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EXTINÇÃO DOS CONTRATOS – ORLANDO

GOMES

Existe uma confusão reinante, entre a legislação e doutrina, quanto à


terminologia usada na matéria de extinção de contrato.

1.0 EXTINÇÃO – deve reservar-se para os contratos que deixam


de existir.

• Os contratos realizam-se para certo fim e devem ser


executados, em todas as suas cláusulas, pelas partes
contratantes. Cumpridas as obrigações, o contrato está
executado, seu conteúdo esgotado e seu fim alcançado,
por isso o contrato já nasce condenado à morte. Dá-se a sua
EXTINÇÂO, por morte natural.
• EXECUAÇÃO – é essencialmente o modo normal de extinção de
um contrato e pode ser instantânea, diferida ou continuada (os
efeitos do contrato se prolongam, repetindo-se as prestações,
sendo necessário a aposição de termo para limitar a sua
duração. Diz-se que o contrato é POR TEMPO DETERMINADO.
• Muitas vezes o contrato de extingue antes do prazo por causas
anteriores ao contrato chamadas de supervenientes. Resolução,
rescisão e resciliação.

2.0 CAUSAS SUPERVENIENTES À FORMAÇÃO DO


CONTRATO

2.1 RESOLUÇÃO – liga-se ao inadimplemento. Quanto aos efeitos,


em falta de cumprimento ou inadimplemento, “stricto sensu”,
mora, cumprimento defeituoso.Quanto a causa, a inexecução pode
ser imputável ou inimputável ao devedor. Nos contratos bilaterais,
a interdependência das obrigações justifica sua resolução quando
uma das partes se torna inadimplente.

2.1.1 DIFERENÇA ENTRE PACTO COMISSIVO EXPRESSO E


CLÁUSULA RESOLUTIVA

Pacto Comissivo Expresso – a faculdade resultada de presunção


legal para se resolver um contrato quando uma das partes se torna
inadimplente. Não necessita da intervenção judicial, pois é
presumido por lei que subentende a cláusula resolutiva.
Assemelha-se ao sistema jurídico alemão, onde o contrato se
resolve de pleno direito. Só poderá ser concedida se o devedor
estiver em mora. É de se admitir que, havendo sido estipulada,
seja dispensável a resolução judicial, pois do contrario, a cláusula
seria inútil.
Cláusula Resolutiva – modalidade especial da resolução é a
redibição que tem como causa a inexecução parcial em forma
específica,ou seja, no cumprimento da obrigação de dar sem que a
coisa tenha as qualidade próprias, devido à existência de Vícios
Redibitórios. O CC brasileiro baseia-se no francês que diz que o
contrato não se resolve de pleno direito, onde a resolução tem que
ser pedida ao juiz, requerendo portanto sentença judicial.Não é o
contratante que resolve o contrato e sim o juiz. A lei não pode
resolver um contrato, mas apenas autorizar que a resolução seja
pedida

A resolução só cabe nos contratos sinalagmáticos, não cabendo


aos contratos plurilaterais.
1 CAUSAS DE EXTINÇÃO DE CONTRATO X CAUSAS DE
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES X EXTINÇÃO DA SUSPENSÃO
DO CONTRATO – as obrigações oriundas do contrato
extinguem-se por modos próprios. O contrato se extingue por via
de conseqüência quando a extinção das obrigações, por um de
seus modos peculiares, coincide com uma causa específica de
dissolução.
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A extinção das obrigações contratuais pode determinar ou não
a extinção do contrato.As obrigações se extinguem por via de
conseqüência quando o contrato de que derivam se extingue por
ocorrência de causa de causa-própria que as atinge indiretamente.
Os efeitos de um contrato podem ser paralisados durante algum
tempo, ou seja, na interrupção de sua eficácia, denominando-se
suspensão do contrato (a exemplo da suspensão parcial do
contrato de trabalho, onde o empregador se obriga a pagar salário
ao funcionário impossibilitado de trabalhar, também chamada de
execução incompleta).
A causa mais comum de suspensão de contrato é a “força maior”,
“exceptio non adimplenti” ou mútuo consenso.

2.1.2 INEXECUÇÃO VOLUNTÁRIA

A resolução pressupõe inadimplemento, ilicitude, culpa, dano e nexo


de causalidade entre o fato e o prejuízo. Extinto o contrato por
resolução, apaga-se o que se executou, devendo-se proceder as
restituições recíprocas, efeito “ex tunc”, se não forem obrigações de
trato sucessivo, pois do contrário o efeito é “ex nunc”.

Em relação a terceiros que hajam adquirido direitos “médio


temporis”, isto é, entre a conclusão e resolução do contrato, a
retroação somente atinge os direitos de crédito. Se forem direitos
reais não se resolve por via de conseqüência.

Sujeita também o inadimplente ao pagamento das perdas e danos

2.1.3 INEXECUÇÃO INVOLUNTÁRIA


Quando a inexecução resulta de fatos que impossibilitam o
cumprimento das obrigações contraídas por uma das partes,onde o
devedor, embora não queira, não pode satisfazer a obrigação a qual
se obrigou.

A impossibilidade deve provir de caso fortuito ou força maior. Há de


ser impossibilidade objetiva, portanto. A impossibilidade deve ser
total e definitiva,pois se for impossibilidade temporária daria em
suspensão de contrato.

Os efeitos são liberação do vinculo contratual. A resolução se opera


de pleno direito, não necessitando ação judicial para tanto, só se for
para reclamar restituição do que fora recebido. O efeito é retroativo e
o devedor não responde por caso fortuito ou de força maior,mas se o
contrato for unilateral o credor arca como prejuízo e se bilateral, cabe
a restituição, do contrário, acarretará enriquecimento sem causa.

2.1.4 RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA

Funciona como causa de resolução de contratos comutativos de


execução diferida, continuada ou periódica, em virtude de
acontecimento extraordinário e imprevisível.

Apesar da cláusula “rebus sic stantibus”, Teoria da Imprevisão ou


Bases do Negócio, a alteração das condições econômicas tem sido
considerada uma das causas de resolução de contrato. Não se trata
de inexecução por impossibilidade e sim de extrema dificuldade,
contudo não se pode dizer que é voluntária.

É necessário, para se resolver um contrato, que a diferença de valor


do objeto da prestação entre o momento da perfeição do contrato e o
da execução. A prestação não deve ser excessivamente em relação
somente ao devedor, mas a toda e qualquer pessoa que se
encontrasse na sua posição. É preciso que a onerosidade excessiva
tenha sido causada por acontecimentos imprevisíveis e
extraordinários.

O juiz terá a faculdade de extinguir o contrato ou de intervir na


economia do contrato para reajustar, em bases razoáveis, as
prestações recíprocas.

A rescisão deve ser pronunciada antes que se verifique a inexecução.


A onerosidade excessiva não resolve o contrato de pleno direito. É
necessária a decretação judicial. É o juiz quem decide a onerosidade
excessiva.

O fato das prestações se tornarem excessivamente onerosas não


autoriza o devedor a declarar extinto o contrato. É necessária a
intervenção judicial, pois quem declara a onerosidade do contrato é o
juiz. Pois se fosse concedido esse poder ao devedor, far-se-ia tabula
raza do princípio da força obrigatória dos contratos.

A sentença judicial que resolve um contrato por onerosidade


excessiva tem efeito retroativo, em se tratando de contratos de
execução única e sucessiva, mas se for de execução continuada ou
periódica, as prestações satisfeitas não são atingidas,pois se
consideram exauridas.

3.0 RESOLUÇÃO, ANULAÇÃO E NULIDADE RELATIVA

Resolução é modo de dissolução dos contratos;

Contrato Anulável deixa de existir no momento em que sua invalidade


é decretada pelo interessado; é eficaz até o momento em que é
anulado, produzindo efeitos durante algum tempo. Declarada a sua
anulação, extingue-se como se fosse resolvido. Para ser anulado é
necessário que o interessado requeira ao juiz.

Contrato Nulo não produz efeitos desde a sua formação.

2.2.1 RESOLUÇÃO X ANULAÇÃO

Assemelham-se quanto a sua extinção, pois só será possível por


sentença judicial; quanto aos seus efeitos, pois tudo que foi feito
anteriormente desaparece, efeito retroativo.

Mas não se confundem, pois se distinguem pela causa. A anulação


tem as seguintes causas:
• Incapacidade relativa de um dos contratantes
• Vício de consentimento
• As causas de anulação são anteriores ou contemporâneas a sua
formação
• Não deve ser incluída entre os modos de dissolução, pois depois
de reconhecida a sua invalidade, o contrato é atingido em sua
própria substância
• É reconhecimento de que o negócio é defeituoso, embora sua
deficiência não seja tão grava ao ponto de que o interessado
possa decretar a sua extinção

Enquanto que a resolução é:

• Conseqüência do inadimplemento das obrigações assumidas


contratualmente
• As causas de resolução são supervenientes
• Na resolução pressupõe contrato válido,desata vínculo
validamente formado e dissolve relação que existiu
normalmente

4.0RESILIAÇÃO

4.1 CONCEITO – modo de extinção de contratos por vontade de um


dos contratantes, por simples declaração de vontade. Desfazimento
de comum acordo, havendo resiliação unilateral e bilateral e sua
forma pura é o distrato.

4.2 RESILIAÇÃO BILATERAL - DISTRATO – negócio jurídico pelo qual as


partes declaram conjuntamente a vontade de dar cabo do contrato e
rompem o vínculo, extinguindo a relação jurídica.

Há também a resiliação convencional, que já vem previsto numa


cláusula contratual a possibilidade de desfazer a obrigação antes da
sua expiração. A exemplo do contrato de trabalho por tempo
determinado, que se reservaram a faculdade de resilir a um dos
contratantes, mediante aviso prévio,apesar de declaração de vontade
de uma das partes, não se configura distrato e sim resiliação
convencional, ou seja por mútuo consentimento.

Contrato extinto não precisa ser dissolvido. Geralmente o distrato é


utilizado nos contratos de execução continuada para desatar o
vínculo antes do advento de seu termo extintivo.

Não há conteúdo exigido para o distrato e sim a forma que deve ser
feito da mesma maneira que foi feito o contrato e essa regra só se
aplica aos contratos de forma prescrita em lei. Exemplo da escritura
pública. Se feito através de escritura o seu distrato será feito da
mesma forma.

O distrato compreende três figuras:

A) um ato de revogação (eficácia retroativa)


B) um contrato extintivo (eficácia retroativa)
C) um contrato modificativo (sem eficácia retroativa)

4.3. RESILIAÇÃO UNILATERAL – o fundamento de resilir é a vontade


presumida de que as partes não quiseram se obrigar perpetuamente
à obrigação nos contratos por tempo indeterminado.

A faculdade de resilir unilateralmente é suscetível de ser exercida:

• Nos contratos por tempo indeterminado


• Nos contratos de execução continuada ou periódica
• Nos contratos em geral, cuja execução não tenha começado
• Nos contratos benéficos
• Nos contratos de atividade

Trata-se de um direito potestativo – sua natureza e em determinados


contratos assume feição especial de revogação, renúncia ou resgate

4.3.1 RESILIAÇÃO UNILATERAL DOS CONTRATOS POR TEMPO


INDETERMINADO

Se não fosse assegurado resilir, seria impossível o contratante


libertar-se do vínculo se o outro não concordasse.

O poder de resilir é exercido mediante declaração de vontade que


deve ser dada a outra parte, que por sua vez produzirá efeitos
quando a outra parte tiver conhecimento. É, portanto, declaração
receptícia de vontade.

No caso do contrato de trabalho, para que haja a dispensa ou


despedida ou denúncia (termos utilizados para denominar
resiliação unilateral no contrato de trabalho), a fim de amenizar os
efeitos de uma denúncia, faz-se uso do aviso prévio e que na falta
do mesmo causa sempre dano.

A denúncia não precisa ser justificada, mas em certos casos exige


a obediência a justa causa e a parte que resiliu injustamente fica
obrigado a indenizar por perdas e danos.

A resiliação unilateral por tempo indeterminado produz efeitos


para o futuro e não opera retroatividade como resolução...não
precisa de pronunciamento jurídico para ser eficaz.

4.3.2 “JUS POENINTENDI”

A autorização de resiliação constante no contrato, sob pena


penitencial onde a outra parte não poderá opor-se à liberação do
vínculo.

A multa penitencial não se confunde com cláusula penal, pois a


primeira corresponde a uma multa que desvincula a parte da
obrigação e a segunda requer pagamento dos danos a quem
decidiu pela resiliação.

4.3.3 REVOGAÇÃO, RENÚNCIA E RESGATE

Revogação – mediante retratação de uma das partes autorizada


por lei. Põe fim ao contrato e como conseqüência a relação.

Denuncia – põe fim diretamente a relação obrigacional


Renúncia – tanto o mandante revoga como o mandatário renuncia,
mas em relação a renúncia, deverá ser comunicado ao mandante
em alguns casos aguardar substituto.

Resgate – contratos de enfiteuse e constituição de renda. No


primeiro, consiste no pagamento de uma só vez de certa quantia
ao senhorio, decorrido certo tempo de gozo do direito real e no
segundo, o devedor de renda constituída sobre o imóvel libera-se
da obrigação de pagá-la, entregando de uma vez certo capital em
dinheiro.

4.4 EFEITOS DA RESILIAÇÃO

Nos contratos por tempo indeterminado. Não opera


retroativamente. Seus efeitos produzem “ex nunc”. Os efeitos
produzidos jamais serão destruídos e permanecem inalterados.

Nos contratos por tempo determinado não cabe a resiliação


unilateral, mas em alguns se admite a denúncia, que os extingue
“ante tempus”, sujeitando o denunciante ao pagamento de
indenização por perdas e danos, se não houver justa causa.No
entanto se a causa extintiva é a inexecução, haverá resolução.

5.0RESCISÃO

5.1CONCEITO – é a ruptura do contrato em que houve lesão,


embora não seja a lesão que determine a dissolução, que
poderá ser salvo o contrato restabelecendo o equilíbrio das
prestações com a suplementação do preço.

Só poderá ser obtida mediante autorização judicial e prescreve e não


consiste apenas na desproporção ou desequilíbrio entre as prestações
de um contrato comutativo, nem é vício de consentimento. Exige-se
elemento subjetivo. A vantagem obtida por uma das partes tem que
ser fruto da exploração da inexperiência ou necessidade do outro no
momento da celebração do contrato.

A sentença rescisória retroage à data de sua celebração e a parte que


recebeu fica obrigada a restituir e se o contrato não fora executado, o
prejudicado se exime de cumprir.

Contrato estipulado em estado de perigo se difere da anulação pelo


vício da coação:

A) A ciência de uma das partes sobre a necessidade em que se


encontra a outra
B) Iniqüidade das condições nas quais as obrigações são
contraídas
6.0CESSAÇÃO

A morte ocupa lugar à parte. Não pode ser considerada inexecução


involuntária, porque seus efeitos não se igualam aos de caso fortuito.
Nem causas de resiliação, pois a mesma se caracteriza pela
manifestação de vontade. Também não se resolve o contrato, apenas
dificulta que seja executado.

A morte só tem como forma de dissolução nos contratos “intuitu


personae”. Nos demais casos a morte transmite obrigações aos
herdeiros, podendo estes resilir o contrato, pedir restituição da coisa
e até exercer direitos especiais contra a outra parte.

Não tem por efeito retroativo e nos contratos de execução continuada


as prestações subsistem.


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