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Copyright © 2023 Fran Nanii

Capa: Dennis Romoaldo


Diagramação: Fran Nanii
Revisão: Luiza Guttiere
Revisão final: Andreia Idalgo Cardia

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,


datas ou acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados.

É proibido armazenamento e/ou reprodução total ou parcial


desta obra através de quaisquer meios sem a autorização da autora.

A violação autoral é crime, previsto na lei nº 9.610/98, com


aplicação legal pelo artigo 184 do Código Penal.
Dedicatória
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Dedico esse livro a todos os melhores amigos que fazem
nossos dias sempre melhores. E também àqueles que já se
perguntaram como seria foder a amizade de uma forma bem
gostosa e literal.
CLICHÊ + FRIENDS TO LOVERS

Dizem que não existe nada pior que um amor não


correspondido, imagine amar a melhor amiga e não ter a coragem
de confessar?
Dante é um cretino, apaixonado em aproveitar a vida e
completamente leal aos seus amigos, especialmente a sua melhor
amiga de infância, Awlly.
Entre eles, somente uma coisa não é permitida: SEGREDOS.
O único pacto que o jovem cafajeste não consegue cumprir.
Porém, quando a garota da sua vida conhece um misterioso
rapaz que promete tomar conta do coração da jovem, tudo muda.
Dante precisa fazer a sua escolha, só não sabe se está preparado
para as consequências.
Será que o devasso terá coragem de finalmente assumir seu
amor pela melhor amiga?
Um romance clichê que promete muitos suspiros e cenas
altamente picantes.
Para uma experiência mais completa, acesse a playlist preparada
com todo carinho especialmente para essa história:
Capítulo 1

Com a minha chave, abri a porta do apartamento do Dante,


tirei as sapatilhas e entrei. Tudo estava silencioso. Era 11h30 de um
domingo, o preguiçoso certamente estaria dormindo ainda. Não
pude conter o sorriso pelo que viria a seguir.
Segui a passos largos pelo corredor, meus pés descalços
tocando suavemente o piso laminado aquecido. Parei em frente a
porta de seu quarto e segurei a maçaneta, mordendo o lábio inferior,
abrindo-a.
E lá estava ele, jogado de bruços na cama. O lençol cobria
somente parte daquela bunda perfeita. As pernas torneadas
estavam descobertas e as costas tatuadas com os músculos
definidos também. Um dos braços estava para fora da cama,
tocando o chão e o outro estava acima de sua cabeça, segurando o
travesseiro onde seus cabelos castanhos não muito longos estavam
espalhados.
O rosto bonito estava relaxado, a boca somente um pouquinho
aberta sob os pelos que formavam a barba cheia e que eram um
pouco mais escuros que seus cabelos, o nariz reto e os olhos sob
as sobrancelhas grossas, formavam o conjunto perfeito que as
mulheres adoravam — inclusive eu.
Olhei para a loira adormecida ao seu lado na cama. Estreitei
os olhos em sua direção e me lembrei dela. Era a ordinária que ficou
se jogando para ele a noite toda, mesmo quando estávamos
dançando juntos ou quando ele me abraçava.
Umedeci os lábios e clareei a garganta, mas nenhum dos dois
se mexeu. Respirei fundo e então bati a porta com muita força.
— Dante? — chamou a moça com a voz dengosa. — Que
barulheira é essa, amor?
Cara de pau! Sem vergonha!
— Que pouca vergonha é essa aqui? — gritei.
A loira de imediato se sentou, tentando abrir os olhos ante a
claridade que eu deixei entrar para o quarto puxando as cortinas.
— O que está acontecendo? Quem é essa maluca, Dante?
— Maluca? Meu amor, você ainda não viu nada! Eu sou a
maluca da esposa desse sem vergonha.
— O quê? — A loira se aprumou, puxando o lençol e deixando
a bela bunda de Dante toda à mostra.
— Qual a parte do “eu sou a esposa” você não entendeu?
Levante-se e saia da minha cama agora, sua vagabunda, antes que
eu te dê uma surra.
— Me desculpe! Meu Deus, Dante, você me disse que ela era
a sua irmã — ralhou a loira, indignada.
— Eu disse? — questionou fracamente, se remexendo na
cama.
— Então eu saio para uma emergência e você diz por aí que é
solteiro? Cala a boca, Dante! Você não presta! E quanto a você —
falei, me voltando de novo para a loira —, não estou entendendo
qual o seu espanto. Somos irmãos só por parte de pai e isso não
nos impede de transar feito dois coelhos.
Ela parou no meio do movimento de fechar o zíper lateral do
vestido curtíssimo que usava na noite anterior e arregalou os olhos
para mim.
Perplexa.
— Puta que pariu! Vocês são completamente malucos, estou
dando o fora daqui.
— Ah, claro, você é a vadia que transou com o meu marido na
minha cama e eu que sou a maluca.
A loira saiu praticamente correndo dali, levando as sandálias
nas mãos.
Com as mãos na cintura, virei-me para encarar Dante. A esta
altura ele já estava sentado na cama e coberto da cintura para
baixo. Seus olhos encontraram os meus e um sorriso preguiçoso
nos lábios.
— Eu até queria sair com ela de novo — disse ele.
— Isso é piada, Dante? — perguntei e ele arqueou uma
sobrancelha para mim. — Seu gosto para mulheres é discutível.
— Ei! Ela é bonita — objetou.
— E o que ela faz da vida? — perguntei e ele resmungou
procurando a resposta. — Ok, me diga pelo menos o nome dela.
Ele suspirou e me apontou o indicador.
— Touchê! — suspirou ele, me apontando o dedo indicador.
— Foi o que pensei — concluí.
— Não preciso de mulheres inteligentes para passar uma ou
duas noites. Tenho você de forma permanente na minha vida e você
já é inteligente por todas elas.
— É, você tem muita sorte mesmo em me ter como amiga —
brinquei com ele.
— Melhor amiga! — pontuou.
— Claro.
— Então venha me abraçar agora mesmo. — Ele me pediu.
Segui até a cama dele e me joguei nela. Me arrastei até estar
realmente ao seu lado e beijei a sua bochecha. Ele retribuiu o gesto
e me abraçou.
— Irmã, é? — perguntei.
— Foi a desculpa que arrumei. Você sabe que algumas
mulheres acham estranha a nossa amizade.
— E mesmo depois de mais de vinte anos da nossa amizade
você ainda se preocupa com isso?
— Nem um pouco, é só que às vezes algumas pessoas não
entendem e eu queria mesmo pegar aquela garota.
— Você é um porco! — falei, fingindo nojo.
— E você me ama.
— Infelizmente para mim. — Então o apertei mais em meu
abraço.
Foi aí que eu senti o seu... Droga! Pulei para fora da cama.
— Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Ah, meu Deus!
— O que foi, Awlly?
— Você está pelado. Puta que pariu, Dante, vai colocar uma
roupa.
Ele gargalhou e levantou da cama, se enrolando no lençol.
— Vou tomar um banho rápido e saímos para tomar café da
manhã, ok?!
— Almoçar você quer dizer, né?!
— É, tanto faz. O que você quiser, vossa majestade —
respondeu, indo ao banheiro.
Eu tinha certeza que seria um banho demorado, sempre era...
Aproveitei para fazer um café forte, eu conhecia aquele vigarista
muito bem, então coloquei uma música e esperei por ele.
A cafeteira já havia desligado quando Dante veio para sala que
era conjugada à cozinha. Eu estava no espaço entre o sofá e a
televisão, dançando.
— Alguém está realmente muito animada hoje — disse,
caminhando em minha direção.
— É claro! Você não esqueceu que hoje é a festa da sua mãe,
não é?
— E você me deixa esquecer? — Dante perguntou,
balançando seu corpo no mesmo ritmo que eu, mas parou logo em
seguida, levando uma das mãos à cabeça. — Por Deus, meu
cérebro parece que está solto aqui dentro.
— Imaginei, por isso fiz café — respondi.
— Obrigado! Você é a melhor! — exclamou.
— Sim, eu sou. Agora beba e vamos comer, estou com fome
— intimei, enquanto ele já enchia a xícara.
Meu amigo tomou todo o líquido escuro e fumegante de uma
vez.
— Vamos! — me chamou.
Desliguei o aparelho de som e seguimos a pé para um
restaurante, já que Dante morava no centro da cidade.

— Eu quero uma massa ao pesto e um filé — Dante pediu ao


garçom que nos atendia. — E para ela, ravioli ao sugo e filé de
salmão. E por favor, traga um vinho também.
Dante sabia até meu gosto culinário e, por incrível que pareça,
nunca discordei de uma escolha dele em relação à comida para
mim.
— Você não me contou sobre a sua fantasia — cobrei assim
que o garçom nos deixou.
— Nem vou falar. Vai ser uma surpresa para você.
— Ótimo, então também não vou falar sobre a minha.
— Mas acontece, Awlly, querida, que você já me contou.
Mulher maravilha, lembra? — contou vantagem, todo cheio de si e
eu sorri.
— Acontece, Dante querido, que troquei a fantasia.
— Mentira — afirmou ele.
— Verdade — retruquei.
— Você está mentindo. Está corada desde o colo, você
sempre fica assim quando mente. Já te falei que você não serve
para mentir, especialmente para mim — articulou e eu bufei, odiava
saber que ele tinha razão.
— Certo, não troquei a fantasia — admiti, revirando os olhos —
mas vou trocar.
— Não vou te falar sobre a minha. Não estrague a surpresa.
— E por falar em fantasias, você lembra daquele Halloween
que a sua mãe te fantasiou de azeitona recheada? Você estava
usando uma touca vermelha e uma bolota de papel machê verde
gigante — zombei, rindo.
— Meu trauma com fantasias começou naquele dia.
— Você estava ridículo!
— Se bem me lembro a sua mãe te fantasiou de palito de
queijo, lembro de pensar que você estava ainda mais amarela que o
comum.
— Dante! — ralhei, brincando e ele riu.
— Elas queriam que fôssemos ordouves.
— De onde será que elas tiram essas coisas? — perguntei.
— Eu não faço ideia!
Assim, encerramos este assunto e passamos a falar de coisas
triviais.
Capítulo 2

Cheguei em casa e comecei a vasculhar o meu guarda-roupas


atrás de uma fantasia antiga. Não iria mais de Mulher-Maravilha. Iria
de deusa do Olimpo.
Eu mesma fiz minhas unhas, tomei um banho, deixando os
cabelos secarem ao natural para que ficassem bem ondulados. Fiz
a maquiagem, um delineado preciso sobre um olho marcante e a
boca vermelha, peguei a fantasia.
As faixas de tecido macio se assentaram perfeitamente ao
meu corpo, agora mais volumoso do que quando a comprei, e o
cinto dourado marcou minha cintura prendendo as tiras de tecido no
lugar certo. Um par de sandálias douradas me deixava ainda mais
charmosa, juntamente com uma tiara que até parecia feita de ouro
deram o toque final.
Conferi o visual no espelho uma última vez antes de pegar o
pequeno embrulho que o pai do Dante havia me pedido para
guardar, ele não queria correr o risco de sua amada encontrar antes
de saírem de casa, e assim estragar a surpresa.
Entrei em meu carro e segui para a festa.

— Boa noite, senhorita Awlly! — me cumprimentou um homem


na portaria, que reconheci como sendo um dos seguranças do
escritório.
— Boa noite, Luís!
— Seja bem-vinda! — me respondeu.
— Obrigada! Sabe me dizer onde o senhor Lazzaris está?
— Ele pediu para avisá-la que estaria aguardando na sala de
descanso. É só seguir pelo corredor à esquerda, é a última porta —
me informou.
— Certo. Obrigada! — sorri agradecendo.
— Por nada, senhorita.
Então ao invés de seguir pelo corredor decorado até o salão
de festa, virei e segui pelo corredor recomendado pelo segurança. O
espaço que eu precisava seguir até a porta era longo e as luzes
piscavam de um jeito meio assustador. O barulho do meu salto
agulha era o único som no ambiente, fora a música suave que vinha
da festa. E de repente, as luzes se apagaram, deixando o corredor
em um completo breu.
— Ótimo! — praguejei, enquanto ainda ouvia o toc toc das
minhas sandálias que castigavam o chão revestido com piso
laminado.
Uma porta mais adiante se abriu, revelando um feixe de luz
que iluminou uma pessoa que saía do cômodo. Era um homem alto
e vestia uma fantasia de cavaleiro.
Não pude ver seu rosto.
Ele caminhou na minha direção enquanto eu continuava o meu
caminho. Sua armadura reluzia mesmo no escuro. Mesmo que eu
não conseguisse ver sua face, sua postura era impecável, tinha que
admitir, mesmo com uma fantasia, o cara tinha estilo.
Quando ele se aproximou, tentei olhar em seu rosto, mas
naquela escuridão era impossível enxergar alguma coisa. Foi aí que
o inesperado aconteceu.
O homem me segurou pela cintura e me encurralou na parede.
Rápido demais suas mãos já estavam em meu rosto, acariciando, e
sua boca encontrou a minha.
Meu Deus!
Eu não tive tempo, nem vontade de impedi-lo. O beijo era
delicioso, excitante, voraz, inebriante, louco e eu queria mais –
muito mais. Eu nem conhecia aquele cara, mas estava excitada e
tinha a sensação que daria o que ele quisesse ali mesmo.
Ele finalizou o beijo, mordendo de leve o meu lábio inferior e
então beijou o ponto exato entre o meu pescoço e o ombro, logo
acima da faixa de tecido branca que estava ali. Roçou o nariz pelo
meu pescoço, inalando o meu perfume e sua barba me fez uma leve
cócega.
Foi neste momento que, do nada, ele simplesmente se afastou
parecendo assustado. Não disse uma palavra sequer, somente se
afastou com passos rápidos e largos.
Eu simplesmente travei, não era seguro tentar mover as
pernas naquele estado, a adrenalina e o desejo me deixaram mole,
parecia que tinha virado gelatina.
Quando finalmente consegui virar a cabeça na direção em que
o cara tinha ido, ele já estava no final do corredor. Lá a luz do outro
corredor o iluminava um pouco, mas como ele estava de costas, não
consegui ver quem era o meu cavaleiro de armadura reluzente,
quem diria que um completo maluco, desconhecido me provocaria
desse jeito e do nada cairia fora, me deixando, digamos — molhada
demais.
Respirei fundo algumas vezes tentando acalmar meu coração
que batia feito louco, levei uma das mãos ao peito e a outra aos
meus lábios que estavam inchados pelo beijo voraz. Só conseguia
pensar em uma coisa — na verdade duas:
Quem é ele?
Preciso dele...
Depois de alguns minutos, com o coração menos acelerado e
com minhas pernas firmes de novo, terminei meu trajeto até a sala
onde o senhor Lazzaris me aguardava. Bati na porta.
— Entre! — ouvi a voz do bom homem. Entrei.
— Boa noite, senhor Lazzaris! Eu trouxe o embrulho.
Ele me encarou e abriu um largo sorriso, desde a minha
infância estou acostumada com a sua alegria e bondade, meu pai
trabalhava há anos juntamente com o pai de Dante, mas naquela
época ele não era o dono da editora. Uma amizade pura surgiu
entre meu pai e o senhor Lazzaris, e por coincidência, Dante nasceu
quando minha mãe descobriu que estava grávida de mim. Então
posso dizer que os conheço a minha vida toda.
Quando o meu pai faleceu, a família de Dante ofereceu a mim
e minha mãe um suporte emocional grandioso, nos apoiaram,
ajudaram em absolutamente tudo. Foi dessa união que minha
amizade verdadeira com Dante nasceu, e como o senhor Lazzaris
era a única figura masculina que eu tinha por perto, eu o via como
pai, e ele, por sua vez, me tratava como sua filha.
— Filha, você está bem? — perguntou.
— Sim. Por quê? — respondi.
Ele olhou bem para mim e se aproximou fazendo um gesto
com a mão ao redor de sua boca. Franzi o cenho sem entender e
ele riu. Riu mesmo.
— Tudo bem, querida. Eu também já fui jovem, sei bem como
é — disse amistoso, retirando um lenço macio do bolso interno de
seu terno e me entregou, fazendo sinal ao redor da boca.
Passei o lenço ao redor da boca e senti o sangue subir todo
para o meu rosto quando vi o lenço ficando todo vermelho. Ele riu
ainda mais.
— Não se preocupe, querida, não se preocupe. Não há
motivos para se sentir envergonhada, você está apenas
aproveitando a vida.
— Me desculpe por isso, senhor Lazzaris.
— Ora, minha filha, não se desculpe. Você é jovem e tem que
aproveitar mesmo.
— Minha nossa, o que o senhor vai pensar de mim? —
perguntei, sentindo que estava vermelha feito uma pimenta de tanta
vergonha.
— Penso que é uma boa moça e merece alguém que lhe faça
feliz. E, para que isso possa acontecer você precisa... digamos...
experimentar alguns rapazes até que encontre o certo.
— Ah, meu Deus! Isso é muito constrangedor. Não precisamos
falar disso. Por favor — pedi e ele gargalhou.
— É claro, filha. Tome isso e se limpe porque acho que estou
fazendo um estrago ainda maior.
— Obrigada! Estou morta de vergonha.
— Deixe disso, filha. Na verdade, Dante é que deveria sentir
vergonha, está dando mole demais. Ele não percebe, mas está
ficando tarde para ele, se é que já não é, a julgar pelo estado que
este rapaz a deixou — mencionou, apontando para o meu rosto.
— Não entendi o que quis dizer, senhor Lazzaris.
— Você é uma boa moça, filha. Dante é lento demais para
perceber isso.
O constrangimento que eu estava sentindo se dissipou com o
comentário. Eu ri abertamente.
— Tenho certeza de que o Dante sabe disso, senhor Lazzaris
— garanti.
— Se soubesse já a teria pegado para si de vez.
— Somos amigos, o senhor sabe disso — falei, sorrindo para
ele.
— E quem melhor para ser seu companheiro na vida e no
casamento do que o seu melhor amigo? Não recomendo
relacionamento amoroso com inimigos.
— Não fale bobagem, o senhor sabe que isso é impossível.
Nossa amizade ultrapassou o estágio de tentar algo antes mesmo
que tivéssemos idade para isso.
— Agora quem diz bobagens é você, minha filha. Não existe
isso. Além de que eu sempre pensei que vocês fossem acabar se
casando. Mas quanto mais o tempo passa, mais eu fico com
dúvidas, já que o meu ilustríssimo filho, apesar de ser um bom
garoto, ama viver na farra.
— Sério que pensava que nos casaríamos?
— Sempre pensei, ainda penso assim.
— Isso é impossível. Um relacionamento amoroso colocaria
nossa amizade em risco e jamais faríamos uma coisa dessas. Além
de que, é claro, jamais houve qualquer química entre Dante e eu.
Chega a ser absurda essa ideia — comentei rindo, enquanto
limpava meu rosto e retocava a maquiagem.
— Seu pai não pensava assim, mesmo quando ainda eram
somente criancinhas.
— Meu pai também pensava como o senhor?
— Na verdade foi ele quem colocou essa ideia na minha
cabeça. Sempre dizia “seu menino fará a minha pequena muito feliz
no amor e na vida” — declarou ele, com uma saudade evidente na
voz.
Sua amizade com meu pai era muito bonita.
— Bem, meu pai não deixou de ter razão. O Dante me faz
muito feliz, jamais poderei encontrar outro amigo como ele. Só não
conte pra a galera que eu falei isso — respondi rindo.
— Tenho certeza que sim. Mas não perderei as esperanças, já
que carrego as minhas e as do seu pai.
— Não se anime, somente tire da cabeça. E eu vou precisar
disso, te devolvo depois — falei, indicando o lenço. — O senhor
sabe que pode arrumar uma confusão imensa com a senhora
Lazzaris.
— Ah, eu direi a ela que o batom é seu — disse e eu arquei as
duas sobrancelhas para ele. — Você tem razão, filha. Antes que eu
consiga explicar que lhe emprestei o lenço, ela destruirá metade da
cidade. Mulher nervosa! — finalizou.
— Mas o senhor não vive sem ela.
— Jamais! Amo aquela mulher, mais do que a mim mesmo.
Ela é a luz que ilumina minha vida. Assim como você será a de
Dante, isso é, se ele acordar para a vida e você também, é claro.
— Não vai acontecer! — neguei, colocando o lenço em minha
pequena bolsa e aceitando o braço do senhor Lazzaris para sair da
sala enquanto ele ria. — Aliás, a senhora Lazzaris deixou bem claro
que esta seria uma festa à fantasia.
— Sim, ela pede e eu dou. Então temos uma festa à fantasia,
inclusive a sua está magnífica. Combinou perfeitamente com você.
— Obrigada, mas e por que o senhor não está fantasiado? —
ralhei com ele.
— Eu estou — respondeu ele.
— Este smoking me parece muito com o que o senhor usa no
dia a dia do trabalho. —
— Sim, porque estou fantasiado de CEO — falou e caiu na
risada. Eu o acompanhei.
Capítulo 3

Chegamos ao salão de braços dados e logo avistamos a


senhora Lazzaris.
— Meus parabéns, senhora Lazzaris — cumprimentei com um
sorriso no rosto.
— Obrigada, minha querida! Onde Dante está? — perguntou e
eu olhei ao redor, incerta. — Pensei que ele viesse com você. Ele já
está atrasado.
— Não se preocupe. Ele já deve estar... oh veja, ele chegou.
— Boa noite! — Dante nos cumprimentou, seguindo direto
para sua mãe. — Parabéns, mãe!
— Dante, você não devia estar fantasiado? — A senhora
Lazzaris repreendeu meu amigo.
— Eu estou fantasiado — respondeu, indignado. — Me
fantasiei do papai, veja se a fantasia não é idêntica.
O senhor Lazzaris e eu rimos.
— Ora essa! Tão igual quanto poderia. Dois enrolões —
reclamou, com os olhos semicerrados, mas em seguida sorriu. —
Você deveria se inspirar na Awlly, veja que bela deusa do Olimpo.
— Ela é a minha maior inspiração, mãe — Dante disse e
piscou para mim. — Agora vou roubá-la.
— Ah, claro! Seus amigos já chegaram — respondeu ela por
fim, segurando-se no braço do marido.
Dante e eu seguimos em direção aos nossos amigos. No meio
do caminho ele pegou uma taça de champanhe da bandeja de um
garçom e me entregou.
— Para a minha inspiração.
— Não insulte a minha inteligência, Dante. Sua mãe não está
mais por perto — retruquei e ele riu. — Aliás, eu sabia que você não
tinha preparado fantasia nenhuma. Poxa, é o aniversário da sua
mãe, você podia ter se esforçado.
— Eu me esforcei. Juro que eu tinha uma fantasia —
respondeu quando chegávamos perto dos nossos amigos.
— Sei, e o que aconteceu? — questionei rindo, já sabendo
que viria uma desculpa esfarrapada.
— Tive que trocar com um outro cara que precisava mais da
minha fantasia do que eu.
— Não seja tão dura com ele, Awlly, aposto que a fantasia não
serviu na pança que ele tem cultivado — Emma provocou quando
ouviu o final de nossa conversa quando chegamos ao nosso grupo.
Era zoeira, todo mundo sabia que Dante não tinha um dedo de
gordura a mais em qualquer lugar que fosse.
— Odeio admitir, mas é, Emma está certa, a fantasia
realmente não serviu — Dante respondeu e todos riram.
Cumprimentei as meninas e os meninos. Emma, Bonnie, Ethan
e Patrick estavam ali e logo em seguida Chloe chegou.
— Pessoal, quero que vocês conheçam o Lucca — disse
Chloe, agarrada a um rapaz loiro e alto.
— Oi, Lucca — respondemos.
— Lucca, esse é o pessoal — Chloe apresentou.
— Boa noite! — respondeu Lucca, todo polido. Rapaz bonito,
bem apessoado. — Você quer beber alguma coisa? — perguntou à
Chloe.
— Claro, seria ótimo! — respondeu ela.
— Então eu já volto — disse e deu um selinho nos lábios da
minha amiga, todos nós ficamos observando. — Com licença.
Assim Lucca saiu em busca de um drinque para minha amiga.
— Chloe, ele é ótimo! — Emma disse.
— É um Zé Mané! — disse Patrick e Chloe lhe ofereceu uma
careta.
— Achei ele ótimo também, mas Chloe, você não estava com
o Ryan? — perguntei.
— Ah, sim — confessou, comprimindo os lábios em seguida.
— Está pegando os dois? — Dante perguntou malicioso e ela
revirou os olhos.
— Chloe, você não tem vergonha? — Ethan perguntou,
empurrando com o indicador seus óculos para mais próximo dos
olhos.
— Vergonha de quê? — Chloe retrucou.
— Chloe isso não vai dar certo, acho que... — Dante tentou
soar um alerta, mas Bonnie o interrompeu.
— Deixa ela ser feliz, gente — Bonnie defendeu. — Chloe é
um pássaro livre, não adianta tentar prendê-la em uma gaiola.
— Escutem a voz da razão — Chloe disse sorrindo.
— E o que diz a voz da razão? — uma voz soou atrás de nós e
vi o exato momento em que os olhos da minha linda e loira amiga
Chloe se arregalaram, quase saltando das órbitas oculares. Ela não
precisava olhar para trás para saber que aquela voz pertencia a
Ryan. — Boa noite, pessoal! Olá, querida!
Nosso grupo permaneceu em silêncio enquanto Ryan virou
gentilmente o corpo de Chloe para si e a beijou fervorosamente.
— O que está acontecendo aqui? — a voz grave de Lucca
retumbou ao meu lado. Acho que naquele momento ninguém sequer
respirou.
Chloe soltou-se de Ryan em um impulso, virando-se para
Lucca.
— Eu não tive culpa, Lucca, esse doido chegou aqui e me
agarrou, pergunte ao pessoal.
Lucca olhou diretamente para mim.
— Ah, eu.. ahn... — Não consegui formular uma frase e nem
era necessário, todos ali sabiam que ela ia sair daquela confusão
sem maiores danos. — É que...
— O quê? — Ryan perguntou ultrajado. — Do que você está
falando, Chloe?
— Quem é esse cara, Chloe? — Lucca quis saber.
— Sou o namorado dela. Quem você é?
— Epa! Espera um minuto, você não é o meu namorado —
Chloe retrucou.
— É claro que não é. Eu que sou — Lucca disse.
— Desculpe, ursão, mas isso também não é verdade.
— Quer explicar o que está acontecendo? — Ryan exigiu.
— Tá legal! Eu explico. A verdade é que eu estava saindo com
os dois, o que é horrível, principalmente porque eu estava me
divertindo à beça. — Chloe-cara-de-pau esclareceu.
— Isso é sério? — Ryan perguntou.
— Desculpe, mozão, mas sim, é sério.
— Já deu para mim — Lucca se pronunciou e nos deu as
costas.
Chloe o observou sair por um segundo, tudo sob os olhos de
Ryan e quando ela o encarou e sorriu docemente, ele levou as
mãos para o alto e então também lhe deu as costas, a deixando
perplexa.
— Que droga, eles eram legais! — lamentou, fazendo cara de
triste.
— Chloe, você já parou para pensar que homens também têm
sentimentos? — Ethan perguntou. — Você deveria pensar mais no
próximo. — Meu amigo a repreendeu.
— E você adquiriu uma vasta experiência sobre o assunto
enquanto se relacionava com... Ah, é, me esqueci, você não se
relaciona com ninguém em um nível físico — Chloe rebateu.
— Meus relacionamentos não são da sua conta, não preciso
exibir garotas por aí — Ethan respondeu e nós acompanhávamos a
discussão com divertimento, os dois eram o completo oposto, mas
não se enganem, não eram como nos livros em que se detestam e
depois se apaixonam, eles simplesmente eram sinceros um com o
outro, implicavam um com o outro, mas não havia ressentimento
nenhum.
— Claro — respondeu ela e revirou os olhos. — Como foi que
Ryan soube que eu estaria aqui e como foi que conseguiu entrar?
— Todos os funcionários da empresa do meu pai foram
convidados — Dante esclareceu.
— Ué, mas... — Chloe pareceu confusa por um momento, mas
então se deu conta do que ocorrera. — Ohw... Alguém podia ter me
avisado que ele trabalhava com vocês dois. — A loira olhou de
Dante para mim.
— Eu tentei avisar — Dante respondeu e olhou para Bonnie
que o havia cortado quando ele tentara passar essa informação.
— Desculpe, eu juro que não tinha ideia — Bonnie se
pronunciou.
— Esqueçam isso, daqui a pouco minha irmãzinha já estará
em outra — Patrick disse rindo, passando o braço pelos ombros de
Chloe. — Vamos dançar.
Chloe e Patrick eram iguaizinhos, tanto na aparência quanto
no comportamento, bem, não era de se espantar já que eram irmãos
gêmeos.
Seguimos para a pista de dança e nos divertimos muito. Meus
olhos a todo momento varriam o salão atrás do meu cavaleiro de
armadura reluzente.
Uma música lenta começou, sem nem mesmo olhar eu sabia
que Emma havia dado uma desculpa qualquer para sair da pista, ela
detestava danças que exigiam esse tipo de proximidade. Dante,
com seu lindo e enorme sorriso, fez uma mesura exagerada, em
seguida me estendendo a mão em um claro pedido.
Depositei meus dedos sobre os seus, retribuindo o sorriso.
Todo galanteador, ele beijou o dorso da minha mão e puxou
gentilmente meu corpo de encontro ao seu.
Dançamos quase a música toda sem falarmos uma palavra
sequer para o outro, eu obviamente estava aproveitando a dança,
me sentia confortável nos braços do meu melhor amigo, mas não
conseguia controlar meus olhos que a todo momento passeavam
atentamente por todos os cantos da festa.
— O que está havendo com você? — Dante perguntou em
meu ouvido.
— Nada. Por quê? — respondi.
— Você parece inquieta, parece estar procurando algo. Sinto
lhe dizer, mas se perdeu um dos seus brincos não conseguirá
encontrá-lo nesse mar de gente.
Eu ri, ele sempre foi muito observador, me conhecia melhor do
que ninguém.
— Eu não perdi um brinco — admiti.
— Ah, que bom! Pois, fui eu que te dei esses brincos —
zombou ele.
— Sim, foi mesmo — falei, sorrindo.
— Então quer me dizer o que ou quem está procurando?
— Não estou procurando nada.
— Ah, não mente pra mim. O que está acontecendo? Você não
me disse que estava saindo com um cara novo. O que foi, ele te deu
um bolo? Você o convidou?
— Não estou saindo com ninguém, e deixe de ser intrometido
— respondi e ele riu.
— Está bem! Está bem!
Passamos todo o restante da festa dançando e comemorando
com nossos amigos e os pais de Dante. Eu não vi uma vez sequer o
cavaleiro misterioso. Ele parecia ter simplesmente evaporado.
Algo estava me intrigando, por qual razão um completo
desconhecido me agarra em um corredor escuro e do nada some?
Capítulo 4

Mais de uma semana se passou e eu só conseguia pensar


naquele beijo insano no corredor escuro. Não estava exagerando
quando disse que o beijo foi insano, pois o danado realmente vinha
tirando a minha sanidade, flashes do momento passavam por minha
mente a todo instante, quando eu acordava, nas reuniões com a
galera, no almoço, conferências de trabalho, na hora do banho,
principalmente nessa hora, quando eu sentia como ele havia me
deixado cheia de tesão sem esforço algum.
Estava ficando paranoica e obsessiva, precisava descobrir
quem ele era a todo custo.
Inicialmente relutei em acessar a lista de convidados que eu
havia ajudado a mãe de Dante a formular, mas minha curiosidade
falou mais alto e eu reimprimi a lista.
— Vamos, princesa? — Dante me chamou da porta da minha
sala na empresa.
— Claro — respondi, guardando rápido a lista na bolsa.
— O pessoal já está esperando no Angus — disse ao entrar no
carro.
— Ótimo! Dirija, James — brinquei.
Angus era o lugar que gostávamos de ir no happy hour. O
estabelecimento era bem aconchegante, servia bebidas e porções,
mas o forte mesmo era o boliche.
— Caio chega amanhã — Dante informou.
— Caio? — perguntei confusa.
— Meu primo, o que vai trabalhar com você na conta dos Niet.
Trabalhávamos os dois na editora, mas ele era publicitário e eu
era designer gráfica.
— Ah, sim. Ele está meio atrasado, não é?! Pensei que ele
fosse chegar na semana passada para se familiarizar com tudo e
iniciarmos na semana que vem.
— Pois é, minha mãe disse que ele chegou na cidade, mas
minha tia teve um infortúnio e ele teve que voltar correndo. Ela ficou
viúva a pouco tempo, Caio está tentando trazê-la para cá também,
minha mãe apoia a ideia, mas minha tia está relutante.
— Não deve ser nada fácil perder o companheiro da vida toda
e ainda ter que se mudar de cidade.
— Verdade — respondeu.
O caminho foi muito rápido e logo chegamos e já avistamos o
pessoal na primeira pista de boliche.
Me sentei ao lado de Ethan, enquanto ele me observava com
toda aquela doçura que só ele tinha. Eu sabia que meu amigo ruivo
estava me olhando, mas como ele era sempre muito reservado, eu
fingia não ver por um minuto ou dois.
— Oi, Ethan — cumprimentei e então olhei para ele.
— Oi, Awlly, como você está?
— Estou muito bem e você? — devolvi a pergunta sorrindo e
ele correspondeu, em seguida empurrando com o dedo indicador os
óculos para mais perto dos olhos, era um tipo de mania dele.
Ethan retribuiu o sorriso. Ele era um rapaz muito bonito,
inteligentíssimo, bem no estilo nerd clássico mesmo, todo
arrumadinho, os cabelos cor de cobre, sardas pelo rosto onde a
barba não cobria sua pele e tinha um coração enorme, mas que não
deixava ninguém além de nós, o seu grupo de amigos, entrar.
A verdade é que ele fica muito sem jeito perto de garotas.
Acho ele um fofo.
— Estou bem — me respondeu.
— Você parece cansado. Eu não te vi a semana toda —
afirmei.
Ethan morava no mesmo condomínio que eu.
— Pois é, tenho trabalhado bastante.
— Está bem, quando tiver um tempinho passa lá em casa pra
jantar comigo — convidei.
— Pode ter certeza que vou — aceitou.
— Ótimo! — comemorei e estendi minha mão em punho para
um toque o qual ele correspondeu.
— Quem vai ficar de fora desta rodada? — Patrick perguntou.
Sempre jogávamos boliche em três duplas, assim um sempre
sobrava, por isso revezávamos.
— Eu fico — falei.
— Como assim a minha parceira vai ficar de fora? Com quem
vou jogar? — Dante protestou.
— Pode se contentar comigo, seu chorão — Emma se
ofereceu.
— Para mim está ótimo — Dante respondeu animado,
enlaçando Emma pelo pescoço e lhe dando um beijo no rosto, em
seguida bagunçando seus cabelos.
— Tem certeza de que quer ficar de fora? Eu posso ficar, não
sou bom nisso mesmo — Ethan se ofereceu, todo gentil como
sempre era com todos.
— Não, tudo bem. Tenho umas coisinhas para olhar aqui —
respondi, tirando a lista e uma caneta da bolsa.
— Não acredito que vai trabalhar, você sabe que... — Ethan
protestava, mas eu o interrompi.
— Não é trabalho, bobo. Fica tranquilo.
— Estou de olho em você — anunciou ele, fazendo o sinal
característico que indicava que estava de olho, apontando os dedos
indicador e médio para seus olhos e em seguida para o meu rosto.
Sorri e ele retribuiu.
A galera se envolveu, animados no jogo de boliche, enquanto
eu analisava a lista. Comecei grifando o nome das pessoas que eu
conhecia e inserindo a informação que eu me lembrava sobre a
fantasia de cada um. Então me dei conta de que estava sendo
idiota, as fantasias não fariam sentido, uma vez que nenhum deles
estava fantasiado de cavaleiro durante a festa. Então me apeguei ao
pouco de características físicas que me lembrava do cavaleiro
beijoqueiro misterioso.
Eu me lembrava que ele tinha barba, eu não podia dizer se era
de pelos claros ou escuros, mas tinha certeza de que tinha uma
barba, então comecei a riscar todos os homens que eu conhecia e
sabia que não tinham aquele atributo.
Também risquei os nomes de Dante, Ethan e Patrick. Em
seguida passando os nomes que restaram para o meu BuJo.
— Ei, você não pode trabalhar aqui. É contra as nossas regras,
Awlly — Patrick disse, se aproximando já que haviam terminado a
primeira partida e dariam um tempinho bebendo algo.
— Não estou trabalhando — neguei.
— Então o que é isso? — perguntou Emma.
— Nada demais — respondi, mas antes mesmo de eu sequer
pensar, Dante tirou o BuJo das minhas mãos.
Meu amigo analisou as folhas, confuso.
— O que é isso? Por que esses nomes estão aqui?
— Não é nada, Dante. Me devolve — respondi, tentando pegar
de suas mãos.
Meu melhor amigo me olhou curioso, ele obviamente conhecia
todas aquelas pessoas.
— Dante devolve pra ela — Chloe praticamente ordenou. Eu
havia comentado com ela sobre o beijo.
Dante me devolveu e me lançou um olhar zombeteiro.
— Está tentando arrumar um namorado na empresa?
— Não seja idiota, Dante!
— São ótimos atributos para um namorado — Emma disse ao
se sentar ao meu lado e bisbilhotar o que estava anotado na parte
superior do BuJo.
— Não são atributos para um namorado.
— Eu namoraria um tipo desses — Chloe disse mesmo sem
ler o que estava escrito ali.
Ela se referia ao cavaleiro beijoqueiro misterioso.
— Você nem viu o que tem lá, Chloe — Ethan ralhou com ela.
— Eu sei bem mais do que você imagina — Chloe dizia, mas
se deteve assim que percebeu que tinha dado mancada.
Sem querer ela tinha me entregado. Os urubus cairiam
matando para saber do que se tratava, todos os olhos se voltaram
para mim de uma só vez.
— Explique — Dante exigiu.
— Não há nada para explicar — respondi.
— Sério que você contou para a Chloe e não vai contar para
mim? — Bonnie perguntou magoada.
— Awlly, você não pode arrumar um namorado assim —
Patrick disse.
— Ah, tudo bem se você pegar todas as garotas que conhece,
mas eu não posso namorar?
— Você pode namorar, mas não sério. Se arrumar um cara
sério, ele vai ter que entrar para o grupo e não queremos um Zé
Mané com a gente. Se quer namorar, então namore o Dante, vocês
estão sempre grudados mesmo.
Dante me olhou e eu o encarei de volta e então caímos na
risada. Todos nos acompanharam, menos Ethan.
— Sério? Por que o Dante? — Ethan perguntou.
— Eu não vou namorar o Dante — respondi.
— Por que não? — Emma questionou.
— Galera, fala sério, ninguém aqui gostaria de pegar alguém
do grupo — Chloe intercedeu.
— Além do mais, isso não tem nada a ver com o que estou
fazendo. Deixem de ser intrometidos — ralhei com eles.
— Bela amiga! — Bonnie reclamou e Chloe a cutucou,
cochichando a ela logo em seguida que lhe contaríamos tudo
depois.
Guardei tudo na bolsa com pressa, meu Deus como meus
amigos são intrometidos, a conversa já tinha tomado conta do
ambiente durante todo o restante do tempo que ficamos lá.
— Vamos? — Dante me chamou.
— Ah, tudo bem, eu vou com as garotas — respondi.
— Vão esticar a noite? — meu amigo perguntou, erguendo as
sobrancelhas.
— Noite das garotas, saí fora Dante — Chloe disse.
— Ai, essa doeu! — ele brincou e eu ri.
— Ah, coitadinho. Me dê aqui um abraço — Bonnie disse
abraçando-o.
— Obrigado, Bonnie. — Dante retribuiu o abraço, fingindo-se
de magoado.
— Por nada, querido, você está carente e ficou chateado
porque a Awlly não quer namorar com você — Bonnie respondeu,
soltando-o e ele riu.
— Ah sim, esse fora doeu na alma. Então, boa noite! — Dante
se despediu e entrou em seu carro. Ethan e Patrick também
partiram, cada um em seu veículo e nós, as meninas, seguimos
para o meu apartamento.
Capítulo 5

Como meu carro estava na oficina, Bonnie estacionou o dela


na minha vaga no condomínio.
— Você tem gelo? — Emma perguntou.
— Sim, por quê? — perguntei, curiosa.
— Margaritas! — Emma e Bonnie pronunciaram juntas e
animadas, levantando as garrafas que deviam estar no banco de
trás com elas e eu nem tinha percebido já que estava no banco da
frente com a Chloe.
— Demorou! — respondi animada.
Subimos para o meu apê, pedimos uma pizza e fizemos
margaritas. Conversamos sobre a vida amorosa das minhas amigas,
inclusive sobre como Chloe tinha entrado na furada de namorar dois
caras de uma vez, até que Bonnie me encurralou.
— Agora a Awlly pode contar que promiscuidade está
armando?
— Promiscuidade? — perguntei perplexa.
— Ah sim, pelo que eu soube apenas amigas com dois
namorados ou mais é que podem ficar sabendo dessa fofoca aí —
Emma brincou, se referindo ao fato de somente Chloe estar a par do
assunto.
Todas nós rimos, as margaritas já estavam começando a fazer
efeito.
— Tá legal, eu vou contar. É sobre o cavaleiro.
— Cavaleiro? — Emma perguntou, franzindo as sobrancelhas
em confusão.
— Sim, o cavaleiro beijoqueiro — Chloe se intrometeu,
animada.
Chloe era namoradeira, se fazia de desprendida, mas eu sabia
que no fundo ela era uma romântica incurável.
— Ah! Eu o conheço — Bonnie disse se ajoelhando,
estávamos todas sentadas no tapete felpudo da sala.
— Conhece? — Chloe e eu perguntamos uníssonas.
— Sim, o cavaleiro beijoqueiro da música. — Bonnie tentou
explicar.
— O quê? — perguntei.
— Sim, vai dizer que vocês nunca ouviram? — Bonnie
perguntou.
— Bonnie espera, do que você está falando? — Emma
interveio.
— A música... Havia um cavaleiro beijoqueiro, beijava as
raparigas debaixo do salgueiro, uma moça bonita combinou de lá o
encontrar, mas o pai dela chegou primeiro para o cavaleiro matar...
nã nã nã nã nã — Bonnie cantava, enquanto nós três a
encarávamos, cada uma com uma expressão de descrente diferente
no rosto.
— Bonnie não é nada disso — falei.
— Pelos céus, ninguém dá mais margaritas para ela — Emma
disse rindo.
— Mas poderia ser sim! Onde mais a Awlly ia encontrar um
cavaleiro e ainda beijoqueiro? — Bonnie perguntou com a voz
enrolada.
— Ah sim, debaixo do salgueiro — Chloe zombou e rimos.
Bonnie quase nunca bebia, mas quando o fazia era divertido
para nós. Ela era muito fraca para bebidas alcoólicas.
— Conte logo, Awlly. Estou quase tendo um treco de tanta
curiosidade — Emma exigiu.
— Era o que eu estava tentando fazer, até ser interrompida —
falei olhando para a Bonnie. — Foi na noite do aniversário da mãe
do Dante, eu precisava encontrar o senhor Lazzaris e quando
cheguei ao corredor que dava acesso à sala dele as luzes
queimaram ou sei lá o que aconteceu, estava um breu completo,
então ele saiu de uma das salas, fantasiado de cavaleiro, caminhou
na minha direção e então me beijou, mas não foi qualquer beijo, foi
insano, me deixou sem fôlego e com as pernas bambas e a calcinha
completamente encharcada. Depois, como se nada tivesse
acontecido, me largou lá e sumiu — contei.
— E quem era ele? — Emma perguntou.
— Aí é que está o problema, eu não faço ideia. Como eu disse,
o corredor estava escuro, não consegui ver o rosto dele, e ele
também não disse uma palavra sequer...
— Por que não nos contou lá na festa? Teríamos descoberto
quem ele era na mesma hora — disse Emma.
— Pois então, depois do beijo ele desapareceu. Eu não o vi
em lugar nenhum, procurei por ele o tempo todo, mas o cara
simplesmente evaporou da festa.
— Ah, então era isso? Por isso aqueles olhos de corsa
ansiosa. Pensei que você estava com fome — Bonnie disse e
gargalhamos.
— Então ele te beijou e desapareceu? — Emma questionou
com as sobrancelhas franzidas.
— Ou trocou de fantasia, né? — Chloe levantou uma hipótese.
— Ninguém carrega uma fantasia reserva para trocar, Chloe —
rebati.
— Nisso ela tem razão — Emma concordou comigo.
— Tá, então ele te beijou e desapareceu como se nada tivesse
acontecido.
— Hum, pode ser que você estava com um mau hálito tão
grande que ele não aguentou e foi embora — Bonnie disse.
Seus olhos já estavam fechados e a voz baixa, a taça de
margarita estava entre seus dedos frouxos, como se parasse ali por
um milagre.
— Durma, Bonnie! — Chloe disse, tirando a taça das mãos de
nossa amiga enquanto eu a encarava com descrença. — É claro
que não foi isso, amiga.
Emma deitou Bonnie no tapete.
— Então agora você quer encontrá-lo? Saber quem ele é? —
Emma perguntou.
— Eu tenho que achar esse cara. Aquele foi o melhor beijo da
minha vida. Eu preciso ao menos saber quem ele é, entenda amiga,
estou em chamas e só o cavaleiro pode apagar meu fogo.
— Então nós te ajudaremos — disse.
— À Missão Cavaleiro Beijoqueiro Misterioso! — Chloe
levantou sua taça de margarita.
— À Missão Cavaleiro Beijoqueiro Misterioso! — Emma e eu
imitamos a Chloe.
— À mi... leir....ro... aiiee.. — Bonnie balbuciou do tapete e
todas nós gargalhamos.
— Chuveiro? — Emma perguntou, indicando Bonnie com a
cabeça.
— Com certeza! — concordei.
— Meninas juro que eu queria ficar pra ajudar, mas será que
podem me liberar hoje? — Chloe pediu, juntando as mãos em sinal
de prece e fazendo bico. — Tenho uma entrevista em um
restaurante chiquérrimo amanhã de manhã, aliás eu nem deveria ter
bebido tanto — continuou e fez uma careta.
— Está liberada. Vocês duas estão — falei apontando para
Emma e Chloe — deixem que eu cuido dessa belezinha aqui. Ela
dorme aqui hoje, amanhã pela manhã quando ela acordar querendo
morrer, ela vai para casa. E vocês duas, peçam um motorista de
aplicativo.
— Pode deixar, general! — Emma disse, batendo continência.
Chloe e Emma juntaram suas coisas e foram embora,
deixando a chave do carro no meu balcão. Eu ajudei Bonnie a
levantar, levei-a para o banheiro, dei-lhe o banho frio — ela
reclamou muito, diga-se de passagem — e a coloquei para dormir
no quarto de hóspedes.
Por sorte ou seja lá qual dos espíritos em que ela acreditava,
ela não vomitou nenhuma vez.
Depois de me certificar de que ela estava bem e que dormia
tranquilamente, encostei a porta do quarto de hóspedes, tomei
banho e vesti meu pijama do Meu Malvado Favorito. Estava
cansada.
Decidi dar uma olhada na lista mais uma vez, então segui para
a sala a fim de pegar minha bolsa.
Capítulo 6

— Nossa, achei que elas nunca iriam embora — a voz soou na


penumbra da sala.
Soltei um grito, pulando e levando a mão ao peito pelo susto.
— Droga, Dante! O que está fazendo?
— Desculpe — pediu ele, rindo. — Eu estava esperando você
sair do banho, precisamos conversar.
— Você me assustou — reclamei.
— Eu sei, desculpe de novo — disse, batendo a mão no sofá
em um claro pedido para que eu me sentasse ao seu lado.
Segui até ele, sentei no lado oposto do sofá e joguei meus pés
em seu colo. Dante prontamente começou a massageá-los. Eu
praticamente gemi em aprovação.
Dante fazia a melhor massagem nos pés.
— Adoro ouvir os gemidos de satisfação que causo nas
mulheres — declarou, todo convencido e eu atirei uma almofada em
seu rosto. — É sério, Awlly, nunca vi uma mulher gemer tão gostoso
como você geme quando massageio os seus pés.
— Nossa, você está precisando melhorar na cama então,
qualquer mulher que vá para a cama com você deveria gemer mais
gostoso do que alguém que recebe uma massagem nos pés. Dante,
você precisa se cuidar, uma boa massagem é bem vinda em um
relacionamento, mas não compensa o fato de você ser ruim de
cama — falei, zoando.
— Poxa, pensei que compensaria. Já que você é tão expert no
assunto, deveria me levar para o seu quarto e me avaliar
pessoalmente, me falar o que preciso mudar, sabe, só para me
ajudar a melhorar mesmo — disse, olhando bem dentro dos meus
olhos, eu sustentei seu olhar.
— Um dia eu vou aceitar essa sua oferta, Dante — falei,
enquanto retirava os pés do seu colo, ajoelhava e engatinhava pelo
sofá até estar com meu rosto bem perto do dele — e neste dia não
vou aceitar nada menos do que o seu melhor.
Minha boca pairava sobre a dele, os olhos brilhando em
desafio.
— Está tentando me seduzir? — perguntou.
— Não ficou claro que sim? Bem, talvez isso ajude —
respondi, afastando meu rosto um pouquinho.
Devagar passei minha língua pelos lábios, então arqueei as
sobrancelhas, cerrei os olhos, mordi o lábio inferior de modo
exagerado e mexi o pescoço assim como a galera estava fazendo
em uma trend nos vídeos do Instagram.
Automaticamente caímos na risada. Brincar com Dante desse
jeito era confortável, pois sabíamos que não havia a possibilidade
de qualquer um de nós dois levar a sério.
— Agora massageie meus pés, serviçal — brinquei, sentando-
me novamente. — Afinal, o que você quer aqui?
— Como assim o que quero aqui? Quero saber qual é o lance
— informou o fofoqueiro.
— Eu já não disse que não é da sua conta, Maria-fofoqueira?
— Ai, essa doeu — disse, fazendo o gesto de cravar um
punhal no peito. Em seguida me olhou em expectativa.
— Está certo! Eu beijei um cara — falei.
— Ah, minha nossa senhora das Maria-puritanas! Não me diga
uma coisa dessas — zombou, e eu lhe atirei outra almofada no
rosto.
— Não seja idiota.
— Desculpe! E quem é o cara de sorte e o que ele tem a ver
com os nomes daquela lista?
— Não me faça perguntas difíceis, Dante — pedi e ele franziu
o cenho.
— Você não se lembra do nome do cara? Usou proteção pelo
menos?
— O quê? Não chegamos a tanto, quando eu disse que o
beijei, quis dizer que foi somente isso mesmo — apenas um beijo.
— Tá legal, mas como você não se lembra do nome do cara?
— Não é que eu não me lembre, eu sequer sei quem ele é,
nem mesmo vi o rosto dele — falei e Dante me encarou como se eu
fosse louca.
— Tá legal! — disse, bem devagar. — E quando foi isso?
— Foi na festa de aniversário da sua mãe.
— E você realmente estava acordada quando supostamente
beijou esse cara?
— Tá de brincadeira?
— Mas você esteve comigo a noite toda.
— Foi antes de você chegar... — Então discorri toda a história
pela segunda vez naquela noite enquanto meu amigo me ouvia
atentamente.
— Que tipo de otário beija uma garota no escuro e depois dá
no pé?
— Eu não sei, mas preciso encontrá-lo.
— Por quê?
— Ouviu quando eu disse que foi o melhor beijo da minha
vida? Preciso saber quem ele é.
— Awlly, o cara se mandou depois de te beijar, e se ele não
quiser ficar contigo...
— Ah, obrigada pela parte que me toca — o interrompi.
— Não é isso que eu quero dizer, mas você não acha que ele
pode ter um motivo para fugir em seguida? Sei lá, e se o cara for
casado?
— Você tem toda razão, mas não tô dizendo que quero ficar
com ele, só saber quem é. Eu preciso de um rosto.
— Um rosto? Fica com o meu. Pronto, problema resolvido.
— Não Dante, é sério, eu não vou sossegar enquanto não
descobrir quem é o cara.
— Muito bem, hora da verdade! Fui eu! Eu que te beijei no
corredor escuro e depois dei no pé.
— Bem, isso não poderia ser verdade já que você não estava
fantasiado de cavaleiro. Na verdade, você não estava fantasiado de
nada, seu sem graça. E você chegou bem depois.
— Ah, vejamos! Bem, primeiro eu corri, depois coloquei o
terno, dei uma fuçada no motor do carro para ficar cheirando àquilo
e inventei que tive problemas no carro para não levantar suspeitas.
E só para constar, eu estava fantasiado sim, me fantasiei do meu
pai e você sabe bem disso — confessou, devolvendo a almofadada
que eu havia acertado no seu rosto minutos antes.
Meu cabelo se soltou do coque frouxo em que estava preso.
— Besta, é sério, eu preciso saber quem ele é — falei e ele
bufou, enquanto abaixava as minhas pernas e me puxava para o
seu peito.
— Eu sei. Só não quero te ver numa roubada. Esse cara fugiu,
deve ser um babaca e se você criar falsas esperanças e ele te
machucar, terei que dar uma surra nesse otário.
— Prometo que não vou criar falsas esperanças, só preciso
saber quem ele é.
— Está certo, então acho que vamos fazer isso — respondeu,
beijando o topo da minha cabeça.
Mas não senti grande animação em seu tom de voz.
Foi neste momento que ouvimos Bonnie vomitar no quarto de
hóspedes e corremos para ajudá-la.

Era sexta-feira à noite e estávamos todos reunidos na casa do


Dante para o jantar que fazíamos toda semana e aquela era a vez
dos rapazes cozinharem.
Estávamos retirando das sacolas as compras que os meninos
tinham feito no supermercado.
— Não vão fazer lasanha hoje? — Emma perguntou aos
rapazes.
Eles sempre faziam lasanha. Ethan era um chef de cozinha
incrível, mas Patrick e Dante eram uma negação completa.
— Não. Hoje vamos ter uma ajudinha extra, então faremos
algo diferente — Dante respondeu. — E Ethan disse que não
aguenta mais cozinhar só lasanha.
— Ajudinha extra? — perguntei recolhendo as sacolas vazias.
— Sim, o primo do Dante vem jantar com a gente —
respondeu Patrick.
— E ele é gato? — Bonnie quis saber.
— Eu tenho cara de quem acha qualquer cara gato? — Patrick
retrucou de forma sarcástica, enquanto Ethan resmungava alguma
coisa visivelmente irritado.
— Pelo humor do Ethan, o cara deve ser um gato sim — falei
rindo e meu amigo ruivo se virou em minha direção, empurrando
com o dedo indicador os óculos para mais perto dos olhos.
— Espero que você não o ache muito bonito, Awlly, afinal
vocês trabalharão juntos — disse Dante. — Apesar de que seria
ótimo se você tirasse o tal cavaleiro da cabeça.
A esta altura todos os meus amigos já tinham conhecimento
sobre o ocorrido e, que eu estava à procura do cavaleiro beijoqueiro
misterioso.
— Então conta pra gente, como você vai achar esse cara —
indagou Patrick.
— Ainda não sei, estou reunindo os homens que têm as
mesmas características que consigo me lembrar dele, apesar de
poucas, já dá para dar uma reduzida boa no número de suspeitos —
respondi.
— E como ele é? — Ethan perguntou, enquanto tirava os
óculos e vestia o avental.
Meu amigo ruivo sempre detestou cozinhar de óculos.
— Ele tem mais de 1,80m de altura, provavelmente porte
atlético, um perfume incrível e barba cheia, mas bem aparada —
respondi lembrando-me de cada um dos poucos detalhes que eu me
recordava.
Um arrepio percorreu meu corpo só de pensar naquele beijo
delicioso.
Os rapazes olharam um para o outro, ambos estavam de
avental. Patrick cortava batatas na ilha da cozinha, Ethan picava
tomates ao lado de Patrick e Dante se aproximou com uma faca na
mão, parando perto dos dois.
— Você está procurando um cara alto, porte atlético e com
barba? — Dante perguntou, fazendo sinal para eles três.
Encarei os três por um momento, ambos tinham um sorriso de
deboche na cara. Os três rapazes tinham mais de 1,80m de altura,
barba, e Dante e Patrick mantinham porte atlético, já Ethan era difícil
dizer uma vez que usava roupas largas e nunca sequer tirava a
camiseta, embora eu desconfiasse de que ele malhasse.
Pois é, analisando os três, eu podia dizer que qualquer um
deles era o meu cavaleiro beijoqueiro, mas era óbvio que nenhum
deles ia querer me beijar, o que anulava qualquer possibilidade.
— Sem chance de ser qualquer um de vocês — falei.
— É claro que não há chance de ser um de nós, mas acho que
as suas chances seriam maiores se fosse. Já te falei que se esse
cara deu no pé depois de te beijar é porque algo de errado tem aí —
murmurou Dante.
— Você vai mesmo seguir com isso? — Ethan perguntou.
— Claro que ela vai — Emma respondeu por mim.
— Mas você quer mesmo ficar com esse cara? E se ele não
for como você pensa? E se você se decepcionar quando descobrir
quem ele é? — Ethan perguntou jogando tomates picados em uma
panela.
— Nisso ele tem razão, amiga — Chloe disse —, e se ele for
um completo nerd e nada interessante? Ah, sem ofensas, Ethan —
falou olhando para o ruivo.
— Nã... Não ofendeu, Chloe — respondeu ele, estreitando os
olhos para a minha amiga.
— Que maldade, Chloe! — Bonnie disse, beliscando o braço
dela.
— Ai! — Chloe resmungou.
— Não se preocupe, eu te acho um gatinho, Ethan — Emma
disse, passando por ele e lhe dando um beijo na bochecha.
— Eu também acho — falei e ele me olhou surpreso, sorrindo
sinceramente, então a campainha tocou.
— Por favor, sejam legais com ele, garotas. — Dante pediu.
Capítulo 7

— Boa noite! — A voz grave e naturalmente sensual soou na


cozinha.
Eu estava de costas para ele, servindo o vinho nas taças.
— Boa noite! — Meus amigos responderam, assim como eu.
— Meninas, este é o Caio, meu primo que acabou de se mudar
para a cidade. Caio esta é Bonnie, Emma e Chloe — Dante
apresentou —, Ethan e Patrick você já conheceu, e esta é Awlly.
Virei-me a fim de cumprimentar o primo de Dante e... UAU,
que gato!
— Oi — falei, estendendo minha mão para ele.
A mão dele era quente e macia, e a alta temperatura dos seus
dedos pareceu percorrer por todo o meu corpo. Subitamente me
senti quente demais.
Caio tinha cabelos loiros, olhos de um azul hipnotizante, um
rosto anguloso com expressão marcante e sem barba. O corpo
atlético, forte, mas sem exagero. Ele parecia um anjo e dava para
ver no rosto das minhas amigas que elas concordavam comigo.
O loiro e eu nos encaramos por um momento, uma conexão
rolou entre nós e senti meu corpo esquentar quando ele levou minha
mão aos lábios, deixando um beijo suave no dorso dela. Dante
pigarreou e voltamos à realidade.
Caio parecia estar envolvido no mesmo clima que eu e ficou
desconcertado por um momento. Vi quando Dante lhe lançou um
olhar de advertência.
Já passava das 23h quando decidi ir embora, a noite tinha sido
ótima, rimos e conversamos, mas eu realmente estava cansada e
precisava ir para casa.

Na segunda de manhã o senhor Lazzaris bateu na porta do


meu escritório.
— Bom dia, filha! — ele me cumprimentou.
— Bom dia! Entre — respondi sorrindo.
Ele entrou, seguido por Caio.
— Querida, acredito que você e Caio já tenham se conhecido.
— Sim — Caio e eu respondemos juntos.
— Ótimo, então as coisas ficarão mais fáceis. Como você
sabe, Caio irá trabalhar conosco e não há ninguém melhor do que
você neste departamento para ensinar como as coisas funcionam
por aqui.
— Claro, com o maior prazer, ainda mais ele sendo da família
— respondi e os homens à minha frente sorriram abertamente.
— Eu contava com isso — O senhor Lazzaris respondeu. —
Bem, Caio, sei que aquela mesa é bem pequena, ainda mais para
um homem do seu tamanho, mas é improvisada, e assim que você
souber como tudo funciona aqui, terá a sua própria sala. Você é um
rapaz esperto e vai aprender rapidinho.
— Com certeza, tio. Muito obrigado pela oportunidade.
— A de trabalhar conosco ou a de passar os próximos dias
com a visão da bela Awlly ao seu alcance o tempo todo durante o
trabalho? — brincou o senhor Lazzaris, piscando um olho para o
loiro à minha frente.
— Senhor Lazzaris! — repreendi.
Podia sentir meu rosto quente e sabia que muito
provavelmente estava da cor de um tomate.
— O trabalho é ótimo, mas não posso negar que a visão é
deslumbrante, com certeza trabalharei feliz — respondeu Caio.
Passei minha mão pela testa, constrangida.
— Não vamos deixar a moça mais sem jeito. Tenham um bom-
dia de trabalho — o senhor Lazzaris disse, se despedindo.
— Obrigado, tio — respondeu Caio.
— Obrigada, senhor Lazzaris — respondi com um aceno.
Então o senhor nos deixou a sós, fechando a porta atrás de si.
— Ele é uma figura, mas tem muito bom coração — disse
Caio.
— Sim, ele tem sim — respondi. — Vamos começar?
— É claro.
Caio sentou-se em sua mesa, ligou seu computador e eu segui
até ele, sentei-me ao seu lado e lhe dei algumas coordenadas. Ele
era um cara esperto, aprendia rápido e em pouco tempo já estava
executando tudo sozinho, tirando apenas algumas dúvidas que iam
surgindo.
Caio também era muito simpático e gentil, as horas de trabalho
passaram que eu mal percebi, e quando dei por mim Dante já
entrava em meu escritório.
— Vamos almoçar? — chamou Dante e então percebeu que
Caio também estava ali. — Hey, você também está aqui.
— Pois é — respondeu Caio, sorridente para seu primo.
— Vamos almoçar com a gente? — Dante o convidou
enquanto eu pegava a minha bolsa.
— Não quero incomodar vocês — Caio respondeu meio
incerto.
— Até parece, cara, deixa de bobeira e vamos — Dante
insistiu.
— Só se a Awlly disser que não está enjoada da minha cara e
de saco cheio das minhas perguntas chatas sobre o trabalho.
— É claro que não estou. Vai ser um prazer se você almoçar
com a gente — respondi sorrindo.
— Então eu vou — Caio concordou satisfeito.
Eu gostei dele, facilmente se adaptaria ao nosso grupo de
amigos, e depois do jantar de sexta tinha certeza de que ele seria
bem aceito pelo pessoal.
Depois de ir ao banheiro do restaurante, sentei à mesa e
peguei o cardápio mesmo já sabendo o que ia querer. O garçom se
aproximou, anotou os pedidos de Dante e Caio e eu fiz o meu
pedido.
— Como? — Caio perguntou ao Dante, parecia perplexo.
— Eu disse, eu sei — foi a resposta de Dante.
— Do que estão falando? — eu quis saber.
— Como ele sabia o que você ia pedir — Caio disse.
— Dante me conhece desde sempre, acho que me conhece
melhor do que eu — respondi rindo. — Não se espante com isso.
— Parece até o seu namorado — Caio afirmou.
— Ah não, primeiro que eu não tenho namorado — Caio abriu
um grande sorriso ao me ouvir dizer isso e Dante lhe ofereceu uma
carranca —, e segundo que, mesmo que tivesse, ele com certeza
não me conheceria como Dante conhece.
— Não mesmo — Dante concordou comigo, satisfeito com a
minha resposta.
— Muito interessante a amizade de vocês.
Que genética, meus amigos! Embora eu não sentisse atração
nenhuma por Dante. Já não podia dizer o mesmo por Caio.

Alguns dias depois, à tarde, decidi agir. Pity, meu vizinho de


escritório, estava sozinho na copa da empresa quando Caio e eu
entramos para beber algo quente.
— Oi, Pity — cumprimentei.
— Oi, Awlly — respondeu ele, passeando o olhar pelo meu
corpo. Pity era um mulherengo assumido e descarado. E ele se
encaixava nas características físicas do cavaleiro beijoqueiro.
— Boa tarde! — Caio cumprimentou nosso colega de trabalho.
— E você é? — Pity quis saber.
— Caio Huntter — respondeu, estendendo a mão.
— Caio é sobrinho do senhor Lazzaris — informei ao Pity,
antes que ele fosse grosseiro com o rapaz.
— Pity Lennis — respondeu, aceitando o aperto de mão.
— Então Pity, eu não te vi na festa de aniversário da senhora
Lazzaris. Qual fantasia usou? — perguntei enquanto preparava o
meu chá.
— Qual fantasia? Bem, se for do seu interesse, posso usar a
fantasia que você quiser — respondeu Pity e Caio pigarreou.
— Desculpe, Pity, não tenho interesse, é só curiosidade
mesmo.
Naquele momento eu desejava mais do que nunca que não
fosse ele.
— Certo, gata. Você não me viu porque fui embora cedo, na
verdade logo que a festa começou.
— Oh, que pena, mas você não estava fantasiado de
cavaleiro, não é mesmo?
Diga que não.
Diga que não.
Diga que não.
Caio teve uma crise de tosse, inicialmente achei que não era
nada, mas ao olhar para ele vi que estava vermelho feito um tomate.
— Caio, precisa de ajuda? — perguntei indo até ele, mas o
loiro me estendeu a mão fazendo que não e balbuciando que havia
se engasgado porque o café estava muito quente, mas estava tudo
bem.
— Cuidado aí, cara — Pity disse. — E não, Awlly, eu não
estava fantasiado de cavaleiro, mas como já falei, se tiver interesse
é só falar, me liga.
Pity piscou para mim e saiu da copa, e eu lhe ofereci um
sorriso amarelo.
— Está tudo bem mesmo? — perguntei me aproximando de
Caio outra vez.
— Sim, desculpe por isso. Então, o que você está tomando?
— Chá — respondi.
— Legal. Então, você parece muito interessada em uma
fantasia de cavaleiro.
— Ah sim — respondi sem jeito. — Na verdade não é a
fantasia em si, estou procurando a pessoa que usava a fantasia na
festa de aniversário da sua tia, foi alguns dias antes de você chegar
— falei e ele comprimiu os lábios.
— Entendi. E qual crime esse cavaleiro cometeu para você
estar caçando o coitado? Se é que posso saber, é claro.
— Ah você já é praticamente da galera e uma hora ou outra vai
acabar sabendo. Na noite da festa, um cara fantasiado de cavaleiro
me agarrou em um corredor escuro e me beijou — falei, enquanto
ele encarava a própria xícara de café. — Agora preciso encontrá-lo
de qualquer forma.
— Claro, não se pode fazer isso com uma moça, ainda mais
uma tão doce e delicada como você.
Estávamos nos tornando grandes amigos.
— Não, Caio, você não entendeu, o problema não é ele ter me
beijado, o problema é que ele sumiu. E eu preciso saber quem ele é,
por que me beijou, conversar com ele, sabe?! — falei e ele me
encarou como se eu fosse louca.
— Quer conversar com ele? Por quê? — ele me perguntou.
— Foi o melhor beijo da minha vida — admiti e um sorriso
lento se espalhou por seus lábios.
— Foi bom assim? — quis saber.
— Você nem imagina — respondi rindo.
— Então quando você descobrir quem é o cara vai fazer o
quê?
— Minha vontade é beijar ele primeiro e falar depois, mas se
eu fizer isso, ele some de vez.
— Alguns caras curtem — falou, piscando um olho e senti um
frio na barriga.
Apesar de estar tentando colocá-lo na zona da amizade, ele
mexia comigo sem nem mesmo saber.
— Veremos, veremos — respondi.
Capítulo 8

Era sábado à noite e estávamos em uma balada.


A galera ria de mim porque o pessoal da empresa já estava me
achando uma maluca por abordar os caras querendo saber se
estavam fantasiados de cavaleiro.
— Awlly, acho que esse cara não quer ser encontrado. Estou
começando a achar que você beija mal e por isso ele fugiu —
Patrick me zoou e Dante passou os braços pelos meus ombros,
enquanto estávamos sentados em uma mesa cercada de sofás.
— Também estou começando a achar isso — respondi,
fazendo bico.
— Aposto que ele está com medo, sabe que você é mulher
demais para ele — Ethan, fofo como sempre, me defendeu.
— Obrigada, amigo — agradeci tocando seu braço sem sair do
aperto de Dante.
— Concordo com o Ethan — Emma disse. — Você é demais
para esse sujeito, seja ele quem for.
— Não posso discordar — Caio se intrometeu e olhou dentro
dos meus olhos — ou é louco, mas ainda aposto no medo, ainda
mais depois de você dizer que irá beijá-lo primeiro e perguntar
depois.
— Você disse isso? — Dante perguntou, franzindo as
sobrancelhas. — Está ousada.
— Que safadinha! Adorei — Bonnie disse rindo.
— Sim, eu disse, mas ele não sabe, só falei isso para você,
Caio. O cavaleiro nem faz ideia, acho que ele só não quer saber de
mim mesmo — conclui desanimada.
— Assim que ele souber das suas intenções vai se revelar, eu
tenho certeza. Nenhum cara te negaria, Awlly. Eu estava brincando
com você — Patrick disse.
— Não sei não — falei.
— Dante, se uma gata dissesse que quer te beijar loucamente
e fazer perguntas só depois, você recusaria?
— De forma alguma — respondeu Dante, então olhei para
Patrick de novo e ele negou com a cabeça, Caio fez o mesmo e até
Ethan que era extremamente tímido com as mulheres fez sinal
negativo.
— Se é assim, não vou desistir, vou encontrar esse cara e
beijar ele até não poder mais.
— Cara de sorte esse aí — Caio disse, olhando fixamente para
mim e Dante lhe deu um tapa na cabeça, lançando-o um olhar de
advertência. — O quê? Vai dizer que você nunca teve vontade de
beijar ela, Dante?
A danceteria estava barulhenta, música alta, vozes e risos
ecoavam, mas ante aquela pergunta tudo pareceu baixar o volume e
tive a impressão de que ninguém naquela mesa respirava.
Todos os olhos estavam em Dante e em mim e os lábios dos
meus amigos continham risinhos de escárnio, menos Caio que
somente observava a cena com curiosidade.
— Eu? — Dante parecia desconcertado. Ele olhou para mim e
então seus olhos correram por meus lábios, demorando-se por dois
ou três segundos, então fez um gesto de talvez com o ombro e
quando ia responder Chloe chegou.
— Oi, gente. — Minha amiga nos cumprimentou sem
animação nenhuma.
— Oi — respondemos em uníssono.
— O que houve? — perguntei ao seu ouvido quando Ethan
abriu espaço para que ela se sentasse ao meu lado.
— Não foi nada — respondeu ela.
— Tem certeza? — insisti e ela olhou para Ethan que também
havia percebido que havia algo errado.
— Sim, estou ótima.
O garçom passava carregando uma bandeja com alguns shots
de tequila que havíamos pedido, ao colocá-las sobre a mesa, Ethan
pegou a primeira dose e colocou na frente de Chloe.
Minha amiga pegou o shot e o encarou, então deixou uma
lágrima rolar, rapidamente limpando-a. Ethan a encarou chocado,
acho que nunca tinha a visto chorar, rapidamente colocou mais dois
shots à frente dela. O restante do pessoal estava tão animado que
nem percebeu o que rolou ali.
Chloe soltou o shot que segurava sem beber uma gota sequer
e se levantou.
— Eu quero dançar, alguém vai? — Chloe propôs.
— Claro — respondi me levantando também e as garotas nos
acompanharam.
Na pista de dança Chloe se entregou a música, ela obviamente
estava com problemas, mas não diria nada hoje, este era o jeito
dela, quando se sentisse preparada ela contaria.
A música River começou a tocar e a batida sensual tomou
conta dos meus movimentos. Caio estava um pouco mais à frente,
ele não dançava, seu olhar encontrou o meu e um sorriso altamente
atraente surgiu em seus lábios, e minha boca imitou a sua.
Caio saiu de seu lugar para vir até mim, mas não deu dois
passos antes de grandes e fortes braços me enlaçarem pela cintura
e me virarem para o sentido contrário ao do homem absurdamente
sexy que caminhava até mim.
Encontrei olhos castanhos e intensos me observando de perto
e um sorriso preguiçoso à espreita. Nossos corpos balançavam
juntos e por um momento somente curti a batida, embora seus olhos
não tenham deixado os meus.
— E então, o que está rolando entre você e o Caio? — Dante
perguntou ao meu ouvido.
— Nada, pelo menos nada ainda — respondi.
— Ainda?
— Ah, ele é legal, gato e tal, mas você sabe, preciso encontrar
o cavaleiro.
— Qual é, Awlly? Esquece esse cara, não vale a pena.
— Eu vou encontrá-lo...
— Você nunca vai encontrá-lo — Dante disse e eu arqueei
uma sobrancelha para ele. — Viva o que vale apena, gata.
— Está me dizendo para ir em frente com o Caio?
— O quê? Não! — respondeu ele.
— Então eu não entendi.
A música mudou para Human do Rag’n Bone Man e Dante
segurou com mais firmeza em minha cintura, aproximando-nos um
pouco mais. Nossos corpos se moviam em sincronia. Senti algo
dentro de mim se retorcer, mas tratei de empurrar a sensação para
longe.
— Estou dizendo para ir fundo sim — Dante fez uma pausa e
respirou fundo —, mas comigo, não com ele.
Acho que eu havia bebido demais e meus sentidos estavam
ficando confusos, primeiro aquele friozinho na barriga por Dante,
sentindo-me retorcer por dentro e agora ouço ele dizer coisas que
obviamente nunca diria.
— O quê? — perguntei confusa.
— Será que eu tenho uma chance hoje? — perguntou ele todo
sorridente.
É claro que Dante estava brincando.
— É claro que sim, você tem todas as chances — brinquei de
volta e ele apertou mais a minha cintura.
— Não brinque comigo, Kavnnag — disse ele sem sorrir,
comprimindo seus próprios lábios enquanto encarava os meus, me
chamando pelo meu sobrenome. — Não agora.
As borboletas em meu estômago bateram as asas ao imaginar
que ele poderia estar falando sério.
Mas o que estava acontecendo comigo?
O que essas borboletas enxeridas fazem aqui?
— Só pode estar de brincadeira — consegui dizer depois de
alguns segundos nos encarando.
— Estou?
— Está?
Dante negou lentamente com a cabeça e eu puxei o ar com
força. Seu olhar alternava entre os meus olhos e lábios. Não tentei
deter meu olhar ao fazer a mesma alternância por seu rosto.
— Chloe está passando mal no banheiro — Emma disse ao
meu ouvido sem perceber o clima ali.
Na verdade, eu nem tinha certeza se realmente havia um clima
ou se era coisa da minha cabeça.
Preciso maneirar no álcool quando saio para baladas.
— Mas ela nem bebeu — contestei.
— Pelo jeito bebeu antes de vir para cá — Emma argumentou
e seguimos para o banheiro.
Dante segurou minha mão até o último segundo, então
abaixou a cabeça apertando os olhos como se risse ou lamentasse
a falta de sorte ou qualquer coisa assim.
Chloe não havia bebido, mas algo que comeu não lhe fez bem,
ainda mais misturado ao provável estresse que estava enfrentando.
Tentamos convencê-la a ir para o meu apartamento e ela disse que
precisava daquela noite para pensar, então no dia seguinte
conversaríamos. Demos a ela o espaço que necessitava, é claro,
mas não podia deixar de me preocupar com a minha amiga.
Conversamos com os meninos e decidimos encerrar a noite,
não tinha sentido continuar curtindo com minha amiga passando
mal.
Capítulo 9

O almoço daquele domingo seria o primeiro no apartamento de


Caio, o lugar era bonito e muito bem organizado. Ele me mostrava
como era a preparação de um molho que estava fazendo, ele era
ótimo na cozinha.
Dante parecia normal, realmente acho que imaginei aquela
cena toda de ontem à noite, e julgando a dor de cabeça que
amanheci não seria nada difícil eu realmente ter imaginado.
Chloe foi a última a chegar, decidida como sempre, em sua
calça jeans colada, uma regata branca que destacava os seios e
seus saltos nº 15. Jogou a bolsa sobre o balcão chamando a
atenção do pessoal e disse sem nem mesmo cumprimentar
ninguém antes:
— Estou grávida! — declarou
A cozinha silenciou, a não ser pelo som de Patrick se
engasgando ferozmente com a azeitona que estava comendo. Caio
o acudiu.
— Você não me disse que estava namorando. E não acha que
é um pouco cedo para ter filhos? — Patrick indagou de forma calma.
— Não estou namorando — Chloe respondeu com toda calma
irritante que existia dentro dela, servindo-se de um pouco de água
da jarra que estava sobre o balcão.
— Não está namorando — repetiu Patrick, como se testasse
as palavras. — Minha irmã está grávida e nem está namorando.
— Relaxa, Patrick — pediu ela.
— Quem é o pai? — Ele quis saber, mas ela não respondeu,
fingia beber a sua água de forma muito mais lenta do que a
atividade necessitava. — Quem... É... O... Pai?
— Não fode, Patrick. Vou criar essa criança sozinha.
No mesmo instante em que Chloe pronunciava as palavras, vi
Patrick ficar muito vermelho.
Ele explodiria naquele momento se fosse uma bomba.
— Você ficou louca? — gritou ele por fim já indo para cima de
Chloe, e todos os rapazes foram em sua direção para contê-lo.
Patrick jamais machucaria a sua irmã, mas estava muito
alterado.
— Vai criar essa criança sozinha? Você realmente
enlouqueceu. Tem noção de tudo pelo que terá que passar? Acha
que é fácil criar uma criança? Pelo amor de Deus, você nem
consegue preparar uma refeição decente, seu bebê vai viver de
quê? Margaritas? — Patrick gritava, totalmente alterado.
— Patrick se acalme, querido — pedi me aproximando dele
também.
Chloe olhava magoada para o irmão.
— Você não tem que se meter nisso, Patrick. Você não é meu
pai.
— E o que acha que nosso pai vai dizer quando descobrir? Vai
matar o velho.
— Já contei a ele — Chloe respondeu e Patrick passou as
mãos pelos cabelos, frustrado. — Patrick, é uma escolha, eu fiz a
minha, vou ter a criança.
— O filho da puta não quer assumir? Eu vou matar ele. Me
diga agora quem é, vou até ele e o matarei.
— Patrick, calma, cara, deixa a Chloe falar — Dante interveio.
— Irmão presta atenção, infelizmente isso é fruto de uma noite
de bebedeira e irresponsabilidade, mas o bebê não tem culpa. Eu
vou contar ao pai e dar a ele a escolha de se envolver ou não...
— Ele pode escolher se envolver ou morrer.
Os olhos de Patrick pareciam pegar fogo e seus punhos se
mantinham cerrados ao lado do corpo.
— Ninguém vai morrer. Se ele não quiser se envolver não vou
forçar , na verdade estou torcendo para que ele não queira,
realmente não é o que quero.
— Chloe não diga isso — Bonnie disse.
— Você fala assim porque não sabe quem é o pai. Concordaria
comigo se soubesse.
— Não me diga que transou com um zé droguinha e
engravidou, Chloe — Patrick pediu, enquanto tentava arrancar os
próprios cabelos.
— Ele não é um zé droguinha, eu não desceria tão baixo, mas
com certeza não é o tipo de pessoa com quem alguém escolheria
ter um filho. E como eu disse, vou contar a ele, mas só depois que o
bebê nascer, fui ao médico ontem e ele disse que tudo o que sinto é
passado para o bebê, e não quero passar todo esse estresse para o
meu filho. Espero contar com o apoio de vocês.
— Claro que tem nosso apoio — falei e abracei minha amiga.
— Parabéns, mamãe!
Cada um dos meus amigos fez o mesmo, Patrick por último.
— Você não tem que passar por isso sozinha — disse ele.
— Eu não vou. Tenho vocês.
O almoço correu sem mais alvoroço, embora a gravidez da
Chloe tenha sido o assunto.

Mais tarde, quando a galera já tinha ido embora e estávamos


somente Caio, Dante e eu, a senhora Lazzaris chegou para visitar
seu sobrinho.
Dante e eu atendemos sua mãe enquanto Caio atendia um
telefonema no quarto.
— Olá, queridos! — cumprimentou a senhora Lazzaris nos
beijando no rosto. — Fico tão feliz em saber que Caio está se
adaptando bem com a ajuda de vocês.
— Ele é um rapaz legal, o pessoal gostou muito dele — falei.
— Tia! — Caio cumprimentou animado ao ver a senhora o
aguardando. A família de Dante sempre foi muito amorosa, mesmo
com Caio que morava mais distante e quase nunca se viam.
— Ah meu Deus, você tirou a barba! Ficou muito melhor assim,
dessa forma podemos ver o seu belo rosto. Devia tentar isso
qualquer dia, Dante — disse ela, enquanto eu depositava meus pés
no colo de Dante, meu amigo lhe respondeu com uma careta.
Aquela mulher não era nada sutil.
— Fico feliz que tenha gostado, tia — Caio a respondeu. —
Sente-se, a senhora quer um café?
— Não, menino, não se incomode. Sente-se aqui e conte-me
como sua mãe está. Não falei com ela essa semana.
— Ainda estou tentando convencê-la a vir para cá, tia, mas
está difícil.
— Precisamos convencê-la. Vá almoçar conosco no sábado e
ligamos juntos para ela. Desde que você chegou para ficar eu não
tinha te visto e no dia da festa do meu aniversário conversamos tão
pouco — disse a senhora Lazzaris e senti Dante ficar rígido.
Caio pareceu desconcertado, como se estivesse em uma
situação difícil e até precisou clarear a garganta para responder.
Espera! Caio estava na festa? Dante disse que ele não tinha
vindo, que tivera problemas com a mãe.
— Pois é, tia, como sabe tive que voltar correndo pra casa.
— Nem pôde aproveitar a festa, estava ótima, não é, Awlly?
— Ah sim, estava maravilhosa! — respondi sorrindo, mas
podia sentir certa tensão no ambiente.
A senhora Lazzaris parecia alheia a isso, mas Caio parecia
inquieto e Dante estava tenso, eu tinha impressão que a taça em
sua mão poderia se partir a qualquer momento julgando a força
desnecessária que ele empregava na tarefa simples de segurá-la.
Senti meu cenho franzir involuntariamente.
O que estava acontecendo?
— Acho que vou fazer um café — Caio pronunciou levantando-
se, mas a senhora Lazzaris o puxou de volta para o sofá.
— Deixe de ser bobo, menino, já estou azeda de café.
— Uma água então?
— Ah, já sei, você está com medo de eu falar para a Awlly
sobre a sua fantasia?
— Tia..
— Por quê? O que tem a fantasia dele? Eu não o vi lá, até
achei que ele nem tinha ido — falei a última parte olhando de forma
curiosa para Dante que por algum motivo evitava o meu olhar.
— Não tem com o que se preocupar, Caio, você estava um
verdadeiro príncipe — a senhora Lazzaris disse juntando as mãos
na frente de seu peito.
Ela admirava o sobrinho. Era palpável seu carinho por ele.
— Príncipe, é? — perguntei olhando para Caio, imaginando-o
de barba.
A senhora Lazzaris havia mencionado que ele tinha barba da
última vez que o vira. Mas eu não vi nenhum príncipe lá, eu só vi o...
— Um verdadeiro cavaleiro de armadura reluzente — disse a
senhora Lazzaris e Dante apertou meus pés enquanto meu olhar
estava em Caio e o dele no meu. — Tinha que ver, Awlly, qualquer
garota teria se apaixonado por ele naquela noite, isso só não
aconteceu porque teve que sair às pressas, antes mesmo da festa
realmente começar. Caio é um filho muito dedicado, não deixaria a
mãe em apuros, entrou no primeiro avião e partiu em seu socorro.
— É claro. — Foi o que consegui dizer, mas a fala saiu em um
fiapo de voz.
Então Caio era o meu cavaleiro beijoqueiro misterioso?
Capítulo 10

Não achei que eu me sentiria assim quando descobrisse quem


era o cavaleiro, mas eu estava em completo choque. De todas as
possibilidades, Caio não era uma delas. Dante me disse que ele não
estava na festa e ele nem tinha barba como o cavaleiro.
Dante! Ah, eu vou matá-lo por mentir para mim.
Levantei-me de uma vez, fazendo com que Dante derrubasse
a taça de vinho já que meus pés estavam em seu colo. A taça de
cristal caiu no tapete marfim felpudo, não se quebrou pela maciez
da zona em que pousou, mas o líquido vermelho escuro se
espalhou encharcando e manchando o tapete claro.
— Não vou me desculpar por isso — falei para Caio, irritada.
— Não precisa — respondeu ele todo sem jeito, alternando o
olhar entre Dante e eu.
— Minha nossa, criança! — a senhora Lazzaris exclamou,
levando a mão ao peito.
— Desculpe, senhora Lazzaris. Este comportamento é
inaceitável. Eu me lembrei de algo importante que tenho que fazer e
acabei me excedendo. Realmente peço desculpas — falei para a
doce senhora à minha frente.
— Está certo, querida! Mas fiquei curiosa para saber o que tem
de tão importante para fazer, almocei com a sua mãe e ela não me
falou nada sobre algum compromisso seu. Você sabe que contamos
tudo uma para a outra.
— Sim, Sra. Lazzaris, eu sei, mas não é nada com ela, eu...
é... — Droga! Eu não tinha uma desculpa plausível, não podia dizer
que o sobrinho dela tinha me beijado de forma eloquente e que eu
estava procurando por ele, sonhando com ele, ardendo por ele. —
Eu preciso lavar as minhas calcinhas.
Fechei os olhos com força ao pronunciar as palavras que
saíram de modo involuntário pelos meus lábios. A senhora Lazzaris
parecia constrangida. E eu tinha certeza que Dante tinha os olhos
quase fora da órbita ocular.
— Ah, sim. Bem, lavar as calcinhas é algo de suma
importância. Vá, vá lavar as suas calcinhas, querida — disse a doce
senhora.
O mais rápido que pude peguei a minha bolsa e saí pela porta.
— Hey, espere! — Dante pediu, mas eu não parei. — Awlly,
espera.
Meu melhor amigo segurou gentilmente em meu braço, mas
firme o suficiente para me fazer parar e encará-lo.
— O quê?
— Fica calma, beleza? Eu sei que deve estar sendo demais
para...
— Por que mentiu para mim? — inquiri.
Dante puxou o ar com força, desviando os olhos dos meus por
um segundo.
— Eu não menti para você.
— Você me disse com todas as palavras que o Caio não
estava na festa.
— E eu só soube que ele estava depois. Quando conversamos
eu ainda não sabia, eu nem o vi lá, acaso você não se lembre, eu
cheguei atrasado, meu carro quebrou.
— E por que não me contou depois?
— Não achei que tinha importância, tá bom?! E para começar,
você acha o quê? Que ele é o seu cavaleiro? Acredite em mim, ele
não é e você não vai encontrar esse cara, Awlly, para com isso.
— Bem, eu procuro alguém que estava fantasiado de cavaleiro
e depois, como num passe de mágica, evaporou. Pelo que a sua
mãe disse, Caio se encaixa muito bem.
— Ele não é o cara que você procura e você também não
pareceu contente com a hipótese de ser ele — disse Dante,
soltando o meu braço e abrindo a porta do carro para mim.
— Quem disse que não?
— Bem, você correu para longe dele ao invés de beijá-lo como
disse que faria.
— Foi só o choque e eu não poderia beijá-lo na frente da sua
mãe.
Dante me encarou por alguns segundos após sentar-se no
banco do motorista no carro.
— Está dizendo que ainda vai beijá-lo? — perguntou ele
parecendo perplexo e enfim arrancando com o carro.
— Espero por isso há muito tempo, não é?
— Caio não é o cara para você.
— Caio não é o cara para mim, Raphael também não era,
John também não, Marcus menos ainda, Noah não. Já reparou
como, na sua opinião, nenhum cara é o certo para mim?
— Eu só estou tentando te proteger.
— De viver? — perguntei com a voz esganiçada.
— De canalhas, caras que não prestam, que pegam uma por
noite sem nem ao menos lembrar do nome da garota no dia
seguinte. Caras que apesar de você esperar, não vão te ligar, que
vão somente te iludir e no primeiro par de pernas bonitas que se
aproximar não vão pensar nos seus sentimentos. Caio é meu primo,
é um cara legal, mas com as mulheres é exatamente como descrevi.
— Está tentando me proteger dele ou de você? Pois este me
parece um belo retrato seu. — Quando percebi já tinha falado
demais, as palavras haviam saído pela minha boca sem ao menos
me dar conta do que dizia.
Vi o que eu disse atingi-lo em cheio e a mágoa nos olhos dele
fez com que eu me arrependesse de ter dito as palavras no mesmo
momento em que uma luz pareceu se apagar em seu olhar.
Dante estacionou em frente ao meu prédio, na contra mão,
desceu do carro e deu a volta como sempre fez, abriu a minha porta
e me pegou pela mão, me levando até a calçada.
— É, acho que estou tentando te proteger de caras como eu.
Caras que não merecem nem pisar no mesmo chão que você —
falou abrindo a porta do carro e acomodando-se em seu banco. —
Está na hora de abrir os olhos e enxergar ao seu redor, Awlly.
Entenda que ele não é o cara que você procura. — Abri a boca para
responder, mas não consegui dizer nada. — Me odeio por dizer isso,
mas meu ombro estará esperando por seu choro, caso decida
seguir em frente com essa história.
Meu amigo bateu à porta do carro com força, me deixando ali
na calçada e arrancando com o carro.

Passei o resto da tarde e o início da noite pensando em Caio,


mas meus pensamentos insistiam em se alongar para a crise de
ciúmes de Dante. Ele sempre foi um amigo ciumento, desde a nossa
adolescência, e acho que agora está com medo de perder seu posto
de melhor amigo para o primo.
Sei que errei e acabei o magoando, mas amanhã me
desculparei e deixarei claro que ninguém nunca vai tomar seu lugar
como meu melhor amigo, mesmo quando, um dia, eu me casar e
tiver filhos, o posto dele estará garantido como o amigo do coração
e padrinho dos meus filhos, é claro.
Tentei assistir um filme, mas meus pensamentos viajavam para
a imagem de um homem forte e grande, sentado no tapete de sua
sala, emburrado. Eu não conseguia ficar brigada com ele, por isso
resolvi enviar uma mensagem.

Awlly: Oi

Dante: Oi - a resposta veio de imediato.

Awlly: Me desculpe! (pedindo fazendo beicinho)

Dante: Não quero que se decepcione.


Awlly: Não vou, fique tranquilo! Estou desculpada?

Dante: Não há o que ser desculpado. Esquece isso, nós dois


estávamos nervosos. Rola uma pizza?
Eu sorri, sempre resolvemos tudo com pizza. Eu digitava a
minha resposta quando meu celular desligou, minha bateria estava
um caos e sempre que baixava de vinte por cento ele desligava.
Levantei-me para pegar o carregador e a campainha tocou,
deixei o celular no sofá e segui para atender quem quer que
estivesse ali sem ser anunciado pelo porteiro. Provavelmente era o
meu amigo que tinha permissão para subir e já devia estar vindo
para cá quando mandei a mensagem. Ele ainda devia estar bravo já
que tocava a campainha ao invés de usar a chave reserva como
sempre fazia.
Coloquei meu melhor sorriso de desculpa no rosto e abri a
porta.
Ele estava encostado na parede, os braços cruzados sobre o
peito forte, ressaltando os músculos dos bíceps, seus olhos estavam
nos próprios sapatos e alcançaram os meus assim dei um passo à
frente. Um sorriso constrangido havia tomado conta dos seus lábios.
Mas para a minha surpresa ele não era o Dante – era o Caio.
Capítulo 11

— Boa noite! — cumprimentou ele sem jeito. — Desculpe


aparecer sem avisar, fiquei com medo de você não querer me
receber e não queria deixar essa conversa para amanhã. Não quero
que as coisas fiquem estranhas entre nós, principalmente no
escritório. Fiquei lá embaixo um tempão e quando Ethan chegou, vi
uma oportunidade de tentar falar com você.
Não pensei muito, fiz o que eu havia prometido a ele que faria
quando encontrasse o tal cavaleiro misterioso. O agarrei pela
camiseta preta que ressaltava seus músculos poderosos, como eu
estava descalça tive que ficar na ponta dos pés e puxá-lo em minha
direção, fazendo-o se abaixar um pouco para que nossas bocas se
encontrassem em um beijo cheio de desejo.
Caio enlaçou a minha cintura com um dos braços e a sua outra
mão apoiou minha cabeça, segurando gentilmente em meus
cabelos, enquanto nossas línguas dançavam em um ritmo sensual e
indecente. Foi um beijo espetacular.
— Uau — declarou, depois de recuperar o fôlego quando nos
separamos. — É, você é uma mulher de palavra.
Sorri dando um passo para trás.
— Eu também não quero que as coisas fiquem estranhas entre
a gente — falei.
— Acho que as coisas só ficarão estranhas se você não me
beijar outra vez — murmurou ele.
— Bem, você beijou primeiro, então eu te beijei, acho que
agora é a sua vez.
Eu estava me sentindo muito ousada.
— Não sei, o beijo que você me deu foi muito, muito bom.
— Melhor do que o que o cavaleiro me deu? — perguntei
brincando e ele abriu um sorriso enorme.
— Para mim definitivamente foi melhor.
— Posso imaginar o porquê. — A voz de Dante soou à nossa
esquerda, na porta do elevador, encarando Caio e eu.
— Dante!
Sorri para ele que veio em minha direção, deixando um beijo
em meus cabelos.
— Mandei mensagem — disse ele.
— Meu celular descarregou quando eu ia responder sobre a
pizza. Aliás, você chegou rápido.
— Eu já estava à caminho...
— Dante, você chegou — Ethan disse, abrindo a sua porta. —
Acabei de chegar também, quase que você chega primeiro que eu.
— Tranquilo — respondeu Dante.
— Ah, sei que falei que você podia chamar a Awlly para a
pizza, mas surgiu uma parada e eu queria conversar contigo, será
que rola? — Ethan perguntou. — Não leva a mal, Awlly.
— Até parece — respondi. — Tenho um assunto para tratar
com Caio.
Ethan colocou os óculos.
— Caio? Foi mal, cara. Eu tenho visão tão ruim que sem os
óculos mal reconheço as pessoas — disse Ethan.
— Relaxa, cara. E essa parada aí, está tudo bem? — Caio,
muito prestativo ao novo amigo, quis saber.
— Nada que eu não possa resolver, só preciso de uma
ajudinha do Dante. Entra aí, cara.
Dante me soltou e seguiu até Ethan, entrando e fechando a
porta.
— Estraguei sua noite com o Dante, né? Desculpa, eu não
sabia que ele vinha para cá — entoou Caio, constrangido.
— Não, tudo bem. Ele tinha acabado de me mandar
mensagem quando você chegou, eu nem tinha respondido ainda.
— Mas ele já estava vindo para cá. É impressão minha ou ele
parecia chateado? Será que ele se importa de verdade por eu ser
quem você procurava?
— Não se preocupe com isso, você o conhece. Ele só é um
pouco ciumento, daqui a pouco estará bem.
— Certo — respondeu ele, colocando as mãos nos bolsos. —
Será que posso pagar uma pizza para compensar a que você
perdeu por minha causa?
— Não foi culpa sua. Não ouviu o Ethan dizer que precisava
conversar com o Dante?
— Ethan é educado demais para te despachar se estivesse
sozinha.
— Nisso você tem razão — respondi e rimos.
— Então, pizza?
— Claro — concordei, abrindo espaço para que ele entrasse
no meu apartamento. — Caio, quero dizer uma coisa antes de mais
nada.
— É claro, diga — disse ele, parando em frente ao sofá,
contorcendo as mãos em sinal claro de nervosismo.
— Não é nada demais, é só que eu fiquei em choque quando
descobri, mas gostei de saber que é você.
— Então não ficou brava, nem decepcionada?
— Decepcionada de forma alguma — respondi sorrindo. —
Brava talvez tenha ficado um tiquinho, por que não me contou que
era você? Não ia me deixar saber?
— Sei lá, eu te beijei por impulso, estava escuro, eu estava
frustrado. Inicialmente eu só tinha beijado uma garota em um
corredor escuro, mas depois te conheci e caramba! Você era linda
demais, não vou negar que quando te vi, quis te beijar, mas eu não
sabia que era você que eu tinha beijado — disse, se aproximando e
tocando meu rosto de forma delicada. — Quando ouvi a história do
cavaleiro, a nossa história, eu surtei, não conseguia acreditar que
era você que eu tinha beijado. — Sorri. — Eu quis te contar, mas daí
você era a melhor amiga do meu primo, ele é extremamente protetor
contigo, e eu o entendo.
— Sim, ele é o meu melhor amigo.
— Eu sei, e por isso fiquei com receio. Não podia correr o risco
de irritar o meu primo e parecer ingrato a tudo que ele e seus pais
estão fazendo por mim e minha mãe. Não vou negar que no começo
achei que rolava algo entre vocês dois. Vocês realmente são muito
próximos.
— Entendi, mas Dante é como meu irmão, por isso rola esse
ciúmes todo da parte dele e não vou negar que às vezes acontece
comigo também.
— Então são como irmãos? — perguntou.
— Sim.
— Bem, neste caso acho que ele não vai se opor, mas a
questão que realmente importa é se você tem alguma reserva
quanto a mim. Não estou dizendo... espera... acho que não estou
sabendo me expressar bem. — Caio abaixou a cabeça e riu. — O
que estou querendo dizer é que sim, eu te beijei, então você me
beijou, mas não quero me impor a você. Se você estiver aberta as
minhas investidas eu obviamente vou tentar ficar contigo, mas você
não tem obrigação alguma... Uma palavra sua e eu me afasto.
Caio estava nervoso, eu também estava, mas ele estava
deixando transparecer, era engraçado.
— Calma, eu sei que não tenho. Acredite, Caio, não deixo
ninguém se impor a mim. Se você está aqui e se estiver na minha
presença em ocasiões futuras, é porque eu permiti.
— Isso é ótimo! — disse ele, voltando a sorrir de forma doce e
encarando de novo os meus olhos. — Bem, como já esclarecemos
as coisas, acho que agora você precisa pensar um pouquinho. Vou
pedir uma pizza e deixar paga pelo aplicativo. Você gosta da de
calabresa apimentada, não é?
Ele me soltou e tirou o celular do bolso, acessando o
aplicativo.
— Não precisa fazer isso.
— Claro que preciso, você perdeu uma pizza por minha causa,
então está feito. — Ele guardou o celular no bolso. — Agora eu vou
para casa e te deixar pensar um pouquinho. Boa noite, Awlly.
Caio colocou suas mãos em meu rosto e acariciou a minha
bochecha, aproximando seu rosto do meu, parou quando a sua
boca estava a centímetros da minha, ainda encarando meus olhos,
pedindo permissão.
Eu fechei os olhos concedendo ao que nós queríamos, então
nos beijamos deliciosamente.
— Boa noite — falei quando nos afastamos.
Seguimos até a saída do meu apartamento, eu abri a porta e
ele passou por ela, virou de frente para mim de novo e tocou seus
lábios nos meus de forma leve e gentil.
— Boa noite!
E assim ele caminhou até o elevador, fechei a porta e sorri
para mim mesma.
Eu havia encontrado o meu cavaleiro misterioso.
Capítulo 12

Nada mal! A espera tinha valido a pena.


Sentei-me no sofá com um sorriso bobo no rosto, então ouvi a
risada de Dante. Ele obviamente ainda estava na casa de Ethan e
pelo tom das risadas haviam conseguido resolver qualquer que
fosse o problema do meu amigo ruivo.
Por um momento cogitei ir até eles e pedir que se juntassem a
mim, mas como Ethan precisava da ajuda de Dante, aquela deveria
ser uma “noite dos garotos”, então era melhor que eu não
interferisse.
Recordei-me que Dante havia dito no corredor que tinha me
mandado mensagens e só então lembrei que não tinha colocado o
celular para carregar.
Corri até a cozinha e peguei o carregador do celular,
conectando-o à tomada perto do sofá e também ao aparelho,
ligando-o em seguida.
A primeira coisa que fiz foi entrar nas mensagens do
WhatsApp, o aplicativo sinalizava seis mensagens de Dante, mas ao
abrir a conversa constatei que todas elas haviam sido apagadas por
ele mesmo.
Pensei em enviar uma mensagem perguntando sobre isso,
mas acabei desistindo quando meu interfone tocou e o porteiro
anunciou que a entrega super rápida da pizzaria do bairro onde
morávamos havia chegado.

Na manhã seguinte entrei em meu escritório e a primeira coisa


que vi foi o galho de hortênsia laranja sobre a mesa. Um sorriso
involuntário se apossou dos meus lábios.
Aproximei-me da mesa, depositando minha bolsa na cadeira e
segurando em minhas mãos o galho de flor com um laço. Primeiro
senti o aroma delicado e em seguida observei os detalhes da flor, a
minha preferida.
As pétalas eram de uma cor laranja claro, quase um amarelo
envelhecido o que as deixava ainda mais fascinantes. Sua cor
encantava tanto quanto seu perfume embriagava, era um
espetáculo à parte para todos os sentidos.
Fechei meus olhos para sentir o suave aroma que emanava da
planta e inspirei profundamente. Uma batida soou à porta que em
seguida foi aberta e eu conhecia aquele jeito de bater.
Dante!
— Veja só o que encontrei em minha mesa esta manhã — falei
sorrateira.
Dante costumava me presentear com hortênsias sabendo que
eram as minhas flores preferidas.
— Espetaculares hortênsias — falei sorrindo e ele retribuiu o
sorriso.
Uma cabeça loira, com alguns fios de cabelo caindo sobre os
olhos apareceu na porta, bem atrás do meu amigo.
— Espero que tenha gostado — Caio disse também sorrindo e
Dante abriu espaço para que ele entrasse.
Fiquei surpresa por saber que não foi Dante quem havia me
presenteado com a flor.
— Então foi você? — perguntei sem nem me dar conta.
— Bem, sei que você com certeza tem muitos admiradores
aqui na empresa, mas sim, esta flor foi um presente meu —
respondeu Caio.
— Oh, me desculpe a grosseria, não foi isso que eu quis dizer.
É só que... — Fiquei toda sem jeito e encarei Dante.
— Awlly pensou que eu havia dado a flor para ela — Dante
respondeu, olhando para mim.
— Bem, não é de se estranhar levando em conta as cores da
flor — Caio disse e Dante o encarou como se visse um alienígena.
— As hortênsias são laranja, quase amarelas, e as flores amarelas
simbolizam a amizade verdadeira, então sim, elas poderiam ser
suas, mas a cor laranja que predomina nas extremidades das
pétalas, ah essa cor deixa claro que desta vez fui eu a presenteá-la.
— Ah, é? E por quê? — perguntei, encantada.
— O laranja simboliza o fascínio de um homem por uma
mulher, não que você não tenha o poder de fascinar qualquer
pessoa, mas me fascinou desde a primeira vez que coloquei meus
olhos em você naquele corredor escuro — Caio concluiu se
aproximando de mim, pegando uma das minhas mãos e levando
aos lábios, deixando um beijo demorado ali enquanto seus olhos se
mantinham nos meus.
Dante bufou e resmungou algo que não consegui ouvir, não
prestei atenção. Estava absolutamente encantada com as palavras
de Caio, ele era realmente o meu príncipe encantado.
— E como é que você sabe de tudo isso, Caio?
Desta vez ouvi claramente a pergunta de Dante, já que ele
havia se aproximado e estava bem ao nosso lado. Desviei meu
olhar dos olhos de Caio, contendo um sorriso tímido.
Caio riu, parecendo constrangido diante do primo.
— É, eu sei que parece bobeira, mas queria dar a ela alguma
coisa que significasse algo, por isso pesquisei. — Caio riu e
balançou a cabeça em negativa. — Devo estar parecendo um bobo
apaixonado, desculpe por essa cena, Dante. Espero não estar te
assustando, Awlly, encare-as somente como flores, está certo?
Esqueça tudo o que eu disse antes, são somente flores bobas.
— Não, eu adorei. Foi muita gentileza e sensibilidade sua,
muito atencioso de sua parte procurar saber sobre as cores — falei
e Dante resmungou algo como “Deus me salve” e bufou.
— Fico feliz que tenha gostado — Caio respondeu, sorrindo de
forma doce.
— Caio, precisamos conversar — Dante exigiu.
— Ah, é claro. Quer tomar um café? — Caio respondeu,
parecendo voltar à realidade.
— Não. Sairemos para almoçar e então vamos bater um papo
— propôs Dante.
— Certo, combinado então.
Dante ofereceu um aceno de cabeça ao primo e venceu a
distância entre nós, deixando um beijo em minha testa como sempre
fazia e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.
Caio tentou ser o mais profissional possível durante o horário
de trabalho, mas o peguei olhando para mim diversas vezes.
Estávamos parecendo dois adolescentes que acabaram de se
descobrir.
Parecia bobeira, infantilidade, mas eu enfim estava sentindo
aquele friozinho na barriga que há muito tempo não sentia.
E eu estava gostando daquilo.
Capítulo 13

Eu sabia que não era o certo, mas a minha vontade era de


surrar Caio até que ele perdesse a consciência.
Eu estava perdido na vida, não sabia ao certo quando havia
acontecido, em que momento tudo havia mudado, se eu havia me
apaixonado por ela recentemente ou se simplesmente sempre fui,
mas ignorava o fato até perceber que realmente ela havia achado
alguém que tinha cacife para tirá-la de mim.
Meu Deus, como as coisas podem ter mudado da água para o
vinho e virado a minha vida de cabeça para baixo tão de repente?
É claro que amo a Awlly, mas sempre achei que fosse como
uma irmã. Crescemos juntos, passamos por muita coisa, mas sei lá,
ela era só a Awlly, tinha extrema importância para mim, uma das
pessoas mais importantes da minha vida, mas era somente uma
amiga, não percebi nenhum sentimento romântico em relação a ela
até... até... eu nem sabia dizer há quanto tempo.
Se apaixonar pela sua melhor amiga é uma coisa linda, pois
você já conhece todos os defeitos e qualidades dela, a chance de
durar para sempre é a maior possível, mas isso só acontece se você
for correspondido.
Até cheguei a pensar que podia fazê-la enxergar esse amor,
mas então esse cara chegou, e ainda tinha toda essa confusão de
cavaleiro e antes que eu pudesse admitir para mim mesmo que
estava apaixonado por Awlly, ela se atracou com ele e agora fica
suspirando como uma adolescente apaixonada.
Sabe o que isso significa?
Significa que eu estou fodido!
Não posso nem tentar tirar o cara do meu caminho custe o que
custar porque se fizer isso eu a magoarei e ela nunca irá me
perdoar, então além de ela sofrer por ele, nem poderei ter a sua
amizade e neste caso o melhor é guardar esse sentimento para
mim, apoiá-la e ficar ao lado dela, garantindo que ela seja feliz,
apesar de saber que Caio não é o cara para ela.
Essa merda toda começou de forma errada.
Hoje pela manhã tive a impressão de que o chão se abriria sob
meus pés e me engoliria ao ver Caio falando todas aquelas
baboseiras e Awlly se derretendo para ele.

Estávamos sentados em uma mesa em um restaurante, Caio e


eu, nenhum dos dois havia falado nada ainda e foi assim até que as
bebidas chegaram.
— Dante, desembucha logo. Sei que você não está contente.
— Se você sabe, então não deveríamos estar tendo essa
conversa — rebati.
— Eu sei, eu sei. Olha, me desculpa, tá legal?! Sei que vocês
são amigos, mas eu realmente estou interessado nela.
— Interessado, Caio? Ela não é uma garota para se estar a
fim, merece o mínimo de respeito.
— E quem disse que eu não a respeito, Dante? E se eu estiver
gostando dela, cara?
— Sério, Caio? Você? — perguntei, arqueando uma
sobrancelha para ele.
Eu conhecia meu primo. Ele era um cara legal, trabalhador,
mas não era de se amarrar. E conhecendo a Awlly como eu
conhecia, sabia que ela estava se encantando por ele e isso podia
dar muito errado.
Eu não sabia o que era pior: ela se interessar pelo Caio ou
seguir com a história de procurar o tal cavaleiro.
— Todo mundo tem o direito de ser feliz e esta pode ser a
minha chance. Nós somos família, cara, você deveria me apoiar. E
me lembro muito bem do que você disse...
— Não interessa o que eu disse antes. Ela também é minha
família.
— Então vamos fazer isso dar certo e todo mundo sai
ganhando. Já pensou que a oportunidade dela ser feliz pode ser
comigo?
Escorei o cotovelo na mesa e apertei meus olhos com força,
respirando fundo.
— Você pode, por favor, não fazer de novo o que você fez hoje
de manhã? — pedi, encarando-o com o semblante sério e ele riu.
— Ah, o lance da flor! Desculpe por isso. Eu não quis te
atravessar, mas era a oportunidade perfeita e como as nossas mães
mexem com flores, é inevitável que aprendamos algumas coisinhas
sobre isso. E a minha mãe fala demais sobre as cores e os
significados das flores, então era a oportunidade perfeita. Foi mal,
cara.
Ignorei a explicação dele e passei o meu recado.
— Caio preste bem atenção porque só vou dizer uma vez —
falei e esse assentiu. — Se você a magoar, esquecerei que temos o
mesmo sangue e te farei pagar. Ela é importante para mim e se
você quiser ficar com ela terá que tratá-la realmente como alguém
especial. Quer a sua chance de ser feliz? Então faça-a valer a pena
ou no final eu mesmo te mostrarei o quanto não valeu. Então
mereça e eu não vou interferir.
— Está certo, primo. Eu farei — Caio respondeu e me
estendeu a mão em punho para que eu tocasse, selando o nosso
acordo.

— Você só pode ter ficado maluco — Ethan disse quando lhe


falei sobre o que aconteceu.
— Por quê? É errado eu querer a felicidade da nossa amiga?
— perguntei.
— Vai entregar a sua garota de bandeja para o seu primo?
— Eu não...
— Perguntou qual sabor de calda ele gosta para que você
possa jogar no corpo dela antes de colocá-la em uma bandeja de
prata para ele? Ah, cara, ele vai adorar.
Surgiu na minha mente a cena de Awlly nua, deitada em uma
cama com lençóis de seda pretos contrastando com a sua pele
branca leitosa, sedosa e macia, os cabelos loiros perolados
espalhados em uma bagunça sexy, os olhos verdes me encarando
com desejo — ao menos como eu imaginava que fosse o seu olhar
de desejo — enquanto eu derramava calda de chocolate em seu
corpo.
Ah, porra! Eu estava fodido.
— Dante? — Ethan estalou os dedos à frente do meu rosto.
— Ah... Eu...
— Eu sei, cara, sei exatamente o que você estava pensando.
Acredite, eu também imaginei isso...
— Tá de brincadeira, Ethan? — Levantei-me, falando de forma
grosseira, puxando ele pela gola da camisa e aproximando o meu
rosto do dele.
Ethan levantou as duas mãos para o alto em sinal de rendição
e me encarou com uma expressão sarcástica por trás dos óculos de
armação grossa, então o soltei com brusquidão.
— Ficou nervosinho só porque insinuei que tive pensamentos
impróprios com ela, e esse aqui sou eu, o otário que não pega
ninguém. Já estou imaginando cada noite que você vai passar
surtando enquanto Caio estará transando louco e incansável com
ela. — Senti meu rosto queimar e meu sangue ferver na veia. —
Hum, vai dizer que você achou que eles iam ficar só nos beijinhos?
Caio não vai pensar duas vezes antes de cair na cama com ela. Não
me leve a mal, eu gosto do seu primo, ele é gente boa, mas não vai
perder de pegar pra valer uma gostosa como a Awlly.
— Isso não é da nossa conta.
— Não, não é. Na verdade, é da conta do Caio, da Awlly e da
cama deles. — Eu o encarei com fúria. — Dante, para de babaquice
e vai pegar a sua garota logo.
— Ela não é a minha garota — respondi com a voz baixa,
desejando poder dizer o contrário, mas ela realmente não era a
minha garota.
— Tem razão, desculpe — Ethan disse, parecendo resignado.
— Ela é a garota do Caio — concluiu empurrando seus óculos para
mais perto dos olhos.
Respirei fundo para não socá-lo por me provocar daquela
forma.
— Você é um merda! — falei, querendo ofendê-lo enquanto me
encaminhava para a porta de saída do seu apartamento e ele
gargalhou.
— O merda do seu melhor amigo. — Eu o ouvi dizer quando
passei pela porta, saindo para o corredor.
— Qualquer coisa assim — respondi e bati a porta, ouvindo-o
gargalhar ainda mais.
Caminhei pelo corredor, somente alguns passos até alcançar a
porta de Awlly, então bati.
Minha amiga abriu a porta e me encarou surpresa. Ela estava
com um roupão de banho, os cabelos presos em um coque
desajeitado e torto no alto da cabeça e descalça.
Inferno!
Isso sempre pareceu tão natural e agora parece tortura.
— Desde quando você bate aqui em casa? Esqueceu a sua
chave reserva? — perguntou, divertida abrindo caminho para que eu
entrasse.
— Pois é, esqueci. — Era mentira, é claro. — Será que a gente
pode conversar?
— Posso tomar um banho primeiro? É rapidinho — pediu ela.
— Awlly, me escuta — a peguei gentilmente pelos ombros,
chamando a sua atenção para que ela me encarasse. Respirei
fundo e comecei. — Você sabe que é muito especial para mim...
— Você também é para mim — ela me interrompeu e colou
seu corpo no meu em um abraço acalentador. Meu coração estava
disparado. — Você é o melhor amigo que alguém poderia ter, meu
irmão mais velho do coração.
Fechei os olhos com força ao ouvir essa última frase que
arrancou meu coração do peito e levou junto toda a coragem que eu
havia reunido para me declarar. Minutos atrás eu estava imaginando
coisas deliciosas com a minha melhor amiga e ela me amava como
irmão.
Eu não podia fazer aquilo. Se me declarasse, provavelmente a
afastaria de mim e eu não podia correr esse risco.
— Seu coração está batendo rápido — disse ela, com o ouvido
colado ao meu peito, ainda me apertando em seu abraço.
Não precisei explicar, pois o celular dela tocou.
— É o Caio — disse ela, sorrindo abertamente —, me dá
alguns minutos?
— Não, tudo bem, eu já estou indo. Peguei seu carro no
mecânico, só vim deixar a chave. Acabei me esquecendo de te
entregar quando cheguei.
— Obrigada — respondeu sorrindo —, mas você disse que
queria conversar — concluiu enquanto o celular tocava insistente,
até que a chamada caiu.
— Não era nada demais, relaxa.
— Dante, está tudo bem? — Me encarou com preocupação,
tocando o meu rosto.
Por um momento muito rápido apreciei seu toque gentil e doce,
fechando os olhos e quando os abri de novo, encarando as belas
esmeraldas que eram seus olhos, o celular voltou a tocar.
— Estou bem. Atenda, eu já estou indo embora.
Dei-lhe um beijo na testa e saí, enquanto a escutava atender o
celular com a voz melosa que me enjoou o estômago antes que eu
fechasse a porta por completo.
— Dante! — a voz de Emma soou assim que ela saiu do
elevador seguida por Bonnie e Chloe. — Você veio participar da
nossa reunião também?
— Reunião? — perguntei, confuso.
— Ao que parece a Awlly descobriu quem é o tal cavaleiro —
Bonnie disse, animada.
— É claro — respondi. — Mas não vou ficar, já estou de saída.
— Que pena! Trouxemos tacos.
— Uma pena mesmo, mas preciso ir. Aproveitem a noite,
meninas — me despedi de uma por uma com uma abraço e beijo no
rosto, chegando em Chloe por último. — E como você e o bebê
estão?
— Muito bem — respondeu a loira sorridente.
— E o pai do bebê como está?
— Engraçadinho, já disse que não vou contar quem é ou dar
qualquer pista, não por enquanto.
— Está certo, mas sabe que se precisar estou por aí, é só me
ligar.
— Eu sei — respondeu Chloe, dando mais um beijo em minha
bochecha e seguindo as amigas que fizeram a maior algazarra ao
entrar no apartamento de Awlly.
Capítulo 14

Dante veio deixar o meu carro e estava estranho, acho que ele
deve estar com algum problema e pode ser algo sério. Meu amigo
nunca teve problemas em me dizer qualquer coisa que fosse e esta
noite ele estava muito hesitante. Eu precisava conversar com ele e
saber o que estava afligindo-o.
Era muito bom poder falar com Caio pelo telefone, fiquei feliz
por ele ter me ligado, mas minha cabeça estava em Dante. Eu
estava preocupada com ele, mas não consegui nem falar muito com
Caio e nem me preocupar demais com Dante antes que minhas três
amigas invadissem meu apartamento.
— Quero o nome agora! — Emma disse animada, colocando a
bolsa no sofá.
Levantei minha mão para ela, pedindo um segundo enquanto
encerrava a ligação com Caio.
— As meninas chegaram aqui, preciso desligar — falei ao
celular.
“É claro, até amanhã então” — disse Caio do outro lado da
linha.
— Até, boa noite!
“Boa noite, gata” — respondeu ele, desligando por fim.
— Minha nossa, você estava falando com ele? Olha o sorriso
bobo na cara dela — Chloe disse e as meninas riram.
— Conta tudo, agora — ordenou Emma.
Bonnie e Chloe se sentaram no tapete enquanto eu pegava um
refrigerante na geladeira e copos no armário, Emma colocava
deliciosos e aromáticos tacos mexicanos em uma travessa.
Seguimos de volta para a sala e nos sentamos no tapete também,
colocando tudo sobre a mesinha de centro.
— É o Caio — falei de uma vez e as meninas me encararam
confusas.
— O que tem o Caio? — Chloe perguntou,
— Ele está na porta? — Emma fez a pergunta olhando para
trás, na direção da porta.
— Não. Caio é o cavaleiro beijoqueiro misterioso — falei.
Emma parou com um taco a caminho da boca, Chloe passou a
língua pelos lábios e mantinha um sorriso safado nos lábios
enquanto Bonnie se engasgava com a comida. Eu a acudi, batendo
em suas costas e lhe entregando um copo de refrigerante para
ajudar a comida descer de forma mais fácil.
— Como assim é o Caio? — Bonnie perguntou, limpando a
boca com um guardanapo de papel. — Achei que ele tivesse
chegado depois da festa.
— Pois é, mas ontem, depois que vocês foram embora da
casa dele, a senhora Lazzaris chegou lá e entregou que ele havia
ido à festa e saído às pressas para ir ao encontro da mãe e que ele
estava fantasiado de cavaleiro — expliquei.
— Mas o Caio não tem barba e me lembro muito bem de você
especificar que o cavaleiro misterioso tinha barba — Emma
contestou.
— Ele tirou a barba quando voltou para sua cidade natal —
esclareci sorrindo.
— Dá para vocês ficarem felizes pela nossa amiga? — Chloe
interveio. — Caio é um tesão e está mais do que a fim dela, isso
todo mundo já notou, então não vejo problema nenhum.
— É claro que não tem problema nenhum, só ficamos
surpresas por ele não ter contado nada — justificou Emma.
— Ele disse que tinha medo por eu ser a melhor amiga do
Dante e eles são família, não queria nenhum tipo de confusão,
vocês sabem.
— Dante é super protetor com você, mas não acho que
empataria um relacionamento entre você e Caio. — Chloe disse.
— Não, ele não faria isso — falei pensando em meu amigo, ele
sempre queria o melhor para mim e agora estava com algum
problema.
Meu coração se apertou por ele, imaginando o que de tão
grave poderia haver para ele hesitar em contar para mim.
— Mas e aí, como estão as coisas com o Caio? — Emma quis
saber.
— Combinamos de deixar as coisas rolarem, sem pressão. Ele
é um amor! Hoje pela manhã ele deixou uma hortênsia alaranjada
em minha mesa.
— Aunnt! E como ele sabia que hortênsias eram as suas
preferidas? — Chloe perguntou.
— Bom, ao que parece Dante falou bastante de mim para ele,
vocês sabem, por sermos tão amigos — expliquei e minhas amigas
ficaram estranhas, cada uma olhando para um lado diferente, em
uma tentativa frustrada de disfarçar algo. — O que foi?
Elas não responderam, Bonnie voltou a comer, Emma bebia
seu refrigerante e Chloe tirava um grão de poeira invisível da manga
de sua blusa.
— Hey, podem parar agora. Me digam o que está acontecendo
— exigi.
— Você nunca pensou que talvez... o Dante... — Bonnie
começou, mas não concluiu, parecia incerta do que dizer.
— O Dante o quê? — insisti, confusa.
— Talvez ele possa... hummm...
— Gostar de você mais do que como amiga? — Chloe
concluiu e eu ri.
— É claro que não! Isso é um absurdo! Dante e eu não temos
segredos e se ele sentisse algo, me diria — respondi.
— E você nunca sentiu nada por ele? Nunca rolou nenhum
clima entre vocês? — Bonnie quis saber e eu encarei minhas
amigas.
— Não... Quer dizer, teve um dia na boate... sábado...
— Sábado? — Chloe perguntou, impaciente com a minha
enrolação para responder.
— É, mas não foi nada demais...
— O que rolou? — Bonnie perguntou.
— Olha, não foi nada. Esqueçam isso — falei.
— Awlly? — Emma contestou.
— Dante e eu somos amigos, como irmãos e as coisas entre
nós nunca passarão disso. Esqueçam essa história — acabei com o
assunto e elas concordaram, ocupando suas bocas com comida.
Comemos conversando sobre Caio, então fui para o banheiro
tomar um banho, ainda estava de roupão, não tinha tido tempo de
tomar banho, primeiro Dante chegou e logo em seguida elas
invadiram o meu apartamento.
Quando voltei para a sala elas falavam sobre a recém-
descoberta gestação de Chloe, ela continuava negando-se a revelar
a identidade do pai da criança.
— Olha, eu estava caindo de bêbada, se estivesse sã jamais
teria me envolvido com aquele idiota — revelou Chloe.
— Tem certeza de que não está usando o álcool para camuflar
o seu erro, Chloe? — Bonnie alfinetou.
— Não estou negando o meu erro, Bonnie, estou assumindo-o.
O cara é um Zé-Ninguém, mas o bebê não tem culpa. Se querem
saber o meu nível de álcool no sangue naquela noite foi o seguinte:
acordei na cama do babaca, completamente desorientada. Não
sabia onde estava, não me lembrava de como tinhasido a noite em
si, mas havia flashes das sensações que senti durante o sexo,
aparentemente foi até legalzinho, mas quando me deparei com o
idiota entrando no quarto com uma bandeja de café da manhã
quase vomitei.
— É tão ruim assim? — perguntei, voltando a me sentar onde
estava antes de ir para o banho.
— Acredite, vocês teriam a mesma reação que eu se
conhecesse o ser-humaninho — disse, fazendo careta e nós rimos.
— Só você mesmo, Chloe — disse Emma.
— Você sabe que precisa contar ao pai, não é? É direito dele
saber.
— Vou contar, mas só quando for necessário e rezo para que
ele não queira se envolver, que seja o babaca de sempre e diga “ah,
foi mal, isso aí não é meu não, se vira”. Nunca pensei que diria isso,
mas ficarei extremamente feliz em ser rejeitada — Chloe disse
engrossando a voz ao pronunciar a frase como se fosse o pai do
bebê.
— Meu Deus, tenho a impressão de que não quero conhecer
esse cara — falei.
— Você ficaria chocada.
Arrumamos a pequena bagunça que fizemos e as garotas
foram embora, me deixando sozinha.
Capítulo 15

Meu primeiro pensamento foi Dante, por um instante minha


mente viajou pelo momento que tivemos na boate no sábado à
noite, pela brincadeira que ele fez comigo.
Aquela sensação de borboletas batendo no meu estômago me
atingiu.
Rápido demais tratei de afastar esses pensamentos e me
concentrei no possível problema que ele tinha. Olhei no relógio, não
era tarde, então resolvi mandar uma mensagem.
Awlly: Oi.
Tá aí?
As mensagens nem chegaram no celular dele, devia estar com
o aparelho desligado, provavelmente descarregado.
Procurei um filme na televisão, encontrei uma comédia
romântica que eu já tinha assistido umas dez vezes e deixei naquele
canal mesmo. Logo meu celular apitou, sinalizando uma nova
mensagem. Eu o desbloqueei na esperança de que fosse uma
resposta de Dante, mas não era, embora também não fosse nada
decepcionante a mensagem recebida.

Caio: Boa noite, princesa!

Awlly: Boa noite, Cavaleiro beijoqueiro!

Caio: Cavaleiro beijoqueiro, é? Me deu um apelido?

Sorri com a pergunta, o apelido tinha surgido na noite em que


contei às garotas sobre o beijo roubado no corredor escuro pelo
desconhecido fantasiado.

Awlly: Pode me julgar? rsrs

Caio: De forma alguma! Posso confessar uma coisa?

Awlly: É um segredo cabeludo?

Caio: Mais ou menos.

Awlly: É sobre mim?


Caio: Todos os meus pensamentos nos últimos dias são sobre
você.

Meu coração bateu rápido com a resposta dele e eu não


conseguia tirar aquele sorriso idiota do meu rosto.

Awlly: Não sei se mereço tanto.

Caio: Você merece o mundo, Awlly!


O que tenho para confessar é que desde que te
beijei, você ocupa os meus pensamentos, mas desde que te vi
realmente, desde que soube que era você... Bem, então você
passou a ocupar também os meus sonhos.
Não quero te assustar, só precisava te contar.

Awlly: Não assustou.

Caio: Que bom! Agora me conte algo sobre você.

Conversamos por mensagens durante mais um tempo, o papo


com ele fluía, não era como com os outros caras, e os galanteios
que ele me oferecia não me deixavam constrangida, nem eram
vulgares me deixando irritada.
Eu gostava dele. De conversar com ele.
Acabei adormecendo no sofá mesmo depois que encerrei a
conversa com Caio.
Despertei com um grito estridente de uma moça que era
perseguida por um lobisomem em um filme na televisão que ainda
estava ligada.
Meu estômago roncou, havia comido somente um taco e já era
cerca de 1h da manhã. Segui até a cozinha procurando algo para
comer, não havia nada pronto, somente bobagens, então optei por
sorvete mesmo, não era o melhor, mas serviria.
Sentei-me na ilha da cozinha, me servi de três bolas de
sorvete de uva ao leite e coloquei um monte de chantilly por cima.
É, a minha TPM deve estar se aproximando! — pensei rindo.
Peguei uma colher e comecei a tomar o sorvete. Desbloqueei
o celular e vi que as minhas mensagens haviam chegado no celular
de Dante, mas ele não as tinha visualizado. Ele estava online, então
o chamei novamente.

Awlly: Dante fala comigo. Tá sem sono?

Comecei a achar que Dante não queria falar comigo. Ele


nunca deixou de me responder, não importava a hora, e tive medo
de que o problema dele fosse comigo. Fiquei mais ansiosa.
Precisava de mais doce.
Lembrei-me da calda de chocolate que tinha no armário e a
peguei, despejei uma boa quantidade em cima do chantilly no
sorvete, fazendo uma grande meleca em meus dedos.
Então, meu celular sinalizou uma nova mensagem do meu
amigo.
Dante: O que faz acordada uma hora dessas?

Awlly: Acordei assustada com um filme. Agora estou na


cozinha lambendo os dedos sujos de calda.

Dante: O quê?

Awlly: Calda de chocolate, você me conhece, fiz a maior

lambança, agora estou lambendo os dedos.


Capítulo 16

Saí do prédio da Awlly com uma mistura de ciúmes doentio


dela com Caio e um tesão absurdo por conta do lance da calda. Eu
não conseguia controlar meu cérebro que a todo instante divagava
por imagens da minha melhor amiga nua em minha cama, comigo
derramando calda nela e fazendo inúmeras coisas obscenas a
seguir.
Aquilo era ridículo e precisava parar. Eu também precisaria
socar Ethan por enfiar essa imagem em minha mente. Por culpa
dele eu estava excitado, duro feito uma barra de ferro e era por ela.
Quando eu destrancava a porta do meu apartamento, Lisa,
minha vizinha, abriu a sua porta.
— Dante, até que enfim você chegou.
— Oi Lisa.
— Estou com um probleminha no meu ar-condicionado, será
que você pode me ajudar? — pediu ela.
— É claro — respondi e segui para a sua porta. — O que
houve?
— Ele está quente demais e está travado. Estou assando aqui
dentro — respondeu ela e quando entrei em seu apartamento senti
a alta temperatura ali.
— Está bem, vamos dar uma olhada.
Peguei o controle do ar, mexi em tudo e nada aconteceu, o
problema não era nas pilhas também.
— Eu já sei o que pode ser, vai ser rápido para consertar, mas
vou precisar abrir seu aparelho, tudo bem?
— Faça o que for necessário. Não vou conseguir dormir nesse
calor terrível — Lisa disse se abanando e passeando sua mão pelo
pescoço, descendo-a por seu colo.
Meus olhos, por instinto, acompanhavam seus movimentos
lentos, parando em seus belos e redondos seios levemente
expostos pela blusa decotada. Engoli em seco e puxei uma cadeira
que tinha ali.
— Eu vou subir.
Abri a gaveta que continha algumas ferramentas e peguei uma
chave. Eu já conhecia onde essas coisas ficavam por ali, era eu
quem sempre ajudava Lisa nesse tipo de situação e ela me pagava
de uma forma muito gratificante. Nunca cobrei, é claro, ela é quem
fazia questão de pagar.
O conserto foi rápido como pensei e em poucos minutos o ar-
condicionado estava gelando o ambiente outra vez. Desci da
cadeira e Lisa me aguardava com um copo na mão.
— Trouxe uma limonada geladinha para você — disse ela, me
oferecendo o copo.
— Obrigado — agradeci, aceitando o copo e bebendo o líquido
de uma só vez.
— Aqui estava realmente muito quente, olha como você ficou
suado — Lisa disse, tocando meu pescoço, arrastando o toque até a
gola da minha camiseta, passeando pelo tecido até chegar à barra
da peça de roupa. — Acho bom você tirar essa camiseta molhada,
não queremos que você pegue um resfriado, né?!
Eu a encarei, ela mordeu o lábio inferior e sorriu de forma
sensual.
— Lisa, eu...
Ela se aproximou e mordeu meu lábio, usando a mão que não
segurava a barra da minha camiseta para acariciar minha ereção
que já estava ali desde antes de eu entrar em seu apartamento.
— Já está pronto, Dante. Não me negue, deixe eu pagar pelo
serviço que me prestou.
— Já cansei de te falar que não precisa me pagar por isso —
falei quando ela prendeu meu lábio inferior em meio aos seus
dentes novamente.
— Então deixa eu fazer por diversão.
Lisa arrancou a minha camiseta e me empurrou para a sua
cama até que eu batesse as costas dos joelhos na madeira do
móvel e caísse sentado no colchão macio. Ela se ajoelhou abrindo
minhas calças, arrancando-as e em seguida fez a mágica que
costumava fazer com maestria usando a boca.
Logo ela subiu na cama, me puxando até a cabeceira, pegou
uma camisinha que eu não prestei atenção de onde ela havia tirado
e me montou. Beijei seu pescoço, tentando me controlar, não queria
descontar nela a frustração que eu estava sentindo com a Awlly,
mas Lisa de repente me esbofeteou na cara e pediu:
— Eu não quero delicadeza, Dante, quero que me foda com
muita força.
Então eu fiz o que ela me pediu na esperança de saciar a nós
dois em um sexo selvagem. Depois de satisfazê-la de novo, de novo
e de novo, e me frustrar ainda mais por não conseguir tirar Awlly da
minha mente em momento nenhum daquela transa, decidi ir para
casa.
Tomei um banho, comi algo e então me lembrei de que meu
celular estava sem bateria. Peguei o carregador e o conectei na
tomada e no aparelho celular, ligando-o logo em seguida.
Diversas mensagens de WhatsApp apitaram, enquanto eu me
deitava em minha cama, entre elas, duas da Awlly. Não as abri.
Respondi Ethan, xingando-o, ele provavelmente já estava
dormindo, mas o efeito das palavras seria o mesmo amanhã pela
manhã. Então mais três mensagens da minha amiga chegaram.
Olhei as horas. Era tarde, já passava da 1h da manhã, o que
ela fazia acordada? E quando perguntei isso a ela, quase me
enfartei com a resposta.
Inferno! Era exatamente para lá que eu iria se morresse agora.
Tentei ignorar a mensagem da calda.

Dante: O que você quer?

Awlly: Quero saber o que está acontecendo.

Dante: Como assim?

Awlly: Você está todo estranho, Dante. Eu sei que tem algo
errado. Quero que converse comigo, estou preocupada.
Conversar com ela? Tá legal, e o que eu ia dizer? “Olha, sei
que você está cada vez mais apaixonada pelo meu primo e também
só me vê como a porra do seu irmão mais velho, mas meu coração
não quer saber disso, agora ele decidiu que está apaixonado por
você. É isso. Ah... quase me esqueci, estou tendo os pensamentos
mais promíscuos possíveis com você e também acabei de transar
com a minha vizinha e o tempo todo fiquei imaginando que ela era
você.”
É, acho que essa não é uma boa resposta.

Dante: Relaxa, meu anjo. Não tem nada errado. É só


impressão sua.

Awlly: Vai mentir pra mim agora, Dante?

Não é o que eu quero, mas como posso te dizer a verdade? —


foi o que pensei.

Dante: Não estou mentindo. Só fiquei um pouco grilado com o


lance do Caio, você sabe.
Só quero te proteger, mas relaxa, eu vou superar.

Awlly: Ohh, meu cavaleiro protetor, não precisa se preocupar.

Dante: Cavaleiro protetor?

Awlly: Não sou uma garota de sorte? Tenho um cavaleiro


protetor e um cavaleiro beijoqueiro.
Dante: Boa noite, garota de sorte! Para de se entupir de açúcar
e vai dormir.

Antes que ela visualizasse a mensagem, eu saí do aplicativo


de mensagens e joguei o celular, ainda conectado no carregador,
sobre mesinha de cabeceira e fui tentar dormir.
Aquela conversa era demais para mim.
Capítulo 17

No outro dia, perto do horário de almoço, segui até a sala de


Awlly para almoçarmos juntos como sempre fazíamos. Ao me
aproximar vi sua porta aberta e a visualizei em pé, atrás de sua
mesa com o telefone no ouvido.
Seus óculos de leitura estavam em seu rosto e ela tentava ver
algo no computador enquanto conversava com a pessoa no
telefone. Ela gesticulava positivamente e sorria. Parei a alguns
metros, observando-a.
Linda!
Me perguntei quando foi que ela deixou de ser a minha amiga
Awlly para ser A AWLLY.
Minha amiga finalmente me notou e sorriu para mim de forma
doce como sempre fazia, seus olhos expressivos estavam nos meus
e meu coração falhou uma batida. Ela encerrou a ligação e eu dei
um passo em sua direção, faltavam poucos metros para alcançar a
entrada da sua sala.
Então uma grande mão enlaçou a sua cintura, virando-a na
direção de Caio, como ficara de perfil ainda consegui ver o sorriso
dela aumentar ao se olharem. Ele se abaixou até ela e a beijou.
Minhas pernas travaram na hora.
Inferno!
Tive que ficar ali olhando para aquela cena, pois minhas
pernas não me obedeciam. Sai do meu torpor ao ouvir a voz
estridente de Chloe e a contida de Ethan repreendendo-a.
— O que está acontecendo aqui? — a voz da Awlly soou logo
em seguida. Ela e Caio vinham em nossa direção.
— Viemos chamá-los para comemorar o novo emprego da
Chloe — Bonnie disse e só então percebi a presença dela ali
também.
— Eu disse que uma mensagem de texto seria suficiente —
Ethan intercedeu.
— Parabéns, Chloe. — Eu a abracei e beijei a sua bochecha.
Awlly e Caio fizeram o mesmo.
— Mas onde é esse emprego tão maravilhoso que merece até
uma comemoração. Não me diga que conseguiu uma vaga de Chef
Patisserie.
— Sobre isso precisamos ter uma conversa séria — Chloe
disse séria. — Por que ninguém nunca me disse que o nerd aqui era
um renomado chef? — perguntou indignada, apontando para o
Ethan. — Pensei que ele trabalhava em uma empresa de
computadores.
— Eu trabalho — Ethan respondeu.
— Tem dois empregos? É por isso que não pega mulher
nenhuma, não tem tempo.
— Chloe? — Bonnie a chamou em tom de repreensão.
— O quê? É verdade.
— Até onde sei você deveria estar me agradecendo por eu te
dar o emprego — Ethan disse, irritado.
Chloe o estava tirando do sério e isso era raro de se ver.
— Chloe? — Awlly chamou sua atenção.
— Está certo, me desculpe, Ethan. E obrigada pelo emprego.
Ethan somente assentiu e saiu andando. Bonnie o alcançou e
nós seguimos logo atrás.
— Onde Patrick e Emma estão? — perguntei para Chloe.
— Patrick foi pegar uma mesa no restaurante aqui da frente e
Emma não poderá vir, o turno dela termina às 19h.
— Certo.
— Me diz uma coisa, por que nunca me disseram que ele
também era chef de cozinha?
— Chloe, Ethan não fala muito sobre isso, embora tenha
certeza de que todo mundo saiba que ele é chef e que tenhamos
comentado sobre isso inúmeras vezes, mas ao que parece, você
sempre bloqueia qualquer informação sobre ele — falei e ela fez
uma careta. — Pega leve com ele, Chloe.
— Mas ele é esquisito, Dante.
— Ele é nosso amigo, Chloe. É uma boa pessoa e merece o
seu respeito.
— Tudo bem, vou tentar.
— Vai conseguir.
— Me diz outra coisa, que tipo de chef ele é se está no rolê
com a gente quase sempre?
— Ele é o do tipo dono — respondi.
— O quê? — ela perguntou, incrédula.
— Ethan é dono do próprio restaurante, ele comanda muito
bem a própria equipe, não precisa estar lá o tempo todo.
Chloe não falou mais nada depois do que eu disse.
Nós atravessamos a rua, entramos no restaurante e
almoçamos todos juntos.

Embora Awlly parecesse a mesma, eu tinha a impressão de


que a estava perdendo.
Naquela noite eu estava em casa trocando mensagens com
ela quando Caio chegou em meu apartamento.
— E aí cara? — me cumprimentou quando abri a porta.
— E aí? Entra — convidei após um abraço rápido.
Caio parecia desconcertado.
— Dante... É... — Ele fez uma pausa e riu. — Eu tô muito
ferrado e... E preciso da sua ajuda.
— Algum problema com a sua mãe? — perguntei, preocupado
com minha tia.
— Não, não, graças a Deus ela está muito bem e estou quase
conseguindo convencê-la a vir para cá.
— Fico feliz por isso — falei enquanto servia duas doses de
uísque para nós. — Então o que posso fazer por você?
Entreguei um copo para Caio e sentei-me na poltrona à sua
frente.
— Parece meio ridículo, mas estou desesperado. Que estou
louco pela Awlly você já sabe e não precisamos entrar em detalhes,
acho que esclarecemos tudo naquele almoço — disse ele e eu
assenti mesmo a contra gosto. — A verdade é que estou cada vez
mais desesperado, pareço um adolescente perto dela. Nunca tive
problemas com mulheres, e você sabe disso, mas com ela é
diferente, simplesmente não consigo raciocinar.
— Está me pedindo ajuda com ela?
"Você quer morrer?” — esta era a pergunta que eu queria fazer
a ele.
— Sim, bem, ela é a sua melhor amiga, não é? Você a
conhece melhor do que ninguém. Ainda preciso conhecê-la melhor e
quero muito fazer isso, acredite, porém preciso de um plano de ação
rápido até que meu cérebro volte a funcionar direito perto dela.
— Um plano de ação?
— Só me diga algo que ela goste de fazer e eu faço o resto. É
só uma dica para que eu tenha um ponto de partida. Quero poder
fazer algo legal por ela.
Minha vontade era tirá-lo do meu apartamento a ponta pés,
mas lembrei-me que eu mesmo havia procurado aquela situação e
Caio era da minha família, sempre nos demos muito bem, não era
justo sair no soco com ele. Além de que a Awlly não ficaria nada
feliz com aquilo.
Suspirei, soltando o ar com força e apertando meus olhos.
— Não me sinto confortável com isso — falei.
— Eu sei, eu sei. E peço desculpas por te fazer passar por
isso, mas não posso perdê-la, Dante. Você disse que queria que ela
fosse feliz e eu realmente estou gostando dela, estou disposto a
qualquer coisa por ela.
“Eu também” foi o que tive vontade de responder. Me chutei
internamente pelo que eu disse a seguir.
— Está bem, fanfarrão. Mas estou fazendo por ela.
Caio me ofereceu um sorriso genuíno e me chutei
internamente outra vez.
— Você não vai se arrepender.
— Assim eu espero — falei e virei meu copo. — Mas antes
preciso de outra dose.
— Eu também quero.

Quando Caio saiu do meu apartamento, eu não podia acreditar


naquela porra. Eu tinha planejado com ele toda a merda de um
encontro nos mínimos detalhes e já podia ouvir a voz da Awlly me
contando tudo o que aconteceu em cada segundo de cada hora em
detalhes minimalistas, como se fosse tudo ideia dele, quando
estivéssemos a sós.
Seria cômico se não fosse trágico.
Capítulo 18

Era sexta-feira à noite e Caio havia me convidado para um


encontro, segundo ele, precisávamos de um encontro de verdade já
que começamos a nos relacionar de uma forma nada tradicional.
O porteiro interfonou anunciando a chegada de Caio. Retoquei
o batom e desci para encontrá-lo.
Quando abri minha porta, encontrei Ethan, Patrick e Dante no
corredor.
— Oi gente! — cumprimentei.
— Oi — responderam em uníssono. Dante se aproximou
rapidamente e me abraçou.
— Está bonita — elogiou.
Patrick e Ethan resmungaram algo em concordância.
— Obrigada.
— As meninas devem chegar logo. Toda essa produção é só
para o nosso jantar de sexta à noite? — Dante quis saber.
— Não. Na verdade eu vou sair com o Caio — respondi.
— Ah, é claro. Bom encontro então.
— Obrigada — agradeci sorrindo pela enfim aceitação do meu
melhor amigo ao meu relacionamento com seu primo. — Estou
orgulhosa de você — conclui, abraçando-o novamente.
— Tenha uma boa noite — disse ele. — Aproveite bastante.
— Você também. Boa noite, meninos!
— Boa noite — responderam Patrick e Ethan.
Caminhei feliz da vida para o elevador. A noite não poderia
ficar mais perfeita depois da aceitação de Dante e quando apertei o
botão, chamando o elevador enquanto os garotos entravam no
apartamento de Ethan os ouvi conversar.
— Nunca te vi tão feliz porque a Awlly teria um encontro —
Patrick disse.
— Desta vez estou muito satisfeito — Dante respondeu.
— Você entendeu que o encontro dela é com o Caio, não é? —
Ethan perguntou e Dante riu.
Não consegui ouvir a resposta dele porque a porta foi fechada,
mas nem precisava. Dante havia entendido de vez que ninguém
conseguiria se colocar entre nós e que o lugar dele como o meu
melhor amigo estava assegurado para o resto de nossas vidas.
Quando cheguei à recepção do prédio fiquei deslumbrada com
a visão de Caio, escorado em uma das paredes, uma das mãos
estava no bolso da calça jeans de lavagem clara que contrastava
com a camisa de botão preta que tinha os dois primeiros botões
abertos e as mangas dobradas até os cotovelos e com a outra mãos
ele segurava um buquê de flores.
Um buquê de... Crisântemos?
Sim, crisântemos... Brancos...
— Oi — Caio me cumprimentou e antes que eu respondesse,
ele beijou de forma gentil os meus lábios e eu senti o cheiro
almiscarado do seu perfume delicioso.
— Oi — respondi.
— Você está linda! Nem acredito que consegui sair com uma
gata como você — Caio disse a última parte em tom de brincadeira
e eu ri. Ele obviamente não tinha problemas para sair com qualquer
mulher que fosse.
Caio era do mesmo tipo de Dante, bastava qualquer garota
olhar em sua direção e ele sorrir que ela já ficava com a calcinha
molhada, devia ser a genética. Ri ainda mais com esse pensamento
e Caio me encarou surpreso.
— Desculpe, é só que pensei que você não deve ter
problemas para sair com as mulheres.
— Ah... — Ele pareceu constrangido, mas sorriu de lado. —
Nenhuma outra importa, a verdade é que eu fico muito nervoso
quando estou perto de você.
Olhei surpresa para ele.
— Perto de mim?
— Sim, correndo um risco enorme de te fazer correr de mim,
tenho que dizer que eu gosto de você de verdade.
Meu coração acelerou com a declaração.
— Eu também gosto de você — admiti.
— Isso... isso é bom, muito bom — disse ele sorrindo,
mordendo o lábio e balançando a cabeça positivamente. — Ah, elas
são para você.
Caio me entregou o buquê de crisântemos brancos.
— Obrigada, é muita gentileza da sua parte. Elas são lindas.
“Pena que são flores fúnebres” — tive vontade de acrescentar,
mas minha educação não permitia.
— Não mais do que você.
— Graças a Deus! — Este foi o meu pensamento, mas quando
percebi já o havia verbalizado de forma alta e clara.
— O quê? — perguntou Caio, confuso.
— O quê?
— Você não gostou das flores? Eu achei...
— Caio, eu amei as flores — falei tocando o seu rosto,
tentando consertar a burrada que tinha acabado de cometer. — As
flores são incríveis, a verdade é que pensei que graças a Deus que
sou mais bonita do que elas, pois, caso contrário, não teria chance
de sair com você — inventei a desculpa e engoli em seco, rezando
para que ele comprasse a mentira esfarrapada.
— Awlly, que você é incrivelmente linda é indiscutível, mas não
se esqueça de como isso começou. Eu te beijei no escuro, não vi o
seu rosto, só tive aquele sentimento, aquela atração como se fosse
um imã me puxando para você. Então mesmo que você não fosse
bonita ainda estaríamos aqui, e acredite você é linda.
Quase me derreti ali mesmo em seus pés.
Caio era realmente muito bom com as palavras, eu precisava
tomar cuidado ou logo estaria morrendo de amor por ele, embora
isso não fosse de todo ruim.
O loiro selou mais uma vez nossos lábios e, guiando-me com a
mão na base da minha coluna, seguimos até o seu carro.
Ele havia planejado todo um encontro romântico no parque de
diversões. Passeamos de mãos dadas, comemos maçã do amor,
brincamos no tiro ao alvo e fomos em várias outras atrações do
parque, deixando uma volta na roda gigante por último, e nos
beijamos lá em cima, tendo a visão das luzes de toda a cidade aos
nossos pés.
No final da noite, eu quase não sentia as minhas pernas e Caio
me levou para casa.
— Espero que tenha gostado do nosso primeiro encontro
oficial — disse ele, sorrindo abertamente.
— Eu adorei, foi tudo perfeito — respondi, sorrindo também.
Caio me beijou demoradamente antes que saíssemos do
carro. Então descemos do veículo e ele me levou até a portaria do
prédio.
— Bem, eu vou deixar você subir agora ou não vou conseguir
parar nunca mais de te beijar — disse ele, me dando outro beijo. —
Boa noite, Awlly.
— Boa noite, Caio! — respondi e entrei.
Pela grande porta de vidro do hall de entrada do prédio vi que
Caio permaneceu parado no mesmo lugar, esperando que eu
entrasse no elevador e por fim acenou pouco antes das portas se
fecharem, selando-me ali dentro. Longe do olhar dele.
Encostei-me na parede fria da caixa metálica enquanto ele
subia os poucos andares até o meu apartamento e soltei o ar com
força. Meus pés estavam me matando.
Tomei um banho quente para tirar a poeira do parque e me
joguei no sofá. Ouvi a risada estridente de Chloe no corredor, eles
deviam estar saindo da casa de Ethan. Fui até a minha porta.
— Oi — falei.
— Hey, você já chegou? — Bonnie disse.
— Sim — respondi.
— E como foi? — Emma quis saber.
— Não faz suspense, Awlly, conta logo — Chloe exigiu e todos
os olhares se voltaram para mim.
— Foi tudo ótimo! — respondi sorrindo.
— Eu sabia — Emma disse. — Amanhã quero saber de tudo,
agora vou levar a gravidinha para a casa dela, porque ela não está
muito bem.
— Eu a levo, pode ficar — Patrick, irmão de Chloe, se
ofereceu.
— Não, se a Awlly contar algo para nós e não contar para a
Chloe, ela vai surtar — Bonnie disse.
— Vou mesmo — Chloe acrescentou.
— E essa gravidinha não está nada bem — Emma disse. —
Vou levá-la e ficar com ela, não se preocupe.
— Tem certeza de que não quer ir para um hospital, Chloe? —
Ethan perguntou, preocupado.
— Tenho, nerd cozinheiro.
— Chloe para de ser grossa — Patrick ralhou com ela.
— Desculpe, Etan. Eu quis dizer que não há necessidade, só
preciso descansar. O médico disse que isso é absolutamente normal
no início da gestação — Chloe se desculpou e Ethan assentiu.
Eu não conseguia entender aquela implicância entre eles.
Percebi que Dante me analisava e o encarei de volta. Ele se
aproximou mais, parando bem ao meu lado.
— O Caio está aí? — perguntou apontando com o queixo para
a porta do meu apartamento.
— Não.
— Certo, podemos esticar a noite com um filme? — propôs.
— Só se abrirmos um vinho — contrapropus.
— Com toda certeza — respondeu sorrindo. — Mas tem
certeza de que já não bebeu demais no seu encontro? — perguntou
ao meu ouvido.
— Você nem imagina — falei revirando os olhos e vi as
sobrancelhas dele se juntarem.
— Acho que vamos precisar de duas garrafas, então — disse
ele ao meu ouvido.
Sorri por aquela normalidade entre nós.
A galera se despediu e Dante avisou que ficaria, assim
entramos no meu apartamento. Havia um peso naquele ambiente,
era como se nossos sentimentos estivessem palpáveis.
Capítulo 19

Dante era de casa, foi até a geladeira e pegou uma garrafa de


vinho, as taças e voltou para a sala, onde eu estava jogada no sofá.
Nos serviu de vinho, me entregou uma taça e bebeu da sua,
depositando-a em seguida na mesinha de centro da sala e pegando
meus pés, começando a massageá-los.
Não consegui conter um gemido de satisfação ao sentir a
pressão perfeita que suas mãos aplicavam nos pontos certos dos
meus pés.
— Caio vai ficar de quatro por você quando te ouvir gemer
assim — brincou ele e eu belisquei sua barriga usando os dedos
dos pés. — Ai!
— Não sei se chegaremos a tanto — admiti e voltei a beber do
vinho que descia fresco pela minha garganta.
— Como assim? — Dante me encarou com uma expressão
confusa. — Achei que o seu encontro tivesse sido bom.
— Foi um fiasco — falei.
— Não pode ter sido tão ruim assim — Dante disse e eu
estiquei minha mão alcançando o buquê de crisântemos brancos
que estava no aparador atrás do sofá e joguei sobre meus pés em
seu colo.
Ele fez uma careta de desgosto.
— Pois é.
— Ah, dá um desconto para o cara, não pode dispensá-lo só
porque ele te deu flores ruins.
— Não foi só isso, o encontro todo foi muito ruim. Ele me levou
ao parque de diversões...
— Ah, qual é, Awlly? Você ama aquele lugar, é o ambiente
perfeito para um encontro descontraído. Nessa ele acertou em
cheio, o cara é esperto. — Dante soltou meus pés por um momento,
colocando o buquê na mesa de centro e pegando a sua taça para
um longo gole, voltando a massagear meus pés logo em seguida.
— Sim, tinha tudo para ser um encontro perfeito, mas depois
dos crisântemos veio a maçã do amor.
— Huuuuu... que azar o dele, péssima escolha.
— Pois é.
— Vou dar um toque nele de que você detesta maçãs, fique
tranquila.
— Não, eu não quero que você diga nada, Dante.
— Está bem, está bem. Mas continue, tem que haver algo de
bom.
— Ah sim, teve a brincadeira do tiro ao alvo — falei e Dante
riu. — Você sabe o quanto odeio armas mesmo que sejam de
brinquedo, Dante?
— Eu sei, eu sei — respondeu, rindo.
— Não tem graça e sabe o que ele escolheu como prêmio
quando acertou todos os tiros?
— Pelo seu tom de voz, eu não tenho certeza se quero saber
— respondeu ele e eu apontei com o dedo para o outro sofá, onde
havia deixado o prêmio coberto por uma manta.
Dante franziu o cenho.
— O que é?
— Vai lá ver! — respondi.
Meu amigo se levantou, confuso, e seguiu até o outro sofá
descobrindo a pelúcia que estava ali. Dessa vez ele gargalhou de
verdade. Eu me mantive séria.
— É sério isso? — perguntou, pegando o Gremlin de pelúcia
na mão.
— Dante, você precisa levar isso com você. Não vou conseguir
dormir com esse monstro aqui.
Sim, eu já era adulta, mas morria de medo daqueles bichinhos,
assisti o filme quando era criança e tive pesadelos por semanas.
Gremlins eram o inferno na terra e eu não conseguia nem olhar para
eles, por isso havia deixado a pelúcia coberta por uma manta.
— Ah, Awlly, ele é tão fofo — provocou Dante.
— Vá a merda, Dante e leve este monstro com você — falei e
ele riu de novo.
— Vou levar, fique tranquila — disse ele, voltando para onde
estava sentado perto de mim.
— Hã hã, cubra esse bicho feio de novo. Agora, Dante — exigi
e assim ele o fez.
— Relaxa, princesa — pediu meu amigo assim que se sentou
ao meu lado.
Ele pegou o controle remoto do aparelho de som e ligou na
música Stitches do Shawn Mendes que sabia que eu adorava,
encheu a minha taça e voltou a massagear meus pés.
— E depois, o que rolou? — perguntou.
— Bem, só andamos pelo parque de mãos dadas e
conversamos, o que foi bem divertido. Ah, mas o ponto alto foi o
final, um beijo daqueles de cinema, juro que pensei que meu
coração sairia pela boca, chegou a me faltar o ar e quase entrei em
pânico com aquela sensação.
— Viu só, não foi tão ruim, o final compensou todo o resto —
disse ele mais sério e puxou o ar com força enquanto eu o encarava
com sarcasmo. — Esse beijo foi assim mesmo tão bom?
— Teria sido se não estivéssemos no alto da roda gigante —
falei e Dante se engasgou com seu vinho em uma mistura de tosse
e riso. — O beijo não era ruim, ou pelo menos não era para ser e a
sensação de que meu coração sairia pela boca, a falta de ar e o
pânico era por estar naquela altura. Dante, eu estava suando bicas
de pavor, o Caio tentava ser gentil e eu tentava me concentrar nele,
mas a gaiola daquela merda não parava de balançar, tive que me
segurar para não gritar e quando ele percebeu todo o meu
desconforto tive que inventar uma dor de barriga para não o chatear.
Dante ria desesperadamente.
— Isso não tem graça nenhuma, Dante — falei, mas ele nem
conseguia me responder. Tentava conter a crise de risos, porém era
totalmente em vão.
Esperei que ele conseguisse se controlar.
— Pronto? Terminou? — perguntei quando ele enfim se
acalmou.
— Desculpe, eu não queria rir, mas não tem como. Caio
vacilou, mas não o dispense ainda, dê uma chance ao cara.
— Dante, no nosso primeiro encontro ele me deu um bicho de
pelúcia assassino e me colocou em um brinquedo mortal. O que virá
da próxima vez? Não preciso mencionar de novo as flores de
defunto, não é? — falei e Dante pressionou seus lábios um no outro
na tentativa frustrada de conter o riso.
— Você está certa, mas tente mais uma vez só para ter
certeza de que ele é tão ruim assim mesmo ou se foi só um erro
inicial — me aconselhou.
— Está bem, mas só vou fazer isso porque ele é seu primo e
você está me pedindo.
Dante concordou com um aceno de cabeça e colocou as mãos
atrás da cabeça, sorrindo.
— Isso vai ser divertido — sussurrou ele, mas eu ouvi.
— O quê? — perguntei.
— Vamos assistir um filme legal para espantar esse seu
estresse. Ouvi falar que lançaram na Netflix um filme bem divertido
sobre encontros ruins e pelúcias assassinas.
— DANTE! — gritei e joguei as almofadas do sofá em seu
rosto, uma atrás da outra sem dar chance de ele se defender.
Terminar a noite com Dante ali, como sempre fazíamos, havia
sido a melhor escolha. Consegui relaxar e me divertir depois que ele
parou com as piadinhas e no final da noite, quando ele se despediu,
eu o fiz levar consigo a pelúcia assassina.
Capítulo 20

Caio não havia entrado em contato desde a noite passada e eu


também não o fiz. Sabia que não podia julgá-lo por aquele encontro,
ainda mais porque nossos outros momentos foram legais, mas
também não podia negar que o medo de ter outro encontro
desastroso era grande.
O porteiro interfonou informando que havia uma entrega para
mim e eu autorizei a subida do entregador. Quando a campainha
tocou e eu abri a porta, soube exatamente em nome de quem era a
entrega.
O homem parado à minha frente me entregou um cartão.

Obrigado pelo melhor encontro da minha vida.


Caio.

— Onde eu coloco, moça? — perguntou o homem à minha


frente.
— Pode colocar aqui. — Indiquei o aparador ao lado da porta.
— E todo o resto a gente coloca onde?
— Resto?
Foi então que vi vasos e mais vasos de crisântemos de todas
as cores invadindo o hall do andar em que eu residia.
— Pode colocar em qualquer lugar — falei enquanto eles
enchiam o meu apartamento com aquelas flores fúnebres de
diversas cores.
Para todo canto que eu olhava via os crisântemos.
Eu estava perplexa.
— Quem morreu? — Ethan perguntou e eu o encarei séria. —
O que está havendo? — continuou ainda da porta que eu havia
deixado aberta.
— Caio, está havendo o Caio — respondi. — Entre.
— Minha nossa, ao que parece ele é pior que eu com as
mulheres — disse meu amigo e eu bufei. — Sou péssimo em
paquera, mas jamais enviaria crisântemos para uma garota.
— Muito esperto da sua parte, Ethan.
— O que... — Ethan perguntaria algo, mas foi interrompido
pela voz de Dante.
— Quem morreu? — perguntou Dante, entrando em meu
apartamento e olhando tudo em volta.
— Engraçadinho — falei com sarcasmo. — Eu não consigo
entender, no outro dia ele me presenteou com lindas hortênsias e
agora me enche de flores de defunto. Eu não faço ideia do que o faz
pensar que prefiro crisântemos.
— Eu também não consigo entender uma coisa dessas —
Ethan disse encarando Dante, provavelmente aguardando uma
resposta dele também.
— Pois é, cada doido com as suas manias, né?! — Dante se
expressou. — Vamos almoçar?
— É claro, vou só pegar a minha bolsa.
— Ah, antes que eu me esqueça — Dante disse, tirando uma
mão das costas —, isso é para você. É claro que agora estou com
vergonha, Caio encheu seu apartamento com flores e eu, o amigo
chato, só trouxe esse ramalhete aqui, mas eu não tenho o que fazer
com elas, Ethan não gosta de flores então você vai ter que aceitar.
Encarei as belas hortênsias lilases e me aproximei de Dante,
pegando as flores de suas mãos. Eu amava qualquer cor de
hortênsia, mas as lilases eram simplesmente perfeitas e aquelas
tinham o miolo de um tom cor de rosa tão suave quanto o lilás do
restante da extensão das pétalas. O sorriso que surgiu em meus
lábios foi involuntário.
— Boa escolha de flores, Dante.
Ethan encarava Dante com divertimento, provavelmente se
esbaldando com o meu alívio em receber flores que eu realmente
gostava. Eu seria piada entre eles por dias, não queria estar perto
quando Patrick ficasse sabendo.
— Awlly gosta delas, desde menina, sempre gostou. Quando
éramos crianças, ela me forçava a brincar de casamento, me fazia
colocar gravata, prendia com presilhas uma renda de cortina em
seus cabelos, calçava os sapatos de salto da mãe dela e roubava
uma hortênsia do jardim da minha mãe, é claro que a minha velha
fingia não perceber as flores que faltavam em seu jardim que era
cuidado com tanto zelo — Dante trazia aquela lembrança a tona e
eu sorri ao visualizar perfeitamente a cena e minha mente.
“— Por que eu tenho que colocar isso? — Dante perguntou.
— Porque os noivos usam gravata — respondi.
— Por quê?
— Porque... porque... ora, porque sim. Não discuta, Dante
Lazzaris.
— Você fica muito chata com isso de casamento, parece uma
menina.
— Eu sou uma menina, Dante.
— Eu gosto mais de você quando parece menino e brincamos
de polícia e ladrão.
— Agora é a hora do casamento, até os policiais e os ladrões
se casam, então nós também vamos nos casar.
— Mas por que eu tenho que me casar com você? Não posso
me casar com a Rebeca?
Olhei com tanta fúria para Dante que ele se encolheu.
— Você tem razão, eu não deveria me casar com ela não,
deveria me casar com você — Dante disse com os olhos
arregalados.
— Garoto esperto — disse meu pai do outro lado da cerca.
— Não seja bobo, Dante. Não vamos nos casar de verdade,
este é só um ensaio. Quando eu for me casar de verdade, não será
com você.
O senhor Lazzaris riu.
— Então eu tenho que colocar essa porcaria no meu pescoço
quando você quiser, mas nunca vou me casar com você?
Olhei Dante de cima a baixo. Ele era magricela, os cabelos
estavam despenteados e cheios de terra, as mãos sujas, assim
como as roupas com exceção da gravata que eu acabara de lhe
entregar, os olhos castanhos pareciam grandes demais para o rosto
e sua voz era fina. Ele não era como os moços bonitos e fortes que
beijavam as mocinhas nos filmes românticos que a mamãe assistia.
— Mamãe disse que não preciso decidir isso agora. — Foi a
minha resposta.
A risada dos meus pais e dos pais de Dante soaram altas
dessa vez chamando nossa atenção, e nossos rostos se viraram
simultaneamente para a cerca onde eles estavam sentados
aproveitando o sábado à tarde.”
Hoje entendo que eles estavam ouvindo a nossa conversa e se
divertindo às nossas custas.
Voltando a minha realidade, sorri com sarcasmo para Dante.
— Soube que Rebeca trabalha no clube de strip-tease da Rua
Cinco — falei para Dante e me virei para encarar Ethan. — Um dia,
no nosso casamento de mentira, Dante me disse que preferia se
casar com ela do que comigo.
Ethan encarou Dante com um sorriso sacana nos lábios e
arqueou uma sobrancelha.
— O quê? — perguntou Dante. — As duas eram bonitas, uma
loira e uma morena, era difícil decidir. Usei os dentes para escolher
uma delas.
— O quê? Como assim usou os dentes? — Ethan perguntou
confuso e divertido ao mesmo tempo.
— Rebeca tinha todos eles, especialmente os da frente —
Dante disse rindo e Ethan gargalhou.
Abri a boca em descrença e o encarei, fingindo estar abismada
e ofendida.
— Ora, não fique brava, sabemos que no final eu admiti que
era melhor me casar com você.
— Garoto esperto — disse Ethan.
— Foi exatamente isso que o meu pai disse — falei. — E
obrigada pela parte que me toca, senhor sutileza. Vou guardar as
flores no vaso do meu quarto — concluí, olhando para o Dante e saí
da sala.
— Admiti porque quase me urinei com a forma como ela me
encarou quando mencionei Rebeca.
— Dante, eu ouvi isso — gritei do corredor.
— Ela era uma garotinha odiosa, intimidante e amedrontadora.
— Dante ainda estou te ouvindo — falei.
— Desculpe — ele me respondeu e em seguida voltou a falar
com Ethan. — Ela era mesmo, você também teria medo dela.
Ri sozinha e entrei no meu quarto. Peguei o vaso em minha
mesinha de cabeceira e o enchi com água na pia do banheiro, então
coloquei as flores ali e as admirei mais uma vez.
Meu celular apitou, sinalizando uma mensagem de Caio e a
vontade de admirar as flores de Dante era maior do que abrir a
mensagem.
Me dei conta de que não estava sendo justa com Caio,
realmente precisava dar outra chance a ele. E não poderia ficar
comparando-o com Dante, pois este segundo me conhecia melhor
do que ninguém, não era certo comparar uma vez que qualquer
outra pessoa jamais poderia saber tudo o que Dante sabia sobre
mim. Ele era o meu melhor amigo.
Caio precisava de uma chance de verdade. Peguei o celular e
abri a sua mensagem. Eu nem havia tido tempo para agradecê-lo
pelas flores fúnebres.
Foco, Awlly! Ele fez com carinho, não julgue.

Caio: Oi gata.
Awlly: Caio, eu ia te chamar agora. Recebi suas flores, são
maravilhosas! Muito obrigada. Você é um doce!

Caio: Tudo para a minha gatinha.

Me senti culpada por julgá-lo na noite anterior, ele era sempre


tão gentil.

Caio: Pensei em almoçarmos juntos, o que acha?

Awlly: Desculpe, já tinha combinado de almoçar com o Dante.


Jantar?

Caio: Combinado! Te pego às 19h.

Joguei o celular na bolsa e retornei para a sala onde os


meninos conversavam.
— Já falei que não faço ideia do que você está falando, Ethan.
— Ouvi Dante dizer quando eu ainda estava no corredor.
— Não estou te julgando — Ethan disse.
— Continuo não sabendo de nada do que você está falando,
mas é bom estar ciente de que não me julga.
— Não o julgarei se me contar do que se trata — falei entrando
na sala e os dois se entreolharam e evitaram olhar para mim.
Seja lá o que estivessem falando, definitivamente era sobre
mim.
— Desembuchem, eu sei que estavam falando sobre mim. —
Eles continuaram em silêncio. — Ethan?
Caminhei até o Ethan, ele era mais fácil de pressionar.
— Ethan? — chamei-o bem de perto. Ele me encarou com os
grandes olhos azuis sob as sobrancelhas cor de cobre. — Diga.
— Dante estava dizendo que na adolescência achou que era
apaixonado por você — Ethan disse.
— Isso é sério, Dante? — eu o encarei e ele pareceu
constrangido.
— Ah, foi só por um tempo, logo caí na real e descartei a ideia,
só passávamos muito tempo juntos — Dante respondeu, mas
encarava Ethan com os olhos semicerrados.
Ethan, por sua vez, parecia se divertir com a situação.
— É, passávamos muito tempo juntos mesmo, ainda
passamos, mas ainda bem que tirou essa ideia da cabeça, você não
daria conta de tudo isso — brinquei com ele apontando para mim
mesma.
— É, não daria conta mesmo — respondeu Dante.
Ele me encarava bem no fundo dos olhos, sorrindo de lado,
sexy e senti aquelas borboletas estranhas batendo as asas no meu
estômago. Mas logo o sorriso se tornou enorme, tomando conta de
toda a sua boca e tratei de afastar as borboletas.
— Só para constar, essa conversa não colou — falei e virei-me
para Ethan novamente. — Se Dante não abrir a boca para falar
sobre isso no almoço, vou até a sua casa e você vai ter que me
contar.
— Você tem razão, ela é muito intimidante mesmo. Sem os
dentes da frente deveria ser um pesadelo. — disse Ethan e
belisquei seu braço. — Se ela chegar um pouco mais perto eu me
urino, imagino você que era só um menininho — Ethan me
provocava se dirigindo a Dante.
— Ah, querido — falei, acariciando os pelos ruivo-acobreados
de sua barba —, é só me contar tudo que não te faço urinar na
roupa.
— Certo, capitão — Ethan bateu continência.
— Você vai conosco? — perguntei ao ruivo.
— Não, eu vou dar uma passada no restaurante, ver se está
tudo ok por lá.
— Pega leve com a Chloe, tá?!
— Estou deixando Andreas lidar com ela. Eu a contratei
grávida, não posso demiti-la agora, embora essa seja a minha
vontade. Não sei porque eu faço certas idiotices como contratar uma
louca que me odeia e agora está grávida, não deixando brecha para
que eu a demita e a arranque da minha vida para todo o sempre —
Ethan disse enquanto eu o encarava boquiaberta.
— Tá legal, quem é você e o que fez com o meu amigo calmo
e certinho? — perguntei brincando e ele empurrou os óculos para
mais perto dos olhos.
— Aquela mulher me irrita profundamente.
— Então por que a contratou? — Dante perguntou.
— Porque ela está grávida e precisava de um emprego, a
outra entrevista dela era como caixa de supermercado, mesmo ela
sendo formada em gastronomia. Não podia deixar uma mulher na
condição dela trabalhar tantas horas por dia em um ambiente
estressante sendo que eu podia ajudá-la, ainda mais a área de
trabalho dela sendo a mesma que a minha.
— Você é tão doce, Ethan — falei.
— É, você é tão doce, Ethan — Dante brincou com a voz fina,
vindo até nós.
— Awlly leve este homem para comer, a fome está
bagunçando o cérebro dele — Ethan disse saindo do meu
apartamento, voltando rapidamente logo em seguida. — Só um
minuto.
Ethan tinha o celular na mão.
— O que está fazendo? — perguntei, confusa.
— Eu preciso mostrar isso para o Patrick.
— Ethan, não...
— Tarde demais. Já enviei — respondeu, guardando o celular
no bolso da calça de moletom larga demais e saindo logo em
seguida.
Dante e eu saímos para almoçar em nosso restaurante
favorito. Lá não falamos de Caio, somente de nós. Lembrando das
enrascadas em que nos metemos em nossa infância e
adolescência.
Capítulo 21

Às 19h em ponto o porteiro interfonou para informar a chegada


de Caio.
Como sempre o loiro estava absolutamente lindo e elegante. O
sorriso sexy me deixava derretida e fazia esquecer o fiasco do meu
apartamento estar entupido de flores fúnebres.
Ele desencostou-se do seu carro e caminhou na minha
direção. Desta vez não havia flores em suas mãos, fiquei aliviada.
Caio parou muito próximo a mim.
— Boa noite! — cumprimentou ele, levando suas duas mãos
ao meu rosto, acariciando de leve e colando sua boca à minha.
— Boa noite — respondi quando finalizamos o beijo.
— Está tudo bem? — Ele quis saber.
— Tudo perfeito.
— Que bom! Fiz reservas para nós em um lugar legal.
— Que gentileza da sua parte e para onde vamos? —
perguntei quando ele abria a porta do carro para mim.
— É uma surpresa — respondeu ele e deu a volta no carro,
entrou e acomodou-se no banco do motorista. — Só o que posso
dizer é que eu não namoraria uma garota que não sabe reconhecer
os prazeres da vida e apreciar uma boa comida.
Sorri abertamente com o que ele disse, era algo muito
parecido com palavras que eu mesma usava. Enfim, algo em
comum.
Não que eu estivesse contando, é claro.
— Não posso discordar de tais palavras tão sábias — falei e
ele me ofereceu um lindo sorriso, deu partida no carro e rumamos
para o tal restaurante.
Quando Caio estacionou o carro em frente ao restaurante do
Ethan, meu sorriso foi de orelha a orelha. Eu amava tudo o que o
meu amigo ruivo servia em seu estabelecimento, mas quase nunca
íamos lá porque ele nunca queria cobrar de nós e não achávamos
justo.
Descemos do carro e começamos a caminhar, porém nossos
caminhos se divergiram.
— Em que lugar está indo? — perguntou ele, sorrindo.
— Ah, eu pensei que...
Ele olhou para o restaurante de Ethan.
— Eu adoro a comida do nosso amigo, mas hoje fiz reservas
em um lugar diferente, especial. Não que Ethan não seja, é claro.
— Tudo bem. Como paramos aqui em frente, deduzi que...
— Não se preocupe — disse ele e tocou seus lábios nos meus
com suavidade, somente um leve carinho. — Preparei uma noite
especial para nós.
Eu sorri em resposta.
— Mal posso esperar — respondi e atravessamos a rua,
entrando em outro restaurante.
Caio conversava com a recepcionista do restaurante,
informando sobre nossa reserva e em seguida ela nos guiou até
nossa mesa.
Eu nunca havia estado naquele restaurante. Era lindo,
elegante, a decoração característica daquele tipo de lugar era em
como todos os outros restaurantes do tipo, porém de um
refinamento visível. O lugar tinha classe e requinte.
Caio pediu as bebidas e pegamos os cardápios.
— Você quer algo em especial, querida? — perguntou ele.
— Não, vou deixar a escolha por sua conta — falei e ele sorriu
para mim. — Me surpreenda — concluí, dando de ombros e
tentando sorrir.
Então ele fez um pedido e se voltou para mim.
— Você me disse mais cedo que estava tudo bem, mas parece
ter algo te incomodando.
Caio pegou a minha mão, acariciando o dorso com seu polegar
de forma gentil.
— Não se preocupe, é só a minha cabeça que está doendo um
pouco, na verdade é mais um incômodo do que dor mesmo.
— Posso te levar ao médico — ofereceu ele todo preocupado
e me senti culpada por mentir, mas não podia dizer a verdade e
magoá-lo.
— Não se preocupe, em breve estarei melhor, já tomei um
remédio antes de sair de casa.
— Certo, mas me prometa que se não melhorar vai me dizer
para tomarmos uma providência, nem que seja para passar em uma
farmácia para tomar algum remédio diferente.
— Claro — respondi, tentando sorrir.
— Vamos te distrair para essa dor ir embora logo de uma vez
— disse ele e me beijou em seguida.
A partir daí o papo começou a fluir bem, a conversa com Caio
era sempre muito interessante, ele era engraçado e inteligente, mas
desse fato eu já sabia mesmo antes de descobrir que ele era o meu
cavaleiro beijoqueiro, quando ainda éramos só amigos e colegas de
trabalho. Foquei nessa parte.
A comida chegou, muito bonita em uma apresentação incrível,
super colorida, representando toda a cultura e requinte do
restaurante.
Capítulo 22

Eu queria me chutar internamente por fazer aquilo outra vez,


mas quando estacionei meu carro atrás do carro de Caio não pude
evitar o riso.
— Você sabe que pessoas que riem sozinhas e do nada
podem ser interpretadas como malucas ou bêbadas, não é?
Especialmente assim no meio da rua — brincou Patrick e eu dei de
ombros. — Hey, Caio está aí também — disse quando viu o carro do
meu primo estacionado à frente do meu.
— É, pode ser que sim. Ele e Awlly tinham um encontro hoje.
— Acha que o lance entre eles vai ficar sério? — especulou
Patrick.
Não respondi, já passávamos da entrada do restaurante de
Ethan. Acomodamo-nos em uma mesa, um som ao vivo tocava, o
estabelecimento era famoso por boa música e excelente comida. O
garçom se aproximou e anotou os pedidos, trazendo as bebidas
logo em seguida.
— Você não me respondeu — Patrick cobrou.
— O quê? — perguntei, mas sabia exatamente do que ele
estava falando.
— Acha que esse lance da Awlly e do Caio vai ficar sério?
Bebi um gole da minha cerveja antes de responder.
— Não sei, quem é que vai saber o que exatamente está
rolando entre eles?!
— Fiquei surpreso ao saber que ele era o cara que ela estava
procurando. É muita coincidência, não acha?
— Com isso eu concordo.
— Mas Caio é um cara legal, acho que eles podem dar certo.
— Eu não contaria com isso — Ethan disse, logo atrás de mim.
— E aí, cara?
Cumprimentamo-nos e ele se sentou à mesa conosco.
— Por que acha que Caio e Awlly não vão dar certo? Está de
birra com o cara? Se Dante, que é o Dante, não está de birra com
ele, por que você está? — Patrick perguntou ao Ethan.
— Não entendi — falei.
— Ah cara, você sabe. Se para você está tudo bem ela sair
com ele, para nós também está.
— Sou o melhor amigo dela, isso não me dá o direito de
escolher com quem ela sai — respondi. — Não é como se eu fosse
o namorado dela.
— Bem que você queria — Patrick disse, tomando sua cerveja.
— Como é que é? — perguntei e meus amigos me encararam
com sorrisos recheados de sarcasmo. — Essa porra está tão visível
assim?
Patrick riu.
— É, está sim! Só não para você e para ela, aparentemente. E
depois ainda dizem que eu sou o lerdo da turma — Ethan
esclareceu.
— Pelo menos ela também não sabe, não fica tão
constrangedor.
— É, deixa ela sem saber, assim as coisas ficam mais fáceis
para o seu primo, né? — Encarei Patrick com raiva e ele me
devolveu uma expressão de zombaria. — Aliás, pensei que eles
estivessem por aqui hoje.
Patrick olhava ao redor, procurando por nosso casal de
amigos.
— Eles não estão aqui. Há pouco mais de uma hora eu os vi
entrar ali — Ethan informou, apontando para o restaurante japonês
do outro lado da rua.
— Uhhh, péssima escolha.. É, você não está tão ferrado, o
cara não é tão bom quanto pensei. Ele devia ao menos procurar
saber o que ela gosta de comer. Quem leva uma garota para um
restaurante japonês sem saber se ela gosta desse tipo de comida?
Isso é muito relativo. — Patrick perguntou.
— Ao que parece Caio pode estar tendo uma ajudinha externa
— Ethan me entregou.
— Eu não fiz nada, só mencionei uma frase que ela vive
dizendo — me defendi.
— Qual? — Ethan perguntou.
— Ah, vocês sabem, aquilo que ela sempre diz: Eu nunca
namoraria alguém que não sabe reconhecer os verdadeiros
prazeres da vida e apreciar uma boa comida. Especialmente a
comida japonesa, é claro. Acho lindo e delicioso — respondi,
olhando para todos os lados, menos para meus amigos, então bebi
todo o conteúdo restante do meu copo.
— Não é isso que a Awlly diz — Ethan discordou.
— Claro que é — reforcei minha colocação.
— Não é não, ela diz: Eu nunca namoraria alguém que não
sabe reconhecer os verdadeiros prazeres da vida e apreciar uma
boa comida. Menos a comida japonesa, é claro. Acho lindo, mas
meu estômago não aceita — Patrick me corrigiu.
— Foi isso que eu acabei de dizer — falei e Ethan riu.
— Não, o seu final está completamente diferente.
— Está? — continuei me fazendo de besta enquanto meus
amigos me analisavam.
— Sim. — Então Patrick apontou as diferenças óbvias de
nossas falas.
— Ela não diz isso — disfarcei.
— Diz sim — Ethan insistiu sorrindo.
— Ah, bem, isso pode causar algum conflito, então. Uh, será
uma péssima noite no restaurante japonês — concluí, fingindo me
dar conta disso somente naquele momento e balançando a cabeça
em negativa.
— Agora a Awlly deve estar tendo um encontro horroroso e o
pobre coitado Caio nem faz ideia disso, deve estar achando que
está agradando a mulher enquanto ela deve estar querendo morrer
— Patrick disse e me encarou sério, em seguida deu tapinhas em
meu ombro e riu. — Esse é o meu garoto!
— Você tem que contar a ela — Ethan disse.
— Não posso.
— Vai deixar o cara ganhar ela ou acha que ele vai ser idiota
para sempre e ficar aceitando seus conselhos que o estão levando
para o fundo do poço?
— Ela não sente o mesmo — objetei.
— Você não tem como saber — Patrick contrapôs.
— Ela está apaixonada por ele — falei.
— Ela te disse isso? — Ethan quis saber.
— Não.
— Então ela não está, se estivesse já teria te dito.
— Além do mais, ela só está saindo com ele porque acha que
ele é o cavaleiro que a beijou — Ethan disse.
— Como assim acha? — Patrick perguntou, escorando na
mesa.
— Caio não é o tal cavaleiro que beijou a Awlly na festa. Dante
é — Ethan me entregou de novo.
— Como é que é? — A voz estridente de Chloe soou bem
perto de nós.
Estávamos tão entretidos que nem percebemos ela se
aproximando.
Capítulo 23

— Dante é o cavaleiro beijoqueiro? — Ela perguntou.


— Cala a boca, Chloe — falei e Ethan levantou-se, dando seu
lugar a ela, rodeando a mesa e sentando-se em outra cadeira.
— A Awlly vai surtar quando souber.
— Não, Chloe. Ela não pode saber.
— Como não? Aquele loiro lindo e salafrário está enganando
ela, despejando mel em seus ouvidos, falando de como o destino os
fez se encontrar na festa e em seguida ele ter que ir embora, e que
os deuses quiseram juntar eles novamente e toda aquela baboseira.
Ele é um safado!
— Não vamos contar, Chloe. Não ainda — pedi.
— Dante...
— Chloe, ele disse que não. Vamos respeitar — Ethan
interveio.
— Fica quieto, rato de biblioteca.
— Está sendo grosseira outra vez — Patrick a alertou em tom
de repreensão.
— Deixa ela... — Ethan dizia, mas Chloe levantou uma mão na
frente de seu rosto, como se ordenasse que ele calasse a boca.
— Você gosta dela? — a loira perguntou para mim.
— Esconder para quê? Parece que todo mundo já sabe
mesmo — falei e meus amigos deram de ombros. — Sim, Chloe, eu
gosto dela, estou perdido de paixão por ela.
— Aunnnn — resmungou ela em um tom meloso. — O amor
da vida da Awlly está bem ao lado dela, bem na frente de seu nariz
e ela não enxerga, não vê que é você. Tenho certeza de que você
faria absolutamente tudo para fazê-la feliz, não é?
Soltei o ar com força.
— Parece que sim, mas ela já está com outra pessoa.
— Não desista ainda. Como pode ela ser tão lerda que não
consegue enxergar o que tem bem debaixo do nariz dela, alguém
que a ama e que está disposto a fazer tudo por ela?
— Pelo jeito ela não é a única que é lerda e não percebe que
tem quem a ama bem ao seu lado — Ethan disse, mas acho que
não era a sua intenção verbalizar o pensamento.
Chloe riu.
— Ah, meu Deus, Ethan, você está apaixonado? Pela Emma
ou Bonnie? Emma, né? Olha, não quero te desanimar, mas o seu
caso e o de Dante são completamente diferentes, olha só para
você...
— Chloe cala a boca — Patrick a repreendeu outra vez.
— O quê? Não somos todos amigos? Preciso ser sincera com
ele, não vou deixá-lo passar vergonha. Não estou sendo grosseira,
estou sendo legal com ele, evitando que ele passe por uma
humilhação dessas. Ethan, na boa, não vai rolar. Sabe, você precisa
de alguém mais como você, assim... seja lá o que você é.
Ethan se encolheu.
— Peça desculpas agora, Chloe — exigi.
— Não, eu não falei nada demais, querem vê-lo humilhado por
tentar sair com uma garota legal. Ele precisa se situar e se colocar
no lugar dele, as meninas são legais, mas querer namorar com ele,
daí já é outra história.
— Cala a porra da boca, Chloe — Patrick se alterou, pegando
no braço da irmã. — Peça desculpas agora.
— Não precisa, Patrick — Ethan disse, dando tapinhas
amigáveis no ombro do amigo. — Dante, sei que você vai achar
uma solução para isso, tenho que dizer que concordo com a Chloe
quando ela disse que você precisa contar a Awlly, só encontre o
momento certo e conte.
Patrick discutia com Chloe e se virou para Ethan quando ele ia
se afastar.
— Ethan, me desculpe, cara. Não escute o que essa idiota diz,
ela não sabe de nada.
Chloe ia dizer algo, mas Patrick a impediu.
— Relaxa, cara — Ethan disse. — E Chloe? Volte agora para a
cozinha e descontarei do seu horário de descanso esse tempo em
que está aqui papeando.
— Preciso do meu tempo de descanso — objetou ela.
— Vou deixar anotado isso, descontarei do seu salário então.
— Mas você também estava aqui.
— É, mas eu sou o chefe e dono, agora vá para a cozinha e
faça a porra do seu trabalho.
— Mas...
— Agora, Chloe — exigiu ele.
Nunca vi Ethan falar tão firme com alguém como ele falou
naquele momento. Quem visse a situação provavelmente acharia
que era somente um patrão chamando a atenção de uma
funcionária, mas todos ali naquela mesa tinham plena consciência
de que aquela era uma explosão de Ethan. Chloe o tinha levado a
um nível superior de falta de paciência.
Durante todos os três anos que convivi com Ethan nunca o vi
daquela forma, por mais que lhe fizessem qualquer coisa, ele
sempre mantinha o decoro, a paciência e a boa educação. Ethan
sequer levantava a voz para qualquer pessoa, muito menos para
uma mulher.
E naquele momento eu tive certeza de que não era por Emma
que Ethan estava apaixonado.
— Como você pode ser tão idiota assim, Chloe? — Patrick
perguntou.
— Como ele foi grosso — disse ela indignada.
— Ele foi grosso? — Patrick perguntou, não me envolvi na
discussão. — Você ouviu o seu chefe, vá fazer a porra do seu
trabalho, afinal é para isso que ele te paga.
Chloe levantou emburrada e seguiu de volta para a cozinha.
Chloe havia sido realmente muito grosseira com Ethan e isso
deixou um clima ruim para a noite. Emma e Bonnie chegaram mais
tarde para irmos à uma balada. Chloe, seguiria para lá depois do
horário de trabalho e Ethan recusou o convite dizendo que estava
cansado, o que obviamente era mentira.
Estávamos saindo do restaurante quando encontramos Awlly e
Caio.
— Oi — disseram Awlly e Caio em uníssono.
Cumprimentamos de volta e a conversa girou sobre onde
iríamos, o casal aceitou nosso convite e enquanto Patrick inventou
qualquer coisa para se aproximar de Caio para falar algo, eu
cheguei mais perto da minha amiga enquanto Emma e Bonnie riam
de alguma coisa.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Você viu de qual restaurante eu saí, então nem preciso
responder. — Seu tom era áspero e eu sorri para ela. — Sorria para
mim com zombaria outra vez e eu juro que arranco as suas bolas.
— Desculpe — pedi e eu nem sabia se estava me
desculpando por rir por tê-la enviado direto para aquele encontro
ruim ou por ter vontade de rir mais ainda.
Então Caio se aproximou dela, enlaçando a sua cintura e disse
algo em seu ouvido que a fez sorrir de verdade para ele e beijá-lo
nos lábios.
Tive vontade de arrancar a cabeça e as mãos dele do corpo
para que nunca mais pudesse tocá-la nem beijá-la.
— Dante — Patrick me puxou de lado. — Relaxa aí, cara.
Emma e Bonnie vieram de táxi, então elas irão com a gente, tudo
bem?
— É claro que sim — respondi, tentando não encarar de novo
o casal.
— Nos encontramos lá daqui a pouco — A voz de Awlly soou
enquanto eles entravam no carro de Caio.
Seguimos todos para a balada.
Capítulo 24

Depois do jantar desastroso fomos para uma balada e eu


consegui aproveitar pouca coisa da festa já que meu estômago
estava enjoado. Então logo fomos para casa.
Desta vez eu deixei Caio subir, tomei um antiácido, sentamo-
nos no sofá e colocamos um filme. Não sei ao certo em que
momento começamos a nos beijar, meu estômago tinha melhorado
consideravelmente e estávamos em um amasso delicioso, deitados
no sofá.
O corpo de Caio pairava sobre o meu. A minha blusa e a
camisa dele estavam perdidas em algum lugar no chão da sala e ele
segurava a minha cintura com firmeza com uma das mãos enquanto
a outra estava sob as minhas costas fazendo leves carícias onde as
pontas dos seus dedos alcançavam. Os lábios e a língua de Caio
contornavam a renda do sutiã, me fazendo pegar fogo.
Então, do nada, comecei a me sentir insegura. Eu geralmente
não tinha problemas com sexo, mas quando sentia que não era a
hora certa, não adiantava, eu precisava parar.
Com delicadeza eu trouxe a boca de Caio de volta para a
minha e ele me beijou com fervor por alguns minutos, suas mãos
passeavam livremente por meu corpo agora e ele começou a descer
os beijos pelo meu pescoço outra vez até chegar ao meu colo.
Deixei que ele seguisse em frente e liberasse um dos meus seios,
mas me senti desconfortável de novo.
— Caio — chamei.
— Hum — respondeu ele enquanto sua língua deslizava por
meu seio desnudo.
— Caio é melhor pararmos por aqui.
Os beijos cessaram e sua voz vibrou perto da minha pele.
— De verdade?
— Sim — respondi. — Desculpe!
— Hey, pode parar com isso — disse ele, trazendo seu rosto
para perto do meu. — Você não tem que se desculpar por nada, não
fez nada errado. — Ele tocou de leve nossos lábios e alcançou
minha blusa que estava no chão e me entregou. — Só se vista ou
não aguentarei — disse me oferecendo um sorriso torto e sexy. —
Já terei muito para sonhar enquanto estivermos longe, tive um
gostinho para aguentar os dias terríveis que virão sem que eu possa
te ver.
— Como assim? — perguntei, vestindo a minha blusa
enquanto ele colocava de volta a sua camisa.
— Amanhã pela manhã eu pego um avião para o sul, preciso
ver a minha mãe e ajudá-la com algumas coisas. Volto em uma
semana.
— Mas está tudo bem com a sua mãe?
— Está sim, são somente alguns processos de bens do meu
pai, ela não entende muito bem, então preciso auxiliá-la.
— É claro. Mas vou sentir saudades.
— Eu também. Sinto muito por deixá-la, mas realmente preciso
ajudar minha mãe, ela não tem mais ninguém a quem recorrer.
— Não se preocupe — falei beijando seus lábios e acariciando
a sua bochecha onde a barba começava aparecer outra vez —,
você é um bom filho e isso é admirável.
— Fico feliz que tenha boas impressões de mim.
— As melhores possíveis — disse, mesmo sabendo que isso
não era de todo verdade.
Caio me beijou demoradamente e depois disse:
— Eu preciso ir.
— Está bem.
— Nos falamos pelo telefone, tá bom? Não se preocupe em
me ligar, não quero correr o risco de não poder te atender, então
espere a minha ligação. Prometo que ligarei todos os dias.
— Vou ficar esperando.
Sorri e ele selou nossos lábios pela última vez já na porta do
apartamento.
Esperei que ele entrasse no elevador e as portas se
fechassem, dando um último aceno. Respirei aliviada por ele não
forçar a barra comigo.
Já estava para fechar a minha porta quando ouvi um barulho
de algo grande caindo no apartamento de Ethan e ao olhar para lá vi
que a porta dele estava meio aberta. Estranhei e fui até lá.
— Ethan? — chamei, me aproximando de sua porta. — Ethan?
Empurrei a porta para que ficasse toda aberta, foi aí que vi
Ethan sentado no corredor entre a sala e a cozinha, ele sangrava,
por isso corri até ele.
Quando cheguei perto o suficiente percebi um espelho
estilhaçado pelo chão. O rosto e as mãos de Ethan sangravam e ele
chorava.
— Ethan, o que houve aqui? — perguntei, me ajoelhando ao
seu lado, conferindo seu rosto, mas não havia cortes ali e o cheiro
de álcool que emanava dele era grande. — Ethan, você bebeu?
Meu amigo não costumava beber e quando o fazia era sempre
com responsabilidade.
— Awlly?
— Sim, sou eu — respondi ainda segurando seu rosto na
direção do meu. — O que houve aqui?
— Não houve nada, o espelho e eu apenas nos
desentendemos, mas já dei um jeito nesse safado — Ethan falava
enrolado, devia estar muito bêbado.
— O que você está falando não faz sentido, isso está doendo
muito? — perguntei, analisando sua mão que estava toda cheia de
cortes. Ele devia ter socado o espelho por algum motivo.
— Não, os cortes não doem. Meu coração dói. — Ele
continuava chorando.
— Precisamos cuidar disso, há estilhaços de espelho
incrustados aqui.
— Eu não ligo.
— Eu ligo, venha, vamos para o banheiro lavar isso.
— Eu não consigo me levantar, me deixe aqui sangrando até
morrer. — Ele tropeçava nas palavras, mas eu conseguia entendê-lo
perfeitamente.
Eu sorri para ele.
— Ei, você não vai sangrar até morrer. Eu vou cuidar de você.
— Por quê?
— Por que você é meu amigo e eu te amo.
— Me ama mesmo?
— É claro que amo. — Tentei levantá-lo, mas foi em vão.
Ethan levou uma garrafa com um líquido cor âmbar até os
lábios e bebeu.
— Por que ela não me ama? Ela só me despreza, diz que sou
feio.
— O quê? Que conversa é essa? Espere aqui, eu já volto.
Vendo que era inútil tentar levantá-lo já que ele era um homem
de mais de 1.80m e estava bêbado e eu franzina como era, resolvi
ligar para Dante e pedir ajuda.
Disquei o número do celular dele e segurei o aparelho entre a
orelha e o ombro enquanto procurava a caixa de primeiros socorros.
— Alô? — Dante tinha voz de sono.
— Dante acorda, sou eu.
— Princesa, o que foi? Onde você está? — Ele pareceu mais
desperto quando percebeu que era eu ao telefone. — São duas
manhã, o que aconteceu? Você está bem? — perguntava
preocupado e eu conseguia ouvir ele se mexendo no apartamento,
provavelmente vestindo as calças. — Onde você está? Estou indo te
buscar.
— Me escuta, Dante. Eu estou no apartamento do Ethan e
preciso da sua ajuda. Ele está bêbado e com a mão machucada, se
cortou.
— Fazendo piadinhas a essa hora, Awlly? Ethan não bebe e
eu estava dormindo, sabia?
— Dante acorda, eu não estou brincando. Você precisa vir
agora. Ele está machucado, eu não sei o que houve.
— Merda! Estou indo.
Capítulo 25

Desliguei o aparelho celular e segui de volta para o corredor


com a maleta de primeiros socorros nas mãos. Ethan estava no
mesmo lugar, ainda chorando e falando coisas sem sentido.
— Querido, olhe para mim — pedi e ele negava com a cabeça.
— Querido — chamei dessa vez levantando seu rosto para o meu,
ele não usava os habituais óculos —, o que aconteceu aqui?
— Eu sou realmente tão desprezível? — perguntou ele.
— O quê? É claro que não, você é um doce, querido.
— Sou doce, mas sou feio, do que isso me adianta?
— Do que você está falando?
— Ela não me ama porque sou feio demais.
— Seja lá quem for essa ela, é uma idiota, você é lindo. —
Acariciei seu rosto. — Foi por isso que você quebrou o espelho,
brigou com a sua namorada?
— Ela não é a minha namorada, nem nunca vai ser porque eu
sou ridículo.
— Ela não vai ser a sua namorada porque é uma idiota e não
te merece. Preste atenção, querido, eu preciso limpar a sua mão e
dar um jeito nisso, está bem?
— Eu não me importo.
Suspirei, a situação do meu amigo era de dar pena. Ele estava
com o coração partido, era óbvio, eu só não conseguia entender
quem poderia dizer palavras tão duras a alguém tão doce e gentil
como ele.
Ethan não era nem um pouco feio, ele não sabia se vestir,
suas roupas eram bem maiores do que deveriam, o óculos que ele
usava era um modelo antigo com lentes muito grossas e mantinha
um corte de cabelo que não o valorizava, mas ele era muito bonito.
Eu tentava erguer a manga da camisa dele para poder limpar
melhor o seu punho, mas a porcaria não parava, além de constatar
que alguns estilhaços machucaram parte do braço também.
— Querido, vamos tirar essa camisa, por favor? Ficará mais
fácil para eu cuidar de você.
— Por que ela não quer cuidar de mim? — perguntou,
bebendo mais.
Não lhe tirei a garrafa de bebida, ele estava com o coração
partido pela primeira vez desde que o conheci, deixei que ele
afogasse as mágoas na bebida enquanto eu cuidava dele.
— Você não precisa dela — respondi, desabotoando a camisa
que devia ser pelo menos uns três números maiores do que o que
ele deveria usar.
Quando passei a mão por dentro da camisa para ajudá-la a
escorregar pelos ombros do meu amigo ruivo, fiquei surpresa com a
dureza que senti e ao encará-lo, depois de retirar a camisa por
completo, quase tive uma síncope.
— Essa... Essa moça de quem você gosta... Ela... Ela já te viu
sem roupa? — perguntei e ele riu em meio ao choro, eu ri com ele e
senti meus olhos se encherem de lágrimas ao vê-lo virar a garrafa
novamente e mais lágrimas descerem por seu belo rosto já banhado
pelo pranto.
Peguei o soro fisiológico e comecei a jogá-lo sobre a mão do
meu amigo para tirar o sangue, com gentileza passei uma gaze
retirando o restante que havia ficado, então com uma pinça,
comecei a retirar os minúsculos estilhaços de espelho que estavam
incrustados na pele, parando de minuto em minuto para olhar seu
torso nu outra vez. Eu estava custando a acreditar que era aquilo
que havia por debaixo das roupas feias e largas.
Analisando bem, Ethan parecia um anjo ferido, desses de
livros de fantasia. Com barba ruiva e cabelos da mesma cor que
agora lhe caíam sobre os olhos, o rosto estava de perfil mostrando
um nariz perfeitamente delineado, a mão ainda sangrava, o
abdômen todo definido, cheio de gominhos, os braços eram fortes,
com músculos poderosos e tatuagens de espirais lhe cobriam todo o
peito e boa parte do braço esquerdo que é o que eu estava
cuidando.
O danado era uma fraude total.
— Você está com uma babinha aí no queixo. — A voz de
Dante soou atrás de mim, me assustando enquanto eu admirava o
Ethan.
— Que bom que você chegou, me ajuda a levá-lo para o
quarto — falei, disfarçando.
— Que merda será que aconteceu aqui? — Dante perguntou
para mim, pisando sobre os cacos de espelho no chão.
— Acho que ele levou um fora ou qualquer coisa assim de
alguma idiota que lhe disse que ele é feio ou qualquer coisa
parecida com isso.
— Ela disse que sou desprezível, que eu deveria me colocar
no meu lugar — Ethan completou com a voz enrolada.
— Então ele bebeu e socou o espelho, agora está com a mão
toda danada. Já retirei os estilhaços, não precisa de pontos, mas
quando a bebedeira passar, isso vai doer como o inferno.
— Merda, Chloe! — Dante xingou.
— O que Chloe tem a ver com isso? — perguntei, me
levantando.
— Longa história, depois eu te conto. Venha, amigão, vamos
sair do meio dessa bagunça — Dante disse e ajudou Ethan a se
levantar, praticamente o carregou para o quarto.
De forma rápida peguei a pá e a vassoura e limpei a bagunça,
seguindo para o quarto de Ethan em seguida.
— Como ele está? — perguntei.
— Pelo menos parou de chorar, mas está brigando sozinho,
dizendo coisas sem sentido.
— Acho que então já podemos tirar a garrafa dele.
Dante me entregou a garrafa que já tinha tirado do nosso
pobre bêbado.
— Pode ir descansar, eu vou ficar com ele — Dante se
ofereceu.
— Vamos ficar juntos então.
E assim passamos a noite, cuidando do nosso amigo de
coração ferido.
Dante me contou sobre o desentendimento ocorrido no
restaurante do nosso amigo e então eu pude compreender tudo.
Contei a ele sobre meu jantar desastroso, conversamos mais
um pouco e logo também pegamos no sono.

— Bom dia, querido! — cumprimentei Ethan quando ele entrou


em sua cozinha. Eu já havia feito o café e estava sentada à mesa
com Dante. — Como você está?
— Podemos não falar sobre isso? — perguntou ele.
— É claro.
— Certo. — Ele soltou uma mala no chão e se serviu de café.
— O que é isso? — perguntei, apontando para a mala.
— Vou sair por alguns dias — disse e bebeu o restante do café
que estava em sua xícara. Pegou uma chave e atirou para Dante. —
Cuide do apartamento para mim.
— Querido, não saia assim — pedi.
— Eu estou bem, Awlly. — Ele veio até mim e beijou o topo da
minha cabeça. — Obrigado por cuidar de mim ontem à noite.
Eu o abracei com força.
— Promete que não vai sumir?
— Eu volto em alguns dias, não se preocupe — garantiu e eu
assenti.
Entendia que ele precisava de espaço e então ele se foi.
Caio me enviou uma mensagem avisando que estava
embarcando e eu passei o resto do domingo com Dante, como
sempre fazíamos.
Capítulo 26

Na sexta à noite fui até a casa da Awlly para assistirmos um


filme. Ela pediu uma pizza pelo aplicativo de delivery enquanto eu
abria uma garrafa de vinho.
Enquanto assistimos a dois filmes seguidos, bebemos a
primeira garrafa de vinho e comemos a pizza. Ela estava inquieta,
eu podia perceber que estava querendo dizer algo.
— Vai me dizer o que está acontecendo? — perguntei.
— Não é nada — respondeu ela.
— Vai mentir para mim?
— Humm... — resmungou e soltou o ar com força, sentando-se
no chão de frente para mim. — Se eu te pedir ajuda com algo que
nunca te pedi antes, você me ajuda?
Franzi o cenho, estranhando a pergunta.
— É claro que sim, te ajudo com qualquer coisa que precisar.
Sempre foi assim, não é?
— Qualquer coisa mesmo?
— É claro, princesa. O que está havendo?
— É que... Bem...
— Hey — Peguei seu queixo e trouxe seu olhar até o meu. —
Qualquer coisa, não precisa ter vergonha de pedir. É dinheiro?
— Não, não é dinheiro. Na verdade, quero uma opinião sua.
— Sobre o Caio? Ele é um otário, não sai mais com ele e se
casa comigo de uma vez, assim como você planejava quando era
criança — falei e ela riu.
— Dante, eu estou falando sério.
— Eu também.
Ela não tinha noção do quanto eu realmente estava falando
sério.
— Deixa de ser besta, é sério, não é sobre o Caio, é sobre
mim.
— Você é maravilhosa!
— Mas eu nem expus a situação...
— Não interessa, você é maravilhosa e ponto.
— Não seja superficial, Dante, preciso de uma opinião
extremamente sincera, vai me deixar falar?
Sorri para ela, enchendo sua taça, estávamos na segunda
garrafa de vinho.
— É claro, mas tenho certeza de que a minha resposta final
será a mesma.
— Estou pedindo a sua ajuda em primeiro lugar porque você é
o meu melhor amigo, é claro, mas também porque preciso da
opinião de alguém especificamente como você.
Senti minhas sobrancelhas se juntarem em confusão.
— Como assim uma pessoa como eu? — perguntei, curioso.
— Ah, você sabe, assim, alguém que não tem problemas com
as mulheres... na hora... — Estreitei meus olhos enquanto ela
corava. — Enfim, resumindo, alguém parecido com o Caio na
questão de relacionamentos.
— Hum — resmunguei.
Se ela fosse me contar sobre a intimidade deles, sobre o que
andavam fazendo na cama eu morreria ali mesmo. Bebi todo o
conteúdo da minha taça de uma vez.
— Bem, o Caio e eu... nós ainda não... — Eu a encarava sem
entender.
— O quê?
— Ah, você sabe, a gente ainda não...
— Vocês não transaram? — perguntei sorrindo.
— Não ria de mim, Dante!
— Não estou rindo de você.
— Está sim, olha esse risinho bobo aí.
Ela não tinha ideia de que eu estava era me explodindo de
felicidade em ouvir aquilo e não rindo dela.
— Não estou rindo de você, estou sorrindo para você, é bem
diferente.
— Não é não.
— Deixa de bobeira e continue.
— Bem, ainda não aconteceu, mas só porque me senti
insegura e quero que aconteça quando ele voltar. — Enchi a minha
taça outra vez enquanto ela falava.
— Não sei se estou entendendo em que lugar você quer
chegar, princesa.
— Então, eu estava passando por uma loja e vi uma coisa,
achei que ele fosse gostar e comprei.
— Quer dar um presente para o cara para ver se consegue
transar com ele?
— Não seja idiota, não é nada disso. É uma... uma roupinha,
digamos assim — disse ela com uma careta estranha.
— Ah, comprou uma roupa bonita para vestir no próximo
encontro? Legal! O que tenho que fazer? Dizer se é bonita?
— Ééééé, isso, preciso que me diga se acha que ele vai
gostar.
— Tá legal, pega lá que olho e já te falo — concordei, já me
preparando para que fosse uma roupa bem ruim.
— Está bem, espera aqui — disse ela, sorrindo. — Acho que
vou precisar disso — concluiu, bebendo tudo o que tinha na taça.
Então se levantou e foi para o quarto buscar a roupa.
Como o filme havia terminado, liguei o aparelho de som e
esperei.
— Dante? — chamou ela do corredor.
— Oi, princesa.
— Estou com vergonha.
— Vergonha de mim? Deixa de ser boba, venha aqui, deixa eu
ver isso.
Então ela apareceu na sala e eu me engasguei com o vinho
que estava bebendo. Tudo ao meu redor pareceu ficar suspenso.
Awlly não usava um vestido, feio ou bonito que fosse, ela
usava a porra de um lingerie sexy para caralho, com uma cinta liga,
meias 7/8 e saltos altos.
Ela andou em minha direção e meu mundo pareceu rodar
rápido demais, se ela me tocasse eu explodiria, porque duro feito
pedra eu já estava. Louco, ansiando por ela.
Caralho! Eu estava muito fodido.
— E então, o que achou? — perguntou ela, mordendo o lábio
inferior e dando uma voltinha.
— Hummm.. Ah... — Eu simplesmente não conseguia formular
palavras, meu cérebro parecia ter virado gelatina.
— Não me deixe no suspense, não seja mal comigo.
Ah, eu queria ser mal com ela. Queria muito.
Eu nem sabia se estava respirando naquele momento, só
conseguia sentir uma parte do meu corpo para onde meu sangue
fluía. Como poderia responder uma pergunta?
— Está tão ruim assim? — perguntou preocupada.
Balancei a cabeça positivamente.
— Muito ruim? Ah, meu Deus!
— Olha... o Caio não vai gostar disso aí não — consegui dizer,
mas minha voz parecia um pouco esganiçada.
— Ainda bem que te mostrei antes.
— Também acho.
Awlly terminou seu caminho até mim e sentou-se ao meu lado.
Não ousei mover minha cabeça em sua direção. Tê-la seminua ao
meu lado era demais para mim.
Vamos lá Dante, se controle.
Se controle.
Pense em coisas ruins de se ver para tirar essa imagem da
sua cabeça e se controlar.
Pense em boletos para pagar.
Feridas infeccionadas.
Minha avó de calcinha.
Porra! Awlly é gostosa pra caralho.
Ela pegou a sua taça de vinho e bebeu dela.
— Na modelo da revista de lingerie ficou tão bonito e em mim
está um fiasco. Acho que o problema não é a lingerie, sou eu.
— Não seja boba — Enfim a encarei —, você é perfeita.
Esquece o que eu disse, tá? Eu sou um idiota.
— Você não precisa ser sempre tão legal, sabia? — disse ela e
tocou meu braço.
Se ela soubesse dos meus pensamentos não diria isso.
A minha cabeça só conseguia pensar que a Awlly estava só de
lingerie sentada ao meu lado e tocando o meu braço.
Eu já disse que ela era gostosa pra caralho?
— Não estou sendo legal, você não precisa se preocupar com
nada. Apareça com o que quiser na frente do Caio ou de qualquer
outro cara, nenhum deles vai se atrever a te negar. Você é perfeita.
— Bem, nem qualquer cara, né?
— Qualquer um, sem exceção — falei sem pestanejar e ela
sorriu.
Seus olhos estavam brilhantes, ela já estava meio embriagada
assim como eu. Aquilo era perigoso.
— Eu sei que vai dizer que você não conta porque é meu
melhor amigo, mas na verdade conta, sabia?
— Eu sei que conta. Como eu disse antes, sem exceção —
falei e ela me encarou com intensidade por um longo momento.
Eu podia ouvir meu próprio coração bater em um ritmo tão
acelerado que parecia querer sair pela minha boca.
— Não está falando sério — disse ela.
— É claro que estou — admiti e ela puxou o ar com força.
— Então se eu te pedisse para me ajudar a melhorar nessa
parte, para me ensinar algumas coisas, você aceitaria?
— Awlly, eu não pensaria nem por meio segundo, não perderia
por nada a oportunidade de ter você montada no meu pau se isso
não interferisse em nossa amizade.
Não sei ao certo o que aconteceu, mas quando dei por mim,
Awlly estava no meu colo, montada em mim e nos beijávamos de
forma sôfrega.
Cheguei a me questionar se não tinha ficado bêbado demais e
dormido no chão antes que ela voltasse, porque eu não podia
acreditar que aquilo estava acontecendo.
Sonho ou não, eu não desperdiçaria a oportunidade. Deitei
minha amiga no tapete macio e meu corpo pairou sobre ela sem
desfazer o beijo. Suas mãos correram até a barra da minha
camiseta, puxando-a para cima e eu a ajudei a se livrar da peça.
Voltei a beijar a sua boca, arrastei os lábios até seu pescoço e
desci para seu colo deixando uma trilha de beijos. Ela mesma abriu
o fecho frontal do sutiã, livrando-se dele em seguida, me dando
permissão para prosseguir. Admirei o belo par de seios à minha
frente por um momento e em seguida capturei um deles com a
minha boca, beijei, chupei e lambi, me esbaldei com um e depois
com outro, ouvindo os gemidos fracos da minha amiga enquanto
seus dedos se embrenhavam em meus cabelos.
Depois de me deliciar com os maravilhosos seios, voltei a
beijar sua boca deliciosa e outra vez me esbaldar nos seios de
Awlly, minha boca desceu por sua barriga lisa, alcançando a renda
da calcinha pequena. Beijei sua boceta por cima do tecido fino e ela
puxou meus cabelos, arqueando o quadril de encontro a minha
boca.
— Princesa, se você quiser que eu pare, tem que me dizer —
falei, levantando meus olhos para seu rosto.
— Eu não quero — disse ela.
— O que você não quer, princesa? Seja específica.
— Eu não quero que você pare, Dante — respondeu ela, seus
olhos pegando fogo, escuros de desejo, queimando nos meus,
refletindo os meus.
Com os dentes afastei a calcinha e deslizei minha língua por
sua boceta, de uma extremidade à outra, desta vez sem nenhuma
barreira entre a sua pele e a minha língua. Ela jogou a cabeça para
trás e gemeu, mais alto dessa vez.
Minha língua ficou feliz em fazer o trabalho, lambendo,
sugando, entrando e saindo, passeando por ela em um beijo íntimo
e delicioso enquanto seu corpo se contorcia em minhas mãos que
estavam ora em seus seios, acariciando-os, ora segurando firme
seu quadril, mantendo-a no lugar. Suas mãos embrenhadas em
meus cabelos.
Eu não tinha pressa alguma e ficaria ali até que ela atingisse o
seu prazer para só então eu poder estar dentro dela como vinha
sonhando há muito tempo.
Quando senti que seu corpo estava próximo do próprio limite,
continuei os movimentos ritmados, mas ela não permitiu que eu
prosseguisse.
— Dante agora é a minha vez — disse, me fazendo ficar em
pé e abaixando minha calça e a boxer, libertando-me.
— Como é que é? — perguntei. Eu já havia ouvido aquela
última frase inúmeras vezes, mas Awlly não...
CA-RA-LHO!
Por muito pouco não fiz como um adolescente, assim que ela
envolveu minha extensão com a sua boca macia e quente o prazer
quis me atingir, ainda mais com a visão dela ajoelhada à minha
frente, seus olhos nos meus e com quase todo o meu pau dentro de
sua boca.
Segurei seus cabelos e aquela era uma visão que eu não
esqueceria enquanto eu vivesse. Sua língua deslizava, macia e
molhada, me lambendo e chupando de uma forma que ninguém
jamais havia feito.
— Calma. Calma, princesa — pedi ou não conseguiria me
segurar.
Ela sorriu e me empurrou para o sofá, caí sentado e minha
amiga retornou para o meu colo, me beijando com tesão e logo sua
boca voltou para o meu pau.
Depois a peguei no colo e levei para o quarto, a nossa primeira
vez não podia ser no chão ou em um sofá na sala, ela merecia estar
confortável.
A depositei na cama com veneração e fiquei sobre ela,
abocanhando seu mamilo e depois beijando a sua boca enquanto
minha mão descia para sua boceta depilada.
Meu dedo correu por sua abertura e senti a umidade
acumulada ali.
— Princesa, você está tão molhada. Pra mim, porra!
— Eu quero agora, Dante — pediu ela, a voz carregada de
desejo.
— Tudo o que você quiser — respondi e me posicionei em sua
entrada. — Quero me enterrar tão fundo em você, de um jeito que
você nunca vai esquecer dessa noite.
Awlly se abriu mais para me receber, rocei meu pau em sua
entrada e suas unhas cravaram nas minhas costas quando me
afundei nela, ouvindo seu gemido fraco, o mais excitante que eu já
havia ouvido. Seus olhos estavam nos meus e vi refletido neles tudo
o que eu mesmo estava sentindo enquanto ela arfava embaixo de
mim. Sexo nunca havia sido daquele jeito, o sentimento, a
cumplicidade deixava tudo mais intenso.
Apesar de delicioso, eu mantinha meus movimentos
controlados apesar de ir fundo, não queria correr o risco de
machucá-la, até ela desfazer nosso beijo e pedir:
— Faça amor comigo como você faz com elas.
Congelei, confuso.
— Você não é nenhuma delas. Você é especial.
— Então faça o que estou pedindo, faça exatamente como
você faz com elas — sussurrou.
Franzi o cenho.
— Por quê? — perguntei, beijando o seu pescoço voltando as
estocas mais cuidadosas.
— Porque eu preciso. — Foi a resposta dela e eu a encarei. —
Por favor, eu quero tudo de você.
— Mas eu não faço amor com elas. Eu as fodo.
— Então me fode — pediu.
— Caralho, assim eu não consigo manter o controle.
— A intenção é essa.
Se ela queria tudo, teria tudo. Arremeti com mais força e ela
gemeu alto, meu coração batia furioso no peito.
— Mais, Dante, eu quero mais.
Aumentei o ritmo e deixei todo aquele tesão me dominar. Saí
de dentro dela e a virei de costas para mim, peguei suas duas mãos
e coloquei sobre a cabeceira da cama.
— Não solte — falei e ela assentiu.
Segurei forte em sua cintura e entrei nela outra vez, cravando
meus dedos em sua carne enquanto a fodia com força. O estalo do
tapa que dei em sua bunda ecoou pelo quarto e ela gemeu alto
outra vez, sua pele ficou marcada em um tom rosa lindo, enquanto
eu seguia em um entra e sai ritmado e frenético que me fazia delirar
e a fazia gemer de uma forma deliciosa e viciante para mim,
chamando meu nome até que senti seu corpo estremecer em
minhas mãos.
— Goza pra mim, princesa! — sussurrei em seu ouvido e ela
alcançou o êxtase pela primeira vez na noite.
Enquanto ela ainda estremecia, puxei seu rosto de encontro ao
meu e a beijei ao mesmo tempo que meus dedos desceram para o
seu clitóris a fim de prolongar a sensação para ela.
Não existia nada mais lindo do que Awlly gozando.

Passamos um bom tempo naquele amor delicioso e quando


estávamos exaustos, deitei-me na cama com ela em meu peito e
esperamos nossas respirações voltarem ao normal.
Decidi que o momento certo para contar a verdade a ela, era
aquele.
— Princesa? — chamei.
— Hum? — foi a resposta dela.
— Eu tenho uma coisa muito importante para te contar.
— Pode falar — disse ela com a voz mole.
Respirei fundo, sentindo minhas costas arderem pelos
arranhões causados pelas unhas dela, tomando coragem para enfim
contar tudo.
— Não quero que fique brava comigo, preciso que saiba que
não te contei antes porque fiquei com medo de perder a sua
amizade. E você é realmente a pessoa mais importante da minha
vida, não sei o que seria de mim sem você, mas acho que depois
disso que rolou entre nós, é o momento certo para te dizer que o
seu cavaleiro beijoqueiro não é o Caio, sou eu. Eu não sabia que
era você, não no início, mas quando senti o seu perfume, eu soube
e fiquei com medo de que você ficasse brava e me afastasse, então
encontrei o Caio no meio do caminho, ele estava indo embora e pedi
o favor de trocar de roupa com ele. Ele aceitou e foi por isso que
minha mãe o viu com a fantasia, mas me arrependi de ter pedido o
favor no momento em que ele usurpou o meu lugar, fingindo ter sido
ele a te beijar, fiquei possesso de ciúmes e então entendi que tudo
aquilo era porque eu sou muito apaixonado por você, não pergunte
desde quando, pois eu não saberia dizer, mas a verdade é que eu
sou louco por você — despejei de uma vez e aguardei pela resposta
dela.
Como ela não esboçou reação alguma deitada em meu peito,
deduzi que ela tivesse ficado em choque.
— Princesa? Princesa? — chamei e ela não me respondeu.
Então me dei conta de que na verdade ela havia adormecido e
não tinha ouvido uma palavra sequer do que eu havia dito. Eu ri e
beijei o topo de sua cabeça, puxei o lençol e nos cobri, aquela
conversa teria que esperar. Mas naquele momento eu estava
realizado e era o cara mais feliz do mundo, não me sentia um
devasso – mesmo tendo fodido aquela noite como um, mas tudo
tinha mais intensidade, estar com ela me trazia essa intensidade
surreal – amor. A abracei, e foi como se meu mundo coubesse por
completo em apenas um abraço.
Capítulo 27

Acordei no meio da noite com muita sede.


Sentei-me na cama, observando Awlly adormecida ao meu
lado. Seus cabelos estavam por todos os lados, cobrindo parte do
seu rosto, ela estava de bruços, ainda nua.
Eu não sabia ao certo o que viria na manhã seguinte, então
aproveitaria a noite ao máximo.
Mas antes, eu precisava de água.
Levantei-me e segui até a cozinha, abri a geladeira e me servi
de um copo d'água, bebendo-o todo de uma vez e em seguida
tomando outro. Coloquei o copo na pia e ao abrir a geladeira outra
vez para guardar a jarra d’água, um alarme soou em minha mente
enquanto meus olhos encontravam algo que me chamou atenção
imediatamente.
Calda de chocolate.
Ah, caralho!
Eu realmente ia fazer aquilo, porra!
Peguei o frasco e segui para o quarto, ainda estava nu e só de
pensar na Awlly e calda de chocolate, minha ereção crescia livre
enquanto eu caminhava pelo corredor.
Acendi a luz fraca do abajur que estava na mesa de cabeceira
e minha amiga resmungou, eu sorri e ela se virou de barriga para
cima, deixando os belos seios à mostra.
Subi na cama, deixando meu corpo ao lado do dela, pairando
levemente sobre ela e levei minha boca à sua, tocando-a de leve.
Ela resmungou outra vez.
— Princesa? — chamei por ela com a voz rouca em seu
ouvido.
Outro resmungo surgiu em resposta, mas este veio
acompanhado de um leve sorriso.
— Acorda, princesa — chamei em seu ouvido de novo, desta
vez beijando seu pescoço em seguida.
— Dante.
— Sim, princesa. Sou eu. Vamos fazer uma brincadeira —
falei, abocanhando um seio dela e depois o outro.
Awlly se contorceu embaixo de mim e gemeu fraco.
— Acho que isso pode ser interessante — falou ela,
embrenhando seus dedos em meus cabelos.
— Pode apostar que sim — respondi com a boca ainda em seu
seio, lambendo-o.
— E qual é a brincadeira? — perguntou e gemeu fraco quando
segurei com gentileza seu mamilo entre meus dentes.
— A brincadeira se chama “vamos descobrir se a Awlly é mais
gostosa com ou sem calda de chocolate” — falei e ela riu de leve,
cortando o riso com um gemido delicioso que escapou por seus
lábios assim que chupei seu mamilo intumescido com um pouco
mais de pressão.
Alcancei sua boca com a minha em um beijo cheio de luxúria,
insano e desci minha mão para a sua boceta, sentindo seu corpo
todo se arrepiar.
Ela estava muito molhada.
— Porra, Awlly, você já está tão molhada de novo. E te
sentindo assim eu só consigo pensar em te foder de maneiras
inimagináveis.
— Então fode, Dante. Do jeito que você quiser — disse ela ao
meu ouvido, com a voz sedosa que poderia derreter os meus
miolos.
Escorreguei um dedo para dentro de sua boceta e ela arfou.
— Caralho, eu vou. Vou muito. Mas antes eu preciso provar
isso — falei, alcançando a calda de chocolate que estava na mesa
de cabeceira. — Eu posso?
— Você pode fazer o que você quiser — disse, mordendo meu
lábio inferior.
— Então vamos deixar essa brincadeira mais interessante,
princesa — propus, abrindo uma das gavetas de sua mesa de
cabeceira.
Tirei de lá um lenço que já havia visto ela usar no pescoço
algumas vezes e também um cinto fino preto. Olhei para ela que me
encarava ansiosa. Arqueei uma sobrancelha e ela assentiu sorrindo,
me estendendo as mãos. Primeiro peguei o lenço e a vendei, em
seguida beijei cada um de seus pulsos e em seguida os prendi com
o cinto. Levantei seus braços para que o cinto alcançasse a
cabeceira da cama, a amarrando ali.
Como precisei me esticar sobre ela para prender o cinto na
cabeceira da cama, meu abdômen tocou o rosto dela, foi então que
ela me lambeu, acendendo-me ainda mais. Levantei da cama e a
observei por um momento. Puxei o ar com força. Ela estava fodendo
com o meu cérebro e todos os meus sentidos. Não estranharia se
eu virasse uma ameba depois daquela noite.
Awlly se arrepiou com o primeiro contato da calda gelada em
sua pele quente. Eu a lambuzei com o doce em alguns lugares
estratégicos. A visão dela deitada sobre os lençóis, vendada e
amarrada, enquanto eu derramava a calda era exatamente como eu
havia imaginado, quente como o inferno, ainda mais tendo-a tão
entregue e vulnerável como naquele momento.
Pairei sobre ela outra vez e recolhi uma gota de calda que
estava em seu lábio inferior, sugando-o e lambendo em seguida,
emendando em um beijo frenético, cortando o contato de uma vez
em seguida, fazendo-a trazer o rosto em direção ao meu, querendo
mais, mesmo que não pudesse me ver.
Aquilo era o inferno e o paraíso ao mesmo tempo!
Escorreguei meus lábios por seu pescoço, alcançando os
seios que estavam cobertos pela calda, chupei e lambi o primeiro
deles, deixando sem doce algum e logo depois fiz o mesmo com o
outro enquanto ela se contorcia embaixo de mim. Então minha
língua deslizou por sua barriga lisa, seguindo o estreito caminho de
calda que ia do vale entre seus seios até a sua intimidade e quando
cheguei lá, gemi.
Absolutamente deliciosa!
Minha língua escorregava para cima e para baixo em sua
abertura, lambendo, sugando, beijando, extasiado, aproveitando
cada pedacinho da sua doce boceta enquanto ela ficava mais e
mais molhada, rebolando, trazendo seu quadril de encontro a minha
boca, tentando puxar as mãos que estavam presas e gemendo um
pouco mais alto, até que ela encontrou o seu prazer sussurrando
palavras incoerentes.
Gostosa pra caralho!
— Ainda não me decidi se você é mais gostosa com ou sem a
calda, Awlly. Vamos ter que repetir isso, mas não agora. — Ela
arquejou. — Agora eu preciso fodidamente estar dentro de você.
— Dante assim eu vou enlouquecer.
— Enlouqueça no meu pau.
A segurei pelo quadril e a girei, deixando-a de bruços. Suas
mãos ainda estavam presas, mas como havia uma folga no cinto
entre suas mãos e a cabeceira, o movimento não machucou seus
pulsos quando torceu o couro. Ela gemeu e ofegou quando acertei
um tapa em sua bunda, essa era uma das coisas que percebi que
ela gostava muito.
Puxei seu quadril para cima, só o suficiente para que pudesse
colocar um travesseiro sob sua pelve, deixando sua bunda gostosa
empinada para mim. Desci da cama por um momento, tirei a boxer e
acariciei meu pau que já estava babando por ela enquanto a
observei inquieta na cama.
Com o pau latejando subi na cama outra vez, abrindo suas
pernas e lambi sua doce boceta, acertando outro tapa, esse ainda
mais e entrei nela de uma vez, pegando-a de surpresa, sentindo
meu pau pulsar dentro dela que estava quente e apertada. Segurei
sua cintura e comecei a entrar e sair dela, aumentando o ritmo em
seguida, tendo total controle sobre ela, que já não conseguia
controlar os próprios gemidos que se misturavam com os meus.
Juntei seus cabelos em minhas mãos e puxei, fazendo-a
levantar um pouco o tronco, se apoiando nos cotovelos e mantendo
as mãos, presas ao cinto, o que a deixou ainda mais empinada para
mim, enquanto eu me enterrava fundo nela, atingindo a tênue linha
entre o prazer e o insano.
Quando senti os primeiros espasmos de seu corpo,
anunciando o orgasmo iminente, deslizei a língua pela sua coluna
enquanto mantinha o ritmo e o aperto em seus cabelos, então senti
sua boceta me apertar e ela gozou.
Aguardei que ela se acalmasse, então a virei de frente para
mim outra vez, soltei suas mãos e tirei a venda, observando seu
rosto corado e o sorriso safado que ela me ofereceu. Percebi
naquele momento que eu seria capaz de qualquer coisa para vê-la
daquele jeito todos os dias pelo resto da minha vida.
— Quero te ver cavalgando montada em mim — falei enquanto
subia meus beijos por sua barriga, tentando alcançar a sua boca.
Awlly me empurrou para a cama e eu sorri de lado. Ela agarrou
meus cabelos curtos e mordeu meu pescoço.
— Quer me ver enlouquecer no seu pau? Então assista —
usou contra mim o que eu havia dito antes.
Ela me montou e deslizou devagar meu pau para dentro de
sua boceta quente e molhada de seu recente gozo, meu peito subia
e descia rápido demais. Ela não enlouqueceria, eu sim. Awlly subiu
e desceu lentamente, me torturando, se apertando intencionalmente
ao meu redor.
— Você é má — falei e ela sorriu perversa, mantendo os
movimentos lentos, mas apertando consideravelmente meu pau
com sua boceta.
Abocanhei um de seus seios, ela se apoiou em meus ombros e
aumentou o ritmo. Sentando e levantando, me fazendo entrar e sair,
subindo e descendo em um ritmo cadenciado, rebolando, me
enlouquecendo por um tempo.
Senti meu prazer se aproximando, mas me segurei, ela já
começava a se apertar mais ao meu redor outra vez e seu corpo
iniciava um leve estremecimento, ela iria gozar. De novo. PORRA!
Quando o primeiro arquejo deixou seus lábios enquanto seu
corpo tremia, eu segurei seu quadril assim que ela subiu, mantendo-
a parada ali enquanto eu estocava com força, de baixo para cima,
alucinado, minha boca chupava a pele macia do seu pescoço
enquanto ela gemia alto, chamando meu nome. Com essa visão me
deixei atingir meu próprio clímax, jorrei dentro dela todo o meu
prazer.

Capítulo 28

— Bom dia, princesa! É hora de acordar — ouvi Dante me


chamar, beijando meus cabelos.
Eu mal podia acreditar no que tinha acontecido. Como um
pedido de opinião tinha se transformado em uma noite quente e
devassa com o meu melhor amigo de infância?
Abri meus olhos devagar e encarei seu belo sorriso de sempre.
Enquanto eu me sentava na cama, me cobrindo com o lençol, ele
pegou uma bandeja que estava sob a mesa de cabeceira e colocou
no meu colo.
— Café da manhã para a minha princesa! Tudo que você
adora.
— Hum, obrigada!
Um pigarrear soou à porta do quarto, nos assustando.
— Quer matar a gente, Chloe? — perguntei a minha amiga.
— Desculpe, mas vocês é que estavam distraídos demais.
Está doente? Por que o Dante está cuidando de você? — quis
saber, se jogando na cama ao meu lado.
— Eu sempre cuido dela — Dante respondeu por mim.
— Eu sei, mas café na cama?
— Só acordei primeiro, fiz o café e trouxe pra ela. Vou tomar
um banho agora.
— Tá — concordou ela, parecendo ter engolido a desculpa
esfarrapada do meu amigo. — Quero ir à praia. Emma e Bonnie vão
também. Patrick não pode e Ethan sabe-se lá onde está.
— Tô dentro — disse Dante, já na porta do banheiro do meu
quarto.
— Eu também, vai ser bom pegar um pouco de sol —
concordei. — E esse bebê como está?
— Está tudo bem — respondeu ela, acariciando a própria
barriga. — Noite difícil?
— Por que? — perguntei, tentando aparentar naturalidade. Ela
não tinha como saber, tinha?
Chloe apontou para mim.
— Tá pelada e Dante estava cuidando de você. Aposto que
ficou bêbada e Dante teve que te dar banho. Ainda bem que vocês
são como irmãos, né? — disse ela.
— Sim, isso mesmo, somos como irmãos — falei, pegando o
copo de suco de laranja que Dante tinha trazido na bandeja de café
da manhã e bebendo todo o líquido de uma vez.
— Se veste, vou assaltar a sua geladeira — disse e saiu do
quarto.
Coloquei o copo na bandeja outra vez, depositando-a sobre a
mesa de cabeceira e me jogando na cama outra vez, levando as
mãos ao rosto e rindo.

O sol estava quente, e todos estávamos na água que estava


fresca e as ondas fracas.
— Ei, olha lá! São golfinhos — disse Bonnie, animada.
— Que lindos — falei.
— Vamos lá ver eles de perto — sugeriu Dante.
— Não vou de jeito nenhum — disse Emma.
— Nem eu — disse Chloe.
— Eu vou — concordei.
— Vão lá vocês, eu vou ficar com ela — falou Bonnie.
— Então vamos? — chamou Dante.
— Vamos — falei e comecei a nadar com ele ao meu lado.
Nos aproximamos dos golfinhos, eles pareciam felizes com a
nossa proximidade e começaram a brincar, embora não tenham nos
deixado tocá-los.
— Estou cansando, acho bom voltarmos — sugeri.
— Vem aqui que eu te seguro — disse ele, se aproximando
mais, me segurando pela cintura, juntando meu corpo ao dele.
Enlacei minhas pernas em sua cintura e o abracei enquanto
observamos os dois golfinhos se afastarem pouco a pouco. Suas
mãos acariciaram minhas coxas, atraindo meu olhar para ele. A
intensidade de seus olhos castanhos me atingiu e eu sabia que meu
olhar estampava a mesma intensidade.
— Por que a gente demorou tanto pra fazer isso? — perguntou
e eu não tinha uma resposta para aquilo. Seus olhos recaíram sobre
os meus lábios, não consegui evitar puxar o ar com força. — Estou
louco de vontade de te beijar de novo.
Por instinto meus olhos correram para onde as meninas
estavam.
— Estamos muito longe, elas não podem nos ver direito —
disse ele. — Mas, já sei!
Dante começou a nos mover devagar dentro da água,
utilizando as pernas e um dos braços, seguindo em direção às
pedras grandes que haviam ali ao nosso lado. Eu sabia que logo
após elas, havia uma praia minúscula e deserta.
— Você está ficando maluco? — perguntei, sorrindo.
— Devo estar, desde ontem que consigo pensar em nada
diferente de estar dentro de você, Awlly — confessou e eu ofeguei,
fiquei arrepiada só de lembrar da sensação de como é ter Dante
dentro de mim e ele percebeu, já que aquele sorriso safado de lado
apareceu. — Se segura— pediu e assim eu fiz.
Sua mão que se mantinha em minha cintura enquanto ele
seguia conosco, já quase chegando ao outro lado das pedras,
escorregou pela minha bunda e tocou minha boceta por cima da
calcinha do biquini. Estremeci de leve com o contato e suspirei
quando seus dedos escorregaram por baixo do tecido, entrando em
contato direto com a minha boceta, acariciando de leve.
Assim que as pedras já cobriam nossa imagem, quase
chegando à areia, mas ainda submersos na água até quase o
pescoço, Dante afundou um dedo dentro de mim, e não consegui
evitar abaixar meu rosto em sua direção, mordendo de leve seu
ombro e segurando seus cabelos curtos enquanto seu dedo entrava
e saía da minha boceta.
Ele beijou meu pescoço, já caminhando sem dificuldade até
que a água estivesse pouco acima de sua cintura. Segurou-me com
as duas mãos e me beijou na boca. Nossas línguas se enroscando
uma na outra, lambendo e sugando em um beijo cheio de desejo
puro e cru. Ainda com as pernas enroladas na cintura dele, rebolei,
sentindo seu pau duro, então um arquejo escapou da minha
garganta enquanto nos beijávamos.
— Dante — minha voz saiu em tom de súplica.
— Pede, princesa! É só pedir que eu te dou o que quiser.
— Eu quero o seu pau agora, Dante!
— Porra! — praguejou, abaixando a sunga.
Ele me levantou um pouco mais e deslizou o pau pela minha
boceta, me instigando, provocando.
— Dante! — eu estava praticamente implorando.
— Pede de novo — sussurrou com os olhos nos meus.
— Agora, Dante!
— Agora o que? — perguntou, encaixando o pau na minha
boceta, deixando só a glande entrar e em seguida tirou. Ofeguei. —
Pede direito, princesa.
— Me fode agora, Dante!
— Porra, princesa — praguejou e seu pau entrou de uma vez
em mim, fazendo-me gemer alto e afundas as unhas em seus
ombros.
Dante me segurou pelo quadril e iniciou investidas duras e
fortes contra mim, quase descontroladas, enquanto gemidos roucos
escapavam de sua boca, se misturando aos meus. Ele vai tão fundo
que mal consigo me conter e rebolo como posso, sentindo meu
corpo cada vez mais quente enquanto ele me fode com força,
fazendo meus seios balançarem.
— Isso, Dante! Mais forte — peço e vejo sua expressão de
prazer endurecer ainda mais.
Suas mãos apertam com força minha bunda e além de estocar
contra mim, ainda me puxa contra ele, meu clitóris sendo arrastado
em sua pelve, aumentando ainda mais meu prazer.
— Olha pra mim, Awlly — pediu ele, praticamente rugindo,
mas eu mal conseguia manter meus olhos abertos. — Que boceta
gostosa do caralho!
A água se agita ao nosso redor, tanto pelos movimentos brutos
dele quanto pelas ondas pequenas e fracas que passam por nós.
Seu braço esquerdo rodeia a minha cintura, sustentando-me e sua
outra mão escorrega pela minha bunda e seu dedo me acaricia na
parte de trás, surpreendendo-me.
— Dante?
— Calma, princesa. Vai ser gostoso, relaxa — garantiu ele e
me beijou enquanto seu dedo ainda me acariciava ali, sem parar de
investir contra minha boceta na mesma intensidade de antes.
Dante segura meu lábio inferior entre seus dentes e quando
sua boca se separa da minha, seus olhos encaram os meus, então
seu dedo afunda lentamente, me fazendo arquejar, a sensação
estranha e ao mesmo tempo boa me atinge, meu corpo parece não
ter controle e me em um abismo, pronta para me jogar.
— Goza pra mim, princesa — pede ele e em seguida chupa
meu seio, lambendo e sugando com certa força, enquanto seu pau
me come forte e seu dedo me fode por trás.
Aperto seu pau com a minha boceta e estremeço forte,
sentindo ele fazer o mesmo e assim gozamos juntos enquanto ele
me aperta contra ele com o braço que está enlaçado em minha
cintura.
— Você está bem? — perguntou ele ainda ofegante e me
segurando em seu colo.
— Sim, estou — respondi e ele beija meus lábios de leve,
sorrindo.
Dante enfim sai de dentro de mim, mas me mantém em seu
colo, caminhando para fora da água. Ele se senta na areia quente e
me vira em seu colo, deixando-me de lado para ele.
— Eu posso me sentar em um lugar que não seja seu colo,
sabia? — provoquei.
— Não pode não, fica quieta aí mesmo onde está —
respondeu e eu ri, tentando me levantar. — É sério agora, a areia
está muito quente, fica aqui — pediu, me colando ao seu peito, todo
protetor e quase me derreti. — Vamos dar um tempinho e já
nadamos de volta.
Assenti e encostei a cabeça em seu peito, aproveitando o
momento que nem parecia real.
Capítulo 29

No outro dia, já no final da tarde, eu estava no apartamento de


Ethan alimentando os peixes quando meu celular sinalizou uma
chamada de Dante. Não consegui evitar o sorriso.
— Alô! — atendi, animada.
“Oi princesa! Tudo bem?”
— Sim e você?
“Tô ótimo! Hein... fica pronta que passo te pegar às 21h.”
— Aonde vamos? — perguntei, curiosa.
“É uma surpresa!”
— Dante, você não pode fazer isso comigo.
“ Vista algo bonito e sexy.”
— Calcinha de renda e uma cinta liga preta então — brinquei e
o ouvi gemer do outro lado da linha telefônica.
“Caralho, Awlly, assim você fode com a minha mente.”
— Não foi a minha intenção — respondi, fingindo inocência.
“É claro que não! Porra, Awlly, agora eu tô de pau duro na sala
da casa da minha mãe.” — falou e eu ri. — “Te pego às 21h,
safada.”
— Mal posso esperar.
“Imagina eu então. Até mais tarde, princesa.”
Assim encerramos a ligação.

Estava passando um batom vermelho quando ouvi a porta do


meu apartamento sendo destrancada. Era Dante, eu sabia.
— Princesa? — me chamou.
— Já estou indo — gritei do quarto, peguei minha bolsa e
segui para a sala.
Dante estava sentado no meu sofá, mexendo no celular. Ele
vestia uma calça jeans de lavagem clara e a sua camiseta da sorte,
além de calçar coturnos estilosos e hoje, para variar, também usava
um boné virado para trás. Absolutamente sexy!
Assim que ele percebeu minha aproximação bloqueou o
celular e se levantou, virando-se em minha direção, olhando-me dos
pés à cabeça. Eu vestia uma saia preta curta, mas solta, cropped de
manga longa todo de renda transparente com um top por baixo que
tampava meus seios, calçava botas que subiam até o meio da
minha coxa com saltos finos.
E, ainda que os saltos fossem realmente altos, eu não
consegui ficar da mesma altura que Dante. Ele me estendeu a mão,
a qual aceitei, e me girou em uma volta completa.
— Acho que meu coração vai parar agora, não sei se aguento
até o final da noite.
— Vai ter que aguentar — falei, me aproximando, apoiando as
mãos em seu peito, soltando um suspiro só para vê-lo puxar o ar
com força, não sabia o que tinha mudado, mas nos últimos dias,
todas as vezes que eu fazia isso, ele parecia ficar ainda mais sem ar
e se esforçava para respirar.
— Está usando a calcinha preta? — perguntou.
— Sim — respondi e o vi morder o lábio inferior.
— Vamos fazer uma brincadeira diferente hoje, princesa.
— Onde vamos?
Então ele me entregou um envelope que tirou do bolso da
calça jeans.
— O que é isso? — perguntei, curiosa.
— Abra — pediu com um enorme sorriso no rosto.
Meus olhos saltaram e minhas mãos tremeram ao ver o
conteúdo do envelope. Um grito escapou da minha garganta.
— Você está brincando comigo! — exclamei e ele negou com a
cabeça, sorrindo ainda mais. — Estavam esgotados quando
tentamos comprar.
— Eu havia comprado antes — disse ele.
Observei de perto os dois ingressos para o show da banda de
rock Adrenaline, a qual eu era muito fã, especialmente do vocalista
Joe que era um absurdo de gosto.
— Você é o melhor amigo que eu poderia ter.
— Sou só o seu melhor amigo, é isso? — perguntou e eu não
sabia direito o que responder, então só arqueei as sobrancelhas em
sua direção.
— Não vamos perder o show?
— Certo! Certo! Não é a hora para essa conversa. Porém, esta
noite é especial com esse show e tudo mais, então quero que use
isso — disse, pegando uma pequena caixa que estava sobre o sofá.
Parecia uma caixa de relojoaria, assim como diversas outras
que ele já tinha me dado.
— Eu amo quando você me dá brincos, sabe que eu adoro —
falei, pegando a caixa e ele segurou minhas mãos nas dele.
— Não são brincos — sussurrou com a voz grave, os olhos
nos meus.
— O que é? — perguntei curiosa.
— Abra — dessa vez não era um pedido e sim uma ordem.
Abri a caixa quase que em desespero de tanta curiosidade,
encarei o pequeno objeto dourado e o peguei entre meus dedos,
sem entender o que era.
— O que é? — perguntei, encarando-o e ele sorriu de lado.
— Confia em mim? — perguntou e assenti rapidamente. —
Vira de costas pra mim e apoia as mãos no sofá.
— O que...?
— Agora, Awlly! — Era praticamente uma ordem.
Me virei de costas para ele e apoiei as duas mãos no encosto
do sofá. Dante deu a volta no móvel, ficando de frente para mim.
— Você está maravilhosa — disse se abaixando um pouco,
deixando seu rosto na altura do meu e beijou meus lábios.
Quando o beijo começou se aprofundar, ele separou nossas
bocas de uma vez e me estendeu a mão, coloquei sobre ela o
objeto pequeno e oval dourado, o qual ele levou até a boca em um
movimento sexy, então o segurou outra vez e olhou para o meu
decote. Com o dedo indicador puxou a renda do cropped juntamente
com o tecido fino do top, libertando só um dos meus seios, sugou
com força meu mamilo e passou a lember e chupar muito lenta e
torturantemente em seguida. Quando meu primeiro gemido fraco
escapou ele se afastou, dando a volta no sofá outra vez.
Não me mexi, mas estava ofegante, perdida e excitada. Dante
trouxe a mão que estava com o objeto até perto do meu rosto.
— Abre a boca e chupa, Awlly — disse e as palavras
reverberaram dentro de mim.
— Não é bem isso que eu queria chupar agora — falei e vi sua
mão vacilar por um instante, ele não esperava por aquela resposta,
mas em seguida um acertou minha bunda.
— Abre a porra da boca e chupa, Awlly.
Então eu obedeci, abri a boca e chupei o objeto enquanto ele
afastou a minha calcinha e acariciou gentilmente meu clitóris.
Quando arquejar pela primeira vez ele parou de acariciar meu
clictóris e retirou o objeto da minha boca, fazendo um fio de saliva
esticar, acompanhando o objeto. Ele parecia propenso a me deixar
passar vontade aquela noite,me instigando e ao menor sinal de
excitação mais profunda ele se afastava.
Para a minha surpresa, devagar ele enfiou o objeto dentro da
minha boceta e me deu outro tapa na bunda. Arrumando minha
calcinha em seguida e deixando um beijo na minha bunda. Então
me estendeu a mão para me ajudar a me levantar e arrumar a
postura.
— Vamos? — chamou, estendendo a mão para que eu fosse
na frente.
— Espera! — falei e ele se virou para mim com as mãos nos
bolsos da calça e o sorriso mais cretino que eu já tinha visto. Ele
sabia exatamente o que eu ia perguntar. — Isso vai ficar aqui dentro
de mim?
— Está desconfortável? — perguntou o cretino.
— Não exatamente.
— Ótimo! Então vamos.
— Tá de brincadeira? Por que? O que isso faz? — perguntei e
ele lambeu o próprio lábio inferior.
Sexy com o inferno!
— Vamos descobrir.
— Ok — concordei. — Mas eu preciso de um copo de água
antes de irmos.
— Tudo bem — disse ele.
Me dirigi para o cozinha, me servi um copo d’água e quando
ele se distraiu com o celular fiz algo que sabia que mexeria com ele
também. Ele ia jogar comigo? Ótimo, eu também sabia jogar aquele
jogo.
O show estava abarrotado de gente, todos muito animados,
dançando, pulando e gritando, a banda Adrenaline era um
espetáculo do rock. Dante e eu já havíamos tomado duas cervejas,
dançavamos e cantávamos juntos ao ritmo da música. Quando parei
por um momento para tomar mais da minha cerveja, minhas mãos
tremeram e me arrepiei por inteiro com o que senti.
Por instinto meus olhos correram para os de Dante e ele me
observava com atenção, um arquejo escapou dos meus lábios, o
que eu estava sentindo aumentou de velocidade, direto na minha
boceta, o objeto dourado que ele colocou dentro de mim era a porra
de um vibro.
E Dante o estava controlando.
Enquanto estávamos em público, em meio a um show de rock
abarrotado de gente.
Dante me abraçava, ora de frente, ora de costas, observando
minhas reações, sustentando-me quando eu amolecia, aumentando
e diminuindo a velocidade, fazendo-me chegar próximo ao ápice e
em seguida tirando meu chão, sem me deixar gozar.
Quando ele me abraçou de costas mais uma vez, beijou meu
pescoço, puxando meu cabelo de lado.
— Está pronta para gozar na frente de centenas de pessoas
sem que elas sequer percebam o que está acontecendo aqui? —
sussurrou em meu ouvido e não consegui conter o gemido alto
quando ele aumentou a velocidade.
Ninguém perceberia mesmo, todos estavam entretidos demais,
se mexendo e gritando. Meu amigo deixou uma trilha de beijos do
meu ombro até meu pescoço enquanto seus dedos se insinuaram
sob a barra da minha saia. Rebolei, sentindo seu pau duro sob o
jeans e no momento em que ele chupou meu pescoço eu estremeci
com força e gozei. Ele me segurou durante o orgasmo violento que
me atingiu, não me deixando cair quando minhas pernas
amoleceram e meus olhos se fecharam involuntariamente.
— Shiii! Calma, princesa! — disse quando percebeu que o
orgasmo havia sido realmente arrebatador e os espasmos
demoraram para passar, me virou de frente para ele e me beijou
com vontade.
— Dante — chamei em meio a bagunça alheia a nós dois
quando eu já havia me recuperado.
— Sim — respondeu acariciando meu rosto e sorrindo.
— Eu menti sobre uma coisa — falei.
— O que? — perguntou e vi aquele costumeiro v se formar
entre suas sobrancelhas.
— Preciso que veja por você mesmo — falei, fingindo culpa.
— Como assim? — perguntou ainda mais confuso.
Peguei sua mão e olhei para ela, ele fez o mesmo quando
comecei a movê-la para baixo e depois de alcançar a barra da
minha saia a subi só um pouquinho e olhei para ele, soltei sua mão
e o incentivei-o a continuar a subida com a mão.
Dante olhou para os lados e então subiu a mão até me tocar e
quando isso aconteceu seus olhos me encararam rápido.
— Que porra... Você estava... — ele não conseguia terminar as
frases.
— Eu tirei quando fui tomar água — admiti.
— Você estava esse tempo todo na minha frente sem
calcinha? — perguntou e eu assenti. — Caralho, Awlly, assim você
me fode — reclamou, mas não tirou seus dedos que deslizavam
pela minha boceta encharcada pelo recém-gozo.
— Eu preferia que você me fodesse — brinquei e o vi fechar os
olhos com força e um grunhido escapar dos seus lábios.
Quando seus olhos se abriram de novo e me encararam, eles
pareciam pegar fogo. Ele levou os dedos lambuzados até os lábios
e os chupo, em seguida segurou minha mão e praticamente saiu me
arrastando por entre a multidão.
Entramos no estacionamento subterrâneo e descemos uns três
andarem até que encontramos uma área que estava cheia de
carros, porém com ninguém à vista.
— Até que enfim, caralho — comemorou ele e me beijou,
agarrando minhas pernas e me levando para o seu colo.
Enlacei as pernas em sua cintura e ele gemeu quando rebolei
em seu pau duro enquanto ele caminhava até o último carro bem no
fundo do estacionamento.
— Você não pode fazer isso, sair comigo sem calcinha assim e
nem me avisar, quase explodi de tesão e surpresa quando senti sua
boceta lisinha e melada sem nenhuma barreira — disse ele, me
colocando no chão.
Ele me virou de costas, empurrando meu tronco de encontro
ao capô do carro, deixando minha bunda empinada. Se abaixou e
senti sua língua percorrer minha boceta.
— Seu gosto é delicioso — falou enfiando um dedo dentro da
minha boceta e retirando de lá o vibro, me fazendo estremecer de
leve. — Você é safada pra caralho, Awlly! E eu estou amando isso
em você — disse e me lambeu outra vez.
Dante se levantou e acertou um tapa em minha bunda,
segurou meus cabelos, deixando-me ainda mais empinada e entrou
de uma vez em mim.
— Gostosa pra caralho! — rosnou, apertando minha bunda
com a outra mão e em seguida acertou outro tapa, dessa vez na
outra nádega. — Eu vou surrar a sua bunda com a minha mão e a
sua boceta apertada com o meu pau para que você não se esqueça
de que nunca mais deve sair por aí sem calcinha, entendeu, Awlly.
Minha resposta foi um gemido, então outro tapa veio e o aperto
nos cabelos se intensificou.
— Você entendeu, Awlly?
— Sim, Dante.
Então ele fez o que prometeu, até que eu estivesse
completamente mole em seus braços.
Capítulo 30

Acordei sentindo o vazio na cama. A Awlly já tinha se


levantado, senti o cheiro do café. A noite passada havia sido incrível
e depois do sexo avassalador no estacionamento do show, viemos
para casa e fizemos amor com calma desde a sala até o quarto
dela. Sorri ao lembrar de cada momento, nossa química era algo
surreal, parecia que não conseguíamos ficar mais perto um do outro
sem estar fazendo amor loucamente. Era uma conexão inexplicável.
Me levantei e segui até o banheiro, como dormir na casa da
minha amiga era recorrente, tinha coisas minhas de higiene pessoal
ali. Depois de um banho rápido e escovar os dentes, fui até a
cozinha e lá estava ela, já pronta para o trabalho.
— Bom dia, princesa! — cumprimentei, encostando-me no
batente da porta para observá-la.
— Bom dia — respondeu ela, parecia constrangida. — Tem
café e aquele bolo de laranja que você gosta.
Eu podia sentir o constrangimento em cada uma de suas
palavras. Caminhei até ela, virando-a de frente para mim.
— Hey, o que está acontecendo? — perguntei.
— Como assim? — devolveu a pergunta, evitando os meus
olhos.
— Ei? — Peguei seu queixo e com delicadeza ergui seu rosto
até o meu, fazendo com que nossos olhares se encontrassem. —
Por que está assim, princesa?
— Estou como sempre, Dante — respondeu, saindo do meu
toque, se afastando de mim.
Um alerta de que havia algo muito errado soou na minha
cabeça. Então, sentei-me e a observei. Ela não se sentou para
comer, tomou o café em pé, se virando para lá e para cá, totalmente
inquieta, me evitando o máximo possível.
— Eu já vou indo para o trabalho — disse ela, colocando a
xícara na pia.
Me levantei e barrei a porta.
— Vai me dizer o que está acontecendo ou não? Ontem à
noite estava tudo bem.
— Qual é, Dante? Foi só sexo. Todos esses dias, foram só
sexo.
— Só sexo? — perguntei e ela me encarou.
— Olha, foi gostosinho e tudo mais, mas foi isso, entendeu?
Você sabe como funcionam essas coisas.
— Como é que funcionam essas coisas, Awlly? Não foi só
sexo, foi... a gente — falei, segurando seu rosto.
— Dante, não existe a gente, somos amigos. Esses últimos
dias foram muito legais, estávamos bêbados, eu te pedi ajuda com o
que não devia e agora vamos seguir em frente, certo?!
— Não, não está certo. Estávamos bêbados todos esses dias
também? Eu acho que não. Nós precisamos ter uma conversa séria.
— Conversas sérias sobre noites de bebedeira não vão
resolver nada. A conversa que eu tinha que ter, já tive.
— Noites de bebedeira? Então quer dizer que foi um erro? —
perguntei.
— Ah, não se faça de magoado, Dante, nós dois sabemos que
é exatamente assim que você lida com as coisas, agora vai achar
ruim só porque está do outro lado?
— Princesa não faça isso, você quer sair, saia, prometo que
não vou atrás de você. Acalme suas ideias e depois ou amanhã
conversamos, tá — falei, ela devia estar confusa com tudo aquilo.
Devia ser só isso. — Só quero deixar claro que eu gosto demais de
você, mais do que como...
— Não diga isso! Eu vou voltar a sair com o Caio e você sabe
que na verdade isso só aconteceu porque eu queria saber como
agradá-lo e você poderia me mostrar como fazer isso.
As palavras me acertaram em cheio. Ouvi-la dizer aquilo doeu
e fiquei totalmente sem reação.
— Mas o lance de vocês não é sério — falei.
— Bem que você queria que não fosse, não é?! Afinal, se
empenhou bastante para me proporcionar os piores encontros
possíveis. — Estreitei meus olhos para ela.
— Não vou dizer que é mentira, mas tem muita coisa que você
não sabe e só fiz isso porque...
— Não quero ouvir os seus motivos, sejam eles quais forem.
Caio já me contou tudo.
— Caio?
— Ele voltou antes, está muito magoado com você e quando
via suas roupas na sala ficou decepcionado comigo também...
— Coitado, não é?
— Sim, coitado mesmo. Ele é um cara legal e merece o meu
respeito, estava cuidando da mãe enquanto eu estava aqui bêbada
e de safadeza com o primo dele.
— Você está se ouvindo falar?
— Contei a ele sobre esses dias e ele me contou todas as
suas armações...
— Tá legal, falei para ele que você gostava de coisas que não
gostava, mas preciso ser crucificado por isso? Awlly, você também
estava naquela cama, e na praia, e no sofá, e no estacionamento,
também sentiu tudo o que eu senti, sabe que não foi só sexo.
— Não precisa ficar gritando aos quatro ventos que você
transou com a garota que eu gosto, Dante — A voz de Caio soou
atrás de mim.
— Está de brincadeira? — perguntei a Awlly. — Estamos tendo
essa conversa com esse cara aqui dentro de casa e você nem me
falou nada?
Awlly passou por mim e ficou ao lado de Caio, ele enlaçou a
cintura dela.
Porra! Que caralho!
— Para o bem da nossa amizade, se é que ela ainda existe,
acho melhor você ir embora e esquecer que isso tudo aconteceu —
disse ela.
— Awlly, você não...
— Eu estou com o Caio agora, entenda isso.
Passei minhas mãos pelos meus cabelos, frustrado, sem
entender como aquela porra toda tinha acontecido.
— Foda-se! — praguejei e soltei o ar com força, peguei meus
sapatos e segui com ele nas mãos mesmo.
— A propósito, não é legal transar com a namorada do seu
primo logo depois de ter transado com a sua vizinha — disse Caio,
me entregando o celular.
Olhei para a tela do aparelho e havia uma mensagem da
minha vizinha, ela disse que precisava da minha ajuda como ontem
e que estava me esperando ansiosa, havia emoticons de fogo no
final da mensagem.
— Awlly não é nada disso... Você não pode me odiar. Não
agora.
Enfim entendi que era mágoa o que estampava seus olhos.
Desisti de tentar explicar, ela não me ouviria, não acreditaria
que o que Lisa queria dizer era que precisava da minha ajuda com o
ar-condicionado, o aparelho dela vivia estragando, ainda ontem tive
que ajudá-la outra vez, mas também disse que ela precisava
chamar um profissional de verdade, o aparelho já devia ter dado
problema de novo.
Apesar de tê-la ajudado na noite anterior antes de vir para a
casa da Awlly para levá-la ao show, recusei o tipo de pagamento
que ela sempre me oferecia.
Minha amiga se agarrou mais ao Caio e ele sorriu. Tive
vontade de socá-lo ali mesmo, mas ela odiava violência e se eu
fizesse aquilo ela me odiaria ainda mais.
— Esquece! — falei e saí do apartamento dela.
Eu não me importava com Caio, ele também não estava certo
na história. O que me machucava de verdade era ela não acreditar
em mim, ela o preferir, achar ele melhor para ela do que eu.
Eu devia tê-la acordado ontem à noite e contado tudo, mas
perdi a minha oportunidade e perdi a garota que amo.
Desci para o estacionamento, furioso e decepcionado,
precisava descontar a raiva em alguma coisa e desnorteado como
estava, fiz a pior escolha, chutei uma pilastra de concreto.
Urrei de dor.
— Calma aí, cara?
— Ethan? — chamei ao ouvir a voz do meu amigo. — Graças
a Deus você voltou.
— O que essa pilastra safada fez para você? — perguntou,
zombando.
— Ela não tinha feito nada, mas agora acho que quebrou meu
pé.
— Bem, foi você quem começou, então não pode culpá-la —
disse ele, abaixando-se ao meu lado e então conferindo o meu pé.
— Ih, cara, acho que quebrou mesmo. Venha, eu te levo ao hospital
e no caminho você me conta o porquê dessa revolta toda.
Meu amigo me ajudou a levantar e só então olhei
verdadeiramente para ele.
— Mas o quê...?
— Nem pergunte — respondeu ele.
— Tá legal!
No caminho para o hospital contei tudo a ele e após ser
atendido, tive meu pé imobilizado. Realmente havia quebrado
alguns dedos.
Avisei minha mãe que passaria alguns dias em nossa cabana
no campo, como estava com o pé imobilizado e não poderia dirigir
seria difícil ficar indo para o escritório, então trabalharia na cabana e
teria um pouco de paz de espírito.
Ethan me levou até lá.
— Tem certeza que vai ficar bem aqui sozinho? — perguntou.
— Tenho sim, não dá para dirigir, mas a bota permite que eu
dê alguns passos, então vou me virar bem.
— Não quer mesmo que eu fique para ajudar? — ofereceu.
— Não, tudo bem. Eu me viro bem aqui.
— Beleza, qualquer...
Ele não terminou de falar, pois meu celular tocou. Era um
número residencial de fora do estado.
— Alô — atendi.
—“Oi, estou falando com o Dante Lazzaris, primo do Caio
Hunter?”
— Sim, sou eu mesmo, quem fala?
— “Aqui é Mary Contier, estou tentando falar com Caio há
algumas horas e não consigo, poderia passar um recado urgente a
ele, por favor?”
— Tudo bem, pode falar.
Eu não queria prestar favores ao Caio, mas a mulher parecia
realmente precisar que o recado fosse entregue. Fiz sinal para que
Ethan esperasse e peguei um papel e caneta, ouvindo atentamente
o que a mulher dizia e anotando as exatas palavras que ela
pronunciava.
Encerrei a ligação e entreguei o papel aberto para Ethan.
— Entregue ao Caio, é importante — falei.
Meu amigo passou os olhos rapidamente pelo papel e arqueou
as sobrancelhas.
— Você sabia disso? — perguntou.
— Estou tão surpreso quanto você — respondi.
— Mas que merda — disse, e eu dei de ombros.
— Não se intrometa, Ethan, somente entregue o recado a ele.
— Essa pode ser a sua chance.
— Não. Ela escolheu ele, não eu. Além do mais, estou
cansado dessa disputa, ela fez a escolha dela e vai ter que conviver
com isso, assim como eu vou ter que conviver com as
consequências das minhas.
Ethan assentiu e seguiu de volta para o seu carro, parei no
batente da porta da cabana e falei para provocá-lo:
— Ethan, você está gatinho!
Ele levantou o dedo do meio em um gesto obsceno para mim e
eu ri.
Capítulo 31
Bônus

O avião pousou antes das 6h da manhã. Eu estava frustrado


com tudo o que estava acontecendo em minha cidade natal, aquilo
era uma merda e eu estava atolado até o pescoço.
Precisava espairecer e já sabia para onde ir. A Awlly estava
louquinha por mim e se eu chegasse junto agora ela com certeza se
abriria todinha. Estava sendo difícil me fazer de tão paciente com
ela, mas valeria a pena.
O porteiro do prédio dela já me conhecia, e como eu carregava
flores que havia comprado no aeroporto, dizendo que queria fazer
uma surpresa para ela, não tive problemas para subir.
Toquei a campainha do apartamento e esperei. Awlly devia
estar dormindo ainda.
Quando ela abriu a porta, fiquei extasiado. Awlly estava linda,
ela era magnífica quando acordava, vestia uma camiseta grande
que atingia o meio de sua coxa, estava meio descabelada e
sonolenta.
Sexy demais!
Seus olhos saltaram um pouco quando ela se deu conta de
que eu era quem estava à sua porta.
— Caio? O que está fazendo aqui? — perguntou, parecendo
mais desperta.
— Bom dia! — cumprimentei, enlaçando a sua cintura e
tocando meus lábios nos dela. — Cheguei antes e como não estava
aguentando de saudades de você, vim direto para cá. Eu não podia
esperar mais para lhe dizer o quanto estou apaixonado por você.
— Ah... certo! Eu também estava com saudades.
Inspirei o perfume em seu pescoço esperando a doce
fragrância que sempre usava, mas não foi esse o cheiro que me
atingiu. Ela tinha outro cheiro impregnado em sua pele. Senti
minhas sobrancelhas se juntarem e eu me afastei um pouco,
apenas para encarar seu pescoço marcado por um chupão.
Mas que porra...?
Awlly puxou o ar com força e engoliu em seco enquanto eu
procurava por seus olhos.
— Caio, nós precisamos conversar.
— Acho que sim, mas... Droga! Isso soa ruim. Muito ruim —
falei e ela desviou os olhos dos meus.
— Ah, eu vou ao banheiro e retorno rapidinho. Me espere aqui,
por favor — pediu ela e eu assenti, entrando em seu apartamento.
Awlly me deu as costas e seguiu pelo corredor. Observei o
ambiente, duas garrafas de vinho estavam sobre a mesinha de
centro, assim como uma caixa de pizza e duas taças. As almofadas
do sofá estavam desarrumadas e um sutiã estava esquecido no
tapete.
Uma calça jeans masculina estava jogada no chão, e uma
cueca boxer preta da Boss estava no sofá.
O merdinha ainda está aqui na casa dela? E sem roupa? Eu
iria matar o cara, não importava quem fosse. Então algo me chamou
a atenção: um celular no tapete, sinalizando mensagens, mas
aquele não era o aparelho da Awlly.
Abaixei-me e peguei o telefone, tendo consciência de quem
era a pessoa que tinha um aparelho como aquele, mas me
recusando a acreditar. Apertei o botão e a tela negra com os pontos
brancos destacados ao centro solicitando a senha apareceu.
Lembrei-me de ter visto o dono fazendo a senha algumas vezes,
então testei.
Desbloqueou! Revelando a foto dele e de Awlly, sorrindo um
para o outro. Respirei fundo diversas vezes, tentando controlar a
raiva que me tomava.
Dante tinha propensão a tirar tudo que era meu. Ou deveria
ser.
Primeiro seu pai, sem vergonha, havia namorado a minha mãe
e a mãe de Dante escondido, as duas riem disso hoje e mantêm a
paz, pois minha mãe diz que não gostava dele e ele se apaixonou
perdidamente pela mãe do Dante que logo ficou grávida. Então
formaram uma família feliz e rica enquanto minha mãe engravidou e
se casou com um pobretão que só fazia para comer, me privando de
qualquer luxo por menor que fosse enquanto Dante tinha todas as
regalias.
Todas as vezes em que eles nos visitavam, sua mãe fazia
questão de falar sobre como bom menino era o Dante e como eram
boas as suas notas escolares. Sempre maiores que as minhas.
Quando éramos já adultos ele se formou com honrarias enquanto
minha média não passava de somente “boa o suficiente para me
formar” apesar de todo o meu esforço. Ele me visitava, íamos para
baladas e ele fazia questão de esfregar o seu dinheiro na minha
cara, pagando por tudo, se fazendo de bom e pegando as garotas
mais bonitas.
Então eu fiz merda na porra da minha cidade e tive que
recorrer a ajuda da preciosa família Lazzaris, tive que vir trabalhar
para eles. Dante podia ter tirado de mim tudo que deveria ser meu,
mas assim que cheguei e coloquei meus olhos na loira, eu soube
onde apertar o calo do meu primo.
A preciosa e estimada Awlly.
Dante sempre deixou claro o quanto estimava a sua amizade
de infância com a garota bonita. Como ele não se interessava por
ela, fisicamente falando, não poderia entrar em meu caminho para
tomá-la de mim, mas fazê-la se apaixonar por mim e depois quebrar
o seu coração a deixaria arrasada, deixando meu primo no mesmo
estado. Antes disso eu, claro, daria um jeito de afastá-los, então ele
teria que vê-la com o coração partido e nem poderia se aproximar
para tentar ajudá-la, pois eu arrumaria algo que a fizesse odiá-lo.
Quando ele me pediu desesperado para que eu lhe desse o
meu smoking e ficasse com a sua fantasia ridícula, não hesitei já
que precisava que ele confiasse em mim, mas em momento
nenhum imaginei que a situação era aquela. E quando a mãe dele
entregou à loira que eu estava fantasiado de cavaleiro e os olhos
dela brilharam em minha direção, vi que não teria que fazer esforço
algum para tê-la comendo na minha mão. Era só arrancar algumas
informações do meu primo idiota que queria o bem dela e a teria em
minha cama, suspirando apaixonada, em dois segundos.
É claro que mesmo sem se interessar, Dante não a deixaria
para mim. Era óbvio que ele não a queria de verdade, mas como
sempre, não me deixaria sair por cima.
É óbvio que ele ia transar com ela antes de mim.
Awlly retornou para a sala e me puxou para o sofá, sentando-
se na mesinha de centro. Olhei para a boxer preta ao meu lado e a
encarei. Ela soltou o ar com força e esfregou as mãos no rosto,
deixando as embrenharem-se em seus fios loiros, mantendo a
cabeça baixa.
— Caio, eu...
— Essa é a camiseta da sorte do Dante? — perguntei em um
fiapo de voz, reconhecendo a camiseta.
Ela estava vestida com a camiseta dele. Puta que pariu!
Seus olhos encontraram os meus.
— Sim, é a camiseta do Dante.
— Ele deixa roupas dele aqui e você somente a pegou no
armário ou...
— Caio, você precisa me escutar.
— Claro que vou te ouvir, estou ouvindo e quero que seja
sincera comigo.
— Certo! — Ela estava muito envergonhada. Ótimo, vadia! —
Dante veio para cá outra noite, comemos uma pizza, tomamos um
vinho...
— Como sempre fazem.
— Sim, como sempre fazemos, mas dessa vez foi diferente...
Nós acabamos bebendo demais e...
— Eu não preciso dos detalhes sórdidos, Awlly — falei,
engolindo em seco. — Só quero saber se rolou algo mais entre
vocês, só responda sim ou não.
— Sim — disse ela tão baixo que eu quase não ouvi.
Meus olhos desviaram dos seus, fechando-se, tentando
aparentar dor e mágoa, mas era raiva que eu sentia. Raiva de
Dante.
— Caio, eu sei que foi errado, mas estive pensando muito e
tem coisas entre ele e eu que descobrimos...
Não. Não. Não. Eu não ia deixá-la fazer aquilo.
Eu não perderia para o Dante outra vez.
— Não importa — falei, pegando suas mãos nas minhas. —
Aconteceu, vocês beberam e as coisas foram longe demais, mas
nós vamos superar. Me dê uma chance de te mostrar o quanto te
quero, por favor. Nós tivemos encontros incríveis...
— Na verdade, não tivemos.
— O quê?
— Os encontros foram horríveis, Caio. Eu não quero te
magoar, sei que você planejou tudo com muito carinho, mas foi tudo
errado e para piorar Dante sempre estava lá depois, você sabe o
quanto somos próximos e eu vou para o inferno por dizer isso, mas
eu não conseguia deixar de comparar vocês.
— Do que você está falando, Awlly? — perguntei, sentindo
meu sangue esquentar meu rosto.
— Eu detesto crisântemos, então em um dia você estava
enchendo meu apartamento com essas flores enquanto Dante
chegava aqui com um único ramalhete de hortênsias que me
encantou, mas isso não é justo porque você e eu acabamos de nos
conhecer, você não teria como saber. Já Dante me conhece a vida
toda e sabe muito bem que as minhas preferidas são hortênsias. —
Ela falava tudo de uma vez, enquanto a compreensão do tamanho
do rombo recaía sobre mim.
— Você detesta crisântemos? — perguntei e ela assentiu. — E
o parque?
— Eu amo o parque, mas o lance da maçã do amor não caiu
legal e eu detesto armas, Caio. Tenho medo de Gremlins e altura é
o meu pior pesadelo.
— Comida japonesa? — perguntei.
— Me dá indigestão.
Assenti e ela fez cara de culpada.
— Eu devia ter desconfiado. Eu juro que não sei porque ele me
odeia tanto, Awlly.
Forcei meus olhos para que se enchessem de lágrimas.
— Do que você está falando?
— Dante! Eu pedi a ajuda dele para conseguir te conquistar
porque eu estava louco em você, e foi ele quem sugeriu todas essas
coisas, para que eu te levasse a esses lugares e fizéssemos essas
coisas. Eu segui o conselho dele cegamente, acreditando que ele
estava me ajudando, enquanto ele estava era me apunhalando
pelas costas.
Quase sorri quando algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto.
— Dante fez isso? — Eu podia ver a surpresa nos olhos dela.
— Deixe para lá, você não tem culpa disso. Ele também não
tem culpa por te querer, olhe só para você, como é maravilhosa. E
ainda fica perfeita dentro da porra da camiseta dele — falei e a vi
fechar os olhos com força.
O celular de Dante tocou e o ignoramos, ficando em silêncio
até que a ligação caiu. Mas em seguida voltou a tocar.
— É melhor você atender, pode ser importante — falei e assim
ela o fez.
O mundo não poderia ser melhor. A mulher do outro lado
falava alto demais, e mesmo sem a ligação estar no viva voz eu
podia ouvi-la falando que era a vizinha de Dante e estava
esperando-o.
Sim, a vizinha que ele vivia pegando.
A decepção total tomou conta do olhar da loira à minha frente,
então dei a cartada final quando ela encerrou a ligação.
— Sei que não estamos saindo a tanto tempo, mas fui sincero
quando disse que tenho sentimentos por você, sei que te deixei de
lado para cuidar de problemas pessoais e fui totalmente infeliz com
esses últimos encontros, mas se você me der mais uma chance, eu
quero te mostrar que estou disposto a fazer qualquer coisa para te
fazer feliz.
Ela me encarou surpresa.
— E como é que vamos lidar com isso?
— Não importa o que aconteceu ontem, vamos recomeçar
hoje. Não posso dizer que não está doendo, mas recomeçar é
melhor do que te perder sem nem ao menos ter tido uma chance
real com você.
Ela desviou seu olhar do meu para o aparelho celular em sua
mão, e depois voltou a me encarar com verdadeira mágoa no olhar.
Então eu soube que aquela eu tinha vencido, pela primeira vez
eu tinha ganhado de Dante e era em cima do que ele mais prezava.
Eu iria saborear o momento de camarote assim que ele
levantasse seu corpo imundo da cama dela. Depois eu a faria pagar
por seu erro, deixando seu coração partido.
Capítulo 32

Meu peito estava despedaçado.


Sim, a primeira noite foi iniciada e movida pelo álcool que
ingerimos, foi ele que nos deu coragem, mas até que Caio chegasse
em meu apartamento, por todos aqueles dias, eu não achava que
tinha sido um erro.
Aqueles dias haviam sido incríveis e despertado de vez
sentimentos que estavam em meu peito, e por ser idiota, pensei que
Dante poderia sentir o mesmo.
Mas quando vi Caio em minha porta, todo desalinhado, tinha
vindo direto do aeroporto para minha casa dizendo que não estava
aguentando de saudades, e declarando que estava apaixonado por
mim, a culpa me invadiu.
Me senti pior ainda quando seus olhos passearam pela marca
que havia em meu pescoço e que eu nem tinha me dado conta até
aquele momento. O olhar decepcionado que ele me lançou me feriu
e o questionamento estava claro em seus olhos, a pergunta não
precisava ser verbalizada, eu somente assenti. Quando voltei para a
sala ele estava sentado no sofá, puxando os cabelos e cobrindo o
rosto com as mãos.
Em seguida ele me encarou ainda decepcionado, então falou
sobre eu estar vestida com a camiseta de Dante. Então o celular do
meu amigo tocou e eu atendi, era uma moça e ela pediu para que
eu pedisse para que ele olhasse suas mensagens assim que
pudesse e ao visualizar as mensagens que insinuavam que eles
haviam transado antes de ele vir para o meu apartamento ontem,
me senti destruída.
Ele havia transado com ela e em seguida comigo?
Então Caio disse as palavras que eu não esperava ouvir dele:
“Sei que não estamos saindo a tanto tempo, mas fui sincero
quando disse que tenho sentimentos por você, sei que te deixei de
lado para cuidar de problemas pessoais e fui totalmente infeliz com
esses últimos encontros, mas se você me der mais uma chance eu
quero te mostrar que estou disposto a fazer qualquer coisa para te
fazer feliz.”
Fiquei absolutamente surpresa, eu havia ficado com outra
pessoa e ele me pedia outra chance? Questionei como ele ia lidar
com esse lance do Dante e ele respondeu:
“Não importa o que aconteceu ontem, vamos recomeçar hoje.
Não posso dizer que não está doendo, mas recomeçar é melhor do
que te perder sem nem ao menos ter tido uma chance real com
você.”
Aquelas palavras somadas às mensagens insistentes da
vizinha de Dante me fizeram tomar a decisão.
Dispensar Dante foi mais difícil e doloroso do que imaginei que
seria, mas ele era bicho solto e não mudaria.

Algumas semanas se passaram e não tive mais notícias de


Dante, ele havia sumido, ido para algum lugar e ninguém me dizia
nada, a galera toda ficou estranha e eu estava surtando com aquilo.
Caio era bom e prestativo, era para ser o namorado perfeito,
mas faltava algo e eu não sabia o que era. Então, em um final de
semana que ele tinha um almoço de negócios, chamei as meninas
para o meu apartamento.
Já havíamos comido, bebido e apesar do esforço o clima
parecia estranho ainda.
— Tá legal, vocês vão me falar o que está acontecendo? —
perguntei.
— Com a gente não está acontecendo nada e com você? —
Foi Emma quem falou.
— Na verdade está tudo estranho. A gente mal conversa.
— Você está sempre com o Caio — disse Bonnie.
— Vocês não pareciam ter restrições contra ele antes da briga
dele com o Dante.
— Pois é, mas o Dante é nosso amigo, você sabe disso.
— Dante nem está aqui, aliás, onde ele está? Ele abandonou o
trabalho, vocês sabiam?
— Ele não abandonou o trabalho, ele se machucou e está
trabalhando em home office — disse Chloe.
— Se machucou? O que aconteceu? — perguntei,
preocupada.
— Não foi nada — Emma disse ríspida.
— Emma...
— Na boa, Awlly, entendo que você ficou no limbo, mas poxa,
está na hora de deixar de ser lerdinha — Emma dizia e eu a encarei
abismada. — Todo mundo sabe que o Dante é louco por você, só
você não percebe isso. Tá legal, ele errou também, mas e o Caio?
— Emma fica quieta — Bonnie alertou.
— Não fiquei brava com o Dante por ele estragar meus
encontros, fiquei por ele ser tão indecente a ponto de sair do
apartamento da vizinha com quem tinha acabado de transar e vir
direto para o meu transar comigo.
— Só que ele não transou com a vizinha — Emma disse e eu a
encarei arqueando as sobrancelhas. — Não naquele dia —
completou ela, segurando o riso.
— Vocês nem tem como saber — objetei e as três negaram
com a cabeça.
— Dante estava a dias louco por você, nem conseguia
disfarçar — Chloe disse.
— Se você não estivesse tão entretida com o Caio teria visto
— Bonnie completou.
— Isso é uma droga, estou confusa — admiti.
— Não tem que estar confusa, Awlly. Dante foi quem sempre
esteve ao seu lado e o Caio é um safado.
— O quê? — perguntei.
— Emma não faça isso, nós prometemos — Bonnie
repreendeu.
— Isso pode mudar tudo, deixe ela saber e então ela decidirá
por si mesma — disse Emma.
— Então vamos fazer isso direito, ela tem que saber a notícia
direto da fonte que entregou o recado.
Chloe se levantou e saiu do meu apartamento.
— O que está acontecendo? — perguntei.
Chloe entrou logo em seguida arrastando Ethan pelo braço.
— Ethan conta para ela — Chloe exigiu.
— Contar o quê? — perguntou ele, se livrando do contato da
minha amiga.
— Fala para ela sobre o recado que você entregou ao Caio.
— Que recado? — perguntei.
— Desculpe, Awlly, mas não posso contar nada. Prometi ao
Dante que não ia me intrometer.
— Conta logo de uma vez, Ethan, antes que eu arranque as
suas tatuagens com uma faca de cozinha — ameacei.
— Que tatuagens? — Chloe perguntou.
— Não é da sua conta, Chloe — respondeu ele. — Awlly não
posso contar. Desculpe.
— Fala logo para ela, Ethan — Bonnie pediu.
Levou algum tempo até que conseguíssemos convencer o meu
amigo a contar qual era o bendito recado. Fiquei louca de raiva
quando ele revelou o que era, não podia acreditar naquilo. Não falei
com ninguém, passei pelo restaurante onde os almoços de negócios
da empresa eram marcados então me dei conta do quanto tinha
sido idiota, almoços de negócios eram marcados durante a semana,
não aos domingos. Segui direto para o apartamento de Caio.
Como o porteiro do seu prédio já me conhecia, nem anunciou
a minha entrada. Subi direto e toquei a campainha.
Uma senhora muito parecida com Caio abriu a porta.
— O Caio está?
— Sim, só um momento — respondeu a senhora em um tom
doce. Pensei que talvez ela fosse a mãe dele, era óbvio que ele não
podia me apresentar para ela. — Filho, você tem visitas.
Então Caio apareceu sorrindo, com um bebê no colo. Seu
sorriso morreu no mesmo momento em que me viu e ele ficou
estático, sem reação.
— Ah, me dê ele aqui — disse a mãe de Caio. — Sou uma avó
babona, deixe-me mostrar meu neto para essa linda moça. Veja, o
Junior não é lindo?
Com muita dificuldade desviei meus olhos dele e os foquei no
bebê. Era realmente lindo, a cara do pai.
— Ele é lindo, senhora. Meus parabéns!
— Obrigada, querida. Você é amiga do meu Caio? Entre, por
favor.
Neste exato momento uma moça de cabelos escuros entrou
também na sala.
— Quem é, querido? — perguntou, agarrando-se a ele
enquanto ele esfregava o rosto com as mãos.
Ótimo! Aquela era a noiva dele que tinha acabado de dar à luz
ao seu filho.
Uma conversa não era necessária, eu não destruiria aquela
família, afinal eu não tinha a mínima ideia de que estava sendo a
outra dentro daquele relacionamento. Dei as costas ao Caio e saí
dali.
Antes que eu alcançasse o meu carro, Caio chegou perto.
— Awlly...
— Não precisa me explicar nada. Eu não quero saber — falei e
ele me segurou pelo braço.
— Não quero me explicar. Aquela mulher lá em cima é a
mulher que eu amo e a mãe do meu filho. Só quero te pedir para
não armar um escândalo na empresa, não posso perder meu
emprego. Antes eu não estava nem aí para essa merda toda, mas
agora que tenho meu filho nos braços, abri meus olhos para a
realidade e sei bem o que quero.
— Fico feliz que saiba o que quer, pois eu também sei o que
quero. E não é você. Como eu fui burra!
— Não posso discordar — disse ele e eu o encarei com fúria.
— Você é um babaca — falei e entrei no meu carro.
Dirigi por um bom tempo, tentando colocar as ideias no lugar,
mas por todos os ângulos que eu tentasse analisar a situação, eu
estava errada, não dei ouvidos a pessoa que sempre esteve ao meu
lado e ainda o machuquei.
Decidi que precisava me desculpar com Dante, mesmo que
tivesse perdido minha chance com ele, devia desculpas. Por isso, fui
até o seu apartamento.
Quando cheguei ao meu destino, fiquei surpresa ao encontrar
o senhor Lazzaris lá.
— Senhor Lazzaris, o Dante está? — perguntei da porta e ele
pareceu surpreso em me ver ali.
— Ele não está, querida. Vim aqui buscar alguns documentos,
mas se chegasse um pouco antes encontraria o apartamento
trancado. Faz semanas que Dante não está aqui, ele estava
nervoso com alguma coisa e chutou uma pilastra, quebrou o pé,
mas disso você já deve saber é claro, inclusive o motivo, não é?
Vocês são melhores amigos.
— Eu não sabia, senhor Lazzaris, na verdade, acabamos
discutindo algumas semanas atrás e desde então não nos falamos.
— Ah, então acho que eu é que já sei o motivo dele chutar a
pilastra — disse, me encarando significativamente, mas seu olhar
não era duro, era repleto de carinho.
— Não sou mais a melhor amiga dele e agora ele se
machucou por minha causa — falei, me sentando no sofá do
apartamento de Dante.
— É claro que é, querida. — O senhor Lazzaris sentou-se ao
meu lado e acariciou meus cabelos. — Ele pode estar zangado
agora, mas isso é fácil de resolver.
— Como? Me diga como eu resolvo essa bagunça — pedi.
— Faça-o se lembrar de como é ser seu amigo.
— E como eu faço isso?
— Vocês mantêm uma caixa de recordações de vocês, não é?
— Sim. Aliás, a dele é bem mais completa que a minha.
— Você sabe onde ele guarda?
— Sim, eu sei.
— Então vá lá pegar.
Levantei-me rápido a fim de pegar a caixa, mas parei de
repente encarando o senhor Lazzaris outra vez.
— Mas de que a caixa vai adiantar se eu não faço ideia de
onde ele está? Ele se escondeu de mim e fez todo mundo prometer
que não iria me contar onde ele está.
— E ninguém te contou?
— Não.
— Isso porque eles sabem que Dante é um amigo leal, por
isso são leais a ele também.
Assenti, sentindo a alfinetada, mesmo que dada com carinho.
Eu devia ter confiado no meu melhor amigo.
— Veja bem, querida, eu não sei de nada, mas se soubesse
diria que a casa da colina não está vazia.
Sorri para ele e me abaixei para beijar a sua bochecha.
— Ainda bem que o senhor não sabe de nada — falei e corri
para o quarto do meu amigo.
Capítulo 33

Sorri ao entrar no quarto do Dante e dar de cara com o nosso


mural de fotos que ocupava quase uma parede toda. Abri uma das
portas de cima do seu guarda-roupas, onde ele guardava a caixa,
mas não encontrei o que procurava, encontrei outra coisa, algo que
fez meu coração acelerar.
Meu cérebro não conseguia trabalhar direito, lembrei-me de
todas as brincadeiras que ele fez falando sobre o cavaleiro e com o
meu coração parecendo que estava batendo perto das minhas
orelhas de tão alto e forte que era o som dos batimentos, me dei
conta de que a todo momento ele estava me dizendo a verdade, eu
é que não acreditava.
Peguei o elmo brilhante na mão e corri para a saída do
apartamento.
— Encontrou a caixa, querida? — perguntou o senhor
Lazzaris.
— Não. Encontrei algo muito mais importante — respondi,
mostrando o elmo e ele sorriu abertamente para mim.
— Garota esperta!
— Agora preciso ir — falei.
— Então vá, vá.
Corri para o meu carro e dirigi por longas duas horas até a
casa de campo dos Lazzaris. Entrei na estrada de terra que levava
até a residência e logo avistei o telhado dela entre as árvores.
Eu não entendia porque eles a chamavam de cabana, por fora
ela tinha sim uma aparência rústica, mas por dentro era muito
luxuosa.
Não bati na porta, simplesmente abri e entrei. Avistei Dante em
pé, na frente do fogão, mexendo em uma panela, o cheiro era de
ensopado. Sua perna estava encaixada em uma bota imobilizadora
e me senti culpada por ele ter se machucado. Ele vestia uma
bermuda, o outro pé estava descalço e também não havia camisa, o
cabelo dele estava pouca coisa mais comprido.
Dante usava fones de ouvido, por isso não me ouviu entrar,
observei ele por mais um momento, sentindo toda a saudade do
meu amigo me invadir. Sim, apesar de eu negar veementemente,
estava apaixonada por ele, mas o que eu mais senti falta nas
últimas semanas foi da nossa amizade.
Peguei meu celular e liguei no seu, somente para testar. O
som de “Pensa em mim” da banda Cheiro de Amor soou na cozinha,
sinalizando minha ligação em seu celular. Dante prontamente
recusou a ligação e eu estreitei meus olhos em sua direção, mesmo
que ele não estivesse me vendo.
Ele fuçou no aparelho celular, provavelmente voltando à
música que ouvia anteriormente e começou a remexer a bela bunda
em um ritmo sensual enquanto ele mexia a comida na panela.
Admirei por um instante e então decidi acabar com a minha agonia.
— Dante? — eu o chamei, mas ele não me ouviu, então fiz
algo que costumávamos fazer na adolescência quando o outro
estava de fones.
Me aproximei devagar, assoprei em seu pescoço, retirando um
dos fones do seu ouvido. Ele enrijeceu o corpo.
— O que está fazendo aqui? — perguntou ele e tentou se virar,
mas suas costas bateram nos meus seios. — Você pode me dar
espaço, por favor?
Afastei-me e ele se virou para me encarar.
— Oi — falei ao ver sua expressão dura, mas assim que seus
olhos pousaram em mim, os vi suavizarem um pouco.
— Oi. O que está fazendo aqui?
— Precisamos conversar — falei.
— Caio não fala muito? — perguntou com a voz cética.
— Ele fala sim, mas não o que realmente importa, não a
verdade — falei e ele arqueou uma sobrancelha para mim.
— Ele mente? Nossa que novidade, mas como você escolheu
ele tem que aguentá-lo. Você está com ele agora, foi o que você
disse.
— Foi, foi o que eu disse...
— Fala logo o que você quer, Awlly, não estou com tempo.
Dante nunca havia sido grosseiro comigo antes, mas eu
merecia aquilo.
— Quero me desculpar com você.
— Está desculpada, pode ir agora.
— Não, Dante, não assim. — Tentei me aproximar, mas ele se
afastou mais. — Me desculpe por não te ouvir em relação ao Caio,
você estava certo.
— Ah, vejo que você descobriu sobre a noiva grávida. Como
eu disse, está desculpada. Já que era só isso que queria, pode ir
embora. — Indicou a porta com a cabeça e virou de costas para
mim outra vez, voltando a mexer na panela.
— Na verdade — tirei o elmo de trás das minhas costas e
coloquei sobre a ilha da cozinha —, eu estava me perguntando por
que será que você guarda a fantasia de cavaleiro do Caio.
Meu amigo parou de mexer na panela no mesmo instante em
que ouviu o que eu disse e virou-se na minha direção outra vez bem
devagar.
— O que está fazendo com isso? Como encontrou essa coisa?
— perguntou.
— Encontrei no seu apartamento.
— Invadiu o meu apartamento?
— Não necessariamente, mas o que importa é o que a fantasia
do Caio estava fazendo no seu guarda-roupas?
Ele engoliu em seco e soltou o ar com força, virando o rosto
para a janela lateral, encarando a paisagem selvagem onde o sol
estava se pondo.
— Dante?
— A fantasia não é do Caio.
— Não?
— Não. Essa porcaria é minha.
— Hum, e você emprestou a fantasia para ele?
— Não, Caio nunca usou essa fantasia, bem, não como você
pensa — admitiu ele e eu arqueei uma sobrancelha, incitando-o a
falar mais. — Eu estava com a fantasia, fui eu que te beijei no
corredor. Eu sou o cara que você estava procurando.
— Como é que eu vou ter certeza disso, Dante?
Dante caminhou mancando até mim, olhando dentro dos meus
olhos, determinado e senti meu corpo todo esquentar.
— Você quer uma porra de prova de que estou falando a
verdade? Então eu vou te dar uma, foi assim que eu fiz.
Meu amigo me segurou pela cintura e encostou-me na parede
atrás de nós, a única que não tinha armários. Rápido demais suas
mãos já estavam em meu rosto, acariciando, e sua boca encontrou
a minha, sôfrega e desesperada.
Meu Deus! Eu não tinha como duvidar daquilo de forma
nenhuma, a cena da festa estava vívida na minha memória e havia
sido daquele jeito, com toda aquela intensidade, mas que agora
para mim tinha muito mais significado sabendo que era Dante quem
eu estava beijando.
O beijo era delicioso, excitante, inebriante, louco e eu queria
mais. Muito mais.
Ele finalizou o beijo, mordendo de leve o meu lábio inferior
como fizera da primeira vez e então beijou o ponto exato entre o
meu pescoço e o ombro. Roçou o nariz pelo meu pescoço, inalando
o meu perfume e sua barba me fez uma leve cócega como da outra
vez.
Como eu não percebi isso na outra noite?
Como eu fui burra.
— Foi assim que aconteceu e não teríamos parado por aí se
não estivéssemos naquele corredor — disse ele, ofegante.
— Então me mostra? — pedi também ofegante.
— O quê?
— O que teríamos feito se não estivéssemos naquele corredor.
— Não. — Ele disse, afastando-se um pouco, olhando em
meus olhos. — Para quê? Para amanhã pela manhã você me dizer
que foi um erro?
— Não foi um erro e além do mais, não haverá desculpas ou
qualquer justificativa. Nós dois queremos. Eu quero e você?
— Você ainda pergunta? — perguntou com aquele sorriso
safado de lado que ele tinha e arrasava corações, inclusive o meu.
Nossos lábios se tocaram de novo, cheios de desejo e
ansiedade. Ele me pegou no colo e nos levou até a ilha da cozinha
onde o elmo estava, me colocando sentada ali. Então tirou o meu
vestido, eu encaixei o elmo em sua cabeça e ele riu.
— Justo!
Dante venerou meu corpo com sua boca, lambendo,
chupando, mordendo, beijando, me enlouquecendo de tesão. Eu já
estava nua quando ele tirou sua bermuda e a cueca, libertando seu
pau que brilhava com o líquido pré-gozo. Cheguei a engolir em seco
de vontade de prová-lo.
— Agora não — disse ele e se encaixou entre as minhas
pernas.
Seu pau deslizou para cima e para baixo em minha boceta,
enlouquecendo-me.
— Dante, por favor — implorei.
— Por favor, o que, princesa?
— Eu preciso de você dentro de mim agora.
— Tudo para a minha princesa.
De uma só vez ele deslizou para dentro de mim, me
preenchendo, me fazendo gemer alto e jogar a cabeça para trás.
Dante aproveitou o acesso livre ao meu pescoço para me beijar ali
enquanto dava estocadas fortes e poderosas dentro de mim, me
fazendo delirar e chamar o seu nome, me desfazendo em suas
mãos.

Depois de um sexo altamente selvagem, estávamos deitados


na rede na varanda da cabana, o balanço era leve, nos embalando
e a brisa noturna nos refrescava.
— Não quero ficar voltando a esse assunto, mas como
descobriu?
— Seus amigos são leais a você. As meninas me
excomungaram e tive que ameaçar Ethan para ele me contar sobre
o Caio, mas nenhum deles quis me contar onde você estava. Eles
meio que quiseram esfregar a verdade na minha cara e me deixar
sem ter como falar com você — falei e ele riu.
— Se você não tivesse mais os dentes da frente como quando
éramos crianças e ameaçasse o Ethan, tenho certeza de que ele te
contaria — falou, fingindo um arrepio.
— Não seja bobo, Dante — ralhei com ele.
— E como descobriu que eu estava aqui?
— Um passarinho me contou.
— Um que usa terno? — perguntou ele divertido, mordendo de
leve o meu ombro.
— É — respondi rindo. — Eu só queria que pudéssemos voltar
no tempo e continuar de onde paramos naquela noite depois do
show.
— Eu também. — Ele disse com a voz mais grave. — Awlly, se
formos ficar juntos...
— Se formos?
— Eu te quero mais do que tudo, princesa, mas não sou idiota,
sei que o lance entre você e Caio ficou sério nas últimas semanas,
sei que desenvolveu sentimentos por ele...
— Sim, ódio — falei e Dante riu.
— Enfim, estou falando de antes do ódio, mas não quero
detalhes também, não vai ser fácil evitá-lo completamente, ele é da
minha família e trabalha na empresa, jamais demitiria ele por
problemas pessoais meus, ainda mais agora, você sabe, com o
bebê...
— Eu sei.
— O que quero dizer é que você terá que ter paciência comigo
quando estivermos na presença dele. Só de imaginar... — Ele fez
uma pausa e respirou fundo. — Você não sabe o quanto minha
mente doente me perturbou nas últimas semanas, imaginando o que
estava rolando entre vocês todas as noites. Awlly, eu quase morri de
desgosto.
— Se é assim, eu preciso te contar uma coisa.
— Princesa, eu te amo, mas não quero saber de nada disso, é
sério, vou enlouquecer se tiver que ouvir uma só palavra.
— Não, Dante me escuta. Não aconteceu nada.
— Eu não quero saber... espera, o quê?
— Não aconteceu nada entre ele e eu. Todas as vezes que eu
estava com o Caio, ele parecia ser o namorado perfeito...
— É... — Ele resmungou. — Ótimo, isso é algo muito legal de
se ouvir. O ex era o namorado perfeito. Acho bom a gente mudar de
assunto, você não está ajudando. Só está piorando as coisas.
— Me escuta, seu teimoso! Sim, ele parecia ser perfeito, mas
havia algo que faltava nele, por isso eu não...
— Ótimo, ele não era perfeito, só quase, faltava uma coisinha
— falou, mordendo meu ombro outra vez e eu ri.
— O que faltava nele é que ele não era você — falei,
encarando seus olhos castanhos e intensos.
— Isso aí eu gostei de ouvir. — Ele disse baixo e sorriu para
mim.
— Foi por isso que eu nunca consegui me entregar a ele.
— Espera... Vocês dois nunca...? — perguntou com um brilho
diferente no olhar e eu neguei, para a sua alegria e ele encheu o
meu rosto de beijos. — Isso é bom, é muito bom. — Ele ria. — Você
é minha, só foi minha.
— Você sabe que eu não era mais virgem quando tivemos a
nossa primeira noite, não é? — perguntei divertida.
— Eu sei, mas aqueles babacas não importam. Você é só
minha. — Ele beijou meu rosto mais uma vez e então me encarou
sério. — Ah, Awlly, nós temos outro assunto importante para tratar.
Não posso viver com essa dúvida na minha cabeça. É realmente
crucial para mim saber disso.
Eu o encarei, confusa. Já não tínhamos resolvido tudo? Ele
traria outra questão? Fosse o que fosse eu resolveria naquele
momento mesmo.
— O quê?
Ele fechou os olhos com força e quando os abriu, vi algo
diferente ali.
— Eu realmente preciso saber se a Awlly é mais gostosa com
ou sem calda de chocolate — disse ele e eu ri, o beijando nos
lábios.
Epílogo
Meses depois

— Chegou o grande dia, filho — disse meu pai.


— Chegou, pai e vai ser tudo perfeito como ela sonhou —
respondi.
— A menos que ela diga não.
— O senhor acha que ela pode dizer não? — perguntei,
sentindo um aperto no peito e meu pai riu.
— É claro que ela vai dizer sim, relaxa um pouco, garoto. O
Kavnnag ficaria muito feliz, sempre achou que vocês se casariam —
disse ele, se referindo ao pai da Awlly. Eu sorri em resposta.
Aquele era um jantar de família onde estavam reunidos meus
pais, a mãe da Awlly, ela mesma, eu e nossos amigos, com exceção
de Chloe e Ethan que estavam no restaurante.
Não posso dizer que os últimos meses têm sido fáceis, embora
tenham sido os melhores da minha vida. Ter me acertado com a
Awlly não diminuía o ranço que havia criado por Caio. Sim, ele era
da minha família e eu precisava tolerá-lo, porém minha paciência ia
até certo limite. No início ele chegou a me provocar algumas vezes
e em uma delas acabamos saindo no soco.
Depois disso tivemos uma conversa séria e esclarecedora,
uma verdadeira lavagem de roupa suja com tudo que tínhamos
entalado na garganta para dizer um para o outro. Sua, agora,
esposa ficou sabendo da confusão e o deixou, o que fez com que
ele quase enlouquecesse e enfim colocasse os pés no chão. O que
obviamente não diminuiu o meu ciúmes dele com a Awlly, embora
ela sequer falasse com ele qualquer coisa que não fosse
estritamente necessário e relacionado ao trabalho.
Eu me orgulhava dela, a amava e nosso momento tinha enfim
chegado. Eu já não estava mais entre o amor e a amizade. Eu podia
e tinha os dois com ela.
A minha princesa estava linda, mas parecia um pouco nervosa
apesar de não saber o que a aguardava, então pouco antes do
jantar ser servido eu fiz o que tinha que fazer. Chamei a atenção de
todos ali e peguei as mãos dela que me encarou confusa.
— Awlly, eu te conheço desde que me conheço por gente e
não lembro de nenhum momento sequer que foi importante para
mim e que você não estivesse comigo. Você é a minha melhor
amiga desde sempre, e eu estive pensando, qual a melhor maneira
de passar o resto da minha vida? Fácil, tendo a mulher que eu amo
e a minha melhor amiga na mesma pessoa, poder dividir cada
momento, feliz ou não, com a minha alma gêmea. — Me ajoelhei e
tirei o anel do bolso. — Princesa, meu amor, minha melhor amiga,
aceita ter como marido este humilde devasso?
Os olhos dela me encaravam em surpresa, estavam
lacrimejados de felicidade e meu coração se acalmou quando ela
respondeu:
— Sim!
Aplausos soaram no recinto e eu me levantei para beijá-la,
depois coloquei o anel em seu dedo.
— Eu te amo mais do que tudo, princesa — falei.
— Eu também, mas você não é o único com uma surpresa
aqui — disse ela.
— Como assim? — perguntei sorrindo.
— Vamos formar uma pequena família — disse ela, colocando
a mão sobre o ventre e pude ouvir a minha mãe comemorar atrás de
mim.
— Isso é sério? — perguntei baixo, incrédulo.
— É sim — respondeu ela.
Eu a abracei e a beijei novamente, a minha felicidade estava
completa.
— Droga! — ouvi Patrick dizer e estranhei. Ao encararmos ele
esclareceu, guardando o celular no bolso. — Chloe deu à luz.
— Ah, meu Deus! Vamos para lá agora — Awlly sugeriu.
Então ela, Patrick, Bonnie, Emma e eu seguimos para o
hospital, não sem antes eu beijar minha futura esposa e dizer a ela
o quanto eu estava feliz com a novidade.

Awlly
Chegando ao hospital encontramos Ethan na recepção, ele
parecia em choque e tinha sangue em suas roupas.
— Ethan está tudo bem? — perguntei, me aproximando dele.
— Elas estão bem, daqui a pouco poderemos vê-las —
respondeu ele, porém distante.
— Mas e você está bem? O que houve com as suas roupas,
está ferido? — perguntei.
— Não estou ferido. Não deu tempo de chegar ao hospital, tive
que parar o carro no acostamento e fazer o parto. O bebê nasceu no
meu carro — disse ele e todos o encararam boquiaberto.
— Ah, meu Deus! — exclamei.
— É.
— Merda! — Patrick praguejou. — Obrigado por cuidar delas,
cara. Nunca vou poder te agradecer o suficiente.
— Não precisa.
— Não, cara é sério. Você sabe que é meu brother e agora
então, não hesitarei em fazer qualquer coisa que você precise —
Patrick disse emocionado e abraçou nosso amigo em
agradecimento por ter cuidado de sua irmã.
— Você poderia não me matar — disse Ethan, mas somente
Patrick e eu ouvimos.
— O quê?
— Eu disse que eles estão demorando para nos chamar para
entrar — disse Ethan.
— Sim, mas você cuidou delas, sei que estão bem.
Depois disso Ethan não disse mais nenhuma palavra,
provavelmente ainda estava em choque por ter que fazer um parto.
Algum tempo depois, entramos no quarto de hospital onde
Chloe e a bebê estavam, ela estava sozinha segurando a pequena
menina em seus braços, pelo menos agora ela contaria quem era o
pai do bebê e não precisaria mais passar por tudo sozinha como ela
havia escolhido.
Ao nos aproximarmos dela e vermos perfeitamente a bebê
descobrimos que não precisaríamos que ela nos contasse quem era
o pai da criança, a garota era exatamente a cara de seu genitor,
com os traços fortes e os cabelos cor de fogo.
Todos os olhos se voltaram para o homem escorado no
batente da porta, que mantinha o olhar nos próprios sapatos,
aguardando a nossa reação e uma comoção começou dentro do
quarto com Patrick, irmão de Chloe, gritando aos quatro ventos que
mataria o Ethan enquanto Dante tentava, em vão, contê-lo.
No fim Chloe não poderia ter encontrado pai melhor para sua
filha, assim como eu não poderia deixar de lembrar das palavras do
pai de Dante naquela noite em que encontrei o Cavaleiro de
armadura reluzente – ele tinha toda razão, quem melhor que o meu
melhor amigo para ser o meu amor? Com ele eu sempre teria um
ombro amigo, uma proteção e toda a devassidão de um sexo
gostoso carregado de muitos orgasmos múltiplos para mim.
Quero agradecer primeiro a minha mãe por me apoiar sempre
e ser a minha rainha.
Agradeço ao Dennis e a Walery que estão sempre ao meu
lado, me apoiando e dando força em tudo.
Agradeço também a Fernanda Carraro, Tati Bonacin e a Bruna
Vicente, minhas betas queridas.
Quero agradecer também a cada leitor, pois sem vocês nada
disso seria possível.
Interaja comigo nas redes sociais, amo conversar com os
leitores.

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