Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Notas Do Trecho 1 e 2 A - QUEDA - DO - CEU - DAVI - KOPENAWA
Notas Do Trecho 1 e 2 A - QUEDA - DO - CEU - DAVI - KOPENAWA
1. Ter “língua de fantasma” (aka porepë) significa falar uma língua não yanomami, expres-
sar-se desajeitadamente, gaguejar, emitir sons inarticulados ou ser mudo.
2. A palavra napë (pl. pë) significa “forasteiro, inimigo”.
3. Todo ente possui uma “imagem” (utupë a, pl. utupa pë) do tempo das origens, que os
xamãs podem “chamar”, “fazer descer” e “fazer dançar” enquanto “espírito auxiliar” (xapiri a).
Esses seres-imagens (“espíritos”) primordiais são descritos como humanoides minúsculos pa-
ramentados com ornamentos e pinturas corporais extremamente luminosos e coloridos. Entre
os Yanomami orientais, o nome desses espíritos (pl. xapiri pë) designa também os xamãs (xapi-
ri thë pë). Praticar o xamanismo é xapirimuu, “agir em espírito”, tornar-se xamã é xapiripruu,
“tornar-se espírito”. O transe xamânico, consequentemente, põe em cena uma identificação do
xamã com os “espíritos auxiliares” por ele convocados.
4. A expressão pata thë pë designa os líderes de facção ou de grupos locais (os “grandes
homens”) ou, de modo geral, os “anciãos”.
5. Omama é o demiurgo da mitologia yanomami. Ver capítulo 2.
6. Os Yanomami chamam as páginas escritas e, de modo mais geral, os documentos im-
pressos contendo ilustrações (revistas, livros, jornais) de utupa siki (“peles de imagens”). Para o
papel, utilizam a expressão papeo siki, “peles de papel”. Referem-se à escrita com termos que
descrevem certos motivos de sua pintura corporal: oni (séries de traços curtos), turu (conjunto
de pontos grossos) e yãikano (sinusoides). Escrever é, assim, “desenhar traços”, “desenhar pon-
tos” ou “desenhar sinusoides”, e a escrita, tRë ã oni, é um “desenho de palavras”.
7. As gravações de onde nasceu este livro foram feitas num gravador de fitas cassete. A
expressão thë ã utupë, “imagem, sombra das palavras”, refere-se à gravação sonora.
8. Os Yanomami orientais designam seus antigos por três termos genéricos: pata thë pë (os
“grandes homens”, os “anciãos”), xoae kiki (o “conjunto dos avós”, os antepassados históricos,
os maiores) e në pata pë (os ancestrais míticos).
9. Teosi vem do português “Deus”. Essa “gente de “Teosi” são os missionários evangélicos
fundamentalistas da organização americana New Tribes Mission (ntm), que fizeram sua pri-
meira visita ao alto rio Toototobi (Weyahana u) em 1958, quando Davi Kopenawa devia ter dois
610
devir outro
611
612
613
1. De yaro, (animal de) caça, seguido do sufixo -ri (pl. pë), que denota o que se refere ao
tempo das origens, não humano, superlativo, monstruoso ou de extrema intensidade. Esses
ancestrais (në pata pë) compunham a primeira humanidade, que foi se transformando paulati-
namente em caça, em razão de seu comportamento desregrado. Trata-se, na mitologia yanoma-
mi, de seres cuja forma pré-humana, sempre instável, está sujeita a uma irresistível propensão
ao “devir animal” (yaroprai). De modo geral, os comportamentos que precipitam tais metamor-
foses (xi wãri-) invertem as normas sociais atuais, particularmente as que regem as relações
entre afins. São as imagens (utupë) desses seres primordiais que são convocadas como entidades
(“espíritos”) xamânicas (xapiri).
2. Acerca da queda do céu e desses ancestrais ctônicos, ver M 7 e cap. 6 e 7.
3. Placa circular de cerâmica utilizada para assar os beijus de mandioca (mahe).
4. Os Yanomami descrevem o nível celeste (hutu mosi) como um tipo de abóbada apoiada
no nível terrestre (warõ patarima mosi) graças a “pés” (estacas) gigantescos.
5. Sobre o poder patogênico do metal que Omama escondeu dentro da terra, ver o cap. 16.
6. Sobre Omama e a origem dos rios, ver M 202; sobre Omama e a origem do metal, ver
cap. 9.
7. Sobre o monstro aquático Tëpërësiki (às vezes associado à sucuri), a união de sua filha
com Omama e a origem das plantas cultivadas, ver M 197 e 198.
8. Sobre o nascimento do filho de Omama, ver M 22. Davi Kopenawa às vezes chama esse
filho de Pirimari, que é também o nome da “estrela” que os Yanomami chamam de “genro da
lua”, o planeta Vênus.
9. A forma desse nome possui um caráter de redobramento do feminino: thuë, “mulher,
esposa”, -yoma, sufixo feminino (por exemplo, napëyoma = “mulher branca (napë)”. O que
expressa bem o quanto se trata da (primeira) Mulher. É uma “mulher-peixe”, que Davi Kope-
nawa costuma comparar a nossa imagem da sereia (ver cap. 20).
614