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II

A JUSTIÇA
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Seis concepções de justiça


Chaïm Perelman1

§ 1. Da justiça2

1. Colocação do problema

O presente estudo tem por objeto a análise da noção de


justiça. Ele não se propõe, de modo algum, a apelar à
generosidade inata do leitor, ao seu bom coração, à parte nobre
de sua alma, para levá-lo, de modo direto ou dissimulado, a
conceber um ideal de justiça que se deva venerar mais do que
todos.
Não se deseja em absoluto convencê-lo de que
determinada concepção da justiça é a única boa, a única que
corresponde ao ideal de justiça perseguido pelo coração dos
homens, sendo todas as outras apenas embustes,
representações insuficientes que fornecem da justiça uma
imagem falsa e se servem de uma justiça aparente que abusa da
palavra “justiça” para fazer que se admitam concepções real e
profundamente injustas. Não, este estudo não pretende apelar
para os bons sentimentos do público; não quer nem elevar,
nem moralizar, nem indicar ao leitor os valores que dão à vida
todo o seu valor.
Uma análise lógica da noção de justiça parece
constituir uma verdadeira aposta. Isso porque, dentre todas as

1Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2011.


2 Publicado na coleção das Actualités Sociales, Nova série, Universidade
Livre de Bruxelas, Institut de Sociologie Solvay, Bruxelas, Office de
Publicité, 1945.
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noções prestigiosas, a de justiça parece uma das mais 1º. A cada qual a mesma coisa.
eminentes e a mais irremediavelmente confusa.
A justiça é considerada por muitos a principal virtude, Segundo essa concepção, todos os seres considerados
a fonte de todas as outras. devem ser tratados da mesma forma, sem levar em conta
“O pensamento e a terminologia”, diz E. Dupréel 3 , nenhuma das particularidades que os distinguem. Seja-se
“desde sempre incitaram a confundir com o valor da justiça o jovem ou velho, doente ou saudável, rico ou pobre, virtuoso ou
da moralidade inteira. A literatura moral e religiosa reconhece criminoso, nobre ou rústico, branco ou negro, culpado ou
no justo o homem integralmente honesto e benfazejo; a justiça inocente, é justo que todos sejam tratados da mesma forma,
é o nome comum de todas as formas de mérito, e os clássicos sem discriminação alguma, sem discernimento algum. No
expressariam sua ideia fundamental dizendo que a ciência imaginário popular, o ser perfeitamente justo é a morte que
moral não tem outro objeto senão ensinar o que é justo fazer e vem atingir todos os homens, sem levar em consideração
ao que é justo renunciar. Ela diria também que a razão deve nenhum de seus privilégios.
ensinar-nos a distinção entre o justo e o injusto, em que
consiste toda a ciência do bem e do mal. Assim, a justiça que, 2º. A cada qual segundo seus méritos.
de um lado, é uma virtude entre as outras, envolve, do outro,
toda a moralidade.” Eis uma concepção da justiça que já não exige a
É tomada neste último sentido que a justiça igualdade de todos, mas um tratamento proporcional a uma
contrabalança todos os outros valores. Pereat mundus, fiat qualidade intrínseca, ao mérito da pessoa humana. Como
justitia. definir esse mérito? Qual medida comum encontrar entre os
É ilusório querer enumerar todos os sentidos possíveis méritos e deméritos de diferentes seres? Haverá, em geral,
da noção de justiça. Vamos dar, porém, alguns exemplos deles, semelhante medida comum? Quais serão os critérios que se
que constituem as concepções mais correntes da justiça, cujo devem levar em conta para a determinação desse mérito?
caráter inconciliável veremos imediatamente: Cumprirá levar em conta o resultado da ação, a intenção, o
1.A cada qual a mesma coisa. sacrifício realizado, e em que medida? Habitualmente, não só
2.A cada qual segundo seus méritos. não respondemos a todas essas perguntas, mas nem sequer as
3.A cada qual segundo suas obras. formulamos. Se estamos embaraçados, dizemo-nos que será
4.A cada qual segundo suas necessidades. depois da morte que os seres serão tratados segundo seus
5.A cada qual segundo sua posição. méritos, que se determinará, com a ajuda de uma balança, seu
6.A cada qual segundo o que a lei lhe atribui. “peso” de mérito e de demérito e que o resultado dessa
Precisemos o sentido de cada uma dessas “pesagem” indicará, por assim dizer automaticamente, a sorte
concepções. que lhes será reservada. A vida do além, o paraíso e o inferno,
constituem a justa recompensa ou o justo castigo da vida
terrestre. Apenas o valor moral intrínseco do indivíduo será o
3 E. DUPRÉEL, Traité de morale, Bruxelas, 1932, t. n, p. 483. critério do juiz, cego a todas as outras considerações.
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cuidados requeridos por sua pouca idade ou por sua velhice,


3º. A cada qual segundo suas obras. etc.
Foi essa fórmula da justiça que, impondo-se cada vez
Essa concepção da justiça tampouco requer um mais na legislação social contemporânea, pôs em xeque a
tratamento igual, mas um tratamento proporcional. Só que o economia liberal em que o trabalho, assimilado a uma
critério já não é moral, pois já não leva em conta a intenção, mercadoria, estava sujeito às flutuações resultantes da lei da
nem os sacrifícios realizados, mas unicamente o resultado da oferta e da procura. A proteção do trabalho e do trabalhador,
ação. todas as leis sobre o salário mínimo, a limitação das horas de
O critério, ao abandonar as exigências relativas ao trabalho, o seguro-desemprego, doença e velhice, o salário-
agente, satisfaz-nos menos do ponto de vista moral, mas se família etc., inspiram-se no desejo de assegurar a cada ser
toma de uma aplicação infinitamente mais fácil e, em vez de humano a possibilidade de satisfazer suas necessidades mais
constituir um ideal quase irrealizável, essa fórmula da justiça essenciais.
permite só levar em conta, o mais das vezes, elementos sujeitos
ao cálculo, ao peso ou à medida. É nessa concepção, que aliás 5º. A cada qual segundo sua posição.
admite muitas variantes, que se inspira o pagamento do salário
dos operários, por hora ou por peça, que se inspiram os exames Eis uma fórmula aristocrática da justiça. Consiste ela
e os concursos em que, sem se preocupar com o esforço em tratar os seres não conforme critérios intrínsecos ao
fornecido, levam-se em conta apenas o resultado, a resposta do indivíduo, mas conforme pertença a uma ou outra determinada
candidato, o trabalho que apresentou. categoria de seres. Quod licet Jovi non licet bovi, diz um velho
adágio latino. As mesmas regras de justiça não se aplicam a
4º. A cada qual segundo suas necessidades. seres pertencentes a categorias por demais diferentes. Assim é
que a fórmula “a cada qual segundo sua posição” difere das
Essa fórmula da justiça, em vez de levar em conta outras fórmulas da justiça no fato de ela, em vez de ser
méritos do homem ou de sua produção, tenta sobretudo universalista, repartir os homens em categorias diversas que
diminuir os sofrimentos que resultam da impossibilidade em serão tratadas de forma diferente.
que ele se encontra de satisfazer suas necessidades essenciais. Na Antiguidade reservava-se um tratamento diferente
É nisso que essa fórmula da justiça se aproxima mais de nossa aos indígenas e aos estrangeiros, aos homens livres e aos
concepção de caridade. escravos; no início da Idade Média, trataram-se
É óbvio que, para ser socialmente aplicável, essa diferentemente os senhores francos e os autóctones galo-
fórmula deve basear-se em critérios formais das necessidades romanos; mais tarde, distinguiram-se os nobres, os burgueses,
de cada qual, pois as divergências entre tais critérios ocasionam os clérigos e os servos ligados à gleba.
diversas variantes dessa fórmula. Assim, levar-se-á em conta Atualmente, trata-se de forma diferente, nas colônias,
um mínimo vital que cumprirá assegurar a cada homem, seus os brancos e os negros; no exército há regulamentos diferentes
encargos familiares, sua saúde mais ou menos precária, os para os oficiais, os suboficiais e os soldados. Conhecem-se
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distinções baseadas nos critérios de raça, de religião, de E. Dupréel opõe essa concepção a todas as outras 4 .
fortuna, etc., etc. O caráter que serve de critério é de natureza Qualifica-a de “justiça estática”, por ser baseada na
social e, a maior parte do tempo, hereditário, portanto manutenção da ordem estabelecida, e lhe opõe todas as outras
independente da vontade do indivíduo. consideradas como as formas da “justiça dinâmica”, por
Se consideramos essa fórmula da justiça aristocrática é poderem trazer a modificação dessa ordem, das regras que a
porque é sempre preconizada e energicamente defendida pelos determinam. “Fator de transformação, a justiça dinâmica se
beneficiários dessa concepção, que exigem ou impõem um mostra um instrumento do espírito reformador ou
tratamento deferente para as categorias de seres por eles progressista, como ele se autodenomina. A justiça estática,
apresentadas como superiores. E tal reivindicação é propriamente conservadora, é fator de fixidez.”5
habitualmente apoiada pela força conferida quer pelas armas,
quer pelo fato de ser uma maioria defrontada com uma minoria A análise sumária das concepções mais correntes da
sem defesa. noção de justiça mostrou-nos a existência de pelo menos seis
fórmulas da justiça – admitindo a maioria delas com
6º. A cada qual segundo o que a lei lhe atribui. numerosas variantes –, fórmulas que são normalmente
inconciliáveis.
Esta fórmula é a paráfrase do célebre cuique suum dos Embora seja verdade que, graças a interpretações mais
romanos. Se ser justo é atribuir a cada qual o que lhe cabe, ou menos forçadas, a afirmações mais ou menos arbitrárias, se
cumpre, para evitar um círculo vicioso, poder determinar o que pode querer relacionar essas diferentes fórmulas umas com as
cabe a cada homem. Se atribuímos à expressão “o que cabe a outras, elas não deixam de apresentar aspectos da justiça muito
cada homem” um sentido jurídico, chegamos à conclusão de distintos e o mais das vezes opostos.
que ser justo é conceder a cada ser o que a lei lhe atribui. Ante tal estado de coisas, três atitudes permanecem
Esta concepção nos permite dizer que um juiz é justo, possíveis.
ou seja, íntegro, quando aplica às mesmas situações as mesmas A primeira consistiria em declarar que essas diversas
leis (in paribus causis paria jura). Ser justo é aplicar as leis do concepções da justiça não têm absolutamente nada em comum,
país. Tal concepção da justiça, contrariamente a todas as que é abusivamente que as qualificam da mesma forma criando
precedentes, não se arvora em juiz do direito positivo, mas se uma confusão irremediável, que a única análise possível
contenta em aplicá-la. consistiria na distinção desses diferentes sentidos, admitindo
É evidente que essa fórmula admite em sua aplicação ao mesmo tempo que não são unidos por nenhum vínculo
tantas variantes quantas legislações diferentes houver. Cada conceitual.
sistema de direito admite uma justiça relativa a esse direito. O Se assim for, seremos levados, para evitar qualquer
que pode ser justo numa legislação, pode não o ser numa
legislação diferente: com efeito, ser justo é aplicar, ser injusto
é distorcer, em sua aplicação, as regras de um determinado
4 Ibid., t. II, pp. 485-496.
5 Ibid., t. II, p. 489.
sistema jurídico.
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mal-entendido, a qualificar de forma diferente cada uma dessas e mostrar os pontos em que diferem. Essa discriminação prévia
seis concepções. Ou não reservaremos o nome de justiça a permitirá determinar uma fórmula da justiça sobre a qual será
nenhuma delas, ou então consideraremos uma delas como a possível um acordo unânime, fórmula que levará em
única que possamos qualificar de justa. consideração tudo quanto há em comum entre as concepções
Esta última forma de proceder nos conduziria, por um opostas da justiça.
rodeio, à segunda atitude. Esta consiste na escolha, entre as Daí não resulta, em absoluto, que se vá acabar com o
diversas formas de justiça, de uma só, da qual tentariam desacordo existente entre os defensores das diversas
convencer-nos que é a única admissível, a única verdadeira, a concepções dessa noção. O lógico não é um prestidigitador e
única real e profundamente justa. sua função não consiste em escamotear o que é. Ao contrário,
Ora, é exatamente essa forma de raciocinar que ele deve fixar o ponto onde o desacordo ocorre, pô-lo em plena
queríamos evitar a todo custo, é contra ela que prevenimos o luz, mostrar as razões pelas quais, a partir de certa noção
leitor. Às razões que teríamos de escolher uma fórmula, os comum da justiça, chega-se, porém, a fórmulas não só
contraditores poriam razões tão válidas quanto elas para diferentes, mas mesmo inconciliáveis.
escolher outra: o debate, em vez de levar ao acordo das mentes, A noção de justiça sugere a todos, inevitavelmente, a
só serviria para atritá-las de um modo ainda mais violento, ideia de certa igualdade. Desde Platão e Aristóteles, passando
porque cada um defenderia com mais energia a sua própria por Santo Tomás, até os juristas, moralistas e filósofos
concepção; de todo modo, a análise da noção de justiça não contemporâneos, todos estão de acordo sobre este ponto. A
teria avançado muito mais com isso. ideia de justiça consiste numa certa aplicação da ideia de
É por esse motivo que damos nossa preferência à igualdade. O essencial é definir essa aplicação de tal forma que,
terceira atitude, que se imporia a delicadíssima tarefa de mesmo constituindo o elemento comum das diversas
pesquisar o que há em comum entre as diferentes concepções concepções de justiça, ela possibilite as suas divergências. Isto
da justiça que se poderiam formular; ou, pelo menos, – para só é possível se a definição da noção de justiça contém um
não nos impormos a irrealizável condição de pesquisar o elemento indeterminado, uma variável, cujas diversas
elemento comum a uma profusão infinita de concepções determinações ensejarão as mais opostas fórmulas de justiça.
diferentes – buscaríamos o que há em comum entre as
concepções da justiça mais correntes, que são as que Aristóteles já observara que é necessário existir certa
distinguimos nas páginas precedentes. semelhança entre os seres aos quais se se aplica a justiça.
Historicamente, aliás, é um fato plausível que se tenha
2. A justiça formal começado por aplicar a justiça aos membros de uma mesma
família, para estendê-la em seguida aos membros da tribo, aos
Para que uma análise lógica da noção de justiça possa habitantes da cidade, de um território, para chegar, finalmente,
constituir um progresso incontestável no esclarecimento dessa à ideia de uma justiça para todos os homens.
ideia confusa, é preciso que ela consiga descrever de um modo
preciso o que há em comum nas diferentes fórmulas da justiça
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“É mister”, diz Tisset num interessante artigo 6 , “que outra concepção da justiça. A noção comum constituirá uma
haja entre os indivíduos algo em comum pelo que seja definição da justiça formal ou abstrata; cada fórmula
estabelecida uma identidade parcial, para que se procure particular ou concreta da justiça constituirá um dos
realizar entre eles a justiça: quando não há medida comum, e inumeráveis valores da justiça formal.
portanto não há identidade, a questão da realização da justiça Será possível definir a justiça formal? Haverá um
nem sequer tem de colocar-se. E pode-se notar que atualmente, elemento conceitual comum a todas as fórmulas da justiça?
no intelecto humano, esse princípio não variou: não se pode Parece que sim. Com efeito, todos estão de acordo sobre o fato
falar de justiça, por exemplo, nas relações entre homens e de que ser justo é tratar de forma igual. Só que surgem as
vegetais; e se a noção de justiça recebeu hoje maior amplitude, dificuldades e as controvérsias tão logo se trata de precisar.
se se aplica a todos os homens, é porque o homem reconheceu Cumprirá tratar todos da mesma forma, ou cumprirá
semelhantes em todos os seus semelhantes; é porque a noção estabelecer distinções? E se for preciso estabelecer distinções,
de humanidade foi ficando pouco a pouco evidente...” quais serão as que será necessário levar em conta para a
A priori, a área de aplicação da justiça não é administração da justiça? Cada qual fornece uma resposta
determinada, sendo, pois, suscetível de variação. Todas as diferente a essas perguntas, cada qual preconiza um sistema
vezes que se fala de “cada qual” numa fórmula da justiça, pode- diferente, para o qual ninguém é capaz de angariar a adesão de
se pensar num grupo diferente de seres. Essa variação do todos. Uns dizem que é preciso levar em conta os méritos do
campo de aplicação da noção “cada qual” a grupos variáveis indivíduo, outros que é preciso levar em consideração suas
fornecerá variantes não só da fórmula “a cada qual a mesma necessidades, outros ainda dizem que não se pode fazer
coisa” mas também de todas as outras fórmulas. Não é dessa abstração das suas origens, da sua posição, etc.
forma porém que será possível resolver o problema que nos Mas, apesar das divergências, todos eles têm algo em
colocamos. Com efeito, em vez de mostrar a existência de um comum na sua atitude. Com efeito, aquele que reclama que se
elemento comum às diversas fórmulas da justiça, as reflexões leve em conta o mérito, quererá que se trate da mesma forma
precedentes provam, ao contrário, que cada uma delas pode ser as pessoas de mérito igual; o segundo quererá que se reserve
de novo interpretada de diferentes formas e dar azo a um um tratamento igual às pessoas com as mesmas necessidades;
número imenso de variantes. o terceiro reclamará um tratamento justo, ou seja, igual, para
Retomemos, portanto, nosso problema inicial. Trata- as pessoas de mesma posição social, etc. Seja qual for o
se de encontrar uma fórmula da justiça que seja comum às desacordo deles sobre outros pontos, todos estão, pois, de
diversas concepções que analisamos. Essa fórmula deve conter acordo sobre o fato de que ser justo é tratar da mesma forma os
um elemento indeterminado, o que se chama em matemática seres que são iguais em certo ponto de vista, que possuem uma
de uma variável, cuja determinação fornecerá ora uma, ora mesma característica, a única que se deva levar em conta na
administração da justiça. Qualifiquemos essa característica de
essencial. Se a posse de uma característica qualquer sempre
6 P. TISSET, “Les notions de Droit et de Justice”, Revue de Métaphysique permite agrupar os seres numa classe ou numa categoria,
et de Morale, 1930, p. 66.
definida pelo fato de seus membros possuírem a característica
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em questão, os seres que têm em comum uma característica A justiça


essencial farão parte de uma mesma categoria, a mesma
categoria essencial. Chaim Perelman
Portanto, pode-se definir a justiça formal ou abstrata
como um princípio de ação segundo o qual os seres de uma
mesma categoria essencial devem ser tratados da mesma I. Problema principal: definir a justiça.
forma. II. Problemas secundários:
Observe-se imediatamente que acabamos de definir 1. Saber se as definições de justiça são compatíveis entre si
uma noção puramente formal que deixa intocadas todas as ou são inconciliáveis.
divergências a propósito da justiça concreta. Essa definição não 2. Encontrar uma fórmula de justiça que inclua todas as
diz nem quando dois seres fazem parte de uma categoria definições e seja objeto de acordo.
essencial nem como é preciso tratá-los. Sabemos que cumpre
tratar esses seres não desta ou daquela forma, mas de forma I – Estratégia para encontrar uma definição de justiça que
igual, de sorte que não se possa dizer que se desfavoreceu um possa ser objeto de acordo universal: examinar as principais
deles em relação ao outro. Sabemos também que um noções de justiça.
tratamento igual só deve ser reservado aos seres que fazem
parte de uma mesma categoria essencial. 1. A cada qual a mesma coisa (justiça-equidade)
As seis fórmulas de justiça concreta, entre as quais Prescreve a igualdade absoluta, ignorando diferenças
procuramos uma espécie de denominador comum, diferem específicas.
pelo fato de que cada uma delas considera uma característica Neste caso, o ser perfeitamente justo é a morte: ela não
diferente como a única que se deva levar em conta na aplicação faz distinções.
da justiça, de que elas determinam diferentemente a
pertinência à mesma categoria essencial. Fornecem igualmente As demais noções de justiça preveem algum tipo de
indicações, de maior ou menor precisão, sobre a maneira pela proporcionalidade na aplicação do conceito.
qual devem ser tratados os membros da mesma categoria
essencial. 2. A cada qual segundo seus méritos (justiça distributiva).
Nossa definição da justiça é formal porque não Tratamento proporcional ao mérito. Critério moral: a
determina as categorias que são essenciais para a aplicação da intenção do indivíduo conta. Justiça da ética religiosa.
justiça. Ela permite que surjam as divergências no momento de Objeção: o critério é, em alguma medida, subjetivo.
passar de uma fórmula comum da justiça formal para fórmulas 3. A cada qual segundo suas obras (justiça
diferentes de justiça concreta. O desacordo nasce no momento consequencialista).
em que se trata de determinar as características essenciais para O resultado da ação define a aplicação do conceito.
a aplicação da justiça. Justiça que preside concursos, exames, pagamentos de
funcionários etc.
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Objeção: o critério pouco satisfaz do ponto de vista - as diferentes concepções não têm nada em
moral. comum. Logo, apenas uma, ou nenhuma, está de
4. A cada qual segundo suas necessidades (justiça- acordo com a noção de justiça.
caridade). - Defesa intransigente do conceito assumido.
A justiça é medida pela diminuição do sofrimento, que
visa minimizar perdas. Perelman propõe uma terceira via: procurar o que há
Justiça ligada à proteção do trabalho e do trabalhador. de comum nelas.
Põe em cheque a submissão do trabalho à lei de oferta e
procura da economia liberal. 2. Encontrar uma fórmula de justiça que inclua todas as
Objeção: o critério “necessidade” é vago e pede critérios definições e seja objeto de acordo.
formais. Justiça formal/abstrata: princípio da ação segundo o
5. A cada qual segundo sua posição (justiça aristocrática). qual os seres de uma mesma categoria essencial
É o caso “a cada um o que lhe pertence”. devem ser tratados da mesma forma.
Objeção: não é universalista. Estabelece distinções que P. ex.: todos os generais devem receber o mesmo
ignoram as raízes das desigualdades sociais. Há dois salário, mas diferente do salário dos soldados.
pesos e duas medidas. O critério pouco depende do
indivíduo e de suas escolhas. Expressões latinas do texto:
6. A cada qual segundo o que a lei lhe atribui (justiça - Quo licet Jovi non licet bovi: o que é legítimo para Zeus não é
comutativa/legalista). legítimo para o boi
A cada um o que é seu. - Cuique suum: o que é seu
Em relação ao sistema jurídico: ser justo é aplicar a lei; - In paribus causis paria jura (aequitas in paribus causis, paria
ser injusto é distorcê-la. Permite afirmar que um juiz é jura desiderato): em causas diferentes, a equidade deseja
justo. Um contrato não pode enriquecer uma parte e direitos iguais
empobrecer outra (um e outro, não um ou outro).

II – Problemas secundários

1. As definições de justiça são ou não são compatíveis


entre si?
a) Só há uma concepção de justiça, diferindo apenas
na possibilidade de realização.
b) as concepções são distintas, o que resultaria em três Aristóteles
atitudes possíveis:
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Ética a Nicômacos considerado bom, e a ganância se dirige para o bom, pensa-se


que esse homem é ganancioso. E é igualmente iníquo, pois essa
LIVRO V característica contém ambas as outras e é comum a elas.
Ora, nas disposições que tomam sobre todos os
1 assuntos, as leis têm em mira a vantagem comum, quer de
todos, quer dos melhores ou daqueles que detêm o poder ou
No que toca à justiça e à injustiça devemos considerar: algo nesse gênero; de modo que, em certo sentido, chamamos
(1) com que espécie de ações se relacionam elas; (2) que espécie justos aqueles atos que tendem a produzir e a preservar, para a
de meio-termo é a justiça; e (3) entre que extremos o ato justo sociedade política, a felicidade e os elementos que a compõem.
é intermediário. E a lei nos ordena praticar tanto os atos de um homem bravo
Vemos que todos os homens entendem por justiça (por exemplo, não desertar de nosso posto, nem fugir, nem
aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a abandonar nossas armas) quanto os de um homem temperante
fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é (por exemplo, não cometer adultério nem entregar-se à
justo; e do mesmo modo, por injustiça se entende a disposição luxúria) e os de um homem calmo (por exemplo não bater em
que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto. ninguém, nem caluniar); e do mesmo modo com respeito às
Também nós, portanto, assentaremos isso como base geral. outras virtudes e formas de maldade, prescrevendo certos atos
Ora, “justiça” e “injustiça” parecem ser termos e condenando outros; e a lei bem elaborada faz essas coisas
ambíguos, mas, como os seus diferentes significados se retamente, enquanto as leis concebidas às pressas as fazem
aproximam uns dos outros, a ambiguidade escapa à atenção e menos bem.
não é evidente como, por comparação, nos casos em que os Essa forma de justiça é, portanto, uma virtude completa,
significados se afastam muito um do outro — por exemplo (pois porém não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo. Por
aqui é grande a diferença de forma exterior), como a isso a justiça é muitas vezes considerada a maior das virtudes,
ambiguidade no emprego de ќλείς para designar a clavícula de e “nem Vésper, nem a estrela-d’alva” são tão admiráveis; e
um animal e o ferrolho com que trancamos uma porta. proverbialmente, “na justiça estão compreendidas todas as
Tomemos, pois, como ponto de partida os vários significados virtudes”. E ela é a virtude completa no pleno sentido do termo,
de “um homem injusto”. por ser o exercício atual da virtude completa. É completa
Mas o homem sem lei, assim como o ganancioso e porque aquele que a possui pode exercer sua virtude não só
ímprobo, são considerados injustos, de forma que tanto o sobre si mesmo, mas também sobre o seu próximo, já que
respeitador da lei como o honesto serão evidentemente justos. muitos homens são capazes de exercer virtude em seus
O justo é, portanto, o respeitador da lei e o probo, e o injusto é assuntos privados, porém não em suas relações com os outros.
o homem sem lei e ímprobo. Por isso é considerado verdadeiro o dito de Bias, “que o mando
O homem injusto nem sempre escolhe o maior, mas revela o homem”, pois necessariamente quem governa está em
também o menor — no caso das coisas que são más em relação com outros homens e é um membro da sociedade.
absoluto. Mas, como o mal menor é, em certo sentido,
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Por essa mesma razão se diz que somente a justiça, entre lato, e um dos empregos da palavra “injusto” que corresponde
todas as virtudes, é o “bem de um outro”, visto que se relaciona a uma parte do que é injusto no sentido amplo de “contrário à
com o nosso próximo, fazendo o que é vantajoso a um outro, lei”.
seja um governante, seja um associado. Ora, o pior dos homens Por outro lado, se um homem comete adultério tendo
é aquele que exerce a sua maldade tanto para consigo mesmo em vista o lucro e ganha dinheiro com isso, enquanto um outro
como para com os seus amigos, e o melhor não é o que exerce a o faz levado pelo apetite, embora perca dinheiro e sofra com o
sua virtude para consigo mesmo, mas para com um outro; pois seu ato, o segundo será considerado intemperante e não
que difícil tarefa é essa. ganancioso, enquanto o primeiro é injusto, mas não
Portanto, a justiça neste sentido não é uma parte da intemperante. Está claro, pois, que ele é injusto pela razão de
virtude, mas a virtude inteira; nem é seu contrário, a injustiça, lucrar com o seu ato. Ainda mais: todos os outros atos injustos
uma parte do vício, mas o vício inteiro. O que dissemos põe a são invariavelmente atribuídos a alguma espécie particular de
descoberto a diferença entre a virtude e a justiça neste sentido: maldade; por exemplo, o adultério, a intemperança, o
são elas a mesma coisa, mas não o é a sua essência. Aquilo que, abandono de um companheiro em combate, a covardia, a
em relação ao nosso próximo, é justiça, como uma determinada violência física, a cólera; mas, quando um homem tira proveito
disposição de caráter e em si mesmo, é virtude. de sua ação, esta não é atribuída a nenhuma outra forma de
maldade que não a injustiça. É evidente, pois, que além da
2 injustiça no sentido lato existe uma injustiça “particular” que
participa do nome e da natureza da primeira, porque sua
definição se inclui no mesmo gênero. Com efeito, o significado
Seja, porém, como for, o objeto de nossa investigação é de ambas consiste numa relação para com o próximo, mas uma
aquela justiça que constitui uma parte da virtude; porquanto delas diz respeito à honra, ao dinheiro ou à segurança — ou
sustentamos que tal espécie de justiça existe. E analogamente, àquilo que inclui todas essas coisas, se houvesse um nome para
é com a injustiça no sentido particular que nos ocupamos. designá-lo — e seu motivo é o prazer proporcionado pelo lucro;
Que tal coisa existe, é indicado pelo fato de que o homem enquanto a outra diz respeito a todos os objetos com que se
que mostra em seus atos as outras formas de maldade age relaciona o homem bom.
realmente mal, porém não gananciosamente (por exemplo, o Está bem claro, pois, que existe mais de uma espécie de
homem que atira ao chão o seu escudo por covardia, que fala justiça, e uma delas se distingue da virtude no pleno sentido da
duramente por mau humor ou deixa de assistir com dinheiro palavra. Cumpre-nos determinar o seu gênero e a sua diferença
ao seu amigo, por avareza); e, por outro lado, o ganancioso específica.
muitas vezes não exibe nenhum desses vícios, nem todos O injusto foi dividido em ilegítimo e ímprobo e o justo
juntos, mas indubitavelmente revela uma certa espécie de em legítimo e probo. Ao ilegítimo corresponde o sentido de
maldade (pois nós o censuramos) e de injustiça. Existe, pois, injustiça que examinamos acima. Mas, como ilegítimo e
outra espécie de injustiça que é parte da injustiça no sentido ímprobo não são a mesma coisa, mas diferem entre si como
uma parte do seu todo (pois tudo que é ímprobo é ilegítimo,
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mas nem tudo que é ilegítimo é ímprobo), o injusto e a injustiça Desta última há duas divisões: dentre as transações, (1)
no sentido de improbidade não se identificam com a primeira algumas são voluntárias, e (2) outras são involuntárias —
espécie citada, mas diferem dela como a parte do todo. Com voluntárias, por exemplo, as compras e vendas, os empréstimos
efeito, a injustiça neste sentido é uma parte da injustiça no para consumo, as arras, o empréstimo para uso, os depósitos,
sentido amplo, e, do mesmo modo, a justiça num sentido o é da as locações (todos estes são chamados voluntários porque a
justiça do outro. Portanto, devemos também falar da justiça e origem das transações é voluntária); ao passo que das
da injustiça particulares, e da mesma forma a respeito do justo involuntárias, (a) algumas são clandestinas, como o furto, o
e do injusto. adultério, o envenenamento, o lenocínio, o engodo a fim de
Quanto à justiça, pois, que corresponde à virtude total, e escravizar, o falso testemunho, e (b) outras são violentas, como
à correspondente injustiça, sendo uma delas o exercício da a agressão, o sequestro, o homicídio, o roubo a mão armada, a
virtude em sua inteireza e a outra, o do vício completo, ambos mutilação, as invectivas e os insultos.
em relação ao nosso próximo, podemos deixá-las de parte.
E é evidente o modo como devem ser distinguidos os 3
significados de “justo” e de “injusto” que lhes correspondem,
pois, a bem dizer, a maioria dos atos ordenados pela lei são (A)
aqueles que são prescritos do ponto de vista da virtude Mostramos que tanto o homem como o ato injusto são
considerada como um todo. Efetivamente, a lei nos manda ímprobos ou iníquos. Agora se torna claro que existe também
praticar todas as virtudes e nos proíbe de praticar qualquer um ponto intermediário entre as duas iniquidades
vício. E as coisas que tendem a produzir a virtude considerada compreendidas em cada caso. E esse ponto é a equidade, pois
como um todo são aqueles atos prescritos pela lei tendo em em toda espécie de ação em que há o mais e o menos também
vista a educação para o bem comum. Mas no que tange à há o igual. Se, pois, o injusto é iníquo, o justo é equitativo,
educação do indivíduo como tal, educação essa que torna um como, aliás, pensam todos mesmo sem discussão. E, como o
homem bom em si, fica para ser determinado posteriormente, igual é um ponto intermediário, o justo será um meio-termo.
se isso compete à arte política ou a alguma outra; pois talvez Ora, igualdade implica pelo menos duas coisas. O justo,
não haja identidade entre ser um homem bom e ser um bom por conseguinte, deve ser ao mesmo tempo intermediário, igual
cidadão de qualquer Estado escolhido ao caso. e relativo (isto é, para certas pessoas). E, como intermediário,
Da justiça particular e do que é justo no sentido deve encontrar-se entre certas coisas (as quais são,
correspondente, (A) uma espécie é a que se manifesta nas respectivamente, maiores e menores); como igual, envolve
distribuições de honras, de dinheiro ou das outras coisas que duas coisas; e, como justo, o é para certas pessoas. O justo, pois,
são divididas entre aqueles que têm parte na constituição (pois envolve pelo menos quatro termos, porquanto duas são as
aí é possível receber um quinhão igual ou desigual ao de um pessoas para quem ele é de fato justo, e duas são as coisas em
outro); e (B) outra espécie é aquela que desempenha um papel que se manifesta — os objetos distribuídos.
corretivo nas transações entre indivíduos. E a mesma igualdade se observará entre as pessoas e
entre as coisas envolvidas; pois a mesma relação que existe
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entre as segundas (as coisas envolvidas) também existe entre


as primeiras. Se não são iguais, não receberão coisas iguais; 4
mas isso é origem de disputas e queixas: ou quando iguais tem
e recebem partes desiguais, ou quando desiguais recebem (B)
partes iguais. Isso, aliás, é evidente pelo fato de que as A outra é a corretiva que surge em relação com
distribuições devem ser feitas “de acordo com o mérito”; pois transações tanto voluntárias como involuntárias. Esta forma do
todos admitem que a distribuição justa deve recordar com o justo tem um caráter específico diferente da primeira. Com
mérito num sentido qualquer, se bem que nem todos efeito, a justiça que distribui posses comuns está sempre de
especifiquem a mesma espécie de mérito, mas os democratas o acordo com a proporção mencionada acima (e mesmo quando
identificam com a condição de homem livre, os partidários da se trata de distribuir os fundos comuns de uma sociedade, ela
oligarquia com a riqueza (ou com a nobreza de nascimento), e se fará segundo a mesma razão que guardam entre si os fundos
os partidários da aristocracia com a excelência. empregados no negócio pelos diferentes sócios); e a injustiça
O justo é, pois, uma espécie de termo proporcional contrária a esta espécie de injustiça é a que viola a proporção.
(sendo a proporção uma propriedade não só da espécie de Mas a justiça nas transações entre um homem e outro é
número que consiste em unidades abstratas, mas do número efetivamente uma espécie de igualdade, e a injustiça uma
em geral). Com efeito, a proporção é uma igualdade de razões, espécie de desigualdade; não de acordo com essa espécie de
e envolve quatro termos pelo menos (que a proporção proporção, todavia, mas de acordo com uma proporção
descontínua envolve quatro termos é evidente, mas o mesmo aritmética. Porquanto não faz diferença que um homem bom
sucede com a contínua, pois ela usa um termo em duas posições tenha defraudado um homem mau ou vice-versa, nem se foi um
e o menciona duas vezes; por exemplo “a linha A está para a homem bom ou mau que cometeu adultério; a lei considera
linha B assim como a linha B está para a linha C”: a linha B, apenas o caráter distintivo do delito e trata as partes como
pois, foi mencionada duas vezes e, sendo ela usada em duas iguais, se uma comete e a outra sofre injustiça, se uma é autora
posições, os termos proporcionais são quatro). e a outra é vítima do delito.
Eis aí, pois, o que é o justo: o proporcional; e o injusto é Portanto, sendo esta espécie de injustiça uma
o que viola a proporção. Desse modo, um dos termos torna-se desigualdade, o juiz procura igualá-la; porque também no caso
grande demais e o outro demasiado pequeno, como realmente em que um recebeu e o outro infligiu um ferimento, ou um
acontece na prática; porque o homem que age injustamente matou e o outro foi morto, o sofrimento e a ação foram
tem excesso e o que é injustamente tratado tem demasiado desigualmente distribuídos; mas o juiz procura igualá-los por
pouco do que é bom. No caso do mal verifica-se o inverso, pois meio da pena, tomando uma parte do ganho do acusado.
o menor mal é considerado um bem em comparação com o mal Porque o termo “ganho” aplica-se geralmente a tais casos,
maior, visto que o primeiro é escolhido de preferência ao embora não seja apropriado a alguns deles, como por exemplo,
segundo, e o que é digno de escolha o bom, e de duas coisas a à pessoa que inflige um ferimento — e “perda” à vítima. Seja
mais digna de escolha é um bem maior. Essa é, por
conseguinte, uma das espécies do justo.
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como for, uma vez estimado o dano, um é chamado perda e o intermediário, e do maior subtrairemos o seu excesso em
outro, ganho. relação ao intermediário.
Logo, o igual é intermediário entre o maior e o menor, Temos, pois, definido o justo e o injusto. Após distingui-
mas o ganho e perda são respectivamente menores e maiores los assim um do outro, é evidente que a ação justa é
em sentidos contrários; maior quantidade do bem e menor intermediária entre o agir injustamente e o ser vítima de
quantidade do mal representam ganho, e o contrário é perda; e injustiça; pois um deles é ter demais e o outro é ter demasiado
intermediário entre os dois é, como vimos, o igual, que dizemos pouco. A justiça é uma espécie de meio-termo, porém não no
ser justo. Por conseguinte, a justiça corretiva será o mesmo sentido que as outras virtudes, e sim porque se
intermediário entre a perda e o ganho. relaciona com uma quantia ou quantidade intermediária,
Eis aí por que as pessoas em disputa recorrem ao juiz; e enquanto a injustiça se relaciona com os extremos. E justiça é
recorrer ao juiz é recorrer à justiça, pois a natureza do juiz é ser aquilo em virtude do qual se diz que o homem justo pratica, por
uma espécie de justiça animada; e procuram o juiz como um escolha própria, o que é justo, e que distribui, seja entre si
intermediário, e em alguns Estados os juízes são chamados mesmo e um outro, seja entre dois outros, não de maneira a dar
mediadores, na convicção de que, se os litigantes conseguirem mais do que convém a si mesmo e menos ao seu próximo (e
o meio-termo, conseguirão o que é justo. O justo, pois, é um inversamente no relativo ao que não convém), mas de maneira
meio-termo já que o juiz o é. Ora, o juiz restabelece a igualdade. a dar o que é igual de acordo com a proporção; e da mesma
É como se houvesse uma linha dividida em partes forma quando se trata de distribuir entre duas outras pessoas.
desiguais e ele retira a diferença pela qual o segmento de uma A injustiça, por outro lado, guarda uma relação semelhante
excede a metade para acrescentá-la à menor. E quando o todo para com o injusto, que é excesso e deficiência, contrários à
foi igualmente dividido, os litigantes dizem que receberam “o proporção, do útil ou do nocivo.
que lhes pertence” — isto é, receberam o que é igual. Por esta razão a injustiça é excesso e deficiência, isto é,
O igual é intermediário entre a linha maior e a menor de porque produz tais coisas — no nosso caso pessoal, excesso do
acordo com uma proporção aritmética. Por esta mesma razão é que é útil por natureza e deficiência do que é nocivo, enquanto
ele chamado justo (δίкαιον), devido a ser uma divisão em duas o caso de outras pessoas é equiparável de modo geral ao nosso,
partes iguais, como quem dissesse δίχiov; e o juiz (διкαστής) é com a diferença de que a proporção pode ser violada num e
aquele que divide em dois (διχαστής). Com efeito, quando noutro sentido. Na ação injusta, ter demasiado pouco é ser
alguma coisa é subtraída de um de dois iguais e acrescentada vítima de injustiça, e ter demais é agir injustamente. Seja esta
ao outro, este supera o primeiro pelo dobro dela, visto que, se a nossa exposição da natureza da justiça e da injustiça e,
o que foi tomado a um não fosse acrescentado ao outro, a igualmente, do justo e do injusto em geral.
diferença seria de um só. Portanto, o maior excede o
intermediário de um, e o intermediário excede de um aquele de
que foi subtraída alguma coisa. Por aí se vê que devemos tanto
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subtrair do que tem mais como acrescentar ao que tem menos;
e a este acrescentaremos a quantidade pela qual o excede o
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Visto que agir injustamente não implica da igualdade. E, visto supor-se que ele não possua mais do que
necessariamente ser injusto, devemos indagar que espécies de a sua parte, se é justo (porque não atribui a si mesmo mais
atos injustos implicam que o autor é injusto com respeito a daquilo que e bom em si, a menos que tal quinhão: seja
cada tipo de injustiça: por exemplo, um ladrão, um adúltero ou proporcional aos seus méritos — de modo que é para outros que
um bandido. Evidentemente, a resposta não gira em torno da trabalha, e por essa razão os homens, como mencionamos
diferença entre esses tipos, pois um homem poderia até deitar- anteriormente, dizem ser a justiça “o bem de um outro”), ele
se com uma mulher, sabendo quem ela é, sem que no entanto deve, portanto, ser recompensado, e sua recompensa é a honra
o motivo de seu ato fosse uma escolha deliberada, mas a paixão. e o privilégio; mas aqueles que não se contentam com essas
Esse homem age injustamente, por conseguinte, mas não é coisas tornam-se tiranos.
injusto; e um homem pode não ser ladrão apesar de ter A justiça de um amo e a de um pai não são a mesma que
roubado, nem adúltero apesar de ter cometido adultério; e a justiça dos cidadãos, embora se assemelhem a ela pois não
analogamente em todos os outros casos. Ora, já mostramos pode haver justiça no sentido incondicional em relação a coisas
anteriormente como o recíproco se relaciona com o justo; mas que nos pertencem, mas o servo de um homem e o seu filho, até
não devemos esquecer que o que estamos procurando não é atingir certa idade e tornar-se independente, são, por assim
apenas aquilo que é justo incondicionalmente, mas também a dizer, uma parte dele. Ora ninguém fere voluntariamente a si
justiça política. Esta é encontrada entre homens que vivem em mesmo, razão pela qual também não pode haver injustiça
comum tendo em vista a autossuficiência, homens que são contra si próprio. Portanto, não é em relações dessa espécie que
livres e iguais, quer proporcionalmente, quer aritmeticamente, se manifesta a justiça e a injustiça dos cidadãos; pois, como
de modo que entre os que não preenchem esta condição não vimos ela se relaciona com a lei e se verifica entre pessoas
existe justiça política, mas justiça num sentido especial e por naturalmente sujeitas à lei; e estas, como também vimos, são
analogia. pessoas que têm partes iguais em governar e ser governadas.
Com efeito, a justiça existe apenas entre homens cujas Por isso é mais fácil manifestar verdadeira justiça para
relações mútuas são governadas pela lei; e a lei existe para os com nossa esposa do que para com nossos filhos e servos.
homens entre os quais há injustiça, pois a justiça legal é a Trata-se, nesse caso, de justiça doméstica, a qual, sem
discriminação do justo e do injusto. E, havendo injustiça entre embargo, também difere da justiça política.
homens, também há ações injustas (se bem que do fato de
ocorrerem ações injustas entre eles nem sempre se pode inferir 7
que haja injustiça), e estas consistem em atribuir demasiado a
si próprio das coisas boas em si, e demasiado pouco das coisas
más em si. Da justiça política, uma parte é natural e outra parte
Aí está por que não permitimos que um homem governe, legal: natural, aquela que tem a mesma força onde quer que
mas o princípio racional, pois que um homem o faz no seu seja e não existe em razão de pensarem os homens deste ou
próprio interesse e converte-se num tirano. O magistrado, por daquele modo; legal, a que de início é indiferente, mas deixa de
outro lado, é um protetor da justiça e, por conseguinte, também sê-lo depois que foi estabelecida.
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injustas, sem que no entanto sejam atos de injustiça, se não


As coisas que são justas em virtude da convenção e da estiver presente também a voluntariedade.
conveniência assemelham-se a medidas, pois que as medidas Por voluntário entendo, como já disse antes, tudo aquilo
para o vinho e para o trigo não são iguais em toda parte, porém que um homem tem o poder de fazer e que faz com
maiores nos mercados por atacado e menores nos retalhistas. conhecimento de causa, isto é, sem ignorar nem a pessoa
Da mesma forma, as coisas que são justas não por natureza, atingida pelo ato, nem o instrumento usado, nem o fim que há
mas por decisão humana, não são as mesmas em toda parte. E de alcançar (por exemplo, em quem bate, com que e com que
as próprias constituições não são as mesmas, conquanto só fim); além disso, cada um desses atos não deve ser acidental
haja uma que é, por natureza, a melhor em toda parte. nem forçado (se, por exemplo, A toma a mão de B e com ela
Das coisas justas e legítimas, cada uma se relaciona bate em C, B não agiu voluntariamente, pois o ato não dependia
como o universal para com o seus casos particulares; pois as dele).
coisas praticadas são muitas, mas dessas cada uma é uma só, A pessoa atingida pode ser o pai do agressor, e este pode
visto que é universal. saber que bateu num homem ou numa das pessoas presentes,
Há uma diferença entre o ato de injustiça e o que é ignorando, no entanto, que se trata de seu pai. Uma distinção
injusto, assim como entre o ato de justiça e o que é justo. Como do mesmo gênero se deve fazer quanto ao fim da ação e à ação
efeito, uma coisa é injusta por natureza ou por lei; e essa mesma em sua totalidade. Por conseguinte, aquilo que se faz na
coisa, depois que alguém a faz, é um ato de injustiça; antes ignorância, ou embora feito com conhecimento de causa, não
disso, porém, é apenas injusta. E do mesmo modo quanto ao depende do agente, ou que é feito sob coação, é involuntário
ato de justiça (se bem que a expressão geralmente usada seja (pois há, até, muitos processos naturais que nós cientemente
“ação justa”, e “ato de justiça” se aplique à correção do ato de realizamos e experimentamos, e nenhum dos quais, no
injustiça). entanto, se pode qualificar de voluntário ou involuntário,
como, por exemplo, envelhecer ou morrer).
8 Mas tanto no caso dos atos justos como dos injustos, a
injustiça ou justiça pode ser apenas acidental; pois pode
Sendo os atos justos e injustos tais como os acontecer que um homem restitua involuntariamente ou por
descrevemos, um homem age de maneira justa ou injusta medo um valor depositado em suas mãos, e nesse caso não se
sempre que pratica tais atos voluntariamente. Quando os deve dizer que ele praticou um ato de justiça ou que agiu
pratica involuntariamente, seus atos não são justos nem justamente, a não ser de modo acidental. Da mesma forma,
injustos, salvo por acidente, isto é, porque ele fez coisas que aquele que sob coação e contra a sua vontade deixa de restituir
redundam em justiças ou injustiças. É o caráter voluntário ou o valor depositado, agiu injustamente e cometeu um ato de
involuntário do ato que determina se ele é justo ou injusto, injustiça, mas apenas por acidente.
pois, quando é voluntário, é censurado, e pela mesma razão se Dos atos voluntários, praticamos alguns por escolha e
torna um ato de injustiça; de forma que existem coisas que são outros não; por escolha, os que praticamos após deliberar, e por
não escolha os que praticamos sem deliberação prévia.
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Há, por conseguinte, três espécies de dano nas disputam sobre qual deles está com a justiça (ao passo que um
transações entre um homem e outro. Os que são infligidos por homem que deliberadamente prejudicou a outro não pode
ignorância são enganos quando a pessoa atingida pelo ato, o ignorar tal coisa); de forma que um pensa estar sendo
próprio ato, o instrumento ou o fim a ser alcançado são injustamente tratado e o outro discorda dessa opinião.
diferentes do que o agente supõe: ou o agente pensou que não Mas, se um homem prejudica a outro por escolha, age
ia atingir ninguém, ou que não ia atingir com determinado injustamente; e são estes os atos de injustiça que caracterizam
objeto, ou a determinada pessoa, ou com o resultado que lhe os seus perpetradores como homens injustos, contanto que o
parecia provável (por exemplo, se atirou algo não com o ato viole a proporção ou a igualdade. Do mesmo modo, um
propósito de ferir, mas de incitar, ou se a pessoa atingida ou o homem é justo quando age justamente por escolha; mas age
objeto atirado não eram os que ele supunha). Ora, quando o justamente se sua ação é apenas voluntária.
dano ocorre contrariando o que era razoável de esperar, é um Dos atos voluntários, alguns são desculpáveis e outros
infortúnio. Quando não é contrário a uma expectativa razoável, não. Com efeito, os erros que os homens cometem não apenas
mas tampouco implica vício, é um engano (pois o agente na ignorância mas também por ignorância são desculpáveis,
comete um engano quando a falta procede dele, mas é vítima enquanto os que não se devem à ignorância (embora sejam
de um acidente quando a causa lhe é exterior). cometidos na ignorância), mas a uma paixão que nem é natural,
Quando age com o conhecimento do que faz, mas sem nem se conta entre aquelas a que o gênero humano está sujeito
deliberação prévia, é um ato de injustiça: por exemplo, os que — esses são indesculpáveis.
se originam da cólera ou de outras paixões necessárias ou
naturais ao homem. Com efeito, quando os homens praticam 10
atos nocivos e errôneos desta espécie, agem injustamente, e
seus atos são atos de injustiça, mas isso não quer dizer que os O assunto que se segue é a equidade e o equitativo
agentes sejam injustos ou malvados, pois que o dano não se (τόέπιειкές) e respectivas relações com a justiça e o justo.
deve ao vício. Mas quando um homem age por escolha, é ele um Porquanto essas coisas não parecem ser absolutamente
homem injusto e vicioso. idênticas nem diferir genericamente entre si; e, embora
Por isso, é com razão que se consideram os atos louvemos por vezes o equitativo e o homem equitativo (e até
originados da cólera como impremeditados, pois a causa do aplicamos esse termo como expressão laudatória a exemplo de
mal não foi o homem que agiu sob o impulso da cólera, mas outras virtudes, significando por ςπιειкέστεpov que uma coisa
aquele que o provocou. Além disso, o objeto da disputa não é se é melhor), em outras ocasiões, pensando bem, nos parece
a coisa aconteceu ou deixou de acontecer, mas se é justa ou não; estranho que o equitativo, embora não se identifique com o
pois foi a sua aparente injustiça que provocou a ira. Com efeito, justo, seja digno de louvor; porque, se o justo e o equitativo são
eles não disputam sobre a ocorrência do ato (como nas diferentes, um deles não é bom; e, se são ambos bons, têm de
transações comerciais em que uma das duas partes ser a mesma coisa.
forçosamente agiu de má fé), a menos que o façam por São estas, pois, aproximadamente, as considerações que
esquecimento; mas, estando concordes a respeito do fato, dão origem ao problema em torno do equitativo. Em certo
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sentido, todas elas são corretas e não se opõem umas às outras; Torna-se assim bem claro o que seja o equitativo, que ele
porque o equitativo, embora superior a uma espécie de justiça, é justo e é melhor do que uma espécie de justiça. Evidencia-se
é justo, e não é como coisa de classe diferente que é melhor do também, pelo que dissemos, quem seja o homem equitativo: o
que o justo. A mesma coisa, pois, é justa e equitativa, e, embora homem que escolhe e pratica tais atos, que não se aferra aos
ambos sejam bons, o equitativo é superior. seus direitos em mau sentido, mas tende a tomar menos do que
O que faz surgir o problema é que o equitativo é justo, seu quinhão embora tenha a lei por si, é equitativo; e essa
porém não o legalmente justo, e sim uma correção da justiça disposição de caráter é a equidade, que é uma espécie de justiça
legal. A razão disto é que toda lei é universal, mas a respeito de e não uma diferente disposição de caráter.
certas coisas não é possível fazer uma afirmação universal que
seja correta. Nos casos, pois, em que é necessário falar de modo Aristóteles
universal, mas não é possível fazê-lo corretamente, a lei
considera o caso mais usual, se bem que não ignore a Ética a Nicômacos, Livro V: A justiça
possibilidade de erro. E nem por isso tal modo de proceder
deixa de ser correto, pois o erro não está na lei, nem no - O objetivo da vida humana é a felicidade, que consiste na vida
legislador, mas na natureza da própria coisa, já que os assuntos da razão.
práticos são dessa espécie por natureza. - A vida racional é a vida virtuosa. A virtude não é adquirida. É
Portanto, quando a lei se expressa universalmente e um hábito. Como hábito, é o meio termo entre dois extremos:
surge um caso que não é abrangido pela declaração universal, Entre covardia e audácia, coragem.
é justo, uma vez que o legislador falhou e errou por excesso de Entre avareza e extravagância, liberalidade.
simplicidade, corrigir a omissão — era outras palavras, dizer o Entre belicosidade e bajulação, amizade.
que o próprio legislador teria dito se estivesse presente, e que Entre segredo e loquacidade, honestidade.
teria incluído na lei se tivesse conhecimento do caso. Entre indecisão e impulsividade, autocontrole.
Por isso o equitativo é justo, superior a uma espécie de Entre casmurrice e palhaçada, autocontrole.
justiça — não justiça absoluta, mas ao erro proveniente do Entre indolência e ganância, ambição.
caráter absoluto da disposição legal. E essa é a natureza do --- Entre improbidade e iniquidade, justiça como equidade.
equitativo: uma correção da lei quando ela é deficiente em --- Entre perda e ganho, justiça corretiva.
razão da sua universalidade. E, mesmo, é esse o motivo por que --- Entre ser injusto e ser vítima de injustiça, justiça.
nem todas as coisas são determinadas pela lei: em torno de
algumas é impossível legislar, de modo que se faz necessário No livro V, Aristóteles se propõe a responder três perguntas
um decreto. Com efeito, quando a coisa é indefinida, a regra sobre a justiça:
também é indefinida, como a régua de chumbo usada para
ajustar as molduras lésbicas: a régua adapta-se à forma da a) Com que espécie de ações se relacionam a justiça e a
pedra e não é rígida, exatamente como o decreto se adapta aos injustiça?
fatos. b) Que espécie de meio-termo é a justiça?
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c) Entre que extremos o ato justo é intermediário?


3. A justiça em seu sentido particular
1. Ambiguidade do termo Compreende uma parte da justiça legal. Pode ser distributiva
- O termo ‘justiça” é ambíguo. Parece indicar, a princípio, que ou corretiva.
justo é aquele que respeita a lei. a) justiça distributiva: distribuição de honras. Seu princípio é a
igualdade, mas igualdade significa tratar o igual como igual e o
Primeira noção de justiça: a legal. desigual como desigual. Ou seja, de acordo com o mérito. É
- O sentido comum de justiça é o legal, mas a lei pode ser justiça proporcional.
parcialmente justa. Assim, há uma justiça completa e uma b) justiça corretiva: desempenha papel corretivo nas
incompleta. transações entre indivíduos. É a justiça na reparação da
- A justiça legal completa é a boa lei. A justiça legal incompleta desigualdade. Assim, maior quantidade de bem e menor
é a lei apressada. quantidade de mal é ganho.
Mas a justiça, mesmo associada à lei, tem algo a ver com o bom.
Envolve a temperança e a coragem, por exemplo. 4. A justiça política (ou pública)
Divide-se em natural e legal (phýsis x nómos)
Segunda noção de justiça: como virtude completa, Relaciona-se com o universal (justiça em si) e com o particular
porque envolve todas as virtudes. Não é possível ser justo sem (justiça em ato).
ser também bom, honesto etc. A justiça em ato é voluntária. A injustiça em ato pode ser
voluntária ou involuntária.
Terceira noção de justiça: como o bem do outro. A injustiça voluntária pode ser por escolha ou não. No caso de
A justiça é uma virtude social. O homem que é justo para com escolha, dolo. No caso de não haver escolha, culpa.
o outro é melhor. O homem pior é aquele que exerce a justiça A injustiça involuntária acontece por acidente, erro ou engano.
para consigo mesmo. Mas, em um sentido completo, não é
possível ser-se justo ou injusto consigo mesmo, mas somente
com outrem.

2. A justiça como meio-termo


A justiça é um meio-termo quantitativo, diferentemente das
outras virtudes, que são qualitativas. Ser parcialmente honesto
não é ser honesto, mas ser parcialmente justo ainda é ser justo.

A justiça em sentido completo é a que envolve todas as virtudes.


Como só interessa, neste momento, compreender a justiça, é
preciso isolá-la e considerá-la em seu sentido particular.

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