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RESUMOS DE ECONOMIA

Unidade [1] – A atividade económica e a ciência económica

 Capítulo [1.1] – Realidade social e ciências sociais

O ser humano, opondo-se aos outros animais, não é autossuficiente. Este precisa de
relacionar-se entre si e com o ambiente que o rodeia para estabelecer relações
vantajosas para a sua sobrevivência. Estas podem ser de cooperação, de interajuda ou
até de conflito. É desta vida em sociedade que resulta aquilo a que se dá o nome de
realidade social, ou seja, o conjunto de todas as relações que se estabelecem entre os
seres humanos e entre eles e o ambiente que os rodeia. O estudo desta realidade e dos
fenómenos que dela derivam – os fenómenos sociais -, é feito pelas ciências sociais, nas
quais a economia se inclui.

Definição de realidade social:


Conjunto de todas as relações que se estabelecem entre os seres humanos e entre eles e
o ambiente que os rodeia.

Definição de fenómenos social:


Variedade de fenómenos que derivam da realidade social.

 Capítulo [1.2] – O objeto de estudo da Economia

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Enquanto que as ciências exatas analisam e estudam o seu objetivo de estudo,
encontrando conclusões e verdades rigorosas (como é o exemplo da matemática, da
biológica, da química, etc), as ciências sociais (ou humanas) não permitem enunciar
conclusões/verdades completamente exatas, dada a circunstância de serem de difícil
confirmação.

Sendo o objeto de estudo das ciências sociais a já definida realidade social, é pertinente
perguntar se todas elas a estudam da mesma forma; pois, se assim fosse, seria nulo o
interesse de existência de tantas ciências. Obviamente, cada uma delas estuda aquela
realidade segundo uma perspetiva diferente.
Assim, se se levantar uma questão social, como, por exemplo, os hábitos alimentares
dos portugueses, diferentes ciências sociais terão diferentes abordagens para o tópico,
sendo a perspetiva estudada, por exemplo, pela Economia, a realidade económica. Seria
esta multiplicidade de olhares, esta interdisciplinaridade, que permitiria construir
conhecimento sobre os hábitos alimentares dos portugueses.

Definição de realidade económica:


A realidade social estudada, segundo a perspetiva da atividade económica das
sociedades.

 Capítulo [1.3] – O problema económico

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Sabendo que existem bilhões de seres humanos, e que todos eles têm as suas próprias
necessidades, podemos concluir que o número de necessidades que existe é ilimitado.
Para satisfazer estas necessidades, são precisos bens. Ora, estes bens de que se fala não
são ilimitados (como se pode ver ao nosso redor: pessoas a morrer de fome ou de sede,
etc). Daí podemos concluir que os recursos indispensáveis à produção dos bens são
escassos.
À dicotomia “necessidades ilimitadas, recursos escassos”, dá-se o nome de problema
económico e é ele a grande preocupação da ciência económica.

O que é o problema económico:


O problema económico é a escassez de recursos face à infinitamente superior
quantidade de necessidades humanas.

É devido a esta escassez que o mundo tenta encontrar a melhor forma de utilização dos
recursos, que consiste na satisfação de o maior número possível de necessidades com o
menor número possível de recursos. Ou seja, é necessário saber otimizar o uso dos
recursos. A esta otimização dá-se o nome de racionalidade económica.
Para racionalizarmos os nossos bens, é preciso fazer escolhas. Daí que se chame a
Economia a “ciência das escolhas”.

Definição de racionalidade económica:


Tentativa de satisfazer o maior número possível de necessidades com a menor
quantidade de recursos.

Podemos dizer, então, que a Economia estuda a forma como o ser humano, e
consequentemente a sociedade em que vive, decide usar os recursos que são escassos.
Chegado ao momento de tomada destas decisões, existem várias possibilidades de
utilização dos recursos, mas, tipicamente, apenas uma pode ser eleita, fazendo, assim,
com que se perca todos os benefícios que as outras alternativas poderiam trazer se
fossem escolhidas. A este benefício perdido na racionalização dos bens, dá-se o nome
de custo de oportunidade.
Definição de custo de oportunidade:
Valor dos benefícios que se deixa de ter quando, em situação de escolha, se é obrigado a
optar por uma (ou umas) das alternativas existentes, ou seja, o valor das aplicações
alternativas de um determinado recurso.

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 Capítulo [1.4] – A atividade económica

Como sabes, nem todos os bens que necessitamos vêm diretos da natureza, como à
água. Não podemos utilizar petróleo como combustível ou vestir algodão. Estes
recursos naturais precisam ser transformados em outros bens para que deles possamos

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disfrutar. E nem sempre estão estes recursos naturais de que falámos sempre disponíveis
para os usarmos. Portugal não dispõem de petróleo nem de algodão, por exemplo.
Como é, então, possível que coisas que estão longe, porque apenas aí existem, e coisas
que ainda não foram transformadas em bens, para serem nos serem úteis, estejam à
disposição de praticamente todas as comunidades do mundo? Graças à atividade
económica.

Definição de atividade económica:


A atividade económica é o conjunto de todas as ações indispensáveis à obtenção das
coisas que satisfazem as necessidades humanas.

Na verdade, esta atividade económica inclui várias funções, pois são várias as tarefas
que é preciso serem cumpridas para que todos tenhamos possibilidade de satisfazer as
nossas necessidades.
Vamos voltar atrás e pensar nos bens anteriormente referidos que necessitavam de
transformação: o petróleo e o algodão. A esta transformação de matérias em bens dá-se
o nome de produção.
Depois de serem produzidos, os bens precisam ser transportados até próximo das
pessoas, para que elas os possam comprar. O transporte e o comércio dos bens
fabricados constituem outra função económica – a distribuição.
Os bens já foram fabricados, colocados nas lojas, e até comprados (em parte) por nós…
o que fazemos a seguir? Usá-los para satisfazer as nossas necessidades. A esta função
damos o nome de consumo.
Todas as funções até agora referidas obrigam à movimentação de dinheiro. Cultivar,
fabricar, transportar e até vender são ações onde é necessário dinheiro. Mas onde
conseguem as empresas o dinheiro? Através da venda das suas produções. É com esse
dinheiro que as empresas pagam os seus fornecedores, os salários dos seus
trabalhadores, compensam os seus financiadores (sócios, bancos, etc). Esta é outra das
funções económicas – a repartição dos rendimentos.
Todo o rendimento distribuído vai ser usado pelos seus destinatários da forma que cada
um entender, mas a verdade é que ninguém gasta a totalidade do seu ordenado (apenas
em casos pontuais). Isto, pois a atividade económica não poderá progredir se não houver
poupança. Ora, é esta parte do rendimento que é acumulada que dá origem à última das
funções económicas – a acumulação de riqueza.

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 Capítulo [1.5] – Os agentes económicos

Já falámos da atividade económica e todas as funções que são necessárias para que esta
possa funcionar. Mas quem realiza estas tarefas? As pessoas, a quem, neste contexto, se
dá o nome de agentes económicos. Um agente económico é alguém que intervém na
atividade económica, exercendo com autonomia, pelo menos, uma das cinco funções
económicas já referidas.

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Os agentes económicos recebem nomes específicos conforme as funções económicas
que desempenham. Assim, o imenso conjunto de pessoas que intervêm na atividade
económica é organizado nos seguintes agentes económicos:

As famílias: o conjunto daqueles que têm como principal função consumir. Porém, as
famílias estão presentes na realização de outras funções económicas, como na produção,
pois são elas que tomam a iniciativa de criar empresas, é delas que sai toda a mão de
obra indispensável à transformação das matérias em produtos. Se a iniciativa de criação
de empresas vem maioritariamente das famílias, é porque rendimentos são poupados,
então as famílias também participam na acumulação de rendimentos. Contudo, a função
económica em que mais participa este agente económico não deixa de ser o consumo.

As empresas: conjunto de instituições cujas principais funções económicas são a


produção e a distribuição. Principais, pois também existem empresas que não fabricam,
não transportam nem vendem bens. É exatamente por isso que às empresas que temos
vindo a falar se dê o nome de empresas não financeiras. Simultaneamente, existem as
empresas financeiras ou instituições financeiras, ou seja, o conjunto de organizações
cujo objeto de trabalho é o dinheiro. O que estas normalmente fazem é captar poupanças
alheias e aplicá-las sob a forma de financiamentos a quem deles necessita. Falamos dos
bancos, das seguradoras, das agências de câmbio, etc.

O Estado: aquela entidade que não só governa o país, mas a quem também cabe
garantir algumas das nossas necessidades, as chamadas necessidades coletivas (saúde,
justiça, defesa, educação, etc). Ao mesmo tempo, é função dos Estados preocuparem-se
com a minimização das desigualdades sociais, pelo que também lhes cabe proceder à
chamada redistribuição de rendimentos, isto é, retirar, sob a forma de impostos,
rendimentos aos mais ricos para os entregar aos mais pobres sob a forma de apoios
sociais. Assim sendo, o Estado participa em quase todas as funções económicas.

Estes três agentes económicos, que até podem ser considerados quatro, se
considerarmos os dois tipos de empresas como agentes económicos diferentes, são
aqueles que encontramos em qualquer economia.
Porém, se só eles existissem, a economia seria fechada, isto é, estaria isolada
relativamente aos restantes países do mundo. Como todos os países atuais transacionam
com países estrangeiros, as económicas dizem-se abertas, pelo que há que acrescentar
um agente económico àqueles já mencionados: o Resto do Mundo.
Por Resto do Mundo entende-se o conjunto de todos os agentes económicos não
residentes na economia em análise, com quem ela estabelece relações económicas.
Sendo estas relações chamadas importações e exportações, isto é, as compras e vendas
da economia ao estrangeiro, respetivamente.

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Unidade [2] – Necessidades e consumo

 Capítulo [2.1] – As necessidades

Afinal o que é uma necessidade? Certamente já houve momentos em que sentiste a falta
de algo, por exemplo, sentiste fome, sede, frio, etc. Pois bem, uma necessidade é
exatamente isso. É um estado de privação que precisa de ser satisfeito para que o mal-
estar sentido desapareça. Alguns exemplos de necessidades são a alimentação a
respiração, a educação, etc.

Definição de necessidade:
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Estado de privação que precisa de ser satisfeito para que o mal-estar sentido desapareça.

Já percebemos que todos temos necessidades. Mas, afinal, como é que se satisfaz
necessidades? Normalmente, com coisas, recursos, bens e serviços.
Os bens e serviços têm, então, a capacidade de satisfazer as necessidades, razão pela
qual se diz que eles têm utilidade para o fim referido. Eles são tão mais úteis quanto
maior for a sua capacidade de satisfazer as necessidades.

Será que todas as necessidades têm algo em comum ou, pelo contrário, são todas
totalmente diferentes?
Se reparares,
 elas nunca existem sozinhas, pois todos sentimos várias necessidades. Esta é a
característica da multiplicidade;
 nem todos sentimos as mesmas necessidades. Pensa num membro de uma tribo
indígena, num bebé ou num jovem de há 30 anos. O primeiro não precisa de
agasalhos, o bebé precisa de fraldas e há 30 anos ninguém sentia necessidade de
telemóveis, pois não existiam. As necessidades variam no espaço e no tempo,
pelo que a relatividade é outra das suas características;
 normalmente cada uma delas pode ser satisfeita por diferentes bens ou serviços.
Podes comer um pão ou uma peça de fruta se tiveres fome, ler um livro ou ir ao
cinema se te quiseres entreter. Esta é a característica da substituibilidade.
 a intensidade da necessidade vai diminuindo à medida que é satisfeita, até que é,
por completo. A esta característica dá-se o nome de saciabilidade.

Tão vasto é o conjunto das necessidades humanas que se justifica a sua classificação.
Esta é realizada de acordo com a importância da necessidade para a vida, quanto ao
custo e quanto à sua natureza.

 Quanto à sua importância para a vida:

Se a continuidade da vida depende da satisfação de certas necessidades, estas dizem-se


primárias. Se não respirarmos, comermos, bebermos, etc, a nossa vida termina. Porém,
não basta que estas primeiras necessidades sejam satisfeitas para que tenhamos uma
vida digna. Queremos mais, queremos qualidade de vida e, por isso, procuramos formas
de nos deslocarmos para qualquer lugar do mundo, praticamos desportos, vamos a
museus, etc. Estas são as necessidades secundárias.

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Muita gente gosta de carros exóticos, de joias, de viagens em cruzeiros de luxo, de
roupas de designer, etc. Estas pessoas têm necessidades terciárias, isto é, necessidades
do que é supérfluo.
Contudo, este tipo de classificação não é absoluto. Existem necessidades, como a
educação, que, dada a sua importância para a vida atual, já muitos classificam como
primária e não como secundária.

 Quanto ao seu custo:

Há necessidades cuja satisfação obriga ao dispêndio de dinheiro. A maior parte dos bens
e serviços que usamos para satisfazer as nossas necessidades têm de ser comprados e,
para isso, precisamos de dinheiro. Falamos, por exemplo, do pão, da água, da casa, do
carro, das idas ao cinema e ao médico. Estas são as necessidades económicas.
Outras, menos comuns, dispensam completamente o dinheiro: respirar, apanhar sol,
tomar banho na praia, caminhar, secar roupa no estendal. São as necessidades não
económicas. É apenas com as necessidades económicas com que a Economia se
preocupa.

 Quanto à sua natureza:

Todos nós, seres humanos, sentimos necessidades pelo simples facto de existirmos, ou
seja, necessidades que sentiríamos mesmo que fôssemos a única pessoa no planeta. É o
caso da necessidade de alimentação, de segurança, de transporte, etc. Será que o mesmo
pode ser dito, por exemplo, relativamente à educação? Sentiríamos nós esta necessidade
se não vivêssemos em sociedade, se fôssemos o único ser humano na Terra? Mais,
somos nós capazes de satisfazer todas as nossas necessidades através da nossa própria
iniciativa ou precisamos da ajuda da comunidade em que estamos inseridos para
satisfazermos alguma delas?
As necessidades que subjetivamente sentimos e que podem ser satisfeitas pela livre
iniciativa individual dizem-se necessidades individuais. As necessidades que sentimos
pelo facto de vivermos em sociedade, nomeadamente, a educação, a justiça, a defesa, e
que, por isso mesmo, precisam de contributo do Estado para serem satisfeitas, chamam-
se necessidades coletivas.

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 Capítulo [2.2] – O consumo

Será que basta haver recursos para que as necessidades sejam satisfeitas? Claro que não,
estás certamente a pensar. É preciso que esses bens e serviços sejam consumidos. Não
basta ter um bife para deixar de ter fome; não basta ter um bilhete de avião para viajar…
é preciso comer o bife e entrar no avião que nos levará ao destino.
Consigo ouvir-te a perguntar interiormente: É necessário o desaparecimento do bem
para que haja consumo? Se estivermos com fome e comermos o bife, sim, mas se
entrarmos no avião e fizermos a viagem, ele não desaparece. Assim, não, nem sempre o
consumo implica a destruição ou desaparecimento do bem consumido.

O consumo é, então, o ato de utilização de bens e serviços para satisfação das


necessidades.

Definição de consumo:

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Ato de utilização de bens e serviços para satisfação das necessidades.

Nenhuma das funções económicas é indispensável à atividade económica, mas haverá


alguma que é fundamental, que é mais importante que as restantes?
Pensa,
 Por que razão há produção de bens e serviços? Porque as pessoas precisam
deles para satisfazerem as suas necessidades, para os consumirem.
 Por que razão estes bens e serviços precisam de ser distribuídos por todo o lado?
Porque, normalmente, a produção acontece longe de quem procura os bens, daí
que, em todo o lado, haja quem precise deles para a satisfação de necessidades,
isto é, para os consumirem.
 Podem a produção e a distribuição fazer-se sem trabalhadores? Não? Então, a
necessidade de consumir também justifica o trabalho.
 É o trabalho que traz rendimentos à maior parte das famílias. Qual é a principal
aplicação que deles fazem? O consumo.
Logo, toda a atividade económica depende do consumo. É comum dizer-se que ele é o
motor dessa atividade económica.

Já vimos a importância que o consumo tem para a atividade económica. Podemos agora
pensar na importância que o consumidor tem para essa mesma atividade. O que achas?
Será relevante?
Claro que sim! Cabe a cada um de nós tomar decisões de consumo e é dessas decisões
que a atividade económica vai também depender.
Obviamente, o consumo vai depender do tipo e da intensidade das necessidades sentidas
e da diversidade de bens e serviços que os seres humanos têm à sua disposição. Assim
se definem os tipos de consumo.
Para além do consumo essencial, aquele de que depende a satisfação das necessidades
primarias, necessitas de conhecer outras três classificações:

 Quanto ao beneficiário:

Se a Paula estiver a usar o computador de casa, o irmão terá de esperar para poder fazer
a pesquisa que a professora pediu. Com este exemplo, consegues perceber que o
consumo individual é aquele que ao ser feito por uma pessoa impede outra de o fazer.
Se isto não acontecer, ou seja, vários indivíduos puderem, em simultâneo, utilizar um
determinado bem ou serviço, então o consumo diz-se coletivo.

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Pensa nas tuas aulas. Quando qualquer uma delas acontece, quantas pessoas satisfazem
a necessidade de educação? Todos os alunos da turma. Então, o consumo que acontece
em cada um desses momentos é coletivo.
Porém, se pensares nas esferográficas que são usadas durante a aula, a sua utilização é
um ato de consumo individual, pois, enquanto um aluno usa uma, mais ninguém a pode
utilizar.

 Quanto ao autor:

Se o consumo for feito pelo Estado, diz-se que é público, mas se for feito por qualquer
outra entidade, nomeadamente pelos cidadãos, diz-se que ele é privado.

 Quanto à finalidade:

Por vezes, o ato de consumo destina-se a satisfazer de forma imediata e direta uma
determinada necessidade. É o que acontece quando vestes um casaco porque estás com
frio ou quando bebes um copo de água mineral quando estás com sede. Estes são atos de
consumo final. Nestes casos, o bem usado desaparece ou vai desaparecendo à medida
que vai sendo consumido. No caso da água, desaparece totalmente, mas no caso do
casaco, com o uso, fica apenas desgastado, mas nunca desaparece totalmente.
Continua a pensar no casaco. Onde o arranjaste? Há grande probabilidade de o teres
comprado. Se assim foi, alguém o fabricou. Nesse processo de fabrico também
aconteceram atos de consumo, na utilização de tecidos, linhas, botões, etc. Estamos
agora a falar de atos de consumo que não satisfazem necessidades de forma direta nem
imediata, pois isto só acontecerá depois de o bem fabricado ser utilizado por alguém. Os
recursos que estão a ser usados são sujeitos a transformação, por isso, aos bens
envolvidos dá-se o nome de matérias (primas ou subsidiárias). Atos de consumo como
estes designam-se por atos de consumo intermédio.

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 Capítulo [2.3] – Padrão e estrutura de consumo

Pensa naquilo que acabámos de falar e olha à tua volta. Todos consomem as mesmas
coisas que tu e a tua família? Vês pessoas que praticam desporto, pessoas que viajam e
pessoas com outros hábitos completamente diferentes. Será isso apenas consequência
das necessidades que sentem ou haverá outros fatores que influenciam a forma como
cada um consome?
A realidade é que os atos de consumo que cada um pratica não dependem apenas das
necessidades sentidas. Dependem, também, de determinadas realidades, tais como: o
rendimento disponível, o preço dos bens e serviços, a dimensão da família, entre outras
coisas que possam ter relevância para a pessoa, sendo também verdade que cada um
destes fatores pode ter mais importância num momento do que noutro. Imagina que
ganhavas 1 milhão de euros na lotaria. Esse facto iria, certamente, alterar o teu padrão
de consumo, pois passarias a adquirir e consumir coisas que antes não podias.

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Aos diferentes modelos que o consumo vai assumindo dá-se o nome de padrão de
consumo. Ora, estes padrões vão variando com o tempo, a cultura, a religião, e todos
aqueles fatores acima referidos.

Definição de padrão de consumo:


Considerando uma família X, o seu padrão de consumo corresponde aos diferentes bens
e serviços consumidos por esta mesma, ou seja, o modelo que o seu consumo assume.

A verdade é que todos os aspetos já referidos influenciam os padrões de consumo,


embora, a globalização tenha originado um fenómeno de aculturação que aproximou os
padrões de consumo de culturas muito diversas. Repara que em todos os países do
mundo se usa calças de ganha, se comem hambúrgueres e se bebem refrigerantes de
marca igual! Simultaneamente, o camelo continua a ser usado como meio de transporte
no deserte e as mulheres-girafa continuam a usar argolas no pescoço.
Com isto queremos dizer que os modelos de consumo das diferentes pessoas famílias,
países e culturas são, simultaneamente, semelhantes e dissemelhantes.
Podemos, então, afirmar que os fatores que influenciam os padrões de consumo podem
ser agrupados em duas categorias: os económicos e os extraeconómicos.

- Fatores económicos

 O rendimento:

Já aqui dissemos que quase todos os bens e serviços que as pessoas consomem têm
de ser comprados, pelo que as pessoas têm de ter dinheiro para os adquirirem, daí a
importância do rendimento para o padrão de consumo de cada indivíduo.
Que tipo de relação se estabelece entre estas duas realidades: consumo e
rendimento? Obviamente, em condições de normalidade, é uma relação de
proporcionalidade direta, já que quanto maior for o rendimento da pessoa, mais ela
terá possibilidade de consumir, e vice-versa.
Mas nem sempre é este o caso. Por vezes, quando o rendimento aumenta, não só o
consumo de determinados bens não na mesma proporção, como, por vezes, até
diminui.

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Imaginemos um individuo cujo ordenado foi de 800 euros mensais, para 2000 euros
mensais. Claramente, esta pessoa tem agora condições de aumentar o consumo dos
bens que compõem o seu padrão de consumo. Falamos de coisas como carne, peixe,
roupa e cinema. Mas será que o João vai continuar a consumir tantos serviços de
transportes públicos como consumia antes? Agora, ele já tem possibilidade de
comprar um carro. Não terá ele, também, possibilidade de comprar aquele relógio
que há tanto tempo cobiçava? Sim, é natural que tenha.
Os bens cujo consumo aumenta, quando o rendimento disponível da pessoa ou
família aumenta, dizem-se bens normais; aqueles cujo consumo diminui dizem-se
bens inferiores (os transportes públicos, o pão, as batatas, etc.); e aqueles cujo
consumo aumenta mais do que proporcionalmente, quando o rendimento aumenta,
são os bens de luxo ou bens superiores. Observa os gráficos 1 a 3.

 Os preços dos bens e serviços:

Uma vez definido o nível de rendimento do indivíduo ou da sua família, são os preços
dos bens e serviços que vão ter importância nas suas decisões de consumo.
Um consumidor racional, cujo rendimento se mantém constante, irá reagir a
alterações nos preços da seguinte forma:
- Se os preços subirem, o rendimento de que dispõe já não permitirá adquirir a mesma
quantidade de cada bem ou serviço que faz parte do seu padrão de consumo, a não ser
que existam alternativas mais baratas que satisfaçam as mesmas necessidades.
- Se os preços baixarem, o seu rendimento vai permitir aumentar a quantidade ou até a
qualidade dos bens e serviços que normalmente consome, o que lhe vai trazer um maior
nível de satisfação e utilidade.
Evidentemente, um consumidor racional, perante produtos idênticos (no que toca à
utilidade), compra aquele que é mais barato ou o que apresenta uma melhor relação
qualidade-preço. É da conjugação de rendimento com preço dos bens que resulta a
noção de poder de compra, que será tanto maior quando maior for o rendimento ou
menores forem os preços.

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 A inovação tecnológica:

Quando se fala de inovação tecnológica, fala-se de algo de novo que o setor produtivo
traz ou apresenta. Fala-se de produtos aos quais foram dadas novas funcionalidades, de
produtos novos ou, então, de novidades ao nível dos processos de fabrico.
Já reparaste, com certa, que, quando um novo produto é lançado no mercado, tem um
preço que, mais ou menos rapidamente, vai baixando graças à evolução que os
processos produtivos sofrem.
Esta inovação tecnológica só é possível se houver conhecimento, se os países e as
economias apostarem na formação dos seus recursos humanos e apoiarem a
investigação científica.

 O crédito:

Quando as pessoas têm restrições orçamentais, têm sempre a hipótese de recurso ao


crédito, ou seja, de contraírem impostos das instituições financeiras.
Porém, é preciso não esquecer que esta forma de financiamento das vontades não é
gratuita. A utilização de dinheiro alheio tem um preço: chama-se juro. Se ele estiver
alto e o indivíduo não tiver racionalidade económica, isto é, assumir compromissos que
não pode cumprir, corre o risco de endividamento excessivo ou sobre-endividamento.
Se o juro estiver baixo aparentemente não se corre aquele risco, a não ser que se
contraia um número exagerado de empréstimos, como aconteceu nos tempos que
antecederam a crise financeira que Portugal sofreu.

- Fatores extraeconómicos

 A publicidade:

Todas as empresas têm um produto que quer vender, mas para que isso seja possível é
preciso dá-lo a conhecer ao potencial consumidor. Uma das formas mais comuns de
divulgação de produtos é a publicidade, parte integrante do marketing.
Através do marketing a publicidade, que se pretende honesta e não enganadora, divulga
produtos e suas funcionalidades com a finalidade da venda.

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Muitas vezes, são as estratégias de marketing e de publicidade que fazem nascer em nós
uma determinada necessidade que nunca antes tínhamos sentido. Então, todos os seres
humanos têm necessidades naturais e artificiais.

 A dimensão das famílias:

A família Santos é composta pelo pai, pela mãe e por dois filhos. Na casa ao lado, vive
o casal Gonçalves, os seus três filhos e ainda a avó materna e um tio do pai. Será que os
consumos de ambas as famílias são iguais? Se te disser que um dos filhos dos
Gonçalves é um bebé, rapidamente verás que não só esta família consome mais bens do
que a família Santos, pois sete pessoas consomem mais do que quatro, mas também
concordarás que o tipo de bens e serviços que satisfazem as necessidades das duas
famílias são diferentes, devido à diferença de idades entre as duas casas.
O padrão de consumo das famílias depende, então, não só da sua dimensão, como
também da sua composição.

 A idade:

As tuas necessidades são hoje as mesmas que tinhas quando frequentavas o infantário?
Serão as mesmas quando fores um adulto ou quando fores um idoso? Não. Quando
estavas no infantário precisavas de um babete, hoje e no futuro basta-te um guardanapo.
Hoje precisas de material escolar de que, em princípio, não precisarás quando fores
idoso, altura em que podes voltar a precisar de fraldas, um bem que te é completamente
desnecessário desde que deixaste de ser um bebé.
A idade é também um fator relevante para a definição dos padrões de consumo.

- A estrutura de consumo

Cada família tem o seu padrão de consumo, que é influenciado por um conjunto
bastante alargado de fatores. Mas como repartem elas o rendimento de que dispõem
pelos diferentes grupos de bens e serviços que compõem o seu padrão de consumo, ou
seja, como estruturam as suas despesas de consumo? Será que o fazem da mesma
forma?

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Cada família estrutura o seu consumo em função das suas preferências, que, como já
vimos, estão balizadas por todos os fatores que influenciam o consumo. São eles que
fazem com que gastem mais num bem ou menos num serviço.
O estudo do padrão e da estrutura de consumo permite conhecer os comportamentos de
consumo e até detetar eventuais particularidades regionais.
Ao peso da despesa em cada bem ou serviço no orçamento familiar dá-se o nome de
coeficiente orçamental.

Coeficiente orçamental = (Valor da classe de despesa / Valor da despesa total) x 100%

É muito importante reparares que o denominador da fração representa o rendimento


gasto em bens e serviços para consumo e não o rendimento disponível. Cada um de nós
pode dar dois destinos ao seu rendimento: ou o gasta ou poupa, por isso, se as famílias
pouparem, como é desejável, o valor total da despesa é inferior ao valor do rendimento.
Imagina a família Silveira a quem saiu o Euromilhões. O quadro seguinte apresenta o
padrão e a estrutura de consumo da família, antes e depois do prémio.

O padrão de consumo da família Silveira está na coluna identificada como classe de


despesa, pois ela indica-nos os bens e serviços que a família consome. As estruturas de
consumo, porque a família tem duas (antes e depois do prémio), estão nas colunas
seguintes, pois é aí que encontramos o valor gasto em cada tipo de bem ou serviço.

Definição de estrutura de consumo:

Forma como uma família reparte o seu rendimento na aquisição dos diferentes bens e
serviços que compõem o seu padrão de consumo.

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Se te disserem que antes da saída do prémio esta família tinha um rendimento mensal de
1000€, logo concluis que ela poupava 50€ em cada mês, uma vez que essa é a diferença
entre o valor do rendimento e o valor dos gastos mensais da família.
O que mais podemos concluir a partir da análise da tabela anterior?
- Que a família Silveira, após ter ganho o Euromilhões, passou a gastar menos em
consumo essencial;
- Que a família Silveira mais que duplicou os consumos referentes a comunicações lazer
e cultura.

Podemos então, concluir que, à medida que o rendimento aumenta:


- Diminui o peso relativo dos consumos essenciais e aumenta o dos não essenciais;
- Uma vez satisfeitas as necessidades básicas ou primárias, não há qualquer justificação
para aquisição de mais quantidade dos bens e serviços que as satisfaçam, apostando-se,
então, na qualidade de vida.
A este propósito, Ernst Engel, economista e estatístico alemão, depois de ter estudado as
estruturas de consumo de famílias belgas, enunciou algumas leis, destacando-se a Lei
de Engel, que nos diz que quanto menor for o rendimento de uma família, maior será o
coeficiente orçamental da alimentação e bebidas não alcoólicas, e vice-versa. Quando o
rendimento diminui, o valor absoluto da despesa neste tipo de bens até poderá diminuir,
mas o seu peso, ou seja, o seu coeficiente orçamental aumentará.

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 Capítulo [2.4] – Sociedade de consumo, consumismo e
consumerismo

Viver é consumir, o que significa que nas nossas sociedades se consomem bens e
serviços, pois, de outra forma, não seria possível a reprodução física e social. Será este o
significado que se atribui ao conceito de sociedade de consumo?
A verdade é que nunca houve tão grande variedade de produtos à disposição do
consumidor, que ele usa para satisfazer todas as suas necessidades, mesmo aquelas que,
em determinado momento, nem sabia que tinha.
A televisão, a internet, e os jornais, enfim, todos os meios de informação, quantas vezes
nos fazem chegar mensagens que não só nos falam dos bens e serviços que o mercado
tem à nossa disposição como nos mostram um estilo de vida, normalmente mais atrativo
do que o nosso, que vamos querer ter para pertencermos à sociedade. É neste contexto
que nascem em nós necessidades que não tínhamos ou que antes satisfazíamos com
outros bens e serviços.
É, então, a busca quase incessante do prazer e da felicidade que nos faz exagerar no
consumo, pondo em risco o objetivo da sustentabilidade.
Tudo começou no início do século XX, mas foi após a Segunda Guerra Mundial, na
sequência da prosperidade que o mundo ocidental passou a viver, que a situação se
tornou preocupante.
O aumento da produção industrial que à época se verificou trouxe às empresas
problemas de escoamento do produto. A forma encontrada para a resolução do
problema inverteu aquela que vinha sendo a logica da atividade económica, isto é,
deixou de ser a produção que estava ao serviço do consumir e passou este a estar ao
serviço da produção. Se até àquela altura as empresas fabricavam aquilo que os

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consumidores queriam e nas quantidades que eles procuravam, a produção passou a
depender das decisões das empresas, esforçando-se elas por criar nos consumidores
necessidades e desejos que garantissem a sua venda. Até à segunda metade do século
XX, os empresários pensavam: O que quer o consumidor? A partir daí, o pensamento
passou a ser: Como convenço o consumidor a comprar o meu produto? Ou seja, a
principal preocupação dos empresários deixou de ser o consumidor e passou a ser a
venda do produto, que, em muitos casos, é fabricado em série, de forma normalizada, e
preparado para durar pouco.
Simultaneamente, foi nesta altura que as estratégias de marketing, em que a publicidade
se inclui, sofreram grandes desenvolvimentos para dar a conhecer as virtualidades de
cada bem e serviço e assim captar a atenção dos consumidores.

Como se caracteriza, então, a sociedade de consumo? Como uma sociedade:


- que produz em grandes quantidades;
- em que a oferta de bens e serviços é superior à oferta;
- que reduz o ciclo de vida dos produtos, isto é, que fabrica produtos descartáveis (usar e
deitar fora);
- que usa técnicas agressivas de marketing com a finalidade de criar necessidades;
- que incentiva todos ao consumo, tornando-o num ato festivo, isto é, que o massifica;
- que valoriza o ter e não o ser.

Infelizmente, consumir passou a ser a paixão para muitas pessoas. Segundo Gilles
Lipovetsky, filósofo francês, ao capitalismo de massas do final do século XIX seguiu-se
a sociedade de abundância do pós-Segunda Guerra Mundial, para, nas últimas décadas,
se ter chegado àquilo a que se dá o nome de hiperconsumo. O ser humano é refém do
mercado e persegue, acima de tudo, o conforto, daí que o autor afirme que o bem-estar
se tornou o novo deus, sendo o consumo o seu tempo e o corpo a sua permanente
liturgia.

- O consumismo

Há, então, um conjunto de atitudes e de comportamentos humanos que podem levar a


um consumo insaciável, exagerado, impulsivo, compulsivo, irresponsável e até
perigoso. É o que, por sua vez, implica a utilização de grandes quantidades de recursos,
aumentando a velocidade de delapidação desses recursos, o que agrava o problema
económico.

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Definição de consumismo:
Atitude de consumo exagerado, desnecessário, impulsivo e irresponsável.

Simultaneamente, este comportamento consumista está também a desenvolver uma


quantidade nunca antes vista de resíduos, não apenas no momento do consumo, mas
também durante a produção. Estes resíduos são visíveis no estado sólido, como o nosso
lixo doméstico, no estado líquido, como águas sujas despejadas em rios, e no estado
gasoso, como o dióxido de carbono de que tanto se descreve como o causador do
aquecimento global. Quer o esgotamento de recursos como a produção de resíduos
põem em causa o desenvolvimento sustentável no nosso planeta.
Para além da degradação ambiental, há também consequências negativas nas pessoas
provindas do consumismo, nomeadamente, o sobre-endividamento. Se praticamente
todos os bens têm um custo, e os nossos rendimentos não forem suficientes para todos
os bens que necessitamos, podemos adquiri-los a prazo, ou seja, a comprá-los e a pagá-
los mais tarde com uma taxa de juros adicionada. Quando o endividamento atinge um
nível que está acima da nossa capacidade de pagamento, diz-se que estamos sobre
endividados.

- O consumerismo

O cenário consumista que antes te apresentámos é, contudo, quebrado por todos quantos
têm consciência da necessidade de mudança para padrões de consumo mais críticos e
seletivos. Há organizações que, reagindo ao consumismo, alimentam um movimento
que através da educação procura ajudar na definição de níveis de consumo esclarecidos
e responsáveis. É o movimento consumerista.
Em boa verdade, este movimento visa combater o consumismo, mas também proteger o
consumidor, defendendo os seus interesses de consumo.

Então, o que é o consumerismo?


O consumerismo é um movimento que defende um consumo consciente, saudável e
responsável. Este defende uma tomada de decisões de consumo com base em valores
que garantam os reais interesses das pessoas e do ambiente, e os seus membros são

23
também grandes adeptos do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social
empresarial.

Unidade [3] – A produção de bens e serviços

 Capítulo [3.1] – Bens – noção e classificação

Já sabemos que o ser humano tem necessidades que precisam de ser satisfeitas e
também já sabemos que essa satisfação acontece através do consumo de bens e serviços.
Então, a tudo o que satisfaz necessidades humanas dá-se o nome de bem. Como saber se
determinada coisa é um bem? Vendo se ela consegue ou não satisfazer uma
necessidade. Se existir alguma coisa que não tenha qualquer utilidade para a satisfação
das necessidades humanas, concluímos que essa coisa não é um bem. Assim sendo,
quem determina se uma coisa é um bem é o ser humano, pois são dele as necessidades.
Tal como existem diferentes tipos de necessidades, existem também vários tipos de
bens.
Provavelmente lembras-te do problema da escassez com que a Economia se propõe a
lidar. Ora, ela permite fazer uma primeira distinção entre bens livres e bens económicos,
sendo os primeiros aqueles relativamente aos quais não há escassez, e os segundos os
que existem em quantidades limitadas, ou seja, são escassos face às necessidades
humanas.
Os bens livres são aqueles que existem na Natureza em quantidades tais que permitem a
satisfação das necessidades de todos e que, por isso, não obrigam ao dispêndio de
dinheiro ou de qualquer outra riqueza. São os que satisfazem as necessidades não
económicas. Temos como exemplo o ar, a luz do Sol e a água do mar.
Os bens económicos são os restantes, isto é, aqueles que, por existirem em quantidades
limitadas, obrigam ao dispêndio de dinheiro ou de qualquer outra riqueza para a sua
obtenção. São aqueles que implicam escolhas e, consequentemente, trazem custos de
oportunidade. Estamos a falar de sapatos, arroz, idas ao cinema, e de tantas outras
coisas. Como é óbvio, a Economia recai sobre os bens económicos.

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Debrucemo-nos, então, sobre os bens económicos. Poderão eles organizar-se de
diferentes maneiras? Sim, estes bens podem ser classificados quanto à natureza, à
função, à duração e quanto às relações que estabelecem com outros bens.

- Classificação dos bens

 Quanto à natureza:

Como já deves ter concluído a partir dos exemplos que foram dados, a palavra bens
contempla coisas tangíveis e coisas intangíveis, isto é, contempla bens propriamente
ditos, e serviços.
Ser tangível significa que pode ser tocado por ter corpo. É o que acontece com os pães,
os carros, as casas, os livros. São os bens. Se algo é intangível é porque não pode ser
tocado, porque não tem corpo nem forma. São os serviços, como o dos funcionários da
secretária da tua escola, o do massagista ou o do barbeiro onde cortas o cabelo.
Se reparares, os bens podem ser armazenados e os serviços não.

 Quanto à função:

Tal como já sabes, há bens que satisfazem de forma direta e imediata as necessidades e
outros que, antes de o conseguirem, precisam de ser alvo de transformações. Sim, são os
bens que permitem atos de consumo final e de consumo intermédio, respetivamente.
Aos bens que satisfazem as necessidades, de forma direta e imediata, chamamos bens
de consumo. Aos outros, aos que não satisfazem diretamente uma necessidade humana,
chamamos bens de produção ou recursos.
Como exemplos dos bens de consumo, podemos referir, por exemplo a roupa, sapatos,
relógio, mochila, etc. Como exemplos de bens de produção, temos a pele usada para
fazer uns sapatos, as solas, linhas e cola e ainda as máquinas utilizadas para o fazer.

Como já viste, existe aqui uma heterogeneidade de bens que convém fazer desaparecer.
É por isso que os bens de produção são ainda organizados em:

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- Bens de consumo intermédio – bens usados num processo de fabrico que, por
sofrerem transformação, acabam por desaparecer. Não desaparecem no sentido literal
da palavra, mas desaparecem enquanto bem autónomo, como a pele utilizada no
fabrico dos sapatos. Os bens de consumo intermédio são, normalmente, de dois tipos:
as matérias-primas e as matérias subsidiárias. As matérias-primas são as que firam
incorporadas no produto final (a pele, as linhas, e a cola que ficam incorporadas no
sapato) e as matérias subsidiarias são as que ajudam na transformação, mas não ficam
diretamente incorporadas no produto. No processo de fabricação do sapato, podemos
dar como exemplo de matéria subsidiária a água utilizada na máquina de corte da
pele;
- Bens de equipamento – toda a maquinaria e ferramentas indispensáveis à fabricação
de um bem. No fabrico dos sapatos, será a máquina de cortar a pele, e o computador
que a controla, as máquinas de costura, as formas e as bancadas onde se faz a
montagem.

 Quanto à duração:

Qualquer bem satisfaz necessidades, porém, pode colocar-se a seguinte questão: quantas
vezes consegue um determinado bem satisfazer uma necessidade? Depende do bem. Há
bens que, mesmo depois de usados mantêm a sua utilidade, e há outros que a perdem
após a primeira utilização. Os primeiros são os bens duradouros; e os segundos os
bens não duradouros.
Se prestares atenção àquilo que estás a usar neste momento – roupa, sapatos, relógio,
telemóvel -, encontraras exemplos de bens duradouros, bens que podes usar um grande
número de vezes antes que eles percam a sua utilidade. Contudo, se te apetecer um
gelado, vais comê-lo e ele desaparece, pelo que não mais conseguirá satisfazer uma
necessidade. O gelado é um bem não duradouro.

 Quanto às relações que estabelecem com outros bens:

Há bens cuja utilidade só existe se forem complementados com outros. É o caso do


automóvel e do combustível, da agulha e da linha, do computador e dos programas de
computador, da impressora e do papel. São os bens complementares, cuja utilidade só
existe se funcionarem em conjunto.
Esta complementaridade pode ser:
- Horizontal, quando se estabelece entre bens de consumo. Porquê horizontal? Porque os
bens têm importâncias iguais. Como a impressora e o papel, ambos têm uma
importância igual na satisfação da necessidade de imprimir algo;

26
- Vertical, quando acontece entre bens de produção. Como sabes, a fabricação deste
manual obrigou ao uso de diferentes bens, desde logo, computadores, papel, tinta e
impressoras. Estes e outros bens tiveram de ser combinados para que um novo bem
nascesse – este manual. Isto significa que há aqui uma hierarquia de importância, daí
usar-se a palavra vertical para caracterizar este tipo de complementaridade.
Porém, outro tipo de relação pode acontecer entre os bens. Uma relação de
substituibilidade, ou seja, há bens que satisfazem a mesma necessidade, por isso o ser
humano pode usar qualquer um deles para a satisfazer. Esta sua opção pode ser tomada
em função de diferentes critérios, sendo muitas vezes os gostos dos consumidores que a
influenciam. Portando, se dois bens satisfazem a mesma necessidade, são bens
substituíveis ou sucedâneos.

27
 Capítulo [3.2] – Produção e processo produtivo

O facto de serem muitas as necessidades humanas e terem de ser satisfeitas


repetidamente obriga a um fluxo contínuo de consumo de bens que, na maior parte dos
casos, não existem na Natureza na forma certa para a consecução desse objetivo, tendo,
então, de ser fabricados ou produzidos, isto é, esta permanente necessidade de consumir
obriga a uma recolha continua de bens que, por sua vez, obriga a uma produção
contínua.
A produção é uma atividade económica através da qual se fabricam os bens a partir da
transformação das matérias, obrigando esta transformação a um processo de fabrico ou
processo produtivo, ou seja, a um conjunto dinâmico de fases através das quais as
matérias se vão transformando em produtos acabados – bens. Significa isto que o
processo de fabrico implica a existência de uma linha de produção, isto é, um processo
que divide a produção em fases ou etapas do trabalho que se sucedem segundo uma
sequência predefinida.

Definição de linha de produção:


Processo que divide a produção em fases ou etapas do trabalho que se sucedem segundo
uma sequência predefinida.

Contudo, nem sempre transformar um ou mais bens noutro é produção, no sentido


económico da palavra. Para que uma atividade produtiva seja considerada atividade
económica, duas condições se devem verificar, em simultâneo:
1 – O bem produzido deve destinar-se à venda.
2 – O trabalho necessário a essa produção tem de ser remunerado.

Assim, será que cozinhar é produzir? Sim, é, uma vez que se trata de um processo de
transformações de bens noutros bens. Mas será sempre uma atividade económica? Não.
Cozinhar só é atividade económica se as duas condições anteriores se verificarem.
É importante que repares que há organizações que nada produzem, no sentido que temos
vindo a referir. Pensa num banco ou num consultório de medico. Aqui estamos perante
situações de prestação de serviços, ou seja, situações em que uma determinada entidade,
mediante pagamento, põe as suas capacidades ao serviço de terceiros.

28
Não há aqui a noção de matérias transformadas em produto, ou seja, de processo
produtivo, embora haja uma prestação de serviço que se destina ao mercado e que
obriga a remuneração, pelo que a atividade económica é a mesma.

- Os setores de atividade

Como já aprendeste na disciplina de História, nem sempre a atividade económica foi tal
como a conheces hoje, uma vez que ela evoluiu, ainda na Pré-História, de uma
economia de sobrevivência para uma económica agrícola, para se transformar numa
económica industrial aquando da Revolução Industrial. Mais tarde, já no século XX,
foi-se intensificando um processo a que se deu o nome de terciarização, até que, já no
século XXI, a económica assumiu a forma que hoje conheces em que coexistem
diferentes setores de atividade económica, sendo, por vezes, apelidada de economia de
serviços, pela grande importância que eles assumem.
Nos anos 40 do século XX, Colin Clark, um economista inglês, a partir do estudo da
evolução económica de mais de 30 países, concluiu que essa evolução se deve à
deslocação da mão de obra das atividades agrícolas para as industriais e depois para as
ligadas aos serviços, daí que tenha proposto uma divisão das atividades económicas em
três setores: o primário, o secundário e o terciário:
 O setor primário era o das primeiras atividades económicas humanas
desenvolvidas: as ligadas à terra e ao mar;
 O setor secundário era o das atividades transformadoras, ou seja, atividades
industriais;
 O setor terciário era o das atividades de serviços.
Esta tentativa de sistematização foi bem acolhida por cientistas de várias especialidades,
de forma que é usada até hoje.
Depois de algumas mudanças e adaptações, atualmente, o âmbito de cada um dos
setores de atividade é o seguinte:
 Setor primário: agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca;
 Setor secundário: indústrias extrativas e transformadoras, eletricidade, gás,
vapor, água e ar, e ainda a construção;
 Setor terciário: todos os serviços, nomeadamente, comércio, reparação de
veículos transportes e armazenagem, hotelaria e restauração, informação e
comunicação, finanças e seguros, imobiliário, educação, administração pública
e segurança, saúde e espetáculos.

Tradicionalmente, o grau de desenvolvimento económico de um país é visto a partir do


peso destes três setores na económica do país. Assim, um país diz-se desenvolvido se
tiver uma predominância nítida do setor terciário e um peso muito reduzido do setor
primário. Um país também pode ser não desenvolvido e estar em desenvolvimento, que
ocorre quando o setor primário é predominante e quando não há uma diferença nítida
entre os diversos setores, respetivamente.

29
Tendo cada vez uma maior importância, a terciarização nos países tem vindo a ocorrer
cada vez mais, sendo ela o processo de aumento crescente do peso do terceiro setor de
atividade da economia.
Mas por que razão, estás a pensar, se entende que um país onde o setor primário é o
mais importante é um país não desenvolvido e um país desenvolvido aquele em que
maior setor é o terciário?
Porque, na maior parte dos casos, trabalhar a terra ou no mar é sinónimo de poucas
competências, pouca formação, enquanto trabalhar nos serviços implica um alto grau de
formação, isto é, ter muitas competências.
Porém, atualmente, o nível de desenvolvimento de um país não se mede apenas pelo
desempenho económico, pois há outras dimensões consideradas tão ou mais
importantes. Estas novas dimensões são de carácter social e têm que ver com o acesso à
educação e aos cuidados de saúde e com a igualdade de oportunidades. O indicador
mais usado é o Índice de Desenvolvimento Humano.

 Capítulo [3.3] – Fatores de produção

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Falávamos de produção e sabes já que ela não acontece sem a existência de alguns bens,
que, por isso mesmo, lhe são indispensáveis. Que bens ou elementos são esses? São os
chamados fatores de produção.

Definição de fatores de produção:


Os fatores de produção são os recursos indispensáveis ao fabrico de bens materiais e à
prestação de serviços.

Quais são os fatores de produção? Os recursos naturais, o trabalho e o capital.


Os recursos naturais são os elementos que nos são dados pela Natureza. É o ar que tem
de estar presente para que um motor de combustão, como o dos carros não elétricos,
possa cumprir a sua função; a água, sem a qual não é possível fabricar cerveja ou
uísque; o vento, indispensável à produção de eletricidade em turbinas eólicas; entre
muitos outros.
Uma das vinte definições de trabalho que se podem encontrar na Infopédia define-o
como o “exercício da atividade humana manual ou intelectual, produtiva”. O fator de
produção trabalho é, na verdade, o esforço físico ou intelectual que uma pessoa
despende numa atividade criadora de bens ou serviços e que, por isso mesmo, é
remunerada.
O capital deve ser entendido como o conjunto de meios artificiais que ajudam na
produção de bens ou na prestação de serviços. Estes meios artificiais resultam da
combinação dos outros dois tipos de fatores produtivos, daí dizer-se que os recursos
naturais e o trabalho são os fatores originários e o capital é o fator derivado. Estamos a
falar não só de instalações (edifícios, terrenos), maquinaria, ferramentas, veículos,
computadores, mas também de matérias-primas e subsidiárias, que, em muitos casos, já
foram alvo de transformações noutras empresas.
A todos estes bens que compõem o capital dá-se o nome de meios de produção,
estando neles incluídos os meios de trabalho e os objetos de trabalho.
Como o nome indica, os meios de trabalho são bens, materiais e imateriais, com os
quais o processo produtivo vai poder decorrer. São as máquinas, as ferramentas, as
instalações, os computadores e os seus programas, etc.
Os objetos de trabalho são os bens sobre os quais se usam os meios de trabalho. São as
matérias-primas e as matérias subsidiárias.

 Capítulo [3.3.1] – Os recursos naturais

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Tudo aquilo que a Natureza nos dá pode, como já sabes, ser renovável ou não
renovável. Diz-se que um recurso natural é renovável quando ele pode ser utilizado
regularmente, porque a Natureza tem a capacidade de repetidamente o gerar. É o caso
do ar, da luz, e do calor solar. Se a Natureza não tem a capacidade de regeneração de
um recurso, ele diz-se não renovável. É o caso do carvão, do petróleo e de todos os
recursos naturais finitos. Como sabes, é com estes que a Economia se preocupa, pois
são eles que sofrem do problema da escassez.
Infelizmente a biosfera tem mais recursos não renováveis do que recursos renováveis,
daí a necessidade de escolha permanente que deve ser feita da forma que já conheces.

 Capítulo [3.3.2] – O trabalho

O trabalho é, como já vimos, a atividade do ser humano, física ou intelectual, que se


manifesta através do dispêndio de esforço, remunerado, que visa ajudar na produção de
bens.
Daqui resulta que dispêndios de esforço que não sejam remunerados não são
considerados trabalho, nem à luz da Economia, nem do Direito. Estamos a falar, por
exemplo, de voluntariado e do trabalho das donas de casa.
Obviamente, há grandes vantagens em conhecer a realidade de um pais relativamente à
sua capacidade de mão de obra, ou seja, em saber quem, dos residentes de uma
economia, está em condições de exercer esta atividade a que se dá o nome de trabalho.

- População ativa e inativa

Neste sentido, a população é classificada em população ativa e em população inativa. A


população ativa é, de acordo com o Sistema Integrado de Metainformação do INE, a
“população com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, constituía a
mão de obra disponível para a produção de bens e serviços que entram no circuito
económico”. Quinze anos estás a pensar… então eu posso abandonar a escolaridade
obrigatória e ir trabalhar? Não, não podes, já que o código do Trabalho diz, no parágrafo
2 do artigo 68.º, que “a idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 16 anos”,
esclarecendo o paragrafo 1 que qualquer menor que satisfaça a já referida condição só
pode ser contratado se tiver “concluído a escolaridade obrigatória ou esteja matriculado
e a frequentar o nível secundário de educação e disponha de capacidades físicas e
psíquicas adequadas ao posto de trabalho”.
Daqui resulta que, neste momento, em Portugal, dificilmente alguém com 15 anos pode
exercer, de forma legal, uma atividade laboral.
Outra questão se põe: todos os cidadãos de idade superior a 15 anos fazem parte da
população ativa? Não, há pessoas que não tem condições para ser “mão de obra
disponível para a produção”, já que para tal é preciso estar apto, física e psiquicamente,
32
a fazer parte dessa força de trabalho. Pensa nos mais idosos, aqueles que já atingiram a
idade da reforma, nos doentes acamados, em alguns tipos de pessoas com deficiência.
Nenhuma destas pessoas tem capacidades para integrar aquela mão de obra.
Mas há pessoas que, mesmo tendo mais de 15 anos e aptidão para contribuir para a
produção, não integram a produção ativa. É o caso das donas de casa, cuja atividade não
é remunerada.
Já viste então, que da população ativa são excluídos os estudantes, as donas de casa, os
reformados, os doentes permanentes e quaisquer outras pessoas que não tenham
condições para exercer uma profissão, que, como sabes, é sinónimo de trabalho
remunerado.
Mas este conceito de população ativa obriga as pessoas contempladas a estarem
empregadas ou esta não é uma condição a obedecer? Não, esta não é mais uma
condição, dai que também os desempregados estejam ou não à procura do primeiro
emprego, integrem a população ativa.
População ativa = População empregada + população desempregada

- Taxa de atividade

Com a finalidade de conhecer melhor a força de trabalho de uma economia, é comum


calcular-se a taxa de atividade, que, segundo o Sistema Integrado de Metainformação do
INE, é a “taxa que permite definir o peso da população ativa sobre o total da
população”. Então, a taxa de atividade calcula-se através da seguinte fórmula:
Taxa de atividade = (População ativa / População inativa) x 100%
Apesar de não ser muito comum, também se podem calcular taxas de inatividade, que
serão, obviamente, o complementar das taxas de atividade.
Taxa de inatividade = 1 – Taxa de atividade
Taxa de inatividade = (População inativa / População total) x 100%

- Taxa de desemprego

Tão importante quanto a taxa de atividade para o conhecimento da capacidade produtiva


da economia de uma região é a taxa de desemprego, que nos diz qual a parte da
população ativa que não está empregada, ou seja, dá-nos informação sobre o
desaproveitamento do fator trabalho que está a acontecer numa determinada região.

33
Taxa de desemprego = (População desempregada / População ativa) x 100%
Também no cálculo destas taxas de desemprego há que adequar as grandezas à
realidade que está a ser analisada. Se calcularmos o complementar da taxa de
desemprego, encontramos a taxa de emprego que nos diz qual a percentagem da
população ativa que está empregada.
Taxa de emprego = 1 – Taxa de desemprego
Taxa de emprego = (População empregada / População ativa) x 100%

- Tipos de desemprego

As razões que levam as pessoas a perderem o empregou e/ou a não conseguirem um


primeiro ou um novo emprego são várias e podem ir desde a falta de competências e de
qualificações até à substituição do trabalho humano pelas máquinas.
É também verdade que a inovação tecnológica, não só suprime alguns postos de
trabalho como também cria outros, pois aparecem novas necessidades e novos tipos de
trabalho.
Assim sendo, dizemos que há:
 Desemprego tecnológico, quando é provocado pela falta de capacidade de
acompanhamento do desenvolvimento tecnológico;
 Desemprego repetitivo, quando resulta da inadaptação do trabalhador a
sucessivos postos de trabalho, muitas vezes devido à falta de qualificações. Este
tipo de desemprego também pode ocorrer por motivos sazonas, como acontece
na indústria hoteleira.
Quando um trabalhador está no desemprego há mais de um ano, diz-se que há
desemprego de longa duração.

 Capítulo [3.3.2] – O capital

A palavra capital tem muitos significados. Excluindo aqueles que nada têm que ver com
economia, há pessoas que utilizam a palavra capital como sinónimo de dinheiro. Com
certeza já ouviste dizer que uma pessoa que tem muito dinheiro tem muito capital; até
lhe chamam capitalista.

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Será que o dinheiro que uma pessoa ou os bens que ela tem são fator de produção? Não,
a este conjunto de elementos, dá-se o nome de património ou riqueza dessa pessoa.
Contudo, se esse património for usado na atividade produtiva, já é capital.
Então, o capital, ou património empresarial, resulta da aplicação da riqueza, ou
património particular da pessoa. Basta que ela decida aplicar a sua riqueza na
constituição de uma empresa. Nestas circunstâncias, quando alguém cria uma empresa e
diz que o seu capital é de um certo montante em euros, o que está a dizer é que o
património, a riqueza que foi aplicada, valia esse montante em euros.
De entre as várias noções de capital, quero chamar a tua atenção para três:
 Capital natural – conjunto de recursos naturais, fundamental para a fabricação
de bens, pois quase tudo começa neles.
 Capital humano – conjunto das aptidões humanas utilizadas no trabalho,
decorrentes dos conhecimentos e da experiência das pessoas. Como já sabes,
este capital é tão mais valioso quanto mais se investir na formação, académica e
não só, das pessoas.
 Capital artificial – conjunto dos meios artificiais, aqueles que resultam da
combinação dos outros dois tipos de recursos, os naturais e os humanos. É aqui
que cabem todos os bens que resultam de um processo produtivo.
 Capital financeiro – refere-se ao montante de fundos colocados à disposição de
uma empresa pelos seus sócios, quer seja no início da vida da empresa (capital
social), quer durante o desenrolar da sua atividade. Este pode ser divido em:
Capital próprio, os meios financeiros que pertencem aos proprietários da
unidade produtiva, e capital alheio, que são os meios financeiros que, embora
não pertençam à unidade produtiva, se encontram à sua disposição (ex: crédito
bancário).
 Capital técnico – refere-se ao conjunto de bens de produção que possibilitam
que se produza bens e serviços. Este divide-se em: Capital circulante, bens que
são utilizados em apenas um processo produtivo visto que são incorporados no
produto ou são destruídos durante o processo (ex: farinha, água, sal, energia
elétrica utilizada no fabrico do pão), e capital fixo, o conjunto de bens que
apenas sofrem um desgaste no processo (bens de produção duradouros),
podendo, assim, ser utilizados em novos ciclos produtivos.
É da conjugação do capital com os recursos humanos que resulta o nível de
competitividade e de desenvolvimento de uma economia, pelo que, quanto maior for o
capital e mais qualificado for o fator trabalho, mais desenvolvida e competitiva é essa
economia.
Mas como deve ser feita a conjugação? Como precisam estes dois fatores de produção
de ser combinados para que a produção aconteça da forma que se deseja? Não te
esqueças de que os recursos naturais constituem o capital natural, por isso estão
incluídos no fator capital, daí que só falemos de dois fatores de produção.

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 Capítulo [3.4] – A combinação dos fatores de produção

Não haverá bens nem serviços se os fatores de produção não se combinarem num
processo a que damos o nome de processo produtivo. Como se pretende que ele
aconteça? Da melhor forma possível, isto é, qualquer empresa planeia conseguir uma
determinada quantidade de bens a partir da utilização de determinadas quantidades de
matérias, de trabalho e de equipamentos, e que os bens tenham um custo de produção
que permita um preço de venda que traga o lucro procurado.
Obviamente, o desejo é que a quantidade produzida seja máxima e que os consumos e
os custos de produção sejam mínimos. O que se deseja é a otimização da produção.
Para se conseguir este objetivo, é necessário analisar as várias combinações de capital e
trabalho e descobrir qual delas é a combinação ótima.
Já sabes que sem capital e sem trabalho não há produção, por isso podemos afirmar que
ela é função dos dois fatores de que temos vindo a falar. Se estamos perante uma
função, podemos recorrer à linguagem matemática.
P = f (t, k) P = Produção; t = Trabalho; k = Capital
Começamos por encontrar as várias combinações de capital e trabalho que permitem
encontrar a mesma quantidade de produto, combinações estas que podem ser
representadas graficamente através de uma curva a que se dá o nome de isoquanta e
que podes ver no gráfico 21.
Definição de isoquanta:
Linha formada por um conjunto de pontos representantes de todas as combinações
possíveis entre capital e trabalho, cuja quantidade de produção é de igual valor.

36
Quer a empresa opte pela combinação (t1, k1) quer pela combinação (t2, k2), a quantidade
produzida será a mesma. Mas qual será aquela que corresponde ao ponto ótimo da
produção, aquela que representa a eficiência económica?
A pergunta não tem apenas uma resposta, já que vai depender da possibilidade que a
empresa tem de alterar as quantidades usadas dos fatores de produção, isto é, imagina
que a nossa empresa está a produzir no ponto B e conclui que o ponto ótimo é o A. Terá
ela condições para despedir trabalhadores, aumentando simultaneamente a quantidade
de máquinas utilizadas?
A realidade mostra que há alterações que se fazem com alguma facilidade e que
produzem efeitos num prazo curto e há outras que são bem mais difíceis, que precisam
de tempo para serem feitas e que, por isso mesmo, só produzirão efeitos num prazo
longo.
Viste, então, que o tempo é muito importante nesta análise e entendes também que,
infelizmente, é mais fácil alterar a quantidade de trabalho usada na produção do que a
quantidade de capital, na vertente dos equipamentos cujos preços de aquisição são
muito elevados. O ponto ótimo da produção pode, então, ser encontrado no curto prazo
e no longo prazo, mas não no curtíssimo prazo.

- A combinação ótima dos fatores de produção

Se procurarmos o ponto ótimo da produção num prazo não superior a um ano, o curto
prazo, estaremos condicionados pela circunstância de só podermos alterar um dos
fatores de produção – o trabalho ou o capital –, mas sabemos que o efeito de alteração
se vai sentir rapidamente.
Como encontrar o ponto ótimo procurado? Através de um indicador da eficiência da
produção a que se dá o nome da produtividade, que nada mais é do que uma relação
entre aquilo que se usa na produção e aquilo que dela se obtém.

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Produtividade média = (Quantidade produzida / Quantidade usada do fator de
produção em causa)
Podemos tentar estabelecer esta relação entre a produção e os dois fatores utilizados e os
dois fatores utilizados e calcularemos a produtividade total, indicador sem grande
interesse por não permitir saber qual a relação entre o que se está a produzir e cada um
dos fatores usados, daí que relevante seja calcular a produtividade de cada um dos
fatores de produção, a chamada produtividade média.
Produtividade total = (Quantidade produzida / Quantidade usada dos fatores de
produção)
Qualquer um destes indicadores pode ser calculado em unidades físicas, em unidades
monetárias ou numa combinação de unidades físicas com unidades monetárias (exceto o
cálculo da produtividade total em unidades físicas, pois o trabalho e o capital são
medidos em unidades diferentes).
Supõe que a empresa Alfa teve, durante os passados meses de outubro e de novembro,
produções de 2500 unidades e 2600 unidades do produto X, respetivamente, que vende
a 100€ cada. A empresa emprega 20 trabalhadores que, em outubro ganhavam em
média, 1200€ cada um e, em novembro, foram aumentados para 1250€.
Se calcularmos as produtividades médias do trabalho de outubro e novembro,
encontraremos os seguintes valores:
 Em unidades físicas
PMLout = (Quantidade produzidaout / Quantidade trabalhoout) = 2500 unid. / 20
trab. = 125 unid./trab.
PMLnov = 130 unid./trab.
O aumento da produção verificado em novembro, levou à melhoria da produtividade
média, que passou, em média, de 125 unidades para 130 unidades por trabalhador.
 Em unidades monetárias
PMLout = (Valor da produçãoout / Valor do trabalhoout) = (2500 unid. x 100€) / (20
trab. X 1200€) = 10,42€
PMLnov = 10,4€
O aumento anterior desaparece quando a produtividade é calculada em termos
monetários, o que significa que, em outubro, em média, por cada euro aplicado em
trabalho se conseguiram 10,42€ em produto. Já em novembro, cada euro de trabalho
origina, em média, 10,4€ de produto.
 Em unidades monetárias por unidades físicas
PMLout = (Valor da produçãoout / Quantidade trabalhoout) = (2500 unid. x 100€) /
20 trab. = 12.500 €/trab.
PMLnov = 13.000 €/trab.

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Esta junção de unidades mostra mais um aumento, já que, em outubro, cada trabalhador
fabricou, em média, produto avaliado em 12.500€, valor que aumento para 13.000€, em
novembro.
 Em unidades físicas por unidades monetárias
PMLout = (Quantidade produzidaout / Valor do trabalhoout) = 2500 unid. / (20 trab.
x 1200€) = 0,10 unid./€
PMLnov = 0,104 unid./€
Tal como antes, esta junção de unidades mostra uma melhoria em novembro face a
outubro, pois cada euro aplicado em trabalho, em novembro, origina, em média, mais
0.04 unidades do que em outubro.

Se a produtividade média da informação importante, mais ainda fornece a


produtividade marginal, indicador que permite conhecer o impacto que uma variação
unitária de um fator produtivo tem na produção, mantendo-se tudo o resto constante.
Pmg = Acréscimo da produção / Acréscimo no fator de produção
Se a produtividade marginal calculada disser respeito ao fator trabalho, permite
responder a perguntas como:
- Se se contratar mais um trabalhador, qual será o seu impacto na produção?
- Se se aumentar o horário de trabalho em uma hora, qual será o impacto na produção?
- Se se aplicarem mais 1000€ na melhoria das condições de trabalho dos trabalhadores,
quais serão as consequências na produção?
Imagina que na empresa Alfa, em dezembro, se contratou um novo trabalhador com
quem se acordou um salário médio de 1275€ e que, nesse mês, a produção de X foi de
2735 unidades. Valeu a pena esta contratação?
Pmgdez = Acréscimo da produção / Acréscimo do trabalho = (2735 – 2600
unid.) / (21 – 20 trab.) = 135 unid.
Sim, valeu a pena, pois a produtividade média dos 20 trabalhadores estava, em
novembro, nas 130 unidades de X, e o acréscimo deste novo trabalhador trouxe mais
135 unidades de X. Se quisermos ver se o mais alto salário que lhe está a ser pago
também é justificável, podemos calcular a produtividade marginal em unidades físicas
por unidades monetárias, e vemos que sim, que o contributo deste trabalhador é maior
do que o contributo médio por trabalhador que a empresa tinha em novembro.
Pmgdez = Acréscimo da produção / Acréscimo do valor do trabalho = (2735 –
2600 unid.) / 1275€ = 0.105 unid./€

As produtividades total e média, ao fornecerem informações sobre a quantidade


produzida por unidade de ambos os fatores de produção ou só um deles, são noções

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estáticas, o que não acontece com a produtividade marginal, que é uma noção dinâmica
que fornece informação sobre a variação na produção provocada por uma variação de
um fator produtivo, sendo o único destes indicadores que pode, até, assumir valores
negativos (caso o aumento unitário do valor provoque diminuições na produção).
Chegou o momento de te recordar que estamos à procura de descobrir o ponto ótimo da
produção, isto é, aquela combinação de trabalho e capital que permite mais resultados e
a utilização eficiente dos recursos das empresas.
A questão que se põe é: será que, no curto prazo, o aumento sucessivo do fator de
produção que está a variar, mantendo-se o outro constante, vai provocar aumentos
também sucessivos na produção?
Não, a partir de determinado ponto, apensar de a produção total normalmente aumentar,
a produtividade marginal do fator que está a variar começa a diminuir, o que significa
que já não vale a pena continuar a aumentá-lo.
Atenta no exemplo seguinte referente a uma fábrica de parafusos.

Como já viste, a produtividade marginal aumentou até à utilização do terceiro


trabalhador, para logo de seguida começar a baixar. Mas a situação foi diferente com a
produtividade média, que, na verdade, só diminuiu com o quinto trabalhador.
Ora, a Lei dos Rendimentos Decrescentes diz que, a partir de um certo momento, o
aumento constante de um fator de produção, mantendo-se o outro invariável, vai
provocar aumentos cada vez menores na produção. Este momento é aquele pela qual os
rendimentos da empresa vão começar a baixar, logo não vale a pena continuar a
aumentar a utilização de um fator sem se alterar a do outro.

Lei dos Rendimentos Decrescentes:


Se forem provocadas variações num dos fatores produtivos, mantendo-se o outro
invariável, a partir de uma certa quantidade de fator variável, a acréscimos iguais deste
fator corresponde acréscimos cada vez mais pequenos da produção.

No nosso exemplo, esse momento é aquele em que se contratou o terceiro trabalhador, e


é à combinação de fatores de produção existentes nesse momento que se dá o nome de
combinação ótima dos fatores de produção.

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Podemos então afirmar que à combinação ótima dos fatores de produção corresponde
uma determinada quantidade do fator invariável, e à quantidade do fator variável
corresponde o máximo da produtividade marginal.
Se, no curto prazo, o ponto ótimo da produção é dado pela combinação ótima dos
fatores de produção e se, a partir deste, não vale a pena continuar a introduzir no
processo produtivo mais quantidade do fator variável, a não ser que o outro fator de
produção também possa ser alterado, se se pretender aumentar e melhorar a produção,
ter-se-á de avançar para uma análise de longo prazo. E desta feita, o ponto ótimo da
produção deverá ser encontrado por outra via, que não a da produtividade de um fator
de produção.
Agora, a questão é saber em que sentido se devem fazer variar os fatores de produção
para que cada unidade produzida tenha o custo mínimo. Mas será que um aumento nos
fatores de produção provoca uma alteração proporcional na produção sem aumentar os
custos dessa mesma produção?
Só calculando os custos médios da produção é possível responder a esta pergunta.
Afinal, o que é um custo? Um custo é o valor do elemento ou dos elementos que se têm
de sacrificar para se obter um bem.
Os custos que as empresas suportam podem ser de dois tipos: fixos e variáveis. Os fixos
são os que não variam com a produção ou com as vendas da empresa, por exemplo, as
rendas, o ordenado do guarda-noturno ou os juros dos empréstimos contraídos. Os
variáveis são os que variam com a produção ou com as vendas, nomeadamente, o custo
das matérias consumidas, o valor do trabalho, o consumo de água e de eletricidade, etc.
O custo de produção de um bem será a somatória dos custos fixos e dos custos variáveis
que a sua produção provocar.
Custos de produção = Custos fixos + Custos variáveis
Já sabes, com certa, como encontrar o custo médio da produção que procuramos!
CM = CT / Q CM = Custo médio; CT = Custo total; Q = Quantidade produzida
Acredito que também já constataste que este é um custo medio por unidade, e é este
custo unitário que nos vai permitir encontrar o ponto ótimo da produção no longo prazo.
Voltemos ao exemplo da fábrica de parafusos.

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Repara nos seguintes aspetos:
 Quando a empresa não produz, os seus custos fixos mantêm-se.
 À medida que se vai aumentando a produção, os custos fixos mantêm-se, mas
os variáveis vão aumentando. Como sabes, quanto maior for a produção, mais
matérias se consomem e mais horas de trabalho se utilizam.
 À medida que a produção foi aumentando, o custo unitário foi diminuindo, mas
houve um momento em que a situação se inverteu, isto é, em que o custo
unitário começou a aumentar. Esta situação aconteceria, na empresa do
exemplo, quando ela decidisse ultrapassar a produção de 100.000 parafusos.
Diz-se que há economias de escala quando um aumento dos fatores de produção
provoca alterações mais do que proporcionais na produção, ou seja, a produção aumenta
ao mesmo tempo que os custos unitários de produção diminuem. É o que acontece nesta
empresa quando a produção está entre os 80.000 e os 100.000 parafusos.
O que faz com assim seja? Muitas razões existem, mas a verdade é que todas vão dar ao
mesmo: aumento da eficiência da empresa!
Se a empresa se tornou mais eficiente, foi porque passou a aproveitar melhor os seus
recursos, por ter:
 Apostado na formação da sua força de trabalho, aumentando-lhe a
especialização;
 Melhorado a sua capacidade de planeamento, reduzindo o desperdício;
 Adquirido maquinaria inovadora e mais produtiva;
 Alterado os métodos de fabrico na sequência de atividades de I&D;
 Melhorado o seu poder negocial junto de fornecedores, conseguindo assim
preços mais baixos;
 Etc.
Estamos a dizer que, se uma empresa quer, por exemplo, aumentar a sua produção em
10%, deve aumentar os fatores produtivos em igual proporção? Não, pode não ser isso,
se conseguir aumentar a sua eficiência, isto é, se conseguir reduzir o desperdício de
matérias e se aproveitar mais a capacidade produtiva dos seus equipamentos e os
conhecimentos e a experiência dos trabalhadores. Em suma, se conseguir obter
económicas de escola, mas convém não esquecer que tudo isso necessita de tempo.
A partir do momento em que o custo médio da produção começa a aumentar, a empresa
deixa de ter economias de escala e passa a ter deseconomias de escala, normalmente
por razões ligadas à dimensão excessiva da empresa, que, por sua vez, provoca
ineficiências, muitas vezes resultantes de problemas de controlo das operações,
nomeadamente:
 Desmotivação dos trabalhadores, que leva a baixas de produtividade;
 Dificuldade de aquisição de equipamentos com a capacidade produtiva
desejada;
 Dificuldade de tomada de decisões;
 Dificuldade ou até falta de comunicação;
 Etc.

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No longo prazo, o ponto ótimo da produção toma o nome de dimensão ótima e é aquele
que corresponde ao custo unitário mínimo de produção, que, no nosso exemplo,
corresponde à produção de 100.000 parafusos.
Como já viste, são várias as medidas que podem e devem ser tomadas pelas empresas
para incrementarem os seus processos produtivos e, consequentemente as tuas
produções. Desde logo devem apostar na formação dos seus trabalhadores, na I&D e na
melhoria dos seus processos organizacionais. Se assim acontecer, a empresa torna-se
mais eficiente e, por esta via, melhora os seus rendimentos, uma vez que custos menores
permitem preços de venda que levam a lucros maiores.
Quando a variação da produção é maior do que a variação dos fatores produtivos, a
empresa tem economias de escala e os seus rendimentos dizem-se crescentes à escala;
se as variações da produção e dos fatores produtivos forem idênticas, a empresa não tem
economias nem deseconomias de escala, e os seus rendimentos dizem-se constantes à
escala; se a variação da produção for menor do que a dos fatores produtivos, a empresa
tem deseconomias de escala e os seus rendimentos dizem-se decrescentes à escala. A
isto chama-se a Lei das Economias de Escala.

Unidade [4] – Preços e mercados

 Capítulo [4.1] – O mercado

Definição de mercado:
O mercado consiste no conjunto de pessoas (vendedores e compradores) interessados
em transacionar um determinado bem ou serviço. O mesmo não obriga a uma existência
física, ou seja, à existência de um espaço, onde as pessoas em causa (os interessados na
transação do bem/serviço), se encontram.
Existem, então, não um, mas vários mercados – tantos quantos os bens e os serviços
existentes.

A importância do mercado e como obtê-la:

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O mercado tem uma grande importância, já que é nele que, através de negociações
(diretas ou indiretas), as partes interessadas- vendedores e compradores – estabelecem o
preço e a quantidade de bens a transacionar.
Mas como se estabelece este equilíbrio entre o preço e a quantidade a que o vendedor
pretende vender e o preço e a quantidade a que o comprador pretende comprar o bem ou
serviço em causa? Como sabes, estes intervenientes querem coisas opostas – o
vendedor quer vender a maior quantidade possível ao maior preço, e o vendedor quer
comprar a maior quantidade possível ao menor preço. Vê que estas vontades diferem no
preço, pois é ele que vai definir tudo.

O mecanismo do mercado:
Qualquer mercado tem, como já foi referido, partes com interesses contraditórios: os
compradores e os vendedores. Os compradores são os que estão interessados na
aquisição do bem ou serviço, são os que procuram; os vendedores são os que estão
interessados em encontrar quem queira adquirir o bem ou serviço que têm para vender,
são os que oferecem.

Esquema 1 - O mecanismo de mercado.

No mercado, existe um interesse comum às duas partes, transacionar o bem. Nenhuma


das partes existe para facilitar a vida à outra: ambas querem defender os seus interesses.
O objetivo é atingido quando se define o preço e a quantidade do bem a transacionar.
Para que o mesmo aconteça, é necessário que cada parte saiba ir ao encontro da vontade
da outra, anulando as dificuldades com que se depara. Mas como se faz isto? Através da
negociação.
Obviamente, o negócio só acontece se estas vontades antagónicas encontrarem um
ponto de coincidência, um ponto que corresponde à quantidade e ao preço do bem que
agrada a ambas as partes. Apenas após este ponto de equilíbrio ter sido encontrado é que
as partes inicialmente interessadas se transformam em compradores e vendedores, com
mostra o esquema 1.
Isto significa que nem sempre a mão invisível metafórica funciona, e nestes casos,
apesar de as partes estarem mesmo interessadas, não há, entre elas, negócio, embora ela
possa acontecer com outro vendedor ou outro comprador.

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 Capítulo [4.2] – A procura e a lei da procura

Definição de procura:
A procura é a intenção de compra de um bem ou serviço para consumo. Esta pode ser
representada pela letra D – demand, a palavra inglesa para procura.

Definição de procura agregada:


A procura agregada de um bem é a soma de todas as procuras individuais deste
mesmo bem.
O seu cálculo dá-se através da seguinte fórmula:
Procura Agregada = Soma de toda a quantidade de procura individual a um determinado
preço.

As variáveis que influenciam a procura:

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Quais são as variáveis que irão influenciar esse comportamento? O preço e a quantidade
de produto disponível no mercado. Qual é a relação que se estabelece entre elas?
Mantendo-se tudo o resto constante:
 À medida que o preço do bem aumenta, a quantidade procurada desse bem diminui;
 À medida que o preço do bem diminui, a quantidade procurada desse bem aumenta.

Podes concluir que a procura é uma função em que a quantidade procurada de um bem
depende do preço desse mesmo bem, sendo a relação entre estas duas variáveis
proporcionalmente inversa, e o declive da função apresentada pelas mesmas
negativamente inclinado.

A lei da procura:
Mantendo-se tudo o resto constante, a quantidade procurada de um bem ou serviço varia
na razão inversa (ou inversamente proporcional) do preço desse bem ou serviço.
É, então, esta relação inversa que faz com que a curva da procura seja negativamente
inclinada.
A justificação desta lei apoia-se em duas razões:
 Quando o preço de um bem sobe, um consumidor racional vai procurar um bem
substituto que satisfaça a mesma necessidade e cujo preço seja mais baixo. Isto designa-
se por efeito substituição;
 Quando o preço de um bem sobe, o consumidor fica com menos rendimento disponível
para o adquirir, consumindo, assim, uma quantidade inferior do mesmo. Isto designa-se
por efeito rendimento.

É a partir da conjugação destes dois efeitos que podemos explicar o facto de, mantendo-
se tudo o resto constante, a quantidade procurada dos bens variar na razão inversa dos
seus preços.
NOTA: É com base no pressuposto de que se mantêm constantes todos os restantes
fatores que influenciam a procura que iremos trabalhar daqui para a frente.

As determinantes da procura:
Como sabes, o consumo pode ser influenciado por vários fatores (económicos e
extraeconómicos). Como é lógico, são os mesmos que vão influenciar a procura dos
bens e serviços.
As determinantes da procura são:
 O preço dos bens;
Já vimos que quando o preço de um bem se altera, altera-se também a quantidade procurada.
Podemos então afirmar que alterações no preço do bem provocam deslocações ao longo da
curva da procura.

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O preço de outros bens terá também impacto na quantidade procurada do nosso bem. Este
impacto poderá acontecer de acordo com a relação que se estabelece entre estes bens.
Se dois bens não têm qualquer relação de reciprocidade, então se o preço de um aumentar ou
baixar, não haverá qualquer alteração no preço do outro.
Já se o preço de um bem complementar ao nosso bem aumentar, a procura do nosso bem irá
diminuir, pois também diminuirá a procura do bem complementar ao nosso (Temos como
exemplo a venda de bilhetes de cinema e a compra de pipocas)
Se o preço de um bem substituto do nosso bem aumentar, a procura do nosso bem irá aumentar,
pois os clientes do bem substituto ao nosso bem irão deixar de consumir esse mesmo para
consumir o nosso bem, visto que o nosso preço se manteve, diminuindo assim a procura do bem
substituto ao nosso e aumentando a procura do nosso bem.
Podes concluir então que o efeito que um bem tem na procura de outro bem varia com o tipo
de relação que se estabelece entre eles, ou seja:
- Diminui a sua procura quando aumenta o preço do bem complementar e, inversamente,
aumenta quando diminui o preço do bem complementar;
- Aumenta a sua procura quando aumenta o preço do bem substituto e, inversamente, diminui
quando diminui o preço do bem substituto.

 O rendimento dos consumidores;


Que tipos de alterações vai uma mudança no rendimento dos consumidores provocar nas curvas
da procura dos diferentes bens? Depende dos bens.
Se forem bens normais ou superiores:
- Um aumento de rendimento vai provocar um aumento de procura, e vice-versa.
Se forem bens inferiores:
- Um aumento do rendimento provoca uma diminuição da procura do bem, e vice-versa.
 Os gostos e preferências dos consumidores.
Se a intensidade do gosto ou da preferência para com um bem aumentar, mantendo-se o preço
do mesmo, a quantidade procurada do bem será maior, e vice-versa.
Mas como poderá variar a intensidade do gosto? De variadas maneiras, como por exemplo,
porque se concluiu que os iogurtes realmente melhoravam a função intestinal.
Ora, assim sendo, haverão aumentos ou diminuições da quantidade procurada conforme os
gostos e preferências dos consumidores aumentarem ou diminuírem de intensidade.

O quadro 1 resume as alterações na linha da procura por cada um dos determinantes


analisados.

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Quadro 1 – As alterações da linha da procura.

 Capítulo [4.3] – A oferta e a lei da oferta

Definição de oferta:
A oferta é a intenção de venda de um bem ou serviço com o propósito de obtenção de
lucro. Esta pode ser representada pela letra S – supply, a palavra inglesa para oferta.

Definição de oferta agregada:


A oferta agregada de um bem é a soma de todas as ofertas individuais deste mesmo
bem.
O seu cálculo dá-se através da seguinte fórmula:
Oferta Agregada = Soma de toda a quantidade de oferta individual a um determinado preço.

As variáveis que influenciam a oferta:


Quais são as variáveis que irão influenciar esse comportamento? O preço e a quantidade
de produto disponível no mercado. Qual é a relação que se estabelece entre elas?
Mantendo-se tudo o resto constante:

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 À medida que o preço do bem aumenta, a quantidade oferecida desse bem aumenta;
 À medida que o preço do bem diminui, a quantidade oferecida desse bem diminui.

Podes concluir que a oferta é uma função em que a quantidade oferecida de um bem
depende do preço desse mesmo bem, sendo a relação entre estas duas variáveis
diretamente proporcional, e o declive da função apresentada pelas mesmas
positivamente inclinado.

A lei da oferta:
Mantendo-se tudo o resto constante, a quantidade oferecida de um bem ou serviço varia
na razão direta (ou diretamente proporcional) do preço desse bem ou serviço.
É, então, esta relação direta que faz com que a curva da oferta seja positivamente
inclinada.

As determinantes da oferta:
Tal como já foi demonstrado, o principal influenciador da quantidade oferecida num
mercado é o preço do bem. Mas, tal como ocorre com a procura, a mesma tem outros
fatores que influenciam o seu comportamento.
Se pensares do ponto de vista dum produtor, talvez poderás chegar à conclusão que os
custos de produção são um fator fundamental no comportamento da quantidade de
bem oferecido. Também poderás concluir que estes custos, serão influenciados pelo tipo
de tecnologia que a empresa utiliza no método de fabrico.
Talvez não tão obviamente, poderás também apontar a influência do preço dos bens
substitutos e complementares na quantidade oferecida.
As determinantes da procura são:
 O preço dos bens;
Já foi visto que o preço de um bem é determinante da quantidade oferecida do mesmo. Como
podes calcular, tal como na procura, sempre que houver alteração no preço do bem, serão
provocadas deslocações ao longo da curva da oferta.
Como já foi referido, mudanças do preço do próprio bem apenas modificam o ponto da curva da
oferta em que os vendedores se colocariam. Porém, se pensarmos nos preços dos outros bens,
será que as alterações na oferta serão iguais? Não, pois alterações nos preços dos bens
complementares e nos preços dos bens substituíveis provocam alterações de curva da oferta. Por
exemplo:
Se o preço de um bem complementar ao nosso bem aumentar, a oferta do nosso bem irá
aumentar, pois também aumentará a oferta do bem complementar ao nosso (Temos como
exemplo a venda de verniz de unhas e da acetona)
Já se o preço de um bem substituto do nosso bem aumentar, a oferta do nosso bem irá diminuir,
pois os produtores do nosso bem irão deixar de produzi-lo para produzir o nosso bem
complementar, visto que o preço do nosso bem complementar aumentou e o do nosso bem

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manteve-se, aumentando assim, a quantidade oferecida do nosso bem complementar e
diminuindo a quantidade oferecida do nosso bem.
Podes então concluir que a influencia do preço de um bem na oferta de outro bem varia com o
tipo de relação que se estabelece entre eles, então:
- Aumenta a sua oferta quando o preço do seu bem complementar aumentar e, inversamente,
diminui quando o preço do seu bem complementar diminuir;
- Diminui a sua oferta quando o preço do seu bem substituível aumentar e, inversamente,
aumenta quando o preço do seu bem substituível diminuir.

 O custo dos fatores de produção;


Na definição do preço de venda de um bem são tidos em conta não só o custo de produção do
bem como também o lucro pretendido, pelo que é fundamental que as empresas prestem atenção
a ambos.
Quando produzir um bem fica mais caro, porque aumentou o preço da matéria-prima, ou do
trabalho (salário), a empresa tem duas opções: ou aumenta o preço de venda ou diminui o lucro.
Aumentar o preço de venda é perder competitividade no mercado; diminuir o lucro é perder
dinheiro. Na generalidade destas situações, quando o custo de produção ou de compra dos bens
aumenta, a quantidade oferecida desses bens diminui, então:
- Se os custos de produção de um determinado bem aumentarem, a curva da oferta desloca-se
para a esquerda, diminuindo a quantidade oferecida do bem ao mesmo preço;
- Se os custos de produção de um determinado bem diminuírem, a curva da oferta desloca-se
para a direita, aumentando a quantidade oferecida do bem ao mesmo preço.

 A inovação tecnológica.
A evolução ou inovação tecnológica traz às empresas melhores possibilidades de
sustentabilidade, acabando, na maior parte das vezes, em reduções dos custos de fabrico e
aumentos de produção. Logo, podemos admitir que:
- Quão maior for a inovação tecnológica, maior será a quantidade oferecida ao mesmo custo,
ocorrendo, assim, uma deslocação da curva da oferta para a direita.
Devido à probabilidade de a inovação tecnológica diminuir, sendo esta quase surreal, em
economia admite-se essa hipótese como muito remota. Daí não identificarmos os efeitos dessa
dita diminuição na curva da oferta.

Como podes calcular, a oferta tem muitos outros determinantes para além dos referidos,
embora sejam os mais importantes a ter em conta.

O quadro 2 resume as alterações na linha da oferta por cada um dos determinantes


analisados.

50
Quadro 2 – As alterações na linha da oferta.

 Capítulo [4.4] – O equilíbrio de mercado

Definição de ponto de equilíbrio de mercado:


Relação entre o preço e a quantidade a que o comprador está disponível a comprar e a
que o vendedor está disponível a vender. Ou seja, é o ponto em que, após alguma
negociação (cedência de exigências de ambas as partes de modo a obter um
entendimento, se for um caso de negociação direta), se chega a um preço e a uma
quantidade a que ambos o comprador e vendedor, estão disponíveis a comprar e a
vender, respetivamente.

Excesso de procura:
Ocorrência possível num mercado, em que a quantidade procurada a um determinado
preço é superior à quantidade oferecida a esse mesmo preço. Este acontecimento leva a
um aumento do preço do bem, até que seja encontrado um ponto de equilíbrio.

Excesso de oferta:

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Ocorrência possível num mercado, em que a quantidade oferecida a um preço é superior
à quantidade procurada a esse mesmo preço. Este acontecimento leva a uma diminuição
do preço do bem, até que seja encontrado um ponto de equilíbrio

Lei da procura e da oferta:


Mantendo-se tudo o resto constante, a quantidade procurada de um bem varia na razão
inversa (ou proporcionalmente inversa) do seu preço e a quantidade oferecida desse
mesmo bem, varia na razão direta (ou proporcionalmente direta) do seu preço.

 Capítulo [4.5] – Estruturas de mercado

Diferentes tipos de estruturas de mercado:


São várias as formas que um mercado pode assumir. Estas estruturas de mercado estão
organizadas em dois tipos: mercados de concorrência perfeita e mercados de
concorrência imperfeita, sendo estes últimos constituídos por monopólios, oligopólios
ou mercados de concorrência monopolística.

O esquema 2 resume as diferentes formas que um mercado pode tomar.

52
Mercados de concorrência perfeita:
Este tipo de mercado goza de um leque de características que faz com que o que
estudámos anteriormente nesta unidade seja possível. Ou seja, o facto de o ponto de
equilíbrio ser encontrado meramente através da lei da procura e da oferta só acontece
quando nos encontramos num mercado de concorrência perfeita.
As diferentes características de que o Mercado de concorrência perfeita goza, são:
1- Liberdade de entrada e saída do mercado: Isto significa que,
independentemente do seu tamanho, uma empresa pode facilmente entrar ou sair
deste mercado. O mesmo acontece, pois, este mercado baseia-se na ideia da livre
concorrência, ou seja, ninguém impõe entraves a ninguém, nem mesmo o estado
ou qualquer entidade que lhe seja estranha.
2- Atomicidade ou atomismo: Neste mercado, existe um grande número de
pequenos vendedores e, simultaneamente, um grande número de compradores,
não conseguindo nenhum deles influenciar o preço pelo qual o bem é
transacionado (preço de equilíbrio). O mesmo dá-se, principalmente devido à
pequena dimensão de ambos vendedores e compradores, que impede, assim,
qualquer influência significativa sobre o mercado.
3- Transparência: Ninguém tem informações privilegiadas. Ou seja, todas as
informações sobre o mercado (nomeadamente, preços, qualidade dos bens,
lucros, etc.) são conhecidas por todos os intervenientes.
4- Mobilidade dos fatores de produção: Os fatores de produção, o capital e o
trabalho, são facilmente transferidos para unidades de produção ou setores de
atividade onde sejam mais rentáveis.
5- Homogeneidade dos produtos: Os bens transacionados são substitutos
perfeitos, daí que seja indiferente aos consumidores consumirem um ou outro.
Já viste, com certeza, o quão irreal algumas destas características podem ser. A verdade
é que o modelo em que se apoia a lei da procura e da oferta e, consequentemente, o
mecanismo de mercado, tem na sua origem um mercado de concorrência perfeita. Este
tipo de mercado não existe na realidade, falhando em quase todas as características
acima referidas.

O quadro 4 resume as diferentes características que o mercado de concorrência perfeita


assume.

53
Quadro 4 – O mercado de concorrência perfeita.

Mercados de concorrência imperfeita:


Uma vez que há sempre pelo menos uma das características dos mercados de
concorrência perfeita que falha, os mercados são normalmente imperfeitos.
Os diferentes mercados de concorrência imperfeita são:
 Monopólio;
Neste tipo de mercado, existe apenas um vendedor do bem ou serviço sem, normalmente,
substitutos próximos. Havendo apenas um vendedor no mercado, não existe concorrência e a
influência desse mesmo vendedor (sobre por exemplo, o preço do bem) é total, mas é também
muito difícil entrar ou sair do mesmo.

 Oligopólio;
À semelhança do monopólio, neste mercado há um pequeno número de grandes empresas (2-
15), que comercializam bens que são substitutos para a maior parte das pessoas. Tendo em conta
o pequeno número de empresas, estas têm o poder de influenciar o preço do bem, embora nunca
com tanta intensidade como o mercado acima referido. Simultaneamente, entrar neste tipo de
mercado é difícil, dada a dimensão e a influência das empresas já existentes.

 Concorrência monopolística
Este é o tipo de mercado mais próximo da maioria dos mercados, uma vez que no mesmo existe
uma grande quantidade de vendedores de tamanhos variados, acompanhados de uma grande
quantidade de compradores, onde existe livre entrada e saída do mercado.
Neste tipo de mercado os bens comercializados podem ser diferenciados ou substitutos
imperfeitos.

No quadro 5, consegues comparar as quatro estruturas de mercado de que foram faladas


anteriormente.

54
Unidade [5] – Moeda e inflação

 Capítulo [5.1] – A moeda: criação e evolução

Diferentes tipos de economias e trocas:


Economias recoletoras ou de sobrevivência –» Economias de troca direta –» Economias
de troca indireta
Moeda representativa: moeda que representa uma determinada quantia de ouro ou prata
existente no banco, moeda-papel.
Moeda fiduciária: Evolução da moeda representativa, onde os bancos passaram a emitir
quantidade de moeda superior à quantidade de ouro ou prata que essa mesma
representava. Esta moeda é baseada na confiança dos cidadãos para com a entidade
bancária que a emitiu, só sendo possível devido a isso, papel-moeda.

55
Esquema 1 – A evolução da moeda.

 Capítulo [5.2] – As funções da moeda

As diferentes funções da moeda:


A moeda, como a conhecemos hoje, pode assumir várias funções:
- Pode ser utilizada como meio de troca, para efetuar pagamentos. Daí que tenha a
função de meio de pagamento.
- Pode ser utilizada como meio de comparação, para avaliar o valor de um bem ou
serviço, de modo a estabelecer os preços dos mesmos. A moeda pode ser utilizada como
unidade de medida.
- Pode, ainda, ser utilizada como forma de poupança, podendo ser guardada sem perder
todo o seu valor. A moeda tem função de reserva de valor.

56
 Capítulo [5.3] – O preço dos bens

Definição de preço de um bem:


O preço de um bem é a quantidade de moeda que é preciso gastar para o adquirir. É a
moeda a cumprir a sua função de unidade de medida.

Como definir o valor de um bem e como calculá-lo:


Um bem tem dois determinantes do seu valor: a sua utilidade e as suas características.
- Quantas mais necessidades um bem for capaz de satisfazer, maior é a sua utilidade;
- Quanto às suas características; quão mais raro e difícil de obter forem os materiais
utilizados na produção do bem, maior será o valor que lhe será acrescentado.
Como podemos calcular o preço de um bem (ou seja, o preço de venda)? A partir da
soma do preço de custo e o lucro do vendedor. O mesmo pode ser representado pela
seguinte expressão numérica:
Preço de venda = Preço de custo + Lucro

57
Se o vendedor for o produtor do bem, o preço de custo será o custo de produção do
mesmo. Embora, se o vendedor for um comerciante, o preço de custo será o custo de
aquisição do bem cobrado pelos produtores.
O lucro consiste na remuneração do capital investido numa determinada empresa. O
mesmo pode ser um valor definido ou uma percentagem estabelecida (daí que também
lhe chamem de margem de lucro ou margem de comercialização).

O preço de um determinado bem não está dependente apenas dos seus preços de custo e
da margem de lucro dos vendedores. Este também é influenciado pela procura e pela
oferta, que, como viste anteriormente, por sua vez são também influenciados pelos seus
próprios determinantes. O preço a que um bem é comercializado é também influenciado
por estes fatores, contudo, aqueles que agora referimos têm uma importância acrescida,
sendo eles:
 O preço de custo;
 A utilidade;
 O número de compradores e vendedores do mercado;
 A margem de lucro dos vendedores e de todos os intervenientes incluídos no
processo.

 Capítulo [5.4] – A inflação

Definição de inflação:
A inflação é a subida generalizada, sustentada e contínua do nível médio de preços de
um país.

Definição de deflação:
A deflação é a descida generalizada, sustentada e contínua do nível médio de preços de
um país.

Alterações do preço de um bem são situações perfeitamente vulgares que decorrem do


funcionamento normal da atividade económica. Contudo, quando esta subida de preços
é generalizada, isto é, quando a grande maioria dos bens vê os seus preços a subirem, de
forma sustentada e contínua, diz-se que há inflação.

O valor da moeda face à inflação:

58
Quando há inflação, os preços da generalidade dos bens aumentam, pelo que, para
comprar um ou vários, será necessário utilizar maior quantidade de moeda. Ou seja,
com a mesma quantidade de moeda, adquire-se uma menor quantidade de bens do que
se adquiria antes da subida de preços. Logo, a inflação leva à perda de valor da moeda.

O poder de compra das famílias face à inflação:


Se os preços generalizados dos bens tiverem um acréscimo, uma família cujo
rendimento se manteve, não poderá manter o seu padrão de consumo, pois não terá
rendimento necessário para consumir todos os bens que anteriormente consumia.
Não há dúvida de que a inflação degrada as condições de vida das pessoas e que, quanto
maior ela for, maior será essa degradação, a não ser que os rendimentos acompanhem a
evolução dos preços.

Os tipos de salário:
À quantidade de moeda que um trabalhador ganha, dá-se o nome de salário nominal. É
com este que as famílias prestam as suas despesas mensais.
À capacidade de aquisição de bens de um salário, dá-se o nome de salário real. Este
mede a quantidade de bens ou serviços em euros que um trabalhar pode comprar com o
seu salário nominal. O mesmo pode ser calculado através da seguinte fórmula:

Salário real = (Salário nominal / IPC) x 100% IPC = Índice de preços


do consumidor

59
 Capítulo [5.5] – A medida da inflação

Como é que podemos saber o valor da variação generalizada dos preços, se cada um
deles varia de forma diferente? Ou seja, como é que sabemos o valor da inflação?
Usando o Índice de Preços do Consumidor (IPC), que se define como sendo a medida
da inflação. O que este índice faz é medir a variação percentual do nível de preços entre
dois momentos de tempo diferentes. Assim, podemos ter IPC mensais, semestrais,
trimestrais, anuais, ou de qualquer outro período de tempo, o que depois permitirá o
cálculo da taxa de inflação de igual periodicidade.

Fórmula do cálculo do IPC:


Para qualquer ano n, o IPC calcula-se de acordo com a seguinte fórmula:
IPCn = (Valor do cabazn/Valor do cabazano-base) x 100%
Mas o que significa o valor do IPC?
Admitindo um valor do IPC de 108%, podemos afirmar que os preços dos bens do
cabaz no ano n aumentaram 8% relativamente ao ano-base.

Fórmula do cálculo da inflação:


A taxa de inflação é a medida da variação do IPC entre dois momentos consecutivos.
Podemos fazer o seu cálculo através da seguinte fórmula:

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Taxa de inflaçãon = (IPCn – IPCn-1 / IPCn-1) x 100%
Ou então:
IPCn = 100% + Inflação
Que é o mesmo que ter
Inflação = IPCn – 100%

Definição de desinflação:
Já vimos a definição da inflação e da deflação, mas o que é a desinflação? Esta consiste
em um período de tempo em que, apesar dos preços do cabaz aumentarem relativamente
ao ano-base, o ritmo deste acréscimo é mais baixo do que ao do ano anterior. Ou seja, é
um período de tempo em que a inflação de um determinado país encontra-se a
desacelerar.

Unidade [6] – Rendimentos e distribuição de rendimentos

 Capítulo [6.1] – O rendimento

Como te recordas da unidade 3, a produção é a atividade económica que cria os bens e


serviços. Mas, como imaginas, ninguém produz sem um propósito. Alguns criadores de
gado, fazem-no para sustentar a sua família, mas a esmagadora maioria, fá-lo para
vender, de modo a cobrirem todos os custos suportados e ainda a remunerarem o capital
investido. Das vendas resultam fluxos monetários a que se dá o nome de rendimentos,
e à diferença entre os rendimentos adquiridos através da venda e dos rendimentos
utilizados no processo dá-se o nome de lucro.

Definição de distribuição do rendimento:


A distribuição (ou repartição) dos rendimentos nada mais é do que a forma como os
rendimentos são distribuídos por todos quantos participam na atividade produtiva: os
sócios/acionistas, os trabalhadores e os financiadores, ou seja, as partes interessadas –
sendo a função de cada um o determinante da quantidade remunerada para cada
indivíduo -.

A distribuição (ou repartição) funcional dos rendimentos:


Cada família tem a sua forma de remuneração:

61
 Quando um determinado indivíduo aplica a sua função de trabalho como agente
económico família, e é remunerado pelo mesmo, essa chamasse remuneração do
trabalho.
 Quando um indivíduo tem uma empresa e/ou é acionista na mesma, obtém uma parte
dos lucros obtidos. Estes podem ser adquiridos através do arrendamento, financiamento,
investimento, etc. A este acréscimo dos rendimentos dá-se o nome de remuneração do
capital.

A estas duas formas de obtenção de rendimentos, dá-se o nome de rendimentos


primários. A distribuição funcional dos rendimentos pode ser resumida através do
seguinte quadro.

Salário ilíquido e salário líquido:


Ao valor do salário que cada trabalhador acorda receber aquando da sua contratação, dá-
se o nome de salário ilíquido ou bruto. Enquanto que, ao valor do salário que cada
trabalhar leva para cada para pagar as suas despesas e sustentar a sua vida, ou seja, o
salário recebido, dá-se o nome de salário líquido. Esta distinção é necessária, pois cada
trabalhador individual é obrigado ao pagamento de impostos (em Portugal, o IRS e a
TSU ou CSS – O imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares e a Taxa Social
Única ou Contribuição para a Segurança Social -, pagamentos cujos valores são
retirados dos salários ilíquidos, sendo o mesmo dependente da quantia de rendimento de
cada indivíduo e de muitos outros fatores).
Portanto, o salário líquido de um trabalhador pode ser calculado através da seguinte
fórmula:
Salário líquido = Salário ilíquido – Descontos do trabalhador.

Definição de rendas:
As rendas são a remuneração da cedência a terceiros de equipamentos próprios
(principalmente edifícios e terrenos, mas também maquinaria, patentes, etc.)
Definição de juros:
Os juros são a remuneração dos empréstimos concedidos a terceiros, ou seja, o preço do
dinheiro emprestado.
Definição de lucro:
Os lucros são a remuneração da iniciativa de criar uma empresa ou de nela investir a sua
riqueza.

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A distribuição pessoal dos rendimentos:
Esta diferença de rendimento entre os trabalhadores leva-nos a pensar como estará o
rendimento repartido entre as pessoas ou entre as famílias. Será que todas têm
rendimentos idênticos ou haverá grandes desigualdades?
A forma como o rendimento é repartido entre as diferentes pessoas toma o nome de
distribuição pessoal do rendimento, e, infelizmente, a resposta à pergunta é sim, há
muitas desigualdades a este nível e elas devem-se a diversos fatores, como: as
habilitações académicas do trabalhador, as suas habilitações profissionais, a antiguidade
no posto de trabalho, o tipo de tarefa que realiza, as capacidades intelectuais e físicas do
trabalhador, o género, entre outros.

 Capítulo [6.2] – As desigualdades sociais

Basta que prestes atenção ao mundo à tua volta para veres que há diferenças nos
rendimentos das famílias, senão como se explicariam os sinais exteriores de riqueza de
apenas alguns?
Os indicadores de desigualdades:
Muitos e variados são os indicadores das desigualdades na repartição pessoal dos
rendimentos.
 O limiar da pobreza
O limiar da pobreza é o valor do rendimento abaixo do qual se considera que alguém é
pobre. Por definição da comissão Europeia, este limiar corresponde a 60% do
rendimento por cidadão equivalente do país.
O conceito de rendimento por cidadão ou adulto equivalente resulta da utilização de
uma escala, que atribui o peso 1 ao primeiro adulto de um agregado familiar, o peso 0,5
a cada um dos restantes adultos e o peso 0,3 a cada criança do mesmo agregado. Esta
modificação visa ter em conta as diferenças na dimensão e composição das diferentes
famílias de um país.
O valor do limiar da pobreza tem vindo a aumentar, como podes ver no gráfico 6.

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 O risco de pobreza
Diretamente relacionado com o limiar da pobreza está o risco da pobreza, indicador que
mede a percentagem de pessoas com rendimentos inferiores ao mesmo.
Este risco pode ser medido antes ou depois das transferências sociais, entendendo-se,
como tal, os valores monetários dados pelo Estado àqueles que, por vulnerabilidade
pontual ou duradoura, deles necessitam para ter uma vida minimamente digna. Ou seja,
os subsídios de prevenção ao risco de pobreza. Estamos a falar por exemplo, do:
- Subsídio de desemprego;
- Abono de família;
- Subsídio de doença
- etc.
 Rácio S80/S20
Segundo o INE, este é “um indicador de desigualdade na distribuição do rendimento,
definido como o rácio entre a proporção do rendimento total recebido pelos 20% da
população com maiores rendimentos e aparte do rendimento auferido pelos 20% de
menores rendimentos.”
Em termos simples, o que este indicador nos diz é quantas vezes o rendimento dos 20%
mais ricos é superior ao rendimento dos 20% mais pobres.
 Rácio S90/S10
A exemplo do indicador anterior, este rácio representa a razão entre a parte do
rendimento total recebido pelos 10% da população com maiores rendimentos e a parte
dos rendimentos auferido aos 10% da população de menores rendimentos, ou seja, este
indicador diz-nos quantas vezes o rendimento dos 10% mais ricos é superior ao
rendimento dos 10% mais pobres.
Apesar de não ser muito usado, uma vez que é um pouco redundante face ao S80/S20, é
possível encontrar informação estatística que confirma a desigualdade existente em
Portugal e a nossa posição relativa na Europa e até no mundo a utilizar este indicador.

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 A curva de Lorenz
A curva de Lorenz é a representação gráfica da relação que se estabelece entre a
distribuição cumulativa da população e a função cumulativa da proporção do
rendimento total, dizendo qual a parte do rendimento total detida por determinada
percentagem da população mais pobre. É, então, uma medida da concentração dos
rendimentos.
A figura 1 ajuda a entender como esta curva deve ser interpretada.

À diagonal do quadrado formado pelos 100% da população e pelos 100% do


rendimento dá-se o nome de linha de igual distribuição (LID), porque mostra não só que
100% do rendimento pertence a 100% da população, mas também que 50% do
rendimento pertence a 100% da população, o mesmo valendo para qualquer outra
percentagem. Se num país esta proporcionalidade direta entre rendimento e população
se verificasse, esse país seria completamente igualitário no que toca à distribuição do
rendimento, já que ele não estaria concentrado em nenhuma franja da sociedade.
Esta não é a realidade dos países. Há, como podes calcular, em todos os países, mais
nuns do que noutros, desigualdades económicas e sociais, que na curva de Lorenz são
tanto maiores quanto mais afastada da linha de igual distribuição estiver a curva de
concentração dos rendimentos representativa do país.
 O índice de Gini
O índice ou coeficiente de Gini complementa a curva de Lorenz na medida da
concentração dos rendimentos, uma vez que, segundo o INE, ele “mede a extensão até à
qual a distribuição de rendimentos entre indivíduos ou agregados familiares inseridos
numa economia se desvia de uma distribuição perfeitamente igual”.
Em outras palavras, o que ele faz é medir a área que fica entre a curva de Lorenz e a
linha de igual distribuição e expressá-la como uma percentagem da área abaixo dessa
linha.
Este coeficiente indica, numa escala de 0 a 100, quão desigual é a distribuição pessoal
de rendimentos, em que 0 significa que todas as pessoas têm rendimento igual e 100 que

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todo o rendimento é auferido por apenas um indivíduo, valores que, obviamente, não
acontecem na realidade.
 O rendimento per capita
Este indicador mede o nível de qualidade de vida de um povo, ao dizer-nos qual o
rendimento médio de cada pessoa da população. O mesmo calcula-se através da
seguinte fórmula:
Rendimento per capita = Rendimento nacional / População total
No contexto da EU o rendimento per capita português está não só entre os mais
baixos como abaixo das médias, não só da EU 27 mas também da zona euro,
havendo diferenças substanciais (lideradas pelo Luxemburgo), que contribuem
para que alguns questionem o objetivo da coesão económica e social da união.

 Capítulo [6.3] – A redistribuição dos rendimentos

A distribuição primária dos rendimentos provoca desigualdades económicas que,


invariavelmente, têm consequências sociais, uma vez que é com base no tipo de bens e
serviços a que cada um acede que a sociedade o classifica como pertencente a um
determinado estrato social, mais no topo ou na base da hierarquia conforme aqueles
bens e serviços são de qualidade e preço mais ou menos altos.
Para que estas diferenças se esbatam e a sociedade não se sinta tentada a aprofundar
cada vez mais a separação daqueles grupos ou estratos sociais, cabe ao Estado intervir,
garantindo a todos, mas principalmente aos mais desfavorecidos, condições económicas
que minimizem situações de pobreza e de exclusão social.
Com esta intervenção, o Estado visa atingir justiça e equidade, garantindo um nível de
vida mínimo, mas digno, satisfazendo necessidades coletivas e, por vezes, até
individuais, proporcionando pensões de reforma e de invalidez, rendimento social de
inserção, abono de família, subsídio de desemprego, complemento solidário para idosos,
subsídios parentais, etc. Com todos estes apoios sociais, o Estado tenta reduzir a taxa de
risco de pobreza, anteriormente vista.
E como o consegue? Através de um processo ao qual se dá o nome de redistribuição de
rendimento, que, basicamente, consiste em retirar dinheiro, sob a forma de impostos, a
quem tem mais para o dar, sob a forma de apoios sociais, a quem tem menos. Esta
redistribuição, que também é chamada de distribuição secundária dos rendimentos,
está representada no esquema 1.

66
Satisfazer as necessidades coletivas (educação, saúde, segurança, etc.) e até algumas
necessidades individuais (alimentação nas cantinas da escola) e, simultaneamente,
conceder os apoios sociais de que temos vindo a falar faz com que o estado tenha
despesas – são as despesas públicas – que só poderão acontecer se ele conseguir
arrecadar receitas, as receitas públicas. Várias são as fontes de receita do Estado, mas
de entre elas destacam-se as de origem fiscal ou tributária, ou seja, os impostos.

 Capítulo [6.3] – O rendimento disponível dos particulares

Os diferentes fatores que influenciam o RDP:


De tudo o que foi dito até agora, podes concluir que o rendimento de que as pessoas, e
respetivas famílias, dispõem para as suas despesas do dia a dia resulta de duas
repartições: a primária (rendimentos provenientes do trabalho e de capital), e a
secundária (apoios sociais como, por exemplo, abonos ou subsídios).
O rendimento disponível das famílias ou dos particulares é o montante em dinheiro que
as famílias ou os particulares têm em cada período (mês, ano ou qualquer outra medida
de tempo) e que podem usar como bem entenderem, isto é, gastam ou não.
Este rendimento disponível dos particulares (RDP) é, então, influenciado pelos:
 Rendimentos do trabalho – salários;
 Rendimentos de propriedade e empresa – rendas juros e lucros;
 Transferências correntes:
- Transferências internas – apoios sociais recebidos do Estado português.
- Transferências externas – rendimentos recebidos do resto do mundo,
independentemente da sua natureza.
 Impostos diretos e contribuições para a segurança social (também conhecidas como
contribuições sociais ou quotizações sociais).

Fórmula da obtenção do RDP:

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Para calcular este RDP, há apenas que somar aos rendimentos primários os rendimentos
secundários e retirar-lhes os impostos e as contribuições, tal como mostra a seguinte
fórmula:
RDP = Rendimentos primários + Rendimentos secundários – impostos e contribuições.
Porém, podemos pormenorizar esta fórmula, substituindo cada parcela segundo membro
pelos elementos que lhe pertencem, para obtermos a fórmula 2:
RDP = Rendimentos do trabalho + Rendimentos de propriedade e empresa +
Transferências correntes – Impostos diretos e contribuições sociais.

A entidade do Estado também tem os seus rendimentos. Estas são as diferentes receitas
do estado:
 Patrimoniais – Correspondem às entradas de dinheiro relativas ao arrendamento
de bens imóveis do Estado.
 Tributárias ou Coativas – são os impostos (diretos, como o IRS, e indiretos,
como o IVA), as taxas (montantes pagos ao Estado para a obtenção de uma
determinada vantagem como, por exemplo, a ocupação de um estacionamento
público devido a obras privadas) e as multas.
 Creditícias – São obtidas recorrendo ao financiamento para cobrir as despesas
públicas.

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Unidade [7] – Utilização dos rendimentos

 Capítulo [7.1] – A utilização dos rendimentos

As diferentes utilizações do rendimento:


Após a remuneração de um indivíduo, o mesmo tem duas escolhas de como utilizar os
seus rendimentos: consumindo, ou poupando. Quando um indivíduo consome, satisfaz
as suas necessidades; mas, muitas vezes, após satisfazer todas as suas necessidades, é
possível sobrar dinheiro. Nessa situação, podemos dizer que o indivíduo poupou.
Portanto, o rendimento disponível das famílias (ou dos particulares) pode ser utilizado
para o consumo ou para a poupança, sendo o consumo o rendimento gasto e a
poupança o rendimento não gasto.

A fórmula do RDP:
O cálculo do rendimento disponível dos particulares dá-se através da seguinte fórmula:
RDP = Consumo + Poupança

Os diferentes motivos para poupar:


Porque poupam as famílias:
Como talvez vejas à tua volta, todas as pessoas devem ter um pé-de-meia, porque nunca
se sabe o que vai acontecer no futuro. Esse pé-de-meia não é mais do que uma poupança
que permite lidar com a incerteza que o futuro representa: gastos com a educação dos
filhos, com uma possível doença ou até necessidades da velhice.

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Mas as pessoas também poupam por outros motivos, por exemplo, porque querem
consumir um bem mais caro, ou seja, querem fazer aquisições futuras. Também se pode
poupar para fazer aplicações financeiras, como criar uma empresa, adquirir títulos no
mercado bolsista ou simplesmente fazer depósitos nos bancos.
Como poderás ter notado, todas as opções apresentadas têm subjacente a ideia de futuro.
Ou seja, a poupança não constitui rendimento que nunca será gasto, é apenas
rendimento não gasto no presente, mas sim no futuro. Podemos então dizer que o tempo
é um fator importantíssimo a ter em conta no momento em que as decisões de utilização
do rendimento são tomadas: gastar agora ou futuramente?

A importância da poupança para a atividade económica:


Se o consumo é o motor da economia, e a poupança é o adiamento do consumo, deves
te estar a perguntar: Que importância tem a poupança para a economia?
Bem, como sabes, a atividade económica precisa de todos os agentes económicos, sendo
um deles, as empresas, exclusivamente especial. Tendo isto em conta, se pusermos em
causa como uma empresa é criada, rapidamente perceberemos a importância da
poupança. Ou seja, sabendo que a maioria das empresas nasce de iniciativa privada,
podemos concluir que se os seus criadores não tivessem poupança, não as teriam
conseguido criar. É sempre possível recorrer a financiamento bancário, mas onde
consegue o banco dinheiro para emprestar? Através dos depósitos das famílias e os
demais agentes económicos.
Portando, podemos concluir que, sem a poupança, não é possível impulsionar a
atividade económica.

As diferentes aplicações da poupança:


Então, como pode ser aplicada a nossa poupança? De três formas:
 Entesouramento;
 Investimento;
 Depósitos.

O entesouramento, como já referimos antes, consiste na criação de um tesouro, ou seja,


é a acumulação de dinheiro que é retirado da atividade económica, ficando parado.
Muitas vezes, esta aplicação da poupança é utilizada de forma a garantir um último
recurso caso necessário. Não passando assim, do adiamento do consumo. O dinheiro
entesourado pode ser utilizado produtivamente, quer no investimento quer através de
depósitos.
O investimento consiste na aplicação da moeda na atividade produtiva. É a aplicação da
poupança na criação de empresas, na participação ou até financiando essas empresas,
nomeadamente através da compra de obrigações ou de títulos de crédito representativos

70
de empréstimos concedidos. Assim sendo, o investimento é feito de bens de capital, isto
é, bens que reforçam a capacidade produtiva das empresas.
Do investimento podem resultar lucros (se a aplicação permitir adquirir o estatuto de
proprietário ou sócio da empresa), rendas (se a aplicação for em bens para arrendamento
ou aluguer) e até juros (se a aplicação for no financiamento de empresas).
A terceira e última aplicação possível da poupança é a criação de depósitos, ou seja, a
entrega do dinheiro poupado a instituições financeiras, normalmente bancos, que o
guardam nas condições que forem negociadas entre as partes. Podem criar-se depósitos
de vários tipos, mas sendo os dois mais conhecidos os depósitos à ordem (em qualquer
momento, podem ser movimentados tanto na entrada como na saída – ou seja, a
qualquer momento podemos reforçar o depósito ou levantar o mesmo), que atualmente
não rendem nada, ou depósitos a prazo (onde só devem ser movimentados na saída,
quando terminar o prazo estabelecido, razão pela qual rendem juros). É a partir deste
segundo tipo de depósito que os bancos obtêm lucro, aplicando taxas de juro de
empréstimo superiores às taxas de juro de retorno.

A formação de capital:
O investimento de que temos vindo a falar permite a criação do fator produtivo capital.
Quando este é feito pelas unidades produtivas nos chamados bens de produção (meios
de produção ou objetos de produção), diz-se que é feito em capital técnico ou em
formação bruta de capital, que, por sua vez, podem ser decompostos em:
 Capital fixo ou formação bruta de capital fixo (FBCF), que nada mais é do que
o conjunto de bens de equipamento (meios de produção);
 Capital circulante, que é composto pelos bens de consumo intermédio (objetos
de produção). Estamos a falar de matérias-primas e de matérias subsidiárias, de
produtos acabados e em vias de fabrico. Portando, o capital circulante é igual à
variação de existências (ΔExist.).

Podes entender tudo isto mais facilmente através do seguinte esquema:

Toda a formação bruta de capital é calculada em relação a um período de tempo de,


geralmente, um ano. A variação de existências (ou variação de inventários) não é mais
do que a diferença entre os valores de bens de consumo intermédio existentes no fim e

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no início do período. Portanto, a variação de existências pode ser calculada através da
seguinte fórmula:
ΔExist. = Ef – Ei, sendo Ef as existências finais e Ei as existências iniciais.
Quanto maior for o investimento ou formação bruta de capital, maior será a
probabilidade de a atividade económica crescer, uma vez que maior será a capacidade
de produção futura; e se o investimento depende da poupança, então quanto maior for a
poupança investida, melhor será o futuro económico do país.

 Capítulo [7.2] – O investimento: funções e tipos

Os diferentes tipos de investimento:


Na atividade produtiva, o investimento pode ter diferentes objetivos, dependendo das
funções que lhe são atribuídas. Um investimento pode ser:
 Investimento de capacidade, que consiste na aquisição de novos bens de equipamento
que possibilitem mais capacidade produtiva. Diz-se, contudo, que há investimentos de
inovação quando os novos bens de equipamento são tecnologicamente mais evoluídos
para, assim, melhorar a eficiência/qualidade da produção do bem;
 Investimento de substituição, que visa repor a capacidade produtiva da empresa,
substituindo os bens que se vão gastando.

Que tipos de investimento podem ser feitos? O material, imaterial e o financeiro.


Se o investimento é material, pretende adquirir bens tangíveis, isto é, que têm
corpo e, por isso, se podem tocar. São bens como máquinas, bens de consumo
intermédio, caminhões para o transporte, etc. Este tipo de investimento irá
contribuir para o aumento da produção da empresa e, consequentemente, do
país. Daí que contribua, como é suposto, para o crescimento e para o
desenvolvimento económico.
Se o investimento é imaterial, permite a aquisição de bens intangíveis, ou seja,
que não têm corpo e que, por isso, não lhe podemos tocar. Este investimento, na
maior parte das vezes, contribuirá para uma produção de melhor qualidade, uma
melhor produtividade e, consequentemente, uma maior competitividade da
empresa. Estamos a falar da formação dos trabalhadores, melhores condições
higiénicas e de segurança no trabalho, publicidade, a aquisição de marcas ou
patentes, despesas de investigação e desenvolvimento, etc.
Se o investimento é financeiro, pretende realizar aplicações financeiras, isto é, a
aquisição de produtos comercializados por instituições financeiras,
nomeadamente ações, obrigações, títulos, etc. Vale incluir que o investimento
financeiro é o único dos três acima referidos que também pode ser realizado
pelas famílias.
Qual destes três tipos de investimento é o mais importante para o sucesso de uma
empresa? Todos, como é óbvio! Embora, haja um que possa fazer uma grande
72
diferença: o investimento material, mais exatamente as despesas de investigação e
desenvolvimento (I&D).

Tudo isto pode ser explicado pelo esquema 3:

O investimento estrangeiro:
Em Portugal, como em qualquer outro país, o investimento pode ser feito pelos
nacionais ou pelos estrangeiros, residentes ou não residentes.
Se o investimento for feito pelos nacionais ou pelos estrangeiros residentes, diz-se o
investimento é nacional ou interno; se o investimento for feito por estrangeiros não
residentes, diz-se que o investimento é estrangeiro ou externo.
Se o investimento for para a criação de empresas ou compra, total ou parcial, de
empresas já existentes, passando o investidor a participar na gestão da entidade, a este
investimento dá-se o nome de investimento direto, mas se, pelo contrário, for feito sem
intenção de intervenção direta no desenvolvimento da atividade produtiva, portanto
feito através da concessão de empréstimos ou financiamentos de longo prazo, toma o
nome de investimento indireto.

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O esquema 4 resume a totalidade do que foi anteriormente referido.

Mas qual é o interesse em fazer/receber investimentos no/do estrangeiro?


Quando uma empresa privada (investimento privado) ou até um Estado (investimento
público) investe no estrangeiro, é porque encontrou uma oportunidade de ganhos (mão
de obra barata, anulação de barreiras aduaneiras, incentivos fiscais, proximidade de
certos mercados, controlo de atividades estratégias, etc.) acompanhada por um risco
aceitável que justificam essa decisão. Contudo, para o país que recebe esse
investimento, há normalmente vantagens e inconvenientes. Essas mesmas são
explicadas através do quadro 1.

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 Capítulo [7.3] – O financiamento da atividade económica

Não é possível investir se não houver dinheiro, dinheiro esse que pode ser próprio ou
alheio. Se o capital que vai ser investido for próprio, diz-se que o financiamento é
interno, e, quando o capital é alheio, diz-se que o financiamento é externo.
Se as fontes de financiamento forem externas, poderão ser de natureza direta ou
indireta. Se o financiamento externo for direto, o dinheiro é conseguido nos mercados
de capitais, através da venda de títulos emitidos pelas empresas, nomeadamente de
ações e obrigações. Se o financiamento externo for indireto, o dinheiro foi conseguido
através da contratação de empréstimos bancários, que nada mais são do que atos de
concessão de crédito por parte de uma entidade bancária que vai, logicamente, querer
ser paga pela disponibilização de dinheiro alheio exigindo o que já sabes – o juro.
Os mercados de capitais de que acima se fala, também conhecidos como mercados de
títulos, na verdade estão organizados em dois mercados: o mercado primário e o
mercado secundário. O mercado primário é aquele em que as empresas põem, pela
primeira vez, à venda os títulos que emitem (ações, obrigações, etc). Posteriormente, os
compradores deste mercado primário podem transacionar no mercado secundário os
títulos adquiridos no mercado primário. O mercado secundário é mais conhecido por
mercado bolsista ou Bolsa de Valores.
São várias as instituições que concedem crédito. Umas concedem-no a partir da recolha
de poupanças sob a forma de depósitos – são os bancos – e outras concedem-no sem
prévia captação destas poupanças, nomeadamente as empresas de locação financeira, as
empresas de factoring, as empresas de capital de risco e as empresas de corretagem.
Mas de entre todas estas instituições financeiras há um tipo que tem a capacidade de
gerar moeda escritural: são os bancos

- O crédito bancário e a criação de moeda escritural

Os bancos são, como sabes, instituições que visam o lucro através da realização de dois
tipos de operações: as operações passivas e as operações ativas.
Através das operações passivas captam as poupanças de particulares, empresas e
demais organizações que neles constituem contas de depósito (à ordem, a prazo ou de
outros tipos), para depois aplicarem esses montantes, por sua conta e risco, na concessão

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de crédito. São as operações de concessão de crédito que constituem as operações
ativas.
Quando acontece uma destas operações ativas, o banco deposita na conta à ordem do
seu cliente (devedor do empréstimo) o montante que foi acordado. A partir daqui o
cliente pode usar o dinheiro da forma pretendida aquando do pedido de crédito, dando
sempre ordem ou ordens de transferência desse montante para as contas das
organizações a quem tem de fazer pagamentos.
Supõe que a Maria de Lurdes deposita no banco A, aprazo de 1 ano, os 10.000€ que
recebeu como prenda dos avós. Logo de seguida, o Carlos contrai, nesse mesmo banco,
um empréstimo de 8000€ para comprar um automóvel. O banco transfere 8000 dos
10.000€ da Maria de Lurdes para a conta do Carlos. Já aumentou a quantidade de
moeda disponível para gastos, pois ela é agora de 18.000€, 10.000 da Lurdes e 8000 do
Carlos. Supõe que, na verdade, o carro só custava 6000€, pelo que o Carlos dá ordem de
transferência dessa quantia para a conta do stand e usa os 2000 restantes para fazer
umas férias no Algarve.
Logicamente, todas estas entidades, o stand, o hotel, as gasolineiras e os restaurantes,
vão depositar estes montantes em bancos que podem não ser o banco A. Supõe que os
depósitos foram feitos nos bancos B e C e que o banco B usou 1000€ do hotel para
conceder um empréstimo à sociedade Gama.
Tudo começou com os 10.000€ da Maria de Lurdes, e, neste momento, qual é o valor
existente na economia? Assumindo que o Carlos foi o único a já ter usado o dinheiro, na
economia circula o montante de 19.000€, como podes comprovar através do seguinte
quadro.

Obviamente, muitas destas operações vão, num espaço de tempo mais ou menos curto,
dar origem a outras de sinal contrário, já que os empréstimos têm de ser reembolsados, e
aí todo este mecanismo de criação de moeda é anulado. Mas sendo verdade que o
mecanismo é, em termos individuais, temporário, também é verdade que, em termos
globais, acaba por ser permanente dado o elevado número de operações similares que
ocorrem na economia.

76
É também importante referir que os bancos não podem usar para operações ativas todo o
dinheiro que recebem sob a forma de depósitos, pois quem deposita também levanta, e
há que ter liquidez para satisfazer esses pedidos. É por isso que todos os bancos na área
do euro têm o dever de constituir reservas junto do banco central do seu país, entre nós
o Banco de Portugal, que nada mais são do que montantes monetários que não podem
ser usados para a concessão do crédito. Há reservas de vários tipos, nomeadamente as
reservas obrigatórias e as voluntárias, mas as mais conhecidas são as reservas mínimas
obrigatórias impostas pelo Banco Central Europeu, que, desde 2016, assumem o
montante de 1% dos valores depositados em cada banco.
Podes concluir que o objetivo destas reservas é o de credibilizar o sistema financeiro
garantindo que os bancos conseguem honrar os compromissos que têm para com os seus
depositantes.

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Unidade [8] – Os agentes económicos e circuito económico

 Capítulo [8.1] – O circuito económico

- Fluxos reais e fluxos monetários

Depois de conhecer as funções e as operações que cada agente económico pode


desempenhar, é indispensável ter uma visão de conjunto de toda a economia, pois só
assim podemos perceber o seu funcionamento e interações, avaliar as medidas de
política económica e social e definir alternativas de desenvolvimento e de crescimento
económico.
Essa visão de conjunto pode ser obtida através de uma representação gráfica das
principais relações ou interações que se podem estabelecer entre os agentes
económicos. A essas relações entre os agentes económicos chamamos fluxos, que,
consoante a sua natureza, podem classificar-se em fluxos reais ou fluxos monetários.

- Fluxos reais

Os fluxos reais representam as entregas e os recebimentos que se processam entre os


agentes económicos de forma material ou “palpável”.

Definição de fluxos reais:


Interações materiais realizadas entre os diferentes agentes económicos. Normalmente,
as famílias cedem trabalho às Empresas não Financeiras e estas disponibilizam bens e
serviços às famílias.

Por outras palavras, a produção de bens exige trabalho e capital (fluxos reais) e origina
produtos e serviços (fluxos reais).
Estes fluxos têm uma escassa utilidade devido à impossibilidade de se poder proceder a
qualquer comparação entre eles, visto que não se encontram expressos numa mesma
unidade.

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- Fluxos monetários

Se, por outro lado, os fluxos estiverem na mesma unidade de medida, já é possível
compará-los. Assim, se atribuirmos valores, por exemplo, a cada hora de trabalho
disponibilizado pelas famílias a uma Empresa não Financeira, e a cada bem vendido
pelas mesmas às famílias, já teremos uma forma de comparar os diferentes fluxos.
Deste modo, podem converter-se fluxos reais em fluxos monetários, adotando-se como
unidade a moeda.

Definição de fluxos monetários:


Diferentes interações realizadas entre os diferentes agentes económicos, mas em
unidades monetárias. Estes obtêm-se através da conversão da unidade de medida dos
fluxos reais para a moeda.

Esta prática de monetarização dos fluxos reais tem sido universalmente utilizada, pelo
que iremos passar a usar, exclusivamente, os fluxos monetários.
Contudo, como os fluxos entre os diversos agentes são múltiplos e diversos, será
impossível referirmo-nos a cada um deles, pelo que iremos concentrar-nos apenas nos
mais significativos

- O circuito económico

Visando uma mais fácil compreensão do significado dos fluxos que se estabelecem
entre os agentes económicos, é possível proceder à sua representação gráfica num
esquema que designamos por circuito económico. Este corresponde a uma forma
simplificada de representação da atividade económica de uma região ou país.

Definição de circuito económico:


Esquema descritivo do conjunto de operações económicas que ocorrem entre os agentes
económicos, durante um certo período.
As operações realizadas traduzem-se em fluxos que representam os diferentes tipos de
interações entre os diversos agentes económicos.

Já vimos atrás que no circuito económico são representadas as relações económicas que
se estabelecem entre os vários intervenientes na atividade económica: Famílias,

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Empresas não Financeiras, Instituições Financeiras, Estado e Resto do Mundo. Dessas
relações, iremos apresentar as mais representativas.

- As famílias e os outros agentes económicos

Já vimos atrás que no circuito económico são representadas as relações económicas que
se estabelecem entre os vários intervenientes na atividade económica: Famílias,
Empresas não Financeiras, Instituições Financeiras, Estado e Resto do Mundo. Dessas
relações, iremos apresentar as mais representativas.

- As famílias e os outros agentes económicos

As Famílias e as Empresas não Financeiras

As relações que se estabelecem entre as Famílias e as Empresas não Financeiras são de


grande importância, refletindo-se em fluxos monetários nos dois sentidos. Assim:
 As Famílias recebem das Empresas não Financeiras ordenados, como
remuneração pelo trabalho prestado. Eventualmente podem receber rendas, pela
cedência de prédios urbanos ou rústicos, e lucros, resultantes de investimentos
anteriormente feitos;
 As Famílias entregam às Empresas não Financeiras os valores monetários
equivalentes às despesas de consumo que realizam quando adquirem bens e/ou
aos investimentos nessas empresas.

As Famílias e as Instituições Financeiras

Entre as Famílias e as Instituições Financeiras podem estabelecer-se diversas interações.


Assim, o que pode ocorrer é:
 As Famílias recebem das Instituições Financeiras indemnizações devidas por
ocorrências que foram objeto de seguros, juros pelos depósitos feitos, ordenados
pela prestação de trabalho, e empréstimos pedidos;
 Em sentido inverso, as Famílias entregam às Instituições Financeiras depósitos
bancários (poupança), prémios respeitantes a seguros, amortizações e juros dos
empréstimos contraídos.

As Famílias e o Estado

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O Estado tem como principal função a satisfação das necessidades coletivas, precisando
de obter meios financeiros que sirvam de suporte às atividades que tem de desenvolver.
Estes meios conseguem-se, principalmente, através dos impostos, que incidem, direta ou
indiretamente, sobre os restantes agentes económicos.
Ao analisarmos as relações entre Famílias e o Estado que deram origem à
movimentação de valores monetários, temos de registar:
 Os fluxos recebidos pelas Famílias, relativos aos vencimentos pagos aos
funcionários públicos e aos subsídios concedidos (pensões, abonos de família,
etc.);
 O fluxo entregue pelas Famílias, que respeita aos impostos e às contribuições
para a Segurança Social.
Acabámos de analisar as principais relações que o agente económico Famílias
estabelece com os restantes agentes.

- As Empresas não Financeiras e os outros agentes económicos

Vamos analisar agora as relações mais importantes que as Empresas não Financeiras
estabelecem com as instituições Financeiras e com o Estado.

As Empresas não Financeiras e as Instituições Financeiras

No que respeita aos contactos entre as Empresas não Financeiras com as Instituições
Financeira, temos também de registar fluxos monetários nos dois sentidos. Assim:
 As Empresas não Financeiras recebem das Instituições Financeiras fluxos
monetários relativos a investimentos, juros dos depósitos, empréstimos pedidos
e indemnizações pelos valores segurados;
 As Empresas não Financeiras entregam depósitos às Instituições Financeiras,
assim como os juros e os valores correspondentes à amortização de
empréstimos, lucros e prémios de seguros.
As Empresas não Financeiras e o Estado

Sendo as Empresas não Financeiras o principal agente económico produtor de bens e


serviços, também se estabelecem entre elas e o Estado importantes relações. Temos
assim:
 As Empresas não Financeiras recebem valores monetários do Estado
correspondentes não só a compras efetuadas (consumo), mas também a

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subsídios concedidos à produção de bens e serviços considerados essenciais e
que, por isso, devem ser acessíveis a toda a população;
 As Empresas não Financeiras entregam meios financeiros ao Estado, sob a
forma de impostos e de contribuições para a Segurança Social.

- As Instituições Financeiras e o Estado

Consideradas as relações económicas entre as Instituições Financeiras, as Famílias e as


Empresas não Financeiras, há ainda a considerar os fluxos que se estabelecem entre
aquelas e o Estado.

As relações entre estes agentes são decisivas para o desenvolvimento da atividade


económica, pois as Instituições Financeiras podem funcionar como motor ou travão de
todo o processo produtivo, através da mobilização mais ou menos eficiente das
poupanças, e das políticas de crédito e de investimento adotadas.
No que respeita aos fluxos monetários, podemos verificar que:
 As Instituições Financeiras recebem depósitos feitos pelo Estado, prémios de
seguros pagos, juros e amortizações dos empréstimos recebidos;
 As Instituições Financeiras entregam ao Estado valores relativos a impostos,
contribuições para a Segurança Social, juros de depósitos, indemnizações de
seguros e empréstimos.

- O Resto do Mundo e os outros agentes económicos

Até agora, referimo-nos apenas aos fluxos que se estabelecem entre os agentes
económicos internos, isto é, considerámos as relações existentes em economias
fechadas, espaços em que não se estabelecem quaisquer relações o Resto do Mundo.
Todavia, este modelo de economia revela-se desfasado da realidade, conhecidas que são
as relações cada vez mais estreitas que se estabelecem entre as economias dos diferentes
países e a globalização atual. Teremos, pois, de completar o circuito com os fluxos
monetários que se estabelecem com o Resto do Mundo, construindo, assim, um circuito
de fluxos monetários num modelo de economia aberta.

O Resto do Mundo e as Empresas não Financeiras

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Embora as famílias e o Estado mantenham contactos mais ou menos importantes com o
Resto do Mundo, considera-se que a generalidade das trocas é feita por intermédio das
Empresas não Financeiras:
 As Empresas não Financeiras recebem um fluxo monetário do Resto do
Mundo, correspondente ao valor das importações realizadas;
 As Empresas não Financeiras entregam ao Resto do Mundo um fluxo
monetário, correspondente ao valor das importações realizadas.

O Resto do Mundo e as Instituições Financeiras

Neste modelo simplificado de economia vamos considerar que se estabelece entre as


Instituições Financeiras e o Resto do mundo um único fluxo monetário, que poderá
variar de sentido, a que chamamos fluxo de compensação.
Tal como o nome indica, este fluxo funciona como uma compensação resultante dos
desequilíbrios que existem relativamente aos pagamentos efetuados entre o conjunto de
uma economia e o Resto do Mundo.
Se as entregas de valores monetários ao Resto do Mundo excederem os recebimentos
(valores das importações maiores do que o das exportações), a economia entra em
desequilíbrio (défice), que se traduz numa saída de divisas, necessariamente
compensada por uma entrada na economia de valores monetários sob a forma de
empréstimos ou créditos externos, por exemplo. Neste caso, existirá um fluxo monetário
de compensação do Resto do Mundo para as Instituições Financeiras.
Em sentido inverso, se os recebimentos do Resto do Mundo excederem os pagamentos,
para reencontrar o equilíbrio económico será necessário estabelecer um fluxo monetário
de compensação das Instituições Financeiras para o Resto do Mundo.

 Capítulo [8.2] – O equilíbrio entre recursos e empregos

- O equilíbrio macroeconómico

A elaboração dos circuitos económicos, relativamente a um determinado país e a um


certo período de tempo, permitem identificar a participação de cada agente económico
no valor do produto nacional, a forma como os rendimentos são distribuídos pelos
fatores produtivos, a sua utilização no consumo e na poupança, o investimento efetuado,
bem como as exportações e importações realizadas
Podemos então identificar numa economia os fluxos que representam os recursos dessa
economia e a forma como são utilizados, ou seja, os empregos. Se considerarmos os

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fluxos monetários desses recursos e empregos, obteremos o valor do produto, do
rendimento do país e dos seus empregos – a despesa.

Definição de recursos:
Fluxos que correspondem a entradas de dinheiro, em fluxos monetários, ou de bens e
serviços, em fluxos reais; recebimentos.
Definição de empregos:
Fluxos que correspondem a saídas de dinheiro, em fluxos monetários, ou de bens e
serviços, em fluxos reais; pagamentos.

Numa situação de equilíbrio económico, torna-se evidente que as unidades de consumo


adquirem o que as unidades de produção produzem, havendo, portanto, uma igualdade
entre o valor da produção do pais e o valor da sua utilização. Ou seja:
Produto = Despesa
Da mesma forma, os rendimentos que são entregues pelas unidades de produção às
unidades de consumo não poderão deixar de ter um valor idêntico às despesas efetuadas
por estas:
Rendimento = Despesa
Assim, podemos concluir genericamente que:
Produto = Despesa = Rendimento
Se alargarmos o circuito aos restantes agentes económicos, o equilíbrio económico entre
recursos e empregos deverá manter-se. Todavia, os circuitos económicos apresentam
algumas insuficiências, como a dificuldade de se proceder à representação de todos os
fluxos que se estabelecem entre os agentes e a impossibilidade prática de confirmar a
manutenção do equilíbrio económico.
O equilíbrio económico a que nos referimos traduz-se no facto de os fluxos monetários
que dão entregada em qualquer agente económico (recursos) deverem apresentar, em
conjunto, um valor igual ao dos fluxos monetários que dele saem (empregos).

- O equilíbrio económico num sistema de contas

Devido à dificuldade de representar o equilíbrio que se estabelece entre os recursos e os


empregos dos agentes através de circuitos económicos, principalmente se forem muitos
os fluxos neles representados, recorre-se a outras formas de representação,
nomeadamente aos sistemas de contas.

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Para tal, constrói-se um quadro com duas colunas (o “T”), servindo a da esquerda, para
registar os valores monetários correspondentes às despesas, chamada Empregos, e a da
direita para registar os valores monetários correspondentes às receitas das famílias,
chamada Recursos.
Da análise da conta “Famílias” verificamos a existência de equilíbrio económico se
houver igualdade entre os recursos e os empregos da mesma.
Da mesma forma que construímos uma conta para as Famílias, podemos elaborar uma
conta semelhante para cada agente económico. O conjunto das contas dos diversos
agentes económicos constitui um sistema de contas.
Importa ter sempre presente que os valores monetários que saem de um agente
(empregos) entram, obrigatoriamente, noutro (recursos).
Verificamos assim que os empregos de um agente são os recursos de outro, havendo
equilíbrio no conjunto da economia, ou seja, igualdade entre recursos e empregos.

Unidade [9] – A Contabilidade Nacional

 Capítulo [9.1] – A Contabilidade Nacional – noções e objetivos

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