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Degravação Heloiza Massanaro
Degravação Heloiza Massanaro
Heloiza: O SOS Saúde Mental surge a partir desses debates que a gente fazia
dentro da própria instituição, geralmente nos períodos noturnos, tinha uma
programação mensal bastante interessante. Em algum momento, essas discussões
provocam e o governo anuncia então que vai fechar. Esse próprio grupo é aquecido
pela presença de Olivia Vieira, Mauro Rubem, Denise de Carvalho, parlamentares
que estavam nos apoiando e ainda a Associação de Usuários [da Saúde Mental -
AUSSM], que já estava também funcionando. Os trabalhadores eram poucos, como
é o Dr. Luiz Pires, era um psiquiatra de mente mais aberta naquela época, que foi
um dos idealizadores do Hospital Dia. Então, ele caminhava até certo ponto com a
gente. Alguns poucos, porque a gente sabia que os que nos apoiaram muitas vezes
precisavam ficar meio escondidos porque a pressão é grande. A entidade deles
[organização de classe da psiquiatria em Goiás] é muito forte, e tem um propósito
de manter o manicômio.
A gente percebe que tinha enfermeiras também, a Salete [QUAL?Maria
Salete Silva Pontieri], Edilene Vianei, Denise Munaai, professoras da católica, que
também caminhavam com a gente nessa época. Da psicologia também, nós
trabalhadores e militantes estávamos ali juntos, alguns por conta desse trabalho do
Conselho Federal [de Psicologia], que falei inicialmente.
Acho que esse grupo do SOS Adauto Botelho provocou vários debates,
matérias no jornal, aliás uma foto de jornal muito linda, o Mauro Rubens em cima da
patrola. Ele era ousado, fazia os enfrentamentos, não foi só no Parque Oeste, não,
mas lá também ele fazia isso de subir na patrola. Foi um enfrentamento dessa
ordem, mas muito rápido porque o governo fez muito rápido a desocupação, logo
ele instituiu um interventor, que foi o psiquiatra do Ministério da Saúde, o Dr. Ciro
Calil e ele começa então, a fazer as retiradas, identificar famílias que pudessem
receber as pessoas, mas sem nenhum tempo para preparo, discutir, criar o
ambiente, como a gente hoje fez de volta pra casa. Um despejo mesmo, você tem
família? Vai para sua casa.
O que isso resultou? Algum tempo depois, a gente achou essas pessoas na
rua, então houve depois uma busca de pessoas com transtorno mental vivendo nas
ruas. Muitas pessoas. Algumas que tinham problemas de deficiência mental, foram
dirigidas para [a Vila] São Cottolengo [Município de Trindade - Goiás], das
instituições que aceitaram, Jataí e Rio Verde, que tem instituições conveniadas. Um
esparramamento muito rápido e os últimos ficaram dentro lá do Pronto Socorro
Psiquiátrico Wassily Chuc e tinha na época 60 leitos, muito leitos na época.
Colocou uma patrola para funcionar rapidinho, antes que a gente
conseguisse articular forças nacionais, que a gente já buscava socorros dessa
ordem. Nos restou depois acompanhar.
[olha alguém está dizendo…] O Ronaldo Caiado está fazendo as coisas
sozinho… é uma pena que ele é médico…
Ronivaldo: Qual o papel dos usuários, da população externa do Hospital? Se
organizaram, qual a importância deles, especialmente o movimento dos usuários.