Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ernani Fornari - o ''Incrível'' Padre Landell de Moura-Biblioteca Do Exercito Editora (1984)
Ernani Fornari - o ''Incrível'' Padre Landell de Moura-Biblioteca Do Exercito Editora (1984)
~ORNARI
,
BIBLIOTECA DO EXERCITO
ERNANI FORNARI
(DADOS BIOGRÀFICOS)
COO 925
CDU 92
2
ERNANI FORNARI
o INCRíVE~J
II
PADRE
LANDELL
DEMOUBA
SEGUNDA EDiÇÃO
m
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO EDITORA
Rio de Janeiro - RJ
1984
BIBLIOTECA DO EXI:RCITO
FUNDADOR,
em 17 de dezembro de 1881 •
Franklin Américo de Menezes Dôria, Barão de Loreto
REORGANIZADOR,
em 26 de junho de 1937. e fundador da Seção Editorial
Gen Valentim a.nleio da Silva
DIRETOR
Cei Inl Aldilio Sarmento Xavier
SUBDIRETDR
CIII Art Sady Nunes
CONSELHO EDITORIAL
Militares:
Ten Brig Ref Nelson Freire Lavenere-Wanderley
nomeado em 17 de abril de 1980
Gen Di... Ref Francisco de Paula e Azevedo Pondê
nomeado em 10 de outubro de 1973
Gen Di... Ref Jonas de Morais Correia Filho
nomeado em 10 de outubro de 1973
Cei Prof Celso José Pires (Relator deste Livrol
nomeado em 7 de fevereiro de 1980
CMG R/Rm Max Justo Guedes
nomeado em 17 de abril de 1980
Ten Cei Inl Pedro Schirm8r
nomeado em 11 de outubro de 1977
Ten Cei R·' Carlos de Souza Scheliga
nomeado em 25 de abril de 1975
Civis:
Prof Pedro Calmon Moniz de Bittencourt
nomeado em 28 dê maio de 1975
Prof Francisco de Souza Brasil
nomeado em 10 de outubro de 1973
Prof Ruy Vieira da Cunha
nomeado em 10 de outubro de 1973
4
APRESENTAÇÁO
5
Foram mUitos os desafios enfrentados por Landell de
Moura. Assim também são os daqueles a quem compete criar
instrumentos e políticas para o desenvolvimento das comunica-
ções - cujas fronteiras são quase ilimitadas -, infra-estrutura
fundamental para o crescimento das nações e o bem-estar da
sociedade humana.
Numa justa e merecida homenagem, embora modesta, a
maior instituição de pesquisa científica e tecnológica na área da
eletrônica do país - o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
da Telebrás, em Campinas, denomina-se Padre Roberto Landell
de Moura.
6
NOTA PARA ESTA EDiÇÃO
7
julgamento, para poder, no momento presente, resgatar a figura
humana daquele que mostrou ao Mundo os indeléveis primeiros
passos no evoluir da técnica das comunicações.
Nesse posicionamento o biógrafo aproximou-se da máxima
de Santo Tomás de Aquino: a justiça da ordem e a ordem da
justiça, pelo reconhecimento através deste brilhante estudo,
que equacionou e demonstrou de modo inequ (voco a vida me-
ritória do personagem central do livro, numa demonstração de
que a autenticidade autoriza o dom(nlo integral do saber.
O livro é acompanhado de gravuras, esquemas, patentes
diversas em fac-símile, em testemunho da autenticidade das
citações, consideradas primordiais, levando crédito às fontes e
por se tratar da possibilidade de transmitir sons inteligentes,
emoldurados pela utilização de um feixe luminoso.
Esta obra é, ao mesmo tempo, de caráter épico e de eflú-
vios afetivos, além de exprimir paradigmaticamente os anúncios
das "imprevisíveis perspectivas à civilização e às relações entre
os povos", credibilidade já estabelecida e exortada pelas pre-
missas conjunturais deste século.
A narrativa episódica, mesmo entremeada dos temas de
núcleo científico, não se afasta da redescoberta reconhecida
daquele patrício ilustre, muito à frente de seus coevos no alar-
gamento da visão para iluminar o futuro.
E o mundo de hoje, no imediatismo dos seus objetivos,
parece esquecer que, mesmo na era cibernética, nuclear, tecno-
trônica, as tendências da materialização fogem da plenitude de
que a matriz da ciência está no pensamento e no desenvolver
crescente espiritual do homem, sempre na procura perene de
afirmar· a sua criatividade. Talvez ai esteja impl(cita a explica-
ção que distingue os sábios dos sabidos.
Preocupa-se o escritor "com devotado empenho querer
restituir ao grande sábio rio-grandense - Monsenhor Roberto
Landell de Moura - a instância da sua luminosa personalidade".
Nobre foi a preocupação da Bibliex em procurar oferecer
ao grande público nacional, não somente notícias sobre os in-
ventos de Landell de Moura, mas, fundamentalmente, homena-
gear a todos os técnicos, pela admiração das técnicas precurso-
ras do sacerdote.
Com a publicação deste livro presentifica-se a grandeza
dos trabalhos de um sábio brasileiro, humilde e ungido como
8
servo de Deus, neste fim de século - primaz da informática -
sem dúvida, nascente e nutriente das prim(cias dos estudos de-
senvolvidos em tempos remotos, sugerindo sempre novas per-
guntas, novas respostas e, sobretudo, permitindo a unidade da
cultura, ciência, técnica e tecnologia.
CELSO PIRES
9
Monsenhor Roberto Landel! de Moura, aos 54 anos de idade
10
à GUISA DE INTRODUÇAO
11
Desconcertante, porém, a reação popular. Impostor, misti-
ficador, louco, bruxo, padre renegado, herege - foram alguns
dos ep itetos que recebeu.
Chegou a ser arrombada a porta da sua casa, sendo destru i-
dos o seu laboratório, todos os seus aparelhos e suas "máquinas
infernais", como diziam os vândalos fanáticos.
Todavia, reconstruindo a sua oficina, consegue obter a pa-
tente brasileira n9 3279 "para um aparelho apropriado à trans-
missão da palavra à distância, com ou sem fios, através do espa-
ço, da terra e da água".
Vai, depois, aos Estados Un idos, onde também pretendia
patentear os seus principais inventos: a telefonia e o telégrafo
sem fios e o transmissor de ondas.
Tão revolucionárias eram consideradas, porém, as suas in-
venções que não se lhe concederiam as patentes desejadas sem a
apresentação de um modelo para demonstrações práticas. Foi
obrigado, pois, a permanecer três anos nos Estados Unidos, e
com grandes dissabores e dificuldades financeiras, para afinal
conseguir a 11 de outubro de 1904 a patente do transmissor de
ondas (n9 771 917) e a 22 de novembro a do telefone sem fio e
do telégrafo sem fio (n9 S 775337 e 775846), cujos fac-similes·
este livro publica.
Rejeitando sedutoras propostas nos Estados Unidos, regres-
sa ao Brasil para entregar ao nosso governo os seus inventos.
Chegado ao Rio, escreve ao Presidente Rodrigues Alves so-
licitando dois navios da esquadra para uma demonstração públi-
ca de seus inventos.
Manda ter com ele o Presidente um de seus assistentes a
fim de saber a que distância desejava que ficasse um navio do
outro dentro da Guanabara.
- Distância? Dentro da baía?! ... Não, doutor! Fora da
baía, em alto-mar, e à distância máxima que for possível.
Assombra-se o enviado palaciano.
- Quantas milhas, por exemplo, reverendo?
- As que quiserem, ou puderem - afirma com decisão.
Meus aparelhos podem estabelecer comunicação com quaisquer
pontos da Terra, por mais afastados que estejam uns dos outros.
Isto, presentemente, porque, futuramente, servirão até mesmo
para comunicações interplanetárias.
12
Olhando-o espantado. retruca o oficial-de-gabinete:
- Muito bem. reverendo. Farei S. Exa. ciente do que me
diz.
Chegado ao Palácio. transmite sua impressão ao Presidente
da República:
- Excelência. o tal padre é positivamente maluco. Imagi-
ne que ele chegou a falar-me na possibilidade de conversar, um
dia. com outros mundos...
No dia seguinte um telegrama gentil da Presidência da Re-
pública informou ao grande brasileiro não ser possível, no mo-
mento. lamentavelmente. atender ao seu pedido, devendo ele.
para isso. aguardar a oportunidadel.
Era demais! Diante da negativa mal disfarçada e da campa-
nha de descrédito que se lhe moveu, profundamente abalado e
desiludido, num impeto insopitável, quebra os seus aparelhos,
encaixota os seus livros, cadernos e documentos, e vai dedicar-
se exclusivamente ao seu sacerdócio no interior do país.
Decorrido o prazo de 17 anos, que marca a lei das Paten-
tes, põem os estadunidenses em prática as teorias do sábio bra-
sileiro...
Houvesse o Presidente Rodrigues Alves atendido ao pedido
de Landell de Moura!. .. Um navio de guerra brasileiro ancora-
dO na Guanabara e outro em alto-mar, bem longe - como ele
queria - a permutarem, pela primeira vez, mensagens pelo rá-
dio! Que sucesso! Que glória para o Brasill
Mas não me devo alongar.
Isto e muito mais encontraremos nas paginas deste livro
admirável com o qual Ernani Fornari tirou do esquecimento em
que por tanto tempo esteve a memória do pioneiro da teleco-
municação.
E que meditemos com atenção as narrativas e os comentá-
rios do Autor, sobretudo no que concerne à grandeza moral, aos
sofrimentos atrozes que heroicamente suportou o homem-pin-
caro que foi Roberto Landell de Moura.
13
Aos eminentes homens de ciência
VI CE-ALMIRANTE ENGENHEIRO
MÁRIO DE OLIVEIRA PENNA
14
PREFACIO
15
ra como resultado de investigações próprias ou de outrem, a vida
e as obras do Padre Landell de Moura, esses prestimosos articulis-
tas estavam, a seu modo, colaborando conosco, no sentido de
chamar a atenção de nossos patrrcios para o esquecido e genial
trsico brasileiro, e, assim, contribuindo para o reconhecimento de
seus direitos e maior glória de seu nome.
E isso é o que importa, verdadeiramente.
***
Neste ponto, como um corredor que já cumpriu a parte do
percurso que lhe cabia na maratona, passamos o archote às mãos
de quem queira substituir-nos.
ERNANI FORNARI
16
INDICE
Apresentação. . . . . . . . . .. . . . .. .. .. .. .• . ... . . . . .. . . . 5
Nota para esta edição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
À guisa de introdução. . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . • . . . • . . . .. 11
Dedicatória . . . . . . . . . . . . . • . . . . • . . . . . . . . • . . . . • . . . .. 14
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . • . . . . • . . .. 15
PRIMEIRA PARTE
SEGUNDA PARTE
TERCEIRA PARTE
17
Sobre o fenômeno da reversibilidade sensorial. . . . . . . . . . . .. 133
Sobre a causa das perturbações da vida psíquica ou de relação.. 134
Sobre a enfermidade de Estado, ou nevrose dos dirigentes. 135
Sobre as principais modalidades ou espécies de caráter . 137
Sobre os estados anormais. . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
Sobre a analogia existente entre a estenicidade, ou o
Elemento R ,e a eletricidade. . . . . . . . . . . . . . . 139
Sobre a indução estênica e a analogia que existe entre ela
e a eletricidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 141
Sobre os efeitos da estenicidade à distância. . . . . . . . . . . . .. 142
Sobre a capacidade dos nossos sentidos e pequenez dos nossos
conhecimentos em r~lação ao mundo exterior. . . . . . . 143
O Elemento Universal. .. 146
18
PRIMEI RA PARTE
PRODIGIOSO!
O GOURAUDFONIO
19
desse aparelho, que tem a propriedade de transmiti r a
voz humana a uma distância de oito, dez ou doze qui-
lómetros sem necessidade de fios metálicos, ao enge-
nheiro inglês Sr. Brighton.
O diário a que me refiro está mal-informado. Nem a
invenção do sistema de transmitir a palavra à distância
é recente nem foi um inglês o primeiro sábio que re-
solveu satisfatoriamente esse árduo problema, que en-
volve os mais intrincados prindpios Hsico-qu (micos
que podem oferecer-se à ciência humana. O que pri-
meiro penetrou e descobriu os grandes segredos da te-
lúrica etérea com glória e proveito, faz pouco mais ou
menos um ano, foi um brasileiro, foi o meu nobre e sá-
bio amigo o Rev. Padre Roberto Landell.
Porque acompanhei passo a passo o estudo de seus
inventos sobre telegrafia e telefonia, com e sem fios;
porque fui testemunha presencial de várias experiên-
cias, todas de prodigiosos resultados; e porque tive a
honra de me ocupar do sábio e de suas eminentes obras
em dois artigos publicados em EI Diario Espano/' de
São Paulo, artigos que mereceram a honra de ser repro-
duzidos no Rio em o Jornal do Commercio; por tudo is-
to, julgo-me obrigado, agora, a sair em defesa do direi-
to de prioridade que assiste ao benemérito brasileiro
Rev. Padre Roberto Landell, no que tange à transmis-
são da palavra falada sem necessidade de fios. Antes
desse virtuos(ssimo apóstolo da religião e da ciência,
ninguém, absolutamente ninguém, fez algo de prático
em telefonia aérea sem cabos, servindo-se só e só de
t.tores aquosos, terráqueos e aéreos.
O Rev. Padre Landell foi o primeiro a construir seu
magnifico telefônio, sem precisão de fios, para trans-
mitir a voz, as notas musicais e os ru(dos apenas sens(-
veis ao ouvido, tais como O tique-taque do relógio, a
grandes distâncias. A telefonia aquática e subterrânea,
e bem assim o Teletiton, espécie de telegrafia fonética,
sem emprego de fios metálicos, são obras de imarces-
dvel glória, e a prioridade delas pertence ao referido
sábio brasileiro.
20
• -----. -._-~--._---- ... ~. .1
-~.-~-~.~.·d··~·
f[:.1I &;:"_t-':~~'-:
:..:.:-.':"=:i..~!"'
_ . --:=., - - , .~=-.::.
F.:...
..- - _.._- -"---'-...=:--
~:::::..-::o; ~:-"::,,:,,.'JU'm';
.::. ~ -
- -.-
..::. -
-_..- - - .~-~
~';'::i""',...
~ ....?"""::::::.!:"-·I·::=:"':'_~.;..;!..~'~,"''I'''I
..t' =-= - 50...
.~
t:::.:- .. -
t:--.==.-:'.~.- . --.::.:.-'7.. . . __ ' . -.. :::... -""":-----:--;
- -~~-r':"-.- ':)..:=t~-"'t.-. ..- .... -., ... -
=--::=-~._~.:.--.-:..-;"';~;-=--=:::i . . .~-;-:=~··
_.---,-1 ..-
..:=..~~.-:::.=._ .. ~_~
-=:.: ~
,:;; . _ .__ " ••_- -t·-.:.a::::=.:a.~".:
- - _.._ .
~!::-;~a ~~::;~E.J~~-:~-=~&"";ig:~--:~.~:;.:;
r~""f",-~~::r.~..i!:..-.§:;:;C~';;::E-:::-==~- ..2~:.:: =-"''-.~-=..:.-:~
~-~- _1;::=:':;''::::: :=:~~~;g:~=.a:.~5;..~ ::-.5:.,;:-d
~~-::::-.:. =-= ~;...-.::::~-:.':::-; :.;: =.. : -: ': .:.: : .:.
,,:.:::---t:".."";..._ , -=-~'::=.J
=,,~_"..-_-= =-..::::..::.:.::..:::-:-.,:'"';':':=-=: ~..:; ::"':="'-;'~=';::::= :=."': ::.u::.:.:.-:.:,.:
_-...::-_.. ~~~::.:::::t';'·· . "';~~)
~_._--' ......._' __ --
~.:z..:-"""=- =.=F.";.=;:::·;.m.~,.::~·
~~~~~~~!~~i!~~l~;~i~~
.. .... _ . _ . " . _ ......... ' -- - - ..+;.. -....._ - . . .. __ ..... ~ ..... ~"":I"'...r,:_.
~:~ª·t~~1~~~~·~!~~~~~5;;;~
•.-.-.- ._... .... '''. - - '--'-- ....-:'i'~~
~-- ..-.-.- _ - . ; ._ ---
q~;~~~~~;;
- ~;:ii:;~ ;~::-:-:
"-
:~~M~..k~:t.~~~:-
l~"/' •
-''''0:" .. r : . \ t " - w · ".
21
o Telauxiofônio, a quinta-essência da telefonia com
fios em virtude do vigor e da clareza com que transmi-
te a voz articulada a grandes distâncias, os físicos euro-
peus e norte-americanos transformaram-no num pode-
ros(ssimo auxiliar do "Teatrofônio", ou seja: do "Tele-
fônio Alto-falante". Mas é de mister advertir que eles
adotam um aparelho receptor da .nota musical ou som
articulado para cada instrumento dos que compõem a
orquestra, enquanto o sábio brasileiro, deixando muito
atrás os seus colegas estadunidenses, só precisa de um
aparelho receptor, ainda que sejam muitos os instru-
mentos musicais e as vozes cantantes em concerto.
. O mérito cresce de ponto, em se considerando que
os inventores europeus e americanos dispõem de ope-
rários mecânicos inteligentrssimos, e de fábricas e la-
boratórios onde escolher as peças que a feitura de seus
mecanismos requer. O Rev. Padre Landell tem de con-
ceber e executar ele mesmo os aparelhos, sendo a um
só tempo o sábio que inventa, o engenheiro que calcu-
la e o operário que forja e ajusta todas as peças de com-
plicad(ssimos mecanismos.
Essa última conquista cientrfica, que, fazendo pro-
d (gios de habilidade e dando provas da mais remonta-
da sabedoria, conseguiu alcançar o Rev. Padre Landell,
constitui notabil (ssimo cap(tulo de progressos frsico-
-mecânicos, capaz de eternizar o nome de seu inventor.
Mas acontece que o humilde sacerdote se fecha em sua
modéstia habitual, e - em vez de dormir sobre os lou-
ros que, por justos e bem merecidos, lhe tributam os
poucos amigos e admiradores que tem a seu lado, ca-
pazes de compreender o sábio e avaliar o valor de seus
inventos - trabalha sem cessar, para honrar cientifica-
mente a Pátria e glorificar O nome que carrega.
Bem haja o grande frsico-qu(mico brasileiro, que
deu ao estudo e à resolução dos mais profundos proble-
mas frsico-qu(micos o fruto inteiro de sua vida, e aos
39 anos de idade descobre novas leis relativas a esse
fluido lev(ssimo que enche o espaço universal, enfei-
xando-as e ordenando-as com precisão matemática den-
22
tro de sua soberba e bel (ssima teoria, por ele mesmo
denominada "telúrico etérea", como resultância de seu
ass(duo estudo acerca da "unidade das forças trsicas".
Dessa descoberta fez derivar o sábio brasileiro as
surpreendentes invenções que há pouco citei, e a' His-
tória desta terra, um dia, o consagrará, quando o tem-
po e os fatos justificarem o imenso mérito de suas
obras maravilhosas.
Seja-me permitido, agora, consignar nestas colu-
nas os mui felizes resultados que obteve, faz seis meses,
meu Rev. amigo Padre Landell, experimentando no Al-
to de Sant'Ana, na presença do Cônsul britânico, Sr.
C. P. Lupton e outras muitas pessoas, diversos apare-
lhos de telefonia e telegrafia com e sem fios, tudo
como constam das "várias" do Jornal do Commercio,
do Rio, dos dias 10 e 16 de iulho deste ano.
Mas quantos e que cruéis sacritrcios de tempo, de
dinheiro e de saúde custam ao Rev. Padre Landell as
suas invejáveis conquistas cientrficas! Quantas e que
amargas decepções experimentou, ao ver que o Gover-
no e a Imprensa de seu PaIs, em lugar de o alentarem
com o aplauso, incentivando-o a prosseguir na carreira
triunfal, fizeram pouco ou nenhum caso de seus notá-
veis inventos!
Se o Rev. Padre Landell houvesse nascido na Ingla-
terra, Alemanha ou Estados Unidos, tão logo as suas
tentativas de telefonia' sem fio demonstraram o bom
caminho em que o sábio inventor havia colocado os
termos resolutivos de seu grande problema, Governo,
Imprensa, banquei ros e Povo, como sucedeu na Espa-
nha há alguns anos com o submarino Peral, ter-se-iam
apressado em prestar-lhe todo o gênero de recursos, até
que chegassem a uma feliz conclusão as suas descober-
tas cientrficas. Mas o Rev. Padre Landell é brasileiro, e
do Brasil já disse o famoso naturalista Agassiz que "tu-
do é grande, menos os homens", frase que, ao pronun-
ciá-Ia eu perante ele, em tom de queixa, pelo esqueci-
mento ou pouca atenção que os compatriotas presta-
vam a seus prodigiosos inventos, foi imediatamente
contestada, com a bondade angel ical que o caracteriza,
23
e com a expansão franca e cordial tão peculiar aos fi-
lhos do Rio Grande do Sul, mais ou menos nestes
termos:
- "Não, meu amigo, não é de todo certa a aprecia-
ção do naturalista, e ainda meno~ aplicando-a no meu
caso pessoal. Asseguro-Ihe que não só o Brasil é grande
pelas galas e riquezas que Deus lhe deu, mas também
seus filhos o são. Acontece que os brasileiros, com ra-
ras exceções, não têm toda a capacidade cientrfica ne-
cessária para me acompanhar nas diversas fases que re-
vestem o estudo e a resolução dos complicados proble-
mas que tenho nas mãos. E óbvio que aqueles que não
compreendam bem uma razão cientrfica não possam
enquadrá-Ia em seu justo mérito, nem tampouco
aplaudir-me e ajudar-me com recursos para prosseguir
no estudo e no trabalho. Com certeza, supõem que vi-
vo sonhando entre utopias cientrficils de utilidade apa-
rente. Tenho, entretanto, a consoladora esperança de
que, em curto interstrcio, minhas obras cientrficas bri-
lharão como o sol do meio-dia, em virtude da sorte de
outros inventores que, mais afortunados do que eu,
irão descobrindo os meus próprios inventos, concebi-
dos e executados por minhas próprias mãos no silên-
cio de minha pobre e reduzida oficina, onde a ciência
manda e a experiência executa, antes de os sábios da
~uropa e da América darem forma tang(vel, útil, e
aplicação pública a obras iguais ou similares ãs minhas.
Bem sei que, em coisas de ciência, o que avança em
relação ã sua época, não deve esperar justiça dos con-
temporâneos. O que desejo é que o fruto de meus es-
tudos se traduza em proveito e glória de minha Pátria,
e em holocausto ao Deus Supremo, que me inspira em
minhas investigações e me ilumina com suas divinas lu-
zes para penetrar e ordenar, ã minha maneira, esses
fatores interessantfssimos da Criação, que nos ligam
aos outros planetas, estabelecendo comunicação entre
as esferas mais remotas e as entranhas da terra que pi-
samos. Só por isso, dou-me por bem recompensado das
pesadas vigOias, do contrnuo trabalho e das infinitas
24
penúrias que me custam as invenções que você e alguns
íntimos amigos conhecem pormenorizadamente, e o
público somente por alto."
Julgue o Brasil, agora, seu eminente filho e avalie
suas notáveis obras.
Ainda que a pessoa e a fama do Padre Landell de Moura -
fama um tanto confusa e lendária, diga-se em tempo - não nos
fossem desconhecidas, a leitura desse artigo deixou-nos viva-
mente impressionados, e, ao cotejá·lo com o texto do telegrama
inicialmente transcrito, sentimo-nos subitamente assaltados por
um pensamento inquietante: Estariam o Padre Landell de Mou-
ra e o Brasil sendo furtados em sua glória?
Já agora, cheios de ansiedade, di rigimo-nos imediatamente
ao arquivo do Jornal do Commercio e, excitados, pusemo-nos a
manusear a coleção relativa ao ano de 1900.
E lá estavam efetivamente, nos dias 10 e 16 de junho (não
"de julho", como consta do artigo), as "várias" citadas pelo en·
tusiasta e indignado Dr. Botet, confirmando o êxito das de-
monstrações cientrficas do padre, que, possivelmente por ser es-
panhol o correspondente desse jornal, em São Paulo (talvez o
próprio Dr. Botet), é mencionado apenas com o sobrenome ma-
terno: Landell.
Assim está redigida a "vária" do dia 10:
"No domingo próximo passado, no Alto de Sant'
Ana, cidade de São Paulo, o Padre Roberto Landell
fez uma experiência particular com vários aparelhos
de sua invenção, no intuito de demonstrar algumas
leis por ele descobertas no estudo da propagação do
som, da luz e da eletricidade, através do espaço, da
terra e do elemento aquoso, as quais foram coroadas
de brilhante êxito.
Estes aparelhos, eminentemente práticos, são, co-
mo tantos corolários, deduzidos das leis supracitadas.
Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, o
Sr. P. C. P. Lupton, representante do Governo Britâ-
nico, e sua família."
25
"Ao Sr. P. C. P. Lupton dirigiu o Padre Roberto
Landell a seguinte carta:
"Conquanto sejam muitos os aparelhos que tenho
imaginado para demonstrar algumas leis, em parte
desconhecidas pelo mundo científico, as quais foram
por mim descobertas no estudo da propagação do
som, da luz e da eletricidade, através do espaço, da
terra e do elemento aquoso, todavia, por falta de re-
cursos e de bons mecânicos de minha inteira confian-
ça, apenas cinco serão exibidos, a saber: o 'Telauxio-
fono', o 'Caleofono', o 'Anematofono', o 'Teletiton' e
o 'Edifono', todos deduzidos, como tantos corolários;
das leis supracitadas.
"Estes aparelhos são eminentemente práticos e po-
dem desde já prestar bons serviços.
"O 'Telauxiofono'* é a última palavra, a meu ver,
sobre telefonia com fio, não só pelo vigor e inteligibi-
lidade com que transmite a palavra, mas também por-
que, com ele, se obtêm todos os efeitos do telefone
'alto-parlatore' e do 'teatrofone', com esta notável di-
ferença, que, tratando-se da teatrofonia, é bastante
um só transmissor por maior que seja o número dos
concertantes.* * Além disso, com o 'Telauxiofono', o
problema da telefonia ilimitada tornar-se-á uma rea-
lidade prática e económica.
"O 'Caleofono', como o precedente, trabalha tam-
bém com fio, e é original porque, em vez de tocar a
campainha para chamar, faz ouvir o som articulado
ou instrumental. E mu ito apropriado para os escri-
tórios. ***
"O 'Anematofono', com o qual, sem fio, obtêm-se
todos os efeitos da telefonia comum, porém com mui-
to mais nitidez e segurança, visto funcionar ainda
mesmo com vento e mau tempo. E admirável este
aparelho, pelas leis inteiramente novas que revela,
.. Nesta mesma "vária", este aparelho aparece com as denominações
de "Telouxiafono". "Teloxiafono" e 'Telauxiofone".
.... O moderno microfone!
lO . . . O atual "Telespeaker"!
26
como, outrossim, o que se segue.
"O 'Teletiton', sorte de telegrafia fonética com o
qual, sem fio, duas pessoas podem-se comunicar, sem
que sejam ouvidas por outra. Creio que com este meu
sistema poder-se-á transmitir, a grandes distâncias e
com muita economia, a energia elétrica, sem que seja
preciso usar-se de fio ou cabo condutor. (O grifo é
nosso.)
"Disse 'com este meu sistema' porque não faço uso
de nenhum dos aparelhos ou das peças até hoje imagi-
nadas para este fim como bem para a cabal resolução
do magno problema da telegrafia sem fio.
"O 'Edifono', finalmente, serve para dulcificar e
depurar das vibrações parasitas a voz fonografada, re-
produzindo-a ao natural. Este aparelho tornar-se-á o
amigo inseparável dos músicos compositores e dos
oradores.
"São estes os aparelhos que ~erei a subida honra de
apresentar a V. Ex~, os quais cederei de bom grado a
quem mais vantagens me oferecer; caso, porém, as
propostas que porventura me forem feitas não com-
pensem os imensos sacrifrcios que tenho feito, nem
sejam adequadas aos lucros que os proponentes po-
derão haurir destes aparelhos, desde já declaro oficial-
mente a V, Ex~ que farei deles doação ao Governo
Britânico ou a qualquer Instituição Universitária, a
fim de que, com o fruto da exploração dos mesmos,
abram, na Inglaterra, duas casas para amparo e educa-
ção dos filhos e das filhas desses bravos que têm su-
cumbido nos campos dessa terrlvel pugna anglo-trans-
vaaliana, com a condição que me dêem o necessário
para viver e para continuar com os meus estudos e ex-
periências cientificas."
Embora com a leitura dessas duas "várias" e do artigo do
Sr. Botet, parte de nossas dúvidas se tivesse dissipado de nossa
mente, com relação à existência real dos aparelhos menciona-
dos, ficaram-nos ainda, em virtude de nosso total desconheci-
mento da matéria, muitas e muitas outras, teimosas ou tlmidas,
relativamente à prioridade dos inventos enunciados e à autenti-
27
cidade das leis por ele formuladas.
Afinal de contas, até aquele momento, tudo, ali, não passa-
va de simples notícias e artigos de jornais apenas informativos
sem nenhuma autoridade científica, não obstante a austeridade
dos órgãos que os estampavam e a honestidade e a sabedoria,
por nós não ignoradas, do signatário da surpreendente carta.
Tudo isso, entretanto, se, pelo lado histórico-científico, estava
a exigir de nós investigação aprofundada daquela affaire, pelo
lado afetivo e humano, a curiosidade e o respeito que votáva·
mos à sua memória pediam-nos uma explicação para a duplici-
dade de atitudes existente entre as palavras que o Sr. Botet atri-
bu ía ao Padre Landell de Moura, no final de seu artigo, e as que
constavam da segunda parte da carta endereçada ao Sr. Lupton.
Em verdade, na carta de junho, em cujas entrelinhas trans-
parece, senão irritação, um grande desencanto da terra natal,
víamos um Cientista-Padre oferecer, mediante condições, a um
país estrangeiro, cinco de seus inventos; no artigo do Sr. Botet,
escrito cerca de sete meses após, víamos um Padre-Cientista,
desprendido, cheio de cordura, de compreensão e de piedade,
numa comovente profissão de fé patriótica, dar-se "por bem
recompensado" por Deus, e desejar que o fruto de seus estudos
se traduzisse em proveito e glória de sua Pátria.
Que teria arrastado o generoso Padre Landell de Moura a
tomar a decisão - desesperada, diríamos nós - de despojar-se
de seus próprios inventos e ir doá-los a um país estrangeiro ou
às suas instituições? Que fatos posteriores t~riam determinado
a não entrega dos mesmos? O desinteresse da Inglaterra pela
doação? Pouco compensadoras as propostas recebidas? Falta de
licitantes para seus aparelhos? A reconsideração de seu gesto,
com a retirada pura e simples da oferta? Por quê? Caíra em si
o bom padre e arrependera-se em tempo?
Somente o conhecimento completo e profundo de sua
vida e de suas obras, de seu caráter e de sua sensibilidade, dos
acontecimentos em que se vira envolvido e as circunstâncias em
que os mesmos se haviam desenrolado, poderiam dar-nos respos-
ta satisfatória a tantas perguntas intranqüilas.
E decidimos, então, de aí em diante, interessar-nos, com
real e fervoroso empenho, pelo Padre Landell de Moura, no sen-
tido de averiguar, definitivamente, e em primeiro lugar, o que
28
havia de verdade verdadeira em todas as fabulosas histórias que,
sobre sua pessoa e prodigiosos inventos, nos habituáramos, des-
de menino, a ver comentadas e debatidas, não apenas nos serões
familiares, mas também nas rodas de Café de nossa cidade natal,
num desafio à nossa curiosidade sempre adiada.
29
A VERDADE COMEÇA A APARECER ATRAVEs
DA MENTIRA CONSAGRADA
31
passamos a mover céus e terras, na caça fatigante de documen-
tos, no penoso trabalho de localizar testemunhas idôneas e in-
formações fidedignas que nos ajudassem a descobrir aquele se-
gredo que se ocultava sob uma crosta de quase cinqüenta anos
de silêncio. Depois de uma interminável série de indagações, pes-
quisas e até súplicas e impertinências, eis que a sorte nos brinda
com uma surpresa: membros da família do Padre Landell de
Moura, sabedores de nosso intento, confiam-nos o que ainda
resta de seu precioso arquivo.
E aqui nos encontramos hoje, para revelar uma das mais
gloriosas e tristes histórias que já houve em nossa Pátria tão
desagradecida. .
•••
32
perdendo um tanto do valor absoluto, quase supersticioso, que
sempre lhes emprestamos, e vamos vendo-as dentro de sua
realidade relativa, dentro de seus méritos contingentes, con-
dicionais.
Chegada, pois, a ocasião de arrancar do esquecimento e da
ingratidão dos homens - principalmente da ingratidão dos bra-
sileiros - a memória do Padre Roberto Landell de Moura, rei-
vindicamos para nós, para o Rio Grande do Sul, para o Brasil,
algumas das maiores conquistas cientificas dos tempos moder-
nos, no campo da eletricidade: a Lâmpada de 3 electr6dios, a
Telefonia sem fio e a Telegrafia sem fio, afora outras de menor
importância, como o Microfone moderno, o Telespeaker etc.
Não faltará quem veja nessa nossa afirmação, de tão re-
pentina e categórica que ela é, senão uma ris (vel manifestação
chauvinista, pelo menos um produto de rematada ingenuidade,
quando não de leviandade e ignorância, pois é por demais sabi-
do que foi o italiano Guilherme Marconi o primeiro a transmi-
tir, sem fios, mensagens à distância.
Isso é o que quase todos garantem.
No entanto, não é bem assim. Bastante contestável é a
prioridade de Marconi em transmissões desse gênero, et pour
cause. mais discutlvel ainda a originalidade de sua descoberta,
baseada toda ela, como se sabe, nas ondas elétricas de Hertz.
Não levando em conta as experiências de Henry, Hertz,
sir Lodge, Branly, Righi (o mestre de Marconi e, possivelmente,
causa da ida precipitada de seu disc(pulo para a Inglaterra, onde
foi patentear "sua" invenção, depois de seu pa(s ter-se recusado
a aceitá-Ia... l. antes de Marconi um outro já havia transmitido
mensagens a distância, e sem fios, com resultados práticos posi-
tivos: o nosso patr(cio Padre Roberto Landell de Moura!
Realmente, não. obstante explorar um campo diferente -
o das ondas luminosas - foi o desconhecido cientista brasileiro
Padre Roberto Landell de Moura - reafirmamos - o primeiro
e o verdadeiro realizador do T. S. F., além de haver sido o mais
original.
Longe de querermos apequenar o "concurso" de Guilher-
me Marconi nesse setor - o que seria tarefa inglória a par de vã,
já agora - manda a verdade que se diga que ele foi apenas o
primeiro a patentear o Telégrafo sem fio (e com que presteza o
33
fezl), realização essa que, ainda a negar-se ser de Landell de
Moura, não só pela data das patentes, mas também em virtude
dos sistemas empregados por este, ainda assim não seria exclusi-
vamente de Marconi. A glória dessa extraordinária realização
deverá ser, de justiça, dividida, principalmente, com o grande f(-
sico francês Edouard Branly.
Que estudioso dos fenômenos electromagnéticos desco-
nhece, hoje, que Branly fez, em 1885, na Universidade Católica
de Paris, as primeiras experiências sobre os efeitos das centelhas
em circuitos fechados? Quem ignora que Marconi, aproveitan-
do-se sagazmente dessas experiências, como utilizando-se do
radiocondutor, ou coesor, descoberto pelo mesmo Branly em
1890, quando este o comunicou à Academia de Ciência, de Pa-
ris (e sem o qual teria sido imposs(vel a realização do Telégrafo
sem fio), bem como do gerador de Hertz e do receptor de Po-
poff, ampliou apenas o raio de ação das transmissões sem fio,
dando-lhe a aplicação prática da transmissão e recepção dos si-
nais elétricos - seu essencial e grande mérito - resultado, aliás,
a que fatalmente teria chegado o próprio Branly, não fora a
rapidez um tanto suspeitosa com que Marconi patenteou seu
aparelho.
Ora, sabe-se que foi somente em 1895, com a idade de 21
anos apenas, que Marconi fez a primeira dissertação sobre tele-
grafia sem fio. Sabe-se que o ainda quase adolescente f(sico italia-
no patenteou sua descoberta (Patente nC? 12039) logo no ano se-
guinte, a 12 de setembro de 1896, na Inglaterra, para onde, co-
mo já foi dito, tão inteligentemente sé transferira. Sabe-se tam-
bém que seu célebre primeiro radiograma, passado em março de
1899 - ou seja cerca de três anos após a obtenção da pàtente! -
foi dirigido precisamente a Edouard Branly, em reconhecimento
à "contribuição" do velho sábio francês à sua portentosa inven-
ção, que, em verdade, consistia apenas em um pequeno dispo-
sitivo detector magnético, substitu (do, de resto, três meses de-
pois de seu aparecimento, pelo detector electrolrtico, de origem
alemã ... Sabem-se, finalmente, os termos dessa mensagem, em
cujas entrelinhas mal se disfarça certo sentimento de culpa ten-
tando sufocar o grito da consciência: Marconi envia a "Mon-
sieur" Branly seus respeitosos cumprimentos, através da Man-
cha, sendo estes brilhantes resultados devidos em parte à sua
obra.
34
Isto esclarecido, saiba-se agora que as primeiras experiên-
cias de transmissão e recepção sem fio, efetuadas com pleno
êxito pelo nosso patr(cio Padre Roberto Landell de Moura, ex-
periências essas baseadas nas ondas landellianas, de que falare-
mos mais adiante, tiveram lugar entre os anos de 1893 e 1894!
Saiba-se mais que, se seus inventos só foram patenteados, um
em 1900, e outros mais tarde - o que lhe tirou apenas a priori-
dade cientifico-oficial - deve-se isso exclusivamente às desu-
manas perseguições de que foi vitima aquele eminente clérigo,
e às sérias dificuldades financeiras com que lutou em toda a
sua existência.
Entretanto, para que se tenha uma idéia do quanto os
conhecimentos do Padre Landell de Moura, já nessa época, es-
tavam avançados no campo da telecomunicação, é suficiente
saber-se que de sua Patente submetida ao julgamento do The Pa-
tent Office, de Washington, em 1901, já consta, como demons-
traremos na segunda parte deste livro, a recomendação do em-
prego das ondas curtas para aumentar a distância das transmis-
sões!
E Guilherme Marconi, a tudo isso?
Ah! este insistia em declará-Ias completamenté inúteis na
prática, para somente vinte anos mais tarde, em 1924, reconsi·
derar seu enorme errO (tanto maior quanto quem o cometia
era um sábio tido e havido como o inventor do Telégrafo sem
fio). dando o que, nos meios radiofônicos, se conhece pelo céle-
bre passo atrás de Marconi. ..
Mas, afinal de contas - insistirão os leitores, com justifi-
cada curiosidade - quando se dirá quem foi esse tão louvado e
ilustre desconhecido Padre Roberto Landell de Moura? Como
era ele? Onde nasceu? Onde estudou? Como viveu e de que ma-
neira morreu? E, sobretudo, que resta de .todos os seus propa-
lados inventos?
Um pouco de paciência, e lá chegaremos.
35
o HOMEM, O PADREE O CrENTISTA
SEU NASCIMENTO E O NASCIMENTO DE
SUAS TEORIAS
37
Aquela batina esguia como a sombra de um duende, aque-
le deslizar silencioso e m/stico pelos recantos da velha cidade,
ou na cripta do templo tranqüilo como uma visão do mundo
pacfficante do incenso, davam, à primeira vista, uma impres-
são forte, mas fugidia 'como a saudade de um romance morto.
E assim era, efetivamente.
Roberto Landell de Moura não podia passar diante dos
olhos de quem quer que fosse, sem neles deixar impressa para
sempre a marca visual de sua passagem. Sua figura, singular e su-
gestiva, riscava indelevelmente o cérebro dos que o contempla-
vam, atritando imaginações, sugerindo hipóteses fablllosas ou
provocando conjeturas melancólicas. Vendo-o, uma só vez que
fosse, era-se obrigado a pensar:
- Aí vai um homem que viveu, por certo, um romance,
ou sofreu uma tragédia, ou carrega consigo o cadáver de um
sonho.
E era verdade.
Vejamos seu sonho, seu romance e sua tragédia:
Nasceu Roberto Landell de Moura no dia 21 de janeiro
de 1861, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande. do Sul, na en-
tão Rua de Bragança, hoje Marechal Floriano, numa casa que
fazia esquina com a antiga Praça do Mercado, tendo sido batf-
zado, conjuntamente com sua irmã Rosa, a 19 de fevereiro de
1863, na Igreja do Rosário, de cuja freguesia, anos mais tarde,
e até ao falecer, viria a ser o vigário. Era ele o quarto de doze
irmãos, sendo seus pais o Sr. Inácio José Ferreira de Moura e
D. Sara Mariana Landell de Moura, ambos descendentes de tra-
dicionais famílias sul-rio-grandenses.
Remediados e muito religiosos, colocaram-no seus pais no
Colégio dos Jesu ítas, em São Leopoldo, localidade próxima da
Capital gaúcha, onde' fez os primeiros estudos. Terminado que
foi o curso de humanidades, tirado todo ele com excepcional
brilhantismo, por volta de 1879 transferiu-se o jovem Roberto
para a Corte, onde, segundo uns, se matriculou na Escola Poli-
técnica, e, segundo outros. se empregou num ·armazém de secos
e molhados, como caixeiro de balcão.
Esse pormenor, sem dúvida importante, foi-nos impossí-
vel esclarecer. O que é certo, porém, é que ele já se encontrava,
havia alguns meses, na Capital do Império, quando seu irmão
38
Guilherme, que ia seguir a carreira eclesiástica, passou pelo Rio
de Janeiro, em trânsito para Roma.
Essa visita de Guilherme foi decisiva na vida de Roberto.
Por influência daquele, Roberto, que era também dotado de fer-
voroso esp (rito m fstico, decidiu, de repente, abandonar o co-
mércio (ou a Escola Politécnica) e abraçar o sacerdócio - o que
ia, de resto, ao encontro dos desejos de seus pais, que sonhavam
vê-lo padre.
Homem de resoluções prontas e firmes, Roberto segue ime-
diatamente para Roma, em companhia do irmão. Ali ingressa no
Colégio Pio Americano, e passa, concomitantemente, a freqüen-
tar a Universidade Gregoriana, na qualidade de aluno de trsica
e qu (mica, para o estudo de cujas matérias manifestara, desde
criança, a mais pronunciada' incl inação.
Diante, porém, de tão repentina deliberação, não é ilógico
supor-se que, embora fosse ele sincero na escolha da nova car-
reira e verdadeira sua vocação para o sacerdócio, Roberto jamais
teria ido para Roma se, ao lado do Colégio Pio Americano, não
funcionasse uma Universidade Gregoriana. A ciência e a religião,
a
por intermédio da voz de Guilherme, teriam falado Roberto
a mesma linguagem sedutora - se é que a primeira não tenha
falado mais eloqüentemente.
Foi em Roma que o jovem seminarista principiou a conce-
ber as primeiras idéias em torno de suá teoria sobre a Unidade
das forças físicas e a harmonia do Universo. Ordenado sacerdo-
te a 28 de novembro de 1886, e, "já de volta para o Brasil,
quando viajava de Roma para Paris, um fenômeno muito co-
mum que se observa naquelas regiões, durante o estio, veio con-
firmar-lhe ainda mais fundamente o ponto de vista que, pouco
mais tarde, o levaria às suas prodigiosas descobertas e invenções.
Esse fenômeno é o mesmo que se verifica muitas vezes em nosso
pa(s, especialmente em nossas cordilheiras, quando o ar, aque-
cido, parece galopar no espaço - fenômeno esse que também se
observa na combustão dos campos".
De retorno ao Rio de Janeiro, onde logo se espalhou seu
nome comó trsico de valor, foi residir em uma casa de padres
então existente no hoje desaparecido Morro do Castelo. Ali per-
maneceu ele cerca de dois meses, durante os quais, conforme
confidenciou, certa ocasião, ao conhecido jornalista porto-ale-
39
grense Sr. Arquimedes Fortini, nas vezes em que, por motivo
de enfermidades do coadjutor do capelão do Paço Imperial, seu
amigo, ali servira a pedido deste, mantivera longas palestras de
caráter científico com D. Pedro II, que "desde 1856 seguia aten-
to o trabalho dos sábios sobre a transmissão do som": e, dez
anos antes, na Exposição de Filadélfia, havia feito a notorieda-
de e, com isso, a fortuna de Graham Bell, então passando por
ser o inventor de um aparelho telefônico... já antes inventado
e patenteado por 'Elisha Gray, como o reconheceu, em 1888,
o Tribunal Superior dos Estados Unidos...
Depois dessa curta estada na Corte, a 28 de fevereiro de
1887, foi o Padre Landell de Moura nomeado capelão do Bon-
fim e lente de História Universal do vetusto Seminário Episco-
pal, de Porto Alegre, cargo esse que desempenhou com invulgar
capacidade e eficiência. Nomeado em 1891 vigário paroquial
em Uruguaiana, demorou-se menos de um ano naquela cidade
fronteiriça, sendo, em 1892, transferido para o Estado de São
Paulo, onde, em conseqüência, talvez, de seu temperamento de
bravo que não recuava diante de insolentes e valentões, de sua
palavra candente como um cáustico de brasa sobre as chagas do
pecado, do abuso e da impenitência, e de suas atitudes desteme-
rosas contra os maus, os hipócritas e os falsos profetas (a exem-
plo de Jesus, o Padre Landell de Moura não vacilava em empu-
nhar o azorrague para expulsar os vendilhões do templo), foi,
sucessivamente, no curto período de sete anos, vigário em San-
tos, Campinas e San!'Ana.
Era então o Padre Landell de Moura, em realidade, ho-
mem violento, destabocado, vaidosp e atrabiliário, como que-
riam algumas "ovelhas negras" incomodadas com a vigilância
do pastor?
Não. Era, apenas, um Sacerdote um tanto fora dos padrões
comuns. De caráter forte e esp(rito combativo, mas movido de
fé consciente e corajosa, forrado de imensa bondade, ele próprio
parece retratar-se quando, em um de seus velhos manuscritos,
dissertando sobre a orientação que devem seguir os confessores
em relação aos penitentes favorecidos por Deus com O dom
40
extraordinário da oração de unlao mrstica, assim os descreve:
"1) Estas pessoas não pecam mortalmente, nem mesmo venial-
mente, de modo franco e voluntário; 2) embora, às vezes, pare-
çam soberbas, cheias de si, devido ao seu temperamento e edu-
cação, quando se trata da própria pessoa ou são elogiadas por
algum motivo, aliás justo, geralmente recebem isso com um
certo tal qual indiferentismo se não redundar em proveito das
almas ou da glória de Deus, ou se mostram constrangidas; 3) elas
não têm apego às honrarias nem às dignidades, embora, geral-
mente falando, sejam cheias de uma edificante e respeitosa dig-
nidade; não têm amor ao dinheiro nem aos bens caducos desta
terra; são sóbrias no comer, no beber e no ocupar-se de sua pró-
pria personalidade ou de suas obras; 4) são simples, mansas, de-
licadas, amorosas, condescendentes, porém cheias de energia e
fortaleza quando se trata de combater o erro, a mentira, a sedu-
ção, a corrupção e a imoralidade; 5) conquanto amem a modés-
tia e a humildade, são terrrveis quando se levantam contra a
prepotência, o servilismo e o abuso de autoridade; 6) não con-
servam rancor, perdoam facilmente as injúrias e sentem proful1-
damente quando, em cumprimento de seu dever, têm de magoar
ou contrariar o próximo etc."
Assim era ele.
* * *
41
tamente a lei seguinte: Todo movimento vibratório tende a
transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e
uniformidade de seus movimentos ondulatórias, e na razão in-
versa dos obstáculos que se opuserem à sua marcha e produção.
Mas não parou aí o ousado padre. Espírito incontentado,
sempre em busca do "mais além", formula então, audaciosa-
mente, o seguinte grande postulado, que foi, talvez, a causa
principal de todos os seus sofrimentos, pelo grande escândalo
que provocou entre seu inculto rebanho: Dai-me um movimen-
to vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa des-
ses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sób nossos
pés, e eu farei chegar minha voz até lá.
Como? Pois então havia um Ministro de Deus que insinua-
va a pluralidade dos mundos habitados, com os quais se poderia
falar?
Esse postulado, que pretendia ser um grande bem, foi o seu
grande mal.
Era necessário emudecer esse padre herético. Urgia fazê-lo
caiar-sei Mas de que maneira? Estrangulando-lhe a voz, antes
que ela pudesse chegar até lá.
E foi o que procuraram fazer.
O que não puderam impedir, entretanto, foi que ela fizes-
se, pelo menos, uma parte, do percurso.
E aí estão hoje as estações de rádio a atestá-lo!
42
AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS
43
finalidade de 'interessar as autoridades e conseguir financiadores
para o aperfeiçoamento e exploração industrial de seu invento,
tiveram lugar, como já foi dito, na capital paulista, do alto da
Avenida Paulista ao Alto de Sant'Ana, numa distância aproxima-
da de oito quilómetros, em linha reta - mais de um ano antes,
portanto, da primeira e elementaríssima experiência realizada,
por intermédio das ondas hertzianas, por Guilherme Marconi, em
Pontéquio, perto de Bolonha, na primavera de 1B95, e cerca de
seis anos antes de seu primeiro radiograma...
* * *
Vencera o Padre Landell de Moura as distâncias, finalmente,
sem, todavia, a despeito de toda a evidência dos êxitos alcança-
dos, conseguir vencer, mais que a incredulidade, a má vontade da
maioria de seus patrícios, que, havia já algum tempo, vinham
enxergando nele um feiticeiro perigoso.
E o drama de sua renhida luta contra o espírito superstici0-
so e rotineiro da época, ganhou de intensidade e virulência.
- Ele é um impostor, um mentiroso, um mistificador I
ganiam uns.
- E um louco e um bruxo! - vociferavam outros.
- E um padre renegado, que tem partes com o Demónio!
E, em suma, mais do que tudo isso, para um Sacerdote:
- E um esp írita!
Se, a princípio, o bondoso padre sorriu superiormente de
todos esses disparates e acusações, deixou de sorrir, de repente,
quando certa tarde, ao regressar de uma visita a um moribundo, a
quem fora ministrar a extrema-unção, encontrou a porta da casa
paroquial arrombada e seu interior em completa desordem.
Ladrões?
Antes tivessem sido ladrões, pois o que ali se passara s6 en-
contra paralelo nas cenas bárbaras verificadas na Idade Média, du-
rante as perseguições aos feiticeiros: tendo repercutido na cidade
a notícia de que havia o padre, dois dias antes, na capital bandei-
rante, conseguido, através de sua máquina infernal, conversar
mais uma vez com pessoas colocadas a quilómetros de distância,
meia dúzia de fiéis desvairados, como um bando de energúme-
nos, havia invadido seu modesto mas precioso laboratório e des-
truído todos os seus aparelhos, ferramentas e utensílios,
44
E nesse trágico dia o sábio padre chorou - chorou "como
Jeremias sobre a Jerusalém de tantos sonhos", como no soneto de
Raimundo Corrêa, que ele sabia de cor e tanto gostava de recitar.
Mas em breve refazia-se do abalo. Não era homem que se
deixasse acovardar e vencer, ele que vencera os mistérios da natu-
reza. Dos fios arrebentados, recolhidos aqui e ali, das peças ainda
aproveitáveis, peças tão custosamente adquiridas, umas, tão peno-
samente por ele próprio fabricadas, outras, pôs-se, em segredo,
com o aux(lio de alguns amigos fiéis, a reconstruir o seu maravi-
lhoso aparelho, e a trabalhar, com mais afinco, em outras inven-
ções.
Em 1900, finalmente, sempre perseguido por toda sorte de
vexames e dificuldades financeiras, consegue obter uma Patente
brasileira, sob o número 3279, expressamente concedida "para
um aparelho apropriado à transmissão da palavra à distância, com
ou sem fios, através do espaço, da terra e da água".
Terminaram ai suas atribulações? Não. Recrudesceram, em-
bora, já agora, aumentasse à sua volta o número de amigos e ad-
miradores esclarecidos, campineiros ilustres que se envergonha-
vam do espetáculo aviltante oferecido por um grupo de conter-
râneos ignorantes.
Mas se o Ministro de Deus perdoava, o sábio não se resigna-
va. Ainda ressentido com a violência de que fora vitima, ainda in-
conformado com a destruição de seus caros aparelhos, em cuja
construção gastara todos os seus minguados proventos e anos in-
teiros de estudo diuturno e de labor árduo e difrcil, magoado
com a hostilidade de uns e a chacota de outros, além da suspei-
ção e do indiferentismo com que era encarado pelas instituições
culturais e cientificas, pelas autoridades governamentais e pela
maioria dos jornais de seu pais, decide o desiludido sábio brasilei-
ro, num momento de amargor e de indignação compreenslveis e
que explicam sua carta de junho de 1900, doar seus inventos ao
Gove~no Britânico, depois de uma espetacular demonstração
pública de seus cinco inventos, entre os quais seu Telefone sem
fio, com que transmitiu e recebeu a voz humana, numa distância
aproximada, já agora, de 40 a 50 milhas.
Não sabemos que receptividade encontrou nos meios oficiais
ingleses o oferecimento feito pelo eminente rio-grandense, que,
pelo lado materno, era de descendência escocesa - o que talvez,
em parte, também explique o sentido de sua decisão.
45
Parentes e velhos amigos do padre, por nós consultados a
esse respeito, disseram-nos, uns, que o Sr. Lupton, que era ho-
mem formá lista e de poucas luzes científicas, não chegara a le-
var o oferecimento do Padre Landell de Moura ao conhecimento
da Inglaterra, por não acreditar na utilidade prática (e comer-
ciai, principalmente) da Telefonia sem fio; outros, que o cônsul,
tão deslumbrado ficara com invento tal, que prometia revolucio-
nar totalmente a ciência contemporânea, o aconselhara a trans-
ferir-se em seguida para a Grâ-Bretanha, a fim de lá patentear
seus inventos e, depois dessa formalidade necessária, doá-los en-
tão, diretamente, à ra'inha Vitória, para o que se prontificava a
conseguir de seu Embaixador as credenciais que o recomenda-
riam ao Governo de seu país - alvitre que o padre não aceitara
por ter, para isso, de custear de seu bolso todas as despesas de
passagem e manutenção; outros, ainda, com certa dose de iro-
nia, que o oferecimento fora efetivamente encaminhado, mas
que, por felicidade (ou infelicidade?). a burocracia anglo-saxôni-
ca era, como a nossa, tão emperrada, tarda e ramerraneira, que
os papéis referentes ao mesmo, dez anos mais tarde, ainda de-
viam estar transitando pelos canais competentes...
Seja como for, o fato é que, até hoje, nada se sabe a respei-
to. E foi bom que assim tivesse acontecido, pois que, seis meses
mais tarde, o cientista e o sacerdote davam-se as mãos, entravam
em acordo e faziam as pazes com o Brasil, como claramente se
vê do final do artigo do Dr. Botet.
Sim, Agassiz não tinha razão. O Brasil não tardaria a fazer-
lhe justiça, e a glória de seus inventos e descobertas ele só a da-
ria à sua querida Pátria I
Muito breve, entretanto, o pobre inventor teria de compre-
ender a dolorosa verdade do provérbio que afirma ninguém ser
profeta em sua terra. Esta continuava a olhá-lo com desconfian-
ça. Mais do que isso: corri medo supersticioso. Não havia quem
ainda mu rmu rasse ter ele pacto com o Demônio, como, de res-
to, já havia acontecido, em 1709, com outro padre, também
brasileiro, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o Voador, inven-
tor do aeróstato?
Por essa atormentada época de sua vida (e, lamentavelmen-
te, atormentada até por alguns padres de mentalidade tacanha!).
não faltou quem, revoltado, o aconselhasse a abandonar a bati-
na para dedicar-se inteiramente à ciência. Ele, porém, repeliu
46
imediatamente o conselho. Não! Isso ele jamais o faria! - de-
clarou - "não apenas pelo fato de ser de seu dever respeitar o
voto sagrado que fizera, ou pela obrigação em que se encontrava
de não desgostar seus pais, para os quais seu sacerdócio sempre
fora a maior aspiração, mas ainda por ser.esse, realmente, seu
destino e a verdadeira vocação de sua alma. Antes, preferiria re-
nunciar a qualquer renome ou glória que pudesse conquistar
com seus inventos, ou retirar-se por uns tempos do Brasil, para
ser esquecido. Além do mais, não via em que a batina fosse um
empecilho para servir-se a Deus, dentro de um laboratório ou
oficina, como ele, com ela, O servia dentro do templo".
E peremptório:
"- Quero mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é
inimiga da Ciência e do progresso humano. Indivíduos, na Igre-
ja, podem, neste ou naquele caso, haver-se oposto a esta verda·
de; mas fizeram-no por cegueira. A verdadeira fé católica não a
nega. Embora me tenham acusado de participante com o Diabo
e interrompido meus estudos pela destruição dos meus apare-
lhos, hei de sempre afirmar: Isto é assim, e não pode ser de ou-
tro modo. .. - E com amargura: - Só agora compreendo Ga-
lileu exclamando: E pur si muove!"
47
NA AM~RICA DO NORTE
49
Em 1902, O Padre Landel! de Moura enchia páginas, com suas invenções,
de grandes jornais estrangeiros, como o New Vork Herald.
50
conhecidas em Porto Alegre, onde gozavam do mais alto concei-
to - que a Patente não poderia ser-lhe concedida sem a apresen-
tação de um modelo do aparelho, para demonstrações práticas."
Ora, como já foi dito, seus primeiros aparelhos haviam sido
destru ídos, no interior de São Paulo, por um grupo de fanáticos
em fúria; quanto aos últimos, não os havia levado consigo. Não
teve pois o padre outro remédio senão demorar-se longo tempo
na América do Norte, onde pretendia permanecer apenas seis
meses - o que veio agravar ainda mais sua situação financeira,
já então bem difícil.
Dificílima, aliás. Em um dos cadernos que temos em nosso
poder, nos quais o Padre Landell de Moura registrava suas ob-
servações, esquemas, resultados de suas experiências e aponta-
mentos íntimos, encontramos, por sinal, uma curiosa previsão
de orçamento para essa viagem. Pela sua leitura, podem conhe-
cer-se os parcos recursos monetários de que ele dispunha, e ter
uma idéia das tremendas dificuldades por que deve ter passado
nos Estados Unidos.
Vemos ali escrito, a lápis de cópia:
51
I
.' .
.. _
..
_ ~._----_
_
_ _ _ ' - ..
._ _
_ _ . _ ~ . _ _ :t
__...._
.. _-.--,.,..,......-.......
..-.:a.~
.._ 'nO' _ .
_ _• _ . _ . _
c....... _-..
..
..
...-w-'~
'"._---~_ _._-~.
x.. ..__ " ' """'_01_..
..""_ .... -
"r
.. _~
..
....._
-_
-_..........--_---_.-....-_-_._--,
......
~-:-_
_------
.
"-
...
,
.).~I'ilcr...,( J"kn~_.....H'N"
.....,INN.r,.......,I/~_/I4'-~lIt"'l~
0'w/"'/ /~ / ..../ y ,y'l/,ul;;'vh ,#
:; :"~"- -:....,t6rr7'· ,~> .. N
~ r-';y'nnrr h""../ lWr /Á,W",,'''/"'IN"
.,,J...- /- "'''/,y /Á,.
-'_r'Y'/./r -:tt,.,,w' 4w.l-.uT-"/__•
AIr _ ÁN"',h./,..-/ -: -;.. 7
52
Entretanto, ainda para esses, The Patent Office exigia os
respectivos modelos. Fê-los. Uma vez apresentados estes, foram-
lhe concedidas, finalmente, as três Patentes, assim mesmo so-
mente depois de repetidas e meticulosas provas e contraprovas,
que consumiram dois anos. E que, dada a responsabilidade que
aquela República assumiria perante o mundo, com a expedição
do reconhecimento oficial de tão relevantes e grandiosos inven-
tos, que, fatalmente, viriam imprimir novas e imprevisrveis pers-
pectivas à civilização e às relações entre os povos, não seria
aconselhável registrá-los sem, antes, ter tido provas materiais
concludentes, positivas, da exatidão de suas teorias e da eficiên-
cia de seus aparelhos.
Cumpridas essas formalidades, foram-lhe entregues as Pa-
tentes sob os números 771 917, de 11 de outubro de 1904
(Transmissor de ondas); 775337, de 22 de novembro de 1904
(Telefone sem fio), e 775 846, da mesma data (Telégrafo sem
fio), conforme se prova com as fotografias, aqui apresentadas,
de cada fac-srmile.
53
o PATRIOTISMO DO PADRE LANDELL
55
.-
...v
-. I'
{./
'l
._,_- _--...... . . .- ""'"""" -
Cot _ _ I
""~..,
uI" jJlO.
1
- ._to.__...,., ." , __ '
... v
.-- .__-_.........
_-- -_--- ---,.---
...-~-_.-- --- ---.
._ -
4_a.-
.to-
..... _ .......- _ _ ... -..... _ _ a..-.
--- I~"
_ . _ --.
_.~.""._
__~ ~ _ .... _ . __
.....,.,. ~
. . . _ . . . . __.
__
T "'~
•
Capa da Patente concedida pelo Governo dos EUA ao Padre Landell de
Moura, acerca de seu aparelho de Telegrafia sem fio.
56
antes mesmo de seu desapego pelas coisas terrenas, brasileiro e
patriota. Já esquecido das violências e injustiças, dos agravos e
calúnias de que fora alvo, movido pela saudade da Pátria, essa
saudade avassaladora que, quando estamos longe de nossa terra,
nos faz imaginá-Ia acolhedora, reconhecida, generosa e perfeita,
recusou todas as propostas, desdenhou de todas as vantagens,
para lembrar-se unicamente do engrandecimento do Brasil. Em
sua cristian(ssima humildade de sacerdote, ficou impass(vel a
todas as promessas de fausto e de relevo mundano com que lhe
acenavam; em sua natural modéstia de verdadeiro sábio, o Pa-
dre Landell de Moura como que até procurava atenuar a reper-
cussão universal que seu nome estava alcançando, quase a pedir
perdão por haver nascido gênio:
- Não; desculpem-me. Agradeço infinitamente tamanha
generosidade; mas estes inventos já não mais me pertencem. Por
mercê de Deus, sou apenas o depositário deles. Vou levá-los
para a minha Pátria, o Brasil, a quem compete entregá-los à hu-
manidade.
Estas foram, aliás, as constantes de seu pensamento, os re-
frões de toda sua vida: Deus, Pátria e Humanidade.
Nesse sentido, encontramos entre seus papéis a cópia de
uma carta bastante expressiva. Nela, assim se exprimia o sábio
padre, em resposta a um oHcio que, em data de 2B de março
de 1905, lhe dirigira o Centro de Ciências, Letras e Artes, de
Campinas:
Botucatu, 8 de abril de 1905.
Amigo e Senhor.
57
, J'
"t.\L•• ~)r
/
,
.. o" ~
,.. - ....._
1:...""
'..,.-r,-",.... , ' ~.-
'
J .. ,!loI • • • u ,. ..r
..;M
"
-.,...
u." . _.un
'-:-''''-''~
-.. -
LO'
,, 1/
, f/
. . . .""" UITO _ _ .'" __ ._~ __" ..
••.•_
...... _
"',-..
_
"" ...".
"""'.,....
_ ..Lo._
-.- 'III --.. r.-.
... _ . • . - - w.n
__.
~rt'dS f~
L_.
-".--.-......_
M .;. __ .),. _ _..
O" _
)~_ _~
n.«.. tu .. _
_.,....,.
• ...,.... • _ . nu<
.
{Jú:i,L,d;' {Ii t. í;\Y.. l ',-Ir' ' ' '.• _
""... .....
e: °1;-
.....,
".'0'0." ". ,
.,,_ ... St="t_vrt:tat n ..VM
y
-.-
'''' .,
...- ~ ~
,.." "'" -._''''
_ - ._ -_ .....
..-...........
"''''tI
.
_ .. _to
'11."
~ ,
_ o.
•
Fac·simile da Patente obtida, nos EUA,pelo Padre Landell de Moura, a
propósito de um Transmissor de ondas, de sua invenção.
58
respondente, e que vos agradeço com toda efusão de
minha alma; faço votos ao Criador para que, em futu-
ro não remoto, possais ter ocasião de glorificar, não
a mim, mas sim Aquele que em meus estudos e pes-
quisas me ilumina e guia, para decoro da sotaina que
envergo, exaltação da Pátria e bem-estar da huma-
nidade.
Sou, com toda estima e consideração, de Vossa
Excelência, Criado e Amigo muito agradecido.
59
o TRISTE DESTINO DOS
INVENTORES NACIONAIS
61
vezes! - abre-lhe, bem contra a vontade do cientista, as colu
nas do Jornal do Commercio, em memorável entrevista sobre
suas invenções e descobertas.
Ficaram todos alerta com aquele roupeta escaveirado, seco
como um arenque e alto como um poste, que afirmava poder
falar até com a China, como se seu interlocutor estivesse à sua
frente, numa mesma sala. Sua reputação de ter "parte com o
sobrenatural" parecia confirmar-se.
Imediatamente após' sua chegada, dirigiu-se ele, por,escri-
to, ao então Presidente da República, Dr. Rodrigues Alves, so-
licitando de S. Ex~ dois navios de nossa esquadra de guerra, para
uma demonstração de seus inventos. O Presidente, homem culto
e superior, embora um pouco desconfiado, dias mais tarde man-
dou um de seus assistentes civis ter um entendimento pessoal
com o padre, a fim de saber a que distância desejava ele ficasse
um navio do outro, dentro da Guanabara.
Ora, falar em "distância" ao homem que riscara essa pa-
lavra dos dicionários, não deixava de constituir leg(tima gafe.
Landell de Moura, nessa ingenuidade que é a caracter(s-
tica dos homens de gabinete e de laboratório, ingenuidade que
ainda se "espanta de como haja alguém que faça perguntas ingê-
nuas, pois que é um permanente estado de esp(rito dos verda-
deiros sábios a convicção de que todos estejam no conhecimen-
to de seus conhecimentos, olhou-o de alto a baixo e retrucou:
- Distância? Dentro da ba(a?!. .. Não, doutor! Fora da
bafa, em alto· mar, e à distância máxima que for p'oss(vel.
Assombro do enviado palaciano:
- Quantas milhas, por exemplo, reverendo?
- As que quiserem ou puderem - afirmou com decisão.
Meus aparelhos podem estabelecer comunicação com quais-
quer pontos da Terra, por mais afastados que estejam uns dos
outros. Isto, presentemente, porque, futuramente, servirão até
mesmo para comunicações interplanetárias,
Coube, desta vez, ao oficial. . .-de-gabinete olhá-lo de alto
a baixo:
- Muito bem, reverendo. Farei S. Ex~ ciente do que me
diz, Chegado ao palácio, o assistente transmitiu sua impressão
ao Presidente:
62
- Excelência, o tal padre é positivamente· maluco. Imagi-
ne que ele chegou até a falar-me na possibilidade de conversar,
um dia, com outros mundos.'
No dia subseqüente, um telegrama muito amável da Secre-
taria da Presidência da República informava ao grande brasilei-
ro não ser possivel no momento, lamentavelmente, atender seu
pedido, devendo ele, por isso, aguardar a oportunidade. ..• "
Por esse mesmo tempo, na Itália, o Governo daquele pais,
que já em 1902 cedera a Marconi a belonave Cario Alberto,
punha toda a sua esquadra à disposição do jovem eletricista bo-
lonhês... E mais: concomitantemente, no Rio de Janeiro, onde
tudo era negado ao nosso patricio, surge alguém que se encar-
rega de espalhar que o único mérito do padre inventor consistia
em haver-se ele apressado (a exemplo do que fizera Marconi. .. )
a ir a um país estrangeiro patentear aparelhos calcados em in-
ventos de outro - o preeminente sábio alemão Ernest Ruhmer.
Quanta miséria!
63
o SISTEMA DE RUHMER E O
SISTEMA DE LANDELL
65
Como conseguiu o Prof. Ruhmer inventar coisa tão
maravi Ihosa? - perguntam agora mu.itas pessoas. Res-
pondem os cientistas que ele obteve esse resultado se-
guindo fielmente o caminho do Prof. Alexander Gra-
ham Bell, com relação à luz. Em 1880, o Prof. Bell pro-
punha que o radiofone fosse empregado na utilização
de energia elétrica, quer como luz, quer como calor ir-
radiante, para transmissão do som.
O radiofone, que então atraía a atenção de muitos,
era um aparelho baseado na descoberta do Sr. 'May,
quando este procedia a experiência com selênio, e,
segundo o qual, quando o selênio é exposto à luz, sua
resistência elétrica difere muito de quando está no es-
curo.
Refletindo sobre esta descoberta, o Prof. Bell conce-
beu a idéia de que, se um raio luminoso, partindo de
uma estação, pudesse ser dirigido para uma placa de
selênio, colocada em outra estação, e se sua' voz pudes-
se ser tornada variável pela voz de um locutor, então se
fossem ligados um telefone e uma bateria em circuito
com a placa de selênio, as palavras pronunciadas na es-
tação distante seriam ouvidas no telefone.
As experiências feitas provaram a exatidão da teoria.
Por essa ocasião, o Prof. Simon, inventor da "lâf)1pada
que canta", e o Sr. W. Dudell, cientista inglês, mostra-
ram perfeitamente que a luz pode ser usada para trans-
mitir o som, e que suas experiências, neste sentido, fo-
ram de grande auxílio para o Prof. Ruhmer, ao mesmo
tempo que os especialistas acham muito provável o êxi-
to do método empregado para a telefonia sem fio, des-
de que seja aperfeiçoado.
O Prof. Ruhmer fez uma importantíssima descober-
ta, e, sem negar, por isto, o que possam merecer outros
que realizaram experiências com a luz, ele está perfeita-
mente apto a receber os elogios que agora lhe fazem,
visto como, se não tivesse feito esta descoberta, não
poderia ter aperfeiçoado seu sistema de telefonia sem
fio. Ele foi o primeiro a descobrir como obter o máxi-
mo possível do emprego do curioso metal, que é o se-
66
lênio. (?)
Supunha-se que o selênio era insensível às cores,
ou, em outras palavras, que só sentia a influência dos
raios vermelhos e amarelos. Agora (1902), entretan-
to, o Prof. Ruhmer descobtiu, depois de muitas expe-
riências ·qu ímicas, que o selênio é sensível também
aos raios azuis, violetas e ultravioletas, ou aos raios
invisíveis. Para mostrar a importância desta descober-
ta, basta dizer que, se o selênio fosse apenas sensível
aos raios vermelhos e amarelos, seria impossível o te-
lefone sem fio de Ruhmer à luz do sol.
Quanto mais o selênio for exposto à luz, melhor
atuará como condutor de eletricidade - e b invento de
Ruhmer baseia-se neste principio. (O grifo é nosso).
Suas experiências em Wannsee foram surpreenden-
temente simples. Na estação transmissora, uma pessoa
falava no diafragma de um telefone comum, e as on-
das sonoras atuavam sobre a corrente elétrica que
produzia a luz, sendo então esta transportada para a
estação receptora. Aí, a luz atuava sobre o selênio, o
qual, como já foi dito, conduz a corrente de maneira
melhor ou pior, conforme a luz é mais forte ou mais
fraca; e de acordo com a intensidade da corrente, que
ora era mais fraca, ora mais forte, os mesmos sons ge-
rados na estação transmissora eram exatamente repro-
duzidos na estação receptora. Os diafragmas vibravam
de modo idêntico em cada estação, e os sons remeti-
dos de um local eram distintamente percebidos no
outro. O selênio usado na ocasião estava num espelho
que tinha menos de 14 polegadas de diâmetro.
As mensagens foram enviadas da "Torre do Impe-
rador Guilherme", em Havei, para uma ilha próxima a
Potsdam, e, embora o espelho fosse tão pequeno e a
luz, por conseguinte, tão imperfeita, os sons foram
ouvidos claramente nos dois lugares, permitindo que
as pessoas conversassem facilmente entre si. A distân-
cia era de 4 milhas e um quarto."
E mais adiante:
67
"A única desvantagem do sistema é que a distân-
cia a que podem ser enviadas a, mensagens é reduzi-
da." (O grifo é nosso).
68
de ar, no primeiro sistema, foi descoberta pelo mesmo padre.
Terceiro sistema --: Transmissão elétrica da voz humana,
através de um feixe luminoso produzido por um arco voltaico,
ou qualquer outra fonte de irradiações actlnicas. O receptor,
que é uma cápsula selênica, s6 funciona sob a ação dos raios
actlnicos - propriedade também descoberta pelo mesmo.
Quarto sistema - Transmissão electromagnética do sistema
fónico, harmónico, luminoso e da voz humana, mediante a su-
perposição de vibrações elétricas e irradiantes. Neste caso, oPa·
dre Landell de Moura utilizava-se sempre de sua lâmpada de 3
electr6dios e de vários outros aparelhos que figuram em suas
Patentes, combinados entre si, e segundo os efeitos que o mes-
mo tinha em mente produzir quando telegrafava, ou telefonava,
sem fio condutor. .
Quinto sistema - Transmissão elétrica do sinal fónico da
palavra ou da nota musical, mediante cintilações produzidas por
uma lâmpada de sua invenção, dita cintilante, e a qual figura de
seu Transmissor de ondas.
* * *
69
luminoso, harmônico, acústico e da voz humana articulada, ou
fonografada, através do espaço, da terra e do elemento aquoso,
essas ondas têm uma ação definitiva, pois se projetam de modo
contfnuo, entre as estações transmissora e receptora, formando
um campo ondulatório permanente e uniforme. E era através
dessa campo que ele enviava suas mensagens telegráficas e tele-
fónicas.
Como bem se verifica, as ondas landellianas desempenham,
em seu sistema de telegrafia e telefonia sem fio, o papel de um
condutor metálico.
A idéia da criação desse "campo ondulatório através do
espaço" não é apenas uma concepção genial; é hoje uma esplen-
dorosa realidade cientffica, aproveitada para vários fins. Nele
baseava, de resto, o Padre Landel! de Moura a possibilidade, ex·
pressa tantas vezes em entrevistas, de transmitir a imagem a
grandes distâncias, ou seja a Televisão que agora se pratica.
Era ainda nesse mesmo princrpio que ele alicerçava igual-
mente a possibil idade de, um dia, transmitir-s9 as vibrações cor-
respondentes ao "Iogus", ou verbo mental, assim como hoje se
transmitem as vibrações correspondentes à palavra falada!
Este último enunciado foi que veio consolidar nas menta-
lidades acanhadas a sua fama de maluco. ..
Mas será que ainda não veremos realizada essa absurda
transmissão prevista por esse mesmo tresvairado padre que, há
mais de meio-século, tinha o topete ou a insensatez de afirmar
ser possrvel, por intermédio de seu "campo ondulatório", trans-
mitir a imagem através do espaço?
O futuro no-lo dirá.
E no-lo dirá, estamos certos, confirmando-o!
70
CONSEQUÊNCIAS DE UMA RECUSA E DE
UMA CAMPANHA DIFAMATORIA
71
Ainda em um de seus velhfssimos cadernos manuscritos,
salvos milagrosamente da destruição, e que estão em nosso po-
der, encontramos esta página profundamente melancólica, escri-
ta de seu próprio punho num momento de íntimo desabafo, in-
titulada Uma Pergunta Patriótica:
72
de querer sair da sacristia, para mostrar ao mundo que
a religião nunca se opôs ao progresso da humanidade,
e que o sol também passou e ainda continua a passar
por estas plagas... (ileg(vel). Tudo quanto tem feito
o autor destas linhas obedece às suas teorias sobre a
unidade da força e harmonia do universo, outrora
mu ito combatida, porém hoje admitida por ele, e
outros mais felizes conseguirão confirmá-Ia com os
fatos. "
73
DOIS EPISÓDIOS DE UMA MESMA LUTA
75
Pela leitura que me fez, já estou bem a par do assunto.
- Mas, Prof. Roquette - insistimos - devo confessar-lhe
que tenho receio de não haver exposto com bastante clareza,
propriedade e exatidão cientifica as idéias e sistemas do padre, e
eu gostaria que o senhor verificasse, ao menos, se a tradução das
Patentes está fiel ao texto inglês. Como já lhe declarei, não fui
eu quem as traduziu, pois pouco ou nada sei desse idioma. Além
do mais, eu desejaria sua opinião escrita a respeito. Ela poderia
até servir-me de prefácio ao livro, se o senhor o consentisse.
Roquette Pinto olhou-nos demoradamente, como se se
sentisse penalizado com a desilusão que ia dar-nos, e falou, por
fim:
- Bem, poeta, já que insiste em ter minha opinião, vou
usar de toda a franqueza: não perca mais tempo com esse padre.
Depois da afirmação que ele fez sobre a posslvel dispensa do se-
lênio em tais transmissões sem fio, minha opinião é de que se
trata realmente de um louco. - E mudou de assunto_
A despeito do golpe que as palavras do querido mestre des-
feriam sobre nossas esperanças, não esmorecemos. T Inhamos
conosco a convicção (e temo-Ia ainda!) de que se Roquette Pin-
to tivesse lido as Patentes, outra teria sido sua atitude. Talvez
'nós é que, em nosso entusiasmo e incultura, não tivéssemos sa-
bido transmitir ao nosso trabalho as devidas proporções, a idéia
exata, o verdadeiro sentido das teorias, descobertas e invenções
do padre.
E prosseguimos em nosso bom combate.
Um ano mais tarde, pessoa amiga, impressionada com nos-
sa obstinação, aproximou-nos de outro eminente cientista, o
Engenheiro Naval, Civil e Mecânico-Eletricista, Sr. Mário de
Oliveira Penna, Doutor em Ciências pela Universidade da Cali-
fórnia, de cuja alta competência e autoridade na matéria, noto-
riamente reconhecidas e proclamadas nos meios técnicos do
Rio de Janeiro, já muito ouvlramos falar.
Embora um tanto desconfiado, recebeu-nos o ilustre Dr.
Mário de Oliveira Penna, um dia, em sua casa, com o cavalhei-
rismo, a paciência e a boa vontade que lhe são proverbiais.
Repetiu-se a cena que já havlamos representado diante do
inesqueclvel Roquette Pinto.
Mário de Oliveira Penna, Que, como acontecera com o
76
autor de Rondônia, durante todo o tempo em que estivéramos
com a palavra não nos interrompera nem esboçara o menor ges-
to, limitando-se a ouvir-nos com atenção e a estudar-nos com
curiosidade, teve, todavia, à vista das três Patentes, uma reação
diferente da do falecido acadêmico. Segurou-as rapidamente,
examinou-as detidamente e pôs-se a folheá-Ias com grande an-
siedade. De súbito, deu alguns passos pela sala, parou, olhou-
nos, emocionadfssimo, e exclamou:
- Meu Deus, Sr. Fomari, como isto é extraordinário! E
como é infeliz e descuidada a nossa pátria! Ter sido o berço de
um homem como esse, e tê-lo abandonado e esquecido! Eu não
podia acreditar no que o senhor me estava lendo, e devo mesmo
dizer-lhe que, enquanto o senhor falava e lia, eu estava pensando
que tão louco era o senhor como esse padre. Estas Patentes, po-
rém, são o atestado de um gênio. Não pode calcular como é
difícil obter uma Patente de invenção na América do Norte, o
número de exigências que são feitas, o rigorismo dos estudos e
investigações a que é submetido qualquer engenho, por menos·
importante que ele seja, apresentado a The Patent Office, de
Washington, antes de aprová-lo. E se esse padre obteve estas, é,
pode crer, ;:lorque ele as merecia realmente e tinha direito de
prioridade sobre o que nelas se contém. Deixe-as comigo uns
dias, ;:lor favor, que desejo estudá-Ias minuciosamente. Comuni-
car-Ihe-ei, depois, minha opinião por escrito.
Deixamo-Ias em seu poder, gostosamente, agora cheios de
esperança.
Um mês mais tarde, recebíamos do Dr. Mário de Oliveira
Penna o seguinte Parecer:
"O Reverendo Padre Roberto Landell de Moura, nas-
cido na cidade de Porto Alegre aos 21 dias de janeiro
de 1861, requereu e obteve três Patentes de invenção,
nos Estados Unidos da América, a saber: a) Transmis-
sor de ondas; b) Telefonia sem fio; c) Telegrafia sem
fio.
O histórico de suas atividades constantes do proces-
so, perfeitamente documentado e justificado, assim
como a análise técnica de suas invenções comparati-
vamente ao que era conhecido na época, e ao que foi,
gradativamente, integrando-se na ciência, em sua evo-
77
lução, até à industrialização da Telegrafia e Telefonia
sem fio, provam, de modo a não deixar dúvidas, ter
conseguido aquele eminente brasileiro conceber, reali-
zar e provar os princ(pios fundamentais de exiqüibi-
lidade da transmissão, princ(pios esses que, em es-
sência, constituem a base de todas as conquistas e
aperfeiçoamentos técnico-elétricos modernos nas co-
municações sem fio.
Não se pode deixar de reconhecer que o imortal
Branly fez' experiências de centelhas em circuito fe-
chado, em 1885, na Universidade Católica de Paris.
Marconi, aproveitando-se dessas experiências e dos
princípios fundamentais que Branly sabiamente anun-
ciou, correu a patentear um sistema por ele organiza-
do de transmissão e recepção, sem fio. Nem por isso
deixa-se de proclamar a genialidade das concepções
de 8ranly, sem as quais Marconi não teria obtido a Pa-
tente n9 12.039, de 12 de setembro de 1896, na In-
glaterra. O Rev. Padre Landell de Moura, embora sem
a prioridade científico-oficial, por isso que só mais
tarde conseguiu suas Patentes nos Estados Unidos da
América, já em 1893 realizava as primeiras experiên-
cias de transmissão e recepção sem fio, em São Paulo.
A narrativa dos episódios que prejudicaram suas
primeiras tentativas, o prosseguimento de seus estu-
dos e o registro, em tempo, de seus aparelhos experi-
mentais, mostra, evidentemente, que somente devido
a razões imperiosas e superiores deixou ele de se in-
cluir, na época, entre os pioneiros de tão relevante
conquista.
Estudando agora, do ponto de vista estritamente
técnico, força é reconhecer - porque se demons-
tra de modo inequ ívoco - que suas três Patentes con-
têm, de fato, todas as peças essen,ciais de um sistema
que se foi aperfeiçoando até constituir o núcleo ci-
entífico básico que permitiu a industrialização das
transmissões e das recepções sem fio.
Assim, em suas Patentes sobre "Telegrafia sem fio"
e "Telefonia sem fio" verifica-se, além da engenhosi-
dade dos aparelhos demonstrativos, o princípio do
78
circuito oscilatório, sua aplicação às ondas curtas e a
todas as vibrações eletro-acústicas; o princ(pio funda-
mentai da válvula de 3 electródios e a produção de
ondas hertzianas e sua transmissão e recepção. Na Pa-
tente sobre o "Transmissor de ondas", constata-se,
de forma nítida, a existência de um circuito similar
aos que são empregados, ainda hoje, embora com mo-
dificações e aperfeiçoamentos, nos transmissores. E,
sobretudo, observa-se o emprego de um disjuntor
automático do transmissor, comandado pelas vibra-
ções sonoras, determinando a correspondência das
ondas eletromagnéticas transmitidas às ondas sonoras
pelas quais aquelas são produzidas. Este processo é,
assim, a característica do sistema inventado e paten-
teado pelo preclaro Padre Landell de Moura. E sob
este aspecto, após 36 anos decorridos desde sua
Patente (Este Parecer foi escrito em 1939 e a seu
autor passou despercebido que, já em 1900, o Padre
Landel! de Moura havia patenteado seu invento no
Brasil) e cerca de 47 desde suas primeiras,experiências
em São Paulo, não é outro o princípio em que se
apóiam todas as aplicações de transmissores no campo
industrial.
Há, pois, nas três Patentes do patrício ilustre,
idéias, concepções, princípios e engenhosidade na
formação de circuitos elétricos, que caracterizam, de
forma incontestável, os mesmos métodos e processos
que foram aplicados mais tarde, com a natural evo-
lução no meio industrial, com os aperfeiçoamentos da
técnica elétrica e dos meios materiais de execução.
Assim, estou convencido de que, de justiça e de di-
reito, cabe ao Padre Landell de Moura a glória imortal
de ter idealizado o mais perfeito sistema de telefonia
e telegrafia sem fio na época em que fez suas primei-
ras demonstrações, e que não foram outros os princí-
pios aplicados, senão os constantes de suas Patentes,
na fase inicial da industrialização dos transmissores e
receptores de telegrafia sem fio (T.S. F.l."
Graças a Deus! Isto dito por uma sumidade da categoria do
79
Dr. Mário de Oliveira Penna, recompensava-nos de todos os
imensos sacrifícios que fizéramos, de todo o duro trabalho que
tivéramos e, até, do rid(culo a que nos hav(amos exposto aos
olhos de tantas pessoas, em nosso teimoso e devotado empenho
de querer restituir ao grande sábio rio-grandense a glória que,
uns, de má-fé ou por desconhecimento, lhe negaram, e outros
lhe surripiaram, de sabidos que foram.
E dizemos "até do rid(culo" porque igualmente nós, mui-
tas e muitas vezes, hav(amos passado por "loucos", embora, in-
felizmente, não por tão loucos como o Monsenhor Roberto
Landell de Moura...
80
SEGUNDA PARTE
wmlESScs· I"Y(NTOR
R""""'t1.Ltutdell dt.JrfJl"·~
1fh{.;J.~'d:~ _
"~
1m'''''"
82
II•. '16.S31. 'ATE.TEU .0•.••• 1...
ft. L. DE 1110GB!.
WIBELtsS TELErROBE.
Uft.IOUIOI rlUIl 00'.•. l'u un:ta-ur.n
",.nu
tt
'"
83
~,. "6.331. PUtllTED 80V. 23. 1904.
R. L. D& 1I0URA.
WIi&L&SS Tet&PHOU.
'trUO.l.fIOl flUD aCTo 4, 1111. .. •• U'....1I1t a-
.1 1011110.
O
""
wt1NISSt:J
~g;""/u.:
U':"J<:;;.. 11-----
84
Considerando primeiramente a transmissão e a recepção' te-
lefônicas, e referindo-se particularmente à Fig. 2, a base (1) ser-
ve de apoio a um cilindro (2), sobre o qual desliza telescopica-
mente outro cilindro (3), ajustável por meio de uma manivela
(4), um eixo e um pinhão (5), que permitem levantá-lo e baixá-
-lo à vontade. Sobre o cilindro 3 é que está disposto o transmis-
sor (Cj.
Um telescópio (6), uma bússola (7) e um nível (8) acham-
-se montados sobre este transmissor, a fim de o mesmo poder
ser apontado na direção de qualquer estação distante.
Um tubo (9') ramifica-se na extremidade inferior em duas
extensões, providas'de um bocal (9) e um fone (10); liga-se o
mesmo a outro tubo (12). Ambos esses tubos são conectados à
extremidade inferior isolada de um tubo (15).
O tubo 12 possui uma válvula que abre para cima (14), e
tem, em sua parte mais baixa, meios para produzir uma corrente
de ar, por força de um ventilador (11) encerrado na câmara E.
Quando alguém faz funcionar o ventilador (que trabalha
sob ação de corrente elétrical, e fala pelos bocais 9 ou 10, logo
uma corrente de ar abre a válvula 14 e segue, juntamente com
os sons emitidos em 9, através do tubo 15. As ondas sonoras,
com a corrente de ar, são projetadas pelo funil (16) sobre o de-
fletor (17), e por este são impulsionadas para a frente, dentro
do corpo da peça C, que também é atravessada interiormente
pelo feixe luminoso complexo proveniente da fonte (18).
Em 17, mostro uma placa de quartzo, adequadamente
adaptada e suscetível de ajustamento pelos parafusos (24).
18 é uma fonte luminosa, de preferência uma lâmpada de
arco, cuja luz é rica em raios violetas.
•
Em 19, está um espelho, constitu(do de um dorso (20),
que pode ser de metal polido ou de vidro, e de forma parabóli-
ca, para que reflita somente os raios actínicos ou violetas. Não
me limito a essa espécie de luz, ou aos meios indicados para tor-
nar seus raios paralelos, ou aos meios esPEtciais para eliminar to-
das as radiações fora das faixas dos raios violetas ou actínicos,
pois quaisquer meios podem ser empregados desde que produ-
zam raios violetas ou actínicos, ou lhes aumentem a intensidade.
Por trás do espelho e a intervalos em volta do corpo do
transmissor, há aberturas·de ventilação (22 e 23), sendo a última
85
provida de anteparo (26) para vedação da luz. O referido corpo
é formado de duas oecas (110 e 111) - (108 e 109). estas fun-
cionando juntas, telescopicamente.
A placa de quartzo (17) pode ser substituída por outras
substâncias que não s6 possam desviar as ondas sonoras e sejam,
ao mesmo tempo, ressonantes, mas ainda permitam a passagem
dos raios violetas ou actfnicos da luz. As ondas sonoras, trazidas
pela corrente de ar que chega, são projetadas contra o defletor
(17j, através do funil (16).
Uma grelha (25j, de placas metálicas de pouca espessura, e
cobertas essas placas de negro-de-fumo (fuligem). cruzadas entre
si, dividem a luz em feixes paralelos, o que, a meu ver, aumenta
a eficiência do aparelho. A peça 25 (Fig. 2) é isolada em suas ex-
tremidades, como também a sua última placa metálica central,
na qual se ajusta a peça D. A peça 25 da Fi9. 1 é eletricamente
ligada com os fios 44 e 39 por dois fios isolados, que passam
através do centro da camisa isolada que existe entre as duas pa-
redes metálicas, que, movendo-se telescopicamente uma na
outra, constituem a peça D. Os dois fios conectores, assim como
a peça 25, não têm comunicação com as paredes exterior e inte-
rior da peça D. A placa 17, como foi mencionado, é em todos os
casos constru (da de modo a não obstruir a passagem dos raios
violetas. Isto é importante, pois a minha descoberta consiste
em que, por meio dos raios actinicos de luz, as ondas-sonoras
que os modulam podem ser transmitidas a distâncias conside-
ráveis. (O grifo é nosso).
No eixo longitudinal do corpo transmissor, há outra estru-
tura menor, que é o corpo do receptor (29j, tendo na parte in-
terna uma extremidade curva que contém o refletor (30), prefe-
rentemente de metal. O referido corpo do receptor é mantido
em seu lugar por aparafusamento a um suporte filetado (28) que
existe no tubo vertical (15).
No foco do espelho (30) existe uma peça semi-esférica
(32). hermeticamente fechada e com vácuo interior, "Coberta de
quartzo ou de qualquer outra substância permeável aos raios
violetas, e contendo uma placa ou grelha de selênio (40), em po-
sição vertical. A célula de selênio dispõe dos bornes 41 e 42, e
mais um terceiro (52), que é usado, às vezes, com um fio de ter-
ra, pelo qual são eliminadas as descargas estáticas indesejáveis.
86
(O grifo é nosso). A célula de selênio e seus acessórios são fixa-
dos pela haste isolada 53 ao suporte. 78.
Dois aparelhos, como o da Fig. 2, ajustados um diante do
outro e a uma distância relativamente curta, podem ser usados
para transmitir e receber acusticamente - quer dizer, sem o te-
lefone (50) e também sem a cooperação da placa de selênio
(40). Então, para transmitir, o operador, depois de pôr em fun-
cionamento o ventilador (11) e a luz de 18 (Fig. 2), falará atra-
vés de um dos bocais 9 ou 10, fechando o outro. Para receber,
parará o ventilador, e levará os bocais 9 e 10 aos ouvidos. O ven-
tilador só é usado na transmissão. O aparelho, nesse ensejo,
trabalha baseado nos assaz conhecidos princípios dos espelhos
conjugados; e acho que a adição de certas qualidades de luz me-
lhora os efeitos, assim na transmissão como na recepção. O apa-
relho assim considerado talvez não tenha grande valor comer-
ciai; mas eu o reivindico, porque, a bem dizer, constitui O trans-
missor de meu telefone sem fio, da mesma maneira que a minha
célula de selênio, aqui descrita, constitui o seu receptor. No meu
telefone sem fio - isto é, com a cooperação de meus dispositi-
vos fotofônicos - minha luz clara actfnica é absolutamente ne-
cessária. Eu digo - "luz clara actfnica", isto é: luz composta
de radiações claras e radiações actínicas, como a que é produzi-
da por uma lâmpada de arco, ou por um vidro azul em frente de
uma fonte luminosa comum. Para transmitir a uma longa dis-
tância, dou preferência à luz composta gerada numa lâmpada
de arco. Para produzir raios actínicos ou luz violeta, posso ajus-
tar interna ou externamente ao defletor 17 uma fina pel (cula
feita de apropriada substância diáfana. Assim, no alto do tubo
15 está montado um receptor telefônico (50), ligado ao circui-
to local (55), contendo uma bateria (51) e também incluindo a
célula de selênio (40 - 50). E mais do que sabido que a resis-
tência do selênio amorfo varia inversamente à quantidade de
luz a que está exposto, aproximadamente. Descobri que essa re-
sistência varia mais particularmente de acordo com a intensida-
de ou densidade dos raios violetas ou actínicos, acusando com
bastante precisão a presença dos mesmos. Neste aparelho, quan-
do uma luz proveniente de estação distante atinge o selênio, a
resistência dele varia de acordo com as variações da intensidade
da dita luz, intensidade que, de seu turno, varia com as ondas
87
sonoras que incidiram sobre a sua fonte, como já se descreveu;
o receptor telefônico (50) reproduz esses sons com grande fi-
delidade. A pessoa que recebe pode então ouvir, utilizando-se
do telefone (50). ou dos bocais 9 e 10 colocados aos ouvidos.
Neste último caso, deve fechar a comunicação entre as peças
16 e 15 (Fig. 2). Constitui fato singular e importante o seguinte:
Se o receptor for completamente removido, e não empregar-se
o selênio, ainda assim o aparelho reproduzirá os sons, tal como
foi descrito acima. Acho isto uma descoberta importante, e con-
sidero-me em condições de lhe dar (lteis finalidades. (O grifo é
nosso.)
Montado no corpo 29 (Fig. 2) e no foco do espelho, há
um tubo de Crookes, ou lâmpada catódica (31). Uma série de
fios (35), em forma de coroa, envolve a lâmpada e projeta so-
bre o espelho (30). As pontas desses fios são dobradas para den-
tro, umas sobre as outras, radialmente, em ângulos retos com o
eixo do corpo, e terminam num pequeno círculo, cujo eixo
coincide com o c(rculo de seu suporte. Uma das extremidades
desta coroa é contra (da para receber em seu interior a célula de
selênio. Estas duas séries de fios são ligadas eletricamente uma
com a outra e com os bornes 44 e 39. Elas têm comunicação
apenas com um dos bornes da placa de selênio (40). Os bornes
38 e 43 são destinados ao tubo de Crookes, e os de números 39
e 44 à coroa de fios. O tubo Crookes é sustentado por uma has-
te (53). montada num suporte (78), e é ligado a um oscilador
(56 - Fig. 1). munido de acessórios próprios, inclusive centelha-
dores (57) e condensador (59). A bateria primária do oscilador
está representada ·em 58, com um adequado interruptor (60).
O centelhador, como um todo, está designado pela letra A.
Quando o interruptor 60 é levado à posição indicada, as cente-
lhas, que passariam normalmente entre as esferas (57), dirigem-
se para o tubo de Crookes, de maneira usual. Os raios produzi-
dos no tubo são transmitidos em todas as direções, mas os que
~aem diretamente e os que são defletidos pelo espelho são reuni-
dos num feixe, juntamente com os da luz composta.'
• Relembremos, mais uma vez, que somente em 1907 De Forest "des-
cobria" sua válvula de 3 electródios, cujo sistema, composto de fi-
lamento, grade e placa, é, mutatis mutandis, o mesmo descrito, em
1901, pelo Padre Landel! de Moura.
88
Em B (Fig. 1), vê-se outró aparelho centelhador. A bateria
(65) está ligada pela chave transmissora (66) e pelo interruptor
(70) com o condensador (67) e à bobina de Ruhmkorff (68).
tendo a distância explosiva e centelhadores, como é de uso. Um
dos centelhadores é ligado à terra pelo fio 106, e o outro pelo
fio 69' aos pontos 34 - 35. Estando o interruptor (70) coloca-
do na posição indicada, e a chave (66) - premida de acordo
com um código preestabelecido, haverá uma descarga oscilató-
ria entre os centelhadores (69). e os pontos 34 - 35 enviarão
ondas etéreas. Acho que o refletor (30) serve para tornar para-
lelas essas ondas, ou, pelo menos, praticamente paralelas, e para
aumentar a distância de transmissão, especialmente em se em-
pregando ondas curtas. • A chave 66 serve, assim, para enviar
ondas correspondentes aos sinais Morse, ou outros quaisquer,
ou para chamada.
Um coesor (71) está ligado pelos fios 96 e 97 com os fios
39' e com a coroa de fios acima descrita. Esses fios agem como
antenas, não somente transmitindo mas recebendo as ondas her-
tzianas. O modo de usar tal coesor, para receber sinais, assim co-
mo o das suas pa,rtes associadas, serão apreciados claramente
através do relato de seu funcionamento. As ondas que chegam
são remetidas ao coesor (71). como ondulações electrostáticas
ao longo dos fios, a partir dos pontos 34,35, 65 e 61, e produ-
zem a sua coesão. A corrente da. bateria (Li passa então através
do coesor e dos enrolamentos da bobina de indução (Ni, tam-
89
bem para o electro(mã (H), e efetua a descoesão do coesor (71).
Da bobina N são tiradas ligações para o "chamador harmônico",
ou "uivador" (M), que descrevo a seguir: CO(lsiste o mesmo num
receptor telefônico e num microfone colocados juntos, com
uma coluna de ar interposta, de tal modo que, quando um co-
meça a fazer vibrar o seu diafragma, logo faz vibrar O outro, e
como estão ambos num circuito fechado reagem mutuamente,
para produzir um formidável ru(do, de considerável altura, ca-
paz de servir para a chamada do operador. O "uivador" está
representado separadamente na Fig. 4. Com a chave 75, como se
vê na Fig. 1 a corrente pode ser dirigida para a campainha
(100); mas com ela ligada para 103, o "uivador" fica em circui-
to. Um registrador Morse (K) pode também ser empregado,
com sua chave própria (74), e ligado ao contato inferior da cha-
ve 75.
Suponha-se agora que o operador distante calque a sua chave
de sinalização (66), produzindo ondas etéreas que serão lança-
das das pontas dos fios 34 e 35. Tais ondas chegam, como foi
descrito, e vão atuar sobre a campainha 100 ou sobre o "uiva-
dor" M, chamando a atenção do operador local. Este responde
por meio de sua chave (66), e a conversa tem in (cio por meio do
bocal 9 e do fone 10, ou então sinais telegráficos são trocados
com o aux (lio das .cMves próprias, que podem ser ligadas dire-
tamente ao "uivador", em se querendo. Para transmitir os im-
pulsos elétricos, o operador fecha o comutador 69' sobre o ter-
minai 69. Para os receber, coloca a mesma chave no terminal
96 e fecha a chave 61. Para enviar sons articulados, acende a
lâmpada e· fala através de um dos bocais 9 ou 10, fechando o
outro. Para os receber, fecha a chave 53 e leva o 50 ao ouvido,
ou os dois bocais 9-10, fechando, nesse caso, a ligação acústica
entre 15 e 16, como foi dito acima.
A bobina 56 serve para aumentar o potencial nas extremi-
dades dos fios secundários, quando são usados, juntamente com
a outr'l bobina (68), através dos fios secundários, com o intuito
de telegrafar por meio das ondas elétricas e dos feixes lumino-
sos, como está amplamente explicado nas especificações das mi-
nhas aplicações de telegrafia sem fio, série nO 89.976. Os fios
96 e 97 são munidos de terminais comuns, e as partes H, k, 72
e 100 são conectadas a resistências convenientemente calcula-
das.
90
Com relação à Fig. 4, o número 88 é uma caixa para conter
carvão por trás do electródio 90, ajustável por meio do parafu-
so 92 e da porca 95; e o número 86 é um diafragma de carvão,
com uma mola de retenção (87). Interpõe-se carvão granulado
entre o dorso do electródio e o diafragma, como habitualmente,
e fazem-se as ligações através dos terminais 89. O número 78 é
outra caixa contendo o magneto-receptor 79, que atua no dia-
fragma 81 e dispõe dos terminais 80. As caixas 88 e i8 são liga-
das pelo tubo 82, que transporta uma coluna de ar e tem um
alargamento (83), com aberturas de pressão (84), que também
servem para expelir as vibrações. Em alguns casos, as aberturas
(84) podem ser feitas numa extremidade, para que a coluna de
ar forme uma coluna compacta. Quando se faz vibrar o diafrag-
ma-receptor a coluna de ar vibra, e então o diafragma-transmis-
sor produz mudanças na corrente do receptor, que reage, e as-
sim por diante, harmonicamente, produzindo uma longa e mo-
dulada nota musical, de altura cada vez maior e sustentada.
Por esta descrição se verifica que meu invento consiste,
falando de modo geral, em projetar ondas querelétricas, quer de
natureza ainda desconhecida (o grifo é nosso), de alta força de
penetração, entre estações, e imprimir, na coluna assim estabe-
lecida, as vibrações correspondentes às ondas verbais. Neste sen-
tido, descobri que o som é perfeitamente transmiss(vel e aparen-
temente receptível sem aparelhos especiais.
Não afirmo que todas as ondas sonoras ou vibrações produ-
zidas por meu aparelho sejam limi·tadas ou afetadas pela coluna
luminosa, mas sim que todas as ondas sonoras que partem de
um mesmo local, e .se transportam juntamente com esta coluna,
chegam à estação receptora. Pode ter havido várias formas de
concebê-lo, mas o que reivindico é a sua aplicação. Peço, tam-
bém, a prioridade dos meios de tornar paralelos todos os raios
por meio de uma grelha, tais como os descrevi, e de alguns de-
talhes da estrutura do "uivador".
Tendo assim descrito minha invenção, eis o que reivindico
e desejo assegurar por Carta Patente dos Estados Unidos:
1Çl - Um sistema de transmissão de ondas, um gerador de
ondas e uma grelha com as suas partes recobertas de negro-de-
-fumo (fuligem), como foi descrito pormenorizadamente.
2Çl - Um sistema de telefonia sem fio, um dispositivo para
91
chamada, compreendendo um microfone, um tubo que contém
o referido microfone em uma extremidade e um receptor na
outra, e, ainda, um alargamento no tubo intermediário, entre as
extremidades, e aberturas no dito alargamento, para permitir a
comunicação entre o ar exterior e a coluna de ar interna, como
foi descrito pormenorizadamente.
31? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte lu·
minosa comum, uma placa de vidro colorida em violeta, para in·
terceptar os raios luminosos e caloriferos da dita luz, quando
transmitindo os raios actinicos, e ainda os meios para produzir
sons vocais na passagem dos ditos raios actrnicos, e um disposi·
tivo receptor de luz controlada, sensivel aos ditos raios actini·
cos, como foi descrito pormenorizadamente.
41? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte lu·
minosa capaz de produzir raios actinicos, outra fonte para gerar
raios catódicos, justamente na passagem dos ditos raios actini·
cos, meios para produzir sons vocais na passagem dos ditos raios
catódicos, e um dispositivo receptor de luz controlada, para re-
produzir os sons vocais supramencionados, tal como foi minu-
ciosamente descrito.
51? - Um teiefone sem fio, compreendendo um aparelho
de iluminação comum, um tubo de Crookes, meios pata produ-
zir sons vocais, adjacentes ao dito aparelho de iluminação, e um
dispositivo para receber luz controlada, colocado a certa distân-
cia, como foi descrito pormenorizadamente.
51? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte de
luz comum, meios de tornar paralelos os raios de luz, uma fonte
de luz catódica, meios para produzir sons vocais, ligados à fonte
de luz comum, e um dispositivo receptor de luz controlada colo-
cado a certa distância, como foi descrito pormenorizadamente.
71? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte de
luz comum, meios de tornar paralelos os raios da referida luz,
uma fonte de luz catódica, meios para tornar paralelos estes seus
raios, uma grelha colocada na passagem da dita luz comum para
modificá-Ia, um dispositivo acústico para produzir sons vocais
na passagem da dita luz assim modificada, e um dispositivo re-
ceptor localizado a certa distância, e sensivel à dita luz assim
modificada, como foi substancialmente descrito.
Em testemunho do q"ue, assinei meu nome nestas especifi-
92
cações, em presença de duas testemunhas subscritas.
Testemunhas:
Jno M. Ritter.
Walton Harrison. "
93
UMA EXPERII:NCIA DE 1893
REPETIDA EM 1933
95
com essa teoria, idealizado e constru ído, ainda no sé-
culo passado, quando os cidadãos comuns nem sequer
desconfiavam da possibilidade, aparelhos capazes de
transmitir a distância, sem fio, sons articulados e si-
nais telegráficos, o que lhe valeu de seus concidadãos
e de seus pares a acusação de ter pacto com o Diabo,
ou o epíteto de maluco. Segundo, a glória que advirá
para o Brasil, incluindo um seu filho no rol dos gran-
des pesquisadores que tornaram possível a telefonia
sem fio, a telegrafia sem fio e a televisão, e justamen-
te antes de Marconi, antes de Lee De Forest, antes,
enfim, de tantos nomes famosos que assinalam vulto-
sos progressos no campo da eletrônica, e isto quando
as mais poderosas nações do mundo estão, numa guer-
ra fria, a reivindicar para os seus naturais todas as in-
venções notáveis.
Monsenhor Roberto Landell de Moura conseguiu
nos EUA, mediante pedidos feitos em 1991, três car-
tas patentes, abrangendo a radiotelefonia, a radiotele-
grafia e a transmissão de ondas. Esses documentos es-
tao hOJe em nosso poder. Mas muito antes ele já fize-
ra experiências em São Paulo, e será fácil às autorida-
des desse importante Estado documentá-Ias rigorosa-
mente, em qualquer tempo. Também as autoridades
cio Rio Grande do Sul, donde era natural o sábio Mon-
senhor, muito poderão contribuir para a reconstrução
dos seus trabalhos.
Uma coisa é de toda urgência e será vergonhoso
para o Brasil não executá-Ia: Impõe-se a imediata
construção dos aparelhos patenteados nos EUA pelo
Monsenhor Landell de' Moura. Muito convém que cola-
borem em tal empreitada a Escola Técnica do Exérci-
to, O Serviço de Transmissões do Exército, o Depar-
tamento de Eletrônica da Marinha, o Departamento
Nacional dos Correios e Telégrafos, o Instituto Tec-
nológico de São Paulo, a Ordem dos Inventores do
Brasil, afora outras organizações, e também técnicos
eminentes no campo da eletrônica, sejam nacionais,
sejam estrangeiros aqui radicados.
96
Afirmamos que não será perdido o tempo, nem
postos fora os poucos recursos que se fazem necessá-
rios. Os aparelhos do Monsenhor Landell de Moura,
ninguém duvide, funcionarão excelentemente, dentro
de suas possibilidades. Os princípios em que se ba-
seiam estão certos. Ademais, nos EUA, várias experi-
ências já foram realizadas, utilizando "os raios de luz
como fio telefônico", com feliz sucesso, apenas sem
que o nome do nosso genial patrício fosse sequer
mencionado.
Prestem atenção os brasileiros à fotografia, que
aqui estampamos, da página 37 da edição de abril de
1933 do conhecido mensário norte-americano Popu-
lar Science, onde sob o título - "Um feixe de luz
transporta a música", se dá conta da "nova idéia" (!)
que permitiu a uma orquestra, tocando no edifício
Chrysler, da cidade de Nova York, diante de um mi-
crofone, ter suas músicas transportadas para uma esta-
ção de broadcasting, situada a meia milha de distân-
cia, através de um projetor luminoso de 50.000 velas.
Na citada página do Pooular Science. além na nescri-
e
ção da experiência dos nomes dos cidadãos norte-
-americanos que vinham dedic~ndo-se ao assunto, há
quatro fotografias, a saber: 1~) Na janela do edifício
Chrysler, o projetor luminoso de 50.000 velas, desti-
nado a fornecer "o feixe de luz para o transporte da
música até o estúdio"; 2~) na recepção, "a lente que
concentra o feixe luminoso que chega sobre a célula
fotelétrica , destinada, por seu turno, a converter as
ondas luminosas em impulsos elétricos, e estes em on-
das sonoras; 3~) a célula fotelétrica; 4~) a fonte lumi·
nosa empregada - não: uma lâmpada de arco, e sim:
uma lâmpada especial, criada por Elman B. Hyers,
funcionando com vapor de mercúrio dentro do cam-
po gerado por uma bobina de alta freqüência.
Não há esquecer que as invenções do Monsenhor
Landell de Moura permitem as comunicações a qual-
quer hora e com qualquer tempo. E com o emprego
de radiações invisíveis (a impropriamente chamada -
97
Bcam or Light Carries Music
P~.cttftl R"j S~df Rn,I,",J P~Er~M
A(t~1J }{"lj:ftfll.. 'f City Buildin[1
R
nJoo
t.... tltt1H:u.t,.,. !eaf-
_-d. 1M 0I1w. nÜI,
..... tloty ..,.n.ed
lO •
fIrOC'3l1\ tn....... lltrd ...·ft
"tCtIVI~C
._"
_ _,
,
H i •• 100 ln•• k......
tIl,,1o<
II. _ •• 'c"
_ ••••
~ ..
, _ _ I
I u)' ;..f l'lk\.
U.,h ... lhe ."",rr of lltot ..k.' _,., _ I.,••, ..
C'hO}'o!C'. R",Id,"" ... S ... YCK\
COl)'. ln ••d'mu pbl"O'd tido., , Sl'C0Ild' (J n«fSUry 'PUÜ lo llI.!kt
a ",Ó{rophon.e. ~.. l..uod ..i.. 'l'C'C'Ch .... "'1If.ic .....,...;l ....1I.<r.1) 'M
hnktd >I I' lht b.Mduj,litoc ...... '1,11 brillUl11 _ h lo bc ""OJttIN
dlO ..... f I "',k ....,. lrulud. '",lt cl'Ruen. ~tilhcf 1lC'00l tIo.
Ih. blw ~Im 01 :I. ~OI).'I) h."ps r.or '11: I.>IIII'i...-h"h h..·c ~n
nl'ldl'fl'D'-"tr ff'1;chhdol l(It'd I~ Ir,", ;11 , IIll"OfIhon.c.and·JIl,p1,r...
II'UIK U'OlJ '''I,n"'"I11'' toI'Il· mcuif. ,,"n combi~td ôcl~Jllr Ihcse.\l.
10f'l. Al I ItUlho .;..do.., • It., ....r"ld)' ""MIlI qu.,liu(J.
"'"I U\lI:ht 1M be.m ln.! COfl- SOl< llor I«.,·_ht htht lOUfCC ar>-
pu.. lO ,,""C Mn h.und. i~ • tr"l1.k.
:~lrl~~h~~ ~~ n~,,~~l~ ,bl, ... "dcl1 blllp f'CICCClld li)' Ellllln
j.Ii.krd Iip.f\d pU! on UI' .". So II. :'<1)"c". 'J\lw cn~'n«. and ,n,·ontu<.
(k~,tY"']5 Ih. p<Ol:"m ,,(t;"N li is an od~'r·.1LJprd QIl1rl& lulJe
'1011 "'.,,)' brO.1dc.j.I Ii,ten." ~boul ei,ht ,nchel 1<>1\'. lO .. hich n~
"wl 1Ml'.'",' 01 iII unw...l (I«lri( ..."" oro conncclo~ \\h,n lho:
m'lhod of cr~nln,isswn Ilibe i. pC.«d ,~,i.Jc , hiCh·/requcn,)'
L'li"$:. "r-of ji,hl 1'1 td., Tol. r•••••,.... ., .~ ~".~ ••"" 'f\o .'.<ul,
<O .,,~
olttlTi( COII. , Ih'IIIbtdul 01 ,'"re"'1
"".. ~ "'lft " ",'uhin ii tu.no 'o '-'110' ~nd cmu. ,
_ • ""'
lol\n Otlbmy Taylor. C<:n.ul
idu. I..., 1.,,_. li. " .l ' ., ,.. , I...... "'fI ." .!.:Iuhn" bl..c lIaht th.lt "")' bc Iblhed
t.k'lric C""'!'iI"Y f'tCI'Cl" ln (I_ on .nd off II IrUI ai 11IJn)' " 400 OOCI
l.%ri11r ih UfIO."",Or\,1 po iMitic':o, ~ ..... r 'oOec .lMn, pftolorl«lri< <til wi,I>. I.lllts a ",eond' Mounl<d ln J ... "relll';l<l.
IJlko:</ j" lhi, 'U)' "011'I tbc hip LOI lnt~ Lo"'I" '~1Ol:C .. ,II "'''-1 U a .((c"-II. ai ,n the .~dio la( dncnbC'd. 11"1' bc~~,
,tot;(/n lO 'M nnh, and. 1\'10'( reun,!>", 1M I.,tu 1"'l>~"..as ti,..;." <OIl'-Cllcd into 01 ''''s 1unp una for ""( m,I". and
tr.mwnltltd '"OÔo:u lo Scben«l..Idy.~. V.. ck<w< L"JlI"'!"" a~ ~c ,\Oll,bll ",ou p""crluf f"IIIp" 01 um.u. d<lip a;~
Ir_ ~ fI'IOUt\l>in ICIP IW"t'lll)"·hc IIul"" IhfOlr(\ , looJ<!'peakcr. TlN: I,ltine ra)' up«Icd to inerca", 11"1' nt\;1 lO lotl)' o.
'''')'_ \;ftl~ 100.... ~A .. ~'T •. li;u.«J'" <.lIn bc ",,:rwd oqu.:o~)' ai lhe ruc.vift; bttr mM. Tbc .y>1<m .... rmiU communi.
lelrflMe1lt.>., b«n '~"ld:) I bbo<~lo", .willrt ... ''''''1 /1(1 OQC cnnloÍd.: iu fIIolh Ulia by tby Of .."hl. OClJ,dltu of ",no
:e':' ~ ~.eo:)= ~~1:
~ lO nu.b it <:oll1l:Zt<u"," .Jnll'll.
UJo</ul
cu "1"'C'pI; nl IlII'IUtt. and e.ln t\'11I
bc~ inviliblt: f')f_~in
_". or 'or. aceordlflt lO J L. ew.cll.
dlicl . . . . . . 01 Iht ~cwr Vort fina
~ ii. It, fml <lIfIUMrcitl lnal
c(,
ii
No_ Uo ,... ulk 0'ITl' , Ii:hl bum'
TI"I' m.in probl= oi upcnmaun. It.u ~ IOf Ihr Cfld 01 )breb .. bcft an
~1oyw.""""'Jll.lIlo1U,,,mp btIft lO Ilnd , litbl ...momlly '''-W'~ 'llltmpt will bc rntd< to t.IIk 10 U iii-
6doW ........... .-i,I> I\l( Il,,",,~:~ ol I' JlI "" U>d 0/1 a, m.Jn)' .. 10.000 IIrrtn corroi.,. [;na-
AJ'l'tL ,tU
98
"luz invisível") talvez que se prestem para fins mili-
tares.
Não podemos terminar este apelo que dirigimos às
autoridades e ao grande público do Brasil sem fazer
uma referência ao grande drama também vivido por
Emani Fomari: depois de concluir o seu trabalho
acerca de Landeil de Moura, não achou quem lhe des-
se maior atenção, e até os jornais em que pretendeu
publicá-lo não cederam o menor espaço. Iô que os bra-
sileiros em geral não acreditam nos patrícios, e su-
põem que todos sejam da mesma estreita bitola. O as-
saz conhecido teatrólogo e escritor teve de guardar
durante dez anos a monografia que escrevera e os do-
cumentos que a fam íl ia do notável Monsenhor confia·
ra à sua guarda, até que nós, de Ciência Popular, fo-
mos formar a seu lado, para a grande batalha da rei-
vindicação.
Nos calendários oficiais da radiotelefonia, da radio·
telegrafia e da televisão está faltando um nome: o do
brasileiro Monsenhor Roberto Landeil de Moura."
99
TELEGRAFIA SEM FIO
101
meios de utilizar o meu invento. O princfpio básico repousa sim-
plesmente nas modificações da resistência do microfone, e as
funções de receptor podem ser exercidas por qualquer detector
de rádio do tipo do de Branly, provido de um electródio contro-
lável. Se bem que eu fale, adiante, de impulsos refletidos e de
ondas de curto comprimento, estas não são essenciais, não
obstante eu as empregue em alguns casos e a distâncias relativa-
mente curtas, de modo a obter melhores efeitos. O mesmo vale
com relação aos raios de luz, ou outros raios ativos, usados con-
juntamente com as ondas refleti das.
Minha invenção é ilustrada pelos desenhos anexos, nos
quais os números e as letras indicam sempre as mesmas peças em
todas as figuras.
A Fig. 1 é o esquema elétrico de todo o aparelho usado em
uma estação. A Fig. 2 vem a ser o corte que mostra parte do
receptor e do transmissor. A Fig. 3 é uma vista, de frente, da
parte superior do mesmo, e a Fig. 4 é um detalhe do dispositivo
de produzir, foneticamente, os sinais telegráficos.
Comporta o aparelho um suporte (A), uma estrutura maior
(8), uma estrutura menor (C), um centelhador (O), o receptor
(E) e outro centelhador (F). A peça 1 do suporte A está monta-
da sobre tubos concêntricos (2), dispostos verticalmente, sen-
do o de fora móvel e comandável por um dispositivo de manive-
la (4), pinhão (3) e cremalheira, de tal jeito que a estrutura 8
pode ser levantada ou baixada à vontade.
A estrutura 8 consiste em duas caixas, cil índricas ou cúb,
cas (5), ajustáveis telescopicamente uma dentro da outra, sobre
uma das quais estão montados um telescópio (6), um nível de
bolha de ar (6 a ) e uma bússola (7~). cam o fim de orientar a es-
trutura na direção de uma estação distante. Dentro, há um es-
pelho parabólico (8) e uma fonte luminosa (9), para ser empre-
gada em meu Telefone sem fio descrito detalhadamente em
outro requerimento meu.
Uma grelha (10), feita de metal recoberto de negro-de-
-fumo, está colocada na extremidade exterior da estrutura, com
o intuito de tornar paralelos os raios de luz do espelho (8). A
estrutura menor (C), cil índrica ou cúbica, montada sobre o su-
porte 11, concentricamente à estrutura maior (8), consiste nu-
ma cobertura intermediária de material isolante (12), na qual es-
102
PATLNTLn NOV. 22, 190...
R. L. DE MOO RA.
WIRELESS TEL&ORAP8 .
• PrI.ICHIt;, TlI.[D lU 1I.lnl
J lJuu-uur I. t
~
'-----1---:>....--1'
,
INVENTOR
./B7~r/o L(Md~1J d,,.,,#'"a.qr,
@i,,-'.YkyU 8r }:((((,uV
- 1Jf'~(('''' .N~-"'"
~T1~
103
Ih. rn,141 PATtNTtD NOV. 22,190"
R. t. OS"MOURA.
WIRELESS TELEGRAPa .
rato lU" II ".,
• rtLlUTlOf
• UCtU-Utrt ..
l.
r s
..
.,l!. ..
104
No. 776.848. fATENTl:1l1l0". 22, 1004.
R. L. D& /dODRA.
WIRELESS T&LEGRAPII'.
Arrl.lOlT'OI flUO J'" 11 UU'
"'UTt-IIIIt J.
I.,TNIS:;IS;
UewI qi,<>'fju-
'1/II~104 .. ." -
105
tá montado um cilindro metálico (13), com uma das extremida-
des hemisféricas, na qual está disposto um espelho côncavo
(14), feito preferencialmente de metal.
No interior dessa estrutura, há um suporte isolado (15),
e sobre ele um feixe de fios (16 e 18), em forma de coroa, ten-
do uma extremidade contraída para suportar uma célula de se-
lênio (21), e as extremidades da coroa terminadas em pontas ou
antenas (17 e 19), dobradas radialmente e em ângulos retos, na
direção do eixo do cilindro. Um tubo de Crookes (20) e uma cé-
lula de vidro hermeticamente fechada (21), em que foi feito
vácuo, não tendo essa peça nenhuma comunicação pneumática
com a outra, estão previstos para ficar parcialmente envolvidos
pelos fios (estes equivalem a caixas de Faraday). A célula de vi-
dro hermeticamente fechada tem a forma hemisférica e é empre-
gada para conter uma placa de selênio, como descrevi em meu
outro requerimento. A célula de selênio é aqui indicada porque
pode ser usada para telegrafar-se com luz intermitente, em cone-
xão com a lâmpada 20, que exerce ação nas placas de selênio
das estações transmissora e receptora.
O fio 23 está Iiqado ao feixe de fios 16 e 18 e também ao
44 sozinho, para transmitir, e ao 46 sozinho, para receber. O in-
terruptor 38 é aberto para a transmissão, mas fechado para a re-
cepção. Os fios 46 e 25, e as peças 55, 58, 56 e 60 são providos
de resistências convenientes. Estão previstas as conexões elétricas
24 e 25 para o tubo de Crookes, da maneira usual. Este é exci-
tado, como habitualmente, por meio de um centelhador (D),
que consiste em uma bateria (30), uma bobina de Ruhmkorff
(31) - a ele ligada e controlada por um interruptor (32) - um
condensador (33), um par de esferas polidas (34) e um fio de
terra (35) munido de um interruptor (36) para quando se dese-
jar tirar de função, como excitadores, as esferas polidas, e para
ligar os fios à terra, como proteção contra relâmpagos ou aci-
dentes. O fio 22 está ligado ao fio 37, que se acha munido de
um comutador de terra (38), que deve ser fechado para receber,
como foi dito. O interruptor 32 pode, às vezes, ser substitu (do
em lugar da chave 41 - isto é, quando as conexões secundárias
das bobinas 43 e 31 cooperam para aumentar a diferença de po-
tenciai entre os terminais dos secundários da bobina 31. Então,
estando 44 fora de ação, a conexão é feita somente com a ante-
na, por meio de 23; 24 liga 23 e 22 a 25, e à sua outra extremi-
106
dade (22) liga-se apenas a 37; 37 liga-se a 38, e este a 45, pela
terra. Neste caso, o interruptor 36 está ligado a 34, onde se pro-
duzem as descargas oscilantes, e as interrupções convencionais
são feitas pela chave 32. Para transmitir por lampejas luminosos,
uso o mesmo dispositivo, estando o interruptor 36 em posição
neutra, assim como os terminais 34. Para receber por lampejas
luminosos, uso os mesmos dispositivos descritos em meus já
mencionados requerimentos anteriores.
Ainda hão de ser especialmente assinalados: um dispositi-
vo próprio de sinalização (F), consistente de uma bateria local
(39), um interruptor (40), uma chave de Morse .(41), um con-
densador (42) e uma bobina de Ruhmkorff (43), munida de
esferas polidas (44), de modelo comum. De uma dessas esferas,
um fio (45) liga à terra, e outro fio (46) liga à coroa de fios 16
e 18. Essa coroa, que pode variar indefinidamente de forma, é
usada na parte interior da peça C somente quando trabalha com
ondas curtas e, então, somente quando se desejar usar a luz de
18 ou de C.
O coesor 50 está ligado a uma bateria local (51), munida
de um comutador (52), sendo este adaptado de modo a pôr em
cantata a bateria, ora com 53, ora com 54. O descoesor está in-
dicado imediatamente à esquerda do coesor, e consiste em um
electroímã (55) munido de uma armadura (56), do modelo ge-
ralmente usado nos coesores, sendo a referida armadura adapta-
da para bater no tubo do coesor 50. O descoesor é ligado, pelo
fio 57, ao fio 25, e 57 pode ligá-lo a 53, 59 e 54, por meio do
comutador 52. O cantata 58, que está adaptado para estabele-
cer cantata com a armadura 56, está ligado ao fio 25'. O fio 59
serve para estabelecer comunicação entre a bateria 51 e a cam-
painha 60. Um aparelho registrador Morse, de modelo comum e
munido de todas as peças auxiliares que acompanham tal apare-
lho (61), é controlado por um interruptor (62), conectado,
quando fechado, ao cantata 54 do interruptor 62. Do cantata
53, um fio (63) conduz ao primário (64) de uma bobina de
indução, partindo, desse primário, um fio (65) para o receptor
sonoro 66. Esse receptor está indicado com maiores detalhes na
Fig. 4. Sobre a armação do receptor e~tão montados terminais
(67), sendo que o parafuso do lado esquerdo é isolado, como es-
tá indicado. Um diafragma (68), protegido por um disco (70) de
material isolante, está montado diretamente sobre a armação, e
107
sobre ele existe, espalhada, uma camada de carvão mordo (69).
Esse carvão é mantido pelo botão de carvão 169a l. sobre o qual
está montada uma caixa isolada (loa). Uma mola de lâmina (71)
comprime normalmente o diafragma 68, suavemente, sobre o
carvão mordo, e uma mola semelhante (72) comprime o botão
69 a para baixo. Uma peça, tronco-eônica (731. é toda perfurada
em anéis concêntricos, destinando-se esses furos (74) à emissão
de sinais fonéticos. Por sobre a armação está montado um dia-
fragma (75) de ferro, e, conectados ao magneto 77 existem os
terminais 76 e 78.
Eis como se opera com o meu aparelho, empregando-se on-
das curtas refletidas ou ondas luminosas: - o interruptor 36 é
ligado ao fio 35, e o interruptor 32 é fechado~como mostra a
Fig. 1; desse modo, excita-se o tubo de Crookes que entra a emi-
tir raios catódicos. O manipulador 41 está agora disposto da
maneira adequada em telegrafia Morse. Em conseqüência, a bo·
bina de Ruhmkorff (43) faz com que salte a centelha entre as es-
feras. Estando o fio 45 ligado à terra, as antenas 17 e 19 emi-
tem ondas etéreas, semelhantes às ondas hertzianas. Calcando a
chave 41, o operador faz centelhar a bobina de Ruhmkorff
(43) continuamente, interrompendo-se as centelhas todas as
vezes que for a dita chave levantada. Os raios catódicos, pro-
duzidos pelo tubo de Crookes, são naturalmente refletidos pelo
espelho (14) e seguem a direção geral do eixo da armação. Esses
raios catódicos, como as ondas actrnicas e etéricas acima descri-
tas, aparentemente se reforçam umas às outras, em seus efeitos,
e o resultado é que o telégrafo é mais eficiente quando todas as
radiações são empregadas. Os raios catódicos, emitidos em osci-
lação contrnua, não são controlados diretamente pela chave
transmissora; eles apenas facultam a propagação das ondas hert-
zianas, controláveis pela citada chave. Quando o centelhador D
está parado, os sinais telegráficos não são tão distintos como
quando o mesmo está em ação.
Agora, o funcionamento do receptor: ·as ondas que
chegam da estação transmissora, produzindo efeitos nas coroas
de fios 17 e 19 e na peça 10, que age como uma capacidade li-
gada às coroas de fios ou antenas, causam perturbações nos fios
23, 46, 38, 37 e 25, e vão ao coesor 50, por isto mesmo afetan-
do a sua resistência. O resultado é que, quando o aparelho está
na posição indicada na Fig. 1 em E, a bateria 51 envia corrente
108
por 50, 60, 59, 57, 56 e pelo fio 58, de volta à bateria. Em sen-
do excitado o coesor, a campainha toca. Advertido, o operador
apenas move o comutador 52, para receber a mensagem: para
baixo, de modo a empregar o contato 54 e fechar o interruptor
62, caso deseje recebê-Ia pelo aparelho Morse: P31ra cima, empre-
gando o contato 53, se quiser utilizar o receptor fonético.
Para receber as mensagens por meio de modificações pro-
duzidas em um som continuo, em concordância com os impul-
sos intermitentes enviados pelo transmissor, o contato 58 deve
ser firmemente comprimido contra a armadura 56, o interrup-
tor 62 deve ser aberto e o comutador '52 colocado sobre o con-
tato 53. Sendo o coesor excitado pelo fechamento da chave,
na estação distante, estabelece-se o seguinte circuito: 51, 50, 50,
66, 65, 64, 63, 57 (através de 52 por 53), 58, para a bateria.
O primário 64, recebendo assim energia, excita o secundá-
rio 79 e estabelece uma corrente alternada secundária, local,
através dos fios 80 e 81 (Fig. 4), e do magneto 77. Este, agindo
sob a ação dessa corrente, faz o diafragma 75 vibrar violenta-
mente. As vibrações do diafragma 75 fazem com que seja a co-
luna de ar da peça 73 alternadamente comprimida e rarefeita, e
cQnseqüentemente vibre o diafragma 68 e varie a resistência de
carvão mordo. O comprimento da coluna de ar deve ser tal que
o diafragma 75 provoque a vibração do diafragma 70 dentro de
certo espaço de tempo predeterminado, com o fim de amplifi-
car as variações da corrente da bateria que atravessa o carvão
mordo. Esse receptor fonético age, até certo ponto, como "re-
lay" automático. E claro que a ação mecânica da coluna de ar
em vibração pode ser aplicada para aumentar ou diminuir a re-
sistência do carvão mordo, e, se isso for feito em momento
oportuno, o efeito da corrente que passa através do carvão mor-
do pode ser aumentado. A vibração do diafragma 75, produzindo
na peça 73 a condenSação e a rarefaçâo da coluna de ar já men-
cionada, faz com que os furos 74 emitam uma nota musical, que
descobri ser semelhante a uma nota de flauta. O efeito geral é
mais ou menos o mesmo que seria produzido se uma pessoa fi-
zesse emitir um sinal Morse por uma flauta, representando uma
nota curta - um ponto, e uma nota relativamente longa - uma
linha. A ligação de um interruptor é necessária para os efeitos
prolongados.
109
Tendo assim descrito minha invenção, reivindico, como
novos, e desejo assegurar por Carta Patente:
1c.> - Um sistema de telégrafo sem fio, compreendendo: os
meios de gerar duas ou mais espécies de ondas, de comprimen-
tos diferentes ou de perrodos diferentes; os meios de dirigir as
ditas ondas para uma estação distante, e de modificar uma ou
mais das espécies, de acordo com um código; e mais os mei.os
de, na estação distante tornada sensrvel por algumas das ondas,
corresponder com mudanças ou modificações em outras, para
assim reproduzir o sinal;
2c.> - num sistema de telegrafia sem fio, ou seja: um trans-
missor compreendendo um conjunto de antenas de ondas hert-
zianas, uma fonte de raios catódicos, uma fonte de ondas acH-
nicas, meios pelos quais as mudanças de um código preestabele-
cido possam ser impressas em um ou mais dos ditos sistemas de
ondas, e meios para dirigir todas as ondas a uma estação dis-
tante;
39 - num sistema de telegrafia sem fio, ou seja: um recep-
tor compreendendo elementos sensrveis a ondas etéreas, devidas
à projeção da luz e às perturbações elétricas ou às descargas os-
cilatórias; meios para combinar os efeitos dos referidos elemen-
tos, e meios de efetuar o alinhamento com uma estação trans-
missora;
4c.> - num aparelho de telegrafia sem fio, ou seja: uma cai-
xa em que estão internamente colocadas uma fonte de luz, uma
fonte de raios catódicos, terminais de descarga para propagação
das ondas hertzianas; meios de controlar a produção de ondas e
de raios, e meios de dirigir a dita caixa para uma estação dis-
tante;
5c.> - um telégrafo sem fio, compreendendo um aparelho
centelhador para produzir ondas hertzianas; meios para atuar, à
vontade, sobre o dito aparelho centelhador, com o fim de pro-
duzir sinais; meios para produzir uma luz catódica substancial-
mente na passagem das ditas ondas hertzianas, e um receptor
sensrvel às ditas ondas hertzianas, e colocado numa estação
distante;
6c.> - um telégrafo sem fio, compreendendo um aparelho
centelhador para transmitir ondas etéreas para o espaco; meios
para atuar, à vontade, sobre o referido aparelho centelhador, a
fim de produzir sinais; um tubo de Crookes para produzir raios
110
catódicos, essencialmente na passagem das referidas ondas eté-
reas, e um aparelho receptor distante, sensível às mencionadas
ondas etéreas;
7C? - num aparelho de telegrafia sem fio, ou seja: uma cai-
xa exterior tendo um refletor e uma fonte de raios violetas, dis-
pondo, a parte interior da caixa, de pontas de descarga e de um
elemento sensível às ondas de luz; meios de produzir variações
nas ondas de luz ou nas ondas produzidas pelas descargas das
pontas, e conexões do elemento sensível e das caixas para apro-
veitamento das ondas que chegam, ou de seus efeitos resultan-
tes, a aparelhos receptores convenientes;
BC? - um telégrafo sem fio, compreendendo um mecanismo
para produzir raios catódicos; um aparelho centelhador para
produzir ondas etéreas, essencialmente na passagem dos referi-
dos raies catódicos; uma chave manual (manipulador) para con-
trolar as referidas ondas etéreas, e um aparelho receptor, sensí-
vel às referidas ondas etéreas;
9C? - um telégrafo sem fio, compreendendo um aparelho
centelhador, um tubo de Crookes por este atuado, um refletor
adjacente ao mencionado tubo de Crookes; meios de gerar
ondas etéreas no referido refletor; uma chave telegráfica para
controlar a produção das referidas ondas, e um aparelho recep-
tor, sensível às mencionadas ondas etéreas.
Em testemunho do que, assinei meu nome nestas especifi-
cações, em presença de duas testemunhas abaixo assinadas.
Testemunhas:
Walton Harrison.
Everard B. Marshall. "
111
TRANSMISSOR DE ONDAS
113
primário este que está ligado ao primário de uma bobina de
Ruhmkorff, para transmissão.
As vibrações sonoras no interruptor são transformadas em
ondas elétricas ou luminosas, as quais, passando para a estação-
-receptora, são a ( recebidas e atuam sobre aparelhos adequados,
por meio dos quais podem elas tornar-se perceptrveis com o em-
prego de um receptor telefõnico, de uma lâmpada, de um regis-
trador Morse, ou coisa semelhante.
Minha invenção está detalhadamente descrita nas seguintes
especificações, e ilustrada nos desenhos anexos:
A Fig. 1 é um corte de meu interruptor-fonético com todas
as partes representadas. A Fig. 2 representa uma chave-regula-
dora para o núcleo da bobina de indução. As Figs. 3 e 4 são dia-
gramas que mostram as conexões do circuito primário do inter-
ruptor. A Fig. 5 é um diagrama dos circuitos-transmissores, com
os aparelhos representados em seus lugares. A Fig. 6 é um
diagrama semelhante, mostrando as ligações do aparelho, mais
detalhadamente.
Com relação à Fig. 1, A é uma caixa, ou invólucro não-
-condutor, e A' é uma tampa.
Esta tampa é feita de modo a conter uma câmara ressonan-
te, na base da qual existe um disco perfurado A 2, corresponden-
te ao bocal do telefone comum e preenchendo as mesmas fun-
ções, quando a tampa A' é retirada. Por baixo do disco A 2, e
sustentado pelo invólucro, está um diafragma (a), tendo em seu
ponto central uma ligeira depressão (a'). Colocada no interior
do invólucro e apoiada em saliências adequadas, há uma bobina
de indução (O), que tem o enrolamento primário d e o secundá-
rio d', em volta de um núcleo de ferro doce (d 2 ). Esse núcleo é
oco, e em seu interior existe um eixo central (8), suportado, em
sua extremidade superior, pela extremidade perfurada do nú-
cleo, e, em sua extremidade inferior, é fixado interiormente por
meio da porca b atarraxada na extremidade inferior do núcleo, e
da guia b 4 • O eixo tem uma cabeça (8'), pela qual pode ser ma-
nipulado. A função do ajustamento é permitir que a estreita
abertura de ar, entre a extremidade do eixo, em b 2 , e o diafrag-
ma a, em a', seja de tal modo disposto que as vibrações da pa-
lavra articulada produzam um movimento contrnuo, rápido e
regular, e interrompam o circuito. Por meio da chave K (repre-
sentada na Fig. 2), a porca b pode ser aparafusada quando o
114
No. ,71.917. PATENTED aCTo II. 1904.
R. L. DE "OORA.
WAVE TRANSIUTTER.
APrI.ICArlll. flUO r u . '''J
lU ll'jl>t1.
n'
"
i!1
F~II··'i·
7
I Ir
!.J 10
'--.,)
&'
17
E ~('
"
X
/05 Li ~
i
r
T
WITNESSfS:
~fi.-:f&r.
115
No. 771.917. PATENTED OCT. 11 • 1004.
L DE MOURA.
R.. MITTER.
WAVETRAN~rtJ."03
4"Ll04 ri 01 riU
lO 10DEL
2 UUTI-IIttT 2
ó
<,o -?I
1/.
IL I?
s' 10
S'
G'
/7
116
eixo está ajustado, introduzindo as hastes k e k 4 da chave nos
oritrcios b 3 da porca. Fixado na extremidade superior da tam-
pa A', existe um tubo flex(ve! (el, com um bocal (e). Para fazer
uso do aparelho, o operador fala de acordo com um código pre-
estabelecido, ou de qualquer outra maneira, pelo bocal e. As
ondas sonoras propagadas através do tubo, e passando através da
abertu ra central da tampa A', atuam sobre o diafragma a, produ-
zindo uma vibração correspondente, em conseqüência da qual,
se os ajustamentos tiverem sido corretamente feitos, uma série
rápida de contatos e interrupções ou de sucessivos contatos terá
lugar entre o diafragma e a extremidade b' , correspondendo sua
freqüência às ondas que produzem.
Esses contatos e interrupções determinam impulsos ou va-
riações da corrente no circuito primário 12, estando as conexões
do circuito claramente representadas nas Figs. 3 e 4. Na figura
3, o fio terminal 2 da baterial local m está ligado ao eixo B em
sua extremidade inferior ou cabeça, enquanto o fio primário 1
passa diretamente pará o enrolamento, e dar para a ligação n
com o diafragma.
Na Fig. 4, o fio primário 1 passa através da bobina para o
diafragma, e o fio 2 está ligado à extremidade b' do eixo. E ela·
ro que, em ambos os casos, a produção e as interrupções de con-
tatos têm como conseqüência produzir pulsações de corrente no
enrolamento primário, correspondendo muito aproximadamen-
te aos tons da vo·z ou aos sons por ela produzidos. Certamente
é imposs(vel obter um ajustamento de contato tão perfeito que
reproduza todos os harmônicos e torne perfeita a articulação;
mas, por outro lado, para obter os efeitos da descarga a que vou
agora referir-me, penso ser melhor obter interrupções positivas
do que simples mudanças de resistência no circuito. Não é ne-
cessário dizer que posso ajustar os contatos de modo a produ-
zir contatos constantes e pressão variável, requisitos para que
seja perfeito o trabalho microfônico; mas, com intuitos práticos,
acho que é melhor produzir os impulsos do modo que descrevi.
Considerando agora a Fig. 5, vou descrever as conexões
de meu aparelho, para obter um sistema eficaz. Como a Fig. 6
mostra as mesmas partes, com maiores detalhes, as referências
podem aludir também às conexões detalhadas. Nessas figuras,
F é uma bobina de Ruhmkorff ou outra qualquer bobina de in-
dução e de alta potência, ajustada de maneira a produzir uma
117
centelha de certo comprimento - digamos de cerca de um quar-
to de polegada ou mais.
O enrolamento primário (f) dessa bobina está ligado ao cir-
cuito 15 16, que inclui a bateria principal M e o interruptor fo-
nético A.
O enrolamento secundário da bobina F, assinalado por (',
está ligado pelos fios 7 e 8 aos terminais 21 e 20 do feixe de fios
irradiantes, que podem ser de forma comum ou especial de qual-
quer condutor aéreo, com ou sem terra de um dos lados.
Um par de terminais (11 e 12), para produzir centelha, está
previsto, para ser intercalado no circuito 7 8, pelo simples fe-
chamento do interruptor S', por meio do contato s', estando os
fios de ligação marcados (9 e 10). Está também ligado ao circui-
to secundário, por meio dos fios 13 e 14, um condensador (G),
de capacidade conveniente.
O circuito primário 15 16 vai da bobina de Ruhmkorff aos
terminais primários da bobina de indução D, no interruptor
fonético. O enrolamento secundário d' está ligado a um circuito
local (19), que contém um receptor telefônico (Ti, e o circuito
primário inclui uma lâmpada (E), que pode servir tanto para
transmitir quanto para receber mensagens. Existe também um
condensador (G), de capacidade conveniente, intercalado no cir-
cuito primário.
A maneira de usar o sistema descrito, é a seguinte: Para
transmitir ondas hertzianas, correspondentes a vibrações sono-
ras, o interruptor S' é fechado, o interruptor S é aberto, e o ope-
rador passa a produzir os sons desejados, por meio do bocal c do
interruptor fonético. Url)a sucessão de impulsos é assim produzi-
da no circuito primário da bobina F, efeito este que é aumenta-
do pela presença do condensador G, que absorve o excesso de
corrente, contribui para a rápida desmagnetização da bobina de
indução, e impede, ainda, a produção de centelhas entre o dia-
fragma e a ponta do eixo. Estes impulsos no primário, que são
muito rápidos e que atingem cerca de quinhentos a novecentos
por segundo, quando a ·ajustagem é adequadamente feita, pro-
duzem impulsos de alto potencial no secundário. Para produzir
oscilações de luz por meio do interruptor, na estação transmis-
sora, emprego a voz humana natural, de preferência, porque as
tremulações produzidas, correspondendo, em forma e freqüên-
cia, aos sons iniciais, e sendo estes convenientemente reprodu-
118
zidos com o aux (lia de aparelhos adequados, na estação recep-
tora, permitem o reconhecimento mais ou menos perfeito dos
sons originais, e visto como mu itas palavras ou tons podem ser
reconhecidos por seu valor intr(nseco, tanto como por qualquer
valor que lhes possa ser emprestado por meio de qualquer códi-
go arbitrário, um número suficiente de palavras distintas pode
ser selecionado, para constituir um código completo e muito efi-
ciente.
Iô claro que outras fontes de vibrações sonoras podem ser
empregadas para substituir a voz humana. Assim, para produzir
oscilações elétricas por meio do mesmo interruptor, pode ser
usada, na mesma estação transmissora, uma fonte de sons cons-
titu (da de um instrumento· musical semelhante a um pequeno
órgão, tendo um conjunto de palhetas ou de tubos com dispo-
sitivos de controle e um ou mais tubos acústicos ligados ao
bocal do tubo-interruptor. Fazendo vibrar então fortemente o
diafragma do interruptor, este produz oscilações de luz ou de
eletricidade que podem ser recebidas, depois de transmitidas,
por meio de qualquer aparelho convenientemente sens(vel. Em
adição a este método de transmissão por meio de ondas elétri-
cas ou luminosas, como disse, algumas das particularidades aqui
descritas podem ser usadas juntamente com os meus outros sis-
temas. Em um desses sistemas, emprego ondas ou sinais intermi-
tentes de luz, para transmitir sinais de código. No caso presente,
posso empregar a lâmpada E, de modo análogo, produzindo as
variações iniciais de corrente por meio do interruptor fonético.
Se as pulsações de luz forem demasiadamente rápidas, po-
de-se regular o ajustamento dos terminais fixos e do diafragma,
até que a amplitude das vibrações seja suficiente para eliminar
todos os tons, menos os fundamentais. De fato, pode ser dado
mais peso ao diafragma, se assim for preciso, ou suas pulsações
podem ser, de outro modo, retardadas. No caso da transmissão
ser feita com ondas de luz, emprego o ~efletor e posso usar tam-
bém telas de vários materiais, tais como lâminas de vidro colori-
do, e, se me aprouver, substituir a lâmpada indicada por uma
lâmpada catódica, do tipo descrito em meu outro requerimento,
ou qualquer outra espécie de luz.
Observe-se que o mais importante e, de fato, o aspecto es-
sencial de meu invento é o emprego de um transmissor que se
119
liga e desliga por efeito das vibrações sonoras, fazendo com que
as ondas de luz ou electromagnéticas transmitidas correspon-
dam, de modo bem aproximado, às ondas sonoras pelas quais
são elas produzidas. (O grifo é nosso.)
Tendo assim descrito meu invento, o que reclamo, e desejo
assegurar por Carta Patente, é:
120
to, um circuito primário, portanto, com um gerador de corrente
e um circuito interruptor periódico, nele inclu ído, juntamente
com os meios inerentes ao referido circuito primário, para pro-
duzir raios de luz de intensidade variável, correspondentes às
pulsações de corrente nos circuitos primário e secundário,
como foi substancialmente descrito;
69 - um interruptor fonético ou transmissor para ligar e
desligar, para circuitos de sinalização, compreendendo uma cai-
xa ou invólucro, uma bobina de indução em seu interior, um
par de cantatas montado sobre ela, conexões de circuito para o
circuito secundário e outras ligações de circuito, partindo do
primário para o par de cantatas, como foi substancialmente des-
crito;
79 - em um sistema de sinalização elétrica sem fios, a
combinação dos seguintes componentes: - uma bobina de indu-
ção; um circuito secundário de descarga, para a dita bobina; ter-
minais de descarga, ajustáveis, e um condensador intercalado no
dito circuito; um circuito primário e um gerador de corrente
nele inclu ído; um interruptor de circuito periódico no referido
circuito primário; uma lâmpada elétrica intercalada no referido
circuito primário e um condensador também ligado no circuito
primário, como foi substancialmente descrito;
89 - um interruptor fonético para telegrafia sem fio, com-
preendendo uma caixa ou invólucro, um diafragma, uma tampa
perfurada, cobrindo o diafragma; uma câmara sonora, dentro de
uma segunda tampa com um tubo-condutor e um bocal, portan-
to; um eixo de cantata, ajustável, alcançando uma distância
muito próxima ao diafragma e formando com este as terminais
de um circuito primário, juntamente com os meios de fixar o
dito eixo ao núcleo, quando ajustado, como foi substancial-
mente descrito;
99 - em um sistema de sinalização elétrica sem fio, uma
lâmpada elétrica, um circuito e um gerador de corrente para ele,
e um interruptor de circuito periódico adaptado de modo a esta-
belecer e interromper o referido circuito, com os meios de atuar
sobre o referido interruptor, por meio de vibrações sonoras ou
tons musicais, por intermédio dos quais podem ser produzidas
variações de irradiação da referida lâmpada, correspondentes às
referidas vibrações ou tons, como foi substancialmente descrito;
121
10<:> - em um sistema de sinalização elétrica sem fio, uma
lâmpada elétrica, um circuito e uma fonte de corrente a ele des-
tinada; um interruptor periódico no dito circuito, adaptado de
modo a estabelecer e interromper o mesmo, quando atuado; um
condensador conectado ao circuito, e meios de atuar sobre o in-
terruptor por intermédio de vibrações sonoras ou tons musicais,
por meio dos quais pode ser produzida uma série de pulsações
de corrente, com as correspondentes variações de irradiação da
lâmpada, como foi substancialmente descrito;
11<:> - em um aparelho de transmissão para sistemas de si-
nalização sem fio, um circuito primário, um interruptor periódi-
co e, indu ída, uma lâmpada elétrica, um circuito secundário
tendo terminais de descarga adaptados de modo a produzir on-
das electromagnéticas; uma bobina de indução tendo os seus en-
rolamentos nos circuitos primário e secundário, respectivamen-
te, e meios de atuar sobre o referido interruptor de circuito, por
intermédio de vibrações sonoras, como foi substancialmente
descrito.
Em testemunho do que, aqui assinei meu nome.
Testemunhas:
Daniel B. Tamagno.
Eugene M. Berard."
122
TERCEIRA PARTE
OUTROS TRABALHOS DO PADRE
LANDELL DE MOURA
123
Fac-símile de duas pdginas do "Caderno A N.
124
cupação de ordem cronológica, a não ser nas primeiras páginas
(faltam nesse caderno as primeiras 16 folhas), ia ele anotando
o resultado de seus estudos filosóficos, investigações cientificas,
observações, resumos de prédicas e até registro de despesas e ras-
cunhos de cartas. Constam desse caderno os seguintes capítulos,
ora escritos a tinta, ora escritos a lápis, de decifração dificflima
em virtude da escrita nervosa, intrincada e, por vezes, sintética
e abreviada do autor: Sobre o elemento R. - O Perianto. - So-
bre a influência da circulação em relação a certos estados anor-
mais. - Sobre a mudança da personalidade. - Sobre o fenôme-
no da reversibilidade sensorial. - Sobre a causa das perturbações
da vida psíquica ou de relação. - Sobre a enfermidade de Esta-
do ou a nevrose dos dirigentes. - Sobre as principais modalida-
des ou espécies de caráter. - Sobre os estados anormais (extá-
ticos). - Sobre a oração ordinária e extraordinária. - Sobre os
músculos, em geral e particular, e os nervos. - Sobre a analogia
existente entre a eletricidade e a estenicidade ou elemento R. -
Sobre a indução estênica. - Sobre os efeitos da estenicidade à
distância. - Sobre a capacidade dos nossos sentidos e pequenez
dos nossos conhecimentos em relação ao mundo exterior ou ex-
terno. - Sobre a matéria. - Sobre os átomos. - Sobre os íons.
- Sobre os átomos de outrora. - Sobre a percepção intelectual
ou a idéia e suas conseqüências na vida do espírito ou da moral
cristã. - Sobre o elemento universal. - Sobre os corpos sólidos
e líquidos. - Natureza do éter. - Sobre o éter, o átomo-suporte
e a fricção primária dos corpos. - Origem da terra e dos demais
sistemas planetários - Sobre os sentidos da alma. - As extremi-
dades opostas do mundo. - Nas regiões ultra-etéreas. - O do-
mínio da vontade sobre os sentidos. - Sobre os estados perex-
táticos. - Sobre a mastu rbação nas crianças, nos adolescentes e
nos adultos. - Amor e desenQano. - Sobre o ideal e a ficção. -
Sobre o belo e o bom. - Sobre a natureza dos corpos. - So-
bre as duas inclinações ou poderes existentes no homem. -
O falso suposto em que vivemos. - Sobre os movimentos psí-
quicos de nossa alma. - Sobre a graça. - Sobre a unidade das
forças e a harmonia do universo. - A gênese das causas.
E outros e outros mais.
Pois bem; pela transcrição que vamos fazer agora de alguns
dos referidos capítulos - de alguns, apenas - poderão os leito-
res certificar-se de que o digno sacerdote jamais deu mão aos es-
125
píritas, chegando mesmo, além de considerá-los anormais, a
apresentar uma explicação cientifica para os chamados "fenô-
menos mediúnicos".
Antes, porém, de iniciarmos essa transcrição, queremos
chamar a atenção dos leitores para os seguintes pontos: 1'? -
que esses capítulos foram escritos no princípio deste século,
motivo por que talvez a mu itos parecerão superadas algumas
afirmações neles expressas; 2'? - que, para melhor compreensão
das idéias e teorias do autor, bem como para melhor clareza de
sua redação, fomos obrigados, por vezes, a intervir em seu texto,
seja completando frases inacabadas ou apenas sugeridas, seja eli-
minando redundâncias e repetições (muito naturais, de resto,
em um borrão), seja, ainda, àcrescentando, aqui e ali, palavras
ilegíveis, apagadas ou esquecidas de grafar, mas que, pelo senti-
do da oração, deveriam ser, necessariamente, as que emprega-
mos.
Isto explicado, damos a palavra ao Padre Landell de Moura:
A - SOBRE O ELEMENTO R
126
diam no átomo do elemento R.
Dai cheguei a estas conclusões:
1~ - Que, como já disse, todos os fenômenos que se obser-
vam nos corpos diamagnéticos são devidos a esse elemento R;
2~ - que esse elemento R, tanto nos corpos inorgânicos
como orgânicos, se transforma em energia magnética, elétrica,
calorifica, luminosa, ondulatória e radiante;
3~ - aue se não há atração ou repu Isão entre os corpos
diamagnéticos é devido a esses corpos se acharem em estado que
impossibilita o fenomeno da coercibilidade. Os outros fenôme-
nos, porém, de indução e de transformação da energia do ele-
mento R em magnéticos, elétricos etc., podem se dar, como de
fato se dão.
B - O PERIANTO
127
obrigaram a distingui-lo, ou dar-lhe o nome de Perianto ao efei-
to e à causa do elemento R, isto é, da vida de relação entre o
psiquismo superior e o inferior.
5 - O perianto é por si invis(vel; mas, por intermédio de
certas luzes, pode tornar-se vis(vel, e até mesmo ser fotografado,
se usarmos ou intercalarmos entre o corpo, cujo perianto estu-
damos, e a luz especial, uma plancha ou papel apropriado.
6 - Um pequeno animal, preferivelmente de pêlo curto,
posto nestas circunstâncias e dentro de um tubo apropriado, se
mediante uma máquina pneumática a mercúrio for se fazendo
pouco a pouco o vácuo, ver-se-á, quando o animal permanecer
quieto, em estado de agonia, que na plancha se desenhará, sob
forma vaporosa, a figura do animal. Ver-se-á mais que, ao expi-
rar o mesmo essa forma vaporosa elevqr-se-á na pi ancha.
7 - Poder-se-á ver também diretamente quando, mediante
certas luzes, se puder conseguir o fenômeno da interferência dos
raios. E há casos em que, quando a condensação se torna bem
densa, com certas e determinadas luzes, removendo o animal,
no lugar em que ele se achava permanecerá, por instantes, o seu
perianto, formando um duo dele, que, não raras vezes, em vez
de se apresentar 'sob a forma branca vaporosa, se mostra com-
pacto e colorido, com as cores naturais do animal, devido tam-
bém à luz. O que prova que o perianto é devido a uma vibração
de um elemento mais sutil do que o ar.
a- Do que acabamos de dizer, podemos tirar os seguintes
corolários: 19 - que o perianto, em circunstâncias apropriadas,
pode ser fotografado, justificando seu nome, isto é: coisa que
envolve o corpo humano sob uma capa ou zona vaporosa, mais
ou menos densa; 29 - que ele pode ser transportado. da placa
natu ral da retina para ii de uma câmara fotográfica. E da f as se-
guinteS conclusões: a) que no corpo humano existe um elemen-
to que dá origem aos fenômenos do perianto e conseqüentes co-
rolários; b) que pode ser fotografado di reta ou indiretamente;
c) que certas qualidades de luzes influem para que ele possa ser
fotografado, como também para que se torne vis(vel a olhos
nus; d) que ele pode, à semelhança de um duo do indivfduo, re-
presentá-lo sob formas unicamente vaporosas, ou também com
as cores naturais; e) que, se esse indivfduo estiver sob a ação do
hipnotismo ou de qualquer outro estado anormal capaz de mu-
dar-lhe a personalidade, o seu perianto, neste caso, apresentará
128
as feições da personalidade que ele supõe ser no momento; f)
que, devido ao perianto, não repugna que, em certos estados
anormais, o individuo possa apresentar o seu duo sob formas va-
porosas mais ou menos condensadas e mais ou menos duráveis,
consciente ou inconscientemente, como geralmente sucede, jun-
to a si ou distanciado; g) que, segundo o grau de condensação,
poderá tornar-se palpável e resistente, simulando todos os fe-
nômenos da vida psico-orgânica devido ao prolongamento di-
nâmico, não sendo o que ele então apresenta senão um reflexo
do corpo do indivrduo que o produziu, de forma que se o indi-
vrduo falar ou mover qualquer parte do corpo enquanto o seu
perianto age aparentemente, este último deixará de agir incon-
tinenti; h) que tanto os bons como os maus anjos podem dele
se utilizar para simular os fenômenos da vida de relação, mas
que neste caso (ã exceçãode um milagre) é que se verifica o que
acima dissemos: quando o perianto, sob a ação do bom ou do
mau esp(rito, age, se o corpo do indivrduo que o produziu age,
ele deixará incontinenti de agir, precisamente na forma que o
individuo age; i) que, provavelmente, o fenômeno da bilocali-
zação tem seu principio na condensação do perianto, quando o
fenômeno se opera naturalmente, muito embora por leis ainda
não bem conhecidas. E muitos outros fenômenos como do hip-
notismo, do magnetismo, do espiritismo, dos sonhos em ação,
do sonambulismo etc.
129
estados, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor
freqüência, segundo· o agente moral ou físico ser mais ou
menos apropriado para produzir essa atividade que determinou
ou provocou a modificação da circulação cerebral.
2 - Neste estado, o indivíduo tem conhecimento do que
se passa dentro e fora de si. Porém não tem consciência. porque
não está em condições de poder refletir, não pode verificar se o
que se passa com ele é ou não real. Aceita, porque nesse estado
o critério da consciência sensitiva é unicamente o que o assiste
e nas circunstâncias em que se acha, o seu organismo e o seu psi-
quismo não lhe permitem conscienciar, refletir, verificar, numa
palavra, se é realmente exato o que com ele se passa.
3 - Então ele age sob a ação e impressão do automatismo
psíquico, como agiria um cadáver no qual ainda existisse algum
resíduo de vida orgânica ou vegetativa; agiria, digo, sob a ação e
impressão do automatismo, neste caso - fisiológico. No primei-
ro caso, ele age como um autômato por conta das idéias que lhe
foram sugeridas pelos centros nervosos ou periféricos. Pensa, ra-
ciocina, reflete sobre tudo, menos sobre o estado em que se
acha; e se porventura reflete sobre ele, tem-no como o mais nor-
mal deste mundo. Não sucederia assim, se ele pudesse refletir,
conscienciar intelectualmente ou sensivelmente sobre o que lhe
sugerem tanto os sentidos internos como externos. Daí, a im-
possibilidade de refletir sobre o estado anormal em que se acha.
No segundo caso, ele age, em toda a extensão da palavra, como
verdadeiro autômato, cujo maquinismo, atuado por um agente
capaz, o põe em ação; e isto só até quando a corrente de vida or-
gânica, ou de relação, circula pelo seu organismo. Quando essa
corrente deixar de animá-lo de alguma forma, como um apare-
lho, em que a corrente elétrica já não percorre, cessa de mover-
-se - assim também sucederá com ele. No primeiro caso, há co-
nhecimento sensitivo; no segundo, nem sequer existe este co-
nhecimento. Entretanto, o organismo, ou parte dele, põe-se em
movimento, porque o agente, de um modo mecânico, embora
fisiológico, pelas impressões no estado de vida preadquirida,
logo que o órgão seja impressionado, se porta como um nervo
reflexo, dando pelo nervo motor a resposta. Tal qual como su-
cede com um cadáver, quando se lhe aplica a eletricidade em
um dos nervos reflexos. Aqui, em vez da corrente, pode ser a
130
impressão do nervo produzida, por exemplo, pela palavra, que
faz vibrar aquele órgão, o qual, transmitindo essa vibração aos
centros nervosos, irá traduzir-se pelos nervos motores na perife-
ria com este ou aquele movimento deste ou daquele órgão.
4 - Voltando agora ao primeiro caso, direi que, no auto-
matismo psiquico, o individuo pode agir não só sob as irlJpres-
sões das faculdades intelectuais, mas também sob as impressões
dos sentidos tanto externos como internos. Em tal caso, ele tem
um sonho em vigília, e basta vê-lo para perceber-se que ele está
de fato completamente alienado de si próprio, não se sente, e
quase não presta atenção ao que se passa em volta de si.
5 - Esse mesmo estado sói acometer-nos em certa fase do
sono, e então temos um sonho no sono, mais ou menos enca-
deado e nítido, segundo ·nos achamos mais aquém ou mais
além do sono profundo.
6 - As manobras do hipnotismo, do chamado magnetismo,
do espiritismo e da sugestão etc., enfim de tudo que pode con-
tribuir, moral ou fisicamente, para acelerar ou retardar a circula-
ção, levará o indiv iduo a estes estados anormais, tão apropria-
dos para as manifestações ou realização dos fenômenos do hip-
notismo, do magnetismo, do espiritismo, da sugestão etc., os
quais, até certo tempo, permaneceram como que misteriosos e
inexplicáveis, e não raras vezes sobrenaturais. .
7 - Há casos em que o individuo, entrando nestes estados
anormais, vive de uma vida completamente diferente da trivial
ou normal. Então, ele age, pensa e sente, sob as impressões e
conhecimentos adquiridos nestes estados anormais, inteiramen-
te obliterado da vida, pensamentos e sentimentos do estado nor-
mal. E quando estes estados anormais se reproduzem freqüente-
mente, chega a ter, muitas vezes, as suas relações muito intimas
e particulares de pessoas, fam rijas, lugares preferiveis, as suas ca-
sas, seus estudos e predileções. Faz grandes excursões, prolon-
gadas viagens por terra, pelo mar, pelos espaços, pelos planetas,
vê e ouve coisas inauditas, e, não raras vezes, percorre lugares
por ele desconhecidos, porém cheios de encantos e felicidade.
Fala e escreve coisas que só por ele são faladas e pelos seres sub-
jetivos de sua intimidade e relações. Quando volt2 ao estado
normal, não se lembra de coisa alguma; e se porventura alguma
vez se lembra de algo, é sempre de um modo muito incompleto
e confuso. Todavia, conhecemos o que com esse indivíduo se
131
passa, porque nestes estados anormais ele fala e age como se es-
tivesse em si.
8 - Nestes estados, notam-se modificações mais ou menos
pronunciadas de personalidade, seja pelo frsico, seja pelo moral,
porque, geralmente falando, ele toma o porte, a atitude, os ges-
tos, a voz e, até, os mesmos defeitos ou imperfeições caracteris-
ticas dos individuos que ele supõe ser. Ele dá corpo, vida, ex-
pressão, numa palavra, a todos os fantasmas da imaginação, e
com eles conversa, come, ri e se diverte, como o faria na real i-
dade se se achasse em tais circunstâncias e em seu estado nor-
mal.
132
falso suposto inicial, aja e pense como se se tratasse de uma rea-
lidade concreta. Daí o convencimento que ele manifesta em seus
gestos, em suas palavras e ações. Estes estados anormais, com o
volver dos tempos, se tornam como que normais, constituindo
para o paciente uma como que segunda vida, em que, sempre
que ele entra, se encontra com os lugares, os sítios, as regiões,
os indivíduos, as fam(lias, com as quais, em seus vôos fantásti-
cos, ele se entretém.
5 - E de tudo que acabamos de expor, não nos será mui
difrcil enveredar por essas sendas outrora tão misteriosas e ma-
ravilhosas do hipnotismo, da sugestão, do suposto magnetismo
e espiritismo, como, outrossim, da mística natural ou diabólica,
e encontrar para todos esses fenômenos, às vezes tão transcen-
dentais, uma explicação, ou, quando menos, uma interpretação
capaz de nos arrancar desse caos de dúvidas e incertezas em que
tais fenômenos soem arrojar-nos.
6 - Por último, direi que é preciso estarmos muito preca-
vidos e muito bem aparelhados para não nos deixarmos levar pe-
las aparências e as mistificações, não só dos indivíduos que apre-
sentam tais fenômenos mas também dos interessados ou entu-
siastas partidários dessas idéias, maximé se são ignorantes
quanto à religião e mostram muita falta de conhecimentos rela-
tivamente ao assunto, a não ser os que eles possuem exclusiva-
mente e os professam e propagam como um dogma de fé cien-
trfica e religiosa. A essa classe de infelizes idiotas ou ignorantes
pertencem os hipnotizadores, sugestionadores, magnetizadores,
materialistas, ocultistas, ou espíritas.
SOBRE O FENOMENO DA
REVERSIBILIDADE SENSORIAL
133
imaginação uma imagem correspondente, e esta imagem, impres-
sionando o órgão sensório, faz que ele reaja, produzindo uma
sensação que, por um fenômeno de reversibilidade, pelo proces-
so que se dá segundo o curso natural, segue a sua marcha natu-
ral. E tem-se então a ilusão de que o órgão externo foi, com
efeito, impressionado por um objeto externo. E a alucinação,
tão freqüente nos febricitantes ou delirantes.
3 - Este fenômeno se dá quando a consciência intelectual
não funciona, o que pode ser produzido ou ocasionado por uma
lesão dos aparelhos das funções correspondentes, ou pqr uma
abstração sui generis devido a um excesso de concentração da
atenção, que acaba por deixar o paciente alheio a tudo que se
passa em volta de si, ou pela perda da noção do tempo e do es-
paço, ou, finalmente, pela sopitação dos sentidos, com exclusão
de um só, que se encontra em atividade, e através do qual se
opera, nos órgãos internos sensoriais ou intelectuais, o fenô-
meno inverso da percepção ou direto pela associação das ima-
gens intelectuais ou sensitivas das sensações, dos movimentos
etc., das idéias, dos conceitos e dos sentimentos.
134
ao mesmo tempo, do conhecimento não só da impressão, mas
também do conhecimento da impressão que experimentamos.
Este fenômeno é o que constitui a consciência dita de nossos
atos, própria do ser racional. O irracional não pode ter este co-
nhecimento, porque pressupõe a reflexão, que é um fenômeno
imaterial que só pode ser produzido por uma faculdade igual-
mente imaterial, qual é a inteligência.
135
é a falta de vontade, propriamente falando, senão o mau hábito
contraído, que cria em nós uma segunda natureza, que muito
se parece com o instinto natural dos irracionais, maximé com re-
lação ao irasdvel.
5 - E necessário também, como uma condição sine qua
non, que removamos para longe de nós tudo quanto pode con-
tribuir, quando menos diretamente, para fomentar esse nosso
caráter ou temperamento vicioso, natural ou adquirido, e pro-
curemos, inter pares, sendo possível, a companhia das pessoas
que possuam um caráter tal qual como o que desejaríamos. Pois
é singular e, ao mesmo tempo, assaz prodigiosa e eficaz a in-
fluência que podem ter sobre nós as pessoas com quem tratamos
ou convivemos. Daí, o ditado: "Dize-me com quem andas, e eu
te direi as manhas que tens." Porque, sem percebermos, pouco a
pouco copiaremos em nós mesmos tudo quanto mais avulta e
nos impressiona em essas pessoas.
6 - E o resultado será que, não constituindo esse caráter
ou temperamento o nosso caráter ou temperamento individual,
muito e muito teremos que sofrer, se não metermos mãos à
obra, porque a cada passo teremos que nos contrariar e mudar
de caráter, contra a nossa vontade ou inclinações, por isso mes-
mo que esse caráter, para nós estranho, não tem raízes na nossa
natureza individual. E, neste caso, o único remédio que temos é
fugir às ocasiões e preveni-Ias, para não nos contrariarmos, e
procurar pessoas de caráter e temperamento semelhantes aos
nossos, alegando-se serem esses o nosso caráter e o nosso tempe-
ramento. Mas isso, em certas circunstâncias, seria o mesmo que
nos condenarmos ao ostracismo, tornando-nos, com o tempo,
misantropos e insuportáveis.
7 - E certo que não podemos mudar o nosso caráter ou
temperamento, mas é também certo que podemos modificá-lo,
educando-o, corrigindo-o de todas as suas asperezas e de tudo
quanto a sociedade ou traquejo social repele - o que facilmente
conseguiremos se pusermos em prática o que acima fica expos-
to. E já que se falou em caráter, digamos alguma coisa sobre este
assunto de magna importância.
136
SOBRE AS PRINCIPAIS MODALIDADES
OU ESPECIES DE CARATER
137
que, apesar de possu (rem um caráter aviltante, não são tão peri-
gosos e prejudiciais à sociedade como os do segundo grupo, os
quais podem perfeitamente insinuar-se, já que têm muita lábia
e fizeram um estudo muito especial para atrair e agradar ainda
aos seus próprios inimigos, quando isso lhes convém, e sabem
também ladear obstáculos sem que, não obstante, se saiam mal.
E se porventura não são felizes, têm sempre em volta de si a tur-
ma de bajuladores, que, muito antes que eles se externem, se
põem em campo, para os agradar ou, quando menos, para lhes
merecer a confiança.
4 - E são estas duas últimas modalidades de caracteres as
que mais se descortinam aos dirigentes ou aos que têm algum
cargo de muita responsabilidade, os quais, di~nte das dificulda-
des, desilusões e dissabores, acabarão por contrair a "nevrose
dos dirigentes", que os tornará imprestáveis a si e aos que os
rodeiam.
Como acima dissemos, só a virtude do Alto, quando em
tempo O procuramos, poderá livrar-nos dessa nevrose, pôr um
lenitivo a esses males, tornando-nos, em nosso posto, dignos
dele, dignos de nós mesmos e dos que nos circundam ou de nós
dependem.
138
seu veredictum, quando diz: "Não contestamos os fatos, e por
isso mesmo, não encontrando para eles exolicacão, não apela-
mos tampouco para o supra-sensível, que desconhecemos, mas
para a ciência do futuro, que talvez possa encontrar a explicação
para estes fenômenos." E se se instar com o biologista sincero,
ele dirá: "Segundo as minhas crenças religiosas, eu explicaria os
fatos desta forma; agora, segundo as vossas crenças, não sei nem
quero saber como os explicais, porque a explicação que tenho
é-me mais que suficiente para orientar-me nestes páramos, onde
não é Iícito nem possível penetrar sem a orientação do Alto,
comprovada, não pelo que se ouve nessas manifestações, mas o
que as nossas crenças dizem sobre elas."
139
uma luz pálida ou colorida.
5 - Como a eletricidade, a estenicidade é retida à superfi-
cie dos corpos e não se irradia, como o calor, em virtude da pou-
ca condutibilidade do ar seco.
6 - Isso levou-me a considerar o corpo humano revestido
de uma camada de estenicidade que, como a eletricidade, sendo
novamente acrescentada, se torna mais espessa ou mais densa -
dai o ter-lhe eu dado, por analogia, o nome de espessura ou den-
sidade estênica.
7 - Considerando-se - como se supõe em relação à eletri-
cidade - que a estenicidade seja um fluido, cujas moléculas es-
tão em um estado de continuo movimento de repulsão, deve-
mos admitir que, quando ela está acumulada no corpo humano,
se esforce por abandoná-lo, o que não consegue em virtude da
resistência que o ar lhe oferece. A este fato, também por analo-
gia, dei o nome de tensão estênica.
8 - A estenicidade, como a eletricidade, manifesta-se por
efeitos mecânicos, Hsicos e quimicos que ocorrem no corpo
humano. Iô possivel até que tenham uma e mesma origem, e
que não sejam senão modalidades ou variedades de manifesta-
ções de uma mesma causa eficiente material, ainda não bem de-
finida. Isto quanto à sua origem remota. Quanto à próxima de
seus fenômenos, como a eletricidade, a estenicidade, nos efeitos
mecânicos, se manifesta pelo atrito, a fricção, a pressão, a tor-
ção etc.
9 - Nos efeitos de origem fisica - pelo calor, a mudança
de temperatura e o estado moral, Hsico e intelectual da pessoa.
10 - Nos efeitos qu imicos - em todas as reações que se
dão no organismo humano, as quais constituem das mais copio-
sas fontes da estenicidade dinâmica.
11 - Por último, verificamos que, como a eletricidade, as-
sim também a estenicidade manifesta os fenômenos ditos de
atração e repulsão, e que, como na eletricidade, estão sujeitos
às leis seguintes: 10 - As atrações e repulsões variam na razão
inversa do quadrado das distâncias; 2~ - as atrações e repulsões
estênicas são proporcionadas às quantidades de estenicidade de
que os corpos estão animados.
140
SOBRE A INDUÇAO ESTI:NICA E A
ANALOGIA QUE EXISTE ENTRE
ELA E A ELETRICIDADE
141
5 - Este fenômeno se interpreta da mesma forma que o
seu análogo em eletricidade, ou seja: o corpo indutor, cuja este-
nicidade é positiva, decompõe, por influência, a estenicidade do
corpo induzido; atrai a si a estenicidade de nome contrário e
repele, para a outra extremidade, a estenicidade de nome igual
ou homogênea, separando-se, assim, as duas estenicidades pela
influência do corpo indutor ou estenicidade contrária do corpo
indutor.
6 - Mas se fizermos comunicá-lo com a terra, as duas este-
nicidades se recompõem e o corpo volta ao seu estado neutro.
142
SOBRE A CAPACIDADE DOS NOSSOS
SENTIDOS E PE~UENEZ DOS NOSSOS
CONHECIMENTOS COM RELAÇAo
AO MUNDO EXTERIOR
143
das pelos corpos num segundo, ficamos privados de um núme-
ro de conhecimentos e verdades que superam, incomparavel-
mente, os conhecimentos e as verdades relativos ao mundo ex- .
terior Ciue possu (mos e hão de possuir todas as gerações de pers-
crutadores que venham habitar a superfrcie da Terra.
5 - De fato, se dispuséssemos de outros sentidos capazes
de perceber certas vibrações, ou os nossos sentidos tivessem a
faculdade de adaptar-se a essas variedades de vibrações, o órgão,
por exemplo, da audição poderia perceber sons tão surpreen-
dentes e maravilhosos que o deixariam como em uma espécie
de êxtase continuo. E dado que só pudesse perceber esses sons,
então outra singularidade: não perceberia nenhum dos sons
compreendidos entre 32 e 32.768 vibrações emitidas pelos cor-
pos sonoros e percept(veis. Reinaria dentro e em volta de nós
um silêncio profundo; nada do que ouvimos agora poderíamos
ouvir, nem mesmo a voz do nosso semelhante, nem o grito das
feras, nem o tiro do canhão, nem o retumbar do trovão ou o es-
talar do raio. Mas, em compensação, perceberíamos a harmonia
que existe no canto das aves, perceberíamos mesmo ao longe o
zumbir dos insetos, mais forte ainda do que o canto dos pássa-
ros agora.
6 - E se nossos ouvidos se adaptassem à percepção das
vibrações sonoras entre 32.768 e 34 milhões, as maravilhas da
audição ainda iriam mais longe e tocariam, até, às extremas
fronteiras do sobrenatural. Porque, além da harmonia do canto
dos pássaros, do zumbir ao longe dos insetos, além de todos os
fenômenos sonoros, perceberíamos os fenômenos elétricos e
magnéticos agora imperceptíveis, tais como os que se produzem
ao despontar da aurora, ao surgir do Sol, ao aparecer dos astros
ou desaparecer deles, ao relampejar, ao produzir-se a chispa elé-
trica etc. etc. Perceber(amos todas essas vibracões tão clara e
talvez ainda mais nitidamente cio q"e percebemos as do nosso
limitado mundo de percepções auditivas.
7 - Daí, podeis deduzir que proveitos, que vantagens não
colheriam as ciências, sobretudo a medicina, a cirurgia, a psico-
logia, a moral, a teodicéia. E quão diferente não seria a humani-
dade, quão diversos os seus costumes, as suas tendências, as
suas aspirações e, por conseguinte, quão especial não seria a lei
que o Criador ditaria à sua Criatura! Ainda mais se o órgão da
144
vlsao, por exemplo, .ampliando e como que completando esses
conhecimentos, pudesse perceber, não as vibrações entre 400 e
700 trilhões, e sim as vibrações correspondentes a 4 ou 5 qua-
trilhões. Como com o órgão da audição, não perceberíamos. as
cores que percebemos, nem tampouco os objetos corresponden-
tes, senão de um modo indireto, porque com ondas luminosas
de tal amplitude não se verificam os fenômenos de reflexão que
com as inferiores se manifestam. E que essas ondas do éter, que,
por serem de uma ordem e grandeza dos interstícios molecula-
res, não podem ser refletidas, têm um comprimento muito in-
ferior à décima-milionésima parte de um mil ímetro - pelo que
não podem ser detidas em· sua marcha pelos corpos, quaisquer
que eles sejam. Mesmo um prisma, por exemplo, para elas não
passa de um grosseiro bloco, cujas moléculas elas atravessam
com a mesma ou maior facilidade com que as bagas de chumbo
miúdo passam pelos interstícios de uma mão cujos dedos este-
jam distendidos e abertos.
8 - E é por essa mesma razão que na ampola de Crooke.s
os raios catódicos atravessam os corpos opacos.
Assim é que, quando nossa vista olhasse para os nossos se-
melhantes, eles pareceriam esqueletos ambulantes; veríamos to-
do o seu interior e o movimento de suas vísceras; percebería-
mos os movimentos, agora imperceptíveis, que se propagam em
forma ondulatória e que o nosso organismo emite, correspon-
dentes às modificações de nosso corpo e de nossa alma, maximé
nos fenômenos de ordem superior, tais como os psíquicos. Por
esses movimentos, poderíamos avaliar o estado do nosso corpo,
bem como conhecer e classificar as paixões ou as grandes emo-
ções de nossa alma. Agora, se passarmos às vibrações correspon-
dentes ao extremo oposto do espectro solar (infravermelhas,
ou térmicas), em vez de percebermos os fenômenos que afetam
o bolômetro, as estrelas que vemos, perceberíamos astros outro-
ra verdadeiros sóis e hoje apagados, há muitos séculos flutuan-
do no espaço, quais negros e imensos blocos de carvão que se-
mente o espectroscópio nos revela.
9 - O próprio Sol se mostraria um outro, isto é: circunda-o
do de uma aréola vasta, variável pela forma e posição, como essa
coroa misteriosa que observamos no momento dos eclipses to-
tais. As correntes de ar quente tornar-se-iam visíveis como tur-
bilhões de neve, e desapareceriam os mistérios ou segredos da
145
ciência do calor.
10 - Vivemos, relativamente, na ignorância do que sucede
no Universo, e ainda mesmo dentro e em volta de nós. Não obs-
tante isto, falamos com tanto orgulho e insensatez dos conhe-
cimentos que temos pelos "sábios" do mundo exterior.
11 - E no entanto a ciência de ontem como a de hoje e
também a do futuro não passa senão de um acervo de hipóteses,
de convenções. Numa palavra: não é senão um simbolismo in-
ventado pela inteligência humana para significar o que os senti-
dos nos revelam de um modo muito limitado, e que, não enten-
dendo nem podendo dar uma explicação cabal tomamos por
causa o que não passa de um efeito.
12 - Humilhemos portanto a nossa fronte diante de Deus,
e digamos: 'Tu solus Deus tu solus altissimus J. Christe. Porque
Tu és aquele segundo o qual tudo foi criado, e sem o qual nada
do que existe, existiria."
o ELEMENTO UNIVERSAL
1 - Tenho-me ocupado por várias vezes desse elemento,
principalmente quando falei sobre o radium. Mas só agora
procurarei defini-lo.
2 - Esse elemento a que me reporto não é, como talvez
supõém os que me lêem, o éter. Este, conquanto muito se pare-
ça com ele pela sua subtilidade ou iminente fluidez ou estado de
desagregação, todavia, difere mu ito do elemento universal de
que falo, sobretudo quanto ao seu estado de fluidez ou desagre-
gação. Se afirmamos que o éter constitui a partrcula'mais peque-
na a que se pode reduzir a matéria, tal afirmação é apenas relativa
aos meios que possu rmos; quanto ao elemento universal, este
sim, constitui a extrema divisão a que se pode realmente redu-
zir a matéria.
3 - Assim é que afirmamos: 1Çl - que esse elemento uni-
versal, ou melhor: que as partrculas que o constituem são, por
sua natureza insecável, absolutamente indivisrveis; 2Çl - que o
elemento universal, conquanto material, é um corpo simples,
porque não se compõe de outras partfculas; 3Çl - que por isso
mesmo não tem extensão, propriamente falando; 4Çl - que é o
átomo-suporte em que reside aquilo por que-os corpos são o que
146
são e se diferenciam uns dos outros; 59 - que é idêntico em
todos os corpos, variando somente devido a sua interna estrutura
nos corpos, dos quais ele é a célula-mãe onde reside o proto-
plasma, ou aquilo em virtude do que os corpos são o que são,
segundo as leis secundárias que regem o universo; 69 - que as
mesmas leis que regem a composição e decomposição dos cor-
pos são também aplicáveis a ele, com relação à composição e
decomposição dos átomos e moléculas que ele define na cate-
goria dos corpos simples e compostos, seja quanto às suas qual i-
dades, seja quanto às suas propriedades trsicas, qu(micas e bio-
lógicas; 7 0 - que é esse o elemento sobre o qual atuam os agen-
tes frsicos, qu (mlcos ou biológicos, dando, sob sua ação, origem
ao mineral, ao vegetal e ao animal.
4 - E o que se opera nesse microcosmo, em escala sempre
crescente opera-se e observa-se em todos os corpos, desde os
mais simples e rudimentares até aos mais complexos, desde os
mais pequenos e imperceptrveis à vista aos maiores e gigantes-
cos, tais como os que flutuam nos espaços, em volta de nós.
5 - De maneira que podemos afirmar, sem temor de erro,
que há no mundo somente duas coisas que são realmente indes-
trutrveis: o átomo-suporte primário, ou substancial, da forma
substancial, ou primária, o qual serve de suporte à matéria-su-
porte, e a forma primária, ou substancial, dos corpos.
6 - Pelo que diremos: 19 - que não pode haver no mundo
nem subsistir matéria-suporte sem sua forma primária, nem for-
ma primária sem seu suporte material, ou primário; 29 - que,
mutatis mutandis, a forma primária ou substancial está para o
seu suporte primário material como os acidentes ou formas se-
cundárias estão para o corpo que ela materialmente define, a
não ser por milagre; 39 - que assim como, para que a forma ma-
terial possa subsistir, se faz preciso o corpo em que ela adere
(visto ser uma forma acidental), assim também, para que a for-
ma primária ou substancial do átomo-suporte substancial possa
subsistir, é de mister esse átomo-suporte substancial; e assim
também para que subsistam tanto esse átomo-~uporte quanto a
forma primária que nele subsiste e que define os corpos, é neces-
sário admitir a existência de um Ser Supremo, autor da torma
primária dos corpos e do átomo-suporte dessa forma primária
ou substancial, que, por isso mesmo que é simples, difere mui-
147
to da matéria, que, sob a ação desse átomo-suporte, toma as
diversas formas secundárias e diferentes entre si; 49 - que o
concurso desse Ser Supremo se faz indispensável porque se Ele
faltasse - tudo voltaria ao nada.
7 - Embora existam em nós as aptidões adequadas ã nos-
sa vida orgânica, assim como deixar{amos de existir se faltasse o
oxigénio no meio em que vivemos, assim também, se nos faltas-
se o concurso divino, tudo voltaria ao nada, apesar de Ele haver
criado e plasmado todas as coisas com os requisitos necessários
para a sua vida, conservação e reprodução. O concurso de Deus,
pois, é a suprema lei que rege, governa e conserva o Universo.
148
A REPERCUSSAO DOS INVENTOS E O
RECONHECIMENTO AO AUTOR
149
Mas, ao correr dos anos, na imprensa brasileira, a figura e
os .inventos do Padre Landell de Moura foram e vêm sendo foca-
lizados por veículos de informação de diversas partes do País,
por escritores, personalidades e entidades dos mais importantes
setores da sociedade, do que apresentamos a seguir um resumo
ou partes mais importantes de algumas dessas manifestações.
O Jornal da Manhã, de Porto Alegre, de 25/06/1933, em
ampla reportagem revelava caber a um brasileiro a descoberta da
telegrafia sem fio. Ilustrada com a fotografia do inventor Padre
Landell de Moura e com o fac-símile da carta-patente que lhe
forneceu o Governo dos Estados Unidos sobre a sua invenção
do telefone sem fio, a reportagem traça o perfil do Padre Lan-
deli de Moura e explica como foi que o Dr. Egydio Hervé, lente
da Universidade Técnica de Porto Alegre e Presidente do Insti-
tuto de Previdência, chegou à espantosa conclusão de que Lan-
deli de Moura era o inventor da telegrafia sem fio.
A Gazeta, de São Paulo, na sua edição de 15/07/1933,
transcrevia uma carta, dirigida a um jornal do Rio de Janeiro,
A Nação, por Jayme Leal Velloso, na qual este fazia as seguin-
tes referências ao Padre Landell de Moura e às suas descobertas
científicas realizadas no século passado em São Paulo:
"Tendo residido 30 anos no Estado de São Paulo, dos
quais 25 na capital, ouvi, muitas veles, falar, ali, das experiên-
cias realizadas por aquele ilustre sacerdote, de transmissões de
telegrafia e telefonia sem fio, do alto da Avenida Paulista para
o Alto de Sôm'Ana, numa distância aproximada de uns oito qui-
lômetros em linha reta, fatos esses ocorridos, mais ou menos,
entre os anos de 1890 e 1894.
Deve existir ainda muita gente naquela capital, contempo-
rânea dessas experiências e que muito poderá revelar e esclare-
cer a respeito de tão importante assunto.
Conviria, pois, que se procedesse a minuciosas investiga-
ções a fim de deixar bem patente a precedência brasileira do ge-
nial sacerdote na descoberta dessa grande maravilha da ciência."
Manhã do Rio, do Rio de Janeiro, edição de 02/10/1933,
louvava a idéia externada pelo Jornal da Manhã na sua reporta-
gem do dia 25/06/1933, de ser efetuada uma sindicância pelo
Governo brasileiro junto ao Departamento do Interior e no Su-
reau of Standards, da capital americana, através de nossa Em-
150
baixada nos Estados Unidos, com o fito de reivindicar para nos-
so patrício a glória exibida por Marconi.
E afirmava o citado jornal: "O título de 'inventor da tele-
grafia sem fio', atribuído a Marconi, segundo tudo indica, não
lhe cabe por direito. 10 que, antes do ex-sábio italiano e atual
caixeiro-viajante fascista, houve um homem no mundo que pos-
suiu a patente do 'gouralphone', aparelho 'apropriado à trans-
missão fonética da palavra à distância, com ou sem fios, através
do espaço, da terra ou da água'. Esse homem foi o padre brasi-
leiro Landell de Moura, que foi durante muito tempo vigário da
Iqreja do Rosário, em Porto Alegre. Sua patente foi fornecida
pelo The f'atent Office of Washington, em 1900, e está registra-
da sob o n9 3 279.. nos arquivos qrasileiros."
Quase trinta anos depois, em 1960, Ernani Fornari lançava
sua obra O "Incrível" Padre Landell de Moura, a qual deu origem
a diversas manifestações objetivando demonstrar o reconheci-
mento público ao cientista patrício. O escritor Manoelito de
Ornei las, na sua coluna "Prosa das Terças", do Correio do Povo,
de Porto Alegre, edição de 23/08/60, assim se referia à mono-
grafia de autoria de Ernani Fornari:
"Nem todas as criaturas humanas poderão ter a ventura
de Flaubert, para dizer: 'vingar-me-ei das dores, descrevendo-as
em meus livros'. Muitas angústias humanas morrem sufocadas
na boca, sem encontrarem evasão sequer na forma escrita, que
foi o privilégio de Flaubert. "
"O pensamento nasce da leitura do livro de Ernani Forna-
ri: O "Incrível" Padre_ Landell de Moura. E a cristalização desse
pensamento, em letra de forma, vem de um apelo recebido,
dentro de meu gabinete de trabalho, de Dona Carlinda Leite
Borges de Lima e da Profa Elida de Freitas e Castro Druck, que
abnegadamente tomaram o encargo, a um tempo cívico e hu-
mano, de dar à passagem do primeiro centenário do Padre Lan-
deli de Moura a repercussão que a justiça está a exigir."
E em 15 de outubro do mesmo ano de 1960 o Orbis Clu-
be de Porto Alegre realizava concorrida sessão, que contou
com a presença, como convidada especial, da Sra. Carlinda Leite
Borges de Lima, iniciadora do movimento para ,festejar o cente-
nário de nascimento do físico Monsenhor Roberto Landell de
Moura. Durante a reunião, que obedeceu a uma extensa pro-
qramação, sendo inclusive noticiada pelo Correio do Povo de
151
16/10/60, a Sra. Carlinda Leite Borges de Lima leu trechos da
monografia de Ernani Fornari alusiva à vida de Landell e seus
extraordinários inventos.
Efetivamente, o lançamento do livro de Ernani Fornari
suscitou, na época, extraordinário interesse geral. Entidades re-
presentativas e personalidades de expressão no cenário sócio-
cultural e científico constitu iram uma comissão, encabeçada
pela Sra. Carlinda Leite Borges de Lima, o escritor Manoelito
de Ornei las, o General José Lopes de Lima e o Coronel Abdias
Arruda dos Santos, destinada a reverenciar a memória do sau-
doso brasileiro que muito contribuiu para a marcha da ciência
e conseqüente progresso da humanidade.
Esta comissão recebeu o imediato apoio do então Coman-
dante do III Exército, General Osvino Ferreira Alves, somando-
se esta participação à do Lions Clube de Porto Alegre, sob a
liderança da Mesa-Redonda Pan-Americana, presidida pela Sra.
Carlinda Leite Borges de Lima.
Integraram também o movimento o próprio autor da obra
recém-lançada e o Presidente do I BAI - Instituto Brasileiro de
Assistência ao Inventor, Professor Otávio Francisco Pinheiro,
que fez os seguintes pronunciamentos a jornais do Rio de Ja-
neiro sobre o Padre Landell de Moura e seus inventos:
Ao Diário de Notrcias, de 15/10/61, declarou: "O Padre
brasileiro Landell de Moura foi realmente o inventor do telégra-
fo sem fio e da lâmpada fotoelétrica e não Marconi, e tenho em
meu poder documentos que comprovam a veracidade destas
afirmações. As pesquisas e os estudos do Padre Landell foram
registrados no próprio The Patent Office, repartição dos Estados
Unidos encarregada de registrar.todas as patentes de invenções,
cerca de dois anos antes dos trabalhos de Marconi e, além dessas
invenções, centenas de outros trabalhos de cientistas nacionais
ficam sem valor, em virtude da falta de fé do brasileiro na capa-
cidade de seu povo."
Continuando, afirmou que "o brasileiro é um dos povos de
maior capacidade inventiva do mundo, comparável mesmo e, às
vezes, superior à dos americanos, japoneses, russos e ingleses.
Entretanto, o inventor nacional sofre da falta de amparo e de
assistência. Além do exemplo do Padre Moura, gaúcho que es-
tudou no Rio e aqui realizou seus estudos tendo sido tachãdo de
louco, quando pediu aux í1io ao Governo e um navio para fazer
152
experiências, ci10 também o de Bartofomeu de Gusmão - o
Padre Voador -, que primeiro realizou experiências com ba-
lões fora do Brasil e completamente desamparado pelas autori-
dades do Pa is."
A O Globo, de 20/11/61, reiterando suas declarações, o
Professor Otávio Francisco Pinheiro disse de sua convicção de
que "Landell é, realmente, o inventor do telégrafo sem fio e que
quem quiser se convencer disso basta ler o livro O "Incr(vel"
Padre Landell de Moura."
Mas, prosseguindo na suce~ão de eventos que marcaram
os cem anos do Padre Landell de Moura, temos ainda a homena-
gem da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que insti-
tuiu, naquele Estado, que 1961 fosse considerado o Ano Lan-
delliano, em face do transcurso, a 21 de janeiro, do centenário
de nascimento do Padre Landell de Moura.
O Exército esteve presente às comemorações, não só com
o seu apoio já mencionado, como também pelo fato de o Gene-
ral Osvino Ferreira Alves haver determinado que no Boletim do
citado dia, dos corpos que faziam parte das guarnições do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, fossem feitas referên-
cias à personalidade do Padre Landell de Moura e ao valor de
seus inventos.
Por sua vez, o Arcepisbo de Porto Alegre, Dom Vicente
Scherer, em ofício dirigido ao Ministro da Viação, solicitara a
emissão de um selo comemorativo do centenário de nascimento
do grande cientista, pedido que viu imediatamente satisfeito.
Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, da qual o Padre
Landell de Moura foi pároco por vários anos, houve a celebração
de uma missa solene na data que assinalava os cem anos do seu
nascimento.
A Livraria Globo, de Porto Alegre, de propriedade da Edi-
tora lançadora da obra de Ernani Fornari, associando-se às co-
memorações do centenário de nascimento do Padre Landell de.
Moura, efetuou, em uma de suas vitrinas, uma interessante ex-
posição de documentos pertencentes ao mesmo.
Poucos anos mais tarde, em 6 de maio de 1967, um grupo
de educadores gaúchos criou a FEPLAM - Fundação Educa-
cional Padre Landell de Moura, numa homenagem ao nome es-
quecido do sacerdote porto-alegrense que, antes mesmo de Gui-
lherme Marconi, descobriu inventos importantes dentro do
153
campo das telecomunicações.
Fundamentados em experiências vitoriosas de utilizar o
rádio, a TVe o jornal como instrumentos de transmissão de cul-
tura e promoção social, executadas pela Diretoria do Ensino In-
dustrial, alguns educadores gaúchos, entre eles: Nélson Marche-
san, Jorge Alberto Furtado, Zilah Mattos Totta, Francisco Ma-
chado Carriou, Nilo Ruschel, Frederico Lamachia Filho, lôrica
A. W. Coester, Ana Maria Duzzo, Paulo Paiva de Oliveira e mais
de cinqüenta coordenadores municipais, apoiados por entidades
privadas e pelos principais órgãos públicos, criaram a FEPLAM,
com a finalidade de ampliar os limites da comunicação e da cul-
tura, com vistas à educação e participação de todos para o bem-
estar e o progresso da nossa sociedade.
E na edição de 02/08/69, do Correio do Povo, de Porto
Alegre, vamos encontrar, na coluna "Caderno de Sábado", assi-
nada pelo jornalista e professor Nilo Ruschel, uma exaltação aos
memoráveis feitos do Padre Landell de Moura.
Iniciando seu artigo com uma frase muito adequada, afir-
ma Nilo Ruschel: "Vinha cansado de andanças, o Padre Landell.
O fardo que carregava era pesado demais para os seus ombros
- e para a época. Corria o ano de 1901 e ele estava chegando
dos Estados Un idos, onde permanecera por três anos".
E prossegue numa detalhada recapitulação das dificuldades
e sofrimentos do Padre Landell para trazer dos Estados Unidos,
devidamente sacramentadas, as três famosas patentes de inven-
ção, lembrando, finalmente, as privações que o cientista teve de
enfrentar, a fim de "satisfazer às exigências das atónitas autori-
dades do "The Patent Office at Washington".
A revista An"tena, do Rio de Janeiro, edição de novembro/
dezembro de 1969, publicava, sob o título "Um museu para
nosso pioneiro", uma carta assinada pelo Professor Francisco
Machado Carrion, Presidente do Conselho Administrativo da
FEPLAM, e pelo Sr. Alvacir Ribeiro.da Rocha, do Departamen·
to de Orientação Técnica, na qual manifestavam a imensa satis-
fação da Fundação pelo artigo publicado na edição de janeiro/
fevereiro do mesmo ano, sob o título: "Na história das teleco-
municações um lugar de honra pertence a um brasileiro: Padre
Roberto Landell de Moura".
Na carta apresentavam também três sugestões: "Se possí·
154
vel, ampliar as pesquisas de documentação e registro das ativi-
dades do Padre Landell de Moura e reeditar, bem mais amplia-
do, o livro O "Incr(vel" Padre Landell de Moura, de Ernani For-
nari, tornando-o assim bastante conhecido a todos os brasilei-
ros. Fazer uma ampla campanha no sentido de procurar em
todo o Pais, e mesmo nos EUA, aparelhos e objetos autênticos
utilizados pelo Padre Landell de Moura, a fim de constituir um
museu baseado em seus trabalhos. E procurar uma data signifi-
cativa nas atividades desempenhadas pelo Padre Landell de
Moura e escolhê-Ia como o dia de homenagem ao seu impereci·
vel e não reconhecido pioneirismo, o que poderia ser estabele-
cido pelo Ministério das Comunicações."
Em 10/08175, o Diário Popular, de São Paulo, publicava
um reportagem intitulada "Um padre brasileiro e não Marconi,
inventor do rádio", do jornalista Tarcisio Machado Carvalhaes,
que informava: " - Dois anos antes de Marconi iniciar suas ex-
periências de transmissão de sinais com o telégrafo sem fio, o
padre brasileiro Roberto Landell de Moura procedeu à primeira
transmissão da voz humana através de um aparelho sem fio,
da Av. Paulista para o Alto de Sant'Ana. A surpreendente reve-
lação é feita pelo Prof. Júlio Zapata, um chileno radicado no
Brasil desde 1973. Zapata leciona radiojornalismo, telejornal is-
mo, relações públicas e relações com a imprensa nas Faculdades
de Comunicações Armando Alvares Penteado, Cásper Libero
e Objetivo. E foi pesquisando nesse seu setor de atividades que
descobriu este importante fato, marginalizado pelos brasileiros.
" - Quando vim para o Brasil, a fim de in'teirar-me do as-
pecto brasileiro em relação às telecomunicações, procedi a uma
pesquisa minuciosa e, para meu grande espanto, li qualquer
coisa a respeito das experiências do Padre Landell nesse campo.
Mas as fontes ~ram muito vagas, imprecisas. Apenas um único
livro O "Incdvel" Padre Landell de Moura, do escritor Ernani
Fornari, abordava o assunto".
EI Diario, de Buenos Aires, dedicou ao assunto, em sua
edição de 14/05/76, uma matéria intitulada "Sacerdote nor-
teno inventó la radio", da qual transcrevemos o seguinte trecho:
"Quando em 1895 Marconi comenzó sus experiencias con
transmisiones tipo telégrafo y a una distancia nunca mayor de
6 metros, nadie podia imaginar que dos anos antes, en un país
sudamericano, más C'Oncretamente Brasil, ciudad de San Pablo,
155
um hombre ordenado sacerdote, pero también cientifico de je-
rarquia, tenia ya construidos el teléfono sin hilos, el telégrafo
y el trasmisor de ondas, precursor de la radio"
"V con este último invento, el Padre Roberto Landell de
Moura logró ante asombrados paulistas, propagar música, pala-
bras y el tic-tac de un reloj a una distancia de 8 kilómetros."
Para encerrar esta série de registros e transcrições de home-
nagens e manifestações de reconhecimento ao Padre Landell
de Moura, nada melhor do que a reprodução integral da mais
recente crônica sobre o cientista brasileiro, de autoria da escri-
tora Dinah Silveira de Queiroz, membro da Academia 8rasileira
de Letras, publicada na sua coluna Mensagem, da revista O Cru-
zeiro, de setembro de 1982, sob o título: "O Padre Landell de
Moura. Os equívocos da história":
"(De Lisboa) - Nosso bom amigo Ronaldo Rogério de
Freitas Mourão levantou seu dedo, decerto já luminoso de tanto
apontar estrelas, para tentar fazer justiça a um brasileiro de Por-
to Alegre, Padre Roberto L-andell de Moura. Antes das experiên-
cias de Marconi, realizadas perto de Bolonha, em 1895, o padre
já fazia espantosas experiências de transmissão e recepção sem
fio, da voz a uma distância de cerca de oito quilômetros. E onde
se faziam essas experiências? Na Avenida Paulista ao Alto de
Sant'Ana, em São Paulo, nos anos de 1893 e 1894."
"Ele havia patenteado a invenção nos Estados Unidos no
começo deste século. Logo depois voltava ao Brasil e o nosso
velho e bem-amado Jornal do Commercio dava-lhe oportuni-
dade para descrever as suas invenções na transmissão do rádio.
Mas houve um triste equ ívoco até certo ponto compreens ível
quando o sacerdote procurou o Presidente Rodrigues Alves. Um
dos oficiais-de-gabinete do Presidente perguntou ao Padre Lan-
deli qual seria a distância desejada por ele para que dois navios
trocassem suas mensagens e a resposta parecia mesmo a de um
louco - "A distância máxima possível. As que quiserem ou pu-
derem. Os meus aparelhos podem estabelecer comunicação com
quaisquer pontos do planeta, os mais afastados que estejam uns
dos outros. Isto atualmente, porque no futuro servirão até mes-
mo para comunicações interplanetárias"
"Eis a impressão que teve o oficial-de-gabinete do Presi-
dente Rodrigues Alves: "- Excelência, o tal padre é totalmente
maluco. Imagine que ele chegou até a falar-me em conversar
156
com habitantes de outros planetas". Nosso astrônomo do
Observatório Nacional diz, com razão, que hoje, quando se
fala em comunicaçâ'o interplanetária e mesmo interestelar, o
nome mundialmente citado é o de Marconi. Nem mesmo no
Brasil o nome do Padre Landell de Moura é reconhecido como
inventor da radiotransmissão. Mas em Portugal existe uma ·fun-
dação educacional com o nome de Padre Landell de Moura. O
engenhei ro Arnaldo do Nascimento, dessa fundação, escreveu
sobre o nosso sacerdote.
"Houve um momento grandioso em que o nome do ilus-
trissimo sacerdote bem se expandiu pelo mundo. Foi neste mes-
mo ano de 1982 que a Fundação Padre Landell de Moura,
pela orientação de Arnaldo Nascimento, que é· radioamador,
de Belmonte, fez a irradiaçâ'o das solenidades de mais um ani-
versário - quatrocentos e oitenta e dois anos - da primeira
missa no Brasil, mandada aos ares para as comunidades portu-
guesas do mundo. Era maravilhoso pensar que esse engenheiro
do Porto, na noite em que se deu a festa comemorativa, em Bel-
monte, a própria vila de Pedro Alvares Cabral, mandou a tantos
lugares a comunicaçâ'o dos acontecimentos ocorridos no sítio
onde, velhinha mas ainda de pé, está a casa de Pedro Alvares
CabraL"
157
OBRAS 00 MESMO AUTOR:
INEDITDS,
Os filhos julgam
teatro
Quatro poemas brasileiros
poesias
Teoria da Bengalada
cOntos
158
_.-
eiRAPHOOm-un
_ _ e.-.1WN_T....
borou com diversos órgãos de imprensa e foi
fundador e primeiro diretor da revista Cock-
tai!. Internacionalmente, o literato gaúcho
projetou-se graças à apresentação de diversas
peças de teatro de sua autoria no exterior; à
sua atuação, durante vários anos, como secre·
tário do Instituto Brasileiro para a Educa-
ção, Ciência e Cultura (Comissão Nacional da
UNESCO); e ao trabalho que realizou, ao lado
de Olegário Mariano, então Embaixador do
Brasil em Lisboa, no setor cultural da nossa
representação diplomática.
Ernani Fornari construiu uma fecunda
obra literária, onde se destacam os livros de
poesias Praia dos Milagres e Trem da Serra
(além do já citado Missal da Ternura e da Hu·
mildade); o romance O Homem Que Era Dois;
a novela Enquanto Ela Dorme; a seleção de
contos Guerra das Fechaduras; a obra paradi-
dática O Que os Brasileiros Devem Saber; a
biografia O "Incrível" Padre Landell de Mou-
ra; e, especialmente, as peças teatrais Nada,
laiá Boneca, Sem Rumo, Quando se Vive Ou-
tra Vez e Sinhá Moça Chorou. O escritor era
membro de várias sociedades culturais e pro-
fissionais (como o Pen Club do Brasil, Asso·
ciação Brasileira de Imprensa etc.) e conselhei-
ro vitalício da Sociedade Brasileira de Autores
Teatrais. Deixou inéditos, ao falecer, em 15
de julho de 1964, Teoria da Bengalada, um
livro de contos, Quatro Poemas Brasileiros,
uma seleção de poemas e Os Filhos Julgam,
um drama teatral.
No ano de sua morte, as Câmaras Muni·
cipais das cidades de Rio Grande (RS) - onde
nasceu -, de Pelotas - onde iniciou sua caro
reira literária -, e de Petrópolis (RJ) onde vi·
veu seus últimos anos, após aposentar-se -
votaram leis dando seu nome a logradouros
públicos naquelas três cidades, enquanto que
no Rio de Janeiro foi homenageado com a
criação do Centro Cívico Ernani Fornari e
uma escola estadual carioca.
BIBLIOTECA DO EXERCITO EDITORA - Publicação 537
Coleção General Benicio
Volume 224
ISBN 85-7011-<l32-0