a mão do meu corpo estavam parados,
pois podia vê-los deitados na cama, ao lado do meu corpo, enquanto me elevava até
a luz. Mas quando eu não estava usando essa mão espiritual, o espírito voltava ao
formato circular.
Assim, fui atraído para a mesma posição em que a luz estava, e começamos a
nos mover até o corredor, atravessando os andares, ao que me parece, até chegar ao
térreo. Não tínhamos nenhuma dificuldade para atravessar portas ou paredes. Elas
simplesmente se desfaziam conforme nos aproximávamos delas.
Então esse ser me disse _ mostrou-me _ “Você ficará aqui. Quando trouxerem
você da mesa de operação, vão colocá-lo naquela cama, mas você nunca acordará
daquela posição. Você não saberá de nada depois de ir para a sala de cirurgia até que
eu volte para buscá-lo algum tempo depois disso”. Agora, não quero dizer que isso
tenha vindo em palavras. Não era como uma voz audível, porque se fosse eu
esperaria que os outros na sala tivessem ouvido a voz, mas eles não ouviram. Foi
mais como uma impressão que veio até mim. Mas veio de forma tão vívida que não
havia como dizer que não ouvi ou não senti. Era definitivamente para mim.
E o que eu via _ bem, era tão mais fácil reconhecer as coisas enquanto estava
nessa forma espiritual. Perguntava-me: “O que é que ele está tentando me mostrar?”
Eu sabia imediatamente o que era, o que ele tinha em mente. Não havia dúvida. Era
que aquela cama _ a cama à direita assim que se entra do corredor _ seria onde eu
ficaria, e ele me trouxera aqui com um propósito. Então, disse-me por que.
Ocorreu-me que o motivo para isso é que ele não queria que eu sentisse nenhum
medo quando chegasse o momento de meu espírito deixar o corpo, mas que ele
queria que eu soubesse qual era a sensação nessa hora de transição. Ele queria me
confortar para que eu não tivesse medo, pois ele estava dizendo que não estaria ali
imediatamente, que eu passaria por outras coisas antes, mas que tudo o mais
perderia a importância porque ele estaria comigo no final.
Quando me uni a ele nesse passeio até o CTI, eu próprio me tornei um espírito,
de alguma forma fomos fundidos em um. Claro que ainda éramos dois separados.
Mesmo assim, ele tinha total controle sobre tudo o que se passava no que dizia
respeito a mim. E mesmo que estivéssemos viajando pelas paredes e tetos, e assim
por diante, bem, parecia que estávamos numa comunhão tão próxima que nada
poderia ter nos incomodado. Novamente, era apenas uma paz, calma e serenidade
que nunca tinham sido encontradas em nenhum outro lugar.
Foi quando os seguintes pensamentos dessa presença vieram até mim: “Como
você está pedindo por outra pessoa, e pensando nos outros, não em si, concederei
aquilo que me pede. Você viverá até ver seu sobrinho se tornar um homem”. E, de
repente, ele se foi. Parei de chorar e rasguei a carta para que minha esposa não a
encontrasse acidentalmente.
Naquela noite, o doutor Coleman veio me dizer que esperava muita dificuldade
para me anestesiar, e que eu não deveria ficar surpreso se ao acordar encontrasse
vários fios, tubos e máquinas à minha volta. Não contei e rasguei o que havia
vivenciado, apenas concordei e disse que iria cooperar.
Tudo isso aconteceu três anos atrás, mas as imagens ainda são tão vívidas
quanto naquela época. Foi a coisa mais fantástica que já aconteceu comigo, e fez uma
grande diferença. Mas não converso sobre esse assunto. Contei apenas pata minha
esposa, meu irmão, o padre, e agora para você. Não sei como dizer, mas isso é muito
difícil de explicar. Não estou tentando causar um grande abalo na sua vida, e não
estou tentando me vangloriar. É que só depois disso não tenho mais quaisquer
dúvidas. Sei que existe vida depois da morte.
PARALELOS
Os eventos dos vários estágios da experiência de morrer são, para dizer o mínimo,
incomuns. Portanto, minha surpresa foi aumentando com o passar dos anos conforme
encontrava um número impressionante de paralelos a esses estágios. Esses paralelos
ocorrem em escritos ancestrais e/ou altamente esotéricos na literatura de diversas
civilizações, culturas e eras.
A BÍBLIA
Na nossa sociedade, a Bíblia é o livro mais amplamente lido e discutido que lida com
assuntos relacionados à natureza do aspecto espiritual do homem e da vida depois da
morte. Como um todo, no entanto, a Bíblia tem relativamente pouco a dizer sobre os
eventos que ocorrem depois da morte, ou sobre a natureza precisa do mundo
pós-morte. Isso é especialmente verdade no Velho Testamento. De acordo com alguns
estudiosos da Bíblia, apenas duas passagens em todo o Velho Testamento falam sobre
a vida depois da morte sem deixar dúvidas:
E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna,
e outros para vergonha e desprezo eterno14.
Perceba que em ambas as passagens existe a forte sugestão de que uma ressurreição
do corpo físico vai ocorrer e que o estado de morte física é comparada aqui,
novamente, com o sono.
Além disso, em minhas próprias leituras deparei com alguns paralelos similares que
nenhum dos meus entrevistados mencionou. Os paralelos mais interessantes
aparecem nas escrituras do apóstolo Paulo. Ele perseguia os cristãos até ter sua
famosa visão e conversão na estrada de Damasco. Ele diz:
E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues; mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para
te pôr ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas
quais te aparecerei ainda.
Por isso, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial... E, dizendo ele isto
em sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem
delirar. Mas ele disse: Não deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de
verdade e de um são juízo15.
Esse episódio obviamente traz certa semelhança do encontro com o ser de luz nas
experiências de quase-morte. Em primeiro lugar, o ser é dotado de personalidade,
embora nenhuma forma física seja vista, e uma “voz” que faz uma pergunta e
transmite instruções emana do ser. Quando Paulo tenta contar aos demais, sofre
zombaria, e é rotulado de ”insano”. Contudo, a visão mudou o curso de sua vida: a
partir daquele momento, ele se tornou o líder devoto do Cristianismo como forma de
vida de amor ao próximo.
Claro que também existem diferenças. Paulo não esteve próximo da morte no curso
de sua visão. Ademais, de forma bastante interessante, Paulo relata que foi cegado
pela luz e incapaz de enxergar por três dias após o acontecido. Isso entra em
contradição com os relatos daqueles que dizem que embora a luz fosse
indescritivelmente brilhante, de forma nenhuma os cegava, ou impedia que vissem as
coisas à sua volta.
Em suas discussões acerca da natureza da vida depois da morte, Paulo diz que alguns
desafiam o conceito cristão da vida depois da morte perguntando que tipo de corpo o
morto terá.
Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?
Insensato!... quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples
grão, como de trigo... Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu
próprio corpo... E há corpos celestes e corpos terrestres... mas uma é a glória dos
celestes e outra a dos terrestres... Assim também a ressurreição dentre os mortos.
Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitarão em incorrupção. Semeia-se em
ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor.
Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há
também corpo espiritual... Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar
de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados16.
PLATÃO
O filósofo Platão, que foi um dos maiores pensadores de todos os tempos, viveu em
Atenas de 428 a 348 a.C. Ele nos deixou uma série de pensamentos na forma de
cerca de vinte e duas peças e diálogos filosóficos, muitos dos quais incluem seu
professor Sócrates como interlocutor-chefe, além de um pequeno número de cartas.
Platão discute em várias passagens como a alma que foi separada de seu corpo pode
encontrar e conversar com espíritos de pessoas que partiram e ser orientada por
espíritos guardiães durante a transmissão da vida física para a próxima realidade. Ele
menciona como algumas pessoas esperam ser recepcionadas no momento da morte
por um barco que as leve através de uma represa até “a outra margem” de sua
experiência de pós-morte. Em Fédon, o cenário dramático e o golpe de argumentos e
palavras usadas transmitem a ideia de que o corpo é a prisão da alma e que, por
correspondência, a morte é como uma fuga ou libertação dessa prisão. Embora, como
visão antiga da morte como sono e esquecimento, ele faz isso apenas para descartar
a ideia, e na verdade, dar uma girada de 180º. De acordo com Platão, o espírito entra
no corpo físico, ao nascer o corpo, passa de um estado de grande consciência para
um de menor consciência, esquecendo as verdades que conhecia enquanto estava em
seu estado extracorpóreo anterior. Por implicação, a morte é despertar e acordar.
Platão observa que o espírito que foi separado do corpo depois da morte pode pensar
e raciocinar de forma ainda mais clara do que antes, de reconhecer as coisas em sua
verdadeira natureza muito mais prontamente. Além disso, logo depois da morte, o
espírito enfrenta um “julgamento” no qual um ser divino exibe perante ele todas as
coisas - boas e ruins - que ele fez durante a vida e faz com que o espírito as encare.
Esse trabalho notável foi compilado dos ensinamentos de sábios durante muitos
séculos no Tibete pré-histórico, e transmitido oralmente através das gerações.
Aparentemente, ele foi finalmente escrito no século oito d.C., mas imediatamente
escondido para mantê-lo em segredo dos forasteiros.
A forma que esse livro incomum assume é moldada pelos vários usos
inter-relacionados em que é empregado. Em primeiro lugar, os sábios que viam a
morte, de fato, como uma habilidade – dependendo do fato de a pessoa ter o
conhecimento requerido para fazê-lo bem. Assim, o livro era lido como parte da
cerimônia funeral, ou para pessoas à beira da morte durante os momentos finais de
sua vida. Desse modo, acreditava-se que servia para duas coisas. A primeira era
ajudar a pessoa que morria a ter em mente a natureza de cada fenômeno novo e
maravilhoso que vivenciaria. A segunda era ajudar aqueles que seguiam vivos a ter
pensamentos positivos e não prender o morto com seu amor e preocupação
emocional, para que ele pudesse entrar nos planos de pós-morte com um estado
mental apropriado, livre de todas as preocupações do corpo.
Para cumprir tais finalidades, o livro contém uma longa descrição dos vários estágios
pelos quais o espírito passa depois da morte física. A correspondência entre os
primeiros estágios da morte que o livro relata e aqueles recontados a mim por
aqueles que estiveram perto da morte é bastante fantástica.
Na descrição tibetana, a mente ou alma do falecido abandona o corpo. Algum tempo
depois, a alma entra num “desmaio” e se encontra num vazio – não um vazio físico,
mas um que é, de fato, sujeito ao seu próprio tipo de limites, em que sua consciência
ainda existe. Ela pode ouvir sons e barulhos alarmantes e perturbadores descrito
como rugidos, trovões e assobios, como o vento, e geralmente se encontra, bem
como tudo à sua volta, envolto em uma iluminação cinza e nebulosa.
Ela fica surpresa ao encontrar-se fora do corpo físico. Vê e ouve seus parentes e
amigos velando seu corpo e preparando-o para o funeral. Mesmo assim, quando tenta
conversar, ninguém pode vê-la ou ouvi-la; ainda não percebe que está morta e fica
confusa. Pergunta a si mesma se está morta e, quando percebe que está, fica
imaginando para onde deve ir ou o que deve fazer. Um grande arrependimento se
instala e ela fica deprimida com sua condição. Por um tempo, continua perto dos
lugares com os quais estava familiarizada na vida física.
Percebe que ainda está num corpo – chamado de corpo “brilhante” – que não parece
consistir de substância material. Portanto, pode atravessar rochas, paredes, e até
mesmo, montanhas, sem encontrar resistência alguma. Viajar é quase instantâneo.
Para onde desejar ir, chega em apenas um instante. Seu pensamento e percepção
estão menos limitados; a mente fica mais lúcida, e os sentidos parecem estar mais
apurados, perfeitos e próximos da natureza do divino. Se na vida física foi cega, surda
ou aleijada, fica surpresa ao descobrir que em seu corpo “brilhante” todos esses
sentidos, bem como todos os poderes do corpo físico, foram restaurados e
intensificados. Talvez encontre outros seres no mesmo tipo de corpo, e talvez
encontre o que é chamado de uma luz clara ou pura. Os tibetanos aconselham a
pessoa que está perto da morte a aproximar-se dessa luz e tentar sentir apenas amor
e compaixão pelos demais.
Em resumo, muito embora O livro dos mortos tibetano inclua muitos estágios
posteriores à morte, nenhum dos meus entrevistados chegou a vivenciá-los. É
bastante óbvio que há uma semelhança marcante entre a descrição desse manuscrito
ancestral e os eventos que foram relatados a mim por norte-americanos do século
vinte.
EMANUEL SWEDENBORG
Seus últimos trabalhos estão repletos de descrições vívidas de como é a vida depois
da morte. Novamente, a correlação entre o que ele escreve acerca de algumas de
suas experiências espirituais e aquilo que as pessoas que voltaram de seu contato
com a morte relatam é surpreendente. Por exemplo, Swedenborg descreve como é
quando as funções corporais de respiração e circulação cessam:
O homem ainda não morre, mas é apenas separado da parte corpórea que era
útil para ele no mundo... O homem, quando morre, apenas passa de um mundo para
outro17.
Swedenborg declara que ele próprio passou pelos eventos iniciais da morte e que teve
experiências fora do corpo.
Durante essa experiência, ele encontra seres que identifica como “anjos”, que lhe
perguntam se está preparado para morrer.
Todas as faculdades dos espíritos... estão num estado mais perfeito, bem como
suas sensações, pensamentos e percepções.
O homem que enfrenta a morte pode encontrar outros espíritos falecidos que
conhecia enquanto vivo. Eles estão ali para ajudá-lo durante sua passagem para o
Além.
Sua vida pregressa pode ser mostrada a ele numa visão. Ele recorda cada detalhe e
não há possibilidade de mentir ou ocultar nada.
A memória interior... é de tal forma que nela estão inscritas todas as coisas
particulares... que a qualquer momento o homem pensou, disse e fez... desde o
começo de sua infância até a extrema velhice. O homem traz consigo a memória de
todas as coisas quando entra na outra vida, e é sucessivamente levado a recordar de
tudo... Tudo o que disse e fez... é manifestado perante os espíritos, numa luz tão
clara quanto o dia... e... não há nada tão escondido no mundo que não seja
manifestado depois da morte... como se fosse visto num retrato, quando o espírito é
visto sob a luz do paraíso.
Swedenborg também descreve a “luz do Senhor” que permeia o Além; uma luz de
brilho inefável que ele próprio viu. E uma luz de verdade e compreensão.
Assim, novamente nos escritos de Swedenborg, do mesmo modo como na Bíblia, nos
trabalhos de Platão e em O livro dos mortos tibetano, encontramos paralelos
marcantes com os eventos encontrados nas experiências contemporâneas de
quase-morte. No entanto, surge naturalmente a questão se esse paralelismo é
realmente tão surpreendente. Por exemplo, alguns podem sugerir que os autores
desses vários trabalhos podem ter influenciado um ao outro. Tal assertiva pode ser
sustentada em alguns casos, mas não em outros. Platão admite que derivou alguns
de seus insights parcialmente do misticismo religioso oriental, então ele pode ter sido
influenciado pela mesma tradição que produziu O livro dos mortos tibetano. As ideias
da filosofia grega, por sua vez, influenciaram certos escritores do Novo Testamento e
pode-se argumentar que a discussão de Paulo sobre o corpo espiritual tem algumas
de suas raízes em Platão.
Por outro lado, na maioria dos casos, não é fácil estabelecer que tal influência possa
ter ocorrido. Cada escritor parece revelar alguns detalhes interessantes que também
são recorrentes nas minhas entrevistas, mas que não poderiam ser obtidos de autores
anteriores. Swedenborg leu a Bíblia e estava familiarizado com Platão. Entretanto, ele
alude, várias vezes, ao fato de que alguém que acabou de morrer pode não perceber
que está morto por algum tempo. Esse fato, que surge várias vezes nas narrativas
daqueles que estiveram perto da morte, aparentemente não é mencionado nem na
Bíblia nem por Platão. Entretanto, é enfatizado em O livro dos mortos tibetano, um
trabalho que Swedenborg não poderia ter lido. Na verdade, o livro não havia sido
traduzido até 1927.
É possível que as experiências de quase-morte que reuni foram influenciadas pelo tipo
de trabalhos aqui expostos? Todas as pessoas com quem conversei tiveram alguma
exposição à Bíblia, antes de suas experiências, e duas ou três sabiam alguma coisa
sobre as ideias de Platão. Por outro lado, ninguém estava ciente da existência de tal
esoterismo como os trabalhos de Swedenborg ou O livro dos mortos tibetano. Mesmo
assim, muitos detalhes que não aparecem na Bíblia, ou até mesmo em Platão,
constantemente surgem nas descrições que reuni, e essas correspondem exatamente
aos fenômenos e eventos mencionados nas fontes mais incomuns.
PERGUNTAS
Neste momento, muitas dúvidas e objeções terão ocorrido ao leitor. Nesses anos que
venho ministrando palestras, fechadas e públicas, sobre o assunto, muitas perguntas
foram feitas. Em geral, costumo receber perguntas sobre as mesmas coisas na
maioria das ocasiões, então pude compilar uma lista dessas perguntas feitas com
mais frequência. Neste capítulo e no próximo vou abordar essas questões.
Não, não estou. Gostaria muito de seguir uma carreira no ensino da psiquiatria e da
filosofia da medicina, e tentar perpetrar uma mentira não me levaria de maneira
nenhuma a esse caminho.
Ademais, minha experiência mostra que qualquer pessoa que fizer perguntas
compassivas e atenciosas entre seus conhecidos, amigos e parentes sobre a
ocorrência de tais experiências logo verá que suas dúvidas se dissiparão.
Mas você não está sendo irrealista? Afinal, essas experiências não são tão
comuns.
Se as experiências de quase-morte são tão comuns como você diz, por que
não é um fato, em geral, mais conhecido?
Parece haver várias razões para isso. Em primeiro lugar, acredito que está o fato de
que o nosso tempo, em geral, é decididamente contra discussões sobre a
possibilidade de sobrevivência à morte corporal. Vivemos numa época em que a
ciência e a tecnologia deram passos enormes rumo à compreensão e conquista da
natureza. Conversar sobre a vida depois da morte parece, de algum modo, atávico
para muitas pessoas que talvez sintam que a ideia pertence mais ao nosso passado
“supersticioso” do que ao nosso presente “científico”. Do mesmo modo, as pessoas
que passaram por experiências que estão fora do domínio da ciência, como as que
citamos, são ridicularizadas. Cientes dessas atitudes, é compreensível que as pessoas
que passaram por experiências transcendentais geralmente fiquem relutantes em
contá-las abertamente. Na verdade, estou convencido de que uma grande massa de
material está escondida na mente dessas pessoas, que, por medo de serem rotuladas
de ”loucas” ou “superimaginativas”, nunca contaram para mais de um ou dois amigos
ou parentes.
De maneira similar, depois de uma palestra que fiz recentemente, abri espaço para
discussão, e um médico fez a primeira pergunta: ”Sou médico há muito tempo. Se
essas experiências são tão comuns como você diz, por que ainda não ouvi nada sobre
elas?” Sabendo que provavelmente haveria alguém ali que deparara com um caso ou
dois, imediatamente voltei a questão para a plateia. Perguntei: “Mais alguém aqui já
ouviu alguma coisa desse tipo?” Nesse momento, a esposa do médico ergueu a mão e
relatou a história de um amigo muito próximo deles.
Para dar outro exemplo, um médico que conheço tomou contato com experiências
desse tipo ao ler um velho artigo de jornal sobre uma palestra que dei. No dia
seguinte, sem ser solicitado, um paciente fez uma descrição de uma experiência
bastante similar. O médico disse que o paciente não poderia ter ouvido ou lido sobre
meus estudos. De fato, o paciente contou sua história apenas porque estava confuso
e de alguma forma alarmado pelo que havia acontecido com ele e estava buscando
uma opinião médica. Pode muito bem ter acontecido que, em ambos os casos, os
médicos envolvidos ouviram alguns casos como esses antes, mas os consideraram
como uma “loucura” individual em vez de um fenômeno amplo e não deram total
atenção ao fato.
Finalmente, existe um fato adicional, no caso dos médicos, que pode ajudar a explicar
por que tantos deles parecem ter ciência dos fenômenos de quase-morte, muito
embora seja normal suspeitar que os médicos, de todas as pessoas, teriam de ter
deparado com eles. No decorrer dos estudos de medicina, é ensinado aos futuros
médicos que eles devem tomar cuidado com o que o paciente diz sobre como se
sente. Um médico aprende que deve prestar atenção aos “sinais” objetivos dos
processos de enfermidades, mas que deve desconsiderar boa parte do relatório
subjetivo (“sintomas”) do paciente. É muito razoável que se aja dessa maneira,
porque é possível lidar mais prontamente com o que é objetivo. Entretanto, essa
atitude também tem o efeito de ocultar experiências de quase-morte, já que poucos
médicos têm a prática de perguntar sobre os sentimentos e percepções dos pacientes
que foram ressuscitados da morte clínica. Por causa dessa atitude, eu diria que os
médicos - que na teoria deveriam formar o grupo mais propenso a revelar
experiências de quase-morte – na verdade tem a mesma chance de ouvir sobre
experiências de quase-morte que as outras pessoas.
Embora não possa oferecer nenhuma explicação para isso, aparentemente não sou o
único a notar o fato. O doutor Russel Moores, notável pesquisador, disse-me que ele e
muitos outros observaram a mesma copisa. Os homens, em cerca de um terço do
número de mulheres, vêm até ele relatando uma experiência física.
Como você sabe que todas essas pessoas não estão mentindo para você?
É intelectualmente muito fácil para as pessoas que não ouviram nem observaram
outras relatando suas experiências de quase-morte admitir a hipótese de que essas
histórias são mentiras. Entretanto, encontro-me numa posição bastante única.
Testemunhei adultos maduros e emocionalmente estáveis – tanto homens como
mulheres – cair no choro enquanto contavam os eventos que aconteceram até três
décadas atrás. Detectei a sinceridade, o calor e o sentimento da voz deles, o que não
pode ser transmitido num relato por escrito. Assim, para mim, de uma maneira que é
infelizmente impossível de ser compartilhada com muitos outros, a noção de que
essas descrições possam ser invenções é inconcebível.
Além do peso da minha própria opinião, existem algumas fortes considerações que
devem descartar a hipótese de invenção. O mais óbvio é a dificuldade de explicar a
semelhança de tantas descrições. Como tantas pessoas poderiam ter inventado a
mesma mentira para me contar num período de oito anos? A conspiração permanece
como uma possibilidade teórica aqui. É certamente concebível que uma doce senhora
do leste da Carolina do Norte, uma estudante de medicina de Nova Jersey, um
veterinário da Geórgia e muitos outros tenham se reunido vários anos atrás e
conspirado para pregar uma peça bastante elaborada em mim. Entretanto, não
imagino que essa seja uma possibilidade muito grande!
Essa pergunta aponta para o fenômeno psicológico bastante conhecido em que uma
pessoa pode começar com um relato bastante simples de uma experiência ou evento
e, com o passar do tempo, desenvolvê-lo numa narrativa mais elaborada. A cada vez
que se conta, um detalhe sutil é acrescentado, e a pessoa passa a acreditar naquilo
até que, por fim, a história está tão elaborada que guarda pouca semelhança com a
original.
Contudo, não acredito que esse mecanismo estivesse operante num grau significativo
nos casos que estudei. Em primeiro lugar, as descrições das pessoas que entrevistei
logo após sua experiência – em alguns casos, enquanto ainda estavam em
recuperação no hospital – são bastante iguais às descrições das pessoas que
relataram experiências que ocorreram há décadas. Ademais, em alguns casos, as
pessoas que entrevistei escreveram as descrições de suas experiências logo após
terem acontecido e leram para mim suas anotações durante a entrevista. Novamente,
essas descrições de suas experiências que foram recontadas de memória após alguns
anos. Além disso, existe o fato de que com frequência fui a primeira ou a segunda
pessoa a ouvir o relato, e ainda nesse momento com grande relutância, mesmo nos
casos em que a experiência havia ocorrido anos antes. Embora houvesse pouca ou
nenhuma oportunidade para elaborar em tais casos, essas descrições também não
são diferentes daquelas que foram recontadas com maior frequência com o passar
dos anos. Finalmente, é bastante possível que em muitos casos tenha ocorrido
exatamente o oposto. Aquilo que os psiquiatras chamam de “supressão” é um
mecanismo mental em que um esforço consciente é feito para controlar lembranças,
sentimentos ou pensamentos indesejados ou ocultá-los da consciência. Em
numerosas ocasiões, no curso das entrevistas, as pessoas fizeram comentários que
indicam fortemente que houve opressão. Por exemplo, uma mulher que me contou
uma experiência bastante elaborada que ocorreu durante sua “morte” disse: “Sinto
que havia mais coisas, mas não me lembro de tudo. Tentei suprimir isso porque sabia
que as pessoas não iam acreditar de jeito nenhum”. Um homem com ferimentos
graves recebidos no Vietnã sofreu uma parada cardíaca durante uma cirurgia e contou
sobre sua dificuldade de lidar emocionalmente com essas experiências
extracorpóreas. “Engasgo só de tentar falar sobre isso agora... Sinto que há muita
coisa de que não me lembro. Tentei esquecer” Resumindo, parece que podemos
afirmar que a elaboração não foi um fator muito significativo no desenvolvimento
dessas histórias.
Parece que isso aconteceu até certo ponto. Como mencionado anteriormente, embora
a descrição do ser de luz seja invariável, a identidade associada a ele varia,
aparentemente, como uma função da crença religiosa do indivíduo. Entretanto,
durante toda a minha pesquisa, não ouvi uma única referência ao paraíso ou ao
inferno como a imagem costumeira a que somos expostos nessa sociedade. Na
verdade, muitas pessoas enfatizaram como suas experiências eram diferentes daquilo
que foram levadas a esperar no curso de seu aprendizado religioso. Uma mulher que
“morreu” disse: “Sempre ouvi que quando se morre vemos tanto o céu quanto o
inferno, mas não vi nenhum dos dois”. Outra senhora que teve uma experiência fora
do corpo após ferimentos graves disse: “O estranho foi que sempre me ensinaram, na
minha religião, que no minuto em que morremos, logo estaríamos diante de lindos
portões de pérola. Mas eu estava flutuando em volta do meu próprio corpo físico, isso
era tudo! Fiquei confusa”. Além do mais, em várias situações ouvi relatos de pessoas
que não tinham nenhuma crença ou aprendizado religiosos antes de suas
experiências, e suas descrições não pareceram diferenciar em conteúdo das pessoas
com fortes crenças religiosas. Em alguns casos, alguém que tivesse sido exposto a
doutrinas religiosas, mas as houvesse rejeitado anteriormente na vida, foram dotados
de sentimentos religiosos com nova profundidade após a experiência. Outros dizem
que, embora tivessem lido livros religiosos, como a Bíblia, nunca haviam entendido
certas coisas que leram até passar pelas experiências de quase-morte.
Que relação, se é que existe alguma, as experiências que você estudou têm
com a possibilidade de reencarnação?
Nenhum dos casos que observei é, de qualquer forma, indicativo da existência da
reencarnação. Entretanto, é importante ter em mente que nenhum deles descarta a
reencarnação também. Se a reencarnação ocorre, parece provável que haja um
interlúdio em alguma outra dimensão entre o momento da separação do corpo velho e
a entrada num corpo novo. De qualquer modo, a técnica de entrevistar pessoas que
voltaram de encontros próximos com a morte não seria o modo adequado de estudar
a reencarnação.
Conheço alguns casos em que a tentativa de suicídio foi a causa da aparente “morte”.
Essas experiências foram uniformemente caracterizadas como algo desagradável.
Como disse uma mulher: “Se você partir daqui como uma alma atormentada, você
também será uma alma atormentada lá”. Em resumo, todos contam que os conflitos
que os levaram a tentar o suicídio como forma de fuga ainda estavam presentes
quando morreram, mas com complicações a mais. No estado de desencarnado, eles
eram capazes de fazer qualquer coisa acerca de seus problemas, e também tinham de
arcar com as infelizes consequências que resultavam de seus atos.
Outras pessoas que vivenciaram esse estado desagradável de “limbo” comentam que
tiveram a sensação de ter estado ali por um longo período. Essa era sua punição por
“quebrar as regras” ao tentar se libertar prematuramente do que era, em efeito, uma
“tarefa” – para cumprir um certo propósito na vida.
Tais comentários coincidem com o que vem sendo relatado a mim por várias pessoas
que “morreram” de outras coisas, mas disseram que, enquanto estavam nesse
estado, alguém lhes havia confidenciado que o suicídio era um ato muito infeliz e
digno de punição severa. Um homem que passou por uma experiência de
quase-morte após um acidente disse:
[Enquanto estive ali] tinha a sensação de que havia duas coisas completamente
proibidas de se fazer: matar-me ou matar outra pessoa... Caso eu cometesse suicídio,
estaria jogando o dom que Deus me deu na cara dele... Matar alguém seria interferir
no propósito de Deus para aquele indivíduo.
Sentimentos como esses, que já ouvi em vários relatos separados, são idênticos
àqueles incorporados na maioria das discussões teológicas e morais contra o
suicídio... uma discussão que ocorre sob várias formas nos escritos de pensadores tão
diversos quanto São Tomás de Aquino, Locke e Kant. Um suicida, na visão de Kant,
está agindo em oposição aos propósitos de Deus e chega ao outro lado visto como um
rebelde contra seu criador. São Tomás de Aquino argumenta que a vida é um dom de
Deus e que é prerrogativa Dele, e não dos homens, retirá-la.
Não, não tenho. Na verdade, uma das muitas razões pelas quais digo que meu estudo
não é “científico”, é que o grupo de indivíduos com quem conversei não é uma
amostra aleatória de seres humanos. Eu estaria muito interessado em ouvir sobre
experiências de quase-morte de esquimós, índios Kwakiutl, Navahos, Watusi e assim
por diante. Entretanto, devido às limitações geográficas e de outra natureza, não fui
capaz de localizar caso algum.
Sempre que possível, sim. Nos casos em que fui convidado a investigar, os relatórios
sustentaram as declarações da pessoa envolvida. Em alguns casos, devido à
passagem do tempo e/ou à morte das pessoas que realizaram o ressuscitamento, os
relatórios não estavam disponíveis. Os relatos em que não havia relatórios que
sustentassem os fatos não eram diferentes daqueles em que os relatórios estavam
disponíveis. Em muitos dos momentos em que os relatórios médicos eram
inacessíveis, busquei o testemunho de outras pessoas – amigos, médicos ou parentes
do informante – para assegurar que o evento de quase-morte realmente aconteceu.
Grande parte dos números e quantidades citadas na prática médica são números
aproximados, médios, e não devem ser vistos como absolutos. Cinco minutos é uma
média. É um método clínico baseado na prática de não tentar ressuscitar o paciente
após cinco minutos porque, na maioria dos casos, os prejuízos causados ao cérebro
pela falta de oxigênio já teriam ocorrido após esse tempo. Entretanto, como se trata
apenas de uma média, é de se esperar que casos individuais provem o contrário tanto
para um lado como para o outro. Na verdade, encontrei casos em que o
ressuscitamento ocorreu após vinte minutos, sem evidência alguma de danos ao
cérebro.
Uma das razões principais por que essa pergunta é tão confusa e difícil de responder
é que se trata de uma questão parcialmente semântica envolvendo o significado da
palavra “morto”. Como a controvérsia recente e acalorada em torno do transplante de
órgãos revela, a definição de morte não está, de maneira alguma, estabelecida,
mesmo entre os profissionais da área médica. Os critérios de morte variam não
apenas entre leigos e os médicos, mas também entre os próprios médicos e de
hospital para hospital. Assim, a resposta para essa pergunta vai depender do que
significa estar “morto”. Parece proveitoso aqui observar três definições e comentar
sobre elas.
Alguns estarão dispostos a dizer que uma pessoa está “morta” se o coração
parar de bater e a respiração cessar por um longo tempo, a pressão
sanguínea cair abaixo do nível detectável, as pupilas dilatarem, a
temperatura do corpo começar a cair etc. Essa é a definição clínica que vem
sendo empregada há séculos por médicos e leigos. De fato, a maioria das
pessoas que foram declaradas mortas foi julgada assim, com base nesses
critérios. Não há dúvida de que esse padrão clínico foi encontrado em muitos
dos casos que estudei. Tanto o testemunho dos médicos quanto a evidência
dos relatórios sustentam adequadamente a alegação de que “mortes” nesse
sentido ocorreram.
Terceiro, mesmo que eu pudesse produzir um caso em que ficasse claro que
a máquina estava montada adequadamente, ainda haveria um problema.
Alguém poderia dizer que não evidências de que a experiência de
quase-morte realmente ocorreu durante o momento em que o EEG esteve
plano, mas sim antes ou depois. Dessa forma, concluo que o EEG não é de
grande valia no estágio presente das investigações.
3. “Morte” como uma perda irreversível das funções vitais. Outros adotarão
uma definição ainda mais restrita, acreditando que nunca se pode dizer que
uma pessoa esteve “morta”, sem importar o tempo em que os sinais vitais
não puderam ser detectados clinicamente e sem importar o tempo em que
seu EEG esteve plano, se a pessoa foi ressuscitada a seguir. Em outras
palavras, a morte é definida como um estado do corpo do qual é impossível
ser revivido. Por essa definição, fica claro que nenhum dos meus casos se
qualificaria, já que todos eles envolvem uma ressurreição.
Desse modo, percebi que a resposta para a questão depende do que significa
estar “morto”. Deve-se lembrar que, embora se trata de uma discussão
parcialmente semântica, não deixa de ser uma questão importante, porque
todas as três definições incorporam revelações importantes. De fato, eu
concordaria com a terceira e mais rigorosa definição até certo ponto. Até
mesmo nos casos em que o coração parou de bater por longos períodos, os
tecidos do corpo, especialmente do cérebro, devem de alguma forma ter sido
aspergidos (fornecidos com oxigênio e nutrientes) na maior parte do tempo.
Não é necessário que se presuma, nesses casos, que qualquer lei da biologia
ou fisiologia foi violada. Para ocorrer o ressuscitamento, algum grau de
atividade biológica residual deve estar em andamento nas células do corpo,
muito embora os sinais evidentes desses processos não sejam detectáveis
clinicamente pelos métodos empregados. Entretanto, atualmente parece ser
impossível determinar exatamente qual é o ponto de onde não há volta. Pode
variar de acordo com o indivíduo, e possivelmente não é um ponto fixo, mas
uma gama numa linha contínua. Na verdade, há algumas décadas a maioria
das pessoas com quem conversei não poderia ter sido trazida de volta. No
futuro, talvez, novas técnicas nos permitam reavivar pessoas que não podem
ser salvas atualmente.
Por fim, tudo o que desejo dizer é isso: seja qual foi a definição dada para
esse ponto de morte irreversível – seja no passado, presente ou futuro – as
pessoas com quem conversei estiveram muito mais próximas disso do que a
grande maioria dos seres humanos. Simplesmente por essa razão, estou
bastante disposto a ouvir o que eles têm a dizer.
Dentre os vários tipos de explicações que podem ser propostas teoricamente, existem
algumas que foram sugeridas com bastante frequência pelos espectadores das minhas
palestras. Do mesmo modo, lidarei agora com essas explicações mais comuns, e com
outra que, embora nunca tenha sido proposta a mim, poderia muito bem ter sido.
Dividi-las arbitrariamente em três tipos: Sobrenaturais, Naturais (científicas) e
Psicológicas.
EXPLICAÇÕES SOBRENATURAIS
1. A explicação farmacológica
Isso é tudo o que me lembro. Não tive medo nem pânico diante da ideia de
morrer. Naquele momento da minha vida, eu tinha medo de ir para o inferno, mas
quando aconteceu o que relatei, não havia dúvida em minha mente de que estava
indo para o céu. Fiquei muito surpresa mais tarde ao me dar contra de que o
pensamento da morte não me incomodou, mas finalmente percebi que no meu estado
de anestesia nada ma incomodava.
Perceba que existem alguns pontos de semelhança entre essa experiência e algumas
outras presumidas como reais por aqueles que as vivenciaram. Uma mulher
descreveu uma luz branca e brilhante, o encontro com outras pessoas que estavam ali
para levá-la para o outro lado e a falta de preocupação com o fato de estar morta.
Também existem dois aspectos que sugerem uma experiência fora do corpo: sua
impressão de ouvir as vozes do dentista e da enfermeira de uma posição acima deles
e a sensação de estar “flutuando”.
Por outro lado, outros detalhes dessa história são muito atípicos das experiências de
quase-morte relatadas como algo que efetivamente aconteceu. A luz brilhante não é
personificada e não há sentimentos inegáveis de paz e felicidade. A descrição do
mundo depois da morte é muito literal, e a mulher diz que tudo o que vê concorda
com sua crença religiosa. Os seres que a encontraram são identificados como “anjos”,
e ela fala sobre ir para o “céu”, que está localizado numa posição “acima”, para onde
ela irá. Ela nega ter visto seu corpo ou estar em qualquer outro tipo de corpo, e sente
plenamente o movimento de rotação da cadeira do dentista, e não do seu próprio
corpo. Ela enfatiza várias vezes a imprecisão de sua experiência, que aparentemente
não teve efeito algum em sua crença numa vida depois da morte. (Na verdade, ela
tem dúvidas da sobrevivência à morte do corpo).
Uma das suposições da farmacologia médica moderna é a noção, que também parece
ter ganhado aceitação entre a grande massa de leigos na nossa sociedade, de que
drogas psicoativas causam episódios psíquicos quando seu uso é associado. Esses
eventos psíquicos são, portanto, considerados “irreais”, “alucinatórios, “ilusórios” ou
que acontecem “só na mente”. Deve-se lembrar, no entanto, que essa visão não é de
forma alguma aceita universalmente; existe outra visão do relacionamento entre
drogas e experiências associados ao seu uso. Refiro-me ao uso inicial e exploratório
do que podemos chamar de drogas “alucinógenas”. Através das eras, os homens
buscaram compostos psicoativos numa tentativa de alcançar outros estados de
consciência e planos de realidade18. Portanto, o uso de drogas é historicamente
associado não apenas a religião e a busca por iluminação. Por exemplo, nos rituais
bastante divulgados do culto ao peiote encontrado entre os índios (planta da família
das cactáceas, que contém a substância mescalina) é ingerido para se chegar a visões
e à iluminação religiosa. Existem cultos similares em todo o mundo, e seus membros
compartilham a crença de que a droga que utilizam fornece meios de se passar para
outras dimensões de realidade. Supondo que esse ponto de vista seja válido, poderia
se chegar à hipótese de que o uso de drogas seria apenas um caminho dentre vários
que levam à iluminação e à descoberta de outros planos de existência. Desse modo, a
experiência de morrer poderia ser outro caminho, e tudo isso ajudaria a explicar a
semelhança entre as experiências induzidas por drogas, como a citada anteriormente,
e as experiências de quase-morte.
A EXPLICAÇÃO FISIOLÓGICA
A fisiologia é o ramo da biologia que lida com as funções das células, dos órgãos, e o
corpo inteiro dos seres humanos, além das inter-relações entre essas funções. Uma
explicação fisiológica para o fenômeno de quase-morte que ouvi com frequência é
que, como o suprimento de oxigênio para o cérebro é interrompido durante a morte
clínica e alguns outros tipos de estresse corporal severo, o fenômeno presenciado
deve representar algum tipo de último suspiro compensatório do cérebro que está
morrendo.
O erro principal nessa hipótese é simplesmente o seguinte: como pode ser facilmente
visto na pesquisa de experiências de morte relatadas anteriormente, muitas dessas
experiências aconteceram muito antes que qualquer tipo de estresse fisiológico
ocorresse. Na verdade, em alguns casos não houve nenhum tipo de ferimento
corporal durante o encontro. Mesmo assim, todos os elementos que aprecem nos
casos de ferimentos graves também podem ser vistos em outros casos em que não
houve ferimento envolvido.
A EXPLICAÇÃO NEUROLÓGICA
Quando as imagens surgem, ainda posso ver o que está acontecendo à minha
volta, mas minha consciência é diminuída. Não fico tão alerta. É quase como se
metade da minha mente estivesse ocupada com as imagens, e a outra metade
ocupada com que está acontecendo. As pessoas que me viram durante um ataque
dizem que dura apenas cerca de uns minutos, mas para mim parece durar décadas.
Existem certas semelhanças óbvias entre esses ataques, que sem dúvida foram
ocasionados por um foco de irritação no cérebro, e a memória panorâmica relatada
por algumas pessoas que entrevistei. Por exemplo, a epilepsia desse homem assumiu
a forma de imagens visuais que eram incrivelmente vívidas e realmente
tridimensionais. Além disso, as imagens pareciam simplesmente surgir, livres de
qualquer intenção da parte dele. Ele também conta que as imagens apareciam com
grande rapidez e enfatiza a distorção de sua noção de tempo que se passou durante o
ataque.
Por outro lado, existem diferenças marcantes também. Diferentes das imagens vistas
nas experiências de quase-morte, as memórias não vieram na ordem de sua vida,
nem foram vistas todas de uma vez, numa visão unificada. Não eram ênfases nem
eventos significativos de sua vida; ele enfatiza sua trivialidade. Portanto, não
pareciam ser apresentadas a ele com propósitos educacionais ou de julgamento.
Embora muitos que passaram pela quase-morte digam que depois da revisão podiam
lembrar dos eventos de sua vida com muito mais clareza e riqueza de detalhes do que
antes, esse homem declara que não podia lembrar quais eram as imagens específicas
após o ataque.
Embora essa experiência seja de alguma forma análoga às visões fora do corpo
descritas anteriormente, as diferenças são muito superiores às semelhanças. O
fantasma autoscópico sempre é percebido como alguém, vivo – às vezes é visto pelo
sujeito como ainda mais vivo e consciente de que ele próprio – enquanto nas
experiências fora do corpo, o corpo é visto como algo sem vida, apenas uma casca. A
pessoa autoscópica pode “ouvir” sua cópia conversar com ela, dar-lhe instruções,
assombrá-la, e assim por diante. Embora, na maioria das vezes, todo o corpo é visto
nas experiências extracorpóreas, cópia autoscópica é vista com muito mais
frequência apenas do tórax ou do pescoço para cima.
Por volta de onze horas de uma noite de verão, cerca de dois anos antes de
minha esposa e eu nos casarmos, eu a estava levando para casa no meu carro
conversível. Estacionei o carro numa rua pouco iluminada na frente da casa dela, e
ambos ficamos surpresos ao erguer os olhos ao mesmo tempo e ver imagens
enormes de nós mesmos, da cintura para cima e sentados lado a lado, nas grandes
árvores que cobriam a rua, cerca de três metros à nossa frente. As imagens eram
escuras, quase como silhuetas, e eram réplicas exatas. Nenhum de nós teve
dificuldade alguma em reconhecê-los na mesma hora. Elas se moviam, mas não
imitando nossos movimentos, já que estávamos apenas sentados observando. Elas
faziam coisas do tipo: minha imagem pegou um livro e mostrou algo nele para a
imagem da minha esposa, e ela se debruçou para olhar o livro mais de perto.
Enquanto estávamos sentados ali, narrei a cena por algum tempo – dizia à
minha esposa o que via as imagens fazendo – e o que dizia era exatamente o que ele
havia visto também. Depois trocamos. Ela passou a dizer o que estava vendo e era
exatamente o que eu havia visto.
Ficamos ali sentados e conversando sobre isso. Acho que poderíamos ter
continuado assim pelo resto da noite. Mas minha esposa precisava entrar, então
finalmente subimos os degraus juntos até a porta da casa dela. Quando voltei, vi as
imagens novamente, e elas ainda estavam ali quando me afastei.
Não havia chance de ser nenhum tipo de reflexo no pára-brisa porque o topo do
carro estava abaixado e estávamos olhando por cima do vidro o tempo todo. Nenhum
de nós bebia – e ainda não bebemos – e isso foi três anos antes de termos ouvido
qualquer coisa sobre LSD ou drogas do gênero. Também não estávamos cansados,
embora fosse tarde da noite, então não estávamos dormindo e sonhando com isso.
Estávamos bastante despertos, alertas, surpresos e excitados ao observar as imagens
e conversar sobre elas.
É preciso concordar que as alucinações autoscópicas são, de muitas formas, como o
fenômeno extracorporal associado com a experiência de quase-morte. Entretanto,
mesmo que quiséssemos nos concentrar em todos os pontos de similaridades e
negligenciar as diferenças completamente, a existência das alucinações autoscópicas
não nos daria uma explicação para a ocorrência de experiências fora do corpo. Muitas
explicações conflituosas foram propostas, e por diferentes neurologistas e psiquiatras,
mas isso ainda está em debate, e nenhuma teoria ganhou aceitação geral. Assim,
tentar explicar todas as experiências extracorpóreas como alucinações autoscópicas
seria simplesmente substituir uma frustração por um enigma.
EXPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS
A psicologia ainda não conquistou nada próximo do grau de rigor e precisão que
outras ciências atingiram na era moderna. Os psicólogos ainda estão divididos entre
escolas de pensamentos com pontos de vista, métodos investigativos e compreensões
fundamentais conflituosas sobre a existência e a natureza da mente. As explicações
psicológicas para experiências de quase-morte, portanto, variam amplamente de
acordo com a escola de pensamento a que pertence o explanador. Em vez de
considerar cada tipo de explicação psicológica que poderia ser proposta, vou me
prender às poucas que ouvi com mais frequência dos membros das minhas plateias, e
a uma que chamou minha atenção como a mais atraente.
1. PESQUISA DE ISOLAMENTO
Os dados sobre situações desse tipo foram reunidos de diversas formas. Relatos
escritos das experiências de exploradores solitários nos polos ou de únicos
sobreviventes de naufrágios trazem muitas informações. Durante as últimas
décadas, os pesquisadores tentaram investigar fenômenos similares em
condições de laboratório. Uma técnica amplamente usada tem sido suspender
um voluntário num tanque de água que esteja na mesma temperatura do seu
corpo. Isso minimiza as sensações de peso e temperatura. Ele fica vendado e
com os ouvidos tapados para intensificar os efeitos do tanque escuro e à prova
de som. Os braços são presos em tubos para que ele não possa movê-los, e
assim fica privado de muitas sensações normais do movimento das juntas e do
posicionamento.
Do mesmo modo, existem certos aspectos das situações de morte que são
muito parecidas com as características encontradas nas experiências e estudos
de isolamento. Os pacientes que estiveram próximos da morte são
frequentemente em condições e imobilizados nas UTIs dos hospitais,
frequentemente em condições de som e luz reduzidos e nenhuma visita.
Pode-se até mesmo questionar se as mudanças fisiológicas associadas com a
morte do corpo poderiam produzir um tipo extremo de isolamento que
resultasse num corte quase total dos estímulos sensoriais no cérebro. Além
disso, como longamente discutido anteriormente, muitos pacientes que
estiveram próximos da morte me contaram sobre as sensações aflitivas de
isolamento, solidão e privação do contato humano que se abateram sobre eles
quando estavam fora do corpo.
Pode-se muito bem perguntar como classificar essa experiência, já que ela tem
pontos de semelhança tanto com as experiências de quase-morte como com as de
isolamento. Parece bastante análoga às experiências de quase-morte em que houve
encontro com os espíritos de indivíduos que já haviam partido, e ao mesmo tempo
diferente pelo fato de nenhum outro fenômeno ter ocorrido. De maneira interessante,
num estudo de isolamento, um sujeito que esteve sozinho num cubículo por algum
tempo descreveu alucinações em que via imagens de homens famosos flutuando
perto dele. Assim, a experiência citada deve ser classificada como experiência de
quase-morte ocasionada pela doença grave do paciente, ou como experiência de
isolamento devido às condições de confinamento necessárias em razão de seu estado
de saúde? Pode até mesmo ser o caso de não haver critério absoluto que nos permita
classificar tal experiência em duas categorias distintas. Talvez sempre haverá
casos-limites.
Embora essa ideia seja um pouco estranha à nossa estrutura de crenças ocidental e
contemporânea, ainda existem numerosos proponentes, até mesmo na nossa
sociedade. Um dos pesquisadores de isolamento mais antigos e influentes, John Lilly,
M.D., escreveu um livro, uma autobiografia espiritual, intitulado The Center of the
Cyclone (O centro do ciclone). Nesse livro, ele deixa claro que enxerga as
experiências que viveu em condições de isolamento como experiências reais de
iluminação e descoberta, e não algo “irreal” ou “ilusório”. Também é interessante
notar que ele conta uma experiência própria de quase-morte que é bastante similar
àquelas com que lidei, e que ele coloca as experiências de quase-morte, na mesma
categoria que suas experiências de isolamento. Portanto, o isolamento pode ser, junto
com as drogas alucinógenas e a proximidade da morte, uma das várias maneiras de
entrar em novas realidades de consciência.
Talvez alguns possam dizer que as experiências de quase-morte são apenas sonhos,
fantasias ou alucinações que preenchem desejos e que são trazidos à cena por
diferentes fatores – drogas em um caso, hipoxia cerebral em outro, isolamento em
outro, e assim por diante. Desse modo, isso explicaria as experiências de
quase-morte como ilusões.
Acredito que diversos fatores pesam contra isso. Primeiro, considere a grande
semelhança em conteúdo e progressão que encontramos entre as descrições, apesar
do fato de que aquilo que é mais comumente relatado não ser aquilo que mais
frequentemente se imagina, em nosso ambiente cultural, que acontecerá com os
mortos. Além disso, vemos que a imagem dos eventos de morte que emergem desses
relatos corresponde de maneira marcante com aquilo descrito em literatura bastante
antiga e esotérica, que é totalmente desconhecida dos meus entrevistados.
Em segundo lugar, permanece o fato de que as pessoas com quem conversei não
serem vítimas de psicoses. Pareceram-me pessoas emocionalmente equilibradas e
normais, com posições funcionais na sociedade. Elas têm trabalhos e posições de
importância e desenvolvem seu trabalho de maneira responsável. Têm casamentos
estáveis e estão envolvidas com seus familiares e amigos. Quase ninguém com quem
conversei teve mais do que uma experiência estranha no curso de sua vida. E, ainda
mais significativo, esses informantes são pessoas que sabem distinguir sonhos de
experiências quando acordados.
Ainda, são pessoas que contam pelo que passaram ao chegar próximos da morte, não
como sonhos, mas como eventos que aconteceram com eles. Quase, invariavelmente,
garantem-me no curso da narrativa que as experiências não foram sonhos, mas
definitiva e enfaticamente reais.
Como nota final, deixe-me expor que as “explicações” não são apenas sistemas
intelectuais abstratos. São também, em alguns aspectos, projeções dos egos das
pessoas envolvidas com elas. As pessoas ficam presas emocionalmente, por assim
dizer, aos cânones da explicação científica que elas desenvolvem ou adotam.
Embora eu queira enfatizar novamente que não estou propondo uma nova explicação
minha sobre tudo isso, tentei dar algumas razões pelas quais as explicações
frequentemente propostas me parecem, no mínimo, questionáveis. Na verdade, tudo
o que realmente quero sugerir é isso: vamos ao menos abrir a possibilidade de que as
experiências de quase-morte representam um novo fenômeno para o qual pode ser
necessário desenvolver novos modos de explicação e interpretação.
IMPRESSÕES
Ao escrever este livro, eu estava bem consciente de que meu propósito e perspectivas
poderiam ser facilmente incompreendidos. Em especial, gostaria de dizer aos leitores,
que se preocupam com a ciência, que estou completamente ciente de que aquilo que
fiz aqui não constitui um estudo científico. E, aos meus colegas filósofos, insisto em
que não estou sob a ilusão de que provei aqui que existe vida depois da morte. Lidar
com essas questões cuidadosamente envolveria a discussão de detalhes técnicos que
estão além do escopo deste livro, então irei me limitar aos breves comentários a
seguir.
Na lógica, aquilo que se pode ou não dizer que segue de um dado conjunto de
premissas não é de maneira alguma uma questão casual. Trata-se de algo definido
vigorosa e precisamente por regras, convenções e leis. Quando alguém diz que
chegou a uma determinada “conclusão”, essa pessoa está implicitamente declarando
que qualquer um que comece com as mesmas premissas deve chegar à mesma
conclusão, a menos que cometa um erro de lógica.
Então fico sem conclusões, evidências ou provas, mas com algo bem menos definido –
sentimentos, questões, analogias, fatos incompreensíveis a serem explicados. Na
verdade, pode ser mais apropriado perguntar, não a quais conclusões cheguei com
base nos meus estudos, mas como esse estudo me afetou pessoalmente. Em
resposta, só posso dizer que existe algo bastante persuasivo em ver uma pessoa
descrever sua experiência que não pode ser facilmente transmitida por escrito. Suas
experiências de quase-morte são eventos bastante reais para essas pessoas, e
através de minha associação com elas, as experiências se tornaram eventos reais
para mim.
Contudo, percebo que se trata de uma consideração psicológica e não lógica. A lógica
é uma questão pública, e as considerações psicológicas não são públicas da mesma
forma. Uma pessoa pode ser afetada ou mudar de certa forma enquanto outra muda
de maneira diferente devido ao mesmo conjunto de circunstâncias. É uma questão de
disposição e temperamento, e não desejo sugerir que minha própria reação a esse
estudo deva ser uma lei para o raciocínio de qualquer outra pessoa. Em vista disso,
pode-se perguntar: “Se a interpretação dessas experiências é, por fim, uma questão
tão subjetiva, por que estudá-las? Não consigo pensar em outra forma de responder a
não ser apontando novamente para a preocupação humana universal com a natureza
da morte. Acredito que qualquer tipo de luz que possa ser lançada sobre a natureza
da morte vem para o bem.
EPÍLOGO
É muito comum que alguém na cabeceira de uma pessoa que está morrendo
participe, por empatia, da experiência de morte dessa outra pessoa. Centenas de
pessoas maravilhosas de todas as posições sociais me contaram que, conforme um
ente querido morria, eles próprios saíram do corpo e acompanharam o ser amado em
direção a uma luz linda e amorosa. Também descreveram ter visto parentes
desencarnados que vinham recepcionar aquele que acabara de fazer a passagem. Na
verdade, todos os elementos que comumente se acredita fazer parte da definição de
experiência de quase-morte também são mencionados por aqueles que contam
experiências de morte empática.
Quer essas aparições dos falecidos ocorram dentro do contexto de uma experiência de
quase-morte, ou de luto, elas ajudam as pessoas a seguir em frente no processo de
pesar com maior sucesso. Portanto, é muito interessante saber que, no mundo antigo,
existiam procedimentos que permitiam que as pessoas em estado de consciência
desperta vissem e conversassem com aparições em três dimensões, em tamanho real
e dotadas de movimento daqueles que haviam perdido para a morte.
Para minha grande surpresa, aqueles que participaram desse procedimento tomaram
a experiência como um contato real com o desencarnado e não têm dúvida de sua
realidade. Talvez o mais importante é que os participantes dizem que esses encontros
trazem uma cura para seu pesar não resolvido. Desde que relatei essas descobertas
em 1992, tenho recebido confirmações independentes de muitos outros psicólogos em
todo o mundo. Mais recentemente, meu método de evocar os desencarnados foi
reproduzido por investigadores num grande instituto de formação de psicoterapeutas.
Membros da faculdade e estudantes do Instituto de Psicologia Transpessoal na
Califórnia replicaram minha pesquisa inicial com resultados idênticos. O espaço não
permite uma descrição cuidadosa desse método, mas os leitores interessados
encontrarão um relato completo em meu livro Reunions: visionary encounters with
departed loved ones (Reencontros: contatos espirituais com amigos e parentes
desencarnados).
Terceiro, as observações que relato em A vida depois da vida são apenas uma
pequena parte de um projeto de pesquisa muito maior que venho conduzindo desde
1963. Esse projeto culminou na produção de um programa multimídia de
auto-instrução que inicialmente orientará apenas poucos participantes até o outro
lado. O programa também nos prepara para colocar o que vivenciamos do outro lado
em palavras. O resultado dessa pesquisa é criar um círculo de indivíduos que estará
numa posição privilegiada e única para formular um conceito literal da vida depois da
morte com propósito de investigação racional.
Estou certo de que o trabalho que estou anunciando aqui vai gerar discussão entre
entusiastas cuidadosos dos fenômenos paranormais. Certamente parece inacreditável
que possa haver um procedimento para chegar ao outro lado para uma visita curta e
retornar em segurança. Entretanto, descobri como pode ser feito e estou pronto para
defender minha afirmação.
Isso significa que finalmente existe prova científica de uma vida depois da morte?
Não, mas significa que um grande passo foi dado para colocar a ideia da vida depois
da morte numa posição mais segura. E a nova abordagem desse trabalho anuncia um
avanço significativo na compreensão das experiências de quase-morte e muitas outras
manifestações incomuns da consciência humana, incluindo fenômenos paranormais21.
Para mim, o mercantilismo cruel que explorou o interesse público pelas experiências
de quase-morte é uma tragédia pessoal. Numa típica semana de trabalho vejo uma
série de pessoas que estão passando pelas agonias do luto pela perda de um em te
querido. Sei que muitas dessas pessoas buscam desesperadamente livros sobre a vida
depois da morte na esperança de encontrar consolo. Fico profundamente abalado ao
ver pessoas sofrendo abuso por parte daqueles cujo interesse no assunto não é a
verdade, mas o ganho financeiro.
Um livro importante sobre este assunto é Ordered return: my life after dying22
(Chamado para retornar: minha vida depois de morrer). Esse relato é exatamente
como ouvi do próprio doutor Ritchie em 1965, o que me inspirou a realizar a pesquisa
relatada em A vida depois da vida. Na década de 1950, ele falou publicamente sobre
sua própria experiência de quase-morte. Foi preciso muita coragem para falar sobre o
assunto naquela época. Quando o fez, ele ficou exposto ao ridículo e à rejeição. No
processo, ele inspirou a mim e a milhares de outras pessoas a quem ajudou no curso
de sua longa carreira em medicina.
Outra boa fonte é o trabalho do doutor Kenneth Ring, professor emérito de psicologia
da Universidade de Connecticut, em Storrs. Seu livro Life at death (Vida na morte),
publicado em l980, foi o primeiro estudo sistemático e estatístico das experiências de
quase-morte. Mais recentemente, seu livro, escrito com Sharon Cooper, Mindsight:
near-death and out-of-body experiences in the blind, (visões mentais: quase-morte e
fora-do-corpo, experiências com cegos), conta casos impressionantes de pessoas que,
embora cegas, aparentemente tiveram percepções visuais à sua volta enquanto
estiveram fora do corpo durante seus encontros próximos com a morte.
Bruce Greyson, M.D., do Centro Médico da Universidade da Virgínia, provavelmente
contribuiu mais para o estudo desse fenômeno do que qualquer outro indivíduo
sozinho. Por quinze anos, o doutor Greyson editou a influente publicação Journal of
Near-Death Studies23. O Journal é o filão principal dos estudos racionais sobre esse
assunto, escrito por profissionais de cada campo clínico ou acadêmico relevante.
Estou feliz por ser capaz de dizer que a pesquisa que originalmente relatei neste livro
mal arranhou a superfície. O futuro próximo trará desenvolvimento no estudo racional
da vida depois da morte que será ainda mais surpreendentes do que os que
apresentei até agora.
Nota do Autor
3- Wambach, Helen. Life before life. Bantam; Reissue edition, 1984 (N.E.)
4- Ring, Keneth. Life at death: a scientific investigation of the near-death
experience. Nova York: Quill, 1982
18- Para uma exposição contemporânea vivaz e fascinante desse lado do uso de
drogas, veja o livro de Andrew Weil, M.D. Drogas e estados superiores da
consciência
22- Ritchie, George, NM.D. Ordered to return: my life after dying. Hampton
Roads Publishers
23- Greyson, Bruce, M.D. Journal of NeaDeath Studies. Nova York: Human
Sciences Press
24- Morse, Melvin. Transformados pela Luz. Rio de Janeiro. Nova Era
25- Closer to the light: learning from the near-death experiences of children.
Paperback
26- Moody, Raymond A., Jr. The last laugh: a new philosophy of near-death
experiences, apparitions, and the paranormal. Hampton Roads Publishers