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Ciclo

Celular
Sumário
1. Introdução...................................................................................................................... 3

2. Visão geral do ciclo celular.......................................................................................... 4

3. Sistema de controle do ciclo celular........................................................................... 7


Proteínas-cinase dependentes de ciclinas (Cdks).................................................... 10
4. Interfase....................................................................................................................... 15
Fase G1........................................................................................................................ 15
Fase S........................................................................................................................... 16
Fase G2........................................................................................................................ 16
5. Fase M.......................................................................................................................... 18
Mitose.......................................................................................................................... 19
6. Meiose.......................................................................................................................... 31
Pareamento de cromossomos homólogos............................................................... 32
Prófase meiótica e a recombinação genética........................................................... 34
A divisão meiótica I continua..................................................................................... 36
Meiose II....................................................................................................................... 36

Bibliografia....................................................................................................................... 39

Referências bibliográficas.............................................................................................. 39
1. Introdução
O ciclo celular pode ser considerado como o ciclo de vida de uma célula. Nesse
sentido, é constituído pela série de estágios de crescimento e desenvolvimento da
célula desde o seu nascimento — formação pela divisão de uma célula mãe — até
a reprodução — divisão para gerar duas células-filhas idênticas. É o principal meca-
nismo pelo qual todos os seres vivos se reproduzem. Os detalhes do ciclo celular
variam de organismo para organismo e ocorrem em diferentes momentos na vida
de um determinado organismo. Entretanto, certas características do ciclo celular
são universais, uma vez que permitem que qualquer célula copie e passe adiante a
sua informação genética para a próxima geração de células. Além da duplicação do
genoma, a maioria das células também duplica suas outras organelas e macromo-
léculas; se não fosse assim, as células-filhas ficariam menores a cada divisão e não
teriam o mesmo funcionamento adequado.

Conceito! O ciclo celular compreende os processos que ocorrem


desde a formação de uma célula até sua divisão em duas células-filhas,
iguais entre si.

Ponto do fuso

Divisão celular

Mitose Citocinese
GO
Quiescência
Ponto de verificação Fase mitônica Célula deixa ciclo
de danos ao DNA

G2 G1
Crescimento Crescimento
celular celular

Interfase

S
Síntese de DNA

GO
Quiescência
Célula deixa ciclo

Ponto de verificação
de danos ao DNA Ponto de restrição

Figura 1. As células reproduzem-se pela duplicação do seu conteúdo e pela divisão em duas,
um processo chamado de ciclo celular.
Fonte: VectorMine/Shutterstock.com1.

Ciclo Celular 3
O ciclo celular serve tanto para manter a vida, em organismos pluricelulares,
como para gerar a vida, no caso dos organismos eucarióticos unicelulares. Por
meio dele, o corpo humano, por exemplo, inicia sua existência a partir de uma
única célula, o zigoto, a qual passa por duplicações celulares sucessivas, tanto
ao longo do período embrionário quanto ao longo do desenvolvimento do orga-
nismo. Assim, pode-se afirmar que o processo de crescimento de um tecido, de
um órgão ou de todo um organismo pluricelular dá-se basicamente pela multipli-
cação do número de suas células. Além disso, esse processo de multiplicação
celular é também responsável pela reposição de células mortas e pela regenera-
ção de partes danificadas de tecidos ou órgãos.
A divisão de todas as células deve ser cuidadosamente regulada e coordenada
com ambos, crescimento celular e replicação do DNA, para assegurar a formação de
células que possuam os genomas intactos. Nas células eucarióticas, o processo é
controlado por uma série de proteinoquinases que tem sido conservada desde leve-
duras até mamíferos. Nos eucariotos superiores, esta maquinaria do ciclo celular é
regulada pelos fatores de crescimento que controlam a proliferação celular, permitin-
do que a divisão de células individuais seja coordenada pela necessidade do organis-
mo como um todo.

Se liga! Defeitos na regulação do ciclo celular são uma causa usual


da proliferação anormal de células cancerosas.

2. Visão geral do ciclo


celular
O ciclo celular da maioria das células eucarióticas passa por uma sequência co-
mum de eventos: crescimento celular; replicação do material genético (DNA); distri-
buição do material genético para as células-filhas; e divisão celular. Esse processo,
que geralmente se completa em 24 horas nas células humanas, é dividido em duas
partes básicas: mitose (fase M) e interfase.
A mitose (divisão nuclear) corresponde à separação dos cromossomos e normal-
mente finalizando com a divisão celular (citocinese). No entanto, a mitose gasta, em
média, apenas uma hora, de modo que aproximadamente 95% do ciclo celular, isto
é, aproximadamente 23 horas, são gastos na interfase — o período entre as mitoses.
Durante a interfase, ocorre, de maneira ordenada, o crescimento celular e a replica-
ção do DNA. Esta parte é subdividida em três fases: G1, S e G2. A fase S (síntese) é

Ciclo Celular 4
responsável pela duplicação do material genético e as fases G1 e G2 recebem este
nome por representarem um intervalo (em inglês, gap), entre a fase S e a fase M.
Durante a fase G1, a célula é metabolicamente ativa e continua crescendo, mas não
duplica seu DNA, processo realizado na fase S. Em seguida, na fase G2, o crescimen-
to celular continua e as proteínas são sintetizadas em preparação para a mitose. Em
determinados pontos em G1 e G2, a célula decide se vai proceder para a próxima fa-
se ou parar para permitir mais tempo para se preparar.
Juntas, essas fases proveem tempo adicional para que a célula cresça e duplique
as suas organelas citoplasmáticas; se a interfase durasse apenas o tempo suficiente
para a replicação do DNA, a célula não teria tempo para duplicar a sua massa antes
de se dividir e, consequentemente, diminuiria de tamanho a cada divisão. Além disso,
durante essas fases de intervalo, a célula monitora o ambiente interno e externo, a
fim de assegurar que as condições são adequadas e os preparativos são completa-
dos, antes que a célula se comprometa com as principais transformações da fase S
e da mitose.

Interfase

S
(crescimento e replicação
do DNA)

G1 G2
(crescimento) (crescimento e
preparações finais
para a divisão)
Mitose
e
e as
es
e

óf
cin
fas

Pr
ito
e

se

etá
ase
fas

C
Anáfa

om

Metáf
Te

Pr

Figura 2. Divisão do ciclo celular.


Fonte: Emre Terim/Shutterstock.com2.

Ciclo Celular 5
MAPA MENTAL 1. VISÃO GERAL DO CICLO CELULAR EM HUMANOS

Síntese proteica Crescimento celular Crescimento celular Síntese proteica

Síntese de RNA G1 Intervalos G2

Replicação do DNA S Interfase Cerca de 23 horas

Partes

CICLO CELULAR Em média, 1 hora Fase M

Duração Mitose Citocinese

Cerca de 24 horas Células humanas Divisão nuclear Divisão celular

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ciclo Celular 6
3. Sistema de controle do ciclo
celular
O sistema de controle do ciclo celular consiste em uma rede complexa de pro-
teínas reguladoras, que garante que os eventos do ciclo celular ocorram em uma
sequência determinada e que cada processo tenha sido completado antes que
o próximo se inicie. Para isso, o próprio sistema de controle é regulado em de-
terminados pontos críticos do ciclo por retroalimentação a partir dos processos
que estão sendo realizados. Desse modo, se algum mau funcionamento impede a
conclusão bem-sucedida da síntese de DNA, por exemplo, sinais são enviados ao
sistema de controle para retardar a progressão da fase M. Tais atrasos fornecem
tempo para a maquinaria ser reparada e também previnem o desastre que poderia
resultar se o ciclo seguisse prematuramente ao próximo estágio.
O sistema de controle do ciclo celular tem como base uma série conectada de
interruptores bioquímicos, cada um dos quais inicia um evento específico do ciclo
celular, nos pontos de verificação. Esse sistema de interruptores possui caracterís-
ticas importantes, as quais aumentam tanto a precisão quanto a confiabilidade da
progressão do ciclo celular. É um sistema altamente adaptável e pode ser modifi-
cado para se adequar a tipos celulares específicos e para responder a sinais intra-
celulares ou extracelulares específicos.
Na maioria das células eucarióticas, o sistema de controle do ciclo celular con-
trola a sua progressão em três principais pontos de verificação (ou de transição
reguladora ou de checagem), que impedem a entrada para a próxima fase do ciclo
até que eventos da fase anterior tenham sido completados. O primeiro é o Início
(ou ponto de restrição) no final de G1 e permite que a célula confirme que o meio
é favorável para proliferação celular antes de passar para a fase S. A passagem
através desse ponto, nas células animais, é regulada principalmente por fatores de
crescimento extracelulares que sinalizam a proliferação celular e pela disponibili-
dade suficiente de nutrientes. Uma vez que tenham passado do ponto de restrição,
as células estão comprometidas a entrar na fase S e prosseguir o resto do ciclo
celular. Por outro lado, se os fatores de crescimento apropriados não estão dispo-
níveis em G1, o ciclo celular é interrompido. Estas células bloqueadas não entram
em um estágio quiescente, chamado de G0, no qual permanecem por longos perío-
dos sem proliferação — dias, semanas ou até mesmo por todo o tempo de vida do
organismo. As células em G0 são metabolicamente ativas, embora parem de cres-
cer e reduzam seus níveis de síntese de proteína. O Início também identifica se há
danos do DNA que necessitem de reparo, evitando que esse DNA danificado seja
replicado na fase S.

Ciclo Celular 7
Além disso, devemos notar que o ponto de verificação em G1 funciona como um
importante mecanismo para a regulação da quantidade de células no corpo — se
mais células são necessárias, sinais extracelulares estimulam o ponto G1 a pros-
seguir com o ciclo celular e quando não são necessárias mais células, a divisão é
bloqueada.

Se liga! Em animais, muitas células permanecem em G0, a menos


que sejam chamadas para proliferar por fatores de crescimento apropriados
ou outros sinais extracelulares. Por exemplo, fibroblastos da pele ficam blo-
queados em G0 até que sejam estimulados a se dividirem para reparar danos
resultantes de um ferimento. A proliferação destas células é desencadeada por
fatores de crescimento derivados de plaquetas, liberados durante a coagulação,
e sinalizam a proliferação de fibroblastos nas vizinhanças do tecido ferido. Os
sinais extracelulares, produzidos por outras células, que estimulam a multiplica-
ção celular são chamados de mitógenos.

O segundo ponto de verificação é a transição de G2 para a fase M, onde o sistema


de controle dispara um evento mitótico precoce que leva ao alinhamento de cro-
mossomos no eixo mitótico na metáfase. Esse ponto assegura que as células não
entrem em mitose até que um DNA danificado possa ser reparado e a replicação de
DNA esteja completa.
O terceiro ponto de transição reguladora ocorre durante a mitose e assegura que
os cromossomos replicados estejam ligados apropriadamente a uma maquinaria ci-
toesquelética, chamada de fuso mitótico, antes que o fuso separe os cromossomos
e os distribua para as duas células-filhas.

Se liga! O fuso mitótico é composto de microtúbulos e de várias


proteínas que interagem com eles, incluindo proteínas motoras, sendo respon-
sável por separar os cromossomos replicados e alocar uma cópia de cada cro-
mossomo para cada célula-filha.

Ciclo Celular 8
Ponto de controle G1

Sistema de
controle

Ponto de controle M
Ponto de controle G2

Figura 3. Os pontos de verificação no sistema de controle do ciclo celular.


Fonte: Emir Kaan/Shutterstock.com3.

Se liga! Algumas características do ciclo celular, incluindo o tempo


necessário para completar certos eventos, variam muito de um tipo de célula
para outro, mesmo dentro de um mesmo organismo. Entretanto, a organização
básica do ciclo é essencialmente a mesma em todas as células eucarióticas, e
todos os eucariotos parecem usar maquinarias similares para controlar meca-
nismos para dirigir e regular os eventos do ciclo celular.

Dois tipos de maquinaria estão envolvidos na divisão celular: uma produz os no-
vos componentes da célula em crescimento, e a outra atrai os componentes para
os seus locais corretos e os reparte apropriadamente quando a célula se divide
em duas.
O sistema de controle do ciclo celular ativa e desativa toda essa maquinaria nos
momentos corretos e coordenada as várias etapas do ciclo por meio de componentes
proteicos que operam uma série de mudanças bioquímicas em uma determinada
sequência.

Ciclo Celular 9
Proteínas-cinase dependentes de ciclinas
(Cdks)
As proteínas-cinase dependentes de ciclinas (Cdks) são componentes centrais
do sistema de controle do ciclo celular. Apesar de estarem presentes nas células em
proliferação durante todo o ciclo celular, essas proteínas são ativadas apenas em de-
terminados momentos no ciclo, depois do qual elas são rapidamente desativadas de
novo. Assim, a atividade de cada uma dessas cinases aumenta e diminui de maneira
cíclica, levando a mudanças na fosforilação de proteínas intracelulares que iniciam
ou regulam os principais eventos do ciclo celular.
As ciclinas são importantes proteínas reguladoras das Cdks, de modo que, sem as
ciclinas, as Cdks não apresentam atividade de cinase.

Ciclina

Proteínas-cinase
dependentes
de ciclinas
(Cdk)

Figura 4. Complexo ciclina — Cdk.


Fonte: Dabilg/Shutterstock.com4.

Se liga! As ciclinas recebem esse nome porque sofrem um ciclo de


síntese e degradação a cada ciclo celular. Enquanto isso, as proteínas Cdk são
constantes. Nesse sentido, as modificações cíclicas nos níveis das proteínas
ciclinas resultam no agrupamento e ativação cíclicos dos complexos ciclina-
Cdk nos estágios específicos do ciclo celular.

Ciclo Celular 10
Existem quatro classes de ciclinas, cada uma definida pelo estágio do ciclo celular
no qual se ligam às Cdks e em que atuam:

• G1/S-ciclinas: Ativam as Cdks no final de G1, formando o complexo G1/S-Cdk e,


com isso, ajudam a desencadear a progressão ao Início, monitorando a entrada
no ciclo celular. Seus níveis diminuem na fase S.
• S-ciclinas: Se ligam a Cdks logo após a progressão ao Início e ajudam a estimu-
lar a duplicação dos cromossomos, formando o complexo S-Cdk. Seus níveis
permanecem elevados até a mitose, e elas contribuem ao controle de alguns
eventos mitóticos iniciais.
• M-ciclinas: Ativam as Cdks que estimulam a entrada na mitose na transição
G2/M, por meio do complexo M-Cdk. Os níveis de M-ciclinas diminuem na me-
tade da mitose.
• G1-ciclinas: Na maioria das células, elas ajudam a regular as atividades das
G1/S-ciclinas.

Na tabela a seguir, estão listados os nomes das ciclinas individuais e de suas Cdks.

AS PRINCIPAIS CICLINAS E CDKS DE VERTEBRADOS

Complexo ciclina — Cdk Ciclina Parceira de Cdk

G1 — Cdk Ciclina D* Cdk4, Cdk6

G1/S — Cdk Ciclina E Cdk2

S — Cdk Ciclina A Cdk2

M — Cdk Ciclina B Cdk1**

Tabela 1. Principais ciclinas e Cdks de vertebrados. * Existem três ciclinas D em mamíferos


(D1, D2 e D3). ** O nome original de Cdk1 era Cdc2.
Fonte: Elaborado pelo autor segundo informações de Alberts et al., 20175.

Ciclina A – Cdk2
Ciclina A – Cdk1

Ciclina E – Cdk2 Ciclo


Celular

Ciclina B – Cdk1

Ciclina D – Cdk4/6

Figura 5. Complexos de ciclina — Cdk do sistema de controle do ciclo celular de acordo


com a sua respectiva fase.
Fonte: Dabilg/Shutterstock.com6.

Ciclo Celular 11
As Cdks não são apenas reguladas pela ligação das ciclinas, mas também
pela ativação ou inibição por fosforilação. Juntos, esses eventos de regulação
asseguram que as cinases serão ativadas no estágio correto do ciclo celular. A
Cdk inativa não fosforilada contém uma região flexível, chamada de alça T, que
impede o acesso dos substratos proteicos ao sítio ativo onde está ligado o ATP.
Quando essa Cdk não fosforilada está ligada a uma de suas ciclinas, as intera-
ções entre a ciclina e a alça T provocam alteração drástica na posição dessa re-
gião, de modo a expor o sítio ativo da Cdk, que apresenta uma atividade cinásica
mínima. A partir disso, a fosforilação de ativação na alça T, pela cinase ativadora
de Cdk (CAK), provoca alterações adicionais na conformação do complexo ci-
clina-Cdk que aumentam imensamente a afinidade pelos complexos proteicos.
Como resultado, a atividade cinásica do complexo fosforilado é cem vezes maior
do que aquela do complexo não fosforilado.

Ci Ci
cl Ci cl
in cl in
a Ci Ci in a
cl cl a
in in
a a
Proteína
alvo
Ativa
Inativa

Cdk ativa ativa a proteína alvo


A ciclina se liga e para regular o ciclo celular Destruição da clicina
ativa a Cdk

Figura 6. Base estrutural da ativação das Cdks e sua ação.


Fonte: Dabilg/Shutterstock.com7.

A concentração de cada tipo de ciclina aumenta gradualmente e depois dimi-


nui bastante em um determinado momento no ciclo celular, devido à sua degra-
dação. Complexos enzimáticos específicos adicionam cadeias de ubiquitina à
ciclina apropriada, que então é direcionada ao proteassomo para ser destruída.
Essa eliminação rápida de ciclina faz com que a cinase retorne para seu estado
inativo.
As ciclinas são degradadas pela ação de duas ligases de ubiquitina diferentes,
o complexo promotor da anáfase, ou ciclossomo (APC/C) e a SCF. A SCF controla
a transição entre as fases G1 e S pela degradação das ciclinas G1/S e proteínas
que inibem as Cdks (CKIs, que serão citadas a seguir). Já o APC/C degrada as
ciclinas de fase S e mitóticas, promovendo o término da mitose. Também con-
trola o estabelecimento da separação dos cromossomos na transição entre a
metáfase e anáfase (etapas da mitose) pela degradação da proteína que inibe a
anáfase.

Ciclo Celular 12
Se liga! Embora a ativação de Cdk acione algumas das transições
a partir de uma parte do ciclo celular para a outra, sua inativação aciona ou-
tras. Por exemplo, a inativação de M-Cdk — que é acionada pela destruição de
M-ciclina — conduz aos eventos moleculares que retiram a célula da mitose.

O último nível de controle de importância essencial na regulação das Cdks é uma


família de proteínas denominada inibidores de Cdk ou CKIs, que se ligam diretamen-
te ao complexo ciclina-Cdk e inibem sua atividade. Todos os eucariotos têm CKIs en-
volvidos na regulação da fase S e na mitose, evitando a ativação prematura das Cdks
envolvidas nessas etapas. Certas proteínas inibidoras de Cdk, por exemplo, ajudam,
a manter as cinases em um estado inativo durante a fase G1 do ciclo, atrasando,
assim, a progressão para a fase S. A parada nesse ponto de verificação dá à célula
mais tempo para crescer, ou permite que ela espere até que as condições extracelu-
lares sejam favoráveis para a divisão.

Se liga! Normalmente, os genes que codificam esses CKIs estão


mutados em cânceres humanos.

Saiba mais! Nos ciclos celulares de embriões precoces de ani-


mais a transcrição de genes não ocorre, de modo que o controle do ciclo
celular se resume aos mecanismos que envolvem a regulação de Cdks e
ubiquitinas — ligases e de suas proteínas-alvo. Contudo, nos ciclos celulares
mais complexos da maioria dos tipos celulares, o controle transcricional pro-
porciona um nível adicional de regulação importante. As mudanças na trans-
crição dos genes de ciclinas, por exemplo, auxiliam o controle dos níveis de
ciclinas na maioria das células.

Ciclo Celular 13
MAPA MENTAL 2. SISTEMA DE CONTROLE DO CICLO CELULAR

Proteínas reguladores Fosforilam Constantes Complexos ciclina - Cdk /S – ciclina


G
1
S – ciclina

Desfosforilam Proteínas – cinase Ativam Classes M – ciclina


dependentes de ciclina (Cdks)

Ciclinas Degradadas por ligases


Fosfatases G 1 – ciclina
de ubiquitina

SISTEMA DE CONTROLE Atuação cíclica APC/C SCF


DO CICLO CELULAR

Responde a sinais intra Inibidores de Cdk (CKI)


e extracelulares

Evitam a ativação prematura

Início Durante a mitose Confere se o DNA


Transição G2 → M
(metáfase → anáfase)

O ciclo celular pode ser Confere se os cromossomos Confere se o DNA foi


Final de G 1
interrompido estão ligados ao fuso mitótico replicado corretamente

Quiescência Presença de fatores de


G0 Disponibilidade de nutrientes
crescimento extracelular

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ciclo Celular 14
4. Interfase
A interfase é um período de intensa atividade metabólica, no qual ocorre o cresci-
mento da célula, além de sua preparação para a divisão celular. É caracterizada por
três fases: G1, S e G2.

Fase G1
Caracteriza-se pelo reinício da síntese de RNA e proteínas que estavam interrom-
pidas durante a mitose (fase M). Com essas sínteses, a célula cresce continuamente
durante essa etapa, como continua fazendo durante S e G2. A maior taxa de síntese
de RNA é detectada em G1 e no começo da fase S, quando 80% dos RNA sintetiza-
dos são representados pelo RNA ribossômico (rRNA). Embora algumas proteínas
tenham picos de síntese ao longo de G1, a maioria delas, do total existente na célula,
é sintetizada continuamente nessa fase.

Saiba mais! Sabemos que a fase G1 tem um papel importante


no controle do ciclo celular, definindo se a célula continua proliferando ou se
retira-se do ciclo e entra em estado de quiescência (G0). A interrupção tem-
porária do ciclo nesta fase, induzida pela presença de danos no DNA, permi-
te que os mecanismos de reparo atuem antes da replicação na fase S. Em
células de mamíferos, o sinal de parada dado em G1 é dado por uma proteí-
na conhecida como p53, cujos níveis intracelulares aumentam em resposta
a eventuais danos no DNA. A p53 é um regulador transcricional que ativa a
transcrição de um gene que codifica a p21, uma proteína inibidora de Cdk. A
proteína p21 liga-se à G1/S-Cdk e à S-Cdk, prevenindo que elas conduzam a
célula para a fase S precocemente.
Caso o dano ao DNA seja muito severo para ser reparado, p53 pode indu-
zir a célula a suicidar-se por apoptose, um processo de morte celular pro-
gramada. Caso a proteína p53 não exista ou esteja defeituosa, a replicação
irrefreável do DNA danificado conduz a uma alta taxa de mutações e a uma
produção de células que tendem a se tornar cancerosas. Mutações no gene
p53 são encontradas em cerca de metade de todos os cânceres humanos.

Ciclo Celular 15
Danos no DNA

Reparo do DNA

Ativação de genes-alvo

Apoptose

Figura 7. O dano ao DNA pode interromper o ciclo celular no ponto de verificação em G1,
com atividade de p53.
Fonte: Dabilg/Shutterstock.com8.

Fase S
O início da síntese do DNA marca também o início da fase S e, na maioria dos ca-
sos, é um ponto de não retorno do ciclo, que leva necessariamente à divisão celular.
Durante o período S, a célula duplica seu conteúdo de DNA elaborando réplicas
perfeitas das moléculas de DNA que contém — replicação do DNA. Toda célula eu-
cariótica diploide inicia seu ciclo em G1 com uma quantidade de DNA igual a 2n.
Durante o período, essa quantidade duplica, passando de 2n para 4n, e assim perma-
nece até a fase do ciclo em que é igualmente repartida para as duas células-filhas,
as quais voltam a ter, novamente em G1, a quantidade 2n idêntica à da célula-mãe.

Hora da revisão! O processo de replicação (ou duplicação do


DNA) consiste na cópia do material genético a partir da ação combinada de
várias enzimas, com destaque para a DNA polimerase. Para tal, ocorre a se-
paração das fitas da dupla hélice do DNA com a quebra das ligações de
hidrogênio entre as bases nitrogenadas e, então, cada fita passa a atuar
como molde para a produção de uma nova fita. Com isso, as duas mo-
léculas de DNA resultantes terão, cada uma, uma fita molde e uma fi-
ta recém-sintetizada, caracterizando a replicação como um processo
semiconservativo.

Fase G2
Nessa fase, a célula reabastece seu estoque de energia e sintetiza proteínas ne-
cessárias para a manipulação e movimentação dos cromossomos. Algumas orga-
nelas são duplicadas e o citoesqueleto é desmontado para prover recursos para a
mitose. Além disso, há um aumento adicional no tamanho da célula. As preparações
finais para a fase mitótica devem ser completadas antes do final de G2.

Ciclo Celular 16
MAPA MENTAL 3. INTERFASE

Intensa atividade metabólica Crescimento celular Preparação para a mitose

Síntese de proteínas INTERFASE Crescimento celular adicional Reabastecimento energético

Crescimento celular Fase G 1 Fase S Fase G 2 Síntese de proteínas

Primeiro ponto de Síntese de RNA Desestruturação do Duplicação de organelas


Replicação do DNA
citoesqueleto

Proteína p53 Principalmente rRNA Duplicação do


conteúdo genético

Parada do ciclo em caso Aumento da proteína p21 Inibidor de Cdk


de danos ao DNA

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ciclo Celular 17
5. Fase M
A fase M, apesar de ser a mais curta do ciclo celular, é o período mais complexo e
importante do ciclo celular, envolvendo a reorganização geral de praticamente todos
os componentes celulares e a distribuição de forma igualitária entre as duas células
filhas. Durante a mitose (divisão nuclear), os cromossomos condensam-se, ocorre a
ruptura do envelope nuclear da maioria das células, o citoesqueleto reorganiza-se pa-
ra formar o fuso mitótico e os cromossomos movem-se para polos opostos. A segre-
gação cromossômica, então, é normalmente seguida da citocinese (divisão celular).
Uma das características mais marcantes do controle do ciclo celular é que um
único complexo proteico, M-Cdk, ocasiona todos os diversos e complexos rearranjos
celulares que ocorrem nos estágios iniciais da mitose. A M-Cdk aciona a condensa-
ção dos cromossomos replicados em estruturas semelhantes a bastões compactos
preparando-os para segregação, e ela induz também a montagem do fuso mitótico
que separará os cromossomos condensados e os segregará para suas células-filhas.
Em células animais, a M-Cdk também promove a desintegração do envelope nuclear
e rearranjos do citoesqueleto de actina e do aparelho de Golgi.

Se liga! Acredita-se que cada um desses processos seja iniciado


quando a M-Cdk fosforila proteínas específicas envolvidas no processo, embo-
ra a maioria dessas proteínas ainda não tenha sido identificada.

A ativação de M-Cdk inicia-se com o acúmulo de M-ciclina, cuja produção começa


logo depois da fase S; a sua concentração então aumenta gradualmente e ajuda a
definir o momento de início da fase M. Os complexos M-Cdk são formados ainda ina-
tivos, e sua ativação súbita no final de G2 é acionada pela ativação de uma proteína-
fosfatase (Cdc25) que remove as fosfatases inibidoras que mantêm a atividade das
Cdks bloqueada. Uma vez ativada, cada complexo M-Cdk pode ativar indiretamente
mais M-Cdk, ao fosforilar mais Cdc25.

Saiba mais! As condensinas são complexos proteicos que au-


xiliam a realizar a condensação cromossômica. A M-Cdk que inicia a entra-
da na fase M ativa a reunião dos complexos de condensinas ao DNA pela
fosforilação de algumas das suas subunidades. A condensação torna os
cromossomos mitóticos mais compactos, reduzindo-os a pequenos pacotes
físicos que podem ser segregados mais facilmente na célula em divisão.
Juntamente com as condensinas, as coesinas são proteínas que mantêm as
cromátides-irmãs unidas nos centrômeros e ajudam a configurar os cromos-
somos replicados para a mitose.

Ciclo Celular 18
A fase M é dividida em seis estágios, sendo que os cincos primeiros fazem parte
da mitose — prófase, pró-metáfase, metáfase, anáfase e telófase —, enquanto o últi-
mo estágio constitui a citocinese.

Fase M

Metáfase

Pró-metáfase Anáfase

Prófase Telófase

Interfase

Mitose
Fase M
Citocinese

Figura 8. Estágios da fase M e o ciclo celular.


Fonte: Emre Terim/Shutterstock.com9.

Mitose
Prófase
A prófase caracteriza-se pela condensação gradual das fibras de cromatina, que
vão progressivamente se tornando mais curtas e espessas, até formar cromosso-
mos. Estes chegam a alcançar um nível de condensação aproximadamente 1.000
vezes superior ao estado em que a cromatina se apresenta na interfase. O processo
torna os cromossomos visivelmente individualizados e nitidamente compostos por
seus dois elementos longitudinais idênticos, as cromátides-irmãs, as quais carregam

Ciclo Celular 19
o material genético duplicado na interfase. As cromátides-irmãs condensadas são
mantidas juntas pelo centrômero, que é uma sequência de DNA que se liga às pro-
teínas para forma o cinetócoro — o sítio final de ligação dos microtúbulos do fuso
mitótico.

Se liga! A condensação cromossômica é fundamental para evitar o


emaranhamento ou rompimento do material genético durante sua distribuição
às células-filhas.

Enquanto isso, no citoplasma, centrossomos agem na formação do fuso mitó-


tico como centros nucleadores da polimerização de tubulina em microtúbulos. Os
centrossomos são estruturas que, nas células animais, são constituídas por um par
de centríolos (denominado diplossomo) e um material pericentriolar amorfo e ele-
trondenso, a partir do qual emanam fibras de microtúbulos radiais (centrossomos +
microtúbulos radiais = áster). São duplicados durante a interfase para que possam
auxiliar na formação dos dois polos do fuso mitótico e para que cada célula-filha
possa receber seu próprio centrossomo. Com isso, durante a prófase, os centrosso-
mos separam-se e movem-se para lados opostos do núcleo, onde atuarão como os
polos do fuso mitótico.

Se liga! Estrutura do fuso mitótico.


O núcleo do fuso mitótico é um arranjo bipolar de microtúbulos, no qual as ex-
tremidades menos (—) estão orientadas aos dois polos do fuso, enquanto as
extremidades mais (+) se irradiam para fora dos polos. As extremidades mais
(+) de alguns microtúbulos — chamados microtúbulos interpolares — sobre-
põem-se com as extremidades (+) de microtúbulos do outro polo, resultando
em uma rede antiparalela na região média do fuso. As extremidades (+) de ou-
tros microtúbulos, os microtúbulos do cinetócoro, são ligadas aos pares de cro-
mátides aos cinetócoros. Por fim, muitos fusos também contêm microtúbulos
astrais que se irradiam a partir dos polos e contatam a membrana plasmática
da célula, ajudando no posicionamento do fuso na célula.

Ciclo Celular 20
Membrana plasmática

Fuso

Centríolos

Citosol

Centrômero

Nucléolo

Cromossomo

Evelope nuclear

Figura 9. Aspecto morfológico da célula em prófase.


Fonte: Achiichiii/Shutterstock.com10.

Pró-metáfase
A pro-metáfase inicia-se repentinamente com a dissociação do envelope nuclear,
o qual é quebrado em várias vesículas de membrana pequenas. Esse processo é
iniciado pela fosforilação e consequente dissociação das proteínas dos poros nu-
cleares — canais por onde as moléculas entram e saem do núcleo — e proteínas do
filamento intermediário da lâmina nuclear, uma rede de proteínas fibrosas que sus-
tenta e estabiliza o envelope nuclear.

Hora da revisão! O envelope nuclear é formado por duas mem-


branas concêntricas e atua envolvendo o DNA nuclear. A membrana nuclear
interna contém proteínas que atuam como sítios de ligação para os cromos-
somos e fornecem sustentação para a lâmina nuclear, uma malha de fila-
mentos proteicos que se dispõe sobre a face interna dessa membrana e que
fornece um suporte estrutural para o envelope nuclear.

Ciclo Celular 21
Filamento citoplasmático
Cesta nuclear

Anel citoplasmático

Envelope
nuclear

Proteínas Poro nuclear

Canal central Envelope nuclear

Nucleoplasma

Nucléolo
Núcleo

Figura 10. Envelope nuclear.


Fonte: VectorMine/Shutterstock.com11.

Saiba mais! Cabe ressaltar que alguns organismos eucariontes


unicelulares, como leveduras, fungos filamentosos e alguns protistas, se-
guem um tipo de divisão chamado mitose fechada, em que o envoltório nu-
clear permanece intacto e o fuso de forma no interior do núcleo.

Desse modo, os microtúbulos do fuso, que estão aguardando do lado de fora do


núcleo, obtêm acesso aos cromossomos replicados e ligam-se a eles. Os microtú-
bulos terminam ligados aos cromossomos pelo cinetócoro, complexo de proteínas
especializadas, o qual se reúne nos cromossomos condensados durante o final da
prófase. Cada cromossomo duplicado possui dois cinetócoros, um em cada cro-
mátide-irmã, direcionados para lados opostos. A reunião dos cinetócoros depende
da presença da sequência de DNA no centrômero; na ausência desta sequência, os
cinetócoros não são formados, e, consequentemente, os cromossomos não são se-
parados corretamente durante a mitose.

Ciclo Celular 22
Microtúbulos
do cinetócoro

Microtúbulos
polares

Centríolo

Figura 11. Ilustração de um cromossomo metafásico.


Fonte: angela_cora/Shutterstock.com12.

Saiba mais! O número de microtúbulos ligados a cada cinetó-


coro varia entre as espécies: cada cinetócoro humano liga 20 a 40 microtú-
bulos, por exemplo, ao passo que o cinetócoro da levedura liga apenas um
microtúbulo.

Ligados aos microtúbulos por meio do cinetócoro, os cromossomos são arrasta-


dos para trás e para frente até finalmente se alinharem na placa metafásica no cen-
tro do fuso. Neste estágio, as células atingem a metáfase.

Cromátides-irmãs

Microtúbulos

Cinetócoro

Figura 12. Ilustração de um cromossomo metafásico.


Fonte: angela_cora/Shutterstock.om13.

Ciclo Celular 23
Metáfase
A metáfase é marcada pela localização dos centrossomos nos polos opostos da
célula e pelo alinhamento das cromátides-irmãs no plano equatorial delas, a uma
distância equivalente entre os dois polos. O alinhamento das cromátides na placa
metafásica, através do fuso mitótico, garante ao processo de divisão celular que o
conteúdo genético, duplicado na interfase, seja distribuído de forma homogênea pa-
ra ambas as células-filhas.
A ligação aos polos opostos, chamada de biorientação, gera tensão sobre os cine-
tócoros, que estão sendo puxados para direções opostas. Essa tensão sinaliza para
os cinetócoros-irmãos de que eles estão ligados de forma correta e estão prontos
para serem separados. O sistema de controle do ciclo celular monitora essa tensão
para assegurar a ligação correta dos cromossomos, constituindo o terceiro ponto de
verificação do ciclo celular.
Nesta fase, a superfície dos cromossomos, com exceção dos centrômeros, fica
recoberta por uma camada de espessura irregular, a região pericromossômica, cons-
tituída por componentes de processamento do rRNA. Do antigo envoltório nuclear,
acredita-se que a maioria dos complexos de poros nucleares e as lâminas — classe
de proteínas de filamentos intermediários que compõem a lâmina nuclear — estejam
distribuídas no citoplasma e que todas as proteínas transmembranas tenham sido
deslocadas para os túbulos do retículo endoplasmático.
Observa-se, inclusive, que o retículo se mostra, nesta e na fase seguinte da mitose,
como uma densa e dinâmica rede de túbulos, e não cisternas achatadas como é ob-
servado na interfase.

Placa metafásica

Fuso de fibra

Centríolo

Centrômero

Citoplasma

Cromossomo

Figura 13. Metáfase.


Fonte: Ali DM/Shutterstock.com14.

Ciclo Celular 24
Anáfase
Na anáfase, começam os eventos finais da mitose, quando ocorre a ruptura do
equilíbrio metafásico, com a separação e a migração das cromátides-irmãs, que pas-
sam a ser chamadas de cromossomos filhos. A liberação das cromátides-irmãs, que
permite sua segregação, decorre da degradação da coesina centromérica por uma
protease chamada separase.

Se liga! Até o começo da anáfase, a coesina é mantida em um es-


tado inativo pela ligação a uma proteína inibidora, chamada de securina. Nesta
fase, então, a securina é marcada para ser destruída pelo complexo promotor
da anáfase (APC), já citado anteriormente. Uma vez que a securina foi removi-
da, a separasse é liberada para romper as ligações das coesinas. Além disso, o
APC também marca a M-ciclina para degradação, tornando, assim, o complexo
M-ciclina inativo. Essa inativação rápida de M-Cdk auxilia a iniciar a saída da
mitose.

Uma vez que as cromátides-irmãs se separam, elas são puxadas para o polo do
fuso ao qual estão ligadas. O movimento é consequência de dois processos indepen-
dentes que envolvem diferente partes do fuso mitótico. Os dois processos são deno-
minados anáfase A e anáfase B e ocorrem mais ou menos simultaneamente.
Na anáfase A, os microtúbulos do cinetócoro, encurtados pela despolimerização,
e os cromossomos ligados movem-se em direção aos polos. A força que coordena
os movimentos da anáfase A é fornecida, principalmente, pela ação das proteínas
motoras associadas aos microtúbulos que se localizam no cinetócoro, auxiliadas
pelo encurtamento dos microtúbulos do cinetócoro. A despolimerização, pela perda
das subunidades de tubulina, depende de uma proteína semelhante às motoras que
está ligada tanto aos microtúbulos como ao cinetócoro e utiliza a energia da hidróli-
se do ATP para remover as subunidades de tubulina do microtúbulo.

Hora da revisão! Proteínas motoras: o movimento proporciona-


do pelos microtúbulos sempre é mediado por proteínas motoras das famílias
das cinesinas e das dineínas. Elas associam-se aos microtúbulos, deslizando
por eles a partir de uma mudança conformacional, impulsionada pela hidrólise
do ATP (ATPase). Essa mudança permitirá que elas se movam percorrendo um
ciclo de ligação, liberação e religação ao microtúbulo. Tanto as cinesinas quan-
to as dineínas são dímeros, com duas cabeças globulares de ligação ao ATP e
uma cauda. As dineínas movimentam-se no sentido +  —, enquanto as cinesi-
nas se movimentam no sentido —  +.

Ciclo Celular 25
Já na anáfase B, os polos do fuso distanciam-se, contribuindo para a segregação
dos dois conjuntos cromossômicos. Acredita-se que um grupo de proteínas motoras
atua nos longos microtúbulos interpolares em sobreposição que formam o próprio
fuso; essas proteínas deslizam os microtúbulos interpolares dos polos opostos uns
pelos outros no equador do fuso, afastando os polos dos fusos. O outro grupo atua
nos microtúbulos astrais que se estendem dos polos do fuso em direção à periferia
da célula. Nesse caso, as proteínas motoras encontram-se associadas à membrana
plasmática da célula e puxam cada polo em direção a elas, para longe do outro polo.
Assim, no final da anáfase, os cromossomos duplicados na fase S estão dispos-
tos nos polos opostos da célula. Cada extremidade celular, contém, assim, uma có-
pia idêntica do material genético da célula-mãe.

Cromátides-irmãs

Membrana de plasma Sulco de clivagem Citosol


(citocinese)

Figura 14. Anáfase.


Fonte: Achiichiii/Shutterstock.com15.

Quanto aos elementos do antigo nucléolo (proteínas de processamento do rRNA,


pré-RNA parcialmente processados), tanto permanecem associados aos cromos-
somos na região pericromossômica, como os que passaram ao citoplasma, nesta
fase, se empacotam em estruturas de 0,1 a 3 μm de diâmetro. Ainda, como uma
consequência do fato de a mitose ser aberta, cada célula em divisão tem de refazer
o envoltório nuclear e restabelecer a identidade do núcleo, o que se inicia no final da
anáfase.

Telófase
A telófase inicia-se quando os cromossomos-filhos alcançam os respectivos
polos, o que se caracteriza pelo total desaparecimento dos microtúbulos do ci-
netócoro e a desestruturação do fuso mitótico. Ocorrem, então, a reconstituição
dos núcleos e a divisão citoplasmática, levando à formação das células-filhas.

Ciclo Celular 26
A descondensação da cromatina, acompanhada da reaquisição da capacidade
de transcrição, a reorganização dos nucléolos e a reconstituição do envoltório
nuclear são os principais eventos da reconstrução nuclear, que se processam em
sentido essencialmente inverso ao ocorrido na prófase. Esses eventos ocorrem
pela inativação do complexo ciclina-Cdk, que foi responsável por iniciar a mitose
fosforilando determinadas proteínas celulares. Sua inativação permite que as
fosfatases entrem em atividade, desfosforilando essas proteínas, e resultando no
término da mitose.
A reconstituição do envelope nuclear realiza-se a partir da fusão das vesículas
originadas do seu desarranjo durante a prometáfase. Acredita-se que estas vesícu-
las se liguem aos cromossomos através das lâminas nucleares, dando início a um
processo de fusão vesicular que culmina com a regeneração do envelope nuclear e
o confinamento do material genético no interior do núcleo recém formado. A inativa-
ção das condensinas promove a descondensação dos cromossomos e o retorno da
cromatina como a configuração estrutural do material genético. A transcrição gênica
agora pode ocorrer como consequência da descompactação. Por fim, o nucléolo é
reorganizado, restabelecendo as feições originais do núcleo interfásico. Um novo nú-
cleo foi criado, e a mitose é completada.

Figura 15. Telófase.


Fonte: Julee Ashmead/Shutterstock.com16.

Citocinese
A citocinese é o último passo para completar a divisão celular e consiste na divi-
são dos citoplasmas, para a formação das células-filhas. A citocinese tem início na
anáfase, terminando na telófase. Em células animais, a primeira mudança visível da
citocinese é o aparecimento repentino de uma reentrância, ou sulco de clivagem, na

Ciclo Celular 27
superfície celular. O sulco rapidamente torna-se mais profundo e se espalha ao redor
da célula, até dividir completamente a célula em duas. A estrutura subjacente a esse
sulco é o anel contrátil, formado por filamentos de actina e miosina e responsável
pela compressão da membrana plasmática de forma a gerar as duas células-filhas.
O anel contrátil forma-se abaixo da membrana plasmática e sua localização é de-
terminada pela posição do fuso mitótico, de modo que a célula é finalmente clivada
em um plano que passa através da placa metafásica perpendicular ao eixo. A cliva-
gem avança a partir de contrações dos filamentos de actina e miosina, puxando a
membrana plasmática para dentro e, finalmente, separando a célula pela metade.
A ponte entre as duas células-filhas é, então, rompida, e a membrana plasmática é
reconstituída.

Citocinese

Formação da ponte intercelular com formação completa do envelope


nuclear no meio do corpo, nucléolo e desdobramento das cromátides-irmãs

Abscisão
Divisão celular criando duas células-filhas e o restante do meio do corpo.

Figura 16. Citocinese.


Fonte: Julee Ashmead/Shutterstock.com17.

Ciclo Celular 28
Organelas, como as mitocôndrias e os cloroplastos, não podem se formar espon-
taneamente a partir de cada um de seus componentes; elas surgem somente do
crescimento e da divisão das organelas preexistentes. Essas organelas estão, em
geral, presentes em grande número e serão facilmente herdadas se, em média, seu
número simplesmente dobrar a cada ciclo celular. Igualmente, as células não podem
produzir novo retículo endoplasmático ou aparelho de Golgi, a não ser que parte
desses já esteja presente, que então pode crescer. Na maioria das células, o retículo
endoplasmático permanece intacto durante a mitose e é cortado em dois durante a
citocinese. Já o aparelho de Golgi se fragmenta durante a mitose; os fragmentos as-
sociam-se aos microtúbulos do fuso por meio de proteínas motoras, passando para
as células-filhas. Outros componentes celulares, incluindo as proteínas solúveis, são
herdadas aleatoriamente quando a célula se divide.

Saiba mais! Em células vegetais, a citocinese é resultante da


formação de uma nova membrana plasmática e parede celular por uma
estrutura chamada de fragmoplasto, um complexo formado pelo microtúbu-
lo, microfilamentos e elementos do retículo endoplasmático. Inicialmente,
vesículas oriundas do complexo de Golgi alinham-se no meio da célula,
formando uma estrutura denominada placa celular, que com o auxílio do
fragmoplasto se projeta em direção à superfície celular, levando à divisão da
célula e à formação de duas células-filhas.

Célula animal Célula vegetal

A citocinese envolve a formação de O sulco não pode ser formado por


sulcos entre os núcleos-filhos causa da parede celular dura

Figura 17. Comparação entre a citocinese em plantas e em animais.


Fonte: Saylee Rampurikar/Shutterstock.com18.

Ciclo Celular 29
MAPA MENTAL 4. MITOSE

Compressão da Anel contrátil Sulco de clivagem Anáfase + telófase


membrana plasmática

Acúmulo de Ativação da Cdc25 Divisão celular Citocinese Divisão citoplasmática Desestruturação do Desaparecimento dos
M - ciclina fuso mitótico microtúbulos do cinetócoro

Condensação dos Ativação do complexo Reconstituição dos núcleos Telófase Cromossomos-filhos


Estágios iniciais
cromossomos M - Cdk

Alinhamento dos
Desintegração do MITOSE Fases Biorientação
Montagem do fuso mitótico Divisão nuclear Metáfase cromossomos na placa
envelope nuclear
metafásica

Cromátides-irmãs Condensação da cromatina Prófase Prometáfase Anáfase Região pericromossômica

Centrômero Centrossomos Desintegração do Cinetócoro Separação das Dividida em A e B


envelope nuclear cromátides-irmãs

Fuso mitótico Polos opostos Fosforilação Liga os cromossomos Degradação da coesina Separase
aos microtúbulos

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ciclo Celular 30
6. Meiose
O ciclo de divisão celular discutido até agora, a mitose, é realizado pela maioria das
células dos organismos, as células somáticas. Resulta na produção de duas células-fi-
lhas geneticamente idênticas e que apresentam o mesmo número de cromossomos que
as células que lhes deu origem. Estas são células diploides (2n), considerando-se que o
número básico de cromossomos de uma espécie (ploidia) seja igual a n.
A meiose é um tipo especial de divisão celular, essencial para a reprodução sexuada,
e que ocorre apenas nas células germinativas. A meiose é responsável pela formação de
gametas haploides, ou seja, com a metade do número de cromossomos das células so-
máticas, ditas diploides. Ao final da meiose, quatro células-filhas haploides são geradas
a partir de uma única célula mãe, em duas divisões celulares sequenciais.

Se liga! Os eucariotos unicelulares, tais como as leveduras, podem


sofrer meiose bem como se reproduzir por mitose. No entanto, em animais e
plantas multicelulares, a meiose é restrita às células germinativas, onde é a
chave da reprodução sexual.

Como na mitose, a meiose I inicia-se depois que a fase S tenha sido completada
e os cromossomos parentais tenham se replicado para produzir cromátides-irmãs
idênticas. Entretanto, o padrão da segregação cromossômica na meiose I é drama-
ticamente diferente da mitose. Durante a meiose I, os cromossomos homólogos
primeiramente pareiam um com o outro e então segregam para diferentes células-fi-
lhas. As cromátides-irmãs permanecem juntas, de forma que a conclusão da meiose
I resulta na formação de células-filhas contendo um único membro de cada par de
cromossomos (constituído de duas cromátides-irmãs). A meiose I é seguida pela
meiose II, que se assemelha à mitose porque as cromátides-irmãs se separam.

Interfase Prófase I Metáfase I Anáfase I Telófase I Células-filhas Prófase II Metáfase II Anáfase II Telófase II Células-filhas
da meiose I da meiose II
Meiose I Meiose II

Figura 18. Fases da meiose.


Fonte: Dee-sign/Shutterstock.com19.

Ciclo Celular 31
Pareamento de cromossomos homólogos
Conforme salientado, antes que a célula sofra divisão — seja por meiose, seja por
mitose —, ela duplicará todos os seus cromossomos. As copias gêmeas de cada
cromossomo completamente dupliacado, denominadas cromátides-irmãs, perma-
necerão, de início fortemente unidas entre si. No entanto, o modo como esses cro-
mossomos replicados serão manipulados é diferente entre a meiose e a mitose. Na
mitose, os cromossomos replicados alinham-se de forma aleatória sobre a placa
metafásica; conforme a mitose avança, as duas cromátides-irmãs são separadas,
originando cromossomos individuais, e as duas células-filhas herdam uma cópia de
cada cromossomo paterno e uma cópia de cada cromossomo materno. Assim, todo
o conjunto de informação genética de uma célula é transmitido para suas células-fi-
lhas inalterado.
Enquanto isso, na divisão I da meiose, os cromossomos homólogos pater-
nos e maternos replicados (incluindo os dois cromossomos sexuais replicados)
formam pares, unindo-se longitudinalmente uns aos outros antes de alinharem
sobre o fuso. Esse pareamento físico dos dois cromossomos equivalentes — de-
nominados cromossomos homólogos — é essencial, pois permite que os cromos-
somos de origem paterna e materna segreguem em diferentes célula-filhas na
primeira divisão.

Em mitose Em mieose I Em meiose II

Figura 19. Comparação entre a metáfase na mitose e nas meioses. Durante a meiose, os cromosso-
mos homólogos formam pares antes de se alinharem no fuso.
Fonte: Ali DM/Shutterstock.com20.

Ciclo Celular 32
Hora da revisão! Organismos que se reproduzem sexuada-
mente são em geral diploides: cada célula contém dois conjuntos de cro-
mossomos — um conjunto de cromossomos maternos e um conjunto de
cromossomos paternos, — um herdado de cada parental. Os dois parentais,
como membros da mesma espécie, possuem conjuntos similares de cro-
mossomos, exceto no que diz respeito aos cromossomos sexuais — cro-
mossomos especializados presentes em alguns organismos machos das
fêmeas. Desse modo, cada célula diploide possui duas cópias de cada gene,
com exceção dos genes que ocorrem nos cromossomos sexuais, os quais
podem estar presentes em uma única cópia. Durante a meiose, os cromos-
somos dos pares cromossômicos são separados e reorganizados em novas
combinações, formando conjuntos cromossômicos únicos, presentes nas
células germinativas (ou gametas) haploides. Com a reprodução, os dois
tipos de gametas haploides diferentes fusionam-se para a formação de uma
célula diploide, o zigoto, o qual apresenta uma nova combinação de cromos-
somos. O zigoto assim produzido desenvolve-se em um novo indivíduo a
partir de múltiplas mitoses.

Meiose

Fertilização
46 cromossomos Ovo (óvulo)
em 23 pares 23 cromossomos
Mitose

Zigoto Embrião
46 cromossomos 46 cromossomos
em pares em pares
Meiose

46 cromossomos
Esperma
em 23 pares
23 cromossomos

Figura 20. A reprodução sexuada envolve tantos células haploides quanto diploides.
Fonte: Vecton/Shutterstock.com21.

Ciclo Celular 33
Prófase meiótica e a recombinação genética
As modificações morfológicas que ocorrem durante o pareamento são a base
para dividir a prófase meiótica em cinco estágios sequenciais: leptóteno, zigóteno,
paquíteno, diplóteno e diacinese.
No leptóteno, a cromatina começa a condensar-se gradualmente em cromosso-
mos, mas somente filamentos finos são ainda visíveis ao microscópio óptico. Ao
microscópio óptico, são característicos dessa fase pontos de maior condensação ao
longo dos filamentos cromatínicos, chamados de cromômeros, que ocorrem na mes-
ma posição nos dois cromossomos de um par de homólogos. Ao nível ultraestrutural
ainda, observa-se que os cromossomos estão individualmente associados a estrutu-
ras filamentosas localizadas entre as duas cromátides-irmãs de cada cromossomo,
os núcleos axiais.
Gradativamente, os cromossomos continuam sua condensação e inicia-se um
processo de aproximação e pareamento entre os homólogos, chamado sinapse,
que tem sido comparado à união das duas metades quando se fecha um zíper.
O início do processo sináptico ocorre na fase denominada zigóteno. A sinapse
ocorre ordenadamente, ponto por ponto, ou seja, cromômero por cromômero,
aproximando os cromossomos homólogos, que se alinham lateralmente de uma
maneira precisa, mas não se fundem, permanecendo entre eles uma distância fi-
nal de cerca de 150 a 200 nm. A microscopia eletrônica mostrou que as sinapses
cromossômicas são devidas à formação de uma estrutura proteica complexa,
que se dispõe longitudinalmente entre os dois homólogos, denominada complexo
sinaptonêmico (CS).
Quando o processo de formação sinaptonêmica se completa, isto é, quando todos
os homólogos estão unidos por complexos sinaptonêmicos em toda a sua extensão,
começa a terceira fase da prófase I, que é o paquíteno, durante a qual os cromos-
somos permanecem emparelhados. O conjunto constituído pelos cromossomos
homólogos unidos pelo complexo sinaptonêmico é chamado de bivalente ou tétrade;
bivalente porque contém dois cromossomos unidos, os homólogos, e tétrade porque
é formado pelas quatro cromátides
Essa organização dos bivalentes assegura que regiões homólogas do DNA sejam
colocadas em proximidade, de tal modo que é favorecida a ocorrência de um segun-
do evento de grande importância na meiose: a troca de segmentos de DNA entre os
cromossomos homólogos, denominada permuta, crossing-over ou recombinação
genética. A permuta é um evento molecular que envolve troca de genes entre os cro-
mossomos de origem paterna e materna.
A recombinação ocorre em uma alta frequência, sendo iniciada pelas quebras da
fita dupla, que são induzidas precocemente ainda no leptóteno, por meio de uma en-
donuclease chamada de Spo11. Com a ocorrência das quebras, algumas dão origem
à reunião trocada dos filamentos provenientes de cada uma das cromátides homólo-
gas envolvidas na permuta, seguida por um processo de reparo por meio da substi-
tuição de bases impropriamente pareadas nas duas moléculas de DNA híbridas.

Ciclo Celular 34
Atravessando
Cromátides-irmãs Cromátides-irmãs Cromátides não irmãs

Replicação
Tipo parental

Cromossomo Cromossomo
paterno materno Cromossomos Quiasma Cromátides
homólogos recombinantes

Tipo de recombinação

Figura 21. Fases do alinhamento e cross-over dos cromossomos homólogos.


Fonte: Dee-sign/Shutterstock.com22.

Se liga! Em função dos acontecimentos citados, o paquíteno dura


alguns dias ou semanas, ao contrário das fases anteriores, o leptóteno e o zigó-
teno, que são mais breves e ocorrem em apenas algumas horas.

Se liga! A recombinação genética durante a meiose é a principal


fonte de diversidade genética em espécies que se reproduzem sexuadamente.
Por meio de uma redistribuição dos constituintes genéticos de cada um dos
cromossomos nos gametas, a recombinação auxilia a produzir indivíduos com
novas combinações de genes de origem paterna e materna. Além disso, como
esse processo mantém os cromossomos homólogos unidos durante a prófase
I, a recombinação garante que os homólogos paternos e maternos irão segre-
gar corretamente, um em relação ao outro, na primeira divisão meiótica.

Já no diplóteno, denominação da fase seguinte, a maior parte do complexo si-


naptonêmico é removida do bivalente e observa-se um início de separação entre
os cromossomos homólogos, que passam a ser observados individualmente. Essa
separação não chega a ser completa, porque persistem vestígios ou fragmentos do
complexo sinaptonêmico em certos locais denominados quiasmas, nos quais os
cromossomos homólogos permanecem ligados. Os quiasmas podem ser os locais
em que, na fase de paquíteno, ocorreu troca de genes entre os cromossomos homó-
logos. Recentemente, evidenciou-se que a proteína coesina age na ligação do quias-
ma, estabilizando esses locais de troca até a anáfase I.

Ciclo Celular 35
Saiba mais! Na formação dos ovócitos, o diplóteno é uma fase
muito longa e nela ocorre um aumento de volume celular. Trata-se, portanto,
de uma fase de intensa atividade metabólica, o que explica a observação de
que, no diplóteno da maioria das espécies, os cromossomos se tornam des-
compactados para permitir a transcrição de certos genes.

A última fase da prófase I, a diacinease, é caracterizada pelo aumento da repulsão


entre os cromossomos homólogos. Esse afastamento leva à terminalização dos
quiasmas — deslocamento dos quiasmas para as extremidades dos cromossomos à
medida que a separação aumenta. No entanto, durante a diacinese, os quiasmas são
mantidos, o que é importante para a distribuição correta dos cromossomos durante
a migração em anáfase. A falta de quiasmas, ou seja, a falta de conexões físicas re-
sultantes de crossing-over entre os homólogos, pode levar a uma segregação incor-
reta dos cromossomos homólogos ou a sua não disjunção, resultando em produtos
meióticos com falta ou excesso de cromossomos, o que causa doenças hereditárias,
tal como a síndrome de Down.
Durante a diacinese, acontecem alguns eventos que preparam a célula para a
etapa seguinte da divisão meiótica: um marcante aumento da condensação cromos-
sômica, o desaparecimento dos nucléolos, a ruptura do envoltório nuclear, a ligação
de cada cromossomo do par de homólogos às fibras do fuso, que os prendem aos
polos opostos da célula, e o movimento dos cromossomos para a placa equatorial
da metáfase I.

A divisão meiótica I continua


Na metáfase I, os cromossomos bivalentes alinham-se no fuso. Ao contrário da
mitose, os cinetócoros das cromátides-irmãs estão adjacentes um ao outro e orien-
tados na mesma direção, enquanto os cinetócoros dos cromossomos homólogos
estão apontados para os polos opostos do fuso. A anáfase I é iniciada pelo rompi-
mento dos quiasmas aos quais os cromossomos estão ligados, pela degradação
das coesinas presentes. Os cromossomos homólogos então se separam, ao passo
que as cromátides-irmãs permanecem associadas pelos seus centrômeros. Ao final
da meiose I, cada célula-filha adquiriu então um membro de cada par de homólogo,
constituído de duas cromátides-irmãs.

Meiose II
A primeira divisão da meiose não origina células com um conteúdo haploide
de DNA. Para que esse objetivo seja alcançado, cada célula deverá atravessar um
segundo ciclo de divisão, a meiose II, a qual ocorrerá sem que exista uma nova

Ciclo Celular 36
duplicação de DNA e sem que ocorra um período significativo de interfase. Um fuso
forma-se, os cromossomos alinham-se sobre o centro desse fuso, e as cromátides-ir-
mãs são separadas para a formação de células-filhas com um conteúdo haploide de
DNA. Na divisão II da meiose, os cinetocoros de cada par de cromátides-irmãs estão
ligados a microtúbulos do cinetocoro, os quais estão direcionados para sentidos
opostos, como ocorre em uma divisão mitótica comum.

Em meiose I Em meiose II

Figura 22. Comparação entre a separação cromossômica nas meiose I e II, e na mitose.
Fonte: Ali DM/Shutterstock.com23.

Essa configuração permite que cromátides individuais sejam arrastadas para di-
ferentes células-filhas na anáfase II. Quando as coesinas específicas de meiose, que
mantêm as cromátides-irmãs unidas pelo centrômero, são degradadas repentina-
mente, as cromátides se separam. Em resumo, a meiose consiste em um único ciclo
de duplicação de DNA seguido por dois ciclos de divisão celular, de tal forma que
quatro células haploides distintas são produzidas a partir de cada célula diploide que
entra nesse processo.

Interfase Prófase Metáfase Anáfase Telófase Células-filhas

Mitose

Meiose

Células filhas
Interfase I Prófase I Metáfase I Anáfase I Telófase I Prófase II Metáfase II Anáfase II Telófase II
da meiose I
Células filhas
da meiose II
Meiose I Meiose II

Figura 23. Comparação de meiose e da mitose.


Fonte: Dee-sign/Shutterstock.com24.

Ciclo Celular 37
MAPA MENTAL 5. MEIOSE

Reprodução Apenas uma duplicação Separação das


Células germinativas Gametas Meiose II
sexuada de DNA cromátides-irmãs

Cromossomos Formação de quatro células – MEIOSE Duas divisões celulares Diacinese


Meiose I
maternos e paternos células-filhas - sequenciais

Gera duas células-filhas


Pareamento Cromossomos homólogos Prófase Leptóteno Cromômeros
com um cromossomo

Alinhamento no fuso Troca de genes entre os Crossing-over Paquíteno Zigóteno


Diplóteno
mitótico cromossomos homólogos

Spo11 Complexo sinaptonêmico Bivalente Quiasmas Sinapse

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ciclo Celular 38
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