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O DOMÍNIO NOMINAL

LEF240 – FUNDAMENTOS DE ANÁLISE


SINTÁTICA
PROF. RAFAEL TRIANON
OBJETIVOS
1) Entender a diferença entre núcleo funcional e núcleo
nominal

2) Entender os componentes do domínio nominal

3) Saber fazer a estrutura de DPs simples

4) Entender a estrutura de adjunção


Leitura recomendada

+Mioto (2013) – cap. 2 p. 56-106


UMA PEQUENA GERAL DO QUE JÁ VIMOS
1) Itens lexicais projetam uma estrutura ao definir se
necessitam de especificador e complemento

2) A Teoria X-barra provê os “esqueletos” aos itens lexicais,


definindo a forma que a estrutura terá

3) Os esqueletos da Teoria X-barra respeitam três aspectos: os


ramos são binários, a estrutura é endocêntrica e tem três
níveis
E AGORA?
+Agora vamos entender um pouco sobre a natureza dos
núcleos.

+Os núcleos podem ser funcionais ou lexicais

+Antes de entendermos a diferença entre esses núcleos, vamos


dar uma olhada em um conceito muito importante: o conceito
de seleção.
S-SELEÇÃO E C-SELEÇÃO
+Chamamos de seleção essa propriedade dos itens lexicais de
“pedir” ou não especificador e complemento.

+Mas essa seleção pode envolver dois aspectos diferentes:


pode envolver características semânticas (s-seleção) e
características categoriais (c-seleção).
S-SELEÇÃO
+A s-seleção têm relação com restrições de sentido que são
impostas pelos itens lexicais.

+Exemplo: ‘comer’ faz seleção tanto de especificador quanto


de complemento (“alguém come algo”). Note que o
especificador de ‘comer’ precisa ser um agente, algo que seja
capaz de praticar a ação de comer, ao mesmo tempo em que
o complemento precisa ser um paciente, algo que seja capaz
de ser comido.
S-SELEÇÃO
1) João comeu o frango
2) #João comeu a mesa
3) #A mesa comeu o frango

A s-seleção é uma propriedade intrínseca dos núcleos lexicais.


Apenas tais núcleos fazem s-seleção dos seus complementos e
especificadores.
C-SELEÇÃO
+Já a c-seleção têm relação com restrições de categoria do
sintagma que é selecionado como complemento e
especificador.

+Exemplo: ‘amar’ e ‘gostar’ fazem s-seleções idênticas, mas se


pensarmos na c-seleção, ambos fazem seleções distintas no
que diz respeito ao complemento:
C-SELEÇÃO
4) João ama [Maria]DP
5) João gosta [de Maria]PP

+Em (4), vemos que o verbo amar c-seleciona um DP como


complemento
+Em (5), vemos que o verbo gostar c-seleciona um PP como
complemento

+Isso porque esses verbos fazem diferentes c-seleções.


NÚCLEOS FUNCIONAIS X NÚCLEOS
LEXICAIS
+Quando um núcleo é lexical, ele faz tanto s-seleção quanto c-
seleção. Esse é o caso de nomes, verbos, adjetivos e algumas
preposições.

+Quando o núcleo é funcional, ele faz apenas c-seleção, de


modo que não existe nenhuma restrição semântica dos
elementos que aparecem nas posições de complemento e
especificador de projeções funcionais. Esse é o caso de
artigos, conjunções e algumas preposições.
AS PREPOSIÇÕES
+As preposições são os núcleos que ora são funcionais e ora
são lexicais.

+Preposições funcionais são aquelas que existem como


“suporte” na ligação entre os argumentos de verbos e nomes.

+Vamos ver alguns exemplos:


PREPOSIÇÕES FUNCIONAIS
6) Maria gosta de chocolate
7) Pedro terminou a construção da casa
8) Suzana entregou a carta para sua tia
9) O fato de o professor passar exercícios ajuda os alunos
10) A mesa é feita de mármore

Todas as preposições acima são funcionais, porque os seus


complementos, na verdade, são s-selecionados pelos verbos /
nomes.
PREPOSIÇÕES LEXICAIS
6) Maria gosta de bolo de chocolate
7) Pedro encontrou a casa da Maria
8) O João fez o trabalho para mim
9) Os meninos estavam discutindo sobre quadrinhos

Todas as preposições acima são lexicais, porque os DPs que


são seus complementos não estão sendo s-selecionados por
ninguém além das próprias preposições.
RESUMO
1. S-seleção envolve a seleção de características semânticas dos
complementos e especificadores do núcleo
2. Apenas núcleos lexicais fazem s-seleção
3. C-seleção envolve a seleção da categoria dos complementos e
especificadores do núcleo
4. Núcleos lexicais e núcleos funcionais (todo mundo) fazem c-
seleção
5. As palavras de “classe aberta” são núcleos lexicais, enquanto as
palavras de “classe fechada” são núcleos funcionais (com
exceção das preposições, que podem ser funcionais ou lexicais a
depender do contexto)
DOIS SISTEMAS
+O objeto de estudo principal da sintaxe é a sentença. Assim,
quando analisamos a sintaxe das línguas, estamos sempre
pensando em como os núcleos se combinam para formar
sentenças.

+É bem claro que as sentenças possuem a estrutura projetada


pelo verbo (que seria o elemento que determina a sentença)
e nos locais disponibilizados nessa estrutura, temos os
argumentos.
DOIS SISTEMAS
+Assim, temos um sistema verbal, determinado pela estrutura
projetada pelo verbo, e um sistema nominal, que envolve os
argumentos do verbo e adjuntos à estrutura.

+Vamos começar estudando o sistema nominal, que


compreende os elementos que podem aparecer como
argumentos do verbo, e compreender quais projeções (em
outras palavras, quais tipos de sintagmas) aparecem nesse
sistema.
O DOMÍNIO NOMINAL
+ Vamos começar por alguns exemplos:

11) A menina encontrou o rapaz


12) Essa menina encontrou aquele rapaz
13) A minha prima encontrou o seu tio
14) A minha prima gosta do seu tio
15) A menina encontrou a mesa da sala
16) A menina inteligente encontrou a mesa amarela
17) A menina parecida com ele encontrou a mesa útil para escrever
18) A menina esperou a realização do quadro
19) A menina esperou a realização do artista
O SINTAGMA NOMINAL
+ Todos esses exemplos possuem uma mesma características: em todos, temos
um nome (substantivo):

11) A menina encontrou o rapaz


12) Essa menina encontrou aquele rapaz
13) A minha prima encontrou o seu tio
14) A minha prima gosta do seu tio
15) A menina encontrou a mesa da sala
16) A menina inteligente encontrou a mesa amarela
17) A menina parecida com ele encontrou a mesa útil para ela
18) A menina esperou a realização do quadro
19) A menina esperou a realização do artista
O SINTAGMA DETERMINANTE
+Já vimos que os nomes projetam uma estrutura de NP. Mas nos
sintagmas dos exemplos, temos mais coisas do que só um NP
+Por exemplo, temos artigos e pronomes demonstrativos

11) A menina encontrou o rapaz


12) Essa menina encontrou aquele rapaz

+Note que o papel que esses elementos desempenham é o mesmo: eles


determinam a referência do nome. ‘A menina’ é uma menina específica;
o mesmo ocorre com ‘o rapaz’, ‘essa menina’ e ‘aquele rapaz’
O SINTAGMA DETERMINANTE
11) A menina encontrou o rapaz
12) Essa menina encontrou aquele rapaz

+Por isso, nós assumimos que artigos e pronomes


demonstrativos são núcleos de uma projeção de sintagma
determinante. Esses núcleos são funcionais e c-selecionam
um NP como complemento. A estrutura é a seguinte:
O SINTAGMA DETERMINANTE
18) A menina
19) o rapaz
20) Essa menina
21) aquele rapaz
O SINTAGMA DETERMINANTE
+Observação 1: nomes próprios, pronomes pessoais e
pronomes relativos / interrogativos também são DPs. Nesses
casos, esses DPs não têm complemento:

a) Maria b) ela c) O que


O SINTAGMA DETERMINANTE
+Observação 2: É o DP que é a projeção que entra na
estrutura da sentença. Excluindo casos muito específicos, um
NP NUNCA é c-selecionado por um verbo ou por uma
preposição.

+Isso quer dizer que nomes nus (que não têm artigo) também
são DPs, mas em que o núcleo D não possui expressão
fonológica. Veja os exemplos:
O SINTAGMA DETERMINANTE
d) Peixes foram encontrados na praia
e) Eu passei o dia todo procurando apartamento
f) O oceano é cheio de água
O SINTAGMA POSSESSIVO
+Outro exemplo nos mostra que os determinantes podem co-
ocorrer com pronomes possessivos:

13) A minha prima encontrou o seu tio

+Não podemos assumir que esses possessivos sejam núcleos


D (já que eles co-ocorrem com determinantes). Por isso,
precisamos propor outra projeção que receba esses núcleos
O SINTAGMA POSSESSIVO
13) A minha prima encontrou o seu tio

+Por isso, nós podemos assumir que esses possessivos são


especificadores do NP.

+A estrutura desses DPs seriam as seguintes:


O SINTAGMA POSSESSIVO
22) a minha prima
23) o seu tio


O SINTAGMA PREPOSICIONAL
+Veja o exemplo 14:

14) A minha prima gosta do seu tio

+Note que o sintagma ‘o seu tio’ (um DP, como vimos), agora
está precedido de uma preposição ‘de’.

+Essa estrutura é ‘de + o seu tio’


O SINTAGMA PREPOSICIONAL
14) A minha prima gosta do seu tio

+Assumindo tudo que estamos vendo aqui, faz sentido que


essa preposição seja núcleo de um sintagma que c-seleciona
esse DP. Então esse sintagma é um sintagma preposicionado
(PP)

+A estrutura desse sintagma seria essa:


O SINTAGMA PREPOSICIONAL
24) do seu tio
A ADJUNÇÃO
+Vejamos o exemplo 15:

15) A menina encontrou a mesa da sala

+Nós já vimos que nomes como ‘mesa’ não fazem seleção de


complemento. Então esse ‘da sala’ não pode ser complemento de
mesa.

+Então qual é a estrutura?


A ADJUNÇÃO
15) A menina encontrou a mesa da sala

+Nesses casos, nós temos uma adjunção: um sintagma é


“pendurado” na estrutura sem ser nem complemento nem
especificador.

+As adjunções são necessárias para a adição de informações


(note que esse sintagma “da sala” é um PP que adiciona
informação a ‘mesa’)
A ADJUNÇÃO
15) A menina encontrou a mesa da sala

+Adjunções são feitas da seguinte forma: se duplica a projeção


máxima e se “pendura” o adjunto na nova posição criada.

+No exemplo 15, a estrutura seria essa:


A ADJUNÇÃO
25) a mesa da sala
O SINTAGMA ADJETIVAL
16) A menina inteligente encontrou a mesa amarela
17) A menina parecida com ele encontrou a mesa útil para ela

+Excluindo casos bastante específicos (e que envolvem uma


estrutura bastante exótica), adjetivos também são adjungidos ao
NP.

+E alguns adjetivos, como vimos, também selecionam


complemento. Assim, a estrutura desses exemplos seriam as
seguintes
O SINTAGMA ADJETIVAL
26) a menina inteligente
27) a menina parecida com ele
28) a mesa útil para ela
ADJUNTO X COMPLEMENTO
+Alguns nomes fazem seleção de complemento. Isso é fácil de ver com
nomes deverbais. Veja os exemplos abaixo:

18) A menina esperou a realização do quadro


19) A menina esperou a realização do artista

+Em 18, o quadro foi a coisa realizada. Por isso, podemos dizer que o DP
‘o quadro’ é complemento do núcleo N ‘realização’
+Por outro lado, em 19, o artista não foi a coisa realizada, mas quem
realizou. Por isso, dizemos que o DP ‘o artista’ NÃO é complemento de
‘realização’, mas um adjunto. Veja as estruturas:
ADJUNTO X COMPLEMENTO
29) a realização do quadro 30) a realização do artista
COMO CONSTRUIR UM DP
+Agora vamos ver algumas dicas práticas de como construir a
árvore sintática de um DP.

+Primeiro, é importante entender qual é o núcleo N que


estabelece a referência do sintagma. É a partir desse NP que
começamos a estrutura.

+Vamos ver uns exemplos:


COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+Primeiro você deve se perguntar: quem é o NP que determina


a referência?
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+É a partir desses núcleos que vamos começar a estrutura.


COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+O passo seguinte é pensar se esses NPs pedem ou não complemento /


especificador (no caso de haver pronome possessivo):

+Em 30, ‘casa’ não pede complemento nem tem possessivo


+Em 31, ‘pedra’ não pede complemento nem tem possessivo
+Em 32, ‘escolha’ pede complemento (porque vem do verbo ‘escolher’ e
os candidatos foram as coisas escolhidas) nem tem possessivo
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+Com essas informações, já temos como fazer a estrutura do


NP:
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+Em seguida, devemos fazer as adjunções nos casos em que ela


ocorre e colocar os complementos onde eles ocorrem:

+Em 30, o PP ‘do açougueiro’ é adjunto de ‘casa’


+Em 31, o PP ‘no meu sapato’ é adjunto de ‘pedra’
+Em 32, o PP ‘dos candidatos’ é o complemento de ‘escolha’
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+Em cima da estrutura que já temos, podemos colocar a


projeção DP:
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+Agora precisamos pensar nas estruturas dos PPs que temos. A


projeção do PP em si é sempre a mesma, apenas com
complemento:
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi
demolida
31) Uma pedra no meu sapato
incomodava demais
32) A escolha dos candidatos
gerou uma polêmica na
escola

+Dessa forma, podemos


pendurar essa projeção nas
estruturas:
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi demolida
31) Uma pedra no meu sapato incomodava demais
32) A escolha dos candidatos gerou uma polêmica na escola

+Por fim, devemos analisar os complementos das preposições


exatamente da mesma forma que fizemos até agora: (1)
vendo quem é o nome que determina a referência; (2)
verificando a existência de possessivos (especificador),
complementos ou adjuntos; (3) colocando o DP na estrutura.
COMO CONSTRUIR UM DP
30) A casa do açougueiro foi
demolida
31) Uma pedra no meu sapato
incomodava demais
32) A escolha dos candidatos
gerou uma polêmica na escola

+Fazendo esse passo-a-passo,


temos como resultado as
seguintes estruturas:
E AGORA, JOSÉ?
+Agora é hora de colocar a mão na massa e fazer a tonelada
de exercícios que será proposta.

+Nunca é demais lembrar: NÃO EXISTE A MENOR CHANCE


DE SE APRENDER ESSE ASSUNTO SEM PRATICAR!!!!

+Portanto:
FAÇAM OS EXERCÍCIOS!!!

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