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MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA INTRODUCAO AO PROCESSO CIVIL CAPITULO 1 PROCESSO CIVIL gr. Ordem juridica e processo civil I. Acesso aos tribunais 1. Situagdes individuais ‘A ordem juridica atcibui diteitos subjectivos e interesses legalmente prote- gidos aos particulares. Porém, como facilmente se compreende, nao basta atribuir esses direitos e interesses: € também necessério garantir a possibilidade deo seu titular exercer todas as faculdades que se contém neles. Algumas destas faculdades podem ser exercidas num regime de autotutela ou de justica privada, ou seja, sem necessidade de recurso a qualquer autoridade publica B, isso que caracteriza a acco directa (art® 336° CC) e as suas modalidades legalmente tipificadas, que so o estado de necessidade (art® 339° CC), a legitima defesa (art? 337° CC) e ainda o direito de resisténcia (art® 21° CRP) Estas formas de autotutela, em si mesmas restritas na sua previsio aplicagao, esto ainda limitadas pela sua natureza subsidiéria. A autotutela s6 € admissivel quando for impossivel recorrer em tempo titi] aos meios coercivos normais para defesa dos direitos (art? 336°, n° 1, CC), sendo, portanto, ilfcita fora desse estrito condicionalismo (art? 1°). Correlativamente a esta proibico genérica da autotutela, 0 art? 20°, n° 1, CRP atribui a todos 0 acesso ao direito € aos tribunais para defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos. Deste ‘modo, em confronto com a excepcionalidade da autotutela, a garantia juris- dicional dos direitos e interesses é a forma normal da sua defesa. A Constituigdo concretiza 0 direito de acesso ao direito ¢ a0s tibunais, previsto no seu art® 20°, n® 1, em alguns outros preceitos, designadamente nos art’s 268°, n°s 4 € 5 (Garantia do recurso contencioso ¢ do acesso & justica administrativa) e 280° (recurso para o Tribunal Constitucional para fiscalizago concreta da constitucionalidade e da legalidade das normas). A garantia do direito de acesso ao direito e aos tribunais consta igualmente do ar? 8° DUD. do art® 6°, n° 1, CEDH. 10 Introduso ao P- ~est0 Civil Concretizando 0 disposto no art® 20°, n® 1, CRP, o art? 2", n° 2, estabelece ue, em regra, a todo o direito ou interesse corresponde uma acgao destinada a efectivar a sua tutela jurisdicional. Num ambito mais restrito, o art? 817° CC atribui, em caso de incumprimento de uma obrigagdo, um direito a execugao. Depois de Windscheid ter decomposto acto romana numa pretensfo material € “num dieito de acgdo',tomeram-se questdes muito discutidas a de saber se existe um direto de scgao auténdmo do dieito subjectivo e a de determinar a naturezajuridica dagueledireit de acgo. Uma das solugdesfavoraveis& autonomia do diteito de acga0 defende, desde 4. Wack, ama chamada pretensio atte juridica (Rechtsschurzansprach, ue €entendids como um dteito do particular, dirigido contra o Estado ea contrapate, 0 proferimento de una sentenca favordvel? Ea essa prtensio que ~ segundo parece Ng faz alusio nos arts 2°," 1, € 496, n® 2, al a), mas todos estes problemas tém apenas uma importincia teécica 2. Interesses difusos ‘Além das situagdes individuais, hé que considerar os chamados inicsssses DTlralidade de sujettos € que nenhunit __dgles, E 0 ci86: por exemplo, das ‘elativos a0 ambienie.-Para a tutela desses interesses difusos, 0 art” 52°, n° 3, al. a), CRP atsibui, aos cidadios e as associagdes representativas, um direito de ac¢do popular (cfr. também art? 1° LPPAP). Situagies nao tuteldveis Em principio, todo o direito subjectivo ou interesse legalmente protegido pode obter tutela jurisdicional, ou seja, todo o direito ou interesse € garantido pelo direito de acesso aos tribunais e a todo o direit ou interesse corresponde uma acco (at? 2°, n® 2). Todavia, existem algumas excepgdes, alids generica~ mente previstas no art 2°, n° 2: as obrigagdes naturais (art* 402° CC) € os T Che Windscheid, Die Actio des cGmischen Civilrechts, vom Standpunkte des heutigen Rechts. (Disseldoet 1856), 355, 2 Cf Wach, Handbuch des Deutschen CivilprozeBrechts 1 (Leipzig 1885), 19 58. sobre a cevolugo histrisa daqucla pretensio, fr. Mes, Der Rechtsschutzanspruch (Koln / Berlin [Bonn ‘Minehen 1970), 27 ss, Sobre a matétis, ct. Castro Mendes, O Diseto de Acglo Judicial / Estudo de Processo Civil ® (Lisboa 1959); Annunes Varela, O Diteito de acgio ¢ a sua natureza jariica, RLJ 125 (1992 11993), 325 38. processo Civil [BREESE FETT 3047 "1, CO) Ho exemplos de situagées que nao sto | arapindas POT Gisalquer ace. IL. Processo e procedimento 1. Di ingao ‘A palavra “processo” tem a sua origem|palavra latina processus, derivada do verbo procedere. Como procedere significa avancar ou progredir, 0 pro- cessus € a acco de avangar ou de progredir. ‘Os processos jurisdicionais ~ de que 0 processo civil é um exemplo ~ sio uma sequéncia de actos das partes ¢ do tribunal, encadeados de forma a possi- bilitar a expresso das posigdes das partes ¢ @ decistio do tribunal sobre uma determinada questdo. Esses actos processuais relacionam-se entre si, dado que cada um deles condiciona 0 conteiido e, por vezes, a reaizagdo dos demais, € constituem, na sua globalidade, uma realidade unitéria ¢ estruturada, que é 0 processo. O processo surge enti,coma.um,canjunto de,actos destinados 8 tu- tela das situa fivas. Ameen SUCHET formalidades exigidas para a apresentagio das posigdes das partes e para o proferimento de uma decisdo chama-se pracedimento, O proce- Simento 6, assim, 0 processo considerado simfbltaneamente num sentido formal e finalist, isto €, perspectivado como um conjunto de formalidades destinadas A expresso das posigoes das partes e & producto de uma decisto do tribunal. Embora respeitante a um outro émbito, tem interesse refetir que o ar 1° CPA de~ fine como “procedimento administrative a sucesso ordenadade actos e formalidades tendentes & formagao e manifestacio da vontade da Adminisragio Piblica ou & sua execugio” e como “proceso administrativo 0 conjunto de documentos em que se tuaduzeni vs actos € formalidades que integram o procedimento administrative”. Para designar este conjupto de documentos emprega-se normalmerte a expresso “autos” 2. Fungdes do procedimento © procedimento jurisdicional engloba as formalidades necessérias para © proferimento de uma decisio. Estas formalidades constituer uma estrutura algo complexa, porque importa evitar um défice procedimental e uma crise de legitimagdo do processo, ambos resultantes de um insuficiente didlogo proces sual entre o tribunal e as partes e entre estas mesmas partes. Tal complexidade Introdugao ao Processo Civit 6, alids, inerente a qualquer procedimento jurisdicional, que deve cumprir determinadas fungées, nomeadamente enquadrar a conflitualidade entre as partes, permitir a formagio de consensos entre elas e garantir a legitimagao da decistio do tribunal. Acbra de N. Luhmann, Legitimation durch Verfahren (Darmstadt / Neuwied 1969 1975) tornou-se um clissico nesta matéria. A ideia fundamental de Lukmann € a de que o procedimento € um sistema de acco que € capaz de neutralizar as frustragbes © decepgdes das partes, pois que ele cria uma disposigio generalizada para elas aceitarem decisbes de contetdo ainda indefinido, mesmo que estas venham a ser esfavordveis aos seus interesses. 3. Eficiéncia do procedimento Um dos desideratos fundamentais dos procedimentos jurisdicionais deve ser da sua eficigncia, ou seja, da sua aptiddo para, mediante custos aceitaveis, servirem de meio de tutela aos direitos e interesses *, Esses custos referem-se tanto aos custos operacionais do proceso, como aos custos inerentes 20 erro na decisao, Bssa eficiéncia nem sempre ¢ alcangada, nomeadamente porque, muitas ‘vezes, 0s procedimentos jurisdicionais ndo possuem a necesséria racionalidade econdmica e fazem recair os seus custos sobre a parte que os no devia suportar. Pense-se, por exemplo, na hipétese em que os custos da litigancia acabam por incidir sobre o autor que genha a acgio. porque, apesar de condenado, 0 réu tirou proveito da demora no proferimento da decisao, Importantes so também os custos inerentes a um possfvel erro na decisao, Quanto @ eles, como, em caso de diivida sobre a realidade de um facto, 0 tri- bunal decide contra a parte onerada com a sua prova (cfr. art” 516°), séo indispensdveis uma adequaca reparticao do énus da prova pelas partes ¢ uma idéntica exigéncia a ambas as partes do grau de prova necessério para convencer © tribunal. $6 assim esse exro se pode repartir aleatoriamente por ambas as partes 5 « Sobre a adliseeconémica dos procedimenios jurisdicionais, of, obra fundamental de Posner, Economic Analysis of Law * (Boston Toronto / London 1992), 59 ss 5 Che. Gorwald, Die dkonomische Analyse zur Krk und Reform des Zvilpozetrechs, FS Hans Wi Fasching (Wien 1988), 185, rocesso Civil ILL. Ambito do processo civil 1. Determinagao LL. Critérios ‘A garanta jurisdicional dos direitos e interesses pressupde 0 recurso pelos seus ttulares a ui tfibunal € ainda a definigtio dos actos das paries.¢ G2sse Orgio Jrictbal durante a apreciagdo de um caso conreto-O prcesso civil éa forma Mosessual que serve de meio de tutela dos direitos subjectivos e interesses Fiabuidos pela ordem jutidica privada, bem assim como de quaisquer outros direitos ou interesses que nfo encontrem outra forma de tutela jursdicional. (© processo civil comport, assim, um Ambito prprio.e um ambito residual. 0 ambito proprio do processo civil respeita aos direitos subjectvos einteresses atribuidos pelo dreito privado, sea civil ou comercial. Além disso, 0 processo civil tem um Ambito residual, porque é a forma de tutta de todos os direitos e interesses que n3o podem ser tutelados ou exercidos por cutra forma processudl ue, por isso, s6 através dele podem ser protegidos ou garantidos 1.2, Tribunal competente aprocesso civil é da competéncia dos tibunaisjudiciis, que sio 0s wibunais comuns em matéria ch al (are 217 também art? 66°). ERS8e iribunais englobam o Supremo Tribunal de Justia, as Relagdes e os tribunais de comarca (art? 209°, n? 1, al. a), CRP; art* 16°, n°s 1, 2 3, LOFTS). Em concordancia com o &mbito residual do processo civil, também os tribunais judiciais possuem competéncia para todas as causas que ao sejam atribuidas @ ‘outros tribunais (art? 211°, n° 1 in fine, CRP; art? 18°, n° 1, LOFTS; art? 66°). Sempre que a arbitragem seja admissfvel ~ seja por vontace das partes (cft. art 1°, xf 1, LAV), seja par imposigao legal (cfr. ar® 1525°) -, 0 processo civil também pode set aplicado nos tribunais arbitais (cfr. art? 15* LAV; art* 1528°) 2. Tipos de acgies 2.1. Acgies declarativas 4. Os diteitos subjectivos podem ser classificados em direitos a uma presta- do (ou pretensdes), direitos de monopélio, que sao direitos sobre bens a Introduce ~0 Processo Civil ‘materiais ou imateriais exclusivos do seu titular (como, por exemplo, 0 direito de propriedade), ¢ dittitos potestativos, que sao direitos que, através de uma sujeigéo, impGem uma mudanga na ordem jurfdica. A cada um destes direitos corresponde uma acco destinada a garantir a sua tutela jurisdicional (art? 2°, n°2) Todavia, segundo a tipologia do art® 4°, n° 2, a acgdo de que o titular do direito subjectivo dispée para a sua tutela jurisdicional ndo é sempre a mesma. 20 direito & prestado corresponde.uma acedo condenatsria (ae, )), dado yae citar EX1gea prestagao de um coisa ou de um facto, pressi—~ Ado ou preven: io daquele direito; ~ ao direito de monopélio corres- onde uma’ aceaa,de-simp! Samad 4°, n° 2, al. a)), dado qua no comportando esse dire SHO, qualquer faculdade de exigir uma prestacao a outrem, o tibunal sé pode déélafar@ sua ExTsténcia ou inexisténcia; ~ 20 direito potetativo cortesponde uma acc&g.consttutiva (ar? 4°, n° 2, alc), dado’ que do exercicio desse diteito decorre a constituigdo, modificagao ou extingdo de uma situagio juridica As acgses de simples apreciagao também podem ter por objecto certos factos. Porém, estes factos s6 podem ser factos juridicamente relevantes, como, por exem. plo, os factos impeditivos, modificativos ou extintivos de um direito. Conforme resulta da configuragio das acgGes constitutivas, estas acgGes originam uma situa. 0 nova na ordem jurdica. so distingue-as das acgGes de simples apreciagio e das acgdes de condenagio, a5 quais se limitam a reconhecer uma situago precxistente, embora reforcem com um titulo judicial a fonte legal ou negocial do direito reco. hecido, bb. Algumas das referidas acedes declarativas podem assumir diversas con- figuragdes. Assim, as ages de simples apreciagao podem ter por objecto a existéncia ou inexisténcia de um direito subjectivo (art® 4°, n® 2, al. a)): no Primeiro caso denominam-se acgdes de simples apreciagao positiva; no segundo, acgoes de simples apreciagao negativa. Também as acgdes condenatérias podem refert-se a uma vilagéo passada de uma pretenséo ou @ uma violago fatura (mas previsivel) dessa pretensio: as acges que visam obter a condenacdo na satisfagio funura de uma pretesio chamam-se acges de condenago in futuurum (eft. att 472°) e as acgdes que s¢ destinam a impor uma omissiio ou abstengao (necessariamente future) chamam-se acgdes inibitorias c. Em todas as referidas acgdes, o tribunal s6 desenvolve uma actividade wlagéo de uma decisdo: ele condena o sujeito passivo a realizar ecia a EXTECH OW inexisténcia do direito ou declara consti- rocesso Civil tuida, modificada ou extinta a situagio juridica, De ssific acgbes referida no art” 4, n” 1, todas elas sio acgbes declarativas Nalguns dos casos acima referidos, o tribunal nem sequer pode actuar diferen- temente, pois a sua intervengdo esgote-se necessariamente na apreciagZo do direito de monopélio ou na constiuigao, modificaglo ou extinglo da situaglo subjectiva, A activi dade do tribunal termina necessariamente com a decisio que aprecia o direito ou que opera a mudanca na ordem juridica. Problemas relacionados com a eventual violagao das situagbes subjectivas decorrentes dessa apreciacio ou dessa mudanca s6 podero ser resolvidos num processo com outro objecto. Por exemplo: na acgao de simples apreciagdo 56 € declarada a propriedade do imi6vel, pelo que o pedido de condenagiio 1no pagamento da indernnizardo resultante da ocupagio indevida desse imével deve ser formulado e apreciado numa outra accio. 2.2, Acces exeeutivas Quando 0 proceso tem por objecto uma pretensio, so concebiveis duas formas de intervengao do tribunal: uma, correspondente & acgio condenatéria, em que o tribunal se limita a verificar a existéncia daquela pretensdo e a conde. nar 0 sujeito passivo a cumprir a respectiva prestagio (cft. at® 4°, n® 2, al. b)); outra, logicamente posterior aquela, em que o tribunal verifica.o incumprimento dessa prestagia e faculta a0 titular do direito os meigs, se necesséria coactivas, tex realmente aguela prestago ou um seu sucedanco pecunidrio (ofr. art™ 8T7°CC). A acgio através da qual o titular de uma pretensio pode obter do tri- bunal os actos necessdrios & reparacdo efectiva desse direito violado chama-se acco executiva (art? 4°, n° 3). 3. Providéncias cautelares A efectividade da tutela jurisdicional exige, em cettus casos, uma composi¢ao proviséria dos interesses das partes antes do proferimento da decisdo definitiva: isso sucede sempre que, se o direito no for imediatamente acautelado, a acgio possa ndo realizar o seu efeito wil (fr. art? 2°, n° 2 in fine) Esta composicdo proviséria € obtida através das providéncias cautelares, como, Por exemplo, a restituigio provis6ria da posse (art” 393°) ou os alimentos Provisérios (art? 399°, n° 1) Introdupao oo Processo Civil LV. Outros processos jurisdicionais 1. Enunciado Além do processo civil, existem ainda, na ordem juridica portuguesa, outros >srocessos jurisdicionais destinados a apreciagao de outras matérias. Impora ‘eferir os seguintes: ~O processo constitucional, que decorre perante o Tribunal Constitucional 2 visa o controlo da constitucionalidade e da legalidade das normas jurfdicas art’s 221° ¢ 278° a 283° CRP). A organizacio, o funcionamento ¢ 0 processo 40 Tribunal Constitucional so regulados pela Lei 28/82, de 15/11 (alteraca selas Leis 143/85, de 26/11, 85/89, de 7/9, 88/95, de 1/9, ¢ 13-A/98, de 26/2), + pelo Decreto-Lei 545/99, de 14/12; —0 proceso penal, que respeita & aplicagao de penas e medidas de segu- ‘anga criminais e regula a tramitagdo das acgdes perante os tribunais judiciais som competéncia penal em primeira instincia ~ tribunais de instrugdo crim ral (art? 78°, al. a), LOFTJ), tribunais de execugao das penas (art? 78°, al. ), -OFTS), varas criminais (art? 96°, n° 1, al. b), LOFT) e juizos de pequera nsténcia criminal (art? 96°, n° 1, al. ), LOFT) ~ e nas secgdes penais das 2elagdes e do Supremo Tribunal de Justica (art's 51°, n° 1, € 27%, n® 1, LOFTD) 3xiste um Cédigo de Processo Penal (aprovado pelo Decreto-Lei 78/87, de \1/2, alterado pelo Decreto-Lei 317/95, de 28/11, e pela Lei 59/98, de 25/8); =O proceso de trabalho, que se ocupa das relagées e conflitos laborais & da competéncia de tribunais judiciais especializados, que so, em primeira nstdncia, 0s tribunais de trabalho (eft. ar 85° LOFTJ) e, nas instancias de ‘ecurso, a8 secgoes sociais das Relagdes e do Supremo Tribunal de Justica ft. ar’s 51°, n° 1, € 27°, n° 1, LOFTS). O processo de trabalho € regulado »elo Cédigo de Processo de Trabalho (aprovado pelo Decreto-Lei 480/99, de MD: ‘0 contencioso administrative, que & da competéncia dos tribunais admi- listrativos e respeita 2 apreciacdo da validade dos actos administrativos e da egalidade das normas regulamentares ¢ a0 julgamento das acces aéminis- rativas. O respectivo proceso € regulado fundamentalmente pela Lei de 2rocesso nos Tribunais Administrativos (Decreto-Lei 267/85, de 16/7, alterado vela Lei 12/86, de 21/6, e pelo Decreto-Lei 229/96, de 29/11); =O processo tributério, que € da competéncia dos tribunais fiscais e visa preciar questdes relacionadas com a liquidago e a cobranga das receitas ributérias. Este processo € regulado pelo Cédigo de Procedimento ¢ de *rocesso Tributério (aprovado pelo Decreto-Lei 433/99, de 26/10). 2. Relages com o processo civil 2.1, Decisées obrigatérias |As decis6es do Tribunal Constitucional prevalecem sobre as dos restantes tribunais (art? 2° LTC). Sendo assim, os tribunais onde é aplicado o processo civil estdo naturalmente vinculados a essas decisdes. 2.2. Questies prejudiciais, ‘Ao tribunal judicial ~ que o tribunal perante 0 qual decorre 0 processo civil (art? 211°, n° 1, CRP; art® 66°) — nio incumbe, em principio, conhecer de mnatéria da competéncia de outros tribunais e abrangida por outros processos jurisdicionais. Por isso, se o conhecimento do objecto da acco civil depender dda decisio de uma questao que seja da competéncia do tribunal criminal ou administrativo — isto é, se houver uma questao prejudicial que deva ser apre- cada por um tribunal criminal ou administrativo -, pode o respectivo juiz sus- pender o processo até se obter a promtincia pelo tribunal competente (ar? 97°, 1° 1), Porém, se a acgio penal ou administrativa nfo for exercida dentro de um més apés a suspensio da acco civil ou se o respectivo processo estiver parado, por negligéncia das partes, durante o mesmo prazo, 0 juiz. daquela acgio pode decidir, embora com eficdcia restrita a esse processo, aquela questio prejudi- cial penal ou administrativa (art® 97°, n° 2), 2.3. Posigo subsidisria © processo civil ¢ 0 proceso comum no sentido de que é considerado 0 processo paradigmético para todos os demais processos jurisdicionais € aquele cujo regime € aplicdvel na falta de regulamentagio especifica naqueles processos. O processo civil é, relativamente &s outras formas processuais, 0 rocesso subsididrio. Daf que a regulamentacao legal daqueles processos reveja, quanto ao que neles nao se encontre especialmente regulado, luma remissao para as disposighes reguladoras do processo civil (cfr. art’s 48 © 69° LTC; ast? 4° CPP; art? 1°, n° 2, al. a), CPT; art® 1° LPTA; art? 2, al. €), crer). __Inroducao ao Processo Civit V. Proceso civil portugues 1. Enquadramento comparativo O processo civil portugués enquadra-se na fami x enquadra-se na familia romano-germanica, Ele coments Ais catacteristicas dos processos pertencentes a este sistema jurdiea de readamente a importancia concedida as pecas escrtas das partes, decay Hida, acpaitltacdo da causa em primeira insténcia perante 0 mesmo juil ¢ sinda, segundo graus variaveis, o papel activo do juiz da cause O proceso civil caateisio ds sistemas de common l noe 3 de common aw comporta uma dsingto mR ee a fos prepararia (retrial) ease de ulgamento (oh canna ccomend pera uzsdistinos,Nagela primi fase poe elie acta partes Genat® destinada a ecolher as provas necesdvias hdefesa das posigdee dg ues através, por exemplo, da spresenagio da documentos eh eae a en aio de testemunka) ¢ noxmalmentrelzada fora co tuo pan oe dua conto dest. E ns ie de ulgamento que € woturta soos choad rie € 40 seu advogado, segundo o sistema da cros-exaninatin were ‘através do interrogatério das testemunhas e los peritos da 7 x probate sve inert dos perts da outa paste, vale prota, ‘Segundo Nakamura, diferenga entre 0 processo romano-germénico ¢ 0 processo, itle-saxénico radica nama diversa perspectiva de andlse:enquanto aavels primeiro angle caveats & Se Ho 0 fizer, a acgdo€ logo julgeda improcedente, no proseces ; % @ acgio € logo julgada improcedent anglo-saxénico, ambas as partes devem prov: gam, a 8 tes devem provar os factos que, segundo alegam, funda mmenam asa propidade Sobre alin, bend a : le compara as provas des panes 6 desir a causa favor da parte que ver apresenade a pees oa 2. Evolucao histérica 2.1. Ordenagies O regime do proceso civil constava d civil constava do Livro Terceiro das Ordenagdes Afonsinas (1446), Manuelinas (1521) e Filipinas (1603), aue regulava o Para uma panocdmica gerl, ef: Cappellett/ Garth, the 30 anaivcn att Pen des Zivilpozestes, in Law in Eat and West! On tie en oo Processo Civil, _ : processo declarativo (em primeira instancia e nos tribunais de recurso) 0 processo executivo®, O regime af previsto apresentava as caracteristicas proprias do proceso comum medieval de inspiragio canénico-germanica: 0 regime processual reflectia certos privilégios de classe ¢ s6 admitia actos escritos, ndo favorecendo, por isso, a imediagao entre o juiz € as partes e outros participantes na acco. Tal regime foi alterado, durante o periodo liberal, pelo Decreto de 16/5/ 1832, depois pela Nova Reforma Judiciaria (Decreto de 13/1/1837) e, mais tarde, pela Novissima Reforma Judiciria (Decreto de 21/5/1841). Este novo regime processual passou a consagrar, embora em termos ainda limitados, a oralidade e a imediagao°. 2.2. COdigo de 1876 Por Carta de Lei publicada no Difrio do Governo de 8/11/1876 foi promulgado o primeito Cédigo de Processo Civil, que entrou em vigor apenas em 17/5/1887. Dada a sua inspiragao liberal, 0 Codigo de 1876 colocava processo na disponibilidade quase absoluta das partes e consagrava, embora em. {ermos restritos, a imediagao e a oralidade. Por Decreto de 24/1/1895 foi aprovado o Cédigo de Processo Comercial, que substituiu, na matéria nele regulada, as disposigdes processuais constantes do Cédigo Comercial de 1888. Este Cédigo de Proceso Comercial foi modificado por Carta de Lei de 13/5/ 1896 ¢ publicado integralmente na nova versio. O Decreto de 26/7/1899 aprovou o Cédigo de Faléncias, posteriormente integrado, através do Decreto de 14/12/1905, no Cédigo de Processo Comercial as alteragdes. O Decreto de 29/5) © Codigo de Processo Civil de 1876 soften v /1907 introduziu © processo sumério e 6 Decreto 12.353, de 22/9/1926, iniciou a “Reforma do Proceso”, elaborada sob a orientaglo de José Alberto dos Reis" ¢ caracterizada pelo reforgo dos poderes do juir pela introdugiu dus despachos liminar * Para uma parorimica geral da evolugio histérica do processo civil portugués, ft: A. Palma Carlos, Linkas gersis do Processo Civil porugués (Lisboa 1991); sobre a historia do processo, ivil europeu, eft. van Caenegem, International Encyclopedia of Comparative Law XV1 (Civil Procedure), 2 (History of European Civil Procedure), * Sobre a bibliografia deste periodo histérico, cf. Antdnio Hespanha, A Histéria do Direito na Histéria Socal (Lisboa 1978), 211 '® Sobre a obra deste processualsta, cf: L. Correia de Mendonca, José Alberto dos Reis: 08 Brimeiros anos de reacgdo contra o processo civil de inspragio inividualistae liberal, ROA 57 (1997), 1187 5s. 2 Introdugdo a0 Processo Civil ¢ saneador !!. Esta reforma foi continuada pelo Decreto 21.287, de 30/5/1932, e pelo Decreto 21.694, de 29/10/1932. O Deereto 25.981, de 26/10/1935, aprovou um novo Codigo de Faléncias ®. 2.3. Cédigo de 1939 © movimento de reforma iniciado em 1926 conduziu & elaboragao de uma nova legislagio processual civil: 0 Decreto 29.637, de 28/5/1939, aprovou um novo Cédigo de Processo Civil. O Cédigo de 1939, em que interveio, em posigdo proeminente, José Alberto dos Reis, unificou 0 processo civil e comer- cial e regulou o regime processual das faléncias. Caracterizava-se pela acen- tuagdo dos poderes do juiz e pela adopgio de um regime de oralidade que, pela forma como foi consagrado, impossibilitava, na prética, 0 controlo do julga- mento de facto pela segunda instincia, O Decreto-Lei 44.129, de 28/12/1961, elaborado durante a presenga de Antunes Varela no Ministério da Justica, intcoduziu importantes e amplas alteragdes no Cédigo de Processo Civil, que se encontram resumidas no preémbulo daquele diploma Esta tltima versio do Cédigo de Processo Civil — 0 chamado Cédigo de 1961 — vigorou durante varios anos, embora com diversas alteragGes. Entre elas salientam-se as introduzidas pelo Decreto 47,690, de 11/5/1967, que adaptou a legislacdo processual civil ao novo Cédigo Civil, pelo Decreto-Lei 513-X/79, de 27/12/, que ajustou a legislagdo processual as alteragbes introduzidas no Cédigo Civil pelo Decreto-Lei 496/77, de 25/11, e ainda pelo Decreto-Lei 242/ 185, de 9/7, que introduziu algumas medidas de simplificagao processval. © Cédigo de Processo Civil foi substancialmente revisto pelos Decretos- -Leis 329-A/95, de 12/12, e 180/96, de 25/9, que, entre muitas outras novidades (referidas, quase todas, nos importantes preémbulos daqueles diplomas), introduziram no processo civil portugues a audiéncia preliminar de inspiragao austriaea ¢ reforgaram o prinespio da conperagio entre as partes e 0 tribunal !3 Vigora igualmente um Cédigo dos Processos Especiais de Recuperagio da Empresa e de Faléncia (aprovado pelo Decreto-Lei 132/93, de 23/4, e alterado pelos Decretos-Leis 157/97, de 24/6, ¢ 315/98, de 20/10). Gr. Alberto dos Reis, Breve estudo sobre a Reforma do Processo Civil ¢ Comercial (Coimbra 1927, ? Coimbra 1929). "2 Sobre ese perfodohistrico, cf. Alberio dos Reis, Processo 12.6 ss 18 Sobre a Reforma de 1995/1996, cfr. Teixeira de Sousa, Estudos , 9 58; numa perspectiva acentuadamente erica, ef. Antunes Varela, A Reforma do Processo Civil Portugués J Prineipais inovagoes na estututa do processo declarattio ordindsio, RLY 129 (1996/1997), 258 ss. 21 ‘Tendéncias actuals a. Apesar da profunda Reforma de 1995/1996, o Cédigo de Processo Civil tem continuado a ser modificado em alguns aspectos importantes. Ha que Salientar, em especial, a possibiidade do uso da citago por via postal por meio de carta simples (art? 238°, na redacgfo do art® 1° DL 183/2000, de 10/8), a ‘jdmissibilidade da pritica dos actos das partes através de telec6pia ou por domeio electrOnico (art®s 143°, n° 4, € 150°, n° 2, al. ¢), na redacgao do an® 1° DL. 183/2000), a possibilidade de apresentagio dos articulados e alegagGes e contra-alegagdes de recurso em suporte digital (art® 150", n® 1, na redacgio do Gxt’ I° DL 183/2000), a realizagio, em regra, do julgamento da causa em rimeira instancia por um juiz singular (cfr. art® 646°, n° 1, na redacgao do art? 1° DL. 183/2000) e a exclusao, também em regra, de recurso para o Supremo ‘Tribunal de Justica das decisdes sobre matéria processual (cfr. ar” 754°, n° 2, 1a redacgio do art? 1° DL 375-A/99, de 20/9). ‘Uma outra tendéncia visivel no processo civil portugués & a de, no campo das dividas pecuniérias, favorecer a formagao de um titulo executivo através de processos declarativos especiais. Apesar de a Reforma de 1995/1996 ter suprimido 0 efeito cominatério nos processos comuns (efeito que se traduz na imediata condenago do réu que nao contesta a acgtio), 0 Decreto-Lei 269/98, de 1/9 (entretanto alterado pelos Decretos-Leis 383/99, de 23/9, ¢ 183/2000, de 10/8), aprovou um regime préprio para as obrigagdes pecunidrias © para a injungdo, que prevé a formacio de um titulo executivo na hipétese de o réu nfo contestar 0 pedido de pagamento da divida (cfr. at’s 2° e 14° RPOP). © Decreto-Lei 274/97, de 8/10, contém um regime especial para a execusao para pagamento de quantia certa baseads em titulo que néo seja decisao judicial condenatéria b. Atendendo a varius factores ~ que vio desde a morosidade processial até & falta de justificagdo econémica para recorrer aos tribunais ~, 0 processo civil tem vindo a perder o seu papel primordial na resolugio de certos litigios centre os particulares. Isso nota-se especialmente na tentativa de solucionar alguns conflitos através da designada Resolucdo Alternativa de Litfgios (RAL), ‘que comporta meios jurisdicionais ~ como € 0 caso da arbitragem ~ e meios nllo Jurisdicionais ~ de que sio exemplos a mediagdo ¢ a actividade desenvolvida pelas comissdes de resolucio de conflitos e pelos provedores de clientes. © Decreto-Lei 146/99, de 4/99, transpds a Recomendagio da Comissio da Unizo Europeia 98/257/CE, de 30/3, que estabelece os princfpios ¢ regras a que devem 2 Introds Processo Civil obotecera rato 0 fancionament de nad ode enidades privatise esolugfo etapa ae confi de consi, © Dene Li 31959, de 2000, att pose etal de conclagto pasa vabizagio de empresem sate eee ‘ou em situagao econémica dificil. * 3. Fontes, 3.1. Fontes nacionais O processo civil comunga das fontes do direito vigentes na ordem juridica Portuguesa: a lei, a jurisprudéncia normativa ou vinculativa (nomeadamente, os acérdilos com forga obrigatoria geral do Tribunal Constitucional: eft. art® 2° LTC) ¢ 0 costume, designadamente o jutisprudencial 3.2. Fontes internacionais a. A grande expresso do processo civil na resolugii de litigios relativos 0 comeércio internacional ¢ a crescente mobilidade das pessoas provocaram a elaboracio de um importante direito processual internacional de origem conven- cional. Portugal € parte em varias convengées internacionais, bilaterais ou multilaterais, respeitantes ao processo civil. Das convenges interacionais multilaterais de que Portugal 6 parte salientam-se 2s sequintes ~ Sobre competénia: Convento Rlatva & Competénca dic a : encdo Relatva & CompeténciaJudiciria ea Eeecusdo 4 Decistes em Maiéria Civil ¢ Comercial (Lugano, 1611/1988, conheci vee onvengado de Lugano; ResAR 33/91, 3010; DecPR 311, de 30/10; Avice 940, 1G); Convengdo Retativa&Adesdo do Reino da Espanhae da Republica Posnapecs \Comengd Relative & Competencia Satria Eseegto de Deedes em Mata inl € Comercial, bem como ao Protocolo Relaivo 8 Sah lave a Sua Interpretacdo pelo rr. ial de Justia, com as Adoptagéer que Lhes Foram Inrodudes pola Comvencde Relative & Adesto do Reino da Dinamarca, da Trianda edo Reino Unido de Cot Brena ¢Ilanda do Nore « as Adaprgdes que Lhes Foran vodsias gta onvengao Relativa d Adesdo da Republica Helenca (San Sebacin, 26/5/1989 LesAR 34/91, de 30/10; DecPR 52/91, de 30/10; Aviso 95/92, de 10/7; determina a desdo & chamada Convencao de Bruxelas). . " ~ Sobre actos processus © provas: Convengdo Relativa do Pro {BN1854: Dee -Lei 47.097, de 14/7/1966; Avisos de 28/8/1967 ¢ we Hi/1B08), ‘brenado Relative a Citgo e & Noniicagto no Exrangevo do Atos use ‘trajudicas em Materia Civile Comercial (Hala, IS1965, Dee La B15: Aviso de 2411974); Convensdo sobre a Obtencdo de Provs no Esrangers on 10 Civil (Hsia, Processo Civil Motéria Civil ¢ Comercial (Haia, 18/3/1970; Dec. 764/74, de 30/12; Aviso de 8/4/1975); Convencao Europeia sobre a Obtencdo no Estrangeiro de Informacdes e Provas em Matéria Administrativa (Estrasburgo, 15/3/1978; Dec.-Lei 58/80, de 1/8; Avisos de 22/10/1981 e de 14/11/1987); Acordo Europeu sobre a Transmissao de Pedidos de ‘Assistencia Judicidria (Estrasburgo, 27/1/1977, Dec. 57/84, de 28/9; Aviso de 15/7/1986); ~ Sobre direito estrangeiro: Conven¢do Europeia no Campo da Informacao sobre o Direito Estrangeiro (Londres, 1/6/1968; Dec. 43/78, de 28/4; Aviso de 3/10/ 11978); Protocolo Adicional & Conven¢do Europeia no Dominio da Informagdo sobre 9 Direito Estrangeiro (Estrasburgo, 15/3/1978; Dec. 23/84, de 14/5; Aviso de 15/7/1986); Convenedo sobre Informacdo em Matéria Juridica com Respeito ao Direito Vigente e sua Aplicagdo (Brasilia, 22/9/1972; Dec. 477/76, de 16/6; Aviso de 10/8/1978); = Sobre econhecimento de documentos estrangeiros: Convenedo Relativa a Supres- ‘do da Exigéncia da Legalizagao dos Actos Piblicos Estrangeiros (Hala, 5/0/1961; Dec.-Lei 48.450, de 24/6/1968; Avisos de 28/2/1969 ¢ de 26/1/1976); Convencao Relativa & Emissdo Gratuita e & Dispensa de Legalizacdo de Certiddes de Registo do Estado Civil (Laxemburgo, 26/9/1957; Lei 22/81, de 19/8; Aviso de 3/3/1982); Conven ‘¢do Europeia sobre a Supressio da Legalizagdo dos Actos Exarados pelos Agentes Diplomaticos e Consulares (Londres, 26/1968; Dec. 99/82, de 26/8; Aviso de 19/1/1983), Convencao Relativa x Dispensa de Legalizacdo para Cerias Certiddes de Registo Civil ¢ Documentas (Atenas, 15/9/1977; Dec. 135/82, de 20/12; Aviso de 28/12/1984); = Sobre reconhecimento e revisio de sentencas estrangeiras (além da Convengao de Lugano e da Convencao de Bruxelas): Convencdo sobre a Cobranca de Alimentos no Estrangeiro (Nova Torque, 20/6/1956; Dec.-Lei 45.942, de 28/9/1964; Aviso de 10/2/1965); Convengio Relariva ao Reconhecimento e Execugéo de Decisces em Maté: ria de Prestacéo de Alimentos a Menores (Haia, 15/4/1958; Dec.-Lei 246/71, de 3/6, rectificado em 24/9/1973; Aviso de 22/1/1974); Conven¢do sobre o Reconhecimento ¢ Execucao de Decisées Relativas a Obrigagées Alimentares (Hia, 2/10/1973; Dec. 338 115, de 2/7; Aviso de 91511977); Convencao sobre o Reconhecimento e a Execugao de Sentencas Estrangeiras em Matéria Civil e Comercial (Haia, 1/2/1971) e Protocolo Adicional a Convengado da Haia sobre o Reconhecimento e a Execugdo de Sentengas Estrangeiras em Matéria Civil e Comercial (aia, 1/2/1971; Dee. 13/83, do 2/2; Aviso de 2217/1983); Convencizo Relativa sobre o Reconhecimento e a Execugdo das Decisdes Relativas a Guarda de Menores e sobre o Restabelecimento da Guarda de Menores (Loxemburgo, 20/5/1980; Dec. 136/82, de 21/12; Aviso de 20/4/1983); Convengao sobre 0 Reconhecimento dos Divércios e Separagdes de Pessoas (Hai, 1/6/1970; ResAR 23/84, de 27/11; Avisos de 19/7/1985 e de 27/8/1985); ~ Sobre arbitragem: Protocolo Relative as Cldusulas de Arbitragem (Genebra, 24/9/1923; Dec. 18.941, de 20/10/1930; Carta de 13/1/1931}; Convengdo para a Execugao das Sentengas Arbitrais Estrangeiras (Genebra, 26/9/1927; Dec. 18.942, de 20/10/1930; Carta de 13/1/1931); Convengdo para a Resolucdo de Diferendos Relativos 4@ Investimentos entre Estados « Nacionais de Outros Estados (Washington, de 18/3/ N96S; Dec. 15/84, de 3/4; Aviso de 4/9/1984); Convencdo sobre o Reconhecimento © eee Inurodupao ao Provesso Civil a Execugdo de Sentencas Arbitrais Estrangeiras (Nova lorque, 10/6/1958, conhecida por Conveneao de Nova Torque; ResAR 37/94, de 10/3; DecPR 52/94, de 8/7). Sobre os tratados bilatrais em matéria de cooperagio judiciéria ejuridica concluidos por Portugal, cfr: A. Marques dos Santos, Direito Internacional Privado / Colectnea de ‘Textos Legislativos de Fonte Intema e Internacional (Coimbra 1999), 481 ss. b. Portugal, enquanto membro da Unido Europeia, beneficia dos esforgos de unificagao do processo civil 20 nivel europeu. Até a0 momento, a harmonizacao mais significativa foi realizada, no ambito da competéncia judiciria e da execugdo de decisdes em matéria civil e comercial, através da Convengao de Bruxelas ¢ da paralela Convenglo de Lugano, Importa ainda refer algumas fontes de origem comunitéria: ~ Regulamento (CE) n° 1347/2000 do Corselho, de 29 de Maio de 2000, relativo & competéncia, ao reconhe- cimento e a execupéo de decisdes em matéria matrimonial e de regulagdo do poder paternal em relacto a filhos comuns do casal (JO 1.160, de 30/6/2000, 19; entrada em vigor em 1/3/2001); ~ Regulamento (CE) n® 1348/2000 do Conselho, de 29 de Maio de 2000, elativo @ citagdo e a notificagao dos actos judiciais e extrajudiciais em matérias civil ¢ comercial nos Estados-Membros (JO L160, de 30/6/2000, |; entrada em vigor ‘em 31/5/2001); ~ Regulamento (CE) n® 1346/2000 do Conselho, de 29 de Maio de 2000, relativo aos processes de insolvéncia (JO 1.160, de 30/7/2000, 1; entrada em vigor em 31/5/2002), Em 1993, um grupo de peritos, presidido por M. Storme, apresentou & Unio Europeia um estudo relativo & aproximagao dos sistemes curopeus de direito processual civil: oft. M. Storme (Bd.), Rapprochement du Droit Judiciaire de l'Union ‘européenne (Dordrecht / Boston / London 1994) $2, icional do proceso Enquadramento con: I. Generalidades 1. Visiio liberal e social O proceso civil ~ como, alids, qualquer outro processo jurisdicional ~ reflecte algumas concepgdes politicas fundamentais, A evolugio verificada nas relagGes entre 0 juiz e as partes € particularmente significativa da influéncia de algumas op¢Ges politicas no processo. Durante o liberalismo, 0 processo era encarado como um assunio privadedas partes, pelo que o tribunal nia sinha poderes de impulso do processo, de instru 1o.dos processo Chil 2 actos relevaptes. Tal como, no Ambito extraprocessual, se concebia o contrato como expressdo da autonomia privada e a melhor forma de assegurar, através de um encontro de vontades livres, os interesses dos contraentes, também 0 processo devin permanccer subordinado & vontade das partes ¢ atribuir a0 juiz fim comportamento passivo e nio interveniente 0 Code de procédure civile de 1896 (um dos frutos da codificagio napoleénica) é tum dos expoentes da concepeie liberal do processo. O processo nele regulado era oral, pblico e sem repras de preclusfo, dado que cabia s parts determinar a ordem dos actos, Frocessuis. As partes trocavam entre si pegs esrias que nfo eram comunicadas ao ti- Banal, que 56 se ocupava da acglo depois de aquelas, sem qualquer limitagao de tempo, the apresentarem as questbes a resolver. A pretensio a tutela juridica (Rechtsschutzan spruch, eoncebida como um direito subjective pablo do particular contra o Estado, dava xpressio, no plano douttinéio, a uma rientagao com manifesas influéncias Kiberas A progressiva substituigio do liberalismo pelas varias concepgdes sociais qa acenluacio do intenicncionismo estatal e da fungio assistenciat to Estado refles enum aumento dos paderes do juiz no processo, tanto no impulso” processual, como na instrugo da causa, como ainda na investigagao da matéria de facto, Esta tendéncia, também compativel com 0s requisitos de publicidade, oralidade e concentragao do processo definidos pelas correntes iluministas & jusnaturalistas, concebia 0 processo civil, especialmente pela influéncia ‘marcante do austriaco Franz Klein, como uma instituigdo de bem-estar, no qual devia ter expressao tanto os interesses individuais dos litigantes, como os interesses gerais da colectividade na boa administracdo da justica '. Foi neste ambiente que nasceu o poder assistencial do juiz. perante as partes, bem como 0 dever de colaboragio. destas com o tribunal. 2. Reflexos do Estado de direito © proceso civil e os demais processos jurisdicionais reflectem os valores fundamentais do Estado de direite. E através destes processos que os tribunais desemperiham a fungao jurisdicional e que os interessados tm acesso & tutela jurisdicional, o que implica deterninadas consequéncias em matérias relacio- nadas com o exercicio dessa fungio e com as garantias do processo justo (Chr, Rovenberg/Schwab/Gotnwald, ZPR "8, 14s 1S Cfe Klein Zet- und Geistesstromungen im Prozesse. (1901), in Reden / Vortrige / Aufsitze 1 Briefe I (Wien 1927), INT 88; sobre as orientagdes de Klein, cft. Baur, Zeit- und Geistessiromungen im Proze®, OIBI 1970, 445 45. sabre a evolugdo ds visto liberal para 2 corientagdo social, eft. Pessoa Ver, DPC, 298 ss. Introd ~7.a0 Processo Civil Ul, Exercicio da fungao jurisdicional I. Separagao ¢ interdependéncia de poderes Os tribunals si iberania que dirimem conflitos de interesses (cfr. art” 202°, n° 2, CRP). Respeitando a separagao de poderes entre os varios ‘6rgHos de soberania (cfr. art” 111%, n° 1, CRP), a fungao jurisdicional s6 pode ser exercida pelos tribunais (cft. art® 201°, n® 1, CRP), ou seja, nao pode ser exerida por Grgios legislativos ou executivos. Isto significa que se deve partir de um conceito material de fun¢do jurisdicional e que esta contém em si mesma um aiicleo essencial que ndo pode ser retirado dos tribunais. Sobre a reserva da funglo jurisdicional aos tribunais, eff, TC-443/91 (20/11/1991), DR M-2/4/1992, 3112-(32) = AcTC 20, 477; TC-179/92 (7/5/1992), DR I1-18/9/1992, 8780 = AcTC 22, 407; TC-450V97 (25/6/1997), DR 11-15/10/1997, 12665, Os tribunais tém direito & coadjuvagdo das outras autoridades, piblicas ou privedas (art? 202°, n®3, CRP). Assim, concretizando a interdependéncia entre as svas fungGes (cft. art” 111°, n° 1, CRP), os tribunais tém igualmente direito a colaborago dos outros drgios de soberania. Sobre o dever de informagdo da morada de um cliente de uma empresa de comunicagio através de teleméveis, off. RE-25/1 1/1999, CJ 99/5, 271 2 Condicdes do exes ‘A independéncia e imparcialidade dos tibunais sio duas importantes condi- ses do exercicio da fungi jurisdicional, Esta independéneia resulta ea submissao exclusiva do tribunal & lei (art® 203° CRP; art? 3° LOFTS) e a0s Jiufzos de valor legais (art* 4°, n° 2, EMJ) e concretiza-se na sua nio sujeigio a {uaisquer ordens ou instrugbes, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisdes proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superiores (ant #, n° 1, EMJ) € 0 iéntico dever que impende sobre quaisquer tribunais quanto as decis6es do Tribunal Constitucional (art® 2° LTC), No exereicio da fungao jurisdicional, os tribunais devem procurar observar o principio da igualdade, proferindo decisies idénticas em casos idénticos, Os iribunais devem ter em consideracio todos 05 casos que merecam um tratanento andlogo, a fim de se obter uma interpretagao e aplicagao uniformes do diceito (ar® 8°, n° 3, CC). Uma das fungdes dos tribunais superiores € a de favorzcer a aplicagdo uniforme do direito, podendo mesmo proferir aecrda0s rocesso Chil n especificamente destinados & uniformizacao da jurisprudéncia (cfr., no ambito do processo civil, art’s 732°-A e 762°, n° 3) [No processo de trabalho, o regime de uniformizagio de jurisprudéncia € igual 20 vigente no processo civil (eft. art? 87%, n° 1, CPT). Sobre a fixagdo de jurisprudéacia no processo penal, cfr. art’s 437° a 448° CPP, € no contencioso administrativo e alts a’) ea”), 24°, al's b) eb’), © 30%, als b) e b'), ETAF, tribuléro, eft. ar’s 2 IIL. Garantias do processo justo 1. Generalidades Dos principios enformadores do Estado de direite decorre a garantia do processo justa-oumequitetivo (fair trial) (art? 20°, n° 4, CRP). O processo justo ele ie sma aplicag2o correcta. dalei a factos verdadeiros, pelo aiingir este resultado, € necessério satisfazer algumas condigdes organizativas e atender a alguns direitos das partes e as finalidades que devem ser prosseguidas pelo processo. 2, Aspectos organizativos 0 processo justo exige, antes do mais, uma tramitagdo adequada para aplicar correctamente a lei a factos verdadeiros. Além disso, ele também exige do Estado uma aplicagio dos recursos financeiros necessérios que possibilitem 20s twibunais boas condigdes de trabalho, pois que tribunais com excesso de ttabalho, com jufzes e funcionérios mal pagos, sem os modernos meios tecnolégicos © sem instalagGes adequadas dificilmente garantem uma boa administragio da justica 3. Direitos das partes 3.1. Generalidades Estado de direito implica 0 reconhecimento de de‘erminados direitos das, Partes processuais, Importa referir, em especial, 0 direito de acesso aos tribunais (art® 20", n° 1, CRP), 0 direito & apreciagdo da acgo per um tribunal indepen- dente ¢ imparcial (cfr. art” 10° DUDH; art? 6°, n® 1, CEDH; art® 14°, n° I, PIDCP) ¢ o dircito a obter uma decisdo em prazo razoavel (cfr. art? 20°, n° 4, RP, art® 6°, n° 1, CEDH; art? 2°, n° 1). ___Introdupto 40 Proceste Coit aus desis direitos rlacionam-se com dois Factores inerentes a qualquer brocesso: 0 factor relaivo aos custos © o factor respeitante ao tempo'®, Poly erspectiva de todos os interessados ~ sejam partes ou terceios 0 process aaa anata ON cust incomportéves, nem demorar demasiado tempo a ser decidido. 3.2. Acesso aos tribunais a. Dado que, no Estado de direito, 0s tribunsis possuem 0 monopélio do cxereicio da fungdo jurisdicional, a todos os cidadios deve ser garentice acesso aos tribunais (art? 20", n° 1, CRP)”, pois que qualquer exclusic oo ‘estrigdo nesse acesso implica a impossibilidade ou dificuldade de defesa dos tees ov interesses préprios. Em especial, dado que a justiga nao pode ser denegada por insuficéneis de meios eoonstmicos (an? 20°, n° 1, CRP), hi joe Barantir a todos, através dos necessérios apoios, o acesso a informagae 2 consulta jurdicas © a0 patrocinio judicidvio (an? 20" n° 2, CRP). jh garantia do acesso a justiga, independentemente da situagio econémica fu da condicio social do interessado, ¢ uma consequencia do principio da jgualdade (an 13° CRP), pois que hé que evitar que alguém deixe de wick 6s seus direitos ou interesses em jufzo por nfo poder suportar as inerenran cEspeses. O apoto estadual no acesso 20s tribunais também decorre dos prin Piot orientadores do Estado social de direito, segundo os quais os cidelitos tem direit a que 0 Estado forega as condigées que possbiitem um goz0e wr, exercicio eectivos dos direitos constitucionalmente consugrados eine do apoio judicicio conste do Decreto-Lci 387-B/B7, de 29/12 (alerato Bay Pei 40/96, de 3/9) edo Decreto-Lei 391/88, de 26/10 (alterado pela Lei a/v de © pelos Decrets-Leis 102/92, de 30/5, 133/96, de 13/8, e 25119, de Dey A garantia do acesso aos tribunais néo € incompativel com certas restrigdes, #f84e ue estas no sejam arbitréris ou injustiicadamente diserimina he 3 0 que sucede, por exemplo, com a fixagio de prazos Para o exercicio do © Ci. Zuckerman, Justice in Criss: Comparative Dimens Ed), Civil Justice in Crisis (Oxford 1999), 6 se “ata Fa fxemrlo, Tucker, Proceso Civile «Costtwione Problem di Disto Tedesco e Soe olen Peels: Cappel. The Emergence ofa Modem Theme in Caen, ane, oc Toward Equal Jostice:A Comparauve Study of Legal Ald iv Marea oe, Tree paths Ferry / New York 1981), 3 ss. C. Lopes do Rego, Aces so dress 1 goa) ara de Arado eral, Estudos sobre a jurisprudence do Tribunal Coraeciony -isboa 1993), 41 ss ions of Civil Procedure, in Zuckerman 23 ‘Processo Civil : acs 496%, 1, 1410" 01, 1786, tom proposad coi a 496 1, LAP wr, CO) ou com aengencla do pain jutro fe ats 26, I ee b. Um outro reflexo da garantia do acesso aos tribunais independentemente da condigao econdmica ou social do imeressado ¢ o que se estabelece quanto 3 falta de cumprimento de obrigagSes tributérias: essa situac3o nao obsta nem a0 recebimento ou prosseguimento de qualquer acgao, incidente ou procedi- mento cautelar (art® 280°, n° 1), nem & valorago dos documentos apresentados como meio de prova (art? 280°, n° 2), ¢. Finalmente, 0 diteito de acesso aos tribunais também exige que as custas 4o processo ~ isto é, a5 quantias que deverm ser pagas pela parte vencida na 2580 (eft ar 446°, n°s 1 2) ~ ndo sejam desproporcionadas em relagdo nem 20s benefcios que o autor pode vir aretrar da prooodéncia da acco, nem is desvantagens impostas 20 réu que fo} condenado. Uma tal desproporgio sigi- ficaria que as custas deixariam de se orientar por vim principio de compensagio das despesas ocasionadas ¢ passariam a representar uma sangao imposta a parte vencida, Isso traduzir-se-ia ainda num desincentivo ao recurso aos tribunais, pois que dificilmente alguém arriscaria propor uma acgao se receasse que, na hipstese de improcedéncia, teria que pagar uma quantia desproporcionads em relacio & vantagem que poderia obter em caso de procedéncia. 3.3. Igualdade das partes lidade do tribunal implica que este érgdo néo pode tomar partido ia das partes, devendo jas, durante todo.0 processo, com completa igualdade (art? 3°-A) '8. A parte tem direito a que, perante o tribunal, 4 Sua posigdo processual tenha o mesmo valor que a da sua contraparte. E nisso ue consiste © principio da igualdade de armas das partes, que se concretiza na Possibilidade de cada uma elas se pronunciar sobre tudo 0 que for relevante Para a decisio da causa ¢ de utilizar todos os meios admissiveis para se defender de um pedido ou contrariar uma alegagio da contraparte. 34, Previ ade da decisio A decisto do tribunal deve corresponder aquilo que € alegado e discuido durante 0 processo, nao devendis as partes Ser surpreenididas com uma decisio "8 Sobre o enquacramento consttucional desta igualdade, eft. Jorge Miranda, Consttuigio € Processo Civil, Dust 8/2 (1994), 1536 __Iniotusn go Processo Cinit Hestio que nenhuma das partes alegou ou discutin Para obwine se chamadas psigesisupresa”, 0 art" 3°, n°3, profoe, em regra, que o jule comheca de auestes defacto ou de direito, mesmo de conhecimento oficinse. sor gue as artes tenham (ido a possibilidade de sobre elas se pronuncianes, 35 Prazo.razoavel_ AS partes tem direito a que a decisio da causa seja proferida num prazo entre (ar? 20°, a 4, CRP: art 6, a? 1, CEDH; ant” 2" n° 1), Naeve certa- iente possivel definir em abstracto 0 prazo razoavel para» duragdo dos Gina se Sustica tarda ¢ uma justiga mais falive ecuja utilidede goa diminuids, se ndo mesmo completamente perdida Ne enfant, como se comprova pela anise de diferentes épocas hstércas asl erdenamentosjuaicos, a obtengéo da decisio da casa num proce senate! fem sido, dentro das garantias das partes, uma das mais dine oo Uigincia que, por seu tumo, tem variadas causa soiais eecondimices) aliado, reaits fttores, &s condicies de trabalho existentes nos tabgamne ‘Goulds de racionalizar 0 processo e de maximizar a sua efciénene ved a alguns comportamentos dilatérios das partes {oh msde dial em Pol, ct Sousa Sets /M.M,Leido Magus (arse, ey Cee, Os Tuma as Socidnes Cntenpernea a Cae eee Fane 96, 37 8: também MM, Leo Marques Corea FI ae ene rocesso Civil 3 4, Finalidades do processo O processo justo também implica a existéncia de procedimentos adequados a diferentes objectivos, Assim, porque hé que permitir o reconhecimento do direito ou interesse, porque importa possibilitar a realizacio coactiva de ume prestacdo no cumprida e ainda porque hé que acautelar o efeito util da tutela, alli processual, como se dispée no art” 2°, n° 2, prevé: — processos declarativos, que so processos destinados & apreciagao e declaracio do direito (eft. ar” 4°, n° 2); ~ processos executives, que possibilitam a reparacio efectiva do direite violado (cft. an” 4°, n® 3); ~ procedimentos cautelares, destinados a obter uma composigdo proviséria dos interesses conflituantes antes do proferimento da decisio final ¢ @ acautelar 0 efeito itil da aegdo (eft. art” 381°, n° 1). $3. Elementos do processo civil I. Sujeitos processuais 1. Tribunal Os sujeitos do processo civil sto o tribunal e as partes. O tribunal é 0 érgio decisorio, isto ¢, 0 érgtio que administra a justiga no caso concreto que the foi submetido a julgamento (cfr, art® 202°, n° 1, CRP), Se 2.Bartes / dS partes sio.as entidades que requerem-a tutela jurisdicional ara um deter- tidado disvitg ou interesse ou contra as quais é cequerida essa mesina tuielaf "Spare que requet aquela ttela juredictored designa-se por autor, no pracesso declarativo, e exequente, no processo executive. A parte contra a qual é reque. Fida essa mesma tutelachama-se, espectivamente, 16u ¢ executado Toda a parte actua em jufzo em nome préprio. Assim, quando se verifique uma situagio de representacdo, a parte € sempre o representado © nunen © representante Nenificados determinados pressupostos, so possiveis situagSes de pluralidade de Partes (cfr. art's 27° a 31°-B) e € admissivel a intervenc3o de ‘erceiros durante endéncia da acgio (eft. art’s 320° a 350%). 2 ae _ Introdugao ao Processo Civit 3. Participantes processuais Além do tribunal © das partes (isto €, dos sujeitos processuais), outras entidades podem ter intervengao num processo pendente. Eo caso, por exem, Plo, das testemunkas (cfr. art? 616°) e dos peritos (cft. art°s 568° e 369"). Estas entidades, que no sio sujeitos processuais mas intervém no processo, podem ser designadas por participantes processuais. IL. Objecto processual 1. Nogio © objecto do proceso é a matéria ou assunt chamado a pronunciar-se, Este obj pedido e a causa de pedir. 10 sobre o qual o tribunal é jecto € constituido por dois elementos: 9 2. Elementos 2.1. Pedido © pedido é @ forma de tutela jurisdicional requerida para um direito subjectivo ou interesse legalmente protegido (cfr. art® 498°, n° 3). A parte alega um direito ou um interesse e requer para eles uma das formas de tutcla jurisdicional correspondente a uma das acces previstas no art? 4°, n°s 2 ¢ 3. a condenacio, a apreciacdo, a constituigao ou a execucio, 2.2. Causa de pedir &_A causa de pedir (causa petendi) € constitutda pelos factos necessésios ara individualizar 0 direito ou o interesse invocado pela parte (cfr. art® 498° 1°4 T* parte). Assim, por exeinplo, € distinto o direito de crédito que é invocado com fundamento num contrato de compra venda de um outro direito de crédito que é fundamentado num contrato de mituo, Os factos que integram a causa de pedir so 0s factos essenciais, isto é, os factos dos quais resulta a situago subjectiva alegada pela parte, Dado que a qualificacio juridica dos factos pertence ao tribunal (eft. art? 664° I* parte), a causa de pedir € 0 facto concreto e nio a categoria juridica ou legal em que se enquadra » facto alegado (cfr., w. g., STJ-17/1/1995, BMJ 443, 353 = CUS 95/1, 27; RL-24/6/1997, BMI 468, 464), 3 rpaca cauta de pedi € 6 fact jurdice de que deriva prepricdade (eft. ar” 408 sere pare), pelo que, se a aquisgio for derivada, €necesséio demonstrat, além do oe ave dar o, que o dirt exsa no warsmitente (STI S73/1991, Tr cedseranee sansa, ae : at ae exo omerto qu €nvocada com fenJamento sede (RE IO 1988, raisons a causa de pedir € 0 facto 1 Fgh macy de investiga da ptergade, ans de ; BM cs pocigao (ST 19/1/1995 BMA #25, 535 CIS 9/1, 67 na aq enstitutiva de dendincia do arrendamento, a causa de pedir € a necessidade da casa para ‘to R997, C3579, 217s code eri aca ep A sstituida pelos factos reveladores da anomalia psiquica, da surdez-mudez ou da ceearedovespetvo gra de napaidade (RL1T/!2000 C2 200/117) b. causa de peti ¢imepraa els fasts esses pra ndvualiza 4 suasto subjective alegat,o que no significa que ela englobe tos os Fressupostos constitutivos daquela situacio. Assim, por exemplo, numa ace fin que se pede 0 cumprimento de um contrato nao tém de ser alegados, como causa de pedir, todos of factos respeitantes aos requisitos de validade desse contrato (como so, entre outros, a capacidade das partes e a inexisténcia de jualquer falta ou vicio da vontade dos contraentes) i além disso, dos facts esencsis que intgram a causa de pedir ha que distinguir os factos instrumentais (probat6rios ou indicifrios) e os factos complementares (ou concretizadores). Qs factos instrumentais so aqueles de e ode inferir a demonstractio dos correspondents faclos essenciais ula prova se pode infer demonstrco dos correspondentes TastoseSSencinis (ir. an® 264°, n° 2). Por exemplo: a causa de pecir de uma acgao di investigagio da paternidade € o acto de procriagao natural (cfr, v.g., STI-19/ 1/1993, BMJ 423, 535 = CHS 93/1, 67), mas, como € dificil provar esse mesmo acto, a comunhio duradoura de vida entre a mae do investigante e o pretenso pai pode ser utilizada como facto instrumental (oft. art® 1871°, n° 1, al. c), CC). i ci trumentais tem importincia nos seguintes Esta distingdo entre factos essenciais e instrum porta 2 sspectos: 56 a modificagio de um facto essencial implica a alteragdo da causa de ped (fe as 272” ¢ 273°, pos que, como os actos instruments no integra 9 canst de pedir, a modifica destes no afeca essa causa petendi;—o weibunal estévincuad causa de pedir alegada pela parte (art’s 264°, n° 2, © 664° 2 parte) e, portanto, aos factos essenciais, mas os factos instrumentais podem ser considerados oficiosamente pelo tribunal (art? 264°, n° 2 On fine). Os fetes complemenares 3 e_nto sendo inispensveis 3. Se eae clei Seecias inet Gear, Gnjugacdo com os factos essenciais, 8 procedéncia da acgio (cfr. art? 267, dessa violagao *, 3. Relevancia 3.1. Intraprocessuat 0 objecto do processo condiciona o obj i ; ona o objecto da decisio, ou seja, aquilo que palo c alee pels pane aula que pal wr apse caf aut tibunal, Nesta materia, aregra €0 de cies wits deve apreciar tudo 0 que DEITIO ala parte © ndo pode apreciar mais do que aquilo que a parte pediu (CE ans 660%, n° 2, © 664°; ct. também axt® 668°, n° I al dy 2. Extraprocessual F através da andlise do objecto do processo g IeeS80 que se pode saber o que ¢ pedo pla are «aul ofundimeno que ea peste a ede formals, Qualquer deste elementos érelevante para permitirs comparagiio com ° objeto de uma outra acglo, o que ¢ determinante para verifio oe esto preench'dos os tequisitos das excepgves de litispendéncia ou de cx (cfr. e’s 497° e 498°), ° enna Convétn precisar que a decisdo do tribunal — isto é, a condenagao ou absol- visio por ele proferida — vale sempre em conjunto com o respectivo funda- Trente. Assim, se, por exemplo, a parte fundamentou a acgto de reivindicagao de um bem na sua aquisigo por usucapido eo tribunal julgou a acgao impro- Gedenie pordue 0 autor no provou esse fundamento, esis pute age esté impe- 4. Valor da acco 41. Atribuigio Processo Civil 35 patimonal (om, gor exempo, 0 dicit ao divério ou ao etabelecimento Gs ptemidede), No entanto, quaiqur que sea objec de posecorc eee causa dove ser atbudo um valor ent, exysutremccle toad ee pondent uildade eondniea dope Qe 3055591) Contre dst no act 30% 2,2 iba dem valor solo eleva pra detorina em cones com ees actress compuoncotebaar ae ST 1 Sore OW LOFTY art 310, wD. ales formas pe a se 45 eet asin parle de cur, acoso ele ‘aloe do proceso pan fete de cas are 30S, w°3) 0 ul dee cers especias ds arts Sa 12 ed (ee RP20E/1800,BML 395 oF Reco 1191, BME 395.675, ST 26/1996, BM 45,408 STH-G5N1907 BU ke se 42. Critérios &. Os critérios aferidores do valor da causa podem ser gerais ou especiais Os critérios gerais determinam que o valor da causa € 0 valor da quantia certa em dinkeiro que se pretende obter ou, quando se pretende um beneficio divers0, © valor da quantia em dinheiro correspondente a esse beneficio (ert 306°, 1° 1), Se numa mesma acgao se cumularem varios pedidos (cf. art® 470°, n° 1), 9 valor € a quantia correspondente & soma do valor de todos eles (art® 306°, 12 It part), Podetn referr-se os seguintes exemplos: nas acgbes de demarcagdo, 0 valor da causa € 0 da fana de terreno em litigio (RC-20/3/1984, BMI 335, 343) nas acgées de demoliggo de obra por devassa de prédio allio, o valor da acgio é 0 do custo da remo- {40 da obra adicionado ao do prejuizo provocado pelo devassamento (RL-15/4/1991, BMI 406, 717) ». Os critérios especiais aferem 0 valor da acco sempre que 0 objecto do Processo nZo seja uma quantia monetéria ou algo de equivalente. Dos varios titérios especiais salientam-se os respeitantes a fixagzo do valor quando objecto for a existéncia, validade, cumprimento, modificagao ou resolugiio de umm acto juridico (art? 310°) ou um direito de propriedade ou outro direito real sobre uma coisa (art? 311°). © valor de uma aogio de anulagao de deliberagies sociais determine-se segundo 4 regra do art® 310°, n° 2 (cfr. RE-12/4/1984), BMJ 338, 482), sto €, de acordo com a lutilidade econémica imediata do pedido (mas, RL-5/1/1982, CI 82/2, 149: o valor de uma acglo de anulagdo de deliberagdes sociais, respeitante & distribuigto de lucros, €

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