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Marcius Vinicius M.

Maranhão Jedson dos Santos Nascimento


Eduardo Bianchini Marcos Antonio Costa de Albuquerque
Adriano Bechara de Souza Hobaika Maria Angela Tardelli
Alexandre Guedes Editores

CIÊNCIAS BÁSICAS
EM ANESTESIA

CIÊNCIAS BÁSICAS EM ANESTESIA


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Ciências básicas em anestesia, uma obra produzida

CIÊNCIAS
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estruturada para ser entregue aos leitores em três

BÁSICAS EM
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volumes, com os conhecimentos fundamentais da área
para os anestesiologistas. O Volume 1, já disponível,
contempla informações sobre Farmacologia. Este

ANESTESIA
Volume 2 traz informações sobre Fisiologia e ciências
afins e, o Volume 3 abordará Farmacologia, fisiologia e
ciências afins em situações especiais.
Neste volume dedicado à Fisiologia e ciências afins,
as informações são apresentadas em 25 capítulos, Fisiologia e
ciências afins

2
distribuídos em quatro partes: conceitos básicos;
anatomia e fisiologia por sistema orgânico; princípios
de biofísica aplicados à anestesia; equipamentos
de monitorização: princípios de funcionamento,
verificação e dispositivo de alarme. Marcius Vinicius M. Maranhão Jedson dos Santos Nascimento
Eduardo Bianchini Marcos Antonio Costa de Albuquerque
ANESTESIOLOGIA
Adriano Bechara de Souza Hobaika Maria Angela Tardelli

2
Alexandre Guedes Editores

Em produção

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CIÊNCIAS
BÁSICAS EM
ANESTESIA
CIÊNCIAS
BÁSICAS EM
ANESTESIA
Fisiologia e
ciências afins
Marcius Vinícius M. Maranhão Jedson dos Santos Nascimento

Eduardo Bianchini Marcos Antonio Costa de Albuquerque

Adriano Bechara de Souza Hobaika Maria Angela Tardelli


Alexandre Guedes Editores

Versão impressa
desta obra: 2023

Rio de Janeiro
2023
Ciências básicas em anestesia: fisiologia e ciências afins (Vol. 2)
Copyright © 2023, Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA)
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra,
por qualquer sistema, sem o prévio consentimento da SBA.

Colaboraram nesta obra:


Editora: Mirian Raquel Fachinetto
Preparação de originais: Heloísa Stefan
Leitura final: Cecília Beatriz Alves Teixeira
Ilustrações: Gilnei da Costa Cunha e TIPOS – design editorial e fotografia
Capa e projeto gráfico: Paola Manica / Brand&Book
Editoração: TIPOS – design editorial e fotografia

C569 Ciências básicas em anestesia : fisiologia e ciências afins [recurso


eletrônico]/ Editores, Marcius Vinícius M. Maranhão,
Eduardo Bianchini, Adriano Bechara de Souza Hobaika,
Alexandre Guedes, Jedson dos Santos Nascimento, Marcos
Antonio Costa de Albuquerque, Maria Ângela Tardeli. – Rio
de Janeiro : Sociedade Brasileira de Anestesiologia, 2023. –
(Série Ciências básicas em anestesia, v. 2).
E-pdf.

Editado também como livro impresso em 2023.


ISBN 978-65-88139-14-1

1. Anestesiologia – Estudo e ensino. 2. Fisiologia.


I. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. II. Maranhão,
Marcius Vinícius M. III. Biachini, Eduardo. IV. Hobaika, Adriano
Bechara de Souza. V. Guedes, Alexandre. VI. Nascimento
Jedson dos Santos. VII. Albuquerque, Marcos Antonio Costa.
VIII. Tardelli, Maria Angela.

CDU 616-089.5

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147

O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).


Produzido pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia.
Material de distribuição exclusiva aos médicos anestesiologistas.
Produzido em novembro /2023.

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INCÊNDIO NA SALA DE CIRURGIA
LUIS ANTONIO DIEGO
ANTONIO ROBERTO CARRARETTO
JOÃO DE LUCENA GONÇALVES

Define-se incêndio na sala de cirurgia o fogo que ocorre ma foi publicado pela Revista da Sociedade Brasileira de
dentro do paciente, sobre o paciente ou no seu entorno. Anestesiologia em 1954, onde os autores já ressaltavam
Tal evento pode causar lesões graves e até levar o pa- o perigo dos elementos que iniciam e desenvolvem um
ciente a óbito, deixar sequelas emocionais. E ainda existe incêndio durante o ato cirúrgico.7
o risco de atingir os membros da equipe cirúrgica.
Conforme o grau da lesão causada, é considerado um
evento sentinela (never event), exigindo análise das suas
COMO ACONTECE UM INCÊNDIO
causas e notificação obrigatória.1,2 NA SALA DE CIRURGIA
A incidência de incêndios na sala de cirurgia descrita
pelo Emergency Care Research Institute (ECRI) caiu de O fogo que ocorre durante o ato cirúrgico tem caracte-
20 a 200 por ano para 20 a 30 por ano, e 1 ou 2 ocorrem rísticas próprias, pois está ligado aos elementos da “tría-
nas vias aéreas, sendo fatais.3-5 Em razão dessa baixa in- de do fogo”, que, quando presentes ao mesmo tempo na
cidência, não gera a devida percepção do risco e da gra- área cirúrgica, podem desencadear um incêndio.
vidade da sua ocorrência durante o ato cirúrgico.
A quase totalidade dos incêndios cirúrgicos não são COMO AGE A TRÍADE DO FOGO
notificados, provavelmente por questões de responsabi- Ao se ativar um dos aparelhos elétricos usados em cirur-
lização, e apenas os casos de maior morbidade ou mor- gia, uma fagulha pode atingir um dos elementos com-
talidade são publicados como relatos de casos em revis- bustíveis presentes e, se envoltos na atmosfera enrique-
tas médicas.3 cida pelo oxigênio utilizado durante a anestesia, poderá
No Brasil, o relatório de notificações do boletim da ocorrer o início do fogo e a sua propagação. Estes even-
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cita na tos – ignição, combustão e propagação – só acontecem
área de never events a notificação de 40 casos de quei- quando os três elementos da tríade estiverem presentes,
maduras graves abrangendo o período de 2014 até 2022, próximos, e forem ativados para ocorrer a combustão.
embora sem a descrição do local nem da forma como O fogo pode se iniciar dentro ou fora do paciente,
ocorreram, fato que não ajuda a despertar a atenção so- conforme o tipo de cirurgia, e a extensão dos danos pode
bre este tipo de evento.1 ser mínima ou causar lesões graves e até levá-lo a óbito.
Por outro lado, no JUS BRASIL (empresa privada de A intensidade dos efeitos do fogo está ligada à capaci-
acesso a informações jurídicas) existem múltiplas ações ju-
dade de prevenção, de reconhecimento do evento e da res-
diciais envolvendo médicos e hospitais geradas por lesões
posta da equipe cirúrgica, em acordo com o plano de segu-
em pacientes devido a incêndios cirúrgicos, o que mostra
rança de incêndio e conforme o treinamento recebido.
que as notificações oficiais desses eventos adversos não es-
pelham a real incidência dos incêndios na sala de cirurgia.6
Além da sala de cirurgia, é importante estender este
OS COMPONENTES DA TRÍADE DO FOGO
alerta de incêndio para outros setores onde são realiza-
dos procedimentos invasivos, tais como salas de radio-
Gases oxidantes:
logia intervencionista, hemodinâmica, laboratórios de in-
oxigênio – protóxido de nitrogênio
vestigação eletrofisiológica e salas cirúrgicas híbridas. Em razão da utilização universal do oxigênio nas áreas ci-
A descrição deste tipo específico de incêndio não rúrgicas, as características sobre as ações oxidantes dos
é nova: um dos primeiros artigos brasileiros sobre o te- gases são referenciadas ao oxigênio.
342 | INCÊNDIO NA SALA DE CIRURGIA

Os gases oxidantes reagem com a maioria dos ma- A Tabela 23.1 mostra a variação dos tempos de igni-
teriais. Quanto maior a concentração de oxigênio na at- ção e combustão conforme a concentração de oxigênio.
mosfera local, mais intensa será a reação de combustão
e maior a rapidez da propagação do fogo. A temperatu- Combustível
ra de ignição e a energia necessária de ignição para pro-
Diversos tipos de combustíveis são encontrados na sala
mover a combustão são muito menores. A temperatura
de cirurgia, podendo estar presentes na equipe cirúrgica,
da chama é maior e, consequentemente, sua capacidade
no paciente ou próximo a ele. Esses materiais podem en-
destrutiva é mais intensa.
trar em combustão no ar ambiente, mas o risco aumenta
Atenção: cabe ao anestesista gerenciar os gases em atmosferas enriquecidas com oxigênio.
oxidantes administrados ao paciente. Exemplos de materiais combustíveis incluem subs-
tâncias com base alcoólica utilizadas na preparação do
paciente para cirurgia, os cabelos do paciente, pomadas
Atmosfera enriquecida com oxigênio à base de óleo, esparadrapo, assim como os gases intes-
É uma mistura de gases na qual a concentração de oxi- tinais, que são considerados inflamáveis em cirurgias en-
gênio em volume excede 23,5% ao nível do mar ou cuja volvendo os intestinos, na área retal e perianal.11
pressão parcial de oxigênio excede 175 mmHg.8 Outros itens também considerados combustíveis são
Tendo em vista que o oxigênio é incolor, inodoro e in- lençóis, campos cirúrgicos, colchões, travesseiros, gor-
sípido, os sentidos humanos não podem detectar a pre- ros, toucas, compressas, curativos, luvas e aventais.
sença de uma atmosfera enriquecida com oxigênio. Essa
atmosfera permite que os materiais que não queimam no Atenção: cabe à equipe de enfermagem o
ar ambiente, incluindo os materiais resistentes ao fogo, manuseio das substâncias combustíveis.
passem a queimar vigorosamente. Os tecidos de algo-
dão (p. ex., roupas, aventais, gorros, campos cirúrgicos, Fontes de ignição
máscaras cirúrgicas) entrarão em combustão com tem-
peraturas menores, queimarão mais rápido e com maior A principal fonte de ignição na sala de cirurgia é o eletro-
intensidade. Estas mesmas condições são aplicadas aos cautério monopolar, pela geração de calor ou fagulhas,
plásticos e elastômeros. podendo provocar a ignição em uma atmosfera enrique-
O oxigênio liberado pelo uso de cateteres nasais ou cida pelo oxigênio.
máscaras faciais pode enriquecer a atmosfera no entorno Além dos eletrocautérios, os sistemas a laser e os fi-
da máscara, em cavidades corporais e sob os campos ci- broscópios são capazes, mediante geração de calor, de
rúrgicos, propiciando as condições de combustão. promover a ignição de materiais combustíveis.
Barnes e Frantz realizaram um experimento em um
cenário cirúrgico e encontraram elevadas concentrações Atenção: cabe ao cirurgião o manuseio
de oxigênio sob campos cirúrgicos, quando fornecido do equipamento cirúrgico.
por máscara facial. A concentração chegava a 45% com
fluxo de 4 L/min, criando uma atmosfera com alto risco
de incêndio.9
INCIDÊNCIA DA TRÍADE DO FOGO
Em outro experimento, Wolf e Lazard testaram cam- O dispositivo eletrocirúrgico é citado como fonte de igni-
pos cirúrgicos e compressas em ambiente enriquecido ção em 70% dos incêndios cirúrgicos. Aproximadamente
por oxigênio, verificando que, quanto maior era a con- 10% dos incêndios são causados por laser. O calor tam-
centração de oxigênio, mais rápido o tecido entrava em bém pode ser proveniente de fonte de luz da fibra ópti-
combustão, aumentando o risco da rápida propagação ca, do desfibrilador e de fagulhas. A atmosfera enrique-
do fogo.10 cida com oxigênio está envolvida em 75% dos incêndios

Tabela 23.1 – Variação dos tempos de ignição e combustão de acordo com a concentração de
oxigênio (O2)

CONCENTRAÇÃO DE O2 TEMPO DE IGNIÇÃO CONCENTRAÇÃO DE O2 TEMPO DE COMBUSTÃO


21% 0,9 s 21% 20,4 s

50% 0,4 s 50% 3,1 s

100% 0,2 s 100% 1,7 s


Fonte: Wolf e colaboradores.10
CIÊNCIAS BÁSICAS EM ANESTESIOLOGIA | 343

cirúrgicos. Já as soluções de preparação à base de álcool • Evitar o uso de protóxido de nitrogênio em cirurgia in-
estão envolvidas em 4% deles.10 testinal, pois pode haver a difusão para dentro do in-
testino, o que potencializa os gases intestinais, au-
mentando a possibilidade de combustão.
AVALIAÇÃO DO RISCO DE • Em cirurgias na orofaringe, quando o paciente utilizar
INCÊNDIO NA CIRURGIA tubo sem balonete:
• Aspirar a orofaringe para prevenir o acúmulo de
Um protocolo de avaliação de risco de incêndio na sala
gases oxidantes na orofaringe.
de cirurgia foi desenvolvido pelo Christiana Care Health
• Utilizar gaze ou esponja úmida na orofaringe para
System com o objetivo de identificar qual a possibilidade
bloquear ou reduzir o escape de gases oxidantes.11
de fogo. Os elementos de risco incluem o seguinte:

• Cirurgia acima do apêndice xifoide. COMBUSTÍVEIS


• Uso de oxigênio através de sistema aberto (cateter
• Evitar substâncias com base alcoólica para assepsia.
ou máscara).
• Evitar o gotejamento de substâncias inflamáveis na
• Fonte de ignição (eletrocautérios, laser ou fibroscópio).
área cirúrgica.
Caso haja apenas um dos itens envolvido na cirurgia, • Quando for utilizado produto com base alcoólica na
a avaliação sugere baixo risco. A presença de dois itens preparação do paciente, a secagem completa do lo-
indica risco médio, ao passo que três itens sugerem alto cal deve ser verificada antes da colocação de cam-
risco de incêndio durante a cirurgia.12 pos, pois o vapor pode se acumular embaixo dos
campos cirúrgicos e, ao sair, se houver fonte de igni-
PREVENÇÃO DO FOGO ção ativa, pode entrar em combustão.
• Remover da área cirúrgica as esponjas ou toalhas uti-
Evitar a combinação dos elementos da “tríade do fogo” é lizadas na preparação do paciente.
a melhor prevenção contra o incêndio na sala de cirurgia. • Usar um gel aquoso nos cabelos, na cabeça e na face
do paciente para reduzir a possibilidade de combus-
GASES OXIDANTES tão e queimaduras.
É importante saber que o oxigênio ou protóxido de nitro­ • Avaliar se o paciente fez uso de tinturas ou soluções
gê­nio podem enriquecer a atmosfera no entorno do ato. inflamáveis nos cabelos ou na face.
O protóxido de nitrogênio está enquadrado nas medidas • Evitar a presença de curativo na área cirúrgica em ra-
preventivas para o uso do oxigênio. Outras medidas incluem: zão do risco de conter substâncias alcoólicas que
possam evaporar e entrar em combustão.
• Utilizar campos cirúrgicos aderentes ou colocá-los de
• As esponjas no campo cirúrgico devem ser mantidas
forma a evitar o acúmulo de oxigênio embaixo dos
úmidas com água ou solução salina para torná-las re-
campos.
sistentes ao fogo.
• Ventilar com ar comprimido embaixo dos campos pa-
• Na sala de cirurgia ou na área de procedimentos, to-
ra remover o oxigênio que possa ter se acumulado ou
dos os frascos devem ter rótulos com informações
usar o aspirador para retirá-lo caso haja suspeita de
sobre a composição do seu conteúdo para evitar a
acúmulo de oxigênio sob os campos.11,13,14
utilização indevida em ações de combate ao fogo.13
• Quando possível, suspender o fluxo de oxigênio atra-
vés de máscaras ou cateteres ou reduzir o fluxo pelo FONTES DE IGNIÇÃO
menos um minuto antes do uso do eletrocautério ou
laser nas cirurgias acima do apêndice xifoide. Todos os equipamentos que serão usados na cirurgia
devem ser previamente testados e mantidos em perfei-
• Em casos de pacientes em uso de ventilação artifi-
to estado e funcionamento pela estrutura do estabeleci-
cial, a titulação da fração inspirada de oxigênio (FiO2),
mento de saúde.
acompanhada pelo monitoramento da saturação de
Apesar do processo de manutenção prévia, todos os
oxigênio (SaO2), permitirão a redução do oxigênio pa-
equipamentos, eletrocautérios, laser, fibroscópios e suas
ra níveis mais seguros (< 30%). Também pode ser uti-
extensões devem ser examinados e testados pela equi-
lizada uma mistura de hélio e oxigênio, pois o hélio
pe antes do ato cirúrgico.
reduz a ação oxidante do oxigênio.14
Em pacientes que necessitam de suplementação de

oxigênio em alto fluxo sob máscara ou cateter e que
ELETROCIRURGIA
não suportam a redução desse fluxo, a melhor opção • Quando possível, deve-se dar preferência ao uso do
é o uso de via aérea artificial, como a máscara larín- bisturi bipolar em cirurgias com uso de oxigênio livre
gea ou a intubação traqueal.12 através de máscara ou cateter.
344 | INCÊNDIO NA SALA DE CIRURGIA

• Sempre que possível, o eletrocautério deve ser usado TUBOS TRAQUEAIS E BALONETES
na menor potência.
• Quando o bisturi elétrico não estiver sendo usado, • Quando o paciente estiver sob sedação moderada ou
­deve ser mantido em lugar seguro fora do paciente. necessitar de suplemento de oxigênio contínuo, de-
O bisturi não deve ser colocado sobre o campo cirúrgico. ve-se considerar o uso da via aérea artificial para for-
necer os gases durante o ato cirúrgico.15
• A ativação do bisturi somente deve ser realizada pelo
cirurgião que for utilizá-lo. • Avaliar a integridade do tubo e do balonete para evi-
tar vazamentos que podem contribuir para o enrique-
• O bisturi só deve ser ativado quando o cirurgião obti-
cimento da atmosfera cirúrgica pelo oxigênio.
ver visão direta do campo cirúrgico.
• Caso o paciente necessite de altas pressões inspira-
• O bisturi deve ser desativado antes de sua ponta dei-
tórias ou de pressão expiratória final positiva (PEEP),
xar o local cirúrgico.
especialmente na traqueostomia em paciente crítico,
• Não utilizar protetores da lâmina do bisturi que não
é necessário assegurar que a pressão intrabalonete
possuam isolamento.
não permita extravasamento da mistura gasosa.12,14,16
• Não utilizar eletrocirurgia para abrir a traqueia.
• Durante o ato cirúrgico, ter cuidado para evitar a per-
• Caso esteja sendo usado pedal para ativar o bisturi, es-
furação do balonete pelo laser ou bisturi.
te deve ser removido da proximidade do cirurgião nos
• Para cirurgias utilizando laser, a escolha deve ser o tu-
períodos sem utilização, para evitar ativação acidental.
bo resistente ao laser, com a opção de possuir duplo
balonete.17
LASER CIRÚRGICO
• Por precaução, o balonete pode ser insuflado com
• Verificar as conexões do cabo do laser antes de ati- solução salina, que pode ser colorizada com azul de
vá-lo. metileno para alertar em caso de perfuração e evitar a
• Testar o laser antes do uso. ignição dos gases.14,16,18,19
• Sempre que possível, utilizar o laser na menor potên- • Não se deve fazer uso de tubos de PVC envolvidos
cia e pulsação. em película refletora devido ao risco de haver falha
• Somente o cirurgião que usará o laser deve ativá-lo. na cobertura e perfuração pelo laser.17
• Não prender o cabo do laser no campo cirúrgico, pois
pode haver roturas na fibra e liberação de laser no AÇÕES COORDENADAS
campo cirúrgico, gerando combustão.
• Colocar bainha no laser e mantê-lo longe do paciente
DA EQUIPE CIRÚRGICA
quando não estiver em uso. • Após o uso de substância degermante com teor al-
• Durante cirurgias nas vias aéreas inferiores, confirmar coólico, a enfermagem informará a equipe sobre a
que a ponta do laser está fora do broncoscópio ou tu- necessidade de aguardar até 3 minutos para a seca-
bo traqueal, antes de ativá-lo. gem completa da área.
• Usar tubos traqueais resistentes ao laser nas cirurgias • O cirurgião informará a toda equipe quando for ati-
de vias aéreas superiores. var o eletrocautério e aguardará a autorização para
• Colocar compressas umedecidas em torno do tubo ­ati­vação.
traqueal e mantê-las úmidas para evitar escape de • O anestesista suspenderá ou reduzirá o fluxo dos
oxigênio. ­gases (via cateter, tubo ou máscara) e avisará que é
• Todas as compressas, toalhas, gazes e esponjas de- necessário esperar até 5 minutos para a redução dos
vem ser mantidas úmidas para evitar a combustão.14 gases a níveis seguros, permitindo o uso da fonte de
ignição.
EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS • Ao terminar o tempo, o anestesista informará ao
­cirurgião que pode ativar a ignição.
• Todo equipamento deve permanecer em modo espe-
ra (stand-by) quando não estiver sendo usado.14
• Manter o sistema sonoro do equipamento suficien- PLANO DE AÇÃO
temente alto para permitir que seja audível acima do
ruído ambiental, de modo que toda a equipe cirúrgica
PARA INCÊNDIO
saiba que o laser está sendo usado. É de grande importância, seja para prevenção ou na per-
• Seja qual for o equipamento a ser usado na cirurgia, cepção do início do fogo e nas consequentes ações de
a verificação ou suspeita de avaria ou mau funcio- contenção, que a comunicação entre os membros da
namento afastará o equipamento do procedimento equipe cirúrgica seja eficaz, baseada na constante obser-
­cirúrgico.12 vação do ato cirúrgico.
CIÊNCIAS BÁSICAS EM ANESTESIOLOGIA | 345

No início do fogo, a chama pode não ser percebida, Fogo controlado


mas a equipe deve estar atenta para reconhecer outros
sinais, como flashes luminosos, odor, calor, sons, fuma- • Cirurgião: Remover qualquer resíduo de equipamen-
ça ou movimentos súbitos do paciente, a fim de iniciar as to queimado sobre o paciente ou na sua via aérea.
manobras de combate ao fogo.15,16,20 • Anestesista: Restabelecer a via aérea artificial ou a
A existência de um plano de ação frente a um incên- máscara para ventilação apenas com ar ambiente ou
dio durante o ato cirúrgico é importante para coordenar com o mínimo fluxo de oxigênio.
as ações conforme o tipo de incêndio e sua localização, • Cirurgião: Finalização ou estabilização do procedi-
permitindo a melhor atuação da equipe cirúrgica; além mento cirúrgico.
disso, é a base de todo o treinamento do qual todos os • Anestesista: Avaliar a integridade dos tubos, másca-
membros do centro cirúrgico devem participar.13,16,21 ras e cateteres utilizados para evitar a existência de
Em caso de propagação do fogo cirúrgico, as orien­ fragmentos no paciente.
tações do plano de ação contra incêndio devem ser • Anestesista: Caso tenha havido significativa produ-
­seguidas: ção de fumaça com aspiração pelo paciente, manter a
intubação para reavaliações sequenciais.
• Quem irá orientar as ações em caso de incêndio.
• Anestesista: Caso necessário, avaliar o estado das
• As ações de cada membro da equipe cirúrgica.
vias aéreas do paciente por meio de broncoscopia.
• Todos os equipamentos de combate ao fogo disponí-
veis na área cirúrgica. Propagação do fogo
• Meios de evacuação do paciente.
• Membro da equipe: Caso haja propagação do fogo,
• As rotas de fuga sinalizadas.
remover todos os campos, toalhas, lençóis e espon-
• O local onde o paciente deve ser conduzido após a jas sobre o paciente ou no seu entorno.
evacuação.13
• Membro da equipe: Caso haja propagação do fogo,
• Equipamentos necessários para o término da cirurgia utilizar um extintor de incêndio para apagá-lo. O ex-
no local de evacuação. tintor deve ser de CO2. Não devem ser usados extin-
tores de outro tipo (água, pó químico), nem as man-
COMBATE AO FOGO tas antifogo para abafar as chamas sobre o pacien-
Ao se confirmar a presença do fogo, seja sobre o pacien- te.3,5,11,13,21
te, dentro do paciente ou nas suas vias aéreas, as ações • Membro da equipe: Caso não haja controle do fogo,
devem ser executadas conforme o plano de ação. ­Cada ativar o alarme de incêndio.16
membro da equipe deve ser treinado e participar de si- • Membros da equipe: Evacuar o paciente.12,14,16
mulações de incêndio para saber exatamente como • Membros da equipe: Encaminhar o paciente para um
agir.16 local seguro.13
• Membro da equipe: Após a evacuação do paciente e
AÇÕES IMEDIATAS da equipe, fechar a porta da sala de cirurgia.16
• Membro da equipe: Fechar o sistema de oxigênio da
Início do fogo sala de cirurgia.16
• Membro da equipe: Em caso de pequeno incêndio,
apagar o fogo com água, solução salina ou compres- MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DE
sa úmida. REPOSIÇÃO NA SALA DE CIRURGIA
• Cirurgião: No caso de anúncio de fogo, interromper o • Diversas garrafas com água ou solução salina.
ato cirúrgico (uso de eletrocautério ou laser).
• Extintor de CO2.
• Anestesista: Em caso de fogo na via aérea, remover o
• Tubos traqueais, guias e máscaras faciais.
tubo ou outro dispositivo traqueal de ventilação.
• Laringoscópio e lâminas rígidas.
• Anestesista: Em caso de fogo no paciente ou na via
• Circuitos para ventilação.
aérea, suspender (temporariamente) a administração
dos gases (oxigênio e protóxido) e manter o paciente • Campos, esponjas e compressas.16
com monitoramento da oxigenação.
• Anestesista ou outro membro da equipe: Borrifar o
TREINAMENTO DAS EQUIPES CIRÚRGICAS
local onde há fogo no paciente ou na via aérea com A simulação de incêndio deve abranger todos os mem-
água ou solução salina (recipientes com água ou sa- bros das equipes cirúrgicas, envolvendo situações distin-
lina, swabs e esponjas úmidas devem sempre estar tas, com pacientes intubados e com o campo cirúrgico
presentes nos carrinhos). aberto, uma vez ao ano.
346 | INCÊNDIO NA SALA DE CIRURGIA

5. ECRI. Surgical fire prevention [Internet]. Plymouth; 2022 [capturado


CONSIDERAÇÕES FINAIS em 20 mar. 2023]. Disponível em: https://www.ecri.org/solutions/
accident-forensic-investigation-services/surgical-fire-prevention.
Embora a incidência deste tipo de incêndio seja reduzida, 6. Queimadura na cirurgia: [busca em jurisprudência] [Internet]. Jusbrasil.
quando ocorre, provoca danos físicos e emocionais. 2022 [capturado em 20 mar. 2023]. Disponível em: https://www.jusbrasil.
As notificações oficiais não espelham a incidência com.br/jurisprudencia/busca?q=queimadura+na+cirurgia.
7. Monte A, Silva CJ. Anestesia e hemostasia por eletrocoagulação: consi-
deste tipo de evento. Nem o número de sentenças judi-
derações sobre o uso de derivados piperidínicos. Rev Bras Anestesiol.
ciais expedidas nas ações de danos ao paciente conse- 1954;4(3):265-70.
guiu induzir um aumento na percepção dos riscos pelos 8. European Industrial Gases Association. Fire hazards of oxygen and oxy-
profissionais ou hospitais envolvidos, e tampouco auxi- gen-enriched atmospheres. Brussels: AISBL; 2018.
liou na mudança da cultura de segurança dos hospitais. 9. Barnes AM, Frantz RA. Do oxygen-enriched atmospheres exist beneath
surgical drapes and contribute to fire hazard potential in the operating
O grande desafio hoje é conscientizar as equipes ci-
room? AANA J. 2000;68(2):153-61.
rúrgicas em como atuar na prevenção, no enfrentamento 10. Wolf GL, Sidebotham GW, Lazard JLP, Charchaflieh JG. Laser ignition of
e na mitigação dos danos do incêndio na sala de cirurgia. surgical drape materials in air, 50% oxygen, and 95% oxygen. Anesthesio-
Os estabelecimentos de saúde devem inserir o incên- logy. 2004;100(5):1167-71.
dio na sala de cirurgia no seu plano de segurança de in- 11. Surgical fires: keys to awareness and prevention [Internet]. Pfiedler Edu-
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