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ARTIGO ORIGINAL Comportamento de risco

para infecções sexualmente


transmissíveis em
estudantes do ensino médio
Risk behavior for sexually transmitted
infections in high school students
Bruna Bazzi Rizzon1, Verônica Bendo de Souza1, Kristian Madeira1, Lucas Vieira Machado1,
Mariana Magalhães1

RESUMO
Descritores O trabalho avalia o comportamento de risco para infecções sexualmente trans-
Saúde sexual; Adolescente; missíveis (ISTs) em estudantes do ensino médio de Urussanga-SC. A pesquisa foi
Gestação; Sexualidade; Prevenção observacional transversal, descritiva, com coleta de dados primários e abordagem
quantitativa. A população estudada constou de alunos do ensino médio de escolas
Keywords públicas e privadas de Urussanga-SC no ano de 2019. A amostra foi constituída por
178 indivíduos, sendo majoritariamente composta pelo sexo feminino (61,4%), e a
Sexual health; Adolescent;
Pregnancy; Sexuality, Prevention média de idades foi de 16 anos (±1,04). Do total, 50% haviam iniciado as atividades
sexuais. Entre o sexo feminino, 48,1% relataram um parceiro, contrapondo-se com
o sexo masculino, no qual 40,7% relataram quatro ou mais. Em relação ao conheci-
mento sobre manifestações de ISTs, 62,4% informaram dor na região genital como
sinal de alerta, todavia a presença de feridas e corrimento foi reconhecida por me-
nos de 40% dos adolescentes. A maioria dos adolescentes já recebeu orientações
sobre sexualidade e afirmou possuir conhecimento sobre ela, porém os resultados
demonstram falha no entendimento, sendo evidente a importância da educação
sexual nas escolas.

Submetido: ABSTRACT
04/08/2020
The assessed work examined risk behavior for sexually transmitted infections (STIs)
Aceito: in high school students from Urussanga-SC. A cross-sectional, descriptive observatio-
01/12/2020 nal study, using primary data collection and a quantitative approach. The population
studied contained high school students from public and private schools in Urussan-
1. Universidade do Extremo Sul ga-SC in 2019. The sample was mainly composed of females and the average age was
Catarinense, Criciúma, SC, Brasil.
16 years. From the total, 50% already started sexual activities. Of the female sex, 48.1%
Conflito de interesses: refer to one partner, by contrast, 40,7% of the male sex, refer to four or more partners.
Nada a declarar. Regarding manifestations, 62.4% reported pain in the genital region as a warning
sign, however, the presence of wounds and discharge was registered by less than 40%
Autor correspondente: of adolescents. Most adolescents have already received some guidance on sexuality
Mariana Magalhães and reported having knowledge about the subject. Nevertheless, the results presen-
Av. Universitária, 1.105, Bairro ted a lack of understanding, highlighting the importance of sex education in schools.
Universitário, 88806-000, Criciúma,
SC, Brasil.
mary_rumo@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
Como citar?
Rizzon BB, Souza VB, Madeira Na adolescência há desenvolvimento, maturação sexual e necessidade de
K, Machado LV, Magalhães tomada de decisões e resolução de conflitos, mudanças essas que partici-
M. Comportamento de risco
pam do desenvolvimento pessoal.(1) Segundo Spring et al.,(2) na adolescência
para infecções sexualmente
transmissíveis em estudantes do as chances de ter múltiplos comportamentos de risco aumentam. Alguns
ensino médio. Femina. 2021;49(1):52-7 jovens experimentam substâncias, como álcool e drogas ilícitas, além de

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Comportamento de risco para infecções sexualmente transmissíveis em estudantes do ensino médio
Risk behavior for sexually transmitted infections in high school students

comportamentos que os colocam em situações de risco. MÉTODOS


Outro fator agravante é a falta de orientação tanto em
O estudo foi realizado em escolas públicas e privadas do
ambiente escolar quanto familiar.
município de Urussanga-SC que ofertavam ensino mé-
Um dos obstáculos no controle do vírus da imunode-
dio, sendo a população estudada composta por adoles-
ficiência humana (HIV) é a transmissão entre os jovens centes matriculados no primeiro semestre de 2019, to-
de 15 a 24 anos, representando a maioria dos novos ca- talizando 551 alunos. Foi realizada uma visita às escolas
sos mundiais. Assim, é importante conhecer os compor- participantes, onde ocorreram a elucidação da pesquisa
tamentos desses indivíduos, como média de idade da e a entrega do Termo de Consentimento Livre e Escla-
sexarca, identificando o melhor momento para abordar recido (TCLE) para cada aluno. Todos foram convidados
educação sexual nas escolas.(3) a participar, entretanto apenas 178 indivíduos (32,3%)
A partir de dados coletados na Pesquisa Nacional preencheram os critérios de inclusão e aceitaram par-
de Saúde da Escola (PeNSE) de 2015, aproximadamente ticipar da pesquisa. Como critério de inclusão, foram
30% dos adolescentes participantes relataram o uso de aceitos somente os alunos que trouxeram o TCLE assi-
preservativo na última relação sexual, enquanto 19,5% nado pelo responsável ou pelo próprio aluno, no caso
declararam não utilizar nenhum método contraceptivo. de maioridade, e estavam presentes no dia da aplicação
Comparando esse resultado com o da pesquisa de 2009, do questionário. Foram excluídos estudantes de escolas
o percentual de uso de preservativo na última relação para educação de jovens e adultos.
sexual diminuiu 9,7%.(4) A pesquisa caracteriza-se por um estudo observa-
No estudo de Martinez e Abma(5) realizado entre 2011 cional transversal, descritivo, com coleta de dados pri-
e 2013, 18% dos meninos e 13% das meninas na idade de mários e abordagem quantitativa. Ela foi aprovada pelo
15 anos tiveram relação sexual; aos 19 anos essa porcen- Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Uni-
tagem chegou a 69% e 68%, respectivamente. Aproxima- versidade do Extremo Sul Catarinense, de acordo com a
damente 93% das adolescentes que tiveram a sexarca Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde,
entre 18 e 19 anos utilizaram um método contraceptivo; sob o Parecer nº 3.164.107 (CAAE: 03884118.9.0000.0119).
em oposição, das que tiveram a sexarca com 17 anos, Os dados coletados foram analisados com o softwa-
77% utilizaram. re IBM Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
No contexto de conexões, o sexo sem preservativo versão 21.0. A variável quantitativa foi expressa por meio
pode ser uma demonstração de confiança ao parceiro de média e desvio-padrão, e as variáveis qualitativas fo-
na esperança de um relacionamento sólido no futuro. ram expressas por meio de frequência e porcentagem.
Isso sugere que aqueles que procuram um relaciona- Os testes estatísticos foram realizados com nível de
mento duradouro podem estar mais expostos às infec- significância α = 0,05 e, portanto, confiança de 95%. A
ções sexualmente transmissíveis (ISTs) do que aqueles distribuição dos dados quanto à normalidade foi avalia-
que desejam parcerias casuais.(6) da pela aplicação do teste Kolmogorov-Smirnov.
Aproximadamente 1 milhão de pessoas contraem A investigação da existência de associação entre as
uma IST em todo o mundo diariamente. Apesar do variáveis qualitativas foi realizada pelos testes Qui-qua-
avanço no diagnóstico, tratamento e prevenção, elas drado de Pearson, Razão de Verossimilhança e Exato de
ainda representam um desafio na saúde pública. As Fisher, seguidos de análise de resíduo quando observa-
manifestações clínicas de parte dessas infecções fa- da significância estatística.
vorecem a disseminação silenciosa, em razão da falta Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado
de conhecimento da população, atrelada à baixa busca um questionário, desenvolvido pelos próprios autores,
por auxílio médico.(7) a partir da literatura estudada, em que consta o per-
Mais de 30 bactérias, vírus e parasitas diferentes são fil da amostra. Foi questionado sobre sexarca, número
transmitidos por meio do contato sexual. Sífilis, gonor- atual de parceiros, uso de preservativo. Para os que não
utilizaram preservativo, questionou-se sobre formas de
reia, clamídia e tricomoníase são causadas por bacté-
prevenção de ISTs e gravidez. Também houve pergun-
rias e protozoários e têm elevada incidência, mas são
tas sobre uso de álcool/drogas durante as relações e
passíveis de cura. Já hepatite B, vírus herpes simplex
sobre locais onde recebem e/ou gostariam de receber
(HSV), HIV e papilomavírus humano (HPV) são causadas
orientação sexual. Por fim, foi avaliado o conhecimento
por vírus.(8)
relacionado à ISTs: forma de adquirir, manifestações e
Em vista disso, o trabalho tem por objetivo avaliar o
prevenção.
comportamento de risco para ISTs em estudantes do
ensino médio de Urussanga-SC e o conhecimento deles
acerca do assunto. A relevância do trabalho se dá pelo RESULTADOS
fato de que a falta de informações sobre ISTs e o com- A tabela 1 mostra o perfil sociodemográfico, sendo 61,4%
portamento de risco entre adolescentes representam do sexo feminino e majoritariamente composta por he-
problemas antigos, mas persistentes atualmente em terossexuais. A média de idade foi de 16 anos, com 42,7%
nossa sociedade e ainda não solucionados. no primeiro ano do ensino médio e 31,5% no segundo.

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Rizzon BB, Souza VB, Madeira K, Machado LV, Magalhães M

Tabela 1. Perfil sociodemográfico de alunos do ensino médio Tabela 2. Dados sobre atividade sexual de alunos do ensino
do primeiro semestre de 2019 médio

n (%), média ± Sexo, n (%)


desvio-padrão
Variáveis n = 178 Variáveis Masculino Feminino p-value

Série escolar Já iniciou atividade sexual n = 64 n = 102

Primeiro ano 76 (42,7) Sim 29 (45,3) 54 (52,9)


0,339‡
Segundo ano 56 (31,5) Não 35 (54,7) 48 (47,1)

Terceiro ano 46 (25,8) Idade de início n = 29 n = 53

Idade (n = 177) 12 anos 1 (3,4) 1 (1,9)

Anos 16,09 ± 1,04 13 anos 3 (10,3) 1 (1,9)

Sexo (n = 176) 14 anos 3 (10,3) 9 (17,0)


0,630†
Feminino 108 (61,4) 15 anos 10 (34,5) 18 (34,0)
Masculino 68 (38,6) 16 anos 10 (34,5) 20 (37,0)
Renda familiar (n = 175) 17 anos 2 (6,9) 4 (7,5)
Até 1 salário mínimo 10 (7,9) Utilizou preservativo
n = 29 n = 54
na primeira relação
De 1 a 2 salários mínimos 32 (25,2)
Sim 23 (79,3) 42 (77,8)
De 2 a 4 salários mínimos 61 (48,0) 0,872‡
Não 6 (20,7) 12 (22,2)
Mais que 4 salários mínimos 24 (18,9)
Utilizou preservativo
Não sei informar 48 n = 28 n = 53
na última relação
Orientação sexual (n = 177)
Sim 21 (75,0) 30 (56,6)
Heterossexual 154 (87,0) 0,103‡
Não 7 (25,0) 23 (43,4)
Bissexual 14 (7,9)
Número de parceiros n = 27 n = 54
Homossexual 9 (5,1)
Um 6 (22,2) 26 (48,1)a

Dois 5 (18,5) 10 (18,5)


0,042‡
Três 5 (18,5) 10 (18,5)
O comportamento sexual, analisado na tabela 2, as-
socia a idade da sexarca com o sexo, e observou-se que Quatro ou mais 11 (40,7)a 8 (14,8)
52,9% do sexo feminino e 45,3% do sexo masculino já
Utiliza drogas/álcool
iniciaram atividade sexual. A idade de iniciação predo- n = 29 n = 54
durante relação
minante, em ambos os sexos, foi entre 15 e 16 anos.
Sim 15 (51,7) 24 (44,4)
Em relação ao uso de preservativo na sexarca, 78% 0,526‡
alegaram ter utilizado, entretanto na última relação esse Não 14 (48,3) 30 (55,6)
número diminuiu para 61%. †
Valores obtidos após a aplicação do teste Razão de Verossimilhança.
Comparando sexo e número de parceiros, foi encon- ‡
Valores obtidos após a aplicação do teste Qui-quadrado de Pearson.
a
Valor estatisticamente significativo após a aplicação de análise de resíduo.
trada significância estatística (p = 0,042); 48,1% das alu-
nas relataram apenas um parceiro sexual e 40,7% dos
alunos declararam quatro ou mais.
A utilização de drogas/álcool durante a relação se- Sobre manifestações clínicas, 62,4% informaram dor
xual foi relatada por 51,7% do sexo masculino e 44,4% na região genital, 46,1%, coceira e 41%, presença de fe-
do feminino. ridas; presença de verrugas foi citada por 38,2% e corri-
A tabela 3 apresenta o conhecimento da população mento, por apenas 31,5%. Questionados quanto ao risco
estudada sobre ISTs. Dos 175 alunos que responderam, aumentado de contaminação pelo HIV nos pacientes
84% afirmaram saber o que é. Além disso, 78% informa- que apresentavam uma IST, 80,2% dos adolescentes as-
ram ter conhecimento sobre aquisição, e 92,6% marca- sinalaram como verdadeiro. A tabela 4 mostra que exis-
ram sexo sem preservativo, 57,9%, sexo anal, 46,1%, trans- te associação estatisticamente comprovada (p = 0,019)
fusão sanguínea, 41,6%, sexo oral e 14,6%, beijo. Quando entre o uso da pílula do dia seguinte com o não uso
interrogados sobre o que fazer para não adquirir uma de preservativo na primeira relação sexual. Em contra-
IST, 97,4% assinalaram utilizar preservativo, 16,3%, tomar partida, aquelas que utilizaram preservativo na primeira
banho após a relação e 14,3%, usar anticoncepcional. relação não utilizaram a pílula após relações sexuais.

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Comportamento de risco para infecções sexualmente transmissíveis em estudantes do ensino médio
Risk behavior for sexually transmitted infections in high school students

Tabela 3. Dados sobre o conhecimento dos alunos do ensino Tabela 4. Associação entre utilização de preservativo e uso de
médio de 2019 sobre ISTs coletados a partir de questionário pílula dia seguinte em estudantes do ensino médio de 2019
autoaplicável
Utilizou pílula do
n (%) dia seguinte após
Variáveis n = 178 relação sexual, n (%)

Sabe o que é IST? (n = 175) Sim Não


Variáveis n = 17 n = 65 p-value
Sim 147 (84,0)
Utilizou preservativo na primeira relação sexual?
Não 28 (16,0)
Sim 9 (52,9) 56 (83,6) 0,019†
Sabe como adquire? (n = 173)
Não 8 (47,1) 11 (16,4)
Sim 135 (78,0) † Valor obtido após a aplicação do teste Exato de Fisher.

Não 38 (22,0)
Como adquirir? Quando questionados sobre o meio em que gosta-
Sexo sem preservativo 172 (92,6) riam de receber informações sobre ISTs, 74,4% marcaram
a escola, seguida de profissionais de saúde, com 68%, e
Sexo anal 103 (57,9) internet, com 48,3%. Outras opções ofertadas foram car-
Transfusão sanguínea 82 (46,1) tazes/panfletos, jornais, rádio, televisão, amigos, família
e instituições religiosas, sendo de pouco interesse por
Sexo oral 74 (41,6)
parte dos adolescentes.
Compartilhamento de objetos 44 (24,7)

Beijo 26 (14,6) DISCUSSÃO


Usar banheiros públicos 25 (14,0) Após a análise dos dados, observou-se que 84,3% tive-
ram sexarca entre 14 e 16 anos, corroborando o estudo
Masturbação 13 (7,3)
pernambucano de 2014 no qual a porcentagem de ini-
Tomar banho em rios e praias 6 (3,4) ciação sexual nessa faixa etária foi de 68,6%.(9) Um estu-
O que usa para não adquirir uma IST? do de Pelotas-RS mostrou que a intervenção educacio-
nal precoce é de extrema importância, sendo necessário
Camisinha 174 (97,4) identificar a idade de início das atividades sexuais para,
Banho após a relação 29 (16,3) assim, averiguar a melhor hora de abordar o tema nas
escolas.(10)
Anticoncepcional 26 (14,3)
Quando realizada uma conexão entre sexo e número
Pílula do dia seguinte 12 (6,7) de parceiros, foi encontrada uma significância estatísti-
Diafragma 11 (6,2)
ca (p = 0,042); 48,1% das alunas relataram ter tido apenas
um parceiro sexual; já entre o sexo masculino, 40,7% in-
DIU 9 (5,1) formaram ter se relacionado com quatro ou mais par-
Coito interrompido 6 (3,4) ceiros. Esses dados corroboram uma pesquisa de 2017
nos EUA, na qual a prevalência de relações sexuais com
Como se manifesta uma IST?
quatro ou mais pessoas foi maior entre os estudantes
Dor na região genital 111 (62,4) do sexo masculino (11,6%) do que do feminino (7,9%).(11)
Coceira 82 (46,1)
Apesar de o número de parceiros sexuais ser fator de
risco para ISTs, percebe-se que a manutenção de rela-
Dor na relação 73 (41,0) ções sexuais seguras com o uso adequado do preserva-
Feridas 72 (40,4) tivo é mais importante que a quantidade de parceiros
sexuais.(12)
Verrugas 68 (38,2)
Constatou-se que comportamentos sexuais mantêm
Corrimento 56 (31,5) um padrão quando associados ao uso de preservativo
na primeira e na última relação sexual. Dos que utili-
Febre 23 (12,9)
zaram preservativo na primeira relação, 71,4% referiram
Vômito 14 (7,9) utilização na última também. Entre os que não utilizaram
Quem tem IST tem mais chance de adquirir HIV? (n = 172) na primeira, 63,2% relataram a não utilização na última,
tendo essa associação significância estatística. Embora
Sim 138 (80,2) não possam ser generalizadas as atitudes, entende-se
Não 34 (19,8) que o que faz o indivíduo manter tais comportamentos
IST: infecção sexualmente transmissível; HIV: vírus da imunodeficiência são suas experiências ao longo da vida, adotando deter-
humana; DIU: dispositivo intrauterino. minado comportamento e mantendo-o.(13)

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Mesmo com a constância dos hábitos sexuais, obser- tal, 48,9%, coceira, 40,7%, dor na relação e apenas 34,1%,
vou-se queda de 16% no uso de preservativos da pri- corrimento e 39,3%, verrugas. Um estudo realizado em
meira para a última relação sexual e aumento no uso Minas Gerais com 345 adolescentes mostrou que 41,6%
de anticoncepcional oral, passando de 5,9% para 66,7%, relataram corrimento, 20,8%, dor nas relações sexuais,
tornando os indivíduos mais vulneráveis às ISTs.(14) Da- 12,5%, feridas nos órgãos genitais e 20,8%, verrugas ge-
dos americanos sobre jovens, de 2003 a 2015, mostrou nitais como manifestação das ISTs. Esses resultados re-
diminuição no uso de preservativo na última relação de velam a necessidade de informações e conhecimento
5,4% para o sexo feminino e de 7,3% para o sexo masculi- adequado sobre proteção sexual, visando à melhoria da
no. Uma explicação para esse resultado é que, conforme saúde sexual dos adolescentes.(20)
os relacionamentos estabilizam, o preservativo é substi- Como limitações do estudo, pode ser citado o tama-
tuído por outros métodos contraceptivos.(15) nho restrito da amostra devido ao não preenchimento
Entre as adolescentes que não utilizaram preserva-
do TCLE assinado pelos responsáveis legais, não sen-
tivo na sexarca, houve associação com o uso da pílula
do possível generalizar os resultados encontrados. Pelo
do dia seguinte, sendo utilizada por 47,1% delas – dado
fato de o questionário não ter sido identificado com
esse comprovado estatisticamente. Isso reitera um estu-
o nome dos alunos, as interferências com relação ao
do realizado com 633 mulheres, em que 60% já haviam
constrangimento foram mínimas.
feito uso de contracepção de emergência; os motivos
foram estar sem preservativo no momento da relação,
não confiar na contracepção em uso e o preservativo ter CONCLUSÃO
estourado ou ficado retido na vagina. Isso mostra que a É necessário aumentar a visibilidade do tema, visto
maior preocupação dos jovens é a gestação indesejada que ele representa um problema antigo que perma-
e que eles não dão a devida importância às ISTs. Isso nece na sociedade atualmente e é agravado pela falta
ocorre devido à falta de informação e educação e a al-
de políticas públicas adequadas. Embora a maioria dos
guns mitos e tabus.(16)
adolescentes relate recebimento de orientações sobre
O uso de álcool é comum e tem aumentado entre os
ISTs e afirme possuir conhecimento sobre o tema, os
menores de idade por ser uma droga lícita e de fácil aces-
resultados obtidos demonstram uma falha no real en-
so. Dos participantes, 14,6% já ingeriram álcool antes da
tendimento, mostrando a necessidade de abordagem
relação. Em um estudo gaúcho com 1.056 alunos, encon-
trou-se uma porcentagem ainda maior, de 47,3%. O álcool do tema, antes da idade de iniciação sexual, nas es-
possui uma associação com condutas de risco, provocan- colas e ambiente familiar, locais relatados como de
do diminuição da capacidade de discernir riscos, facili- preferência. Outro dado preocupante no que tange ao
tando a iniciação de relações sexuais ou, então, o sexo tema saúde pública é o aumento da não utilização de
com alguém com quem normalmente não fariam.(17) preservativo da primeira para a última relação sexual,
Entre os alunos que relataram ter acesso à orien- principalmente entre o sexo feminino. Ficou evidente
tação sexual, 63,8% disseram já ter recebido em casa o entendimento dos adolescentes quanto à importân-
e 81,4%, na escola. Essas porcentagens são maiores, cia do preservativo, porém o hábito de não o usar se
quando se compara a um estudo feito na Califórnia repete. Isso levanta a hipótese de que a maior preocu-
com alunos do nono ano, no qual a fonte de informa- pação atual do jovem pode ser a gravidez indesejada,
ções sexuais mais comumente relatada foram os pais visto que grande parte do sexo feminino da amostra
(37,8%), seguidos por outro parente (17,1%) e escola estudada teve aumento do uso de anticoncepcionais,
(13,4%). Os jovens que recebem orientação sexual de concomitantemente com a diminuição do uso de pre-
adultos e apoio social em casa mudam seus compor- servativo. Diante disso, é evidente a importância da
tamentos sexuais, resultando em adolescentes com educação sexual nas escolas, seja ela por professores
menos parceiros sexuais e com maior índice de uso de ou profissionais da saúde, associada à criação de po-
preservativos na última relação.(18) líticas públicas eficazes. A faixa escolar é a principal
No que se refere ao conhecimento dos alunos so- favorecida com essa educação, visto que é nessa idade
bre ISTs, 78% declaram saber como ocorre a aquisição. que se iniciam as atividades sexuais. Um adolescen-
Quando questionados sobre as formas de transmissão, te com conhecimento sobre o assunto será um adulto
98,5% dos estudantes reconhecem o sexo sem preser- mais responsável.
vativo como comportamento de risco. Outras opções
de transmissão facilitada, assinaladas por eles, foram:
sexo anal (57%), transfusão sanguínea (46,7%), sexo oral REFERÊNCIAS
(43%) e beijo (13%). Um estudo americano mostrou que 1. Wilkinson TA, Carroll AE. The role of pediatricians in reproductive
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informação tiveram maior conhecimento sobre ISTs.(19) 2. Spring B, Moller AC, Coons MJ. Multiple health behaviours: overview
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