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2 Brincando Com O Acaso Estilhacos L Jupiter 231104 102037
2 Brincando Com O Acaso Estilhacos L Jupiter 231104 102037
Diagramação: L. Júpiter
responder. Ela falou de novo, mais irritada dessa vez, disse que eu tinha que
tomar vergonha na cara. Vê se pode?
porque ela sempre conquistava todo mundo. Ela não tem medo. Não mais.
Agora ela é livre. Mas eu… não. Ainda não.
Então, depois de uma conversa séria, me acalmei. Joguei meu medo
Sendo assim, tenho dois recados para dar; como sabem, Brincando
Com O Acaso, é o segundo livro da trilogia Estilhaços. Não é necessário a
leu no primeiro livro (ele já passou por uma nova revisão para consertar esses
furos).
Com amor,
Júpiter.
A obra não tem intenção nenhuma em causar desconforto, entretanto,
não conheço nada aqui ou pelas redondezas. Ontem visitamos a nova escola,
que vou começar a frequentar na próxima semana e eu não poderia estar mais
entediado.
devem.
— Bran — a voz da mamãe chama. — Vou limpar o sótão, quer vir
comigo?
Evelyn Diaz é a mulher mais bonita e bondosa do mundo. É alta e diz
que eu puxei isso dela. Seus cabelos são negros, os fios longos e bem
cuidados, são o seu maior xodó — depois de mim, é claro. Sou o filho
favorito dela, mesmo que ela diga que sou o único quando me gabo disso.
Seus olhos, igualmente escuros, me olham com tanto amor que, às
vezes, penso que sou o melhor filho que ela poderia ter. Ela faz eu me sentir
sozinho, no quintal. Eu sei que ela se sente mal por eu não ter amigos e por
não poder jogar comigo, por conta da sua condição. Ela perdeu a perna em
cima dela, fazendo com que meu parto precisasse ser antecipado e eu
nascesse prematuro, depois de uma cirurgia complicada.
A prótese é pesada demais para fazer tanto esforço, por isso ela não
consegue praticar o esporte que eu amo de paixão. Então, ela sempre me faz
Acho que, ao nos mudarmos para cá, minha mãe encontrou um parque
de diversões dentro de casa: um lugar grande e cheio de cômodos que não
usaremos tão cedo, o que significa que terá mais lugares para limpar e testar
suas misturas esquisitas.
Ela ainda não me explicou direito o que aconteceu para nos mudarmos
para uma casa tão grande, em um bairro como esse, mas disse que
conversaremos no momento certo.
nome. A verdade é que às vezes, me sinto mais seu amigo, do que filho. Acho
que isso é bom. Sei que algumas crianças não têm a mesma sorte que eu e
imunidade...
— É muito baixa — continuo por ela. — Já sei de tudo, não se
preocupe, mamãe.
— Quando foi que você cresceu tanto? — pergunta para ela mesma,
com as mãos na cintura. — Entre antes do anoitecer. E lembre-se das regras.
Nada de ir para longe.
Nunca responder ou aceitar coisas de estranhos.
Não me meter em brigas.
E correr se estiver em perigo.
Faz horas que não consigo acertar uma e isso tem me deixado
frustrado. Parece que desaprendi a jogar e não gosto nada dessa sensação. O
basquete é mais do que uma brincadeira para mim e eu preciso ser bom o
suficiente se um dia, no futuro, quiser ser um grande jogador. Eu vou ser
— Mãe!
Franzo as sobrancelhas ao ouvir um grito. Olho para os lados, mas não
há ninguém. O condomínio é fechado e pelo que reparei nesses três dias que
estou aqui, só tem movimento de manhã e à noite, quando os moradores estão
indo e voltando do trabalho.
Meus olhos pousam na casa em frente à minha e ouço novamente o
grito que parece ser de uma garotinha. Tudo fica em silêncio por alguns
segundos, então volto a me virar em direção a cesta que minha mãe pediu
para colocar no nosso quintal. Porém, ouço novamente.
a porta é aberta. Tento desviar meus olhos para que ninguém perceba que
estou observando, pois não quero parecer enxerido. Entretanto, não consigo.
parecidas fisicamente.
A menina, desesperada, agarra a sua perna, que não para de andar com
raiva, em cima de seus saltos altos. A próxima coisa que percebo é que ela,
definitivamente, não é mãe da garotinha. Pode tê-la gerado, mas não merece
conversaria. A minha mãe, diz que às vezes, é normal que os adultos sintam
raiva e sejam grosseiros com seus filhos e o contrário também pode
acontecer, mas, não importa o motivo, alguém sempre tem que pedir
desculpas. Essa moça não parece estar apenas com raiva. O que há nela
brusco, empurrando a menina para longe, que cai aos seus pés. Seu rosto
colide com o chão com força e ela levanta a cabeça na mesma hora, deixando
garganta deve estar doendo de tanto que grita. Meu Deus, seu coração deve
estar em estilhaços.
— Por favor, mãe. Eu prometo… prometo que vou fazer ele me amar
menos. Eu prometo que vou ficar quieta. Eu prometo, eu prometo, eu
prometo…
Meu coração se parte em mais pedaços quando a vejo estapear a mão
da filha, enfiando a própria para dentro e agarrando seu cabelo loiro e longo,
com tanta força, que ela perde um pouco da força nas pernas e parece estar de
nem saber.
Droga.
Mas...
Olho novamente para a garotinha, que continua implorando pela sua
mãe, balançando as grades com toda a sua força, como se tentasse arrancá-
las.
Ela grita. E grita. E grita.
Implora.
Esperneia.
Ela precisa de mim.
Sinto isso de uma forma tão esquisita que, antes que eu perceba o
perigo que estou correndo ao atravessar a rua sem olhar para os lados, paro na
sua frente segurando suas mãos pequenas e fazendo-a parar de balançar as
grades.
Eu não digo nada.
Apenas seguro suas mãos até que seu corpo ceda ao cansaço e se deite
no chão, soluçando. Seguro suas mãos até que o choro cesse e ela fique
mas agora, não consigo ligar para isso. Só quero que ela fique bem.
Em algum momento, eu também adormeço. No meio da rua,
uma gargalhada alta que, com certeza, chama a atenção de muita gente ao
nosso redor. Eu o ignoro, sabendo que o idiota não leva nada que não seja o
basquete a sério.
— PUTA QUE PARIU! — ele tosse em meio ao riso, batendo no
Tanta mulher no mundo e meu coração acelerou justamente pela mais difícil.
Em minha defesa, não sei controlar isso. Sei apenas que todas as vezes
que ela chega perto, meu coração acelera como se fosse saltar do meu peito a
qualquer momento. E quando ela está longe, ele fica triste, como se não
tivesse uma razão para bater. E isso fode com a minha cabeça porque mesmo
que saiba que sou irredutivelmente apaixonado por ela, não sei como mostrar
ou dizer.
Isso me deixa em uma corda bamba, brincando de slackline[1], perdido
— Você já usa uma corrente com o nome dela — Kyle joga uma das
batatas fritas dele em mim. — É praticamente uma coleira. Pelo amor de
Deus!
Mastigo a batata murcha e sem sal, respirando fundo. Kyle tem razão.
Uma tatuagem apenas, não seria o suficiente.
O capitão do time de basquete acha que se apaixonar é a maior bobeira
que alguém pode cometer. Todos acham que ele é só um cafajeste qualquer,
que quer aproveitar a vida cheia de mulheres e farra. Eu tenho uma opinião
contrária, porque acho que Kyle Ballard teve o coração partido e se blindou.
Se fechou para o amor, porque já perdeu um.
mesmo que saibamos que está se mordendo de culpa por dentro, colocou um
sorriso no rosto e está aqui, como se nada tivesse acontecido.
— Ou você podia, sei lá, contar para ela? — Asher diz como se fosse
das pessoas mais sensatas e práticas que conheço. Para ele, tudo se resolve
com uma boa conversa. Entretanto, essa opção nem sempre é tão fácil para
da cabeça dele, está transparente em seu rosto. Asher não se esforça para
parecer feliz. Ao invés disso, enfia um cigarro entre os lábios ou uma luva
nas mãos, se metendo em lutas ilegais que deixam a todos nós preocupados.
Entretanto, ele diz que devemos confiar nele, então, é o que fazemos.
— Não sei, cara — murmuro, o desânimo escorrendo na minha voz.
— É a Mia.
— Sim, Brandon, é a Mia. Sua melhor amiga — explica como se eu
não soubesse. — É melhor conversar com ela, do que ficar assim, desse jeito.
— Pois é — concorda Kyle. — E é melhor fazer isso antes que outro
que seja o único que tenha interesse. Não pode achar que apenas porque você
vive na cola da garota, que não possa arrumar um cara bacana.
tatuagem.
Asher geme, escorregando na banqueta e jogando o braço em cima da
cabeça, como se não aguentasse mais a nossa companhia. Mas o que posso
fazer?
nem um sorrisinho. Se aquela loira azeda estivesse aqui, estaria todo sorrisos
e olhos brilhantes.
Penso em rebater, mas minha loira é um pouquinho — quase nada —
azeda sim, quando quer. Então, apenas fico calado, olhando para o nada
enquanto aproveito a situação para remoer meu problema.
Problema esse que tem nome, sobrenome e um sorriso que mexe com
todas as minhas estruturas. O problema também tem 1,60m de altura, cabelos
uma dona.
— Ele bebeu uma cerveja, Kyle. E parece ter engolido um barril
inteiro.
— Hum… sabe quem também parece ter bebido um barril? — o
capitão diz. — Eu. Preciso encontrar um banheiro antes que mije nas calças.
Asher resmunga alguma coisa sobre não poder deixar o idiota sozinho
pelo bar e decide que nós dois também iremos ao banheiro. Entretanto, essa
parece ser a pior ideia que alguém poderia ter nessa noite.
Por Deus!
Tem um buraco na parede tão grande que me faz ter certeza de que
mora um rato bem aqui. Talvez coisa pior. Esse lugar deve estar cheio de
Não sei o que tinha na cabeça quando resolvi ser amigo desses dois.
Eles parecem uma dupla de perturbados, que estão tentando me deixar
tempo. São raras as vezes que somos vistos sem a presença um do outro. Eu
entendo isso como um tipo de casamento esquisito, no qual estou tentado a
pedir divórcio.
— Minha cabeça dói — Kyle geme, contra o concreto da cama.
O concreto da cama da cela de uma delegacia.
A minha mãe vai me matar.
E depois, a Mia vai me ressucitar, apenas para me matar de novo.
— Lembre-se disso da próxima vez que resolver enfrentar um policial,
seu otário! — Asher briga. — Nunca mais saio com você. Nunca mais, Kyle!
difícil ficar longe dela, porque sempre fomos nós dois contra o mundo e
agora estou há quatro horas de distância. E fico com o coração apertado só de
Mia, mora do outro lado da rua e sei que posso confiar a segurança da minha
mãe a ele. Porém, mentiria se dissesse que não gostaria de estar cursando em
uma universidade mais próxima, ou se, magicamente, ela viesse morar mais
perto de mim.
Mas mamãe é teimosa e segue fielmente seu mantra ao dizer que pais
criam os filhos para o mundo e essa distância é necessária quando se segue
um sonho. Eu só concordo, pois não há nada que Evelyn Díaz diga que eu
faça o contrário.
— Será que a gente vai passar a noite aqui, Ash? Não quero dormir
nesse chão sujo. Posso pegar uma bactéria. Mia disse que minha imunidade
estava baixa ultimamente e...
adjetivo que a faça parecer uma megera vazia. A Kimberly que conhecemos,
porém, tem um coração enorme e está sempre disposta a ajudar todos à sua
volta.
Ela é a irmã mais velha de Kyle mas eu também poderia defini-la
Ela entra na cela, em cima dos seus gigantes saltos e... de pijama?
— Anda, me ajuda a levantar esse babaca — ela o puxa em direção ao
seu irmão, que está deitado, de boca aberta. Estava tão preocupado com o
tanto de sujeira que há aqui, que nem percebi quando o idiota calou a boca e
participar. Eu achei um absurdo. Por isso fui arrastado até um bar e vim parar
aqui. Agora que o efeito do álcool está começando a passar um pouco, penso
que algumas horas nessa cela foram poucas, se o policial que nos abordou
averiguasse nossas identidades e percebesse que eu comprei bebidas para
caras que, tecnicamente, são menores de idade.
Na verdade, já foi uma situação patética o suficiente ser detido por
estar tentando fazer uma barreira para que um bêbado pudesse mijar na rua.
Kim suspira, se apiedando de mim.
— A gente conversa amanhã — determina. — Agora, vamos embora
ainda mais para passar enquanto sigo na direção da loirinha carrancuda, que
está recostada no meu carro, de braços cruzados.
de sapo no topo da cabeça, como se tivesse colocado ali para não sujar os
fios. Os olhos azuis me encaram um tanto chateados, mas ainda assim, são os
porque sou, simplesmente apaixonado pelo seu cheiro e pela textura da sua
pele, mas então, lembro que está irritada e me apresso em tentar me explicar.
— Mia, eu...
— Entra no carro — é só o que diz, me interrompendo. — Vamos para
casa.
Deixo meus ombros caírem e não ouso fazer nada de diferente do que
diz. Ela está brava e com razão.
Eu prometi que não me meteria em confusão e vim parar numa
delegacia, além de que eu poderia ter evitado aquilo se convencesse Kyle a
pareçam. Eu não as quebro. Ela pode me pedir para prometer retirar uma
palavra do meu vocabulário para sempre e eu o farei. Honro minhas
medo que ela se apaixone por outra pessoa que não seja eu.
Não há nada que possa ser dito a sério enquanto ainda há álcool
correndo em minhas veias, por isso, sei que é melhor esperar pelo dia
seguinte para perguntar sobre isso, no entanto, não é o que eu faço.
— Você se afastaria de mim se o seu namorado pedisse?
— O que? — exclama. Consigo ver suas sobrancelhas se unirem,
como se estivesse confusa. — Do que você está falando?
— Boa noite, garotos — ela deseja para Hector e Duncan, que estão no
sofá jogando.
Minha moral está no chão e ela sempre é pisoteada pela loira azeda
que eu chamo de minha metade.
quarto ficou para Asher, que antes, o dividia comigo. Agora, é apenas meu.
Bom, meu e dela, que vive mais aqui, que no próprio apartamento, no mesmo
abajur ao seu lado. Meus olhos querem se fechar, mas só permito que os faça
quando Mia envolve minha mão com a sua palma pequena. Quando nossas
peles, tão opostas, se encontram, meu peito se acalma e todo o meu corpo
relaxa.
Sempre.
Porque amor, quando eu durmo, sonho com você
E quando estou acordado, é tudo o que faço
Penso em todos os detalhes que você tem
Please Notice — Christian Leave
difícil?
— Pois... — Kimberly se cala. — Espera. Do que você está falando?
Talvez, essa seja a coisa que eu mais goste nela. Kimberly tem um
jeito tão único, que seria fácil reconhecê-la a metros de distância. Seja pelo
modo excêntrico que se porta ou pelo batom vermelho que não tira da boca.
Entretanto, com toda certeza, a coisa que mais a identifica, são seus
saltos. A garota não deixa de usá-los nem mesmo em casos de emergência,
como o de ontem, é quase como se fizesse parte da sua personalidade.
Enquanto eu, não suporto o pensamento de deixar meus pés tocarem em um.
— Do Asher.
— Do Brandon — falamos ao mesmo tempo.
estávamos falando do mesmo assunto, mas me dou conta de que nem mesmo
esse raciocínio faz sentido.
uma da outra, sem ter que nos preocupar com os meninos e qualquer merda
que eles aprontassem longe de nós, quando resolveram sair juntos para
que possamos fazer para reverter a situação em que nos metemos. Bem, na
verdade, eu poderia simplesmente tomar uma atitude e falar com Brandon,
nada demais.
— Quer ouvir algo engraçado? — ela muda de assunto bruscamente,
andando juntas. Sou quase um chaveiro perto da Kim. Ela já é alta, usando
saltos, então, torna nossa diferença de alturas, enorme. Literalmente.
Minha amiga nem mesmo esconde que tem um penhasco pelo melhor
amigo do irmão. Nem mesmo sei como Kyle não percebeu até hoje, do
a noite, sem parecer boba. Mesmo sabendo que ela não irá me julgar, ainda é
constrangedor ter ficado chateada por algo que pode não significar nada.
Estou quase tocando o papel com a caneta quando sua mão segura a
minha com delicadeza, me fazendo encará-la.
— Não vai deixar curiosa, não é? — pergunta apreensiva. — Não pode
fazer isso. Sou sua melhor amiga, é sua obrigação me contar o que aconteceu.
Ele se declarou? Disse que quer te beijar? Que quer ultrapassar a linha da
amizade? Falou que...
Por Deus.
— Uma pergunta estranha que te deixou estranha, isso não pode ser
normal.
Mordo a pontinha da caneta, repensando mais uma vez nas atitudes das
últimas semanas do meu melhor amigo. Estou tentando pescar algum detalhe
que tenha deixado passar. Algo que soe como errado, mas não há nada.
— Ele perguntou se, hipoteticamente, eu tivesse um namorado que não
noite. — Ele nem insistiu para ir comigo para a sua casa ontem e sei lá, e se...
— Mia, para — me interrompe, como se eu estivesse falando uma
grande bobagem. — O Brandon não insistiu ontem, porque o Kyle pediu que
eu o proibisse de ir. Meu irmão disse que queria sair com eles e que sabia que
ele preferiria ficar com você.
A informação tira um peso dos meus ombros, contudo, assim que
repenso no que ela diz, outra coisa me ocorre e automaticamente, minhas
Brandon gosta de você. Gosta de você o suficiente para dispensar uma noite
de farra para ficar com você, mesmo reclamando das nossas máscaras de
foi assim.
— Mia, por favor — Kim revira os olhos. — Ele te olha de uma forma
tão pura e bonita, que me pergunto porque estão perdendo tanto tempo.
Meu coração acelera.
— Não é...
— Não se atreva a dizer que estou mentindo — interrompe com
Isso quer dizer que ele não tem uma grama de paz em seu corpo
quando ela está por perto.
o nariz.
— Mas ele é um cachorro. Com uma dona menor que ele, mas ainda
assim, um cachorro.
— Nunca mais terei paz — resmungo, ouvindo seu riso. — Só o vi
que havia tirado da mochila e a caneta colorida que estava na minha mão
alguns segundos atrás.
aula vaga.
Brandon cursa Economia e está um semestre à nossa frente, embora
e nos víamos uma vez por mês, quando ele ia nos visitar durante um final de
semana. Foi horrível, porque ele estava começando no time e isso não o
permitia ficar muito tempo longe da universidade, por conta dos jogos.
Só Deus sabe o quanto rezei para que aquele ano passasse logo para
ouvir?
— Não.
— Sim.
Kimberly e eu respondemos ao mesmo tempo.
— Sim.
— Não.
De novo.
Nós duas nos encaramos e enquanto Kim explode em risos, eu começo
a sentir meu pescoço esquentar, sinal de que estou nervosa demais para dar
— Estou achando a minha muito sem graça — mostra a mão para nós
duas e Kim, mais uma vez sendo gentil, a abaixa com um tapa que faz o
— Por Deus, você faz parecer como se isso fosse o fim do mundo.
Quando vai esquecer?
te contei sobre o dia em que seu pai fez sua mãe e eu interrompermos um
momento a sós para tirá-lo da cadeia? Oh, já? Vou contar novamente!
amiga.
— Acredite em mim, estou sendo sua amiga mais do que merece —
ela sorri, apontando para mim, tentando disfarçar.
Brandon tomba a cabeça para o lado, tentando entender o que ela quer
dizer e não parece obter sucesso com a troca de olhares, porque Kim logo
cansa e se recosta em seu assento, bufando e sussurrando baixo o suficiente
para que só eu ouça por estar perto demais:
clandestino é errado e o quanto isso pode atrapalhar sua vida, contudo, ele
não me ouve. Como sempre.
meu amigo e posso afirmar isso porque já vi esse seu lado mais vezes do que
gostaria.
Digo isso porque, da última vez que o acompanhei, ele apanhou até
quase quebrar as costelas e mesmo visivelmente machucado, fez o outro sair
que for que ele busca. Ele nem precisa me falar no que é, apenas aceitar
minha ajuda e deixar de correr um risco desnecessário.
— Asher...
— Já resolveu aquela situação com a nossa carrapata? — interrompe,
querendo deixar de ser o centro da atenção. — Percebi que ela ficou chateada
antes de mandar você entrar no carro.
Não sei.
Sei que Mia está estranha e mesmo que não reclame da minha
— Sem chance.
Não agora, pelo menos.
Entretanto, não digo a ele. Nenhum deles entenderá a confusão que está aqui
dentro.
Nego e ele não insiste, fazendo a porta do seu quarto, onde estamos,
bater. Se ele quer acabar com a própria vida dessa forma, não vou ser
telespectador.
Quando o silêncio se faz presente no ambiente, meus pensamentos
voam diretamente para ela. Kyle deve estar na casa de alguma garota e o
resto do time, provavelmente, está dividido entre jogar videogame na sala ou
em alguma festa, bem longe do faro do treinador Collins.
Enquanto eu estou aqui. Jogado na cama, pensando na confusão que
meus pensamentos e meu peito se tornaram nos últimos meses.
Sou sincero quando digo que nem sempre fui apaixonado pela Mia,
pelo menos, nunca percebi. Durante a nossa infância, nunca nem cogitei algo
mais, contudo, eu acredito que tenha sido apenas por conta dos hormônios à
nossa volta.
Se ela sentiu o mesmo quando também passou por essa fase, nunca
saberei, porque nunca tomei coragem de seguir em frente pelo mesmo motivo
tão confortável agora, por que estragar tudo por algo que pode ser apenas
confusão da minha cabeça ou tesão incubado?
de Hector.
Miazinha?
Que porra?
Me levanto rapidamente, sabendo que meus planos foram frustrados,
Ela ri de alguma coisa que ele fala, porque Mia continua sendo o poço
da simpatia com qualquer pessoa e eu admiro isso nela. Admiro que seu
buscar.
Suspirando, passa por mim, guiando o caminho até meu quarto, que
faço ideia de como isso funciona, já que as duas não tem mais contato desde
quando ela era uma criança.
Ela não gosta muito de me levar para lá, porque diz que uma das
garotas fica implicando quando ela e as outras levam companhia e como
estamos sempre juntos, passamos mais tempo aqui. Mia fica lá apenas
quando está empolgada com uma nova confecção e passa horas e horas em
mudar de uma vez. Já até comentei com os caras, que não se importaram com
isso porque estão tão acostumados com sua presença que nem faria diferença.
Mia, porém, diz que não quer me tirar a privacidade por algo tão bobo.
Enquanto eu me pergunto que tipo de privacidade ela acha que eu tenho
quando moro com seis caras barulhentos e intrometidos. Fora Kyle, que vive
interrompendo nossos banhos para discutir táticas de jogo.
Claro que se ela viesse morar comigo, a porta viveria trancada, mesmo
que eles não se atrevem a chegar perto quando ela está aqui. Ainda vou
convencê-la a vir. Preciso apenas de um pouco mais de paciência.
de ficar aqui, vendo-a desfilar pelo meu quarto, como se eu tivesse algum
embasamento crítico para julgar suas confecções. E, bem, de qualquer forma,
não reclamo.
Ao invés disso, arrasto minha cadeira da escrivaninha para perto da
cama, onde apoio meus pés enquanto a espero sair do banheiro vestindo a
primeira peça.
francesa — ela ri sozinha com a última parte e eu sei porque. — Claro que eu
fiz a francesa.
Fico quietinho, observando a forma com que ela fala sobre a costura,
minha mente absorvendo todos os detalhes. Desde pequena, minha metade
sempre gostou mais de produzir roupas para suas bonecas, do que de fato
brincar com elas, como as outras garotas faziam.
Então, Mia sorria e dizia que estava lindo, para dias depois, refazer do
jeitinho dela como se eu não fosse perceber.
Quando ela completou quinze anos, tio Marcus, seu pai, a presenteou
com uma máquina de costura e nós nunca mais soubemos como é conviver
permite ver de perto seus cabelos curtos e sentir o cheiro cítrico que vem
dela.
francesa.
— E o que você achou?
Ela sorri tão empolgada que quase posso vê-la pulando de alegria por
dentro.
Tão fofinha, chega a dar vontade de apertar.
Mia sabe que sempre sou sincero. Tive de aprender a ser e perceber até
mesmo se a barra estava torta, porque ela se irritava quando eu dizia que
todos eram igualmente perfeitos. Eu dizia a coisa errada, é claro, porque
todas as peças tem um toque único — Mia repetiu tanto isso, que nunca mais
Só que acho que precisarei dar alguns ajustes nele, a manga também ficou
meio torta e o decote fez parecer que meu peito não existe. Coitadinho, Bran,
já é tão pequeno e…
Coitadinha dela, que não tem noção do quanto é perfeita e que eu
a porta entreaberta, de modo que eu ainda consiga ouvir seu monólogo sobre
todos os defeitos que encontrou nesse vestido em específico.
desde que descobri. Quando cheguei, ele já lutava, porém isso não me
impediu de tentar fazer com que mudasse de ideia. No entanto, a vida é dele e
Asher está mais que ciente do que pode acontecer se a polícia aparecer ou,
eventualmente, a generosidade do tal Alessandro acabar.
Eu o vi lutar apenas uma vez. Foi uma das coisas mais assustadoras
que presenciei e uma experiência que, com certeza, não quero viver
novamente. Não por causa dele, mas porque aquele ambiente me causa ânsia.
De novo isso.
Acho que eles nunca irão entender que Brandon e eu não temos nada.
— Eu não disse de quem estava falando. Mais uma prova de que vocês
escondem um relacionamento da gente.
Minhas bochechas não demoram a entregar meu constrangimento e eu
me apresso em mudar o foco dele para qualquer outra coisa ao nosso redor,
porque falar sobre esse assunto está começando a me deixar chateada.
Não com meus amigos.
Sei que não fazem por mal e no fundo, apenas criaram a ilusão de que
como perder um pedaço de mim. Seria como… deixar meu coração no meio
do caminho. Somos um elo. Uma dupla. Como Joey e Chandler, Peralta e
Boyle.
E eu... não quero deixar que algo tão banal quanto sentir vontade de
beijá-lo, estrague o que temos. A confiança que sempre houve entre nós.
— Para de bobeira, Ash. Brandon jamais olharia para mim desse jeito.
Eu: Sim.
Ainda está em aula?
Eu: O quê?
Brandon: Qual tênis está usando hoje?
combinarmos todo o santo dia qual tênis iremos usar para usarmos iguais,
mas não imagino qual seria a reação se descobrissem que em alguns dias
também combinamos as roupas.
Kim e Asher continuam a conversar sobre algo que eu ouço, mas não
entendo. Estou ocupada demais sendo consumida pela ansiedade de vê-lo. Sei
que estivemos juntos ontem, entretanto, não anula o fato de querer estar
perto. Assunto nunca falta e eu não posso fazer nada se ele me faz tão bem.
meu lado.
Perto. Muito perto. Tão perto que seu cheiro parece impregnar em
desnuda, causando arrepios. Meu corpo se encaixa ao seu e eu sorrio para ele,
verdadeiramente contente por estar em seus braços.
Meus olhos o seguem por toda a quadra pelos próximos dez minutos,
quando o treinador Collins apita, sinalizando o fim do jogo. Os jogadores se
limpar o rosto suado, deixando o tanquinho bem na minha cara. Puta que me
pariu.
e acordo quando ouço seu riso. Acho que fui pega, mas quando olho para
cima, percebo que não está olhando para mim e respiro fundo, tentando sair
da zona que Brandon sem camisa e suado me coloca. Ele mostra o dedo do
meio para alguém à sua direita.
Esquece.
Ele bufa e sinaliza para eu levantar, mas quando o faço, ele passa seus
braços pelos meus ombros.
— Você está todo suado — choramingo, tentando sair do seu toque. —
Vai tomar um banho.
Bran ri.
— Vem cá — diz, antes de me agarrar, tirando-me do chão e me
fazendo gritar.
— Brandon, meu vestido!
segurando meu vestido para que não revele a cor da minha calcinha. Mas
acredito que já seja tarde demais.
minha palavra valia de alguma coisa nesse time — resmunga, tal como um
velho de oitenta anos.
fingindo que não estou gostando de ter sua palma na minha bunda.
— Fica quietinha que eu sei o que estou fazendo.
Sim, somos amigos para sempre, mas isso parece novo
Sou corajoso o suficiente para ganhar seu amor, para ganhar seu amor?
Ou vou arriscar demais e estragar tudo, vou estragar tudo?
Talvez você me diga que me ama também
provavelmente, na do Asher.
Kyle não questiona porque ninguém duvidaria dela.
Kim revira os olhos e Mia estapeia minhas costas duas vezes ao ponto
de me fazer inclinar para a frente e esbugalhar os olhos.
— Fica tranquila amiga, ele vai ficar quietinho.
pernas em cima do meu colo. Apoio a mão em que não seguro a bebida em
sua pele macia, deslizando a mão sem nem mesmo perceber, o movimento é
sussurrar:
— Isso é um problema para você?
meu coração.
Meu corpo inteiro parece entrar em chamas, como se eu fosse feito de
Porra.
Se ela ao menos soubesse o que tem acontecido comigo nos últimos
Minha boca está seca, mas não estou com sede. Não de água, pelo
menos. Estou com sede dela. Meu corpo parece sentir uma vontade insana de
beijá-la até que implore por ar e nossas bocas fiquem doloridas.
Porra.
Só posso estar delirando.
Meu peito nunca bateu tão rápido quanto agora. Nunca senti tanta
vontade de... não sei explicar. Como se Mia, e apenas Mia, fosse capaz de
Viro em sua direção e ela ainda continua onde está, o que faz nossos
rostos ficarem perto. Muito perto. Tão perto que consigo sentir sua respiração
bater no meu queixo. Tão perto que não perco o momento em que sua
atenção sai dos meus olhos em direção a minha boca.
Porra.
Porra.
Porra.
Mil vezes porra.
Acho que posso infartar a qualquer momento, porque sinto que esse
momento... esse momento pode estar nas minhas lembranças para sempre.
vez mais para minha direção e minha mão, que até o momento havia se
mantido quieta, se move lentamente para cima, sentindo sua pele se arrepiar
aproxima, sorrindo.
O jeito que olha para Mia já a faz perder pontos comigo. Ela parece
estar amaldiçoando a minha garota. Depois, foca sua atenção na minha mão,
em sua perna e novamente, em meu rosto.
— Pode me dar licença, fofa? — pergunta, sorrindo. — Eu preciso
falar com ele.
Mia revira os olhos sem nem mesmo esconder e está prestes a fazer o
que a garota pediu, mas sou mais rápido e agarro sua panturrilha forte o
suficiente para saber que vai deixar marcas. Olho para a garota, tentando
reconhecê-la de algum lugar, sei que já devo tê-la visto em alguma festa, mas
não consigo me recordar se, em algum momento, conversamos ou dei a
entender que ela tem o direito de exigir que a minha garota saia para dar lugar
a ela.
— Eu conheço você?
— Claro que sim — afirma, com uma certeza que não me convence.
E sai.
Ela simplesmente sai como se eu soubesse do que está falando.
mim, as mãos se apoiando em cada uma das minhas pernas e ficando com o
rosto a centímetros do meu, mas dessa vez, não há nada de excitante no
momento.
— Para onde está indo?
— Para casa, Brandon, não é meio óbvio?
— Por quê?
Por um segundo, penso que está com ciúmes de mim. Mas perguntar
só a faria se afastar e não quero isso.
— Foi por isso que me fez aquela pergunta no carro? Está com a
— Por que ficou tão chateada com ela? E por que não tentou conversar
comigo antes sobre isso?
— Por que estamos falando tantos “porquês”? E por quê não responde
a minha pergunta?
— Porque achei que estava com alguém e que ela tivesse te pedido
para se afastar de mim. Não quero que isso aconteça, Bran, te perder acabaria
comigo. Sei que pode soar egoísta, mas às vezes, desejo que não goste de
outra garota além de mim. Não quero que ninguém tome o meu lugar.
amigos para brigar por pedaços de torta — ela ri. — E não quero que mais
ninguém se ofereça para cortar seu cabelo. Não gosto de pensar em outro
alguém usando uma corrente com o seu nome e nem que esse alguém... — te
beije, te toque, te ame como eu. — Não quero que esse alguém te afaste de
mim.
Minhas mãos seguram em sua cintura e eu a aperto, buscando sua
atenção que é voltada para mim no mesmo instante.
— Não precisa se preocupar, Mia. Porque ainda que eu me
interessasse por outras garotas, nenhuma delas conseguiria chegar aos seus
pés.
Nossos olhares ficam presos um no outro por segundos minutos, talvez
horas. Até que ela mordisca o lábio e desvia a atenção de mim novamente,
sem falar qualquer coisa.
— Podemos só... ir para casa? Não tenho mais clima para ficar aqui.
Depois... depois eu explico para Kim.
Que ela também jamais colocaria outro cara além de mim no seu
coração?
chegar tão longe quanto ela no meu coração. Nenhuma outra garota vai me
fazer sentir tão vivo quanto ela. Nenhuma delas irá conseguir minha atenção
logo entendo. Na hora, não reparei muito, mas ele está no mesmo lugar de
onde a garota surgiu. Ele armou tudo.
Seus olhos fitam os meus sem sentimento algum, seu rosto sem
expressão. Devolvo, me perguntando em qual momento da minha vida, nós
quando comecei a ser elogiado por jogar bem. A questão é que nós dois
sempre disputamos por tudo em nossas vidas, desde pequenos.
Me pergunto se ele soubesse que o que nos liga está muito além do que
disputarmos sobre uma escalação, o ódio em seus olhos seria diferente.
virmos andando.
— Já disse que seu ouvido está sujo. Olha só, está até afetando sua
audição.
Dou uma pequena corrida e começo a andar de costas para o caminho,
uma opinião e estou pensando, quem melhor que a minha melhor amiga para
isso?
fingindo que essa noite não deixou as coisas ainda mais confusas no meu
peito.
Quando abro os olhos, minha primeira reação é puxar minha mão das
do menino do outro lado do portão.
Eu não o conheço, nunca o vi. O que ele faz aqui? Segurando minha
mão ainda! Abusado!
Isso parece assustá-lo, porque ele também acorda e me encara, mas
não parece envergonhado. Ele deve ter a minha idade, mas é alto, tem o
cabelo escuro, muito preto, igual seus olhos. Ele está vestindo uma camiseta
poeira e grama.
Minha testa lateja e eu levo a mão até ela, vendo o sangue em meus
dedos.
Não foi um pesadelo.
chamou de feia.
— Não chamei não.
Ele também se senta no chão do mesmo jeito que eu, fazendo careta.
— Por que está com essa cara?
grande e com uma boa segurança, mesmo assim, meu pai fez a vontade dela.
Ele sempre faz nossas vontades. Acho que agora ele só fará as minhas.
chorar.
— Mia? Porque está toda suja do lado de fora? Sabe que a sua mãe
não gosta, filha — meu pai chama, parecendo assustado. — E quem é você,
garotinho?
sua filha.
Seus olhos me escaneiam e ele logo pega a chave nos bolsos da sua
O menino, que agora sei que chama-se Brandon, aponta para o outro
lado da rua, onde uma mulher acaba de passar na porta, com as mãos na
cintura.
— Volte para casa e diga para a sua mãe que ela está criando um bom
por ajudar alguém que precisa, mamãe me ensinou isso. Tchau, Mia. Não
chora mais não.
impediu de atravessar a rua de novo quando meu pai me pegou nos braços,
disfarçando o próprio choro.
Eu dei tchau para ele em meio às lágrimas, mesmo que ele tenha
pedido para que eu não chorasse mais. Brandon acenou de volta, entretanto,
aquela não foi a única vez que ele aplacou meu choro.
Aquele garotinho nunca mais me deixou sozinha.
Você é aquela que eu preciso
E amor, sim, você me dá razões
Apenas para lutar contra todos os meus demônios
Sim, adoro quando você está falando
É um péssimo jogo.
Estamos na frente, entretanto, se não conseguirmos manter o placar,
esforça um pouco mais para mostrar aos adversários que isso aqui não é
bagunça e que somos os melhores, mesmo não vencendo sempre.
de nós por uma diferença de três pontos que acabou com a nossa reputação.
Se os Princetons acham que terão a mesma sorte, estão enganados. Isso não
vai acontecer.
Asher parece um pouco disperso, mas ainda assim, consegue finalizar
Volto meus olhos para o mar de pessoas e não é difícil achá-la. Mia
sempre fica no mesmo lugar e ainda que isso não acontecesse, eu a
deixá-la sozinha por mais alguns minutos, mas aposto que ela não vai gostar
nada de chegar perto com você fedendo do jeito que está.
mundo vê a forma com que vocês se olham, cara. Todos têm medo de chegar
perto dela com medo de levar um soco seu.
Nenhum jogador faz nada para acalmar ou separar a possível briga que
está prestes a acontecer. Procuro por Kyle, mas ele não está em canto algum,
o que torna as coisas ainda piores, porque apenas ele e o treinador conseguem
acalmar esse monte de hormônios amontoados que parece exalar do time.
basquete, Asher é bom no que faz, em qualquer posição que joga. Ele não
começa nada que não possa ser bom o suficiente para permanecer.
tanto de peitos. Fiquei sabendo que ela tem uma queda por jogadores de
basquete. Você sabe, os corredores dizem muitas coisas.
Então, entendo. O que o fez perder o controle desse jeito foi a
insinuação sobre Kim. Ele está transtornado a ponto de não se importar com
as consequências que uma briga, a essa altura, pode causar.
Eu o entendo perfeitamente, porque faria a mesma coisa se ele
estivesse citando Mia numa situação dessa.
É desrespeitoso.
E por isso, apenas por isso, não tento mais impedir que Asher parta
para cima dele. Isso e porque ele merece uma surra por ser um idiota
completo.
não irá voltar a coloração normal tão cedo. Ele até tenta disfarçar, mas é
óbvio que está tendo dificuldade até para respirar. Além disso, todos estão de
prova que ele provocou e saiu na pior, já que nem mesmo teve chance de
revidar.
— Não posso deixar um bando de moleques sozinhos por cinco
minutos que já aprontam uma merda dessas — esbraveja, cada vez mais
vermelho. — Dempsey, está fora dos próximos três jogos. Você também,
Nolan.
— Mas treinador… eu não… — Ryan começa, com dificuldade, ainda
mais um momento a sós para nos divertir porque tudo ao nosso redor parece
conspirar para que nos afastemos enquanto lidamos com os problemas dos
Aproveito para mandar uma mensagem para Mia, avisando que vou
tomar um banho rápido antes de encontrá-la no estacionamento da
universidade.
Quando a água quente entra em contato com meus músculos, posso
cair na minha frente como gelatinas, então nem me esforço muito e termino o
mais rápido que consigo, tanto pela dor costumeira quanto por Mia. Não
Meus passos se tornam pesados, o que chama atenção deles e faz Mia
olhar para trás, em minha direção. Ela parece nervosa quando vê que sou eu e
chance com ela. Mas, de alguma forma, vê-lo desse jeito, se aproveitando da
bondade dela, me faz querer arrebentar a cara dele e deixá-lo irreconhecível.
— Me espera no carro? — peço para ela, sem dar mais outra palavra.
Mia parece me implorar com os olhos para que eu não faça nenhuma
besteira e eu assinto. Não vou fazer nada demais. Só preciso colocar esse
merdinha no lugar dele.
Não faço ideia de onde tiro forças para jogá-lo na parede, sem dó
algum de machucar suas costelas. Ele tenta revidar, mas sou mais rápido em
imobilizar seus braços. Ryan chia e está prestes a abrir a boca quando forço
meu braço em sua garganta.
— Da próxima vez — começo, em tom de ameaça. — Que tentar tocar
nela, lembre-se de que está nas minhas mãos e que posso acabar com você
em um estalar de dedos.
Ele sabe.
Ryan sabe que o tenho em minhas mãos e só preciso de uma ligação
para que essa marra e mal comportamento esvaia dele com rapidez. Será tão
rápido que ele só perceberá quando o estrago estiver feito.
Embora Ryan não saiba o real motivo para um acordo entre nossas
famílias existir, ele tinha se mantido quieto até hoje, mesmo que as faíscas
porém, ele sabe que Mia é o meu limite. Ryan pode falar ou fazer o que
quiser, desde que a deixe fora disso.
O dia em que tentou usar aquela garota na festa para atingi-la e agora
que o encontrei tocando-a, foram o meu limite. Sei que deve ter se feito de
coitadinho e que ela provavelmente sentiu pena dos seus ferimentos e correu
para ajudar, boa do jeito que é.
Ryan pode ter mais de vinte anos, mas ainda se comporta como uma
criança.
Patético.
Como tudo que carrega seu sobrenome.
— Vou perguntar uma vez e espero que você me dê a resposta que eu
quero e a cumpra — falo bem devagar, para o caso dele ser idiota o suficiente
de fingir que isso não aconteceu. — Você entendeu que é para ficar longe
dela, Ryan?
— Sim — ele diz, a contragosto.
dela.
— Perfeito — solto-o, vendo se curvar em busca de ar.
perto de Mia, porque nunca sei me controlar e quase sempre acabo sendo
grosseiro.
— O problema é que você quer ser boazinha com todo mundo e depois
eles te ferram.
Mia morde o lábio inferior, desviando os olhos de mim e sei o que está
se passando em sua cabecinha. Ela não gosta de ser feita de boba, entretanto,
seu coração é bom demais para perceber a maldade que há nos dos outros.
— Kim passou mal?
primeira vez que assistimos, brigamos feio, porque ela fez uma situação
hipotética em que nos colocava numa situação parecida e ficamos sem nos
começa a buzinar.
— Voltando — diz, enquanto manobra o carro para voltar a andar. —
— É problema meu?
— Sim, você quem começou.
— Para de me interromper.
— Vamos trocar de assunto — decido e emendo antes que ela tenha
chances de falar: — Você irá comigo para o próximo jogo, certo? Em Saint
Vincent?
— Quando?
— Semana que vem, se não me engano.
— Não sei. Não quero parecer que não vivo sem você — ela brinca.
— Mas é verdade, todos sabem.
Eu rio.
— Pequena traíra.
Dizemos que somos amigos, mas eu estou te olhando do outro lado da sala
…
E não tem como eu acabar ficando com você
Mas amigos não olham para amigos desse jeito
parar em algum canto desta casa com Kyle e Hector, enquanto Kim e eu
ficamos no canto, entediadas em uma bolha que nós duas criamos.
Não é como se eu odiasse festas. Eu gosto delas, não é à toa que vou
em quase todas que meus amigos estão.
exemplo, há dois casais no sofá, ambos estão separados, mas pela forma com
que se observam um ao outro, parece que vai sair algo muito interessante
dali. Interessante para eles, no caso.
— Não — ela resmunga, igualmente insatisfeita. — Eles estão ficando
cada vez mais repetitivos.
— Vou procurar o B e ver se ele já quer ir embora.
— Hum… os dois sozinhos — ela cutuca minhas costelas, me
provocando.
— Para com isso — resmunga, rindo. — Ficamos sozinhos o tempo
todo. Vocês precisam parar com essas piadinhas de duplo sentido. Somos só
amigos.
doer, mas vale a pena quando recebo um beijo na ponta do nariz. Sorrio para
ele, que me aperta ainda mais.
— Confie em mim.
Quando as portas se abrem, me sinto uma criança num parque de
barulho ao meu redor não havia ajudado para que eu percebesse o que
acontecia do lado de fora.
São apenas gotas finas, que nem devem demorar tanto assim. O céu
está nublado e algumas nuvens tomam conta da extensão azulada.
Brandon dá um passo para fora do elevador e as gotas começam a
molhá-lo no mesmo instante. Ele sorri e... Deus! É a coisa mais bonita do
mundo. Talvez, a coisa mais bonita que eu já vi.
correndo pela grama molhada e com a boca aberta em direção aos céus,
tentando beber a chuva enquanto a mãe dele ri.
longe, traz para perto, grudando meu peito no seu, segurando minha cintura.
— Você seria meu amigo se me conhecesse de outro jeito?
Eu rio.
— Se minha mãe não tivesse me abandonado e eu não houvesse te
perseguido…
— Oh — diz, lentamente, nos girando. — Então agora, a senhorita
admite que me perseguiu.
— Deixa de ser bobo — repreendo, rindo. — E responda a minha
pergunta.
Nossos rostos se nivelam, sorrindo um para o outro, enquanto nossos
corpos entram em sincronia, em um passo não ensaiado.
— E você?
— Nasci para ser seu.
sobre nós.
Não há música. Nunca precisamos dela.
Posso jurar que a cidade inteira consegue escutar o meu riso, que nesse
momento, ecoa não só a alegria que sinto como também a forma com que
estávamos focados demais olhando um para o outro para nos preocupar com
o que acontece à nossa volta, penso que esse seria o momento perfeito.
Mas eu disse.
Eu sou covarde.
Sou a primeira que desvia a atenção dele, olhando para o horizonte
acima de nós, temendo em onde isso pode acabar.
Brandon é meu melhor amigo.
Não posso deixar que momentos como o da última festa aconteçam
novamente. Não seria correto.
enquanto ele aperta seu agarre em minha cintura, ainda nos conduzindo pelo
terraço em silêncio.
quero saber o que farei com meu coração. Quero saber como, em meio a
tanto tempo juntos, deixei que meu coração tomasse as rédeas da situação.
anuncia, se sentando ao lado de Mia, que olha para ele com um nítido
questionamento no rosto.
É por isso que quando ela faz perguntas com “O que a gente faz agora,
Bandon?”, eu e ele, achamos que ela está falamos de nós e ficamos felizes,
mas o idiota está tentando segurar o riso enquanto olha para qualquer canto
da sala.
Não.
Ele não...
E vai acabar sobrando para mim. Porque Mia tinha que me obrigar a
manter a boca fechada sobre esses dois?
Maldita.
Eu deveria começar a fingir que não a ouço.
— Como assim?
— Transaram na minha cama, carrapata — responde, bufando. — É
Kyle está ciente que precisa maneirar a boca perto das meninas.
Obviamente, nenhuma das duas é uma santa, mas já basta as bobagens que eu
e Asher somos obrigados a ouvir, que pelo menos poupe sua boca suja da
irmã e da minha metade. Nossos ouvidos não são penicos.
Infelizmente, não há um botão nele de desligar. Se houvesse, me
pouparia de ouvir muitas histórias constrangedoras.
Ky bufa.
— Desculpa, neném — pede, dando duas batidinhas na cabeça dela.
Ela faz uma careta com o ato e ele sorri, ciente de que detesta quando
Que nojo.
Ele engole com dificuldade antes de se inclinar para frente e me olhar.
Deveria?
Não.
Porque assim como não esconde nada de mim, também não esconde da
Kimberly. Com exceção daquelas que envolvem nossos passados.
Me sinto um pouco mal pelo Kyle, que é o único de fora dessa história.
Se eu estivesse em seu lugar, gostaria de saber o que está havendo, afinal, ele
— O idiota foi para cima do Ryan e foi suspenso dos próximos três
jogos.
— Ele mereceu — Asher diz, como se não fosse nada demais quase
distorcer a cara de um colega de time.
— Mas eu não merecia ter ficado sem o meu Ala-armador a essa altura
do torneio.
Uma notificação faz todos olharem para Asher. Mia olha para Kim,
mexendo em seu celular e depois para mim. Nego, porque não vou entrar
nessa para acobertar eles dois.
Eles formam um casal bonito, isso é óbvio. E Kyle não tem nada a ver
com a situação, mas eu os conheço, quanto mais postergar uma conversa
Asher é o meio termo. Ele não parece desesperado por sair por aí
pegando a primeira pessoa que aparecer na frente. Mas também não é o tipo
que gosta de ter contato com as pessoas que se envolve.
E Kyle... bem. Kyle acha que todas as garotas têm direito a um pedaço
dele e é muito, muito raro vê-lo com a mesma garota em algum momento da
vida.
— Por quê? — Mia pergunta, desviando os olhos de Ky para ela. —
guerra. Coitado. Todos sabem que não vai conseguir ir até o fim. Não demora
até que me encare e aponte para Mia.
minha coxa e assim, sei que é minha hora de intervir ou Mia vai me matar.
Coço a garganta, puxando o próximo assunto:
Kim resmunga.
Aproveito para enfiar um pedaço de pão na boca de Mia, que está
muito ocupada prestando atenção na conversa alheia para lembrar de comer.
Ky revira os olhos.
Mia segura minha mão, limpando o dedo com o guardanapo antes de
— Você vai usar um terno por mim, certo? — Mia se inclina, para
falar comigo baixinho. — Não sei se a sua mãe disse, mas terá a
acredito que assim como eu, Mia também quer estar presente para celebrar o
momento único na carreira deles.
Além disso, seria uma ótima oportunidade para ficar alguns dias com
ambos.
vestido.
Suspiro, sem responder nada. Não quero parecer tão fácil.
— Combinamos depois.
Ela sorri e assente, beijando minha bochecha.
— Bran?
— Hum?
— Quero falar com você sobre uma coisa, mas não quero que fique
chateado.
Meu alerta pisca em letras neons na minha cabeça.
— São duas coisas, na verdade.
O alerta pisca mais forte.
— Pode falar.
— Vamos lá para o quarto da Kim.
não abrir.
Eu.
Vou.
Infartar.
Puta que pariu.
Puta.
Que.
Pariu.
Ela vai sair com um cara.
pressão subir na mesma hora. Mas que porra?. — Ele me chamou há alguns
dias, mas eu estava um pouco insegura. Sei lá, nunca fui a um encontro, não
cruza atrás do corpo. Só então noto que está nervosa, mordendo o lábio
inferior como uma garotinha à espera da aprovação do pai para algo.
Por que incentivaria a garota que quero para mim a sair com outro
cara?
Oh...
Oh... sim.
Devo incentivar a garota porque ela é minha melhor amiga e não faz
ideia das besteiras que está se passando na minha cabeça agora. Uma delas, é
a maneira mais gentil e nada correta de espantar esse cara, seja quem ele for,
para bem longe de Mia.
Eu mereci essa.
Mas porra... eu achei...
tão forte que bate. — Vamos começar por aí. É por causa do encontro?
— Não — diz, simplesmente. — O jogo é amanhã e o encontro depois
de amanhã.
— E qual o motivo?
poderia estar passando mal na arquibancada. Preferi saber que em casa, pelo
menos, estava sob os cuidados e olhos atentos de Kimberly.
Torço o nariz.
— Vai sair com esse cara?
— Qual o problema?
— Não gosto dele.
Eu o conheço, claro. É dos reservas que tem sido testado para jogar no
time principal, mas que tem um ego imenso e desse jeito, só irrita ainda mais
o treinador.
Nada e nem ninguém vai conseguir arrancar de mim o ódio mortal que
Mas eu achei que por estarmos sempre juntos e ela ter quase um aviso
de não se aproxime na testa, os caras passariam longe.
— Você não gosta de ninguém.
— Não é verdade — me defendo. — Gosto de você.
Gosto de você mais do que deveria.
Mais do que é apropriado.
Mais do que posso ou consigo expressar.
— Eu não conto — ela diz, como se fosse óbvio. — Você foi quase
obrigado a gostar de mim.
Reviro os olhos.
— Não vamos discutir sobre isso.
Eu não sei como contar para ele que nossa amizade está me deixando
seus lábios unidos ao meu, sua mão grande na minha nuca enquanto a outra...
Caio exausta na cama, fechando os olhos e tentando pensar em
qualquer outra coisa que não seja as mãos de Brandon em mim, porque isso...
isso pode nunca acontecer.
Vem me ver?
Estou com saudades.
Impossível.
Deus, é impossível, não pensar nesse cara quando ele é literalmente o
cara dos meus sonhos.
Eu ainda tento entender de onde surgiu todo esse fogo que toma conta
de mim quando penso nele. Não sei se quando me deu a mão naquela terça-
feira ensolarada enquanto me banhava em minhas próprias lágrimas ou
Não consigo entender por que meu corpo reage assim, mas preciso
aprender um jeito de fazê-lo parar. E com urgência.
também tem meu carinho e minha simpatia em qualquer hora do dia. Esse
príncipe nunca teve uma coroa, mas me trata como uma princesa.
Mas o príncipe nunca quis uma princesa.
E é esse mais um outro problema.
Porque não sei a profundidade dos meus sentimentos por Brandon.
Não sei se o que sinto é só uma vontade descontrolada e avassaladora de
beijá-lo ou se eu... se eu... estou apaixonada.
Não.
Melhor não pensar nessa última opção.
Seria o fim.
O fim de nós.
Cumprimento uma ou duas meninas que vejo pelo caminho e sigo para
fora. Temos uma boa convivência. Não diria a melhor porque não somos
Meu pai ficou muito irritado e demitiu todo mundo antes de contratar
uma nova empresa, que agora, quase seis meses depois, está quase
noites, durmo no mesmo cômodo que ela, que já esteve aqui nos mesmos
lugares que eu, me causa asco. A simples menção do nome ou existência de
Willa, me dá ânsia.
O Brandon que me faz sentir amada quando faz pequenas coisas como
essa. O cara que me faz companhia em dias tristes, que me leva a jantares
sentir nem mesmo uma fagulha disso tudo, sei que sairei arrasada.
Eu penso no que ele veria em mim para retribuir tais sentimentos?
Sou apenas a garotinha que ele sentiu pena ao ser abandonada e que o
desafiou a ser seu melhor amigo. Não tenho tantas qualidades para que ele
E se…
E se...
São tantos. Tantos “e se...?” sem respostas, que me deixam ainda mais
nervosa. Entretanto, sei que preciso enfrentar isso.
E logo.
Mas não hoje.
Hoje não. Deixa para amanhã. Ou depois de amanhã. Semana que
vem, talvez.
Paro em frente a enorme casa onde os meninos do time moram e
procuro pela minha cópia da chave, abrindo a porta. No entanto, o caos que
encontro vindo do corredor de cima, me faz paralisar. Parece estar havendo
ruim aconteça, mas não consigo me mover. A cena me leva de volta para
muitos anos atrás.
de perto da criança.
Porém já é tarde.
Ela está lembrando agora, quando ouve uma discussão que não
entende, mas que a deixa paralisada como antes.
— Anda, Ky. Você precisa esfriar a cabeça.
Então, a voz de Brandon me traz de volta a realidade. Olho para cima,
vendo-o tentando segurar Kyle, que esbraveja, irritado;
— Não me toca! — praticamente grita antes de se desvencilhar.
— Kyle, por Deus! — Brandon grita de volta, enraivado como nunca o
que me faz rir durante as manhãs e rouba os restos de comida dos nossos
pratos apenas para irritar.
Brandon vem atrás dele, e não parece estar calmo. Ky me vê, dá alguns
passos para o lado da porta e paralisa, me olhando com os olhos
semicerrados.
— Você já sabia também? — me pergunta. — Sabia que os dois
Porra.
Ele descobriu sobre Asher e Kimberly. E como Brandon imaginou,
empurrando para longe de mim. — Sabe que não vai querer se meter comigo.
Kyle parece suspirar, como se tentasse controlar a si mesmo.
Antes que eu possa dizer que está tudo bem, ele volta a marchar em
direção a porta, fechando-a com um baque estrondoso que me faz estremecer.
— Mando.
— Onde está a que me trouxe?
— Aqui.
Ele se inclina comigo em seu colo, para tirar a caneta do bolso. É
personalizada com o meu nome, tem o corpo roxo e uma tampa simples.
Abro-a, tirando a proteção da ponta e escrevo meu nome em seu braço,
tem clima para nada. Entretanto, minha insegurança faz com que eu pense
que ele não quer falar sobre nós. Não hoje, pelo menos.
Então, faço o que sei de melhor: empurro meus sentimentos para trás
do portão, enquanto o garotinho do outro lado da rua, apenas observa.
— E a viagem?
qualquer música que eu possa cantar a plenos pulmões dentro do meu carro
como se estivesse em um videoclipe. As dele servem também.
— Estou achando que a idade está chegando mais cedo para você —
provoco. — Está até conseguindo te deixar mais chato e reclamão.
Ele está ao meu lado, então minha primeira reação é tatear meu rosto a
procura de alguma sujeira. Entretanto, não acho nada e quando estou prestes
a me virar, o gelado da sua colher encontra meu rosto, sujando minha
bochecha de sorvete.
Abro a boca, pasma e viro para ele devagar, com a expressão mais
assassina que consigo. Não acredito que fez isso.
— Acho que a velha é você, está até se sujando à toa.
— Eu vou te matar.
— Vai não.
que acaba chamando a atenção de alguns dos poucos clientes do lugar, mas
eu não poderia me importar menos com isso.
— Não precisa ficar com raiva, eu vou fazer o favor de limpar para
você.
dissesse que estou com medo de ir atrás de algo que quero muito?
Abro os olhos devagar, flagrando os seus ainda me observando.
Então, percebo.
Ele também está com medo.
Também está com medo de dar um passo à frente e acabar com a nossa
amizade. Ou talvez... talvez, para ele, seja apenas isso, desejo, algo que ele
quer muito.
— Eu diria que somos dois medrosos.
e percebo que ela está retirando os potinhos que estão cheios de sorvete
derretido.
Olho para o seu rosto, inexpressivo enquanto olha para os dois lados
da rua para atravessarmos.
Sua mão segura a minha com mais firmeza quando aceito o toque,
como se agora tivesse a desculpa perfeita para segurá-la e eu olho para o lado
Ele ainda parece estar corroendo meu ser. Tenho medo de dar errado,
de ser uma escolha errada ou que isso cause um afastamento entre nós.
está dando certo, porque o que Kim quer e precisa no momento é do apoio do
irmão, que age como se ela não existisse.
O que resultou num afastamento entre todos nós desde o primeiro dia
da semana, quando nos reunimos para o intervalo das aulas no refeitório e
Kyle passou direto, sentando-se em uma mesa afastada e nem se dignando a
dar um olhar para nós. Kimberly não teve o mesmo sangue frio que o irmão e
se retirou da mesa, fazendo Asher ir junto.
que nenhum de nós dois pode fazer nada para mudar essa situação. Não diz
respeito a nenhum de nós e mesmo sabendo que Kyle deve ter suas razões —
pelo menos, eu espero que tenha — para agir dessa forma, não é justo que
esteja tratando-a desse jeito.
Sento-me na cama, acariciando seus fios loiros com cuidado. Ela ergue
os olhos que estavam atentos ao aparelho em suas mãos para mim e se move,
deitando a cabeça nas minhas pernas e as abraçando.
— Não gosto de te ver assim, minha metade.
— Não consigo evitar. Parece que voltamos a ser apenas nós dois.
suficiente para você e seus tênis surrados? — ela ri. — E por acaso, algum
deles fica te vendo desfilar por horas enquanto experimenta suas criações?
meu celular toca e vejo o nome da minha mãe no visor. Não espero nem mais
um minuto para atender.
— Oi, bebê da mamãe! — ela cumprimenta, os cabelos espalhados no
travesseiro escuro e as bochechas coradas.
— Oi, mãe, como você está?
— Com saudades — diz, sorridente. — Quando você e Mia virão para
casa?
consegue ser o maior apoiador de algo que acontece apenas na cabeça deles.
E, bem, na minha.
— Ainda não sabemos, mas não deve demorar. Onde a senhora está?
Ela desvia os olhos de mim, para algo além do seu celular e morde o
lábio, nervosa.
— Em casa?
— A idade chega para todos, linda. Não é sempre que posso me dar
ao luxo de não precisar comparecer a um desfile interminável. Essa tarefa,
que tio Marcus não me veja do outro lado da tela, mas que eu consiga
observar com clareza de detalhes a fronha de travesseiro preta de bolinhas
brancas.
Idênticas àquelas que minha mãe estava deitada a minutos atrás.
Puta que pariu. Eu não sei reagir a isso.
— Nada não — responde a mentirosa. — Tem visto a tia Evy?
— Hum... — ele pensa um pouco, diferente da minha mãe, parece
realmente estar pensando numa desculpa. — Por que a pergunta?
— Sei lá, talvez vocês...
um pavor estampado no rosto que faz tanto eu quanto Mia nos levantarmos,
atentos.
durante o ano inteiro. Mas a loirinha chorona, que também é minha vizinha,
não sai do meu pé.
— Me espera, eu vou ao banheiro! — ela pede, me entregando a sua
mochila.
Essa é uma boa oportunidade para sair daqui e nunca mais me
Não quero vê-la chorar de novo. Também não quero que ela fique
triste se eu a deixar sozinha. Mas também não quero que fique me seguindo e
falando sem parar. É chato. Ela parece um papagaio. Eu fiquei sabendo tudo
o que ela já aprendeu hoje na sua turma, que é um ano a menos que a minha.
A pior parte é que ela nem percebeu que eu fiquei calado e só falei
agora, não é?
Só me dou conta de que chegamos em frente a sua casa quando ela se
— De quê?
— De verdade ou desafio.
— Desafio — ergo o queixo, sem me dar conta de que o plano era não
ser amigo dela. — Sempre desafio.
— Desafio aceito.
Mia se aproxima de mim e como se nos conhecêssemos há muito
tempo, me abraça bem forte. Forte demais para uma garotinha do tamanho
dela.
Fico sem reação por alguns segundos, mas também a abraço, tocando
seus cabelos loiros e longos.
Entrego a mochila rosa e cheia de brilho para ela, que se vira e abre o
portão da sua casa e volta a me olhar. Ela parece triste quando toca o portão
então, resolvo dizer alguma coisa.
— Você é muito tagarela, carrapata. Mas eu não desgostei de você.
— O que é tagalera? Uma menina da minha sala me chamou assim
uma vez, mas ela não era minha amiga. É um xingamento? Você não gostou
de mim?
deixei sozinho e dividi o meu sanduíche. Era o meu favorito. Tudo bem que
foi o meu pai que mandou, porque a gente precisa devolver uma boa ação
— Não.
— Acabou de aceitar o desafio de ser o meu melhor amigo — Mia me
lembra. — Você vai fazer o que eu quiser.
— Não é assim que as amizades funcionam.
— E como é então? — a carrapata cruza os braços. — Nunca teve
amigos.
— Você também não.
melhor amiga, você é chato. Não vou mais andar com você.
— Não é assim que funciona. Eu aceitei o desafio e vou cumprir.
pode uma menina tão pequena ter tanta fome e tanta raiva. Acho que gostei
dela. Mas vou ter que pedir para a mamãe colocar mais um pedaço de torta na
minha lancheira, porque não gostei de ter comido só um pedacinho.
— Ei, por que está do outro lado da rua? — minha mãe pergunta,
saindo de casa. — Se perdeu, neném?
— Não, mamãe — respondo, olhando para os dois lados da rua que
quase não passa carros a essa hora sob seus olhos atentos. — Uma
brava.
— Deixa de ser fofoqueira, carrapata.
Eu acho que agora sou melhor amigo de uma menina meio maluca.
Acalme-se, tudo vai ficar claro
Não preste atenção aos demônios
Eles enchem você de medo
O problema pode arrastá-lo para baixo
— De novo?
— Está achando ruim? — ele resmunga. — Eu dei comida na sua boca
ontem, não negue que se aproveitou da minha bondade para fazer as suas
vontades.
Rio baixinho, sem querer chamar atenção dos dois pela implicância
boba.
A verdade, é que desde o acidente de Kim, há um mês, todos nós
temos nos revezado para cuidar dela, que está de repouso e não pode fazer
tanto esforço assim. Porém, ela é teimosa e a única coisa que conseguimos
realmente ajudá-la, é no banho, o resto ela sempre dá um jeito de fazer
sozinha, exceto quando quer encher a paciência de alguém, como ontem.
Kim fez drama, quase chorou, dizendo que estava com preguiça até de
levantar os braços. O pateta do meu melhor amigo levou ao pé da letra e deu
até comida na boca dela, com direito a mãozinha no queixo para não sujar e
tudo.
Não disse?
Um príncipe.
dividir agora.
— Custa muito — ele diz, sentando-se ao pé da cama e colocando o pé
quebrado dela em cima do seu colo. Me jogo ao lado dela. — Você já tem o
Asher.
— Não vamos fazer essa comparação — ela rebate. — Asher é meu
namorado, ela é a minha melhor amiga.
— Primeiro, a melhor amiga é minha, depois, o Asher já sabe disso?
— Ele já deve ter percebido — responde como se estivesse óbvio para
todos. — Olhe para mim, ele já está apaixonado.
— Pelo menos não fico perdendo o meu tempo enrolando — ela diz,
digitando em seu celular. — Acho uma atitude meio covarde.
Kim: Beijou?
Lanço uma olhada de canto para ela, que parece focada em seu celular,
sem dar sinal nenhum de que está, na verdade, disfarçando para falar comigo.
Brandon não parece perceber nada, entretido enquanto checa se o gesso
continua no lugar. Não dá para confiar na Kim, a garota não consegue ficar
parada e é realmente um milagre que não tenha inventado de tentar andar
para ela que quanto mais rápido ela melhorar, mais rápido poderá voltar aos
seus saltos e desde então, ela tem se esforçado para se recuperar mais rápido,
embora, ainda mantenha resistência em muitas coisas.
Eu: Quase.
Eu: Nem preciso perguntar sobre você, não é?
— Pode pedir para ele fazer uma massagem no meu pé? — ela
pergunta para mim, ainda segurando o celular como se estivesse apenas nós
ombros, uma expressão de culpa estampando seu rosto. Não entendo essa
resistência em pedir ajuda, somos seus amigos e estamos aqui justamente
para isso, eu me sentiria mal sabendo que está com dor e que não podemos
fazer nada para ajudar.
mensagens.
Kim: Sim.
Me disseram que você e o B sumiram...
— Acho que em uma ou duas semanas — responde enquanto digita.
— E a fisioterapia?
Eu: Dançamos. Ele fez mais uma pergunta estranha. Eu respondi ainda
mais estranha. Ficamos muito estranhos. No outro dia fomos a uma
sorveteria. Ele lambeu o meu rosto. Quase nos beijamos. Eu disse que sairia
com o Milo.
Kim: Eu acho que você deveria tomar uma atitude e fazer algo.
Vale, Kim.
Vale, sim.
forma nos nossos lábios em sincronia. Foi exatamente o que ele me disse
quando paramos em frente ao portão de casa, na semana em que nos
tudo para se livrar de mim, sendo que eu o mandei me esperar e não deixei o
pobrezinho respirar por um minuto, todas as vezes em que o via passar em
amiga, que está com a mão em frente a boca, tentando se conter enquanto
algumas lágrimas rolam de seu rosto.
— Desculpem, não queria interromper o momento — ela pede,
chorando um pouco mais. — É que vocês são tão fofos que me dá vontade...
— ela gorgoleja. — Me dá muita vontade de chorar. É tão lindo e eu amo
tanto vocês.
Eu sorrio, achando a situação um tanto estranha, mas a abraço de lado,
sorrindo enquanto divide a atenção entre nós duas. — Não sei como o Ash te
suporta.
Você me tem
Head First — Christian French
De alguma forma, ter as coisas se ajustando, finalmente, parece estar
suficiente para pedir um encontro com ela, que acabou sendo cancelado pela
minha metade depois de toda aquela situação com Kyle e o acidente de Kim.
No entanto, ao que parece, ele não recuou como achei que faria e a
convidou mais uma vez. E, para a minha morte lenta, Mia aceitou.
falando da Mia, então ele acaba entrando para a minha lista de pessoas-não-
agradáveis.
— Uhum — concordo com o que diz, ainda sem tirar os olhos dela,
que parece empolgada com a nova amiga.
Mia caprichou ainda mais hoje. Não há sequer uma pessoa nessa festa
que não tenha notado sua beleza. Ela veste um vestido azul brilhante que
termina no meio das suas coxas, a alcinha é formada por uma corrente
dourada e ela calça, como sempre, um All Star preto. Não há nada demais no
look, mas é a Mia, ela não precisa de mais para chamar a atenção.
Não a minha, pelo menos.
— Estava pensando que você podia me ajudar a conquistá-la no nosso
encontro.
Estou prestes a dizer que não posso ajudá-lo, quando uma ideia me
sorriso que está quase rasgando meus lábios, mas o desfaço logo depois,
forçando uma expressão de pesar. — Ela também não entende muito de
surpreende em nada.
A verdade é que eu sempre soube que Kyle surtaria com a notícia de
que Asher e Kimberly estão juntos. Ele sempre a colocou num pedestal que
nunca lhe pertenceu e isso está gerando frustrações, o que não é justo com
nenhum dos lados, pois além de ser mais velha e adulta, Kim tem desejos
tanto quanto qualquer um de nós e não precisa de ninguém opinando no que
cinco, já que Kyle não está falando com os outros dois e Mia e eu nos
sentimos em um cabo de guerra, sem saber de qual lado ficar, visto que
não é.
— A Mia não...
deixou em paz e quando voltei a atenção para ela, já tinha essa garota colada
ao seu corpo, as duas embalando na dança na mesma sincronia da música.
olhos vão para Kyle e um sorriso perverso toma conta de seus lábios antes de
induzir Mia a acompanhá-la até o chão.
se move, tenho certeza de que não há um par de olhos nessa festa que não
acompanhe seu movimento.
Porque, de repente, somos só nós dois nessa sala lotada, enquanto ela
dança para mim. Olhando nos meus olhos.
O delineado em seus olhos os fazem parecerem ainda mais sexys do
que já são por natureza. A verdade é que não há um átomo meu que não ache
cada pedacinho dela a coisa mais esplêndida e gostosa que já pisou na Terra.
Mia é a porra do meu castigo.
O acaso me presenteou com a mais diabólica das mulheres. Não há
como negar isso, pois embora pareça um anjo, sua atenção em mim me causa
a mais pecaminosa das intenções.
onde ninguém possa ver o quão louco sou para tê-la em meus braços, com o
corpo suado grudado ao meu e nossos lábios unidos até implorarem por ar.
Diana veste um vestido amarelo, que realça a cor da sua pele negra,
enquanto os cabelos cacheados estão soltos. Ela é linda e mesmo com o que
tenha acabado de dizer ao Kyle, não entendo de onde o ódio de um pelo outro
nasceu.
desses, Mia.
Com isso, ela se vira, jogando os cabelos cacheados para trás, olhando
perto de nós.
— Quem é ela? — pergunto.
enlaçando meu pescoço, fazendo com que seu rosto fique bem próximo ao
meu.
— Hum?
— Você está muito perto.
— Eu sei.
— E eu quero te beijar.
porrada.
— Vocês não vêm? — pergunta a pessoa que não faço ideia de quem
seja. Mia assente e parece ter uma rápida conversa com ele. — Estamos na
sala de estar.
Ela se vira novamente para mim e vejo sua boca se mexer, então me
esforço para entender, mas minha cabeça não processa suas palavras.
— ... vamos?
Para onde? Para o andar de cima? Para um lugar onde ninguém
de centro.
Entretanto, antes mesmo que eu possa dizer que é melhor irmos
embora daqui, porque prefiro muito mais morrer de tédio ao vê-la ser
desafiada a… sei lá, mostrar os peitos para esse bando de idiotas, Mia solta
minha mão e se senta entre Hector e outro outro cara do time, em um dos
poucos espaços vagos.
E simples assim, sei que só sairemos daqui depois de, pelo menos,
uma rodada. Mia é fissurada em qualquer tipo de brincadeira que envolva
estou nervoso demais para pensar em qualquer coisa, porque minha cabeça só
consegue pensar em Mia. E repetir seu nome sem parar como uma prece.
A garrafa gira.
Gira.
Gira.
Gira.
E para.
Apontando diretamente para ela.
Ela disse que também queria me beijar, não disse? Estou dando a
oportunidade de uma forma que sei que gosta, na adrenalina de ser desafiada.
Estou dando a oportunidade a ela de me beijar enquanto brincamos.
Um coro de vozes ecoa ao nosso redor, todos atentos para saber sua
atitude. Todos duvidando que ela realmente faça isso. Mas é da Mia que
estamos falando. Ela pode ser tímida, mas nada disso seria o suficiente para
fazê-la recuar.
caminhar até mim, do outro lado. Sei que leva apenas alguns segundos, mas a
ansiedade faz parecer como se fossem horas.
peito.
— Você é maluco.
Meu sorriso cresce enquanto meus olhos descem para a sua boca.
— Por você — sopro. — Sempre por você.
Não tenho tempo para pensar. No segundo seguinte, sua boca se choca
a minha. E caralho, é o paraíso.
Suas mãos se enroscam na minha nuca, uma delas subindo pelo meu
cabelo enquanto seus lábios dominam os meus com calma. Eu sinto que,
poderia morrer nesse exato momento e estaria eternamente feliz.
Minhas mãos sobem por sua coxa, segurando a barra do seu vestido
para baixo. Não quero ninguém de olho na bunda da minha garota, ela foi
Meus dedos se apertam com ainda mais força em sua coxa e sinto
quando sorri em minha boca. Terminando de me foder. É demais para mim.
conheço Mia, sei que não vai querer sair no meio do jogo, apenas para não
chamar atenção.
sejamos amigos hoje porque quando bati os olhos nele, soube que precisaria
ser insistente.
Foi o que eu fiz.
E desde então, ganhei um companheiro.
Brandon esteve lá em todos os momentos.
Ele sempre me escolhia primeiro quando nossas turmas se juntavam na
quadra da escola, nunca me deixava sozinha na hora do intervalo e sempre
primeira menstruação desceu e estávamos na rua. Ele foi o cara que estava
comigo quando experimentei cerveja pela primeira vez e também foi ele que
segurou o meu cabelo enquanto eu colocava tudo para fora depois. Foi a sua
mão que segurou a minha em todos os meus aniversários, em que queria
chorar por lembrar dela, e também dançou valsa comigo aos dezesseis, em
uma festa chique que roubamos muitos docinhos e levamos o maior esporro
Foi ele que assumiu a culpa por mim quando arremessei a bola errado
e acabei quebrando a janela de uma das nossas vizinhas. Ele era o cara que
não fosse atrapalhar, eu era uma criança, que por mais quieta que fosse,
exigia atenção como qualquer outra e ele sempre largava tudo para me dar
esse cuidado.
Foi então que Marcus e Evelyn finalmente se conheceram, embora
um cara fechado, que acabou soando um pouco grosseiro com ela e isso
gerou algumas discussões. Mas isso não a impediu de oferecer para ele uma
ajuda comigo.
Foi quando meu pai voltou a um ritmo de trabalho que não o deixava
dias.
A parte que está me deixando pensativa é que não parece errado.
Nossos amigos estão certos. Amigos não se olham da forma que nós
dois fizemos hoje na cozinha. Amigos não se beijam, não como acabamos de
Eu…
Eu acho que estou me apaixonando por Bran.
Tipo, acho que estou realmente gostando dele. E isso não me assusta,
mas me deixa insegura, mesmo que, agora, saiba que ele também sente o
mesmo.
E se estragarmos tudo?
Aproveito que todos saíram em direção a cozinha e fundos, para
finalmente criar coragem de virar em sua direção e me ajoelhar entre suas
pernas. Encaro seu rosto enquanto ele faz o mesmo com o meu, voltando a
brincando com o pingente enquanto evito olhar para seus olhos, até não ser
mais possível.
— Não é drama.
— E o que posso fazer por você?
tempo.
— E se estivermos confundindo tudo, Bran? E se isso for só porque
— Mia — me chama, seus dedos passando seus fios para trás da minha
orelha com um cuidado que chega a doer. — Eu não quero outras pessoas.
— Certeza?
— Absoluta.
— Você está confusa, eu entendo, se quer sair com esse cara, vai lá.
As coisas entre nós não precisam haver nenhuma cobrança para isso,
podemos ir com calma.
— Mesmo?
Brandon assente.
— Só me prometa que vai ser sincera. No sim e no não.
Assinto.
— Sei sim.
Ele revira os olhos, fingindo estar irritado.
Ela parece estar empolgada para esse encontro, enquanto eu, não sinto
nada além de ódio por aquele cara. Apesar de saber que não importa o quanto
ele tente, no fim da noite, é comigo que ela estará, fico com raiva por ser ele
levando-a para um encontro e não eu.
Fora que o tal Milo é um idiota total, que ao invés de perguntar para
ela o que gostaria de fazer, veio perguntar para mim. Justo para mim. Burro
vestido preto que me fez observá-la desfilar por horas na minha frente.
— Vai com esse vestido? — pergunto, sem nem disfarçar o tom de
irritação. — É sério?
Levanto-me, seguindo-a até a sua escrivaninha, que também usa como
pouquinho em pouquinho.
— Ir devagar inclui não opinar sobre as minhas roupas quando eu não
com isso.
Admito, de uma vez.
última vez ao colocar a mão em sua cintura, a deslizando até seu abdômen e
cravando meus dentes em seu ombro de leve.
Tão minha…
Uma empolgação fora do normal toma conta de mim quando ela solta
sua coxa. — Eu sinto sua falta em todos os segundos que está longe.
Por favor, Mia.
Por favor, entenda que cada segundo que passo longe de você me sinto
ficar sem ar.
Por favor, entenda que você é a única garota que quero. A única que
desejo. A única que... amo.
que a resposta que quer é que o cara certo sou eu. Posso não ser o cara
perfeito para Mia, mas qualquer um que ousar duvidar, sempre saberá que
farei o que estiver ao meu alcance — e um pouco mais — para que ela se
sinta a mulher mais amada e satisfeita do mundo.
— Você já contou?
— O que?
— Já contou para ele que, embora saia para um encontro juntos, nunca
tempos.
— Ele tem motivos para isso.
— É mesmo?
Eu sorrio, voltando a ver seus olhos quando ela os abre.
beijar, vai ter a certeza de que suas bocas não se encaixam como as nossas.
— Está muito prepotente, Brandon — seu rosto se vira para o meu,
quando todos estavam de olho. Meus dentes mordiscam sua boca e suas
unhas arranham minha nuca ao ponto de me fazer arrepiar com a força.
Minhas mãos exploram suas coxas desnudas pelo vestido curto, nunca
ultrapassando o limite invisível imposto por mim mesmo.
Não quero assustá-la. Não quero que ache, nem por um segundo, que a
quero apenas como uma garota para esquentar minha cama. Ao passo que,
perto o suficiente para sentir seu cheiro. Às vezes, basta lembrar dela.
Meu corpo meio que é viciado nela.
desço meus beijos pelo seu maxilar e pescoço, onde aproveito uma distração
para deixar uma marca.
por favor.
Os passos se afastam, e quando penso que Mia vai se deixar levar e
— Não, Bran, você vai para a sua casa e eu venho para cá. Tivemos
essa conversa ontem, lembra? Sobre ir com calma e tudo mais…
Com isso, ela beija meu queixo, saindo porta afora, sem imaginar que
está prestes a sair para o encontro mais ridículo de sua vida e que estará na
substituir o Kyle.
Engulo o kibe — a única coisa que consigo comer — com dificuldade,
o riso preso em minha garganta, porque está claro que o garoto quer apenas
aparecer. Duvido muito que do time atual, alguém seja capaz de substituir
Kyle. Não que os jogadores não sejam bons o bastante, mas Kyle nasceu para
ser o capitão, aquele time não seria o mesmo sem ele.
— Não sei se estava no último jogo, mas fui bastante elogiado por ele,
fiz um dos lances para a cesta.
Mentira.
Eu estava no jogo. Acompanho todos, mesmo que seja por
transmissão, na verdade, porque aprendi bem cedo a gostar de basquete. Sei
até jogar. Não tão bem, mas o suficiente para vencer Brandon em algumas
partidas apesar do tamanho.
— Eu sei — interrompo, sendo uma das poucas vezes que falei desde
que saímos do seu carro. — Eu conheço os passes e regras.
— É mesmo? — pergunta, desconfiado. — Conhece alguma formação
ofensiva?
Eu sorrio ironicamente e com o pouco de paciência que resta em mim,
respondo;
— Clássica, quatro abertos, três no garrafão e cinco abertos. Quer que
memorável.
Provavelmente, me levaria para um lugar que nunca fomos antes,
como todas as vezes. Abriria a porta do carro para mim e não se sentiria nada
constrangido quando eu pedisse para verificar se meu vestido está no lugar
certo ou deixando minha calcinha marcando — não que eu tenha feito isso
com o babaca sentado na minha frente.
redor. E ele certamente não faria a cara de nojo que Milo está fazendo agora
ao me observar limpar o molho da bochecha com o dedo e enfiar na boca.
— Eu acho que preciso ir ao banheiro.
— Claro — ele diz, assentindo como se estivesse entendendo algo. —
Vou pagar a conta e te esperar.
Rio internamente.
Mas não vai mesmo.
all stars.
Porra, o cara poderia, pelo menos, ter dito para onde iríamos quando
Quando volto, ele está ao telefone e parece estar jogando algum jogo
mais interessante que eu.
— Milo? — pergunto, tentando chamar sua atenção. — Vamos?
— Achei que iria demorar no banheiro, gata. Mulheres sempre
demoram — diz, ainda sem erguer os olhos para mim. — Pode esperar cinco
minutos? Prometo que não vou demorar.
Era. Só. O. Que. Me. Faltava.
também não me atrevo a olhar para trás quando saio do restaurante, sentindo
o frio da noite me abraçar e sentindo falta do casaco que Brandon sempre me
Não é como se eu não me desse bem com as garotas que moram aqui.
Na verdade, a maioria delas são até simpáticas comigo. O problema mesmo é
a Cindy, que implica com todo mundo e é meio que a líder da casa, o que
significa que se ela não gosta de alguém, as outras mantêm distância. É assim
comigo.
As garotas são simpáticas apenas quando ela não está por perto. E são
simpáticas demais quando Brandon está por perto. E eu não gosto disso.
É uma casa grande, com quartos suficientes para não precisarmos
dividir e um ótimo espaço em volta do qual eu nunca aproveitei. Passo mais
faz nem meia hora que deixei Milo sozinho no restaurante, achei que aquele
jogo demoraria o suficiente para ele nem mesmo notar que saí.
entrando para pegar uma caneta emprestada e nunca mais devolvem. Foi por
isso que tive que levar a maior parte da minha coleção para a casa de
Brandon, já que seria impossível deixar aqui sem pensar o tempo todo no que
elas poderiam aprontar na minha ausência.
Com os tênis, pelo menos, não preciso me preocupar, já que todas elas,
sem exceções, preferem andar em seus enormes saltos ou em sapatilhas que
— nas palavras delas — são mais femininas.
nariz para sentir o cheiro. Entretanto, assim que aproximo o rosto, percebo
um cartão enfiado no meio do buquê e o pego, segurando as flores com uma
Seu B.”
Filho da...
Foi tudo uma armação! Eu vou matá-lo.
Bato na porta três vezes antes de ser atendida por Kyle, que por algum
milagre está aqui, porém, pelo visto, prestes a voltar para casa.
— Não precisava — falo, brava demais para alguém que está sendo
tão educado comigo. — Esse idiota está em casa?
Kyle olha para meu rosto e o buquê de rosas que estou praticamente
amassando em mãos.
idiota de fugir.
E quando nossos olhos se encontram, eu sei que sabe por que estou
— Não está chateada por causa das flores, está? — ele se inclina até
meus olhos desviarem para sua boca, que esboça um sorriso quase que no
usando um pouco de força quando trás meus olhos para os seus, quase me
arrancando um gemido.
Tão perto que eu preciso apenas impulsionar meu corpo. Entretanto, ele me
para. Um sorriso ainda mais perverso toma seu rosto quando sua mão grande
— Diga, Mia — manda, a outra mão subindo para acariciar meu rosto.
— Por que chegou tão cedo?
escadas.
Pulo do sofá para o seu colo, vendo seu sorriso quando me joga para o
alto apenas para me ouvir gritar e me abraçar de novo.
Agora, somos apenas nós dois.
Mas, bem, para falar a verdade, agora que ela foi embora, percebo que
O papai sempre foi meu. E eu sempre fui dele. Então acho que sempre
seremos nós dois.
sorrindo, fazendo com que o meu sorriso morra. — Mas eu tenho uma ideia.
— Que ideia, Marcus?
— Porque está bravinha com o papai, linda? — ele pergunta, se
sentando no sofá comigo em seu colo.
— Quero dançar na chuva, pai — resmungo, querendo chorar. — Mas
tudo bem, o senhor não pode se machucar, não é? Podemos ficar no terraço,
então? Olhando ela cair bem de pertinho?
— Por que não chama aquele seu amiguinho para ir com você? — ele
dá a ideia. — Aquele que tem te trazido para casa todos os dias.
É verdade.
Brandon me espera atravessar a rua todos os dias de manhã para irmos
juntos à escola. A mãe dele nos leva agora. Ela e o papai não parecem se
gostar, mas disseram que seria bom se nós dois fossemos amigos porque não
temos nenhum.
Mas Brandon é um pouco mal-humorado, ainda tenho que dar mais
amor para que ele possa sorrir sem fingir que eu o irrito. E eu acho que o
irrito mesmo. Mas é porque ele não fala nada. E eu quero saber de tudo.
Quero saber como era a casa que ele morava antes, como era a sua
vida em outra escola, se ele gostava de lá, e quero saber se ele gosta de me ter
Porque ele pode dizer que não me quer por perto e eu vou respeitar.
Não vou segurar o pé dele como fiz com o da mamãe porque machuca.
Não podemos querer que as pessoas que nós amamos, nos amem de
volta. Elas também precisam querer.
Minha mãe não quis me amar. Não está tudo bem, mas eu a entendo.
Talvez ela só preferisse ter um gato a uma talagera, que o B disse que eu sou.
Eu nunca vou ter um gato.
— Está chovendo.
— Vocês são crianças, meu amor. E crianças brincam. Tenho certeza
chateada, só confusa.
— É — assinto. — É legal, mas meu pai disse que está ficando velho
para fazer isso comigo.
Ela olha para o outro lado da rua, onde sei que meu pai está e acena
com a cabeça de forma amigável.
— Bran — ela grita, olhando para dentro. — Sua amiga está aqui.
Ele aparece logo, com uma cara confusa. Bran é muito bonito. Seria
— É. O meu pai não pode. Está ficando velho. E você é meu melhor
amigo, precisa ir comigo.
Ele olha para a mãe que sorri bem grande e assente, dando permissão.
— E se eu ficar resfriado?
— Eu tenho escolha?
— Não.
Seguro sua mão, arrastando-o até o quintal da sua casa, onde sei que é
seguro. Um carro passa e na mesma hora, estamos cobertos com a água da
poça que se formou no chão.
Nós dois gritamos, mas quando olhamos um para o outro, começamos
a rir, porque parecemos dois patinhos molhados.
— Seu coração bate muito rápido, carrapata — ele grita, para que eu
ouça em meio aos nossos risos.
— Eu sei!
Ele sempre bate rápido quando estou com você.
— Gosto.
— Por quê?
— Amo.
— Até quando eu como um pedaço da sua torta?
— Amo, Mia.
— Eu acho que eu também te amo, Brandon.
dessa vez.
Era mentira. Ele não vivia mais sem os meus abraços quentinhos.
Neste momento, eu não tenho vergonha
Gritando a plenos pulmões por você
Não tenho medo de enfrentar isso
Eu preciso de você mais do que queria
canto de sereia. Posso sentir seu coração cada vez mais acelerado à medida
que diminuo o espaço entre nossos corpos.
engole seco. Posso ver dentro das suas íris tudo o que ela vê dentro das
minhas.
nossas bocas quando o ar nos falta e eu desço meus beijos para o seu
pescoço. Mia joga a cabeça para trás, me dando a belíssima visão dos seus
Ao ouvir sua pergunta, me dou conta que posso estar indo rápido
demais aqui e a última coisa que eu quero é assustar a incrível garota nos
meus braços.
A dona de todos os meus pensamentos.
— Nada que você não queira — garanto, com firmeza.
Seus olhos imediatamente voltam a encontrar os meus e, para o meu
completo alívio, Mia sorri ao encostar sua testa na minha. Nossas respirações
se fundem e o azul dos seus olhos nunca foi tão bonito como agora.
— Que bom — me dá um selinho demorado. — Porque eu quero e
— O que foi, metade? — ela leva a boquinha bonita até o meu ouvido.
— Acha que só você sabe brincar?
Segurando-a com mais firmeza, giro nossos corpos e caminho com ela
até a minha cama. Jogando-a sobre o colchão, seu corpo quica e sua risada
gostosa preenche meus ouvidos. Encaixo meus dedos no cós da minha calça e
Mia se apoia sobre os cotovelos, me olhando com expectativa e os cabelos
bagunçados.
Linda.
salta muito contente em vê-la. Mia morde o lábio inferior, tombando a cabeça
para o lado, o analisando com bastante interesse.
— Realmente, Grande Bran — debocha.
Reviro os olhos. Eu deveria adivinhar que ela não perderia a
oportunidade.
— Eu avisei.
— Será que vai caber? — arqueia uma sobrancelha, sorrindo
maliciosa.
Reviro os olhos.
Porra.
Porra.
cima e para baixo. — Em como suas mãos em mim, seriam mil vezes melhor.
— Mia… — é a minha vez de engolir em seco.
— Sim?
— Me chupa?
Ela sorri, malandra, e se ajeita na cama. Fico de joelhos e, caralho,
definitivamente, eu não estava preparado para ter a boca de Mia em volta do
meu pau. Quando sua língua lambe a minha glande, um grunhido alto sai do
fundo da minha garganta.
— Como você gosta? — pergunta baixinho, me olhando com uma
meus dedos entram nos seus fios loiros. — E tudo o que você faz é incrível.
Ela revira os olhos, mas seu sorriso ainda está lá quando volta a levar
estrelas.
Fecho minhas pálpebras com força, meu coração batendo rápido, à
medida que ela vai aumentando o ritmo e meu quadril vai indo de encontro a
sua boca.
Porra.
Bom demais.
para sentir seu cheiro. Minhas mãos sobem vagarosamente sobre suas pernas,
sentindo a maciez da sua pele. Meus dedos agarram com vontade suas coxas
sua calcinha. Arrasto o tecido para baixo de uma vez só, pegando-a de
surpresa e fazendo-a soltar um gritinho em minha boca.
provocação.
— Porque, a partir de hoje, apenas eu sou merecedor dos seus
gemidos.
Termino de tirar sua calcinha, jogando o tecido longe. Subindo seu
vestido bonito, que ela mesma fez, obtenho a visão da sua boceta encharcada
e meu pau pulsa contra a sua perna.
— Gostosa — beijo abaixo do seu umbigo, colocando suas pernas
sobre meus ombros. Deixo outro beijo em sua virilha, descendo cada vez
mais e ela se contorce, ansiosa.
— Brandon — reclama de novo.
— Tão impaciente — mordo de leve a parte interna da sua coxa, sem
nunca tirar os olhos dela. — Eu não disse para ficar quieta? Só quero ouvir
você implorando ou gemendo.
— Me chupa?
Sorrio, satisfeito, e então, lhe dou o que tanto quer. O que nós dois
tanto queremos.
Seu gosto doce se espalha pela minha língua, me fazendo enlouquecer
um pouco mais. Mia geme alto, agarrando os lençóis, e eu travo suas pernas
com meus braços, deixando-a bem aberta para mim. Dou uma grande e
demorada lambida na sua boceta e então, uma atenção especial ao seu clitóris
sensível, que a faz tremer de leve.
dentro dela.
— Brandon! — ela geme, seu corpo começando a tremer com força,
joelhos novamente, tocando o meu pau com calma. Ela me olha com um
sorriso perdido e o olhar nublado.
devolve o sorriso, um daqueles que eu sei que reserva apenas para mim. Lhe
dou um beijo demorado, sem pressa, e Mia substitui minha mão pela sua,
tem?
— Como pode duvidar tanto assim da minha honra? — me finjo de
passando segurança.
— Devagar? — pergunto e ela balança a cabeça em negação.
Rimos porque, bem… somos nós dois. E nós dois somos estranhos.
Quando está visivelmente mais relaxada, ela assente e eu respiro
fundo, começando a estocar devagar. Descendo meus lábios pelo seu
pescoço, chupo seus seios quando começo a aumentar o ritmo aos poucos,
ouvindo seus gemidos baixinhos. Mia arranha as minhas costas, erguendo seu
quadril de encontro ao meu, e percebo que a cama começa a bater na parede.
Foda-se.
Minha mão escorrega entre nós dois e faço pressão em seu clitóris,
massageando. Mia geme meu nome e segura meu rosto entre suas mãos,
todo o meu peso, e ela abraça minhas costas, suas mãozinhas imediatamente
subindo pelos meus cabelos, fazendo carinho.
cumprimentando.
Louco de pedra.
por isso.
Ele coloca a mão no peito, como se eu realmente tivesse o ofendido, o
— Sim, Mia.
— Porque ainda era virgem? E porque resolveu perder comigo?
Não é como se eu tivesse descoberto hoje, obviamente. Brandon e eu
sempre conversamos sobre tudo e sobre isso não seria tão diferente, embora
sexo e outras pessoas nunca tenha sido uma pauta recorrente em nossas
conversas, eu saberia se ele já tivesse perdido a virgindade.
Entretanto, me sinto feliz em saber que ainda era virgem e melhor
ainda, que perdeu junto comigo. Não sei dizer se é ou não egoísmo da minha
parte, mas não vejo que outra forma poderia ser mais perfeita para nós dois.
mim. Uma de suas mãos coloca uma mecha do meu cabelo para trás de forma
cuidadosa, alisando os fios loiros enquanto observa meu rosto. Ele sempre faz
isso como se fosse a primeira vez. E eu sempre me sinto a garota mais feliz
do mundo, também como se fosse a primeira vez.
momento certo antes, mas agora sinto. Porque é você. Porque somos nós.
Arregalo os olhos diante da sua fala porque, porra, é fofo para caralho,
coelhos. Não depois do que fez antes de ir ao encontro e não da forma com
que fez o meu corpo se sentir adorado.
como se soubesse todos os pontos certos para me levar as nuvens, e... causou
o caos na minha cabeça.
somos amigos.
— É, eu sei — refuto, fazendo um pouco de esforço para tirá-lo de
cima de mim. — Mas não somos mais apenas amigos, isso não te assusta?
— Deveria? — questiona, parecendo tentar entender onde quero
eu a causadora delas.
— Mas você parece assustada.
você se arrependeu?
— Do que está falando? É claro que não! Minha boca está dormente e
quase não sinto as minhas pernas de tão ardidas, e mesmo assim não vejo a
hora de repetir, mas preciso surtar.
virgindade com o meu melhor amigo? O mesmo cara que já rolou na lama
comigo, foi obrigado a gostar de mim, fez…
Sou interrompida quando ele se ajoelha e se inclina, me dando um
beijo firme, que me tira de órbita por alguns segundos.
— Pronto, tagarela — ele diz, satisfeito em me ver calada. — Posso
falar agora?
Assinto.
— Não acho que deveria estar tão preocupada com esses detalhes.
Aconteceu, ponto. Somos melhores amigos, já passamos por muita coisa
antes e o que rolou hoje, é mais uma delas. E é mais uma que não precisa de
alarde ou desespero, justamente porque somos melhores amigos.
— Você não acha que isso pode mudar as coisas daqui para a frente? E
se der tudo errado?
um outro lado, minha metade. Somos eu e você agora. Faremos dar certo,
sempre foi assim.
a certeza de que não importa o que será do dia de amanhã, daremos um jeito.
Brandon puxa minhas pernas, fazendo-me escorregar no colchão até
estar deitada para que ele possa beijar meus seios antes de se deitar no meio
deles, no seu novo local favorito. Ele boceja, abraçando minha cintura.
Alcanço meu celular na mesinha de cabeceira e seleciono o contato de
Kimberly, porque sou tagarela e simplesmente não saberei esperar até mais
tarde.
Eu: Atenda.
Ela faz o que peço assim que clico no ícone de ligação. Posso jurar que
Estou mostrando apenas meu rosto, de uma forma em que ele não
apareça, já que estou completamente pelada.
— Ele dormiu agora, não vai se mexer até que o despertador toque.
— Não vou nem perguntar o que estavam fazendo para ir dormir
agora.
— O mesmo que você — responde, mesmo que eu não tenha
perguntado.
— Mia estava transando? — consigo ouvir a voz rouca e sonolenta de
surpreende que tenha demorado tanto para perceber que sou perfeita para
você.
Reviro os olhos, concordando mentalmente com o que Brandon disse
outro dia; se o ego de Kimberly fosse vendido em potinhos, ela lucraria
muitos milhões.
— Claro que estou surpreso, porra, é o Brandon e a Mia. Mal posso
acreditar que deu tudo certo.
amiga.
— O chá foi forte, hein? — Asher brinca. — O coitado não consegue
nem reagir.
— Vai se foder — meu melhor amigo pragueja, um pouco mais firme,
esquecendo.
O rosto de Kyle aparece na chamada e Brandon geme, enfiando a
cabeça no meu pescoço como se desejasse sumir daqui assim que ouve a voz
dele.
primeira vez?
— Precisa ensinar uns truques para o Asher — Kimberly diz,
tornando a ligação ainda mais caótica. — Coitado, acho que sou areia
demais para o caminhão dele.
expressão de nojo.
— Eu acho que vou ali beber um pouco de cloro.
— Não seja dramático, seu imbecil — Brandon o repreende, quase
sem se mover de onde está.
— E você não canse demais a minha carrapata. Tchau.
Brandon levanta a cabeça rapidamente.
— A carrapata é minha!
podemos chegar.
— E o que fazemos com isso? — pergunto forçando um biquinho
me surpreendo. É o Kyle. Não demora até que elas cheguem e como sempre,
Kim senta-se entre Asher e Kyle, beijando o namorado e cotovelando o
irmão.
Dois esquisitos.
Penso que Mia não irá fazer o mesmo mas me surpreendo quando se
senta ao meu lado, não perdendo um segundo antes de selar nossos lábios
Não foi a primeira vez, é claro que sei disso, mas porra, a garota mais
linda do mundo — a que acabou de me beijar — é minha. Minha para cuidar,
Asher. — Como pode, depois de não sei quantos mil anos esses dois só
estarem abrindo os olhos agora, caralho?
— Não defenda! Também não caí no seu papinho sobre roubar o meu
melhor amigo.
— Você roubou a minha, o mínimo que podia fazer era dividir o seu
— Kim diz, fazendo com que tanto eu, quanto Asher e Mia fiquemos
confusos. A quem ela se refere quando diz “minha”? — Além do mais, nunca
quis ser amiga do Asher, apenas vocês dois que não perceberam.
— É verdade — Mia confirma. — A Kim quis dar para o Asher desde
— Porque não vai procurar outra pessoa para irritar, hein? — Asher
resmunga para ele.
— Então — minha metade começa, falando mais alto que eles para
cortar a possível discussão que possa surgir dali. — Estão animados para o
pele.
Semana que vem — daqui a cinco dias, sendo mais específico —,
Meus olhos se desviam para Kyle, que olha para um ponto específico,
a algumas mesas de distância de nós, focando em Diana, que está sentada
sozinha.
— É… — ele diz e simples assim, sei que não prestou atenção no que
possível que terei que jogar sem mais um dos meus titulares em um jogo
importante?
Paro por um segundo, puxando o ar para meu peito com força antes de
como eu, está no time principal. O lutar se descuida e o outro rouba a bola,
fazendo um lance perfeito para onde estou.
e a esfera laranja foge das minhas mãos, caindo no chão enquanto sinto uma
dor quase que insuportável no meu braço, irradiando por todo o meu corpo. O
treinador apita, sabendo que meu urro não foi uma brincadeira.
Os segundos seguintes são cruciais.
Quando olho para o lado, vejo Ryan Nolan segurando a bola e entendo
que foi ele. Foi ele quem acertou meu braço com uma jogada suja. O meu
próprio parceiro de time.
A minha bomba-relógio estoura.
De repente, não sinto mais dor. Toda ela é substituída por raiva.
Raiva de tudo o que venho guardando sobre ele por todos esses anos.
Não entendo qual a sua insistência em sempre tentar me afetar, me perseguir.
professora.
No entanto, à medida que fomos crescendo, as coisas começaram a
embora não tivesse sucesso algum. Eu sempre lidava com eles, mas isso me
levava a um nível de exaustão mental que me dava ódio.
assédio dele e de sua família, que sempre esteve ciente das merdas do
imbecil, que eu finalmente explodo.
Meu braço dói como nunca antes, entretanto isso não me impede de
empurrá-lo com toda a força, fazendo seu corpo ir para trás. Vou junto.
comigo.
— Será mesmo, irmãozinho?
Suas palavras, ditas em voz baixa, me desmontam. Me fazem parar.
Tombo a cabeça para o lado, tentando entender se eu realmente ouvi o que
disse. Um riso incrédulo salta dos meus lábios.
— Como é que é? — pergunto, apenas para ter a certeza de que vejo
em seus olhos. — Está delirando?
Não aguento com a insinuação e meu punho acerta seu nariz em cheio.
Se juntar com o estrago que Asher fez há um tempo, acho que em breve,
O acordo sempre foi simples. Ryan nunca saberia. Nunca saberia que
somos irmãos ou quem sofreria as consequências, seria o elo mais fraco. Que
A amante.
A outra.
Para eles, ela sempre foi apenas uma aproveitadora, que dormiu com o
próprio chefe, garantindo, assim, um futuro. Colocaram ela como vilã,
quando é a vítima. Minha mãe é só mais uma das vítimas daquela família, a
qual sempre me recusei a fazer parte.
Ela foi enganada por um homem que dizia estar em processo de
divórcio. Evy caiu no papo barato de um imbecil que nunca soube sustentar o
que guarda nas calças. O maior erro dela foi ter sido boa e ter acreditado nele
Jonas pesou a ponto de finalmente contar para sua esposa que a estava traindo
com uma de suas funcionárias. Ele alimentou o ego de sua mulher, que
Somente agora entendo por que Ryan veio para cá e voltou ainda pior.
Ele descobriu. E agora, fará de tudo para me ferrar. Porque é o que vai
acontecer quando Jonas descobrir que seu filho legítimo descobriu que ele
não é um rei, que eles não vivem em um mundo encantado e vai querer
revanche.
Ele vai descontar na minha mãe. De alguma forma, ele sempre
consegue descontar nela.
E se isso acontecer... eu não me importarei em me expor para trazer
seu legado abaixo. Mexer com a minha mãe é algo que não admito e se ele
for homem o suficiente para fazer isso, também será para aguentar as
consequências que isso trará não só para ele, mas também para sua adorada
família.
— Quem te falou isso? — quero saber.
Quero saber por que, se foi a sua mãe, ela também há de amar as
consequências.
absolutamente tudo, para que nada que venha deles possa atingi-la.
Não quero ter que encontrá-lo nunca mais em minha vida.
Sou grato por todos os dias olhar no espelho e ver que sou a cópia de
Evelyn. Que fisicamente não puxei nada dele. Seria um martírio. Para mim e
família.
Não quero ouvir suas palavras sujas. Não quero ver seu rosto nojento
que é tão parecido com o dele. Não quero estar no mesmo ambiente que ele.
Mesmo assim, o encaro.
O encaro buscando algo.
Em uma circunstância diferente, seríamos amigos? Se o homem que
me deu a vida arcasse com as consequências dos seus erros fosse diferente,
algo mudaria?
Eu acho que não.
E isso só torna Ryan Nolan ainda mais imbecil aos meus olhos. E é por
isso que permito que Asher e Kyle me tirem de cima dele, afastando-me da
Ele não responde nada enquanto tira as roupas com pressa e tomo um
tempo analisando sua postura. Está suado e ofegante. Sei que estava no treino
e seja lá o que o irritou de tal maneira, tem haver com isso, contudo, não
insisto em perguntar sobre o que aconteceu.
descontar em mim. E sempre que isso acontece, Ryan está envolvido. Sempre
assim.
respirações.
— Ryan de novo?
— Como sabe?
Meu corpo fica ereto com o tom que usa para falar comigo. Parece que
Ele faz o que eu peço e eu estranho a raiva que vejo em seus olhos, de
uma forma que nunca presenciei antes. E eu já vi todas as faces dele.
Então, ele suspira novamente. No entanto, dessa vez, o faz após olhar
para os meus olhos durante um longo tempo. Seus ombros caem e ele parece
dizer?
Ele não está me acusando de contar um segredo de família para
alguém que odeia, está? Eu só posso estar presa em um pesadelo. Ou numa
brincadeira de muito mal gosto.
Não.
Não.
Não.
Porra, não.
Isso não pode estar acontecendo.
O que...
— Acha que quem contou fui eu?
Solto um riso sarcástico, porque de repente, quem está com raiva sou
eu.
quanto Ryan Nolan, cai sobre o meu colo como uma bomba e como se apenas
isso fosse o suficiente para ativar em mim a decepção inexplicável que sinto,
menos com o cara que pareceu me amar com seu corpo há dois dias.
Minha voz não passa de um sussurro trêmulo.
falando comigo.
Seus olhos me olham cheios de culpa.
raiva e...
— E resolveu descontar em mim, eu sei — completo por ele. — Todo
do outro.
Ele suspira.
sozinha.
— Por favor, diga que vamos conversar depois.
mais nada até você querer conversar. Não vou mais insistir até que você
queira.
não me atrevo a olhá-los, não quero encontrar pena por me verem chorando.
Sei que devem ter escutado ao menos meus gritos e se assustado, pois
Ele abre a porta de seu carro para mim e entra. Kyle também é gentil
em não dizer nada enquanto ouve meu choro durante todo o caminho até
minha casa.
Um dia
Eu vou parar de me apaixonar por você
Um dia
Alguém vai gostar de mim como eu gosto de você
Porra.
Porra.
Fiz merda.
E uma das grandes.
Deixei a raiva tomar conta de mim e descontei em quem não devia.
E caralho, como é difícil lidar com as consequências de fazer uma
besteira.
Quando Ryan disse aquilo, minha visão ficou vermelha. Não
raciocinei, não pensei nas consequências. Sequer ensaiei o que falaria quando
chegasse lá.
Praticamente corri durante todo o caminho até a fraternidade dos
que seria capaz de derramar tudo em cima dela. E foi o que aconteceu.
Diante do seu silêncio, dos seus olhos marejados e da expressão
entanto, nunca cheguei a pensar que ela poderia fazer isso, mas fui burro e
não medi minhas palavras. Me expressei mal e acabei magoando-a a ponto de
vê-la chorar.
Eu prometi ser o seu melhor amigo para sempre.
Melhores amigos confiam um no outro. Eu confio nela.
Melhores amigos não fazem o outro chorar. E foi o que eu fiz.
Fiz algo que prometi nunca acontecer. Parti seu coração.
Por Deus, é a Mia.
Minha melhor amiga. Minha garota.
Três dias que acampo ao seu redor como ela fez comigo naquele dia,
treze anos atrás. No entanto, não digo ou faço nada. Estou respeitando o
espaço que me pediu porque sei que irá me dizer quando estiver pronta para
me ouvir.
quadra em menos de uma hora, mas não posso mais continuar com a
sensação de impotência que está me acometendo desde aquele dia. Preciso
saber o que fazer.
A mensagem não é respondida, porque ela inicia uma chamada de
vídeo, que me apresso em atender. No entanto, não digo nada, é ela quem
toma a iniciativa:
— Fez merda, não foi?
errado.
— Fiz, mãe — respondo, me sentando na cama que, agora, não tem
dela?
Deixo para perguntar como ela sabe desse detalhe depois e apenas
aceno, confirmando.
— Briguei com o Ryan.
ela se sentou na mesa, olhou no fundo dos meus olhos e perguntou se eu tinha
certeza.
Um dia, muito tempo depois, entendi que minha mãe não estava me
perguntando se eu tinha certeza se poderia confiar em uma amiga.
que jamais amaria alguém além de Evy. Na minha cabeça, apenas minha mãe
merecia o meu amor.
Por isso, não pensei duas vezes antes de dizer que sim, tinha certeza
que queria que Mia soubesse porque demorei para deixá-la abrir as grades do
meu coração.
— Acusou a Mia, não foi? — minha mãe suspira, deixando o celular
apoiado em algum lugar, pois logo vejo ela passar as duas mãos pelo rosto.
O silêncio se estende novamente.
— Não foi bem assim, fiz um comentário sobre o que ele disse e
acabei me expressando mal.
— Brandon, não foi assim que eu te ensinei — posso sentir seu tom de
— Precisa conseguir.
— Mãe, tem ideia do quanto está sendo difícil...
— O tio Marcus...
— Vai te matar quando souber que fez a garotinha dele chorar — ela
Observo seu sorriso, a maneira com que seu corpo inteiro parece vibrar
por estarmos à frente do placar. O jogo está ganho, embora o primeiro set
tenha acabado agora e ainda tenha muito pela frente. Temos tudo para
sairmos vitoriosos do torneio.
Falta apenas quatro jogos. Quatro jogos e poderemos comemorar.
Logo, a animação do cara parece pular para fora de seu corpo tamanha
a alegria que sente. Kyle respira basquete. É simplesmente tudo para ele. A
única coisa que ele consegue amar mais que o esporte, é Kimberly.
— Está sim — afirmo, com um sorriso fraco no rosto.
lugar.
Ele ergue o celular, para que eu veja o rosto de Mia aceso na tela. Ela
está ligando. Porra, ela... ela está me ligando.
Está ligando depois de dizer que não queria mais falar comigo.
Isso significa que meu coração se enche de esperança. Talvez ela
queira conversar, finalmente, para resolvermos isso de uma vez.
As próximas palavras de Asher, porém, destroem todos os meus
pensamentos.
— Ela ligou umas cinco vezes. Não ouvi, porque deixou no silencioso,
mas não para de chegar notificação com mensagens dela.
— Porra.
Arrebato meu aparelho e atendo a ligação no mesmo segundo,
correndo para longe do barulho sem me importar com o que vão pensar por
eu estar saindo assim, prestes de começar o segundo tempo de um dos jogos
em primeiro lugar. Sempre. Isso não é algo que vai mudar. Nunca.
— Oi — atendo ofegante e não dou a oportunidade de ela falar,
disparando perguntas enquanto corro até a saída. Eu sabia que algo estava
errado. — Oi, Mia. Desculpa a demora. Desculpa. O que aconteceu? Estou
porque pode.
— Você me adora — provoco. — Vai morrer de saudades de mim.
Ele suspira, colocando as mãos no peito. É claro que vai sentir. O cara
que chamo de minha metade. Segundo ela, tudo bem receber o maior pedaço
de torta de maracujá da minha mãe, mas nada feito quanto a eu ser amigo do
pai dela.
— Deixa de ser egocêntrico e vai consolar sua metade.
abafando o som. Puta que pariu. O universo não quis cooperar a meu favor
quando a minha ida para a faculdade coincidiu exatamente com a TPM dela.
trazendo sua cabeça até meu colo. — E você também pode ir sempre que
quiser.
— Vai ser muito bom ter a torta da tia Evy só para mim.
Fecho a cara, fingindo estar bravo por isso.
cama, ao meu lado, tão próximo que ela deita a cabeça em meu ombro,
suspirando.
Enfio a mão no bolso e tiro dele duas canetas coloridas que ela estava
querendo muito há um tempo, mas que tio Marcus estava se enrolando para
São canetas bem simples, parecem até mesmo bem frágeis. O corpo de
uma delas é lilás, a outra azul e ambas têm corações brilhantes desenhados.
houve malícia.
Não fora da minha cabeça, pelo menos.
Eu rio.
— Desafio, metade. Você sabe que sempre escolho desafios.
esforçasse muito.
— Eu quero ouvir você dizer.
Suspiro e sorrio, aproveitando que está distraída para levar meus dedos
até a parte de trás do seu pescoço, abrindo a correntinha que ela usa com o
seu nome. Ela sente o movimento, mas não faz nada para impedir, apenas me
encarando enquanto seguro o fio de ouro em minhas mãos, colocando nas
dela.
Desencosto meu corpo da cabeceira, permitindo que ela se ajoelhe na
cama, ao meu lado e seus dedos delicados rocem na minha nuca, arrepiando-
me enquanto coloca a correntinha em mim.
Então, ela se senta sobre os próprios pés e encara seu nome
descansando em meu peito. Não é grande, mas tem tamanho suficiente para
ser visto de uma certa distância considerável.
cachorro mesmo.
Mia gargalha, tombando a cabeça para trás e me deixando admirá-la
Prometo.
Afinal, ninguém consegue esquecer o amor da sua vida.
Reinos podem cair, anjos podem chamar
Nada disso me faria ir embora
Toda vez que olho nos seus olhos, eu vejo
Você é tudo que eu preciso
Só que eu não estava preparada para ouvir o que ouvi quando pisei
para fora dos portões da fraternidade. Eu não estava pronta para encarar
ser amparada por seus braços e finalmente desabo. Agarro seu corpo como se
ele fosse uma boia e eu estivesse à deriva no meio do mar.
A dor que meu coração experimenta agora, é semelhante àquele vinte e
três de fevereiro, há treze anos atrás.
Estou vendo ela fazer as malas, colocando dentro do compartimento
apenas dinheiro e suas joias, enquanto escuta uma menina perguntá-la o que
está fazendo.
Não consigo pensar em mais nada. Minha mente não consegue pensar
em nada que não sejam as lembranças do meu aniversário de sete anos.
Todos os segundos rondam a minha cabeça em uma espiral que parece estar
me acorrentando em minha própria cabeça.
Estou sendo apertada em seus braços. Ele está suado e ofegante, como
se tivesse acabado de sair de uma maratona de corrida e, levando em conta
que disse que veio o mais rápido que pode, sei que nem mesmo pensou antes
de correr até aqui.
Sua mão toca meus cabelos, tirando uma mecha do rosto e a colocando
atrás da minha orelha.
— Você é mais importante, minha metade — sopra, suas mãos
subindo e descendo por minhas costas em uma tentativa de me acalmar. —
Sempre será mais importante que tudo.
Então, meu choro recomeça.
Porque ainda estou chateada. Dissemos coisas feias um para o outro é
melhor amigo.
Ainda é o cara que me defende de tudo e todos, mesmo que eu esteja
errada.
Ainda é o abraço que me faz sentir segura. Como agora.
Ele não fala nada. Apenas continua parado com o rosto enfiado entre
meus fios de cabelos e as mãos em volta da minha cintura com força, como
Não sei exatamente quanto tempo se passa até que ele caminhe comigo
em direção ao sofá e se desfaça dos seus tênis, se sentando comigo em seu
Quando ouço a porta do quarto bater, sei que deve ter ido até o
banheiro do corredor para tomar seu banho e finalmente entro debaixo da
água fria, sentindo meus músculos relaxarem minutos depois, como se a água
fosse o suficiente para levar toda a angústia embora.
Não é.
Eu sei que não.
Curto.
Muito curto.
Acho que estou chorando. Tem lágrimas rolando em meu rosto quando
encaro o meu reflexo. Mas não consigo escutar. É como se meus ouvidos
toma conta de seu rosto, enquanto seus dedos passeiam pelos fios curtos do
meu cabelo.
Eu choro, porque não aguento mais chorar. Choro porque não aguento
mais sentir. Choro porque tudo o que eu queria, era ter um botão para apagá-
la de mim.
Garoto, eu te ouço nos meus sonhos
Sinto seu sussurro do outro lado do mar
Eu te guardo comigo no meu coração
Você facilita as coisas quando a vida fica difícil
…
Sorte de estar apaixonado pela meu melhor amigo
Sorte de ter estado onde estive
barulho estranho.
Ela estava chorando.
machucou.
Eu só achei que... dessa vez, ela deixaria. Eu achei que longe de casa
todo mês. Sabia disso porque era a exata quantidade de tempo em que
demorava a tocar em seus ombros.
Agora, depois que viemos para cá, a vi cortar apenas algumas vezes.
Sempre vi Kim a incentivando a deixar crescer, mas ela tinha receio. Não me
Eles estavam quase passando dos seus ombros, de uma forma tão angelical e
graciosa… Mas quando abri a porta do banheiro e vi, precisei engolir o meu
choro.
Estão mais curtos do que em qualquer outro momento de sua vida,
poucos centímetros abaixo da sua orelha, não seguem um padrão de corte.
Está todo repicado, como se ela estivesse tentando se livrar de todos os fios.
De tudo que lembra aquela mulher.
— Ainda está aqui.
Sua voz doce e fragilizada anuncia, como se em todas essas horas que
está em meus braços, não tivessem existido para ela. Como se estivesse
saindo de um transe.
cada lado do meu corpo, sentando-se no meu colo, de frente para mim. Ela
tenta puxar a coberta de volta, mas a posição não ajuda e eu seguro as pontas
do tecido fofo, puxando até cobrir seus ombros quando sua cabeça se afunda
em meu pescoço.
O abajur está ligado, mas não ilumina tanta coisa assim. Quando Mia
ou eu estamos em uma situação como essa, preferimos assim. É algo nosso.
Não digo nada disso, porque embora queira que ela escolha não ir, não
posso fazer isso. Jamais conseguiria dormir à noite sabendo que Mia pode
estar se corroendo em culpa por nunca ter ido ver aquela mulher.
Eu me recuso a intitulá-la como mãe.
— Câncer no intestino.
— Ela te procurou?
— Não — seus olhos enchem ainda mais, sua voz se tornando mais
fina à medida que o choro toma conta de sua garganta. — Um garoto me
procurou, seu nome é Connor. Ele disse que ela o abandonou também, Bran.
Ela nunca nos amou e agora quer o nosso perdão para morrer em paz. Ela
quer ter tudo o que não nos deu. Connor queria saber se eu iria e eu... eu me
sinto uma boba por querer. Por querer ir até lá e dizer que ela pode descansar.
— Meu amor — seguro suas bochechas, esperando que seus olhos
focalizem nos meus. — Está tudo bem. Você não é boba. Só boa demais.
— É a mesma coisa.
— Não é não.
— Você disse que sim!
— Está sim.
— Não estou, Brandon, para de ser egocêntrico.
Paro por alguns segundos. Mia olha para mim, as bochechas coradas,
mas dessa vez não pelo choro. Um sorriso involuntário escapa de seus lábios
— Você é um idiota.
Aproximo minha mão novamente, mas então ela se rende.
sem você.
Rio da sua cara ao dizer isso, mas em instantes, ambos deixamos o riso
morrer sabendo que ainda temos o que conversar. Solto suas mãos e passo a
me apoiar em cima do seu corpo com os cotovelos.
todos esses dias por saber que terei que reconquistar sua confiança. Mas é
que eu perdi a cabeça quando ele disse aquilo, eu senti a ameaça velada em
— Sim. Ele também não deveria saber de nada, mas disse que eu
deveria tomar cuidado a quem eu contava nossos segredos de família e eu
só...
— Só contou a mim.
prejudicá-la e não posso deixar isso acontecer. Por favor, amor, entenda que
eu não quis... — agora, sou eu quem choro. — Não quis te acusar. Eu não
estava pensando, só queria proteger a minha mãe. Ela não merece ter mais
esse fardo.
— É claro que é.
— Bran — chama. — Não é sua culpa.
— Mia...
— Não é sua culpa — ela beija meu nariz. — Não é sua culpa — meus
— Brandon — chama mais uma vez, a voz bem séria. — Precisa parar
de pensar que é o responsável por tudo o que acontece ao seu redor.
Brigamos. É normal para qualquer casal. Estou magoada com você, sim,
porque deveria conversar comigo ao invés de ter me acusado. Mas vamos nos
acertar. Se a torta de maracujá da sua mãe não nos separou, acredite, Ryan
Nolan, não irá.
Meu peito se enche de amor. Não sei exatamente por qual parte. Se por
saber que para ela, brigar por uma torta de maracujá é mais grave que por um
idiota ou se por ter dito que brigas é normal entre qualquer casal.
Ryan... deve haver algum jeito dele ter ciência dessa história e só queria te
testar para saber se você sabia ou se havia contado para mais alguém e você
mordeu a isca.
Porra.
— Como sempre.
— Bran?
— Oi, metade.
— Confia mesmo tanto assim em mim?
respirações sincronizam até que não seja ouvido nenhum sussurro entre nós.
Dormimos agarrados um ao outro, como sempre deveria ser. Esquecendo
— OH-MY-GOD!
Ouço uma reclamação quando Brandon e eu imitamos Janice,
personagem secundária de Friends, uma das nossas séries favoritas. Ela é
chata pra caralho, porém icônica, a série não seria a mesma sem os seus
ataques histéricos.
últimos meses. A ideia foi da Kim, e claro que Asher foi o primeiro a topar.
Brandon e eu não perdemos a oportunidade de reunir todos para assistir
Friends.
Embora todos reclamem e façam corpo mole quando dou a ideia,
Brandon diz que eu só preciso sorrir para eles, que aceitam. Não concordo.
Parece até que eu sou mandona e eles fazem tudo o que eu quero. Só
acontece às vezes.
— Para de ser burro — é Asher que o repreende, a voz meio engessada
pela mascara de argila. — Quero ver quando você se apaixonar se não irá
— A culpa é do seu irmão — aponto para ele ao meu lado, que morde
meu dedo. — Ai que nojo!
humana.
— Meu melhor amigo é lutador.
— Ah, então vai ser assim? — agora ele está indignado. — Vocês se
apaixonam e eu fico à deriva? — o babaquinha cruza os braços. — Não
bom de cama.
— É uma boa opção. Gostei, vou colocar na lista.
Olho para ele, que está com as mãos enfiadas nos cabelos, como se estivesse
louco. — Eu não mereço isso.
algo que deveríamos ter feito há tempos. Iremos enfrentar nossos passados,
pela primeira vez, e confesso que isso me deixa nervosa. Acho que por isso,
para o cara e ele dizer que queria tatuar o nome dela no próprio pau? Pelo
amor de Deus, de novo!
Minha pele esquenta, sinto uma súbita vontade de rir mas apenas olho
para trás, encarando um Brandon mais vermelho que um pimentão.
Olho para trás, toda arrepiada, vendo Kim quase dormindo no sofá
enquanto Kyle e Asher chegam segurando alguns cobertores.
Por quê?
Asher revira os olhos e damos as costas, rindo.
— Quem sabe?
— Hummm, Brandon? — chama em meio a um gemido abafado
quando abocanho seu seio. — Sei que parece bastante… empenhado, mas
precisamos sair em meia hora.
juntos.
— Confie em mim, minha metade, não iremos nos atrasar.
Nos atrasamos.
Mas em minha defesa, não foi culpa minha.
Foi dela.
Foi culpa da boca dela.
perderam as forças?
Ela ri, me dando um selinho esperando pacientemente que eu dê a
uma desculpa, tem? Eu duvido que aquela tenha sido a sua primeira vez.
Dou partida no carro.
Olho de relance para ela, que tem o nariz franzido e uma expressão
confusa no rosto.
— As pessoas parabenizam as outras depois de transarem? Essa é
novidade para mim.
Reviro os olhos.
— Se a intenção é me irritar, está conseguindo.
— Me poupa, Brandon, quem deveria estar irritada aqui sou eu.
algo puro.
Coloco a mão no peito, fingindo estar ofendido.
— Vale para mim — esclareço. — Vale muito mais que isso para
mim.
largo. — Não conte para a minha mãe, mas eu trocaria uma torta de maracujá
por você.
— Brandon Díaz!
— Chata! — reclamo, revirando os olhos. — Nem parece que quase
Sua mão tampa minha boca, rindo. Mesmo sem olhá-la, posso jurar
que está com as bochechas coradas.
É fácil esquecer do mundo à minha volta quando Mia está por perto. É
por isso que a ficha do que vou fazer, só cai sobre mim quando estaciono.
Observo a sala gélida, em tons brancos e vidro fumê para todos os
lados. É tudo tão… morto e vazio, que chega a dar pena.
coisas eram neutras antes dela chegar. Então, ela implicou com a minha roupa
de cama sem graça e minha mãe comprou uma verde, com borboletas.
Borboletas!
Depois, ela disse que uma criança com o quarto branco, era muito
ruim. E eu ajudei a minha mãe a pintar de azul.
Quando fomos para a faculdade, apenas intensificou. Porque mesmo
que ela tivesse o quarto dela na fraternidade e eu o meu, suas coisas ficavam
mais comigo do que com ela. Não é difícil encontrar retalhos de tecido
descosturados e até mesmo alfinetes espalhados pelo meu quarto. Vira e
desatenta.
Por isso que, quando entro na sala em que o grande Jonas Nolan
trabalha, me pergunto se ele não tem alguém como Mia em sua vida, que o
quando disse que não sentia nada por ele. Quando o vejo, a única coisa em
que consigo pensar é no que vim fazer aqui.
expectativa mas eu trato de apagar isso com um aceno. Continuo em pé. Serei
rápido.
Não. Jonas nunca esteve ao meu lado. Evelyn sim. Mia também. Até o
tio Marcus esteve. Mas Jonas não. Ele precisava estar ao lado de Ryan, o
ao qual não tenho nenhum interesse. — Sabe que entre Ryan e eu nunca
existirá algo além de ódio. Não quero nenhum vínculo com a sua família.
— Filho, sei que conhece a versão da sua mãe mas precisa entender
que….
potencial incrível, mas era ingênua demais e acabou caindo nas suas garras.
Você a colocou no meio do fogo cruzado. A fez sua, a engravidou, deixou a
sua esposa se tornar uma lunática de merda e isso fez a minha mãe deficiente
e de mim, prematuro. Você destruiu tudo. Isso não é amor. Não é assim que
funciona, porra!
Não aumento meu tom de voz, apesar da raiva estar impregnada no
Uma pena que a mãe de Ryan não tenha caído em si como a minha
mãe. Uma pena que ela ache que há amor com um homem como esses.
— Não quero que nada aconteça com a minha mãe por causa de mais
um capricho de vocês. Eu redigi aquele contrato para uma advogada muito
renomada e sei que lá há muitas coisas que vocês fizeram de propósito para
machucar minha mãe. Não pretendo fazer nada com ele, mas saiba que se eu
souber de algo, qualquer coisa por mínima que seja, que venha a respingar na
minha mãe, eu vou acabar com o que você tem de mais precioso. E ambos
sabemos que não é a sua família.
Negócios. Tudo é sobre negócios. Para ele sempre foi e sempre será
assim.
direito. O conceito de pai nos nossos dicionários são bastante opostos, isso já
sei, mas sou uma consequência dos seus atos e o mínimo que pode fazer, é
esperando-me.
Não demoro para chegar à sua frente e sou agraciado por um de seus
abraços espontâneos. Mia sorri quando me olha, mas sei que está tensa.
Nossa próxima parada é o hospital.
Quando você chama meu nome
Você acha que vou correndo?
Você nunca fez o mesmo
Tão bom em me dar nada
…
Eu vou sentar e assistir seu carro queimar
Com o fogo que você acendeu em mim
pálido, com uma cor morta, ela realmente parece estar só esperando a sua
hora.
qualquer coisa que pudesse alterar seu estado, então aqui estamos nós; três
desconhecidos que tem como ligação uma mulher que se importa apenas com
o próprio nariz.
antiga Mia foi embora. Ela deu meia volta e entrou para casa, ao invés de
implorar por alguém que nunca a quis.
para trás, com um ano. Ela nunca permitiu que eu tivesse contato com ele na
infância, tanto que só o vi uma vez antes do dia em que me procurou. Para o
meu pai, ela dizia que o pai do menino não a deixava ter contato com ele e
sempre negava a ajuda do meu pai em recorrer à justiça. Hoje percebo
porquê.
Ela deu as costas para ele, da mesma forma que fez comigo.
grossa.
— Eu não sou sua filha.
Não sinto mais nada por ela, finalmente entendo Brandon. Apesar de
ter ressentimentos pelo que aconteceu no passado, não sinto nada além disso
por ela.
Houve um tempo em que Willa Olsen era o meu mundo. Eu orbitava
ao seu redor como um maldito mosquito em volta de uma lâmpada, mesmo
quando me afastava, me ofendia e me humilhava.
Eu queria ser como ela. Bonita, simpática com todos, conquistadora.
Hoje, a mínima ideia de ter um traço parecido com o seu, me causa
ânsia, nojo. Medo.
Medo de, um dia, ter um filho, e não conseguir amá-lo mais do que
amo o resto do mundo. Medo de ter um filho e não saber lidar com as suas
dores, com a sua percepção de mundo. Medo de um dia acordar e decidir que
minha vida já não é mais suficiente e simplesmente... ir embora.
— Querida, me...
— Eu te perdoo, Willa — chamá-la pelo nome faz uma lágrima
escorrer dos seus olhos. É algo que só dói nela. — Te perdoo por nunca ter
sido minha mãe.
tentando não deixar minha voz fraquejar. — Estou fazendo por mim.
— Eu sei que te magoei, eu…
Não a interrompo, justamente porque quero que continue, coisa que ela
não faz e eu deixo um pequeno sorriso me escapar.
me tocar. Isso não. Não quero ter mais algo dela que me martirize novamente.
O olhar dela parece ficar ainda mais vazio. Então, o garoto se
aproxima, e como pensei, ele não a toca. Não há nenhuma emoção em seu
rosto.
— Você quer o perdão para ir em paz, mas nunca me deu isso — sua
voz é tão cortante quanto navalhas enquanto profere as palavras calmamente,
para ele, querendo falar. Porém, acho que assim como eu, ele não parece
disposto a escutá-la.
Connor dá as costas para ela, entendo que ele irá sair do quarto e me
viro para fazer o mesmo. Antes, olho para o rosto dela. Da mulher que por
anos, regeu as escolhas que fiz, ainda que não estivesse perto.
Cortei os cabelos porque me lembravam ela.
Nunca usei saltos porque me lembravam ela.
Larguei o balé, as visitas aos museus… tudo. Willa me fez odiar tantas
coisas.
Meu pai sempre disse que o perdão liberta, e quando eu fizesse isso
com Willa, me sentiria melhor. Mas não sei se é isso que está acontecendo
encaram e tomo um tempo para analisá-lo. Ele é bem alto, um pouco mais
que Brandon. Alguns dedos de sua mão estão enfaixados, como se…
— Você joga vôlei? — pergunto, antes que ele diga o que quer.
Connor ergue as sobrancelhas e eu aponto para as ataduras. — Seus dedos.
Posso jurar que seus olhos estão brilhando pela minha pergunta.
Talvez… talvez, Willa tenha me trazido algo bom nessa vida. Quase
posso imaginar que Connor e eu sejamos amigos.
— Seria bom ter alguém torcendo por mim pela primeira vez.
— Ela… — começo, mas fico indecisa entre continuar ou não e só o
faço quando acena, sabendo do que quero falar. — Ela nunca foi aos seus
jogos?
— Sinto muito.
— Sinto muito por você também — diz, enfiando os dedos no bolso da
Ele acena para trás, onde há dois caras tão altos quanto ele, de pé no
meio do corredor que dá para a saída. Brandon está mais à frente, encarando
— Aquele é o Brandon.
— Ele parece um pouco enciumado.
Sorrio.
— Só um pouquinho.
O silêncio se faz presente entre nós por um tempo.
— Mia? — chama de novo.
— Sim?
Connor caminha em minha direção. Penso que irá me abraçar, mas ele
apenas se inclina e beija minha testa. Seu corpo desvia do meu quando ele
com força — não sem antes revirar os olhos, é claro —, beijando o topo da
minha cabeça.
pedaço de torta.
— Podemos — assente, entrelaçando nossos dedos antes de sorrir para
mim. — Mas vai ser só um pedacinho.
Bem, me deixe te contar uma história
Sobre uma menina e um menino
Ele se apaixonou por sua melhor amiga
Quando ela está por perto, ele não sente nada além de alegria
corredores.
Nós dois nos encaramos com as sobrancelhas franzidas, confusos. Ele
É, acha sim.
— Que merda é essa? — sussurro, sem entender o porquê de tanto
chão e que eu seja sugada por ele. Obviamente, não acontece e eu não sei se
quero rir ou chorar.
Que constrangedor.
O que eu fiz para merecer isso?
quem terá uma resposta primeiro, ergo-me e corto uma fatia bem generosa
para mim enquanto tia Evy faz o mesmo, sentando-se ao lado do meu pai do
— Minhas intenções com a sua mãe são bem claras — meu pai diz,
deixando a postura brincalhona de lado. — Ela será muito feliz ao meu lado e
farei tudo o que for necessário para mantê-la segura. Já tive muitos
relacionamentos, Brandon. Me casei e sou pai. Quero que a minha filha
encontre um homem honrado, que não a faça se sentir menos do que tudo que
é e é exatamente assim que trato a sua mãe — ele vira-se na direção dela. —
Eu prometo que todas as batidas do meu coração, serão usadas para amá-la
incondicionalmente.
Fico emocionada com o que diz. Durante muito tempo — desde que
minha mãe nos deixou, na verdade —, meu pai preferiu ficar sozinho, longe
de relacionamentos sérios por medo, assim como Evelyn.
O problema, é que para ela, essa parte sempre deve ter sido mais
difícil. O pai de Bran não é o melhor dos homens e arruinou o seu
psicológico a ponto de nunca nem sequer ter se aproximado de muitos
homens desde que Bran nascera.
quebrado essas barreiras. Os dois merecem ser felizes e saber que fazem bem
um ao outro, me deixam de coração quente.
Ele ergue a mão, como se fosse roubá-lo de mim, mas eu sou mais
rápida e trago a colher à minha boca com rapidez, tentando fazer a quantidade
um tanto exagerada caber.
— Retiro o que eu disse, tio. Estou desistindo dela agora mesmo! —
grunhe, encarando-me lamber o pouco do recheio que escorre pelos meus
lábios. — Não acredito que comeu toda a minha torta.
— Só tinha um pedacinho — me defendo.
reclamar.
Bran revira os olhos.
me avisasse quando o momento chegasse. Não quero me sentir mal por isso.
Não quero me sentir mal por nada que a envolva.
para demonstrar isso. Não posso deixar que um fantasma do passado me faça
prisioneira para sempre.
MINUTO DE ATRASO!
— Peguei você! — Brandon diz, quando consegue agarrar minha
de ir trancar a porta.
por cima que me faz parecer uma princesa, como ele mesmo disse. A peça
alcança até metade das minhas canelas, destacando o tênis exatamente igual
ao dele.
Hoje, quando chegamos, tia Evy conseguiu aparar meu cabelo de uma
forma mais uniforme, depois que contamos aos dois o que aconteceu. Ficou
lindo e acho que, dessa vez, vou deixar que os fios cresçam um pouco mais
apenas para ver como irei me sentir. Evy disse que devo dar um passo de
cada vez, e está certa.
do vestido longo. — Iremos nos atrasar se ficarmos aqui por mais dez
minutos e a festa é nossa.
— Sim, meu amor. Estão lindos. Não quero ofendê-los, mas é óbvio
que se houvesse um concurso de rei e rainha do baile, nós dois ganharíamos.
minha boca.
— Quer dançar? — ele pergunta, sorrindo imenso.
colado ao meu enquanto suas mãos deslizam pela minha cintura com uma
delicadeza que só cabe nele. — As batidas dos nossos corações sempre foram
amo.
Seu sorriso cresce quando também paralisa. Suas mãos sobem
você chegar.
— Eu…
Seu polegar toca minha boca, me impedindo de falar.
— E ainda vou te amar. Vou te amar todas as vezes que me fizer
assistir seus desfiles e todas as vezes que ver seu sorriso crescer quando
encontrar uma nova caneta para sua coleção. Vou te amar todas as vezes que
aceitar maratonar minhas séries favoritas mesmo que tenhamos feito isso
milhares de vezes.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Essas são felizes.
você, brincar com você. Não lembro sequer de uma vez que pensei em outras
garotas, porque sempre foi você. Uma vez, você disse que fui seu herói, Mia,
mas naquele dia, foi você quem me salvou. Foi você quem silenciou as vozes
e acalmou meus pesadelos. Depois de você, nunca mais senti medo da chuva.
Nunca mais quis ser diferente, porque você me olhava como se eu fosse o
menino mais legal do mundo e eu… acreditei. Ao seu lado eu sou o melhor.
ser presenteado com o seu sorriso. E amo que você não tenha receio de dizer
o que pensa. Eu amo que nunca consiga alcançar a prateleira mais alta ou
quando precisa de ajuda para subir no carro, você é a coisa mais fofa que já
coloquei os olhos e sempre, sempre que penso em você, eu sorrio.
Independente do lugar e das pessoas ao meu redor.”
Ele se cala, mas consigo ver nos seus olhos o quanto quer continuar a
falar. Seus polegares encontram minha face, limpando as lágrimas que
até ir dormir. Todas as vezes que penso em um vestido, tento pensar em qual
será sua reação ao me ver nele. Sempre que compro uma caneta nova ou um
recorte de tecido diferente, penso em como você vai reagir. Sabe qual a
melhor parte de amar você, Bran?
— Diga.
— Porque sempre me faz sentir especial até quando sou comum e
porque não briga comigo quando alguns dos meus alfinetes encontram seu pé
— rimos. — A melhor parte de te amar, é saber que é o meu melhor amigo e
— Eu escolho desafio.
— Eu te desafio a ficar comigo para sempre.
— Essa é fácil.
A menina se ajoelhou perante sua cama.
Ela não aguentava mais se sentir sozinha.
Ninguém nunca a ensinou a rezar, então, atrevida como sempre foi, decidiu
fazer o que seu coração pediu.
Acaso, eu te desafio a me dar um melhor amigo para sempre.
Mas o pedido caiu nos ouvidos de um certo anjo, que muito intrometido,
concedeu àquela garotinha um melhor amigo.
O melhor amigo que lhe ensinou que o amor não precisa doer.
CINCO ANOS DEPOIS
Quase dois meses após o fim da New York Fashion Week, a semana da moda
mais movimentada de todo o mundo, um assunto em específico vem
chamando a atenção da alta sociedade.
Em especial, um novo nome, revelado no primeiro dia de desfile, tem
causado bastante entre as maiores indústrias da moda. Todos parecem tentar
fazê-la aceitar suas respectivas propostas, entretanto, está óbvio que estão
fazendo isso apenas para não terem uma nova concorrente tão talentosa e
inovadora.
entanto, não é o que os grandes críticos têm dito sobre isso. As peças de Mia
Grant chamam atenção por seu lema, não é apenas mais uma empresa a fim
de lucrar com peças extravagantes. Como a própria dona diz: é sobre vestir-
se de si mesma.
Apesar de estar sendo descoberta agora, seu nome não é uma novidade para
ganhar ainda mais destaque com o fim da Fashion Week. A única que não
parou de trabalhar mesmo agora, que estamos distante de casa, é Kimberly,
encontrávamos o lugar perfeito, nem o dia ideal… nada parecia cooperar para
o dia de hoje, até que Mia tomasse as rédeas, como sempre, e resolvesse tudo
recebendo um beijo de bom dia. — Acho que não quero mais sair dessa
cama.
mais de vinte e quatro horas conosco, fez de tudo para me manter longe da
sua adorada madrinha.
Nada contra o cara, mas ele atrapalha na minha meta de ser o melhor
tio. Por Deus, ele já tem a sua própria garotinha, o que custa deixar esta daqui
para mim?
Ainda tem o babaca do Kyle, que só precisa sorrir para ter a
suas caretas.
— E se levarmos ela conosco sem que ninguém perceba quando
sugestão.
Já conversamos sobre filhos há algum tempo. Planejamos ter dois, mas
— Estou, amor.
— Ouviu isso, Agnes? — pergunto para a princesa banguela, sabendo
que pode não estar entendendo nada. — Você vai ter um amiguinho muito
em breve.
— Nem acredito que vamos ter alguém para brincar o tempo todo —
ela sorri, se inclinando para me deixar um selinho. — Eu desafiaria o acaso
mil vezes se, em todas elas, ele me trouxesse você.
— E eu deixaria você roubar minha torta em todas essas vezes.
Ela revira os olhos, forçando uma carranca irritada.
— Quantas vezes vai insistir nessa história?
Confesso que, depois de dez livros, estou sem criatividade para
começar essa parte, mesmo que às vezes pareça que ainda não escrevi o
Escrever “fim” dessa vez, me fez chorar. Sem dúvida alguma foi o
livro em que eu mais me joguei de cabeça, senti e vivi. Eu tive uma
dificuldade absurda em começar os primeiros capítulos e de repente, uma
chave virou e eu escrevi esses dois em vinte e nove dias.
Vinte e nove. Nem eu acreditei.
Brandon e Mia me trouxeram a confiança que havia ido embora
muitos livros antes, eu só precisei do segredo deles: calma. Em meio ao
choro, desespero e frustrações, eu parei. Parei, li um livro e respirei bem
fundo. À noite, me deitei e estava prestes a dormir quando Brandon me disse
Disse que queria jogar e não estava conseguindo acertar a cesta com toda a
gritaria dela. Então, respirei fundo novamente, levantei da cama, me sentei
importava o lugar, dia ou hora, minha cabeça sempre voltava para eles.
No entanto, houveram muitas pessoas por trás de tudo isso e é para
imploro para ele. O cara que nunca, nem quando eu falho ou dou motivos, me
deixa sozinha. Obrigada, meu Pai.
À Dica, minha mãe, que puxou meu pé quando eu estava passando dos
limites na carga horária de escrita e que nunca, nunca mesmo, usou de
palavras para me desanimar. Pelo contrário, muitas coisas presentes em
BCOA — seja aqui no livro ou na parte por trás disso —, só aconteceram
graças a ela e a confiança que tem em mim e no meu futuro. Mainha, eu te
amo, mesmo quando você muda toda a decoração da minha mesinha sem
minha permissão.
que o meu.
À April Jones e a Annie Belmont, minhas máquinas de vencer. As
spoilers. Obrigada por ainda continuarem aqui, mesmo quando sumo por dias
e tento deixar vocês doidinhas. Juro que não é por mal, tá?
Obrigada, meu amor, não sabe o quanto sua ajuda foi importante para mim (e
não só pela música).
desse livro. Serei eternamente grata por tudo o que estão fazendo por mim.
E por último, e não menos importante, à você, leitor, que dedicou seu
tempo para ler meu livro. Obrigada. Você não faz ideia do quanto isso é
importante para mim.
FIO VERMELHO
COMPRE AQUI
Fio Vermelho do destino é uma lenda que afirma que no momento do nascimento, os deuses
amarram uma corda vermelha invisível nos mindinhos de pessoas que estão predestinadas a serem
almas gêmeas. Segundo a lenda, aconteça o que acontecer, passe o tempo que passar as duas pessoas
que estiverem interligadas, inevitavelmente irão se encontrar.
O fato em questão, é que Chase e Julie nasceram para serem almas gêmeas. Mas talvez uma só
vida não seja o suficiente para isso.
Se me perguntarem quando percebi que estava apaixonado por você, eu saberia responder com
clareza de detalhes tudo o que aconteceu naquele dia.
Quando nossos olhares se cruzaram, pareceu ser a primeira vez, mesmo que isso acontecesse
todos os dias.
Ainda éramos crianças e eu não entendia nada sobre o amor além dos filmes de princesa que
você me obrigava a assistir.
Você sorriu para mim, Estrelinha. E aquele simples gesto fez meu coração disparar como nunca.
Nossos corações foram partidos de maneiras dolorosas e isso foi escada para que você
sucumbisse na própria dor. Você estava acostumada a silenciá-la, mas eu odiava te ver triste. Eu queria
poder te abraçar e arrancar de você tudo que te afligia, amor, mas você não deixava.
Um dia, em uma situação incomum, precisamos fingir o que não éramos, mas eu desejava
arduamente. Aquela foi a melhor experiência da minha vida, até que eu estraguei tudo.
Todas as mentiras que contamos um para o outro ao longo da nossa amizade atrapalharam toda a
nossa história. As coisas poderiam ser diferentes se tivéssemos sido sinceros desde o início.
Você iluminou meu coração com todas as estrelas do seu corpo. Agora, eu não consigo mais
dormir porque você não está aqui, e acho que tenho medo do escuro.
LIVROS ÚNICOS:
TRILOGIA ESTILHAÇOS
1 - PERDENDO O CONTROLE
COMPRE AQUI
milhares de histórias que ele lhe contava, as quais ela nunca descobriu se
eram verdadeiras ou não.
Escreve tudo o que as vozes na sua cabeça sussurram incansavelmente
e já não segue mais um roteiro — nem para a sua vida e muito menos para
aquelas que cria. Precisa apenas de papel, caneta e um ambiente silencioso
para colocar para fora o que a perturba dia e noite: seus personagens.
É apaixonada por chocolate, milkshake de brigadeiro, papelaria,
barulho de teclas, moedas de um real, filmes e séries dos anos dois mil,
perfumes masculinos e toalhas brancas. É mãe de planta — embora sempre
esqueça de regá-las —, costureira, já se aventurou como professora de
comédia, drama e coisas que podem ou não te fazer sofrer, mas ela promete
que tudo valerá a pena na última página.
BRINCANDO COM O ACASO
NOTAS DA AUTORA
AVISOS DE GATILHO
PLAYLIST
TRILOGIA ESTILHAÇOS
O DECLÍNIO DA REALEZA
PARTE UM | CABRA-CEGA
01 | NÃO CONSIGO EVITAR ME APAIXONAR
02 | POR FAVOR, PERCEBA
03 | MELHOR AMIGA
04| MELHOR PARTE
05 | APENAS AMIGOS
BRINCANDO COM O NOVO VIZINHO
PARTE DOIS | AMARELINHA
06 | DANÇANDO NO MEU QUARTO
07 | DESSE JEITO
08 | VOANDO SOZINHO
09 | AMIGOS
10| IDFC
BRINCANDO COM AS TORTAS ALHEIAS
PARTE TRÊS | VERDADE OU DESAFIO
11 | LAR
12 | DE CABEÇA
13 | ARRUINAR A AMIZADE
14 | TOMADA DUPLA
15 | MORRERIA POR VOCÊ
BRINCANDO COM A CHUVA
PARTE QUATRO | PEGA-PEGA
16 | SEM VERGONHA
17 | SERÁ QUE QUERO SABER?
18 | CLIMA AGRADÁVEL
19 | A NOSSA HISTÓRIA
20 | DEIXAR VOCÊ PATIR MEU CORAÇÃO OUTRA VEZ
BRINCANDO COM O ADEUS
PARTE CINCO | SETE MINUTOS NO PARAÍSO
21 | TERIA VOCÊ
22 | SORTE
23 | O QUE TE TORNA LINDA
24.1 | PROBLEMAS COM O PAPAI
24.2 | ASSISTIR
25 | CAIR
AQUELE EM QUE ELA DESAFIOU O ACASO
QUER BRINCAR COMIGO PARA SEMPRE?
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OUBRAS
TRILOGIA ESTILHAÇOS
SOBRE A AUTORA
[1]
Esporte de equilíbrio que utiliza uma fita de nylon esticada entre dois pontos fixos, permitindo ao
praticante andar e fazer manobras.
[2]
Filme de 2016, dirigido pela inglesa Thea Sharrock. É uma adaptação do primeiro livro da trilogia
Como Eu Era Antes de Você, da escritora britânica Jojo Moyes.
[3]
Time de basquete da Universidade de Princeton.
[4]
Cada partida é dividida em sets que terminam quando uma das duas equipes conquista 25 pontos.
[5]
Time de basquete da Universidade de Harvard.
[6]
Universidade que pertence ao universo da autora Annie Belmont.
[7]
Quando o jogador manda a bola na direção do chão, para que ela encoste no solo antes de chegar ao
companheiro de time.
[8]
New York University, Universidade de Nova York.