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Ciclo Celular Ok
Ciclo Celular Ok
Celular
Sumário
1. Introdução...................................................................................................................... 3
Bibliografia....................................................................................................................... 39
Referências bibliográficas.............................................................................................. 39
1. Introdução
O ciclo celular pode ser considerado como o ciclo de vida de uma célula. Nesse
sentido, é constituído pela série de estágios de crescimento e desenvolvimento da
célula desde o seu nascimento — formação pela divisão de uma célula mãe — até
a reprodução — divisão para gerar duas células-filhas idênticas. É o principal meca-
nismo pelo qual todos os seres vivos se reproduzem. Os detalhes do ciclo celular
variam de organismo para organismo e ocorrem em diferentes momentos na vida
de um determinado organismo. Entretanto, certas características do ciclo celular
são universais, uma vez que permitem que qualquer célula copie e passe adiante a
sua informação genética para a próxima geração de células. Além da duplicação do
genoma, a maioria das células também duplica suas outras organelas e macromo-
léculas; se não fosse assim, as células-filhas ficariam menores a cada divisão e não
teriam o mesmo funcionamento adequado.
Ponto do fuso
Divisão celular
Mitose Citocinese
GO
Quiescência
Ponto de verificação Fase mitônica Célula deixa ciclo
de danos ao DNA
G2 G1
Crescimento Crescimento
celular celular
Interfase
S
Síntese de DNA
GO
Quiescência
Célula deixa ciclo
Ponto de verificação
de danos ao DNA Ponto de restrição
Figura 1. As células reproduzem-se pela duplicação do seu conteúdo e pela divisão em duas,
um processo chamado de ciclo celular.
Fonte: VectorMine/Shutterstock.com1.
Ciclo Celular 3
O ciclo celular serve tanto para manter a vida, em organismos pluricelulares,
como para gerar a vida, no caso dos organismos eucarióticos unicelulares. Por
meio dele, o corpo humano, por exemplo, inicia sua existência a partir de uma
única célula, o zigoto, a qual passa por duplicações celulares sucessivas, tanto
ao longo do período embrionário quanto ao longo do desenvolvimento do orga-
nismo. Assim, pode-se afirmar que o processo de crescimento de um tecido, de
um órgão ou de todo um organismo pluricelular dá-se basicamente pela multipli-
cação do número de suas células. Além disso, esse processo de multiplicação
celular é também responsável pela reposição de células mortas e pela regenera-
ção de partes danificadas de tecidos ou órgãos.
A divisão de todas as células deve ser cuidadosamente regulada e coordenada
com ambos, crescimento celular e replicação do DNA, para assegurar a formação de
células que possuam os genomas intactos. Nas células eucarióticas, o processo é
controlado por uma série de proteinoquinases que tem sido conservada desde leve-
duras até mamíferos. Nos eucariotos superiores, esta maquinaria do ciclo celular é
regulada pelos fatores de crescimento que controlam a proliferação celular, permitin-
do que a divisão de células individuais seja coordenada pela necessidade do organis-
mo como um todo.
Ciclo Celular 4
responsável pela duplicação do material genético e as fases G1 e G2 recebem este
nome por representarem um intervalo (em inglês, gap), entre a fase S e a fase M.
Durante a fase G1, a célula é metabolicamente ativa e continua crescendo, mas não
duplica seu DNA, processo realizado na fase S. Em seguida, na fase G2, o crescimen-
to celular continua e as proteínas são sintetizadas em preparação para a mitose. Em
determinados pontos em G1 e G2, a célula decide se vai proceder para a próxima fa-
se ou parar para permitir mais tempo para se preparar.
Juntas, essas fases proveem tempo adicional para que a célula cresça e duplique
as suas organelas citoplasmáticas; se a interfase durasse apenas o tempo suficiente
para a replicação do DNA, a célula não teria tempo para duplicar a sua massa antes
de se dividir e, consequentemente, diminuiria de tamanho a cada divisão. Além disso,
durante essas fases de intervalo, a célula monitora o ambiente interno e externo, a
fim de assegurar que as condições são adequadas e os preparativos são completa-
dos, antes que a célula se comprometa com as principais transformações da fase S
e da mitose.
Interfase
S
(crescimento e replicação
do DNA)
G1 G2
(crescimento) (crescimento e
preparações finais
para a divisão)
Mitose
e
e as
es
e
óf
cin
fas
Pr
ito
e
se
etá
ase
fas
C
Anáfa
om
ló
Metáf
Te
Pr
Ciclo Celular 5
MAPA MENTAL 1. VISÃO GERAL DO CICLO CELULAR EM HUMANOS
Partes
Ciclo Celular 6
3. Sistema de controle do ciclo
celular
O sistema de controle do ciclo celular consiste em uma rede complexa de pro-
teínas reguladoras, que garante que os eventos do ciclo celular ocorram em uma
sequência determinada e que cada processo tenha sido completado antes que
o próximo se inicie. Para isso, o próprio sistema de controle é regulado em de-
terminados pontos críticos do ciclo por retroalimentação a partir dos processos
que estão sendo realizados. Desse modo, se algum mau funcionamento impede a
conclusão bem-sucedida da síntese de DNA, por exemplo, sinais são enviados ao
sistema de controle para retardar a progressão da fase M. Tais atrasos fornecem
tempo para a maquinaria ser reparada e também previnem o desastre que poderia
resultar se o ciclo seguisse prematuramente ao próximo estágio.
O sistema de controle do ciclo celular tem como base uma série conectada de
interruptores bioquímicos, cada um dos quais inicia um evento específico do ciclo
celular, nos pontos de verificação. Esse sistema de interruptores possui caracterís-
ticas importantes, as quais aumentam tanto a precisão quanto a confiabilidade da
progressão do ciclo celular. É um sistema altamente adaptável e pode ser modifi-
cado para se adequar a tipos celulares específicos e para responder a sinais intra-
celulares ou extracelulares específicos.
Na maioria das células eucarióticas, o sistema de controle do ciclo celular con-
trola a sua progressão em três principais pontos de verificação (ou de transição
reguladora ou de checagem), que impedem a entrada para a próxima fase do ciclo
até que eventos da fase anterior tenham sido completados. O primeiro é o Início
(ou ponto de restrição) no final de G1 e permite que a célula confirme que o meio
é favorável para proliferação celular antes de passar para a fase S. A passagem
através desse ponto, nas células animais, é regulada principalmente por fatores de
crescimento extracelulares que sinalizam a proliferação celular e pela disponibili-
dade suficiente de nutrientes. Uma vez que tenham passado do ponto de restrição,
as células estão comprometidas a entrar na fase S e prosseguir o resto do ciclo
celular. Por outro lado, se os fatores de crescimento apropriados não estão dispo-
níveis em G1, o ciclo celular é interrompido. Estas células bloqueadas não entram
em um estágio quiescente, chamado de G0, no qual permanecem por longos perío-
dos sem proliferação — dias, semanas ou até mesmo por todo o tempo de vida do
organismo. As células em G0 são metabolicamente ativas, embora parem de cres-
cer e reduzam seus níveis de síntese de proteína. O Início também identifica se há
danos do DNA que necessitem de reparo, evitando que esse DNA danificado seja
replicado na fase S.
Ciclo Celular 7
Além disso, devemos notar que o ponto de verificação em G1 funciona como um
importante mecanismo para a regulação da quantidade de células no corpo — se
mais células são necessárias, sinais extracelulares estimulam o ponto G1 a pros-
seguir com o ciclo celular e quando não são necessárias mais células, a divisão é
bloqueada.
Ciclo Celular 8
Ponto de controle G1
Sistema de
controle
Ponto de controle M
Ponto de controle G2
Dois tipos de maquinaria estão envolvidos na divisão celular: uma produz os no-
vos componentes da célula em crescimento, e a outra atrai os componentes para
os seus locais corretos e os reparte apropriadamente quando a célula se divide
em duas.
O sistema de controle do ciclo celular ativa e desativa toda essa maquinaria nos
momentos corretos e coordenada as várias etapas do ciclo por meio de componentes
proteicos que operam uma série de mudanças bioquímicas em uma determinada
sequência.
Ciclo Celular 9
Proteínas-cinase dependentes de ciclinas
(Cdks)
As proteínas-cinase dependentes de ciclinas (Cdks) são componentes centrais
do sistema de controle do ciclo celular. Apesar de estarem presentes nas células em
proliferação durante todo o ciclo celular, essas proteínas são ativadas apenas em de-
terminados momentos no ciclo, depois do qual elas são rapidamente desativadas de
novo. Assim, a atividade de cada uma dessas cinases aumenta e diminui de maneira
cíclica, levando a mudanças na fosforilação de proteínas intracelulares que iniciam
ou regulam os principais eventos do ciclo celular.
As ciclinas são importantes proteínas reguladoras das Cdks, de modo que, sem as
ciclinas, as Cdks não apresentam atividade de cinase.
Ciclina
Proteínas-cinase
dependentes
de ciclinas
(Cdk)
Ciclo Celular 10
Existem quatro classes de ciclinas, cada uma definida pelo estágio do ciclo celular
no qual se ligam às Cdks e em que atuam:
Na tabela a seguir, estão listados os nomes das ciclinas individuais e de suas Cdks.
Ciclina A – Cdk2
Ciclina A – Cdk1
Ciclina B – Cdk1
Ciclina D – Cdk4/6
Ciclo Celular 11
As Cdks não são apenas reguladas pela ligação das ciclinas, mas também
pela ativação ou inibição por fosforilação. Juntos, esses eventos de regulação
asseguram que as cinases serão ativadas no estágio correto do ciclo celular. A
Cdk inativa não fosforilada contém uma região flexível, chamada de alça T, que
impede o acesso dos substratos proteicos ao sítio ativo onde está ligado o ATP.
Quando essa Cdk não fosforilada está ligada a uma de suas ciclinas, as intera-
ções entre a ciclina e a alça T provocam alteração drástica na posição dessa re-
gião, de modo a expor o sítio ativo da Cdk, que apresenta uma atividade cinásica
mínima. A partir disso, a fosforilação de ativação na alça T, pela cinase ativadora
de Cdk (CAK), provoca alterações adicionais na conformação do complexo ci-
clina-Cdk que aumentam imensamente a afinidade pelos complexos proteicos.
Como resultado, a atividade cinásica do complexo fosforilado é cem vezes maior
do que aquela do complexo não fosforilado.
Ci Ci
cl Ci cl
in cl in
a Ci Ci in a
cl cl a
in in
a a
Proteína
alvo
Ativa
Inativa
Ciclo Celular 12
Se liga! Embora a ativação de Cdk acione algumas das transições
a partir de uma parte do ciclo celular para a outra, sua inativação aciona ou-
tras. Por exemplo, a inativação de M-Cdk — que é acionada pela destruição de
M-ciclina — conduz aos eventos moleculares que retiram a célula da mitose.
Ciclo Celular 13
MAPA MENTAL 2. SISTEMA DE CONTROLE DO CICLO CELULAR
Ciclo Celular 14
4. Interfase
A interfase é um período de intensa atividade metabólica, no qual ocorre o cresci-
mento da célula, além de sua preparação para a divisão celular. É caracterizada por
três fases: G1, S e G2.
Fase G1
Caracteriza-se pelo reinício da síntese de RNA e proteínas que estavam interrom-
pidas durante a mitose (fase M). Com essas sínteses, a célula cresce continuamente
durante essa etapa, como continua fazendo durante S e G2. A maior taxa de síntese
de RNA é detectada em G1 e no começo da fase S, quando 80% dos RNA sintetiza-
dos são representados pelo RNA ribossômico (rRNA). Embora algumas proteínas
tenham picos de síntese ao longo de G1, a maioria delas, do total existente na célula,
é sintetizada continuamente nessa fase.
Ciclo Celular 15
Danos no DNA
Reparo do DNA
Ativação de genes-alvo
Apoptose
Figura 7. O dano ao DNA pode interromper o ciclo celular no ponto de verificação em G1,
com atividade de p53.
Fonte: Dabilg/Shutterstock.com8.
Fase S
O início da síntese do DNA marca também o início da fase S e, na maioria dos ca-
sos, é um ponto de não retorno do ciclo, que leva necessariamente à divisão celular.
Durante o período S, a célula duplica seu conteúdo de DNA elaborando réplicas
perfeitas das moléculas de DNA que contém — replicação do DNA. Toda célula eu-
cariótica diploide inicia seu ciclo em G1 com uma quantidade de DNA igual a 2n.
Durante o período, essa quantidade duplica, passando de 2n para 4n, e assim perma-
nece até a fase do ciclo em que é igualmente repartida para as duas células-filhas,
as quais voltam a ter, novamente em G1, a quantidade 2n idêntica à da célula-mãe.
Fase G2
Nessa fase, a célula reabastece seu estoque de energia e sintetiza proteínas ne-
cessárias para a manipulação e movimentação dos cromossomos. Algumas orga-
nelas são duplicadas e o citoesqueleto é desmontado para prover recursos para a
mitose. Além disso, há um aumento adicional no tamanho da célula. As preparações
finais para a fase mitótica devem ser completadas antes do final de G2.
Ciclo Celular 16
MAPA MENTAL 3. INTERFASE
Ciclo Celular 17
5. Fase M
A fase M, apesar de ser a mais curta do ciclo celular, é o período mais complexo e
importante do ciclo celular, envolvendo a reorganização geral de praticamente todos
os componentes celulares e a distribuição de forma igualitária entre as duas células
filhas. Durante a mitose (divisão nuclear), os cromossomos condensam-se, ocorre a
ruptura do envelope nuclear da maioria das células, o citoesqueleto reorganiza-se pa-
ra formar o fuso mitótico e os cromossomos movem-se para polos opostos. A segre-
gação cromossômica, então, é normalmente seguida da citocinese (divisão celular).
Uma das características mais marcantes do controle do ciclo celular é que um
único complexo proteico, M-Cdk, ocasiona todos os diversos e complexos rearranjos
celulares que ocorrem nos estágios iniciais da mitose. A M-Cdk aciona a condensa-
ção dos cromossomos replicados em estruturas semelhantes a bastões compactos
preparando-os para segregação, e ela induz também a montagem do fuso mitótico
que separará os cromossomos condensados e os segregará para suas células-filhas.
Em células animais, a M-Cdk também promove a desintegração do envelope nuclear
e rearranjos do citoesqueleto de actina e do aparelho de Golgi.
Ciclo Celular 18
A fase M é dividida em seis estágios, sendo que os cincos primeiros fazem parte
da mitose — prófase, pró-metáfase, metáfase, anáfase e telófase —, enquanto o últi-
mo estágio constitui a citocinese.
Fase M
Metáfase
Pró-metáfase Anáfase
Prófase Telófase
Interfase
Mitose
Fase M
Citocinese
Mitose
Prófase
A prófase caracteriza-se pela condensação gradual das fibras de cromatina, que
vão progressivamente se tornando mais curtas e espessas, até formar cromosso-
mos. Estes chegam a alcançar um nível de condensação aproximadamente 1.000
vezes superior ao estado em que a cromatina se apresenta na interfase. O processo
torna os cromossomos visivelmente individualizados e nitidamente compostos por
seus dois elementos longitudinais idênticos, as cromátides-irmãs, as quais carregam
Ciclo Celular 19
o material genético duplicado na interfase. As cromátides-irmãs condensadas são
mantidas juntas pelo centrômero, que é uma sequência de DNA que se liga às pro-
teínas para forma o cinetócoro — o sítio final de ligação dos microtúbulos do fuso
mitótico.
Ciclo Celular 20
Membrana plasmática
Fuso
Centríolos
Citosol
Centrômero
Nucléolo
Cromossomo
Evelope nuclear
Pró-metáfase
A pro-metáfase inicia-se repentinamente com a dissociação do envelope nuclear,
o qual é quebrado em várias vesículas de membrana pequenas. Esse processo é
iniciado pela fosforilação e consequente dissociação das proteínas dos poros nu-
cleares — canais por onde as moléculas entram e saem do núcleo — e proteínas do
filamento intermediário da lâmina nuclear, uma rede de proteínas fibrosas que sus-
tenta e estabiliza o envelope nuclear.
Ciclo Celular 21
Filamento citoplasmático
Cesta nuclear
Anel citoplasmático
Envelope
nuclear
Nucleoplasma
Nucléolo
Núcleo
Ciclo Celular 22
Microtúbulos
do cinetócoro
Microtúbulos
polares
Centríolo
Cromátides-irmãs
Microtúbulos
Cinetócoro
Ciclo Celular 23
Metáfase
A metáfase é marcada pela localização dos centrossomos nos polos opostos da
célula e pelo alinhamento das cromátides-irmãs no plano equatorial delas, a uma
distância equivalente entre os dois polos. O alinhamento das cromátides na placa
metafásica, através do fuso mitótico, garante ao processo de divisão celular que o
conteúdo genético, duplicado na interfase, seja distribuído de forma homogênea pa-
ra ambas as células-filhas.
A ligação aos polos opostos, chamada de biorientação, gera tensão sobre os cine-
tócoros, que estão sendo puxados para direções opostas. Essa tensão sinaliza para
os cinetócoros-irmãos de que eles estão ligados de forma correta e estão prontos
para serem separados. O sistema de controle do ciclo celular monitora essa tensão
para assegurar a ligação correta dos cromossomos, constituindo o terceiro ponto de
verificação do ciclo celular.
Nesta fase, a superfície dos cromossomos, com exceção dos centrômeros, fica
recoberta por uma camada de espessura irregular, a região pericromossômica, cons-
tituída por componentes de processamento do rRNA. Do antigo envoltório nuclear,
acredita-se que a maioria dos complexos de poros nucleares e as lâminas — classe
de proteínas de filamentos intermediários que compõem a lâmina nuclear — estejam
distribuídas no citoplasma e que todas as proteínas transmembranas tenham sido
deslocadas para os túbulos do retículo endoplasmático.
Observa-se, inclusive, que o retículo se mostra, nesta e na fase seguinte da mitose,
como uma densa e dinâmica rede de túbulos, e não cisternas achatadas como é ob-
servado na interfase.
Placa metafásica
Fuso de fibra
Centríolo
Centrômero
Citoplasma
Cromossomo
Ciclo Celular 24
Anáfase
Na anáfase, começam os eventos finais da mitose, quando ocorre a ruptura do
equilíbrio metafásico, com a separação e a migração das cromátides-irmãs, que pas-
sam a ser chamadas de cromossomos filhos. A liberação das cromátides-irmãs, que
permite sua segregação, decorre da degradação da coesina centromérica por uma
protease chamada separase.
Uma vez que as cromátides-irmãs se separam, elas são puxadas para o polo do
fuso ao qual estão ligadas. O movimento é consequência de dois processos indepen-
dentes que envolvem diferente partes do fuso mitótico. Os dois processos são deno-
minados anáfase A e anáfase B e ocorrem mais ou menos simultaneamente.
Na anáfase A, os microtúbulos do cinetócoro, encurtados pela despolimerização,
e os cromossomos ligados movem-se em direção aos polos. A força que coordena
os movimentos da anáfase A é fornecida, principalmente, pela ação das proteínas
motoras associadas aos microtúbulos que se localizam no cinetócoro, auxiliadas
pelo encurtamento dos microtúbulos do cinetócoro. A despolimerização, pela perda
das subunidades de tubulina, depende de uma proteína semelhante às motoras que
está ligada tanto aos microtúbulos como ao cinetócoro e utiliza a energia da hidróli-
se do ATP para remover as subunidades de tubulina do microtúbulo.
Ciclo Celular 25
Já na anáfase B, os polos do fuso distanciam-se, contribuindo para a segregação
dos dois conjuntos cromossômicos. Acredita-se que um grupo de proteínas motoras
atua nos longos microtúbulos interpolares em sobreposição que formam o próprio
fuso; essas proteínas deslizam os microtúbulos interpolares dos polos opostos uns
pelos outros no equador do fuso, afastando os polos dos fusos. O outro grupo atua
nos microtúbulos astrais que se estendem dos polos do fuso em direção à periferia
da célula. Nesse caso, as proteínas motoras encontram-se associadas à membrana
plasmática da célula e puxam cada polo em direção a elas, para longe do outro polo.
Assim, no final da anáfase, os cromossomos duplicados na fase S estão dispos-
tos nos polos opostos da célula. Cada extremidade celular, contém, assim, uma có-
pia idêntica do material genético da célula-mãe.
Cromátides-irmãs
Telófase
A telófase inicia-se quando os cromossomos-filhos alcançam os respectivos
polos, o que se caracteriza pelo total desaparecimento dos microtúbulos do ci-
netócoro e a desestruturação do fuso mitótico. Ocorrem, então, a reconstituição
dos núcleos e a divisão citoplasmática, levando à formação das células-filhas.
Ciclo Celular 26
A descondensação da cromatina, acompanhada da reaquisição da capacidade
de transcrição, a reorganização dos nucléolos e a reconstituição do envoltório
nuclear são os principais eventos da reconstrução nuclear, que se processam em
sentido essencialmente inverso ao ocorrido na prófase. Esses eventos ocorrem
pela inativação do complexo ciclina-Cdk, que foi responsável por iniciar a mitose
fosforilando determinadas proteínas celulares. Sua inativação permite que as
fosfatases entrem em atividade, desfosforilando essas proteínas, e resultando no
término da mitose.
A reconstituição do envelope nuclear realiza-se a partir da fusão das vesículas
originadas do seu desarranjo durante a prometáfase. Acredita-se que estas vesícu-
las se liguem aos cromossomos através das lâminas nucleares, dando início a um
processo de fusão vesicular que culmina com a regeneração do envelope nuclear e
o confinamento do material genético no interior do núcleo recém formado. A inativa-
ção das condensinas promove a descondensação dos cromossomos e o retorno da
cromatina como a configuração estrutural do material genético. A transcrição gênica
agora pode ocorrer como consequência da descompactação. Por fim, o nucléolo é
reorganizado, restabelecendo as feições originais do núcleo interfásico. Um novo nú-
cleo foi criado, e a mitose é completada.
Citocinese
A citocinese é o último passo para completar a divisão celular e consiste na divi-
são dos citoplasmas, para a formação das células-filhas. A citocinese tem início na
anáfase, terminando na telófase. Em células animais, a primeira mudança visível da
citocinese é o aparecimento repentino de uma reentrância, ou sulco de clivagem, na
Ciclo Celular 27
superfície celular. O sulco rapidamente torna-se mais profundo e se espalha ao redor
da célula, até dividir completamente a célula em duas. A estrutura subjacente a esse
sulco é o anel contrátil, formado por filamentos de actina e miosina e responsável
pela compressão da membrana plasmática de forma a gerar as duas células-filhas.
O anel contrátil forma-se abaixo da membrana plasmática e sua localização é de-
terminada pela posição do fuso mitótico, de modo que a célula é finalmente clivada
em um plano que passa através da placa metafásica perpendicular ao eixo. A cliva-
gem avança a partir de contrações dos filamentos de actina e miosina, puxando a
membrana plasmática para dentro e, finalmente, separando a célula pela metade.
A ponte entre as duas células-filhas é, então, rompida, e a membrana plasmática é
reconstituída.
Citocinese
Abscisão
Divisão celular criando duas células-filhas e o restante do meio do corpo.
Ciclo Celular 28
Organelas, como as mitocôndrias e os cloroplastos, não podem se formar espon-
taneamente a partir de cada um de seus componentes; elas surgem somente do
crescimento e da divisão das organelas preexistentes. Essas organelas estão, em
geral, presentes em grande número e serão facilmente herdadas se, em média, seu
número simplesmente dobrar a cada ciclo celular. Igualmente, as células não podem
produzir novo retículo endoplasmático ou aparelho de Golgi, a não ser que parte
desses já esteja presente, que então pode crescer. Na maioria das células, o retículo
endoplasmático permanece intacto durante a mitose e é cortado em dois durante a
citocinese. Já o aparelho de Golgi se fragmenta durante a mitose; os fragmentos as-
sociam-se aos microtúbulos do fuso por meio de proteínas motoras, passando para
as células-filhas. Outros componentes celulares, incluindo as proteínas solúveis, são
herdadas aleatoriamente quando a célula se divide.
Ciclo Celular 29
MAPA MENTAL 4. MITOSE
Acúmulo de Ativação da Cdc25 Divisão celular Citocinese Divisão citoplasmática Desestruturação do Desaparecimento dos
M - ciclina fuso mitótico microtúbulos do cinetócoro
Alinhamento dos
Desintegração do MITOSE Fases Biorientação
Montagem do fuso mitótico Divisão nuclear Metáfase cromossomos na placa
envelope nuclear
metafásica
Fuso mitótico Polos opostos Fosforilação Liga os cromossomos Degradação da coesina Separase
aos microtúbulos
Ciclo Celular 30
6. Meiose
O ciclo de divisão celular discutido até agora, a mitose, é realizado pela maioria das
células dos organismos, as células somáticas. Resulta na produção de duas células-fi-
lhas geneticamente idênticas e que apresentam o mesmo número de cromossomos que
as células que lhes deu origem. Estas são células diploides (2n), considerando-se que o
número básico de cromossomos de uma espécie (ploidia) seja igual a n.
A meiose é um tipo especial de divisão celular, essencial para a reprodução sexuada,
e que ocorre apenas nas células germinativas. A meiose é responsável pela formação de
gametas haploides, ou seja, com a metade do número de cromossomos das células so-
máticas, ditas diploides. Ao final da meiose, quatro células-filhas haploides são geradas
a partir de uma única célula mãe, em duas divisões celulares sequenciais.
Como na mitose, a meiose I inicia-se depois que a fase S tenha sido completada
e os cromossomos parentais tenham se replicado para produzir cromátides-irmãs
idênticas. Entretanto, o padrão da segregação cromossômica na meiose I é drama-
ticamente diferente da mitose. Durante a meiose I, os cromossomos homólogos
primeiramente pareiam um com o outro e então segregam para diferentes células-fi-
lhas. As cromátides-irmãs permanecem juntas, de forma que a conclusão da meiose
I resulta na formação de células-filhas contendo um único membro de cada par de
cromossomos (constituído de duas cromátides-irmãs). A meiose I é seguida pela
meiose II, que se assemelha à mitose porque as cromátides-irmãs se separam.
Interfase Prófase I Metáfase I Anáfase I Telófase I Células-filhas Prófase II Metáfase II Anáfase II Telófase II Células-filhas
da meiose I da meiose II
Meiose I Meiose II
Ciclo Celular 31
Pareamento de cromossomos homólogos
Conforme salientado, antes que a célula sofra divisão — seja por meiose, seja por
mitose —, ela duplicará todos os seus cromossomos. As copias gêmeas de cada
cromossomo completamente dupliacado, denominadas cromátides-irmãs, perma-
necerão, de início fortemente unidas entre si. No entanto, o modo como esses cro-
mossomos replicados serão manipulados é diferente entre a meiose e a mitose. Na
mitose, os cromossomos replicados alinham-se de forma aleatória sobre a placa
metafásica; conforme a mitose avança, as duas cromátides-irmãs são separadas,
originando cromossomos individuais, e as duas células-filhas herdam uma cópia de
cada cromossomo paterno e uma cópia de cada cromossomo materno. Assim, todo
o conjunto de informação genética de uma célula é transmitido para suas células-fi-
lhas inalterado.
Enquanto isso, na divisão I da meiose, os cromossomos homólogos pater-
nos e maternos replicados (incluindo os dois cromossomos sexuais replicados)
formam pares, unindo-se longitudinalmente uns aos outros antes de alinharem
sobre o fuso. Esse pareamento físico dos dois cromossomos equivalentes — de-
nominados cromossomos homólogos — é essencial, pois permite que os cromos-
somos de origem paterna e materna segreguem em diferentes célula-filhas na
primeira divisão.
Figura 19. Comparação entre a metáfase na mitose e nas meioses. Durante a meiose, os cromosso-
mos homólogos formam pares antes de se alinharem no fuso.
Fonte: Ali DM/Shutterstock.com20.
Ciclo Celular 32
Hora da revisão! Organismos que se reproduzem sexuada-
mente são em geral diploides: cada célula contém dois conjuntos de cro-
mossomos — um conjunto de cromossomos maternos e um conjunto de
cromossomos paternos, — um herdado de cada parental. Os dois parentais,
como membros da mesma espécie, possuem conjuntos similares de cro-
mossomos, exceto no que diz respeito aos cromossomos sexuais — cro-
mossomos especializados presentes em alguns organismos machos das
fêmeas. Desse modo, cada célula diploide possui duas cópias de cada gene,
com exceção dos genes que ocorrem nos cromossomos sexuais, os quais
podem estar presentes em uma única cópia. Durante a meiose, os cromos-
somos dos pares cromossômicos são separados e reorganizados em novas
combinações, formando conjuntos cromossômicos únicos, presentes nas
células germinativas (ou gametas) haploides. Com a reprodução, os dois
tipos de gametas haploides diferentes fusionam-se para a formação de uma
célula diploide, o zigoto, o qual apresenta uma nova combinação de cromos-
somos. O zigoto assim produzido desenvolve-se em um novo indivíduo a
partir de múltiplas mitoses.
Meiose
Fertilização
46 cromossomos Ovo (óvulo)
em 23 pares 23 cromossomos
Mitose
Zigoto Embrião
46 cromossomos 46 cromossomos
em pares em pares
Meiose
46 cromossomos
Esperma
em 23 pares
23 cromossomos
Figura 20. A reprodução sexuada envolve tantos células haploides quanto diploides.
Fonte: Vecton/Shutterstock.com21.
Ciclo Celular 33
Prófase meiótica e a recombinação genética
As modificações morfológicas que ocorrem durante o pareamento são a base
para dividir a prófase meiótica em cinco estágios sequenciais: leptóteno, zigóteno,
paquíteno, diplóteno e diacinese.
No leptóteno, a cromatina começa a condensar-se gradualmente em cromosso-
mos, mas somente filamentos finos são ainda visíveis ao microscópio óptico. Ao
microscópio óptico, são característicos dessa fase pontos de maior condensação ao
longo dos filamentos cromatínicos, chamados de cromômeros, que ocorrem na mes-
ma posição nos dois cromossomos de um par de homólogos. Ao nível ultraestrutural
ainda, observa-se que os cromossomos estão individualmente associados a estrutu-
ras filamentosas localizadas entre as duas cromátides-irmãs de cada cromossomo,
os núcleos axiais.
Gradativamente, os cromossomos continuam sua condensação e inicia-se um
processo de aproximação e pareamento entre os homólogos, chamado sinapse,
que tem sido comparado à união das duas metades quando se fecha um zíper.
O início do processo sináptico ocorre na fase denominada zigóteno. A sinapse
ocorre ordenadamente, ponto por ponto, ou seja, cromômero por cromômero,
aproximando os cromossomos homólogos, que se alinham lateralmente de uma
maneira precisa, mas não se fundem, permanecendo entre eles uma distância fi-
nal de cerca de 150 a 200 nm. A microscopia eletrônica mostrou que as sinapses
cromossômicas são devidas à formação de uma estrutura proteica complexa,
que se dispõe longitudinalmente entre os dois homólogos, denominada complexo
sinaptonêmico (CS).
Quando o processo de formação sinaptonêmica se completa, isto é, quando todos
os homólogos estão unidos por complexos sinaptonêmicos em toda a sua extensão,
começa a terceira fase da prófase I, que é o paquíteno, durante a qual os cromos-
somos permanecem emparelhados. O conjunto constituído pelos cromossomos
homólogos unidos pelo complexo sinaptonêmico é chamado de bivalente ou tétrade;
bivalente porque contém dois cromossomos unidos, os homólogos, e tétrade porque
é formado pelas quatro cromátides
Essa organização dos bivalentes assegura que regiões homólogas do DNA sejam
colocadas em proximidade, de tal modo que é favorecida a ocorrência de um segun-
do evento de grande importância na meiose: a troca de segmentos de DNA entre os
cromossomos homólogos, denominada permuta, crossing-over ou recombinação
genética. A permuta é um evento molecular que envolve troca de genes entre os cro-
mossomos de origem paterna e materna.
A recombinação ocorre em uma alta frequência, sendo iniciada pelas quebras da
fita dupla, que são induzidas precocemente ainda no leptóteno, por meio de uma en-
donuclease chamada de Spo11. Com a ocorrência das quebras, algumas dão origem
à reunião trocada dos filamentos provenientes de cada uma das cromátides homólo-
gas envolvidas na permuta, seguida por um processo de reparo por meio da substi-
tuição de bases impropriamente pareadas nas duas moléculas de DNA híbridas.
Ciclo Celular 34
Atravessando
Cromátides-irmãs Cromátides-irmãs Cromátides não irmãs
Replicação
Tipo parental
Cromossomo Cromossomo
paterno materno Cromossomos Quiasma Cromátides
homólogos recombinantes
Tipo de recombinação
Ciclo Celular 35
Saiba mais! Na formação dos ovócitos, o diplóteno é uma fase
muito longa e nela ocorre um aumento de volume celular. Trata-se, portanto,
de uma fase de intensa atividade metabólica, o que explica a observação de
que, no diplóteno da maioria das espécies, os cromossomos se tornam des-
compactados para permitir a transcrição de certos genes.
Meiose II
A primeira divisão da meiose não origina células com um conteúdo haploide
de DNA. Para que esse objetivo seja alcançado, cada célula deverá atravessar um
segundo ciclo de divisão, a meiose II, a qual ocorrerá sem que exista uma nova
Ciclo Celular 36
duplicação de DNA e sem que ocorra um período significativo de interfase. Um fuso
forma-se, os cromossomos alinham-se sobre o centro desse fuso, e as cromátides-ir-
mãs são separadas para a formação de células-filhas com um conteúdo haploide de
DNA. Na divisão II da meiose, os cinetocoros de cada par de cromátides-irmãs estão
ligados a microtúbulos do cinetocoro, os quais estão direcionados para sentidos
opostos, como ocorre em uma divisão mitótica comum.
Em meiose I Em meiose II
Figura 22. Comparação entre a separação cromossômica nas meiose I e II, e na mitose.
Fonte: Ali DM/Shutterstock.com23.
Essa configuração permite que cromátides individuais sejam arrastadas para di-
ferentes células-filhas na anáfase II. Quando as coesinas específicas de meiose, que
mantêm as cromátides-irmãs unidas pelo centrômero, são degradadas repentina-
mente, as cromátides se separam. Em resumo, a meiose consiste em um único ciclo
de duplicação de DNA seguido por dois ciclos de divisão celular, de tal forma que
quatro células haploides distintas são produzidas a partir de cada célula diploide que
entra nesse processo.
Mitose
Meiose
Células filhas
Interfase I Prófase I Metáfase I Anáfase I Telófase I Prófase II Metáfase II Anáfase II Telófase II
da meiose I
Células filhas
da meiose II
Meiose I Meiose II
Ciclo Celular 37
MAPA MENTAL 5. MEIOSE
Ciclo Celular 38
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