JEJUM REALMENTE FAZ BEM?

ESPERANÇA PSICODÉLICA MALHAÇÃO EM ESTÚDIO COM OS DENTES EXPOSTOS

O que a ciência diz sobre o popular O potencial terapêutico de LSD, Os novos espaços e treinos que A retração de gengiva afeta metade
método de emagrecimento cogumelos mágicos e ayahuasca concorrem com as academias da população. Mas tem tratamento

R$ 25,00
nº 486

s
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NA ERA DA
SAÚDE DIGITAL
Mapeamos 10 tendências na medicina que vieram para ficar e vão mudar a forma de você se cuidar. Elas
apostam em tecnologia, personalização e acompanhamento constante para evitar e controlar doenças
Br
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 dezembro 2022
NESTA EDIÇÃO

20
10 TENDÊNCIAS
NA ERA DA
SAÚDE DIGITAL
Teleconsulta, exames
genéticos, inteligência
artificial... Como
navegar no novo
universo da medicina

32 38
s
taJEJUM ESPERANÇA
is
FAZ BEM? PSICODÉLICA
ev

Ele vem bombando Substâncias associadas

nas redes sociais à contracultura e
como estratégia para banidas durante anos
R

emagrecer. Será que é são estudadas pelo seu

uma boa ideia? potencial terapêutico
il
as
Br

56
O MUNDO
DOS ESTÚDIOS
FITNESS
As academias já não
reinam sozinhas.
Conheça o movimento
que traz diversidade e
personalização ao treino

SEÇÕES

5 CONEXÃO 66 SEMPRE QUIS SABER

6 RADAR DA SAÚDE 68 AUTOESTIMA
8 ALIMENTAÇÃO 69 ENVELHECER
12 MEDICINA 70 FILHOS
14 MENTE SAUDÁVEL 71 BICHOS
16 ATIVIDADE FÍSICA 72 ZOOM
18 CÂNCER SEM TABU & COM CIÊNCIA 74 COM A PALAVRA

SA486_sumário.indd 3 02/12/22 11:28

AO LEITOR
APRENDER A SE CUIDAR
NA ERA DA TÉCNICA
a inda em clima de Copa do
mundo, me concedo o passe
livre de começar nossa conversa pelo
VAr, o recurso de árbitro de vídeo
que dá mais precisão às marcações
do juiz e busca evitar ou reverter
erros e injustiças em campo. muito
torcedor e comentarista critica a
tecnologia, mas é inegável que sua
missão é nobre — e sua acurácia,
superior ao olho humano. Se tem
um problema nessa história é o
uso que fazemos da máquina e,
como em tudo nessa vida cada vez
mais digital, qualquer inovação
escala uma curva de aprendizado.
Isso vale para os aplicativos que,
naturalizados em nossa rotina,
nos permitem pedir comida ou
transporte, para os sistemas de
segurança dos automóveis, para as
redes sociais (bem, convenhamos
que aqui o aprendizado anda difícil).
e, com os desafios que lhe são
peculiares, se aplica ao ecossistema
da saúde. eis um setor em profunda
transformação, um movimento
impulsionado pela pandemia que
está redefinindo o jeito de se cuidar
e ser cuidado. Já fez uma consulta
via telemedicina? Seus dados estão
agrupados numa plataforma
acessada pelo celular? realizou um
teste genético ou foi submetido a
uma cirurgia robótica? esses não
são mais sonhos de ficção científica.
São uma realidade. realidade que
começa a comportar até médicos e
pacientes no metaverso, o mundo
da realidade virtual. Às vezes é
Diogo Sponchiato
redator-Chefe
VICTOR CIVITA
(1907-1990)
Fundada em 1950
ROBERTO CIVITA
(1936-2013)
Publisher:
tanta mudança que até assusta,
mas, em saúde, quando a coisa é
devidamente estudada e testada,
Fabio Carvalho
o saldo tende a ser positivo. Para o
paciente, que terá uma assistência
mais qualificada e baseada em
dados objetivos — sem perder o
acolhimento. e para o sistema, que
tem recursos finitos (e limitados) e Redator-Chefe:
Diogo Sponchiato
precisa ser cirúrgico na hora de alocá- Texto:
-los. então por que não contar com o Thaís Manarini,
apoio da inteligência artificial? e de Chloé Pinheiro,
Ingrid Luisa e
máquinas e programas que reduzem Fabiana Schiavon
falhas humanas — nem preciso citar o Arte:
Laura Luduvig
s
ditado, né? — e ampliam a rapidez, a
ta
precisão e a eficácia de diagnósticos
e tratamentos. o futuro já começou,
is
e não se sustenta só em tecnologias.
ev
baseia-se numa mudança de DIRETORIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO EDITORIAL E AUDIÊNCIA Andrea Abelleira
paradigma que busca acompanhar DIRETORIA EXECUTIVA DE OPERAÇÕES Guilherme Valente
R
DIRETORIA DE MONETIZAÇÃO E RELACIONAMENTO COM CLIENTES Erik Carvalho
melhor os pacientes, personalizar
seu atendimento sem desumanizá-
il
as
-lo e prevenir desfechos negativos,
antecipando-se ao surgimento dos SEDE ADMINISTRATIVA Rua Cerro Corá, nº 2175, lojas 101 a 105,
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problemas e promovendo a tão 1º e 2º andares, Vila Romana, São Paulo, SP, CEP 05061-450
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falada qualidade de vida. e é isso que
você vai ler na reportagem de capa
desta edição, conduzida pelo time
da Fronteira Agência de Jornalismo VEJA SAÚDE, edição 486, dezembro de 2022 (ISSN 0104-1568),
sob a batuta dos gaúchos maurício é uma publicação mensal da Editora Abril.
VEJA SAÚDE não admite publicidade redacional.
brum e Sílvia Lisboa. A tecnologia
não acabará com o trabalho de
médicos e enfermeiros, nem joga de
um lado ou do outro. É tão somente IMPRESSA NA PLURAL INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA
uma ferramenta. Usada com ciência, Av. Marcos Penteado de Ulhôa Rodrigues, 700 - CEP: 06543-001
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ética e responsabilidade, ajuda a
transformar a jornada de pessoas
que, como eu e você, vira e mexe
estão no celular, mas sabem que a
vida e a saúde vão muito além dele.
Foto de capa:
Kilito Chan - Getty
Images
Ilustrações:
Laura Luduvig
Tratamento de imagem: www.grupoabril.com.br
Marisa Tomas

CONEXÃO
VOCÊ REALIZOU UM CHECK-UP
CARDIOLÓGICO NO ÚLTIMO ANO?
A maioria da nossa audiência fez exames para saber se está tudo bem
com o coração, uma das medidas preventivas mais importantes
C hecar a pressão arterial,
dosar os níveis de colesterol
e de glicose no sangue e verificar
se o ritmo de batimentos cardíacos
está dentro do esperado são
alguns dos parâmetros utilizados
pelos médicos para investigar
se a condição das artérias e do
coração está adequada. e mais de
60% dos respondentes da nossa
pesquisa afirmam ter passado por
exames do gênero pelo bem do
sistema cardiovascular nos últimos
12 meses. o dado é positivo, mas
não dá para deixar de observar
37%
Não
ERRATA
1 Diferentemente do que foi publicado na reportagem da última edição Entre o Avanço e o Acesso,
Foto: Alex Silva
sobre a atrofia muscular espinhal (AME), o medicamento risdiplam é administrado diariamente na
forma líquida via oral ou por sonda, e não por comprimidos, como afirmou a matéria.
2 A pesquisadora Leila Lopes, entrevistada para o conteúdo Teste para Zoonose em Alta, sobre
um novo exame para esporotricose, não é médica, como mencionado, mas biomédica.
SA486_conexão.indd 5
que um número expressivo de
pessoas deixou de se submeter
a um check-up, podendo ficar
com a saúde descoberta. Como
contamos na reportagem de capa
da edição de novembro, problemas
como hipertensão, colesterol
alto e diabetes são silenciosos e
passam anos sem dar sintomas.
mas podem virar uma bomba e
detonar infartos, AVCs e outros
perigos. o melhor jeito de se cuidar
é adotar um estilo de vida ativo e
equilibrado e manter a rotina de
consultas e exames médicos.
is
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Br
gente quer saber:
Você já realizou
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telemedicina?
WW W.VEJ A SAU D E . AB RI L .CO M . B R
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V E J A SAÚ D E d e z e m b r o 2 0 2 2 5
02/12/22 12:30
 RADAR DA SAÚDE

PRESENTE

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Br

PESQUISA APONTA FALHAS NA

PRESCRIÇÃO DE EXAMES E REMÉDIOS
Levantamento com médicos brasileiros detecta lacunas
que podem comprometer o controle de doenças crônicas

N egligenciar as metas de
redução do colesterol
preconizadas para pessoas com alto
risco cardíaco; parar o tratamento
da obesidade antes da hora; deixar
de pedir exames que apuram a
presença de gordura no fígado; e
não receitar medicamentos que
comprovadamente reduzem o
risco de infartos e AVCs. eis alguns
lapsos identificados no dia a dia
de consultório entre mais de 650
profissionais brasileiros ouvidos
pela pesquisa Receita de Médico,
conduzida pela Clannad editora
Científica e coordenada pelo
endocrinologista Carlos eduardo
barra Couri. o estudo escancara
um buraco entre recomendações
estabelecidas em cima de estudos
e a prática clínica, o que pode
prejudicar a prevenção e o controle
de doenças crônicas. “Há uma
oportunidade enorme de aprimorar
a educação médica e aumentar o
engajamento dos profissionais e
dos seus pacientes nos cuidados
com a saúde”, avalia Couri.

6 V E J A SAÚ D E d e z e m b r o 2 0 2 2

SA486_radar da saúde.indd 6
 por DIOGO SPONCHIATO ilustração DYANA LIMA

PASSADO FUTURO UMA FRASE

“A maior proibição
daquela época
[década de
1960], a pílula
anticoncepcional,
que nunca
tínhamos
imaginado
ser viável, foi
100 anos do comprimido mais Terapia induz crescimento do autorizada por
receitado contra o diabetes tumor para desestabilizá-lo uma lei. Ninguém
ousava pedir
É a metformina, uma medicação que A proposta de um novo método
ao médico, nem
foi sintetizada pela primeira vez em investigado no Instituto butantan (SP)
ele sugeria,
laboratório em 1922 pelas mãos de dois é aliar uma substância que estimula
principalmente
cientistas irlandeses. o princípio ativo as células cancerosas a se proliferar
se você não
original foi descoberto numa planta, com um quimioterápico para, então,
fosse casada.
o lilás-francês, e inspirou a criação do destruí-las. em experimentos com

s
Seria indecente.
fármaco prescrito para controlar os células e animais, a estratégia
níveis de glicose no sangue. Ainda hoje ta
fez regredir em mais de dez vezes
Sabíamos que
a vida, com a
is
a metformina é o remédio mais usado tumores de mama agressivos,
pílula, seria
no tratamento do diabetes tipo 2. potencializando a ação da químio.
ev

desconcertante, o
corpo viveria com
R

tanta liberdade
que dava medo de
il

imaginar. Tanta
as

liberdade quanto a
Br

UM LUGAR UM DADO de um homem.”

Annie Ernaux,
escritora francesa
e Prêmio Nobel de
Literatura de 2022,
no livro Os Anos
(Fósforo)

O cólera ressurge no Haiti Dengue supera 1 milhão de casos

Não bastasse ter de enfrentar a
Covid-19 e a varíola dos macacos,
o país caribenho encara também
um surto de cólera. São dezenas de
casos confirmados e centenas de
outros suspeitos da doença causada
por bactérias e disseminada por
água ou alimentos contaminados.
o cólera pode provocar diarreias
e desidratação severa, um quadro
potencialmente fatal.
o vírus transmitido pelo mosquito
Aedes aegypti não cede terreno. Pelo
contrário, continua sendo motivo de
preocupação em boa parte do país.
Um boletim da Sociedade brasileira de
Infectologia (SbI) alerta que houve
mais de 1,3 milhão de casos registrados
este ano (e quase mil mortes). e a
temporada de calor e pancadas de
chuva pode catapultar esses números
se medidas não forem tomadas.

V E J A SAÚ D E d e z e m b r o 2 0 2 2 7

SA486_radar da saúde.indd 7
 por THAÍS MANARINI
ALIMENTAÇÃO

NO ENREDO DO
TRANSTORNO
ALIMENTAR
Romance acompanha mulher
com o problema — e reflete sobre
sofrimento e superação

E m FaminTA, seu livro de

estreia pela editora Patuá,
a advogada Tatiana Cavalcante
coloca o transtorno alimentar — ou
TA, a sigla incluída no título — no
centro da trama e do debate.
Por meio de uma narrativa
realista e imersiva, ela propõe
a reflexão de que esse tipo de
problema está mais próximo do

s
que imaginamos. “Precisamos
olhar com seriedade para esses
transtornos e para a saúde mental
ta
is
de modo geral”, avalia. A autora
ev

fala com conhecimento de causa:

o de quem tem o diagnóstico
R

da condição. “Vivi muito tempo ENTREVISTA COM A AUTORA

pensando que as questões que eu
il
as

enfrentava aconteciam só comigo”, Você recebeu o diagnóstico de sexual, idade ou classe social
revela. Embora Tatiana escreva transtorno alimentar. A escrita específicos. Daí essa percepção que
Br

em primeira pessoa, o livro não é
uma biografia. “É inevitável não
dialogar com sentimentos reais e
algumas de minhas memórias, mas
a construção dos personagens e do
enredo foi fortemente alicerçada
na ficção”, avisa. É que Tatiana não
quer contar uma única história.
“Desde o primeiro momento pensei
em FaminTA como sendo ‘nosso’,
no sentido de que o personagem
principal pode ser eu, você ou
qualquer conhecido”, explica.
FAMINTA: UMA
HISTÓRIA SOBRE
TA — TRANSTORNO
ALIMENTAR E OUTRAS
COISAS MAIS
Autora: Tatiana
ajudou a lidar com isso?
Com certeza. Durante o tratamento,
a escrita foi uma maneira que
encontrei de externalizar questões
internas e organizar sentimentos e
pensamentos, além de conseguir
entender um pouco mais sobre mim,
minha história e quanto tudo isso
reverbera nos gatilhos do TA. É uma
ferramenta que me coloca em contato
mais próximo com as emoções que
rodeiam os dias bons e ruins.
No início do livro, lemos que a
protagonista, que não tem nome,
pode ser qualquer um. Acha
importante frisar que a pessoa
com transtorno alimentar não
procurei trazer de que qualquer um
poderia ser “faminTA”. É até uma
forma de alertar para a gravidade
desses transtornos e para a crescente
taxa de diagnósticos no mundo todo.
Por que todo mundo deveria se
familiarizar mais com o tema,
mesmo não sofrendo de TA?
Muitos não sabem quando alguém
da família, o parceiro ou um amigo
têm algum tipo de TA, e é comum
os pacientes esconderem suas
compulsões. Então, o transtorno pode
passar despercebido. É sorrateiro e
silencioso. Por isso é tão importante
buscar materiais que falem sobre o
TA, bem como não julgar, ter empatia,
Fotos: Tomás Arthuzzi

Cavalcante tem um perfil específico? estar disposto a estender a mão e

Editora: Patuá
Páginas: 248 O TA, seja ele qual for, não tem rosto, saber quanto essa ajuda e o apoio são
corpo, gênero, etnia, orientação essenciais para o tratamento.

8 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_alimentação.indd 8 02/12/22 11:51

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MEDICINA

10 FATORES
QUE PESAM NA
PREVENÇÃO DA
DEMÊNCIA
Pesquisa nacional aponta medidas
(algumas pouco difundidas) para
reduzir o risco do colapso cognitivo

A pós se debruçar sobre

dados epidemiológicos
de quase 10 mil brasileiros,
médicos do Hospital de Clínicas
de Porto Alegre mensuraram o
impacto de hábitos e condições
de saúde na probabilidade de
desenvolver demência com
o avançar da idade. O termo

s
abrange uma coleção de doenças ta
que arruínam progressivamente
is
o cérebro e funções cognitivas
ev

como memória e raciocínio, tendo

também repercussões emocionais
R

e comportamentais. O fator
com maior peso para o risco de
il

demência foi a perda auditiva,

as

1 2 3
seguido pelo sedentarismo. “Sem
dúvida, a medida mais urgente a
Br

ser adotada é a identificação de

quem tem algum grau de déficit de
audição. Em segundo lugar, e não Perda auditiva Inatividade física Pressão alta
menos importante, o estímulo à Lesões no sistema O exercício tem efeito Além de provocar AVC,
atividade física”, afirma Wyllians nervoso e falta de anti-inflamatório e patrocina desfalques
Borelli, um dos autores do estudo interação social podem estimula a liberação na irrigação da massa
publicado pelo The Lancet. Mas explicar sua influência de substâncias que cinzenta, levando ao
o que a perda auditiva tem a nos casos de demência. protegem o cérebro. declínio cognitivo.
ver com a demência? “Há três
teorias que buscam explicar essa
ligação: pessoas que ouvem mal
despendem maior esforço para
se comunicar, usando recursos
que poderiam ser poupados para
outros processos cerebrais; a
6 7 8
perda auditiva gera isolamento Obesidade Tabagismo Depressão
social e depressão; e danos no está relacionada a Substâncias do cigarro Existem motivos tanto
nervo auditivo podem refletir o inflamação crônica e prejudicam a circulação, fisiológicos como
comprometimento do sistema outras alterações que comprometendo comportamentais
nervoso pela doença”, detalha o colocam o coração e a inclusive o aporte de ligando o quadro a
diretor científico da Hygia Saúde. cabeça em perigo. oxigênio no cérebro. propensão à demência.

12 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
 por DIOGO SPONCHIATO

O MODELO SUECO DE
SUPORTE À DOENÇA
Incentivado por sua rainha, país dá lições de
como apoiar pessoas que vivem com demência
Calcula-se
que 2 milhões de
brasileiros tenham
demência. Número
deve saltar para
A rainha
Silvia da
Suécia conhece
mundo inteiro é
que as pessoas
não reconhecem a
quase 6 milhões de perto o desafio demência como uma
até 2050 representado pela doença”, disse a VEJA
demência: sua mãe SAÚDE em passagem
e o irmão sofreram pelo Brasil em um
com a condição. evento promovido
Sensibilizada pela pela healthtech Vibe
causa, hoje ela Saúde. A monarca
lidera iniciativas encabeça esforços
para aprimorar o para mudar essa
cuidado com essas realidade, e sua

s
ta pessoas, treinar fundação vem
profissionais de formando gente
is
saúde e conscientizar e capacitando
ev

a sociedade para instituições na Suécia

acolher melhor e em outras nações
R

quem convive com para dar o suporte

o problema. “O adequado a milhões
il

que acontece no de pacientes.

as

4 5
Br

ENTENDER E ACOLHER
No que a Suécia investe em matéria de demência
Baixa escolaridade Consumo de álcool
A educação desde a O abuso na bebida Conscientização Formação
infância forja e sedimenta desencadeia problemas
Reconhecer que a A fundação da rainha
conexões entre os no corpo inteiro, e o
demência é uma sueca fornece cursos a
neurônios, criando uma cérebro é um dos mais
doença, não coisa da enfermeiros, médicos,
poupança cerebral. maltratados no processo.
idade, e informar a dentistas e outros
sociedade é vital para profissionais para dar
prestar o cuidado certo. a melhor assistência.

9 10 Capacitação
Ela não envolve só
a área da saúde.
Abrigo
A monarca criou um lar
projetado para receber
Isolamento Diabetes Policiais, motoristas pessoas com demência
Quem vive sem se A doença também e até funcionários e seus familiares. E
relacionar e se comunicar financia a interrupção de banco podem ser sua equipe qualifica
Ilustração: Otávio Silveira

com o mundo perde um do fluxo sanguíneo pelas instruídos a lidar com instituições com essa
estímulo importante para artérias, entre elas quem tem o problema. finalidade pelo mundo.
os neurônios. as cerebrais.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 13
 MENTE SAUDÁVEL

PODCAST TRATA
DE LUTO E
OUTROS DESAFIOS
EMOCIONAIS
Programa nasceu após dois
jornalistas perderem pessoas
próximas. Sétima temporada
aborda questões de saúde mental
como burnout e depressão

E m dois anos, o jornalista

Renan Sukevicius perdeu
as duas avós — ainda mudou de
casa e se demitiu. “Percebi que
as pessoas ao redor também
enfrentavam términos dos mais

s
variados”, conta. Sua amiga e
colega de profissão Juliana Dantas
foi uma delas: viu a avó materna
ta
is
e o pai morrerem em três meses.
ev

Após essas experiências, os dois

criaram o Finitude, um podcast
R

cuja proposta inicial era abordar

diversos tipos de fim — de um
il
as

livro, do ano, da vida... Mas, a

partir da segunda temporada, a
Br

morte virou protagonista. “Não

significa que amamos frequentar
velórios ou passear por cemitérios,
mas, sim, que buscamos alguma
consciência da nossa condição
finita”, diz Renan. O tema é tabu
na sociedade, incluindo nos meios
de comunicação. Juliana lembra
que, vira e mexe, deparamos com
frases como “Perdeu a luta para
o câncer” quando alguém morre
devido à doença. “Mas a morte

1 2
não é um fracasso, é uma condição
humana”, nota. Com delicadeza
e acolhimento, os dois jornalistas
ressignificam tudo o que cerca o A MENTE EM
término da vida. Na sétima (e mais EVIDÊNCIA
recente) temporada, outros temas Do que falam os Como lidar Como lidar
envoltos em estigmas e cada episódios da última com o com a
vez mais presentes no dia a dia temporada burnout? depressão?
ganham destaque.

14 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_mente saudável.indd 14 02/12/22 11:43

 por THAÍS MANARINI

ENTREVISTA

O podcast Finitude foi lançado Por que vocês fazem questão de

depois de perdas marcantes na falar dos cuidados paliativos?
vida de vocês. Por quê?
Juliana: Tive a oportunidade de
Renan: Olhar para esses infinitos finsacompanhar a morte da minha avó
é muito duro. Entendi que encarar essamaterna, Olga, e do meu pai, Audálio,
nova realidade acompanhado pode com extrema dignidade, em 2018,
ser melhor. Acho que o Finitude é uma no Hospital Premier, o primeiro do
companhia para quem precisa de Brasil a se dedicar exclusivamente Juliana Dantas e
algum modo desabafar e não encontra aos cuidados paliativos. Me senti Renan Sukevicius
alguém para ser escutado. privilegiada. Foi um alívio, seguido são jornalistas
de uma inquietação. Não é justo que paulistanos que
seja privilégio ter acesso ao conforto, já passaram por
Qual a importância de encarar a
redações como a
morte sem tabus, como fazem nos a um bom manejo de sintomas, a um
olhar completo para o indivíduo que da rádio BandNews
episódios do programa?
está como paciente e para a família FM, da CBN, da TV
Renan: A morte é a única certeza Gazeta, da Record
dele. Perder alguém é sempre ruim,
da vida. E essa não pode ser uma News, da Alpha FM e
mas o “como” importa muito. Acredito
frase para encerrar conversas. Ela é

s
que, quanto mais o cidadão comum da Folha de S.Paulo
excelente para abrir um diálogo. A
partir daí, tentamos viver melhor, em
entender como os cuidados paliativosta
is
podem ser benéficos, passará a
harmonia com a gente mesmo e com
exigi-los como o direito que são.
ev

os outros, sempre que possível. Uma

chave em mim virou quando entendi
R

que a morte não é o contrário da De onde veio a ideia de explorar

vida, mas do nascer. É um processo outros temas da saúde mental?
il

natural e inescapável.
as

Renan: Estamos inseridos em um

Juliana: Ainda é difícil encontrar sistema que nos obriga a sermos
Br

espaços sociais abertos e preparados produtivos o tempo todo, que não abre
para acolher as facetas mais espaço para o ócio e o lazer. E que trata
FINITUDE
desafiadoras da vida. Um dos as subjetividades como um problema

Fotos: Giulia Fiori Photography - Getty Images (vaso) e Helton Nóbrega - divulgação (entrevistados)
Onde ouvir: Spotify,
trabalhos que buscamos fazer é a ser superado ou anestesiado. Deezer, Apple
este: pensar em como cada um Acreditamos que discutir o tema Podcasts, Amazon
de nós, pessoa física, pode estar jornalisticamente, em áudio e vídeo, Music, Orelo e demais
tocadores de podcasts
mais preparado para acolher o servirá daqui a uns anos quase como um Onde assistir: Youtube.
outro verdadeiramente. Sem frases registro, uma foto, de como olhávamos com/FinitudePodcast
prontas, sem minimizar a dor alheia. para questões de saúde mental em 2022.

3 4 5 6
Como lidar com Como lidar com Como lidar com Como lidar com o
o transtorno de o transtorno de transtornos Alzheimer e outras
ansiedade? bipolaridade? alimentares? demências?

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 15

SA486_mente saudável.indd 15 02/12/22 11:43

 ATIVIDADE FÍSICA

A SAÚDE POR O CORPO EM JOGO

TRÁS DO FUTEBOL Entenda o que pode acontecer da cabeça aos pés

Na esteira da Copa do Mundo,

mostramos os benefícios e os Cabeça
riscos da modalidade O jogo estimula
agilidade de raciocínio
e coordenação motora.

O futebol é mais que um

esporte no Brasil. Faz parte
da nossa cultura. Seja nos campos
Mas as cabeçadas e
os choques de cabeça
representam um risco,
de várzea, seja nas quadras das sobretudo para crianças.
escolas, seja na rua ou no quintal,
o jogo é uma das formas clássicas
de lazer desde a infância — quando
não é o passatempo predileto na
frente da TV. Segundo a pesquisa
Marcas em Campo! O Futebol
e a Mídia Dentro e Fora das 4

s
Linhas, quase 70% dos brasileiros
acompanham o esporte. E uma
parcela razoável dessa turma
ta
is
também se aventura nas peladas
ev

e partidas recreativas. “O futebol

é uma modalidade que trabalha
R

intensidade associada a resistência,

gerando um condicionamento
il
as

físico maravilhoso”, diz o médico

do esporte e ortopedista Guilherme
Br

Noffs, de São Paulo. Mas está

longe de ser isento de riscos,
principalmente para aqueles que
jogam sem o preparo adequado.
“Ele não é um esporte para
qualquer um. Tem ritmo intenso e,
por causa dos choques, provoca
traumas com frequência. Sem
preparo, a probabilidade de sofrer
uma lesão é muito alta. Tanto
que é uma das atividades em que
as pessoas mais se machucam”,
avisa Noffs. Mais recentemente, Braços Coluna
estudos passaram a alertar para Já notou que os jogadores O futebol exige uma
possíveis danos das cabeçadas caem rolando? É a rápida mudança de
na bola ao sistema nervoso no forma mais segura de se direção, por isso é
longo prazo. Claro que os perigos resguardar, pois o peso importante trabalhar os
são bem maiores para os atletas do corpo não recai sobre músculos da lombar e do
profissionais, mas convém ter os braços. Amadores se abdômen. A musculação
cautela e se preparar direito para machucam assim. é bem-vinda!
desfrutar do melhor do esporte.

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 por INGRID LUISA

UM TREINO
ESSENCIAL
Você já viu
Coração e pulmões Tornozelos jogadores
O futebol é padrão ouro São demandados com de futebol se
em condicionamento frequência, tanto que agachando com
físico. Uma partida entre a torção ali é uma das uma perna só, os
adultos pode equivaler a lesões mais comuns. braços estirados
uma corrida intensa por Foi o que aconteceu com pra frente e olhos
quilômetros. Só que isso o craque Neymar nesta
fechados? Ou se
exige preparo! Copa do Mundo.
equilibrando numa
bola murcha?
Esses são exemplos
de exercícios de
propriocepção,
que melhoram a
capacidade que

s
o nosso corpo
ta tem de avaliar a
is
posição em que se
ev

encontra e manter o
equilíbrio. Estudos
R

apontam que uma

boa propriocepção
il
as

faz a diferença para

as articulações dos
Br

atletas. “O acidente
é imprevisível, mas
a proteção contra
ele não é. Esses
exercícios preparam
as articulações
para proteger
os ligamentos
e evitar lesões
sérias em casos de
pancadas”, explica
Coxas Joelhos o médico do esporte
O problema mais A maior preocupação Guilherme Noffs.
frequente é o é o ligamento cruzado Portanto, esse tipo
Foto: warrengoldswain - Getty Images

estiramento dos anterior, responsável de treino se soma

músculos, consequência pela estabilização. Ele à musculação
de sobrecarga ou lesiona quando ocorre
no preparo dos
muito esforço. É preciso algum giro no joelho,
fortalecer bem a região. em queda ou choque. profissionais.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 17

SA486_atividade física.indd 17 02/12/22 12:55

CÂNCER SEM TABU & COM CIÊNCIA
CÂNCER DE PELE: COMO PREVENIR
O TUMOR MAIS FREQUENTE NO PAÍS?
N o campo dos ditados
populares, talvez seja a
hora de deixarmos de dizer que
“todos merecem um lugar ao sol”,
ou, pelo menos, passar a dizer
que “todos merecem um lugar no
guarda-sol”. A chegada do verão
irá levar o brasileiro para praias,
parques e piscinas, como faz nosso
povo ano após ano, sempre com
a tradição de aproveitar a estação
para garantir dias de descanso
e bronzeado. Mas isso tem um
lado preocupante, pois, se certos
cuidados não forem tomados, a
s
pele e a saúde pagam um preço. E
ta
ele pode vir na forma de um câncer
de pele, o tumor mais prevalente
is
em nossa população.
ev
Há dois tipos básicos de câncer
de pele, o não melanoma, que
R
surge nas células basais ou
nas escamosas da pele, e
il
as
o melanoma, que tem origem
nos melanócitos, as células que
Br
produzem o pigmento que dá cor
à pele (a melanina). Na maioria
das vezes, melanomas são mais
graves e aparecem em pessoas de
pele clara, no tronco dos homens e
nas pernas das mulheres, embora
possam surgir em outras partes
do corpo também. Apesar de mais
comum em pessoas de pele clara,
negros e seus descendentes não
estão livres da doença.
Segundo dados recém-divulgados
pelo Instituto Nacional de Câncer
(Inca), são esperados 704 mil casos
novos de câncer no Brasil para
cada ano do triênio 2023-2025,
com destaque para as regiões Sul
e Sudeste, que concentram cerca
de 70% dos diagnósticos. Dentro
desse contexto, o tumor maligno
mais incidente é o de pele não
melanoma, com 31% do total de
18 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
casos. Diante dessa alta incidência,
a prevenção da doença deve ser
tema durante o ano todo, não só
quando a temperatura sobe.
Considerando que ninguém
consegue evitar totalmente seus
encontros com os raios solares
(nem deve!), é imprescindível
que tenhamos consciência
da importância da exposição
controlada. A mutação de nossas
células em decorrência da radiação
solar — o primeiro passo para surgir
um câncer — acontece muito antes
do ponto de ficarmos vermelhos.
Nesse aspecto, o mais eficiente é
a proteção mecânica, ou seja, o
uso de chapéus e camisetas e a
permanência à sombra, evitando
a incidência direta dos raios
solares. Não apenas nas praias! É
fundamental estarmos atentos a
isso no dia a dia, quando saímos
para uma caminhada pelas ruas,
dirigimos ou vamos a encontros
sociais ao ar livre.
O protetor solar continua sendo
indispensável, mas será que você
conhece o uso correto? O fator
de proteção solar (FPS) é o índice
que determina o tempo que uma
pessoa deve permanecer ao sol
sem produzir eritema, ou seja, sem
ficar com a pele vermelha. Seu
uso é complementar à proteção
mecânica e requer a reaplicação de
tempos em tempos.
Aliás, não se engane com o
bronzeamento artificial! Ele não
é uma forma eficiente de deixar a
pele preparada para o período do
verão. Pelo contrário, a prática é
arriscada, uma vez que geralmente
é utilizada exatamente pelas
pessoas com maior risco de câncer,
ou seja, aquelas com pele muito
clara e com dificuldades de pegar

uma cor. Cada sessão pode dobrar
o risco de um tumor cutâneo
aparecer. Portanto, o resultado
estético imediato pode trazer um
grande aborrecimento no futuro.
Ainda assim, mesmo com todos
os cuidados preventivos, o fato
é que podemos desenvolver
algumas formas de câncer de
pele. Elas podem ser resultado
de danos cutâneos acumulados
ou mesmo de fatores genéticos.
Se você tomou sol durante toda
a juventude sem a proteção
adequada, a tendência é que sua
pele guarde na memória os danos
no decorrer dos anos. Por isso o
diagnóstico precoce é decisivo. Se
você desconfia de alguma pinta
ou mancha na pele, se tem uma
ferida que não some depois de um
mês ou se houve casos de tumores
desse tipo na família, é essencial
consultar um dermatologista.
Hoje, fora a avaliação clínica,
temos exames de imagem
complementares que auxiliam
no diagnóstico da doença e
estão disponíveis nos bons
centros médicos — é o caso da
dermatoscopia, da dermatoscopia
digital e da microscopia confocal.
Essa associação de técnicas
permite a identificação de lesões
ainda sem critérios clássicos de
um tumor cutâneo, possibilitando
a detecção cada vez mais cedo e,
consequentemente, aumentando
a possibilidade de cura.
Esses procedimentos e a
identificação do problema
precocemente também acarretam
tratamentos menos invasivos, com
cirurgias muito mais econômicas.
Os estudos têm mostrado
que, na maior parte dos casos,
grandes intervenções na pele são
por VICTOR PIANA DE ANDRADE e JOÃO DUPRAT ilustração DYANA LIMA
desnecessárias. Isso ajuda muito
no tempo de recuperação e nas
consequências estéticas.
Nos casos de melanoma, em Victor Piana João Duprat é
geral mais agressivos, a escolha do de Andrade cirurgião oncológico
tratamento depende basicamente é médico e líder do Centro
da espessura do tumor e de seu patologista e CEO de Referência em
estágio de evolução. Melanomas do A.C.Camargo Tumores Cutâneos
finos podem ser tratados com Cancer Center do A.C.Camargo
uma pequena cirurgia para
remoção, a excisão simples, em
que o câncer é retirado junto
com uma pequena porção de
tecido sadio, que será examinado
para verificar se não restaram
s
células cancerosas na região. Se
ta
os gânglios linfáticos próximos à
área acometida foram atingidos,
is
eles também serão retirados, num
ev
procedimento cirúrgico chamado
linfadenectomia.
R
A imunoterapia, que instrui o
corpo a atacar a doença, é outra
il
as
opção para enfrentar o melanoma,
sobretudo casos mais avançados
Br
ou com maior probabilidade de o
câncer voltar após o tratamento.
Hoje contamos inclusive com um
medicamento imuno-oncológico
especificamente indicado para
o melanoma metastático, isto é,
quando a doença se espalhou para
outros tecidos além da pele. Sem
dúvida, é um dos principais avanços
recentes nessa área da medicina.
Porém, o acesso a tratamentos
inovadores ainda é um desafio
para pessoas distantes dos
grandes centros. Isso só reforça
a necessidade de cuidados
constantes e do diagnóstico
precoce de lesões suspeitas. Aí
estão as verdadeiras chaves para
termos cada vez menos casos
de câncer de pele no país. Afinal,
todo brasileiro merece um lugar,
devidamente protegido, ao sol.
V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 19
 s
ta
is
ev
R
il
as
Br

2 0 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_tendências da saúde digital.indd 20 05/12/22 18:46

 Mapeamos as inovações na

s
ta medicina e no ecossistema
is
de cuidados que vieram para
ev

ficar e, direta ou indiretamente,

vão mexer com a sua vida,
R

impactando as formas de
il
as

prevenir, diagnosticar e tratar

Br

doenças. As mudanças vão

muito além da tecnologia: o
jeito de pensar a saúde das
pessoas e sua relação com
o mundo também está se
transformando. E ninguém vai
(ou deveria) ficar de fora desse
movimento em que aplicativos,
algoritmos e computadores
conectados passam a conviver
com médicos, enfermeiros e
outros profissionais da área

texto MAURÍCIO BRUM, JUAN ORTIZ, VALENTINA

BRESSAN, BETTINA GEHM e SÍLVIA LISBOA
design ESTÚDIO CORAL e LAURA LUDUVIG
ilustração EUGÊNIO MEDEIROS e LAURA LUDUVIG

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 21

SA486_tendências da saúde digital.indd 21 05/12/22 18:46

 1
A JORNADA HÍBRIDA DE CUIDADOS

A pandemia acelerou tendências “Esse trabalho se divide em duas

que já vinham sendo esboçadas
no setor de saúde, aliando
recursos tecnológicos a equipes
multiprofissionais, com médico,
enfermeiro, psicólogo e companhia.
Cada vez mais se torna realidade
o conceito de jornada do paciente:
no lugar de consultas e exames
pontuais, em geral diante de
sintomas ou crises, o indivíduo é
acompanhado no longo prazo, com
o apoio de plataformas digitais
que reúnem seus dados e um time
apto a atendê-lo de forma virtual
partes: a tecnológica e a humana,
com profissionais qualificados”,
resume Marcelo Toledo, CEO da Klivo,
healthtech focada no cuidado híbrido
de pessoas com doenças crônicas.
“É preciso pensar em coordenação
e navegação do cuidado”, defende
Ricardo Salem, diretor-executivo da
Care Plus. São dois conceitos que
se complementam: a coordenação
identifica as necessidades de cada
um e indica profissionais e recursos
para atendê-las; a navegação é o
percurso em si, com um médico ou

s
ou presencial — algo decisivo para enfermeiro pilotando o barco junto
a medicina preventiva e preditiva ta
ao paciente. “É comum as pessoas
is
migrar da teoria para a prática. “A se sentirem perdidas em saber que
revolução mais radical é conectar serviço procurar e em que momento.
ev

os elos da cadeia de cuidados, o A navegação vai ajudar a fazer as

que é mais efetivo para o paciente coisas certas na hora certa para ter o
R

e mais sustentável para o sistema”, melhor resultado”, afirma Salem. Um

il

diz Pedro Bueno, CEO da Dasa, estudo da Care Plus mostrou que, no
as

maior rede privada de assistência auge da pandemia, segurados que

à saúde no país. Nessa jornada participaram de um programa de
Br

integrada, prontuários eletrônicos monitoramento da Covid-19 tiveram

congregam as informações e o
histórico do paciente, permitindo
personalizar o atendimento e evitar
a redundância na prescrição de
exames ou interações entre remédios.
58% menos sinistros. Com a devida
orientação, não precisavam sair
de casa e ir ao pronto-socorro por
qualquer sintoma, por exemplo.
É um raciocínio que veio para ficar.

O CLÍNICO DO FUTURO
A tecnologia não vai substituir os médicos, mas sem dúvida faz cada vez
mais parte da rotina deles — e quem acredita nisso são os próprios doutores.
Segundo pesquisa da Elsevier Health com mais de 3 mil profissionais de
saúde ao redor do mundo, 83% acreditam que seu treinamento precisa
ser revisto para acompanhar os avanços na área. Isso significa aprender
a lidar com a abundância de protocolos, dados e recursos high-tech (com
atualizações constantes) sem perder a dimensão humana do cuidado.
“Nós não aprendemos a fazer a anamnese através de uma tela. Mas o
mundo mudou. Com capacitação, é possível desenvolver uma boa relação e
empatia com o paciente mesmo a distância”, aposta Salem.

22 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

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 2
TELEMEDICINA EM ASCENSÃO

Nenhuma virada foi sentida no petróleo na costa brasileira. “A

cotidiano de forma tão clara
nos últimos anos quanto a
popularização da telessaúde, com
atendimentos feitos por celular,
computador e afins. A pandemia
fez com que velhos tabus em
torno do tema caíssem por terra e
transformou em rotina o que antes
só acontecia em casos específicos.
Hoje, se você tem convênio, é
bem provável que passe por uma
consulta a distância antes de um
encaminhamento a uma sessão
presencial, especialmente se estiver
digitalização também vai permitir
que essas interações gerem dados
que podem ser transformados
em informação útil para decidir
investimentos e coordenar o
cuidado”, afirma Klajner. Tem
mais: a telemedicina contribui para
diminuir as desigualdades sociais e
geográficas de um país continental
como o nosso — e para desafogar o
próprio sistema de saúde pública. O
programa Telessaúde Brasil, do SUS,
já propicia a médicos da atenção
primária o apoio de especialistas

s
com suspeita de alguma doença que, remotamente, auxiliam no
ta
contagiosa. E essa tática não só atendimento de pacientes em postos
is
facilita a vida como funciona! de saúde, reduzindo as filas de
“Mais de 80% das situações clínicas espera. A lógica é simples: em vez de
ev

que fazem as pessoas buscarem um encaminhamento que pode levar

um pronto-atendimento podem ser meses, o clínico que faz a primeira
R

resolvidas por telemedicina”, calcula consulta consegue uma opinião

il

Sidney Klajner, CEO do Hospital rápida de um colega especializado,

as

Israelita Albert Einstein, instituição e pode orientar o paciente sem

pioneira no uso da tecnologia no demora. “O Telessaúde Brasil cresceu
Br

Brasil. A plataforma do hospital muito. No Rio Grande do Sul, a fila

paulistano já atendeu cidadãos em
mais de 2,6 mil cidades e 50 países
diferentes, incluindo áreas de difícil
acesso, como territórios indígenas
na Amazônia e plataformas de
para a neurologia foi reduzida de um
ano e meio para cerca de três meses”,
exemplifica Jefferson Fernandes, vice-
-presidente da Associação Brasileira
de Telemedicina e Telessaúde.

SEUS DADOS ESTÃO PROTEGIDOS?

As informações de saúde de cada um de nós, sensíveis por natureza e
agrupadas em grandes bancos de dados, são uma mina de ouro para
cientistas e algoritmos, mas não podem expor os pacientes nem servir para
que uma empresa aumente o valor de uma cobertura ou serviço com base em
algo que deveria ser sigiloso. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) obriga
que qualquer coisa obtida em consultas e exames permaneça confidencial,
mesmo quando tudo acontece em ambiente virtual. Com o crescimento da
área de saúde digital, aumentou o temor de que informações vazem ou sejam
mal utilizadas ou apropriadas. Mas há esquemas de defesa para evitar isso: os
dados são conservados com uma camada de criptografia e sob anonimato.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 23

SA486_tendências da saúde digital.indd 23 05/12/22 18:46

 3
A SAÚDE TAMBÉM É PORTÁTIL

Os wearables, ou dispositivos o volume de massa magra e de

vestíveis, não são mais
apenas acessórios da moda.
Smartwatches, smartbands e
smartphones — relógios, pulseiras
e telefones inteligentes, no nosso
idioma — já vêm auxiliando no
monitoramento da saúde, com
funcionalidades que melhoram
o desempenho no dia a dia (não
só em matéria de exercícios) e até
alertam em caso de emergência.
Nessa categoria, quem sai na
frente são os smartwatches,
relógios de pulso que funcionam
gordura no corpo. “Ele consegue
informar até a composição do
músculo esquelético”, conta Citrini.
Todas essas capacidades são
testadas e exploradas em estudos.
O Hospital das Clínicas de São
Paulo iniciou uma pesquisa com
o aparelho Galaxy Watch4, da
Samsung, para monitorar o sono e
os sinais vitais, como oxigenação
do sangue, batimentos cardíacos
e pressão arterial, de 80 pacientes
em recuperação da Covid-19. O
objetivo do projeto é entender

s
como minicomputadores: eles principalmente os eventuais
conseguem medir a atividade ta
impactos das sequelas da Covid
is
física diária, a qualidade e o tipo longa. Já os smartwatches da
de sono e a frequência cardíaca. Apple foram colocados à prova
ev

Marcas como Apple e Samsung num estudo francês com 734

também oferecem a opção de pessoas diagnosticadas com uma
R

fazer eletrocardiogramas, recurso doença cardíaca. De acordo com

il

recentemente adicionado com aval os autores, o eletrocardiograma

as

da Anvisa. “São dados que você do celular acertou no diagnóstico

leva para seu médico analisar”, automático de 80% dos casos de
Br

explica Renato Citrini, gerente arritmia, um padrão que pode

sênior de produto da Samsung
no Brasil. A empresa sul-coreana
ainda desenvolveu para os
novos modelos um sistema de
bioimpedância, capaz de avaliar
ser aperfeiçoado com a evolução
dos algoritmos. Os wearables
estão virando, assim, atores
coadjuvantes nessa nova
jornada de cuidados.

QUESTÃO DE CIBERSEGURANÇA
Um levantamento internacional da consultoria Cynerio mostrou que
hospitais e sistemas de saúde estão entre os principais alvos de ataques
hackers. Segundo o relatório, mais de 5 milhões de dispositivos médicos
pelo planeta estão vulneráveis a uma invasão cibernética. Entre os mais
suscetíveis estão bombas de infusão de remédios, monitores de frequência
cardíaca e aparelhos de ultrassom. Em relação aos smartwatches, Renato
Citrini revela que a Samsung usa uma plataforma específica de proteção.
“Todos os dados sensíveis, tanto de saúde quanto de pagamentos, ficam
numa área separada. Se você tem uma tentativa de ataque ou invasão, ela
se autodestrói, e não se consegue mais usar aquela função”, descreve.

2 4 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

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 4
A MÁQUINA NOS BASTIDORES

Em 2022, os gêmeos siameses temos a realidade virtual, aquela

Bernardo e Arthur, de 3 anos, foram
separados em uma cirurgia inédita
no Rio de Janeiro. Com supervisão
de um hospital de Londres,
médicos do Instituto Estadual do
Cérebro Paulo Niemeyer utilizaram
projeções de realidade virtual para
conduzir, com precisão milimétrica,
o trabalho real, que durou cerca
de 72 horas. “Essas plataformas
ajudaram muito no procedimento.
Eu consegui colocar a equipe
brasileira conectada pelo metaverso
com a equipe inglesa”, conta Heron
em que se faz uma imersão no
mundo criado pelo computador,
com visão 360 graus, e a realidade
aumentada, que permite ver um
holograma de um exame, por
exemplo. Mas a tendência é que
elas convirjam no futuro”, expõe o
médico da Dasa. Outra inovação
de peso, e essa já aparece em tudo
quanto é canto no território da
saúde (aplicativos, hospitais, centros
de diagnóstico...), é a inteligência
artificial (IA). São algoritmos
de computador que estão em

s
Werner, coordenador do laboratório contínuo aprendizado a partir de
ta
Biodesign Lab da Dasa e da PUC- comandos e dados dos usuários.
is
-Rio. Metaverso é outro conceito Em seu último relatório sobre o
novo na área, e diz respeito à tema, a Organização Mundial da
ev

criação de espaços virtuais paralelos Saúde (OMS) destaca o potencial

em que se pode simular ou treinar da IA em aprimorar a precisão e a
R

procedimentos. Tanto que uma velocidade na detecção de doenças

il

das aplicações mais promissoras — uma realidade no atendimento

as

é voltada ao ensino médico. “Hoje a derrames, pneumonias e

posso reconstruir exames em 3D e tumores. A entidade só pondera
Br

dar aulas sobre isso no metaverso”, que “há possíveis consequências

exemplifica Werner. A tecnologia
também pode ser adotada em
reuniões com os próprios pacientes
para explicar o passo a passo em
situações mais complexas. “Hoje
negativas se os princípios éticos e as
obrigações de direitos humanos não
forem priorizados por aqueles que
financiam, projetam, regulam ou
utilizam essas tecnologias”.

CIRURGIA COM APOIO VIRTUAL

Se um paciente tem um tumor que deve ser retirado, por exemplo, os
médicos podem fazer uma preparação prévia com a equipe, a partir de
uma simulação da cirurgia no metaverso. Os exames de imagem também
são reconstruídos em 3D, facilitando a visualização exata do local a ser
operado. E o próprio paciente, munido de óculos especiais, pode entrar com
seu avatar no ambiente virtual e entender como será o processo cirúrgico e
quais cuidados são necessários no pós-operatório. “Hoje se usa a tecnologia
muitas vezes em pacientes que já foram operados ou têm a anatomia
distorcida. Se você faz a reconstrução em 3D, com todos os detalhes,
consegue diminuir as chances de complicações”, ressalta Heron Werner.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 25

SA486_tendências da saúde digital.indd 25 05/12/22 18:47

 5
ROBÔS DENTRO DO HOSPITAL

Cirurgias mais precisas, com cortes de apenas 10%. Devido ao custo

menores e recuperação mais rápida,
são possíveis quando quem opera os
instrumentos é um robô, controlado
pelo médico em uma sala ao lado.
“O robô é composto de braços
mecânicos como aqueles usados na
produção de automóveis em linha”,
ilustra Carlos Eduardo Domene,
coordenador do Programa de
Cirurgia Robótica da Rede D’Or São
Luiz. Os primeiros robôs-cirurgiões
chegaram ao Brasil há 15 anos, e hoje
já contam com filtros que eliminam
até os mínimos tremores da mão de
elevado, a tecnologia fica restrita a
grandes centros médicos privados.
Mas a expectativa é que os robôs se
tornem mais acessíveis nos próximos
anos. E ganhem ainda mais acurácia
com a incorporação progressiva
de softwares e o apoio do big data,
a ciência dos dados. “A ideia é que
a máquina possa reconhecer a
cirurgia através da compressão
de milhões de vídeos que assistiu
sobre procedimentos semelhantes,
para então interpretar um caminho
mais seguro na hora de operar”, diz

s
quem opera, além de um sistema Domene. André Berger, urologista e
óptico tão fiel que o médico enxerga ta
coordenador do Núcleo de Cirurgia
is
a cirurgia em 3D, como se estivesse Robótica do Hospital Moinhos de
dentro do paciente. Nesse contexto, Vento, em Porto Alegre, aposta
ev

os detalhes fazem a diferença e na conjugação com a realidade

ajudam a prevenir danos colaterais aumentada. “Imagens obtidas antes
R

em nervos e vasos sanguíneos. Na da cirurgia, como a ressonância

il

cirurgia de próstata, a mais comum magnética, serão integradas ao

as

realizada com braços robóticos, a sistema robótico e sobrepostas às

precisão evita incontinência urinária imagens captadas pela câmera
Br

e impotência sexual após a operação. dentro do paciente”, prevê. Com

“Nos Estados Unidos, mais de 85%
desses procedimentos para o câncer
de próstata são feitos com robôs”,
estima Domene. No Brasil, ainda
há muito a crescer: a proporção é
todo esse aparato, já é tecnicamente
possível operar pacientes a distância,
levando a cirurgia teleguiada a áreas
onde não existem profissionais
capacitados para usar o robô.

INTERNET 5G É A BASE DA TRANSFORMAÇÃO

Exames e cirurgias realizados com o acompanhamento virtual de um médico
experiente viriam a calhar em locais onde até há aparelhos mas faltam
profissionais habilitados a manejá-los. Só que, para essa empreitada rolar, é
essencial ter uma boa conexão à internet. É aí que entra o 5G, a última geração
da tecnologia. “No 5G, o tráfego de dados acontece quase em tempo real”, conta
Marco Bego, diretor do hub de inovação do Hospital das Clínicas de São Paulo, que
recentemente lançou a primeira rede privada 5G voltada ao SUS. Ela funciona com
antenas de menor potência, para não interferir na rede pública, e permite adequar
seu fluxo conforme as necessidades. “Se os dados viajassem numa autoestrada, é
como se o 5G aumentasse de duas para dez ou 15 pistas”, compara Bego.

2 6 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

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 6
A GENÔMICA ESTÁ ENTRE NÓS

De testes que avaliam a propensão antes de ela começar a aprontar.

a doenças a análises que norteiam o
tratamento, a era da genética chegou
— fruto de décadas de pesquisas e
do barateamento das tecnologias.
“Hoje o que temos de melhor
custo-benefício para os pacientes,
dando uma grande quantidade
de resultados com um valor mais
acessível, são os exames de exoma,
que buscam alterações genéticas
ligadas a diversas condições”, explica
David Schlesinger, CEO da Mendelics.
Existem testes mais abrangentes,
e que pesam no bolso, mas os de
Outro campo que vem dando as
mãos à genômica é a psiquiatria.
O olhar para o DNA pode auxiliar a
identificar com precisão o transtorno
mental e oferecer caminhos para
quem não anda respondendo aos
medicamentos — é significativo
o número de pacientes sem
diagnóstico correto ou sem melhoras
com o tratamento prescrito. Os
testes genéticos são animadores,
mas é prudente limitar algumas
expectativas. Já estão à venda
exames que prometem personalizar

s
exoma já possibilitam visualizar a dieta ou o estilo de vida com base
ta
o risco de problemas e orientar no DNA, mas os especialistas ainda
is
médicos e pacientes. Uma das áreas torcem o nariz para a efetividade
mais impactadas pela genômica é a e a utilidade deles. “Sabemos que
ev

oncologia. Fora apontar a propensão fatores genéticos influenciam o

a determinados tumores, a análise metabolismo, mas a decisão sobre
R

de mutações direciona o tratamento quais alimentos consumimos e

il

de acordo com o tipo específico de que exercícios fazemos é muito

as

câncer. As informações estão na mais importante. Então você não

corrente sanguínea: com a biópsia precisa nem deve customizar
Br

líquida, dá para rastrear a presença recomendações com essa

de traços de DNA de tumores com
uma amostra de sangue. Ainda
incipiente no país, espera-se que
essa categoria de exames possa, no
futuro, até flagrar a doença anos
finalidade”, diz Schlesinger.
Ora, ninguém precisa pagar por
um exame para saber que deve
comer vegetais, praticar atividade
física ou parar de fumar.

O FUTURO DAS VACINAS E DAS TERAPIAS

Muito além do diagnóstico, a genética também se presta a aperfeiçoar a
prevenção e o tratamento de doenças. Prova disso são os imunizantes à base
de RNA mensageiro (mRNA), usados pela primeira vez contra a Covid-19 e
nascidos de uma tecnologia revolucionária, que poderá render novas vacinas
e tratamentos para outros problemas, como o câncer. Ao contrário das
teorias da conspiração, as injeções de mRNA não alteram nosso DNA e vêm se
mostrando bastante seguras. Representam um tipo de terapia genética, assim
como aquelas que se valem de vetores para corrigir um gene com defeitos
e a edição via Crispr, método que rendeu um Prêmio Nobel e busca recortar
trechos específicos do genoma para tratar ou curar doenças.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 27

SA486_tendências da saúde digital.indd 27 05/12/22 18:47

 7
AS PROMESSAS DA MICROBIOTA

Acredite: existe mais DNA assinaturas microbiológicas

bacteriano no corpo humano
do que o nosso próprio DNA.
Isso porque diversas partes do
organismo (pele, boca, intestino...)
hospedam comunidades
microscópicas, principalmente
bactérias. É a microbiota. No caso
da intestinal, sabemos que um
ambiente equilibrado ali é crucial
para a imunidade e a produção
de vitaminas, hormônios e
moléculas como os ácidos graxos
de cadeia curta, que protegem o
órgão e interferem na absorção
associadas a algumas doenças e
determinar nossa predisposição
a problemas de saúde. “Com isso,
podemos prescrever uma dieta
personalizada que contribua para
adequar a microbiota”, conta o
nutrólogo Dan Waitzberg, diretor
do Ganep Nutrição Humana. Esse
planejamento alimentar costuma
incluir fibras prebióticas, que
nutrem as bactérias benfeitoras
já presentes no organismo, e
probióticos, cepas de lactobacilos
ou bifidobactérias fornecidas

s
de nutrientes. Só que fatores em bebidas lácteas, sachês ou
como má alimentação, estresse ta
cápsulas que, ao chegarem à nova
is
e uso de antibióticos mudam vizinhança, trazem vantagens como
a composição da microbiota e melhora do trânsito intestinal ou da
ev

podem levar à disbiose — quando a imunidade. Hoje inclusive é possível

convivência com os hóspedes deixa mapear a microbiota: basta colher
R

de ser harmônica. Esse processo, uma amostra de fezes, de onde é

il

intensamente estudado, pode extraído o material genético que

as

influenciar a resposta inflamatória será sequenciado em laboratório,

a que o corpo está sujeito, o descreve Waitzberg. O resultado é
Br

ganho de peso e o risco de uma comparado com outras amostras

série de doenças, não restritas
ao aparelho digestivo. Há pouco
mais de uma década, métodos
de sequenciamento genético
permitiram descobrir que existem
e padrões para determinar as
espécies e as características dos
micro-organismos dominantes,
e ajuda a balizar mudanças no
cardápio e até tratamentos.

TRANSPLANTE E BANCO DE FEZES

Nem toda microbiota é um antro de bactérias amigáveis. E, em casos extremos,
quando um micróbio ruim se instala e não sai com antibióticos, uma solução é
recolonizar o intestino com um pedaço de microbiota saudável. Isso é feito com
um transplante de fezes de um doador: o material é analisado antes e, estando
ok, introduzido no intestino do receptor. “Diante dessas infecções resistentes,
quase 90% dos pacientes melhoram no primeiro transplante”, relata Waitzberg.
A técnica, por ora, só é usada em emergências e casos refratários ao tratamento
convencional. E, já que a microbiota pode mudar e piorar com a idade, que tal
guardar uma amostra de fezes da juventude para utilizar um dia? Parece surreal,
mas isso já é testado – e guardado em bancos de fezes a 80 graus negativos.

2 8 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_tendências da saúde digital.indd 28 05/12/22 18:47

 8
A MENTE NÃO ESTÁ DE FORA

Enfrentar uma pandemia e o necessidade de se deslocar até o

isolamento decorrente das medidas
de prevenção teve impactos
profundos no estado emocional
da população. Segundo a OMS, os
casos de depressão e ansiedade
cresceram 25% no primeiro ano
de Covid-19. No Brasil, sessões de
terapia online ou via telefone já
eram regulamentadas, mas a busca
por esse tipo de serviço decolou.
A verdade é que, mesmo antes da
pandemia, a preocupação com
a saúde mental do brasileiro já
vinha se alargando: entre 2012 e
consultório — algo extremamente
vantajoso a quem sofre de fobia
social ou síndrome do pânico,
por exemplo —, plataformas de
terapia online introduzem soluções
mais atrativas para o início do
tratamento e sua manutenção. “O
digital está incorporado no dia a
dia da maior parte dos usuários, e,
como muita gente tem vergonha
de falar com o psicólogo, é possível
começar por meio de um chat ou
só falar com o profissional por
voz, não necessariamente com

s
2018, o número de consultas com vídeo”, destrincha Bonde. Hoje, do
ta
psicólogos saltou 116%, segundo total de consultas realizadas pela
is
a Agência Nacional de Saúde healthtech, 52% são voltadas à
Suplementar (ANS). Embora saúde mental. A incorporação de
ev

ainda existam tabus a respeito, algoritmos e ferramentas típicas

modalidades virtuais de terapia de redes sociais também já se
R

servem como um propulsor ao materializou para os pacientes:

il

tratamento. “Boa parte das pessoas pela plataforma, eles podem

as

até gosta mais de fazer terapia selecionar o profissional de

por vídeo porque se sente mais acordo com a abordagem e as
Br

confortável e menos inibida”, nota características que mais combinam

Ian Bonde, fundador e CEO da
Vibe Saúde, startup de telessaúde
com mais de 1,5 milhão de pessoas
atendidas. Além de permitir que
consultas sejam realizadas sem a
com seu perfil, e inclusive já
existem serviços de “match”, em
que é feito um pareamento entre
usuários e psicólogos a partir do
preenchimento de questionários.

APOIO PSICOLÓGICO NO TRABALHO

A saúde mental tem se tornado um assunto cada vez mais presente e crítico
dentro das empresas. E não à toa! Segundo um levantamento da Gattaz
Health & Results, um em cada cinco brasileiros sofre com o burnout, o
esgotamento decorrente do estresse no trabalho. “Companhias que há um
ou dois anos percebiam o cuidado com a saúde mental como um benefício
que davam ao funcionário hoje veem isso quase como um dever”, avalia Ian
Bonde. “Para além de investir no bem-estar emocional das pessoas, vemos
que é preciso empoderar os líderes das empresas para entender e atender
as necessidades dos colaboradores”, defende Rui Brandão, CEO da Zenklub,
plataforma que presta apoio psicológico a mais de 400 corporações.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 29

SA486_tendências da saúde digital.indd 29 05/12/22 18:47

 9
DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO

As inovações científicas e Brasil até 2028. Os primeiros

tecnológicas costumam levar
tempo para chegar a boa parte
da população brasileira e se
disseminar pelo sistema público de
saúde, que atende mais de 70% dos
cidadãos no país. Os custos são
elevados não apenas para adotar
equipamentos, procedimentos e
medicamentos modernos, mas
também para contratar e treinar
os profissionais aptos a utilizá-
-los. Isso acontece com a própria
telemedicina. “Hoje o grande
problema não é o dispositivo para
passos englobam melhorar a
infraestrutura de computadores
e internet nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS). Para Fernandes,
a parceria público-privada é uma
alternativa para tirar os avanços
do papel. “Já existem projetos,
como o Proadi-SUS, em que
instituições privadas com isenção
tributária por filantropia aplicam
a verba que iria para os impostos
em projetos de telemedicina
e apoio a UTIs no sistema
público”, destaca o médico. Os

fazer chamadas. O ponto complexo
é a organização do sistema
de saúde para poder prestar
esse serviço”, afirma Jefferson
s
especialistas concordam que, se
contornarmos as limitações de ta
is
recursos financeiros e humanos,
a tecnologia poderá romper
ev

Fernandes, que acaba de presidir barreiras em todos os sentidos

o Global Summit Telemedicine & e ajudar a tornar o acesso a
R

Digital Health, em São Paulo, com uma assistência de ponta algo

il

o lema “Saúde Digital para Todos”. mais palpável para quem hoje
as

Num país com tanta desigualdade enfrenta filas e outras dificuldades

social e regional, os gargalos do no SUS. “Com tecnologia, não
Br

acesso a uma medicina qualificada iremos diminuir a relação médico-

representam um dos desafios mais
urgentes. Em 2020, o Ministério
da Saúde chegou a publicar um
planejamento estratégico para
estender a saúde digital pelo
-paciente, mas focar no que mais
importa numa consulta e promover
a equidade de atendimento”, crava
o cirurgião Sidney Klajner, que
comanda o Einstein.

MAIS MODERNO, MAIS CARO?

O que há de mais sofisticado numa indústria normalmente tem um preço mais
elevado. Com o setor de saúde não é diferente. E, em um país onde pode ser
difícil conseguir o básico, a saída muitas vezes é partir para a judicialização para
conseguir um tratamento de última geração. Nesse caso, a lei diz que o Estado
deve fornecer o que o SUS não oferece a quem não tem condições de arcar. A
questão é que isso não resolve os obstáculos de acesso de forma geral e onera
ainda mais o sistema. Para driblar esse impasse, Fernandes prescreve usar as
evidências científicas como bússola: “Não importa que seja um tratamento
novíssimo e espetacular. Precisamos de provas de que funcione”. E de estudos de
farmacoeconomia para indicar como ele pode ser incorporado e disponibilizado.

3 0 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_tendências da saúde digital.indd 30 05/12/22 18:48

 10
O CONCEITO DE SAÚDE ÚNICA

Quando se trata de ameaças Daniel Queissada, Ph.D. pela

à saúde, não basta pensar
individualmente — nem só na nossa
espécie. É essencial considerar
os impactos que nossas ações
(e omissões) podem causar na
comunidade e no ambiente que nos
cercam. Foi o que a pandemia de
Covid-19 demonstrou, e o conceito
de “saúde única” resume. O termo
“one health” surgiu com diferentes
entidades ligadas à Organização
das Nações Unidas (ONU) para
alertar líderes e sociedades sobre
a importância de considerar e
Universidade de São Paulo (USP),
o desmatamento, a busca de
novas ou mais fontes de proteína
para alimentação e a expansão
dos perímetros urbanos elevam
a chance de vírus desconhecidos
migrarem para outros hospedeiros
e habitats. Ao promoverem o
contato entre diferentes espécies e
patógenos, esses fatores armam
uma autêntica cilada. “Os animais
têm seus micro-organismos naturais
e, quando eles conseguem chegar
até a gente e começam a sofrer

s
preservar a humanidade, animais, mutações, podem surgir novas
ta
plantas e o planeta como uma coisa doenças e epidemias”, explica
is
só. É uma ideia ampla, que envolve Queissada. Depois da Covid-19, o
não só a nossa qualidade de vida mundo está mais alerta, e hoje
ev

mas também nossas relações com governos e empresas investem em

a fauna e a flora. E que tem tudo a ferramentas de monitoramento
R

ver com a emergência de doenças ambiental, sistemas de vigilância

il

infecciosas. O conceito veio à tona genômica e epidemiológica e até

as

justamente a partir da detecção do no desenvolvimento de plataformas

aumento de zoonoses — problemas de vacinas. No entanto, práticas
Br

causados por vírus e outros mais sustentáveis no nosso dia a dia,

patógenos que transitam entre
animais e humanos —, como se
acredita que tenha acontecido com a
propagação original do coronavírus
em 2019. Segundo o microbiologista
na agropecuária, nas indústrias e
no próprio setor de saúde precisam
ser estimuladas em prol do
equilíbrio do ecossistema do qual
fazemos parte.

EM ALERTA VERMELHO
A pandemia do coronavírus não acabou, mas já existem outros focos de
preocupação no radar da OMS. Para além de surtos e epidemias pontuais,
a entidade monitora questões mais amplas, como o acesso ao saneamento
básico e a uma alimentação segura e o risco de contato das pessoas
com patógenos. Fora os vírus respiratórios, causam especial temor as
superbactérias e os fungos resistentes a medicamentos — caso do Candida
auris, que teve seus primeiros casos confirmados no Brasil durante a
Covid-19. A resistência microbiana é um problema tão assustador quanto o
surgimento de novos agentes virais — e resultado do uso indiscriminado de
medicamentos como antibióticos na saúde humana e na animal.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 31

SA486_tendências da saúde digital.indd 31 05/12/22 18:48

 JEJUM
FAZ BEM?
A estratégia que amplia o tempo
longe da comida vive ganhando
adeptos, a maioria em busca de
emagrecimento rápido. Saiba o
que a ciência tem a dizer sobre ela
texto REGINA CÉLIA PEREIRA

s
design ESTÚDIO SIAMO
ilustração IMAGESINES, PTASHA e
ta
is
PHIWATH JITTAMAS - GETTY IMAGES

D
ev

a blogueira fitness ao premiado cien-

tista, passando por religiosos e celebri-
R

dades... Com um elenco tão diverso, a

novela do jejum intermitente parece
il
as

estar longe do epílogo. No último ano,

foram acrescidos mais capítulos a essa história, mui-
Br

tos deles baseados em posts nas redes sociais, mas

também em pesquisas realizadas mundo afora —
7 mil delas catalogadas na biblioteca de estudos
mantida pelo governo americano. Embora a trama
principal seja o emagrecimento, o enredo controver-
so fala de outros possíveis benefícios, como a longe-
vidade. E um personagem que merece destaque aqui
é o japonês Yoshinori Ohsumi. Ganhador do Prêmio
Nobel de Medicina em 2016, foi colocado como em-
baixador da estratégia contra a obesidade de forma
totalmente equivocada: ele jamais propagandeou
dietas. Os imbróglios não param por aí, até porque
existem vários tipos de jejum. Há modelos com al-
ternâncias nos períodos de privação durante a sema-
na e protocolos com restrições diárias. Quem adota
costuma passar 12 ou mais horas sem comer, abrin-
do mão do café da manhã, por exemplo. A prática
coloca em cena um novo conceito e campo de estu-
dos, a crononutrição, que investiga os efeitos do ho-
rário das refeições no metabolismo e, entre outras
coisas, seu reflexo na perda ou no ganho de peso.
Tudo ordenado pelos ponteiros do relógio biológico.
Mas como o jejum se encaixa nesse roteiro?

32 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
 PRIVAÇÃO CONSAGRADA
O jejum simboliza a purificação
do corpo e do espírito, segundo
algumas crenças religiosas

Islamismo
No ramadã — o nono mês
islâmico, que é ditado pelo
calendário lunar —, os
muçulmanos jejuam do nascer
ao pôr do sol. O período,
marcado por outras práticas
sagradas, ajuda a reforçar a
conexão com Alá.

Judaísmo

s
ta O Dia do Perdão, ou Yom
Kippur (em hebraico), segue
is
os preceitos do livro sagrado,
ev

a Torá. Nessa data, também

móvel, nem mesmo líquidos
R

são permitidos e, além de

jejuar, os judeus se dedicam
il

às orações.
as
Br

Cristianismo
No catolicismo, recomenda-
-se a abstenção de carne e o
jejum sobretudo na Sexta-
-Feira Santa. O dia, calculado
de acordo com o equinócio,
condiz com a morte de
Jesus Cristo e é reservado
à reflexão.

Budismo
Os monges costumam
fazer poucas refeições
e há uma corrente que
opta por consumir só
líquidos após o meio-dia.
Durante as práticas de
meditação, o jejum
marca presença.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 33
 O QUE ESTÁ PERMITIDO DURANTE O JEJUM?
Cuidar da hidratação é importante para manter o corpo funcionando, mesmo de barriga vazia

s
ta
is
ev
R
il
as
Br

Independentemente do modelo de jejum escolhido, a recomendação é manter-se sempre bem hidratado,

de preferência com água. Aliás, o equilíbrio de líquidos é fundamental para o funcionamento do cérebro e
de outros órgãos vitais. Bebidas como café, chás e infusões até são permitidas, sem açúcar e sem exagero,
por favor. Embora não contenha calorias, o refrigerante zero não costuma ser indicado por nutricionistas.
E, nas janelas de alimentação, bom senso é primordial. Se empanturrar, como se não houvesse amanhã,
pode pôr tudo a perder. Daí a necessidade da orientação de um profissional de saúde antes de aderir a
essas e outras táticas de emagrecimento. Ele vai sinalizar as melhores escolhas, priorizando ingredientes
que aumentam a sensação de saciedade e seguram a onda nos momentos sem comida.

3 4 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
 Embora essa história possa cursar com concei-
tos modernos, caso da crononutrição, as inspira-
ções para a prática do jejum intermitente como es-
tratégia de emagrecimento vêm de longe. Inclusive
nossos ancestrais, que moravam nas cavernas, cos-
tumam ser utilizados para ajudar a explicar como o
corpo humano consegue se adaptar aos tempos de
escassez de comida, isto é, recrutando gordura es-
tocada e suprindo as demandas de energia. Há ain-
da toda uma herança religiosa. “O jejum tem rela-
ção íntima com desenvolvimento espiritual,
sacrifício e até salvação”, comenta a nutricionista
Ticiane Gonçalez Bovi, especialista em doenças
crônicas pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). “O ato de comer, especialmente em ex-
cesso, era considerado algo pecaminoso, associado
à luxúria”, prossegue. No passado, a aura divina
estava atrelada aos corpos magros.
Antonio Lancha Jr., pesquisador na área de ativi-
dade física e nutrição, conta que as observações so-
ferência da cintura, índice de massa corporal (IMC) e
outros parâmetros. Ou seja, não se viu nenhuma van-
tagem de jejuar em relação às boas e velhas dietas res-
tritivas, na esteira do que outras pesquisas já indica-
vam. É que, a despeito do formato, todos os modelos
de jejum promovem um déficit calórico.
Então quem tiraria proveito deles? “Alguns
desses protocolos costumam ajudar na organiza-
ção do cardápio no dia a dia”, avalia a nutricionis-
ta Tarcila Campos, do Centro Especializado em
Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz (HAOC), em São Paulo. Daí serem
bem-vindos a alguns perfis de pessoas. “Eles po-
dem ser uma alternativa principalmente para in-
divíduos que estão emocionalmente abalados e
não têm obtido sucesso com outras estratégias
alimentares”, acredita a endocrinologista Tarissa
Petry, também do HAOC.
Nessa linha, um pequeno trabalho que acompa-
nhou 33 mulheres com sobrepeso ou obesidade em

bre o ramadã, mês sagrado para o islamismo, tam-
bém serviram para impulsionar os trabalhos dos
cientistas. “Chamava a atenção a perda de peso que
is
sempre ocorria durante aquele período”, diz o pro-
ev
s
Santa Catarina constatou efeitos positivos no bem-
ta
-estar emocional. “Além da perda de peso e da pro-
teção cardiovascular, verificadas em exames, as
participantes que jejuaram relataram aumento da

fessor da Universidade de São Paulo (USP). Lá se vão autoestima”, revela o profissional de educação físi-
anos e anos de investigações e, entre experimentos ca Hugo Falqueto, da Universidade Federal da
R

com animais de laboratório, ensaios clínicos com de- Fronteira Sul, um dos autores do estudo. O profes-
zenas de participantes e revisões sistemáticas, muita sor enfatiza que é possível incorporar a estratégia
il
as

coisa ainda precisa ser elucidada. ao cotidiano, de maneira simples, com a manipula-
Um dos estudos mais recentes e comentados foi ção do tempo: basta reduzir as janelas de alimenta-
Br

publicado no respeitado periódico The New England
Journal of Medicine e comparou os efeitos da restri-
ção calórica com e sem a adoção do jejum. Participa-
ram da experiência 139 voluntários, divididos em
dois grupos. Uns receberam orientação para comer
somente das 8 da manhã até as 4 da tarde. Para os
outros, não havia determinação de horário, bastava
não ultrapassar o total estipulado de calorias para
ambas as turmas. Um ano depois, análises mostraram
que todos emagreceram na mesma proporção, e não
houve diferenças substanciais nas medidas de circun-
ção e aumentar as horas de restrição. Tudo com
critério e equilíbrio, vale frisar.
“Mas o jejum jamais deve ser adotado por
conta própria, sem a supervisão de um médico ou
nutricionista”, orienta a endocrinologista Jacque-
line Rizzolli, da Associação Brasileira para o Es-
tudo da Obesidade e Síndrome Metabólica
(Abeso). E existem contraindicações sérias. “Ele
não deve ser feito por gestantes, lactantes, crian-
ças, idosos, entre outros públicos”, afirma a nutri-
cionista Sabrina Theil, do Rio de Janeiro.

EM VÁRIOS Dias alternados Jejum modificado Restrição de tempo

FORMATOS Intercala dias de abstenção Nesse caso, o jejum permite Alterna horas seguidas
Confira três total de comida, nos quais o consumo de cerca de 500 sem comer e janelas de
modelos são permitidas apenas calorias. O 5:2, bastante alimentação, tudo no mesmo
populares bebidas sem calorias, com adotado, permeia cinco dia. Um dos mais comuns é o
de jejum os de alimentação liberada dias de cardápio irrestrito que pula o café da manhã e
intermitente por 24 horas. com dois dias jejuando. tem o almoço depois das 14h.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 35
 Fato é que, entre os profissionais de saúde, o je-
jum intermitente carrega muitas ponderações. “Ele
tem indicações específicas e deve ser adotado res-
peitando características individuais para que seja
bem-sucedido”, ressalta a médica nutróloga Mar-
cella Garcez, diretora da Associação Brasileira de
Nutrologia (Abran). Sem a devida orientação, sinto-
mas como náuseas, insônia e mal-estar, além de pro-
blemas como alterações hormonais, deficiência de
nutrientes e perda de massa muscular, podem dar as
caras. Outra sensação desagradável e perigosa é a
hipoglicemia, marcada por tonturas e até desmaios,
que acontece quando as taxas de açúcar no sangue
caem drasticamente. Por essa razão, geralmente não
é recomendado para quem tem diabetes, sobretudo
quando o quadro está descompensado.
Se não há impedimentos, a escolha do modelo a
ser seguido envolve o estilo de vida e as tarefas na
agenda. “Toda perda de peso só será sustentada se
as mudanças de hábito que a desencadearam forem
mantidas”, argumenta Marcella. Ainda que tenha
raízes religiosas, o jejum jamais deve ser permeado
por inúmeros sacrifícios quando se torna método
is
para eliminar os quilos a mais. “Comer envolve
ev
questões culturais, emocionais, sociais e ambien-
tais”, salienta a nutricionista Desire Coelho, especia-
R
lista em comportamento alimentar de São Paulo.
Sob essa ótica, deixar de participar de jantares ou
il
as
fugir de festas porque coincidem com o tempo de
privação pode estragar a relação com a comida (e
Br
com os outros). Aliás, nenhum dos protocolos de je-
jum é indicado a portadores de transtornos alimen-
tares, caso de anorexia, bulimia e compulsão.
Nesse sentido, um dos conselhos pregados pe-
los experts é nunca abolir o café da manhã, espe-
cialmente se você vai precisar botar os neurônios
para trabalhar. É que o cérebro requer sua cota de
glicose, e o combustível se esvai durante o sono.
Outro motivo para não ficar de barriga vazia logo
cedo é que há indícios de que, nos modelos de je-
jum com restrição de tempo, a tendência é uma
EFEITOS Cansaço
COLATERAIS Na falta de nutrientes,
Quando o jejum sobretudo dos
não é bem carboidratos, que
orientado, o garantem energia mais
corpo sofre imediata, a tendência é de
indisposição e desânimo.
3 6 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
maior eficácia na perda ou na manutenção do peso
quando a janela de alimentação é matinal. “Um es-
tudo recente demonstrou que esse padrão é mais
efetivo para auxiliar no controle da fome e na per-
cepção de saciedade”, relata Hércules Rezende
Freitas, professor do Instituto de Bioquímica
Médica Leopoldo de Meis, da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro (UFRJ).
Tudo indica, portanto, que comer direito nesse
período ajuda a repor a energia e a brecar o apetite
depois. A pesquisa, feita por uma equipe inglesa,
remonta ao batido ditado que ensina a fazer o
desjejum feito um rei, almoçar como um príncipe e
jantar como um mendigo. Exageros à parte, a regra
é promissora, justamente por respeitar o tal do re-
lógio biológico. “Nos mamíferos, o controle circa-
diano é regulado por uma região do cérebro, e são
esses ritmos que determinam a nossa atividade
metabólica. Geralmente nos alimentamos durante
o período mais ativo do dia e descansamos à noi-
s
te”, destrincha Ticiane. Assim, ocorre uma modu-
ta
lação hormonal para garantir que o organismo
funcione a todo vapor nos momentos certos.
Na mesma direção, outro experimento, publi-
cado na revista da Associação Médica Americana,
aponta que concentrar as refeições no período das
7 às 15 horas, com o restante do tempo em jejum,
contribui para a redução de gordura corporal, o
controle da pressão e a melhora no humor. “O re-
sultado é interessante, porém deve ser visto com
olhar crítico”, diz a nutricionista Letícia Ramalho,
pesquisadora em crononutrição do Laboratório de
Dor e Neuromodulação do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre. Ela destaca que, além das questões
metodológicas, não dá para saber com o estudo se
as pessoas voltaram a engordar após a interven-
ção. “O que está claro é que esses modelos de je-
jum não são mantidos por longo tempo, já que exi-
gem mudanças extremas nos hábitos e afetam os
compromissos sociais”, pontua. Pois é, quando o
assunto é emagrecimento, não existe milagre.
Irritabilidade Falta de concentração
Quando a fome aperta, O cérebro exige níveis
o humor sai do prumo. satisfatórios de glicose,
Nervosismo e dor de já que não a armazena. A
cabeça são sinais de que o privação pode desencadear
sistema nervoso precisa de lapsos cognitivos. Azar da
combustível logo. memória, da atenção...
 JEJUAR ANTES DE TREINAR?
Prática se popularizou na internet, mas forrar o estômago ainda é a melhor pedida

s
ta
is
ev
R
il
as
Br

Quando o objetivo é dar um chega pra lá no excesso de peso, a atividade física ocupa lugar de
destaque na agenda. Mas será que dá para fazer exercícios e praticar o jejum intermitente? Seguindo
orientações, é possível, desde que você adapte os horários da janela de alimentação. Mas nada de
Tratamento de imagem: Marisa Tomas

se mexer de barriga vazia. Primeiro porque a fadiga tende a surgir rapidamente. Depois porque, na
falta de energia, o organismo lança mão de todos os recursos disponíveis, e vai atrás das reservas
depositadas na massa magra, isto é, nos músculos. O ideal é manter os níveis de glicose no sangue
estáveis. Comer um lanche antes de treinar, com a dobradinha carboidrato e proteína, costuma ser a
recomendação de praxe — dentro de um cardápio equilibrado e, de preferência, personalizado.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 37
 s
ta
is
ev
R
il
as
Br

ESPERANÇA
PSICODÉLICA
Substâncias capazes de alterar o estado mental e banidas
durante décadas devido ao rótulo de drogas da contracultura
voltam a protagonizar estudos promissores para o tratamento
de condições como depressão e dependência química

3 8 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_psicodélicos.indd 38 12/5/22 10:45

 D
rogas. Alucinógenos. Expansores de
consciência. Medicamentos. Psico-
délicos. Dependendo do grupo, do lu-
gar e do contexto, é assim que são
chamadas certas substâncias que, em
comum, podem instigar mudanças profundas na
rede cerebral e no estado mental. Um dia proibidas,
perseguidas pelo uso recreativo e relegadas às gave-
tas dos laboratórios, elas voltam a estar na mira de
pesquisas sérias pelo potencial de tratar problemas
como depressão, ansiedade, dependência química e
transtorno de estresse pós-traumático. Essa nova
leva de estudos integra o que já se batizou por aí de
“renascimento psicodélico”. Embora o interesse da
ciência ocidental pelo tema tenha crescido na década
de 1940, os experimentos acabaram interrompidos
alguns anos depois em decorrência de uma política
de guerra às drogas muito menos baseada em evi-
dências do que em pânico moral. Agora a história
está mudando. E grande parte disso se deve ao traba-
s
lho de pesquisadores no Brasil e lá fora, num proces-
ta
so que tem tudo para redefinir o jeito de ver e nomear
is
essas substâncias — capazes, elas mesmas, de inspi-
ev
rar o questionamento e a quebra de padrões dentro
da cabeça e, quem sabe, na própria sociedade.
R
São quatro os psicodélicos clássicos. A psilocibi-
na vem de uma espécie de fungo, apelidada nos anos
il
1960 de “cogumelo mágico”; e o LSD, sigla de dieti-
as
lamida do ácido lisérgico, também foi sintetizado a
partir de um fungo, o esporão-do-centeio. Os outros
Br
dois são obra do reino vegetal: a mescalina é extraída
dos cactos peiote e São Pedro; e a DMT, ou dimetil-
triptamina, se encontra em plantas como a chacrona
e é um dos ingredientes do chá de ayahuasca. Nosso
país está no mapa dos estudos de relevância com es-
ses princípios ativos. Um dos expoentes do movi-
mento é o neurocientista Eduardo Schenberg, fun-
dador e diretor-presidente do Instituto Phaneros, em
São Paulo. Numa manhã ensolarada de fim de sema-
na, ele conversa com este jornalista por videocha-
mada de um espaço aberto, com árvores no fundo. E
esclarece quem são essas moléculas e os processos
fisiológicos e subjetivos que elas desencadeiam
quando ingeridas ou administradas.
Embora tenham origens e nomes diferentes, os
psicodélicos clássicos têm semelhanças entre si. E,
quimicamente falando, também são parecidos com
texto algo que naturalmente circula pelo nosso corpo, o
THIAGO ROSENBERG neurotransmissor serotonina, bastante associado à
design sensação de bem-estar. Schenberg compara os neu-
ESTÚDIO CORAL rônios às árvores ali atrás de onde ele dá a entrevis-
ilustração e foto ta. Diz que eles têm uma estrutura meio arbórea,
RICARDO DAVINO
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com galhos, tronco e raiz. Os galhinhos captam e as
ramificações da raiz liberam impulsos elétricos. En-
tre as extremidades de uma célula e outra, há quase
sempre um pequeno espaço, a fenda sináptica. É ali
que atuam os neurotransmissores. No estilo chave-
-fechadura, essas moléculas se ligam a receptores
específicos localizados nos galhos, permitindo a
troca dos impulsos, a famosa sinapse. “Os neurô-
nios têm milhares de pontos de contato, literalmen-
te. Uma célula recebe milhares de sinapses e emite
sinapses para outros milhares de células”, ensina o
pesquisador. E os psicodélicos com isso? Quando
chegam ao cérebro, eles tendem a estimular mais
disparos eletroquímicos e a criação de novas rotas
de transmissão de impulsos entre os neurônios.
Para entender como tal fenômeno acontece, o
neurocientista britânico Robin Carhart-Harris, figura
reconhecida na renascença desse campo e fundador
do Centro de Pesquisa Psicodélica do Imperial Colle-
ge de Londres, coordena estudos com exames de
imagem que buscam mapear a atividade cerebral de
voluntários sob efeito dessas substâncias — ou,
como diria a música, in the sky with diamonds. Ele
compara as rotas neurais a trilhas deixadas por tre-
nós na neve: quanto mais trenós passam pelas mes-
mas trilhas, mais elas se destacam na paisagem e es-
coam outras para e de si. A viagem psicodélica seria,
assim, uma neve fresca que suaviza temporariamen-
te o destaque das trilhas mais sulcadas e favorece o
tráfego por caminhos extraordinários — desconheci-
dos, fascinantes ou mal-assombrados.
O brasileiro Schenberg integrou a equipe de
Carhart-Harris na Inglaterra. De volta para cá, fundou
um instituto que desenvolve estudos clínicos e cursos
de formação sobre o uso terapêutico de psicodélicos,
que ainda não é liberado nem legal no país. Ele recor-
re a outra metáfora para explicar os efeitos dessas mo-
léculas. Imagine uma orquestra, com diversos instru-
mentos tocando e conversando entre si, enquanto o
maestro, depois de anos e anos na mesma regência,
tenta recuperar o fôlego. Muitas das condições de so-
frimento mental parecem estar ligadas à rigidez desse
maestro. Ou, se preferir a outra imagem, à atração por
aquelas trilhas na neve mais antigas e sulcadas. Na
prática, isso se traduz em pessoas deprimidas, angus-
tiadas, inflamadas... Os impulsos neurais induzidos
pelos psicodélicos teriam o condão de dessincronizar
os demais, tirando o maestro do prumo, abrindo rotas
e alterando uma série de processos bioquímicos que
regem nossa percepção sensorial do mundo, filtram e
organizam padrões mentais e definem no que acredi-
tamos — inclusive quem nós somos.
V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 39
12/5/22 10:45
 PRINCÍPIOS
PSICOATIVOS
Para compreender os
psicodélicos, primeiro
precisamos considerar
outro conceito, o de
substâncias psicoativas.
Não, não é sinônimo
de droga. São, pura e
simplesmente, moléculas
que atuam no sistema
nervoso central. Podem
ser estimulantes, como
a cafeína, a cocaína
e as anfetaminas.
Depressoras, como
o álcool, a maconha
e a heroína. Ou
perturbadoras
e expansoras de
consciência, caso dos
psicodélicos. Esses
também são chamados
de enteógenos ou
alucinógenos — o último,
um termo criticado,
pois as fronteiras entre
o mundo real e o das
percepções sob efeito da
droga não costumam se
perder completamente.
“Se formos comparar a
experiência psicodélica
a algum fenômeno
natural, esse fenômeno
seria o sonho”, diz
Dráulio Barros de Araújo,
professor do Instituto do
Cérebro da Universidade
Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), onde
lidera estudos sobre o
potencial terapêutico
da ayahuasca. Mas
a classificação geral
dos psicoativos é
questionável: há
substâncias que se
encaixam em diferentes
grupos conforme a dose
ou a fase de sua ação.
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Dissolução do ego, ou do eu, é uma das expressões
usadas para descrever o tipo de estado subjetivo gera-
do pelo relaxamento dessas funções cerebrais —
quando o maestro já não está mais no comando. O jor-
nalista americano Michael Pollan escreveu sobre a
história das substâncias psicodélicas e suas experiên-
cias pessoais com elas no livro Como Mudar Sua
Mente (Intrínseca), que deu origem a uma série homô-
nima lançada pela Netflix. Ele descreve assim um dos
aspectos de uma viagem com cogumelos: “‘Eu’ agora
tinha me tornado um amontoado de pequenos papéis
não muito maiores que um post-it, e eles estavam sen-
do espalhados pelo vento. Mas o ‘eu’ que observava
essa catástrofe aparente não tinha nenhum desejo de
correr atrás dos pedaços e empilhar meu antigo eu no-
vamente. Na verdade, não tinha desejos de tipo ne-
nhum. Quem quer que eu fosse agora, essa pessoa es-
tava tranquila com o que viesse a acontecer”.
Garantir essa tranquilidade — ainda que você vi-
site episódios e lugares intranquilos da mente — é um
s
dos objetivos da psicoterapia assistida por psicodéli-
ta
cos, hoje a forma mais indicada e controlada de in-
is
vestigar o uso terapêutico. Porque a ideia não é pegar
ev
um comprimido, tomar e sair por aí. Tudo é feito na
companhia de terapeutas treinados. Há sessões ante-
R
riores àquela em que a pessoa recebe a substância, e
os encontros posteriores também são acompanha-
il
dos, inclusive para debater sensações, lembranças e
as
reflexões. Schenberg conta que o protocolo de trata-
mento é desenvolvido com base tanto no quadro ge-
Br
ral de sintomas quanto na trajetória do indivíduo
atendido, “que tem nome, sobrenome, raça, idade,
suas formas específicas de estar no mundo”. “Os aten-
dimentos são feitos por duplas, de preferência uma
pessoa da área médica e outra da psicologia. Se possí-
vel, um homem e uma mulher”, relata. O neurocien-
tista sublinha a importância da diversidade, mas sabe
que a área ainda dispõe de poucos profissionais espe-
cializados mundo afora e, a exemplo do que ocorre
na medicina em geral, é dominada por “rostos bran-
cos”. Mas a expansão desse palco e dos seus atores é
viável e desejável: pode alimentar caminhos instigan-
tes de pesquisa e viabilizar a integração desse conhe-
cimento com saberes e práticas regionais e ancestrais.
Schenberg faz questão de pontuar que os psicodé-
licos não estão aí para aposentar tratamentos consa-
grados para transtornos mentais. “É uma outra abor-
dagem”. Ele dá um exemplo: “Uma pessoa deprimida
toma um antidepressivo e segue seu dia a dia: vai co-
zinhar, sai de casa, trabalha. O tratamento ajuda a ma-
nejar os sintomas, e isso tem seu valor. Na psicotera-
pia assistida por psicodélicos é diferente. Essas
substâncias não são para uso diário. A pessoa toma
poucas vezes, sempre sob supervisão, e não vai fazer
nada além do trabalho terapêutico nesses períodos,
que duram de quatro a 12 horas. O indivíduo fica num
estado de profunda alteração da consciência, poden-
do flutuar rapidamente da tristeza à alegria, do medo
à transcendência em minutos”. O pesquisador conti-
nua: “A pessoa com depressão provavelmente vai
chorar bastante, mergulhar num oceano de tristeza, e
vai ter lampejos de deslumbre, de riso, alegria, amor.
Sentir essas coisas, que para ela têm sido tão raras,
sentir que é possível se sentir assim, já é terapêutico
por si só. Essa flutuação da paisagem afetiva abre
possibilidades”. Possibilidades terapêuticas.
Diferentes psicodélicos têm sido testados e usados
para aliviar o sofrimento de pessoas com sintomas
parecidos; assim como uma mesma substância tem
ajudado pessoas com queixas e problemas diferentes,
com diagnóstico de depressão, dependência e estres-
se pós-traumático, ou mesmo face a uma doença in-
curável, diante da qual a droga dá suporte para lidar
com um fim iminente. “Os psicodélicos não têm uma
ação específica. Eles basicamente geram estados psí-
quicos e emocionais diversos e até difíceis de prever.
No entanto, hoje, para aprovar um tratamento qual-
quer, o caminho ainda é a sua especificidade”, expõe
Schenberg. Esse é, aliás, um dos desafios que rondam
a classe. “Depois da chegada dos primeiros antide-
pressivos, nos anos 1950, a psiquiatria perseguiu uma
espécie de sonho da especificidade. Quis mostrar que
os transtornos são doenças distintas, relacionadas a
alterações neuroquímicas específicas que seriam cor-
rigidas por fármacos específicos”, analisa o pesquisa-
dor. Muitas vezes, porém, as coisas são mais comple-
xas — e difíceis de colocar em caixinhas.
Mesmo pensando em patologias mentais distin-
tas, dois fatos são incontestes. O primeiro é o aumen-
to preocupante na prevalência desses transtornos,
alguns deles culminando em perda de qualidade de
vida e ideação suicida — somos, segundo a Organi-
zação Mundial da Saúde (OMS), a nação mais ansio-
sa do planeta. O segundo é que parcela expressiva
dos pacientes — cerca de 30% daqueles com depres-
são, de acordo com estimativas — não responde ade-
quadamente ao tratamento convencional. Pande-
mia, desigualdade social, menos tempo disponível
para descanso ou atividades físicas e culturais, de-
mandas da casa e do trabalho para equilibrar...
Como é que fica o estado mental? “Vai péssimo, pés-
simo, péssimo”, afirma Schenberg, destacando que
os problemas dessa ordem não se resumem a uma
questão do indivíduo. Refletem a sociedade.
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PSILOCIBINA

Origem: encontrada em
fungos do gênero Psilocybe.
Nome popular: cogumelos mágicos.
Histórico: povos indígenas
americanos já consumiam, inclusive
em rituais, séculos antes da invasão
dos espanhóis, que reprimiram essa
prática. Nos anos 1950, as substâncias
foram “redescobertas” e viraram
tema de matéria na respeitada revista
Life, ficando famosas nos Estados
Unidos e além. Na década de 1970, os
irmãos americanos Dennis e Terrence
McKenna sugeriram que a ingestão de
cogumelos com psilocibina foi decisiva
para a evolução do cérebro humano.
É uma teoria... Hoje a psilocibina
estrela experimentos como possível
tratamento para a depressão.

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 TERAPIA No fim da nossa conversa, o cientista paulista con- geração que enxergou nos psicodélicos uma espécie de
NA PRÁTICA ta, debaixo da sombra de uma árvore, que “entende- resposta a um mal-estar coletivo. Se não uma porta de
O tratamento com mos bem o que acontece no córtex cerebral”, a cama- saída para uma cultura baseada no individualismo e no
psicoterapia assistida da que seria mais tocada pelos psicodélicos, mas consumismo, e seus efeitos colaterais psíquicos, pelo
por psicodélicos “quando a gente fala do cérebro inteiro, aí já entende menos um olho mágico para o universo lá fora — e
mais próximo de ser um pouco menos”. O psiquiatra Dartiu Xavier da Sil- para o de dentro também. As reações vieram sobretu-
regulamentado para veira, professor da Universidade Federal de São Paulo do na forma de leis e campanhas de desinformação.
uso clínico é o de (Unifesp), diz algo na mesma linha, em outros termos: Ainda nos anos 1960, a proibição encabeçada pelo go-
transtorno de estresse “Entendemos bastante, sim, dentro da nossa pobreza verno americano impôs barreiras à circulação das
pós-traumático com de conhecimento”. O médico, que estuda os psicodéli- substâncias e à pesquisa. A antipropaganda dissemi-
MDMA, nos Estados cos desde os anos 1990, conversa com este repórter de nou mitos (viagens sem volta, com neurônios fritos) e
Unidos. A agência uma sala fechada ao meio-dia de uma segunda-feira. estereótipos (coisa de gente criminosa e libertina).
regulatória americana Silveira deu aula para Schenberg e passou a se in- Ao mesmo tempo que o imaginário psicodélico
deve aprová-lo em teressar por essas substâncias quando outro aluno era formado no seio da contracultura e das artes, um
2023. Princípio ativo seu voltou de uma expedição na Amazônia falando pesadelo de repressão surgia à sua volta, com conse-
do ecstasy, o MDMA sobre o chá de ayahuasca. O estudante da Unifesp quências morais e legais atreladas ao consumo das
é considerado um trouxe relatos atestando que, após tomar o preparo, drogas. “A interrupção dos estudos na área não tem
psicodélico não utilizado em rituais religiosos, algumas pessoas se li- nada a ver com ciência. E, até hoje, inclusive na classe
clássico: sua fórmula vraram da dependência alcoólica — e sem que uma médica, existe resistência. Nos anos 1990 era bem
química não é bebida substituísse a outra. Foi mais ou menos nessa pior, mas ainda tem gente que me olha torto por causa

s
semelhante à do época que a ciência psicodélica começou a reapare-
ta disso”, revela Silveira. O psiquiatra Sergio Tamai, dire-
neurotransmissor cer com força no meio acadêmico internacional. “A tor da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), não
is
serotonina (como partir de então, tivemos um avanço imenso na neuro- é um dos que olham torto. Tampouco se entusiasma
ev

psilocibina e LSD) biologia, e hoje temos instrumentos para medir muito com as promessas dos psicodélicos. Ele lista várias
e seus efeitos mais mais coisas relacionadas a esses fenômenos que pedras no caminho para sua regulamentação e aplica-
R

significativos se acontecem no cérebro. Mas os pesquisadores lá atrás ção terapêutica, a começar pela dificuldade de fazer
concentram no terreno já sacavam isso”, contextualiza o professor. estudos robustos e metodologicamente confiáveis
il

do afeto e da empatia. “Lá atrás” é o período que vai dos anos 1940 aos com essas substâncias — aqueles que diferenciam in-
as

Há especialistas que 1960, quando os psicodélicos foram descobertos, in- clusive o que é a ação da droga do efeito placebo,
vestigados, cultuados, consumidos e amados até se- exercido pela expectativa de melhora do paciente.
Br

nem o consideram uma

molécula psicodélica, rem temidos, perseguidos e banidos por autoridades
classificando-a como na Europa e nos EUA. Entre as substâncias clássicas, a
uma anfetamina ou única que não veio da natureza e foi criada em labora-
um empatógeno. No rol tório foi o LSD. Em 1943, o químico suíço Albert Hof-
dos tratamentos que mann revisitou uma molécula que projetara havia cin-
podem ser liberados co anos a partir de um fungo — ele queria produzir um
para o público nos EUA, estimulante respiratório e circulatório. O cientista se
aparece na sequência perguntou como aqueles efeitos mentais inesperados
a terapia assistida e tão intensos poderiam ser úteis na psiquiatria, e logo
com psilocibina médicos da área começaram a se perguntar a mesma
para depressão coisa e a fazer pesquisas e congressos a respeito.
— provavelmente, A mente e o campo se abriram para essas drogas,
para casos que sintéticas ou naturais, principalmente na década de
não respondem ao 1960. O psicólogo americano Timothy Leary foi um
tratamento tradicional. dos popularizadores dos psicodélicos. Ele e Richard
O acompanhamento Alpert, seu colega no Departamento de Psicologia da
de profissionais Universidade Harvard, tocaram uma série de experi-
habilitados é sempre mentos com as substâncias até serem demitidos da ins-
parte essencial do tituição, em 1963, acusados de agir com mais entusias-
protocolo. mo do que rigor científico — eles não abriam mão de
tomar as drogas junto com os voluntários, por exem-
plo. Leary e Alpert são dois dos personagens de uma
“É preciso ter pesquisas com muitas pessoas, em
ambiente controlado, e elas são caras. Vivemos a me-
dicina baseada em evidência, e, se você tem poucos
estudos, é difícil comprovar que algo funcione”, sinte-
tiza o médico. Tamai fala com mais animação sobre o
desenvolvimento de novos fármacos com base nesse
conhecimento em construção. “A partir da psilocibi-
na, por exemplo, você pode criar toda uma gama de
medicamentos. Moléculas que seriam aperfeiçoadas
para ter uma ação mais seletiva, onde a gente quer”,
justifica. Seria um sonho de especificidade, como o
mencionado por Schenberg? “Eu posso falar várias
coisas bonitas sobre a atuação dos psicodélicos no cé-
rebro, e não vou estar mentindo. Mas a verdade é que
essa atuação passa também por um monte de coisa
que a gente ainda não sabe”, admite Silveira. “Algu-
mas pessoas dizem: ‘Que raio de substância é essa que
trata tudo?’ E falam que é engodo, conto do vigário.
Só que, se você considerar que os psicodélicos agem
no sistema nervoso de forma global, fica mais fácil
entender por que poderiam melhorar tudo o que não
está bem”, prossegue o professor da Unifesp.

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 DIETILAMIDA DO ÁCIDO LISÉRGICO (LSD)

Origem: molécula sintética feita a

partir do fungo esporão-do-centeio
(Claviceps purpurea).
Nome popular: LSD, ácido ou doce.
Histórico: criada em 1938 pelo
químico suíço Albert Hofmann,
que trabalhava numa companhia
farmacêutica, a molécula de LSD se
conecta à “fechadura” do neurônio por
muito mais tempo do que a dos outros
psicodélicos clássicos. Enquanto esses
se ligam aos receptores e se soltam
em questão de minutos, em “ondas”, o
LSD fica lá por horas. Por isso a viagem
pode ser mais longa, e com uma dose
muito menor. Hoje é investigado no
tratamento de estresse pós-traumático
e outros sofrimentos mentais.

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MESCALINA
Origem: presente nos cactos
peiote e São Pedro.
Nome popular: peiote.
Histórico: a mescalina faz parte da
cultura milenar de povos nativos da
América do Norte. No Ocidente,
no começo do século 20, já instigava
experiências de cientistas e artistas,
em uma espécie de pré-história do
movimento psicodélico. Hoje, no
entanto, é a substância menos estudada
entre os clássicos. Foi com base em
suas experiências com mescalina que
o inglês Aldous Huxley escreveu As
Portas da Percepção, de 1954. O termo
psicodélico (“manifestador da mente”)
foi elaborado pelo psiquiatra Humphry
Osmond, também britânico, em troca
de cartas com o escritor.

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 NÃO É PARA TODO Em 1964, depois de serem afastados de Harvard e que, sejam quais forem seus objetivos com um psicodé-
MUNDO NEM pouco antes da proibição das drogas, Leary, Alpert e lico ou qualquer outro psicoativo, informação é peça-
OPERA MILAGRE outro colega da universidade, Ralph Metzner, lançaram -chave. Para o autor de Drogas para Adultos, devemos
Os psicodélicos não A Experiência Psicodélica (Aleph), um manual para deixar de lado a hipocrisia e ter em mente que o mes-
devem ser encarados guiar as viagens do público em geral. “Não é a droga (...) mo ser humano que aprecia café e cerveja pode, no
como panaceia ou que produz a experiência transcendente. Ela apenas age meio adequado (o set e o setting), recorrer a outras
ativos inócuos do como uma chave química: abre a mente e libera o siste- “drogas” sem comprometer sua “saúde e felicidade”.
ponto de vista da ma nervoso de seus padrões e estruturas comuns. A na- Essa visão está longe de ser unanimidade, mas, se
saúde. “Quando se tureza da experiência depende quase inteiramente de estreitarmos o foco para as pesquisas, particularmen-
avalia o risco de uma set (mentalidade) e setting (ambiente)”, escreveram. Já te as que avaliam as propriedades dos psicodélicos, o
substância psicoativa, em 2021, o neurocientista Carl Hart, da Universidade chão costuma ficar mais firme e a discussão, menos
a primeira questão Colúmbia, nos EUA, reacendeu o debate ao publicar polêmica — como sugere a recente ascensão (e popu-
analisada é seu Drogas para Adultos (Zahar), em que aborda o uso de laridade) da cannabis medicinal. O Brasil tem se des-
impacto no sistema substâncias psicoativas como um direito do cidadão e tacado nos estudos com psicodélicos, e um bom pa-
nervoso autônomo, nada incompatível com uma vida “respeitável”. norama a respeito está no livro Psiconautas (Fósforo),
que controla os “Este é um livro para gente crescida. Com isso, que- do jornalista Marcelo Leite, que documenta experi-
batimentos do coração, ro dizer adultos saudáveis, autônomos, responsáveis (...) mentos conduzidos em instituições como a USP de
a pressão arterial... Os Indivíduos que cumprem suas obrigações parentais, Ribeirão Preto e a UFRN. Ainda assim, a fronteira
psicodélicos clássicos ocupacionais e sociais; que usam drogas de maneira entre drogas para fins recreativos, transcendentais ou
têm uma atuação bem planejada, a fim de minimizar quaisquer perturba- terapêuticos continua sendo fluida, tênue.

s
pouco significativa ções nas atividades cotidianas; que dormem o suficien-
ta O professor Dartiu se lembra de alunos contando
aí. Até pode haver te, se alimentam de forma nutritiva e se exercitam regu- que a cetamina — até então empregada como anesté-
is
alteração na frequência larmente; que não colocam a si ou aos outros em sico — reduzia certa depressão que aparecia após o
ev

cardíaca, por exemplo, situações fisicamente perigosas...”, defende. Referência uso de outra droga, o ecstasy. Por isso os jovens toma-
mas não é mais do em estudos sobre dependência química, Hart pode des- vam as duas na balada. “Cheguei a levar esse tema a
R

que se espera de uma concertar quem o lê ou o ouve num primeiro momento. reuniões científicas, e o pessoal me chamava de doi-
caminhada intensa”, “Usar drogas faz parte da minha busca pela felicidade, e do, falava que eu fazia apologia às drogas. Hoje a ce-
il

explica Araújo. “O que elas funcionam”, escreve. Tudo depende do contexto. tamina é o princípio ativo de um remédio patenteado
as

merece mais atenção Diferentemente de Leary e seus colegas, o cientis- e aprovado para alguns casos de depressão”, diz o
ta nem se mostra um grande fã do universo psicodéli- médico. Nesse sentido, outra palavra-chave se impõe:
Br

são as mudanças no
estado mental, que co: “O movimento psicodélico popular de hoje parece é com “ciência” que se poderá rever a regulamentação
são transitórias, mas ser dominado por pessoas que justificam o uso dessas de substâncias lícitas ou ilícitas e fomentar e interpre-
podem ser muito drogas envolvendo-o em jargão médico ou espiritu- tar novos estudos sobre seus riscos e benefícios.
profundas”, completa al”. Mas, no seu modo de ver as coisas, desde que se- Talvez se levante a objeção de que, mesmo num
o pesquisador da jam utilizados por adultos com informação e respon- cenário controlado e com psicodélicos de qualidade
UFRN. Assim, da sabilidade, esses e outros psicoativos podem à venda, as pessoas estariam expostas a bad trips,
mesma forma que propiciar ou realçar uma variedade de estados men- quando a viagem mental vira um pesadelo. Só que,
outros princípios, só tais positivos. “Se o seu objetivo é buscar alívio de como apontam pesquisas e relatos, até mesmo o in-
vai dar para prescrever uma doença física ou emocional, alcançar a transcen- ferno que parece que não vai acabar (mas vai!) pode
a substância após dência espiritual ou encontrar seu deus, legal. Mas, se ser terapêutico — é o que os especialistas chamam de
ela ser validada em você quer apenas se divertir, nada feito”, questiona. episódios de experiências desafiadoras. Passando
estudos e ponderar Diversão, empatia, gratidão, conexão... Há um reper- pelo céu ou pelo inferno, fato é que cresce o número
individualmente quem tório de experiências bem-vindas que o autor só pas- de pessoas que, como usuárias, pacientes ou estudio-
é o candidato e em sou a associar ao mundo das drogas depois de tentar sas do tema, veem os psicodélicos como uma ferra-
que contexto ele vai provar e generalizar seus perigos. menta de transformação, capaz de reduzir sofrimen-
recebê-la. Presume-se Anos dedicados a apurar os desdobramentos psí- tos e resgatar o bem-estar. “Ao longo da história da
que, para algumas quicos e sociais do uso de substâncias ilícitas fizeram o humanidade, milhões fizeram esta viagem...”, lê-se
pessoas, como quem pesquisador rever conceitos e conclusões. Afirmar que em A Experiência Psicodélica. Depois dela, a neve
tem esquizofrenia, há as drogas sempre acabam com a vida de indivíduos e tende a derreter, deixando trilhas à mostra, e o maes-
um risco que por ora comunidades é algo que não se sustenta em dados. O tro cerebral se restabelece, talvez menos autoritário.
contraindica o uso. que Hart compartilha com Leary, Alpert e Metzner, e o A realidade volta, com seus próprios desafios, e a
que os livros de 1964 e 2021 têm a ver, é a noção de vida segue, talvez mais colorida.

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DIMETILTRIPTAMINA (DMT)
Origem: encontrada em plantas como
a chacrona (Psychotria viridis).
Nome popular: ayahuasca, chá
hoasca, vegetal, entre outros.
Histórico: usado há séculos por
povos indígenas da América do Sul
— e de forma clandestina depois da
colonização e da repressão europeia
—, o chá foi adotado por diferentes
religiões a partir dos anos 1930.
Quando ingeridas, as moléculas de
DMT são degradadas pelo organismo
antes de chegar ao cérebro. Por isso,
o chá também é feito com um cipó
(Banisteriopsis caapi), que contém
substâncias capazes de inibir essa ação.
A substância é testada em estudos que
buscam novas formas de controlar a
depressão e a dependência química.

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O MUNDO DOS
ESTÚDIOS FITNESS
Eles se tornaram uma alternativa às academias de ginástica clássicas ao oferecer
aulas mais personalizadas, com ou sem equipamentos, e em ambientes que não se
resumem a uma sala fechada. Entre treinos funcionais, modalidades na água e na
areia e exercícios com suporte tecnológico, escolha aquilo que combina com você
texto INGRID LUISA design ESTÚDIO SIAMO ilustração KARINNE LEAL

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 I
magine treinar 45 minutos com um professor
superempolgado, numa turma pequena em
que você conhece todas as pessoas, com mú-
sica animada e fazendo exercícios que quei-
mam até mil calorias por aula! Essa é a pro-
posta de boa parte dos estúdios fitness, a grande
tendência no universo da atividade física que se po-
pulariza pelo Brasil. Lá fora, esses espaços menores
que academias ganharam até o nome de “bouti-
ques”: são compactos, exclusivos e representam o
que há de mais moderno dentro do seu nicho, a
exemplo do que acontece no mundo da moda. Pes-
quisas de mercado e especialistas na área indicam
que eles vieram para ficar, renovando e ampliando
o cardápio de treinos e modalidades à nossa dispo-
sição. Mas qual seria exatamente seu trunfo?
De forma geral, os estúdios são miniacademias
que concentram aulas específicas em grupos, de for-
ma mais intimista e individualizada. Três caracterís-
ticas se destacam logo de cara: o foco em um ou al-
guns tipos de exercício, a preocupação com a
exclusividade da proposta e o senso de comunidade
— você não seria só mais um passando pela catraca
do clube ou se esgueirando em meio a equipamen-
tos numa sala enorme e lotada. A experiência come-
ça com as boas-vindas na recepção e segue adiante
em aulas que buscam evitar o caráter solitário e te-
dioso de atividades mais convencionais como a
as
musculação. O professor não está lá apenas para
instruir exercícios e tirar dúvidas, mas também para
Br
dar palavras de incentivo dignas de um coach.
Quase todos os estúdios trabalham com hora
marcada e agendamento online. Em alguns, os
clientes nem precisam pagar mensalidade; podem
comprar pacotes de créditos gastos à medida que
treinam. A estética do local também tem seu chama-
riz: buscando atrair uma nova geração que nasceu
rodeada pelas redes sociais, as “boutiques” procu-
ram ostentar uma marca forte e reconhecível e espa-
ços projetados para ser instagramáveis — e os posts
em Instagram, TikTok e afins acabam reforçando o
vínculo entre a turma e estimulando o engajamento
nas aulas. Nos Estados Unidos, a maior holding do
setor é a Xponential Fitness, que possui mais de
2 mil estúdios de diversas modalidades espalhados
pelo país. Em crescimento, ela já chegou a Europa,
Coreia do Sul, Arábia Saudita e Austrália.
No Brasil, o primeiro estúdio inaugurado com
essa proposta foi a Velocity, focada em sessões de
bike indoor. O interessante é que não se trata de um
modelo essencialmente importado dos EUA. “Preci-
samos de um ano e meio para ajustar o produto e as
aulas e entender o que os brasileiros realmente bus-
SA486_estúdios fitness.indd 57
cavam”, conta Shane Young, cofundador e CEO da
Velocity, hoje com mais de 200 mil alunos pelo Bra- ANTES DE SUAR
sil. “As pessoas não queriam uma aula de spinning. A CAMISA
Elas queriam, sim, um bom exercício, mas algo que O que levar em conta ao se
se sentissem bem praticando, como uma terapia”, matricular num estúdio
nota a educadora física e diretora técnica da marca,
Ana Paula Simões. Duas grandes redes brasileiras
de academia também estão pegando essa onda e in- Defina seu objetivo
vestindo pesado nos estúdios. O grupo Ultra, que já Em primeiro lugar, é
possui seis marcas específicas e 24 unidades, pre- importante saber o
tende chegar a 200 até 2025; e a SmartFit, com qua- que você quer. Sair
tro serviços e 11 unidades do gênero no portfólio, do sedentarismo?
tem planos de expansão em curso. “Mesmo ofere- Emagrecer? Ganhar
cendo academias a baixo preço e funcionando 24 músculos? Isso ajuda a
horas, percebemos que muitas pessoas querem fa- guiar a escolha.
zer um treino rápido, intenso e divertido. Essa é exa-
tamente a pegada dos estúdios”, avalia Ana Caroli- Analise opções
na Corona, diretora desse segmento na SmartFit. perto de casa
Um número expressivo desses estabelecimentos,
Tempo demais de
independentes ou conectados a grandes grupos,
locomoção é um fator
s
aposta suas fichas em exercícios funcionais e interva-
ta decisivo para a pessoa
lados, praticados com música alta e salas iluminadas
deixar de fazer atividade
por lâmpadas de LED. A sensação aqui é um método
is
física. Prefira o que seu
que nem é tão novo, o HIIT, do inglês high intensity
ev
bairro oferece.
interval training. São treinos que botam a pessoa para
suar a camisa em alta intensidade com pequenos in-
R
Descarte o que
tervalos de descanso. E há várias formas de fazer isso
não faz seu estilo
— algo bem explorado pelos estúdios. “Esse método
il
Se você é iniciante, é
tem uma proposta que veio dos esportes de alto ren-
dimento. E é atrativo porque promete mais benefícios pouco efetivo começar
em menos tempo. Mas não existe um consenso cien- com exercícios que
tífico de que seja mais efetivo que treinos convencio- acha complicados ou
nais feitos de forma adequada e regular”, analisa a entediantes. Pense no
educadora física Fúlvia Gobatto, professora da Uni- que realmente o estimula.
versidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As sessões de HIIT de fato têm o poder de desen- Busque orientação
volver o condicionamento cardiorrespiratório e tor- Pesquise sobre
rar calorias, mas a especialista aconselha ir devagar a modalidade,
com o andor e os excessos. “Muita gente quer treinar seus benefícios e
assim todo dia, só que não está preparada para estí- contraindicações. E
mulos físicos de intensidade tão alta”, avisa. “O reco- consulte um profissional
mendado é ter um preparo físico de moderado a ou um professor antes de
avançado para o HIIT. Quem está sedentário e parte começar o treino.
para um treino intenso está sujeito a lesões, principal-
mente nos ligamentos e nas articulações”, concorda e Experimente
orienta o ortopedista David Gusmão, membro da So- Está difícil escolher?
ciedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Teste! Uma vantagem
(SBOT). São ponderações valiosas diante da empol- dos estúdios é poder
gação inicial ao estrear e evoluir nos estúdios. Até comprar aulas avulsas
porque eles têm uma vantagem e tanto nesse sentido: — em vez de pagar
a maior adesão às aulas. Respeitando os limites, dá mensalidade. Dá para
para tirar o melhor proveito desse universo em ex- alternar entre as opções.
pansão e múltiplas opções, como você vai ver.
V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 57
12/2/22 11:57
 FUNCIONAIS E PERSONALIZADOS
Quase todos os estúdios seguem preceitos do treino funcional, baseado em
exercícios que prezam o aprendizado motor e ensinam o corpo a ganhar força
e habilidade para as situações de esforço físico no dia a dia. Redes como a Kore
trabalham com aulas em grupo e circuitos exclusivos e variáveis que mesclam
exercícios aeróbicos e de resistência. Um segmento em crescimento no Brasil é o
de estúdios focados em treinos funcionais individualizados e monitorados — um
educador físico planeja e acompanha caso a caso. A proposta é compartilhada por
academias como a Leven e a Team Panzer e até aplicativos com sessões virtuais.

s
ta
is
ev
R
il
as
Br

FOCO EM CORRIDA
Correr é uma das atividades físicas mais democráticas, e claro que não ficaria
de fora dessa nova onda. Já está mais do que comprovado que a modalidade
queima calorias, protege o coração e é positiva para a mente. Alguns estúdios
juntam a corrida em esteiras com exercícios de força e definição, combinando o
benefício do aeróbico clássico com o ganho de massa muscular. Seguem essa
linha, por exemplo, o Just Run Club e o Race Bootcamp: os treinos promovem
tiros de corrida na esteira alternados com exercícios com peso livre fora dela. É
bom lembrar que o praticante já deve ter um condicionamento razoável antes de
se lançar às corridas e precisa definir limites até para preservar as articulações.
O ritmo varia de pessoa para pessoa: tem gente que treina no máximo numa
velocidade 8 e outros conseguem chegar a 15. Não adianta forçar a barra!

5 8 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_estúdios fitness.indd 58 12/2/22 11:57

 BIKE INDOOR
É considerada uma ótima opção para
quem quer um exercício eficiente e de baixo
impacto para as articulações. Nas aulas
de 45 minutos da Velocity, acompanhadas
de música, luzes piscando e instruções do
professor, dá para limar calorias, ganhar
condicionamento físico e trabalhar não
só as pernas. Pois é, até os membros
superiores são recrutados, com flexões de
braço na bicicleta ergométrica durante
a aula e uma pausa para exercícios com
halteres fora dela. O professor corrige
pessoalmente a postura dos alunos,
dá estímulos e recomenda, em alguns
momentos da aula, que eles fechem os
olhos e relaxem um pouco. Os adeptos

s
afirmam que o clima é bem acolhedor.
Sessões de bike indoor também são o carro- ta
is
-chefe de estúdios como Ride State e Cycle.
ev
R
il
as
Br

LUTA FIT
A prática de artes marciais ajuda no
controle do estresse, melhora a aptidão
cardiorrespiratória e confere potência e
resistência muscular. Academias de lutas
em si existem há décadas, mas a busca por
novas modalidades e por defesa pessoal
inspirou a criação de treinos funcionais
ancorados em golpes. Um exemplo é o
Spider Kick, estúdio que oferece um treino
HIIT misturando exercícios de força e
agilidade e golpes de muay thai. O objetivo
é simular a preparação física do ex-lutador
profissional Anderson Silva, padrinho da
casa. O método envolve até o uso de um
relógio esportivo para medir as calorias
gastas e a frequência cardíaca durante a
aula — o que auxilia a verificar a evolução
de maneira personalizada. Outra opção
com essa pegada é o estúdio Jab House,
que faz um mix de treino funcional com
golpes clássicos do boxe.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 59

SA486_estúdios fitness.indd 59 12/2/22 11:57

 HOT YOGA
Exercícios que trabalham corpo
e mente são cada vez mais
requisitados, e não é de hoje
que academias investem em
modalidades como a ioga. Para
fazer a diferença num meio que
já conta com muitos instrutores
e espaços consolidados,
algumas marcas apostam em
derivações do método com o
propósito de aumentar o gasto
energético. É o caso do Vidya
Studio com suas aulas de Hot
Yoga. A ideia aqui é fazer uma
sessão de ioga numa sala
aquecida, com temperatura

s
beirando os 40 graus (como
uma sauna mesmo). Fora o ta
is
suadouro, o ambiente quente
facilita a realização de algumas
ev

posturas. No entanto, pode

levar um tempo até que
R

o corpo se acostume com

il

essas condições, então é bom

as

respeitar os sinais que ele dá.

Pessoas com hipertensão ou
Br

outras doenças crônicas devem

pegar aval do médico antes
de começar.

PILATES LIKE
Modalidade cada vez mais popular, o pilates também vive uma fase de inovações.
Além da versão clássica, estúdios trazem agora o pilates aéreo e aulas que
envolvem fitas e outros acessórios circenses para complementar o que é feito solo
ou com o apoio dos aparelhos. Alguns espaços reforçam a proposta de trabalhar
a consciência corporal e a preservação das articulações. Exemplo dessa corrente
é o Gyrotonic: enquanto o pilates prioriza molas e movimentos controlados em
uma única direção, esse método recorre a cordas de suspensão e movimentos
circulares que aumentam a amplitude dos exercícios, feitos em equipamentos. A
técnica já está disponível em diversos estúdios de pilates, mas é preciso se certificar
de que os instrutores têm formação para lecionar o método — uma dica é checar
recomendações no site do Gyrotonic Instituto Brasil.

6 0 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_estúdios fitness.indd 60 12/2/22 11:57

 DANÇA FIT
Além da tradicional zumba, que invadiu há anos as
academias, estúdios estão investindo em modalidades
dançantes famosas pelo alto gasto calórico e pela
tonificação muscular. Um deles é o BYD, que traz no
cardápio de aulas o Ballet Fit, criado pela bailarina
brasileira Betina Dantas, e alia elementos básicos do
ballet clássico com exercícios funcionais de ginástica,
trabalhando ainda mais resistência e consciência
corporal. No Estúdio V, o destaque vai para a Pole
Dance Fitness, uma versão esportiva da dança feita em
cima de uma barra fixa vertical. A modalidade, que já
possui federações internacionais, abarca movimentos
e acrobacias na barra, desligando-se do aspecto
sensual pelo qual o pole dance ficou conhecido mundo
afora. As aulas desenvolvem bastante força física,
equilíbrio e flexibilidade.

s
ta
is
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R
il
as
Br

ELETROESTIMULAÇÃO
Para quem quer um treino rápido e eficiente, exercícios com eletroestimulação
podem ser a saída. Várias redes já apostam nessa estratégia, a mais famosa delas a
TecFit, que dispõe de mais de 40 unidades pelo país. O treino, feito com um colete de
eletrodos que estimula a contração dos músculos, dura apenas 20 minutos e deve ser
repetido no máximo três vezes por semana. É intenso e usa o peso do corpo do aluno,
junto a movimentos funcionais, para obter ganho de músculo e perda de gordura —
por se valer de pulsos elétricos, existem contraindicações, caso de gestantes. Falando
em tecnologia, os experts acreditam que a próxima tendência são estúdios de treinos
com realidade virtual: você bota óculos especiais e malha integrado a um cenário
criado pelo computador. Promissor, mas ainda não chegou por aqui.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 61

SA486_estúdios fitness.indd 61 12/2/22 11:57

 MUSCULAÇÃO ESPECIAL
Exercícios de força são extremamente importantes para a saúde: ajudam
a preservar a massa muscular, que naturalmente declina com a idade, e
conservar a autonomia para as tarefas do dia a dia. Mas muitas pessoas
torcem o nariz para a musculação por achá-la monótona demais ou coisa
de gente bombada. Alguns estúdios querem mudar essa imagem. No Tonus
Gym, por exemplo, cada aluno possui uma estação própria, com halteres,
barras, banco e colchonete. Usando esses equipamentos, você é convidado
e instruído pelo professor a realizar um circuito de exercícios, embalados por
muita música e estímulos para malhar até seu limite. A meta é acabar com
aquele preconceito de que musculação é algo chato e sempre a mesma coisa.

s
ta
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R
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Br

CROSSFIT
Os boxes de crossfit não são exatamente estúdios, mas estão entre
os precursores desse movimento que busca quebrar o padrão da
academia tradicional ao propor aulas capazes de gerar resultados,
engajamento e senso de comunidade. Alternando exercícios aeróbicos
(como remo indoor, corrida e bicicleta), de ginástica e de levantamento
de peso olímpico, o método trabalha o corpo todo e é um dos mais
bem-sucedidos exemplos de treino funcional de alta intensidade. As
aulas são divididas em três etapas: aquecimento, técnica (ensino de
alguns movimentos) e o treino do dia em si. Existem centenas de boxes
espalhados pelo Brasil. Se você nunca fez crossfit ou é iniciante, prefira
estabelecimentos e instrutores que priorizem um bom ensino dos
movimentos e possam adaptar os exercícios a eventuais limitações.

6 2 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

SA486_estúdios fitness.indd 62 12/2/22 11:57

 ACADEMIAS
ESPORTES DE AREIA FULL SERVICE
Os estúdios estão na
Outra modalidade que foge do padrão convencional e se tornou um
crista da onda, mas
fenômeno — não só em cidades com praia. O leque de exercícios na
todos os espaços
areia (principalmente a fofa) exige bastante do condicionamento
têm seu lugar ao
físico e dos músculos. Contempla de treinos funcionais individuais
sol em matéria de
a esportes coletivos. Quem popularizou essa história foi o beach
atividade física.
tennis, praticado em quadras de areia nos centros urbanos
As academias
próximos ou distantes do mar. Mas ele não está sozinho. Nas
tradicionais full
redes Riplay Sports, Fun Beach e Posto 011, além de aulas de beach
service continuam
tennis, dá pra fazer vôlei de praia, futevôlei ou circuitos funcionais.
atraindo
Indivíduos que estão sedentários ou têm alguma lesão articular
bastante gente
devem receber ok do médico antes de pisar na areia.
por concentrar
inúmeros treinos
e modalidades
num lugar só.
Além das salas de

s
musculação com
ta equipamentos
de ponta, elas
is
costumam contar
ev

com uma extensa

grade de aulas — de
R

pilates, de ioga, de
lutas... E algumas
il
as

redes podem ter até

mesmo estúdios
Br

dentro de suas
unidades. Essa já é
uma realidade, por
exemplo, em centros
de treinamento da
Bio Ritmo. Nessa
linha, algumas
academias mais
completas (e com
TREINOS NA ÁGUA mensalidades
mais salgadas)
Todo mundo já ouviu que a natação é uma modalidade completa por dispõem de piscinas
colocar o corpo todo em movimento e não impor impacto demais às e equipamentos
articulações. Mas, para além das aulas comuns, já existem treinos de alta tecnologia
pensados exclusivamente para a piscina, como o Hidropower. Essa é uma como coletes de
variação da hidroginástica, mas focada em exercícios de alta intensidade eletroestimulação.
recrutando tanto membros inferiores como superiores. Com o Aqua O aluno só precisa
Training, por sua vez, você pratica corrida, faz bicicleta e até dá pulos numa se planejar para
cama elástica debaixo d’água. Já no Aqua Float, a proposta é se exercitar reservar as aulas
em cima de uma prancha sobre a água, o que fortalece especialmente a com antecedência
região do abdômen. Não existem estúdios dedicados a treinos aquáticos porque elas são
no país, mas você encontra as modalidades citadas em grandes academias bem concorridas.
com piscina, caso de unidades das redes Body Tech e Bio Ritmo.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 63

SA486_estúdios fitness.indd 63 12/2/22 11:57

Br
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Br
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ta
s
 SEMPRE QUIS SABER
O QUE É E O QUE CAUSA
A RETRAÇÃO DE GENGIVA?
Muitas pessoas nem percebem, mas pode surgir um
desnível entre a gengiva e os dentes. E, sim, isso representa
um problema que requer o olhar do dentista. Veja por quê
GENGIVA alongamento
do dente
Exposição
É a manifestação clássica
da retração: a gengiva
OS SINTOMAS
diminui e se vê um
alongamento do dente.
Muita gente só percebe
s
quando sente uma
espécie de degrau entre a
ta início da retração, mas
is
coroa dental e a gengiva.
ev
R
il
as
Br
Consulta ao dentista Escovação correta
Identificar a causa da Lesões de até 1 milímetro
OS TRATAMENTOS
retração é o primeiro são resolvidas com
passo. Para isso, um melhora da higiene
cirurgião-dentista bucal, adequação da
conversa com o escovação e do tipo de
paciente e entende seus escova (prefira sempre
hábitos bucais, além de as macias) e uso de fio
examinar com detalhes dental. Solução simples
dentes e gengiva. para casos simples.
ATENÇÃO À RESTAURAÇÃO O recobrimento da região afetada com resinas que imitam o tecido gengival é uma opção
de tratamento. Ele pode melhorar a estética e a sensibilidade dental, mas precisa ser muito bem-feito, sem deixar frestas que
dificultem a higienização. Alguns dentistas são contra o método por não resolver o problema em si — só maquiá-lo.
6 6 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
SA486_sqs retração gengival.indd 66
AS ORIGENS
Na retração, o
tecido gengival Trauma mecânico
encolhe e o É decorrente de uma
dente fica mais escovação inadequada,
exposto. Confira os de forma incorreta ou com
principais fatores
por trás disso muita força, e de hábitos
como morder canetas.
desalinhamento
Estética
Mudanças das margens
gengivais deixam os
dentes aparentemente
desalinhados e expostos.
Isso pode ser discreto no
tende a piorar se não for
devidamente tratado.
escova
macia
placa de
acrílico
Placa para bruxismo Aparelho dental
Como a retração é uma Quando o problema é
consequência, é preciso o mau posicionamento
tratar primeiro a causa. dos dentes, colocar
Placas de acrílico aparelho é o caminho.
são uma boa opção Mas, se o dispositivo
para o bruxismo, mas inadequado é a causa
é importante que um da retração, é preciso
profissional avalie se não trocar por algum
há piora na gengiva. mais ajustado.

Lesão Inflamação
Nem sempre a gengiva A genética e a má higiene
se recupera totalmente bucal favorecem a
de cortes ou pancadas, e periodontite, que agride
assim ela acaba ficando a gengiva e também leva
mais curta. à retração do tecido.
base do dente
descoberta
Amolecimento
Quando a base do dente
já está muito descoberta,
pode haver prejuízos
à sua sustentação,
ocasionando o
amolecimento. É grave,
e a pessoa pode perder
literalmente o dente.
dente mole
as
fio dental
Br
aparelho
ortodôntico
Enxerto de gengiva
É a cirurgia mais comum
para casos graves, com
mais de 2 milímetros
de retração. O grau de
complexidade depende
do nível de perda do
tecido de sustentação,
mas geralmente o pós-
-operatório é tranquilo.
E QUANDO A GENGIVA CRESCE? É a chamada hiperplasia gengival. O aumento de volume desse tecido pode dar
as caras como efeito colateral de medicamentos (como anticonvulsivantes), alterações hormonais ou mesmo gravidez.
Um processo inflamatório na gengiva também tende a causar inchaço em alguns pontos, resultando em hiperplasia.
SA486_sqs retração gengival.indd 67
infográfico INGRID LUISA, LAURA LUDUVIG e RODRIGO DAMATI
Ortodontia Bruxismo Genética
Ter os dentes fora do Ranger os dentes pode Se existe histórico do
lugar e não corrigi-los, causar um trauma na problema na família,
ou usar aparelhos que região com o tempo, e fique alerta. Algumas
entram em atrito com a isso provoca a retração pessoas têm gengivas
gengiva, eleva o risco. do tecido gengival. frágeis naturalmente.
acúmulo
de placa
Sensibilidade
A exposição da
raiz do dente e o Estima-se
acúmulo de placa que metade dos
bacteriana no local cidadãos mundo afora
costumam provocar entre 18 e 65 anos de idade
s
ta
hipersensibilidade para tenha pelo menos um
frio e calor e dor ao dente acometido pela
is
escovar o dente. retração gengival
ev
R
il
enxerto de
gengiva
Cirurgia sem enxerto
Em casos mais simples, o
enxerto de tecido nem é
Fontes: João Cesar Neto, periodontista e professor da Faculdade de Odontologia
necessário. Se a gengiva
da USP; Fernanda da Silva Prado, dentista especialista em periodontia e
estiver saudável, o
dentista pode modificar implantodontia do Centro Odontológico Yappy, em Campinas (SP)
a anatomia dos tecidos
adjacentes à retração
para recobrir a área que
está comprometida.
recobrimento da
área comprometida
V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 67
 por INGRID LUISA
AUTOESTIMA

A MODA DA ESTÍMULO E SUSTENTAÇÃO

POUPANÇA Conheça o procedimento queridinho para a poupança de colágeno

DE COLÁGENO
Faz sentido apostar
nisso para suavizar o
envelhecimento da pele? Ativação Produção Resultado
Com agulhas, Sob esse efeito, Após três meses,

O colágeno é
uma proteína
responsável por manter
uma substância, o
bioestimulador, é
injetada na pele. Isso
certas células, os
fibroblastos, voltam a
produzir colágeno na
percebe-se a melhora
na pele — ela fica
mais firme e lisa até
a sustentação e a firmeza gera uma inflamação. região da pele. dois anos depois.
da pele e de outros
tecidos. Naturalmente,
células chamadas
fibroblastos produzem a
substância; só que, com
o passar dos anos, esse
processo vai diminuindo

s
e, por volta da terceira
década de vida, a linha
ta
is
de montagem cessa. O
ev

resultado são as marcas

do envelhecimento: uma
R

pele mais caída, flácida

e enrugada. Mas tem
il

como minimizar essas

as

repercussões com um
conceito em alta nos
Br

consultórios de dermato:
a poupança de colágeno.
Não se trata de se entupir
de suplementos de
forma preventiva. “São
medidas que ajudam a
sentir menos os efeitos
dessa degradação Genética
natural”, esclarece a e estilo de vida
médica Maria Eduarda influenciam bastante na
Pires, membro da degradação do colágeno,
Sociedade Brasileira de que acontece de forma bem
Dermatologia (SBD). Elas particular: 25 anos é uma
envolvem manter um boa idade para começar
estilo de vida saudável, a prevenção
Foto: Prostock-Studio - Getty Images

não fumar nem se expor

ao sol sem proteção e
se valer de produtos
e procedimentos que
resguardam nosso
estoque de colágeno.

6 8 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
 por INGRID LUISA
ENVELHECER

MELHORAR A
SAÚDE PASSA PELO
ASSOALHO PÉLVICO
Fortalecer essa região garante
vigor e sexualidade na velhice

A porção
inferior da
pelve, composta
de exercícios que
coloca essa região
no centro de tudo.
de músculos e “Não é normal
ligamentos, é ter incontinência
conhecida como urinária com a
assoalho pélvico. Sua idade. Isso é falta
função primordial de fortalecimento
é sustentar a parte dos músculos do
de baixo do tronco, assoalho, que
o que inclui órgãos também ajudam a
como bexiga e útero, distribuir as cargas

s
mas ela também do corpo e estão ta
está intimamente ligados à postura
is
conectada com os e ao equilíbrio”,
ev

genitais, exercendo justifica. Juliana

papel importante testou o método
R

na sexualidade da Ginástica Feminina

mulher. Não foi em idosas que sofriam
il

por acaso que a com incontinência

as

fisioterapeuta Juliana e já não tinham

Schulze, professora vida sexual ativa.
Br

da Pontifícia Resultado: o controle

Universidade Católica do problema e a
de São Paulo (PUC- redescoberta
-SP), criou uma série do prazer.

FORÇA PARA O AUTOCONHECIMENTO

Conheça as etapas do método Ginástica Feminina

Introdução Respiração Técnicas Sexualidade Conversa

É preciso desbravar Ela acompanha o Após conectar assoalho Vibradores, cones Em grupos, após as
o assoalho pélvico: trabalho muscular no e respiração, é hora de vaginais e até técnicas quatro primeiras
Foto: SeventyFour - Getty Images

o que é, onde fica, assoalho, modulando testar exercícios mais de pompoarismo são etapas, vem a fase
quais suas funções e a ativação da complexos e diversos, propostas. Um assoalho de troca de dúvidas e
como fazer exercícios musculatura local e o fortalecendo os saudável está ligado ao experiências. Bom para
básicos para a região. equilíbrio do corpo. músculos da pelve. maior prazer sexual. o autoconhecimento.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 69
 por INGRID LUISA
FILHOS

TREINAR OS PAIS O QUE É O TREINAMENTO PARENTAL?

PARA LIDAR COM O “Os pais costumam ser muito punitivos diante de crianças
TDAH É TÁTICA QUE com TDAH. Brigam, reclamam e não sabem como
TRAZ RESULTADO reagir frente a comportamentos que são sintomas do
transtorno”, contextualiza Guilherme Polanczyk. Por isso,
Junto às medicações, estratégia a pesquisa coordenada pelo psiquiatra na USP avaliou
se mostrou eficaz no controle do um treinamento dado a pais e cuidadores que os municia
transtorno de déficit de atenção e de orientações e estratégias para encarar diferentes
hiperatividade em crianças situações na rotina. Essa capacitação ajuda as famílias a
entender e responder melhor a manifestações de oposição,
irritabilidade e agressividade dos pequenos.
C ada vez mais presente
nas rodas de conversa
dos pais e em suas redes
sociais, o TDAH é um distúrbio
neurobiológico que costuma dar
as caras na infância. Os sintomas
mais comuns são desatenção,
inquietude e impulsividade,

s
que muitas vezes se confundem ta
com o desenvolvimento natural
is
das crianças. “É por volta dos 5
ev

anos de idade que o problema

começa a ser percebido e a
R

gerar prejuízos sociais”, afirma

Guilherme Polanczyk, professor
il

de psiquiatria da infância e
as

adolescência da Faculdade de
Medicina da Universidade de
Br

São Paulo (USP). Mas qual é o

melhor jeito de tratar a condição
antes dos 7 anos? O médico
e seus alunos de doutorado
desenvolveram um estudo
para responder à pergunta. Ele
englobou 153 famílias por oito
semanas e testou se a adoção
conjunta de um medicamento
para o transtorno (metilfenidato)
e de técnicas comportamentais
ensinadas aos pais para lidar com
as crianças traria bons resultados.
Conclusão: a combinação reduziu
a frequência e a intensidade dos
sintomas de TDAH. “O diagnóstico
em crianças pequenas pode
Foto: John Kevin- Getty Images

ser difícil, mas profissionais

especializados conseguem fazê-lo,
e tratar desde cedo é o melhor
cenário”, diz o professor.

70 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2

BICHOS
RAÇÃO CERTA PARA MAMÃES E FILHOTES
Cadelas gestantes e lactantes, assim como filhotes no início
da vida, necessitam de cuidados nutricionais específicos
S abia que um filhotinho
e uma cadela grávida
precisam de muito mais energia
que um cão adulto em condições
normais? Mesmo assim, cerca
de 70% dos animais pequenos
no Brasil consomem comida de
adulto, e as fêmeas gestantes e
lactantes dificilmente recebem
uma alimentação diferenciada no
Foto: GlobalP - Getty Images
período. Foi de olho nisso que a
Royal Canin lançou uma nova linha
de rações para suprir as exigências
nutricionais dessas fases da vida.
A Mini Starter Mother & Baby Dog
por INGRID LUISA
CUIDADOS
NA GESTAÇÃO
O que você pode fazer
em prol da mamãe e
Lactantes dos filhotes
precisam de
muita energia para
nutrir a ninhada, que
Alimentação
geralmente é de
mais de um cão Cadelas grávidas
precisam de um aporte
extra de nutrientes.
Rações específicas
são bem-vindas.
Vacinação em dia
Infecções podem causar
complicações à mãe e
s
ta ao bebê. O veterinário
irá orientar o uso de
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vacinas e vermífugos.
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R
Foco na hidratação
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A água tem que estar
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facilmente disponível.
Atenção: as cadelas
Br
podem apresentar
redução de sede e apetite.
Atividade na medida
Nada de exigir esforço
além da conta da
é destinada a gestantes, lactantes
e filhotes de até 2 meses de idade.
Além do aporte adequado de
gestante. É normal ela
ficar mais lenta com o
avanço da gravidez.
calorias, o alimento é enriquecido
com vitaminas e minerais
buscando três objetivos: fortalecer
a imunidade, promover o equilíbrio
Ambiente calmo
da microbiota intestinal e colaborar
para um pleno desenvolvimento Um espaço confortável
cerebral. “A linha também é prática, e livre de estresse é
pois abrange as necessidades de essencial para uma
mães e filhotes, ou seja, o tutor gestação e uma
não precisa separar a alimentação maternidade tranquilas.
deles”, comenta Gláucia Gigli,
diretora de marketing da marca.
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ZOOM

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72 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
 por DIOGO SPONCHIATO

O SENTIDO DA VIDA
A capacidade de
reconhecer o ambiente
e os outros à nossa volta
começa a ser construída
quando somos uma
criaturinha na barriga
da mãe. Prova disso está
na imagem ao lado, uma
amostra microscópica
do órgão sensorial
olfativo de um feto. Essa
estrutura irá captar
substâncias químicas
como os feromônios, que
nos ajudam a identificar
(e nos aproximar de)
indivíduos da nossa
espécie. Sim, esse sentido
vem de berço.

s
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8ª
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semana
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É nesse período
il

da gestação que o

Fonte: Corpo: Um Guia para Usuários, de Bill Bryson (Companhia das Letras) / Foto: Steve Gschmeissner/SPL - Getty Images
as

embrião, com mais

de 10 cm, passa a ser
Br

chamado de feto.

41
ciclos de
divisão celular
ocorrem desde o
encontro dos gametas
até o bebê virar um ser
totalmente formado.

V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2 73

COM A PALAVRA
LIÇÕES PARA A ALIMENTAÇÃO DAS
CRIANÇAS NAS FÉRIAS ESCOLARES
O período de férias é, sem
dúvida, um momento de
quebra de rotina, tanto para as
crianças quanto para os pais.
Entre trocar aulas e atividades
extracurriculares por ócio criativo,
brincadeiras e passeios, um
ponto que nem sempre chama
a atenção dos responsáveis é
a alimentação da garotada.
Duas situações costumam
dar as caras aqui: a falta de
planejamento para as refeições
e a maior permissividade para
petiscos, guloseimas e afins. Sair
da rotina faz parte das férias
(e da vida) e não há motivos
para neuras e preocupações
excessivas. É natural que os
horários e o padrão das refeições
mudem nessa época. No entanto,
como é um período de tempo
considerável, é importante buscar
certo equilíbrio. E é perfeitamente
possível se divertir bastante sem
deixar de lado os bons hábitos
alimentares e a saúde. Tudo
começa com planejamento.
Durante o ano letivo, a criança faz
algumas refeições e lanches na
escola, e é normal perder o hábito
de preparar e oferecer opções
mais saudáveis em casa. Só que,
por pura praticidade, isso pode
nos levar a partir para alimentos
prontos ultraprocessados ou
fast-food via delivery. E não
é recomendável que isso vire
rotina. Embora os horários sejam
diferentes nas férias, é essencial
manter as refeições principais
(café da manhã, almoço e
jantar) e programar lanches
intermediários, principalmente
em passeios e viagens — frutas
e castanhas são ótimas opções.
Não é que as guloseimas estão
74 V E J A SAÚ D E D E Z E M B R O 2 0 2 2
por GI BELARMINO ilustração DYANA LIMA
proibidas, mas precisamos
evitar que elas sejam a base da
alimentação durante as férias. Dá
para bolar inúmeros lanchinhos Gi Belarmino
atrativos e mais balanceados, é nutricionista,
incluindo receitas caseiras de pós-doutora pela
pipoca, minipizza, torta, bolo... Faculdade de
O que me leva a outro conselho: Medicina da USP,
que tal cozinhar em família? coordenadora
Sim, chamar as crianças para científica do
colocar literalmente a mão na Ganepão e
massa. Preparar pratos e lanches, fundadora da
priorizando ingredientes frescos plataforma De
e saudáveis, é uma forma de Mãe em Mãe
garantir uma comida mais
s
nutritiva e boas memórias. Fora
ta
de casa, sugiro ter atenção nos
passeios. Sempre que der, leve
is
lanches prontos embalados
ev
na sua residência em bolsas
térmicas que evitem deterioração
R
ou contaminação. Exemplos:
frutas, cookies integrais, bolo
il
as
caseiro etc. Quando não for
possível, evite comprar alimentos
Br
de procedência e manipulação
desconhecidas para não correr o
risco de intoxicações alimentares.
Planejando com antecedência
e pesquisando na internet
estabelecimentos bem avaliados,
dá para desfrutar de um lanche
mais seguro. Sobretudo com o
calor do verão, tente ao máximo
passar longe de alimentos que
dependem de muita manipulação
ou não são refrigerados
adequadamente. Por último,
lembre-se de que nada precisa ser
proibido. Enquanto puder manter
a rotina alimentar o mais próximo
possível do habitual, fica mais
tranquilo liberar as guloseimas
vez ou outra quando estiver
passeando em família. Afinal,
as férias servem para isso,
não é mesmo?
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