A expressão fundamentalismo, em sentido restrito, é normalmente aplicada a situações de teocracia,
ou seja, de regimes baseados em religiões, mas pode ser alargada a situações de outra natureza, nomeadamente no campo político de uma ideologia que se institui numa comunidade por meios violentos ou à sacralização de uma ou mais pessoas ou da sua obra e a sua aplicação como regime político de forma autoritária numa sociedade. O fundamentalismo religioso tem como implicação a prática política, social, religiosa, ideológica e cultural que defende uma visão radical e absoluta de determinados princípios e a sua observância em todos os aspetos da sociedade, rejeitando quaisquer princípios de modernidade, tais como a tolerância, o pluralismo e a democracia. Em sentido mais amplo, o termo fundamentalismo pode significar qualquer posição de defesa de um conceito, ideologia ou doutrina, de ordem religiosa ou de outro tipo, de forma absolutamente radicalizada e fanatizada, sem qualquer análise isenta ou crítica. Neste sentido, o conceito de fundamentalismo aproxima-se dos conceitos de integrismo, ou seja, correntes no seio de certas doutrinas que defendem uma observação cega e radical a um conjunto de princípios. Tanto o integrismo como o fundamentalismo religioso podem ser encontrados em vários tipos de religiões, como a islâmica, a cristã ou a católica e surge sobretudo em períodos de crise ou instabilidade económica ou social e até de insegurança existencial e quebra de valores humanos e sociais. Ao fundamentalismo islâmico da atualidade, cuja notoriedade foi despoletada com a condenação à morte, por parte do regime teocrático do Irão, de Salman Rushdie por causa da obra Versículos Satânicos, expresso muitas vezes em outras formas extremas de violência, como o terrorismo, correspondem outras formas de crueldade, como a ação da Inquisição durante séculos em Portugal, Espanha e França. Assim, e hoje em dia, o termo de fundamentalismo tem de ser aplicado na sua forma plural de fundamentalismos dadas as variadíssimas formas possíveis de manifestação na vida social e política dos povos. O termo fundamentalismo surgiu nos EUA, no século XIX, no contexto de uma grande discussão entre duas correntes opostas sobre a interpretação da Bíblia. A corrente fundamentalista afirmava que sendo a Bíblia da autoria divina e não humana o seu conteúdo era inquestionável e teria que ser interpretado de forma inteiramente literal.