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Joao Cabral de Melo Neto Narrativa Do Po
Joao Cabral de Melo Neto Narrativa Do Po
Jorge Delmar1
Orientador: Renato Suttana2
Introdução
.
Rigor e construção
Narrativa do poeta-engenheiro
Porém não seriam apenas nomes como Antonio Candido e Benedito Nunes
que chancelariam a ideia da forma e do rigor, tomados como símbolos de uma
atitude central diante da poesia e da própria tradição brasileira (a lembrar os
símbolos maçônicos da régua e do compasso), sempre enfatizando a poesia dita
“construída” do poeta pernambucano. Álvaro Lins, por exemplo, no mês de fevereiro
de 1946, encontraria também o hermetismo dentro da “engenharia” matemática
cabralina:
Já o livro Paisagens com figuras, que fora definido por Benedito Nunes como
obra rigorosa e com um “forte traçado construtivo” (NUNES, 1971, p. 89), seria a
continuação de um percurso que teve seu primeiro ponto culminante em O cão sem
plumas, como representante de um projeto a que Paisagens com figuras daria
continuação:
Pode-se dizer que Garcia, que analisa a obra numa perspectiva discursiva e
retórica, de ênfase no tópico da insuficiência da palavra para descrever o mundo e
expressar o pensamento, não seja um entusiasta integral da narrativa básica do
poeta engenheiro. No entanto, novamente, mesmo em seu texto, a abordagem
salientará os aspectos da lucidez, do apelo ao concreto e ao plano, como elementos
centrais, conforme o dizem aqueles versos do poeta em que se imagina que o
“engenheiro”, tal qual a narrativa sobre João Cabral, sonha “coisas claras”:
O poema “O engenheiro”, que dá título ao volume publicado em
1945, lembra-nos uma profissão de fé em que se exalta a
efficacité da linguagem objetiva, isto é, linguagem com
predominância de técnica de volume e harmonia: (GARCIA, 1958,
p.89)
Como demonstra esse relato, Cabral não seguiu a dominante em sua obra até
então, de se abster a escrever sobre o feminino e as mulheres. Em reforço disso,
apesar de Quaderna ter sido composto devido ao questionamento de Vinícius, o livro
fora dedicado a Murilo Mendes, poeta de múltiplas facetas, cuja obra – lembrando a
escrita surrealista – valoriza a liberdade das imagens e as erupções do inconsciente.
Não obstante, novamente afirmando o conceito do rigor, matemático e preciso, na
análise do livro Quaderna, Benedito Nunes escreve:
A fortuna crítica de Cabral parece ter sido, desde Antônio Candido nos anos
30, até seus críticos atuais, predominantemente pautadas pelos conceitos de rigor,
precisão e construção poética voluntária, conforme esperamos ter demonstrado.
Cabe, enfim, considerar a imagem desse “poeta calculista” – que, de certo modo, a
biografia escrita por José Castello e o estudo de Renato Suttana questionam,
mesmo que o próprio João Cabral de Melo Neto, na altura de 1992 (quase seis
décadas, portanto, após o lançamento de seu primeiro livro), no Agradecimento pelo
prêmio Neustadt, ainda encarnasse, referendando a atenção e o esforço de análise
de que fora merecedor ao longo dos anos, tanto no âmbito da crítica jornalística,
quanto (e sobretudo) no âmbito acadêmico, a imagem do “poeta-engenheiro” e do
autor antimusical, que ainda defenestrava a inspiração e a intuição como fontes da
poesia:
Considerações finais
Referências