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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.354.335 - RS (2011/0167664-5)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : GILSON PERUZZO E OUTROS
ADVOGADO : ADEMIR CANALI FERREIRA E OUTRO(S) - RS006965
RECORRIDO : PETRÓLEO BRASILEIRO S A PETROBRAS
ADVOGADO : CLAUDIA CRISTIANE GOMES DE MORAES E OUTRO(S) -
RS049425
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. ART. 515, § 3º CPC/1973.


TEORIA GERAL DOS RECURSOS. RESP N. 1.215.368/ES. CORTE
ESPECIAL. APLICABILIDADE A AGRAVO DE INSTRUMENTO.
ECONOMIA E CELERIDADE PROCESSUAL. RESCRIÇÃO.
CONDIÇÃO SUSPENSIVA. INEXISTÊNCIA DE PROVAS NOS
AUTOS. SÚMULA 7/STJ.
1. Nas hipótese em que a causa versar somente questão de direito e
estiver em condições de julgamento imediato, o tribunal poderá julgar
desde logo a lide, nos termos do art. 515, § 3º do CPC/1973.
2. Numa interpretação estritamente literal, o §3º do art. 515
aplicar-se-ia apenas ao recurso de apelação, de que trata o art. 513,
mas, numa interpretação finalística, poderá o citado preceito ter o seu
âmbito de incidência ampliado em homenagem aos modernos
princípios da instrumentalidade, da efetividade e da utilidade do
processo, nos termos do que decidiu a Corte Especial do Resp n.
1.215.368/ES (Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL,
julgado em 01/06/2016, DJe 19/09/2016)
3. Na esteira desse entendimento, a Corte firmou importantes
premissas acerca do alcance do art. 515, § 3º do CPC/1973: a) a
norma propõe um atalho para acelerar julgamentos baseados na
ruptura com o dogma do duplo grau de jurisdição, assumido como
princípio , mas não como garantia ; b) a disposição não pode acarretar
prejuízo às partes, especialmente no que se refere ao contraditório e à
ampla defesa; c) a teoria da causa madura não está adstrita ao
recurso de apelação, porquanto inserida em dispositivo que contém
regras gerais aplicáveis a todos os recursos, e d) os exemplos dados
admitem o exame do mérito da causa com base em recursos tirados
de interlocutórias sobre aspectos antecipatórios ou instrutórios.
4. No caso dos autos, trata-se de agravo de instrumento, em exceção
de incompetência em que, resolvida a questão interlocutória (fixação
da competência da ação no domicílio do Portador dos títulos -
Comarca de Porto Alegre/RS), amplamente debatida pelas partes,
verificou o tribunal a quo estar a lide em condições de imediato
julgamento, decidindo desde logo o mérito, decretando a prescrição da
ação.
5. Quanto à alegação de existência de condição suspensiva da
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prescrição, tendo o acórdão recorrido não reconhecido sua
comprovação, a alteração das premissas fático-probatórias por ele
estabelecidas exigiria o revolvimento das provas carreadas aos autos,
atraindo o óbice da Súmula 7 do STJ.
6. Recurso especial não provido.

DECISÃO

1. Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRAS interpôs agravo de instrumento em


face de decisão que julgou improcedente Exceção de Incompetência, fixando a
competência da Vara Cível do Foro Regional da Tristeza - Porto Alegre, para o
processamento de ação de cobrança ajuizada pelos agravados, Gilson Peruzzo, Luiz
Carlos Costa Peruzzo e Lizete Peruzzo Barbosa, ora recorrentes.
Esclareceu que o objeto da referida ação de cobrança era resgatar as
obrigações ao portador emitidas nos anos de 1955, 1956, 1957 e 1959. Afirmou que a
competência territorial para ação era a definida pelo art. 100, IV "a" do CPC/1973, sendo
o foro competente o lugar onde está a sede da ré.
Defendeu, nessa esteira, que a competência deveria ser fixada no Foro da
cidade do Rio de Janeiro, porque onde está a sede da Petrobrás, conforme prevê o artigo
20 de seu Estatuto, e que deveria ser afastada a competência do Foro do domicílio dos
autores.
Em análise do recurso, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul, à unanimidade, reconheceu a prescrição da pretensão e julgou prejudicado o agravo
de instrumento, nos termos da seguinte ementa (fl. 123):
AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. OBRIGAÇÕES EMITIDAS PELA
PETROBRÁS COM FULCRO NO ART 15 DA LEI 2.004/53. AÇÃO
PROPOSTA APÓS O TRANSCURSO DO PRAZO VINTENÁRIO.
1. A jurisprudência deste Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que as
ações em que se postula o resgate ou conversão em ações das obrigações
ao portador emitidas ela Petrobrás na década de 1950 podem ser ajuizadas
no domicílio do portador dos títulos, se existente na Comarca agência ou
sucursal da pessoa Jurídica.
2. A pretensão de resgate ou de conversão das obrigações ao portador
emitidas pela Petrobrás na década de 1950 prescreve em vinte anos.
Precedentes.
3. Hipótese em que a pretensão da parte-autora encontra-se prescrita.
EXTINÇÃO DO FEITO EX OFFICIO, COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
AGRAVO DE INSTRUMENTO PREJUDICADO.

Foram opostos embargos de declaração pela agravante (fls. 133-136),


acolhidos sem alteração do resultado, nos termos da ementa de fl. 139:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. OCORRÊNCIA.
Verificando-se omissão no julgado acerca de ponto sobre o qual era
imprescindível a manifestação do colegiado, impõe-se o acolhimento dos
embargos de declaração.
EMBARGOS E DECLARAÇÃO ACOLHIDOS, SEM ALTERAÇÃO DO
RESULTADO.
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Novos embargos opostos, desta vez rejeitados, com aplicação de multa de
1% sobre o valor da causa atualizado, com base no art. 538 do CPC (fls. 153-157).
Sobreveio recurso especial, interposto por Gilson Peruzzo e Outros, com
fulcro no artigo 105, III, "a", da Constituição Federal.
Nas razões recursais, os recorrentes alegam negativa de vigência ao art.
515, § 3º do CPC/1973, sob o argumento de que o acórdão teria dado ao dispositivo
alcance que não ostenta.
Sustentam que o veículo que conduziu a exceção de incompetência, no
caso dos autos, não era uma apelação, mas, sim, uma agravo de instrumento e que, por
isso, não era possível aplicar a regra prevista no art. 515, § 3º do CPC/1973, próprio
daquele instituto.
Afirmam que "a previsão processual não tem por alvo dar ao recurso de
agravo de instrumento (art. 522, CPC) esta possibilidade, sob pena de criar soluções
atrabiliárias e incompatíveis. Se a decisão meritória pode ser plantada em qualquer
incidente, criar-se-ia tumulto processual, porque ensejaria a superveniência de várias
decisões meritórias, uma em cada incidente dando ensejo a provimentos contrários" (fl.
179).
Asseveram, ainda, que o tema da prescrição, por ser indiscutivelmente de
mérito, só pode ser veiculado em sede de apelação, descabendo seu reconhecimento em
sede de agravo de instrumento.
Acrescentam que, não bastasse a afronta apontada acima, o julgamento
teria sido realizado sem que os julgadores tomassem ciência da Ata da Assembléia que
tratou de condição suspensiva da prescrição, com evidente ofensa aos pressupostos do
julgamento antecipado, pelo Colegiado (art. 515, § 3º, CPC).
Foram apresentadas contrarrazões ao recurso especial às fls. 201-208.
É o relatório.
2. De início, consigne-se que a decisão recorrida foi publicada antes da
entrada em vigor da Lei 13.105 de 2015, estando o recurso sujeito aos requisitos de
admissibilidade do Código de Processo Civil de 1973, conforme Enunciado Administrativo
2/2016 do Plenário do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no AREsp 849.405/MG, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 5/4/2016, DJe de 11/4/2016)
3. Quanto ao mérito, alegam os recorrentes, como narrado, que o acórdão
teria dado ao art. 515, § 3º do CPC/1973 alcance que não ostenta, não sendo possível,
em sede de agravo de instrumento, julgar de pronto a lide, decretando a prescrição,
porque a regra ditada pelo citado dispositivo tem lugar tão somente quando em
julgamento recursos de apelação.
Não prospera o recurso especial.
É que no que diz respeito à questão, recentemente, a Corte Espacial do
STJ, no julgamento do RESp n. 1.215.368/ES, sob a relatoria do eminente Ministro
Herman Benjamin, analisando exatamente a matéria controvertida, assentou que, "não se
pode descurar que, em sua concepção literal, a aplicação do art. 515, § 3º, do CPC
pressuporia extinção de processo sem julgamento de mérito por sentença e existência de
questão de direito em condições de imediato julgamento. Porém, doutrina processual
relevante já superou o dogma da incidência do dispositivo apenas nas hipóteses de
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sentença/Apelação e considera a disposição como relacionada à teoria geral dos
recursos" (REsp 1215368/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL,
julgado em 01/06/2016, DJe 19/09/2016)
Com efeito, na lição de Cândido Dinamarco,
Embora situado no capítulo da apelação (CPC, arts. 513 ss.), o novo § 3º não
faz referência explícita a essa modalidade recursal nem manda que a nova
técnica se restrinja a ela. Além disso, a própria regra de devolução limitada
aos termos do pedido recursal (art. 515, caput ) é em si mesma, dotada de
uma eficácia bastante ampla, valendo para todos os recursos.
(...)
Está aí, portanto, a questão da dimensão do disposto pelo novo
parágrafo do art. 515 - se ele abrange apenas o recurso de apelação, ou
também outros. Figure-se a hipótese da decisão interlocutória com que o
juiz determina a realização de uma prova e a parte manifesta agravo de
instrumento com o pedido de que essa prova não seja realizada: se o tribunal
aceitar os fundamentos do recurso interposto, para que a prova não se
realize, e entender também que nenhuma outra existe a ser realizada, é de
rigor que passe desde logo ao julgamento do meritum causae , porque assim
é o espírito da Reforma - acelerar a oferta da tutela jurisdicional,
renegando mitos seculares, sempre que isso não importe prejuízo à
efetividade das garantias constitucionais do processo nem prejuízo
ilegítimo às partes
(DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da reforma. 6. ed. São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 162-163).

No mesmo sentido, as palavras de Teresa Arruda Wambier, também citadas


no voto proferido no Resp n. 1.215.368/ES. Confiram-se:
Inclinamo-nos pela admissibilidade de aplicação do art. 515, §3º também ao
agravo de instrumento. Frisamos, no entanto, que a observância dos
requisitos estabelecidos no referido dispositivo legal deve ser rigorosa, a fim
de não causar prejuízo às partes - já que o julgamento célere da demanda
não é pretexto para que se violem as garantias do contraditório e da ampla
defesa. O tribunal poderá julgar o mérito da causa quando a decisão
agravada tiver conteúdo de sentença - por exemplo, decisão que exclui uma
das partes do processo, ou que indefere liminarmente um dos pedidos
(rectius , ações) em razão de ausência de condição a ação ou de pressuposto
processual. Pode ocorrer, ainda, que esteja diante de causa "madura" que
contenha apenas questões de direito, e a parte interponha agravo contra a
decisão que deferira requerimento de liminar e determinara a produção de
provas. Estando a causa em condições de imediato julgamento, poderá o
tribunal, ao invés apenas de reformar a decisão que concedeu a liminar,
julgar desde logo o mérito (por exemplo, reconhecendo a decadência do
direito do autor ou, até mesmo, a prescrição, se sobre este assunto já se tiver
dado ao autor oportunidade para se manifestar
(WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro. 4. ed. São
Paulo: RT, 2006, p. 349-350).

Na esteira da doutrina abalizada, acima referida, a Corte firmou importantes


premissas acerca do alcance do art. 515, § 3º do CPC/1973, nos seguintes termos:
a) a norma propõe um atalho para acelerar julgamentos baseados na ruptura
com o dogma do duplo grau de jurisdição, assumido como princípio , mas não
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como garantia ;

b) a disposição não pode acarretar prejuízo às partes, especialmente no que


se refere ao contraditório e à ampla defesa;

c) a teoria da causa madura não está adstrita ao recurso de apelação,


porquanto inserida em dispositivo que contém regras gerais aplicáveis
a todos os recursos, e

d) os exemplos dados admitem o exame do mérito da causa com base em


recursos tirados de interlocutórias sobre aspectos antecipatórios ou
instrutórios.

Confira-se a ementa do precedente citado:


PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DEFERIMENTO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS. VÍCIO DE
FUNDAMENTAÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TEORIA DA CAUSA
MADURA (ART. 515, § 3º, CPC). APLICABILIDADE.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública movida contra diversos sujeitos
alegadamente envolvidos em licitações superfaturadas de medicamentos
e material hospitalar em que está implicada a Prefeitura Municipal de
Cachoeiro do Itapemirim. A indisponibilidade de bens requerida na Petição
Inicial foi deferida pelo Juízo de 1º Grau e submetida a Agravo de
Instrumento.
2. O Tribunal de origem reconheceu a apresentação de argumentos
genéricos, mas aplicou a teoria da causa madura (CPC, art. 515, § 3º),
supriu o vício de fundamentação e manteve a decisão recorrida.
3. A recorrente sustenta impossibilidade de o Tribunal a quo aplicar o art.
515, § 3º, do CPC em Agravo de Instrumento, amparando-se em precedentes
do STJ que tratam da matéria de forma sucinta.
4. A decisão proferida no AgRg no Ag 867.885/MG (Quarta Turma,
Relator Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJe 22.10.2007) examina
conceitualmente o art. 515, § 3º, com profundidade. Ali, consignou-se:
4.1. "A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do Código de Processo
Civil nada mais é do que um atalho, legitimado pela aptidão a acelerar os
resultados do processo e desejável sempre que isso for feito sem prejuízo
a qualquer das partes; ela constituiu mais um lance da luta do legislador
contra os males do tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do
duplo grau de jurisdição, que por sua vez só se legitima quando for capaz
de trazer benefícios, não demoras desnecessárias. Por outro lado, se agora
as regras são essas e são conhecidas de todo operador do direito, o
autor que apelar contra a sentença terminativa fá-lo-á com a consciência
do risco que corre; não há infração à garantia constitucional do due process
porque as regras do jogo são claras e isso é fator de segurança das
partes, capaz de evitar surpresas" (DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova
Era do Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, pp. 177/181).
4.2. "Diante da expressa possibilidade de o julgamento da causa ser feito
pelo tribunal que acolher a apelação contra sentença terminativa, é ônus de
ambas as partes prequestionar em razões ou contra-razões recursais todos
os pontos que depois pretendam levar ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça. Eles o farão, do mesmo modo como fariam
se a apelação houvesse sido interposta contra uma sentença de mérito.
Assim é o sistema posto e não se vislumbra o menor risco de mácula à
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garantia constitucional do due process of law, porque a lei é do
conhecimento geral e a ninguém aproveita a alegação de desconhecê-la,
ou de não ter previsto a ocorrência de fatos que ela autoriza (LICC, art. 3º)"
(DINAMARCO. idem) .
5. A doutrina admite aplicação do art. 515, § 3º, do CPC aos Agravos de
Instrumento (Dinamarco, Cândido Rangel. A reforma da reforma, 6ª ed., São
Paulo: Malheiros, 2003, pp. 162-163; Wambier, Teresa Arruda Alvim. Os
agravos no CPC brasileiro, 4ª ed., São Paulo: RT, 2006, pp. 349-350;
Rogrigues, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual Civil, 5ª ed., São
Paulo, RT, pp. 643-644; Alvim, J. E. Carreira.
Código de Processo Civil reformado, 7ª ed., Curitiba, Juruá, 2008, p. 351).
6. Particularidades do caso concreto recomendam a aplicação da teoria,
sem que haja prejuízo ao contraditório, à ampla defesa e ao dever de
fundamentação: a) não se pode dizer que a decisão de 1º grau foi, em
tudo, omissa. No que diz respeito ao fumus boni iuris, ela faz referência à
"farta documentação em anexo consubstanciada na investigação procedida
pelo Ministério Público" e ao fato de que "a fraude ocorrida se encontra em
destaque". Em relação ao periculum in mora, afirmou: "certo é que se houver
notícia aos envolvidos de que tramita ação civil pública em seus nomes,
haverá o grande risco de ineficácia de uma possível sentença de
procedência" (fls. 57-58/e-STJ); b) por ter aplicado o art. 515, § 3º, do
CPC, o Tribunal de origem trouxe, em motivação mais minuciosa, as razões
pelas quais a providência acautelatória efetivamente deveria ter sido
concedida. Ou seja, a partir do efeito substitutivo, o vício de fundamentação
foi sanado, eliminando eventual prejuízo à parte; c) é possível cogitar que o
Tribunal a quo tenha se valido inclusive da interpretação sistemática do art.
515, § 4º, do CPC, que outorga ao Magistrado a possibilidade de
saneamento de nulidade por meio da realização de ato processual - aqui,
consistente na outorga de fundamentação suficiente a um ato de império.
Corrobora esse raciocínio o fato de que, após a motivação expressa no
acórdão do Agravo, a recorrente optou por não alegar qualquer ofensa à
ampla defesa, limitando-se à questão processual posta; d) não houve
prejuízo ao contraditório e à ampla defesa porque a manifestação do
Tribunal local se deu a partir de Agravo de Instrumento interposto pela
própria parte prejudicada pela decisão liminar - oportunidade suficiente para
que se insurgisse contra a decisão que deferiu a indisponibilidade de bens;
e) a maturidade da causa está na própria limitação de cognição outorgada
no exame de tutelas de urgência: modula-se a exigência de profundas
investigações, especialmente quando já exercido efetivo contraditório.
Some-se ainda a circunstância de ter sido juntada cópia integral dos
autos, o que permitiu o conhecimento dos fatos e dos fundamentos
jurídicos da pretensão da parte - dentro do razoável ao momento processual
e no âmbito da questão posta; f) a temática do periculum in mora para
deferimento da indisponibilidade de bens foi tratada nos termos da
jurisprudência da Primeira Seção (REsp 1.319.515/ES, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro Campbell
Marques, Primeira Seção, DJe 21.9.2012). Até mesmo a decisão de 1º grau,
a despeito de sucinta, não destoa da ideia de que não se devem esperar
dados concretos de insolvência para determinar medida destinada a
evitá-la; g) entendimento diverso do aqui esposado levaria à seguinte
providência: o provimento do recurso para anular o acórdão e determinar
que o juízo de 1º grau proferisse nova decisão. Considerando o teor de
sua fundamentação, é razoável pressupor a ratificação da decisão de piso
(ainda que mais robusta), a repetição do Agravo de Instrumento, a
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repetição do respectivo acórdão e a manutenção do status atual (afinal, a
recorrente não se insurgiu contra nenhum outro fundamento do decisum ora
atacado).
Tratar-se-ia de manifesto prejuízo à celeridade, economia processual e
efetividade do processo; um desserviço à premissa de outorga tempestiva
de decisões em atividade jurisdicional, sem benefício algum às partes do
processo.
7. Por fim, de essencial relevância destacar que a jurisprudência do STJ
admite a não aplicação da teoria da causa madura quando for prejudicada
a produção de provas pela parte de forma exauriente, o que não acontece
na presente hipótese, já que se trata de recebimento da inicial da Ação
de Improbidade e de determinação cautelar da medida de indisponibilidade
dos bens, situações em que o juízo exara provimento de exame precário
das provas juntadas com a inicial, sem prejuízo de prova em contrário no
curso da ação.
8. Recurso Especial não provido.
(REsp 1215368/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE
ESPECIAL, julgado em 01/06/2016, DJe 19/09/2016)

4. No caso concreto do precedente da Corte, o eminente Relator deixou


bem claro que "se a teoria da causa madura pode ser aplicada em casos de Agravos de
decisões interlocutórias que nem sequer tangenciaram o mérito, resultando no
julgamento final da pretensão da parte, é possível supor que não há impedimento à
aplicação da teoria para a solução de uma questão efetivamente interlocutória, desde que
não configure efetivo prejuízo à parte.
Sendo assim, de posse dessa afirmativa, com mais razão a improcedência
do recurso, no caso dos autos, já que, aqui, trata-se de agravo de instrumento, em
exceção de incompetência em que, resolvida a questão interlocutória (fixada a
competência da ação no domicílio do Portador dos títulos - da Comarca de Porto
Alegre/RS), amplamente debatida pelas partes, verificou o Tribunal Gaúcho estar a lide
em condições de imediato julgamento, decidindo-a desde logo o mérito, decretando a
prescrição da ação. Confira-se (fls. 127-128):
Da prescrição da pretensão da parte-autora.
Pelo que se extrai dos autos, a parte-autora detém obrigações ao portador,
emitidas pela Petrobras entre 1956 e 1959 (fIs. 45-51). Tais títulos poderiam
ser resgatados ou convertidos em ações da Petrobras, observada as datas
limites neles fixadas (fIs. 45v-51v).
O prazo prescricional para a cobrança ou conversão dos títulos em ações é
vintenário, tendo em conta o disposto no art. 177 do Código Civil de 1916
Nesse sentido, colaciono os seguintes precedentes deste Tribunal de Justiça:
(...)
Na mesma linha, firmou se a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da
Quarta Região:
(...)
No caso dos autos, os prazos de resgate/conversão expiraram entre
31.12.1977 e 31.12.1980 (fls. 45v-51v).
Considerando que a presente ação foi ajuizada em 12.03.2009 (informação
constante na capa do presente agravo de instrumento), é forçoso reconhecer
que a pretensão da parte-autora encontra-se prescrita pois, nessa data, já
transcorrido o prazo vintenário previsto no art. 177 do Código Civil de 2002.
Com essas breves considerações, pronuncio, ex oficio , a prescrição da

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pretensão deduzida na inicial, restando prejudicado o presente agravo de
instrumento.

5. Noutro ponto, os recorrentes alegam, ainda, que mesmo que não


bastasse a afronta ao art. 515, § 3º do CPC/1973, o acórdão não poderia ter decretado a
prescrição, sem considerar o teor da Ata de Assembléia que tratou de condição
suspensiva da prescrição proclamada. Afirmam que isso também ofenderia aos
pressupostos do julgamento antecipado, pelo Colegiado (art. 515, § 3º, CPC).
Contudo acerca da alegada condição suspensiva, impeditiva do início do
prazo prescricional, consistente na deliberação de que as obrigações só seriam
conversíveis em ações preferenciais quando suas cotas atingissem, no,mínimo, em bolsa
de valores, o seu valor nominal , o acórdão se manifestou da seguinte forma:
Não consta nos autos nenhuma prova acerca dessa suposta deliberação
da Assembléia Geral da Petrobras.
De qualquer sorte, ainda que a Assembléia Geral da Petrobras, tal qual
argüido pela parte embargante, tenha deliberado que a conversão das ações
somente seria possível se estas atingissem seu valor nominal em Bolsa, não
seria o caso de se afastar a prescrição.
Isso porque, à evidência, a opção pela conversão das debêntures em ações
somente poderia ser procedida se, no período de resgate, as ações
atingissem o seu valor nominal em Bolsa.
Nesse contexto, não prospera a tese da parte-embargante no sentido que a
suposta deIiberação da Assembléia Geral da Petrobras afastaria a prescrição
da pretensão deduzida na inicial.
(fl. 143)

Nesse contexto, verifico que o acolhimento da pretensão recursal, quanto ao


ponto, exigiria a alteração das premissas fático-probatórias estabelecidas pelo acórdão
recorrido, com o revolvimento das provas carreadas aos autos, atraindo o óbice da
Súmula 7 do STJ.
6. Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 06 de abril de 2017.

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


Relator

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