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Tutorial 3 - Dermato - Dermatozoonoses
Tutorial 3 - Dermato - Dermatozoonoses
1. INTRODUÇÃO:
⇾ Dermatozoonose: toda e qualquer alteração tegumentar, ocasional ou permanente, desencadeada por
protozoários, vermes, insetos e celenterados, quer sejam parasitas ou não.
- Pode ser parasitária e não parasitária:
» Exemplos:
▪︎ Parasitárias:
▫︎ Exclusivas do homem: pediculose de couro cabeludo e oxiuríase.
▫︎ Não exclusivas do homem: miíase, picada de pulgas e mosquitos.
▪︎ Não parasitárias: picadas de escorpião e aranhas, abelhas e queimaduras por anêmonas e fisálias.
1) ESCABIOSE
⇾ Também denominada sarna, é uma doença contagiosa produzida pelo Sarcoptes scabiei var. hominis, que produz
uma dermatose pruriginosa predominantemente noturna.
» O parasita é exclusivo da pele do homem, morrendo em algumas horas quando fora dele.
» Portanto, são ectoparasitos que precisam do hospedeiro para a sua sobrevivência e reprodução.
1. EPIDEMIOLOGIA:
- Acomete todas as raças, idades e classes sociais, com predominância nos indivíduos adultos de baixa renda, que
moram em ambientes aglomerados e com pouca higiene.
2. TRANSMISSÃO:
- A transmissão da sarna geralmente ocorre por contato direto e prolongado pele a pele, como pode ocorrer entre
familiares ou parceiros sexuais. POREM, é improvável que o contato casual com a pele resulte em transmissão.
- A transmissão através de fômites (por exemplo, roupas, roupas de cama ou outros objetos) usados por uma pessoa
com sarna clássica é incomum. No entanto, a transmissão por fômites é mais provável de ocorrer no cenário de sarna
crostosa devido a uma carga parasitária muito maior.
- Além disso, a verdadeira infestação de sarna não é transmitida de animais para humanos. Os ácaros da sarna
responsáveis pela sarna animal (ou seja, sarna sarcóptica) pertencem a subespécies distintas e normalmente não
podem se reproduzir em humanos. As reações a esses ácaros geralmente são autolimitadas e desaparecem se o
contato com o animal afetado cessar.
- Uma vez transmitida à pele humana, a fêmea adulta fecundada escava túneis (sulcos) no estrato córneo da epiderme
e, em seguida, realiza ovopostura no local, a cada 2-3 dias, geralmente à noite, momento de maior atividade
parasitária.
- Cada fêmea expele uma média de 3-4 ovos por dia na pele
e sobrevive no hospedeiro por cerca de 30-60 dias, durante
os quais coloca uma grande quantidade de ovos no local,
sendo responsável, então, pela proliferação parasitária.
Fora do hospedeiro, estes ácaros não sobrevivem muito
tempo.
- Esses os ovos da fêmea eclodem após sete dias de serem
expelidos, liberando larvas hexópodes (seis patas) que
migram para a superfície da pele e criam pequenos nichos
na epiderme ou penetram nos folículos pilosos, criando uma
espécie de esconderijo onde ocorrerá o término de sua
metamorfose
→ as larvas convertem-se em ninfas octópodes (oito
patas) → que após diversas mudas se transformam em
ácaros adultos (machos ou fêmeas), num processo que dura
em torno de 20 dias.
- Nesse momento, a fêmea é fecundada pelo macho, adquirindo condições de escavar um túnel epidérmico e realizar
a ovopostura no interior da epiderme, completando o ciclo.
4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:
- As principais variantes clínicas da sarna são a sarna clássica e a sarna crostosa.
- História e exame físico — O diagnóstico de sarna clássica deve ser suspeitado em pacientes com um ou mais dos
seguintes
• Coceira generalizada que piora à noite, poupa a cabeça (exceto em bebês e crianças pequenas) e parece
desproporcional às mudanças visíveis na pele
• Uma erupção pruriginosa com lesões e distribuição características
• Outros membros da família com sintomas semelhantes
Um diagnóstico de sarna crostosa deve ser suspeitado quando as seguintes características estão presentes:
• Placas grossas, crostosas e fissuradas
• Paciente idoso ou imunossuprimido
- Os túneis epidérmicos muitas vezes não são evidentes no exame físico, mas, quando observados, apoiam fortemente
o diagnóstico
⇾ Exame para ácaros: O método definitivo para confirmar o diagnóstico de sarna é uma preparação para a sarna. As
preparações de sarna são usadas para detectar ácaros, ovos de ácaros ou pellets fecais de ácaros. O exame
dermatoscópico pode identificar locais de ácaros da sarna ou tocas e pode facilitar a colocação da raspagem.
⇾ Preparação da sarna: A realização de uma raspagem da pele envolve a amostragem e o exame microscópico da
epiderme de locais que podem abrigar ácaros da sarna. Em adultos, as áreas mais propensas a produzir ácaros são
entre os dedos, laterais das mãos, punhos de flexão, cotovelos, axilas, virilha, seios e pés
⇾ Exames laboratoriais: Os exames de sangue geralmente não são indicados para o diagnóstico da sarna.
6. TRATAMENTO:
- Antes de se iniciar o tratamento da escabiose, é preciso fazer um levantamento de todos os habitantes da casa e
avaliar os que estão de fato acometidos.
- Em casos de dúvida → é melhor tratar todos, pois, caso contrário, um novo ciclo epidemiológico familiar pode
ocorrer.
⇾ Todos os medicamentos causam dermatite por irritante primário, por isso, os pacientes devem ser orientados a
utilizar a medicação somente como prescrito.
» Após o tratamento, particularmente nos casos em que a afecção perdurou por longo período sem
diagnostico, o prurido pode permanecer por semanas, por memória do prurido ou sensibilidade a antígenos
parasitários.
▪︎ Corticoides tópicos e sistêmicos e anti-histamínicos são indicados para esses casos e usados até o
desaparecimento do prurido.
⇾ Não há necessidade de ferver roupas pessoais, de cama ou toalhas, bastando apenas lavá-las até após o 2º dia de
tratamento.
» O ácaro resiste fora do hospedeiro por, no máximo, alguns dias.
⇾ Se até após 1 semana de tratamento persistirem as lesões, recomenda-se repetir o tratamento, de preferência com
outro escabicida.
⇾ Todos os medicamentos são igualmente eficazes.
⇾A permetrina tópica e a ivermectina oral são os tratamentos de primeira linha mais comuns
➤ PERMETRINA:
⇾ Corresponde a um Piretroide sintético, utilizada a 5% em loção e considerada muito efetiva e de baixa toxicidade.
⇾ Pode ser usada em adultos, crianças, gestantes e mulheres em aleitamento (primeira linha).
⇾ Passar o medicamento em todo o corpo, do pescoço aos pés, sem banho prévio, deixando-o por 10 a 12 horas.
» Em seguida, tomar banho e repetir outra aplicação após 24 horas.
▪︎ Após duas aplicações, se houver prurido, usar cremes de corticoides e anti-histamínicos.
» Decorrida uma semana, se o prurido aumentar, repetir a aplicação.
➤ IVERMECTINA:
⇾ Agente antiparasitário de amplo espectro.
» Atua sobre os canais de cloro controlados pelo glutamato (presentes nos neurônios e células musculares dos
ácaros e nematódeos), e bem menos importante pelo GABA (presente no homem apenas no SNC), levando a uma
paralisia flácida dos agentes etiológicos.
⇾ Opção eletiva para a terapia sistêmica da escabiose.
⇾ A dose preconizada é de 200 µg/kg, ou seja, 1 comprimido para cada 30 kg, devendo ser empregado sempre para
mais, já que a dose tóxica é 60x a dose recomendada.
⇾ Administrada VO, em dose única, que pode ser repetida após uma semana.
» Em imunocomprometidos, são necessárias duas doses.
▪︎ Podem-se usar, simultaneamente, os tratamentos tópico e o sistêmico.
➤ TERAPIAS ALTERNATIVAS:
• Enxofre precipitado:
- Empregado a 5% em vaselina ou, pasta d'água, por 3 dias.
- É eficiente e pouco irritante, sendo a 2ª escolha para o tratamento de crianças.
• Monossulfiram 25% em solução alcoólica:
- Empregado diluído em água (duas vezes para adultos e três vezes para crianças).
- Deve ser usado de maneira similar aos demais tratamentos tópicos por 3 dias.
- Deve-se evitar o uso de bebidas alcoólicas durante o tratamento, pelo efeito antabuse (inibe o metabolismo do etanol
no organismo, o que causa acúmulo de um derivado tóxico chamado acetaldeído). É pouco efetivo.
• Benzoato de benzila:
- Usado em loção a 25%, em todo o, corpo, deixando agir por 24 horas, por 3 dias.
- Medicamento efetivo, porém leva a dermatite de contato.
- Atualmente está em desuso.
7. PROFILAXIA:
- Tratar simultaneamente todas as pessoas atingidas pela parasitose.
2) PEDICULOSE:
- Dermatose causada pelo inseto do gênero Pediculus (“piolho”) da ordem dos anopluro. Existem dois tipos de
pediculose: (1) do couro cabeludo, causada pelo Pediculus (humanus) capitis ; e (2) do corpo, causada pelo Pediculus
(humanus) corporis
1. EPIDEMIOLOGIA:
• Pediculose do couro cabeludo:
- Predomina em crianças entre 3-10 anos.
- Estima-se uma prevalência entre 5-10% na população.
• Pediculose do corpo: reduziu drasticamente a sua ocorrência, especialmente pelo hábito de trocar de roupa
diariamente, estando atualmente restrita a indivíduos com péssimos hábitos de higiene, como mendigos de rua
(“doença do vagabundo”).
2. TRANSMISSÃO:
- A forma infectante é a fêmea adulta fecundada. Pode ser transmitida facilmente através do contato interpessoal ou
pelo compartilhamento de fômites (pentes, escovas, etc.), nas quais o parasito pode permanecer vivo por poucos dias.
3. CICLO EVOLUTIVO:
• Pediculose do couro cabeludo - PEDICULUS CAPITIS:
- Nesse caso, tanto o macho quanto a fêmea do P. capitis alimentam-se do sangue humano, e o ambiente ideal para a
sua sobrevivência é no couro cabeludo.
- Nesse local tais parasitas encontram condições ideais para a ovopostura, onde sobrevive por até 30 dias.
- Cada fêmea adulta põe em média dez ovos por dia, denominados lêndeas, as quais ficam aderidas à base da haste
dos cabelos, mantendo a sua viabilidade quando próximas do couro cabeludo.
- Após sete dias, as lêndeas eclodem liberando ninfas, que passam por três mudas seguidas até chegar à fase adulta,
em aproximadamente sete dias.
4. PATOGÊNESE:
- O piolho causa prurido e dermatose pelo efeito da hipersensibilidade cutânea às substâncias liberadas pela sua saliva
e fezes.
- Além disso, o parasita é um espoliador sanguíneo, podendo contribuir para anemia ferropriva, especialmente em
crianças pequenas que se alimentam mal.
5. APRESENTAÇÃO CLÍNICA:
- Dividida em pediculose do couro cabeludo e pediculose do corpo.
• PEDICULOSE DO COURO CABELUDO:
- O diagnóstico de tal condição é sugerido quando se tem a queixa de prurido no couro cabeludo, sendo tal condição
confirmada a partir da visualização de lêndeas → estruturas ovoides, esbranquiçados e aderentes à haste do cabelo.
*** As lêndeas podem ser facilmente diferenciáveis de escamas da pitiríase capitis pela forma ovoide e pela
firme aderência ao cabelo.
*** Geralmente o encontro de parasitas é mais difícil e necessita de exame físico mais demorado.
- PORTANTO, Em toda queixa de prurido no couro cabeludo, principalmente em crianças, deve ser feita a exclusão de
pediculose.
• PEDICULOSE DO CORPO:
- Caracteriza-se por prurido de intensidade variável e urticárias, que podem ter pontos purpúricos centrais. Além disso,
podem ocorrer, ainda, áreas de hiperpigmentação e eczematização.
- Áreas mais afetadas: o interescapular, ombro, face posterior das axilas e nádegas.
- Confirmação do diagnóstico: feito pelo achado do parasita nas pregas de roupas.
6. TRATAMENTO:
- O tratamento divide-se em relação as áreas afetadas.
OBS 2: Usar Sulfametoxazol-trimetoprima (400 mg a 80 mg), VO, 3x por dia, por 3 dias, para adulto → efetivo
▪︎ Repetir após 10 dias.
▪︎ Somente atua sobre os parasitas, sendo necessário eliminar as lêndeas.
• PEDICULOSE DO CORPO:
- Medidas de higiene e lavagem da roupa são suficientes para a cura.
7. PROFILAXIA:
- Examinar e tratar todos os pacientes que entraram em contato com o indivíduo afetado.
3) TUNGÍASE:
-Causada pelo Tunga penetrans → pulga que habita lugares secos e arenosos → encontrado em zonas rurais,
chiqueiros, currais.
-Seus hospedeiros são o homem e suínos.
-São hematófogos → o macho, após se alimentar de sangue, abandona o hospedero, já a fêmea penetra na pele,
introduzindo a cabeça e o tórax na epiderme e deixando de fora o estigma respiratório e o segmento anal para a
postura dos ovos.
-Os ovos se desenvolvem no interior da fêmea e, assim, o abdome do animal se dilata → tal fato leva a expulsão dos
ovos na superfície da pele e, assim, completa o ciclo vital → dessa forma, caracteriza-se por uma doença autolimitada,
pois após eliminar os ovos a fêmea morre.
1. MANIFESTAÇÕES CLINICAS:
-No início do quadro, tem-se prurido e posteriormente ocorre o
aparecimento de sensação dolorosa no local de infecção.
- Surge, então, a presença de pápula amarelada (batata) com ponto escuro
central (que corresponde ao segmento posterior do parasita contendo os
ovos).
-As lesões são encontradas geralmente regiões plantares, periungueais e
interdigitais dos pés. As regiões menos comuns são: genitália, períneo e
membros.
-Quando numerosas, apresenta aspecto de favo de mel.
-Pode ocorrer infecção secundária: piodermite, celulite.
2. TRATAMENTO:
-Consiste na enucleação da pulga com agulha estéril e desinfecção com tintura
de iodo.
-Também pode-se usar eletrocaltério ou eletrocirurgia após anestesia tópica.
-Em casos de infecções secundarias, deve ser feito a administração de antibiótico
VO.
-Em infestações extensas do parasita, administra-se ivermectina DU ou
tiabendazol 25mg/kg VO 2x ao dia por 3-5 dias.
-Profilaxia: uso de calçados em áreas suspeitas e eliminação de fontes de
infestações com DDT (pesticida), BHC (inseticida) e fogo.
2. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:
-As lesões são em número variável e se localizam
principalmente nos pés e nádegas (pois quando o
indivíduo entra em contato com a terra afetada, ele
pode ter infecção por vários parasitas → por isso o
número de lesões varáveis).
- Tais lesões se caracterizam por erupção ligeiramente
saliente, que apresenta, na porção terminal, uma
pápula eritematosa onde está localizada a larva.
-Apresenta intenso prurido, principalmente quando a infestação está numerosa.
-Em casos reacionais mais intensos podem apresentar vesículas e bolhas.
-A larva migrans disseminada é rara, mas quando presente, pode desencadear a síndrome de Loeffler → febre,
alterações respiratórias, infiltrados pulmonares e eosinofilia periférica.
3. TRATAMENTO:
- Feito com Albendazol 400 mg DU para adultos e crianças com mais de 2 anos → em casos de infestações intensas ou
resistentes pode-se repetir a dose após 24-48h → seu uso não impede aleitamento e o risco fetal é categoria C (não
há estudos adequados em mulheres grávidas).
-Também pode ser usado ivermectina 200 ug/kg VO DU → pode repetir após 1 semana, caso necessário.
-Em casos de lesões numerosas usar tiabendazol 30-50mg/kg DU.