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Parasitologia

Protozoários Teciduais: Leishmaniose e Toxoplasmose

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Franco Claudio Bonetti

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos

Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Niara da Silva Medeiros
Protozoários Teciduais:
Leishmaniose e Toxoplasmose

• Introdução;
• Leishmaniose;
• Toxoplasmose;
• Outros Coccídios de Importância Clínica.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender os mecanismos de transmissão, epidemiologia, ciclo de vida, diagnóstico e
tratamentos das doenças causadas por estes parasitos.
UNIDADE Protozoários Teciduais: Leishmaniose e Toxoplasmose

Introdução
Nesta unidade, iremos tratar dos protozoários que causam infecções no tecido de
hospedeiros vertebrados, incluindo os seres humanos.

Iremos abordar duas enfermidades de grande importância do ponto de vista da Saúde


Pública, que além de tudo são perigosas também para os animais de estimação: a leish-
maniose, que afeta os cães, tornando-os reservatórios do parasita; e a toxoplasmose,
que afeta os gatos e demais felinos, transformando-os em transmissores em potencial
desta parasitose.

Leishmaniose
Existe uma grande controvérsia sobre a origem das leishmanioses: uma teoria pro-
põe que a enfermidade surgiu na região mediterrânea efoiintroduzida nas Américas e,
consequentemente, no Brasil pelos fenícios ou sírios, que supostamente chegaram ao
nordeste brasileiro ainda na Antiguidade, muito embora tais viagens na antiguidade ja-
mais tenham sido provadas historicamente ou arqueologicamente.

Já a segunda teoria é de que a doença tem origem andina. Muitos acreditam que esta
seja mais aceita, pois há peças de cerâmica pré-colombiana, denominadas huacos peru-
anos (Figura 1), que retratam figuras humanas com deformidades faciais que remetem à
leishmaniose mucocutânea.

Conheça mais sobre a história das leishmanioses. Disponível em: https://bit.ly/3pYAonz

Figura 1 – Huaco peruano representando a leishmaniose


mucocutânea nas populações pré-colombianas
Fonte: Institute of Tropical Medicine Antwerp

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Agente Etiológico e Epidemiologia
A leishmaniose está presente em 88 países localizados nas regiões tropicais e sub-
tropicais e pode ser considerada uma doença espectral, que varia desde uma simples
ferida no local da picada do inseto até acometimento de diferentes órgãos, dividindo-
-se em dois grandes grupos: as leishmanioses tegumentares e as leishmanioses vis-
cerais ou sistêmicas. O primeiro denomina-se assim porque afeta principalmente a
estrutura da pele e, excepcionalmente, das mucosas das vias aéreas superiores, sendo
reconhecidas clinicamente três apresentações: a leishmaniose cutânea (LC) (Figura 2),
a leishmaniose mucosa (LM) e a leishmaniose cutânea difusa (LCD), conhecidas por
diversas denominações. No entanto, as formas sistêmicas afetam órgãos internos,
como baço, fígado, linfonodos e medula óssea, sendo denominadas de calazar ou
febre de dum-dum.

Figura 2 – Diferentes formas de apresentação da leishmaniose tegumentar


Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

O calazar é endêmico em 47 países, com alta prevalência no subcontinente indiano


e no leste da África, onde aproximadamente 200 milhões de pessoas correm o risco
de serem infectadas. Estima-se que 200 a 400 mil novos casos de calazar ocorram
anualmente no mundo, com mais de 90% dos novos casos ocorrendo em seis países:
Bangladesh, Brasil, Etiópia, Índia, Sudão do Sul e Sudão.

Diferentes formas da doença podem ser causadas por diferentes espécies de leishmanias,
como pode ser observado no Tabela 1 a seguir.

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Tabela 1 – Relação entre as espécies do gênero Leishmania e o acometimento aos seres humanos
Espécie Lesões causadas no homem Distribuição geográfica
L. (Viannia) América Central e do Sul até
Cutâneas e mucosas
braziliensis o norte da Argentina
Altos vales andinos e encosta
(V.) peruviana Predominante cutâneas
ocidental dos Andes
Noroeste e Norte da América do
L. (V.) guyanensis Predominante cutâneas
Sul até o rio Amazonas
América Central e costa pacífica
L. (V.) panamensis Predominante cutâneas
da América do Sul
L. (V.) lainsoni Casos raros com lesões cutâneas Norte do Estado do Pará
L. (V.) shawi Casos raros com lesões cutâneas Região Amazônica
L. (V.) naiffi Casos raros com lesões cutâneas Região Amazônica
L. (V.) colombiensis Cutâneas e mucosas Colômbia Panamá e Venezuela
L. (Leishmania) Cutâneas eventualmente
México e América Central
mexicana mucosas difusas
América Central, Norte, Nordeste,
Cutâneas eventualmente
L. (L.) amazonenses cutâneas difusas
Centro Oeste, Sudeste e Sul do
Brasil
Cutâneas eventualmente
L. (L.) pifanoi cutâneas difusas
Venezuela

L. (L.) venezuelensis Cutâneas Venezuela


L. (L.) garnhami Predominantemente cutâneas Andes Venezuelanos
L. (L.) infantum = Sul do México ao Norte da
Lesões viscerais (calazar)
L. (L.) chagasi Argentina, Brasil

No Brasil, sua transmissão se dá por meio da picada de um inseto conhecido po-


pularmente como “Mosquito Palha” (Figura 3), apesar de na verdade se tratar de um
Flebotomíneo, inseto pertencente a uma família de moscas hematófagas transmissoras
de agentes patogênicos ligados a diferentes doenças, a Lutzomia longipalpis.

Figura 3 – Flebotomídeo, Phlebotomus pappatasi, conhecido como mosquito palha


Fonte: Wikimedia Commons

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Dentro destes insetos, o parasita do gênero Leishmania apresenta-se como célula
afilada, possuidora de um único flagelo e uma estrutura celular na porção posterior
localizadapróxima ao corpo basal do flagelo, chamada cinetoplasto (forma promasti-
gota) (Figura 4).

Já no hospedeiro vertebrado, o protozoário apresenta-se como uma célula arredon-


dada, por vezes ovoide, com flagelo internalizado (forma amastigota).

Saiba mais sobre a Leishmaniose. Disponível em: https://bit.ly/3hOV7au

Figura 4
Fonte: Adaptado de NEVES, 2009

Representação esquemática da ultraestrutura das diferentes fases evolutivas


de uma Leishmania. A) forma amastigota. B) forma promastigota. As letras
significam: B, blefaroplastos; F, flagelo; G, aparelho de Golgi; K, cinetoplasto;
L, inclusões lipídicas; M, mitocôndria; mt, microtúbulos sob a membrana ce-
lular; N, núcleo; RE, retículo endoplásmico; Rs, reservatório ou bolso flagelar.

Uma diferença interessante da doença nas Américas e no Velho Mundo se dá ao fato


de que por aqui os cães domésticos são importantes reservatórios da doença e assim
como os seres humanos são acometidos pelo parasita com lesões cutâneas e viscerais.

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A diferença está no fato de que os cães infectados, segundo protocolo da Organiza-


ção Mundial de Saúde (OMS), devem ser eutanasiados, pois a cura nunca é completa,
o que gera um grande problema social nas regiões endêmicas.

Atualmente, há uma grande discussão no meio dos profissionais da área da saúde,


pois muitos acreditam que com a existência de uma vacina e tratamento eficaz, a neces-
sidade da eutanásia não faz sentido.

Ciclo de Vida
Os protozoários do gênero Leishmania passam por diferentes estágios evolutivos ao
longo do seu ciclo de vida. Dentre esses estágios, três são importantes para a compreen-
são deste ciclo evolutivo. No trato digestório do inseto vetor, o parasita apresenta-se na
forma promastigota, que evolui para a forma promastigota metacíclica na região equiva-
lente à faringe do inseto, e finalmente na forma amastigota no interior dos macrófagos
do hospedeiro vertebrado, para quem é transmitido durante o repasto sanguíneo das
fêmeas hematófagas, veja no link a seguir.

Ciclo de vida de Leishmania sp. Disponível em: https://bit.ly/3saq0ez

Entenda melhor o ciclo de vida do parasita assistindo esta animação.


Disponível em: https://youtu.be/5rbJAn1chL4

Diagnóstico
O diagnóstico inicial se dá pelo exame clínico, onde o médico suspeita de leishmaniose
tegumentar pela história do paciente e também pelas características da lesão.

Porém, para fechar o diagnóstico é necessário realizar a pesquisa direta do parasita


em material retirado da lesão, obtido por raspado das bordas da lesão, punção ou bi-
ópsia. Este exame parasitológico direto é o método de primeira escolha, por ser o mais
rápido, de menor custo e de fácil execução. Neste exame é observado as amastigotas
internalizadas em macrófagos (Figura 5). Outros métodos incluem teste imunológico,
conhecido como Intradermorreação (Reação de Montenegro), cujo princípio é inocular
um pouco de antígeno de Leishmania sobre a pele do paciente e observar a formação
de um halo rosado sob a pele; a partir do tamanho desta reação se determina a positi-
vidade do teste.

Já para diagnóstico da doença visceral, são importantes os sinais clínicos indicativos


da doença, como febre persistente acompanhada de aumento do baço e do fígado, e po-
de-se utilizar exames sorológicos específicos, como a Imunofluorescência Indireta (IFI) e
o Ensaio Imunoenzimático (ELISA), pode ser feito também aspirado de medula óssea
e esplênico para visualização das amastigotas dentro dos macrófagos (Figura 5).
Exames de apoio, como o hemograma, podem revelar presença de anemia e contagem

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baixa de glóbulos brancos e plaquetas. Metodologias que utilizam a amplificação do DNA
do parasita também podem ser úteis nos casos em que há poucos parasitas.

Figura 5 – Esfregaço de medula óssea corado pelo método Giemsa,


evidenciando formas amastigotas de Leishmania
Fonte: rmmg.org

Importante!
Tanto no diagnóstico da Leishmaniose tegumentar como visceral, é importante a obser-
vação das amastigotas internalizadas nos macrófagos.

Tratamento
O tratamento para todas as formas da leishmaniose é feito com injeções de uma dro-
ga chamada antimonial pentavalente, medicamento descoberto por Gaspar Vianna em
1913 e aplicado na forma de pomada nas lesões dos pacientes (Figura 6). Comercializa-
do atualmente como antimoniato de meglumina e estibogluconato de sódio com o nome
de Glucantime® e Pentostan®, é a principal forma de combater o parasita. As aplica-
ções acontecem diariamente durante um período que varia de 20 a 40 dias, conforme o
protocolo adotado, entretanto seu uso deve ser bem controlado, pois os efeitos colaterais
apresentam efeito de toxicidade para o rim, fígado e pâncreas e, sobretudo, para o co-
ração, levando a arritmias que podem ser graves e até fatais.

No caso de necessidade para pacientes que não respondem, ou relatam intolerân-


cia ao medicamento, utiliza-se como segunda escolha outros medicamentos, como a
Anfotericina B, um antifúngico que se mostrou eficiente no combate do protozoário.
Nos casos de leishmaniose tegumentar, é necessário que se faça tratamento local nas
lesões para evitar infecções secundárias (bacterianas, por exemplo).

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Figura 6 – Tártaro emético, desenvolvido por Gaspar Vianna


Fonte: farmacia-museoaramburu.org

Conheça mais sobre Gaspar Vianna. Disponível em: https://bit.ly/3opKuNN

Profilaxia
Os métodos preventivos para esta doença são básicos e se relacionam com o combate
ao mosquito e evitar sua picada por meio do uso de repelentes e inseticidas.
Manter os cães longe do inseto transmissor também é um método importante de
prevenção, com uso de coleiras e por meio de vacinas já disponíveis comercialmente.
Não há vacinas para seres humanos.

Saiba mais sobre o assunto em: https://bit.ly/2XlOwuV

Leishmaniose visceral: transmissão e prevenção. Disponível em: https://youtu.be/4l91S4k0g1w

Toxoplasmose
A toxoplasmose, também conhecida como “doença do gato”, é causada por um
protozoário coccídeo intracelular denominado Toxoplasma gondii e apesar de ter alta
prevalência mundial (podendo variar de 25% até 80% em alguns países), costuma ser
grave apenas em algumas situações de baixa imunidade, como nos pacientes com AIDS,
infectados previamente com Toxoplasma ou no caso de gestantes infectadas durante
o período gestacional. A infecção pode ter como hospedeiros intermediários vários
animais, entre aves, répteis e mamíferos, sendo que o principal é o homem. Qualquer
felino pode ser transmissor da doença por meio de suas fezes, entretanto o de maior
importância clínica é o gato, visto que ele é um animal domesticado e frequentemente
transmite o protozoário ao homem.

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Você Sabia?
Apesar de o gato ser considerado o grande vilão na toxoplasmose, isso só acontece por
ser o hospedeiro definitivo. A maior parte das transmissões de toxoplasmose ocorre por
ingestão de carne crua ou mal cozida contendo cistos com bradizoítos ou pela ingestão
de água ou outros alimentos contaminados por oocistos, sendo que o contato direto com
o gato não é o fator de risco principal. Saiba mais em: https://bit.ly/2Lt5AMK

Biologia do Parasito e Ciclo de Vida


O Toxoplasma somente pode completar seu ciclo de vida dentro do intestino dos fe-
linos, tornando-os hospedeiros definitivos do parasito. Outros animais, como o homem,
apenas podem manter a fase assexuada do parasito, logo representam os hospedeiros
intermediários. Os felinos se infectam ingerindo animais com Toxoplasma e isso faz
com que eles eliminem oocistos imaturos nas suas fezes (veja no link a seguir).

Ciclo de vida do Toxoplasma gondii. Disponível em: https://bit.ly/396nays

A ingestão do oocisto constitui uma das formas de infecção dos hospedeiros inter-
mediários na toxoplasmose. O oocisto se rompe no intestino, liberando os esporozoítos,
que invadem as células intestinais. Lá, cada parasita é denominado taquizoíto. O taqui-
zoíto (Figura 7) se divide várias vezes, de forma assexuada, até o rompimento da célula
hospedeira. Esse processo se repete várias vezes, liberando grande número de parasitas
para a invasão de novas células, no sangue e nos tecidos que recobrem diferentes órgãos.
Logo após a invasão de uma nova célula por um taquizoíto, o ciclo assexuado pode levar
à formação de uma outra forma do parasita, denominada bradizoíto intracelular.

Veja o ciclo de vida detalhado da toxoplasmose. Disponível em: https://bit.ly/2Lu9xRu

Figura 7 – Ilustração de um taquizoíto de Toxoplasma gondii


Fonte: Getty Images

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Nos seres humanos de todo o mundo, a doença se mantém subclínica ou assintomática.

Os problemas começam, como já dito anteriormente, quando uma gestante que


nunca entrou em contato com o parasita se infecta. O grande problema neste caso é
para o feto, que é altamente susceptível à infecção, podendo desenvolver desde lesões
oculares (coriorretinite) até danos severos no sistema nervoso central, muitas vezes
gerando quadros incompatíveis com a vida (microcefalia, hidrocefalia, retardamento
mental), nesse caso a infecção é denominada infecção pré-natal (Figura 8). Já na do-
ença observada em pacientes imunossuprimidos, uma das principais causas de morte
ocorre por encefalite.

Figura 8 – Toxoplasmose congênita


Fonte: saude.pr.gov.br

Diagnóstico
O diagnóstico, via de regra, é realizado por meio de sorologia (testes imunoenzimá-
ticos, como o teste de ELISA e o de aglutinação direta ou indireta). Pode ser realizado
também o método direto, que consiste na identificação do parasita em líquidos orgâni-
cos, como líquido cefalorraquidiano e lavado brônquico. Outras técnicas menos usuais
são a biópsia, o PCR (sigla em inglês para Reação em Cadeia da Polimerase) e o isola-
mento em animais de laboratório.

Veja o Protocolo de notificação e investigação: Toxoplasmose gestacional e congênita do


Ministério da Saúde. Disponível em: https://bit.ly/3hQF8bU

Para mulheres que estão no período gestacional é extremamente importante realizar


os exames sorológicos para detecção de anticorpos contra Toxoplasma gondii, a fim
de verificar se a gestante já teve contato, não teve contato ou ainda possa estar na fase
aguda da parasitose. O comportamento dos anticorpos estão dispostos no Fluxograma.

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Sorologia
IgG e IgM

IgG (–) e IgG (+) e IgG (+) e


IgM (–) IgM (+) IgM (–)

SUSCETÍVEL Infecção aguda Infecção passada


orientações (???) Iniciar
higienodietéticas espiramicina pré-natal normal

< 18 semanas > 18 semanas

Teste de avidez IgG Pesquisa de infecção natal

Baixa avidez Avidez intermediária Alta avidez PCR (–) PCR (+)

Infecção aguda Infecção aguda Infecção crônica Espiramicina Tratamento


ultrassom modificado

Figura 9 – Fluxograma de conduta da Toxoplasmose

Profilaxia
A contaminação pelas fezes de gatos normalmente ocorre em locais onde os gatos
depositam suas fezes contendo os oocistos (Figura 10). Assim, uma das formas de evitar
a infecção é não manter caixas de areia em escolas e parques infantis. Mas a infecção
também pode ser adquirida ao ingerir carne mal cozida, sendo esta a causa mais comum
de toxoplasmose. Portanto, deve-se evitar o consumo de alimentos nestas condições,
dando preferência sempre pelas carnes fritas ou cozidas e de origem conhecida.

Veja medidas de prevenção da Toxoplasmose. Disponível em: https://youtu.be/pJ_uAfA1h20

Figura 10 – Oocistos de Toxoplasma gondii observados em fezes de gatos


Fonte: FRENKEL, 1977

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Para saber mais sobre a Toxoplasmose, sua transmissão, ciclo de vida, epidemiologia, progres-
são e sintomas, diagnóstico e tratamento, acesse: https://bit.ly/3pXKTaF

Toxoplasmose. Disponível em: https://youtu.be/3bQhjiT-qx0

Outros Coccídios de Importância Clínica


Cryptosporidium parvum
O Cryptosporidium parvum (Figura 11) é o agente etiológico da criptosporidiose
(ou criptosporidíase), cuja infecção está associada a diarreia aquosa e outras complica-
ções gastrointestinais.

Saiba mais sobre a Criptosporidiose. Disponível em: https://youtu.be/Eadt9EMQz6E

Entretanto, a infecção costuma ser assintomática na maioria dos pacientes, tornando-se


uma preocupação do ponto de vista da Saúde Pública em pacientes com comprometimento
imunológico, proveniente das mais diversas razões, desde uso de quimioterápicos até a AIDS.
Por se tratar de uma enteroprotozoonose (doença intestinal causada por protozoário),
seu diagnóstico se dá por meio da identificação do agente ou do seu antígeno nas fezes
(partes da célula do parasita).
O tratamento das pessoas imunocompetentes, nos casos em que se faz necessário
entrar com uma medicação, é realizado com nitazoxanida, em diferentes esquemas tera-
pêuticos, dependendo da idade do paciente. No caso de pacientes com AIDS, recomen-
da-se a terapia antirretroviral associada ao tratamento de suporte.
Outra espécie do gênero que está relacionada aos mesmos sintomas e produz parte
dos casos de doença humana ao redor do mundo é o Cryptosporidium homini.

Figura 11 – Ilustração de um oocisto de Cryptosporidium parvum


Fonte: Getty Images

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Conheça melhor o ciclo de vida do parasita. Disponível em: https://bit.ly/2XlIH0l

Isospora belli
Outra enteroprotozoonose de importância clínica em pacientes imunocompro-
metidos, especialmente aqueles com AIDS, é a Isospora belli, coccídeos intestinais
encontrados em fezes humanas. Podem ainda pertencer a outra espécie do mesmo
gênero: Isosporahominis.

Os casos ao redor do mundo relacionados a este parasita aumentaram com o ad-


vento da imunossupressão dos pacientes com AIDS, não sendo muito comuns os
achados em imunocompetentes.

A transmissão da doença não depende de hospedeiros intermediários, sendo feita


por meio da contaminação de água e alimentos com oocistos não esporulados do para-
sita, que posteriormente são ingeridos pelo paciente.

O diagnóstico normalmente se dá por meio de pesquisa de oocistos (Figura 12) nas


fezes do paciente e o tratamento é realizado por meio de reposição de líquidos e um
medicamento denominado cotrimoxazol, utilizado no combate de bactérias, fungos e
protozoários. A prevenção está relacionada a hábitos de higiene básica, saneamento
básico e cozinhando-se bem os alimentos, principalmente a carne de porco.

Figura 12 – Oocisto recém-eliminado de Isospora belli, contendo um único esporocisto


Fonte: icb.usp.br

Quer saber mais sobre a Isospora belli? Então acesse: https://bit.ly/2MHVgBf

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
O Ciclo de Vida da Leishmania no Inseto
https://youtu.be/kRRlapcxDFs
O Ciclo de Vida da Leishmania no Homem
https://youtu.be/AUUYsYNl-AY
Ciclo de Vida do Toxoplasma gondii
https://youtu.be/uNyF1Js6g48

Leitura
Parasitologia Clínica – Protozoários de Interesse Médico
ARRUDA, E. Escola Superior da Amazônia – ESAMAZ. Parasitologia clínica –
protozoários de interesse médico.
https://bit.ly/3bigbVO
Toxoplasmose
https://bit.ly/2L3TQka
Tratamento da Neurotoxoplasmose com a Associação Sulfametoxazoil-trimetoprim
https://bit.ly/3bfoNfF
Caracterização Molecular de Isolados Clínicos de Leishmania braziliensise Leishmania guyanensise sua
associação com a Respostaterapêutica ao Antimoniato de Meglumina no Brasil
TORRES, D. C. Caracterização molecular de isolados clínicos de Leishmania
braziliensise Leishmania guyanensise sua associação com a respostatera-
pêutica ao antimoniato de meglumina no Brasil. Instituto Oswaldo Cruz. Dis-
sertação de mestrado. Orientadores: Elisa Cupolillo e Alberto M. R. Dávila. Rio de
Janeiro, 2009.
https://bit.ly/3s0lNtz
Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento
de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar
americana. 2ª ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. 182 p. Série A.
Normas e Manuais Técnicos.
https://bit.ly/3s35xrT

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Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-geral
de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de vigilância em saúde. Vo-
lume 3. 1ª ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: <https://www.
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Acesso em: 18/11/2019.

________. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia prático para o controle das geo-helmin-
tíases [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 33 p.: il. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_controle_geohelmintiases.
pdf>. Acesso em: 18/11/2019.

COURA, J. R. Dinâmica das doenças infecciosas e parasitárias. 2ª ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. (e-book)

FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2017. (e-book)

FREITAS, E. O.; GONÇALVES, T. O. F. Imunologia, parasitologia e hematologia


aplicadas à biotecnologia. São Paulo: Érica, 2015. (e-book)

MARTINS, M. A. et al. (Ed.). Clínica médica: alergia e imunologia clínica, doenças da


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REY, L. Parasitologia: parasitos e doençasparasitárias do homem nos trópicos ociden-


tais. 4ª ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. (e-book)

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