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Maria Consiglia Raphaela Carrozzo Latorr 211101 222930
Maria Consiglia Raphaela Carrozzo Latorr 211101 222930
São Pau lo
2002
r
~----------
A criação é um ato de amor, alguma coisa que
se comunica a toda a humanidade.
Um artista não pode fazer nada que
contribua para piorar o mundo.
Acho que tenho deveres para com as pessoas com quem convivo.
Tom Job im
A memória de meus pais, Carlos e Lucy,
eternos incentivadores e educadores,
com os quais aprendi a paixão pela arte de ensinar.
A Dilmar Miranda,
companheiro de som e sentido,
com quem compar tilho o amor por nossa música popular.
-,
Agradecimentos
A' querida amiga Profa Dra Adelina Rennó que com sua alegria,
me apresentou e ensinou, com muito carinho, musicalidade e precisão, os
primeirospassos do método de canto da "Escola do Desvendar da Voz ';' igualmente
agradeço ao grupo de colegas que desenvolvem a pesquisa desta Escola no Brasil,
ao músico e terapeuta vocal Thomas Adam, com quem fizemos a formação, e ao
Dr. Ricardo Ghelman que completou nosso conhecimento do método com saberes
da medicina Antropasófica.
-
LATORRE, M.C.R.C. A estética- vocal no canto popular do Brasil: uma
perspectiva histórica da performance de nossos intérpretes e da escuta
eoniemporênee, e suas repercussões pedagógica s. São Paulo, 20020 p ,
Dissertação (Mestrado em Artes) Instituto de Artes, Campus São Paulo,
Universidade Estadual Paulista.
RESUMO
ABSTRACT
This approach will allow students to improve their knowledge of our vast
repertoire of popular Brazilian songs, and the exercise of different ways of
singing; and experience to develop their very own ways to perform by the
imitation of old performances.
This work includes many accurate evidences that document the results of this
teaching approach, strengthening the author’s conviction of its real
pedagogical possibilities.
protesto _ 10
1.1 . O canto pioneiro _ 10 "
-r-,
percursos: o meu próprio, trazendo uma intensa vivência, como aluna, cantora
caminhos para o ensino do canto popular; de alunos que, com sua dedicação
- -~ -- _ . ~ -. - , - .- - , - o -
2
LATORRE. II. C R C A estétic a vocal no canto popular do Brasil.
do nosso cancioneiro popular . Para mim, era uma época de intensa riqueza
Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, João Bosco, João Gilberto,
Elis Regina, Nara Leão, artistas que povoavam meu imaginário estético-
na infância.
outros métodos, derivados da escola do canto lírico, logo percebi que, apesar
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4
LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
terapêutica e artística. Ele não submete o cantor a um modelo extemo mas faz
espirituais, levantando os véus que podem encobrir a voz de cada um. Com
brasileira.
popular brasileiro.
5
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto pop ular do Brasil.
com pessoas que buscavam caminhos para uma proposta de ensino de canto
Não que tal recurso represente um mal em si, conforme pondera o maestro
I
Marcos Leite, uma das pessoas empenhadas em encontrar vias altemativas
com pessoas das mais diversas idades e condições sociais, com práticas
partes: a primeira parte contém uma análise dos momentos marcantes dessa
técnica dos seus meios de registro, bem como na diversidade dos seus meios
de difusão, com o objetivo de articular essa esfera musical com outras esferas
b
8
LATORRE , M C R C A estética vocal no canto pop ular do Brasil
a contemporânea, pelo modo com que ela sofre exigências e influxos dos
histórico.
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9
LATORRE ,MCRC A esté tica vocal no canto popular do Brasil.
ensino de música popular, onde foi possível construir grande parte dela.
' Capítulo 1
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'" 1.1. O ca nto pioneiro
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Padre Anchieta nos sinaliza, desde o primeiro século do
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na casa-grande ou na senzala, nos burgos ou no campo, misturam-se com a
riz_~!!'!!l'""'"'_~ _ '""
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12
LATORRE, M C R C A estética voce l no canto popular do Brasil.
""' brasileíro de tudo acarinhar. Tinhorão, ao contrário, afirma sua origem popular
r-.
;;
colocar melodia nos seus versos, foi Marcos Portugal, o compositor preferido
~ .f'
f própria"(op. cit., p.7).
~
"
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r-,
Para diversos autores, como Francisco de Assis Barbosa,
""' Suelônio Suares Valença e Manuel Bandeira, por exemplo, Caldas Barbosa,
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"'.4..'_ _
13
LATO RRE . M C R C A estética voca l no ca nto popular do Brasil
acompanh ado por uma viola de arame. Também o pesq uisador Ary
angolana." (Vasconcelos,1988:48)3
2 Domingos Caldas Barbosa era membro da Arcádia de Roma. A Arcádia era uma sociedade literária
caractertstíca do período final do classicismo (segunda metade do século XVIII), cujos membros adotavam
pseudónimos artísticos simbólicos. retirados. via de regra, da idade clássica antiga greco-romana.
Não cabe a esta dissertação aprofundar o tema da fundação da canção brasileira. como espécie de seu mito
de origem . Sua breve me nção atende tão somente ao fito de mostrar o papel exercido pelo modinheiro
Domingos Caldas Barbosa no processo de fixação do lundu e da modinha, conforme atestam os diversos
autores acima citados. Ta lvez o que explique esse destaque deve-se ao êxito do trabalho de resgate das
partituras musicais de sua obra, realizado por dois musicólogos, o brasileiro Mozart de Araújo e o franco-
brasileiro Gerard Béhague, na Biblioteca Nacional de Lisboa e Biblioteca da Ajuda, também nesta capital, e
Biblioteca Nacional de Paris.
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14
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
J.
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canção, desgarra -se de suas fontes dançantes afro-populares.
~
dança." (Miranda, 2001: 241)
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~ Seu formato dançante fiel a suas origens, como expressão, a
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~
um só tempo, ritualistica e lúdica dos escravos, deixava-se acom panhar, nos
~
batuque s, por instrumentos de percussão . Além dos saraus da elite e das
~
r-, senzalas, o lundu foi dançado e cantado nos teatros pelos artistas populares,
'"
~
até os primeiros anos do século XX.
bagagem , o piano, importante instrum ento para a dinam ização da nossa vida
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~
musical, já bastante ativa, conforme atestam várias escolas de música
~
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L
15
LATOR RE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
depois de seu período de apogeu, no séc XVIII. Em 1834, o píano passa a ser
fabricado no pais. Além disso, quatro anos depois, o Rio já contava com sua
século anterior, com o surto do comércio, serviços públicos urbanos com seus
16
LAT ORRE . M C R C A e stética vocal no canto pop ula r do Brasil.
nítida.
~
»<; cantores Gregório de Matos Guerra (século XVII), Antônio José da Silva - o
~
»<:
Judeu e Domingos Caldas Barbosa (século XViii), a partir de agora, temos os
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~
Baiano, entre outros, figuras identificáveis numa imensa, talentosa e anônima
~
legião de intérpretes e seresteiros que irão ganhar o reconhecimento do
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17
LATO RRE, M C R C A estética vocal no ca nto popular do Brasil.
popular, ou, dito de outra forma, entre o teatro e o circo, o piano e o violão,
fruto, inclusive, dos desejos elitistas de copiar a modem idade do estilo de vida
referir à emissão da voz, não é de todo descabido , unir ópe ra com circo,
porém sem exage ros. Para ele, existe de fato, pontos em comum entre o
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18
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
:,\~' emissão forte da voz, Dai o nome atribuido a eles de "tenores", uso que
perdurou de forma marcante até a chegada das escolas de samba dos anos
esse teatro foi o espaço pioneiro das danças européias abrasileiradas, como
danças músicas com o lundu, vão se constituir na matéria prima sobre a qual
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19
LATORRE. M C R C A estética vocal no can to popular do Brasil
novas criações.
anteriores à era do rádio, como Chiquinha Gonzaga, que lança em 1897, seu
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20
~ LATOR RE. M C R C A esté tica vocal no canto p op ular do Brasil.
~ •..
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empresariado português, bastante expressivo no Rio de então, contando
~
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de portugal.
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~
A grande presença lusa no teatro de revista deixou
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impregnada uma linguagem teatral com forte influência do modo lusitano de
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falar, cuja prosódia, sotaque e formas idiossincráticas de se expressar, só irão
rr-.
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perder sua forte influência com o surgimento do modo coloquial carioca de
»<;
falar, ocasião em que o tipo popular do "portuga", dos anos 30, enfrenta, no
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gênero.
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'f o novo século trouxera uma grande novidade, vinda na
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l bagagem de um itinerante judeu-austríaco, o empresário Frederico Figner,
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,-. ~ que, antes de aqui aportar com sua parafemália tecnológica, andara por
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outras terras americanas. Percebendo que a intensa vida musical carioca,
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expressa na rica inventiva da sua arte musical, constituída por uma variedade
21
LATORRE , M C R C A estética voca l no canto popular do Brasil
1902, o lundu Isto é bom de Xisto Bahia. Sua inovação passará a ser um
if gêneros da música popular, fonte preciosa para a nossa pesquisa. Figner foi o
I
brasileiro de chapas. (V. Francheschi, 1988:11 8)
r
! Quando surgem as primeiras gravações cariocas, no abrir do
b
22
UlTORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
maxixe e o choro, que então passa a coexistir com gêneros estrangeiros aqui
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2001:56)
~'i ... . ," fonomecânica, seu processo de gravação, descrito inclusive por artistas da
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época, merece ser detalhado, visto ser ele um elemento crucial para ter um
de cometa de grande abertura, sua boca recebia o som emitido .para ser
,4
li ...-,
~ enviado a um diafragma de borracha com uma agulha na ponta que, por seu
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AíF - - - __
23
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
tumo, fincava um sulco numa matriz de cera, registrando o som da voz ou dos
instnJ mentos. Para essa primeira operação, o técnico de som era uma figura
t
1:-
'e
-:
direcioná-Io, conforme a intensidade da voz. No momento dos agudos, ele era
para reproduzir suas cópias em disco, este só podia ser comprado nas lojas
- - - -- - - - - - - - - " " 0
24
LATORRE. M C R C A estética voca l no canto popu lar do Brasil
~
chamadas máquinas falantes e ascensão do microfone e fonógrafo elétrico,
~
e-
~
muitos cantores sentiram-se ameaçados, dentre eles, Vicente Celestino, que
~
foi para o "arquivo morto da música", na feliz expressão de Giron (2001 :60),
~
~
> mas apenas por pouco tempo, pois em 1932, ele retomaria sua carreira de
~
~
sucesso, agora no chamado teatro ligeiro, no cinema e no rádio. Eis o
~
,....., gravados por sistema elétrico, e a difusão do rádio, nos anos trinta, aliada aos
~
~
shows dos cassinos e hotéis, intensificam a profissionalização do artista
~
popular."
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,.....,
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OJtros detalhes técnicos acerca das gravações pelo sistema e1ébico, serão analisados por ocasião da dupla tv1ário Reis e
-4
Francisco Alves, da presente dissertação, indusive rom alguns momentos hilariantes, provocados pelas hrnitaçôes de um
rneo ainda incipientee as engenhosas soluções encontradas pelos técnicos parasuperá-las.
. ,
25
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
.. . .
"
1.5. A época de ouro da música popular brasileira
outros espaços que foram de fato também importantes para configurar essa
época como tal, a exemplo dos shows nos cassinos recém-abertos e nos
intérpretes , a exemplo de Ismael Silva, Noel Rosa, Ary Barroso , Orlando Silva,
Mesquita, Wil son Batista, Geraldo Pereira, Dorival Ca ymmi, Marília Batista,
populares.
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26
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
'" na época: Nós somos os cantores do rádio/ Levamos a vida a cantar/ De noite
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embalamos teu sono/ De manhã nós vamos te acordar. Nós somos os
""'
~
,
cantores do rádio/ Nossa canção, cruzando o espaço azul/ Vão reunindo,
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i Maestros, compositores e intérpretes, músicos em geral,
'"
eram relativamente bem pagos, considerando o mercado de trabalho da
'i
""' época, para participar, ao vivo, em vários momentos da programação das
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emissoras. Estas, bem como, alguns cassinos, possuíam suas próprias
"
"
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~
liEm 1963 . provavelmente na TV T UP I, realizou-se um programa antológico: numa espé cie de metaUnguag em
(um mei o servindo de veículo. Linguagem e moldura a outro), o programa "Ca ntores do Rádio " fez referên cia
explicita à época de ouro da música popular brasllelra . quatro cantores consagrados naquela mesma época
,,
(Orlando Silva , Silvio C aldas, Dorival Caymmi e Carlos Ga lhardo participam de um programa, sob o comando
de Bibi Ferr eira , resgatand o exemplares do repertório do nosso cancioneiro popular , pela voz e performance
' ~
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7
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
27
sucesso.
necessário como se viu para o canto forte das arenas abertas e picadeiros dos
dos anos 3D, do samba carioca, mais narrativo, com temática urbana
,
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~
, dedicada a cenas do cotidiano, a exemplo de Noel Rosa, Ismael Silva, Wilson
-1'
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Batista, Geraldo Pereira, etc. Essa nova maneira de cantar, mais próximo ao
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\ coloquial, da voz falada, inaugura uma nova conduta vocal do intérprete
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brasileiro, que, até os dias de hoje, serve como referência para o estudo sobre
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,1. o canto popular do Brasil.
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Outra modalidade da expressão de nosso cancioneiro são os
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grupos vocais. Coexistindo com os intérpretes individuais, têm-se, desde os
,r daquele s quatro artistas. (A au tora deste trabalho teve a oportunidade de ouvir uma gravação desse programa
do acervo do produtor mu sical He lton Altman. doada pelo pesquisador Miéci o Ca fé).
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28
LATO RRE, M C R C A estética vocal no cen to popular do Brasil
gêneros foi de tal ordem que chegou a influenciar não apenas gêneros como o
latino-americanos, por sua vez, deixam marcas na estética vocal dos nossos
intérpretes.
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nova, que irrompe no final dos anos 50, representa uma importante inflexão
,'.
1.-
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)
f',- A efervescência dos movimentos sociais que marcam a vida
,
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monta-se em São Paulo, uma série de encenações como Arena canta Zumbi
A análise ma is aprofundada da Bossa Nova será feita no item em que se examina a estética vocal do cantor
li
João Gilberto.
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30
LATO RRE, M C R C A estética vocal no can to popula r do Brasil.
r-. y,
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suas canções.
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,,
, Capítulo 2
população pobre, na maioria negra, da área central e que busca novo teta em
Sá. Sua família muda-se mais tarde para o Catumbi, tomando-se vizinha da
7 onome Peque na África. atribuído ao compositor Heitor dos Prazeres. para designar uma extensa área
próxima ao centro carioca , vinha recebendo expressivos continentes negros, sobre tudo da Bahia , desde
meados do século XIX. No seu co ração , próximo à Praça Onze, localizava a casa da baiana Tia Ctat a. famosa
por suas longas festa s, onde surgira o polémico Pelo Telefone, em 1916 , tido como primeiro samba gravado
pelo cantor Baiano, e sucesso absoluto no carnaval do ano seguinte. (Cf. Moura, 1983)
r>:
32
LATORRE, M C R C A estética VOCê! no ca nto popular do Brasil
pensão de Alfredo da Rocha Vianna, pai de Pixinguinha, seis anos mais velho
do que ela. O Catumbi era um pacato bairro, onde grupos de boêmios faziam
1 A casa de Alfredo Vianna era freqüentada por músicos como Donga, Sinhô,
~
~
mais célebre de todos.
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"" junto com a menina Dalva, irmã de Pixinguinha, procurava, com seu corpo
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I ainda em formação, acompanhar os meneíos do fraseado sinuoso das
"" t
r-, ,, adiante, quando se toma atriz e cantora profissional. Na adolescência, Zilda
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~
participa de grupos amadores de teatro, e, aos dezesseis anos, faz sua estréia
33
LATO RRE. M C R C A esté tica vocal no canto popul ar do Brasil
recepção dos cinemas e teatros, cujo público que, em sua maioria, era
demais no grupo':
Recreio, em fins de 1921, que nasce Araci Cortes, quando aflora a arte da
menina Zilda aprendida na pensão do velho Vianna, agora unida numa única
.~
8Carlos Esp indola, pai de Aract . era flautista de "grande pertelção". segundo apreciação de Alexandre
Gonçalves Pinto, em O Choro (1978 :18)
34
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
' ~
revistas. É quando entra em contato direto com o com positor Sinhâ, conhecido
como Rei do Samba, futuro autor de Jura, um dos maiores sucessos da canta-
atríz, Araci, ao lado de artistas consagrados, logo inicia uma carreira vitoriosa,
~
brejeirice no modo de cantar.
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r-
Em 1923, Araci passa a integrar o elenco da Companhia
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Pinto Filho, estreando na revista Jazz-band, como uma das protagonistas,
'"
r- especialista em tipo caipira. yontratada por uma das mais estáveis
r-
companhias de revistas e buríetas, a São José, Araci irá atuar ao lado do
~
'" cantor, também novato, Francisco Alves, sob a direção artistica de Luis
r-
~
,, Peixoto , que passa a exercer grande peso em sua carreira, recebendo
~ I
I comentários elogiosos do crítico Mário Nunes, do periódico carioca Jomal do
~
i
r-
~. Brasil.
r-
r-
"É uma figura interessante de fisionomia picante,
o corpo gracioso e f1exivel, interpretando papéis
~
~
caracteristicamente nossos; possui graça natural e feitio próprio,
~
predicados que lhe asseguram o sucesso e a simpatia da platéia."
~ (Ruiz, op. cit; p,41 )
,,
> Peixoto logo percebe em Araci, uma boa dose de ousadia,
»<,
i
I bem apropriada ao teatro de revista, sintonizada com as novidades que a
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f!e,,'
.r-,
) visual de suas montagens, com lindas mulheres, criando um grande impacto
com muita música, brilho, luzes e cores. Ainda dirigida por Luis Peixoto, Araci
figurinos originais e extravagantes assinados por Luís Peixoto, bem como em -t--,
r-
sapateado, gênero recém-chegado dos EUA, cujos volteios logo aprende e
r-.
desenvolve magnificamente, em montagens posteriores, A influência das
»<;
revistas francesas foi cedendo espaço à onda avassaladora das novidades do r-,
cinema americano, com seus ragtimes e foxtrotes , para citar alguns gêneros, C'
C'
,"",
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36
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
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Se antes, as festas da Penha nos domingos de outubro,
~
~
compositores caitituando'' suas músicas para serem interpretadas em cena.
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r- .
Muitas vezes, os autores e empresários não davam muito atenção ao texto da
-
, .. revista, valorizando mais as músicas que garantiam o sucesso de público,
'"
r-, ajudando assim a "vender" o espetáculo, a exemplo das canções de Sinhô.
,
r-, •
r-
No apogeu da revista, quando a era do disco e do rádio já se
--
r-,
; como José Maria de Abreu. Chiquinha Gonzaga. Vicente Paiva. Eduardo
."
~
r-, Lamartine Babo , e Ary Barroso, dentre outros, criaram para as revistas,
--
r-,
,,. melodias de fácil apelo. na esperança de verem suas músicas de pronto.
r-.
amplamente reconhecidas, e terem uma sobrevida para além da efemeridade
r-
- sazonal da revista.
r- revista, capaz de atuar em diversos contextos, estava pronta para uma nova
f
I
-- i De camtuaqem . prática comum nos meios art ísticos da época. pela qual compositore s faziam uma espécie de
-- ,
r-
lobby junto aos produtores musicais das revistas e depois das gravadoras e rádios, para divulgarem suas .
musicas . Um a das formas de obter êxito era dar a parceria da canção a esses divulgadores que poderia ser,
inclusive . um can tor, como foi o caso de Francisco Alves , que ganhou a pa rceria de muitas can ções de Ismael
Silva. usando des se exp ediente .
r-
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37
LATORRE, !Vi C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
apelo popu lar para cantá-Ias, a exemplo da Araci, Chico Alves, Vicente
do espetácu lo.
reconhe cendo na canta -atriz, sua melhor intérprete. Até então, Chico Alves
gravara , de 1920 a 30, dezenove de suas compos ições . E foi Mário Reis
,
t
38
LATORR E, M C R C A esté tica vocal no can to p opular do Brasil.
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de Araei.
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.'"'.
,I
,..... i Henrique Vogeler, autor da melodia do samba-canção,
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I estava insatisfeito com a letra de Candido Costa, interpretada sem qualquer
I
'"
~
~
r
I
f
elã e nenhum sucesso, por Dulce de Almeida, na revista A verdade ao meio-
I
dia. Vogeler, sabendo do valor de sua composição, procura Vicente Celestino
~
t
.'"'.
I para gravá-Ia, o que faz comi sua potente voz, impregnando-a com seu talento
i. I
~
"'"'
l ,f
interpretativo, porém sem realçar as nuances de ritmo procuradas pelo autor.
Ou, como diz Tinhorão "ainda um a vez, não permitia reconhecer a dose certa
r-
,..... i
;
de balanço ritm ico de samba, que Henrique Vogeler tentava introduzir como
~
I
i
~ I um elemento propositadamente perturbador da melodia clássica da canção"
i
,..... I
i (apud Ruiz, op . cit., p.11 8). Ao mostrá-Ia ao letrista Luis Peixoto na esperança
~ I
?
~
I
I
de salvar sua canção, Vogeler executou ao piano " [...] como realmente era o
~
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I
~
,,! 10 Faixa 1, do C01 : An ex o't .
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39
LATORR E, M C R C A e stét ica vocal no canto pop ular do Bras il
andamento da música que, até então, fora ouvida mais como canção do que
. entendimento da letra das canções. Esse feito é obtido por Araci com muita
~-.
revelando sua principal caracteristica de conduta vocal.
~
J, qualidade, como intérprete mais independente da revista, pois, se antes era a
,
rainha do teatro musicado, agora é vista pelos compositores como a grande
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s:
40
LATO RRE , Iv! C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
prime ira vista de Araei, o primeiro samba é logo incluido na revista, tomando
~
,;' sucesso era uma estratégia de apelo popular direto bastante difundida,
f
~
conferindo ainda mais ao teatro de revista, a importâneia de divulgador da
r
~
I
r- ""
", Com um variado repertório, da canção romântica ao samba
i
ligeiro , com letras de duplo sentido, Araei seduz os freqüentadores de seus
'" . , espetáculo s.
r~
I
r
~
I
! ' Um bom exemplar do gênero é Tu qué toma
'" t.
,.
~ I meu home " , samba de Ari Barroso e Olegário Mariano, lançado
ir em 1929 na revista Vamos deixar de intimidade. Nitidamente
i
c
~
influenciado por Sinhô, o então novato Ary compôs diversos
I
'" 'I sambas como esse, de excelente qualidade melódica" (Severiano,
t
'" { 1984: 3)
~,
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~
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'"
~ I
~ É importante, para os objetivos analíticos desta dissertação,
~f
/'. rr atentar-se para o que estava ocorrendo com O novo samba urbano da virada
--I
!
r-. l dos ano s 30, aquilo que o pesquisador Carlos Sandroni denomina de "novo
t
~ I
,
~I
~
!,
,f Faixa 2, do CD 1: Anexo1.
..- ~ \1
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,"" ,
.-.,!
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. ~ . :
41
LATüRRE, M C R C A estética vocal no can to popular do Brasil.
surdo. Outro efeito sutil na batida do samba foi obtido pela articulação da
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" .:" "
1::1
42
LATüRR E, lv\ C R C A esté tica vocal no canto popular do Brasil
Muniz Sodré, levava o corpo dançante a ocupar o tempo vazio, deixado pelo
.- deslocamento do tempo forte, com palmas, requebros e meneios. "É o ccrpo
~ 17)
(
.-.. t:..-
,'. .
Ao se analisar a gravação do samba O que é que?13 de
1 _
r
43
LATORRE, lVi C R C A estética vocal no canto popula r do Brasil
,'. teatro de revista, o circo, a edição de partituras e o início do disco em sua fase
r
1 fonomecânica; depois, o grande salto para o final dessa linha de tempo, em
1,
,
!. fins dos anos 20, com a indústria do disco fonoelétrico e o sistema radiofónico.
,;
,
~
A partir desse patamar, os intérpretes de música popular começam uma fase
,•
, de ascensão.
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,t Samba", dentre vários titulos que recebeu, na virada dos anos 3D, vestiu o
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Desde o início, Mário Reis já encantava, por sua divisão
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silábica, na escansão das palavras, dando nova interpretação ao samba,
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rr-: impregnando-o de uma leveza, sobretudo nos sambas amaxixados, conduta
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, vocal inusitada para os padrões da época, prenunciando a sincopação do
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1
modemo samba urbano que a geração do bairro Estácio de Sá estava
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-r-, criando . Dotado de um timbre suave de tenor, sua forma de emitir a voz traía
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,I ~ tinha tanta consciência de seu pioneirismo que, segundo Giron, chegou a criar
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uma teoria, pela qual, um outro Mário, o modemista Mário de Andrade, o
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elogiava por esse gesto fundador:
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45
LATORRE. M C R C A estética voc et no canto popula r do Bras il.
não pertencem ao extrato social da imensa maioria dos sambistas da época, ,...,
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segue sua conduta do canto coloquial, cuja voz era emitida em staccato,
~
,...,
Mário Reis foi, de fato, um divisor de ág uas do samba: , ~
~ .
14 Mozart de Araújo in contracapa do á lbum Má rio Reis apresen ta músicas de Sln h ó, Continental, 1951 , eoua
Giron, op, cu., p. 17
L
46
LATü RRE. !vi C R C A estélica vocal no canto popular do Brasil
a insolência dos sambas de Sinhô. "Este, arguto como uma raposa de fábula,
viu logo no moço Mário Reis o cantor que ainda não descobrira. E na verdade
geração desambistas do Estácio de Sá, liderada por IsmJel Silva, bairro que
fundou, entre 1927/28, a Deixa Falar, tida como a primeira escola de samba
.
carioca. (V.Cabral, 1996:34). Giron menciona o jomalista Sérgio Cabral, como
r
fonte de uma afirmação, quediz que Má ~io teria se inspirado no "canto mulato
=J.,
r-... . ~ [. . -
~ lS Pianista que tocava em tolas de instrumentos musicais e de pa rtituras. em cinemas e no hall de entrada dos
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teatros .
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LATOR RE, [vi C R C
47
A estética vocal no canto p opular do Brasil.
ilustre para escapar das censuras familia res, visto ser ele, como Mário,
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oriundo dos círculos elitistas cariocas. Femando sucedera ao cantor Baiano na
~
geração do disco mecânico. Dotado de uma voz típica agradável, Fernando foi ~
-r-,
o último. grande cantor da fase fonomecânica. Sabia dosar, com talento e -
graça, todas as possibilidades desua voz, ora potente ora suave, para cantar
, rr-.
Sinhô conhecer Mário, Femando fora seu preferido . A consci ência de Mário
fica demonstrada pelo uso que faz de sua voz, quando abraça o tem coloqui al,
I
não por limitação de emissão, mas cQ.mo deliberada opção estética, podendo
, dixiefand, estilo que vem dos tempos heróic os do jazz de New Orleans, em
moda no Brasil , no início dos anos 20. O dixiefand caracterizava-se por uma
Termo para designar o cantor que sussurrava na boca do microfone, e que substitui o singer, cantor de voz
, 16
forte e que, para aume ntar sua potênc ia em cena, fazia uso de um mega fone .
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LATORRE, 1\1 C R C A estética vocal no cent o popular do Brosil.
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certa displicência e informalidade de cantar, conforme as performances a que
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, estava habituada a qera ção imediatamente anterior à de Mário.
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;, . Mário Reis e o micr ofone, instrumento mais senslvel para
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~- realçar a qualidade do som, chegaram juntos, celebrando um casamento
-,
~ estético perfeito. Mas, curiosamente, não foi este intérprete de canto suave
que inaugurou o sistema fonoelétrico, mas sim dois cantores que .se
não conseguiriam gravar, porque a membrana era muito dura para furar a
.
Para Chico Alves, uma dessas adaptações foi dosar
I
r- estúdio. Lembre-se que a revista exigia uma dicção clara da canção, para uma
boa escuta da assistência, inclusive, ' para o público mais afastado das
torrinhas. Chico Alves fora também um bom aluno de Sinhô que, como vimos,
buscava nesse período uma_conduta vocal quase falada para os seus sambas
49
LATORRE, M C R C A e s ténce vocal no canto popul ar do Brasil.
se estivesse num teatro, O resultado foi uma voz poderosa que parecia
sussurrantes,
um pouco, pois ele resistiu quanto pôde. Somente em 1928, ele cede ao
vocal coloquial inédita, tirando todo partido passivei de sua forma suave de
18 Fa ixa 4 , C 0 1:A ne xo 1.
50
LATOR RE. M C R C A estética vocal no ca nto popu lar do Bra sil.
serviço do ritmo narrativo, sendo perceptivel o tom coloquial e irânico por ele
, ,
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.'!-r ... Sinhô, feitas na mesma época (1928/29) , a primeira com ° próprio Mário, pelo
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selo Odeon, aco mpanhado pela Orquestra Pan American Cassino
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Copacabana e a segunda com Araci Cortes pela Parlophon, acompanhada
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-... ·t·- - pela Simão Nacional Orchestra. Os nomes diferentes do selo e da orquestra,
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r--.. r- na verdade , escondiam uma jogada comercial do mesmo diretor dos selos,
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.':. Fred Figner, com a mesma direção orquestral, a batuta de Simon Bountman,
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( cujos arranjos imprimem uma
, marca muito especial na condução orquestral
,
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, da música popular brasileira, no período posterior à moda das jazz-bands Jura
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estréia Mário com acompanhamento orquestral, surpreendendo aqueles que
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".......... .
pensavam ser impossivel compatibilizar a sua suposta voz pequena com a
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f?:' LATORRE , M C R C A estética vócal no cant o popular do Brasil.
51
i:
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Na análise das duas performances de Jura , percebe-se que a
'«' -. '" finalizando cada palavra, sem estendê-Ia, de modo seco, em síntese um canto
breve. Em Araci, tudo se dá pelo lado avesso: pelo uso amiúde do vibrato 22 ,
colocado ora em cada silaba ora no final das palavras, realizando as frases
23
com legat0 , favorecendo um canto prolongado. A emissão dos agudos se dá
participava de recitais. Seu canto de emissão mais intimista não era divulgado
contrário dos outros que buscavam se expressar por vários veículos, Mário
fazia questão de cantar apenas no disco, conduto perfeito para a sua opção
estética.
ta Faixa 5. C0 1:Anexo 1
20 Sla cca to : "tipo de articulação que resulta em notas mu ito curtas: (Verbete: Ed Eletróruca Dicio nário Houa iss,
2001)
2 1 Portamento: "ornamento melódico que consiste na rápida antecipação da nota real." (Verbete: Edição
eletrônic a do Dicioná rio Novo Aurélio séc ulo XX I ).
22 O vibrato. enquanto recurs o vocal, possui "um interes se esté tico evidente, e um papel prim ordial porque ele
da à voz sua riqueza expressi va, sua lev eza e seu poder emocional. El e se cara cteriza por mocuta ções de
freqúência, companhadas de vibrações sincrónicas da intensi dade e da altura que tem uma influência sobre o
f
~-
timbre . Estas flL'tuaçôe s s ão criadas pelo cant or e têm uma açãc musical im portan te". (Oinville,1993 :8)
23 Legato: "m aneira de executa r uma linha melódica com fluidez, sem interru pções." (Verbete: Ed Eletrânica
Dicion ário Houaiss . 200 1)
, 2c Faixa 6, do C0 1: a nex o t
;
I
,
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52
LATORRE . rir, C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
justamente por causa dessa opção. Nessa fase de transição, coexistem usos
. profissional. No primeiro caso, tem-se um rico acervo, livre de modismos para ..·1.
_
do show biz. Porém Mário não faz uso pleno desses meios. Dai a 0.-,J
-- - -:.... --~ sua fixação na memória do artista e do público. A edição de partituras, com se
o Rio inteiro a assobiava pelas ruas, como ocorreu com a polca Atraente de
-
53
LATOR RE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
composição sair "na sua form a original" como se dizia na época . 01. Giron, op.
clt., p. 88)
Mário, de fato , criara uma linhagem d e estética vocal, inclusiv e para cantores e
que deixara de ser o cantor preferi do de Sinhô. Este, pouco antes de morrer
em 1930, entregara sua produção ao novato Januário, que, num curto espaço
-r-.
de temp o, acaba gravando treze de suas canções , no inicio, num estilo bem
próximo ao de Mário.
caminhos estéticos para o seu jeito de cantar, graças inclusive à sua amizade
com Chico Alves, que lhe ensinou o caminho das pedras, nos negócios de
~ 54
LATORRE, lvI C R C A estética VOC2! no canto popular do Brasil.
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.-, ,h compra de samba, quando se aproximou dos "bambas do Estácio", criadores
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de samba ma is suave do que os amaxixados de Sinhô.
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samba urbano, sendo seu parceiro comercial, antes de " formar a dupla
fenômeno que subjazia à vída musical carioca dos anos 30: o sucesso da
música regional que povoa o Rio, com o canto de vários grupos típicos
época da dupla, o sucesso do estilo sertanejo estava por conta dos Turunas
Alberto Ferreira Braga, ou João de Barro . Este grupo, formado para cantar um
repertório sertan ejo, como a embolada Minha Viola, e a toada Festa no Céu,
ambas de Noel , será respo nsável por um sucesso que terá reverberações
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LATOR RE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
55
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sucesso que dura até o camava l seguinte. Este samba e Na Pavuna são
do canto a duas vozes não ser us ual nas gravações de samba, até então?5
25 Existe na tradição musical afro , O canto responsorial Que consiste na chamada do tema por um solista
improvisad or e a resposta do coro, ma ntido em muitos sambas rurais, nas rodas baia nas e nos partidos altos
cariocas. No Estácio . como em muitos morros, o revezamento do responso adquiriu uma forma mais fixa,
desapa recendO a pratica da improvisação solista . para facilitar a rnernonzaçào da música, que todos tinham
que cantar, geralmente no registro médio da voz masculina. O compositor Paulinho da Viola, em entrevista,
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LATOR RE, 1>1 C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
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uma passivei incompaíibilidade de estilos. Chico vinha do circo e do palco de
~
cantar com mais potência podendo assim, nas gravações, encobrir a voz de
afirm ou que o registro m édio na em issão de vozes masculinas determina va uma reçl âo gra ve de emissão que
podia se r desc onf ortável para as m ulheres , Que era m obrigadas assim, a ca ntar uma oitava aci ma, criando uma
est ética e um tim bre típic os das ca brochas cantoras de samba .
215 Ferma ta: "Sinal colocado sobre ou sob uma nota ou uma pausa . Indica que a duração do valo r dessa nota ou
dessa pausa pode se r arbitrariam ente prolongada pelo executante". (Verbete : Ediçã o eletrómca do Dicionário
Novo Au rélio século XX I ).
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I, o samba Se Você Jurar, de Ismael Silva e Nilton Bastos, é
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I conta do camaval, a partir de inícios da década de 30. O próprio maestro
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_assinala que, nessa gravação, o descompasso entre o canto dos dois
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instrurnental, quando o maxixe faz figura em sua forma plena.
I
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Em síntese, as reais diferenças entre ambos, no lugar de se
r
27 Faixa 7. C01: Anexo1.
58
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Bras il.
I
I novato do morro de Mangue ira. o Cartola, além do sucesso da dupla nos
Ferreira, o Jonjoca, o mais legítimo clone de M ário Reis, ao formar dupla com
sobre Mário foi tal que chegou a demover sua resistência de subir nos palcos
! para cantar em parceria, obtendo sucesso de público e critica. À dupla, juntou-
f
1
se o humorista e compositor Lamartine Babo. As interpretações de Mário no
t
palco, deixam patente ,que sua voz contida era apenas um artifício estético. A
t
convite de um empresário argentino, Mário se junta à cantora Carmen
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adesão de Mário devia-se ao sucesso que Carmen já fazia na época,
Jr., 1978:71 )
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,r LATüRRE , M C R C A estética voca l no can to popular do Brasil.
60
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! mútuo que ambos já nutriam. Lembre-se inclusive que Noel era réu confesso
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í na arte de se inspirar no canto de Mário Reis.
I
Destaca-se dessa fase, sua gravação do samba Meu
I
r barracão28 de Noel, com o pianista, Nonõ, seu amigo de tumê pelo sul. Nesse
música popular inicia sua fase áurea, fazendo uma carreira de sucesso em
f.
I
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I 61
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
!
i
I
i vários espaços e lugares da vida nacional, nas vozes de uma legião de
I
f
f
I 2,3. As vozes de ouro: Carmen Miranda, Aracy de Almeida e
Orlando Silva
"A vida musical do Rio e das capitais tinha nesse tripé o ponto de referência
f
O aperfeiçoamento das gravações pelo sistema fonoelétrico,
29 A expre ssao é de Alcir Len hara , biógrafo de Jorge Goulart e Nora Ney. A primeira transmissã o radiofónica
dá-se na abertura das comemorações do centenário da Independência (7/09/19 22). A primeira emissora
brasileira . a rádio Sociedade do escri tor Roquete Pinto. é instala da no Rio de Janeiro. em 20/04 /19 23 .
I
I
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, . 62
I· LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popular do BrasIl
I
I
,
uma década, a música popular é a grande ausente nas produções
I
L·
conhecida." (Cabral,1996:10) Segundo Renato Murce, as rádios dedicavam-
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interesse [" ,]. Nada de música popular._Em samba, então, n,em é bom falar."
do teatro de revista.
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63
LATORRE , M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
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! 1928 é uma data emblemática, tanto para o rádio como para o disco
II
I
podem lançar produtos de melhor qualidade e em maior quantidade,
I
r
o comércio dos aparelhos de som sente-se impelido a
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;
,
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acompanhar os novos tempos do desenvolvimento das gravadoras e dos
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ô4
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popufar do Brasil.
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., march as, canções, va lsas, modinhas, choros , cocos, além de versões da
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I
~
música popular estrange ira como os foxtrotes norte -americanos ou tangos
argen tinos. A partir dos 30, um dinâmico mercado é seg mentado por dois tipos
,•
~
I
de lançam ento: a música da virada do ano, quando kI praça é abarrotada com
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~ I sambas e marchas ca mavalescas ; a chamada música de meio de ano.3D
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~
I "Em conseqüência, expandiram-se as estações
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1-"'.
exploração de mercado em franco desenvolvimento. A explosão
r-
r das hertzianas não ficaria restrito apenas ao RJ, estendendo-se a
r- I outras capitais e ao interior. [00'] Vai-se desenvolvendo o campo da
~
radiofonia nacional. Já não são apenas o Rio e São Paulo que
r contam boas e potentes estações. Estão elas se espalhando por
r
todo o Brasil. Belém, Recife, Porto Alegre. Santos, Campinas,
r Cruzeiro, B. Horizonte, Campos, Ribeirão Preto, J. de Fora, Niterói
I
r-
e muitas outras cidades brasileiras têm, também suas estações
"
~
r-
Em 1932 , estréia na rádio carioca Philips, o Programa Casé,
~
~
nordestino bem sucedido no Rio, vendendo terrenos, inventor de um método
"'I,
r- I 30 Inclu em -se na música de me io de ano, as ma rchas das festas junlnas e o sambe-ca nção. Voltaremos a falar
do tema , ao abordarmos O sa mba-can ção tradicional e moderno. no item sobre João G ilberto.
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L
65
LATORRE, M C R C A estetlce vocal no canto popular do Brasil
í
I
I inédito de venda de aparelhos de rádio. Na primeira visita a um possivel
!
I freguês, Casé deixava um receptor em sua casa, voltando depois para fechar
I
1.
que acabei sendo apresentado à direção da Philips, [...], e aí eles estavam
com a idéia de lançar uma estação da rádio para fazer propaganda dos
curtas nas rádios norte-americanas, embora não soubesse bem o que fazer"
f
(Saroldi e Moreira, 1984:17), Assim, Casé consegue o patrocínio da própria
também de dedicar mais um tempo para afinar o violão." (Cabral, idoib) Casé,
com isso, obtém uma enorme audiência, contando com muitos artistas
:;.
"Depotrnento de Case . em 30/0911973, eoud Saro ldi e Moreira, 1984 :17 .
'l2 Um a curiosidade : o jovem N oe l Ro sa traba lhou como co n tra -reç ra do Prog rama do c ase.
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o registro rudimentar, nos tempos heróicos da música
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r- popular brasileira (da virada do séc. XX às suas primeiras década s), igualava
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intérpretes. Por se tratar de uma época pioneira, também não havia
~
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-. mecânica. Como registra o biógrafo de Orlando Silva, Jorge Aguiar, "havia um
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sua difusão, com um melhor apuro técnico, permitindo que a voz do intérprete
novas gerações. A vida musical, a partir dai, recebe uma carga inédita de
i?dio e o disco são responsáveis diretos por esse novo estado de coisas e o
,[ prestígio que a nossa música popular ganha.
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! Em 1936, para garantir a divulgação de seus discos, aRCA
i
II
Victor inaugu ra sua própria estação, a Rádio Transmissora Brasileira. Mas o
Nacional, a "mais forte estação do país". "A Rádio Nacional, com seus 22
quilowatts, será ouvida nitidamente por todo o país, desde o Amazonas ao Rio
debates proveitosos ." (Citações da revista Carioca, 12/09/36, apud Ribeiro, op.
cit., pAO)
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importação de equipamentos apenas usados pelas maiores emissoras do
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--r mundo, tomando-a a rádio com maior audiência em todo o território nacional.
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I" .,. Contratando os mais destacados cantores, músicos e
»< I' "
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radialistas, a Nacional passa a deter um elenco exclusivo de grande
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I variedade: desde sambistas como Aracy de Almeida e Marília Batista, a
~I
cantores do repertório estrangeiro e do gênero lírico, passando por intérpretes
virtuoses, como Pereira Filho, "o mágico do violão" e Luiz Americano, "o
homem que faz o saxofone falar". Outra grande novidade da emissora foi seu
clubes.
pais, do final dos anos 20 até a década de 40, também deve ser tributada à
~
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~
irá atuar uma das maís importantes cantoras brasileiras: Carmem Miranda.
I
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2.3.1. Cannen Miranda
segundo seu biógrafo Henrique Saia, Carmen _Dão era a melhor voz dentre
J3A primeira é a geração pione ira da Casa da Tia Ciata (década de 10) . A segund a çeraçã o de sambistas é a
turma do Estácio de Sá. liderad a por Ismael Silva (déca da de 20 ).
3. Observe -se o caso interessan te de Adoniran Barbo sa, semp re res idindo em S ~O Pau lo, e Que ira
fazer
gran de sucesso nacional, some nte em 1964 , com o samba T rem das Onze , mas que já se encontrava na
batalha desde o inicio dos anos 30. O próprio compositor na rra seu es forço para se tomar cantor no famoso
programa de ca louros de Roque Riccia rdi, Paraguassu, cantando sucessos de Ism ael Silva (Se você jurar e
M alandragem ) ou de Noel Ro sa (Filosofia) .
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70
~ LAT ORR E, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
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t suas irmãs, porém era a melhor intérprete. Carmen começa a cantar nas
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I,
rádios cariocas, em fins da década de 20. Em 1929, sai seu primeiro disco.
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Em 1930, lança a marcha Pra Você Gostar de Mim (Tai.0 3 5
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de Joubert de Carvalho que, apesar de ser uma marcha para o camaval, faz
~
(1997:100 v.1) Com tal sucesso, Carmen queima uma etapa quase que
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~
obrigatória para os cantores, o teatro de revista, que logo daria sinais de
~
ribalta era Araci Cortes com sua extensão vocal de cantora lírica e o jeito
"
'""' malicioso, padrão de incontáveis imitadoras." (Souza, 1999:6)
r-
uma importante inflexão da vida musical brasileira: "a linha divisória entre o
'""'
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antes e o depois do sistema fonoelélrico articulado à radiodifusão [grifo meu]"
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35 Faixa 9 , CD1 :Anexo 1
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71
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popula r do Brasil
inicio de carreira, que, para ficar com a sonoridade parecida com a de se~
conduta vocal, cantando, agora, com uma sonoridade mais grave, mais
facilidade para "brincar" com vários timbres, com performances marcadas pela
contagiante, ela sabia dar seu recado com humor e muita bossa."
(Saia,1984:9).
f-
I
histriônicas, requebros, "caras e bocas", revirando os "olhinhos", envolta em
,, -
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72
LATORR E. M C R C A estética vocal no canto popu lar do Brasil
~t · ·
.' peculiares da cultura brasileira, a visao camava lizada do mundo, lançando
.--f.'
portanto a estética de Canmen Miranda no ePicentr6 da estética da
~
carnavalização dionistaca."
À,'-' gravação, ao ouvi-Ia, pela primeira vez, cantando Triste Jandaia, comentou:
.. .-=.,
~i .
;-'" ';',,'.:", "Que interessante! A gente não está ouvindo, está vendo. Parece que a
. ;iL--·
44f':~ cantora está dentro da vitrola. Quem é?" (apud Saia, 1984:22). Conta-se que
.J.i' .
Noel Rosa detonava essa exuberância, com a seguinte frase: "Isso é samba
~,
.
,..-i-" .
,
ou aquilo que a Canmen Miranda canta?".
36Para Dilmar Miranda , a festa carnavalesca , da Qual faz parte a paródia. é um tra ço profundamente enraizado
na cultura brasileira . Dai sua Quase onlpre sença em varias práticas culturais populares e no irnaqin áno do povo
brasileiro. A visão cam avafizada do mundo teria se deslocado para o imaginário estético de intelectuais e
. artistas, como estratégia recorrente em suas criações, nas suas mais diferentes modalidades (literatura ,
..-... ~r
cinema , m usica , artes plásticas). para dar conta daquela expressividade popular. A estética paródica e
Á: . exuberante de Carmen Miranda partilharia dessa visão camavalizada do mundo, o que é reiterado por Caetano
em varias depoimentos, atribuindo inclusive sua forte presença no movimento tropicalista. (Cf. Miranda. 1998 e
200 1),
·r' ;-'i .-::' _
,~, .
I
73
LATORRE, M C R C A est étics voca l no can to pop ular do Bra sil.
I onde afirma: "Gravo pouco e por isso tenho de me prepara r para uma boa
f·.: interpretação. Além disso, sou muito exigente[...].Não canto sem esta r
declara seu amo r ao tango , afirmando ser capaz de cantá-lo, ela hesita em
Vejamos duas outras declarações de Carm en, na entrev ista dada ao escritor
»<:
verdade. Amo o tango. Ele me faz vibrar todas as cordas ... Quero mesmo
gravar um tango arrabalero [sic], mas um tango em que possa mostrar ... mas
talvez o meu público não receba bem esta atitude" (apud Cardoso Jr. op.cit., p.
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74
LATüRRE. M C R C A estét ica vocal no canto popular do Brasil.
"
Tia Ciata: Pixinguinha, Donga e João da Baiana. bem como canções de
identificaria com ela, seria Assim Valente, de quem gravou 24 canções, devido
Recenseamento." (Souza,1999: 6)
Barroso foi o compositor mais gravado por Carmen (30 canções) a exemplo
Santo Antonio, Cantores do rádio, Alô, alô, Carnaval. Dorival Caymmi é por ela
lançado, no duo que faz com a cantora, em O que é que a baiana temr" Dele
ainda gravaria A preta do acarajé, Roda pião e O dengo que a nega tem.
Silva, anos depois, "em desagravo à frieza com que ela foi recebida ' [no
sucesso nos EUA: Disseram que eu voltei americanizada". (Veloso, idem, ib.)
das mãos com os olhos, a nitidez absurda no acabamento dos gestos". Esse
apuro de dicção e gestos é visto influenciar o estilo vocal de uma Elis Regina:
:;:-'., cantar uma canção de Carmen, acompanhando-a com uma reprodução muito
I'
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76
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
r<
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r>; I Dessa forma, Cannen é apresentada como referência
I
-e--,
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duradoura, transpassando distintas épocas de nossa vida musical. Caetano
" I enxerga sua presença não apenas no tropicalismo, mas também nas cantoras
" i'
,. como Astrud Gilberto, Flora Purim, além de, nas citadas Elis Regina e Marisa
" I. Monte.
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o critico Tárik de Souza é igualmente bastante generoso nas
análises sobre o impacto de Cannen Miranda na vida musical brasileira, seja
pelo seu repertório, seja pela sua peculiar conduta vocal. "O repertório de
Cannen serviria de molde até para cantoras muito posteriores como a Gal
Alô, alô e a Marisa Monte de South american way' (Souza, op. cit., idem).
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Castro entre Carmen e Mário Reis, intérprete capaz de cantar com economia
~ !' ~ ' de voz, como já se viu. Os dois teriam provocado uma revolução estética na
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arte do canto popular brasileiro, por terem introduzido, num curto espaço de
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tempo, um traço essencial que faltava: os dois seriam "os primeiros a gravar
[...]com aquela veia moleque e quase c ómica - enfim, com a bossa - que
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77
LATO RRE, M C R C A estética vocal no can to popular do Brasil
como é sabido, havia surgido seis anos antes, portanto, seria natural sua
ascendê ncia estética sobre uma cantora que vem depois. Mas, ouvindo
apenas alguns anos de diferença, ainda paira uma dúvida: quem influenciou
seguir , sua apreciação é matizada por outra, dizendo que Araci, no inicio, a
Como se viu, logo quando surge no início dos anos 20, Araci
!
L
78
LATORRE , M C R C A estética vocal no canto popu lar do Brasil
uma cantora de palco, que precisa ser vista. Nos poucos discos que gravou
que, desde o começo, já fazia em discos tudo o que depois se veria nos
de 50.
demonstraram, desde cedo, gosto para a música, por vocação e/ou por
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, Ati:
79
LAT ORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
cantora: "Não descobri a minha vocação para cantora, não; comecei a cantar
não queria estudar, e não sabia fazer nada. Dai só mesmo sendo cantora",
respeitado por músicos como Wilson Batista e Noel Rosa. Aracy tinha especial
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80
LATO RRE. M C R C A e stética voc al no canto popular do Brasil.
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o meio artístico popular e boêmio exercitava uma liberdade
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.~ de expressão e comunicação similar àquela que as camadas populares
origem, com o qual mantinha ainda laços fortes de convívio, do que como
e de uma gi ria muito peculiar, que ela próprio criava, assim como fazia uso
freqüente do palavrão.
de samba em tomo das mesas dos bares desse meio, a grande escola onde
estilo bem caracteristico do novo samba, o que a faria ganhar do locutor César
profissional consolidada.
vez, ao centro carioca, aos 18 anos de idade, (até então eu era uma xavante),
81
LATORR E. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
Aracy firma carreira, como cantora de samba, fazendo par com a versão
que apreciava sua "personalidade jovial", Araci gosta e grava tangos, de sabor
(O Revista Ca rioca , dezembro de 1936 , apud libreto do cd Sa mbistas de Fa to - Clrc Monteiro e Aracy de
Almeida. Selo: Revivendo.
82
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
Valente.
atenção, suas gravações do periodo que cobre grande parte dos anos 30,
começa a cantar, com 18 anos, detendo uma voz mais aguda e mais limpa,
Araci Cortes que ditava então o estilo das cantoras no inicio dessa década.
Wílson, em que ele constrói o mito do malandro que anda com chapéu de
"Aprecia ção do maestro Roberto êomucar. dada em entrevista pessoa l à au tora deste trabalho .
4: Mesma entre vista de Rob erto Bomilcar, citada acima .
orgulho de ser tão vadio, e por ai vaí. Noel compõe então, Rapaz folgado,
verso, uma antítese direta ao seu samba, como, por exemplo. deixe de
arrastar o teu tamanco/ pois tamanco nunca foi sandália! tire do pescoço o
lenço branco/ compre sapato e gravata! j ogue fora essa navalha que te
atrapalha. W ilson não se manifesta de imediato. Noel lança outro sucesso feito
canta a Vila Isabel, seu bairro de origem, dizendo em alguns versos: A zona
portão/ porque na Vila não há ladrão.44 O samba serve de mote para Wilson
o mito da Vila Isabel construido por Noel: A Vila é tranqüila/ Pois eu vos digo,
cuidado!! Antes de irem dormir/ Dêem duas voltas no cadeado. Com este
~ ~ Ess es versos nunca foram gravados . Eles apareceram apenas em partituras Ou entã o cantad os em
programas de rádio. Aracy de Almeida, por exemplo, cantou-os no programa da rá dio Tupi, No Tempo de
Noel , de Almirante em 22 de junho de 195 1. (Cf. encarte do cd Wilson Batista. da Coleção Acervo Funarte de
musica brasileira) .
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LAT ORRE . M C R C A estética voca l no canto popular do Bra sil.
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curso dos tempos. Assim, Palp ite Infeliz passou a existir, independentemente
apontado pelo semiólogo e músico Luiz Tatit, que considera tal traço
Silva, em inicio de carreira, sem disco gravado e ainda sem uma programa de
Palpite Infeliz, fazendo a segunda voz no refrão, que se pode ouvir com
extrema clareza.
canção típico da obra de um poeta que sabia ser fiel a uma narrativa
Nela, Aracy faz uso de sons anasalados que, pela sua maior
tradu zidos por um tipo de conduta vocal que caracteriza o canto dolente, que
como fez em dois mom entos da sua interpretação de Último desejo,47 ela
·H o primeiro mom ento foi quando "Aracy de Almeida - por conta própria - modificou [o] verso de Ncel.
O riginalmente , HMAS meu último de s ejo ..." e não "POIS meu último desejo...". O outro momento foi o seguinte:
"Outra interferência de Aracy de Almeida, agora mais grave , alterando. em muito. o se ntido do verso de Noel: o
autor não escre veu "que meu lar é U M botequim" como cantou Aracy. O ve rso origin al é "Que meu lar é º
boteq uim", o que , de forma nítida, aprese nta sentido bem diferente", (livrete da cote ção Noel pela primeira vez,
g rav a dora V e las , 200 1:1 1O).
LATORRE, M C R C
87
A estética vocal no can to popu lar do Brasil.
instrumental do samba para poder entender o que ocorre com essa fase de
I
I
transição, cujos intérpretes mais sensíveis ao novos tempos musicais, a
I
J exemplo de Aracy, buscam "sarnb izar" o gênero, pela intenção do fraseado.
pela dupla Mário Reis e Chico Alves, no inicio dos anos 30, era freqüente o
base quadrado, por ainda não existir a prática de fazer arranjos para esses
quando ela, no início dessa década, relança inclusive uma série de discos 78
rpm, com os sambas de Noel, resgatando a obra do poeta da Vila, que esteve
nessa época, Aracy mostra estar em boa forma, divulgando a obra de Noel
música popular brasileira, daí, o título Cantor das Multidões, dado pelo
. com vários artistas estabelecidos, como Chico Alves, Sílvio Caldas, Vicente
Galhardo, (Má rio Reis estava se retirando de cena), Orlando sobressai como
ídolo de massa.
Brasíl. Seu pai era considerado um bom violonista, sendo, inclusive, citado no
antigos, que traz informações preciosas, ainda que sumárias, sobre a vida e a
obra de quase trezentos chorões, dos an ônimos aos mais famosos, incluindo
o pai de Orlando, José Celestino da Silva, que, segundo esse autor, "solava
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pistão, cavaquin ho e flauta. [oo . Além do mais] gostava muito das músicas
de frasear e articular as palavras das canções, traço peculiar dos músicos das
rodas de choro da época. Tal traço seduziu a João Gilberto, seu admirador
confesso.
íntimo convivia com o maestro Radamés Gnattali, periodo que vai de 1937,
quando explode com Lábios que beijei, até 1943. quando começa a
1949, é apontado por alguns como marco do início do seu declínio. Para Jorge
Aguiar, seu outro biógrafo, o período de viço jovial na voz é mais curto, exatos
27 fox, além de versões, dentre elas Begin the beguine de Cole Porter,
91
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto pop ula r do Brasil.
Ribeiro, op.cit., p. 60-61). Outro marco na carreira de Orlando Silva foi Nada
tímido, cabelo esticado para disfarçar o crespo típico das origens mestiças,
Paulo, cantou para uma multidão, cuja magnitude varia de 40 a 150 mil,
Orlando Silva quando procura uma chance junto a Ary Barroso, que estava
r '.
92
LATüRRE, M C R C A estét ica vocal no canto popular do Brasil
teste na rádio Guanabara, para ouvir uma voz que "era absoluta e
admirava e por não possuir ainda sua própria identidade musical. Por isso,
chegou a ser dito que Orlando o imitava, o que não é aceito pelo seu biógrafo,
como Chuá, chuá; Gastão Fonnenti, que tinha um estilo original, em que
Luiz Barbosa, tido como inventor do samba de breque, além do uso incomum
~.
~---- --_iiiiiiiiit~
A estética vocal no cant o popu la r do Bras il.
94
LATORRE. M C R C
Alves, o Rei da Voz, que o apadrinha e procura orientá-lo nos primeiros anos
'paralírica' popularizada [por Vicente Celestino], que, por sinal, cantava como
música romântica, misturando as dores das raças que existiam nele" (apud
ali ser procurado, para suprir uma desistência de última hora, na rádio Clube,
na imediações do café.
ganhar 15 mil reis, por fazer participação em vocais, nas gravações de outros
estilo e uma nova conduta vocal com traços tão marcantes que serviriam de.
sensibilidade de uma, voz que sabia dar realce aos pequenos desenhos ritmo-
infância, com os músicos das rodas de choro que freqüentara. "As qualidades
Seus cuidados com a voze com sua técnica vocal começam r>
48Até a inven ção do long playing (Lp) . nos a nos 50, permitindo a gravação de 10 a 12 faixas , os discos de 78
rotações por minuto , ou simplesmente 78 rpm, continham apenas duas cançõe s , registrada s em cada uma de
,, suas faces .
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96
LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
modulação de notas passando de um tom para outro pa ra ver até onde sua
voz podia ir, para cima e pJ'ra baixo", (Ribeiro.op.cit., p. 41) Era dono de um
1
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seguintes observações:
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97
princípio ao fim bem claramente. Nada como uma dicção perfeita num cantor.
É feio engolir erres, esses e eles finais: amô, depoi, iguá ...podem pensar que
somos analfabetos. (Aguiar, op. cit, p. 98-99).
o samba-canção Maria, do repertório de Sílvio Caldas, sem ter antes passado a música,
Chico o admoestou: “ Isto aqui não é uma serenata sem compromisso. Isto aqui é um
recital profissional. Essas pessoas pagaram para nos ouvir cantar e não é justo que a gente
faça isso de qualquer modo. Sem ensaio, nada feito”.(Aguiar, idem, p. 99).
gente aí gravando), Chico responde: “Ainda não. Neste período todos estão voltados
para o Carnaval do ano que vem gravando discos para a ocasião, e é melhor que você
comece com música de meio de ano onde sua voz aparece melhor. Vamos ter um
Alves, Orlando lança o citado disco pela Columbia que, confirmando as previsões de seu
Em junho de 1935, Chico julga que já chegara a hora de Orlando gravar, [sua
1
Existe um registro, no mínimo, curioso. Omar Jubran, no libreto que acompanha seu monumental trabalho de
recuperação de toda a obra de Noel Rosa, Noel Pela Primeira Vez, lançado pela Funarte em 2001, refere-se a uma
gravação particular de Orlando Silva, do samba Feitiço da Vila, “provavelmente em 1934”, portanto na mesma ocasião
do disco da Colúmbia. (Jubran, 2001: 200)
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98
LATORRE. M C R C A estética vocal no ca nto popular do Brasil,
I se projetat1 (apud Aguiar, id.ib.). levando-o para a RCA Victor, onde assina um
,contrato de exclus ividade . O primeiro disco "para valer" foi o 78 rprn, com as
I
.. .
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A RCA havia se instalado no Brasil em fins de 1929. Tinha o
Gastão Form enti , Pixinguinha, Luis Barbosa e Sílvio Caldas. Ela era a grande
Mário Reis e, até bem pouco tempo, Francisco Alves, que, depois de longa
negociação, conseguira seu "passe ", tornando-se, a partir dai , a maior fonte
L
99
LATORRE, lv1 C R C A estét ica voca l no canto popular do BrasiJ
das rodas de choro. Eis o relato de Aguiar, logo após a senha do técnico do
numa nota grave, por uma arriscada escala cromática, obrigando seus
Cândido das Neves, também conhecido como índio. Para Aguiar, o trabalho
Elevand o o registro da música para uma zona mais aguda e levando o ritmo
para um anda me nto médio para conferir maior vivackíade, o cantor busca
técnico , molda sua voz a uma emissão mais express iva e meno s reservada,
que usa em outras experi ências. Cada situação exigia um tipo de intenção
distinta. Daí tam bém as vozes distintas. Orlando teria um a voz camavalesca,
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,....1<0-·; O ano de 1937 é decisivo para Orlando, consolidando a
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rápida ascensão de sua carreira. O disco Juramento Falso e Lábios que Beije
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,....t~~ . (J. Cascata/Leo nel Az evedo) abre uma série de lançamentos de êxito
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extraordinário. Porém, o que irá ser o gra nde marco, não apenas em sua
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apenas duas partes quando o próprio autor dizia que "um choro de caráter
tinha que ter três partes"? Ademais, atribuía-se também a Carinhoso uma
Braguinha (João de Barro), para sua primeira gravação como canção, por
Orlando Silva.51 Quanto a Rosa, cujo primeiro título seria Evocação, pairavam
50 N a entrevista feita no MIS do Rio, Pixinguinha respondendo a Herrninio aeuo de Carva lho sobre o gênero de
Carinhoso, diz o seguinte: "Ouando fiz a musica , Carinhoso era uma polca lenta . Naquele tempo, tudo era
polca. O andamento era esse de hoje. Por isso, chamei de polca-lenta ou polca vagarosa. Depois, passei a
cham ar de choro. Ma is tarde , alguns acharam que era um samba". Sé rie Depoimentos: Pixinguinha, 1997: 80). .- '
S1 Faixa 15 , CD 1: Anexo 1.
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10 3
LATORRE, M C R C A estética vocal no cento popular do Brasil.
partes).
cantor, na sua fase da rádio Nacional, formando com ele uma dupla
competente e sensível para criar obras de alta qualidade, dada a audácia dos
anos 30, para tentar a sorte como concertista, Acaba sendo contratado pela
--- - - - - - - - - - - - --- -
104
LATüRRE , M C R C A estética voca l no canto popular do Brasil-
mostrara que Gnattali sabia compatibilizar, com talento, sua forma ção musical
extraordinária para man ejar o conjunto orquestral que faz soar com riqueza e
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popular brasileira, na fase áurea de sua carreira artistica, quando estava à
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frente das orquestras RCA Victor e Rádio Nacional
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Devido a seu estilo de "frasear" e a outros recursos, como
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romãntica e rubatos, Orlando Silva era tido como um autêntico cantor de meio-
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r' de-ano. Mesmo assim, no camaval de 1938, Orlando faz sucesso com o
" samba Abre a j anela (Arlindo Marques Jr./ Roberto Martins). No ano seguinte,
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~
obtém novo sucesso com outro samba, Meu consolo é vocé (Roberto
~
dizer, que o seu jeito de cantar nascera de uma decisão, tomada ao perceber
que teria pela frente dois outros 9randes cantores, Francisco Alves e Sílvio
Caldas. Buscando talvez uma síntese dos traços vocais desses dois cantores,
afirmou: Francisco Alves tinha voz, e Sílvio Caldas, interpreta ção. Entrei no
SP: "Não se preocupem com a divisão de Orlando, ele se atrase e se adianta ."
às vezes, mas ao final chega junto com a gente,,53
ritmica no interior do compa sso. Observe-se que Orlando Silva parece retomar
Para ele,
Rubato : "Diz-se de uma exe cução caracterizada pelo e mprego de ce rtas liberdades rítmicas. num intuito
!i2
express ivo que de pe nde unicamente do gosto musical do intérprete ." (Verbete : Edição eletrõnica do Dicionário
Novo Aurélio século XX I ).
53 Depoim ento de G abriel Migliori a Zuza H . de Mello, in Mello, 20 01 :31 . Cf. também Ribe iro, ap .cit. p.59
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107
LATORRE. M C R C A estética vocal no ca nto popular do Brasil.
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bocca chiusa , (emissão do som feita com a boca fechada ), como se escuta
pieguice , em suas falas declam adas, Ora repetia a própria letra da canção
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108
LATORRE, M C R C A estética voca l no ca nto popular do Brasil
pela flex_ão limpa e diferente de alguns verbos: nascer e crescer, por exemplo,
Silva, no início de sua carreira, quanto grava num de seus primeiros trabalhos
Dorme, que eu velo por ti, de 1941 , onde, além de um timbre quase idêntico,
perdi sem razão! a flor que naisceu, floriu e morreu! no triste jardim do meu
coração.
por vários procedi mentos, alguns já vistos, Orlando Silva perpetua no canto
brasileiro o recu rso emo cional do "soluço". Além disso, usa eventualmente o
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LATORR E, lv1 C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
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necessidades muito bem detenninadas pela natureza da composição, e que
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trêmulos burocráticos, como elementos obrigatórios da voz.
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uma interpretação considerada perfeita por todos no estúdio, pois achava que
melancólicas.
inovadora , periodo áureo do rádio e do disco, aliado ao cinema musical, foi tal
seus discípulos, como o cantor Roberto Silva, 5 anos mais novo que seu
es N elson Gonçalves depois de encontrar seu caminho e luz própria . com timbre vocal mais grave e repertório
definid o. revela aqu i e acolá a influência de O rlan do no sua carreir a inicial, transform ando o que antes era
cópia , em refe rê ncia de conduta vo cal .
S6 Roberto Silva, em entrevista dada â autora. em agosto de 2001, declara que no inicio de sua carreira,
cantava serestas. Suas interpretações eram tão "coladas" às condutas vocais de Orlando Silva que as
gravadoras aconselharam-no a mudar de estilo e repertório, o Que fez com Que ele passasse, então, a cantar
samba. A referência de Orlando continua, conforme se pode constatar na gravação do samba Dama do cabaré
(Noe l Rosa), do repe rtório de ambos. ( cf. Cd 180 Anos de Sa mba , gravadora Eldorado, 2001).
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õiiiiiiOiliiiiõiiiiiii....... = =
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110
LATORRE. M C R C A est étice vocal no canto popular do Brasil.
verá adiante, Ribeiro tem uma lista mais extensa de intérprete s que sofreriam '
influência de seu estilo: Lúcio Alves, Roberto Luna, Agnaldo Timóteo, Altema r
Outra, Agnaldo Rayol e Roberto Carlos. Já Orlando Dias , que adotou inclusive
paród ica do canto r, pelos exageros nas ernpostações voca is, no gestual,
'toma ndo-se apenas uma cari catura do modelo que tentou copiar" . (Ribeiro ,
prim eira do outro can tor a ser analisado, ou seja, João Gilberto .
111
LATORRE, M C R C A estética vocal no cant o popular do Brasil.
cada época, sua forma de se escutar, pode-se dizer que a bossa nova, em
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hegemonia dos EUA, tanto no plano econ ómico como no cultural, propiciando
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_$k~; um real aumento do poder aquisitivo e um maior consumo de bens culturais.
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J:i-': o Brasil intensifica seu processo de industrialização/urbanização, criando
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condições para a constituição das classes médias, submetidas a uma intensa
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ciranda vertiginosa de nexos: novos segmentos/ novos gostos/novas
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demandas/ novas estéticas, enfim, novos códigos signicos elaborados no seio
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57 Inclui na trama dessa nova sociabilidade urbana. a partir do fim dos anos 50, a profissionalização de músicos
da classe média car ioca, que irão integrar as fileiras da bossa nova, rompendo com seus inícios arnadoristlcos.
Daí o ma l-es tar instalado no seio dessa comunidade musical oriunda dos se tores médios, que vive no fio da
nava lha entre a "idéia de um a vida sofisticada sem ser aristocrática, de um conforto Que não se identifica com
O poder" (Mammi , 199 2: 63 ) e o chamado à profissionalização radical.
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1"-'
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112
LAT ORRE, M C R C A estética vocal no can to popula r do Brasil
etc).58
dos anos quarenta, a vida notuma carioca passa a girar em tomo de boates.
Gnattali, visto como um marco da pré-bossa nova. "Ao mesmo tempo que
ao ouvi-lo pela primeira vez: "Muito bonito rnas não é samba". (v. Garcia, op.
cit., p. 30)
58 ode senvolvimento tecnolôgico fonográfico provoca , nesse pós-querra. important es ressonâncias com a
invenção do disco Lp, com maior número de faixas, permitindo inclusive experimentos de peças mais longas e
não os tradicionais 3 minutos do 78 rpm. Ademai s, a invenção dos apa relhos de alta fidelidade (hifi), melhora
se nsivelme nte a qualidade da audição do som.
. . __ . _-- .. _- -- - ---,-,,-
11 3
LATORRE, M C R C A e stética vocal no canto popular do Bras il
.~
empostação menos dramática, mais relaxada" (Grava ,1994 :1 1)S9 O peso dos
dois podia ser avaliado pelo Sinatra - Famey Fá-Clube, criado em 1949,
(espécies de jam sessions), freqüentadas por Paulo Moura, Johnny Alf, João
Donato, Luiz Eça, Doris Monteiro e outros." Aos poucos, a vida musical
59 Arigor, a grande influência do estilo de cantar da época deve ser tributada ao cantor norte-americano Bing
Crosby, re ferência vocal de toda uma geração de intérpretes, inclusive de Frank Sinatra. Nos EUA , Crosby,
junto com Billy Holliday, logo percebeu as possibilidades de valorização da emissão da voz, com a invenção do
microfone.
00 Johnny Alf é , com frequência, incluído erroneamente na çera ção criadora da bossa nova , O Que é negado
pelo próprio. Pianista da boat e do Hotel Ptaza, em Cop acab ana . é contratado para tocar na boate Baiuca de
São Paulo , para onde se muda antes inclusive. da eclosão do movimento. no Rio. MAlf costumava exibir seus
conhec imentos de jazz ma s sem pre mantinha em seu repert ório músicas tomadas fam osas nas vozes de Lúcio
Alves e D. Farney. Mais tarde , nos anos 60 , algumas composições antigas de Alf se riam citadas como já sendo
bossa no va . No entanto e ram sambas-can ção com element os de jazz . ricos ha rm onicamente. mas sem
novidades rümicas". (Grava, idem, p. 16).
,- ,
114
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
mitologia grega, estréia no Rio, com várias canções do jovem Tom Jobim e
poucos, vai se urdindo uma nova escuta. Jovens cariocas passam a ouvir com
Telles (Tito Madi também interpreta esta última canção). Com essa nova
novidades, em 1958:
62 Joã o fora convidado por Jobim. Que ia o admirava, para participar do Lp, substituindo Man oel da Conceição.
o Mão de V aca. o violonista preferido de Elizete Ca rdoso.
sa Faixa 17 , Cd 1: Ane xo 1.
115
LATO RRE , M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
está presente, mas no disco de João, há algo a mais: sua voz. Esta, integrada
·- í ao violão, impacta jovens sequiosos de modem idade, como uma lufada
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vivificadora da nossa vida musical, perdida entre samboleros, mambos,
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rumbas, guarânias e versões tidas de gosto duvidoso." Na integração
desses dois vetores, voz e violão, coesos num só ente estético, irrompe a
,
bossa nova. Ela investe-se como o índice musícal mais flagrante de um Brasil
Gilberto, sua mais completa tradução, toma-se uma das referências vocais
música urbana diferente de tudo que existia desde que se formou a música
Nacional". (1997: 58) . Para Joaquim Aguiar, "a bossa nova foi um momento
().( Ca rlos Lyra , em 1957 , compõe Criticando. gravado pelo Os Cariocas , "urna espé cie de pré-Influência do jazz .
só Que condenando a invasão de boleros e rock-baladas na musica brasüeíra'' (Castro , 1990: 154)
65 O plano de metas da gestão do presidente Juscelino Kubístche k sintetizado no slogan cinq üenta anos em
cinco, compreendi a sobretudo : a construçã o de Brasili a, a interiorizaç ão do desenvolvime nto brasileiro a través
de abertura de estradas, a indústria automobilística nacional, a criação da Superintendência do
Des envolvimento do Nordeste (SUDENE). órgão responsá vel para desenvolver a região ma is pobre do pais.
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LATüRR E, M C R C
116
A estética vocal no canto popular do Brasil.
apagar uma tradição arcaizante" (op.cit., p.67). Para Mammi, a bossa nova:
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Numa sugestiva síntese de Júlio Medaglia, o maestro fala da
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revolução estético- musical proposta pelo movimento:
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r
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;;:.~ "Reduzir e concentrar ao máximo os elementos
F poéticos e musicais, [...). Evoluir no sentido de uma música de câmara
adequada à intimidade dos pequenos ambientes, caracteristicos das
zonas urbanas de maior densidade demogràfica. Uma música voltada
para o detalhe, e para uma elaboração mais refinada com base numa
temática extraída do próprio cotidiano: do humor, das aspirações
espirituais e dos problemas da faixa social onde ela tem origem".
(Medaglia, 1978: 78).
um modo de ser, para Luis Tatit, João Gilberto revela até hoje, o objetivo de
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LATO RRE, M C R C A estética vocal no canto p opula r do Bras il.
117
para exercitar uma espécie de canção plena, que tem um pouco de todas e
terceiro timbre de uma única voz. Sua batida original cria pequenas sensações
feito com o dedo polegar, e o ataque não regular dos acordes feitos
'""f:~.,
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Um dos efeitos mais interessantes da síncope musical é sua
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imprevisibilidade . A rotina ritmica, provocada por uma sincope sempre regular,
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acaba por anular o efeito surpresa que se pretende: dai o balanço obtido por
João Gilberto, provocado pelo jogo entre fase e defasagem, conforme ele
próprio reconh ece. "Se colocarmos sempre o acento tónico sobre um mesmo
tempo, fica chato, É preciso sempre imaginar novas entonações para dar mais
vida às palavras." (in Folha de São Paulo, 1989, apud Garcia, op. cit., p.128).
- - ----- - - - -- - - - --- - - -
118
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
marco zero indiscutível da bossa nova, qual seja , como seu princípio bem
definido, esse termo deve ser apreendido em seu sentido duplo: um pouco de
harmânica s que lhe precedem, vindas de Johnny Alf, João Donato, Newton
Mendonça, Tom Jobim , bem como do canto de Mário Reis, Oríando Silva,
Nora Ney, tudo isso adensado num grande salto de qualidade. Segundo
. Wisnick, a tradição musical vinda de Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso,
(Wisnick,1997: 58)
»<:
67Ainda com retaçáo à batida da bossa nova, é importa nte assinalar a contribuição de Milton Banana. Ouvindo
a gravação de Chega de Saudade e Outra Vez, na versão de Ellsete Cardoso, o violão de João Gilberto
executa ainda solitariamente, a sua nova batida. tensionando com o ritmo tradicional do samba-canção dos
demais instrumentos. inclusive , com a bateria de Juca Stockler. A presença da bateria de Milton Banana no Lp
Che ga de Saudade de Jo30 Gilbe rto , iá aponta claramente a inteç ração do se u vlot ão . com o que. no jargão
da música popular brasileira, se de nomina de cozinha , isto é . ° conjunto de instrumentos que compõem a
se çào rttrni ca : bate ria, percussã o , contrabaixo, piano e/ou violão.
119
LATORRE. M C R C A estétic a vocalno canto populardo Brasil.
Marçal, Marino Pinto, Ary Barroso, Geraldo Pereira e Dorival Caymmi, com a
jovem, ouvia muita música, criara grupos vocais com colegas e, aos 14 anos,
desde essa época, já admirava Orlando Silva. "Ele foi o maior cantor do
mundo em sua época. Sabia falar [grifo meu] as fras~s com naturalidade e
apud Mello, op.cil. p. 43). Sua admiração residia sobretudo na liberdade que
68Para se ter uma boa idéia dessa adrn'ração, ba sta escutar a cançã o Ama r é bom, do tempo de eroaner dos
Ga rotos da Lua.
120
LATOR RE, M C R C A estét ica vocal no ca nto popular do Bra sil
João, uns dez dias [no café, almoço e janta]. Carlinhos fez a mesma coisa. [...]
surge nos anos 60, conta que, ainda adolescente, costumava sentar na
primeira fileira dos shows de João Gilberto, para aprender sua batida, graças à
sua facilidade de memorizar as posições dos acordes de seu violão: "não teve
um show de bossa nova que eu não tivesse visto. [...] a gente se juntava e eu ,
mais amplas, com o aproveitamento do arco harmónico com 9as, 11as, e até
05
13 , acordes invertidos e dissonantes (muitos desses usos vinham, na
evidente, mais provocante," (Mello, op, cit., p.38) Grande amante das
69A omissão de notas fundam entais já era um procedimento comum na mús ica erudita. A novidade estava no
seu uso ba stante difundido por João Gilbe rto. na musica popular.
70 Faixa 18 , C0 1: Anexo 1.
71 Essa a tação de Mammi será retomada mais adiante.
H- .
,.--J
~I
~l
I
~l
1
----I
padrão de excelência durante todo um recital: 'Voz e viol ão pre cisam estar
-I
,-J perfeitame nte equilibrado s, audiveis de qualquer ponto, com um retomo
~I
perfeito para sua própria perfo rmance " (Mello p. 59).
---Ii
~I
3
~I
anos. Em pouquíssimo tempo influenciou toda uma geração de
arranjadores, guitarristas, músicos e cantores. Nossa maior
preocupação, neste LP foi que Joãozinho não fosse atrapalhado
~ ! ':.;'
, por arranjos que tirassem sua liberdade, sua natural agilidade, sua
-L maneira natural e intransferível de ser, em suma, sua
~I""
~I espontaneidade. Quando a orquestra o acompanha, a orquestra
também é ele. João Gilberto não subestima a sensibilidade do
povo. Ele acredita que há sempre lugar para uma coisa nova,
diferente e pura que - embora á primeira vista não apareça - pode
se tornar, como dizem na Linguagem especializada: altamente
comercial. Porque o povo compreende o amor, as notas, a
~I simplicidade e a sinceridade. Eu acredito em João Gilberto, porque
~I
'.
I ele é simples, sincero e extraordinariamente musical.
~I ' c_
/""' t ,- Ps- Caymmi também acha .
~r
Antonio Carlos Jobim"
=1.
=t-
r>; I CC
I
tamb ém de efeitos hannônicos. Ao ouvir o piano de Sérgio Ricardo , quando
Conta Sé rgio:
mas cadê a ham10nia que você podia fazer? [lhe indaga Tom].
Tom sentou no piano e mostrou a mesma melodia - eu me lembro
era o Feitiço da Vila - com uma harmonia que ele fazia. Com muita
paciência, ele me mostrou como se encadeavam aqueles acordes
de nonas e décimas primeiras. Fui vendo um mundo novo dentro
da música" (depoimento a José Eduardo H. de Mello, in Mello,
1976: 85)
construído economizava
i ."
n -r-,
"contornos melódicos produzindo o mesmo (ou
maior) efeito emocional das amplas curvas realizadas pelos autores
de samba-canção e das músicas romântícas em geral. Mostrou
ainda, que a harmonia podia sugerir diversas direções - [....] - ao
mesmo encaminhamento melódico, [...]. Veio daí sua adoção dos
acordes dissonantes, então largamente empregados, com outros
objetivos, nos improvisos do jazz norte americano. Tom Jobim,
oomprovando que o sentido da melodia pode ccmplementar-se no
r>; ,,"
r-,
~
I. 124
LATORRE, M C R C A estétic a voca l no canto popuíar do Brasil
~
/""
encadeamento dos acordes, [...] jamais abandonou a condução
harmônica como íonte de sentidos e emoções. (Tatit, in Zero Hora -
25/4/98 ).
para velh as can ções , foi sendo possível criar novas harmonías que dessem
do grand e salto estético dado por João Gilberto. Para o baterista Tião Neto, a
brasileira J2
gênero. "João Gilberto definiu essa batida, muito simples em princípio: ele
apenas sinco pou, fazendo a síncope cair sempre nos mesmos lugares. Ele
regu lamentou , dizendo: é aqu i, aqui e aqu i." (depoimento a Homem de Mello,
rz Depoimento dado por Tlác Neto, em sua palestra sobre a bossa- nova , realizada no Festival de Música de
Londrina , julho de 2 00 0 )
125
LATORRE. Iv\ C R C A esté tice vocal no canto popular do Brasil
fazendo surgir a bos sa nova, "definiu, [...] o que só hav ia sido indicado por
disco Chega de Saudade foi definitivo." (apud Garcia, op .cil. p. 19). Tom Jobim
vê no toque de João Gilberto , seu aporte mais pess oal para deslanchar o
!
f
e.
movimento. Imp ressionado , assim teria indagado: "O que é isso, João?" -
'T irei dos requeb ros das lavadeiras de Juazeiro", [responde João]. (apud
'.
j
~
;' . Castro , 1997:131). Compa rando o samba-canção Outra vez, com Dick
r~;
!, ,~ . Fam ey, Jobim ressalta a interpretação de João Gilberto, onde o canto mantém
f~·
f ~'~
"~:: espaços vazios, com a batida mais solta, e as linhas melódicas se insinuando
~..... ~: .
de vez em quando . "O grande salto do samba-canção para bossa nova foi
. -. -
,....
~
~':.;
essa batid a do João", arremata Jobim. (apud Garcia, id., p. 19).
~~~.
Cont inua Tom : "Eu tinha uma série de sambas-canção de
parceria com Mendo nça mas a chegada de João abriu nova s perspectivas: o
ritmo que o João tro uxe. A parte instrumental, harmônica e melódica, essa já
p.87 )
aponta Wisnick, João Gilberto fez igualm ente, na opinião de seus colegas,
tamborim.
que foi mais simples e maís limpo para se ouvír. [...] Eu acho que
João fez o seguinte: ficou só com os tamborins da esoola de samba
[...] É o troço mais nitido que vocé escuta no meio daquilo tudo"
(depoimento a Homem de MelJ o, op. cit. p. 139).
......,
127
LATO RRE, M C R C A eslélica voca l no cento popula r do Brasil.
tinha muito poder de sintese, sintetizou também a batida do samba". Nos anos .~
e!'
~" viu, o, conjunto indissociável voz/violão, obtendo um novo balanço pelo
.- cumprira o seu papel de publícízar' " a dança afro que ganhara foros de
Sá publiciza os espaços, antes vedados à festa popular, significa Que a mu sica afro-popular deixa os
--l;:., esconde rijos dos esp aços privados , corno a casa da T ia Ciata, e ga nha cidadania, nos lugar es publica s. como
praças e ruas da cida de .
..J.: .,;;.
"f7.
--:1 -
.h-.
129
l ATORRE. M C R C A estética vocal no canto popula r do Bra sil
camerística.
(Tinhorão, apud Garcia, op. cit., p.29) Tudo teria começado com o primeiro
samba canção, Ai, Ioiô (Linda Flor), para uma peça de teatro de revista, em
parte dos músicos que queriam dar um destino diferente à cena musical
7~ Segu ndo levantame nto de Garcia, a obra gravada de Jobirn, entre 1953 -56. contém: oito sambas. uma
marcha, uma toada e 23 sambas-canção. No Lp Cançáo do Amor Demais, temos 6 sambas-canção. o que
seria a um entado pa ra 8. não fosse o violão de João G ilberto a lte rando seu ritmo (Cf. Gar cia. op . cito p. 285). Na
verdade , com toda a alte ra ção advinda da batida diferente do violão de João Gilberto, no 78 rpm Chega de
Saudade. o género assinalado é também samba-canção.
-
,
. 1 : ~. .
.- _~L~
'1'-'-
,-·""
.
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""I
"" I
LATü RRE, MC R C A estétics vocal no canto pop ular do Brasil
130
"" I
j acentuação do tempo forte para a cabeça do compasso, completado pelas
síncopes dos acordes, A manutenção de seu lado dançante, além de seu uso
que começa a se difundir nas casas notumas, nos anos 50, "obviamente
.-'<'
simplicidade da bossa nova esconde, na verdade, uma estilizada sofisticação
passando pelo maxixe, samba batucado (toque no naipe dos tamborins nas
76 Sobre a bras tlelrtnha. v. Andrade (1989), principalmente dois verbet es: max ixe, p. 3 19-320 e sinc opa. p. 475
a 4 77 .
,-
131
LATORRE , M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
'derram ada para dentro ' [grifo meu]". (apud Garcia, op.cit., p. 80)
132
LATORRE. !vi C R C A estética vocal no canto popular do Brasi/_
as
a) harmonia despojada com redução de notas redundantes (ex: "5 que já
dissonantes;
J
samba;
da canção;
f) letra organicamente integrada à melodia, que pode, por sua vez, reiterar o
sensações (Cf. Garcia, op. cit, p. 81s e Medaglia, op. cil. p. 78).78
17 (Castro, 2001 :57.) Essa caractertsttca . apontada por Rui Castro, tem. em contrapartida, o estilo de Noel
Rosa . cuja s letras prim avam por narra r tram as com principio, meio e fim .
133
LATORRE, M C R C A esté tica voca l no can to popular do Brasil
Gilb erto, enfo cando sua grande contribuição para uma nova conduta vocal.
auto-defin ia. Assim João Gilberto seria uma versão tardia de Mário Reis, cuja
partindo das mesmas afinidades apontadas entre os dois , estab elece, porém,
procura compatibil izá-Ia com a estrutura musical, co m ace ntos bem marcados
e com pequen as articula ções, quase em cada silaba, "com o golpes de palheta
"
18 Qua nto a essa última característica, levada a certas situações-limite por João Gilberto, encontramos no
,~ se miólogo e músico Luís Tatit. o seu observa dor mais ate nto. (V .Tatit, 1996)
•
í
1
,--,
,--,
,--,
,--,
13 4
LATORRE, M C R C A estática voca l no canto popular do Brasil.
~
»<:
,--,
Reis em João Gilberto estaria justamente nessa precisão milimétrica. No resto,
•
Contudo, é igualmente importante que se enfatize o mesmo
que foi dito para Mário. Não procede a afirmação de que os dois só se
pode ser um dado extra-musical importante para viabilizar uma escolha, como
de fato ocorreu com Mário Reis e João Gilberto, porém , jamais como causa
discreto, sem vibratos e de volume contido foi uma opção estética, e não
79
causado por limitações de emissão da VOZ .
como Mário Reis, soube tirar partido do microfone para realçar sua opção
H Garcia lembra muito bem que na atual produção do cancioneiro popular comercial , grupos de música pop e o
rock procuram tirar part ido de todo o de senvolvimento tecnológico da paratemàlia eletrónica para perf orrnances
Que at ingem com tre qüêncta a níveis insuportáveis de audição.
LATORRE , M C R C A estética voca l no canto pop ular do Brasil.
135
opção pelo cant o-falado, curto e sussurrante, do ponto de vista acústico , não
fomecia nem tempo nem espaço suficie ntes para vozes possantes, fermatas
alongadas e vibratos.
Ou, como afirma Ruy Castro, "se cantasse mais baixo, sem
tempo. Para isto, teria de mudar a maneira de emitir, usan do mai s o nariz do
império do estilo daqu ele que considerava o maior cantor de sua época .
Segund o Grava, o prim eiro di sco solo de João Gilberto, de 1952, "lembrava
Orl ando Silva na sua g rande fas e: os vibratos, a em issão , o tim bre e, inclusive,
; ""'.,
l::
~:,
-----------===~----- ~
136
LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
não foi este, como se viu, o fatar determinante de sua opção, e sim as
...:... numa interpretação. Sua canção flui sem proeminência de elementos. apenas
sob certa relevância de uma voz que emite cada sílaba ou palavra, sem
claro e delicado. com uma dicção impecável. Assim, cada fonema, cada
para João rejeitar a canção ou, [00 ')' praticar sua censura estética, eliminando
emissão precisa das notas, não importa se na região grave ou aguda. Quando
nos passa a impressão que não vai conseguir atingir uma determinada nota
mais grave, nos surpreende pela clareza e inteireza como a emite, usando do
->.
daquela notória admiração pelo cantor Orlando Silva, refere-se à sua liberdade
esse analista, "a variação das inflexões da voz [de João Gilberto] cria a ilusão
,
to
80 Lembre-se da frase do maestro Migfiori, sobre a liberdade rltrruca de Orlando Silva : "N ão se preocupem com
L-
i a divisão de Orlando. ele se atrasa e se adianta às vezes, mas ao final chega junto com a gen te".
~.
r
f
I
L ·
138
LATORRE , M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
João Gilberto enfatiza vários traços de sua estética vocal. "Eu estava então
nos apresenta uma excelente síntese de suas caracteristicas vocais , por nós
,
'-". analisadas, contorme vemos nesta citação :
um pouco a frase e fazer com que caibam duas ou mais num ;.-.
compasso fixo.[...] Geralmente o cantor se preocupa com a voz
emitida da garganta e sobe muito, deixando o violão - ou qualquer
outro instrumento [...] - falando sozinho lá embaixo. É preciso que o
,.
-r-,
som da voz encaixe bem no do violão, com a precisão de um golpe
de caratê, e a letra não perca sua coerência poética. [Dr. Pedro
Bloch] me ensinou a usar a respiração de uma forma que não
interferisse na pronúncia das palavras. Cada letra, inclusive,
conforme pronunciada, usando mais a garganta ou o nariz, pode
dar um efeito diferente dentro da música". (apud Mello, 2001: 47)
como um ca nto r m odemo. Mas sua gravação de Outra Ve~2, em 1954, deixa
emitida, uma vez que a palavra já fora dita" 83 (Mello, 200 1: 51).
c
14 1
LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popu lar do Brasil
irrelevantes .
f
•
cujo fraseado é circular [idem], mantendo portanto a mesma
distância em relação ao centro, não variando nunca. não se
afastando nem se aproximando (Mello, 200 1: 51)
,.
No cotejo de dois discos contempo râneos iCençõo do amor
acom panhamento .
-~
r-.
•
\
142
,-. LATOR RE, iJ. C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
r-.
,-. recua, convidando seus acompanhantes a compor junto com sua
~
voz uma só linha de frente. Assim, compete à engenharia de som
'"' bossa nova equilibrar todos esses elementos da obra, reduzidos
r-.
que estão, cada um, à sua forma essencial. Para tanto, a gravação
~
~
(Garcia, op. cit., p.1 22).
~
,-.
~ exemplos.
r-.
,-.
nesse disco é de embasbacar. [...] Em várias faixas, o trio João-
Caetano-GiI canta em unissono, mais parecendo uma dobra da
'"'
~
mesma voz; nos solos de cada um, o estilo sem vibrato de João é
dominador, e, se Caetano deixa escapar um falsete (em Bahia com
I H), o resultado é como se João cantasse pelas vozes dos dois"
'"'
~
(Mello, op. cit. p. 70).
'"'
Jobim e V inicius".(op. cit. p. 78) Além destes, surge ainda uma legião de
novos inté rpretes co mo Carlos Lyra, Roberto Menescal , Flora Purim (antes da
ida para os EU A), Nara Leão, As trud Gilberto , Claud ete Soares, e tanto s
'.1.
' t-·--------------~~=======~----
·
143
LATORRE, M C R C A estética vocal no cerno popular do Bra sil
outros. Pouco mais tarde, surgem Edu Lobo, Chico Buarque, Geraldo Vandré,
Marcos Vale, W anda Sá, Dori Caymmi e outros. Por outra parte, Medaglia ,
~.
assinala ainda que "cantores com recursos, como Agostinho dos Santos, ou
~enti m enta l i smo e potência vocal, porém demonstrando tendência para o uso
(Tom Jobim ) e Prima vera (Carlos Lyra e Vinicius), são dois exemplos
[
r
li.- ------ -- - -~ == === = = - - - - - -- ~.
1
I
LA TORR E . M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
144
inaugura um novo parâmetro de voz, como João Gilberto faria" (op. citop. 84).
estilo de João Gilberto. Gal Costa, em show dedicado a Tom Jobim, antes de
ainda na Bahia, ouvi pela primeira vez João Gilberto. Na época, eu ouvia
muito Angela Maria e Dalva de Oliveira, mas, ao ouvir João Gilberto, tomei-me
dando espaço para uma voz falada é mais sussurrante. Essa nova maneira
que , até hoje, serve como referência para o estudo sobre o canto popular. Eis
85Gal Costa deu essa declaração, no teatro do SES CNila Mariana . em 20/04/20 02 , onde afirma enfaticamente
dura nte varias vezes Que se tom ou uma cantora moderna graças a João Gilbe rto.
14 5
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
Gilberto. Além de sua admiração por Orlando Silva, João diz ter uma outra
público, a importância para ele próprio do estilo interpretativo que Nora Ney
introduziu na mú sica popular dos anos 50, vista como a primeira cantora
importante do estilo de Nora Ney, por vir de uma cantora participante desde as
"Nora Ney canta ' sem vibrato. É uma das artistas ma is revolucionárias deste
pais. (in Amiga , junho de 1989 apud Lenharo, op.cit., p.11 1).
e-:
.~
146
LATORRE , lví C R C A estética vocal no canto populardo Brasil.
parte desta dissertação que se ocupa dos fundamentos teóri cos da proposta
, '.
14 7
LATORR E, M C R C A estética vocal no can to pop ula r do Brasil.
Capítulo 3
se, com isso, sedimentar o trabalho que vem sendo desenvolvido com alunos
díssertação.
, 148
~ l LATORRE , M C R C A estética vocal no canto pooutsr do Brasil
", I
3. t. Pressupostos teóri co-metodológicos
67 O ptou-se, na maioria das vezes, por escrever música popular brasileira , por extenso e não MP8 , para
de signar a moderna musica popular urbana Que começa a ser fixada "na virada do século XX. A construção da
sigla MPB stncto sensu, é datada historicamente. em fins da década de 6D. para se referir a uma entidade
musical fixada naquele momento histórico. passando depois a adquirir um lacto sensu, para se referir à
mode rna música popular em ge ral, indepe ndente de periodos. Para uma análise mais aprofundada sobre °
tem a , ver E ugênio, 1998, morme nte a Introdução A ~ MP B " como problema histórico" pago 1 à pago6.
ee A exemplo do Prêmio Visa de MPS - EdiçãOVo cal, de 1999 , realizado pela Rádio Eldorado de Sã o Paulo
149
LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
das vogais nas finalizações das palavras e frases, chegando a alterar a dicção
89 Ao adaptar o hinário cristão do colonizador branco. do repe rtório tradicional do coral luterano a 4 vozes, os
escravos, nos EUA, "bemolizavam" a 3a e a r, para dar conta dos choques harmõnicos das escalas
pentatônicas africanas com a tonalidade européia , misturando escalas modais com harmonias tonais (dai a
esca la blue e as blue notes) , originando um tipo de música religiosa chamada negro spiritual, ou spiritual. O
gospe I(ev ange lho) é a continuação moderna (a partir dos anos 30) das práticas corais do spiritual, de le se
distinguindo, por possuir autoria conhecida, a partir de temas blbücos, e não mais de in terpreta ções de cânticos
de domin io público. Apesa r de suas origens religiosas, ele inspira gê neros profanos, como a soul music e o
estilo churchy, do inglês church (igreja), a grande esco la de conside rável núme ro de cantores negros norte-
americanos, e ncarnada , por exemplo, nas condutas voca is dos cantores Ray Cha rles e Aretha Franklin.
150
LATOR RE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
Femando Carva lhaes Dua rte, têm mostrado a importância da fala coloquial
mesmo tempo contínu a, articulada, tensa e natura l, que exige um perman ente
---l toma canção pop ular qua ndo se reconhece nela situações cotidianas de fala",
~
I ~·
explicita a impo rtância desse estatuto popu lar ta mbém na entoação mais
,-J "
~I adequada por um intérprete:
,-J '
~I
"Quando perguntamos alguma coisa a alguém,
-I
imediatamente a melodia da nossa fala (entonação) busca as
~r
regiões mais agudas e isso também ocorre na melodia da canção
~l
~.
I popular. Experimente perguntar a alguém: Você j á foi a Bahia?
~ . Agora lembre da canção de Dorival Caymmi: " Você j á foi á Bahia,
,1: nega? Não ?! Então vá". Repare que, enquanto a letra da canção
..J. está nos dominios da interrogação, a melodia busca a região
r 'I "
aguda e, tal qual na fala cotidiana, quando emite uma afirmação
(então vá ), a melodia busca a região grave. Esse recurso, entre
outros, faz com que o ouvinte reconheça situaçõesde fala cotidiana
na canção". (Coelho, Canção cancioneiro e cancionista e-mail
marciocoelho@computer.com.br)
,.-t~ /
».
"r
I
,
15 1
LATORRE . M C R C A esté tica voce! no can to popular do Bra sil
(1994:89).
90 Por qualidade voca l, os autores entende m como o "termo atua lmente empregado para designar o conjunto
de características que identificam uma voz humana . Ela se relaciona à cornpostçào dos harm ônicos. da onda
sonora , á impressão total criada por uma voz". (Behlau e Zieme r. 1988:74 ). Quanto aos inúmero s parâmetros
dlferenciadore s da qualidade vocal, passíveis de análise, os autores apontam dez: respira ção , altura vocal,
extensão vocal, registres, intensidade, ressonância, articulação. pathos, maneirismo e mensmes. ( v. Behlau,
Zieme r. op. cit . p.75 )
_ ..-- - .-
-r--,
r>:
~
1 152
~ LA T ORRE , 11'1 C R C A estética vocal no canto popu lar do Brasil
-r-;
na tradição musical brasileira, o que contribui para a adoção de estereótipos, e
~
conseqüente ausência de exploração vocal e interpretação mais pessoal.
~
r>; ~
primeiro passo, a ampliação do universo cultural do aluno. por meio da escuta
~~
das interpretações realizadas pelos alunos, Com tal procedimento, foi possível
condutas vocais, por parte dos alunos, visto que esse exercício propicia o
,,.~
I Essa incursão nas diferentes épocas do modemo canto
.,.
II LATOR RE. M C R C A estética vocal no canto popula r do Brasil
154
críticas ." Adomo tem na indústria cultural,92 uma das categorias centrais mais
L
L
A questão da estandardização da escuta e a crise da experiência estética aí
brasileira.
"'o
g\ Elaboradas em fins dos anos 30. as análises mais representativas do pensamento adomiano acerca da
esc uta estand ardizada. enco ntram-se nos seguint es ensa ios: "Üb er Jazz" Sobre o Jazz (1936/37), Sobre a
Música Popular, e Sobre o Fetichismo na Música e a Regressão da Audição (1938), tornando-se este último,
uma referência dá ssica para o estudo da questão. Os doi s últimos ensaios acham-se respectivamente
traduzidos na coleção G rand es Cientistas Sociais. da Editora Ática 1986, e Os Pensa dores da Abril Cultural.
1978.
92Na verdade . a express ão industria cultural s6 ser á cunhada por vol ta de 1947. Quando Adorno e Max
Horkheírner, ou tro pensa dor da chama da Escola de Frankfurt, publicam Dia/ética do Esclarecimento.
sa V. Eco, 1976
g. Tomou-se fam osa sua di vergência com Walter Benjamim. quando este escreveu o ens aio sob re A Obra de
A rte na t=poca de sua Rep rodutibilidade Técnica. em 1936. con testada por A dorno. no ensaio Sobre o
Fetichismo na Música e a Regressão da Audição, em 1938. Ao contrá rio de Adorno, no ensa io de Benjamim,
percebe-se uma infl exão em su a concepção de arte, pela acei tação mais matizada das possibilidades
es téticas, em produtos advindos de mei os técnicos de reprodução, portant o uma co ncepção de arte
desauratizada, a exem plo do cinema. A aura representa o hic et nun c da obra de arte. seu aqui e agora, sua
autenticidade e unic idade. Poder ia defini-Ia como a apariç ão única de algo distante, por mais próximo que
-tL- esteja. Ass im, a presença úni ca de uma obra de arte da-lhe o estatuto de autêntica . Estar-se-ia assistindo ao
decllnlc da arte autênt ica ou à morte de uma certa co ncepção de arte ? Sua resp osta ultrapassa ria os limites
--l2 desta disserta ção .
155
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
sentido mus ical de um tema se realiza na sua articulação com o todo da obra,
156
~ LATO RRE . IvI C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
~
»<;
estética. Já na música popular, o efeito obtido de sua audição é o de uma não-
~
120).
anos 60, dad os da própria indústria cultural, bem como dialogar com
-- I· ~
___ I"'''
I ,
->, .• t ~~
~
r l
I
__ L~ _
,
157
LATORRE . M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
,.,
diferentes estéticas musicais, como fonte de inspiração da inventividade de
Wisnick, 97:62)
tenham se cumprido , por motivos que escapam aos limites analiticos desta
.r'
I
um modo de vida.9 5
:: 1.' ouvir, analisar, classificar, comparar, imitar, ampliar o leque, e ouvir o silêncio.
~, I - O silêncio subjaz a todas as músicas. Ele é condição de possibilidade do
:"1' .i
aflorar de qualquer som.
~ I. '
~i
I
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r·L· .
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! . ~ Palestra feita por Wisnick, em 1999 . na escola de musica, Espaço Musica l loca lizada em Sã o Paul o.
t· '
~f :~'
rI LATüRR E, M C R C A estética voca l no ca nto popular do Bra sil.
159
. -
partir de Marcel Proust, que tinha na música, sua arte predileta. Segundo este
seja , a educação mus ical, construída dessa maneira, teria o propósito de tirar
mod ema música pop ular, por distingui-Ia do que se convencionou chamar de
música trad iciona l folclóri ca. Pode- se aponta r como elementos definidores da
contrário , foi fator de estimul o para a sua pulsão criativa . Assim ocorreu na
bossa nova, no tropicalismo, e ainda ocorre oom certo tipo de criação que
se o prof. Roberto Gnattaf traça um sugestivo quadro comparativo entre a chamada musica folclórica
tradicional e a música popular urbana, distinguindo-as justamente com alguns dos traços acima apontados. (V .
História, Leitura e Escrita da MPB, Curso do 20° Festival de Londrina, julho de 2000).
16 1
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
mangue beat, nos anos 90. Esse movimento musical pemambucano, liderado
pelo músico Chico Science, morto precocemente, tinha como princípio básico,
lidar com o fator mercado, bem como sabendo tirar partido dos avanços
162
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
muitas vezes, o intérprete descobre coisas que, embora estejam lá, não foram
oculto entre o dito e o não dito. Costuma-se dizer comumente que interpretar é
que "a função do intérprete popular é fazer aquilo que o com positor deixou de
97 Edição etetrônlca do Dicionário de Língua Portuguesa: Novo Aurélio século XX I. Ed. Nova Fronteira, versão
3.0 .
98Luis Tatit, in Sermnàric sobre Met odologia da Pes quisa Musical, realizado no Instituto de Artes da Ifrucarnp.
13 /0S/2001 l.
99 Apud Marcio Coelho, entrevista para Cançã o Cancioneiro e Cancionistas.
.~
.e--,
I
163 »<:
LATORRE, Ivl C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
reflexão.
uma canção. Nessa obra, Eco discorre acerca da oposição entre os enfoques
100 A frase de Murray Scbafe r. aqui retirada do seu contexto. refere-se às mensagens emitidas em Côdigo
Morse pelos instrumentos musica is. em seu trabalho composicional Pátria L (Cf. Pon terraõa. op . cít. p. 10 )
164
LATORRE, M C R C A esté tice vocal no canto popular do Brasil
autoria; com tênue distinção entre quem cria e quem canta, visto não
existir ainda uma especialização profissional entre eles, dai ser mais
10 \ A oennçao mati zada en tre cantor e intérprete aqui feita. é fruto de uma escolha arbitr ada por um objetivo
operacion al c id átíco. vi sando 13 0 somente demarcar um tipo de ativid ade artística. ou seja . a ação de cantar
em práticas m usicais distin tas. Com isso. busca-se distinguir entre um tipo de música feita comunalmente e
transm itida por tradição oral, e uma musica popular come rcial, gravada e difundi da co m fin s lucrativos, definida
pela divisão social do trabalho cultural. A rigor, a noção de ca ntor e int érprete ac aba , na prática, por se fundir.
a termo qu e talvez m elhor tradu z a idéia diferenciada do intérprete, que aqui se busca . é o termo cantador,
retirado do universo m usica l nordes tino, para desig nar o artista popular que canta seus próprios repentes, onde
ele e o pub lico Que aprecia sua arte, partilham de um a comunidade de interesses e val ores es tétic os .
XT
166
LATORRE, M C R C A estética VOCâ! no canto popular do Brasil
~
I
presença de um terceiro que faz a mediação estética entre o criador
-1
~l e o consumidor que é o intémrete, sendo este a primeira referência
r-l
de conduta vocal da modema música popular brasileira;
------~=
. - .=
. =-=-= = -'=-- ---'-- ---'-- - -
167
LAT ORRE . M C R C A estética vocal no canto popular do Bra sil
estão construídos esses parâmetros, segue-se uma breve descrição que mais
,r
r. freqüentemente serão encontrados neste trabalho:
r--
~
1
I
I
I
~
i 168
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular áo Brasil
~
~
II
»<:
o canto p ro longado: caracteriza-se pelas frases produzidas em uma
~
~
arco contínuo de sustentação, o legato, pela emissão estendida das
~
~
vogais com o recurso do vibrato, e pelo uso de rub ato. Encontra-se a
~
Caldas e Orlando Silva;
~
~
• canto brejeiro: caracteriza-se pela intenção lúdica. leve e/ou
~
sensual e maliciosa. às vezes explorando o sentido dúbio de
102 Segundo Miranda, a síncope do moderno samba urbano foi adquirida pela "flutuação provocada pelo
balanço entre o tempo fraco prolongad o pela [nota de) antecipação e o tempo forte" , sublimando "uma leve
sensação de vaz io espacial, exigindo seu preenchimento pelo movimento do corpo que, a um só tempo, dança
e caminha", (20 01:127). Dito de outra forma, a síncope. insurgindo-se contra a previsibilidade do tempo,
funciona como efeito surpresa, tendo como resultado, um balanço mais flexível e plástico na integração da
melodia e ritmo, encontrado neste samba sincopado, diferenciando-o dos samba s amaxixaõos da década de
20, que tinha em Stnhó. um de seus mais prolíficos criadores.
T LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
169
103
• canto exaltação: caracteriza-se pelo uso de dinâmica vocal
Gilberto.
IOJ Dinâmica: "ç raduaç ão dos níveis de intensidade dos sons, durante a execução de um tre cho musical, por
meio de nuanças Que vão do fortí ssim o ao pianlssimc . Quer em progre ssâo mais ou menos lenta, quer em
oposição brusca" (V erbete: Edição etet rônica do Dic ionário Novo Aurélio século XX I ).
1~ Voz falada : "a ressonância geralmente méd ia, em condiç ões naturais do trato vocal, sem uso particular de
alguma cavidade , não necessita ndo a voz de grande projeçã o. A intensidade habitual situa-se ao redor de 64 .
dB [decibéis] para a co nversa ção, mantendo-se relativamente constante o discurso", (Behlau e Rehder, 1997:
8)
170
LATORRE, M C R C A e stética voca l no canto popu lar do Bras il
geração acima exposta dão suporte à proposta, para que cada aluno/cantor,
,.
"""
1:(
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u,
,I., .
"
Á.'"
r LATORRE. M C R C A estética vocet no canto popular do Brasil.
17 1
Capítulo 4
"Esses gra ndes intérpretes [da MPBJ são a nossa escola , a escola do canto
popular, e nunca vão deixar de ser, da mesma mane ira que Cstuso ou Maria Cal/as foram e
serão eternos mestres do canto lirico"
(Clara Sandroni).
dissertação.
l .-
r-
~
~f
----1
~ 172
LATO RRE, M C R C A esté tica vocal no canto popular do Bra sil.
~
-i
termo método, ou seja, do grego metha + adas, a cam inho perconido para se
""' que a mesma preocupação é partilhada por várias pessoas (professores elou
""'
~
cantores), conforme atestam os encontros e seminários dedicados ao terna.l'".
......,
bem como algumas iniciativas surgidas em livros que se ocupam do ensino de
~
105 Um dos encont ros onde o tema da carência de uma escola do canto popular foi exaustivamente debatido foi
o Encontro Nacional de M PB Vocal, coordenado pelo maestro Marcos Leite, realizado por ocasião da IX
O ficina de M úsica Pop ular, em C urttib a , janeiro de 2001 .
~1
·
... { ~
173
LATO RRE. M C R C A estética vocal no ca nto popu lar do Bras il.
conforme pode, por exemplo, ser visto neste depoimento da cantora Mônica
Salmaso .
presente proposta . Insp irando-se na observação de Mônica Salm aso; pod e-se
dizer que faz parte da tradição brasileira não cuidar da sua própria tradição. Ao
contrário do que ocorre no Brasil, nos EUA, por exemplo , qualqu er expressão
mus ical mais consistente, vinda do povo, desde o blues ou o jazz da virada do
canto popu lar no Brasil e sua existência nos EUA), aqui, professores de canto
Brasil, merecem destaque duas obras saídas recentemente: Por Todo Canto,
- - - - - - - - - iiiIIiiiiiílliiiilil._;;."
,-.
,
175
LATORRE. M C R C A estética vocal no can to popular do Brasil.
musicais brasileiros, apontam afin idades co nce ituais e pedagógi cas com o
1972 ), ten do sido acompanhada por Rudolf Steiner (de 1912 a 1924 ). A pa rtir
l
· ~~·
.--.. -.
r-. Í!
" •
176
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
possível com o estudo sistemático dessa escola. Por isso, a presente proposta
de canto.
100 Doutrina espiritual e mística que teve sua origem na teosofia e que se baseia , principalmente. nos
ensinamentos de Rud olf Steiner (1861- 1925), filósofo austríaco. (Verb ete : Edição eletrônica do Dicionário Novo
Aurélio século XXI ).
10 7 Vo ltar-se-á ao Ca nto Werbeck, por ocasião da análise de um dos exercícios desse método de ensino de
canto .
~ J
r> j
" J, A estética vocal n o canto popular do Brasil.
177
LATORRE, M C R C
r>í
=1
~
4.2. Perfi l de duas instit uições de ensino do canto popu lar do
Brasi l.
r>
~
~
o curso de Música Popular do Departamento de Música do
~.
~
qualidade do ensino".
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~
~
brasileiro. As vagas para canto popular são preenchidas, na verdade; por
r--
alunos pertencentes. em sua maioria, aos extratos da classe média do interior
"
do Estado de São Paulo.
I
178
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
Por se tratar de curso superior, seu acesso se faz mediante exame vestibular,
oferta de vagas é de três para dois a seis candidatos. Após essa etapa, os
instituição.
-,
,
- - - - - - - - -- - - . :r-
»<:
"
r-.
17 9
,.."
LATOR RE , lvi C R C A estética voca l no can to popular do Brasil
»<:
~
entre 1999 e 2001, na Unicamp, já contavam com uma experiência
da ULM:
,.." profissionais. Isso certamente explica a grande procura do curso que, apesar
,.."
~
de oferecer, em média, apenas 30 vagas, recebe anualmente, cerca de 1.500
"'~ -
,.."
"
.,<.,'
»<: ~.
e.
180
LATORRE. M C R C A estética vccet no canto popular do Brasil
ser ouvida pelos professores do Oepto. de Canto Popular. Após essa triagem,
são escolhidos cerca de cinco candidatos por vaga ofertada, para uma
departamento de Canto Popular, desde 1991 , foi possível elaborar, junto com
pela facilidade de produzir som, via de regra, entra muito ansioso no curso,
»<:
~
retirar toda sonoridade possivel. Geralmente, a voz não é considerada e
~
~
tratada como um instrumento em formaç ão, que necessita de cuidados,
~ ,
"", respeitando seu processo de desenvolvimento a médio e longo prazo.
~
»<.
busca aulas de canto popular, é que ele procura resolver problemas pontuais,
=
182
LATOR RE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
traba lho, tais como banda s de bailes, conjuntos de eve ntos, estúdios de
performance , impostas pelo contratante e pelo mercado. Isso faz com que
natural.
-- 1
~
l
LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do eresu 183
~ l
" I.
~
Nessas práticas, via de regra, o trato da voz costuma ser desenvolvido com
I
exercícios técnicos, como os de percepção das zonas de ressonância,
Como resultado, tal prática, que dá prioridade aos exercícios de técnica vocal,
~
traduza e expresse outras esferas e dimensões da cultura donde emergem as
"
~
práticas musicais do povo brasileiro.
~
Esses perfis constituíram-se numa razão muíto ímportante
~ ,.
~
para se buscar procedimentos metodológicos mais abrangentes, premissa
~
~
básica que preside a presente proposta pedagógica de ensino do canto
~
~
popular do Brasil.
»<;
feita na primeira aula, pelo diálogo estabelecido em sala. onde cada um expõe
aluno. Com ele, buscam-se infonnações tais como idade, grau de instrução do
partir dai, é passivei inferir a idéia que aluno tem do fazer artístico. a arte em
lC>11 Anexo 2
185
LA TORRE. fvI C R C A estética vocal no can to popular do Bra sil
~
importando o gênero musical emque estão habituados a cantar. Por exemplo,
~
~
;. o uso indiscriminado de vibrato e do som anasalado, soando como "vício"
»<:
~
vocal, aparece tanto no aluno com prática de coro de Igreja Evangélica, de
~
r'·,
,. música pop, principalmente norte-americana, bem como no aluno habituado a
~
:~
-">,
, interpretar música sertaneja. A despeito dessas condutas padronizados, é
~
~
possível também observar as peculiaridades de cada um, sinalizando
~
~
interpretativos. Na medida que ele esteja preso aum modelo mimético, sem
experimento, de inicio, cantar com ele. Sentindo-o mais solto e seguro para se
expor, deixo de cantar algumas frases, para poder ouvi-lo melhor. Faço com
voz reage, nas diferentes regiões de emissão. Esse exercício também permite .~
habituados a cantar.
se este processo como continuo na vida do. artista, prosseguindo para além
do tempo do curso.
r~
----"---.;."--~---'-----------------
~.
187
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
capacidade de cantar.
,~
r-c:
!
188
~
i LATORRE, M C R C A esté tica vocal no canto popular do Brasil
I
I·
Jelen, op. clt., p.90).
I
Conseqüentemente, deve-se trabalhar de preferência com as
I I
poderem responder a todas as intenções da respiração e serem capazes de
I
: ,-
(Werbeck, 2001:149)
r-
.
~
fundamental importância perceber que, na prática do canto, esse processo
nada tem de especial. Ele é tão normal quanto em outras práticas do dia a dia,
143).
~
!
•
LATORRE, !vi C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
189
r-
I
,~
~ Il pernas, Visa-se com isso, que ele perceba que a postura corporal deve estar
~
papel primo rdial na fisiologia do processo respiratório, atuando diretamente
~
rr>. cantado , com altura e ritmo definidos, para evitar que o foco de observa ção do
»<;
rr-,
exercício do processo respiratório seja a respiração em si mesma, o que a
~
tomaria mecânica , perdendo sua função integrada a um todo orgânico. Assim
da produ ção da voz cantada, é dada pela articulação do aparelho motor com o
ressonà ncla.l'"
------_._-- .
. ~
190
LATORR E, M C R C A estétice vocal no canto popular do Brasil_
Exercidos para percepção e cons tru ção elo caminho e realizaç ão do som
som, pelo fato dele ser "o próprio ar e som em movimento" conforme a
ser retirado de trechos do repertório a ser trabalhado. Com isso, o aluno pode
experiência direta como professora de canto popular, o qual ajuizo ser um dos
mais importantes. Com ele, pude perceber e construir uma concepção mais
110 Anexo 3. "cir culação desom" , "melodia do palp ite infeliz com erre". "T odos. Palpite Infeliz com letra",
.~-
~ . ,. ,~ .,
~ , 19 1
LATORRE , IV, C R C A es tética. vocal no cant o popular do Brasil
I;
~
~
t
t
',- refere-se ao entendimento que cada aluno pode ter da letra, visando com isso
t
~
~
:;
a importância da escuta de épocas.
~
,~
~
semanticidade da letra.
impulso temático básico que norteia a criação composicional para realizar uma
pergunta -se conc retamente ao aluno: qual a história que a canção conta?
identificado, ° que é feito pela análise do sentido da letra. Assim, por exemplo,
1
I
I 192
{ LATORR E, M C R C A estética vocal no ca nto popu lar do Brasil.
I E não acredito que haja muamb a I Que possa fazer eu gostar de você
Ser estrela é bem fácil I Sair do Estácio é quelO " x" do problema
Pra ser rainha de um grande palácio I E dar um banquete uma vez por
semana
I·
Uma das possíveis leituras do motivo condutor dessa canção
urbano, onde nasceu a primeira escola de samba , a Deixa Falar; ele era
também identificado como o bairro de "gente bamba", turm a que passou a ser
conhec ida como os bambas do Estácio. Cump re ainda dizer que vários bairros
r:
""',
~ ,
LATORRE. M C R C A estética vocal no can to popular do Brasil
193
;
.........
,
~
""'I
~l
! era um motivo condutorrecorrente de suas criações, a exemplo de Vila Isabel,
~l
~ { Lapa, Salgueiro, Mangueira, Pavuna, e outros.
r- i
o sentido da letra oonta a história de uma personagem
samba. Convidada por alguém, que tenta seduzi-Ia para sair do EstáGio, com
dar um banqu ete uma vez por semana, morando talvez em Copacabana,
incapaz de deixar o bairro, devido aos fortes vínculos com sua cultura e
r-.
195
LATO RRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
anterior.
---------- -~- -
196
LATO RRE, M C R C A e stética vocal no canto popular do Brasil.
\
amplo do que o contido na sua letra. Ao perceber uma riqueza maior de
percebido por cada intérprete, poderá trazer nuances na sua qualidade vocal,
Dessa forma, o aluno pode adensar na sua voz, uma expressão impregnada
111 Páthos: do grego. "Paixã o ou se ntimento: emoção , aquilo que se sente: aquilo que se sofre ânimo agitado
por circunstâncias exteriores; perturbação do ânimo causada por uma aç ão externa ou por um agente
externo]...l" (Chaul. 2002:508)
,
'"
19 7
LATOR RE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
insuficiente para dar conta de toda a riqueza do processo realizado pelo aluno,
ao ter um modelo de conduta vocal, pois, no próprio ato de imitar, ele traz os
serviço de uma estética que, por sua vez, encontra-se referenciada por um
Brasil.
duas instituições onde esta proposta de ensino vem sendo aplicada. Além
198
LATORRE, M C R C A est étice vocal no canto populardo Bras il
.r-;
deles, aqui analisados de forma mais detalhada, outros exe mplos são também
r>
ilustrados em cd-rem e cd, em anexo.
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r
,»r-
,.
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- .
.~.
199
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
Capítulo 5
pa u lis ta. Estu dou t éc nica vocal , iniciação em teoria musical, violão
popul ar e guita rra , co m pro fesso res pa rticu lares de sua cidad e nata l.
...f
.-1;,
r
f
t
200
LATORRE. M C R C A estética vocal no can to popula r do Brasil
Horta, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Almir Sater, Naná Vasconcelos, Djavan,
i
r
Purim, AI Jarreau e Lokua Kansa. Ao pedir sua opinião sobre ao atual estádio
importantes que foram incorporados à sua prática musical, o que pode ser
I!
!
retomei o aspecto da fala na canção. Retomei meu contato com os textos da
canção, com a dicção do cantor e tomei ciência do parlame nto enquanto efeito
vocal".
cais, cais, saiu da estética dos Demônios da Garoa, sendo apossado por
muitos, tanto nas introduções como nas codas do samba paulista. Rodrigo,
112 Ane xo 4
Mlit)ff
f'
r
r~
rr
, ~
LATORRE. M C R C A e stética vocal no canto popular do Brasil.
202
1-·
•I próximo a essa memória, reinterpreta na contemporaneidade, essa marca do
I gênero.
.-
dificuldade, pois normalmente não usa vibrato nas suas interpretações e nem
mudar o timbre, e desfazer a idéia que tinha do vibrato apenas como recurso
113 Anexo 4
203
LA TO R R E. 1'<1 C R C A es tética vocal no canto popula r do Bra sil
Moça, interpretando MPB, com arranjos feitos para essas formações. Como
204
LATORR E , M C R C A estética vocal no can to pop ular do Brasil
Uliana diz gostar de uma gama diversificada de cantores que vai desde a
Shankar, passando pelos clássicos da MPB, como Tom Jobim , Chico Buarque
como Brahm s, Debussy e Ravel. Quanto aos gêneros, decla ra ouvir e gostar
o rock nacional. Sobre a atual música brasileira, reconh ece ser dificil definir o
r'
20 5
r--; LA TOR RE, M C R C A estética vocet no canto p opular do Brasi!
r-
r- parece que quer dar mais sinais de vida, e ai eu vejo algumas
r-
"
r--; Uliana pesq uisou, dura nte o curso, as várias condutas voca is
'" dos intérpretes do repertório de Noel Rosa, expe rime ntando as interp retações
~,
r>;
calcadas em A racy de Almeida e Lam artine Babo. A importáncia desse
"
»<
procedimento pedagógico pode ser avaliada pelo seu próprio depoimento:
r-
~
"Acho que o fundamental nessa aula é ouvir
~
bastante e praticar análises também. [...] Objetivar urna
~ determinada época e um compositor, como foi feito, eu acho isso
,....,
Re ferênc ia de interpretação: Aracy de Almeida, gravação de Século do
~
,...., 11 4 Anexo 4
~
1\ 5 "O samba - [...] - tinha um endereço certo: o compos itor Zé Pretinho , agress or de Noel Rosa. quando este
foi recla ma r contra o fa to de te rem omitid o o se u nome na e dição do sa mba Tenh o raiva de quem sabe .
r- Saí ram apen as os no mes de Zé Pre tinho e de Kid Pepe. que p rova velme nte , nada fize ram pa ra que o s amba
exis tisse". (C hedia k . 199 1, vol ume I, p. 121 )
'""
r-
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r--; 1-"
I -~-
r- I
"U
..
206
LATOR R E, M C R C A este tice vocal no canto popular do Brasil
melodia. Além disso, ao cantar o erre, acentua esse fonema, que tem um modo
intérpretes da época.
uma articulação mais acelerada, a exemplo do verso "di-zen-do que não po-
amor é um supliiiiício/ com a íngratídão eu não conta aaava", que, pela sua
1UA nexo 4
117 Nesta canção. Noel desen volve o tema de Sinhô e Heitor dos P razeres. n o sam ba amaxixado Gosto que me
enrosco de 1928 , onde se ouve "não se de ve am ar sem ser amad o", cantado num tratament o mais impessoal.
"Noel Rosa [...] apresen ta-s e como o personagem que não ama mas é a m a do". (Ch ediak. 199 1, vol. I, p. 37)
Esse samba mereceu uma paród ia do próprio Noet, com o sam ba Ca nse i de implorar, da opereta do mesmo
compositor, A noiva do condutor, igualme nte de 1935.
r>:
~
!
~
r--
207
I LATORRE, M C R C A estética vocal no ca nto popular do Brasil
~
I
I
~
Mundo.118
'"" comicidade habitual, e, entre outras coisas , batiza o grupo que o acompanha
~
'"" movimento lançado, na primeira década do século XX, pelo poeta italiano
r-,
~
Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), uma das vertentes estéticas
~
r-,
. I, l.arnartine, era do Hospício da Praia Vermelha, da cidade do Rio de Janei ro,
'"'
~
~ permitindo assim sua transposição para qualquer tempo, Uliana retirou de seu
~
~
motivo "sem sentido" da letra/música , os elementos para uma conversa
'"" musical "bem humorada", entre voz e guitarra, a partir de sua prática no duo
r--
n a A ne KD 4
208
LAT OR RE , ivI C R C A e stética vocal no canto pcp ula r do Brasil
com o instrumento, que preenche as pausas deixadas pela voz, com frases
das vozes originais, escolheu fazer uma recriação, para um duo de voz e
guitarra.
aluna do último ano do curso de canto popular. Tendo estudado técnica vocal,
que identificou nas várias performances por ela pesquisadas, trazendo para a
.~
->,
,
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I
;
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U ~
.....,- ~-
r--
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209
~ LATORRE, til C R C A estética vocal no canto popular do Bra sil
r--
r--;
~
5.2. A lu n o s da Univ ers id ad e d e Música T om J obim
~
David Silva
~
-r-,
pagode, Com o curso, David passou a cantar samba e a fazer arranjos vocais
~
r--
I para esse gênero musical, bem como para pagode e tunk. Seus autores
~
,.."
I nacionais preferidos são Djavan e Gonzaquinha. Ao ser indagado a respeito
,.."
de seus intérpretes prediletos apontou os norte-americanos Nat King Cole e
r--;
~
Linda Hopkinqs. Quanto aos gêneros, sua preferência recai sobre "muito
~
'""
r--. Em Seja breve, David experimentou a conduta vocal do
"" I canto breve, propiciada por um dos sambas mais interessantes de Noel,
,.." II compositor sempre voltado para a narrativa de fatos cotidianos, Neste samba,
~
~ I,
I
Noel prefigura o samba de breque, modalidade que mais se aproxima da
~
1
I
'""
I 119 Ane xo 3
"
"
I
I
•
,
L~
-r-,
21 0
LATORR E, M C R C A esté tica vocal no canto popular do Brasil
inflexão da fala por deixar transparecer uma fala explicita, devido à sua
entoação.
próxima da fala.
samba sincopado, típico da década de 30, que tinha, nos cantores Giro
120 o ca ntor Luis Barbosa é considerado precursor do samba de breq ue, cujos atributos mais interessantes
são as formas inusitadas de fazer o acompanhamento percussivo em instrumentos prosaicos. "Lui s I...]
inscreveria seu nome em nossa música, como sambista not ável. Inaugurou um estilo com base na
improvisação. [no balanço] e nos breques que marcava no seu chapéu de palha, "instrumento" de sua
invenção". (Ca rdoso Jr. sl d, p. 4 , in folheto do cd Gosto que me enrosco Mário Reis e Luís Barbosa . Edição
selo Rev ivendo).
12 1 Anexo 3
'=
...... ,
T
~
211
LATORRE. M C R C A. estética \loca! 11 0 can to pOp~J'8r do ~ si/
~
obtido pela divisão silábica, típica do canto breve, padrão de conduta vocal
I
i
I
tempo convencional, no interior do compasso. Assim, ao retardar o tempo
forte ou ao trocá-lo pelo tempo fraco, David, com isso, provoca uma espécie
vocal aqui denom inada de canto prolongado, muito distante da sua vivência
musical. Buscou a emissão aberta e verticalizada das voga is,123 fazendo o uso
-. 122 Anexo 3
m "Mo vime nto vertica l de articulação : um proces so de vocalização que se da por forte relaç ão entre a abertura
vocal e en erçi zaç âc (trtànqulos de timbres vocático s mantidos por graus fixos de acentuação)". (Duarte,
1994 :95)
2 12
LATORR E, M C R C A estética vocal no canto popula r do Brestt
I
Ii
• 1H Anexo 3
i rzs "Ao sustenizar a dominante e bemolizar a superdo rnin ante , foram produzidos intervalos mel ódic os
inusitados para os pa drõe s da música bra sileira da época , a ponto de dificultar a interpret a ç ão de alguns
cantores menos dotados. Localizando ess a alteração na palavra, os autores criaram a impressão que o cantor
serrutonava . ou seja . de safinava . o Que levou muita gente achar que João Gilberto desafinava". ( 1996:2 8).
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2 13
LATORRE, M C R C A es tética vocal no ca nto popular do Bras il.
cantar pequeno, típico da bossa nova de João Gilberto, revelando uma grande
versatilidade na voz.
116 Anexo 3
12 1 An exo 3
128 A UL M conta com um corpo de instrum entistas assiste ntes . para ac ompa nhar, em aula. a s pe rformances
dos alunos, o que muito auxilia na perspectiv a de proposta de ensino, visto ser crucial para a realiza ção do
es tudo de repe rt ório . con tida nesta abordagem de ensino do canto popular. caso contrário, os al unos estariam
totalmente lim itados pa ra se e xercitarem .
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21 4
LATO RRE, M C R C A estética vocal no canto pop ular do Brasil
Cecília Militão
onde ainda reside, Cecília é uma ex-camare ira de hotel, oriunda das classes
. com uni pouco de autod idatismo", como ela mesma declarou, afirmando
ainda: "procu rei os cursos da ULM, para conhecer e aprender ainda mais
sobre música",
decla rou que este deve ser detentor de "consciência e técnica" além de
não deve apenas cantar a técnica mas também com o espi rita, procurar levar
uma mensagem para as pessoas". Cecília finaliza sua aprec iação com uma
frase contunde nte: "ser cantora é ser racional sim , mas ser também coração".
.-
215
LATORR E, M C R C A estética voca l no ca nto popu lar do Brasil.
intérpretes, expressou uma grande admiração por Elis Regina , Marisa Monte,
Gal Costa, W ithney Houston. Dos grupos, gosta do conjunto brasileiro Roupa
analisados, pode -se certificar do seu talento e empenho, exerc itando condutas
Alm eida , do cantar exube rante típíco do samb a exalta ção e do seu oposto,
,; .
129 A bnexo 3
130 "Bordadura . Nota de ornato. a um intervalo de segunda , maior ou menor, superior ou inferior, da nota real,
e que , em vez de prosseg uir, verta a essa neta". (V erbete: Edição eletr6nica do Dicionário Novo Aurélio século
XXI).
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,-.
r-. 217
LATORRE. M C R C A estética vocal no ca nto pop ular do Brasil
r-.
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composta em tom menor, por Assis Valente, Carmen assumira seu lado
citação auto-referente, Carmen diz que o tal sujeito improvisa uma vestimenta
irreverentes do personagem.
13' Anexo 3
2 18
LATORRE. M C R C A estética voc e! no canto popular do Brnsil.
de seu lançamento original, feito por Chico Alves, em 1941. Este samba é
I
I
melodia, arranjo, bem como sua forma interpretativa, que busca cantar, de
grandes formações orquestrais tipicas dos anos 40, quando o cantor, mesmo
Ir 132
: 33
Anexo 3
Esse estilo expressou o roeàno do Estado Novo de Getúlio varças. que buscava. por vários meios. inclusive
pela musica, cantar as coisas do Brasil bem como inculcar a ideologia do trabalho. proibindo músicas que
fizessem o elogio da malandragem. Como o pais ensaiava ainda os primeiros passos rumo ao seu
desenvolvimento industrial, a temática desse tipo de samba . Que passou a ser conhecido como samba-
exaltação, ou também com o "sambas de bravu ra" ou "samb a cívico", voltou-se preferencialmente por cantar a
belez a e a riqueza naturais . compreendendo aí a raça e a terra brasileiras.
m "As diversas cavidades de ressonância do trato vocal são energizadas mediante o padrão articulatório
especial, o qual possibilita ajustamentos ou ecootarnentoe acústicos entre as ressonâncias" (Duarte , op.cit. p.
91 ).
1
2 19
LATOR R E , M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
exuberantes.
entoação da fala, que ela utiliza para n arrar uma espécie de cr õnica de
Blanco.
135 Ane xo 3
220
LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil
demonstrar que foi possível obter ótimos resultados, a despeito das patentes
bastante distintas.
informações desfrutadas pelo aluno da outra instituição, fazendo com que seu
universo de escuta fique cingido, por exemplo, ao que se toca nas rádios,ao
que se assiste nas tvs, ou então, ao que se vê nos filmes típicos das grandes
questionários. Com tal universo, pode-se inferir que a escuta do aluno típico
136 A adolescente Gab riela Miranda, aqui referida , apesar de só conhecer a produção musical dos anos 90.
como ela me sma declara , surpreendeu a todos. com sua vontade , facilidade e resultado, ao fazer o exercício
de imitação da conduta-voca l de Carm em Miranda . (cf Anexo 3)
222
LATORRE, M C R C A e stética vocal no ca nto popular do Brasil
Unicamp só se dá, pontualmente, quando é feita por uma escolha sua, pois a
escuta hegem ônica, com sua freqüência invasiva, faz-se quase onipresente
nos lugares de vivência do seu dia a dia. Dessa maneira, pode-se dizer que,
fruto da escuta diferenciada, tal situação pode não se traduzir para o aluno
numa capac idade critica capaz de filtrar o que ouve. Daí a importância de uma
tal conhecimento não significa dizer que existe uma escuta atenta para as
uma escuta diferente para a percepção das nuances nas condutas vocais, e
brasileira, na contemporaneidade.
eixo central pedagógico: trazer a música popular brasile ira de outras épocas
t
I para a contemporaneidade, para se recriar, nas interpretações atuais, o canto
I
I
224
LATORRE, I~ C RC A estética voca l no can to popular do Brasil.
possibilitaram emergir.
Dentro da rica perspectiva apresentada por essa escola, foi passi vei extrair
I
~ -
poderem abrir seus próprios caminhos estéticos e construir sua própria
interpretação.
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I
I-
Assim, para a configuração dessa escuta de épocas, foi
I
, -
contendo os mom entos marcantes da história da música popular do Brasil e
I
canto popular, ainda nos primórdios da colonização, foi-se construindo um
~
principais instituições de ensino de música popular, onde foi possivel construir
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grande parte da proposta, explicita seu entendimento e a excelência de sua
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s
realização, confonne se constata nos resultados obtidos nas diversas
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I perfonnances realizadas por esses alunos, testemunhando grandes
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possibilidades pedagógicas que podem advir dos procedimentos pedagógicos
aqui propostos.
1
. exemplo das contidas nos citados livros Por Todo Canto e Método de Canto
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LATORRE. M C R C A estética vocal no canto popular do Brasil.
228
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,, ''1
~
,
i 229
~
I LATORRE, M C R C A estética vocal no canto popular do Bresit
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II
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AURÉLIO. Dicionário eletrónico da lingua p ortuguesa. (séc XXI) . Editora Nova
~
,i Fronteira, 2000. Cd-Rom Versão 3.0.
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1
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LATORRE. M C R C A estética vocal no canto pop ular do Bras il
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LATüRRE, M C R C A estética vocal no canto popula r do Brasil.
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1
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1976
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t MELLO, Zuza Homem de. João Gilberto. São Paulo: PubliFolha, 2001
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A est ético voca l no ca nto popular do Brasil
232
LATORRE, M C R C
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
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RUIZ, Roberto. Ara ei Cortes; linda flor. Rio de Janeiro: FUNARTElINMI Divisão de
Música Popular,1 984.
ft em 14/11/2000. ,-
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233
LATORRE , M C R C A es tética voca l no can to popular do Brasil
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~
SAND RONI, Clara. 260 dicas para o cantor popular. Rio de Janeiro: Lumiar, 1998.
~
~
< SAROLDI, Luiz Carlos e MOREIRA, Sonia Virginia. Rádio Nacional O Brasil em
..~
j Sintonia. Rio de Janeiro: Martins Fontes/Funarte, 1984.
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~
»<; ] SEVE RIANO, Jairo. Araci- No teatro musicado e no disco. lN encarte do cd Araci
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Cortes. Acervo Funarte da música brasileira. Ca l. Musica l ltaú Cultural, 1984.
l
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~
~ SEVERI ANO Jairo, e MELLO, Zuza Homem de. A Canção no Tempo. (1909-1957).
~ I
j São Paul o: Editora 34, 1997. v.1
~
•
~
_ _ _ ~ ----,A Canção no Tempo. (1958-1995), São Paulo:
Editora 34,1997. v.2
SOA RES, Maria Th ereza Mello. São Ismael do Estácio - o sambista que foi rei. Rio de
Janeiro : Funarte. 1985
SOUZA, Tárik . "Uma diva de Pedestal Sólido" in O Estado de São Paulo. 14/02/1999.
cad. Especial, p6.
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músicos" , Folha de São Paulo, 23/11/88.
i VELOSO , Caetano. artigo Carmen Miranda dadá. in Folha de São Paulo, caderno
I
Ilustrada, 22110/19 91. p.8
J W ISNICK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras. 1989
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Anexo 1 LATORRE, M C R C A est étice voc al no cento popuier do Bres ;(
Anexo 1
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1
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João Gilberto em 1959
-19. Rosa Morena (Dorival Caymmij - Gravação de João Gilberto
~
em 1959
~
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í 22. Fotografia (Tom Jobim) - Gravação de Silvia Telles em 1958
23.Solidão (Tom Jobim e Alcides Fernandes) - Gravação de Nora
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f Ney em 1954
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Anex o 2 LATORRE, [fi C R C fi. es té tic e vocal no canto popular do B resil
Anexo 2
Questionário
j nome:
data de nascimento:
í endereço:
telefone:
cep:
e-mail:
f
I
~
•
•
•
Ano que entrou no curso de Música Popular da Unicamp I ULM :
Disciplinas que já cursou :
Disciplinas que está cursando em 2000:
.1
j 5. Toca algum instrumento? Caso afirmativo, qual?
Ca so seja compositor, conte essa experiência? (faz let ra e música, utiliza qua l
instrumento , etc)
I 6. O que acredita que seria a forma ção ideal de um cantor(a) popular no Brasil ?
Enumere o que você acredita como fundamental e quais vo cê teve vivência?
J a) percepção musical ?
b) técnica vocal e interpretação?
c) prática coral?
d) prática de conjunto?
e) harmonia popular?
f) histó ria da música popular?
g) escuta de intérpretes e compositores de várias épocas e culturas?
h) consciência e expressão corporal?
i) exercicios de rela ção palco- plat éia?
j) viv ências em ambientes musicais diversos?
k) relação com outras linguagens art ist icas?
I) instrumento complementar ?
m) prátic a de estúdio?
t
I
An exo 2 LATO RRE, f\Ií C R C A est étice vocet no canto po puter do Brasil
Cite outro s itens que você acredita como fund amenta is para sua formaçã o
~
7. O que costu ma ouvi r? (pode ser mús ica brasileira ou não, popular ou erudita)
""' ~ 8. Costuma ouvir mús ica popular de outros povos? (espec ifique )
~
""' ~
~ 9. Com posi tores preferidos (pode não se r necessariamente da mpb):
'""' ~
~
10. Intérpretes preferidos (idem) :
~
~
~ 11. Quais os gêneros preferidos brasileiros e/ou não brasileiros?
~
12. O que conhece da história da mpb? Que fa se mais lhe atrai?
,
~ J 13. Como avalia o atual estágio da mpb?
n
~
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~
-r-,
~
,
~ •
•
três escritore s,
• quatro filmes,
~
•
,
rr>: • personagens fictícios preferid os,
""' • perso nage ns reais preferidos,
~
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~
14. Gosta ria de acrescent ar al go , que não foi abordado na s que stõe s acima?
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~
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Anexo 3 LATO RRE, M C R C A e s t étice v oc e l no canto p opular do Brasi l
Anexo 3
,-
Cantar brejeiro referência: Carmen Miranda
Ana Ares e Isabel Paiva: Boogi e-woogie na favela (Dê nis Brean)
David Silva: Escurinho (Geraldo Pereira)
Rogério Gran ja: Deus me p erdoe ( Lauro Maia e Humberto Teixeira)
t
Cantar exaltação, re /erência: Ângela Maria
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Anexo 3 LATORRE, !VI C R C A esté tic s voc al n o ca n to p oputer do Brasil
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Tra nsição do Ca ntar p ro l on g ad o p ara ° ca n tar peque no, r eferên cia:
Sy l via Telles
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r-c; Isabel Paiva: Po r causa de vo c ê (Tom Jobi m e Dolores Duran)
~
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j
., Cantar pequeno, r efer ên cia: Do ris Monteiro e João Gilberto
~
Ce cília Militão: Mocinho bonito (Billy Blanco)
~
, David Silva: Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça)
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~
j Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli)
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I
Exemplos de exercicios aplicados em aula:
~
"
~ f Exercicios de respiração do Canto Werbeck
~
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~
Circulação do som
Melodia do Palpite infeliz com o fon ema R
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Todos fazendo a melodia do Palpite Infeliz com letra
~
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An exo 4 LATO RRE, fvi C R C A Gs !'é ;:ic ~ vocal n o cen to popular do Bra sil
Anexo 4
Relação das fa ixas do Cd a nexo 4 '
,
•
Interpretação das canções de Noel Rosa
1. Uliana Dias: A. B. Surdo / Cantar breve e sa tírico, referên cia: Lam artine Babo ~.
4. Rod rigo Dua rte: Cidade Mulheril Cantar prolongado, referência : Orla ndo Silva
I~ 5.Ligia Tosello: Feitio de oração / Cantar p rolongado, referência: Chico Alves :
j
6 . Rodrig o Duarte: Filosofia / Cantar breve, refe rência: Mário Re is
I .f,
7. Andréa Guimarães : Palpite infeliz! Cantar pe queno, referência:João Gilberto ~ .
~~ ;.......
8. Lígia Tosello: Retiro da saudade! Cantar brejeiro, referê ncia:Carm en Miranda
t 9.Uliana Dias : Século do p rogresso/ Cantar ootente, referên cia: Aracy .de
Almeida
f
~ .
10. Lígia Tos ello : Só pode ser voc ê/ Cantar dolente, referência: Aracy de
I
j
Alm eida
Ii
j '-.