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Leylah Attar - Mists of The Serengeti
Leylah Attar - Mists of The Serengeti
Leylah Attar
Uma vez na África, eu beijei um rei...
"E assim, em um velho celeiro vermelho no sopé do Monte Kilimanjaro, eu
descobri a magia evasiva que eu nunca vi entre as páginas de grandes
histórias de amor. Ele revoltou em volta de mim como uma borboleta
recém-nascida e se instalou em um canto de meu coração. Aguardei
minha respiração, com medo de exalar por medo que escorregasse, para
nunca mais ser encontrado novamente."
"Às vezes você se depara com uma história de arco-íris - uma que
abrange seu coração. Você pode não ser capaz de entendê-la ou segurá-
la, mas você nunca pode se arrepender com a cor e magia que trouxe."
Leylah Attar
Leylah Attar
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SE VOCÊ TIVESSE perguntado a Jack Warden quais eram suas
coisas favoritas antes daquela tarde, ele teria desenrolado uma lista
sem hesitação: café preto, céus azuis, dirigir para a cidade com os
vidros abaixados, as flores do Monte Kilimanjaro circulando em nuvens
no seu espelho retrovisor, e a garota que tinha seu coração compondo
as palavras na música no rádio. Porque Jack era absoluto e preciso, tão
claro como a savana africana depois da chuva. Ele tinha resistido à sua
dose de tempestades – perdendo os pais quando criança, perdendo seu
amor da faculdade em um divórcio – mas ele sabia como rolar dos
golpes. Ele tinha aprendido isso cedo na vida, em safaris empoeirados
no Serengeti, onde o caçador e a presa brincavam de esconde-esconde
no meio da grama de elefantes altos.
“Mas tem o gosto tão bom quando está derretida assim. Goma
deixa aqui para mim.
“Goma tem noventa anos. O cérebro dela está quase tão mole
como esse chocolate.”
Eles deram risada porque ambos sabiam que a avó de Jack era
tão rápida e esperta como uma serpente preta. Ela só era cheia de
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excentricidades e caminhava no seu próprio passo. Por isso ela tinha
ganho o nome de Goma, da palavra suaíli: nGoma.
“Lily, não. Você vai sujar toda sua fantasia. Li...” — Jack
suspirou conforme seus dedos gordinhos de oito anos abriam a
embalagem. Ele podia ter jurado que ouviu Goma rindo dos pés da
montanha, sentada no alpendre. Ele sorriu e virou os olhos de volta
para a estrada, tirando uma foto mental de como sua filha estava –
olhos grandes, cabelos enrolados, em uma saia de tutu de arco-íris e
um chapéu de verão, com manchas de chocolate em volta da boca.
Esses eram os momentos que faziam ele aguentar os longos meses
quando ela estava de volta em Cape Town com a mãe.
Era um acordo não falado entre eles. Lily passava tardes inteiras
fazendo ele e Goma assistirem e assistirem suas performances. Ela lhes
dava cartões com notas, e os números iam aumentando aos poucos,
porque ela os deixava sair até que ela conseguisse exatamente o que
queria deles.
“Eu acho que não.” Era tão prático, com o mesmo tipo de
aceitação que ela tinha se adaptado depois de saber que seus pais iriam
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viver a milhares de milhas de distância separados, que Jack sentiu uma
pontada forte de tristeza.
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“Bem, lindinha, sua mãe está certa.” Jack virou para olhar para
ela. “Nós dois queremos que você vá bem na escola. Trabalhe duro nas
notas quando voltar. Mas hoje, dance! E quando você...” - ele piscou
conforme uma explosão de luz o cegou momentaneamente.
“Eu arrumo.” Ela tirou o chapéu que Goma tinha costurado para
ela e limpou a câmera. “Tudo certo!”
Lily veio para o seu lado do carro. O vidro era fumê, então ela
pressionou a palma contra ele e olhou para dentro. Ela fazia caras
engraçadas para Jack até ele desligar.
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O recital estava acontecendo no andar de baixo, em um espaço
fora da praça de alimentação. Conforme eles chegaram lá, Lily parou na
frente do vendedor de balões.
“Você sabe, isso é tão absurdo, que faz sentido.” Jack deu risada
e puxou a carteira. “Vamos levar um amarelo.”
Jack olhou para Lily. Os olhos dela estavam fixos nos brilhantes.
“Certo. Vou levar os seis.”
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“Não os amarre em Aristurtle todos de uma vez ou ele vai voar,”
ele disse.
“É Mara,” ela corrigiu, como ela tinha feito tantas outras vezes
antes. Ela tinha deixado seu interesse nele claro, mas Jack sabia que
era melhor não bagunçar a dinâmica da aula de dança da filha. Em
uma sala cheia de mães, ele era o único pai que apareceu com a filha.
Elas o bajulavam não só porque Jack era um barril de pólvora de
testosterona – sua voz, suas mãos, seus gestos – mas também por como
ele era brincalhão e acolhedor com Lily. Isso as levava para ele, e Jack
tinha aprendido a não incitar qualquer ciúmes mantendo toda a sua
atenção em Lily.
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“Eu conheço o acordo, Lily. Já falhei com você?”
“Ótimo. Eu já volto.”
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Dizem que a força real de uma pessoa aparece em momentos de
calamidade. É uma medida estranha e injusta de um homem. Porque
desastres e catástrofes são monstros absurdos e anormais espiando na
periferia da sua visão. E quando aquelas sombras disformes se
mostram e aparecem na sua frente, nuas e grotescas, isso te incapacita
totalmente. Seus sensos testemunham algo tão inesperado, tão bizarro,
que você para para questionar a realidade disso. Como uma baleia azul
caindo do céu. Seu cérebro não sabe o que fazer com isso. Então Jack
ficou paralisado, segurando seu café em uma mão e os balões na outra,
no estacionamento B do Kilimani Mall numa tarde clara de sábado de
Julho, conforme tiros eram disparados do lado de dentro, onde ele tinha
acabado de deixar a filha.
Era mais convicção do que força que levava Jack pela multidão.
Dentro era puro caos. Tiros espalhavam pelo shopping. Sapatos
largados, sacolas de comprar, e bebidas derramadas por todo lado. O
carrinho de balões estava lá, abandonado e preservado, rostos felizes e
princesas da Disney olhando o caos. Jack não parou para olhar para a
direita ou esquerda. Ele não se importava em diferenciar amigo de
inimigo. Ele correu pelo café, passando pelos croissants de amêndoas
comidos pela metade e cookies esmagados, passando por gritos de
ajuda, com um único propósito em mente. Ele tinha que descer as
escadas para o salão do recital.
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Senta na primeira fila então eu posso te encontrar, tá?
Então Jack pisou para o lado. Ele tinha certeza que iria sempre
lembrar da cara da criança, o olhar e expectativa em seus olhos
redondos grandes, a chupeta presa na roupa. Conforme ele enfiou sua
vergonha em um esconderijo escuro da sua alma, alguém começou a
gritar.
“Isa! Isa!”
Pela maneira como o menino virou para a voz da sua mãe, ela
era obviamente a pessoa que ele estava procurando.
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para si. E nisso, eles estavam unidos. Ambos só queriam tirar seus
filhos de lá.
Desça.
Não. Ajude-os.
“Sinto muito,” ele disse. Cada segundo que ele perdia era um
segundo que o mantinha longe da Lily.
Ele deveria ter prevenido seus olhos, mas ele viu o momento que
o garoto abraçou sua mãe, o relaxamento do seu corpo pequeno, o alívio
de ter a encontrado, a crença que tudo estaria bem – em total contraste
com a desolação absoluta e desamparo nos olhos dela.
Foda-se.
Então Jack fez a coisa mais difícil, mais corajosa, mas altruísta
da vida. Ele virou de volta. Ele segurou o garoto com uma mão, segurou
a mãe com a outra, e os tirou pela porta. Em seu estado de total
adrenalina, isso não levou mais do que um minuto. Mas foi um minuto
muito longo.
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Conforme o mundo caiu de joelhos em volta dele, paredes
derrubadas, teto caído, sangue e ossos por todo lado – Jack se sentiu
partido em dois. Antes-Jack, amava café preto, céus azuis e dirigir com
o vidro abaixado, e Depois-Jack, cujo sorriso doce da filha e o rabo de
cavalo como algodão doce nadava na frente dele na labareda quente da
tarde.
Como estou?
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É O DIA MAIS FELIZ da minha vida, pensou Rodel Harris
Emerson, conforme ela assinou seu nome da linha pontilhada.
Ele não tinha ideia. Não era apenas uma casa; era um sonho
que ela tinha perseguido a vida toda. E agora, aos vinte e quatro anos,
ela finalmente tinha uma âncora, o tipo de estabilidade que ela sentia
falta crescendo em uma família que viajava para qualquer lugar que o
emprego do pai os levasse. Tinha sido um bom emprego, um que
bancava o luxo deles experimentarem culturas diferentes, lugares
diferentes, pelo mundo todo. Mas quando Rodel estava começando a se
estabelecer e começando a fazer novos amigos, eles mudavam de novo.
Sua irmã mais nova, Mo, prosperou com isso, assim como seus pais.
Eles eram exploradores de coração, espíritos livres que ansiavam novos
gostos, novos sons, novo solo. Mas Rodel buscava uma pausa para
descanso, um pequeno retalho de conforto e familiaridade – um lar de
verdade.
E agora ela tinha isso, no exato tipo de lugar que tinha mexido
com a sua imaginação desde que ela tinha assistido O Senhor dos Anéis
pela primeira vez e tinha se apaixonado por Shire. Ela tinha doze anos
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na época, e continuou alojado na sua mente – um ideal ficcional,
improvável – até que ela estava procurando empregos depois da
faculdade e se deparou com Bourton-on-the-Water. Ali, no coração da
Inglaterra, no meio do idílio rural de montanhas tranquilas, a vida não
tinha pressa. Trilhas cruzavam campos pitorescos que floresciam com
flocos de neve em janeiro e jacintos em maio. Casas de pedra se
aninhavam em ruas com árvores enfileiradas, e pontes elegantes baixas,
transpunham o rio.
Ro e Mo.
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uma casa bem pequena de dois andares, mas tinha uma sala aberta
com vigas de madeira, um canto de leitura, e uma varanda ensolarada a
alguns passos do rio. Era perto o suficiente da escola para Rodel andar,
mas ficava num lugar isolado no fim do vilarejo. Rodel mal podia
esperar para se mudar do quarto que ela vinha alugando há dois anos.
Outra hora, Rodel teria dispensado. Ela tinha estado tão focada
em trabalhar na direção do seu sonho de ter sua própria casa que sua
vida social era praticamente inexistente. Não ajudava o fato dela ser
uma nerd dos livros. Ela tinha namorados nos livros que nenhum
homem de carne e osso poderia atender às expectativas. Ela podia ter
procurado tranquilidade em uma casa, mas em um homem ela queria a
tempestade – Strider, Aragorn, Rei de Gondor.1 Outro fictício, ideal
improvável. Sim, O Senhor dos Anéis tinha provavelmente a arruinado.
Ela tinha encontrado Shire, e tinha buscado seu Hobbit-hole, mas ela
tinha quase certeza que ela teria que reformular o herói. Reis como
Aragorn simplesmente não andavam entre homens mortais.
Eles foram para um pub pequeno, rústico com vista para o rio.
As mesas rústicas, de madeira talhada eram bem pequenas mal
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cabendo as cervejas deles, e seus joelhos se tocavam sentados um de
frente para o outro.
“No caso de eu não ter sido claro, eu acho você muito bonita,”
Andy disse. “Você tem umm... lindos olhos castanhos. Eu gosto do
seu...” ele apontou para ela de maneira geral, procurando por algo
elusivo, e finalmente foi pra matar. “Eu gosto do seu cabelo.”
Por que sair com alguém era sempre tão dolorido? Por que os
beijos eram sempre tão mornos como sua cerveja?
Por uma vez, Rodel estava aliviada que seus pais estavam a
milhares de milhas de distância. Ela tinha mudado de ideia. Ela não
queria redefinir seu herói. Ela passaria o resto da vida feliz com
namorados fictícios dos livros.
Grey? Oh céus.
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“Atiradores invadiram um shopping lotado em Amosha,
Tanzânia, minutos antes de uma explosão violenta. Dezenas foram
mortos. Mais dessa história do nosso correspondente internacional...”
“Meu telefone.” Rodel voltou da tela e foi para a mesa. Ela virou
tudo da bolsa, e se ajoelhou, explorando o conteúdo atrás do telefone.
Mo. Ela deve ter deixado uma mensagem quando tinha ligado
mais cedo.
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preocupe. Nós vamos... rir... minhas histórias malucas... Austrália. Eu
tenho... todas as chances, Ro...”
“Eu não estou satisfeita ainda,” sua irmã tinha respondido. “Eu
não sei se um dia estarei, eu quero morrer fazendo o que eu amo.”
2 Em Inglês Row.
Leylah Attar
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POR ALGUNS segundos felizes antes de estar totalmente
acordada, eu esqueci. Eu esqueci que Mo tinha ido embora, que eu
estava dormindo em sua cama, em um quarto estranho, em uma terra
estranha, onde ela tinha passado os últimos meses da vida dela. Mas o
grito gutural de pombos selvagens, a batida ritmada de uma enxada lá
fora, o som estridente de um portão de metal abrindo e fechando, tudo
me lembrava que era a minha primeira manhã em Amosha.
“Não vá,” minha mãe tinha dito, olhando para mim através dos
cílios vermelhos. “Ainda há um alerta de viagem vigente.”
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“Eu tenho que ir,” eu respondi. Eu não podia aceitar o
pensamento de um estranho mexer nas coisas de Mo, se livrando delas.
Leylah Attar
Eu virei de lado, tentando escapar dos pensamentos que
continuavam a me assombrar.
“Eu sinto tanto,” ela tinha dito. “Ela era uma alma tão incrível.”
Não esqueça da gaveta, Ro. Estou tão aliviada que seja você
fazendo isso. Você pode imaginar a mamãe encontrando aquele vibrador?
Eu meio que debati isso comigo mesma, mas é tão realístico, sabe? Você
deveria com certeza ter um, cara. Nenhum Mufasa? Sem problemas...
Leylah Attar
E assim foi o dia, com o comentário da Mo voando na minha
cabeça, como uma borboleta que ia de flor em flor, dando tchau
conforme o sol se punha no horizonte.
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anterior. Então, novamente, eu tinha estado muito devastada para
notar.
“Eu queria que você pudesse ver o mundo pelos meus olhos,” ela
tinha me dito, quando eu não conseguia entender o fascínio do seu
estilo de vida.
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Eu balancei a cabeça, percebendo que a última coisa que eu
tinha comido era um lanche no avião.
Não demorou muito para vestir uma calça jeans e uma camiseta
de manga comprida. Corinne me levou para um pequeno tour do lugar.
O complexo dos voluntários da Nima House era localizado longe do
orfanato, com quartos modestos que abriam para um pátio em comum.
3 Mo tristeza.
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“Não deixe a suaíle te fazer de boba,” alguém falou. “Ela só está
lendo no quadro.”
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criança de algum desses lugares cada mês e as levava para um lugar
seguro. Veja, ela marcou a data que ela era esperada lá, o nome da
criança, e isso aqui, entre parênteses, é o nome do lugar. Ela estava
querendo pegar seis crianças em seis meses. Ela fez as primeiras três.”
Corinne apontou para os que tinham sido riscados.
“Eu acho que o cara com quem ela estava trabalhando. Gabriel
alguma coisa. Um residente local. Nima House não tem nada a ver com
isso. Ela já está com a capacidade total. Ela não tem recursos para
cuidar das crianças que eles estavam pegando.”
Eu vou pega-las para você, Mo. Eu vou riscar cada uma dessas
anotações antes de voltar para casa.
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EU PAREI AOS PÉS das escadas suntuosas que levavam ao
Grand Tulip, o hotel lendário em Amosha, conhecido por sua tradição
de receber celebridades exigentes. Eu ainda estava trêmula depois de
pegar um micro-ônibus local, um dala dala, para chegar lá, mas era
onde Corinne tinha me mandado. Ela não sabia o sobrenome do Gabriel
– o homem com quem minha irmã tinha estado trabalhando – mas ela
sabia onde ele morava.
“Você podia pegar um dala dala até lá, mas eles são meio
caóticos e não muito seguros – bom para uma subida e descida rápida.
Para chegar à casa do Gabriel, eu recomendaria um motorista,” disse
Corinne. “Eu usei um algumas vezes. Seu nome é Bahati. Ele não se
aventura muito fora da cidade, mas ele conhece a área e é fluente em
inglês. Ele está normalmente no Grand Tulip de manhã.”
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toga vermelha crescia e ondulava com o vento. Ele parecia um profeta
bíblico em um tempo que tinha passado, como algo que pertencia a um
museu.
“Você é real!”
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“Minha amiga. Minha amiga!” ele gritou atrás de mim, mas eu
não olhei para trás.
Bahati.
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isso é para o futuro. Você disse que estava procurando um motorista.
Onde você quer ir?”
“Rutema,” eu respondi.
“É Rodel.”
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“Senhorita Rodel, você tem sorte que eu te encontrei ou você
estaria naquilo.” Ele apontou para o dala dala nos ultrapassando. “A
maioria dessas minivans devem levar dez pessoas. Se não houverem
pelo menos vinte, não é um dala dala de verdade. Se você está
confortável, não é um dala dala verdadeiro. O motorista tem autoridade
absoluta. Nunca peça para ele abaixar a música. Nunca espere que ele
pare onde você deveria descer. Nunca tire sarro das fotos no vidro dele.
Uma vez que você saia do dala dala, você abre mão dos seus direitos.
Ele pode passar por cima de você, sair com seu outro pé na van, sua
bagagem, sua..."
“Bahati?”
“Sim, senhorita?”
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“Sim, sim. É onde estou levando você. Você já me disse. Você
esqueceu? Tudo bem. Eu tenho boa memória. Mas eu não entendo
porque você quer ir lá. Não tem nada para ver. Se você me perguntasse,
você deveria ir...”
“Por que você quer visitar Rutema?” perguntou Bahati, uma vez
que estávamos de volta à estrada. “É só um monte de casas locais e
umas lojas.”
“Sinto muito ouvir sobre a sua irmã. Foi uma coisa terrível,” ele
disse. “Esse homem – Gabriel – você não sabe o sobrenome dele?”
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Era uma simples garantia, mas eu estava grata por isso.
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“Estou feliz em ver você. Karibu. Bem vinda,” ela disse,
destrancando o portão. “Sou irmã de Gabriel, Anna.” Seu sorriso era
caloroso, mas seus olhos guardavam fantasmas. Ela era bonita da
maneira como as pessoas com corações quebrados são. Ela nos levou a
um quintal com árvores frutíferas e uma pequena área para crianças.
Uma balança vazia rangia, ainda balançando, como se tivesse sido
abandonada com pressa.
“Sinto muito ouvir sobre a sua irmã,” disse Anna, depois que nos
sentamos.
“Eu gostaria que pudesse,” ela disse, olhando para baixo para as
mãos. “Eu não tenho notícias dele há um tempo. Ele nunca ficou tanto
tempo fora. Receio que ele não vá voltar. Ou pior, que algo ruim
aconteceu com ele.”
“Algo ruim?” eu olhei dela pra Bahati, mas ele estava olhando
sobre meus ombros para alguma coisa atrás de mim.
“Está tudo bem, Scholastica,” disse Anna. Ela mudou pra suaíle
e falou para a criança entrar.
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olhos de outro mundo – leitosos e azuis. Seu cabelo era cortado perto do
couro cabeludo, um tom baixo de loiro, mas sem maciez ou delicadeza.
A ausência de cor era destoante como uma pintura sem pigmento. Eu
tinha visto pessoas albinas antes, mas essa garota tinha cascas de
feridas nos lábios e no rosto, como pequenas moscas pretas fazendo a
festa nela. Eu não podia evitar o arrepio que correu em mim, apesar de
ser Scholastica quem visivelmente se encolheu longe de mim, da reação
impulsiva que era sem dúvida familiar para ela. Repugnância. Horror.
Repulsa.
“Essa é a filha de Gabriel,” Anna nos disse. “Ela não fala inglês.
Gabriel parou de manda-la para a escola porque eles não podem
garantir a segurança dela, então ela fica em casa comigo.”
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“Gabriel foi embora há muito tempo dessa vez. Ele disse que nós
iríamos nos mudar para Wanza quando ele voltasse.” O queixo da Anna
tremia, e ela puxou uma respiração profunda. “Eu não posso cuidar de
Scholastica sozinha. Eu tenho duas crianças minhas. Gabriel nos
trouxe para cá e alugou um lugar maior quando meu marido e eu nos
divorciamos. Sem ele, eu não consigo pagar o aluguel. Eu acabei de
receber um aviso de despejo.” Ela gesticulou para as caixas em volta de
nós. “Eu tenho que me mudar, e uma vez que a gente saia desse
composto... Bahati, você entende, não é? Diga a ela para levar
Scholastica para o orfanato.”
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“Mas agora ele está desaparecido,” eu disse. “Você contou isso
para a polícia?”
“Sim, mas existem tantos homens que vão embora para a cidade
e nunca mais voltam, eles acham que Gabriel nos abandonou.”
“Sinto muito, mas sem seu irmão, fico numa saia justa. Eu vim
a procura dele porque minha irmã deixou os nomes de três crianças
que precisam chegar lá. Eu não posso ajuda-las, ou você, sozinha.” Eu
me sentia uma bosta. Eu não gostava da vergonha e da culpa que
rastejava sob a minha pele toda vez que Scholastiva olhava para mim.
Ela estava sentada no chão, perto dos pés da Anna, puxando a barra da
saia para cobrir os pés. Eu deduzi que era um hábito, de ter que se
proteger do sol todo dia.
“Por que não?” Anna avaliava sua estrutura alta, esbelta. “Você
não é Maasai?”
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“Sim, mas o meu povo me rejeitou. Eu não tenho desejo em vê-
los." A mandíbula de Bahati endureceu, sinalizando o fim da conversa.
“Quanto que você acha que ele cobraria por isso?” eu perguntei.
Eu tinha recursos limitados. Minha conta no banco estava seca depois
que eu tinha feito o pagamento da minha pequena casa, e a viagem
tinha sugado o resto.
“Oh, ele não faria isso por dinheiro. Ele tem uma fazenda de
café, uma das maiores propriedades na área. Ele é um homem grande –
não o tipo que alguém queira arrumar confusão. E ele tem um grande
coração. Você e as crianças estariam em boas mãos.”
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“Gabriel prometeu leva-la para Wanza para então ela poder estar
com crianças como ela. Ela sempre quis ir. Ela sente falta do pai, mas
se eu disser a ela que ele vai encontrar com ela lá, ela vai.”
Scholastica olhou para cima para mim então. Era como se ela
sentisse que estávamos falando dela. Eu me vi saindo no sol, deixando
ela lá, fazendo desenhos no chão de cimento, com todas as cortinas
abaixadas.
Bahati não estava tão entusiasmado. “Você tem certeza que você
quer fazer isso?” seu rosto estava diferente, como se ele fosse mais
aquela estátua solene, saída da madeira, com a lança na mão.
Leylah Attar
QUANDO CHEGAMOS NA casa de Jack Warden, era fim da
tarde. Pilares de pedra gravados com as palavras “Kaburi Estate” nos
levaram por uma estrada tortuosa, esburacada, para o prédio principal
– uma propriedade branca cercada por árvores verdes, bananeiras, e
fileiras infinitas de plantas de café. Ela ficava como um rebelde, na
sombra do poderoso Kilimanjaro, com estores elétricos azuis que
subiam contra as nuvens pretas agora se formando no céu.
“Eu pensei que você tivesse dito que não choveria hoje, Bahati,”
eu disse, conforme saí do carro. “Parece que uma tempestade está
vindo.”
“Não. Você fica no carro com Scholastica. Eu vou falar com ele.”
Eu não queria carregar Scholastica para um situação até eu ter falado
com Jack.
Ele não respondeu. Era como se ele não tivesse me ouvido. Ele
estava segurando o telefone, olhos no horizonte, lembrando de alguma
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coisa. A tempestade. Quando o trovão veio, ele levantou e andou até a
balaustrada, ainda lembrando.
“Eu mandei ela dançar até cansar,” ele repetiu, mas ele não
estava dizendo isso para mim. Ele estava falando para si mesmo.
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“Quem é você?” ele perguntou.
“Eu preciso da sua ajuda para levar umas crianças para Wanza,”
eu disse.
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“Você é Jack Warden, certo?” eu me mantive. Eu tinha
prometido a Anna que levaria Scholastica para Wanza. Eu não ia
desmoronar no primeiro sinal de desafio.
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“Senhora louca,” murmurou Bahati, conforme ele deu ré. Era
uma estrada com uma pista, e ela estava nos pressionando, não nos
dando alternativa conforme ela avançava.
“Onde você pensa que vai com esse tempo horrível, jovem?
Dirigindo como um louco nessa estrada?” ela olhou para dentro do
carro, chuva caindo de seu capuz de plástico. Ela devia ter pelo menos
noventa anos, mas seus olhos azuis brilhavam claros.
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senhora que tinha nos convidado – uma mistura de design colonial e
herança africana, com peças que não combinavam e texturas terrosas.
“Garota valente,” disse Goma. “Não tem medo de pele velha. Você
não fala inglês, fala?” ela mudou para suaíle e logo Scholastica estava
rindo. “Venha.” Ela esticou a mão para ela. “Vamos arrumar umas
roupas secas para você.”
“Eu faço esses com meu kitenge. Você nunca mais vai querer
usar esses jeans de novo,” disse Goma, me entregando um muumuu.
Bahati olhou para ela como se ela tivesse ficado louca quando
ela deu a ele um verde e amarelo.
“Ah, vai.” Ela enfiou ele nas mãos dele. “Você está derramando
água em todo meu chão.”
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“Desculpe que Jack foi tão rude com você,” ela disse, quando
acabei. “Parece que vocês foram ambos pegos pelo eventos de uma
trágica tarde. Jack nunca mais foi o mesmo desde que ele perdeu Li..."
ela parou quando Bahati voltou, vestido em um muumuu. Ele mal
passava dos seus joelhos.
“Eu acho que Jack ainda está lá fora,” eu disse quando entrei na
cozinha.
Leylah Attar
“Lily. A filha dele. Ela está enterrada lá. Todos estão. Esse lugar
fez jus ao nome.”
“Ele vai entrar quando estiver pronto. E ele vai continuar a fazer
isso, até o dia, que ele não precise mais. É o que você está fazendo, não
é? A milhas de casa. Enlutada pela sua irmã da sua maneira. Você tem
que deixar isso seguir seu curso. Aceitar até estar acabado e quieto, até
você ter aprendido a respirar através da perda.”
Eu tomei uma colher de sopa e pensei sobre o que ela tinha dito.
A morte da Mo era como uma porta que tinha ficado trancada para
sempre. Eu nunca poderia passar por ela, nunca ouviria ela falar de
todas as coisas inconsequentes que eu sentia tanta falta agora. Há um
limiar invisível de possibilidades quando alguém está vivo. Contrasta
com quando eles se vão, engolindo todos os mundos que pairam em
volta deles – nomes de pessoas que eles nunca encontrarão, rostos de
crianças que eles nunca tiveram, sabores de sorvete que eles nunca
experimentaram. Perder a Mo doía muito, mas eu não conseguia
imaginar como seria perder um filho.
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“Eu pensei que mandei você sair.”
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polígrafo ficando louco, a agulha pulando por todo lugar. Eu fui de
esperançosa a insultada, de ser solidária à sua perda a enfurecida com
sua atitude.
“Ninguém vai a lugar nenhum com esse tempo. Caso vocês não
tenham ouvido a previsão, a tempestade não vai parar logo,” disse
Goma. “Não há iluminação pública em milhas e as estradas são
traiçoeiras na chuva. Além disso, vocês tem que pensar em
Scholastica.”
Eu olhei para ele em silêncio. O que fez ele pensar que ele tinha
o direito de ditar as regras do que eu fazia? Ou quando? Talvez se ele
tivesse falado isso diferente, como se ele desse a mínima, eu teria
considerado, mas ele claramente não nos queria lá, e eu não pretendia
aceitar qualquer grande favor dele.
Seus olhos estreitaram, mas ele não disse nada. Eu tinha quase
certeza que estava a segundos de virar uma pilha de cinzas quando a
análise dele alterasse.
Bahati deu um olhar furtivo para mim, mas ele claramente não
queria discutir com Jack.
Leylah Attar
“Bem. Está resolvido então.” Goma me deu um olhar que não
deixava espaço para protesto. Ela levantou e encheu uma tigela de sopa
para o Jack. “Agora sente e coma um pouco.”
Leylah Attar
empolado só de pensar em sentar atrás de uma direção? Então,
enquanto Sarah fazia massagem, Jack ensinou Bahati a dirigir.”
“O quê?”
“Onde?”
Leylah Attar
tarde trágica. Ele tinha perdido Lily, no mesmo lugar, na mesma hora,
que eu tinha perdido Mo.
“Você não vai poder trazer ela de volta para o albergue com
você,” ela disse. “É para voluntários apenas. Eles fizeram uma exceção
para você, pelo que aconteceu com a Mo.”
“Você deixou claro que não está interessado, mas se você acha
que vou desistir, é você quem está errado.” Eu respondi.
Leylah Attar
“Sinto muito pela sua filha,” eu disse, quando a tensão ficou
demais para aguentar. “E quanto ao que eu disse antes.”
“Sinto muito pela sua irmã,” ele disse. “Bahati me contou. Aceite
meu conselho.” Ele se mexeu e me imobilizou com seu olhar. “Arrume
suas coisas e vá para casa. Você está indo no caminho errado. Você não
tem ideia onde está se metendo.”
Leylah Attar
O CANTO PENETRANTE de um galo me acordou na minha
seguinte. Ele cantava a cada dez minutos, me dizendo que estava
amanhecendo, mesmo que parecesse que eu tinha acabado de cair no
sono. Eu saí da cama, tremendo com o muumuu de Goma, e andei até
a janela.
Leylah Attar
frente deles. A tartaruga andava devagar com pés redondos,
atarracados, olhando para eles – esquerda, direita – como um idoso
cascudo balançando a cabeça em desaprovação. Nós todos começamos
a rir ao mesmo tempo. A risada de Scholastica preencheu o lugar,
mesmo depois de Bahati e eu paramos para tomar fôlego.
BANG.
Leylah Attar
Scholastica começou a rir. Ela ria tanto, se curvando, segurando
a barriga. Jack sentou e observou-a, seu pomo de Adão indo para cima
e para baixo como se o som disso estivesse furando seu coração com
um estilhaço doce. Ele levantou e foi até o canto onde um monte de
outros balões amarelos estavam balançando e entregou um para
Scholastica. Ela pegou e apontou para a tartaruga.
“Eu ouvi que você salvou uma mãe grávida e seu filho durante o
ataque ao shopping,” eu disse, conforme Bahati e Goma conversavam
do outro lado da mesa. “É incrível.”
“É?”
Eu abaixei meu garfo e olhei para ele. “Qual seu problema? Toda
vez que tento ser agradável, você joga isso de volta na minha cara. Toda
Leylah Attar
vez que eu acho que existe um outro lado seu, você volta a ser um
idiota.”
“Você acha que eles me salvaram?” Jack deu risada. Outro tipo de
risada ainda. Essa era cheia de ironia escura. Ele já só riu alguma vez,
como as pessoas normais? Realmente riu?
Ele se inclinou sobre a mesa, tão perto que eu podia ver os anéis
dourados em volta das suas íris azuis de gelo. Eles eram da cor da
grama seca da Savana, esperando pela chuva. “Em mil vidas, eu
morreria mil mortes para salvá-la. De novo e de novo e de novo.”
A maioria das pessoas afogava suas tristezas com algo mais forte.
Jack escolhia uma garrafa de Coca-Cola. Talvez ele quisesse estar
totalmente atento, totalmente acordado para a dor. Talvez Jack Warden
gostasse da dor porque ele acreditava que era exatamente o que
merecia.
Leylah Attar
Eu desviei minha atenção de Jack e foquei nela. “Eu esperava que
você conheça alguém que quisesse levar Scholastica e eu para Wanza,
com duas paradas no caminho.”
“Eu conheço o homem perfeito para isso. Ele está sentado bem
nessa mesa, e ele sabe disso também, mas ele está muito envolvido com
ele mesmo para dar a mínima.”
“Não, não perdi,” respondeu Goma. “Eu perdi meu único filho,
seu pai. E perdi a esposa dele, sua mãe, no mesmo acidente. Eu perdi
meu marido. E eu perdi Lily, minha bisneta. Isso são quatro gerações
que eu enterrei. E ainda estou de pé. Você acha que eu não queria ir
dormir e nunca acordar da perda? Em cada vez? Você acha que meu
coração e o seu são tão diferentes? Eles não são. Eu sofro tanto quanto
você, Jack. Mas eu levanto porque você ainda está aqui. Você é o único
que sobrou, e quer saber? Você é o suficiente. Você é razão suficiente
para me manter de pé. E me mata ver você assim, vivo por fora mas
morto e vazio por dentro. Você me ouviu? Isso me mata.”
Jack olhou para Goma e começou a dizer alguma coisa, mas virou
para mim ao invés disso.
Leylah Attar
transparente nos nós dos dedos. “Envelhecer não é para maricas,” ela
disse suavemente. “Você perde as pessoas que ama. Uma e outra vez.
Algumas são arrancadas de você. Algumas se afastam. E você tem que
aprender a deixar ir.”
“Vou pegar minhas chaves,” disse Goma. “Meu jipe ainda está
bloqueando o carro de Bahati. Encontro vocês lá na frente.”
Leylah Attar
em pé lá, segurando o balão esquecido dela. Ela lhe deu um sorriso
conforme pegou, mas ele não notou. Os olhos dele estavam focados no
chapéu que ela estava usando.
“Lily estava usando ele. Ela o deixou no carro quando fomos para
o shopping.”
“Eu fiz aquele chapéu para ela. Eu posso dá-lo a quem eu quiser.”
Leylah Attar
Jack via alguma coisa também, algo que o fez segurar a mão dela
conforme ela se virou para ir. Ele segurou o chapéu da sua filha
apertado na outra mão e se ajoelhou na frente de Scholastica.
“Seu nome era Lily. Jina yake ilikuwa Lily,” ele disse.
“Perdão?”
Leylah Attar
“Você vai?” um pequeno tremor correu a minha espinha. “E as
outras crianças?” eu tinha outros nomes para riscar. Eu precisava de
um compromisso.
Leylah Attar
EU SEGUI JACK até a biblioteca depois do almoço e observei ele
desenrolar um mapa na mesa de nogueira polida. Ele pegou os três
Post-its que eu dei para ele, e os colocou no mapa:
“Nós vamos fazer uma viagem para Wanza,” ele disse, depois de
estudar as anotações de Mo. “As últimas duas paradas são no caminho
de lá e as datas são próximas. Sua irmã e Gabriel provavelmente
planejaram dessa forma. Ao invés de dirigir indo e voltando, nós iremos
para Baraka e pegamos Juna primeiro.” Ele apontou para a localização
no mapa. “Nós podemos partir amanhã e traze-lo de volta para a
fazenda. A próxima coleta não acontece em uma semana. Nós partimos
com ele e Scholastica depois, paramos em Maymosi e Magesa, e
seguimos para Wanza de lá.” Ele olhou para mim para confirmar.
Leylah Attar
fato que eles estavam vivos, ou que ele estava vivo. Lily tinha ido
embora, e ele era pura agonia. Ainda assim, lá estava ele, esperando por
uma resposta, olhando para mim como se reconhecendo pela primeira
vez que eu existia, que o que eu achava importava.
Leylah Attar
Eu não achava que ele iria dividir mais nada, mas então ele
pareceu mudar de ideia.
Ela tinha a pele cor de mel e estava sorrindo para a câmera com
pura traquinagem nos olhos. Fios de cabelo estavam saindo debaixo de
um chapéu de girassol – o que Jack tinha dado a Scholastica. Ela
parecia diferente de Jack, mas eu podia vê-lo no arco das sobrancelhas
dela e no modo desafiador do queixo. Ela teria quebrado corações e
regras, e amado cada minuto disso.
Leylah Attar
“Eu não atendi a ligação da minha irmã naquele dia.” Eu não
tinha contado isso para ninguém, nem mesmo meus pais. Eu tinha
compartilhado a última mensagem de Mo, mas não o fato de que eu
tinha ignorado a ligação dela. Eu estava muito envergonhada para isso,
mas de alguma forma, eu me senti bem em dividir isso com Jack. “Eu
estava muito ocupada assinando os papéis da minha casa nova.”
Leylah Attar
como se eu estivesse em pé à beira de algo fundo e vasto, e precisava
ser puxada para trás.
Ele deixou o resto velado, mas estava claro que Sarah o culpava
pelo que aconteceu com a filha deles. Pela expressão no rosto dele, ele
não a culpava, porque ele fazia isso também.
“Lily era nosso último elo, a coisa que nos mantinha conectados.
Eu não falei com Sarah desde o funeral.” Jack cuidadosamente colocou
a foto de volta na prateleira.
“Eu tenho que ir,” Jack disse. “Eu sou necessário lá fora.” Ele
colocou seus óculos de sol e parou na porta. “Vamos partir para Baraka
de manhã.”
Leylah Attar
EU ESFREGUEI a anotação de Mo entre meus dedos conforme
saímos da fazenda. Gotas de orvalho ainda estavam caindo das folhas,
como diamantes da manhã espalhados no campo.
Leylah Attar
ignorando. O nome de Gabriel foi falado. A mãe deu de ombros,
balançou a cabeça, e se manteve de costas para nós.
Jack deu um olhar sombrio para a mulher. “Ela diz que não
sabe.”
“É o pai de Juma. Ele quer que a gente saia.” Mas Jack não
mostrou nenhum sinal de se levantar. “Não até que eles nos digam onde
Juma está.”
Leylah Attar
“Juma,” ela disse, sua garganta convulsionando com o nome
dele. Então ela estava falando como se ela tivesse guardado as palavras
por muito tempo, que ela não podia evitar que elas saíssem. Ela
segurou as minhas mãos apertado quando terminou e soluçou. E
soluçou.
“Jack?”
“Eu quero dizer que seus pais o venderam porque eles têm
muitas bocas para alimentar. Duas pequenas ali, e mais três nos
campos. Eles sacrificaram uma criança para que as outras pudessem
viver. Eles receberam sementes para a fazenda, umas galinhas, e
comida suficiente para eles por um tempo.”
Leylah Attar
“Eu entendo,” eu disse, mesmo que me chocasse. Eu tinha visto
muitas coisas nas missões estrangeiras do meu pai. O bom e o mal. “É
horrível que os pais dele tenham se sentido obrigados a fazer algo
assim, mas Juma está com uma boa família, certo? Quero dizer, eles
devem realmente querer ele se vieram até aqui para consegui-lo.”
Leylah Attar
na cabana mais próxima, agradecida pela escuridão da sua sombra,
que me escondia dos moradores.
O mundo vai te decepcionar. É fato. Uma vez que você aceite isso,
fica mais fácil, ela tinha dito depois de um rompimento particularmente
difícil.
Leylah Attar
“Quantos anos você acha que ele tinha?” eu perguntei, ainda
sentada no chão. Ele podia ter dois, ou cinco, ou dez, ou doze.
“Se a polícia pudesse fazer algo sobre isso, isso não estaria
acontecendo. Você não pode lutar contra um exército de fantasmas sem
nome, sem rostos. Mesmo que você os informe, eles são apenas os
intermediários, trabalhando para curandeiros, que são por sua vez
financiados por patrões ricos, poderosos. Não é uma pessoa com quem
você está lidando, Rodel, ou um grupo de pessoas – é um modo de
pensar, uma mentalidade. E esse é o inimigo mais perigoso de todos.”
“Sim! Sim, você aceita! Assim como eu tive que aceitar.” Os olhos
de Jack passam por mim com uma amargura escaldante. “Não há nada
mais pessoal do que perder uma filha. Você acha que eu não quis punir
as pessoas responsáveis por matarem Lily? Você acha que eu não tentei
imaginar seus rostos? Eu deito acordado toda noite, agarrado a fumaça
e cinzas, respirando o fedor do meu próprio desamparo. Então não
pregue para mim sobre não ser afetado. E se você não pode lidar com
isso, você deve arrumar suas coisas e ir para casa, Rodel, porque isso
não é a porra de uma festa no berço da África.”
Leylah Attar
minha risada virou soluços suaves, silenciosos. Era o estoicismo que
me pegava, a aceitação da tragédia – auto-inflingida ou cometida. Eu
tinha visto nos olhos de Jack, e então novamente na cabana, nos olhos
da mãe de Juma. Talvez quando você tenha visto o leão trazer a gazela,
várias vezes, quando você sentiu a terra tremer com a migração de
milhões de feras selvagens, isso venha naturalmente. Você faz amizade
com a impermanência e a transição e insignificância. Enquanto eu não
tinha nunca me distraído com tragédia ou fracasso ou desapontamento.
Eu resisti a isso. Eu segui em frente com a convicção que a felicidade
era o estado normal das coisas. Eu acreditava nisso. Eu queria me
segurar nisso, mas isso estava lentamente sendo levado de mim.
Leylah Attar
ALÉM DAS ILHAS de árvores de acácia, mechas de carmesim e
violeta invadiam um céu minguante. Mesmo conforme a noite caía nas
vastas planícies, a luz era deslumbrante e clara. Esse era o Serengeti,
uma região da África se estendendo do norte da Tanzânia ao sul do
Quênia. Famoso pelos seus leões magníficos e manadas de animais
migrando, o Serengeti abrangia um número de reservas de caça e áreas
de conservação.
“Nós vamos ter que parar em algum lugar para passar a noite,”
disse Jack. “Vai escurecer logo. É hora de sair da estrada. Nós levamos
mais tempo do que esperado em Baraka.”
Leylah Attar
Serengueti pertenciam aos animais, e eu era grata pela Land Rover
resistente e fechada do Jack.
“O quê?”
A princípio, ele não reagiu. Ele apenas olhou para mim, chocado
de ter suas próprias palavras jogadas de volta para ele. Então seus
Leylah Attar
olhos sorriram, e levou alguns segundos para o resto dele fazer o
mesmo.
Era bom rir. E Jack rir comigo. A risada verdadeira dele era
quente e profunda, como algo que tivesse sido desenterrado num dia de
sol.
Leylah Attar
de fazer nada quanto a isso. Eu me senti tão impotente como quando eu
perdi a Lily.”
“Eu não acho que consigo comer de novo,” eu disse, depois que
ele saiu.
Leylah Attar
“Acho que vou me refrescar.” Eu peguei minha bolsa e
desapareci no banheiro.
“Sim?”
“Você pega a água daqui.” Ele levantou uma aba e apontou para
a fila de baldes cheios de água. Ele removeu a tampa do tanque do vaso
sanitário, colocou água dentro e deu a descarga.
Leylah Attar
você. Eu tremi de pensar como seria se ele deliberadamente decidisse
matar você.
Merda.
“Uh-huh.”
“Com frio?”
“Não.”
“Quer ir jantar?”
Leylah Attar
“Sim.” Ao menos para me aquecer na área do jantar. “Podemos ir
agora?”
“Faminta,” eu respondi.
“Oi, sou Judy. E este é meu marido, Ken,” disse a mulher. Ela
tinha um cabelo loiro platinado, e estava vestindo um vestido rosa
estampado.
“Sou Rodel.”
“Jack.”
Leylah Attar
“Mas você não é,” o marido dela destacou, percebendo a pele
bronzeada de Jack. Ele tinha cabelo grisalho e olhos que brilhavam
quando ele falava.
“Bem, é bom ver um casal que não permitiu que uma pequena
distância atrapalhasse.”
Leylah Attar
“Fiquem um pouco!” Judy bateu no cobertor vazio ao lado dela.
“Não há aquecimento nas barracas.”
Leylah Attar
braços do Jack, se misturar em volta do fogo com suas mãos quentes
circulando minha cintura. Eu deitei a cabeça no seu peito e ouvi a
batida do seu coração. Eu sentia como ouvindo um oráculo. Ele dizia
que eu estava em partes iguais com a terra e as estrelas, partes iguais
de animal e alma. Eu era esperança. Eu era calamidade. Eu era amor.
Eu era preconceito. Eu era moinha irmã. Eu era sua filha. Eu era
Juma. Eu era Jack, Jack, Jack, Jack.
Leylah Attar
“Aquele é Bahati rindo?” eu murmurei, minha bochecha
pressionada contra seu peito. Jack era alto, o cara mais alto com quem
já dancei. “O que ele está fazendo aqui?”
“Eu não sei o que você fumou, Rodel, mas aquele não é Bahati.
É uma hiena. Em algum lugar lá fora.” Ele riu.
“Eu gosto quando você ri. Quero dizer, quando você realmente ri.
Começa aqui.” Eu toquei sua garganta. “Mas eu sinto aqui.” Eu coloquei
meus dedos através do seu peito.
Leylah Attar
“Sim. Mas não está tão perto como soa. O rugido de um leão
viaja um longo caminho.”
“Fazendo o que?”
“Mufasa?”
Leylah Attar
MEUS OLHOS ESTAVAM pesados conforme eles abriram. Levou
um momento para focar nas vigas atravessando o teto. Havia um gosto
amargo na minha boca, e minha língua parecia estar coberta por uma
lã grossa. Algo não estava certo.
Leylah Attar
Mesmo? Agora que você resolve aparecer? Quando estou tendo
pensamentos baixos?
Ainda não.
Não. Você quer mais. Você sempre quis mais. Mas você nem
sempre consegue o que quer. Ás vezes você consegue exatamente o que
você precisa. E Deus do céu, olhe para ele! Não me diga que você não
quer uma lasca disso.
Ás ordens, cara.
Nenhuma resposta.
Leylah Attar
Ele não tirou os olhos da minha cara, e eu estava estranhamente
confortável com aquilo, com ele olhando uma parte de mim que
ninguém mais via. Ele era tão dolorosamente familiar com a perda que
dividir isso com ele não parecia estranho. Havia uma aceitação, um
entendimento, que me levantava e me segurava no seu olhar. Talvez ele
achasse o mesmo em mim porque seu rosto se tornou suave – o formato
dos seus lábios relaxado, o de baixo um pouco aberto.
“Eu acho que eles acabaram de trazer água quente,” ele disse.
“Quer tomar um banho agora?”
“Seria ótimo.”
Leylah Attar
podiam ser discerníveis dessa altura, eram como blocos de pequenas
formigas marchando.
Era uma vista linda, surreal. Eu fui mais perto, mas nuvens
grossas que estavam baixando da beirada e cobrindo a cratera
encobriram minha visão. O ar estava notavelmente mais frio, e havia
uma leve garoa no meu rosto. Eu fechei o casaco do Jack e voltei para a
barraca.
Filho da puta.
Leylah Attar
aumentei o passo, no pico da adrenalina, mas não adiantou. Um aperto
forte segurou minha cintura e me virou.
“Que diabos, Rodel? Você não me ouviu? Por que você está
correndo?”
“Sim.”
"O quê?"
Leylah Attar
“Espere.” Eu não ia perder a vista dele. “Você vai me dizer o que
era?”
“Fiz o que?”
“Foi aquela coisa.” Um arrepio correu sobre mim que não tinha
nada a ver com o frio. “Que diabos está lá fora, Jack?”
“O quê?”
“Não era uma sombra, Jack. Era enorme, e haviam essas luzes
coloridas em volta.”
Leylah Attar
água. A percepção de profundidade é alterada pela névoa, então ela
parece distante e maior do que esperado.”
“Mas ele se mexeu. Não só comigo. Ele fez isso também, mas
era... não era simplesmente apagado e plano como uma sombra. Ele
mudava.”
“Sim, mas agora que eu sei, eu acho lindo. Quero dizer, eu fui
uma coisa muito maior por um momento. Com braços e pernas
compridos, tudo ao meu alcance. E não vamos esquecer da minha
auréola de arco íris espetacular. Eu posso parecer comum, mas sou
mágica!”
“Eu devo admitir,” ele continuou. “Eu estou meio que agradecido
que as coisas vivas do dia te aterrorizaram.”
Leylah Attar
vivemos para elogios, aprovação, aplauso. Mas o que nós realmente
precisamos é de um grande encontro de arrepiar a espinha com nós
mesmos para acreditar que somos mágicos. E esse é o melhor tipo de
crença porque ninguém pode desmentir ou tirar isso de nós.”
Seus olhos voltaram para mim, como se ele tivesse estado longe
e eu tivesse acabado de trazê-lo de volta. “O que você estava fazendo tão
perto da beirada?”
“Você deve ver de perto antes de sairmos. Faça isso agora. Você
nunca sabe se passaremos por aqui novamente.”
Leylah Attar
Gabriel em Rutema, os vidros quebrados em cima, o balanço
abandonado.
“Ok. Você fica aqui, termina o café. Vou fazer nosso check-out.”
“Se você quiser ver a cratera, temos que ir andando,” disse Jack.
“Ouça o homem. Ele sabe do que está falando.” Ken serviu chá
para ele e Judy. “Nós saímos tarde ontem, e estava cheio de carros.”
Leylah Attar
“Vacas?” eu virei para Jack surpresa.
“Isso é algo que você deve perguntar para ele.” Jack mudou de
marcha conforme alcançamos o chão da caldeira.
Leylah Attar
manhã abaixo. Um javali irrequieto correu pela planície, o rabo em pé, o
tufo de pelos no final balançando como uma bandeira preta. Avestruzes
nos inspecionaram com olhos brilhantes, suas cabeças carecas indo
para cima e para baixo. A vista era plana e clara por milhas e milhas.
“Meu pai amava voar. Meus pais estavam voltando para casa
quando seu assento de dois lugares bateu. Eu tinha sete anos. Goma se
fechou no quarto por uma semana. Quando ela saiu, ela estava tão forte
Leylah Attar
como ela sempre foi. Apesar de, as vezes eu achar que foi mais por mim.
Ela não podia se dar ao luxo de desmoronar. Como eu fiz com Lily.”
Ela não se culpava pelo que aconteceu com seu filho, como você
está fazendo com Lily, eu pensei, mas segurei a língua. “Seu avô não
estava por perto?”
Há uma regra não falada de quanto tempo você pode olhar assim
para outra pessoa. Ninguém diz isso, mas todos nós sabemos. Há o
Leylah Attar
olhar rápido que damos a estranhos, a confirmação que trocamos com
as pessoas que conhecemos, a piada particular, a aceitação silenciosa,
olhar de amante, a preocupação de pais. Nossos olhos são sempre
diferentes, sempre falando. Eles encontram e olham longe, mil nuances
expressadas sem palavras. E então havia isso. O que quer que estivesse
se passando entre Jack e eu no meio daquela antiga caldeira. Talvez
fosse porque nós não sabíamos exatamente onde nos encaixar – duas
pessoas unidas por uma trágica tarde ensolarada, resgatadas da beira
da atração – vidas que tinham um oceano se distância, respirações que
se arrastavam no espaço entre nós.
“Big Five?”
Leylah Attar
importantes escaparem. Eu tinha minha pequena casa, mas nunca
teria a lembrança de fazer um safari com a Mo.
Leylah Attar
prometer manter contato, nos visitar, lembrar dos aniversários – apenas
para nos permitir um gosto do que quer que estava batendo forte e
rápido entre nós. Seria como chupar balas de pimenta. Iria zumbir e
arder quando acabasse, mas seria tão, tão bom. E talvez fosse isso – o
fascínio de algo selvagem e indulgente para nos impulsionar de volta
para a vida. Exceto que nós não éramos essas pessoas. Nós éramos
Jack e Ro. E a última coisa que nós precisávamos era nos conectarmos
e libertar outra pessoa.
Meu coração se elevou com alegria inesperada, pela Mo. Que ela
tinha tido essa vista incrível, que ela não tinha ouvido quando eu tinha
falado para ela encontrar um emprego de verdade ou alugar um
apartamento de verdade. Ela tinha arrumado tanto as malas na vida,
vivendo cada dia da sua maneira, era como se ela tivesse sabido que
não havia tempo para desperdiçar. Algumas pessoas são assim. Elas
ouvem sua voz interior mesmo que seja louca e selvagem e não faça
sentido para o resto de nós.
Leylah Attar
Eu dei risada conforme os flamingos dançaram em volta de mim,
buzinando como gansos. Eles estavam tão perto que eu podia ver o
amarelo dos seus olhos e a curva dos bicos. O céu estava
completamente azul agora, exceto por algumas nuvens brancas vindas
do lago. Estava muito mais quente e a minha pele estava farta de sol.
Ele parou ao meu lado, seu peito nas minhas costas, apontando
para fora. Sua outra mão descansava no meu ombro, quente e pesada.
Leylah Attar
“Não é um guepardo. É um leopardo.” Nós estávamos tão perto
que o respiração do Jack agitava meu cabelo conforme ele falava. “Eles
são fáceis de confundir porque ambos têm manchas. Guepardos têm
manchas pretas sólidas e linhas pretas que correm dos cantos dos
olhos. As manchas dos leopardos são agrupadas, como rosetas. Os
leopardos são maiores e mais musculosos. Não são feitos para
velocidade como os guepardos, mas o que falta para eles em velocidade,
eles ganham em esconderijo e força. Eles sempre carregam sua presa
para o alto da árvores para evitar que predadores as comam.
“Tinha alguma coisa a ver comigo, não é?” ele perguntou, como
se conversar com a minha irmã fosse uma coisa completamente normal
de fazer. Então, novamente, talvez fosse alguma coisa que ele podia
entender.
Leylah Attar
ninguém visse, algo pessoal e cru e doloroso. “Eu não posso... encara-
la.”
“Se você não pode falar, só ouça,” eu disse. “Talvez um dia você
vá ouvir o que ela está dizendo.”
Ele disse isso tão à toa, que comecei a rir. “Você está conferindo
o pênis dele?”
Leylah Attar
“Você bufou. E você chama um pau de pênis.”
“Mo disse que eu deveria descer aqui para que ela pudesse me
mostrar um pênis de elefante.”
“Parece que não vamos ver todos os Big Five hoje,” disse Jack,
conforme nos aproximamos da subida de volta para a margem.
“Nenhuma visão de rinocerontes.”
Leylah Attar
floresta. Um punhado de nuvens brancas se arrastava, lançando
sombras escuras no chão.
Foi um pouco antes dele falar, e sua voz era suave, mas
carregada. “Eu também não.”
Leylah Attar
CONFORME NÓS SAÍMOS da cratera, as árvores altas davam
lugar a um platô alto, varrido pelo vento.
Leylah Attar
“Sim. Eles determinam a posição de um homem primeiro por
sua bravura, e depois pelo número de esposas, filhos, e vacas que ele
tem. Cada esposa tem uma casa dentro da mesma boma ou vila. A vila
de Bahati não é tão tradicional como algumas outras bomas Maasai. É
uma boma cultural, o que significa que muitos tours param aqui para
as pessoas visitarem as casas, tirarem fotos, comprarem souvenirs.
Esse tipo de coisa.”
Leylah Attar
“Jack Warden,” disse o homem, cuspindo em sua mão e
estendendo para Jack.
Leylah Attar
conchas de búzios, diferentes dos ornamentos que todos os outros
estavam usando. Ele também tinha um colar de dentes de crocodilo que
faziam barulho quando ele se mexia.
Leylah Attar
“Por que? O...?” eu parei conforme os gritos estridentes de uma
garota encheram o ar. Estava vindo de dentro da cabana. O que quer
que estava acontecendo com ela era torturante – dolorido e agonizante.
E ainda assim ninguém se mexeu para ajudá-la. Eles todos esperavam,
amontoados do lado de fora, caras brancas viraram para o vão da porta
escuro. Um coro de mulheres começou a cantarolar como se para evitar
ouvirmos o som ou talvez oferecer conforto a ela.
Leylah Attar
“Por isso que você tomou Bahati sob sua asa e o ensinou a
dirigir?”
Leylah Attar
parte do gado estava fora pastando, mas tinham ficado alguns para
trás. Com alguns bodes e ovelhas. Uma vaca estava abatida com um
furo na jugular com uma flecha cega. O sangue que jorrava do pescoço
foi pego em uma cabaça e servido à menina que tinha acabado de
passar pela cerimônia.
“O quê?” eu parei.
Leylah Attar
sempre que eu dava uma olhada nesse Jack – o Jack divertido,
descontraído que tinha estado enterrado no entulho de um shopping.
“Eles vão assá-lo.” Jack deu risada. “Mas antes, eles dançam,”
ele disse, conforme nós nos encontramos na margem do círculo de
moradores.
Leylah Attar
para batalha – para ver quem podia pular mais alto. Olonana e Jack
pulavam olhando um para o outro, subindo e descendo. Eu vi uma
adaga guardada embaixo das roupas do chefe conforme eles subiam
mais e mais. Era um duelo entre o chefe e seu visitante, e Jack estava
dentro nessa.
“Só... do sol.”
Leylah Attar
Depois do sol brilhante da tarde, levou alguns minutos para meus olhos
se ajustarem ao escuro. Eu senti em volta e encontrei uma cadeira
nodosa.
“Talee... o quê?”
Leylah Attar
Eu fiquei momentaneamente perplexa que ele falou inglês, mas
fazia sentido que ele usasse o dialeto local quando ele falasse com Jack
uma vez que ambos entendiam.
Leylah Attar
à vista, e não havia como eu dar uma corrida desenfreada para os
arbustos caso não me caísse bem.
Eu sempre disse que você precisa sair mais. Você se encontra com
si mesmo quando viaja.
Bunda-mole.
Quando tive certeza que ela tinha ido embora, eu cuspi para
fora, mas não queria correr o risco de ofender ninguém. Eu pensei em
jogar num canto escuro, mas a minha operação secreta acabou sendo
desnecessária. Um cachorro entrou na cabana, cheirando em volta das
mulheres e crianças. Eu cocei sua orelha e o alimentei com o pedaço de
carne na minha mão, virando a cara dele para a parede até ele acabar
de comer.
Merda.
Leylah Attar
Olonana puxou Jack de lado enquanto eu me despedia de sua
mãe. O resto dos moradores estavam fazendo uma dança de boas-
vindas para os turistas. Alguns estavam tentando vender as pulseiras e
outros artesanatos para eles.
“Não foi isso que ele disse para você mais cedo?”
“Eu não sabia que Bahati tinha filhos.” Eu parei perto da tenda
na entrada da boma. Era cheia de souvenirs coloridos, feitos à mão.
Leylah Attar
“Eu meio que precisava. Minha maneira de me desculpar.” Ele
esfregou a nuca encabulado.
“Eu não queria que você ficasse histérica, mas a senhora cuspiu
em você.”
Silêncio.
Leylah Attar
Eu ataquei os biscoitos antes dele entrar no carro.
“Mas ele é o chefe. Ele pode mandar mais alguém para pastar o
gado.”
Leylah Attar
selvagens, esperando por mim para encontrá-la de novo e de novo.
Talvez Jack encontrasse Lily nas tempestades, embaixo da árvore, perto
do seu túmulo. Talvez quando ele registrava trovão e raio, ele estava
capturando pedaços dela, para carregar com ele no seu celular.
Leylah Attar
QUANDO CHEGAMOS de volta à fazenda, as luzes estavam
apagadas e todos estavam na cama. Pela primeira vez em semanas, eu
peguei no sono no momento que coloquei a cabeça no travesseiro.
Leylah Attar
meu coração ainda estava na minha garganta. Eu não tinha ideia do
que estava esperando por nós lá embaixo. E nem ela.
Sangue.
Eu não percebi que estava correndo até ele até estar a alguns
centímetros de distância, quando vi a expressão de Goma. Ela estava
me olhando com uma mistura de curiosidade e astúcia que me fez
parar.
Você se preocupa com ele. Ela não disse isso em voz alta, mas
deve ter dito.Você se importa com Jack.
Leylah Attar
Certo. Goma abaixou a arma. E é só isso.
Leylah Attar
autoconfiança no Jack que me fazia querer entregar minhas cordas a
ele. Eu queria saber como seria ter suas mãos enroladas no meu cabelo,
puxando, segurando...
“É sério, com uma carcaça aos seus pés?” ela olhava de mim
para Jack. “Não, eu não quero ouvir.” Ela levantou as palmas conforme
Jack olhou para dizer alguma coisa. “Você pode negar quanto quiser.
Ambos de vocês. Mas vocês não vão enganar essa senhora. Há uma
força maior acontecendo aqui. Faíscas e tudo.”
Leylah Attar
“Olhando pela minha janela.” Ele apontou para o andar de cima
da casa.
“Eu não sou segurança. Nunca disse que era. Sou um ator. Você
me pagou para ficar aqui até você voltar. Você voltou na noite passada.
Pelo que vejo, meu contrato acabou naquele momento. Além do mais, só
estou fazendo o papel de segurança. Quando as pessoas me veem, elas
veem um guerreiro Maasai feroz com quem eles não querem cruzar. Isso
é o que importa. A percepção deles. Eles não têm que saber que eu não
prejudicaria uma mosca. Então, você vê, tudo se resolveu
pacificamente. Sem combate, sem luta. Mas hienas no meio da noite?
Elas são todas suas.”
“O mesmo.”
“Sem bônus. Ainda é muito mais do que você ganha com suas
viagens ao Grand Tulip,” disse Jack. “Você quer ou não?”
Leylah Attar
pânico. E daí esse tiro. Animais selvagens andando por aí. Eu tenho que
ter algum tipo de compensação. Risco de saúde.”
Leylah Attar
“Nós vamos verificar o bezerro,” respondeu Jack. “Você gostaria
disso, Scholastica?” ele mudou para suaíle e sentou ao lado dela.
“Olha como minha Suzi está brilhando hoje!” Bahati alisou o jipe
conforme Goma e eu entramos. Ele tinha limpado e polido deixando-o
brilhando.
“Eles foram mais legais com você do que comigo. Você sabe o
que meu pai me deu? Meu apelido. Bahati. Bahati Mbaya.”
Leylah Attar
má sorte. Quando eu nasci, Lonyoki, nosso oloiboni, teve uma visão. Ele
me viu cavalgando uma enorme serpente preta. Eu estava lutando com
os meus, ajudando as pessoas brancas. Muitos anos atrás, os
colonialistas pegaram nossa terra. Nós ainda estamos tentando
recuperarmos e seguirmos do nosso modo de levar a vida. Lonyoki
acreditou que eu era uma ameaça para a vila, mas meu pai me amava.
Ele ouvia Lonyoki para tudo menos isso, e isso desagradou o oloiboni.
Ele me culpou por toda a desgraça. Se a chuva não vinha, era minha
culpa. Se seus feitiços não funcionavam, era minha culpa. Se uma
doença exterminava nossas vacas, era minha culpa.
Leylah Attar
Mo depois de ter tirado tudo, agradecida que Goma e Bahati tinham
ficado no carro. Eu precisava de um momento, um último momento
para ocupar o espaço onde Mo tinha estado, respirar o ar que ela tinha
respirado.
Eu estava feliz que tinha vindo, mas não tinha como negar o
vazio onde ela deveria estar. Eu percebi que esses momentos estariam
sempre em mim, sempre ecoando com sua voz, seu rosto, seu sorriso,
como um espaço vazio na minha alma. Eu fui dominada por uma
sensação repentina de gratidão e conexão a Jack, e Goma, e
Scholastica, e Bahati. Eles todos estavam me mostrando aspectos
diferentes do que significava ser forte, em um momento em que eu
estava lutando comigo mesma.
Leylah Attar
Eu olhei o prédio desgastado enquanto Goma respirava em cima
de seus óculos psicodélicos e os esfregava com a ponta do seu cafetã4.
Seu cabelo prateado chamava a atenção contra a estampa magenta.
“Goma, você ainda está viva?” um dos policiais sorriu para ela.
“As que você vai arrumar para mim e minha amiga para
podermos sentar e discutir negócios.”
Hamisi levantou o olhar para mim. “Sinto muito pela sua irmã.
É lamentável, mas a maior parte de nossos recursos estão amarrados
4 Casaco ou sobretudo abotoado pela frente que chega aos joelhos, com mangas
longas
Leylah Attar
na investigação. Isso pode levar um tempo. Havia uma conexão
romântica, talvez?” ele bateu a caneta no formulário.
“Um começo, minha bunda. Você concorda com esse valor agora,
ou nós vamos embora. Tenho certeza que posso encontrar mais alguém
que ficaria feliz em ajudar.”
Leylah Attar
“Quando você vai se cansar desse jogo, Inspetor? Eu estarei fora
daqui antes que você possa começar a papelada.”
Goma olhou para ele por cima da armação. “Só por cima do meu
cadáver.”
“Isso pode ser acertado.” O homem deu risada, antes das grades
o fecharem.
“Parece que você pegou todo o resto.” Goma olhou para as duas
malas que ele tinha colocado no carro. “Você não está se mudando,
sabe. É só até Jack e Rodel voltarem de Wanza.”
Leylah Attar
deles. Aqui. Sinta minha pele. Macia como um recém-nascido. Eu vou
tirar umas fotos de rosto logo. Para o meu portfólio. Eu estava
esperando meu cabelo crescer um pouco...”
Leylah Attar
Eu andei pela longa fila de velas e flores e brinquedos. As
pessoas deixando seus tributos, talvez algumas que vinham todo dia,
cujas almas estavam ancoradas nesse lugar de entes queridos perdidos.
Taleenoi olngisoilechashur.
Leylah Attar
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Leylah Attar
um número igual de charlatões. Pessoalmente, eu rejeito superstições
locais. Talvez porque eu fui vítima delas, e tive que deixar minha casa e
meu povo.”
“Eu lhe contei uma história que a Lily costumava adorar,” ele
afagou o cabelo dela, com cuidado para não acorda-la.
Leylah Attar
“Eu não sei como um homem pode abandonar sua filha,” Jack
disse suavemente. “Se eu pudesse espremer mais um momento com Lily
– um minúsculo momento passageiro – eu o faria. Não importa quando
custasse. Eu venderia minha alma ao diabo por isso.”
Leylah Attar
“Eu não quero informar ninguém – no caso de Gabriel ter
alguém mantendo o olho aberto para ele por aqui. Eu prefiro
simplesmente aparecer e verificar eu mesmo.”
Leylah Attar
“São as digitais da Lily. Ela estava comendo chocolate naquele
dia. Quando chegamos ao shopping, meu telefone tocou. Ela veio do
meu lado e colocou a mão aqui. assim...” ele pairou seus dedos sobre as
marcas. "Um, dois, três, quatro, cinco. Vê? Cinco impressões de
chocolate perfeitas. Eu não os lavei desde então. Toda vez que eu olho
para fora da janela, eu vejo Lily ali, segurando sua mão no vidro,
fazendo caretas para mim."
Leylah Attar
O DIA COMEÇAVA cedo na fazenda. A melhor hora para colher
café era antes de ficar muito quente. Tinha que ser feito com a mão
porque os grãos de café em um mesmo galho amadurecem em
momentos diferentes, então eles colhem só os grãos maduros e os
colocam nas cestas, um a um.
“Lógico que ela quer café. Ela está em uma fazenda de café. Está
em volta dela. Você está tomando. É absolutamente natural que ela
Leylah Attar
queira experimentar. Eu suspeito que ela também esteja tentando achar
uma razão para te tirar do sério. Ela provavelmente está pensando que
isso vai leva-la de volta para Rutema. É a única casa que ela conhece.”
Leylah Attar
cru. Nós guardamos um pouco para a fazenda e os funcionários, para
podermos torrar para nosso próprio uso.”
“Nós usamos uma máquina para essa parte, mas isso funciona
bem para pequenos lotes. Aqui.” ele entregou o pilão para Scholastica.
Leylah Attar
“Pronta?” ele deu uma xícara à Scholastica.
“Eu acho que poderia ter oferecido a ela açúcar e leite.” Jack me
deu um sorriso encabulado. “Mas não é realmente café que ela quer. É
ter algum controle sobre sua vida, mesmo que seja algo pequeno como
escolher o que quer comer ou beber. Tudo que nós realmente queremos
é sentir que importamos – que somos vistos, que somos ouvidos.”
“Você é realmente muito bom com ela,” eu disse. “Eu sinto que
estou um pouco em desvantagem porque não falo suaíle.”
“Se você não consegue falar, apenas ouça. Isso que me disseram
uma vez.” Ele me colocou um pouco de café e sentou num tronco na
minha frente.
Leylah Attar
“Eu amo café,” ele respondeu, me vendo dar um gole.
Ele encostou para trás, olhando fixo para uma nuvem. Eu não
achei que ele fosse responder quando ele finalmente falou.
Eu não sabia o que dizer, porque eu não tinha ideia como era ser
cercado por acres e acres de algo que você amava, mas nunca podia
experimentar. Ao invés disso, eu balancei meu café e segui seu olhar
para o céu. Nós observamos silenciosamente conforme as nuvens
vagaram pela frente majestosa do Monte Kilimanjaro, como véus finos
de prata.
Ela olhou para mim, então para o papel, e rabiscou alguma coisa
completamente diferente no canto.
Leylah Attar
“Sim!” eu bati palmas. “Isso! Que tal essa?” eu perguntei,
indicando o B no livro.
“A.” Ela mostrou para mim, antes de pegar o escrito por ela e
balançar contente.
“Ótimo! Ouviu isso? Você vai arrumar óculos.” Eu fiz gestos com
as mãos para Scholastica. É estranho quanto podemos nos comunicar
com expressões e linguagem corporal quando as palavras não são uma
opção. E mais estranho, é quão mais autêntica a conversa pode parecer.
Leylah Attar
“Oh, espere!” eu procurei na minha bolsa e peguei os óculos
sobressalentes da Mo. “Vamos ver se esses ajudam. Não vão ser
perfeitos, mas...” eu os coloquei sobre suas orelhas e dei um passo para
trás. “Como está?”
“Eu nunca vi uma garota tão feliz desde que compramos aquela
tartaruga para Lily,” disse Goma. Ela tinha um olhar melancólico nos
olhos até ela notar as pequenas gotas que Aristurtle estava deixando
aos seus pés. “É isso! Você vai ficar em uma caixa. Não vou mais pegar
cocô seu, ouviu?” ela levantou a tartaruga e disse algo para Scholastica
em suaíle.
Leylah Attar
Conforme eu andava entre os varais de roupas esvoaçando, eu vi
Jack. Ele estava em pé sem camisa entre as fileiras de café, seu corpo
brilhando no sol da tarde. Eu desviei o olhar mas não pude evitar
roubar olhares para seu corpo forte, dourado. Eu poderia conseguir
ignorar minha atração por ele, mesmo que ela reacendesse
constantemente, se não fosse combinada com minha afeição por ele.
Era uma combinação mortal – uma que me fazia sonhar ser pega em
um abraço, mesmo quando eu estava focada na tarefa mundana de
pendurar as roupas para secar.
“Não. Acabou.”
Leylah Attar
Graças a Deus, meus joelhos declararam. Esse cara faz nosso
trabalho ficar difícil. Não gostamos dele.
Não demorou muito antes dela me pedir para chamar Jack para
jantar.
Leylah Attar
“Bem, se agrada a Sua Majestade, o jantar está pronto. Vocês
todos foram convocados por Goma.”
“Vocês vão na frente,” Jack nos disse. “Eu vou logo. Estou
acabando aqui com ela.” Ele tocou a bezerra dormindo no estábulo.
“Ela está bem. Só tendo certeza que esse corte não infeccione.”
Ele enxaguou o corte com algum tipo de medicamento, aplicou sálvia, e
enfaixou novamente.
“Ainda bem que são superficiais. Ela ficará bem em alguns dias.
Não vai?” Jack encostou a cabeça nela. “Mas você precisa descansar
agora. Está certo. Feche os olhos. Você está segura agora.” Ele esfregou
a pele dela em amplas pancadas suaves, conforme a luz do pôr do sol
caía em raios dourados em volta deles.
Leylah Attar
Qualquer um teria considerado isso acidental, mas não Jack.
Ele sabia. Talvez porque ele estivesse tão intensamente ciente da
corrente em espiral entre nós. Seu olhar foi para o meu rosto,
procurando meus olhos. Eu não sei o que ele viu neles, mas o ar entre
nós ficou carregado, como se estivesse cheio de dinamite – um
movimento em falso e nós iríamos explodir em pedaços. Eu não me
importava, no entanto, não naquele momento. A sua proximidade era
como uma droga, me levando à euforia. Eu andei a deriva em direção a
ele, devagar, sem proteção, até meus lábios sentirem a essência total,
intoxicante dos dele.
Leylah Attar
Rodelle. Outra coisa que eu iria sempre lembrar – a maneira
como ele dizia meu nome, elevando para além do comum.
“Todo mundo que eu amo acaba aqui,” ele disse, apontando para
as quatro lápides na base da árvore. Seu avô. Seu pai. Sua mãe. Sua
filha. “E aqui é meu lugar.” Ele marcou uma área perto da lápide de
Lily. “Eu nasci aqui, e é aqui que eu vou morrer. Deus sabe, que há dias
em que tudo que eu quero é estar com Lily, onde quer que ela esteja.
Leylah Attar
Quando eu conheci a mãe dela, eu era jovem e bobo. Eu achei que
iríamos dar certo. Mas não são muitas mulheres que são feitas para
viver em uma fazenda, longe de tudo e de todos. A princípio Sarah foi
tomada por isso, depois ela tolerou, então ela odiou. Isso levou tudo de
bom entre nós. Depois que ela foi embora, eu jurei que nunca colocaria
mais ninguém naquilo de novo.” ele colocou as mãos nos bolsos e virou.
Leylah Attar
AS NOITES NA FAZENDA eram devagar, boas vindas param
quando tudo ficava suspenso sob a cobertura de um céu cheio de
estrelas. Goma sentava em sua antiga máquina de costura, seu pé no
pedal, enchendo a biblioteca com um zumbido suave. Ocasionalmente,
ela levantava, media o tecido na Scholastica, e ou assentia ou pegava a
tesoura e o giz de alfaiate.
Scholastica.
Scholastica.
Scholastica.
Leylah Attar
Essa sou eu.
Ela pode não ter entendido as palavras, mas ela tirou os óculos e
deitou a cabeça no meu colo.
“Bom, acabei por hoje.” Goma cortou uma linha e segurou a saia
para ver. Ela dobrou e colocou na pilha de outras roupas que tinha
costurado para Scholastica. “Vou leva-la para cima. Venha.” Ela esticou
a mão para Scholastica. “Vamos levar você para cama. Tende kulala.
Grande dia amanhã.”
Leylah Attar
Eu assenti e tentei comunicar a primeira palavra, segurando
meu nariz para cima e andando arrogantemente pela sala.
Bahati fez uma careta quando leu o livro que estava segurando.
Ele colocou de lado e pensou um pouco.
“Bunda, nádegas...”
Leylah Attar
“Don Quixote,” ele disse, a cabeça ainda abaixada na mesa.
“Não.” Eu andei até ele. “Não acredito nisso. Algo não está certo
aqui.”
“Não sei, mas não gosto disso.” Meus olhos se estreitaram nele.
Peguei meu livro e girei.
Eu não tinha ido muito longe com meu encontro com o Sr. Darcy
quando o Sr. Warden apareceu, cobertor na mão.
Leylah Attar
“Eu achei que você podia usar isso,” ele disse. “Está frio essa
noite.”
“Do que?”
De nunca mais sentir por mais ninguém o que sinto por você.
“Eu quero te mostrar algo.” Ele mexeu até achar um vídeo. “Essa
é a última apresentação de dança que eu tenho da Lily. Eu gravei
algumas semanas antes dela morrer. O olhar dela – é pura felicidade.”
Leylah Attar
Lily acendia o pequeno palco. Ela saltava em seu pé direito,
depois o esquerdo, balançando os braços em movimentos divertidos,
bem-humorados. Era metade coreografado, metade livre, e ela não
parava de sorrir o tempo todo. Quando ela terminou, ela apontou para a
câmera e mandou um beijo ao pai antes de agradecer.
“Ela não esteve sempre bem com isso. Essa era ela, na primeira
vez que subiu no palco.” Jack me mostrou outro vídeo.
Era uma Lily diferente, mais nova, mas também incerta e muito
nervosa. Ela era parte de um grupo, e ela se atrasava atrás de todo
mundo porque estava seguindo os passos. Seus movimentos eram
pequenos e artificiais, como se ela estivesse dançando em uma caixa
que a restringia. Ela não fazia tudo. Ao invés disso, ela saiu do palco e
foi para atrás das cortinas, enquanto o resto do grupo completava a
apresentação.
Leylah Attar
medo é um mentiroso. Não deixe ele assoprar no seu ouvido. Desligue
essa merda. Faça o que te assusta. Várias e várias vezes. E um dia, seu
medo vai se tornar tão pequeno, que você vai ser capaz de rir disso.”
“Você teria gostado dela. Eu vivia para as vezes que ela vinha me
visitar. Eu adorava vê-la correndo pelas planícies, na grama que era
quase da altura dela. Ela era minha flor, meu sol. Jeans e uma
camiseta de arco-íris.” Ele balançou o pé, levando o balanço a um
movimento suave, de ninar. “Nada vai ferir você ou aquelas crianças,
Rodel. Eu tenho estado na guerra desde que perdi a Lily, só não sei com
quem. E isso me mata. Porque cada fibra do meu ser quer encontra-los
e destruí-los, e eu não posso. Mas se alguém... se alguém tocar em um
fio do seu cabelo ou tentar prejudicar aquelas crianças, eu vou destruí-
los. Eu não quero jogar pelas regras mais. Eu não quero vê-los atrás
das grades. Eu não quero que eles tenham um julgamento justo. Eu os
quero mortos. Eu vou coloca-los a seis palmos abaixo da terra, Rodel,
então Deus me ajude.”
Leylah Attar
EM ALGUM MOMENTO durante a noite, eu tinha pego no sono
no balanço e Jack tinha me carregado para a cama. Eu devo ter
acordado quando ele me pegou, mas a sensação de ser pega em seus
braços era tão deliciosa que eu tinha fingido isso. E então passei de
novo na minha cabeça várias vezes até cair no sono de novo.
Leylah Attar
conforme seus olhos correram pelo meu ombro nu, na pele onde minha
blusa tinha caído.
Jack não disse nada, mas ele deve ter visto o rubor na minha
cara, porque o canto da sua boca levantou, mas bem pouco, como se ele
estivesse nisso o tempo todo.
“Ei, eu vou..."
“Ela está com febre. Dei algo para isso, mas ela não está em
condições de ir a lugar nenhum hoje.”
“Nós temos que ir. Hoje é o dia que Mo e Gabriel devem pegar a
criança em Maymosi.”
Leylah Attar
“E nós iremos. Correção. Eu vou. Você tem um avião para pegar
quando voltarmos. Eu farei outra viagem depois de você ir embora.
Enquanto isso, nós deixaremos Anna saber que houve um atraso. Não
acho que isso importe, contanto que ela tenha certeza que Scholastica
esteja segura.”
“Você vai ficar bem?” Jack perguntou a Goma quando ela veio se
despedir de nós.
Leylah Attar
Jack ligou o carro, encobrindo o resto dos seus comentários.
Leylah Attar
Se martírio pudesse ser captado, ele estaria nas pausas entre suas
palavras. “Minha bebê está lá fora, embaixo daquela árvore grande. Eu
sempre cuido dela. Toda vez que chove. Eu fico ao seu lado. Eu penso
em seu corpo pequeno ficando molhado da chuva e não suporta a ideia
dela estando gelada e sozinha. Mas hoje, não estou lá, e ela está me
deixando. Estou perdendo minha bebê.”
Não parou até que ele se rendeu a isso, até ele se deixar se
afogar nisso, até seu corpo todo tremer como se rompesse sua pele e
ossos. Quando ele finalmente levantou a cabeça, ele era uma imagem de
completa devastação.
Leylah Attar
suave, brilhava nas poças conforme um sol discreto aparecia no
nevoeiro.
“Não percebi que você nunca tinha realmente deixado ela ir até
agora..."
“Um arco-íris.”
“Lily amava arco-íris. Tudo era colorido como arco-íris. Seu tutu,
chaveiro, meias, lápis...” ele divagou, como se redescobrindo a beleza na
luz recém-nascida. “Eu mandei ela dançar até chover. E é exatamente o
que ela fez. Ela chamou minha atenção. Todo esse tempo eu estive
procurando por ela nos lugares errados – na chuva, no trovão, no raio.
Todo esse tempo... lá está ela, escondida nos arco-íris.”
“Te vejo do outro lado, minha menininha,” ele disse para o arco-
íris do outro lado do vale.
Leylah Attar
legumes, barganhando alto o preço. Um açougueiro com um boné
vermelho pendurava peças de carne de carneiro brilhantes, cercado por
uma plateia de cachorros esperançosos. Fumaça fina subia dos
queimadores de carvão conforme os vendedores preparavam chá com
leite e pão mandazi frito para os consumidores.
Elas olharam para mim como seu eu tivesse crescido com duas
cabeças e começaram a rir.
Leylah Attar
elásticos em volta. Não conseguia imaginar para o que era. A última
criança chocalhava duas latas cheias de pedras para chamar a atenção
de todos.
“Sabido o que?”
Leylah Attar
“Sumuni. Significa 50 cents em suaíle. Acho que ele se deu o
nome de 50 Cent, o rapper.” Ele tirou uma notas da carteira e as
entregou para Sumuni.
Sumuni parou e piscou para Jack. Ele deve ter doze ou treze
anos, mas seus olhos eram daqueles de uma alma velha. Eram
diferentes dos de Scholastica – mais rosas do que azuis. “Sim, mas deve
ter algum engano. Estamos esperando Gabriel.”
Ele nos levou para sua casa e pediu para esperarmos no quintal
enquanto ia chamar seus pais. Eles nos cumprimentaram cordialmente,
apesar de rapidamente perguntarem de Gabriel.
“Nós não temos certeza de onde ele está,” eu disse. “Eu encontrei
o nome de Sumuni em umas anotações que minha irmã tinha feito, e
decidimos vir pega-lo.”
Leylah Attar
apareça. A situação de Sumuni não é como a maioria das crianças
albinas. Ele é amado e protegido aqui. A vila inteira se levantaria se
alguém tentasse machucá-lo.
“Vamos ver isso,” sua mãe disse, o acalmando. “Se Gabriel não
aparecer, teremos que economizar para uma viagem de trem para
Wanza, no vagão privado. Levar Sumuni para lá de ônibus é muito
arriscado. Você nunca sabe com quem você está viajando.”
“Esperamos que não tenha sido muito difícil vir até aqui.” o pai
de Sumuni se mexeu na cadeira. “Para onde vocês vão em seguida?”
Leylah Attar
Sumuni e sua pequena banda fizeram outro show para todos.
Seu pai assistia orgulhoso, um maço de tabaco atrás da orelha,
enquanto sua mãe costurava contas em longas fitas de fibra do baobá.
“Só estou... sinto como se estivesse falhando com Mo. Não estou
chegando a lugar algum com essas crianças. Chegamos a Juma tarde
demais, e agora...”
Uma brisa fria passou por nós e levou folhas secas para a brasa.
Nós sentamos lá, observando as mulheres varrerem o chão com
vassouras de grama e galhos até que a maioria dos convidados
dispersaram.
Leylah Attar
Em volta de nós, o céu da noite ficava repleto de nuvens de
fumaça e poeira, mas naquele momento, aquele momento brilhava com
uma claridade tão forte e comovente, que eu sabia que permaneceria
alojado no meu coração como um diamante.
Leylah Attar
NÃO HAVIAM HOTÉIS em Maymosi, mas um dos aldeões mais
ricos alugava quartos em sua vila particular. Jack e eu passamos a
noite em quartos adjacentes que eram escassos, mas funcionais. As
paredes eram finas como papel então eu sabia que ele tinha ficado
acordado a maior parte da noite. Ele estava com os olhos tão remelentos
como eu de manhã.
Ainda bem que eu não era a única dando voltas na cama a noite
toda, pensei.
Leylah Attar
“Nós vamos pelo parque, e seguimos para Magesa pelo corredor
oeste,” explicou Jack, quando chegamos ao Serengeti National Park.
Leylah Attar
“Talvez. Talvez não.” Jack sorriu, “Mas é o lugar perfeito para
um leão preguiçoso se aquecer.”
“É seu dia de sorte, Rodel.” Ele apontou para uma das rochas.
“Porra!” Jack disse, indo para trás devagar. “Ela tem um filhote.”
Leylah Attar
parasse. Ela estava perto, e chegando mais perto, tão perto que eu
podia ver sua respiração – pesada com a umidade exalada de seus
pulmões – a fibra grossa, densa de sua pele, o chifre de aço ameaçador
abaixou conforme ela seguia direto para nós.
“Já passei por pior,” ele respondeu. “Da próxima segure a alça
de oh-merda.”
“O que?”
Leylah Attar
“É assim que é chamada?” eu dei risada, apesar do triz. Meu
coração estava batendo forte e rápido, como se tentando sair do meu
peito. “Eu sempre achei que era para pendurar lavagem a seco.”
Leylah Attar
Magesa, e as árvores fechavam em volta de nós conforme seguíamos a
trilha de terra que levava à vila. O caminho estava úmido da chuva, e o
carro ia em um ritmo constante de andar, frear, andar, frear, conforme
Jack ia por barrancos e rochas. Nós tivemos problema depois de
batermos em um buraco particularmente grande. O Land Rover fez um
barulho horrível e balançou parando.
Leylah Attar
ser jogada nele. Radiava para fora, me banhando, até eu não poder
evitar de me juntar a ele.
“Rodel.”
Que saco ele. Que saco sua voz. Que saco a maneira que ele dizia
meu nome.
Ele levantou meu queixo para eu não ter escolha a não ser
encontrar seu olhar. Ele não estava sorrindo ou rindo. Não era o rosto
de um homem que estava divertido. Ele estava olhando para mim com
uma mistura tão intensa de carinho e desejo. Eu abafei um suspiro,
porque por baixo dele havia uma desculpa. Pelas coisas que ele incitava
Leylah Attar
em mim, pelas coisas que eu incitava nele, pela viagem agridoce que
tinha nos trazido juntos, e pela partida que ainda iria vir. E então bem
suavemente, com um dedo ainda no meu queixo, ele me beijou – uma
vez, duas, três – como se estivesse pegando um buque de flores da
minha boca.
“Seu cabelo está uma bagunça,” ele disse, correndo os dedos nas
madeixas cheias de lama.
Leylah Attar
cabeludo, fazendo círculos lentos, firmes conforme ele levava as bolhas
de sabão da raiz para as pontas. Ele começou pela testa, seguiu pela
minha cabeça e para baixo para minha nuca. Massageando as costas
do meu pescoço, ele amassava os músculos até minha cabeça cair para
trás relaxando na sua mão. Minha pele formigava com seu toque, com o
ritmo sensual dos seus golpes, com a delícia do momento submisso
inesperado.
Leylah Attar
profundos, mais memoráveis da vida são os que fazem você sentir. E era
disso que eu sentia falta. Aquela sensação de estar viva. Eu tinha vindo
com um coração cheio de dor pela minha irmã, nunca esperando
encontrar amor ou vida brotando disso. Era como se Mo estivesse me
mostrando o possível no impossível.
Eu gostaria que você pudesse ver o mundo pelos meus olhos, suas
palavras ecoavam na minha mente.
Leylah Attar
A NOITE CAIU SOBRE nós com uma escuridão completa. A lua
pendurada acima, mas nenhum ponto de luz aparecia no horizonte.
Morcegos de asa amarela voavam para encontrar a escuridão conforme
Jack atiçava o fogo.
“Nós vamos partir para Magesa de manhã,” ele disse. “Uma vez
que a gente encontre Furaha, podemos voltar para o carro com um
mecânico. Tomara que o celular tenha sinal também.”
Leylah Attar
“Soa bonito.” Jack virou para mim, os cotovelos nos joelhos.
“Rodel?”
“Sim?”
“Se você cavar suas unhas mais forte no colchão, você vai fazer
um furo.”
Leylah Attar
puxou para seus braços e me segurou confortável. “Viu? Não é tão
ruim,” ele disse, conforme seu calor espalhava pelo meu corpo – tão
masculino, tão estimulante.
Leylah Attar
“Eu pensei que fosse bem intencionada, mas ingênua.” seus
olhos estavam nos meus lábios, e eu me maravilhei em como ele podia
fazê-los latejar com um olhar. “E naquele dia, perto do fogo, eu achei
você bonita. Mas então você era mais. Você era inteligente e divertida. E
corajosa. E toda vez que eu olho para você, eu vejo algo novo, e
interessante, e envolvente. Você me faz sentir como se quisesse ir em
longas viagens com você. Para o mar. Para as montanhas. Você me faz
sentir coisas que eu tinha parado de sentir e não sei o que fazer com
elas, ou onde colocá-las. Toda vez que você está perto de mim, eu sinto
que vou explodir, tentando segurar tudo isso. Você me abriu de novo,
Rodel, e você não tinha direito de fazer isso, merda! Você não tinha o
direito.” Seu aperto mudou, toda a tensão soltando em uma respiração
quente.
“Me toque.” Ele tirou a camiseta, calor saindo da sua pele. Meu
pulso corria nas pontas dos meus dedos, conforme eu traçava os
músculos do seu peito, um pouco de pelos no sulco entre seus peitos.
Quando eu escorreguei minha mão dentro da sua cueca, ele recuperou
minha boca, crescendo nas minhas mãos com um rugido.
“Diga-me que você quer isso.” Ele deslizou pelo meu estômago,
para o balanço do meu quadril. “Mostre-me.”
Leylah Attar
“Eu vou fazer você gozar, Rodel.” Ele disse essa parte no meu
ouvido, parcialmente cobrindo meu corpo com o dele porque eu estava
tremendo. “Eu quero saber como você é quando goza.”
Leylah Attar
sensual que sacudia o meu núcleo. Minha respiração veio em gemidos
longos, trêmulos, que soltavam algo quente e rude nele.
E meu último. E todas às vezes entre. Mas não posso ter isso,
então vou ficar com isso. O que nós temos aqui. Agora.
Mas Jack não estava ouvindo. “Eu já fui longe demais, Rodel,”
ele grunhiu, pegando minha mão e a guiando para ele. Sua cabeça caiu
para trás conforme meus dedos fecharam em volta dele, e ele soltou um
suave suspiro.
Leylah Attar
Ele inclinou sua testa contra a minha, recuperando a respiração.
Quando ele rolou de costas, me levando com ele, eu pensei como seus
braços eram incrivelmente quentes, como me abraçavam perfeitamente.
“Ambos." Eu funguei.
Seu olhar viajou pelo meu rosto por um longo momento antes de
cair no meu pescoço. “Eu não suporto o pensamento de deixar você ir.”
Ele disse para a marca de dentes deixada lá. “Eu paro de respirar toda
vez que penso nisso.” ele achou outra, perto da minha clavícula, e
pressionou seus lábios lá. “Eu quero você de maneiras que você não
pode nem começar a imaginar.” Sua voz era abafada, vibrando contra
meu corpo. “Se eu vou sentir sua falta?” ele levantou a cabeça e olhou
Leylah Attar
para mim. “Como um sonho que morre de fome e se enrola em meus
ossos.”
Eu pensei que seu toque fosse a única cura para meus sentidos
loucos, quentes, mas eu me vi sendo puxada para o círculo dos seus
braços, para um lugar onde as almas vão se beijar – sem lábios, sem
forma, livres. Eu sabia que sempre que eu pensasse em amor, ele teria
uma cara, um nome, uma voz. E eu ouviria seu coração batendo de
dentro de uma barraca na selva da África.
Leylah Attar
ACORDEI COM MEU nariz alojado na clavícula do Jack. Braços
de aço enrolados em mim, um embaixo do meu pescoço, o outro em
volta da minha cintura. Eu me mexi, e ele soltou um pouquinho. Foi
quando eu percebi que Jack estava acordado e provavelmente já há
algum tempo. Nós nos soltamos devagar, com pequenos picos de
consciência – eu levantando meu cabelo para ele poder tirar o braço, ele
desenrolando suas pernas das minhas.
“Espero que não, mas não vou deixar isso para trás.” Ele o
guardou em uma mochila discreta e enrolou o saco de dormir em volta.
Leylah Attar
Nós caminhamos por um pequeno caminho de floresta com
árvores tão densas que bloqueavam o céu. Parreiras enrolavam suas
gavinhas em volta de cascos cinzas escamosos e musgo crescia como
um carpete debaixo dos nossos pés. Eu tive que piscar quando saímos
da copa escura, mesmo que um cobertor de nuvens de algodão cobria o
sol. O caminho de terra onde estávamos virava e se fundia a uma
estrada que subia.
Era difícil ver alguém através do vidro sujo, mas havia um texto
amarelo estampado na lateral – algo sobre conserto de ar condicionado.
A van diminuiu conforme se aproximou, mas assim que Jack abaixou
as mãos, o motorista de repente acelerou. As rodas giraram conforme
ele chegou ao Jack, de frente, a toda velocidade.
Era um desprezo evidente pela sua vida, quase como se ele fosse
um troféu de atropelamento de animais para os lunáticos no carro que
estavam animados para passar por cima dele. Eu dei uma olhada
rápida neles – dando risada e batendo nas laterais do carro, vidros
abaixados, conforme eles iam na direção dele.
Leylah Attar
Ele mergulhou para a lateral da estrada, evitando o para-choque
da frente por um fio de cabelo. A van seguiu pela estrada e eu ouvi o
som alto, estridente de risada.
“Você está bem?” meu estômago estava em nós. “Quem tira uma
pessoa da estrada por diversão?” eu olhei para atrás da van conforme
ela desaparecia na curva, a batida da música desaparecendo com ela.
“Assustada por mim, Rodel?” Jack levantou minha mão até seus
lábios.
Ele deve ter querido que fosse uma piada, mas eu aceitei. Nós
devemos ter andado outra milha assim quando uma picape enferrujada
veio na visão.
Leylah Attar
“É mesmo?” eu parei, as mãos na cintura. “Você arriscaria?
Depois do que acabou de acontecer?”
“Vai.” Ele empurrou meu ombro. “Você sabe que quer rir.”
“Uma criança da escola, hum? Então por que você não está na
escola?”
Ele olhou para mim branco e esticou a mão. Ele não tinha ideia
do que eu tinha dito, mas ele tinha memorizado todo o inglês que ele
precisava.
Leylah Attar
“Dá um doce. Dá um doce. Sou uma criança da escola. Dá um
doce.”
“Então...” Jack virou para mim depois que eles saíram. “Você
quer as notícias boas ou as ruins?”
“Quão ruins?”
Leylah Attar
“Ok. Isso é bom.” Eu não estava lidando com a decepção de ter
decepcionado minha irmã, eu também me sentia terrível por arrastar o
Jack fora da fazenda. Não tinha levado a nada além de uma caçada ao
ganso selvagem. “Quanto tempo antes dele chegar aqui?”
“Três dias.”
“Três dias?”
“Tem que haver outra maneira. Eles têm um telefone fixo? Uma
cabine de telefone? Algum tipo de assistência na estrada?” eu levantei
minhas mãos para cima em desespero.
“Faço o que?”
Leylah Attar
“Eu não a ouço mais. Ela parou de falar comigo.” Minha
garganta doeu conforme eu disse isso. “Acho que a decepcionei.”
“Jack, eu..."
“Não estou gritando com você, Bahati. Você não faz ideia como
estou grato que você me ligou.” Jack foi para frente e para trás
conforme um rio de palavras veio.
Leylah Attar
“Acabou?” ele perguntou, quando a conversa do outro lado
parou, “Sim? Agora eu falo, você ouve. Combinado?” ele deve ter tido
uma resposta afirmativa porque ele continuou. “Ro e eu estamos presos
em Magesa. O carro quebrou. Não. Só nós. Sem crianças. Eu explico
quando você chegar aqui. Sim. Eu quero que você venha nos pegar. Eu
sei...” ele segurou o telefone longe da orelha conforme Bahati chiava do
outro lado. “Eu sei que você não vai. Mas você não vai fazer nenhuma
parada em terras Maasai. Você vai passar direto. Quem se importa com
a visão de Lonyoki? Você não acredita nessas superstições, né? Ok,
então agora é a sua chance de provar isso. Prove que a profecia dele é
errada.”
Leylah Attar
isso por mim, ok? Não, você ainda vai ter os bancos. Os bancos
permanecem, estarei sempre em débito. Sim? Ok.”
Leylah Attar
Um trem apitou longe, e em algum lugar nas planícies lavadas
pela água, um chacal solitário lamentava com o raio.
“Talvez a lição não seja para você, mas para mim. Então, você
pode me ensinar que está tudo bem sentar na chuva sem a Lily, e não
sentir como se estivesse morrendo.”
Leylah Attar
isso agora. Você nunca sabe se vamos fazer esse caminho novamente.”
A expressão dele era tão estimulante, que meu coração flutuou no meu
peito. “Suas palavras. Lembra?”
Leylah Attar
camiseta dele. Ele levantou os braços e me deixou tira-la. A pele dele
estava molhada da chuva, mas o calor vindo do seu corpo era palpável.
Nossas respirações vinham em uníssono conforme paramos no limite,
aquele onda deliciosa de silêncio entre o raio e o trovão.
Leylah Attar
exposta. E certamente não com alguém parecido com Jack. Minhas
mãos foram instintivamente para os meus peitos e estômago.
Jack não era um amante quieto. Ele dava voz ao seu prazer com
sons grossos, que vinham da garganta. Ele jogou a minha perna sobre
seu ombro e mordeu a parte de dentro da minha coxa antes de
mergulhar sua língua dentro de mim. Eu me segurei em seu cabelo
grosso, selvagem conforme tremores involuntários me atacavam. Ele
parecia sentir as chamas acordando porque seus movimentos
intensificaram, me levando ao pico do prazer.
Leylah Attar
A sensualidade crua dele me levou ao limite. Eu arfei, e cedi à
suavidade ofegante que explodia através de mim em ondas de sensação
elétrica.
Eu toquei meus lábios nos dele, meu foco ainda no ponto onde
nossos corpos estavam misturados.
Leylah Attar
estarem girando. Meu ar escapou conforme a quentura de veludo da
sua língua se enrolou com a minha, me perdendo no domínio do seu
beijo.
“Shh. Peguei você.” Ele deu beijos na minha testa, meu nariz, o
canto da minha boca. Ele ficou dentro de mim, sem se mexer até meu
corpo se ajustar a ele e a dor diminuir.
Jack, Jack, Jack, Jack, ele cantava para mim, cada enfiada de
seu quadril me levando mais alto.
Leylah Attar
Um raio brilhou em volta de nós conforme sua respiração
aumentou e suas coxas apertaram. Em um momento de claridade cega,
eu percebi que toda vez que ouvisse um trovão, eu pensaria em Jack – a
essência dele grudado aos meus sentidos, a turbulência de sua paixão
em volta de mim, nossas fronteiras se dissipando. Pele e osso e
respiração entrecruzadas em uma trança de êxtase.
Leylah Attar
Do lado de fora, o barulho da chuva diminuiu e as nuvens
passaram. Dentro, nós seguramos um no outro, queimando poemas
agridoces no silêncio.
Eu queria poder explicar para você o que essa voz faz comigo.
Eu não acho que vou um dia me apaixonar tanto e tão rápido por
alguém, como me apaixonei por você.
Eu não acho que um dia vou amar alguém como amo você.
“Você acha que não sinto isso?” ele sussurrou, sob a cortina do
meu cabelo. “Cada batida do meu coração está levando você longe de
mim. Eu quero parar aqui para sempre. Nessa barraca, nesse beijo,
nesse momento.” Seus dedos entraram no meu cabelo conforme ele me
puxou para seus lábios.
Leylah Attar
“Você come alguma coisa e então podemos retomar onde
paramos.”
“E você?”
“Por que alguém traria vacas para esse lugar esquecido?” Jack
deu um passo para fora.
“Elas não podem nos ver,” Jack disse, catando as duas latas que
ele tinha acabado de esvaziar para nosso almoço. “Precisamos impedir
que elas pisem na nossa barraca.” Ele correu para frente, batendo as
latas juntas como um alerta.
Leylah Attar
estivéssemos em pé à beira de um lugar de outro mundo, parado e
suspenso, exceto pelo tinir de um chocalho estranho.
“Na última vez que nos encontramos, você me disse que estaria
em Magesa, no final do mês. Estou feliz que o alcancei. Eu não posso ir
mais além com o gado, então as deixo com você.” Ele gesticulou em
Leylah Attar
direção às crianças que estavam amontoadas em volta dele. “Onde estão
as outras crianças, as que você estava transportando para Wanza?”
Leylah Attar
“Acho que sim, sim.” As sobrancelhas de Olonana se juntaram
“Vocês a viram também?”
Leylah Attar
caiu no chão. Era o pequeno pedaço de chocolate que eu tinha segurado
quando Jack saiu da barraca.
“Eu não esqueci quão valente você foi quando você dançou na
frente de todas aquelas pessoas. Eu perdi você, meu doce anjo, mas não
vou desapontar essas crianças. Eu preciso encarar meus próprios
demônios. Preciso parar de me sentir como se tivesse falhado. Deus,
Lily. Onde quer que você esteja. O papai sente tanta saudade de você.
Tanta, tanta.” Sua voz falhou, e ele fechou os olhos em um tributo
silencioso. Quando ele olhou para cima, seus olhos estavam brilhando
como pontos azuis de diamantes de claridade nos véus transparentes
de névoa em volta de nós.
Leylah Attar
poderia ter sabido que tentando fazer alguma coisa pela minha irmã, eu
acabaria colocando o homem que eu amava em perigo?
Leylah Attar
A NOITE TINHA caído quando terminei de cuidar das crianças.
Eu guardei o kit de primeiros socorros e me sentei ao lado de Jack.
“Eu queria falar com Bahati. Pedir para ele reunir um par de
motoristas no caminho para cá, alguém confiável. Não seremos capazes
de colocar todas essas crianças no jipe dele. Mas minha bateria
acabou.”
Leylah Attar
“Se Olonana souber que Bahati está dirigindo pelas terras
Maasai para nos pegar, ele não vai ficar muito feliz. Ele está planejando
sair ao amanhecer. Bahati não vai chegar aqui até mais tarde do que
isso. Não tem por que piorar as coisas.”
“Eu amo ver você à luz do fogo. A maneira como sua pele brilha,
o modo como seus olhos dançam, como seu cabelo ganha vida.” Ele me
levou para seus braços e colocou um cobertor em volta de nós. “A
primeira vez foi naquela noite que paramos perto da cratera. Dançando
com você em volta da fogueira. Eu achei você a coisa mais
extraordinária que eu já tinha visto. Foi a primeira vez que eu tinha
prestado atenção em alguma coisa ou alguém depois de Lily. Eu senti
como se tivesse levado um soco no estômago.”
“Não importa o que eu decidi, ou para que lado eu fui. Não tinha
como negar essa coisa entre nós.” Ele se mexeu para eu poder deitar a
cabeça no seu ombro. “Descanse um pouco, querida. Você deve estar
exausta.”
Leylah Attar
“Você acha que os homens naquela van vão voltar ou seguir
adiante?” perguntei.
“Tenho certeza que vão voltar, mas não sei quando.” Ele mexeu
no meu cabelo suavemente. “Não se preocupe. Vamos pensar em
alguma coisa de manhã.”
“Como você pode ter certeza que são eles?” Jack levantou e
pegou seu rifle.
Leylah Attar
eles estiverem nos rastreando, é quem eles esperam – nós, não vocês.
Tire vantagem disso. Pegue as crianças e vá.”
Bom. Merda.
Leylah Attar
Eu cuspi na minha palma e sacudi sua mão, o tempo todo
pensando antisséptico de mão, antisséptico de mão, antisséptico de mão.
Olonana parecia ver através de mim, porque ele riu e disse para
Jack, “Espero que ela não faça essa cara quando você faz.... como vocês
chamam isso? Beijo de língua?”
Leylah Attar
A VISÃO NOTURNA se instalou conforme nos movemos para
longe do acampamento. O céu estava escuro e claro, salpicado de
estrelas prateadas. Nos movimentamos em silêncio pelas planícies
áridas, guiados pela luz da lua. Era assustadoramente quieto,
considerando que tínhamos treze crianças a reboque. Exceto que essas
crianças não eram crianças comuns. Elas tinham sido todas tocadas
pela morte, e agora ela estava rondando-as. Um instinto de
sobrevivência tinha tomado conta e elas se moviam coletivamente, sem
perguntar, sem falar. Mesmo as mais novas clamaram para seguir,
segurando na minha mão, ou na de Jack, quando ficava mais difícil
seguir. Havia uma urgência nos movimentos delas que quebrava meu
coração.
Leylah Attar
Havia uma luz fraca longe, algumas milhas. Aparecia e
desaparecia.
Chuva de sangue.
Crianças pombas.
Oh, Deus, fale comigo, Mo. Diga alguma coisa. Diga alguma coisa.
Vasto e profundo.
“Sim, mas..."
Leylah Attar
“Pega.” Ele arremessou a garrafa na minha direção. Então ele
tirou duas camisetas dele e começou a rasga-las. “Precisamos parar o
trem, e não tem como o maquinista nos ver na escuridão. Precisamos
acender umas tochas.”
Leylah Attar
fraca, explosões instáveis conforme corríamos através do chão frágil.
Uma das crianças na minha frente tropeçou e caiu. Eu parei e a
segurei, levantando-a no meu quadril. Meus pulmões estavam
queimando, minhas pernas tremiam com o peso extra, mas eu
continuei correndo. Eu correria até a pele das minhas solas gastarem
porque é isso que você faz quando monstros estão nos seus pés. Você
tranca seus gritos, seu pânico, seu medo e corre mais rápido que os
idiotas.
Oh Deus. Por favor pare, por favor pare, por favor pare.
Leylah Attar
Ele estava segurando a tocha sobre nós com sua outra mão.
Seus olhos brilhavam com a luz das chamas, mas havia algo mais –
alguma coisa motivada, e sólida e objetiva. A princípio, eu não
conseguia entender isso. Então me ocorreu.
“O quê?” sua voz foi engolida pelo barulho metálico dos vagões
conforme os faróis do trem nos pressionava. Os trilhos vibravam
conforme a locomotiva vinha se chocando pelos trilhos, a toda
velocidade.
“O que você vai fazer?” meu estômago revirou conforme ele tirou
seu rifle.
Leylah Attar
“E você? Jack, você precisar sair dos trilhos!” eu estava gritando
para ele me ouvir com o barulho do trem.
Meu olhos foram para Jack, para o trem, para a van que estava
se aproximando. Faixas pálidas do amanhecer estavam aparecendo no
céu oriental. Jack apontou o rifle para cima. Ele atirou, abriu e fechou a
culatra e atirou de novo. O som reverberou no campo aberto como um
trovão.
Leylah Attar
Os sons de metal escorregando contra metal me tiraram do
choque.
“Você machucou o outro?” não era o ombro que ele tinha batido
quando tínhamos encontrado a van.
Leylah Attar
“Tem bodes aqui dentro!” eu exclamei. O chão estava coberto de
feno, e bodes estavam apinhados nos currais em volta de nós.
“É um vagão de rebanho.”
“Eles não vão. Eles não sabem que estou sem. Eles querem as
crianças, mas não tanto para se colocarem em risco. Uma vez que o
trem se movimente, estamos salvos. Estaremos em Wanza muito antes
deles nos alcançarem.”
Mas um motorista bateu direto na van branca. Então ele foi para
trás e bateu nela de novo.
Leylah Attar
“Merda,” Jack disse, quando as nuvens de terra abaixaram.
Ambos os carros estavam aterrados contra o monte de cascalho perto
dos trilhos. “É Bahati.”
“Oh Deus. Ele deve ter vindo procurar por nós. Mas o que ele
está fazendo? Não é dele provocar alguém.”
“Jack.” Eu prendi seu braço. Ele tinha que ir. Mas eu segurei
mais alguns segundos. “Você não tem balas. Você não tem nada.”
Não era Lily, mas Jack não ia deixar isso acontecer de novo.
“Deixem ele ir,” ele disse, apontando seu rifle para eles. Seu tom
não deixava espaço para discussão. Ele sabia que não tinha balas, eu
Leylah Attar
sabia que ele não tinha balas, mas até onde eles sabiam, ele falava
sério.
Onde?
Quando?
Leylah Attar
K.K. andou para a porta de trás da van como se estivesse em um
passeio de domingo, devagar e sem pressa. “Eu não sei o que você acha
que está..."
Eu não podia ver dentro da van por causa do ângulo, mas Jack
não parecia muito feliz.
Jack lhe deu um olhar incrédulo. “Então por que você está
enfrentando esses idiotas?”
Ele virou para voltar para a van, mas parou como se fosse
amarrar o sapato. Algo brilhou quando ele se endireitou. Quando eu
Leylah Attar
percebi, era o brilho do aço de uma machete, que estava se chocando
em direção ao Jack com um barulho sibilante. Eu ofeguei conforme ele
desviou para evita-la.
Leylah Attar
“Foda-se,” Jack cuspiu em K.K. uma poça de sangue estava
começando a manchar o chão embaixo dele.
Ele ainda estava rindo quando Jack agarrou o tonel e bateu nele
com a coronha do rifle. K.K. cambaleou para trás, segurando o nariz.
Jack gritou alguma coisa que eu não consegui ouvir, as palavras
engolidas pela distância crescente entre nós.
Leylah Attar
Ele foi para frente para acertar K.K. de novo quando um dos
homens dele prendeu Jack com uma chave de braço. Era o cara que
K.K. tinha mandado ir parar o maquinista.
Leylah Attar
Eu tirei minha mochila das costas e arrastei a porta. Ela não se
mexeu. Coloquei toda minha força nisso e tentei de novo.
“Está tudo bem,” eu disse. “Vocês vão ficar bem.” Eu era uma
mentirosa. Uma mentirosa suja, imunda. “Venham. Me deem uma
mão,” eu pedi a eles. “Nós podemos fazer isso!”
Leylah Attar
Eu coloquei meu pé para fora, procurando um dente na lateral
com a fenda. Meus dedos agarraram um dos canos que corriam em
cima, e eu me balancei para fora do vagão. O chão embaixo do trem
corria como um borrão cinza. Eu apertei meus olhos, o vento batendo
na minha cara.
Leylah Attar
escada de metal, chumbada na lateral, então eu dei a volta nela e
segurei conforme descobria a junta.
Eu perdi Mo.
Eu perdi Jack.
“A alavanca.”
Leylah Attar
Ele riu. “Sou o motivo de você estar nessa bagunça, senhorita
Rodel. Sou azar. Eles não me chamam de Bahati Mbaya a toa. Você e
Jack teriam fugido se eu não tivesse aparecido e estragado tudo.” Ele
colocou seu pé para fora, tentando atravessar o espaço entre os vagões,
seus dedos agarrados em um dos degraus da escada para se apoiar.
“Eu sei.” Era a frase mais curta que ele já tinha falado. Eu
queria que ele preenchesse o silêncio que se seguiu com divagações,
mas nós seguimos em frente no ritmo de coisas não faladas –
circunstâncias inesperadas, sacrifícios inesperados.
“Bahati..."
Leylah Attar
Conforme a traseira do trem se afastava como o corpo cortado de
uma jiboia gigante, eu o perdi de vista. “Obrigada, Bahati,” eu
sussurrei, esperando que o vento carregasse isso até ele.
Leylah Attar
“TREZE?” Uma mulher gritou de detrás da porta fechada. “Ela
trouxe treze crianças? Por que nós não fomos notificados?”
Leylah Attar
mentalmente acrescentei ele à lista de pessoas que tinham feito isso
possível.
Leylah Attar
Eu contei a história o mais concisamente que eu pude enquanto
ela me observava sobre os óculos meia-lua. Quando terminei, ela
encostou para trás e suspirou.
“Não vou mentir. Não estou feliz em vê-las. Não temos recursos.
Você pode ver por si mesma.” Ela gesticulou para fora da janela, para o
prédio desmoronando do lado de fora. “Muitas dessas crianças albinas
são quase cegas. Precisamos de livros especiais. Roupa de cama.
Chapéus. Protetores solares...” ela parou e balançou a cabeça. “Sinto
muito. Eu peço desculpas. Você salvou treze crianças. Você se arriscou.
Você está preocupada com seus amigos. E eu fico falando de
suprimentos. Me perdoe. Eu vou instalar as crianças. Só precisamos
preencher alguns papéis e então você pode ir. Por que você não pega
algo para você e as crianças comerem antes de começarmos? Tenho
certeza que vocês estão muito cansados e famintos.”
“Ah, você quer dizer Gabriel Lucas. Então aquela jovem adorável
que ele trouxe... Aquela é sua irmã?”
“Você a conheceu?”
Leylah Attar
“Oh.” Josephine deu a volta e me deu um abraço. “Sinto muito
por isso. Que coisa terrível para acontecer com uma alma tão bonita.”
Leylah Attar
empilhados aleatoriamente um em cima do outro. Uma cutucada e eu
iria desmoronar. Eu tinha me segurado todo esse tempo, mas sentada
em uma sala vazia, sozinha com meus pensamentos, eu estava
começando a desmontar.
“Rodel.” Ela riu. “Acredito que Jack esteja muito irritado para
falar comigo.”
“Não, ele está...” desaparecido. Mas não consegui dizer isso. “Por
que Jack estaria irritado com você?”
“Por não mandar Scholastica com Bahati. Está tudo bem? Você
parece...desligada. Não me diga que ainda está esperando por Bahati.
Aquele garoto amarelou de..."
Leylah Attar
até como Jack, Bahati e eu nos separamos. Quando eu terminei,
esperei a resposta de Goma. A linha permaneceu em silêncio.
Leylah Attar
tinha sido arrumada como mesa, com pedaços quadrados de jornal
como jogo americano. Eu sentei em um banco enquanto eles fingiam me
servir chá em uma xícara em miniatura.
“Eu me viro por dois segundos e você está no meio de uma festa
de chá.”
Leylah Attar
E então nós sentamos ali, olhando um para o outro através de
uma caixa de papelão de cabeça para baixo, conforme as crianças
vinham em volta de nós. Ele soltou meus dedos da pequena xícara que
eu estava segurando e fingiu encher duas xícaras em miniatura com
ela. Peguei a minha, ele pegou a dele, e nós a tocamos em um brinde
silencioso.
“Shh. Você está aqui. Eu estou aqui. Tudo está exatamente como
deveria estar.”
“Jack, o Bahati..."
Leylah Attar
“Desculpe.” Eu sorri envergonhada para ela. As crianças
estavam nos observando fascinadas. “Meus amigos conseguiram. Os
dois. Estou tão feliz!”
“Posso ver isso. Fico feliz que você está bem,” ela disse ao Jack.
“Nós?” Jack disse, depois que ela saiu. “Eu gosto como você me
arrastou dentro disso. Não tenha certeza que a minha caligrafia dá para
preencher formulários.” Ele flexionou os nós dos dedos
ensanguentados.
“Bem, não vou deixar você sair da minha vista. Mas, primeiro
quero ver Bahati. E quero saber exatamente o que aconteceu.”
Leylah Attar
bolsa de Bahati – a que ele usa quando coloca toda sua indumentária
de Maasai no Grand Tulip. Está derrubada no chão, sua lança saindo.
Então, enquanto K.K. e seu amigo estão brigando eu estou indo devagar
em direção a ela.
“Meu olho está inchado.” Ele olhou para mim com o outro. “Você
não acha que isso seja permanente, né? Eu vivo desse rosto. E estou
com muito frio. Acho que posso precisar de uma troca de joelhos. Tudo
Leylah Attar
dói. Mal posso me mexer, mas estou tão feliz em ver você. Oww," ele
gemeu, tentando se virar para o outro lado.
“Não. Não acho que possa comer. Meu maxilar está machucado.
Meu nariz sangrando. Não sinto o gosto de nada e tenho esse corte
aqui.” ele mostrou a língua para mim.
“Sim. Mas não se preocupe. Vou lhes dizer que você não está
com ânimo para isso. Venha, Rodel.”
Leylah Attar
“Eu pulei dentro da Suzi, tentando alcançar você, e achei o resto
do trem, desligado do carro central. Achei que tinham pego você. Deus,
Rodel, eu meio que fiquei perdido. Eu escolhi um trilho e estava
seguindo naquela direção quando ouvi alguma coisa. Eu segui o som
até que cheguei em dois tufos de grama. Era Bahati. Espirrando. Ele
tinha pulado do trem e se coberto com a poeira para escapar dos
homens que ele achava que ainda estavam procurando-o. Não foi até ele
me dizer que você tinha conseguido fugir que eu pude respirar de novo.”
“Você também.” Dei risada, deixando minha mão cair. “Estou tão
aliviada que conseguiu escapar daqueles homens.”
Leylah Attar
para Bahati, para Jack. Passaram-se segundos antes dele balançar a
cabeça e ligar para o escritório.
“Eu não sabia o que pensar dele. Então agora a pergunta é, onde
o encontramos? Sua irmã está preocupada, e sua filha está ansiosa
para se encontrar com ele.”
Leylah Attar
melhor que pude, mas tem muita coisa faltando. Datas de nascimento,
local de nascimento, nome da mãe, nome do pai...”
Leylah Attar
“É?” fiquei nas pontas dos pés para poder falar no ouvido dele.
“Posso pensar em algumas outras coisas que eu prefiro dirigir.”
“Sabe, dois podem jogar esse jogo.” A voz dele ficou mais baixa
assim quando seus cinco dedos correram pela minha nuca. Ele segurou
meu cabelo, e puxou me segurando imóvel. “Diga x, Rodel.”
Leylah Attar
margem e abri minha mochila. Puxei uma respiração profunda e peguei
um caderno deixando-o abrir na página que eu tinha guardado os Post-
its da minha irmã.
Leylah Attar
Uma brisa eriçou a grama. Flores despregaram devagar, como
braços de corais acenando com uma leve onda. Eu coloquei a mochila
nas costas e comecei a caminhar. Então parei e virei, eu tinha deixado
meu caderno para trás. Conforme me abaixei para pega-lo, uma onda
quebrou na borda e respingou em mim.
“Deixa pra lá.” Eu sorri. “Estou feliz! Estou tão feliz que poderia
esguichar em vocês dois.” Beijei cada um deles na bochecha.
Leylah Attar
“Acho que deixamos Bahati sem palavras,” disse Jack, quando
ele saiu.
“Não.”
“Não?”
Leylah Attar
EU ENTREI NO chuveiro e fechei os olhos conforme a água caía
sobre mim. Rios de vapor caíam pelo meu rosto, meu cabelo, minhas
costas, dissolvendo a sujeira e poeira dos últimos dias. Eu inalei
profundamente, sentindo o cheiro do sabonete fino, branco do hotel. Eu
nunca iria subestimar os pequenos luxos da vida de novo.
“Você está de volta.” Sorri quando Jack ficou parado lá, seus
olhos correndo pelo meu corpo nu como um carinho quente.
Leylah Attar
“Não é nada.” ele disse. “Parece pior do que é.” Ele chegou mais
perto, mantendo o braço para fora da água. “Eles me falaram para
manter seco.” Ele gesticulou para a gaze em volta do corte.
Leylah Attar
Ele enrolou uma toalha na cintura, me embrulhou em outra, e
me carregou para a cama. O quarto era gasto e vazio, as cortinas
puídas na beirada, mas suspirei com um contentamento cansado.
“Não. A van tinha ido embora quando eles chegaram lá. Eles
acham que os dois homens que vieram atrás de você no trem o acharam
e o pegaram.”
“Ele está bem. Nada quebrado.” Jack foi das minhas pernas para
as costas. Eu estava derretendo sob seus movimentos firmes, sensuais.
Leylah Attar
“Alguns dos jornalistas ouviram sobre a história e queriam uma
entrevista. Ele está na sala de reunião com eles. Luzes, câmera e ação.”
Ele deu risada, mas parou quando viu minha expressão. “Você
está falando sério?”
Leylah Attar
“Sente.” Eu bati na beirada da cama e escapei dele para me
ajoelhar atrás dele. Peguei o pente e corri pelo seu cabelo molhado, até
o ombro em movimentos suaves, devagar. Ele sentou rígido e ereto, não
acostumado a ser cuidado. Ele pode ter tido um barbeiro, mas era
diferente, e eu duvidava que ele tenha cortado o cabelo desde que Lily
morreu.
“Isso é bom.”
Leylah Attar
EU ME MEXI DEPOIS do amanhecer, quando os ônibus da
manhã se transformaram em um desfile de paradas abruptas na frente
do hotel. Jack estava deitado de lado, uma mão embaixo do travesseiro,
me observando através de olhos preguiçosos.
Era muito bonita, como ele parecia como todos os lugares que eu
queria ir. Seus braços se encaixavam perfeitamente em volta de mim,
como se eles tivessem sido moldados por um escultor, só para mim.
Leylah Attar
Jack tirava o ar dos meus pulmões. Ele arrastou seus lábios pelo
meu quadril, experimentou minhas curvas, me ensinou o tom do prazer
até eu estar intoxicada dele. E no calor dos suspiros elétricos, quando
nossos corpos estavam derretidos e nossos ossos dissolvidos, parecia
que tínhamos sido feitos do mesmo grupo de estrelas. Nós nos
agarramos um ao outro e mergulhamos no sono doce dos amantes,
vagando entre acordados e sonhando.
Leylah Attar
estava lá, sozinho e empoeirado. Tínhamos pego as peças em Wanza, e
o chão estava finalmente seco, mas levou um tempo para arrumar.
Quando voltamos para a estrada, a lua estava alta e os faróis de Bahati
balançavam atrás de nós, o caminho todo de volta para o estado de
Kaburi.
Bahati deu risada conforme entrei. Era bom colocar minha mala
e sentir o calor do lugar. Me fez perceber quanto a fazenda tinha me
cativado, e quanto eu sentiria falta dela.
Leylah Attar
Haviam mãos de sangue na porta, sangue no chão, sangue no
corrimão, nas escadas. Em todo lugar.
“Que porra?” Jack xingou e foi para frente, não mais bloqueando
minha visão.
“Você vai nos dizer que diabos está acontecendo aqui?” Jack
perguntou. “O lugar parece que foi saqueado e tem sangue por todo
lado.”
Leylah Attar
Eu caí em uma das cadeiras, meus joelhos ainda fracos do
susto. Jack sentou na minha frente. Bahati abriu a torneira e tomou
três copos de água.
“Eu abri meu guarda roupa e peguei o rifle. Acho que nunca vou
esquecer a cara dele quando eu virei e BOOM. O idiota estava no chão,
apertando a perna. Eu estava carregando a arma de novo, quando seus
homens vieram, arrastando Scholastica atrás deles. Eles olharam para
mim, olharam para ele – sangrando no chão aos meus pés e saíram. Eu
os parei no caminho. Não quero lixo na minha casa então os fiz carregar
K.K. para fora. Não sabia dizer se ele estava vivo ou morto. Espero que
ele esteja queimando no inferno enquanto conversamos.” Ela deu um
gole grande no leite e balançou a cabeça. “Acham que podem se meter
com meu neto, entrar na minha casa, e roubar a menina embaixo das
minhas vistas? Idiotas.” Ela limpou seu bigode de leite com as costas da
mão e sentou ao lado de Scholastica.
Leylah Attar
“Idiotas,” ela disse, limpando seu bigode de leite com as costas
da mão, como Goma tinha feito.
Leylah Attar
Peça-me para ficar, Jack.
“Sim, mas não para sempre.” Meu coração afundou. Não era o
que eu tinha esperado. Eu tinha sempre sabido como isso seria. Ele
tinha me dito de cara que nunca me pediria para ficar, mas isso ainda
queimava dentro de mim.
“Eu não quero que você faça isso, mas prefiro dizer adeus agora
do que no ano que vem, ou no ano seguinte, quando estivermos ambos
desgastados pela distância. Quando ligações telefônicas e conversas por
vídeo e nos vermos de vez em quando não der mais. Ficaríamos bem no
começo. Chegaríamos no limite, mas estou farta de ok, Jack. Ok é
existir. Ok e comum. E você...” eu segurei seu rosto em um gesto
melancólico. Havia tanto que eu queria dizer. “Você e eu... somos
grandes demais, magníficos demais para caber no comum. Eu te amo,
Jack. É amor grande. Imenso. Não posso colocar isso em uma carta ou
e-mail. Não estou ok para isso. Não sou uma garota ok. Sou uma garota
tudo ou nada.”
Leylah Attar
dedo e me deu um sorriso comovente. “Eu sempre soube que você seria
problema.”
A sua risada era rica e pura. Era o som mais maravilhoso para
mim.
“Estou feliz que ele se foi. Acho que podemos ter uma boa noite
de sono.”
“Eu sabia! Sabia que você sabia!” cobri o meu rosto com as
mãos. "Eu fui tão óbvia?” eu olhei para ele por entre os dedos.
Leylah Attar
TEMPO. QUANTO MENOS você tem dele, mais precioso ele se
torna. Eu estava amarrada a cada momento que tive com Jack como
uma pérola em um colar. Goma me pegou, apoiada contra a porta, o
vapor do meu café à deriva no ar da manhã, enquanto eu observava
Jack trabalhando no campo. Ela sabia que nós dávamos as mãos
debaixo da mesa, que os nossos olhos falavam palavras que ninguém
mais podia ouvir, que desaparecíamos por horas e depois voltávamos
com o rosto corado e pedaços de feno saindo do nosso cabelo. Ela tirou
a minha roupa de cama, lavou os lençóis e os colocou no armário. Não
havia necessidade de esgueirar-me de volta para o meu quarto de
manhã.
“Ficar com ela?” Jack largou o garfo. “Ela não é como Aristurtle,
que você pode construir uma caixa e mantê-la lá. Ela precisa de escola,
Leylah Attar
crianças com quem brincar, um ambiente estimulante. Rodel prometeu
a Anna que ela iria levar Scholastica para Wanza.”
“Você realmente quer levá-la para Wanza? Você viu o lugar por si
mesmo. O pai dela também não quer que ela viva lá. Ele está
construindo uma casa em Wanza para que ela possa ir à escola lá, mas
voltar para casa à noite. Então, até ele aparecer, eu vou mantendo-a.
Não há lugar melhor para ela agora. Ela está aprendendo o alfabeto, ela
corre com cavalos e bezerros, faz bastante exercício, tem comida boa e
uma boa noite de descanso. Eu já falei com Anna. Ela ainda está
tentando encontrar uma maneira de sustentar a si e seus filhos, por
isso até que ela esteja mais estável ela não tem objeções a Scholastica
viver com a gente.”
Leylah Attar
“Você guardou esse para mim?” perguntou Jack. Era fácil ver o
quanto eles adoravam um ao outro.
"Meu pai...” Ele olhou de mim para Jack para Goma, ainda
segurando a carta.
Leylah Attar
sorriso branco de teclas de piano. Era tão deslumbrante, que eu podia
quase ouvir o tinir do brilho, refletindo dos dentes.
“Eu pensei que vocês dois deveriam ficar em Amosha esta noite.”
Goma levantou-se e começou a lavar seu prato. “Seu voo sai amanhã de
manhã, Rodel. O aeroporto fica logo ali, então você não terá que se
levantar tão cedo.”
Leylah Attar
Ela desviou o olhar e sorriu para mim. “Obrigada você por livrar
este lugar do ranzinza que vivia aqui. Lembra quando você chegou
aqui? Oh, Senhor. Eu pensava que eu teria que viver o resto dos meus
dias com o Sr. Mal-humorado.”
Leylah Attar
magros de Bahati - pulando, correndo, encontrando, fugindo.
Shcolastica era pequena e ágil. Bahati e eu ficávamos nos enroscando
na roupa pendurada. O vento levava as nossas ondas de riso.
"OK. Acabei. Meus ossos não podem dar mais abraços hoje. Vá.”
Ela me enxotou para ir embora. “Vá arrumar as malas. Deixei uma
coisa no seu quarto. Não abra até que você esteja no avião.”
Leylah Attar
do trem, eu me viro por dois segundos e você está em outra festa do chá,
eu penteando seu cabelo, de mãos dadas sob o cobertor em nosso
balanço. O nosso balanço. Nosso.
Adeus, Lily. Cada vez que o sol brilhar através da chuva, eu vou
procurar por você. Vou procurar você no arco-íris, e eu vou me lembrar de
um homem que detém todo o céu em seus olhos.
Leylah Attar
EU PAREI NA entrada do Grand Tulip e observei a extensão da
parede de fora.
Leylah Attar
soube lá no fundo da minha alma: Jack não tinha olhos para mais
ninguém além de mim. E não havia nada mais estimulante do que
perceber a força disso.
“Eu vejo tudo. Como esses dois sulcos verticais que correm entre
seu lábio e seu nariz... como esse espaço é chamado? Deve ter um
nome. Cabe a ponta do meu dedinho perfeitamente.” Ele prosseguiu
para demonstrar, e então traçou sua língua sobre o meio dos meus
lábios. Estava me perdendo na magia do seu beijo quando houve um
barulho na porta.
6
Tipo de flor.
Leylah Attar
Eu abri a porta e vi o carregador com as nossas malas. Atrás
dele havia um trio de lindas mulheres carregando sacolas que
definitivamente não eram nossas.
“Mas eu...eu achei que iríamos passar nosso último dia juntos.”
Leylah Attar
Levou um segundo antes de seus rostos quebrarem. Todas nós
começamos a rir. Foi o quebra-gelo mais engraçado, a transformação
mais estupenda que eu já tinha feito. Josie, Melody e Valerie foram
minhas fadas-madrinhas durante a tarde. Meu cabelo foi lavado,
cortado, e enrolado. Fui arrumada, cores escolhidas, unhas feitas,
sobrancelhas tiradas, lábios marcados.
Leylah Attar
“Eu não tinha ideia.”
Leylah Attar
Meus olhos pareciam maiores – a sombra dourada leve
misturada com o delineador marrom esfumaçado. Havia um
formigamento na minha barriga cada vez que eu pensava em Jack. Isso
fez minha bochechas corarem e as pupilas dilatarem. Minha pele
brilhava em antecipação quando eu alisei o vestido e apaguei as luzes.
Um encontro.
Um encontro de verdade.
Dane-se.
Leylah Attar
moldadas nas suas coxas e ele vestia... o mesmo par de botas, gastas,
sujas de trabalhar.
“Eles não estão olhando para você porque você está vestida
demais. Estão olhando porque não podem evitar. Porque você está de
tirar o fôlego. Reservei uma mesa no restaurante, mas agora não tenho
Leylah Attar
tanta certeza que quero todas essas pessoas cobiçando você.” Ele me
levou através do lobby para a entrada do restaurante.
“O que foi?” Jack abaixou meu menu para ver meu rosto.
Jack pegou meu menu e me olhou com seus olhos azuis de aço.
“Eu trazia.” Seu rosto ficou cauteloso. “A última vez que vim
aqui com a minha ex foi há seis anos. Sentamos naquela mesa.” Ele
inclinou a cabeça em direção à janela. “Quando saímos, ambos
sabíamos que tinha acabado. Não voltei desde então. Não me traz
exatamente boas memórias. Mas sabe de uma coisa, Rodel?” ele
Leylah Attar
alcançou minha mão sobre a mesa. “Tudo é novo quando estou com
você. A comida é mais gostosa. As cores mais brilhantes. A música mais
doce. Fico com fome do mundo de novo. Quero ir aos lugares que eu
parei de ir, quero dividi-los com você – mostrar a você quem eu sou,
quem eu era, quem eu posso ser.”
“Estou aqui, Rodel, não porque eu gosto dos cookies que eles
deixam no travesseiro, ou o filé a Diane do menu. Estou aqui, em um
restaurante cheio de pessoas, com você, porque não posso me permitir
perder o controle, porque o pensamento de você partindo está me
matando, então estou focando em criar o máximo de momentos lindos
que eu possa com você. Não posso te dar muito mais, mas posso te dar
isso. E não posso imaginar – nem por um instante – por que você
estaria sentada na minha frente pensando na minha ex, porque eu com
certeza não estava. Quando estou com você, Rodel, estou inteiro com
você.”
Leylah Attar
“Sim, senhor. Mais alguma coisa?”
“Não, só isso.”
Inferno, sim.Vamos.
7 Cerveja fermentada
Leylah Attar
“Venha.” Jack deu a volta no carro e abriu a porta para mim. “A
melhor nyama choma da cidade.”
Leylah Attar
“Cerveja de gengibre? Pfft.” Virei os olhos e bebi de uma vez,
jogando a cabeça para trás.
Leylah Attar
polenta para neutralizar os sabores explodindo da minha boca; feijão
cozido, molho de tamarindo, e goles de cerveja de gengibre para descer.
8 Batatas
9 Em Inglês: Conta.
Leylah Attar
“Perdão. Eu quis dizer a conta.” Billy murmurou algo em sauíle e
saiu pisando duro. Ele claramente não estava feliz de ter sido chamado
da grelha.
Leylah Attar
“É tão bonito aqui,” eu disse. O gorgolejo, o balanço, faíscas
brilhantes – era como ter os lugares na primeira fila de um concerto
ilusório.
“Um lindo lugar para uma linda garota.” Jack acariciou meu
rosto. Sua face tinha uma sensualidade irrefutável, mas à luz da lua ele
me matava positivamente.
Ele abriu a porta de trás do seu Land Rover e nos sentamos lá,
minha cabeça em seu ombro, nossas pernas penduradas para fora do
porta-malas enquanto assistíamos a queda sedosa da água quebrando
nas rochas. Ele me alimentou com o cookie em forma de tulipa, e eu
puxei a respiração com seu cheiro de pele quente. Por um tempo,
parecia que o tempo tinha parado para sempre. As estrelas marchavam
pelo céu, galáxias giravam em volta de nós e ainda sentávamos quietos
e suspensos, não querendo quebrar a magia. Era o tipo de magia que
vem depois de uma vida inteira de busca, quando você se depara com
algo tão perfeito, que você para de procurar e diz: sim. É isso. Eu sei. Eu
sinto. Eu ouvi os passos chegando ecoarem nos caminhos da minha
alma.
Nós nos viramos um para o outro com beijos que eram suaves e
famintos, respeitosos e egoístas – cada um como uma margarida
pressionada para ser escondida entre páginas da nossa história.
Apaixonar-se por algo que nunca pode ter é como furar-se com uma
adaga cheia de mel. Mais e mais vezes. É afiada e doce, bonita e triste, e
você nem sempre sabe por qual chora.
“Não.” Jack beijou o canto úmido do meu olho. “Não é assim que
eu quero me lembrar de você. Não é como eu quero que você se lembre
de nós.”
Leylah Attar
nos seus lábios.” Ele roçou sua boca na minha, sua língua sentindo o
gosto do cookie que ele tinha me dado. “Seu cabelo, como fitas de cetim
nas minhas mãos. A emoção de tirar a sua roupa. Assim.” Ele abaixou o
zíper do meu vestido, expondo minha carne, um arrepio atrás do outro.
“A sensação de você nos meus braços, o modo que suas pálpebras caem
sobre seus olhos quando mordo você aqui.” seus dentes rasparam em
um lugar embaixo da minha orelha onde meu maxilar encontrava meu
pescoço. “Eu vou lembrar o formato oval perfeito do seu rosto, o calor
da sua garganta, a maneira que você segura a caneta quando escreve.
Acima de tudo...” ele segurou meu queixo, os olhos passando pelo meu
rosto transtornado. “Vou lembrar de uma linda garota, estranha, que
gostava do toque de livros antigos e bebia café doce. Ela entrou no meu
alpendre em um dia cinzento e me ensinou a ver colorido. Ela era uma
ladra, minha garota de auréola de arco-íris. Quando ela foi embora, ela
levou meu coração. E se eu tivesse outro, eu o daria para ela também.”
Era o mais próximo que ele iria chegar para me dizer que me
amava porque aquelas palavras iriam me prender, e ele estava me
deixando livre – livre para viver a minha vida, meus sonhos, minhas
aspirações. Ele queria que eu encontrasse meu lugar ao sol ao invés de
viver na sombra da vida dele. Mas naquele momento, eu não queria ser
deixada livre. Eu queria que ele me pedisse para ficar. Eu queria que ele
reivindicasse isso, comandasse isso, me deixasse sem escolha. Mas ele
apenas me segurou com os olhos, e eu entendi a força de ser totalmente
amarrada, sem cordas ou amarras.
“Eu quero uma ruptura limpa.” Minha voz falhou quando disse
isso, mas eu quis dizer. “Não quero passar meus dias vivendo para
ligações telefônicas e mensagens. Não quero me contentar com a sua
voz quando o que eu realmente quero são seus braços em volta de mim.
Não quero olhos que não podem encontrar os meus e pés que não
podem tocar. Acho que isso me mataria.”
Leylah Attar
Eu não quero que você se contente com nada menos do que isso. Mas
eu não quero saber quando você estiver com outro cara – alguém que
você encontre em uma cafeteria pequena antiquada, alguém com quem
você coma um brunch no domingo de manhã, alguém que possa te
segurar e te amar e dormir ao seu lado. Eu acho que isso me mataria.”
Uma respiração cortada escapou de seus lábios conforme ele procurou
a minha boca. Ele me beijou forte e faminto, como se quisesse que eu
carregasse seu gosto para sempre.
“Jack,” eu disse por nenhuma razão, a não ser que parecia certo.
O nome dele pareia pertencer à minha boca, como se tivesse sempre
pertencido.
“Eu quero você nua à luz da lua.” Ele puxou meu vestido, que
caiu como uma poça em volta dos meus pés. O resto das nossas roupas
saiu rápido, dedos como fósforos, colocando fogo na pele.
Leylah Attar
doce contra meus dedos, como os últimos pedaços de açúcar no fundo
da xícara de café. Eu queria saborear isso. Eu queria sugar cada gota e
fazer isso parte de mim para sempre.
Leylah Attar
O CÉU ESTAVA baixo e melancólico na manhã seguinte
enquanto dirigíamos para o aeroporto, o rangido dos limpadores do
para-brisa limpando o borrão do mundo de vez em quando. Uma leve
garoa caía quando viramos na área de desembarque do carro.
Há momentos que ficam congelados no tempo – cada som, cada
cor, cada respiração, cristalizada em cacos vivos na memória. Sentada
no carro parado com Jack, do lado de fora do terminal de embarque,
era um deles. Malas batendo nas lajes de concreto. O cheiro de
combustível no ar pesado. Pessoas com mochilas nas costas desciam de
ônibus de traslados com decalques coloridos colados na bagagem.
Leylah Attar
perfeitas rolando pelo rosto. Eu pareço uma goiaba murcha quando
choro.”
“Rodel.” Ele me apertou contra ele, meu nome saindo dos seus
lábios em um sussurro rouco. Outro carro parou atrás de nós, suas
luzes piscando ritmicamente como um relógio.
Leylah Attar
Nossos olhos travaram, eu podia sentir a conexão latejante entre Jack e
eu através daquela janela. E era o suficiente. Para saber, para ter
sabido.
Eu sorri.
Leylah Attar
Eu dei risada. E solucei. Veio como um engasgo estranho.
“Eu não saberia por onde começar.” Eu sorri e olhei para fora da
janela.
Leylah Attar
TERMINEI DE CORRIGIR a última folha e voltei para a primeira
para somar a nota final. Minha caneta acenou momentaneamente
conforme notei o nome do aluno.
Jack.
“Eu também. Aceita uma bebida? Estou indo para o bar para
uma cerveja.”
Leylah Attar
“Obrigada, mas vou passar.” Desliguei meu laptop e sorri para
ele. Ele era doce, com olhos castanhos suaves e cabelo escuro que
enrolava na testa.
“Ouch.” Ele bateu no peito. “Rejeitado de novo. Você vai ter que
aceitar um dia, nem que seja para me calar a boca.”
Leylah Attar
um relógio sofisticado. Nas costas, ele tinha escrito: não é a telona que
eu achei que seria, mas é bem grande �
Meus olhos foram para a foto que ela tinha mandado de Jack,
Bahati e eu com as crianças. Eu parecia distraída. Jack estava rindo.
Como você fez isso? Eu tracei as linhas do seu rosto. Como você
puxou e esticou e cultivou meu coração, e fez isso soar como doce, doce
música?
Leylah Attar
banhos de banheira. Eu penso em você toda vez que chove. De uma
maneira boa. Não com uma cara de goiaba enrugada. Sou completa e
centrada e forte. Sou completa porque você me amou, não pelo que eu
poderia ser para você. E talvez seja por isso que dói. Porque seu amor era
bom e puro. E é um saco. É um saco porque meus namorados dos livros
não resolvem mais isso.
Você me arruinou, Jack. Mas tudo bem. Sou boa, estou bem, sou
mágica. Mas você quer saber de uma coisa patética? Inscrevi-me em todo
tipo de alerta de voo. Toda vez que o preço cai nas tarifas aéreas da
Tanzânia, eu recebo uma notificação. E toda vez, eu olho para a tela, a
um clique de pegar um avião para ver seu rosto de novo. Porque sinto
saudades. Porque, e daí se você não me convidou? E daí se a memória de
mim estiver começando a sumir?
Leylah Attar
JEREMY EVANS CHEGOU cedo para o nosso encontro para
jantar. A campainha tocou quando eu estava secando o cabelo, de
cabeça para baixo. Eu joguei para trás, corri os dedos por ele, e desci
para abrir a porta.
“Oi, Rodel.” Não era Jeremy. Era Andy, o corretor com quem eu
tinha comprado o chalé. Ele tinha ligado para oferecer suas
condolências com o falecimento da Mo, mas eu não o tinha visto desde
que tinha voltado da Tanzânia. “Estava no bairro e pensei em dar uma
passada, ver como estão as coisas. Tudo certo com a casa?”
“Sim, obrigada. Está tudo bem. Estou muito feliz com ela.”
Leylah Attar
Fechei a porta e fui para cima. Meu cabelo ainda estava úmido,
mas teria que ficar assim. Estava pondo a maquiagem quando a
campainha tocou de novo. Olhei para o meu relógio. Eu ainda tinha
quinze minutos. Terminei de passar o batom e alisei meu vestido. Era
um tom de coral bonito, feito para piqueniques e sorvete e sol. A saia
abria e terminava acima dos joelhos. Peguei minhas sandálias, minha
bolsa e desci.
Jack.
Ele tinha uma ótima aparência. Ele estava muito incrível. E foi
um soco no meu estômago. O choque de vê-lo, o choque de vê-lo assim,
sem nada encobrindo seu rosto – o corte quadrado da sua mandíbula, o
modo como seus lábios pareciam mais redondos e mais cheios, seus
olhos azuis de miosótis, tão vívidos e reais e na minha cara – isso me
tirou o ar. Eu fiquei ali congelada, as sandálias na mão, de boca aberta
para ele. E de repente, me ocorreu. Me ocorreu forte.
Leylah Attar
quando as pessoas te decepcionam, ou quando o mundo te derruba. O
que é triste é quando você não se reergue, quando você não se importa
o suficiente para pegar os milhões de pedaços quebrados de você que
estão gritando para serem montados, e você só deita, ouvindo o coro
arrasado de você mesmo.
Leylah Attar
“Falando em encontros...” eu tentei dar uma passo para trás
quando vi Jeremy se aproximando, mas Jack não me deixava ir. “Aqui
vem o meu.”
“Rodel.” Jack manteve os olhos fixos nele. “Você fez planos com
esse cavalheiro?”
“Desculpe?”
Leylah Attar
“O negócio é o seguinte cara...” Jack inclinou a cabeça na
direção de Jeremy e abaixou a voz. “Rodel concordou em jantar com
você. E você, sendo o cavalheiro que é, decidiu leva-la a um restaurante
legal. E eu, sendo o cavalheiro que eu sou, percebo que apareci sem
avisar e arruinei seus planos. Agora, não espero que a dama troque as
coisas num piscar de olhos por mim. Ao mesmo tempo, não vou deixa-
la sair da minha vista. Eu também estou com muita fome. Comida de
avião não é para mim. Então, estou sugerindo o jantar. Por minha
conta.”
Leylah Attar
Leylah Attar
EU ME APAIXONEI por Rodel Emerson em algum lugar entre
uma festa de chá no berço da África e uma barraca de comida sem
nome na beira da estrada com cadeiras de plástico e mesas de plástico.
Talvez tenha sido quando ela me pediu para guardar seu passaporte no
meu cofre e eu li seu nome.
Ela tinha o tipo de beleza que vinha por estar totalmente alheia
a quão linda ela era. Às vezes, eu tinha me virado e lá estava ela, nas
pontas dos pés, olhando para fora da janela para algo além do
horizonte. As linhas do seu corpo caíam em poses esplêndidas, e uma
vez que você olhasse para ela, você não conseguia parar de olhar. Não
Leylah Attar
porque ela era perdidamente linda. Espera. Eu retiro isso. Ela era.
Diabos, na noite que ela desceu as escadas, toda arrumada, todo
mundo no Grand Tulip congelou. Mas além disso, ela tinha uma
simplicidade interior, uma inocência na sua fala, nos seus gestos, no
seu sorriso. As pessoas relaxavam perto dela. Ela via você. Ela fazia
você se sentir como se você fosse alguém também.
A primeira vez que eu soube que ela era especial foi quando eu
estava vindo dos campos. Eu ouvi a risada dela saindo pela janela da
cozinha e não pude evitar sorrir, apesar de ter sido só por dentro. A Lily
tinha feito isso comigo. Sua alegria, sua risada, gargalhadas,
costumavam me fazer parar e perceber. Ninguém mais tinha o direito de
me fazer sentir assim.
Mas Rodel Emerson não foi embora. E quando ela realmente foi,
ela ainda estava lá – no vento que bagunçavam as roupas no varal, na
luz que tocava as nuvens, na chuva, na lua, no rangido do balanço
vazio a noite. E quando eu acordava, lá estava ela de novo, no orvalho
da grama.
Leylah Attar
que eu tinha sentido falta e beijado e ia reivindicar quando
chegássemos em casa. Não me importava que ela tinha dito sim a esse
cara Jeremy, ou que ele estava sentado na mesa. Eu só estava aliviado
que ela não tinha seguido em frente. Céus, até o Jeremy podia sentir as
faíscas entre Rodel e eu. Era assim que era, como sempre seria entre
nós.
“Eu vi o que você fez lá.” Ela riu. “Você me deixou para fora do
seu verão inteiro.”
“Sim. Bem, esse cara não deixa muito espaço para mais
ninguém, né? Mas qualquer hora que vocês queiram me levar para
jantar..."
“Ei, calma, cara.” Sua voz levantou algumas oitavas antes dele ir
embora.
Leylah Attar
que eu não queria expulsar o mundo no momento que você abriu a
porta? Eu estava saindo do taxi quando um cara andou até a sua porta.
Eu tinha considerado muitos cenários. Entrei naquele avião sabendo
que as coisas podiam ter mudado para você. Isso não me impediu, no
entanto. Eu tinha que ver por mim mesmo. Mas não estava preparado
para isso. Quando vi aquele cara batendo na sua porta, eu perdi isso.
Ele podia ser qualquer um. Podia ser um estranho, um vizinho, um
vendedor. Mas na minha cabeça, ele estava te segurando, beijando,
vivendo o que eu queria viver.
“Eu queria socar ele, Rodel. Queria bater nele. Então ele saiu. E
ainda assim eu queria socar ele, por bloquear você da minha visão.
Levei alguns minutos para me controlar. Eu não tinha direito de ter
ciúmes. O que quer que acontecesse quando eu visse você – se você
tivesse alguém na sua vida, ou não – não importava. O que nós tivemos
foi real. E eu não iria voltar sem dizer as coisas que eu queria dizer para
você.
Leylah Attar
“Baby, eu não consigo lembrar nem o meu nome agora.” Eu
procurei seu pescoço, me perdendo no cheiro do seu cabelo.
Minha intenção era carrega-la para cima, mas não tinha como
subirmos desse jeito. Não naquelas escadas. Bati minha cabeça no teto
inclinado e acabei balançando-a nos meus braços, o que acabou
raspando seus joelhos contra a parede.
“Me dê isso.” Ela tenta pegar de mim, mas eu segurei longe dela
conforme olhei a página.
Leylah Attar
“Pare!” ela estava respirando com dificuldade, tanto de rir como
pela sua luta sozinha. Ela era tão linda, que eu parei só para olhar para
ela.
“Senti sua falta.” Ela traçou as linhas do meu rosto, seu cabelo
caindo como uma cortina em volta de mim. “Você é como o capítulo
rompido da minha estória favorita.”
Leylah Attar
primal, nada além dos sons de seus grunhidos macios. Minha
libertação deveria ser rápida, mas eu segurei, não querendo que
acabasse. Estar dentro dela era como uma droga. Estar dentro dela era
pura euforia. Eu peguei o soluço que escapou dela conforme seu corpo
enrijeceu. Ela estava gozando de novo.
Leylah Attar
ACORDEI cedo na manhã seguinte. Por alguns lânguidos
momentos, eu deitei na cama curtindo o calor da mulher dormindo ao
meu lado. Meus olhos vagaram sobre sua sobrancelha, os pequenos
cabelos que se misturavam, a almofada rosa e macia dos seus lábios.
Coloquei a ponta do meu dedinho no vão entre seu nariz e o lábio de
cima. O philtrum. Eu tinha procurado. Era meu. Eu me encaixava ali
perfeitamente. Como todo o resto dela. Cada parte de mim era feita para
se encaixar em uma parte dela.
Leylah Attar
acordar.” Seus dedos traçaram meu maxilar. “Ainda não estou
acostumada a ver você sem barba.”
“Você fica tão quente quando fica toda nerd comigo.” Sua
camisola estava alta em suas coxas, seus lábios amuados e ela estava
balançando o livro como se ele fosse uma criança machucada. “Quer
saber..." eu a virei para ela ficar de quatro, seu nariz acomodado nas
dobras do livro “... eu faço muito sexo com você. Na minha cabeça.
Assim.” Eu apertei sua bunda e esfreguei meu pau latejante na sua
calcinha. “Leia para mim, Rodel. Leia para mim enquanto eu transo
com você.” Eu coloquei o tecido da calcinha de lado e deslizei um dedo
dentro dela. Ela soltou uma gemido abafado.
Leylah Attar
Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas eu enfiei nela, o
livro caiu e a única palavra que escapou dela foi: “Unghhhh”. Era um
sussurro indecifrável, vindo da garganta que era mais quente e
alucinante do que todas as palavras eróticas que eu a tinha feito ler.
Nós sentamos em volta da ilha gasta que servia como sua mesa
de jantar. A pintura tinha saído nas pontas e beiradas. Como todo o
resto, parecia caseiro e aconchegante. As vigas no alto, os tetos
inclinados, a pátina gasta das paredes – elas todas tinham tons suaves,
brilhantes conforme a luz do sol corria pelas janelas.
Leylah Attar
“Bom dia, Srta. Emerson.” Eu beijei o buraco pulsando na base
da sua garganta. Não conseguia ter o suficiente dela. Tinha vivido dias e
noites demais sem senti-la.
“Já passou do meio-dia agora.” Ela deu risada. “Boa tarde, Sr.
Warden.”
“Sim, senhor.” Ela riu e foi para os meus lábios, seus braços
enrolando em volta do meu pescoço conforme me beijava, devagar e
profundo.
Uma luz pareceu acender na cabeça dela. Ela deu outro gole no
café e me beijou. Dessa vez o sabor dele era quente e forte na boca dela
– doce como inferno por causa de todo o açúcar que ela tinha colocado,
mas bom e encorpado, com um leve toque de nozes.
“Muito bom.” Ela deu um passo para trás e olhou para mim. Não
importava de onde diabos ele vinha. O que importava era que não me
deixava enjoado ou com náusea. “Você gostaria de um pouco?” ela me
serviu uma xícara e observou eu inalar o aroma dele.
Leylah Attar
Dei um gole hesitante e esperei pela ânsia horrível que me
atormentava desde o ataque ao shopping.
Nada.
Eu não sabia como dizer a próxima parte porque sabia que ela ia
brigar comigo. “Quanto tempo você gostaria que eu ficasse?”
Leylah Attar
“E se eu dissesse que quero você aqui, sempre e para sempre?”
ela segurou a cabeça para cima, os olhos na janela.
“Não é engraçado.”
Ela buscou meu rosto com seus olhos de café. “Você não pode...
você não pode simplesmente largar a fazenda. É sua casa, seu legado. E
tem Goma.”
“Sim, e ela chutou a minha bunda por eu não ter vindo antes.
Ela disse que se ela me pegasse vagando pela fazenda mais um dia, ela
pegaria seu rifle e me tiraria da minha miséria ela mesma. Ela ameaçou
vender sua parte da fazenda e acabar com isso, se era ela que estava
me mantendo longe de você. Ela disse que quer ir em cruzeiros pelo
resto da vida, ver o mundo, ter aulas de zumba, e dançar nos decks a
noite toda, com o dinheiro que faria com isso.”
Leylah Attar
Eu tinha percebido seus olhos acenderem quando disse a ela.
Eu pensei que ela ficaria um pouco tonta. Minha garota de auréola de
arco-íris, a garota tudo ou nada. Mas ela só olhou para mim, seus olhos
brilhando, e o mesmo aconteceu comigo. Que diabos!
Meu coração inchou de emoção. Eu sabia que ela teria. Ela teria
se rendido por mim. Então como eu poderia não fazer o mesmo por ela?
Leylah Attar
ELA ARRUMOU ESPAÇO para mim no seu guarda-roupa. Ela
mal tinha o suficiente para ela. Eu gostava da maneira como minhas
camisas pareciam ao lado das roupas dela – como se fizessem parte
dali.
“Você ainda está brigando com isso?” eu fechei minha mala vazia
e coloquei embaixo da cama. “Eu apareço, querendo reconstruir minha
vida toda ao seu lado, e é isso que eu ganho?”
Seus olhos se acenderam conforme ela leu. Era uma única frase
que usava a folha inteira.
Leylah Attar
“Eu tenho escrito para ela. É uma boa prática para nós duas.”
Ela apontou para um dicionário inglês-sauile na prateleira. “Ela escreve
em inglês, eu respondo em sauíle.”
Leylah Attar
“Jack?” os dedos de Rodel pararam. “O que acontece com
Scholastica se você está aqui? Goma não pode cuidar dela sozinha.”
“Goma não terá que fazer isso.” Eu virei e olhei para ela.
“Josephine Montati ofereceu um emprego no orfanato para a irmã do
Gabriel. Anna sente como se tivesse tendo a oportunidade de continuar
com o trabalho do irmão, e está ansiosa para ter sua sobrinha de volta.
Ela está empolgada que podem estar juntas de novo. Temos trabalhado
em uma nova habitação para as crianças e a equipe. Uma vez que esteja
pronta, Scholastica se mudará com suas primas e tia.”
“Mas...”
“Mas você vai sentir falta dela. Posso ver que já está sentindo.”
Rodel mordeu seu lábio por um tempo, mas não podia impedir
seus pensamentos de voarem. “É só um Band-Aid, né? Você pode
colocar todo o dinheiro do mundo lá, mas não vai resolver o problema.
Essas crianças vão continuar a aparecer no orfanato até as pessoas
começarem a pensar diferente, até elas pararem de acreditar nas
superstições sobre elas.”
Leylah Attar
“E quanto ao que eu preciso?” algo acendeu dentro de mim.
“Você acha que é fácil para mim? Você acha que eu quero ficar aqui,
discutindo sobre coisas que eu fiquei revirando na minha cabeça todo
santo dia? Estou aqui porque eu preciso de você, mas se você vai
começar a listar os motivos contra nós, então precisamos desistir. Aqui,
agora.” Eu olhei para ela e desci as escadas. Bati minha cabeça no teto
de novo e olhei para ele também.
“Pleasi?10” O sauíle dela era dramático, mas sua voz era macia e
seus olhos tinham um brilho porque ela sabia que me tinha.
“Como você..."
10 Por favor?
Leylah Attar
Um sorriso perverso apareceu em seus lábios. “Ah, você quer
encontrar Harris?”
Leylah Attar
ERA VERÃO, o interior inglês era bonito, e eu me recusava a
desperdiçar um único momento. Eu não me lembrava da última vez que
eu tinha dias para mim mesmo, dias que eu esbanjava com Rodel. Nós
ficamos em uma pousada pitoresca, e acordei escovando nossos dentes
perto dos cavalos mascando feno do lado de fora da nossa janela.
Comemos peixe e batatas, embrulhados em jornal. Eu enchi o meu de
vinagre. Rodel embebeu o dela com catchup. Algumas noites, nós
sentávamos no terraço da Rodel, vendo os tijolos dourados mudarem de
ocre para cobre para conhaque sob a luz do sol se pondo. Nós
relaxamos no bar local até as ruas estarem vazias e andávamos para
casa de mãos dadas e inventando letras de músicas esquecidas. Eu
sentia uma pontada de culpa cada vez que pensava na fazenda, mas
estava a venda, e eu tinha contratado alguém para cuidar das coisas
até aceitarmos uma oferta. Goma começou a desligar o telefone comigo
depois de um tempo e me disse que eu estava a cerceando.
Leylah Attar
“Tem certeza que você não é adotada?” perguntei, na manhã
seguinte que eles partiram.
“Oh, e lá está Lonyoki, o pajé deles! O que ele está dizendo?” ela
se esforçou para pagar suas palavras. “Que nome de guerreiro ele
acabou de dar a Bahati?”
“Nem sei.” Eu dei risada. “Ele ainda usa Bahati. Disse que é
muita chatice mudar tudo na sua mídia social.”
“Então, ele está bem? Ele se reconciliou com seu pai, mas ainda
faz o que gosta?” ela perguntou, conforme Olonana e Bahati ficaram
lado a lado para as fotos.
Leylah Attar
“Acho que Olonana calculou que tem filhos suficientes para
deixar um sair do boma. Acho que ele está orgulhoso de Bahati ter
encontrado seu próprio caminho.” Deixei de lado meu celular e
terminamos nosso café da manhã.
Leylah Attar
me o que você tem.” Encontrei um lugar para lançar meu pato. As
pessoas pareciam abrir espaço para mim. Tomei isso como um bom
sinal. Meu pato era um fodão. Rodel acenava para mim loucamente
conforme eu parei ali, mais alto que todo mundo na ponte.
Leylah Attar
“Ele não me deixa brincar com meu pato de borracha, Rodel.”
“Desculpe que você teve que ver isso,” Rodel disse ao meu pato,
virando-o da janela.
“O quê?”
Leylah Attar
Nossas mãos se uniram silenciosamente sobre a mesa e deram
conforto um ao outro.
“Eu liguei para Sarah hoje,” eu disse. Não tínhamos nos falado
desde o funeral da Lily, mas eu sabia que ela sentia falta dela tanto
quanto eu, e hoje principalmente, eu senti necessidade de falar com a
minha ex.
“E?”
“Eu já volto. Dê uma olhada por aí.” Disse Rodel, seguindo para
o fundo da loja.
Leylah Attar
“Onde estamos indo?” a visão dela andando pela rua assim, me
lembrou de Lily correndo na minha frente no shopping, segurando seus
balões. Isso fez alguma coisa no meu coração.
“Juntos.”
Que merda.
Leylah Attar
Ele levantou a mão com expectativa.
Esperei até ele estar fora da ponte antes de apertar o pato e ele
fazer barulho.
UM BANHO DE BANHEIRA
Leylah Attar
“É apenas um voo de distância. Diga e podemos visitar.
Qualquer hora que você queira.” Eu derramei água em seus ombros
ensaboados.
“Não.” Ela segurou a minha mão. “Não quero dizer visitar. Hoje,
quando vi você soltar aqueles balões, eu percebi que você estava comigo
quando você deveria estar com Lily. Embaixo daquela árvore. Ao lado
dela. Se o corpo da Mo tivesse sido recuperado, é onde eu iria querer
estar. Eu não tenho isso, mas você tem. E não é só Lily. São seus pais,
seu avô, toda sua família.”
“Você não está ouvindo.” Ela segurou meu pulso. “Eu disse que
eu sinto falta da Tanzânia. Eu amo esse lugar,” ela gesticulou em volta
de nós, “mas a Tanzânia...me mudou. Foi como descobrir algo que eu
não sabia que eu estava procurando. Eu não fui a mesma desde então.
Eu teria ficado Jack, mas eu não podia simplesmente pular dentro, não
de um lado só. Eu precisava que você segurasse a minha mão porque
era assustador, porque eu não podia fazer isso sozinha.” Ela traçou a
cicatriz no meu braço, uma lembrança do meu confronto com K.K.
“Sinto falta de Goma e Scholastica e Bahati. Sinto falta do cheiro de
terra. Sinto falta dos picos de neve e dos baobás. Sinto falta dos jasmins
na sacada. Sinto falta dos buracos e de Stoney Tangawizi. Sinto falta da
frustração, da raiva, da admiração, da excitação, da tranquilidade.”
Leylah Attar
na escola. Mas o que eu faria na fazenda? Eu teria que encontrar um
emprego. Mas estamos no meio do nada. Então novamente, o que você
faria aqui? Eu conheço você. Você não vai ficar de braços cruzados, sem
fazer nada.”
Leylah Attar
“Sim,” ela disse, quando finalmente abriu os olhos. “Quero muito
isso.”
“Qual parte?”
“Toda ela. Quero tudo isso com você. Aqui. Lá. Realmente não
importa.” Ela veio até a borda da banheira até eu poder sentir sua
respiração nos meus lábios. “Mas agora, quando eu abri os olhos, a
imagem que ficou comigo foi a de um balanço verde no terraço de uma
linda casa branca. É o que está apertando no meu coração. Então é
para onde vou. Vamos para a Tanzânia. Vamos fazer uma tentativa.”
Leylah Attar
NO DIA do nosso casamento, Aristurtle fugiu de casa.
Scholastica tinha o tirado da sua caixa para poder limpar. Ela virou, e
ele tinha se perdido.
Leylah Attar
Cabelo, Maquiagem e Guarda-roupa estavam lá com Rodel – as
mesmas garotas que tinham vindo ao hotel. Não podia esperar para ver
Rodel no vestido de noiva, mas santo Deus, quanto tempo ia levar?
Eu dei risada. “Bem, você pode estar vivendo com uma dessas
coisinhas inúteis gritando e fazendo cocô logo.”
“Cale essa sua boca suja.” Mas ela riu e olhou para mim como
ela sempre fazia – como se eu significasse o mundo para ela.
Leylah Attar
“Estamos prontas!” uma das garotas enfiou a cara. Josie. Ou
Melody. Ou Valerie. Eu nunca acertava.
Leylah Attar
O pai de Rodel provavelmente a escoltava pelo corredor, mas
todo o resto desapareceu. Eu tinha meus olhos para ela. Parecia levar
para sempre para ela me alcançar.
Venha. Venha.
Leylah Attar
“Espere!” ela procurou por algo dentro do seu vestido. “Esperei
para usar isso o dia todo.” Ela puxou uma anotação de Post-it, onde ela
tinha escrito os detalhes do nosso casamento:
É assim que parece quando você anda por algum lugar entre a
areia e a poeira das estrelas, e encontra um pedaço de si mesmo em
mais alguém.
Leylah Attar
Taleenoi olngisoilechashur.
Leylah Attar
Leylah Attar
MO EMERSON FOLHEOU a revista de viagem conforme sentava
na sala de espera do oculista. O consultório do Dr. Nasmo era no andar
de baixo do shopping Kilimani, do outro lado da praça de alimentação.
Sua consulta tinha sido umas semanas antes, mas ela tinha estado fora
com seu amigo Gabriel, então ela tinha remarcado.
Sim, ela assentiu, entrando na sua brilhante nova ideia. Ela não
era fotógrafa, mas podia aprender. E então ela não teria que recorrer
aos seus pais quando falhava do outro lado do mundo. Bem, talvez uma
Leylah Attar
última vez – para comprar uma boa câmera. E lentes. E algumas aulas.
Mas depois disso, preste atenção, mundo.
Ela pegou seu celular e tirou uma foto das fontes listadas na
reportagem. Ela teria arrancado a página, mas ela gostava muito do Dr.
Nasmo para fazer isso. Ele era um doce, e alguém que ela admirava. Ela
tinha o conhecido no orfanato em Wanza. Ele viajava por várias áreas
rurais, fazendo exames gratuitos nos olhos e óculos, mas era seu
trabalho com as crianças albinas que ele dizia ser o mais
recompensador. Mo tinha testemunhado a alegria pessoalmente, na
primeira vez que ela tinha visto a expressão na cara de uma criança,
quando o mundo todo tinha entrado em foco. Naturalmente, ele era a
primeira pessoa em quem ela pensou quando percebeu que tinha
negligenciado seus próprios checkups há muito tempo.
Leylah Attar
“Quanto tempo até o grande dia?” perguntou Mo.
“Com certeza.”
Leylah Attar
“Quanto tempo eles vão levar?” Mo perguntou, quando Christine
voltou para a mesa.
Por fim, ela soube que ele tinha uma filha e irmã em Rutema.
Não havia trabalho para ele lá, então ele pegava trabalhos estranhos em
Leylah Attar
Amosha. Ele nunca dizia o que fazia, mas viajava muito. Quando ele
disse a ela que ia a Dar es Salaam, a maior cidade da Tanzânia, Mo
tinha implorado para ele a levar. Ela queria passear pela Oyster Bay e
gastar o dinheiro que ela não tinha no shopping. Foi naquela viagem
que Mo soube sobre Scholastica e a situação com os albinos. Uma
amizade nasceu entre os dois, e quando Gabriel propôs um plano que
funcionaria para ambos, Mo tinha concordado.
Sincronismo perfeito.
Leylah Attar
O inferno tinha liberado enquanto ela estava no elevador, e Mo
se viu no meio dele. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo, mas
sabia que era ruim. Ela fez o caminho para o consultório do Dr. Nasmo,
mas um lado da porta estava estilhaçado, e ela não conseguia ver
ninguém lá dentro. Um tiroteio espalhou no ar, primeiro à direita dela,
depois à esquerda. Estava vindo de todo lado.
Ela deu uma corrida para lá, metade rolando, até chegar lá.
Estava vazia – fileiras de cadeiras dobradas, algumas viradas,
arrumadas na frente de um palco. O som da sua respiração ecoava em
volta dela. Ela encostou contra a parede, abraçando seus joelhos.
Ela olhou em volta, mas não conseguia ver ninguém. Então ela
viu uma fresta no tecido na base do palco. Era um palco elevado, com
um fundo escondido para o andaime. O lugar perfeito para se esconder.
Leylah Attar
“Seu pai?” Mo engoliu o nó na sua garganta. A garota não devia
ter mais do que sete ou oito anos, mas sua fé no seu pai era tão forte,
que ela estava reassegurando uma mulher adulta. “Onde está seu pai?”
“Lily. E o seu?”
“Mo.”
Leylah Attar
meu pai deveria se casar,” ela continuou. “Ele sente minha falta quando
vou embora. Eu sei que ele é solitário, apesar de ter Goma.”
“Quem é Goma?”
“Minha bisavó. Ela me fez essa saia.” Lily alisou seu tutu.
“Oh. Diga a ela para não se preocupar. Diga que meu pai estará
aqui logo e ficaremos bem.”
Leylah Attar
preocupe quando ouvir essa mensagem. Provavelmente iremos rir disso
um dia. Vai ser mais uma das minhas histórias malucas, como quando
eu achei que ia morrer naquela balsa na Austrália.” Ela parou conforme
passos urgentes entraram no salão. “Tenho que desligar agora,” ela
sussurrou. E então, porque soava como uma despedida, e ela não
queria que sua irmã entrasse em pânico, ela acrescentou, “Eu corri
todos os riscos, Ro...” ela parou de falar conforme os passos chegaram
mais perto. Quando eles pararam do lado de fora, alguns metros do
palco, Mo desligou e segurou a respiração.
“Gabriel?”
“Mo!” seu corpo inteiro relaxou com alívio. “Deus, Mo.” Ele a
abraçou forte. “Eu estava na escada rolante, saindo, quando vi você
pegar o elevador para baixo. Tentei te ligar. Estou procurando você por
Leylah Attar
todo lugar. Graças a Deus encontrei você! Precisamos sair daqui.” Ele
começou a apressar Mo e Lily em direção à porta.
“Não!” Lily puxou a mão fora da mão da Mo. “Não vou a lugar
algum sem meu papai. Vocês vão.”
“Não vou deixar você,” Mo disse. “Por que não ficamos todos?”
ela virou para Gabriel. Ela não sabia o que ele estava fazendo no
shopping, mas estava aliviada de vê-lo. “Está seguro aqui. Estamos
longe de tudo. Podemos nos esconder ali embaixo.” Ela apontou para o
palco. “Vamos esperar passar.”
Leylah Attar
Mo abriu a boca e fechou. “Eu não...” ela balançou a cabeça. “O
que você está dizendo, Gabriel? Você não está fazendo sentido. Você
está dizendo que está envolvido nessa... nessa tentativa de
assassinato?” ele era seu amigo. Era um bom homem. Ela o conhecia. E
mesmo assim, a parte dele que tinha sempre escapado dela, a parte
dele que tinha continuado um enigma estava entrando em foco. Um
peso no peito de Mo. Ela tinha dificuldade em respirar.
“Eu tentei, Mo,” ele disse, seu pomo de Adão balançando com o
olhar dela. “Eu trabalhava em dois empregos. Dia sim, dia não. Mas não
estava chegando em lugar nenhum. Eu precisava de dinheiro. Eu
precisava de dinheiro para levar Scholastica para Wanza. Eu precisava
de dinheiro para construir a casa. Precisava de dinheiro para salvar as
crianças. Dinheiro de gasolina. Dinheiro de comida. Eu estava ficando
sem tempo. Então um dia, eu estava sentado no bar, e alguém me
ofereceu um emprego. Era simples. Pegar um carregamento e dirigir
para um lugar, sem perguntas. Não podia acreditar em quanto eles me
pagaram. Então peguei outro. E outro. E não parei desde então.”
Leylah Attar
“Não.” Os pensamentos de Mo estavam confusos e machucados.
“Gabriel. Não. Todas aquelas pessoas inocentes.”
“Você voltou por mim,” disse Mo. “Você poderia ter me deixado,
mas você voltou.”
“Eu não poderia ter deixado você. Nunca foi uma opção.”
Mo soluçou nos braços deles. Gabriel Lucas. Ele era tanto anjo
como diabo.
“Isso pode ser um problema. Lily está convencida que seu pai vai
vir e pega-la.”
Leylah Attar
Não houve resposta. Depois de um tempo, ela perguntou, “Onde
está Mo?”
“Estou bem aqui, Lily. Está tudo bem. Você pode dizer a ele.”
“Que tal você sair daí, e podemos ligar para o seu pai. Seria uma
boa?” Gabriel convenceu Lily a sair. “Está bem. Boa menina. Agora.
Qual é o número dele?”
Lily falou uma série de números mas parou. “Acho que isso é
quando ligo de Cape Town.” Ela tentou de novo, mas sua cara
murchou. “Não tenho certeza do resto. Minha mãe sempre liga para
mim.”
“Tudo bem. Vamos ligar para a operadora. Ela vai ser capaz de
nos dizer.”
Era incrível como Gabriel era calmo com ela. Mo sabia que ele
estava fazendo de tudo para não pegar ela no colo e carregar para fora,
chutando e gritando. Era muito arriscado, no entanto, principalmente
se ela tentasse se soltar e fosse pega na linha de fogo.
Mo olhou para o seu relógio. Parecia que eles estava ali para
sempre, e não era tanto. Tudo parecia se esticar – cada respiração, cada
palavra, cada tensão, momento pesado, conforme Gabriel tentava falar
com Jack. Mo soube o exato momento quando Gabriel decidiu que
estavam perdendo tempo precioso. Seus olhos mudaram conforme ele
falou no telefone.
Leylah Attar
“Lugar seguro? Onde é o lugar seguro?”
“Venha comigo. Vou levar você lá.” Ele esticou a mão para Lily.
Ela olhou por algum tempo e então olhou para Mo.
Leylah Attar
Lily assentiu e esticou a mão para Gabriel. “Posso correr com
você?”
Havia algo em Gabriel que a ligava a ele. Talvez fosse porque ele
era um pai também. O que quer que Lily sentia nele, parecia suavizar
seu coração. O coração de Mo apertou no peito conforme Gabriel pegou
a mãozinha de Lily na dele.
Leylah Attar
“Posso falar com ele agora?” ela perguntou, esticando a mão
como se estivesse esperando um prêmio. Não havia ninguém do outro
lado da linha, mas Gabriel deixou o telefone deslizar da sua mão.
“Shh. Você é um bom pai. E você fez muito pelos filhos de outras
pessoas também. Você arriscou sua própria vida para leva-las em
segurança as vezes. Alguém vai fazer isso. Alguém vai ter certeza que
Scholastica será cuidada.”
“Papai?” Lily olhou para o telefone. “Ele não está dizendo nada.”
Ela deu o telefone de volta para Gabriel.
“Não sei.”
Leylah Attar
Conforme o carro subiu a rampa, Mo e Gabriel viram
rapidamente John Lazaro no banco de trás. Eles se abraçaram, testa
com testa, braços enrolados um no outro, formando um escudo para
Lily no meio.
Leylah Attar
De onde vêm as HISTÓRIAS? Como se formam e fluem e
encontram seu caminho para o nosso mundo? Como podemos tirar
inspirações e ligá-las entre as capas de um livro, projetá-las na tela
grande ou transformá-las nas notas da nossa música favorita? O
processo criativo é uma coisa mágica que nos permite tomar
pensamentos, ideias e sentimentos — aquelas peças etéreas e
intangíveis — e condensá-las na realidade. Não posso começar a
explicar como funciona porque é diferente para cada um, toda vez, mas
posso acompanhá-las nos bastidores e mostrar-lhes os eventos, as
pessoas e as circunstâncias que inspiraram este livro.
Leylah Attar
Nesta viagem particular, o Dr. Nasmo visitou um orfanato para
crianças com albinismo. A Tanzânia possui uma das maiores
concentrações de albinos no mundo. As pessoas com albinismo não
possuem pigmento e geralmente têm uma série de problemas oculares,
incluindo visão deficiente e sensibilidade à luz. Noventa e nove por
cento das crianças que o Dr. Nasmo examinou no orfanato precisavam
de correção na visão. Quando abrimos as fotos da sua viagem, ele me
mostrou um vídeo de uma garota albina brincando com um pedaço de
corda. Ela deixou cair e tentou pegá-la várias vezes, mas falhou, porque
não conseguia encontrá-la.
Não era uma história que eu queria contar. Parecia muito grande
e muito real, e eu não sabia se poderia fazer qualquer justiça, então eu
a guardava. Mas continuou tocando e batendo até abrir a porta e deixá-
la entrar.
Leylah Attar
- As aldeias nas notas de Mo são nomeadas após vítimas reais
de ataques albinos.
Com amor,
Leylah
Leylah Attar
DR. NASMO, esta história não teria sido possível sem a chance
de me encontrar com você. Seu trabalho muda vidas. Que privilégio
incrível é ver isso se desenrolar.
Hang Lee (Por Hang Le), suas capas são pura magia. Eles falam
comigo sem dizer uma única palavra.
Leylah Attar
K. Larsen, Layla Boutazout, Lisa Chamberlin, Luisa Hansen,
Priscilluh Perez, Saffron Kent - tenho grande carinho e apreciação por
seus comentários sobre essas páginas.
Leylah Attar
considerem uma vez que a Amanda conheceu o Jason Momoa. E que
ela continua nos lembrando. Bish.
12 Personagem de um jogo.
13
Leylah Attar