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Outubro de 2007 Ano 2

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Conde de S. Germain

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Colaboração do R∴Ir∴Fr∴ Incógnitus

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Recolha do R∴Ir∴ Teixeira Cabral
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

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O Editorial anterior deu origem a outros relatos
não sei porquê
de casos identicos aos que ali foram referidos. não sei mesmo
Não é segredo nenhum que as escalas de valores mas sempre vi o tempo numa circunferência
em que o futuro está ali
estão actualmente invertidas, e o curioso é que antes do passado e depois do presente
isto estava previsto desde há milhares de anos
e se na linha está o tempo tenho do círculo
pela Tradição Oriental, onde o período que estamos
a ideia do mundo que dentro da fronteira
agora a atravessar se designa por “Era de Kali” olha para cada um dos seus pontos
(do “mal”, das “forças negras”, por oposição ao e em todos e cada um encontra
o que está depois do antes
bem e à Luz). e antes do depois
O que se passa encaminha-nos para a lógica o presente
daquele antigo romance, de cariz político, em
também não sei porquê
que o autor imagina uma cidade onde tudo mas não consigo imaginar o que é
funciona ao contrário e as pessoas caminham e o que vai para além do traço

com as mãos no chão e com as pernas no ar. imagino que seja maior
Porém, o que é que isto interessa ao Athanor? mas não imagino o que possa ser
Vamos mas é continuar nos nossos Calcinatios,
o futuro pode mesmo estar à mão de um passo
Solutios, Coagulatios, Sublimatios, Mortificatios, cada vez mais pequeno porque o passado
Separatios e Coniunctios, enquanto o forno tem cresce
cresce sempre
lenha, e não nos esqueçamos de que:
"A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha então
ou a circunferência alarga e há tempo que é
faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de
criado
acordo com a sua própria natureza". do nada
ou o passado invade o futuro
T T∴A A∴T T∴ e eu não sei onde pôr o presente

é certo que tudo tem só a importância


que lhe damos
e pode até não ser importante para outros
a ideia que eu faço do tempo
e também do mundo

mas porque tudo tem tão só a importância


que tem
Os artigos apresentados são da responsabilidade dos sem tempo não tenho o que dizer
seus autores e poderão eventualmente, num ou e não sei se condeno o poema ou se ele
noutro aspecto, não expressar os pontos de vista dos
fundadores. verdadeiramente nasce

2
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

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Cubo. O cubo define-se matematicamente
como a terceira potência de um número ou
como um sólido composto de seis faces
quadradas de igual tamanho, formando um
hexaedro. Fazendo referência ao número
quatro, está ligado à conjunção e à harmonia
dos quatro elementos – o ar, a terra, a água e o
fogo – que constituem o mundo. Neste caso,
simboliza o universo material existente em
conjunto com todas as suas dimensões. No
plano iniciático, o cubo está intimamente
ligado ao simbolismo da cidade santa, à
perfeição reprodutível no infinito.
Culto. Na sua origem, na Idade Média, o
exercício de uma profissão estava intimamente
ligado à religião. As práticas quotidianas dos
artesãos, ainda que respeitantes aos usos e
costumes mais normais, eram carregadas de fé
e de devoção. O culto estava sempre presente.
Cada profissão venerava os seus santos numa
expressão cultual que, segundo o país, a
região ou a capela, honrava também os Quatro
Santos Coroados (Sivere, Siveriano, Corpofore
e Victoriano, mártires sob Dioclécio), a Santa
Virgem, S. Blaise, S. Luís, S. Nicolau, S. José,
Santa Ana, S. Tomás, Santa Bárbara e outros.
Os Franco-Maçons, essencialmente dirigidos
aos anunciadores da Luz, remeteram-se,
logicamente e mais particularmente, a S. João
Batista e a S. João Evangelista. A instauração e
a prática do culto profissional, reservado aos
companheiros da profissão, estiveram naturalmente
na origem dos Ritos de Iniciação.

Não sendo nossa intenção elaborar um dicionário


extenso e completo, devido a razões de espaço e
tempo, e face à periodicidade de publicação do
Athanor, optámos por apresentar apenas as
palavras de cada letra do alfabeto que nos
pareceram mais aliciantes. Ainda assim, a listagem
apresenta uma significativa extensão.

3
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

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Conceitos de Biofísica
Ao tomar consciência do que o rodeia, o
homem comprovou a existência de corpos,
entre os quais o seu próprio. A consequência
imediata desta comprovação foi a concepção
de espaço; logo, a determinação da forma,
situação e movimento dos corpos; suas
semelhanças, diferenças ou identidade; suas
divisões, unidade e pluralidade; o seu número,
tamanho e peso; continuidade, movimentos e
equilíbrio; tempo ou duração; velocidade,
aceleração ou imobilidade aparente.
O homem aprende desde logo a distinguir a
existência de forças resultantes do movimento
dos corpos e pensa na possibilidade de as
utilizar para produzir trabalho e energia,
observando depois que estes podem ser
conservados para o seu oportuno aproveitamento;
aprende também a medir os corpos e a
classificar as suas características na forma de
equivalências numéricas e geométricas.
Uma observação mais detalhada ensina ao
homem que os corpos estão compostos de
matéria, divisível em partículas, também
susceptíveis de ser observadas com relação à
sua massa, densidade, qualidades e energias,
determinadas pelo seu movimento, e este, por
sua vez, pela quantidade, qualidade, características
e movimentos dos elementos de que se
compõe.
Ainda que se manifestem com diversa
intensidade, pelas causas referidas, demonstrou-se
a inseparabilidade dos três princípios: matéria,
movimento e energia. Todas as manifestações
da matéria – as suas formas, peso, qualidades,
energias e movimento, são susceptíveis de ser
medidas, e o seu estudo, como todos sabemos,
constitui a matéria das ciências físicas e
químicas. Os estudos modernos de física,
biomecânica e bioquímica, têm avançado
consideravelmente, permitindo a observação e
a utilização de energias de uma potência
assombrosa.

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Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

Independentemente dos estudos neste campo


se encontrarem longe de estar completos, é
possível catalogar provisoriamente as energias
utilizadas pelo homem, conforme a seguinte
classificação:
- Energia mecânica, resultante do movimento;
- Energia térmica (calórica);
- Energia luminosa;
- Energia electromagnética;
- Energia radiante – raios X, radiações
hertzianas, raios cósmicos, etc.;
- Energias químicas, resultantes da afinidade,
atracção e repulsão inerentes às propriedades
dos átomos de cada substância;
- Energias internas, que regem a existência
individual e tendem a conservar a coesão e
opor-se à degradação ou degeneração da
forma. Entre estas energias internas
distinguem-se ainda:
- A energia vital ou Força Vital, variável de um
indivíduo a outro, segundo a sua
constituição, que lhe permite curar feridas
e enfermidades e condiciona a duração da
vida por um tempo determinado;
- As energias Potenciais Subconscientes, que
modelam por sua vez o ritmo vital dos
órgãos e condicionam o desenvolvimento
da imaginação;
- As energias mentais, ou força do pensamento;
- As energias Sentimentais e Sociais, que
empurram os homens para a benevolência
e cooperação.
A Ciência estabeleceu dois princípios muito
importantes:
- O princípio da conservação da energia;
- O princípio da transformação da energia.
Equivale a dizer que a energia, como a
matéria, não se cria nem se destrói: somente
se transforma. Este é um conceito fundamental
em ciência, apesar da afirmação dos
energeticistas, que crêem que a matéria não é
mais do que uma condensação da energia. Na Entendemos que as especulações metafísicas
costumam ter um certo valor filosófico, mas
realidade, energia e matéria são inseparáveis
não devemos esquecer que as energias mais
do fenómeno chamado «vida», do que
subtis só se manifestam através dos (ou nos)
constituem modalidades em eterno movimento
corpos, aparelhos ou seres vivos compostos de
e transformação, sem que aumente ou diminua
matéria.
na sua essência.

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Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

Mitos Gregos ( 1)

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DEMÉTER E PERSÉRFONE

O ciclo da morte e do renascimento

Deméter era filha de Crono e Reia e era


considerada a deusa da terra cultivada. O seu
culto estava intimamente ligado às estações do
ano e ao ciclo das sementeiras e colheitas,
especialmente do trigo. Foi ela que ensinou
aos homens a arte de semear, cultivar e fazer o
pão.
Persérfone era filha de Zeus e de Deméter e era
uma deusa jovem e feliz que tinha por hábito
colher flores. Um dia, aproveitando-se da
ausência da mãe, Zeus encantou-a fazendo-a
colher um narciso do qual se desprendia um
perfume embriagador. Facultava, assim, ao seu
irmão Hades, senhor dos infernos, e que dela
se tinha enamorado, a possibilidade de a
raptar, já que habituada ao sol e ao ar livre,
Persérfone não aceitava viver no mundo das
sombras, reino de seu tio.
Tal como previsto, ao tentar colher a flor, a
terra abriu-se e Persérfone caiu nas profundezas
do reino dos mortos onde a esperava Hades
com o seu carro de ouro e os cavalos imortais.
Insensível às lágrimas e lamentos da jovem,
Hades fê-la sua mulher e rainha dos Infernos.
A mãe, Deméter, ainda ouviu o grito da filha ao
despenhar-se mas já não pode ver nem saber o
que se tinha passado. Desesperada começou a
procurá-la. Com dois archotes percorreu o
mundo sem comer nem beber durante nove
dias e nove noites. Ao décimo dia encontrou
Hácate, a deusa dos espectros e dos terrores
nocturnos, dos fantasmas e dos monstros
apavorantes2.
Hácate ouvira o grito apavorado de Persérfone.
Sabia que a jovem tinha sido levada para um
qualquer lugar mas não sabia onde, pois não
conseguira distinguir o rosto do raptor.
1
Adaptação do livro Mitos Gregos, de Zacarias
Nascimento.
2
Hácate, símbolo do inconsciente.

6
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

Hélio, o Sol, que tudo vê, teve compaixão pela


dor de Deméter e contou-lhe o rapto com
todos os pormenores.
Demétrer, ofendida pelo comportamento de
Zeus e de Hades, tomou a resolução de não
mais viver no Olimpo, onde detinha o poder de
garantir e proteger a vegetação. Sendo ela
quem superintendia o nascimento e
crescimento das plantas, decidiu impedir que
elas crescessem enquanto a sua filha não fosse
devolvida. Como no Olimpo os cargos eram
vitalícios, não havendo lugar à substituição de
deuses, gerou-se um impasse. Zeus não teve
outra alternativa que não fosse ordenar ao seu
irmão, Hades, que restituísse Persérfone a sua
mãe, sob pena de se registar uma alteração na
ordem do universo.
Hades, o senhor dos infernos, sabendo que
comer é praticar um acto de intimidade,
identidade e fixação, fez com que a sua amada
engolisse uma semente de romã. Deste modo
ela ficou vinculada para sempre, sem remédio ,
ao reino das trevas. Zeus, juiz justo teria que
se limitar ao cumprimento das leis. Perante os
factos Deméter teve que fazer cedências e
permitir que, de algum modo, a sua filha
ficasse ligada ao reino de Hades. Assim,
celebrou com Zeus um acordo: Persérfone que
sucumbira à sedução de quebrar o jejum,
passaria a viver um tempo repartido, quatro
meses com o esposo no reino dos Mortos e
oito com a mãe no Olimpo e na Terra.
Satisfeita com o acordo, Deméter voltou ao
Olimpo e ao seu cargo, permitindo que as
plantas voltassem a crescer e a florir, e a Terra
voltou a cobrir-se de verde ao ritmo das
estações do ano.
Quando Persérfone está com o marido, no
Hades, caem as folhas e a Terra mergulha
numa morte aparente, recebendo as sementes
que germinarão e darão frutos na Primavera e
no Verão, que é o tempo de reencontro da mãe
e filha.

7
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

A Efemérides
Santíssima Céltico-Romanas
de Outubro
Trinosofia
Recolha do R∴Ir∴ Fr∴
(Autoria atribuída ao Incógnitus
Conde de Saint-Germain) (Fonte: “Lealdade Sacra”)
SECÇÃO X Outubro era consagrado a
Marte, Deus da Guerra. O
A alguma distância da margem, elevavam-se primeiro dia é o das calendas3
e do Tigillum Sororium4.
nos ares as colunas de alabastro de um
O Tigillum Sororium, e os
sumptuoso palácio. As suas diferentes partes altares circundantes, estavam
estavam unidas por pórticos cor de fogo. Todo o 1 localizados perto do Compitum
edifício era de uma arquitetura graciosa e aérea. Acili, no declive sudoeste da colina Oppia, ou,
Aproximei-me das portas. Estava representada segundo Dionísio de Halicarnasso, encaixado
uma bolboleta sobre o frontispício. As portas nas paredes no lado oposto da rua.
Segundo a história. para resolver o confronto
encontravam-se abertas... Entrei. Todo o
entre as cidades de Roma e de Alba Longa, foi
palácio consistia numa única sala... Esta sala estabelecido que a vitória seria decidida por
estava cercada por três filas de colunas. Cada um combate entre três guerreiros de Roma e
fila era composta por vinte e sete colunas de três guerreiros de Alba Longa. Por Roma,
alabastro. No centro do edifício estava a avançaram os três irmãos Horácios, enfrentando
figura de um homem. O homem saía de um os três irmãos albanos Curiácios. Dois dos irmãos
romanos morreram de imediato, mas o terceiro,
túmulo e a sua mão, apoiada sobre uma lança,
possuído por um furor marcial sem igual,
batia na pedra que antes o aprisionara. Os conseguiu, por meio de um estratagema bélico5,
seus rins estavam cingidos por um tecido liquidar dois de uma só vez, apanhando-os de
verde e o ouro brilhava na orla da sua surpresa), e abater depois o terceiro oponente.
vestimenta. Sobre o peito tinha uma tabuleta Depois da refrega, Horácio viu a sua irmã a
quadrada, onde distingui algumas letras. Por chorar a morte de um dos Curiácios, seu noivo.
Enraivecido, assassinou a sua irmã, e o povo,
cima da figura encontrava-se suspensa uma em lugar de o condenar à morte por esse crime,
coroa de ouro e a figura parecia elevar-se nos deixou que ele o expiasse. A propósito disto, Tito
ares para a apanhar. Por cima da coroa havia Lívio contou como o seu pai ergueu o tigillum e
uma lápide de pedra amarela, na qual estavam fez o seu filho passar por baixo, com a cabeça
gravados alguns emblemas. Decifrei os coberta. Dionísio de Halicarnasso afirmou que
antes de Horácio passar por baixo do jugo, o rei
emblemas com o auxílio das inscrições que
Túlio Hostílio ordenou aos Pontífices que
existiam sobre o túmulo e no peito do homem. erigissem dois altares no local, um deles dedicado
Fiquei nesta sala, a Juno Sororia e outro a Janus Curiatius, e que em
cada um deles oferecessem sacrifícios.
Neste dia faziam-se ofertas a Iuno Sororio, em
nome das raparigas que entravam na puberdade.
chamada Os três Flâmines Maiores6, Flamen Dialis7,
(Balsân, bálsamo ?),
o tempo necessário para contemplar todos os 3
As calendas de cada mês earm consagradas a Juno,
Deusa Celestial das Mulheres e do Casamento.
detalhes, e saí depois, atravessando uma vasta 4
A Trave das Irmãs, uma estrutura composta de duas
planície, com a intenção de chegar a uma torre vigas e uma trave.
5
que vi, localizada a uma grande distância. Simulando uma fuga e depois virando-se de repente.
6
Sacerdotes devotados a um Deus em particular.

8
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

Flamen Martialis8 e Flamen Quirinalis9, guiavam A Fides é um dos principais constituintes da


uma procissão ao Capitólio, dentro de um carro identidade romana e de outros povos indo-
coberto, e realizavam sacrifícios às Divindades europeus.
Fides10 e Honos11, com os dedos das suas mãos Este dia é também consagrado a Ceres, Deusa
direitas envoltos em tecido branco. Agrícola, Senhora da Fertilidade e Protectora
Os ritos cerimoniais consistiam em purificação dos Cereais.
e comemoração do juramento da unificação,
no santuário da Fides (Capitólio), ao que se O dia 3 de Outubro era
seguiam os festejos. Tratava-se de um ritual de marcado em Roma pelo
grande importância no contexto religioso Festival de Dionísos17, até
Romano, ao qual o estudo das Religiões dedicou que um édito imperial
aboliu o evento na Cidade
atenção especial e contribuiu para formular a
teoria trifuncional de Georges Dumézil12.
3 da Loba, pelo facto destas
O pormenor da mão direita oculta também é festas se estarem a tornar selváticas e excessivas.
de grande relevância, porque evoca a importância Dionísos, filho de Semele e de Zeus, era o Deus
da mão no juramento, uma vez que o ritual é do Êxtase, e por isso o vinho abundava nestes
realizado em honra da Fides, que é a Fidelidade13. festejos. Como o vinho era considerado muito
Nas tradições nórdica, céltica e romana, há importante do ponto de vista medicinal e
sempre uma figura mitológica que representa de cultural, Dionísos era considerado um promotor
algum modo a Fidelidade, a Justiça e o da civilização, dador da lei e amante da paz.
Juramento14, a qual não tem uma mão. É o caso No dia 4 dedicava-se um
de Tyr, no panteão escandinavo, que sacrifica jejum a Ceres, decretado em
uma das mãos para que o lobo Fenrir, inimigo 562 a.u.c. ou 191 a.c., em
dos Deuses, pudesse ser preso; Nuadu, rei dos honra do falecimento de
Tuatha Dei Danann15, que perdeu um braço em Prosérpina, Sua filha.
combate, e Mucius Scaevola, que sacrificou uma
4 Começou por se realizar de 5
mão num braseiro, para mostrar ao inimigo em 5 anos18, passando a anual com Augusto.
que não tinha medo de sofrer e que por isso Este é um dos dias da
não iria trair Roma. Mundus Patet19, havendo
Disse Silius Italicus16, a respeito da Deusa Fides: uma ligação entre esta
«Deusa mais antiga do que Júpiter, virtuosa abertura e a Deusa Ceres.
glória de Deuses e de homens, sem a qual não há Sendo Ceres uma Divindade
agrícola, está naturalmente
paz na Terra, nem nos mares, irmã da Iustitia,
Fides, silenciosa Divindade no coração dos
5 relacionada com o mundo
homens e das mulheres.» ctónico, ou inferior.
Quando esta abertura é feita20, os espíritos
Manes21 saem e circulam pelas ruas.
Sobre uma abertura, colocava-se uma efígie
7
Flâmine de Júpiter. representando o céu, virada ao contrário, sendo
8
Flâmine de Marte. depois coberta com uma pedra grande – a “Lapis
9
Flâmine de Quirino. Manalis”. Esta pedra era removida três vezes
10
Fidelidade.
11 por ano, para permitir aos espíritos do mundo
Honra.
12
Teoria segundo a qual os Romanos, sendo Indo- inferior acederem às regiões superiores da Terra.
Europeus, tinham uma tríade divina onde um dos Neste dia eram proibidas as reuniões de tropas,
Deuses representava a primeira função indo-europeia – as marchas, o levantamento das âncoras dos navios,
soberania, poder mágico e justiça (Júpiter) –; outra das
Deidades representava a segunda função indo-europeia
– a da guerra (Marte) –, e a terceira Divindade
17
representava a terceira função indo-europeia – a da Baco, na Grécia.
18
fertilidade e da produção (Quirinus). De acordo com Lívio, 36.37.4.
13 19
Conceito de valor crucial para a generalidade dos Abertura na terra que permite a comunicação deste
povos Indo-Europeus. mundo com o outro, o do Inferno, reino de Dis (ou
14
Ou o Direito. Plutão, ou Orcus) e de Proserpina.
20
15
Os Deuses irlandeses mais importantes. Esta abertura também ocorria a 8 de Novembro.
16 21
Em «Punica» 2.484-87. Dos antepassados bons e protectores da família.

9
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

os combates, os casamentos e as práticas sexuais.


Actividades políticas e públicas eram permitidas. No dia 10 de Outubro, os
Este dia era também consagrado a Venus festejos eram em honra de
Caelestis22. Juno Moneta, no templo
O nome “Celeste” e o culto da Mãe de Deus construído a 1 de Junho de
(Virgem Maria), que “mora no céu” (região
“celeste”), teve aqui origem.
10 344. a.c. ou 409 a.u.c..
Escreveu Ovídio23: É a data da Meditrinalia33.
É a celebração do fim da
«Que Vénus oiça todas as minhas orações: Tome
colheita vinícola.
para Si quem A serviria durante longos anos; aceite
A Divindade honrada terá
quem saiba como amar com um coração puro.» sido inicialmente Júpiter,
O dia 7, o nonas do mês, era também com culto na Vinalia
consagrado a Juno Curitis24 de 23 de Abril. Só fontes
e a Júpiter Fulgur25. mais tardias mencionam a
Neste dia, o Rex Sacrorum26 11 Deusa Meditrina.
aparecia nos degraus do
7 Capitólio e anunciava ao povo
Segundo Varrão34, Flâmine Marcial Flaccus
costumava dizer que, em tempos antigos, as
quais os dias sagrados do mês. pessoas costumavam fazer libações e provar
As nonas, consagradas a Júpiter e a Juno, eram vinho novo e velho35, com propósitos medicinais.
celebradas por meio de sacrifícios oferecidos Varrão informa também que no seu tempo
no Campo de Marte e de festas que tinham muita gente ainda dizia, ao beber o vinho:
lugar ao ar livre, com a participação de todo o «Novum vetus vinum bibo: novo veteri morbo
povo, incluindo os pobres e os sem abrigo.
medeor» 36.
O dia 9 era consagrado ao
António Grilo37 pratica o seguinte ritual:
Génio Público, ou Génio do
Depois de adquirir vinho branco e tinto,
Estado27, e também a Vénus
bem como algumas uvas, prepara uma mistura
Victrix28, Apolo e Felicitas29
em partes iguais de vinho e de sumo de uva.
(com festas religiosas em
9 honra destes últimos).
Parte desta mistura será oferecida em libação,
e a outra parte será bebida pelo praticante.
O Templo de Apolo foi edificado neste dia, no
É este o processo, ponto por ponto:
no Palatino, no ano 725 a.u.c.30 ou 28 a.e.c.31.
1. Preparar a mistura do vinho, colocando-a
O Templo de Felicitas foi edificado em Roma
numa pátera, ou noutro recipiente;
no dia 1 de Junho32, em 49 d.c. ou 803 A.U.C..
2. Preparar um recipiente com água para
ter ao lado durante o ritual;
22 3. Dirigir-se ao local de culto (lararium,
Ou Vénus Celeste, Deusa Síria.
23
Obra «Amores», 1.3.4-6.
santuário, etc.);
24
Que poderá ser também Juno das Cúrias, ou, talvez, 4. Cobrir a cabeça;
Juno dos Homens da Lança. 5. Dizer o seguinte:38
25
Júpiter Dos Raios. "Si deus si dea es qui Meditrinaliae
26
Rei Sagrado, 2.ª maior autoridade religiosa de Roma. tutelam habet, quod tibi hodie fieri
27
Génio é uma entidade intermediária entre Deuses e
homens, que constitui o aspecto sobrenatural dos seres oportet libationem vini novi et veteri, eius
viventes, o duplo de cada um. Cada homem tem o seu
33
Génio particular, equivalente, nas mulheres, à sua Juno Que deriva de «Mederi», «Curar», e que assentará
individual (não devendo confundir-se com a Deusa numa raiz indo-europeia, comum ao Céltico.
Juno). Os Estados, assim como as cidades, têm também 34
Em De Lingua Latina, 6.21.
o seu Génio. 35
Nesta altura do ano, o “vinho novo” era provavelmente
28
Vénus Vitoriosa, que poderá ser VÉNUS com sumo de uva tirado das uvas recentemente colhidas.
36
atributos, ora militares, ora medicinais - de vitória «Bebo vinho novo e velho: de doença nova e antiga estou
contra a doença. eu curado».
29
Divindade da Boa Sorte e da Felicidade. 37
Actual sacerdote da “Nova Roma”.
30
Ab Urbe Condita, ou «Desde a Fundação da Cidade» de 38
É de notar que o autor usou o conceito romano do
Roma, por Rómulo, em 753 A.E.C. (antes da Era Cristã). «sive deus sive dea», isto é, de oração dirigida a uma
31
Antes da Era Cristã. Divindade, independentemente do seu sexo, quando
32
Ou Julho. este é mal conhecido ou indeterminado.

10
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

rei ergo macte hoc vino novo et veteri bem como um santuário no sopé do monte
pollucenda esto." 39 Janículo, junto ao «túmulo de Numa».
6. Lavar as mãos na água previamente Na festa da Fontinália, lançavam-se grinaldas às
preparada para a função (em 2) e limpar fontes e coroavam-se treze poços. Faziam-se
as mãos. Pegar no vinho. sacrifícios, festas, jogos, e bebia-se muito vinho,
Colocar uma parte para libação, dizendo: misturado com água das fontes.
"Si deus si dea es qui Meditrinaliae Acreditava-se que era importante ingerir água
tutelam habet, eius rei ergo macte vino mineral nesta data.
novo et veteri inferio esto. 40" É dia de endotercisus, ou
7. Profanar esta oferenda pelo acto de beber intercisus, isto é, um dia
entre festejos religiosos. Era
o resto do vinho, dizendo o seguinte,
antes de beber, como ensina Varrão: consagrado aos Penates44.
Diz Arnobius45:
"Novum vetus vinum bibo, novo veteri
«Venham, Deuses Penates,
morbo medeor. 41"
venham Apolo e Neptuno e
8. Finalizar.
O autor baseou o seu ritual no que Catão todos Vós Deuses, e pelos
disse, a respeito da oferenda feita a Jupiter 14 Vossos poderes possam Vocês
Dapalis42. misericordiosamente afastar esta doença que
O festival da Meditrinalia inicia o período violentamente retorce, queima e faz arder a nossa
festivo deste mês. Neste dia e nos dias cidade com febre.»
seguintes ocorriam jogos e festas. Na manhã deste dia ainda se celebra a festa do
12 de Outubro é o dia de dia anterior (Fontinália). Este dia é também
Fortuna Redux43. Trata-se um prelúdio para os Idos de Outubro, que se
de um aspecto da Deusa vão celebrar a 15.
Fortuna, como protectora É o Idos do mês, dedicado
das viagens, em especial no a Júpiter. O flâmine Dialis46,
que respeita ao regresso. sacrificava-Lhe uma ovelha
O altar a Fortuna Redux
12 foi erguido neste dia, em 19 a.c.
branca.
Segundo Prudentius, estes
ou 734 a.u.c.,e fizeram-se moedas alusivas. não eram os Idos de Júpiter,
Este é o dia da Fontinalia, 15 mas os Idos de Hércules.
com celebração em honra do Este dia é também do do Eqvvs October47,
Deus Fontus, Deidade das com o sacrifício do Cavalo de Guerra ao Deus
Fontes. Júpiter (segundo uns, e ao Deus Marte, segundo
Fontus é Filho de Janus e
13 de Juturna. Há também quem
outros).
A meio caminho, entre as celebrações da
refira que Fontus ou Fons é esposo de Iuturna, Meditrinália e do Armilustrium, realizavam-se
filha de Volturnus. festas nas ruas, e para essas festas era convidado
Era-Lhe consagrado um templo próximo da o público em geral, incluindo todos os pobres.
Porta Fontinalis, a norte do monte Capitólio, Havia jogos, música, dança, e muito vinho.
A celebração consistia numa corrida de cavalos
39
«Sejas Deus sejas Deusa, Tu que tens a tutela da que tinha lugar no Campo de Marte. O cavalo do
Meditrinalia, tal como é correcto oferecer-Te hoje uma lado direito do par vencedor era sacrificado a
libação com vinho novo e antigo, em nome disto serás Marte pelo Flâmine Marcial48, no altar de
honrado por esta oferenda de vinho novo e antigo.».
40 Marte, localizado no respectivo campo. O equídeo
«Sejas Deus ou sejas Deusa, Tu que tens a tutela da
Meditrinalia, em nome disto serás Tu honrado por este
sacrificado, um cavalo de guerra, era morto com
vinho novo e antigo, o qual eu coloco em libação.» uma lança, a arma de Marte por excelência. A
41
«Bebo vinho novo e antigo, de doença nova e antiga
44
estou eu curado». Espíritos dos bens do lar.
45
42
Texto que se pode ler em: Adv. 3.43.
46
http://www.novaroma.org/religio_romana/cato_jupiter. Sacerdote de Júpiter.
47
html Cavalo de Outubro.
43 48
Fortuna Que Faz Voltar. O sacerdote de Marte.

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Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

cabeça do cavalo era depois cortada e decorada sacrificou os ditos soldados no Campo de Marte,
com bolos. cravando em seguida as suas cabeças na Regia.
A seguir, os habitantes da Via Sacra49 lutavam Este dia era também consagrado ao Ludi
com os de Suburra50, pela posse da referida Capitolini55, que, após terem caído em desuso,
cabeça. O lado vencedor iria depois pregá-la foram recuperados por Domiciano em 86 d.c.
na Turris Mamilia. A partir daí, foram organizados à semelhança
O sangue da cauda do equídeo, ou dos genitais, dos Jogos Olímpicos gregos, sendo então realizados
podia ser vertido sobre o santuário. As Vestais de quatro em quatro anos. Incluiam actividades
conservariam algum sangue do cavalo sacrificado, atléticas, corridas de bigas, competições de
para posterior uso nas Parilia, a 21 de Abril. oratória, música e teatro. O próprio imperador
O ritual original teria um significado militar financiava as viagens dos competidores de
particularmente arcaico, com correspondencia toda a parte do império e atribuía os prémios.
noutras culturas indo-europeias. Teria este ritual Estes jogos não apareciam no calendário,
a função de purificar o exército da sua campanha porque não eram de carácter público, sendo
de Verão, e estaria ligado ao Armilustrium de 19 organizados pelos Capitolini, colégio cujos
de Outubro. membros eram recrutados de entre os
O sacrifício de cavalos de guerra parece ser um patrícios (aristocratas) residentes na colina
elemento de raiz indo-europeia muito importante: do Capitólio e na cidadela (ponto mais alto e
Estrabão51 assinala o sacrifício de cavalos ao fortificado da cidade de Roma).
Deus lusitano da guerra52, e também existia A origem deste grupo é tão incerta como arcaica,
este sacrifício entre os Celtas, e na India. já que se atribui a sua fundação a Rómulo ou a
Outros dirão que o ritual relacionava com a Camilo, em celebração da defesa bem sucedida
fertilidade, tornando-se assim no último de do Capitólio contra a invasão gaulesa56 ou da
uma série de festivais de colheita, no contexto do conquista da cidade etrusca de Veios, por
qual o cavalo representaria o espírito dos cereais. parte das tropas romanas57. Durante esta
Esta interpretação, de índole agrícola, é suportada festividade, proclamava-se que «Sardi venales»58,
por uma das afirmações feitas por Festus: «id e um velho, vestindo uma roupa de criança,
sacrificium fiabat ob frgum eventum» 53. era objecto de chacota.
De um modo ou de outro, o certo é que, na época Plutarco identificou este homem como símbolo
mais tardia da República (primeiros séculos a. do rei derrotado de Veios, o qual foi vendido
C.) o cavalo era tido como purificador das em leilão, juntamente com outros prisioneiros.
forças militares54. Segundo este autor, os Sárdios eram os Etruscos
A tradição da luta das duas facções (na Via Sacra, de Veios, originários de Sardis, na Lídia59. No
contra Suburra), ter-se-á perdido no primeiro entanto, também é possível que estes Sárdios
século antes de C., mas o resto do ritual foi fossem os Sardos, naturais da Sardenha, apesar
entretanto preservado. É curioso notar que desta região só ter sido dominada por Roma
esta celebração poderá ter influenciado Júlio em 238 a.e.C.60 ou 515 A.U.C.61, e o surgimento
César, quando entregou aos pontífices dois dos Jogos Capitolinos datar de época anterior.
soldados amotinados, e o Flâmine Marcial Apesar da expressão «Sardi venales» ter ficado
muito conhecida, a sua origem nunca foi bem
49
explicada.
Uma parte de Roma, monte Esquilino. Se, como alguns pensam, esta celebração for
50
Outra parte de Roma, monte Palatino.
51
Na obra «Geografia» III.
de origem pré-republicana62, a consagração
52
Ao qual Estrabão chama «Ares», num processo de 55
identificação tipicamente greco-romano, isto é, os Jogos Capitolinos, que duravam dezasseis dias.
56
Helenos e os Latinos, quando queriam perceber os Segundo Tito Lívio.
57
Deuses dos outros povos, associavam-nos, em Segundo Plutarco e Festus.
58
pensamento, a Deuses Helenos e Latinos, como quem «os Sárdios estavam à venda».
59
diz «este Deus deles é o equivalente ao nosso Ares. Ficava na Ásia Menor, hoje, Turquia.
60
53
«O sacrifício foi feito para o sucesso das colheitas». 238 antes da época cristã.
61
54
Um certo autor, Timaeus, associava este ritual com o 515 Ab urbe Condita, isto é, Desde a Fundação da
cavalo de Tróia, o que, não obstante poder parecer a Cidade.
62
alguns absurdo, até pode ter qualquer antigo fundo de Isto é, se datar da época da Monarquia, que foi de 753
verdade, pois que se trata, também no caso do equídeo a.e.c. (data da fundação da cidade), até 510 a.e.c. (data
troiano, de um cavalo de guerra. do fim da Monarquia), com a deposição do rei etrusco

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será a Júpiter Feretrius63 ou a Júpiter Optimus Dia do ritual Armilustrium,


Maximus64, cujo templo foi dedicado não antes purificação do exército, que
do princípio da República. é consagrado a Marte, O
Quanto ao templo dedicado a Júpiter Feretrius, é Deus da Guerra.
o mais antigo de Roma, e, lendariamente, terá Após as campanhas militares
sido fundado por Rómulo, como comemoração do Verão, o exército era
da sua vitória contra o rei Ácron, dos Ceninenses, reunido e revisto no Circo
pelo que a armadura e as armas de Ácron foram Máximo, ornamentado com
depositados nesse templo como triunfos de flores e purificado, Para se
guerra, spolia optima. Este templo só recebeu 19 libertar das influências a que
despojos de batalha duas vezes, depois de esteve sujeito devido ao derramamento de
Rómulo65 . Neste templo não havia estátua do sangue e ao contacto com estrangeiros.
Deus66, mas sim um ceptro e um sílex, ou uma Neste dia, os sacerdotes Sálios, de carácter
pederneira (Petrinaria), que é uma pedra com marcial, danvam e cantavam pelas ruas, e
a qual se produz lume. durante os sacrifícios.
Esta pedra poderia originalmente ser de O que cantavam chamava-se Carmina Saliorum,
proveniência meteórica, e era usada pelo cânticos que são ainda conhecidos. Tocavam-se
sacerdote Fecial no ritual do contracto67. tubas – instrumentos musicais de cariz bélico
A respeito dos Jogos Capitolinos, conhecem- –. e as armas, juntamente com os Ancilia69
se outros elementos, para além do velho: que eram purificados e guardados, até à abertura
Rómulo espalhou pelo campo peles oleadas, e da estação militar, em Março.
que os homens usavam luvas (caestibus) nas Segundo Varrão e Plutarco, a lustratio ou
lutas, e competiam em corrida (cursu). lustração, que é a purificação por meio do
Conforme disse Énio: «conque fricati oleo lentati sacrifício, era feita no monte Aventino, junto
adque arma parati»68. ao Circo Máximo, num espaço aberto denominado
Armilustrium, sendo o monte Aventino o
18 destino da procissão dos Salii ou Sálios.
Os sacrifícios eram realizados ao som das
tubas e eram oferecidos a Marte no Monte
Aventino, junto ao túmulo de Titus Tatius.
Segundo o calendário de Preneste70, haveria
uma altura, durante o ritual, em que se provava
No dia 18 de Outubro ocorre uma o sangue dos sacrifícios. Esta prática teria cessado
acção de gratidão para com Spes, a no tempo de Augusto, o primeiro imperador.
Esperança, e Iuventas, a Juventude. A carne dos sacrifícios era depois oferecida a
todos, e realizavam-se festas, com muito vinho,
Tarquínio “O Soberbo”, e a imposição da República por
parte dos patrícios ou nobres.
jogos, cantares, danças e música.
63
O Júpiter A Quem Se Traz Oferenda, se Feretrius O dia 25 é consagrado a
derivar do verbo «Ferre», que é «Trazer», que é Crispin e Crispinianus,
Padroeiros dos sapateiros.
referente à entrega de espólios de guerra como oferenda
sacra, ou, segundo outros, O Júpiter Que Fere, se
Feretrius derivar de «Ferire», isto é, se disser respeito à
25 Este duo divino pode ter sido
inspirado no duo grego de Castor e Pollux, os
punição por infringir juramentos
64
Júpiter O Melhor E O Maior. gémeos, respectivamente cavaleiro e lutador,
65
Em 428 a.e.c. (325 A.U.C.) e em 222 a.e.c.(531 venerados pelos soldados romanos, e que na
A.U.C.). Grécia eram muito populares, especialmente
66
O que condiz com a provável ausência de em Esparta, onde as Suas imagens eram
representação antropomórfica dos Deuses, ausência transportadas para o campo de batalha,
esta que parece ser típica dos Indo-Europeus mais
arcaicos.
representando a lealdade entre camaradas de
67
Ritual no qual um sacerdote feria um porco com o armas, além de outras coisas possíveis. Na
sílex, dizendo algo como «Se o povo Romano violar este mitologia grega, são filhos de Zeus e de Leda.
acordo, que Júpiter o fulmine como eu fulmino este
porco!»
69
68
Os competidores eram friccionados com óleo e Escudos sagrados de Roma, em número de 12.
70
preparados para carregar armas. Cidade do Lácio.

13
Athanor – Boletim Esotérico Mensal – Edição n.º 20 – Outubro de 2007

P
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∴ Teeeiiix
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x aC
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Caabbbrrra
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"Há patífes suficientemente patífes para se portarem


como pessoas honradas."
"Tão tranquilas são as pessoas honradas e tão activos as patifes,
que frequentemente é necessário servirmo-nos dos segundos."
"Para governar, há que saber aproveitar os vícios dos
homens, não as suas virtudes."
"O único local onde encontrarás uma mão que te apoie é
no extremo do teu próprio braço."
"Aprecia-se muito melhor o fundo dos vales quando se
está no cimo das montanhas."
"Há calúnias perante as quais a própria inocência perde as forças."
"Às vezes há que retroceder dois passos para avançar um."
"Só há duas alavancas que movem os homens: o medo
e o interesse."
"Antes de pensar na injúria sofrida, há que deixar
passar pelo menos uma noite."
"A vitória tem cem pais e a derrota é orfã."
"Entregar-se à dôr sem resistir é como abandonar o
campo de batalha sem ter lutado."
"Nunca saberás quem são os teus amigos, até que caias
em desgraça."
"Tudo o que não é natural é imperfeito.”
"A suprema sabedoria é ter sonhos bastante grandes,
para não se perderem de vista enquanto se perseguem."
"Nos negócios da vida, não é a fé o que salva, mas a desconfiança."
"A realidade tem limites; a estupidez não."
"As batalhas contra as mulheres são as únicas que se
ganham fugindo."
"Os sábios buscam a sabedoria; os néscios crêem tê-la encontrado."
"A imaginação governa o mundo."
"Os homens, em geral, não são senão crianças grandes."
"Só com um poder absoluto se pode vencer a necessidade."
"O homem é como um número: só tem valor pela sua posição."
"O impossível é o fantasma dos tímidos e o refúgio dos cobardes."
"Nunca emprenderíamos nada se quiséssemos assegurar
por anticipação o êxito do nosso projecto."
"Com audácia pode tentar-se tudo, mas não se pode conseguir tudo."
"Podemos elevarmo-nos muito acima daqueles que nos
insultam, perdoando-os.”
"A independência, tal como a honra, é uma ilha rochosa sem praias."

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