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EDIÇÃO ESPECIAL

TRUKÁS
PRESERVAÇÃO
Como os povos tradicionais cuidam de seu
ambiente e sua saúde

ISBN: 978-65-00-87596-6

DOI: 10.5281/zenodo.10262250

Organização: Karla Maria Pereira dos Santos e Paulo Roberto Ramos


EDIÇÃO ESPECIAL

TRUKÁS
PRESERVAÇÃO
Como os povos tradicionais cuidam de seu
ambiente e sua saúde

E-book desenvolvido junto ao


Núcleo Temático de Educação
Ambiental do Programa
Escola Verde da Universidade
Federal do Vale do São
Francisco.

Organização: Karla Maria Pereira dos Santos e Paulo Roberto Ramos


10.5281/zenodo.10262250
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................06
CAPÍTULO 1.............................................................................................................10
RITUAL......................................................................................................................11
CRENÇAS ESPIRITUAIS DOS TRUKÁ...........................................................13
ARTES.......................................................................................................................15
TORÉ..........................................................................................................................17

CAPÍTULO 2............................................................................................................18
AGRICULTURA E TÉCNICAS DE CULTIVO..................................................19
PRÁTICAS DE PRESERVAÇÃO.......................................................................20
RITUAIS DE CURA E TRATAMENTO DE DOENÇAS................................25
PLANTAS MEDICINAIS......................................................................................28

CAPÍTULO 3............................................................................................................35
LEGADOS E REFLEXÕES...................................................................................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................40
REGISTRO DE TRADIÇÕES...............................................................................42

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................48
REDES SOCIAIS.....................................................................................................50
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Núcleo Temático de Educação Ambiental da


Univasf, do qual faço parte enquanto estudante, e que me
instigou e iniciar este trabalho, que foi iniciado como um
componente curricular, mas me prendeu e apaixonou a cada
pesquisa, pela importância e relevância do tema.

Também sou grata aos colegas do Programa Institucional de


Bolsas de Extensão (PIBEX) da Univasf, no qual, sou voluntária, e
que me permitiu ter contato com tantas informações
pertinentes sobre ancestralidades e outras formas de vivências
que nos foram negadas pelo novo modelo de produzir
conhecimento tão enraizado nas academias.

@programaescolaverde
INTRODUÇÃO

O ambiente acadêmico cria a ilusão de único produtor de


conhecimento e a partir desta ilusão de suposto saber
conhecimentos milenares são ignorados nas universidades de
todo o país. Conhecimentos tradicionais que são extremamente
importantes para a vida dos povos e comunidades, e que foram
a base de toda pesquisa desenvolvida hoje como práticas
medicinais e domesticação de plantas e animais usados na
alimentação e necessários a sobrevivência, como busca resgatar
o Programa Institucional de Bolsas de Extensão Saúde Indígena,
da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)
coordenado pelo professor Drº Alexandre Barreto.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)


denomina o conhecimento tradicional como um conjunto de
informações de povos indígenas e de comunidades tradicionais
adquiridos por meio de sua vivência junto à natureza e da
observação e experimentação de procedimentos e resultados,
como por exemplo, sabendo diferenciar plantas que servem
como alimento daquelas que curam enfermidades e das que
podem entorpecer a caça ou a pesca sem que estrague o
alimento. Tais conhecimentos vieram da necessidade de
adaptação ao ambiente em que vivem, dos saberes dos
antepassados e da troca desses saberes com outros povos e
comunidades. Esses conhecimentos fazem parte do seu modo
de vida e do seu cotidiano, mesmo quando apenas uma pessoa
da comunidade os detenha.

Entre esses conhecimentos está principalmente a preservação


do meio ambiente devido a sua profunda conexão com a fauna
e flora, modus vital para a sobrevivência das comunidades
tradicionais, por isso a elaboração deste trabalho, cujo objetivo é
Contribuir com a democratização do conhecimento tradicional
do povo Truká sobre o cultivo de plantas medicinais e suas
utilidades, bem como, explicar como acontece a conservação e
restauração do ambiente natural.

@programaescolaverde 06
Foto: Barbara Caze

Os Trukás habitam as margens do Rio São Francisco, região


do Submédio São Francisco, entre o Lago de Sobradinho e as
barragens de Paulo Afonso, na Bahia, onde estão localizadas
as quatro aldeias do povo indígena que foi expulso de suas
terras durante o período de colonização, marcadamente
entre os séculos XVIII e XIX: Camixá do Povo Truká, em
Sobradinho-BA, Truká Tupan, em Paulo Afonso/BA, Truká
Tapera, no município de Orocó-PE, e Aldeia Truká da Ilha da
Assunção em Cabrobó-PE. Esta última é conhecida como
Aldeia-Mãe, por ter dado origem às demais, conforme mapa
de Santos (2016).

@programaescolaverde 07
Foto: Barbara Caze

A comunidade passou por diversos deslocamentos ao longo


do tempo. O mais recente e mais importante teve início da
década de 1980, quando os índios, expulsos de suas terras
por forças do governo, igreja e elite locais, empreenderam
um intenso processo de retomada que se concretizou de
forma definitiva apenas em 1999, com a expulsão de
posseiros, religiosos e criadores de gado, tornando território
indígena o Arquipélago de Assunção, formado pela Ilha
Grande e diversas ilhas menores, no Rio São Francisco, no
município de Cabrobó-PE (BATISTA, 2004).

Banhada pelo Rio São Francisco, em um dos lugares mais


largos do seu extenso curso, a pequena faixa de terra,
desmembrada do “continente” pelas ações naturais e em
consonância com ações antrópicas, tem uma natureza
exuberante para os padrões de vegetação próprios da
caatinga: são arbustos fartamente abastecidos pelas águas
do rio, dos lençóis subterrâneos e da irrigação, elemento
constante na paisagem atual de Assunção. Por todos os
lados da ilha, é comum encontrar roçados de cebola, arroz,
fruticultura e capim para pasto, irrigados por tecnologias
mais ou menos estruturadas.

Ingazeiras , faveleiras e jatobás , elementos próprios do


bioma, convivem com árvores exóticas como a algaroba e
leucena e juntos, refazem o que seria a mata ciliar (SANTOS,
2016). Há uma grande área preservada, áreas de sequeiro,
além das ruínas do antigo aldeamento, do cemitério
indígena e parte da caatinga, que é considerada área
sagrada para a comunidade Truká (Ibidem).
@programaescolaverde
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Foto: Barbara Caze

Ao se cruzar a estreita ponte que liga a pequena cidade de


Cabrobó à comunidade indígena, localizada em meio ao
semiárido pernambucano, tem-se a sensação de que se adentra
um paraíso, tanto pela exuberância da caatinga que ali ganha
pequenos contornos de mata, mas também pela abundância
aquática do Rio São Francisco, que ali se divide em dois (Rio
Grande e Rio Pequeno). “As ilhas sempre foram relacionadas a
locais idílicos, cenários naturais intocáveis pela sua
inacessibilidade e que nos remetem a descrições da Literatura,
pela presença constante do bucólico e da natureza”
(FLORÊNCIO, 2016, p. 36).

A Ilha Grande ou Ilha da Assunção é, antes de tudo, um locus


interessante por diversos aspectos da territorialidade que aqui
serão apresentados, divididos em duas delimitações
perceptíveis no contato com os habitantes locais, e servem
como referenciais para o entendimento da territorialidade
Truká: os aspectos geo-físicos, que coincidem com questões
relativas à agricultura, pesca e mercado, e os aspectos mítico-
culturais, que, interligados, formam a estrutura sociocultural que
fazem o existir Truká (Ibidem). Por isso, se faz necessário o
desenvolvimento de estudos que enfatizem os saberes e
práticas, fazendo emergir o universo cultural dos povos
indígenas nos sertões nordestinos, focando nas narrativas,
simbologias, causos e contos, que descortinam o imaginário
popular, aliando sistematização desses saberes à manutenção
das culturas locais.

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@programaescolaverde
CAPÍTULO 1

Foto: ATL.2022

@programaescolaverde
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RITUAL

Mais que uma dança, o Toré é uma manifestação artís tico-


cultural marcadamente do povo Truká e tem se transformado
continuamente em um forte instrumento de afirmação
cultural, fazendo com que a comunidade local e outros povos
da nação Truká sejam reconhecidos e respeitados enquanto
indígenas (ALMEIDA, 2010).

O Toré acontece na aldeia em dias de quarta-feira e sábado e


também é executado fora da ilha em apresentações artísticas,
quando convidados e em protestos. Os índios Truká da Ilha da
Assunção se orgulham de levar a sua cultura para ambientes
escolares, espaços públicos ou em manifestações, através da
apresentação da sua dança mais significativa. Entretanto, o
Toré não é apenas uma dança: existe uma mística que o
sustenta enquanto manifestação religiosa e uma preparação
para o momento festivo, no qual, apenas os iniciados têm
acesso.

As vestimentas são feitas pela própria comunidade, com fios


de caroá Neoglazioviavariegata (Arruda) Mez (SANTOS, 2016).
Os participantes usam grandes saias denominadas Kataióbas,
sobre suas roupas comuns, junto com o Pujá, um gorro tipo
boina sem aba, também produzido artesanalmente com fibra
de caroá. Dançam homens e mulheres, idosos, adultos e
jovens, em estágio de aprendizagem e reverência aos mais
velhos.

Fotos: Barbara Caze

@programaescolaverde 11
OFICINA COM ESTUDANTES DE COMUNIDADE INDÍGENA,
MANUTENÇÃO DA TRADIÇÃO COM OS MAIS JOVENS PARA
PRESERVAÇÃO DA CULTURA

Foto: Paula K. Santos/Divulgação

@programaescolaverde 12
Fotos: Barbara Caze

CRENÇAS ESPIRITUAIS

A festa se inicia pelo começo da noite, depois de um dia


inteiro de preparação e concentração, quando são
invocados os “encantos de luz”, as forças da natureza, através
do deus Tupã, e os espíritos dos antepassados. E sempre há
convidados. O uso do vinho da Jurema, bebida feita à base
da raiz da Jurema Mimosa spp, também faz parte da
preparação ritualística do Toré.

A bebida é produzida pelos homens desde a colheita das


raízes, passando pelo período de “descanso”, depois é lavada
pela água pura (do Rio São Francisco), e colocada m infusão
na água até o seu consumo no Toré. As “linhas” do Toré são
quadrinhas cantadas na roda, geralmente puxadas pelos
mais velhos e repetidas pelos demais.

Os participantes, em círculos, dançam ao som de seus


maracás. O professor, Pajé e reconhecida liderança Truká,
Gilberto Francisco da Silva, o Bertinho Truká, apresenta uma
linha de Toré em que se busca reafirmar a cultura e resgatar
palavras da extinta língua-mãe: “Cadê meu quaqui / Cadê
meu maracá / Cadê meu quaqui / Meu quaqui taquaraquá”.
@programaescolaverde
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Foto: ATL.2022

“0 Toré é um ritual sagrado e nele nos fortalecemos,


recebemos orientações dos encantados, bebemos a jurema
que nos purifica dando sabedoria para seguirmos o caminho
da verdade. A nossa religião esta ligada a natureza e obra
divina, que o homem não pode mudar.

Nós dançamos o Tore em vários momentos: nas bata lhas de


reivindicação aos nossos direitos; nas retomadas, que é a luta
pela terra; nas tristezas, quando partem nossos parentes
queridos, e na pratica religiosa que acontece regularmente.
Na nossa aldeia, dançamos o Tore em locais sagrados e
nos terreiros existentes nas varias localidades do nosso
território. Nele usamos vários atavios que são confeccionados
na própria comunidade.

O Toré é também uma forma de unir o povo e agrade cer ao


Pai Tupã pelas bênçãos recebidas. Também temos outros
rituais que fazem parte da nossa religião e que não podem
ser revelados, apenas que chamamos de Mesa Particular”.

Descrição Realizada por Bino, um dos líderes espiritual da


comunidade.

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@programaescolaverde
ARTE

A arte indígena está presente na essência do povo brasileiro,


sendo um dos pilares para a cultura do país. Cultura que é
resultado da mistura de vários grupos, dentre eles os povos
indígenas - os primeiros habitantes do território nacional.
Desta forma, cerâmica, máscaras, pintura corporal, cestaria
e Plumagem resultam em uma arte tradicional
compartilhada: a arte indígena.

No caso do povo Truká, os artesãos e artesãs são aqueles


que fazem o colar, arco e flecha, a borduna, os atavios do
ritual, pote de barro e outros. São muito importantes na
comunidade, porque são eles e elas que guardam os saberes
da nossa cultura material, que e passada para as novas
gerações.

Como o artesanato preserva saberes dos ancestrais


indígenas, os quais são repassados às próximas gerações, e é
uma atividade de caráter familiar que realiza todas as etapas
da produção, desde a coleta da matéria-prima na natureza
até o acabamento final e a comercialização das peças.
(SANTOS, 2016)

FOTOS: ATL.2022

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@programaescolaverde
Durante os rituais os participantes usam vestimentas
apropriadas, que são confeccionadas pela própria
comunidade, os chamados “Atavios” , que são criados
pelos artesãs com material da natureza encontrados na
ilha, e que são reaproveitados de forma respeitosa ao meio
ambiente:

•Cataioba - saias feitas do fio do caroá ;

•Puja - também feito de caroá e usamos na cabeça;

•Jurema - bebida sagrada, preparada a partir da raiz da


planta de mesmo nome, pelos juremeiros;

•Quaqui - a gente fuma e defuma devido a obrigação;

•Apito - é pelo apito que reúne toda comunidade sem dar


conhecimento ao mundo;

Maraca - Instrumento musical que representa a entoada


do encanto, é a ciencia.

Foto Luiz Severino

Foto Luiz Severino

@programaescolaverde
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TORÉ

FOTOS: BARBARA CAZE

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@programaescolaverde
FOTO: ATL.2022

CAPÍTULO 2

@programaescolaverde 18
AGRICULTURA E TÉCNICAS DE CULTIVO

Os Trukás tem predominância na agricultura, são grandes


cultivadores de arroz e também plantam cebola, mandioca,
feijão, milho. Trabalham com fruticultura: goiaba, manga,
coco, maracujá, acerola e preservam as frutas nativas como o
umbu, mari, carapu, melão-são-caetano, fruto do xique­ xique,
jatoba, fruto do mandacaru.

Há alguns anos a comunidade tirava uma boa renda da pesca,


mas segundo os mais antigos, mas devido a construção de
barragens e hidrelétricas ao longo de seu curso e de
poluentes, alguns peixes desapareceram e outros já estão em
extinção, com é o caso do surubim, piranha-do-papa amarelo,
matrinxã, pacamã, pira, dourado, traíra e outros. Atualmente,
os peixes mais pescados são o carí, xotó, piau, pacu, piranha
branca, tucunaré.

Caça ainda é presente na cultura, mas de forma controlada e


sustentável, para manter a preservação. Eles também
cultivam lavouras nas vazantes do rio nas ilhotas, lá são
plantadas: cana de açúcar, feijão, batata da espécie angélica e
orelha de cachorro, batata melão, macaxeira branca e preta,
mandioca simples e a castiliana, abobora, jerimum, feijão de
arranca, mulatinho, caboclo, fava e etc.

Os mais velhos relatam que hoje toda essa vivência está mais
difícil devido ao que eles chamam de “destruição do Rio São
Francisco” que diminuiu a área de molhação, onde eles
podiam cultivar muito mais culturas sem precisar de irrigação.

Bino também relata que o perfil de produção na alde ia


mudou: “ Antes as famílias cultivavam e criavam para
consumo próprio e segurança alimentar, hoje eles criam e
cultivam para comercialização na feira do município, isso
muda muito a lógica de preservação do ambiente”, explica.

A feira acontece aos sábados durante todo o dia, é quando os


indígenas além de ir comercializar sua produção também
aproveitam para adquiri produtos que não são cultivados no
território.
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PRÁTICAS DE PRESERVAÇÃO

Os indígenas da ilha de Assunção trazem queixas em relação


ao que eles chamam de adoecimento do Rio São Francisco,
que pra eles chama-se Opará, segundo as lideranças o rio
tem recebido muitos metais presentes no combustível das
embarcações, muito resíduo de agrotóxico dos cultivos
predadores às margens, pesca predatória e está muito
assoreado. Esses danos ambientais prejudicam uma das
principais fontes de renda e sobrevivência das comunidades
ribeirinhas, que é a pesca artesanal.

“Através da contaminação das águas perdemos peixes e


ervas medicinais que tínhamos nas matas ciliares e no leito
do rio como erva doce, cidreira, marcela, junco e alecrim e
isso é muito triste para nós”, lamenta Bino. E acrescenta: “ O
Rio vem sofrendo destruição desde a colonização, com a
destruição das matas ciliares algumas plantas entraram em
extinção em quase toda a bacia, como é o caso do
jatobazeiro, manguezais, munquem, zozó e a principal pela
sustentação das barracas, as ingazeiras. Com a ausência das
árvores o rio vai se tornando cada vez mais estreito”, conclui.

Sem a vegetação, desparecem os abrigos de animais


terrestres e aquáticos, como é o caso do Paturi, que faz o seu
ninho nos ocos das árvores, alguns tipos de peixes, que na
piracema desovam nas lagoas marginais, danos ambientais
que vão se agravando sem a presença dos elementos
básicos para a reprodução da das espécies.

Como o rio é ferramenta base para segurança alimen tar


dos povos ribeirinhos, como é o caso dos Trukás, inclusive,
espiritualmente, visto que a comunicação com os
“encantados” acontece por meio dele. Por isso o Brasil traz
dados sobre a preservação ambiental em territórios
indígenas, porque sua conservação ambiental é uma
estratégia de ocupação territorial, visto que em suas terras
ajudam a ampliar a diversidade da fauna e flora com sua
forma única de viver e ocupar seu lugar no mundo. ( Santos
et al. 2007)
@programaescolaverde 20
No caso dos povos originários do nordeste não foi diferente, o
manejo destes povos sobre a biodiversidade teve um papel
fundamental na formação de diferentes paisagens no Brasil,
seja na Amazônia, no Cerrado, no Pampa, na Mata Atlântica,
na Caatinga, ou no Pantanal.

Os povos indígenas sempre usaram os recursos natu rais sem


colocar em risco os ecossistemas. Estes povos desenvolveram
formas de manejo adequadas e que têm se mostrado muito
importantes para a conservação da biodiversidade no Brasil.

Não é só sobre plantas cultivadas que os conhecime ntos


dos povos indígenas se estendem. É por isso que cientistas
ligados à Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade
e Serviços Ecossistêmicos (Ipbes) têm se debruçado sobre o
papel dos conhecimentos indígenas sobre a biodiversidade.
O Ipbes é uma entidade internacional criada em 2012 e tem,
entre seus princípios, reconhecer a contribuição dos
conhecimentos indígenas para a conservação e o uso
sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas.

No caso dos Trukás há ainda outros aspectos do território


que deve analisado, o território emotivo-espiritual, presente
consciente coletivo deste povo, que traz sua força da
natureza e lugares sagrados. Segundo eles relatam existem
“cachoeiras” que só eles enxergam e os ensinamentos dos
“encantos de luz” são fornecidos em sonhos ou em lugares
específicos, como nas águas do Opará. E é nessas mesmas
águas que encontramos o maior problema da comunidade,
personificada na interferência do homem branco sobre a
natureza. O branco mudou o curso do “Grande Rio” com a
obra de transposição do Rio São Francisco.

Os índios Truká da Ilha da Assunção se orgulham de levar a


sua cultura para ambientes escolares, espaços públicos ou
em manifestações, através da apresentação da sua dança
mais significativa. Entretanto, o Toré não é apenas uma
dança: existe uma mística que o sustenta enquanto
manifestação religiosa e uma preparação para o momento
festivo, no qual, apenas os iniciados têm acesso. ( Santos et
al. 2007)
@programaescolaverde 21
ÁREA DE LAZER PARA BANHO NA ILHA DE
ASSUNÇÃO

Adote essas dicas de queima de gordura no seu


modo de vida e você verá benefícios em questão
de semanas.

O plano de dieta certo através de um nutricionisca


mostrará como adequar os alimentos que
queimam calorias para manter seu corpo
derretendo a flacidez.

Existem incontáveis deliciosas receitas para tornar


a mudança indolor. Adicione exercícios físicos ao
seu dia a dia além de uma alimentação
balanceada.

Não permita outro dia passar. Comece agora!

Foto: Luiz Severino

@programaescolaverde 22
PLANTAÇÃO DE BANANA DA COMUNIDADE

Adote essas dicas de queima de gordura no seu


modo de vida e você verá benefícios em questão
de semanas.

O plano de dieta certo através de um nutricionisca


mostrará como adequar os alimentos que
queimam calorias para manter seu corpo
derretendo a flacidez.

Existem incontáveis deliciosas receitas para tornar


a mudança indolor. Adicione exercícios físicos ao
seu dia a dia além de uma alimentação
balanceada.

Não permita outro dia passar. Comece agora!

Foto: Luiz Severino

@programaescolaverde 23
TERRITORIO SAGRADO ONDE OCORRE OS
RITUAIS

Adote essas dicas de queima de gordura no seu


modo de vida e você verá benefícios em questão
de semanas.

O plano de dieta certo através de um nutricionisca


mostrará como adequar os alimentos que
queimam calorias para manter seu corpo
derretendo a flacidez.

Existem incontáveis deliciosas receitas para tornar


a mudança indolor. Adicione exercícios físicos ao
seu dia a dia além de uma alimentação
balanceada.

Não permita outro dia passar. Comece agora!

Foto: ATL.2022

@programaescolaverde 24
RITUAIS DE CURA E TRATAMENTO DE DOENÇAS

O povo Truká tem acesso a medicina tradicional e a ancestral,


conduzida pelos pajés. Na medicina tradicional os agentes
indígenas de saúde fazem um trabalho importantíssimo. São
eles que orientam a comunidade para a saúde preventiva sobre
as doenças, auxiliam na ida ao medico, marcam as visitas da
equipe de saúde, acompanham os médicos nas visitas
domiciliares, as enfermeiras nas campanhas de vacinação,
levam os remédios alopáticos para as pessoas em tratamento.
Acompanham os hipertensos, diabéticos, o crescimento das
crianças, verificam os cartões de vacina e dão orientações em
outros temas de interesse e necessários a saúde da
comunidade.

Os médicos realizam as consultas medicas nas aldeias e


também no hospital. Em caso de urgências, encaminham para
hospitais públicos mais equipados que são em Petrolina e
Recife.

As enfermeiras realizam consultas e pré-natal, acompanham os


agentes de saúde nas suas tarefas, fazem acompanhamento de
hipertensos, diabéticos, acompanham crianças dão palestras na
comunidade.

Os auxiliares de enfermagem realizam vacinas, curativos fazem


retirada de pontos, aplicam injeções, entregam as medicações
de controle e acompanham as equipes nas visitas domiciliares.

O dentista acompanha a equipe nas visitas domiciliares para


aplicação de flúor, faz palestras educativas, restaurações
dentárias, extrações em seus consultórios na cidade.

A organização dos trukás se dá de duas formas, através de


orientações dos profissionais de saúde do município, que é
levada a vila e sempre acompanhada por alguém da
comunidade e a própria organização, que envolve ritos e
crenças e conhecimento das plantas medicinais que são
usadas.
Os conhecimentos tradicionais indígenas de saúde
fundamentam-se em uma abordagem holística, cujo princípio
é a harmonia de indivíduos, famílias e comunidades com o
universo que os rodeia. ( Santos et al. 2007) 25
Os Truká, por ser um grupo em contato permanente com os
não índios, encontram-se em uma situação de saúde e
sanitária semelhante aos grupos da região. Mesmo assim,
diferentemente da população em torno, os Truká possuem
especificidades que os inserem em um contexto diferenciado
de compreensão sobre saúde, doença e processos de cura.

Dessa forma, a compreensão de saúde para os indígenas da


Ilha de Assunção é mais ampla do que a cura do corpo, na
perspectiva biológica. Saúde para os Truká possui significado
polissêmico e é composto de Território - homologado e
desintrusado - onde se pode plantar, e de um complexo ritual,
base de um sistema xamânico-cosmológico pautado em seres
“Encantados”, na força da “Mata Sagrada”, em Rezadores,
Pajés, etc.

É também por esse motivo que os Truká se opõem à


transposição do Rio São Francisco, bem como à construção de
barragens pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(Chesf). Esses empreendimentos alteram o curso e a força do
rio, afetando o modo de vida dos Truká. Além disso, as
barragens podem fazer submergir ilhas que os Truká usam
para rituais particulares, como a “Ilha da Onça”, inabitada por
humanos, mas local de ritual e morada dos Encantados.

“É o rio a coisa mais importante. Daqui se tira o sustento, daqui


se povoa os encantados de luz. Daqui tem os pés de árvores, daqui tem
os passarim, as lontra, os sinais de vida e de morte. Nós e o rio é um só
”(Pajé Truká).

Quando os Truká se referem à saúde, portanto, não se referem


apenas à saúde física, do corpo, mas a todo esse sistema
complexo. Dessa forma, creem não apenas na eficácia da
biomedicina, mas também nos chás, nas rezadeiras, nos pajés
e na força do Rio São Francisco, através de seus “Encantos”. No
seu sistema xamânico-cosmológico, consideram a existência
de doenças não curáveis pelo modelo biomédico, o que não
significa que não adotem a conduta biomédica articulada
simultaneamente às práticas de auto atenção. (SANTO et al.
2007)
@PROGRAMAESCOLAVERDE 26
Isso não significa que haja uma separação bem defini da entre
os tipos de doença. O que verificamos na pesquisa é que os
Truká fazem uso das diversas práticas de saúde que se
encontram à disposição da população indígena. Ou seja,
procuram seguir orientação biomédica aliada à orientação dos
profissionais de cura tradicionais. Além disso, os Truká vêm, há
alguns anos, sofrendo interferência externa em seu território,
através de empreendimentos públicos como a transposição do
Rio São Francisco e a construção de barragens hidroelétricas
afetando diretamente à saúde em sua acepção mais ampla.

Entre os Truká existe uma preocupação em valorizar a


medicina indígena que, segundo relatos, vem perdendo
espaço entre as gerações mais jovens. Também foi constatado
que mesmo com todas as dificuldades e conflitos territoriais, o
Toré se constitui como um ritual de cura, além de ser um
elemento cultural que os caracteriza e distingue dos não índios
da região.

O caminho percorrido desde o momento em que se percebe a


doença até o tratamento pode variar bastante. em algumas
situações fazem uso de chás, lambedores, recorrendo muitas
vezes aos curadores indígenas (pajé, rezadores, etc.), em outras
situações, por sua vez, procuram primeiramente o posto e o
tratamento biomédico e, apenas quando ineficazes, procuram
outra forma de cura. (SANTO et al.2007)

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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@PROGRAMAESCOLAVERDE
PLANTAS MEDICINAIS

Conhecida entre os Trukás como Saião, esta espécie é de


pequeno porte é um sub-arbusto, com ramos intumescidos,
folhas elípticas ou lanceoladas, crenuladas e suculentas.
Ela é de fácil cultivo, possui crescimento rápido, além de ter
fácil manejo. A espécie prefere solos ricos em nutrientes e rega
constante sem encharcamento.

Suas propriedades medicinais a permitem ser usada em ação


anti-hipertensiva, diurética, antitumoral, anti-inflamatória,
antimicrobiana, cicatrizante, hidratante e emoliente.

Eles também a usam para alívio de dores do estômago, na


cicatrização de feridas, furúnculos, úlcera e gastrite, além de
usada para controle da tosse.

Todas as partes da planta são aproveitadas, mas a mais


comum é a folha; sendo empregada em forma de chá,
emplastro e extrato.

O chá não deve ser realizado com a fervura das folhas, para
melhor eficiência as folhas devem ser mergulhadas na água
fervida por cerca de cinco minutos, e após o tempo decorrido
ingerido. O mais indicado é que sejam consumidas duas
xícaras ao dia.
@PROGRAMAESCOLAVERDE
28
Conhecida como Agrião, esta espécie é de pequeno porte
sua folha é pequena, verde-escura, rica em nutrientes e
tem um sabor levemente picante.

Seu consumo é muito usado no combate a gripes e


doenças respiratórias. em alguns casos eles também o
usam para fortalecer, como eles descrevem: “ quando a
pessoa está fraca e se sentindo sem forças usamos o agrião
pisado ou na comida, ajuda a revigorar”.

Como já foi colocado, o agrião é consumido por meio de


chá, lambedor, mas também cru, puro ou junto com
outros alimentos em uma salada, por exemplo. A folha
crua também pode ser acrescentada a sopas.

Para fazer lambedor de agrião é necessário que em uma


panela, em fogo médio, ferva 10 colheres (sopa) de folhas e
talos de agrião, 5 colheres (sopa) de mel e 1 copo (250ml)
de água. Desligue, espere amornar e coe. Tome 1 colher
(sopa) a cada 6 horas.

Já para o chá, coloque a água para aquecer e desligue o


fogo quando ela levantar fervura. Em seguida, adicione o
agrião e tampe, deixando a mistura descansar por cerca de
15 minutos. Por fim, coe, adoce com o mel e beba morno.

@PROGRAMAESCOLAVERDE 29
Conhecida como Anador, esta espécie é usada no
tratamento de dores fortes, principalmente para
mulheres em período menstrual para combater as
cólicas.

Mas também é utilizada para o alívio de dores de cabeça


e enxaquecas, por possuir propriedades analgésicas e
relaxantes, ele também é usado para o alívio e
relaxamento, ajudando a diminuir a tensão e o
desconforto causados por esses problemas.

Para preparar o chá do anador, adicione uma co lher de


chá das folhas secas em uma xícara de água quente.
Deixe em infusão por cerca de 10 minutos, coe e beba.

Já o extrato da planta, deve-se macerar, processo


mecânico, no qual, a planta fica em repouso no solvente e
em seguida filtrada. Extração de óleo essencial consiste
em arraste a vapor ou hidrodestilação utilizando
aparelhos com aquecimento e condensador podendo ser
quantificado.

Também pode ser usada como óleo essencial fei to por


meio da extração caseira, basta encha os frascos com as
folhas de anador e cubra-as totalmente com o óleo de
amêndoas doces. A seguir, transfira o conteúdo dos
frascos para um liquidificador. Triture algumas vezes.

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A Erva Cidreira por ter propriedades calmantes, sedativas,
relaxantes, antiespasmódicas, analgésicas, anti-
inflamatórias e antioxidantes é usada na tribo no
tratamento de problemas digestivos, ansiedade e estresse.

Sendo usadas como chás, infusões, sucos. é uma planta de


fácil cultivo e geralmente é plantada próximo ao rio.

Para consumi-la como chá basta ferver 350 ml de á gua


potável durante três minutos; Depois, acrescente a erva-
cidreira, seja ela fresca ou seca; Deixe-a descansar durante
cinco minutos; Logo após, coe e beba o chá ainda morno.

Ela também pode ser usada como óleo essencial calmante,


feito por meio da extração caseira, basta que encha os
frascos com as folhas de erva cidreira e cubra-as
totalmente com o óleo de amêndoas doces. A seguir,
transfira o conteúdo dos frascos para um liquidificador.
Triture algumas vezes.

Depois basta usá-lo em um difusor industrial mistura do a


água para melhor aproveitamento, ou mesmo, fervendo
em um recipiente pequeno e difundindo o vapor pelo
ambiente.

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A Erva Doce é cultivada também em canteiros próximos ao
rio, por precisar de uma quantidade razoável de água para
se desenvolver.

Usada na comunidade contra gripes leves, tosse, cólicas,


inflamações orofaríngeas, má digestão, gases, dor de
estômago perda do apetite, e dores de cabeça e ainda
como repelente de insetos.

Também pode ser usada para facilitar a amamentação,


ajudar no parto e sintomas de menopausa.

Para fazer o chá, basta ferver um quantitativo desejável de


água e depois despejá-lo sobre as sementes em uma xícara
ou copo. Outra forma de consumi-la é em saladas (para
trazer frescor), em pães e até mesmo como tempero para
carnes.

Ela também pode ser usada em efeito calmante no


ambiente a partir de seu óleo essencial ou extrato: encha
frascos com as folhas ou sementes e cubra-as totalmente
com o óleo de amêndoas doces. A seguir, transfira o
conteúdo dos frascos para um liquidificador. Triture
algumas vezes.

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O Capim Santo é usado para melhorar a digestão e azia
estomacal, também é usado para dores leves e ação
calmante, ajuda em dores musculares.

Na comunidade ele é cultivado em área de sequeiro nos


quintais produtivos, e também nas áreas comuns de beira
de rio.

Ele também é usado para dor de barriga e inchaços. para


preparar o chá o ideal é ferver a água separadamente e,
após a fervura, jogá-la sobre as folhas. Espere alguns
minutos até que a água se core para consumir.

Também pode ser usado no suco associado a frutas como


abacaxi ou limão, ou mesmo laranja, com grande potencial
calmante e detox. com um sabor agradável. Caso queira
deixar o suco ainda com mais frescor e propriedades
medicinais pode acrescentar um pedaço de gengibre.

Ele também pode ser usado em difusor nos ambien tes:


basta colocá-lo em um frasco e cobri-lo totalmente com o
óleo de amêndoas doces. A seguir, transfira o conteúdo dos
frascos para um liquidificador. Triture algumas vezes.

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A fumaça dos cachimbos, o respeito às ervas sagra das e
os cânticos marcam os rituais de toré do povo truká, com
fortes substâncias alucinógenas e jurema preta ajuda na
comunicação com os encantados.

Por meio de cantos, danças, infusões, cachimbos e dizeres


sagrados, os participantes se colocavam em contato com
seus antepassados e com outros seres do plano espiritual.

O modo mais comum de prepara a jurema para o


consumo nos rituais é por meio do chá de suas raízes: que
são raspadas e maceradas com algum objeto sagrado,
seja pedra ou algum instrumento devidamente cunhado
para esse fim, e depois de macerada a raiz é misturada a
outra bebida que possa atenuar seu sabor forte, e então é
ingerida.

Sua raiz também pode ser macerada com sua folha para
ser fumada nos cachimbos durante as cerimônias.

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CAPÍTULO 3

LEGADOS E REFLEXÕES

FOTOS: BARBARA CAZE

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Os povos indígenas desempenham um papel crucial na
preservação ambiental no Brasil, devido à sua profunda
conexão e conhecimento tradicional da fauna e flora.

O Brasil abriga um grande número de comunidades


indígenas, muitas das quais vivem em áreas de grande
importância ecológica, como a floresta amazônica. Essas
comunidades têm uma forte compreensão de seus
ecossistemas circundantes, tendo desenvolvido relações
complexas com plantas, animais e terra ao longo de
milhares de anos. Como tal, eles possuem um conhecimento
valioso sobre como gerenciar e proteger esses ambientes de
forma sustentável, que tem sido transmitido por gerações.

Os territórios indígenas têm sido uma fronteira de resistência


diante da ganância capitalista expressa em atividades como
a mineração, extração de madeira, monocultura, pecuária
entre outras práticas de exploração predatórias.

Os povos Trukás enfrentam resistência até hoje no munícipio


de Cabrobó, os moradores que queriam usar a ilha de
Assunção com interesses imobiliários e que encontraram no
povo indígena a sua resistência põem em cheque até hoje
suas origens, duvidam de suas crenças e de suas tradições,
questionam até mesmo a cor da pele da população truká.

Os trukás enfrentaram degradação ambiental em sua


comunidade causada pelos não índios e recuperam a maior
parte da área, inclusive a do solo sagrado onde acontece os
rituais.

A área amazônica que abriga aproximadamente 173 etnias,


fica mais visível a importância dos territórios indígenas na
preservação ambiental. de acordo com dados do próprio
governo federal, Este efeito inibidor do desmatamento
relacionado à presença e o reconhecimento de Terras
Indígenas pode ser demonstrado por meio da queda nas
taxas da destruição da floresta entre 2004 e 2008
.
.
36
@PROGRAMAESCOLAVERDE
.

Neste período, 10 milhões de hectares da Amazônia


brasileira foram demarcados como Terras Indígenas, assim
como outros 20 milhões passaram a ser protegidos no
âmbito do Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia (PPCDAm). Esta ação, por si só,
influenciou a queda de 37% da taxa de desmatamento
observada entre aqueles anos.

Além das baixas taxas de desmatamento no interior das


Terras Indígenas, a destruição da paisagem onde estes
territórios estão inseridos é inibida. Em um raio de 10 km de
distância observa-se 7% de área florestal desmatada, e em
um raio de 25 km de distância, a proporção de área florestal
desmatada é de quase 12%. Este efeito tem papel
importante na conservação da biodiversidade regional,
incluindo mamíferos raros e de grande porte, e os sistemas
hidrológicos da região.

Na Amazônia brasileira, as comunidades indígenas


protegem e manejam 27% das florestas, que armazenam
27% dos estoques de carbono da região, representando
aproximadamente 13 bilhões de toneladas. Esta quantidade
não considera o carbono armazenado no solo, que possui,
em média, um estoque entre 40 e 60 toneladas por hectare.
Esta retenção do carbono pelas florestas ajuda a conter o
acúmulo de CO2 na atmosfera, visando à diminuição do
efeito estufa. Além de estocar enormes quantidades de
carbono, as florestas das Terras Indígenas resfriam a
superfície e interferem na circulação global - atmosférica e
oceânica -, ajudando a baixar a temperatura do planeta.

Além de estocar enormes quantidades de carbono as


florestas das Terras Indígenas resfriam a superfície e
interferem na circulação global - atmosférica e oceânica -,
ajudando a baixar a temperatura do planeta. As florestas
constituem extraordinários componentes vivos e interativos
do clima, como uma bomba d’água gigante: cerca de 5,2
bilhões de toneladas de água são transpiradas diariamente
pelas árvores existentes nas Terras Indígenas.
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@PROGRAMAESCOLAVERDE
Para comparação, o volume despejado no Oceano Atlântico
pelo Rio Amazonas é pouco mais de 17 bilhões de toneladas
por dia. O volume de água fornecido pelas florestas das
Terras Indígenas daria para encher diariamente quase 80
vezes todas as caixas d’água do Brasil.

A manutenção dessas grandes extensões protegidas será


fundamental para preservar o regime de chuvas, importante
não só para a região Norte, mas que contribui de forma
significativa com as chuvas das regiões Sul e Sudeste. Por
exemplo, a substituição das florestas para o cultivo de
pastagens ou culturas agrícolas resulta em um aumento de
temperatura regional de 6,4o C e 4,2°C, respectivamente.

Como consequência, ocorre uma variação no ciclo hídrico


regional, que coloca em risco o funcionamento ecológico
das florestas da região e o bem viver dos povos que nelas
habitam. O alto grau de conservação das florestas existentes
nas Terras Indígenas evita o aumento da temperatura.

Estes efeitos positivos da conservação das florestas nas


Terras Indígenas revelam um modelo promissor de
governança do território. As iniciativas comunitárias
implementadas nesses territórios representam uma
referência na política socioambiental e uma via alternativa
para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Um
exemplo é o Território Indígena do Xingu (TIX), que faz parte
de um mosaico de áreas protegida, - 21 Terras Indígenas e
nove Unidades de Conservação - contíguas, que conformam
um corredor de diversidade socioambiental de 26 milhões
de hectares e bloqueiam o impacto da expansão do
desmatamento e da produção de commodities na região.

Outro exemplo é a Bacia do Rio Negro, região onde os povos


indígenas promovem e articulam processos e múltiplas
parcerias a fim de construir uma plataforma de gestão
transfronteiriça pela melhoria da qualidade de vida,

38
@PROGRAMAESCOLAVERDE
-
Valorização da diversidade socioambiental, segurança
alimentar e produção colaborativa e intercultural de
conhecimento. Trata-se de um território de diversidade
socioambiental, cuja extensão é de 71 milhões de hectares
compartilhados por quatro países: Brasil, Colômbia, Guiana e
Venezuela. Aproximadamente 62% do território está sob
alguma forma de proteção legal: 98 territórios indígenas,
reconhecidos oficialmente, e 34 Unidades de Conservação.

Por essas razões, entre outras, a proteção das Terras


Indígenas, seja por meio de demarcação e implementação de
ações de gestão ambiental, seja por meio de ações de
monitoramento e controle, são essenciais para fortalecimento
tanto da política indigenista como para a conservação do
patrimônio natural e ambiental da Amazônia e do País.

Com suas vidas intimamente ligadas a terra e a natureza, as


comunidades indígenas estão na vanguarda da preservação
ambiental e no enfretamento das consequências das
mudanças climáticas. Estudar essa relação, mesmo que de
forma breve, foi importante para entender o quanto a
sociedade “civilizada” perde em não buscar uma maior
aproximação com os povos tradicionais, tanto na relação com
a natureza e o planeta como no autocuidado.

Estudos realizados pelas Organizações das Nações Unidas


para a Alimentação e Agricultura e pelo Fundo para o
Desenvolvimento dos Povoes Indígenas da América Latina e
do Caribe, revelaram que a presença de povos tradicionais se
tornou um fator preponderante para a conservação da
biodiversidade.

O trabalho revela que as taxas de desmatamento são


significativamente mais baixas em territórios indígenas e de
comunidades tradicionais, em que os governos reconhecem
formalmente os direitos territoriais coletivos. A pesquisa se
baseou na revisão de mais de 300 estudos publicados nos
últimos vinte anos. Os territórios indígenas contêm
aproximadamente um terço de todo o carbono armazenado
nas florestas latino-americanas e caribenhas e 14% do
carbono armazenado em florestas de todo o mundo.
39
considerações Finais
Com suas vidas intimamente ligadas a terra e a natureza,
as comunidades indígenas estão na vanguarda da
preservação ambiental e no enfretamento das
consequências das mudanças climáticas. Estudar essa
relação, mesmo que de forma breve, foi importante para
entender o quanto a sociedade “civilizada” perde em não
buscar uma maior aproximação com os povos tradicionais,
tanto na relação com a natureza e o planeta como no
autocuidado.

Estudos realizados pelas Organizações das Nações Unidas


para a Alimentação e Agricultura e pelo Fundo para o
Desenvolvimento dos Povoes Indígenas da América Latina e
do Caribe, revelaram que a presença de povos tradicionais
se tornou um fator preponderante para a conservação da
biodiversidade.

O trabalho revela que as taxas de desmatamento são


significativamente mais baixas em territórios indígenas e
de comunidades tradicionais, em que os governos
reconhecem formalmente os direitos territoriais coletivos.
A pesquisa se baseou na revisão de mais de 300 estudos
publicados nos últimos vinte anos. Os territórios indígenas
contêm aproximadamente um terço de todo o carbono
armazenado nas florestas latino-americanas e caribenhas e
14% do carbono armazenado em florestas de todo o
mundo.

Por isso a importância de manter e repassar os


conhecimentos tradicionais de geração a geração. Os
Trukás mantêm uma mobilização quase unânime na
manutenção de sua cultural que evoca o reconhecer-se
como indígena. Esta pesquisa me permitiu entender o
quanto é importante entender a força da ancestralidade de
um povo, que mesmo oprimido e expulso de seu lugar de
origem não deixou de preservar sua tradição e nem deixou
se perder seu vinculo com a natureza e o seu ambiente.
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@PROGRAMAESCOLAVERDE
Por isso a importância de manter e repassar os
conhecimentos tradicionais de geração a geração. Os
Trukás mantêm uma mobilização quase unânime na
manutenção de sua cultural que evoca o reconhecer-se
como indígena. Esta pesquisa me permitiu entender o
quanto é importante entender a força da ancestralidade de
um povo, que mesmo oprimido e expulso de seu lugar de
origem não deixou de preservar sua tradição e nem deixou
se perder seu vinculo com a natureza e o seu ambiente.

A territorialidade econômica e cultural Truká encontra a


ressignificação indentitária por ser uma comunidade
indígena baseada na reunificação de povos remanescentes
de diversas outras nações indígenas. Por isso, é fácil
encontrar os elementos da militância nos discursos, mas
também nas questões de sobrevivência econômica que
garantirão a permanência do povo na ilha, sem a
dependência efetiva de programas sociais e
assistencialismo governamental.

Outro fator primordial nesta conquista é Educação


Intercultural presente na Educação Escolar Indígena
promovida na Aldeia através da presença de professores
indígenas contratados pelo Estado, formados em suas áreas
específicas ou detentores de notório saber, que ministram
aulas voltadas à manutenção da cultura nativa bem como
ressignificação e em consonância com a
contemporaneidade, explicitando o hibridismo cultural
nessas culturas de fronteiras (CANCLINI, 2011).

Tidos como lugares historicamente isolados, as ilhas


representam não apenas um território delimitado, mas
também a segurança da não contaminação sociocultural;
objetos que edificam um isolamento que, na
contemporaneidade da comunicação imediata e das novas
necessidades socioculturais, tornou-se utópico.

Neste aparente isolamento insular, percebe-se claramente


que as fronteiras do povo Truká são muito tênues, sejam
geográficas ou socioculturais. A interdependência desses
dois territórios (Aldeia e Cidade) é bastante latente e o
processo de hibridismo cultural encontra-se consolidado. 41
REGISTRO DE TRADIÇÕES

FOTOS: BARBARA CAZE

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FOTOS: BARBARA CAZE

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FOTO: ATL.2022

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FOTO: ATL.2022

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FOTO: ATL.2022

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BIBLIOGRAFIA

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antropológico em situações de disputas. In: VIII Reunión de
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CANCLINI, Nestor Garcia. Hibridismo Cultural. São Paulo: Editores


Associados, 2011.

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intercultural na aldeia de Assunção do povo Truká. Dissertação de
Mestrado. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de
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https://api.saudeindigena.icict.fiocruz.br/api/core/bitstreams/b33aa
d09-02c1-4e02-b15c-ac647b4d02f7/content. Acesso em: 11/10/.
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@programaescolaverde 48
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Doutorado do Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e
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Pernambuco – UFRPE. Recife: Gráfica da UFRPE, 2016.

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Pernambuco ( Copipe). FALE/UFMG e SECAD/MEC. 2007.

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socioambientais/terras-ind... IPAM (2015). Terras Indígenas na
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Amazônia – Relatório de Avaliação Científica. São José dos Campos,
ARA Ed., CCST-INPE - INPA.

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